as competÊncias investigativas na escola e as … · as competÊncias investigativas na escola e...

13
AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS Adriane Cecchin Cristiane Kieling Luisa da Rosa Viviane Maria Osmarin 1 Lisandra Pacheco da Silva e Nilda Stecanela - orientadoras Resumo Este artigo tem como objetivo refletir sobre quais são as competências investigativas na escola e quais as implicações de uma prática pedagógica pautada no uso da pesquisa em sala de aula na aprendizagem dos alunos. Além disso, intenciona mapear quais são as percepções dos alunos relativamente à presença da pesquisa em sua formação na Educação Básica. O texto é resultado de projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito do Curso de Extensão denominado Escola e Pesquisa: um encontro possível, realizado no primeiro semestre de 2016 nas dependências da Universidade de Caxias do Sul. Os dados empíricos foram construídos com base nas orientações da Pesquisa de Opinião, através da aplicação de questionário estruturado com 18 questões, sendo algumas abertas e outras fechadas, de múltipla escolha, cujo modo de participação foi autoaplicável com a presença do pesquisador. O instrumento de pesquisa levou em consideração os seguintes aspectos: (a) o perfil do entrevistado; (b) as representações que têm sobre o tema investigado; (c) as expectativas em relação a garantia e efetivação do uso da pesquisa na escola, procurando os aspectos que indicam as potências e as lacunas nos atuais modos de fazer da escola. Com os questionários respondidos os dados foram tabulados e categorizados. Através do processo de análise foi possível identificar um desejo dos alunos em aprender pela pesquisa e, de forma indireta, dizem que desejam o aprofundamento, de modo a sair da superficialidade ou do conhecimento fragmentado. Levando-se em consideração esse aspecto, fica evidente a necessidade da atuação do professor como um mediador, um orientador, um facilitador entre o conhecimento e o educando. Palavras-chave: Atuação docente. Educar pela pesquisa. Desafios da Educação. Construção do Conhecimento. INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA O aprendizado é mais do que a aquisição da capacidade para pensar; é a aquisição de muitas capacidades especializadas sobre várias coisas para pensar. (VYGOTSKY) As frequentes mudanças na realidade da sala de aula e o aprofundamento nas concepções de ensino e de aprendizagem são motivadores de constantes 1 Adriane Cecchin: Bióloga graduada pela Universidade Luterana do Brasil Canoas, RS. Atua com professora nas disciplinas de Ciências, Química e Seminário Integrado da E.E.E.M. Prof. Apolinário Alves dos Santos de Caxias do Sul; Cristiane Kieling: Pedagoga - SMECD de Nova Petrópolis; Luisa da Rosa: Discente do curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle Canoas, RS; Viviane Maria Osmarin: Enfermeira graduada pela Universidade de Caxias do Sul. Atua no atendimento domiciliar do Hospital do Círculo em Caxias do Sul.

Upload: volien

Post on 20-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO

APRENDER DOS ALUNOS

Adriane Cecchin Cristiane Kieling

Luisa da Rosa Viviane Maria Osmarin1

Lisandra Pacheco da Silva e Nilda Stecanela - orientadoras

Resumo

Este artigo tem como objetivo refletir sobre quais são as competências investigativas na escola e quais as implicações de uma prática pedagógica pautada no uso da pesquisa em sala de aula na aprendizagem dos alunos. Além disso, intenciona mapear quais são as percepções dos alunos relativamente à presença da pesquisa em sua formação na Educação Básica. O texto é resultado de projeto de pesquisa desenvolvido no âmbito do Curso de Extensão denominado Escola e Pesquisa: um encontro possível, realizado no primeiro semestre de 2016 nas dependências da Universidade de Caxias do Sul. Os dados empíricos foram construídos com base nas orientações da Pesquisa de Opinião, através da aplicação de questionário estruturado com 18 questões, sendo algumas abertas e outras fechadas, de múltipla escolha, cujo modo de participação foi autoaplicável com a presença do pesquisador. O instrumento de pesquisa levou em consideração os seguintes aspectos: (a) o perfil do entrevistado; (b) as representações que têm sobre o tema investigado; (c) as expectativas em relação a garantia e efetivação do uso da pesquisa na escola, procurando os aspectos que indicam as potências e as lacunas nos atuais modos de fazer da escola. Com os questionários respondidos os dados foram tabulados e categorizados. Através do processo de análise foi possível identificar um desejo dos alunos em aprender pela pesquisa e, de forma indireta, dizem que desejam o aprofundamento, de modo a sair da superficialidade ou do conhecimento fragmentado. Levando-se em consideração esse aspecto, fica evidente a necessidade da atuação do professor como um mediador, um orientador, um facilitador entre o conhecimento e o educando.

Palavras-chave: Atuação docente. Educar pela pesquisa. Desafios da Educação. Construção do Conhecimento.

INTRODUÇÃO E CONTEXTUALIZAÇÃO DO TEMA

O aprendizado é mais do que a aquisição da capacidade para pensar; é a

aquisição de muitas capacidades especializadas sobre várias coisas para pensar.

(VYGOTSKY)

As frequentes mudanças na realidade da sala de aula e o aprofundamento nas

concepções de ensino e de aprendizagem são motivadores de constantes

1Adriane Cecchin: Bióloga graduada pela Universidade Luterana do Brasil – Canoas, RS. Atua com professora

nas disciplinas de Ciências, Química e Seminário Integrado da E.E.E.M. Prof. Apolinário Alves dos Santos de

Caxias do Sul; Cristiane Kieling: Pedagoga - SMECD de Nova Petrópolis; Luisa da Rosa: Discente do curso de

Ciências Biológicas do Centro Universitário La Salle – Canoas, RS; Viviane Maria Osmarin: Enfermeira

graduada pela Universidade de Caxias do Sul. Atua no atendimento domiciliar do Hospital do Círculo em Caxias

do Sul.

Page 2: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

atualizações no que se referem às competências investigativas na escola.

O desenvolvimento da humanidade traz evoluções que afetam a atuação dos

diferentes profissionais que passam pela área da educação.

Podemos afirmar que os novos paradigmas educacionais compreendem o que

envolve as mudanças na política pública de educação e as demandas oriundas da

sociedade contemporânea que é plural, heterogênea, com novos atores, espaços e

dinâmicas que coexistem com o tradicional. Dentro destas atualizações, deve-se levar

em conta a discussão sobre este tema – o uso da pesquisa em sala de aula - de modo

a compreender o aluno como um sujeito ativo, singular, que aprende quando em

interação com o outro ou outros sujeitos, que faz relações, que constrói significados

provisórios sobre o objeto de estudo e os refaz em novas relações.

Observamos que o ser humano está sempre em desenvolvimento tanto

individual, quanto social e profissional. Na área da educação, vem sendo observada

a dificuldade do professor em sua formação continuada, os fatores desestimulantes e

o despreparo dos profissionais com dificuldades em lidar com novos problemas da

sociedade, os quais se refletem no ambiente escolar. Em contrapartida temos

profissionais comprometidos com seu trabalho escolar. Assim, vem o questionamento

sobre quais são as competências que este professor necessita para promover o

processo de ensino e aprendizagem.

Diante dessas ideias, sabe-se que alguns procedimentos devem acontecer

dentro desse processo. São procedimentos fundamentais que permitem a

investigação, a comunicação, o debate de concepções, a experimentação, a

comparação, a organização e o tratamento da informação por meio de gráficos, textos,

desafiando o diálogo entre diferentes posições. Um ambiente problematizador, que

promova reflexões do seu saber, conforme nos ensina Paulo Freire ao afirmar que

Quanto mais criticamente se exerça a capacidade de aprender, tanto mais se constrói

e desenvolve o que venho chamando ”curiosidade epistemológica”, sem a qual não

alcançamos o conhecimento cabal do objeto. (FREIRE,2002, p.27).

Com vistas às transformações da sociedade como um todo, é necessária ao

professor a formação permanente, assegurando-o uma metodologia que venha ao

encontro dos desafios e a transformação do sistema educativo (SANTOS e

MARQUES, 2010).

A presente pesquisa aspira refletir sobre quais são as competências

Page 3: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

investigativas na escola e quais as implicações de uma prática pedagógica pautada

no uso da pesquisa em sala de aula na aprendizagem dos alunos. Além disso,

intenciona mapear quais são as percepções dos alunos relativamente à presença da

pesquisa em sua formação na Educação Básica.

Considera-se que tais competências investigativas podem desenvolver

aspectos relacionados à autonomia, à responsabilidade, à busca do saber através da

interpretação de informações, ampliação de saberes prévios e hipóteses, bem como

requer posicionamentos para expressão dos diferentes pontos de vista. Para tanto

espera-se que haja questionamentos, orientação e direcionamento, a fim de objetivar

o trabalho a ser desenvolvido.

Deste modo, queremos saber como a pesquisa pode ser utilizada na escola e

quais as consequências na forma de ensinar e de aprender. Além disso, interessa

saber como o aluno recebe isso e se aprenderá mais e melhor, pois intuímos que a

pesquisa é pouco utilizada como forma de ensino, mas quando o fazem os resultados

geralmente são positivos.

A grande dúvida é como inserir as competências investigativas em práticas

diárias, como um processo de construção de saber cooperativo gerado em

comunidades de aprendizagem, sem transformá-las em práticas distantes ou

aleatórias do que estamos acostumados ou, ainda, separá-las dos conteúdos

escolares, em projetos especiais e paralelos à organização curricular. É necessária a

busca por referências aprofundadas sobre o assunto, pressupondo que possam ser

adaptadas às peculiaridades de cada realidade.

A metodologia de pesquisa em sala de aula, como um método de ensino,

aproxima o aluno do objeto de estudo de uma forma envolvente, onde ele se torna,

conforme formulação de Demo (2007), um “parceiro de trabalho” do professor, pois

promove a constituição de uma relação horizontal que busca novas problematizações

e respostas das dúvidas e curiosidades, onde o educador, assumindo o papel de

mediador, se propõe a ensinar aquilo que ele mesmo ainda não sabe. A pesquisa,

muitas vezes, é utilizada somente como forma de consulta ou, então, é determinada

pelo professor, e isso acaba limitando a construção do significado da aprendizagem

por parte do aluno. Quando o tema é pensado pelo professor, nem sempre, a pesquisa

não carrega os conhecimentos prévios dos educandos, suas indagações e desejos,

voltando novamente para uma prática indesejada, não pensada no coletivo, sem

Page 4: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

sentido.

Por isso, este estudo pretende compreender as competências envolvidas nas

capacidades investigativas e revelar o quanto as mesmas auxiliam no processo de

sistematização do conhecimento, além de conhecer quais os benefícios obtidos

através delas visto que, às vezes, esse trabalho é descrito como difícil, demanda

investimento do professor ou é realizado apenas para ocupar o tempo. É

compreensível que, muitas vezes, os educandos não gostem de realizar trabalhos

dessa natureza, pois não são bem orientados e também porque os educadores não

possuem interesse em tal prática.

A escola deve ser um ambiente que proporciona e estimula o aluno ao

desenvolvimento da criticidade. Passar de uma atitude passiva uma atitude crítica,

elaborando suas próprias interpretações e opiniões (DEMO, 1997).

Com o uso da pesquisa a ideia de ensino se altera em oposição ao imobilismo.

Decreta a busca da autonomia – o aluno é quem verdadeiramente conduz o processo

de conhecimento. (FAZENDA, 2006).

O Tema em estudo gera opiniões divergentes entre as pessoas num mesmo

espaço escolar. Tanto entre os docentes, quanto entre os discentes. Há aqueles que

defendem tal método, pois já presenciaram experiências positivas, assim como há

outros, que não acreditam em seus resultados ou não estão dispostos a mudar suas

práticas, inclusive porque trabalhar com a pesquisa é, também, lidar com a incerteza

ou com verdades temporárias. É notório que em um grupo de pessoas as opiniões se

divergem e o diálogo se faz essencial. Tais fatores evidenciam a proeminência dessas

discussões, ainda que para mostrar e praticar o respeito à diversidade de opiniões e

a individualidade, a importância da colaboração na execução de tarefas e o respeito

à coletividade. Elementos esses, que devem ter lugar e relevância no processo de

ensino e aprendizagem, tornando o ambiente escolar mais rico, agradável e

transformador.

Parafraseando Thiago de Mello, “não, não tenho caminho novo, o que tenho de

novo é o jeito de caminhar”. É nessa ideia que pensamos construir uma nova maneira

de refletir e reconstruir nossa prática, trazendo tanto quanto mais pessoas para esse

campo de reflexão e mudanças.

Page 5: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

1 Percurso metodológico

O projeto orientou-se pela pesquisa de opinião, através da aplicação de um

questionário estruturado com dezoito questões contendo perguntas abertas e

fechadas, de múltipla escolha.

Os dados empíricos foram construídos com base nas orientações da Pesquisa

de Opinião, através da aplicação de questionário estruturado com 18 questões, sendo

algumas abertas e outras fechadas, com possibilidade de múltipla escolha. Os dados

foram construídos no período dia 27 a 30 de junho de 2016, cujo modo de participação

foi através de questionários autoaplicáveis com a presença do pesquisador. O

instrumento de pesquisa levou em consideração a busca dos aspectos que indicam

as potências e as lacunas nos atuais modos de fazer da escola. Os resultados

referem-se à análise de 201 questionários. Participaram do estudo alunos do sexo

masculino e feminino, com idades compreendidas entre 12 e os 18 anos, matriculados

entre o 6º e 9º anos. Com os questionários respondidos os dados foram tabulados e

categorizados.

Para a validação do instrumento de pesquisa (questionário) foi aplicado um

pré-teste com uma amostra de 10 participantes, validando-os a partir de algumas

alterações nas questões para melhor compreensão do pesquisado.

Os instrumentos de pesquisa levaram em consideração os seguintes aspectos:

(a) o perfil do entrevistado; (b) as representações que têm sobre o tema investigado;

(c) as expectativas em relação à garantia e efetivação do tema de pesquisa na escola,

procurando os aspectos que indicam as potências e as lacunas do atual formato de

escola.

Os dados foram construídos no período dia 27 a 30 de junho de 2016, os

questionários foram autoaplicáveis com a presença dos entrevistadores. Observou-

se que os alunos levaram em torno de 20 minutos para responderem as questões.

Com os questionários respondidos os dados foram tabulados permitindo a

realização de agrupamentos e a quantificação dos mesmos. Sendo possível a

elaboração de gráficos com analises qualitativas/quantitativas, interpretação das

variáveis e análise dos resultados.

Page 6: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

2 Compreendendo e interpretando os dados construídos

A pesquisa desenvolve o ensinar a pensar. Renova a prática e a teoria.

O desenvolvimento das competências tem um caráter formador. Ser

competente implica o domínio da totalidade do objeto ou fenômeno pesquisado e não

apenas algumas de suas partes. Ter uma visão do todo para poder compreender as

partes que o compõem.

O estudo procura indagar qual é o lugar da pesquisa na escola e quais as

competências investigativas que desenvolve no aluno. A pesquisa de opinião

proporcionou o levantamento das representações que os entrevistados constroem

e/ou emitem sobre o fenômeno analisado.

Os participantes da pesquisa, na sua maioria pertencem ao sexo masculino,

ou seja 105 alunos, correspondendo a 52%; por sua vez, 96 alunas compuseram a

amostra da pesquisa, perfazendo 48% dos participantes. No que se refere às idades,

a maioria situa-se entre os 12 e os 18 anos. Visualizando o gráfico apresentado na

Figura 1 é possível observar a proporção existente entre idade e número de

entrevistados.

Figura 1 – Gráfico quantidade total de respondentes por idade.

Fonte: Elaborado pelos autores

Após os dados de identificação, os respondentes interagiram com uma série de

perguntas referentes ao tema proposto em nossa pesquisa. Uma das perguntas do

Entre 6 e 12

ano

24%

Entre 12 e

18 anos

75%

NR

1%

Page 7: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

questionário foi elaborada no sentido de avaliar o interesse pelos diversos tipos de

aulas que são ministradas. Em sua maioria 151 entrevistados (75%) apreciam a forma

como são ministradas as aulas, mas 79 alunos dos 151 alunos (52%) não sabem

justificar exatamente porque gostam. Os entrevistados que justificaram as respostas

a esta pergunta (34 entrevistados ou 22%), apontaram que as aulas são divertidas,

importantes, interessantes e produtivas.

Na questão seguinte, procuramos compreender o que o aluno entende sobre

“pesquisa”, sendo que 38 alunos (19%) não responderam, enquanto 47 alunos (23%)

relataram que pesquisar é buscar informações sobre um assunto e adquirir

conhecimentos. Esta informação vem ao encontro da pergunta seguinte, ou seja,

“Qual sua opinião sobre o uso da pesquisa em sala de aula?”. Como resultado, 76

entrevistados (38%) consideraram bom, legal, importante e fundamental o uso da

pesquisa em sala de aula.

Quando questionamos os 201 alunos sobre quais disciplinas utilizam pesquisa

em sala de aula, 167 (83%) informaram que os professores utilizam a pesquisa em

sala de aula. Na Figura 2 podemos analisar detalhadamente as disciplinas que os

entrevistados referem que trabalham com a pesquisa.

Figura 2 – Gráfico das disciplinas que utilizam pesquisa em sala de aula

Fonte: Elaborado pelos autores

Como mostra a Figura 2 podemos observar que as disciplinas que mais

utilizam a pesquisa como opção metodológica são Ciências (80%), História (72%),

0

20

40

60

80

100

120

140

75

121

92

44

133

126

215 15

Page 8: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

Geografia (55%) e Língua Portuguesa (45%). Ao olhar para esta realidade, interpreta-

se que a pesquisa pode ser estimulada pelos professores que têm mais familiaridade

com a mesma. Aqui, cabe indagarmos a probabilidade de os professores que

possuem mais familiaridade com a pesquisa sejam os que em suas formações foram

incentivados a desenvolver e a aplicar a pesquisa como ferramenta metodológica.

Quando o professor consegue dar importância e significado ao uso da pesquisa em

sala de aula o aluno a vê como algo bom e positivo, conseguindo compreender a sua

importância.

Observamos também que os alunos possuem dificuldades de entender as

diferentes maneiras de pesquisar, pois 84 entrevistados observam que pesquisa deve

ser feita por meio da consulta em livros, com uso de Internet, busca em revistas e

entrevistas com pessoas, associando de forma simplificada os mecanismos de busca

e consulta com a realização de projetos de pesquisa.

A questão seguinte, após analisada, confirma nossa interpretação anterior,

pois perguntamos quais os recursos mais utilizados para pesquisar. Os alunos, em

sua maioria, utilizam livros e Internet como principais recursos para a busca de

informações e conhecimento. Destacamos a pesquisa bibliográfica como a mais

utilizada e conhecida pelos alunos pelo fácil acesso a livros, Internet e outros escritos

ofertados pelas próprias escolas, por ser tão mencionada, uma vez que as escolas

podem fornecer livros didáticos e de literatura para possíveis consultas em suas

bibliotecas.

A pesquisa pode ser mencionada como um conjunto de ações que visa a

descoberta de novos conhecimentos em uma determinada área. Pode surgir a partir

de um tema ou uma pergunta. Apropriando-se disso, questionamos os alunos sobre

como é realizado o processo de elaboração de uma pesquisa. Como vimos na figura

3, a maioria dos alunos sinalizam que a pesquisa pode partir tanto de um

questionamento do aluno, quanto de um questionamento do professor, como forma

de complementar um conteúdo e exemplificar uma curiosidade observada pelo

mesmo, pertinente a um assunto.

Figura 3: Gráfico correspondente à fonte de elaboração das pesquisas

Page 9: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

Fonte: Elaborado pelos autores

A palavra curiosidade, de origem latina, significa o desejo de conhecer algo

novo, desvendar, experimentar algo diferente. Observamos que os alunos buscam e

gostam dessas experiências e que esse modo de aprender é mais significativo, visto

que a curiosidade pertence a todo ser humano, ainda que em níveis diferentes.

Aguçar esse desejo pode se tornar interessante e proveitoso, como mostra o gráfico

da figura 4, onde perguntamos aos alunos: “Como vocês consideram a pesquisa

quando a mesma é construída a partir da curiosidade de vocês?”. Os resultados

apontam que a grande maioria dos alunos percebe que a aprendizagem se torna mais

eficaz e produtiva e que se tornam capazes de desenvolver habilidades e

competências anteriormente não desenvolvidas, evidenciando aprenderem melhor.

Figura 4 – Gráfico com significado da pesquisa pelo entrevistado

Fonte: Elaborado pelos autores

39 - A partir da

curiosidade e

dúvidas dos alunos

69 - Professor que

decide o tema da

pesquisa

102 - Às vezes a

partir da curiosidade

dos alunos; às vezes o professor decide o

tema da pesquisa

6 - Nr

0 20 40 60 80 100 120

21

140

26

5

0

20

40

60

80

100

120

140

160

Não aprende muito Aprendo muito mais Não faz diferença no

que aprendo

Nunca participei de

pesquisa em sala de

aula

NR

Page 10: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

Quando questionados quanto ao uso da pesquisa como forma de entender

melhor os conteúdos desenvolvidos na sala de aula, a maioria dos alunos sublinha

essa importância e descrevem como um ato motivador para construir e ampliar o

conhecimento, auxiliando nas dúvidas e tornando as aulas motivadoras e

interessantes.

Sobre o que aprendem ao fazer pesquisa, as opiniões dos entrevistados se

dividiram entre (a) os que não responderam e os que (b) responderam aprender

coisas novas, (c) muitas coisas e (d) descobrir mais sobre um tema específico.

No quesito auxiliar com sugestões para o desenvolvimento da pesquisa na

escola, a maioria não contribuiu com sugestões aos professores em relação a

fornecer dicas ou ideias.

Dos 201 alunos entrevistados, 160 manifestaram satisfação em participar da

entrevista, por pensarem ser importante expressar suas opiniões. Declararam que

gostam de serem ouvidos.

Ao perguntar aos alunos se gostam da forma como as aulas são ministradas,

a maioria respondeu que sim. Podemos supor que o sim representa gostar da escola,

porém, pelas respostas ao instrumento de pesquisa utilizado nesse estudo, há um

indicativo que não ocorre a mesma sintonia com o que ocorre dentro da sala de aula.

Existe um respeito à forma como as coisas são dentro da escola. Existe uma rotina

estabelecida como regramento em relação ao funcionamento da escola e das aulas.

Sabedores disso, o respeitam e o cumprem, ou seja, acreditam que a escola é assim

e não conseguem expressar exatamente o que mudariam nela, apenas que aulas

mais dinâmicas e divertidas são boas. A dificuldade para justificarem suas opiniões

pode estar associada à tradição da escola, no trabalho pedagógico sem muita

reflexão ou argumentação, competências desenvolvidas quando trabalhamos com a

pesquisa, e que, na aula tradicional não aparecem.

A pesquisa em sala de aula, na maioria das vezes, como proposta pedagógica,

é utilizada para complementar um determinado assunto, sendo a bibliográfica a que

mais perpassa por este espaço. Talvez porque seja essa a forma mais comum e mais

usada na formação do próprio professor. As respostas sobre o tema ou a pergunta

que desencadeia a pesquisa em sala de aula nos remetem ao assunto que está sendo

desenvolvido pelo professor. Quando os alunos podem escolher o tema aprendem

mais, conseguem perceber isso, mas ainda não conseguem relacionar com os

Page 11: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

conteúdos desenvolvidos em aula. Segundo Demo (2011, p. 31), “A reconstrução do

conhecimento implica processo complexo e sempre recorrente, que começa

naturalmente pelo uso do senso comum. Conhecemos a partir do conhecido”.

Para que os alunos consigam fazer estas relações é preciso trabalhar as

competências investigativas, pois são elas que permitirão o movimento que parte do

senso comum, transita pela curiosidade crítica para se aproximar da epistemológica.

E a pesquisa só como complemento bibliográfico sobre um determinado não

consegue fazer esta amplitude.

A pesquisa sob a ótica dos alunos permite o trabalho em grupo, o diálogo entre

os pares. Pedro Demo (2011) aponta o desafio de construir um estilo de trabalho em

equipe realmente produtivo. Escreve sobre a competência coletiva, solidária.

A competência coletiva é um modo de trabalho que desenvolve a cidadania

coletiva e organizada, onde é preciso também saber trabalhar de forma individual,

mas este individual significa que a pesquisa está internalizada como uma atitude e

por isso solidária. Exige a participação ativa, crítica e criativa. Aqui entram as

dimensões que são citadas na série de vídeos Escola e Pesquisa: um encontro

possível, nos quais Stecanela (2015) evidencia a dimensão ética, a política e a

estética na organização e discussão dos dados de uma pesquisa.

Os alunos têm dificuldades em fazer sugestões para os professores porque

ainda têm pouco conhecimento teórico e sistematizado da pesquisa em sala de aula.

Não têm conhecimento suficiente para argumentarem sobre pesquisa. Foi possível,

pela análise dos dados, perceber que os alunos têm o desejo de fazer uso da

pesquisa, de conhecer outras formas de buscar conhecimento e acreditam que a

escola pode ofertar isso. Também analisamos que dar sugestões remete a

compromisso, gostar das aulas, estar na escola e, nem sempre, estar na escola é

necessariamente compromisso com o aprender de forma aprofundada e científica.

Quando a maioria dos alunos coloca que gostou de participar da entrevista,

mas não sabe dizer o porquê, analisamos como dificuldades em refletir e justificar

suas opiniões ou escolhas. Aqui pode estar presente uma lacuna no processo de

aprendizagem desenvolvido dentro das escolas.

Page 12: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através de nossas análises identificamos um desejo dos alunos em aprender

pela pesquisa, de forma indireta nos dizem que desejam o aprofundamento. Sair da

superficialidade das aulas atuais ou do conhecimento apenas do senso comum e

desejam caminhar em direção do conhecimento epistemológico. Levando-se em

consideração esse aspecto, vemos o professor como um mediador, um orientador,

um facilitador entre o conhecimento e o educando.

Mas, no entanto, as dificuldades dos alunos em justificarem suas opiniões ou

apresentarem sugestões para os professores mostraram que há lacunas no processo

de aprendizagem e que algumas competências não foram desenvolvidas, como por

exemplo, a capacidade de argumentar, aprofundar, comparar, analisar, interpretar,

fazer suposições.

Transformar a sala de aula em um local de trabalho conjunto, é desafiador

porque significa movimento, comunicação, organização e participação. Sair de uma

posição individualista para uma posição coletiva. Aprender com o outro. O outro

aluno, colega e professor. Sendo o professor aquele que também aprende ao mediar.

Estas competências estão explícitas nos objetivos dos planos de trabalho

elaborados pela maioria dos professores, mas não implícitas no fazer pedagógico e

no cotidiano da sala de aula. Essas competências ou melhor, a falta delas, no

cotidiano da sala de aula, são dificuldades elencadas como próprias dos alunos e não

do processo de ensino.

O desafio de buscar compreender as competências investigativas no ensinar

e aprender do aluno através da pesquisa nos auxiliaram a ver que elas sempre

estiveram no cotidiano da sala de aula, mas que não conseguiam emergir como

ferramentas de mudança em função da metodologia.

Hoje compreendemos que a pesquisa ajuda o professor e o aluno a

desenvolverem competências como: observar, explorar, questionar, argumentar,

propor, contrapor, fundamentar, compreender, analisar, interpretar, ler, escrever,

reescrever, enfim o implícito no processo de aprender pela pesquisa é mais do que

podemos avaliar, pois, segundo Paulo Freire, “Não há ensino sem pesquisa e

pesquisa sem ensino”.

Page 13: AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS … · AS COMPETÊNCIAS INVESTIGATIVAS NA ESCOLA E AS IMPLICAÇÕES NO APRENDER DOS ALUNOS . Adriane Cecchin . Cristiane Kieling . Luisa

REFERÊNCIAS

ALVES, Januária. Nossa escola pesquisa sua opinião: diário de pesquisa. São

Paulo: Global, 2004.

BECKER, Fernando. Ensino e pesquisa: qual a relação? In: BECKER, Fernando;

MARQUES, Tânia Beatriz Iwasko (Org.). Ser professor é ser pesquisador. Porto

Alegre: Mediação, 2007.

DAL MONTE, Zuleide Maria Colognese. Fazer coleção é bom. In: Anais do VII

SEMINÁRIO ESCOLA E PESQUISA: UM ENCONTRO POSSÍVEL. Caxias do Sul:

UCS, 2007.

MONTENEGRO, Fábio; MASAGÃO, Vera (Ed.). Nossa escola pesquisa sua opinião: manual do professor. 2. ed.São Paulo: Global, 2002.

MORAES, Roque. Participando de jogos de aprendizagem: a sala de aula com

pesquisa. In: Anais do VII SEMINÁRIO ESCOLA E PESQUISA: UM ENCONTRO

POSSÍVEL. Caxias do Sul: UCS, 2007.

______; LIMA, Valderez Marina do Rosário (Org.). Pesquisa em sala de aula:

tendências para a educação em novos tempos. Porto Alegre: Edipucrs, 2004.

STECANELA, Nilda. Direção: documentário “Fazer Coleção é Bom”. Disponível

em:

http://www.ipm.org.br/ipmb_pagina.php?mpg=3.98.00.00.00&c_id_audvid=44&acess

o=banda&ver=por . Acesso em: 25 jul. 2008.

DEMO, Pedro. Aprendizagens e Novas Tecnologias. Disponível em:

http://www.pucrs.br/famat/viali/doutorado/ptic/textos/80-388-1-PB.pdf. Acesso em: 10

ago. 2016.

DEMO, Pedro. Educar pela Pesquisa. Campinas: Editores Associados, 1997 – 2.ed.