artur orsi -20/12/09 o grande problema do lixo em campinas

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http://www.arturorsi.blog.br/2009/12/o-grande-problema-do- lixo-em-campinas.html domingo, 20 de dezembro de 2009 O grande problema do lixo em Campinas O artigo abaixo, de minha autoria, foi publicado hoje, domingo, no Correio Popular. Lixo: solução protelada Artur Orsi Concebido em 1993, o Complexo Delta é uma área na região Noroeste do município, onde se encontra o Aterro Sanitário Delta A, local escolhido para o depósito do lixo gerado em Campinas. Idealizado para receber os mais variados tipos de resíduos, o Complexo Delta previa o aproveitamento máximo do lixo, com reciclagem do material não orgânico, compostagem e incineração do orgânico e aterramento de apenas 5% do resíduo final. Porém, a proposta ficou no papel: ao longo dos anos os investimentos para a usina de reciclagem e compra do incinerador não foram feitos, tornando o Delta A um lixão melhorado com o aterramento de praticamente todo o lixo recolhido. Ocorre que há mais de três anos as autoridades sanitárias do Estado vêm alertando sobre o esgotamento Delta A, que atingiu cerca de 625m de altura em relação ao nível do mar, e a Prefeitura luta para conseguir uma autorização provisória para operar o aterro com um excedente de cinco metros, elevando sua vida útil até o fim de 2010. Por outro lado, o município ainda tenta, de forma tardia, conseguir autorização judicial para se apropriar de uma área contígua ao Delta A, cuja liberação esbarra no valor do terreno e nas licenças ambientais. Com efeito, o tratamento e destinação final do lixo em Campinas não têm despertado a devida atenção do governo atual, apesar das consequências que podem comprometer o desenvolvimento da cidade. Exemplo disso foi a medida extrema determinada pela Cetesb, em setembro de 2008, interditando o Delta A. Dentre as razões para a interdição estão a falta de controle na contaminação de chorume no subsolo, detectada em 2006, e a falta de providências sobre as contaminações nas áreas onde funcionaram os lixões da Pirelli e Santa Bárbara. O que se vê hoje é a ausência completa de uma política adequada para o tratamento e destinação final do lixo. Enquanto cidades como Curitiba conseguem efetivar um trabalho exemplar, com coleta seletiva de 25% do

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Page 1: Artur Orsi -20/12/09 O grande problema do lixo em Campinas

http://www.arturorsi.blog.br/2009/12/o-grande-problema-do-lixo-em-campinas.html 

domingo, 20 de dezembro de 2009O grande problema do lixo em Campinas

O artigo abaixo, de minha autoria, foi publicado hoje, domingo, no Correio Popular.

Lixo: solução protelada

Artur Orsi

Concebido em 1993, o Complexo Delta é uma área na região Noroeste do município, onde se encontra o Aterro Sanitário Delta A, local escolhido para o depósito do lixo gerado em Campinas. Idealizado para receber os mais variados tipos de resíduos, o Complexo Delta previa o aproveitamento máximo do lixo, com reciclagem do material não orgânico, compostagem e incineração do orgânico e aterramento de apenas 5% do resíduo final. Porém, a proposta ficou no papel: ao longo dos anos os investimentos para a usina de reciclagem e compra do incinerador não foram feitos, tornando o Delta A um lixão melhorado com o aterramento de praticamente todo o lixo recolhido.

Ocorre que há mais de três anos as autoridades sanitárias do Estado vêm alertando sobre o esgotamento Delta A, que atingiu cerca de 625m de altura em relação ao nível do mar, e a Prefeitura luta para conseguir uma autorização provisória para operar o aterro com um excedente de cinco metros, elevando sua vida útil até o fim de 2010. Por outro lado, o município ainda tenta, de forma tardia, conseguir autorização judicial para se apropriar de uma área contígua ao Delta A, cuja liberação esbarra no valor do terreno e nas licenças ambientais.

Com efeito, o tratamento e destinação final do lixo em Campinas não têm despertado a devida atenção do governo atual, apesar das consequências que podem comprometer o desenvolvimento da cidade. Exemplo disso foi a medida extrema determinada pela Cetesb, em setembro de 2008, interditando o Delta A. Dentre as razões para a interdição estão a falta de controle na contaminação de chorume no subsolo, detectada em 2006, e a falta de providências sobre as contaminações nas áreas onde funcionaram os lixões da Pirelli e Santa Bárbara.

O que se vê hoje é a ausência completa de uma política adequada para o tratamento e destinação final do lixo. Enquanto cidades como Curitiba conseguem efetivar um trabalho exemplar, com coleta seletiva de 25% do lixo gerado, Campinas recicla apenas 2% do lixo domiciliar, número vergonhoso em comparação a outras cidades do mesmo porte. São Paulo, por sua vez, com toda a complexidade da maior metrópole da América do Sul, recicla 10% de todo o lixo. Como se sabe, quanto menor a reciclagem do lixo gerado, menor a vida útil do aterro sanitário. Uma reciclagem eficaz melhora a qualidade do aterro e gera renda à população mais carente.

É preocupante e desanimador que, à época da Conferência do Clima, em Copenhague, Campinas não possua o básico: uma política concreta de incentivo à reciclagem. A Administração sequer divulga os locais de recolhimento do material reciclável, apesar de ter gasto, só neste ano, quase R$ 20 milhões em propaganda governamental.

A cidade também passa constrangimento quando se trata da destinação final dos resíduos da construção civil e do lixo tecnológico. Apenas 25% de todo o material gerado na construção civil têm destinação adequada. O restante, nem a própria Administração sabe para onde vai, mas se sabe que ele se aglomera nos terrenos baldios, em áreas de preservação, assoreando rios e contribuindo para a degradação ambiental.

Outro foco gerador de resíduos, sem plano de destinação específica, é o lixo decorrente dos

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materiais tecnológicos como computadores e aparelhos celulares obsoletos, que utilizam em seus componentes metais pesados.

Em várias cidades do Brasil, materiais recicláveis são trocados por alimentos graças ao estímulo governamental e privado. Não é à toa que em Curitiba, por exemplo, existam mais de 15 mil catadores de lixo cadastrados, gerando renda e benefícios, enquanto Campinas possui apenas 300 catadores registrados.

O estimulo à reciclagem e a destinação adequada do lixo residencial, tecnológico e da construção civil são ações de responsabilidade do município, tornando possível a adequação entre desenvolvimento e preservação do meio ambiente. Os exemplos estão aí, podem ser seguidos e depende, exclusivamente, da vontade do Poder Executivo Municipal implementar as políticas necessárias.