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DIRECTOR

O 111.™0 e Èx.mo Snr. Conselheiro, Manoel Maria da Costa Leite

SECRETARIO

O 111.1110 e E x . m o S n r . M a n o e l d e J e s u s A n t u n e s L e m o s

C O E P O O ­ A . T Í Í J E I D R . A . m C O

LENTES PROPRIETÁRIOS

OS ILL.m o s E EX.m o s SHRS. ■ 1.* Cadeira — Anatomia descriptiva

e gera l João Pere i r a Dias L e b r e . 2 . a Cadeira — Physiologia Dr . José Carlos Lopes Jun ior . 3 . a Cadeira — Historia na tura l dos

medicamentos. Materia medica . João Xavier de Oliveira Barros . 4 . a Cadeira — Patliologia ex te rna e

therapeut ica externa Illidio Ayres Pere i r a do Valle. . 5 . a Cadeira — Medicina operatória . . Pedro Augusto Dias .

P. a Cadeira — Par tos , moléstias das mulheres de parto e dos recem­nascidos Agostinho Antonio do Souto.

7. a Cadeira — Patliologia i n t e rna .— Therapeut ica i n t e rna e historia medica José çi1 Andrade Gramaxo.

8. a pade i r a — Clinica medica Antonio d'Oliveira Monteiro. 9. a Cadeira — Clinica cirúrgica Eduardo Pere i ra Pimenta .

10. a Cadeira — Anatomia pathologica Antonio Joaqu im de Moraes Caldas. 1 1 . a Cadeira — Medicina legal , hy­

giene pr ivada e publica e toxi­cologia geral Dr. José I*. Ayres de Gouveia Osório.

Curso de patliologia geral Manoel Rodrigues da Silva Pin to . Pharmac ia Fe l ix da Fonseca Moura.

LENTES JUBILADOS

!D r . José Pere i r a Reis . Dr . Francisco Velloso da Cruz. Visconde de Bíacedo Pinto . Antonio Bernardino d 'Almeida .

Secção cirúrgica £ Luiz P e r e i r a da Fonseca. , Conselheiro, Manoel M. da Costa Lei te . Í Anto

Luiz Cons

DBS

í" f V.

LENTES SUBSTITUTOS

Manoel Rodrigues da Silva Pinto , pre ­tíecção medica 3 sidente.

A Vaga. Manoel de Je sus Antunes Lemos. c

Seccao cirúrgica I ,T

i Vaga.

LENTE DEMONSTRADOR

Secção cirúrgica V a g a .

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A Escliola não responde pula» doutrinas expendidas na Dissertação é enunciadas nas proposições.

(Regulamento <la Eschola de 2íi de AVjril de 1810, »rt. 155.°)

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AO llLfSIItISSISO E EKEUENTISSIHO SESHOit

MANOEL RODRIGUES DA SILYA PINTO

O. D. G.

0 aucfo'L

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PROLOGO

Identismo, unicismo e dualismo, cancroso —, eis o assumpto que escolhemos para a ultima prova, que a lei nos exige para podermos exer­cer legalmente a medicina.

O assumpto é dos mais importantes pelas applicações praticas que o caracterisam. E na verdade do máximo interesse clinico distinguir os verdadeiros accidentes primittivos da syphi­lis dos que o não são, mas que ainda são tidos como taes por muitos syphilographos.

Não vamos expor uma doutrina nova nem tão pouco apontar factos recentes em apoio d'uma ou outra theoria, por que os não temos ; o que tentaremos fazer é passar em revista os argumentos com que os sectários de cada uma das três doutrinas sustentam a sua opinião, e ver consecutivamente qual será a verdade n'este chaos em que todos se debatem.

l.° Dever-se-ha considerar a blennorrha-gia como accidente primittivo da syphilis?

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2.° Ha ou não differença entre os diver­sos cancros ?

3.° E n'este caso qual a doutrina que ex­plica melhor essa differença?

4.° O cancro duro é uma lesão local, ou o resultado da infecção geral ?

Taes são as questões que tentaremos re­solver.

A importância do assumpto, e o pouco tem­po e forças de que dispomos serão outros tan­tos motivos para nos serem relevados os defei­tos do presente trabalho.

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IDEN, mm i oo C A N C R O S O

HISTORIA DESU13 JiENEDETTI (1494) ATÉ HUNTE1Ï (178G)

Desde que a syphilis começou a ser conhecida (1494), até ao meiado do século xvi, os medicos per-dem-se em mil conjecturas sobre as origens de tal fla-gello. A lepra dos arabes, a atmosphera, as influen­cias sideraes, a importação americana, o cruzamento de certas doenças, as supposições as mais extravagan­tes se cruzam para justificar a génese da nova doença.

Apenas um ou outro escriptor, deixando por ins­tantes o campo das theorias, escreve cousas mais úteis.

Benedetti ou Benoit, uma das testemunhas ocula­res das lastimosas consequências da epedemia de No-vare, é o primeiro que nos diz que o mal começa por uma ulcera nos órgãos genitaes, ainda que faz entrar no vasto quadro do mal francez os bubões o a blen-norrhagia. Pode-se dizer que foi o primeiro identista.

Torella, homem instruído e hábil, admitte que a ulcera dos órgãos genitaes- existe no principio da doença.

João de Vigo (1510), cirurgião do papa Julio il, é um pouco mais explicito: separa dos accidentes pri­mitivos da syphilis certas ulceras do penis e os bu-

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bões consecutivos, a quo oppõe uin tratamento pura­mente local, a cauterisação. Pelo que diz respeito ao mal froncez, diz-nos que começa por uma ulcera du­ra, fazendo, além d'isso uma distincção da syphilis, classificando-a em confirmada e não confirmada.

No meio do século xvi apparecem três grandes, vultos, — Paracelso, Fernel e Fallope.

Paracelso designa com bastante clareza as condi­ções etiológicas reaes da transmissão accidental da sy­philis, que elle distingue da que se adquire por via da herança, resumindo-as na formula seguinte : O mal francês nasce somente de Venus ou transmitte-se por herança.

Fernel ainda é mais claro sobre a origem prima­ria dos accidentes syphiliticus. Segundo a sua opi­nião, a materia contagiosa, a que dá o nome de lues venerea, posta em contacto com as partes geni-taes, produz pústulas, ulceras malignas, a blennorrha-gia virulenta e os buboes inguinaes; mas estas lesões não são ainda a verdadeira doença. Mais tarde o mal local, estendendo as suas raizes e propagando-se para o interior do organismo, acaba por levar a devastação a todo o corpo. A syphilis é transmitticla ordinaria­mente pelo coito, mas a saliva dos syphiliticus e a bocca das creanças de mama que teem a mesma doença, também a podem transmittir ; e até mesmo as parteiras a podem adquirir, assistindo ao parto de mulher que padeça do tão grave moléstia.

Fallope nota o valor semeiotico da induração das ulceras, e considera os cancros, o bubão e a blennor-rhagia como «soldados armados á ligeira, precedendo o exercito francês; » indica com notável exactidão os signaes da syphilis confirmada e não confirmada, e

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da blennorrhagia simples e venerea, — distincção esta pela qual o illustre medico se torna verdadeiramente notável. Se debaixo da mesma designação de blennor­rhagia simples, reúne corrimentos uretraes os mais di­versos, prova Fallope, pelo menos, que não confunde nenhum d'esses corrimentos com a blennorrhagia ve­nerea, como a maior parte dos syphilographos que escreveram antes e depois d'elle.

Além d'estes três escriptores, ainda devemos men- < cionar Nicolas Massa que foi o primeiro que distin­guiu os cancros seguidos de bubão que suppura, dos cancros que são seguidos de bubão que não suppura, signal importantíssimo, como mais adiante veremos, para o diagnostico differencial das duas variedades de cancros.

Desde Fernel e Fallope até ao fim do século xvi, época em que appareceu William Hunter, um dos mais celebres cirurgiões de Inglaterra, a historia da syphi­lis não oíferece nada importante. As guerras da reli-ligião em França, e a completa separação entre a me­dicina e a cirurgia fizeram parar a corrente de ideias que principiava a notar-se.

No século xvii viu a luz uma única obra impor­tante sobre a syphilis.

Nicolas deBlegui (1673), da escola iatro-chimica, julga que a materia venerea é devida a um acido mis­turado com corpos igneos; confunde todos os cancros, considerando a induração como uma forma e um dos primeiros signaes da intoxicação syphilitica ; finalmente reputa a blennorrhagia como um accidente syphili-tico.

No século xviil, Boerhaave e Astruc são os pri­meiros que escrevem sobre a syphilis. Ambos conside-

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ram a blennorrhagia virulenta como um dos accidentes primitivos, e explicam a diversidade d'esses accidentes pela maior ou menor subtileza do virus, a qual faz com que penetre mais ou menos profundamente na economia.

Até esta época pôde dizer-se que tudo o que se transmitte pelo coito, excepto a blennorrhagia não vi­rulenta, e ás vezes mesmo esta, é considerado como ac­cidente primitivo da syphilis; d'aqui por deante esta-belece-se uma corrente em sentido opposto.

Balfour (1767) é o primeiro que traça uma linha de demarcação entre o cancro e a blennorrhagia, com­parando esta á corysa.

Tode (1777), professor em Copenhague, sustenta que o virus que produz a blennorrhagia é distincte» do que produz a syphilis, e que este não produz a blen­norrhagia, a qual por seu lado não é seguida dos ac­cidentes ordinários da syphilis confirmada.

D E S D E H U N T E R ( 1 7 8 6 ) A T É W A L L A C E ( 1 8 3 5 )

Estabelecida a questão da identidade ou não iden­tidade da blennorrhagia com os cancros, era preciso resolvel-a; e foi John Hunter (1786) que se encarregou d'isso.

Este illustre cirurgião foi o primeiro que praticou inoculações artificiaes com o fim do saber, se a blen­norrhagia e o cancro, lesões différentes na forma, eram ou nào, devidas ao mesmo virus. Para isso inoculou no seu próprio organismo pus d'uma blennorrhagia, e o resultado foi apparecer-lhe, passados alguns dias, um cancro em cada um dos dous pontos inoculados, a que

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se seguiram os mais evidentes symptomas da syphilis confirmada.

Além d'isso, apoiando-se sobre factos fornecidos pe­lo contagio natural, que demonstrava que a syphilis podia ter por ponto de partida uma blennorrhagia, Hunter não duvidou estabelecer como principio que a syphilis podia principiar por uma blennorrhagia, um cancro ou um bubão, resultado tudo do mesmo virus, que segundo era inoculado sobre a epiderme ou sobre uma mucosa, assim dava logar ao cancro ou á blen­norrhagia.

Hunter admittia o bubão d'emblée, produzido pela absorpção insensível do virus, e faz uma distincção entre o bubão quo tem uma marcha rápida (bubão cancroso dos modernos) e o que tem uma marcha lenta (bubão indolente), distincção que já antes tinha sido feita por Nicolas Massa.

Logo depois de Hunter, e negando a doutrina do identismo expendida por este, apparece Benjamin Bell. Apoiado na experiência e na observação, sustenta que a producção de cancros resultante da inoculação do pus blennorrhagico, é devida a um cancro no canal da uretra, cancro larvado; e explica d'esté modo o resultado das inoculações do Hunter.

Ás razões adduzidas pelos identistas para explicar o facto da blennorrhagia não dar logar a accidentes ge-raes, dizendo que tal facto dependia meramente do grande desperdicio do virus pelas superficies affecta-das, ainda Bell responde, fazendo parar o corrimento por meio de injecções cáusticas, a que nem por isso se seguiam manifestações gerae3.

Mas não é somente a blennorrhagia que começa a ser separada dos accidentes primitivos da syphilis;

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acontece o mesmo a todas as ulcerações dos órgãos genitaes de que tinham feito menção os escriptores da antiguidade e da edade media. A existência de cancros, bubõea e ulceras de diversa natureza que em outras épocas (antes do fim do século xv) se cura­vam sem mercúrio, levava a concluir que a syphilis era estranha a essas ulceras. Albernethy em Ingla­terra (1804) formula a seguinte proposição : a base in-durada é o caracter do cancro syphilitico, ao passo que a lesão pseudo-syphilitica é constituída por ulcerações sem induração, com tendências ao crescimento. A isto accrescenta, que o cancro phagedenico não infecta a constituição. Desde esta época o dualismo cancroso acha-se constituído; o precursor tinha sido Hunter, cu­jos escriptos inspiraram Albernethy o os dualistas que se lhe seguiram.

Henster acreditava na importação americana da syphilis ; e como, na antiguidade e edade média, já eram conhecidos os cancros e os bubões, cuja origem se attribuia ao coito impuro, concluia (e com razão, se os princípios fossem verdadeiros), que havia duas es­pécies distinctas de lesões dos órgãos genitaes, uma produzindo accidentes geraes, e a outra não produ­zindo taes accidentes.

Joseph Louvrier em 1809 reproduz na Allemanha a doutrina de Albernethy.

Em 1812 Hernandez, seguindo as ideias de B. Bell, faz experiências mais concludentes. Inoculando 17 indivíduos com pus blennorrhagico, quasi todos (13) ti­veram ulceras mais ou menos rebeldes, nos pontos onde foi operada a inoculação; mas nenhum teve syphilis. Hernandez praticava a inoculação n'uma solução de continuidade feita com a lanceta, por meio do fios de

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linho embebidos de pus blennorrhagico, o que explica a quantidade de ulceras que so teem produzido. Além d'isso também inoculou pus de ulceras syphiliticas, a que se seguiram resultados positivos.

Em 1814 Carmichael, cirurgião irlandez, persua­dido, como os dualistas que o procederam, do que a sy­philis, importada da America, só tinha apparecido na Europa" no fim do soculo XV, não se contentou com dous virus ; admittiu logo quatro variáveis em inten­sidade, e dos quaes o menos intenso dava origem A blennorrhagia e á ulcera simples, cujos incidentes con­secutivos eram os mais superficiacs e ligeiros. 4

Assim, em 181Õ, estavam fundadas três escolas, — identista, unicistu e dualista, ou antes plurista, a que ainda é preciso acerescentar uma quarta, cujos sectários não admittem o virus syphilitico, sendo Bru o primeiro que seguiu tal doutrina em 1789, repre­sentando <i Caro:i em 1811 e Jourdan em 1826.

E' no moio d'esté chaos de doutrinas que se cho cam umas contra as outras, que appareee Kicord, (1834) classificado como o mais notável syphilographo dos tempos modernos. Grande admirador de Hunter, convencido da differença entre o cancro e a blennor-rhagia e armado de um novo instrumento de exflora-ção, o speciàum, mui apropriado a descobrir as lesões profundas dos órgãos genitaes da mulher, itieord de­dicate ao systema de inoculações inaugurado por Hun­ter. Demonstra por um grande numero de inoculações de pus bíennorrhagico e de cancros, que, na maior parte

' dos casos a blennorrhagia não é o ponto de partida da syphilis, que o cancro ratas \vpif pôde nasce* d'uma blennorrhagia, o, quo o pus d'uni cancro dá quasi sem-

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pre, depois de inoculado, origem á pústula caracterís­tica. Faltava somente explicar os casos excepcionaes, em que a inoculação'natural ou artificial do pus blen-norrhagico dava logar ao cancro e aos accidentes da syphilis confirmada. Estes casos, que tinham feito com que Hunter adoptasse o ídcntismo, e cuja explica­ção já B. Bell tinha antevisto, eram o verdadeiro nó gordio da'questão que Ricord desatou, demons­trando até á evidencia por meio do speculum, que as mulheres atacadas de vaginite, cujo pus inoculado dava logar a um cancro, não tinham tal lesão, mas sim ver­dadeiros cancros. Com tal prova ficou o identismo lan­çado por terra. As chamadas blennorrhagias, a que se seguiam accidentes geraes, e cujo pus inoculado dava logar ao cancro, não eram blennorrhagias, mas sim cancros da uretra, da vagina ou do collo do utero.

Para Ricord o cancro está para a syphilis, assim como a mordedura do cão hydrophobo está para a hy­drophobia. O cancro é o accidente inicial e constante da syphilis. A induração não tem importância real no diagnostico senão quando existe ; o signal certo do can­cro é a inoculação do pus que fornece, merecendo egual importância os symptomas da infecção geral. O cancro é no principio uma lesão local, e continua a sel-a em quanto não apparece a induração, prova certa da infecção geral. Ricord não admitte excepção a esta lei, e para elle a induração é, por assim dizer, um sy-philometro. O illustre syphilographo, fundando-se nas anto-inoculações, nega o contagio da syphilis por meio do sangue, e por meio dos accidentes secundários; e ' explica a passagem para a ama, da syphilis das creán-ças do mama com accidentes secundários, dizendo que

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o contagio teve logar por meio do accidente primitivo, antes da transformação em accidentes secundários transformação que o medico tinha deixado escapar.

Taes são em resumo os princípios estabelecidos por Kicord sobre a syphilis, e que a maior parte dos sy-philographos acceitaram.

DESDE W A L L A C E (1835) ATÉ AOS NOSSOS DIAS

O medice inglez ^Wallace (1835), cujos trabalhos Eicord não conheceu ou deixou passar desapercebidos, foi o primeiro que começou a abrir brecha na dou­trina de Eicord, e que teve o arrojo de inocular a sy­philis em indivíduos virgens de tal doença, servin-do-se para isso do pus dos accidentes secundários. O resultado de taes inoculações foi o apparecimento da syphilis, precedida de accidentes primitivos, cancros. Este resultado só em 1859 foi submettido á Academia de medicina de Pariz por Gibert, e o contagio dos accidentes secundários fica admittido, mesmo por Ei­cord.

Se a inoculação do virus syphilitico em indivíduos virgenmde syphilis trazia comsigo grandes perigos, a ponto de se poder considerar como um crime, com-tudo é a esse meio que o estudo dos accidentes primiti­vos deve a época mais brilhante da sua historia; é, por assim dizer, o- marco que separa a historia moderna da syphilis, da historia contemporânea.

As leis de Eicord, j á em parte abaladas por Wal­lace, ainda o continuam a ser por Basserau, que, ad-mittindo dous virus syphiliticos em v«z d'um, mina pelos fundamentos a doutrina do illustre professor do hospital do Meio-dia.

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Segundo as ideias do Basserau, existem dous can­cros distinctos, effeitos de dous virus différentes, o can­cro molle e o cancro duro. O cancro molle, cuja exis­tência era admittida já antes do fim do século xv, não dá logar a accidentes geraes, não apresenta du­reza na base, não é indolente e é acompanhado or­dinariamente d'um só bubão inflamatório, cujo pus inoculado produz quasi sempre um cancro da mesma espécie. O cancro duro, cuja existência ha sido admit­tida só depois do século xv, além do ser seguido de syphilis constitucional, é uma ulcera ordinariamente indolente, assentando em uma base indurada, e acom­panhada de bubões indolentes, formando uma cadeia.

Cada um d'cstes cancros transmitte-se na sua es­pécie, o nunca ura pôde dar origem a outro, como Ri-cord queria, explicando tal phonomeno somente pela idiosyncrasia individual. Basserau' destroe este argu­mento, dizendo que tem visto indivíduos terem can­cros molles por muitas vezos, som accidentes geraes consecutivos, quo.não teem apparecido senão depois d'um cancro indurado.

O dualismo cancroso encontra em Ricord um ad­versário terrível. Nas suas cartas sobre a syphilis, pu­blicadas em 1851, diz-nos que o virus syphilitica, du­rante os 4 ou õ primeiros dias de sua existência, pôde ser neutralisado pela cauterisação. Esta proposição era com certesa uma resposta á theoria do cancro não infectante. N'esse caso era muito natural attri-buir a não infecção d'um cancro á cauterisação que tinha soffrido.

Apesar da unicista, Ricord faz segunda conces­são, admittindo um cancro menos indurado quo outro, e quo designa como o nome,—parcheminé.

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Maratraz em 1854 segue a doutrina do unicismo, professada por Ricord, mas não explica a diversidade de cancros pela differença das idiosyncrasias ; para elle a causa é outra. O cancro duro inoculado no mesmo individuo que o tem, ou n'outro que esteja debaixo do poder da diathese syphilitica, dá origem a um can­cro molle ou cancroide, que como tal continua a trans-mittir-se, de modo que todo o cancro molle foi na sua origem um cancro duro.

Esta theoria na verdade engenhosa, se os factos não viessem demonstrar que ainda não podia explicar tudo, era uma theoria de concilliaçâo ontre Ricord e Basserau, — unicismo o dualismo.

M. Clerc e Diday seguem exactamente a theoria de Maratraz, — um único virus produzindo dous can­cros, induraão e induroide; mas não prescindem de um segundo virus para produzir uma terceira varie­dade de cancros, o molle, a que dão o nome de chan-crelle. Diday só se desvia do Clerc, 'não admittindo como esto, que o cancroide se transmitia sempre na sua variedade.

Segundo as ideias de Diday o cancroide pôde tor­nar a tomar todos os caracteres do cancro duro, quando' inoculado n'um individuo virgem de syphilis.

Em 1856 Ricord, não podendo por mais tempo sustentar a sua doutrina, o unicismo, torna-se dualista; mas fal-o de tal modo e com tal perieia, que faz acre­ditar que sempre o tinha sido, o que o dualismo é obra sua. Ricord, dualista, diz que o cancro indurado não pôde ser inoculado no individuo que o tem, que ha cancros a que nunca se segue a syphilis, — cancros mol­les* não infectantes, e que finalmente um dos caracte-

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res do cancro infectante é vir acompanhado de bubões que não suppuram.

Menos dóceis aos systemas, os factos não teem sanc-cionado taes leis declaradas immutaveis. Acontece al­gumas vezes que innocentes ulcerações primitivas sem dureza na base, — não seguidas de accidentes constitu-cionaes n'um individuo virgem de syphilis,—teem pro­vocado, passando a outro individuo, a induração can-crosa característica e os symptomas da syphilis con­firmada. Por outro lado tem-se visto o cancro indurado, que dizem não anto-inoculavel, dar origem ao cancro molle sobre o mesmo individuo, ou sobre outro qual­quer submettido á mesma diathese, e ainda mesmo virgem de syphilis.

E para lançar por terra esta ultima barreira le­vantada contra o dualismo, que Rollet descobre o can­cro mixto, resultado da inoculação dos dous virus sy­philiticus no mesmo ponto. Dualista intransigivel como Fournier, não cede um passo ao unicismo. D'esté modo fica o dualismo ainda mais uma vez victorioso, e a qualquer objecção que se lhe apresente, respondem sem­pre os seus defensores:—-É o cancro mixto. Um cancro molle é seguido de accidentes geraes syphiliticus? E por gozar da natureza de cancro mixto. O pus d'um cancro duro é inoculavel no individuo que o tem? E um cancro mixto.

Rollet, para demonstrar a existência do cancro mixto, lançou mão de três ordens de experiências : 1.° Inoculando os dous virus syphiliticus no mesmo ponto e na mesma occasião, notou que, passados dous ou três dias, apparecia um cancro com todos os sympto­mas de molle, que não tardava a cicatrisar-se para mais tarde se reabrir com todos os caracteres de cancro

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duro, a que se seguiam accidentes-geraes. 2.° Inocu­lando pus d'um cancro duro n'um cancro molle, obser­vou que este não mudava de aspecto, chegando ás v ezes a cicatrisar como na experiência feita por Lindwur m; mas, passados dias tornava a apparecer no logar da cicatriz, tendo todos os caracteres d'um cancro duro com todas as suas consequências. 3.° Inoculando pus d'um cancro molle sobre um cancro duro, observou que a ulceração não tardava a mudar de aspecto : tornava-se funda, com bordos talhados a pique, a suppuração era mais abundante, e inoculando esse pus, dava ori­gem a um cancro que apparentemente apresentava to­dos os caracteres de cancro molle. Até mesmo ao lado dos bubões indolentes appareciam, ainda que raras ve­zes, os próprios do cancro não infectante.

Só um dos caracteres do cancro duro,—a dureza na base, é que não é destruído pela inoculação do pus do cancro molle. E preciso notar que um cancro mixto só tem do cancro infectante a dureza na base; todos os outros caracteres são do cancro molle; e mesmo, como a incubação dos dous virus não tem a mesma duração, um cancro mixto pode não ter nada do can­cro duro, e isto por que para a incubação do virus sy-philitico, ainda não decorreu o tempo necessário, pas­sado o qual, e só então, se manifesta a dureza. Como já vimos, pôde mesmo o cancro mixto cicatrisar, para mais tarde apparecer o cancro duro.

Melchior Robert (1857), um dos discípulos de Ri-cord, declara-se pelo unicismo, e trata de combater a theoria de Rollet,— a theoria do cancro mixto. A sua theoria resume-se em três das proposições, que vêem no seu novo tratado das doenças venéreas.

«O cancro simples depende essencialmente do can-

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cro infectante e resulta: 1.° da inoculação do virus infe­ctante sobre os tecidos d'uni individuo syphilitico; 2.° da inoculação n'um individuo são, do virus proveniente d'uin cancro indurado no período do declinação; o.° da inoculação do virus infectante n'um individuo dotado d'uma immunidade natural.»

«O cancro simples podo tranBmittir-se na sua es­pécie pathologioa, durante um tempo variável que de­pende de condições indivkluaes e da sedo da inocula­ção; mas, sondo favoráveis essas condições eséde, torna a adquirir a propriedade infectante, e actua como o cancro infectante.»

«O cancro indurado, o cancroide o o cancro sim­ples são, pois manifestações pathologicas d'um mesmo principio, cujos offeitos variados dependem menos das propriedades inhérentes ao virus, que das condições do organismo; não ha pois um único virus'.»

Melchior Robert tem ainda mostrado, á custa de observações clinicas e confrontações rigorosas, que o mesmo individuo, tendo um único cancro, pôde trans-mittir uma variedade de cancros a cada individuo.

Outros observadores, apoiando a unidade do virus syphilitico, referem factos que demonstram que a sy­philis confirmada e não confirmada pode, em certos casos muito authenticos e evidentes, ter a mesma ori­gem. A este numero pertencem Langlobert, Gronnard, Cullerier e outros.

Actualmente existem três doutrinas, —o identismo, o unicismo e o dualismo.

O identismo, á frente do qual estão Gribert e Case-nave, é a doutrina quo defende a identidade confusa das doenças venéreas. Para esta escola a blennorrha-gia, o cancro molle e o cancro duro são apenas formas

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da mesma unidade virulenta, variando conforme a idiosyncrasia de cada individuo.

O unicismo seguido principalmente por Langlebert, é a doutrina que, separando a blennorrhagia dos acci­dentes primitivos da syphilis, considera o cancro molle e o cancro duro como o resultado do mesmo virus.

O dualismo, representado por Fourniere e Kollet, é a doutrina que, além do virus blennorrhagico tam­bém admittido pelos unicistas, quer que haja mais dous, um dando logar á syphilis local,—o cancro molle, e o outro á syphilis gerai,—o cancro duro e suas lesões consequentes.

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IDENTISMO

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Como acabamos de vêr pelo resumo histórico que fizemos das doutrinas attirantes á syphilis, o identismo foi a primeira que appareceu; nem isso é do-admirar, porque, sendo o coito considerado como o principal meio da transmissão da syphilis, tomava-se na conta de accidente primitivo tudo o que era transmittido por tal acto. Além d'isso, como debaixo da designação de blennorrhagia, que então tinha o nome de gonorrea, se comprehendiam todos os corrimentos uretraes, não era só a verdadeira blennorrhagia, que entrava no vasto quadro dos accidentes primitivos da syphilis, mas tam­bém a uretrite simples, a prostatorrhea e a sperma­torrhea. Fernel, Fallope e Astruc foram os primei­ros syphilographos que estabeleceram distincção entre blennorrhagia venerea enão venerea, considerando so­mente aquella como um dos accidentes primitivos da syphilis. Balfour e Tode deram o primeiro golpe no

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identismo, separando dos accidentes primitivos da sy­philis a blennorrhagia, que comparavam á corysa. Mas estes syphilographos,— identistas Qiião identistas, ain­da não possuíam um meio de investigação, a inocula­ção, que havia de determinar os maiores progressos no estudo da-syphilis.

É a Hunter que se deve a applicação de tal meio. Das inoculações que praticou, tirou como conclusão que era idêntico o virus da blennorrhagia e dos cancros, e que o pus de qualquer d'estas lesões produzia ou a blennorrhagia ou o cancro, segundo actuasse sobre a mucosa dos órgãos genitaes ou sobre a pelle. O facto da blennorrhagia quasi nunca ser seguida de acciden­tes geraes, explicou-o Hunter pelo desperdício consi­derável da materia virulenta pelas superficies affecta-das.

Depois de Hunter os différentes syphiíographos continuaram a dividir-se em identistas e não identis­tas, trazendo sempre aquelles para a discussão algum facto, pelo qual se provava que a blennorrhagia po­dia dar logar a accidentes geraes syphiliticos.

Foi Ricord que, armado d'um meio de exploração até alli desconhecido—o speculum, deu o ultimo golpe no identismo, demonstrando até' á evidencia que as blennorrhagias que os identistas apontavam, como ten­do dado origem a accidentes geraes syphiliticos, não eram senão cancros da uretra no homem, e da vagi­na ou collo do utero na mulher. D'esté modo ficaram explicados esses casos excepcionaes.

Os identistas não querendo ainda ceder, lançaram mão d'outro argumento, citando casos de balano-pos-thites a que se seguia a syphilis confirmada. M. Lan-glebert destroe este ultimo argumento, descobrindo o

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cancro phagedenico epithelial, quo os identistss con­fundiam com a balano-posthite.

Polo que acabamos do expor, vê-se que os factos em que os identistas se fundavam para sustentar a sua doutrina, eram mal observados, porque tomavam por blennorrhagias os cancros urotaog, e por balano-posthi-tes os cancros, que M. Langlebert designa com o no­me de—phagedenicos epitheliaes. Experiências recen­tes teem comprovado isto mesmo, e póde-se concluir d'ellas: 1.° que o pus d'uma blennorrhagia bem dia­gnosticada, inoculado sobre a pelíe ou mucosa, nunca dá logar a um cancro, mas sim a uma blennorrhagia, (quando inoculado na mucosa) ; 2." a uma blennorrha­gia virulenta, bem diagnosticada, nunca sa suceedeni accidentes geraes syphiliticus; 3.° o pus d'uni cancro inoculado em qualquer ponto, nunca dá logar a uma blennorrhagia virulenta, podendo com tudo produzir uma uretrite simples, visto o pus do cancro ter pro­priedades irritantes.

Por tudo isto o blennorrhagia o o cancro são duas lesões muito différentes, produzida cada uma por um viras especial, o nunca podendo transfonnar-se uma na outra.

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UNIC ISMO E DUALÍSMO

Antes mesmo da blennorrhagia começar a ser sepa­rada dos accidentes primittivos da syphilis, alguns syphilographos unicistas (emquanto ao virus), deixa­vam de o ser emquanto aos cancros.

Torella foi o primeiro que notou que algumas ulce­ras do penis tinham a base indurada, e depois d'elle João do Vigo, fundado em observações idênticas, ainda foi mais longe, aconselhando um tratamento pura­mente local para certas ulceras do penis e bubões con­secutivos, que já vinham descriptos nos iivros anterio­res ao fim do século xv.

Fallopo também estabeleceu algumas distincções importantes, pois que já separou a caries gallicu da caries non gaVica, e Antonius Francantianus, seguindo o mesmo caminho, disse que a ulcera, phenomeno ini­cial da syphilis, se reconhece ex callositate.

Nicolas de JBlegny nota do mesmo modo a indu-

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ração, mas diz-nos que não é senão uma forma, e um dos primeiros signaes de infecção syphilitica.

Hunter era cVopinião que todos os cancros tendiam para a induração, o que lhes constitue um caracter especial.

Como se vê, até Hunter já alguns syphilographos distinguiram nas ulceras dos órgãos gonitaes duas for­mas différentes; mas não tentaram dar uma explica­ção d'essa differença. Só depois que se começaram a praticar inoculações é que essa differença se aecentuou cada vez mais, e que os syphilographos tentaram ex-plical-a.

Portanto duas variedades ou espécies de cancros foram sempre admittidas, e ainda hoje o são pelos sy­philographos de todas as seitas e épocas. No que elles não concordam é no modo de explicar essa differença, tirando d'ahi origem a divisão dos não {dentistas em unicistas e dualistas. Em quanto os dualistas se aju­dam o aproveitam mutuamente das descobertas uns dos outros para chegar ao mesmo fim, os unicistas, querendo explicar com um só virus as duas varie­dades de cancros, divergem no resto, attribuindo a difference que existe entre essas duas variedades, uns como Ricord (unicista) ás condições individuaes d'a-quelle a quem é transmittido o virus syphilitico; ou-, tros como Clerc o Maratray, á existência ou não exis­tência da diathese syphilitica n'aquelle que recebe a inoculação do virus, existindo ainda uma 3.a opinião (M. .Lauglebert) que explica tal differença pela diffe­rença dos vehiculos do virus,— serosidade ou pus.

Os dualistas, representados actualmente por M. Rollet e M. Fourniere, admittem dous virus, produ­zindo um o cancro molle, lesão local que não dá logar

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a accidentes geraes, e cujo pus, segundo a propria expressão de M. Rollet, é um virus local, que não pe­netra na circulação geral, não passando além dos ganglios mais próximos do cancro; outro produzindo o cancro duro, seguido de accidentes geraes e não inoculavel no individuo que o tem. As excepções que ha a estas regras, explicam-n'as os dualistas por meio do cancro mixto produzido pelos dous virus ao mesmo tempo. Nas três ordens de experiências, que já men­cionamos na parte histórica d'esté trabalho, ha a no­tar que o cancro mixto possue todos os caracteres do cancro molle, em quanto se não passa o tempo neces­sário para a incubação do virus syphilitico; e só pas­sado esse tempo é que apparece a dureza na base, conservando-se ainda os outros caracteres. Isto acon­tece, quando o virus syphilitico é inoculado no cancro molle, ou quando os dous virus são inoculados ao mes­mo tempo; porque, quando acontece o contrario; isto é, quando sobre o cancro duro se inocula o pus do cancro molle, aquelle perde todos os caracteres, con­servando só a dureza na base. D'isto resulta que um cancro mixto, a poder ser confundido com qualquer ou­tro, só o poderia ser com o cancro molle.

Poderá o cancro mixto explicar todas as excepções ás regras que os dualistas estabeleceram?

Vejamos. Um cancro molle seguido de accidentes geraes,

passando a outro individuo virgem de syphilis, pôde dar origem ao cancro molle, não seguido dos mesmos accidentes. N'este caso podem os dualistas dizer que o primeiro cancro era mixto, mas que ainda não tinha decorrido o tempo necessário para a incubação do vi-

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rus syphilitico, e que por isso só tinha transmittido o virus do cancro molle.

A um cancro molle, ou que polo menos foi consi­derado como tal, seguem-se accidentes geraes syphili­ticus. O cancro-rnixto ainda pode dar uma explicação d'esté facto, visto o confundir-se muito facilmente com o cancro molle, a ponto de muitas vezes não poder sei» reconhecido senão pelas consequências. Além d'estas, muitas outras excepções ainda so podem explicar pelo cancro rnixto ; mas algumas ha que escapam a uma tai explicação.

O pus d'um cancro, não seguido de accidentes ge­raes syphiliticus n'um individuo que nunca teve syphi­lis, inoculado n'outro individuo, produz um cancro a que se seguem esses accidentes. Pôde o cancro mixto explicar este caso?

Se no logar do primeiro cancro tivessem sido ino­culados os dous virus, o verdadeiro virus syphilitico ou seria absorvido, ou não. Dada a primeira hypothèse a infecção geral teria logar, e ao cancro do primeiro individuo seguir-se-hia a syphilis confirmada, o quo vai contra o principio que estabelecemos. Dada a segunda hypothèse, não se realisaria a infecção geral, e portanto a sua primeira manifestação, — o cancro duro ; logo esse cancro só conteria o vírus não infe­ctante, que inoculado no segundo individuo, daria lo­gar a um cancro que não podia 3er seguido do acci­dentes geraes, o que também é contra os princípios que admittimos. Esta e outras hypotheses, que os dua­listas (apesar do seu cancro mixto) não tCem podido explicar, acham-se convertidas em factos, no Tratado de doença* venéreas de Langlebert.

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Esta, e muitas outras hypotheses que ainda podía­mos formular, acham-se convertidas em factos, como se pôde ver na serie de observações, que vêem no li­vro de M. Langlebert sobre doenças venéreas.

Os factos apontados na observação segunda, tercei­ra,, quarta e quinta, e ainda em algumas outras das que se lhes seguem, não podendo ser explicados pelo cancro mixto, lançam completamente por terra o dua­lismo cancroso.

Excluído pois o dualismo, resta-nos dizer alguma cousa sobre o unicismo e suas variantes.

A opinião dos unieistas que explicam a variedade nos cancros pela differença na intensidade do virus e nas idiosyncrasias individuaes, não é hoje seguida por ninguém, nem mesmo tem razão de ser. A tal respei­to apenas diremos, que indivíduos com a mesma cons­tituição, com o mesmo temperamento, em tudo eguaes, podem ser affectados indistinctamente de cancros in­fectantes; e que indivíduos inteiramente différentes podem ser affectados dos mesmos cancros. E isto o que mostra a observação de todos os diaB.

Os que explicam essa variedade pela existência ou não existência d'uma diathese syphilitica anterior, estão no mesmo caso.

Os factos não estão de aacordo com tal explica­ção, provada como está, que o pus do cancro duro, inoculado n'um individuo, ainda mesmo que não te­nha tido syphilis, pôde dar logar a um cancro molle.

Excluídas todas estas hypotheses, resta-nos a ul­tima, que attribue a variedade nos cancros ao diffé­rente vehiculo do vírus, — serosiáaãe ou pus.

M. Langlebert, a quem se deve esta ultima hypo­thèse, não admitte dous virus, mas sim duas quali-

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dades de vehiculo para o mesmo vírus, serosidade e pus, ou serosidade e pus ao mesmo tempo, produzin­do uma lesão local, que abunda em serosidade ou em pus, conforme o virus que a produziu tinha por vehi­culo um ou outro d'estes elementos. E essa serosidade ou pus que, soffrendo segundo a opinião d'elle uma incubação local, e absorvido depois, vai produzir a infecção geral. É na maior difficuldade que o pus tem em ser absorvido, do que a serosidade, que está a differença nos dous cancros.

Admittindo, como M. Langlebert, a unicidade do virus syphilitico e os différentes vehiculos d'esse virus, como causa das duas espécies de cancros, discordamos em parte, da sua opinião, não admittindo o cancro in­fectante como lesão local, mas sim como a primoira manifestação da infecção geral, seguindo n'este ponto as ideias de Aimé Martin.

Apesar da habilidade e pericia com que M. Lan­glebert sustenta a não incubação do virus syphilitico, e a necessidade d'uma elaboração local d'esse virus, condição essencial para que elle se espalhe por todo o organismo ; não podemos de modo algum seguir a sua opinião a tal respeito, embora a sigamos no resto.

Não podemos de modo algum comprehender como o virus syphilitico, que.é (assim como todos os outros virus) oonsiderado por alguns pathologistas, como uma cousa immaterial e intangível, como uma força, como um fermento, precise de ser elaborado localmente. Em que consistirá essa elaboração ou incubação local?

Com certesa o virus não precisa de augmentar em quantidade para poder ser absorvido ; porque a absor-pção de qualquer principio dá-se sempre independen­temente da quantidade d'esse principio, logo que o

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absorvente e o absorvido estejam nas condições preci­sas para que se dê a absorpção. O que pôde variar são os effeitos, quando estão em relação com a quan­tidade do principio absorvido; mas no caso presente nem isso se dá.

Os virus, logo que sejam semeados em terreno em que possam germinar, propagam-seindifinidamente; os seus effeitos não dependem de nenhum modo da quan­tidade que é introduzida no organismo, por mais pe­quena que seja essa quantidade, leva em si os elemen­tos necessários para se reproduzir.

N'essa incubação local adquirirá o virus algumas propriedades que ainda não tinha? Julgamos que não, porque na lesão d'onde é tirado já possue tudo o que lhe é indispensável para ser absorvido, e produzir, a infecção geral.

Só se o virus tem de preparar o terreno por onde ha de ser absorvido, o que não parece crivei ! porque, se o prepara, é em sentido contrario, inflamando-o.

Por tanto não descoberta a causa que até certo tempo estorva e depois não estorva a introducção do virus syphilitico na economia, devemos concluir por analogia com os outros virus, que elle é immediata-mente absorvido.

Com o virus vaccinico acontece o mesmo. Póde-se dar a infecção, pôde o individuo que foi vaccinado atravessar incólume uma epidemia de variola, pôde uma segunda inoculação não produzir effeito algum, e comtudo não se ter dado a erupção local, ou porque se cauterisaram os pontos em que se fez a inoculação, ou por outra qualquer causa. Pôde mesmo uma segun­da inoculação praticada logo depois da primeira, e

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antes que se dê a erupção local, não produzir effei-to algum, como muito bem demonstra Aimée Mar­tin.

Demonstrada a não necessidade da lezão local para que se dê a infecção, resta-nos provar que e^sa lesão, o cancro duro, é a primeira manifestação da diathe-se syphilitica.

M. Langlebert, provando que a infecção syphili­tica' é o resultado do cancro infectante, prova ao mesmo tempo que essa lesão é o resultado da acção local do virus syphilitico; nós provando o contrario, nem por isso podemos d'ahi concluir que o cancro não infectante seja o resultado da infecção geral, e não o resultado da acção local, como acontece para o cancro infectante. Pôde ser o resultado da acção local do vi­rus, o ao mesmo tempo não ser causa de infecção geral.

M. Langlebert, sendo de opinião que o virus sy­philitico tem de soffrer uma incubação local, antes de ir produzir a infecção geral, e querendo ser conse­quente com os princípios que estabeleceu, tem forço­samente e contra todo o bom senso, de admittir que o cancro infectante é o resultado da acção local do virus syphilitico. Provando o contrario, não precisa­mos de cahir em tal contra-senso.

Se o cancro infectante ê uma lesão puramente lo­cal, qual a razão porque a serosidade d'esse cancro não ha de produzir essa mesma lesão n'outro ponto do mesmo individuo? Pôde muito bem ser que o virus, elaborado n'esse ponto, não possa ser absorvido em razão de já estar saturado o organismo; mas o que essa saturação não explica, é que se não possa dar a lesão

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local. O effeito pôde deixar de se dar, por que já exis­tia antes ; mas a causa ? o que é que faz com que ella se não dê, dependendo só d'um trabalho local?

M. Langlebert, para provar que o cancro duro é simplesmente o resultado d' um trabalho local, e que a absorpção só se dá depois d'esse trabalho, diz, que antes do apparecimento do cancro não ha prodromos, que o cancro apparece sempre no ponto em que ino­culado, que o cancro cicatriza facilmente logo que seja cauterisado energicamente e que não recidiva, o que não aconteceria, se dependesse da infecção geral. Taes argumentos pouco ou nada valem.

Na hydrophobia, doença de cuja incubação nin­guém duvida, o individuo gosa de saúde apparente-mente boa, emquanto a doença se não manifesta. Na mesma doença, a solução de continuidade em que se deu a inoculação, cicatrisa perfeitaniente, e só ás ve­zes chega a ulcerar-se proximo ao apparecimento dos primeiros symptomas. Não admira que tanto n'uma como n'outra doença se ulcere só o ponto em que se deu a inoculação, visto ter esse ponto sofïrido a acção local do virus, que embora se não manifeste por signal algum, o torna comtudo predisposto para que ahi ap-pareça a primeira manifestação da infecção geral. Em­quanto ao terceiro argumento que M. Langlebert apre­senta, elle mesmo se encarrega de o destruir a paginas 3 l6do seu tratado de doenças venéreas, dizendo: «A antiga escola do Meio-dia dizia que o cancro não podia recidivar. É um erro. O cancro molle, é verdade, não apparece mais depois que cicatriza; mas o cancro in­fectante pôde muito bem reproduzir-se depois de ter cicatrizado.» Comtudo, o facto do cancro infectante

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cicatrizar facilmente depois de cauterisado, e não reci­divar, não prova nada em favor da opinião de M. Langlebert. N'este caso a cauterisação teria destruído a predisposição local.

Do que deixamos dito conclue-se: 1.° A absorpção do virus syphilitico dá-se logo

immediatamente á inoculação d'esse virus. 2.° O cancro duro é o resultado da infecção ge­

ral. O apparecimento do cancro duro, ordinariamente

só passados 15 dias depois da inoculação, a persistên­cia da dureza depois da cicatrização, a possibilidade de se converter n'uma das lesões do secundo período da syphilis, e o facto de se lhe seguirem logo accidentes se­cundários, o que não acontece com o cancro molle, são outras tantas provas do que deixamos dicto.

Provado, pois como fica, que o cancro duro é a primeira manifestação da diathese syphilitica, e sendo admittido por todos os syphilographos, que o cancro molle é o resultado da acção local d'esse mesmo ví­rus ou d'outro, como querem os dualistas, é fácil achar a relação que existe entre a suppuração d'um cancro e a lesão a que dá origem a inoculação do producto d'essa suppuração.

Os cancros molles vêem acompanhados d'uma gran­de inflamação, e o pus d'esses cancros é quasi todo formado de glóbulos purulentos; os cancros duros são indolentes, o pus é seroso, e só irritando-os, é que a suppuração toma os caracteres da dos cancros molles.

Variando d'esté modo a composição do pus, é fá­cil de ver que esta circumstancia deve influir na maior ou menor facilidade em ser absorvido.

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Vejamos agora como podemos explicar por este meio tudo o que até aqui tanto tem embaraçado os différentes syphilographos.

Se um cancro molle dá origem a outro cancro também molle, é porque o virus tem n'esse caso, por vehiculo, pus, que abundando nos seus elementos só­lidos, e não podendo por isso ser absorvido com facili­dade, se demora no logar em que é inoculado, pro­duzindo ahi uma inflamação, que ainda mais augmenta a diffieuldade em ser absorvido. A inflamação pode propagar-se aos lymphaticos e ganglios visinhos, pro­duzindo assim uma lymphangite e adenites

Apesar da resistência que encontram, podem mes­mo assim entrar alguns glóbulos de pus nos lympha­ticos, e ser levados aos ganglios, produzindo directa­mente o que a inflamação tinha produzido indirecta­mente. Podem alguns glóbulos de pus vencer esta se­gunda barreira, entrar na corrente circulatória e dar logar á infecção geral. '

Se um cancro duro, transmittindo-se a outro indi­viduo, dá origem a outro cancro também duro, é por­que, n'esse caso o vehiculo do virus era serosidade na maior parte, que sendo immediatamente absorvida, não produziu a irritação local, dando logar á infecção ge­ral, e como consequência ao cancro duro, primeiro sym-ptoma d'essa infecção. >

Se um cancro molle dá origem a um cancro duro, é porque os glóbulos do pus não são em tão grande proporção, que produzam o seu effeito local, cancro molle, e consecutivamente a inflamação; de maneira que deixa de existir uma barreira á entrada do virus. D'esté modo dá-se a infecção geral, e o cancro duro.

Se um cancro infectante dá logar a um cancro

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molle, é porque alguma irritação produz momentanea­

mente um augmente de glóbulos porulentos, que vão produzir a lesão local, o cancro molle, cuja inflamação é um obstáculo á entrada do agente virulento. Isto mesmo tem­se feito arteficialmente, irritando a superficie d'um cancro duro. Inoculando o pus d'esté cancro, tem­se ob­

servado que o resultado é um cancro molle.

CONCLUSÕES

l.a Não consideramos a blennorrhagia como accidente primitivo da syphilis.

2.a O cancro molle e o cancro duro são ambos produzidos pelo mesmo ■virus.

3.a O cancro molle é o resultado da ac­

ção local do virus syphilitico. 4.° O cancro duro é o resultado da infec­

ção geral syphilitica.

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PROPOSIÇÕES

Anatomia — As hematias derivam dos leucocytos. Physiologia — A bile não exerce influencia sobre

os phenomenos chimicos da digestão. Materia medica —E ' só como alimento, que o óleo

de ligados de bacalhau figura na therap'eutica. Pathologia externa -— O cancro duro é o resultado

da infecção geral syphilitica. Medicina operatória — Nas amputações dos mem­

bros inferiores, optamos pelo methodo de retalho, quando este possa ser anterior ou lateral, e quando haja tecidos sufficientes para o formar.

Pathologia interna — Não admittimos a explicação dada por Jacoud, da dilatação do ventrículo esquerdo consecutiva á sténose mitral.

Partos — O aborto provocado acha-se em geral in­dicado, quando os diâmetros da bacia são inferiores a 65 millimetres.

Anatomia pathologica — A classificação hystologica dos tumores, no estado actual da sciencia, ainda não satisfaz as necessidades da clinic;».

Hygiene — A cultura dos arrozaes concorre até certo ponto, para o saneamento dos pântanos.

Pode imprimir-se. O CONSELHEIRO DIRECTOR,

, Costa Leite.

Vista.

K. S. Pinto.