as eleições de 2008: o impacto no quadro político-partidário · partidário brasileiro diz...

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1 As eleições de 2008: o impacto no quadro político-partidário Maria do Socorro Sousa Braga 1 Professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Introdução Nas democracias representativas, os partidos políticos são instituições cuja singularidade advém do ambiente específico de atuação, isto é, somente os partidos atuam na arena eleitoral competindo por votos (Panebianco: 2005), visando a alcançar as arenas decisórias. Logo, um dos aspectos cruciais para se avaliar o sistema partidário brasileiro diz respeito à sua capacidade de estruturar a competição partidária. E, no que diz respeito aos partidos, cabe investigar o seu papel como agentes que organizam esse processo eleitoral. Mais especificamente, o foco da análise deve ser direcionado para as estratégias eleitorais e cálculos de oportunidades arquitetados pelos dirigentes partidários sobre eleitores e quadro de filiados. Mas a preocupação deste artigo tem menos a ver com a ação das lideranças partidárias no recrutamento político para diminuir a incerteza eleitoral e garantir a sobrevivência do partido no sistema político do que com o impacto no eleitorado. Desse modo, a principal indagação deste artigo é: em que medida os partidos brasileiros estão orientando os cidadãos na decisão do voto? Para isso, primeiramente examinamos a taxa de apoio dos eleitores aos partidos políticos, quando foram investigados os indicadores de participação eleitoral nas eleições municipais ocorridas no período de 1996 a 2008. Em seguida, tratamos de analisar em que medida a tendência de concentração das preferências eleitorais em alguns partidos está levando a uma lógica centralizadora nos principais atores partidários nacionais também no que diz respeito ao controle do poder em nível local. E, por fim, para desvendar possíveis movimentos de posicionamento entre os partidos no interior de cada região e, especificamente, na região Nordeste, as eleições de 2008 são comparadas às ocorridas em 2004. Na última seção são feitas as considerações finais. 1 Doutora pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo. Concentra suas pesquisas nas áreas de Partidos e Eleições e Comportamento Político-Eleitoral. Publicou o livro O Processo Partidário-Eleitoral Brasileiro: Padrões de Competição Política 1982-2002 . (2006, Humanitas/Fapesp) e organizou com Maria D`Alva KINZO (2007) Eleitores e Representação Partidária no Brasil . (Humanitas/CNPq).

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As eleições de 2008: o impacto no quadro político-partidário

Maria do Socorro Sousa Braga1 Professora do Departamento de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação

em Ciência Política da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Introdução

Nas democracias representativas, os partidos políticos são instituições cuja singularidade advém do ambiente específico de atuação, isto é, somente os partidos atuam na arena eleitoral competindo por votos (Panebianco: 2005), visando a alcançar as arenas decisórias. Logo, um dos aspectos cruciais para se avaliar o sistema partidário brasileiro diz respeito à sua capacidade de estruturar a competição partidária. E, no que diz respeito aos partidos, cabe investigar o seu papel como agentes que organizam esse processo eleitoral. Mais especificamente, o foco da análise deve ser direcionado para as estratégias eleitorais e cálculos de oportunidades arquitetados pelos dirigentes partidários sobre eleitores e quadro de filiados. Mas a preocupação deste artigo tem menos a ver com a ação das lideranças partidárias no recrutamento político para diminuir a incerteza eleitoral e garantir a sobrevivência do partido no sistema político do que com o impacto no eleitorado. Desse modo, a principal indagação deste artigo é: em que medida os partidos brasileiros estão orientando os cidadãos na decisão do voto?

Para isso, primeiramente examinamos a taxa de apoio dos eleitores aos

partidos políticos, quando foram investigados os indicadores de participação eleitoral nas eleições municipais ocorridas no período de 1996 a 2008. Em seguida, tratamos de analisar em que medida a tendência de concentração das preferências eleitorais em alguns partidos está levando a uma lógica centralizadora nos principais atores partidários nacionais também no que diz respeito ao controle do poder em nível local. E, por fim, para desvendar possíveis movimentos de posicionamento entre os partidos no interior de cada região e, especificamente, na região Nordeste, as eleições de 2008 são comparadas às ocorridas em 2004. Na última seção são feitas as considerações finais.

1 Doutora pelo Departamento de Ciência Política da Universidade de São Paulo. Concentra suas pesquisas nas áreas de Partidos e Eleições e Comportamento Político-Eleitoral. Publicou o livro O Processo Partidário-Eleitoral Brasileiro: Padrões de Competição Política 1982-2002. (2006, Humanitas/Fapesp) e organizou com Maria D`Alva KINZO (2007) Eleitores e Representação Partidária no Brasil. (Humanitas/CNPq).

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1. Participação Eleitoral e Vínculos Partidários

Como será que o eleitorado brasileiro vem votando? Qual é a taxa de participação nas eleições locais? Mais especificamente, qual é o percentual de eleitores que vota em algum partido? Quais são os partidos preferidos entre esses eleitores?

De acordo com as informações da Tabela 1, no período entre as eleições

municipais de 1996 e 2008, em média, 85% do eleitorado brasileiro participou daqueles pleitos locais. Como podemos ver, a menor taxa de comparecimento foi observada em 1996, ficando abaixo da média nacional, e a mais alta foi alcançada em 2004, chegando a quase 86% dos eleitores. Em contraste, em média, 16% do eleitorado optou por não participar dessas eleições, abstendo-se, mesmo com a continuidade da obrigatoriedade do voto.

Fonte: TSE Entre outros indicadores relevantes para avaliarmos como o eleitor vem

participando das eleições estão as taxas de votos nulos e brancos. Como podemos verificar, ainda na Tabela 1, as duas formas de manifestação política em nível municipal alcançaram a mesma média, ou seja, 4%. Taxa inquestionavelmente pequena quando comparada às obtidas para as disputas para a Câmara dos Deputados — 9,4% e 14,3%, respectivamente.

Essas informações começam a nos mostrar que a maioria dos eleitores

brasileiros que vêm optando por comparecer às urnas nas eleições locais tem cada vez mais orientado seu voto para uma das alternativas partidárias. Um indicador mais apropriado para verificar em que medida os partidos estão estruturando as escolhas eleitorais é a taxa de votos válidos, isto é, o somatório de todos os votos dados às legendas e candidatos a vereador. Os dados da Tabela 1 revelam que entre esses eleitores essa taxa chegou, em média, a 92% no período analisado. Vale ainda ressaltar que essa taxa somente foi menor que a média nacional nas eleições de 1996, quando agregou quase 87% das preferências eleitorais. A taxa mais alta foi obtida em 2004, chegando a quase 95% dos eleitores que compareceram àquele pleito.

Tabela 1 - Dados gerais sobre a participação eleitoral, Câmara de Vereadores, Brasil 1996 – 2008 Ano eleitorado Votantes Abstenção votos brancos votos nulos votos válidos

N % N % N % N % N %

1996 99.300.826 81.104.893 81,7 18.196.004 8,3 6062462 7,5 4.900.658 6 70.137.241 86,5

2000 108.493.400 92.230.142 85 16.262.386 15 2648986 2,9 2.959.893 3,2 86.621.520 93,9

2004 119.818.378 102.815.156 85,8 17.003.222 14,2 2524545 2,5 3.016.812 2,9 97.270.708 94,6

2008 128.806.592 110.085.191 85,5 18.721.401 14,5 3.958.805 3,6 4.107.582 3,8 101.928.804 92,6

Média 85 16 4 4 92

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Resta identificarmos quais sãos os partidos mais eficientes em suas estratégias eleitorais sobre os eleitores. Em outras palavras, quais sãos os partidos preferidos pelos cidadãos na hora de votar? A Tabela 2 mostra a distribuição de votos recebidos pelos partidos na disputa para a Câmara dos Vereadores ao longo do período investigado. Os partidos foram organizados em grandes (aqueles com mais de 7% dos votos), médios (de 4% até 7% dos votos) e pequenos e nanicos (menos de 4% dos votos), conforme a média dos sufrágios obtidos no período estudado. Devido ao seu grande número, os partidos pequenos em cada pleito foram separados em dois grupos: PPD (partidos pequenos de direita) e PPE (partidos pequenos de esquerda) 2.

Tabela 2 Distribuição dos votos a vereador, Brasil 1996 – 2008

1996 2000 2004 2008 Média

PMDB 15,5 13,4 11,4 11,8 13,0 PSDB 12,8 11,4 11,3 10,5 11,5 PFL/DEM 12,7 12 10,7 7,9 10,8 PPB/PP 12,4 9,2 7,5 7,1 9,1 PDT 8,4 6,8 6,3 6,6 7,0 PT 7,6 9,4 10,7 10,3 9,5 PTB 7,4 8 7 6,2 7,1 PL/PR 5,4 5,1 6,3 5,3 5,5 PSB 3,1 4,2 4,6 5,9 4,4 PPS 1,4 4,8 5,4 4,3 4,0 PPD* 9,9 9,1 12,4 15,4 11,7 PPE** 4,8 5,6 6,1 8,6 6,3 Total de partidos em cada pleito 30 30 27 27

Fonte: Dados brutos retirados de Nicolau, J. www.iuperj.br e TSE. * Partidos Pequenos de Direita (PSD, PSC, PRP, PSL, PTdoB, PST, PRONA, PTN, PAN, PGT, PRN, PRTB, PSN, PSDC) ** Partidos Pequenos de Esquerda (PMN, PV, PC do B, PCB, PCO, PSTU)

Como podemos verificar, apesar do alto número de partidos nominais que participaram dos pleitos analisados, apenas sete deles conseguiram apresentar volume de votos nacionais, em média, acima de 7%: PMDB, PSDB, PFL/DEM, PT, PPB/PP, PDT e PTB. Juntos, esses partidos concentraram quase 56% das preferências eleitorais nas eleições municipais de 2008, o que mostra que os partidos com mais tempo de vigência no sistema partidário atual alcançaram maior êxito em suas estratégias eleitorais sobre o eleitorado nacional. Entre esses partidos, o PMDB e seus respectivos candidatos a vereador receberam o maior apoio eleitoral ao longo do período examinado, ficando com 13,5%, em média. Logo em seguida vem o PSDB, com 11,5%, e o PFL/DEM, com 10,8% dos votos nacionais. O PT ocupa a quarta posição entre os partidos mais apoiados pelo eleitorado nacional, alcançando 9,5% desses votos. Praticamente na mesma posição vem o PP, com 9,0%. Por último estão o PDT e o PTB, com 7%, respectivamente, das preferências eleitorais.

2 Os partidos pequenos e nanicos foram classificados ideologicamente segundo critérios adotados pelos estudos de Limongi & Figueiredo, 1999.

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É importante salientar ainda que, apesar de se constituírem nos partidos mais

votados pelo eleitorado brasileiro, a maior parte deles apresenta trajetória declinante, chegando em 2008 com a menor taxa de apoio eleitoral já obtida desde 1996. Em contraste, a taxa de adesão ao PT manteve-se crescente em quase todo o período, ficando praticamente estável nas últimas eleições analisadas.

As explicações possíveis para o declínio da votação daqueles maiores partidos

estão relacionadas tanto com o crescimento do PT quanto com o aumento da votação do PSB e do PPS, bem como de partidos pequenos e nanicos, particularmente os de direita e, em menor proporção, os de esquerda. Entre os partidos nanicos, os partidos pequenos de direita (PPD) alcançaram o maior volume de apoio nas eleições de 2008, alcançando um pouco mais de 15% das preferências eleitorais. Já os partidos pequenos de esquerda (PPE) obtiveram, também no mesmo pleito, a maior taxa de adesão, ou seja, quase 9%. Mas a diferença maior entre esses dois grupos de partidos é percebida quando comparadas as médias de votação obtidas no período analisado. Como podemos ver, os PPD alcançaram quase o dobro do apoio eleitoral recebido pelos PPE, ou seja, 11,7% contra 6,3%. Esse volume muito maior de votos se deve, em boa medida, à variável “número de partidos de cada bloco,” pois os PPD somam 14 partidos e os PPE apenas 6.

Uma vez finalizada esta apresentação dos partidos com maior apoio eleitoral

dos cidadãos brasileiros, vamos examinar, na seção seguinte, em que sentido a tendência de concentração dessas preferências eleitorais afeta tanto o poder dos partidos em termos da proporção de cargos alcançados quanto o perfil das regiões geográficas controladas por essas forças partidárias. 2. Governismo e centralização do poder local nos principais atores partidários: as eleições de 2008

As eleições de 2008 constituem o sexto ciclo eleitoral municipal desde a

redemocratização do País, em 1985. Participaram daquele pleito 27 partidos, os quais disputaram os cargos eletivos de 5.563 cidades brasileiras em um contexto político nacional marcado, por um lado, pelos altos índices de popularidade do governo federal, e, por outro lado, pelo bom desempenho da economia nacional e internacional. Como os cidadãos votaram nessa conjuntura? Qual foi o desempenho dos partidos governistas na esfera nacional e qual o desempenho dos partidos oposicionistas? Os partidos acima identificados como os atores que vêm concentrando a maior parte das preferências eleitorais nas cidades brasileiras se mantiveram nessas eleições centralizando o poder no âmbito local?

A Tabela 3 apresenta a distribuição dos votos e do número de prefeituras e

cadeiras conquistados por cada partido, segundo seu posicionamento em relação ao governo federal.

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Tabela 3 Desempenho dos Partidos nas eleições de 2008 por posicionamento em relação ao

governo federal (%), Brasil Prefeituras

conquistadas Votos

obtidos

Cadeiras conquistadas

Votos obtidos

(VV +VL) Partidos Governistas

PT 10 16,6 8 10,3 PMDB 22 18,6 16,4 11,8 PP 9,7 6,2 10 7,1 PTB 7 5,1 8 6,2 PR 7 4,3 7 5,3 PSB 6 5,7 6 5,9 PDT 6 6,1 7 6,6 PCdoB 1 1,8 1 2,1 Outros partidos

2 4,1 4 6,8

Total 71 68,4 70 61,3 Partidos da Oposição

PSDB 14 14,5 11 10,5 DEM 9 9,4 9 7,9 PPS 2 2,8 4 4,3 Outros partidos

4 4,8 6 12,3

Total 29 31,6 30 38,7 Fonte: Elaboração da autora com dados brutos do TSE.

De acordo com os dados da tabela, entre os cidadãos que decidiram votar em

uma das opções partidárias nas eleições para as prefeituras, mais de 68% escolheram votar em um dos partidos que compõem a coalizão governamental. Entre os 14 partidos governistas, o PMDB foi o mais votado, conquistando quase 19% dos votos válidos. Já o PT ficou em segundo lugar, com aproximadamente 17% dos votos. Bem mais abaixo vieram o PP e o PDT com apenas 6%, respectivamente.

Em contrapartida, cerca de 32% dos eleitores optaram por uma das

agremiações oposicionistas. Entre esses partidos, o PSDB foi o mais cotado, obtendo quase 15% dos votos. Em seguida ficou o DEM, com um pouco mais de 9% dos votos.

Sendo assim, em termos de votos recebidos por partido, em âmbito nacional,

manteve-se a lógica centralizadora dos principais atores partidários, ou seja, esses partidos continuaram concentrando as maiores parcelas das preferências eleitorais, independentemente do posicionamento em relação ao governo federal. Note que, enquanto dois partidos governistas ficaram em primeiro e segundo lugar, PMDB e PT, respectivamente, a terceira e quarta posições foram conseguidas pelos dois partidos da oposição, o PSDB e o DEM. E a quinta colocação ficou com o PP. Ou seja, os cinco maiores partidos brasileiros controlam a maior parte do eleitorado, pois juntos agregaram 65% das preferências eleitorais no pleito de 2008. Essa centralização dos principais atores partidários, por sua vez, revela que são as estratégias eleitorais utilizadas por suas elites partidárias sobre o eleitor que estão sendo mais eficientes na estruturação do voto.

Quando avaliamos o resultado dessas eleições levando em conta o número de

prefeituras conquistadas, essa constatação fica ainda mais evidente. Os dados mostram que foram os partidos governistas que venceram aquelas eleições, elegendo

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71% dos prefeitos. Os partidos oposicionistas ficaram apenas com 29% das administrações locais. No entanto, a avaliação do êxito dos partidos individualmente revela que, enquanto o PMDB foi o partido com maior número de prefeituras, 22%, o PSDB ficou na segunda posição, com 14%. Somente depois vem o PT, com 10% das prefeituras. Logo em seguida ficou o PP, com 9,7% e o DEM, com apenas 9%. No âmbito nacional, esses cinco partidos concentraram quase 65% das prefeituras.

Em relação às disputas para as Câmaras Municipais, observamos o mesmo

fenômeno da concentração das preferências eleitorais nos partidos já identificados nas competições pelas prefeituras. No entanto, verifica-se que, apesar de os partidos governistas terem vencido também nessas eleições, há menor diferença entre os desempenhos dos dois grupos de partidos. Os dados mostram que, enquanto os partidos governistas conquistaram 61% das preferências eleitorais, os partidos oposicionistas alcançaram quase 39% do eleitorado nacional. Em termos do desempenho por partido, verifica-se que novamente o PMDB foi o partido com a maior taxa de preferência entre os eleitores, ficando com 12% dos votos. O PSDB ficou em segundo, com 10,5%. Logo depois ficaram PT, com 10% e o DEM, com 8% dos votos. Em quinto lugar vem o PP, com 7% dos votos nacionais. Juntos, esses cinco partidos concentraram quase 42% das preferências eleitorais em todo o país.

Em relação às cadeiras legislativas, as diferenças no desempenho entre os

dois grupos de partidos aumentam consideravelmente, o que se deve, em grande medida, aos efeitos do sistema eleitoral na conversão dos votos em cadeiras. Como podemos observar, os partidos governistas ficaram com 70% das cadeiras em todo o país, enquanto os partidos oposicionistas agregaram 30%. Individualmente, o PMDB foi novamente o partido vitorioso, logrando 16% das cadeiras legislativas. O PSDB ficou na segunda posição, com 11%, mas foi o PP, com 10%, que assegurou a terceira maior bancada de vereadores do país. Já o DEM, com 9%, assegurou a quarta posição, e o PT, apesar da terceira mais alta votação, ficou com a quinta colocação, com apenas 8% das cadeiras legislativas. Esses cinco partidos passaram a controlar quase 55% das cadeiras legislativas municipais em todo o país.

Finalmente, a Tabela 4 descreve a trajetória do desempenho dos partidos nas

disputas pelas prefeituras de 1982 até as eleições de 2008 visando a verificar como estão situadas as principais forças partidárias na esfera municipal ao final do último pleito realizado.

Tabela 4 Distribuição de Prefeitos eleitos por porte de partido, 1982-2008 (%)

1982 1985 1988 1992 1996 2000 2004 2008 Partidos grandes PMDB 34,9 63,2 37,5 33,7 24,1 22,6 19,1 21,5 PDS/PPR/PPB/PP 64,3 10,9 10,4 7,6 11,6 11,1 9,9 9,9 PFL/DEM 12,4 24,7 20,3 17,4 18,5 14,2 8,9 PSDB 0,4 6,7 17,1 17,8 15,7 14,0 PT 0,1 0,5 0,9 1,1 2,0 3,4 7,4 10,0 Partidos médios PTB 0,2 6,0 7,7 6,4 7,1 7,2 7,6 7,0 PDT 0,6 6,5 4,5 7,9 8,1 5,2 5,5 6,2 PSB 0,5 0,9 1,0 2,8 2,4 3,1 6,0 PL/PR 5,6 3,5 4,1 4,2 6,9 7,0 Partidos pequenos* 2,9 7,4 5,0 6,7 9,4 4,0

Fonte: Dados obtidos no TSE e Nicolau, 2004 *Todos os 19 partidos.

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De acordo com os dados, as informações mais importantes a destacar em relação aos maiores partidos são: 1) o contínuo crescimento do PT, sendo este mais acelerado entre as eleições de 2004 e 2008, período que coincide com a administração petista no governo federal. Seu crescimento passou de 0,1% prefeitos em 1982 para 7,4% em 2004 e 10% em 2008; 2) crescimento mais vigoroso do PSDB, que passou de 0,4% em 1988 para 14% em 2008. Observa-se que, também no caso do PSDB o maior número de administrações municipais sob seu controle foi encontrado no período em que governou a Presidência da República; 3) o declínio mais acentuado do PDS/PP e do PMDB. Enquanto o PDS/PP caiu de 64%, em 1982, para quase 10%, em 2008, o PMDB caiu de 34% para quase 22% nas últimas eleições. Já o PFL/DEM também apresenta declínio, embora menos acentuado, quando observado em sua trajetória desde 1985, passando de 12,4% para quase 9%, em 2008.

Já entre os partidos médios a principal observação é o seu contínuo e gradual

crescimento. O PTB aumentou de 0,2%, em 1982, para 7%, em 2008. Já o PDT passou de 0,6% para 6% no mesmo período. O PSB apresentou um crescimento mais acentuado nas últimas eleições, enquanto o PL/PR vem mantendo razoável estabilidade nas administrações municipais. No que diz respeito aos partidos pequenos, verifica-se leve crescimento ao longo do período analisado.

Visto como ficou o quadro partidário depois das eleições de 2008 e como os

cidadãos vêm orientando o seu voto pelo país, a seguir será investigado onde os partidos obtiveram maior apoio dos eleitores. Para isso serão avaliadas as administrações locais eleitas por região geográfica, porte de municípios e também pelo perfil social indicado pelo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). As eleições de 2008 serão comparadas às de 2004, objetivando também verificar possíveis movimentos de posicionamento dos partidos no interior de cada região e, mais especificamente, na região Nordeste. 3. A distribuição geográfica do desempenho dos partidos: perdas e ganhos de posição

Em quais regiões os principais partidos tiveram maior apoio do eleitorado? Qual é o perfil dessas regiões geográficas? E, em cada região, qual é o perfil social e o tamanho das cidades que cada um dos principais partidos conseguiu agregar as maiores parcelas das preferências eleitorais e eleger o seu candidato a prefeito? Essas são as principais indagações que nos move nessa parte deste trabalho.

Para verificar em quais regiões geográficas cada partido teve maior êxito em

suas estratégias eleitorais sobre o eleitorado, elaboramos o Quadro 1, que informa a distribuição do número de cidades em que os partidos elegeram seus prefeitos.

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Quadro 1 Distribuição do número de cidades eleitas por partido e região geográfica (%)

2008 REGIAO

NORTE CENTRO OESTE NORDESTE SUDESTE SUL Total

PMDB 27 23 19 15 33 22

PSDB 10 15 11 23 8 14

PT 14 9 8 11 11 10

PP 5 15 7 6 20 10

DEM 9 9 9 11 6 9

PTB 6 3 10 8 5 7

PR 13 15 7 6 2 7

PDT 4 3 7 5 9 6

PSB 3 2 12 3 2 6

PPS 2 3 1 4 2 2

PV 1 0 1 2 0 1

PSC 1 1 1 1 0 1

PRB 0 0 2 1 1

PMN 0 0 1 1 0 1

PCdoB 0 2 0 0 1

PRP 0 0 1 0 0 0

PSL 0 0 0 0 0

PTN 1 1 0 0

PHS 0 0 0 0 0

PTC 0 1 0

PRTB 0 0 0 0 0 0

PSDC 1 0 0 0

PTdoB 0 0 0

100 100 100 100 100 100 Fonte: Dados brutos do TSE.

Uma primeira observação importante dos dados analisados diz respeito à participação dos partidos maiores e médios em todas as disputas eleitorais ocorridas nas cinco regiões geográficas do país. Como podemos ver, esses partidos elegeram seus prefeitos em todas essas regiões. Já os partidos pequenos, quando elegem algum prefeito, o fazem em um número restrito de regiões.

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Entre os maiores partidos, o PMDB teve maior êxito em suas estratégias eleitorais sobre o eleitorado das regiões Sul, seu tradicional reduto, Norte e o Centro-Oeste. Cabe ainda destacar que o PMDB ainda se mantém como o partido mais forte da região Nordeste. O PSDB manteve-se concentrando as preferências eleitorais dos eleitores residentes em estados da região Sudeste. Nas demais regiões, o partido teve uma distribuição mais equilibrada. Já o PT apresenta uma distribuição razoavelmente equânime pelas regiões, tendo uma taxa um pouco maior de eleitos na região Norte e a menor no Nordeste. Em contrapartida, o PP se manteve elegendo mais prefeitos em estados da região Sul, onde ainda concentra as maiores parcelas do eleitorado. Em seguida vem a região Centro-Oeste. Nas demais, apresenta distribuição bem mais baixas e muito próximas. É digno de nota sua reduzida taxa de eleitos na região Sudeste, onde a cada eleição vem diminuindo seu espaço. Parte desse espaço está sendo preenchido pelo DEM. Como podemos observar, é na região Sudeste que os Democratas conseguiram eleger o maior número de candidatos. E a mais baixa é justamente na região Sul. Entre as demais regiões, esse partido apresenta o mesmo desempenho.

A distribuição geográfica do desempenho dos partidos médios revela que a

maioria apresenta maiores êxitos em suas estratégias eleitorais em determinada região do país. O caso mais consistente é o do PSB. Como podemos ver, somente na região Nordeste esse partido elegeu 12% dos prefeitos. Nas demais regiões, teve percentuais quatro vezes menores. Já o PDT apresenta uma distribuição de prefeitos eleitos mais concentrada na região Sul, antigo reduto pedetista e, em seguida, nas cidades do Nordeste. Outro partido médio mais forte no Nordeste é o PTB, onde teve a sua mais alta taxa de prefeitos eleitos. A segunda região é o Sudeste. Vê-se, portanto, que os petebistas vêm perdendo cada vez mais espaço nos estados do Sul, onde já possuiu consistente visibilidade, especialmente no Rio Grande do Sul. Já o PR concentrou seus melhores desempenhos nas regiões Norte e Centro-Oeste.

Finalmente, para os partidos pequenos, embora estejam ausentes em grande

parte das regiões, verifica-se maior incidência de seus prefeitos nas regiões Nordeste e Sudeste. Qual será o tamanho das cidades em que esses partidos conseguiram eleger seus candidatos?

Em relação ao porte dos municípios, elaboramos o Quadro 2, no qual pode ser

verificado o tamanho da população que vai ser governada por cada força partidária e, ao mesmo tempo, ser feita uma avaliação dos municípios em que os partidos estão concentrando maiores preferências eleitorais. Para isso, classificamos as cidades, segundo parâmetros do IBGE, nas seguintes faixas, de acordo com o quadro a seguir: até 10 mil e de 10 a 20 mil habitantes em cidades pequenas; de 20 a 100 mil em cidades médias; e mais de 100 mil habitantes em cidades grandes. Como podemos constatar, a maior parte dos nossos municípios são pequenos, representando 72%, sendo 23% médios e apenas 5% grandes.

PORTE POPULACIONAL

Frequency Percent Valid Percent Cumulative

Percent Até 10 mil 2601 47 47 47

De 10 a 20 mil 1403 25 25 72 de 20 a 100 mil 1307 23 23 95 mais de 100 mil 252 5 5 100

Total 5563 100 100 Fonte: Dados brutos do IBGE.

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Quadro 2

Distribuição do número de prefeitos eleitos por partido e porte de município, Brasil, (%) 2008

Partido Porte do município

Até 10 mil De 10 a 20 mil de 20 a 100 mil mais de 100 mil Total PMDB 23 22 20 19 22 PSDB 14 14 15 15 14 PT 8 9 12 23 10 PP 12 9 9 5 10 DEM 10 8 8 9 9 PTB 8 7 7 4 7 PR 7 8 7 4 7 PDT 6 6 7 8 6 PSB 5 6 6 6 6 PPS 2 2 3 1 2 PV 1 1 2 3 1 PSC 1 1 1 1 1 PRB 1 2 1 0 1 PMN 1 1 1 1 PCdoB 0 1 1 2 1 PRP 0 1 0 0 PSL 0 0 0 0 PTN 0 0 0 0 PHS 0 0 0 0 PTC 0 0 0 0 PRTB 0 0 0 0 PSDC 0 0 0 0 PTdoB 0 0 0 0 Total 100 100 100 100 100

*População estimada 2008 (IBGE)

De acordo com os dados do Quadro 2, o PMDB elegeu a maior parte de seus prefeitos nos municípios de pequeno e médio porte, embora tenha aumentado consideravelmente seu poder político em todas as categorias de tamanho de municípios. Já o decréscimo do poder político do PSDB nas eleições para as prefeituras foi mais forte nas cidades grandes e médias, mantendo-se relativamente estável nos municípios pequenos.

Nas eleições de 2008, verifica-se que o PT continuou aumentando seu poder

político em direção crescente das cidades pequenas às grandes. Nessas últimas

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observa-se que os petistas ampliaram ainda mais sua vantagem em relação às demais forças partidárias, elegendo o maior percentual de prefeitos. Já o PP manteve a concentração de seus melhores êxitos nas cidades pequenas, teve um pequeno aumento nas cidades grandes e apresentou o mesmo desempenho nas cidades médias. O PFL/DEM, por sua vez, teve seu poder político mais fortemente reduzido nas cidades médias.

Outro dado relevante para demonstramos a lógica centralizadora dos principais

atores partidários, também no âmbito local, é a alta concentração das maiores cidades governadas por apenas três dos cinco partidos considerados como os mais relevantes do sistema partidário da atualidade: PSDB, PMDB e PT. Juntos, esses partidos governam 88% das cidades médias e grandes.

Entre os partidos médios, o PTB e o PR foram os partidos que apresentaram

os menores percentuais de prefeitos eleitos nas cidades grandes e se mantiveram praticamente estáveis nas demais faixas. Já o PDT e o PSB obtiveram um leve aumento, particularmente, nas cidades médias. No entanto, enquanto os pedetistas continuaram praticamente governando a mesma parcela do eleitorado das cidades pequenas e grandes, os peessebistas diminuíram seu poder político nos municípios grandes.

Os pequenos partidos tiveram maior êxito eleitoral entre os eleitores que

residem em cidades nas faixas entre 10 mil a 20 mil habitantes e 20 mil a 100 mil habitantes, ou seja, cidades médias.

Visto em quais portes de cidades os partidos obtiveram maior sucesso em suas

estratégias eleitorais ao elegerem seus candidatos a prefeito, a seguir recorremos ao Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) para, mesmo que brevemente, caracterizarmos o perfil socioeconômico desses municípios. O IDH é uma medida comparativa que engloba três dimensões: riqueza, educação e esperança média de vida. Trata-se de uma maneira padronizada de avaliação e medida do bem-estar de uma população3. O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento humano total), sendo os municípios classificados deste modo:

Quando o IDH de um município está entre 0 e 0,499, é considerado baixo. 3 Para calcular o IDH de uma localidade, faz-se a seguinte média aritmética:

(onde L = Longevidade, E = Educação e R = Renda)

nota: pode-se utilizar também a renda per capita (ou PNB per capita). Legenda: EV = Esperança média de vida; TA = Taxa de Alfabetização; TE = Taxa de Escolarização; log10PIBpc = logaritmo decimal do PIB per capita.

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Quando o IDH de um município está entre 0,500 e 0,799, é considerado médio. Quando o IDH de um município está entre 0,800 e 1, é considerado alto.

De acordo com o quadro a seguir, que descreve as estatísticas básicas do IDH

utilizado para analisar as eleições de 2008, 15% das cidades brasileiras examinadas apresentam IDH considerado baixo, enquanto 74% são consideradas como tendo IDH médio e, apenas 10% das cidades possuem IDH alto.

INDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO 2000

Frequency Percent Valid Percent Cumulative

Percent até 0,6 860 15 16 16

0,6 a 0,7 1666 30 30 46 0,7 a 0,8 2422 44 44 90

mais de 0,8 556 10 10 100 Total 5504 99 100 Missing System 59 1

Total 5563 100 Fonte: dados brutos do IBGE. Os dados do Quadro 3 informam que, entre os partidos mais relevantes, o

PMDB é o que concentra o maior pecentual de prefeituras eleitas com os IDH considerados altos, ou seja, com uma população apresentando os melhores indicadores de bem-estar social. No entanto, a maioria das cidades administradas pelos peemedebistas a partir das eleições de 2008 possui um IDH médio, perfazendo 43% das cidades.

O PSDB elegeu a maior parte de seus prefeitos em cidades com IDH médios e

altos. O mesmo ocorre com o PT, embora esse partido apresente uma distribuição mais homogênea entre as faixas de médio e alto IDH, decrescendo gradativamente em direção às cidades com baixo IDH. Vale ressaltar que, entre os maiores partidos, o PT é o que apresenta o menor número de representantes nessas cidades. O PP é outro partido com alta concentração de prefeitos eleitos em cidades com IDH médio e alto. Já o DEM apresenta a distribuição dos prefeitos eleitos mais homogênea entre as taxas de IDH.

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Quadro 3 Distribuição do número de prefeitos eleitos por partido e IDH, (%) 2008

Partido Índice de Desenvolvimento Humano Municipal 2000*

até 0,6 0,6 a 0,7 0,7 a 0,8 mais de 0,8 Total

PMDB 19 21 22 26 22

PSDB 12 12 17 15 14

PT 7 10 11 12 10

PP 8 7 12 14 10

DEM 8 9 9 8 9

PTB 11 8 6 6 7

PR 7 9 7 2 7

PDT 8 6 6 7 6

PSB 10 8 3 3 6

PPS 1 2 3 3 2

PV 2 1 1 2 1

PSC 1 1 1 1 1

PRB 2 2 1 1

PMN 2 1 0 0 1

PCdoB 2 1 0 1

PRP 0 1 0 0

PSL 0 0 0 0 0

PTN 0 0 0

PHS 0 0 0 0

PTC 0 0 0

PRTB 0 0 0 0

PSDC 0 0 0 0 0

PTdoB 0 0 0 0

100 100 100 100 100

*Fonte: Pnud ** Há diferenças nos percentuais com as demais tabelas, pois não foram encontrados os IDHs de 59 municípios

Fonte: Dados brutos do TSE.

Em relação aos partidos médios, verifica-se que o PTB e o PSB são os partidos que elegeram mais prefeitos em cidades com IDH baixos, ou seja, com os menores índices de bem-estar da população. Já o PR teve mais apoio eleitoral entre os eleitores de cidades com IDH médios, enquanto o PDT, embora também agregue maior número de prefeitos nessas cidades, apresenta distribuição mais equânime das prefeituras eleitas pelas demais faixas de IDH.

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Por fim, os partidos pequenos elegeram a maior parcela de seus prefeitos em

cidades com baixo IDH. Em resumo, a comparação das cidades governadas por esses três blocos de

partidos revela que os maiores partidos ainda tendem a concentrar a maioria das preferências eleitorais das cidades grandes e médias e com os IDH altos, resultando na centralização do poder local nessas elites partidárias. Já a maior parte dos partidos médios concentra mais apoio eleitoral em cidades pequenas e com baixo IDH. Os partidos pequenos passaram a governar, nas eleições de 2008, cidades médias, em sua maior parte, com IDH baixos.

Em função das importantes mudanças na região Nordeste, particularmente em

relação à perda de poder dos principais grupos políticos que até então controlavam a maior parte dos estados (como veremos na seção mais abaixo), elaboramos o Quadro 4 para verificar com mais detalhes em quais cidades as forças partidárias estão mais concentradas.

Esses dados revelam que o PMDB foi o partido que elegeu o maior número de

prefeitos na região (19%), sendo em sua maioria em cidades com IDH médio, seguindo o resultado nacional. Outro dado que vale ressaltar diz respeito ao fato do PMDB ter sido o partido que elegeu o prefeito que vai governar no Nordeste a única cidade com IDH alto: Salvador. O PSB, um partido médio, foi o segundo partido mais votado da região, elegendo 12% dos prefeitos, em sua maior parte em cidades com IDH médios. Já o PSDB vem logo em seguida, com 11% dos prefeitos eleitos, concentrados também em cidades com IDH médios. Na quarta posição vem outro partido médio, o PTB, com 10%, com a maior parte dessas cidades com IDH baixo. Somente depois, na quinta posição, em contra-se o DEM, com 9%, em grande parte das cidades consideradas com IDH médio. E, por fim, cabe chamar a atenção para a posição do PT, que ocupa o sexto lugar naquela região, com 8% das prefeituras, elegendo a maior parte de seus prefeitos em cidades com IDH médios.

Cabe também ressaltar que outros partidos médios, como o PR, PDT e PP, que

também elegeram o mesmo percentual de prefeitos, ou seja, 7% cada um, em cidades com IDH médio, na grande maioria. Entre os partidos pequenos, cabe chamar a atenção para o PRB e o PCdoB, os quais, apesar de suas dimensões, elegeram um número razoável de prefeitos em cidades com IDH médios.

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Quadro 4 Distribuição do número de cidades eleitas por IDH e região Nordeste,(%)

2008

Fonte: Dados brutos do TSE

Por último, para compararmos os desempenhos obtidos pelos partidos nas eleições de 2004 e 2008 e identificarmos possíveis deslocamentos dos atores partidários pelas regiões e pelo porte de cidades, organizamos os quadros a seguir. No Quadro 5, verificamos que, na região Nordeste, as mudanças nas posições das forças partidárias foram bastante impactantes entre as eleições de 2008 e 2004.

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Quadro 5

Distribuição do número de cidades eleitas por partido, porte de município e região Nordeste, (%) 2008

Fonte: Dados brutos do TSE.

Os dados mais relevantes a destacar são: a) o PFL, que era o maior partido da região em 2004, com 23% das prefeituras, localizadas em sua maior parte em municípios de pequeno porte, passou para a quinta posição em 2008, concentrando a maior parte de suas prefeituras em cidades de porte médio; b) o PMDB passou de segunda força política na região em 2004 para a primeira força em 2008. O seu crescimento se deu tanto pelas cidades médias quanto pelas pequenas, quando se observa aumento razoável dos prefeitos eleitos por essa legenda; c) o PSDB se manteve praticamente estável de uma eleição para outra, continuando na mesma posição. A pequena redução no número de prefeito eleitos se deu nas cidades pequenas e médias, embora tenha aumentado nas grandes cidades nordestinas; d) o PSB, que ocupava a sétima posição em 2004, passou para a segunda, em 2008, devido ao grande crescimento do partido nas cidades pequenas e médias, dobrando o

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percentual de prefeitos eleitos de um pleito para outro; esse partido ainda se manteve nas cidades grandes; e) outro partido que deu um salto importante nessa região foi o PT, subindo da nona posição em termos de prefeitos eleitos para a sexta, aumento que se deve ao crescimento considerável do apoio eleitoral em cidades pequenas e médias, elegendo o dobro de prefeitos de um pleito para outro. Ao mesmo tempo, teve sua presença reduzida nas cidades grandes.

Outros partidos que tiveram alteração de posição para cima foram: o PTB,

passando da quinta posição para a quarta, devido ao crescimento nas cidades pequenas; o PDT, que saiu da décima colocação e foi para a oitava, aumentando consideravelmente suas prefeituras em cidades pequenas e médias; e também o PC do B, que teve um crescimento considerável de um pleito para outro, deslocando-se da 18ª colocação para a 11ª, cujo aumento se deu, particularmente, em cidades grandes.

E, finalmente, outros partidos deslocaram-se para baixo, diminuindo sua

presença no subsistema regional. O PL, que era a quarta força, caiu para a sétima, em 2008. Já como PR, a nova sigla perdeu espaço político em cidades pequenas e grandes da região. E vale também chamar a atenção para o PPS, que caiu da 8ª posição, ocupada em 2004, para a 15ª, em 2008, quando diminuiu drasticamente o percentual de prefeitos eleitos na região Nordeste.

O Quadro 6 agrega a distribuição do desempenho dos partidos para as

prefeituras das regiões Centro-Oeste e Norte. Os dados mostram que também nessas duas regiões o percentual de prefeitos do PSDB foi reduzido, perdendo a primeira colocação para o PMDB. Os peessedebistas acabaram caindo para a terceira força devido à forte redução do apoio do eleitorado, principalmente nas cidades pequenas e médias. Apesar do declínio, verifica-se o aumento do percentual de prefeitos na faixa dos grandes municípios. Já o PMDB, que deixou de ser o segundo partido, deve o seu crescimento ao amplo apoio recebido dos eleitores residentes tanto nas cidades médias como nas grandes.

Outros partidos que aumentaram seu poder nas regiões Norte e Centro-Oeste

foram: o PL/PR, que passou da terceira para a segunda colocação devido, principalmente, aos ganhos consideráveis nas cidades grandes, nas quais passou a ter um número razoável de prefeitos eleitos; o PP, que se deslocou da 8ª posição para a 5ª, em 2008, em função do maior apoio eleitoral recebido nas cidades pequenas e médias; e o PSB, que mais que dobrou o número de prefeitos, os quais passaram a estar razoavelmente distribuídos pelos portes de cidades, reduzindo, por sua vez, seu espaço político nas cidades grandes.

Já partidos como o PPS e o PTB perderam sua posições. Mas, enquanto o

PPS se deslocou da 5ª para a 9ª posição em termos de prefeitos eleitos, o PTB apenas caiu uma posição, ficando em 7º lugar. Apesar de o PPS perder apoio eleitoral em todas as faixas de cidades, o pior desempenho foi alcançado nas cidades grandes.

Outro dado importante nessas duas regiões é o fato de, entre os partidos que

mantiveram seu desempenho, estarem o PFL/DEM, o PT e o PDT. O PFL/DEM manteve o mesmo percentual de prefeitos eleitos, embora tenha se deslocado uma posição, o que se deve ao aumento nas cidades pequenas, razoável estabilidade nas cidades médias e redução nos grandes municípios. Já o PT manteve a posição de uma eleição para outra, embora tenha aumentado o percentual de prefeitos eleitos. Isso se deve ao fato da redução dos prefeitos petistas eleitos nas grandes cidades, mas, ao mesmo tempo, ao crescimento desse percentual nas cidades médias e à manutenção de sua parcela de administradores nas cidades pequenas. O PDT,

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embora tenha aumentado duas posições de uma eleição para outra, manteve seus percentuais. Isso ocorreu em decorrência de os pedetistas não terem eleito prefeitos nas cidades grandes e da redução de seus percentuais entre as cidades médias, embora tenham mantido os ganhos em cidades pequenas.

Quadro 6 Distribuição do número de prefeitos eleitos por partido, porte de município e

regiões Centro Oeste e Norte,(%) 2008

Fonte: Dados brutos do TSE.

No que diz respeito ao desempenho e deslocamentos dos partidos na região Sudeste, os dados do Quadro 7 mostram que o PSDB e o PMDB mantiveram suas posições, apesar de os peessedebistas terem aumentado seu poder nessa região e os peemedebistas o reduziram. O crescimento do PSDB se deu nas cidades pequenas e médias, embora tenha reduzido sua presença nas cidades grandes. Já o PMDB justamente aumentou seu poder nas cidades grandes, diminuindo seu espaço nas demais cidades.

Outro deslocamento importante se deu entre o PFL/DEM e o PT. Na verdade,

os dois trocaram de posição, uma vez que o PT subiu para a 3ª colocação em termos de prefeitos eleitos e o PFL/DEM foi para a 4ª. O crescimento dos petistas se deu especialmente nas cidades grandes, enquanto os democratas reduziram sua presença nas cidades pequenas e médias.

Já entre os demais partidos, o PTB, PL/PR, PP e o PSB mantiveram as

posições alcançadas nas eleições de 2004, embora os três primeiros partidos tenham reduzido seu espaço político de uma eleição para outra e o PSB tenha obtido pequeno

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aumento em 2008. O PDT e o PPS trocaram de posição devido ao crescimento do PDT razoavelmente distribuído entre os portes de cidades.

Quadro 7 Distribuição do número de prefeitos eleitos por partido, porte de município e

região Sudeste, (%) 2008

Fonte: Dados brutos do TSE.

Finalmente, o Quadro 8, abaixo, apresenta a distribuição do desempenho dos partidos na região Sul derivado das eleições de 2004 e 2008. As informações mais importantes são:

a) o PMDB e o PP se mantiveram como a primeira e segunda forças, respectivamente. O PMDB teve leve aumento de um pleito para outro devido ao seu crescimento nas cidades pequenas. Já o PP apesar de manter o mesmo percentual de prefeituras em 2008 aumentou sua presença nas cidades grandes;

b) o PT, que era a quinta força em 2004, passou para a terceira em 2008. Esse deslocamento se deu devido ao seu crescimento significativo, especialmente, nas cidades médias e grandes. E o PDT caiu da terceira para a quarta posição, em função da redução do apoio eleitoral entre os eleitores das cidades pequenas;

c) o PSDB, apesar de manter seus percentuais de prefeitos de uma eleição para outra, caiu uma posição, passando para a quinta colocação em 2008. Esse deslocamento é explicado pela forte redução na taxa de prefeitos eleitos entre os eleitores residentes nas cidades grandes;

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d) Já o PFL/DEM manteve-se na mesma posição de um pleito para outro, embora apresente pequena diminuição nas suas taxas de prefeitos nas cidades médias. O PTB e o PPS foram outros partidos que continuaram nas mesmas posições, apesar dessa última agremiação ter sua taxa de prefeituras bastante diminuída em 2008. O PPS não elegeu nenhum prefeito em cidades grandes e reduziu pela metade sua presença em cidades médias;

e) por último, cabe chamar atenção para os deslocamentos entre o PL/PR e PSB. O PL/PR dobrou seu percentual de uma eleição para outra, no entanto caiu de posição. Seu crescimento se deve ao aumento de sua presença nas cidades médias e pequenas, mas não conseguiu eleger nenhum prefeito nas cidades grandes. Já o PSB assumiu a posição do PL/PR ao aumentar seu número de prefeitos, especialmente, nas cidades grandes.

Quadro 8 Distribuição do número de cidades eleitas por partido, porte de município e

região Sul, (%) 2008

Fonte: Dados brutos do TSE.

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4. Considerações Finais

Este trabalho teve como objetivo principal examinar em que medida os partidos brasileiros estão orientando os cidadãos na decisão do voto e, conseqüentemente, estruturando a competição partidária. Outro objetivo foi verificar se, conforme já indicado em trabalho anterior para a esfera nacional (BRAGA, 2006), estaria ocorrendo, também, em nível local, uma lógica de centralização do poder nos principais atores partidários, ou seja, PT, PSDB, PMDB, PFL/DEM e PP. Para isso, o foco desta análise foi direcionado para as estratégias eleitorais da elite partidária sobre o eleitor brasileiro nas eleições municipais ocorridas de 1996 a 2008.

Os dados revelam informações importantes a respeito da relação entre partido

político e comportamento eleitoral. Em primeiro lugar, vimos que a maior parte do eleitorado, no período analisado, compareceu às urnas. E, desse universo, mais de 92% orientou seu voto, nos pleitos locais, para uma das alternativas partidárias.

Em segundo lugar, identificamos os partidos que vêm sendo mais eficientes em

suas estratégias eleitorais sobre os eleitores nos municípios, isto é, estão levando mais eleitores a votarem em seus candidatos. São eles o PMDB, PSDB, DEM, PP e PT. Esses atores partidários concentram a maior parte das preferências eleitorais tanto para as disputas pelas prefeituras quantos pelas cadeiras legislativas municipais. Esse fato nos leva à constatação de que há uma lógica centralizadora nesses atores partidários no atual sistema partidário brasileiro, cuja explicação está associada à capacidade desses partidos de estruturar o voto para as diversas categorias de pleitos, já que fenômeno semelhante foi observado também para as eleições nas demais esferas de competição em trabalho anterior. Também vimos que essa tendência de uma lógica partidária na preferência dos eleitores depende mais da ação estratégica das lideranças partidárias na coordenação dessas preferências eleitorais do que dos mecanismos institucionais (legislação eleitoral, multipartidarismo e federalismo), os quais, em teoria, incentivam a regionalização e a dispersão do poder político no interior da Federação.

Outra tendência observada foi a da nacionalização dos partidos. Tanto os

partidos médios como os grandes participaram e elegeram representantes em todas as cinco regiões do país nas eleições de 2008.

Ao mesmo tempo, vimos que esses partidos concentram as preferências de

eleitores residentes em cidades de porte e IDH distintos. Nesse sentido, enquanto o PMDB ainda é o maior partido entre os eleitores das regiões Sul e Norte, residentes, principalmente, nas cidades pequenas com maior concentração de IDH alto e médio, o PSDB tem maior apoio do eleitorado da região Sudeste distribuído entre as cidades de porte médio e grande e IDH médio. Já o PT apresentou maior concentração das preferências na região Norte, embora seja possível observar distribuição homogênea entre as regiões Sudeste, Sul, Centro-Oeste e Nordeste. Vimos também que, nas eleições de 2008, houve uma tendência dos petistas entrarem mais nas cidades médias e continuarem mais fortes naquelas maiores. Quanto ao perfil do IDH desses municípios foi verificado que, quanto maior o IDH, maior a presença de prefeitos eleitos pelo PT, ocorrendo um crescimento gradativo até as cidades consideradas com alto IDH.

Outra constatação importante diz respeito ao forte impacto na redução do

poder político do DEM/PFL em quase todo o país. O PFL/DEM apresentou o deslocamento mais consistente de 2004 para 2008 entre as regiões. Os dados revelam que, se em 2004 o PFL tinha o maior poder político nas cidades nordestinas, concentrando 23% dos seus prefeitos eleitos naquela região, em 2008 esse percentual

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caiu para apenas 9%. É importante chamar a atenção para o fato de que o Democratas foi o partido da oposição ao governo federal que mais perdeu votos em praticamente todas as regiões. A análise mais detalhada do declínio no apoio eleitoral ao DEM revelou que essas perdas foram mais fortes nas cidades médias e com IDH baixo. A exceção foi a região Norte, onde manteve o percentual da eleição anterior. Apesar da redução do seu espaço político também na região Sudeste, cabe salientar que foi entre aqueles eleitores que o Democratas apresentou o maior percentual de prefeitos eleitos em 2008, o que mostra o êxito das estratégias eleitorais desse partido de ampliar seu poder entre os eleitores conservadores desta região.

Vimos ainda que o PP se manteve na mesma posição de uma eleição para

outra, apresentando os maiores ganhos nas regiões Sul e Centro-Oeste e em cidades pequenas, mas com IDH médio.

Finalmente, os resultados eleitorais das eleições de 2008 revelaram que a

clivagem que vem cada vez mais dividindo as forças no sistema partidário da atualidade está relacionada ao posicionamento dos partidos em relação ao governo federal: ser situação ou oposição ao governo da vez tem um peso crucial na estruturação da competição partidária, em detrimento das tradicionais divisões no espectro político ideológico de outrora. Um dos aspectos importantes para explicar essa mudança está relacionado com a variável governismo, ou seja, aquele grupo político que controla o aparato governamental ao concentrar uma gama de recursos e incentivos coletivos e seletivos atrai para o seu campo de influência grande parte dos partidos políticos, sejam os mais próximos do seu campo ideológico, sejam os mais distantes ideologicamente, mas cuja vitalidade no sistema partidário dependa mais de recursos oriundos do Estado para continuar sobrevivendo.

5. Bibliografia

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Nicolau,J.(2004). www.iuperj.br/Banco de Dados.

PANEBIANCO, A. Modelos de Partido (2005). Organização e Poder nos Partidos Políticos. São Paulo. Martins Fontes.

Tribunal Superior Eleitoral