artigos do mÉtodo biogrÁfico em sociologia da educaÇÃo

27
5 ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO Pedro Abrantes 1 Alexandra Aníbal 2 Flávia Paliotes 3 Resumo: No presente artigo, discutem-se as oportunidades e desafios da aplicação do método biográfico na pesquisa em sociologia da educação, partindo de uma discussão teórico-metodológica e propondo algumas condições e pistas profícuas para a consolidação desta linha de trabalho. Assente numa revisão bibliográfica, esta reflexão sobre o método desdobra-se em três níveis de abstracção: (1) no contexto histórico e internacional das ciências sociais, como um todo; (2) no âmbito da sociologia da educação, como se tem vindo a consolidar nas últimas décadas; (3) no quadro do sistema português de educação de adultos, cujo enfoque actual nas abordagens biográficas nos confere, em simultâneo, uma fonte inesgotável de dados e um convite estimulante à sua desconstrução analítica. Palavras-chave: metodologia, biografia, sociologia, educação Abstract: Opportunities and challenges in the application of the biographical method to research in sociology of education are discussed, including an initial theoretical and methodological debate in order to propose some accurate conditions and clues to 1 Doutorado em Sociologia. Investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE-IUL), Lisboa, Portugal; Investigador-Visitante do Centro de Investigación y Estudios Superiores en Antropología Social, México. 2 Doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL. Técnica Superior do Instituto do Emprego e Formação Profissional, Lisboa, Portugal. 3 Finalista da licenciatura em Sociologia no ISCTE-IUL. Investigadora estagiária no Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE-IUL), Lisboa, Portugal.

Upload: others

Post on 19-Oct-2021

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

5

ARTIGOS

DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

Pedro Abrantes1

Alexandra Aníbal2

Flávia Paliotes3

Resumo:

No presente artigo, discutem-se as oportunidades e desafios da aplicação do

método biográfico na pesquisa em sociologia da educação, partindo de uma

discussão teórico-metodológica e propondo algumas condições e pistas profícuas

para a consolidação desta linha de trabalho. Assente numa revisão bibliográfica,

esta reflexão sobre o método desdobra-se em três níveis de abstracção: (1) no

contexto histórico e internacional das ciências sociais, como um todo; (2) no âmbito

da sociologia da educação, como se tem vindo a consolidar nas últimas décadas; (3)

no quadro do sistema português de educação de adultos, cujo enfoque actual nas

abordagens biográficas nos confere, em simultâneo, uma fonte inesgotável de dados

e um convite estimulante à sua desconstrução analítica.

Palavras-chave: metodologia, biografia, sociologia, educação

Abstract:

Opportunities and challenges in the application of the biographical method to

research in sociology of education are discussed, including an initial theoretical and

methodological debate in order to propose some accurate conditions and clues to 1 Doutorado em Sociologia. Investigador do Centro de Investigação e Estudos de Sociologia (CIES-ISCTE-IUL), Lisboa,

Portugal; Investigador-Visitante do Centro de Investigación y Estudios Superiores en Antropología Social, México. 2 Doutoranda em Sociologia no ISCTE-IUL. Técnica Superior do Instituto do Emprego e Formação Profissional, Lisboa,

Portugal. 3 Finalista da licenciatura em Sociologia no ISCTE-IUL. Investigadora estagiária no Centro de Investigação e Estudos de

Sociologia (CIES-ISCTE-IUL), Lisboa, Portugal.

Page 2: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

6

the consolidation of such research line. Based on a bibliographical review, this

essay on the method is developed in three levels of abstraction: (1) in the

historical and international context of social sciences, as a whole; (2) within

sociology of education, as it is being established during the last decades; (3) in the

frame of Portuguese system of adult education, where the currently focus on

biographical approaches offer us, simultaneously, a huge data source, as well as an

invitation to analytical de-construction.

Key words: methodology, biography, sociology, education

Todos sabemos que os processos e resultados educativos não se reduzem à

interacção em salas de aula, ao desempenho em provas de avaliação ou ao diploma

atribuído no final do ciclo, pelo que uma sociologia da educação limitada a esses

fenómenos é, necessariamente, redutora. Tal como a intensidade emocional e

simbólica que envolve esses momentos se pode esfumar com o passar dos dias,

muitas aprendizagens aparentemente irrelevantes, invisíveis ou até falhadas, tanto

formais como informais, adquirem sentido ao longo da vida, constituindo uma boa

parte da “matéria” de que são feitos os indivíduos e as sociedades. Assim sendo, só

podemos estranhar o lugar marginal que, como veremos adiante, têm ocupado as

abordagens biográficas na sociologia da educação, sobretudo num momento em que

são reconhecidas pelos próprios sistemas educativos, nomeadamente, nos

dispositivos de formação e certificação de adultos, o que não deixa de proporcionar

uma fonte preciosa e quase inesgotável de material empírico, convidando a esforços

interpretativos acrescidos.

No entanto, dada a extrema complexidade do ser humano e das relações

sociais, uma interpretação científica dos modos de socialização e formação de

competências, identidades, trajectórias de classe ou histórias de vida que

ultrapasse o domínio impressionista ou ideológico implica que, enquanto sociólogos

da educação, mobilizemos modelos analíticos e instrumentos metodológicos mais

elaborados, não cedendo à atracção de uma análise imediatista de causas e efeitos,

Page 3: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

7

que nos tem aproximado do “sound-byte” político-mediático e dos estudos

organizacionais, mas afastado dos debates teóricos mais pujantes em ciências

sociais. O presente artigo, escrito a três mãos, procura contribuir para a superação

do hiato observado, discutindo diferentes usos do método biográfico, as suas

virtudes e riscos na análise dos fenómenos educativos e, por fim, uma aplicação

concreta ao estudo das histórias de vida dos participantes num programa de

reconhecimento, validação e certificação de competências de adultos (RVCC), com

grande expressão no Portugal de hoje.

Dado o carácter polissémico de alguns dos conceitos centrais deste ensaio

metodológico, o rigor científico aconselha a alguns esclarecimentos terminológicos

prévios. Na linha de autores como Becker (1974), Bertaux (1981), Denzin (1989),

Pujadas (1992) ou Conde (1994), entendemos o método biográfico, nas ciências

sociais, como produção controlada de uma narrativa sobre a vida de uma pessoa,

através de um sistema teoricamente orientado de procedimentos explícitos

(distinguindo-se assim das suas versões literárias e jornalísticas) de recolha,

selecção e análise de um conjunto (ou “corpus”) relevante de informações, com o

intuito de observar e compreender certos processos sociais (diferenciando-se do

seu uso, por exemplo, na psicologia). Como técnicas de investigação empírica,

realizam-se “interlocuções biográficas”, mas também se recolhem outros registos

produzidos pelo indivíduo, por solicitação do estudo ou com outros propósitos — em

particular, aqueles que pretendem expressar ou representar fragmentos

significativos da sua vida (ex. autobiografias, cartas, ensaios, gravações, páginas na

internet) —, e ainda testemunhos de pessoas próximas, documentação oficial e

objectos pessoais.

Sabemos que qualquer auto-representação da vida não é o seu mero reflexo

mas uma interpretação subjectiva, contextual e interessada, pelo que deve ser

cruzada com outros dados empíricos e analisada à luz das condições e relações

objectivas da sua produção, mas defendemos que essa mesma “ilusão biográfica”,

devidamente desconstruída, contém um poder simultaneamente descritivo e

Page 4: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

8

explicativo não negligenciável sobre as aprendizagens, disposições e percursos dos

indivíduos. Como produtos científicos do método biográfico, podemos apontar três

principais, implicando opções metodológicas importantes: (1) os biogramas, série

limitada de informação mas que, no caso de dizer respeito a amostras significativas

da população, permite o tratamento quantitativo; (2) os relatos de vida, cuja

profundidade relativamente a certos aspectos, contextos ou etapas da vida

alimenta análises temáticas de cariz qualitativo, sobretudo mediante o cruzamento

das narrativas de um conjunto de indivíduos; (3) as histórias de vida, cujo olhar

abrangente e integrado sobre as várias dimensões, fases e relações que constituem

o percurso vivencial de um indivíduo implica condições metodológicas específicas,

nem sempre alcançáveis, mas que, como veremos adiante, confere às ciências sociais

um tipo singular de raciocínios e de conhecimentos.

Trata-se, pois, de uma acepção lata, por um lado, ao reconhecer uma

multiplicidade de técnicas e de registos, e restrita, por outro, ao incluir requisitos

propriamente científicos de teorização, sistematicidade e racionalidade.

1. O método biográfico nas ciências sociais

O recurso ao método biográfico, em ciências sociais, é herdeiro, ainda que

problemático, da sua longa tradição no campo dos estudos históricos. Sabemos que,

pelo menos, desde a Grécia Antiga, a biografia constitui não apenas matéria prima

mas também produto cobiçado do trabalho dos historiadores, pois o interesse

público que tem despertado atrai frequentemente interesses comerciais e políticos,

mas, também por isso, lhe granjeia críticas não menos recorrentes das escolas

eruditas e teóricas, sempre dispostas a denunciar o populismo destes trabalhos, a

sua promiscuidade com o género literário e a ilusão inscrita na redução de

processos socio-históricos aos desígnios de personalidades famosas (Revel, 2005).

Esta tensão acentuou-se, a partir do século XIX, quando se consolidou a história

social como disciplina científica, com requisitos teórico-metodológicos próprios, mas

Page 5: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

9

seria precipitado recusar o método biográfico como componente legítima do ofício

historiográfico, quando constatamos que inúmeros profissionais conceituados —

incluindo alguns que, como Fernand Braudel, Lucien Febvre ou Michel Foucault, não

podem ser acusados de recusar o peso das estruturas sociais — continuaram a

produzir biografias dos representantes mais conhecidos das diferentes épocas e,

em alguns casos, também de desconhecidos.

A partir do século XIX, o método biográfico alarga-se à Antropologia, através

de estudos sobre “histórias de vida” de indígenas, sendo que, à semelhança da

disciplina vizinha, a qualidade literária destas primeiras obras superava

frequentemente o seu rigor metodológico, suscitando interesse na opinião pública

mas também reservas entre os académicos (Pujadas, 1992). Em todo o caso, ao

explorar a força de vontade, os dilemas, as crises, as mudanças, as transgressões

que assolavam a vida destes indivíduos, mesmo que de forma algo mitificada, não

deixaram de matizar o modo normativo e reificado como as etnografias clássicas,

dominantes no campo antropológico, descreviam as culturas “primitivas”, enquanto

conjunto rígido de regras e valores que pareciam anular a individualidade, o que se

manteve como tónica das pesquisas biográficas até hoje.

A adopção do método biográfico pela sociologia realizou-se, durante o primeiro

quartel do século XX, sob o auspício da prolífica Escola de Chicago, na qual

figuraram Park, Mead e Burguess, entre outros, muito influenciados por pensadores

como Simmel e Dewey. Neste quadro, a famosa obra de Thomas e Znaniecki (1984)

sobre a imigração dos camponeses polacos, publicada originalmente em 1918, a

partir da correspondência pessoal de um conjunto alargado de indivíduos e da

autobiografia de um jovem (Wladek), como modo de “determinação das leis da

mudança social”, tem sido apontada como percursora, inaugurando uma linha de

estudos biográficos na Polónia que se manteve ao longo do século XX e cujas

traduções são, infelizmente, escassas. O positivismo dos autores é evidente, em

várias passagens, em que, talvez pela necessidade de legitimarem cientificamente o

Page 6: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

10

método, afirmam o princípio de que os valores, comportamentos e atitudes de um

indivíduo são reflexo directo das condições e culturas de um grupo, classe ou povo.

Dentro deste marco e com ramificações na psicologia cultural, várias outras

pesquisas, no segundo quartel do século, utilizaram as “histórias de vida” —

reconstituídas, sobretudo, a partir do recurso sistemático a cartas, às entrevistas

em profundidade e à observação participante — como elemento central para o

estudo de fenómenos como a mudança social, a imigração, o desvio e a

marginalidade, enfoque temático que tem persistido até aos dias actuais (Pujadas,

1992), em curiosa homologia com a própria posição relativamente marginal do

método nas ciências sociais. Tratando-se de objectos de estudo em que a análise

quantitativa apresenta lacunas evidentes e que tendem a ser menosprezados pelos

autores mais institucionais, não deixa de ser intrigante, tanto pelo seu carácter

“holista” como pelo entusiasmo dos seus promotores, o acantonamento do método

em temas bastante específicos e a sua quase total omissão, até bem recentemente,

em áreas como a sociologia da educação (ver tópico seguinte).

Entre os anos 40 e 60, o método biográfico entra, contudo, num relativo

esquecimento entre os sociólogos, remetido para o âmbito da psicologia, o que

Becker atribui (1974) à sua desadequação ao aparelho teórico-metodológico

funcionalista e que se tornou hegemónico, durante este período, afirmando a

supremacia dos estudos quantitativos. O autor recupera, assim, o legado da Escola

de Chicago, frisando o interesse do método biográfico para desafiar e aprofundar a

teoria sociológica, em particular, permitindo identificar novas variáveis e hipóteses

que reactivam áreas de investigação “estancadas”, bem como observar processos

em curso e formas de reconstrução do self. Nota ainda que, sendo um importante

antídoto para os próprios preconceitos dos sociólogos, o método biográfico não

deixa de lhes abrir caminho para uma comunicação mais profícua com outros

sectores da sociedade.

O método biográfico conhece, nos anos 70 e 80, uma certa revitalização na

Sociologia, por autores que recusam tanto o teoricismo como o positivismo,

Page 7: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

11

dominantes nas décadas anteriores, propondo refundar a disciplina a partir de um

enfoque no actor e nas relações sociais. Bertaux (1981) assume, então, a

importância do conteúdo humanista e historiográfico dos sociólogos, na busca de um

conhecimento sobre os processos sociais concretos e que contribua para a

superação dos sistemas de dominação. No seu estudo sobre os padeiros numa

província francesa, o autor introduz também inovações metodológicas, ao definir

uma estratégia de representatividade por saturação que consiste numa sucessão de

entrevistas a membros de uma categoria, até que, pela sobreposição de discursos,

os traços estruturais e culturais do grupo possam emergir a partir dos

particularismos individuais. Ferrarotti (1990), outro autor influente desta corrente,

realça que a história de uma sociedade é o resultado das vidas dos seus membros,

mas também que estas são uma síntese de processos estruturais e históricos, pelo

que defende a importância de estudar as relações dialécticas entre biografia e

sociedade, em particular, a partir da identificação e análise dos seus elementos

mediadores, entre os quais, destaca os “grupos primários”.

Porém, o afã com que, neste período, se defendeu o método biográfico como

instrumento de ruptura com as perspectivas hegemónicas nas ciências sociais

acabou por limitar o seu alcance, ao conferir-lhe uma certa aura de radicalismo que

alimentou a negação do rigor e da validade de uma análise propriamente científica

dos fenómenos sociais, deixando-se assim enredar por vias ideológicas, filosóficas,

jornalísticas ou artísticas. Importa, pois, notar que uma descrição (ou transcrição)

exaustiva de relatos de um indivíduo, sustentada por desígnios críticos, humanistas

ou activistas — anulando a função de comando da teoria ou os processos que

escapam à consciência (ou ao discurso) dos actores mas que se impõem e

condicionam a sua trajectória —, pode ter um valor heurístico bastante reduzido

(ou mesmo contraproducente) para a compreensão objectiva dos fenómenos,

reduzindo notavelmente o campo de análise das ciências sociais. A este propósito,

leiam-se, por exemplo, as duras críticas de Bourdieu (1986) à “ilusão biográfica”,

método que permitiria a conversão de cada sujeito em ideólogo da sua própria

Page 8: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

12

existência, seleccionando acontecimentos significativos (reordenando sequências,

apagando passagens incómodas, procurando coerência) em função de uma intenção

de auto-justificação, mais ou menos consciente, enquanto se ilude ou distorce a

influência dos sistemas de relações de poder (ou campos sociais) na produção tanto

da narrativa como da própria trajectória.

Estas importantes ressalvas não parecem considerar, contudo, que, entre

historiadores, sociólogos e antropólogos, o método biográfico, não deixando de

expor algumas insuficiências das perspectivas dominantes nas ciências sociais, tem

conhecido importantes aprofundamentos teóricos e metodológicos.

Recusando a suposta neutralidade do investigador, tem-se apelado à definição

e explicitação detalhada dos protocolos de pesquisa, tanto na interacção com o

próprio sujeito como na apresentação dos resultados, enquanto a “entrevista

biográfica” se tem instituído como uma técnica de pesquisa com características

particulares (Demàziere e Dubar, 1999) e que deve ser “triangulada” com outros

materiais (Blanchet e outros, 1985). Têm-se vindo a clarificar critérios na

construção do corpus de dados a recolher, como a relevância, a sincronidade e a

homogeneidade (Bauer e Aarts, 2000). Também os objectos pessoais do quotidiano,

bem como os espaços e os tempos que pautam as vidas, dotados de uma

materialidade própria, têm sido convocados, sobretudo pela Antropologia, na busca

por desenredar a teia de experiências quotidianos, sentidos íntimos e auto-

definições múltiplas que marcam as biografias, assumindo que o self não é uma

essência unificada, mas uma construção pautado pela contradição e desunião, um nó

onde se cruzam vários discursos e interpretações (Hoskins, 1998).

Entretanto, a revitalização da “história oral” tem resgatado processos não

considerados pelas análises estruturais (Thompson, 1981), enquanto os estudos

sobre os processos sociais de produção da memória colectiva analisam os modos

“como as sociedades recordam” (Connerton, 1993). No campo dos estudos

históricos, a “biografia reconstituída no contexto” permite explorar as condições

sociais que tornaram possível (e pensável) uma determinada “história de vida” e,

Page 9: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

13

desta forma, elaborar uma perspectiva mais rigorosa dessas condições, em figuras

emblemáticas de movimentos sociais ou em momentos particularmente intensos de

transformação social (Revel, 2005).

Num movimento análogo, tem-se vindo a afirmar uma “inteligibilidade

sociológica centrada no indivíduo”, na qual se procura restituir o sujeito, “no quadro

da sua específica experiência social de subjectividade”, através do triângulo

memória-identidade-narração, no cruzamento da noção necessariamente redutora

de trajectória com o conceito forçosamente vago e dificilmente operacionalizável

de vida (Conde, 1994 e 1996). Nesta linha, Denzen (1989) estabelece a diferença

entre vidas “vividas”, “experimentadas” e “contadas”,4 mostrando como estas

últimas são influenciadas por aspectos estruturais, culturais e conjunturais, pelo

que cabe ao sociólogo evitar a busca pela veracidade dos testemunhos — todas as

histórias de vida são ficções e, por isso, todas são, num certo sentido, verdadeiras

— e, ao invés, descobrir que forças sociais, económicas, culturais e interaccionais

moldam a percepção que o indivíduo transmite ao investigador sobre a sua própria

vida.

Devemos, pois, reconhecer as diferenças entre os modos de análise

“paradigmático” e “narrativo”, mas aceitar também que não são mutuamente

exclusivos (Bolívar, 2002) e que, aliás, as ciências sociais, ao longo da sua história,

têm sido marcadas por inúmeros esforços, mais ou menos conscientes, de conciliá-

los.5

2. Socialização, educação e biografia

4 A “vida vivida” refere-se ao conjunto de acontecimentos na vida de uma pessoa; a “vida experimentada” às imagens, às

sensações, aos sentimentos, aos desejos bem como aos significados que o indivíduo atribui a um determinado acontecimento; e

a “vida contada”, é uma narrativa, influenciada por noções culturais e pelas condições em que é apresentada e pelo(s)

destinatário(s). 5 A este propósito, é significativo que, após transcrever entrevistas a actores em diversas posições sociais, em A Miséria do

Mundo, a derradeira obra de um dos principais críticos do método (Bourdieu, 2005) seja uma análise da sua própria vida

escolar, profissional e intelectual, iniciada com a afirmação orgulhosa “isto não é uma auto-biografia” para nos mostrar, em

seguida, como o método biográfico é, afinal, compatível com (ou enriquece mesmo) o seu quadro teórico.

Page 10: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

14

O papel secundário que têm representado as “histórias de vida” nas ciências

sociais reforça-se nos estudos sociológicos de alguns temas que, como a educação,

raramente têm merecido abordagens propriamente biográficas. No entanto, é

possível advogar que a compreensão do modo como os indivíduos aprendem, se

tornam actores e participam na (ou produzem a) vida social — objecto por

excelência da sociologia da educação — é reificada em muitas das teorias da

Antropologia, da Sociologia ou da História, estando, de alguma forma, orfã de uma

análise aprofundada das relações entre educação e biografia.

É verdade que o carácter supostamente holista deste método pode afastar os

estudos temáticos, visto que, excepto no caso dos professores, pode dizer-se que a

educação constitui apenas uma dimensão da vida dos indivíduos,6 com a agravante de

que uma parte importante ocorre numa idade precoce e, portanto, tende a escapar

à consciência dos próprios sujeitos. Não será, pois, de estranhar que a excepção

resulte de uma linha sólida de estudos endogâmicos, nas ciências da educação, sobre

as “histórias de vida” dos professores, na qual se tem mostrado como as suas

identidades, saberes e práticas profissionais estão fortemente ancorados a

experiências de vida marcantes e, em muitos casos, remotas, na instituição escolar

e noutros contextos de vida, irredutíveis aos momentos de especialização no ensino

superior (Knowles, 1992; Nóvoa, 1992; Bueno, 2002). Esta perspectiva tem-se

alargado aos usos do método como instrumento central, em simultâneo, de

dispositivos de formação de adultos e de investigação sobre esses mesmos

dispositivos (Pineaud e Michele, 1983; Couceiro, 1993; Josso, 1999; Cavaco, 2007).

Apesar da sua inegável importância, a primeira corrente tende a constituir-se,

sobretudo, como modelo de análise da formação de um corpo profissional (os

professores) e de uma instituição (a escola), enquanto a segunda se encontra

impregnada na própria prática da formação (ver ponto seguinte), o que, em qualquer

6 Em analogia, veja-se, por exemplo, como a aplicação do método ao estudo da criminalidade se tende a reduzir à

reconstituição de “histórias de vida” dos delinquentes.

Page 11: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

15

dos casos, apresenta limitações, aliás reconhecidas pelos autores, para o

desenvolvimento de uma teoria mais lata sobre a educação e a socialização, nas

sociedades contemporâneas.

Porém, desde que a falácia empirista dos estudos biográficos foi denunciada

nas ciências sociais, este método tem-se comprovado útil para a discussão de

problemas teóricos diversos e, de facto, têm surgido recentemente alguns

contributos importantes para uma perspectiva biográfica sobre os processos

educativos, entre os quais, nos centraremos aqui em três: o macro-projecto sobre

as “vidas aprendentes”, de uma equipa britânica na qual se incluem Phil Hodkinson,

Ivor Goodson, entre outros; a “sociologia à escala individual”, através da qual

Bernard Lahire tem coordenado estudos sobre a formação das disposições dos

actores; uma linha de pesquisas sobre identidades e trajectórias juvenis, em

particular, na “transição para a vida adulta”.

No primeiro caso, os autores, com uma ampla experiência no campo educativo,

lançam-se na análise de um conjunto alargado de “histórias de vida”, reconstituídas

através de entrevistas biográficas, como modo de explorar a dimensão educativa

inscrita na vida social, entrando assim em diálogo com as famosas teorias de

Giddens e de Bourdieu sobre as relações entre estrutura e acção (Hodkinson et al.,

2008). Através da análise biográfica, torna-se também evidente que, estando os

“horizontes de aprendizagem” duplamente limitados pelas condições sociais

(passadas e presentes), bem como pela própria identidade pessoal, os processos

educativos, implicando uma dose variável de intencionalidade, não são, em qualquer

caso, mera adaptação aos papéis atribuídos pela sociedade, afirmando-se como

centrais na agência dos indivíduos e na construção do seu “projecto identitário”, em

particular, em momentos de viragem, pretendidos ou não, na sua existência social

(“turning points”). Adquirem especial expressão os repetidos casos em que o êxito

ou o fracasso dos processos educativos, formais ou informais, em diferentes fases

da vida, adquirem um peso determinante na (re)configuração das vidas e

identidades, superando, frequentemente, as próprias expectativas dos actores.

Page 12: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

16

Esta linha de pesquisas, ainda em curso, mostra também que se a educação

informal tende a sobrepor-se, pela sua transversalidade, à educação formal, o que

inverte uma certa dominação da segunda no campo académico, na verdade, ambas

surgem intimamente entrelaçadas, ao longo da vida da grande maioria dos indivíduos

nas sociedades modernas, sendo, de certo modo, artificial e equívoca a sua

distinção em tradições de investigação diferenciadas. Contudo, o recurso exclusivo

às narrativas dos próprios sujeitos, gerador de uma certa “teorização” das próprias

vidas, subestima os aspectos físicos, emocionais ou contextuais (frequentemente

inconscientes, embaraçosos e/ou tomados por garantidos), em detrimento de uma

descrição cognitiva e unificada do self. Entre outras limitações, este aspecto

metodológico conduz a que se negligenciem os processos de socialização, cuja

amplitude não se reduz ao que se pode definir como educação informal.

Embora evite usar o conceito de biografia, os “retratos sociológicos” de Lahire

(2002) baseiam-se num aparato metodológico mais inovador, implicando seis

entrevistas ao mesmo indivíduo sobre diferentes dimensões da sua vida (escola,

trabalho, família, sociabilidades, lazer e corpo), de modo a estudar a variação intra-

individual dos comportamentos, atitudes e gostos, segundo os contextos sociais.

Confirmando os seus enunciados anteriores sobre o “homem plural” (Lahire, 2002),

esta análise aprofundada de oito casos permite ao autor concluir que “cada

indivíduo é produto de uma paleta assaz subtil de disposições variáveis” (p. 404),

sem um elo de necessidade lógica ou de perfeita harmonia entre si, ou seja, que

cada ser humano é uma “heterogeneidade irredutível”. Sendo, em geral,

diferenciáveis tanto das competências (mais práticas e delimitadas) como das

crenças (mais conscientes e intencionais), as disposições distinguem-se,

internamente, consoante são fortes ou fracas, apaixonadas, rotineiras ou

contrariadas, mostrando que a sua activação depende de uma interacção entre

forças internas e externas (ou contextuais), enquanto a inibição prolongada pode

conduzir à sua dissolução. Tudo depende, portanto, da maneira como se

desenvolveram essas disposições e hábitos, do momento da biografia individual em

Page 13: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

17

que foram adquiridos e, ainda, do “contexto” actual da sua (eventual) actualização.

Por sua vez, a constituição das disposições ocorre na relação com as instituições

legítimas, através de três modalidades de socialização não necessariamente

coerentes: o treino ou prática directa; a organização das situações; a inculcação

ideológica. É curioso que, apesar da multiplicidade de narrativas sobre o self, o

autor também confie exclusivamente no discurso do próprio, não realizando a

“triangulação” com testemunhos de outros (familiares, amigos de longa data, ex-

professores), o que poderia evitar as limitações das memórias pessoais, em

particular, quanto ao seu objectivo de identificar a génese socializadora das

disposições, caso esta se situe, por exemplo, na infância.7

De notar que um primeiro esboço desta proposta já havia sido experimentado

no estudo dos jovens de meios populares com trajectórias de sucesso escolar

(Lahire, 1995). Contudo, se a constatação de que as práticas de socialização

familiar, em particular, na relação com a leitura, constituem um elemento

determinante para o êxito escolar, em contextos desfavorecidos, coloca em causa

as teorias clássicas da reprodução, não deixa de reafirmar o primado do habitus

familiar sobre o trabalho pedagógico escolar, não sendo evidentes os efeitos da

socialização nos contextos propriamente educativos, algo que seria de esperar de

uma abordagem plural das disposições.

Recentemente, uma versão simplificada deste aparelho metodológico foi

aplicada ao estudo das trajectórias de um conjunto alargado de jovens do ensino

superior, em Portugal (Costa e Lopes, 2008), mostrando a enorme diversidade e

complexidade dos percursos, não inteiramente redutíveis às condições sociais, à 7 Segundo o autor, apreender as matrizes e os modos de socialização que formaram tal ou tal tipo de disposições sociais

deveria ser parte integrante de uma sociologia da educação, concebida como uma sociologia dos modos de socialização

(escolares e extra-escolares) e articulada a uma sociologia do conhecimento. Preocupados durante muito tempo

principalmente com a questão da reprodução social pela família, a escola e as diferentes instituições culturais e sociais, os

sociólogos satisfizeram-se em fazer a constatação de uma desigualdade face às instituições legítimas (escola e outras

instituições culturais) e/ou de uma herança cultural e social intergeracional (família). Resumindo, poderíamos dizer que à

força de insistir no “isso reproduz-se”, acabou-se por negligenciar “o que é que se reproduz” e “como, segundo que

modalidades, isso se reproduz”

Page 14: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

18

socialização familiar ou às experiências e projectos no mercado de trabalho. Neste

caso, já se procurou identificar variáveis organizacionais, sobretudo nas

instituições do ensino superior, que moldam os percursos de vida, não deixando de

ser influenciadas por estes. Em todo o caso, tal como nos estudos de Lahire, sente-

se que a riqueza empírica proporcionada por este aparato (que os próprios autores

caracterizam como “experimental”) excede, até ao momento, o conhecimento

teórico a que dá origem, ressentindo-se de um certo primado (prudente) da análise

de caso sobre a extrapolação ou generalização, o que, evitando um certo

“fetichismo do método”, não deixa de abrir um campo fértil à produção futura em

ciências sociais.

Vale a pena equacionar alguns dos resultados produzidos por uma linha recente

de estudos sobre identidades e trajectos juvenis (Pais, 2001; Guerreiro e

Abrantes, 2004; Jeffrey e Dyson, 2008; Saraví, 2009). É verdade que a análise dos

impactos dos processos formativos pode beneficiar de uma visão de mais longo

prazo, mas a proximidade temporal relativa a uma etapa de vida decisiva para a

formação dos indivíduos e ocupada, cada vez mais, em instituições educativas,

permite, por seu lado, uma riqueza narrativa que pode ser preciosa para uma

sociologia (ou antropologia) da educação, caso se aborde a dimensão propriamente

formativa das experiências, identidades e trajectórias.

Embora privilegiando as questões da inserção laboral, das culturas juvenis ou

dos movimentos sociais, esta linha de pesquisas mostra claramente que se, por um

lado, a educação, o trabalho ou a família permanecem instituições fundamentais da

socialização juvenil e da construção de itinerários de vida (em oposição às ideias

mais apocalípticas da sociedade contemporânea), as relações e transições entre

elas deixaram, em sociedades modernas e plurais, de ser lineares para se tornarem,

em muitos casos, problemáticas. Implicando novos desafios e riscos, esta situação

está associada a uma maior liberdade dos jovens para gerir as tensões na esfera de

um projecto identitário singular que não se encontra plenamente definido no seu

“ADN social” (sexo, origem de classe, diploma escolar, etc.). Mas estas

Page 15: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

19

investigações indicam também que, para muitos jovens, a socialização entre pares

se converteu no principal sentido da escola, sendo a utilidade das aprendizagens

formais, tanto para sua vida quotidiana como para o seu futuro pessoal e

profissional, muito questionada e frequentemente reduzida à obtenção pragmática

do respectivo certificado. Reconhecendo que, obviamente, as aprendizagens não são

redutíveis ao seu sentido consciente e intencional, em todo o caso, esta “relação

distanciada” com o lado formal da escola não deixa de limitar o seu potencial

formativo e transformador.

Neste sentido, salientamos o recente e interessante trabalho de Almeida et

al. (2010), enquadrado numa comparação internacional, no qual se estuda o percurso

de várias famílias residentes numa cidade brasileira, ao longo de três gerações,

enfatizando as experiências escolares, bem como os trajectos profissionais

subsequentes, como forma de compreender os processos de constituição e

transgressão de “fronteiras sociais”. O estudo mostra que as realidades educativas

disponíveis para as diferentes classes sociais são profundamente distintas,

demarcando campos de possibilidades muito assimétricos, ainda que se identifiquem

também vias escolares que permitem a uma minoria, por uma combinação de

factores, atravessar as referidas barreiras sociais, consagradas pelas relações de

produção.

3. Pontes entre educação de adultos e investigação sociológica

Desde os anos 80, um novo paradigma veio revolucionar a educação de adultos,

muito influenciado por estudos que, em detrimento dos modelos clássicos —

basicamente, adaptações ad-hoc da formação inicial —, propõem dispositivos de

formação e certificação que partem do adulto e da sua experiência de vida (Pineau,

1983; Couceiro, 1993; Josso, 1999; Cavaco, 2007). A União Europeia tem vindo a

consolidar e a difundir esta perspectiva em referenciais orientadores das políticas

de educação e formação de adultos nos estados-membro, como o Memorando sobre

Page 16: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

20

a Aprendizagem ao Longo da Vida (Comissão Europeia, 2000), no qual se clarificam,

legitimam e promovem, lado a lado, os conceitos de educação formal, informal e não

formal. Em Portugal, estas ideias têm conhecido uma rápida difusão, desde o final

dos anos 90,8 constituindo a base conceptual e metodológica do recém-criado

Sistema Nacional de Qualificações, bem como da Iniciativa Novas Oportunidades

(programa concebido para formar e certificar um milhão de adultos, cerca de 10%

da população portuguesa), consagrada no postulado de que tudo o que se aprende ao

longo da vida — não só de modo formal, mas também de modo não-formal ou

informal — pode contribuir para um reconhecimento social, profissional e

académico.

Esta aposta estratégica passa pela “disponibilização de ofertas de qualificação

flexíveis, em particular estruturadas a partir das competências adquiridas”,

considerando-se essencial “valorizar e reconhecer as competências já adquiridas

pelos adultos — por via da educação, da formação, da experiência profissional ou

outras — como via de estruturar percursos de qualificação adequados à realidade

de cada cidadão e orientados para o seu desenvolvimento pessoal e para as

necessidades do mercado de trabalho, num contexto económico particularmente

exigente e em acelerada mudança” (Decreto-Lei nº 396/2007 de 31-12-2007).

Assim, a política nacional de educação e formação de adultos, baseia-se no

imperativo (de justiça social) de ver reconhecidas oficialmente competências

adquiridas e desenvolvidas em contextos não-escolares, dando sequência a

directivas europeias no sentido de promover saberes e capacidades resultantes de

experiências de vida.

8 Este impulso foi dado com a criação da Agência Nacional de Educação e Formação de Adultos (ANEFA), posteriormente, Direcção Geral de Formação Vocacional (DGFV), estrutura integrana no Ministério da Educação; hoje, Agência Nacional para a Qualificação (ANQ), voltando ao um modelo autónomo, sob a tutela conjunta da Educação e do Trabalho.

Page 17: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

21

Este nova andragogia, aplicada a percursos formativos flexíveis9 e aos

processos de reconhecimento, validação e certificação de competências10, assume

uma “abordagem (auto)biográfica” de “investigação-formação-acção”, na qual a

produção, por parte do adulto, de uma narrativa sobre a própria vida, orientada

pelos técnicos (profissionais RVC e formadores), constitui, simultaneamente, um

elemento fundamental para o conhecimento (“consciência de si”), a (auto-)formação

e a transformação do sujeito, bem como um instrumento válido e útil para a sua

avaliação e certificação. Por outras palavras, o trabalho de reflexão e elaboração

da “história de vida” constitui uma actividade formativa per si, fundamental para

que o adulto tome consciência das competências que adquiriu ao longo da vida e, a

partir daí, defina e contextualize aquelas que vai desenvolvendo em contexto

formativo e/ou demonstrando em contexto de reconhecimento de competências,

sendo, simultaneamente, um instrumento para que os técnicos concebam actividades

ajustadas ao adulto e o avaliem com base naquilo em que ele é competente.

Será legítimo discutir os motivos pelos quais o princípio de uma

educação/formação centrada no indivíduo e desenvolvida com base nas suas

experiências e trajectórias não se aplica também a crianças e adolescentes, mas, 9 Estes percursos formativos de dupla certificação, escolar e profissional, designam-se Cursos de Educação e Formação de

Adultos (Cursos EFA) e têm como ponto de partida um balanço de competências, baseado na história de vida de cada

formando (vertida num Portefólio Reflexivo de Aprendizagens) e na sequente validação inicial das competências já adquiridas

através das suas experiências de vida. Partindo-se do princípio de que não se deve voltar a aprender o que já se aprendeu, a

formação necessária à validação das restantes competências (exigidas pelo referencial de competências-chave do nível e

vertente de qualificação em causa) deve ser ministrada “à medida”, tendo cada adulto de efectuar o seu próprio percurso

formativo, mais ou menos longo, conforme o número de unidades de competência em falta. 10 O Processo de Reconhecimento, Validação e Certificação de Competências (Processo RVCC), nas vertentes escolar e/ou

profissional, não é um processo formativo, centrando-se nos saberes já adquiridos e desenvolvidos pelos adultos ao longo da

vida, em diversos contextos. Este processo tem por base estruturante a construção de um Portefólio Reflexivo de

Aprendizagens, ancorado no relato auto-biográfico (produzido pelo candidato tendo como grelha orientadora o referencial de

competências-chave). Pode desembocar directamente numa certificação total das competências demonstradas pelo candidato,

com emissão do Diploma de Qualificação, ou numa certificação parcial. Neste segundo caso é emitido um Certificado de

Qualificações (em que constam as unidades de competência validadas) e prescrito ao candidato um Plano Pessoal de

Qualificação (identificação das unidades modulares de formação que o candidato deverá frequentar de forma a adquirir as

competências correspondentes às unidades em falta).

Page 18: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

22

para o tema do presente artigo, o que importa ressalvar é que, ao abrigo desta nova

metodologia, muitos milhares de adultos, como parte do seu processo formativo

e/ou de reconhecimento de competências, têm sido sujeitos a extensas entrevistas

biográficas e elaborado, sob orientação, detalhadas “histórias de vida”.

É claro que esta actividade não escapa às limitações, ilusões e “auto-

justificações” que caracterizam a tradição erudita das autobiografias, além de que

os constrangimentos dos autores, ao nível da literacia escrita, reduzem, por vezes,

de forma considerável a riqueza das suas memórias orais. Além disso, a bem do

rigor científico, é necessário advertir que se a “abordagem (auto)biográfica”

assumida nestes programas se aproxima da utilização do método nas ciências

sociais, na medida em que visa “a construção de um sentido vital dos factos

temporais” (Couceiro, 2002: 31) e apela à interrogação permanente,11 os próprios

referenciais assinalam também diferenças entre estes dois géneros (Gomes et al.,

2006). Assim, a (auto)biografia tem sido aplicada nos Centros Novas Oportunidades

fundamentalmente como instrumento para orientar o trabalho com os adultos e

para reconhecer as suas competências, em permanente confronto com um

referencial de competências-chave, enquanto a produção científica de histórias de

vida, como referimos anteriormente, implica uma orientação, mais ou menos

assumida, pela e para a teoria, ou seja, é baseada em protocolos teórico-

metodológicos e pretende alargar o conhecimento científico (de uma pessoa, época,

classe ou processo social).

Porém, considerando a amplitude dos conceitos de “competência” e de

“experiência geradora de competências”, podemos apreciar que as narrativas

produzidas pelos adultos são frequentemente muito investidas pelos próprios, sendo

verdadeiros espaços de reflexão de si para si e de transformação, potenciadora de

alterações nas trajectórias de vida. Tendo sido produzidos para fins que se

11 “Colocar-se face à vida, atribuir-lhe um sentido, construir um pensamento legitimado pela experiência existencial, compreender o modo como o sujeito se formou e deu forma à sua existência é, de facto, um processo de interrogação, de descoberta, de criação e não de adequação ou eventual transformação em função de algo previamente definido e conhecido” (Honoré, 1992 in Couceiro, 1995:360)

Page 19: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

23

diferenciam da pesquisa, não deixam de ser documentos legítimos de apresentação

da vida pelo próprio indivíduo que a viveu, cujas condições de produção se prestam a

um trabalho de interpretação propriamente sociológico, existindo dois aspectos que

o tornam particularmente interessante para o tema deste artigo.

Por um lado, o processo RVCC é de produção interactiva, orientado por

técnicos com base em entrevistas sucessivas e na discussão de várias versões do

documento, pelo que é suposto que o adulto vá adquirindo, ao longo do processo,

diferentes ferramentas para ler e escrever a sua vida, apresentando-as no final, a

um júri de certificação. Existe, pois, um duplo estímulo para o rigor, o sentido

crítico e a auto-reflexividade na produção das “histórias de vida”, embora se deva

considerar também a possibilidade da sua progressiva formatação aos preconceitos

dos profissionais RVC, formadores e/ou avaliadores. De notar que a construção dos

“Portefólios Reflexivos de Aprendizagens” deve incluir três dimensões: (1) a

recolha de elementos que permitam a reconstituição da história de vida individual

(diários, fotografias, correspondência, certificados/diplomas, comprovativos de

funções desempenhadas, objectos pessoais, obras produzidas, etc.); (2) a produção

de uma narrativa sobre a vida, escrita, na qual se integram e articulam reflexões

sobre as várias experiências de vida produtoras de aprendizagens (ocorridas em

diferentes contextos e momentos da trajectória individual), tendo sempre como fio

condutor e grelha orientadora o referencial de competências-chave; (3) a

reconstrução contínua do percurso individual, a partir da consciencialização acerca

da agência pessoal e colectiva (empowerment). Na verdade, muitas das pessoas que

criticam o simplismo destes documentos nunca realizaram exercício semelhante,

negligenciando a complexidade e morosidade da tarefa. Sendo que as questões da

veracidade da informação, dos limites da consciência e da memória, dos mitos e

crenças, das estratégias de afirmação e auto-legitimação, sempre se colocaram no

estudo das narrativas autobiográficas, neste caso, existem alguns dispositivos que

podem reduzir ou, pelo menos, apoiar a desconstrução desses vários factores.

Page 20: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

24

Por outro lado, estas autobiografias não são dominadas pelo propósito idealista

de descrever e explicar a exaustividade de uma vida, mas sim deliberadamente

orientadas para um fim mais realista: compreender o processo de aquisição e

mobilização de competências ao longo da vida. Em termos concretos, após a

contextualização de alguns aspectos centrais da “história de vida”, é solicitado ao

adulto que procure identificar as aprendizagens mais marcantes, tanto nas

experiências de educação formal como noutros contextos de vida, com vista à

elaboração posterior do “Portefolio Reflexivo de Aprendizagens”, do qual faz parte

um “balanço de competências”.12 Tal como os sociólogos pioneiros no uso do método

biográfico buscavam, de várias formas, aprofundar os aspectos das “histórias de

vida” que permitiam ampliar o conhecimento sobre a criminalidade ou a mudança

social, os sociólogos da educação têm hoje, à mão de semear, milhares de narrativas

focadas na relação entre processos educativos e trajectos biográficos.

É verdade que, ao pretender isolar a dimensão educativa, há o risco de se

perder (ou distorcer) a relação com outros aspectos da vida ou mesmo de ignorar

algumas das aprendizagens fundamentais na vida dos indivíduos, pelo facto de

ocorrerem em formas e espaços muito diversos, pelo que uma parte central do

trabalho dos técnicos dos Centros Novas Oportunidades tem sido levar os adultos a

reconhecer — contra o preconceito enraizado, que os inferioriza, de um suposto

monopólio da educação formal — que em contextos tão díspares como a família, a

fábrica, o exército ou o café, não só se accionam mas também se desenvolvem

competências decisivas para a sua vida. Em poucas palavras, conduzir os adultos a

atribuir um sentido de aprendizagem à sua existência. O desafio contrário, com o

12 É através da construção do seu Portefólio Reflexivo de Aprendizagens que cada adulto evidencia as aprendizagens que foi

efectuando ao longo da vida e as competências que delas decorreram. O Portefólio Reflexivo de Aprendizagens (PRA) dos

candidatos é um documento que se articula e decorre do Balanço de Competências. Ao contrário de um dossier que compila

certificados e provas de aprendizagens feitas, o PRA enquadra-se num processo de “investigação/acção/formação”. Supõe o

desenvolvimento de competências meta-cognitivas e meta-reflexivas do adulto sobre o próprio conhecimento que devem, elas

próprias, estar evidenciadas no portefólio. A construção de um Portefólio desta natureza é, assim, em si mesma, uma

experiência promotora de aprendizagens e de aquisição de novas competências (Gomes et al., 2006).

Page 21: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

25

qual também se enfrentam com frequência, é uma apropriação simplista e

interessada deste novo paradigma educativo, que conduz o adulto a deduzir

competências legítimas de todas as suas acções, sendo necessário um trabalho de

clarificação do conceito, distinguindo-o de outros como memorização, atitude,

crença, hábito, truque, etc.

Com todas estas ressalvas, não temos dúvidas em afirmar que não apenas os

milhares de narrativas autobiográficas produzidas têm um valor inestimável para as

ciências sociais, permitindo inúmeras análises, como a reconstituição de todo o seu

processo de produção, a partir de inúmeros registos, poderá enriquecer, em muito,

o trabalho interpretativo. Além da sua utilidade para uma visão mais ampla e

rigorosa de aspectos complexos e variados da nossa história social recente, como a

guerra colonial, o êxodo rural, a revolução ou a transição para a modernidade,

escapando à hegemonia das fontes poderosas ou eruditas, as referidas narrativas

tornam-se especialmente ricas para o estudo dos agentes, movimentos e processos

educativos, escolares e não escolares, bem como o seu impacto nas trajectórias de

vida individuais e colectivas.

Entre inúmeros outros exemplos, leiam-se os inúmeros relatos sentidos sobre

as experiências penosas proporcionadas pela educação primária do antigo regime, do

ponto de vista daqueles que fracassaram, contrapondo-se, assim, a um discurso

erudito e hegemónico nos media de glorificação das virtudes do ensino tradicional,

produzido, em geral, pela minoria “eleita” por esse mesmo sistema e que a ele deve a

legitimação do seu estatuto de elite, a quem foi sempre reconhecido o monopólio do

“saber pensar” e do “saber falar”. Ou, ao invés, atente-se na abertura de

horizontes culturais e sociais, propiciada pelo contacto inusitado com certos

professores e colegas, em instituições escolares, bem como através dos laços

sociais construídos, nos contextos de vida mais diversos.

Importa assinalar que não somos os descobridores deste filão analítico. Em

projectos recentes de mestrado ou de doutoramento, a abordagem biográfica dos

adultos envolvidos em processos de RVCC começa a ser explorada, no sentido de

Page 22: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

26

compreender e ilustrar impactos da formação e certificação de adultos nas

trajectórias de vida (Ávila, 2005), lógicas que subjazem à construção dos saberes

experienciais e de outras formas de aprender (Barroso, 2005), transformações das

competências implicadas nos processos de êxodo rural (Santos, 2006) ou conceitos

e competências de cidadania, associados às identidades de género (Quaresma,

2009). Trata-se de importantes contributos pioneiros para pensarmos esta relação

entre educação e histórias de vida, que não deixam de revelar a infinitude dos

objectos de estudo em que se pode desdobrar tal empresa, bem como a riqueza dos

dados empíricos em que se pode sustentar.

Notas finais

Se o método biográfico tem funcionado, nas ciências sociais, como contraponto

aos excessos da sobre-interpretação teórica e às omissões provocadas por outras

metodologias, não se abdicando de reflectir, explicitar e desenvolver os seus

fundamentos e procedimentos, a sua consolidação parece ainda encontrar-se “a

meio caminho”, ressentindo-se de um certo complexo de inferioridade, visível na

tensão permanente com certos requisitos de cientificidade, o que conduz ora a

assumpções forçadas dos primados positivistas, ora à sua refutação radical, em

projectos de refundação da própria ciência.

Estamos em crer que ambos os argumentos são pouco sustentáveis, mas que é

possível (e importante) desenvolver estudos biográficos, cuja validade,

objectividade e representatividade sejam reconhecidas, desde que estes conceitos

não sejam pensados em homologia com o paradigma quantitativo. A objectividade a

que devemos almejar é, então, a reconstituição rigorosa, orientada pela teoria e a

partir de múltiplas fontes, de um percurso de vida, na interacção constante entre

forças internas e pressões externas — não pressupondo a sua essência, unidade ou

coerência, nem o seu carácter necessariamente ilusório, fracturado ou pré-

determinado — como forma de ampliar o nosso conhecimento sociológico sobre

Page 23: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

27

problemas teóricos e sociais relevantes. Também a representatividade, impossível

de alcançar a partir da sua definição estritamente estatística, deve ser

(re)pensada no sentido do conjunto de evidências empíricas necessárias para a

compreensão de uma “história de vida”, em vez da busca de uma suposta fórmula

mágica que demonstre que uma série necessariamente reduzida de percursos

individuais pode resumir a história de uma classe ou população.

Claro que permanece o debate sobre que constatações resultantes de uma

biografia são extrapoláveis para o entendimento de grupos e processos sociais mais

amplos, mas, considerando as limitações da informação produzida pelas pesquisas

quantitativas ou pelos estudos etnográficos, em vez da aporia obstinada do “seu”

método ou da negação em bloco das possibilidades de existência de uma abordagem

científica do social (apanágio de alguns sociólogos em crise de identidade), será

preferível questionar a “auto-suficiência” dos diferentes métodos, aprofundando o

diálogo e a complementaridade entre eles, na produção de um conhecimento mais

prudente, mas também mais consistente.

No caso particular da sociologia da educação, consideramos que o método

biográfico pode ser um meio interessante de, tal como propunha Becker (1974),

fazer avançar o conhecimento sobre controvérsias e bloqueios que se arrastam pela

utilização hegemónica de outros métodos, lançar novas problemáticas teóricas e

empíricas, bem como comunicar de forma eficaz com outras áreas das ciências

sociais ou mesmo da opinião pública, permitindo-nos participar mais activamente nos

grandes debates científicos e sociais do nosso tempo.

Por fim, o artigo apresenta algumas condições propícias e orientações

propostas para que, através do recurso comum ao método biográfico, a investigação

em sociologia da educação possa reforçar a sua relação com os programas de

educação de adultos, ampliando de forma substancial o material empírico das suas

pesquisas e, simultaneamente, contribuindo para uma utilização mais consciente e

rigorosa desta metodologia, construindo e dotando os intervenientes de uma

Page 24: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

28

perspectiva sociológica sobre a relação entre formação de competências e histórias

de vida.

Bibliografia

ALMEIDA, Ana Maria, PEROSA, Graziela, ROCHA, Maria Sílvia & TOMIZAKI, Kimi.

“Experiências educativas e construção de fronteiras sociais”, Sociologia da

Educação: Revista Luso-Brasileira, n. 1, pp. 10-39, 2010.

ÁVILA, Patrícia. A Literacia dos Adultos: Competências-Chave na Sociedade do

Conhecimento. Tese de doutoramento. Lisboa, ISCTE, 2005.

BARROSO, Margarida. Aprender na Escola e Fora Dela: Percursos de Formação de

Adultos que Regressaram à Escola. Tese de Mestrado. Porto, Faculdade de

Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto, 2005.

BAUER, Martin W. e Aarts. “Corpus construction: a principle for qualitative data

collection”. In: Bauer M & G Gaskell (eds) Qualitative researching with text,

image and sound: a practical handbook. Londres, SAGE, pp. 19-37, 2000.

BECKER, Howard. “Historias de vida en Sociología”. In BALÁN, Jorge (ed.). Las

Historias de Vida en Ciencias Sociales: Teoría y Técnica. Buenos Aires, Buena

Visión, 1974.

BERTAUX, Daniel. “From the life-history approach to the transformation of

sociological practice”. In BERTAUX, Daniel (ed.). Biography and Society: The

Life History Approach in the Social Sciences. Londres, SAGE, pp. 29-45,

1981.

BLANCHET e outros. L’entretien dans les Sciences Sociales. Paris, Dunod, 1985.

BOLÍVAR, Antonio (2002). “¿De nobis ipsis silemus?: Epistemología de la

investigación biográfico-narrativa en educación”. Revista Electrónica de

Investigación Educativa, vol. 4, n. 1.

BOURDIEU, Pierre. « L'Illusion biographique ». Actes de la recherche en sciences

sociales, nºs. 62/63, 1985.

Page 25: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

29

BOURDIEU, Pierre. Esboço para uma Auto-Análise. Lisboa, Edições 70, 2005.

BUENO, Belmira Oliveira. “O método autobiográfico e o estudo com histórias de

vida dos professores: a questão da subjectividade”. Educação & Pesquisa, vol.

28, n. 1, pp. 11-30, 2002.

CAVACO, Cármen. “Reconhecimento, validação e certificação de competências:

complexidade e novas actividades profissionais”, Sísifo - Revista de Ciências

da Educação, n. 2, pp. 21-34, 2007.

COMISSÃO EUROPEIA. Mémorandum sur l’Éducation et la Formation Tout au Long

de la Vie. Bruxelas, CCE, 2000.

CONDE, Idalina. «Falar da vida (I)», Sociologia - Problemas e práticas, nº 14, 2004.

CONDE, Idalina. «Falar da vida (II)». Sociologia - Problemas e práticas, nº16, 1996.

CONNERTON, Paul. Como as Sociedades Recordam. Oeiras, Celta Editora, 1993.

COSTA, António Firmino & LOPES, João Teixeira (eds.). Os Estudantes e os seus

Trajectos no Ensino Superior: Sucesso e Insucesso, Factores e Processos,

Promoção de Boas Práticas, Relatório Final, CIES-ISCTE & IS-FLUP, 2008.

COUCEIRO, Maria do Loreto. “Histórias de vida e formação dos adultos”. Formar,

nº 8, Lisboa, IEFP, p. 22-25, Junho de 1993.

DEMAZIÈRE, D. & DUBAR, Claude. « L’entretien biographique comme outil de

l’analyse sociologique », UTIVAM – Revue de Sociologie et d’Anthropologie,

vol. 1, n. 2, pp. 225-239, 1999.

DENZIN, Norman K. Interpretative Biography. Newbury Park, SAGE, 1989.

FERRAROTTI, Franco. Histoire et Histoires de Vie. La Méthode Biographique dans

les Sciences Sociales. Paris, Meridiens Klincksieck, 1990.

GOMES, Maria do Carmo et al. Referencial de Competências-Chave para o

Reconhecimento, Validação e Certificação de Adultos: Nível Secundário –

Guia de Operacionalização. Lisboa, DGFV, 2006.

GUERREIRO, Maria das Dores & ABRANTES, Pedro. Transições Incertas: Os

Jovens face ao Trabalho e à Família. Lisboa, Comissão para a Igualdade no

Trabalho e no Emprego, 2004.

Page 26: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

30

HODKINSON, Phil, HODKINSON, Heather, HAWTHORN, Ruth. “Learning through

life”. Leeds, Learning Lives Summative Working Paper No. 1,

http://www.learninglives.org/, 2008.

HOSKINS, Janet. Biographical Objects: How Things Tell the Stories of People’s

Lives, Nova Iorque, Routledge, 1998.

JEFFREY, Craig & DYSON, Jane (eds.). Telling Young Lives: Portraits of Global

Youth. Philadelphia, Temple University Press, 2008.

JOSSO, Marie-Christine. “História de vida e projeto: a história de vida como

projeto e as histórias de vida ao serviço de projetos”. In Revista Educação e

Pesquisa, São Paulo, v. 25, n. 2, p. 11-23, 1999.

KNOWLES, J. Garry. “Models for understanding preservice and beginning

teachers' biographies: Illustrations from case studies”. In Ivor. F. Goodson

(Ed.), Studying teachers' lives (pp.99-152), London: Routledge, 1992

LAHIRE, Bernard. Tableaux de Familles. Paris, Gallimard/Le Seuil, 1995.

LAHIRE, Bernard. Homem Plural: Os Determinantes da Acção. Petrópolis, Vozes,

1998.

LAHIRE, Bernard. Portraits Sociologiques. Dispositions et Variations Individuelle.

Paris, Nathan, 2002.

NÓVOA, António. “O Método (auto)biográfico na encruzilhada dos caminhos (e

descaminhos) da formação de adultos”, Revista Portuguesa de Educação, n. 1,

pp. 7-20, 1992.

PAIS, José Machado. Ganchos, Tachos e Biscates: Jovens, Trabalho e Futuro.

Porto, Ambar, 2001.

PINEAUD, G e MICHELE, M. Produire sa Vie: Autoformation et Autobiographie.

Montreal, Ed. Edilig, 1983.

PUJADAS, Juan José. El Método Biográfico: El Uso de las Historias de Vida en

Ciencias Sociales. Madrid, Centro de Investigaciones Sociologicas, 1992.

QUARESMA, Carla. Biografias em Metamorfose? A Cidadania como Competência-

Chave Aprendida ao Longo da Vida. Tese de Mestrado. Porto, FPCE-UP, 2009.

Page 27: ARTIGOS DO MÉTODO BIOGRÁFICO EM SOCIOLOGIA DA EDUCAÇÃO

31

REVEL, Jacques. Un Momento Historiográfico: Trece Ensayos en Historia Social.

Buenos Aires, Manantial, 2005.

SANTOS, Esmeralda. Da Aldeia das Lendas às Cidades da Razão: O Percurso de

Educação Formal e Não Formal de Uma Rapariga do Mundo Rural. Tese de

Mestrado. Porto, FPCE-UP, 2006.

SARAVÍ, Gonzalo. Transiciones Vulnerables: Juventud, Desigualdad y Exclusión en

México. México, CIESAS, 2009.

THOMAS, William Isaac & ZNANIECKI, Floriam. The Polish Peasant in Europe and

America. Chicago, Univ. Illinois Press, 1984.

THOMPSON, Paul. “Life histories and the analysis of the social changes”. In

BERTAUX, Daniel (ed.). Biography and Society: The Life History Approach in

the Social Sciences. Londres, SAGE, pp. 289-306, 1981.