um antifonário "iluminado" do século xviii

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Padre José António Pinheiro e Rosa - Um Antifonário "Iluminado" do século XVIII, Separata do "Correio do Sul", Faro 1948

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Page 1: Um Antifonário "Iluminado" do século XVIII

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A' 9." 8os€ frnt6nio 9inheiro e Goso

Um Antifondrio

Scparata do <Correlo do Sull: FARO - 1948

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(lluminqdo>do s6culo Xvlll

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Page 3: Um Antifonário "Iluminado" do século XVIII

/f NDANDO bm pesquisas de Arte na 36 de Faro,1l fui encontrar eiquecido num armiirio (e, por sinal,

em condiQ6es bem critlcas) um livro de canto.chdo,que considero um verdadeiro achado artfstico.-

E' uma pasta de 0,"64 >< 0,'46, forrada de carneiralavrada, forio que se encontra bastante deteriorado. 'Iemvinte e oito folhas de papel forte. E' um antifondrio doOficio de Nossa Senhora da Conceiqdo.

As pautas s6o traqadas a vermelho e, apesar de setratar de canto-ch6o,'sio pentagramas. A notaqdo (dese'nhada e nf,o impressa) 6 quadrada e losangular. As longas'sio caudadas e fantasiadas. As notas quadradas medemquinze milimetros de lado. As letras do texto s6o de grandesdimens6es, certamente para poderem ser lidas pelos ,capitq.lares mesmo das suas-cadeiras. As maifsculas medem 57millmetros de altura; as min(sculas, 21.

Mas o mais notfvel 6 que as inicials de cada antifonaou responsdrlo siio todas interessantes desenhos i penamedindo cada um 0,'ll5 X 0,'108, excepto o tiltimo quemede 0,'140 >< 0,*145. :

Ernbora haia letras repetidas, o desenho nunca se re'pete. Por veztis 6 o mesmo motivo mas tratado diferente'mente.

E' notdvel tamb6m que alguns dos desenhos estflo as'sinados oor: oO P. ElUasr ou s6 rElvasr.

56o'vinte e oito, embora ndo corresponda um a cadafolha. Hd um i; l0 cc; I r;5 gg;5 bb; 5 ss; 5 da; I h; I d; Ip;l t.

A base do desenho, conforme o gosto da RenascenQa'6 sempre o acanto, umas vezes enrolado, outras alcacho'

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lrado e, de lez em quando, acompanhado de flguras hu-manas ou animais. Nalgumas letras aparece um tronco que6 sempre tratado com dureza.

O desenho 6 feito d pena, sendo os relevos e sombrasdados com uma ligeira aguada. Os vestidos das figuras sda tracejado. O nri dos corpos s6 a aguada.

Algumas letras s6o de uma leveza e delicadeza extraor'dinririas. Noutras o desenho 6 mais pesado. Isto comeqa anotar.se do meio para diante, podendo dar lugar at6 d hi'pdtese de ter havido mais de um desenhador. Esta afasta-:se porque, a cmaneirar 6 sempre a.mesma e apenas'acusaum certo cansaqo no artista. Nestas letras fltimas p trace-iado dri [ugar d aguada quase completamente e os enrola-rnentos t6m mer-rqs elegdncia..

t..,'Seguem-se notas sobre cada uma das letras.Na folha l : o f do tftulo: In festo Conceptionis, etc. e

o C da primeira antifona de V6speras: Conceptio gloriosae.Ambas assinadas: .O P, Elvaso. O I tem a haste formadapor dois acantos alcachofrados, um abrindo para cima e ooutro para baixo e desenvolvendo-se pa'a a esquerda doobservador em enrolamentos graciosamente entrecruzados,num dos quais pousa uma ave de asas abertas. A haste dot), de conliguraqdo semelhante i da letra anterior, mas de-senvolvendo para,a direita os enrolamentos, A ave pousanum foliculo da haste.

Folha 1. verso: 0 da antifona: -:'Conceptio est hodie.O mesmo motiVo da folha 1 mas tratado diferentemente.

Folha 2 verso: H da antifdna -- Regali ex progenie,Pcuco cancterizado. Ao meio da.letra, uma figura humana,de corpo inteiro, segura a curva superior.

Folha:5: t- da antifona Corde et bnino. Diferente dasanteriores. Assinada : "Elvasr.Folha S,verso: C da antifona Cun jacunditate,Tamb9,mdiferente. Assinada I cQ g. Elvqs'.,

Folha 4 verso : Cil da antffona de Maenificat - Glorio-sae. Agarrhila,A haste maior da tetrzr hd uma figura cie me.nino a quem :uma ave:espicaqa a nddega.

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Folha 5 uerso: C da antifona de Benedictas - C;once-ptionem, O mesmo mbtigo dos anteriores rnas traiado dife-rentemente.

Folha 6: C da antifona de Magnificat nas ll V6speras-- Conceptio laa. Nas costas da letra, uma Senhora da Con-ceiqdo, coroada de estrelas. Na haste inferior, uma cabeqade dragdo.

Folha 7 verso: 0 do Invitat<inio de Matinas. Tamb6mn6o 6 completamente igual aos outros cc.,

Folha 8 verso: S da antifona-Benedicta la (O,fficiumParvulum) e S da antifona-Sicut mynhs el,ecta.

Folha 9 verso: * da antifona - Ante torun. Menos bemcaracterizada.

Fr,lha l0 : trI do primeiro resporrsdrio - Hddie conceptaesf. Numa das hastes, um busto de menino. A melhor dasfiguras antropom6rficas. Interessante express6o flsion6mica.

Fclha ll verso: B do segundo respons6rio - Beatis-simae Vbginis. Diferente do da folha 8.

Folha l5: G do terceiro respon$6rio - Qloriosae Vir-ginis. Diferente do anterior, pois ndo tern a've nem menino.

Folha l5: !i da antifona - Specie tua (2i nocturno). Omesmo motivo do s anterior mas tratado diferentemente.

Folha 15 verso : A da antifona Adjuvabit eam. Dile.rcnte do anterior.

Folha 16: $ da antifona . Sicut laetantium. Mal carac-terizado. Diferente dos anteriores.

Folha 16 verso: C do responsdrio quarto - Conceptiogloriosae. Nao 6 completarnente igual a nenhum dos ante.riores. : ,

Folha 18: C do quinto respons6rio -:: Cum iucunditate.TambEm diferente.

Folha l9: () do sexto reponsdrio-Conceptio,tua. Aindadiferente.,':,r:

Folha 2l verso : Gl da antifona - Gaude Maria Virgo.Diferente dos anteriores, $em rnenino nem,ave..

Folha 22: D da antif ona-^.Dignare ne.Bem caracterizada,Folha 25: B do sdtimo respons6rio-Beatdm ne dicent,

Diferente dos anteriores. ' I

Folha 24 verso : f,' do oitavo respons6rio - Felix nam-que es, Mal caracterizado,

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Folha 27 z L, de uma nona antifona-Angelus Domini-a que adiante me reierirei. Mesmo tipo da folha 15 versomai em formato maior e com Pequenas diferenqas.

IFeita a descriqdo e ligeira critica dos desenhos. resta

dizer alguma coisa sobre a sua €poca e sobre o seu autor.O li-vro n6o tem qualquer data. Mas podem-se estabe'

lecer limites ilem e bquem dos quais ndo deve ser coloca'da a sua contecqdo.

O estilo dos ciesenhos-renascenqa-rd elemento muitoimpreciso: podia faz6-los pertencer aos sEculos Xvlll' XVIIe d'te talvez XVI. Outros etementos vao dar-nos mais luzsobre o caso. Aquem de 1854 n&o foi feito o livro porqueo oficio 6 ainda anterior d defini96o dogmdtica da Imacu-lada Conceigdo. Mais : o oticio 6 0 que ttazem os Direct6'rios do Coro de.l79l. Deve ser pois, pelo menos, dessa6poca, senflo anterior.'

Do srSculo XVll ndo me parece gue seia. Desse tempon60 hd na SE nenhum livro datado. Os datados s6o todosdo sdculo XVIII, o que eu explico pelo facto de estar ve-lho e incapaz nessa iltura tudo o que viera de Silves e tersido tudo reformado. Ora o livro de que se trata n6o temassim caracter de tanta antiguidacle que deva ser conslde'rado mais velho que os outros existentes. Julgo,pois-quenho me afasto da verdade colocando'o no sOculo XVIII.

Mas h6 nele um pormenor que elucida muito' As anti'fonas de Matinas da festa da lmaculada Conceiqdo eram',naquele tempo, as do Comum das Festas de Nossa Senho'ra e, para o riltimo salmo, hd duas : uma para o decorrerdo airo-e outra para o Advento. Ora, celebrando'se a-re-ferida festa no'Advento, parece gue a respectiva antifonadeveria ser colocada no lugar prdprio, desprezando.'s9- a

outra. Nio o foi, sendo posta em riltimo lugar, depois dosriltimos respons6rios. Porqu€ ?

Nao vejo outra razdo ienio esta: este livro n6o foifeito, exclusiva nem principalmente, para servir na festa(tinham os outros antifbndrios...) maq Para ser qsado.poriomodidade nos olicios votivos da Imaculada Conceiqflo

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que o Cabido da Catedral de Faro tinha o privildglo de ce'lebrar. em todos os sdbados (excepto os do Advento e daQuaresma) que n6o fossem impedidos com oficio de noveligOes. A antifona, pr6pria do Advento, que niio interessa-va, foi relegada para o fim.

Ora este privil6gio foi obtido pelo Cardeal Bispo doAlgarve,' D. Jos6 Pereira de Lacerda, em 1726. Portanto adata do livro e dos desenhos deve ser pouco posterior.Talttez fosse o pr6prio Cardeal que o mandasse fazer d suacusta, a n6o ser que se possa referir-lhe uma verba dedespeza de 1741 que diz: <Com o Antifondrio nouo 7$200r.

Julgo que, quanto a data; atingimos a mdxima proba-bilidade: primeiras ddcadas do s€culo Xvlll.

T

Quanto a autor, encontram-se menos elementos para oidentificar.

Os desenhos assinados trazem umas vezes cO P. El-last e outras oElvas".

Seria o autor padre ou o P quererd dizer cpintorr?Inclino'me mais para a primeira hip6tese. Todavia nos

livros capitulares ndo se encontra tal apelido, Ndo foi por-tanto padre que pertencesse i corporaqdo capitular.

Nas freguesias da cidade n6o faleceu nenhum sacerdo-te com o apelido de .Elvaso desde 1687 at6 1840.

Restam as hip6teses de o livro ter sido feito fora deFaro, ou de o autor ter daqui saido ou ainda ter sido fradede algum dos conventos da cidade. Esta riltirna'tem a apoi6--la o facto de aparecerem de vez em quando nos livros dedespeza da 56 ( nestas datas n6o ) verbas pagas a fradesque prestavam serviqos materiais.

Se assim foi, o artista do Antifondrio ficard sempre nosemi.anonimato que agora o envolve, o que ndo impedirdque a sua obra seia admirada.

Para que o possa serr consegui do Senhor CdnegoPresidente do Reverendissimo Cabido que o Antifondriofique habitualmente colocado numa estante coral, na capelade S. Francisco de Paula. Ficard assim em melhores con-diq6es de conservaqdo e de exame ou consulta.

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rUma palavra ainda sobre o tralor da o.bra. Deseio- s,er'

a esi* res'peito, positivo e elato' Fale,i acima .em .acha9oartisticoo.'Evideritemente dever6 spor:se bquela expressdoesta cl6ustlla .in $6nere suor.-- - Nao se trati de descoberta compardvel i de umrRubensr, de um oGoyat, de um uFrei Carlosr ou de ou-tra obra de Primeira categoria."- -fttui i.lurnos et pr"esenqa de um trabalho original'curiosoi di relatitra perfeiqao'dentro do seu $6nero' Podeinteiessar ao estudo dos caligrafos. Podc consid.er.ar.se uma

;rpe;A de rdplica is triluminuraso. A sua tinalidade, pelomenos. € id€ntica.

No Algarve nada mais possuimos neste g-6.nero.q.ngs

tvtuseui e -exposlq6es de Arte Sacra que tenho Visltado

nada vi de semelhante."-- Huvia pois, quando mais n6o fosse, o mOrito .0t :itq!-

laridade. A esde todavia podemos iuntar certo 9al0r lnlrln-ieco--de correcqao, imalinativa e $osto. caldeados comuma simplictdadb de proEessos que dd a esta s6rie de- de"

rJi,ttoi u'* iuntto de curiosidade 6 lnteresse de que nenhum;ii;dou ciitico de Arte desdenhard.o"'oH.;il;;;

tiotitit tdu* eiiu oura e sobre este artistapoOJiJr-o].onio de partida para o aparecimento de traba'lrroi t*gg,iutut quo'porv"niura -iazam

i gnorado s no,f undodqs arqrlivost ou- paia a identificaqao de mais uT qes-q9-

nhecido' obreiro d6 nosso patrlm6nio artistico, nao hesltoem PublicdnTugruoo

Mestre carlos Lyster Franco $elroaoui ionsignad-o o meu agradecirnento pela gentileza de tereiiminaOo- os desenhos e pelas autorizadaE sugqstdes que

me deu.

&

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Page 9: Um Antifonário "Iluminado" do século XVIII

'F

Reprodugdo do Antifondrio oberto,vendo-se os letros (D e E dq folho 8 verso.

A letro fl do folho l0 (redugdo).

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O C do titulo, com ossingturo (redu96o)

O I do folho 4 verso (redugdo).