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AS IMUNIDADES E AS ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS PARA AS ENTIDADES COM FINS FILANTRÓPICOS WALMOR MAFRA Biguaçu Novembro, 2008

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AS IMUNIDADES E AS ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS PARA AS ENTIDADES COM FINS FILANTRÓPICOS

WALMOR MAFRA

Biguaçu Novembro, 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE EDUCAÇÃO DE BIGUAÇU CURSO DE DIREITO

AS IMUNIDADES E ISENÇÕES TRIBUTÁRIAS PARA AS ENTIDADES COM FINS FILANTRÓPICOS

WALMOR MAFRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel

em Direito. Orientador: Professor MSc Marcio Roberto Paulo

Biguaçu

Novembro, 2008

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AGRADECIMENTOS

Em se tratando de agradecimentos, há que, em

primeiro lugar lembrar de meus pais, mesmo que

não mais presentes, eles que foram sem dúvidas, os

que desde a minha infância não mediram esforços

para que pudesse freqüentar os bancos escolares.

Por isso, meu primeiro agradecimento a eles.

No mais, agradeço minha família, esposa e filhos,

que sempre souberam e compreenderam minhas

ausências em razão do curso e da necessidade de

dispensar grande parte do tempo aos estudos,

sacrificando-os, não raras vezes de seus desejos e

vontades.

Agradeço aos amigos que fiz nestes anos de curso,

por seus valorosos estímulos e manifestações de

carinho.

Por fim, devo agradecer aos professores que

durante o curso, de um modo geral não mediram

esforços para transmitir os conhecimentos

necessários para que pudesse chegar a este

momento. Especialmente ao Professor Marcio

Roberto Paulo, meu orientador neste trabalho

acadêmico de conclusão do curso.

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Dedicatória

Dedico este trabalho a minha família, que soube

compreender minhas ausências durante o período

de curso, contudo, não deixou de entender esta

necessidade.

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do

Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de

toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu, novembro de 2008.

Walmor Mafra

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade do Vale do

Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Walmor Mafra, sob o título as

imunidades e isenções tributárias para as entidades com fins filantrópicos, foi

submetida em 14 de novembro de 2008 à banca examinadora composta pelos

seguintes professores: MSc Dirajaia Esse Pruner e Esp. Fabiana Ávila, e aprovada.

Biguaçu, novembro de 2008.

Prof. MSc Marcio Roberto Paulo Orientador e Presidente da Banca

MSc Dirajaia Esse Pruner

Esp. Fabiana Ávila

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNAS Conselho Nacional de Assistência Social CTN Código Tributário Nacional LBA Legião Brasileira de Assistência LOAS Lei orgânica da Assistência Social ONG Organização não Governamental OSCIP Organização da Sociedade Civil de Interesse Público PRONAV Programa Nacional do Voluntariado PNAS Plano Nacional de Assistência Social

PROUNI Programa Universidade para Todos SUS Sistema Único de Saúde DOU Diário Oficial da União

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SUMÁRIO

RESUMO...................................................................................... 9 ABSTRACT.................................................................................. 10 INTRODUÇÃO............................................................................. 11 CAPÍTULO I .................................................................. 12 1. AS ENTIDADES FILANTRÓPICAS E O TERCEIRO SETOR. 12 1.1 HISTÓRIA DA FILANTROPIA NO BRASIL........................... 14 1.1.1 Primeira fase....................................................................... 14 1.1.2 Segunda fase ..................................................................... 16 1.1.3 Terceira fase ...................................................................... 17 1.1.4 Quarta fase ......................................................................... 19 1.2 O TERCEIRO SETOR............................................................ 20 1.2.1 Características do terceiro setor ..................................... 22 1.2.2 Entidades que compõem o terceiro setor ....................... 24 1.22.2.1 Associações .................................................................. 25 1.2.2.2 Fundações privadas ....................................................... 27 1.2.2.3 Organizações religiosas e partidos políticos ............... 28 1.2.2.4 Organizações não-governamentais .............................. 29 CAPÍTULO II ................................................................. 32 2 O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL.................................... 32 2.1 O Estado e sua atividade financeira ................................... 32 2.1.1 Distinção entre direito financeiro e direito tributário ..... 33 2.1.2 Conceito de sistema tributário nacional ......................... 34 2.1.3 Necessidade do Estado cobrar tributos .......................... 35 2.1.4 O poder de tributar ............................................................ 36 2.1.5 Competências tributárias.............................................. 36 2.2 ESPÉCIES DE TRIBUTOS NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.......................................................................... 38 2.2.1 Tributo (gênero) .................................................................. 40 2.2.1.1 Imposto ............................................................................ 40 2.2.1.2 Taxa .................................................................................. 41 2.2.1.3 Contribuição de melhoria ............................................... 42 2.2.1.4 Contribuições sociais ..................................................... 43 2.2.1.4.1 Contribuição de intervenção no domínio econômico 45 2.2.1.4.2 Contribuições de seguridade social .......................... 45 2.2.1.5 Empréstimo compulsório ............................................... 47 2.3 DISCRIMINAÇÃO DAS RENDA TRIBUTÁRIAS ................... 47 2.3.1 Impostos da União ............................................................... 49 2.3.2 Impostos dos Estados e do Distrito Federal ..................... 50 2.3.3 Impostos Municipais ........................................................... 50 CAPÍTULO III................................................................... 52 3 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS DA ENTIDADES FILANTRÓPICAS ................................................................. 52 3.1 Generalidades ................................................................... 52

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3.1.1 Origens das imunidades tributárias ............................ 53 3.1.2 Imunidades tributárias e as limitações constitucionais ao poder de tributar ........................................................ 56 3.1.3 Diferenças entre imunidades tributárias e limitações constitucionais ............................................................... 57 3.1.4 Natureza jurídica das imunidades tributárias .............. 58 3.1.5 Aplicabilidade das normas de imunidades tributárias. 58 3.2 Conceito de imunidade tributária...................................... 60 3.2.1 As acepções da expressão”imunidade tributária” ........ 62 3.2.2 Características das imunidades tributárias ................. 62 3.2.3 Diferenças entre imunidades tributárias, isenções e não-incidência ................................................................ 63 3.2.3.1 Paralelo entre imunidades e isenções ...................... 63 3.2.3.2 Distinção entre isenções, não incidência e imunidades ................................................................... 64 3.3 TIPOS DE IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS ........................... 65 3.3.1 Imunidade recíproca ....................................................... 65 3.3.2 Imunidade objetiva e subjetiva ...................................... 65 3.4 Conceito de assistência social e requisitos ................... 66 3.4.1 A saúde, previdência e assistência social na Constituição ..................................................................... 69 3.4.2 Requisitos para obtenção da imunidade tributária ...... 71 3.4.2.1 Declaração de utilidade pública .................................. 73 3.4.2.2 Registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS) .............................................................. 74 3.4.2.3 Certificado de entidade beneficente de assistência social .............................................................................. 75 3.4.2.4 Não distribuição de vantagens a diretores ................. 76 3.4.2.5 Aplicação do resultado ................................................. 77 3.4.2.6 Requisitos em relação ao quantum de atendimentos. 78 3.4.3 Requerimento e deferimento da isenção ........................ 80 CONCLUSÃO................................................................ 83 Referências Bibliográficas.......................................... 85

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RESUMO

O presente estudo pretendeu centrar-se na questão das imunidades e isenções

tributárias para as entidades filantrópicas. Teve por objetivo geral, a identificação do

contexto das entidades filantrópicas e do terceiro setor. Nos objetivos específicos

pretendeu-se estudar de forma pormenorizada os requisitos para a obtenção do

Certificado de Entidades Filantrópicas, além de verificar a conduta necessária das

mesmas para a manutenção deste certificado. No primeiro capítulo, tratou-se da

história da filantropia no Brasil e do terceiro setor, identificando-se quatro fases. No

segundo capítulo tratou-se do Sistema Tributário Nacional, conceituando-o e

identificando tributo (gênero) e os impostos e contribuições sociais (espécies), para

no terceiro capítulo estuda-se as imunidades tributárias, suas origens,

conceituações, características, etc, para em seguida verificar-se a conceituação de

entidades beneficentes de assistência social e os requisitos para a obtenção do

certificado de filantropia.

Palavras-chave: filantropia, imunidades, entidades beneficentes de assistência

social.

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ABSTRACT

El presente trabajo pretendió tratar de la cuestión de las inmunidades e

exoneraciones tributarias para las instituciones filantrópicas. Tuvo por objetivo

general, la identificación del contexto de las filantrópicas y del tercer sector. En los

objetivos específicos se pretendió estudiar de forma pormenorizada los requisitos

para la obtención del Certificado de Instituciones Filantrópicas, además de verificar

la conducta necesaria de las mismas para la manutención de este certificado. En el

primer capítulo, se trató de historia de la filantropía en el Brasil y del tercer sector,

identificando cuatro fases. En el segundo capítulo se trató del sistema tributario

nacional, conceptuándolo, identificando tributo (género), los impuestos y las

contribuciones sociales (especie), para en el tercer capítulo estudiar las inmunidades

tributarias, sus origines, conceptuación, características, etc, para en seguida verificar

la conceptuación de las instituciones de beneficencia de asistencia social y los

requisitos para la obtención del certificado de filantropía.

Palabras clave: filantropía, inmunidades, instituciones de beneficencia de asistencia

social.

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INTRODUÇÃO

O presente estudo tem por finalidade analisar as imunidades e as isenções

tributárias para as entidades filantrópicas, relacionadas com o terceiro setor.

Tem por objetivo geral, a identificação do contexto das entidades filantrópicas

e do terceiro setor. Nos objetivos específicos pretende-se estudar a evolução das

entidades filantrópicas, seu conceito e os requisitos para a obtenção do Certificado

de Entidades Filantrópicas, além de verificar a conduta necessária das mesmas para

a manutenção deste certificado, para fazerem jus às imunidades e isenções fiscais.

É certo, que tais entidades, pelas atividades que desenvolvem, para que usufruam

das imunidades tributárias previstas na Constituição da República Federativa do

Brasil, em seus artigos 150 e 195, parágrafo 7º, devem cumprir certos requisitos

legais. Tais requisitos é que ao final, pretende-se demonstrar.

No primeiro capítulo será apreciado o histórico da filantropia no Brasil,

identificando-o em quatro fases, desde o período colonial até os dias atuais.

Estudar-se-á o terceiro setor, que ganhou força nos últimos anos, com o

envolvimento da sociedade e sua atuação nos campos sociais onde o Estado não

atua na forma necessária para a solução dos problemas dos seus cidadãos.

Verificar-se-á suas características e quais entidades o constituem.

No segundo capítulo será apreciado o Sistema Tributário Nacional,

identificando a atividade financeira do Estado, a conceituação deste sistema;

analisar-se-á a necessidade e o poder do Estado para cobrar tributos; as

competências tributárias e as espécies de tributos no ordenamento tributário

brasileiro, bem como a repartição das rendas destes tributos entre os entes

federados.

O terceiro capítulo estudará as imunidades tributárias, partindo de suas

origens, as limitações constitucionais ao poder do Estado para tributar, suas

aplicabilidades e conceituação. Tratará ainda das pessoas políticas que fazem jus às

imunidades tributárias, quais sejam as entidades de assistência social e os requisitos

necessários para que tais entidades possam usufruir das imunidades e isenções,

passando pela identificação da legislação pertinente a setor.

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1 AS ENTIDADES FILANTRÓPICAS E O TERCEIRO SETOR

Entende-se por filantropia, de modo genérico como a expressão de

determinado modo de relação social.

Teve como cenário inicial a Grécia antiga, por muitos considerado o berço da

democracia ocidental. Compreendia na visão de que tinham os pensadores gregos

como a amizade do homem para com outro homem; entendendo-se como vínculo

natural, visto que nenhum homem poderia ser alheio a outro. Este conceito foi

atribuído principalmente a Aristóteles. Já Platão, entendia sob três aspectos: a

saudação, a ajuda e a hospitalidade. O homem como ser social por essência

justificava a naturalização destas relações, considerando ainda que a igualdade e a

democracia fossem devidas àqueles que tinham status de cidadãos.1

Especificamente, filantropia (palavra originária do grego philos), significa amor

enquanto antropos significa homem e está relacionada ao amor do homem pelo ser

humano, isto é, pela humanidade. Em sentido restrito, constitui-se em sentimento, na

preocupação do favorecido com o que nada tem; gesto de voluntariedade, sem

intenção de lucro ou de apropriação de qualquer bem. Em sentido mais amplo

pressupõe sentimento humanitário, no sentido de que o ser humano tenha garantia

de vida digna. É a preocupação do indivíduo com o público, com o bem-estar

coletivo.2

Continuando no entendimento de Maria Silvana Escorsim:3 foi no interior da

sociedade civil que nasceu a ajuda ao outro e historicamente foi sob a influência e

referendada pela Igreja Católica, que durante um longo período histórico alicerçou

as condutas morais de seus seguidores na caridade e amor ao próximo, ainda que

1 ESCORSIM, Silvana Maria. A filantropia no Brasil:entre a caridade e a política de assistência social. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/086escorsim.htm>. Acesso em 29 julho 2008. 2 MESTRINER. Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2005. p. 14. 3 Silvana Maria Escorsim é Assistente Social, mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e doutoranda na mesma instituição.

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num contexto europeu dividido por estamentos sociais rígidos, determinantes da

ocupação das classes naquelas sociedades, com atendimento às famílias pobres. Já

no período feudal, nas pequenas propriedades rurais na Europa, a vida comunitária

requereu de seus habitantes atitudes de ajuda mútua, seja na produção de bens

para atendimento das necessidades materiais de existência, como também nos

acontecimentos ligados aos ciclos de vida e defesa desta, contra intempéries

provocadas por catástrofes da natureza, doenças e guerras. A proteção à família era

o objetivo geral.4

A partir da produção capitalista, as relações sociais assentadas no

mutualismo de grupos sociais sofreram uma erosão em suas bases. Foi quando

apareceu o sistema de desigualdades sociais como principio fundante, isto é, o

antagonismo de interesses entre trabalho e capital, onde estabeleceu-se novas

relações de produção na base infra-estrutural societária, como também na produção

e reprodução da base política-ideológica, constituída pelo Estado, pelo direito e

pelas formas de consciência social.5

O surgimento do Estado moderno, que ao invés de representar os interesses

do bem comum, expressou os interesses da burguesia, que o prescreveu como

regulador contratual da sociedade industrial. Assim sendo, aparecendo a sociedade

capitalista com suas propriedades privadas e com seus meios de produção, o

mercantilismo dela decorrentes formou dois grupos sociais: aqueles aproveitados

como trabalhadores inseridos no processo produtivo dos quais se extraia a mais

valia, e aqueles cuja força de trabalho não interessavam ao capital,

conseqüentemente releados do processo produtivo, restando-lhes a caridade, a

benemerência, e a filantropia como respostas às suas indigências.6

A idéia do Estado como protetor das necessidades coletivas, na concepção

de que estas estão acima das individualidades efetiva-se somente no século XX, na

Inglaterra com o Lorde Beveride (1942). Com este Estado protetor, se estabelece

4 ESCORSIM, Silvana Maria. A filantropia no Brasil:entre a caridade e a política de assistência social.Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/086escorsim.htm>. Acesso em 29 julho 2008. 5 MESTRINER. Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. p. 14 6 ESCORSIM, Silvana Maria. A filantropia no Brasil:entre a caridade e a política de assistência social. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/086escorsim.htm>. Acesso em 29 julho 2008.

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políticas sociais, direcionando as ações antes voltadas ao plano individual para o

plano social.7

1. HISTÓRIA DA FILANTROPIA NO BRASIL

A assistência social realizada pelas entidades filantrópicas, historicamente vai

se estruturando com a sociedade civil e no interior do Estado, pois se constituem em

práticas de serem tratadas com “sobras” de recursos, diferentemente da política, que

exige orçamento próprio, responsabilidade e compromisso. Assim o Estado vai

resistindo em adotar como política, o que só ocorrerá no Brasil com a Constituição

federal de 1988.8

Contudo as obras assistenciais tiveram seu início no Brasil colonial; aos

religiosos cabia a prestação destes serviços. A evolução da assistência social no

Brasil se deu de forma muito lenta, e muitos anos se passaram até que se adquiriu

status de política pública de Estado.9

A filantropia no Brasil pode ser analisada em primeira, segunda, terceira e

quarta fases.

1.1.1 Primeira fase

No Brasil, a história da filantropia é antiga e habitualmente está estreitamente

ligada às práticas da Igreja Católica. Assim sendo, as ações filantrópicas estiveram

arraigadas à concepção caritativa de ajuda ao próximo sob o prisma da moral cristã,

na qual há o reconhecimento do valor da pobreza como redentora dos pecados. Isto

data do período colonial, quando as sociedades católicas laicas fundavam

7 ESCORSIM, Silvana Maria. A filantropia no Brasil:entre a caridade e a política de assistência social. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/086escorsim.htm>. Acesso em 29 julho 2008. 8 MESTRINER. O Estado entre a filantropia e a assistência social. p 16. 9 MACAHDO. Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. Curitiba: Juruá, 2007. p. 35.

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organizações voluntárias como hospitais, orfanatos e asilos, patrocinados por fundos

patrimoniais e doações.10

O marco inicial da filantropia e do voluntariado no Brasil, como já citado,

remonta aos primeiros anos da colonização, com a fundação da Santa Casa de

Misericórdia de Santos, em 1543, decorrente da forte ligação entre a religião e a

caridade, ligadas e centradas na área da saúde.11

Para Mestriner, no período imperial até 1889, vigorou a filantropia caritativa,

caracterizada pela assistência e repressão, com o atendimento pelas pias e casas

de misericórdia aos órfãos, inválidos, enfermos, delinquentes e alienados.12

Já na segunda metade do século XIX, para conter a disseminação das

doenças contagiosas, foram criados educandários, asilos e hospícios destinados à

assistência social dos necessitados. O forte caráter assistencialista e filantrópico, é

estimulado principalmente pela população abastada, dando assim o tom das

atividades voluntárias. Naquele período, a elite, em especial a carioca, tinha o

controle sobre as instituições, que eram financiadas pelos homens ricos e “damas

cariocas”. 13

Têm-se vários exemplos de organizações assistenciais e filantrópicos que vão

surgindo no Brasil, a exemplo da fundação da Cruz Vermelha Brasileira, em 1908,

reconhecida pelo governo como uma sociedade autônoma de socorro voluntário.

Dois anos depois surge o escotismo no Rio de Janeiro, cuja regra era ajudar o

próximo em toda e qualquer ocasião.14

Assim, ao longo dos séculos, no Brasil, a filantropia e a assistência social

associam-se intimamente às práticas de caridade. Dependem de iniciativas

voluntárias e isoladas de auxílio aos pobres e desvalidos da “sorte”. Estas iniciativas

10 ESCORSIM, Silvana Maria. A filantropia no Brasil:entre a caridade e a política de assistência social. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/086escorsim.htm.> Acesso em 29 julho 2008. 11 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http:// www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.>Acesso em 29 julho 2008. 12 MESTRINER. Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. p. 45. 13 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http://www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 14 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http://www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.>Acesso em 29 julho 2008.

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continuam partindo das instituições religiosas que, sob o prisma da herança moral

cristã, demandam cuidados, oferecendo abrigos, roupas e alimentos, em especial às

crianças abandonadas, aos velhos e doentes em geral. Neste contexto é mais que

reconhecido o papel das Santas Casas de Misericórdia bem como de outras ordens

religiosas.15

1.1.2 Segunda Fase

Contudo, após a Primeira Guerra Mundial, o governo brasileiro, ante o

crescimento das ações da sociedade relacionadas à assistência social, passa atuar

em algumas ações. Surge então a Lei de Declaração de Utilidade Pública (1935),

para regular e organizar o dinheiro público destinado às instituições filantrópicas em

vigor até os dias de hoje. Surge assim, uma nova fase do voluntariado no Brasil,

marcada pela intervenção do Estado, utilizando mecanismos como a atribuição de

certificados, subvenções e convênios, em uma espécie de parceria com as

iniciativas da sociedade civil, reforçando a idéia de filantropia e o modelo de

voluntariado assistencial desenvolvido até então.16

Nesta época, o Estado esforça-se em regulamentar o conjunto privado da

filantropia, havendo uma atenção especial à parcela da sociedade civil composta por

trabalhadores sem carteira assinada, desempregados e trabalhadores informais.

Surgindo a primeira separação entre o que era atividade filantrópica e o que era

trabalho regulamentado e, portanto, entendido como direito social. É o momento do

surgimento da previdência social e da Consolidação das Leis do Trabalho.17

15 ESCORSIM, Silvana Maria. A filantropia no Brasil:entre a caridade e a política de assistência social. Disponível em <http://www.espacoacademico.com.br/086escorsim.htm.> Acesso em 29 julho 2008. 16 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social Disponível em <http://www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 17 MESTRINER. Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. p. 45.

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Nesta linha, a atitude do Estado era de cooperação, pois criava-se uma série

de incentivos para que a sociedade civil e as instituições privadas assumissem parte

do atendimento das necessidades emergenciais da população18.

Neste período, mais precisamente em 1942, foi fundada a Legião Brasileira

de Assistência (LBA), presidida sempre por primeiras-damas. Além disso, fazem

partes deste contexto do voluntariado, a criação da Fundação Dorina Nowill para

cegos, em 1945; o surgimento da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais

(APAE), em 1954; criação do Centro de Valorização da Vida (CVV), em 1962 e o

lançamento do projeto Rondon em 1967.19

Foi assim também, que no governo de Getúlio Vargas que criou-se o

Conselho Nacional de Serviço Social, além do surgimento das instituições Serviço

Nacional de Aprendizagem do Comércio – SESC e do Serviço Social da Indústria –

SESI.20

Para Mestriner, o período Getulista, de 1930:1945 vigeu a filantropia

disciplinadora, com o surgimento das instituições assistenciais, hospitais,

ambulatórios e postos de saúde voltadas à população em geral, inclusive com a

proteção à infância, com o surgimento de creches, orfanatos e internatos de

educação.21

Percebe-se, portanto, que nesta fase a atuação do governo já se faz mais

presente no campo da assistência social, no sentido de regular as atividades bem

como com alguma forma de investimentos.

1.1.3 Terceira fase

Esta fase do voluntariado inicia-se no final da década de 1950 com o

surgimento de movimentos sociais e é conhecida como o voluntariado combativo,

18 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http:// www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 19 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social Disponível em <http://www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 20 MESTRINER. Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. p. 117. 21 MESTRINER. Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. p. 45.

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trazendo consigo a idéia de lutas por direitos. A passos lentos, nos anos 70, o

voluntariado, apesar de estar sob forte influência do Estado ditatorial, cria-se as

primeiras ONG’s (Organizações não-governamentais), das quais, adiante se

estudará. Tais organizações fomentadas por instituições européias têm por objetivo

realizar projetos de desenvolvimento social. 22

Nesse período, o regime militar não aceita iniciativas por parte da sociedade

civil, sendo que, tudo que não estivesse sob seu controle era ilegal. A única exceção

era a atuação da igreja que, por sua tradição e força, conseguiu manter sua

independência. É justamente nas igrejas que se têm o surgimento e o crescimento

dos movimentos sociais autônomos, além dos sindicatos e partidos políticos,

associações civis de vários gêneros, de índole libertadora, politizadora e

revolucionária em relação ao Estado. É neste momento que alianças internacionais

(principalmente européias), financiam esses movimentos que passam ser

denominados ONG’s, com o intuito de resgatar a democracia e o estado de direito

no Brasil.23

Decorrente destes movimentos, duas atuações paralelas são registradas nas

décadas de 1970 e 1980: uma liderada pelo governo e outra pela sociedade civil.

Por parte do governo, em 1979, é lançado o Programa Nacional do Voluntariado

(PRONAV), cujo objetivo era arrecadar recursos para os programas da LBA. Por

parte da sociedade, durante o processo de redemocratização, no inicio da década

de 1980, o movimento voluntário passa ser intensamente reavaliado e questionado

politicamente, muitas vezes associando-se às atividades político-partidárias voltadas

à democratização e aos direitos humanos.24 É nesse período (1983) que criou-se a

Pastoral da Criança.25

22 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http://www.açãovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 23 SÉLIOS, Cláudia de Lima. Histórico do bem: a filantropia através dos tempos. Disponível em <http://www.açãovoluntaria.org.br/encontro-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 24 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http://www.açãovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 25 Pela importância desta organização no desenvolvimento do voluntariado no Brasil apresenta-se sinteticamente noções pertinentes: A Pastoral da Criança é apontada como uma das mais importantes organizações em todo o mundo a trabalhar nas áreas da saúde, nutrição e educação da criança, desde o ventre materno até os seis anos de vida, e de

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As ações governamentais eram extremamente paternalistas, assistenciais e

estavam centradas na atuação da LBA, contudo, em conseqüência da má aplicação

dos recursos, esta instituição acabou sendo extinta.

Para o voluntariado brasileiro sua extinção resultou em dois pontos: a

necessidade de organização das atividades de maneira transparente e confiável, e a

importância de não apenas prestar serviços, mas buscar que a assistência social

fosse convertida em luta pela garantia dos direitos dos menos favorecidos. 26

1.1.4 – Quarta fase

Nesta fase da história, que até hoje vivencia-se, as atividades voluntárias

caracterizam-se, pela atuação de Organizações Não-Governamentais – ONG’s,

fundações e empresas privadas numa espécie de co-responsabilidade entre tais

instituições e o Estado. Caracterizam-se pelo somatório de esforços da sociedade,

juntamente com o Estado responsável pelo desenvolvimento social.27

É, portanto, nesse momento que evidencia-se a força do Terceiro Setor, que

por sua importância dedica-se as páginas seguintes.

preservação da violência no ambiente familiar, envolvendo necessariamente as famílias e comunidades. Essa história começou em 1982, numa reunião da ONU em Genebra, quando o Cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, então Arcebispo de São Paulo, se encontrou com Mr. James Grant, Diretor Executivo do UNICEF na época. Este o convenceu de que a igreja poderia ajudar a salvar milhares de vidas de crianças que morriam de doenças facilmente previníveis como, por exemplo, a desidratação causada pela diarréia. O soro oral era considerado um dos maiores avanços da medicina na época. Voltando ao Brasil, Dom Paulo contatou sua irmã,a médica pediatra e sanitarista Dra. Zilda Arns Neumann, pedindo-lhe que pensasse de que maneira se poderia concretizar essa idéia. No ano seguinte, a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – confiava a tarefa de criação e desenvolvimento da Pastoral da Criança à Dra. Zilda Arns Neumann e a Dom Geraldo Majella Agnelo, então Arcebispo de Londrina. Em setembro de 1983, A Pastoral da Criança iniciava suas atividades no município de Florestópolis, no estado do Paraná, desenvolvendo uma metodologia própria que une a fé com ávida, tendo como centro a criança em seu contexto familiar e comunitário. É uma metodologia que multiplica conhecimentos e amplia os laços de solidariedade, fortalecendo a rede de voluntários que promove o autodesenvolvimento dos pobres, visando a própria libertação. Texto extraído de http://www.rebidia.org.br/pastoral/fr_pasto.html Acesso em 29/07/2008. 26 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http://www.acaovoluntaria.org.br/encontro-his-vol.asp.> Acesso em 29 julho 2008. 27 O voluntariado no Brasil: da caridade à consciência social. Disponível em <http://www.acaovoluntaria.org.br/encontro-hist-vol.asp> Acesso em 29 julho2008.

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20

1.2 O TERCEIRO SETOR

Com a evolução do Estado Democrático de Direito, surge uma nova ordem

institucional, que se coloca entre o setor público e o setor privado: o setor social.28

A par dos dois setores já existentes, o público e o privado, surge o Terceiro

Setor, que de certa forma já existia no Brasil desde a época colonial, porém, com

outra conotação. Este setor abriga as organizações que se preocupam com o bem-

estar social, sendo que até o ano de 1993, esta preocupação tinha um cunho ou

paternalista ou assistencialista. Os governantes transferiam para as entidades

religiosas o dever de cuidar do bem-estar do cidadão.29

Não existe lei específica e uma conceituação definida para o terceiro setor,

contudo diante das várias denominações simultâneas ao surgimento de certas

organizações no interior da sociedade civil (caracterizadas pela promoção de ações

de natureza privada com fins públicos), diferentes denominações passaram a ser

dadas a elas.30

Para Alexandre do Moraes Rosa et.al: “Alguns exemplos são: organizações

voluntárias, organizações não-governamentais (ONG’s), organizações sem fins

lucrativos, setor independente e terceiro setor” p. 25

Esta diversidade de denominações, segundo Alexandre de Moraes Rosa et.

al. demonstra a falta de previsão conceitual, o que por sua vez, revela a dificuldade

de enquadrar toda a diversidade de organizações em parâmetros comuns.31

Genericamente, o Terceiro Setor é visto como derivado de uma conjugação

entre as finalidades do primeiro setor e a metodologia do segundo, ou seja,

composto por organizações que visam benefícios coletivos (embora não sejam

28 Machado, Maria Rejane. Entidades beneficentes de assistência social. Curitiba: Juruá, 2007, p. 29. 29 Machado, Maria Rejane. Entidades beneficentes de assistência social. 2007, p. 29 30 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, Florianópolis: Tribunal de Justiça/divisão de artes gráficas, 2003, p. 24-25. 31 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 25

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integrantes do governo) e de natureza privada (embora não objetiva auferir lucros). 32

Escreve Simone Coelho, sobre Terceiro Setor:

O termo expressa uma alternativa para as desvantagens tanto do mercado, associadas à maximização do lucro, quanto do governo, com sua burocracia inoperante. Combina a flexibilidade e a eficiência do mercado com a equidade e a previsibilidade da burocracia pública33.

Na mesma linha, argumentando a importância do Terceiro Setor, escreve

José Eduardo Sabo Paes:

Antes de procurar conceituar, faz-se mister esclarecer que, junto com o Estado (Primeiro Setor) e com o mercado (Segundo Setor), identifica-se a existência de um Terceiro Setor, mobilizador de um grande volume de recursos humanos e materiais para impulsionar iniciativas voltadas para o desenvolvimento social, setor no qual se inserem as sociedades civis sem fins lucrativos, as associações civis e as fundações de direito privado, todas entidades de interesse social.34

Com esta afirmação, entende-se melhor a conceituação do Terceiro Setor,

pois este seria uma “dissidência do Estado (público) e do Mercado (privado), ou seja,

público, porém privado; relacionando-se com ambos.”35

José Eduardo Sabo Paes, afirma:

Podemos assim conceituar o Terceiro Setor como conjunto de organismos, organizações ou instituições sem fins lucrativos dotados de autonomia e administração própria que apresentam como função e objetivo principal atuar voluntariamente junto à sociedade civil visando seu aperfeiçoamento. 36

32 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 25 33COELHO, Simone de Castro Tavares. Terceiro Setor: um estudo comparado entre o Brasil e Estados Unidos. São Paulo: Editora SENAC São Paulo, 2000, apud Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 25 34 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídicos, administrativos, contábeis e tributários. 5. ed. Brasília: Brasília jurídica, 2004, p. 98 35 Machado, Maria Rejane. Entidades beneficentes de assistência social. 2007, p. 30 36 PAES, José Eduardo Sabo. Fundações e entidades de interesse social: aspectos jurídicos, administrativos, contábeis e tributários. p. 99.

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Não é diferente o pensamento de Alexandre Moraes da Rosa, et. al.:

O espaço criado pelo Terceiro Setor se configura, então, como aquele de iniciativas de participação cidadã. As ações que se constituem neste espaço são tipicamente expressões da esfera pública não executadas pelo Estado e caras demais para serem geridas pelos mercados. Começa então o papel do cidadão que, agente ativo da sociedade civil, a organiza de modo a catalizar voluntários em substituição aos serviços oferecidos pelo Estado via taxação compulsória, e a transformar em doações a busca pelo lucro do mercado. 37

Assim, com base nas afirmações acima, pode-se verificar que o Terceiro

Setor é formado por entidades privadas, cujo objetivo é fornecer à sociedade o que

lhe é de direito, garantido na Constituição Federal. Direitos estes que seriam dever

do Estado, mas que não consegue cumprir.38

Diante das afirmações acima, conclui Maria Rejane Bitencourt Machado:

O Terceiro Setor complementa as ações do: a) Governo – Atende às necessidades da sociedade, onde este deixa lacunas, por não poder suprir, como: Educação, saúde, assistência social, cultura, comunicação e outros; b) Mercado – Por ter a característica de obtenção de lucro, não consegue ir de encontro às necessidades acima citadas, mas se estas forem parcial ou totalmente satisfeitas, criará um público de consumidores para o mercado.39

Vê-se, portanto, que o Terceiro Setor está intimamente ligado ao primeiro

setor (Público) e o segundo setor (privado) para de forma conjunta atuar no bem-

estar da sociedade.

1.2.1 Características do Terceiro Setor

Alexandre de Moraes Rosa et.al. encontra cinco características para o

Terceiro Setor: estruturadas, privadas, não distribuidoras de lucros, autônomas e

voluntárias.

37 ROSA, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 25. 38 MACHADO, Maria Rejane. Entidades beneficentes de assistência social. 2007, 30. 39 MACHADO, Maria Rejane. Entidades beneficentes de assistência social. 2007, 30.

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1. Estruturadas: possuem certo nível de formalização de regras e procedimentos, ou

algum grau de organização permanente. São, portanto, excluídas as organizações

sociais que não apresentam uma estrutura interna formal.

2) Privadas: estas organizações não têm nenhuma relação institucional com

governos, embora possam deles receber recursos.

3) Não distribuidoras de lucros: nenhum lucro gerado pode ser distribuído entre os

seus proprietários ou dirigentes. Portanto, o que distingue essas organizações não é

o fato de possuírem “fins lucrativos” e sim, o destino que é dado a estes, quando

existem. Eles devem ser dirigidos à realização da missão da instituição.

4) Autônomas: possuem os meios de controlar sua própria gestão, não sendo

controladas por entidades externas.

5) Voluntárias: envolvem um grau significativo de participação voluntária (trabalho

não-remunerado). A participação de voluntários pode variar entre as organizações e

de acordo com a natureza da atividade por ela desenvolvida. 40

Entendendo o Terceiro Setor como “um conjunto de organizações e iniciativas

privadas que visam à produção de bens e serviços públicos”, Alexandre de Moraes

Rosa, et. al, demonstra a correlação entre os três setores na seguinte forma: 41

COMBINAÇÕES RESULTANTES DA CONJUGAÇÃO ENTRE O PÚBLICO E O PRIVADO

AGENTES FINS SETOR

Privados para Privados = Mercado Públicos para Públicos = Estado Privados para Públicos = Terceiro Setor Públicos para Privados = Corrupção

40 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 26-27. 41 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 27.

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Na mesma linha de raciocínio, com o intuito de demonstrar com mais

visibilidade, como ocorre a interligação entre o público, o privado e o terceiro setor,

apresenta-se o fluxograma, elaborado por Maria Rejane Bitencourt Machado:42

RELAÇÃO ENTRE OS TRÊS SETORES

1.2.2 Entidades que compõem o Terceiro Setor

O Terceiro Setor é composto de organizações privadas de fins não

econômicos, que visam o atendimento de necessidades coletivas, conforme dispõe o

artigo 4443 do código Civil vigente. Assim, dentre estas organizações encontram-se

as fundações privadas, entidades de previdência privada, associações civis,

42 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 32. 43 BRASIL. Código Civil. 10.ed. São Paulo: Rideel. 2004.

SETOR PÚBLICO (ESTADO) Tem as ações organizadas e delimitadas por um arcabouço legal, é dotado de poderes em face da sociedade, para que possa atuar em seu benefício, devendo ter sua atuação dirigida a todos os cidadãos.

SETOR PRIVADO (MERCADO) Tem como objetivo a troca de bens e serviços, busca o lucro e sua maximização.

TERCEIRO SETOR

É composto de organizações privadas de fins não econômicos, que visam o atendimento de necessidades coletivas da sociedade cf. art. 44 do Código Civil brasileiro (Lei 10.825, de 22 de dezembro de 2002).

Pertencem ao Terceiro Setor: associações, fundações, organizações religiosas, organizações sindicais e os partidos políticos.

A existência dos três setores é indispensável para a sociedade, visto que interagem entre si, onde um supre as necessidades do outro, buscando a harmonia entre ambos, reconhecendo a impossibilidade de atingirem seus objetivos de forma isolada.

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estabelecimentos de saúde, instituições de educação, estabelecimentos de incentivo

à cultura, entidades desportivas, organizações sociais, organizações da sociedade

civil de interesse público – OSCIP, (Lei 9.790/99), organizações não-governamentais

– ONG, organizações religiosas, organizações sindicais e os partidos políticos.44

Com o propósito elucidativo, passa-se a discorrer sobre o conceito das

principais entidades que compõem o Terceiro Setor.

1.2.2.1 Associações

A Constituição da República Federativa do Brasil45 em seu artigo 5º, inciso

XVII diz ser plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter

paramilitar.

O Código Civil46 trata das associações nos seus artigos 53 e seguintes,

afirmado que constituem-se as associações pela união de pessoas que se

organizam para fins não econômicos.

O traço peculiar das associações civis, portanto, é justamente a sua finalidade

não econômica – podendo ser educacional, lúdica, profissional, religiosa, etc.

Resulta, conforme se anotou, da união de pessoas, geralmente em grande número

de associados, e na forma estabelecida em seu ato constitutivo, denominado

estatuto47

Para Maria Helena Diniz,

Associação é uma pessoa jurídica de direito privado voltada a finalidades não lucrativas, ou seja, culturais, sociais, pias, religiosas, recreativas, etc. cuja existência legal surge com a inscrição do estatuto social, que a disciplina, no registro competente.48

44 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 24 45 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 46 BRASIL. Código Civil. 10.ed. São Paulo: Rideel. 2004. 47 GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo código civil. Parte geral, 8. ed. rev. ampl. São Paulo: Saraiva, 2006, vol. I, p. 207-208. 48 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. 12. ed. rev. ampl. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 91.

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26

As principais características de uma associação, como se vê, são a reunião

de pessoas e a finalidade não lucrativa. Entretanto, o fato de se criar uma

associação não implica necessariamente a criação de uma entidade de cunho

social, pois diversos propósitos podem não visar o lucro, mas mesmo assim, não

servir de proveito de todos. São os casos dos clubes recreativos, de acesso restrito

aos sócios, eventualmente com critérios rígidos de admissão, e as associações que

visam divulgar interesses particulares de seus associados, como os clubes de

colecionadores de selos, de automóveis, etc. Portanto, há que se fazer uma

distinção entre o cunho associativo do cunho social ou, adotando outro critério de

separação, àqueles destinados ao benefício mútuo daqueles dedicados ao benefício

público.49

As associações ganham personificação, para os efeitos jurídicos, isto é,

quando passam a ter aptidões para ser sujeitos de direitos e obrigações com seu

registro no órgão competente. Não há nas associações a reciprocidade de direitos e

obrigações entre os sócios, posto que cada associado constitui uma individualidade

e a associação outra, tendo cada um individualmente direitos e deveres. Nas

relações entre associados e associação há direitos e deveres a partir do estatuto

social, porém, sem reciprocidade. Contudo, há liame obrigacional em razão de atos

negociais, isto é, nos atos de sua operacionalidade. Não há também quaisquer

deveres pessoais e prerrogativas entre associados, nem intenção de dividir

resultados.50

Importante observar que, pelo fato de não ter escopo lucrativo, a associação

não está impedida de gerar renda que sirva para a mantença de suas atividades e o

pagamento de seu quadro funcional. Pelo contrário o que se deve observar é que,

nas associações, os seus membros não pretendem partilhar lucros ou dividendos,

como ocorre entre os sócios nas sociedades mercantis. A receita gerada deve ser

revertida em beneficio da própria associação visando à melhoria de sua atividade.

Por isso, o ato constitutivo da associação (estatuto) não deve impor, entre os

49 SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regularização no Brasil. 4. ed. São Paulo: Peirópolis, 2006, p. 28. 50 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. p. 91-92.

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próprios associados direitos e obrigações recíprocos, como aconteceria se se

tratasse de um contrato social, firmado entre os sócios.51

1.2.2.2 Fundações privadas

As fundações têm previsão legal no artigo 62 do Código Civil52 vigente, que

dispõe para a sua criação a necessidade se um instituidor fazer, por escritura ou

testamento, dotação de bens livres, especificando o fim a que se destina, e

declarando, se quiser, a maneira de administrá-la, além de determinar que as

mesmas só podem ser constituídas para fins religiosos, morais, culturais ou de

assistência.

Para Maria Helena Diniz,

o termo fundação é originário do latim fundatio, ação ou efeito de fundar. É um complexo de bens livres (universitatis bonorum) colocado por uma pessoa física ou jurídica a serviço de um fim lícito e especial com alcance social pretendido pelo seu instituidor, em atenção ao disposto em seu estatuto. 53

As fundações têm sua constituição forma diversa das demais pessoas

jurídicas de direito privado, dentre elas, para citar as mais importantes, as

sociedades civis, limitadas ou por ações, que têm um denominador comum:

decorrem da reunião de pessoas que se propõem a trabalhar juntas por um objetivo

comum. A fundação é um tipo especial de pessoa jurídica, pois pode ser constituída

por um só indivíduo. Essa modalidade ainda é pouco usual. Outra característica da

fundação é a possibilidade de ser criada após a morte do seus instituidor, em

cumprimento à disposição testamentária. Sua constituição se dá, em primeiro

momento, pela reunião de bens e a sua destinação a uma finalidade determinada

pelo seu instituidor.54

51 DINIZ, Maria Helena. Código Civil anotado. p. 97. 52 BRASIL. Código Civil. 10.ed. São Paulo: Rideel. 2004. 53 DINIZ, Maria Helena. Código civil anotado. p. 98. 54 SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulamentação no Brasil. 2006. p. 37.

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Conceituando fundação, escreve Eduardo Szazi: ”conjunto de bens com um

fim determinado, que a lei atribui a condição de pessoa, [...] um complexo de bens

destinados à consecução de fins sociais e determinados”. 55

Para Leandro Marins de Souza,56:

Não raras vezes a finalidade específica da destinação do patrimônio livre para a instituição de uma fundação se reveste de fins assistenciais ou de educação. Verdadeiramente, as fundações privadas estão, via de regra, voltadas para finalidades altruísticas de variadas matizes, abertas ou fechadas, de benemerência e caridade, ora culturais, científicas, educacionais, confessionais, artísticas ou desportivas.

Segundo Sílvio de Salvo Venosa, para a constituição da fundação há dois

momentos bem delineados: o ato de fundação propriamente dito, que é a sua

constituição emanada de vontade, e o ato de dotação de um patrimônio, que lhe dá

vida. O ato de dotação compreende a reserva de bens livres, a indicação dos fins e

a maneira pela qual o acervo será administrado. Os bens devem ser livres e

desembaraçados, uma vez que qualquer ônus sobre eles colocaria em risco a

existência da entidade, frustrando seus objetivos. São duas as modalidades de

formação: a direita e a fiduciária. Pela formação direita, o próprio instituidor projeta e

regulamenta a fundação; pela formação fiduciária, o instituidor entrega a tarefa de

organizá-la a outrem.57

Quanto às finalidades, a fundação apenas poderá ser constituída para a

consecução de objetivos religiosos, morais culturais ou assistenciais

1.2.2.3 Organizações religiosas e partidos políticos

O artigo 44 do Código Civil58 foi emendado em 2003 pela lei 10.825. Assim,

além das associações, das sociedades e das fundações, o ordenamento conclui

55 SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulamentação no Brasil. 2006. p. 37. 56 SOUZA, Leandro Marins de. Imunidade tributária. Entidades de educação& assistência social. Curitiba: Juruá, 2006. 120-121 57 VENOSA, Silvio Salvo. Direito civil. parte geral. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2006, p. 279 58 BRASIL. Código Civil. 10.ed. São Paulo: Rideel. 2004.

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pela existência de duas outras pessoas jurídicas de direito privado: as organizações

religiosas e os partidos políticos.59

Juridicamente, podem ser consideradas organizações religiosas, todas as

entidades de direito privado, formadas pela união de indivíduos com o propósito de

culto a determinada força ou forças sobrenaturais, por meio de doutrina e ritual

próprios, envolvendo, em geral preceitos éticos. Assim, tem-se que enquadram-se

como organizações religiosas, desde igrejas e seitas até comunidades leigas, como

confraria e irmandades. Dessa forma, encontra-se enorme gama de manifestações

da espiritualidade humana, como por exemplo, comunidades católicas, evangélicas,

associações espiritualistas, tendas de umbanda, entidades budistas ou relativas à

prática de outras filosofias orientais.60

Ressalta-se, ainda, que todas estas expressões religiosas são livres para

manifestarem-se, desde que sejam manifestações lícitas. Trata-se portando do que

se convencionou chamar de liberdade de organização religiosa, coexistindo com a

liberdade de crença e de culto, conforme impõe o Art. 19, I, da Constituição da

República Federativa do Brasil61 que veda à União, aos Estados, ao Distrito Federal

e aos Municípios estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los,

embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou com seus representantes

relações de dependência ou aliança, ressalvados, na forma da lei, a colaboração do

interesse público.

1.2.2.4 Organizações não-governamentais

A significação negativa de organização não-governamental revela um cunho

de independência e de ocupação do espaço público por quem não é do governo.

Não há, no direito brasileiro, qualquer designação de ONG, como também não há

uma espécie de sociedade definida em lei chamada de ONG, mas um

59 VENOSA, Silvo Salvo. Direito civil parte geral. p. 277. 60 GAGLIANO, Pablo Stolze e PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo código civil. Parte geral, p. 223-224. 61 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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reconhecimento sobralegal, de cunho cultural, político e sociológico que está em

vigor mundo a fora.62

As ONG’s são entidades de natureza privada, sem finalidade lucrativa e

mantidas por intermédio de doações, convênios com entidades de natureza pública

ou privada, e prestação de serviços, que podem desempenhar atividades que se

enquadrem nos conceitos de educação ou assistência social.63

As organizações não-governamentais podem ser constituídas sob a forma de

fundação privada, associação civil, assim como podem ser qualificadas como

Organização Social ou Organização da Sociedade Civil de Interesse Público –

OSCIP. As regras para estas organizações são internas, dispostas em um estatuto,

que lhe da cunho institucional, distinto da natureza meramente contratual das

sociedades limitadas ou por ações, por exemplo.64

Diferentemente dos tipos societários brasileiros, que em sua maioria são

sociedade pessoais, ou de pessoas, o que quer dizer que gravitam em torno dos

interesses das pessoas que compõem estes quadros, as sociedades institucionais,

tal com as ONG’s, têm como objetivo, regras de administração internas e critérios

para a admissão de novas pessoas aos quadros sociais. Isto significa dizer que, as

pessoas que aderem aos interesses das ONG’s, tem interesses no cumprimento do

fim a que esta entidade se propôs, ao invés do interesse pessoal dos sócios como

das sociedades de fins lucrativos.65

Sobre ONG, Alexandre Maraes da Rosa et. al.:

ONG’s não existem em nosso ordenamento jurídico. São um fenômeno mundial em que a sociedade civil se organiza espontaneamente para a execução de certo tipo de atividade cujo cunho, o caráter, é de interesse público. A forma societária mais utilizada é a da associação civil (em contrapartida às organizações públicas e às organizações comerciais). São regidas por estatuto, têm finalidade não econômica e não lucrativa. Fundações também podem vir a ser genericamente reconhecidas como ONG’s. [...]

62 Rosa, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p. 31. 63 SOUZA, Leandro Marins de. Imunidade tributária entidades de educação & assistência social, p. 139. 64 ROSA, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor. P. 31. 65 ROSA, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor. P. 31

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31

Assim as ONG’s são uma das formas de organização do Terceiro Setor. 66

Visto o histórico da filantropia no Brasil, bem como a contextualização do

terceiro setor que muito tem colaborado com o Estado, ou mesmo atuando onde o

este Estado não atua com a desenvoltura necessária na solução de problemas

sociais dos mais carentes, razão porquê da proliferação destas entidades, passa-se

ao capítulo seguinte que tratará do Sistema Tributário Nacional que compreende o

regramento constitucional de onde Estado retira a sua principal fonte de recursos

para o desenvolvimento de suas atividades.

66 ROSA, Alexandre de Moraes et. al. Marco legal do terceiro setor, p 32.

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2 O SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL

2.1 O Estado e sua atividade financeira

É certo que para viver em sociedade, o homem necessitou de uma entidade

com força superior, capaz de fazer regras de condutas e constituir direitos.67

Este Estado que surge, da necessidade da convivência em sociedade, pode

apresenta-se centralizado, em uma única unidade – Estado unitário - ou noutra

situação descentralizado, isto é, Estado Federado.68

Pertence o Brasil aos denominados Estados federados, embora a

centralização do poder político e especialmente a centralização das rendas

tributárias, antes da Constituição de 1988, fossem de tal ordem, que a característica

do Brasil implicasse em Estado unitário.69

Para Roque Antonio Carrazza, o Estado brasileiro é um Estado Federal. Nele

os Estados-membros, embora conservem suas autonomias nas relações internas,

não têm personalidade internacional.70

E, continua autor:

A partir da Constituição da República Federativa do Brasil vigente, deu-se um

passo significativo rumo ao federalismo, apesar de ainda persistir dependência de

forma acentuada dos Estados e Municípios, uma vez que a distribuição das cotas de

participação continuam ser administradas pelo poder central.

O Estado brasileiro, a exemplos de outros, desenvolve atividade financeira.

Esta atividade financeira, contudo, não é arrecadatória. Está mais propriamente

ligada na forma de atuação, com maior ou menor intensidade, na gestão de seu

patrimônio e intervindo na economia em favor da coletividade.

67 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 12 ed. rev.ampl. e atual. São Paulo: Malheiros, 1999. p. 99. 68 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 28º ed. rev. atual. ampl. São Paulo: Malheiros, 2007, p.p. 55. 69 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 55. 70 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 100.

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As receitas do Estado provêm de atividades dos entes públicos, de

monopólios, de empréstimos, e principalmente da imposição tributária (fiscal,

parafiscal e extrafiscal).71

Concluindo sobre a atividade financeira do Estado, sintetiza o doutrinador

Hugo de Brito Machado: “Diz-se que o Estado exercita apenas atividade financeira,

como tal entendido, o conjunto de atos que o Estado pratica na obtenção, na gestão

e na aplicação dos recursos financeiros de que necessita para atingir seus fins”72.

Como visto a atividade financeira do Estado não é a mais importante para a

sua manutenção e para atendimento das suas finalidades.

O que faz efetivamente o Estado financiar-se para gerir suas atividades é o

sistema tributário.

Assim expressa, Hugo de Brito Machado:

A tributação é, sem sombra de dúvida, o instrumento de que se tem valido a economia capitalista para sobreviver. Sem ela não poderia o Estado realizar seus fins sociais, a não ser que monopolizasse toda a atividade econômica. O Tributo é inegavelmente a grande e talvez a única arma contra a estatização da economia. 73

Como se vê, o Estado tem atividade financeira, que resulta, inclusive na

obtenção de recursos para suas atividades, contudo não é a principal, para sua

manutenção e atendimento das suas finalidades.

2.1.1 Distinção entre direito financeiro e direito tributário

Hoje, tem-se a disciplina jurídica dos tributos, antes compreendida apenas

como direito financeiro, constituindo campo específico da ciência jurídica. Dado o

extraordinário desenvolvimento do direito atinente aos tributos este ganhou

71 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 100. 72 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 56. 73 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 56.

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“autonomia”, passando a falar-se em direito tributário como um ramo autônomo da

ciência jurídica, segregando-se do direito financeiro.74

Sobre direito financeiro, leciona Luciano Amaro:

O direito financeiro é o sistema normatizador de toda a atividade financeira do Estado, abarca, por compreensão, as prestações pecuniárias exigidas pelo Estado, abrangidas no conceito de tributo. Com efeito, o direito financeiro tem por objeto a disciplina do orçamento público, das receitas públicas (entre as quais se incluem as receitas tributárias), da despesa pública e da dívida pública.75

Já por direito tributário, entende-se ser a disciplina jurídica dos tributos, com

isso abrangendo todo o conjunto de princípios e normas reguladoras da criação,

fiscalização e arrecadação das prestações de natureza tributária.76

2.1.2 - Conceito de sistema tributário nacional

O sistema tributário nacional está inserido na Constituição Federal em seu

Título VI, capítulo I, onde por dezoito artigos (arts. 145 a 162) disciplina o

regramento tributário, como as competências, repartição das rendas, poder e

limitações de tributar, etc.

O sistema constitucional tributário surge e está intimamente ligado ao

aumento das funções do Estado, no qual tem-se a regulamentação do exercício do

poder de tributar por parte do Estado e quais as limitações impostas a este poder.77

Por ser um Estado federado, é fundamental que a Constituição, documento

que concretiza o pacto federativo, discrimine as competências tributárias de cada um

dos entes, a fim de que estes tenham condições de arrecadação e de pleno

exercício do poder de tributar.78

74 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva, 2006, p. 1. 75MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. P. 57. 76 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro, p. 2. 77 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 101. 78 SILVA, Rogério Duarte da. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA. Centro de Ciências Jurídicas. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. Florianópolis, 2002. 158 f. Dissertação (Mestrado) –

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Por sistema tributário entende-se:

“conjunto de normas constitucionais de natureza tributária, inserido no sistema jurídico global, formado por conjunto unitário e ordenado de normas subordinadas aos princípios fundamentais, que organiza os elementos constitutivos do Estado, que outra coisa não é, senão a própria constituição.79

Para Geraldo Ataliba, a cerca do sistema constitucional tributário:

[...] entende-se o conjunto de princípios constitucionais que informam o quadro orgânico de normas fundamentais e gerais do direito tributário, vigentes em determinado pais. Se sistema é um conjunto ordenado de elementos segundo uma perspectiva unitária, o sistema constitucional tributário é o conjunto ordenado de normas constitucionais que tratam da matéria tributária, matéria esta tomada como princípio de relação que as unifica.80

Assim, o que existe “é um sistema parcial (sistema constitucional tributário)

dentro de um sistema global”.81

2.1.3 Necessidade do Estado cobrar tributos

O Estado, para cumprir suas funções de promover o bem comum da

sociedade precisa de recursos para desenvolver tais funções. Assim busca recursos,

via tributos, para devolver em forma de serviços, obras, benefícios.

A forma legal para buscar na sociedade os recursos é feita através da

cobrança de tributos (gênero) distribuídos em impostos, taxas, contribuições de

melhorias, contribuições sociais e empréstimos compulsórios (espécies).

Quanto à necessidade do tributo, escreve Hugo de Brito Machado:

No Brasil vigora a regra da liberdade de iniciativa na ordem econômica. A atividade econômica é entregue à iniciativa privada. A

Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências Jurídicas. Programa de Pós-Graduação em Direito. 79 HARADA, Kiyoshi. Sistema tributário na constituição de 1988 –tributação progressiva. São Paulo: Saraiva, 1991,p. 3. 80 ATALIBA, Geraldo. Sistema Constitucional Tributário Brasileiro. São Paulo: 1968. p. 18. 81 HARADA, Kiyoshi. Sistema tributário na constituição de 1988–tributação progressiva. p. 3.

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não ser nos casos especialmente previstos na Constituição, o exercício direto da atividade econômica só é permitido ao Estado quando necessário aos imperativos da segurança nacional, ou em face de relevante interesse coletivo, conforme definidos em lei. (Constituição Federal, art. 173). Não é próprio do Estado, portanto, o exercício da atividade econômica, que é reservada ao setor privado, de onde o Estado obtém os recursos financeiros de que necessita. Diz-se que o Estado exercita apenas atividade financeira, como tal entendido o conjunto de atos que o Estado pratica na obtenção, na gestão e na aplicação dos recursos financeiros de que necessita para atingir seus fins.

A tributação é, sem sobra de dúvida, o instrumento de que se tem valido a econômica capitalista para sobreviver. Sem ela não poderia o Estado realizar seus fins sociais, a não ser que monopolizasse toda a atividade econômica. O tributo é inegavelmente a grande e talvez a única arma contra a estabilização da economia.

Justifica-se o poder conforme a concepção que se adote do próprio Estado. A idéia generalizada parece ser a de que os indivíduos, por seus representantes, consentem na instituição do tributo, como de resto na elaboração de todas as regras jurídicas que regem a nação. 82

São os tributos a principal fonte que possui o Estado para financiamento da

sua manutenção e investimentos pertinentes às suas finalidades.

2.1.4 O poder de tributar

Sobre o poder de tributar atribuída ao Estado, leciona Hugo de Brito Machado:

Como se sabe, o Estado é uma entidade soberana. No plano internacional representa a nação em suas relações com as outras nações. No plano interno tem o poder de governar todos os indivíduos que se encontrem no seu território. Caracteriza-se a soberania como a vontade superior às vontades individuais, como um poder que não reconhece superior.

No exercício de sua soberania o Estado exige que os indivíduos lhe forneçam os recursos de que necessita. Institui o tributo. O poder de tributar nada mais é que um aspecto da soberania estatal, ou uma parcela desta.83

E ainda,

Nos dias atuais, entretanto, já não é razoável admitir-se a relação tributária como relação de poder, e por isto mesmo devem ser

82 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário, p. 56.

NAVARO. Curso de direito tributário brasileiro. 9ª ed. rev. Atual. Rio de Janeiro, Forense, 2006, p. 421-422. 83 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 58-59.

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rechaçadas as teses autoritaristas. A idéia de liberdade, que preside nos dias atuais a própria concepção do Estado, há de estar presente, sempre, também na relação de tributação.84

Assim, o exercício da soberania do Estado em relação ao poder de tributar é

limitado, em razão das limitações constitucionais, que o impedem de criar tributos

não previstos na Constituição.

2.1.5 Competências tributárias

A Constituição da República Federativa do Brasil85 delimitou as competências

e distribuiu cuidadosa e exaustivamente as várias competências de cada uma das

pessoais políticas, da União, dos Estados, dos municípios e do Distrito Federal .

No nosso ordenamento jurídico constitucional não há que se falar em poder

tributário, mas tão-somente, em competência tributária.

Por competência tributária entende-se a faculdade de editar leis que criam, in

abstracto, tributos. Trata-se de uma competência originária, que busca seu

fundamento de validade na própria Constituição.86

Conceitualmente competência tributária é “a aptidão para criar, in abstracto,

tributos.”87; é dar nascimento no plano abstrato, tributos.

Contudo, a atribuição de competência para a instituição de impostos constitui

uma forma de limitação ao poder de tributar, na medida em que, ao delimitar quais

são os impostos que podem ser criados pela União, pelos Estados, pelo Distrito

Federal e pelos Municípios, a Constituição delimita o campo fático que pode servir

de suporte para estes impostos.88

84 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p.59. 85 BRASIL. Constituição (1988) 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 86 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. 12ºed. rev. Ampl. Atual. São Paulo: Malheiros, 1999, p. 327-328. 87 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 328. 88 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 313.

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No entanto, há necessidade de que a lei que institui tributo claramente definir

suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos, seus sujeitos passivos, suas base

de cálculo e suas alíquotas.

A competência tributária é classificada em três modalidades: privativa,

residual e comum.

Por competência privativa entende-se a capacidade para criar impostos

atribuída com exclusividade a este ou àquele ente político. Exemplificando: o

imposto de importação é competência privativa da União; o ICMS é competência

exclusiva dos Estados e do Distrito Federal e o ISS tem a exclusividade dos

municípios. 89

Competência comum é a competência atribuída a todos os entes políticos:

União, Estados, Distrito Federal e Municípios, relativamente às taxas e contribuições

de melhoria.

Por competência residual tem-se que é a capacidade para a instituição de

impostos não especificamente previstos. Assim, a Constituição da República

Federativa do Brasil em seu art. 153 enumera os impostos que a União Federal pode

instituir, enquanto o art. 154, inciso I,90 estabelece que além daqueles, a União pode

instituir, mediante lei complementar, impostos ali não previstos, desde que sejam

não cumulativos e não tenham fato gerador e base de cálculo próprios nela

discriminados.

Constitucionalmente têm a União, os Estados, Distrito Federal e os Municípios

competências para a instituição dos impostos previstos no art. 145.91

Assim, são tais entes competentes para a instituição de:

a) impostos;

89 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 95. 90 Constituição da República Federativa do Brasil: Art. 154. A União poderá instituir: I – mediante lei complementar, impostos não previstos no artigo anterior, desde que sejam não-cumulativos e não tenham fato gerador ou base de cálculo próprios dos discriminados nesta Constituição [...] 91 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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b) taxas, em razão do exercício do poder de polícia ou pela utilização efetiva ou

potencial, de serviços públicos específicos e divisíveis, prestados ao

contribuinte ou postos a sua disposição;

c) contribuição de melhoria, de corrente de obras públicas.

Ressalva-se que na medida do possível, os impostos terão caráter pessoal e

serão graduados segundo a capacidade econômica do contribuinte, facultando à

administração tributária, especialmente para conferir efetividade a esses objetivos,

identificar, respeitados os direitos individuais e nos termos da lei, o patrimônio, os

rendimentos e as atividades econômicas do contribuinte.92

Como se verifica, o art. 145 e seus três incisos “dizem que as pessoas políticas ali enumeradas podem instituir três espécies de tributos: impostos, taxas e contribuições de melhoria. É que os impostos restituíveis (empréstimos compulsórios) e as contribuições especiais (exceto as previdenciárias da União, Estados e Municípios) somente poderão ser instituídos pela União Federal”93

Vê-se que em relação às competências tributárias, a Constituição da

República Federativa do Brasil é rígida e impositiva, não permitindo, criação de

tributos não previstos pelo legislador originário.

2.2 ESPÉCIES DE TRIBUTOS NO ORDENAMENTO TRIBUTÁRIO BRASILEIRO

Em que pese algumas discussões doutrinária a cerca do número de espécies

de tributos existentes no nosso sistema tributário, é corrente dominante que são

cinco espécies de tributos, a saber: impostos, taxas, contribuição de melhoria,

contribuições sociais e empréstimos compulsórios; observando que as contribuições

sociais são subdivididas em contribuições de intervenção de domínio econômico,

contribuições do interesse de categorias profissionais ou econômicas e contribuições

de seguridade social.

92 AMARO, Luciano. Direito tributário brasileiro. p. 95 93 COÊLHO. Sacha Calmon Navaro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. 9º ed.rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2006, p. 68

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2.2.1 Tributo (gênero)

O conceito de tributo no Direito Tributário Brasileiro “é primoroso e revela a

mecânica da imposição tributária, pedra fundamental da disciplina.”94

O Código Tributário Nacional95 conceitua tributo:

“Art. 3º. Tributo é toda prestação pecuniária compulsória, em moeda ou cujo valor nela se pode exprimir, que não constitua sanção de ato ilícito, instituída em lei e cobrada mediante atividade administrativa plenamente vinculada”

Portanto, a instituição do tributo pressupõe a necessidade de lei, firmando o

plano abstrato das formações legislativas.

“Por outro ângulo, ao explicitar que a prestação pecuniária compulsória não pode constituir sanção de ato ilícito, deixa transparecer, com hiliana clareza, que haverá de surgir um evento lícito e, por via oblíqua, faz alusão ao fato concreto, acontecido segundo o modelo da hipótese.”96

Quanto a característica do tributo, é a sua essência jurídica. Por isso mesmo

o Código Tributário Nacional, no seu art. 4º, dispõe que:

“Art. 4º. A natureza jurídica específica do tributo é determinada pelo fato gerador da respectiva obrigação, sendo irrelevante para qualificá-la: I – a denominação e demais características formais adotadas pela lei; II – a destinação legal do produto arrecadado.”

Passa-se, mesmo que de forma sintética, a descrever as espécies de tributos.

2.2.1.1 Imposto

Mesmo que não é função da lei, mas para que não sobrevenha dúvidas, a

exemplo do tributo, a Lei (Código Tributário Nacional, Lei 5.172, de 25.10.1966)

conceitua imposto no seu artigo 16.97

94 COÊLHO, Sacha Calmon Navaro. Curso de Direito Tributário Brasileiro. p. 422. 95 BRASIL. Código tributário nacional. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 96 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 17ª ed. São Paulo: Saraiva, 2005, p. 24. 97 BRASIL. Código tributário nacional. 2 ed. São Paulo: Saraiva, 2006.

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Assim, tem-se: “Imposto é o tributo cuja obrigação tem por fato gerador uma

situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao

contribuinte”98.

Diz-se que o imposto é uma exação não vinculada, isto é, independente de

atividade estatal específica.

E quando se afirma que o imposto é uma exação não vinculada, o que se

está afirmando é que o fato gerador do imposto não está relacionado com uma

atividade específica do Estado.

Sobre imposto, escreve Hugo de Brito Machado:

Em se tratando de imposto, a situação prevista em lei como necessária e suficiente ao nascimento da obrigação tributária não se vincula a nenhuma atividade específica do Estado relativa ao contribuinte. Assim, quando o Estado cobra imposto de renda, por exemplo, toma em consideração, exclusivamente, o fato de alguém auferir renda. Não importa que o Estado tenha ou não prestado algum serviço, executado alguma obra, ou desenvolvido alguma atividade relacionada com aquele de quem vai cobrar imposto.99

Para Roque Antonio Carrazza:

o imposto encontra seu fundamento na validade, apenas, na competência tributária da pessoa política, não havendo necessidade, para que ele seja instituído e cobrado, de que o Poder Público desenvolva, em relação ao contribuinte, qualquer atividade específica, É nesse sentido que muito juristas chamam o imposto de tributo sem causa100

Assim, é o imposto um tributo não vinculado a qualquer atividade específica

do Estado, diferentemente dos demais tributos, vinculados.

2.2.1.2 Taxa

Conceituando taxa:

Enquanto o imposto é uma espécie de tributo cujo fato gerador não está vinculado a nenhuma atividade estatal específica relativa ao contribuinte (CTN, art. 16), a taxa, pelo contrário, tem seu fato

98 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 348. 99 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 319 100 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 349.

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gerador vinculado a uma atividade estatal específica relativa ao contribuinte.101

O conceito de taxa encontra-se no Código Tributário Nacional102 em seu art.

77, estabelecendo que a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, no

âmbito de suas atribuições, têm como fato gerador o exercício regular do poder de

polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível,

prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição.

Para Roque Antonio Carrazza,

podemos dizer que as taxas são tributos que têm por hipótese de incidência uma atuação estatal diretamente referida ao contribuinte. Esta atuação estatal – consoante reza o art. 145, II da CF (que traça a regra-matriz das taxas) – pode consistir num serviço público, ou num ato de polícia.[...] A hipótese de incidência das taxas só pode consistir num destes dois fatos, regidos pelo Direito Público: I – a prestação de serviço público; e II- o exercício do poder de polícia. 103

É, assim, o tributo que tem como fato gerador o exercício regular do poder de

polícia, ou a utilização efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível,

prestado ao contribuinte.

O que difere do imposto é justamente a vinculação a uma atividade do ente

estatal.

2.2.1.3 Contribuição de melhoria

A exemplo dos demais tributos, a contribuição de melhoria também tem sua

conceituação no Código tributário nacional104. Assim se expressa o art. 81:

Art. 81. A contribuição de melhoria cobrada pela União, pelos

Estados, pelo Distrito Federal ou pelos Municípios, no âmbito de suas respectivas

atribuições, é instituída para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra

valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite

individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado.

101 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. 2007, p. 443. 102 BRASIL. Código tributário nacional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 103 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 353-354 104 BRASIL. Código tributário nacional. 2. ed. S;ao Paulo: Saraiva, 2006.

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Sobre a contribuição de melhoria, escreve Hugo de Brito Machado:

A contribuição de melhoria, portanto, é uma espécie de tributo vinculado, vale dizer, tributo cujo fato gerador está ligado a atividade estatal específica relativa ao contribuinte.[...] podemos dizer que a contribuição de melhoria é um tributo vinculado, cujo fato gerador é a valorização de imóvel do contribuinte, decorrente de obra pública.105

Sobre a competência para a cobrança da contribuição de melhoria, Paulo de

Barros Carvalho, alerta:

Hoje, no entanto, a competência é posta em termos amplos e genéricos, bastando que a obra pública acarrete melhoria dos imóveis circundantes, mas é obvio que a lei complementar mencionada no art. 146, da Constituição Federal caberá estabelecer de que modo, dentro de que limites e debaixo de que condições específicas a contribuição de melhoria poderá ser criada. (...) as contribuições de melhoria levam em conta a realização de obra pública que, uma vez concretizada, determine a valorização dos imóveis circunvizinhos. A efetivação da obra pública por si só não é suficiente. Impõe-se um fator exógeno que, acrescentado à atuação do Estado, completamente a descrição factual. 106

A exemplo da taxa, a contribuição de melhoria está vinculada a uma atividade

prestada por um dos entes federados em favor do contribuinte.

2.2.1.4 Contribuições sociais

De acordo com os artigos. 149 e 195 da Constituição da República Federativa

do Brasil vigente, compete à União instituir contribuições sociais, de intervenção do

domínio econômico e de interesse das categorias profissionais ou econômicas e as

contribuições para a previdência social, como instrumento de sua atuação nas

respectivas áreas.

Isso significa dizer que essas contribuições sociais caracterizam-se pela correspondente finalidade. Não pela simples destinação do produto da respectiva arrecadação, mas pela finalidade de sua instituição, que induz a idéia de vinculação direta: a) do órgão do Poder Público incumbido da intervenção no domínio econômico; ou

105 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 455 106 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p. 41-42

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b) da entidade gestora dos interesses da categoria profissional ou econômica.107

Roque Antonio Carrazza denomina as contribuições sociais como

contribuições parafiscais, acrescentando que não se constituem em nova

modalidade de tributos. São simplesmente tributos.108

E ainda, citando novamente Hugo de Brito Machado:

Ora com características de imposto, ora de taxas, as contribuições ditas paraestatais, ou sociais, ou de previdência, constituem para a doutrina jurídica, nacional e estrangeira, um ponto de intermináveis controvérsias.

No plano do direito positivo brasileiro vigente, ou, por outras palavras e mais precisamente, em face da Constituição Federal de 1988, o conceito de contribuição social ganhou um elemento importante para a sua formulação, e de notável relevo no pertinente à definição do Poder de Tributar.109

Pode-se definir as contribuições sociais, como sendo “espécie de tributo com

finalidade constitucionalmente definida, a saber, intervenção no domínio econômico,

interesse de categorias profissionais ou econômicas e seguridade social” 110

Quanto à espécie, as contribuições sociais (gênero) dividem-se em

contribuição de intervenção de domínio econômico, contribuições de interesse de

categorias profissionais ou econômicas e contribuições de seguridade social.

As contribuições sociais têm função parafiscal, algumas; e extrafiscal, outras,

não se constituindo como tributo com o fim de suprir o Tesouro Nacional. Enquanto a

função das contribuições de interesse das categorias profissionais ou econômicas

destinam-se a suprir de recursos financeiros entidades do Poder Público com

contribuições específicas, desvinculadas do Tesouro Nacional, as contribuições de

seguridade social constituem receita no orçamento da seguridade, de que trata o art.

165, § 5º, inciso III, da Constituição Federal.

107 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 428. 108 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 385. 109 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 430. 110 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 430.

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2.2.1.4.1 Contribuições de intervenção no domínio econômico

As contribuições de intervenção no domínio econômico caracterizam-se pela

sua atividade interventiva. Vale dizer que sua função deve ser exclusivamente

extrafiscal, cujos recursos arrecadados devem ter aplicações especificamente ao

financiamento dessa atividade interventiva.

Ela, por isso mesmo, não se destina a suprir os cofres públicos de recursos financeiros necessários para o custeio das atividades ordinárias desenvolvidas pelo Estado. Ela não é instrumento de arrecadação de meios financeiros, simplesmente. É instrumento de intervenção no domínio econômico. 111

As contribuições de interesse de categorias profissionais ou econômicas

caracterizam-se por serem criadas para financiar categorias profissionais ou

econômicas, com vinculação a entidades representativas desses segmentos sociais.

2.2.1.4.2 Contribuições de seguridade social

A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que as

contribuições de seguridade social,

Constituem a espécie de contribuições sociais cujo regime jurídico tem suas bases mais bem definidas na vigente Constituição.

Realmente, o art. 195, incisos I a IV, e seu § 6º, e ainda os arts. 165, § 5º, e 194, inciso VII, fornecem as bases do regime jurídico dessa importantíssima espécie de contribuição social.112

As contribuições de seguridade social, por força constitucional, e em razão da

sua importância, ganhou determinação para elaborar orçamento próprio, apartado

do orçamento da União.

Tanta é a importância das contribuições de seguridade social, que no dizer de

Hugo de Brito Machado:

As contribuições, com as quais os empregados, os trabalhadores e os administradores de concursos de prognósticos financiam diretamente a seguridade social, não podem constituir receita do

111 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 432. 112 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 386.

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Tesouro Nacional precisamente porque devem ingressar diretamente no orçamento da seguridade social. Por isso mesmo, lei que institua contribuição social com fundamento no art. 195 da Constituição Federal indicando como sujeito ativo pessoa diversa da que administra a seguridade social viola a constituição. 113

Assim expressa o art. 165, § 5º, da Constituição da República Federativa do

Brasil, sobre a Lei Orçamentária Anual:

III – o orçamento da seguridade social, abrangendo todas as entidades e órgãos a ela vinculados, da administração direta ou indireta, bem como os fundos e fundações instituídos e mantidos pelo Poder Público.

Já o art. 195 da Constituição da República Federativa do Brasil vigente

estabelece que a seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma

direta ou indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos

da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes

contribuições sociais:

I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidente sobre: a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; b) a receita ou o faturamento; c) o lucro;

II – do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201;114

III – sobre a receita de concursos de prognósticos.

A previdência social ao longo do tempo tem se tornado mais importante no

contexto social, em razão da intervenção do Estado estar cada vez mais evidente e

eficaz. Neste particular verifica-se a preocupação do Estado com a dignidade da

pessoa humana.115

O seguro social, quando imposto por normas jurídicas emanadas do poder

estatal, caracterizam uma intervenção do Estado na economia e na relação entre

particulares. Neste sentido, não deve ser outra a função do Estado na economia e

na relação entre os comuns da sociedade que serve. Assim sendo, a atuação do

Estado quando normatiza a previdência social tem por justificativa a partir da 113 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 435. 114 CF, art. 201. A previdência social será organizada sob a forma de regime geral, de caráter contributivo e de filiação obrigatória, observados critérios que preservem o equilíbrio financeiro a atuarial, e atenderá, nos termos da lei, a [...] 115 CARRAZZA, roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 387.

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constatação de que as relações de trabalho estabelecem, em regra, cláusulas para

vigorarem enquanto o trabalhador as pode executar.116

Ainda escreve o mesmo autor:

Os direitos sociais são considerados Direitos Fundamentais partindo-se da concepção de que o Estado não deve se manter inerte diante dos problemas decorrentes das desigualdades causadas pela conjuntura econômica e social. 117

Concluindo, sobre a necessidade do intervenção do Estado no campo social,

ensina o mesmo autor:

Os fenômenos que levaram a existir uma preocupação maior do Estado e da sociedade com a questão da subsistência no campo previdenciário são de matriz específica: são aqueles que atingem indivíduos que exercem alguma atividade laborativa, no sentido de assegurar direitos mínimos na relação de trabalho, ou de garantir o sustento, temporária ou permanentemente, quando diminuída ou eliminada a capacidade para prover a si mesmo e a seus familiares.118

Em razão desta importância do social, que a Constituição da República

Federativa do Brasil tanto valoriza os direitos sociais e os direitos previdenciários.

2.2.1.5 Empréstimo Compulsório

A Constituição da República Federativa do Brasil119 declara a natureza

tributária do empréstimo compulsório. Trata-se de tributo restituível, decretado

exclusivamente em funções das razões expressas na própria constituição (art. 148, I

e II) e de cujo produto de arrecadação fica vinculado à despesa que lhe deu causa a

sua instituição.

A motivação do empréstimo compulsório, previsto no inciso I do art. 148, da

Constituição da República Federativa do Brasil é o de atender despesas

116 LAZZARI, João Batista, CASTRO, Carlos Alberto Pereira. Manual de direito previdenciário. 9. ed. Florianópolis: Conceito Editorial, 2008. p. 47. 117 LAZZARI, João Batista, CASTRO, Carlos Alberto Pereira. Manual de direito previdenciário, 2008, p. 48 118 LAZZARI, João Batista, CASTRO, Carlos Alberto Pereira. Manual de direito previdenciário, 2008, p. 49. 119 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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extraordinárias tais como despesas decorrentes de calamidade pública, de guerras

externas ou de sua eminência, que pressupõem despesas inadiáveis e

imprescindíveis.120

2.3 Discriminação das rendas tributárias

A Federação brasileira é caracterizada pela existência de três esferas

governamentais: União (governo federal), Estados Federados (governos estaduais)

e a dos municípios (governos municipais), além do Distrito Federal, que ganhou

autonomia a partir da Constituição da República Federativa do Brasil vigente.

Contudo, apesar do disposto no art. 1º da Constituição da República

Federativa do Brasil121, os municípios não são entidades federativas, porque inexiste

a federação de municípios, apenas de Estados. Os Municípios são divisões político-

administrativas dos Estados, e não da União; do contrário, os Estados, cujos

territórios são integralmente divididos em Municípios, ficariam sem território próprio.

Em relação a entidades políticas, no Estado Federal Brasileiro existem três

autônomas e independentes, além do Distrito Federal: União, Estados e Municípios

que são entidades juridicamente parificadas, situando-se num plano de igualdade,

extraindo da Constituição da República Federativa do Brasil, seus poderes e suas

competências.122

Na ausência de hierarquia entre as três entidades políticas, cabe à

Constituição da República Federativa do Brasil estabelecer a repartição do campo

de competência legislativa de cada um.

Neste sentido é que a Constituição da República Federativa do Brasil

estabeleceu um mecanismo de competência legislativa a cada ente jurídico de

direito público interno, especialmente em matéria tributária, onde o contribuinte fica

ao mesmo tempo sob o manto legislativo de três governos distintos. A competência

120 HARADA, Kiyoshi. Sistema tributário na Constituição de 1988. tributação progressiva. 32. 121 Constituição da República Federativa do Brasil: art. 1º. A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem por fundamentos: [...] 122 HARADA, Kiyoshi. Sistema tributário na Constituição de 1988. tributação progressiva. p. 5-6

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privativa atribuída da cada uma das entidades políticas está relacionada a uma

espécie tributária – os impostos -, para o que a doutrina denomina de discriminação

das rendas tributárias.

Por este mecanismo de competência tributária, a Constituição da República

Federativa do Brasil deferiu à União, Estados, Municípios e Distrito Federal o poder

de instituir as taxas de serviços e de polícia, e a contribuição de melhoria, no que

diz respeito à execução de seus serviços e obras públicas.123

Quanto aos impostos, a Constituição da República Federativa do Brasil

conferiu competência privativa a cada uma das entidades, como ser verá adiante.

2.3.1 Impostos da União

Além de estabelecer competência residual, a ser exercida por lei

complementar, podendo decretar impostos extraordinários ( art. 154, I e II), a União

foi contemplada na partilha tributária com os impostos previstos no art. 153, da

Constituição da República Federativa do Brasil124 , quais sejam:

I. importação de produtos estrangeiros;

II. exportação, para o exterior, de produtos nacionais ou nacionalizados;

III. renda e proventos de qualquer natureza;

IV. produtos industrializados;

V. operações de crédito, câmbio e seguro, ou relativos a títulos ou valores

mobiliários;

VI. propriedade territorial rural;

VII. grandes fortunas, nos termos de lei complementar;

São estes os impostos com os quais a União, ao arrecadá-los realiza suas

atribuições constitucionais.

123 HARADA, Kiyoshi. Sistema tributário na Constituição de 1988. tributação progressiva, p. 6 124 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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2.3.2 Impostos dos Estados e do Distrito Federal

A competência para os Estados e do Distrito Federal instituir impostos está

prevista no art. 155, também da Constituição da República Federativa do Brasil, a

saber:

I. transmissão causa mortis e doação, de qualquer bens ou direitos;

II. operações relativas à circulação de mercadorias e sobre prestação de

serviços de transporte interestadual e intermunicipal e de comunicação, ainda

que as operações e as prestações se iniciem no exterior;

III. propriedade de veículos automotores;

Os impostos estaduais compreendem a fonte principal de recursos pelos quais

os Estados Federados realizam suas atribuições.

2.3.3 Impostos municipais

O artigo 156 da Constituição da República Federativa do Brasil estabelece a

competência para os municípios instituir impostos:

I. propriedade predial e territorial urbana;

II. transmissão inter vivos, a qualquer título, por ato oneroso, de bens imóveis,

por natureza ou acessão física, e de direitos reais sobre imóveis, exceto os de

garantia, bem como cessão de direitos a sua aquisição;

III. serviços de qualquer natureza, não compreendidos no art. 155, II, definidos

em lei complementar.

A exemplo dos impostos da União, os dos Estados Federados, os impostos

municipais são as principais fontes de recursos para os municípios desenvolverem

suas atribuições.

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Visto no primeiro capítulo a história da filantropia no Brasil, a contextualização

do terceiro setor e neste segundo capítulo o sistema tributário nacional, passa-se ao

terceiro capítulo que tratará das imunidades tributárias das entidades filantrópicas,

bem como os requisitos necessários para legalmente usufruírem-se da mesma.

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3 IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS DAS ENTIDADES FILANTRÓPIAS

3.1 Generalidades

Visto o sistema tributário vigente e a natureza dos tributos, passa-se agora a

estudar as imunidades tributárias das entidades de educação, assistência social,

templos de qualquer culto e do chamado terceiro setor, enfim, das entidades

filantrópicas, objeto principal desta monografia.

Com a evolução da Constituição nos tempos modernos, intimamente

relacionada ao aumento das funções do Estado, sempre abraçando um maior

número de ramos do direito em seu texto, surge o chamado sistema constitucional

tributário, no qual tem-se a regulamentação do exercício do poder de tributar por

parte do Estado e quais as limitações impostas a este poder. Em um Estado Federal,

como o brasileiro, fundamental que a Constituição discrimine as competências

tributárias de cada um dos entes federados a fim de que estes tenham condições de

arrecadação e de pleno exercício do poder de tributar. 125

O Estado Federal possui a repartição da competência tributária e as

limitações ao poder de tributar126 discriminadas no texto constitucional; o documento

formador da federação, formando desta maneira a estrutura do direito tributário na

125 ICHIARA, Yoshiaki. Imunidade tributária. São Paulo: Atlas, 1998, p. 87 126 Sobre limitações ao poder de tributar, expressa-se Kioshi Harada em Sistema tributário na Constituição de 1998, tributação progressiva, São Paulo: Saraiva, 1991, p. 83: Ao mesmo tempo que procedeu a partilha de competência tributária (arts. 145 e 153 a 156), que, por si só, já é uma limitação ao poder de tributação, na medida em que a outorga de competência privativa a uma entidade política implica, ipso facto, a vedação do exercício dessa competência por outra entidade política não contemplada, prescreveu inúmeros princípios tributários, visando a preservação do regime político adotado, a saúde da economia, o respeito aos direitos individuais e a proteção dos valores espirituais.

Ao lado dos princípios expressos existem outros, implícitos, que decorrem daqueles expressos, do regime federativo e dos direitos concernentes às garantias individuais.

É interessante notar que a Constituição, após arrolar os direitos e garantias dos cidadãos, prescreveu que “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou dos tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil seja parte” (§ 2º, do art. 5º).

Isso vale, também, no campo da tributação, onde os princípios implícitos, juntamente com os expressos, constituem o escudo de defesa dos contribuintes, na medida em que atual como freios que limitam o poder de tributação pelo Estado.

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Constituição e dando competência para cada ente federativo instituir e cobrar

tributos que lhe forem outorgados.

As considerações em torno do sistema constitucional tributário são

fundamentais para adentrar-se no tema das imunidades tributárias, pois estas

encontram-se inseridas dentro das limitações ao poder de tributar. Em comentário

sobre o tema, Yoshiaki Ichihara considera ser a estrutura do sistema constitucional

tributário fundamental dentro da formação do poder estatal de tributar.127

Assim expressa-se Yoshiaki Ichihara:

Com efeito, se o sistema tributário constitucional atribui competência tributária à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, estabelecendo as regras e princípios, o exercício dessa competência deve ser totalmente vinculado aos pressupostos e aos limites estabelecidos, com respeito, evidentemente, dos direitos e garantias fundamentais do indivíduo e da coletividade.128

Ao caracterizar-se o sistema constitucional tributário, como ponto fundamental

para estruturar-se o direito tributário, está feita a base para o estudo das imunidades

tributárias, devendo primeiramente ser estabelecida a origem histórica, para após se

proceder a análise sobre a natureza jurídica e positivação em nosso ordenamento

jurídico, bem como as principais opiniões dominantes na doutrina.

3.1.1 Origens das imunidades tributárias

É certo que o Estado, para conseguir manter suas despesas sempre precisou

criar meios de arrecadação de tributos para gerir sua estrutura. Nos Estados

absolutistas, os tributos eram usados para manter o poder de polícia e os benefícios

da nobreza e do clero, sem retorno algum para os súditos. No entanto, com a

afirmação do Estado de Direito, surge o princípio da legalidade, onde somente a lei

127 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial.p. 12,13. 128 ICHIARA, Yoshiaki. Imunidade tributária. São Paulo: Atlas, 1998, p. 88

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poderia criar e obrigar condutas dos cidadãos, valendo isso também para a

instituição e majoração de tributos.129

No Estado moderno tem-se o poder de tributar como algo regulado dentro da

dinâmica do Estado de direito, obedecendo as limitações impostas pelos princípios

positivados no texto constitucional. Desta maneira, o Estado possui o poder de criar

e cobrar tributos, através da discriminação das competências tributárias, de seus

cidadãos para que possam gerir a máquina administrativa e executar os serviços

que a sociedade exige.130

A Constituição é o documento que faz a repartição da competência tributária

entre os entes federativos, como no caso brasileiro. Mas, além de estabelecer a

competência para instituir e cobrar tributos, o texto constitucional também prevê

casos em que é impossível qualquer instituição de tributos, impedindo, portanto, o

ente federado de legislar para instituir um tributo, surgindo assim as imunidades

tributárias.131

Ainda, para Rogério Duarte da Silva, “a origem das imunidades tributárias

remonta ao estado patrimonialista, onde determinadas classes sociais detinham

privilégios fiscais por parte do Estado”132.

Rogério Duarte da Silva, citando Ricardo Lobo Torres, fazendo comentários

sobre as origens das imunidades tributárias, escreve:

No Estado Patrimonial, que se estende aproximadamente do século XIII ao século XIX, desde o colapso do feudalismo até o advento do Estado de Direito, as imunidades fiscais eram forma de limitação do poder da realeza e consistiam na impossibilidade absoluta de incidência tributária sobre o senhorio e a Igreja, em homenagem aos direitos e à transferência do poder fiscal daqueles estamentos para o Rei. Em Portugal, que a rigor não conheceu o feudalismo, a imunidade decorre de concessão do Rei e se perpetua pela tradição.

129 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 304. 130 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 451. 131 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 15. 132 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. 15

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Imunidade consequentemente, significa limitação do poder do príncipe pela preexistente liberdade estamental.133

Num segundo momento, com o advento do Estado Fiscal, as imunidades

tributárias ganham um novo contorno. Novamente Ricardo Lobo Torres, citado por

Rogério Duarte da Silva, leciona:

Com as grandes revoluções do século XVIII consolida-se o Estado Fiscal, configuração específica do Estado de Direito, e se transforma radicalmente o conceito de imunidade tributária. Deixa de ser forma de limitação do poder do rei pela Igreja e pela nobreza para se transformar em limitação do poder tributário do Estado pelos direitos preexistentes do indivíduo.134

Como se verifica, o autor coloca de maneira bastante clara a evolução das

imunidades, primeiramente evidenciando seu caráter de privilégios concedidos a

determinadas classes sociais detentoras do poder estatal ou próximas às camadas

detentoras. No entanto, com o advento do Estado Fiscal, as imunidades adquiriram a

característica de proteção a interesses reputados como fundamentais, estando

desobrigados de pagar tributos.

Para Edgar Neves da Silva, tratando de imunidades, leciona que

a história desse instituto tem os seus pródromos nos Estados Unidos, cristalizando-se por meio de criação pretoriana, consubstanciada em decisões da Corte Suprema americana, ao apreciar conflitos entre Estados e a União.135

Na mesma linha:

A Constituição Americana de 1787, que inseriu a cláusula federativa, feita pelo Suprema Corte instituiu a chamada imunidade recíproca entre os entes federados, influenciando Rui Barbosa na formulação da idéia inserir também na primeira Constituição Republicana do Brasil em 1891.136

133 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial.p. 15-16. 134 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 16. 135 SILVA, Edgar Neves de. In Curso de direito tributário Coord. Ives Gandra da Silva Martins. 9º ed. rev. Atual. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 258. 136 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 16-17.

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Como já se verificou, a competência tributária é a faculdade que as pessoas

políticas tem de criar, de forma abstrata, tributos. Por isso mesmo, devem

estabelecer na lei suas hipóteses de incidência, seus sujeitos ativos e passivos, suas

bases de cálculo e alíquotas. Essa competência está traçada na Constituição

Federal onde aponta de forma direita ou indireta as regras de todos os tributos137

3.1.2 Imunidades tributárias e limitações constitucionais ao poder de tributar

O aparecimento das constituições escritas modernas inserem um freio ao

poder ilimitado exercido pelos reis nos estados absolutistas, caracterizando uma das

grandes conquistas do Estado de Direito. Neste sentido, a constituição passa ser

uma carta de limitações ao poder estatal e de garantia dos direitos fundamentais do

individuo.138

Não diferente é a Constituição brasileira, onde tem-se limitações a vários

poderes estatais, inclusive o poder de tributar.139

Discorrendo sobre limitações ao poder de tributar, Rogério Duarte da Silva,

citando a lição de Aliomar Baleeiro:

Nos paises de Constituição rígida e de controle judiciário das leis e dos atos administrativos, os princípios que a Ciência das Finanças apurou em sua compósita formação política, moral, econômica ou técnica são integrados em regras estáveis e eficazes. Funcional como limitações ao poder de tributar.140

Na mesma linha de pensamento, temos:

As limitações ao poder de tributar decorrem do modelo constitucional adotado pelo constituinte, dos princípios constitucionais gerais e específicos da tributação, das vedações expressas, dos aspectos formais exigidos na instituição e aumento dos tributos e na atribuição e divisão de competência entre as

137 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 451. 138 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 452. 139 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 21. 140 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 22.

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diversas pessoas jurídicas de direito público e, evidentemente, das imunidades tributárias.141

A Constituição vigente também traz em seu conteúdo diversas limitações ao

poder de tributar; são exemplos: principio da legalidade (art. 150, I), princípio da

isonomia tributária (art. 150, II), uniformidade geográfica dos tributos (art. 151, I),

anterioridade (art. 150, III, b) e irretroatividade (art. 150, III, a). Princípios estes que

representam limitações ao poder estatal de tributar, representando garantias

estabelecidas ao contribuinte.

3.1.3 Diferenças entre imunidades tributárias e limitações constitucionais

É necessário verificar a distinção entre as imunidades tributárias e as

limitações constitucionais ao poder de tributar para afastar eventual confusão no

sentido de entender que o capítulo da Constituição referente as limitações ao poder

de tributar passaria ser chamado de simplesmente capítulo das imunidades

tributárias.142

Neste sentido, expressa-se Sacha Calmon Navarro Coêlho, afirmando que

não podem, as imunidades tributárias, serem confundidas com as limitações ao

poder de tributar, apesar de efeitos semelhantes de ambos os institutos levarem,

num primeiro momento a confusão entre ambos.

As imunidades alcançam as situações que normalmente – não fosse a previsão expressa de intributabilidade – estariam conceitualmente incluídas no desenho do fato jurígeno tributário. Por isso mesmo são vistas e confundidas as imunidades com um de seus efeitos: o de limitar o poder de tributar.143

Esclarecendo a diferença entre ambos institutos, Mizabel Derzi, citada por

Rogério Duarte da Silva, expressa:

141 ICHIARA, Yoshiaki. Imunidade tributária, São Paulo: Atlas, 1998, p. 93-94. 142 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 24. 143 COÊLHO, Sacha Calmon Navarro. Curso de direito tributário brasileiro. p. 210.

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Ora, o mencionado art. 151, I, não regula uma imunidade (apesar de Barros Carvalho supor o contrário. Cf. op. cit., 113). Apenas reafirma o principio da uniformidade e unidade econômico-territorial do Estado Federal, que é uma especialização da igualdade, assim, como da unidade nacional. Principio não é imunidade, embora imunidades estejam expressamente consagradas, por causa de valores e princípios fundamentais.144

A diferença entre as limitações ao poder de tributar e as imunidades

tributárias está nos efeitos produzidos por cada instituto. Assim, os efeitos das

imunidades tributárias são a limitação ao poder tributário estatal. Já as limitações

expressas no texto constitucional, de maneira geral, traduzem a expressão de

princípios constitucionais visando disciplinar o poder tributário.145

3.1.4 Natureza jurídica das imunidades tributárias

As imunidades tributárias foram criadas pelo constituinte originário, atendendo

orientação em função das idéias políticas vigentes, preservando determinados

valores políticos vigentes, religiosos, educacionais, sociais, culturais e econômicos,

todos eles fundamentais à sociedade brasileira. Dessa forma, assegura-se, retirando

das mãos do legislador infraconstitucional, a possibilidade de por meio da exação

imposta atingi-los.146

3.1.5 Aplicabilidade das normas de imunidade tributária

Quanto à aplicabilidade das imunidades:

As disposições imunizantes são auto-aplicáveis; mas por determinação constitucional, podem depender de requisitos constantes de lei inferior. Porém, é fundamental afirmar que a imunidade se constitui pela própria norma maior, sendo a manifestação, necessariamente, do Poder Executivo apenas ato

144 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p.25. 145 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p.24. 146 SILVA, Edgard Neves. Curso de direito tributário. Coord. Ives Gandra da Silva Martins.. 257.

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declaratório e não constitutivo, que declarará o preenchimento ou não da situação e ou dos requisitos exigidos, ato esse de natureza vinculada e não discricionária.147

Assim, portanto, se o texto constitucional prevê a exigência de lei

infraconstitucional, fica a imunidade a ela aderida, no aguardo da iniciativa do

legislador competente. Como exemplos, pode-se citar a seguinte situação prevista

no texto atual: alínea c do inciso VI do art. 150, que dispõe haver imunidade quanto

ao patrimônio, renda ou serviços dos partidos políticos e de instituição de educação

ou de assistência social, observado os requisitos da lei;148

Entendendo que as imunidades tributárias derivam das idéias do legislador

constitucional originário, uma questão que se levanta é a necessidade de entender

se este instituto é uma garantia ou um direito do contribuinte.

Para Rogério Duarte da Silva

As imunidades tributárias previstas no texto supremo configuram garantias constitucionais que possui o contribuinte e não direito. A diferença entre direitos e garantias é um ponto importante para entendermos a estrutura da Carta Magna. Na doutrina estrangeira CARL SCHMITT considera as garantias constitucionais como sendo mecanismos destinados a proteger direitos, mas que não criam direitos subjetivos estando destinados a proteção de um direito, tendo logicamente uma estrutura lógica e jurídica totalmente diferente dos direitos por ela preservados.149

Mais adiante, conclui:

As pessoas que encontram-se em situações resguardadas por imunidades tributárias possuem não um direito de imunidade, pois este direito afiguara-se por exemplo na liberdade religiosa que possui como garantia a imunidade aos templos de qualquer culto, ou o direito a liberdade de expressão possui como garantia a imunidade aos livros, jornais e periódicos.150

147 SILVA, Edgard Neves. Curso de direito tributário. Coord. Ives Gandra da Silva Martins. p. 258. 148 SILVA, Edgard Neves. Curso de direito tributário.Coord. Ives Gandra da Silva Martins. p. 259. 149 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 26. 150 SILVA, Rogério Duarte da. As imunidades tributárias: natureza a partir da constituição federal de 1988 e sua interpretação judicial. p. 27.

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Ocorre que por previsão constitucional também o sistema tributário possui a

figura da imunidade tributária que, para a doutrina, é desenhada como normas

negativas ou uma incompetência das entidades tributantes de onerar com tributos

certas pessoas, seja em função da natureza jurídica, seja porque coligadas a

determinados fatos, bens ou situações. Assim, a imunidade tributária é um fenômeno

de natureza constitucional.151

3.2 Conceito de imunidade tributária

A imunidade tributária não se presta somente à complementação dos

princípios constitucionais, mas verdadeiramente erige-se em princípio constitucional

próprio: o de que às entidades tributantes é vedado instituir tributos em relação a

determinadas pessoas, bens, coisas, situações, como forma de resguardar

princípios, interessantes e valores fundamentais dos cidadãos, e como tal garantidos

pelo Estado.152

Para Leandro Marins de Souza, o sistema constitucional delimita com

exatidão e de forma exaustiva a competência tributária de cada ente tributante,

fixando o âmbito de atuação da União, dos Estados, dos Municípios e do Distrito

Federal, atribuindo critérios rígidos para a delimitação do poder fiscal, especificando

áreas de competência privativa.

O mesmo autor, citando escrito de Bernardo Ribeiro Moraes,

Sem dúvida, a imunidade tributária é um princípio constitucional, que veda às entidades tributantes instituírem impostos sobre certas pessoas, bens coisas, fatos ou situações, considerados relevantes à sociedade e ao Estado. Trata-se do princípio constitucional de vedação impositiva (sobre certas pessoas, bens, coisas, fatos ou situações), que se insere no contexto. “Das limitações do Poder de Tributar” (Constituição, Título VI, Capítulo I, seção II). A imunidade tributária é um princípio constitucional de vedação de instituir imposto, sobre certas pessoas153

151 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 452. 152 SOUZA, Leandro Marins de. Imunidade tributária entidades de educação & assistência social p. 49-50. 153 SOUZA, Leandro Marins de. Imunidade tributária entidades de educação & assistência social p. 50.

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Ainda segundo o mesmo autor,

Nesse sistema de atribuição de competências, institui o legislador constituinte forma de limitação à atividade dos entes tributantes em relação a alguns casos determinados, afastando, portanto de determinados fatos específicos que, no sentir do poder estatal, merecem ser resguardados.154

Hugo de Brito Machado entende que,

imunidade é um obstáculo decorrente de regra da Constituição à incidência de regra jurídica de tributação. O que é imune não pode ser tributado. A imunidade impede que a lei defina como hipótese de incidência tributária aquilo que é imune. É limitação da competência tributária155

Já para Paulo de Barros Carvalho,

A imunidade, não exclui nem suprime competências tributárias, uma vez que estas representam uma conjugação de normas constitucionais, entre elas, as de imunidade tributária. A competência para legislar, quando surge, já vem com as demarcações que os preceitos da Constituição fixam.156

Ainda sobre imunidade tributária Paulo de Barros Carvalho, escreve:

A classe finita e imediatamente determinável de normas jurídicas, contidas no texto da Constituição Federal, e que estabelecem, de modo expresso, a incompetência das pessoas políticas de direito constitucional interno para expedir regras instituidoras de tributos que alcancem situações específicas e suficientemente caracterizadas. 157

Verifica-se, pois, que as imunidades tributárias representam um

instituto relacionado ao poder tributário dos entes estatais, caracterizando-se como

uma vedação para tributação por qualquer ente tributante nas ocasiões que se

encontram sob o manto imunizante.

154 SOUZA, Leandro Marins de. Imunidade tributária Entidades de educação & assistência social p. 50. 155 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 304. 156 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p. 176. 157 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p. 185.

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3.2.1. As acepções da expressão “imunidade tributária”

Para Carrazza, a expressão imunidade tributária tem duas acepções, que são, uma ampla, significando a incompetência da pessoa política de tributar: a) pessoas que realizam fatos que estão fora das fronteiras se seu campo tributário; b) sem a observância dos princípios constitucionais tributários, que formam o chamado estatuto do contribuinte; c) com efeito de confisco158; d) de modo a estabelecer limitações ao tráfego de pessoas ou bens (salvo na hipótese de pedágio); e) afrontando o princípio da uniformidade geográfica; e) fazendo tábua rasa do princípio da não-discriminação tributária em razão da origem ou do destino dos bens159.

A outra, restrita, aplicável às normas constitucionais que, de modo expresso,

declaram ser vedado às pessoas políticas de tributar determinadas pessoas, quer

pela natureza jurídica que possuem, quer pelo tipo de atividade que desempenham,

quer, finalmente, porque coligadas a determinados fatos, bens ou situações160

3.2.2 Características das imunidades tributárias

Para Leandro Marins de Souza, as imunidades tributárias apresentam

características que traçam sua natureza e sua aplicação. As imunidades, deste

modo são:

a) regras jurídicas com sede constitucional;

b) normas delimitativas (no sentido negativo) da competência dos entes

políticos da Federação, ou regra de incompetência;

c) obstam o exercício da atividade legislativa do ente estatal, uma vez

que lhes negam competência para a efetivação de seu poder tributário

em relação a algumas situações determinadas;

158 A Constituição da República Federativa do Brasil estabelece que é vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios utilizar tributos com efeito de confisco. Não obstante seja problemático o entendimento do que seja um tributo com efeito de confisco, certo é que o dispositivo constitucional pode ser invocado sempre que o contribuinte entender que o tributo, no caso, lhe está confiscando bens. Cabe ao Judiciário dizer quando um tributo é confiscatório. MACHADO, Hugo de Brito. Curso de Direito Tributário, 28 ed. rev, atual, ampl. São Paulo: Malheiros, 2007, p. 70-71. 159 O art. 150, inciso V, da Constituição Federal de 1988 veda às diversas entidades tributantes o estabelecimento de limitações ao tráfego de pessoas ou bens, por meio de tributos interestaduais ou intermunicipais. 160 CARAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 457-458.

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d) originam-se de normas constitucionais expressas ou implicitamente

consideradas;

e) instituto que difere da isenção, que se dá em momento lógico posterior

e no plano infraconstitucional da lei ordinária ou complementar.161

3.2.3 Diferenças entre imunidades tributárias, isenções e não incidência

São institutos diferentes os das imunidades tributárias, das isenções e da não-incidência.

Por isso, a seguir se tratará das suas distinções.

3.2.3.1 Paralelo entre imunidade e isenções

Para Paulo de Barros Carvalho, em crítica à doutrina brasileira que ao estudar

os institutos da imunidade e da isenção conjuntamente traçam linhas paralelas por

onde correm os temas, mantendo as suas peculiaridades, mas ao mesmo tempo,

mostrando características de similitude. Para ele a doutrina convencional anuncia

por fim que a imunidade é hipótese de isenção, inexiste o dever prestacional

tributário, aspecto que justificaria o paralelismo entre as instituições.162

E, continua o mesmo autor:

“Esta ordem não se coaduna e não se justifica. São proposições de tal modo

diferentes na composição do ordenamento positivo que pouquíssimas são as

semelhanças”

Nessa linha, assinala três sinais comuns: a circunstância de serem normas

jurídicas válidas no sistema; integram a classe das regras de estrutura; e tratarem de

matéria tributária.163

161 SOUZA Leandro Marins. Imunidade tributária entidades de educação & assistência social p. 62. 162 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. 19. ed. rev. São Paulo: Saraiva, 2007, p. 205. 163 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. p. 206.

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Ao expressar sua opinião sobre a distância que separa as duas espécies, o

mesmo autor preceitua que a imunidade exerce a função de colaborar, de uma

forma especial, no desenho das competências impositivas. São normas

constitucionais, por isso não cuidam da incidência, atuando em instante que

antecede, na lógica do sistema, ao momento da percussão tributária. Já a isenção

se dá no plano da legislação ordinária. Sua dinâmica pressupõe um encontro

normativo, em que ela, regra de isenção, opera como expediente redutor do campo

de abrangência dos critérios da hipótese ou da conseqüência da retra-matriz do

tributo.

Concluindo afirma serem categorias distintas, que não se interpenetram, não

se podendo, portanto delinear paralelismo entre as imunidades e as isenções164.

3.2.3.2 Distinções entre isenção, não incidência e imunidade

A isenção distingue-se da não incidência, já que a isenção é a exclusão, por

força de lei, de parcela da hipótese de incidência, ou suporte fático da norma de

tributação, sendo objeto da isenção a parcela que a lei retira dos fatos que realizam

a hipótese de incidência da regra da tributação. Diversamente, a não incidência

configura-se em face da própria norma de tributação, sendo objeto da não incidência

todos os fatos que não estão abrangidos pela própria definição legal da hipótese de

incidência.165

Pode ocorrer, contudo, que a lei de tributação esteja proibida, por dispositivo

constitucional, de incidir sobre certos fatos. Verifica-se neste caso, a imunidade. É o

dispositivo constitucional que impede a incidência da regra jurídica de tributação.

De forma que, resumidamente, pode-se dizer:

a) Isenção é exceção feita por lei à regra jurídica de tributação;

b) Não incidência é a situação em que a regra jurídica de tributação não

incide porque não realiza a hipótese de incidência.

164 CARVALHO. Paulo de Barros. Curso de direito tributário. P. 134. 165 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 516.

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c) Imunidade é o obstáculo criado por uma norma da Constituição que

impede a incidência de lei ordinária de tributação sobre determinado

fato, ou em detrimento de determinada pessoa, ou categoria de

pessoas166.

3.3 Tipos de imunidades tributárias

As imunidades tributárias podem ser recíprocas entre as entidades políticas,

bem como podem ser diferenciadas entre objetiva e subjetiva.

3.3.1 Imunidade recíproca

Consiste a imunidade recíproca aquela em que as entidades políticas

integrantes da Federação não podem fazer incidir impostos umas das outras.167

Sobre a imunidade recíproca, leciona Paulo de Barros Carvalho:

É em nome do cânone da supremacia do interesse público ao do particular que a atividade de administração tributária ganha foros de efetividade prática. E não poderíamos compreender como, debaixo dessa mesma linha diretiva, uma pessoa jurídica de direito público, munida de personalidade política e autonomia pelos dizeres explícitos da Constituição, viesse a submeter-se aos poderes de fiscalização e de controle, que são ínsitos ao desempenho daquele tipo de atividade.168

3.3.2 – Imunidade objetiva e subjetiva

Quando a Constituição estabelece imunidades tendo por objetivo pessoas a

beneficiar há a imunidade subjetiva, ao passo que quando a exceção tributária recai

sobre objetos a tem-se a imunidade objetiva.169

166 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. P. 252. 167 MACHADO, Hugo de Brito. Curso de direito tributário. p. 305. 168 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de direito tributário. P. 135. 169 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 452.

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E continua o autor, de forma que a imunidade subjetiva leva em consideração

as pessoas beneficiadas, como a prevista no art. 150, VI, a da Constituição da

República Federativa do Brasil.170

A imunidade objetiva leva em consideração os objetos cuja tributação é

vedada. São os exemplos previstos no art. 150, VI, d, da Constituição Federal

quando trata da imunidade de livros, jornais periódicos e papel destinado à

impressão, além das pertinentes às entidades beneficentes de assistência social,

levando-se em consideração as atividades por elas desenvolvidas.171

Assim sendo, a competência dos entes federativos é limitada, restando

inviabilizadas a instituição e a cobrança de impostos sobre o patrimônio, renda,

serviços e contribuições sociais em decorrência do exercício de suas atividades

sociais.172

Se a competência atribuída a estes entes federativos já é limitada, não será

possível, mediante lei, pretender tributar atividades exercidas pelas entidades de

assistência social, relacionadas a suas finalidades essenciais, conforme disposto no

§ 4º do art. 150 da Constituição da República Federativa do Brasil. Não poderão

estas entidades integrar a norma tributária na qualidade de sujeito passivo, uma vez

que a exigência de tributos não encontraria fundamento de validade na

Constituição.173

3.4 Conceito de assistência social e requisitos

Em princípio, pode-se dizer que assistência, filantropia e benemerência têm

sido comumente vistas no Brasil como co-irmãs ou expressões análogas.

A filantropia seria a vontade do homem em fazer o bem ao outro, enquanto a

benemerência, quase similar, inclui obras, asilos e outros.

170 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 452. 171 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 59. 172 CARRAZZA, Roque Antonio. Curso de direito constitucional tributário. p. 453. 173 GOULART, Karina Borges. Entidades Beneficentes & contribuições sociais. Curitiba: Juruá, 2006. p. 107.

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A assistência significaria socorro, atendimento, onde haja uma necessidade,

que a pessoa não possa resolver sozinha.174

Vale ressaltar que as imunidades das entidades beneficentes de assistência

social estão previstos no art.195, § 7º , da Constituição da República Federativa do

Brasil, in verbis: “são isentas de contribuição para a seguridade social as entidades

beneficentes de assistência social que atendam às exigências estabelecidas em

lei”.175

Para definir assistência social, Maria Rejane Bitencourt Machado, citando

Mestriner diz que a assistência social delimita um campo: o social.

E continua:

Assim, ela compreende um conjunto de ações e atividades desenvolvidas nas áreas públicas e privadas, com o objetivo de suprir, sanar ou prevenir, por meio de técnicas próprias, deficiências e necessidades de indivíduos ou grupos quanto à sobrevivência, convivência e autonomia social. 176

Já Celso Barroso Leite, citado do Karine Borges Goulart, ao fazer distinção

entre filantropia e assistência social, afirma:

O conceito de filantropia é amplo, complexo, voltado em geral para ações de maior porte e por vezes de efeitos menos objetivos e menos diretos, destinadas inclusive a pessoas que desfrutam de satisfatórias condições de vida. O de assistência social, mais modesto, diz respeito sobretudo a programas essenciais ou até emergenciais, destinados a pessoas que dependem deles para a própria subsistência ou pouco mais, isto é, pessoas necessitadas, carentes. A diferença que mais interessa aqui é que filantropia é gênero e assistência social uma das suas espécies, donde resulta que toda entidade de assistência social é filantrópica, mas nem toda entidade filantrópica é de assistência social.177

174 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 33. 175 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 59. 176 MESTRINER, Maria Luiza. O Estado entre a filantropia e a assistência social. São Paulo: Cortez, 2001. p. 16, apud MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social p. 34. 177 LEITE. Celso Barroso. Filantropia e contribuição social. São Paulo: LTr. 1998, p. 31, apud GOULART, Rejane Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. 2006. p. 111.

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Os conceitos acima estão em consonância com a Lei 8.742/93 – Lei orgânica

da Assistência Social – LOAS -, que dispõe sobre a organização da assistência

social, definindo-a como a forma de provimento dos mínimos sociais. A propósito,

cabe registrar que a referida Lei 8.742/93 estabelece em seu art. 3º, parâmetros

para se identificar uma entidade de assistência social, pelos termos seguintes:

Art. 3º. Consideram-se entidades e organizações de assistência social aquelas que prestam, sem fins lucrativos, atendimento e assessoramento aos beneficiários abrangidos por esta Lei, bem como as que atuam na defesa e garantia dos seus direitos. 178

Este artigo da LOAS, tem sido alvo de críticas por ser muito abrangente e por

não definir quem não pode ser considerado uma entidade beneficente de assistência

social.179

Tentando dar melhor entendimento a este conceito, o Conselho Nacional de

Assistência Social – CNAS emitiu a Resolução 191, de 10/11/2005, que em seu

artigo 1º, orienta a regulamentação do art. 3º da LOAS, no sentido de explicar quais

os requisitos que uma entidade beneficente de assistência social deve preencher:180

- ser pessoa jurídica de direito privado, associação ou fundação, devidamente

constituída, conforme disposto no art. 53 do Código Civil Brasileiro181 e no art.

2º da LOAS;

- ter expresso, em seu relatório de atividades, seus objetivos, sua natureza,

missão e público conforme delineado pela LOAS, pelo PNAS (Plano Nacional

de Assistência Social) e suas normas operacionais;

- realizar atendimento, assessoramento ou defesa e garantia de direitos na

área da assistência social e aos seus usuários, de forma permanente,

planejada e contínua;

178 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 60. 179 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 40. 180 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 41. 181 BRASIL. Código Civil. 10.ed. São Paulo: Rideel. 2004.

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- garantir o acesso gratuito do usuário a serviços, programas, projetos,

benefícios e à defesa e garantia de direitos, previstos na PNAS, sendo

vedada a cobrança de qualquer espécie;

- possuir finalidade pública e transparência em suas ações, comprovadas por

meio de apresentação de planos de trabalho, relatórios ou balanço social de

suas atividades ao Conselho de Assistência Social competente;

- aplicar as rendas, seus recursos e eventual resultado operacional

integralmente no território nacional, na manutenção e no desenvolvimento de

seus objetivos institucionais.182

O parágrafo único do mesmo art. 1º da Resolução 191, de 10.11.2005

ressalva que não se caracterizam como entidades e organizações de assistência

social as entidades religiosas, templos, clubes esportivos, partidos políticos, grêmios

estudantis, sindicatos, e associações que visem somente o benéfico de seus

associados que dirigem suas atividades a público restrito, categoria ou classe.183

Em resumo, na forma vigente as entidades beneficentes de assistência social

são aquelas que prestam serviços socioassistenciais ao público alvo da LOAS sob a

ótica da PNAS e como tal devem ser certificadas pelo Conselho Nacional de

Assistência Social184.

3.4.1 – Saúde, previdência e assistência social na Constituição

A Lei Maior, a Constituição da República Federativa do Brasil, traz um novo

enfoque sobre a assistência social, com uma nova redação. Define o público que

deve ser assistido, quais os benefícios que este público terá e de quem é a

obrigação de prestar estes serviços.185

182 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 41. 183 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & Contribuições sociais. p. 170. 184 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 41. 185 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 42.

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Assim tem-se em seu art. 194, que deve-se compreender por seguridade

social como “um conjunto integrado de ações de iniciativa dos Poderes Públicos e da

sociedade, determinadas a assegurar os direitos relativos à saúde, à previdência e à

assistência social”.186

Cada uma destas áreas – saúde, previdência social e assistência social –

também encontram-se devidamente delimitadas na Constituição da República

Federativa do Brasil.

Nessa linha, a saúde é proclamada no seu artigo art. 196,187 como sendo

direito de todos e dever do Estado, mediante políticas sociais e econômicas que

visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao acesso universal e

igualitário às ações e serviços para a sua promoção, proteção recuperação.

Nota-se que abrange as ações de prevenção quanto aos riscos de doenças e

outros agravos, bem como a recuperação, no caso de ser configurada lesão.

Já a previdência social objetiva cobrir determinados riscos, tendo caráter

contributivo e de filiação obrigatória, visando conceder prestações a seus segurados,

para atender aos seguintes eventos, previstos no art. 201, do mesmo texto

constitucional, a saber:

a) cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte e idade avançada;

b) proteção à maternidade, especialmente à gestante;

c) proteção ao trabalhador em situação de desemprego involuntário;

d) salário-família e auxílio-reclusão para dependentes dos segurados de baixa

renda;

e) pensão por morte do segurado, homem ou mulher, ao cônjuge ou

companheiro e dependentes, observado o disposto no § 2º.

A assistência social por sua vez, nos termos do art. 203 e 204, da

Constituição da República Federativa do Brasil, é prestada a quem necessitar,

independente de contribuição à seguridade social. Ressalta-se que o mencionado

186 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 187 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005.

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dispositivo constitucional define as atividades que devem ser consideradas como

inerentes à assistência social. Assim o art. 203188, expressa que:

A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independente de

contribuição à seguridade social, e tem por objetivos:

a) a proteção à família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice;

b) o amparo às crianças e adolescentes carentes;

c) a promoção da integração ao mercado de trabalho;

d) a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a

promoção de sua integração à vida comunitária;

Por sua vez o art. 204, também da Carta Maior estabelece que as ações

governamentais na área da assistência social serão realizadas com recursos do

orçamento da seguridade social, previstos no art. 195, além de outras fontes, e

organizadas com base nas seguintes diretrizes:

a) descentralização político-administrativa, cabendo a coordenação e as

normas gerais à esfera federal e a coordenação e a execução dos

respectivos programas às esferas estaduais e municipal , bem como a

entidades beneficentes de assistência social.

b) participação da população, por meio de organizações representativas,

na formulação de políticas e no controle das ações em todos os

níveis.189

3.4.2 Requisitos para obtenção das imunidades e isenções

O artigo 150 da Constituição da República Federativa do Brasil quando veda

a instituição de impostos sobre o patrimônio, renda ou serviços das instituições de

educação e de assistência social, sem fins lucrativos, ressalva a atendimento aos

requisitos da lei.

188 BRASIL. Constituição (1988). 25. ed. São Paulo: Atlas, 2005. 189 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 45.

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A Lei a que se refere este dispositivo constitucional é o Código Tributário

Nacional, especificamente no seu artigo 14,190 que elenca os requisitos para a

fruição do benefício da imunidade, quais sejam:

a) não distribuírem qualquer parcela de seu patrimônio ou de suas

rendas, a qualquer título;

b) aplicarem integralmente, no país, os seus recursos na manutenção dos

seus objetivos institucionais;

c) manterem escrituração de suas receitas e despesas em livros

revestidos de formalidades legais capazes de assegurar sua exatidão.

Da mesma forma, a isenção da contribuição para a seguridade social

concedidas às entidades beneficentes de assistência social, prevista no art. 195, §

7º, também da Constituição da República Federativa do Brasil, exige o atendimento

às exigências estabelecidas em lei.

Especificamente no que se refere a imunidade das contribuições sociais

constitucionalmente previstas os requisitos foram elencados no artigo 55, da lei

ordinária 8.212/91.191 Assim sendo, as entidades para o gozo dos benefícios

devem possuir os seguintes títulos:

a) Declaração de utilidade pública federal, por ato do Ministro da Justiça;

b) Registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS);

c) Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social, expedido pelo

CNAS;

d) Reconhecimento como organização de sociedade civil de interesse público,

expedido pelo Ministério da Justiça.192

190 BRASIL. Código tributário nacional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2006. 191 GOULART, Karine Borges.Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 171. 192 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 43

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3.4.2.1 Declaração de utilidade pública

Atendendo aos requisitos da lei para obtenção dos benefícios das

imunidades, o primeiro que se apresenta é o de utilidade pública federal, estadual,

distrital e municipal, na forma do Art. 55, da Lei 8.212/91193, inc. I.

Aires F. Barreto e Paulo Ayres Barreto definem declaração de utilidade

pública como

O ato pelo qual o Poder Público, federal, estadual, distrital ou municipal, de acordo com a sua esfera de competência, assegura que uma entidade é idônea e tem seus objetivos voltados para satisfazer um interesse de utilidade pública, na área de atuação.194

Assim, o poder público pode conceder às sociedades civis, associações e

fundações particulares, que sirvam desinteressadamente à coletividade, títulos que

habilitam à obtenção de um tratamento diferenciado, em virtude das atividades por

elas exercidas, em colaboração com o Estado.195

A concessão do título de utilidade pública, implica ainda, a submissão das

entidade beneficiadas à fiscalização do poder público, no sentido de verificar a

manutenção das condições necessárias para o recebimento das vantagens

decorrentes do título. Estão, portanto, as entidades qualificadas, sob a égide dos

mecanismos de controles, tendo em vista que não há direito adquirido ao título, ou

as vantagens dele decorrentes, salvo se mantidas as condições que garantiram a

sua concessão.196

193 BRASIL. Lei 8.212. DOU de 25.07.1991.Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui o plano de custeio, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212.cons.htm.> Acesso em 30 setembro 2008. 194 BARRETO, Aires F. e BARRETO, Paulo Ayres. Imunidades tributárias: limitações constitucionais ao poder de tributar. São Paulo: Dialética, 1999. p. 81, apud GOULART, Karine Borges. Entidades Beneficentes & Contribuições sociais. Curitiba: Juruá, 2006, p. 172. 195 SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulamentação no Brasil. p. 89. 196 GOULART, Karine Borges. Entidades Beneficentes & Contribuições sociais. p. 173.

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A declaração de utilidade pública federal foi instituída na Lei 91, de

28.08.1935, regulamentada pelo Decreto 50.517, de 2.05.1961, que delega poderes

ao ministro da justiça a sua concessão.197

3.4.2.2 Registro no Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS)

A Resolução 31, de 24.02.1999 do CNAS198 regula os procedimentos para

registro das entidades em fins lucrativos que promovam as seguintes atividades:

- proteção à família, à infância, à maternidade, à adolescência e à velhice;

- amparo às crianças e aos adolescentes carentes;

- ações de prevenção, habilitação, reabilitação e integração à vida comunitária

de pessoas portadoras de deficiência;

- integração ao mercado de trabalho;

- assistência educacional ou à saúde;

- desenvolvimento da cultura;

197 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 43. 198 O Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS foi criado pela Lei 8.742, de 07.10/1993 ( Lei Orgânica da Assistência Social) e veio substituir o antigo órgão Conselho Nacional de Serviço Social – CNSS.

O CNAS é instituído como uma figura democratizadora de gestão assistência social, com poderes de delimitação sobre a política e seus recursos orçamentários. Ao CNAS compete: I – Aprovar a Política Nacional de Assistência Social; II – normatizar ações e regular a prestação de serviços de natureza pública e privada no campo da Assistência Social; III – observando o disposto em regulamento, estabelecer procedimento para concessão de registro e certificado de entidade beneficente de assistência social às instituições privadas prestadoras de serviços e assessoramento de assistência social que prestam serviços relacionados com seus objetivos institucionais; IV – fixar normas para a concessão ou revogação do Registro e Certificado de Entidades Beneficentes de Assistência Social às entidades privadas prestadoras de serviços e assessoramento de assistência social; V – conceder atestado de Registro e Certificados de Entidades Beneficentes de Assistência Social na forma do regulamento a ser fixado; estabelecer diretirzes, apreciar e aprovar os programas anuais e plurianuais do Fundo Nacional de Assistência Social; VI – aprovar critérios de transferência de recursos para os Estados, Municípios e Distrito Federal; VII – convocar a cada quatro anos a Conferencia Nacional de Assistência Social, que terá a atribuição de avaliar a situação da Assistência Social e propor diretrizes para o aperfeiçoamento do sistema (MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social, p. 41-42.

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- atendimento e assessoramento aos beneficiários da Lei Orgânica da

Assistência social e defesa e garantia de seus direito.199

Quando da aprovação do registro, é publicada resolução no Diário Oficial da

Justiça, expedindo o registro em favor da entidade.

O registro é cancelado, caso a instituição:

- infrinja qualquer dispositivo da Resolução CNAS 31, de 24.02.1999;

- tiver sofrido solução de continuidade em seu funcionamento;

- tenha irregularidade em sua gestão administrativa, comprovada mediante

processo administrativo no CNAS.200

3.4.2.3 Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social

Maria Rejane Bitencourt Machado escreve sobre o certificado de entidade

beneficente de assistência social:201 A disposição legal e as exigências para a

obtenção do Certificado de Entidade Beneficente de Assistência Social estão

previstas na Resolução 107, de 10.08.2000, do CNAS, que dispõe que a associação

ou fundação possua as características como entidade beneficente e que cumpra os

seguintes requisitos:

- estar legalmente constituída no pais e em efetivo funcionamento nos

três anos interiores à solicitação do certificado;

- inscritas nos Conselhos Municipais de Assistência Social ou do Distrito

Federal para seu regular funcionamento, cabendo aos referidos

Conselhos a fiscalização das entidades, independente do recebimento

direito de recursos da União, Estados, DF e Municípios;

- estar previamente registrada no CNAS;

199 SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulamentação no Brasil. p. 92. 200 SZAZI, Eduardo. Terceiro setor: regulamentação no Brasil. p. 93. 201 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 42.

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- aplicar suas rendas, seus recursos e eventual resultado operacional

integralmente no território nacional, na manutenção e no

desenvolvimento de seus objetivos institucionais;

- aplicar as subvenções e doações recebidas nas finalidades a que

estejam vinculadas;

- aplicar anualmente, em gratuidade, pelo menos vinte por cento da

receita bruta proveniente da venda de serviços, acrescida da receita

decorrente de aplicações financeiras, de locação de bens, de venda de

bens não integrantes do ativo imobilizado e de doações de particulares,

cujo montante nunca será inferior à isenção de contribuição sociais

usufruídas;

- não distribuir resultados, dividendos, bonificações, participações ou

parcela de seu patrimônio, sob nenhuma forma ou pretexto;

- não perceberem seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores,

benfeitores ou equivalentes remuneração, vantagens ou benefícios,

direita ou indiretamente, por qualquer forma ou título, em razão das

competências, funções ou atividades que lhes sejam atribuídas pelos

respectivos atos constitutivos;

- destinar, em seus atos constitutivos, em caso de dissolução ou

extinção, o eventual patrimônio remanescente a entidades congêneres

registradas no CNAS ou a entidade pública;

- não constituir patrimônio de indivíduo ou sociedade sem caráter

beneficente de assistência social.202

3.4.2.4 Não distribuição de vantagens a diretores

Este requisito que deve ser atendido pela entidade que pretende a imunidade

tributária consta do art. 55, da Lei 8.212/91203, que consiste na vedação à percepção

202 MACHADO, Maria Rejane Bitencourt. Entidades beneficentes de assistência social. P. 42.

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de remuneração por seus diretores, conselheiros, sócios, instituidores ou

benfeitores, e ainda, da concessão de vantagens ou benefícios a qualquer título.204

Não entrando no mérito da hierarquia das leis, há que se ressaltar que o

requisito disposto no artigo 55, da Lei 8.212/91205 difere do estabelecido no artigo 14 206de Código Tributário Nacional (CTN) para o gozo da imunidade em relação a

impostos, que veda tão-somente a distribuição de parcela do patrimônio das

entidades imunes. 207

Ainda, segundo Karine Borges Goulart, a vedação em análise é restrita aos

cargos acima mencionados, não abrangendo o exercício de outras atividades pelas

pessoas indicadas. Assim, o diretor de uma entidade de educação poderá ministrar

aulas e receber pelos serviços prestados.208

3.4.2.5 Aplicação do resultado

O último requisito estabelecido no artigo 55, V, da Lei 8.212/91209, consiste na

obrigação de se aplicar integralmente o eventual resultado operacional na

manutenção e desenvolvimento de seus objetivos institucionais, apresentando

anualmente, relatório circunstanciado de suas atividades ao Instituto Nacional do

Seguro Social.210

Para Karine Borges Goulart,

203 BRASIL. Lei 8.212. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui o plano de custeio, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212.cons.htm.> Acesso em 30 setembro 2008. 204 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p.181. 205 BRASIL. L 8.212. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui o plano de custeio, e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212.cons.htm. Acesso em 30 setembro 2008.

207 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 181. 208 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 181. 209 BRASIL. Lei 8.212. DOU 25.07.1991. Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui o plano de custeio, e dá outras providências. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8212.cons.htm.> Acesso em 30 setembro 2008 210 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 182.

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A vedação de distribuição de lucro ou parcela do patrimônio encontra-se em consonância com a exigência constitucional no sentido de que as instituições, para gozar da imunidade, não tenham fins lucrativos. Assim, eventual resultado positivo deve ser investido nos fins institucionais da entidade, não podendo reverter em benefício de seus fundadores, seja mediante distribuição de lucros ou parcelas do patrimônio. [...] Requer-se, ainda, a aplicação dos recursos no país, tendo em vista que a razão da concessão da imunidade consiste em incentivar os particulares a colaborarem para a consecução dos objetivos do Estado Brasileiro.211

É, portanto requisito para a obtenção e manutenção dos benefícios das

imunidades tributárias que a aplicação do resultado sejam totalmente aplicados na

manutenção e desenvolvimento dos objetivos institucionais das entidades.

3.4.2.6 Requisitos em relação ao quantum de atendimentos

As entidades beneficentes de assistência social, além da necessidade de

cumprir os requisitos anteriormente enumerados devem, nas suas atividades

operacionais, colocar à disposição da sociedade uma quantidade mínima de

atendimentos.

Assim, na forma do disposto no Decreto 2.536212 de 06.04.1998, mais tarde

alterado pelo Decreto 5.895213,de 18.09.2006 estatui que as instituições de saúde

beneficiadas com o Certificado de Entidade Beneficentes de Assistência Social

devem ofertar a prestação de todos os seus serviços ao SUS no percentual mínimo

de sessenta por cento, e comprovar, anualmente, o mesmo percentual em

internações realizadas, medida por paciente dia.214

Ainda conforme o mesmo Decreto, alternativamente, poderá a instituição de

saúde realizar projetos de apoio ao desenvolvimento institucional do SUS, 211 GOULART, Karine Borges. Entidades beneficentes & contribuições sociais. p. 183. 212 BRASIL. Decreto 2.536. DOU de 06.04.1998. Dispõe sobre a concessão do Certificado de entidade de fins Filantrópicos. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D2536.htm.> Acesso em 30 setembro 2008. 213 BRASIL. Decreto 5.895. DOU de 18.09.2006. Dá nova redação ao Art. 3º do Decreto 2.536/98. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/D5895.htm.> Acesso em 30 setembro 2008. 214 MACHADO, Maria Rejane Bittencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 44.

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estabelecendo convênio com a União, por intermédio do Ministério da Saúde, nas

seguintes áreas de atuação: estudos de avaliação e incorporação de tecnologias;

capacitação de recursos humanos; pesquisa de interesse público em saúde e

desenvolvimento de técnicas de gestão em serviços de saúde.

Quanto às entidades de ensino, o Estado, através da Lei 11.096215, de

13.01.2005, instituiu o Programa Universidade para Todos – PROUNI, para prover

ensino gratuito a toda a população.216

A referida Lei 11.096 institui que as entidades de ensino superior, que atuam

também nas áreas de ensino básico ou em área distinta da educação, podem ser

consideradas entidades beneficentes de assistência social, caso sigam o disposto

em seu artigo 10, que dispõe:

A instituição de ensino superior, ainda que atue no ensino básico ou em área

distinta da educação, somente poderá ser considerada entidade beneficente de

assistência social se oferecer no mínimo, uma bolsa de estudo integral para

estudante de curso de graduação ou sequencial de formação específica, sem

diploma de curso superior, enquadrado no § 1º do art. 1º desta Lei, para cada nove

estudantes pagantes de cursos de graduação ou seqüencial de formação específica

regulares da instituição, matriculados em cursos efetivamente instalados, e atender

às demais exigências legais.

Já o seu parágrafo primeiro dispõe sobre o quantum a ser aplicado: a

instituição de que trata o caput deste artigo deverá aplicar anualmente em

gratuidade, pelo menos 20% (vinte por cento) da receita bruta proveniente da venda

de serviços, acrescida da receita decorrente de aplicações financeiras, de locação

de bens, de venda de bens não integrantes do ativo imobilizado e de doações

215BRASIL. Lei 11.096. DOU de 13.01.2005. Institui o Programa Universidade Para todos – PROUNI. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/L11096.htm. Acesso em 30 setembro 2008. 216 MACHADO, Maria Rejane Bittencourt. Entidades beneficentes de assistência social. p. 45.

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particulares, respeitadas, quando couber, as normas que disciplinam a atuação das

entidades beneficentes de assistência social na área da saúde.217

Na mesma linha o artigo 11 da mesma Lei 11.096 refere-se às entidades que

atuam no ensino superior, determinando que através de um termo de adesão não

inferior a dez anos, possam efetuar seleção dos alunos com bolsas de estudos

integrais e parciais.

3.4.3. Requerimento e deferimento da isenção

A partir da publicação da lei 11.457218, de 16.3.2007, foi extinta a Secretaria

da Receita Previdenciária do Ministério de Previdência Social, sendo repassada à

Secretaria da Receita Federal do Brasil as atribuições de planejar, executar,

acompanhar e avaliar as atividades relativas a tributação, fiscalização, arrecadação,

cobrança e recolhimento das contribuições sociais.219

Assim, sendo, a partir dessa alteração, a entidade interessada deverá

protocolar o pedido de reconhecimento da isenção somente no Centro de

Atendimento da Delegacia da Receita Federal do Brasil, da jurisdição do

estabelecimento centralizador.220

O requerimento deve ser feito em formulário próprio, na forma do artigo 208

do Decreto 3.048/99,221 juntamente com os seguintes documentos:

a) Decretos declaratórios de entidade de utilidade pública federal e estadual ou

do Distrito Federal ou municipal; 217 BRASIL. Lei 11.096.DOU de 13.01.2005. Institui o Programa Universidade para todos – PROUNI. Disponível em <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/L11096.htm. Acesso em 30 setembro 2008. 218 BRASIL.Lei 11.457. DOU de 19.03.2007.Dispõe sobre a administração tributária federal. Disponível em <http://planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007/lei/L11457.htm. Acesso em 30 setembro 2008. 219 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. P. 291. 220 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. P. 288. 221 BRASIL. Decreto 3048. DOU 06.05.1999. Aprova o Regulamento da Previdência Social, e dá outras providencias. Disponível em www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/quadros/1999.htm. Acesso em 25.08.2008.

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b) Registro e Certificado de Entidade de Fins Filantrópicos, expedido pelo

CNAS;

c) Estatuto da entidade com a respectiva certidão de registro em cartório ou no

Registro de Pessoas Jurídicas;

d) Ata de eleição ou nomeação da diretoria em exercício, registrada em cartório

ou no Registro de Pessoas Jurídicas;

e) Comprovante de entrega da declaração de imunidade do imposto de renda de

pessoa jurídica, fornecido pelo setor competente do Ministério da Fazenda;

f) Relação nominal de todas suas dependências, estabelecimentos e obras de

construção civil, identificados pelos respectivos números no Cadastro

Específico do INSS;

g) Resumo de informações de assistência social, em formulário próprio.222

A Secretaria da Receita Federal do Brasil decidirá pelo deferimento ou pelo

indeferimento do pedido de reconhecimento de isenção, de acordo com as normas

vigentes à época do pedido, no prazo de trinta dias, contados da data do protocolo,

para decidir sobre o pedido. Deferido este, expedirá Ato Declaratório e comunicará à

pessoa jurídica requerente a decisão sobre o pedido de reconhecimento do direito à

isenção, que gerará efeito a partir da data do seu protocolo. Em caso de

indeferimento do pedido, caberá recurso ao Conselho de Contribuintes do Ministério

da Fazenda.223

Para a manutenção da isenção pela entidade beneficente de assistência

social, obriga-se a entidade protocolar, até 31 de janeiro de cada ano, na Unidade

de Atendimento da Receita Federal do Brasil do estabelecimento centralizar, plano

de ação das atividades a serem desenvolvidas durante o ano em curso e,

anualmente, até 30 de abril, na Unidade de Atendimento de jurisdição de sua sede,

relatório circunstanciado relativo ao exercício anterior. 224

222 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. P. 288. 223 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. P. 299. 224 CASTRO, Carlos Alberto Pereira de, LAZZARI, João Batista. Manual de direito previdenciário. P. 289.

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Viu-se neste terceiro capítulo o instituto das imunidades tributárias,

constitucionalmente previsto no artigo 150, relativamente aos impostos a que estão

beneficiadas as entidades com fins filantrópicos, além do estabelecido no artigo 195,

parágrafo 7º que dispõe sobre a isenção das contribuições previdenciárias patronais

para as mesmas entidades.

Viu-se ainda os requisitos necessários que a lei infraconstitucional determina

para que as entidades usufruam do instituto da imunidade tributária sobre suas

atividades operacionais.

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CONCLUSÃO

O pressente estudo acadêmico teve por finalidade analisar as imunidades

tributárias e as isenções para as entidades filantrópicas, relacionadas com o terceiro

setor.

No objetivo geral, procurou-se identificar o contexto de tais entidades e do

terceiro setor. Já nos objetivos específicos pretendeu-se estudar a evolução das

entidades filantrópicas, seus conceitos, e os requisitos para a obtenção do

Certificado de Entidades Filantrópicas, além de verificar a conduta necessária das

mesmas para a manutenção deste certificado, a partir da contextualização legal, seja

a partir dos dispositivos constitucionais, sejam através das leis infraconstitucionais

reguladoras destes institutos.

Para responder a tais objetivos, viu-se no primeiro capítulo a explicitação do

que se entende por filantropia, entendendo ser a preocupação do homem, enquanto

indivíduo com a humanidade; relacionamento este que em sentido estrito, constitui-

se no sentimento, na preocupação do favorecido com o que nada tem, através de

gestos voluntaristas. Em sentido amplo verificou-se o sentimento humanitário: a

intenção de que o homem tenha garantia e condições de vida digna.

Verificou-se a evolução histórica da filantropia no Brasil, identificando quatro

fases, neste desenvolvimento, até chegar aos dias atuais.

Discorreu-se ainda, sobre o terceiro setor, conceituando-o, identificando

características, contextualizando como setor que atua onde o primeiro setor (Estado)

e o segundo setor (Privado) deixam de eficientemente cumprir suas funções.

Identificou-se ainda, quais tipos de entidades podem constituírem-se em

entidades de fins não econômicos e pertencentes ao terceiro setor.

O segundo capítulo discorreu sobre o sistema tributário nacional vigente. A

partir da identificação da atividade financeira do Estado, como forma de realizar suas

atribuições sociais. Conceituou-se o sistema tributário, entendendo com o um

conjunto de normas constitucionais de natureza tributária, inserido no sistema

jurídico global. Identificou-se as espécies de tributos (gênero) como impostos, taxas,

contribuição de melhoria e contribuições sociais, estas subdivididas em contribuições

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de intervenção do domínio econômico e contribuições de seguridade social e as

contribuições profissionais e por fim os empréstimos compulsórios.

As respostas definitivas aos objetivos específicos do estudo foram dadas no

terceiro capítulo que estudou as imunidades tributárias, desde suas origens, as

limitações constitucionais ao poder de tributar, a natureza jurídica e a aplicabilidade

deste instituto.

Verificou-se o conceito de assistência social e os requisitos para que as

entidades filantrópicas possam usufruir das vantagens das imunidades e isenções.

Viu-se que o comando normativo maior que disciplina o instituto das

imunidades tributárias é o artigo 150 da Constituição da República Federativa do

Brasil, especialmente relacionado aos impostos e o artigo 195, parágrafo 7º da

mesma carta constitucional que disciplina a isenção das contribuições sociais

patronais.

As principais leis infraconstitucionais que disciplinam as entidades em estudo

são a Lei 8.742/93 – Lei Orgânica da Assistência social – LOAS, e a Lei 8.212/91,

que dispõe sobre a organização da seguridade social.

Os requisitos que as entidades precisam para o gozo dos benefícios fiscais

em estudo são:

a) Declaração de utilidade publica federal, por ato do ministro da justiça;

b) Registro no Conselho Nacional de Assistência Social – CNAS;

c) Certificado de entidade beneficente de assistência social;

d) Não distribuição de vantagens a diretores;

e) Aplicação do resultado na própria entidade;

f) Atendimento ao quantum mínimo de atendimentos sejam na área de

saúde, seja na área de educação.

Entende-se que com a pesquisa desenvolvida, deu-se respostas ao objetivo

geral e aos objetivos específicos propostos no seu início.

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