a paraíba na crise do século xviii

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A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 1

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Elza Regis

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Page 1: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 1

Page 2: A Paraíba na Crise do Século XVIII

2 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 3: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 3

Page 4: A Paraíba na Crise do Século XVIII

4 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 5: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 1

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII: subordinação e autonomia

(1755 — 1799)

Page 6: A Paraíba na Crise do Século XVIII

2 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

reitor

RÔMULO SOARES POLARI vice-reitora

MARIA YARA CAMPOS MATOS

EDITORA UNIVERSITÁRIA

diretor

JOSÉ LUIZ DA SILVA vice-diretor

JOSÉ AUGUSTO DOS SANTOS FILHO divisão de editoração

ALMIR CORREIA DE VASCONCELLOS JUNIOR

Direitos desta edição reservados à:

EDITORA UNIVERSITÁRIA/UFPB

Caixa Postal 5081 - Cidade Universitária -João Pessoa - Paraíba - Brasil CEP 58.051-970

www.editora-ufpb.com.br

Impresso no Brasil

Printed in Brazil

Foi feito o depósito legal

Page 7: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 3

Elza Regis de Oliveira

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII:

Subordinação e Autonomia

(1755 — 1799)

2ª edição revisada

Editora Universitária João Pessoa

2007

Page 8: A Paraíba na Crise do Século XVIII

4 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Copyright © 2007 by Elza Régis de Oliveira

Capa:

Mônica Câmara

Editoração Eletrônica

Emmanuel Luna

O48p Oliveira, Elza Regis de.

A Paraíba na crise do século XVIII: subor-

dinação e autonomia / Elza Regis de Oliveira. -

2ª ed. João Pessoa: Editora Univesitária, 2007.

218p.

1. História - Paraíba - Brasil. 2. História -

Paraíba - Séc. XVIII.

UFPB/BC CDU: 94(81)

Page 9: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 5

AGRADECIMENTOS

Agradecemos ao Magnífico Reitor da Universidade Federal da Paraíba, Professor Rômulo Soares Polari, e à Vice-Reitora, Professora Maria Yara Campos Matos, pela preciosa colaboração para esta publicação, bem como à Professora Rosa Maria Godoy Silveira e ao Professor Mozart Vergetti de Menezes, pelas valiosas sugestões para este livro.

Page 10: A Paraíba na Crise do Século XVIII

6 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 11: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 7

SUMÁRIO

Lista de Ilustrações ............................................................................................ 9

Prefácio à Primeira Edição ........................................................................... 13

Introdução à Primeira Edição ..................................................................... 17

Introdução à Segunda Edição ................................................................ 23

1. A CONJUNTURA DE EXPANSÃO EUROPEIA ........................................... 27

2. PORTUGAL E BRASIL: UMA CRISE DE ESTRUTURA................................. 55

3. A CAPITANIA DA PARAÍBA ANTES DA ANEXAÇÃO .................................. 81

4. DA ANEXAÇÃO À AUTONOMIA: 1755-1799 ........................................ 105

5. A AUTONOMIA RECONQUISTADA ....................................................... 139

CONCLUSÕES ................................................................................................... 155

ANEXOS ........................................................................................................... 159

REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 207

Page 12: A Paraíba na Crise do Século XVIII

8 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 13: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 9

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Tabela Entrada e saída dos navios nacionais do porto de Lisboa ............................................. 65

Mapa Mapa da Distribuição Geográfica da Capitania de Pernambuco e suas Anexas em 1870 ...............................................................................................................152

Gráficos Gráfico 1 — Rendimento e despesa da Real Fazenda da Capitania da

Paraíba do Norte:1799-1805 ............................................................161

Gráfico 2 — Habitantes que existiam na Capitania da Paraíba do Norte: 1798-1802, 1804,1805 ................................................................... 162

Gráfico 3 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da Paraíba do Norte por raça: Brancos nos anos de 1798- 1802, 1804, 1805 .......................................................................... 163

Gráfico 4 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da Paraíba do Norte por raça: Índios, nos anos de 1798- 1802, 1804, 1805 .......................................................................... 164

Gráfico 5 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da Paraíba do Norte por raça: Pretos, nos anos de 1798- 1802, 1804, 1805 .......................................................................... 165

Gráfico 6 — Casamento, nascimentos e mortes na Capitania da Paraíba do Norte por raça: Mulatos, nos anos de 1798- 1802, 1804, 1805 .......................................................................... 166

Page 14: A Paraíba na Crise do Século XVIII

10 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Quadros

Quadro 1 — Concessão de provisões para reedificação de engenhos na Paraíba: 1659-1683 ................................................................................167

Quadro 2 — Contratos dos dízimos reais da Capitania da Paraíba: 1709-1717 (rendimentos) .................................................................168

Quadro 3 — Contratos dos dízimos reais da Capitania da Paraíba: 1723-1754 (em réis) .................................................................. 169

Quadro 4 — Receita e despesa da Capitania da Paraíba 1723-1754 (em réis) .......................................................................................... 170

Quadro 5 — Receita e despesa da Capitania da Paraíba: 1755-1805 (em réis) .......................................................................................... 171

Quadro 6 — Rendas reais da Capitania da Paraíba, por distrito: 1805- 1806. .................................................................................................. 172

Quadro 7 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do açúcar: 1798-1802,1804, 1805................................................... 173

Quadro 8 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do algodão: 1798-1802, 1804, 1805 ............................................... 174

Quadro 9 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do tabaco: 1798-1802, 1804, 1805 ............................................... 175

Quadro 10 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação da farinha: 1798-1802, 1804, 1805 ................................................ 176

Quadro 11 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do feijão:1798-1802, 1804, 1805 ..................................................... 177

Quadro 12 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do arroz: 1798-1802, 1804, 1805 ................................................ 178

Quadro 13 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do milho: 1798-1802, 1804, 1805 ................................................ 179

Page 15: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 11

Quadro 14 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação do couro: 1798-1802, 1804, 1805 ............................................... 180

Quadro 15 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação da sola: 1798-1802, 1804, 1805 .................................................. 181

Quadro 16 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação de gado vacum: 1798-1802, 1804, 1805 .................................. 182

Quadro 17 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo e exportação de gado cavalar: 1798-1802, 1804, 1805 ................................. 183

Quadro 18 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1798 ...................................................... 184

Quadro 19 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1799 ...................................................... 185

Quadro 20 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1800 ...................................................... 186

Quadro 21 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1801 ...................................................... 187

Quadro 22 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1802 ...................................................... 188

Quadro 23 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1804 ...................................................... 189

Quadro 24 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estrangeiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1805 ...................................................... 190

Quadro 25 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1798 (em réis) .............................................................................. 191

Page 16: A Paraíba na Crise do Século XVIII

12 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Quadro 26 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1799 (em réis) .............................................................................. 192

Quadro 27 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1800 (em réis) .............................................................................. 193

Quadro 28 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1801 (em réis) .............................................................................. 194

Quadro 29 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1802 (em réis) .............................................................................. 195

Quadro 30 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1804 (em réis) .............................................................................. 196

Quadro 31 — Preços de gêneros na Capitania da Paraíba do Norte em 1805 (em réis) .............................................................................. 197

Quadro 32 — Ocupações dos habitantes da Capitania da Paraíba do Norte: 1798-1802, 1804, 1805 ............................................... 198

Quadro 33 — Navios que entraram e saíram do porto da Paraíba do Norte com rendimento da Alfândega: 1798-1802, 1804, 1805 .................................................................................................. 199

Quadro 34 — Carga do navio Santo Estevão, que vai da Cidade da Paraíba do Norte para Lisboa, em 9 de outubro de 1798.........................................................................................200

Quadro 35 — Carga da Sumaca Nossa Senhora da Conceição, Santa Ana e Almas, que vai da cidade da Paraíba do Norte para Lisboa, em 13 de novembro 1798 ....................................................... 201

Quadro 36 — Carga da sumaca Nossa Senhora da Conceição, São José e Almas, sendo mestre Antonio Luiz Bastos, que vai da cidade da Paraíba para Lisboa em, 14 de dezembro de 1799 ................................................................................................. 202

Quadro 37 — Carga da galera Princeza da Beira, que vai da cidade da Paraíba do Norte para Lisboa, em abril de 1800............203

Quadro 38 — Carga do brigue Lebre, que vai da cidade da Paraíba do Norte para Lisboa, em maio de 1800 ................................. 204

Quadro 39 — Carga da galera Francezinha que vai deste porto para o de Lisboa. Paraíba, 5 de agosto de 1803 ................................... 205

Page 17: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 13

N

PREFÁCIO À 1ª EDIÇÃO

ão fosse a extrema gentileza da Professora Elza Regis de Oli-

veira, nossa colega do Departamento de História da Universi-

dade Federal da Paraíba, honrando-nos com o convite para

prefaciarmos sua obra, diríamos que esta dispensa prefácio e, conse-

quentemente, prefaciadora. A autora por si só se apresenta através de

seu excelente trabalho.

Sabemos que, a despeito dos avanços teóricos e metodológicos

da Ciência Histórica no país, nossa historiografia padece de sérias lacu-

nas temáticas e de abordagem, produzida que é, ainda e em grande par-

te, por uma concepção positivista de História, bastante arraigada no

arcabouço ideológico brasileiro. Na História Regional, em específico,

aquelas deficiências se agravam, a começar da própria carência de estu-

dos em moldes verdadeiramente científicos. As obras, as mais das vezes,

não ultrapassam a condição de meros arrolamentos de fatos dispostos

cronologicamente, sem a mínima articulação.

A implantação de Cursos de Pós-Graduação em História, em

várias regiões do país, tem, felizmente, revertido essa historiografia tra-

dicional, à medida que introduz a metodologia de estudos monográficos

tematizados, necessários para dar ao conhecimento histórico da reali-

dade brasileira a necessária profundidade e, assim, redimensioná-lo subs-

tantivamente.

Page 18: A Paraíba na Crise do Século XVIII

14 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Nessa vertente revisionista, enquadra-se A PARAÍBA NA CRISE

DOSÉCULO XVIII: SUBORDINAÇÃO E AUTONOMIA (1755-1799), cuja

publicação tão oportunamente o Banco do Nordeste do Brasil

patrocina.

Dois requisitos essenciais sintetizam o seu mérito: a pertinência

do tema e a solidez do embasamento documental.

Ao eleger como tema de sua pesquisa a relação entre as Capitanias da Paraíba e de Pernambuco, consubstanciada, a nível

político-administrativo, nas figuras jurídicas da anexação e da

autonomia, a professora Elza Regis de Oliveira coloca em debate em

última instância, a problemática das desigualdades regionais. Mais

propriamente: das desigualdades intra-regionais. Discute as múltiplas

motivações que conduziram a metrópole portuguesa à deliberação de

anexar a Capitania à de Pernambuco, em 1755; os efeitos resultantes da

medida e as motivações posteriores, que provocaram, em 1799, uma

decisão inversa, no sentido de restaurar a autonomia paraibana.

Fazendo-o, a autora rompe, no entanto, e simultaneamente, com

várias deformações da historiografia existente sobre esse assunto: em

primeiro lugar, trata-o unitária e verticalmente, e não fragmentária e

dispersamente, de modo que, ao leitor, repassa uma visão global da pro-

blemática em todos os níveis do real em que a mesma se manifesta. A par

disso, não se circunscreve a uma farta sistematização factual: avança

além da mera descrição para explicar a desigualdade paraibana frente a

Pernambuco, que ainda hoje se mantém, expressa através de sua su-

bordinação comercial. O período a que o trabalho se refere 1755-1799, na

verdade, representa o momento em que são assentadas as raízes dessa

relação desigual e em que se elabora um primeiro grau de consciência,

entre paraibanos, acerca de sua condição.

Um terceiro ponto de revisão historiográfica é a abordagem que a

autora utiliza. Muito embora focalize a relação de duas unidades político-

administrativas, envolvendo aspectos jurídicos, a obra não peca jamais pelo

tratamento juridicista da anexação e da desanexação, mas busca-lhe as

determinações em outras esferas do real: a economia, a estrutura social e

política. Por outro lado, não toma a Paraíba e Pernambuco como dois espa-

ços isolados e homogeneizados, como se a especificidade (o regional) fosse

Page 19: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 15

algo desarticulado do geral (processo histórico brasileiro e/ou europeu).

Para a professora Elza Regis de Oliveira, história Regional é algo bastante

diferente dessa ótica tradicional: apreende-as (às capitanias) no conjunto de

articulações externas e internas que atravessam os seus respectivos

territórios. Percebe-as e, portanto, à problemática - chave do livro, no

processo mais amplo de organização e manutenção do sistema colonial

pelo Estado português e no processo de desagregação da política

mercantilista metropolitana. Internamente, desmistifica a versão de que

Paraíba e Pernambuco são espaços opostos, que a existência concreta

de “fronteiras” territoriais e de delimitação político-administrativa tem

convertido em sério equívoco. Ao apontar os interesses subjacentes à

anexação ou à desanexação, a autora deixa claro que não eram apenas

pernambucanos ou de pernambucanos os interesses na anexação, assim

como não foram só paraibanos ou de paraibanos os interesses na

desanexação. Interesses favoráveis e desfavoráveis se manifestaram em

ambos os lados das “fronteiras” entre as Capitanias, evidenciando que a

autonomia não se restringe ao nível estritamente político nem equivale

ao confronto inconciliável de espaços. A autonomia – ou a falta de – se

dava a partir de interesses determinados de grupos sociais em ambas as

Capitanias que, portanto, longe estavam de se constituírem como espaços

homogêneos. Para consecução de seu estudo, a autora compulsou vasta do-

cumentação referente à Paraíba, existente em arquivos portugueses, cujo

levantamento realizara no início de sua vida profissional. Data daí, in-

clusive, nosso convívio, quando a microfilmagem dos documentos sobre

a Paraíba colonial, do Arquivo Histórico Ultramarino, realizada por Elza

Regis de Oliveira, veio enriquecer o acervo do Núcleo de Documentação

e Informação Histórica Regional, da Universidade Federal da Paraíba,

cuja Coordenação então exercíamos. Assim, não fosse a sua contribuição

através de sua monografia, a pesquisadora já marcara seu nome em defi-

nitivo na historiografia paraibana, pela possibilidade que ofereceu aos

estudiosos, de acesso às fontes, ao trazê-las para o lugar que foi objeto de

seu conteúdo – a antiga Capitania da Paraíba, agora quatrocentona. O material consultado para o trabalho, já de si rico pela quan-

tidade e teor das informações – demonstrativas da eficiência da admi-

Page 20: A Paraíba na Crise do Século XVIII

16 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

nistração metropolitana no controle da Colônia brasileira –, teve suas

potencialidades aumentadas pelo tratamento que a autora deu aos da-

dos. Os de natureza quantitativa, sobretudo, sistematizados em uma

tabela, seis gráficos e trinta e nove quadros, produzidos por uma

atividade percuciente de investigação, revelam um largo espectro

econômico, financeiro, demográfico, social, da vida paraibana no século

XVIII. O delicioso sabor da linguagem de época pode ser apurado

pelas adequadas citações de documentos de natureza mais qualitativa

no corpo do livro.

Destarte, o conjunto de informações aí contidas subsidia vários

campos do conhecimento histórico, como a própria autora aponta em

sua Introdução. Advertimos a atenção do leitor para a História tributá-

ria, ainda encarada de modo tão malfadado nas pesquisas, apesar das

mais sofisticadas técnicas de tratamento de dados hoje disponíveis e da

importância basilar que esta área tem para a compreensão do processo

histórico.

No ano de seu IV Centenário, a Paraíba, com esta publicação

criteriosa, ganha um presente que se constituirá, inquestionavelmente,

em marco de sua historiografia. Não só pelos aspectos teórico-

metodológicos apontados, mas porque a problemática de sua autonomia

é problemática viva, e será a reflexão sobre suas raízes históricas que

permitirá o entendimento de suas determinações e configurações atuais.

A uma obra com este alcance, prefaciá-la é-nos motivo – a

nós, que temos acompanhado a carreira profissional da professora Elza

Régis de Oliveira – de justo orgulho mas também de um certo temor, por

não termos, talvez, podido caracterizar à altura, nos limites destas pági-

nas e com as limitações da prefaciadora, todo o valor deste trabalho.

João Pessoa, março de 1985

Rosa Maria Godoy Silveira

João Pessoa, março de 1985.

Page 21: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 17

E

INTRODUÇÃO À

PRIMEIRA EDIÇÃO

ste estudo, elaborado como dissertação de mestrado, junto ao De-

partamento de História da Universidade Federal de Pernambuco,

recebeu originalmente o título de AUTONOMIA DA CAPITANIA DA

PARAÍBA. Ao cogitarmos sua publicação, optamos por um título mais

abrangente, no sentido de expressar melhor o seu conteúdo, uma vez que

analisamos a problemática paraibana ao longo do século XVIII, buscan-

do, no século XVII, elementos para compreendermos a longa dependên-

cia da Paraíba a Pernambuco. Com a nova denominação, temos A Paraíba

na Crise do Século XVIII: subordinação e autonomia (1755-1799).

Com este trabalho, pretendemos preencher lacunas existentes

na produção historiográfica da Paraíba no século XVIII, carente de estu-

dos, particularmente no que se refere à fase em que a Paraíba ficara su-

bordinada à capitania de Pernambuco, situação essa que se mantivera

por quase meio século. Na verdade, A Paraíba na Crise do Século XVIII é

um tema amplo que deve merecer maior consideração dos estudiosos,

mesmo porque em nenhum momento pensamos em dar a palavra final

sobre o assunto. Partimos do princípio de que em ciência não devemos

ter nada acabado definitivamente, mas ter abertura para novas aquisi-

ções do saber, que devem ser permanentes.

Aqui, não tratamos apenas da questão política decorrente da

perda da autonomia da capitania paraibana, mas também das implica-

ções econômicas, sociais e demográficas da Paraíba naquela época. To-

Page 22: A Paraíba na Crise do Século XVIII

18 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

dos esses aspectos foram examinados em função do fator político, que

não é tratado isoladamente, mas na confluência de outros fatores. Recor-

remos também à demografia como uma necessidade imperiosa na expli-

cação dos fenômenos sociais. Com relação à utilização da Demografia,

diz apropriadamente Chaunu: “Toda ciência Humana, sem uma pode-

rosa base demográfica, não passa de um frágil castelo de carta; toda

História, que não recorre à Demografia, priva-se do melhor instrumento

de análise.”(30)

Apoiamo-nos no conceito de conjuntura utilizado por Chaunu,

como sendo o conjunto das correlações das atividades humanas. Neste

sentido, ele deixa bem claro que a influência da conjuntura não se limita

ao econômico, “porque nada, nem a política, nem o pensamento, nem a

sensibilidade artística, nem mesmo a expressão do sentimento religioso,

escapa à conjuntura.” (28:371-394)

Procuramos não nos ater a explicações locais, porque estamos

convencidos de que não há sentido em se dissociar o Brasil e a Paraíba

da problemática europeia. Assim, partimos da conjuntura do século

XVIII, procurando dar visão ampla aos fatos, relacionando aconteci-

mentos particulares com aqueles de maior dimensão. Recuamos,

quase obrigatoriamente, quanto possível, aos séculos XVI e XVII, para

melhor compreensão conjuntural, já que o século XVIII possui forte

elo com aqueles séculos. Enfoca-se Portugal como país que, antecipado-se aos demais, no

início da expansão europeia, abre caminhos que se convertem em fontes

de abastecimento para mercados europeus e figura como intermediário do

comércio que se desenvolveria entre a América e a Europa. Procuramos,

neste estudo, explicar também que o sistema econômico português do tem-

po girava em torno do binômio Portugal–Brasil(83) e que há extrema

dependência da Metrópole em relação à colônia brasileira. Assim, a

crise dos produtos brasileiros, que, nos meados do século XVIII, afeta

duramente a vida da metrópole, incide sobre a mineração das Minas

Gerais (1760-1780), o açúcar (1749-1776) e os diamantes (1760-1780).

Afirmar simplesmente que crise no Brasil significa crise em Portugal é

esquecer que isso se deve à dependência de Portugal ao seu comércio

externo e à permanência das formas arcaizantes de sua economia.(52:55-94)

Page 23: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 19

Essas considerações explicam por que se estuda a Paraíba den-

tro do contexto mais amplo, dando aos fatos implicações e decorrências

que estão além de suas próprias fronteiras. (160:52-57) Assim, analisamos as

depressões de conjuntura, e, em função delas, as crise do Brasil e de

Portugal, para enfoque da conjuntura histórica paraibana.

Situa-se esta tentativa de análise histórica na época colonial

do Brasil, com ênfase geográfica na Paraíba. Abrange o período entre

1755 e 1799, durante o qual a Capitania da Paraíba permanecera

anexada à de Pernambuco. Analisam-se as razões que levaram o Rei a

tomar essa decisão, ficando bem claro que não fora uma solução

adequada, uma vez que não resolveu os principais problemas da

Paraíba, e só contribuiu para adiá-los.

Constatamos que a perda da autonomia política da capitania

paraibana e sua anexação a Pernambuco, em 1755, decorrem do estado

de declínio econômico em que a Paraíba se encontrava. Comprova essa

afirmação a Provisão Real de 29 de dezembro de 1755, quando diz: “Por

se ter conhecido os poucos meios que há na Provedoria da Fazenda para

sustentar um governo independente fique a Paraíba sujeita ao governo

de Pernambuco, pondo-se na mesma um Capitão-mor com igual jurisdi-

ção e soldo ao que tem o Capitão-mor da cidade do Natal do Rio Grande

do Norte.”

Na verdade, se essas são as razões da subordinação da Paraíba

a Pernambuco, é certo que a anexação se insere dentro do plano de raci-

onalização da política pombalina de conter gastos, concentrar recursos

e não dispersá-los numa época de crise como a dos meados do século

XVIII, que afetava toda a estrutura econômica de Portugal, crise estrutu-

ral e, portanto, de longa duração.(19:7-70)

Mostramos, ao longo desse estudo, as inconveniências de man-

ter a Paraíba subordinada a Pernambuco, não só porque os problemas

persistiam, mas porque a anexação entravou o desenvolvimento da capi-

tania subalterna. Assim, a desanexação atendia não só aos interesses da

Metrópole, mas também aos dos capitães-mores, uma vez que estes podi-

am administrar suas próprias rendas, cobrar impostos e executar as obras

de que a capitania necessitava. Isso não deixou de beneficiar a Capita-

Page 24: A Paraíba na Crise do Século XVIII

20 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

nia e, muito particularmente, a Portugal, no duplo jogo de interesses

Metrópole–Colônia.

A execução desta pesquisa limitou-se, principalmente, a três

arquivos portugueses: Arquivo Histórico Ultramarino, Arquivo Nacio-

nal da Torre do Tombo e Arquivo Histórico do Ministério das Finanças,

todos em Lisboa. Nosso interesse naquelas fontes deve-se ao desapareci-

mento da nossa antiga documentação dos séculos XVI e XVII, do Arqui-

vo Público do Estado da Paraíba. Em 1908, Irineu Ferreira Pinto,(125) ao

publicar Datas e Notas para a História da Paraíba, refere-se ao estado de

ruína daqueles documentos, declarando ser o seu intento o de salvá-los,

pois não durariam mais do que dez anos. Ao que tudo indica, parece ter-

se cumprido esse trágico destino.

Ao estudarmos o século XVIII, tornou-se imprescindível con-

sultar os documentos dos séculos XVI e XVII para demonstrarmos, na

longa duração, uma constante da história paraibana: as crises econômi-

cas. Estas culminaram com a anexação da nossa Capitania à de

Pernambuco. A consulta aos manuscritos dos acervos portugueses, foi

indispensável, por não se encontrar no Arquivo Nacional do Rio de Ja-

neiro, no que se refere à Paraíba, tão rica e abundante documentação

colonial como a conservada em Portugal.

Em face das nossas dificuldades de investigação histórica

local, foi-nos sugerida pelo professor Armando Souto Maior, da UFPE,

em 1979, a pesquisa deste trabalho, bem como a microfilmagem da do-

cumentação paraibana em Portugal, imediatamente acatada pelos pro-

fessores Lynaldo Cavalcanti de Albuquerque e Antônio Maria Amazo-

nas MacDowell, reitor e pró-reitor de pós-graduação e pesquisa da

UFPB, respectivamente, quando, em 1979, realizamos nossa viagem

para pesquisas em Portugal. Com o apoio do Núcleo de Documentação

e Informação Histórica Regional da UFPB e do Conselho Nacional de

Pesquisa – CNPq, cumpriu-se parte do nosso projeto de microfilmagem,

em Lisboa. Dos três arquivos acima citados microfilmamos o acervo do

Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, no tocante à Paraíba, com-

preendendo quarenta e sete caixas e maços de documentos, num total

de trinta mil imagens de documentos. A microfilmagem, que atualmente

Page 25: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 21

se encontra no NDIHR da UFPB, inclui também os códices e a

cartografia paraibana.

A documentação microfilmada é muito expressiva, quanto

aos assuntos tratados. Entre outros relacionamos: problemas de

jurisdição entre a Paraíba e Pernambuco; contratos; rendas reais;

receita e despesa; produção; exportação; importação; preços;

população; classes sociais; engenhos; escravos; mesa de inspeção do

açúcar e do tabaco; comércio; Companhia Geral de Pernambuco e

Paraíba; Justiça; ensino e religiosos; índigena e suas terras; correio

marítimo; e fortificações. A tipologia documental compreende: ofícios;

cartas; cartas patentes; requerimentos; provisões; leis; decretos;

alvarás; doações e confirmações de sesmarias; consultas do Conselho

Ultramarino; mercês; mapas e iconografia.(121)

No que se refere aos dados quantitativos, são muito ricos

de informações os subsídios em mapas, a partir de 1798.(124) Boa

parte dos quadros foram organizados de dados colhidos nos

documentos e nos mapas demonstrativos de produção, importação,

preço, população e mortes da Capitania da Paraíba, do Arquivo

Histórico Ultramarino de Lisboa. Os quadros contendo as provisões

para reedificação de engenhos, contratos de rendas reais, receita e

despesa foram organizados com dados dispersos dos seguintes

arquivos: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, Arquivo

Histórico do Ministério das Finanças, Arquivo da Alfândega de

Lisboa e da Biblioteca Geral de Coimbra. Essa rica documentação nos permitiu uma visão

abrangente dos aspectos político, econômico, social e demográfico

da Capitania da Paraíba. Inclui ainda “dados de natureza

quantitativa”: tabela, gráficos e quadros disponibilizados nos

Anexos. A partir deste trabalho, desejamos que novas questões

sejam levantadas sobre a História Colonial da Paraíba.

Page 26: A Paraíba na Crise do Século XVIII

22 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 27: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 23

O

INTRODUÇÃO À

SEGUNDA EDIÇÃO

estudo das conjunturas dos séculos XVI, XVII e XVIII impõe-se

em face da intercomunicação dos tempos históricos, do tempo

geral e do regional ou local. Como evidenciamos, houve ações e

reações recíprocas entre o continente europeu, com seus países

hegemônicos, e os continentes submetidos colonialmente como econo-

mias periféricas.

Dois capítulos iniciais antecedem a análise da problemática

paraibana nos séculos XVII, XVIII e início do XIX: um enfoca A conjuntura

de expansão europeia; e, o outro, Portugal e Brasil: uma crise de estrutura. As-

sim, analisamos a Paraíba dentro de um contexto mais amplo, dando aos

fatos dimensões que estão além de suas próprias fronteiras territoriais.

Em a Conjuntura de Expansão Europeia, afirmamos que é somen-

te a partir de 1740-1750 que se inicia a retomada da expansão na Europa,

uma vez que a depressão do século XVII relacionada com o declínio

das exportações do açúcar brasileiro, entre 1650 e 1660, parece

projetar-se na primeira metade do século XVIII.

Quanto ao capítulo sobre Portugal e Brasil, evidenciamos que

existe um descompasso entre o ritmo de expansão da França, o da Ingla-

terra e o de Portugal. Este último país não acompanha os dois anteriores

no caminho da industrialização; mergulha numa das mais profundas

crises de sua história, crise estrutural mas não conjuntural, uma vez que

a retomada da conjuntura de expansão manifesta-se na Europa

Page 28: A Paraíba na Crise do Século XVIII

24 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

em 1750. A crise é de todo o sistema econômico português do tempo:

crise da mineração, do açúcar, dos diamantes e do mercado escravista.

Como nos ensina Magalhães Godinho, para essa situação crí-

tica de Portugal contribuiu o problema da “mentalidade das classes diri-

gentes”, mentalidade esta voltada para formas arcaizantes. Também o

chamado “regime de transferência” que se implantou tanto na Espanha

como em Portugal, “deixando parte considerável de suas riquezas em

mãos de estrangeiros, trouxe a ruína financeira, o endividamento da

Coroa e a crise monetária permanente.” Célia Freire em seu livro A

Economia Europeia e a Colonização do Brasil nos chamaos à atenção

para a “ausência de uma estrutura interna mais ampla e a falta

de uma rede de distribuição própria, como a de que dispunha os

flamengos.”

No capítulo sobre a Capitania da Paraíba antes da anexação, veri-

ficamos que a crise paraibana do século XVIII tem raízes no século XVII,

após a guerra holandesa. Tal crise se alongou de 1654 até o meado do

século XVIII, indo mais além. Por essa razão, utilizamos o conceito de

longa duração mostrando que a referida crise é mais do que secular por

ultrapassar aqueles limites.

A problemática da subordinação da Paraíba a Pernambuco e

da sua posterior autonomia estão contempladas nos dois últimos capí-

tulos do livro. A anexação decorreu do estado de decadência econômica

em que a Capitania da Paraíba se encontrava, após o conflito com os

batavos. A anexação se inseria dentro do plano de racionalização da

política pombalina, como já afirmamos. O comando e a fiscalização des-

sa política era feito por Pernambuco.

O tempo mostrou que a anexação da Capitania da Paraíba à de

Pernambuco, em 1755, não fora uma solução adequada, uma vez que

não houve sintomas de recuperação da Paraíba e a subordinação só

serviu para aprofundar os problemas da capitania.

Quanto à documentação da Paraíba, a que nos referimos na

primeira edição, contávamos com quarenta e sete caixas e maços de

documentos até 1998-1999, quando participávamos da execução do

Projeto Resgate “ Barão do Rio Branco” do Ministério da Cultura do

Brasil, em Lisboa, no tocante aos documentos da Paraíba. Com a nova

organização do Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, passamos a

Page 29: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 25

contar com cinquenta caixas de documentos, tendo sido os maços

incorporados a elas. O aumento de três caixas deve-se ao fato de terem

sido anexados à Paraíba documentos nossos que se encontravam nas

caixas de Pernambuco.

Na segunda edição do livro A Paraíba na Crise do Século XVIII, foi

retirada a numeração das caixas, quanto às notas do terceiro, quarto e

quinto capítulos, por não corresponder a edição de 1985 à atual

organização daquele acervo. Em 1999, os maços deixaram de existir,

ficando somente as caixas. Os documentos, cujas notas se encontram no

final de cada capítulo, podem ser, em sua maioria, encontrados pelo

confronto das datas, conforme se encontram no Catálogo dos

Documentos Manuscritos Avulsos Referentes à Capitania da Paraíba, no

Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.(166) Quanto as referências,

mantivemos a estrutura da primeira edição, com as novas entradas

numeradas em adendo, podendo ser consultadas através da numeração

indicada no final da referida bibliografia.

Ainda no que se refere ao Projeto Resgate “Barão do Rio

Branco”, podemos afirmar que em Portugal se concentra o maior volume

da documentação colonial brasileira no exterior, no Arquivo Histórico

Ultramarino de Lisboa. São aproximadamente “340.000 documentos

num total de quase três milhões de páginas manuscritas relativas às

capitanias brasileiras.” Mais 200.000 estão dispersos em trinta

arquivos de Lisboa. Além de Portugal, o trabalho de resgate da

documentação foi também desenvolvido na Espanha, na Holanda, na

França, na Itália e na Inglaterra.

Como resultado do Projeto Resgate/Paraíba temos: O

Catálogo dos Documentos Manuscritos Avulsos Referentes à Capitania

da Paraíba, existentes no Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa, com

um total de 3523 documentos, 50 caixas de documentos, como afirma-

mos acima, 57 rolos de microfilmes e um conjunto de 6 CD-ROMS, con-

tendo os referidos 3523 documentos na sua íntegra. Inclui também os

códices, a cartografia e a iconografia da Paraíba, que estão agrupados

juntamente com outras capitanias sob o título BRASIL.

Esses documentos do Projeto Resgate subsidiam várias áreas

do conhecimento: história, economia, sociologia, geografia, antropolo-

gia etc. Estão à disposição dos pesquisadores e se encontram na Univer-

Page 30: A Paraíba na Crise do Século XVIII

26 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

sidade Federal da Paraíba UFPB/NDIHR, Fundação Espaço Cultural -

FUNESC e Instituto Histórico e Geográfico Paraibano - IHGP. Espera-

mos que esse valioso acervo da memória social da Paraíba Colonial pos-

sa dinamizar a pesquisa histórica sobre o período e dela sejam colhidos

os melhores frutos.

Page 31: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 27

D

1 A CONJUNTURA DE

EXPANSÃO E UROPEIA

e modo geral, costuma-se diagnosticar a conjuntura do século

XVIII como de desenvolvimento e expansão, mas é somente a

partir de 1740-1750 que se inicia a retomada da expansão na

Europa, como já afirmamos, que a depressão do século XVII, assinalada

com o declínio dos metais preciosos da América, em 1640, e com o das

exportações do açúcar brasileiro, em 1650-1660, parece projetar-se na

primeira metade do século XVIII. Assim, o século XVIII, caracterizado

como o século da expansão e do movimento, conheceu duas fases

contrastantes: na primeira metade do século, a de progresso lento e, na

segunda, de acelerado crescimento, particularmente em sua fase final. (29:15-

31) Essa expansão está ligada ao progresso econômico e social, ao

desenvolvimento agrícola e comercial, à industrialização, e a outros

fatores que agiram favoravelmente.

O século XVIII relaciona-se não só com o século XVII, mas

também com outros séculos que o precederam, no tocante a aconteci-

mentos que se desenvolvem num processo de longa duração, (19:7-29) e que,

consequentemente, não se fecham em si mesmo. Terá de ser visto e

estudado num amplo relacionamento de fatos que marcam a passagem

das economias e das sociedades pré-industriais para a fase industrial

propriamente dita. Apesar de fatos de longa duração, como a estrutura

econômica e social da Europa, sintetizada no Antigo Regime, se

processarem do século XIII ao XVIII, devemos situar nossa análise a

Page 32: A Paraíba na Crise do Século XVIII

28 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

partir do século XVI, pelas ligações e pelos interesses mais próximos

do século XVIII.

Do ponto de vista econômico, a questão dos metais preciosos

exercerá papel fundamental no século XVIII, através da política

mercantilista, em vigor na Europa entre os séculos XVI e XVIII. Os

mercantilistas defendiam o ponto de vista de que a riqueza de uma na-

ção baseava-se na quantidade de metal nobre que possuísse (ideia

metalista). Para constatarmos essa teoria, bastaria citarmos o caso da

Espanha, que, no século XVI, foi um dos países mais ricos do mundo.(70:130)

Os metais preciosos da América, influenciando a conjuntura de

expansão do século XVI, atingiram, no mesmo século, o ponto mais alto de

exploração e desenvolvimento com a conquista do México, do Peru e,

finalmente, com a descoberta simultânea de minas nessas duas regiões

em 1545-1546. Com a aplicação de uma nova técnica, amálgama de

mercúrio, temos o que Chaunu denominou “ciclo real da prata, que

culmina, como já sabemos, com as chegadas máximas a Sevilha, entre

1500-1585 e 1590-1600.” (160:163)

Braudel afirma: “o ouro foi a primeira exportação do Novo

Mundo para a Europa; 43 toneladas de ouro desembarcadas oficialmente

em Sevilha entre 1551 e 1560. (20:623) Os primeiros embarques, bastantes

modestos, começam no século XVI. Até 1550, os carregamentos eram

mistos de ouro e prata [...]. Desde então, os galeões transportavam a

Sevilha somente prata, em enormes quantidades.”(20:630) “A queda das

importações de ouro e prata na Espanha[...] é lenta até 1630 e muito

rápida, entre 1630 e 1660.” (160: 269)

Na verdade, o ouro e a prata que entravam na Espanha não

ficavam ali guardados, mas “circulavam por todo o mundo.” Informa

Hamilton que “faltam dados satisfatórios concernentes à absorção do

tesouro americano; porém há boas razões para supor que a maior

parte dele foi parar nos grandes centros econômicos da Inglaterra, da

França e dos Países Baixos.”(60)

Um dos caminhos pelos quais os metais se escoavam era a rota

marítima Laredo-Antuérpia. Essa rota funcionou até a primeira metade

do século XVI. Através dela o “metal americano passava à Alemanha,

Page 33: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 29

ao norte da Europa e às Ilhas Britânicas. Após a revolta dos Países Bai-

xos (1566), aquela rota é praticamente suspensa em 1568-1569. Felipe II

recorre às rotas da França até a constituição da rota Barcelona - Gênova

(1570-1575)." (21: 6, 7, 10) Com a criação dessa rota, através do Mediterrâneo

ocidental, mostra Braudel que “o ouro e a prata da América já haviam

chegado ao Centro de Mediterrâneo em 1570, mas nunca em

quantidades comparáveis à grande corrente que desembarcara em An-

tuérpia.”(20:644-645)

Os estudos de Braudel provam que a Península Ibérica não

sufocou a economia do Mediterrâneo, a qual continua e mesmo cresce,

até mais ou menos 1600. É uma economia sem sinais de declínio. O Me-

diterrâneo continua sendo uma área de vitalidade econômica e de rique-

za, no decurso do século XVI. O declínio só surgirá no princípio do sécu-

lo seguinte. Gênova, Milão, Veneza e Florença dominam a vida do Medi-

terrâneo no século XVI. A economia estava em função dessa região: “o

comércio do trigo, comércio do sal, comércio das especiarias e de pimen-

ta, de lã e de seda, de ouro e de prata, tráficos e transportes.”(20:366) Essas

cidades italianas não apresentam sinais de declínio. Houve um interregno

em Veneza, com a chegada dos portugueses ao Índico. Logo Veneza reto-

ma as rotas, o tráfico.(20:366-75)

Ao contrário do que se defendia anteriormente, afirmou Braudel

que a decadência do Mediterrâneo não se manifestou antes dos meados

do século XVII. Esse declínio coincide com o dos metais precisos, e não é

somente o Mediterrâneo “que se vê condenado a um destino menos bri-

lhante. É o resto da Europa.”(21:81-82)

No século XVI, a economia e a política da Itália dependem da

Espanha. No século XVII, a Espanha entra em crise e também a

economia do Mediterrâneo.(21:81) Termina aí o primado do Mediterrâneo

na Europa, havendo deslocamento da área de dominação do sul em

direção ao norte (Holanda e Inglaterra). Até o século XVI, o espaço é

ibérico. Portugal e a Espanha dominam economicament vastos espaços,

que haviam descoberto e conquistado.

A correlação existente entre a chegada dos metais americanos

na Europa e a subida dos preços foi inicialmente percebida por Hamil-

Page 34: A Paraíba na Crise do Século XVIII

30 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

ton, economista norte-americano. O referido autor “se propôs verificar a

hipótese chamada teoria quantitativa da moeda: quanto mais moeda há,

mais altos são os preços; quando mais metal chega, mais altos são os

preços [...]. Porém, no geral, os preços aumentam rapidamente depois da

aceleração das chegadas. E quando, depois de 1600, estas chegadas se

moderam, os preços baixam ou se estabilizam, porém não sabem.”(160:102)

Braudel, ao analisar os preços no século XVI, chega à mesma

conclusão e, a propósito de Hamilton, diz: “sua tese permanece inalterá-

vel; a coincidência entre a curva de chegada de metais preciosos da Amé-

rica e a dos preços, ao longo do século XVI é tão clara, que parece como se

entre elas existira uma relação física, mecânica.”(20: 432)

A alta dos preços verifica-se na Espanha, na Itália, na França e na

Inglaterra, desde o início do século XVI, sem atingir toda a Europa de

um só vez. Os preços tornam-se ainda altos, após 1535, com a chegada

dos metais americanos, indo esse ritmo altista até o fim do século e prin-

cípios do seguinte.

No século XVII, “verifica-se, pois, na Europa, uma alta bem

mais lenta até cerca de 1625-1630, depois uma parada e, enfim, uma

baixa lenta que se acentua após 1650-1660. A estiagem situa-se apro-

ximadamente entre 1660 e 1680. Há, uma ligeira elevação de 1680 a 1700

e em seguida, de novo, uma ligeira baixa de 1700 a 1717.”(109,:161-8)

Ligados aos preços estão os salários que, às vezes, seguem aque-

les e, às vezes, retroagem. Para Braudel, “a revolução dos preços não faz

aumentar os salários na Espanha; significa para eles, um regressão eco-

nômica, ainda que os favoreça, é certo, mais que aos artesãos da França,

Inglaterra, Alemanha e Polônia. A mesma situação adversa se produz

em Florença, onde o salário real diminui como consequência da alta dos

preços.”(20:432) Com referência à França e à Inglaterra, atesta Hamilton a

disparidade entre os preços e os salários, ficando estes em atraso, em

relação àqueles.(60:19)

Como assinala Braudel, “os capítulos da história do mundo se-

guem o ritmo da cadência dos metais preciosos.”(21:83) Realmente, em boa

parte, a conjuntura de expansão do século XVI liga-se às questões dos

metais, mas não é só. Nessa fase de acentuado progresso, devem-se levar

Page 35: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 31

em consideração outros fatores de grande importância que permitiram mudanças consideráveis nesse século, e que não se prendem apenas ao aspecto externo do continente europeu, mas às questões internas de signi- ficação em todo esse processo. Desde as últimas décadas do século XV, mudanças de ordem demográfica, agrícola, comercial, financeira e políti- ca estavam-se processando. Além do mais, as chegadas do metal até 1530-1540 eram modestas e não coincidiam com o progresso em marcha naquela época. Tem sobrada razão Braudel quando, em relação ao ouro e à prata vindo do Novo Mundo, diz: “A América não governa sozinha.”(17:384)

Há uma relação também percebida entre os países que recebem o

metal americano e o monopólio do comércio no Oriente. Trata-se de

Portugal, Holanda, Inglaterra e França. Na aquisição dos produtos ori-

entais, a prata era a mercadoria preferida, passando, dessa forma, os

metais daqueles países até o Oriente.(60: 12)

O comércio português no Oriente sofre a concorrência dos ho-

landeses, ingleses e franceses, e os lucros, a princípio altíssimos, já não o

são por volta de meados do século XVI, tão fantásticos como outrora havi-

am sido.

No século XVII, os holandeses instalam-se no comércio orien-

tal, desalojando os portugueses de suas posições, a partir de 1621. Nos

meados do século XVII, Portugal já tinha perdido quase todas as suas

possessões.(27:32) Depois vieram os ingleses, cuja expansão comercial no

Índico, antes de 1672, foi inferior à da Holanda. Os franceses foram os

últimos a chegar.(97:35)

Conforme Magalhães Godinho, “no último quartel do século

XVI a hegemonia portuguesa no mundo malaio acaba [...]. Os holande-

ses apoderam-se de quase todo o comércio do mundo malaio, exceto do

que permanece nas mãos dos jaús. E no Oceano Índico, holandeses e

ingleses fazem perigosa concorrência aos portugueses, embaraçam a sua

navegação, atacam as suas feitorias. É o fim do monopólio português da

rota do Cabo; doravante as armadas holandesas e inglesas é que reali-

zam a maior parte desse tráfico.”(51:197, 203)

Após a guerra dos Cem Anos, a Europa tomou um novo im-

pulso. Ampliam-se as roturações, especialmente na França e na Inglaterra,

Page 36: A Paraíba na Crise do Século XVIII

32 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

resultantes da pressão demográfica, possibilitando maior extensão de su-

perfícies cultivadas e, consequentemente, uma maior produção de cereais.

Isso não se fez senão em decorrência dos progressos técnicos.(96:5)

Quanto à Espanha, V. Vives, referindo-se aos anos de 1561-

1580, de grande afluxo de metais, mostra que das facilidades da

conjuntura resultou uma prosperidade econômica geral do país:

aumento de população; autoabastecimento cerealífero; desenvolvi-

mento da indústria, solidez da moeda etc.(161:125)

Magalhães Godinho, analisando a situação de Portugal de-

nuncia: “Uma constante da economia portuguesa: a escassez de pão.”

Citando Nicolau de Oliveira, diz que este “reconhece em 1620 a insufici-

ência da produção nacional de cereais; responsabiliza, é certo, outras

causas que não a pobreza do solo: por um lado, o crescimento do consu-

mo, devido à presença de número excessivo de estrangeiros e à procura

colonial, por outro lado, o desleixo dos portugueses pela agricultura, que

os leva a não beneficiarem convenientemente as terras e a uma cultura

medíocre; está convencido de que um esforço fácil no domínio agrícola

daria excedentes exportáveis; mas é obrigado a constatar o déficit

atual.”(48, 1:265) Referindo-se a Antônio Sérgio, diz que ele tem inteira ra-

zão, ao sublinhar com um risco bem acentuado que do final do século

XIII até 1820, a terra portuguesa não conseguiu sustentar os seus filhos.(48;

265) Assim, os portugueses estavam obrigados a importar gêneros de

outras partes, especialmente da França e da Grã-Bretanha.(92:30-1, 116, 158, 216)

Ao desenvolvimento econômico verificado no século XVI, liga-

se também o crescimento demográfico, e não há dúvida de que existe

uma relação entre aumento de produção e crescimento da população. O

inverso é também verdadeiro.

Na Europa, entre 1500 e 1570, um dos fatos mais significativos

do século XVI é o crescimento da população, crescimento esse ligado ao

desenvolvimento econômico, à economia conjuntural.

No século XVI, temos as seguintes cifras da população europeia: “A Itália teria 10 milhões de habitantes como pensa Cipolla? 5,5 como quer Russel? Quanto à França, se 18 milhões é uma estimativa razoável, ela fica conjetural [...] Para Nadal a populção da Espanha teria passado entre 1541 e 1591 de cerca de 7,4 à cerca de 8,4.“(59:112) Tanto nas cidades

Page 37: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 33

italianas (em Napólis, como em Florença) como nas castelhanas, houve

um aumento considerável da população. (59:123). No que diz respeito à

França, os dados confirmam grande impulso da população nos dois

primeiros terços do século XVI, particularmente na França meridional. (59:123).

Esse avanço demográfico sofre uma queda, a partir de 1570.

Evidentemente, essas perdas foram ocasionadas pelas guerras de reli-

gião na França, pelas epidemias em outras áreas da Europa e, em conse-

quência destas, crises de subsistência motivada pela falta de braços. Es-

sas crises tiveram lugar na Europa, no último decênio quinhentista e

sobretudo no ano de 1598. Portanto, no último terço do século XVI, há

uma queda no crescimento da população.

No fim do século XVI, começam os sintomas da crise ibérica,

que atinge seu ponto crítico nas primeiras décadas do século XVII. Para

Vicens Vives, “a época de Felipe III (1598-1621) delimita, pois, a crise

que liga as duas etapas da Casa d’Austria na Espanha. É, em frase de

Pierre Vilar, a crise do poderio da consciência espanhola, caracterizada

pela inflação monetária, a expulsão dos mouros, o auge do bandoleirismo

e o desconserto da administração [...]. O drama de 1600 ultrapassa as

fronteiras da Espanha e anuncia o século XVIII europeu, no que hoje se

reconhece a crise geral de uma sociedade.”(161:130)

Pierre Vilar fala-nos da tomada de consciência dos espanhóis,

em relação aos problemas decorrentes dos metais. Essa tomada de consci-

ência se expressa através dos escritos da época, tanto literários como de

natureza histórica, os quais são abundantes, desde a morte de Felipe II até

a crise de 1640.(160:225-230) O fenômeno da crise e da decadência foi

sentido por todas as camadas sociais: clero, nobreza, burguesia e pelas

camadas menos favorecidas e também denunciado nas cortes de 1566,

1586 e 1588-1593.

Mostra-nos ainda Vilar que os espanhóis de 1600 compreen-

deram que o ouro e a prata provocaram a ruína de seu reino, afetando a

economia interna, causando a inflação e a alta de preços. Para alguns

moralistas, a “Espanha segue o ciclo do Império Romano; enriquecimen-

to, corrupção-decadência.”(160:231-234) O sentimento da crise, a consciência

de que a Espanha perdeu o primado, fora sentido e diagnosticado pelos

contemporâneos.

Page 38: A Paraíba na Crise do Século XVIII

34 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Enquanto a América abastece a Espanha e a Europa com metal

a crise pode ser adiada, mas não detida, uma vez que a Espanha se

encontra endividada em mãos de banqueiros e entra em várias bancarro-

tas. “A crise espanhola está consumada por volta de 1640-1641. A

Espanha perde Portugal e ao mesmo tempo o metal americano.” A crise

é um reflexo das condições internas causadas pelo endividamento do

Estado, pelas enormes somas despendidas com as longas guerras,

especialmente a dos Trinta Anos, mas também liga-se à crise dos

metais.

“O regime de transferência”, que se implantou tanto na Espanha

como em Portugal, deixando parte considerável de suas riquezas em

mãos de estrangeiros, trouxe a ruína financeira, o endividamento da

Coroa e a crise monetária permanente.

No século XVII, o espaço não é mais ibérico. A Península perde

o comando, passando-o aos holandeses e, depois, aos ingleses. Essa perda

deve-se à falta de modernização da economia ibérica. A perda foi mais de

caráter estrutural que conjuntural. Nos meados do século XVI, Portugal

continua com a mesma estrutura arcaizante, sem perspectiva de moderni-

zação. Também a Espanha, apesar do ouro e da prata americanos, não

conseguiu modificar sua estrutura econômica e social interna.

Depois do declínio ibérico, um fato merece destaque: a

hegemonia das Províncias Unidas, no século XVII. A liderança comerci-

al e financeira foi assumida pelas Províncias Unidas. A criação, em 1609,

do Banco de Amsterdã, será um dos pilares financeiros dessa hegemonia,

embora observe Pierre Vilar que a sua “origem não correspondeu a um

episódio de prosperidade senão, ao contrário, a um episódio de

transtornos monetários.”(160:288)

A segunda metade do século XVII assinala uma fase de depres-

são e crise global, por Mousnier assim diagnosticada: “é a época de uma

crise que afeta o homem todo, em todas as suas atividades, econômica,

social, política, religiosa, científica, e em todo o seu ser, no âmago do seu

poder vital, da sua sensibilidade e de sua vontade.”(109:159) Podemos

considerar o século XVII como um século de contrastes, de declínio

econômico e social, mas rico no domínio do pensamento. È, sem dúvida,

um século trágico, pelo que de mais negativo afetou ao homem: fome,

epidemias, declínio de população, produção agrícola e queda dos metais.

Page 39: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 35

Conforme Chaunu, é também trágico noutro aspecto, porque foi o lazer

que possibilitou a produção de tantas obras no século XVII, lazer esse,

adquirido a preço do sofrimento de muitos.(30:120)

No século XVII, se passa na esfera do pensamento o que alguns

historiadores chamam milagre científico.(30:120) Pode-se dizer que houve,

no campo das ideias, uma ruptura com Descartes, Bacon e Galileu.

Num quadro de aparente imobilismo, no período que vai de 1620-1630,

1650-1675, produz-se uma revolução intelectual, cuja tônica é a

matematização do conhecimento. “A análise matemática é o

instrumental com a qual os homens da revolução científica vão

construir o universo.”(30:121) Esse fenômeno, que ocorre no domínio do pensamento, na su-

perestrutura, é essencialmente urbano, com marcas da presença

burguesa e não atinge a massa. A estrutura continua na longa duração,

com as permanências que vão do século XIII ao XVIII (regime

senhorial, crise, fome etc.).

Cinco grandes pensadores nos legaram um mundo novo, cau-

sando, com suas concepções, verdadeiras rupturas, semelhantes às que

mais tarde provocaria Einstein com a Teoria da Relatividade. Galileu,

Kepler, Descartes, Leibniz e Newton podem ser considerados os verda-

deiros criadores da ciência moderna.

Há, no século XVII, uma crise da ciência que chega às últimas

consequências com a derrota do aristotelismo. “Os aristotélicos

concebiam um mundo ordenado, limitado, de dimensões restritas, a Ter-

ra imóvel no centro do mundo, todos os corpos girando em torno da

Terra em vinte e quatro horas, sendo-lhes natural o movimento circular

porque é o mais perfeito de todos, todos os astros feitos para o homem, de

uma matéria pura, imperecível, domínio do imutável ao incorruptível,

do perfeito, e eis que Copérnico, Kepler e Galileu arruinaram esta con-

cepção antropocêntrica e todo este cosmo bem ordenado.”(109:213)

Substituíram esses pensadores o movimento circular pelo

elíptico e aquela concepção de universo fechado por um universo sem

limites, introduzindo, assim, a ideia de infinito, de movimento e

mutabilidade, em oposição à de universo parado.

Page 40: A Paraíba na Crise do Século XVIII

36 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Entre os grandes espíritos desse século está, sem dúvida algu-

ma, Descartes, que criou os princípios da verdadeira ciência, rompendo

alguns recalcitrantes dogmas da ciência medieval.

Fora do campo das ideias, o século XVII foi de crise em todas as

suas atividades, como bem acentuou Mousnier. A penúria é geral em toda

a Europa. “São as grandes fomes que impressionaram vivamente os histo-

riadores: na França, as de 1629-1630, de 1648-1651, de 1660-1661, de 1693

- 1694, de 1709-710. Mas não passa um ano sem que haja fome em

alguma província.”(109:164) A escassez produz a crise econômica, sendo

uma das consequências o desemprego. A Espanha, a Itália e Portugal

passam pelos mesmos problemas. A crise é também um resultado de

fatores climáticos; sucessivas chuvas, geadas e enfermidades de plantas

provocam baixas colheitas, diminuindo o necessário para a subsistência.

Mal alimentado, o homem fica vulnerável a todo tipo de epidemia.

No estudo de Pierre Goubert sobre o Beauvaisis, região da Fran-

ça mais atingida pela crise do século XVII, ficou demonstrado que a peste

gera queda de produção e fome. E um fator arrasta os demais. “Na

Espanha, isso não foi diferente: a fome traz a peste presente de 25 em 25

anos num só século.” O mesmo fenômeno observa-se na Itália.

Vicens Vives publicou os dados das investigações de Jorge

Nadal e Emilio Giralt, sobre as grandes pestes ocorridas na Espanha nos

anos de 1629-1631, 1652-1654 e 1694, que causaram grandes perdas

humanas, todas no século XVII. (161: 216-17)

A decadência econômica geral causa o estado de subnutrição

das populações, o que explica a permanência das pestes no século XVII.

Em consequência delas, há uma queda demográfica não só na Espanha,

mas também na França e na Itália, causando diminuição considerável

da população.

Vicens Vives, apoiando-se nos dados de Hamilton, mostra que

“de 1594 a 1694, as populações industriais de Castela perderam até a meta-

de de seus habitantes; nos meados do século XVII, Burgos caiu em ruínas e

Segóvia parecia um deserto. A Espanha, de 1600 a 1650, minguou cerca de

25% de seus habitantes, com particularidades de que a despovoação foi

muito mais intensa no centro do que na periferia.”(161:207-208)

Page 41: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 37

As fomes, as epidemias e as pestes são traços característicos do

Antigo Regime biológico (1400-1800), portanto uma estrutura de longa

duração. Somente, no fim do século XVIII, a fome desaparecerá no

Ocidente. Sofreram, ainda, peste no século XVIII: em 1720, Marselha e,

em 1770, Moscou.(17:66, 72)

A esperança de vida nas sociedades pré-industriais é muito

breve. “ A morte anda muito próxima da vida. Só com o século XVIII a

vida vencerá a morte, ultrapassando desde então com bastante

regularidade o seu adversário.” (17: 55-72)

Conforme Mousnier, “em sua maioria, os habitantes apresen-

tavam-se mal-alimentados, de saúde medíocre e vida curta. Viviam 20 a

25 anos, em média. A metade das crianças morria antes de completar um

ano. Os sobreviventes morriam amiúde entre os 30 e os 40 anos. Mesmo

os que se nutriam melhor, reis, grão-senhores, grandes burgueses, desa-

pareciam comumente entre 48 e 56 anos. Entretanto, essa população não

é jovem, pois as criaturas envelhecem depressa. Depois dos 40 anos, um

homem é um velho caduco. Nas regiões pobres, camponesas de 30 anos

parecem anciãs enrugadas e encurvadas.”(109:163)

A esse propósito, Chaunu chama-nos à atenção para uma Eu-

ropa que já fez bastante progresso em relação à morte, ultrapassando a

população facilmente os 30 anos. Essa Europa inclui parte da França, da

Inglaterra, dos Países Baixos e da Alemanha. Apesar dessas suas obser-

vações, faz questão de frisar que “a morte está sempre presente. Ela é

estrutural.”(30:452)

No século XVII, as insatisfações sociais alastram-se por toda

parte. Há levantes na Península Ibérica, na França, na Itália e noutros

países. Para Mousnier, as revoltas não constituem uma guerra de pobres

contra ricos, mas dirigem-se principalmente contra o fisco real.(109:168-72)

Joel Serrão, no Prefácio às Alterações de Évora, está de acordo

com Mousnier, ao declarar que “a latente revolta popular, que se

exarcebava em momentos de aperto (fomes e preços elevados), não tanto,

porventura, contra a nobreza à qual cabia, por imposição de um destino

inexorável, não só a posse dos bens terrenos, como as esperanças

transcendentes, mas contra a avidez do fisco real e dos executores.”(100:14)

Page 42: A Paraíba na Crise do Século XVIII

38 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

“Em 1637, os motins populares de Évora irradiam-se no

Alentejo, no Algarve, no Ribatejo, no Porto e em Viana do Castelo, com as

mesmas características;” insultos aos agentes do fisco real, assaltos às

repartições públicas etc.

Para nós, as razões dessas insatisfações são muito mais pro-

fundas e emergem da própria estrutura social, "da distância entre o

povo e as classes privilegiadas, da estrutura obsoleta em que vegetava o

povo fora dos ritmos temporais da civilização".

Geralmente, todo período de crise é um prenúncio de mudan-

ças. Assim o século XVII de tantas penúrias no aspecto econômico e

social, mas rico no plano das ideias, contribuiu para o desenvolvimento

do século posterior.

Para Pierre Léon, antes de 1730-1740 ou mesmo 1730-1750,

não se processa a mudança da tendência de longa duração da economia

e sociedade pré-industriais.(78:12,14) Chaunu tem, mais ou menos, a mesma

opinião, quando afirma que o século XVII não acaba de se desfazer antes

de 1750 e que o século XVIII é uma extensão da revolução de Galileu e de

Descartes.(29:16)

No século XVIII, está ainda processando-se a mudança do An-

tigo Regime, constituindo a Revolução Francesa (1789) e a Revolução

Industrial (1760) traços dessa mudança. A evolução é lenta não só na

França, onde o regime feudal sobreviveu apesar da revolução, mas tam-

bém na Inglaterra. “O terminus é imperceptível na Inglaterra, onde a

transição ocorreu, quase sem ser notada, gradualmente, entre o início do

século XVI e o final do século XIX.”(30:126)

É, portanto, nos quadros do Antigo Regime dentro de suas con-

tradições que se dá a passagem da economia dominial para o modo de

produção capitalista, a transição do regime servil, para o assalariado.(116:66)

Nesse processo de transformação, o capital mercantil ou comercial foi de

grande importância. Gerado na circulação de mercadorias, tem como uma

de suas fontes de acumulação a política mercantilista, que, através de

mecanismos (o sistema do pacto colonial), promove essa acumulação.

Com exceção da Inglaterra, onde a transição do Antigo Regime

ocorreu mais cedo, “o que se verifica no resto da Europa é a perma-

Page 43: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 39

nência da estrutura senhorial, marcando os ritmos da história do

Ocidente, do século XIII ao XVIII, processo de longa duração”.

Vejamos, inicialmente, a situação da França, país como os de-

mais da Europa, de economia predominantemente agrícola em 1790, a

despeito de uma pré-revolução industrial. No consumo, como na produ-

ção, predominam os produtos agrícolas. Como acentua Mauro, a “Revo-

lução pouco muda a profunda estrutura da economia francesa [...]. A

grande propriedade subsiste ou está reconstruída. Só a propriedade

eclesiástica foi dispersada, mas ela era muito menos importante que a

propriedade nobre ou burguesa. Mais da metade do solo não pertence

aos camponeses. Entretanto, o agricultor foi liberado do dízimo e da

obrigação de ceder parte de sua colheita. Pela compra de bens

nacionais, frequentemente é acrescido seu patrimônio. Ele produz agora

quase sempre um lucro negociável que lhe permite entrar no circuito

comercial.”(98:60-1). A influência dos fisiocratas permite concentrar a

maior parte das atenções nos negócios da terra, fato que impede os

franceses de acelerar a economia nos múltiplos aspectos.

No século XVIII, os fisiocratas defendem a ideia de que “so-

mente a agricultura fornece as matérias-primas essenciais à indústria e

ao comércio”, rejeitando a tese de que a riqueza de uma nação depende

da quantidade de metais que possua.(70:150)

No que diz respeito às indústrias, Mauro é de opinião de que

a guerra e o bloqueio favoreceram a atividade industrial, mas sublinha

que o “isolamento da França, as preocupações políticas e militares des-

viam a atenção dos progressos técnicos necessários. Enquanto a indús-

tria inglesa passava pela etapa da revolução industrial, a indústria

francesa, protegida pela guerra, não dava ainda o passo decisivo. E,

contudo, vimos que ela não estava longe da indústria inglesa em

1790.”(98:64-5)

Podemos sublinhar um fato de certa significação, o qual se

refere aos preconceitos da aristocracia francesa, em relação a certas ativi-

dades que os nobres ingleses não possuíam. Na Inglaterra, nos fins do

século XVII e no início do XVIII, a nobreza investe na terra. W.

Sombart,(149:168-72) “procurando traçar o perfil do francês do Antigo Regi-

Page 44: A Paraíba na Crise do Século XVIII

40 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

me, utiliza-se dos relatórios que Colbert escreveu ao Rei, verificando,

segundo denúncias desse ministro, que, na França, prefere-se a posse e a

segurança da terra à aventura do comércio. O status de nobre era um

privilégio do qual não se abria mão. Colbert lamenta isso, particular-

mente por ter-se esforçado no desenvolvimento da marinha mercante,

tentando atrair para esse estilo de vida não só a burguesia, mas também

a nobreza.” É certo que a preferência dos ingleses pelas atividades

comer- ciais contribuiu para o avanço da Inglaterra na Revolução

Industrial.

A nobreza francesa constituía uma grande entrave às reformas

que se faziam necessárias na França. Os reis tentaram introduzir modifi-

cações, mas eram sempre impedidos pela nobreza e pelo clero, que luta-

vam para conservar seus privilégios.

A situação da Espanha, no século XVIII, às vésperas da Revo-

lução Industrial, era muito inferior à da França, sem dúvida alguma.

Anteriormente, analisamos o declínio espanhol consumado por volta de

1640, época em que se deu o colapso das minas americanas, embora

desde 1600 a crise venha se pronunciando com várias bancarrotas no

reino.

A Espanha era o escoadouro por onde passavam os metais da

América a caminho dos Países Baixos, da Itália e da França. O “mecanis-

mo de transferência,” que se implantou na Espanha, impediu que ela

criasse condições internas que modificassem a sua estrutura.[...]

Enviava para a Inglaterra, França e estados do noroeste da Europa, a lã

de seus carneiros, os seus metais preciosos , o ouro e a prata das colônias,

recebendo, em troca, os produtos fabricados de que carecia).” (110:201)

O problema da “mentalidade das classes dirigentes,” voltada

para formas arcaizantes, foi outro fator negativo. Observa-se, na estrutu-

ra social ibérica, a predominância de certos valores da aristocracia que

condena o trabalho. Na Espanha, onde existiam preconceitos contra

as profissões comerciais e manufatureiras, foi necessário recorrer ao tra-

balho estrangeiro.

Na primeira metade do século XVIII, a Espanha encontrava-se

ainda muito atrasada, do ponto de vista técnico e econômico, para acom-

panhar o desenvolvimento de outros países, cujo ritmo se acelerava a

Page 45: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 41

caminho da Revolução Industrial. Neste particular, a Inglaterra, que al-

cançava grandes êxitos, teve a Espanha como importadora dos seus teci-

dos. Esta continuava um país agrícola, apesar da política industrial que

os reis implantaram, a exemplo da que Colbert desenvolveu na França,

no século anterior. “Embora a Espanha continue largamente dependen-

te do estrangeiro, surgem em todas as regiões fábricas de tecidos, seda e

algodão. A partir de 1779, não se importam mais tecidos, sedas e chapé-

us da França. Em 1788 a Espanha enviava à Índia mais mercadorias

próprias do que produtos estrangeiros.” (110:202)

No que diz respeito à agricultura espanhola, a situação, con-

forme demonstrou Vicens Vives, não mudou muito, em relação ao século

anterior. Nos relatos dos viajantes estrangeiros ou de escritores nacio-

nais, aparecem as palavras: despovoação, miséria e rotina.

Para Vives, “herdada do século XVII, a despovoação constitui

a grande calamidade que aflinge o campo espanhol [...]. Existem memó-

rias dos terríveis estragos que causou a praga de gafanhotos de 1755-

1756. Outras foram menores [...] As anomalias do clima, a falta de

reservas alimentícias, a dificuldade de transporte e as pestes tinham

oprimido o trabalhador agrícola [...]. A peste deixou de ser uma grave

ameaça para o lavrador e a fome vai perdendo suas garras afiadas. Até

meados do século XVIII os anos de fome se apresentam irregulares: 1709,

1723, 1734, 1750, 1752; logo se estabelece um ciclo mais regular de

dois ou mais anos maus, seguidos de um período favorável mais largo.

Foram anos de escassez: 1763-1764, 1784-1793, 1800-1804, separados

por etapas intermediárias fecundas. A sociedade dispõe de mais recursos

para combater a fome.”(161:128-129)

Durante o século XVII, a produção mineira da Espanha e a in-

dústria pesada em geral continuavam na mesma situação anterior de

estagnação. Quanto à extração de minérios de ferro, houve um retrocesso.

A situação de Portugal não era diferente da Espanha. Senhor

de um imenso império colonial do século XVI, ficou reduzido a um

papel insignificante no fim do mesmo século. Os principais golpes

foram desferidos pelos holandeses e pelos ingleses, inimigos do

império espanhol, quando em 1580, a Espanha une as duas coroas.

Page 46: A Paraíba na Crise do Século XVIII

42 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Para Magalhães Godinho, os ritmos da sociedade portuguesa

foram evidenciados pela primeira vez por Jaime Cortesão. A ideia deste

autor “é a de que até ao ocaso do século XV a burguesia se desenvolve no

nosso país e desempenha um papel motor, tem as iniciativas fundamen-

tais. No século XVI, dá-se uma reação nobre (de igual modo Veiga Simões

acentuava o papel, para ele decisivo e irreversível, desta reação), recupe-

rando quer o poderio econômico que o poder político; teria sido necessá-

rio o açúcar do Brasil, ao findar quinhentos e no século XVII, para que de

novo a burguesia, ligada à atividade dos portos provincianos, renascesse

e readquirisse a sua influência. Mas, uma vez mais, para fins do século

de seiscentos, a nobreza e o clero conseguiram reaver às mãos as

alavancas da obtenção das riquezas e do poder político [...]. Por várias

vezes, no nosso país, como no resto da Península, a burguesia tentou

forjar os quadros da sociedade, chama a si a iniciativa econômica e a

influência política, mas também por várias vezes esses esforços se gora-

ram e a nobreza e o clero conseguiram recuperar o terreno perdido; a

longo prazo, a sociedade assume por isso esse caráter ambíguo que lhe

empresta uma ordem nobilárquico-eclesiástica assente numa economia

mercantilista até à medula [...]. Sabemos que em toda a Europa, especial-

mente mediterrânea, o fim do século XVI representa uma decadência da

burguesia e uma nova ascensão senhorial e nobre, bem como do poderio

eclesiástico.”(52:89-90)

Com relação à evolução social peninsular, refere-se Godinho

ao problema da “mentalidade das classes dirigentes,” mentalidade essa,

voltada para formas arcaizantes. Há na estrutura social ibérica uma pre-

dominância de certos valores da aristocracia, que condena o trabalho.

Na Espanha, onde os preconceitos aristocráticos contra as profissões

comerciais e manufatureiras são também evidentes, foi indispensável

recorrer ao trabalho estrangeiro para atender às necessidades de seu

império. Isso foi, sem dúvida, um dos traços negativos que impossibili-

tou a sua dinâmica estrutural.(52:91-3)

No século XVIII, os países que se industrializam fizeram, antes

da revolução técnica, profundas transformações na agricultura e na so-

ciedade agrária, o que não se deu em Portugal. Este país continuava

Page 47: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 43

agrário, numa estrutura que se definia por um profundo imobilismo, sem

sintomas de modernização. Sintetizando, a situação da Espanha e de

Portugal definiram muito bem Mousnier e Labrousse: “Nestes dois paí-

ses o esforço do governo recorda o esforço francês do século anterior. A

França leva um século de atraso em relação à Inglaterra. A verdade, po-

rém, é que a Espanha e Portugal estão bem um século de atraso em rela-

ção à França.”(110:202)

A “mecânica do sistema,” deixando a parte mais rendosa em

mãos dos estrangeiros, trouxe a ruína financeira, o endividamento da

coroa e a crise monetária permanente.

No último século do Antigo Regime, a Itália não tem perspecti-

va alguma de ingressar no caminho da industrialização, como alguns

países vizinhos. Gênova e Veneza, que outrora foram as cidades mais

dinâmicas do comércio mediterrâneo, entram em declínio. Veneza afas-

ta-se dos negócios e “torna-se sobretudo o lugar onde se realizam as

mais belas festas da Europa.”(110:203)

A Alemanha encontra-se também no século XVIII distante de

realizar progressos industriais, comparáveis aos das outras nações. Cri-

ando uma série de indústrias, os soberanos imitam o exemplo de Isabel

da Inglaterra, no século XVI, e de Luís XIV na França, no século XVII.

Mauro esclarece a situação, quando diz: “A unidade alemã

data de 1870. Antes desta data, a Alemanha conhece uma profunda trans-

formação econômica; seu take-off, segundo Rostow, se coloca entre 1850 e

1870. Mais tarde do que na Inglaterra e mesmo do que na França, a

despeito da velha tradição industrial e mineira que possuía. Ela não

aproveitou tanto quanto da grande revolução atlântica (1500-1800).

Sua divisão prejudicou-a. Mas, sofreu uma profunda modificação, antes

e depois de 1850.”(98:79)

Os Países Baixos foram, em 1680, ultrapassados pela Inglater-

ra, que exerce então a supremacia dos mares e do comércio internacio-

nal. “Os problemas internos e externos os impedem de serem a

grande potência. Não dispõem de espaço para desenvolver riquezas

novas. Possuem população e espaço insuficientes.” No que diz

respeito às razões externas, a concorrência comercial de outras nações

Page 48: A Paraíba na Crise do Século XVIII

44 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

mais fortes arruinaram boa parte do seu comércio. Além disso, tinham

que enfrentar a séria e forte concorrência da Inglaterra.

Os holandeses e zeelandeses, que foram os maiores mercado-

res do mundo, no século XVII, conformam-se, no século seguinte, com o

comércio de moedas. Observa Mauro que “a estagnação da economia

holandesa substituiu assim Amsterdã por Londres, agora centro do co-

mércio internacional.”(98:89)

No fim do século XVIII, os Países Baixos são arrastados à guer-

ra e, sob o domínio de Napoleão, convertem-se em departamentos france-

ses. A Bélgica, que constituía uma possessão austríaca no século XVIII,

tornou-se departamento francês sob o Império. Em 1815, passou a fazer

parte dos Países Baixos. Em Liège, um dos seus principais principados,

desenvolveu-se no século XVI, paralelamente à Inglaterra, uma pré-revo-

lução industrial. Na primeira metade do século XVI, Liège foi o primeiro

produtor de hulha da Europa, de modo que abastecia não só suas

indútrias, mas também outras. Com a crise política dos Países Baixos, a

Inglaterra ocupa esse lugar, na segunda metade do século XVI, apren-

dendo a servir-se da hulha, pela falta de madeira. No início do século

XIX, Liège é um dos grandes produtores de carvão e, mesmo antes dos

meados do século, vê-se obrigado a importar hulha inglesa. (98:89-94)

A Inglaterra, no início do século XVIII, é ainda caracterizada

pela estrutura do Antigo Regime, do ponto de vista econômico e social.

Ela deixa de ser feudal, passando a novo modelo econômico, à medida

que a transição vai ocorrendo. Essa mudança não acaba de se processar

no século XVIII, como já foi dito anteriormente.

Em 1770, a agricultura predomina sobre as demais atividades,

representando 45% da renda total, enquanto a indústria, 21%, o comér-

cio, 13% e as outras atividades, 21%.(98:28)

Na agricultura, ocorreu uma total transformação que, devido

às suas proporções, denominou-se revolução agrária. Está a mesma inte-

grada num conjunto de mudanças, sendo “contemporâneas das trans-

formações na indústria, comércio e transportes.”(34:65-66)

Phyllis Deane considera três elementos importantes na revolu-

ção agrária: a) introdução de novas técnicas de produção; b) encerra-

Page 49: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 45

mentos, c) mudanças em atitudes empresariais. O aproveitamento do

solo é marcado por certos defeitos, como o da rotação, que deixa a cada

ano boa parte da terra em pousio. Com a revolução agrícola, esse sistema

foi substituído pelo plantio de tubérculos, que regenerava o solo: nabo e

batatas permitiam que a terra fosse cultivada sem a necessidade de

pousio, uma vez essas colheitas revitalizavam o solo. Ao lado disso, a

utilização da máquina de semear, do arado triangular de Rotherham e

das debulhadoras experimentais contribuíam também para o progresso

agrícola na Inglaterra.(34:52-60)

Esses novos progressos técnicos não podiam ser introduzidos

com êxito nos campos abertos, fato de que os técnicos britânicos em

agricultura estavam convictos. O encerramento parlamentar foi

constante durante o período 1700-1760; entretanto, o auge do cercamento

parlamentar coloca-se na segunda metade do século XVIII e no início do

XIX. Os “enclosures” foram instituídos por lei, datando de 1801 a primeira

Lei Geral do Encerramento.(34:53-60) O fechamento do campo permitiu a

regeneração da terra exaurida, a eliminação do pousio, a introdução de

novas técnicas agrícolas, uma dinamização na agricultura e um aumento

da produtividade.

A mudança nas atitudes dos fazendeiros para com suas ativi-

dades agrícolas foi um fato importante que contribuiu para a transfor-

mação do respectivo setor. Para Phyllis Deane “o fator decisivo nesse

processo de desenvolvimento e mudança, entretanto, foi o humano. Foi

porque os responsáveis pelas decisões no setor agrícola estivessem dis-

postos a revisar seus métodos de cultivo e organização numa escala

suficiente que eles transformaram esse ramo de atividade econômica.”(34:61-

62) A nova atitude com a agricultura contaminou todas as classes: a

aristocracia, o clero, sendo mais evidente nas camadas elevadas.

George III recebeu com orgulho o título de ‘George Fazendeiro.’

Finalmente, é importante observar que parte considerável do

capital necessário à industrialização proveio do setor agrícola. Muitos

dos novos industriais emergiam da zona rural, onde haviam acumulado

seu capital.(34:65)

Uma das principais atividades econômicas da Inglaterra, no

início do século XVIII, é o comércio que exerceu uma influência profunda

Page 50: A Paraíba na Crise do Século XVIII

46 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

na vida da nação. Apoiado na política mercantilista do Estado e nos

mecanismos de defesa, tornou-se um dos maiores do mundo.

Desde os séculos XV, XVI e XVII, a expansão das relações co-

merciais com outros continentes foi sempre uma constante na história

econômica europeia. No século XVIII, a expansão do comércio e a abertu-

ra de novos mercados, em proporções jamais atingidas, foram realizadas

pela Inglaterra.

Para Mousnier e Labrousse, “o comércio transforma tudo; a

população desenvolve-se. A Grã-Bretanha, incluindo a Escócia, conta

com 5 a 6 milhões de habitantes em 1700 e 9 milhões cerca de 1789. A

burguesia rica, composta de financistas, negociantes e armadores, au-

menta [...]. O comércio provoca, após 1763, uma revolução industrial

que acrescenta à burguesia comerciante os "capitães de indústrias", e

engendra o proletariado. O surto comercial e a revolução

industrial transformam os grandes domínios ingleses. É preciso mais

lã para as indústrias, mais trigo e mais carne para as cidades que

crescem. Os burgueses, que compram domínios senhoriais,

pretendem, como é seu hábito, tirar deles o máximo proveito. Os

nobres, por seu turno, não manifestam, em relação às atividades

rendosas, os mesmos preconceitos que a aristocracia francesa. Um dos

principais membros da aristocracia fundiária, Lord Townshend,

lança a moda da agricultura e, em 1760, há poucos fidalgos que não

trabalham na valorização de suas terras.”(110:190-191)

A influência do comércio faz-se sentir nas ciências e nas artes.

Os burgueses instruídos comandam o movimento científico, a adminis-

tração e a política inglesa.

Do ponto de vista social, a burguesia comercial e industrial

surge como um dos fatores das transformações que se operavam na Eu-

ropa ao longo dos séculos XVI, XVII e XVIII. A burguesia comercial, que

se desenvolve com as atividades mercantis e a burguesia industrial, inte-

ressada no investimento da produção e seu desenvolvimento em bases

capitalistas, desempenham no quadro dessas mudanças um papel revo-

lucionário.(116:66)

Page 51: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 47

Peter Laslett, ao examinar a mudança da estrutura pré-indus-

trial para a industrial, chegou à conclusão de que a Inglaterra não foi

atingida, como outros países, de maneira tão drástica, pelas crises de

fomes e epidemias do século XVII, ficando quase imune a essas catástro-

fes. Em relação à França, à Espanha e à Itália, encontrava-se em posição

diferente.(75)

Na segunda metade do século XVIII, a situação da Inglaterra

modifica-se muito, de forma que ela toma a dianteira, em relação às de-

mais nações da Europa. O desenvolvimento industrial da França aproxi-

ma-se bastante do da Inglaterra. E, conforme Roland Marx, houve mo-

mentos em que o ritmo da França foi mais acelerado (1760-1780). O

mesmo autor, referindo-se ao brilhante desenvolvimento das nações do

continente, inclui naqueles anos não só a França, mas também a Espanha

e a Prússia. No tocante à Espanha, apesar do estímulo do governo à

criação de indústrias, a opinião de Vicens Vives é bem diferente da de

Roland Marx. Sobre a contribuição da Espanha à Revolução Industrial,

mostra Vives que esta foi quase nula e argumenta o atraso técnico e eco-

nômico dessa nação.(161:138)

O fato de a Europa continental se encontrar, entre 1789 e 1790,

envolvida em guerras e convulsões políticas, foi favorável à Inglaterra

que, mesmo sem manter neutralidade, aproveitou a ocasião para a con-

quista dos mercados mundiais e desenvolvimento de suas indústrias.

Para J. U. Nef, “1785 foi a data crítica que distinguiu a Grã-

Bretanha dos países do continente na história do progresso da produção

dos tecidos de algodão, do ferro, do carvão e do outras mercadorias in-

dustriais [...]. O período durante o qual a Grã-Bretanha liderou, na Euro-

pa e no mundo, no que tornou-se uma corrida para a realização do gran-

de Estado industrial, durou pois de 1785 a 1860 [...]. Não houve prece-

dentes no crescimento da produção, tão rápido como começou na Grã-

Bretanha.”(111:14)

No campo industrial, até 1770, foi assegurada a primazia da

indústria de lã pela proibição do fabrico de tecidos de algodão puro. Às

vésperas da Revolução Industrial, a indústria de lã, quanto à sua produ-

tividade, desfrutava uma posição privilegiada, em relação às demais

Page 52: A Paraíba na Crise do Século XVIII

48 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

indústrias. A lã inglesa, produzida por “rebanho de carneiros,” era de

grande qualidade.

Entre 1787 e 1842, a indústria de algodão ultrapassou a de lã,

figurando como símbolo do crescimento industrial britânico. Na

Inglaterra, a indústria de algodão e a do ferro sofreram transformações. A

Inglaterra como bem disse Phillis Deane tornou-se não só o “centro fabril

do mundo” mais ainda o “centro creditício do mundo.” (34:74),desalojando

Amsterdã e Paris.

A Inglaterra possuía indústria manufatureira de lã de alta

qualidade e vendia sua lã por preços mais baixos do que a dos seus

vizinhos na Europa. Nos meados do século XVIII, os tecidos de lã ainda

representavam mais da metade do valor das exportações da Inglaterra.” (34:68-69). Entretanto, o interesse por artigos de lã era limitado por questão

climática nos países tropicais.

“O algodão bruto provinha em grande parte, do Levante, dos

estados sulistas da América e das Índias Ocidentais e era mais caro por

libra-peso do que a melhor lã inglesa. (34:106). O aparecimento da máquina de

fiar de Hargreaves, em 1774 [...] e a fiandeira hidráulica patenteada por

Arkwright em 1769” vieram acelerar o crescimento da indústria

algodoeira. (34:109). Em 1812, na Grã-Bretanha a participação da indústria de

algodão equivalia a cerca de 7% e 8%, superando a indústria de lã. “Em

1815 as exportações de têxteis de algodão eram responsáveis por 40% do

valor das exportações de bens produzidos na Grã-Bretanha, ao passo que

os artigos de lã representavam 18%.” (34:110).

Argumenta Phillis Deane: “do ano 1770 a 1788 uma mudança

radical tinha ocorrido gradativamente na fiação de têxteis. A da lã tinha

desaparecido por completo e a do linho também quase que era coisa do

passado: algodão, algodão, algodão se tornava o material quase universal

de emprego.” (34:108).

O desenvolvimento dessas indústrias constitui apenas um dos

aspectos da Revolução Industrial. Esta não é senão um processo integrado

de várias revoluções que se processaram nos setores agrícola,

demográfico, comercial e dos transportes. (34:105).

Page 53: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 49

A respeito da Revolução Industrial muitos pontos não foram

devidamente esclarecidos, surgindo vários questionamentos. Faltam

respostas sobre alguns aspectos envolvidos, merecendo melhor

atenção por parte dos historiadores. A existência de controversias

parece um convite à pesquisa.

Um dos aspectos que permanece ainda meio sombrio e com o

qual os historiadores estão em desacordo é a contribuição do capital co-

mercial para a Revolução Industrial. Muitos autores seguem a tese tradici-

onal de Paul Mantoux, a qual dá ênfase ao excedente da balança comercial

inglesa, comércio que lhe assegura um saldo, o que é possível que se tenha

investido. Para o citado autor, “o progresso da indústria era quase impos-

sível, se não fosse precedido de algum movimento comercial.”(89:76)

Para Phyllis Deane, “na economia recém-industrializada as

poupanças tendiam a ser geradas pelas indústrias, até pelas empresas

que as investiam. Os lucros adquiridos na agricultura era geralmente

reinvestidos na agricultura, e os lucros oriundos do algodão geralmente

retornavam ao algodão (ou, de qualquer maneira, a alguma indústria

relacionada com o processamento de tecidos).”(34:192)

Paul Bairoch mostra que não existe relação direta entre as regi-

ões em que houve acúmulo de capital mercantilista e onde a Revolução

Industrial começou. Para este autor, “basta, para convencer-se, citar a

Holanda, Itália, Espanha e Portugal de um lado, a Grã-Bretanha, França

e Alemanha de outro, e observar que esses dois grupos de países onde se

efetuou em primeiro lugar a revolução industrial, foi precisamente aque-

le em que era menos importante a acumulação de capital.”(11:47)

Essa forma de colocar o problema nos conduz a certo

determinismo histórico, visto que, para ele, se houvesse essa relação, as

nações ibéricas e a Itália, que desenvolveram o comércio e o capital co-

mercial, teriam sido o berço da Revolução Industrial, e não a Inglaterra.

Page 54: A Paraíba na Crise do Século XVIII

50 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Phyllis Deane e Paul Bairoch dão pouca ênfase à participação

do comércio exterior inglês, no desenvolvimento do capitalismo

industrial. Para eles, a formação do capitalismo industrial seria quase

que gerado pelas pequenas indústrias. Assim sendo, os argumentos

trazidos pela corrente tradicional não podem ser esquecidos, haja

vista a luta da Inglaterra pelo controle das rotas, ao desalojar a

Espanha e Portugal no século XVII, depois a Holanda. A tese defendida

por ambos os autores, sobre a importância entre o comércio marítimo e

a Revolução Industrial, precisa de mais esclarecimentos.

Em contrário à tese de Phyllis Deane e Paul Bairoch, que ainda

muitos historiadores estão seguindo, existe toda uma linha

historiográfica, que data de pelo menos um século e que vinculou sem-

pre o surgimento da Revolução Industrial ao desenvolvimento do comér-

cio britânico, no século XVIII.

Mousnier e Labrousse estão de acordo com Mantoux, ao re-

lacionar o desenvolvimento do capitalismo ao comércio a longa dis-

tância. Para aqueles, “o comércio, sobretudo o grande comércio marí-

timo e colonial, acumula capitais na Europa Ocidental, onde se amon-

toa, durante todo o século, a maior parte da produção mundial de

ouro e prata em contínuo aumento. O grande produtor é a colônia

espanhola do México, onde se abrem novas jazidas. No entanto, há

muitos outros. O fluxo dos metais preciosos beneficia principalmente

os Estados Ocidentais da Europa. A Inglaterra, desde o Tratado de

Methuen (1703) com Portugal, recebeu muito ouro do Brasil”(110:129),

sendo inegável o proveito que disso tirou a Inglaterra em benefício da

sua Revolução Industrial.

Hamilton procurou mostrar que o capitalismo moderno tem

suas raízes no comércio com as Índias Orientais e que o afluxo dos me-

tais preciosos americanos (Peru e México) foram fatores importantes des-

sa formação, tendo o “tesouro americano exercido sua influência através

do atraso dos salários com respeito aos preços durante a Revolução dos

Preços.” (60:20-1) Mostra que na Espanha e em Portugal, onde não surgiu

um capitalismo pleno, esse fato não vem prejudicar a sua tese.

Page 55: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 51

Sob o ponto de vista político, a Europa do século XVIII encon-

tra-se internamente dividida, sendo sintomas dessa divisão as perturba-

ções e os conflitos que tiveram lugar entre os estados.

A antiga fórmula em que se baseava o equilíbrio europeu, no

sentido de que “nenhum Estado se torne suficientemente poderoso para

ameaçar a independência dos outros”(110:220), havia mudado por volta de

1688, concorrendo para isso o grande comércio marítimo e os progressos

do capitalismo comercial, base do poderio.

No início do século XVIII, em 1713, a Inglaterra assume a pre-

ponderância interna e externa da Europa, pela sua notável ascendência

marítima e comercial. Usando de hábil jogo político, o de dividir para

reinar, a Inglaterra tira proveito das lutas internas para assegurar a sua

hegemonia.

Através de uma série de tratados que se sucederam, a Inglater-

ra visa a manter sua supremacia econômica e política, fazendo as de-

mais nações da Europa sentirem a necessidade de sua arbitragem. Mes-

mo assim, não é capaz de manter a paz, dando lugar à rivalidade, pois os

tratados constituem também um jogo político para defesa de seus inte-

resses e do predomínio na Europa. Um exemplo bem claro disso é o

Tratado de Methuen assinado com Portugal, em 1703.(110:221) Alguns dos

conflitos e rivalidades podem ser traduzidos em termos de luta pela

hegemonia política.

Envolvida nas lutas internas contra Walpole,(110:226) a Inglater-

ra, após 1731, vai perdendo seu predomínio na Europa. A França aguar-

da uma oportunidade de enfraquecer o poderio inglês, desenvolvendo

uma política no sentido de adquirir a confiança dos demais estados eu-

ropeus, desde 1713, visando a “reconciliar assim as grandes potências

da Europa, retirando aos ingleses todas as oportunidades de intervir e

de opor uns aos outros Estados continentais, realizando, assim, o

verdadeiro equilíbrio.”(110:222)

Após 1731, a França levanta-se contra a situação de domina-

ção na Europa pelos ingleses. “Em 1740 a França retoma a sua marcha

avante. Acabava de realizar grande progresso territorial, o primeiro de-

pois de Ryswick. Reforçara a aliança com a Espanha, com a Turquia,

Page 56: A Paraíba na Crise do Século XVIII

52 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

com a Suécia e dirigia a política europeia. Sua indústria e seu comércio

tornaram-se os primeiros do mundo. Os produtos fabricados na França

invadiam a Inglaterra, os seus comerciantes venciam os ingleses, de lon-

ge, nas Antilhas, na Índia, no Levante, onde, mesmo antes de serem reno-

vadas as capitulações, as manufaturas francesas de tecidos infligiram

aos ingleses uma terrível derrota comercial, quase eliminando os tecidos

britânicos. Os franceses progrediam na América, no vale do Mississipi,

fechavam o interior aos colonos britânicos.”(110:228)

Entre 1740 e 1763, têm lugar as grandes guerras marítimas e

continentais. “A França torna-se-ia a primeira das potências, e isto, du-

rante algum tempo.”(110:229) Preferiu o equilíbrio e a paz com as potências

menores, ao contrário da Inglaterra, que reinou sozinha.

Conforme Mousnier e Labrousse, a França consegue readquirir

o seu crédito e a segurança da Europa, êxitos que duraram pouco. Em

1728, abatida por uma grande crise financeira e, em 1789, pela Revolu-

ção Francesa, a união dos estados, bastante ameaçada, estava longe de

ser alcançada.(110:237) Essa situação foi favorável à Inglaterra, que retomou

a sua liderança na Europa.

Antes mesmo do fim do século XVIII, a Inglaterra torna-se a

primeira potência, com a Revolução Industrial que empreendera, assu-

mindo a preponderância econômica dentro e fora da Europa. A sua polí-

tica externa baseava-se no comércio, como já afirmamos. É o comércio

que interessa aos ingleses.

Entre o plano econômico, social, político e o das ideias, há um

descompasso (30:126)

. Não encontramos um desenvolvimento uniforme.

No século XVII, produziu-se a maior das revoluções intelectuais - a do

pensamento, apesar do declínio econômico e social. O século XVIII dá

continuidade a essa revolução no campo das ideias, tendo os grandes

pensadores do século XVII, aos quais nos referimos, exercido uma

influência profunda no século XVIII, contribuindo de maneira

fundamental para o “Século das Luzes”. As modificações que

ocorreriam ao longo do século XVIII, início de uma transformação

estrutural, são apoiadas, ideologicamente, num ideário filosófico e

político-econômico concebido pelos filósofos do Iluminismo.

Page 57: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 53

Mudança significativa se processa na estrutura mental da so-

ciedade europeia com o Iluminismo, amplo movimento de ideias do sé-

culo XVIII, que prepara a transformação política, cultural, científica e

filosófica da Europa. O Racionalismo é o princípio que inspira a filosofia

do século XVIII. Esse século é herdeiro não só das ideias de Descartes,

mas também, em larga escala, das de Newton. Para Mousnier e Labrousse,

“a física de Newton, baseada na experiência e no cálculo, venceu a de

Descartes, excessivamente conjetural [...]. Os princípios gerais do método, os

grandes caminhos do espírito, os processos intelectuais básicos continuam

sendo, tanto em Newton como nos outros, os de Descartes, que é o grande

mestre do pensamento do século XVIII [...]. O século XVIII conservou

também de Descartes a concepção mecanicista do mundo [...]. O mundo é,

desta forma, uma imensa máquina construída por Deus a cujo funcionamento

Ele assiste. Tal concepção do Universo-máquina, este mecanismo universal,

foi adotado por todos os homens do século XVIII. A maioria conservou

Deus.”(110:15-9)

Há com Newton, uma nova concepção de razão. Não se trata

de verdades eternas e imutáveis, mas da aquisição contínua dessas ver-

dades submetidas à observação, à confrontação e à experimentação.

O Iluminismo teve a sua expressão máxima entre os escritores

franceses, sendo temas básicos de propaganda: a liberdade, o progresso,

o homem. Essas ideias repercutem rapidamente entre a elite intelectual

da época, particulamente entre a burguesia, que nelas encontra o devido

apoio para a sua ascensão ao poder, nas últimas décadas do século.

A ideologia em voga volta-se contra o Antigo Regime, as for-

mas feudalizantes da economia e da sociedade; e, no aspecto político,

contra o absolutismo, ou seja,o governo arbitrário. Em religião, são desfe-

ridos golpes à Igreja Católica, guardiã do Antigo Regime.

Como já foi dito, um dos princípios que norteia essa filosofia é

a razão, em oposição à tradição. Daí o Iluminismo encontrar, nos pro-

gressos da ciência e da filosofia do século XVII, a sua origem.

Na França, os filósofos Montesquieu, Voltaire, Rousseau e os

enciclopedistas Diderot e D’Alembert destacam-se no campo das novas

ideias, ideias essas que encerravam uma crítica à sociedade em que vivi-

am, contribuindo, assim, para minar as bases do Antigo Regime. As idei-

Page 58: A Paraíba na Crise do Século XVIII

54 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

as desenvolvidas pelos filósofos e pelos enciclopedistas do século XVIII

tiveram grande influência na transformação da Europa, particularmente

com a Revolução Industrial e com a Revolução Francesa.

A análise de conjunturas dos séculos XVI, XVII e XVIII, aqui

desenvolvidas, impõe-se em face da necessária intercomunicação dos

tempos históricos, do tempo geral e do regional ou local. Como procura-

mos evidenciar, ao longo deste capítulo, houve ações e reações recípro-

cãs entre o continente europeu, com seus países hegemônicos, e os

continentes submetidos colonialmente, como economias periféricas.

No capítulo seguinte, a interligação desses tempos históricos

far-se-á, tendo em conta o contexto Portugal – Brasil nos meados do

século XVIII, porque daí resultarão, em última análise, reflexos na

situação política e econômica da capitania paraibana, ideia central

deste trabalho.

Page 59: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 55

A

2 PORTUGAL E BRASIL: UMA

CRISE DE ESTRUTURA

conjuntura de Portugal revela um complexo de interesses e

ligações com o Brasil, principalmente, e com outras zonas colo-

niais produtoras de riquezas para o seu comércio internacio-

nal. Sem a dimensão desse todo econômico, dificilmente compreendería-

mos as flutuações da vida econômica da Metrópole, dependente da colô-

nia americana.

A estrutura econômica de Portugal baseia-se na agricultura, no

comércio e na incipiente indústria de base predominantemente caseira

e artesanal. A agricultura tinha como principais produções o azeite e

vinho, tendo-se desenvolvido de tal forma os vinhedos em todo o país,

que chegaram a prejudicar culturas, como a do trigo, tendo este de ser

importado da Inglaterra, da França, da Alemanha e da Espanha.

Medidas foram tomadas depois de 1750, para conter a expansão dos

vinhedos, uma vez que o país sofria de constante déficit

cerealífero.(91:518-19, 524-6) Já mostrou Magalhães Godinho que o déficit de

cereais foi sempre uma constante na História de Portugal, não

produzindo a terra o suficiente para alimentar sua gente, fato que se

verifica desde a Idade Média.(48:1972,203)

Como acentuou Jorge Borges de Macedo, “é na dualidade Por-

tugal-Brasil que assenta todo o sistema econômico português do tem-

po.”(83) O maior peso da produção era proveniente do açúcar, do tabaco,

do ouro e dos diamantes do Brasil, enquanto da África vinham os escra-

vos e da Ásia, as especiarias. A exportação portuguesa, além dos produ-

Page 60: A Paraíba na Crise do Século XVIII

56 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

tos coloniais, se assentava na produção nacional do vinho, do sal, das

frutas, do azeite e dos couros. Nas importações figuravam têxteis, trigo, e

outros gêneros alimentícios, além do ferro. Estas foram sempre maiores

do que as exportações, sendo os déficits das importações cobertos

pelo ouro, como veremos adiante.

A primeira metade do século XVIII, que coincide com o reinado

de D. João V, foi para Portugal uma fase de prosperidade e de relativa

estabilidade assegurada pela produção do açúcar, do ouro, do

diamante e do tabaco do Brasil, além dos produtos da Ásia e da

África acima referidos, que lhe permitiram um intenso tráfico colonial.

O açúcar brasileiro ultrapassou a produção da Madeira e a

de S. Tomé, no século XVI, dominando o comércio do produto entre

1600 e 1700. O período do seu apogeu corresponde à primeira metade

do século XVII,(147:115) perdendo, na segunda metade do mesmo século, a

posição que desfrutou como maior produtor mundial, em face da con-

corrência da América Central e das Antilhas, no comércio internacio-

nal.(128:38-9)

Quanto à produção e à exportação do açúcar brasileiro, lamenta

Simonsen a precariedade de dados estatísticos para os séculos XVI,

XVII e XVIII. Mostra que para os primeiros tempos pode-se fazer um

cálculo da exportação, mediante o número de engenhos indicados nas

obras de Gandavo, Cardim, Gabriel Soares e Frei Vicente, enquanto para

o século XVII, idade de ouro do produto, os dados são insuficientes.(147:112)

Realmente, não há uniformidade entre os autores que tratam

do assunto, no que diz respeito ao número de engenhos e à produção

colonial. Para o ano de 1600, limitou-se Simonsen a transcrever os

dados de Varnhagen, os quais registram que “tratando da principal

produção do Brasil naquela época, a do açúcar, contavam-se em

Pernambuco sessenta e seis engenhos; na Bahia trinta e seis, e nas

outras capitanias, juntas, metade deste número. Total de engenhos:

cento e vinte. Referimos o número dos engenhos porque cremos este

ser o melhor meio de dar uma ideia do estado de prosperidade e

riqueza do país. Anualmente, produziam os ditos engenhos uns

setecentos mil quintais de açúcar ou setenta mil caixas, número igual

Page 61: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 57

ao dos mil cruzados que pagavam o mesmo açúcar de direito de

saída, razão de cruzado por caixa de dez.” (147:112, 113)

Para Laet, “os portugueses exportavam todos os anos mais de

40 mil caixas das Capitanias de Pernambuco, Itamaracá, Paraíba e Rio

Grande do Norte, o que não seria de admirar, pois que somente

Pernambuco contava com mais de 100 engenhos.”(147:113)

Simonsen, baseando-se em dados de produção relativas ao Bra-

sil holandês, verificou que a exportação do açúcar foi reduzida de 60.000

para 30.000 caixas, após 1630, em decorrência da destruição dos enge-

nhos. Alega que “Lippmann admite a informação de Handelmann que

entre 1636 e 1643 só o Brasil holandês exportou 218.220 caixas, ou seja,

uma média de 1.350.000 arrobas por ano. A produção daquelas

capitanias devia representar cerca de 50% da produção do açúcar do

Brasil de então.”(147:113)

Levando em conta as diferenças de opiniões sobre a produção do

açúcar, Simonsen chega à conclusão de que a exportação colonial foi de

2.100.000 arrobas, considerando, para os três séculos do período colonial,

um valor superior a 300.000.000 milhões de libras, enquanto a mineração

orçou em 200.000.000 milhões de libras, dados que nos permitem

avaliar o que significou o açúcar, ultrapassando este, em valor, ao que

produziu a mineração.”(147:115)

Em tudo isso, malgrado discrepâncias e insuficiências, um fato

é significativo: o açúcar brasileiro assegurou para Portugal, antes da

mineração do ouro, a quase totalidade de suas exportações, permitindo

um melhor equilíbrio de sua balança comercial. Na primeira metade do

século XVIII, as exportações do açúcar eram ainda consideráveis, embo-

ra, já em 1760, se evidencie uma crise com a diminuição das exportações.

Exportações do açúcar

1760 ................................ 2.500.000 £

1776 ................................ 1.500.000 £ (menos de)(25:78)

A diminuição foi de 40%, fato que vem comprovar o declínio do

açúcar. Nesse particuar, são mais aceitáveis as argumentações de Borges

Page 62: A Paraíba na Crise do Século XVIII

58 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

de Macedo do que as do Visconde de Carnaxide, a propósito da crise do

açúcar. Para o primeiro, “o açúcar, portanto, produto colonial portu-

guês, tinha deixado de ser quase exclusivo seu para comparticipar na

concorrência internacional. Ao mesmo tempo, a produção brasileira não

só não soube acompanhar os progressos técnicos da indústria estrangei-

ra como a sua mão de obra encareceu, pela procura de braços para as

minas.”(85:169)

A crise do açúcar brasileiro não foi provocada pela mineração,

como pretende o Visconde de Carnaxide, acentuando “que o declínio da

produção do açúcar era consequência a que se chegava depois de longos

anos em que as minas atraíram o interesse de toda a gente. Ninguém

pensava em ganhar dinheiro a não ser à sombra do oiro; do oiro ou dos

diamantes [...]. Por falta de braços, de capitais e de interesse, o açúcar e,

aliás, toda a agricultura brasileira, andava em grande depressão”.(25:78)

Simonsen opõe-se à ideia de que a mineração provocou a crise

do açúcar. Para ele, esta tem explicação na política mercantilista da Fran-

ça e da Inglaterra no século XVIII. Ocorre também uma baixa dos preços,

dificuldades de exportação, coincidindo com o início da mineração. Pro-

cessa-se o êxodo de capitais e escravos para a região das minas, agravan-

do a crise açucareira.(147:116-17)

O açúcar, produto mais importante da economia brasileira, en-

trara em decadência entre 1660 e 1695. Há uma queda acentuada dos

preços: em 1650, 3$800 réis a arroba; em 1668, 2$400 réis e em 1688,

1$300 réis.(99:111-2) Além da baixa do preço do açúcar, acrescentem-se as

dificuldades de aquisição da mão de obra escrava pelo seu elevado cus-

to. A queda da produção e dos preços do açúcar brasileiro são decorren-

tes da instalação dos holandeses nas Antilhas, a qual gerou, a partir de

então, o regime de concorrência, quebrando, dessa forma, o monopólio

dos portugueses.

Voltamos a insistir que a conjuntura de depressão do século

XVII, marcada com o declínio dos metais preciosos da América, em 1640,

e com o das exportações do açúcar brasileiro, em 1650-1660, parece

projetar-se na primeira metade do século XVIII. A retomada da conjuntu-

ra de expansão da economia europeia verificou-se após 1740 - 1750,

Page 63: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 59

como já foi dito. É preciso deixar claro que, enquanto a Inglaterra e a

França caminhavam no sentido de industrialização, Portugal não acom-

panhou os ritmos da expansão europeia e mergulhou, em 1760, em uma

das maiores crises de sua história, crise estrutural e não conjuntural,

por afetar toda a estrutura em que se fundamentou a sua economia.

Assim, o século XVIII, no seu ritmo ascensional, assistiu não só

à revolução dos preços, mas também à demográfica, agrícola e industri-

al.(160:365) Quanto à alta dos preços do século XVIII, tendência de longa

duração, Labrousse acha que o seu caráter é excepcional, não tendo as

mesmas causas da subida dos preços do século XVI; uma delas é o au-

mento dos estoques monetários. Para o mencionado autor, “o mais pru-

dente é considerar o movimento como um fato e limitar-nos a descrevê-

lo, a estudar a duração, a força e as relações com os outros preços. A alta

inicia-se entre 1732 e 1735, prolongando-se por um período de 84 anos

até 1817, movimento esse, raro na história dos preços.”(72:93)

Ao lado do açúcar, cultivou-se o tabaco, desde o início do sécu-

lo XVII, sendo sua importância decorrente do fato de ser uma

mercadoria básica para troca de escravos na África. É com o referido

produto que são adquiridos os escravos para a lavoura canavieira. E

tanto está em função desse negócio, que, no início do século XIX, a

produção entra em declínio com as restrições feitas ao tráfico.(128:39)

A Bahia era o maior produtor de tabaco na época colonial,

vindo depois Alagoas, sendo essas duas áreas as únicas produtoras no

início do século XVIII. Na primeira metade desse século, a cultura do

tabaco desenvolveu-se no Rio de Janeiro, sendo digna de nota, no início

do século XIX, a produção em Minas Gerais.

Outro produto, o algodão, assume no século XVIII uma posi-

ção de relevo na economia brasileira. O algodão, planta nativa do Brasil,

aparece entre as atividades produtivas da colônia, sem expressão e va-

lor. Utilizado pelos índios, o seu uso se difundiu com a colonização. Foi

usado em fabricação de panos grosseiros para a roupa dos escravos e

classes menos favorecidas da população.(128:82-5)

A partir de 1760, o Maranhão aparece como área produtora e

exportadora, sendo depois ultrapassada por Pernambuco e Bahia.

Page 64: A Paraíba na Crise do Século XVIII

60 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Merece também destaque a cultura do algodão na Paraíba e no Rio

Grande do Norte.

Somente na segunda metade do século XVIII, o algodão passa a

ocupar uma posição de destaque na economia brasileira, em face de sua

utilização como matéria-prima para o abastecimento das indústrias eu-

ropeias, particularmente as da Inglaterra, durante a Guerra de Indepen-

dência dos Estados Unidos da América (1776-1783), quando são

suspensas as remessas do produto. Terminada a Guerra de Independên-

cia dos Estados Unidos da América, o mercado inglês volta a ser reabas-

tecido pelo algodão americano seu principal fornecedor, decaindo as

exportações brasileiras.(153)

Em 1860, a conjuntura internacional volta a incentivar a pro-

dução brasileira. Com a Guerra de Secessão, as exportações americanas

sofrem nova interrupção, retomando o Brasil sua posição de fornecedor.

Terminada a guerra, a produção norte-americana é restabelecida, deter-

minando a perda do Brasil no mercado mundial. Após o surto exporta-

dor da década de 1860, a exportação brasileira do algodão para o merca-

do externo não cessou completamente.(153: 21,30)

As primeiras descobertas de ouro no Brasil registram-se em

1691, nas terras que se constituem, hoje, o Estado de Minas Gerais. Daí em

diante, novos depósitos foram descobertos, de maior riqueza, sempre

em Minas Gerais. Também foram descobertas jazidas em Mato Grosso e

em Goiás, entre 1720 e 1726. No início do século XVIII, desenvolve-se a

minração do ouro, no reinado de D.João V.

Como salienta Caio Prado Júnior, “a mineração do ouro no Brasil

ocupará durante 3/4 do século o centro das atenções de Portugal, e a

maior parte do cenário econômico da colônia. Todas as demais ativi-

dades entrarão em decadência, e as zonas em que ocorrem se empobre-

cem e se despovoam. Tudo cede passo ao novo astro que se levanta ao

horizonte; o próprio açúcar, que por século e meio representara o nervo

econômico da colonização e sua própria razão de ser, é desprezado.”(128:57)

Em 1700, logo é aplicado o sistema de tributação sobre a pro-

dução do ouro, tendo variado entre o quinto, a finta e a capitação. Mas as

providências para proteger os interesses da Fazenda Real não ficaram

Page 65: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 61

apenas nisso. Foi fixada uma cota anual mínima de 100 arrobas para o

produto do quinto (cerca de 1.500 quilos). Quando essa quantia não era

atingida, a população era obrigada a completá-la pela derrama, proces-

so que gerou as mais sérias violências e abusos.

A produção do ouro no Brasil, entre 1700 e 1770, representou

cerca de 50% do que o resto do mundo produziu nos séculos XVI, XVII e

XVIII,(147:258) e, como veremos adiante, contribuiu muito mais para o de-

senvolvimento da Inglaterra do que para o de Portugal. Tanto é verdade,

que, este país, com tamanha riqueza, continuou mais pobre ainda, vendo

passar pelas suas mãos e escoar-se rapidamente esses tesouros.

Antes de se acentuar, em 1760, a crise do ouro brasileiro, as

quantidades produzidas vinham diminuindo gradativamente, sem ne-

nhuma surpresa. Aliás, Alexandre de Gusmão anunciou, com vinte anos

de antecedência, o que aconteceu. Através dos dados abaixo, podemos

seguir a evolução da produção do ouro, até o seu declínio. “Em 1699,

Lisboa dava as boas-vindas aos primeiros 514 kg. de ouro, enviados

diretamente do Rio. As quantidades auríferas foram aumentando nos

anos imediatos: quase 2.000 kg em 1701, mais de 4.406 kg em 1703, 14.500

kg em 1712. Após um abaixamento nas médias de 1713-19, 25.000 kg

chegaram em 1720. Este ano, todavia, revelou-se excepcional porque, daí

em diante, as quantidades de ouro mantiveram-se sempre abaixo do ní-

vel dos 20.000 kg. Na década de 1740 e começo da de 1750, ainda se

atingiram médias de 14.000 a 16.000 kg por ano, mas a maré foi baixan-

do definitivamente: menos de 1.500 kg na década de 1760, pouco mais de

1.000 kg nas de 1770 e 1780. E a curva continuou a decrescer até quase

nada haver para marcar nos começos do século XIX.”(91:529-30)

A decadência da mineração do ouro resulta do fato de o ouro

brasileiro ser, na sua maior parte, de aluvião e de esgotarem-se com certa

facilidade os depósitos auríferos superficiais na vasta área em que ocor-

reram. A má administração foi também outro fator que apressou a sua

decadência, visto que a grande preocupação eram os quintos do Rei, sem

que nenhuma melhoria técnica fosse introduzida.

Em 1728, são descobertas as primeiras jazidas diamantíferas

no lugar que corresponde hoje à cidade de Diamantina, em Minas Ge-

Page 66: A Paraíba na Crise do Século XVIII

62 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

rais. O diamante surgiu nos terrenos auríferos, sendo encontrado pelos

mineradores de ouro. Para essa pedra preciosa adotou-se o mesmo siste-

ma de tributação que vigorou para o ouro: livre extração com pagamento

do quinto. Em 1771, a Fazenda Real passa a fazer diretamente a explora-

ção, modificando o sistema anterior. A sua decadência coincide com a

do ouro, tendo causas semelhantes. (128:63-4)

A situação nos primeiros tempos do reinado de D. João V, de

dificuldades e apuros financeiros, muda completamente de perspectiva

com a chegada regular do ouro brasileiro, além de outros produtos colo-

niais como o açúcar, o tabaco e os escravos, que permitiam um intenso

tráfico colonial, figurando no circuito a Índia e a África.

É estranho que, ao lado dessas riquezas, as notícias de pobreza e

de miséria fossem constantes, o que se explica pela má administração

das mesmas riquezas e imensos gastos do monarca esbanjador. Figuram

188.000.000 de cruzados em donativos à Santa Sé; 450.000.000 só pelo

título de Fidelíssimo; fortunas incalculáveis com a obra de Mafra;

7.000.000 para os gastos com o casamento do príncipe D. José com a

Infanta D. Maria Bárbara e com o dote desta. D. João V exige, para

celebrar esse consórcio, uma contribução do Brasil, denominada

voluntária, que orçou nos 7.000.000 acima referidos. A colônia brasileira

estava obrigada a suprir esses gastos, em virtude de o herdeiro da coroa

e nubente usar o título de Príncipe do Brasil. Grandes somas eram

aplicadas em gasto pessoal do soberano, exclusivamente para

ostentação. O ouro brasileiro desembaraçava, assim, suas dificuldades

iniciais e o erário nadava em ouro. O declínio dessas riquezas anunciava

o fim do reinado de D. João V. (9:383, 386-387,397)

O reinado de D. João V é tido como afortunado e pródigo, sendo

muitas as indicações dessa aparente prosperidade, traduzidas no luxo

da corte, nas magníficas festas régias, espetáculos de ópera e sessões

científicas. Tudo isso, “para marcar no caráter do monarca a faceta de

prodigalidade, dos desperdícios do oiro do Brasil em funçanatas inú-

teis, quando a Nação se debatia na miséria, e o exército e os funcionários

longamente esperavam pelos seus soldos e ordenados.’’(129:181-2)

Page 67: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 63

D. João V acompanhava o fausto das cortes européias, sendo o

modelo presente em seu espírito o de Luís XIV. O fausto era uma afirma-

ção de força e do poderio, sem o qual o Estado ficaria desprestigiado,

em face do apogeu dos outros estados.

Há falta de controle nos gastos públicos e também no que diz

respeito aos da Corte. Gasta-se sem medidas o que indica desequilíbrio

nas finanças públicas, uma vez que mesmo durante a fase de

prosperidade de D. João V, têm-se notícias da falta de dinheiro, de

déficit e de atrasos de pagamentos. É elucidativa da situação uma

viagem que o monarca desejava fazer ao exterior (Espanha, França,

Itália, Alemanha, Holanda e Inglaterra), de cujo plano foi obrigado a

desistir, tanto pela doença de que fora acometido, como pela situação

financeira do Estado. A propósito da mencionada viagem, Ângelo

Ribeiro nos fornece um relato mostrando que “as dificuldades

tornaram-se insuperáveis. Faltou dinheiro. Os banqueiros ingleses e

holandeses recusaram o empréstimo – o que confirma os informes do

embaixador Mornay e do agente Viagenego sobre o péssimo estado em

que se encontravam as finanças portuguesas. Aquele agente francês,

em maio de 1715, escrevia ao seu governo, falando mais uma vez da falta

de dinheiro que se verificava em Portugal, e que pareceria deveras

estranho a quem ponderasse na vastidão dos estados pertencentes à

coroa portuguesa e no importante comércio que nesses estados se

fazia. E apontava como principal razão o descalabro financeiro e a

desordem existente na arrecadação e na administração dos rendi-

mentos públicos. O rei de Portugal, um dos mais ricos da Europa – dizia–

encontrava-se naquela situação de penúria, porque seus réditos pas-

savam por muitos canais subterrâneos, que os desfalcavam grandemente,

antes de lhe chegarem às mãos. Recebia apenas uma quarta parte desses

rendimentos. As contas públicas não se fiscalizavam, e eram inúmeras

as pessoas que recebiam tenças anuais. Vivia-se em constante regime

deficitário.’’ (129:183)

O funcionamento da administração metropolitana comporta-

va falhas, evidentemente, em se tratando das extensas áreas sob seu do-

mínio – o que não justifica os descuidos e omissões que se passavam

num dos setores mais importantes: o comércio, que se desenvolvia, além

Page 68: A Paraíba na Crise do Século XVIII

64 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

do seu aspecto legal, também no contrabando. Antes mesmo do fim do

reinado de D. João V, o contrabando assumia proporções alarmantes,

sendo difícil contê-lo até mesmo pela cumplicidade da Alfândega. Se o

comércio clandestino existia, fortaleceu-se ainda mais, quando, na se-

gunda metade do século XVIII, D. João V concedeu para os nacionais

liberdades de comércio entre a Metrópole e a maior parte das colônias.

Houve circulação livre com o Brasil, com exceção de gêneros especiais,

como o tabaco.

A criação das Companhias de Comércio, característica da polí-

tica mercantilista, não foi peculiar apenas à fase pombalina, visto o rei-

nado de D. Pedro II ter sido fértil em companhias: Companhia de Cachéu

(comércio de escravos), em 1675; Companhia do Maranhão, em 1679;

outras companhias em Goa para o Comércio com a China, Timor e África

Ocidental (1687, 1689, 1697). Com D. João V, foi criada, em 1723, a Com-

panhia do Corisco (África) para o comércio de escravos. Esta, a última da

fase joanina. (85:98-99, 127) Daí em diante, as companhias vão perdendo, aos

poucos, sua importância com a liberdade do comércio acima referida, e

só reaparecerão no reinado seguinte, quando Pombal resolve dar uma

nova diretriz à política econômica, em face da crise com que o país de-

frontava.

Em 1748, sinais de crise manifestaram-se antes do final do rei-

nado de D. João V, diagnosticada pela baixa considerável no movimento

do porto de Lisboa, tanto na percentagem de navios que entraram como

na dos que saíram. Com base nos dados de Borges de Macedo, no ano de

1748, a percentagem foi de “36% para o total de navios entrados e de

37% para o total dos saídos. Essa percentagem desceu em 1749,

respectivamente, para 28% e 32%; em 1750 era de 14% e 17%; em

1751, 13% e 13%; em 1752, 12% e em 1753 chegou à percentagem mais

baixa de 11% e 12%, não ultrapassando os 15% até 1756, data em que

começa a subir lentamente, aproveitando-se porventura do favor da

Guerra dos Sete Anos que afastava do porto a navegação inglesa.’’ (83:85-86)

No que se refere ao movimento do porto de Lisboa, a tabela a

seguir, registra apenas o início da crise, por falta de informações posteri-

ores.

Page 69: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 65

A crise, no final do reinado de D. João V, não se sentiu brusca-

mente, pela entrada com certa regularidade de ouro, de tabaco e de

outros produtos coloniais que a tornaram menos drástica.

Em 1760, com D. José I, a crise é patente. Não é apenas a crise da

mineração, mas ao mesmo tempo de numerosos produtos: mineração

das Minas (1760-1780); o açúcar (1749-1776); os diamantes (1760-

1780) e o mercado de escravo, a partir de 1760. (85:171) É a crise de todo um

sistema econômico, portanto, uma crise estrutural e não conjuntural, uma

vez que, no resto da Europa, após 1750, temos uma retomada da conjun-

tura de expansão, coincidindo o declínio econômico de Portugal com a

Revolução Industrial em marcha na Europa entre 1760 e 1780.

Entrada e Saída dos navios nacionais do porto de Lisboa

Fonte: MACEDO (85:92)

A crise econômica do Brasil afetou profundamente a vida da

Metrópole, visto que “Portugal no século XVIII constitui um todo econô-

mico inseparável do Brasil”,(85:83) como afirma Borges de Macedo. A crise

na Colônia significou crise na Metrópole. Isto se deve à dependência de

Portugal ao seu comércio externo e à permanência das formas arcaizantes

de sua economia. Sem açúcar, sem ouro e sem diamantes, Portugal empo-

breceu, sobrevindo a crise financeira do Estado. Esta foi a dramática

herança do reinado de D. José I.

Page 70: A Paraíba na Crise do Século XVIII

66 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

A crise pode ser demonstrada nos dados da diminuição das

exportações brasileiras, a seguir (25:81)

Exportação do Brasil

1710 .............................................. 2.500.000 £

1750 .............................................. 4.000.000 £ (mais de)

1760 .............................................. 5.000.000 £

1760/1776 ................................... 3.000.000 £

De 1760 para 1776, o declínio dessas exportações foi brusco,

chegando a atingir 40%. Se 80% ou 90% de todo o comércio colonial

português eram representados pela produção brasileira, (85:170) bem se pode

avaliar os reflexos da crise e os problemas decorrentes dela.

O declínio das exportações foi seguido por uma baixa das im-

portações estas sempre maiores que aquelas. O déficit da balança comer-

cial era compensado com o ouro, cuja disponibilidade metálica assegu-

rava certa autonomia econômica, abalada esta com a crise do ouro. Por-

tugal manteve as colônias em regime agrário e sem indústrias. Para abas-

tecer o consumo da Metrópole e das colônias, teve de recorrer forçosa-

mente às importações, pagando o déficit com ouro, como foi dito acima.

Logo que o ouro foi descoberto no Brasil, no fim do século XVII, era

assinado em 1703 um tratado econômico entre Portugal e a Inglaterra, o

qual ficaria conhecido pelo nome do embaixador inglês Methuen. Por esse

tratado, os lanifícios da Inglaterra eram livremente admitidos em Portugal,

enquanto que os vinhos portugueses entravam na Inglaterra, pagando

menos um terço que os vinhos da França.(86)

Havia um duplo interesse por

parte da Inglaterra: o de conquistar um mercado para as suas

manufaturas, dentro do império português uma vez que vinha sofrendo a

concorrência dos panos orientais, e o de beneficiar-se do ouro brasileiro. O

Tratado não visava ao vinho em si, sendo este um meio de a Inglaterra

conseguir as vantagens desejadas. Entre essas figurava o ouro.

Sendo o ouro a forma mais prestigiada de pagamento e objetivo

essencial da política mercantilista nos séculos XVII e XVIII, o erro econô-

mico de Portugal foi pagar com ele o déficit de sua balança comercial,

Page 71: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 67

num momento em que todas as nações esforçavam-se para obtê-lo. Se-

gundo a teoria econômica do mercantilismo, um país, para obter riqueza

metálica, devia exportar ao máximo e importar o mínimo. Em Portugal,

as importações excederam sempre as exportações, sendo o déficit da ba-

lança comercial coberto com o referido metal.

Realmente, a situação de Portugal era crítica, com o declínio da

produção econômica do Brasil e, praticamente, com a inexistência de in-

dústrias em seu solo. Com relação a este último aspecto, comumente os

historiadores responsabilizavam o Tratado de Methuen por ter este sufo-

cado em Portugal uma indústria em desenvolvimento, em face da concor-

rência interna dos panos ingleses. Essa indústria fora estimulada por D.

Luiz de Menezes, Conde da Ericeira, quando Vedor da Fazenda no reina-

do de D. Pedro II. O objetivo de sua política industrial era o de “resolver o

grave problema em que Portugal se debatia, sobretudo, a partir de 1668:

excesso de importação de produtos de luxo e de primeira necessidade e

baixa de venda das mercadorias de exportação [...]. Por meio de uma legis-

lação semiprotecionista, procurou reorganizar as indústrias já existentes

e montar novas manufaturas de tecidos (sarjas, baetas e sedas), chapéus,

cintos, vidros, com o fim de os nossos produtos poderem passar a rivalizar

em preço com os produtos estrangeiros.”(144:26-28)

A atuação do Conde da Ericeira foi no sentido não só de criar

novas instalações industriais, mas também de organizá-las, montá-las e

revê-las. As sucessivas pragmáticas contra o luxo não teriam razão de

ser, se não existisse uma produção nacional para compensar os artigos

importados. As indústrias manufatureiras não chegaram a ter grande

expressão, sendo posteriormente abandonada essa política pelas difi-

culdades de sobrevieram. Um dos obstáculos foi o aparecimento do

ouro brasileiro, forma mais prestigiada de compensação. A partir de en-

tão, as indústrias vão entrar em declínio, não tendo maior responsabili-

dade o Tratado de Methuen, na opinião de Borges de Macedo.(84:27-45)

O autor de Problemas de História da Indústria Portuguesa no

século XVIII(84:53) vem mostrando que a concorrência inglesa para a in-

dústria portuguesa já existia antes do Tratado de Methuen, e, apesar de

não ser uma situação nova, foi mais profunda a partir de então. Referin-

Page 72: A Paraíba na Crise do Século XVIII

68 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

do-se ao atraso da indústria portuguesa, responsabiliza não o Tratado

de Methuen, mas a descoberta do ouro brasileiro e sua afluência a Portu-

gal, ao declarar: “A hipótese de que o Tratado de Methuen influenciou

desfavoravelmente a indústria de luxo (Pacheco de Amorim), embora

válida, parece desviar o problema para um campo secundário. Vai, no

entanto, ao encontro do ponto que é a raiz do problema: a relação entre o

atraso da indústria manufatureira e o ouro brasileiro, cuja introdução

em Portugal começou cerca de quatro anos antes daquele tratado.”(86:17)

Até certo ponto, seria aceitável sua argumentação, se não esquecêssemos

de analisar a inadequada estrutura que impediu Portugal de crescer jun-

to às grandes nações do século XVIII (Inglaterra e França), em vez de

culpar o ouro pelos infortúnios de Portugal.

Ainda sobre a questão, Borges de Macedo rebate Celso Furta-

do, quando este afirma: “o acordo comercial celebrado com a Inglater-

ra, em 1703, desempenhou papel básico no curso tomado pelos aconte-

cimentos. Esse acordo significou para Portugal renunciar a todo o

desenvolvimento manufatureiro e implicou tranferir para a

Inglaterra o impulso dinâmico criado pela produção aurífera no

Brasil.”(45:47) Para o citado autor português, dizer que “o impulso

dinâmico de qualquer economia assentou no ouro que recebesse ou

produzisse é esquecer o modo de produção e a sua dinâmica, os

estímulos do mercado externo e interno e até as próprias razões por

que o ouro era procurado. O precioso metal seguiu para a Inglaterra

por estímulos completamente diversos, de que o tratado é simples ex-

pressão, sem papel básico.”(86:5)

Na verdade, o ouro não podia figurar isoladamente como fator

estimulante da economia, mas é importante lembrar que a economia eu-

ropeia do século XVI foi impulsionada pelos metais preciosos. Essa soci-

edade adquiriu um grau de desenvolvimento tal, que o fator externo, o

ouro, foi benéfico ao seu desenvolvimento. A propósito desse assunto,

Philippe Wolff combate M. Lombard pela sua tese monetária, lembrando

que “de nada adiantaria injetar ouro em cidade mal preparada para

recebê-lo, porque este seria entesourado.”(163:876)Para Wolff, é todo um

problema de mentalidade que é preciso levantar. Na verdade, o grau de

Page 73: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 69

desenvolvimento que a sociedade europeia alcançou no século XVI,

deve-se ao seu crescimento econômico, social, demográfico etc.

Portugal não teve uma estrutura interna capaz de absorver es-

sas riquezas e transformá-las em novos bens que contribuíssem para o

seu desenvolvimento. Deixou passar para outras mãos aquilo de que

poderia ter tirado o melhor dos proveitos. Com referência a essa situa-

ção, diz Roberto Simonsen: “O ouro do Brasil não ficaria em Portugal em

pagamento de seus vinhos, nem nas reservas do erário real, sem saldos

efetivos, não poderia retê-lo; atravessava o país em demanda da Inglater-

ra, em pagamentos da balança de comércio, inteiramente favorável a esta

nação. Estimulando o trabalho inglês, remunerando melhor as suas mer-

cadorias, concorreu para o progresso efetivo daquele povo, muito mais

do que para o enriquecimento de Portugal.(147:26) Opinião semelhante tem Celso Furtado, ao afirmar que o ouro

proporcionou uma riqueza aparente em Portugal, repetindo este país a

experiência da Espanha no século passado,(45:48) no que tem inteira ra-

zão. A melhor parte de todo esse caudal de riquezas coube à Inglaterra

que, aproveitando-se do ouro brasileiro, dinamizou sua economia e, qui-

çá, preparou o advento de sua Revolução Industrial. Este é ainda um

ponto em aberto, que merece maior aprofundamento por parte dos estu-

diosos do assunto.

A crise econômica que atingiu Portugal em profundidade, no

final do reinado de D. João V exigiu de D. José I uma política de

resistência à sua evolução. Prenúncio da transformação, que se iria

produzir, está relacionado com a aproximação de Sebastião José de

Carvalho e Melo (Marquês de Pombal) da alta esfera governativa. Ele

estivera tanto na Inglaterra como em Viena, em missão como enviado

de Portugal. O chamamento de Carvalho para dar parecer numa

questão de comércio internacional, parecia anunciar alguma indicação

para o futuro gabinete que formaria D. José I. Na verdade, a escolha

de um gabinete diferente daquele de seu pai revelara a intenção de

uma mudança,(131,14) uma vez que em 1750, sinais de crise eram

evidentes, com a baixa considerável das exportações brasileiras.

Page 74: A Paraíba na Crise do Século XVIII

70 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Para compor o novo governo, D. José I nomeou Sebastião José

de Carvalho e Melo para a Secretaria dos Negócios Estrangeiros e da

Guerra. A Diogo de Mendonça Corte Real foi confiada a Secretaria da

Marinha e Ultramar. O seu pai, de quem tinha o mesmo nome, fora minis-

tro de D. João V. Dos velhos ministros, ficou Pedro da Mota e Silva na

Secretaria do Reino. Frei Gaspar da Encarnação foi dispensado. Alexan-

dre de Gusmão não foi aproveitado. Em 1750, a mudança não estava

assegurada por nenhum dos ministros escolhidos. Afirma Borges de

Macedo que “os acontecimentos do Rei, capazes de pôr em prática as

suas intenções, que eram, afinal, defender os interesses da corte e dos

grupos sociais ligados à direção do Estado. Coube ao Marquês de Pom-

bal o mérito de ter tomado a direção dessa mudança política, que, desde

1740, se preconizava, e de ter logrado realizá-la, mantendo de pé os prin-

cípios que orientaram o governo de D. João V: a neutralidade europeia, a

independência econômica e unidade na direção do Estado.”(82:145)

As providências econômicas, tomadas em função da crise, fi-

zeram do Marquês de Pombal o homem forte de D. José I. Outorgando

poder a um homem de tamanha capacidade e tentando resolver questões

importantes, não nos parece que o monarca fosse desprovido de capaci-

dade como é acusado, por vezes. A figura de Pombal tem sido combatida

por uma historiografia tradicionalista o que mostra Borges de Macedo, à

luz de uma visão metodológica nova, ao colocar o Marquês de Pombal

na sua devida época.(82:81-85)

Verifica-se que, na primeira fase do reinado de D. José I, o

governo tinha como dirigente único Sebastião José de Carvalho e Melo,

cuja política era orientada em função das dificuldades econômicas. No

plano político, deu-se o reforço do aparelhamento do Estado absoluto. Do

ponto de vista social, combateu-se uma facção da nobreza, fazendo-se

restrições aos grandes poderes possuídos pelas casas nobres e pelas

ordens religiosas: a Companhia de Jesus, as casas Aveiro e Távora. São

essas as diretrizes gerais da política empreendida por Pombal, para salvar

o país da crise.

A crise dos produtos coloniais, a que nos referimos antes, ocor-

re na administração pombalina. Crise por demais séria, uma vez que

incidia nos produtos compensadores do déficit metropolitano. Dá-se tam-

Page 75: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 71

bém “crise de importação, crise de pagamentos a maior dependência em

relação ao comércio estrangeiro que, além de fornecedor, passa a cre-

dor.”(82:177) O ponto nevrálgico da crise econômica estava na diminuição

da exportação do ouro e consequente baixa dos quintos do Rei. Com a

diminuição do ouro, automaticamente diminuiu a segurança e a autono-

mia econômica.

A crise de produção verifica-se com a baixa do açúcar, do ouro

e dos diamantes, refletindo-se no comércio, ao mesmo tempo que provo-

ca crise nos rendimentos do Estado. A dificuldade nos pagamentos in-

ternacionais era proveniente da queda da extração do ouro. A crise de

importação, em relação aos produtos britânicos e à diminuição das com-

pras, não tem ligações com o fomento da indústria nacional de tecela-

gem, na fase pombalina. A diminuição do consumo é um sinal do empo-

brecimento do povo, pela falta de ouro para suprir o déficit da balança

comercial.(25:79)

Como se vê nos dados abaixo, a diminuição das importações é

de 44%. (25:79-80)

1750-1760............................................ 1.200.021 £ (média) 1772........................................................ 635.000 £ 1773........................................................ 532.000 £

Além desses números relativos ao comércio inglês, Macedo(85:169)

acrescenta outros do movimento do porto de Lisboa, onde houve dimi-

nuição significativa. Observe-se a entrada de navios no porto de Lisboa:

ANOS 1759 1760 1761 1762 1763 1764 1774 1775 1789

936 768 815 975 899 931 645 660 892

Em razão do terremoto, a crise agravava-se mais até 1755, sem

se considerar a crise do açúcar provocada pela concorrência internacio-

nal da Inglaterra, da França e da Holanda, consumidores do nosso açú-

Page 76: A Paraíba na Crise do Século XVIII

72 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

car, o que no geral ela pouco se evidencia. O terremoto precipita os

acontecimentos, pelas ruínas, pela destruição das reservas coloniais

nas alfândegas e pelos gastos com a reedificação de Lisboa. Ao findar a

década de cinquenta, encontrava-se a Fazenda Real em grandes apuros.

A dívida pública agravou-se ao máximo. O Rei, já em 1759, estava sem

crédito.(25:82-83) ) A crise afetava toda a Nação, devorava as receitas, e

apesar das medidas tomadas, do aumento substancial dos impostos, os

orçamentos eram deficitários e o descalabro financeiro muito grande.

De tal forma, agravou-se a situação econômica e financeira,

que o mal- estar, a penúria e a miséria eram visíveis no Reino,

aparentemente opulento. João Lúcio de Azevedo comenta que “a falta

de pontualidade nos pagamentos foi uma das características desta

administração famosa. Devia-se o pré às tropas; deviam-se os salários

nas oficinas do Estado, as soldadas aos serviçais do paço. Em 1763,

dizia Kail que ninguém recebia soldos, ordenados, pensões ou juros. O

viajante inglês Wraxall, que veio a Lisboa em 1772, dá a informação

seguinte”: ‘A casa real andava tão mal administrada que a maior

parte dos oficiais e criados não eram pagos, havia uns poucos de anos,

e se achavam por isso nas mais penosas circunstâncias [...]. Os lacaios,

que acompanhavam as carruagens reais, estavam quase sem meios de

subsistência’.”(10:334)

Os inúmeros testemunhos de estrangeiros dão-nos uma visão

exata do que se passava no Reino, com a crise depois de 1760.” A chegada

da frota do Brasil, sempre diminuída em fazendas, não dava para man-

ter o nível normal dos negócios. O comércio andava completamente des-

baratado e as notícias de pobreza e de miséria aumentavam a cada dia.”

Sobre o Brasil, Borges de Macedo nos fornece o depoimento de Welsblex,

embaixador da Austria, que considerava desastrosa a situação do co-

mércio do Brasil, 2 0.08.1756: “nem as aguentam as companhias

cujas extorções levavam os habitantes do Brasil a sumirem-se no interior,

deixando-lhes muitas vezes grandes dívidas a saber.” Informações à

corte de França de um enviado francês, em 1764, denunciava: “o estado

miserável em que se achava em Portugal o comércio e em particular

o da Praça de Lisboa, 17.01.1764.”(85:176-177)

Page 77: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 73

Não obstante essa situação, o fausto da corte não foi só peculi-

ar ao tempo de D. João V, mas também ao de D. José I com os requintes que

continuavam a dar o mesmo aspecto de opulência do Reino. Os diverti-

mentos preferidos do Rei eram as cavalgadas, as caçadas e as touradas.

Só o custeio das cavalariças importava em grandes somas. O gosto pela

música, herdada do seu pai e bisavô D. João IV, proporcionava-lhe gran-

de prazer espiritual, passando nisso horas felizes. Com o Teatro da Ópe-

ra gastara enormes somas, vindo o mesmo a ser destruído pelo terremo-

to. Contratava cantores e dançarinos na Itália para as exibições, e nada

poupava para igualar-se aos melhores espetáculos da Europa, na épo-

ca.(131:197-8) Ao lado disso, constata-se, dia a dia, a pobreza e a miséria, não

se poupando o Rei de toda sorte de extravagância, quando a situação era

gravíssima. Não se entende a falta de bom senso para essa dicotomia da

vida na Metrópole.

Além do terremoto, que sobrecarregava as finanças do Estado,

com as obras da reconstrução de Lisboa, somem-se ainda, os enormes

gastos financeiros decorrentes do tratado de Madri, assinado em 13 de

janeiro de 1750, no reinado de D. João V, cuja execução coube ao de D.

José I. Visando quando possível à delimitação através de fronteiras natu-

rais, esse tratado estipulava que a Bacia do Prata ficava pertencendo à

Espanha, enquanto a do Amazonas continuava com Portugal. Concor-

daram os países signatários na cedência de territórios, devendo a Colô-

nia do Sacramento, situada à margem esquerda do Prata, passar à posse

dos castelhanos e os Sete Povos das Missões, para o domínio de Portu-

gal. Ficaria a Espanha com a navegação exclusiva do Prata e Portugal,

com a do Amazonas.(25:144-5)

Surgiram dificuldades intransponíveis para a entrega dos Sete

Povos das Missões, região oriental do Uruguai, onde havia “sete redu-

ções ou aldeias de índios fundadas pelos jesuítas das missões espanho-

las e habitadas por cerca de trinta mil guaranis.”(2:302-303)

Houve resistência dos índios à entrega dos territórios que ocu-

pavam, tendo os conflitos dado lugar a uma luta sangrenta, que só termi-

nou em 1756, com a submissão dos índios. Reconheceu-se que os jesuítas

instigavam os índios à resistência, contrariando a execução do tratado.

Page 78: A Paraíba na Crise do Século XVIII

74 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

No norte do Brasil, os índios e os missionários ficaram solidários aos do

sul, praticando toda sorte de sabotagens. Esses fatos, logo que chegaram

ao conhecimento de Pombal, foram suficientes para criar grande animo-

sidade contra os jesuítas, pois sem a boa vontade deles e dos índios,

tornou-se inexequível o tratado de limites. Portugal e Espanha, em 12 de

fevereiro de 1761, chegaram a celebrar um tratado anulatório do de 1750,

desistindo de tudo. Enormes foram os prejuízos na luta contra as Mis-

sões do Uruguai, tendo a mesma custado a Portugal vinte e seis milhões

de cruzados, contribuindo isso para agravar a crise.(25:155-157)

Em meio à crise, deu-se o atentado a D. José I, a 3 de setembro de

1758, estando implicados os Távoras e os Aveiros. A autoria do mesmo foi

em parte atribuída aos jesuítas. Para o Visconde de Carnaxide, na perse-

guição contra os jesuítas entrou o fator econômico, uma vez que os seus

bens foram confiscados por Carta Régia, de 19 de janeiro de 1759, figuran-

do que o sequestro é aplicado “não por via de jurisdição, mas sim e tão-

somente de Indispensável Economia, e de natural e precisa defesa da mi-

nha real pessoa e governo e do sossego público dos meus reinos e

vassalos.”(25:84-87) Somente depois de sequestrados os bens, foram expulsos

por lei, de 3 de setembro de 1759. Ainda, conforme o mencionado autor,

tudo indica que a perseguição aos jesuítas não tem como causa funda-

mental o regicídio, apesar de ser essa a justificativa dos diplomas legais.

Com D. José I e Pombal, temos o reforço do aparelhamento do

Estado absoluto, enfraquecido consideravelmente no reinado de D. João

V, 1706-1750, quando o sistema econômico colonial e metropolitano

entra em crise. A política monopolista é um dos aspectos desse reforço e,

quanto mais apertada fosse, maiores as vantagens de sua exploração. A

instituição das companhias volta-se contra o comércio português livre e

tem como objetivo o de salvar o comércio brasileiro em grande decadên-

cia, além de defender o do vinho do Porto contra os demais vinhos portu-

gueses.

Como salienta Borges de Macedo, “é nas grandes companhias

(Companhia da Ásia - 1753; do Pará e do Maranhão - 1755, da Pesca da

Baleia 1756; da Agricultura dos Vinhos do Alto Douro 1756; de

Pernambuco e Paraíba - 1759) que assenta o sistema de defesa do gran-

Page 79: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 75

de mercador [...]. O alvará de 06-12-1755 contra os chamados

comissários volantes ataca diretamente o pequeno comércio viageiro

para o Brasil, quase identificado com o contrabando.”(82:146-147) Apesar da

criação dessas companhias, não podemos deduzir que a política

pombalina fosse exclusivamente monopolista, uma vez que a legislação

permitia a liberdade comercial em certas zonas. Nos pontos nevrálgicos

e mais importantes, como o comércio do Brasil, foi reforçado o

monopólio, enquanto que em certas áreas da África foi concedida

liberdade. Vê-se, assim, uma mistura de comércio livre e privilegiado ao

mesmo tempo.

A criação da Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba visava

a desenvolver a economia da região. “A metrópole, conscientemente,

tentaria ativar a economia colonial, procurando garantir o transporte

regular da produção existente, incrementando-a dessa forma, e novos

produtos podiam ser introduzidos através de isenções e financia-

mentos.”(132:74)

O açúcar, principal produto da economia nordestina, após as

grandes baixas de preços verificados no século XVII (em 1650 e em 1688),

consegue uma lenta recuperação no início do século XVIII, para, em me-

ados do mesmo, experimentar uma elevação considerável do preço, jus-

tificando, até certo ponto, a criação de uma companhia.(132:106, 133) Outros

produtos foram incentivados pela Companhia Geral de Pernambuco e

Paraíba: arroz, algodão, anil, goma copal, carne seca, madeiras etc.

A finalidade dessas companhias era também a de explorar o

comércio em certas zonas, com uma frota privativa, sendo grandes seus

privilégios. Devia também estimular o desenvolvimento de atividades

agrárias, sendo válida a atuação das companhias brasileiras, no sentido

de evitar a derrocada geral da agricultura em certas áreas. O autor de

Situação Econômica no Tempo de Pombal salienta o fato de que “a ação

das companhias brasileiras e outras não foi, como supuseram muitos

historiadores brasileiros, desorientada e falida. Garantiu largos lucros

aos seus participantes, lucros que só diminuíram quando a crise atacou

avassaladoramente todo o Brasil e Portugal.”(85:125)

Conforme o Visconde de Carnaxide, a Companhia do Grão-

Pará e Maranhão visava a abater o poder econômico dos jesuítas na

Page 80: A Paraíba na Crise do Século XVIII

76 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

região, e pouco depois, em 1757, as leis que extinguiram as missões e

declaravam livres os índios do Brasil equivalia, conforme Ângelo Ribei-

ro, “à perda imediata de toda a preponderância que os padres da Com-

panhia de Jesus exerciam no Pará e Maranhão.”(130:211)

Já nos referimos à política industrial, levada a efeito pelo Conde

da Ericeira, a qual não logrou os efeitos esperados, entrando logo em

declínio. Conforme acentuou Borges de Macedo, isso deveu-se não ao

Tratado de Methuen, mas ao aparecimento de uma nova forma de paga-

mento – o ouro brasileiro.

A propósito do assunto, não iremos recolocar as questões já

estudadas, mas, a título de comparação, mostrar que a política industrial,

na fase pombalina, tem alguns dos seus aspectos semelhantes àquela do

Conde de Ericeira, ou seja, de compensar os déficits da balança comercial

portuguesa.

O fomento industrial pombalino está relacionado com a crise e

caracteriza a última fase do governo do Marquês de Pombal. Alega Borges

de Macedo que “as graves dificuldades no pagamento das importações

levaram Carvalho a patrocinar a instalação da indústria nas zonas cita-

dinas, enquanto, ao mesmo tempo, se tentava facilitar a entrada na cida-

de da produção provinciana. Se o fomento industrial pombalino não

nasceu do deserto industrial e não constituiu uma revolução técnica de

qualquer natureza, não foi também o resultado de uma visão antecipada

ou de um esforço voluntário relacionado com as luzes da Europa. A raiz

do fomento pombalino está nas dificuldades da crise do ouro e na pro-

dução colonial, que obrigavam a estimular a produção industrial para

diminuir a importação estrangeira.”(82:149)

Entendemos que o desenvolvimento das indústrias na Metró-

pole não tem vinculação com a Revolução Industrial inglesa, visto esta

assentar-se em bases completamente diferentes daquela e Pombal ser

anterior à mesma revolução e à sua divulgação na Europa.

Por outro lado, convém deixar claro que a expressão fábrica

corresponde à indústria caseira ou oficinal, àquilo que se chama o

“domestic system”. O apetrechamento técnico é, sem dúvida alguma,

tradicional, permanecendo inalterado, até se introduzirem no século XIX

mudanças muito lentas.(83:214)

Page 81: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 77

A ideia da inexistência de indústrias em Portugal antes de Pom-

bal não é aceitável, se por indústrias entendemos as atividades oficinais

e manufatureiras do século XVIII, e não a noção de indústria do século

XIX. Assim sendo, houve indústria com o Conde da Ericeira e também

com Pombal, sendo as oficinas dispersas pelas zonas rurais e pelos cen-

tros urbanos, sem maior sistematização, pois visava a atender as cir-

cunstâncias do momento. Predominava, sobretudo, como já dissemos,

uma técnica tradicional. Em face dessas considerações, não é de admirar

que ao lado do Portugal agrário e mercantil coexistisse uma indústria

caseira e artesanal.(85:214)

Afirma Borges de Macedo existir a atividade manufatureira

oficinal ou doméstica por todo o país, fato que não pode ser ignorado na

vida econômica portuguesa do século XVIII. A propósito da atividade

industrial, adverte-nos que muitos historiadores concluem pela sua

inexistência, levados por um grave erro de perspectiva, associando o

conceito de indústria do passado ao do presente. Para o citado historia-

dor, “o caminho da investigação histórica tem que ser exatamente ao

invés: a atividade dispersa por oficinas ou por casas de habitação é o

modo predominante de produção pelas condições técnicas quer de fabri-

co, quer de utilização da energia disponível: a água [...], única força mo-

triz, além da humana e do animal de tração.” (85:238-239)

Conclui-se, portanto, que Portugal não era inteiramente abas-

tecido pelas manufaturas da Inglaterra, da França e da Holanda. Pom-

bal pretendia, diante da crise, diminuir as importações, mas ocorre um

fato que contribui para agravar tal situação provocada pela colônia

brasileira: baixa em Portugal a produção dos bens industriais – o que

significa aumento das importações. Enfrentando uma crise interna e

externa, o fomento pombalino constitui um paliativo, que vai durando

com ela. Isso se explica pelo próprio objetivo das indústrias implanta-

das, cuja duração foi efêmera, por não terem condições econômicas de

continuidade.

Conclui o autor da Situação Econômica no Tempo de Pombal

que não houve um plano de aplicação sistemática das indústrias, mas

uma aplicação apressada e até mesmo desorientada pela urgência em

Page 82: A Paraíba na Crise do Século XVIII

78 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

atenuar a crise, diminuindo as importações e, consequentemente, evi-

tando a saída do ouro brasileiro.(85:255-6)

Para o Visconce de Carnaxide, “a solução do problema

pombalino teria sido antecipar o surto algodoeiro ou qualquer outra

matéria-prima, antes que a mineração tocasse o auge da decadência [...].

Em tempo de crise de matérias-primas, como aquele, é um contrasenso

forçar a criação dum parque industrial. Todos se retraem. Não há com-

pradores. Sofrem, em regra, as velhas indústrias, senhoras de reservas.

As que se instalam de novo, só por exceção se podem manter.’’ (25:91)

D. Maria tenta resolver a situação das indústrias mediante os

alvarás de 29 de março e de 3 de junho de 1788, dando a particulares para

explorá-las com certos privilégios, eximindo, assim, a Fazenda Real de

grandes encargos. No que diz respeito ao Brasil, a experiência industrial

foi encerrada pelo alvará de 5 de fevereiro de 1785, excetuando as fazen-

das grossas de algodão para uso dos negros, bem como para enfardar,

empacotar tecidos etc. A atitude da Rainha é muito discutida, e improce-

dente a opinião do Visconde de Carnaxide em achar inoportuna a multi-

plicação das indústrias no Brasil do século XVIII, por se encontrar na fase

da economia agrícola. A indústria deve ter uma base agrícola que sirva de

suporte. E tanto isso é verdade que, nos países onde houve revolução

industrial, esta foi precedida por uma revolução agrária.

Acentua Borges de Macedo que, em Portugal, os efeitos da crise

sobre a agricultura não estão ainda determinados, mas o que se sabe é

que em toda a história agrária portuguesa o problema do déficit de cere-

ais foi sempre uma constante. Diante deste fato não é de admirar ter

havido, em pleno século XVIII, numa situação de crise prolongada, uma

grande carência de cereais. Mostra-nos o autor acima citado que, com

exceção do abastecimento de cereais para as grandes cidades, tudo

indica que a produção interna era capaz de atender o consumo,

especialmente no interior, uma vez que, nas províncias do Minho, do

Trás-os-Montes, da Beira, da Estremedura, do Alentejo e do Algarve, a

vida agrára corria quase normal. (85:191,194-199)

Em relação às flutuações da agricultura sobre os movimentos

gerais, muitos teóricos têm admitido o fato. Albert Silbert nos indica o

Page 83: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 79

estudo dos preços dos cereais como uma maneira de detectar as mesmas

flutuações. (145:12-15)

Portugal, integrado na economia europeia, não foi indiferente

aos movimentos de conjuntura. A alta de cereais ocorre nesse país por

volta de 1740. Magalhães Godinho, verificando as fases de alta e de

baixa do preço do trigo no Porto, em Trás-os-Montes, em Évora e em

Lisboa, no que se refere ao conjunto, considera que houve uma tendência

altista desses preços, durante quase meio século: de 1740-1790. Houve,

evidentemente, as fases de baixa, os ciclos menores, conforme demonstra

o citado autor em várias tabelas.(55:147-155)

Na França, os preços sobem a partir de 1733 e, na Inglaterra,

em 1742, continuando num ritmo ascendente, mas também com fases de

estabilização. Conforme Albert Silbert, “em relação ao século XVIII, a alta

foi sentida e assinalada por autores da época. Numa memória redigida

em 1795, José de Abreu Bacelar Chichorro calcula que em cinquenta anos

os preços duplicaram em Portugal e na Europa.’’ (145:25-26)

Magalhães Godinho, no seu estudo Prix et Monnaies au Portu-

gal 1750 -1850, demonstra que a amplitude da alta é superior em Portu-

gal. Na França, entre 1789 e 1816, a alta não é mais do que 32% para o

trigo, enquanto que, no mercado português, as altas ultrapassaram 65%

entre 1780 e 1817, sendo a maioria acima de l00%.(55:235-236)

Para explicar os fatores que provocaram a alta dos preços, au-

tores como Chichorro põem em evidência o problema monetário e o afluxo

de numerário, baseando-se no fato de que tanto Portugal como a Europa,

há 50 anos, dispunham de três ou quatro vezes mais de numerário o que

Silbert não considera ideia correta, afirmando: “Não parece que as im-

portações de ouro e prata tenham aumentado em ritmo crescente de 1730-

1774 para depois se atenuarem [...]. Na verdade tudo se passa como se a

teoria monetária devesse ser invertida, levando a subida de preços ao

crescimento dos meios monetários.’’ (145:27-35)

Prosseguindo o assunto acima, Silbert refere-se a Francisco So-

ares Franco, que relaciona a alta dos preços com o progresso agrícola.

Finalmente, admite que outros fatores possam ter contribuído para isso,

lembrando a “fórmula de Ernest Labrousse, segundo o qual, o fator revo-

Page 84: A Paraíba na Crise do Século XVIII

80 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

lucionário que alterou as estruturas do século XVIII foi o aumento de

população, não deixa de ser sedutora.’’ (145:26-27)

Apesar de a crise da agricultura não estar completamente de-

terminada, não há dúvida de que a sua amplitude atingiu o comércio, a

indústria, a agricultura e a sociedade colonial metropolitana, particular-

mente na fase pombalina. Como já afirmamos, a crise é de todo o

sistema em que se baseava a economia portuguesa e pode ser

diagnosticada em termos de uma crise estrutural.

Há que considerar a existência de fatores que impossibilita-

ram a dinâmica estrutural de Portugal. A nosso ver, estes foram analisa-

dos por Célia Freire que destacou a ausência de uma estrutura interna

mais ampla e a falta de uma rede de distribuição própria, como a de que

dispunham os flamengos, no que com muita propriedade observou:

‘‘Após o grande esforço, ficaria Portugal, no máximo, na posição dos

árabes que forneciam aos venezianos e genoveses os produtos, pelo menos

obtidos no continente próprio, enquanto os lusos iriam em penosas, longas e

perigosas viagens, em que pereceria grande parte de sua escassa população,

em benefício maior do capitalismo estrangeiro. Ficariam com a parte mais

penosa e difícil mas não com os melhores lucros.” (42:64-67)

Page 85: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 81

A

3 A CAPITANIA DA PARAÍBA ANTES DA

ANEXAÇÃO

explicação de fatos ocorridos no século XVIII, a nível de Euro-

pa, Brasil e Paraíba, não será encontrada dentro das fronteiras

desse século, mas no anterior, pelos incessantes elos que am-

bos possuem. Partindo desse pressuposto, podemos compreender que a

situação de declínio econômico da Paraíba, que gerou subordinação a

Pernambuco, tem sua origem no século XVII.

Apesar de o século XVII ser considerado uma época de depres-

são, esta só se manifesta no meado do mesmo projetando-se até 1730-

1740, uma vez que a expansão do século XVIII só ocorrerá a partir de

1750.

No que diz respeito ao Nordeste brasileiro, a crise do século

XVIII é de longa duração, tendo raízes em 1650-1660, com o declínio das

exportações do açúcar. A queda de produção e a dos preços do açúcar

brasileiro decorrem da instalação dos holandeses nas Antilhas, que ge-

rou, a partir de então, o regime de concorrência, quebrando, dessa forma,

o monopólio dos portugueses. São, portanto, fatores internos e também

externos que avultam como responsáveis pelos reveses sofridos pela la-

voura canavieira no Brasil.

A crise paraibana é também de longa duração indo de 1654, com

a expulsão dos holandeses, até os meados do século XVIII em 1755,

Page 86: A Paraíba na Crise do Século XVIII

82 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

quando a Capitania da Paraíba é anexada à de Pernambuco, pela

situação de declínio econômico em que se encontrava.

A Paraíba não apenas sofreu com a guerra holandesa, mas

também quase foi arrasada, tal era o estado de calamidade a que chegou.

A este respeito,.

a documentação existente no Arquivo Histórico Ultra-

marino de Lisboa é bem expressiva e as queixas dos moradores da Capi-

tania ao Rei são tão frequentes, que bem se pode avaliar hoje a miséria e

a ruína que conheceu e sofreu.

Terminada a guerra holandesa, na Capitania da Paraíba não

ficou “pedra sobre pedra”(1), sendo parecer de João Fernandes Vieira,

governador da Capitania da Paraíba desde 1655, de que só com

muito esforço se poriam, em breve tempo, a funcionar as

fortificações, então destruídas. Para essa situação de devastação total,

tanto contribuiu a guerra como os próprios moradores que, ao

deixarem a Capitania da Paraíba para unirem-se aos moradores de

Pernambuco, na luta contra os holandeses, antes de saírem, queimaram

e arrasaram suas fazendas, casas de engenhos e canaviais de açúcar.(2)

Ao voltarem os moradores para sua Capitania, duvidaram ser

aquele lugar onde haviam vivido, pois nem ruínas existiam do

passado.(3) Começaram a cultivar suas fazendas com grandes

dificuldades, uma vez que estavam esgotados de recursos.

A necessidade de reconstrução das capitanias danificadas e da

reedificação dos engenhos teve amparo legal nas provisões reais de 27

de junho de 1654 e de 17 de dezembro de 1655. Na primeira, o Rei

concede o privilégio de não pagar por 10 anos direitos na Alfândega

“das coisas que passam por ela e são necessárias ao custeio dos ditos

engenhos.’’(4) Fixa o Rei as condições para reedificação dos engenhos,

condições reforçadas na última provisão em que diz: “Hei por bem e me

praz que daqui em diante as pessoas que fabricassem engenho de açúcar

no Estado do Brasil, assim reais como trapiches e pretenderem de mim a

dita liberdade justifiquem, quando perante o Provedor de minha fazen-

da da capitania a que tocar, como estão moentes e correntes, o qual de-

mais disso fará vestoria neles, presente o Procurador da mesma fazenda

e outras pessoas.’’(5)

Page 87: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 83

Na Capitania da Paraíba, sem dúvida, uma das mais

danificadas, dos mais de vinte engenhos em funcionamento antes da

guerra, por volta de 1663 não moíam mais que nove.(6) Dada tal

situação, os senhores de engenho recorrem ao Rei, pedindo que lhes

conceda o privilégio de dez anos de liberdade, por terem reedificado

engenhos (no quadro 1 constam os senhores, seus respectivos

engenhos e datas de concessão das provisões para reedificação deles

na capitania).

Além dos pedidos de provisão, para gozar de direitos em

função da reedificação dos engenhos, figuram também pedidos de

mercês por parte dos senhores de engenho que não querem ser

executados por dívidas atrasadas, enquanto estiverem reconstruindo

seus engenhos e cultivando suas lavouras. O pedido é feito, em geral,

pelo prazo de seis anos, no fim do qual, geralmente solicitam

prorrogação. Esses pedidos feitos pela Câmara ao Rei datam dos anos de

1658, 1663, 1665, 1668, 1674, 1699 e 1700.(7)

Apesar da situação crítica em que se encontravam, mandaram

para a Paraíba seiscentos soldados “de presídio de Pernambuco”, sem

que para o seu sustento remetessem coisa alguma, cabendo aos morado-

res da Paraíba mais esta responsabilidade. Constituiriam esses seiscen-

tos soldados o efetivo da Infantaria.(8)

A consulta do Conselho Ultramarino de 21 de abril de 1655 faz

referência a uma petição de João Fernandes Vieira, na qual este pede

para se “mandar que em Pernambuco lhe sejam pagos os soldos que

constar se lhe devem e for vencendo na Paraíba com o seu posto de Mes-

tre de Campo que há de reter, e que sejam também socorridos os oficiais

que servirem na Paraíba, enquanto naquela praça não houver rendimen-

to da fazenda de V. Majestade.’’(9)

Os oficiais da Câmara e o povo da Capitania da Paraíba, vendo

tardarem as providências para o sustento da Infantaria, renovam ao Rei

o pedido para Pernambuco enviar o provimento, a exemplo do que se

fizera com os presídios das capitanias do Rio Grande, de Itamaracá e do

Ceará, por não terem as ditas praças rendimentos para se

sustentarem.(10)

Representam ao Rei contra João Fernandes Vieira, por este pos-

suir mais engenhos que todos na capitania e não querer pagar as contri-

Page 88: A Paraíba na Crise do Século XVIII

84 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

buições que incidem sobre o açúcar, para sustento da Infantaria. Diante

desse mau exemplo, os eclesiásticos também pedem o mesmo privilégio,

contribuindo isso para agravar a situação dos pobres, por recair sobre

eles o maior peso das contribuições. De todo o açúcar que se fabricava se

pagavam três vinténs por arroba do branco e trinta réis do mascavado

para a dita Infantaria. O parecer do Conselho Ultramarino é radical: que

se execute a João Fernandes Vieira, pelo que estiver devendo

atrasado.(11)

Sabido o estado de penúria e dificuldades de recuperação

da capitania, não nos parece exato que, no fim do século XVII, a

Paraíba contasse com quarenta engenhos, como afirma o autor de

Evolução Econômica da Paraíba baseando-se em Capistrano. (94:9) Não

encontramos nenhum documento do século XVII com esse total de

engenhos, e tudo nos faz crer que o número fosse bem menor, pois, se

antes da guerra, o número de engenhos era de mais de vinte, depois

dela, no fim do século XVII, não podiam existir quarenta, quando os

engenhos estavam sendo reedificados.(12)

No início do século XVIII, a Paraíba continua na tentativa de

recuperar-se dos desgastes sofridos no século anterior, mas essa marcha

é dificultada não só pela própria ação da conjuntura, que é de lenta

recuperação no início daquele século, mas também pela presença de

calamidades, como as secas e as enchentes, que agiram desfavo-

ravelmente na sua recuperação.

A produção colonial da Paraíba compreende: o açúcar, princi-

pal atividade econômica, a pecuária e o algodão. O açúcar foi uma das

principais atividades coloniais do Brasil, até os meados do século XVII,

entrando em declínio em 1650-1660, com a queda da produção e da ex-

portação, decorrentes não só da guerra e da expulsão dos holandeses,

mas do regime de concorrência que se estabeleceu, quando da sua insta-

lação nas Antilhas, como já nos referimos.

O que se verifica é a desorganização dessa cultura na Paraíba,

na segunda metade do século XVII. Havia, antes da guerra, vinte e tantos

engenhos fabricando cerca de dez mil a doze mil caixas de açúcar numa

safra. Em 1663, moíam apenas nove engenhos, “tendo-se feito na safra

anterior muito pouco açúcar e, na de então, nenhum, visto ser a produ-

Page 89: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 85

ção em todos os engenhos de 100 caixas”,(13) produção essa que, em

relação à antiga, equivale mesmo a nenhuma produção.

Os documentos confirmam os pedidos de concessão para

reedificação de engenhos na Paraíba, na segunda metade do século XVII.

A este respeito, podemos consultar o quadro de número um sobre a con-

cessão de provisões para reedificação de engenhos na Paraíba. Encon-

tramos também pedidos feitos pelos senhores de engenho e lavradores

de cana para não serem executados por dívidas atrasadas, enquanto

estiverem fabricando seus engenhos e cultivando suas lavouras.

Outro produto, o algodão, só na segunda metade do século

XVIII, ocupa lugar de destaque na economia brasileira, em função de sua

utilização nas indústrias europeias. Constituem áreas produtoras e ex-

portadoras mais importantes do algodão: o Maranhão, Pernambuco e a

Bahia. Merece também destaque a cultura do algodão no Rio Grande do

Norte e na Paraíba. O Nordeste permaneceu muito tempo como área de

concentração do algodão, onde esse produto coexistiu com a pecuária.

Eram nas terras secas do agreste e do sertão que se desenvolviam essas

atividades, ficando a zona da mata para o cultivo do açúcar.

Somente no fim do século XVIII e no início do XIX (1799-1805),

dispomos de dados que nos permitem acompanhar as flutuações desses

dois produtos e de outros (os quadros 7 a 17 nos dão uma ideia dessa

evolução).

A pecuária, a princípio, constituiu uma extensão da cultura dos

engenhos, figurando como meio de subsistência. Posteriormente, tornou-

se autônoma e adquiriu grande importância, pelo papel que assumiu

na conquista, na ocupação e na colonização de novos territórios.

A desvinculação da atividade criatória da açucareira contri-

buiu não só para o fortalecimento da pecuária, mas também para o povo-

amento do sertão. A pecuária deu uma nova dimensão econômica das

áreas sem riquezas minerais e impróprias para a lavoura comercial. De-

senvolveu-se rapidamente, uma vez que não exigiu muitos capitais e

braços. Ao contrário da cana-de-açúcar, que se desenvolveu em terras

férteis da beira-mar, a pecuária expandiu-se para o interior, em terras

secas, como o agreste e o sertão. O gado serviu não só como produto

Page 90: A Paraíba na Crise do Século XVIII

86 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

alimentício da população, mas também como força motriz para os enge-

nhos. Foi utilizado também como meio de transporte.

Temos notícia da criação de gado no sertão da Paraíba, no

final do século XVII, com os Oliveira Ledo. Conforme Wilson Seixas,

“Teodósio de Oliveira Ledo, que veio a ser a maior figura do sertanismo

paraibano, [...] chegou ainda bastante jovem em Boqueirão de Cabaceiras como

era então conhecida, em companhia de seu pai Custódio de Oliveira Ledo, bem

como seu tio, Antônio de Oliveira Ledo [...]. Preferiram fixar-se no sertão da

Paraíba, onde encontraram terras propícias à criação de rebanhos.

Enquanto a civilização do açúcar concentrava o elemento mais ponderável no

litoral, enraizando aí a maioria de sua população na várzea da Paraíba,

Teodósio e sua família se concentraram nos sertões paraibanos, implantando a

civilização do couro de que nos fala o mestre Capistrano de Abreu.’’ (142)

Dessa forma, foi importantíssima a participação dos Oliveira

Ledo na história da conquista e do povoamento do sertão da Paraíba.

Os produtos da Paraíba escoavam pelo porto de Pernambuco,

em virtude das facilidades de embarque e de melhores condições, apesar

de funcionar o porto da Paraíba. Havia também o de Jacumã e o da Baía

da Traição. Aliás, sobre o porto da Paraíba, não encontramos referências

de que tivesse problemas para receber embarcações. Entretanto, alega

Bento Bandeira de Melo que na época da subordinação, o General de

Pernambuco, querendo arrogar a si toda a jurisdição, mandara transpor-

tar em sumacas as madeiras e outros gêneros da barra do Paraíba para o

porto de Pernambuco. Esse fato, além de acarretar despesa, traz

incômodo para os lavradores, que, em vez de embarcarem

diretamente sua produção para o Reino, ficam, dessa forma,

dependendo de Pernambuco. Considera também que o procedimento

adotado por aquele Capitão-mor não se justifica, visto que no porto da

Paraíba entraram navios carregados com açúcar, algodão e mais

gêneros. Como a maior parte da produção vai para Pernambuco,

poucos são os navios que vão àquele porto, vindo na frota passada

apenas dois carregarem na barra do Paraíba.(14)

Sente-se essa sujeição da Paraíba antes de 1755, tornando-

se mais forte com a subordinação oficial de nossa capitania à sua vizinha.

Page 91: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 87

Apesar de moradores e senhores de engenho queixarem-se de

o porto da Paraíba ser pouco frequentado por navios, fato que lhes causa

grandes transtornos, é possível que a pouca produção da Capitania te-

nha contribuído para isso, uma vez que temendo os prejuízos de não

embarcarem sua produção, como acontecia, representam muitas

vezes ao Rei sobre a necessidade que têm de mandarem seus gêneros

para Pernambuco.(15)

Além das dificuldades de ordem maior que entravavam o de-

senvolvimento da Capitania, problemas outros prejudicavam a saída de

sua produção, pois, conforme ordem real, as naus aqui carregadas deve-

riam incorporar-se às de Pernambuco, de onde partiriam os comboios

para o Reino. A esse propósito, João da Maia da Gama, capitão-mor da

Paraíba, reclamava ao Rei que, em 1704, os navios estavam prontos e

carregados para partir, havia dois meses, indo os comboios de

Pernambuco sem esperar pelos navios da Paraíba, acarretando esse fato

o prejuízo de ficarem muito tempo no porto e graves riscos de irem sozi-

nhos sem comboios.(16)

Aquele Capitão-mor, embora reconhecesse a importância dos

comboios contra a pirataria, via-se impossibilitado de cumprir as deter-

minações do comandante da frota de Pernambuco, João Antunes da Cos-

ta, por falta de ventos e de correntes d’água suficientes, para os navios

saírem carregados e se incorporarem aos de Pernambuco. Alega que, em

1710, em virtude de tais dificuldades, além da conspiração das chuvas,

os navios ficaram carregados quarenta dias na fortaleza do Cabedelo,

sem poderem sair sozinhos. Entende que os comboios deverão buscar os

navios desse porto, no verão, ou saírem sem eles todas as vezes que

tiverem água e ventos, mesmo enfrentando riscos.(17)

D. João V, acolhendo a representação do Capitão-mor da

Paraíba, resolve pelo Decreto de 30 de novembro de 1724 “que em todos

os anos partam regularmente daqui os comboios para o porto de

Pernambuco em o primeiro de março, e partam dele para este porto em

primeiro de agosto.”(18)

Ainda a propósito do porto da Paraíba, pedem os moradores, em

1752, que mande abri-lo, ao que atende o General de Pernambuco,(19)

Page 92: A Paraíba na Crise do Século XVIII

88 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

levando em consideração uma ordem real que concede os gêneros co-

mestíveis serem transportados de uma Capitania para outra.

Os oficiais da Câmara representam, junto ao Rei, contra a aber-

tura do porto, alegando que há cinquenta anos está fechado e que enten-

de o Capitão-mor de Pernambuco de mandar abri-lo, na hipótese de que

a ordem de transportar os produtos de uma Capitania para outra

abrangia também os portos fechados, pois se assim fosse teria o Rei

primeiro mandado abri-lo.(20)

Já não é a primeira vez que os oficiais da Câmara, interessados

em conservar o porto fechado, ponderam ao Rei a necessidade de condu-

zir o açúcar da Paraíba para Pernambuco. Dessa forma, dizem evitar as

dificuldades que experimentava a Capitania, não só pela falta de embar-

cações para conduzir o açúcar, como também de obterem melhor preço.

Assim, os mercadores não compram pelo preço que querem, vendendo

por melhor preço seus produtos. O pedido dos oficiais da Câmara foi

indeferido pela ordem de 24 de outubro de 1722.(21)

As contendas sobre o fechamento e a abertura do porto da

Paraíba se sucedem, do que podemos concluir que há interesse dos ofici-

ais da Câmara em querer o porto fechado, para embarcar a produção da

Paraíba pelo porto de Pernambuco. As justificativas acima não são sufi-

cientes para deixar de prevalecer a vontade dos moradores. Isso

demonstra o interesse daqueles oficiais em conservar o porto fechado – o

que dá margem para se supor uma possível articulação dos oficiais da

Câmara da Paraíba com os comerciantes de Pernambuco. Somente no

fim do século XVIII, o porto da Paraíba ficou definitivamente aberto,

quando Fernando Delgado Freire de Castilho, capitão-mor, resolveu

mandar abri-lo para o comércio direto com o Reino.(22)

Francisco Fernandes Furna pede ao Rei para transportar uma

parte do seu açúcar pelo porto da Paraíba e o restante, pelo de

Pernambuco em virtude dos poucos navios que vinham à Paraíba.

Aquele senhor de engenho declara que, em tempos passados, seus

dois engenhos reais produziam cerca de 400 e até 600 caixas de

açúcar. O Rei faz a dita concessão pela provisão de 5 de dezembro de

1696.(23)

Page 93: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 89

O açúcar, principal produto da Capitania, encontrou, na pri-

meira metade do século XVIII, fatores desfavoráveis ao seu desenvolvi-

mento, não chegando sua produção à quarta parte do que se produziu

anteriormente.(24)

Do ano de 1710 para o de 1711, ocorreu uma seca, que causou

grande devastação, morrendo grande parte do gado na Capitania. Hou-

ve fazendas em que, de três mil cabeças, não ficaram mais que seiscentas.

A seca que sobreveio no sertão atingiu também, no litoral, canaviais e,

em consequência, os contratadores da Capitania tiveram grandes preju-

ízos.(25)

Em 1712 continuou a mesma seca. Foi de tal sorte que, nesse

ano, a produção não chegou a 150 caixas de açúcar.(26) Com cinco anos de

seca (1710-1715), ocorreu grande diminuição das rendas dos subsídios

que se pagavam à Infantaria. Essa renda, que chegou a quatro, cinco e

seis mil cruzados, houve ano que ficou em torno de trezentos mil réis

acarretando, dessa forma, atraso nos pagamentos da Infantaria. Para fazer

aquele pagamento recorre o Capitão-mor ao Rei, lançando mão da

décima que tanto se aplicava às fortificações como à Infantaria.(27)

Por outro lado, ressente-se a lavoura de braços escravos para o

seu cultivo. Considerando a falta de escravos para os trabalhos, manda o

Rei que se introduzam, cada ano na Capitania duzentos ou trezentos escra-

vos angolanos, pagando-lhe em açúcar os moradores que os

adquirirem. Propõe ainda que os senhores de engenho ajustem entre si

uma companhia para mandar buscar negros na costa da África, por sua

conta.(28)

Sobre o assunto, toma o maior interesse o capitão-mor João da

Maia da Gama, enviando um patacho à Costa da Mina, o qual trouxe 170

escravos. Não houve senhor de engenho que comprasse um, pelas difi-

culdades em que se encontravam. Outro patacho que foi buscar escravos

trouxe, na segunda viagem, 270 cabeças. O Capitão-mor, tendo feito todo

o possível para remediar a falta de escravos, lamenta ao Rei a pobreza da

capitania e de seus moradores. No mesmo documento, diz ainda que,

exceto dois engenhos, os mais estão perdidos e geralmente desfabricados,

não sendo possível moer, se não é a providência que tem tomado de

repartir os índios das aldeias para lhes “fazerem lenhas”.(29)

Page 94: A Paraíba na Crise do Século XVIII

90 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

João de Abreu de Castel Branco, em carta ao Rei, expõe a difícil

situação da Capitania, pela falta de comércio, pela decadência dos enge-

nhos e do negócio da Costa da Mina que, infestada por piratas e ameaçada

pelos holandeses, provocou a subida do preço de escravos a tamanha

exorbitância, que não tem proporção o custo deles com o lucro do seu

trabalho. Outro motivo desse transtorno é que a procura de negros

cresceu com a exploração das minas, região de onde vêm muitos

compradores a todos os portos do Brasil. Isso fez subir os preços, de

forma que os senhores de engenho não puderam adquiri-los.(30)

A aquisição de escravos na Costa da Mina era feita a troco de

gênero da terra, sendo o tabaco um dos produtos apreciados para o

escambo. O Capitão-mor da Paraíba declara que, em uma das sumacas

que foi à Costa da Mina, enviou 40 rolos de tabaco para compra de escra-

vos.(31) O Rei, para evitar a frequente saída de ouro, moeda e tabaco

fino dos portos do Brasil, mandou proibir o desvio desses gêneros

para a costa da África.

A grande falta que há de escravos para os engenhos por se

desviar a maior parte deles para as minas, em razão dessa atividade,

motivou não só proibições, mas leis para se evitar que da Bahia, de

Pernambuco e das demais capitanias do Brasil continuassem a enviar

escravos para as minas. Não bastando tais providências, o Rei, por Re-

solução de 17 de setembro de 1706, pune os Governadores e Ministros

que não observarem essa Resolução, suspendendo seus cargos e ofícios.

Ficam também inabilitados para entrar no serviço real e, além do mais,

obrigados a pagar dois mil cruzados para a Fazenda Real.(32)

Quanto aos escravos que vão da Paraíba e de Pernambuco por

terra, para as minas, ou por mar para o Rio de Janeiro, para a Vila de

Santos e para São Paulo, pagam-se por cabeça quatro mil e quinhentos

réis.(33) Esses direitos reais eram administrados mediante contrato

arrematado no Conselho Ultramarino, por três anos. Já os escravos que

vêm da Costa da Mina e de outros portos para o da Paraíba e o de

Pernambuco pagam o direito de três mil e quinhentos réis por

cabeça.(34)

Havia proibição do comércio de escravos com os holandeses

na Costa da Mina, “pela opressão que eles causavam, obrigando aos

Page 95: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 91

navios portugueses que iam ao Castelo de S. Jorge a pagarem dez por

cento dos gêneros e fazendas que levavam ou em ouro, açúcar fino e

tabaco, provocando com isso grande prejuízo à Fazenda Real.”(35)

Em 1722, João de Abreu de Castel Branco, queixando-se ao Rei

do estado de ruína da Capitania, diria: “os homens aqui não têm cabedais

para adquirir meios necessários e assim estão quase todos os engenhos

tão mal assistidos, que os que em outro tempo faziam em uma safra

duzentas caixas de açúcar não tiram hoje a quarta parte.”(36)

No ano de 1725, não se fez nos engenhos da Capitania nenhu-

ma caixa de açúcar, fato que mostra quanto diminuída estava a produ-

ção na primeira metade do século XVIII.(37) Em 1732, Francisco Pedro

de Mendonça Gorjão se refere à produção do ano anterior, afirmando

que, pela situação em que se encontravam os engenhos, produziram-se

apenas 95 caixas de açúcar. Consequentemente, ficara prejudicada a

Fazenda Real, pela diminuição dos dízimos.(38)

Para completar o quadro de flagelo da Capitania, de que ví-

nhamos falando, sobreveio, em 1724, uma seca e uma praga de lagarta.

Essa seca propaga-se nos anos subsequentes, e é tal a esterilidade da

Capitania que “os frutos da terra, assim mandiocas como legumes e fru-

tos das árvores, se extinguiram quase de todo, de sorte que a maior parte

dos moradores se têm sustentado de raízes de mato impróprias para o

alimento e, por esta causa tem padecido grande número de

pessoas e, particularmente, escravos, desamparando-os seus donos na

impossibilidade de os sustentar. .Alguns gêneros comestíveis que rara-

mente aparecem se tem vendido por preços exorbitantes; uma arroba

de farinha do Reino se vende aqui à razão de dezesseis patacas, a vinte

e um alqueire a farinha da terra que custava doze vinténs, sem que

ainda as pessoas e casas mais acomodadas deixem de ter padecido

necessidades extremas.”(39)

Para remediar a situação de penúria dos moradores, enviou o

Capitão-mor uma sumaca para ir buscar farinha na Bahia, e, sendo proi-

bida sua saída, apelou para Alagoas. Foram frequentes as representa-

ções de João de Abreu de Castel Branco ao Rei, sobre a situação de ruína

da Capitania, em consequência da seca nesses dois anos, causando a

morte de mais da metade dos escravos. Pede ao Rei mandar introduzir

Page 96: A Paraíba na Crise do Século XVIII

92 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

na Capitania algumas embarcações de escravos, para os trabalhos nos

engenhos.(40)

Um empréstimo de três mil cruzados que o Rei mandou conce-

der ao capitão-mor João de Abreu de Castel Branco ilustra, mais uma

vez, a difícil situação da Capitania. A propósito desse pagamento, infor-

ma o Provedor da Fazenda da Paraíba que, por não ter vindo navio a este

porto, desde a frota do ano passado até então, por não se ter feito, em

nenhum engenho da Capitania, uma só caixa de açúcar, em virtude da

seca, não foi possível fazer o dito pagamento.(41)

Ainda no que diz respeito às calamidades da Paraíba, ocorreu,

no ano de 1729, uma grande cheia, que inundou as várzeas da Capitania,

destruiu engenhos, matou gados e bestas, e levou a maior parte das

canas dos moradores, não lhes deixando mais que as roupas. Muitas cai-

xas de açúcar se perderam, assim nos passos como nos engenhos. Estes

ficaram, em sua maior parte, arruinados, os partidos de canas entulhados

de areia, de sorte que muita terra ficou perdida. Também as canas foram

levadas dos partidos sem ficar semente. Não restou nenhum gênero de

lavoura, roça e legumes que os moradores pudessem aproveitar.(42)

Em razão de todas essas vicissitudes, encontra-se a Capitania

num estado de extrema pobreza e necessidade, pelo que os senhores de

engenho e lavradores dos partidos de cana recorrem ao Rei, pedindo-

lhe a graça de não poderem ser executados nas fábricas de seus enge-

nhos e fazendas de canas e que somente os possam nos seus rendimen-

tos, para poderem conservar seus cabedais.(43)

A pobreza dos moradores é tal que o Prior da Reforma do

Carmo, Frei Felipe do Espírito Santo, queixa-se ao Rei de não poderem os

ditos moradores da Capitania concorrer com as esmolas que costuma-

vam dar ao convento de N. S. do Carmo, para ajudar na sustentação

dos religiosos que ali vivem em número de dezoito.(44)

A maior parte dos engenhos estava em precaríssimas condi-

ções, entre eles “o engenho de Santo André e Água de Lupe” (sic), que

foram sequestrados pela Fazenda Real, pelo que ficaram devendo.(45) Quanto

aos engenhos do Espírito Santo, Santo Antônio e Podre, há referências de

que andavam também em ruínas.

Page 97: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 93

Essa situação de crise é agravada não somente pelas secas e

enchentes, mas também pela falta de assistência do Estado português às

capitanias. Os moradores reclamam, constantemente, contra as dificul-

dades que passavam ,pobreza e miséria, sem que houvesse nenhuma

sensibilidade para com seus problemas, por parte do poder real. Havia,

portanto, muita extorsão, e nenhuma ajuda vinha do Reino. E o pior é

que, em situações difíceis como essas, eram feitos pela Metrópole

pedidos de donativos.

Nessas circunstâncias, o Capitão-mor da Paraíba reclama con-

tra a falta de remessa dos vinte mil cruzados, que a Provedoria de

Pernambuco está obrigada a remeter por conta da dízima e não o fez,

estando os soldados sem pagamento há três anos e as obras da fortaleza,

quase paradas.(46) Queixa-se o Capitão-mor da Paraíba dos gastos que

o General de Pernambuco fez com a expedição que mandou à Ilha

de Fernando de Noronha, para desalojar os franceses e povoá-la,

fazendo nela fortificações.(47)

Repetidas queixas encontramos sobre a falta de moeda na Ca-

pitania, atribuindo-se o fato ao seu fluxo para a de Pernambuco, onde os

moradores adquirem mantimentos. Na verdade, contribui para essa fal-

ta a “quase ausência de economia monetária na colônia e, portanto, regi-

me quase total de economia natural.”(42:179) Ora, sabe-se que os pagamen-

tos faziam-se com produtos da terra o que atesta uma dívida de três

mil cruzados, contraída pelo Capitão-mor da Paraíba para com o Rei, na

qual o devedor pede para remeter a importância em produtos da terra, ao

que o Rei concorda, fato ao qual já nos referimos.(48)

Em face das considerações feitas anteriormente, vê-se que a

Capitania da Paraíba está desgastada ao máximo. O comércio do açúcar

encontra-se arruinado, os contratos dos subsídios do açúcar e da dízima

em grandes baixas, diminuindo consideravelmente as rendas da Fazen-

da Real.(49)

No que toca à restauração das fortificações, encontra-se a do

forte do Cabedelo em estado de ruína. As muralhas caídas por ser aque-

la obra de taipa e faxina, as peças de artilharia estão no chão sem carre-

tas e o presídio, com muito poucos soldados. Tudo isso, apesar de, na

Page 98: A Paraíba na Crise do Século XVIII

94 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

época em que governou a Capitania João Fernandes Vieira, como supe-

rintendente das fortificações, terem-se iniciado os trabalhos de recupera-

ção do mesmo forte.(50)

Posteriormente, passou a superintendência dessas fortificações

ao Governador de Pernambuco, mas pelas dificuldades e distâncias em

acudir a Paraíba, como era preciso, não se adiantaram as obras do forte

do Cabedelo. Em vista dessa situação, considerando a importância do

forte do Cabedelo como principal defesa da Paraíba, ordena o Rei, to-

mando por base um parecer do Conselho Ultramarino, que o capitão-

mor da Paraíba, Fernão de Barros de Vasconcelos, passe à superinten-

dência das mesmas fortificações. Constou ainda do referido parecer do

Conselho de que se mandasse outro capitão engenheiro à Paraíba, para

assistir não só o forte do Cabedelo, mas também as demais fortificações

da Capitania, por não ser suficiente o engenheiro de Pernambuco Luiz

Francisco Pimentel, para os trabalhos de restauração das fortalezas de

ambas as capitanias.(51)

Várias ordens reais dispõem sobre a aplicação dos rendimen-

tos do açúcar para as fortificações, particularmente para o forte do

Cabedelo. Em uma delas, o Rei ordena que se pague por caixa de açúcar

que sair da Capitania quatrocentos réis e, por feixe, duzentos réis, para a

obra da forte do Cabedelo.(52)

Para as despesas com as fortificações da Paraíba, manda o Rei

que de todos os gêneros que entrem no porto dessa Capitania e no da de

Pernambuco paguem os mesmos dez por cento nas alfândegas, a exem-

plo do que pagava na Capitania do Rio de Janeiro, enquanto não mandar o

contrário com declaração de que o produto deste direito se aplicará

para defesa e fortificações da mesma Capitania.(53) Outra ordem é especí-

fica à aplicação do rendimento da dízima na obra do forte do Cabedelo.(54

O contrato da dízima da Alfândega da Paraíba destinava-se

também ao pagamento da Infantaria. Tal contrato era arrendado junta-

mente com o da Capitania de Pernambuco, em Lisboa, com a condição de

se enviar anualmente vinte mil cruzados à Provedoria da Paraíba.

A arrematação da dízima da Afândega de Pernambuco e da

Paraíba num só contrato não trouxe nenhum proveito para esta última,

Page 99: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 95

mas muitos problemas, uma vez que Pernambuco não mandava a parte

que era destinada à Paraíba, ou seja, os vinte mil cruzados anuais.

Devido ao atraso, obviamente, a dívida se acumulava e as desculpas

eram frequentes. Reclamações eram feitas na Paraíba pela falta da

remessa. A resposta era a de que não havia dinheiro em Pernambuco, o

que não parecia verdadeira, por se ter notícia do seu desvio para

outros fins, conforme declarações do próprio Provedor da Fazenda de

Pernambuco.

A esse propósito argumenta Horácio de Almeida:

“Pernambuco não devolvia o dinheiro porque tinha o plano de levar a Capitania

vizinha à exaustão para anexá-la ao seu território. Esse plano vinha concebido desde quando governou Pernambuco Duarte Sodré Pereira que, em carta a el-Rei (1730) , exagerava a pobreza da Paraíba e pedia a anexação do

seu território ao de Pernambuco, alegando que nem dinheiro tinha para os donativos lançados por ocasião do casamento dos príncipes”(3,2:74)

Tudo indica que houve desejo de expansão de Pernambuco

sobre as “Capitanias do Norte”. E a Paraíba, pela contiguidade do seu

território com o de Pernambuco, não deixava de ser cobiçada. Conflitos

de jurisdição “se manifestaram em ambos os lados das fronteiras entre

as capitanias”, os quais se acentuam com a subordinação de nossa Capi-

tania à de Pernambuco.

A união das duas dízimas e não dízimos, numa só arrematação,

teve por fundamento o fato do pouco rendimento que ela apresenta na

Paraíba. Isto se deve à diminuição de gêneros que aqui entram não che-

gando o contrato da dízima mais do que quatrocentos ou quinhentos

mil réis. E a de Pernambuco diminuiria em muitos mil cruzados.

O capitão-mor da Paraíba, Francisco Pedro de Mendonça

Gorjão, lutou para que o contrato da dízima da Alfândega da Paraíba

fosse arrematado junto com o de Pernambuco, porque só assim con-

servaria o seu valor, uma vez que no Reino fora arrematado pelo

preço de cento e seis mil cruzados. O pouco movimento da Capita-

nia e sua reduzida produção contribuíram para que poucos navios

frequentassem seu porto, não chegando a render a dízima vinte mil

cruzados.(55) A verdade é que não se fabricava açúcar na Capitania,

Page 100: A Paraíba na Crise do Século XVIII

96 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

em virtude das secas e, em consequência disso, não chegavam navi-

os ao porto.(56)

Os contratos eram normalmente arrendados por três anos, sen-

do a arrematação deles feita no Conselho Ultramarino. Havia época de-

terminada para a arrematação dos contratos, tendo início no primeiro

dia do mês de agosto de cada ano, terminando no último de julho do

ano seguinte. Essa era a maneira pela qual o Rei cobrava seus direitos,

espécie de arrecadação fazendária daquela época, fisco indireto.

Posteriormente, atendendo reivindicações, o Rei ordena que os

contratos, a partir de 17 de novembro de 1731 sejam arrematados nas

capitanias com assistência dos governadores, provedores e

procuradores da Fazenda, bem como dos ouvidores em cada uma das

terras onde existirem as rendas com as solenidades que dispõe o

Regimento.(57)

Não obstante a obrigação de cada capitania fazer sua

arrematação, o contrato da dízima da Paraíba e Pernambuco ficou sendo

arrematado num só contrato em virtude de estar a Capitania de

Pernambuco obrigada a mandar, anualmente, vinte mil cruzados do

total arrematado à Provedoria da Paraíba. Entretanto, temeu-se que, em

razão de não virem a este porto navios há muitos anos, a dízima não

rendesse aquela quantia.(58)

A respeito da produção colonial paraibana, os dados são mui-

to reduzidos. Mesmo no princípio do século XVIII é ainda difícil uma

estimativa da produção da Paraíba. Essa falta de dados sobre a produ-

ção é, em parte, devida à desorganização em que se encontrava a ativida-

de do açúcar, naquela mesma época, e ao fato de os habitantes da Capi-

tania venderem a maior parte dos seus produtos na praça de Pernambuco,

onde compram o de que necessitam, sem dar entrada nem saída oficial

aos seus produtos. Isso demonstra falta de um aparelhamento fiscal. Ou,

por outro lado, os produtores da Paraíba burlavam o fisco, não pagando

os impostos aqui e vendendo seus produtos por melhor preço em

Pernambuco. Só no final do século, encontramos mapas de produção, de

exportação e de importação. Ainda em 1798, reclama o capitão-mor

Fernando Delgado Freire de Castilho, por não poder fazer os mapas com

toda exatidão, pela razão acima alegada.(59) Também o fato de não existir

Page 101: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 97

comércio direto entre a Paraíba e o Reino deu origem ao abuso de se

transportar os gêneros dessa Capitania para a de Pernambuco, onde é

absorvida toda a produção.(60)

Em 1733, uma ordem real é enviada ao Provedor da Fazenda

da Capitania de Pernambuco, para remeter à da Paraíba do Norte a con-

signação anual para pagamento das milícias, por conta da dívida atra-

sada. Aquela ordem ainda determina que, não havendo rendimento para

se fazer essa remessa, ao menos sejam enviados dez mil cruzados dos

quarenta que se devem remeter ao Reino.(61)

Sobre a remessa da dízima que a Provedoria de Pernambuco

não fazia à da Paraíba, eram constantes as queixas do Capitão-mor, do

Provedor e dos oficiais da Câmara. A muito custo, o pagamento era feito

sempre atrasado, após repetidas ordens reais e precatórias à Provedoria

de Pernambuco. Refere Luiz Antônio de Lemos de Brito, capitão-mor da

Paraíba, que mandara passar a terceira pecatória sobre a dívida e a re-

messa da dízima — o que mostra a necessidade de muitas diligências

neste sentido.(62)

Algumas das respostas enviadas pelo Provedor da Fazenda de

Pernambuco, a respeito da cobrança da dízima, eram de que a dívida

ficaria na lembrança para fazer o pagamento quando houvesse dinheiro.

Em tudo isso, percebe-se a má vontade e o descaso que havia em

Pernambuco pelos problemas da Paraíba, quando a capitania dominan-

te estava obrigada a cuidar dela e provê-la, em face dos dispositivos

contidos na anexação.(63)

Na carta de 17 de janeiro de 1751, o Provedor da Fazenda da

Paraíba informa ao Rei de que a dívida dos vinte mil cruzados orçaria,

dentro de dois meses, em torno de sessenta mil cruzados, causando isso

grave transtorno à Capitania. Por essa razão, encontra-se no chão a Casa

da Pólvora da fortaleza do Cabedelo, sem poder ser levantada, enquanto

estão por pagar os soldos aos soldados e pão de munição, há três anos.(64)

Luiz Antônio de Lemos de Brito, em carta ao Rei, disse que o

Provedor de Pernambuco respondera que não cumprira a Precatória, por

não haver dinheiro, visto que o Capitão general de Pernambuco manda-

ra dar-lhe diferentes aplicações. É uma resposta, sem dúvida, mais coe-

Page 102: A Paraíba na Crise do Século XVIII

98 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

rente do que a anteriormente enviada, que parecia uma afronta à miséria

em que vivia a Paraíba.

Finalmente, o Provedor da Fazenda de Pernambuco envia des-

culpas ao Rei, por não mandar anualmente os vinte mil cruzados do

contrato da dízima da Alfândega da Paraíba, já que não eram anuais as

frotas. Sucedia, muitas vezes, passarem-se cinco anos com três frotas,

não podendo a Provedoria de Pernambuco pagar por ano o que se

cobra por frota, acumulando-se, assim, dívidas, por esse descaso.(65)

No que concerne aos contratos, figuram ainda: o dos dízimos

reais, o do subsídio do açúcar e o das carnes, tendo cada um aplicação

específica.

Do contrato dos dízimos reais faziam-se despesas com o paga-

mento da côngrua do vigário da Matriz, do seu coadjutor, do capelão da

fortaleza, do provedor da Fazenda Real, do escrivão, do almoxarife, do

meirinho das execuções, do porteiro, do Ouvidor etc.(66) O quadro 2 dá

uma visão do rendimento do referido contrato em vários anos.

O contrato dos subsídios do açúcar, por que se pagam sessenta

réis por arroba do branco, e trinta réis a do mascavado, está destinado

aos socorros da Infantaria.(67)

O contrato das carnes, administrado pela Câmara da Paraíba,

passou à Provedoria da Fazenda Real e, novamente, por solicitação da-

quela, lhe foi restituído.(68) Essa consignação estava aplicada ao Senado

da Câmara, e a sua renda não chegava para atender à despesa que ele

tinha.

Nas rendas reais se inclui o direito de três mil quinhentos réis

por cabeça dos escravos que entram no porto desta Capitania e no de

Pernambuco, vindos da Costa da Mina, de S. Tomé, da Ilha do Príncipe, do

Cabo Verde e das demais anexas. Essa renda era explorada mediante

contrato.(69)

Ainda no que tange às rendas reais, ordena o Rei que se pa-

guem quatrocentos réis por caixa de açúcar que sai dessa capitania e

duzentos réis por feixe, para a fortaleza do Cabedelo.(70)

Integram ainda as rendas acima mencionadas os novos direi-

tos que pagam os oficiais de justiça da Fazenda, cuja aplicação se desti-

na aos proventos dos ouvidores gerais, quando não houver meios de os

pagar. O quadro 3 dos contratos e rendas reais de 1723 a 1754

Page 103: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 99

nos permite apreciar a evolução deles, evidenciando-se baixas nos

períodos críticos de secas, de cheias e de pragas.

No que se refere aos direitos sobre os escravos, essa consigna-

ção não tinha rendimento certo, porque havia anos em que ia uma em-

barcação à Costa da Mina, outros em que iam duas e noutros, nenhuma.

Sobre a dízima das fazendas, esta deixa, por vezes, de figurar, por não

virem de Pernambuco os vinte mil cruzados, constando somente a

décima das fazendas despachadas nessa Alfândega.

Os subsídios do açúcar não tinham rendimento certo, porque

dependiam da vinda das frotas, que não eram regulares.

No quadro 4, procuramos relacionar a receita e a despesa da

Capitania, em alguns anos, mesmo com lacunas, por faltarem os anos

de 1730-1731, 1735-1740 e 1743-1744 Assim, podermos verificar que as

receitas eram insuficientes e que as maiores baixas coincidiam com a

seca de 1724, continuando difícil a situação da Capitania e as receitas

subsequentes, muito baixas, exceto nos anos de 1726-1727, em que

houve uma recuperação. A cheia de 1729 contribuiu para a receita

descer outra vez no biênio 1728-1729. Como faltam as receitas dos

anos de 1730 e 1731, supomos ser natural que tenham descido, mas

não podemos avaliar em torno de quanto ficou essa baixa. O que se

verifica é que, após uma calamidade, as receitas diminuem,

consideravelmente, nos anos subsequentes.

Assim, vê-se que, geralmente, a receita não chegava a cobrir as

despesas, revelando orçamentos deficitários. Havia, entretanto dificul-

dade em apresentar a receita com o devido rigor, porque estavam sempre

faltando, para fechá-las, os vinte mil cruzados que não vinham regular-

mente de Pernambuco, ficando em cada receita a observação, em alguns

anos, de que faltaria essa quantia. Outro problema é que, entre o que se

rendeu e o que se cobrou havia diferenças para compô-la. Todavia, esca-

moteavam-se dados orçamentários, no intento de deixar claro que, na

Capitania, tudo andava bem equilibrado, ou seja, a receita e a despesa.

Os dados apresentados nos quadros 4 e 5 nos dão uma ideia dos orçamentos da Capitania da Paraíba, sem esquecermos a precariedade com que eram elaborados.

Page 104: A Paraíba na Crise do Século XVIII

100 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

De toda essa fase que analisamos da Capitania da Paraíba,

abrangendo engenhos, reedificação, produção, comércio, porto, comboi-

os, fortificações, contratos e rendas reais, temos uma visão das dificul-

dades e do esforço empreendido pelos capitães-mores para sua recupe-

ração.

O período que antecede a anexação da Capitania é, pelo que

analisamos, de crises prolongadas e de difícil recuperação. Nessa

conjuntura de depressão, é certo que há tentativas de soerguimento da

capitania o que não poderia deixar de existir. Mas a verdade é que a

depressão agiu com muito maior intensidade do que a boa vontade de

seus moradores, causando sérios entraves à recuperação da Capitania.

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A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 101

NOTAS

1 A. H. U. C. PB. C. C. U. Sobre a carta dos Oficiais da Câmara da Paraíba, a respeito da

situação da Capitania após a guerra e do título com que João Fernandes Vieira havia de

governar a Paraíba, em 08.01.1655.

2 A.H.U.C.PB. C.C.U. Sobre a carta dos Oficiais da Câmara da Paraíba, a respeito da ruína da

Capitania após guerra holandesa e de meios com que há de acudir a Infantaria, em

12.07.1657.

3 A.H.U.C.PB. Cópia da carta dos Oficiais da Câmara sobre o estado da.Capitania e o preço do

açúcar, em 12.08.1657.

4 B.G.C. Cód 706. Provisão real sobre a isenção de direitos, por 10 anos, para os engenhos

reedificados, em 27.06.1654.

5 A.H.U.C.BA. Provisão real dispondo as condições para se conceder a isenção, por 10 anos,

aos engenhos reedificados, em 17.12.1655.

6 A.H.U.C.PB. Sobre as dificuldades da Capitania após a guerra, número de engenhos e

quantidades de açúcar fabricado, em 20.03.1663.

7 A.H.U.C.PE. Sobre o pedido de prorrogação da execução por dívidas para os moradores de

Pernambuco e do Rio, a exemplo dos da Paraíba, em 17.02.1674.

8 A.H.U.C.PB. C.C.U. Sobre a ruína da Capitania e meios com que há de sustentar a Infantaria,

em 12.07.1657.

9 A.H.U.C.PB.1.C.C.U. Sobre a petição de João Fernandes Vieira, para que sejam pagos os

soldos que lhe devem em Pernambuco e socorridos os oficiais e soldados da Paraíba, em

12.04.1655.

10 A.H.U.C.PB.1.C.C.U. Sobre o pedido dos oficiais da Câmara para mandar de Pernambuco o

sustento da infantaria, em 12.07.1657.

11 A.H.U.C.PB. C.C.U. Sobre João Fernandes Vieira querer isentar-se das contribuições do

açúcar para sustento da Infantaria, em 26.10.1663.

12 A.H.U.C.PE. Conforme dados encontrados, em 1761, no Arquivo Ultramarino, o número

de engenhos da capitania da Paraíba era de vinte e dois, sendo dois de fogo morto.

13 A.H.U.C.PB. Sobre a produção dos engenhos na Paraíba, em 20.03.1663.

14 A.H.U.M.PB. Reflexões de Bento Bandeira de Melo, escrivão da fazenda real da Paraíba,

sobre o porto da Paraíba e de suas condições para receber navios, em 04.05.1797.

15 A.H.U.C.PB. Queixas dos moradores da Capitania ao Rei, por ser o seu porto pouco

frequentado, em 05.12.1696.

16 A.H.U.C.PB. Sobre os prejuízos de não irem os comboios à Paraiba, em 17.04.1704.

17 A.H.U.C.PB. Carta de João da Maia da Gama ao Rei, sobre os navios da Paraíba irem

incorporar-se aos comboios em Pernambuco, em 26.07,1710.

18 A.H.U.C.PB. Decreto real, ordenando os comboios partirem da Paraíba para Pernambuco,

indo depois para o Reino, em 30.11.1724.

19 A.H.U.PB. Os moradores da Paraíba pedem ao Rei que mande abrir o porto, em,

20.05.1752.

Page 106: A Paraíba na Crise do Século XVIII

102 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

20 A.H.U.PB. Sobre Capitão-mor de Pernambuco consentir em mandar abrir o porto da Paraíba, em

29.04.1757. 21 A.H.U.C.PB. Dos oficiais da Câmara da Paraíba ao Rei, pedindo para conservarem o porto fechado

como o fizeram em todos esses anos os capitães-mores da Paraíba, em 13.05.1757. 22 A.H.U.C.PB. Edital de Fernando Delgado Freire de Castilho, proibindo a saída dos gêneros da

Capitania da Paraíba para quaisquer portos que não sejam os do Reino, em 17.04.1798. 23 A.H.U.C.PB. Sobre um pedido de Francisco Fernandes Furna ao Rei e produção de seus dois

engenhos na Capitania da Paraíba, em 05.12.1696. 24 A.H.U.C.PB. Carta de João de Abreu de Castel Branco ao Rei, sobre a situação de decadência dos

engenhos e a pouca produção, em 22.04.1722. 25 A.H.U.C.PB. Carta de João da Maia da Gama ao Rei, sobre a seca e as dificuldades pelas quais passava

a Capitania, em 27.05.1712. 26 A.H.U.C.PB. Sobre a reduzida produção da Capitania, em 27.05.1712. 27 A.H.U.C.PB. De João da Maia da Gama ao Rei, sobre a diminuição das rendas dos subsídios, em

12.08.1715. 28 A.H.U.C.PB. Ordem real para se introduzirem escravos na Capitania da Paraíba, em 02.09.1715. 29 A.H.U.C.PB. De João da Maia da Gama, sobre os patachos que mandou ir a costa da África buscar

escravos, em 20.08.1716. 30 A.H.U.C.PB. De João de Abreu de Castel Branco ao Rei expondo as razões do miserável

estado da Capitania e da diminuição da produtividade dos engenhos, em 22.04.1722. 31 A.H.U.C.PB. Sobre a aquisição de escravos na Costa da Mina a troco de gêneros da terra, em

03.12.1732. 32 A.H.U.C.PB. Resolução real punindo os governadores e ministros que não cumpri- rem as leis

sobre saída de escravos da Paraíba, de Pernambuco e das demais capita- nias para as minas, em

17.09.1706. 33 A.H.U.C.PB. Sobre os direitos que pagam os escravos que vão da Paraíba e de Pernambuco

para outros portos, em 25.01.1725. 34 A.H.U.Cód.1589. Ordem real sobre os direitos que pagam os escravos que vêm da Costa da Mina

para essa Capitania e a de Pernambuco, em 22.09.1724. 35 A.H.U.C.PB. Sobre o que cobram os holandeses para o resgate de escravos na Costa da Mina,

em 12.10.1722. 36 A.H.U.C.PB. Carta de João de Abreu de Castel Branco ao Rei, sobre a situação dos engenhos da

Paraíba e sua produção, em 22.04.1722. 37 A.H.U.C.PB. Sobre a inexistência de produção na Capitania no ano de 1725, em virtude da seca,

em 31.07.1725. 38 A.H.U.C.PE. Do Capitão-mor Francisco Pedro de Mendonça Gorjão ao Rei, sobre a pouca

produção da Capitania, em 04.02.1732. 39 A.H.U.C.PB. Carta de João de Abreu de Castel Branco ao Rei, sobre a ruína da Capitania e a falta

de alimentos para seus habitantes, em 25.06.1724.

Page 107: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 103

40 A.H.U.C.PB. Carta de João de Abreu de Castel Branco, ao Rei, sobre a difícil situação em que se

encontra a Capitania, em virtude das secas e a necessidade que há de escravos por ter morrido grande

parte, em 21.07.1725.

41 A.H.U.C.PB. De Salvador Quaresma Dourado, Provedor da Fazenda Real, ao Rei, sobre não se fazer

o pagamento dos três mil cruzados, por não se ter feito açúcar emvirtude das secas, em 31.07.1725.

42 A.H.U.C.PB. De Francisco Pedro de Mendonça Gorjão ao Rei, sobre a difícil situação da Capitania,

em virtude da cheia, em 22.06.1729.

43 A.H.U.M.PB. C.C.U. Sobre o pedido dos senhores de engenho dos lavradores de cana da

Capitania, em 01.09.1738.

44 A.H.U.C.PB. Carta do Prior da Reforma do Carmo ao Rei, queixando-se da pobreza dos moradores,

em não poderem dar as contribuições, que costumavam para o dito convento, em 13.06.1733.

45 A.H.U.PB. Sobre o sequestro dos engenhos Santo André e Água de Lupe, pela Fazenda Real,

em 20.02.1738.

46 A.H.U.C.PB. De Pedro Monteiro de Macedo ao Rei, sobre a falta de remessa dos vinte mil

cruzados, que Pernambuco está obrigado a remeter à Paraíba, em 14.01.1738.

47 A.H.U.PB. C.C.U. Sobre as dificuldades que padecem as capitanias de Pernambuco e da Paraíba, e os

gastos com a expedição de Fernando de Noronha, em 16.09.1738.

48 A.H.U.C.PB. Sobre um empréstimo que o Rei fez à Capitania, concordando que fosse pago em

gêneros da terra, em 17.09.1732.

49 A.H.U.M.PB. C.C.U. Sobre a representação do Capitão-mor Pedro Monteiro de Macedo, a

propósito da decadência da Capitania da Paraíba, em 16.09.1738.

50 A.H.U.C.PB. C.C.U. Sobre como se devem acudir as fortificações e, em particular, a do forte do

Cabedelo, em 25.05.1666.

51 A.H.U.C.PB. CC.U. A propósito das obras do forte do Cabedelo e das demais fortificações da

Paraíba, em 07.08.1704.

52 A.H.U.Cód.1589. Pagamento de uma taxa sobre o açúcar, para o forte do Cabedelo, em 04.11.1700.

53 A.H.U.Cód.1589. Cópia de uma carta do Rei para João da Maia da Gama, sobre o pagamento da

dízima das Alfândegas da Paraíba e de Pernambuco, para as fortificações da Pa- raíba, em 04.02.1711.

54 A.H.U.Cód.1589. Ordem real para aplicar a dízima para as obras do forte do Cabedelo, em

20.06.1718.

55 A.H.U.C.PB. Carta do Governador da Paraíba ao Rei, sobre a necessidade de se arrematarem

juntas as dízimas de Pernambuco e Paraíba, em 31.03.1732.

56 A.H.U.C.PB. Do Provedor da Fazenda ao Rei, sobre o contrato da dízima e o pouco fabrico do açúcar,

em virtude das secas, em 22.08.1725.

57 A.H.U.C.PB. Ordem real para os contratos serem arrematados nas capitanias, em 17.11.1731.

58 A.H.U.C.PB. Sobre a dízima da Paraíba continuar a ser arrematada num só contrato junto com a de

Pernambuco, em 23.04.1732.

Page 108: A Paraíba na Crise do Século XVIII

104 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

59 A.H.U.C.PB. A propósito de não haver maior exatidão nos mapas de produção Paraíba, por os moradores da Capitania venderem seus produtos em Pernambuco, sem dar entrada nem saída dos mesmos, em 31.07.1799. 60 A.H.U.C.PB. Sobre a falta de comércio direto entre a Paraíba e Reino, causando graves prejuízos ao desenvolvimento da Capitania, em 17.04.1798. 61 A.H.U.M.PB. Ordem real para o Provedor da Fazenda de Pernambuco mandar pagar à Provedoria da Paraíba, em 22.11.1733. 62 A.H.U.C.PB. Sobre as repetidas ordens reais e precatórias que se têm remetido à Provedoria de Pernambuco, em virtude da falta de pagamento da dízima à Paraíba, em 13.05.1754. 63 A.H.U.M.PB. Sobre o que diz o Provedor da Fazenda de Pernambuco, quanto ao pagamento da dízima, em 10.12.1755. 64 A.H.U.C.PB. Carta do Provedor da Fazenda da Paraíba ao Rei, sobre o montante da dívida de Pernambuco, no que toca à dízima, em 17.01.1751. 65 A.H.U.C.PE. Sobre as desculpas do Provedor da Fazenda de Pernambuco de não mandar com pontualidade os vinte mil cruzados do produto da dízima, em 08.05. 1754. 66 A.H.U.C.PB. De Antônio Borges da Fonseca ao Rei, enviando relação do rendimen- to e da despesa da Capitania, figurando os contratos e as rendas reais, em 02.02.1749. 67 A.H.U.Cód. 1589. Sobre os contratos da Paraíba e as rendas reais. 68 A.H.U.C.PB. C.C.U. Sobre os oficiais da Câmara pedirem a restituição do contrato das carnes, no que foram atendidos, em 01.09.1732. 69 A.H.U.Cód. 1589. Ordem real para os direitos que pagam os escravos que entram no porto dessa Capitania e no de Pernambuco, em 15.01.1725. 70 A.H.U.Cód. 1589. Ordem real sobre o que se paga por caixa de açúcar que sai dessa Capitania, em 04.11.1700.

Page 109: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 105

A

4 DA ANEXAÇÃO À AUTONOMIA:

1755-1799

pelos sucediam-se no sentido de serem enviadas medidas que

superassem a crise que arruinava a Capitania. Os capitães-mo-

res, inconformados com a difícil situação, a que nos referimos

no capítulo anterior, queriam urgência para remediar tantos males.

Antes da subordinação, uma das representações enviada ao

Rei foi a do capitão-mor da Paraíba, Luiz Antônio de Lemos de Brito,

contra os poucos recursos que havia nessa Capitania, apontando tam-

bém meios de tirar dela algum proveito.(1) Apelos e representações

não faltavam, à Metrópole, que, por sua vez, defrontava com uma das

maiores crises de sua história — a dos fins do reinado de D. João V e

a do início de D. José I. Crise estrutural que se deve à dependência de

Portugal, ao seu comércio externo e à permanência das formas

arcaizantes de sua economia. A crise dos produtos brasileiros, a qual

já nos referimos anteriormente, é um desdobramento dessa.

A Metrópole, normalmente, recebia a produção da Paraíba (açú-

car, algodão, goma, couros, sola, vaquetas), que era bem significativa, e

contribuía naturalmente para aumentar os recursos da Fazenda Real. En-

tretanto, quando a Capitania declinou, Portugal não lhe prestou o apoio

que se fazia necessário para melhorar os meios de sua produtividade.

Vê-se não só a conhecida falta de recursos do Reino, mas também a

mentalidade de exploração do colonizador, que deixava a Capitania

abandonada à própria sorte. Era assim que funcionava o sistema, na

Page 110: A Paraíba na Crise do Século XVIII

106 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

base da extorsão da Colônia. A única providência tomada pelo Rei foi a

de subordinar a Capitania da Paraíba à de Pernambuco, como veremos.

A representação feita por Luiz Antônio de Lemos de Brito so-

bre as dificuldades que a Capitania atravessava motivou uma consulta do

Rei ao Conselho Ultramarino e, em consequência dela, a Resolução

Real de 29 de dezembro de 1755, subordinando a Paraíba a Pernambuco,

cuja cópia manuscrita transcrevemos:

“Dom José, por graça de Deus, Rei de Portugal e dos Algarves daquém e de além mar em África senhor da Guiné etc. Faço saber a vos Governador e Capitão General da Capitania de Pernambuco que por se ter conhecido os pucos meios que há na Provedoria da Fazenda para sustentar um governo separado fui servido por resolução de vinte e nove de dezembro próximo passado tomada em consulta do meu Conselho Ultramarino extinguir o dito governo da Paraíba que acabado o tempo do governador atual fique esta Capitania sujeita ao governo dessa de Pernambuco pondo-se na Paraíba um capitão-mor com igual jurisdição e soldo ao que tem o Capitão-mor da cidade de Natal do Rio Grande do Norte. De que vos aviso para que assim o tenhais entendido. El Rei Nosso Senhor o mandou pelos Conselheiros dos seu Conselho Ultramarino abaixo assinados e se passou por duas vias. Caetano Ricardo da Silva a fez em Lisboa a vinte e nove de dezembro de mil setecentos e cinquenta e cinco. O Secretário Joaquim Miguel Lopes de Lavre a fez escrever. Antônio Freire de Andrade, Antônio Lopes da Costa. Cumpra-se e registre-se na Secretaria deste Governo. Recife, dezenove de fevereiro de mil

setecentos cinquenta e seis. Rubrica.”(2)

Anos depois, em 1798, o último capitão-mor subordinado,

Fernando Delgado Freire de Castilho, em uma Memória que escreveu

sobre a Capitania da Paraíba, mostra as condições que ela possuía para

ser autônoma. No mesmo documento, transparece o fato de que a anexa-

ção fora, em parte, decorrente da representação do capitão-mor Luis

Antônio de Lemos de Brito. Fernando Delgado diz: “a sujeição da

Paraíba ao governo de Pernambuco foi unicamente ocasionada por

uma simples e pouca fundamentada representação do último

governador independente, Lemos de Brito.”(3)

A subordinação da Paraíba a Pernambuco resultou, contudo,

de uma consulta do Rei ao Conselho Ultramarino, na qual alegava os

poucos meios aqui existentes para manter um governo autônomo. O pa-

recer do Conselho não fora bem fundamentado, uma vez que não tivera

Page 111: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 107

real conhecimento da situação que levara a Paraíba a tal depauperação.

O Conselho sequer propõe uma solução para a crise e, o Governo da

Metrópole, em vez de tomar a responsabilidade que lhe competia em

tudo isso, transfere para Pernambuco a pesada tarefa de recuperação da

Capitania da Paraíba.

A situação da colônia brasileira, em 1760, é de crise, não po-

dendo, portanto, a Paraíba constituir uma exceção. Nessas circunstânci-

as, a dependência será fatal para o seu desenvolvimento. O tempo mos-

trará que o parecer do Conselho Ultramarino não fora adequado e que a

Paraíba não crescera sob o signo da subordinação, mas muito ao contrá-

rio: a dependência lhe retardaria o desenvolvimento.

O parecer do Conselho Ultramarino não se concretizou,

quanto à extinção do governo da Paraíba, porém a ideia de anexação

cumprir-se-á pela Resolução Real de 29 de dezembro de 1755.

Assim, a Capitania da Paraíba foi anexada à de Pernambuco,

durando essa dependência 44 anos. Na Paraíba, no lugar de Luiz

Antônio de Lemos de Brito, ficou o capitão-mor José Henriques de

Carvalho, oficial de Pernambuco, com a mesma jurisdição e soldo

igual ao que tem o do Rio Grande do Norte. Dessa forma, a Paraíba

perde quase por completo sua autonomia, porque a pouca jurisdição

que tinha o Capitão-mor era suplantada pelas ordens dos generais

de Pernambuco, causando esse fato constantes desentendimentos

entre ambos. Alegavam aqueles generais que o governo da Paraíba era

apenas um título honorário.

Em 14 de dezembro de 1756, outra resolução real é dirigida ao

Capitão-mor de Pernambuco, dispondo sobre a ocupação do governo da

Paraíba nestes termos: “Mandeis um oficial dos corpos que guarnecem

essas praças a ocupar interinamente o posto de Capitão-mor da Paraíba,

o qual será conservado no dito governo, enquanto não for provido outro

por mim e levantareis a homenagem ao governador da dita capitania

Luiz Antônio de Lemos de Brito, por eu lhe conceder licença para se

recolher à sua casa.”(4)

O governador de Pernambuco, Luiz Diogo Lobo da Silva, em 5

de março de 1757, designou o sargento-mor do Regimento de Infantaria

Page 112: A Paraíba na Crise do Século XVIII

108 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

da cidade de Olinda, José Henriques de Carvalho, para governar interi-

namente a Paraíba. É o seguinte o texto da resolução:

“Deixando S. Majestade ao meu arbítrio a eleição de oficiais competentes para

ir governar interinamente a capitania da Paraíba, e reconhecendo na pessoa

de vossa mercê todas as circunstâncias que justamente o habilitam para esse

emprego na inteligência de que inteiramente desempenhará as obrigações

dele, em virtude da mesma real ordem, tomo a resolução de o destinar a vossa

mercê ao exercício do mesmo, enquanto o dito senhor for servido e não lhe

mandar sucessor, lembrando-lhe que em tudo deve procurar conformar-

se com o Regimento, que achar relativo ao dito governo e na forma que na

instrução particular lhe aponto, da qual seguirá o mais que na mesma

determino, cuidado com especialidade no bom regime dos povos, que lhe ficam

subordinados, administração da justiça, regularidade do serviço, aumento da

Real Fazenda, segurança e defesa da dita capitania.”(5)

Em carta ao Rei, José Henriques de Carvalho participa sua es-

colha para ir governar a Paraíba, tendo, pela mesma Capitania, feito o

“pleito e homenagem”, na forma do costume do Reino, nas mãos do

governador e capitão general Luiz Diogo Lobo da Silva. Depois dessa

formalidade, foi tomar posse no referido posto, em dois de abril de 1757,

recebendo do capitão-mor Luis Antônio de Lemos de Brito as

informações relativas ao serviço real.(6)

Pela Resolução Real de 14 de dezembro de 1756, já referida, o

Rei concede licença ao capitão-mor Luiz Antônio de Lemos de Brito para

recolher-se à sua casa, atendendo ao seu requerimento. Acontece,

porém, que houve demora da vinda do oficial de Pernambuco, segundo

informações do próprio Luiz Antônio de Lemos de Brito, que diz:

“Empreguei- me em responder as ordens de V. M. o que executo como se

vê das minhas respostas, excetuando as que dependem de maior

dilação, que não podem vencer no breve tempo de minha

assistência.”(7)

A Paraíba não recebeu a ordem real da anexação com

indiferença: a Câmara pronunciou-se contrária através de uma longa

carta, em que analisa as condições que a Capitania tem para ser

autônoma e a inconveniência da subordinação. No pedido que os

oficiais da Câmara fazem ao Rei, para o governo da Paraíba ficar

independente do de Pernambuco, apresentavam as seguintes razões:

Page 113: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 109

“É certo que com as rendas da Provedoria de V. Majestade se sustentou sempre um governador, nem parece que esta Resolução diminua considerável despesa, porque as côngruas eclesiásticas do clero, das religiões e dos missionários sempre hão de ser as mesmas, os soldados são sempre precisos, os missionários como se hão de extinguir, as obras da fortaleza como hão de parar, os consertos públicos de fonte e cadeias são inevitáveis, e tudo isso se há de tirar desta capitania, quanto mais que se em Pernambuco não se consumira em si as rendas que nos pertenciam em virtude da arrematação de ambas as Alfândegas em um só contrato, não nos ouviria V. Majestade queixas das faltas que experimentam, e que farão levando agora juntamente as nossas isenções, as nossas rendas e mais regalias. Se a origem desta real determinação de V. Majestade é para se diminuir o ordenado dos quatro mil cruzados que têm presentemente os governadores, ainda parece que diminuindo-se e conservando-se isenta a capitania de outro domínio, haverão (sic) opositores de

maior graduação, o que não sucederá talvez ficando sujeita.”(8)

Na verdade, não encontramos razões que fundamentem a ane-

xação, sendo por isso ponderável a análise da Câmara sobre os fatos

que não justificam a Resolução Real de 29 de dezembro de 1755. As

despesas não diminuiriam e a Capitania não se queixaria ao Rei da

falta de dinheiro, se Pernambuco, como dão a entender os oficiais da

Câmara, não consumisse as suas rendas. Depois, a pobreza não era tão

agressiva quando podia parecer, pois os moradores da Paraíba oferece-

ram cem mil cruzados para a reconstrução de Lisboa, quando do terre-

moto de 1755.(9) Mesmo em situação de dificuldades, nunca deixou

a Capitania de contribuir, quando se fazia necessária sua

participação. Assim, contribuira também para o subsído literário,

casamento dos príncipes etc.

Se não há razões que justifiquem a anexação, além das de ordem

econômica, minuciosamente analisadas no capítulo anterior e

demonstradas através de gráficos e quadros, tudo nos leva a crer que

havia interesses subjacentes à subordinação da Capitania. Por um

lado, a anexação se inseria dentro do plano de racionalização da políti-

ca pombalina de conter gastos, concentrar recursos e não dispersá-los

numa época de crise como a dos meados do século XVIII, em Portugal.

Há um objetivo político de centralização, comando e fiscalização, atra-

vés da jurisdição de Pernambuco. Há também outro de controle da bur-

guesia portuguesa instalada no Recife, havendo possibilidade de articu-

Page 114: A Paraíba na Crise do Século XVIII

110 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

lação da área agrária com a comercial. A esses interesses ligavam-se os

do grupo comercial de Pernambuco.

A Metrópole estava de fato interessada na anexação, pois des-

sa centralização e controle podia obter melhor proveito. Por outro lado,

Pernambuco não deixava de estar interessado na anexação, não só em

face do seu antigo desejo expansionista, mas também pelas vantagens

e lucros que disso lhe podiam advir. Se a produção da Paraíba embar-

cava pelo porto de Pernambuco, era evidente que o fisco dessa última

capitania tinha suas vantagens. O fato de Pernambuco não mandar os

vinte mil cruzados anuais do produto da arrematação da dízima da

Paraíba mostra que, obviamente, tinha interesse nos recursos que per-

tenciam à Paraíba.

Em relação aos interesses da Paraíba, a subordinação dava

agora maior margem para as delongas da administração pernambucana.

É que a Provedoria de Pernambuco continuava com o velho hábito de

não remeter, à Paraíba com regularidade, o produto da arrematação da

dízima, sendo para isso preciso expedirem-se frequentes ordens reais.

Uma ordem de 12 de novembro de 1756 considera indesculpável a falta

de cumprimento às repetidas ordens que se têm passado a Pernambuco,

para remessa do dinheiro, que se deve à Paraíba. Trata-se de uma

dívida certa, e não de uma remessa voluntária, procedente dos direitos

que se recebem em Pernambuco. Assim, estranha o Rei não se mandar o

dinheiro que é devido à Capitania da Paraíba e, muito mais, não restituir

o que lhe deve.(10)

Essas medidas foram tomadas, em decorrência das reclamações

de Luiz Antônio de Lemos de Brito. O governador de Pernambuco Luiz

Diogo Lobo da Silva, desculpa-se ao Rei pela demora da remessa do di-

nheiro à Paraíba, justificando as impossibilidades da Provedoria de

Pernambuco, em face da situação em que se encontra aquele governo, com

a diminuição de noventa e sete mil e poucos cruzados no seu rendimen-

to,(11) dificuldades em que também se encontravam as demais capitanias.

Em meio às crises que atravessava a Capitania foi criada a

Companhia Geral de Pernambuco e Paraíba, em 1759, coincidindo isso

com uma fase de pouca prosperidade do açúcar, principal produto de

Page 115: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 111

exportação dessa região. Sofria o açúcar os efeitos da conjuntura, mas

os preços não atingiram níveis muito baixos. A grande queda do preço

desse produto, verificada ente 1651-1660 e 1681-1690, fez descer no

mercado de Amsterdã, por arroba, de 9$100 réis para 3$906. A tendência

de recuperação, no início do século XVIII, é muito lenta. O decênio

1741-1750 marcou uma elevação do preço do açúcar para 4$262 réis

por arroba, quando nos dez anos anteriores fora de 3$340. O aumento

dos preços era animador, e incentivava a criação da companhia para

desenvolver a produção ao açúcar. Durante a fase de atuação da

companhia e de seu monopólio, 1760-1780, não houve flutuação de

preços. Entre 1761 e 1780, o preço manteve-se, no mercado holandês, em

4$262 réis por arroba. Os dois últimos decênios do século XVIII

marcaram uma grande alta, havendo elevação do preço do açúcar, entre

1781 e 1790, para 4$953 réis por arroba e, entre 1791 e 1800, atingiu a

média de 8$985 réis.(132:62, 67, 70, 133-34)

A companhia tinha como uma de suas finalidades a de ativar

a economia, no sentido de incrementar a produção e, ao mesmo tempo,

incentivar novas culturas, com isenções e financiamentos. Dentro do

espírito em que fora criada, na época mercantilista, visava a atender os

princípios do pacto colonial, não se discutindo os benefícios de sua atu-

ação, revertidos em lucros para a Coroa.

As vantagens da companhia para a área de sua exploração

não foram compensadoras, como se possa pensar, uma vez que o seu

objetivo principal era o de explorar as nossas riquezas. Houve sempre

muita insatisfação do povo com a opressão e os vexames que ela lhe

causava. E não sendo boa a situação que atravessava a Capitania da

Paraíba, também sob o seu domínio, acharam também os oficiais da Câ-

mara da Paraíba, que deveriam representar ao Rei os grandes inconveni-

entes da sua atuação.

A representação feita contra a companhia tem como funda-

mento a decadência da Capitania, pois, segundo declaração da Câmara,

“antes do estabelecimento da Companhia Geral os senhores de engenho,

lavradores de cana e comissários de fazendas, os homens que faziam a

primeira figura, e os que em todos os gêneros de negócios fertilizaram esta

Praça, tanto na suavidade de suas vendas, como na inteira saída de seus

Page 116: A Paraíba na Crise do Século XVIII

112 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

efeitos, hoje se vê a maior parte destes sequestrados pobres e miseráveis, em

termos de ficarem suas fábricas de fogo morto pela falta de assistência, que em

cada uma ano deve fazer a Companhia de dinheiro, escravos e mais

fornecimentos, que carecem para o seu exercício e necessária conservação,

outros pelos demarcados avanços das fazendas tem desamparado suas

casas, como quem foge do inimigo de sua própria quietação, buscando o

recurso da agricultura dos campos para sustentarem suas famílias, e sem

encarecimento confessamos a V. Majestade Fidelíssima, que não tem o

remédio eficaz que solicitamos. Ficará esta capitania ou destruída de seus

habitantes, ou estes sem força para nela se poderem conservar.”(12)

Queixa-se também a Câmara da Paraíba da grande elevação dos

preços, depois do estabelecimento da companhia. "Os couros de boi em

cabelo vendiam-se a dois mil réis cada um; a sola vermelha, a mil e a

quatrocentos cada um meio; sola branca do sertão a setecentos e vinte e a

seiscentos e quarenta pelo menos. Depois da Companhia, os melhores

couros de boi vendiam-se a mil seiscentos; os mais, a mil quatrocentos, a

mil duzentos, e a dez tostões; a sola vermelha de primeira qualidade, a

cem mil réis; os mais, com diminuição e a sola branca do sertão, a quatro-

centos e oitenta. Essa Capitania produzia sete mil couros anualmente, a

mil quinhentos no máximo. Assim, em setenta mil que ela vinha carre-

gando, a diminuição de quinhentos réis por couro, prejudicava-a em trinta

e cinco contos de réis. Em quatro mil meios de sola vermelha que se

fabricavam por ano a companhia carregava quarenta mil no abatimento

de trezentos réis em cada um meio, prejudicando os fabricantes em doze

contos de réis. Os quatro para cinco mil meios de sola branca, que, todos

os anos, conduziam os moradores do sertão, na diminuição do preço por

que vendiam, orçavam em oito contos de réis".

Alegava, ainda, a mesma Câmara que a companhia aumenta-

va os preços de seus gêneros, diminuindo os que recebiam da pro-

dução da Capitania. Tal fato contribuía para sua maior decadência,

achando-se a maior parte dos seus moradores com os seus bens seques-

trados. Não bastando isso, sucede aos senhores de engenho e aos lavra-

dores de cana venderem suas caixas de açúcar às pessoas que devem à

companhia, com duzentos réis a menos, em cada arroba, do preço esti-

pulado na inspeção. Isto, para aliviarem, com o dinheiro, os vexames

Page 117: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 113

que padecem, em virtude de a companhia não lhes dar nenhum, nem

lhes fazer as necessárias assistências, prejudicando-os, também, com a

negligência em cumprir o Decreto Real de 27 de janeiro de 1751. Esse

decreto manda, nos anos estéreis e calamitosos, acrescentar no açúcar o

valor de duzentos réis por arroba. Todavia, ocorrendo, em 1765 e em

1768, pouca produção, não atendeu a Direção da Mesa de Inspeção de

Pernambuco.

Ainda na carta dos oficiais da Câmara, foi tratado o problema

da aquisição dos escravos para os trabalhos da Capitania. Antes da

companhia, navegavam mais de catorze embarcações por conta do co-

mércio nestas duas capitanias. Em 1770, há falta de escravos, pois com

apenas seis embarcações que manda à Costa da Mina só a companhia

manda buscá-los e só ela os vende. O número de escravos que vem é

insuficiente. Mesmo assim, são vendidos, no Rio de janeiro, os melhores,

ficando o refugo de escravos sem agradar os compradores. Alguns com-

pram por oitenta, noventa e cem mil réis os que, no tempo do comércio

livre, valiam quarenta, cinquenta e sessenta.

O comércio entra também em decadência, pelas razões expos-

tas. Os senhores de engenho e os homens de negócio com os bens se-

questrados, estão reduzidos à mais lamentável miséria, sendo geral o

descontentamento. Essa é a situação que se encontra a dita Capitania,

ainda mais agravada após os dez anos da administração da Compa-

nhia Geral de Pernambuco e Paraíba.

É preciso considerar que o fator político (anexação em 1755)

antecedeu ao econômico, a criação da Companhia Geral de

Pernambuco e Paraíba (1759). Não podemos estabelecer uma relação

mecanicista e economicista dos fatos, no sentido de afirmar que a anexa-

ção foi feita com o pretexto de criar a companhia de comércio. Não

temos documentos para fundamentar essa hipótese que está sendo

levantada. Um fato é certo, como já foi dito: a criação das companhias

de comércio integra o plano de racionalização da política pombalina.

Por outro lado, tais transtornos se somariam aos de ordem po-

lítica com a subordinação a Pernambuco. É possível que alguns males

fossem atenuados com a interferência direta do Capitão-mor. Entretanto,

Page 118: A Paraíba na Crise do Século XVIII

114 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

as delongas em resolver os assuntos paraibanos através de Pernambuco

contribuíram para que as soluções fosses sempre tardias, mesmo quan-

do exigiam providência imediata.

Aparecem os subsequentes conflitos de jurisdição, entre as duas

capitanias: Pernambuco arroga a si mais poderes; por isso a Paraíba não

deixa de reclamar os limites da subordinação, gerando repetidos desen-

tendimentos com o governo de Pernambuco.

Depois de José Henriques de Carvalho, oficial de Pernambuco,

ter governado interinamente a Capitania da Paraíba (1757-1760), suce-

deu-lhe Francisco Xavier de Miranda Henriques (1761-1763) e a este,

Jerônimo José de Melo e Castro (1764-1797), sendo o último capitão-mor

subordinado Fernando Delgado Freire de Castilho (1798- 1802). Daí

então, com a autonomia tivemos Luiz da Mota Feo (1802-1805).

Jerônimo José de Melo e Castro governou a Capitania trinta e

três anos em quarenta e quatro de subordinação. Em tão prolongado

tempo, queixava-se permanentemente dos problemas que a subordina-

ção acarretava para ela. A primeira das queixas desse governador é a

amargura de ver sua autoridade diminuída, pois entendendo a subordi-

nação em todos os casos, os habitantes desta Capitania, recorrem a

Pernambuco. Alega o Capitão-mor que o povo, animado do recurso, age

“sem temor do castigo como o fez no dia vinte e dois de fevereiro passado

o Padre Bartholomeu de Brito Baracho, capelão da fortaleza do Cabedelo,

pois, saindo eu para as mulharas da mesma, depois de se cantar a lada-

inha, por suavemente lhe dizer que devia cuidar em fazer a sua obrigação

em oficiar a ladainha me respondeu na publicidade dos oficiais e solda-

dos da Praça vozes injuriosas que se apostou sua incitação maligna a

perturbar a constante prudência com que as ouvi, e por decência calo, e

escassamente indicam as atestações juntas.”(13) Diante do escândalo, re-

corre o padre a Pernambuco, ficando impune.

Em carta ao Conde de Oeiras, Jerônimo José de Melo e Castro

informa que lhe foram comunicados os encargos do governo militar, fi-

cando fora de sua jurisdição o político e a fazenda.(14) Indignado com as

últimas decisões do governo de Pernambuco, escreve ao Rei, mal disfar-

çando a mágoa, dizendo ter recebido “a cópia do Edital vindo de

Page 119: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 115

Pernambuco, por onde fico privado da jurisdição de prover as ordenan-

ças e administrar as Tropas Auxiliares e Cavalaria na forma das reais

ordens por onde V. Majestade me manda prover e propor como sempre

praticaram os generais meus antecessores, e V. Majestade me confere em

Patente de que fez especial graça.”(15) O Edital dispunha sobre vários

assuntos pertinentes aos oficiais militares, mencionando expressamente

a irregularidade e a falta de disciplina em que se acham reduzidas as

tropas auxiliares desta Capitania.(16)

O diminuído Capitão-mor da Paraíba representa, junto a Fran-

cisco Xavier de Mendonça Furtado, Ministro e Secretário dos Negócios

Utramarinos, contra o fato de o General de Pernambuco por nota no

soldo dos três oficiais pagos: o sargento-mor Marcelino da Silva Maciel e

os capitães Antônio da Silva Frazão e Luiz Queixada de Luna. Diz ainda

que esses oficiais sentaram praça, em virtude de estarem suas patentes

assinadas pelo Rei.(17) O governo de Pernambuco fundamenta a

atitude tomada, declarando que eles não fizeram registro de suas

patentes naquele governo. Somente depois de irem à sua presença em

Pernambuco, é que foi retirada a nota.

Inconformado, Jerônimo José de Melo e Castro, em carta a Fran-

cisco Xavier de Mendonça Furtado, censura os procedimentos dos gene-

rais de Pernambuco, informando que, pelas reais ordens que existem

nessa Secretaria, somente se manda propor pelo Conselho Ultramarino

os oficiais pagos e os auxiliares de ajudantes para cima, ficando na sua

jurisdição o provimento dos inferiores. De acordo com essas ordens, fa-

zia o provimento de todos os oficiais da ordenança que o Rei confirmava

pelo Conselho Ultramarino.(18)

O Capitão-mor da Paraíba, achando-se com todo o direito

‘no governo militar da Capitania, reforça seu direito de jurisdição,

tomando por base as declarações de Francisco Xavier de Mendonça

Furtado de que “não devem os generais e capitães generais opor e

contravir as ordens do Rei assinadas por ele nem obrigar a cumprir-

se nos governos patentes régias enviadas privativamente para outros

governos. É precisamente indispensável para se ficar entendendo e

praticando o respeito que merecem semelhantes patentes, e cessar o

Page 120: A Paraíba na Crise do Século XVIII

116 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

indizível vexame, que têm os oficiais desta Capitania em irem a

Pernambuco apresentá-las”.(19)

Na verdade, o governo político e econômico da Capitania da

Paraíba estava subordinado ao capitão-mor de Pernambuco. A maior

indignação de Jerônimo José de Melo e Castro é que também o

governo militar fora açambarcado pela capitania dominante, ficando

a Paraíba sem nenhuma autonomia, quando, até bem pouco, aquele

governador, segundo afirma, fazia o provimento dos oficiais militares

confirmados pelo Rei e pelo Conselho Ultramarino. Sente-se,

evidentemente, a força da dominação de Pernambuco, pois não eram

necessárias ordens reais para impor à Paraíba sua vontade. Esse fato

comprova-se com as repetidas reclamações contra omissões de

Pernambuco, o qual nem sempre estava disposto a acatar as ordens

régias e precatórias enviadas, no que diz respeito aos interesses da

Paraíba.

Quanto aos provimentos de cargo, o General de Pernambuco

dera poderes ao vigário de nomear capelão para a fortaleza do Cabedelo, o

que constituía usurpação jurisdicional, uma vez que essa nomeação

sempre pertencera aos governadores da Paraíba. Pedirá Jerônimo José de

Melo e Castro que torne sem efeito a nomeação, para que não fiquem

prejudicados os privilégios da Capitania e para que se observem as or-

dens reais sobre o assunto. Renovará seu apelo a Francisco Xavier de

Mendonça Furtado, pedindo declarar se deve ou não continuar a propor

os postos que se acham vagos e se concretamente as reais ordens lhe dão

esse direito.

Entendia o Capitão-mor da Paraíba que o General de

Pernambuco procurava ultrajá-lo com atos de usurpação à sua jurisdi-

ção. Por isso, pediu ao Rei, em contínuas cartas, que declare os limites da

subordinação a Pernambuco, a fim de que ambos os governos não duvi-

dassem ou questionassem sobre o que lhes competia.

A maior parte da longa correspondência de Jerônimo José de

Melo e Castro é dirigida a Martinho de Melo e Castro, queixando-se da

subordinação a Pernambuco. Uma vez mais, protesta pedindo para sair

do governo da Paraíba: “Por ver-me com forças sem as poder exercitar no

real serviço porque os meus generais têm privado toda a jurisdição que

Page 121: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 117

me confere a Patente de que S. Majestade me fez graça, é viver ocioso e

mortificado, e assim devo esperar que V. Exa. ponderando com

justificadas causas mereça de S. Majestade a especial mercê de passar-

me para Pernambuco ou Goiazes, querendo conseguir com este favor o

de ter repetidamente ocasiões de obedecer a V. Exa.”(20)

Em outra carta, renova o pedido sobre os limites da

subordinação, nestes termos: “E assim julgo indispensável declarar se o

modo da subordinação deste governo é a imitação da subordinação que

tem o magistrado inferior ao superior, que este só se intromete naquele

por via de queixa que de outra forma viveria o meu sucessor em

confusão e desordem com o governador de Pernambuco, em gravíssimo

prejuízo do real serviço.”(21)

É indiscutível que a jurisdição militar estava em mãos do go-

verno de Pernambuco, nomeando inclusive cabos-de-esquadra. Era fa-

cultado a Pernambuco a criação de terços competentes para a defesa da

Marinha, o que motivara aos seus generais arrogarem a si toda a juris-

dição de prover, indistintamente, os postos auxiliares e de ordenanças,

privilegiando a uns e a outros com a regalia da Infantaria paga, “ficando

todos privilegiados em prejuízo do exercício das justiças ordiná-

rias.”(22)

O Capitão-mor da Paraíba percebe claramente que a falta de

autonomia tem reflexos no desempenho de sua autoridade. Lastima,

revoltado, que a subordinação “faz com que os súditos não me

tenham respeito como a cada passo estão fazendo, por cujas razões

tantos têm avançado a ultrajar-me e romperem presentemente no arrojo

de mandar- me tirar a vida como consta da devassa que envio a V.

Exa.”(23)

Referiu-se particularmente às insolências que Francisco de

Arruda Câmara causou na Vila de Pombal e às injustiças praticadas

contra Antônio Pereira Nunes. Para acabar com a violência naquela

vila, o Capitão-mor da Paraíba tomou as medidas cabíveis, enviando

ordens para serem cumpridas. Entretanto, este lamenta que o general

de Pernambuco tenha mandado desfazê-las, a pedido de Arruda,

mediante requerimento, ficando dessa forma sua autoridade

prejudicada e reduzida ao mais baixo nível.(24)

Diante de tudo isso, o capitão-mor Jerônimo José de Melo e

Castro continuou na esperança de ver a Capitania livre da espoliação,

Page 122: A Paraíba na Crise do Século XVIII

118 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

consequência da subordinação, e fez um relato das condições que ela

teria para se tornar autônoma.

Ansiando pelo seu desenvolvimento, sempre reclamou contra a

subordinação a Pernambuco como um dos entraves ao

desenvolvimento da Capitania. Alegando ser um desejo da nobreza e do

povo vê-la livre desse jugo, pede que, ao menos, sejam determinados

os limites da subordinação. Mostra que tem rendimentos próprios,

pois deixaram de vir de Pernambuco cento e trinta mil réis; e o que

desta Capitania foi para lá importou em trinta e oito contos e

quinhentos e noventa mil quinhentos e quarenta e nove réis.

Ainda no seu relato, Jerônimo José de Melo e Castro diz que, ao

tomar posse, as rendas orçavam em trinta contos e setecentos e cinquen-

ta e seis mil réis, tendo aumentado para cinquenta e seis contos e setecen-

tos e oitenta mil réis. Dessa forma, com o aumento das rendas e do comér-

cio, seria estimulada a autonomia da Capitania contribuindo para o seu

desenvolvimento.(25)

Em virtude das reclamações sobre os limites da subordinação

acima referidos, José César de Menezes, governador de Pernambuco,

envia ao Capitão-mor da Paraíba uma longa exposição sobre os proble-

mas entre as duas capitanias. Eis alguns tópicos do texto que esclare-

cem muito bem a dúvida dos limites reclamados:

“Toda jurisdição desse governo expirou depois que S. Majestade foi servido extingui-lo e incorporar com esta capitania, por virtude da Real Resolução e Decreto, mencionados nas ordens de 29 de dezembro de 1755 e 11 de dezembro de 1756, que a V. Sa. remeto por cópia, designados debaixo dos números 1º e 2º, e como a Patente de V. Sa. não derrogou estas Reais Determinações, antes expressamente declara, que nomeia a V. Sa. com subordinação a este governo [...] e por conseguinte não compete a V. Sa. a jurisdição que supõe pertencer-lhe.

Nem o título de Governador pode provir a V.Sa. a sua pretendida

jurisdição, pois estando esta abolida pelas Reais Determinações já menciondas, e

não sendo ela derrogadas pela Patente de V. Sa. como deixo mostrado,

fica sem dúvida que o Título de Governador é unicamente honrário e

dirigido só a condecorar o distinto caráter da ilustre pessoa de V. Sa.

Pela Carta Régia de 22 de março de 1776 se vê mandar S. Majesta-

de que por este governo se criassem os novos terços e provessem todos os

postos das novas criações em todas as capitanias, suas dependentes, nos

Page 123: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 119

quais deve necessariamente incluir-se a Paraíba, pela não excluir [sic] também

esta Carta Régia, e por estar subordinada e incorporada neste governo pelas

outras reais ordens acima referidas.”(26)

A carta acima não deixa dúvida acerca da subordinação que

Pernambuco exercia sobre a Paraíba, em todos os aspectos da vida de

seus habitantes, cujo capitão-mor não tinha, portanto, nenhum poder

político, militar nem econômico para administrá-la. Todas as decisões

partiam de Pernambuco.

Lamenta, entretanto, ao Rei por sua não ingerência nas coisas

referentes à Fazenda Real, uma vez que o governo de Pernambuco

expedia ordens ao Provedor da Fazenda, para o novo formulário do

recebimento e despesa da Fazenda Real, sem lhe participar as alterações,

estando, assim, aquele governo na inteligência de que a Fazenda também

não lhe competia.(27)

Sobre a Fazenda Real, declara amargamente o Capitão-mor da

Paraíba que era administrada por homens inescrupulosos, causando

prejuízos, pois os governadores dessa Capitania não faziam a menor

inspeção sobre ela, fazendo o provedor e o escrivão o que bem

entendem.(28)

Antes mesmo da anexação, cabia a Pernambuco a superinten-

dência das fortificações, visto que aquela capitania não podia administrá-

la como se fazia necessário. A superintendência das fortificações

da Paraíba passara, por ordem real, ao seu Capitão-mor. Com a

subordinação, tudo ficara a cargo de Pernambuco. Anexadas também as

capitanias do Rio Grande do Norte e do Ceará, era de se esperar a falta de

providências e as delongas sobre assuntos de interesses da Paraíba,

como nos de outras capitanias subordinadas, pela abrangência

administrativa excessiva. Assim é que não só esse motivo, mas

também o pouco caso da administração de Pernambuco contribuíram

para que muitas obras aqui ficassem paradas; entre elas, a do Cabedelo.

Em cartas de 1770, 1771, 1772, 1774 e 1775, Jerônimo José de

Melo e Castro informa ao Rei sobre os reparos urgentes de que precisa a

fortaleza do Cabedelo, principal defesa da Capitania, que “necessita

de parapeito ao menos da parte do mar, de lajedo para laborar a artilha-

Page 124: A Paraíba na Crise do Século XVIII

120 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

ria, sendo que a falta deste até prejudica a muralha que se lhe introduzir

pelo meio a água do inverno em termos que a pode arruinar se lhe não

acudir com o reparo do lajedo.”(29)

Alguns serviços de emergência foram feitos para salvar a forta-

leza de maior dano. O embate do mar em um dos baluartes a teria arrui-

nado, se o capitão-mor não tomasse a providência de acudir com o “en-

tulho de pedras”, como já se fizera anteriormente, diminuindo a destrui-

ção.(30) Mesmo assim, a fortaleza achava-se em lamentável decadência. As

carretas estavam destruídas, “as peças descavalgadas, sem parapeitos

na parte principal, sem lajedo. A porta principal arruinada, os quartéis

muito danificados, o fosso entulhado de areia, impedindo o acesso da

porta principal e a pólvora inútil” diz, desconsoladamente, Jerônimo José

de Melo e Castro.(31)

Conforme o Capitão-mor da Paraíba, “estes reparos que em

algum tempo corriam pelo desvelo dos governadores desta capitania,

estão hoje fora da mesma jurisdição, porque o meu General arrogou a si,

ainda que privativamente me concede S. Majestade na patente que me

conferiu, contra ordem junta, que incumbe a superintendência. Esta su-

bordinação que tem privado da mais mínima ação, é penosa a quem

como eu procura distinguir-se no real serviço.”(32)

Ainda sobre a fortaleza do Cabedelo, o último governador

subordinado, Fernando Delgado Freire de Castilho, considera sob

dois pontos de vista sua situação: o da segurança da Capitania e o

estado em que se encontra, reparo que é preciso e despesa que se deve

fazer. Quanto ao primeiro aspecto, diz ser indubitável a sua utilida-

de, em caso de invasões. A situação de destruição é a mesma que o

capitão-mor, seu antecessor, noticiara, apesar de a fortaleza possuir

meios próprios para sua conservação, como se vê na declaração se-

guinte:

“Esta fortaleza tem renda própria, que é um cruzado que paga cada caixa de

açúcar, procedendo eu ao exame de que tem importado a dita renda desde o

ano de 1777, tempo em que foi erecta a Junta da Fazenda de Pernambuco e

tempo em que principiou nesta capitania uma escrituração mais formal do seu

rendimento. Veio ser a receita do mencionado rendimento 8:062$080 réis

como mostra a conta junta, porém como também da mesma conta se vê que

Page 125: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 121

tem sido 11:853$716 réis a despesa que nela se tem feito desde o sobredito

ano,e que não podia deixar de lhe ser aplicada com a pior e mais omissa

administração, segundo o miserável estado que se acha.”(33)

Na segunda metade do século XVIII, a Capitania da Paraíba

tenta desenvolver-se, sobretudo nas duas últimas décadas, favorecida

pelas providências de D. Maria I, na agricultura. Se estabelecermos uma

comparação entre a primeira e a segunda metade do século XVIII, consta-

tamos que há, uma melhoria do nível econômico da Capitania. A crise do

século XVIII ultrapassa os meados desse século, podendo-se precisar

para a última década do mesmo século a retomada do nível de crescimento

econômico da Capitania, o que vai justificar a sua autonomia.

O que se verifica é uma mudança na política econômica de

Portugal, iniciando-se um nova fase com D. Maria I. O período se inicia

com a extinção das companhias de comércio. Sente-se o desejo de liber-

dade comercial, em consequência das ideias dos fisiocratas, os quais

defendiam uma política voltada para a agricultura. Eles não acredita-

vam, que a riqueza de uma nação dependesse dos metais preciosos, mas

da agricultura, que fornece as matérias-primas necessárias à indústria e

ao comércio.

Há, na fase de D. Maria I, um incentivo à produção agrícola e

uma política no sentido de diversificar a produção. Nas instruções de

1799, dirigidas a Fernando Delgado Freire de Castilho, governador da

Paraíba, recomenda-se que o “principal objetivo de cuidado devia ser

animar e promover as culturas já existentes e introduzir novas”, para

o enriquecimento da Capitania.

A análise de dados fazendários da época mostra elevação da

rec eit a d a Capitania da Paraíba, na segunda metade do século

XVIII, comparada à da primeira. Em 1755 e nos anos subsequentes, a

receita é muito baixa, mais já em 1765, há um progressivo aumento.

Em 1766, o Capitão-mor participa a Francisco Xavier de Mendonça

Furtado “que a Fazenda Real desta Capitania tem em cofre dez mil

cruzados, quatro mil trezentos e vinte e cinco réis, e em dívidas que se

estão cobrando cinquenta e três contos, quinhentos e quatro mil, cento e

vinte e oito réis como mostram certidões juntas.”(34)

Page 126: A Paraíba na Crise do Século XVIII

122 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Ocorre, entretanto, em 1777, uma grande seca, no Nordeste,

com graves repercussões sobre a Paraíba. As secas de 1791, 1792 e 1793

estenderam-se do litoral ao sertão, tanto na Paraíba como em Pernambuco.

Falta farinha e, consequentemente, sobe seu preço, por alqueire, de mil

duzentos e oitenta réis para quatro mil.(35) Para suprir a necessidade

do povo, foi preciso mandar buscar farinha na Bahia, apesar da

proibição de sua saída nessa capitania.(36) Faltaram também legumes.

A seca não só provocou a falta de alimentos, mas também a

morte de gados e escravos. Em consequência, a Capitania ficou total-

mente arrasada, tornando-se cada vez mais difícil sua recuperação.(37)

A receita e a despesa da Capitania, na segunda metade do

século XVIII, nos permite verificar que há, nesse período, fases de baixa e

de alta. Não obstante os fatores que agiram negativamente, evidencia-se

uma certa tendência de recuperação da economia paraibana, demons-

trada através de sua própria receita.

Em 1798, os quadros de produção, importação e exportação,

de números 7 a 24, nos permitem apreciar a atividade econômica da

Capitania. No de produção, vê-se que o açúcar está em declínio e o

algodão em plena ascensão. A produção do açúcar era, naquele ano, de

9.344 quintas e a do algodão, de 13.633.

Em relação à primeira metade do século XVIII, houve melhoria

na produção do açúcar; apesar disso, continua muito baixa. Tendo cada

caixa de açúcar 10 quintais,(147:113) em 934 caixas o total é de 9.340 quin-

tais. Os 934 quintais calculados em arrobas dão um total de 37.360 arrobas

de açúcar.

Em 1798, a Capitania da Paraíba exportou cerca de 8.556 quin-

tais de açúcar e 12.852 quintais de algodão. Além desses produtos, figu-

ram, na pauta de exportação para Lisboa: couros, vaquetas e goma. Ou-

tros produtos eram exportados para Pernambuco, conforme se vê nos

quadros. Importava de Lisboa: vinho, panos de lã, chitas, chapéus, crés,

amburgos, bretanhas, cassas, meias de seda, tecidos de seda, baetas,

bruguetes, lilas, farinha do reino e sal.

Page 127: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 123

Quanto aos preços dos gêneros de exportação, particularmen-

te o açúcar, houve uma elevação nas duas últimas décadas do século

XVIII, conforme dissemos anteriormente. Na Paraíba, em 1798, a arroba

do açúcar branco (máximo, médio e mínimo), custava 2.560, 2.400 e 2.000

réis, respectivamente. A do mascavado, 1.600, 1.200 e 1.000. A do algo-

dão (máximo, médio e mínimo) custava na mesma ordem, 5.600, 5.000 e

4.500 (ver os quadros de números 25 a 31). Os produtos de primeira necessidade, como a farinha e o feijão,

consumidos na Capitania, sofriam uma maior oscilação de preços. No mesmo ano, o alqueire da farinha custava 2.560, 1.920 e 1.440; o do feijão, 4.000, 3.200 e 3.000.

A população da Cidade da Paraíba e da freguesia era, em 1774,

de 10.500 almas.(125:165) Em 1798, segundo o gráfico dos habitantes da

Capitania da Paraíba, existiam 12.328 brancos, 2.817 índios, 2.976 pretos

livres, 7.039 pretos cativos, 12.876 mulatos livres e 1.858 mulatos

cativos — o que totaliza 39.894 habitantes. O quadro das ocupações dos

habitantes mostra-nos a estratificação da sociedade colonial paraibana.

Nos dados estatísticos, em 1798, no que diz respeito aos óbitos,

constata-se o alto índice de mortalidade infantil. De 1 a 5 anos, os índices

atingiram 36, 39, 47 e até 69 por cento. Conforme Chaunu, nas sociedades

pré-industriais, “a expectativa de vida era muito baixa, andando a morte

muito próximo da vida.” Em relação aos casamentos, nota-se que as

pessoas casavam cedo, antes de vinte anos, mas a proporção de

casamentos era ainda maior entre vinte e trinta anos.

Em nenhum momento do seu longo governo Jerônimo José de

Melo e Castro esteve conformado com a subordinação da Capitania a

Pernambuco. Em cartas de 1788 e de 1789 refere-se aos longos anos que

vinha “arrastando as cadeias da subordinação.”(38) Com firmeza, apresentou,

constantemente, ao Rei e a Martinho de Melo e Castro os inconvenientes

da anexação e, mesmo sem ser atendido, nunca baixou a cabeça aos

generais de Pernambuco, diante do que não convinha à Paraíba.

Em 1791, o Capitão da Paraíba fez outra representação contra

o embarque de mercadorias nos portos da Baía da Traição e Mamanguape,

Page 128: A Paraíba na Crise do Século XVIII

124 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

onde os barcos e sumacas costumavam carregar, livremente, madeiras e

mais gêneros, para não se despacharem por esta Provedoria.(39) Desta for-

ma, embarcaram-se clandestinamente 82 caixas de açúcar, burlando-se

a cobrança de subsídios e mais contribuições. No mesmo ano, teriam

maior carga os navios, se não fossem as muitas chuvas prejudicando

engenhos e canaviais e se não se transportassem para Pernambuco as

caixas de açúcar, muitos mil sacos de algodão, couros, solas e mais gêne-

ros que saíam dessa Capitania. Assim mesmo, carregaram-se dois navi-

os e ficou pronta uma carga para mais outro, se não houvesse esses

incovenientes.

Autônoma a Capitania, como desejava o Capitão-mor da

Paraíba, a Fazenda Real teria mais vantajosos lucros e não sairia para

Pernambuco nossa produção, por não haver, com frequência, navios no

porto. Alega aquele Capitão-mor que, apesar de 27 anos de subordina-

ção, tem conservado o povo em paz, promovendo as culturas na Capita-

nia, para aumento do bem público e da Fazenda Real.(40)

Toda a luta empreendida por ele era no sentido de desenvolver

a Capitania e torná-la autônoma. Por isso, impediu, à distância de 15

léguas, que saísse a respectiva produção, para carregar dois navios na-

quele porto, enquanto se fazia o referido embarque.

Sobre a proibição, queixam-se os habitantes de Montemor ao

Rei, sentindo-se prejudicados em não poderem conduzir seus gêneros

para Pernambuco. Alegam que a vila de Montemor (Mamanguape) e

suas vizinhanças sempre tiveram, desde o seu estabelecimento, comuni-

cação com o Recife, vindo, anualmente, barcos carregarem no rio

Mamanguape, vizinho daquela vila, levando madeira de construção,

casca de mangue e toda qualidade de gêneros que cultivam e produzem.

Em compensação, trazem fazendas e víveres da Europa, escravos da

Guiné, não se tendo notícia de que houvesse, anteriormente, essa proibi-

ção. O bom preço que os moradores alcançam ali faz vender a sua produ-

ção em Pernambuco.

Aqueles habitantes acusam os comerciantes da Capitania de

serem poucos e não terem como atrair a produção para a cidade e porto

da Paraíba, se eles só se unem para os seus interesses. Além do mais,

Page 129: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 125

acrescentam o fato de que todos são sócios de um navio, única embarca-

ção que há no porto, cuja maior parte da carga é de açúcar, que em paga-

mento ou compra adquirem os administradores dos fundos da compa-

nhia extinta. Depois destes, os sócios do mencionado navio carregam os

seus gêneros, tanto os que fabricam como os que compram. Por essa e

outras razões, não se sentem os moradores de Montemor motivados a

embarcar sua produção pelo porto da Capitania da Paraíba.(41)

Sobre o assunto, o Capitão-mor de Pernambuco escreve ao Rei,

alegando serem verdadeiras as queixas dos habitantes de Montemor.

Entende que deve ficar sem efeito a proibição de se exportarem gêneros

para Pernambuco, para poderem aqueles moradores conduzir para lá

sua produção (couros, sola, algodão e madeiras), como antes o faziam.

Diz ainda que o açúcar paga por arroba sessenta réis de subsídio na cidade

da Paraíba e quatrocentos réis por caixa que entrar pela barra da mesma

cidade, para reedificação da fortaleza. O que não se devia era permitir

seus gêneros sair daquela capitania, sem antes pagarem impostos. De

outra forma, a proibição do Capitão-mor da Paraíba não tem

justificativa, pelo simples fato de querer carregar dois navios naquele

porto para o Reino, pois sempre se carregavam navios ali sem

proibição.(42)

Atendendo a representação dos habitantes de Montemor e as

alegações do Capitão-mor de Pernambuco, a Rainha ordena cessar a

proibição de se navegarem os gêneros daqui para Recife, mandando dar

conhecimento a ambos os capitães-mores.(43)

A propósito daquela ordem real, declara o Capitão-mor da

Paraíba que não fez proibição da exportação dos produtos da Paraíba

para Pernambuco, pois não se encontrava na Provedoria de sua Capita-

nia nenhuma determinação dessa natureza.(44) Apesar desses fatos,

lembra que, como governador, devia promover o desenvolvimento do

seu comércio. Assim, não seria prudente descuidar da exportação por

aquele porto, pois não tendo carga para os navios que vêm, daria

margem para que outros não viessem, ficando o porto deserto.(45)

Jerônimo José de Melo e Castro, até o último momento de sua

vida, travou uma longa luta em prol da autonomia . Morreu em 1797, sem

ter visto realizadas suas esperanças, que só dois anos mais tarde se con-

Page 130: A Paraíba na Crise do Século XVIII

126 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

cretizariam. Sua voz calou para sempre, mais deixou o germe das ideias

separatistas.

Fernando Delgado Freire de Castilho, em 1798, toma posse

do governo da Capitania e logo representa, junto à Rainha contra a

falta de um regimento particular, por onde se tenham regido os

outros governadores. Diz esse capitão-mor que, depois da Resolução

Real de 29 de dezembro de 1755, que mandara extinguir esse

governo, não ficou ele a ser mais que um fiel executor das

determinações de Pernambuco.

Apesar da subordinação, continuavam a vir, diretamente,

algumas ordens régias para essa Capitania, convindo serem

comunicadas aos generais de Pernambuco, que estavam na posse

desse governo e, consequentemente, incumbidos de distribuir todas

as ordens para ele. Entretanto, ocorre que, ou por terem a ordem

que tinham, ou por entenderem o contrário, mandam suspender

qualquer providência, como aconteceu com a Provisão do Conselho

Ultramarino, de 30 de julho de 1796. Nela, o Rei ordenava que se

remetesse o regimento desse governo, obstando o General, por meio

da carta dirigida ao governo interino, sob alegação de que, sendo esse

governo uma capitania-mor subordinada a Pernambuco, não

procedesse, sem sua determinação, contra o que tratava aquela

provisão. Igual impedimento teve outra provisão, de 24 de março

de 1797, relativa aos corpos auxiliares dessa Capitania.(46)

O Capitão-mor da Paraíba contesta o fato de que o General

de Pernambuco continua passando as patentes dos respectivos oficiais

militares, referindo-se ao artigo 7º da Ordem Régia de 14 de

setembro de 1796, que não existe na Capitania. Essa ordem é

posterior ao Decreto Real de 29 de setembro de 1787,(47) referente

às promoções nos corpos militares do Estado do Brasil. Segundo essa

ordem, os oficiais propostos pelo Vice-Rei, pelos governadores e pelos

Capitães-generais passam logo a servir interinamente nos postos

vagos, vencendo os soldos que lhes competem, sem, entretanto,

adquirir algum direito enquanto, não obtiverem a confirmação real.(48)

Entende,portanto,que aquele decreto lhe autoriza fazer provimentos, e o

fato de o General de Pernambuco querer impedir sua ação em tudo tem

Page 131: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 127

gerado constantes conflitos de jurisdição entre ambos.

Fernando Delgado Freire de Castilho censura o General de

Pernambuco, por este se intrometer nos assuntos econômicos da Capita-

nia, passando portarias, das quais muitos se servem para monopolizar

os gêneros de primeira necessidade. Desta forma, se sente sem condições

de desenvolver o menor plano de economia política, pois, além do mais,

a Junta de Pernambuco recebe a maior parte ou quase todo o rendimento

desta Capitania à qual não manda nenhum dinheiro, sendo preciso

suplicar-lhe para as menores despesas.(49)

O Capitão-mor da Paraíba, analisando o estado de miséria da

Capitania, achou que as causas de sua decadência estavam na seca de

1791-1793, na qual morreu grande quantidade de gado e escravos. Para

ele, o desenvolvimento dela é inviável, por ficarem todos os lucros do seu

comércio nas mãos de Pernambuco, que não tem poupado meios para

esse fim.(50)

Em decorrência da situação e das Instruções Régias de 23 de

outubro de 1797, dirigidas pelo Ministro e Secretário de Estado dos Ne-

gócios da Marinha e Domínios Ultramarinos, sobre o proveito de um

governo autônomo, logo Fernando Delgado Freire de Castilho fez publi-

car um edital relativo ao comércio da Capitania. O Edital de 17 de abril

de 1798 proíbe o comércio indireto. Daí em diante, toda a exportação dos

gêneros de comércio seria feita diretamente para os portos do Reino,

livrando-se a Capitania da dependência de fazer sua exportação através

de Pernambuco.(51)

Esse documento nos mostra o quanto Fernando Delgado

Freire de Castilho estava interessado em promover o desevolvimento

econômico da Capitania, por meio de seu comércio externo, bem como

quebrar as rédeas da subordinação a Pernambuco.

Envia o Capitão-mor da Paraíba ao Rei uma análise da situa-

ção, fundamentando as razões para a mesma tornar-se autônoma. Dirige

à Metrópole, em várias ocasiões, pareceres, requerimentos e memórias

sobre os motivos pelos quais não deve a Paraíba ficar subordinada a

Pernambuco. Em um requerimento, expõe os termos da sujeição da

Page 132: A Paraíba na Crise do Século XVIII

128 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Paraíba, pedindo seja restituída a autonomia daquele governo. No docu-

mento, alega que a sujeição não tem feito mais do que sufocar a indústria

e a agricultura e aumentar o monopólio de Pernambuco, para onde se faz

a exportação dos gêneros da Capitania. Lamenta o fato de que, há mais

de vinte anos, não vem um só real de Pernambuco, mas a Paraíba é que

tem enviado do que sobra de suas despesas para a Junta da Fazenda

daquela Capitania, conforme certidão que cita do Erário Régio.(52)

Em uma memória de 1798, Fernando Delgado Freire de Castilho

analisa ainda as condições da Capitania, quanto à sua capacidade de

produção, facilidade do comércio interno e externo, segurança do porto,

prejuízos causados à agricultura, ao comércio, à marinha, à Fazenda

Real e melhoramentos de que precisa. Considera a subordinação como

um dos obstáculos que retardou o seu desenvolvimento. Nessa memória,

se vê claramente o bom conhecimento dele sobre todos os problemas da

Capitania, apesar do pouco tempo em que a governa.(53)

A essa altura, já estava a Metrópole um tanto convencida dos

inconvenientes da anexação da Paraíba a Pernambuco, razão pela qual

pede ao Capitão-mor Fernando Delgado Freire de Castilho, mediante as

Instruções Régias de 23 de outubro de 1797, informação relativa à subor-

dinação, tais como: um exame imparcial das desvantagens da incorpo-

ração para a Fazenda Real e dos prejuízos que possa ter pela falta de

execução dessas ordens, cobrança menos ativa de suas rendas depen-

dentes de Pernambuco e conflito nocivo de jurisdição ao serviço real e

aos interesses dos seus habitantes.(54)

Na informação que Fernando Delgado Freire de Castilho pres-

ta ao Rei sobre os inconvenientes da anexação, faz questão de decla-

rar que, só depois de estar no governo da Capitania e adquirir conhe-

cimentos seguros, sente-se capaz de fazer uma análise sobre os preju-

ízos que a subordinação acarreta. Aborda os aspectos econômico,

político, militar, religioso e administrativo. Considera dois pontos

fundamentais para o seu desenvolvimento: o comércio e a agricultu-

ra, que necessitam de absoluta independência de Pernambuco, bem

como a administração das rendas reais. Mostra que as despesas com

a nova forma de governo autônomo serão insignificantes, em relação

Page 133: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 129

aos melhoramentos que as rendas do Rei terão com o aumento da

agricultura e do comércio. As vantagens de tal sistema de governo

viriam naturalmente aumentar os rendimentos da Capitania, visto que

nos três últimos anos (1795, 1796 e 1797), terem importado na

quantia de 67:569$439 réis, da qual, deduzidas as despesas, ficaram

6:515$925 réis.

A conta corrente do rendimento e despesa da Provedoria da

Paraíba do Norte entre 1795 e 1797, mostra um acréscimo das rendas da

Capitania, em relação aos anos anteriores, havendo, ainda, possibilida-

de de maior aumento das rendas, com a sua autonomia.

O documento no qual Fernando Delgado Freire de Castilho ana-

lisa as condições da Capitania e, ao mesmo tempo, o que propiciaria o

seu desenvolvimento sob um governo autônomo, contribuiu, sem dúvi-

da alguma, para a ideia – um tanto amadurecida pela Rainha – da

separação da Capitania da Paraíba da de Pernambuco. Datado de 9 de

janeiro de 1799 e enviado à Metrópole, em 17 do mesmo mês, D. Maria I

expedia a Carta Régia, separando de Pernambuco não só a Paraíba, mas

também o Ceará. É o seguinte o texto da Carta Régia:

“Rmo. Bispo de Pernambuco do Meu Conselho e mais Governadores

Interinos da Capitania de Pernambuco. Eu e a Rainha vos envio muito

saudar. Sendo-me presente os inconvenientes que se seguem, tanto ao Meu Real

Serviço, como ao bem dos povos da inteira dependência e subordinação em

que os governadores das capitanias do Ceará e da Paraíba se acham do

Governador e Capitão-General da Capitania de Pernambuco, que pela

distância em que reside não pode dar com a devida prontidão as providências

necessárias para a melhor economia interior daquelas capitanias,

principalmente depois que elas tem aumentado em população, cultura e

comércio sou servida separar as ditas capitanias do Ceará e Paraíba da

subordinação imediata do Governo Geral de Pernambuco em tudo o que

diz respeito a Proposta de Oficiais Militares, nomeações interinas de ofícios e

outros atos do Governo, ficando porém os Governadores das ditas

capitanias obrigadas a executar as ordens dos governadores de Pernambuco no

que for necessário para defesa interior e exterior das três capitanias e para a

Polícia interior das mesmas. Igualmente determino que do Ceará e Paraíba se

possa fazer um comércio direto com o Reino, para o que se

estabelecerá em tempo e lugar convenientes as casas de Arrecadação, que

forem precisas e se darão as outras providências, que a experiência mostrar

a comunicação imediata e o comércio das ditas duas capitanias com este

Reino. O que vos participo para que assim o fiquem entendendo. Escrita no

Page 134: A Paraíba na Crise do Século XVIII

130 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Palácio de Queluz em dezessete de janeiro de 1799. Príncipe para o Bispo de

Pernambuco e mais Governadores Interinos da mesma capitania.”(125:214)

Assim, ficou separada a Paraíba de Pernambuco e livre de um

processo de subcolonização, que durou 44 anos, tendo a experiência

mostrado que essa dependência convinha mais aos interesses de

Pernambuco do que aos da Paraíba. A autonomia fora de direito em

1799, mas de fato só seria consumada muito depois, uma vez que a Paraíba

permanecia ligada a Pernambuco, de cujos laços de dependência desli-

gar-se-ia aos poucos, visto obedecerem a um processo de longa duração

e terem origens anteriores a 1755.

Page 135: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 131

NOTAS

1 A.H.U.C.PB. C.C.U. A propósito de o Capitão-mor Luiz Antônio de Lemos de Brito remeter a receita e a despesa da Fazenda Real, apontando os meios de se tirar algum proveito da Capitania, em 19.09.1755.

2 A.H.U.C.PB Ordem Real extinguindo o governo da Paraíba, 29.12.1755.

3 A.H.U.C.PB. Memória de Fernando Delgado Freire de Castilho, sobre a Capitania da Paraíba, em 1798.

4 A.U.U.C.PB. Ordem real mandando um oficial das praças de Pernambuco ocupar interinamente o posto de Capitão-mor da Paraíba, em 14.12.1756.

5 A.H.U.C.PB. Ordem do Governador de Pernambuco, mandando o sargento-mor do Regimento de Infantaria da cidade de Olinda, José Henriques de Carvalho, ocupar interinamente o governo da Paraíba, em 05.03.1757.

6 A.H.U.C.PB. Carta de José Henriques de Carvalho ao Rei, participando que tomou posse no governo da Paraíba, em 01.05.1757.

7 A.H.U.C.PB. Ordem Real mandando levantar homenagem a Luis Antônio de Lemos Brito e recolhe-se à sua casa.

8 A.H.U.C.PB. Representação dos oficiais da Câmara da Capitania ao Rei, expondo as razões para a Paraíba não ficar sujeita a Pernambuco, em 19.05.1756.

9 A.H.U.C.PB. Representação dos oficiais da Câmara da Capitania da Paraíba ao Rei, onde fazem menção da contribuição de cem mil cruzados para ajudar às obras de recuperação de Lisboa, em 19.05.1756.

10 A.H.U.C.PB. Ordem real sobre a falta de cumprimento da ordem de 29.12.1755, mandando remeter sem falta as remessas à Provedoria da Paraíba, em 12.11.1756.

11 A.H.U.C.PB. Carta do Governador de Pernambuco, Luiz Diogo da Silva, sobre a demora do envio da dízima a Paraíba, em 21.04.1757.

12 A.H.U.C.PB. Representação da Câmera junto ao Rei contra a Companhia de Comércio de Pernambuco e Paraíba, em 04.05.1770.

13 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro ao Conde de Oeiras, sobre o desrespeito que teve com a sua pessoa o padre Bartholomeu de Brito Baracho, em 21.04.1766.

14 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro ao Conde de Oeiras, sobre a subordinação e seus encargos para com o governo militar da Capitania, em 24.04.1766.

15 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro ao Rei, sobre o edital que recebeu de Pernambuco, privando-o da jurisdição militar sobre a Capitania, em 05.11.1766.

16 A.H.U.C.PB. Edital do Governo de Pernambuco dispondo sobre os oficiais milita- res, particularmente as tropas auxiliares. Recife, 27.10.1766.

17 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, sobre o provimento de postos militares do governo da Paraíba, pelo General de Pernambuco, em 23.07.1768. 18 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, sobre

a nomeação de capelão para a fortaleza do Cabedelo, em 23.07.1768.

Page 136: A Paraíba na Crise do Século XVIII

132 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

19 A.H.U.C.PB. Carta do Capitão-mor da Paraíba ao Rei, pedindo declarar os limites da subordinação,

em 25.08.1768.

20 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro, protestando contra a subordinação e

pedindo para ser transferido da Paraíba para outro lugar, em 26.10.1770.

21 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, a

propósito dos limites da subordinação, em 27.10.1770.

22 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro ao Conde de Oeiras, sobre o Governo de

Pernambuco fazer nomeação de cabo-de-esquadra, em 10.02.1770 e 25.04.1770.

23 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro ao Conde de Oeiras, sobre o desrespeito dos

súditos à sua autoridade, em 10.02.1770.

24 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre a

desordem que se encontra esse governo e sobre os conflitos de autoridade entre o primeiro e o

General de Pernambuco, em 02.05.1787.

25 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre os

inconvenientes da subordinação e condições que tem a Capitania para ser independente, em

02.05.1787.

26 A.H.U.C.PB. Carta de José César de Menezes, Governador de Pernambuco, ao Capitão-mor da

Paraíba, sobre a jurisdição que tem a Capitania da Paraíba. Recife, em 27.10.1775.

27 A.H.U.C.PB. Carta do Capitão-mor da Paraíba ao Rei, queixando-se da sua não-ingerência nas

coisas da Fazenda Real da Paraíba, em 08.07.1766.

28 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre a má

administração da Fazenda Real da Paraíba, em 27.07.1771.

29 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro ao Rei, sobre os reparos de que necessita a

fortaleza do Cabedelo, em 26.02.1772.

30 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José de Melo e Castro ao Rei, sobre a providência que tomou

para salvar de maior destruição a fortaleza do Cabedelo, em 27.07.1771.

31 A.H.U.C.PB. Carta de Jerônimo José Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre a situação

de ruína da fortaleza do Cabedelo, em 24.02.1774.

32 A.H.U.C.PB. Queixas de Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, por estar a

Superintendência da fortaleza do Cabedelo nas mãos dos generais de Pernambuco, em 24.02.1774.

33 A.H.U.C.PB. Carta de Fernando Delgado Freire de Castilho a D. Rodrigo de Souza Coutinho, sobre

a fortaleza do Cabedelo, em 02.11.1798.

34 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Francisco Xavier de Mendonça Furtado,

sobre o dinheiro que a Fazenda Real da Paraíba tem em cofre, em 15.07.1766.

Page 137: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 133

35 A.H.U.C.PB. D. Jerônimo José de Meio e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre o preço da

farinha, em 17.07.1792.

36 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre o preço da

farinha e a providência que tomou de mandar buscar esse gênero na Bahia, em 17.07.1792,

37 A.H.U.C.PB. De Fernando Delgado Freire de Castilho e D. Rodrigo de Sousa Coutinho,

sobre as consequências da seca na Capitania, em 01.08.1798.

38 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre as ‘‘cadeias

que vem arrastando da subordinação, há 26 anos’’, em 18.06.1788 e 15.09.1789.

39 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro a Martinho de Melo e Castro, sobre o desvio da

produção da Paraíba para Pernambuco e os prejuízos para a Capitania e para a Fazenda Real, em

15.06.1791.

40A.H.U.C.PB. De Jerônimo Jose de Melo e Castro a Martinho de Melo e Cas- tro,

argumentando as vantagens de se conservar independente a Capitania, em 15.06.1791.

41 A.H.U.C.PB. Requerimento dos habitantes de Montemor ao Rei, sobre a proi- bição de se

transportarem os seus gêneros para Pernambuco, docum. ant. 06.09.1792.

42 A.H.U.C.PB. Do Capitão General de Pernambuco ao Rei, sobre ser conveniente suspender a

proibição de se transportarem os gêneros da Paraíba para Pernambuco. Recife, em 12.03.1794.

43 A.H.U.C.PB. Ordem real mandando cessar a proibição de se navegarem os gêneros da Paraíba para

Pernambuco, em 03.10.1792.

44 A.H.U.C.PB. De Antônio Luiz Nogueira ao Provedor da Fazenda Real, informando- lhe que não há,

na Provedoria da Paraíba, nenhuma ordem proibindo a exportação dos gêneros da Paraíba para outra

capitania. em 30.04. 1791.

45 A.H.U.C.PB. De Jerônimo José de Melo e Castro ao Rei, sobre os motivos pelos quais impediu a

exportação de gêneros da Paraíba, em 24.01.1792.

46 A.H.U.C.PB. De Fernando Delgado Freire de Castilho, reclamando contra a subor- dinação, em

07.05. 1798.

47 A.H.U.C.PB. Ordem do General de Pernambuco, D. Tomás José de Melo, nomean- do pessoas para

os postos militares da Paraíba, Recife, em 13.05.1797.

48 A.H.U.C.PB. Cópia do decreto real sobre as promoções nos corpos militares do Estado do

Brasil, em 27.09.1787.

49 A.H.U.C.PB. De Fernando Delgado Freire de Castilho a D. Rodrigo de Sousa Coutinho,

censurando o General de Pernambuco por este se intrometer nas ques- tões econômicas da

Capitania, em 07.05.1798.

50 A.H.U.C.PB. De Fernando Delgado Freire de Castilho a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, sobre a situação

de decadência da Capitania, em 01.08.1798.

51 A.H.U.C.PB. Fernando Delgado Freire de Castilho baixa edital, permitindo o comércio direto da

Capitania com o Reino, em 17.04. 1798.

Page 138: A Paraíba na Crise do Século XVIII

134 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

52 A.H.U.C.PB. Requerimento de Fernando Delgado Freire de Castilho à Rainha, pedindo a desanexação da Capitania, em 1798.

53 A.H.U.C.PB. Memória sobre vários assuntos da Capitania, em 1798. 54 A.H.U.C.PB. De Fernando Delgado Freire de Castilho à Rainha, fazendo um longo estudo

sobre a Capitania, ao mesmo tempo em que analisa os inconvenientes da subordinação, em

09.01.1799.

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A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 135

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136 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

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138 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 143: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 139

D

5 A AUTONOMIA RECONQUISTADA

esanexada a Capitania, vêm as primeiras e tímidas providências

de reorganizá-la, surgindo, então, algumas dificuldades. A

primeira delas, conforme evidencia o capitão-mor Fernando

Delgado Freire de Castilho, diz respeito à falta de um regimento particu-

lar, por onde se regessem os governadores. Alega ele que existem na

Capitania algumas ordens que podem ser consultadas, mas acham-se

em mau estado e tão mal escritas, que é impossível utilizá-las.(1)

A respeito do Regimento da Capitania, o próprio Conselho

Ultramarino fizera, por sua vez, uma solicitação, respondendo-lhe o

Capitão-mor “não haver regimento algum deste governo, nem me constar

tê-lo havido, se tem sempre governado pelas reais ordens, que lhe tem

sido dirigidas, sendo prática e uso nos casos em que nesta Secretaria se

não encontram algumas positivas, o pedirem-se por cópia à Secretaria de

Pernambuco, como ainda hoje se está praticando, o que causa grande

transtorno a este governo pela demora que há na decisão dos casos que

as exigem e depois de não haver o mencionado regimento nada posso

informar sobre os seus artigos.”(2)

Vê-se, desta forma, que havia dificuldades e mal-estar dos ca-

pitães-mores Fernando Delgado Freire de Castilho, Luiz da Morta Feo e

Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque, ao governarem a Capitania,

após sua autonomia, pois muitas coisas que diziam respeito à Paraíba

continuavam na dependência de Pernambuco, sendo ainda necessário

mandar buscar na Capitania dominante as ordens reais para se regerem.

Page 144: A Paraíba na Crise do Século XVIII

140 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Em decorrência dos princípios de autonomia concedidos à Ca-

pitania da Paraíba, expressos na Carta Régia de 17 de janeiro de 1799,

ficaram somente o Governador da Paraíba e o do Ceará obrigados a exe-

cutar as ordens de Pernambuco, no que tocasse à defesa interior e exteri-

or delas. Entretanto, as finanças da Paraíba continuavam submetidas a

Pernambuco, como se vê na Carta Régia de 24 de janeiro de 1799, dirigida

a Fernando Delgado Freire de Castilho:

“Sendo-me presente os abusos e falta de método com que em grave

prejuízo do meu Real Patrimônio e do interesse dos meus vassalos se tem

administrado e arrecadado pela Provedoria desse governo a minha Real

Fazenda, privando-me de todo o aumento e resíduo de que é suscetível,

tendo-se recebido as contas da mesma Provedoria sempre atrasadas e

quase todas faltas de clareza necessária para se proceder no meu Real

Erário e formar toda a escrituração, que tenho ordenado pela lei funda-

mental dele, não tendo sido bastante para evitar o referido as repetidas

providências que se tem dado assim pelo mesmo Real Erário, como pela

junta da Fazenda Real de Pernambuco. E querendo por termo aos prejuízos que

à minha Real Fazenda experimenta por causa das sobreditas desordens,

sou servida ordenar o seguinte: Havendo como desde logo hei por extinta a

Provedoria da Fazenda Real dessa Capitania, com todos os seus empregos,

ordenados e incumbência, vos ordeno estaleçais uma Junta da

Administração e Arrecadação de Minha Real Fazenda nessa cidade da

Paraíba subordinada imediatamente ao meu Real Erário, na qual junta

assistireis vós e os vossos sucessores como Presidentes assistindo mais

como ministro dela o Ouvidor Geral da Capitania, que servirá de juiz dos

Feitos da Fazenda, o Procurador dela, e o Escrivão da Receita e Despesa que

eu for servida nomear, o Intendente da Marinha e Armazéns Reais

respectivos e um Tesoureiro Geral da Capitania.”(3)

A junta da Administração e Arrecadação da Real Fazenda na

Paraíba, no entanto, não foi organizada, conforme se depreende da Car-

ta Régia de 6 de fevereiro de 1809, que se segue:

“Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque Governador da Paraíba eu, o Príncipe Regente, vos envio muito saudar. Havendo mandado criar nessa capitania uma Junta da Fazenda como consta da Carta Régia por cópia escrita ao Governador Fernando Delgado Freire de Castilho e que por motivos que ocorreram ficou suspensa a dita criação. Fui servido novamente pelo expediente do meu Real Erário enviar a mesma Carta Régia à Junta de minha Real Fazenda da Capitania de Pernambuco, para fazer cumprir esta disposição com as instruções que também se lhe enviaram para servir ao Governo à nova Junta e sua Contadoria de que fui servido nomear para

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A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 141

escrivão Deputado a Joaquim Antônio de Oliveira e para escriturário con- tador a Antônio de Paiva Castro, e pedísseis oficialmente àquela Junta a cópia das Leis, Alvarás e Decretos na dita Carta mencionados, que devem existir no Arquivo da Nova Junta, o que espero cumprais com zelo com que me servis, mandando dar posse e juramento aos ditos Escrivão e Contador e que façais promover quanto vos for possível o aumento do Patrimônio Régio. Escrita no Palácio do Rio de Janeiro em seis de fevereiro de mil oitocentos e

nove. Príncipe. Para Amaro Joaquim Raposo.” (125:237, 238)

Somente em 11 de abril de 1809 é que se instala a Junta da Real

Fazenda da Paraíba, ficando independente de Pernambuco e extinta aque-

la Provedoria. Ao que parece, a Junta que fora criada, na Paraíba, por

Carta Régia de 24 de janeiro de 1799, deixara de ser instalada, por intri-

gas particulares até aquela data, conforme referência de Irineu Ferreira

Pinto.(125:238) Entendemos que a Junta da Administração e Arrecadação

da Paraíba não deixou de ser criada, apenas por essas intrigas, pois o

Rei declara os prejuízos com a Provedoria da Paraíba: a falta de clareza

das contas, o atraso das rendas e a má administração. É preciso ficar

claro que essa situação era causada pela centralização que Pernambuco

exercia sobre as rendas da Paraíba – o que não deixou de motivar

protestos dos capitães-mores aqui, por não ficarem com um só tostão

para mínima despesa de que a Capitania necessitava.

No terceiro capítulo, tecemos considerações sobre a dificuldade

dos capitães-mores em apresentarem a receita com o devido rigor,

porque estavam sempre faltando, para fechá-las, os vinte mil cruzados

do produto da dízima que Pernambuco não remetia com regularidade.

Ficava em alguns anos a observação de que faltaria essa quantia.

Também o fato de que entre o que rendeu e o que se cobrou havia

diferenças para compor a receita. Ainda no mesmo capítulo, mostramos

que Fernando Delgado Freire de Castilho alegava a impossibilidade de se

fazerem com exatidão os mapas sobre a produção da Capitania da

Paraíba, por os moradores da mesma venderem seus produtos em

Pernambuco, onde compram o que querem, sem dar entrada nem saída.

Dessa forma, a extinção da Provedoria da Paraíba iria signifi-

car o fim da tutela pernambucana em matéria de finanças, num futuro

próximo. A Junta da Arrecadação que o Rei mandou criar representaria,

com a autonomia concedida, uma quebra a mais desse tipo de sujeição.

Page 146: A Paraíba na Crise do Século XVIII

142 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Luís da Motta Feo, que governou a Capitania da Paraíba, de

1802 a 1805, não disfarça sua indignação pela submissão das finanças

da Paraíba a Pernambuco, mesmo depois da desanexação. Afirma que,

se o governo deixou de ser dependente, também o deveria ficar sua

Provedoria. Tudo nos faz crer, entretanto, que aquele governador

desconhecesse a ordem régia acima transcrita, quando diz não lhe

constar ter havido até agora ordem ou resolução régia que o fizesse

subordinado à mesma Junta.(4)

Motta Feo não somente considerava a seca como causa da deca-

dência do comércio e da agricultura, mas também dizia que “maior origem

a primeira decadência é não ser o comércio desta capitania direto para

os portos da Metrópole e a segunda na pouca indústria e atividade dos

seus habitantes e em um governo, aonde me faltam os meios para tudo não

só pelas razões ponderadas como por outra igualmente imperiosa, que é

ser o cofre das suas finanças sujeito a outro governo.”(5)

Tenta ele remediar a difícil situação da Capitania, promoven-

do a cultura da mandioca, gênero básico para acudir às necessidades de

alimentação da população. Assim é que forma a singular sociedade de-

nominada Pia Sociedade Agrícola Protetora da Pobreza Despertadora

da Agricultura, de não menos estranho nome. O seu plano foi aprovado

na sessão de abertura da Sociedade, em 24 de outubro de 1802, constitu-

indo-se um fundo de um conto, quinhentos e oito mil, quatrocentos réis.

Logo foi deliberado que se plantassem duzentas mil covas de mandioca,

que deveriam, teoricamente, produzir quatro mil alqueires de farinha.(6)

O Capitão-mor, atendendo as recomendações que lhe foram

feitas pelo Príncipe Regente, de promover quanto possível, nessa Capita-

nia, o aumento da lavoura do arroz, empenhou-se na obediência e afirma

que faria, ainda no ano de 1802, uma cultura de arroz com a plantação

de seis alqueires de semente.(7)

A situação de miséria da Capitania, consequência da seca e da

fome do ano de 1803, era paralela à alta dos preços dos gêneros alimen-

tícios, como a farinha de mandioca, que se vendia no sertão a doze e a

dezesseis mil réis e, nesta cidade e em mais portos do mar, a quatro e a

seis mil réis por alqueire.(8)

Não somente a falta de alimentos e a alta

Page 147: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 143

de preços, mas também os prejuízos que os moradores tiveram com as

plantações, que não frutificaram por causa da seca, obrigando o Capitão-

mor a pedir ao Governador Geral da Bahia que facilitasse a saída de

víveres para a Paraíba. Dirá, posteriormente, o esperançoso Motta Feo

ao Visconde de Anadia “que com as chuvas havidas nos meses de maio,

junho, julho e agosto de 1803 a situação dos povos tem melhorado com a

abundância de víveres, baixando o preço da farinha de quatro mil réis,

ao de mil duzentos e oitenta réis nesta cidade mais ainda com a

abundância das produções da Pia Sociedade, que espera ser maior,

logo se faça a colheita.”(9)

Sem atender as dificuldades que passava a Capitania, o Prínci-

pe Regente, por Carta Régia de 6 de abril de 1804, encarregava ainda ao

Capitão-mor “de procurar dos habitantes desta capitania uma voluntá-

ria contribuição a fim de poder acudir às atuais urgências do

Estado.”(10) Em nenhuma circunstância de crise, tem-se conhecimento

de que o Rei mandasse recursos para ajudar aos seus próprios

colonos em dificuldades econômico-financeiras. Quando convinha aos

interesses da Metrópole, contribuições eram lançadas como os dotes

das rainhas, casamentos de príncipes, subsídio literário e a ajuda para

reconstrução de Lisboa, em razão do terremoto de 1755, já referidos.

A contribuição fora inoportuna, quando a própria Coroa sabia

que a situação da Paraíba não era boa, conforme relato de Luiz da Motta

Feo. A Capitania fora assolada por duas secas, o comércio ficara aniqui-

lado e a agricultura devastada. Apesar disso, diz o fiel e otimista Capi-

tão-mor que há boa vontade dos seus habitantes, mesmo considerando-

se a falta de meios e a pobreza ali existente.

Além da tributação exigida aos moradores da Cidade, o Capi-

tão-mor partira para o sertão com o objetivo de dar cumprimento ao que

lhe fora determinado, quanto à real contribuição. Diz Luiz da Motta Feo

que, para as urgências do Estado, remetera em letra segura ao Real Erá-

rio um conto de réis e que é seu desejo pôr à disposição do Príncipe

Regente uma maior quantia.(11)

Comunica ainda o Capitão-mor que, depois de uma jornada ao

sertão, “adquiriu para a real contribuição a quantia de seis contos oitenta e

Page 148: A Paraíba na Crise do Século XVIII

144 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

dois mil cento e oitenta réis em dinheiro recebido, quatro contos

quatrocentos oitenta e seis mil quatrocentos e quarenta em prometimentos

até maio do ano vindouro o mais demorado e igualmente cento e trinta

cabeças de gado vacum, oito de cavalar e trinta e três arrobas e meia de

algodão em pluma.”(12) Na mesma carta, declara que a contribuição

chegou a mais de vinte e quatro contos, considerando-a muito vantajosa e

generosa pela decadência em que se encontra a Capitania, em relação às

outras mais opulentas.

Paradoxalmente ao esforço que empreendeu para a real contri-

buição, o Capitão-mor alega, repetidas vezes, o estado de decadência a

que ficara reduzida a Capitania — o que, aliás, já fora dito por seus

antecessores. Vê-se, portanto, que a Metrópole, sob pretexto de contribui-

ção, arrecadava na sua colônia brasileira vultosas quantias, sem atender

as dificuldades dos seus habitantes. A contribuição era quase obrigató-

ria, uma vez que ninguém queria desagradar ao monarca. Nossa miséria

não fora poupada. Interessava ao Rei satisfazer as necessidades da Cor-

te, mesmo que isso significasse o sacrifício de seus colonos.

Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque, que governou a Ca-

pitania, de julho de 1805 a agosto de 1809, é outra fonte importante para

a história econômica da Paraíba. Relata os grandes prejuízos das secas,

causando mortandade de gado e de escravos, obrigando muitos enge-

nhos a ficarem de fogo morto. Diz, desconsolado, Amaro Joaquim

Raposo de Albuquerque que, em consequência das secas, ficou o

comércio estagnado, deixando de vir os melhores navios a este porto,

por falta de carga. A maior parte dos senhores de engenho, os

habitantes mais abastados dos sertões e mesmo os negociantes desta

cidade foram obrigados, para se suprirem, a recorrer aos negociantes de

Pernambuco, onde hipotecavam os gêneros de suas futuras

produções.(13)

Posteriormente, os senhores de engenho da Capitania,

favorecidos pelo tempo, em virtude da regularidade das estações, pedem

ao Rei a graça de isentá-los, por dez anos, da metade dos direitos a serem

pagos pela compra de escravos. Alegam, aliciantemente, as poucas

forças que têm para desenvolver seus engenhos como convém.(14)

Em resposta ao pedido do Capitão-mor de isenção de metade

dos direitos da escravatura, respondeu o Conselho Ultramarino que o

Page 149: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 145

povo nada requereu e o antecessor desse governador nada dissera a este

respeito. Entende também que a representação seja apenas resultante da

boa vontade do novo governador, ou do desejo de ser benquisto na

Capitania, ainda que à custa dos meios de subsistência dela. Julgou não

ha ver razão para se atender a esse pedido, no que o Rei concordou com

o Conselho.(15)

Nesse período, a Capitania da Paraíba estava superando as

grandes dificuldades que passara. O Conselho, em seu parecer, chega

mesmo a alegar que a “Capitania da Paraíba é muito povoada e os

seus habitantes se prestam voluntariamente a trabalhar por jornal, (sic)

o que não sucede em outras capitanias por um mal entendido capricho

de seus habitantes”.(16)

No que tange à receita da Capitania, após a desanexação, veri-

fica-se que, com exceção do ano de 1799, houve uma pequena baixa, em

relação ao ano de 1798. A tendência é de melhoria da receita, mesmo

levando-se em consideração as dificuldades que passara a Capitania.

Nos anos de 1800, 1801, 1803, 1804 e 1805, a receita foi aumen-

tando progressivamente, havendo apenas baixa em 1804. Para essa ele-

vação contribuíra a própria autonomia e o esforço que fizeram os capi-

tães-mores, no sentido de recuperação econômica da Capitania.(17)

No quadro 5, vê-se que, após a desanexação, houve elevação

da receita e equilíbrio das despesas. Muitas vezes, fazia-se propositada-

mente esse ajustamento, como já dissemos, para parecer que tudo anda-

va equilibrado em matéria de finanças. No quadro 6, verifica-se que as

rendas reais na Capitania da Paraíba, “ no triênio de 1802, 1803 e 1804,

em preços antigos, foram de 77:058$360 e em preços modernos

88:534$500.”

No primeiro ano do governo de Amaro Joaquim Raposo de

Albuquerque, 1805-1806, a diferença de acréscimo foi de 11 :476$140. O

referido Capitão-mor da Paraíba alega que “o rendimento anual da

capitania pelo acréscimo que houve nas arrematações do presente

triênio anda por volta de 29:000$000, e será aumentado em proporção

do que os tempos favorecem.’’(18)

Nos anos de 1805 a 1808, os dízimos do açúcar renderam

11:600$000. Realmente, o rendimento dos dízimos era um dos mais sig-

Page 150: A Paraíba na Crise do Século XVIII

146 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

nificativos. Em 1799, Fernando Delgado Freire de Castilho dissera que

“todos os artigos das rendas reais, que atualmente constam de dízimos

dos diversos gêneros de cultura e criação, de direitos d’Alfândega, sub-

sídio do açúcar e seus impostos, subsídios das carnes, e o mais [...] são os

dízimos que merecem a primeira e maior contemplação, pelo maior valor

do seu rendimento.’’(19)

O crescimento da produção da Capitania da Paraíba (açúcar,

algodão, tabaco, farinha, feijão, arroz, milho), após a desanexação, nos

anos de 1799, 1801, 1802, 1803, 1804 e 1805, sofreu grandes

oscilações. Por esta razão, não podemos afirmar que é progressivo o seu

crescimento, o qual depende de fatores climáticos, como as secas e as

chuvas, que têm influências marcantes não só na Capitania, mas

também na própria região. Além desses fatores, sentia-se a falta de uma

maior assistência do Estado, apesar de D. Maria I incentivar a

produção agrícola.

Há, porém, tendência ao crescimento da produção de

alguns desses gêneros. Em relação ao açúcar, constatou-se acentuado

declínio de produção, quando, em 1799, produziram-se 9.344 quintais e,

em 1805, 3.641 quintais. O algodão prosperou em comparação ao

açúcar, desde a segunda metade do século XVIII. Produziram-se, em

1798, 13.633 quintais e, mesmo havendo algumas baixas em alguns

anos que se seguem a 1805, a produção foi de 17.092 quintais. Os

quadros de 7 a 17, relativos à produção dos anos de 1799 a 1805,

permitem melhor apreciação das flutuações em todos os produtos.(20)

Os portos para onde se exportavam a produção da Capitania

da Paraíba eram o de Lisboa e o de Pernambuco. Das exportações para

o Reino constam açúcar, algodão, couro, sola, vaqueta, farinha, mel,

madeira e aguardente.

A exportação de nossa produção fazia-se pelo porto de

Pernambuco,(21) embora os quadros de 34 a 39, referentes à carga das

sumacas que se carregavam no porto da Paraíba demonstrem que eram

embarcados diretamente para Lisboa o açúcar, o algodão e mais gêneros

de nossa produção.(22)

Apesar de a Carta Régia de 17 de janeiro de 1799, que

desanexava a Paraíba de Pernambuco, conceder a essa Capitania o direi-

Page 151: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 147

to de fazer diretamente comércio com o Reino, eram ainda poucos os

navios que aqui vinham, bem como era reduzida a produção exportada

por ela. A maior parte da produção da Paraíba seguia através do porto

de Pernambuco. A superioridade desse porto se dá pelo fato de ser mais

bem aparelhado. No espaço de Pernambuco, há mais equipamento ins-

talado — o que concorre para subordinar as outras capitanias (Paraíba,

Rio Grande do Norte e Ceará), que não dispõem de condições de porto,

de armazenagem, nem de casas exportadoras como as radicadas no Re-

cife. Isso faz com que Pernambuco sobrepuje pelo espaço.

No ano de 1798, entraram no porto da Paraíba, vindas de Lisboa

e de Pernambuco, 5 embarcações: galera, brinque e sumaca, saindo igual

número. Em 1799, se repetiu o mesmo número e o mesmo movimento do

ano anterior. Em 1800, entraram 4 e saíram 4. Em 1801, incidiu este mesmo

fato. Entraram em 1802, 7 embarcações, saindo 6. Em 1804, entraram 4,

com igual número de saída. E, em 1805, foram, 5 as galeras e as sumacas

que entraram e saíram(23) . O quadro 33 nos dá uma visão desse movimento.

No que diz respeito à relação exportação—importação, nos

anos de 1798, 1799, 1800, 1801 e 1805, a exportação ultrapassou a im-

portação. Somente nos anos de 1802 e 1804, ocorreu o inverso.(24) Não

encontramos dados relativos ao ano de 1803, fato que se deve à seca e a

fome ocorridas naquele ano e a situação de miséria da Capitânia, a que já

nos referimos.

Parece-nos importante uma apreciação sobre os quadros de

números 23 e 24, por se tratar da importação de produtos, em 1804 e

1805, através do porto de Pernambuco — o que equivalia quase ao que

vinha de Portugal, em 1801 e 1802. Isso significa uma forma de

Pernambuco reter maior valor, mediante tributos que eram reaplicados

em investimentos em seu proveito, beneficiando os grupos

pernambucanos, a burguesia da área açucareira. Quando os gêneros

entravam pela Paraíba, uma parte dos impostos eram aplicados aqui,

podendo beneficiar sua área produtora, equipando o seu porto, o qual

era desprovido, como o do Rio Grande do Norte e o do Ceará — fato

este, entre muitos que concorriam para a desigualdade do Nordeste, ou

seja, a hegemonia de Pernambuco.

Page 152: A Paraíba na Crise do Século XVIII

148 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Em relação aos preços dos gêneros produzidos na Capitania,

considerando 3 níveis: máximo, médio e mínimo, nos anos de 1799,

1800, 1801, 1802, 1804 e 1805, verifica-se que o algodão mantém preço

mais ou menos estável, tendo em vista sua produtividade. O açúcar, em

função da pouca produção, mantém preços altos. Observem-se essas

flutuações nos quadros de 25 a 31.

No que diz respeito aos gêneros de primeira necessidade, fari-

nha e feijão, como a produção não é abundante e tem-se notícia da falta do

primeiro, é natural que haja tendência à alta. O preço máximo da farinha

chegou a 3.000, 4.000 e 6.000 réis por alqueire, enquanto o do feijão atingiu

3.000, 4.000, 5.000, 6.000 e 7.000. No ano de 1802, os preços são mais

elevados do que os demais anos, havendo declínio de produção.(25)

No quarto capítulo, nos referimos ao crescimento da população

entre 1774 e 1798, registrando aumento bem significativo. Em 1799, na Ca-

pitania da Paraíba, o total de brancos, índios, pretos e mulatos é de 50.464;

em 1800, 56.475; em 1801, 55.573; em 1802, 50.835; em 1804, a população

declinou, ficando em torno de 38.814, e em 1805 são 49.358 habitantes. O

gráfico 2 nos dá uma visão do movimento da população da Capitania.

Há crescimento, porém com baixas, em alguns anos. Nos anos

de 1804 e 1805, houve diminuição da população, em consequência da

seca e da fome ocorridas no ano de 1803. No mesmo gráfico, verificamos

que o maior índice populacional é de mulatos, vindo em seguida os

brancos, os pretos e, finalmente, os índios.(26)

No quadro 32 das ocupações dos habitantes da Capitania da

Paraíba, referente aos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805, pode-

mos constatar a estratificação social. Nesse escalonamento, figuram o

corpo militar, a magistratura, o clero, os agricultores, os artistas, os

jornaleiros, os negociantes, os pescadores, os criadores de gado e, enfim,

os escravos e as escravas, os desocupados e os mendigos.(27)

A base da pirâmide é ocupada, naturalmente, pela mais

numerosa camada da população: os escravos e as escravas. Conforme

demonstra o referido quadro, os agricultores ocupavam, em

quantidade, o segundo lugar, enquanto os vadios e os mendigos

nos anos de 1802, 1804 e 1805, ficavam em terceiro lugar.

Destes há um aumento assustador nos dois últimos anos, em

Page 153: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 149

consequência da seca de 1803, que causou fome, miséria e falta de

trabalho.

Nos gráficos de 3 a 6 dos casamentos anuais, nascimentos e

mortes na Capitania da Paraíba, entre 1799 e 1805, temos uma visão de

conjunto do que ocorreu nesse período. O total de casamentos no ano de

1799, entre brancos, índios, pretos e mulatos, elevou-se a 1.283, sendo

maior o número de mulatos, pela maior proporção de seus habitantes.

Em 1800, o total de casamentos foi de 2.034; em 1801, de 1.842; em 1802,

de 1.470; em 1804, de 1.653 e, em 1805, de 1.855.(28)

No ano de 1799, o total de nascimentos de brancos, índios,

pretos e mulatos foi 3.521. Em 1800, 3.344; em 1801, 7.690; em 1802,

2.957; em 1804, 3.310 e em 1805, 3.790. O índice de nascimentos

manteve-se sempre em torno de pouco mais de 3.000, sendo exceção o

ano de 1801, em que o total subiu para 7.690. O maior número de

nascimento é o de mulatos, vindo, a seguir, o de brancos, pretos e índios.

Observem-se os gráficos de 3 a 6.

Em relação às mortes, o total, em 1799, é 1.474; em 1800,

1.522; em 1801, 1.279; em 1802, 1.551; em 1804, 1.666 e, em 1805, 2.044.

Entre 1799 e 1805, a mortalidade infantil de zero a um ano de idade,

era alarmante, atingindo a cifra de 48, 55, 59, 61, 76, 79, 81, 89, em cada

100. De um a cinco anos de idade, a mortalidade era de 39, 47, 49, 51, 61,

71 e 95, entre 1799 e 1805. Nos dados dos óbitos verificados entre 1799 e

1805, pode-se constatar que o grande problema residia na mortalidade

infantil. Os gráficos de 3 a 6 permitem uma visão global do que foi dito.

Os dados econômicos e sociais devem ser complementados com

algumas considerações sobre a comarca da Paraíba e os limites da Capi-

tania. A comarca da Paraíba, com apropriada razão — alega Amaro

Joaquim Raposo de Albuquerque —, não tinha os mesmos limites da

Capitania.(29) Maximiano Machado confirma o fato, quando diz:

“A circunscrição judiciária era muito mais ampla, os seus limites iam

mais longe. Todo o território do Rio Grande do Norte estava sujeito à

jurisdição do ouvidor e corregedor da comarca da Parahyba, como também o de

Itamaracá e Goyana na capitania geral de Pernambuco e o de Ceará, onde o ouvidor

abria egualmente correcções [...]. Em 1723 foi separado o Ceará dando-lhe o

governo da Metrópole ouvidor próprio que servia ao mesmo tempo de pro-

Page 154: A Paraíba na Crise do Século XVIII

150 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

vedor da fazenda, como fez constar ao governador da Parahyba. A parte de

Pernambuco continuou na dependência daquela província até 1815, em que foi

creada a comarca de Olinda à cujo território passaram Itamaracá e Goyana. O Rio

Grande do Norte foi separado em 1818 ”.(87:12)

Durante a fase de anexação, foram conservados os limites da

Capitania da Paraíba, sem modificações.(58) “A Paraíba não figurou

como donataria no quadro dos primeiros quinze lotes distribuídos, [...]

tendo esta se originado de Itamaracá”.

Mozart Vergetti de Menezes confirma o fato de que a “jurisdição

judiciária” era bem mais ampla do que os limites da capitania ao afirmar:

“Criada em 25 de janeiro de 1688, a jurisdição da Ouvidoria Geral da

Paraíba ultrapassava, significativamente, as dimensões geográficas dos

limites da noção espacial e política da capitania [...] e quanto à questão

judiciária, a Comarca da Paraíba teve, como suas anexas, as comarcas de

Itamaracá, Rio Grande e, [...] também a comarca do Ceará”.(165:61) Em

1723, o Ceará foi separado da jurisdição da Paraíba, com ouvidor

próprio.

Ao incluir na jurisdição da ouvidoria da Paraíba, o Rio Grande

e Itamaracá, entendia o Rei que a administração da justiça se faria com

mais celeridade pela proximidade dessas terras, do que antes se fizera

através da Bahia de onde não saiam correições pela distância.

Conforme carta de doação, a descrição da Capitania de

Itamaracá era a que se segue: ‘‘as trinta léguas que fallecem comessarão

no Rio que cerca em Redondo a ilha de Tamaracá, ao qual Rio eu hora

puz nome — Rio de Santa Cruz, e acabarão na Bahya da Trayção, que

está em altura de seis graus.”(87, 2:331)

Na sua Corografia Brasílica, Casal (26:192) no capítulo sobre a

Província da Paraíba, diz:

“Esta Província he a mesma Capitania d’Itamaracá; ou para melhor dizer,

occupa quazi dois terços daquela: não tendo hoje mais de dezoito a dezenove

leguas de costa, contadas do rio Goyanna athé a enseada dos Marcos, que fica

tres milhas ao Norte do rio Camaratiba; havendo-lhe tomado a de

Pernambuco sete a oito leguas na parte meridional, e a do Rio Grande

quatro a cinco ao Norte: sendo de notar que a capitania d’Itamaracá

verdadeiramente nunca foi mais que uma porção da que El-Rei D. Joam o

Terceiro dera a Pedro Lopes de Souza, em mil quinhentos trinta e quatro.”

Page 155: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 151

Chegamos a admitir com base no texto acima de Aires de Casal

o fato de que a Paraíba perdeu terras para Pernambuco, quando da con-

quista real, o que não se confirma. Na segunda edição deste livro,

procuramos rever esta questão, visto que a História é para ser revista

e reinterpretada por nós mesmos historiadores do presente e por outros

do futuro, todas as vezes que se fizer necessário.

A Paraíba não perdeu terras para Pernambuco porque não as

possuía e por serem essas terras da Capitania de Itamaracá. A ilha de

Itamaracá, Igaraçú e Goiana passaram a pertencer a Pernambuco. Além

do mais, a vila de Igaraçú foi fundada por Duarte Coelho antes da

efetivação da conquista da Paraíba, em 1585.

No verbete Paraíba, (Capitania da) afirmamos que a Paraíba

surgiu do desmembramento da Capitania de Itamaracá e despontou no

processo de conquista e expansão territorial a partir de Pernambuco.(167)

Opinião semelhante tem Regina Célia Gonçalves, a respeito da Paraíba e

Itamaracá quando diz: “Parte do território do que viria a ser a Capitania

Real da Paraíba, especificamente a área situada entre o rio Goiana, ao sul,

e a Baía da Traição, ao norte, que correspondia a cerca de 23 léguas, foi

desmembrado da Capitania de Itamaracá.(164)

O mapa da Distribuição Geográfica da Capitania de Pernambuco

e suas Anexas em 1780, publicado no livro de Ribeiro Junior (132:64-5)

nos dá uma visão da extensão da própria capitania de Pernambuco e da

jurisdição que ela exercia sobre suas anexas: Paraíba, Rio Grande e Ceará.

A capitania do Ceará fora desanexada da de Pernambuco pela

mesma Carta Régia de 17 de janeiro de 1799, que separava também a

Paraíba do domínio pernambucano.

O Rio Grande do Norte, até 1817, continuava sob a

dependência de Pernambuco, sendo sua autonomia consolidada em

1820. Figuravam dentro dos limites meridionais da Capitania de

Pernambuco, até 1817, a região das Alagoas, e até 1824, a comarca do

São Francisco, que D. Pedro I agregou a Minas Gerais e, depois, à

Bahia.(42:246, 248)

Procuramos demonstrar, no curso deste capítulo, que o ato for-

mal da desanexação da Capitania da Paraíba, emanado da Metrópole,

não produziu, de imediato, todos os efeitos desejados pelos seus

habitantes. A liderança político-administrativa de Pernambuco resistia às

Page 156: A Paraíba na Crise do Século XVIII

152 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

modificações da burocracia real, sobretudo em face da hegemonia econô-

mica da vizinha unidade do sul, com o comércio mais desenvolvido da

região, servido pelo porto de Pernambuco, mais frequentado e mais

atraente que o da Paraíba, coisa que já preocupava Brandônio nos

Diálogos das Grandezas do Brasil(36) e que não deixa de ser também

preocupação atual.

Por outro lado, o papel histórico de Pernambuco como centro

da conquista e da expansão demográfica do Nordeste, na segunda meta-

de do século XVI, não deixou de ser responsável por essa situação de

ascendência sobre as capitanias reais conquistadas.

Desta forma, se explica, pois, a reação dos fatos às determina-

ções reais, ou seja, o processo lento de recuperação autonomista da Capi-

tania da Paraíba durante o qual sobreviveram vínculos de dependência

à capitania pernambucana, através de órgãos administrativos e

judiciários, cuja jurisdição continuou a se estender, repetidas vezes,

sobre a Paraíba.

Page 157: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 153

NOTAS

1 A.H.U.C.PB. Carta de Fernando Delgado Freire de Castilho à Rainha, reclamando contra a falta de um regimento particular para a Capitania, em 07.05.1798. 2 A.H.U.C.PB. Carta do Capitão-mor Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque ao Príncipe Regente, informando-lhe não haver regimento na Capitania, limitando-se o remetente a governar sob as ordens reais, em 05.10.1805. 3 A.H.U.C.PB. Carta Régia dirigida a Fernando Delgado Freire de Castilho, na qual o Rei manda extinguir a Provedoria da Fazenda Real da Paraíba, estabelecendo uma Junta de Administração e Arrecadação da Fazenda Real na Paraíba, subordinada ao Real Erário, em 24.01.1799. 4 A.H.U.C.PB. Do Capitão-mor Luiz da Motta Feo a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, censurando o fato de continuarem as finanças da Paraíba ligadas a Pernambuco, mes- mo depois da desanexação, em 09.04.1803. 5 A.H.U.C.PB. De Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, apresentando as razões da decadência da Capitania e a queixa quanto à subordinação das finanças da Paraíba a Pernambuco, em 07.10.1802. 6 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, a propósito da criação da Pia Sociedade Agrícola Protetora da Pobreza Depertadora da Agricultura, em 27.10.1802. 7 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, na qual diz atender a solicitação do Príncipe Regente, para o aumento da lavoura do arroz, em 10.11.1802. 8 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, sobre a alta dos preços

dos gêneros de primeira necessidade, em 09.091 803. 9 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, comunicando-lhe que houve chuvas nos meses de maio a agosto de 1803, havendo baixa de preços, inclusive da farinha de mandioca, em 09.09.1803. 10 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, sobre a Carta Régia de 6 de abril de 1804, na qual o Príncipe Regente pedia uma contribuição voluntária aos habitantes da Capitania, em 30.07.1804. 11 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, sobre o dinheiro que enviara para a real contribuição, em 30.07.1804. 12 A.H.U.C.PB. Carta de Luiz da Motta Feo ao Visconde de Anadia, sobre a vanta- josa e generosa contribuição que conseguiu dos habitantes da Capitania, no valor de mais de vinte e quatro contos de réis, em 12.10.1804. 13 A.H.U.C.PB. Carta de Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque ao Visconde de Anadia, relatando-lhe as dificuldades que tinha passado a Capitania, com as secas passadas, em 10.07. 1806. 14 A.H.U.C.PB. Carta de Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque ao Visconde de Anadia, sobre a razoável situação da capitania e pedido de isentar por tempo de 10 anos metade dos direitos na escravatura que vem para este porto, em 10.07.1806. 15A.H.U.C.PB. Do Conselho Ultramarino ao Rei, desaconselhando o atendimento ao pedido de isenção do Governador da Paraíba, dos direitos dos escravos que entram

Page 158: A Paraíba na Crise do Século XVIII

154 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

nessa Capitania, em 10.12.1806. 16 A. H.U.C.PB. Ainda a propósito do parecer do Conselho Ultramarino acima referi- do,

em 10.12.1806. 17 A.H.U.C.PB. Rendimento e despesa da Real Fazenda da Capitania da Paraíba do Norte, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1803, 1804 e 1805. 18 A.H.U. C.PB. Quadro comparativo, em que se mostra o aumento das rendas reais na Capitania da Paraíba do Norte, pelas arrematações feitas no período de 1805 a 1806, em que se inclui o triênio de 1802, 1803 e 1804. 19 A.H.U.C.PB. De Fernando Delgado Freire de Castilho a D. Rodrigo de Sousa Coutinho, sobre as finanças da Paraíba continuarem ligadas a Pernambuco, em preju- ízo de nossa Capitania. Refere-se ainda ao aumento das rendas reais e às possibilida- des de maior aumento, em 13.04.1799. 20 A.H.U.C.PB. Quadro comparativo das produções da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do que nela se consumiu e dela se exportou, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 21 A.H.U.C.PB. Quadro da exportação dos produtos da Capitania da Paraíba do Norte, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 22 A.H.U.C.PB. Quadro das cargas de navios e sumacas da Paraíba para Lisboa, nos anos de 1798, 1799, 1800 e 1803. 23 A.H.U.C.PB. Quadro dos navios que entraram e saíram do porto da Capitania da Paraíba do Norte, com o rendimento da Alfândega nos anos de 1798, 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 24 A.H.U.C.PB. Quadro da importação dos produtos manufatureiros do Reino, dos outros portos do Brasil e dos países estrangeiros, na Capitania da Paraíba do Norte, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 25 A.H.U.C.PB. Quadro dos preços correntes na Capitania da Paraíba do Norte, nos anos

de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 26 A.H.U.C.PB. Quadro dos habitantes que existiam na Capitania da Paraíba do Norte, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 27 A.H.U.C.PB. Quadro das ocupações dos habitantes da Capitania da Paraíba do Norte, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 28 A.H.U.C.PB. Gráfico dos casamentos anuais, nascimentos e mortes na Capitania da Paraíba do Norte, nos anos de 1799, 1800, 1801, 1802, 1804 e 1805. 29 A.H.U.C.PB. Carta de Amaro Joaquim Raposo de Albuquerque ao Visconde de Anadia, sobre a jurisdição da Comarca da Paraíba ser maior que os limites da Capitania, em 12.07.1806.

Page 159: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 155

A

CONCLUSÕES

pós a guerra holandesa, a recuperação econômica da Capitania

da Paraíba, encontrou dificuldades não só internas, causadas

pela decadência em que ficou ela própria, mas também exter-

nas, relacionadas com a depressão da economia europeia, na segunda

metade do século XVII. Essa recuperação processa-se lentamente, uma

vez que a depressão desse século projeta-se até 1740, aproximadamente.

Não há dúvidas de que, nesse sentido, a conjuntura internacional agiu

desfavoravelmente.

Na Paraíba, a produção de açúcar, antes da guerra, como mos-

tramos no terceiro capítulo era de dez e doze mil caixas. Depois dela,

houve anos em que se fizeram apenas 100 caixas de açúcar.

O período entre 1755 e 1799, de anexação da Capitania da

Paraíba à de Pernambuco, corresponde a uma fase de expansão da eco-

nomia europeia, cuja tendência não é acompanhada por Portugal. Esse

país enfrenta uma das maiores crises econômicas de sua história: crise

estrutural, como já dissemos, que se deve à dependência de Portugal ao

seu comércio externo e à permanência das formas arcaizantes de sua

economia. A crise dos produtos brasileiros é um desdobramento dessa.

Assim, o declínio econômico da Capitania ultrapassou o sécu-

lo XVII, prolongando-se de tal forma até meados do século XVIII, diante

do que, para remediar os males, concorda o Rei, como já foi dito, com o

parecer do Conselho Ultramarino de anexar a Paraíba a Pernambuco,

ficando essa anexação consumada pela Resolução Real de 29-12-1755.

Page 160: A Paraíba na Crise do Século XVIII

156 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Essa medida não surtiu o efeito desejado uma vez que Pernambuco tam-

bém atravessava situação difícil, conforme declarações de um de seus

governadores, Luiz Diogo Lobo da Silva. Este se desculpava por não

remeter regularmente à Paraíba os vinte mil cruzados que Pernambuco

lhe devia, ficando bem claro que Pernambuco não tinha condições de

recuperar a economia da Paraíba, pelas razões alegadas em outros capí-

tulos.

Aliás, a recuperação da Capitania da Paraíba era da responsa-

bilidade do governo da Metrópole, o qual, ao se omitir, transferiu ao

governo de Pernambuco um problema que não lhe dizia respeito, tentan-

do assim livrar-se dos encargos e das responsabilidades que a desejada

recuperação impunha. A anexação, além de não resolver os problemas

paraibanos, contribuíra para a ruína da Capitania. Os inconvenientes

da subordinação aparecem claramente, nos depoimentos de Jerônimo

José de Meio e Castro e de Fernando Delgado Freire de Castilho ao Rei e

aos Secretários dos Negócios Ultramarinos.

Entre outros inconvenientes, a falta de um comércio direto entre

a Capitania e a Metrópole constituía um dos fatores negativos para o de-

senvolvimento da Paraíba, cuja produção exportava-se, em sua maior par-

te, pelo porto de Pernambuco. Isto, apesar de o porto da Paraíba ter condi-

ções para fazer o seu escoamento e como já nos referimos anteriormente,

não encontramos, na documentação consultada, nenhuma referência de

que o porto da Paraíba tivesse problemas para receber embarcações.

Em toda a fase da subordinação, era esse o esquema do comér-

cio da Capitania da Paraíba, que, aliás, satisfazia aos seus moradores,

pois, vindo muito raramente navios a esse porto, preferiam que sua pro-

dução seguisse por Pernambuco, por ser regular aquele escoamento. Por

vezes, os capitães-mores da Paraíba tentaram impedir esse sistema de

exportação, do qual tiveram de abrir mão, em razão de seus habitantes

representarem junto ao Rei, contra tal atitude, sendo atendidos.

A concentração das nossas rendas em Pernambuco

prejudicava o bom andamento dos negócios da Capitania subordinada,

pois Pernambuco retinha esse dinheiro, e nem sequer mandava anual-

mente a remessa dos vinte mil cruzados, para pagamento da Infantaria,

Page 161: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 157

que estava obrigado a atender, em virtude da união das dízimas de ambas

as capitanias em um só contrato.

Por esse motivo, ficava o Capitão-mor da Paraíba sem poder

fazer aqui o menor benefício, por causa da centralização das rendas. O

fato de se pedir que Pernambuco remetesse dinheiro à Paraíba não signi-

ficava solicitar “uma remessa graciosa”, como muito bem dissera a rai-

nha D. Maria I, mas algo que por direito pertencia à Paraíba. No entanto,

ficava esse dinheiro retido.

Dessa forma, seria inviável o desenvolvimento da Capitania

da Paraíba, por ficarem todos os lucros do seu comércio em

Pernambuco, havendo naturalmente repasse para Portugal. Não tinha

a capitania vizinha interesse nem condições de desenvolver a Paraíba,

em face do monopólio que exercia sobre a mesma.

Sem autonomia política e econômica, pouco puderam fazer os

referidos capitães-mores pela Capitania da Paraíba. A perda dessa prer-

rogativa teve reflexos no desempenho daquelas autoridades, que se sen-

tiam naturalmente desrespeitadas, por entenderem os seus

jurisdicionados que poderiam recorrer a Pernambuco, quando cometes-

sem faltas de que ficariam, algumas vezes, impunes. Não foram raros os

conflitos de jurisdição, e compreende-se que os capitães-mores da Paraíba

tenham pedido ao Rei determinar os limites da subordinação, em face da

arrogância de competência dos capitães-mores de Pernambuco em as-

suntos da Paraíba.

A jurisdição que Pernambuco tivera sobre a Paraíba execera-

se não somente no plano político, mas também no econômico e no

militar, como ficou bem clara uma declaração de José César de

Menezes, que dizia ser o título de Governador da Paraíba apenas

honorário e concedido para condecorar a pessoa do seu Capitão-mor.

Como já foi dito, os capitães-mores estavam impedidos, em

decorrência da subordinação, de quaisquer ações materiais, para

melhorar a Capitania: o seu próprio numerário ficava retido,

repetidamente, em Pernambuco. Eram necessárias não só precatórias,

mas ordens régias para que o repasse do produto da dízima fosse feito à

Paraíba.

Page 162: A Paraíba na Crise do Século XVIII

158 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Os capitães-mores mencionados não se descuidaram de alertar

a Rainha, sobre as desvantagens da anexação e o que, de fato, aqui acon-

tecia. Convenceu-se D. Maria I de que a subordinação não melhorara a

Capitania, mas antes retardara o seu desenvolvimento. Convicta disso e

da importância dos interesses de Portugal, resolveu desanexar esta Ca-

pitania da de Pernambuco, pela Carta Régia de 17 de janeiro de 1799.

A desanexação atendia não só os interesses da Metrópole, mas

também os dos capitães-mores, uma vez que estes podiam administrar

suas próprias rendas, cobrar impostos e executar as obras de que a Capi-

tania tinha necessidade.

Restaurada sua autonomia, não se pode afirmar que o seu de-

senvolvimento foi rápido. Ainda enfrentou dificuldades. A sua receita,

no início do século XIX, mostra aumento razoável, em comparação com

as receitas entre 1756 e 1798. Não somente receitas, mas também

rendas, consequências do aumento de sua produção.

A documentação consultada demonstrou que a autonomia

não se concretizou imediatamente em virtude da citada Carta Régia. A

restauração foi lenta. Os longos anos de dependência,

naturalmente, exigiam cautelas que atendessem ao espírito d o

processo colonial português.

Page 163: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 159

ANEXOS

Page 164: A Paraíba na Crise do Século XVIII

160 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Page 165: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 161

Gráfico 1 — Rendimento e despesa da Real Fazenda da Capitania da

Paraíba do Norte

Legenda

— Rendimento e despesa

Nota: A Receita é igual a Despesa

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Rendimento e despesa da Real Fazenda da

Capitania da Paraíba do Norte

Nota: A Receita é igual a Despesa

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Page 166: A Paraíba na Crise do Século XVIII

162 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Gráfico 2 — Habitantes que existiam na Capitania da Paraíba do Norte

Legenda

Brancos

Pretos

Índios

Mulatos

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

Habitantes que existiam na Capitania da Paraíba do Norte

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

Page 167: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 163

Gráfico 3 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da

Paraíba do Norte por raça: Brancos

Legenda

Casamentos

Nascimentos

Mortes

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

Casamentos, nascimentos e mortes na

Capitania da Paraíba do Norte por raça: Brancos

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Page 168: A Paraíba na Crise do Século XVIII

164 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Gráfico 4 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da

Paraíba do Norte por raça: Índios

Legenda

Casamentos

Nascimentos

Mortes

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da

Paraíba do Norte por raça: Índios

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Page 169: A Paraíba na Crise do Século XVIII

A PARAÍBA NA CRISE DO SÉCULO XVIII 165

Gráfico 5 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da

Paraíba do Norte por raça: Pretos

Legenda

Casamentos

Nascimentos

Mortes

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

Casamentos, nascimentos e mortes na

Capitania da Paraíba do Norte por raça: Pretos

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Page 170: A Paraíba na Crise do Século XVIII

166 ELZA RÉGIS DE OLIVEIRA

Gráfico 6 — Casamentos, nascimentos e mortes na Capitania da

Paraíba do Norte por raça: Mulatos

Legenda

Casamentos

Nascimentos

Mortes

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

Casamentos, nascimentos e mortes na

Capitania da Paraíba do Norte por raça: Mulatos

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

Page 171: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 1 — Concessão de provisões para reedificação de engenho na Paraíba

Fonte: Arquivo da Alfândega de Lisboa L. 115 C. fls. 43. V., 60., 141. V., 145. V., 161. V., 163,

L. 115 . fls. 45. V. e 49. V.

A P

AR

AÍB

A N

A C

RIS

E D

O S

ÉC

UL

O X

VIII

16

7

Page 172: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 2 — Contratos dos dízimos reais (rendimentos)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. PB. C, s/d.

16

8

EL

ZA

GIS

DE

OL

IVE

IRA

Page 173: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 3 — Contratos e rendas reais da Capitania da Paraíba (em réis)

Fonte: A. H. U Cód. 1589. PB., C. PB. 7 C. PB. 7., C. PB. 9., C. PB. 13.

A P

AR

AÍB

A N

A C

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E D

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ÉC

UL

O X

VIII

16

9

Page 174: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 4 — Receita e despesa da Capitania da Paraíba (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

17

0

EL

ZA

GIS

DE

OL

IVE

IRA

Page 175: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 5 — Receita e despesa da Capitania da Paraíba (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa

A P

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AÍB

A N

A C

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E D

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VIII

17

1

Page 176: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 6 — Rendas reais da Capitania da Paraíba do Norte, por distrito.

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

17

2

EL

ZA

GIS

DE

OL

IVE

IRA

Page 177: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 7 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consu-

mo e exportação.

Produto: Açúcar Medida: Quintal

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

A P

AR

AÍB

A N

A C

RIS

E D

O S

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UL

O X

VIII

17

3

Page 178: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 8 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consu-

mo e exportação.

Produto: Algodão Medida: Quintal

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 179: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 9 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo

e exportação.

Produto: Tabaco Medida: Arroba

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 180: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 10 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo

e exportação.

Produto: Farinha Medida: Alqueire

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 181: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 11 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do

consumo e exportação.

Produto: Feijão Medida: Alqueire

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 182: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 12 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo

e exportação.

Produto: Arroz Medida: Alqueire e Quintal

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa. Obs: No ano de 1805 a medida é dada em quintal

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Page 183: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 13 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consu-

mo e exportação.

Produto: Milho Medida: Alqueire

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 184: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 14 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo

e exportação.

Produto: Couro Quantidade por unidade

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 185: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 15 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consumo

e exportação.

Produto: Sola Quantidade por unidade

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 186: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 16 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consu-

mo e exportação.

Produto: Gado vacum Quantidade por cabeça

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 187: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 17 — Comparativo da produção da Capitania da Paraíba do Norte, com a especificação do consu-

mo e exportação.

Produto: Gado cavalar Quantidade por cabeça

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 188: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 18 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1798

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 189: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 19 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1799

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 190: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 20 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1800

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 191: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 21 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1801

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 192: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 22 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1802

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 193: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 23 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1804

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 194: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 24 — Importação dos produtos e manufaturas do Reino, dos portos do Brasil e dos países estran-

geiros da Capitania da Paraíba do Norte, em 1805

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 195: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 25 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1798 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 196: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 26 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1799 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 197: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 27 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1800 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 198: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 28 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1801 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 199: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 29 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1802 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 200: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 30 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1804 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 201: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 31 — Preços na Capitania da Paraíba do Norte em 1805 (em réis)

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 202: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 32 — Ocupações dos habitantes da Capitania da Paraíba do Norte

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 203: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 33 — Navios que entraram e sairam do porto da Paraíba do Norte com rendimento da Alfândega

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 204: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 34 — Carga do navio Santo Estevão, que vai da Cidade da Paraíba do Norte para Lisboa, em 9 de

outubro de 1798, sendo capitão Simão Luiz do Cabo

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 205: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 35 — Carga da Sumaca Nossa Senhora da Conceição, Santa Ana e Almas, que vai da cidade da

Paraíba do Norte para Lisboa, em 13 de novembro 1798, sendo capitão Joaquim Gomes de

Santiago

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 206: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 36 — Carga da sumaca Nossa Senhora da Conceição, São José e Almas, sendo mestre Antonio

Luiz Bastos, que vai da cidade da Paraíba para Lisboa em, 14 de dezembro de 1799

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 207: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 37 — Carga da galera Princeza da Beira, que vai da cidade da Paraíba do Norte para Lisboa, em

abril de 1800, sendo capitão José Teodoro de Andrade

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 208: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 38 — Carga do brigue Lebre, que vai da cidadde da Paraíba do Norte para Lisboa, em maio de 1800,

sendo capitão Manuel Pinto da Cunha

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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Page 209: A Paraíba na Crise do Século XVIII

Quadro 39 — Carga da galera Francezinha que vai deste porto para o de Lisboa. Paraíba, 5 de agosto de 1803

Fonte: Arquivo Histórico Ultramarino de Lisboa.

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