as deterioraÇÕes menores em saÚde mental e a

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UNIVERSIDADE POTIGUAR UNP PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO PPGA MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE Natal-RN 2013

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Page 1: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

1

UNIVERSIDADE POTIGUAR – UNP

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO – PPGA

MESTRADO PROFISSIONAL EM ADMINISTRAÇÃO

MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA

AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Natal-RN

2013

Page 2: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

2

MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA

AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Dissertação submetida para apreciação do

Programa de Pós-Graduação em

Administração-PPGA, da Universidade

Potiguar, como requisito obrigatório para a

obtenção do título de Mestre em

Administração, na área de concentração

Gestão Estratégica de Pessoas.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Fernanda Fernandes

Gurgel

Natal-RN

2013

Page 3: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

3

Medeiros-Costa, Mateus Estevam.

AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE / Mateus Estevam Medeiros Costa. –Natal, 2013.

104)f.

Orientador: Fernanda Fernandes Gurgel

AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

(Mestrado Profissional em Administração). – Universidade Potiguar. Pró-Reitoria Acadêmica – Núcleo de Pós-Graduação.

Bibliografia: (Qtd. de Folhas da referência – 90 -100)f.

1. Saúde Mental – 2. Síndrome de Burnout. 3. Agente

Penitenciário.

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4

MATEUS ESTEVAM MEDEIROS COSTA

AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE UNIDADES PRISIONAIS DO

ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE

Dissertação submetida para apreciação do

Programa de Pós-Graduação em

Administração-PPGA, da Universidade

Potiguar, como requisito obrigatório para a

obtenção do título de Mestre em

Administração, na área de concentração

Gestão Estratégica de Pessoas.

Data de aprovação: ______ / ______ / ______

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________

Prof.ª Dr.ª Fernanda Fernandes Gurgel

Universidade Potiguar – UnP

Presidente (Orientador)

____________________________________________

Prof. Dr. Walid Abbas El-Aouar

Universidade Potiguar – UnP

Examinador Interno

____________________________________________

Prof. Dr.ª Denise Pereira do Rêgo

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Examinador Externo

Page 5: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

5

AGRADECIMENTOS

Ao Divino por toda força concebida, por toda misericórdia alcançada. Aos seres de luz que rodeiam e me trazem força diária.

A Dona Izabel, minha mãe, uma preta usar, guerreira, que me ensinou os verdadeiros ensinamentos da vida para bem viver. Ao Seu Joel, meu pai, homem de índole impar.

Obrigado por todas as palavras de força e carinho. As minhas irmãs, Jeanine e Jeane, por todo amor e carinho dedicado a mim.

Ao Tchêsco, meu companheiro de jornada, sem o seu amparo este trabalho não seria concluído. Obrigado por todo amor e paciência tida para comigo.

A minha orientadora Fernanda Fernandes Gurgel por toda paciência e delicadeza nestes dois anos. Obrigado por acreditar de início no meu trabalho.

Aos meus amigos e professores do PPGA por todo o conhecimento adquirido em sala. Em especial as amigas Aurineide e Samara pelas ligações, recados e carinho devotado. Vocês

estão no meu coração!

A Glícia, secretária do PPGA por toda delicadeza e profissionalismo presentes no seu trabalho. Muito obrigado pelo sorriso sempre presente ao nos receber.

Aos amigos do GEST, por todo conhecimento proporcionado. Em especial quero agradecer as amigas Juliana, Alda e Sâmid.

A professora Denise Pereira Rêgo, por toda contribuição adquirida nestes últimos anos juntamente com a linha gBET.

Page 6: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

6

Eu sou apenas um rapaz Latino-Americano

Sem dinheiro no banco Sem parentes importantes

E vindo do interior

(Belchior)

...Um homem se humilha Se castram seu sonho Seu sonho é sua vida

E vida é trabalho E sem o seu trabalho

Um homem não tem honra E sem a sua honra Se morre, se mata

Não dá pra ser feliz Não dá pra ser feliz.

(Gonzaguinha)

“Nós explicamos a natureza, mas compreendemos a vida mental”.

(Dilthey)

I heard somebody say: "The older the grape,

Sweeter the wine, sweeter the wine.”

Oh, my love is like a seed […]

It's growing stronger day by day, yeah,

That's the price you've got to pay.

(Janis Joplin)

Page 7: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

7

MEDEIROS-COSTA, M. E. AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL

E A SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE AGENTES PENITENCIÁRIOS DE

UNIDADES PRISIONAIS DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE. Dissertação

(Mestrado em Administração) – Universidade Potiguar. Natal, 2013.

RESUMO

Os efeitos do trabalho na saúde mental e o crescimento do número de adoecimento psíquico

oriundo do trabalho estão sendo alvo de debate e reflexões por diversos pesquisadores. Dentre

estas altercações, a literatura aponta a possível relação existente entre as Deteriorações

Menores em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout. De tal modo, este estudo tem como

objetivo investigar a relação existente entre estes dois constructos – Deteriorações Menores

em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout – elegendo como participantes os Agentes de

Segurança Penitenciária de três Unidades Penais do Estado do Rio Grande do Norte. Para

tanto, fez-se necessário à realização da discussão acerca dos conceitos, aportes técnicos e

teóricos que norteiam a saúde mental e a Síndrome Burnout. A presente investigação se

caracteriza como um estudo de cunho transversal, descritivo e quantitativo. Os instrumentos

utilizados neste estudo foram um Questionário Sociodemográfico, o Questionário de Saúde

Geral desenvolvido por Goldberg (1972), versão de 12 itens e a Escala de Caracterização do

Burnout de Tamayo e Tróccoli (2009). A análise estatística, presente no estudo se caracteriza

como descritiva, no entanto, para a inferência dos dois constructos investigados aplicou-se

percentis, frequência por intervalo e análise de cluster, já para relacionar as deteriorações em

saúde mental e o burnout, aplicou-se o r de Pearson. A amostra do estudo corresponde a 61

sujeitos, no universo de 83 agentes. Os resultados indicam a predominância do sexo

masculino, em sua maioria casados, com a idade entre 24 a 53 anos, trabalhando cerca 48

horas semanais. Os principais resultados revelam que mais da metade da amostra se encontra

tensa, contudo a saúde mental está preservada para a maioria. Os resultados apurados também

apontam que, ainda não existindo um número significativo de sujeitos acometidos pela

Síndrome de Burnout, metade da amostra encontra-se no nível baixo-moderado da síndrome.

Salienta-se que um terço da população investigada já apresenta falência em pelo menos uma

das três dimensões. Conclui-se que o ambiente de trabalho pode ter um impacto na saúde

mental do agente, suscitando sintomas depressivos e o surgimento da Síndrome de Burnout.

Aconselha-se assim a introdução de programas sólidos de gestão, que visem o bem-estar do

trabalhador, utilizando uma abordagem intervencionista.

Palavras-chave: Saúde Mental. Síndrome de Burnout. Agente de Segurança Penitenciária.

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8

MEDEIROS-COSTA, M. E. DETERIORATION MINORS IN MENTAL HEALTH AND BURNOUT SYNDROME AMONG CORRECTIONAL OFFICERS DETENTION UNIT OF THE STATE OF RIO GRANDE DO NORTE. Dissertation (Master in Management) - Universidade Potiguar. Natal, 2013.

ABSTRACT

The assignment of the effects of work on mental health and growth of psychic illnesses arising from work are under discussion and reflections by several researchers, among these altercations, the literature indicates a possible relation between Deteriorations Minor Mental Health and Burnout Syndrome. So, this study aims to investigate the relationship between these two constructs - Deteriorations Minor Mental Health and Burnout Syndrome - chosen as the subjects participating Agents Security Penitentiary three Units Criminal State of Rio Grande do Norte. Therefore, it was necessary to carry out the discussion of concepts, technical and theoretical contributions of the topic in question. This research is characterized as a study of cross stamp, descriptive and quantitative. The instruments undertaken in this study was a Sociodemographic Questionnaire, the General Health Questionnaire developed by Goldberg (1972) version of 12 items and Scale Characterization of Burnout and Tróccoli Tamayo (2009). Answers were entered in the form of database SPSS (Statistical Package for Social Science for Windows), through which he acted with the statistical analyzes. The sample corresponds to 61 agents, 83 agents in the universe. The results of this study emerges a predominantly male, mostly married, aged between 24-53 years, working about 48 hours a week . The main results show that more than half of the sample is strained, but mental health is preserved for most. The results obtained also show that, even in the absence of a significant number of subjects affected by burnout, half of the sample is in the low - moderate syndrome. It is noted that one third of the population has already investigated failure in at least one of the three dimensions. Is finalized, the work environment can have an impact on the mental health of the agent, posing depressive symptoms and the onset of burnout syndrome. Advises thus introducing solids management programs, aimed at the welfare of the worker, using an interventionist approach.

Keywords: Mental Health. Burnout Syndrome. Agent Security Penitentiary.

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9

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices mais

baixos da Síndrome de Burnout ........................................................................................... 53

Tabela 2 – Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices elevados

da Síndrome de Burnout ....................................................................................................... 54

Tabela 3 – Distribuição amostral dos agentes penitenciários ............................................... 61

Tabela 4 – Descrição da Escala de Caracterização do Burnout (ECB) ................................ 62

Tabela 5 – Confiabilidade das escalas para amostra ............................................................ 65

Tabela 6 – Idade média e tempo de serviço da amostra (dados intervalares) ...................... 68

Tabela 7 – Dados sociodemográficos e características da profissão (Dados nominais) ...... 69

Tabela 8 – Escore mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão nos fatores das

Deteriorações Menores em Saúde Mental (QSG-12) ........................................................... 70

Tabela 9 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o sexo ......... 71

Tabela 10 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o estado civil

............................................................................................................................................... 72

Tabela 11 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o tipo de

atividade desenvolvida ......................................................................................................... 72

Tabela 12 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 e as Unidades Penais ........ 73

Tabela 13 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores nos

fatores do QSG-12 ................................................................................................................ 73

Tabela 14 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores nos

fatores do QSG-12 ................................................................................................................ 74

Tabela 15 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto das Deteriorações

Menores em Saúde Mental ................................................................................................... 75

Tabela 16 – Escore mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão das

dimensões do burnout (ECB) ............................................................................................... 76

Tabela 17 – Comparação entre escores das dimensões da ECB de acordo com o sexo ....... 77

Tabela 18 – Comparação entre escores das dimensões da ECB de acordo com o estado civil

............................................................................................................................................... 78

Tabela 19 – Comparação entre escores das dimensões da ECB de acordo com o tipo de

atividade desenvolvida ......................................................................................................... 79

Page 10: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

10

Tabela 20 – Comparação entre escores das dimensões da ECB e as Unidades Penais ........ 79

Tabela 21 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores das

dimensões da ECB ................................................................................................................ 80

Tabela 22 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores das

dimensões da ECB ................................................................................................................ 81

Tabela 23 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio da Síndrome de Burnout

............................................................................................................................................... 82

Tabela 24 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto da Síndrome de

Burnout ................................................................................................................................. 82

Tabela 25 – Análise de Cluster que combina níveis Médio e Alto da Síndrome de Burnout

............................................................................................................................................... 83

Tabela 26 – Correlações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de

Burnout ................................................................................................................................. 84

Page 11: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

11

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Publicações que tiveram maior repercussão em Saúde Mental e Trabalho a partir

de 1986 ................................................................................................................................. 26

Quadro 2 – Instrumentos de pesquisa versus objetivos - geral e específicos - sua relação com

as variáveis analíticas e o tipo de análise estatística ............................................................. 63

Page 12: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

12

LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Dispositivo dinâmico de três polos ...................................................................... 37

Figura 2 – Modelo de Freudenberger (1974) ........................................................................ 50

Figura 3 – Modelo de Leiter (1993) ...................................................................................... 51

Figura 4 – Modelo estrutural do burnout - Maslach e Jackson (1994).................................. 51

Figura 5 – Modelo de Gil-Monte (2005) ............................................................................... 52

Page 13: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

13

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ASP – Agentes de Segurança Penitenciária

ECB – Escala de Caracterização do Burnout

QSG-12 – Questionário de Saúde Geral

SM&T – Saúde Mental e Trabalho

Page 14: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

14

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA ........................................................ 17

1.1.1 Questões de pesquisa ..................................................................................... 21

1.2 OBJETIVOS ....................................................................................................... 21

1.3 JUSTIFICATIVA ............................................................................................... 22

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO ................................................................. 24

2 DA SAÚDE MENTAL A SÍNDROME DE BURNOUT: UM BREVE PASSEIO

PELA LITERATURA ACERCA DOS CONCEITOS, DOS ABORTES TÉCNICOS E

TEÓRICOS DOS DOIS CONSTRUCTOS .......................................................... 26

2.1 SAÚDE MENTAL E TRABALHO ................................................................ 26

2.1.1 CLÍNICAS DO TRABALHO ......................................................................... 32

2.1.1.1 Psicodinâmina do trabalho ........................................................................ 33

2.1.1.2 Clínica da Atividade .................................................................................. 35

2.1.1.3 Ergologia .................................................................................................... 36

2.1.1.4 Psicologia Social Clínica ............................................................................ 39

2.1.2 TEORIAS DO ESTRESSE ............................................................................. 41

2.1.3 ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA ............................................................ 43

2.1.4 PSICOSSOCIOLOGIA ................................................................................... 45

2.2 SÍNDROME DE BURNOUT ........................................................................... 47

2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS APORTES TEÓRICOS DO ESTUDO .......... 57

3 PROCEDIMENTO METODOLÓGICO .......................................................... 60

3.1 TIPO DE PESQUISA ......................................................................................... 60

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA ................................................................................ 61

3.3 PROCESSO DE COLETA E INSTRUMENTOS ............................................. 61

3.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO ............................................................................... 63

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS ......................................................................... 64

3.6 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA ................................ 65

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO ........................................................................ 68

4.1 ANÁLISES DESCRITIVAS .............................................................................. 68

Page 15: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

15

4.1.1 Análises Sociodemográficas e características do trabalho ........................ 68

4.1.2 Indícios das Deteriorações Menores em Saúde Mental ASP ..................... 69

4.1.3 Indícios das Síndrome de Burnout nos ASP .............................................. 75

4.1.4 Relações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de

Burnout ................................................................................................................... 83

5 CONCLUSÀO ..................................................................................................... 86

REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 89

ANEXOS ................................................................................................................. 100

Page 16: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

16

1. INTRODUÇÃO

Na contemporaneidade, o trabalho ocupa um lugar de grande relevância na vida dos

indivíduos, tornando-se mediador na concretização das relações sociais, além de cumprir com

seu papel na manutenção da subsistência. O trabalho vem se configurando como atividade

fundamental na construção da subjetividade. Esta afirmação é visível na obra elaborada por

Freud (1930), o trabalho é exposto como uma atividade tão importante quanto o amor, já que

amar e trabalhar estão inclusos na construção da saúde e bem-estar psíquico do indivíduo.

Pelo amor temos a capacidade de reproduzir é pelo trabalho que produzimos dando

continuidade a nossa existência.

Mendes e Marrone (2002, p. 27), pontuam que “o ato de produzir permite um

reconhecimento de si próprio como alguém que existe e tem importância para a existência do

outro, transformando o trabalho em um meio para a estruturação psíquica do homem”.

Brito (2005) fundamentada no pensamento marxista, caracteriza o trabalho como: a

afinidade do indivíduo com o produto do seu trabalho como objeto alheio ao trabalhador e

tendo poder sobre ele; para a autora a relação do trabalho com o ato de produção dentro do

trabalho, como exercício voltado contra o trabalhador, tornando o trabalho alheio ao

trabalhador, transformando o prazer em sofrimento, à força em fraqueza, a procriação em

emasculação e a energia vital do homem num exercício voltado contra si próprio.

A concepção do trabalho passou por muitas mudanças em seu contexto histórico

social. Algumas civilizações passadas, como a grega, por exemplo, destinavam o trabalho

braçal à classe inferior composta de escravos e mulheres. Eram destinadas a estes, atividades

de manutenção das cidades salientando que naquela época não ter um escravo transmitia

pobreza. Apenas quatro em cada dez cidadãos de pleno direito, que se dedicavam à política, à

filosofia, à ginástica e a poesia, materialmente, vivam à custa dos outros a quem eram

relegadas todas as atividades de natureza e de serviço. (DE MAIS, 2000).

A palavra trabalho, por sua vez, se origina do latim tripalium, o qual era um

instrumento de tortura constituído por três pontas afiadas. Com esta ideia, o judaísmo-cristão

acreditava que o trabalho era uma forma que Deus encontrou para punir o homem: do suor do

seu rosto comerás o teu pão. Para as seitas romanas do século XI ao XIV, o trabalho era tido

como atividade “penosa”. Mas foi na reforma protestante que o trabalho foi exaltado, sendo o

caminho para a salvação. Mais tarde Max Weber chamou a ética protestante de espírito do

capitalismo. (ALBORNOZ, 1992).

Page 17: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

17

Borges (1998), embasada nas contribuições trazidas por alguns autores como

Albornoz (1992), Brief e Nord (1990), além da Equipe MOW (1987), enfatiza que o termo

trabalho exerce uma “plurivariedade”, comportando inúmeras concepções enquanto categoria

das ciências humanas e sociais.

Um marco notório foi a passagem de uma economia baseada na comercialização de

produtos manufaturados à industrialização, em que exigiu um grande crescimento econômico

e tecnológico. Por outro lado, estavam as condições precárias de trabalho que os operários

eram submetidos.

Não se pode, diante de tal quadro, falar em saúde em relação à classe operária do

século XIX. É preciso antes assegurar a subsistência, independentemente da doença, a luta

pela saúde nessa época identificou-se como a luta pela sobrevivência: onde viver para o

operário é não morrer (DEJOURS, 1992).

É correto mencionar em meio a esta discussão que um trabalho sem suporte, minado

de condições precárias, é incapaz de elucidar uma qualidade de vida satisfatória para seus

trabalhadores. Entretanto, numerosas investigações epidemiológicas apresentam que não só o

trabalho é imprescindível, no entanto as condições em que este se configura, como um

aspecto decisivo no que concerne a maneira como se processa o agir, bem como na qualidade

do que é produzido, afetando, ainda, à saúde (física, psíquica e social) dos trabalhadores

(RÊGO, 2008).

O trabalho que não se tem um suporte organizacional e nem boas condições propicia

o surgimento de doenças associadas ao contexto laboral, trazendo, consequentemente, um

custo financeiro e social ao sistema de saúde. Em dezembro de 2006 foi promulgada a recente

da Lei 11 430, que estabelece o nexo epidemiológico causal entre certas doenças classificadas

sendo endêmicas para determinadas ocupações, só vem esclarecer a inevitável preocupação

com aos aspectos jurídicos e trabalhistas abarcados nessa questão.

Para Rêgo (2008) uma das discussões mais abordadas na contemporaneidade são os

reflexos originados pelo trabalho e, suas consequências à saúde e bem-estar do trabalhador.

Para esta autora o bem-estar é o resultado da interação das características do empregado com

o ambiente de trabalho, sendo que as exigências do trabalho excedem as habilidades do

empregado para enfrentá-las, prejudicando a sua qualidade de vida dentro e fora do trabalho.

Uma das respostas a estas manifestações são os transtornos de deteriorações menores em

saúde mental e a Síndrome de Burnout ocasionados pela natureza destes trabalhos. Diante do

que foi exposto, acredita-se que os Agentes de Segurança Penitenciária (ASP) se expõem a

Page 18: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

18

fatores estressantes constantemente que, se persistirem, pode levar ao surgimento de

deteriorações menores em saúde mental ou até mesmo a Síndrome de Burnout.

1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO E PROBLEMA

Ao longo da história, o mundo do trabalho atravessou profundas mudanças que

influenciaram na maneira de se ver e fazer o trabalho. Um marco notório foi à passagem de

uma economia baseada na comercialização de produtos manufaturados à industrialização,

onde existiu um grande crescimento econômico e tecnológico. Por outro lado estavam as

condições precárias de trabalho em que os operários eram colocados.

Durante muito tempo, a saúde do trabalhador foi negligenciada. A partir da

promulgação da Constituição Federal, em 1988, essa realidade começa a sofrer mudanças,

pois a mesma estabelece a ampliação do atendimento do SUS e a intervenção nas causas do

adoecimento, inclusive, nos ambientes de trabalho (MUROFUSE, 2004).

As transformações complexas do trabalho surgem como fonte causadora de tensão e

sobrecarga física e psíquica, prejudicando relações profissionais e interpessoais, com

deterioração crescente da qualidade de vida nos diversos âmbitos do trabalho humano

(DEJOURS, 1992).

Portanto, a saúde e a doença são processos dinâmicos, estreitamente entrelaçados

com os modos de desenvolvimento produtivo da humanidade em determinado momento

histórico. Assim, a forma de inserção dos homens, mulheres e crianças nos espaços de

trabalho contribui para formas específicas de adoecer e morrer (BRASIL, 2002).

As ações implicadas no ato de trabalhar podem atingir o corpo dos trabalhadores,

produzindo disfunções e lesões biológicas, mas também reações psíquicas, desencadeando

processos psicopatológicos. Foi durante a década de 1960 que fatores não biológicos, como

meio ambiente, fatores sócio demográficos, condições de vida e fatores de experiência passam

a ser considerados para entender os processos de saúde e doença mental. A partir desta nova

análise, para além do paradigma biomédico, concentram-se os avanços sobre as questões que

envolvem o fenômeno saúde mental (BARBOSA, 2001).

Seguindo este pensamento, é necessário lembrar que até meados de 1970, a

expressão condições de trabalho era usada para se referir objetivamente aos aspectos físicos e

ambientais do local de trabalho (gases tóxicos, ruídos, luminosidade, poluentes, temperatura,

Page 19: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

19

esforço físico). Após esse período, apesar de existir consentimento, são apresentadas

definições mais amplas incluindo dimensões psicossociais (emprego, salários, relações

interpessoais e proatividade) e, frequentemente, se incluem nas pesquisas fatores físicos de

trabalho, tempo, controle e sistema de incentivos, dentre outros, como determinantes centrais

do bem-estar psicológico (ÁLVARO; GARRIDO, 2006).

Segundo Barbosa (2008, p. 114) “todas essas alterações produzidas no mercado

laboral têm surgido como resultado da flexibilização do trabalho e começam a atingir

objetivamente e subjetivamente os trabalhadores”. Altera-se então o enfoque dos estudos, pelo

fato de não mais ser viável estudar as condições de trabalho exclusivamente em termos de

objetividade, e sim pela interação entre a objetividade e a subjetividade.

Cabe esclarecer que a questão da Saúde Mental e Trabalho (SM&T) classifica-se,

ultimamente, como um campo relativamente novo e a abordagem teórica, aqui empreendida,

compõe um dos caminhos possíveis para a articulação e desenvolvimento da temática aqui

estudada. Qualifica-se como uma abordagem que abarca o trabalho como um fenômeno sócio

histórico, com maneiras de realização distintas e uma multiplicidade de significados que

variam ao longo da vida, segundo os conhecimentos, as influências dos modos de organização

social e as relações de produção. Sendo assim, o trabalho constitui um elemento primário no

processo de construção do sujeito e funciona como uma unidade estruturadora do psiquismo

humano (GIL-MONTE; PEIRÓ, 1997; BORGES, 1998; BORGES et. al.; 2002; ARGOLO;

BORGES, 2002; PAIVA, 2005; BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006; BORGES;

BARBOSA, 2007; BARBOSA, 2008).

De maneira objetiva, o que a abordagem psicossociológica acredita é que, para se

compreender o bem-estar psicológico dos indivíduos é preciso que se compreenda a relação

do homem com o seu trabalho (CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004).

Neste sentido, Barbosa (2008, p. 42), coloca que “o movimento em que o homem

estabelece relações com o seu trabalho, o sentido originário do trabalho como elemento

estruturante do psiquismo é, ao mesmo tempo, fonte de prazer e sofrimento dependendo das

condições e formas em que o trabalho é executado”. Portanto, quando o homem não encontra

sentido naquilo que produz e avalia suas condições de trabalho desfavoráveis, ele atribui

significado negativo ao trabalho. O trabalho, desta maneira, passa a ser visto como uma

permanente fonte causadora de tensões que pode levá-lo ao padecimento psíquico, caso não

sejam encontrados meios de eliminar as tensões acumuladas.

Tal perspectiva de análise encontra-se presente em várias publicações como as de

Maslach e Leiter (1999), Maslach, Schaufeli e Leiter (2001), Maslach (2005), Gianise (2004)

Page 20: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

20

e Tamayo, Argolo e Borges (2005) onde estes pesquisadores debatem a Síndrome de Buronut,

fenômeno também estudado nesta dissertação.

Tamayo e Tróccoli (2002) indicam que o estado atual das pesquisas sobre o assunto

aponta para uma necessidade de maior investimento em estudos que examinam a

potencialidade de variáveis que influenciam no vínculo que o profissional tem com a

organização, bem como sua satisfação com as tarefas exercidas. Já na visão de Benevides-

Pereira (2003), é possível identificar inúmeras comunicações científicas e alguns artigos

publicados sobre Burnout no Brasil, mas a produção nacional ainda é incipiente comparada

com a internacional.

Por outro lado, a grande maioria das pesquisas brasileiras que tomam o Burnout

como fenômeno tem se restringindo as ocupações ligadas à área da saúde e educação,

esquecendo-se das ocupações ligadas à manutenção e prestação da segurança pública como os

policiais e agentes penitenciários (MEDEIROS-COSTA et. al. 2012).

Maslach e Leiter (1999) nos anos 90, alertaram que a Síndrome de Buronut não se

restringi a profissões ligadas à saúde e à educação. A partir de então a síndrome, passa a ser

considerado um fenômeno que afeta praticamente todas as profissões, tendo em vista que

quase todas possuem algum tipo de contato interpessoal.

Maslach e Jackson (1977, apud Benevides-Pereira, 2002), encontraram em seus

estudos variáveis socioambientais como coadjuvantes no processo de burnout, se acenando a

alguns comportamentos específicos do profissional em relação ao seu trabalho.

As evidências de estudos já realizados apontam que o burnout está associado a

profissões de serviço, que exijam cuidados e atenção de terceiros. Nesta perspectiva, toma-se

como referência o conceito adotado por Maslach & Jackson (1986), segundo os quais é um

problema que atinge profissionais de serviço, principalmente àqueles voltados para atividades

de cuidado com outros, no qual a oferta do cuidado ou serviço frequentemente ocorre em

situações de mudanças emocionais. Ajudar outras pessoas sempre foi reconhecido como

objetivo nobre, mas apenas recentemente tem sido dada atenção para os custos emocionais da

realização do objetivo. O exercício destas profissões implica uma relação com o cliente

permeada de ambiguidades, como conviver com a tênue distinção entre envolver-se

profissional e não pessoalmente na ajuda ao outro (CODO, 2002).

Sendo assim, a presente pesquisa elegeu os agentes penitenciários como objeto de

estudo, ressaltando que estes profissionais, hipoteticamente, são inseridos em um ambiente de

trabalho estressante que poderá levar ao surgimento da Síndrome de Burnout ou até mesmo

dos transtornos mentais comuns e como bem coloca Aluja (1997), depressão, ansiedade e os

Page 21: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

21

transtornos somatoformes são considerados os principais rebates psicológicos à síndrome de

burnout.

Já o cárcere é um local onde coabitam dezenas, centenas e milhares de pessoas,

desprovidas de assistência, sem nenhuma separação, em absurda ociosidade. Normalmente, é

um local úmido, infecto, onde inúmeras pessoas vivem compartilhando de um mesmo espaço,

em celas coletivas, por onde transitam livremente ratos e baratas e a falta de água e luz é

rotineira (LEAL, 2001). De acordo com Silva (2008) o mundo penitenciário é feito de

coerências e incoerências; circunspeto por junções e conflitos. É um mundo visivelmente

rígido, mas que necessita ser reafirmado, reconstruído a cada novo instante. É um mundo

relacional em constante construção.

Já o trabalho dos ASP exige destes profissionais uma relação direta com os detentos.

Como bem advoga Thompson (2002), os ASP e presos convivem em uma área adstrita,

admitindo com naturalidade às intimidades de ambas as partes. Tal visibilidade promove, uma

relação de amizade e cuidado entre os agentes e presos.

Na instituição do Projeto de Lei nº 405 do Programa de Saúde Mental dos ASP, Pereira

(2001), relata que os agentes penitenciários convivem com uma situação ambivalente, fruto de

suas atribuições e do fato de serem os trabalhadores que têm o contato mais próximo com os

presos, o que não deixa de gerar alguma intimidade. Esta situação conflituosa pode determinar

o aparecimento de doenças e transtornos mentais e emocionais. Estima-se que 10% de todo o

efetivo da Secretaria da Administração Penitenciária, afastou-se de suas funções no ano de

1998, em decorrência de distúrbios dessa natureza.

A condição de trabalho em que os ASP estão inseridos os tornam desabonáveis em

alguns contextos extra-muros, estes profissionais são propensos a outro tipo de estigma

decorrente de psicopatologias do trabalho, tais como: insônia, nervosismo, depressão,

estresse, paranoia, dependências químicas. Além disso, passam a ser exprobrados pelos

próprios colegas de profissão, pelos quais passam a ser chamados, pejorativamente, de

“xaropes”, “beberrões” ou “gardenal” (SILVEIRA, 2009). Não diferente, Vasconcelos (2000)

destaca o medo, anseio, insegurança, agressividade como fatores presentes nas relações que

esses trabalhadores mantêm no âmbito doméstico, indicando uma falta de repouso do papel de

agente, que invade a casa e o mundo, o dentro e o fora, o antes e o depois do trabalho.

Para Silveira (2009), os ASP estão coibidos ao penoso exercício de (con)vivência na

sociedade dos cativos, necessitando entender e apreender muito rapidamente a dinâmica da

prisão para fins de manutenção da ordem. Precisam aprender “a pensar como o preso”,

Page 22: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

22

“trabalhando preso com o preso”, o que não se faz sem um enorme custo psíquico e

identitário.

A procura da compreensão acerca do trabalho do agente penitenciário e das

condições que estes profissionais são submetidos, o seguinte problema de pesquisa a ser

solucionado: qual a relação existente entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e

a Síndrome de Burnout nos agentes penitenciários do Estado do Rio Grande do Norte?

1.1.1 Questões de pesquisa

A condução da pesquisa esta galgada em algumas questões que servem de subsídio

quanto aos resultados alcançados. Estas questões são apresentadas a seguir:

- Qual é o perfil sociodemográfico dos agentes penitenciários?

- Qual a prevalência das Deteriorações Menores em Saúde Mental (deterioração de

autoeficácia e tensão emocional e depressão) nos agentes penitenciários?

- Existem diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (gênero, estado

civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e as Deteriorações Menores em

Saúde Mental nos agentes penitenciários?

- Qual a prevalência da Síndrome de Burnout (exaustão, desumanização ou

decepção no trabalho) nos agentes penitenciários?

- Existem diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (gênero, estado

civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e a Síndrome de Burnout nos

agentes penitenciários?

1.2 OBJETIVOS

- Geral

Investigar a relação existente entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a

Síndrome de Burnout nos agentes penitenciários do Estado do Rio Grande do Norte.

Page 23: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

23

- Específicos

- Delimitar o perfil sociodemográfico e as características profissionais dos agentes

penitenciários;

- Verificar a incidência das Deteriorações Menores em Saúde Mental (deterioração

da autoefecácia ou tensão emocional e depressão) nos agentes penitenciários;

- Identificar as diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (sexo, estado

civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e as Deteriorações Menores em

Saúde Mental nos agentes penitenciários;

- Verificar a prevalência da Síndrome de Burnout (exaustão, desumanização ou

decepção no trabalho) nos agentes penitenciários;

- Identificar as diferenças no que se refere ao perfil sociodemográfico (sexo, estado

civil e a tipologia de atividade desenvolvida) e a Síndrome de Burnout nos

agentes penitenciários.

1.3 JUSTIFICATIVA

Estudar os Agentes de Segurança Penitenciária por meio da análise do exercício de

sua atividade e identificação de fatores objetivos e subjetivos ligados ao trabalho, apresentará

elementos que ampliam conhecimentos sobre o trabalho destes profissionais, permitindo

proposição de novos estudos, contribuindo para academia e o mundo do trabalho. Até porque,

como assinala Souza et. al. (2005, p. 917) “o campo de saúde do trabalhador não pode omitir-

se, hoje, de pensar nas categorias que atuam na segurança pública, um dos segmentos mais

vulneráveis no exercício de sua profissão”.

Para Tartaglini e Safran (1997) a atividade exercida pelos policiais e pode ser

caracterizada como profissionais de uma categoria de alto risco para a doença relatada como

estresse debilitante. Os pesquisadores em questão expuseram que há uma prevalência de

distúrbios emocionais (18,6%), abuso de álcool (4,5%) e distúrbios da ansiedade (7,9%).

O peso que o trabalho tem sobre a vida do homem traz alguns problemas. Entre esses

problemas um tem sido identificado entre os trabalhadores que lidam diretamente com

pessoas, principalmente quando envolve atividade de cuidado com outras (caregivers): a

Síndrome de Burnout. O risco maior de enfrentar o Burnout está em profissionais da

Page 24: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

24

educação, da saúde, policiais e agentes penitenciários, entre outros (VASQUES-MENEZES,

2005, p.57-58).

Um dos problemas sociais de maior relevância e muito discutido nos últimos tempos

é a questão da segurança pública. A segurança pública não é somente um indicador da

qualidade de vida do país ou de uma região, mas um fator essencial para atração de

investimentos e desenvolvimento humano. (SARTORI, 2006).

Sendo representante da Segurança Pública brasileira, o Agente de Segurança

Penitenciária, no presente cenário, desempenha um papel valioso na manutenção da ordem

social nos estados, atua em projetos sociais, e de forma indireta, no crescimento do

desenvolvimento econômico regional. Diante deste quadro, é importante estudar as

deteriorações menores em saúde mental destes profissionais, tendo em vista a realidade,

investigando, as condições objetivas inerentes a sua atividade, a organização do seu trabalho e

o sofrimento decorrente dessa ocupação. Chanlat (1995) evidencia que é preciso realizar uma

reflexão de forma aprofundada sobre saúde no trabalho, não analisando as questões de

segurança, mas as questões da saúde psicológica do trabalhador, devido à contingência dos

custos sociais que se tem hoje com doenças profissionais, indenizações, readaptações, entre

outros.

Salientando que um bom serviço de segurança pública reflete em um melhor

ambiente social, tornando claro que somente os agentes penitenciários não são capazes de

solucionar todas as questões de reeducação, criminalidade e segurança sem que outros setores

do governo e da economia intervenham, é de extrema importância analisar como a

organização do trabalho desta ocupação afeta a sua saúde destes sujeitos, não somente física,

mas psicológica, principalmente.

Pode-se afirmar que o trabalho dos ASP no Estado é relativamente novo, pois esta

atividade era desempenhada pelos policiais militares aposentados, que faziam parte da guarda

patrimonial. A partir de maio de ano de 2002 a convocação dos aprovados para agentes

penitenciários teve início e estes passaram a desempenhar suas funções nas Unidades

Prisionais do RN.

O trabalho desempenhado pelos agentes está sendo caracteriza como uma atividade

de constante risco no cenário potiguar. Dados recentes publicados no site da G1 nas datas de

18 de dezembro de 2012 e 25 de junho de 2013 apresentam casos de homicídios que trazem

ASP como vítimas.

Vale ressaltar que a população carcerária triplicou nos últimos sete anos no Rio

Grande do Norte e os estabelecimentos penais aumentaram, tornando o efetivo insuficiente

Page 25: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

25

para atender a demanda, levando o agente a trabalhar sobrecarregado, comprometendo o

desempenho de sua função (JUCÁ, 2010).

Esta pesquisa busca identificar a incidência das deteriorações menores em saúde

mental e o burnout no contexto do cenário da prisão, de maneira a colaborar para a elucidação

do papel realizado pelo agente penitenciário. Almeja-se que os resultados a respeito da saúde

mental e burnout possam trazer melhorias das referidas condições e a ampliação do

conhecimento no que se refere ao fechar e abrir do cadeado.

1.4 ESTRUTURA DA DISSERTAÇÃO

A dissertação de mestrado em questão está dividida em cinco capítulos, sendo o

Capítulo 1 destinado à introdução nela são apresentados os pressupostos teóricos, a

contextualização do problema, os objetivos e a justificativa do trabalho.

O Capítulo 2 por sua vez, realiza um passeio acerca da SM&T a Síndrome de

Burnout, explicitando os conceitos, os aportes teóricos que norteiam o universo dos dois

constructos em questão.

O Capítulo 3 é traçado o percurso metodológico desta dissertação, procurando

amoldar o caráter do estudo aos objetivos propostos. Elegeu-se o método descritivo e a

abordagem aqui empreendida foi à quantitativa, objetivando investigar os dados

sociodemográficos, e a incidência de transtornos mentais comuns e a Síndrome de Burnout. O

instrumento utilizado para mensurar as deteriorações pequenas em saúde mental foi o de

Goldberg (1972) e a síndrome investigada através da Escala de Caracterização do Burnout

desenvolvida por Tamayo e Trócolli (2009). Ainda neste capítulo se sucede a caracterização

do ambiente onde se dá a pesquisa – as penitenciárias – e são explanados alguns dados

históricos dos agentes penitenciários do Estado.

O capítulo 4, por sua vez, traz as discussões e resultados desta dissertação. Iniciando

com as análises sociodemográficas e profissionais dos agentes, na segunda e terceira sessão

são abarcadas as análises acerca das Deteriorações Menores em Saúde e a Síndrome de

Burnout, como também, suas associações feitas com o gênero dos participantes, estado civil e

tipo de atividade desenvolvida, além das comparações entre as Unidades Penais. Por fim, na

quarta sessão, são realizadas as correlaçãos entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental

e a Síndrome de Burnout.

Page 26: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

26

No capítulo 5 são apresentadas as conclusões, as limitações do estudo, uma concisa

sistematização dos achados e algumas recomendações. E por fim, seguem-se as referências do

estudo, as quais foram essenciais para realização do debate inserido nesta dissertação.

Page 27: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

27

2. DA SAÚDE MENTAL NO TRABALHO A SÍNDROME DE BURNOUT: UM

BREVE PASSEIO PELA LITERATURA ACERCA DOS CONCEITOS, DOS

APORTES TÉCNICOS E TEÓRICOS DOS DOIS CONSTRUCTOS

2.1 SAÚDE MENTAL E TRABALHO

A Saúde Mental e Trabalho têm sido alvo de debate e reflexões por diversos

pesquisadores. A consignação dos efeitos do trabalho na saúde mental e o crescimento dos

adoecimentos psíquicos oriundos do trabalho revelam a importância de novas reflexões sobre

o presente fenômeno aqui estudado. De forma eminente, ao estar amparada no campo da

Saúde do Trabalhador, a SM&T toma as relações de trabalho e sua historicidade como matriz

de leitura (GUIMARÃES, 1992; LACAZ, 1996; LACAZ, 1997; MINAYO-GOMEZ;

THEDIM-COSTA, 1997).

A dificuldade encontrada em caracterizar a inter-relação entre os distúrbios psíquicos

dos trabalhadores, e o próprio trabalho torna difícil a prevenção da Saúde Mental no Trabalho,

embora tal advento vem sendo incorporado apenas recentemente pelas organizações (GLINA;

ROCHA, 2006).

Para Dejours, Abdoucheli e Jayet (2009), o sofrimento no trabalho significa uma

situação de luta entre o sujeito e as forças causadas pela organização do trabalho, que o levam

em direção à doença mental. De acordo Echternacht (2004) afirma que saúde e doença são

fatos construídos a partir de uma complexa interação entre as concretudes da condição

humana e a atribuição de significados. Desta maneira, o processo saúde-doença no trabalho

não pode ser abarcado apenas enquanto experiência biológica e objetiva.

De modo a acrescentar, Seligman-Silva (1994, p. 46), afirma que:

o trabalho que, em diferentes circunstâncias, preside à constituição de formas de

desgaste e sofrimento mental, conforme a situação, tanto poderá fortalecer a saúde

mental quanto levar a distúrbios que se expressarão coletivamente em termos

psicossociais e/ou individuais, em manifestações psicossomáticas ou psiquiátricas.

Apesar do crescimento existente, principalmente nos últimos anos, debater a

amplitude e a relação entre SM&T não é um exercício fácil em virtude de diversos aspectos,

entre estes está à dificuldade de se conciliar o nexo entre trabalho e transtornos psíquicos, o

problema de mensurar os inúmeros aspectos dessa relação e a subjetividade dos fatores

envolvidos (LOURENÇO; BERTANI, 2007; LANCMAN; TOLDRÁ; SANTOS, 2010;

MERLO, 2011).

Page 28: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

28

Vale ressaltar que as discussões acerca da saúde, o bem-estar e a vida dos

trabalhadores remota aos acontecimentos da Revolução Industrial. Iniciando por Karl Marx e

Max Weber, chegando a Elton Mayo, até que se chegue a presente discussão entre inúmeros

autores ligados aos estudos sobre a sociopsicologia do trabalho.

Para as organizações, o adoecer na labuta implica no aumento de custos, diminuição

da produtividade e dano na competitividade empresarial. A sociedade por sua vez, representa

perdas na qualidade das relações interpessoais e aumento nos custos previdenciários

referentes à saúde-doença mental de trabalhadores.

O estudo da força de trabalho em saúde ganhou destaque uma vez que a relação

direta entre gestão de RH e efetividade dos sistemas de saúde tornou-se cada vez mais

evidente. Todavia, apesar do papel fundamental desta força de trabalho, ainda muito pouco é

conhecido sobre sua composição, treinamento e desempenho.

Os primeiros estudos em psicopatologia do trabalho iniciaram-se nos anos cinquenta.

Segundo Chanlat (1996), esses estudos chegaram a descrever síndromes estreitamente

associadas à situação de trabalho.

No presente momento, os transtornos mentais relacionados ao trabalho aumentam em

inúmeros países. A justificativa para esse crescimento é controversa e múltipla. Existe uma

tendência a considerar como fatores explicativos para esse aumento os atuais modelos de

gestão implantados nas organizações de trabalho, onde novas maneiras de trabalhar geram

novas formas de adoecer, e o crescimento das doenças psíquicas relacionadas ao trabalho é

uma expressão dessa realidade (LANCMAN; TOLDRÁ; SANTOS, 2010).

Já Merlo (2011, p. 369), afirma que:

aspectos relacionados à (re)estruturação do mundo do trabalho e à divisão

internacional da economia também têm, ainda que indiretamente, repercussões sobre

a saúde psíquica (e física) dos trabalhadores, na medida em que contribuem para

definir as formas de trabalhar, que destina aos países de capitalismo periférico

atividades produtivas muito exigentes de mão de obra, tal como o que ocorre na

produção do vestuário ou do calçado, que ainda funcionam em moldes tayloristas

e/ou fordistas criados há pelo menos cem anos e podem produzir importantes

agravos à saúde física e psíquica dos trabalhadores.

É nessa conjuntura que emergem doenças ocupacionais físicas e psíquicas, trazendo

consequências graves a vida dos trabalhadores. Na abordagem psicossomática existe uma

inter-relação das dimensões biológicas, psicológicas e social que são intrínsecas a cada ser

humano e que cada uma dessas características humanas contém aspectos que se diferenciam,

em termos de funcionamento e modos de reação (FRANÇA; RODRIGUES, 2002).

Page 29: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

29

Para Seligman-Silva (1997), as mudanças organizacionais e técnicas do trabalho vêm

se acelerando e adotando novas configurações, não apenas em consequência do progresso

científico e dos avanços tecnológicos, mas também pelo processo da globalização,

intensificado nas últimas décadas. Forças econômicas e políticas regem tais transformações. A

inter-relação trabalho e saúde acompanha essas mudanças, transformando-se também. Levi

(1998 apud Martinez, 2002), advoga que a transformação no padrão de morbidade e

mortalidade em quase todas as sociedades pós-industriais no mundo ocidental é a principal

razão para mudanças de prioridades nos investimentos para a saúde. O autor em questão

enfatiza que os fatores socioeconômicos e psicossociais têm um grande e crescente papel na

etiologia e/ou patogênese de muitas das doenças mais frequentes.

Não é possível deixar no esquecimento o fato que as organizações e as condições de

trabalho a que se refere, incide nos marcos de condições específicas de ponderação do lucro e

de estruturas de poder, histórica e socialmente originadas, definidas como modo capitalista de

produção (ALMEIDA; MERLO, 2008).

Guimarães (1992), esclarece que a influência das condições de trabalho,

principalmente da organização do trabalho de modo geral, continuou como tema a ser evitado.

O autor averigua de forma fulgente em suas pesquisas no Brasil, o que já havia sido

constatado em outros países, a vinculação entre condições organizacionais do trabalho ligados

à vida laboral de um lado, e, de outro, à saúde mental.

É sabido que a saúde do trabalhador chegou ao Brasil nos anos 80, sendo uma prática

interdisciplinar e multiprofissional, tendo seu campo de conhecimento era ancorado na

Medicina Social e na Saúde Coletiva (MENDES; DIAS, 1991; LACAZ, 1997).

Ressalta-se que os riscos decorrentes do meio de trabalho, deixou de ser a única

maneira de se averiguar as condições e saúde do trabalhador, mas passou-se a ser analisadas

as cargas, as exigências tidas no exercício na atividade e os efeitos de cunho psicossocial

tornaram a ser importantes neste processo (MINAYO-GOMEZ; THEDIM-COSTA, 1997).

Conforme a Organização Mundial da Saúde, os transtornos mentais menores

acometem cerca de 30% dos trabalhadores ocupados e os transtornos mentais graves, cerca de

5 a 10%. Já no cenário brasileiro, de acordo com estatísticas do INSS, reminiscentes apenas

aos trabalhadores com registro formal, os transtornos mentais emplacam a 3ª posição entre as

causas de concessão de benefício previdenciário como auxílio doença, afastamento do

trabalho por mais de 15 dias e aposentadorias por invalidez (BRASIL, 2001).

Para Clot (2011) é sem dúvida a exacerbação da crise do trabalho contemporâneo,

em sua heterogeneidade mundial, que mostra o fato de uma nova demanda social se exprimir

Page 30: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

30

e questionar a pesquisa acadêmica, a ponto de ensejar novas iniciativas. Assim, inúmeras

linhas teóricas e métodos foram criados para investigar as relações inerentes à SM&T,

valendo ressaltar que nenhum método sozinho é capaz de dar conta de todos os seus aspectos.

(CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004; MERLO, 2011).

Já Jacques (2003, p. 99) critica, afirmando que:

o que se verifica, frequentemente, é uma imprecisão teórica e metodológica visto o

desconhecimento do tema, o que produz tentativas ingênuas de combinar conceitos e

técnicas com fundamentos epistemológicos diferentes. Constata-se, não uma

tentativa de articular pressupostos diversos, mas, simplesmente, emprestar conceitos

e técnicas sem uma reflexão sobre as diferentes concepções de homem,

homem/sociedade, ciência e pesquisa que lhes fundamentam.

Delimitar as relações entre trabalho e saúde mental, tentando mostrar os nexos entre

aspectos do trabalho e sofrimento psíquico ainda é merecedor de atenção, a despeito da tênue

existente entre esses dois constructos, trabalho e saúde. Pode-se notar que a despeito das

distâncias teórico-metodológicas entre elas, existe, pelo menos um consenso: desencadeador,

determinante ou constituinte, o trabalho pode ser considerado, de alguma maneira, motivo de

sofrimento que muitas vezes limita o trabalhador, quando não impede efetivamente de

trabalhar (BORSOI, 2007). De modo a acrescentar, Lima (2011. p. 320) advoga que, “a

natureza paradoxal e complexa que a categoria do trabalho abarca se traduz, historicamente,

em um amplo leque de conceituações as mais diversas”.

Tratando-se do debate acerca da SM&T no Brasil, podem-se destacar algumas

publicações que tiveram maior destaque, como Seligman-Silva (1986) e Seligman-Silva

(1990), sendo estes os primeiros estudos a nível nacional que tratou da temática em questão.

Vale ressaltar que a discussão acerca da saúde psíquica do trabalhador vem ganhando

sua forma no cenário brasileiro, sendo disseminadas outras abordagens relativamente jovens

na academia nacional, podendo citar Mendes (2007), Mendes, Merlo e Morrane (2010) os

autores discutem a SM&T por meio da psicodinâmica do trabalho, abordagem essa defendida

por Dejours (1992), Dejours (2007), Dejours, Abdoucheli e Jayet (2009). Outra obra

importante foi a de Bendassolli e Soboll (2011), nela os organizadores reuniram

pesquisadores brasileiros para discutir sobre as clínicas do trabalho (Psicodinâmica do

trabalho, Clínica da atividade, Psicossociologia francesa e a Ergologia), tais linhas que vem se

fortalecendo no Brasil.

As informações trazidas nos últimos dois parágrafos foram organizadas e

classificadas, sendo apresentadas no Quadro 1, salientado que, este panorama de publicações

Page 31: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

31

já tinha sido elaborado por Lima (2003 apud Codo, Soratto e Vasques-Menezes 2004) e o

autor desta dissertação adaptou, inserindo outras obras publicadas posteriormente.

Quadro 1 – Publicações que tiveram maior repercussão em Saúde Mental e Trabalho a partir de 1986.

1986 Edith Seligman-Silva escreve um capítulo sobre Saúde Mental e Trabalho para a coletânea Crise,

trabalho e saúde mental no Brasil.

1990 Edith Seligman-Silva escreve outro capítulo sobre o tema para a coletânea Cidadania e loucura –

políticas de saúde mental no Brasil.

1992 Liliane Andolpho Magalhães Guimarães compõe a tese de doutorado Saúde mental e trabalho em

um segmento do operariado da indústria extrativa de mineração de ferro

1993 Wanderley Codo, José Jackson Sampaio e Alberto Hitomi publicam Indivíduo, trabalho e

sofrimento.

1994 Edith Seligman-Silva escreve Desgaste mental do trabalho dominado.

Jaqueline Tittoni escreve Subjetividade e trabalho

Maria Inês Rosa escreve Trabalho, subjetividade e poder.

1995 Wanderley Codo e José Jackson Sampaio organizam a coletânea Sofrimento psíquico nas

organizações.

1996

Lys Esther Rocha compõe a tese de doutorado Estresse ocupacional em profissionais de

processamento de dados: condições de trabalho e repercussões na vida e saúde dos analistas de

sistemas.

Seije Uchida compõe a tese de doutorado Temporalidade e subjetividade no trabalho

informatizado.

Leda Leal Ferreira e Aparecida Mari Guti escrevem O trabalho dos petroleiros – perigoso,

complexo, contínuo e coletivo.

Maria Elizabeth Antunes Lima escreve Os equívocos da excelência – as novas formas de sedução

na empresa.

1997 Alice Itani escreve Subterrâneos do trabalho – imaginário tecnológico no cotidiano.

João Ferreira da Silva e Silva Jardim organizam a coletânea A danação do trabalho – organização

do trabalho e sofrimento psíquico.

1999

Wanderley Codo organiza a coletânea Educação, carinho e trabalho.

Débora Glina e Lys Esther Rocha organizaram a coletânea Saúde Mental e trabalho: desafios e

soluções.

Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e

Trabalho volume 1

É lançado o primeiro número da revista da Federação Nacional dos Psicólogos, voltada

exclusivamente para o campo da saúde mental e trabalho.

2002

Maria da Graça Jacques e Wanderley Codo organizam a coletânea Saúde Mental e Trabalho –

leituras.

Iris Barbosa Goulart organiza a coletânea Psicologia Organizacional e do Trabalho: teoria,

pesquisa e temas correlatos.

Luiz Henrique Borges, Maria das Graças Moulin e Maristela Delbello Araújo organizam a

coletânea Organização do trabalho e saúde – múltiplas relações.

Ana Maria T. Benevides Pereira organiza a obra Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar

do trabalhador

2003 Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e

Trabalho volume 2

2004

Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e

Trabalho volume 3

Ana Magnólia Mendes, Lívia de Oliveira Borges e Mário César Ferreira organizam a obra Trabalho

em Transição. Saúde em Risco.

Wanderley Codo, Lucia Soratto e Iône Vasques-Menezes elaboram um capítulo intitulado Saúde

Mental e Trabalho no livro Psicologia, Organizações e Trabalho no Brasil.

2005 Lívia de Oliveira Borges organizou a obra Os profissionais de saúde e o seu trabalho

2006 Wanderley Codo elabora o livro Por uma Psicologia do Trabalho

2007

Ana Magnólia Mendes organiza a obra Psicodinâmica do Trabalho: teoria, método e pesquisas.

Lívia de Oliveira Borges e Silvânia da Cruz Barbosa escrevem o livro Aspectos psicossociais do

trabalho dos petroleiros.

2008 Liliane Andolpho Magalhães Guimarães e Sonia Grubists organizaram a série Saúde Mental e

Page 32: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

32

Trabalho volume 4

Silvânia da Cruz Barbosa compõe a tese de doutorado Saúde Mental em Operadores de Petróleo do

Rio Grande do Norte

2009 Janine Kieling Monteiro e Daniel Viana Abs da Cruz organizam a obra Desemprego e Saúde

Mental: pesquisa e práticas clínicas de atendimento psicológicos.

2010

Ana Magnólia Mendes, Álvaro Roberto Crespo Merlo e Carla Faria Morrone organizam a obra

Psicodinâmica e Clínica do Trabalho – temas, interfaces e casos brasileiros.

Débora Glina e Lys Esther Rocha organizaram o livro Saúde mental no trabalho: da teoria à

prática.

2011

Carlos Minayo Gomez, Jorge Mesquita Huet Machado e Paulo Gilvane Lopes Pena organizam o

livro Saúde do Trabalhador na Sociedade Brasileira Contemporânea.

Pedro F. Bendassolli e Lis Andrea P. Soboll organizam o livro Clínicas do Trabalho – novas

perspectivas para compreensão do trabalho na atualidade.

2012 Maria Cristina Ferreira e Helenides Mendonça organizam o livro Saúde e Bem-estar no trabalho:

individuais e culturais.

2013

Álvaro Roberto Crespo Merlo, Ana Magnólia Mendes e Rosângela Dutra de Moraes organizam o

livro O Sujeito no Trabalho ‐ Entre a saúde e a patologia.

Lívia de Oliveira Borges, Liliana A. M. Guimarães e Sandra Souza da Silva elaboram um capítulo

intitulado Diagnóstico e Promoção da Saúde Psíquica no Trabalho no livro O Trabalho e as

Organizações.

Mirlene Maria Matias Siqueira e Maria do Carmo Fernandes Martins elaboram um capítulo

intitulado Promoção de Saúde e Bem-estar em Organizações no livro O Trabalho e as

Organizações.

Fonte: Lima (2003 apud Codo, Soratto e Vasques-Menezes 2004) e adaptada pelo autor da dissertação.

A área da SM&T tem sido impulsionada pelas pesquisas que abordam o trabalho no

processo de construção de subjetividade, nos processos de adoecimento psíquico, a

caracterização de aspectos do trabalho mais diretamente associados à ocorrência de

transtornos mentais ou situações de sofrimento psíquico (ARAÚJO, 2011).

Ao analisar os trabalhos que buscam congregar a tríade saúde, trabalho e

subjetividade, o pesquisador se depara com uma diversidade de orientações e de aportes

teórico-metodológicos que o campo da saúde do trabalhador comporta. Essa diversidade,

quando se busca focar o objetivo de conhecimento incorporando numerosos saberes, se traduz

em diferentes perspectivas e acepções nomeadas como: multidisciplinar, interdisciplinar e

transdisciplinar (LIMA, 2011).

Jacques (2007) salienta que o movimento crítico em oposição ao reducionismo na

compreensão dos processos saúde-doença mental, à fragmentação e às concepções teóricas

incapazes de considerar a multiplicidade e complexidade na formação e estruturação do ser

humano e de seu psiquismo impulsionou a elaboração de modelos mais amplos nesse campo e

contribuíram para da visibilidade às relações entre trabalho e saúde mental.

A análise da produção de textos sobre as principais abordagens em SM&T indica uma

expressiva diversidade taxonômica, com agrupamentos, distinções e classificações das

correntes bem distintas. Porém, algumas abordagens são visivelmente identificadas, com

considerações sobre seus pressupostos, aplicabilidades e limites congruentes nas tentativas de

classificação realizadas (ARAÚJO, 2011). No atual cenário brasileiro, as abordagens estão

Page 33: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

33

divididas em: Teoria do estresse; Abordagem epidemiológica, as Clínicas do Trabalho

(Psicodinâmica do Trabalho, a Clínica da Atividade e a Psicologia Social Clínica) e a

Psicossociologia. As abordagens citadas acima serão apresentadas expondo suas formas de se

analisar e avaliar a SM&T.

2.1.1 CLÍNICAS DO TRABALHO

As “clínicas do trabalho” não é um conjunto de teorias homogêneas, mas pela

disparidade e confrontos que encerram na sua delimitação, corroboram valiosamente para

análise do trabalho na atualidade. Elas buscam se distanciar de certo pensamento científico

social que vê a precedência do social sobre o psíquico, restando ao sujeito um “lugar” já

produzido ou dado. Por outro lado, procuram se posicionar como clínicas “sociais” do

trabalho, pois se equilibram no fino e tênue limite entre psíquico e social, vendo entre eles

jogos complexos de reciprocidade e tensão (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p. 16).

A maior contribuição encontrada nas clínicas do trabalho está nas obras de Le

Guillant, relembrando que não só as clínicas tidas aqui, mas a própria abordagem

epidemiológica, assunto a ser debatido, também foi influenciada. Le Guillant toma como

ponto de partida em uma pesquisa as situações concretas executadas pelo trabalhador. Seus

principais achados derivam de estudos sobre as neuroses das telefonistas e a busca de

incidências psicopatológicas nas empregadas domésticas (CODO; SORATTO; VASQUEZ-

MENEZES, 2004; BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011; LHUILIER, 2011).

Clot e Leplat (2005) definem as “clínicas do trabalho” sendo um conjunto de teorias

que tem em seu propósito de pesquisa a interação entre trabalho e subjetividade. A situação

do trabalho é objeto comum dessas teorias, sendo este o ponto de aproximação entre elas,

todavia, há divergência epistemológica, teórica e metodológica. Para Lhuilier (2011, p. 22),

“clínica do trabalho se reporta às duas correntes teóricas constituídas pela psicologia social

clínica e pela psicopatologia do trabalho, e seus desdobramentos elaborados pela

psicodinâmica do trabalho, de um lado, e pela clínica da atividade, de outro”.

Vale esclarecer que Lhuilier (2011), em sua definição acerca das clínicas do trabalho

faz menção apenas à psicodinâmica do trabalho e a clínica da atividade. Isto se dá pela

presença em que essas duas abordagens vem tendo no campo acadêmico, tornando-se

relativamente as mais calcadas em teorias e métodos. Tais linhas teóricas já se estendem no

território brasileiro tendo alguns trabalhos, a psicodinâmica do trabalho (MENDES, 2007;

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34

MENDES; MERLO; MORRONE; FACAS, 2010; MERLO, 2011; MENDES; ARAUJO;

MERLO, 2011; MENDES; ARAUJO, 2012), e o desenvolvimento da clínica da atividade

(OSÓRIO, 2007; LIMA, 2007; TEIXEIRA; BARROS, 2009; OSÓRIO; BARROS;

LOUZADA, 2011).

A seguir serão discutidas as quatro escolas que compõe as clínicas do trabalho – a

psicodinâmica do trabalho, a clínica da atividade, a psicossociologia e a ergologia.

2.1.1.1 Psicodinâmica do Trabalho

A Psicodinâmica do Trabalho, cujo precursor é o pesquisador francês Christophe

Dejours, o qual, vem desenvolvendo seus trabalhos desde a década de 1980. É uma

abordagem teórico-metodológica que averigua os processos de saúde/doença vinculados à

vida laboral, a constituição do sofrimento mental a partir da percepção dos próprios

trabalhadores submergidos no processo de adoecimento. A psicodinâmica do trabalho

examina as vinculações entre o sofrimento e a organização do trabalho à qual está submetido

o trabalhador, analisa também as dinâmicas de constituição de sistemas coletivos, as formas

de exploração do sofrimento psíquico e as defesas psicológicas individuais e coletivas. Seus

principais fundamentos teóricos estão na psicanálise, na ergonomia e na sociologia do

trabalho (MENDES, 2007; MENDES et. al. 2010; MERLO, 2011; MENDES; ARAUJO;

MERLO, 2011; BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011; MENDES; ARAUJO, 2012).

De acordo com Dejours (1992), o objetivo da psicodinâmica do trabalho é observar e

analisar as distintas formas de relação com o trabalho que permitem a emergência de

estratégias coletivas de defesa, mobilizadas pelo trabalhador no confronto com o processo de

trabalho. Todo e qualquer esforço de reflexão introduz ao sofrimento, que é definido como

ocupando um espaço entre a saúde mental e a patologia.

O sofrimento psíquico foi caracterizado como categoria de análise para delimitar um

campo de investigação diferenciado das linhas teóricas que tomam, como objeto privilegiado

de análise, a doença mental. O sofrimento corresponderia a uma vivência subjetiva

intermediária entre doença e a saúde, sendo experimentado, pelo trabalhador, por meio de

sentimentos de insatisfação (relação entre a ergonomia e ao significado do trabalho) e

ansiedade (ARAÚJO, 2011).

O sofrimento pode tornar-se o meio de uma transformação na organização do

trabalho ou gerar um processo de alienação e de conservadorismo. Porém, o segundo caminho

explica-se pelo fato de que, após terem-se desencadeado mecanismos de defesa contra a

Page 35: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

35

organização do trabalho, torna-se penoso tentar uma modificação nessa situação (MERLO,

2002).

A psicodinâmica do trabalho, diferente dos modelos de estresse, da psicossociologia

e da epidemiologia, é uma abordagem inteiramente de natureza qualitativa, buscando em seu

escopo a descrição e interpretação das fontes de prazer e sofrimento no trabalho.

Outra particularidade importante é que a Psicodinâmica do Trabalho visa à

coletividade de trabalho e não aos indivíduos isoladamente. Após diagnosticar o sofrimento

psíquico em situações de trabalho, ela não busca atos terapêuticos individuais, mas

intervenções voltadas para a organização do trabalho à qual os indivíduos estejam submetidos.

A Psicodinâmica do Trabalho tem, também, por referência fundamental, os conceitos

ergonômicos de trabalho prescrito e de trabalho real. É no espaço entre esse prescrito e esse

real que pode ocorrer ou não a sublimação e a construção da identidade no trabalho

(DEJOURS; ABDOUCHELI; JAYET, 2009).

Merlo (2002), destaca outra contribuição da psicodinâmica do trabalho, a sua

abordagem da relação com o prazer que pode existir entre o trabalhador e seu trabalho. Na

realidade concreta e na vivência individual do trabalho, não se encontram apenas sofrimento,

mutilação e morte. A apreensão da maneira como se constituem as duas facetas da

organização do trabalho, isto é, aquelas que são, respectivamente, fonte de sofrimento-prazer,

é indispensável para se tentar uma interpretação mais global dos laços entre trabalho e saúde

e, também, para se procurarem alternativas satisfatórias.

Por outro lado, Araujo (2011, p. 328), critica a abordagem em questão, “com relação

ao papel do trabalho no adoecimento psíquico, não há, na proposição dejouriana, relação

causal entre trabalho e saúde mental”. Lima (2004) contribui afirmando que no seu

entendimento, as doenças mentais necessitam das estruturas de personalidade, adquiridas

muito antes da entrada dos indivíduos no mundo capitalista.

Já as críticas com relação ao método adotado pela psicodinâmica do trabalho acerca

da ostentação no discurso dos trabalhadores, corriqueiro, desconsidera as condições objetivas

inerentes à configuração do trabalho. O trabalho por sua vez, é investigado apenas por meio

da sua vivência subjetiva, portanto, é só parcialmente. Araújo (2011) destaca que alguns

aspectos metodológicos são de difícil empregabilidade, se tratando da realidade onde o Brasil

se insere, como a realização da pesquisa apenas segundo a demanda dos trabalhadores ou as

entrevistas envolvendo o coletivo de trabalhadores.

Porém cabe ressaltar que a metodologia da Psicodinâmica do Trabalho alcançou os

pesquisadores e técnicos brasileiros que atuam na área da Saúde do Trabalhador (psicólogos,

Page 36: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

36

administradores, médicos do trabalho, fisioterapeutas, engenheiros de segurança, etc). E esta

abordagem dejuriana, em sua caminhada conseguiu preencher lacunas epistemológicas

existentes no campo do sofrimento psíquico no trabalho, tais evidências são encontradas nos

estudos brasileiros, já citados.

2.1.1.2 Clínica da Atividade

A clínica da atividade aborda o problema da subjetividade no trabalho situando-se na

intersecção da tradição da ergonomia francesa com a tradição em psicopatologia do trabalho.

Recebendo influências da corrente histórico-cultural em psicologia e em linguística, entre

Bakhtin, Leotiev e Vygostski. O seu surgimento aconteceu na década de 1990 como

abordagem teórica, tendo como propositores Yves Clot e Daniel Faïta (CLOT, 2001;

BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011; LHUILIER, 2011).

Para a clínica da atividade o trabalho é compreendido não somente como trabalho

psíquico, porém sendo uma atividade concreta e irredutível. Enfatizando, a atividade é o

continente escondido da subjetividade no trabalho. Já sobre o sofrimento, a clínica da

atividade tem uma postura diferenciada da psicodinâmica do trabalho. “O sofrimento é uma

atividade contrariada, um desenvolvimento impedido. É uma amputação do poder de agir”

(CLOT, 2001, p. 05). Ainda acerca do sofrimento no trabalho, a clínica da atividade esclarece

que a proporção em que o trabalho se mostra preocupante por conta do surgimento de doenças

de cunho ocupacional, ele se torna invariavelmente vital para a saúde do ser (CLOT, 2011).

A proposta da abordagem em debate é estudar o trabalho adotando a metodologia

que busca desvendar o desenvolvimento do poder real do agir dos trabalhadores nos meios de

trabalho, compreender o real como uma prova e não como um modelo. Assim, a clínica da

atividade se utiliza de dois métodos: os das instruções ao sósia e o da autoconfrontação

cruzada (CLOT, 2006).

A autoconfrontação por sua vez, é a abordagem que articula uma atividade dirigida

privilegiando o diálogo, podendo ser simples ou cruzada. Na autoconfrontação simples, o

trabalhador é levado a delinear a situação de seu trabalho para o pesquisador, por meio de um

vídeo que contém a gravação dessa situação. Neste período ambos analisam o trabalho

apresentado. Na autoconfrontação cruzada, retoma-se a análise em comum da mesma

gravação em vídeo com um outro especialista da área de trabalho, como um colega de

trabalho, com o mesmo nível de especialização (CLOT, 2006).

Page 37: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

37

Não se distanciando da verbalização da atividade e a pesquisa como instrumento de

intervenção, contudo pensando num meio mais acometido de autoconfrontação, que recorra

ao desenvolvimento da experiência profissional, em vez de registros da experiência em vídeo,

e que leve o cientista da posição de protagonista da investigação para que a atividade seja

dirigida pelo trabalhador, surge a instrução ao sósia (CLOT, 2006; OSÓRIO; BARROS;

LOUZADA, 2011).

Osório, Barros, e Louzada (2011), enfatizam que a formulação representacional é

incapaz para dar conta da questão metodológica envolvida na investigação da experiência do

trabalho, uma vez que em tal direção investigada pode ocorrer, não toda, uma

sobrecodificação arriscada da atividade estudada. Por sua vez, mostram que sua simples

inversão não é suficiente. Na investigação do labor o protagonismo da investigação depende

do protagonismo conjunto do pesquisador com o que está sendo investigado.

Os métodos desenvolvidos por esta abordagem, têm como intuito buscar vivenciar

circunstâncias acometidas no processo de trabalho. Esta característica advém do pensamento

enraizado nas clínicas do trabalho, buscando sempre alcançar seus resultados por meio de

abordagens inteiramente qualitativas, esquecendo por vezes da parte objetiva, sendo este um

ponto a ser amadurecido na escola da Clínica da Atividade.

2.1.1.3 Ergologia

A ergologia tem seu alicerce, principalmente, na filosofia da vida de Canguilhem e

na ergonomia da atividade de Wisner. Esta abordagem tem como baseamento o projeto de

melhor avaliar o trabalho para intervir e transformá-lo, almejando analisar a atividade humana

em todas as suas dimensões (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011).

O vocábulo “ergo” vem do grego e remete a atividade. Schwartz, o filósofo francês

sugere a abordagem ergológica, juntamente de seu dispositivo dinâmico de três polos para

repensar a produção de conhecimento sobre o trabalho. Estruturado como polo conceitual

(polo A), onde esta linha teórica procura relacionar dialeticamente os produtos das diferentes

disciplinas, já a visão dos saberes e valores oriundos da experiência dos trabalhadores podem

ser visto no polo das forças de convocação e de reconvocação (polo B). E o terceiro deles é o

polo das exigências éticas e epistemológicas, que faz a articulação dos dois outros, se

amparando numa visão humanística e de construção solidária (polo C) (SCHWARTZ, 2000).

Esta explanação pode ser vista na figura 1, elaborada por Fígaro (2008).

Page 38: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

38

Figura 1. Dispositivo dinâmico de três polos

Fonte: Fígaro (2008).

Os pesquisadores Athayde e Brito (2011, p. 258), discutindo o regime de produção

de saberes e transformações, denominado de dispositivos dinâmicos de três polos, vêm

esclarecer que: “trata-se de uma postura não só epistemológica. Tem a perspectiva de abrir ao

máximo o ângulo sobre todas as dimensões da atividade humana (matriz do viver), ao mesmo

tempo analisando-se à lupa”. Ainda para os autores citados acima, eles classificam a ergologia

como não sendo uma nova disciplina, ou uma nova abordagem no campo das clínicas do

trabalho.

Fígaro (2008) se refere à Ergologia como uma linha teórica capaz de problematizar a

complexidade da atividade humana e assinalar os diferentes fatores pertinentes a ela.

Descreve também que ela sugere uma postura epistemológica que coloca, em articulação, os

conceitos das disciplinas científicas (abstratos, não-aderentes) com os conceitos da

experiência (da vida, aderentes), ou seja, propõe-se a se aproximar desse mundo complexo

que é o homem e sua atividade de trabalho.

Schwartz (2000) considera que a análise do trabalho é inseparável do campo

epistemológico, dos valores e da ética e que o encontro entre os saberes científico e prático,

imprevisível, resulta sempre em algo inovador.

A linha teórica proposta por Schwartz e Durrive (2007) assegura que, quando o

trabalhador se depara no trabalho, ele necessita fazer “uso de si”, ou seja, uso de suas próprias

capacidades, de seus próprios recursos e de suas próprias escolhas para realizar o trabalho,

pois toda situação de trabalho é lugar de uma “dramática” subjetiva, um destino a ser vivido,

onde se negociam circunstâncias pessoais, históricas por meio do “corpo-si” do trabalhador.

Page 39: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

39

Os autores em questão pontuam que é por intercessão do seu “corpo-si”, entidade mais

enigmática que a definição de sujeito e subjetividade, que o trabalhador deixa de ser

objetivado pelo trabalho e realiza sua atividade através do “uso de si”. O “corpo-si” do

trabalhador não é inteiramente biológico nem muito menos consciente ou cultural, mas sim, a

totalidade de sua história, sua experiência de vida, suas paixões, seus desejos e patrimônio. É

realizar escolhas para fazer valer suas próprias normas de vida, brotando formas de “des-

anonimar” o meio.

Hennington (2008) relata que a ergologia ao abordar o trabalho desenvolveu e

aprofundou o conceito de “atividade” vindo da ergonomia que em seus estudos a respeito da

defasagem entre “trabalho prescrito” e “trabalho real” corroborou para o pensamento existente

sobre a singularidade no trabalho efetivamente realizado. Neste modo, a “atividade” exprime

o trabalho realizado, o que inclui normas antecedentes, objetivos e também

ressingularizações, e se traduz num jogo de reciprocidades entre o dizer e o fazer, que são

dimensões essenciais da atividade humana “trabalho”.

Afora a discussão sobre o exercício de se trabalhar, a ergologia mostra-se preocupada

com constructos que permeiam a saúde ocupacional. Para a ergologia a doença manifestar-se

no período em que as mudanças do meio questionarem as normas da vida, sem que o vivente

consiga tolerar essas alterações (CANGUILHEN, 2006).

O estado patológico ou atípico não é a decorrência da ausência de qualquer norma. A

doença é ainda uma norma de vida, entretanto é uma norma inferior, no sentido que não tolera

nenhum desvio das condições em que é válida, por ser incapaz de se transformar em outra

norma. O ser vivo doente está normalizado em condições bem definidas e perdeu a

capacidade normativa, a capacidade de instituir normas diferentes em condições diferentes

(CANGUILHEN, 2006).

Schwartz (2000) e Dejours (2005), consideram o trabalhar, a luta pela saúde, o

permanente movimento e o caráter sempre enigmático. Não diferente da psicodinâmica do

trabalho, a ergologia vem mostrado em suas formas de pesquisa-intervenção, os limites dos

métodos segundo as quais os trabalhadores recebem passivamente os impactos das condições

e organização do trabalho (GUÉRIN; LAVILLE; DANIELLOU; DURAFFOURG;

KERGUELEN, 2001).

Diante deste quadro, a crítica recai acerca do método empregado na forma de

ostentação no discurso dos trabalhadores, desconsiderando as condições objetivas inerentes à

configuração do trabalho, sabido que, acionados como informantes, os sujeitos pesquisados

Page 40: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

40

podem apenas reproduzir o discurso e descrever as tarefas prescritas, não admitindo a

compreensão do trabalho efetivamente realizado.

Podendo aqui explanar a grande contribuição da ergologia em apresentar de maneira

clara e consistente a defasagem entre trabalho prescrito e trabalho real, da discussão acerca da

questão da inteligência que é introduzida em ação no trabalho e, por fim, demonstrar que é o

trabalho que produz a inteligência e não o contrário.

2.1.1.4 Psicologia Social Clínica

A abordagem teórica aqui empreendida pode ser denominada como sociologia

clínica, ou até mesmo, psicossociologia. A Psicologia Social Clínica tem como proposta

contribuir para compreensão dos processos grupais, trazendo em seu escopo, importantes

dispositivos de análise da mudança social. Esta abordagem averigua “as reciprocidades entre

o individual e o coletivo, o psíquico e o social” (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p. 11).

Lhuilier (2011) vem contribuir pontuando que tal linha teórica não pode se diluir em

uma psicologia clínica que seria forçosamente social. Sabido que não existe sujeito fora do

social, porém, a psicologia social de raízes francesas está menos centralizada no indivíduo do

que nas interações nas quais ele se insere e para as quais colabora.

Uma dos subsídios desta abordagem está na compreensão das instituições, definindo

como “um conjunto de signos e de símbolos, de representações e de regras, produto das

práticas das relações humanas” (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011, p. 11).

Para Bendassolli e Soboll (2011), uma das contribuições trazidas pela abordagem

aqui discutida está na definição de “organização”, onde estão inclusos os elementos técnicos e

normativos, além das dimensões – simbólica e imaginária. Já Lhuilier (2011, p. 28), vem

advogar afirmando que, “a noção de organização designa um conjunto estruturado de papéis,

de relações de poder, de normas, estabelecido para responder os objetivos de produção de

bens e de serviços”. Mas a autora em questão aponta que uma organização pode ser vista

como a colocação conjunta de recursos individuais contendo a realização de uma ação

coletiva.

A psicologia social clínica elege como objetos as relações interpessoais, os grupos, a

instituição e a organização. O “grupo”, por muitas vezes foi um objeto de experimentações e

experiências. Já o método de pesquisa-ação utilizado por Elton Mayo nas oficinas da Western

Electric Company tornou-se referência central para corrente teórica em questão, por analisar

Page 41: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

41

as dinâmicas coletivas na ambiente industrial, além de ser referência para o movimento das

relações humanas (LHUILIER, 2011).

Se remetendo a discussão acerca do objetivo da psicologia social clínica, as

pesquisadoras, Carreteiro e Barros (2011), afirmam que não há um objeto próprio. Mas as

demandas que lhe são encaminhadas, almejando transformações sociais, priorizando a relação

entre indivíduo e sociedade e convoca desse modo a conexão entre diversas disciplinas. Vale

ressaltar que a presente abordagem tem sofrido transformações, estas modificações podem ser

vistas em suas influências teóricas, nas análises de seus objetos de estudo.

No breve apanhado acerca das questões relacionadas ao adoecimento no trabalho,

Carreteiro e Barros (2011), assinalam que o campo de pesquisa e intervenção

psicossociológica é um campo privilegiado, onde as pesquisas nesta área realizam um diálogo

profícuo com esta disciplina, mostrando seu caráter interdisciplinar, clínico e plural.

Das clínicas do trabalho, a psicossociologia se classifica como relativamente nova,

perante as outras escolas pertencentes às clínicas. Em seu esboço como abordagem teórica,

pode ser observada a ausência de referências acerca da atividade, ao trabalho concreto.

Porém se pode concluir esta discussão, afirmando que o maior resultado da pesquisa

para a psicologia social clínica, é a demonstração de que o indivíduo reage às condições

concretas do meio não como elas são, mas tal com ele as conhece, e que o modo como eles as

experimenta depende em grande parte das normas e do clima do grupo no qual ele trabalha ou

vive, e de seu grau de pertencimento a este grupo (ANZIEU; MARTIN, 1979 apud

LHUILIER, 2011).

Para finalizar a discussão acerca das clínicas do trabalho, cabe ressaltar que em seus

traços primários, as clínicas do trabalho amparam a centralidade psíquica e social do trabalho,

onde suas averiguações se destinam a compreender as ascendências e as manifestações do

sofrimento, além de compreender e subsidiar os processos de resistência e de superação por

parte dos coletivos de trabalho (BENDASSOLLI; SOBOLL, 2011).

Assim, se conclui o debate sobre as clínicas do trabalho, aperfeiçoando este conceito

com mais um: transformar para compreender. Compreender as ligações entre o real e o

concretizado. Compreender em que situações a experiência vivenciada pode ser ou torna a ser

um meio de construir outras histórias.

Page 42: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

42

2.1.2 TEORIAS DO ESTRESSE

O termo “estresse” teve seu apogeu em meio às ciências físicas, onde o sentido

atribuído a esta palavra estava na mensuração da tensão que uma estrutura tinha sobre uma

viga, fato ocorrido dentre o século XVII (HINKLE, 1974). Os pesquisadores Lazarus e

Lazarus (1994), esclarecem que o estresse, fato em questão, era utilizado apenas pela

literatura inglesa. A partir daí, surge pela primeira vez o uso da palavra estresse expressando o

complexo fenômeno composto de tensão-angústia-desconforto tão característico da sociedade

atual (LIPP, 2003).

Sabido que foi no início do século XX que o termo estresse se tornou um conceito

heurístico (LIPP, 2003; CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004). As observações

trazidas foram feitas pelo um estudante de medicina, Hans Selye começou a ganhar atenção

diante da comunidade médica. Como bem traz Lipp (2003, p. 17):

o que lhe chamou a atenção foi à identificação de um conjunto de reações não

específicas, semelhantes, nos pacientes frente a situações que lhes haviam causado

angústia e tristeza. Ele, em 1926, chamou este conjunto de reações de “síndrome

geral de adaptação” ou “síndrome do stress biológico”, comumente conhecida

também como “síndrome do simplesmente estar doente”. Em 1936, já um

endocrinologista conhecido, Hans Selye sugeriu o uso da palavra stress para definir

esta síndrome produzida por vários agentes aversivos.

Vale salientar que, diante da presente discussão que Cannon, em 1914, se utilizou do

vocábulo para definir uma reação do organismo a uma situação de “fuga ou luta”, uma

emergência. (JAMIR et. al., 2004).

Em seus experimentos Selye (1965), detectou dois tipos de estresse: o eustress e o

distress. O eustress está relacionado ao lado positivo e agradável, ou seja, é o lado construtivo

do estresse. Por outro lado, o distress são todas as reações negativas e prejudiciais ao

indivíduo causadoras de muitas doenças relacionadas ao estresse. O distress pode ser agudo

(quando é intenso, mas por um breve período de tempo) ou crônico (quando não é tão intenso,

mas ocorreu repetidamente ou constantemente). Para que possa existir realização pessoal, é

necessário que todas as energias concentrem-se no estresse (LIPP, 1996).

Outro descobrimento do pesquisador em questão no ano de 1954 foi os três níveis

diferentes de manifestação do estresse. A primeira delas é a fase de alerta, na qual existe uma

excitação do sistema nervoso simpático. A segunda é denominada de fase de resistência, este

momento é caracterizado pela liberação do hormônio corticosteroide cortisol e a terceira e

última é a fase de exaustão, esta surgem às doenças decorrentes da incapacitação do sistema

imunológico (LIPP, 1996; LIPP, 2003; JAMIR et. al., 2004).

Page 43: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

43

Lipp (2000), na padronização do Inventário de Sintomas de Stress para Adultos a

pesquisadora detectou outra fase, entre a fase de resistência e a de exaustão, denominando de

quase-exaustão. A presente fase é caracterizada por um enfraquecimento da pessoa que não

mais está conseguindo se adaptar ou resistir ao estressor.

Segundo Selye (1965), o estresse é um processo vital e fundamental onde pode ser

dividido em dois tipos, ou seja, quando passamos por mudanças boas, temos estresse positivo

e quando atravessamos alguma fase negativa, estamos vivenciando o estresse negativo.

França e Rodrigues (1997) conceituam estresse como uma relação particular entre

uma pessoa, seu ambiente e as circunstâncias as quais está submetido, que é avaliada pela

pessoa como uma ameaça ou algo que exige dela mais que suas próprias habilidades ou

recursos e que põe em perigo os eu bem-estar.

Já para Lipp (1996, p. 64) o estresse é definido como:

uma reação do organismo, componentes físicos e/ou psicológicos, causadas pelas

alterações psicofisiológicas que ocorrem quando uma pessoa se confronta com uma

situação que, de um modo ou de outro, a irrite, amedronte, excite, confunda ou

mesmo que a faça imensamente feliz.

Desta maneira, o estresse é compreendido como a reação ante as demandas

sociopsicológicas e não, estado intermediário entre a saúde e a doença. Passando a ser um

possível indicador das consequências do trabalho sobre o trabalhador (LIPP, 1996; MURTA;

TRÓCCOLI, 2004; CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004; ARAUJO, 2008).

Os estudos acerca do estresse no trabalho têm como característica a busca para a

identificação das condições e características do trabalho que levam ao estresse e

identificações de estressores. No campo da psicologia e da administração são investigados os

mal-estares psicológicos. Já a respeito da metodologia, os estudos segue uma tradição

quantitativa, onde existe um número considerável de instrumentos que podem ser utilizados

para mensurar e detectar o estresse (CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES, 2004).

Outro desfecho importante para as teorias do estresse é a sua contribuição para o

campo da saúde e trabalho, trazendo suas influências para os estudos da epidemiologia e

psicologia. Mas as críticas a esta abordagem referem-se à precária especificidade do termo e

seu uso corriqueiro para designar uma gama extremamente variada de situações (ARAÚJO,

2011).

Diante da discussão já feita, pode-se afirmar que o estresse está inserido no cerne da

vida humana, ainda, pelas exigências da sociedade contemporânea, estando clara sua presença

em todos os contextos de trabalho. Sendo assim, relevante o reconhecimento dos agentes

Page 44: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

44

estressores ao trabalhador para que sejam empregados de maneira a aguçar o desempenho e a

satisfação sem facilitar o desencadeamento dos aspectos negativos do processo de estresse.

2.1.3 ABORDAGEM EPIDEMIOLÓGICA

A epidemiologia adveio do campo da medicina, identificada com as doenças infecto-

transmissíveis. Sua afinidade com o chamado hoje campo da saúde do trabalhador se faz a

partir da obra de Ramazzini, publicada em 1700 – a primeira publicação sistematizada sobre

os efeitos do trabalho nos processos de adoecimento dos trabalhadores. Nos trabalhos

epidemiológicos, somente a partir da 2ª Guerra Mundial é que a concepção multicausal tem se

mostrado como marco explicativo predominante em substituição ao paradigma monocausal.

Tal substituição foi um dos elementos primordiais para a aplicação da epidemiologia no

campo da saúde/doença mental (JACQUES, 2003).

Sampaio e Messias (2002) identificam duas grandes influências que são as escolas

epidemiológicas: a russo/anglo-saxã e a franco/latino-americana, esta última amparada no modelo da

determinação social da doença e nos denominadores comuns da dialética.

A corrente teórica de estudos epidemiológicos que discutem a saúde mental e

trabalho no Brasil teve seu inicio na década de 1980, porém a proliferação desta abordagem

em meados a década de 1990. Araújo (2011), aponta que em sua grande parte o estudos desta

natureza a Saúde Pública e/ou Saúde Coletiva e isso se deu por meio dos cursos de pós-

graduação stricto sensu (ARAÚJO, 2011).

Para Codo, Sampaio e Hitomi (1993), afirma que a Epidemiologia é a abordagem

que estuda distribuição, determinação e modos de expressão do processo saúde/doença,

serializando e hierarquizando valores (que permitem diferentes possibilidades de saúde e

sobrevivência) e contravalores (que permitem diferentes possibilidades de doença e morte),

em relação a período histórico e população significativa.

Já Sampaio e Messias (2002, p. 147), conceituam como:

ciência social, prática, aplicada, que estuda a distribuição, determinação e modos de

expressão, para fins de planejamento, prevenção e produção de conhecimento, de

qualquer elemento do processo saúde/doença em relação a população qualificada

nos elementos sócio-econômico-culturais que a possam tornar estruturalmente

heterogênea

Mais tarde Codo (2004) diz que a abordagem epidemiológica em saúde mental é

sucessora da lógica de epidemiologia geral, que tem como preocupação primaria à produção

Page 45: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

45

de conhecimentos sobre o processo de saúde-doença, o planejamento de ações de política de

saúde e a prevenção de doenças.

Outra característica da corrente teórica em questão e o uso de métodos quantitativos

e das ferramentas epidemiológicas para a produção de evidências empíricas. Salientando que

a grande parte das pesquisas neste campo tem sido conduzida com base em demandas

sindicais, buscando melhorias nas condições de trabalho (ARAÚJO, 2011).

Codo (2004) e outros pesquisadores, no Brasil, procuram alcançar a promessa que

Dejours não conseguiu, de realizar uma psicopatologia do trabalho. Eles buscam a

psicopatologia do trabalho, assim como Dejours, por meio dos trabalhos de Le Guillant,

empregando-se da epidemiologia do trabalho.

Para Codo, Soratto e Vasquez-Menezes (2004, p. 289):

Faz-se necessária uma metodologia de investigação que permita identificar os

efeitos do trabalho sobre a saúde mental, tendo como pressuposto a multicausalidade

e a percepção de um homem sócio-histórico, na qual fatores econômicos e sociais,

além dos individuais, façam parte da investigação. A metodologia de investigação

deve ser interdisciplinar, deve reconstruir a totalidade significativa e resgatar a

história.

Como metodologia, é sugerido o emprego de instrumentos de medida das condições

de trabalho e saúde mental dos trabalhadores (incluindo 13 escalas de trabalho, 7 escalas

clínicas – depressão, histeria, paranóia, mania, esquizofrenia, desvio psicopático e obsessão –

e 1 escala de alcoolismo), um protocolo de observação do trabalho e análise de tarefas e

entrevistas qualitativas de aprofundamento. Esta proposta preconiza a utilização de

abordagens qualitativas e quantitativas (JACQUES, 2003; CODO; SORATTO; VASQUEZ-

MENEZES, 2004).

A utilização de abordagens de cunho tanto quantitativas como qualitativas tem

tradição nos estudos de Le Guillant, sendo um dos pioneiros nos estudos sobre os vínculos

entre saúde/doença mental e trabalho. Trata-se de uma abordagem que qualifica como

“pluridimensional” em que recorre na busca de informações, a todos os instrumentos

disponíveis: observações, questionários, entrevistas, fontes documentais, dados estatísticos

variados, entre outros (LIMA, 2002).

O desdobramento entre o subjetivo e o objetivo estão presentes nas pesquisas de Le

Guillant e nos de Codo, no Brasil. O relato do caso de Madame L., paciente de Le Guillant na

década de 50, é considerado pelos analistas um exemplo do sucesso do autor na articulação

dessas duas instâncias (LIMA, 2002).

Page 46: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

46

Codo (2002, p. 185), defende que este método de investigação, “com seus avanços e

recuos, foi responsável pela descoberta da síndrome do trabalho vazio entre bancários,

paranóia entre digitadores, histeria em trabalhadores de creches e burnout em educadores”.

Uma crítica feita por Araújo (2011) a presente abordagem está na multiplicidade de

instrumentos de mensuração empregados, dificultando a comparação entre os estudos. O autor

em questão complementa afirmando que a avaliação da relação entre trabalho e adoecimento

psíquico nos limites apenas dos testes de significância estatística, como se tem visto, muitas

vezes não é capaz de identificar, com satisfação, a complexidade e s inter-relação entre

diferentes dimensões da vida no exercício de se trabalhar, tornando as conclusões muitas

vezes equivocadas ou apenas parciais.

Para desfecho cabe ressalta que o trabalho é tão complexo, tão fascinante e tão

intrínseco como qualquer outra ação humana. Não é apenas o número de horas traçadas nos

dois momentos que bate-se o cartão de ponto, não é o salário que ganha-se em troca de gestos

feito durante a jornada. Não é o emprego (CODO; SORATTO; VASQUEZ-MENEZES,

2004).

2.1.4 PSICOSSOCIOLOGIA

A abordagem psicossociológica constitui o reconhecimento de que o trabalho cumpre

um papel estruturante no processo de constituição dos sujeitos e da sociedade. Esse

pressuposto se ampara nos achados de Marx (1996), ao afirmar que ao agir sobre a natureza, o

homem a modifica e também a si próprio. Esse entendimento genérico de homem toma o

trabalho como um fator de identificação social, de bem-estar psicológico e também como

fonte de realização. Por meio dele o sujeito desenvolve suas potencialidades e capacidades

criadoras para produzir e dar sua contribuição social. Assim, o trabalho é aceito como

elemento fundamental na própria condição humana, deste modo, não há como descartá-lo na

hora de compreender o bem-estar psicológico das pessoas (PAIVA, 2005; BARBOSA, 2008).

Georgudi e Rosnow (1985, apud ÁLVARO, 1995), afirma que a tênue entre

variáveis é dialético e todo fenômeno psicossocial é histórico. Consisti desta forma que todo

fenômeno sócio histórico, não se pode explicá-lo isoladamente, no entanto pelas relações que

se tem com outros contextos – social, econômico, etc. – e que lhe dão significado num dado

momento.

Page 47: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

47

Acolher uma perspectiva psicossociológica alude admitir uma visão de mundo

amparada pelo pensamento de que os fenômenos psicossociais estão inseridos dentro de um

contexto socioeconômico e cultural. Desta maneira o pesquisador deve considerar o caráter

interdisciplinar dos fenômenos na hora de examina-los e para isso necessita ultrapassar o

próprio campo de conhecimento, buscando outras fontes de informação e outras perspectivas

de análises (BORGES; BARBOSA; CHAVES; ANDRADE, 2007).

E como bem explana Barbosa (2008), o entendimento científico não se almeja

absoluto. Este ocorrido se dá porque a ciência é tão só um ponto de vista sobre o real ou, dito

de outro modo, um processo em constante construção, cuja coerência da verdade é explicada

em termos probabilísticos. Essa noção probabilística de ciência supõe que as problemáticas de

estudo são inesgotáveis, portanto, atingir os objetivos de pesquisa não significa descobrir a

verdade, e sim fomentar a melhor resposta possível a partir dos dados disponíveis, sendo tais

respostas sempre passíveis de contestação porque não se esgotam nas fronteiras do que já foi

revelado. Diante de tais princípios, adota-se a relevância social na produção do conhecimento

pautada em explanações que estão abertas a novas formas de sentidos e a um conhecimento

que não separa pesquisador e objeto.

Esta pesquisa está galgada na perspectiva psicossociológica, resumida a partir dos

trabalhos de Borges (1998), Álvaro e Garrido (2003), Paiva (2005), Borges e Barbosa (2007)

e Barbosa (2008): em que a grande parte dos fenômenos psicossociais é multidimensional e

multideterminado, o que demanda um olhar interdisciplinar, segundo a afinidade entre SM&T

determina que se profiram diversos níveis de análises (individual, interpessoal, grupal,

organizacional e/ou institucional e societal).

Todavia, as investigações dos pesquisadores citados acima tiveram como finalidade à

caracterização da saúde mental dos trabalhadores, distanciando-se assim da proposta trazida

por esta dissertação, onde se busca a relação existente entre as Deteriorações Menores em

Saúde Mental e a Síndrome de Burnout, Cabe aqui evidenciar também, o dilema existente na

adoção de um conceito acerca da saúde mental, consequência atribuída pela multiplicidade

dos conceitos existentes. Dentre estes, surgiu a ideia de transtornos psíquicos leves ou não-

psicóticos (GOLDBERG; HUXLEY, 1992; BORGES; ARGOLO, 2002).

Mediante a esta altercação cabe evidenciar que a expressão transtorno mental comum

provem da definição trazida por Goldberg e Huxley (1992), a qual está relacionada à presença

de sintomas como insônia, fadiga, irritabilidade, esquecimento, dificuldade de concentração e

queixas somáticas, com intensidade ainda insuficiente para caracterizar um transtorno mental

específico.

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48

Quanto à terminologia, podem ser pontuados como Transtornos Depressivos

Menores, Transtornos Mentais Menores, Morbidade Psiquiátrica Menor, Problemas

Psiquiátricos Menores e Distúrbios Psíquicos Menores (SILVA, 2008; TAVARES, 2010;

TITO, 2013), entretanto, para esta dissertação preferiu-se a empregabilidade do termo

Deteriorações Menores em Saúde Mental, causa esta, derivada pela formulação resumida do

QSG-12 instrumento desenvolvido por Goldberg em 1972 e utilizado neste estudo, na

identificação dos transtornos mentais leves, sendo pontuados por dois fatores – Depressão e

Tensão Emocional e Redução da Auto-Eficácia.

Afora, foi-se necessário articular uma discussão sobre a saúde mental no trabalho

para se chegar a este fenômeno aqui também empreendido – Síndrome de Burnout – portanto,

será apresentado adiante um breve passeio sobre a literatura à luz deste constructo.

Esclarecendo que autores como Veja, Pérez e Amador (2003), pontuam que, nas últimas

décadas, o burnout tem se convergido em um dos temas mais discutidos dentro das

investigações cientificas sobre SM&T.

2.2 SÍNDROME DE BURNOUT

A terminologia “Burn out” foi acrescida no mundo acadêmico através do trabalho

realizado por Brandlay (1969 apud Benevides-Pereira, 2003). Já em 1974 nos Estados

Unidos, Freudenberger realizara estudos para retratar a conjuntura física e mental dos

trabalhadores de uma clínica de desintoxicação. Analisou-se que no decorrer de suas

atividades ocupacionais, esses trabalhadores se sentiam esgotados, irritados e desencadeavam,

também, uma atitude cínica em relação aos seus pacientes (BUENDÍA, 1998).

Mas alguns achados literários mostraram que o presente fenômeno já havia sido

mencionado anteriormente nos ensaios de romance de William Shakespeare, publicado em

1599 (SCHAUFELI; ENZMANN, 1998, p. 2). A expressão “burn out” também estava

presente nas ruas de subúrbios americanos como jargão, referindo-se aos consumidores de

drogas (BENEVIDES-PEREIRA, 2003).

Porém, no cenário acadêmico a origem do termo “burnout” sucede de uma conversa

informal entre a psicóloga e pesquisadora Christina Maslach e um advogado. Após dar início

a alguns estudos na área médica e apanhar algumas ideias referentes às relações de trabalhos,

Maslach sujeitou suas ideias em relação à preocupação que tinha sobre as estratégias

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49

cognitivas de descomprometimento e autodefesa por meio da desumanização a um advogado

e este lhe disse que os advogados das pessoas mais pobres chamavam essa situação de

esgotamento. A partir desse momento a pesquisadora encontrou não só que a situação que

estava estudando tinha um nome como também acontecia em outras áreas do conhecimento.

Descobriu, então, que trabalhar com outras pessoas era o coração do fenômeno burnout,

verificando, portanto, que tal síndrome acontece, sobretudo com as pessoas que trabalham em

contato com outras pessoas. (CHIMINAZZO, 2005).

De acordo com Cadiz et. al. (1997), a demarcação de burnout não incide de uma

teoria preexistente, entretanto de anos de investigação empírica por meio de entrevistas,

pesquisas e observações diretas de trabalhadores de uma ampla variedade de profissões

caracterizadas pelo trabalho com pessoas.

Na Espanha, não diferente dos Estados Unidos, o termo foi utilizado para descrever

uma sensação de estar-se “consumido” ou “queimando”, como uma forma de expressar o

sentido de perda da esperança atribuída ao trabalho ou qualquer esforço destinado a fazer bem

as tarefas é inútil (PÉREZ, 1997).

Na academia brasileira a definição mais usada para descrever a síndrome é a de

Maslach & Jackson (1986), em que o burnout (Síndrome do Esgotamento) é acenado como

uma síndrome multidimensional constituída por exaustão emocional, desumanização, tida

também como despersonalização e/ou cinismo. E a outra dimensão é a decepção no trabalho,

esta por sua vez, é caracterizada pela falta de realização pessoal.1 Rodriguez-Marin (1995)

ilustra ainda que, além de definir burnout como uma síndrome que se manifesta pelo

esgotamento emocional, a desumanização e a decepção no trabalho, é considerada como um

tipo peculiar de mecanismo de copping e autoproteção frente ao estressor, suscitado por meio

das relações profissional-cliente e na relação profissional-organização.

Benevides-Pereira (2003) afirma que alguns autores ainda optam pela utilização do

termo estresse, contudo, para diferenciá-lo de Burnout, nomeiam de estresse ocupacional.

Desta maneira, explicitam o estresse corriqueiro no campo do trabalho, em atividades

profissionais, em especial aquelas em que o contato com o outro, o usuário do trabalho, é

muito próximo. Neste campo, o Burnout também é denominado de estresse ocupacional

assistencial, ou ainda estresse laboral, designando uma síndrome que acontece

especificamente na conjuntura do trabalho.

1 Para esta dissertação, deu-se a preferência em empregar os termos desumanização e decepção no trabalho

devido à terminologia conferida a estas dimensões pelos autores da Escala de Caracterização do Burnout

(Tamayo; Tróccoli, 2009), utilizada para avaliar a síndrome de burnout na amostra.

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50

Para que se possa observar o Burnout como um processo é importante distingui-lo do

estresse, que embora exista forte semelhança entre tais fenômenos, têm seus construtos

divergentes. Na medida em que o Burnout é acatado a intensificação da sintomatologia

própria de estresse laboral, é a relação temporal que o diferencia do estresse, ou ainda quando

os métodos de enfrentamento empregados pelo profissional são insuficientes. Ainda mais, a

base da síndrome se origina na tensão emocional e nos recursos que o indivíduo emprega para

encarar o processo nas inter-relações nas quais convive no espaço de trabalho. O Burnout

ainda se distancia do estresse por seu aspecto negativo, crônico e inadaptado. Por fim, o

Burnout é a etapa final das progressivas tentativas mal sucedidas do sujeito em lidar com o

estresse decorrente de condições de trabalho negativas (CARLOTTO; GOBBI, 1999,

CARLOTTO, 2011).

Neves (2012), bem coloca que no cenário nacional a primeira publicação sobre a

temática data de 1987, e foi realizada pelo médico cardiologista Hudson França, na Revista

Brasileira de Medicina. Na década de 90 apareceram às primeiras teses, e em escoltada outras

publicações começaram a aparecer, alertando alguns profissionais sobre este tema.

O burnout é reconhecido no Brasil como uma doença ocupacional, sendo

identificado como “Sensação de Estar Acabado” (Síndrome de Burn-Out, Síndrome do

Esgotamento Profissional) No Anexo II – que trata dos Agentes Patogênicos causadores de

Doenças Profissionais – do Decreto nº3048/99 de 6 de maio de 1996 – que dispõe sobre a

Regulamentação da Previdência Social –, conforme previsto no Art.20 da Lei nº 8.213/91, ao

se referir aos transtornos mentais e do comportamento relacionado com o trabalho (Grupo V

da CID-10), o inciso XII aponta a Sensação de Estar Acabado (Z73.0) (BRASIL, 1999).

Para Tamayo (2008), a implementação de políticas nacionais de prevenção e de

medidas de intervenção ainda permanece muito aquém do esperado. Isto se torna preocupante

visto que o advento do surgimento do Esgotamento Profissional pode ser associado a uma

série de reações negativas, como insatisfação com o emprego, diminuição do

comprometimento no trabalho, absenteísmo, intenção de sair e a rotatividade.

A Síndrome de Burnout é discutida por cinco abordagens, sendo a clínica, social-

psicológica, organizacional e social-histórica, como bem coloca Carlotto (2001) e Leite

(2007).

a) Clínica – tem como precursor Herbert Freudenberger, por relacionar seus

estudos à etiologia, sintomas, evolução clínica e ao tratamento da síndrome.

Considerava que o profissional, ao se sentir exausto, já não conseguia preocupar-

se com as necessidades do indivíduo que o procurava.

Page 51: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

51

b) A Social-psicológica – Christina Maslach identifica no ambiente de trabalho

características básicas da síndrome. Relaciona o estresse ao papel que o indivíduo

desempenha em seu trabalho;

c) A Organizacional – considera as definições dos autores mencionados

anteriormente, ampliando o modelo social-psicológico considerando afinidades

organizacionais como geradoras de Burnout (CHERNISS, 1980 apud

CARLOTTO, 2001);

d) A Social-histórica – tendo a ideia de que o impacto da sociedade pode determinar

a síndrome bem mais que as relações individuais e/ou organizacionais; e

e) A Psicologia do Trabalho – Apoia-se no referencial teórico da Psicologia do

Trabalho fundamentada em Marx e Leontiev, foi desenvolvida por Codo e

colaboradores no Laboratório de Psicologia do Trabalho da UnB e tem como

base pesquisa nacional realizada com trabalhadores em educação no período de

1996-1998.

A síndrome de acordo com Silva (2008) na descrição de Freudenberger haveria uma

fase inicial de entusiasmo, alta expectativas e idealização, passando para uma fase de paralisia

e depois de frustração, na qual seria questionada a utilidade do trabalho, destacando-se todas

as dificuldades e aspectos negativos, e aparecendo os problemas emocionais e de conduta. Por

fim, se desenvolveria um estado de apatia ou indiferença em relação ao trabalho, como bem

elucida a figura 3;

Figura 3 – Modelo de Freudenberger (1974)

Entusiasmo

Altas Expectativas Paralisia Frustração Apatia

Idealização

Fonte: Silva (2008)

Outra probabilidade trazida por Leiter (1993 apud Silva, 2008) em que surgiria

primeiro a exaustão emocional, por meio da sobrecarga atribuída ao trabalho e demandas

interpessoais. Para suportar a exaustão o trabalhador desenvolveria atitudes de defesa

(isolamento e indiferença de tratamento) surgindo à despersonalização e, seria a falta de

recursos pessoais e institucionais que levaria tanto à despersonalização quanto à baixa

realização pessoal, esta definição é trazida na figura 4.

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Figura 4 – Modelo de Leiter (1993)

Demandas interpessoais Carga de trabalho

Exaustão Emocianal

Despersonalização

Falta de Recursos

Reduzida Realização Pessoal

Fonte: Silva (2008)

Por sua vez, o modelo estrutural da Síndrome de Burnout desenvolvido por Maslach

e Jackson (1994) apresenta preditores para cada uma das dimensões da síndrome, em geral,

incluem as demandas de trabalho e carência de recursos (figura 5).

Figura 5 - Modelo estrutural do burnout

DEMANDAS

Sobre carga & Conflitos Pessoais

CUSTOS

Fonte: Maslach e Jackson (1994)

FALTA DE

RECURSOS

Diminuição:

Coping controlado;

Suporte social;

Autonomia;

Envolvimento.

BURNOUT

Exaustão → despersonalização

Diminuição da realização e da

eficácia

Comprometimento organizacional diminuído;

Rotatividade;

Absenteísmo.

Doença

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53

Já o modelo desenvolvido por Gil-Monte (2005) é instituído por quatro dimensões,

sendo evidenciado nos trabalhos desenvolvidos por Carlotto (2010-2012) e Braun (2012).

Sendo apresentada uma pequena explanação do modelo em questão na mostra a figura 6.

Figura 6 – Modelo de Gil-Monte (2005)

Fonte: Gil-Monte (2005)

Nesta perspectiva, toma-se como referência o conceito adotado por Maslach e

Jackson (1994), segundo o qual é um problema que atinge profissionais de serviço,

principalmente aqueles voltados para atividades de cuidado com outros, no qual a oferta do

cuidado ou serviço frequentemente ocorre em situações de mudanças emocionais. Ajudar

outras pessoas sempre foi reconhecido como objetivo nobre, mas apenas recentemente tem

sido dada atenção para os custos emocionais da realização do objetivo. O exercício destas

profissões implica uma relação com o cliente permeada de ambiguidades, como conviver com

a tênue distinção entre envolver-se profissional e não pessoalmente na ajuda ao outro

(TELLES; PIMENTA, 2009; CODO, 2002).

O desencadeamento do burnout podem ter características individuais e

organizacionais, como bem coloca Veja, Pérez e Amador (2003), já as características

organizacionais os autores classificam desta maneira:

Necessidade de reconhecimento – encontra-se relacionada ao conjunto de

ações que a organização pode enaltecer ou estimular as atividades técnicas. A

carência destas ações são atitudes importantes na presença do Burnout;

1) Ilusão pelo

Trabalho

•O desejo individual para alcance de metas relacionadas ao trabalho, estas por sua vez, são compreendidas pelo indivíduo como atraentes e fonte de satisfação pessoal;

2) Desgaste Psíquico

•Qualifica-se pelo manifestação de exaustão emocional e física em analogia ao contato direto com sujeitos que são fonte ou geradores de problemas;

3) Indolência

•Desencadear-se por meio da presença de atitudes e indiferença junto às sujeitos que carecem ser atendidas no local de trabalho, assim como insensibilidade aos problemas de terceiros;

4) Culpa

•É caracterizada com surgimento de cobrança e lástima de culpabilização referente ao desempenho e atitudes negativas acometidas no trabalho, sendo corroborada especialmente em pessoas que desenvolvem relações diretas no local de trabalho.

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54

Subvalorização do profissional – o profissional tem o sentimento de

inferioridade. No âmbito da saúde, sente-se inferior à figura do médico, da

instituição ou dos pacientes;

Necessidade de superação profissional – a existência de programas que

valorizem o perfil ocupacional deve estar ao alcance do profissional. Quando

estes programas ficam longos tempos sem serem executados aumentam as

possibilidades de aparição do Burnout;

Sobrecarga de trabalho – ocasionada pelo excesso de trabalho assistencial na

instituição, juntamente com outras atividades;

Necessidade de trabalho em equipe – a valorização do trabalho em equipe

auxilia os profissionais a enfrentarem a carga de trabalho, depositando no

grupo suas diferenças individuais;

Necessidade de autonomia – associada à possibilidade do profissional de

planificar seu trabalho individual, respeitando as metas da equipe e os

objetivos do departamento; e,

Característica da tarefa (rotina ou diversidade) – referência às atividades que

podem ser rotineiras ou monótonas e, por outro lado, tarefas que caracterizam

por permitirem satisfazer interesses amplos e diversos.

Já Trigo (2010), classifica as características individuais em duas, maiores ou menores

índices de burnout. Onde serão apresentadas a seguir nas tabelas 1 e 2.

Tabela 1 Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices mais baixos da síndrome de

burnout

FATOR CARACTERÍSTICAS

Tipo de personalidade com características resistentes

ao estresse, ou hardiness.

Envolve-se em tudo o que se faz; acredita possuir o

domínio da situação; encara as situações adversas com

otimismo e como oportunidade de aprendizagem.

Locus de controle interno Responsabiliza-se pelos sucessos de sua própria vida,

e estes são encarados como consequência de suas

habilidades.

Autoestima, autoconfiança, autoeficácia -

Fonte: Trigo (2010)

Page 55: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

55

Tabela 2 Fatores individuais (características de personalidade) associados a índices elevados da síndrome de

burnout

FATOR CARACTERÍSTICAS

Padrão de personalidade tipo A É descritivo como mais competitivo, esforçado,

impaciente, com excessiva necessidade de controle

das situações e dificuldades em tolerar frustrações.

Locus de controle externo Considera que suas possibilidades e acontecimentos

de vida são consequências da capacidade de outros, da

sorte ou destino.

Superenvolvimento Sujeitos empáticos, sensíveis, humanos, com

dedicação profissional, altruístas, obsessivos,

entusiastas, suscetíveis a se identificarem com os

demais.

Indivíduos pessimistas Costumam destacar os aspectos negativos, preveem

insucesso, sofrendo por antecipação.

Indivíduos perfeccionistas Bastante exigentes consigo mesmos e com os outros,

não tolerando erros e dificilmente se satisfazendo com

os resultados das tarefas realizadas.

Indivíduos com grande expectativa e idealismo em

relação à profissão

Podem deixar de ser realistas e têm grandes chances

de se decepcionarem. Se associado ao otimismo, pode

levar a baixos índices de burnout.

Indivíduos controladores Inseguros, preocupam-se excessivamente, têm

dificuldades em delegar tarefas e em trabalhar em

grupo.

Indivíduos passivos Mantêm-se na defensiva e tendem à evitação diante

das dificuldades.

Gênero As mulheres apresentam maior pontuação em

exaustão emocional; os homens, em

despersonalização.

Nível educacional Indivíduos com nível educacional mais elevado.

Estado civil Maior risco em solteiros, viúvos ou divorciados.

Porém, há estudos que demonstram o oposto.

Fonte: Trigo (2010)

Diante desta explanação acerca das características, individuais e organizacionais,

muitos pontos permanecem não esclarecidos e divergentes, mas os pesquisadores, de uma

forma geral, concordam que o burnout interfere nos níveis institucional, social e pessoal.

Estes pesquisadores apontam três dimensões encontradas na síndrome, este advento é

caracterizado em exaustão emocional, desumanização e decepção no trabalho.

A exaustão emocional é representada como o componente básico do estresse

individual no burnout, além de ser o elemento mais importante e central da síndrome

(BORGES et. al.; 2002; BORGES, ARGOLO; BAKER, 2006; TAMAYO, 2002; TAMAYO;

ARGOLO; BORGES, 2005; TAMAYO, 2008; TAMAYO, 2009; TAMAYO; TROCCOLI,

2009).

Para Maslach & Jackson (1994) esta dimensão referem-se às sensações de estar além

dos limites e exauridos de recursos físicos e emocionais. Os trabalhadores que estão sofrendo

deste mal carecem de energia suficiente para enfrentar mais um dia ou outro problema. Como

resultado, o sofrimento surdo e gradativo explode na exaustão emocional, sendo reconhecido

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56

por uma série de sintomas físicos, emocionais, organizacionais ou relacionados ao próprio

trabalho, e ultimado na desistência simbólica, entre permanecer e fugir. Nessa proposta, a

despersonalização e a baixa realização no trabalho surgem como formas alternativas possíveis

desenvolvidas pelo trabalhador como resposta ao sofrimento decorrente da situação de

exaustão emocional em que se encontra, ou seja, surgem por meio da desistência simbólica,

eliminando o outro, ou eliminando a si mesmo, com sentimentos de baixa realização

profissional (VASQUES-MENEZES, 2005).

A segunda manifestação é a desumanização denominada também como

despersonalização, no entanto, esta representa o componente da dimensão de contexto

interpessoal da síndrome, constituindo-se de atitudes negativas, de distanciamento emocional

com respeito a vários aspectos do trabalho. Neste momento o vínculo racional toma a vez do

afetivo, em que se desencadeiam atitudes insensíveis, prevalecendo o cinismo e o

endurecimento afetivo em relação às pessoas destinatárias do trabalho; ocorre uma

“coisificação” da relação (MASLACH et. al., 2001).

Maslach (2005) destaca que os trabalhadores que passam por esta dimensão reduzem

a quantidade de tempo que passam no escritório ou no local de trabalho e a quantidade de

energia que dedicam ao seu trabalho. Por sua vez, eles continuam a exercer suas funções, mas

apenas o mínimo necessário, de modo que a qualidade de seu desempenho acabe caindo.

Portanto, sentimentos de desumanização prejudicam o desempenho do trabalhador e os levam

a uma percepção de baixo comprometimento, fechando-se o circuito causal de

desenvolvimento da síndrome.

Contudo, a ligação subsequente, para sentimentos de decepção no trabalho ou baixa

realização profissional ainda não são claras, sendo que alguns estudos têm fornecido suporte à

hipótese de desenvolvimento simultâneo dessa terceira dimensão, em vez de sequencial

(MASLACH et. al., 2001).

Realizando um panorama sobre a investigação do burnout, Maslach et al. (2001)

distingui dois períodos históricos sobre esta síndrome, a fase pioneira partindo em 1974 e a

fase empírica a partir da década de 1980. Na primeira etapa, mencionada acima, abarca um

caráter exploratório, com ostentação nos estudos de cunho qualitativo, empregando

entrevistas, estudos de caso e observações in loco.

O primeiro momento, logo, buscou lidar o fenômeno do burnout, instituindo sua

descrição, denominando-o e evidenciando que não era uma resposta rara, consistindo em

surgir principalmente em serviços humanos e de cuidados de saúde caracterizados por estresse

emocional e interpessoal. Assim, segundo Maslach et al. (2001), desde o início, o burnout foi

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57

estudado não tanto como uma resposta individual ao estresse, mas sim em relação ao contexto

interpessoal do indivíduo no trabalho.

O segundo momento de evolução do construto, aconteceu na década de 1980,

momento marcado por investigações empíricas com o desenvolvimento de diferentes

instrumentos de medida para a avaliação do burnout. Dentre eles, destaca-se o Maslach

Inventory Burnout (MBI) concebido por Maslach e Jackson em 1981. Assim sendo, a

característica vista dessa fase foram os estudos mais sistemáticos, empregando instrumentos

padronizados que permitiram a realização de surveys cingindo amplos extratos populacionais

(NEVES, 2012; LOPES, 2010; MASLACH et al., 2001).

O MBI é um instrumento multifatorial com três versões. Duas versões são compostas

por 22 itens cada, alastrados entre os fatores Exaustão Emocional (9 itens), Despersonalização

(5 itens) e Realização Pessoal (8 itens). Cada subitem está acompanhado por uma escala de

resposta de 7 pontos (nunca até todos os dias) que busca mensurar a frequência de emoções

relacionados à síndrome. Uma dessas versões destina-se aos profissionais cujo trabalho tem

caráter assistencial (MBI – Human Services Survey) e a outra se direciona aos trabalhadores

do ensino (MBI – Educators Survey). A terceira versão do MBI, a General Survey, com 16

itens, é utilizada em categorias profissionais que não se enquadram nos dois grupos anteriores

(MASLACH; JACKSON; LEITER, 1996).

O Burnout Measure (BM) avalia a síndrome de burnout de forma unifatorial,

reduzindo o fenômeno a um simples esgotamento (Enzmann, Schaufeli, Janssen, & Rozeman,

1998). Por essa razão, esse instrumento não consegue captar os aspectos atitudinais e de

autoavaliação presentes na síndrome, assemelhando-se mais a uma medida ortodoxa de

estresse. Não é recomendável desenvolver um instrumento unifatorial a partir de um construto

multidimensional. Além disso, o Burnout Measure foi desenvolvido para avaliar essa

síndrome em um contexto geral, razão pela qual nenhum dos seus itens faz referência ao

trabalho (TAMAYO; TRÓCCOLI, 2009).

Tamayo e Tróccoli (2002) listam outros instrumentos que avaliam a síndrome de

burnout, como o Cuestionário de Burnout del Profesorado (CBP) e o Cuestionário Breve de

Burnout (CBB), construídos na Espanha por Moreno-Jiménez, Oliver e Aragoneses (1993) e

por Moreno-Jiménez, Rodriguez, Alvarez e Caballero (1997), simultaneamente vem o

Copenhagen Burnout Inventory (CBI), desenvolvido por Kristensen, Borritz, Villadsen e

Christensen (2005) na Dinamarca, o Oldenburg Burnout Inventory (OLBI), construído por

Halsbesleben e Demerouti (2005) na Holanda; o Shirom-Melamed Burnout Measure (SMBM)

desenvolvido em Israel por Shirom e Melamed (2006).

Page 58: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

58

Afora a discussão acerca dos instrumentos desenvolvidos para averiguar o burnout,

cabe ressaltar que a questão da interação entre o trabalhador e o mundo do trabalho é

aprofundada. Estes analisam a dinâmica de aproximação e distanciamento entre o trabalhador

e fatores que consideram importantes na realidade do trabalho, como: carga, controle,

recompensa, relacionamento com a comunidade, percepção de justiça e valores. O Burnout

estaria relacionado ao confronto entre o exigido e o que o trabalhador consegue dar em

relação a esses fatores surgindo em razão do desequilíbrio crônico entre exigências do

trabalho e capacidade de resposta do trabalhador.

Tamayo (2002) bem coloca que, mesmo havendo um relativo consenso em relação

ao processo de desenvolvimento do burnout, este fenômeno só será bem esclarecido com o

incremento de estudos longitudinais, com um maior uso de técnicas de análises mais

sofisticadas e com a introdução de técnicas de caráter qualitativo, como a entrevista.

É possível admitir também que a síndrome de burnout é uma síndrome de

esgotamento físico, psíquico e emocional, em contrapartida ao estresse crônico. A síndrome

de burnout descreve um fenômeno qualificado por um conjunto de sinais, síndrome, que pode

ser esclarecido por teorias divergentes, estes modelos e teorias explicativas da referida

síndrome se encarregam de explicar esse fenômeno multidimensional. De tal modo, sempre

que se falar da síndrome de burnout é admirável destacar o referencial teórico adotado para

análise de modo a fomentar as discussões geradoras da pesquisa.

Para desfecho desta discussão, cabe salientar que nas profissões que exigem

diariamente uma interação entre as pessoas, esta síndrome pode se manifestar, como uma

possível decorrência adversa desse contato. Sabido que o presente estudo elegeu os agentes

penitenciários de duas cidades do Rio Grande do Norte como sujeitos participantes.

2.3 CARACTERIZAÇÃO DOS APORTES TEÓRICOS DO ESTUDO

A presente sessão foi desenvolvida para elucidar os aportes teóricos que norteiam este

estudo e, como bem coloca Minayo (1994) toda investigação deve ser articulada a

conhecimentos anteriores, construído por outros estudiosos. No entanto o caminho teórico

desencadeado aqui é caracterizado como um estudo galgado na psicossociologia (GIL-

MONTE; PEIRÓ, 1997; BORGES, 1998; BORGES et. al.; 2002; ARGOLO; BORGES,

2002; PAIVA, 2005; BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006; BORGES; BARBOSA, 2007;

Page 59: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

59

BARBOSA, 2008; MASLACH, 2005; MASLACH; JACKSON, 1986; MASLACH; LEITER,

1999; GIANASI, 2004).

Averiguar a relação existente entre as deteriorações menores em saúde mental e a

Síndrome de Burnout, sabido hipoteticamente que a depressão, ansiedade e os transtornos

somatoformes são considerados os principais rebates psicológicos ao burnout (ALUJA,

1997). Já outros autores pontuam que o burnout é fator preditor de morbidade psiquiátrica.

Podendo a exaustão emocional comprometer a saúde mental dos trabalhadores e deteriorar a

qualidade de vida no trabalho, além do funcionamento da organização (SILVA, 2008;

MASLACH, 2005).

Diante deste quadro este estudo se apropriou de tais hipóteses atreladas à perspectiva

sócio-histórica, onde as características individuais são compreendidas como dimensões

intermediárias da saúde que podem influenciar na forma como os sujeitos abarcam e atribuem

valor as condições de trabalho (WARR, 1987).

Ante a dificuldade em agregar modos e conceitos acerca da saúde mental, este estudo

distinguiu à noção acerca das Deteriorações Menores em Saúde Mental, sob uma ótica de que

a saúde não significaria apenas a ausência da doença mental enquanto distúrbio grave. Os

transtornos leves indicam alguma afecção da estrutura de vida psíquica do trabalhador,

portanto, inter-relações com sua vida social (BORGES; ARGOLO, 2002, p. 18).

No que concerne a Síndrome de Burnout (esgotamento profissional) sendo uma

síndrome psicológica decorrente da tensão emocional crônica no trabalho, composta pelas

dimensões: Exaustão Emocional, Desumanização e Decepção no trabalho, nomeada também

Diminuição da Realização Pessoal ou Ineficácia, tal conceito aparado nesta dissertação está

galgado no pensamento desenvolvido por Tamayo (2008-2009); Tamayo e Tróccoli (2002-

2009), Tamayo, Ârgolo, Borges (2005), Maslach (2005), Maslach e Jackson (1986) e Maslach

e Leiter (1999).

Ainda para Tamayo e Tróccoli (2002), o burnout desencadeia-se em uma linha tênue

entre a vivência intrínseca que suscita percepções e atitudes negativas no relacionamento do

sujeito com o seu trabalho, tais como insatisfação, deterioração no vinculo entre indivíduo e a

organização do trabalho; o que pode afligir o seu desempenho profissional e trazer

consequências indesejáveis, como, por exemplo, absenteísmo, abandono do emprego e baixa

produtividade.

Tão quão a Síndrome de Burnout, as Deteriorações Menores em Saúde Mental são

ocasionados por dias perdidos de trabalho, da ausência de capacitação quanto profissional, das

Page 60: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

60

demandas inerentes ao trabalho, gerando alto custo social, econômico e individual (SILVA,

2008; LIMA et. al., 1996; GOLDBERG; HUXLEY, 1992).

Assim se segue este estudo, esclarecendo que “nenhuma teoria, por mais elaborada

que seja, não dá conta de explicar todos os fenômenos e processos” (MINAYO, 1994, p. 18).

Enquanto abrangência de concepções teóricas de abordagem, a teoria e metodologia

caminham juntas, fazendo-se necessário a seguir expor o caminho metodológico traçado para

esta dissertação.

Page 61: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

61

3. PROCEDIMENTO METODOLÓGICO

O trabalho penitenciário e a averiguação da existência de transtornos mentais comuns

e da síndrome de burnout é o foco principal de investigação do presente estudo. Assim se faz

necessário trilhar um caminho metodológico de cunho descritivo, utilizando-se da abordagem

quantitativa-transversal. Para tanto, os dados foram fornecidos por meio de questionário

sociodemográfico e características profissionais e do trabalho, do QSG-12 de Goldberg

(1972) e da ECB desenvolvida Tamayo e Tróccoli (2009).

3.1 TIPO DE PESQUISA

O tipo de desenho desenvolvimento desta dissertação caracteriza-se, com a definição

trazida por Gil (2008) como pesquisa descritiva, tendo as deteriorações menores em saúde

mental e a Síndrome de Burnout como variáveis critérios e as condições ligadas ao ambiente e

ao trabalho sendo variáveis antecedentes. Esta tipologia de investigação propende a

caracterizar uma dada amostra ou fenômeno constituindo relações entre variáveis, mas sem

manipulá-las.

O Estudo de Casos Múltiplos é a estratégia geral de pesquisa escolhida para a

investigação aqui aplicada. A utilização de casos múltiplos permite a observação de

evidências em diferentes contextos, pela replicação do fenômeno, sem necessariamente se

considerar a lógica de amostragem (YIN, 1989).

Yin (1989) coloca que a investigação de casos múltiplos é um método potencial de

estudo quando se deseja entender um fenômeno social complexo, pressupõe um maior nível

de detalhamento das relações entre os indivíduos e as organizações, bem como dos

intercâmbios que se processam com o meio ambiente nos quais estão inseridos. O foco

temporal é outro elemento decisivo para a escolha do método. Ainda com o mesmo autor, o

método de casos é tido como o mais adequado ao estudo de eventos contemporâneos, e neste

caso mais poderoso que a análise histórica.

Page 62: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

62

3.2 UNIVERSO E AMOSTRA

Para realização desta dissertação foram investigadas 02 (duas) penitenciarias do Natal

e 01 (uma) em Mossoró, escolha atribuída por se tratar das duas maiores cidades norte rio-

grandense e pela acessibilidade na entrada e realização da pesquisa.

O universo da presente investigação é composto por 83 ASP, porém a taxa de retorno

obtida por meio dos questionários preenchidos corresponde a 73,49%, totalizando deste

modo, uma amostra de 61 agentes, sendo estes distribuídos nas 03 (três) unidades prisionais, a

Tabela 3 mostra a distribuição dos sujeitos frente ao universo que estes se inserem.

Tabela 3 – Distribuição amostral dos agentes penitenciários.

CIDADES UNIVERSO AMOSTRA

MOSSORÓ 32 27

NATAL (Unidade Prisional 1) 39 23

NATAL (Unidade Prisional 2) 12 11

TOTAL 83 61

Fonte: Dados da pesquisa, 2013.

Para tanto, por princípios éticos elucidados à pesquisa com indivíduos, a identidade

dos participantes e das instituições onde os mesmos trabalham será mantida em sigilo.

3.3 PROCESSO DE COLETA DE DADOS E INSTRUMENTOS

O processo de coleta do referido estudo se deu nos dois maiores municípios do Estado

do Rio Grande do Norte – Natal e Mossoró. Para entrada e execução deste estudo se fez

necessário o encaminhamento de um Ofício, esclarecendo a natureza da pesquisa e possíveis

benefícios que esta dissertação poderia trazer para classe trabalhadora. Por sua vez, o

despacho foi autorizado pela Coordenadoria de Administração Penitenciária do Rio Grande

do Norte.

A presente investigação utilizou 03 (três) instrumentos. O primeiro questionário reúne

informações sociodemográficas e funcionais dos participantes, tais como sexo, idade,

escolaridade, estado civil, cargo, tempo de serviço e regime (Anexo 1).

O segundo instrumento é o Questionário de Saúde Geral (QSG-12) (Anexo 2)

elaborado por Goldberg (1972) e adaptado e validado por Borges e Argolo (2002) para uso

em estudos de caráter ocupacional. Tal questionário mensura deteriorações menores em saúde

mental, através de dois fatores, o primeiro deles, corresponde a sentimentos atribuídos à

Page 63: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

63

competência percebida pelo participante na realização de suas atividades denominado de

Deterioração da Autoeficácia (composto pelos itens 1, 3, 4, 7, 8, 10, 11 e 12). O segundo é

denominado de Tensão Emocional e Depressão (composto pelos itens 2, 5, 6 e 9), busca mensurar

sentimentos reminiscentes à tensão e ao esgotamento emocional. O QSG-12 é de fácil aplicação

e, nos estudos desenvolvidos por Babosa (2001/2008), Argolo e Araújo (2004), é utilizado

como instrumento unifatorial.

O instrumento, em sua configuração original, é composto de 60 itens. Goldberg

formulou em seguida várias outras versões, com um número cada vez menor de itens (30, 20 e

12 itens). Mesmo a forma mais reduzida tem mantido o grau de confiabilidade. É a última

versão (QSG-12), devido à simplicidade, que tem se tornado comum em estudos ocupacionais

(BORGES; ARGOLO, 2002; ARGOLO; ARAÚJO, 2004; MOURA; BORGES; ARGOLO,

2005; BOGES; MARANHÃO, 2006; BARBOSA, 2001-2008, DAMÁSIO; MACHADO;

SILVA, 2011; BARBOSA; BORGES, 2011).

Já no que se refere à mensuração da Síndrome de Burnout o Inventário de Maslach

(MBI) é o instrumento mais utilizado, mas esta pesquisa elegeu o ECB (Anexo 3) pelo fato de

ser brasileiro e seus fatores apresentam propriedades psicométricas superiores encontradas nas

versões utilizadas no MBI, excedendo, as críticas frequentemente apresentadas à baixa

consistência interna apresentada pelo fator despersonalização nos estudos no Brasil. Esta

evidência é clara no estudo com os professores brasileiros de Carlotto e Câmara (2004), no

qual a dimensão de despersonalização apresentou coeficiente de fidedignidade alfa de

Cronbach de 0,58; índice inferior ao que é recomendado por especialistas em psicometria.

Conforme Hair et. al. (2005) o alcance inferior geralmente aceito é de 0,70, podendo

ser reduzido para 0,60 em estudos exploratórios, a seguir são apresentadas à descrição do

ECB na Tabela 4.

Tabela 4 - Descrição do instrumento ECB.

Instrumento Atores Nº de

itens

Escala de Respostas Dimensões Alfa de

Cronbach

Escala de

Caracterização

do Burnout

Tamayo e

Tróccoli

(2009)

35 1. Nunca

2. Raramente

3. Algumas vezes

4. Frequentemente

5. Sempre

-Exaustão

Emocional

-Desumanização

-Decepção no

Trabalho

0,93

0,84

0,90

Fonte: Tamayo e Tróccoli (2009)

O ECB possibilita em primeira instância uma melhor investigação da generalização da

estrutura trifatorial do MBI na cultura brasileira bem como a presença de novos fatores, e

Page 64: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

64

posteriormente apresenta melhores qualidades psicométricas do que as medidas utilizadas no

Brasil. (TAMAYO; TROCCOLI, 2009).

3.4 VARIÁVEIS DO ESTUDO

Deste modo, são expostos no Quadro 2 os objetivos desta dissertação – geral e

específicos – concerto com os instrumentos, sua relação com as variáveis analíticas e a

tipologia de análise estatística.

Quadro 2 - Instrumentos de pesquisa versus objetivos - geral e específicos - sua relação com as variáveis

analíticas e o tipo de análise estatística.

Objetivos Variáveis Analíticas Instrumentos de

Pesquisa

Tipologia de análise

Objetivo Geral:

Analisar a relação

existente entre as

deteriorações menores

em saúde mental e as

dimensões da Síndrome

de Burnout nos agentes

penitenciários do Rio

Grande do Norte.

A relação entre as

Deteriorações Menores

em Saúde Mental (Itens

do QSG-12: 1, 2, 3, 4, 5,

6, 7, 8, 9, 10, 11 e 12) e

a Síndrome de Burnout

(Itens da ECB: 1, 2, 3, 4,

5, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12,

13, 14, 15, 16, 17, 18,

19, 20, 21, 22, 23, 24,

25, 26, 27, 28, 29, 30,

31, 32, 33, 34 e 35).

As questões de 1 a 12

do QSG-12 Goldberg

(1972);

As questões de 1 a 35

da ECB de Tamayo e

Tróccoli (2009)

Para relacionar as duas

variáveis foi necessário

empregar a correlação

bivariada r de Pearson.

Objetivo Específico 1:

Delimitar o perfil

sociodemográfico e as

características

profissionais dos

agentes penitenciários;

Variáveis

sociodemográfica inclui:

idade, sexo e estado

civil.

Variáveis profissionais

inclui: posto/graduação,

tempo de serviço, tipo

de atividade

desenvolvida, carga

horária semanal, tem

outros empregos e

realiza atividades físicas

regularmente.

Questões de 1 a 12 do

questionário

sociodemográfico e

características

profissionais e do

trabalho.

Estatística Descritiva,

por meio da média e

desvio-padrão.

Objetivo Específico 2:

Averiguar a incidência

das deteriorações

menores em saúde

mental (deterioração

Autoefecácia ou tensão

emocional e depressão)

nos agentes

penitenciários;

Inclui as variáveis do

questionário de saúde

geral – QSG-12 –

Goldberg (1972).

Deterioração de

Autoeficácia (itens: 1, 3,

4, 7, 8, 9, 10, 11 e 12);

Tensão Emocional e

Depressão (itens: 2, 5, 6

e 9).

As questões de 1 a 12

do Questionário Saúde

Geral.

Análise descritiva,

realizando um

apanhado do valor

mínimo, valor máximo,

média, desvio-padrão,

percentis, frequência

por intervalo e Análise

de Cluster.

Objetivo Específico 3:

Analisar as diferenças

no concerne o perfil

sociodemográfico (sexo,

estado civil e a tipologia

de atividade

A prevalência das

deteriorações menores

em saúde mental

associada a variáveis

demográficas e laborais.

E as questões 2, 3 e 8 do

questionário

sociodemográfico e

características

profissionais e do

trabalho.

Análise descritiva,

realizando um

apanhado do valor

mínimo, valor máximo,

média e desvio-padrão.

Page 65: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

65

desenvolvida) e as

deteriorações menores

em saúde mental nos

agentes penitenciários;

E as questões de 1 a 12

do Questionário Saúde

Geral.

Objetivo Específico 4:

Identificar a prevalência

da Síndrome de Burnout

(exaustão,

desumanização ou

decepção no trabalho)

nos agentes

penitenciários;

Incidência da Síndrome

de Burnot.

Exaustão Emocional

(itens: 1, 4, 7, 10, 13,

16, 19, 22, 24, 27, 29 e

31);

Desumanização (itens:

2, 5, 8, 11, 14, 17, 20,

26, 30 e 34);

Decepção no Trabalho

(itens: 3, 6, 9, 12, 15,

18, 21, 23, 25, 28, 32,

33 e 35).

Questões de 1 a 35 da

Escala de

Caracterização do

Burnout.

Análise descritiva,

realizando um

apanhado do valor

mínimo, valor máximo,

média, desvio-padrão,

percentis, frequência

por intervalo e Análise

de Cluster.

Objetivo Específico 5:

Analisar as diferenças

no que se refere ao

perfil sócio demográfico

(gênero, estado civil e a

tipologia de atividade

desenvolvida) e a

Síndrome de Burnout

nos agentes

penitenciários;

A prevalência da

Síndrome de Burnout

associada a variáveis

demográficas e laborais.

As questões 2, 3 e 8 do

questionário

sociodemográfico e

características

profissionais e do

trabalho.

E as questões de 1 a 35

da Escala de

Caracterização do

Burnout.

Análise descritiva,

realizando um

apanhado do valor

mínimo, valor máximo,

média e desvio-padrão.

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

3.5 TRATAMENTO DOS DADOS

Para realização da discussão dos achados estatísticos acerca das deteriorações menores

em saúde mental e a incidência do burnout nos agentes penitenciários, alguns meios analíticos

e técnicos foram introduzidos. Os resultados dos questionários foram registrados em um

banco de dados do Statistical Package for Social Science - 18 (SPSS).

Os procedimentos e análises estatísticas congregadas nesta dissertação foram:

Estatística descritiva: média, valor mínimo e máximo, desvio-padrão, Teste t, Percentis,

Intervalo de frequência e análise de Cluster com o intuito de verificar a prevalência entre as

três dimensões da Síndrome de Burnout e os dois fatores das Deteriorações Menores em

Saúde Mental. Para relacionar os dois constructos traçados neste estudo fez-se necessário

empregar a correlação bivariada r de Pearson.

Page 66: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

66

Para tanto, foi averiguada a confiabilidade de cada um dos instrumentos que compõe

esta dissertação sendo testado por meio do alfa de Cronbach e da correlação item-total, o que

revelou resultados próximos aos dos estudos originais (Tabela 5).

Tabela 5 – Confiabilidade das escalas para a amostra

Instrumentos Dimensões e/ou

Fatores

N.º itens Alfa Cronbach -

original

Alfa Crobach -

reavaliado

QSG-12 (Goldberg,

1972)

Deterioração Auto-

Eficácia

8 0,85 0,85

Tensão Emocional

e Depressão

4 0,75 0,74

ECB (Tamayo e

Trocolli, 2009)

Exaustão

Emocional

12 0,93 0,94

Desumanização 10 0,84 0,90

Decepção no

Trabalho

13 0,90 0,79

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

De acordo com Hair et al. (2005), o coeficiente alfa de Cronbach é um indicante

espesso para análise da confiabilidade de um instrumento e, muito embora não exista um

padrão absoluto, importâncias de alfas iguais ou superiores a 0,70 conjeturam uma

fidedignidade admissível, podendo diminuir este limite até 0,60 em investigações de caráter

exploratório sem prejuízo aos resultados.

3.6 CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE DA PESQUISA

A Lei Estadual nº 7092/97, cria o Grupo Penitenciário e os Cargos de Agente

Penitenciário e de Diretor de Estabelecimento Penal do Rio Grande do Norte, ficando estes

servidores estaduais regidos pelo Regime Jurídico Único do Estado, que determina seus

deveres e direitos enquanto funcionários públicos. O Sistema Penitenciário do Rio Grande do

Norte teve seu estatuto criado através da Lei nº 7.131 no dia 13 de janeiro de 1998, que dispõe

sobre o Estatuto Penitenciário do Estado e dá outras providencias, constituindo todos os seus

órgãos e suas competências.

Cabe esclarecer que o Sistema Penitenciário do Estado pertencia a Pasta da Secretaria

de Segurança Pública. Atualmente pertence à Pasta da Secretaria de Justiça e Cidadania, foi

transferido para a Secretaria atual em 13 de novembro de 2003 através da Lei Complementar

nº 256. Como também a função de agente penitenciário era desenvolvida pelos policias

militares aposentados. Atualmente existem 912 agentes penitenciários locados nas Unidades

Page 67: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

67

Prisionais do Estado, distribuídos nas cidades de Natal, Parnamirim, Nísia Floresta, Caicó,

Mossoró, Caraúbas e Pau dos Ferros.

Na década de 90 alguns Estados dão início a criar o cargo de ASP para substituir

policiais militares e policiais civis que desenvolviam esta atividade, porém, até os dias atuais

os agentes penitenciários de alguns Estados à regularização de sua profissão ainda encontra-se

em negociação. Para tanto, no cenário nacional surge à iniciativa de criação e regulamentação

da profissão de agente penitenciário, através da PEC/304 (proposta de emenda constitucional)

que tramita na Câmara Federal.

Sendo o agente penitenciário um servidor público da administração estadual direta do

Governo do Rio Grande do Norte e pertence ao quadro do poder executivo, admitido através

de concurso público e que, dentro de suas atribuições efetua a segurança na Unidade Prisional

em que trabalha, zelando pela ordem e a disciplina, vigia, fiscaliza, inspeciona, revista e

acompanha os internos.

Este profissional atualmente trabalha com uma carga horária de 24x72 (vinte e quatro

horas trabalhando e setenta e duas horas de descanso, incluindo fins de semana e feriado).

Com uma carência muito grande de ASP, pois mais de 20% (por cento) que ingressaram no

primeiro concurso no ano de 2002, não fazem mais parte do quadro de pessoal dessa

categoria.

Segundo Jucá (2010) o agente penitenciário cumpre sua função no Sistema

Penitenciário, no qual o descrito e distante do real no atendimento a Lei de Execução Penal,

que é efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições

harmônicas de integração social do condenado e do interno. Os meios de comunicações

divulgam periodicamente reportagens sobre fuga e rebeliões nas delegacias e nos presídios de

todo o país relacionado, e a superlotação das Unidades Prisionais.

O servidor estadual do sistema penitenciário atua no ambiente de alta periculosidade

com cadeias lotadas de apenados, presídios com população superior a sua capacidade, local

onde não assistência médica. Já o Corregedor Geral de Justiça do Rio Grande do Norte afirma

que o sistema prisional “é uma bomba com pavio acesso”, que a qualquer momento pode

explodir. (TRIBUNA DO NORTE, 2009).

Na I Conferência Nacional de Segurança Pública (CONSEG) realizada entre os dias

22 a 25 de julho de 2009 na cidade do Natal. O evento teve a finalidade de nomear os

princípios e diretrizes para regular as políticas públicas na área de segurança, incluindo

diretrizes para o sistema penitenciário. Durante este evento foi eleito um representante dos

agentes penitenciários do Estado.

Page 68: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

68

Estes trabalhadores exercem suas funções num ambiente perigoso, insalubre e penoso,

com apenados excluídos da sociedade que trazem na experiência de vida uma perspectiva

negativa de vivencia na sociedade, o agente é muitas vezes a principal barreira que amortece o

conflito existente entre a sociedade e os infratores, isto traz mais risco ainda para os agentes,

que no desempenho de suas atividades em um ambiente inóspito e complexo, com

acontecimentos de fato constantes que necessita a intervenção do mesmo. Tudo isto sem um

acompanhamento psicológico e sem uma política de valorização profissional (JUCÁ, 2010).

Espera-se que os resultados obtidos acerca da saúde mental e burnout possam trazer

melhorias das aludidas condições e a ampliação do conhecimento no que se refere ao fechar e

abrir do cadeado.

Page 69: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

69

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Esta sessão é caracterizada por quatro momentos, o primeiro deles conta com uma

rápida delimitação do perfil sociodemográfico e as características da profissão dos ASP. Em

seguida é realizada a discussão acerca dos escores da Deterioração em Autoeficácia e Tensão

Emocional e Depressão, fatores do QSG-12. No terceiro momento são inferidos os escores

que constituem a Síndrome de Burnout e por fim, é realizada a análise de correlação entre as

deteriorações menores em saúde mental e o burnout.

4.1 ANÁLISES DESCRITIVAS

4.1.1 Análises Sociodemográficas e do trabalho

A presente investigação conta com uma amostra de 61 ASP que voluntariamente

participaram do estudo. Estes ASP estão distribuídos nas 03 Unidades Prisionais, locados nos

municípios de Natal e Mossoró. A constatação da idade dos agentes vai de 24 anos, sendo a

mínima e 53 anos a máxima, estes achados são apresentados na Tabela 6. Sucessivo a este

dado. O tempo de trabalho na instituição varia entre 03 meses e 12 anos, com médias 6,7 anos

e desvio-padrão de 49,6.

Tabela 6 – Idade média e tempo de serviço da amostra (dados intervalares)

Dados de identificação Mínimo (anos) Máximo (anos) Média (anos) DP

Idade 24 53 35,2 7,1

Tempo de trabalho na

instituição

03 meses 12 anos 6,7 49,6

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Na sua maioria, os sujeitos (68,9%; 42) pertencem ao sexo masculino, com idade

média de 35,2 anos (DP = 7,1). Diante deste dado, pode-se afirmar que o trabalho carcerário é

uma profissão predominantemente masculina, fato este que se dá pela configuração desta

atividade, traço também evidenciado no trabalho de Jucá (2010).

Sendo casados (49,2%; 30), com filhos (Média: 2,3 – DP 0,98), sendo que 49,2% dos

entrevistados possuem graduação. Dentre estes (13,1%; 8) possuem especialização. Na sua

maioria desenvolvem atividades operacionais (68,9%, 42), trabalhando cerca de 50 horas

Page 70: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

70

semanais (67,2%; 41) com 72 horas de descanso. Uma melhor explanação pode ser vista na

Tabela 7.

Tabela 7 – Dados sociodemográficos e características da profissão (Dados nominais)

DADOS DE IDENTIFICAÇÃO CATEGORIA MÉDIA - DP N.º %

Número dos participantes

61 100

Sexo Masculino 42 68,9

Feminino 19 31,1

Estado Civil

Casado 30 49,2

Solteiro 16 26,2

Divorciado 9 14,8

União Estável 4 6,6

Outro 2 3,3

Número de filhos 2,03 – 0,98

Formação escolar

Ensino Médio

11 18,0

Ensino Superior Incompleto 20 32,8

Ensino Superior Completo 30 49,2

Tipo de atividade desenvolvida

Operacional 42 68,9

Administrativo 11 18,0

Prevenção e vistoria 7 11,5

Outro 1 1,6

Carga horária semanal De 30 a 40 horas 20 32,8

Mais de 40 horas 41 67,2

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Os dados que diz respeito ao perfil sociodemográfico e as características do trabalho

foram apresentados, a seguir serão retalhados os dados referentes a deteriorações menores em

saúde mental.

4.1.2 Indícios das Deteriorações Menores em Saúde Mental nos ASP

Para cumprimento do segundo objetivo especifico deste estudo as deteriorações

menores em saúde mental foram mensuradas por meio do QSG-12. As respostas dos

participantes indicam a assiduidade de ocorrência do sintoma descrito no instrumento de

Goldberg (1972), as quais foram compiladas em escala de 0 a 3.

Page 71: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

71

Os indicadores descritivos podem ser averiguados na Tabela 8, onde há a distribuição

dos escores mínimos e máximos, média e o desvio-padrão obtidos em cada fator –

Deterioração da Autoeficácia e Tensão Emocional e Depressão – verificasse também que as

médias (0,79 e 1,16 concomitantemente) não chegam ao ponto médio da escala (1,5).

Corroborando em meio a este dado à prevalência da média no segundo fato, deterioração da

autoeficácia (t= 10,54 para p<0,001).

Tabela 8 – Escores mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão nos fatores de Bem-estar e/ou

saúde mental (QSG-12).

Fatores do QSG-12 Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão

Deterioração da Autoeficácia ,30 1,25 0,79 ,71

Tensão Emocional e Depressão ,74 1,52 1,16 ,85

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Como ambos os fatores apontam detrimentos à saúde, médias amostrais em torno do

ponto médio da escala não representa um resultado significante. Sendo assim, elevados

escores no fator Deterioração da Autoeficácia (escala de 0 a 3) aponta que o trabalhador não

se imagina executando bem as atividades que foram incumbidas. Conforme apresentado na

Tabela 8, os escores médios da amostra nesse fator foram de 0,79 (DP= 0,71), mostrando uma

apreensão de baixa dificuldade dentre os ASP.

O fator Deterioração da Autoeficácia equiparado a resultados de outros estudos

realizados no Rio Grande do Norte, como o de Barbosa (2008) junto aos petroleiros e o de

Borges e Argolo (2005), com os profissionais de saúde, os escores foram, respectivamente,

0,54 e 0,74, mostrando uma concisa semelhança com os escores acometidos na presente

investigação. Porém, na investigação junto aos bancários se apreendeu escores médios de 1,65

ultrapassando o ponto médio da escala (PAIVA, 2005). Prontamente os ex-bancários de

maneira mais retraída cotejou uma média de 1,3 para o fator Deterioração da Autoeficácia

(BORGES; MARANHÃO, 2006).

O segundo fator amparado nesta discussão é a Tensão Emocional e Depressão, não

diferente da Deterioração da Autoeficácia a respeito da pontuação (de 0 a 3), quanto mais

elevado for os escores, mais o sujeito se sente emocionalmente tenso e esgotado. Sendo

assim, ficou constatado na Tabela 8 que a população deste estudo apresenta reduzida

depressão e tensão emocional, alcançando escores de 1,16 (DP= 0,85).

A média do segundo fator em questão, sendo equiparada a estudos anteriores. Já

inferidos no Rio Grande do Norte com outras categorias profissionais, se mostra inferior,

Page 72: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

72

podendo mencionar neste desígnio o estudo desenvolvido com os operadores de petróleo em

turno fixo, onde a média foi, concomitantemente, 1,7 (BARBOSA, 2001), e com os bancários

ficou constatado 2,07 (PAIVA, 2005).

Já em outro momento junto aos petroleiros, a Tensão Emocional e Depressão

evidenciou uma média inferior, de 1,04 (BARBOSA, 2008). Entretanto os ex-bancários

obteve uma média de 1,0 (BORGES; MARANHÃO, 2006) e 0,84 com os profissionais de

saúde (BORGES; ARGOLO, 2005).

Todavia, cabe esclarecer que médias de magnitude inferior a 1 não caracteriza como

deterioração mental, entretanto, a tendência da amostra é a ocorrência de alguns sintomas

analisados no questionário numa frequência que o próprio sujeito respondente leva em conta o

seu padrão habitual (exemplificando: igual ao de costume, não mais do que o de costume,

etc.).

Para cumprimento do terceiro objetivo especifico traçado por esta dissertação, na

Tabela 9 são apresentadas as diferenças no que concerne o sexo dos participantes.

Tabela 9 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o sexo.

Fatores do QSG-12 Homens Mulheres Teste

T

P

Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Deterioração da AutoEficácia 0,81 ,77 0,74 ,58 0,78 0,30

Tensão Emocional e Depressão 1,14 ,87 1,21 ,83 0,29 0,63

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Na Tabela 9, ficou constatada uma pequena discrepância nos fatores do QSG-12

quando associados ao sexo, onde as mulheres adquiram uma média de 1,21 (DP= 0,83) no

fator Tensão Emocional e Depressão, enquanto os homens alcançaram escore médio de 1,14

(DP= 0,87), assim as mulheres conotam uma maior predisposição a sintomas depressivos. Já

no fator Deterioração da Autoeficácia o escore obtido foi 0,81 (DP= 0,77) e 0,74 (DP= 0,58) –

homens e mulheres, respectivamente.

Quanto ao teste t, os resultados mostraram não haver diferenças significativas entre as

variâncias dos dois fatores em questão – Deterioração da Autoeficácia e Tensão Emocional e

Depressão – p= 0,30 e 0,63, simultaneamente.

De maneira a realizar uma discussão mais detalhada dos dados colhidos, se fez

necessário analisar as diferenças no que diz respeito ao estado civil associado aos fatores do

QSG-12 (Tabela 10). Chaves e Fonseca (2006) bem advogam que a associação entre o estado

civil parece ser preditor na configuração do bem-estar psicológico. Esta associação é

Page 73: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

73

justificável, tendo em vista, que esse estado civil promove uma condição de apoio social para

o indivíduo, aspecto que permite ao indivíduo sentir-se ajudado diante de situações

preocupantes.

Tabela 10 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o estado civil.

Fatores do QSG-12

Casado Solteiro Divorciado

Média DP Média DP Média DP

Deterioração da Autoeficácia 0,74 ,57 1,01 ,85 0,73 ,85

Tensão Emocional e Depressão 1,20 ,76 1,20 ,99 0,94 0,95

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

A comparação realizada entre os fatores do QSG-12 e o estado civil revelou uma

discrepância mínima, onde a variável solteiro inferiu a maior média no Fator Deterioração da

Autoeficácia (Média= 1,01 – DP= 0,85). No Fator Tensão Emocional e Depressão os sujeitos

casados e solteiros obtiveram a média de 1,20. Cabe ressaltar que os divorciados inferiram as

menores médias nos Fatores do QSG-12.

Muito embora não tenha havido nenhuma discrepância significativa na apuração no

que diz respeito ao tipo de atividade desenvolvida associada aos escores dos Fatores do QSG-

12, a atividade desenvolvida pelo o Operacional deteve uma média superior às demais no

Fator Deterioração da Autoeficácia, 0,85 (DP= 0,76). Já no Fator Tensão Emocional e

Depressão a maior média identificada está na atividade desenvolvida pela Prevenção e

Vistoria, 1,32 (DP= 0,73), ressalta-se também que o tipo de atividade desempenhada pelo

administrativo aferiu as menores médias nos dois Fatores do QSG-12 (Tabela 11).

Tabela 11 – Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 de acordo com o tipo de atividade desenvolvida.

Fatores do QSG-12

Operacional Administrativo Prevenção e Vistoria

Média DP Média DP Média DP

Deterioração da Autoeficácia 0,85 ,76 0,62 ,54 0,79 ,63

Tensão Emocional e Depressão 1,21 ,88 0,91 ,74 1,32 ,73

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Outra comparação realizada com a utilização dos dados acolhidos pelo QSG-12

sucedeu-se entre as três Unidades Penais que configuram este estudo. No entanto para avaliar

as diferenças significativas entre as médias, foi-se necessário à aplicação do Teste t (Tabela

12).

Page 74: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

74

Dentre as médias acometidas a Unidade Penal de Mossoró foi a que inferiu os maiores

escores médios – 0,85 (DP= 0,77) e 1,27 (DP= 0,92) – Deterioração da Autoeficácia e Tensão

Emocional e Depressão, respectivamente. Entretanto, não houve nenhuma discrepância

significativa. Referindo-se aos menores escores obtidos nesta análise, a Unidade Penal Natal –

2 apresentou as menores médias, referidas aos QSG-12, 0,65 (DP= 0,49) e 1,07 (DP= 0,88)

Deterioração da Autoeficácia e Tensão Emocional e Depressão, simultaneamente. Retratando-

se ao teste t realizado, se pode admitir que as variâncias são aproximadamente iguais, esta

afirmação pode ser vista no valor p obtido nas tabelas acima. (p<0,05) (Tabela 12).

Tabela 12– Comparação entre escores dos fatores do QSG-12 e as Unidades Penais.

Fatores do QSG-12

Mossoró

Natal – 1 Teste

T P

Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Deterioração da Autoeficácia 0,85 ,77 0,79 ,71 0,69 0,59

Tensão Emocional e Depressão 1,27 ,92 1,09 ,74 1,01 0,43

Fatores do QSG-12

Mossoró Natal – 2 Teste

T P Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Deterioração da Autoeficácia 0,85 ,77 0,65 ,49 1,15 0,34

Tensão Emocional e Depressão 1,27 ,92 1,07 ,88 0,65 2,35

Fatores do QSG-12

Natal – 1 Natal – 2 Teste

T P Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Deterioração da Autoeficácia 0,79 ,71 0,65 ,49 0,72 0,35

Tensão Emocional e Depressão 1,09 ,74 1,07 ,88 0,56 0,40

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Os resultados apresentados na Tabela 13 revela que 50% dos sujeitos participantes

apresentam escores acima de 0,74 e 25% destes, acima de 1,39 no Fator Deterioração da

Autoeficácia. Já o Fator Tensão Emocional e Depressão, 50% dos sujeitos apresentam escores

acima 1,14 e 25%, acima de 1,91, assim conclui-se afirmando que, a parcela da amostra é

muito ampla quando confrontadas a deterioração da saúde mental. A verificação dos

Percentis, com os escores trazidos pelo QSG-12 pode ser vista também na investigação

realizada onde se buscou analisar os efeitos do turno fixo sobre a saúde mental dos operadores

de petróleo (BARBOSA, 2001).

Page 75: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

75

Tabela 13 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores nos fatores do QSG-12.

Proporções acumulados da

amostra

Percentis

Deterioração da Autoeficácia Tensão Emocional e Depressão

25% 0,21 0,42

50% 0,74 1,14

75% 1,39 1,91

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Ao examinar a classificação dos escores por intervalo (Tabela 14), averígua-se que

36,1% dos sujeitos participantes manifestaram um baixo nível de depressão e tensão

emocional. Contudo, 64% se mostram tensos e esgotados, sendo que 11,5% encontram-se em

uma magnitude mais forte, finalizando assim, que há pelo a metade da amostra com

considerável desgaste emocional.

A análise de frequência por intervalos pode ser vista também em outros estudos,

dentre estes, o realizado junto aos petroleiros (BARBOSA, 2008) e com os bancários

(PAIVA, 2005). Vale mencionar que os dados apurados na frequência por intervalos não se

assemelharam quando comparados com os dados obtidos nesta investigação junto aos agentes

penitenciários.

Ainda com a Tabela 14, ao distribuir os escores por intervalo para a verificação da

Deterioração da Autoeficácia, observa-se que 70,5% dos ASP mostram reduzida dificuldade,

26,2% encontrar-se em um grau intercessor e apenas 3,3% têm grande dificuldade de realizar

as atividades.

Tabela 14 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores nos fatores do QSG-12.

Fatores do QSG-12 Frequência por Intervalo

x≤1 1<x≤2 x>3

Deterioração da Autoeficácia 70,5% 26,2% 3,3%

Tensão Emocional e Depressão 36,1% 52,5% 11,5%

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

O último procedimento para verificação da incidência das deteriorações em saúde

mental foi à análise de Cluster. Esta técnica permite identificar como os sujeitos participantes

associam os escores cominados aos fatores do QSG-12. Em síntese, tal procedimento

subdivide os sujeitos em subgrupos condizendo de acordo com seus escores, desta maneira a

análise de Cluster demonstra as discrepâncias significativas entre a amostra, como também, as

Page 76: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

76

afinidades dentro do próprio grupo. Condizente com amostra do estudo, foram atribuídas 5

configurações ou combinações. Este método é visto em outros trabalhos (BARBOSA, 2008;

PAIVA, 2005)

Conforme se pode observar na Tabela 15, 34,4% dos ASP (21 sujeitos), apresentando

reduzida tensão emocional, enquanto 57,4% da amostra encontram-se no nível intermediário,

aspecto que merece ser atentado. Cinco sujeitos (8,2%) estão no nível elevado de tensão, que

pode ser analisado nas configurações 4 e 5. Observa-se que 60,7% (37 sujeitos) apresentam

reduzida dificuldade em realizar suas atividades no ambiente carcerário e 36% estão no nível

intermediário. Para fins, evidencia-se que 3,3% da amostra (2 sujeitos) está no nível alto,

aspecto preocupante e merecedor de atenção, conforme evidenciado na configuração 5.

Tabela 15 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto das Deteriorações Menores em

Saúde Mental

Incidência das Deteriorações Menores em

Saúde Mental mesclando os escores Configurações

1 2 3 4 5

Deterioração da Autoeficácia BAIXO BAIXO MÉDIO MÉDIO ALTO

Tensão Emocional e Depressão BAIXO MÉDIO MÉDIO ALTO ALTO

Número dos participantes (61/61) 21 16 19 3 2

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Em síntese, metade da amostra se mostra emocionalmente tensa, sendo que os homens

apresentam os maiores escores. Já os solteiros mostraram-se mais propensos a sintomas

psíquicos menores, como também os agentes que exercem a atividade operacional. Dentre as

unidades investigadas, a de Mossoró apresentou os maiores escores médio.

Finalizando esta sessão, destaca-se, que os escores nos fatores do QSG-12 dos agentes

penitenciários são mais definidos que os identificados em investigações com outras categorias

ocupacionais, já citados acima. No entanto, não há diferenças significativas nos os dados

apurados. Cabe elucidar também que os efeitos insalubres, provocados pela configuração

desta atividade, podem influenciar na maneira como os agentes exercem suas funções no

ambiente de trabalho e, em consequência, acarretar sérios danos para a organização do

trabalho.

Page 77: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

77

4.1.3 Indícios da Síndrome de Burnout nos ASP

Para elucidação da ocorrência e desencadeamento do burnout, se fez necessário avaliar

os escores médios de cada dimensão – Exaustão Emocional, Desumanização e Decepção no

trabalho – para a amostra como um todo. Pôde-se constatar que as médias das dimensões da

Síndrome de Burnout ilustram uma convergência generalizada dos sujeitos em apresentar um

nível moderado de sentimentos de exaustão emocional, desumanização e decepção no

trabalho (Tabela 16), vale esclarecer que o ponto médio do ECB (de 1 a 5) é o escore 3,0.

Tabela 16 – Escores mínimos e máximos, média da distribuição e desvio-padrão das dimensões do burnout

(ECB).

Dimensões da Síndrome de Burnout Mínimo Máximo Média Desvio-Padrão

Exaustão Emocional 2,08 3,38 2,56 ,96

Desumanização 2,10 3,16 2,68 ,89

Decepção no Trabalho 1,64 3,92 2,51 ,66

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Dentre as três dimensões estudadas, o fator Desumanização apresenta os escores

médios mais elevados (2,68 – DP 0,89) 2, aspecto não comum quando comparado a outros

estudos (TAMAYO, 2008; BORGES et. al., 2002; BENEVIDES-PEREIRA, 2003;

CARLOTTO, 2010).

Os dados indicam que possivelmente os agentes penitenciários estejam passando ou

vivenciem uma reação de atitudes negativas de dureza, indiferença e distanciamento

excessivo, manifestas pelos profissionais no relacionamento com os usuários dos seus

serviços, por exemplo, pacientes, alunos, apenados (TAMAYO, 2008). No mais, esta

dimensão é desencadeada através da sobrecarga acometida pela exaustão emocional

(MASLACH, 2005), ou até mesmo, tal traço comportamental possa fazer parte da conjuntura

desta profissão.

Já a exaustão emocional apresentou-se abaixo do ponto médio da escala que é 3,0 (M=

2,56; DP= 0,96), todavia, este dado aponta um possível esgotamento, ou até mesmo, cansaço

e desgaste com trabalho evidenciado pelos os agentes penitenciários pesquisados. No mais, é

visto na literatura e em investigações já realizadas uma maior prevalência na Exaustão

Emocional, como bem retratou o estudo de Tamayo (2008) com os profissionais de

Enfermagem do Distrito Federal auferindo uma média de 2,46. Outro estudo foi o de Lopes

(2010) com os Bombeiros de Minas Gerais obtendo uma média 2,33. Já Neves (2012)

2 (t= 17,44 para p<0,001)

Page 78: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

78

investigou o burnout junto aos profissionais de enfermagem de um hospital universitário em

Minas Gerais e a Exaustão obteve uma média de 2,64. Em seguida, pode citar o estudo com

os profissionais de saúde realizada em Natal desenvolvida por Tamayo, Argolo e Borges

(2005) onde a Exaustão auferiu uma média de 2,37.

A literatura evidencia que a Exaustão é o componente básico da síndrome, além de ser

caracterizada pelo estresse individual, sendo o elemento mais importante e central do burnout

(TAMAYO, 2002; TAMAYO, ARGOLO; BORGES, 2005; TAMAYO , 2008; TAMAYO,

2009; TAMAYO; TROCCOLI, 2009, MASLACH, 2005).

Outra tendência nas pesquisas acerca do burnout está na prevalência da dimensão

Decepção no Trabalho, tendência esta não identificada no presente estudo (2,51 – DP= 0,66),

corroborando que, raramente os agentes penitenciários se sentem frustrados, desmotivados em

função da profissão que escolheram. Já na investigação desenvolvida por Telles e Pimenta

(2009) e Borges et. al. (2002) a Decepção alcançou a maior média (4,15 e 4,13,

respectivamente).

O desvio-padrão desses fatores mostrou maior dispersão dos escores para exaustão

emocional (DP= 0,96) e dispersão mais discreta para desumanização (DP= 0,89) e decepção

(DP= 0,66).

Dando continuidade ao debate acerca dos dados apurados no que se remete ao burnout

e para concretização do quinto objetivo específico deste trabalho, os aspectos

sociodemográficos são introduzidos na discussão com o intuito de verificar as possíveis

associações entre as variáveis, sabe-se também, que os dados sóciodemográficos são

considerados na literatura como possíveis preditores do burnout (MASLACH; JACKSON,

1986; MASLACH; SCHAUFELI; LEITER, 2001; BENEVIDES-PEREIRA, 2003; BRAUN,

2012; CARLOTTO, 2010; CARLOTTO, 2011; CARLOTTO, 2012).

Dentre esta discussão, na Tabela 17 é realizada a comparação entre os escores das

dimensões do ECB de acordo com o sexo dos sujeitos participantes, para tanto foi aplicado o

Teste t no intuito de verificar as diferenças significativas entre as variâncias.

Tabela 17 – Comparação entre escores das dimensões do ECB de acordo com o sexo.

Dimensões do ECB Homens Mulheres Teste

T

P

Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Exaustão Emocional 2,63 1,23 2,54 1,14 0,63 0,53

Desumanização 2,82 1,27 2,39 1,02 1,27 0,30

Decepção no Trabalho 2,54 1,32 2,45 0,98 0,54 0,23

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Page 79: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

79

Constatou-se na Tabela 17 uma discrepância quanto ao sexo, já que os homens

inferiram as maiores escores dentre as três dimensões do ECB. Havendo uma diferença

estatística mais acentuada na Desumanização entre homens e mulheres, 2,82 (DP= 1,27) e

2,39 (DP= 1,02), respectivamente. Observa-se diante do Teste t realizado uma estreita

aproximação entre as variâncias (p<0,05).

Valem ressaltar que o trabalho exercido pelos homens no ambiente carcerário em

muitos aspectos é divergente do desenvolvido pelas mulheres, já que as agentes em sua

grande maioria são incumbidas a atividades ligadas a vistoria ou de caráter administrativas,

não carecendo de um contato constate com os apenados. A literatura aponta, no entanto, que

os trabalhadores do sexo masculino tendem mais a desumanizar, possivelmente isto deriva do

comportamento masculino, serem mais instrumentais e haver menor demonstração de reações

emocionais no ambiente de trabalho (TAMAYO; ARGOLO; BORGES, 2005; MASLACH;

SCHAUFELI; LEITER, 2001).

Remetendo-se a outras investigações, quanto ao sexo feminino, à média mais alta

inferida foi a Exaustão Emocional, característica evidenciada também neste estudo. No

entanto a literatura associa este advento a dupla ou tripla jornada de vida em que este sexo se

remete (CARLOTTO, 2011; BENEVIDES-PEREIRA, 2003).

Ainda com os aspectos sociodemográficos, a Tabela 18 realiza um apanhado acerca do

estado civil dos sujeitos entrevistados e a prevalência entre eles da síndrome. E, não diferente

do acorrido na sessão anterior, quando se comparou os escores médios do QSG-12 associados

ao estado civil dos participantes, em que os divorciados obtiveram os escores médios mais

baixos.

Tabela 18 – Comparação entre escores das dimensões do ECB de acordo com o estado civil.

Dimensões do ECB Casado Solteiro Divorciado

Média DP Média DP Média DP

Exaustão Emocional 2,67 1,12 2,55 1,23 2,54 1,43

Desumanização 2,79 1,1 2,84 1,39 2,21 1,18

Decepção no Trabalho 2,52 1,14 2,54 1,38 2,52 1,38

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Os solteiros apresentam as maiores médias nas dimensões Desumanização e Decepção

no trabalho, com 2,84 (DP= 1,39) e 2,54 (DP= 1,38), respectivamente. Aspecto não ocorrido

na investigação realizada por Carlotto (2011) junto aos Técnicos de Enfermagem em três

hospitais de Porto Alegre, onde os casados obtivem as maiores médias na Exaustão

Emocional e Desumanização.

Page 80: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

80

A diferença no que tange ao tipo de atividade desenvolvida no local de trabalho foi

associada às dimensões da Síndrome de Burnout (Tabela 19). No entanto, a classe operacional

obteve as maiores médias na Desumanização e Exaustão Emocional, 2,87 (DP= 1,13) e 2,66

(DP= 1,14), simultaneamente. Apesar disto, não foi encontrado diferenças que sejam

consideradas estatisticamente significativas.

Tabela 19 – Comparação entre escores das dimensões do ECB de acordo com o tipo de atividade desenvolvida.

Dimensões do ECB

Operacional Administrativo Prevenção e Vistoria

Média DP Média DP Média DP

Exaustão Emocional 2,66 1,14 2,54 1,09 2,53 1,00

Desumanização 2,87 1,13 2,25 1,04 2,44 1,03

Decepção no Trabalho 2,52 1,30 2,54 ,97 2,53 1,13

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Outra analise realizada junto aos dados extraídos pela ECB buscou averiguar as

diferenças da incidência do burnout entre as três Unidades Penais que configuraram a

presente investigação. Esta estratégia de comparação entre os escores médios nas três

dimensões da Síndrome de Burnout pode ser vista em outros estudos, os quais compararam e

analisaram a síndrome em Hospitais Universitários (BORGES et. al., 2002; TAMAYO;

ARGOLO; BORGES, 2005; BORGES; ARGOLO; BAKER, 2006). Para tanto, buscou-se

avaliar as diferenças significativas entre as médias, sendo imprescindível à aplicação do Teste

t (Tabela 20).

Tabela 20 – Comparação entre escores das dimensões do ECB e as Unidades Penais.

Dimensões do ECB Mossoró Natal – 1 Teste

T

P

Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Exaustão Emocional 2,39 1,12 2,72 1,15 0,71 0,55

Desumanização 2,68 1,29 2,86 1,17 0,63 1,08

Decepção no Trabalho 2,62 1,27 2,55 1,26 0,71 0,32

Dimensões do ECB Mossoró Natal – 2 Teste

T

P

Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Exaustão Emocional 2,39 1,12 2,46 1,27 0,60 0,55

Desumanização 2,68 1,29 2,32 1,01 0,86 0,43

Decepção no Trabalho 2,62 1,27 2,20 ,93 1,28 0,28

Dimensões do ECB Natal – 1 Natal – 2 Teste

T

P

Média

Desvio-padrão

Média Desvio-padrão

Exaustão Emocional 2,72 1,15 2,46 1,27 - 0,68 0,48

Desumanização 2,86 1,17 2,32 1,01 - 1,28 0,34

Decepção no Trabalho 2,55 1,26 2,20 ,93 - 1,01 0,30

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Page 81: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

81

Ao comparar os escores médios entre as três dimensões do burnout, associados às

Unidades Penais que conjeturam este estudo, constatou-se que os sujeitos participantes da

Unidade Natal – 1 percebem-se com mais Desumanização (2,86 DP= 1,17) e maior na

Exaustão Emocional (2,72 – DP= 1,15), estando inferior na Decepção no Trabalho quando

confrontado com a Unidade de Mossoró. Ao detalhar os dados obtidos na comparação entre as

unidades Natal – 1 e Natal – 2, se pôde perceber uma estreita diferença estatística entre os

escores médios nas 03 dimensões da ECB, ainda mais, quando se foi aplicado o Teste t, ficou

contatada uma diferença negativa na comparação entre as unidades (p<0,005).

Utilizou-se os Percentis para a distribuição dos sujeitos, os resultados obtidos desponta

que 50% dos participantes apresentam escores acima de 2,58 e 25% destes, acima de 3,61 na

dimensão Desumanização. A dimensão Exaustão Emocional, 50% dos entrevistados

apresentam escores acima de 2,48 e 25% destes, acima de 3,49. No que se refere à Decepção

no Trabalho, 50% dos sujeitos inferiram escores acima de 2,43 e 25% destes, acima de 3,43

(Tabela 21).

Na averiguação dos dados apurados com os Percentis, na dimensão Decepção no

Trabalho alguns itens que compõe a dimensão obtiveram escore zero. Este dado pode ter

ocorrido pela constituição desta dimensão, já que a mesma abrange aspectos positivos e

negativos quanto ao trabalho. Vale esclarecer também que no período de construção e

validação da ECB, o instrumento passou por modificações, sendo refletidas no número de

questões, passando de 45 para 35 itens. Configuravam uma quarta dimensão, denominada de

Realização Pessoal e esta foi incorporada na dimensão Decepção no Trabalho (TAMAYO;

TROCOLLI, 2009).

Tabela 21 – Percentis na distribuição dos participantes da amostra segundo os escores nas dimensões do ECB.

Proporções

acumulados da

amostra

Percentis

Exaustão Emocional Desumanização Decepção no Trabalho

25% 1,59 1,68 1,38

50% 2,48 2,58 2,43

75% 3,49 3,61 3,43

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Contudo, torna-se imprescindível relatar que identificar o percentual de burnout na

amostra constituiu-se num dos maiores desafios desta investigação, mesmo considerando a

grande variedade de procedimentos diagnósticos possíveis de serem empregados pelos

Page 82: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

82

pesquisadores da área, não existindo, assim, consonância na literatura para interpretação dos

questionários que avaliam o burnout.

Todavia, o método mais encontrado na literatura realiza o procedimento na utilização

dos percentis, dividindo os sujeitos de acordo com os níveis leve, moderado e alto nas três

dimensões (exaustão, desumanização e decepção) e define a presença do burnout pela

ocorrência simultânea de níveis altos nas três dimensões. Este procedimento é o sugerido por

Maslach e Jackeson (1986) e utilizado por alguns trabalhos já desenvolvidos no território

nacional (TAMAYO, 2002; TAMAYO; TAMAYO, 2008; TAMAYO, 2009; TAMAYO;

TROCCOLI, 2009).

No entanto, este trabalho considerou o argumento de Gil-Monte e Peiró (1997)

pertinente, recomendando estabelecer intervalos com base na escala de resposta, técnica esta

já observada nos trabalhos desenvolvidos por Carlotto (2011), Carlotto (2012), Braun (2012)

Dantas (2003) e Gianisi (2004). Ainda para Gil-Monte e Peiró (1997), a técnica aconselhada

por Maslach e Jackson (1986) é redundante e leva sempre ao mesmo resultado. De tal modo, a

Tabela 22 apresenta a frequência por intervalo entre as dimensões do burnout.

Tabela 22 – Frequência por intervalo dos participantes da amostra segundo os escores nas dimensões do ECB.

Dimensões do Burnout Frequência por Intervalo

x≤2 2<x≤3 3<x≤4 x>4

Exaustão Emocional 24,6% 45,9% 19,6% 9,9%

Desumanização 24,6% 45,9% 18% 11,5%

Decepção no Trabalho 42,6% 37,7% 13,2% 6,6%

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Empregando o Percentis nas dimensões do burnout apresentado acima e efetuando a

Frequência por Intervalo, conforme apresentado na Tabela 22, percebe-se que 29,5% dos

participantes apresentaram desumanização em nível alto, 45,9% em nível moderado e 22,6%

apresentaram nível leve. Com relação à exaustão emocional, os dados despontam que 29,5%

dos casos apontam uma manifestação de nível alto na exaustão emocional, sendo que destes,

9,9% dos sujeitos à dimensão está mais acentuada. No mais, 46% encontram-se no nível

moderado e 24,6% dos agentes penitenciários no leve. Por fim, na dimensão decepção no

trabalho, houve um percentual de 19,8% de ASP no nível alto de decepção, 37,7% em nível

moderado e 42,6% no nível leve.

A análise de Cluster é outro meio estatístico utilizado para a verificação da incidência

do burnout, o qual identifica combinações sucedidas na amostra, podendo classificando a

população em baixo, médio e alto. Este técnica pode ser observada na literatura (TAMAYO;

Page 83: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

83

ARGOLO; BORGES, 2005; DANTAS, 2003; GIANISI, 2004). Sendo adotada por este

estudo com o intuito de se verificar a distribuição destes grupos de acordo com sua

combinação, hipoteticamente é possível existir 27 combinações, todavia, a amostra classificou

14 configurações.

A primeira combinação comporta os escores baixo e médio nas dimensões do burnout.

Nestas combinações estão agrupadas 54,1% da amostra (33 sujeitos). Este grupo se classifica

como aqueles que estão mais distantes a adquirirem a síndrome. É admirável que 22,9 dos

agentes penitenciários (14 sujeitos) encontram-se nos níveis baixo nas três dimensões.

Todavia, carece mencionar que 16,4% da amostra (10 sujeitos) encontra-se com nível médio

nas dimensões Exaustão Emocional e Desumanização, enquanto a Decepção se classifica no

nível baixo (Tabela 23).

Tabela 23 – Análise de Cluster que combina níveis Médio e Baixo da Síndrome de Burnout

Incidência do Burnout

mesclando os escores Configurações

1 2 3 4 5 6

Exaustão Emocional BAIXO BAIXO BAIXO MÉDIO MÉDIO MÉDIO

Desumanização BAIXO MÉDIO BAIXO BAIXO MÉDIO BAIXO

Decepção no Trabalho BAIXO BAIXO MÉDIO BAIXO BAIXO MÉDIO

Número dos participantes

(33/61) 14 4 2 2 10 1

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

A segunda combinação ainda não sendo classificada nos níveis mais acentuados do

burnout, merece ser apresentada, pois os trabalhadores destas configurações também estão

passiveis de desenvolver a síndrome, já que apresentam falência em uma das três dimensões.

As configurações da Tabela 24 combinam os níveis altos, médios e baixos das dimensões da

síndrome de burnout. Nestas configurações encontram-se seis agentes (9,9%) da amostra,

sendo que três destes trabalhadores a manifestação da Exaustão Emocional encontra-se no

nível alto. A literatura aponta que a Exaustão é o componente mais evidente do burnout,

sendo a dimensão mais importante e central da síndrome (MASLACH, 2005).

Page 84: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

84

Tabela 24 – Análise de Cluster que combina níveis Baixo, Médio e Alto da Síndrome de Burnout

Incidência do Burnout mesclando os escores

Configurações

7 8 9

Exaustão Emocional ALTO MÉDIO MÉDIO

Desumanização MÉDIO BAIXO ALTO

Decepção no Trabalho BAIXO ALTO BAIXO

Número dos participantes (6/61) 3 1 2

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

Na terceira combinação são apresentadas as configurações nas quais o processo de

desenvolvimento da síndrome encontra-se mais acentuado e mais evidente, mesclando os

escores médio e alto nas três dimensões. Assim, na Tabela 25, se pode observar que 36,1% da

amostra (22 sujeitos) apresenta esta configuração, salientado que 9,9% destes trabalhadores (6

sujeitos) encontram-se no nível máximo, combinando escores altos nas três dimensões. Outra

centralização está na Configuração 10, onde 16,4% dos agentes penitenciários (10 sujeitos)

classificam-se no nível médio, combinando escores médios.

Tabela 25 – Análise de Cluster que combina níveis Médio e Alto da Síndrome de Burnout

Incidência do Burnout

mesclando os escores Configurações

10 11 12 13 14

Exaustão Emocional MÉDIO ALTO ALTO MÉDIO ALTO

Desumanização MÉDIO MÉDIO ALTO ALTO ALTO

Decepção no Trabalho MÉDIO MÉDIO MÉDIO ALTO ALTO

Número dos participantes

(22/61) 10 3 2 1 6

Fonte: Elaboração do autor, a partir dos dados da pesquisa (2013).

No entanto, para elucidação do estado crítico da Síndrome de Burnout, foram

caracterizados os sujeitos participantes que apresentaram exaustão emocional alta,

respectivamente com escores altos também nas outras duas dimensões (alta desumanização e

alta decepção). De acordo com Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) a exaustão emocional é a

principal dimensão que caracteriza o burnout, mas não aceitável para diagnosticá-la,

necessitando, deste modo, que o sujeito mostre outros sintomas, tais como desumanização e

decepção no trabalho para que fique caracterizada a síndrome. Diante desta discussão cabe

Page 85: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

85

aqui evidenciar que 9,9% sujeitos da amostra já se encontram com os sintomas típicos da

Síndrome de Burnout.

4.1.4 Relações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de

Burnout

Para a averiguação da relação existente entre as Deteriorações Menores em Saúde

Mental e a Síndrome de Burnout, fez-se necessária a correlação entre os fatores do QSG-12

(Redução da Auto-Eficácia e Tensão Emocional e Depressão) e as dimensões da ECB

(Exaustão Emocional, Desumanização e Decepção no Trabalho), com o intuito de identificar

padrões de interação entre elas.

Na Tabela 26, constata-se que os escores das deteriorações menores em saúde mental e

o burnout são correlacionados entre si significativamente, todavia, nenhuma das correlações

auferiu uma magnitude igual ou maior que 0,60, destacando-se, dessa forma, que avaliam

aspectos suficientemente distintos acerca dos constructos aqui investigados.

Tabela 26 – Correlações entre as Deteriorações Menores em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout.

CORRELAÇÕES ENTRE AS

DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE

MENTAL E A SÍNDROME DE BURNOUT

Fa

tore

s d

as

Det

erio

raçõ

es

Men

ore

s em

Sa

úd

e M

en

tal

Fa

tore

s d

as

Det

erio

raçõ

es

Men

ore

s em

Sa

úd

e M

en

tal

Esc

ore

s n

o f

ato

r

Red

uçã

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a

Au

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Esc

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Ten

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Em

oci

on

al

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ssão

Esc

ore

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dim

ensã

o E

xau

stão

Em

oci

on

al

E

sco

res

na

dim

ensã

o

Des

um

aniz

ação

Esc

ore

s n

a

dim

ensã

o D

ecep

ção

no

Tra

bal

ho

Fatores das

Deteriorações

Menores em

Saúde

Mental

Escores no fator

Redução da

Autoeficácia

Coeficiente

Pearson

1

Escores no fator

Tensão Emocional e

Depressão

Coeficiente

Pearson

0,42(**)

1

Dimensões da

Síndrome de

Burnout

Escores na dimensão

Exaustão Emocional Coeficiente

Pearson

0,44(**)

0,50(**)

1

Escores na dimensão

Desumanização Coeficiente

Pearson

0,38(**)

0,41(**)

0,44(**)

1

Escores na dimensão

Decepção no

Trabalho

Coeficiente

Pearson

0,39(**)

0,39(**)

0,48(**)

0,40(**)

1

**Correlações são significantes ao nível de 0,01.

Page 86: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

86

Verificou-se, que os escores de todos os fatores apresentam cargas entre 0,38 a 0,50.

Como bem explicitado, o fator Tensão Emocional e Depressão e a dimensão Exaustão

Emocional tiveram um relacionamento positivo forte (r= 0,50; p<0,01), não se distanciando

da hipótese levantada por Maslach (2005), de que o burnout não seria um precursor da

depressão, mas uma forma de doença mental. Estas discussões acerca da associação da

Síndrome de Burnout à morbidade psiquiátrica tiveram início nas últimas décadas. No mais,

está descrito que dentre as dimensões do burnout, a exaustão emocional pode comprometer a

saúde mental (SILVA, 2008).

Uma correlação moderada foi encontrada entre o fator Redução da Autoeficácia e a

dimensão Desumanização (r= 0,38; p<0,01). Os escores da dimensão Decepção no Trabalho

têm uma associação positiva e análoga entre os fatores Redução da Autoeficácia e Tensão

Emocional e Depressão (r= 0,39; p<0,01), muito embora se classifiquem como uma

correlação moderada.

Constatou-se correlações moderadas e positivas entre as três dimensões de burnout

(exaustão - decepção, r = 0,48; exaustão - desumanização, r = 0,44; desumanização -

decepção, r = 0,40; p<0,01), evidenciando um padrão semelhante de variação entre eles. Em

relação aos escores advindos dos dois fatores das deteriorações menores em saúde mental,

também houve correlações moderadas e positivas (Redução da Autoeficácia – Tensão

Emocional e Depressão, r = 0,42; p< 0,01). Tais padrões de associações mostram que quanto

maiores os escores do burnout, maior será a evidência das deteriorações menores em saúde

mental.

A análise estatística aqui empregada não é única e nem exclusiva, contudo, não há

conhecimento quanto à aplicabilidade em correlacionar o QSG-12 e a ECB. As correlações

bivariadas r de Pearson são evidenciadas no estudo com os bancários, onde Paiva (2005) e

Barbosa (2008) aplicaram o QSG-12 e outros instrumentos para caracterizar a saúde mental

de acordo com o modelo proposto por Warr (1987). Outra investigação foi a de Lopes (2010),

em que a pesquisadora procurou associações entre burnout, suporte social e resiliência. Já

Neves (2010), correlacionou a Síndrome de Burnout com a satisfação no trabalho e percepção

do suporte social. Para tanto, dois estudos merecem ser ressaltados, os quais associaram os

transtornos mentais comuns e o burnout, entretanto os instrumentos adotados para tais

investigações foram o Self-Reporting Questionnaire-20 e Maslach Burnout Inventory

(SILVA, 2008; TITO, 2013).

Page 87: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

87

5 CONCLUSÃO

A presente pesquisa buscou investigar a relação existente entre as Deteriorações

Menores em Saúde Mental e a Síndrome de Burnout. Conclui-se então, que o objetivo

estabelecido foi atingido e, os objetivos específicos traçados foram, um a um, sendo

alcançados.

Para tanto, os achados evidenciaram a ocorrência de Deteriorações Menores em

Saúde Mental, havendo uma concentração maior no fator Tensão Emocional e Depressão,

aspecto negativo, observando na amostra uma tendência à depressão. Este dado é congruente

com investigações já realizadas com outras categorias profissionais. Os resultados

relacionados ao fator Deterioração da Autoeficácia, apresentaram-se de maneira positiva no

que se refere à competência e autonomia. Constatou-se nos achados, com certa frequência,

que os ASP apresentam comando sobre suas tarefas.

Na aplicação da Análise de Cluster ficou evidenciado que a metade da amostra

encontra-se no nível intermediário, apresentando uma tensão emocional moderada. Outro

dado desvendado mostrou que mais da metade dos agentes penitenciários apresentam

reduzida dificuldade em realizar suas atividades na unidade carcerária. Contudo, 2 sujeitos

apresentaram falência nos dois fatores que mensuram as deteriorações em saúde mental,

demonstrando, assim, um nível alto de tensão emocional e dificuldades em se concentrar e

realizar seu trabalho.

Um dado que merece ser ressaltado em meio a esta discussão é a ausência de estudos

utilizando o QSG-12 na articulação junto aos aspectos sociodemográficos e ocupacionais,

caracterizando estes como preditores ao bem-estar psíquico do trabalhador. Todavia, um dos

objetivos proposto para esta dissertação foi à associação entre o QSG-12 e os aspectos

sociodemográficos, ficando constato dentre o sexo feminino uma predisposição a sentimentos

depressivos. A respeito do estado civil, os divorciados apresentaram os menores escores,

enquanto nos solteiros, a deteriorações estão mais evidentes. Dentre os agentes, os

profissionais que realizam a atividade de prevenção e vistoria, apresentam-se mais tensos e

depressivos.

A respeito da Síndrome de Burnout, os resultados apurados também apontam que,

ainda não existindo um número significativo de sujeitos acometidos pela síndrome,

enquadrando-se, na sua grande maioria, no nível moderado das dimensões. Ao realizar a

Análise de Cluster ficou constatado que 14 sujeitos apresentam nível baixo nas três

dimensões, estando esse público distante de adquirir a síndrome. Por outro lado, mais de um

Page 88: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

88

terço da amostra encontra-se com falência em uma das três dimensões, ou se classifica no

estado moderado a alto, sendo que, desta população, seis agentes penitenciários apresentam

nível alto nas três dimensões que cercam a doença, classificando-os como trabalhadores

acometidos a Síndrome de Burnout.

De forma a detalhar os dados, quando estimadas as médias dos escores nas três

dimensões, observou-se que a tendência geral dos indivíduos foi a de apresentar um nível

mais baixo nas dimensões Exaustão Emocional e Decepção no Trabalho e um nível mais

acentuado na Desumanização, aspecto não comum, já que outros estudos trazidos por esta

dissertação sempre apresentam falência na Exaustão Emocional ou Decepção no Trabalho.

Evidencia-se neste caso, uma falência na relação interpessoal entre ASP e os apenados. No

mais, esta dimensão é desencadeada através da sobrecarga acometida pela exaustão

emocional, ou até mesmo, em função de um traço comportamental que possa fazer parte da

conjuntura desta profissão, deixando, desta maneira, um viés para outros estudos.

Os achados a respeito da associação do sexo e a evidência do burnout, indicam que os

homens apresentam maiores escores nas três dimensões, no entanto, a dimensão

desumanização destaca-se de maneira mais acentuada. Já nas mulheres a dimensão exaustão

se fez mais presente, fenômeno condizente com a literatura. Na equiparação quanto ao estado

civil dos participantes, os solteiros apresentam uma maior tendência nas dimensões

desumanização e decepção no trabalho. Já, os agentes que fazem parte do quadro operacional

evidenciaram uma maior tendência à síndrome.

Quando se comparou os escores médios dentre as Unidades Penais que configuram

este estudo, ficou evidenciado uma ocorrência mais acentuada das Deteriorações Menores em

Saúde Mental na Unidade de Mossoró e uma presença mais proeminente da Síndrome de

Burnout na Unidade Natal – 1.

As correlações estabelecidas entre as variáveis desse estudo também foram de

encontro ao que é indicado pela literatura. As variáveis formuladas pelo QSG-12 e ECB

foram significativas e positivas, e com coeficientes em sua grande maioria classificados como

moderados, havendo um relacionamento forte entre o fator Tensão Emocional e Depressão e a

dimensão Exaustão Emocional, aspecto compreensível, já que sintomas depressivos são

rebates à exaustão emocional, momento caracterizado pelo estresse individual do trabalhador.

Através dos dados apurados, sugere-se ao órgão responsável realizar uma analise do

processo de trabalho destes profissionais e buscar introduzir programas sólidos de gestão que

visem o bem-estar do trabalhador, utilizando uma abordagem intervencionista, aplicando

Page 89: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

89

instrumentos para verificação do comportamento humano nas Unidades Penais do Estado com

uma maior exatidão.

Aconselha-se aos Programas de Pós-Graduação em Administração, periódicos e

revistas cientifica da área a concederem uma atenção maior à discussão acerca dos fenômenos

ligados a saúde psíquica do trabalhador, visto que, para realização da presente dissertação,

todos os periódicos e revistas que serviram de apoio são pertencentes à área da saúde,

educação e psicologia. Torna-se proeminente em meio a esta discussão mencionar que

inúmeras psicopatologias, inclusive o burnout, são classificadas como doenças de cunho

ocupacional, tornando relevante esta discussão nas escolas de administração. Assim, espera-se

que os dados e discussões trazidas por meio desta investigação venham a agregar

conhecimentos para a área da Administração, Psicologia do Trabalho e áreas afins.

Afora toda discussão já realizada, é cabível apontar algumas limitações relacionadas

na presente investigação. A primeira delas diz respeito ao número de participantes e Unidades

Penais. A realização de um estudo com a participação de outras Penitenciárias poderia

proporcionar uma visão mais ampla desta categoria. Outro aspecto, está na aplicação já

característica do uso dos percentis nas pesquisas que tratam do burnout, podendo este modo

não ser a técnica mais apropriada, sabido que este meio prognostica uma parcela dos

resultados que releva a prevalência da Síndrome de Burnout.

Sugere-se então, novas pesquisas que busquem compreender e analisar a

configuração desta atividade, estudos com delineamentos longitudinais, aprofundando-se em

discutir acerca dos fenômenos que norteiam a saúde do trabalhador e suas condições no

ambiente carcerário, no tocante, é imprescindível a realização de investigações que

congreguem o uso de técnicas qualitativas no intuito de se verificar os fenômenos que

influenciam a saúde psíquica no abrir e fechar do cadeado.

Page 90: AS DETERIORAÇÕES MENORES EM SAÚDE MENTAL E A

90

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ANEXO

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102

Anexo I

QUESTIONÁRIO SOCIODEMOGRÁFICO E CARACTERISTICAS PROFISSIONAIS E DO TRABALHO

Dados pessoais

1. Idade: ________

2. 2. Sexo: ( ) Masculino ( ) Feminino

3. Estado Civil: ( ) solteiro ( ) casado ( ) divorciado ( ) viúvo ( ) união estável ( ) outro

4. Número de filhos: ______________

5. Formação escolar:

( ) 1º grau incompleto ( ) 1º grau completo ( ) 2º grau incompleto ( ) 2º grau completo

( ) Superior Incompleto. Qual? _______________ ( ) Superior Completo. Qual?

_______________

( ) Pós-graduação (especialização, mestrado, doutorado). Qual? _________________

Dados profissionais

6. Posto/Graduação: _______________________________

7. Tempo de serviço como Agente Penitenciário: ____ anos ____ meses

8. Tipo de atividade desenvolvida atualmente:

( ) operacional ( ) administrativa ( ) prevenção e vistoria ( ) tele-atendimento

( ) outra. Qual? ________________________

9. Tempo que está trabalhando nesta mesma atividade: ____ anos ____ meses

10. Carga horária semanal: ( ) de 30 a 40 horas ( ) mais de 40 horas ( ) outra. Qual?

___________

11. Tem outros empregos? ( ) Não ( ) Sim. Qual atividade? _____________________

Carga horária semanal: ____ Tempo de trabalho: ____ anos ____ meses 12. Realiza atividades físicas regularmente? ( ) não ( ) sim - Número de vezes por semana:

_______

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Anexo II

QUESTIONÁRIO DE SAÚDE GERAL

Gostaríamos de saber se você tem tido algumas dificuldades e como têm estado sua saúde nos últimos 30 dias.

Por favor, responda a TODAS as perguntas deste questionário simplesmente sublinhando as respostas que, em

sua opinião, mais se aproximam ao que sente ou tem sentido. Lembre que queremos conhecer os problemas

recentes e atuais, não os que ocorreram no passado.

01. Você tem conseguido se concentrar bem naquilo que faz?

0 – Melhor que o

costume

1 – Igual ao de costume 2 – Menos que o costume 3 – Muito menos que o

de costume

02. Você tem perdido o sono frequentemente por causa das suas preocupações?

0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o

costume

2 – Mais que o de

costume

3 – Muito mais que o de

costume

03. Você tem sentido que está desempenhando um papel útil na vida?

0 – Mais útil que o de

costume

1 – Igual ao de costume 2 – Menos útil que o de

costume

3 – Muito menos que o

de costume

04. Você tem se sentido capaz de tomar decisões?

0 – Mais que o de

costume

1 – Igual ao de costume 2 – Menos que o de

costume

3 – Muito menos que o

de costume

05. Você tem se sentido constantemente esgotado e sob tensão?

0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o

costume

2 – Mais que o de

costume

3 – Muito mais que o de

costume

06. Você tem sentido a sensação de que não pode superar suas dificuldades?

0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o

costume

2 – Mais que o de

costume

3 – Muito mais que o de

costume

07. Você se sente razoavelmente feliz, considerando as circunstâncias?

0 – Mais que o de

costume

1– Aproximadamente ao

de costume

2 – Menos que o de

costume

3 – Muito menos que o

de costume

08. Você tem realizado com satisfação suas atividades normais do dia-a-dia?

0 – Mais que o de

costume

1 – Igual ao de costume 2 – Menos que o de

costume

3 – Muito menos que o

de costume

09. Você tem sentido capaz de enfrentar seus problemas adequadamente?

0 – Mais capaz que o de

costume

1 – Igual ao de costume 2 – Menos capaz que o de

costume

3 – Muito menos capaz

que o de costume

10. Você tem se sentido infeliz e deprimido?

0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o

costume

2 – Mais que o de

costume

3 – Muito mais que o de

costume

11. Você tem perdido a confiança em si mesmo?

0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o

costume

2 – Mais que o de

costume

3 – Muito mais que o de

costume

12. Você tem pensado que é uma pessoa inútil?

0 – Não, de modo algum 1 – Não mais que o

costume

2 – Mais que o de

costume

3 – Muito mais que o de

costume

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Anexo III

ESCALA DE CARACTERIZAÇÃO DO BURNOUT

Escala de Respostas

1. Nunca 2. Raramente 3. Algumas Vezes 4. Frequentemente 5. Sempre

01. Sinto-me esgotado ao final de um dia de trabalho.

02. Trato alguns penitenciados com distanciamento.

03. Eu me sinto frustrado com meu trabalho.

04. Meu trabalho afeta negativamente minha saúde física.

05. Trato alguns penitenciados com indiferença, quase de forma mecânica.

06. Acho que as coisas que realizo no meu trabalho valem a pena.

07. Sinto que a carga emocional do meu trabalho é superior àquela que posso suportar.

08. Sinto que alguns penitenciados são “meus inimigos”.

09. Meu trabalho me faz sentir como se estivesse num beco sem saída.

10. Meu trabalho me faz sentir emocionalmente exausto.

11. Enfureço-me com alguns penitenciados.

12. Eu me sinto desanimado com meu trabalho.

13. Acho que estou trabalhando demais no meu emprego.

14. Sinto que desagrado a alguns penitenciados.

15. Sinto-me desesperado com meu trabalho.

16. Meu trabalho me exige mais do que posso dar.

17. Perco a paciência com alguns penitenciados.

18. Acho que meu trabalho parece sem sentido.

19. Meu trabalho afeta negativamente meu bem-estar psicológico.

20. Trato alguns penitenciados com cinismo.

21. Eu me sinto inútil no meu trabalho.

22. Meu trabalho me faz sentir como se estivesse no limite das minhas possibilidades.

23. Eu me sinto identificado com meu trabalho.

24. Sinto que meu trabalho está me destroçando.

25. Quando me levanto de manhã sinto cansaço só de pensar que tenho que encarar mais um dia de trabalho.

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26. Trato alguns penitenciados com frieza.

27. Eu me sinto sugado pelo meu trabalho.

28. Eu me sinto desiludido com meu trabalho.

29. Eu me sinto saturado com meu trabalho.

30. Evito o trato com alguns penitenciados.

31. Eu me sinto desgastado com meu trabalho.

32. Sinto-me emocionalmente vazio com meu trabalho.

33. Sinto-me infeliz com meu trabalho.

34. Fico de mau humor quando lido com alguns penitenciados.

35. Eu me sinto cheio de energia para trabalhar.

Obrigado pela contribuição!

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