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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ BRUNA MAFRA O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO À LUZ DO ART. 515, § 3º, DO CPC FRENTE AOS PRINCÍPIOS DO JUIZ NATURAL E DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO São José 2010

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

BRUNA MAFRA

O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO À LUZ DO ART. 515, § 3º, DO CPC FRENTE AOS PRINCÍPIOS DO JUIZ NATURAL E DO

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

São José 2010

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BRUNA MAFRA

O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO À LUZ DO ART. 515, § 3º, DO CPC FRENTE AOS PRINCÍPIOS DO JUIZ NATURAL E DO

DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

Monografia apresentada à Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI como requisito parcial à obtenção do grau em Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. MSc. Ricardo Brandt

Naschenweng

São José 2010

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BRUNA MAFRA

O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO À LUZ ART. 515, § 3º, DO CPC FRENTE AOS PRINCÍPIOS DO JUIZ NATURAL E DO DUPLO

GRAU DE JURISDIÇÃO

Esta Monografia foi julgada adequada para a obtenção do título de bacharel e

aprovada pelo Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de

Ciências Sociais e Jurídicas.

Área de Concentração:

Direito Processual Civil

São José, 25 de novembro de 2010.

Prof. Esp. Ricardo Brandt Naschenweng UNIVALI – Campus de São José

Orientador

Esp. Carlos Alberto Luz Gonçalves Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Membro

Esp. Silvia Bittencourt Varella Universidade do Vale do Itajaí - UNIVALI

Membro

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Dedico esta monografia aos meus pais, Aparício José Mafra Neto e Tânia

Julieta Mafra, e aos meus irmãos, Mariana Mafra e Rodrigo Mafra, por terem me

apoiado em todos os momentos desta caminhada e de tantas outras.

Dedico, ainda, ao Desembargador Newton Trisotto, pela oportunidade

oferecida e por todo conhecimento compartilhado.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, que me guia e me protege em todos os

caminhos.

Aos meus pais, Aparício José Mafra Neto e Tânia Julieta Mafra, como

também a toda minha família, por estarem sempre ao meu lado, dando todo o

suporte indispensável.

Ao meu professor Ricardo Brandt Naschenweng, excelente orientador nesta

pesquisa, por todo tempo despendido e pelo conhecimento partilhado.s.

A todos os professores desta instituição, que, de forma segura, colaboraram

para a minha formação.

Ao Desembargador Newton Trisotto, pela oportunidade proporcionada e por

todo conhecimento compartilhado.

Ao Carlos Carlini e às minhas companheiras de trabalho, Cristiane, Joana,

Juliana e Marcele, pelo incentivo e pela disponibilidade de me ajudarem nas

variadas dúvidas que surgiram durante a elaboração deste trabalho.

E a todas as pessoas que, de alguma forma, contribuíram na feitura desta

pesquisa.

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“As pessoas que vencem neste mundo são as que procuram as circunstâncias de

que precisam e, quando não as encontram, as criam.”

(Winston Churchill).

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do

Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o

Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

São José, 03 de novembro de 2010

Bruna Mafra

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RESUMO

A presente monografia, elaborada com o suporte metodológico da abordagem

dedutiva, discorre sobre o efeito devolutivo do recurso de apelação, à luz do art. 515,

§ 3º, do CPC, em detrimento dos princípios do juiz natural e do duplo grau de

jurisdição, baseando-se em posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais,

porquanto, ainda há divergência acerca do tema. Para cumprir essa tarefa, o estudo

aborda, inicialmente, os princípios fundamentais que norteiam os recursos cíveis.

Em seguida, define os recursos em geral, com a respectiva classificação, e explana

os atos processuais sujeitos a recurso, os juízos de admissibilidade e de mérito, os

efeitos dos recursos e a tutela antecipada no procedimento recursal. Por fim, analisa

as alterações processuais civis trazidas pela Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de

2001, frente aos princípios do juiz natural e do duplo grau de jurisdição,

evidenciando as peculiaridades e os pressupostos que devem ser demonstrados

para que o dispositivo seja aplicado. Com estribo no referencial teórico adotado,

conclui que pode ser admitida a mitigação do princípio do duplo grau de jurisdição,

visando acelerar a prestação jurisdicional e que o referido parágrafo, acrescentado

ao artigo 515, não violou os princípios do juiz natural e do duplo grau de jurisdição,

devendo tal dispositivo legal ser observado como um instrumento útil, à luz dos

princípios da celeridade, da instrumentalidade e da economia processual (CRFB, art.

5º, inciso LXXVIIII, c/c art. 516 do CPC).

Palavras-chave: Recursos. Princípios. Art. 515, § 3º, do CPC. Apelação.

Devolutividade.

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ABSTRACT

This work, produced with a methodologic support from a deductive approach, talks

about the devolution effect of resource of apellation, based on the art. 515, § 3º,

Process Civil Code, to the detriment of principles of natural judge and the double

grade of jurisdiction, according to opinions from doctrine ande jurisprudence,

because there’s still have a divergence about this theme. To make this job, this work

begins whit the fundamental principles that govern civil resources. In the sequence,

defines resources in general, with its classification and explains the processual acts

submited to resources, the admissibility and merit judges, the resources effects and

the injuction. Finally, analyses the process civil changes that became with the Law n.

10.352, from 2001, December, 26, according to the principles of natural judge and

double grade of jurisdiction, showing up the peculiarities and the prerequisites that

must be showned to allow the rule application. With this theory, concludes that we

can admit a kind of mitigation of the incidence of the principle of double grade of

jurisdiction, intending to increase and turn more faster the jurisdictional answer. That

paragraph added to the article 515 did not violate the principles of natural judge and

double grade of jurisdiction. This rule should be observed like an useful instrument,

according to the principles of celerity, instrumentality and processual economy

(Brazilian Federal Republic Constitution, art. 5º, LXXVIII with 516, Process Civil

Code).

Key Words: Resources. Principles. Article 515, § 3º, Process Civil Code. Apellation.

Devolution.

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ROL DE ABREVIATURAS OU SIGLAS

CC/02 – Código Civil Brasileiro de 2002

CRFB – Constituição da República Federativa do Brasil

CPC – Código de Processo Civil

STJ – Superior Tribunal de Justiça

P. – Página

Nº - Número

ART. – Artigo

ARTS. – Artigos

ED. – Edição

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO..........................................................................................................13

1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS CIVIS.....................................15

1.1 PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO................................................15

1.2 PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE..........................................................................18

1.3 PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE ......................................................................20

1.4 PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE ........................................................................22

1.5 PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE.........................................................................25

1.6 PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE...................................................................26

1.7 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE ........................................................28

1.8 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS.................................29

1.9 PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO..........................................................................31

1.10 PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL ........................................................................33

2 DO SISTEMA RECURSAL BRASILEIRO E OS RECURSOS CÍVEIS..................36

2.1 CONCEITO DE RECURSOS...............................................................................38

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS ..................................................................39

2.2.1 Quanto à extensão da matéria: recurso parcial ou total.............................39

2.2.2 Quanto à fundamentação: livre ou vinculada ..............................................41

2.3 ATOS PROCESSUAIS SUJEITO A RECURSO ..................................................42

2.3.1 Atos do juiz de primeiro grau........................................................................42

2.3.2 Atos proferidos nos Tribunais ......................................................................43

2.4 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO..........................................44

2.5 EFEITOS DO RECURSO ....................................................................................46

2.5.1 Efeito suspensivo...........................................................................................48

2.5.2 Efeito devolutivo ............................................................................................49

2.5.3 Efeito translativo ............................................................................................51

2.6 TUTELA ANTECIPADA NO PROCEDIMENTO RECURSAL...............................52

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3 O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO À LUZ DO § 3º DO ART. 515 DO

CPC...........................................................................................................................55

3.1 DO RECURSO DE APELAÇÃO...........................................................................55

3.2 DOS EFEITOS ATINENTES À APELAÇÃO.........................................................59

3.3 DOS PRESSUPOSTOS PARA APLICAÇÃO DO § 3º DO ARTIGO 515 DO CPC63

3.3.1 Processo “em condição de imediato julgamento”......................................66

3.3.2 Causa que verse exclusivamente de direito ................................................70

3.4 O § 3º DO ART. 515 DO CPC EM DETRIMENTO DOS PRINCÍPIOS DO JUIZ

NATURAL E DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO....................................................72

CONCLUSÃO ...........................................................................................................78

REFERÊNCIAS.........................................................................................................80

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13

INTRODUÇÃO

O presente trabalho monográfico tem como objeto de estudo o efeito

devolutivo na apelação à luz do art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil (CPC)

frente aos princípios do juiz natural e do duplo grau de jurisdição.

O interesse pelo tema desta pesquisa adveio, principalmente, em

consequência da simpatia com o direito processual civil, em especial pela fase

recursal. Ademais, com as alterações trazidas pela Lei nº 10.352, de 26 de

dezembro de 2001, surgiram questionamentos em relação à matéria, visto que o

tema conta com divergências doutrinárias e jurisprudenciais devido à complexidade

do § 3º do artigo 515 do CPC, em razão da possibilidade de afronta a princípios

constitucionais. Cumpre destacar que tais princípios são o ápice do sistema jurídico,

tudo que lhes segue tem de estar em consonância com seus preceitos. O

dispositivo, outrossim, rompe alguns conceitos tradicionais do sistema recursal,

razão pela qual seu estudo apresenta grande relevância.

O objetivo geral do presente trabalho é analisar a possibilidade de afronta

aos princípios constitucionais do juiz natural e do duplo grau de jurisdição no que se

refere à expansão do efeito devolutivo no recurso de apelação. Entre os objetivos

específicos, almeja-se definir os princípios do juiz natural, do duplo grau de

jurisdição e os relacionados com os recursos no processo civil. Posteriormente,

pretende-se esclarecer o conceito, a natureza jurídica, os atos processuais que lhe

são submetidos, o juízo de admissibilidade e o juízo de mérito dos recursos, e, por

fim, os seus efeitos, enfatizando o recurso de apelação. Por derradeiro, analisar-se-

ão as alterações processuais civis trazidas pela Lei nº 10.352, de 26 de dezembro

de 2001, evidenciando as peculiaridades e os requisitos que devem ser

demonstrados para que o referido dispositivo seja aplicado.

O método a ser utilizado para a elaboração da monografia será o dedutivo,

visto que a presente pesquisa partirá de premissa geral, que no presente caso

origina-se nos princípios fundamentais que regem os recursos civis, para a

específica, que consiste nos recursos civis, especificadamente a definição, a

classificação e principalmente os efeitos, para, finalmente, analisar o recurso de

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14

apelação e avaliar a possibilidade de afronta aos princípios do juiz natural e do duplo

grau de jurisdição frente ao § 3º do art. 515 do CPC.

A técnica de pesquisa a ser empregada será a da documentação indireta,

por meio de pesquisa bibliográfica, com leituras de doutrinas, jurisprudências,

artigos, revistas, e também a pesquisa documental, com o estudo da legislação em

vigor, especialmente a Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB) e a

Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2001 – que instituiu mudanças no regime de

recursos e do reexame necessário no processo civil –, a fim de avaliar o § 3º do art.

515 do CPC frente aos princípios do juiz natural e do duplo grau de jurisdição.

O trabalho, que resulta neste relatório de pesquisa, está dividido em

capítulos. O Capítulo 1 principia com um estudo acerca dos princípios fundamentais

que regem os recursos cíveis, quais sejam, do duplo grau de jurisdição, do juiz

natural, da taxatividade, da singularidade, da fungibilidade, da dileticidade, da

voluntariedade, da complementariedade, da proibição da reformatio in pejus e da

consumação. O Capítulo 2 enfatiza o recurso, destacando conceitos, classificações,

atos processuais sujeitos a recurso, juízo de admissibilidade e juízo de mérito,

efeitos do recurso, como também a tutela antecipada no procedimento recursal. O

Capítulo 3 finaliza a pesquisa abordando o recurso de apelação, os pressupostos

para a aplicação do § 3º do art. 515 do CPC e, ao final, o dispositivo supra em

possível detrimento dos princípios do juiz natural e do duplo grau de jurisdição.

Em sede de considerações finais, mostram-se os resultados gerais

alcançados, expondo-se os pontos conclusivos, da estimulação pela continuidade

dos estudos sobre o tema.

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15

1 PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS CIVIS

O direito processual civil é dirigido por inúmeros princípios que irão nortear o

emprego e a interpretação das normas jurídicas correlatas.1 Como são parte do

processo, os recursos cíveis também são regidos por esses mesmos princípios, os

quais igualmente se estendem, por equiparação, ao reexame necessário. Assim, no

presente capítulo, serão analisados os princípios fundamentais dos recursos cíveis:

duplo grau de jurisdição, juiz natural, taxatividade, singularidade, fungibilidade,

dileticidade, voluntariedade, complementariedade, proibição da reformatio in pejus e

consumação.

1.1 PRINCÍPIO DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

Consagrado pela Revolução Francesa, o princípio do duplo grau de

jurisdição consiste na possibilidade de reexame, de reapreciação das causas por

dois órgãos jurisdicionais sucessivamente, de modo que o segundo grau prevaleça

sobre o primeiro.2

Na lição de Nery Junior3:

O princípio do duplo grau de jurisdição tem íntima relação com a preocupação dos ordenamentos jurídicos em evitar a possibilidade de haver abuso de poder por parte do juiz, o que poderia em tese ocorrer se não estivesse a decisão sujeita à revisão por outro órgão do Poder Judiciário.

Impende salientar, todavia, que o desígnio do duplo grau de jurisdição não é

tão somente admitir o controle da atividade do juiz a quo, mas também oferecer à

parte vencida a revisão da decisão prolatada.4

1 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil. 25. ed. rev. e atual. São Paulo: Saraiva, 2007. v. 1. p. 71-73. 2 SANTOS, Moacir Amaral. Primeiras linhas de direito processual civil, p. 85. 3 NERY JUNIOR, Nelson. Teorial geral dos recursos. 6. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 37. 4 MARINONE, Luiz Guilherme. Processo de conhecimento. 7. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2008. p. 496.

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16

O princípio ora em estudo não se encontra consignado expressamente na

CRFB, circunstância esta que fez emergir discussões acerca de seu status de

inafastável garantia fundamental.

A propósito, vale destacar o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal

havido no julgamento do RE nº 201.297, da relatoria do Ministro Moreira Alves:

Recurso extraordinário. [...] Não tem razão o recorrente quando pretende que, em face do disposto no artigo 5º, LV e parágrafo 1º, da Constituição Federal, esta constitucionalizou o princípio do duplo grau de jurisdição, não mais admitindo decisões de única instância, razão por que não foi recebida pela nova ordem constitucional a Lei 5.584/70.5

Corrobora com o entendimento Alvarez6:

A ampliação do efeito devolutivo da apelação, com o advento do § 3º do art. 515, tornou imperiosa a renovação da concepção do princípio em comento, o que exime de qualquer eiva tal dispositivo, haja vista ter o legislador adotado-o como valor jurídico essencial à administração da justiça. Não descurando do devido processo legal e da segurança jurídica, o dogma do duplo grau de jurisdição foi relativizado, permitindo a criação de melhor técnica, voltada à célere e efetiva prestação jurisdicional.

Contudo, há posicionamento diverso do aludido, que, por sua vez, considera

o princípio do duplo grau de jurisdição, sim, uma garantia constitucional. É o que se

extrai da doutrina de Miranda e Pizzol7:

O princípio do duplo grau de jurisdição não se encontra expressamente consignado na Constituição Federal (art. 5º, LIV), mas decorre do devido processo legal, princípio do qual emanam todos os demais [...].8

5 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Primeira Turma. Recurso Extraordinário nº 201.297. Distrito Federal, julgado em 01 de agosto de 1996. Disponível em: <http://redir.stf.jus.br/paginador/paginador.jsp?docTP=AC&docID=237751>. Acesso em: 30 set. 2010. 6 ALVAREZ, Maria Auxiliadora Garcia Duran. Considerações sobre o § 3º do art. 515 do CPC. Rio de Janeiro: Revista Forense, 2005. p. 136. 7 ALVAREZ, Maria Auxiliadora Garcia Duran. Considerações sobre o § 3º do art. 515 do CPC. Rio de Janeiro: Revista Forense, 2005. p. 136. 8 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Recursos no processo civil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 07.

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17

Das veementes discussões acerca do tema, merece destaque, ainda, o

posicionamento de Wambier9:

Se pode legitimamente concluir que o duplo grau de jurisdição é, sim, um princípio constitucional. Nem por isso, todavia, como se observou, tem-se que será inconstitucional o dispositivo legal que determinar seja, em certas condições, suprimindo da parte o direito ao duplo grau de jurisdição.

Destarte, reputa-se que o duplo grau de jurisdição pode sofrer atenuações

conforme disposições infraconstitucionais, não podendo ser considerado como

garantia absoluta.

Não se olvida que a CRFB, em seu art. 5º, inciso LV, prevê que “aos

litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são

assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela

inerentes”. Este artigo, na opinião de Moreira, refere-se somente aos instrumentos

essenciais ao exercício da ampla defesa, entre os quais não consta o duplo grau de

jurisdição. Por isso, doutrina e jurisprudência dominantes têm afastado o

entendimento de que o duplo grau de jurisdição esteja inserido à categoria de

princípio constitucional.10

Nesse contexto, tem-se admitido a possibilidade de normas fixarem

limitações ao princípio do duplo grau de jurisdição, como, por exemplo, o fez a Lei nº

10.352, de 26 de dezembro de 2001, ao inserir o § 3º ao art. 515 do CPC, a partir de

quando os tribunais estiveram autorizados a conhecer e julgar diretamente causas

cujo procedimento fora extinto sem resolução do mérito na primeira instância, desde

que tratem unicamente de questões de direito e o processo esteja em condições

adjacentes de julgamento. Outros exemplos a serem citados são as causas de

competência originária dos tribunais, os embargos infringentes previstos na Lei de

Execução Fiscal (Lei nº 6.830/80), entre outros.

Portanto, em razão de o texto constitucional somente fazer menção ao

princípio do duplo grau de jurisdição, este não é visto como garantia plena,

tornando-se possível excepcionar sua aplicação.

9 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves comentários à nova sistemática processual civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 268. 10 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil. 12. Ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Forense, 2005. v. 5. p. 239-240.

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18

Consoante concluem Marinoni e Arenhart11:

[...] o legislador infraconstitucional não está obrigado a estabelecer, para toda e qualquer causa, uma dupla revisão em relação ao mérito, principalmente porque a própria Constituição Federal, em seu art. 5º, XXXV, garante a todos o direito à tutela jurisdicional tempestiva, direito este que não pode deixar de ser levado em consideração quando se pensa em garantir a segurança da parte através da instituição da dupla revisão.

Fato é que não se pode descurar da importância a ser dada a esse princípio,

notadamente porque a revisão de decisões por outros órgãos jurisdicionais confere

segurança jurídica aos cidadãos. É, pois, um princípio que coexiste harmonicamente

com os demais e, como tal, deve ter suas limitações justificadas em prol da

efetividade e da celeridade do processo.

1.2 PRINCÍPIO DA TAXATIVIDADE

Conforme o princípio da taxatividade, somente “[...] a lei federal pode

disciplinar os recursos, no uso da competência legislativa estipulada no art. 22, inciso

I, da Constituição Federal, e por conseguinte, sua tipificação é predeterminada.”12

Sobre o tema, preleciona Kozikoski13:

[...] somente são considerados recursos aqueles previstos em lei, ditados através de elenco exaustivo (numerus clausu), de forma que não é deixada ao arbítrio das partes a criação de formas diferenciadas de exteriorização de sua indignação, nem tampouco confere-se legitimidade para os Estados e Municípios legislarem a respeito, de forma a modificá-los, ampliá-los ou extingui-los.

Na mesma linha seguem Marinoni e Arenhart14, para quem, “tratando-se de

matéria processual, somente a lei federal é que pode criar recurso, ficando vedada a

outra instância legislativa (ou mesmo administrativa) conceber figuras recursais.”

11 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento. 6. ed. rev., atual. e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. v. 2. p. 497. 12 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007. p. 78. 13 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e eecursos em espécie. 4. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2008. p. 165.

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19

De acordo com Nery Junior15, o CPC, “fonte ordinária do direito processual

civil, deve ser utilizado como norma subsidiária para toda e qualquer lei

extravagante, quando omissa relativamente a alguma regra de direito processual”.

O artigo 496 corresponde ao resumo de todo o sistema recursal brasileiro,

que dispõe, ipsis litteris:

São cabíveis os seguintes recursos: I – apelação; II – agravo; III – embargos infringentes; IV – embargos de declaração; V – recurso ordinário; VI – recurso especial; VII – recurso extraordinário; VIII – embargos de divergência em recurso especial e em recurso extraordinário.

Portanto, nota-se que é da interpretação do referido artigo que se constitui a

aplicação do princípio da taxatividade.16

Importante observar que “[...] quando o intérprete se encontra diante de

enumeração de hipóteses na lei, é preciso que verifique se se trata de elenco

exaustivo ou meramente exemplificativo”.17 Se o rol for exaustivo, “[...] a

interpretação é escrita”18; se exemplificativo, a interpretação se fará de, “[...]de modo

mais amplo e genérico”.19 O legislador utiliza expressões com o fim de reduzir o

limite de alcance da norma legal para tornar evidente quando a enumeração for

taxativa.20 Na forma prática, pode-se citar diversas expressões utilizadas para

indicar a referida enumeração, quais sejam: apenas, unicamente, seguinte e só,

entre outras.21

Nery Junior22 leciona que o artigo 496 do CPC “[...] faz uso exatamente do

vocábulo seguinte, dando ao intérprete a induvidosa opção pelo princípio da

taxatividade dos recursos [grifo do autor]”. Salienta-se, todavia, que, além dos

recursos enumerados no citado dispositivo, outros também correspondem ao

princípio da taxatividade, uma vez que estão previstos em leis federais. Isto porque:

[...] a legislação processual civil esparsa estabelece outras espécies recursais, como o recurso inominado inserto no artigo 41 da Lei n.

14 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo do conhecimento, p. 510. 15 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 49. 16 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 50. 17 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 50. 18 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos,p. 50. 19 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos,p. 50. 20 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 50. 21 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 50. 22 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 50.

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9.099/95 e os embargos infringentes de alçada previstos no art. 34 da Lei n. 6.830/80. São essas as espécies que integram o sistema recursal cível brasileiro. Já o pedido de reconsideração, o recurso adesivo, a correição parcial e o reexame obrigatório não constituem espécies recursais do sistema cível pátrio.23

Há, ainda, outros recursos previstos nos regimentos internos dos tribunais

pátrios.

Tanto que algumas leis estaduais e certos regimentos internos prestigiaram a correição parcial, apesar de há muito os textos constitucionais brasileiros conferirem apenas à União a competência para legislar sobre direito processual.24

De outro norte, “[...] não são considerados recursos autônomos, diversos

daqueles do artigo 496 do CPC”25, como por exemplo, o recurso adesivo, contido no

artigo 500 do CPC; o agravo retido, disciplinado pelo artigo 523 do mesmo diploma

e, por fim, os recursos especial e extraordinário retidos, fundamentados no § 3º do

artigo 542, também do CPC.26

Diante dessas considerações doutrinárias, vê-se a importância do princípio

da taxatividade para o direito recursal, visto que “[...] somente são considerados

recursos aqueles meios de impugnação assim considerados pela lei federal”.27

1.3 PRINCÍPIO DA SINGULARIDADE

No sistema recursal brasileiro vigora “[...] o princípio da singularidade dos

recursos, também denominado de princípio da unicorribilidade ou ainda de princípio

da unicidade”28 Este princípio consiste na aplicação de um único recurso para cada

espécie de decisão, ou seja, “[...] para cada ato judicial recorrível há um único

23 SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória. Brasília: Basílica Jurídica, 2000. p. 93-94. 24 SOUZA, Bernardo Pimentel. Introdução aos recursos cíveis e à ação rescisória, p. 102. 25 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 52. 26 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 52. 27 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 119. 28 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 119.

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recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou

cumulativa de mais outro visando à impugnação do mesmo ato judicial.”29

Expõe Kozikoski30:

Tal princípio, diga-se de passagem, tem origem remotíssima, pois, já no direito romano prevaleceu a regra de que elenca uma via, non datur ingressus ad alteram. Aliás, no âmbito do CPC de 1939 havia regra expressa consagrando o mencionado princípio, consubstanciada no art. 809: ‘A parte poderá variar de recursos dentro do prazo legal, não podendo, todavia, usar ao mesmo tempo, de mais de uma recurso’. Embora o CPC atual não repita regra idêntica, nem por isso deixa de ter validade o princípio da unicidade ou singularidade.

Embora o CPC seja omisso quanto ao princípio em comento, percebe-se

que “[...] o estatuto vigente adotou-o implicitamente, por intermédio da correlação

entre os atos decisórios do primeiro grau, formalmente tipificados no art. 162, e as

hipóteses rígidas de cabimento, conforme estipulam os arts. 504, 513 e 522”.31

Desta forma, permanece a regra geral: para cada caso há somente um recurso

cabível.32

Cumpre anotar que “[...] a lei proíbe apenas que os recursos simultâneos

tenham o mesmo objetivo, ou seja, incidam sobre as mesmas questões fáticas ou

jurídicas”33 É que o pronunciamento judicial, muitas vezes, ainda que numa única

forma, divide-se “[...] materialmente em vários capítulos autônomos”.34

Quanto às exceções desse princípio, Assis35 esclarece que há duas:

Em primeiro lugar, há o caso de alguém, perante algum defeito típico do pronunciamento – por exemplo, a sentença omitiu disposição acerca do ônus da sucumbência –, em lugar de interpor embargos de declaração, fundados no art. 535, II, interpor diretamente apelação contra o ato viciado, postulando a correção do defeito. Tem-se conhecido da apelação nesses casos (infra, 66.2.1). Ora, o caminho mais ortodoxo, também admissível consistiria em interpor os embargos de declaração e, conforme o resultado acolhido, a apelação. No entanto, a tipicidade do vício não elimina a opção entre um e outro recurso. É um caso de cumulação alternativa.

29 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 119. 30 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria feral e recursos em espécie. 4. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2008. p. 167. 31 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos, p. 83. 32 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos,. p. 84. 33 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie. 4. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá Editora, 2008. p. 169. 34 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 169. 35 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos, p. 84.

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Ademais, há o caso de acórdão – sentenças jamais rendem recurso especial, haja vista o disposto no art. 105, III, da CF/1988 (infra, 92.2) – resolver, a um só tempo, questões constitucional e federal, o que exigirá a interposição conjunta dos recursos especial e extraordinário. Não bastará a interposição de um só desses recursos. É indispensável a interposição conjunta, motivo por que interposição de um só desses recursos importa a respectiva inadmissibilidade, porque o acórdão subsistiria por força do fundamento incólume, e, assim, o recurso interposto revelar-se-ia inútil. A Súmula do STJ, nº 126, consagra tal diretriz. Caracteriza-se, por essa razão, um caso de cumulação obrigatória de vias recursais.

O citado doutrinador conclui o pensamento afirmando que os

pronunciamentos objetivamente abstrusos enraízam as lacunas que vincam a

adoção do princípio da singularidade.36

Observa-se, por fim, que o princípio da singularidade “[...] interfere com

outro, dele decorrente, que é o princípio da fungibilidade dos recursos (nº 2.5

seguinte), justamente porque envolve um plus relativamente à proibição da

simultaneidade na interposição dos recursos. Este plus é a adequação do recurso”.37

1.4 PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE

O princípio da fungibilidade refere-se a dúvidas sérias em torno do

cabimento de um recurso, seja por divergência jurisprudencial quanto ao recurso

adequado, seja por deficiência terminológica do CPC.

No Código de Processo de Civil de 1939, este princípio estava

expressamente disposto no art. 810, verbis: “Salvo a hipótese de má-fé ou erro

grosseiro, a parte não será prejudicada pela interposição de um recurso por outro,

devendo os autos ser enviados à Câmara, ou Turma, a quem competir o

julgamento.”

No atual CPC, referido princípio não foi recepcionado. Contudo, Nery

Junior38 sustenta que a ausência de previsão legal não obstou a sua utilização, que

é amplamente empregado pelos operadores do direito.

36 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos, p. 84. 37 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 138. 38 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos. 5. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p.109.

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Os pressupostos para aplicação do princípio da fungibilidade recursal, ou

seja, as situações em que se autoriza o recebimento de um recurso por outro, são: a

ausência de erro grosseiro quanto à escolha por determinado recurso e a presença

de dúvida objetiva.

Resumidamente, o erro grosseiro ocorre quando, embora havendo dúvidas

sobre determinado recurso, o meio recursal eleito não é passível de ser adaptado à

forma devida.

Nesse sentido, pode-se destacar o entendimento de Aranovich39, citando

como exemplo “o caso, atualmente, do credor que interpusesse agravo de

instrumento da sentença que não declarasse a falência do devedor comerciante,

pois, a expresso teor do art. 19, da Lei de Falências, o recurso cabível é apelação.”

Em síntese, a dúvida objetiva trata de precedentes jurisprudenciais ou

doutrinários que conduzem o autor à interposição de determinado recurso, restando

claramente configurada a divergência quanto à sua adequação.40

A problemática da utilização do princípio da fungibilidade ocorre em relação

ao prazo a ser adotado pelo recorrente devido à divergência quanto ao prazo de

interposição do recurso, isto é, se daquele efetivamente interposto ou do que se

entende por inadequado.

De acordo com Didier Junior41, “o recurso interposto há que respeitar o

prazo daquele que deveria ter sido”. Todavia, este doutrinador entende que não é

“correta a exigência deste pressuposto, pois as situações de dúvida podem envolver

recursos com prazos diferentes (agravo de instrumento e apelação, por exemplo),

quando, então, o respeito ao prazo seria imposição que esvaziaria a utilidade do

princípio.”42

De qualquer forma, prevalece no Superior Tribunal de Justiça (STJ) o

entendimento de que seja observado o prazo para que se aplique o princípio:

39 ARANOVICH, Rosa Maria Campos. O princípio da fungibilidade dos recursos no atual CPC. Revista da Ajuris, Porto Alegre, v. 5, n. 13, set. 2000. p. 159. 40 FERNANDES, Luís Eduardo Simardi. Embargos de declaração: efeitos infringentes, prequestionamento e outros aspectos polêmicos. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003. p. 120. 41 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais. 7. ed. Salvador: JusPodivm, 2009. p. 46. 42 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 46.

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PROCESSO CIVIL. EXECUÇÃO FISCAL. DECISÃO HOMOLOGATÓRIA DE CÁLCULOS DE VERIFICAÇÃO. RECURSO CABÍVEL. PRECEDENTES. I - A APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE RECURSAL RECLAMA A OBSERVÂNCIA DO PRAZO PREVISTO PARA O RECURSO PRÓPRIO. II - DECISÃO QUE APRECIA MEROS CÁLCULOS ATUALIZATÓRIOS NO CURSO DO PROCESSO DE EXECUÇÃO NÃO TEM A NATUREZA DE SENTENÇA E, PORTANTO, NÃO PODE SER APELÁVEL. O RECURSO ADEQUADO E O AGRAVO DE INSTRUMENTO. III - RECURSO CONHECIDO E PROVIDO.43

PROCESSO CIVIL. AGRAVO INTERNO. JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO ESPECIAL. INCURSÃO NO MÉRITO. ART. 105, III, a, CF. POSSIBILIDADE. FUNGIBILIDADE RECURSAL INADMISSIBILIDADE. PRAZO DO RECURSO ADEQUADO NÃO-OBSERVADO AGRAVO DESPROVIDO. I - É possível o juízo de admissibilidade adentrar o mérito do recurso, na medida em que o exame da sua admissibilidade, pela alínea a, em face dos seus pressupostos constitucionais, envolve o próprio mérito da controvérsia. II - Não se admite o princípio da fungibilidade recursal se presente erro grosseiro ou inexistente dúvida objetiva na doutrina e na jurisprudência a respeito do cabimento do recurso na espécie. Inaplicável, ademais, referido princípio, em virtude do recurso inadequado não ter sido interposto no prazo do recurso próprio.44

Quadra ressaltar que existem advogados utilizando a fungibilidade como

artifício para alargar o prazo recursal.

Nessa linha, assevera Henrique45:

Tal fato vem ocorrendo com grande freqüência sem que os órgãos judiciários estejam adotando solução que garanta o direito da parte contrária. Embargos de declaração completamente despropositados são aviados e o órgão judiciário deles conhece, mesmo declarando que não têm fundamento algum. [...] A parte contrária tem o direito de ver reconhecido o trânsito em julgado da decisão porque não manifestado o recurso próprio. Não pode ser prejudicada com o atraso do movimento processual, com a dilação do prazo para

43 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Recurso Especial nº 53.645, Brasília, DF, julgado em 28 de setembro de 1994. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/listarAcordaos?classe=&num_processo=&num_registro=199400273029&dt_publicacao=24/10/1994>. Acesso em: 30 set. 2010. 44 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Agravo Regimental em Agravo de Instrumento nº 295.148, São Paulo, julgado em 29 de agosto de 2000. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200000244988&dt_publicacao=09/10/2000>. Acesso em: 24 out. 2010. 45 HENRIQUE, Carlos Augusto Junqueira. Embargos de declaração: uma releitura necessária. Revista da Faculdade de Direito Milton Campos, Belo Horizonte, v. 9, 2002. p. 37.

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impugnação da decisão, ficando à mercê daquele que usou mal, abusou, exercitou de forma anormal o direito de ação.

Havendo posicionamentos conflitantes acerca da adequação do recurso

cabível a ser interposto para atacar determinado posicionamento judicial, configura-

se presente a dúvida objetiva que possibilita a utilização da fungibilidade.

Observa-se, portanto, que se o magistrado adotar posição contrária àquela

escolhida pelo recorrente, por entender, por exemplo, cabível apenas o recurso de

agravo, deverá aplicar a fungibilidade se o recorrente tiver se baseado em uma das

correntes jurisprudenciais que se formaram sobre a matéria, eis que presente está a

denominada dúvida objetiva.

Em suma, pode ser aplicado o princípio da fungibilidade dos recursos,

respeitando os requisitos impostos, quais sejam: a dúvida objetiva e a ausência de

má-fé.

1.5 PRINCÍPIO DA DIALETICIDADE

Sobre o princípio da dialeticidade, Nery Junior46 explica que “[...] o recurso

deverá ser dialético, isto é, discursivo. O recorrente deverá declinar o porquê do

pedido de reexame da decisão.” Assim o é para que, a um só tempo, seja respeitado

o contraditório – já que ao recorrido é facultado impugnar o recurso – e para que o

juízo ad quem tenha plenas condições de conhecer a insurgência.

Na linha de raciocínio demonstrada por Kozikoski47:

Por meio do princípio da dialeticidade, decorrência expressa do princípio constitucional da ampla defesa e do contraditório (CF, art. 5º, LV), impõe-se que o recorrente apresente as razões de seu inconformismo, porque, somente assim poderá a parte contrária opor-se ao seu insurgimento. A observância do contraditório, em sede recursal, somente é possível se o recorrente declinar o porquê do pedido de reexame da decisão. Daí dizer-se que o recurso deverá ser dialético e discursivo [grifo do autor].

46 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 176. 47 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 187.

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No que diz respeito aos recursos em espécie, impende salientar que o

princípio da dialeticidade expressa diversas regras, quais sejam:

(a) o art. 514, II, na apelação; (b) os arts. 524, I e II, e 523, § 3º (“... nele expostas sucintamente as razões do agravante”), nos agravos de instrumento e retido; (c) o art. 536, in fine (“... com indicação do ponto obscuro, contraditório ou omisso...”), nos embargos de declaração; (d) o art. 541, I a III, nos recursos extraordinário e especial, sendo que, quanto ao último, fundado em divergência jurisprudencial, a exigência suplementar da indicação das ‘circunstâncias que identifique ou assemelhem os casos confrontados’ (art. 541, parágrafo único, in fine).48

Assis49, na sua doutrina conclui, “[...] do conjunto dessas disposições se

retira o princípio de que todos os recursos civis, ao contrário do que sucede no

processo penal, hão de ser motivados imediatamente.”

Constata-se, portanto, que tal princípio é de suma importância em relação

aos recursos, uma vez que “[...] são as alegações deduzidas pelo recorrente que

delimitam a extensão do contraditório perante o juízo ad quem, inclusive fixando os

limites da cognição em grau de recurso.”50

1.6 PRINCÍPIO DA VOLUNTARIEDADE

No que diz respeito ao conteúdo, Nery Junior51 assevera que o recurso

contempla duas partes: “a) declaração expressa sobre a insatisfação com a decisão

(elemento volitivo); b) os motivos dessa insatisfação (elemento de razão ou

descritivo). [grifo do autor” Tal insatisfação suscita para a parte vontade de recorrer

da decisão prolatada em que se sentiu prejudicada.

O princípio da voluntariedade, portanto, emana do princípio dispositivo, uma

vez que ordena “a iniciativa da parte para fins de interposição do recurso e, de igual

48 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos, p. 95. 49 ASSIS, Araken de. Manual dos recursos, p. 95. 50 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 187. 51 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos tecursos, p. 179.

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forma, confere-se ao recorrente a liberdade de fixar o âmbito de abrangência do

mesmo, facultando-lhe a impugnação total ou parcial da decisão impugnada.”52

Cumpre observar, ainda, que o “recorrente poderá, não só delimitar o âmbito

de sua impugnação, como também desistir do recurso eventualmente interposto,

bem como renunciar ao direito de recorrer.”53

Nery Junior54, a respeito, assinala que não pode ser conhecido o recurso

interposto sem a pretensão ou conhecimento da parte que for recorrer. Nas palavras

do doutrinador processualista:

Evidentemente, deve este expressar sua vontade em não recorrer, desistindo do recurso já interposto, pois ainda que o cliente declare expressamente haver desautorizado o advogado a interpor o recurso, deve ser conhecido se não houve desistência regular. O Juiz não pode, de ofício, interpor recurso pela parte, ainda que se trate de incapaz ou hipossuficiente de maneira geral. A vontade de recorrer deve ser induvidosamente manifestada pela que teria interesse na reforma ou invalidação do ato judicial impugnável.

Pode ser citado como exemplo de manifestação do princípio da

voluntariedade “o não-conhecimento do recurso quando houver fato impeditivo ou

extintivo do poder de recorrer, tal como a renúncia ou desistência do recurso, ou

ainda aquiescência à decisão que se pretenda ver modificada ou invalidada: faltaria

a ‘vontade’ inequívoca de recorrer.”55

Contudo, há que se observar que este princípio possui uma exceção, qual seja o chamado reexame necessário, conforme bem adverte Bueno56:Exceção que se colhe, no sistema processual civil, ao princípio da voluntariedade reside no chamado ‘reexame necessário’. O instituto albergado pelo art. 475 e por alguns dispositivos da lei processual civil extravagante, estudado pelo Capítulo 2 da Parte II, significa a sujeição compulsória de algumas sentenças aos Tribunais de Justiça ou aos Tribunais Regionais Federais para que surtam seus regulares efeitos. Antes disto, lê-se na doutrina e na jurisprudência amplamente vencedoras, a sentença é ineficaz. O traço característico deste reexame, como seu próprio nome sugere, é que ele faz as vezes de uma recurso de apelação mas dele se distingue totalmente, uma vez que não depende, como

52 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 181. 53 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 181. 54 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 179. 55 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 179. 56 BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: recursos, processos e incidentes nos Tribunais, sucedâneos recursais: técnica de controle das decisões jurisdicionais. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 30.

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qualquer recurso, da manifestação de vontade da parte (ou do terceiro) inconformado com a decisão.

Por fim, consoante adverte Nery Junior, “as leis processuais mencionam a

voluntariedade, nem sempre com propriedade, como é o caso do antigo texto do

CPC, art. 475, par. ún [sic], que falava em apelação voluntária, como se outra

houvesse que fosse obrigatória. A impropriedade é repetida no CPP 574 [grifo do

autor].”57

1.7 PRINCÍPIO DA COMPLEMENTARIEDADE

Conforme a sistemática adotada pelo processo civil brasileiro vigente, os

recursos devem ser interpostos juntamente com as razões do inconformismo. Isto é,

“não é mais permitido o expediente de complementar o recurso, mesmo que ainda

não tenha transcorrido o prazo cominado na lei para o recurso.”58

Nesse sentido posiciona-se Nery Junior59:

Pelo princípio da complementariedade, o recorrente poderá complementar a fundamentação de seu recurso já interposto, se houver alteração ou integração da decisão, em virtude de acolhimento de embargos de declaração. Não poderá interpor novo recurso, a menos que a decisão modificativa ou integrativa altere a natureza do pronunciamento judicial, o que se nos afigura difícil de ocorrer.

Conjetura-se o seguinte exemplo: condenado a pagar a indenização por

perdas e danos, o réu interpõe recurso de apelação requerendo a modificação da

sentença, com o fim de alcançar a improcedência do pedido do autor. O autor, por

seu turno, ofereceu embargos de declaração contra a mesma sentença porque o

magistrado deixou de analisar o pedido de lucros cessantes. Se os embargos de

declaração forem julgados procedentes e este pedido integrar a sentença, o réu não

poderá interpor novamente o recurso de apelação quanto à nova análise do juiz.

Deverá, portanto, complementar o recurso já oposto, aduzindo nova fundamentação

57 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria reral dos recursos, p. 179. 58 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 207. 59 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 182.

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e, consequentemente, a reforma da sentença tão somente quanto ao objeto dos

embargos de declaração.60

Conforme prevê Nery Junior61, o réu “não poderá apresentar uma segunda

apelação, pois este direito já fora exercido, havendo-se operado a preclusão

consumativa”. Como advieram novos fatos, poderá impugnar somente quanto à

parte nova da sentença, complementando o recurso de apelação já interposto.Ainda,

afirma que, “se a apelação houvera sido parcial, não impugnando toda a matéria

contida na sentença e que lhe fora adversa, a complementação do recurso não

poderá atingir a matéria já preclusa.”62

Todavia, no que tange ao autor, que não havia oferecido recurso quando

opostos os embargos de declaração, poderá apelar da decisão já complementada

pela sentença que julgou procedente os embargos.

1.8 PRINCÍPIO DA PROIBIÇÃO DA REFORMATIO IN PEJUS

Para compreender melhor o que vem a ser este princípio, faz-se necessário

entender o significado do vocábulo “reformatio in pejus”.

Nas palavras de Orione Neto63:

A expressão reformatio in pejus traduz em si mesma paradoxo, pois, ao mesmo tempo em que se tem a ‘reforma’ como providência solicitada pelo recorrente de modo a propiciar-lhe situação mais vantajosa em relação à decisão impugnada, se vê a ‘piora’ como sendo exatamente o contrário daquilo que se pretendeu com o recurso.

O citado doutrinador assim define o princípio em tela:

Também denominado ‘princípio da personalidade’, ‘principio do efeito devolutivo’ e ‘princípio de defesa da coisa julga parcial’, a proibição de reformatio in pejus tem por objetivo evitar que o Tribunal destinatário do recurso possa decidir de modo a piorar a situação do recorrente, ou porque extrapole o âmbito de devolutividade fixando

60 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, 2004. 61 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 182. 62 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 182. 63 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 208.

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com a interpretação do recurso, ou, ainda, em virtude de não haver recurso da parte contrária.64

O princípio da proibição da reformatio in pejus não será violado quando, por

exemplo, uma sentença tenha favorecido em parte a ambos litigantes e tanto um

quanto outro venham a interpor recurso quanto àquilo que sucumbiu.

Vê-se, portanto, que o princípio da vedação da reformatio in pejus visa

impedir que a parte que pretender, em outra instância, a reforma da parcela da

sentença que sucumbiu não venha a sofrer, por esta razão, a piora do veredicto

quanto à parte em que saiu vitoriosa.

Nessa linha, segue exemplo da aplicação do princípio da proibição da

reformatio in pejus apresentado por Didier Junior65:

Se um único dos litigantes parcialmente vencidos impugnar a decisão, a parte deste que lhe foi favorável transitará normalmente em julgado, não sendo lícito ao órgão ad quem exercer sobre ela atividade cognitiva, muito menos retirar, no todo ou em parte, a vantagem obtida com o pronunciamento de grau inferior (proibição da reformatio in pejus). Ocorre a reformatio in pejus quando o órgão ad quem, no julgamento de um recurso, profere decisão mais desfavorável ao recorrente, sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs o recurso. Não se permite a reformatio in pejus em nosso sistema. Trata-se de princípio recursal não expressamente previsto no ordenamento, mas aceito pela quase generalidade dos doutrinadores.

Para Barbosa Moreira, citado por Didier Junior66, este princípio é utilizado no

sistema recursal brasileiro em decorrência de algumas circunstâncias específicas,

tais como: “a) se o interesse recursal é pressuposto de admissibilidade recursal,

seria verdadeira contradição imaginar que para o recorrente possa advir qualquer

utilidade de pronunciamento que lhe é desfavorável”; b) a necessidade de

provocação para que haja a reforma da decisão para pior, vez que – em regra – não

é permitido ao Tribunal fazê-lo de ofício67.

64 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 208. 65 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 78. 66 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 78. 67 DIDIER JUNIOR, Fredie apud Barbosa Moreira. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 78.

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Todavia, ainda de acordo com Barbosa Moreira68, a regra da vedação ao

reformatio in pejus pode ser flexibilizada em algumas hipóteses, quais sejam: a)

sucumbência recíproca – quando houver a interposição de recurso por ambas as

partes, sendo possível o agravamento da situação de qualquer uma delas; questões

de ordem pública – passíveis de conhecimento de ofício, em qualquer tempo ou grau

de jurisdição, conforme estabelece o art. 267, § 3º, do CPC.

Salienta-se, por fim, que a Súmula 45 do STJ igualmente estabelece nova

vedação ao tribunal em agravar a situação da Fazenda Pública em julgamento de

reexame necessário, disposto no art. 475 do CPC69. Nery Junior70 discorda desse

posicionamento, pois entende que o reexame necessário “não foi criado para

proteger descomedidamente os entes públicos, mas para fazer com que a sentença

que lhes for adversa seja obrigatoriamente examinada por órgão de jurisdição

hierarquicamente superior”.

1.9 PRINCÍPIO DA CONSUMAÇÃO

O princípio da consumação, também denominado de princípio da absorção e

de princípio da exclusão dos recursos complementares, traduz-se na vedação de a

parte vencida interpor novo recurso em face da decisão recorrida, como também

“aditar, complementar ou corrigir o recurso já efetivamente interposto.”71

O CPC institui como e quando pode ser oferecido um recurso. Quando não

observada a oportunidade, constituirá a preclusão quanto à impugnabilidade do ato

judicial. Já no antigo sistema do código, a parte poderia “variar de recurso, desde

que o fizesse dentro ainda do prazo de interposição (CPC/39 809). Esse princípio da

variabilidade não foi repetido no código atual.”72

68 Apud MOREIRA, Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, p. 433. 69 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais. 70 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos: princípios fundamentais, p. 419. 71 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 218. 72 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 191.

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Depois de interposto o recurso, inexiste a possibilidade de oferecê-lo

novamente ou de acrescentar novas alegações; pode-se dizer que, neste caso,

ocorre o instituto da preclusão consumativa. É o que se extrai de Nery Junior73, que

ainda interpreta:

Esta nos parece ser a regra geral em matéria de recursos; uma vez já exercido o direito de recorrer, consumou-se a oportunidade de fazê-lo, de sorte a impedir que o recorrente torne a impugnar o pronunciamento judicial já impugnado.

Para Orione Neto74, “de acordo com a nova sistemática recursal, a regra

geral em matéria de recursos é a seguinte: uma vez já exercido o direito de recorrer,

consumou-se a oportunidade de fazê-lo, de sorte a impedir que o recorrente torne a

impugnar o pronunciamento judicial já impugnado.” E complementa o autor:

Um exemplo pode facilitar a compreensão de tão importante princípio informador do sistema recursal cível brasileiro: o derrotado interpõe apelação no segundo dia do prazo recursal. O juiz de primeiro grau recebe o recurso no dia subseqüente, concedendo vista ao apelado, que apresenta as contrarrazões quatro dias depois. No dia seguinte, os autos são remetidos ao Tribunal de segundo grau. O recurso, dois dias depois, é distribuído ao relator que, ao receber os autos, profere decisão singular, negando provimento ao apelo, nos termos do caput do art. 557 do CPC.75

Nesse caso, se a parte vencida pudesse aditar, complementar ou corrigir o

recurso até o fim do prazo (15 dias), “haveria notória perda de tempo e de atos

processuais, sem contar o prejuízo que acarretaria ao recorrido, já que o recorrente

poderia corrigir erro apontado nas contrarrazões.”76 Por essa razão, oferecido o

recurso, “ainda que no primeiro dia do prazo recursal, há a consumação do direito de

recorrer, sendo vedadas a interposição de outro recurso e a correção do

inconformismo.”77

73 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 192. 74 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 218. 75 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 220. 76 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 220. 77 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: teoria geral, princípios fundamentais, dos recursos em espécie, tutela de urgência no âmbito recursal, da ordem dos processos no Tribunal, p. 220.

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Por fim, cumpre observar que o STJ, ao julgar o Recurso Especial nº

165.470, reforçou o entendimento: “Consolidado pela Corte Especial entendimento

no sentido de que, a teor do disposto no art. 511 do CPC, parte final, deve ser

considerado deserto o recurso preparado após sua interposição, ainda que tal

preparo se dê dentro do prazo recursal.”78

1.10 PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

A CRFB dispõe sobre o princípio do juiz natural em seu art. 5º, XXXVII e LIII,

verbis: “Art. 5º [...] XXXVII – não haverá juízo ou Tribunal de exceção; [...] LIII –

ninguém será processado nem sentenciado senão por autoridade competente”.

A partir desse preceptivo constitucional, tem-se que o princípio em comento

deve ser interpretado "em sua plenitude, de forma a proibir-se, não só a criação de

Tribunais ou juízos de exceção, mas também de respeito absoluto às regras

objetivas de determinação da competência, para que não seja afetada a

independência e imparcialidade do órgão julgador”79.

Assim, o juiz natural constitui um dos vários instrumentos constitucionais que

visa assegurar a todos a imparcialidade do juiz, porquanto “significa preservar a

impessoalidade no exercício do poder estatal pelos juízes, agentes públicos que não

podem atuar em proveito de interesses particulares, mas para a obtenção dos fins

do próprio Estado”.80

Segundo Nery Junior81, sintetizando a lição de Canotilho, esse princípio se

traduz no seguinte conteúdo:

a) a exigência de determinabilidade, consistente na prévia

78 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Recurso Especial nº 165.470, Brasília, Distrito Federal, julgado em 04 de março de 1999. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/processo/ita/listarAcordaos?classe=&num_processo=&num_registro=199800139109&dt_publicacao=10/05/1999>. Acesso em: 30 set. 2010. 79 MORAES, Alexandre de. Curso de direito constitucional. 15. ed. São Paulo: Atlas, 2004. p. 109. 80 DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil, 4. ed. rev. atual. São Paulo: Malheiros, 2004. v. I. p. 194. 81 NERY JUNIOR, Nelson apud CANOTILHO, José Joaquim Gomes. Princípios do processo civil na Constituição Federal. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995. p. 64-65.

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individualização dos juízes por meio de leis gerais, isto é, a preconstituição do direito italiano (art. 25, CF italiana); b) garantia de justiça material (independência e imparcialidade dos juízes); c) fixação da competência, vale dizer, o estabelecimento de critérios objetivos para a determinação da competência dos juízes; d) observância das determinações de procedimento referentes à divisão funcional interna.

Vê-se, portanto, que o princípio do juiz natural determina que exista uma

prévia individualização do juízo competente por meio de normas gerais, sendo

necessária a utilização de critérios objetivos para a determinação da competência82.

A propósito, Porto83 afirma que:

É exatamente na igualdade jurisdicional que encontramos a mais pura essência do juízo natural, ou seja, se é certo que ninguém pode ser subtraído de seu Juiz constitucional, também é certo que ninguém poderá obter qualquer privilégio ou escolher o juízo que lhe aprouver, sob pena de tal atitude padecer de vício de inconstitucionalidade por violação exatamente do juízo natural;

Saliente-se que o juiz natural, além de reafirmar o poder do Estado de julgar

e aplicar penas, garante que os cidadãos sejam julgados por tribunais previamente

constituídos, ou seja, assegura igualdade de julgamento a todos.

Por oportuno, valem as palavras de Portanova84:

O conceito de juiz natural vem se ampliando. Não se pode mais pensar apenas na hipótese de proibição de Tribunais de exceção. Ada Pellegrini Grinover (1990, p. 23), citando doutrinadores nacionais e estrangeiros, mostra que há um segundo aspecto do juiz natural: o juiz constitucional. Trata-se do efeito que ‘vincula a garantia a uma ordem taxativa e constitucional de competência.’ O princípio do juiz natural exige não só uma disciplina legal da vida judicial, da competência funcional, material e territorial do Tribunal, mas também uma regra sobre qual dos órgãos judicantes (câmara, turma, senado) e juiz, em cada um desses órgãos individualmente considerado, deve exercer a sua atividade.

Em suma, o princípio do juiz natural visa proibir tribunais de exceção e

assegurar que os processos tramitem no juízo competente, razão pela qual se torna

82 Nesse sentido: SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Agravo de Instrumento nº 2008.063367-6, Rel. Des. Henry Petry Junior, julgado em 11 em agosto de 2009. 83 PORTO, Sérgio Gilberto. Litisconsórcio: noções e recusabilidade da formação por violação do juízo natural. Revista da Ajuris, Porto Alegre, n. 60, ano XXI, mar. 1994. p. 41. 84 PORTANOVA, Rui. Princípios do processo civil. 5. ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p. 64.

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primordial que as “regras de competência sejam previamente fixadas e conhecidas

de todos”85, evitando-se que seja “criada uma regra para cada caso específico”86.

Assim, analisados os princípios fundamentais que regem os recursos cíveis,

passa-se à análise dos conceitos, classificações, efeitos, atos processuais sujeitos a

recurso, juízo de admissibilidade e juízo de mérito, como também da tutela

antecipada no procedimento recursal.

85 DESFETEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de conhecimento e cumprimento de sentença. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 23.

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2 O SISTEMA RECURSAL BRASILEIRO E OS RECURSOS CÍVEIS

O sistema recursal brasileiro proporciona à parte insatisfeita com a decisão

judicial prolatada, mecanismos para buscar uma nova apreciação da lide.

Segundo Medina87, no decorrer da história, a existência dos recursos teve

diversos fundamentos, tendo por razão de surgimento apenas o inconformismo da

parte supostamente alvo de injustiça, passando pelo interesse do Estado pela

melhor aplicação do direito, por seus juízes, até chegar à existência de recursos que

têm por alvo a manutenção da autoridade e da unidade de interpretação de Lei

Nacional.

As insatisfações com o pronunciamento do magistrado conduziram a

existência de recursos para uma instância superior, submetendo os litígios a não

apenas um julgador, mas a um colegiado apto a reavaliar o caso, uma vez que o ser

humano não é infalível, não estando isento do cometimento de erros. Daí surgiu o

princípio do duplo grau de jurisdição, isto é, a possibilidade de se reverem decisões

judiciais por órgãos hierarquicamente superiores.

O direito processual brasileiro estabelece no CPC, artigo 496, um rol taxativo

dos recursos (apelação, agravo, embargos infringentes, embargos de declaração,

recurso ordinário, recurso especial, recurso extraordinário, embargos de divergência

em recurso especial e em recurso extraordinário), cabíveis para atacar os diversos

pronunciamentos judiciais.

De acordo com Nery Junior88:

A regra geral do sistema recursal brasileiro é a da taxatividade dos recursos. Isto quer significar que os recursos são enumerados pelo CPC e outras leis processuais em numerus clausus, vale dizer, em rol exaustivo. Somente são recursos os meios impugnativos assim denominados e regulados na lei processual.

86 DESFETEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de conhecimento e cumprimento de sentença, p. 23. 87 MEDINA, José Miguel Garcia. O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial: e outras questões relativas a sua admissibilidade e ao seu processamento. 3. ed. rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. p. 41. 88 NERY, Rosa Maria de Andrade. CPC comentado: e legislação extravagante. 8. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2004. p. 939.

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Além do rol contido no art. 496, do CPC retromencionado, existem outras

formas recursais previstas no mesmo diploma processual civil e em leis esparsas,

que não foram contempladas pelo citado dispositivo legal, podendo-se citar o

recurso inominado cabível contra sentença do Juizado Especial Cível (art. 41 da Lei

nº 9.099/95), os embargos infringentes cabíveis contra sentenças proferidas nas

execuções fiscais de pequeno valor (art. 34 da Lei nº 6.830/80)89.

Destaca-se que, em decorrência do disposto no artigo 22, inciso I, da

CRFB90, que estabelece a competência exclusiva da União para legislar sobre direito

processual, os Estados-membros não possuem legitimidade para criar novos

recursos nem mesmo para modificá-los, restringi-los ou complementá-los. Assim,

apenas leis federais poderão regular outros recursos não previstos no CPC, tais

como o Estatuto da Criança e do Adolescente, a Lei dos Juizados Especiais, a Lei

de Execuções Fiscais, a Lei do Mandado de Segurança, entre outras.

Existem, ainda, outros meios de impugnação que não são denominados de

recursos, mas de ações autônomas de impugnação91, quais sejam: a ação

rescisória, a ação anulatória, o habeas data, o mandado de injunção. Há, também,

os sucedâneos92 dos recursos (como a correição parcial, o pedido de

reconsideração, a remessa obrigatória), que fazem as vestes destes, embora não

sejam recursos e não estejam regulamentados expressamente.93

89 MEDINA, José Miguel Garcia. O prequestionamento nos recursos extraordinário e especial: e outras questões relativas a sua admissibilidade e ao seu processamento, p. 44. 90 Art. 22: “Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; [...]”. (BRASIL, 2002, p. 21, grifo nosso). 91 Como nem o CPC nem a CRFB dão a essas ações autônomas de impugnação a natureza jurídica de recurso, não as colocando no rol do art. 496, CPC, tem-se que não poderão ser consideradas como recurso por direta aplicação do princípio da taxatividade ora examinado. O fato de se dirigirem contra decisão judicial, com a finalidade de anulá-la ou reformá-la, não basta para caracterizá-las como recurso, pois se desenvolvem não no mesmo processo, como todo e qualquer recurso, mas em processo autônomo, além de outras características que as desassemelham aos recursos. (NERY JUNIOR, Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos, p. 83). 92 “Existem alguns remédios que, por absoluta falta de previsão legal, não são considerados como recursos, mas tendo em vista a finalidade para a qual foram criados, fazem as vestes destes e, por esta razão, são denominados seus sucedâneos.” (NERY JUNIOR, Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos, p. 56, grifo do autor). 93 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos, p. 83.

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2.1 CONCEITO DE RECURSO

Quando o indivíduo está diante de um conflito, a sua intenção é de que seu

desejo ou posição prevaleça sobre a dos outros envolvidos. Porém, quando ele se

depara com uma resposta negativa do órgão público (juiz de primeiro grau)

responsável por dirimir tal conflito, nasce a necessidade de externar sua

inconformidade em relação à decisão proferida, o que se dá por meio do recurso.

Reportando os primórdios da existência da palavra recurso, observa-se que

sua origem vem do latim, como ensina Kozikoski94:

[...] recurso origina-se do verbo recursare que, em latim, traz a noção de correr para trás, apontando, por conseguinte, no sentido de um ‘novo curso’, ou seja, repetição de um movimento já praticado. É exatamente por isso que, na técnica jurídica, a idéia em si, implícita, a noção de reiteração de um pedido ou reclamação perante os órgãos do Poder Judiciário, diante daquilo que já se decidiu anteriormente [...].

Vislumbra-se, aqui, que o recurso é o recomeço de algo, é voltar a um ponto

inicial, objetivando uma decisão diversa da alcançada, para que seu pedido seja

julgado procedente em uma instância superior.

Contudo, esse conceito genérico, por assim dizer, não abarca todos os

meandros que envolvem o mundo jurídico, sendo, para tanto, necessário um estudo

mais restrito do conceito de recurso no direito brasileiro95, chegando a um

denominador comum.

Nas palavras de Orione Neto96, pode-se conceituar o recurso de duas

maneiras, no direito processual brasileiro:

[...] uma concepção lata, recurso é todo remédio jurídico-processual que pode ser utilizado para proteger direito que se supõe existir. Nessa acepção, a ação, a contestação, a reconvenção, as exceções, as medidas preventivas são recursos. Já em sentido estrito, à luz do direito brasileiro, o recurso pode ser definido nestes termos: é o meio processual que a lei coloca à disposição das partes, do Ministério Público e de um terceiro, a viabilizar, dentro da mesma relação jurídica processual, a anulação,

94 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 43. 95 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos: recursos no processo civil. 96 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008, p. 4.

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a reforma, a integração ou o aclaramento da decisão judicial impugnada. [...]

Nery Junior97 coaduna com o posicionamento supra, afirmando que deve ser

utilizado para conceituação do recurso o que está estabelecido no CPC brasileiro.

Já Kozikoski98, citando Pinto, anota que o recurso “[...] é uma extensão do

direito de ação ou de defesa, e, portanto, apenas prolonga a vida do processo e a

litispendência existente, dentro da mesma relação processual [...]”.

Dessas lições, pode-se conceituar recurso como a forma pela qual a lei

processual oportuniza às partes buscarem uma nova decisão sobre questões que

lhes tenham sido desfavoráveis.

2.2 CLASSIFICAÇÃO DOS RECURSOS

Os recursos podem ser classificados de diversas formas e critérios, por

exemplo, quanto à extensão da matéria (parcial ou total) e quanto à fundamentação

(livre ou vinculada).

2.2.1 Quanto à extensão da matéria: recurso parcial ou total

O CPC, em seu art. 505, prevê que “a sentença pode ser impugnada no todo

ou em parte”.

Acerca desse dispositivo legal, Didier Junior99 ensina que onde se lê

“sentença”, leia-se “decisão”, diferenciando o recurso parcial do recurso total da

seguinte forma:

Recurso parcial é aquele que, em virtude de limitação voluntária, não compreende a totalidade do conteúdo impugnável da decisão. O

97 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos: recursos no processo civil. 98 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo apud Nelson Luiz Pinto. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 45. 99 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 27-28.

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recorrente decide ou não impugnar todos os capítulos recorríveis da decisão ou impugnar apenas uma parcela de um capítulo decisório. Os capítulos acessórios reputam-se incluídos no pedido recursal, se acaso o recorrente impugne o capítulo principal, mesmo que haja silêncio a respeito deles (p. ex.: se a parte recorrente do montante principal, este recurso abrange os capítulos relacionados aos juros, à correção monetária e às verbas da sucumbência). [...] Recurso total é aquele que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida (não necessariamente o seu conteúdo integral, pois há decisões que têm o conteúdo impugnável restringindo pela lei, como acontece em relação aos embargos infringentes, quando, havendo divergência parcial, apenas esta matéria poderá constituir objeto do recurso). Se o recorrente não especificar a parte em que impugnar a decisão, entender-se-á total o recurso [grifo do autor].

A lei muitas vezes estabelece a extensão da decisão que pode ser recorrida,

limitando a parte recorrente à matéria objeto da divergência. Assim, surge a

classificação do recurso total ou recurso parcial, conforme afirma Orione Neto100:

[...] a variável extensão da matéria impugnada permite distinguir entre recurso total ou parcial. [...] Deve considerar-se total o recurso que abrange todo o conteúdo impugnável da decisão recorrida [...] portanto, o que se tem em consideração para a classificação do recurso como total é o conteúdo impugnável da decisão, em relação a parte recorrente [...] será total o recurso do réu que impugnar toda a parte da decisão que lhe foi desfavorável [...] classificar-se-á como parcial o recurso que, em virtude de limitação voluntária, não compreenda a totalidade do conteúdo impugnável pela decisão [...].

Observa-se por esse ensinamento que tal classificação se dará com base na

parcela que atingir cada parte do processo, pois se o indivíduo recorrer do todo que

lhe atingiu a decisão, mesmo não se manifestando quanto ao restante daquela, o

recurso será total; já se deixar de impugnar parte da sentença que lhe atingiu o

recurso será parcial.

Na linha de raciocínio exposada por Assis101 não há como classificar um

recurso como total ou parcial, pois todos podem ser totais ou parciais conforme a

discricionariedade do recorrente:

[...] Ora, o fato de o recorrente não se insurgir contra todo o ato não permite agrupar alguns recursos na classe de impugnação ‘total’, e outros na ‘parcial’, porque todos se transformam totais ou parciais, conforme a livre opção do recorrente. Não há elemento ou característica que reúna alguns numa classe, os demais na outra [...].

100 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008, p. 30. 101 ASSIS, Araken. Manual dos recursos, p. 51.

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De qualquer forma, predomina na doutrina a classificação, quanto à

extensão da matéria, de recurso total e parcial.

2.2.2 Quanto à fundamentação: livre ou vinculada

No tocante a classificação dos recursos, especificamente quanto à

fundamentação, os recursos ainda podem ser distinguidos em “fundamentação livre”

e “fundamentação vinculada”.

Segundo leciona Assis102, a utilidade dessa distinção surge sob dois

aspectos: I) adequada diferenciação entre admissibilidade e mérito dos recursos

especial e extraordinário, previstos no art. 105, III, alínea “a”, e art. 102, III, alínea

“a”, ambos da CRFB; II) a motivação vinculada limita a extensão e a profundidade do

efeito devolutivo do recurso, impedindo, aduz o autor:

[...] que o órgão ad quem julgue além ou fora do erro típico e torna admissível o remédio. Tal característica impede que o STF e o STJ, ao aplicarem o direito à espécie transmudem-se em desejável terceira instância, conquanto jungida ao reexame das questões de direito.[...] Os recursos de motivação vinculada se baseiam obrigatoriamente em motivos predeterminados. [...] Abstendo-se o recorrente de alegar o tipo, fundamentando o recurso de acordo com a crítica exigida pelo tipo, e as razões do recurso nele não se fundarem, conforme exige o princípio da congruência [...] o órgão ad quem não conhecerá do recurso; alegado o tipo, se não houver o erro, o órgão ad quem desproverá o recurso. [...] Ao contrário, nos recursos de motivação livre [...] o recorrente poderá tecer qualquer crítica ao provimento impugnado, observando tão-só a congruência entre a fundamentação do ato decisório e as razões do recurso [...].103

Analisando esse ensinamento, observa-se que os recursos em que a norma

jurídica exige a congruência entre o tipo e as razões do inconformismo não deverão

ser conhecidos ou até mesmo poderão ser desprovidos. Já no que diz respeito aos

recursos de fundamentação livre, basta observar a fidelidade ao provimento

impugnado e as razões do recurso.

102 ASSIS, Araken. Manual dos recursos, p. 56. 103 ASSIS, Araken. Manual dos recursos, p. 56.

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Para Orione Neto104:

[...] nos recursos de fundamentação vinculada, o recorrente precisa invocar o erro indicado como relevante [...], para que o recurso caiba, e precisa demonstrar-lhe a efetiva ocorrência na espécie, para que o recurso proceda. A tipicidade do erro é, pois, pressuposto do cabimento do recurso [...] se o erro não for típico, o órgão ad quem não conhecerá daquele. [...] se o erro alega, embora típico, não existir, o órgão ad quem conhecerá do recurso, mas lhe negará provimento. [...] nos recursos de fundamentação livre, o cabimento não depende do tipo de crítica que o recorrente faz à decisão [...].

Em suma, pode-se dizer que os recursos de fundamentação vinculada só

são permitidos por lei se seguirem determinados preceitos. Por sua vez, nos

recursos de fundamentação livre as partes podem alegar uma série de razões

visando à alteração da decisão desfavorável.105

2.3 ATOS PROCESSUAIS SUJEITOS A RECURSO

O sistema processual civil brasileiro permite apenas que os atos do juiz

sejam atacados por meio de recursos, não sendo suscetíveis de recurso os atos

praticados pelas partes, pelo Ministério Público e pelos auxiliares do juízo.

Dessa forma, aventa-se necessário determinar quais atos praticados

pelos juízes, não importando se de primeiro grau ou proferidos nos tribunais, são

passíveis de recurso. É o que se verá nas seções seguintes.

2.3.1 Atos do juiz de primeiro grau

Os atos praticados pelos juízes de primeiro grau estão dispostos no art. 162

do CPC, in verbis:

104ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008, p. 30. 105 WAMBIER, Luiz Rodrigues. Curso avançado de processo civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento. 3. ed.: rev. e atual. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. v. 1.

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[...] Art. 162 – Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos. § 1º. Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta Lei. § 2º. Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente. § 3º. São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.

Além dos atos acima citados pela lei, Nery Junior106 descreve, também,

como atos do juiz de primeiro grau, “[...] por exemplo, a inspeção judicial (CPC 440)

e o interrogatório da parte em depoimento pessoal (CPC 342)”.

Especificamente, em relação ao despacho, Nery Junior107 sustenta que se

nele contiver um tema decisório capaz de causar gravame ou prejuízo para a parte

ou interessado, não será despacho, mas sim decisão interlocutória.

Assim, partindo-se da premissa de que os despachos também podem ser

recorríveis, possível será, por exemplo, a oposição de embargos de declaração, se

estiver presente um dos vícios relacionados no artigo 535 do CPC.108

2.3.2 Atos proferidos pelos tribunais

No que concerne aos atos praticados pelos tribunais, o art. 163 do CPC

assim dispõe: “recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido pelos

Tribunais”.

Como já dito no caso dos atos praticados pelo juiz de primeiro grau, o

mesmo ocorre com os atos praticados pelos tribunais, ou seja, a legislação

processual civil não é exaustiva em seu artigo 163, existindo vários outros atos, além

dos ali listados, que podem ser atacados por meio de recurso.

Nery Junior109 salienta tal abrangência da seguinte maneira:

Considera-se acórdão a decisão colegiada do Tribunal, como é curial. Mas há casos em que há decisão do Tribunal, sem que o

106 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 235. 107 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos, p. 206. 108 FERNANDES, Luís Eduardo Simardi. Embargos de declaração: efeitos infringentes, prequestionamento e outros aspectos polêmicos, p. 52-53. 109 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 235.

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colegiado haja participado, como por exemplo o indeferimento liminar, pelo relator, dos embargos infringentes (CPC 532). Ou quando o relator de um recurso de apelação determina o cumprimento de uma formalidade ou diligência, sem a participação do colegiado. Esses atos, por óbvio, não podem ser considerados acórdãos (CPC 163), mas sim decisões interlocutórias ou despachos no âmbito do Tribunal, conforme o caso.

No tocante às decisões a serem proferidas pelos tribunais, estas são

classificadas de acordo com órgão prolator, sendo: isoladas (chamadas de

monocráticas) ou acórdãos (também denominadas de colegiadas). Ambas as

decisões podem ser “interlocutórias” ou “finais”, conforme Didier Junior110, nas

seguintes situações:

As decisões monocráticas podem ser proferidas pelo relator ou pelo Presidente/Vice-Presidente do Tribunal, em causas que são da sua competência (como, p. ex., no pedido de suspensão de segurança). Há uma tendência jurisprudencial de não admitir recurso contra decisão monocrática que não extinga o procedimento recursal (súmula do STF, enunciado nº 622: ‘Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere liminar em mandando de segurança’; CPC, art. 527, parágrafo único, alterado pela Lei Federal nº 11.187/2005),

Em suma, a partir do ensinamento supramencionado, para melhor

diferenciação entre as decisões proferidas pelos tribunais, deve-se atentar para o

órgão que proferiu a decisão, se emitida apenas pelo relator (monocrática) ou pelo

colegiado (acórdão).

2.4 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE E JUÍZO DE MÉRITO

O início do processo de conhecimento só se dará com a análise positiva dos

requisitos básicos para interposição da ação, caso contrário o juiz de primeiro grau

indeferirá a inicial por falta de cumprimento dos requisitos. Da mesma maneira

ocorre com os recursos, os quais dependem da averiguação de alguns elementos

para que possam ser julgados pelos tribunais superiores. A essa averiguação dá-se

o nome de juízo de admissibilidade ou prelibação.

110 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 33.

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A esse respeito, Orione Neto111 afirma que:

[...] A atividade pela qual o juiz ou o Tribunal verifica se encontram ou não presentes tais requisitos é denominada juízo de admissibilidade dos recursos. Presentes tais requisitos, o órgão competente poderá, então, perscrutar a pretensão recursal, para acolhê-la, se fundada, ou rejeitá-la, no caso contrário [...] [grifo do autor].

Corroborando tal pensamento, Kozikoski112 explica:

[...] a admissibilidade dos recursos subordina-se ao preenchimento de certos requisitos ou pressupostos, antecedendo, lógica e cronologicamente, a análise do mérito do recurso. Tal como definido por Ovídio Baptista da Silva, ‘este exame preliminar sobre o cabimento do recurso denomina-se juízo de admissibilidade, transposto o qual, em sentido favorável ao recorrente, passará o órgão recursal ao juízo de mérito do recurso [...] [grifo do autor].

Para que um recurso seja válido ele terá que cumprir os requisitos, caso

contrário não será analisado o mérito. Contudo, mesmo que um recurso seja

analisado favoravelmente no juízo a quo (admissibilidade provisória), ele pode não

ser acolhido na instância superior, uma vez que tanto o órgão originário quanto o ad

quem têm o condão de fazer o juízo de prelibação.

Atente-se às palavras de Assis113, que assim discorre: “[...] o juízo de

admissibilidade incumbe, em regra, tanto ao órgão a quo, quanto ao órgão ad quem.

A última palavra é deste [...]”.

Homologando tal entendimento, Nery Junior114 disciplina:

[...] o órgão ad quem, a quem compete definitivamente decidir sobre a admissibilidade do recurso, não fica vinculado ao juízo de admissibilidade positivo proferido pelo primeiro grau de jurisdição. Nem ao negativo, pois a decisão de indeferimento do recurso (juízo negativo de admissibilidade), prolatada pelo órgão a quo, está sujeita à impugnação para que o Tribunal ad quem decida a respeito [...].

Suprida a fase do juízo de admissibilidade, e em sendo o recurso declarado

conhecido, passa-se à fase do julgamento do juízo de mérito (delibação), o qual

111 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008, p. 39. 112 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 57. 113 ASSIS, Araken. Manual dos recursos, p. 117. 114 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 255.

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consiste na análise da fundamentação que ataca a decisão desfavorável, consoante

salienta Silva115:

Decidindo favoravelmente ao recorrente quanto à admissibilidade, o Tribunal irá somente declará-lo cabível, passando, a partir de então, a examinar-lhe o mérito, para julgá-lo procedente ou improcedente, dando-lhe ou não provimento. Quando o juízo de admissibilidade concluir pelo não cabimento do recurso, por faltar-lhe algum pressuposto, diz-se que o recurso não foi conhecido; se, ao contrário, o juízo ad quem dele conhecer, isto significa que o juízo de admissibilidade foi afirmativo e, a partir daí, o recurso será julgado no mérito, podendo o Tribunal declará-lo procedente ou improcedente [...] [grifo do autor].

Ao contrário do que acontece com o juízo de admissibilidade, em que ambos

os órgãos (a quo e ad quem) são responsáveis pela sua análise, no juízo de mérito

do recurso apenas o órgão ad quem, a rigor, fará seu julgamento, estabelecendo o

seu provimento ou não.

Nessa linha, Assis116 leciona:

[...] em relação ao juízo de mérito, inverte-se a regra, incumbindo julgá-lo, de meritis, o órgão ad quem, definido segundo normas fixadas diretamente na Constituição Federal (v.g. art. 108, II), e, por remissão, nas Constituições dos Estados-membros (v.g. art. 95, XIII, da CE-RS/1989) [...].

Diante do exposto, tem-se então que, transpassada a fase do juízo de

admissibilidade e sendo conhecido o recurso, cabe, em regra, ao órgão ad quem

julgar-lhe o mérito (juízo de mérito), dirimindo as dúvidas do recorrente quanto à

decisão desfavorável. A partir daí, poderá prover do recurso e reformular ou invalidar

tal decisão, e em sendo improvido o recurso a decisão será mantida.

2.5 EFEITOS DO RECURSO

O recurso apresentado pela parte que se sentiu prejudicada em seu direito,

após a sua protocolização e realizado o juízo de admissibilidade, segue para a fase

115 SILVA, Ovídio A. Baptista da. Curso de processo civil: processo de conhecimento. 4. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1998. v. 1. p. 418. 116 ASSIS, Araken. Manual dos recursos, p. 127.

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de conhecimento pelo órgão a quo. Quando conhecido, o recurso gera alguns

efeitos, que podem ser:suspensivo, devolutivo, regressivo117 e diferido118.

Conforme leciona Nery Junior119, os principais são o efeito devolutivo e o

efeito suspensivo:

A doutrina tradicional identifica dois efeitos dos recursos: o devolutivo e o suspensivo. O primeiro, que todo e qualquer recurso possui, consiste na devolução do conhecimento da matéria impugnada ao órgão ad quem, a fim de que possa reexaminar a decisão recorrida. Pelo segundo, impede-se que a decisão recorrida produza efeitos desde logo, somente podendo produzi-los depois do julgamento do recurso e do respectivo trânsito em julgado dessa decisão.

O autor, nesse ensinamento aponta apenas dois efeitos quanto aos

recursos, o que para a doutrina não é absoluto, pois existem efeitos atinentes à

relação da interposição do recurso que também suscitam a atenção dos

doutrinadores jurídicos. É o que aduz na sequência:

[...] ocorre que outros efeitos processuais atinentes à relação da interposição do recurso (com a eficácia da decisão recorrida; e com o julgamento do próprio recurso) não se submetem àquela dicotomia, reclamando tratamento dogmático da doutrina do processo civil.120

Dito isso, nas seções seguintes passa-se a analisar alguns desses efeitos,

especificamente o suspensivo, o devolutivo, o regressivo ou de retratação e o

expansivo subjetivo.

117 Cita-se, como exemplo tradicional do efeito regressivo, “o agravo na forma retida. Com a interposição de tal recurso, é dado ao juízo prolator da decisão que se retrate dela, ocasião em que deverá ser, previamente, instaurado o contraditório, na forma como determina expressamente o art. 523, § 2º. Nem poderia ser diferente, à luz da incidência, na espécie, dos princípios da ampla defesa e do contraditório” (BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: recursos, processos e incidentes nos Tribunais, sucedâneos recursais: técnica de controle das decisões jurisdicionais. São Paulo: Saraiva, 2008. p. 77). 118 O efeito diferido dos recursos pode ser observado “naqueles casos em que o seu processamento, isto é, a sua tramitação, o seu seguimento, depende da interposição e do recebimento de outro recurso. Assim se dá, para fazer referência ao exemplo clássico, com o ‘recurso adesivo’, regulado pelo art. 500”. (BUENO, Cássio Scarpinella. Curso sistematizado de direito processual civil: recursos, processos e incidentes nos Tribunais, sucedâneos recursais: técnica de controle das decisões jurisdicionais, p. 78). 119 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 428. 120 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 428.

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2.5.1 Efeito suspensivo

O efeito suspensivo incide na dilatação do início da eficácia da decisão, uma

vez que após ser proferida não pode ser aplicada por estar sujeita à interposição de

algum recurso. Com isso, a execução da decisão fica obstada até o trânsito em

julgado do decisum que apreciar o recurso interposto121.

Cumpre ressaltar que, mesmo que determinado recurso não tenha efeito

suspensivo, após ser interposto, poderá impedir a eficácia da decisão porque sua

execução definitiva somente é possível com o seu trânsito em julgado.

Nesse sentido ensina Nery Junior:

Consiste na qualidade que adia a produção de efeitos da decisão, assim que impugnável, perdurando até que transite em julgado a decisão ou o próprio recurso dela interposto. [...] As eficácias do efeito suspensivo se direcionam para a não executoriedade da decisão impugnada. O efeito suspensivo é dado como regra aos recursos, exceto quando a lei expressamente dispuser em contrário.122

Manifesta-se Kozikoski, citando a doutrinadora Wambier:

Na realidade, como agudamente observa Barbosa Moreira, não se suspende efeitos que até então (até a interposição do recurso) se estavam produzindo. Prolonga-se, isto sim, a ineficácia que já havia, e que era reflexo da mera situação de sujeição ao recurso. Assim, pode-se dizer que a possibilidade ou a expectativa de poder vir a ser interposto recurso com efeito suspensivo, por si só, priva a decisão da eficácia.123

Por conseguinte, o efeito suspensivo se dá mesmo antes da interposição do

recurso, pois trazendo a norma jurídica a possibilidade de se aplicar tal efeito

quando da interposição recursal, fica, desde a prolação da sentença até o término

do prazo para que as partes recorram. Uma vez suspensa a eficácia da decisão, se

interposto o recurso cabível, prolongar-se-á tal situação até a decisão no órgão ad

quem. É o que prescreve Bortowski124:

Efeito suspensivo é a propriedade do recurso que leva ao adiamento da produção dos efeitos normais da decisão hostilizada, a partir do

121 NERY JUNIOR, Nelson. Princípios fundamentais: teoria geral dos recursos, p. 383-384. 122 NERY JUNIOR, Nelson. Teoria geral dos recursos, p. 936. 123 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo apud WAMBIER, Tereza Arruda Alvim. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 116. 124 BORTOWSKI, Marco Aurélio Moreira. Apelação cível. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1997. p. 126.

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momento em que é possível impugná-la. Essa qualidade subsiste até que ocorra a preclusão da decisão objeto do recurso. Assim, em razão do efeito suspensivo, o conteúdo da sentença não pode ser materializado até que se julgue o recurso respectivo. Com essa visão, que penetra no âmago do fenômeno, é forçoso acreditar que a suspensividade respeita muito mais à recorribilidade da decisão do que propriamente com o recurso utilizado, na medida em que o efeito suspensivo tem, no plano processual, o seu termo a quo a partir do momento em que a sentença veio ao mundo jurídico; mais rigorosamente, a partir da sua publicação, sobrevindo (o efeito suspensivo), pelo menos, até que transcorra o prazo para que o legitimado possa recorrer.

Como se vê, não há que se falar em suspensão de uma decisão que já está

suspensa, uma vez que a simples publicação da sentença a ser impugnada já

suspende os seus efeitos até que seja findo o prazo para as partes impetrarem seus

recursos.125

2.5.2 Efeito devolutivo

O efeito devolutivo é intrínseco a todo e qualquer tipo de recurso, uma vez

que devolve o conhecimento da matéria analisada pelo juízo de primeiro grau ao

juízo ad quem, a fim de que este, nos limites do pedido deduzido, profira novo

julgamento. Para Nery Junior, citado por Kozikoski126, “o objeto da devolutividade,

representa o mérito do recurso em relação ao qual o juízo ad quem deverá

pronunciar-se”.

Conforme ressalta Santos127, trata-se de efeito inerente à natureza

substancial do recurso:

[...] se este se conceitua como o poder de provocar o reexame de um ato decisório, pela mesma autoridade judiciária ou por outra hierarquicamente superior, visando obter a sua reforma ou modificação, segue-se que o juízo ao qual se recorre deverá estar armado de condições capazes e suficientes para proferir novo julgamento. Por isso, devolve-se ao juízo para o qual se recorre o conhecimento pleno de material de que se valeu, ou podia ter-se valido, o juiz que proferiu o ato decisório recorrido. E, ainda, por isso

125 ASSIS, Araken. Manual dos recursos, p. 240. 126 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie. 4. ed. rev. e atual. Curitiba: Juruá, 2008. p. 111. 127 SANTOS, Moacyr Amaral. Primeiras linhas do direito processual civil. 15. ed. São Paulo: Saraiva, 1995. v. 3. p. 98.

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mesmo, a interposição de recurso, qualquer que seja, produz efeito devolutivo.

Orione Neto, acolhendo o posicionamento de Santos, cita o entendimento de

Aprigliano:

[...] a essência da devolução ‘é a transferência do conhecimento da matéria para que se realize novo exame da questão recorrida. Se a própria Lei determina que esse novo exame seja feito, em determinados casos, pela mesma autoridade judiciária, não parece correto excluir a devolução apenas porque essa transferência foi feita para o mesmo órgão.128

Dessa forma, cristaliza-se a idéia de que o reexame por autoridade judicial

competente para julgar o recurso da decisão impugnada é o fator essencial da

devolução, não importando se a autoridade pertence a órgão diverso ou não.129

Orione Neto130, citando Lima, lacra a discussão a respeito de como deve ser

entendida a devolução:

A devolução deve ser entendida face ao Poder Judiciário, em sua estrutura e em sua unidade: o recorrente provoca, novamente, a manifestação do Poder Judiciário a respeito da matéria controvertida por via do recurso hábil [...] com esta solução, simples e prática, afastam-se as digressões e divergências doutrinárias e técnicas sobre quais os recursos que ensejam, ou não, a devolução.

Com a devolução, o juízo responsável por examinar o mérito do recurso fica

vinculado – em princípio – à análise apenas do que foi suscitado pela parte

recorrente. Isto porque o CPC, em seu art. 515, § 1º, estabelece que “serão objeto

de apreciação e julgamento pelo Tribunal todas as questões suscitadas e discutidas

no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro”.

Nessa linha, o Tribunal não está adstrito apenas a questões relativas aos

fundamentos do pedido e da defesa, podendo apreciar todas elas, ou se omitir

quanto a algumas delas: “basta que decida aquelas suficientes à fundamentação da

conclusão a que chega no dispositivo da sentença”131. Ademais, ressalta-se que o

128 ORIONE NETO, Luiz apud APRIGLIANO, Ricardo Carvalho. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 120. 129 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008, p. 121. 130 ORIONE NETO, Luiz apud LIMA, Alcides de Mendonça. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008. 3. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p.121. 131 FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Comentários ao Código de Processo Civil. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. v. 7. p. 121.

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órgão ad quem poderá, inclusive, “(re)apreciar todas essas questões, examinadas

ou não pelo juízo a quo”.132

Em síntese, a devolução das questões compreende não apenas as que

foram resolvidas na decisão recorrida, mas também aquelas que poderiam tê-lo sido.

Bom lembrar que aí estão compreendidas tanto as questões examináveis de ofício

quanto as questões de mérito e outros fundamentos do pedido e da defesa.133

2.5.3 Efeito translativo

O CPC estabelece, em seus arts. 515, parágrafos 1º a 3º, e 516, alguns

casos em que poderá o órgão julgador ultrapassar o pedido do recurso, gerando o

efeito translativo, in verbis:

Art. 515 A apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada. § 1º. Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo Tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro. § 2º. Quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento dos demais. § 3º. Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o Tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. [...] Art. 516 Ficam também submetidas ao Tribunal as questões anteriores à sentença, ainda não decididas.

Orione Neto134 assim conceitua o efeito translativo:

[...] Quando o sistema processual autoriza o órgão ad quem a julgar ‘fora do que consta das razões ou contra-razões’, sem que tal procedimento venha caracterizar julgamento extra, ultra ou infra petita, ter-se-á o efeito translativo. Isto ocorre normalmente com as questões de ordem pública, que devem ser conhecidas de ofício pelo juiz e a cujo respeito não se opera a preclusão (p. ex. arts. 267, § 3º, e 301, § 4º, ambos do CPC)[...].

132 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 84. 133 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 84. 134 ORIONE NETO, Luiz. Recursos cíveis: de acordo com a Lei nº 11.672, de 8/5/2008, p. 130.

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Nessa ótica, o efeito translativo ocorre toda vez que há no processo de

conhecimento questões relacionadas à ordem pública, as quais não foram decididas

pelo juízo a quo (reexame necessário), mesmo quando, ainda que apreciadas pelo

juízo a quo, não foram atacadas pelo recurso.

Por tais motivos, Didier Junior135 enfatiza que “o efeito devolutivo determina

os limites horizontais do recurso; o efeito translativo, os verticais. O efeito devolutivo

delimita o que se pode decidir; o efeito translativo, o material com o qual o juízo ad

quem trabalhará para decidir a questão que lhe foi submetida”. E arremata:

O efeito devolutivo (extensão) relaciona-se ao objeto litigioso do recurso (a questão principal do recurso); o efeito translativo (profundidade do efeito devolutivo) relaciona-se ao objeto de conhecimento do recurso, às questões que devem ser examinadas pelo órgão ad quem como fundamentos para a solução do objeto litigioso recursal. É preciso, porém, fazer uma advertência: o efeito devolutivo limita o efeito translativo, que é o seu aspecto vertical: o Tribunal poderá apreciar todas as questões que se relacionarem àquilo que foi impugnado – e somente àquilo. O recorrente estabelece a extensão do recurso, mas não pode estabelecer a sua profundidade [grifo do autor].136

Como se pode observar, o efeito translativo é apenas um dos subtipos do

efeito devolutivo e, salvo caso de vício processual absoluto, o “órgão recursal terá

plena liberdade para análise das questões de fato e de direito debatidas na causa,

inclusive as de ordem pública, desde que se restrinja aos limites da parcela

impugnada do conteúdo decisório da sentença”.137

2.6 TUTELA ANTECIPADA NO PROCEDIMENTO RECURSAL

Em rigor, nada valeria todo o esforço legislativo, doutrinário e jurisprudencial

engendrado para se arquitetar um instituto apto a antecipar a tutela almejada com a

135 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 85-86. 136 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 85-86. 137 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. Informativo n. 372. Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/informativo/documento/informativo372.htm Acesso em 2 nov 2010.

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prestação jurisdicional se seus efeitos não pudessem ser concretizados e sentidos

também na fase recursal.

A respeito, bem assinala Ferreira138: “[...] a tutela antecipada não pode ser

um instituto represado na primeira instância, mas que terá sua função marcante, até

com maiores justificativas, no âmbito recursal [...]”.

Ademais, é preciso salientar que o art. 273 do CPC não estabeleceu

momento para o pedido de antecipação de tutela. Por essa razão, é possível afirmar

que poderá ser deduzido a qualquer tempo.

O posicionamento de Fernando César Zeni139 caminha nessa linha de

raciocínio:

[...] inicialmente devemos ressaltar que o autor, via de regra, pleiteia a antecipação de tutela com liminar na própria petição inicial, o que não o impede, no momento, de requerer a medida a qualquer tempo no processo, pois não há uma oportunidade certa e única imposta com força preclusiva pela lei [...].

Como é cediço, o recurso cabível para atacar decisão que aprecia a

antecipação da tutela é o agravo de instrumento, vez que se trata de uma decisão

interlocutória. Na hipótese de a medida ser concedida apenas no tribunal, poderá ser

interposto “agravo regimental, nos termos das disposições próprias de cada

corte”.140

De acordo com Pereira141, “a maior dificuldade recursal está quando a

medida for deferida conjuntamente com a sentença”, pois “já se adiantou deverá ser

apresentada a apelação quanto à toda a decisão, podendo o interessado postular

efeito suspensivo quanto à tutela antecipada”. Ainda, sobre o procedimento recursal,

o mesmo autor afirma que:

Perante o Tribunal, não se admitirão embargos infringentes – pois não é admissível esse tipo de recurso em agravo de instrumento. Poderá ocorrer, entretanto, que a antecipação de tutela tenha sido deferida na sentença e seja atacada por apelação. Se aí o julgamento for de provimento, mas por maioria de votos, os infringentes será possíveis. Os recursos especial e extraordinário têm peculiaridades, visto que, pelo art. 542, deverão permanecer retidos

138 FERREIRA, William Santos. Tutela antecipada no âmbito recursal. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 53. 139 ZENI, Fernando César. Deferimento do pedido de tutela antecipatória na sentença. Revista de Processo, São Paulo, v.25, n. 94, abr./jun. 1999. 140 PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de autos, processo de conhecimento. Florianópolis: Conceito Editorial, 2007. p. 584. 141 PEREIRA, Hélio do Valle. Manual de direito processual civil: roteiros de autos, processo de conhecimento, p. 584-585.

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nos autos quando abordarem o conteúdo de decisão interlocutória. Excepcionalmente, contudo, poderão tais recursos ter processamento imediato.

Caso seja concedida ou negada a tutela jurisdicional antecipada no curso do

processo, “eventual recurso contra a decisão interlocutória que a propósito houver

decidido será destituído de efeito suspensivo, porque assim quer a lei (CPC, art.

497)”142.

Em síntese, “os sistemas das antecipações não se compatibilizam com as

demoras que seriam inevitáveis se fosse necessário aguardar o julgamento pelo

Tribunal”, razão pela qual o art. 273 e seus parágrafos admitem, de modo explícito, a

“execução provisória das decisões concessivas de tutela antecipada (art. 273, § 3º)

– o que seria impraticável se o recurso tivesse suspensividade”.143

A seguir, passa-se a análise do efeito devolutivo na apelação à luz do § 3º

do art. 515 do CPC.

142 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 3. ed. Rio de Janeiro: Malheiros, 2009. p. 93. 143 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil, p. 93.

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3 O EFEITO DEVOLUTIVO NA APELAÇÃO À LUZ DO § 3º DO ART.

515 DO CPC

A Lei nº 10.352, de 26 de dezembro de 2001, acarretou diversas mudanças

no CPC, Lei nº 5.869, de 11 de janeiro de 1973. No que se refere ao recurso de

apelação, a nova lei introduziu o § 3º no art. 515 do CPC, cuja disciplina permite que

os tribunais conheçam e julguem causas extintas sem resolução do mérito na

primeira instância, desde que verse unicamente sobre questões de direito e o

processo esteja em condições adjacentes de julgamento.

Todavia, com o advento do referido dispositivo legal, sobrevieram

divergências doutrinárias e jurisprudenciais, questionando se este preceptivo legal

causa (ou não) ofensa ao duplo grau de jurisdição e ao princípio do juiz natural,

ambos previstos na CRFB.

Para perscutar essa questão, é mister examinar, primeiramente, o recurso

de apelação e seus efeitos atinentes, especificamente a expansão do efeito

devolutivo, porquanto leva ao conhecimento da instância superior, também, os

aspectos meritórios da demanda. Em seguida, passa-se à análise dos pressupostos

necessários à aplicação do § 3º do artigo 515 do diploma processual civil.

Por fim, aborda-se a controvérsia existente acerca da análise do mérito pelo

tribunal, após afastar o motivo da extinção do processo (CPC, art. 515, § 3º), em

detrimento dos princípios do juiz natural e do duplo grau de jurisdição.

3.1 DO RECURSO DE APELAÇÃO

O recurso de apelação está consubstanciado no artigo 513 do CPC,

podendo ser conceituado como recurso ordinário cabível da sentença com ou sem

resolução de mérito, “qualquer que seja a natureza jurídica do processo em que foi

proferida e qualquer que seja o procedimento segundo o qual se desenvolveu,

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desde que ela contenha algum vício de juízo (error in judicando) ou de atividade

(error in procedendo).”144

De acordo com Destefenni145, apelação é o recurso “destinado à

impugnação das sentenças, terminativas ou definitivas, proferidas em processos de

conhecimento, de execução ou cautelar.”

Cumpre ressaltar que a apelação é interposta em face de sentença, que “é o

ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta

Lei”, conforme a atual redação do art. 162, do CPC.

Assim, o recurso em comento visa atacar “ato do juiz que põe termo ao

procedimento de primeiro grau de jurisdição, decidindo ou não o mérito da causa,

tendo por conteúdo quaisquer das matérias constantes dos arts. 267 e 269 do

CPC”.146

No dizer de Didier Junior147:

A apelação, então, é o recurso cabível para se impugnar os atos do juiz que ponham termo ao procedimento, com ou sem julgamento do mérito; ou seja serve para impugnar as sentenças definitivas ou terminativas. Em qualquer procedimento, seja ele ordinário, sumário ou especial, seu encerramento opera-se por um sentença, que é apelável. É irrelevante se o procedimento adotado se insere na jurisdição voluntária ou contenciosa. A extinção do processo se dá por sentença e esta é desafiada por apelação. O processo cautelar também se encerra por sentença, da qual cabe apelação. Conquanto não haja propriamente julgamento na execução, este se encerra, de igual modo, por sentença (CPC, art. 795), da qual também cabe, em tese, apelação.

O prazo para interposição da apelação é de 15 (quinze) dias, conforme

prevê o art. 508 do CPC, “devendo tal prazo ser contado a partir da intimação da

sentença (a qual poderá ser feita em audiência de instrução e julgamento, ou

através do Diário Oficial), na forma do disposto no art. 184 do CPC.”148

144 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Recursos no processo civil. 5. ed. São Paulo: Atlas, 2008. p. 52. 145 DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de conhecimento e cumprimento da sentença. São Paulo: Saraiva, 2006. p. 563. 146 DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de conhecimento e cumprimento da sentença, p. 563. 147 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 97. 148 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 13. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 88.

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Cabe destacar que, no ato da interposição do recurso, o recorrente deverá

juntar a guia de recolhimento das custas processuais, inclusive com o porte de

retorno, sob pena de não conhecimento da apelação pela ausência de “preparo”.

O recurso de apelação deverá ser subscrito por advogado regularmente

constituído mediante instrumento de procuração. Caso o recurso tenha sido

subscrito por novos advogados, “a apelação contendo o apelo deverá se fazer

acompanhar do instrumento de procuração ou substabelecimento”149. No entanto, se

depois de interposto o recurso verificar-se que o advogado que subscreveu a petição

não possui procuração nos autos, o tribunal, de acordo com Ferreira Filho150 “deve,

como manda (manda mesmo, e não faculta!) o art. 13, dar-lhe oportunidade para

regularizar a representação, cumprindo, para tanto, o que for necessário, nos termos

e no prazo definidos pelo juiz (não é demais repetir, ou pelo Tribunal!) [grifo do

autor]”.

Ainda, o recurso sub examine será interposto por intermédio de uma petição

que, segundo o disposto no art. 514 do CPC, deverá preencher os seguintes

requisitos: “I. os nomes e a qualificação das partes; II. os fundamentos de fato e de

direito; III. o pedido de nova decisão”.

A interposição deverá ser feita perante o julgador que proferiu a sentença,

sendo que as razões recursais devem ser dirigidas ao tribunal competente para a

apreciação do recurso. Ato contínuo, o juiz declarará “os efeitos em que a recebe,

mandará dar vista ao apelado responder”, conforme estabelece o art. 518 do CPC.

No tocante ao juízo de admissibilidade, segundo ensina Destefenni151:

O juiz de primeiro grau, na verdade, tem duas oportunidades para realizar o juízo de admissibilidade. A primeira quando o recurso é interposto e ele decide receber ou não o recurso. Se receber, determina a intimação da parte contrária para o oferecimento das contrarrazões. Após o oferecimento delas, o juiz terá a segunda oportunidade, pois poderá reexaminar, no prazo de cinco dias, os pressupostos de admissibilidade do recurso (nos termos do § 2º do art. 518, com a redação da Lei nº 11.276/2006).

149 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recursos em espécie, p. 199. 150 FERREIRA FILHO, Manoel Caetano. Comentários ao Código de Processo Civil: do processo de conhecimento, arts. 496 a 565, p. 102. 151 DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de conhecimento e cumprimento da sentença, p. 565.

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Importante frisar que no tribunal será realizado novo juízo de admissibilidade

(CPC, art. 557), porquanto “o juízo de admissibilidade realizado pelo julgador de

primeira instância não vincula o Tribunal para o qual o recurso é encaminhado.”152

Em relação à fundamentação do recurso de apelação, vê-se que o art. 514

do CPC fixa “o conteúdo da apelação, estabelecendo, inicialmente, que devem

constar os nomes do apelante e do apelado, com suas respectivas qualificações”.153

A respeito, Didier Junior154 elucida:

O objetivo da norma é delimitar subjetivamente o recurso, pois haverá oportunidades em que nem todos os litigantes de primeira instância sejam abrangidos pelo recurso, como também pode acontecer que terceiro ingresse no processo, interpondo apelação. Segundo Barbosa Moreira, a não ser nesta última hipótese, é excessivo o requisito da qualificação, pois aqueles que já eram partes estarão, naturalmente, qualificados, constituindo a omissão em simples irregularidade.

A apelação deverá, a pretexto de sua regularidade formal, “conter os

fundamentos de fato e de direito, compreendendo as chamadas razões de apelação,

que hão de ser apresentadas juntamente com a petição de interposição, não

havendo chance para juntada ou complementação posterior.”155Isto porque, “não se

conhece de apelação quando não é formalizada a exposição do direito e das razões

do pedido de nova decisão (fundamentação). Falta-lhe, nesses casos, a

regularidade formal”.156

Observa-se, ainda, que tal recurso deverá conter o pedido de nova decisão.

Assim, quando demonstrado, por exemplo, um error in procedendo, cumpre ao

recorrente pleitear a anulação da sentença. Já, quando demonstrado o error in

iudicando, deve o apelante requerer a sua reforma. No caso de ocorrer os dois tipos

de erros, impõe-se o requerimento para a anulação da sentença e, subsidiariamente,

152 DESTEFENNI, Marcos. Curso de processo civil: processo de conhecimento e cumprimento da sentença, p. 565. 153 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais p. 103-104. 154 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 104. 155 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 104. 156 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recurso em espécie, p. 196.

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a sua reforma.157 Em outras palavras, “o pedido serve para delimitar a extensão do

efeito devolutivo, fixando o que é que o Tribunal pode apreciar”.158

3.2 DOS EFEITOS ATINENTES À APELAÇÃO

Em regra, o recurso de apelação, além de evitar que a sentença transite em

julgado, possui duplo efeito: o devolutivo e o suspensivo.

Conforme estabelece o art. 515, § 1º, do CPC, transfere-se ao tribunal toda

a matéria apreciada pelo primeiro grau, verbis:

Art. 515. A apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada.

§ 1º Serão, porém, objeto de apreciação e julgamento pelo Tribunal todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro.

Vê-se, portanto, que a devolução prevista no referido dispositivo legal está

atrelada a questões suscitadas e discutidas no processo, mas que não foram

abordadas total ou parcialmente pelo juízo a quo.

A propósito, o Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina já se

manifestou acerca do efeito devolutivo da apelação no tocante a matérias que, a

despeito de terem sido suscitadas por alguma das partes na instância inferior, não

foram decididas pelo juízo a quo:

A análise imperfeita ou incompleta de uma questão levantada na inicial não induz a nulidade da sentença, pois ao Tribunal é devolvido o exame das matérias anteriormente suscitadas, face o efeito devolutivo assegurado pelo art. 515, § 1º, do CPC.159

157 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 104. 158 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 104. 159 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Terceira Câmara de Direito Comercial. Apelação cível nº 2006.042406-4. Criciúma, Santa Catarina, julgado em 18 de dezembro de 2008. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=data&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.nao=&parametros.relator=&parametros.processo=2006.042406-

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Por sua vez, Negrão160 ensina que:

Se o juízo de primeiro grau examina apenas um dos dois fundamentos do pedido do autor para acolhê-lo, a apelação do réu devolve ao Tribunal o conhecimento de ambos os fundamentos, ainda que o autor não tenha apresentado apelação adesiva ou contra-razões ao apelo do réu; daí por que pode o Tribunal, estando a lide em condições de ser apreciada, reformar a sentença e acolher o pedido do autor pelo outro fundamento que o juiz de primeiro grau não chegou a apreciar.

O parágrafo segundo do art. 515 do CPC estabelece que “quando o pedido

ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a

apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento dos demais”.

Dessa forma, pode-se concluir, junto com Kozikoski161, que “a apelação, em

última análise, devolve ao Tribunal todas as questões suscitadas pelas partes que

poderiam ter sido apreciadas na sentença, mas não o foram.”

Conforme explica Marinoni162 :

A apelação é recurso de devolutividade ampla, como já dito. Importa isso dizer que, na apelação, pode a parte impugnar a decisão judicial, argüindo qualquer defeito que entenda existente. O Tribunal, ao examinar esse recurso, ficará adstrito à matéria impugnada (art. 515, caput, do CPC), devendo decidir o recurso nos limites do pedido. Porém, a devolução das questões relativas a esse pedido é ampla, como informam os § § 1º e 2º do art. 515 do CPC. Isso quer dizer que, formulado o pedido de revisão da sentença impugnada, por meio da apelação, pode o Tribunal conhecer – dentro dos limites do pedido – ‘todas as questões suscitadas e discutidas no processo, ainda que a sentença não as tenha julgado por inteiro’, sendo que, ‘quando o pedido ou a defesa tiver mais de um fundamento e o juiz acolher apenas um deles, a apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento dos demais’ (§ § 1º e 2º do art. 515 do CPC).

4&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAHAAAAdBAAF>. Acesso em: 25 out. 2010. 160 NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor. 34. ed. São Paulo: Saraiva, 2004. p. 562. 161 KOZIKOSKI, Sandro Marcelo. Manual dos recursos cíveis: teoria geral e recurso em espécie, p. 201. E, ainda, merece destaque o posicionamento do Superior Tribunal de Justiça, na ementa inserta no REsp nº 1.136.107, da lavra do Ministro Castro Meira: O órgão ad quem, por seu turno, não se encontra vinculado à fundamentação jurídica expendida na sentença, bastando que contenha motivação suficiente para a solução da controvérsia. Enquanto a extensão do efeito devolutivo é delimitada pela parte, a profundidade é bastante ampla, conferindo à Corte liberdade para utilizar as razões de direito que entender aplicáveis à demanda. 162 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de conhecimento, p. 525-526.

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Impende salientar que o efeito devolutivo da apelação é de “argumentação

livre”, pois, consoante afirma Didier Junior163, “ao apelante é lícito valer-se de

qualquer argumento para atacar a sentença recorrida, não estando vinculado a

determinado tipo de matéria, nem devendo submeter-se a alguma espécie de

prequestionamento”.

Conforme entendimento firmado pela jurisprudência do Superior Tribunal de

Justiça, no julgamento proferido pelo Ministro Luiz Fux, nos Embargos de

Declaração no Recurso Especial nº 819.165:

O recurso de apelação devolve, em profundidade, o conhecimento da matéria impugnada, mesmo que o Juiz tenha acolhido apenas um dos fundamentos do pedido ou da defesa (art. 515, §§ 1º e 2º, do CPC). Precedentes do STJ: Resp 1119837/PR, QUARTA TURMA, DJe 19/11/2009; REsp 1008249/DF, SEGUNDA TURMA, DJe 23/10/2009.164

Merece destaque, ainda, o posicionamento predominante no Superior

Tribunal de Justiça da lavra do Ministro Luiz Felipe Salomão, no julgamento do

Recurso Especial nº 168.930:

É da Jurisprudência desta Corte o entendimento de que ‘conforme resulta dos §§ 1º e 2º do art. 515 do CPC, é integral, em profundidade, o efeito devolutivo da apelação: não se cinge às questões efetivamente resolvidas na instância inferior; abrange também as que poderiam tê-lo sido’.165

No tocante a profundidade do efeito devolutivo da apelação, Moreira166

leciona:

Como resulta dos §§ 1º e 2º, é integral, em profundidade, a devolução. Não se cinge às questões efetivamente resolvidas na instância inferior: abrange também as que poderiam tê-lo sido. Estão aí compreendidas:

a) as questões examinadas de ofício, a cujo respeito o órgão a quo não se manifestou, v.g, a da nulidade do ato jurídico de que se teria originado o suposto direito do autor, e em geral as quaestiones iuris;

163 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 107. 164 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Embargos de Declaração no Recurso Especial nº 819.165, Espírito Santo, julgado em 03 de agosto de 2010. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200600298540&dt_publicacao=30/08/2010>. Acesso em: 24 out. 2010. 165 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 168.930, Mato Grosso do Sul, julgado em 21 de outubro de 2008. Disponível em: < https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=199800220909&dt_publicacao=10/11/2008>. Acesso em: 24 out. 2010. 166 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, p. 347.

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b) as questões que, não sendo examináveis de ofício, deixaram de ser apreciadas, a despeito de haverem sido suscitadas e discutidas pelas partes.

Na mesma linha Nery Júnior e Nery167 seguem afirmando que:

[...] quando a pretensão é deduzida com dois ou mais fundamentos, ou, ainda, a defesa é realizada também com base em mais de um fundamento, ainda que o juiz tenha acolhido ou examinado apenas um deles, os demais fundamentos podem ser apreciados pelo Tribunal no julgamento da apelação.

Em sede doutrinária, destaca-se também a lição do Ministro Sálvio de

Figueiredo Teixeira, quando analisa o art. 515 do CPC: "o § 1º se aplica aos casos

em que o Tribunal reforma a sentença que eventualmente tenha julgado

improcedente o pedido, deixando, por isso, de apreciar todas as questões".168

Em regra, o tribunal não deve apreciar temas não decididos ainda pelo órgão

a quo, pois “isso violaria o princípio do duplo grau de jurisdição”.

Esse entendimento, consoante assinala Marinone169, “vem cedendo espaço

e conta com duas importantes exceções postas no regime de apelação”. E

completa::

Inicialmente, como estabelece o art. 515, § 3º, é possível que o Tribunal, afastando questão preliminar em que se baseou o juiz a quo para extinguir o processo (e desde que não haja outra preliminar a ser acolhida), examine desde logo o pedido – sem ter de, previamente, restituir o feito para o julgamento pelo primeiro grau de jurisdição. Para tanto, será necessário que a causa esteja ‘madura’ para julgamento, ou seja, que as partes não mais tenham prova para produzir, ou melhor, que não exista necessidade de maior elucidação dos fatos. A aplicação deste preceito, em última análise, depende de constatação óbvia,: a sua incidência não pode gerar violação às garantias constitucionais do processo. Por outras palavras, somente se admite que o Tribunal, afastando sentença terminativa, avance no exame do mérito quando esta apreciação não implique ofensa a garantias como as do acesso à justiça, do contraditório, da ampla defesa ou do devido processo legal. Somente, portanto, quando as partes não tiverem mais alegações ou provas a serem produzidas – e relevantes para influir no convencimento do Judiciário, pode-se ter por cabível a aplicação do dispositivo em questão. Isto porque, em tal situação, o retorno dos autos ao primeiro grau (para a prolação de nova sentença, que seria ulteriormente reapreciada pelo Tribunal)

167 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria Andrade. Código de Processo Civil e Legislação Processual Extravagante em Vigor. nota 6 ao art. 515. , p. 643. 168 TEIXEIRA, Sálvio de Figueiredo. Código de Processo Civil Anotado. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 1996. p. 349. 169 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de Conhecimento, p. 526.

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importará em simples alongamento desnecessário da tramitação processual, já que a decisão a prevalecer será sempre por óbvio, a Tribunal que venha a revisar essa nova decisão. A outra exceção está contida no art. 515, § 4º (introduzido pela Lei 11.276/2006) e explicita que o Tribunal, verificando a ocorrência de nulidade sanável, poderá determinar a regularização do feito com a eliminação do vício, intimadas as partes; após isso, sendo possível, deverá a corte prosseguir no julgamento da apelação, evitando novamente remeter o feito ao primeiro grau para retornada do julgamento [grifo do autor].170

Em síntese, o CPC, em seu art. 515, § 3º, estabeleceu a mitigação do efeito

devolutivo em sede de apelação.

Feitas essas considerações, na seção que se segue passa-se à análise dos

pressupostos necessários para aplicação desse dispositivo.

3.3 DOS PRESSUPOSTOS PARA APLICAÇÃO DO § 3º DO ARTIGO 515 DO CPC

Convém reiterar que as alterações processuais civis trazidas pela Lei nº

10.352, de 26 de dezembro de 2001, operaram mudanças no CPC. No que se refere

ao recurso de apelação, a nova lei introduziu o § 3º no art. 515 do mesmo diploma

processual, litteris:

Art. 515. A apelação devolverá ao Tribunal o conhecimento da matéria impugnada. [...] § 3º. Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o Tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento. (grifo nosso)

Embora da norma conste a aditiva "e", indicando que o tribunal só pode

julgar o mérito se se tratar de matéria exclusivamente de direito e a causa estiver em

condições de julgamento imediato, é possível o julgamento de mérito pelo tribunal

quando a causa estiver madura para tanto. Cita-se, por exemplo, a hipótese de toda

a instrução transcorrer normalmente, mas o juiz extinguir o processo por

ilegitimidade de parte (CPC, 267, VI). Todavia, na hipótese de os autos ascenderem

ao tribunal, e este entender que as partes são legítimas, poderá dar provimento à

170 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. Processo de Conhecimento, p. 526.

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apelação, afastando a carência e julgando o mérito, pois essa matéria já terá sido

amplamente debatida e discutida no processo, prestigiando-se, assim, o princípio da

economia processual.171

A autorização para que tribunal possa analisar determinadas questões de

mérito, não apreciadas pela instância inferior, a teor do que estabelece o art. 515, §

3º, do CPC, depende da existência de dois requisitos, a saber: I) processo “em

condição de imediato julgamento” e II) causa que verse exclusivamente de direito.

Acrescente-se quem a ausência destes requisitos não torna legitimada a atuação do

tribunal.

Esse entendimento pode ser verificado em julgados do próprio Superior

Tribunal de Justiça, conforme se depreende do julgamento do REsp nº 797.989, da

lavra do Ministro Humberto Martins, e do REsp nº 657.407, da lavra do Ministro

Castro Meira:

4. O art. 515, § 3º, do CPC deve ser lido à luz do disposto no art. 330, I, do mesmo diploma, que trata do julgamento imediato do mérito. Poderá o Tribunal (assim como o juiz de primeiro grau poderia) pronunciar-se desde logo sobre o mérito se as questões de mérito forem exclusivamente de direito ou, sendo de fato e de direito, não houver necessidade de produção de novas provas. Entendimento doutrinário e jurisprudencial [grifo nosso].172

3. Após a Lei nº 10.352⁄2001, que imprimiu profundas modificações no CPC, houve um abrandamento do princípio 'tantum devolutum quantum appellatum', já que o art. 515, § 3º, permitiu ao Tribunal, nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito, 'julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento'.

4. 'Havendo requerimento expresso do apelante, é obrigatório ao Tribunal, aplicando o § 3º do art. 515 do CPC, já conhecer do mérito da demanda, ao prover a apelação interposta contra a sentença terminativa, a não ser que a matéria ainda reclame alguma providência ou prova a ser produzida no juízo singular' (Leonardo José Carneiro da Cunha in Inovações no Processo Civil: Comentários às Leis 10.352 e 10.358⁄2001, Dialética, São Paulo, 2002, pp. 85-86). 5. Se o Tribunal pode analisar diretamente o mérito da causa, afastada a alegação de julgamento ultra ou extra petita, por força da autorização contida no art. 515, § 3º do CPC, igualmente pode

171 NERY JUNIOR, Nelson; NERY, Rosa Maria de Andrade. Código de Processo Civil Comentado e legislação extravagante. 9. ed. São Paulo: RT, 2006. p. 742. 172 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 797.989, Santa Catarina, julgado em 22 de abril de 2008. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200501903057&dt_publicacao=15/05/2008>. Acesso em: 24 out. 2010.

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determinar a baixa dos autos ao juízo singular, ainda que o apelante não tenha requerido, sem que isso importe em violação ao postulado do devido processo legal.

6. Recurso especial conhecido em parte e improvido.173

Didier Junior174, citando Moreira e Jorge, igualmente aponta para a

existência dos dois requisitos para que o tribunal possa adentrar, de imediato, o

mérito da questão:

Este dispositivo admite que o Tribunal, reformando sentença que extinguiu o processo sem exame do mérito, possa avançar na análise do próprio mérito da demanda, desde que não haja mais necessidade de dilação probatória. Para tanto, devem ser preenchidos os seguintes pressupostos: a) a apelação tenha por fundamento o error in judicando; b) a apelação seja provida, ou seja, o Tribunal não vislumbre causa de inadmissibilidade da demanda – a reconhecida pelo juízo a quo ou outra qualquer; c) é preciso que haja pedido da parte apelante, até porque o § 3º do art. 515 diz respeito à extensão do efeito devolutivo e, assim, está relacionada à necessidade de provação do recorrente; d) constata-se que a causa versa sobre questão exclusivamente de direito, ou questão de fato⁄direito que não demande mais provas – apurando-se, enfim, que a causa está madura, em condições de imediato julgamento.

Câmara175 também indica que, na interpretação a ser dada ao referido § 3º,

devem estar presentes tais requisitos:

Basta que a causa esteja em condições de imediato julgamento para que o Tribunal ad quem possa pronunciar-se sobre o mérito da causa. E arremata: ’Dito de outro modo, entendemos que o art. 515, § 3º, do CPC deve ser lido à luz do disposto no art. 330, I, do mesmo diploma, que trata do julgamento imediato do mérito. Poderá o Tribunal (assim como o juiz de primeiro grau poderia) pronunciar-se desde logo sobre o mérito se as questões de mérito forem exclusivamente de direito ou, sendo de fato e de direito, não houver necessidade de produção de novas provas’.

Malgrado não ter sido referenciado como requisito para aplicação do texto

legal insculpido no art. 515, § 3º, do CPC, entende-se necessário, por cautela, que o

173 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 657.407, Rio Grande do Sul, julgado em 21 de junho de 2005. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200400618437&dt_publicacao=05/09/2005>. Acesso em: 24 out. 2010. 174 DIDIER JÚNIOR, Fredie apud MOREIRA, Barbosa;JORGE, Flávio Cheim. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 89. 175 CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de direito processual civil. 13. ed. rev. e atual. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2006. p. 90.

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apelante requeira expressamente, no seu recurso, que o tribunal aprecie, desde

logo, todas as questões das quais está recorrendo.

A respeito, bem enfatiza o Ministro Humberto Martins, no voto inserto no

REsp nº 797.989:

Como se vê, doutrina e jurisprudência têm acolhido a aplicação do julgamento do mérito pelo Tribunal a quo em situações como a dos autos, considerando prevalente o pedido contido na apelação (extensão do efeito devolutivo), em respeito ao princípio do tantum devolutum quantum apellatum. Dessa forma, tendo a parte requerido o pronunciamento do Tribunal sobre as questões meritórias, devolvendo-lhe o exame de tais pontos, passou a legitimar o órgão julgador de segundo grau a adentrar no mérito, máxime quando já havia toda a instrução probatória formada nos autos.176

Diante do exposto, faz-se necessário analisar, separadamente, os dois

pressupostos supramencionados. É o que se cuida nas próximas seções.

3.3.1 Processo “em condição de imediato julgamento”

O processo estará em “condição de imediato julgamento” quando não

houver mais necessidade de produção de provas, encontrando-se pronto para a

análise do mérito.

O requisito em tela, posto no § 3º do art. 515 do CPC, segundo já consignou

o Ministro Luiz Fux, pode ser também denominado de “Teoria da Causa Madura”177.

Conforme consta de voto do Ministro Cesar Asfor Rocha, a questão está

‘madura’ quando “o Tribunal tem os elementos fáticos necessários para poder julgar

o fundo do mérito da causa”. Ainda, considera o magistrado que o processo está em

176 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Recurso Especial nº 797.989, Santa Catarina, julgado em 22 de abril de 2008. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200501903057&dt_publicacao=15/05/2008>. Acesso em: 24 out. 2010. 177 BRASIL, Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 955.681: “O artigo 515, do CPC, restou modificado pela Lei 10.352, de 26 de dezembro de 2001, que lhe inseriu o § 3º, segundo o qual: ‘Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o Tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento’ (cognominada ‘Teoria da Causa Madura’)” (grifo nosso).

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“condições de imediato julgamento” quando “não há mais necessidade de ir à 1ª

instância para produção de provas”178.

Segundo a lição de Dinamarco179, esse pressuposto se liga:

[...] visivelmente às garantias integrantes da tutela constitucional do processo, especialmente às do contraditório e do devido processo legal, que inclui a do direito à prova (Const., art. 5º, incs.LV e LIV). Por isso, de imediato já se exclui a possibilidade do julgamento do mérito pelo Tribunal, para julgar a demanda inicial procedente, quando a sentença terminativa houver sido proferida pelo juiz inferior logo ao tomar o primeiro contato com a petição inicial, indeferindo-se (art. 267, inc. I, e 295) – porque, por mais que o Tribunal esteja convencido da razão do autor, a total ausência do réu que ainda não foi sequer citado impede um julgamento de meritis em seu desfavor (CPC, art. 285-A) sem que tenha tido a menor possibilidade de participar em contraditório (alegando, provando, argumentando).

Desse raciocínio resulta a seguinte inferência: no caso de a petição inicial

ser indeferida com fundamento em alguma das hipóteses previstas nos arts. 267, I, e

295 do CPC180, sem que tenha ocorrido a citação do réu, não haverá possibilidade

de o tribunal apreciar o mérito da causa.

A ementa proferida no julgamento da Apelação Cível nº 2009.046391-7, do

Des. José Carlos Carstens Köhler, integrante do Tribunal de Justiça de Santa

Catarina, ratifica a assertiva:

PLEITO DE JULGAMENTO DO FEITO NA FORMA DO ART. 515, § 3º, DO CPC. INVIABILIDADE. EXTINÇÃO DO FEITO SEM QUE HOUVESSE SEQUER DETERMINAÇÃO DE CITAÇÃO DO RÉU. FORMAÇÃO DA LIDE INEXISTENTE. PROCESSO QUE NÃO SE ENCONTRA EM CONDIÇÕES DE IMEDIATO JULGAMENTO.

178 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Corte Especial. Embargos de Divergência em Recurso Especial 89.240, Rio de Janeiro, julgado em 10 de março de 2003. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200000891118&dt_publicacao=10/03/2003>. Acesso em: 30 set. 2010. 179 DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova era do processo civil. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2009. p. 172-175. 180 CPC, art. 267, I: “quando o juiz indeferir a petição inicial”; art. 295: “A petição inicial será indeferida: I. quando for inepta; II - quando a parte for manifestamente ilegítima; III - quando o autor carecer de interesse processual; IV - quando o juiz verificar, desde logo, a decadência ou a prescrição (art. 219, § 5º); V - quando o tipo de procedimento, escolhido pelo autor, não corresponder à natureza da causa, ou ao valor da ação; caso em que só não será indeferida, se puder adaptar-se ao tipo de procedimento legal; Vl - quando não atendidas as prescrições dos arts. 39, parágrafo único, primeira parte, e 284.”

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IMPERATIVA DEVOLUÇÃO DOS AUTOS À ORIGEM PARA REGULAR PROCESSAMENTO DO FEITO.181

Por oportuno, transcreve-se excerto do voto proferido no julgamento acima

citado:

2 Da aplicação do art. 515, § 3º, do CPC.

Por outro lado, inviável o julgamento de plano do feito neste grau de jurisdição. Isso porque na hipótese dos autos a lide sequer foi formada, porquanto indeferida a petição inicial, extinguindo-se o feito antes mesmo de ser determinada a citação da parte adversa. Ora, uma vez que o Demandado ainda não foi chamado a se defender nos autos, inexistindo oportunidade de apresentar resposta, inviável o julgamento do feito na forma do art. 515, § 3º, do Código Buzaid, que pressupõe esteja o processo em condições de imediato julgamento. Destarte, pelas razões suso vazadas a cassação da sentença de fls. 74-77 torna-se imperativa, concedendo-se a justiça gratuita clamada e determinando-se a devolução dos autos à origem para o regular prosseguimento do feito.182

Importante atentar para a impossibilidade de aplicação do disposto no § 3º

quando, com base no ministério de Dinamarco:

[...] mesmo proferida a sentença terminativa depois daquele momento inicial, as partes ainda não hajam esgotado as possibilidades, asseguradas na Constituição e na lei, de produzirem as provas de seu interesse para a vitória na causa. O direito à prova deve ser sempre preservado”.

Acrescente-se que, havendo ainda a possibilidade de provas serem

produzidas pelas partes, e sendo elas de essencial interesse para o deslinde da

181 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2009.046391-7. São Bento do Sul, Santa Catarina, julgado em 16 de novembro de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=data&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=2009.046391-7&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAAABNjAAA>. Acesso em: 25 out. 2010. 182 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Apelação Cível nº 2009.046391-7. São Bento do Sul, Santa Catarina, julgado em 16 de novembro de 2009. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=data&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=2009.046391-

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causa, o processo não se encontrará em condições de imediato julgamento. Ou seja,

restará ausente um dos pressupostos previstos no art. 515, § 3º, do CPC.

Na hipótese de o tribunal entender que a causa não está madura para

julgamento imediato, deve especificar no acórdão as provas que, a seu ver, ainda

devem ser produzidas pelas partes. Isto porque seria inadmissível que o tribunal

devolvesse a demanda ao juízo a quo e este viesse, logo em seguida, julgar

antecipadamente a lide, na forma do art. 330 do CPC183.

Merecem destaques, ainda, os seguintes julgados do Tribunal de Justiça do

Estado de Santa Catarina:

O art. 515, § 3º, do CPC, autoriza a análise do meritum causae pelo Tribunal quando ocorrer a reforma da sentença extintiva do processo sem resolução do mérito (art. 267, CPC) e desde que os autos se encontrem em condições de julgamento imediato.184

De conformidade com o art. 515, § 3º, nos casos de sentença terminativa, pode o órgão ad quem, afastando a causa que determinou a extinção do feito sem resolução do mérito, julgá-lo desde logo, se a causa versar questão exclusiva de direito e estiver em condições de imediato julgamento.185

Vê-se, portanto, que o Tribunal de Justiça de Santa Catarina firmou

entendimento no sentido de que resta autorizado o julgamento do recurso de

apelação quando a matéria, além de ser meramente de direito, encontrar-se em

7&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAAABNjAAA>. Acesso em: 25 out. 2010. 183 NOGUEIRA, Antônio de Pádua Soubhie. Aplicações do novo § 3º do art. 515 do CPC. Disponível em: <http://anma.com.br/Artigo515.DOC>. Acesso em: 30 set. 2010. 184 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça.. Terceira Câmara de Direito Civil. Apelação Cível nº 2006.042130-5. Balneário Camboriú, Santa Catarina, julgado em 12 de junho de 2007. Disponível em: <http://tjsc6.tj.sc.gov.br/cposg/pcpoSelecaoProcesso2Grau.jsp?cbPesquisa=NUMPROC&dePesquisa=20060421305&Pesquisar=Pesquisar>. Acesso em: 25 out. 2010. 185 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Terceira Câmara de Direito Civil. Apelação Cível nº 2006.040056-9. São João Batista, Santa Catarina, julgado em 13.03.2007. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=data&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=2006.040056-9&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAKAABiDSAAD>. Acesso em: 25 out. 2010.

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condições de imediato julgamento (“causa madura”), hipótese em que não se poderá

falar em supressão de instância.

Em acórdão que cuidou da regra sob comentário, o Superior Tribunal de

Justiça, da relatoria do Ministro Franciulli Netto, referendou essa opinião doutrinária:

“Estando a causa efetivamente apta para o julgamento, sem necessidade de dilação

probatória, o que a doutrina denominou ‘causa madura’, impõe-se o seu pronto

julgamento pelo Tribunal”.186

Em suma, o que exige a expressão contida no § 3º do art. 515 do CPC é que

a causa esteja apta (“madura”) para julgamento, isto é, disponha de todos os

elementos necessários para que o tribunal analise, sem cerceamento de defesa, o

exame final de mérito.

3.3.2 Causa que verse exclusivamente sobre questão de direito

O § 3º do art. 515 do CPC, incluído pela Lei nº 10.352⁄2001, passou a

permitir que o tribunal, nos casos de extinção do processo sem julgamento do

mérito, possa julgar a lide, desde que o processo esteja devidamente instruído

(“causa madura”) e se trate de questão exclusivamente de direito.

Observa-se que o CPC, em seu art. 330, I, utiliza a expressão “unicamente

de direito” para as hipóteses de julgamento antecipado da lide, verbis “quando a

questão de mérito for unicamente de direito, ou, sendo de direito e de fato, não

houver necessidade de produzir prova em audiência”.

Didier Junior187, ao comentar o referido dispositivo legal, enfatiza:

Não há questão de mérito que seja ‘unicamente de direito’, como está escrito no inciso I do art. 330. O fenômeno jurídico não prescinde do suporte fático, sobre o qual incide a hipótese normativa. As hipóteses previstas no inciso I podem ser resumidas em uma: é possível o julgamento antecipado quando não for necessária a produção de provas em audiência, ou seja, quando a prova

186 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. 2ª Turma. Recurso Especial nº 252.187. Paraná, julgado em 19 de maio de 2003. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200000265497&dt_publicacao=19/05/2003>. Acesso em: 30 set. 2010. 187 DIDIER JUNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: teoria geral do processo e processo de conhecimento, p. 515.

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exclusivamente documental for bastante para a prolação de uma decisão de mérito.

Aliás, é sob este aspecto que alguns doutrinados apontam algumas críticas

ao art. 515, § 3º, do CPC, justamente por restringir a atuação do tribunal tão

somente a causas que versarem sobre questão “exclusivamente de direito”.

Nogueira188 adverte que, “essa aparente restrição poderia comprometer a

utilidade da inovação, ao impedir o julgamento pelo Tribunal quando houvesse

questões de fato no processo mas já estivessem elas suficientemente dirimidas pela

prova produzida”.

De acordo com Moreira189:

Teria sido preferível que se adotasse aqui, com as devidas adaptações, a fórmula relativa ao julgamento antecipado da lide, constante do art. 330, n° I: 'quando a questão suscitada no recurso for unicamente de direito ou, sendo de direito e de fato, não houver necessidade de outras provas.

Conquanto existam, por parte de alguns autores, ressalvas quanto à

“exclusividade” de o tribunal examinar apenas causas que versarem sobre questões

“exclusivamente de direito” (CPC, art. 515, § 3º), observa-se que o Superior Tribunal

de Justiça aplica este dispositivo apenas quando verifica que está presente tal

pressuposto:

O art. 515, § 3º, do CPC estatui que ‘nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o Tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento’. No entanto, não se tratando de matéria exclusivamente de direito, com causa complexa e não estando madura suficiente para ser julgada de pronto, não se aplica o referido dispositivo, devendo os autos retornarem ao juízo de origem para novo pronunciamento.190

Nos termos do § 3º do art. 515 do CPC, o qual se harmoniza com os princípios da celeridade, da efetividade e da economia processuais, se o Tribunal reforma a sentença que extingue o processo sem julgamento do mérito, pode, desde logo, apreciar o mérito da ação,

188 NOGUEIRA, Antônio de Pádua Soubhie. Aplicações do novo § 3º do art. 515 do CPC. Disponível em: <http://anma.com.br/Artigo515.DOC>. Acesso em: 30 set. 2010. 189 MOREIRA, José Carlos Barbosa. Comentários ao Código de Processo Civil, p. 429-431. 190 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Agravo Regimental no Recurso Especial nº 1.018.466, São Paulo, julgado em 20 de maio de 2008. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200703092990&dt_publicacao=19/06/2008>. Acesso em: 30 set. 2010.

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quando a questão é exclusivamente de direito e o feito encontra-se devidamente instruído (‘causa madura’).191

Ademais, ao Superior Tribunal de Justiça é vedada a análise de matéria

fática, nos termos do verbete nº 7 de sua Súmula, verbis: “A pretensão de simples

reexame de prova não enseja recurso especial”, que não se pode confundir com a

revaloração da prova, que se admite.

Contrário é o entendimento de Apligliano192, o qual defende a inserção de tal

pressuposto no art. 515, § 3º, do CPC e consigna que:

Nas hipóteses em que a decisão da causa depender do exame de questões de fato e de direto, o provimento da apelação interposta contra sentença terminativa (art. 267) exigirá igualmente o retorno do processo ao primeiro grau, ainda que as questões de fato tenham sido devidamente provadas e não dependam, portanto, de outras provas. Não há, em relação à apelação, distinção entre as ações cujas questões de fato já tenham sido provadas e as ações que ainda requeiram novas provas. O texto é claro e não admite equívocos. Somente lides que versem exclusivamente sobre questões de direito podem ser objeto de exame pelo Tribunal, sem que tenha sido decidida no mérito pelo juiz a quo.

Ressalvadas as críticas supramencionadas, fato é que, “não se tratando de

matéria exclusivamente de direito, com causa complexa e não estando madura

suficiente para ser julgada de pronto, não se aplica o referido dispositivo, devendo

os autos retornar ao juízo de origem para novo pronunciamento”193.

3.4 O § 3º DO ART. 515 DO CPC EM DETRIMENTO DOS PRINCÍPIOS DO JUIZ

NATURAL E DO DUPLO GRAU DE JURISDIÇÃO

Conforme anteriormente exposto, o disposto no art. 515 do CPC, alterado

pela Lei nº 10.352⁄2001, que lhe inseriu o § 3º, permite que o Tribunal:

191BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quinta Turma. Recurso Especial nº 645.213. São Paulo, julgado em 14 de novembro de 2005. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200400243671&dt_publicacao=14/11/2005>. Acesso em: 30 set. 2010. 192 APLIGLIANO, Ricardo de Carvalho. “Os Efeitos da Apelação e a Reforma Processual”. A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 260. 193 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Terceira Turma. Agravo Regimental no Agravo de Instrumento nº 1.023.672. Rio de Janeiro, julgado em 13 de maio de 2009. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200800456936&dt_publicacao=13/05/2009>. Acesso em: 30 set. 2010.

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[...] ao julgar a apelação interposta contra sentença terminativa, aprecie desde logo o próprio mérito da demanda, quando verificar que a causa versa sobre questão exclusivamente de direito e, por conseguinte, esteja em condições de imediato julgamento da causa.194

O dispositivo em referência expandiu a devolutividade do recurso de

apelação, autorizando que o Tribunal, no exercício do duplo grau de jurisdição,

aprecie questões não decididas no primeiro grau, desde que o processo tenha sido

extinto sem resolução de mérito (CPC, art. 267) e estejam presentes os requisitos

acima expostos.

A propósito dessa afirmação, importa discorrer acerca da ocorrência de

ofensa ao princípio do duplo grau de jurisdição no caso de a apreciação do mérito

dar-se pelo órgão superior, tendo em vista a reforma processual instituída pela Lei nº

10.352/2001.

De acordo a presente sistemática processual civil pátria, caso o tribunal ad

quem decida desconstituira sentença proferida, não deverá, necessariamente,

ordenar que os autos retornem à jurisdição monocrática para que o juiz de primeiro

grau se manifeste sobre as questões que envolvem o mérito do litígio.

Na atualidade, reformada a sentença de extinção, pode e deve o tribunal,

quanto à matéria já satisfatoriamente aventada pelas partes no juízo monocrático,

enfrentar o mérito do questionamento, não implicando a supressão de um grau de

jurisdição, conforme faculta o art. 515, § 3°, do CPC:

Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o Tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.

Sendo assim, passa-se à análise dos entendimentos jurisprudenciais e

doutrinários acerca do § 3º do art. 515 do CPC, com o fito de verificar se este

dispositivo ofende o duplo grau de jurisdição e o princípio do juiz natural, ambos

previstos na CRFB.

Entre as veementes discussões acerca do tema, vale destacar o

posicionamento de Wambier195:

194 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Segunda Turma. Recurso Especial nº 829.836. Rio Grande do Sul, julgado em 27 de abril de 2010. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200600536966&dt_publicacao=21/05/2010>. Acesso em: 30 set. 2010. 195 APLIGLIANO, Ricardo de Carvalho. “Os Efeitos da Apelação e a Reforma Processual”. A nova etapa da reforma do Código de Processo Civil. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 260.

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Se pode legitimamente concluir que o duplo grau de jurisdição é, sim, um princípio constitucional. Nem por isso, todavia, como se observou, tem-se que será inconstitucional o dispositivo legal que determinar seja, em certas condições, suprimido da parte o direito ao duplo grau de jurisdição196.

Ademais, impende considerar o ensinamento de Medina:

Segundo pensamos, o § 3º do art. 515 não viola a Constituição Federal. Como se viu, o princípio do duplo grau de jurisdição não é garantia constitucional. Essa concepção, no entanto, como se mencionou, não é pacífica, havendo defensores de orientação contrária. Para estes, muito provavelmente o § 3º do art. 515 do CPC deverá ser considerado inconstitucional. O fato de não estar diante de inconstitucionalidade, contudo, não torna, só por isso, menos criticável o preceito, porquanto nos casos em que, em atenção ao § 3º do art. 515 do CPC, o Tribunal – ou o relator sozinho (cf. art. 557 do CPC) – julga questão de mérito que não havia sido sequer examinada pelo juízo a quo, estará realizando julgamento que só excepcionalmente poderá vir a ser reapreciado.

O princípio do juiz natural, na ótica de Miranda e Pizzol197, não é infringido

pelo parágrafo supracitado, “uma vez que o juízo está previamente constituído e a

competência previamente definida em lei (art. 5º, XXXVII e LIII, da CF)”.

Jurisprudências nesse sentido são extraídas do STJ e do Tribunal de Justiça

do Estado de Santa Catarina:

A necessidade de dar rápido deslinde à demanda justifica perfeitamente o julgamento da ação pelo mérito. O art. 515, § 3º, do CPC permite, desde já, que se examine a matéria de fundo, visto que a questão debatida é exclusivamente de direito, não havendo nenhum óbice formal ou pendência instrumental para que se proceda à análise do pedido merital. Não há razão lógica ou jurídica para negar ao Tribunal a faculdade prevista pelo aludido dispositivo legal. Impõe-se, para tanto, sua aplicação. Inexistência de supressão de instância.198

Uma vez conhecido o recurso, passa-se à aplicação do direito à espécie, nos termos do art. 257, RISTJ e também em observância à regra do § 3º do art. 515, CPC, que procura dar efetividade à

196 WAMBIER, Luiz Rodrigues; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim; MEDINA, José Miguel Garcia. Breves comentários à nova sistemática processual civil. 3. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 268. 197 MIRANDA, Gilson Delgado; PIZZOL, Patrícia Miranda. Recursos no processo civil, p. 59. 198 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Primeira Turma. Agravo Regimental nos Embargos de Declaração no Recurso Especial nº 842.054. Roraima, julgado em 06 de fevereiro de 2007. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/jurisprudencia/doc.jsp?processo=842054&&b=ACOR&p=true&t=&l=10&i=2>. Acesso em: 23 ago. 2009.

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prestação jurisdicional, sem deixar de atentar para o devido processo legal.199

A nulidade, para que seja declarada, deve gerar uma situação de violação de expresso dispositivo ou resultar em procedimento lesivo ao direito das partes, caso contrário, torna-se fator superável. Se, na hipótese de extinção do processo sem julgamento do mérito pelo juiz de primeiro grau, pode o Tribunal examinar o mérito da lide, sem incorrer em supressão de instância, face a permissivo legal (art. 515, § 3º, do CPC), com a mesma razão pode o Tribunal apreciar o verdadeiro mérito da causa quando o juízo 'a quo' profere decisão 'extra petita', sem incorrer em 'error in procedendo'. Cuida-se de pura aplicação do vetusto brocardo jurídico 'quem pode o mais, pode o menos' ou mesmo aplicação analógica do disposto no artigo 515, § 3º, do CPC (TJCE. Apelação Cível nº 2004.0131666-4).200

1. A reforma processual instituída pela Lei nº 10.352/2001 passou a autorizar, expressamente, a apreciação do mérito da causa pelo órgão superior, nas hipóteses elencadas pelo artigo 515, § 3º, do CPC, verbis: 'Art. 515. [...] § 3º Nos casos de extinção do processo sem julgamento do mérito (art. 267), o Tribunal pode julgar desde logo a lide, se a causa versar questão exclusivamente de direito e estiver em condições de imediato julgamento.' Dessa forma, não há violação do duplo grau de jurisdição nem indevida supressão de instância. 2. Também não há reformatio in pejus, pois 'o julgamento de meritis que o Tribunal fizer nessa oportunidade será o mesmo que faria se houvesse mandado o processo de volta ao primeiro grau, lá ele recebesse sentença, o autor apelasse contra esta e ele, Tribunal, afinal voltasse a julgar o mérito. A novidade representada pelo § 3º do art. 515 do CPC nada mais é do que um atalho, legitimado pela aptidão a acelerar os resultados do processo e desejável sempre que isso for feito sem prejuízo a qualquer das partes; ela constituiu mais um lance da luta do legislador contra os males do tempo e representa a ruptura com um velho dogma, o do duplo grau de jurisdição, que por sua vez só se legitima quando for capaz de trazer benefícios, não demoras desnecessárias. Por outro lado, se agora as regras são essas e são conhecidas de todo operador do direito, o autor que apelar contra a sentença terminativa fá-lo-á com a consciência do risco que corre; não há infração à garantia constitucional do due process porque as regras do jogo são claras e isso é fator de segurança das partes, capaz de evitar surpresas'

199 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. REsp nº 469.921. Paraná, julgado em 06 de maio de 2003. Disponível em: <https://ww2.stj.jus.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=20020123 9796&dt_publicacao=26/05/2003>. Acesso em 02 nov. 2010. 200 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça. Câmara Civil Especial. Agravo (CPC, art. 557, § 1º) em Agravo de Instrumento nº 2009.014667-1/0001.00. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=20090146671&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAAIAAABE%2BAAJ>. Acesso em: 30 set. 2010.

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(DINAMARCO, Cândido Rangel. Nova Era do Processo Civil. 2. ed. São Paulo: Malheiros, 2007, pp. 177/181).201

Didier Júnior202, em sentido contrário, versa que, “tendo o juiz singular

apenas proferido decisão terminativa do feito, deixando se proceder à análise do

mérito da contenda, não deveria o juízo ad quem adentrar a matéria de mérito, sob

pena de suprimir um grau de jurisdição.”

No mesmo sentido, Nery Junior e Wambier203 entendem que “trata-se de

supressão total do princípio do duplo grau de jurisdição em situação específica”.

Theodoro Júnior204 tem o mesmo entendimento:

Se o julgamento de primeiro grau se restringiu a questões preliminares, não pode o Tribunal, por força da apelação, aprecie desde logo o mérito da causa. É que, na espécie, não houve sequer início do exame da questão de mérito. Julgá-la originariamente em segundo grau importaria abolir o duplo grau de jurisdição. A decisão do Tribunal não poderá, pois, ir além do plano das preliminares.205

Cumpre observar, ainda, a lição de Magalhães Silva206:

O parágrafo em questão, sem sombra de dúvidas, ampliou o efeito devolutivo do recurso de apelação, pois, além de permitir o pronunciamento pela Segunda Instância, de questão de mérito anteriormente não decidida, mesmo que o Apelante a postule em suas razões, viola as próprias disposições de seu caput, pois, não há matéria de mérito a ser impugnada, demais, sendo defeso ao recorrente a postulação de reforma do inexistente até então.

201 SANTA CATARINA. Tribunal de Justiça.. Segunda Câmara de Direito Comercial. Apelação Cível nº 2005.003409-9. Disponível em: <http://app.tjsc.jus.br/jurisprudencia/acnaintegra!html.action?parametros.frase=&parametros.todas=&parametros.orgaoJulgador=&parametros.pageCount=10&parametros.dataFim=&parametros.dataIni=&parametros.uma=&parametros.ementa=&parametros.juiz1GrauKey=&parametros.cor=FF0000&parametros.tipoOrdem=relevancia&parametros.juiz1Grau=&parametros.foro=&parametros.relator=&parametros.processo=2005.003409-9&parametros.nao=&parametros.classe=&parametros.rowid=AAARykAALAAAAtsAAB>. Acesso em: 30 set. 2010. 202 DIDIER JÚNIOR, Fredie. Curso de direito processual civil: meios de impugnação às decisões judiciais e processo nos Tribunais, p. 102. 203 NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 682. 204 NERY JUNIOR, Nelson; WAMBIER, Teresa Arruda Alvim. Aspectos polêmicos e atuais dos recursos cíveis e de outros meios de impugnação às decisões judiciais. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2005. p. 682. 205 BRASIL. Supremo Tribunal Federal. RREE nºs 71.515, 72.352, 73.716 e Ação Rescisória nº 1.006. RTJ, 60/207, 60/828, 62/535 e 86/71. 206 SILVA, Mathias Magalhães. Lei nº 10.352: introdução do § 3º ao art. 515 do CPC. Jusnavigandi. Disponível em: <http://www1.jus.com.br/doutrina/texto.asp?id=2598>. Acesso em: 30 set. 2010.

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O aludido dispositivo, além de afrontar ao seu caput, viola indubitavelmente o princípio do duplo grau de jurisdição, posto que subtrai do órgão julgador de primeira instância, a apreciação da questão de direito substancial, a quem fora inicialmente submetida a pronunciamento, nos termos da postulação da tutela jurisdicional.

Aliás, esse é o posicionamento adotado pelo Superior Tribunal de Justiça:

Processo Civil. Recurso Especial. Reconhecimento pelo Tribunal a quo de julgamento extra petita. Julgamento do mérito. Interpretação extensiva do artigo 515, § 3º do CPC. Inaplicabilidade. Error in procedendo. Supressão pelo juiz singular e não pelo Tribunal. Supressão de Instância. A sentença proferida citra petita padece de error in procedendo. Se não suprida a falha mediante embargos de declaração, o caso é de anulação pelo Tribunal, com devolução ao órgão a quo, para novo pronunciamento. De modo nenhum se pode entender que o art. 515, § 3º, autorize o órgão ad quem, no julgamento da apelação, a 'completar' a sentença de primeiro grau, acrescentando-lhe novo(s) capítulo(s). In casu, não há que se falar em interpretação extensiva ao artigo 515, § 3º, do CPC, quando nem sequer houve, na sentença, extinção do processo sem julgamento do mérito, requisito este essencial à aplicação do artigo 515, § 3º, da Lei Processual Civil. Recurso provido.207

A despeito de a novel redação do § 3º do art. 515 do CPC atribuir maior

celeridade na tramitação do processo – visto que torna prescindível o retorno dos

autos ao juízo a quo, para a análise do mérito –, há que se atentar para o fato de

que o tribunal somente poderá julgar o mérito da questão se requerido for pela parte

recorrente.

Conquanto o § 3º do art. 515 do CPC seja uma ferramenta eficaz na

diminuição da morosidade existente no Poder Judiciário, não se pode deixar de

analisar a sua constitucionalidade, uma vez que, garantias individuais não podem

ser, em nenhuma hipótese, violadas. Caso fosse admitida a afronta aos princípios

sob este ou aquele pretexto, estar-se-ia constituindo um perigoso precedente em

desfavor dos cidadãos brasileiros.

Dessas considerações retira-se que o referido parágrafo acrescentado ao

artigo 515 do CPC não violou os princípios do juiz natural e do duplo grau de

jurisdição, devendo, desta forma, ser observado como um instrumento útil para a

efetividade dos princípios da celeridade e da economia processual, consoante prevê

o inciso LXXVIII do art. 5º da CRFB c/c o art. 516 do mesmo diploma processual

civil.

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CONCLUSÃO

O presente trabalho de iniciação científica teve como objetivo principal

analisar a possibilidade de afronta aos princípios do juiz natural e do duplo grau de

jurisdição no que se refere à expansão do efeito devolutivo no recurso de apelação,

decorrência da nova disciplina do § 3º do art. 515 do CPC.

Em face de todos os argumentos apresentados ao longo desta pesquisa,

amparados pelo referencial teórico escolhido, aí compreendidos doutrina

entendimentos jurisprudenciais e textos legais, é possível extrair algumas

conclusões acerca do tema abordado no trabalho.

No direito processual civil há diversos princípios que norteiam a fase

recursal, quais sejam o duplo grau de jurisdição, o juiz natural, a taxatividade, a

singularidade, a fungibilidade, a dileticidade, a voluntariedade, a

complementariedade, a proibição da reformatio in pejus e a consumação. Todavia,

cabe destacar o princípio do duplo grau de jurisdição, uma vez que com a inclusão

do § 3º do art. 515 do CPC houve a flexibilização do referido princípio.

Para entender a expansão do efeito devolutivo no recurso de apelação, é

preciso compreender os recursos em geral, sendo mister, para tanto, perscrutar o

conceito, a classificação, quais são os atos processuais sujeitos a recurso, o juízo de

admissibilidade e o juízo de mérito, e a tutela antecipada no procedimento recursal.

Além disso, é necessário analisar os efeitos atinentes a este recurso e os

pressupostos para a aplicação do dispositivo. Ou seja, a causa deve versar

exclusivamente sobre matéria de direito e o processo deve estar em condição de

imediato julgamento.

Pois bem. Tendo como pano de fundo o estudo dos recursos em geral, para

a investigação da problemática definida na presente pesquisa foram suscitadas duas

teses referentes ao § 3º do art. 515 do CPC.

A primeira tese, como entende parte da doutrina, alude a que o referido

dispositivo legal afronta os princípios do duplo grau de jurisdição e do juiz natural,

visto que admite ao órgão ad quem adentrar a análise merital nos processos em que

207 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Quinta Turma. Recurso Especial nº 756.844. Santa Catarina. Julgado em 15 de setembro de 2005. Disponível em: <http://www.stj.jus.br/SCON/pesquisar.jsp>. Acesso em: 23 ago. 2009.

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o juízo a quo julgar sem resolução do mérito. Logo, o juízo colegiado não poderia

julgar o mérito das sentenças terminativas prolatadas pelo juízo singular, dando

possibilidade de um segundo julgamento. Isso porque, a apelação não devolve aos

tribunais o conhecimento da matéria estranha ao âmbito do julgamento do órgão a

quo. Deste modo, quando se tratar de sentença terminativa (CPC, art. 267), isto é,

sentença sem exame do mérito, não é lícito ao órgão ad quem passar incontinenti à

resolução deste, no caso de ser provido o recurso de apelação.

A segunda tese afirma veementemente que o referido parágrafo não afronta

os princípios do duplo grau de jurisdição e do juiz natural, desde que já estejam nos

autos todos os elementos de prova satisfatórios à análise do pedido formulado pela

parte autora em sua peça inicial e a causa versar sobre matéria unicamente de

direito. Atualmente, como se pôde observar, prevalece esta tese na doutrina e na

jurisprudência.

Convém destacar que as alterações trazidas pela denominada “reforma da

reforma” teve por objetivo tornar mais rápida a prestação jurisdicional. Ou seja, a

nova legislação buscou dar prosseguimento ao desígnio de fazer do processo um

instrumento hábil a proporcionar aos litigantes solução célere das questões de

mérito levadas a juízo, sem denegrir direitos fundamentais de amplo acesso aos

vários órgãos jurisdicionais e à produção de provas.

A necessidade de dar maior celeridade nas demandas justifica perfeitamente

o julgamento da ação pela instância superior no mérito a fundo. Dessa forma, para

essa outra parte da doutrina e da jurisprudência, a inserção do § 3º do artigo 515 do

CPC está em prol da rapidez da entrega na prestação jurisdicional.

Por derradeiro, com base na pesquisa realizada, bem se vê que não são

poucas as dúvidas e as polêmicas que cercam a matéria. Contudo, evidencia-se

certa unanimidade entre os estudiosos: a busca por um processo mais célere e

efetivo é atitude necessária e, por isso mesmo, louvável a intenção do legislador ao

buscar introduzir modificações na legislação processual brasileira, com vistas a

diminuir a morosidade pública e notória dos processos.

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REFERÊNCIAS

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