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Relatório Técnico de Serviços Ecossistêmicos

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Relatório Técnico deServiços Ecossistêmicos

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Relatório Técnico de Serviços Ecossistêmicos

Fabio de Oliveira Roque | Fábio Padilha Bolzan

2019

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ELABORAÇÃO SD – Serviços Especializados CNPJ: 30.729.202/0001-30

COLABORAÇÃO

Dr. Fabio de Oliveira Roque: Professor do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

MSc. Fábio Padilha Bolzan: Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Conservação – PPGEC/Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS

PROPONENTE

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RELATÓRIO TÉCNICO FINAL

Este relatório final apresenta o conjunto de ações executadas pelo Componente Serviços Ecossistêmicos no que diz respeito os cinco produtos ora contratados e sobe a égide do termo aditivo 003/2018 firmado entre Mulheres em Ação no Pantanal (MUPAN) e SD – Serviços Especializados. O plano de trabalho firmado em 11 de fevereiro de 2019 compreende produtos relacionados ao sub-indicador 3.1.1 – Evidências estratégicas no que diz respeito ao desenvolvimento de serviços em áreas úmidas, como base para a influência de políticas públicas, sendo:

• Produto 1: Monetarização dos serviços ecossistêmicos para a Bacia do Alto Paraguai – BAP, como primeira aproximação;

• Produto 2: Caderno sobre serviços ecossistêmicos voltado para a capacitação de conselheiros de Unidades de Conservação;

• Produto 3: Desenvolvimento de framework para análise dos serviços ecossistêmicos em múltiplas escalas, incluindo hábitat. Este produto foi construído alinhado com a equipe do CPP/INAU;

• Produto 4: Submissão do trabalho envolvendo o conceito de BlueSpot para revista especializada em áreas úmidas. Formalização da monetização dos serviços ecossistêmicos para a BAP na forma de capítulo de livro sobre o Pantanal;

• Produto 5: Relatório Técnico Final.

Este relatório técnico foi organizado na forma de um documento recomendatório sucinto com a concepção central de cada produto bem como os desdobramentos que serão dados sobre eles. Assim, pretendemos apresentar o que foi desenvolvido sob o termo aditivo 003/2018, bem como os pontos chaves para a continuidade da construção de conhecimento fundamental e estratégico com potencial de influenciar tomadores de decisão e por fim, políticas públicas no que tange ao Corredor Azul.

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FRAMEWORK PARA ANÁLISE DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS EM MÚLTIPLAS ESCALAS, INCLUINDO MACRO-HÁBITAT

Este produto consiste no resultado de uma reunião de alinhamento de

desenvolvimento formado por duas frentes de trabalho; de um lado o Centro de Pesquisas do Pantanal e Instituto de Nacional de Áreas Úmidas (CPP e INAU respectivamente) ora coordenado pela Dra. Cátia Nunes da Cunha e, de outro o grupo de trabalho em Serviços Ecossistêmicos da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), ora coordenado pelo professor Dr. Fábio de Oliveira Roque.

Como ponto central desta reunião, foi definida a construção de um produto que englobasse a percepção das ameaças e impactos em diferentes cenários, sob uma visão dos potenciais serviços ecossistêmicos e bioeconomias. Partindo deste ponto e diante do relatório final apresentado pelo CPP/INAU “Ameaças e impactos – ponto focal Pantanal” adotando a metodologia do Millennium Ecosystem Assessment, foi sugerida uma análise das sobreposições a fim de se construir um mapa preliminar de ameaças para o Pantanal. Foram levantadas informações necessárias para a confecção deste produto preliminar, sendo explicitada a necessidade de buscar tais informações junto a órgãos competentes e que potencialmente possam compartilhar tais informações.

Ainda no escopo desta reunião de alinhamento e no que diz respeito a identificação dos tipos de macro-hábitats em função das escalas de interesse, ficou acordado por parte da equipe do CPP/INAU a construção de uma matriz com intuito de definir possíveis escalas de macro-hábitat e seus graus de incerteza, bem como determinar quais tecnologias serão necessárias (e.g. imagens de satélite de alta resolução, utilização de drones). Em escala macro de análise, foi sugerido o uso da classificação de (Assine 2015), a fim de analisar os macro- hábitats, mudanças do caráter ecológico bem como definir os serviços ecossistêmicos prestados neste escopo.

Seguindo proposição do CPP/INAU, foi sugerida a regionalização do Pantanal, a exemplo do que se tem procedido na Argentina. Desta forma, foi levantada a necessidade de descrever cada região do Pantanal, relacionando as áreas inundadas com a vegetação, utilizando-se para isso de uma oficina para construção e validação com grupo focal composto por sumidades no tema (e.g. Assine, Bergier, Aguinaldo, etc.).

Por fim, o grupo de trabalho destaca a necessidade de se desenvolver mapas mais refinados na escala de macro-hábitats para o Pantanal. Até o momento, os exercícios de cálculo de serviços foram feitos usando apenas mapas de tipologias vegetais, uma vez que são mais compatíveis com bases de dados internacionais de cálculo de serviços (Fig. 1). É fundamental, desta maneira, avançar no mapeamento de macro-hábitats do Pantanal para subsidiar novas iniciativas de cálculo de serviços usando categorias mais apropriadas para expressar a dinâmica ecológica de áreas úmidas.

Além disso, o grupo de trabalho detectou problemas conceituais no que tange ao uso de nomenclatura de Áreas Úmidas. O uso do termo wetlands (áreas úmidas) é particularmente problemático, pois é geralmente usado para se referir apenas para as áreas do Pantanal inundadas. Como desdobramento importante deste Produto 1, o grupo se reunirá com a equipe do Projeto MapBiomas (http://mapbiomas.org/) para alinhar categorizações. Estas discussões resultaram em alinhamento conceitual entre os colaboradores do Programa Corredor Azul.

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Figura 1.- As duas imagens à esquerda representam a atual tipologia de usos da terra disponível e sua utilização na quantificação de serviços ecossistêmicos. À direita representa uma classificação sugerida pelo grupo de trabalho para ser adotada nos estudos em larga escala, neste caso utilizando Assine, 2015.

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CADERNO SOBRE SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS VOLTADO PARA A CAPACITAÇÃO DE CONSELHEIROS DE UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

A produção do documento “Tomando decisões com base em Serviços

Ecossistêmicos” foi conduzida de forma que os potenciais usuários deste documento pudessem apropriar-se de conceitos e ferramentas atuais no que tange os serviços ecossistêmicos e a gestão territorial. Utilizado experimentalmente como um dos componentes de um compêndio de informações voltadas para o curso de capacitação de gestores de Unidades de Conservação, este documento visa contribuir para a capacitação profissional e introduzir os gestores aos mais atuais conceitos sobre biodiversidade e serviços ecossistêmicos, inclusive monetização.

Como primeira parte deste documento, destacamos conceitos chaves dos serviços ecossistêmicos, com ênfase nas classificações atuais bem como sua importância na interface ciência e política, apresentando os principais organismos que permeiam esse meio bem como suas interligações com as pessoas, instituições e a própria natureza. Neste ponto, nossa intenção era introduzir os usuários deste material no universo dos serviços ecossistêmicos de maneira simples e objetiva, ressaltando a importância do capital natural e as contribuições da natureza para a humanidade.

Após a conceitualização bem como a importância geral dos serviços ecossistêmicos para o bem-estar humano, adicionamos um exercício de monetização dos serviços ecossistêmicos. Para isso, utilizamos das tabelas de valores produzidos por (de Groot et al 2012) e a interface do sistema MapBiomas (http://mapbiomas.org/) para, de forma simples e direta, exemplificar e trazer a tona os valores dos serviços ecossistêmicos em uma área pré- determinada, utilizando para isto um exercício guiado. Assim, considerando que o perfil dos usuários deste documento é de gestores de Unidades de Conservação, durante a realização do curso exercitamos a valoração em uma Unidade de Conservação do Estado de Mato Grosso do Sul, ressaltando desta forma a contribuição de uma única Unidade de Conservação no provimento de serviços ecossistêmicos.

Aditivamente, mas não menos relevante, apresentamos uma ferramenta para a proteção e priorização de áreas para a manutenção dos serviços ecossistêmicos: o Planejamento Sistemático para Conservação. Esta ferramenta visa garantir a eficiência na utilização de recursos limitados para cumprimento de metas de conservação, de forma a servir de apoio diante de situações e usos conflitantes do solo, possibilitando uma revisão crítica das decisões baseadas neste sistema. Nesta etapa do documento, incluímos um exercício para treinamento e absorção inicial além de apresentar possíveis usos desta ferramenta no dia a dia de um gestor de Unidades de Conservação. Consideramos relevante o contato dos gestores com este tipo de ferramenta, principalmente por ampliar o entendimento da constituição de Unidades de Conservação e dos passos que levam a concepção de uma determinada localidade à destinação de conservação da natureza.

Na parte final do nosso documento, apresentamos um conteúdo complementar visando introduzir os gestores na governança de soluções dos desafios complexos envolvendo os serviços ecossistêmicos. Primeiramente buscamos exibir a função e governança dos atores envolvidos em um determinado problema, facilitando a compreensão de quem são e as suas capacidades de alterar ou agir na busca de soluções. Por fim, apresentamos a abordagem chamada Forças, Oportunidades, Fraquezas e Ameaças – FOFA, que tem como objetivo identificar os elementos chave para a gestão organizacional, como estabelecimento de prioridades de atuação e de decisões a serem tomadas, resolver e/ou minimizar riscos e problemas. Permite assim analisar de forma rápida os pontos fortes e fracos de uma determinada organização. De maneira geral, a utilização dessas duas ferramentas organizacionais apresentadas, capacita os gestores de Unidades de Conservação a otimizar o manejo dos problemas e mediação de conflitos.

Por fim, vale destacar que o Produto 2 foi desenvolvido com o intuito de ser um

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material de aprendizado ativo para um amplo público potencialmente interessado em serviços ambientais em áreas úmidas, como estudantes, professores, gestores de áreas de conservação, guias de turismo, entre outros.

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MONETARIZAÇÃO DOS SERVIÇOS ECOSSISTÊMICOS PARA A BACIA DO ALTO PARAGUAI – BAP, COMO PRIMEIRA APROXIMAÇÃO

A valoração de múltiplos serviços ecossistêmicos que a natureza provém e o

desenvolvimento de políticas públicas para a manutenção destes serviços está entre os mais importantes desafios para o desenvolvimento sustentável. A utilização de valores monetários para representar estoques, demandas, fluxos de funções ecossistêmicas em diferentes escalas e tempos tornou-se um meio simplificado de comunicação da importância dos serviços ecossistêmicos, abrindo oportunidades de diálogos entre governos, entidades ambientais, sociedade e mercado. Por outro lado, um grande esforço faz-se necessário no que diz respeito a implementação de estimativas ecológicas em planejamento de ações bem como dentro de políticas públicas.

Quando voltamos os olhos para as Áreas Úmidas, as questões sobre a valoração de seus serviços ecossistêmicos se amplificam. Se por um lado as Áreas Úmidas ocupam apenas 3% da superfície global, por outro, o lado monetário, elas representam cerda de 43% de todos os serviços ecossistêmicos providos no mundo. Por esta simples informação podemos entender o “valor” de importância da conservação e do uso sustentável das Áreas Úmidas. Neste sentindo, consideramos a apresentação do Produto 3 na forma de um capítulo de livro: “Valor monetário dos serviços ecossistêmicos do Pantanal: primeiras aproximações e perspectivas” que fará parte do livro “Flora and Vegetation of Pantanal Wetland” no qual trará uma abordagem atual e robusta sobre as características do Pantanal.

Embora haja críticas sobre a monetização de serviços ecossistêmicos, acreditamos que a demonstração espacialmente explícita da dimensão monetária dos serviços e desserviços ecológicos ajudará a melhorar o diálogo entre atores (proprietários de terras, tomadores de decisão, formuladores de políticas, investidores, conservacionistas, sociedade em geral, entre outros) em direção a soluções políticas capazes de conciliar exigências conflitantes do agronegócio e da conservação da biodiversidade no Pantanal a longo prazo.

No que diz respeito ao cumprimento do Produto 3, atualmente o manuscrito encontra- se em fase final de revisão e em breve será novamente encaminhado para o editor chefe responsável pela elaboração e revisão deste livro. Neste sentido, acreditamos que até o final deste ano o mesmo estará pronto para publicação.

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SUBMISSÃO DO TRABALHO ENVOLVENDO O CONCEITO DE BLUESPOT PARA REVISTA ESPECIALIZADA EM ÁREAS ÚMIDAS.

Vivenciamos nas últimas décadas um aumento significativo de ferramentas e incentivos econômicos voltados para a conservação da natureza bem como para ações de mitigação as mudanças climáticas e gestão do uso da terra (Di Marco et al 2018). Paralelamente, políticas e acordos internacionais de conservação (UN 1992; Convention on Biological Diversity (CBD) 2010; IPBES 2016) têm requisitado formalmente aos governos nacionais que estes utilizem de instrumentos econômicos e políticos para viabilizar a conservação da biodiversidade e a provisão de serviços ecossistêmicos (Mitchell et al 2015). Neste sentido e conectado com os objetivos do Programa Corredor Azul, nosso grupo propôs a submissão de trabalho científico envolvendo o conceito de HotSpot (i.e. identificação espacial de localidades de alto/baixo valor total de serviços ecossistêmicos) tendo como área focal a Bacia do Alto Paraguai. Não obstante ao desenvolvimento de uma primeira aproximação dos potenciais serviços ecossistêmicos da BAP, consideramos também uma análise da aplicação deste conceito em um instrumento político-econômico de conservação da natureza.

Dentre os vários instrumentos existentes e operacionais no mundo (Rode et al 2016), optamos em utilizar o esquema de transferência fiscal ecológica (TFE), no qual é visto como capaz de incentivar fortemente a conservação da natureza bem como subsidiar politicas e acordos internacionais (Ring 2008; Cassola 2010). Este tipo de instrumento se caracteriza por redistribuir parte das arrecadações públicas de acordo com o nível de conservação da natureza ou outros indicadores socioambientais (e.g. planos de gestão de resíduos; terras indígenas homologadas) (Droste et al 2017).

No Brasil, a iniciativa baseada em TFE intitulada de ICMS Ecológico (ICMS-E) representou a criação de um importante mecanismo político capaz de estimular um movimento governamental estadual em prol da conservação ambiental e do desenvolvimento sustentável (Droste et al 2017). Embora o principal fator motivador da criação do ICMS-E tenha sido a necessidade de compensar financeiramente municípios sujeitos a restrições no uso da terra, ele também foi considerado com potencial para servir como incentivo na ampliação das áreas de terra destinadas à conservação bem como para a melhoria da gestão das AP já existentes (Ring 2008).

Diante disso, vemos com otimismo e grande potencial de aplicabilidade a continuidade da produção de um manuscrito capaz de conectar o conceito HotSpot sob a “marca registrada” BlueSpot® ao instrumento ICMS Ecológico, culminando na absorção não apenas do método de HotSpot, mas também na apropriação do conceito de serviços ecossistêmicos e até mesmo das contribuições da natureza para a humanidade (Díaz et al 2018) nos mecanismos de cálculo do repasse do ICMS Ecológico utilizados pelos estados (Fig. 2).

Em termos de cumprimento do plano de trabalho referente ao termo aditivo 003/2018 supracitado neste relatório, salientamos que nosso produto se encontra em fase final de elaboração, com pendencias em tradução para a lingua inglesa bem como no desenvolvimento de soluções técnicas e legais no que tange a governança do instrumento por diferentes estados em uma mesma bacia hidrográfica. Acreditamos, neste sentido, que esse gargalo técnico/legal sirva como oportunidade de ressaltarmos a necessidade de uma gestão, embora respeite a governança politica estadual, integrada e com uma ótica não apenas sob as áreas protegidas nos territórios estaduais, mas também olhando a paisagem de forma contínua, esforço esse fundamental para a manutenção dos processos ecológicos e evolutivos. Por fim, nos dispomos a submeter o Produto 4 até o final deste ano em revista especializada a ser definida entre as partes.

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Figura 2.- Representação gráfica da integração do BlueSpot com o esquema de Transferência Fiscal Intergovernamental – ICMS Ecológico. Proposta para incrementar ao Índice ambiental municipal o conceito de Serviços Ecossistêmicos/Contribuição da Natureza para a Humanidade.

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RECOMENDAÇÕES FINAIS Como recomendação para os próximos passos do Programa Corredor Azul no que tange ao Componente Serviços Ecossistêmicos, destacamos a potencialidade de criação de uma linha de atuação em inteligência territorial em áreas úmidas dentro do Programa Corredor Azul. No caso do Pantanal, sugerimos os seguintes encaminhamentos e perspectivas:

1. Desenvolvimento do Framework completo de BlueSpot® como uma

abordagem de inteligência territorial para áreas úmidas; 2. Integrar o conhecimento sobre serviços ecossistêmicos em ferramentas de

gestão territorial, particularmente sistemas de compensação e avaliação de impactos;

3. Integrar o conhecimento sobre serviços ecossistêmicos em iniciativas de pagamentos de serviços ambientais, por exemplo, ICMS ecológico e programas de PSA;

4. Integrar o conhecimento sobre serviços ecossistêmicos em iniciativas de Bioeconomia;

5. Integrar o conhecimento sobre serviços ecossistêmicos em programas de ensino e formação de pessoal.

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REFERÊNCIAS

Assine ML (2015) Brazilian Pantanal: A Large Pristine Tropical Wetland. Landscapes and Landforms of Colombia. pp 135–146

Cassola R (2010) TEEBcase: Financing conservation through ecological fiscal transfers

Brazil. Convention on Biological Diversity (CBD) (2010) X/5. Implementation of the Convention and

the Strategic Plan The Conference of the Parties, Taking note. de Groot R, Brander L, van der Ploeg S, et al (2012) Global estimates of the value of

ecosystems and their services in monetary units. Ecosystem Services 1:50–61. doi: 10.1016/j.ecoser.2012.07.005

Di Marco M, Watson JEM, Currie DJ, et al (2018) The extent and predictability of the

biodiversity–carbon correlation. Ecology Letters 21:365–375. doi: 10.1111/ele.12903 Díaz S, Pascual U, Stenseke M, et al (2018) Assessing nature’s contributions to people.

Science 359:270–272. doi: 10.1126/science.aap8826 Droste N, Lima GR, May PH, Ring I (2017) Municipal Responses to Ecological Fiscal

Transfers in Brazil: A microeconometric panel data approach. Environmental Policy and Governance 27:378–393. doi: 10.1002/eet.1760

IPBES (2016) Scenarios and Models of Biodiversity and Ecosystem Services. Mitchell MGE, Suarez-Castro AF, Martinez-Harms M, et al (2015) Reframing landscape

fragmentation’s effects on ecosystem services. Trends in Ecology and Evolution 30:190– 198. doi: 10.1016/j.tree.2015.01.011

Ring I (2008) Integrating local ecological services into intergovernmental fiscal transfers: The case of the ecological ICMS in Brazil. Land Use Policy 25:485–497. doi:

10.1016/j.landusepol.2007.11.001 Rode J, Wittmer H, Emerton L, Schröter-Schlaack C (2016) ‘Ecosystem service

opportunities’: A practice-oriented framework for identifying economic instruments to enhance biodiversity and human livelihoods. Journal for Nature Conservation 33:35–47. doi: 10.1016/j.jnc.2016.07.001

UN (1992) Rio Declaration on Environment and Development. Environmental Conservation

19:366–368. doi: 10.1017/S037689290003157X

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Serviços Ecossistêmicos Da Bacia Do Alto Paraguai:

Primeira Aproximação

Produto n.º 03 – Relatório Final

2019

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Sumário

Introdução................................................................................................................. 3

Materiais e Métodos ................................................................................................. 5

Base de dados .................................................................................................. 5

Processamento de dados ................................................................................. 7

Extraindo as informações .................................................................................. 7

Transformando dados brutos em subprodutos .................................................. 7

Unificando os subprodutos ................................................................................ 8

Analisando os dados ......................................................................................... 9

Resultados................................................................................................................ 9

Considerações Finais ............................................................................................. 24

Valores não materiais ..................................................................................... 24

Serviços nas perspectivas dos atores envolvidos ........................................... 24

Inclusão de medidas de provisão de alimentos e segurança alimentar ........... 25

Refinamento dos bancos de dados e mapas .................................................. 25

Dados de biodiversidade strito sensu e calibração de modelos de paisagem ... 26

Monetarização de serviços ambientais: primeira aproximação ........................ 26

Multifuncionalidade e integração dos dados .................................................... 27

Bluespots of ecological services: uma nova abordagem para o Planejamento do Pantanal ........................................................................................... 28

Referências Bibliográficas ...................................................................................... 31

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INTRODUÇÃO

As áreas úmidas estão entre os ecossistemas naturais mais produtivos do mundo e

oferecem uma ampla gama de benefícios paras as comunidades, tanto localmente quanto em escala global (Barbier et al., 1997; Junk et al., 2011).Tais benefícios incluem os serviços de provisionamento (bens/produtos obtidos de um ecossistema), serviços de regulação (benefícios obtidos da regulação dos processos ecossistêmicos e/ou capacidade de amortecimento dos serviços ecossistêmicos), serviços culturais (benefícios não matérias e enriquecedores) e serviços de suporte (serviços necessários para a produção e prestação de outros serviços ecossistêmicos) (UN-MEA, 2005).

Reconhecido como Patrimônio Nacional pela Constituição de 1988 e parte do seu território foi designado como Reserva da Biosfera e Patrimônio Natural da Humanidade pela Unesco em 2000, o Pantanal oferece uma oportunidade única para o desenvolvimento sustentável e conservação da biodiversidade. O Pantanal caracteriza-se como uma das maiores áreas alagáveis do planeta, cobrindo aproximadamente 150 mil km² da Bacia do Alto Paraguai (BAP) dos quais drenam o cerrado do Brasil central (Harris et al., 2005). A BAP compreende as terras baixas (Pantanal) e as terras altas (Planalto) com diferenças importantes na situação de conservação da vegetação nativa. A planície pantaneira abriga ~80% de remanescentes e a região do planalto, com mais de 60% da cobertura nativa convertida em pastagens e agricultura, revela um aspecto alarmante não apenas pelas diferenças na quantidade de remanescentes, mas principalmente pela velocidade da supressão da vegetação nativa (Roque et al., 2016).

Um dos mais importantes desafios para a BAP é conciliar a crescente demanda para o desenvolvimento socioeconômico, principalmente a pecuária extensiva, agricultura, crescimento urbano e turismo, enquanto se provém essenciais serviços ecossistêmicos de água, integridade da paisagem, proteção da vida selvagem e manutenção de modos tradicionais de vida. Aliado a este desafio, a dinâmica dos ecossistemas do Pantanal, definidos sobretudo pelo pulso de inundação, está sendo ameaçada pelas recentes tendências de desenvolvimento, com a substituição dos modelos tradicionais de pesca e pecuária, pela exploração intensiva, acompanhada do desmatamento e da degradação dos cursos d'água (Alho and Sabino, 2012). Neste sentido, o desenvolvimento de políticas públicas que retratem as particularidades do Pantanal faz-se necessário, agregando conhecimentos técnicos e aderentes sobre os potenciais serviços ecossistêmicos prestados pela BAP,

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influenciando em ações mais efetivas e consistentes para assegurar a conservação e o uso sustentável dos recursos do Pantanal.

Como benificiários diretos e indiretos de serviços ecossistêmicos, os seres humanos são parte integrante e fortemente dependentes dos ecossistemas de áreas úmidas como o Pantanal (da Silva et al., 2015; TEEB, 2010). Abaixo uma síntese produzida pela ONU indicando as conexões e forças entre os constituintes do bem-estar humano e dos serviços ecossistêmicos (Figura 1). Figura 1. Ligações e intensidade dos constituintes de bem-estar humano e de provisão de serviços ecossistêmicos. Figura adaptada a partir de documentos da Convenção Internacional de Diversidade Biológica.

Dada a importância dos benefícios ecossistêmicos para o desenvolvimento sócio econômico do Pantanal, incluindo a provisão de diferentes produtos da agricultura, da pesca e do turismo, nosso principal objetivo neste documento é iniciar a construção de bases cientificas e elaboração de mapas sínteses de serviços ambientais no Pantanal que possam influenciar tomadas de decisão para a conservação, uso sustentável de biodiversidade e potenciais programas de Pagamentos por Serviços Ambientais e incentivos fiscais. Assim, considerando que a base de funcionamento de todos os ecossistemas é formada por relações complexas envolvendo biodiversidade, aspectos físicos e atividades humanas, nesta primeira aproximação, dêmos ênfase nas avaliações de serviços ambientais materiais (provisão, manutenção e bens) em escala de paisagem. Neste relatório também incluímos informações

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gerais para iniciarmos um amplo refinamento de cálculos para monetarização de serviços ambientais. Entretanto, um dos grandes desafios para as próximas avaliações de serviços ambientais será considerar o valor da biodiversidade em termos culturais para as pessoas da região, incluindo comunidades indígenas, rurais e tradicionais que vivem no Pantanal.

Materiais e Métodos

Base de dados

A base de dados consistiu de mapas de referência oriundas de diversas

organizações e com escopo temporal e geográfico variado (Tabela 1.) Tabela 1.- Tabela apresentando os mapas de referência apresentados no primeiro relatório e que foram utilizados nos cálculos dos serviços ecossistêmicos da BAP

Nome do

produto/Mapa

Ano Descrição

Fonte/Autor

Cobertura e

uso do solo

2016

Mapa em formato matricial (pixel 30x30m), fornecendo informações sobre florestas, formações naturais não florestais, uso agropecuário, áreas não vegetadas e corpos d’água.

Projeto

MapBiomas

Relevo

2011

Mapa em formato matricial (pixel 30x30,) elaborados a partir dos dados SRTM (Missão Topográfica Radar Shuttle) fornecendo o Modelo Digital de Elevação (MDE) e suas derivações.

Instituto Nacional

de Pesquisa

s Espaciais

– INPE

Hidrografia

2017

Mapa representando a rede hidrográfica em trechos entre os pontos de confluência dos cursos d'água de forma unifilar. Cada trecho é associado a uma superfície de drenagem denominada ottobacia, à qual é atribuída a codificação de bacias de Otto Pfafstetter. Uma característica essencial dessa representação é ser topologicamente consistente, isto é, representar corretamente o fluxo hidrológico dos rios, por meio de trechos conectados e com sentido de fluxo.

Agência Nacional

das Águas

Áreas Prioritárias

para a Conservaç

ão e

2009/2014

Mapa representando as áreas onde ações para a conservação, utilização sustentável e repartição de benefícios da biodiversidade brasileira devem ser priorizadas. Para o Estado de Mato Grosso do Sul, houve um avanço destas áreas provenientes da primeira

MMA/SEMA

– MS

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Corredores da Biodiversidade

aproximação do Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), apresentado dados mais refinados frente ao Mato Grosso.

Áreas Protegidas

2018

Mapa representando a base de dados do MMA e da Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Apresenta as Unidades de Conservação de Uso Sustentável e Proteção Integral, bem como as Terras Indígenas homologadas. Ambas bases pertencem ao Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC).

MMA e FUNAI

Estoque de Carbono

2016

Mapa representando a quantidade estocada de carbono acima do solo, no qual integrou múltiplas referências e bancos de dados para gerar um mapa pantropical de biomassa. Os dados são apresentados em Megatonelada de Carbono acima do solo, com detalhamento de aproximadamente 1km2, delimitados pelo recorte da BAP.

Avitabile et al. (2016)

Complexidade de hábitat

2006

Mapa representando indiretamente o quão vertical é uma formação vegetal, permitindo uma compreensão de maior (florestas) ou menor (pastagens) complexidade da paisagem. Utilizou-se a metodologia proposta por Miranda et al. (2017), na qual considera o valor das médias de NDVI (Índice de Vegetação da Diferença Normalizada) como parâmetro para o volume de biomassa acima do solo. Para a confecção deste mapa, utilizou-se imagens do satélite MODIS na banda NDVI com resolução de 250 metros.

Serviço Geológic

o dos Estados Unidos - USGS

Heterogeneid

ade de hábitat

2006

Este mapa representa o quão distinto são os ambientes entre sim, possibilitando a compreensão das diferenças de ambientes de uma determinada paisagem. Utilizou-se a metodologia proposta por Miranda et al. (2017), na qual considera o valor dos desvios padrões de NDVI (Índice de Vegetação da Diferença Normalizada). Para a confecção deste mapa, utilizamos imagens do satélite MODIS na banda NDVI com resolução de 250 metros.

Serviço Geológic

o dos Estados Unidos - USGS

Contribuiçã

o hídrica

-

Mapa representando a relevância de determinadas áreas, neste caso micro bacias, no aporte das águas para a bacia hidrográfica do Rio Paraguai, considerando apenas os limites da BAP.

WWF

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Captura de Pescado

2011

mapa categórico para o corpo hídrico de acordo com a quantidade capturada de peixes tanto por pescadores profissionais quanto pela pesca esportiva. Dados apenas para o Mato Grosso do Sul

IMASUL

Processamento de dados

Como primeira etapa do processamento dos mapas de referência, construímos

uma grade, com unidade de planejamento (UP) em formato hexagonal medindo 25 mil hectares cada UP. O uso de UP é um importante passo para definir unidades comparáveis de análise e para o cálculo de métricas de paisagem (Lourival et al., 2009). Desta forma, nossas informações neste primeiro exercício podem ser sistematicamente expressas e assim possibilitar a sobreposição dos nossos mapas base.

Extraindo as informações

Utilizamos o algoritmo Estatística Zonal a fim de extrair os valores dos dados provenientes de mapas em formato matricial. Este procedimento traz como resultado as estatísticas básicas (i.e. média, desvio padrão, soma) para cada UP. Rodamos este algoritmo para os mapas Complexidade e Heterogeneidade de hábitat, Estoque de Carbono e Uso e Cobertura do Solo. Vale ressaltar, que para o mapa de Uso e Cobertura do Solo, o mesmo foi separado em categorias relevantes para este trabalho, como Uso para Pastagens e Áreas Úmidas não Florestais.

Para os dados vetoriais, rodamos o algoritmo Interseção, possibilitando assim a quantificação em área dos mapas de Áreas Protegidas, Áreas Prioritárias para a Conservação e Corredores da Biodiversidade e Contribuição Hídrica. Também utilizamos este processamento para estimar o Potencial de Produção de Gado (subproduto), após transformar os dados matriciais das pastagens em dados vetoriais.

Transformando dados brutos em subprodutos

De maneira geral, os dados obtidos dos diferentes mapas nos retornaram a

quantidade de área de uma determinada categoria/mapa de referência para cada UP, com exceção dos subprodutos Estoque de Carbono, Complexidade e Heterogeneidade de Hábitat. Entretanto, algumas categorias necessitaram de pós processamento dos dados brutos para melhor

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representa-las, refinando o valor bruto das áreas. Esta etapa pós processamento ocorreu para os mapas de Potencial de Produção de Gado, Contribuição Hídrica e Áreas Protegidas.

Para o cálculo do Potencial de Produção de Gado, consideramos a área total de pastagem para cada UP e ponderamos esta área em função da capacidade de suporte das pastagens de cada município contido no Pantanal (Luíz et al., 2016). Assim, este subproduto resultou não em um valor de área, mas sim em número de cabeças potencial por UP.

Para o subproduto Contribuição Hídrica, o refinamento dos dados brutos se deu ponderando a área coberta da UP por uma microbacia multiplicando esta área da fração da microbacia pela contribuição hídrica da microbacia.

Por fim, para o subproduto Áreas Protegidas, após extrair a quantidade de Áreas Protegidas dentro de cada UP, multiplicamos esta área pelo Fator de Conservação da Biodiversidade (IMAP, 2001). Assim, ponderamos tais áreas em função do seu “valor de importância” para a conservação.

Adicionalmente, para avaliarmos a importância do turismo na região pantaneira, construímos um mapa com dados dos empreendimentos de turismo no Pantanal. Este mapa é oriundo de uma primeira coleta de dados realizada pela EMBRAPA Pantanal (os dados foram disponibilizados pelo Dr. Walfrido Tomaz em novembro de 2018), sendo separados pelas categorias “Pesca”, Ecoturismo” e “Mista. Munidos dos lugares e suas respectivas categorias, espacializamos tais informações inicialmente na forma de vetores. Entretanto, para uma melhor compreensão, pós processamos estes dados, convertendo-os em dados matriciais para que pudéssemos construir um mapa de calor do ecoturismo no Pantanal. Todavia, ranqueamos os dados em função das categorias, dando uma pontuação no valor de 1 para os empreendimentos com apenas uma categoria (e.g. pesca), e valor de 2 para os empreendimentos com categoria “mista”. Assim, além de obtermos manchas onde há maior número de empreendimentos, atribuímos maior “calor” para àquelas onde os empreendimentos oferecem as categorias de pesca e ecoturismo concomitantemente.

Unificando os subprodutos

Em virtude da grande diferença entre as unidades de medida de cada subproduto, foi necessário rodarmos um procedimento estatístico denominado de normalização. Este procedimento possibilita que todos os dados estejam em uma mesma escala numérica, permitindo uma análise mais coerente entre e com eles. Após este procedimento, somamos

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os valores obtidos de cada subproduto para cada UP e obtendo o score final. Munido dos scores, concatenamos com as UP para assim espacializarmos. Entretanto, da mesma forma que processamos o mapa de calor do ecoturismo no Pantanal, para uma visualização mas amigável e intuitiva, transformamos nossas UP em pontos através do algoritmo Centroides. Por fim interpolamos e geramos um mapa de calor, como primeiro ensaio dos “BlueSpots”.

Analisando os dados

Após normalizarmos os dados, rodamos uma matriz de correlação de Pearson a

fim de observarmos a existência de congruências e divergências entre nossos subprodutos, de forma que pudéssemos identificar dados fortemente correlacionado. Este procedimento é útil para evitar a supervalorização de variáveis fortemente congruentes.

Resultados

De acordo com o Convenção de Ramsar, as áreas úmidas beneficiam as pessoas

por meio de controle de inundações, retenção e exportação de sedimentos e nutrientes, purificação de água, produção e manutenção de biodiversidade, produtos e bens, valores culturais, turismo e recreação e mitigação e adaptação a mudanças climáticas. Neste relatório, nossos resultados reúnem mapas temáticos associados ao Pantanal que poderão compor uma ampla estratégia de avaliação e síntese de potenciais serviços ambientais. Abaixo apresentamos os mapas e um resumo (Tabela 2.) indicando desafios para seu uso efetivo na avaliação de serviços nos próximos anos.

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Tabela 2.- Comentários gerais sobre as bases de dados usadas nos ensaios de quantificação de serviços ambientais do Pantanal.

Subprodutos Justificativa Potenciais

serviços Desafios

Contribuição hídrica

Torres de água podem ser

consideradas como áreas que prestam

um serviço desproporcional

em relação a sua área em termos de contribuição hídrica

para o Pantanal. Este mapa valoriza

determinadas bacias

hidrográficas do Planalto que contribuem

fortemente para a dinâmica

hidrológica do Pantanal.

Produção de água, ciclo de água, controle

do pulso de inundação

Entender melhor o papel das torres de

água para o controle hidrológico

do Pantanal e relações planalto-

planície.

Estoque de Carbono

Um dos mapas mais relevantes

para avaliar o papel do Pantanal na estocagem de

carbono. A quantificação de carbono é um dos

serviços mais facilmente

monetizáveis atualmente.

Serviço de regulação,

adaptação e mitigação de mudanças climáticas

Mapa produzido em escala global, com pouco refinamento

para a dinâmica temporal do Pantanal.

Entretanto, é o único mapa hoje

disponível na escala da BAP. Necessita de

melhor calibração para áreas úmidas como o Pantanal.

Um grupo de pesquisadores do Instituto Nacional

de Sustentabilidade esta trabalhando atualmente neste

refinamento. Portanto, para os próximos

anos é esperado a

disponibilidade de

mapas mais refinados.

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Heterogeneidade de hábitat

A variação espacial de NDVI por paisagem é

uma forma indireta de avaliar a

heterogeneidade das paisagens, podendo servir como proxy de biodiversidade.

Indicador de biodiversidade e

serviços ecossistêmicos

como polinização.

Potencialmente um proxy do

serviço “produção de

biodiversidade”

Ainda não temos estudos empíricos da eficácia de se usar variação de NDVI como um

preditor de biodiversidade

terrestre e aquática. Portanto, necessita

de validação.

Complexidade de hábitat

A variação

espacial de NDVI por paisagem é

uma forma indireta de avaliar a

complexidade das paisagens,

podendo servir como proxy de biodiversidade.

Indicador de biodiversidade e

serviços ecossistêmicos

como polinização.

Potencialmente um proxy do

serviço “produção de

biodiversidade”

Ainda não temos estudos empíricos da eficácia de se usar variação de NDVI como um

preditor de biodiversidade

terrestre e aquática. Portanto, necessita

de validação.

Áreas prioritárias para a conservação

e Corredores de Biodiversidade

Mapas produzidos pelo MMA e Zoneamento

Ecológico Econômico do

Estado de MS por meio da

ferramenta de planejamento

sistemático para conservação.

Indicador de biodiversidade e

serviços ecossistêmicos

como polinização.

Potencialmente um proxy do

serviço “produção de

biodiversidade”

Mapas precisam de atualização, particularmente áreas prioritárias de Mato Grosso.

Captura de peixes

O mapa de

desembarque pesqueiro deve ser entendido como um

proxy geral de pesca no Pantanal, um dos serviços de

bens mais claramente

associados com áreas úmidas.

Produção pesqueira e pesca recreativa

Mapas precisam de atualização. Além disso, a escala de

rios é bastante grosseira para ser

usada na integração com outros serviços, bem como não

possui os pontos de captura.

Portanto, consideramos

que o pantanal precisa de

estudos mais

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refinados sobre

seus estoques pesqueiros.

Os mapas de turismo no

Pantanal tem melhorado

bastante nos últimos

anos graças as O número de

pousadas iniciativas dos

e empreendimentos

Observatórios de

Distribuição de

turísticos pode ser Valores culturais, Turismo de MS e MT,

empreendimentos

entendido como um

recreacionais e entretanto algumas

turísticos proxy de serviços turismo informações ainda culturais das áreas carecem de

melhor úmidas. espacialização.

Número de turistas por região/ano e

gastos associado ao local precisam ser

levantados Os mapas

existentes no âmbito da bacia do

Alto Paraguai ainda

são muito deficientes

em relação a

distribuição Mapa de

distribuição das populações,

de comunidades dinâmicas de uso do

tradicionais e espaço, áreas de vida,

Comunidades tradicionais e

indígenas

Áreas delimitadas

e reservas relacionadas às comunidades tradicionais e

indígenas

indígenas pode ser considerado

um proxy do serviço das áreas úmidas de prover

condições de vida

uso de recursos. Portanto,

entendemos que um mapa refinado das populações tradicionais e

indígenas

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para comunidades

do pantanal seja uma

humanas demanda prioritárias

para os próximos anos

buscando uma efetiva

inclusão de dados sociais e culturais

na avaliação de

serviços do Pantanal.

Controle hidrológico filtragem (brejos)

Áreas de brejos são

reconhecidamente importantes no

processo de controle de

inundações e purificação de

águas. Além de serem

áreas chaves para espécies

migratórias.

Filtragem de água e controle de enchentes

Controle de enchentes, retenção e

transporte de sedimentos e

nutrientes Serviço de regulação e

suporte

Este conceito esta sendo

desenvolvidos pela Leques aluviais equipe coordenada

pelo (mapa não incluído

neste Áreas de leques

aluviais Dr. Bergier da

relatório, mas como recebem uma grande

EMBRAPA. Sugerimos

potencial de ser quantidade de uma aproximação com

informativo em termos

sedimentos vindos do

este grupo de pesquisa

de serviços prestados

Planalto para a incorporação

pelo Pantanal) destes serviços nos futuros mapas de serviços do

Pantanal. Pontos de controle Regiões do

sistema hidrológicos que

prestam um controle

desproporcional

Controle de enchentes, retenção e

transporte de sedimentos e

Este mapa precisa ser desenvolvido

nos próximos meses por

hidrológico (mapa não incluído

neste relatório, mas como

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potencial de ser em relação a sua área em termos de controle de fluxos

de água, por exemplo,

“arrombados do sistema Taquari”

nutrientes Serviço de regulação e

suporte

especialistas de área de hidrologia. informativo em

termos de serviços prestados

pelo Pantanal)

Um dos principais O maior desafio para os

serviços de bens e

próximos meses é gerar

produção ligados as

um mapa mais realístico

áreas úmidas. A da produção de gado em

Potencial de Produção de

Gado

produção de gado no

Pantanal é uma

Produção de bens

pastagens nativas do

Pantanal. O mapa atual

atividade secular e é apenas um ensaio certamente a

produção baseado em várias

de gado em pastagens

premissas gerais.

nativas representa um

Necessitamos de um

dos serviços naturais mais relevantes do Pantanal em

termos econômicos.

mapa com dados refinados

baseados nas declarações dos proprietários e

estimativas que considerem variações

regionais na qualidade das

pastagens. Entendemos que este mapa deva ser desenvolvido em colaboração com FAMASUL,

EMBRAPA e WWF.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Valores não materiais

Nesta primeira aproximação, dêmos ênfase nas avaliações de serviços

ambientais materiais (provisão, manutenção e bens) em escala de paisagem. Embora o mapa de turismo possa ser considerado um exemplo de importância da biodiversidade em termos culturais, nós não incorporamos medidas de valores simbólicos, históricos e psicológicos associados. Um dos grandes desafios para as próximas avaliações de serviços ambientais será considerar o valor da biodiversidade em termos culturais para as pessoas da região, incluindo comunidades indígenas, rurais e tradicionais. Por exemplo, mapeando sítios sagrados, espaços de trocas de informações sobre biodiversidade, entre outros.

Serviços nas perspectivas dos atores envolvidos

Os mapas que foram gerados até o momento não consideram uma abordagem interpretativa das pessoas em relação aos serviços ambientais. Entendemos ser fundamental para os próximos anos, dentro do contexto do Projeto Corredor Azul, incluir a perspectiva de avaliação de serviços explorando a pluralidade de valores que os indivíduos e grupos sociais atribuem aos ecossistemas em um contexto geográfico específico, seguindo as recomendações do Painel Intergovernamental de Biodiversidade e Serviços Ecossistêmico (IPBES) e (Chan et al., 2016). Esta avaliação é fundamental para identificar estratégias de conservação e minimização de conflitos em torno de serviços ambientais que podem ser interpretados de forma divergente entre usuários.

Vale destacar a possibilidade de parceria entre a equipe do Projeto Corredor Azul e membros do Projeto CASEST (uma parceria entre o programa de pós-graduação em Ecologia e Conservação da UFMS e da Universidade de Angers, França) que possuem como objetivo entender as expressões de valores individuais a partir de uma perspectiva interpretativa e como isso pode informar a linguagem de valor dos serviços ecossistêmicos no Pantanal.

Inclusão de medidas de provisão de alimentos e segurança alimentar

Zonas úmidas fornecem acesso a alimentos tanto diretamente, por meio de plantas e animais silvestres, quanto indiretamente, via renda de produtos florestais e aquáticos que podem ser usados para aquisição de comida. Apesar disso, a provisão de alimentos e a segurança alimentar que esse sistema assegura permanece pouco quantificado (Cruz-Garcia et al., 2016). Nesse contexto, incluir esse tipo de abordagem no Projeto Corredor Azul possibilitará explorar o papel dos alimentos silvestres no apoio aos meios de subsistência e saúde das comunidades indígenas, rurais e tradicionais, com potencial futuro de informar quadros e estratégias integrativas de políticas de segurança alimentar e conservação. Assim, sugerimos para os próximos meses a inclusão de uma abordagem integrada de dados que retratem o consumo e a venda de produtos florestais e aquáticos, afim de inferir sobre a dependência e provimento que alimentos silvestres desempenham no apoio à renda familiar e na subsistência de autoconsumo.

Refinamento dos bancos de dados e mapas

Os mapas aqui apresentados devem ser vistos como primeiras aproximações. O Pantanal é um sistema complexo temporalmente, devido a sazonalidade e pulso da inundação, o que demanda muita cautela no uso de mapas estáticos no contexto de

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planejamento regional. Além disso, muitas variáveis sociais e ecológicas ainda não foram mapeadas com precisão no Pantanal, particularmente a distribuição de espécies de plantas e animais, dinâmicas de uso de espaço por populações tradicionais, qualidade de água, consumo de produtos naturais por comunidades pantaneiras, entre outros. Mesmo informações de atividades econômicas seculares como pesca e pecuária ainda não possuem mapas com alta precisão espacial e estimativas frequentes e organizadas. Portanto, conforme destacamos neste relatório, os cálculos de serviços ambientais no Pantanal e o desenvolvimento de abordagens mais sintéticas são bastante limitados devido a disponibilidade de bases com informações georreferenciadas atuais. Para os próximos meses, sugerimos a criação de grupos de trabalho para refinamento das bases de dados e mapas referência, particularmente os relacionados à pesca, pecuária e populações tradicionais.

Dados de biodiversidade strito sensu e calibração de modelos de paisagem

Nós utilizamos mapas com métricas de paisagem como proxies de biodiversidade. Embora esta seja uma abordagem amplamente usada para alimentar exercícios de planejamento regional em locais onde os dados de biodiversidade strito sensu são deficientes, devemos destacar que para o Pantanal ainda necessitamos calibrar melhor os modelos baseados em métricas de paisagem com dados de distribuição de biodiversidade. Nos próximos meses, uma equipe coordenada pelo Instituto Nacional de Sustentabilidade e PPBio produzirá mapas de distribuição potencial de várias espécies no Pantanal que poderão ser incorporados nos cálculos de serviços e também para calibrar nossos modelos.

Além desses mapas de distribuição potencial, acreditamos ser fundamental a geração de mapas de distribuição de espécies com potencial de serem usadas em cadeias produtivas sustentáveis, tais como: arroz do Pantanal, cumbarú, bocaiuva, pequi, e peixes ornamentais.

Monetarização de serviços ambientais: primeira aproximação

Um dos maiores desafios para avaliações abrangentes de múltiplos valores da biodiversidade e serviços ambientais é atribuir valor monetário. Cabe destacar que monetarização deve ser entendido como um dos valores e não como o único. (Costanza et al., 1997), numa das primeiras tentativas de cálculo de valor para os serviços ecossistêmicos do mundo, destaca que o valor monetário deve ser colocado como um ponto de partida para uma discussão mais aprofundada das técnicas, potencialidades e armadilhas da avaliação ecológico-econômica. Os autores calculam valores globais médios de serviços ecossistêmicos em 17 tipos distintos de serviços e 16 biomas. O Pantanal brasileiro é sugerido por este estudo como um "ponto quente" global, ou área de valor distintamente alto ($US $ 10 000 por hectare por ano). Neste estudo, o Pantanal foi considerado como uma wetland basicamente homogênea espacialmente e estável temporalmente. Posteriormente, Seidl and Moraes, (2000) chamaram atenção para necessidade de se considerar variações ecológicas dentro do pantanal nos cálculos de serviços, particularmente as diferenças entre áreas úmidas e secas. Desde então, trabalhos avaliaram alguns recursos (e.g. estimaram o gastos anuais com pesca recreacional no Pantanal Sul como maiores que US$ 36 milhões; (Tortato et al., 2017) avaliaram monetariamente os retornos financeiros com observação de onças em algumas regiões do MT e estimaram valores próximos a US$84.3 per hectare) na tentativa de refinar estimativas de valores monetários da biodiversidade no Pantanal. A despeito destes avanços, nós ainda não temos uma síntese de monitorização de múltiplos serviços no Pantanal, considerando dados locais e regionais atualizados. Neste contexto, apenas como um primeiro ensaio (Tabela 3), nós utilizamos os valores de referência para sistemas ecológicos sugeridos por (Costanza et al., 1997; de Groot et al., 2012) e

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aplicamos nas tipologias de sistemas savânicos secos, florestais e sistemas úmidos dentro do Pantanal.

Categoria Valor monetário (US$)

Área (ha) Valor Total (US$)

Formação Campestre

$ 2,871.00 4302838.63 $ 12,353,449,706.

73 Pastagem $ 3,171.00 2605380.31 $

8,261,660,963.01

Água $ 4,267.00 603693.41 $ 2,575,959,780.4

7 Formação Florestal

$ 5,264.00 4706343.82 $ 24,774,193,868.

48 Formação Savânica

$ 1,588.00 2174424.57 $ 3,452,986,217.1

6 Área Úmidas $25,682.00 576220.50 $

14,798,494,881.00

14968901.24 $ 66,216,745,416.

85

Multifuncionalidade e integração dos dados

Os serviços ambientais não estão homogeneamente distribuídos no espaço e tempo. Além disso, alguns podem apresentar baixo nível de congruência, por exemplo, lugares com muita biodiversidade não necessariamente apresentam grandes estoques de carbono. Portanto, num contexto de desenvolvimento de estratégias para conservar e otimizar multifuncionalidade de paisagens, é fundamental avaliar o nível de sobreposição de serviços. Como um primeiro ensaio para sintetizar nossos dados, nós avaliamos a correlação entre os mapas de serviços disponíveis até o momento.

De modo geral, nossos resultados (Figura X) demonstram que baixa correlação entre os serviços (valores de correlação inferiores a 50%). Estes resultados indicam que as estratégias de planejamento regional devem considerar a variação espacial e que considerar apenas alguns serviços não garante a conservação dos demais. Esta heterogeneidade espacial nos serviços é bastante desafiadora, pois demanda estratégias que considere aspectos de complementação de serviços e não apenas sobreposição.

Nos próximos meses, sugerimos refinamento das análises de sobreposição e complementação de serviços, inclusive com uso de ferramentas como planejamento sistemático para produzir arranjos de conservação de multifuncionalidade ambiental em contextos socioeconômicos restritivos, com custos e dinâmicos.

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Figura 2.- Matriz de correlação entre nossas variáveis. Variáveis ET (Ecoturismo); PB (Potencial de produção bovina); AU (Áreas Úmidas); CB (Estoque de Carbono); HT (Heterogeneidade de Hábitat); AP (Áreas protegidas); CX (Complexidade de hábitat); WT (Contribuição hídrica); AC (Áreas prioritárias para a conservação); e CO (Corredores da Biodiversidade).

Bluespots of ecological services: uma nova abordagem para o Planejamento do Pantanal

O Pantanal é um sistema sócio ecológico (SSE) acoplado, onde sistemas humanos

e biofísicos estão intimamente ligados. Neste contexto, a avaliação de múltiplos serviços pode fornecer representações espaciais de convergência de sistemas sociais e ecológicos. Usando a ideia que alguns locais podem ter papeis desproporcionais em relação ao acoplamento de sistemas sócio ecológicos, nós sugerimos que o Projeto Corredor Azul possa ser pioneiro em identificar áreas geográficas onde os valores ecológicos e sociais percebidos pelas pessoas e medidos fisicamente se sobrepõem e são referidos como “manchas críticas” de acoplamento e serviços sociais e ecológicos (Frei et al., 2018). Neste relatório propomos o nome “Bluespots of Ecological Services” para simbolicamente expressar essas manchas críticas em áreas úmidas.

Entendemos que o conceito de Bluespots of ecological services deva ser refinado nos próximos anos do Projeto Corredor Azul, inclusive sua forma de cálculo poderá considerar tendências, outliers regionais, e riscos. A despeito destes desafios, como um primeiro ensaio, nós apresentamos abaixo um mapa de sobreposição dos serviços calculados até o momento. Como pode ser observado, alguns locais apresentam uma elevada sobreposição de serviços o que sugere uma importância desproporcional na paisagem. Acreditamos que o refinamento desta ideia poderá produzir uma ferramenta poderosa para gestão de áreas úmidas e indicação de prioridades em termos de planejamento regional, estratégias de produção e conservação, pagamentos por serviços e incentivos fiscais, oportunidades de negócios. Além de ser um produto de fácil interpretação e visualmente inspirador.

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REFERÊNCIAS

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