as deterioraÇÕes menores em saÚde mental e a
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UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP
PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA
MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO
MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA
AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Natal-RN
2013
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MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA
AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação submetida para apreciação do
Programa de Pós-Graduação em
Administração-PPGA, da Universidade
Potiguar, como requisito obrigatório para a
obtenção do título de Mestre em
Administração, na área de concentração
Gestão Estratégica de Pessoas.
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Fernanda Fernandes
Gurgel
Natal-RN
2013
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Medeiros-Costa, Mateus Estevam.
AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE / Mateus Estevam Medeiros Costa. –Natal, 2013.
104)f.
Orientador: Fernanda Fernandes Gurgel
AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
(Mestrado Profissional em Administração). – Universidade Potiguar. Pró-Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação.
Bibliografia: (Qtd. de Folhas da referência – 90 -100)f.
1. Saúde Mental – 2. Síndrome de Burnout. 3. Agente
Penitenciário.
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MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA
AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO
ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Dissertação submetida para apreciação do
Programa de Pós-Graduação em
Administração-PPGA, da Universidade
Potiguar, como requisito obrigatório para a
obtenção do título de Mestre em
Administração, na área de concentração
Gestão Estratégica de Pessoas.
Data de aprovação: ______ / ______ / ______
BANCA EXAMINADORA
___________________________________________
Prof.ª Dr.ª Fernanda Fernandes Gurgel
Universidade Potiguar – UnP
Presidente (Orientador)
____________________________________________
Prof. Dr. Walid Abbas El-Aouar
Universidade Potiguar – UnP
Examinador Interno
____________________________________________
Prof. Dr.ª Denise Pereira do Rêgo
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
Examinador Externo
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AGRADECIMENTOS
Ao Divino por toda força concebida, por toda misericórdia alcançada. Aos seres de luz que rodeiam e me trazem força diária.
A Dona Izabel, minha mãe, uma preta usar, guerreira, que me ensinou os verdadeiros ensinamentos da vida para bem viver. Ao Seu Joel, meu pai, homem de índole impar.
Obrigado por todas as palavras de força e carinho. As minhas irmãs, Jeanine e Jeane, por todo amor e carinho dedicado a mim.
Ao Tchêsco, meu companheiro de jornada, sem o seu amparo este trabalho não seria concluído. Obrigado por todo amor e paciência tida para comigo.
A minha orientadora Fernanda Fernandes Gurgel por toda paciência e delicadeza nestes dois anos. Obrigado por acreditar de início no meu trabalho.
Aos meus amigos e professores do PPGA por todo o conhecimento adquirido em sala. Em especial as amigas Aurineide e Samara pelas ligações, recados e carinho devotado. Vocês
estão no meu coração!
A Glícia, secretária do PPGA por toda delicadeza e profissionalismo presentes no seu trabalho. Muito obrigado pelo sorriso sempre presente ao nos receber.
Aos amigos do GEST, por todo conhecimento proporcionado. Em especial quero agradecer as amigas Juliana, Alda e Sâmid.
A professora Denise Pereira Rêgo, por toda contribuição adquirida nestes últimos anos juntamente com a linha gBET.
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Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano
Sem dinheiro no banco Sem parentes importantes
E vindo do interior
(Belchior)
...Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho é sua vida
E vida é trabalho E sem o seu trabalho
Um homem não tem honra E sem a sua honra Se morre, se mata
Não dá pra ser feliz Não dá pra ser feliz.
(Gonzaguinha)
“Nós explicamos a natureza, mas compreendemos a vida mental”.
(Dilthey)
I heard somebody say: "The older the grape,
Sweeter the wine, sweeter the wine.”
Oh, my love is like a seed […]
It's growing stronger day by day, yeah,
That's the price you've got to pay.
(Janis Joplin)
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MEDEIROS-COSTA, M. E. AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL
E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE
UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Dissertação
(Mestrado em Administração) – Universidade Potiguar. Natal, 2013.
RESUMO
Os efeitos do trabalho na saúde mental e o crescimento do número de adoecimento psíquico
oriundo do trabalho estão sendo alvo de debate e reflexões por diversos pesquisadores. Dentre
estas altercações, a literatura aponta a possível relação existente entre as Deteriorações
Menores em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout. De tal modo, este estudo tem como
objetivo investigar a relação existente entre estes dois constructos – Deteriorações Menores
em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout – elegendo como participantes os Agentes de
Segurança Penitenciária de três Unidades Penais do Estado do Rio Grande do Norte. Para
tanto, fez-se necessário à realização da discussão acerca dos conceitos, aportes técnicos e
teóricos que norteiam a saúde mental e a Síndrome Burnout. A presente investigação se
caracteriza como um estudo de cunho transversal, descritivo e quantitativo. Os instrumentos
utilizados neste estudo foram um Questionário Sociodemográfico, o Questionário de Saúde
Geral desenvolvido por Goldberg (1972), versão de 12 itens e a Escala de Caracterização do
Burnout de Tamayo e Tróccoli (2009). A análise estatística, presente no estudo se caracteriza
como descritiva, no entanto, para a inferência dos dois constructos investigados aplicou-se
percentis, frequência por intervalo e análise de cluster, já para relacionar as deteriorações em
saúde mental e o burnout, aplicou-se o r de Pearson. A amostra do estudo corresponde a 61
sujeitos, no universo de 83 agentes. Os resultados indicam a predominância do sexo
masculino, em sua maioria casados, com a idade entre 24 a 53 anos, trabalhando cerca 48
horas semanais. Os principais resultados revelam que mais da metade da amostra se encontra
tensa, contudo a saúde mental está preservada para a maioria. Os resultados apurados também
apontam que, ainda não existindo um número significativo de sujeitos acometidos pela
Síndrome de Burnout, metade da amostra encontra-se no nível baixo-moderado da síndrome.
Salienta-se que um terço da população investigada já apresenta falência em pelo menos uma
das três dimensões. Conclui-se que o ambiente de trabalho pode ter um impacto na saúde
mental do agente, suscitando sintomas depressivos e o surgimento da Síndrome de Burnout.
Aconselha-se assim a introdução de programas sólidos de gestão, que visem o bem-estar do
trabalhador, utilizando uma abordagem intervencionista.
Palavras-chave: Saúde Mental. Síndrome de Burnout. Agente de Segurança Penitenciária.
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MEDEIROS-COSTA, M. E. DETERIORATION MINORS IN MENTAL HEALTH AND BURNOUT SYNDROME AMONG CORRECTIONAL OFFICERS DETENTION UNIT OF THE STATE OF RIO GRANDE DO NORTE. Dissertation (Master in Management) - Universidade Potiguar. Natal, 2013.
ABSTRACT
The assignment of the effects of work on mental health and growth of psychic illnesses arising from work are under discussion and reflections by several researchers, among these altercations, the literature indicates a possible relation between Deteriorations Minor Mental Health and Burnout Syndrome. So, this study aims to investigate the relationship between these two constructs - Deteriorations Minor Mental Health and Burnout Syndrome - chosen as the subjects participating Agents Security Penitentiary three Units Criminal State of Rio Grande do Norte. Therefore, it was necessary to carry out the discussion of concepts, technical and theoretical contributions of the topic in question. This research is characterized as a study of cross stamp, descriptive and quantitative. The instruments undertaken in this study was a Sociodemographic Questionnaire, the General Health Questionnaire developed by Goldberg (1972) version of 12 items and Scale Characterization of Burnout and Tróccoli Tamayo (2009). Answers were entered in the form of database SPSS (Statistical Package for Social Science for Windows), through which he acted with the statistical analyzes. The sample corresponds to 61 agents, 83 agents in the universe. The results of this study emerges a predominantly male, mostly married, aged between 24-53 years, working about 48 hours a week . The main results show that more than half of the sample is strained, but mental health is preserved for most. The results obtained also show that, even in the absence of a significant number of subjects affected by burnout, half of the sample is in the low - moderate syndrome. It is noted that one third of the population has already investigated failure in at least one of the three dimensions. Is finalized, the work environment can have an impact on the mental health of the agent, posing depressive symptoms and the onset of burnout syndrome. Advises thus introducing solids management programs, aimed at the welfare of the worker, using an interventionist approach.
Keywords: Mental Health. Burnout Syndrome. Agent Security Penitentiary.
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LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices mais
baixos da Síndrome de Burnout ........................................................................................... 53
Tabela 2 – Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices elevados
da Síndrome de Burnout ....................................................................................................... 54
Tabela 3 – Distribuição amostral dos agentes penitenciários ............................................... 61
Tabela 4 – Descrição da Escala de Caracterização do Burnout (ECB) ................................ 62
Tabela 5 – Confiabilidade das escalas para amostra ............................................................ 65
Tabela 6 – Idade média e tempo de serviço da amostra (dados intervalares) ...................... 68
Tabela 7 – Dados sociodemográficos e características da profissão (Dados nominais) ...... 69
Tabela 8 – Escore mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão nos fatores das
Deteriorações Menores em Saúde Mental (QSG-12) ........................................................... 70
Tabela 9 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o sexo ......... 71
Tabela 10 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o estado civil
............................................................................................................................................... 72
Tabela 11 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o tipo de
atividade desenvolvida ......................................................................................................... 72
Tabela 12 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 e as Unidades Penais ........ 73
Tabela 13 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores nos
fatores do QSG-12 ................................................................................................................ 73
Tabela 14 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores nos
fatores do QSG-12 ................................................................................................................ 74
Tabela 15 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto das Deteriorações
Menores em Saúde Mental ................................................................................................... 75
Tabela 16 – Escore mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão das
dimensões do burnout (ECB) ............................................................................................... 76
Tabela 17 – Comparação entre escores das dimensões da ECB de acordo com o sexo ....... 77
Tabela 18 – Comparação entre escores das dimensões da ECB de acordo com o estado civil
............................................................................................................................................... 78
Tabela 19 – Comparação entre escores das dimensões da ECB de acordo com o tipo de
atividade desenvolvida ......................................................................................................... 79
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Tabela 20 – Comparação entre escores das dimensões da ECB e as Unidades Penais ........ 79
Tabela 21 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores das
dimensões da ECB ................................................................................................................ 80
Tabela 22 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores das
dimensões da ECB ................................................................................................................ 81
Tabela 23 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio da Síndrome de Burnout
............................................................................................................................................... 82
Tabela 24 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto da Síndrome de
Burnout ................................................................................................................................. 82
Tabela 25 – Análise de Cluster que combina níveis Médio e Alto da Síndrome de Burnout
............................................................................................................................................... 83
Tabela 26 – Correlações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de
Burnout ................................................................................................................................. 84
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LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Publicações que tiveram maior repercussão em Saúde Mental e Trabalho a partir
de 1986 ................................................................................................................................. 26
Quadro 2 – Instrumentos de pesquisa versus objetivos - geral e específicos - sua relação com
as variáveis analíticas e o tipo de análise estatística ............................................................. 63
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Dispositivo dinâmico de três polos ...................................................................... 37
Figura 2 – Modelo de Freudenberger (1974) ........................................................................ 50
Figura 3 – Modelo de Leiter (1993) ...................................................................................... 51
Figura 4 – Modelo estrutural do burnout - Maslach e Jackson (1994).................................. 51
Figura 5 – Modelo de Gil-Monte (2005) ............................................................................... 52
13
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ASP – Agentes de Segurança Penitenciária
ECB – Escala de Caracterização do Burnout
QSG-12 – Questionário de Saúde Geral
SM&T – Saúde Mental e Trabalho
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SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA ........................................................ 17
1.1.1 Questões de pesquisa ..................................................................................... 21
1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 21
1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 22
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................. 24
2 DA SAÚDE MENTAL A SÍNDROME DE BURNOUT: UM BREVE PASSEIO
PELA LITERATURA ACERCA DOS CONCEITOS, DOS ABORTES TÉCNICOS E
TEÓRICOS DOS DOIS CONSTRUCTOS .......................................................... 26
2.1 SAÚDE MENTAL E TRABALHO ................................................................ 26
2.1.1 CLÍNICAS DO TRABALHO ......................................................................... 32
2.1.1.1 Psicodinâmina do trabalho ........................................................................ 33
2.1.1.2 Clínica da Atividade .................................................................................. 35
2.1.1.3 Ergologia .................................................................................................... 36
2.1.1.4 Psicologia Social Clínica ............................................................................ 39
2.1.2 TEORIAS DO ESTRESSE ............................................................................. 41
2.1.3 ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA ............................................................ 43
2.1.4 PSICOSSOCIOLOGIA ................................................................................... 45
2.2 SÍNDROME DE BURNOUT ........................................................................... 47
2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS APORTES TEÓRICOS DO ESTUDO .......... 57
3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO .......................................................... 60
3.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................... 60
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................ 61
3.3 PROCESSO DE COLETA E INSTRUMENTOS ............................................. 61
3.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO ............................................................................... 63
3.5 TRATAMENTO DOS DADOS ......................................................................... 64
3.6 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA ................................ 65
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 68
4.1 ANÁLISES DESCRITIVAS .............................................................................. 68
15
4.1.1 Análises Sociodemográficas e características do trabalho ........................ 68
4.1.2 Indícios das Deteriorações Menores em Saúde Mental ASP ..................... 69
4.1.3 Indícios das Síndrome de Burnout nos ASP .............................................. 75
4.1.4 Relações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de
Burnout ................................................................................................................... 83
5 CONCLUSÀO ..................................................................................................... 86
REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 89
ANEXOS ................................................................................................................. 100
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1. INTRODUÇÃO
Na contemporaneidade, o trabalho ocupa um lugar de grande relevância na vida dos
indivíduos, tornando-se mediador na concretização das relações sociais, além de cumprir com
seu papel na manutenção da subsistência. O trabalho vem se configurando como atividade
fundamental na construção da subjetividade. Esta afirmação é visível na obra elaborada por
Freud (1930), o trabalho é exposto como uma atividade tão importante quanto o amor, já que
amar e trabalhar estão inclusos na construção da saúde e bem-estar psíquico do indivíduo.
Pelo amor temos a capacidade de reproduzir é pelo trabalho que produzimos dando
continuidade a nossa existência.
Mendes e Marrone (2002, p. 27), pontuam que “o ato de produzir permite um
reconhecimento de si próprio como alguém que existe e tem importância para a existência do
outro, transformando o trabalho em um meio para a estruturação psíquica do homem”.
Brito (2005) fundamentada no pensamento marxista, caracteriza o trabalho como: a
afinidade do indivíduo com o produto do seu trabalho como objeto alheio ao trabalhador e
tendo poder sobre ele; para a autora a relação do trabalho com o ato de produção dentro do
trabalho, como exercício voltado contra o trabalhador, tornando o trabalho alheio ao
trabalhador, transformando o prazer em sofrimento, à força em fraqueza, a procriação em
emasculação e a energia vital do homem num exercício voltado contra si próprio.
A concepção do trabalho passou por muitas mudanças em seu contexto histórico
social. Algumas civilizações passadas, como a grega, por exemplo, destinavam o trabalho
braçal à classe inferior composta de escravos e mulheres. Eram destinadas a estes, atividades
de manutenção das cidades salientando que naquela época não ter um escravo transmitia
pobreza. Apenas quatro em cada dez cidadãos de pleno direito, que se dedicavam à política, à
filosofia, à ginástica e a poesia, materialmente, vivam à custa dos outros a quem eram
relegadas todas as atividades de natureza e de serviço. (DE MAIS, 2000).
A palavra trabalho, por sua vez, se origina do latim tripalium, o qual era um
instrumento de tortura constituído por três pontas afiadas. Com esta ideia, o judaísmo-cristão
acreditava que o trabalho era uma forma que Deus encontrou para punir o homem: do suor do
seu rosto comerás o teu pão. Para as seitas romanas do século XI ao XIV, o trabalho era tido
como atividade “penosa”. Mas foi na reforma protestante que o trabalho foi exaltado, sendo o
caminho para a salvação. Mais tarde Max Weber chamou a ética protestante de espírito do
capitalismo. (ALBORNOZ, 1992).
17
Borges (1998), embasada nas contribuições trazidas por alguns autores como
Albornoz (1992), Brief e Nord (1990), além da Equipe MOW (1987), enfatiza que o termo
trabalho exerce uma “plurivariedade”, comportando inúmeras concepções enquanto categoria
das ciências humanas e sociais.
Um marco notório foi a passagem de uma economia baseada na comercialização de
produtos manufaturados à industrialização, em que exigiu um grande crescimento econômico
e tecnológico. Por outro lado, estavam as condições precárias de trabalho que os operários
eram submetidos.
Não se pode, diante de tal quadro, falar em saúde em relação à classe operária do
século XIX. É preciso antes assegurar a subsistência, independentemente da doença, a luta
pela saúde nessa época identificou-se como a luta pela sobrevivência: onde viver para o
operário é não morrer (DEJOURS, 1992).
É correto mencionar em meio a esta discussão que um trabalho sem suporte, minado
de condições precárias, é incapaz de elucidar uma qualidade de vida satisfatória para seus
trabalhadores. Entretanto, numerosas investigações epidemiológicas apresentam que não só o
trabalho é imprescindível, no entanto as condições em que este se configura, como um
aspecto decisivo no que concerne a maneira como se processa o agir, bem como na qualidade
do que é produzido, afetando, ainda, à saúde (física, psíquica e social) dos trabalhadores
(RÊGO, 2008).
O trabalho que não se tem um suporte organizacional e nem boas condições propicia
o surgimento de doenças associadas ao contexto laboral, trazendo, consequentemente, um
custo financeiro e social ao sistema de saúde. Em dezembro de 2006 foi promulgada a recente
da Lei 11 430, que estabelece o nexo epidemiológico causal entre certas doenças classificadas
sendo endêmicas para determinadas ocupações, só vem esclarecer a inevitável preocupação
com aos aspectos jurídicos e trabalhistas abarcados nessa questão.
Para Rêgo (2008) uma das discussões mais abordadas na contemporaneidade são os
reflexos originados pelo trabalho e, suas consequências à saúde e bem-estar do trabalhador.
Para esta autora o bem-estar é o resultado da interação das características do empregado com
o ambiente de trabalho, sendo que as exigências do trabalho excedem as habilidades do
empregado para enfrentá-las, prejudicando a sua qualidade de vida dentro e fora do trabalho.
Uma das respostas a estas manifestações são os transtornos de deteriorações menores em
saúde mental e a Síndrome de Burnout ocasionados pela natureza destes trabalhos. Diante do
que foi exposto, acredita-se que os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) se expõem a
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fatores estressantes constantemente que, se persistirem, pode levar ao surgimento de
deteriorações menores em saúde mental ou até mesmo a Síndrome de Burnout.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA
Ao longo da história, o mundo do trabalho atravessou profundas mudanças que
influenciaram na maneira de se ver e fazer o trabalho. Um marco notório foi à passagem de
uma economia baseada na comercialização de produtos manufaturados à industrialização,
onde existiu um grande crescimento econômico e tecnológico. Por outro lado estavam as
condições precárias de trabalho em que os operários eram colocados.
Durante muito tempo, a saúde do trabalhador foi negligenciada. A partir da
promulgação da Constituição Federal, em 1988, essa realidade começa a sofrer mudanças,
pois a mesma estabelece a ampliação do atendimento do SUS e a intervenção nas causas do
adoecimento, inclusive, nos ambientes de trabalho (MUROFUSE, 2004).
As transformações complexas do trabalho surgem como fonte causadora de tensão e
sobrecarga física e psíquica, prejudicando relações profissionais e interpessoais, com
deterioração crescente da qualidade de vida nos diversos âmbitos do trabalho humano
(DEJOURS, 1992).
Portanto, a saúde e a doença são processos dinâmicos, estreitamente entrelaçados
com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento
histórico. Assim, a forma de inserção dos homens, mulheres e crianças nos espaços de
trabalho contribui para formas específicas de adoecer e morrer (BRASIL, 2002).
As ações implicadas no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores,
produzindo disfunções e lesões biológicas, mas também reações psíquicas, desencadeando
processos psicopatológicos. Foi durante a década de 1960 que fatores não biológicos, como
meio ambiente, fatores sócio demográficos, condições de vida e fatores de experiência passam
a ser considerados para entender os processos de saúde e doença mental. A partir desta nova
análise, para além do paradigma biomédico, concentram-se os avanços sobre as questões que
envolvem o fenômeno saúde mental (BARBOSA, 2001).
Seguindo este pensamento, é necessário lembrar que até meados de 1970, a
expressão condições de trabalho era usada para se referir objetivamente aos aspectos físicos e
ambientais do local de trabalho (gases tóxicos, ruídos, luminosidade, poluentes, temperatura,
19
esforço físico). Após esse período, apesar de existir consentimento, são apresentadas
definições mais amplas incluindo dimensões psicossociais (emprego, salários, relações
interpessoais e proatividade) e, frequentemente, se incluem nas pesquisas fatores físicos de
trabalho, tempo, controle e sistema de incentivos, dentre outros, como determinantes centrais
do bem-estar psicológico (ÁLVARO; GARRIDO, 2006).
Segundo Barbosa (2008, p. 114) “todas essas alterações produzidas no mercado
laboral têm surgido como resultado da flexibilização do trabalho e começam a atingir
objetivamente e subjetivamente os trabalhadores”. Altera-se então o enfoque dos estudos, pelo
fato de não mais ser viável estudar as condições de trabalho exclusivamente em termos de
objetividade, e sim pela interação entre a objetividade e a subjetividade.
Cabe esclarecer que a questão da Saúde Mental e Trabalho (SM&T) classifica-se,
ultimamente, como um campo relativamente novo e a abordagem teórica, aqui empreendida,
compõe um dos caminhos possíveis para a articulação e desenvolvimento da temática aqui
estudada. Qualifica-se como uma abordagem que abarca o trabalho como um fenômeno sócio
histórico, com maneiras de realização distintas e uma multiplicidade de significados que
variam ao longo da vida, segundo os conhecimentos, as influências dos modos de organização
social e as relações de produção. Sendo assim, o trabalho constitui um elemento primário no
processo de construção do sujeito e funciona como uma unidade estruturadora do psiquismo
humano (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997; BORGES, 1998; BORGES et. al.; 2002; ARGOLO;
BORGES, 2002; PAIVA, 2005; BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006; BORGES;
BARBOSA, 2007; BARBOSA, 2008).
De maneira objetiva, o que a abordagem psicossociológica acredita é que, para se
compreender o bem-estar psicológico dos indivíduos é preciso que se compreenda a relação
do homem com o seu trabalho (CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004).
Neste sentido, Barbosa (2008, p. 42), coloca que “o movimento em que o homem
estabelece relações com o seu trabalho, o sentido originário do trabalho como elemento
estruturante do psiquismo é, ao mesmo tempo, fonte de prazer e sofrimento dependendo das
condições e formas em que o trabalho é executado”. Portanto, quando o homem não encontra
sentido naquilo que produz e avalia suas condições de trabalho desfavoráveis, ele atribui
significado negativo ao trabalho. O trabalho, desta maneira, passa a ser visto como uma
permanente fonte causadora de tensões que pode levá-lo ao padecimento psíquico, caso não
sejam encontrados meios de eliminar as tensões acumuladas.
Tal perspectiva de análise encontra-se presente em várias publicações como as de
Maslach e Leiter (1999), Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), Maslach (2005), Gianise (2004)
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e Tamayo, Argolo e Borges (2005) onde estes pesquisadores debatem a Síndrome de Buronut,
fenômeno também estudado nesta dissertação.
Tamayo e Tróccoli (2002) indicam que o estado atual das pesquisas sobre o assunto
aponta para uma necessidade de maior investimento em estudos que examinam a
potencialidade de variáveis que influenciam no vínculo que o profissional tem com a
organização, bem como sua satisfação com as tarefas exercidas. Já na visão de Benevides-
Pereira (2003), é possível identificar inúmeras comunicações científicas e alguns artigos
publicados sobre Burnout no Brasil, mas a produção nacional ainda é incipiente comparada
com a internacional.
Por outro lado, a grande maioria das pesquisas brasileiras que tomam o Burnout
como fenômeno tem se restringindo as ocupações ligadas à área da saúde e educação,
esquecendo-se das ocupações ligadas à manutenção e prestação da segurança pública como os
policiais e agentes penitenciários (MEDEIROS-COSTA et. al. 2012).
Maslach e Leiter (1999) nos anos 90, alertaram que a Síndrome de Buronut não se
restringi a profissões ligadas à saúde e à educação. A partir de então a síndrome, passa a ser
considerado um fenômeno que afeta praticamente todas as profissões, tendo em vista que
quase todas possuem algum tipo de contato interpessoal.
Maslach e Jackson (1977, apud Benevides-Pereira, 2002), encontraram em seus
estudos variáveis socioambientais como coadjuvantes no processo de burnout, se acenando a
alguns comportamentos específicos do profissional em relação ao seu trabalho.
As evidências de estudos já realizados apontam que o burnout está associado a
profissões de serviço, que exijam cuidados e atenção de terceiros. Nesta perspectiva, toma-se
como referência o conceito adotado por Maslach & Jackson (1986), segundo os quais é um
problema que atinge profissionais de serviço, principalmente àqueles voltados para atividades
de cuidado com outros, no qual a oferta do cuidado ou serviço frequentemente ocorre em
situações de mudanças emocionais. Ajudar outras pessoas sempre foi reconhecido como
objetivo nobre, mas apenas recentemente tem sido dada atenção para os custos emocionais da
realização do objetivo. O exercício destas profissões implica uma relação com o cliente
permeada de ambiguidades, como conviver com a tênue distinção entre envolver-se
profissional e não pessoalmente na ajuda ao outro (CODO, 2002).
Sendo assim, a presente pesquisa elegeu os agentes penitenciários como objeto de
estudo, ressaltando que estes profissionais, hipoteticamente, são inseridos em um ambiente de
trabalho estressante que poderá levar ao surgimento da Síndrome de Burnout ou até mesmo
dos transtornos mentais comuns e como bem coloca Aluja (1997), depressão, ansiedade e os
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transtornos somatoformes são considerados os principais rebates psicológicos à síndrome de
burnout.
Já o cárcere é um local onde coabitam dezenas, centenas e milhares de pessoas,
desprovidas de assistência, sem nenhuma separação, em absurda ociosidade. Normalmente, é
um local úmido, infecto, onde inúmeras pessoas vivem compartilhando de um mesmo espaço,
em celas coletivas, por onde transitam livremente ratos e baratas e a falta de água e luz é
rotineira (LEAL, 2001). De acordo com Silva (2008) o mundo penitenciário é feito de
coerências e incoerências; circunspeto por junções e conflitos. É um mundo visivelmente
rígido, mas que necessita ser reafirmado, reconstruído a cada novo instante. É um mundo
relacional em constante construção.
Já o trabalho dos ASP exige destes profissionais uma relação direta com os detentos.
Como bem advoga Thompson (2002), os ASP e presos convivem em uma área adstrita,
admitindo com naturalidade às intimidades de ambas as partes. Tal visibilidade promove, uma
relação de amizade e cuidado entre os agentes e presos.
Na instituição do Projeto de Lei nº 405 do Programa de Saúde Mental dos ASP, Pereira
(2001), relata que os agentes penitenciários convivem com uma situação ambivalente, fruto de
suas atribuições e do fato de serem os trabalhadores que têm o contato mais próximo com os
presos, o que não deixa de gerar alguma intimidade. Esta situação conflituosa pode determinar
o aparecimento de doenças e transtornos mentais e emocionais. Estima-se que 10% de todo o
efetivo da Secretaria da Administração Penitenciária, afastou-se de suas funções no ano de
1998, em decorrência de distúrbios dessa natureza.
A condição de trabalho em que os ASP estão inseridos os tornam desabonáveis em
alguns contextos extra-muros, estes profissionais são propensos a outro tipo de estigma
decorrente de psicopatologias do trabalho, tais como: insônia, nervosismo, depressão,
estresse, paranoia, dependências químicas. Além disso, passam a ser exprobrados pelos
próprios colegas de profissão, pelos quais passam a ser chamados, pejorativamente, de
“xaropes”, “beberrões” ou “gardenal” (SILVEIRA, 2009). Não diferente, Vasconcelos (2000)
destaca o medo, anseio, insegurança, agressividade como fatores presentes nas relações que
esses trabalhadores mantêm no âmbito doméstico, indicando uma falta de repouso do papel de
agente, que invade a casa e o mundo, o dentro e o fora, o antes e o depois do trabalho.
Para Silveira (2009), os ASP estão coibidos ao penoso exercício de (con)vivência na
sociedade dos cativos, necessitando entender e apreender muito rapidamente a dinâmica da
prisão para fins de manutenção da ordem. Precisam aprender “a pensar como o preso”,
22
“trabalhando preso com o preso”, o que não se faz sem um enorme custo psíquico e
identitário.
A procura da compreensão acerca do trabalho do agente penitenciário e das
condições que estes profissionais são submetidos, o seguinte problema de pesquisa a ser
solucionado: qual a relação existente entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e
a Síndrome de Burnout nos agentes penitenciários do Estado do Rio Grande do Norte?
1.1.1 Questões de pesquisa
A condução da pesquisa esta galgada em algumas questões que servem de subsídio
quanto aos resultados alcançados. Estas questões são apresentadas a seguir:
- Qual é o perfil sociodemográfico dos agentes penitenciários?
- Qual a prevalência das Deteriorações Menores em Saúde Mental (deterioração de
autoeficácia e tensão emocional e depressão) nos agentes penitenciários?
- Existem diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (gênero, estado
civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e as Deteriorações Menores em
Saúde Mental nos agentes penitenciários?
- Qual a prevalência da Síndrome de Burnout (exaustão, desumanização ou
decepção no trabalho) nos agentes penitenciários?
- Existem diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (gênero, estado
civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e a Síndrome de Burnout nos
agentes penitenciários?
1.2 OBJETIVOS
- Geral
Investigar a relação existente entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a
Síndrome de Burnout nos agentes penitenciários do Estado do Rio Grande do Norte.
23
- Específicos
- Delimitar o perfil sociodemográfico e as características profissionais dos agentes
penitenciários;
- Verificar a incidência das Deteriorações Menores em Saúde Mental (deterioração
da autoefecácia ou tensão emocional e depressão) nos agentes penitenciários;
- Identificar as diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (sexo, estado
civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e as Deteriorações Menores em
Saúde Mental nos agentes penitenciários;
- Verificar a prevalência da Síndrome de Burnout (exaustão, desumanização ou
decepção no trabalho) nos agentes penitenciários;
- Identificar as diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (sexo, estado
civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e a Síndrome de Burnout nos
agentes penitenciários.
1.3 JUSTIFICATIVA
Estudar os Agentes de Segurança Penitenciária por meio da análise do exercício de
sua atividade e identificação de fatores objetivos e subjetivos ligados ao trabalho, apresentará
elementos que ampliam conhecimentos sobre o trabalho destes profissionais, permitindo
proposição de novos estudos, contribuindo para academia e o mundo do trabalho. Até porque,
como assinala Souza et. al. (2005, p. 917) “o campo de saúde do trabalhador não pode omitir-
se, hoje, de pensar nas categorias que atuam na segurança pública, um dos segmentos mais
vulneráveis no exercício de sua profissão”.
Para Tartaglini e Safran (1997) a atividade exercida pelos policiais e pode ser
caracterizada como profissionais de uma categoria de alto risco para a doença relatada como
estresse debilitante. Os pesquisadores em questão expuseram que há uma prevalência de
distúrbios emocionais (18,6%), abuso de álcool (4,5%) e distúrbios da ansiedade (7,9%).
O peso que o trabalho tem sobre a vida do homem traz alguns problemas. Entre esses
problemas um tem sido identificado entre os trabalhadores que lidam diretamente com
pessoas, principalmente quando envolve atividade de cuidado com outras (caregivers): a
Síndrome de Burnout. O risco maior de enfrentar o Burnout está em profissionais da
24
educação, da saúde, policiais e agentes penitenciários, entre outros (VASQUES-MENEZES,
2005, p.57-58).
Um dos problemas sociais de maior relevância e muito discutido nos últimos tempos
é a questão da segurança pública. A segurança pública não é somente um indicador da
qualidade de vida do país ou de uma região, mas um fator essencial para atração de
investimentos e desenvolvimento humano. (SARTORI, 2006).
Sendo representante da Segurança Pública brasileira, o Agente de Segurança
Penitenciária, no presente cenário, desempenha um papel valioso na manutenção da ordem
social nos estados, atua em projetos sociais, e de forma indireta, no crescimento do
desenvolvimento econômico regional. Diante deste quadro, é importante estudar as
deteriorações menores em saúde mental destes profissionais, tendo em vista a realidade,
investigando, as condições objetivas inerentes a sua atividade, a organização do seu trabalho e
o sofrimento decorrente dessa ocupação. Chanlat (1995) evidencia que é preciso realizar uma
reflexão de forma aprofundada sobre saúde no trabalho, não analisando as questões de
segurança, mas as questões da saúde psicológica do trabalhador, devido à contingência dos
custos sociais que se tem hoje com doenças profissionais, indenizações, readaptações, entre
outros.
Salientando que um bom serviço de segurança pública reflete em um melhor
ambiente social, tornando claro que somente os agentes penitenciários não são capazes de
solucionar todas as questões de reeducação, criminalidade e segurança sem que outros setores
do governo e da economia intervenham, é de extrema importância analisar como a
organização do trabalho desta ocupação afeta a sua saúde destes sujeitos, não somente física,
mas psicológica, principalmente.
Pode-se afirmar que o trabalho dos ASP no Estado é relativamente novo, pois esta
atividade era desempenhada pelos policiais militares aposentados, que faziam parte da guarda
patrimonial. A partir de maio de ano de 2002 a convocação dos aprovados para agentes
penitenciários teve início e estes passaram a desempenhar suas funções nas Unidades
Prisionais do RN.
O trabalho desempenhado pelos agentes está sendo caracteriza como uma atividade
de constante risco no cenário potiguar. Dados recentes publicados no site da G1 nas datas de
18 de dezembro de 2012 e 25 de junho de 2013 apresentam casos de homicídios que trazem
ASP como vítimas.
Vale ressaltar que a população carcerária triplicou nos últimos sete anos no Rio
Grande do Norte e os estabelecimentos penais aumentaram, tornando o efetivo insuficiente
25
para atender a demanda, levando o agente a trabalhar sobrecarregado, comprometendo o
desempenho de sua função (JUCÁ, 2010).
Esta pesquisa busca identificar a incidência das deteriorações menores em saúde
mental e o burnout no contexto do cenário da prisão, de maneira a colaborar para a elucidação
do papel realizado pelo agente penitenciário. Almeja-se que os resultados a respeito da saúde
mental e burnout possam trazer melhorias das referidas condições e a ampliação do
conhecimento no que se refere ao fechar e abrir do cadeado.
1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO
A dissertação de mestrado em questão está dividida em cinco capítulos, sendo o
Capítulo 1 destinado à introdução nela são apresentados os pressupostos teóricos, a
contextualização do problema, os objetivos e a justificativa do trabalho.
O Capítulo 2 por sua vez, realiza um passeio acerca da SM&T a Síndrome de
Burnout, explicitando os conceitos, os aportes teóricos que norteiam o universo dos dois
constructos em questão.
O Capítulo 3 é traçado o percurso metodológico desta dissertação, procurando
amoldar o caráter do estudo aos objetivos propostos. Elegeu-se o método descritivo e a
abordagem aqui empreendida foi à quantitativa, objetivando investigar os dados
sociodemográficos, e a incidência de transtornos mentais comuns e a Síndrome de Burnout. O
instrumento utilizado para mensurar as deteriorações pequenas em saúde mental foi o de
Goldberg (1972) e a síndrome investigada através da Escala de Caracterização do Burnout
desenvolvida por Tamayo e Trócolli (2009). Ainda neste capítulo se sucede a caracterização
do ambiente onde se dá a pesquisa – as penitenciárias – e são explanados alguns dados
históricos dos agentes penitenciários do Estado.
O capítulo 4, por sua vez, traz as discussões e resultados desta dissertação. Iniciando
com as análises sociodemográficas e profissionais dos agentes, na segunda e terceira sessão
são abarcadas as análises acerca das Deteriorações Menores em Saúde e a Síndrome de
Burnout, como também, suas associações feitas com o gênero dos participantes, estado civil e
tipo de atividade desenvolvida, além das comparações entre as Unidades Penais. Por fim, na
quarta sessão, são realizadas as correlaçãos entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental
e a Síndrome de Burnout.
26
No capítulo 5 são apresentadas as conclusões, as limitações do estudo, uma concisa
sistematização dos achados e algumas recomendações. E por fim, seguem-se as referências do
estudo, as quais foram essenciais para realização do debate inserido nesta dissertação.
27
2. DA SAÚDE MENTAL NO TRABALHO A SÍNDROME DE BURNOUT: UM
BREVE PASSEIO PELA LITERATURA ACERCA DOS CONCEITOS, DOS
APORTES TÉCNICOS E TEÓRICOS DOS DOIS CONSTRUCTOS
2.1 SAÚDE MENTAL E TRABALHO
A Saúde Mental e Trabalho têm sido alvo de debate e reflexões por diversos
pesquisadores. A consignação dos efeitos do trabalho na saúde mental e o crescimento dos
adoecimentos psíquicos oriundos do trabalho revelam a importância de novas reflexões sobre
o presente fenômeno aqui estudado. De forma eminente, ao estar amparada no campo da
Saúde do Trabalhador, a SM&T toma as relações de trabalho e sua historicidade como matriz
de leitura (GUIMARÃES, 1992; LACAZ, 1996; LACAZ, 1997; MINAYO-GOMEZ;
THEDIM-COSTA, 1997).
A dificuldade encontrada em caracterizar a inter-relação entre os distúrbios psíquicos
dos trabalhadores, e o próprio trabalho torna difícil a prevenção da Saúde Mental no Trabalho,
embora tal advento vem sendo incorporado apenas recentemente pelas organizações (GLINA;
ROCHA, 2006).
Para Dejours, Abdoucheli e Jayet (2009), o sofrimento no trabalho significa uma
situação de luta entre o sujeito e as forças causadas pela organização do trabalho, que o levam
em direção à doença mental. De acordo Echternacht (2004) afirma que saúde e doença são
fatos construídos a partir de uma complexa interação entre as concretudes da condição
humana e a atribuição de significados. Desta maneira, o processo saúde-doença no trabalho
não pode ser abarcado apenas enquanto experiência biológica e objetiva.
De modo a acrescentar, Seligman-Silva (1994, p. 46), afirma que:
o trabalho que, em diferentes circunstâncias, preside à constituição de formas de
desgaste e sofrimento mental, conforme a situação, tanto poderá fortalecer a saúde
mental quanto levar a distúrbios que se expressarão coletivamente em termos
psicossociais e/ou individuais, em manifestações psicossomáticas ou psiquiátricas.
Apesar do crescimento existente, principalmente nos últimos anos, debater a
amplitude e a relação entre SM&T não é um exercício fácil em virtude de diversos aspectos,
entre estes está à dificuldade de se conciliar o nexo entre trabalho e transtornos psíquicos, o
problema de mensurar os inúmeros aspectos dessa relação e a subjetividade dos fatores
envolvidos (LOURENÇO; BERTANI, 2007; LANCMAN; TOLDRÁ; SANTOS, 2010;
MERLO, 2011).
28
Vale ressaltar que as discussões acerca da saúde, o bem-estar e a vida dos
trabalhadores remota aos acontecimentos da Revolução Industrial. Iniciando por Karl Marx e
Max Weber, chegando a Elton Mayo, até que se chegue a presente discussão entre inúmeros
autores ligados aos estudos sobre a sociopsicologia do trabalho.
Para as organizações, o adoecer na labuta implica no aumento de custos, diminuição
da produtividade e dano na competitividade empresarial. A sociedade por sua vez, representa
perdas na qualidade das relações interpessoais e aumento nos custos previdenciários
referentes à saúde-doença mental de trabalhadores.
O estudo da força de trabalho em saúde ganhou destaque uma vez que a relação
direta entre gestão de RH e efetividade dos sistemas de saúde tornou-se cada vez mais
evidente. Todavia, apesar do papel fundamental desta força de trabalho, ainda muito pouco é
conhecido sobre sua composição, treinamento e desempenho.
Os primeiros estudos em psicopatologia do trabalho iniciaram-se nos anos cinquenta.
Segundo Chanlat (1996), esses estudos chegaram a descrever síndromes estreitamente
associadas à situação de trabalho.
No presente momento, os transtornos mentais relacionados ao trabalho aumentam em
inúmeros países. A justificativa para esse crescimento é controversa e múltipla. Existe uma
tendência a considerar como fatores explicativos para esse aumento os atuais modelos de
gestão implantados nas organizações de trabalho, onde novas maneiras de trabalhar geram
novas formas de adoecer, e o crescimento das doenças psíquicas relacionadas ao trabalho é
uma expressão dessa realidade (LANCMAN; TOLDRÁ; SANTOS, 2010).
Já Merlo (2011, p. 369), afirma que:
aspectos relacionados à (re)estruturação do mundo do trabalho e à divisão
internacional da economia também têm, ainda que indiretamente, repercussões sobre
a saúde psíquica (e física) dos trabalhadores, na medida em que contribuem para
definir as formas de trabalhar, que destina aos países de capitalismo periférico
atividades produtivas muito exigentes de mão de obra, tal como o que ocorre na
produção do vestuário ou do calçado, que ainda funcionam em moldes tayloristas
e/ou fordistas criados há pelo menos cem anos e podem produzir importantes
agravos à saúde física e psíquica dos trabalhadores.
É nessa conjuntura que emergem doenças ocupacionais físicas e psíquicas, trazendo
consequências graves a vida dos trabalhadores. Na abordagem psicossomática existe uma
inter-relação das dimensões biológicas, psicológicas e social que são intrínsecas a cada ser
humano e que cada uma dessas características humanas contém aspectos que se diferenciam,
em termos de funcionamento e modos de reação (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).
29
Para Seligman-Silva (1997), as mudanças organizacionais e técnicas do trabalho vêm
se acelerando e adotando novas configurações, não apenas em consequência do progresso
científico e dos avanços tecnológicos, mas também pelo processo da globalização,
intensificado nas últimas décadas. Forças econômicas e políticas regem tais transformações. A
inter-relação trabalho e saúde acompanha essas mudanças, transformando-se também. Levi
(1998 apud Martinez, 2002), advoga que a transformação no padrão de morbidade e
mortalidade em quase todas as sociedades pós-industriais no mundo ocidental é a principal
razão para mudanças de prioridades nos investimentos para a saúde. O autor em questão
enfatiza que os fatores socioeconômicos e psicossociais têm um grande e crescente papel na
etiologia e/ou patogênese de muitas das doenças mais frequentes.
Não é possível deixar no esquecimento o fato que as organizações e as condições de
trabalho a que se refere, incide nos marcos de condições específicas de ponderação do lucro e
de estruturas de poder, histórica e socialmente originadas, definidas como modo capitalista de
produção (ALMEIDA; MERLO, 2008).
Guimarães (1992), esclarece que a influência das condições de trabalho,
principalmente da organização do trabalho de modo geral, continuou como tema a ser evitado.
O autor averigua de forma fulgente em suas pesquisas no Brasil, o que já havia sido
constatado em outros países, a vinculação entre condições organizacionais do trabalho ligados
à vida laboral de um lado, e, de outro, à saúde mental.
É sabido que a saúde do trabalhador chegou ao Brasil nos anos 80, sendo uma prática
interdisciplinar e multiprofissional, tendo seu campo de conhecimento era ancorado na
Medicina Social e na Saúde Coletiva (MENDES; DIAS, 1991; LACAZ, 1997).
Ressalta-se que os riscos decorrentes do meio de trabalho, deixou de ser a única
maneira de se averiguar as condições e saúde do trabalhador, mas passou-se a ser analisadas
as cargas, as exigências tidas no exercício na atividade e os efeitos de cunho psicossocial
tornaram a ser importantes neste processo (MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997).
Conforme a Organização Mundial da Saúde, os transtornos mentais menores
acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos mentais graves, cerca de
5 a 10%. Já no cenário brasileiro, de acordo com estatísticas do INSS, reminiscentes apenas
aos trabalhadores com registro formal, os transtornos mentais emplacam a 3ª posição entre as
causas de concessão de benefício previdenciário como auxílio doença, afastamento do
trabalho por mais de 15 dias e aposentadorias por invalidez (BRASIL, 2001).
Para Clot (2011) é sem dúvida a exacerbação da crise do trabalho contemporâneo,
em sua heterogeneidade mundial, que mostra o fato de uma nova demanda social se exprimir
30
e questionar a pesquisa acadêmica, a ponto de ensejar novas iniciativas. Assim, inúmeras
linhas teóricas e métodos foram criados para investigar as relações inerentes à SM&T,
valendo ressaltar que nenhum método sozinho é capaz de dar conta de todos os seus aspectos.
(CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004; MERLO, 2011).
Já Jacques (2003, p. 99) critica, afirmando que:
o que se verifica, frequentemente, é uma imprecisão teórica e metodológica visto o
desconhecimento do tema, o que produz tentativas ingênuas de combinar conceitos e
técnicas com fundamentos epistemológicos diferentes. Constata-se, não uma
tentativa de articular pressupostos diversos, mas, simplesmente, emprestar conceitos
e técnicas sem uma reflexão sobre as diferentes concepções de homem,
homem/sociedade, ciência e pesquisa que lhes fundamentam.
Delimitar as relações entre trabalho e saúde mental, tentando mostrar os nexos entre
aspectos do trabalho e sofrimento psíquico ainda é merecedor de atenção, a despeito da tênue
existente entre esses dois constructos, trabalho e saúde. Pode-se notar que a despeito das
distâncias teórico-metodológicas entre elas, existe, pelo menos um consenso: desencadeador,
determinante ou constituinte, o trabalho pode ser considerado, de alguma maneira, motivo de
sofrimento que muitas vezes limita o trabalhador, quando não impede efetivamente de
trabalhar (BORSOI, 2007). De modo a acrescentar, Lima (2011. p. 320) advoga que, “a
natureza paradoxal e complexa que a categoria do trabalho abarca se traduz, historicamente,
em um amplo leque de conceituações as mais diversas”.
Tratando-se do debate acerca da SM&T no Brasil, podem-se destacar algumas
publicações que tiveram maior destaque, como Seligman-Silva (1986) e Seligman-Silva
(1990), sendo estes os primeiros estudos a nível nacional que tratou da temática em questão.
Vale ressaltar que a discussão acerca da saúde psíquica do trabalhador vem ganhando
sua forma no cenário brasileiro, sendo disseminadas outras abordagens relativamente jovens
na academia nacional, podendo citar Mendes (2007), Mendes, Merlo e Morrane (2010) os
autores discutem a SM&T por meio da psicodinâmica do trabalho, abordagem essa defendida
por Dejours (1992), Dejours (2007), Dejours, Abdoucheli e Jayet (2009). Outra obra
importante foi a de Bendassolli e Soboll (2011), nela os organizadores reuniram
pesquisadores brasileiros para discutir sobre as clínicas do trabalho (Psicodinâmica do
trabalho, Clínica da atividade, Psicossociologia francesa e a Ergologia), tais linhas que vem se
fortalecendo no Brasil.
As informações trazidas nos últimos dois parágrafos foram organizadas e
classificadas, sendo apresentadas no Quadro 1, salientado que, este panorama de publicações
31
já tinha sido elaborado por Lima (2003 apud Codo, Soratto e Vasques-Menezes 2004) e o
autor desta dissertação adaptou, inserindo outras obras publicadas posteriormente.
Quadro 1 – Publicações que tiveram maior repercussão em Saúde Mental e Trabalho a partir de 1986.
1986 Edith Seligman-Silva escreve um capítulo sobre Saúde Mental e Trabalho para a coletânea Crise,
trabalho e saúde mental no Brasil.
1990 Edith Seligman-Silva escreve outro capítulo sobre o tema para a coletânea Cidadania e loucura –
políticas de saúde mental no Brasil.
1992 Liliane Andolpho Magalhães Guimarães compõe a tese de doutorado Saúde mental e trabalho em
um segmento do operariado da indústria extrativa de mineração de ferro
1993 Wanderley Codo, José Jackson Sampaio e Alberto Hitomi publicam Indivíduo, trabalho e
sofrimento.
1994 Edith Seligman-Silva escreve Desgaste mental do trabalho dominado.
Jaqueline Tittoni escreve Subjetividade e trabalho
Maria Inês Rosa escreve Trabalho, subjetividade e poder.
1995 Wanderley Codo e José Jackson Sampaio organizam a coletânea Sofrimento psíquico nas
organizações.
1996
Lys Esther Rocha compõe a tese de doutorado Estresse ocupacional em profissionais de
processamento de dados: condições de trabalho e repercussões na vida e saúde dos analistas de
sistemas.
Seije Uchida compõe a tese de doutorado Temporalidade e subjetividade no trabalho
informatizado.
Leda Leal Ferreira e Aparecida Mari Guti escrevem O trabalho dos petroleiros – perigoso,
complexo, contínuo e coletivo.
Maria Elizabeth Antunes Lima escreve Os equívocos da excelência – as novas formas de sedução
na empresa.
1997 Alice Itani escreve Subterrâneos do trabalho – imaginário tecnológico no cotidiano.
João Ferreira da Silva e Silva Jardim organizam a coletânea A danação do trabalho – organização
do trabalho e sofrimento psíquico.
1999
Wanderley Codo organiza a coletânea Educação, carinho e trabalho.
Débora Glina e Lys Esther Rocha organizaram a coletânea Saúde Mental e trabalho: desafios e
soluções.
Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e
Trabalho volume 1
É lançado o primeiro número da revista da Federação Nacional dos Psicólogos, voltada
exclusivamente para o campo da saúde mental e trabalho.
2002
Maria da Graça Jacques e Wanderley Codo organizam a coletânea Saúde Mental e Trabalho –
leituras.
Iris Barbosa Goulart organiza a coletânea Psicologia Organizacional e do Trabalho: teoria,
pesquisa e temas correlatos.
Luiz Henrique Borges, Maria das Graças Moulin e Maristela Delbello Araújo organizam a
coletânea Organização do trabalho e saúde – múltiplas relações.
Ana Maria T. Benevides Pereira organiza a obra Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar
do trabalhador
2003 Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e
Trabalho volume 2
2004
Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e
Trabalho volume 3
Ana Magnólia Mendes, Lívia de Oliveira Borges e Mário César Ferreira organizam a obra Trabalho
em Transição. Saúde em Risco.
Wanderley Codo, Lucia Soratto e Iône Vasques-Menezes elaboram um capítulo intitulado Saúde
Mental e Trabalho no livro Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil.
2005 Lívia de Oliveira Borges organizou a obra Os profissionais de saúde e o seu trabalho
2006 Wanderley Codo elabora o livro Por uma Psicologia do Trabalho
2007
Ana Magnólia Mendes organiza a obra Psicodinâmica do Trabalho: teoria, método e pesquisas.
Lívia de Oliveira Borges e Silvânia da Cruz Barbosa escrevem o livro Aspectos psicossociais do
trabalho dos petroleiros.
2008 Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e
32
Trabalho volume 4
Silvânia da Cruz Barbosa compõe a tese de doutorado Saúde Mental em Operadores de Petróleo do
Rio Grande do Norte
2009 Janine Kieling Monteiro e Daniel Viana Abs da Cruz organizam a obra Desemprego e Saúde
Mental: pesquisa e práticas clínicas de atendimento psicológicos.
2010
Ana Magnólia Mendes, Álvaro Roberto Crespo Merlo e Carla Faria Morrone organizam a obra
Psicodinâmica e Clínica do Trabalho – temas, interfaces e casos brasileiros.
Débora Glina e Lys Esther Rocha organizaram o livro Saúde mental no trabalho: da teoria à
prática.
2011
Carlos Minayo Gomez, Jorge Mesquita Huet Machado e Paulo Gilvane Lopes Pena organizam o
livro Saúde do Trabalhador na Sociedade Brasileira Contemporânea.
Pedro F. Bendassolli e Lis Andrea P. Soboll organizam o livro Clínicas do Trabalho – novas
perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade.
2012 Maria Cristina Ferreira e Helenides Mendonça organizam o livro Saúde e Bem-estar no trabalho:
individuais e culturais.
2013
Álvaro Roberto Crespo Merlo, Ana Magnólia Mendes e Rosângela Dutra de Moraes organizam o
livro O Sujeito no Trabalho ‐ Entre a saúde e a patologia.
Lívia de Oliveira Borges, Liliana A. M. Guimarães e Sandra Souza da Silva elaboram um capítulo
intitulado Diagnóstico e Promoção da Saúde Psíquica no Trabalho no livro O Trabalho e as
Organizações.
Mirlene Maria Matias Siqueira e Maria do Carmo Fernandes Martins elaboram um capítulo
intitulado Promoção de Saúde e Bem-estar em Organizações no livro O Trabalho e as
Organizações.
Fonte: Lima (2003 apud Codo, Soratto e Vasques-Menezes 2004) e adaptada pelo autor da dissertação.
A área da SM&T tem sido impulsionada pelas pesquisas que abordam o trabalho no
processo de construção de subjetividade, nos processos de adoecimento psíquico, a
caracterização de aspectos do trabalho mais diretamente associados à ocorrência de
transtornos mentais ou situações de sofrimento psíquico (ARAÚJO, 2011).
Ao analisar os trabalhos que buscam congregar a tríade saúde, trabalho e
subjetividade, o pesquisador se depara com uma diversidade de orientações e de aportes
teórico-metodológicos que o campo da saúde do trabalhador comporta. Essa diversidade,
quando se busca focar o objetivo de conhecimento incorporando numerosos saberes, se traduz
em diferentes perspectivas e acepções nomeadas como: multidisciplinar, interdisciplinar e
transdisciplinar (LIMA, 2011).
Jacques (2007) salienta que o movimento crítico em oposição ao reducionismo na
compreensão dos processos saúde-doença mental, à fragmentação e às concepções teóricas
incapazes de considerar a multiplicidade e complexidade na formação e estruturação do ser
humano e de seu psiquismo impulsionou a elaboração de modelos mais amplos nesse campo e
contribuíram para da visibilidade às relações entre trabalho e saúde mental.
A análise da produção de textos sobre as principais abordagens em SM&T indica uma
expressiva diversidade taxonômica, com agrupamentos, distinções e classificações das
correntes bem distintas. Porém, algumas abordagens são visivelmente identificadas, com
considerações sobre seus pressupostos, aplicabilidades e limites congruentes nas tentativas de
classificação realizadas (ARAÚJO, 2011). No atual cenário brasileiro, as abordagens estão
33
divididas em: Teoria do estresse; Abordagem epidemiológica, as Clínicas do Trabalho
(Psicodinâmica do Trabalho, a Clínica da Atividade e a Psicologia Social Clínica) e a
Psicossociologia. As abordagens citadas acima serão apresentadas expondo suas formas de se
analisar e avaliar a SM&T.
2.1.1 CLÍNICAS DO TRABALHO
As “clínicas do trabalho” não é um conjunto de teorias homogêneas, mas pela
disparidade e confrontos que encerram na sua delimitação, corroboram valiosamente para
análise do trabalho na atualidade. Elas buscam se distanciar de certo pensamento científico
social que vê a precedência do social sobre o psíquico, restando ao sujeito um “lugar” já
produzido ou dado. Por outro lado, procuram se posicionar como clínicas “sociais” do
trabalho, pois se equilibram no fino e tênue limite entre psíquico e social, vendo entre eles
jogos complexos de reciprocidade e tensão (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p. 16).
A maior contribuição encontrada nas clínicas do trabalho está nas obras de Le
Guillant, relembrando que não só as clínicas tidas aqui, mas a própria abordagem
epidemiológica, assunto a ser debatido, também foi influenciada. Le Guillant toma como
ponto de partida em uma pesquisa as situações concretas executadas pelo trabalhador. Seus
principais achados derivam de estudos sobre as neuroses das telefonistas e a busca de
incidências psicopatológicas nas empregadas domésticas (CODO; SORATTO; VASQUEZ-
MENEZES, 2004; BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011; LHUILIER, 2011).
Clot e Leplat (2005) definem as “clínicas do trabalho” sendo um conjunto de teorias
que tem em seu propósito de pesquisa a interação entre trabalho e subjetividade. A situação
do trabalho é objeto comum dessas teorias, sendo este o ponto de aproximação entre elas,
todavia, há divergência epistemológica, teórica e metodológica. Para Lhuilier (2011, p. 22),
“clínica do trabalho se reporta às duas correntes teóricas constituídas pela psicologia social
clínica e pela psicopatologia do trabalho, e seus desdobramentos elaborados pela
psicodinâmica do trabalho, de um lado, e pela clínica da atividade, de outro”.
Vale esclarecer que Lhuilier (2011), em sua definição acerca das clínicas do trabalho
faz menção apenas à psicodinâmica do trabalho e a clínica da atividade. Isto se dá pela
presença em que essas duas abordagens vem tendo no campo acadêmico, tornando-se
relativamente as mais calcadas em teorias e métodos. Tais linhas teóricas já se estendem no
território brasileiro tendo alguns trabalhos, a psicodinâmica do trabalho (MENDES, 2007;
34
MENDES; MERLO; MORRONE; FACAS, 2010; MERLO, 2011; MENDES; ARAUJO;
MERLO, 2011; MENDES; ARAUJO, 2012), e o desenvolvimento da clínica da atividade
(OSÓRIO, 2007; LIMA, 2007; TEIXEIRA; BARROS, 2009; OSÓRIO; BARROS;
LOUZADA, 2011).
A seguir serão discutidas as quatro escolas que compõe as clínicas do trabalho – a
psicodinâmica do trabalho, a clínica da atividade, a psicossociologia e a ergologia.
2.1.1.1 Psicodinâmica do Trabalho
A Psicodinâmica do Trabalho, cujo precursor é o pesquisador francês Christophe
Dejours, o qual, vem desenvolvendo seus trabalhos desde a década de 1980. É uma
abordagem teórico-metodológica que averigua os processos de saúde/doença vinculados à
vida laboral, a constituição do sofrimento mental a partir da percepção dos próprios
trabalhadores submergidos no processo de adoecimento. A psicodinâmica do trabalho
examina as vinculações entre o sofrimento e a organização do trabalho à qual está submetido
o trabalhador, analisa também as dinâmicas de constituição de sistemas coletivos, as formas
de exploração do sofrimento psíquico e as defesas psicológicas individuais e coletivas. Seus
principais fundamentos teóricos estão na psicanálise, na ergonomia e na sociologia do
trabalho (MENDES, 2007; MENDES et. al. 2010; MERLO, 2011; MENDES; ARAUJO;
MERLO, 2011; BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011; MENDES; ARAUJO, 2012).
De acordo com Dejours (1992), o objetivo da psicodinâmica do trabalho é observar e
analisar as distintas formas de relação com o trabalho que permitem a emergência de
estratégias coletivas de defesa, mobilizadas pelo trabalhador no confronto com o processo de
trabalho. Todo e qualquer esforço de reflexão introduz ao sofrimento, que é definido como
ocupando um espaço entre a saúde mental e a patologia.
O sofrimento psíquico foi caracterizado como categoria de análise para delimitar um
campo de investigação diferenciado das linhas teóricas que tomam, como objeto privilegiado
de análise, a doença mental. O sofrimento corresponderia a uma vivência subjetiva
intermediária entre doença e a saúde, sendo experimentado, pelo trabalhador, por meio de
sentimentos de insatisfação (relação entre a ergonomia e ao significado do trabalho) e
ansiedade (ARAÚJO, 2011).
O sofrimento pode tornar-se o meio de uma transformação na organização do
trabalho ou gerar um processo de alienação e de conservadorismo. Porém, o segundo caminho
explica-se pelo fato de que, após terem-se desencadeado mecanismos de defesa contra a
35
organização do trabalho, torna-se penoso tentar uma modificação nessa situação (MERLO,
2002).
A psicodinâmica do trabalho, diferente dos modelos de estresse, da psicossociologia
e da epidemiologia, é uma abordagem inteiramente de natureza qualitativa, buscando em seu
escopo a descrição e interpretação das fontes de prazer e sofrimento no trabalho.
Outra particularidade importante é que a Psicodinâmica do Trabalho visa à
coletividade de trabalho e não aos indivíduos isoladamente. Após diagnosticar o sofrimento
psíquico em situações de trabalho, ela não busca atos terapêuticos individuais, mas
intervenções voltadas para a organização do trabalho à qual os indivíduos estejam submetidos.
A Psicodinâmica do Trabalho tem, também, por referência fundamental, os conceitos
ergonômicos de trabalho prescrito e de trabalho real. É no espaço entre esse prescrito e esse
real que pode ocorrer ou não a sublimação e a construção da identidade no trabalho
(DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 2009).
Merlo (2002), destaca outra contribuição da psicodinâmica do trabalho, a sua
abordagem da relação com o prazer que pode existir entre o trabalhador e seu trabalho. Na
realidade concreta e na vivência individual do trabalho, não se encontram apenas sofrimento,
mutilação e morte. A apreensão da maneira como se constituem as duas facetas da
organização do trabalho, isto é, aquelas que são, respectivamente, fonte de sofrimento-prazer,
é indispensável para se tentar uma interpretação mais global dos laços entre trabalho e saúde
e, também, para se procurarem alternativas satisfatórias.
Por outro lado, Araujo (2011, p. 328), critica a abordagem em questão, “com relação
ao papel do trabalho no adoecimento psíquico, não há, na proposição dejouriana, relação
causal entre trabalho e saúde mental”. Lima (2004) contribui afirmando que no seu
entendimento, as doenças mentais necessitam das estruturas de personalidade, adquiridas
muito antes da entrada dos indivíduos no mundo capitalista.
Já as críticas com relação ao método adotado pela psicodinâmica do trabalho acerca
da ostentação no discurso dos trabalhadores, corriqueiro, desconsidera as condições objetivas
inerentes à configuração do trabalho. O trabalho por sua vez, é investigado apenas por meio
da sua vivência subjetiva, portanto, é só parcialmente. Araújo (2011) destaca que alguns
aspectos metodológicos são de difícil empregabilidade, se tratando da realidade onde o Brasil
se insere, como a realização da pesquisa apenas segundo a demanda dos trabalhadores ou as
entrevistas envolvendo o coletivo de trabalhadores.
Porém cabe ressaltar que a metodologia da Psicodinâmica do Trabalho alcançou os
pesquisadores e técnicos brasileiros que atuam na área da Saúde do Trabalhador (psicólogos,
36
administradores, médicos do trabalho, fisioterapeutas, engenheiros de segurança, etc). E esta
abordagem dejuriana, em sua caminhada conseguiu preencher lacunas epistemológicas
existentes no campo do sofrimento psíquico no trabalho, tais evidências são encontradas nos
estudos brasileiros, já citados.
2.1.1.2 Clínica da Atividade
A clínica da atividade aborda o problema da subjetividade no trabalho situando-se na
intersecção da tradição da ergonomia francesa com a tradição em psicopatologia do trabalho.
Recebendo influências da corrente histórico-cultural em psicologia e em linguística, entre
Bakhtin, Leotiev e Vygostski. O seu surgimento aconteceu na década de 1990 como
abordagem teórica, tendo como propositores Yves Clot e Daniel Faïta (CLOT, 2001;
BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011; LHUILIER, 2011).
Para a clínica da atividade o trabalho é compreendido não somente como trabalho
psíquico, porém sendo uma atividade concreta e irredutível. Enfatizando, a atividade é o
continente escondido da subjetividade no trabalho. Já sobre o sofrimento, a clínica da
atividade tem uma postura diferenciada da psicodinâmica do trabalho. “O sofrimento é uma
atividade contrariada, um desenvolvimento impedido. É uma amputação do poder de agir”
(CLOT, 2001, p. 05). Ainda acerca do sofrimento no trabalho, a clínica da atividade esclarece
que a proporção em que o trabalho se mostra preocupante por conta do surgimento de doenças
de cunho ocupacional, ele se torna invariavelmente vital para a saúde do ser (CLOT, 2011).
A proposta da abordagem em debate é estudar o trabalho adotando a metodologia
que busca desvendar o desenvolvimento do poder real do agir dos trabalhadores nos meios de
trabalho, compreender o real como uma prova e não como um modelo. Assim, a clínica da
atividade se utiliza de dois métodos: os das instruções ao sósia e o da autoconfrontação
cruzada (CLOT, 2006).
A autoconfrontação por sua vez, é a abordagem que articula uma atividade dirigida
privilegiando o diálogo, podendo ser simples ou cruzada. Na autoconfrontação simples, o
trabalhador é levado a delinear a situação de seu trabalho para o pesquisador, por meio de um
vídeo que contém a gravação dessa situação. Neste período ambos analisam o trabalho
apresentado. Na autoconfrontação cruzada, retoma-se a análise em comum da mesma
gravação em vídeo com um outro especialista da área de trabalho, como um colega de
trabalho, com o mesmo nível de especialização (CLOT, 2006).
37
Não se distanciando da verbalização da atividade e a pesquisa como instrumento de
intervenção, contudo pensando num meio mais acometido de autoconfrontação, que recorra
ao desenvolvimento da experiência profissional, em vez de registros da experiência em vídeo,
e que leve o cientista da posição de protagonista da investigação para que a atividade seja
dirigida pelo trabalhador, surge a instrução ao sósia (CLOT, 2006; OSÓRIO; BARROS;
LOUZADA, 2011).
Osório, Barros, e Louzada (2011), enfatizam que a formulação representacional é
incapaz para dar conta da questão metodológica envolvida na investigação da experiência do
trabalho, uma vez que em tal direção investigada pode ocorrer, não toda, uma
sobrecodificação arriscada da atividade estudada. Por sua vez, mostram que sua simples
inversão não é suficiente. Na investigação do labor o protagonismo da investigação depende
do protagonismo conjunto do pesquisador com o que está sendo investigado.
Os métodos desenvolvidos por esta abordagem, têm como intuito buscar vivenciar
circunstâncias acometidas no processo de trabalho. Esta característica advém do pensamento
enraizado nas clínicas do trabalho, buscando sempre alcançar seus resultados por meio de
abordagens inteiramente qualitativas, esquecendo por vezes da parte objetiva, sendo este um
ponto a ser amadurecido na escola da Clínica da Atividade.
2.1.1.3 Ergologia
A ergologia tem seu alicerce, principalmente, na filosofia da vida de Canguilhem e
na ergonomia da atividade de Wisner. Esta abordagem tem como baseamento o projeto de
melhor avaliar o trabalho para intervir e transformá-lo, almejando analisar a atividade humana
em todas as suas dimensões (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011).
O vocábulo “ergo” vem do grego e remete a atividade. Schwartz, o filósofo francês
sugere a abordagem ergológica, juntamente de seu dispositivo dinâmico de três polos para
repensar a produção de conhecimento sobre o trabalho. Estruturado como polo conceitual
(polo A), onde esta linha teórica procura relacionar dialeticamente os produtos das diferentes
disciplinas, já a visão dos saberes e valores oriundos da experiência dos trabalhadores podem
ser visto no polo das forças de convocação e de reconvocação (polo B). E o terceiro deles é o
polo das exigências éticas e epistemológicas, que faz a articulação dos dois outros, se
amparando numa visão humanística e de construção solidária (polo C) (SCHWARTZ, 2000).
Esta explanação pode ser vista na figura 1, elaborada por Fígaro (2008).
38
Figura 1. Dispositivo dinâmico de três polos
Fonte: Fígaro (2008).
Os pesquisadores Athayde e Brito (2011, p. 258), discutindo o regime de produção
de saberes e transformações, denominado de dispositivos dinâmicos de três polos, vêm
esclarecer que: “trata-se de uma postura não só epistemológica. Tem a perspectiva de abrir ao
máximo o ângulo sobre todas as dimensões da atividade humana (matriz do viver), ao mesmo
tempo analisando-se à lupa”. Ainda para os autores citados acima, eles classificam a ergologia
como não sendo uma nova disciplina, ou uma nova abordagem no campo das clínicas do
trabalho.
Fígaro (2008) se refere à Ergologia como uma linha teórica capaz de problematizar a
complexidade da atividade humana e assinalar os diferentes fatores pertinentes a ela.
Descreve também que ela sugere uma postura epistemológica que coloca, em articulação, os
conceitos das disciplinas científicas (abstratos, não-aderentes) com os conceitos da
experiência (da vida, aderentes), ou seja, propõe-se a se aproximar desse mundo complexo
que é o homem e sua atividade de trabalho.
Schwartz (2000) considera que a análise do trabalho é inseparável do campo
epistemológico, dos valores e da ética e que o encontro entre os saberes científico e prático,
imprevisível, resulta sempre em algo inovador.
A linha teórica proposta por Schwartz e Durrive (2007) assegura que, quando o
trabalhador se depara no trabalho, ele necessita fazer “uso de si”, ou seja, uso de suas próprias
capacidades, de seus próprios recursos e de suas próprias escolhas para realizar o trabalho,
pois toda situação de trabalho é lugar de uma “dramática” subjetiva, um destino a ser vivido,
onde se negociam circunstâncias pessoais, históricas por meio do “corpo-si” do trabalhador.
39
Os autores em questão pontuam que é por intercessão do seu “corpo-si”, entidade mais
enigmática que a definição de sujeito e subjetividade, que o trabalhador deixa de ser
objetivado pelo trabalho e realiza sua atividade através do “uso de si”. O “corpo-si” do
trabalhador não é inteiramente biológico nem muito menos consciente ou cultural, mas sim, a
totalidade de sua história, sua experiência de vida, suas paixões, seus desejos e patrimônio. É
realizar escolhas para fazer valer suas próprias normas de vida, brotando formas de “des-
anonimar” o meio.
Hennington (2008) relata que a ergologia ao abordar o trabalho desenvolveu e
aprofundou o conceito de “atividade” vindo da ergonomia que em seus estudos a respeito da
defasagem entre “trabalho prescrito” e “trabalho real” corroborou para o pensamento existente
sobre a singularidade no trabalho efetivamente realizado. Neste modo, a “atividade” exprime
o trabalho realizado, o que inclui normas antecedentes, objetivos e também
ressingularizações, e se traduz num jogo de reciprocidades entre o dizer e o fazer, que são
dimensões essenciais da atividade humana “trabalho”.
Afora a discussão sobre o exercício de se trabalhar, a ergologia mostra-se preocupada
com constructos que permeiam a saúde ocupacional. Para a ergologia a doença manifestar-se
no período em que as mudanças do meio questionarem as normas da vida, sem que o vivente
consiga tolerar essas alterações (CANGUILHEN, 2006).
O estado patológico ou atípico não é a decorrência da ausência de qualquer norma. A
doença é ainda uma norma de vida, entretanto é uma norma inferior, no sentido que não tolera
nenhum desvio das condições em que é válida, por ser incapaz de se transformar em outra
norma. O ser vivo doente está normalizado em condições bem definidas e perdeu a
capacidade normativa, a capacidade de instituir normas diferentes em condições diferentes
(CANGUILHEN, 2006).
Schwartz (2000) e Dejours (2005), consideram o trabalhar, a luta pela saúde, o
permanente movimento e o caráter sempre enigmático. Não diferente da psicodinâmica do
trabalho, a ergologia vem mostrado em suas formas de pesquisa-intervenção, os limites dos
métodos segundo as quais os trabalhadores recebem passivamente os impactos das condições
e organização do trabalho (GUÉRIN; LAVILLE; DANIELLOU; DURAFFOURG;
KERGUELEN, 2001).
Diante deste quadro, a crítica recai acerca do método empregado na forma de
ostentação no discurso dos trabalhadores, desconsiderando as condições objetivas inerentes à
configuração do trabalho, sabido que, acionados como informantes, os sujeitos pesquisados
40
podem apenas reproduzir o discurso e descrever as tarefas prescritas, não admitindo a
compreensão do trabalho efetivamente realizado.
Podendo aqui explanar a grande contribuição da ergologia em apresentar de maneira
clara e consistente a defasagem entre trabalho prescrito e trabalho real, da discussão acerca da
questão da inteligência que é introduzida em ação no trabalho e, por fim, demonstrar que é o
trabalho que produz a inteligência e não o contrário.
2.1.1.4 Psicologia Social Clínica
A abordagem teórica aqui empreendida pode ser denominada como sociologia
clínica, ou até mesmo, psicossociologia. A Psicologia Social Clínica tem como proposta
contribuir para compreensão dos processos grupais, trazendo em seu escopo, importantes
dispositivos de análise da mudança social. Esta abordagem averigua “as reciprocidades entre
o individual e o coletivo, o psíquico e o social” (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p. 11).
Lhuilier (2011) vem contribuir pontuando que tal linha teórica não pode se diluir em
uma psicologia clínica que seria forçosamente social. Sabido que não existe sujeito fora do
social, porém, a psicologia social de raízes francesas está menos centralizada no indivíduo do
que nas interações nas quais ele se insere e para as quais colabora.
Uma dos subsídios desta abordagem está na compreensão das instituições, definindo
como “um conjunto de signos e de símbolos, de representações e de regras, produto das
práticas das relações humanas” (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p. 11).
Para Bendassolli e Soboll (2011), uma das contribuições trazidas pela abordagem
aqui discutida está na definição de “organização”, onde estão inclusos os elementos técnicos e
normativos, além das dimensões – simbólica e imaginária. Já Lhuilier (2011, p. 28), vem
advogar afirmando que, “a noção de organização designa um conjunto estruturado de papéis,
de relações de poder, de normas, estabelecido para responder os objetivos de produção de
bens e de serviços”. Mas a autora em questão aponta que uma organização pode ser vista
como a colocação conjunta de recursos individuais contendo a realização de uma ação
coletiva.
A psicologia social clínica elege como objetos as relações interpessoais, os grupos, a
instituição e a organização. O “grupo”, por muitas vezes foi um objeto de experimentações e
experiências. Já o método de pesquisa-ação utilizado por Elton Mayo nas oficinas da Western
Electric Company tornou-se referência central para corrente teórica em questão, por analisar
41
as dinâmicas coletivas na ambiente industrial, além de ser referência para o movimento das
relações humanas (LHUILIER, 2011).
Se remetendo a discussão acerca do objetivo da psicologia social clínica, as
pesquisadoras, Carreteiro e Barros (2011), afirmam que não há um objeto próprio. Mas as
demandas que lhe são encaminhadas, almejando transformações sociais, priorizando a relação
entre indivíduo e sociedade e convoca desse modo a conexão entre diversas disciplinas. Vale
ressaltar que a presente abordagem tem sofrido transformações, estas modificações podem ser
vistas em suas influências teóricas, nas análises de seus objetos de estudo.
No breve apanhado acerca das questões relacionadas ao adoecimento no trabalho,
Carreteiro e Barros (2011), assinalam que o campo de pesquisa e intervenção
psicossociológica é um campo privilegiado, onde as pesquisas nesta área realizam um diálogo
profícuo com esta disciplina, mostrando seu caráter interdisciplinar, clínico e plural.
Das clínicas do trabalho, a psicossociologia se classifica como relativamente nova,
perante as outras escolas pertencentes às clínicas. Em seu esboço como abordagem teórica,
pode ser observada a ausência de referências acerca da atividade, ao trabalho concreto.
Porém se pode concluir esta discussão, afirmando que o maior resultado da pesquisa
para a psicologia social clínica, é a demonstração de que o indivíduo reage às condições
concretas do meio não como elas são, mas tal com ele as conhece, e que o modo como eles as
experimenta depende em grande parte das normas e do clima do grupo no qual ele trabalha ou
vive, e de seu grau de pertencimento a este grupo (ANZIEU; MARTIN, 1979 apud
LHUILIER, 2011).
Para finalizar a discussão acerca das clínicas do trabalho, cabe ressaltar que em seus
traços primários, as clínicas do trabalho amparam a centralidade psíquica e social do trabalho,
onde suas averiguações se destinam a compreender as ascendências e as manifestações do
sofrimento, além de compreender e subsidiar os processos de resistência e de superação por
parte dos coletivos de trabalho (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011).
Assim, se conclui o debate sobre as clínicas do trabalho, aperfeiçoando este conceito
com mais um: transformar para compreender. Compreender as ligações entre o real e o
concretizado. Compreender em que situações a experiência vivenciada pode ser ou torna a ser
um meio de construir outras histórias.
42
2.1.2 TEORIAS DO ESTRESSE
O termo “estresse” teve seu apogeu em meio às ciências físicas, onde o sentido
atribuído a esta palavra estava na mensuração da tensão que uma estrutura tinha sobre uma
viga, fato ocorrido dentre o século XVII (HINKLE, 1974). Os pesquisadores Lazarus e
Lazarus (1994), esclarecem que o estresse, fato em questão, era utilizado apenas pela
literatura inglesa. A partir daí, surge pela primeira vez o uso da palavra estresse expressando o
complexo fenômeno composto de tensão-angústia-desconforto tão característico da sociedade
atual (LIPP, 2003).
Sabido que foi no início do século XX que o termo estresse se tornou um conceito
heurístico (LIPP, 2003; CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004). As observações
trazidas foram feitas pelo um estudante de medicina, Hans Selye começou a ganhar atenção
diante da comunidade médica. Como bem traz Lipp (2003, p. 17):
o que lhe chamou a atenção foi à identificação de um conjunto de reações não
específicas, semelhantes, nos pacientes frente a situações que lhes haviam causado
angústia e tristeza. Ele, em 1926, chamou este conjunto de reações de “síndrome
geral de adaptação” ou “síndrome do stress biológico”, comumente conhecida
também como “síndrome do simplesmente estar doente”. Em 1936, já um
endocrinologista conhecido, Hans Selye sugeriu o uso da palavra stress para definir
esta síndrome produzida por vários agentes aversivos.
Vale salientar que, diante da presente discussão que Cannon, em 1914, se utilizou do
vocábulo para definir uma reação do organismo a uma situação de “fuga ou luta”, uma
emergência. (JAMIR et. al., 2004).
Em seus experimentos Selye (1965), detectou dois tipos de estresse: o eustress e o
distress. O eustress está relacionado ao lado positivo e agradável, ou seja, é o lado construtivo
do estresse. Por outro lado, o distress são todas as reações negativas e prejudiciais ao
indivíduo causadoras de muitas doenças relacionadas ao estresse. O distress pode ser agudo
(quando é intenso, mas por um breve período de tempo) ou crônico (quando não é tão intenso,
mas ocorreu repetidamente ou constantemente). Para que possa existir realização pessoal, é
necessário que todas as energias concentrem-se no estresse (LIPP, 1996).
Outro descobrimento do pesquisador em questão no ano de 1954 foi os três níveis
diferentes de manifestação do estresse. A primeira delas é a fase de alerta, na qual existe uma
excitação do sistema nervoso simpático. A segunda é denominada de fase de resistência, este
momento é caracterizado pela liberação do hormônio corticosteroide cortisol e a terceira e
última é a fase de exaustão, esta surgem às doenças decorrentes da incapacitação do sistema
imunológico (LIPP, 1996; LIPP, 2003; JAMIR et. al., 2004).
43
Lipp (2000), na padronização do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos a
pesquisadora detectou outra fase, entre a fase de resistência e a de exaustão, denominando de
quase-exaustão. A presente fase é caracterizada por um enfraquecimento da pessoa que não
mais está conseguindo se adaptar ou resistir ao estressor.
Segundo Selye (1965), o estresse é um processo vital e fundamental onde pode ser
dividido em dois tipos, ou seja, quando passamos por mudanças boas, temos estresse positivo
e quando atravessamos alguma fase negativa, estamos vivenciando o estresse negativo.
França e Rodrigues (1997) conceituam estresse como uma relação particular entre
uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais está submetido, que é avaliada pela
pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou
recursos e que põe em perigo os eu bem-estar.
Já para Lipp (1996, p. 64) o estresse é definido como:
uma reação do organismo, componentes físicos e/ou psicológicos, causadas pelas
alterações psicofisiológicas que ocorrem quando uma pessoa se confronta com uma
situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou
mesmo que a faça imensamente feliz.
Desta maneira, o estresse é compreendido como a reação ante as demandas
sociopsicológicas e não, estado intermediário entre a saúde e a doença. Passando a ser um
possível indicador das consequências do trabalho sobre o trabalhador (LIPP, 1996; MURTA;
TRÓCCOLI, 2004; CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004; ARAUJO, 2008).
Os estudos acerca do estresse no trabalho têm como característica a busca para a
identificação das condições e características do trabalho que levam ao estresse e
identificações de estressores. No campo da psicologia e da administração são investigados os
mal-estares psicológicos. Já a respeito da metodologia, os estudos segue uma tradição
quantitativa, onde existe um número considerável de instrumentos que podem ser utilizados
para mensurar e detectar o estresse (CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004).
Outro desfecho importante para as teorias do estresse é a sua contribuição para o
campo da saúde e trabalho, trazendo suas influências para os estudos da epidemiologia e
psicologia. Mas as críticas a esta abordagem referem-se à precária especificidade do termo e
seu uso corriqueiro para designar uma gama extremamente variada de situações (ARAÚJO,
2011).
Diante da discussão já feita, pode-se afirmar que o estresse está inserido no cerne da
vida humana, ainda, pelas exigências da sociedade contemporânea, estando clara sua presença
em todos os contextos de trabalho. Sendo assim, relevante o reconhecimento dos agentes
44
estressores ao trabalhador para que sejam empregados de maneira a aguçar o desempenho e a
satisfação sem facilitar o desencadeamento dos aspectos negativos do processo de estresse.
2.1.3 ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA
A epidemiologia adveio do campo da medicina, identificada com as doenças infecto-
transmissíveis. Sua afinidade com o chamado hoje campo da saúde do trabalhador se faz a
partir da obra de Ramazzini, publicada em 1700 – a primeira publicação sistematizada sobre
os efeitos do trabalho nos processos de adoecimento dos trabalhadores. Nos trabalhos
epidemiológicos, somente a partir da 2ª Guerra Mundial é que a concepção multicausal tem se
mostrado como marco explicativo predominante em substituição ao paradigma monocausal.
Tal substituição foi um dos elementos primordiais para a aplicação da epidemiologia no
campo da saúde/doença mental (JACQUES, 2003).
Sampaio e Messias (2002) identificam duas grandes influências que são as escolas
epidemiológicas: a russo/anglo-saxã e a franco/latino-americana, esta última amparada no modelo da
determinação social da doença e nos denominadores comuns da dialética.
A corrente teórica de estudos epidemiológicos que discutem a saúde mental e
trabalho no Brasil teve seu inicio na década de 1980, porém a proliferação desta abordagem
em meados a década de 1990. Araújo (2011), aponta que em sua grande parte o estudos desta
natureza a Saúde Pública e/ou Saúde Coletiva e isso se deu por meio dos cursos de pós-
graduação stricto sensu (ARAÚJO, 2011).
Para Codo, Sampaio e Hitomi (1993), afirma que a Epidemiologia é a abordagem
que estuda distribuição, determinação e modos de expressão do processo saúde/doença,
serializando e hierarquizando valores (que permitem diferentes possibilidades de saúde e
sobrevivência) e contravalores (que permitem diferentes possibilidades de doença e morte),
em relação a período histórico e população significativa.
Já Sampaio e Messias (2002, p. 147), conceituam como:
ciência social, prática, aplicada, que estuda a distribuição, determinação e modos de
expressão, para fins de planejamento, prevenção e produção de conhecimento, de
qualquer elemento do processo saúde/doença em relação a população qualificada
nos elementos sócio-econômico-culturais que a possam tornar estruturalmente
heterogênea
Mais tarde Codo (2004) diz que a abordagem epidemiológica em saúde mental é
sucessora da lógica de epidemiologia geral, que tem como preocupação primaria à produção
45
de conhecimentos sobre o processo de saúde-doença, o planejamento de ações de política de
saúde e a prevenção de doenças.
Outra característica da corrente teórica em questão e o uso de métodos quantitativos
e das ferramentas epidemiológicas para a produção de evidências empíricas. Salientando que
a grande parte das pesquisas neste campo tem sido conduzida com base em demandas
sindicais, buscando melhorias nas condições de trabalho (ARAÚJO, 2011).
Codo (2004) e outros pesquisadores, no Brasil, procuram alcançar a promessa que
Dejours não conseguiu, de realizar uma psicopatologia do trabalho. Eles buscam a
psicopatologia do trabalho, assim como Dejours, por meio dos trabalhos de Le Guillant,
empregando-se da epidemiologia do trabalho.
Para Codo, Soratto e Vasquez-Menezes (2004, p. 289):
Faz-se necessária uma metodologia de investigação que permita identificar os
efeitos do trabalho sobre a saúde mental, tendo como pressuposto a multicausalidade
e a percepção de um homem sócio-histórico, na qual fatores econômicos e sociais,
além dos individuais, façam parte da investigação. A metodologia de investigação
deve ser interdisciplinar, deve reconstruir a totalidade significativa e resgatar a
história.
Como metodologia, é sugerido o emprego de instrumentos de medida das condições
de trabalho e saúde mental dos trabalhadores (incluindo 13 escalas de trabalho, 7 escalas
clínicas – depressão, histeria, paranóia, mania, esquizofrenia, desvio psicopático e obsessão –
e 1 escala de alcoolismo), um protocolo de observação do trabalho e análise de tarefas e
entrevistas qualitativas de aprofundamento. Esta proposta preconiza a utilização de
abordagens qualitativas e quantitativas (JACQUES, 2003; CODO; SORATTO; VASQUEZ-
MENEZES, 2004).
A utilização de abordagens de cunho tanto quantitativas como qualitativas tem
tradição nos estudos de Le Guillant, sendo um dos pioneiros nos estudos sobre os vínculos
entre saúde/doença mental e trabalho. Trata-se de uma abordagem que qualifica como
“pluridimensional” em que recorre na busca de informações, a todos os instrumentos
disponíveis: observações, questionários, entrevistas, fontes documentais, dados estatísticos
variados, entre outros (LIMA, 2002).
O desdobramento entre o subjetivo e o objetivo estão presentes nas pesquisas de Le
Guillant e nos de Codo, no Brasil. O relato do caso de Madame L., paciente de Le Guillant na
década de 50, é considerado pelos analistas um exemplo do sucesso do autor na articulação
dessas duas instâncias (LIMA, 2002).
46
Codo (2002, p. 185), defende que este método de investigação, “com seus avanços e
recuos, foi responsável pela descoberta da síndrome do trabalho vazio entre bancários,
paranóia entre digitadores, histeria em trabalhadores de creches e burnout em educadores”.
Uma crítica feita por Araújo (2011) a presente abordagem está na multiplicidade de
instrumentos de mensuração empregados, dificultando a comparação entre os estudos. O autor
em questão complementa afirmando que a avaliação da relação entre trabalho e adoecimento
psíquico nos limites apenas dos testes de significância estatística, como se tem visto, muitas
vezes não é capaz de identificar, com satisfação, a complexidade e s inter-relação entre
diferentes dimensões da vida no exercício de se trabalhar, tornando as conclusões muitas
vezes equivocadas ou apenas parciais.
Para desfecho cabe ressalta que o trabalho é tão complexo, tão fascinante e tão
intrínseco como qualquer outra ação humana. Não é apenas o número de horas traçadas nos
dois momentos que bate-se o cartão de ponto, não é o salário que ganha-se em troca de gestos
feito durante a jornada. Não é o emprego (CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES,
2004).
2.1.4 PSICOSSOCIOLOGIA
A abordagem psicossociológica constitui o reconhecimento de que o trabalho cumpre
um papel estruturante no processo de constituição dos sujeitos e da sociedade. Esse
pressuposto se ampara nos achados de Marx (1996), ao afirmar que ao agir sobre a natureza, o
homem a modifica e também a si próprio. Esse entendimento genérico de homem toma o
trabalho como um fator de identificação social, de bem-estar psicológico e também como
fonte de realização. Por meio dele o sujeito desenvolve suas potencialidades e capacidades
criadoras para produzir e dar sua contribuição social. Assim, o trabalho é aceito como
elemento fundamental na própria condição humana, deste modo, não há como descartá-lo na
hora de compreender o bem-estar psicológico das pessoas (PAIVA, 2005; BARBOSA, 2008).
Georgudi e Rosnow (1985, apud ÁLVARO, 1995), afirma que a tênue entre
variáveis é dialético e todo fenômeno psicossocial é histórico. Consisti desta forma que todo
fenômeno sócio histórico, não se pode explicá-lo isoladamente, no entanto pelas relações que
se tem com outros contextos – social, econômico, etc. – e que lhe dão significado num dado
momento.
47
Acolher uma perspectiva psicossociológica alude admitir uma visão de mundo
amparada pelo pensamento de que os fenômenos psicossociais estão inseridos dentro de um
contexto socioeconômico e cultural. Desta maneira o pesquisador deve considerar o caráter
interdisciplinar dos fenômenos na hora de examina-los e para isso necessita ultrapassar o
próprio campo de conhecimento, buscando outras fontes de informação e outras perspectivas
de análises (BORGES; BARBOSA; CHAVES; ANDRADE, 2007).
E como bem explana Barbosa (2008), o entendimento científico não se almeja
absoluto. Este ocorrido se dá porque a ciência é tão só um ponto de vista sobre o real ou, dito
de outro modo, um processo em constante construção, cuja coerência da verdade é explicada
em termos probabilísticos. Essa noção probabilística de ciência supõe que as problemáticas de
estudo são inesgotáveis, portanto, atingir os objetivos de pesquisa não significa descobrir a
verdade, e sim fomentar a melhor resposta possível a partir dos dados disponíveis, sendo tais
respostas sempre passíveis de contestação porque não se esgotam nas fronteiras do que já foi
revelado. Diante de tais princípios, adota-se a relevância social na produção do conhecimento
pautada em explanações que estão abertas a novas formas de sentidos e a um conhecimento
que não separa pesquisador e objeto.
Esta pesquisa está galgada na perspectiva psicossociológica, resumida a partir dos
trabalhos de Borges (1998), Álvaro e Garrido (2003), Paiva (2005), Borges e Barbosa (2007)
e Barbosa (2008): em que a grande parte dos fenômenos psicossociais é multidimensional e
multideterminado, o que demanda um olhar interdisciplinar, segundo a afinidade entre SM&T
determina que se profiram diversos níveis de análises (individual, interpessoal, grupal,
organizacional e/ou institucional e societal).
Todavia, as investigações dos pesquisadores citados acima tiveram como finalidade à
caracterização da saúde mental dos trabalhadores, distanciando-se assim da proposta trazida
por esta dissertação, onde se busca a relação existente entre as Deteriorações Menores em
Saúde Mental e a Síndrome de Burnout, Cabe aqui evidenciar também, o dilema existente na
adoção de um conceito acerca da saúde mental, consequência atribuída pela multiplicidade
dos conceitos existentes. Dentre estes, surgiu a ideia de transtornos psíquicos leves ou não-
psicóticos (GOLDBERG; HUXLEY, 1992; BORGES; ARGOLO, 2002).
Mediante a esta altercação cabe evidenciar que a expressão transtorno mental comum
provem da definição trazida por Goldberg e Huxley (1992), a qual está relacionada à presença
de sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e
queixas somáticas, com intensidade ainda insuficiente para caracterizar um transtorno mental
específico.
48
Quanto à terminologia, podem ser pontuados como Transtornos Depressivos
Menores, Transtornos Mentais Menores, Morbidade Psiquiátrica Menor, Problemas
Psiquiátricos Menores e Distúrbios Psíquicos Menores (SILVA, 2008; TAVARES, 2010;
TITO, 2013), entretanto, para esta dissertação preferiu-se a empregabilidade do termo
Deteriorações Menores em Saúde Mental, causa esta, derivada pela formulação resumida do
QSG-12 instrumento desenvolvido por Goldberg em 1972 e utilizado neste estudo, na
identificação dos transtornos mentais leves, sendo pontuados por dois fatores – Depressão e
Tensão Emocional e Redução da Auto-Eficácia.
Afora, foi-se necessário articular uma discussão sobre a saúde mental no trabalho
para se chegar a este fenômeno aqui também empreendido – Síndrome de Burnout – portanto,
será apresentado adiante um breve passeio sobre a literatura à luz deste constructo.
Esclarecendo que autores como Veja, Pérez e Amador (2003), pontuam que, nas últimas
décadas, o burnout tem se convergido em um dos temas mais discutidos dentro das
investigações cientificas sobre SM&T.
2.2 SÍNDROME DE BURNOUT
A terminologia “Burn out” foi acrescida no mundo acadêmico através do trabalho
realizado por Brandlay (1969 apud Benevides-Pereira, 2003). Já em 1974 nos Estados
Unidos, Freudenberger realizara estudos para retratar a conjuntura física e mental dos
trabalhadores de uma clínica de desintoxicação. Analisou-se que no decorrer de suas
atividades ocupacionais, esses trabalhadores se sentiam esgotados, irritados e desencadeavam,
também, uma atitude cínica em relação aos seus pacientes (BUENDÍA, 1998).
Mas alguns achados literários mostraram que o presente fenômeno já havia sido
mencionado anteriormente nos ensaios de romance de William Shakespeare, publicado em
1599 (SCHAUFELI; ENZMANN, 1998, p. 2). A expressão “burn out” também estava
presente nas ruas de subúrbios americanos como jargão, referindo-se aos consumidores de
drogas (BENEVIDES-PEREIRA, 2003).
Porém, no cenário acadêmico a origem do termo “burnout” sucede de uma conversa
informal entre a psicóloga e pesquisadora Christina Maslach e um advogado. Após dar início
a alguns estudos na área médica e apanhar algumas ideias referentes às relações de trabalhos,
Maslach sujeitou suas ideias em relação à preocupação que tinha sobre as estratégias
49
cognitivas de descomprometimento e autodefesa por meio da desumanização a um advogado
e este lhe disse que os advogados das pessoas mais pobres chamavam essa situação de
esgotamento. A partir desse momento a pesquisadora encontrou não só que a situação que
estava estudando tinha um nome como também acontecia em outras áreas do conhecimento.
Descobriu, então, que trabalhar com outras pessoas era o coração do fenômeno burnout,
verificando, portanto, que tal síndrome acontece, sobretudo com as pessoas que trabalham em
contato com outras pessoas. (CHIMINAZZO, 2005).
De acordo com Cadiz et. al. (1997), a demarcação de burnout não incide de uma
teoria preexistente, entretanto de anos de investigação empírica por meio de entrevistas,
pesquisas e observações diretas de trabalhadores de uma ampla variedade de profissões
caracterizadas pelo trabalho com pessoas.
Na Espanha, não diferente dos Estados Unidos, o termo foi utilizado para descrever
uma sensação de estar-se “consumido” ou “queimando”, como uma forma de expressar o
sentido de perda da esperança atribuída ao trabalho ou qualquer esforço destinado a fazer bem
as tarefas é inútil (PÉREZ, 1997).
Na academia brasileira a definição mais usada para descrever a síndrome é a de
Maslach & Jackson (1986), em que o burnout (Síndrome do Esgotamento) é acenado como
uma síndrome multidimensional constituída por exaustão emocional, desumanização, tida
também como despersonalização e/ou cinismo. E a outra dimensão é a decepção no trabalho,
esta por sua vez, é caracterizada pela falta de realização pessoal.1 Rodriguez-Marin (1995)
ilustra ainda que, além de definir burnout como uma síndrome que se manifesta pelo
esgotamento emocional, a desumanização e a decepção no trabalho, é considerada como um
tipo peculiar de mecanismo de copping e autoproteção frente ao estressor, suscitado por meio
das relações profissional-cliente e na relação profissional-organização.
Benevides-Pereira (2003) afirma que alguns autores ainda optam pela utilização do
termo estresse, contudo, para diferenciá-lo de Burnout, nomeiam de estresse ocupacional.
Desta maneira, explicitam o estresse corriqueiro no campo do trabalho, em atividades
profissionais, em especial aquelas em que o contato com o outro, o usuário do trabalho, é
muito próximo. Neste campo, o Burnout também é denominado de estresse ocupacional
assistencial, ou ainda estresse laboral, designando uma síndrome que acontece
especificamente na conjuntura do trabalho.
1 Para esta dissertação, deu-se a preferência em empregar os termos desumanização e decepção no trabalho
devido à terminologia conferida a estas dimensões pelos autores da Escala de Caracterização do Burnout
(Tamayo; Tróccoli, 2009), utilizada para avaliar a síndrome de burnout na amostra.
50
Para que se possa observar o Burnout como um processo é importante distingui-lo do
estresse, que embora exista forte semelhança entre tais fenômenos, têm seus construtos
divergentes. Na medida em que o Burnout é acatado a intensificação da sintomatologia
própria de estresse laboral, é a relação temporal que o diferencia do estresse, ou ainda quando
os métodos de enfrentamento empregados pelo profissional são insuficientes. Ainda mais, a
base da síndrome se origina na tensão emocional e nos recursos que o indivíduo emprega para
encarar o processo nas inter-relações nas quais convive no espaço de trabalho. O Burnout
ainda se distancia do estresse por seu aspecto negativo, crônico e inadaptado. Por fim, o
Burnout é a etapa final das progressivas tentativas mal sucedidas do sujeito em lidar com o
estresse decorrente de condições de trabalho negativas (CARLOTTO; GOBBI, 1999,
CARLOTTO, 2011).
Neves (2012), bem coloca que no cenário nacional a primeira publicação sobre a
temática data de 1987, e foi realizada pelo médico cardiologista Hudson França, na Revista
Brasileira de Medicina. Na década de 90 apareceram às primeiras teses, e em escoltada outras
publicações começaram a aparecer, alertando alguns profissionais sobre este tema.
O burnout é reconhecido no Brasil como uma doença ocupacional, sendo
identificado como “Sensação de Estar Acabado” (Síndrome de Burn-Out, Síndrome do
Esgotamento Profissional) No Anexo II – que trata dos Agentes Patogênicos causadores de
Doenças Profissionais – do Decreto nº3048/99 de 6 de maio de 1996 – que dispõe sobre a
Regulamentação da Previdência Social –, conforme previsto no Art.20 da Lei nº 8.213/91, ao
se referir aos transtornos mentais e do comportamento relacionado com o trabalho (Grupo V
da CID-10), o inciso XII aponta a Sensação de Estar Acabado (Z73.0) (BRASIL, 1999).
Para Tamayo (2008), a implementação de políticas nacionais de prevenção e de
medidas de intervenção ainda permanece muito aquém do esperado. Isto se torna preocupante
visto que o advento do surgimento do Esgotamento Profissional pode ser associado a uma
série de reações negativas, como insatisfação com o emprego, diminuição do
comprometimento no trabalho, absenteísmo, intenção de sair e a rotatividade.
A Síndrome de Burnout é discutida por cinco abordagens, sendo a clínica, social-
psicológica, organizacional e social-histórica, como bem coloca Carlotto (2001) e Leite
(2007).
a) Clínica – tem como precursor Herbert Freudenberger, por relacionar seus
estudos à etiologia, sintomas, evolução clínica e ao tratamento da síndrome.
Considerava que o profissional, ao se sentir exausto, já não conseguia preocupar-
se com as necessidades do indivíduo que o procurava.
51
b) A Social-psicológica – Christina Maslach identifica no ambiente de trabalho
características básicas da síndrome. Relaciona o estresse ao papel que o indivíduo
desempenha em seu trabalho;
c) A Organizacional – considera as definições dos autores mencionados
anteriormente, ampliando o modelo social-psicológico considerando afinidades
organizacionais como geradoras de Burnout (CHERNISS, 1980 apud
CARLOTTO, 2001);
d) A Social-histórica – tendo a ideia de que o impacto da sociedade pode determinar
a síndrome bem mais que as relações individuais e/ou organizacionais; e
e) A Psicologia do Trabalho – Apoia-se no referencial teórico da Psicologia do
Trabalho fundamentada em Marx e Leontiev, foi desenvolvida por Codo e
colaboradores no Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB e tem como
base pesquisa nacional realizada com trabalhadores em educação no período de
1996-1998.
A síndrome de acordo com Silva (2008) na descrição de Freudenberger haveria uma
fase inicial de entusiasmo, alta expectativas e idealização, passando para uma fase de paralisia
e depois de frustração, na qual seria questionada a utilidade do trabalho, destacando-se todas
as dificuldades e aspectos negativos, e aparecendo os problemas emocionais e de conduta. Por
fim, se desenvolveria um estado de apatia ou indiferença em relação ao trabalho, como bem
elucida a figura 3;
Figura 3 – Modelo de Freudenberger (1974)
Entusiasmo
Altas Expectativas Paralisia Frustração Apatia
Idealização
Fonte: Silva (2008)
Outra probabilidade trazida por Leiter (1993 apud Silva, 2008) em que surgiria
primeiro a exaustão emocional, por meio da sobrecarga atribuída ao trabalho e demandas
interpessoais. Para suportar a exaustão o trabalhador desenvolveria atitudes de defesa
(isolamento e indiferença de tratamento) surgindo à despersonalização e, seria a falta de
recursos pessoais e institucionais que levaria tanto à despersonalização quanto à baixa
realização pessoal, esta definição é trazida na figura 4.
52
Figura 4 – Modelo de Leiter (1993)
Demandas interpessoais Carga de trabalho
Exaustão Emocianal
Despersonalização
Falta de Recursos
Reduzida Realização Pessoal
Fonte: Silva (2008)
Por sua vez, o modelo estrutural da Síndrome de Burnout desenvolvido por Maslach
e Jackson (1994) apresenta preditores para cada uma das dimensões da síndrome, em geral,
incluem as demandas de trabalho e carência de recursos (figura 5).
Figura 5 - Modelo estrutural do burnout
DEMANDAS
Sobre carga & Conflitos Pessoais
CUSTOS
Fonte: Maslach e Jackson (1994)
FALTA DE
RECURSOS
Diminuição:
Coping controlado;
Suporte social;
Autonomia;
Envolvimento.
BURNOUT
Exaustão → despersonalização
Diminuição da realização e da
eficácia
Comprometimento organizacional diminuído;
Rotatividade;
Absenteísmo.
Doença
53
Já o modelo desenvolvido por Gil-Monte (2005) é instituído por quatro dimensões,
sendo evidenciado nos trabalhos desenvolvidos por Carlotto (2010-2012) e Braun (2012).
Sendo apresentada uma pequena explanação do modelo em questão na mostra a figura 6.
Figura 6 – Modelo de Gil-Monte (2005)
Fonte: Gil-Monte (2005)
Nesta perspectiva, toma-se como referência o conceito adotado por Maslach e
Jackson (1994), segundo o qual é um problema que atinge profissionais de serviço,
principalmente aqueles voltados para atividades de cuidado com outros, no qual a oferta do
cuidado ou serviço frequentemente ocorre em situações de mudanças emocionais. Ajudar
outras pessoas sempre foi reconhecido como objetivo nobre, mas apenas recentemente tem
sido dada atenção para os custos emocionais da realização do objetivo. O exercício destas
profissões implica uma relação com o cliente permeada de ambiguidades, como conviver com
a tênue distinção entre envolver-se profissional e não pessoalmente na ajuda ao outro
(TELLES; PIMENTA, 2009; CODO, 2002).
O desencadeamento do burnout podem ter características individuais e
organizacionais, como bem coloca Veja, Pérez e Amador (2003), já as características
organizacionais os autores classificam desta maneira:
Necessidade de reconhecimento – encontra-se relacionada ao conjunto de
ações que a organização pode enaltecer ou estimular as atividades técnicas. A
carência destas ações são atitudes importantes na presença do Burnout;
1) Ilusão pelo
Trabalho
•O desejo individual para alcance de metas relacionadas ao trabalho, estas por sua vez, são compreendidas pelo indivíduo como atraentes e fonte de satisfação pessoal;
2) Desgaste Psíquico
•Qualifica-se pelo manifestação de exaustão emocional e física em analogia ao contato direto com sujeitos que são fonte ou geradores de problemas;
3) Indolência
•Desencadear-se por meio da presença de atitudes e indiferença junto às sujeitos que carecem ser atendidas no local de trabalho, assim como insensibilidade aos problemas de terceiros;
4) Culpa
•É caracterizada com surgimento de cobrança e lástima de culpabilização referente ao desempenho e atitudes negativas acometidas no trabalho, sendo corroborada especialmente em pessoas que desenvolvem relações diretas no local de trabalho.
54
Subvalorização do profissional – o profissional tem o sentimento de
inferioridade. No âmbito da saúde, sente-se inferior à figura do médico, da
instituição ou dos pacientes;
Necessidade de superação profissional – a existência de programas que
valorizem o perfil ocupacional deve estar ao alcance do profissional. Quando
estes programas ficam longos tempos sem serem executados aumentam as
possibilidades de aparição do Burnout;
Sobrecarga de trabalho – ocasionada pelo excesso de trabalho assistencial na
instituição, juntamente com outras atividades;
Necessidade de trabalho em equipe – a valorização do trabalho em equipe
auxilia os profissionais a enfrentarem a carga de trabalho, depositando no
grupo suas diferenças individuais;
Necessidade de autonomia – associada à possibilidade do profissional de
planificar seu trabalho individual, respeitando as metas da equipe e os
objetivos do departamento; e,
Característica da tarefa (rotina ou diversidade) – referência às atividades que
podem ser rotineiras ou monótonas e, por outro lado, tarefas que caracterizam
por permitirem satisfazer interesses amplos e diversos.
Já Trigo (2010), classifica as características individuais em duas, maiores ou menores
índices de burnout. Onde serão apresentadas a seguir nas tabelas 1 e 2.
Tabela 1 Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices mais baixos da síndrome de
burnout
FATOR CARACTERÍSTICAS
Tipo de personalidade com características resistentes
ao estresse, ou hardiness.
Envolve-se em tudo o que se faz; acredita possuir o
domínio da situação; encara as situações adversas com
otimismo e como oportunidade de aprendizagem.
Locus de controle interno Responsabiliza-se pelos sucessos de sua própria vida,
e estes são encarados como consequência de suas
habilidades.
Autoestima, autoconfiança, autoeficácia -
Fonte: Trigo (2010)
55
Tabela 2 Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices elevados da síndrome de
burnout
FATOR CARACTERÍSTICAS
Padrão de personalidade tipo A É descritivo como mais competitivo, esforçado,
impaciente, com excessiva necessidade de controle
das situações e dificuldades em tolerar frustrações.
Locus de controle externo Considera que suas possibilidades e acontecimentos
de vida são consequências da capacidade de outros, da
sorte ou destino.
Superenvolvimento Sujeitos empáticos, sensíveis, humanos, com
dedicação profissional, altruístas, obsessivos,
entusiastas, suscetíveis a se identificarem com os
demais.
Indivíduos pessimistas Costumam destacar os aspectos negativos, preveem
insucesso, sofrendo por antecipação.
Indivíduos perfeccionistas Bastante exigentes consigo mesmos e com os outros,
não tolerando erros e dificilmente se satisfazendo com
os resultados das tarefas realizadas.
Indivíduos com grande expectativa e idealismo em
relação à profissão
Podem deixar de ser realistas e têm grandes chances
de se decepcionarem. Se associado ao otimismo, pode
levar a baixos índices de burnout.
Indivíduos controladores Inseguros, preocupam-se excessivamente, têm
dificuldades em delegar tarefas e em trabalhar em
grupo.
Indivíduos passivos Mantêm-se na defensiva e tendem à evitação diante
das dificuldades.
Gênero As mulheres apresentam maior pontuação em
exaustão emocional; os homens, em
despersonalização.
Nível educacional Indivíduos com nível educacional mais elevado.
Estado civil Maior risco em solteiros, viúvos ou divorciados.
Porém, há estudos que demonstram o oposto.
Fonte: Trigo (2010)
Diante desta explanação acerca das características, individuais e organizacionais,
muitos pontos permanecem não esclarecidos e divergentes, mas os pesquisadores, de uma
forma geral, concordam que o burnout interfere nos níveis institucional, social e pessoal.
Estes pesquisadores apontam três dimensões encontradas na síndrome, este advento é
caracterizado em exaustão emocional, desumanização e decepção no trabalho.
A exaustão emocional é representada como o componente básico do estresse
individual no burnout, além de ser o elemento mais importante e central da síndrome
(BORGES et. al.; 2002; BORGES, ARGOLO; BAKER, 2006; TAMAYO, 2002; TAMAYO;
ARGOLO; BORGES, 2005; TAMAYO, 2008; TAMAYO, 2009; TAMAYO; TROCCOLI,
2009).
Para Maslach & Jackson (1994) esta dimensão referem-se às sensações de estar além
dos limites e exauridos de recursos físicos e emocionais. Os trabalhadores que estão sofrendo
deste mal carecem de energia suficiente para enfrentar mais um dia ou outro problema. Como
resultado, o sofrimento surdo e gradativo explode na exaustão emocional, sendo reconhecido
56
por uma série de sintomas físicos, emocionais, organizacionais ou relacionados ao próprio
trabalho, e ultimado na desistência simbólica, entre permanecer e fugir. Nessa proposta, a
despersonalização e a baixa realização no trabalho surgem como formas alternativas possíveis
desenvolvidas pelo trabalhador como resposta ao sofrimento decorrente da situação de
exaustão emocional em que se encontra, ou seja, surgem por meio da desistência simbólica,
eliminando o outro, ou eliminando a si mesmo, com sentimentos de baixa realização
profissional (VASQUES-MENEZES, 2005).
A segunda manifestação é a desumanização denominada também como
despersonalização, no entanto, esta representa o componente da dimensão de contexto
interpessoal da síndrome, constituindo-se de atitudes negativas, de distanciamento emocional
com respeito a vários aspectos do trabalho. Neste momento o vínculo racional toma a vez do
afetivo, em que se desencadeiam atitudes insensíveis, prevalecendo o cinismo e o
endurecimento afetivo em relação às pessoas destinatárias do trabalho; ocorre uma
“coisificação” da relação (MASLACH et. al., 2001).
Maslach (2005) destaca que os trabalhadores que passam por esta dimensão reduzem
a quantidade de tempo que passam no escritório ou no local de trabalho e a quantidade de
energia que dedicam ao seu trabalho. Por sua vez, eles continuam a exercer suas funções, mas
apenas o mínimo necessário, de modo que a qualidade de seu desempenho acabe caindo.
Portanto, sentimentos de desumanização prejudicam o desempenho do trabalhador e os levam
a uma percepção de baixo comprometimento, fechando-se o circuito causal de
desenvolvimento da síndrome.
Contudo, a ligação subsequente, para sentimentos de decepção no trabalho ou baixa
realização profissional ainda não são claras, sendo que alguns estudos têm fornecido suporte à
hipótese de desenvolvimento simultâneo dessa terceira dimensão, em vez de sequencial
(MASLACH et. al., 2001).
Realizando um panorama sobre a investigação do burnout, Maslach et al. (2001)
distingui dois períodos históricos sobre esta síndrome, a fase pioneira partindo em 1974 e a
fase empírica a partir da década de 1980. Na primeira etapa, mencionada acima, abarca um
caráter exploratório, com ostentação nos estudos de cunho qualitativo, empregando
entrevistas, estudos de caso e observações in loco.
O primeiro momento, logo, buscou lidar o fenômeno do burnout, instituindo sua
descrição, denominando-o e evidenciando que não era uma resposta rara, consistindo em
surgir principalmente em serviços humanos e de cuidados de saúde caracterizados por estresse
emocional e interpessoal. Assim, segundo Maslach et al. (2001), desde o início, o burnout foi
57
estudado não tanto como uma resposta individual ao estresse, mas sim em relação ao contexto
interpessoal do indivíduo no trabalho.
O segundo momento de evolução do construto, aconteceu na década de 1980,
momento marcado por investigações empíricas com o desenvolvimento de diferentes
instrumentos de medida para a avaliação do burnout. Dentre eles, destaca-se o Maslach
Inventory Burnout (MBI) concebido por Maslach e Jackson em 1981. Assim sendo, a
característica vista dessa fase foram os estudos mais sistemáticos, empregando instrumentos
padronizados que permitiram a realização de surveys cingindo amplos extratos populacionais
(NEVES, 2012; LOPES, 2010; MASLACH et al., 2001).
O MBI é um instrumento multifatorial com três versões. Duas versões são compostas
por 22 itens cada, alastrados entre os fatores Exaustão Emocional (9 itens), Despersonalização
(5 itens) e Realização Pessoal (8 itens). Cada subitem está acompanhado por uma escala de
resposta de 7 pontos (nunca até todos os dias) que busca mensurar a frequência de emoções
relacionados à síndrome. Uma dessas versões destina-se aos profissionais cujo trabalho tem
caráter assistencial (MBI – Human Services Survey) e a outra se direciona aos trabalhadores
do ensino (MBI – Educators Survey). A terceira versão do MBI, a General Survey, com 16
itens, é utilizada em categorias profissionais que não se enquadram nos dois grupos anteriores
(MASLACH; JACKSON; LEITER, 1996).
O Burnout Measure (BM) avalia a síndrome de burnout de forma unifatorial,
reduzindo o fenômeno a um simples esgotamento (Enzmann, Schaufeli, Janssen, & Rozeman,
1998). Por essa razão, esse instrumento não consegue captar os aspectos atitudinais e de
autoavaliação presentes na síndrome, assemelhando-se mais a uma medida ortodoxa de
estresse. Não é recomendável desenvolver um instrumento unifatorial a partir de um construto
multidimensional. Além disso, o Burnout Measure foi desenvolvido para avaliar essa
síndrome em um contexto geral, razão pela qual nenhum dos seus itens faz referência ao
trabalho (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2009).
Tamayo e Tróccoli (2002) listam outros instrumentos que avaliam a síndrome de
burnout, como o Cuestionário de Burnout del Profesorado (CBP) e o Cuestionário Breve de
Burnout (CBB), construídos na Espanha por Moreno-Jiménez, Oliver e Aragoneses (1993) e
por Moreno-Jiménez, Rodriguez, Alvarez e Caballero (1997), simultaneamente vem o
Copenhagen Burnout Inventory (CBI), desenvolvido por Kristensen, Borritz, Villadsen e
Christensen (2005) na Dinamarca, o Oldenburg Burnout Inventory (OLBI), construído por
Halsbesleben e Demerouti (2005) na Holanda; o Shirom-Melamed Burnout Measure (SMBM)
desenvolvido em Israel por Shirom e Melamed (2006).
58
Afora a discussão acerca dos instrumentos desenvolvidos para averiguar o burnout,
cabe ressaltar que a questão da interação entre o trabalhador e o mundo do trabalho é
aprofundada. Estes analisam a dinâmica de aproximação e distanciamento entre o trabalhador
e fatores que consideram importantes na realidade do trabalho, como: carga, controle,
recompensa, relacionamento com a comunidade, percepção de justiça e valores. O Burnout
estaria relacionado ao confronto entre o exigido e o que o trabalhador consegue dar em
relação a esses fatores surgindo em razão do desequilíbrio crônico entre exigências do
trabalho e capacidade de resposta do trabalhador.
Tamayo (2002) bem coloca que, mesmo havendo um relativo consenso em relação
ao processo de desenvolvimento do burnout, este fenômeno só será bem esclarecido com o
incremento de estudos longitudinais, com um maior uso de técnicas de análises mais
sofisticadas e com a introdução de técnicas de caráter qualitativo, como a entrevista.
É possível admitir também que a síndrome de burnout é uma síndrome de
esgotamento físico, psíquico e emocional, em contrapartida ao estresse crônico. A síndrome
de burnout descreve um fenômeno qualificado por um conjunto de sinais, síndrome, que pode
ser esclarecido por teorias divergentes, estes modelos e teorias explicativas da referida
síndrome se encarregam de explicar esse fenômeno multidimensional. De tal modo, sempre
que se falar da síndrome de burnout é admirável destacar o referencial teórico adotado para
análise de modo a fomentar as discussões geradoras da pesquisa.
Para desfecho desta discussão, cabe salientar que nas profissões que exigem
diariamente uma interação entre as pessoas, esta síndrome pode se manifestar, como uma
possível decorrência adversa desse contato. Sabido que o presente estudo elegeu os agentes
penitenciários de duas cidades do Rio Grande do Norte como sujeitos participantes.
2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS APORTES TEÓRICOS DO ESTUDO
A presente sessão foi desenvolvida para elucidar os aportes teóricos que norteiam este
estudo e, como bem coloca Minayo (1994) toda investigação deve ser articulada a
conhecimentos anteriores, construído por outros estudiosos. No entanto o caminho teórico
desencadeado aqui é caracterizado como um estudo galgado na psicossociologia (GIL-
MONTE; PEIRÓ, 1997; BORGES, 1998; BORGES et. al.; 2002; ARGOLO; BORGES,
2002; PAIVA, 2005; BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006; BORGES; BARBOSA, 2007;
59
BARBOSA, 2008; MASLACH, 2005; MASLACH; JACKSON, 1986; MASLACH; LEITER,
1999; GIANASI, 2004).
Averiguar a relação existente entre as deteriorações menores em saúde mental e a
Síndrome de Burnout, sabido hipoteticamente que a depressão, ansiedade e os transtornos
somatoformes são considerados os principais rebates psicológicos ao burnout (ALUJA,
1997). Já outros autores pontuam que o burnout é fator preditor de morbidade psiquiátrica.
Podendo a exaustão emocional comprometer a saúde mental dos trabalhadores e deteriorar a
qualidade de vida no trabalho, além do funcionamento da organização (SILVA, 2008;
MASLACH, 2005).
Diante deste quadro este estudo se apropriou de tais hipóteses atreladas à perspectiva
sócio-histórica, onde as características individuais são compreendidas como dimensões
intermediárias da saúde que podem influenciar na forma como os sujeitos abarcam e atribuem
valor as condições de trabalho (WARR, 1987).
Ante a dificuldade em agregar modos e conceitos acerca da saúde mental, este estudo
distinguiu à noção acerca das Deteriorações Menores em Saúde Mental, sob uma ótica de que
a saúde não significaria apenas a ausência da doença mental enquanto distúrbio grave. Os
transtornos leves indicam alguma afecção da estrutura de vida psíquica do trabalhador,
portanto, inter-relações com sua vida social (BORGES; ARGOLO, 2002, p. 18).
No que concerne a Síndrome de Burnout (esgotamento profissional) sendo uma
síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica no trabalho, composta pelas
dimensões: Exaustão Emocional, Desumanização e Decepção no trabalho, nomeada também
Diminuição da Realização Pessoal ou Ineficácia, tal conceito aparado nesta dissertação está
galgado no pensamento desenvolvido por Tamayo (2008-2009); Tamayo e Tróccoli (2002-
2009), Tamayo, Ârgolo, Borges (2005), Maslach (2005), Maslach e Jackson (1986) e Maslach
e Leiter (1999).
Ainda para Tamayo e Tróccoli (2002), o burnout desencadeia-se em uma linha tênue
entre a vivência intrínseca que suscita percepções e atitudes negativas no relacionamento do
sujeito com o seu trabalho, tais como insatisfação, deterioração no vinculo entre indivíduo e a
organização do trabalho; o que pode afligir o seu desempenho profissional e trazer
consequências indesejáveis, como, por exemplo, absenteísmo, abandono do emprego e baixa
produtividade.
Tão quão a Síndrome de Burnout, as Deteriorações Menores em Saúde Mental são
ocasionados por dias perdidos de trabalho, da ausência de capacitação quanto profissional, das
60
demandas inerentes ao trabalho, gerando alto custo social, econômico e individual (SILVA,
2008; LIMA et. al., 1996; GOLDBERG; HUXLEY, 1992).
Assim se segue este estudo, esclarecendo que “nenhuma teoria, por mais elaborada
que seja, não dá conta de explicar todos os fenômenos e processos” (MINAYO, 1994, p. 18).
Enquanto abrangência de concepções teóricas de abordagem, a teoria e metodologia
caminham juntas, fazendo-se necessário a seguir expor o caminho metodológico traçado para
esta dissertação.
61
3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO
O trabalho penitenciário e a averiguação da existência de transtornos mentais comuns
e da síndrome de burnout é o foco principal de investigação do presente estudo. Assim se faz
necessário trilhar um caminho metodológico de cunho descritivo, utilizando-se da abordagem
quantitativa-transversal. Para tanto, os dados foram fornecidos por meio de questionário
sociodemográfico e características profissionais e do trabalho, do QSG-12 de Goldberg
(1972) e da ECB desenvolvida Tamayo e Tróccoli (2009).
3.1 TIPO DE PESQUISA
O tipo de desenho desenvolvimento desta dissertação caracteriza-se, com a definição
trazida por Gil (2008) como pesquisa descritiva, tendo as deteriorações menores em saúde
mental e a Síndrome de Burnout como variáveis critérios e as condições ligadas ao ambiente e
ao trabalho sendo variáveis antecedentes. Esta tipologia de investigação propende a
caracterizar uma dada amostra ou fenômeno constituindo relações entre variáveis, mas sem
manipulá-las.
O Estudo de Casos Múltiplos é a estratégia geral de pesquisa escolhida para a
investigação aqui aplicada. A utilização de casos múltiplos permite a observação de
evidências em diferentes contextos, pela replicação do fenômeno, sem necessariamente se
considerar a lógica de amostragem (YIN, 1989).
Yin (1989) coloca que a investigação de casos múltiplos é um método potencial de
estudo quando se deseja entender um fenômeno social complexo, pressupõe um maior nível
de detalhamento das relações entre os indivíduos e as organizações, bem como dos
intercâmbios que se processam com o meio ambiente nos quais estão inseridos. O foco
temporal é outro elemento decisivo para a escolha do método. Ainda com o mesmo autor, o
método de casos é tido como o mais adequado ao estudo de eventos contemporâneos, e neste
caso mais poderoso que a análise histórica.
62
3.2 UNIVERSO E AMOSTRA
Para realização desta dissertação foram investigadas 02 (duas) penitenciarias do Natal
e 01 (uma) em Mossoró, escolha atribuída por se tratar das duas maiores cidades norte rio-
grandense e pela acessibilidade na entrada e realização da pesquisa.
O universo da presente investigação é composto por 83 ASP, porém a taxa de retorno
obtida por meio dos questionários preenchidos corresponde a 73,49%, totalizando deste
modo, uma amostra de 61 agentes, sendo estes distribuídos nas 03 (três) unidades prisionais, a
Tabela 3 mostra a distribuição dos sujeitos frente ao universo que estes se inserem.
Tabela 3 – Distribuição amostral dos agentes penitenciários.
CIDADES UNIVERSO AMOSTRA
MOSSORÓ 32 27
NATAL (Unidade Prisional 1) 39 23
NATAL (Unidade Prisional 2) 12 11
TOTAL 83 61
Fonte: Dados da pesquisa, 2013.
Para tanto, por princípios éticos elucidados à pesquisa com indivíduos, a identidade
dos participantes e das instituições onde os mesmos trabalham será mantida em sigilo.
3.3 PROCESSO DE COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS
O processo de coleta do referido estudo se deu nos dois maiores municípios do Estado
do Rio Grande do Norte – Natal e Mossoró. Para entrada e execução deste estudo se fez
necessário o encaminhamento de um Ofício, esclarecendo a natureza da pesquisa e possíveis
benefícios que esta dissertação poderia trazer para classe trabalhadora. Por sua vez, o
despacho foi autorizado pela Coordenadoria de Administração Penitenciária do Rio Grande
do Norte.
A presente investigação utilizou 03 (três) instrumentos. O primeiro questionário reúne
informações sociodemográficas e funcionais dos participantes, tais como sexo, idade,
escolaridade, estado civil, cargo, tempo de serviço e regime (Anexo 1).
O segundo instrumento é o Questionário de Saúde Geral (QSG-12) (Anexo 2)
elaborado por Goldberg (1972) e adaptado e validado por Borges e Argolo (2002) para uso
em estudos de caráter ocupacional. Tal questionário mensura deteriorações menores em saúde
mental, através de dois fatores, o primeiro deles, corresponde a sentimentos atribuídos à
63
competência percebida pelo participante na realização de suas atividades denominado de
Deterioração da Autoeficácia (composto pelos itens 1, 3, 4, 7, 8, 10, 11 e 12). O segundo é
denominado de Tensão Emocional e Depressão (composto pelos itens 2, 5, 6 e 9), busca mensurar
sentimentos reminiscentes à tensão e ao esgotamento emocional. O QSG-12 é de fácil aplicação
e, nos estudos desenvolvidos por Babosa (2001/2008), Argolo e Araújo (2004), é utilizado
como instrumento unifatorial.
O instrumento, em sua configuração original, é composto de 60 itens. Goldberg
formulou em seguida várias outras versões, com um número cada vez menor de itens (30, 20 e
12 itens). Mesmo a forma mais reduzida tem mantido o grau de confiabilidade. É a última
versão (QSG-12), devido à simplicidade, que tem se tornado comum em estudos ocupacionais
(BORGES; ARGOLO, 2002; ARGOLO; ARAÚJO, 2004; MOURA; BORGES; ARGOLO,
2005; BOGES; MARANHÃO, 2006; BARBOSA, 2001-2008, DAMÁSIO; MACHADO;
SILVA, 2011; BARBOSA; BORGES, 2011).
Já no que se refere à mensuração da Síndrome de Burnout o Inventário de Maslach
(MBI) é o instrumento mais utilizado, mas esta pesquisa elegeu o ECB (Anexo 3) pelo fato de
ser brasileiro e seus fatores apresentam propriedades psicométricas superiores encontradas nas
versões utilizadas no MBI, excedendo, as críticas frequentemente apresentadas à baixa
consistência interna apresentada pelo fator despersonalização nos estudos no Brasil. Esta
evidência é clara no estudo com os professores brasileiros de Carlotto e Câmara (2004), no
qual a dimensão de despersonalização apresentou coeficiente de fidedignidade alfa de
Cronbach de 0,58; índice inferior ao que é recomendado por especialistas em psicometria.
Conforme Hair et. al. (2005) o alcance inferior geralmente aceito é de 0,70, podendo
ser reduzido para 0,60 em estudos exploratórios, a seguir são apresentadas à descrição do
ECB na Tabela 4.
Tabela 4 - Descrição do instrumento ECB.
Instrumento Atores Nº de
itens
Escala de Respostas Dimensões Alfa de
Cronbach
Escala de
Caracterização
do Burnout
Tamayo e
Tróccoli
(2009)
35 1. Nunca
2. Raramente
3. Algumas vezes
4. Frequentemente
5. Sempre
-Exaustão
Emocional
-Desumanização
-Decepção no
Trabalho
0,93
0,84
0,90
Fonte: Tamayo e Tróccoli (2009)
O ECB possibilita em primeira instância uma melhor investigação da generalização da
estrutura trifatorial do MBI na cultura brasileira bem como a presença de novos fatores, e
64
posteriormente apresenta melhores qualidades psicométricas do que as medidas utilizadas no
Brasil. (TAMAYO; TROCCOLI, 2009).
3.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO
Deste modo, são expostos no Quadro 2 os objetivos desta dissertação – geral e
específicos – concerto com os instrumentos, sua relação com as variáveis analíticas e a
tipologia de análise estatística.
Quadro 2 - Instrumentos de pesquisa versus objetivos - geral e específicos - sua relação com as variáveis
analíticas e o tipo de análise estatística.
Objetivos Variáveis Analíticas Instrumentos de
Pesquisa
Tipologia de análise
Objetivo Geral:
Analisar a relação
existente entre as
deteriorações menores
em saúde mental e as
dimensões da Síndrome
de Burnout nos agentes
penitenciários do Rio
Grande do Norte.
A relação entre as
Deteriorações Menores
em Saúde Mental (Itens
do QSG-12: 1, 2, 3, 4, 5,
6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12) e
a Síndrome de Burnout
(Itens da ECB: 1, 2, 3, 4,
5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12,
13, 14, 15, 16, 17, 18,
19, 20, 21, 22, 23, 24,
25, 26, 27, 28, 29, 30,
31, 32, 33, 34 e 35).
As questões de 1 a 12
do QSG-12 Goldberg
(1972);
As questões de 1 a 35
da ECB de Tamayo e
Tróccoli (2009)
Para relacionar as duas
variáveis foi necessário
empregar a correlação
bivariada r de Pearson.
Objetivo Específico 1:
Delimitar o perfil
sociodemográfico e as
características
profissionais dos
agentes penitenciários;
Variáveis
sociodemográfica inclui:
idade, sexo e estado
civil.
Variáveis profissionais
inclui: posto/graduação,
tempo de serviço, tipo
de atividade
desenvolvida, carga
horária semanal, tem
outros empregos e
realiza atividades físicas
regularmente.
Questões de 1 a 12 do
questionário
sociodemográfico e
características
profissionais e do
trabalho.
Estatística Descritiva,
por meio da média e
desvio-padrão.
Objetivo Específico 2:
Averiguar a incidência
das deteriorações
menores em saúde
mental (deterioração
Autoefecácia ou tensão
emocional e depressão)
nos agentes
penitenciários;
Inclui as variáveis do
questionário de saúde
geral – QSG-12 –
Goldberg (1972).
Deterioração de
Autoeficácia (itens: 1, 3,
4, 7, 8, 9, 10, 11 e 12);
Tensão Emocional e
Depressão (itens: 2, 5, 6
e 9).
As questões de 1 a 12
do Questionário Saúde
Geral.
Análise descritiva,
realizando um
apanhado do valor
mínimo, valor máximo,
média, desvio-padrão,
percentis, frequência
por intervalo e Análise
de Cluster.
Objetivo Específico 3:
Analisar as diferenças
no concerne o perfil
sociodemográfico (sexo,
estado civil e a tipologia
de atividade
A prevalência das
deteriorações menores
em saúde mental
associada a variáveis
demográficas e laborais.
E as questões 2, 3 e 8 do
questionário
sociodemográfico e
características
profissionais e do
trabalho.
Análise descritiva,
realizando um
apanhado do valor
mínimo, valor máximo,
média e desvio-padrão.
65
desenvolvida) e as
deteriorações menores
em saúde mental nos
agentes penitenciários;
E as questões de 1 a 12
do Questionário Saúde
Geral.
Objetivo Específico 4:
Identificar a prevalência
da Síndrome de Burnout
(exaustão,
desumanização ou
decepção no trabalho)
nos agentes
penitenciários;
Incidência da Síndrome
de Burnot.
Exaustão Emocional
(itens: 1, 4, 7, 10, 13,
16, 19, 22, 24, 27, 29 e
31);
Desumanização (itens:
2, 5, 8, 11, 14, 17, 20,
26, 30 e 34);
Decepção no Trabalho
(itens: 3, 6, 9, 12, 15,
18, 21, 23, 25, 28, 32,
33 e 35).
Questões de 1 a 35 da
Escala de
Caracterização do
Burnout.
Análise descritiva,
realizando um
apanhado do valor
mínimo, valor máximo,
média, desvio-padrão,
percentis, frequência
por intervalo e Análise
de Cluster.
Objetivo Específico 5:
Analisar as diferenças
no que se refere ao
perfil sócio demográfico
(gênero, estado civil e a
tipologia de atividade
desenvolvida) e a
Síndrome de Burnout
nos agentes
penitenciários;
A prevalência da
Síndrome de Burnout
associada a variáveis
demográficas e laborais.
As questões 2, 3 e 8 do
questionário
sociodemográfico e
características
profissionais e do
trabalho.
E as questões de 1 a 35
da Escala de
Caracterização do
Burnout.
Análise descritiva,
realizando um
apanhado do valor
mínimo, valor máximo,
média e desvio-padrão.
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
3.5 TRATAMENTO DOS DADOS
Para realização da discussão dos achados estatísticos acerca das deteriorações menores
em saúde mental e a incidência do burnout nos agentes penitenciários, alguns meios analíticos
e técnicos foram introduzidos. Os resultados dos questionários foram registrados em um
banco de dados do Statistical Package for Social Science - 18 (SPSS).
Os procedimentos e análises estatísticas congregadas nesta dissertação foram:
Estatística descritiva: média, valor mínimo e máximo, desvio-padrão, Teste t, Percentis,
Intervalo de frequência e análise de Cluster com o intuito de verificar a prevalência entre as
três dimensões da Síndrome de Burnout e os dois fatores das Deteriorações Menores em
Saúde Mental. Para relacionar os dois constructos traçados neste estudo fez-se necessário
empregar a correlação bivariada r de Pearson.
66
Para tanto, foi averiguada a confiabilidade de cada um dos instrumentos que compõe
esta dissertação sendo testado por meio do alfa de Cronbach e da correlação item-total, o que
revelou resultados próximos aos dos estudos originais (Tabela 5).
Tabela 5 – Confiabilidade das escalas para a amostra
Instrumentos Dimensões e/ou
Fatores
N.º itens Alfa Cronbach -
original
Alfa Crobach -
reavaliado
QSG-12 (Goldberg,
1972)
Deterioração Auto-
Eficácia
8 0,85 0,85
Tensão Emocional
e Depressão
4 0,75 0,74
ECB (Tamayo e
Trocolli, 2009)
Exaustão
Emocional
12 0,93 0,94
Desumanização 10 0,84 0,90
Decepção no
Trabalho
13 0,90 0,79
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
De acordo com Hair et al. (2005), o coeficiente alfa de Cronbach é um indicante
espesso para análise da confiabilidade de um instrumento e, muito embora não exista um
padrão absoluto, importâncias de alfas iguais ou superiores a 0,70 conjeturam uma
fidedignidade admissível, podendo diminuir este limite até 0,60 em investigações de caráter
exploratório sem prejuízo aos resultados.
3.6 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA
A Lei Estadual nº 7092/97, cria o Grupo Penitenciário e os Cargos de Agente
Penitenciário e de Diretor de Estabelecimento Penal do Rio Grande do Norte, ficando estes
servidores estaduais regidos pelo Regime Jurídico Único do Estado, que determina seus
deveres e direitos enquanto funcionários públicos. O Sistema Penitenciário do Rio Grande do
Norte teve seu estatuto criado através da Lei nº 7.131 no dia 13 de janeiro de 1998, que dispõe
sobre o Estatuto Penitenciário do Estado e dá outras providencias, constituindo todos os seus
órgãos e suas competências.
Cabe esclarecer que o Sistema Penitenciário do Estado pertencia a Pasta da Secretaria
de Segurança Pública. Atualmente pertence à Pasta da Secretaria de Justiça e Cidadania, foi
transferido para a Secretaria atual em 13 de novembro de 2003 através da Lei Complementar
nº 256. Como também a função de agente penitenciário era desenvolvida pelos policias
militares aposentados. Atualmente existem 912 agentes penitenciários locados nas Unidades
67
Prisionais do Estado, distribuídos nas cidades de Natal, Parnamirim, Nísia Floresta, Caicó,
Mossoró, Caraúbas e Pau dos Ferros.
Na década de 90 alguns Estados dão início a criar o cargo de ASP para substituir
policiais militares e policiais civis que desenvolviam esta atividade, porém, até os dias atuais
os agentes penitenciários de alguns Estados à regularização de sua profissão ainda encontra-se
em negociação. Para tanto, no cenário nacional surge à iniciativa de criação e regulamentação
da profissão de agente penitenciário, através da PEC/304 (proposta de emenda constitucional)
que tramita na Câmara Federal.
Sendo o agente penitenciário um servidor público da administração estadual direta do
Governo do Rio Grande do Norte e pertence ao quadro do poder executivo, admitido através
de concurso público e que, dentro de suas atribuições efetua a segurança na Unidade Prisional
em que trabalha, zelando pela ordem e a disciplina, vigia, fiscaliza, inspeciona, revista e
acompanha os internos.
Este profissional atualmente trabalha com uma carga horária de 24x72 (vinte e quatro
horas trabalhando e setenta e duas horas de descanso, incluindo fins de semana e feriado).
Com uma carência muito grande de ASP, pois mais de 20% (por cento) que ingressaram no
primeiro concurso no ano de 2002, não fazem mais parte do quadro de pessoal dessa
categoria.
Segundo Jucá (2010) o agente penitenciário cumpre sua função no Sistema
Penitenciário, no qual o descrito e distante do real no atendimento a Lei de Execução Penal,
que é efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
harmônicas de integração social do condenado e do interno. Os meios de comunicações
divulgam periodicamente reportagens sobre fuga e rebeliões nas delegacias e nos presídios de
todo o país relacionado, e a superlotação das Unidades Prisionais.
O servidor estadual do sistema penitenciário atua no ambiente de alta periculosidade
com cadeias lotadas de apenados, presídios com população superior a sua capacidade, local
onde não assistência médica. Já o Corregedor Geral de Justiça do Rio Grande do Norte afirma
que o sistema prisional “é uma bomba com pavio acesso”, que a qualquer momento pode
explodir. (TRIBUNA DO NORTE, 2009).
Na I Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG) realizada entre os dias
22 a 25 de julho de 2009 na cidade do Natal. O evento teve a finalidade de nomear os
princípios e diretrizes para regular as políticas públicas na área de segurança, incluindo
diretrizes para o sistema penitenciário. Durante este evento foi eleito um representante dos
agentes penitenciários do Estado.
68
Estes trabalhadores exercem suas funções num ambiente perigoso, insalubre e penoso,
com apenados excluídos da sociedade que trazem na experiência de vida uma perspectiva
negativa de vivencia na sociedade, o agente é muitas vezes a principal barreira que amortece o
conflito existente entre a sociedade e os infratores, isto traz mais risco ainda para os agentes,
que no desempenho de suas atividades em um ambiente inóspito e complexo, com
acontecimentos de fato constantes que necessita a intervenção do mesmo. Tudo isto sem um
acompanhamento psicológico e sem uma política de valorização profissional (JUCÁ, 2010).
Espera-se que os resultados obtidos acerca da saúde mental e burnout possam trazer
melhorias das aludidas condições e a ampliação do conhecimento no que se refere ao fechar e
abrir do cadeado.
69
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
Esta sessão é caracterizada por quatro momentos, o primeiro deles conta com uma
rápida delimitação do perfil sociodemográfico e as características da profissão dos ASP. Em
seguida é realizada a discussão acerca dos escores da Deterioração em Autoeficácia e Tensão
Emocional e Depressão, fatores do QSG-12. No terceiro momento são inferidos os escores
que constituem a Síndrome de Burnout e por fim, é realizada a análise de correlação entre as
deteriorações menores em saúde mental e o burnout.
4.1 ANÁLISES DESCRITIVAS
4.1.1 Análises Sociodemográficas e do trabalho
A presente investigação conta com uma amostra de 61 ASP que voluntariamente
participaram do estudo. Estes ASP estão distribuídos nas 03 Unidades Prisionais, locados nos
municípios de Natal e Mossoró. A constatação da idade dos agentes vai de 24 anos, sendo a
mínima e 53 anos a máxima, estes achados são apresentados na Tabela 6. Sucessivo a este
dado. O tempo de trabalho na instituição varia entre 03 meses e 12 anos, com médias 6,7 anos
e desvio-padrão de 49,6.
Tabela 6 – Idade média e tempo de serviço da amostra (dados intervalares)
Dados de identificação Mínimo (anos) Máximo (anos) Média (anos) DP
Idade 24 53 35,2 7,1
Tempo de trabalho na
instituição
03 meses 12 anos 6,7 49,6
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Na sua maioria, os sujeitos (68,9%; 42) pertencem ao sexo masculino, com idade
média de 35,2 anos (DP = 7,1). Diante deste dado, pode-se afirmar que o trabalho carcerário é
uma profissão predominantemente masculina, fato este que se dá pela configuração desta
atividade, traço também evidenciado no trabalho de Jucá (2010).
Sendo casados (49,2%; 30), com filhos (Média: 2,3 – DP 0,98), sendo que 49,2% dos
entrevistados possuem graduação. Dentre estes (13,1%; 8) possuem especialização. Na sua
maioria desenvolvem atividades operacionais (68,9%, 42), trabalhando cerca de 50 horas
70
semanais (67,2%; 41) com 72 horas de descanso. Uma melhor explanação pode ser vista na
Tabela 7.
Tabela 7 – Dados sociodemográficos e características da profissão (Dados nominais)
DADOS DE IDENTIFICAÇÃO CATEGORIA MÉDIA - DP N.º %
Número dos participantes
61 100
Sexo Masculino 42 68,9
Feminino 19 31,1
Estado Civil
Casado 30 49,2
Solteiro 16 26,2
Divorciado 9 14,8
União Estável 4 6,6
Outro 2 3,3
Número de filhos 2,03 – 0,98
Formação escolar
Ensino Médio
11 18,0
Ensino Superior Incompleto 20 32,8
Ensino Superior Completo 30 49,2
Tipo de atividade desenvolvida
Operacional 42 68,9
Administrativo 11 18,0
Prevenção e vistoria 7 11,5
Outro 1 1,6
Carga horária semanal De 30 a 40 horas 20 32,8
Mais de 40 horas 41 67,2
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Os dados que diz respeito ao perfil sociodemográfico e as características do trabalho
foram apresentados, a seguir serão retalhados os dados referentes a deteriorações menores em
saúde mental.
4.1.2 Indícios das Deteriorações Menores em Saúde Mental nos ASP
Para cumprimento do segundo objetivo especifico deste estudo as deteriorações
menores em saúde mental foram mensuradas por meio do QSG-12. As respostas dos
participantes indicam a assiduidade de ocorrência do sintoma descrito no instrumento de
Goldberg (1972), as quais foram compiladas em escala de 0 a 3.
71
Os indicadores descritivos podem ser averiguados na Tabela 8, onde há a distribuição
dos escores mínimos e máximos, média e o desvio-padrão obtidos em cada fator –
Deterioração da Autoeficácia e Tensão Emocional e Depressão – verificasse também que as
médias (0,79 e 1,16 concomitantemente) não chegam ao ponto médio da escala (1,5).
Corroborando em meio a este dado à prevalência da média no segundo fato, deterioração da
autoeficácia (t= 10,54 para p<0,001).
Tabela 8 – Escores mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão nos fatores de Bem-estar e/ou
saúde mental (QSG-12).
Fatores do QSG-12 Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão
Deterioração da Autoeficácia ,30 1,25 0,79 ,71
Tensão Emocional e Depressão ,74 1,52 1,16 ,85
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Como ambos os fatores apontam detrimentos à saúde, médias amostrais em torno do
ponto médio da escala não representa um resultado significante. Sendo assim, elevados
escores no fator Deterioração da Autoeficácia (escala de 0 a 3) aponta que o trabalhador não
se imagina executando bem as atividades que foram incumbidas. Conforme apresentado na
Tabela 8, os escores médios da amostra nesse fator foram de 0,79 (DP= 0,71), mostrando uma
apreensão de baixa dificuldade dentre os ASP.
O fator Deterioração da Autoeficácia equiparado a resultados de outros estudos
realizados no Rio Grande do Norte, como o de Barbosa (2008) junto aos petroleiros e o de
Borges e Argolo (2005), com os profissionais de saúde, os escores foram, respectivamente,
0,54 e 0,74, mostrando uma concisa semelhança com os escores acometidos na presente
investigação. Porém, na investigação junto aos bancários se apreendeu escores médios de 1,65
ultrapassando o ponto médio da escala (PAIVA, 2005). Prontamente os ex-bancários de
maneira mais retraída cotejou uma média de 1,3 para o fator Deterioração da Autoeficácia
(BORGES; MARANHÃO, 2006).
O segundo fator amparado nesta discussão é a Tensão Emocional e Depressão, não
diferente da Deterioração da Autoeficácia a respeito da pontuação (de 0 a 3), quanto mais
elevado for os escores, mais o sujeito se sente emocionalmente tenso e esgotado. Sendo
assim, ficou constatado na Tabela 8 que a população deste estudo apresenta reduzida
depressão e tensão emocional, alcançando escores de 1,16 (DP= 0,85).
A média do segundo fator em questão, sendo equiparada a estudos anteriores. Já
inferidos no Rio Grande do Norte com outras categorias profissionais, se mostra inferior,
72
podendo mencionar neste desígnio o estudo desenvolvido com os operadores de petróleo em
turno fixo, onde a média foi, concomitantemente, 1,7 (BARBOSA, 2001), e com os bancários
ficou constatado 2,07 (PAIVA, 2005).
Já em outro momento junto aos petroleiros, a Tensão Emocional e Depressão
evidenciou uma média inferior, de 1,04 (BARBOSA, 2008). Entretanto os ex-bancários
obteve uma média de 1,0 (BORGES; MARANHÃO, 2006) e 0,84 com os profissionais de
saúde (BORGES; ARGOLO, 2005).
Todavia, cabe esclarecer que médias de magnitude inferior a 1 não caracteriza como
deterioração mental, entretanto, a tendência da amostra é a ocorrência de alguns sintomas
analisados no questionário numa frequência que o próprio sujeito respondente leva em conta o
seu padrão habitual (exemplificando: igual ao de costume, não mais do que o de costume,
etc.).
Para cumprimento do terceiro objetivo especifico traçado por esta dissertação, na
Tabela 9 são apresentadas as diferenças no que concerne o sexo dos participantes.
Tabela 9 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o sexo.
Fatores do QSG-12 Homens Mulheres Teste
T
P
Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Deterioração da AutoEficácia 0,81 ,77 0,74 ,58 0,78 0,30
Tensão Emocional e Depressão 1,14 ,87 1,21 ,83 0,29 0,63
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Na Tabela 9, ficou constatada uma pequena discrepância nos fatores do QSG-12
quando associados ao sexo, onde as mulheres adquiram uma média de 1,21 (DP= 0,83) no
fator Tensão Emocional e Depressão, enquanto os homens alcançaram escore médio de 1,14
(DP= 0,87), assim as mulheres conotam uma maior predisposição a sintomas depressivos. Já
no fator Deterioração da Autoeficácia o escore obtido foi 0,81 (DP= 0,77) e 0,74 (DP= 0,58) –
homens e mulheres, respectivamente.
Quanto ao teste t, os resultados mostraram não haver diferenças significativas entre as
variâncias dos dois fatores em questão – Deterioração da Autoeficácia e Tensão Emocional e
Depressão – p= 0,30 e 0,63, simultaneamente.
De maneira a realizar uma discussão mais detalhada dos dados colhidos, se fez
necessário analisar as diferenças no que diz respeito ao estado civil associado aos fatores do
QSG-12 (Tabela 10). Chaves e Fonseca (2006) bem advogam que a associação entre o estado
civil parece ser preditor na configuração do bem-estar psicológico. Esta associação é
73
justificável, tendo em vista, que esse estado civil promove uma condição de apoio social para
o indivíduo, aspecto que permite ao indivíduo sentir-se ajudado diante de situações
preocupantes.
Tabela 10 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o estado civil.
Fatores do QSG-12
Casado Solteiro Divorciado
Média DP Média DP Média DP
Deterioração da Autoeficácia 0,74 ,57 1,01 ,85 0,73 ,85
Tensão Emocional e Depressão 1,20 ,76 1,20 ,99 0,94 0,95
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
A comparação realizada entre os fatores do QSG-12 e o estado civil revelou uma
discrepância mínima, onde a variável solteiro inferiu a maior média no Fator Deterioração da
Autoeficácia (Média= 1,01 – DP= 0,85). No Fator Tensão Emocional e Depressão os sujeitos
casados e solteiros obtiveram a média de 1,20. Cabe ressaltar que os divorciados inferiram as
menores médias nos Fatores do QSG-12.
Muito embora não tenha havido nenhuma discrepância significativa na apuração no
que diz respeito ao tipo de atividade desenvolvida associada aos escores dos Fatores do QSG-
12, a atividade desenvolvida pelo o Operacional deteve uma média superior às demais no
Fator Deterioração da Autoeficácia, 0,85 (DP= 0,76). Já no Fator Tensão Emocional e
Depressão a maior média identificada está na atividade desenvolvida pela Prevenção e
Vistoria, 1,32 (DP= 0,73), ressalta-se também que o tipo de atividade desempenhada pelo
administrativo aferiu as menores médias nos dois Fatores do QSG-12 (Tabela 11).
Tabela 11 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o tipo de atividade desenvolvida.
Fatores do QSG-12
Operacional Administrativo Prevenção e Vistoria
Média DP Média DP Média DP
Deterioração da Autoeficácia 0,85 ,76 0,62 ,54 0,79 ,63
Tensão Emocional e Depressão 1,21 ,88 0,91 ,74 1,32 ,73
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Outra comparação realizada com a utilização dos dados acolhidos pelo QSG-12
sucedeu-se entre as três Unidades Penais que configuram este estudo. No entanto para avaliar
as diferenças significativas entre as médias, foi-se necessário à aplicação do Teste t (Tabela
12).
74
Dentre as médias acometidas a Unidade Penal de Mossoró foi a que inferiu os maiores
escores médios – 0,85 (DP= 0,77) e 1,27 (DP= 0,92) – Deterioração da Autoeficácia e Tensão
Emocional e Depressão, respectivamente. Entretanto, não houve nenhuma discrepância
significativa. Referindo-se aos menores escores obtidos nesta análise, a Unidade Penal Natal –
2 apresentou as menores médias, referidas aos QSG-12, 0,65 (DP= 0,49) e 1,07 (DP= 0,88)
Deterioração da Autoeficácia e Tensão Emocional e Depressão, simultaneamente. Retratando-
se ao teste t realizado, se pode admitir que as variâncias são aproximadamente iguais, esta
afirmação pode ser vista no valor p obtido nas tabelas acima. (p<0,05) (Tabela 12).
Tabela 12– Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 e as Unidades Penais.
Fatores do QSG-12
Mossoró
Natal – 1 Teste
T P
Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Deterioração da Autoeficácia 0,85 ,77 0,79 ,71 0,69 0,59
Tensão Emocional e Depressão 1,27 ,92 1,09 ,74 1,01 0,43
Fatores do QSG-12
Mossoró Natal – 2 Teste
T P Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Deterioração da Autoeficácia 0,85 ,77 0,65 ,49 1,15 0,34
Tensão Emocional e Depressão 1,27 ,92 1,07 ,88 0,65 2,35
Fatores do QSG-12
Natal – 1 Natal – 2 Teste
T P Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Deterioração da Autoeficácia 0,79 ,71 0,65 ,49 0,72 0,35
Tensão Emocional e Depressão 1,09 ,74 1,07 ,88 0,56 0,40
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Os resultados apresentados na Tabela 13 revela que 50% dos sujeitos participantes
apresentam escores acima de 0,74 e 25% destes, acima de 1,39 no Fator Deterioração da
Autoeficácia. Já o Fator Tensão Emocional e Depressão, 50% dos sujeitos apresentam escores
acima 1,14 e 25%, acima de 1,91, assim conclui-se afirmando que, a parcela da amostra é
muito ampla quando confrontadas a deterioração da saúde mental. A verificação dos
Percentis, com os escores trazidos pelo QSG-12 pode ser vista também na investigação
realizada onde se buscou analisar os efeitos do turno fixo sobre a saúde mental dos operadores
de petróleo (BARBOSA, 2001).
75
Tabela 13 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores nos fatores do QSG-12.
Proporções acumulados da
amostra
Percentis
Deterioração da Autoeficácia Tensão Emocional e Depressão
25% 0,21 0,42
50% 0,74 1,14
75% 1,39 1,91
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Ao examinar a classificação dos escores por intervalo (Tabela 14), averígua-se que
36,1% dos sujeitos participantes manifestaram um baixo nível de depressão e tensão
emocional. Contudo, 64% se mostram tensos e esgotados, sendo que 11,5% encontram-se em
uma magnitude mais forte, finalizando assim, que há pelo a metade da amostra com
considerável desgaste emocional.
A análise de frequência por intervalos pode ser vista também em outros estudos,
dentre estes, o realizado junto aos petroleiros (BARBOSA, 2008) e com os bancários
(PAIVA, 2005). Vale mencionar que os dados apurados na frequência por intervalos não se
assemelharam quando comparados com os dados obtidos nesta investigação junto aos agentes
penitenciários.
Ainda com a Tabela 14, ao distribuir os escores por intervalo para a verificação da
Deterioração da Autoeficácia, observa-se que 70,5% dos ASP mostram reduzida dificuldade,
26,2% encontrar-se em um grau intercessor e apenas 3,3% têm grande dificuldade de realizar
as atividades.
Tabela 14 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores nos fatores do QSG-12.
Fatores do QSG-12 Frequência por Intervalo
x≤1 1<x≤2 x>3
Deterioração da Autoeficácia 70,5% 26,2% 3,3%
Tensão Emocional e Depressão 36,1% 52,5% 11,5%
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
O último procedimento para verificação da incidência das deteriorações em saúde
mental foi à análise de Cluster. Esta técnica permite identificar como os sujeitos participantes
associam os escores cominados aos fatores do QSG-12. Em síntese, tal procedimento
subdivide os sujeitos em subgrupos condizendo de acordo com seus escores, desta maneira a
análise de Cluster demonstra as discrepâncias significativas entre a amostra, como também, as
76
afinidades dentro do próprio grupo. Condizente com amostra do estudo, foram atribuídas 5
configurações ou combinações. Este método é visto em outros trabalhos (BARBOSA, 2008;
PAIVA, 2005)
Conforme se pode observar na Tabela 15, 34,4% dos ASP (21 sujeitos), apresentando
reduzida tensão emocional, enquanto 57,4% da amostra encontram-se no nível intermediário,
aspecto que merece ser atentado. Cinco sujeitos (8,2%) estão no nível elevado de tensão, que
pode ser analisado nas configurações 4 e 5. Observa-se que 60,7% (37 sujeitos) apresentam
reduzida dificuldade em realizar suas atividades no ambiente carcerário e 36% estão no nível
intermediário. Para fins, evidencia-se que 3,3% da amostra (2 sujeitos) está no nível alto,
aspecto preocupante e merecedor de atenção, conforme evidenciado na configuração 5.
Tabela 15 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto das Deteriorações Menores em
Saúde Mental
Incidência das Deteriorações Menores em
Saúde Mental mesclando os escores Configurações
1 2 3 4 5
Deterioração da Autoeficácia BAIXO BAIXO MÉDIO MÉDIO ALTO
Tensão Emocional e Depressão BAIXO MÉDIO MÉDIO ALTO ALTO
Número dos participantes (61/61) 21 16 19 3 2
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Em síntese, metade da amostra se mostra emocionalmente tensa, sendo que os homens
apresentam os maiores escores. Já os solteiros mostraram-se mais propensos a sintomas
psíquicos menores, como também os agentes que exercem a atividade operacional. Dentre as
unidades investigadas, a de Mossoró apresentou os maiores escores médio.
Finalizando esta sessão, destaca-se, que os escores nos fatores do QSG-12 dos agentes
penitenciários são mais definidos que os identificados em investigações com outras categorias
ocupacionais, já citados acima. No entanto, não há diferenças significativas nos os dados
apurados. Cabe elucidar também que os efeitos insalubres, provocados pela configuração
desta atividade, podem influenciar na maneira como os agentes exercem suas funções no
ambiente de trabalho e, em consequência, acarretar sérios danos para a organização do
trabalho.
77
4.1.3 Indícios da Síndrome de Burnout nos ASP
Para elucidação da ocorrência e desencadeamento do burnout, se fez necessário avaliar
os escores médios de cada dimensão – Exaustão Emocional, Desumanização e Decepção no
trabalho – para a amostra como um todo. Pôde-se constatar que as médias das dimensões da
Síndrome de Burnout ilustram uma convergência generalizada dos sujeitos em apresentar um
nível moderado de sentimentos de exaustão emocional, desumanização e decepção no
trabalho (Tabela 16), vale esclarecer que o ponto médio do ECB (de 1 a 5) é o escore 3,0.
Tabela 16 – Escores mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão das dimensões do burnout
(ECB).
Dimensões da Síndrome de Burnout Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão
Exaustão Emocional 2,08 3,38 2,56 ,96
Desumanização 2,10 3,16 2,68 ,89
Decepção no Trabalho 1,64 3,92 2,51 ,66
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Dentre as três dimensões estudadas, o fator Desumanização apresenta os escores
médios mais elevados (2,68 – DP 0,89) 2, aspecto não comum quando comparado a outros
estudos (TAMAYO, 2008; BORGES et. al., 2002; BENEVIDES-PEREIRA, 2003;
CARLOTTO, 2010).
Os dados indicam que possivelmente os agentes penitenciários estejam passando ou
vivenciem uma reação de atitudes negativas de dureza, indiferença e distanciamento
excessivo, manifestas pelos profissionais no relacionamento com os usuários dos seus
serviços, por exemplo, pacientes, alunos, apenados (TAMAYO, 2008). No mais, esta
dimensão é desencadeada através da sobrecarga acometida pela exaustão emocional
(MASLACH, 2005), ou até mesmo, tal traço comportamental possa fazer parte da conjuntura
desta profissão.
Já a exaustão emocional apresentou-se abaixo do ponto médio da escala que é 3,0 (M=
2,56; DP= 0,96), todavia, este dado aponta um possível esgotamento, ou até mesmo, cansaço
e desgaste com trabalho evidenciado pelos os agentes penitenciários pesquisados. No mais, é
visto na literatura e em investigações já realizadas uma maior prevalência na Exaustão
Emocional, como bem retratou o estudo de Tamayo (2008) com os profissionais de
Enfermagem do Distrito Federal auferindo uma média de 2,46. Outro estudo foi o de Lopes
(2010) com os Bombeiros de Minas Gerais obtendo uma média 2,33. Já Neves (2012)
2 (t= 17,44 para p<0,001)
78
investigou o burnout junto aos profissionais de enfermagem de um hospital universitário em
Minas Gerais e a Exaustão obteve uma média de 2,64. Em seguida, pode citar o estudo com
os profissionais de saúde realizada em Natal desenvolvida por Tamayo, Argolo e Borges
(2005) onde a Exaustão auferiu uma média de 2,37.
A literatura evidencia que a Exaustão é o componente básico da síndrome, além de ser
caracterizada pelo estresse individual, sendo o elemento mais importante e central do burnout
(TAMAYO, 2002; TAMAYO, ARGOLO; BORGES, 2005; TAMAYO , 2008; TAMAYO,
2009; TAMAYO; TROCCOLI, 2009, MASLACH, 2005).
Outra tendência nas pesquisas acerca do burnout está na prevalência da dimensão
Decepção no Trabalho, tendência esta não identificada no presente estudo (2,51 – DP= 0,66),
corroborando que, raramente os agentes penitenciários se sentem frustrados, desmotivados em
função da profissão que escolheram. Já na investigação desenvolvida por Telles e Pimenta
(2009) e Borges et. al. (2002) a Decepção alcançou a maior média (4,15 e 4,13,
respectivamente).
O desvio-padrão desses fatores mostrou maior dispersão dos escores para exaustão
emocional (DP= 0,96) e dispersão mais discreta para desumanização (DP= 0,89) e decepção
(DP= 0,66).
Dando continuidade ao debate acerca dos dados apurados no que se remete ao burnout
e para concretização do quinto objetivo específico deste trabalho, os aspectos
sociodemográficos são introduzidos na discussão com o intuito de verificar as possíveis
associações entre as variáveis, sabe-se também, que os dados sóciodemográficos são
considerados na literatura como possíveis preditores do burnout (MASLACH; JACKSON,
1986; MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001; BENEVIDES-PEREIRA, 2003; BRAUN,
2012; CARLOTTO, 2010; CARLOTTO, 2011; CARLOTTO, 2012).
Dentre esta discussão, na Tabela 17 é realizada a comparação entre os escores das
dimensões do ECB de acordo com o sexo dos sujeitos participantes, para tanto foi aplicado o
Teste t no intuito de verificar as diferenças significativas entre as variâncias.
Tabela 17 – Comparação entre escores das dimensões do ECB de acordo com o sexo.
Dimensões do ECB Homens Mulheres Teste
T
P
Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Exaustão Emocional 2,63 1,23 2,54 1,14 0,63 0,53
Desumanização 2,82 1,27 2,39 1,02 1,27 0,30
Decepção no Trabalho 2,54 1,32 2,45 0,98 0,54 0,23
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
79
Constatou-se na Tabela 17 uma discrepância quanto ao sexo, já que os homens
inferiram as maiores escores dentre as três dimensões do ECB. Havendo uma diferença
estatística mais acentuada na Desumanização entre homens e mulheres, 2,82 (DP= 1,27) e
2,39 (DP= 1,02), respectivamente. Observa-se diante do Teste t realizado uma estreita
aproximação entre as variâncias (p<0,05).
Valem ressaltar que o trabalho exercido pelos homens no ambiente carcerário em
muitos aspectos é divergente do desenvolvido pelas mulheres, já que as agentes em sua
grande maioria são incumbidas a atividades ligadas a vistoria ou de caráter administrativas,
não carecendo de um contato constate com os apenados. A literatura aponta, no entanto, que
os trabalhadores do sexo masculino tendem mais a desumanizar, possivelmente isto deriva do
comportamento masculino, serem mais instrumentais e haver menor demonstração de reações
emocionais no ambiente de trabalho (TAMAYO; ARGOLO; BORGES, 2005; MASLACH;
SCHAUFELI; LEITER, 2001).
Remetendo-se a outras investigações, quanto ao sexo feminino, à média mais alta
inferida foi a Exaustão Emocional, característica evidenciada também neste estudo. No
entanto a literatura associa este advento a dupla ou tripla jornada de vida em que este sexo se
remete (CARLOTTO, 2011; BENEVIDES-PEREIRA, 2003).
Ainda com os aspectos sociodemográficos, a Tabela 18 realiza um apanhado acerca do
estado civil dos sujeitos entrevistados e a prevalência entre eles da síndrome. E, não diferente
do acorrido na sessão anterior, quando se comparou os escores médios do QSG-12 associados
ao estado civil dos participantes, em que os divorciados obtiveram os escores médios mais
baixos.
Tabela 18 – Comparação entre escores das dimensões do ECB de acordo com o estado civil.
Dimensões do ECB Casado Solteiro Divorciado
Média DP Média DP Média DP
Exaustão Emocional 2,67 1,12 2,55 1,23 2,54 1,43
Desumanização 2,79 1,1 2,84 1,39 2,21 1,18
Decepção no Trabalho 2,52 1,14 2,54 1,38 2,52 1,38
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Os solteiros apresentam as maiores médias nas dimensões Desumanização e Decepção
no trabalho, com 2,84 (DP= 1,39) e 2,54 (DP= 1,38), respectivamente. Aspecto não ocorrido
na investigação realizada por Carlotto (2011) junto aos Técnicos de Enfermagem em três
hospitais de Porto Alegre, onde os casados obtivem as maiores médias na Exaustão
Emocional e Desumanização.
80
A diferença no que tange ao tipo de atividade desenvolvida no local de trabalho foi
associada às dimensões da Síndrome de Burnout (Tabela 19). No entanto, a classe operacional
obteve as maiores médias na Desumanização e Exaustão Emocional, 2,87 (DP= 1,13) e 2,66
(DP= 1,14), simultaneamente. Apesar disto, não foi encontrado diferenças que sejam
consideradas estatisticamente significativas.
Tabela 19 – Comparação entre escores das dimensões do ECB de acordo com o tipo de atividade desenvolvida.
Dimensões do ECB
Operacional Administrativo Prevenção e Vistoria
Média DP Média DP Média DP
Exaustão Emocional 2,66 1,14 2,54 1,09 2,53 1,00
Desumanização 2,87 1,13 2,25 1,04 2,44 1,03
Decepção no Trabalho 2,52 1,30 2,54 ,97 2,53 1,13
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Outra analise realizada junto aos dados extraídos pela ECB buscou averiguar as
diferenças da incidência do burnout entre as três Unidades Penais que configuraram a
presente investigação. Esta estratégia de comparação entre os escores médios nas três
dimensões da Síndrome de Burnout pode ser vista em outros estudos, os quais compararam e
analisaram a síndrome em Hospitais Universitários (BORGES et. al., 2002; TAMAYO;
ARGOLO; BORGES, 2005; BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006). Para tanto, buscou-se
avaliar as diferenças significativas entre as médias, sendo imprescindível à aplicação do Teste
t (Tabela 20).
Tabela 20 – Comparação entre escores das dimensões do ECB e as Unidades Penais.
Dimensões do ECB Mossoró Natal – 1 Teste
T
P
Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Exaustão Emocional 2,39 1,12 2,72 1,15 0,71 0,55
Desumanização 2,68 1,29 2,86 1,17 0,63 1,08
Decepção no Trabalho 2,62 1,27 2,55 1,26 0,71 0,32
Dimensões do ECB Mossoró Natal – 2 Teste
T
P
Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Exaustão Emocional 2,39 1,12 2,46 1,27 0,60 0,55
Desumanização 2,68 1,29 2,32 1,01 0,86 0,43
Decepção no Trabalho 2,62 1,27 2,20 ,93 1,28 0,28
Dimensões do ECB Natal – 1 Natal – 2 Teste
T
P
Média
Desvio-padrão
Média Desvio-padrão
Exaustão Emocional 2,72 1,15 2,46 1,27 - 0,68 0,48
Desumanização 2,86 1,17 2,32 1,01 - 1,28 0,34
Decepção no Trabalho 2,55 1,26 2,20 ,93 - 1,01 0,30
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
81
Ao comparar os escores médios entre as três dimensões do burnout, associados às
Unidades Penais que conjeturam este estudo, constatou-se que os sujeitos participantes da
Unidade Natal – 1 percebem-se com mais Desumanização (2,86 DP= 1,17) e maior na
Exaustão Emocional (2,72 – DP= 1,15), estando inferior na Decepção no Trabalho quando
confrontado com a Unidade de Mossoró. Ao detalhar os dados obtidos na comparação entre as
unidades Natal – 1 e Natal – 2, se pôde perceber uma estreita diferença estatística entre os
escores médios nas 03 dimensões da ECB, ainda mais, quando se foi aplicado o Teste t, ficou
contatada uma diferença negativa na comparação entre as unidades (p<0,005).
Utilizou-se os Percentis para a distribuição dos sujeitos, os resultados obtidos desponta
que 50% dos participantes apresentam escores acima de 2,58 e 25% destes, acima de 3,61 na
dimensão Desumanização. A dimensão Exaustão Emocional, 50% dos entrevistados
apresentam escores acima de 2,48 e 25% destes, acima de 3,49. No que se refere à Decepção
no Trabalho, 50% dos sujeitos inferiram escores acima de 2,43 e 25% destes, acima de 3,43
(Tabela 21).
Na averiguação dos dados apurados com os Percentis, na dimensão Decepção no
Trabalho alguns itens que compõe a dimensão obtiveram escore zero. Este dado pode ter
ocorrido pela constituição desta dimensão, já que a mesma abrange aspectos positivos e
negativos quanto ao trabalho. Vale esclarecer também que no período de construção e
validação da ECB, o instrumento passou por modificações, sendo refletidas no número de
questões, passando de 45 para 35 itens. Configuravam uma quarta dimensão, denominada de
Realização Pessoal e esta foi incorporada na dimensão Decepção no Trabalho (TAMAYO;
TROCOLLI, 2009).
Tabela 21 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores nas dimensões do ECB.
Proporções
acumulados da
amostra
Percentis
Exaustão Emocional Desumanização Decepção no Trabalho
25% 1,59 1,68 1,38
50% 2,48 2,58 2,43
75% 3,49 3,61 3,43
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Contudo, torna-se imprescindível relatar que identificar o percentual de burnout na
amostra constituiu-se num dos maiores desafios desta investigação, mesmo considerando a
grande variedade de procedimentos diagnósticos possíveis de serem empregados pelos
82
pesquisadores da área, não existindo, assim, consonância na literatura para interpretação dos
questionários que avaliam o burnout.
Todavia, o método mais encontrado na literatura realiza o procedimento na utilização
dos percentis, dividindo os sujeitos de acordo com os níveis leve, moderado e alto nas três
dimensões (exaustão, desumanização e decepção) e define a presença do burnout pela
ocorrência simultânea de níveis altos nas três dimensões. Este procedimento é o sugerido por
Maslach e Jackeson (1986) e utilizado por alguns trabalhos já desenvolvidos no território
nacional (TAMAYO, 2002; TAMAYO; TAMAYO, 2008; TAMAYO, 2009; TAMAYO;
TROCCOLI, 2009).
No entanto, este trabalho considerou o argumento de Gil-Monte e Peiró (1997)
pertinente, recomendando estabelecer intervalos com base na escala de resposta, técnica esta
já observada nos trabalhos desenvolvidos por Carlotto (2011), Carlotto (2012), Braun (2012)
Dantas (2003) e Gianisi (2004). Ainda para Gil-Monte e Peiró (1997), a técnica aconselhada
por Maslach e Jackson (1986) é redundante e leva sempre ao mesmo resultado. De tal modo, a
Tabela 22 apresenta a frequência por intervalo entre as dimensões do burnout.
Tabela 22 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores nas dimensões do ECB.
Dimensões do Burnout Frequência por Intervalo
x≤2 2<x≤3 3<x≤4 x>4
Exaustão Emocional 24,6% 45,9% 19,6% 9,9%
Desumanização 24,6% 45,9% 18% 11,5%
Decepção no Trabalho 42,6% 37,7% 13,2% 6,6%
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Empregando o Percentis nas dimensões do burnout apresentado acima e efetuando a
Frequência por Intervalo, conforme apresentado na Tabela 22, percebe-se que 29,5% dos
participantes apresentaram desumanização em nível alto, 45,9% em nível moderado e 22,6%
apresentaram nível leve. Com relação à exaustão emocional, os dados despontam que 29,5%
dos casos apontam uma manifestação de nível alto na exaustão emocional, sendo que destes,
9,9% dos sujeitos à dimensão está mais acentuada. No mais, 46% encontram-se no nível
moderado e 24,6% dos agentes penitenciários no leve. Por fim, na dimensão decepção no
trabalho, houve um percentual de 19,8% de ASP no nível alto de decepção, 37,7% em nível
moderado e 42,6% no nível leve.
A análise de Cluster é outro meio estatístico utilizado para a verificação da incidência
do burnout, o qual identifica combinações sucedidas na amostra, podendo classificando a
população em baixo, médio e alto. Este técnica pode ser observada na literatura (TAMAYO;
83
ARGOLO; BORGES, 2005; DANTAS, 2003; GIANISI, 2004). Sendo adotada por este
estudo com o intuito de se verificar a distribuição destes grupos de acordo com sua
combinação, hipoteticamente é possível existir 27 combinações, todavia, a amostra classificou
14 configurações.
A primeira combinação comporta os escores baixo e médio nas dimensões do burnout.
Nestas combinações estão agrupadas 54,1% da amostra (33 sujeitos). Este grupo se classifica
como aqueles que estão mais distantes a adquirirem a síndrome. É admirável que 22,9 dos
agentes penitenciários (14 sujeitos) encontram-se nos níveis baixo nas três dimensões.
Todavia, carece mencionar que 16,4% da amostra (10 sujeitos) encontra-se com nível médio
nas dimensões Exaustão Emocional e Desumanização, enquanto a Decepção se classifica no
nível baixo (Tabela 23).
Tabela 23 – Análise de Cluster que combina níveis Médio e Baixo da Síndrome de Burnout
Incidência do Burnout
mesclando os escores Configurações
1 2 3 4 5 6
Exaustão Emocional BAIXO BAIXO BAIXO MÉDIO MÉDIO MÉDIO
Desumanização BAIXO MÉDIO BAIXO BAIXO MÉDIO BAIXO
Decepção no Trabalho BAIXO BAIXO MÉDIO BAIXO BAIXO MÉDIO
Número dos participantes
(33/61) 14 4 2 2 10 1
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
A segunda combinação ainda não sendo classificada nos níveis mais acentuados do
burnout, merece ser apresentada, pois os trabalhadores destas configurações também estão
passiveis de desenvolver a síndrome, já que apresentam falência em uma das três dimensões.
As configurações da Tabela 24 combinam os níveis altos, médios e baixos das dimensões da
síndrome de burnout. Nestas configurações encontram-se seis agentes (9,9%) da amostra,
sendo que três destes trabalhadores a manifestação da Exaustão Emocional encontra-se no
nível alto. A literatura aponta que a Exaustão é o componente mais evidente do burnout,
sendo a dimensão mais importante e central da síndrome (MASLACH, 2005).
84
Tabela 24 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto da Síndrome de Burnout
Incidência do Burnout mesclando os escores
Configurações
7 8 9
Exaustão Emocional ALTO MÉDIO MÉDIO
Desumanização MÉDIO BAIXO ALTO
Decepção no Trabalho BAIXO ALTO BAIXO
Número dos participantes (6/61) 3 1 2
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
Na terceira combinação são apresentadas as configurações nas quais o processo de
desenvolvimento da síndrome encontra-se mais acentuado e mais evidente, mesclando os
escores médio e alto nas três dimensões. Assim, na Tabela 25, se pode observar que 36,1% da
amostra (22 sujeitos) apresenta esta configuração, salientado que 9,9% destes trabalhadores (6
sujeitos) encontram-se no nível máximo, combinando escores altos nas três dimensões. Outra
centralização está na Configuração 10, onde 16,4% dos agentes penitenciários (10 sujeitos)
classificam-se no nível médio, combinando escores médios.
Tabela 25 – Análise de Cluster que combina níveis Médio e Alto da Síndrome de Burnout
Incidência do Burnout
mesclando os escores Configurações
10 11 12 13 14
Exaustão Emocional MÉDIO ALTO ALTO MÉDIO ALTO
Desumanização MÉDIO MÉDIO ALTO ALTO ALTO
Decepção no Trabalho MÉDIO MÉDIO MÉDIO ALTO ALTO
Número dos participantes
(22/61) 10 3 2 1 6
Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).
No entanto, para elucidação do estado crítico da Síndrome de Burnout, foram
caracterizados os sujeitos participantes que apresentaram exaustão emocional alta,
respectivamente com escores altos também nas outras duas dimensões (alta desumanização e
alta decepção). De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) a exaustão emocional é a
principal dimensão que caracteriza o burnout, mas não aceitável para diagnosticá-la,
necessitando, deste modo, que o sujeito mostre outros sintomas, tais como desumanização e
decepção no trabalho para que fique caracterizada a síndrome. Diante desta discussão cabe
85
aqui evidenciar que 9,9% sujeitos da amostra já se encontram com os sintomas típicos da
Síndrome de Burnout.
4.1.4 Relações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de
Burnout
Para a averiguação da relação existente entre as Deteriorações Menores em Saúde
Mental e a Síndrome de Burnout, fez-se necessária a correlação entre os fatores do QSG-12
(Redução da Auto-Eficácia e Tensão Emocional e Depressão) e as dimensões da ECB
(Exaustão Emocional, Desumanização e Decepção no Trabalho), com o intuito de identificar
padrões de interação entre elas.
Na Tabela 26, constata-se que os escores das deteriorações menores em saúde mental e
o burnout são correlacionados entre si significativamente, todavia, nenhuma das correlações
auferiu uma magnitude igual ou maior que 0,60, destacando-se, dessa forma, que avaliam
aspectos suficientemente distintos acerca dos constructos aqui investigados.
Tabela 26 – Correlações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout.
CORRELAÇÕES ENTRE AS
DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE
MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT
Fa
tore
s d
as
Det
erio
raçõ
es
Men
ore
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Sa
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Des
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ção
no
Tra
bal
ho
Fatores das
Deteriorações
Menores em
Saúde
Mental
Escores no fator
Redução da
Autoeficácia
Coeficiente
Pearson
1
Escores no fator
Tensão Emocional e
Depressão
Coeficiente
Pearson
0,42(**)
1
Dimensões da
Síndrome de
Burnout
Escores na dimensão
Exaustão Emocional Coeficiente
Pearson
0,44(**)
0,50(**)
1
Escores na dimensão
Desumanização Coeficiente
Pearson
0,38(**)
0,41(**)
0,44(**)
1
Escores na dimensão
Decepção no
Trabalho
Coeficiente
Pearson
0,39(**)
0,39(**)
0,48(**)
0,40(**)
1
**Correlações são significantes ao nível de 0,01.
86
Verificou-se, que os escores de todos os fatores apresentam cargas entre 0,38 a 0,50.
Como bem explicitado, o fator Tensão Emocional e Depressão e a dimensão Exaustão
Emocional tiveram um relacionamento positivo forte (r= 0,50; p<0,01), não se distanciando
da hipótese levantada por Maslach (2005), de que o burnout não seria um precursor da
depressão, mas uma forma de doença mental. Estas discussões acerca da associação da
Síndrome de Burnout à morbidade psiquiátrica tiveram início nas últimas décadas. No mais,
está descrito que dentre as dimensões do burnout, a exaustão emocional pode comprometer a
saúde mental (SILVA, 2008).
Uma correlação moderada foi encontrada entre o fator Redução da Autoeficácia e a
dimensão Desumanização (r= 0,38; p<0,01). Os escores da dimensão Decepção no Trabalho
têm uma associação positiva e análoga entre os fatores Redução da Autoeficácia e Tensão
Emocional e Depressão (r= 0,39; p<0,01), muito embora se classifiquem como uma
correlação moderada.
Constatou-se correlações moderadas e positivas entre as três dimensões de burnout
(exaustão - decepção, r = 0,48; exaustão - desumanização, r = 0,44; desumanização -
decepção, r = 0,40; p<0,01), evidenciando um padrão semelhante de variação entre eles. Em
relação aos escores advindos dos dois fatores das deteriorações menores em saúde mental,
também houve correlações moderadas e positivas (Redução da Autoeficácia – Tensão
Emocional e Depressão, r = 0,42; p< 0,01). Tais padrões de associações mostram que quanto
maiores os escores do burnout, maior será a evidência das deteriorações menores em saúde
mental.
A análise estatística aqui empregada não é única e nem exclusiva, contudo, não há
conhecimento quanto à aplicabilidade em correlacionar o QSG-12 e a ECB. As correlações
bivariadas r de Pearson são evidenciadas no estudo com os bancários, onde Paiva (2005) e
Barbosa (2008) aplicaram o QSG-12 e outros instrumentos para caracterizar a saúde mental
de acordo com o modelo proposto por Warr (1987). Outra investigação foi a de Lopes (2010),
em que a pesquisadora procurou associações entre burnout, suporte social e resiliência. Já
Neves (2010), correlacionou a Síndrome de Burnout com a satisfação no trabalho e percepção
do suporte social. Para tanto, dois estudos merecem ser ressaltados, os quais associaram os
transtornos mentais comuns e o burnout, entretanto os instrumentos adotados para tais
investigações foram o Self-Reporting Questionnaire-20 e Maslach Burnout Inventory
(SILVA, 2008; TITO, 2013).
87
5 CONCLUSÃO
A presente pesquisa buscou investigar a relação existente entre as Deteriorações
Menores em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout. Conclui-se então, que o objetivo
estabelecido foi atingido e, os objetivos específicos traçados foram, um a um, sendo
alcançados.
Para tanto, os achados evidenciaram a ocorrência de Deteriorações Menores em
Saúde Mental, havendo uma concentração maior no fator Tensão Emocional e Depressão,
aspecto negativo, observando na amostra uma tendência à depressão. Este dado é congruente
com investigações já realizadas com outras categorias profissionais. Os resultados
relacionados ao fator Deterioração da Autoeficácia, apresentaram-se de maneira positiva no
que se refere à competência e autonomia. Constatou-se nos achados, com certa frequência,
que os ASP apresentam comando sobre suas tarefas.
Na aplicação da Análise de Cluster ficou evidenciado que a metade da amostra
encontra-se no nível intermediário, apresentando uma tensão emocional moderada. Outro
dado desvendado mostrou que mais da metade dos agentes penitenciários apresentam
reduzida dificuldade em realizar suas atividades na unidade carcerária. Contudo, 2 sujeitos
apresentaram falência nos dois fatores que mensuram as deteriorações em saúde mental,
demonstrando, assim, um nível alto de tensão emocional e dificuldades em se concentrar e
realizar seu trabalho.
Um dado que merece ser ressaltado em meio a esta discussão é a ausência de estudos
utilizando o QSG-12 na articulação junto aos aspectos sociodemográficos e ocupacionais,
caracterizando estes como preditores ao bem-estar psíquico do trabalhador. Todavia, um dos
objetivos proposto para esta dissertação foi à associação entre o QSG-12 e os aspectos
sociodemográficos, ficando constato dentre o sexo feminino uma predisposição a sentimentos
depressivos. A respeito do estado civil, os divorciados apresentaram os menores escores,
enquanto nos solteiros, a deteriorações estão mais evidentes. Dentre os agentes, os
profissionais que realizam a atividade de prevenção e vistoria, apresentam-se mais tensos e
depressivos.
A respeito da Síndrome de Burnout, os resultados apurados também apontam que,
ainda não existindo um número significativo de sujeitos acometidos pela síndrome,
enquadrando-se, na sua grande maioria, no nível moderado das dimensões. Ao realizar a
Análise de Cluster ficou constatado que 14 sujeitos apresentam nível baixo nas três
dimensões, estando esse público distante de adquirir a síndrome. Por outro lado, mais de um
88
terço da amostra encontra-se com falência em uma das três dimensões, ou se classifica no
estado moderado a alto, sendo que, desta população, seis agentes penitenciários apresentam
nível alto nas três dimensões que cercam a doença, classificando-os como trabalhadores
acometidos a Síndrome de Burnout.
De forma a detalhar os dados, quando estimadas as médias dos escores nas três
dimensões, observou-se que a tendência geral dos indivíduos foi a de apresentar um nível
mais baixo nas dimensões Exaustão Emocional e Decepção no Trabalho e um nível mais
acentuado na Desumanização, aspecto não comum, já que outros estudos trazidos por esta
dissertação sempre apresentam falência na Exaustão Emocional ou Decepção no Trabalho.
Evidencia-se neste caso, uma falência na relação interpessoal entre ASP e os apenados. No
mais, esta dimensão é desencadeada através da sobrecarga acometida pela exaustão
emocional, ou até mesmo, em função de um traço comportamental que possa fazer parte da
conjuntura desta profissão, deixando, desta maneira, um viés para outros estudos.
Os achados a respeito da associação do sexo e a evidência do burnout, indicam que os
homens apresentam maiores escores nas três dimensões, no entanto, a dimensão
desumanização destaca-se de maneira mais acentuada. Já nas mulheres a dimensão exaustão
se fez mais presente, fenômeno condizente com a literatura. Na equiparação quanto ao estado
civil dos participantes, os solteiros apresentam uma maior tendência nas dimensões
desumanização e decepção no trabalho. Já, os agentes que fazem parte do quadro operacional
evidenciaram uma maior tendência à síndrome.
Quando se comparou os escores médios dentre as Unidades Penais que configuram
este estudo, ficou evidenciado uma ocorrência mais acentuada das Deteriorações Menores em
Saúde Mental na Unidade de Mossoró e uma presença mais proeminente da Síndrome de
Burnout na Unidade Natal – 1.
As correlações estabelecidas entre as variáveis desse estudo também foram de
encontro ao que é indicado pela literatura. As variáveis formuladas pelo QSG-12 e ECB
foram significativas e positivas, e com coeficientes em sua grande maioria classificados como
moderados, havendo um relacionamento forte entre o fator Tensão Emocional e Depressão e a
dimensão Exaustão Emocional, aspecto compreensível, já que sintomas depressivos são
rebates à exaustão emocional, momento caracterizado pelo estresse individual do trabalhador.
Através dos dados apurados, sugere-se ao órgão responsável realizar uma analise do
processo de trabalho destes profissionais e buscar introduzir programas sólidos de gestão que
visem o bem-estar do trabalhador, utilizando uma abordagem intervencionista, aplicando
89
instrumentos para verificação do comportamento humano nas Unidades Penais do Estado com
uma maior exatidão.
Aconselha-se aos Programas de Pós-Graduação em Administração, periódicos e
revistas cientifica da área a concederem uma atenção maior à discussão acerca dos fenômenos
ligados a saúde psíquica do trabalhador, visto que, para realização da presente dissertação,
todos os periódicos e revistas que serviram de apoio são pertencentes à área da saúde,
educação e psicologia. Torna-se proeminente em meio a esta discussão mencionar que
inúmeras psicopatologias, inclusive o burnout, são classificadas como doenças de cunho
ocupacional, tornando relevante esta discussão nas escolas de administração. Assim, espera-se
que os dados e discussões trazidas por meio desta investigação venham a agregar
conhecimentos para a área da Administração, Psicologia do Trabalho e áreas afins.
Afora toda discussão já realizada, é cabível apontar algumas limitações relacionadas
na presente investigação. A primeira delas diz respeito ao número de participantes e Unidades
Penais. A realização de um estudo com a participação de outras Penitenciárias poderia
proporcionar uma visão mais ampla desta categoria. Outro aspecto, está na aplicação já
característica do uso dos percentis nas pesquisas que tratam do burnout, podendo este modo
não ser a técnica mais apropriada, sabido que este meio prognostica uma parcela dos
resultados que releva a prevalência da Síndrome de Burnout.
Sugere-se então, novas pesquisas que busquem compreender e analisar a
configuração desta atividade, estudos com delineamentos longitudinais, aprofundando-se em
discutir acerca dos fenômenos que norteiam a saúde do trabalhador e suas condições no
ambiente carcerário, no tocante, é imprescindível a realização de investigações que
congreguem o uso de técnicas qualitativas no intuito de se verificar os fenômenos que
influenciam a saúde psíquica no abrir e fechar do cadeado.
90
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101
ANEXO
102
Anexo I
QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO E CARACTERISTICAS PROFISSIONAIS E DO TRABALHO
Dados pessoais
1. Idade: ________
2. 2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino
3. Estado Civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) divorciado ( ) viúvo ( ) união estável ( ) outro
4. Número de filhos: ______________
5. Formação escolar:
( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo
( ) Superior Incompleto. Qual? _______________ ( ) Superior Completo. Qual?
_______________
( ) Pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado). Qual? _________________
Dados profissionais
6. Posto/Graduação: _______________________________
7. Tempo de serviço como Agente Penitenciário: ____ anos ____ meses
8. Tipo de atividade desenvolvida atualmente:
( ) operacional ( ) administrativa ( ) prevenção e vistoria ( ) tele-atendimento
( ) outra. Qual? ________________________
9. Tempo que está trabalhando nesta mesma atividade: ____ anos ____ meses
10. Carga horária semanal: ( ) de 30 a 40 horas ( ) mais de 40 horas ( ) outra. Qual?
___________
11. Tem outros empregos? ( ) Não ( ) Sim. Qual atividade? _____________________
Carga horária semanal: ____ Tempo de trabalho: ____ anos ____ meses 12. Realiza atividades físicas regularmente? ( ) não ( ) sim - Número de vezes por semana:
_______
103
Anexo II
QUESTIONÁRIO DE SAÚDE GERAL
Gostaríamos de saber se você tem tido algumas dificuldades e como têm estado sua saúde nos últimos 30 dias.
Por favor, responda a TODAS as perguntas deste questionário simplesmente sublinhando as respostas que, em
sua opinião, mais se aproximam ao que sente ou tem sentido. Lembre que queremos conhecer os problemas
recentes e atuais, não os que ocorreram no passado.
01. Você tem conseguido se concentrar bem naquilo que faz?
0 – Melhor que o
costume
1 – Igual ao de costume 2 – Menos que o costume 3 – Muito menos que o
de costume
02. Você tem perdido o sono frequentemente por causa das suas preocupações?
0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o
costume
2 – Mais que o de
costume
3 – Muito mais que o de
costume
03. Você tem sentido que está desempenhando um papel útil na vida?
0 – Mais útil que o de
costume
1 – Igual ao de costume 2 – Menos útil que o de
costume
3 – Muito menos que o
de costume
04. Você tem se sentido capaz de tomar decisões?
0 – Mais que o de
costume
1 – Igual ao de costume 2 – Menos que o de
costume
3 – Muito menos que o
de costume
05. Você tem se sentido constantemente esgotado e sob tensão?
0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o
costume
2 – Mais que o de
costume
3 – Muito mais que o de
costume
06. Você tem sentido a sensação de que não pode superar suas dificuldades?
0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o
costume
2 – Mais que o de
costume
3 – Muito mais que o de
costume
07. Você se sente razoavelmente feliz, considerando as circunstâncias?
0 – Mais que o de
costume
1– Aproximadamente ao
de costume
2 – Menos que o de
costume
3 – Muito menos que o
de costume
08. Você tem realizado com satisfação suas atividades normais do dia-a-dia?
0 – Mais que o de
costume
1 – Igual ao de costume 2 – Menos que o de
costume
3 – Muito menos que o
de costume
09. Você tem sentido capaz de enfrentar seus problemas adequadamente?
0 – Mais capaz que o de
costume
1 – Igual ao de costume 2 – Menos capaz que o de
costume
3 – Muito menos capaz
que o de costume
10. Você tem se sentido infeliz e deprimido?
0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o
costume
2 – Mais que o de
costume
3 – Muito mais que o de
costume
11. Você tem perdido a confiança em si mesmo?
0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o
costume
2 – Mais que o de
costume
3 – Muito mais que o de
costume
12. Você tem pensado que é uma pessoa inútil?
0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o
costume
2 – Mais que o de
costume
3 – Muito mais que o de
costume
104
Anexo III
ESCALA DE CARACTERIZAÇÃO DO BURNOUT
Escala de Respostas
1. Nunca 2. Raramente 3. Algumas Vezes 4. Frequentemente 5. Sempre
01. Sinto-me esgotado ao final de um dia de trabalho.
02. Trato alguns penitenciados com distanciamento.
03. Eu me sinto frustrado com meu trabalho.
04. Meu trabalho afeta negativamente minha saúde física.
05. Trato alguns penitenciados com indiferença, quase de forma mecânica.
06. Acho que as coisas que realizo no meu trabalho valem a pena.
07. Sinto que a carga emocional do meu trabalho é superior àquela que posso suportar.
08. Sinto que alguns penitenciados são “meus inimigos”.
09. Meu trabalho me faz sentir como se estivesse num beco sem saída.
10. Meu trabalho me faz sentir emocionalmente exausto.
11. Enfureço-me com alguns penitenciados.
12. Eu me sinto desanimado com meu trabalho.
13. Acho que estou trabalhando demais no meu emprego.
14. Sinto que desagrado a alguns penitenciados.
15. Sinto-me desesperado com meu trabalho.
16. Meu trabalho me exige mais do que posso dar.
17. Perco a paciência com alguns penitenciados.
18. Acho que meu trabalho parece sem sentido.
19. Meu trabalho afeta negativamente meu bem-estar psicológico.
20. Trato alguns penitenciados com cinismo.
21. Eu me sinto inútil no meu trabalho.
22. Meu trabalho me faz sentir como se estivesse no limite das minhas possibilidades.
23. Eu me sinto identificado com meu trabalho.
24. Sinto que meu trabalho está me destroçando.
25. Quando me levanto de manhã sinto cansaço só de pensar que tenho que encarar mais um dia de trabalho.
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26. Trato alguns penitenciados com frieza.
27. Eu me sinto sugado pelo meu trabalho.
28. Eu me sinto desiludido com meu trabalho.
29. Eu me sinto saturado com meu trabalho.
30. Evito o trato com alguns penitenciados.
31. Eu me sinto desgastado com meu trabalho.
32. Sinto-me emocionalmente vazio com meu trabalho.
33. Sinto-me infeliz com meu trabalho.
34. Fico de mau humor quando lido com alguns penitenciados.
35. Eu me sinto cheio de energia para trabalhar.
Obrigado pela contribuição!
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