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UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS ALESSANDRA KELY DA SILVA AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO: O CASO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1968-1972 Varginha/MG 2014

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Page 1: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALFENAS

ALESSANDRA KELY DA SILVA

AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO: O

CASO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1968-1972

Varginha/MG

2014

Page 2: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

ALESSANDRA KELY DA SILVA

AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO: O

CASO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1968-1972

Trabalho de conclusão de curso apresentado ao

Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da

Universidade Federal de Alfenas, como

requisito parcial à obtenção do título de

Bacharel em Ciências Econômicas com Ênfase

em Controladoria.

Orientador: Prof. Dr. Michel Deliberali

Marson

Varginha/MG

2014

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ALESSANDRA KELY DA SILVA

AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO: O

CASO DO ESTADO DE SÃO PAULO, 1968-1972

A Banca examinadora abaixo-assinada, aprova

a monografia apresentada como parte dos

requisitos para obtenção do título de Bacharel

em Ciências Econômicas com Ênfase em

Controladoria da Universidade Federal de

Alfenas.

Aprovada em: Varginha, de de 2014.

________________________________

Prof. Michel Deliberali Marson (Orientador)

________________________________

Prof. Thiago Fontelas Rosado Gambi

________________________________

Prof. Bruno Aidar Costa

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus, pela imensa fidelidade.

A minha mãe, Maria Tereza, e meu pai, Roberto, pela confiança que sempre em mim

depositaram.

Ao Michel, meu orientador, pela ajuda, e principalmente, pela paciência com a pesquisa.

Aos amigos que fiz durante esse percurso, mas que não se limitam somente ao tempo de

Universidade. Em especial, agradeço à Rafa, por tudo.

As ricas contribuições dos professores Thiago e Bruno, participantes da banca de defesa.

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Resumo

As transformações pelas quais passou o Brasil a partir da década de 1940, dado o seu processo

de substituição de importações e como consequência a intensificação do seu processo de

industrialização, sem dúvida, foram marcantes internamente para o país. Primeiramente, a

industrialização favoreceu o seu crescimento econômico, nascendo com ela a esperança de

autonomia perante os demais países do mundo; em seguida, incorporou padrões e estilos de

vida provenientes do capitalismo dos países centrais; posteriormente, acentuou o movimento

migratório, expulsando milhões de pessoas do campo e criando a falsa ilusão de que a

salvação se encontraria nas cidades. Com o advento do Milagre Econômico Brasileiro de

1967-1973 se sustentaram e até mesmo agravaram as condições de outrora, entretanto

revestidas em caráter mais brando. O período é normalmente tratado como sendo uniforme,

atribuição conferida em grande parte pela conjuntura de crescimento acelerado, adoção de

política expansionista na maior parte do tempo, redução da inflação e, pelo comando do

ministro Delfim Netto na condução da política econômica. Ademais, como tendência,

encontramos o agravamento da desigualdade distributiva, ocasionando o aumento na

concentração da renda em favor de uma minoria privilegiada. Feitas as devidas considerações,

pontuaremos as heterogeneidades existentes no período do Milagre Econômico. Comecemos

por fragmentar os dois governos da época: o de Artur da Costa e Silva (1967-1969) e Emílio

Garrastazu Médici (1970-1973). No governo do presidente Costa e Silva, apresentando como

projeto de governo o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED), observamos o início da

retomada do crescimento econômico e duas inflexões na condução da política econômica,

com a primeira fase (1967-1968) marcada pela heterodoxia e, no último ano do governo, em

1969, depois de instaurado o Ato Institucional nº 5, marcado pela ortodoxia com vistas ao

combate direto da inflação. Já no ano de 1970, ao assumir a presidência, Médici, novamente

reconduz a economia a uma nova orientação política e ideológica, apresentando como plano

de governo o projeto Brasil Grande Potência, cujos objetivos pretendia inserir o país entre os

desenvolvidos até os anos 2000. Marcado por grandes aspirações e intensificação do processo

de crescimento econômico, a preocupação com a inflação se transforma em objetivo

secundário, o que muda a partir de 1972, quando a política econômica passa por nova

inflexão, apresentando como propósito definido, o combate da inflação. Nesse sentido, esta

pesquisa trata-se do período específico da ditadura militar conhecido como Milagre

Econômico Brasileiro, analisando o período de 1968 a 1972, e tem como objetivo avaliar as

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consequências sociais desse “milagre” para a população, no que se refere à distribuição da

renda no período para o Brasil e para o estado de São Paulo. Conclui-se que, de fato, no

período, há um aumento acentuado do Produto Interno Bruto (PIB) que vem acompanhado de

reduções na taxa de inflação, confirmando a origem do termo “milagre econômico”. No

entanto, como consequência, é observado para o período de 1960-1970 um aumento de pelo

menos 8,60% no grau da concentração da renda capturado pelo Índice de Gini, acompanhado

do aumento da participação no total da renda apenas para os decis superiores da distribuição.

Sendo assim, esse cenário corrobora com a afirmativa de que há um aumento no grau de

concentração da renda no período, sendo essas conclusões obtidas por meio dos censos

demográficos de 1960 e 1970, para o Brasil. Quando avaliamos com base na Pesquisa

Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD’s), para o estado de São Paulo, entre os anos de

1968 a 1972, se verifica que em termos gerais é observado um aumento no ganho de renda

para os estratos inferiores da distribuição, contudo, a renda ainda se mantém concentrada nos

estratos superiores dessa distribuição.

Palavras-chave: Milagre Econômico. Crescimento Econômico. Índice de Gini. Distribuição de

Renda.

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Abstract

The transformations that Brazil has been through since 1940, which can be seen in the process

of the import substitution with as consequence the intensification of the industrialization

process, were for sure internally characteristic for the country. First of all, the industrialization

favoured the economic growth, which created the hope on autonomy earlier than most other

countries in the world; then it incorporated standards and life styles which were descendant

from the capitalism of the central countries; afterwards it emphasized on the migratory

movement by expelling millions of people from the countryside and creating a false illusion

of a salvation for them in the cities. With the coming of the Brazilian Economic Wonder from

1967 till 1973 the conditions of the situation herefore were maintained and even worsed, but

overlaid in a mild character. Normally this period is described as being uniform, with an

allocation conferred largely by the context of the accalerated growth, the adoptation of

expanding politics most of the time, reduction of the inflation, and by the command of

minister Delfim Netto leading the economic politics. Moreover, as a tendancy, we see the

aggravation of distributive inequality, which causes the change in the concentration of the

income in favor of a privileged minority. After making these considerations, we will point out

the existing heterogeneity during the Economic Miracle. We start by looking at the two

different governments in this period: the one lead by Artur da Costa e Silva (1967-1969) and

Emílio Garrastazu Medici (1970-1973). In the government of president Costa e Silva, who

presented the Strategic Development Plan as governamental project, we’ll see the begin of the

resumption of the economic growth and two inflections on the economic political lead, with

the first period (from 1967 till 1968) marked by heterodoxy and in the last year of this

government, 1969, after the introduction of the 5th Intsitutional Act, marked by orthodoxy

with views on the direct fight on inflation. In the year 1970, when president Medici took

control, the political orientation and the ideology on economy were changed again, by

presentating the governantal project called Brazil Big Potention, which had getting Brazil

between the developped countries by the year 2000 as goal. Marked by big aspirations and the

intensification of the process of the economic growth, the battle on inflation was put on the

second place, which changed in 1972, when the economic politics got a new inflection, by

presentating the battle on inflation as main goal. In this sense this research mainly focuses on

the period of the militar dictatorship known as the Brazilian Economy Miracle, between the

years 1968 and 1972 and has evaluating the social consequences of this miracle on the whole

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population as objective, which refers to the income distribution in that period to Brazil and to

the state of São Paulo. It can be concluded that between the years 1967 and 1973 there was a

change in the Gross Domestic Product which comes together with reductions in the inflation

rate, which confirms the origin of the name economic miracle. However as a consequence it is

observed that there was a change in the period 1960-1970 of at least 8,60% on the rate of

income concentration captured by the Gini coeficiente together with a change of the total

participation just for the higher distribuation’s ”decis”; being thus, this stage confirmed with

the sentence there is a emphasized growth on degree of the inequal income in this period, as

these conclusions are obtained by demography census on 1960 and 1970, for Brazil.

Meanwhile, when we analyse the National Reserch by Residence Sample, to the state of São

Paulo, from the year 1968 till 1972, it’s appears that in general terms is observed an increase

in earned income for the lower stratum of the distribution, however, the rent still remains

concentrated in the upper stratum of this distribution.

Key Words: Economic Miracle. Economic Growth. Gine Index. Rent’s Distribution.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................8

2 O MILAGRE ECONÔMICO BRASILEIRO, 1967-1973: ASPECTOS GERAIS ...10

2.1 O GOVERNO DE ARTHUR DA COSTA E SILVA, 1967-1969 ..............................12

2.1.1 A HETERODOXIA, 1967-1968 ................................................................................. 12

2.1.2 A ORTODOXIA, 1969 …........................................................................................... 15

2.2 O GOVERNO DE EMÍLIO GARRASTAZU MÉDICI, 1970-1973 ...........................18

3 AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO “MILAGRE”: UMA REVISÃO DA

BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................................22

3.1 CONTEXTUALIZAÇÃO: OS ANOS DE 1945 A 1970 .............................................22

3.2 O DEBATE .................................................................................................................. 32

4 RESULTADOS ...........................................................................................................35

5 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 50

REFERÊNCIAS......................................................................................................... 52

ANEXO ...................................................................................................................... 54

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1 Introdução

Os anos de 1930 a 1960 foram de completa transformação para o Brasil, onde o país

abandona seu perfil de Estado voltado apenas para a agroexportação e passa por um grande

impulso e consolidação da industrialização. Esse episódio ocorre principalmente a partir da

década de 1940, quando as políticas nacionais favoreceram a entrada do capital estrangeiro no

país, intensificando assim seu processo de industrialização com a implantação da indústria de

bens duráveis. De outro modo, se verifica acentuada exploração de mão-de-obra e da

manutenção do latifúndio, tornando inviável a criação do dinamismo no mercado interno o

que termina por impulsionar o processo do êxodo rural.

O cenário político e econômico brasileiro pré-1964 era de grande instabilidade.

Primeiro veio a euforia atrelada à falsa ilusão de que o país se tornaria autônomo

economicamente por meio do processo de abertura ao capital estrangeiro que facilitou seu

processo de industrialização. No entanto, sem tardar, se depararam com a realidade de

dependência em relação a essas potências. Quando nos remetemos a historiografia do Brasil,

encontramos nela versões e controvérsias acerca de um mesmo fato. Em se tratando do

período da ditadura militar, a questão não é diferente, por isso se faz tema recorrente no

embate teórico. Especificamente, recortamos o período da ditadura conhecido como o Milagre

Econômico Brasileiro, compreendido entre os anos de 1967 a 1973, para tratarmos das

contradições existentes à época.

No período, encontramos um Estado atuando de forma altamente intervencionista na

economia. Intervindo ao estimular e conceder subsídios aos países estrangeiros para que

pudessem financiar a industrialização no país ou pela própria ditadura que determinou o

modelo de capitalismo adotado no Brasil. Os objetivos estatais foram direcionados para

estímulos que facilitassem a instalação das multinacionais no país, oferecendo-lhes incentivos

fiscais, matéria-prima, mão-de-obra barata com salários de baixo poder aquisitivo,

investimentos em infra-estrutura, sem falar do aparato repressivo fortemente articulado.

A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de

crescimento econômico, com o Produto Interno Bruto (PIB) atingindo médias anuais de 11%,

acompanhado de reduções crescentes na taxa de inflação. Olhando por esse prisma, de fato,

estávamos diante de um “milagre”. No entanto, quando ousamos avaliar o outro lado da

história, nos deparamos com um “falso milagre”, dado as suas consequências para a maioria

da população brasileira. Que a economia no período foi imensamente próspera não resta

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dúvidas, do mesmo modo que também não encontramos questionamentos vazios de respostas

quanto ao beneficiamento do crescimento do bolo por parte de uma minoria privilegiada.

As consequências marcantes do período do Milagre Econômico refletem de modo

direto sobre os trabalhadores de base, representados em sua grande maioria por migrantes

rurais e negros. Para esse grande contingente da população os efeitos são transmitidos via

distribuição da renda, pois é no período que se aumenta de modo considerável a concentração

da renda nas mãos de uma pequena minoria da população. É a partir de então que surge na

historiografia um caloroso debate acerca dos determinantes das consequências sociais do

Milagre Econômico. Verificamos o surgimento da necessidade de respostas à contradição

existente entre aumento do crescimento econômico versus aumento na concentração da renda.

Na literatura que discute o tema, encontramos duas correntes principais que buscam

explicar o episódio, sendo: (1) representada por Langoni (1972), que considerava a elevação

da desigualdade como sendo consequência natural do rápido crescimento acelerado,

combinado com desequilíbrios transitórios no mercado de trabalho; (2) representada por

aqueles que enfatizam a relação direta existente entre concentração de renda e política

econômica adotada pelo governo.

Existe um consenso, por parte dos pesquisadores que estudam o período, sobre o

aumento no grau da concentração da renda, capturado principalmente pelo Índice de Gini e

por meio da distribuição salarial da renda. Em sua grande maioria, as conclusões são obtidas

por meio da análise dos censos demográficos dos anos de 1960 e 1970, publicados pelo

Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O diferencial dessa pesquisa está na

adoção da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD’s), também realizada pelo

mesmo instituto, onde analisamos a distribuição salarial da renda para o Estado de São Paulo

para os anos de 1968 a 1972, adotando para isso as fontes originais primárias das PNAD’s.

Deste modo, o presente trabalho apresenta dois objetivos principais, sendo: (1) expor

de modo teórico o debate existente na literatura sobre o período do Milagre Econômico,

compreendido entre os anos de 1967 a 1973; (2) analisar empiricamente os dados censitários

para o período de 1960/1970 para o Brasil e os dados das PNAD’s para o Estado de São

Paulo, referentes à distribuição da renda no período de 1968 a 1972. Nesse sentido,

procuramos entender as consequências desse episódio, no que se refere principalmente a

questão distributiva da renda e, em especial, a situação dos que se encontram à margem dessa

distribuição.

Quatro seções, além desta introdução, fazem a composição deste trabalho. A seção

dois discute os aspectos gerais do chamado Milagre Econômico Brasileiro, bem como os

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10

governos dos presidentes Arthur da Costa e Silva e de Emílio Garrastazu Médici. A terceira

seção tece uma revisão acerca das transformações pelas quais passou a economia brasileira a

partir da década de 1930 até os anos de 1970, bem como, expõe o debate dos anos de 1970

sobre as consequências sociais do Milagre Econômico. Na seção quatro são apresentados os

resultados da pesquisa sobre as PNAD’s e, por fim, a quinta e última seção, compreende as

considerações finais.

2 O Milagre Econômico Brasileiro, 1967-1973: aspectos gerais

Instaurado o golpe militar em 1964 e implantada a ditadura no Brasil, o marechal

Humberto Castello Branco (1964-1966) assume o governo, resultando assim, na suspensão do

processo político democrático até então vigente. O período era de grande estagnação da

atividade econômica acompanhado de crescente aumento da inflação. Buscando a restauração

da estabilidade macroeconômica, elaborado por Roberto Campos e Octavio Gouvêa de

Bulhões, o governo lança o Programa de Ação Econômica do Governo (PAEG)1, um plano de

medidas ortodoxas destinado ao combate gradual da inflação que introduziu as chamadas

reformas estruturais, fiscal/tributária, financeira/monetária e abertura da economia ao

exterior2.

Na tentativa de fomento e consolidação do processo de crescimento econômico, é

criado o Banco Central em substituição à Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC),

e o Conselho Monetário Nacional (CMN). Em 1965, é criado o Financiamento de Máquinas e

Equipamentos (FINAME), um fundo destinado ao financiamento da compra de equipamentos

nacionais, e aprovada a Lei de Mercado de Capitais, para reorganizar as instituições de

créditos e investimentos. São criados, também, o Banco Nacional de Habitação (BNH) e o

Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). Já em 1966 é implantado o novo Código

Tributário Nacional, o qual aumentou e concentrou, na esfera da União, a arrecadação fiscal

em detrimento dos Estados e municípios3.

1 “Na ótica do PAEG (1964-1966), a crise econômica com que o país se defrontava, manifestada com força em

1963 e inícios de 1964, tinha sua raiz na inflação. Retomar uma trajetória de desenvolvimento sustentado estaria

na dependência de êxito na reversão firme do processo inflacionário (...)” (MACARINI, 2006, p.455). 2 Para maior apreciação do assunto, consulte HERMANN, 2005; VELOSO, VILLELA E GIAMBIAGI (2008).

3 LEÃO, 2009

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11

Na ideologia político-econômica incutida nos discursos oficiais, o desenvolvimento só

poderia ser alcançado via combate direto da inflação4. Ainda assim, com a adoção das

referidas medidas, o ano de 1966 encerra com uma inflação em alta e muito distante do

objetivo pretendido por aqueles que afirmavam desconhecer caso de desenvolvimento com

inflação. Esse era o cenário de instabilidade presente no país, de modo que os anos seguintes

puderam favorecer das dificuldades encontradas no período5. Segundo Veloso, Villela e

Giambiagi (2008) esse favorecimento que levará ao “Milagre Econômico Brasileiro” decorreu

em grande medida do efeito defasado das reformas associadas ao PAEG.

O período compreendido entre os anos de 1967 a 1973 consagra novo marco para a

economia brasileira, sendo conhecido como o “Milagre Econômico Brasileiro”. Denominou-

se assim tratá-lo em vista do grande crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e das

variáveis que o compõem, com suas taxas atingindo patamares de 11,1% a.a., acompanhado

de declínio na taxa de inflação e superávits no balanço de pagamentos brasileiro6. O setor

industrial e o agrícola foram os mais beneficiados com o advento do milagre econômico7.

Há uma vasta discussão a respeito de quais seriam, de fato, o(s) determinante(s) do

“milagre”. As principais teses afirmam que o milagre econômico só foi possível (1) em

virtude da situação externa favorável; (2) do desempenho de variáveis de política econômica

no período de 1968-1973 e (3) das reformas institucionais do PAEG. Contudo, apesar dos

“anos gloriosos” se desdobrarem durante toda a época, cabe destacar que o período foi

governado por dois presidentes cujas aspirações não convergiam totalmente, sendo eles: Artur

da Costa e Silva, com o Plano Estratégico de Desenvolvimento (PED), governando entre os

anos de 1967 a 1969 e Emílio Garrastazu Médici, com o projeto Brasil Grande Potência,

presidindo entre os anos de 1970 a 1973.

Macarini (2005) afirma que tornou recorrente o modo como a literatura tradicional

alude a todo o período de 1967-1973, com forte tendência a tratá-lo em bloco, possuindo

características essencialmente lineares, tendo iniciado em 1967 no governo Costa e Silva e

envolvendo o governo Médici. Presume-se que alguns fatores levaram a adoção de tal

posição, dentre eles: (1) a condução da política econômica nos dois períodos sob o comando

de Delfim Netto; (2) a inflexão ocorrida em 1967-1968; (3) o caráter expansionista da política

econômica na maior parte do tempo; (4) a conjuntura de crescimento acelerado. Entretanto,

4 MACARINI, 2005

5 HERMANN, 2005

6 VELOSO, VILLELA E GIAMBIAGI (2008)

7 TAFFAREL, 2010.

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12

sem dúvida, encontramos elementos de continuidade no período, com o tratamento prestado

aos salários representando o principal deles.

Para Hermann (2005) o chamado “milagre” pode ser justificado pela contrariedade de

duas razões macroeconômicas existentes: (1) a correlação entre crescimento e inflação, ou

inversamente, a retratada curva de Phillips que expressa à relação entre desemprego e

inflação; (2) o dilema entre crescimento econômico e saldo do Balanço de Pagamentos (BP).

Segundo Macarini (2006), embora a condução da política econômica tenha assumido o

caráter heterodoxo durante os primeiros anos do governo Costa e Silva, torna-se equivocado

projetar esse ideário por todo o período do “milagre econômico brasileiro”. Procedendo desse

modo perdem-se movimentos importantes da política econômica, tendo esta assinalada

importante inflexão depois de instaurado o Ato Institucional nº 5 (AI-5), retornando a

ortodoxia em 1969, o último ano do governo, com vistas ao combate da inflação. Novamente,

em fins de 1969, já no governo do presidente Médici, a política econômica sobrevém por

outra orientação.

De acordo com Leão (2009, p.37), o chamado Milagre Econômico Brasileiro pode

assim ser definido: “um intenso crescimento da acumulação capitalista beneficiado por

altíssimas taxas de lucros resultantes da compressão dos salários dos trabalhadores, de

maneira tão exagerada, que chegou a ameaçar a continuidade do processo de crescimento”.

Para tanto, na tentativa de melhor compreensão acerca de todo o período do chamado

Milagre Econômico Brasileiro bem como com relação aos respectivos governos e política

econômica adotada nos governos dos presidentes Costa e Silva e Médici, torna-se

imprescindível dividi-lo, prestando-lhe assim maior fidedignidade.

2.1 O governo de Arthur da Costa e Silva, 1967-1969

2.1.1 A heterodoxia, 1967-1968

O general Costa e Silva assume a presidência em março de 1967 e para integrar o

quadro ministerial, convida o economista Antônio Delfim Netto para assumir a pasta da

Fazenda. O mesmo acontece no governo do presidente Emílio Garrastazu Médici (1970-1973)

que, no entanto, como se verificará mais adiante no presente trabalho, o Ministro muda seu

discurso no governo do presidente Médici.

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Segundo Macarini (2006), o governo do presidente Costa e Silva é marcado pelo início

da retomada do crescimento econômico e pela inflexão na condução da política econômica,

existindo, pois, duas fases distintas durante os anos de comando do presidente. A primeira,

definida entre os anos de 1967 a 1968, assume características heterodoxas, afastando, pois, da

linha de atuação praticada no governo do presidente Castello Branco, expressada pelo PAEG.

A segunda emerge em 1969, após a instauração do Ato Institucional nº 5 (AI-5), com a

ortodoxia novamente em ação, objetivando em primeira instância o combate direto da

inflação.

Logo no início da sua atuação, o ministro Delfim Netto, alertava para a necessidade de

reorientação da política econômica, declarando que quando as autoridades econômicas

estimaram a inflação8 como sendo de demanda, influíram em um erro de avaliação da

conjuntura e no equívoco em relação à execução da política econômica. Afirmando que a

inflação brasileira era de custos e, nesse caso, a aplicação inadequada da política de

estabilização, além de realimentar o processo inflacionário, colocou a economia em um

processo recessivo. Em uma conjuntura de custos crescentes, o controle da demanda regulado

na contenção da oferta de moeda e crédito, agravado pela incidência da política fiscal e

salarial, conduziria à queda dos níveis de produção e emprego. Sendo assim, defendia a

necessidade de mudança nas prioridades, partindo de um diagnóstico mais adequado à

realidade, a fim de que se pudesse retomar o desenvolvimento e derrotasse a inflação9.

De acordo com o discurso do ministro, dada as condições vigentes àquela conjuntura,

fazia-se necessária a reorientação da política econômica. Destarte, rescindindo com as

estruturas de outrora e afastando-se da ortodoxia praticada pelo PAEG, passou-se a adoção de

políticas fiscal e monetária expansionistas, deixando de lado a busca do orçamento

equilibrado de outrora. Os principais objetivos da nova administração eram expressos na

estabilização do nível de atividade econômica em sua tendência de longo prazo, na retomada

do desenvolvimento acelerado e na redução das taxas de inflação10

.

Na tentativa de traçar os rumos da política econômica, em 1968, o governo lança o

Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED), tendo como principal objetivo ensejar a

viabilidade do desenvolvimento brasileiro. Nos discursos oficiais, afirmava-se que até aquele

momento o país apostava em um único fator: a indústria. Na tentativa de conseguir a

retomada do crescimento tornava-se necessário a adoção de um novo modelo de

8 Inflação de demanda corresponde ao excesso de procura em relação à oferta disponível na economia. Já a de

custos, tem origem por pressões de custos e apresenta como repasse o aumento dos preços (LEÃO, 2009). 9 MACARINI, 2006.

10 Idem.

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14

desenvolvimento, com vistas a priorizar o caráter multissetorial da economia, devendo, pois,

incentivar e ampliar os diversos setores aptos a sustentar o crescimento econômico. Nesse

sentido, deviam-se atentar aos setores considerados chave para o desenvolvimento, em

especial, o setor agrícola, o de infra-estrutura econômica e o de infra-estrutura social. A

indústria de transformação continuaria sendo um dos setores dinâmicos no processo de

desenvolvimento do país, para tanto, tornava-se necessário que, quando viável, optassem pelo

processo de substituição de importações, expansão do mercado interno e promoção das

exportações11

.

As principais prioridades do Programa Estratégico de Desenvolvimento (PED) eram:

(1) estabilizar os preços, porém sem fixar metas explícitas para a inflação; (2) o

fortalecimento da empresa privada, concedendo incentivo direto aos investimentos; (3)

consolidar a infra-estrutura; (4) ampliar o mercado interno; (5) implantar uma política de

minidesvalorizações cambiais, evitando-se a expressiva defasagem cambial por causa do

processo inflacionário12

.

No campo da política fiscal, esta foi adotada apresentando como prioridade a

reativação da economia, em 1967; porém no ano seguinte, quase não apresentou importância

para a manutenção do crescimento. Em 1967 o déficit orçamentário representou 1,7% do PIB,

contra 1,1% em 1966. Nesse período, as faixas salariais favorecidas puderam se beneficiar de

um ganho aproximado de 5% em virtude da elevação do teto de isenção sobre o imposto de

renda das pessoas físicas. Ainda buscando a reativação da economia, o governo determinou o

alongamento transitório dos prazos para o recolhimento do IPI, passando a dispor de 30 a 45

dias, e não mais no ato do faturamento como de praxe. Em resposta a essa medida, se

disponibilizava ao setor industrial significativa soma de recursos para capital de giro a um

custo praticamente nulo. Se em 1967 a política fiscal era utilizada para induzir a economia,

em 1968, já não apresentava expressivo papel na manutenção do crescimento, posto que o

déficit orçamentário representava 1,2% do PIB13

.

É no desempenho da política monetária que aconteceria a mudança mais expressiva,

com a expansão contínua da oferta de moeda e crédito. No período há um significativo

aumento no crédito bancário concedido ao setor privado (perfazendo 30% a.a. em termos

reais) e o aumento do suporte dado à agricultura, ambos com o Banco do Brasil à frente. A

condução da política monetária aconteceu de forma instrumental, produzindo demanda

11

MACARINI, 2005 12

HERMANN, 2005. 13

MACARINI, 2006.

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15

crescente de liquidez e capital de giro. Entretanto, a liderança da recuperação coube aos bens

duráveis, mais ligados a processos de reconcentração de renda e expansão do crédito direto ao

consumidor, do que propriamente da condução da política monetária de forma instrumental14

.

Na política anti-inflacionária, para 1967 o desempenho se deu basicamente por meio

do comportamento dos preços agrícolas em uma conjuntura de oferta em expansão. Buscando

a necessidade de coerência com o novo diagnóstico, tentou-se a redução das taxas de juros,

por meio dos empréstimos do Banco do Brasil e por tentativas de “acordos de cavalheiros”,

desaguando na fixação de um teto amparado pela Resolução 72. É verificado o abandono do

financiamento “não inflacionário” do déficit orçamentário, antes praticado pelo PAEG.

Todavia, o elemento mais significativo no combate da inflação foi a adoção da prática de

acompanhamento dos preços industriais, levando à instituição do Conselho Interministerial de

Preços (CIP) em 1968. É a partir de então que se observa a introdução das primeiras medidas

mais agressivas de estímulo às exportações, com isenção de impostos indiretos,

minidesvalorizações cambiais, etc15

.

2.1.2 A Ortodoxia, 1969

Já em 1969, o período desfrutava do desempenho favorável obtido pela economia no

ano anterior. Os níveis alcançados pelo emprego industrial superavam todas as metas desde

1964, juntamente com a expansão do setor industrial, que atinge marcas de 14%. Também são

beneficiados os setores da construção civil e o automobilístico, com o primeiro sofrendo

expressiva reativação e, o segundo, alcançando recordes na produção, ultrapassando as 270

mil unidades. Em resposta ao crescimento dos dois setores e a reativação do investimento

público, o setor de bens intermediários também está aquecido, tendo a siderurgia alcançada à

ordem dos 16%, em 1968. O setor de materiais de construção, surpreendido pela expansão da

demanda, chega a sofrer com a escassez de alguns materiais. Se em outros tempos a crise

havia penalizado a indústria têxtil, o período é favorável para a recuperação parcial dos

prejuízos. Entretanto, a retomada não se limitou apenas aos níveis de produção corrente,

abarcando os investimentos industriais. Também na pauta das exportações foi observado

14

Idem 15

Idem

Page 18: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

16

considerável aquecimento, atingindo a marca de US$ 1,8 bilhão, após 15 anos de

estagnação16

.

A política econômica heterodoxa e o crescimento econômico demonstravam estar em

consonância no período. No entanto, o ano de 1969 surpreendentemente é assinalado pela

mudança de discurso adotada pelo ministro Delfim Netto. Inseridos em um ambiente de

dúvida e incertezas quanto ao real efeito das medidas adotadas, opta-se então pela utilização

de uma postura mais tímida na condução desta política. Sendo assim, depois de instaurado o

Ato Institucional nº 5 (AI-5), o movimento que se deu na condução da economia, sugere que

as próprias autoridades não estavam plenamente seguras da solidez da recuperação pela qual a

economia estava passando, pois a percepção do “milagre” ainda não havia acontecido. Com o

AI-5 facultando a ampliação do espaço de manobra da política econômica, a preocupação

com o combate da inflação foi novamente colocada em questão, desaguando em uma nova

inflexão na condução desta política17

.

Se a política econômica nos anos de 1967-1968 apresentava como plano de fundo a

heterodoxia, com políticas monetária e fiscal expansionistas, onde se buscava estabilizar e

acelerar o ritmo do crescimento econômico, em 1969, a política assume traços restritivos,

condicionando o crescimento da economia ao êxito no combate à inflação18

, tornando visível

a inflexão conferida na condução desta política. Em 1969, as autoridades monetárias

concentraram-se na redução do déficit orçamentário, no fortalecimento da empresa privada

nacional e no tabelamento da taxa de juros. Nos discursos oficiais do governo, afirmavam que

o bom êxito no combate da inflação somente seria possível por intermédio dessas medidas19

.

Na tentativa de diminuir o déficit do governo, optam-se pelas seguintes medidas: (1)

Decreto nº 63.946, de 30/12/68, apresentava como objetivos a redução do nível de despesas

correntes, com um dos dispositivos limitando as contratações na Administração Direta e nas

Autarquias. Com esse decreto, buscava atingir uma redução nas despesas de Cr$ 350 milhões;

(2) Decreto nº 64.010, de 21/01/69, tal medida estabelecia para o orçamento de 1969 uma

despesa máxima de Cr$ 14.229 milhões e previa uma arrecadação de receita no montante de

Cr$ 13.125 milhões; (3) Ato Complementar 40, de 30/12/68, determinava a redução à metade

do Fundo de Participação dos Estados e Municípios, buscando alcançar uma economia da

ordem de Cr$ 600 milhões com a redução do déficit orçamentário para Cr$ 528 milhões20

.

16

Idem 17

Idem 18

Idem 19

Idem 20

Idem

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17

Da ordem fiscal, conferindo expressivo benefício à classe empresarial, foram

instituídos: (1) Decreto-lei nº 401, de 30/12/68, determinava a redução de impostos de renda

na fonte para as Sociedades Anônimas (S.A). Essas sociedades obtiveram uma redução de

40% para 15% do IR que incidiam sobre bonificações e dividendos de ações e, redução de

25% para as demais sociedades anônimas. Para as empresas que incorporassem reservas ao

seu capital foi-lhes concedida isenção de IR até 30/06/69; (2) Decreto-lei nº 403, de 30/12/68,

disciplinava sobre a tributação dos títulos de renda fixa, tornando obrigatório o imposto de

renda na fonte; estabeleceu alíquotas diferenciadas para IR variando conforme o prazo de

vencimento (10% para títulos com 180 dias a 4% para títulos com prazo igual ou superior a

720 dias); (3) Decreto-lei nº 427, de 08/01/69, apresentava como objetivo o desestímulo ao

mercado paralelo, estabelecendo a obrigatoriedade do registro no prazo de 60 dias (a contar da

data de publicação) de todas as notas promissórias e letras de câmbio até então emitidas, com

pena de nulidade desses títulos de crédito. Aos títulos emitidos a partir da data de publicação

do decreto deveriam fazê-lo, sob a mesma pena de nulidade, no prazo de 15 dias a contar de

sua emissão21

.

Tais medidas pretendiam diminuir a inflação por meio da redução do déficit

orçamentário do governo. Contudo, esse seria apenas um passo necessário para o combate da

inflação, devendo vir acompanhado da execução de política monetária de forma restritiva,

evitando a expansão abundante da oferta de moeda e crédito ao setor privado. Por isso a

importância dada aos apoios fiscais concedidos ao empresariado, a fim de reforçarem a

capacidade interna de geração de recursos, facilitando a busca da disciplina monetária e,

esperava-se até que ensejassem alívio nas taxas de juros. Numa perspectiva de longo prazo,

esperava-se que esses mesmos efeitos fossem assegurados pela expansão do mercado de

capitais, reduzindo assim o grau de dependência do crédito bancário22

.

A discussão em relação às altas taxas de juros novamente seria colocada em pauta. Por

meio da Resolução nº114, do Banco Central, de 07/05/69 ficava estipulado: (1) os bancos

deveriam cobrar em suas operações ativas, no máximo 1,8% a.m. sobre operações comerciais

com prazo de até 60 dias, e taxas de 2% a.m. em operações com prazos superiores e 2,2%

a.m. para outros tipos de operações; (2) os estabelecimentos de créditos que adotassem taxas

de 1,6% a.m. até 60 dias e 1,8% acima de 60 dias, poderiam realizar seus depósitos

compulsórios num limite de até 50% em Obrigações Reajustáveis do Tesouro Nacional

(ORTN); (3) fixa a tarifa máxima para a cobrança dos serviços prestados pelos bancos

21

Idem 22

Idem

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18

comerciais e veda o abono de juros sobre os depósitos à vista pelos estabelecimentos

comerciais; (4) proibição de maneira formal à retenção de parcela do empréstimo23

.

A questão do tabelamento da taxa de juros merece destaque. Se no início assumiu

forma discreta, nos anos seguintes, entre 1971-1972, explicitamente representou fomento à

concentração bancária e financeira. Se, por pressuposto, a concentração deriva da própria

interação do sistema, na prática é observado o favorecimento da concentração, estimulada por

mecanismos de política econômica, onde em nome da redução das taxas de juros se verifica o

superfavorecimento do grande capital bancário no período24

.

Portanto, não restam dúvidas quanto ao direcionamento conferido à política

econômica naquele ano, tendo em vista o alcance da estabilidade monetária. Ressaltando que

para os condutores da política econômica, não se observava a necessidade pautada no objetivo

de intensificar o ritmo do crescimento econômico com vistas a transformar o país em uma

Nação Potência, como seria observado a partir do governo do presidente Médici25

.

2.2 O Governo de Emílio Garrastazu Médici, 1970-1973

O general Emílio Garrastazu Médici ao assumir a presidência no ano de 1970 conduz a

economia por meio de novas aspirações políticas e ideológicas. Em comum ao governo

anterior, Delfim Netto se mantém como ministro. As aspirações políticas do grupo em

ascensão eram ambiciosas e apresentavam como meta de política econômica o crescimento

acelerado, ficando a preocupação com o controle da inflação não mais visto como condição

prévia para se alcançar o desenvolvimento26

.

A recuperação econômica do país se iniciou em 1967, no entanto para as autoridades

econômicas não existia plena consciência do feito. Essa tomada de consciência só acontece no

início de 1970, o que pode explicar e possibilitar a nova inflexão que aconteceria na condução

da política econômica. É somente com esse conhecimento que se tornam coerentes os novos

rumos conferidos na condução do país. Nesse contexto é desenhado o projeto Brasil Grande

23

Idem 24

Idem 25

Idem 26

MACARINI, 2005

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19

Potência, apresentando como meta definida a inserção do Brasil entre os países desenvolvidos

até os anos 200027

.

Na nova conjuntura econômica, o ministro Delfim Netto adquire outra postura em

relação às diretrizes que iriam conduzir o país. Se no último ano do governo Costa e Silva

havia uma postura cautelosa, agora Delfim Netto se encontrava em conformidade com os

anseios do novo governo, defendendo para o período uma meta de crescimento da ordem de

9% a.a. Como prioridade para se alcançar o desenvolvimento, defendia o alargamento da

produção agrícola e o crescimento das exportações. Como núcleo da nova opção estratégica

nascia o modelo agrícola-exportador, apresentando a meta de concretizar as sonhadas

ambições do governo28

. Assentindo com os novos anseios das autoridades governamentais

notamos também a expressiva radicalização do autoritarismo nesse período29

.

O discurso delfiniano sobre o desenvolvimento econômico do país adotava como

premissa a produção agrícola juntamente com o aumento das exportações. Esse processo

aceleraria a criação de renda por meio da ampliação do mercado interno e do crescimento dos

demais setores da economia. Desse modo, competia aos setores da agricultura e exportação

criarem as condições para a rápida ampliação do mercado interno30

.

Com o novo projeto brasileiro, nascia a ambição de dobrar a renda per capita do país

entre os anos de 1970 a 1980. Buscando oferecer suporte à adoção da nova estratégia de

governo, a equipe econômica liderada por Delfim adotava críticas formuladas em relação às

políticas utilizadas anteriormente, afirmando que a maneira com a qual se conduzira a política

econômica até o momento não mais encontrava sustentação no processo de substituição de

importações. Chegado o estrangulamento, tal processo não conseguiria mais cumprir o papel

de alcançar o desenvolvimento industrial do país31

.

Na tentativa de transformar a atividade agrícola em agronegócio, foram grandes os

incentivos que lhe foram destinados, destacando-se os seguintes: (1) isenção de imposto sobre

produtos industrializados (IPI) de tratores e demais máquinas agrícolas, matérias-primas,

produtos intermediários, material de embalagem utilizado pela indústria de máquina e

implementos agrícolas; (2) isenção de imposto sobre circulação de mercadoria (ICM) de

tratores, insumos utilizados na produção de adubos e fertilizantes, motores e engrenagens

27

Idem 28

Idem 29

HERMANN, 2005 30

MACARINI, 2005 31

Idem

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20

utilizadas na fabricação de tratores; (3) redução do imposto de renda (IR) devido pela

agricultura; (4) incentivo fiscal à compra de tratores, máquinas agrícolas e fertilizantes32

.

Uma grande disponibilidade de crédito com taxas de juros favorecidas acompanham

os inúmeros incentivos. Em termos reais, o volume de financiamento de tratores (financiados

pelo Banco do Brasil) cresceu 16,5% em 1970 e, em 1973, praticamente triplicou. O volume

de crédito para fertilizantes cresceu acima de 150% em 1970 e, em 1971, acima de 200%, já

em 1973 representava 14% do volume total do crédito rural33

.

No entanto, é observado que a atenção especial conferida à atividade agrícola decorria

do fato da participação mínima da demanda industrial no total das exportações. Se no discurso

existia a associação que a ênfase prestada à agricultura derivava da necessidade de ampliação

do mercado que requeria o crescimento acelerado, na prática se observa a existência de outra

razão para a atenção que lhe foi prestada. É verificado que nas experiências de

desenvolvimento econômico do Brasil, as importações se comportavam de forma elástica em

relação ao crescimento do produto, com o dinamismo das exportações de importância

fundamental contra o estrangulamento externo. Com efeito, a meta de crescimento das

exportações agrícolas refletia precisamente o ritmo esperado de importações decorrente do

crescimento do PIB, ou seja, da ordem de 9% a.a. Cumpre destaque que a adoção do modelo

agrícola exportador não representou retrocesso industrial, sendo, pois, a expansão industrial

inicialmente fixada em 10,5% a.a., condicionada à expansão da agricultura e das exportações

que criariam as condições plausíveis para sua concretização34

.

Na primeira metade do governo do presidente Médici, a execução da política

econômica podia ser traduzida na utilização das seguintes medidas: (1) Política Monetária; (2)

Política Fiscal; (3) Política Industrial.

A Política monetária: amparada nas seguintes Resoluções: (1) Resolução 130, de

27/1/70, reduziu o compulsório de 27% para 25%, criando faixa especial de financiamento

para as pequenas e médias empresas; fixação da taxa de juros em 1,5% a.m., com prazos de

12 meses; (2) Resolução 134, de 18/02/70, fixou a taxa de juros dos bancos comerciais em

1,6% a.m. nas operações até 60 dias e 1,8% nas de prazos superior; (3) Resolução 136, as

taxas cobradas pelos bancos de investimento sofreram uma redução de 10%. Essas medidas

traduziam em uma melhora das condições de crédito, com objetivo de alcançar taxas reais de

juros no patamar de 8% a 10% a.a. Contudo, na prática, essa política refletiu indiretamente

32

Idem 33

Idem 34

Idem

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21

(ou diretamente) no movimento de concentração bancária, visto que os grandes bancos já

praticavam taxas de 1,6% a.m., amparados pela Resolução 114, de 196935

.

A Política fiscal: apresentando como característica principal o estímulo prestado ao

financiamento do capital de giro com custo praticamente zero. A partir de 1970, a dilatação

dos prazos para impostos indiretos torna-se permanente, contribuindo para a expansão do

ritmo da atividade. No entanto, o instrumento contava com certa seletividade, conferindo

prioridade aos setores débeis ou prioritários, adotando prática de concessão de prazos

máximos para a indústria têxtil, de calçados e do aço, por exemplo. A Resolução nº 65, de

19/08/70 reduziu as alíquotas de IPI e ICM em 0,5% a.a., de 1971 a 1974. Amparados pela

resolução, o empresariado obteve a ampliação do capital de giro de suas empresas, pois além

de mecanismo de recolhimento, representou disponibilidade de financiamento do capital de

giro a custo zero para o setor empresarial. A implantação do open market, data do ano de

1970, amparado no Decreto-Lei nº 1079 de 29 de janeiro de 1970, e na Resolução nº 150, de

22 de julho de 1970. Algumas das possibilidades dos bancos decorrentes do open se

traduziam na remuneração de parte do seu encaixe, desenvolvimento de atividades

interbancárias e valorização do capital de curto prazo36

.

A Política industrial: com a criação do Plano Siderúrgico Nacional, apresentando

como objetivo quadruplicar a produção de aço em uma década, alcançando a produção de 20

milhões de toneladas em 1980. Em consonância com a continuidade do crescimento

acelerado, deveriam ser concretizada as decisões de investimento privado, de modo que foi

oferecida uma soma de incentivos ao empresariado por meio dos Decretos-Leis nº 1.136, nº

1.137, Decreto nº 67.707, Portaria GB-334, ambos datam do dia 07/12/1970 e concediam

isenção de imposto para importação, ICM e IPI, de produto sem similar nacional ou das partes

complementares a produção nacional. Ainda por meio do BNDE-Finame e CEF-BB, seria

ofertado o crédito de longo prazo, condição essencial da competitividade da indústria de bens

de capital37

.

Nos dois primeiros anos do Governo Médici, a política econômica fora extremamente

favorável devido ao: (1) amplo incentivo à agricultura, aos exportadores, à indústria e aos

bancos; (2) crescimento econômico vantajoso; (3) estabilização da inflação; (4) aumento de

divisas. Aos anos de 1972-1973 é combinada uma conjuntura interna e externa de crescimento

favorável, com o período também marcado pelo crescimento das economias capitalistas de

35

Idem 36

Idem 37

Idem

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22

todo o mundo. O país também se beneficiou do crescimento da economia mundial, pois com o

comércio mundial atingindo seus maiores índices de expansão desde o pós-guerra, havia uma

sobreliquidez internacional, onde ocorreu a duplicação do mercado de euromoedas entre os

anos de 1970-1973, refletindo diretamente nos preços internacionais dos produtos primários,

que desfrutaram entre 1972-1974 do seu maior boom desde o pós-guerra. Internamente

alcançando elevadas taxas de crescimento, o país se encontrava em uma conjuntura de

superaquecimento, com a produção se aproximando de sua capacidade máxima. O

crescimento da demanda foi mantido com os investimentos internos, o que excitou ainda mais

o empresariado. Numa tendência de longo prazo, o processo culminou em uma crise de

superprodução de capital38

.

Se no longo prazo o país entraria numa crise de superprodução de capital, no curto

prazo, o que se observaria eram movimentos de escassez de matérias-primas, de insumos, de

mão-de-obra. No entanto, o fato dessa percepção do processo de escassez acarretou a

antecipação das compras, agravando ainda mais o processo inflacionário39

.

No período de 1972-1973 havia novamente uma reorientação na execução da política

econômica, manifestando com muita ênfase o propósito da redução da inflação, com objetivos

de 15% para o ano de 1972 e 12% em 1973. Desse modo, os discursos oficiais passaram a

enfatizá-la como o “mal do século”. Sendo assim, a política econômica de 1973 amparada às

metas de crescimento se ajustaria à tarefa de atingir a taxa de inflação de 12%. Observa-se,

entretanto, que essa reorientação embora buscasse a estabilidade monetária não se valeria dos

arrochos fiscais, monetário ou creditício que pudessem afetar o ritmo de crescimento do

país40

.

3 As consequências sociais do “milagre”: uma revisão da bibliografia

3.1 Contextualização: os anos de 1945 a 1970

No Brasil, entre os anos de 1945 a 1964, verifica-se que seu processo de

industrialização passou por momentos determinantes, demandando investimentos de grande

38

Idem 39

Idem 40

Idem

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23

porte em virtude da instalação de setores tecnologicamente mais avançados. As Instruções 70

e 113, ambas da Superintendência da Moeda e do Crédito (SUMOC), de 1953 e 1955,

respectivamente, permitiram a importação de máquinas e equipamentos necessários ao

desenvolvimento industrial do país bem como facilitaram a livre mobilidade de capital

estrangeiro41

. No período acontece grande intensificação das migrações internas e a crescente

urbanização das cidades42

.

Entre os anos de 1950 a 1979, houve uma sensação de grande euforia por parte da

maioria dos brasileiros, pois se acreditava que finalmente o país viria a se tornar uma nação

moderna. Todavia, o modo como se encarava a ascensão do país rumo à modernidade foi

mudando de perspectiva com o decorrer dos anos. Se na década de 1950, acreditava-se que a

incorporação das conquistas materiais do capitalismo seria combinada com os valores que nos

distinguem como povos, percebemos que a partir de 1967, a ideia do progresso está

intimamente vinculada na crença de modernização, com o país buscando se inserir junto aos

países do Primeiro Mundo43

.

Em um período de aproximadamente três décadas (1940 a 1960), já havia no Brasil a

construção de uma economia moderna, com a incorporação dos padrões de produção e

consumo exclusivo dos países desenvolvidos. Internamente fabricava-se quase tudo: a

começar pela produção do aço, petróleo e seus derivados, cimento, vidro e papel, passando

pelas indústrias tradicionais como a de alimentos, têxtil, calçados e bebidas. Verifica-se a

modernização da indústria farmacêutica e a de produtos de beleza. Também se produzem

automóveis, utilitários, caminhões e até mesmo a produção de aviões. Igualmente se tornam

disponíveis à sociedade toda a facilidade dos eletrodomésticos e o predomínio esmagador dos

produtos industrializados44

.

Dado o avanço produtivo, acrescido da modernização da industrialização, acontecem

mudanças significativas no sistema de comercialização. São criados supermercados e

shopping centers. O primeiro supermercado, inaugurado no Rio de Janeiro, vai derrotando a

venda, o armazém, o açougue, a quitanda, a carrocinha. O shopping center, o primeiro

inaugurado em São Paulo, torna-se o centro do consumismo45

.

As transformações prosseguem nos hábitos da higiene e limpeza (higiene pessoal ou

da casa). Para a casa, há a adesão aos produtos de limpeza como o detergente, sabão em pó,

41

TAFFAREL, 2010 42

MELLO & NOVAIS, 1998 43

Idem 44

Idem 45

Idem

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24

palha de aço, etc. Na higiene pessoal, um avanço significativo acontece na difusão da escova

e pasta de dente para as camadas populares. Também é verificada a intensa modernização nos

vestuários e nos hábitos de beleza. As roupas agora são produzidas em massa, entretanto, o

linho e a seda continuam privilégios dos consumidores de renda mais elevada46

.

Em 1950, as cidades abrigavam cerca de 10 milhões de habitantes contra esmagadores

41 milhões que ainda residiam no campo, vilarejos ou pequenas cidades com menos de 20 mil

habitantes. Todavia, as dificuldades encontradas pela população rural começam a favorecer o

processo migratório, partindo todos em busca de melhores oportunidades de vida e de

progresso individual. As cidades são encaradas como uma forma superior de existência pelos

migrantes47

.

A realidade da vida no campo é delineada pela estrutura social subdividida entre os

proprietários da terra e entre os que dependiam da mesma para tirar algum sustento. A

oligarquia de latifundiários composta pelos fazendeiros de café e os usineiros de açúcar

posiciona-se no cume da pirâmide estrutural. Logo abaixo, estavam os que empregavam

trabalho assalariado e apresentavam sua produção voltada para o mercado (os médios e alguns

pequenos proprietários, os arrendatários capitalistas). No degrau abaixo, é composto pela

pequena propriedade familiar, capaz de prover a sua própria subsistência. A base da pirâmide

é constituída por posseiros, pequenos proprietários, parceiros, assalariados temporários ou

permanentes, que representam esmagadores 85% da população e que partilhavam em comum

a pobreza e a miséria48

.

O centro da vida social encontrava representação na família, com as relações reguladas

em torno da família conjugal, dos parentes, companheiros e vizinhos; as tradições eram

passadas de geração em geração, de pai para filho. Obrigados pela necessidade todos se

iniciavam no trabalho pesado desde muito cedo. A vida dessa gente que diferia muito pouco

dos seus antepassados mais distantes, era marcada pela incerteza e seu futuro não reservava

grandes expectativas. Até meados dos anos de 1960, a miséria enfrentada pela população era

reflexo não apenas das intempéries da natureza, mas também da estrutura piramidal na qual

estavam sujeitos. É a partir de 1960, dada a modernização da agricultura que os vitima ainda

mais, com milhões de trabalhadores (homens, mulheres e crianças) “arrancados do campo,

46

Idem 47

Idem 48

Idem

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25

pelo trator, pelos implementos agrícolas sofisticados, pelos adubos e inseticidas, pela

penetração do crédito49

”.

Aos oprimidos pela miséria restava somente a opção de se aventurar na fronteira

agrícola em movimento ou na migração para a cidade que estava próxima, oferecendo outras

condições de vida. Foi na esperança de condições mais dignas de vida que em três décadas,

milhões de pessoas, espantosos 39 milhões, migraram para as cidades. No ano de 1950 a

migração foi responsável pela expulsão do campo de 8 milhões de pessoas, correspondendo a

24% da população rural do Brasil. Já em 1960 os números eram de 14 milhões, representando

aproximadamente 36% da população rural. Para os anos de 1970, cerca de 17 milhões de

brasileiros foram para as cidades, uma parcela significativa da população rural que representa

aproximadamente 40% do total50

.

Nos grandes e médios centros urbanos (São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte,

Porto Alegre) com o aceleramento da industrialização e urbanização rápida, surgiam novas

oportunidades de vida, de trabalho e de investimentos (na indústria, no comércio, na

construção civil, no transporte, na comunicação, no sistema de educação e na saúde). No

início dos anos de 1950 a desigualdade era alarmante e para verificar basta observarmos os

três protagonistas de uma sociedade em movimento, participantes diretos de uma

industrialização acelerada e da urbanização crescente: (1) o imigrante estrangeiro, (2) o

migrante rural e (3) o negro urbano e seus descendentes51

.

Os imigrantes já estavam em São Paulo por cerca de três gerações e, de certa forma, já

possuíam certa estabilidade. Já para a grande massa dos negros, lhes restou o abandono à

própria sorte. Encontrava-se em ocupações de trabalho subalternas, rotineiras e pesadas,

permanecendo amontoados em favelas e cortiços, vitimados pelo analfabetismo e pelas

doenças. O migrante rural, antes exposto à miséria do campo, passa a ocupar postos de

trabalhos de baixa qualificação e alguns de qualificação média52

.

De modo que,

o capitalismo cria a ilusão de que as oportunidades são iguais para todos, a ilusão de

que triunfam os melhores, os mais trabalhadores, os mais diligentes, os mais

“econômicos”. Mas com a mercantilização da sociedade, cada um vale o que o

mercado diz que vale. Não há nenhuma consideração pelas virtudes, que não sejam

49

MELLO & NOVAIS, 1998, p.580 50

MELLO & NOVAIS, 1998 51

Idem 52

Idem

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26

as “virtudes” exigidas pela concorrência: a ambição pela riqueza e a capacidade de

transformar tudo, homens e coisas, em objeto do cálculo em proveito próprio. No

entanto, a situação de partida é sempre desigual, porque o próprio capitalismo, a

própria concorrência, entre empresas e entre homens, recria permanentemente

assimetria entre os homens e as empresas53

As profissões que conferiam algum tipo de status eram as mais bem vistas nos anos de

1950 e, nesse caso, a escala de remuneração era fator determinante para as suas escolhas. No

topo da escala hierárquica encontramos as profissões do médico e do advogado; na base estão

as profissões de pedreiro, do trabalhador agrícola, de estivador e de lixeiro. A família ainda

continua como o centro da vida e principal dirigente na procura da ascensão social, buscando

conseguir a elevação da renda e consequentemente ascensão na hierarquia capitalista do

trabalho. O horizonte de expectativas dependia, sem dúvida, da posição social ocupada por

cada classe54

.

A grande empresa multinacional acompanhada da grande empresa estatal se

beneficiou do rápido desenvolvimento econômico da década de 1950. A exigência de grande

volume de capital e de complexo domínio tecnológico, adequava-se bem à realidade dessas

empresas. Com a industrialização e a urbanização se multiplicam as oportunidades de

investimento disponíveis ao empresariado nacional, que se aproveitaram das oportunidades

que advinham da expansão do sistema bancário. Desse modo, financiavam diretamente o

consumo de bens duráveis por meio das indústrias tradicionais de bens de consumo, da

construção civil e pela demanda crescente da empresa estrangeira ou da empresa pública. No

período, a própria burguesia nacional também soube aproveitar das oportunidades concedidas

pelo Estado e pela grande empresa multinacional55

.

Para as classes sociais, surgem possibilidades de ascensão das mais diversas formas.

Para a classe média, as oportunidades são apresentadas por meio da expansão da empresa

privada ou estatal e pela ampliação da administração pública. Na empresa privada, com as

oportunidades exigindo cada vez mais profissionais com formação técnica e especializada,

começam a se firmar as profissões do engenheiro, do administrador de empresas, do

economista, do publicitário, etc.56

.

No Estado, as áreas de educação, de saúde e da previdência passam a ser amparadas

por uma área social, gestada por meio de políticas públicas. É a partir de então que os

53

MELLO & NOVAIS, 1998, p. 581-582 54

MELLO & NOVAIS, 1998 55

Idem 56

Idem

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27

mecanismos coercitivos do Estado começam a ganhar nova forma (agora revestida de caráter

social). É com a expansão do Estado e de sua atuação que aparece a necessidade de gestores e

técnicos para administrarem a empresa pública57

.

Já o migrante rural e os descendentes dos escravos não encontraram nas ofertas de

trabalho oportunidades de ascensão favoráveis. Para eles as oportunidades de emprego eram

com condições precárias e pesadas. As vagas, no geral, encontravam-se distribuídas para os

homens, na construção civil e, para as mulheres, nos serviços domésticos. Outras

oportunidades estavam na profissão de carregador de sacos de batata, de vigia noturno e de

ajudante de caminhoneiro, etc58

.

A sociedade urbana desenha seu estrato social da seguinte forma: na base da pirâmide

encontramos a família do trabalhador comum, a do migrante rural e a dos citadinos. Em

seguida, encontramos a família do trabalhador especializado. A família de classe média (baixa

ou alta) vem logo acima. Dando sequência, encontramos a figura do empresário, pequenos ou

médios. Por fim, no topo, encontramos a família dos magnatas59

.

De certo,

são as formas de organização capitalista que determinam a hierarquia do trabalho.

Às posições objetivamente superiores e inferiores, corresponde uma estrutura de

remunerações, as quais, por sua vez, dão acesso à posse da riqueza e à aquisição de

bens e serviços de consumo. Por outro lado, é a maquinaria capitalista e não a

sagacidade deste ou daquele empresário que revoluciona permanentemente os

padrões de consumo e a estrutura de necessidades. Esta revolução permanente é, ao

mesmo tempo, um processo de diferenciação e generalização do consumo. O valor

do progresso, progresso do país ou progresso individual, é, pois incorporado de

maneira puramente mecânica: o mimetismo, pelos “inferiores”, dos padrões de

consumo e estilos de vida dos “superiores”. A carreira desabalada pela ascensão

social é, antes de tudo, uma corrida de miseráveis, pobres, remediados e ricos pela

“atualização” dos padrões de consumo em permanente transformação60

É assim que no Brasil a penetração dos valores capitalistas é facilmente transmitida

pela adoção de uma consciência social que vincula progresso a estilos de consumo e de vida.

Valores esses que se impõem graças à sua funcionalidade para o desenvolvimento do sistema

57

Idem 58

Idem 59

Idem 60

MELLO & NOVAIS, 1998, p. 604

Page 30: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

28

econômico61

. E foi, precisamente, no Brasil pré-1964, que encontramos o divisor de águas da

forma soberana do capitalismo no país.

Em jogo estavam dois modelos de sociedade urbana de massas: de um lado, um

capitalismo selvagem e plutocrático; de outro, um capitalismo domesticado pelos

valores modernos da igualdade social e da participação democrática dos cidadãos,

cidadãos conscientes de seus direitos, educados, verdadeiramente autônomos,

politicamente ativos62

Ao banir pela coerção as forças do igualitarismo e da democracia, a ditadura

implantada no país em 1964 desenhou uma sociedade na qual imperava a vontade dos

detentores da riqueza. Em suma, uma sociedade governada pró-capital. Se por um lado foi um

período de crescimento econômico, de outro, as desigualdades relativas em termos de renda e

riqueza eram espantosas. O motor do capitalismo encontrou sustento na concorrência

desregulada entre os trabalhadores e na monopolização das oportunidades de vida pelos que

estavam inseridos no topo da sociedade63

.

Se a produtividade do trabalho aumentar, consequentemente a renda deveria caminhar

na mesma direção. No entanto, na prática, era observado movimento contrário, de modo que,

a renda de uma grande maioria da população não acompanhou o ritmo de crescimento

acelerado verificado no país. Na verdade o que se observou foi a compressão dos rendimentos

dos trabalhadores da base em detrimento de lucros astronômicos para os capitalistas64

.

Nesse sentido, é que o país apresenta um perfil distributivo da renda extremamente

desigual, estando entre os piores do mundo e considerado como um dos mais elevados graus

de iniquidade. Segundo informações encontradas para cerca de 120 países para os quais

possuem algum conhecimento sobre as questões relativas à distribuição de renda, mais de

90% dos países apresentam uma desigualdade menor que a do Brasil65

. No entanto, segundo

Ramos & Mendonça (2005), o grande contingente de pobres encontrado no país não se

explica por meio da escassez agregada de recursos e sim, pela má distribuição desses mesmos

recursos.

O regime autoritário em detrimento da promoção da reforma agrária intensificou o

monopólio da terra através de intensa modernização do campo. Ocorre mecanização da

61

MELLO & NOVAIS, 1998 62

MELLO & NOVAIS, 1998, p. 618 63

MELLO & NOVAIS, 1998 64

Idem 65

RAMOS & MENDONÇA, 2005

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29

agricultura que agora se volta para as exportações da soja, do milho e da laranja. O latifúndio

também acentua seu caráter capitalista66

.

No campo, ainda encontramos uma esmagadora massa, representada por

aproximadamente 40 milhões de pessoas que estavam mergulhadas na pobreza absoluta. O

modo de produção dessa gente ainda era arcaico, encontrando-se abandonados pelo poder

público. Não lhes eram oferecidas as condições mínimas de moradia, achando-se privados do

acesso à luz elétrica, do abastecimento de água e da rede de esgotos. É então que vemos surgir

a figura do proletário rural em substituição ao colono67

.

Se entre os anos de 1940 a 1960 acontece um grande aumento do processo migratório,

é na década de 1970, que ele se intensifica. Expulsos pela pobreza, aproximadamente 17

milhões de pessoas deixaram o campo com destino às cidades, que serviam de abrigo da

miséria rural exportada pelo campo. É com a chegada em massa dos migrantes às cidades que

a base do mercado de trabalho sofre pressão e, com o governo se isentando da regulação do

mercado de trabalho, não evita com que o monopólio do capital seja exercido sem freios. Por

outro lado, ao adotar uma rígida política de arrocho salarial a pretexto de combater o processo

inflacionário, o governo coloca a margem uma esmagadora massa de trabalhadores. É assim

que a ditadura calou os sindicatos e facilitou a dispensa e a rotatividade da mão-de-obra68

.

Contrapondo aos baixos salários, o rápido crescimento econômico do período criou em

abundância novos postos de trabalho. Nesse sentido, possibilitou a inserção no mercado de

trabalho de milhares de migrantes rurais e de citadinos na construção civil e em ocupações

que não exigiam qualificação, como no trabalho doméstico, por exemplo. Se observa o

processo de intensa massificação de certas profissões, seja na construção civil, seja nos

escritórios, por exemplo, movimento este que acontece em virtude da adoção de novas

técnicas produtivas mais avançadas69

.

A concentração da riqueza também se expressa através do capital humano70

. O rápido

crescimento econômico propiciou a massificação das escolas e dos serviços de saúde;

entretanto, a maior parte da população não se beneficia, ao contrário do que acontece com as

camadas médias dos centros urbanos mais importantes71

. Contudo, a expansão do ensino

necessita da contratação de mais profissionais, seja professores, merendeiras, serventes etc, o

66

MELLO & NOVAIS, 1998 67

Idem 68

Idem 69

Idem 70

O conceito de capital humano é entendido pelos marginalistas como o capital que se incorpora aos seres

humanos na forma de saúde e educação e, visto como o componente explicativo do desenvolvimento

suplementar. Refere-se a um conjunto fixo de habilidades, experiência e posição social (PAIVA, 2001). 71

CACCIAMALI, 2002

Page 32: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

30

que determina o aumento da oferta de postos de trabalho72

. A política social estabelecida

aumenta em muito a oferta de trabalho, porém impregnada de interesses clientelísticos e

paternalistas, contando com gastos insuficientes e implantada de maneira inconsistente ao

longo do tempo73

.

Verificamos a adoção de modernos padrões de consumo ao cotidiano de milhões de

trabalhadores, ainda que de modo precário. Essa adoção, mesmo que precária, só tornou um

mecanismo possível de ajuda ao marido, através da mulher e dos filhos que se inserem no

mercado de trabalho. É assim que, na área da alimentação acontece intensa adesão de

produtos industrializados, como o arroz, o feijão e o macarrão; nas vestimentas, começam a

produção em massa do jeans, de camisetas, dos tênis; nos eletrodomésticos, surgindo como

novidade, há a adesão do rádio a pilha e do aparelho televisor74

.

É bem verdade que quase todos os trabalhadores subalternos experimentaram ascensão

social. Ascenderam na pirâmide social porque se livraram da miséria rural, do trabalho pesado

do operário, passando a compor o trabalho nas indústrias. Também porque incorporaram,

ainda que de modo precário, os padrões sociais da vida moderna. Ainda assim, ainda

encontramos uma parcela dos trabalhadores comuns que estão mergulhados na pobreza

absoluta, formando um contingente de pobreza estrutural nas cidades75

. Estamos defronte dos

excluídos, representados pelos citadinos, os bóias-frias, os pequenos produtores rurais. Todos,

igualmente, miseráveis76

.

Com o ritmo de crescimento acelerado se contrapondo às baixas remunerações dos

trabalhadores de base, então somente competia a essa prosperidade proporcionar lucros

crescentes seja para o grande, o médio ou pequeno empresário, o que acarreta em grande

poder de acumulação do capital e consequente multiplicação da riqueza. Portanto, o

favorecimento de uma vida opulenta para os donos do capital e seus aliados só é possível

porque encontramos uma esmagadora massa de trabalhadores vivendo na miséria. É

observado que o pessoal ligado a direção (executivos, gerentes, etc.) foram favorecidos por

essa grande margem de lucro. Na empresa pública e na alta cúpula do governo acontece

movimento semelhante ao observado no setor privado, ambos beneficiados com o crescente

aumento dos salários77

.

72

MELLO & NOVAIS, 1998 73

CACCIAMALLI, 2002 74

MELLO & NOVAIS, 1998 75

A literatura define pobreza como a condição de renda insuficiente para a reprodução adequada de um ser

humano 76

MELLO & NOVAIS, 1998 77

Idem

Page 33: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

31

É assim que, continuamente, o sistema capitalista vai se alimentando. É alimentado

por meio da intensificação do consumo de luxo, através do consumo de bens e serviços pelos

grandes, médios ou pequenos empresários; ou ainda por meio do pessoal da direção da

empresa privada e dos que estão na cúpula do estado; ou por aqueles que dispensam algum

tipo de serviço aos magnatas do dinheiro78

.

No período também se verifica o surgimento de uma nova classe média em ascensão,

concebida através da expansão do emprego público e privado. A essa nova classe formada,

também compete aderir aos novos padrões de consumos modernos da alimentação, do

vestuário, da higiene pessoal e beleza, da higiene da casa e dos eletrodomésticos. O

automóvel passa a representar a máxima do status para essa nova sociedade em formação. É

desse modo que o padrão de vida dessa nova classe média se transforma em um padrão

similar do desfrutado pelos grandes detentores do capital79

.

É assim que notamos que, a partir de 1964, dada a implantação da ditadura militar,

com a formalização do sistema plutocrático capitalista e extremamente dinâmico,

notadamente temos um governo capaz de garantir e estimular o rápido crescimento

econômico ao conceder inúmeros incentivos, ao expandir o crédito, as investir na infra-

estrutura dos setores chave da economia. De outro modo, para os esquecidos reservou a

expulsão do campo, a compressão salarial, calou os sindicatos, facilitou as dispensas no

emprego80

. Estamos, portanto, diante de uma contradição própria do capitalismo: se por um

lado, cresceu de modo acentuado, combinou grande concentração de renda e riqueza, de

outro.

Desse modo,

entre 1960 e 1980, os 5% mais prósperos – o grande e médio empresariado, os altos

executivos, profissionais de grande sucesso que prestam serviços aos ricos e uma

parcela do pequeno empresariado – subiram sua participação na renda dos já

elevados 28,3% para espantosos 37,9%. Se acrescentarmos a esses primeiros 5%

outra parte de pequenos empresários, gerentes e chefes, do grosso do pessoal de

nível superior do governo, de profissionais liberais bem-sucedidos, chagaremos aos

10% superiores, que se apropriavam de 50,9% da renda total (contra os já altíssimos

39,6%, de 1960). Se adicionarmos, ainda, outra camada de profissionais de nível

superior de menor renda e trabalhadores de escritório de qualificação média, na

empresa e no governo, estaremos diante dos 20% superiores, que dispunham, em

78

Idem 79

Idem 80

Idem

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32

1980, de 66,1% da renda total (contra 54,8% de 1960). Os 60% mais pobres, os

trabalhadores subalternos do campo e das cidades, que, em 1960, detinham parcos

24,9%, passam aos escandalosos 17,8%, em 1980. Sanduichados entre os

trabalhadores subalternos, de um lado, e os ricos e privilegiados, de outro, estão os

outros 20%, trabalhadores qualificados e semiqualificados, trabalhadores da “classe

média baixa81

(...)

Nesse sentido, como tentativa de compreensão dos determinantes do agravamento do

processo de concentração da renda no período do Milagre Econômico Brasileiro é que a

próxima seção expõe o debate existente na literatura sobre o tema.

3.2 O Debate

Na literatura encontramos as mais diversas abordagens que corroboram com o

argumento de que no período entre 1960 e 1970, de fato, houve aumento no grau de

concentração da distribuição da renda no Brasil. O episódio despertou especial interesse de

estudo para uma gama de autores, justamente pela combinação de elevadas taxas de

crescimento econômico com elevados índices de desigualdade distributiva.

De modo geral, são duas as principais correntes que buscam explicar o episódio. A

primeira delas tem como precursor Langoni (1972), que considerava a elevação da

desigualdade como consequência natural do rápido crescimento acelerado, combinado com

desiquilíbrios transitórios no mercado de trabalho. O autor considerava o fator educação o

mais importante para explicar o processo da desigualdade. A outra corrente considerava a

existência da relação direta com as políticas econômicas adotadas à época como sendo o

principal determinante do aumento do grau de concentração da renda no período82

.

Como característica do processo de crescimento econômico encontramos a elevação

de modo persistente da renda per capita da sociedade como um todo. Ao ritmo do

crescimento devem acompanhar as transformações estruturais quantitativas e qualitativas,

apresentando como principal beneficiária a população dessa sociedade. Os benefícios devem

acontecer no padrão de vida material, nas condições de saúde, no aumento da expectativa de

81 MELLO & NOVAIS, 1998, p. 633-34 82

RAMOS & MENDONÇA, 2005

Page 35: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

33

vida, nas melhorias e ampliações da cidadania e nas oportunidades reais de aperfeiçoamento

pessoal83

.

Segundo Ramos & Mendonça (2005), historicamente o país tenta se valer do

crescimento econômico para diminuir a incidência da pobreza. No entanto, tal mecanismo não

tem sido eficaz e ainda no período do milagre econômico ocorreria o agravamento da

desigualdade distributiva para toda a sociedade. Os autores apresentam como alternativa para

diminuir a incidência de pobreza, a adoção de práticas que minimizem a iniquidade

distributiva. Ainda ressaltam que, na prática, pouco ou nada se tem feito a respeito.

Se o crescimento econômico é considerado motor para a diminuição da incidência da

pobreza, Furtado (1960) apud Hoffmann (2001), afirma que a elevada concentração de renda

condiciona um perfil de demanda global capaz de inibir justamente o crescimento econômico

do país. Afirma que a alta concentração de renda provoca grande diferenciação no consumo

dos grupos privilegiados. O principal obstáculo para o desenvolvimento do país se encontra

na elevada concentração de renda existente.

De acordo com Cacciamali (2002), o país mantém esse elevado índice no grau de

desigualdade na distribuição da renda em virtude de dois motivos: (1) pelos determinantes

estruturais que nos remete ao passado colonial e escravocrata, representando o ponto de

partida da concentrada distribuição de riqueza e da renda no país; (2) pela inexistência de

políticas distributivas contínuas promovidas pelo Estado.

Langoni (1972) analisa a relação existente entre a composição educacional, a idade, o

sexo, o processo de alocação setorial e regional da força de trabalho no impacto do processo

de distribuição da renda. Para ele, há predominantemente o efeito de dois mecanismos que

conseguem explicar o aumento no grau de desigualdade observado no período. O primeiro

mecanismo se refere às variáveis supracitadas e o segundo se relaciona com o crescimento da

demanda por mão-de-obra mais qualificada ao longo do processo de crescimento econômico.

Para o autor, economias que passam por um rápido processo de crescimento

econômico, necessariamente, acarretam em aumentos na desigualdade via mercado de

trabalho que exigem uma demanda por mão-de-obra cada vez mais qualificada. O caso

brasileiro com oferta de mão-de-obra inelástica agravou o processo de concentração da renda.

Com a aceleração do crescimento econômico ocorreriam aumentos transitórios no grau de

concentração da renda, onde a componente educação é o mais importante para explicar,

83

CACCIAMALI, 2002.

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34

simultaneamente, as diferenças individuais de renda em 1960 e 1970 e o aumento no grau de

concentração observado no período.

Hoffmann (1973) defende que o processo de concentração agravou quando avaliamos

as diversas práticas adotadas pela política do governo. Três fatores devem ser levados em

consideração, sendo: (1) a drástica desvalorização do salário mínimo, que passou de um

índice de 100 no triênio de 1959-1961 para 76 no biênio de 1971-1972; (2) a perda de poder

de barganha por parte dos sindicatos de trabalhadores; (3) a instauração em 1967 do Fundo de

Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), facilitando ao empresariado a rotação dos

empregados, em especial, dos não qualificados. Portanto, para Hoffmann, a política salarial se

torna a variável explicativa no processo de concentração de renda, onde o arrocho salarial

enfrentado pelos trabalhadores com menos qualificação, aliado ao crescimento relativamente

intenso das remunerações nos estratos salariais elevados, implicou, obviamente, no aumento

do grau de concentração da distribuição da renda recebida como salário.

Hoffmann & Duarte (1972) em sua análise, encontraram quatro grupos distintos no

que se refere à distribuição da renda. O primeiro grupo, representado por 50% da população

remunerada, apresenta uma renda de 75 cruzeiros, encontrando à margem dos mercados

consumidores organizados. Esse grupo é composto por parte da população rural não

proprietária, uma grande parcela de trabalhadores nordestinos, trabalhadores independentes do

setor terciário e por trabalhadores da indústria. O segundo grupo correspondendo a 30% da

população, recebendo uma renda de 210 cruzeiros, compreende grande parte dos assalariados

em tempo integral da indústria e dos serviços e uma minoria de assalariados ligados à

propriedade moderna. Constituem os consumidores dos produtos de primeira necessidade. O

terceiro grupo representado por 15% da população remunerada, apresenta renda média de 491

cruzeiros, composto de operários especializados, quadros médios da burocracia, pequenos

comerciantes e parte do pessoal administrativo dos setores secundário e terciário. Por último,

a cúpula da distribuição da renda, constituído de 5% da população empregada, detém 36% da

renda total e uma renda média de 1982 cruzeiros. Esse grupo representa a base estável do

mercado de bens de consumo duráveis, com suas necessidades moldando muitas das

características do processo de industrialização do Brasil.

Os autores concluíram que metade da população não foi beneficiada pelo crescimento

econômico e os outros 30% obtiveram acesso apenas marginal, encontrando explicação na

compressão salarial. A explicação para a compressão salarial decorre: (1) da característica do

processo de industrialização do Brasil que adota técnicas de capital-intensivas em setores

dinâmicos da indústria; (2) da desorganização do mercado de trabalho através dos excedentes

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35

estruturais de mão-de-obra e, (3) da fragilidade das organizações sindicais. Assim, o salário

médio de grande parcela dos trabalhadores permanece desvinculado dos ganhos de

produtividade do setor e amarrado ao mínimo estabelecido institucionalmente84

.

Barros, Henriques e Mendonça (2000) concluem em seus estudos que o Brasil não

pode ser considerado um país pobre, e sim, um país com grande contingente de pobres.

Afirmam que o país apresenta recursos suficientes para eliminar com a pobreza existente e,

desse modo, os elevados índices de desigualdade observados, encontram seu determinante na

estrutura da própria realidade brasileira que apresenta uma perversa distinção na distribuição

da renda e possui precárias oportunidades de inclusão econômica e social para os brasileiros.

Com a mesma linha de defesa, Ramos e Mendonça (2005) afirmam que o Brasil não

pode ser considerado um país pobre, porque ao se comparar a sua renda per capita, mais de

80% dos países apresentam renda inferior à sua. Para os autores o que explica o grande

número de pobres existente no país não encontra respaldo na escassez agregada de recursos e

sim na má distribuição desses recursos. Como solução adequada para minimizar a pobreza, os

autores apresentam o combate da iniquidade distributiva, que, no entanto, pouco alterou nos

últimos tempos.

A renda média juntamente com o grau de desigualdade da distribuição afeta

diretamente a proporção do número de pobres. Os condutores da política econômica possuem

o dilema entre a adoção de políticas indutoras de crescimento versus a priorização de políticas

redistributivas85

. Entretanto, para o caso brasileiro e, em especial, no período do Milagre

Econômico, expusemos anteriormente e mostraremos na prática, na seção seguinte, o

desempenho prestado pelos formuladores da política econômica ao dilema lhes apresentado.

4 Resultados

Nessa seção serão apresentados os resultados da análise da distribuição da renda e

coeficiente de Gini para o Brasil para o período de 1960/1970, adotando como fonte de dados

os censos demográficos e, para a análise da renda dos anos de 1968/1972 para o estado de São

Paulo, adotamos os dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD’s).

84

HOFFMANN & DUARTE, 1972 85

RAMOS & MENDONÇA, 2005

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36

Na Tabela 1, utilizo uma adaptação do trabalho de Leão (2009), onde é apresentada a

taxa de variação anual do PIB e da inflação para o período de 1964 a 1974. Para o ano de

1965, ainda sob a égide do PAEG, o PIB apresentava taxa de 2,7% e inflação na casa dos

34,5%, que embora ainda em alta, havia decrescido consideravelmente em relação ao ano

anterior que atingiu a marca dos 91,9%. Esse decréscimo se justifica pela política de redução

da inflação implantada pelo PAEG, de modo que, ainda que não tenha alcançado de maneira

concisa os objetivos propostos para a redução da inflação, o programa de estabilização do

governo entregou já no primeiro ano do Governo de Costa e Silva, uma inflação na casa dos

28,3%, ou seja, no período de 1964/1967 há uma redução de 63,6% da taxa da inflação contra

o aumento de 1,9% no crescimento do PIB.

Já no governo de Costa e Silva, para os dois primeiros anos (1967/1968) o PIB teve

um aumento considerável, saltando da casa dos 4,8% para 11,2%, respectivamente. Já a

inflação decaiu de 28,3% para 24,2%, uma redução de apenas 4,1% contra um aumento do

PIB da ordem de 6,4%. Essa relação pode ser justificada pela postura adotada nos primeiros

anos do governo dada a utilização de políticas heterodoxas almejando o rápido crescimento

econômico, onde a preocupação com o combate da inflação era relegada ao segundo plano.

Em 1969, a política econômica sofre inflexão e o combate à inflação passa a ser perseguido

como prioridade definida. No entanto, embora a taxa de variação do PIB tenha sofrido

redução quando comparado ao ano anterior, o mesmo ainda se manteve em patamares

elevados para os padrões até então observados no Brasil.

TABELA 1 – TAXAS ANUAIS DO PIB E INFLAÇÃO, 1964/1974

Anos PIB Inflação

1964

1965

1967

1968

1969

1971

1972

1973

1974

2,9

2,7

4,8

11,2

10,0

12,0

11,1

13,6

9,7

91,9

34,5

28,3

24,2

20,8

19,5

15,7

15,5

34,5

Fonte: Adaptado de LEÃO (2009)

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37

Já entre os anos de 1971 e 1973, no governo do presidente Médici, o crescimento do

PIB se manteve em uma média de 12,2%, com a inflação encerrando em 15,5% em 1973. No

entanto, a ênfase conferida ao crescimento com altas taxas só foi possível devido a percepção

da equipe do governo sobre a recuperação econômica pela qual passou a economia brasileira

em relação ao período anterior. Portanto, estendendo a análise para o período como um todo

(1967/1973), notamos que o chamado Milagre Econômico Brasileiro é assim denominado

pelas crescentes taxas apresentadas em relação ao PIB e, de outro modo, pela redução gradual

da taxa de inflação, com o PIB apresentado média de 11% e a inflação reduzida em 12,8%.

Contudo, apesar do rápido crescimento, da prosperidade em termos de produção e

emprego e do combate à inflação pelo qual a economia passou durante a época, podemos

verificar que a outra face não é tão apresentável quanto esta. De modo que, as tabelas 2 e 3

apresentam as consequências desse “milagre”, traduzidas por meio da distribuição da renda e

pelo coeficiente de Gini para o período de 1960/1970, respectivamente.

Na Tabela 2 é apresentado o índice de Gini para os anos de 1960 e 1970. O cálculo é

uma adaptação de Langoni (1972), que tomou como base de dados os censos demográficos de

1960 e 1970, onde o índice é calculado levando em consideração em um primeiro momento a

exclusão do pessoal com renda zero e, em seguida, se insere na análise o pessoal com renda

zero. Os dois cenários são considerados a fim de que se possa capturar o efeito da possível

superestimação dos valores encontrados.

TABELA 2 – ÍNDICE DE GINI, 1960/1970

ANO EXCLUI PESSOAL COM RENDA

ZERO

INCLUI PESSOAL COM RENDA

ZERO

1960

1970

0,499

0,5684

0,5570

0,6049

1970/1960 + 13,70 + 8,60

Fonte: Adaptado de LANGONI (1972)

Para o ano de 1960 o índice de Gini calculado é de 0,499 quando se exclui do cálculo

o pessoal com renda zero e, quando considerado, passa ao valor de 0,5570. Para o ano de

1970 o valor é de 0,5684 e de 0,6049, respectivamente. No acumulado, há um aumento na

concentração de renda da ordem de 13,70% quando se exclui os de renda zero e de 8,60%

quando estes são considerados. Nesse sentido, independente do cenário que é levado em

consideração, o país, sem sombra de dúvidas, apresenta um perfil de distribuição de renda

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38

excludente, confirmando assim, o debate teórico do período. Na Tabela 3, podemos traçar

esse perfil distributivo e tecer algumas considerações acerca das consequências desse

determinante.

TABELA 3 – DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, 1960/1970

% DA RENDA RENDA MÉDIA (em

Cr$/por mês/70)

Percentil86 1960 1970 1960/1970 1960 1970 1960/1970

10-

10

10

10

10

10

10

10

10

10+

5+

1+

40-

20

40+

1,17

2,32

3,42

4,65

6,15

7,66

9,41

10,85

14,69

39,66

27,69

12,11

11,57

13,81

74,62

1,11

2,05

2,97

3,88

4,90

5,91

7,37

9,57

14,45

47,79

34,86

14,57

10,00

10,81

79,19

- 5,13%

- 11,64%

- 13,16%

- 16, 55%

- 20,32%

- 22,75%

- 21,68%

- 11,80%

- 1,64%

+ 20,50%

+ 25,90%

+ 20,32%

- 13,57%

- 21, 73%

+ 6,13%

25

48

71

96

127

158

195

225

305

815

1131

2389

60

142

385

32

58

84

110

139

168

210

272

411

1360

1984

4147

71

153

563

+ 28,00%

+ 20,83%

+ 18,31%

+ 14,58%

+ 9,45%

+ 6,33%

+ 7,69%

+ 20,89%

+ 34,75%

+ 66,87%

+ 75.42%

+ 73,59%

+ 18,33%

+ 7,74%

+ 46,23%

TOTAL 100,00 100,00 - 206 282 + 36,89%

Fonte: Adaptado de LANGONI (1972, p.14)

Em uma primeira análise para todo o período (1960/1970), percebemos que somente

os decis superiores ganharam participação no total da renda, o que confirma o aumento no

grau de concentração da mesma em favor das classes superiores. Ao compararmos os 10%

superiores e inferiores, percebemos que os 10% mais pobres perderam participação de -

5,13% em detrimento de um aumento de + 20,50% na participação dos 10% mais ricos. Para

o ano de 1970 verificamos a assustadora participação do 1% mais rico que passa a deter 86

Os percentis estão agrupados em ordem decrescente, de acordo com os respectivos estratos sociais. Começam

pelos 10% mais pobres da distribuição e assim sucessivamente, até chegar aos 90% mais pobres da distribuição.

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39

14,57% do total da renda enquanto aos 40% mais pobres, detém apenas 10% de participação.

Por fim, observamos que quase 80% do total da renda se concentram nas mãos dos 40% mais

ricos da distribuição. Portanto, partindo dessa relação de causa e efeito, verificamos que os

efeitos sobre a percentagem da população detentora dos insignificantes 20% restante da

participação do bolo, foram, sem dúvida, catastróficos. No entanto, um fato deve ser

pontuado: apesar de todos os percentis sofrerem algum aumento quando levamos em

consideração a renda média, com o mais significativo sendo o dos 1% e 5% mais ricos, que

foram da ordem de + 73, 59% e + 75,42%, respectivamente. Notamos que esse aumento na

renda relativa não contribuiu para atenuar a desigualdade na distribuição da mesma, pois

foram as classes mais beneficiadas com o aumento da renda.

Até o presente momento, quando são adotados os censos demográficos de 1960/1970,

estes confirmam que, de fato, no período, há um acentuado crescimento do aumento na

concentração da renda no Brasil, capturado pelo coeficiente de Gini e pela percentagem da

apropriação da renda pelos percentis da população. No entanto, em seguida, apresentamos a

análise para a distribuição da renda adotando como fonte de dados a Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios (PNAD’s), realizada anualmente pelo Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE), a partir de 1967. Porém, antes de expormos os resultados para

o qual fomos direcionados, competem algumas considerações a respeito dos dados

trabalhados.

(1) os dados das PNAD’s compreendem uma amostra para um conjunto de 1000 (mil)

pessoas para o estado de São Paulo, distribuídas trimestralmente, ano a ano. A escolha

dessa região decorre ao fato de São Paulo representar um grande polo comercial e

urbano, sendo a região que fortemente se desenvolveu e atraiu grande contingente de

migrantes no período. Outro fato deriva por se tratar da única região que dispõe dos

dados separadamente, não computados juntamente com outros estados ou regiões;

(2) para os anos de 1968 a 1970 as classes de rendas são apresentadas em valores

nominais, estando apresentadas em termos reais apenas para os anos de 1971 e 1972,

quando as rendas são tratadas em termos de salários mínimos;

(3) obtivemos acesso aos dados somente para o período de 1968 a 1972, ficando fora do

nosso escopo os dados referentes a 1967 e ao ano de 1973. Para o ano de 1967, porque

não há nenhum dado relativo à renda para o período, já para o ano de 1973, por não

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40

existir dado relativo à renda que sirva de comparativo com relação aos dados obtidos

para os anos anteriores;

(4) os dados das PNAD’s são apresentados trimestralmente, contudo, apenas para o ano

de 1969 obtivemos as informações completas referentes aos quatro trimestres do ano.

Sendo assim, para o ano de 1968 há informações do 2º ao 4º trimestre, sendo que para

1970 apenas para o 1º trimestre e para os anos de 1971 e 1972, ambos para o 4º

trimestre. Os dados trimestrais em falta, não estão disponíveis para consulta na

biblioteca do IBGE e, apesar dessa limitação em nossa base de dados, foi possível

traçarmos o perfil distributivo do período;

(5) há também um problema metodológico com relação à classificação dos dados, de

modo que, até o ano de 1970 pudemos agrupa-los em três classes de rendas, sendo

estas semanais. Já para o ano de 1971 e 1972, não foi possível agrupá-los, por estarem

reunidos em classes de renda na forma de salários mínimos mensais;

(6) os dados serão apresentados em três categorias: com a primeira referente ao processo

de distribuição total da renda para os anos de 1968 a 1972; em seguida, são

apresentados os dados de acordo com o sexo para o período de 1968 a 1970 e, por

último, estão agrupados pelo grau de instrução para os anos de 1968 a 1972.

Portanto, feita as devidas considerações, a seguir serão apresentados os resultados

encontrados quando trabalhamos com os dados das PNAD’s para o estado de São Paulo,

permanecendo ordenados nas tabelas que se seguem de 4 a 12.

Nas Tabelas 4 e 5, estão apresentadas as distribuições trimestrais da renda semanal

para os anos de 1968/1970 (Tabela 4) e, mensal, para 1971/1972 (Tabela 5). Na Tabela 4,

como característica geral, podemos observar que no período há um ganho nominal para todas

as classes de renda, no entanto, o que não assegura uma melhora significativa no perfil de

distribuição e concentração de renda, pois ainda há uma concentração acentuada no estrato

superior, com apenas aproximadamente 12% da população recebendo uma renda igual ou

superior a NCR$ 150,00 semanais. No 2º trimestre de 1968 esmagadores 73,55% das pessoas

recebiam até NCR$ 59,99, como contrapartida apenas cerca de 5% das pessoas auferirem uma

renda de NCR$ 150,00 ou mais. Observamos que entre 1968/1970 há uma redução de

aproximadamente 20% na porcentagem das pessoas que se encontram no estrato inferior da

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41

distribuição, sendo estas pessoas provavelmente realocadas para o estrato dos que recebem

entre NCR$ 60,00 e 149,99.

TABELA 4 – DISTRIBUIÇÃO TRIMESTRAL DA RENDA, SÃO PAULO, 1968/1970

Grupos de salários

semanais (NCR$)

% Renda semanal, de acordo com o ano e trimestre (1000 pessoas).

1968/2º trim.

1968/3º trim.

1968/4º trim.

1969/1º trim.

1969/2º trim.

1969/3º trim.

1969/4º trim.

1970/1º trim.

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De 150,00 e

mais

Não declarado

73,55

17,74

4,92

3,79

70,69

19,52

5,28

4,51

67,37

22,45

6,12

4,05

63,67

25,45

6,18

4,71

61,41

27,45

7,38

3,76

58,04

31,30

8,34

2,32

55,58

32,39

9,40

2,64

53,62

31,73

11,69

2,96

Total

100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Na Tabela 5, são apresentadas as classes de rendas em grupos de salários mínimos

mensais para o ano de 1971/1972. Notamos que aproximadamente 33% da população

recebiam até 1 salário mínimo no ano de 1972 contra uma minoria de 5% recebendo mais de

10 salários mínimos mensais. Um fato que caracteriza o processo de concentração da renda

está no aumento na percentagem das pessoas situadas nos estratos inferiores e superiores da

distribuição. Observamos que os grupos que recebiam entre ½ e 3 salários mínimos perderam

participação na distribuição em favor dos estratos inferiores e superiores da distribuição.

TABELA 5 – DISTRIBUIÇÃO TRIMESTRAL DA RENDA, SÃO PAULO, 1971/1972

Grupos de salários mínimos mensais

% Renda, de acordo com o ano e trimestre

1971/4º trimestre

1972/4º trimestre

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42

Até ¼ do salário mínimo

Mais de ¼ a ½

Mais de ½ a 1

Mais de 1 a 2

Mais de 2 a 3

Mais de 3 a 5

Mais de 5 a 7

Mais de 7 a 10

Mais de 10

1,63

6,51

25,22

33,63

15,67

9,86

2,71

2,57

2,20

3,42

8,10

25,81

18,05

17,33

12,19

5,04

4,30

5,77

Total 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Na Tabela 6, expomos como ocorreu a relação da distribuição da renda entre homens

e mulheres no período. O papel da mulher (principalmente as de classe de renda mais baixa)

como meio de complementar a renda familiar se intensificou dado principalmente à

necessidade de ajuda financeira ao companheiro para o sustento do lar. Nesse sentido, nossa

análise enseja capturar como aconteceu a relação salarial nos anos de 1968/1970 para ambos

os sexos.

Em uma primeira análise geral, verificamos que, ainda que ambos os sexos apresente

um ganho na distribuição da renda, assinalamos a clara existência da desigualdade salarial

existente entre os dois sexos, com o período registrando o aumento da concentração em favor

dos homens. Se para o 2º trimestre de 1968 aos homens cabiam cerca de 71,50% do total da

renda, contra 28,50% para as mulheres, no 1º trimestre de 1970 detinham uma participação de

77,67% contra 22,33% das mulheres, assinalando uma perda de aproximadamente 6% na

participação da renda das mulheres em detrimento dos homens.

Como assinalado, no período há um ganho de renda para ambos os sexos, ainda que se

tenha verificado o crescimento na concentração da mesma em favor dos homens. Para ambos,

a melhora significativa ocorre na classe dos que recebem entre NCR$ 60,00 a 149,00,

contudo, para os homens observamos uma elevação na participação de aproximadamente 12%

quando comparamos o 2º trimestre de 1968 com o 1º trimestre de 1970, em detrimento de um

ganho de aproximadamente 2% para as mulheres, para o mesmo período. Notamos que o

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43

ganho auferido pelas classes que recebem em até NCR$ 59,00 foi proporcional para ambos,

sendo da ordem de aproximadamente 10%. Já para o estrato superior da renda, é observado

um aumento na participação dos homens de cerca de 6% contra aproximadamente 1% para as

mulheres.

TABELA 6 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO SEXO, SÃO PAULO, 1968/1970

Grupos de salários

semanais (NCR$)

% Renda, de acordo com o ano e trimestre

1968/2º trimestre

1968/3º trimestre

1968/4º trimestre

1969/1º trimestre

1969/2º trimestre

1969/3º trimestre

1969/4º trimestre

1970/1º trimestre

HOMENS

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De 150,00 e

mais

Não declarado

MULHERES

Até 59,99

De 60,00 a

149,99

De 150,00 e mais

Não

declarado

71,50

49,86

14,01

4,38

3,24

28,50

23,69

3,73

0,54

0,54

73,32

49,65

15,68

4,67

3,32

26,68

21,04

3,84

0,61

1,19

73,36

46,86

18,12

5,44

2,94

26,64

20,52

4,33

0,68

1,12

75,87

46,06

20,82

5,49

3,50

24,13

17,61

4,63

0,68

1,21

75,94

43,68

22,56

6,51

3,18

24,06

17,73

4,89

0,87

0,58

76,66

42,35

25,39

7,06

1,86

23,34

15,69

5,91

1,28

0,45

78,12

41,71

26,11

8,14

2,16

21,88

13,87

6,28

1,25

0,48

77,67

39,40

25,93

10,07

2,27

22,33

14,22

5,79

1,62

0,70

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Portanto, nota-se que o agravamento da desigualdade em relação à porcentagem da

renda recebida tanto por homens quanto por mulheres aconteceu via estrato superior da renda.

Esse argumento pode ser sustentado quando observamos a relação de igual proporção no

aumento na participação da renda para ambos os grupos no primeiro estrato da renda, em

detrimento da proporção de aumento observado nos demais estratos, onde a mulher, em

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44

ambos, obteve um ganho na participação da renda inferior ao observado para os homens,

quando a relação é pautada nos estratos superiores da renda.

As Tabelas de 7 a 12 tratam da distribuição da renda segundo o grau de instrução,

para o período de 1968 a 1972. Na Tabela 7 há a análise para o 2º e 3º trimestre, com a do 4º

trimestre apresentada na Tabela 8, ambos para o ano de 1968. Durante os trimestres do ano

observa-se que há um aumento contínuo na participação da renda para todos os níveis de

instrução, exceto apenas para o 3º trimestre quando comparado ao 2º trimestre, para o nível

superior e os não alfabetizados, com uma diminuição na distribuição para esse trimestre que,

no entanto, volta a aumentar no 4º trimestre, para ambos os níveis.

TABELA 7 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO, SÃO

PAULO, 1968

Grupos de

salários semanais

(NCR$)

% Pessoas (1000) para 1968 – 2º e 3º Trimestres

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º Ciclo

2º Tri

3º Tri 2º Tri 3º Tri 2º Tri 3º Tri 2º Tri 3º Tri 2º Tri 3º Tri

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De

150,00 e mais

Não

declarado

81,19

14,03

1,36

3,42

78,24

16,53

1,40

3,82

60,87

27,61

7,39

4,13

57,38

28,69

7,28

6,65

24,39

51,57

18,82

5,23

23,81

47,62

20,41

8,16

8,85

29,20

53,98

7,96

10,92

26,05

52,94

10,08

94,69

1,93

0,00

3,38

96,49

2,16

0,00

1,35

Total 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Nota-se ainda, que o grupo de pessoas com instrução adquirida para o 2º ciclo do

ensino médio e para o nível superior, representando as classes com maior grau de instrução,

detinham no 2º trimestre de 1968 cerca de 72,8% do total da renda e, já no 4º trimestre do

mesmo ano, passam a reter 75,54%, um aumento de aproximadamente 2,5% no ano,

indicando uma concentração de renda em favor desse grupo. Assim, como em Langoni

Page 47: AS CONSEQUÊNCIAS SOCIAIS DO MILAGRE ECONÔMICO … · A origem do termo Milagre Econômico deriva da combinação de altas taxas de crescimento econômico, com o Produto Interno

45

(1972), assinalamos que, de fato, o grupo que apresenta maior grau de instrução encontra-se

inserido nas faixas salariais mais altas da distribuição. Nesse sentido, possuímos maior clareza

da desigualdade existente entre os grupos quando comparamos os dois extremos da

distribuição. Observamos para o fim do último trimestre do ano que aproximadamente 92%

dos não alfabetizados recebiam até NCR 59,99, de outro modo, cerca de 56% do pessoal de

nível superior ganhavam entre NCR 150,00 e mais. Assinalamos ainda que, essa esmagadora

massa de trabalhadores inseridos nesse estrato da distribuição, ocupavam os postos de

trabalho precários.

TABELA 8 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO, SÃO

PAULO, 1968

Grupos de

salários semanais

(NCR$)

% Pessoas (1000) para 1968 – 4º Trimestre

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não

alfabetizadas 1º Ciclo 2º Ciclo

4º Tri 4º Tri 4º Tri 4º Tri 4º Tri

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De

150,00 e mais

Não

declarado

75,67

18,81

2,02

3,49

52,72

32,88

9,34

5,06

21,12

52,15

19,80

6,93

9,84

22,13

55,74

12,30

91,94

6,67

0,28

1,11

Total 100 100 100 100 100

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Nas Tabelas 9 e 10 é apresentada a mesma distribuição, referente aos quatro trimestres

do ano de 1969. Assim como no ano anterior (1968), é observado o mesmo movimento de

ganho na distribuição para todos os grupos inseridos no primeiro estrato da renda, exceto para

os de nível superior. Um fato interessante é que somente esse grupo apresentou uma

diminuição no processo de distribuição para o último trimestre do ano. Para os não

alfabetizados o ganho foi mais significativo, aproximando-se dos 10 pontos percentuais, se

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46

comparado o 1º trimestre com o 4º trimestre do ano. O grupo que possui a maior faixa salarial

continua representado pelos de nível superior, concebendo cerca de 69% do total para o

último trimestre de 1969, de outro modo, no outro extremo, representado pelos não

alfabetizados, é composto por aproximadamente 82% do total das pessoas que recebem a

menor faixa salarial, para o mesmo período de análise.

TABELA 9 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO, SÃO

PAULO, 1969

Grupos de

salários semanais

(NCR$)

% Pessoas (1000) para 1969 – 1º e 2º Trimestre

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não

alfabetizadas 1º Ciclo 2º Ciclo

1º Trim

2º Trim

1º Trim

2º Trim

1º Trim

2º Trim

1º Trim

2º Trim

1º Trim

2º Trim

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De

150,00 e mais

Não

declarado

70,80

23,19

1,82

4,19

68,00

26,41

2,42

3,17

48,21

35,32

11,31

5,16

48,45

35,82

12,01

3,73

19,61

52,29

20,26

7,52

17,21

50,74

25,22

6,82

6,90

21,55

59,48

12,07

2,73

17,27

69,09

10,91

91,45

5,41

0,28

2,85

92,39

4,51

0,28

2,82

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Outra questão é que aparentemente há uma diminuição na participação dos grupos que

recebem entre NCR$ 60,00 a 149,99, estando representados pelos grupos do segundo ciclo do

ensino médio e pelos de nível superior. No entanto, provavelmente esses dois grupos ganham

posição na distribuição e estão realocados no estrato superior da distribuição. O aumento

significativo em termos de ganho de renda para o segundo estrato da distribuição encontra-se

com os não alfabetizados, que melhoraram em aproximadamente 10% sua participação. Todos

os grupos obtiveram aumento no último estrato da renda, exceto os de nível superior, que

colheram uma pequena perda de participação para o último trimestre do ano.

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47

TABELA 10 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO,

SÃO PAULO, 1969

Grupos de

salários semanais

(NCR$)

% Pessoas (1000) para 1969 – 3º e 4º Trimestre

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não

alfabetizadas 1º Ciclo 2º Ciclo

3º Trim

4º Trim

3º Trim

4º Trim

3º Trim

4º Trim

3º Trim

4º Trim

3º Trim

4º Trim

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De

150,00 e mais

Não

declarado

65,26

30,36

2,71

1,67

63,32

31,14

3,32

2,22

45,81

37,83

13,09

3,27

42,03

40,79

14,08

3,11

16,96

50,89

27,38

4,76

15,13

49,55

32,05

3,36

2,44

18,70

71,54

7,32

5,22

17,91

68,66

8,21

87,03

11,26

0,34

1,37

82,25

15,22

0,36

2,17

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Nas Tabelas 11 e 12, apresentamos a distribuição da renda para os anos de 1970

(Tabela 11) e 1971/1972 (Tabela 12), respectivamente. Para o ano de 1970, os dados são para

o primeiro trimestre do ano, enquanto os dados apresentados para 1971/1972 se referem ao

quarto trimestre. Incialmente, para o período de 1970, verificamos que para os que recebem

até NCR$ 59,99 ocorre uma perda na participação para quase todos os níveis de instrução.

Essa tendência só não é acompanhada para o pessoal de nível elementar e os não

alfabetizados. O mesmo movimento é observado para a segunda faixa salarial, ou seja, os que

recebem entre NCR$ 60,00 a 149,99. Verificamos que apenas para o último estrato da

distribuição, aqueles que recebem de NCR$ 150,00 e mais, há um ganho para todos os

grupos, exceto para os não alfabetizados que apresentaram uma pequena queda. No entanto,

notamos que o movimento de concentração da renda se encontra no grupo com maior grau de

instrução, representado pelo grupo de nível superior, onde aproximadamente 73% das pessoas

recebem entre NCR$ 150,00 ou mais, de outro modo, no extremo da distribuição,

encontramos o não alfabetizados, composto por aproximadamente 77% do total e recebendo

até NCR$ 59,99.

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48

TABELA 11 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO,

SÃO PAULO, 1970

Grupos de

salários semanais

(NCR$)

% Pessoas (1000) para 1970 – 1º Trimestre

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não

alfabetizadas 1º Ciclo 2º Ciclo

Até 59,99

De 60,00 a 149,99

De

150,00 e mais

Não

declarado

60,20

32,28

5,29

2,23

46,24

33,58

16,70

3,49

16,52

43,95

33,92

5,60

7,14

11,69

72,73

8,44

77,40

19,86

0,34

2,40

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

Por último, na Tabela 12 é apresentada a distribuição mensal da renda para o 4º

trimestre dos anos de 1971/1972, respectivamente. Constatamos que, para os que recebem até

¼ do salário mínimo, há uma tendência de diminuição na participação para todos os grupos,

com os mais prejudicados representados pelos não alfabetizados, com uma perda de cerca de

4%. Um fato importante é que o pessoal de nível superior também passa a compor esse grupo

da distribuição em 1972, quando em 1971 não possuíam representação. Para a segunda classe

de renda, ou seja, os que recebem entre ¼ e ½ salário mínimo mensal, também há a mesma

convergência, exceto para o grupo composto pelo primeiro e segundo ciclo do ensino médio.

Para as três últimas faixas salariais da distribuição, há uma tendência de aumento na

participação para todos os graus de instrução, exceto para os de nível superior, que não

acompanha o mesmo movimento, no que se refere às faixas salariais dos que recebem entre 5

e 7 salários e, entre 7 e 10, respectivamente. O aumento mais representativo é o do pessoal do

segundo ciclo do ensino médio e do nível superior, que recebem mais de 10 salários mínimos

mensais, onde é observado um acréscimo da magnitude de 8% e 11%, respectivamente.

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49

TABELA 12 – DISTRIBUIÇÃO DA RENDA SEGUNDO GRAU DE INSTRUÇÃO,

SÃO PAULO, 1971/1972

Grupos de

salários mínimos mensais

% Pessoas (1000) para 1971/1972 – 4º Trimestre

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não

alfabetizadas 1º Ciclo 2º Ciclo

1971 1972 1971 1972 1971 1972 1971 1972 1971 1972

Até ¼ do salário mínimo

Mais de

¼ a ½

Mais de ½ a 1

Mais de

1 a 2

Mais de 2 a 3

Mais de

3 a 5

Mais de 5 a 7

Mais de 7 a 10

Mais de

10

1,75

6,83

27,36

39,01

15,38

7,47

1,23

0,78

0,19

2,87

7,54

14,13

31,47

15,78

10,20

3,41

2,26

2,12

1,72

8,18

22,09

29,27

16,21

13,49

4,45

2,44

2,15

2,83

7,66

20,06

24,92

16,11

12,27

6,12

4,62

5,19

0,24

2,12

7,78

20,99

27,12

21,93

6,60

8,02

5,19

0,56

1,47

7,57

19,71

21,38

17,61

8,84

9,48

13,16

0,00

0,00

1,21

8,47

14,92

21,77

12,10

18,15

23,39

0,54

0,13

1,67

7,62

12,65

13,62

10,98

15,52

34,83

2,82

9,48

44,96

34,07

7,06

1,41

0,20

0,00

0,00

6,76

11,46

39,21

27,53

7,88

3,90

1,28

0,95

0,48

Total 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00

Fonte: elaboração própria com base nos dados das PNAD’s

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50

5 Conclusão

Ao recortarmos o período da ditadura compreendido entre os anos de 1967 a 1973,

constatamos que a origem do termo milagre econômico se justifica. A denominação se

explica, pois no período em questão, o Produto Interno Bruto (PIB) do país cresceu a taxas

médias anuais de 11%, acompanhada da redução das taxas de inflação. Esse tipo de cenário

próspero, até então, não possuía registro para a economia brasileira.

De outro modo, não podemos deixar de considerar as consequências sociais desse

“milagre”. Com base em nossa hipótese de pesquisa que assinala para o aumento na

concentração da renda no período para o Brasil e para o Estado de São Paulo, acreditamos que

a principal e talvez mais marcante das consequências se refira à questão salarial e distributiva

da renda, que termina por também determinar os impactos em relação às questões qualitativas

para a sociedade como um todo. Para tanto, adotamos duas bases de dados para formular

nossas considerações, sendo a primeira a dos censos demográficos de 1960 e 1970 e a

segunda dos dados das PNAD’s para os anos de 1968 a 1972, que trata especificamente do

estado de São Paulo.

Com base nos censos demográficos, o Índice de Gini captura que entre os anos de

1960/1970 há um aumento de 13,70% no grau de concentração da renda quando excluímos o

pessoal com renda zero, e um aumento de 8,60% quando o incluímos no cálculo. Nesse

sentido, independente da inclusão ou não do pessoal com renda zero, é verificado o aumento

significativo no grau de concentração da renda no período. É averiguado que para os anos de

1960 e 1970 o índice não é inferior a 0,499. Lembrando que quando mais próximo de 1, mais

desigual é a distribuição da renda.

Desse modo, quando comparamos os 10% superiores e inferiores da distribuição,

percebemos que os 10% mais pobres perderam participação de - 5,13% em detrimento de um

aumento de + 20,50% na parcela dos 10% mais ricos. No ano de 1970 o grupo representado

pelo 1% mais rico detém aproximadamente 15% do total da renda, enquanto os 40% mais

pobres, detinham apenas 10%. Como característica geral, somente os estratos superiores da

distribuição aumentaram sua parcela de participação no total da renda. A percentagem que

competia a essa minoria já era grande e estes contemplam o aumento na participação ainda

maior, reduzindo em contrapartida a participação das classes inferiores. Esses fatos

confirmam o aumento da concentração da renda no período do Milagre Econômico Brasileiro.

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51

Por meio da análise da nossa outra base de dados, os das PNAD’s, para os anos de

1968 a 1972 constatamos alguns resultados importantes. Primeiramente, ao contrário do caso

do Brasil como um todo, que observamos nos censos demográficos que como tendência

apresentaram a piora na distribuição da renda para as classes inferiores da distribuição, não

encontramos esse movimento com os dados das PNAD’s para o estado de São Paulo, que

apresentaram pequenos ganhos de renda para os estratos inferiores da distribuição. Entretanto,

para além desse movimento, os dados das PNAD’s também confirmam o processo de

concentração da renda nas mãos de uma minoria privilegiada, representada pelos estratos

superiores da distribuição.

Outra questão interessante é que por meio dos dados das PNAD’s conseguimos avaliar

três categorias acerca da distribuição da renda. Analisamos a distribuição total da renda, a

distribuição de acordo com o sexo e a distribuição segundo o grau de instrução.

Em ambas as categorias são verificadas o aumento na participação da renda para os

estratos inferiores, no entanto, a distribuição da renda ainda se mantém concentrada nas mãos

de uma minoria. Um fato interessante é a relação da distribuição da renda entre homens e

mulheres. Ainda que para ambos haja uma melhora na participação, assinalamos a clara

existência da desigualdade salarial existente entre os dois sexos, com o aumento da

concentração em favor dos homens. Já para a distribuição segundo o grau de instrução, assim

como em Langoni (1972), assinalamos que, de fato, o grupo que apresenta maior grau de

instrução encontra-se inserido nas faixas salariais mais altas da distribuição e apresenta a

renda mais concentrada.

Portanto, concluímos que no período conhecido como Milagre Econômico Brasileiro,

acontece o movimento de concentração da renda nas mãos de uma minoria privilegiada, o que

vai de encontro com o debate teórico sobre o período e nossa hipótese de pesquisa. Notamos

que para o Estado de São Paulo, os grupos situados nos estratos inferiores da distribuição

ganharam pequenos aumentos de renda, no entanto, a mesma ainda permanece concentrada

nas mãos de uma minoria. Nesse sentido, abre-se um leque de questões a serem respondidas.

Questões como, por exemplo: de que modo esses pequenos ganhos nominais de renda serviu

para acalmar os ânimos dos que se encontram à margem da distribuição, seja ele

representado pelo nosso grande contingente de miseráveis ou pelas próprias mulheres (que

também obtiveram aumento de renda, mas não tinham consciência do aumento na

concentração em favor dos homens)? E ainda sobre os dados das PNAD’s, pontuamos que se

trata de dados coletados em fontes primárias que podem oferecer grandes contribuições em

futuros trabalhos de pesquisa.

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52

REFERÊNCIAS

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TAQUES, F & MAZZUTTI, C. Qual a relação entre desigualdade de renda e nível de

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54

ANEXOS

Dados PNAD’s

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO

SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1968 - 2º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3698 2424 460 287 113 414

Até 29,99 1509 1058 130 23 - 298

De 30,00 a 59,99 1211 910 150 47 10 94

De 60,00 a 99,99 505 278 89 114 16 8

De 100,00 a 149,99 151 62 38 34 17 -

De 150,00 e mais 182 33 34 54 61 -

Não declarado 140 83 19 15 9 14

HOMENS 2644 1780 325 157 92 290

Até 29,99 926 655 75 9 - 187

De 30,00 a 59,99 918 701 104 24 6 83

De 60,00 a 99,99 392 261 68 44 11 8

De 100,00 a 149,99 126 57 33 24 12 -

De 150,00 e mais 162 32 29 45 56 -

Não declarado 120 74 16 11 7 12

MULHERES 1054 644 135 130 21 124

Até 29,99 583 403 55 14 - 111

De 30,00 a 59,99 293 209 46 23 4 11

De 60,00 a 99,99 113 17 21 70 5 -

De 100,00 a 149,99 25 5 5 10 5 -

De 150,00 e mais 20 1 5 9 5 -

Não declarado 20 9 3 4 2 2

Fonte: PNAD's

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55

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1968 - 3º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3617 2353 481 294 119 370

Até 29,99 1195 826 108 20 1 240

De 30,00 a 59,99 1362 1015 168 50 12 117

De 60,00 a 99,99 521 308 95 100 10 8

De 100,00 a 149,99 185 81 43 40 21 -

De 150,00 e mais 191 33 35 60 63 -

Não declarado 163 90 32 24 12 5

HOMENS 2652 1764 351 159 94 284

Até 29,99 776 537 67 6 - 166

De 30,00 a 59,99 1020 767 113 28 6 106

De 60,00 a 99,99 416 287 83 32 6 8

De 100,00 a 149,99 151 73 37 27 14 -

De 150,00 e mais 169 33 33 47 56 -

Não declarado 120 67 18 19 12 4

MULHERES 965 589 130 135 25 86

Até 29,99 419 289 41 14 1 74

De 30,00 a 59,99 342 248 55 22 6 11

De 60,00 a 99,99 105 21 12 68 4 -

De 100,00 a 149,99 34 8 6 13 7 -

De 150,00 e mais 22 - 2 13 7 -

Não declarado 43 23 14 5 - 1

Fonte: PNAD's

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56

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1968 - 4º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3675 2376 514 303 122 360

Até 29,99 1125 782 107 17 - 219

De 30,00 a 59,99 1351 1016 164 47 12 112

De 60,00 a 99,99 591 346 112 98 12 23

De 100,00 a 149,99 234 101 57 60 15 1

De 150,00 e mais 225 48 48 60 68 1

Não declarado 149 83 26 21 15 4

HOMENS 2696 1782 369 167 96 282

Até 29,99 729 508 63 5 - 153

De 30,00 a 59,99 993 756 102 29 5 101

De 60,00 a 99,99 479 316 92 39 9 23

De 100,00 a 149,99 187 96 47 32 11 1

De 150,00 e mais 200 47 46 49 58 -

Não declarado 108 59 19 13 13 4

MULHERES 979 594 145 136 26 78

Até 29,99 396 274 44 12 - 66

De 30,00 a 59,99 358 250 62 18 7 11

De 60,00 a 99,99 112 30 20 59 3 -

De 100,00 a 149,99 47 5 10 28 4 -

De 150,00 e mais 25 1 2 11 10 1

Não declarado 41 24 7 8 2 -

Fonte: PNAD's

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57

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1969 - 1º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3804 2527 504 306 116 351

Até 29,99 1015 722 92 15 1 184

De 30,00 a 59,99 1407 1067 151 45 7 137

De 60,00 a 99,99 679 437 122 91 11 18

De 100,00 a 149,99 289 149 56 69 14 1

De 150,00 e mais 235 46 57 62 69 1

Não declarado 179 106 26 23 14 10

HOMENS 2886 1966 396 161 93 270

Até 29,99 688 488 67 6 - 127

De 30,00 a 59,99 1064 814 101 27 5 117

De 60,00 a 99,99 557 397 103 31 8 18

De 100,00 a 149,99 235 145 49 30 10 1

De 150,00 e mais 209 43 55 51 59 1

Não declarado 133 79 21 16 11 6

MULHERES 918 561 108 145 23 81

Até 29,99 327 234 25 10 1 57

De 30,00 a 59,99 343 253 50 18 2 20

De 60,00 a 99,99 122 40 19 60 3 -

De 100,00 a 149,99 54 4 7 39 4 -

De 150,00 e mais 26 3 2 11 10 -

Não declarado 46 27 5 7 3 4

Fonte: PNAD's

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58

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1969 - 2º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3807 2522 483 337 110 355

Até 29,99 905 648 77 18 - 162

De 30,00 a 59,99 1433 1067 157 40 3 166

De 60,00 a 99,99 670 445 107 93 10 15

De 100,00 a 149,99 375 221 66 78 9 1

De 150,00 e mais 281 61 58 85 76 1

Não declarado 143 80 18 23 12 10

HOMENS 2891 1960 378 183 92 278

Até 29,99 598 427 58 8 - 105

De 30,00 a 59,99 1065 799 105 14 1 146

De 60,00 a 99,99 553 397 91 43 7 15

De 100,00 a 149,99 306 211 52 35 7 1

De 150,00 e mais 248 57 56 66 68 1

Não declarado 121 69 16 17 9 10

MULHERES 916 562 105 154 18 77

Até 29,99 307 221 19 10 - 57

De 30,00 a 59,99 368 268 52 26 2 20

De 60,00 a 99,99 117 48 16 50 3 -

De 100,00 a 149,99 69 10 14 43 2 -

De 150,00 e mais 33 4 2 19 8 -

Não declarado 22 11 2 6 3 -

Fonte: PNAD's

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59

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1969 - 3º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3754 2513 489 336 123 293

Até 29,99 652 463 78 8 - 103

De 30,00 a 59,99 1527 1177 146 49 3 152

De 60,00 a 99,99 747 516 120 73 7 31

De 100,00 a 149,99 428 247 65 98 16 2

De 150,00 e mais 313 68 64 92 88 1

Não declarado 87 42 16 16 9 4

HOMENS 2878 2013 371 170 91 233

Até 29,99 451 331 57 3 - 60

De 30,00 a 59,99 1139 887 98 16 1 137

De 60,00 a 99,99 604 457 92 22 3 30

De 100,00 a 149,99 349 237 49 51 10 2

De 150,00 e mais 265 67 60 67 70 1

Não declarado 70 34 15 11 7 3

MULHERES 876 500 118 166 32 60

Até 29,99 201 132 21 5 - 43

De 30,00 a 59,99 388 290 48 33 2 15

De 60,00 a 99,99 143 59 28 51 4 1

De 100,00 a 149,99 79 10 16 47 6 -

De 150,00 e mais 48 1 4 25 18 -

Não declarado 17 8 1 5 2 1

Fonte: PNAD's

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60

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1969 - 4º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3757 2527 483 337 134 276

Até 29,99 557 403 70 4 1 79

De 30,00 a 59,99 1531 1197 133 47 6 148

De 60,00 a 99,99 788 541 123 75 10 39

De 100,00 a 149,99 429 246 74 92 14 3

De 150,00 e mais 353 84 68 108 92 1

Não declarado 99 56 15 11 11 6

HOMENS 2935 2054 366 174 106 235

Até 29,99 388 281 48 2 - 57

De 30,00 a 59,99 1179 938 90 14 4 133

De 60,00 a 99,99 634 474 93 22 7 38

De 100,00 a 149,99 347 233 59 45 7 3

De 150,00 e mais 306 80 63 84 78 1

Não declarado 81 48 13 7 10 3

MULHERES 822 473 117 163 28 41

Até 29,99 169 122 22 2 1 22

De 30,00 a 59,99 352 259 43 33 2 15

De 60,00 a 99,99 154 67 30 53 3 1

De 100,00 a 149,99 82 13 15 47 7 -

De 150,00 e mais 47 4 4 24 14 -

Não declarado 18 8 2 4 1 3

Fonte: PNAD's

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61

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO O SEXO E GRUPOS DE SALÁRIO SEMANAL

Sexo e grupos de salário semanal (NCR$)

Pessoas (1000) para 1970 - 1º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 3883 2553 545 339 154 292

Até 29,99 565 390 82 4 - 89

De 30,00 a 59,99 1517 1147 170 52 11 137

De 60,00 a 99,99 794 569 105 63 5 52

De 100,00 a 149,99 438 255 78 86 13 6

De 150,00 e mais 454 135 91 115 112 1

Não declarado 115 57 19 19 13 7

HOMENS 3016 2056 418 179 117 246

Até 29,99 390 274 56 1 - 59

De 30,00 a 59,99 1140 873 119 21 3 124

De 60,00 a 99,99 660 504 81 23 2 50

De 100,00 a 149,99 347 234 63 36 8 6

De 150,00 e mais 391 124 84 90 92 1

Não declarado 88 47 15 8 12 6

MULHERES 867 497 127 160 37 46

Até 29,99 175 116 26 3 - 30

De 30,00 a 59,99 377 274 51 31 8 13

De 60,00 a 99,99 134 65 24 40 3 2

De 100,00 a 149,99 91 21 15 50 5 -

De 150,00 e mais 63 11 7 25 20 -

Não declarado 27 10 4 11 1 1

Fonte: PNAD's

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62

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO GRUPOS DE SALÁRIO

MENSAL

Sexo e grupos de salário mensal (Salário Mínimo)

Pessoas Ocupadas (1000) para 1971 - 4º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 4544 2679 697 424 248 496

Até 1/4 do salário mínimo 74 47 12 1 - 14

Mais de 1/4 a ½ 296 183 57 9 - 47

Mais de 1/2 a 1 1146 733 154 33 3 223

Mais de 1 a 2 1528 1045 204 89 21 169

Mais de 2 a 3 712 412 113 115 37 35

Mais de 3 a 5 448 200 94 93 54 7

Mais de 5 a 7 123 33 31 28 30 1

Mais de 7 a 10 117 21 17 34 45 -

Mais de 10 100 5 15 22 58 -

HOMENS 3367 2091 499 229 152 386

Até 1/4 do salário mínimo 34 20 10 - - 4

Mais de 1/4 a 1/5 142 88 36 2 - 16

Mais de 1/2 a 1 798 510 102 14 1 171

Mais de 1 a 2 1184 847 130 42 12 153

Mais de 2 a 3 562 381 83 46 18 34

Mais de 3 a 5 360 188 81 56 28 7

Mais de 5 a 7 102 32 28 23 18 1

Mais de 7 a 10 94 20 15 27 32 -

Mais de 10 91 5 14 19 53 -

MULHERES 1177 588 198 195 86 110

Até 1/4 do salário mínimo 40 27 2 1 - 10

Mais de 1/4 a 1/5 154 95 21 7 - 31

Mais de 1/2 a 1 348 223 52 19 2 52

Mais de 1 a 2 344 198 74 47 9 16

Mais de 2 a 3 150 31 30 69 19 1

Mais de 3 a 5 88 12 13 37 26 -

Mais de 5 a 7 21 1 3 5 12 -

Mais de 7 a 10 23 1 2 7 13 -

Mais de 10 9 - 1 3 5 -

Fonte: PNAD's

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63

SALÁRIOS

EMPREGADOS, POR GRAU DE INSTRUÇÃO, SEGUNDO GRUPOS DE SALÁRIO

MENSAL

Sexo e grupos de salário mensal (Salário Mínimo)

Pessoas para 1972 - 4º Trimestre

Total

Grau de instrução

Elementar Médio

Superior Não alfabetizadas 1º Ciclo 2º ciclo

TOTAL 5868753 4037923 968706 539795 372497 772507

Até 1/4 do salário mínimo 200470 115796 27436 3033 2018 52195

Mais de 1/4 a ½ 475594 304408 74220 7923 482 88561

Mais de 1/2 a 1 1514729 570482 194293 40847 6239 302868

Mais de 1 a 2 1059400 1270546 241398 106379 28397 212680

Mais de 2 a 3 1016792 637349 156072 115408 47115 60840

Mais de 3 a 5 715531 411845 118866 95070 50723 30118

Mais de 5 a 7 295523 137753 59265 47701 40911 9893

Mais de 7 a 10 252285 91255 44712 51178 57799 7341

Mais de 10 338429 85703 50251 71023 129744 3716

Fonte: PNAD's

Anexo da Metodologia

Índice de Gini

Por meio da curva de Lorenz (L) podemos calcular o grau de concentração da

distribuição da renda em uma dada sociedade e, em seguida, nos valendo desse mesmo índice,

conseguimos obter o Índice ou Coeficiente de Gini (G). Para traçar a curva de Lorenz,

tomamos como abscissas (ou eixo x) as frações acumuladas do número de pessoas, e como

ordenadas (ou eixo y) as frações acumuladas da renda total recebida87

.

Na Figura 1, podemos observar para uma dada distribuição de renda a curva de

Lorenz. Onde, se a renda for distribuída de forma igualitária, cada fração do número de

pessoas corresponderia a igual fração de renda recebida. Essa situação é representada pelo

seguimento OB, ao qual chamamos de linha de perfeita igualdade. De outro modo, no caso

extremo, representado pelo segmento OAB, teríamos o caso de perfeita desigualdade. Uma

87

HOFFMANN & DUARTE, 1972.

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64

distribuição qualquer será, normalmente, simbolizada por uma curva localizada entre as linhas

de perfeita igualdade e da perfeita desigualdade, como a curva ODB88

.

Podemos observar que o nível de desigualdade da distribuição pode ser mensurado

por meio da área que compreende o segmento OB e a área ODB. Nesse caso, o índice de

Lorenz (L) é definido pela razão entre a área de desigualdade e a área do triângulo formado

pela reta de equidistribuição e a linha de perfeita desigualdade89

. Onde,

L=

Figura 1 – Curva de Lorenz para análise da distribuição da renda

Fonte: NERI

O Índice de Gini (G), como verificado, se trata de uma subestimativa do Índice de

Concentração, correspondendo por definição a duas vezes a área compreendida entre a curva e

a linha de perfeita igualdade90

, podendo estimá-lo da seguinte forma:

Inicialmente obtemos um valor aproximado da área compreendida entre a curva de

Lorenz e o eixo X, calculando a área do polígono cujos vértices são a origem dos eixos, o

ponto A e os pontos (Xi, Yi), i= 1,2,...,n91

.

Esse polígono pode ser decomposto em n trapézios ou, mais precisamente, um

triângulo e n-1 trapézios. As bases de i-ésimo trapézio são Yi e Yi-1 e sua altura é (Xi – Xi-1).

88

Idem 89

Idem 90

CICCIAMALI, 2002 91

HOFFMANN & DUARTE, 1972

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65

Onde,

X0= 0

Y0= 0

A área do i-ésimo trapézio é

Si =

(Xi – Xi-1) (1)

Para a área de desigualdade obtemos um valor aproximado que é dado pela seguinte

expressão

0,5 - ∑

com a área do triângulo OAB igual a 0,5. O índice de Gini é dado por

G= 1 - ∑

= 1 – 2 ∑ (2)

Ao substituirmos a expressão (1) em (2) obtemos:

G= 1 - ∑( )( ) (3)

De outro modo, para efeito de simplificação, basta calcular: (1) a área compreendida

entre a diagonal OB e a curva de Lorenz (linha ODB); (2) dividindo-se a área determinada no

item anterior pela área do triângulo OAB92

. Para expressarmos o Índice de Gini em

porcentagem basta multiplicar o resultado anterior por 100.

O Coeficiente ou Índice de Gini é considerado uma das medidas mais usuais para

mensurar o grau de concentração da renda em uma dada sociedade. Seu cálculo é possível

quando se dispõe do número de pessoas ou famílias em cada estrato da renda e da renda total

92

CACCIAMALI, 2002

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66

auferida pelos elementos do estrato93

. O índice varia entre 0 e 1, onde zero corresponde a uma

completa igualdade na renda e um compreende uma completa desigualdade94

.

Cabe ressaltar que tanto a Curva de Lorenz quanto o Índice de Gini são instrumentos

que tratam somente da questão quantitativa em relação à igualdade na distribuição da renda.

Portanto, trata-se de um instrumental de cunho empírico, que busca responder como: numa

dada sociedade, em um determinado período, o quanto as rendas são iguais ou de forma

complementar, o quanto elas se diferem95

.

93

HOFFMANN & DUARTE, 1972. 94

CACCIAMALI, 2002. 95

Idem