as conjurações do final do século xviii

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As conjurações do final do século XVIII Aos fins do século do século XVIII, ocorreram, no Brasil, movimentos contrários à dominação portuguesa, denominados conjurações, o aumento do controle português sobre a Colônia e a insatisfação da cobrança de impostos estão entre os principais fatores que explicam o surgimento da Conjuração Mineira (1789) e a Conjuração Baiana (1798). Esses movimentos se inseriram em um contexto mais amplo da crise do colonialismo português na América. É importante considerar, no entanto, que essas conjurações, revelaram-se como movimentos locais, sem uma proposta de ruptura política de toda a colônia. Conjuração Mineira A insatisfação da sociedade mineira em relação a Portugal vinha se agravando. Quando a atividade mineradora entrou em declínio, o governo metropolitano alegou que a causa da queda da arrecadação era o contrabando e passou a exigir o pagamento do quinto. Para garantir o recebimento d quinto do ouro extraído, Portugal decretou a derrama: o confisco de bens e de objetos de ouro para completar a cota do imposto devido. Em 1788, o total de ouro em atraso era de 596 arrobas, quase 9 mil quilos. Os habitantes de Minas Gerais temiam perder tudo o que possuíam no dia em que fosse cobrada a derrama.

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Page 1: As conjurações do final do século xviii

As conjurações do final do século XVIII

Aos fins do século do século XVIII, ocorreram, no Brasil, movimentos contrários à dominação

portuguesa, denominados conjurações, o aumento do controle português sobre a Colônia e a insatisfação da

cobrança de impostos estão entre os principais fatores que explicam o surgimento da Conjuração Mineira

(1789) e a Conjuração Baiana (1798). Esses movimentos se inseriram em um contexto mais amplo da crise

do colonialismo português na América. É importante considerar, no entanto, que essas conjurações,

revelaram-se como movimentos locais, sem uma proposta de ruptura política de toda a colônia.

Conjuração Mineira

A insatisfação da sociedade mineira em relação a Portugal vinha se agravando. Quando a atividade

mineradora entrou em declínio, o governo metropolitano alegou que a causa da queda da arrecadação era o

contrabando e passou a exigir o pagamento do quinto. Para garantir o recebimento d quinto do ouro extraído,

Portugal decretou a derrama: o confisco de bens e de objetos de ouro para completar a cota do imposto

devido. Em 1788, o total de ouro em atraso era de 596 arrobas, quase 9 mil quilos. Os habitantes de Minas

Gerais temiam perder tudo o que possuíam no dia em que fosse cobrada a derrama.

Page 2: As conjurações do final do século xviii

Em fins de 1788, membros da elite de

Minas Gerais reuniram-se para promover um

movimento contra a Coroa Portuguesa. A

notícia da independência das colônias inglesas

na América do Norte, em 1776, e os ideais

iluministas difundidos na Europa serviram de

exemplo e estimulo aos cidadãos mineiros

insatisfeitos com o governo colonial. O caráter

elitista do movimento se evidenciou, também,

na elaboração da bandeira que simbolizaria o

movimento, na qual a inscrição em latim

“Libertas quae sera tamem” (Liberdade ainda

que tardia) foi inspirada em uma passagem de

um poema épico, A Eneida, do poeta romano

Virgílio (70 – 19 a. C.). Esses versos se

encontram na atual bandeira do estado de

minas Gerais.

Muitos dos envolvidos na conjuração tinham dívidas com o estado português e viam no movimento

uma possibilidade de livrar-se delas. A eclosão do movimento foi marcada para a data em que a Coroa

Portuguesa decretasse a derrama. O alferes Joaquim José da Silva Xavier, apelidado de Tiradentes, ficou

encarregado de prender o governador e dar inicio ao levante. Os planos do movimento, entretanto, não

chegaram a ser colocados em prática. O movimento foi denunciado por Joaquim Silvério dos Reis, que

contou ao governador os planos dos conspirados em troca do perdão de suas dívidas com a Coroa

Portuguesa.

Uma vez denunciadas às articulações políticas, as autoridades suspenderam a derrama e as prisões se

sucederam, sendo os presos transferidos para o Rio de Janeiro, capital da colônia. Nessa cidade, foram

julgados por um tribunal especial vindo de Lisboa com uma sentença previamente estabelecida: execução

dos líderes e exilio de outros implicados.

O julgamento durou três anos. Onze dos acusados foram condenados à morte na forca. Entretanto,

dona Maria I anulou a pena de morte de dez dos conjurados em troca do segredo na África. Tiradentes, que

não era um dos líderes do movimento, foi o único a ter sua sentença mantida. Foi enforcado em 21 de abril

de 1792, no Rio de Janeiro. Seu corpo foi esquartejado, e os pedaços expostos em Vila Rica. Com isso a

Coroa pretendia mostrar aos colonos o que aconteceria àqueles que se rebelassem contra Portugal.

Page 3: As conjurações do final do século xviii

Conjuração Baiana

A Conjuração Baiana foi a mais ampla e popular das rebeliões coloniais. Dela participaram padres,

profissionais liberais (como médicos e advogados), alguns membros da elite intelectual e, sobretudo, pessoas

dos grupos sociais mais pobres, como sapateiro, ex-escravos, soldados e vários alfaiates. Por isso também

ficou conhecida como Revolta dos Alfaiates.

Para compreender a deflagração do movimento, devemos nos reportar à transferência da capital para

o Rio de Janeiro, em 1763. Com tal mudança, Salvador (antiga capital) sofreu com a perda dos privilégios e

a redução dos recursos destinados à cidade. Somado a tal fator, o aumento dos impostos e exigências

colônias vieram a piorar sensivelmente as condições de vida da população local.

Ao mesmo tempo, as notícias do êxito alcançado nos processos de independência dos Estados

Unidos e Haiti, e a deflagração da Revolução Francesa trouxe junto os ideais de liberdade e igualdade

defendidos pelo pensamento iluminista. Empolgados com tais processos revolucionários, alguns

representantes dos setores médios e das elites ligados à maçonaria montaram uma sociedade secreta

denominada “Cavaleiros da Luz”. Durante suas reuniões os cavaleiros da luz discutiam a organização de um

movimento anticolonialista e a criação de um novo governo baseado em princípios republicanos e liberais.

HERÓIS DA REVOLTA DOS BÚZIOS OU CONJURAÇÃO BAIANA DE 1798

Os nomes dos líderes da Revolta dos Búzios foram

inscritos no Livro de Aço dos Heróis Nacionais em 4 de

março de 2011, mais de 200 anos após a morte deles.

Esses heróis são símbolos do movimento que influenciou

fortemente os ideais libertários dos brasileiros em uma

época em que os direitos contrastavam com a precária

condição de vida do povo negro.

O grande marco do movimento foi a articulação de

grupos mais pobres da população baiana para defender

propostas que realmente os representassem. A conspiração

surgiu das discussões promovidas pela Academia dos

Renascidos e foi apoiada pelas mais diversas classes

sociais, tornando-se um dos primeiros movimentos

populares da história do país. O movimento tinha por

princípios a emancipação da colônia e a abolição da

escravidão na busca por uma república democrática. O

sonho, porém, foi realizado apenas 147 anos depois.

Quem são os heróis da Revolta dos Búzios:

João de Deus do Nascimento (1761 – 1799) - Filho de mulata alforriada com português, João de Deus

nasceu em Salvador. Inconformado com a situação de miséria da colônia, participou de reuniões secretas,

juntamente com estudantes, comerciantes, intelectuais, soldados e artesãos. Ao tomar conhecimento da

Revolução Francesa, passou a discutir os ideais liberais e as possibilidades de sua aplicação no Brasil.

Lucas Dantas de Amorim Torres (1775 – 1799) - Pardo, escravo liberto, soldado e marceneiro, Lucas

Dantas foi o responsável pela reunião de representantes das mais diversas classes sociais para debater sobre

a liberdade e a independência do povo baiano.

Manuel Faustino Santos Lira (1781 – 1799) - Filho de escrava liberta e pai desconhecido, Manuel Lira

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também nasceu em Salvador. Foi um dos primeiros suspeitos pela autoria de panfletos anônimos que

conclamavam a população a defender a “República Bahiense”.

Luís Gonzaga das Virgens e Veiga (1763 – 1799) - Soldado, negro, Luís Gonzaga das Virgens e Veiga

era o mais letrado entre os líderes da revolta. Descendia de portugueses e crioulos. Sentiu e expressou o

sentimento de revolta contra o preconceito de cor dominante no seu tempo. Foi autor do mais polêmico

manifesto feito durante o movimento.

Em 12 de agosto de 1798, as ruas de Salvador amanheceram repletas de panfletos com dizeres que

incitavam à luta, defendo ideias revolucionários como a instauração de uma republica democrática; o fim da

escravidão; a abertura do porto de Salvador a todas as nações; o aumento do salário dos militares; a

diminuição dos impostos.

O governo baiano agiu rapidamente, colhendo denuncias que resultaram na prisão de 36 pessoas,

principalmente aquelas pertencentes às camadas mais pobres da sociedade. Os conspiradores da elite baiana

foram poupados. Todos os conjurados que foram presos eram negros ou filhos de negros. A maioria deles

não possuíam bens; dispunham, apenas, das roupas do corpo. Nove deles, ainda, eram cativos.

No final do processo judicial, quatro líderes populares foram condenados à morte por enforcamento:

dois alfaiates e dois soldados. Eles tiveram seus corpos esquartejados e expostos em locais públicos de

Salvador. Os demais foram condenados à prisão ou banimento para a África. Os negros escravizados

envolvidos foram açoitados e seus senhores foram obrigados a vendê-los para regiões distantes dali.

1.Os textos abaixo são trechos que descrevem as punições judiciais proferidas no Brasil nos anos de 1792

(texto 1) e 1799 (texto 2). Analise os dois textos e responda às questões.

Page 5: As conjurações do final do século xviii

a) A quais movimentos de rebelião contra a Coroa os textos se referem?

b) Os juízes determinaram que a execução dos condenados fosse um evento público. Identifique nos dois

textos os trechos que justificam essa afirmação.

c) Por que os juízes determinaram a exposição máxima da aplicação da pena aos condenados?

3. Compare as conjurações Mineira e Baiana, identificando as semelhanças e diferenças existentes entre

elas.

4. Em sua opinião, por que os líderes da Conjuração Baiana não tiveram tanta notoriedade quanto os líderes

da Conjuração Mineira?

5. Em sua opinião, por que hoje a memória nacional valoriza mais o movimento mineiro do que a

Conjuração Baiana.