Álbum biográfico imigrantes 2013

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ESTAÇÃO MEMÓRIA Álbum Biográfico 2013

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Album biográfico dos participantes da Estação Memória 2013 com o tema: Imigração.

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Page 1: Álbum Biográfico Imigrantes 2013

ESTAÇÃO MEMÓRIA Álbum Biográfico

2013

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ESTAÇÃO MEMÓRIA

A Estação Memória foi criada a partir de projeto de pesquisa do Prof. Dr. Edmir Perrotti (ECA/USP), implantada em parceria e coordenada pela Profa. Dra. Ivete Pieruccini (ECA/USP), desde 1997

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ESTAÇÃO MEMÓRIA

Coordenação : Profa. Dra. Ivete Pieruccini Colaboratório de Infoeducação – COLABORi

Escola de Comunicações e Artes – USP

Colaboração: Antonia de Souza Verdini Bolsistas: Ellen Nascimento e Bruna Trindade Gonçalves

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A Estação Memória é um ambiente educativo, tendo como objetivo trocas culturais intergeracionais a partir de relatos de experiência de vida de pessoas idosas. Os depoimentos dos idosos, coletados por meio de oficinas de memória semanais, são a base para a criação de produtos informacionais e realização de encontros presenciais entre velhos, crianças e jovens.

Este álbum biográfico, elaborado com esta finalidade, reúne pequenos trechos desses relatos, cujo foco são os imigrantes no Brasil. Todos os participantes da Estação Memória são descendentes de estrangeiros ou, eles próprios, nascidos em país estrangeiro, e que escolheram viver aqui. Afinal, somos uma terra de imigrantes!

Outros relatos estão sendo preparados para compor novos álbuns, tratando da culinária, festas, costumes em geral trazidos de fora e amalgamados aos modos de ser e viver dos brasileiros. Essas outras histórias serão gradativamente enviadas. Esperamos que vocês gostem e queiram conhecer mais.

Ficamos no aguardo das cartinhas e do nosso encontro que acontecerá no 2º. semestre. Por enquanto, boa leitura!

Abraço amigo dos velhos da

Estação Memória

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Sou filho de Camillo Siuffi, que nasceu na cidade de Alepo, na Síria, em 1891. Meu pai era filho de armênios e trabalhava como químico-alquimista. Minha mãe, Zakia, também nasceu na cidade de Alepo, em 1900. Ela era filha de Maria Dergaspar e de Riskalla Nahas, metalúrgico cinzelador de cobre e metais. Na Síria, eles eram considerados estrangeiros, em razão de suas origens e da religião cristã armênia. Em 1911, meu pai fugiu da Síria: comprou um passaporte de um general turco e veio para a América no primeiro navio que por lá aportou. Era um navio cargueiro, de origem espanhola, que ficou três meses navegando pelo Mar Mediterrâneo, fazendo baldeações até chegar ao Rio de Janeiro. Quando o navio chegou, ele desceu, mas ficou tonto e caiu no cais.

Alberto Siuffi

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Estava debilitado porque tinha contraído sarampo no navio, de viajantes doentes. Depois conseguiu se curar e veio a São Paulo onde vivia seu irmão, aqui estabelecido com negócios têxteis. Em 1916, já tinha uma “passadaria” e tinturaria de fios. Seu negócio prosperou com fabricações variadas. Minha avó materna, que ficou viúva, em 1903, pegou seus oito filhos (sete meninas e um menino), tomou um navio e veio para São Paulo. Naquela época, as mulheres no país de muçulmanos, não eram "donas" de seus filhos, não tinham liberdade alguma, nem direito à herança! Em 1918, meus pais se conheceram e em três meses estavam casados. Tiveram cinco filhos (três homens e duas mulheres), dos quais eu fui o penúltimo.

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Meu nome é Angela Elisabeth Bernardini Donelli, e eu nasci no dia 16 de dezembro de 1944, na cidade de São Paulo. Tenho um nome bem grande porque era comum o nome duplo, naquela época. Os descendentes de famílias italianas usavam homenagear os pais e avós dando às crianças os nomes deles. Como eu fui uma das primeiras netas e nasci no dia do aniversário de minha avó materna (Angela), deram-me dois nomes para que meus tios também pudessem escolher o mesmo nome para seus filhos (combinando-os com outros nomes), caso também quisessem homenagear os pais e avós. Sou filha e neta de imigrantes italianos. Meu pai, Abramo Donelli, nasceu em uma cidade próxima a Milão, em 1909, e chegou ao Brasil, por volta de 1915/1916, com seus pais, Luis Ambrosio e Teodolinda (D. Linda). Instalaram-se no bairro do Brás, na cidade de São Paulo, e montaram uma loja de tecidos e outras utilidades, na rua Xavantes.

Angela Elisabeth Bernadini Donelli

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Tempos depois, meus avós paternos voltaram para a Itália, já com um filho brasileiro. Meu pai, entretanto, permaneceu no Brasil para continuar os estudos e concluir a faculdade de Odontologia. Anos depois, meus avós retornaram ao Brasil, instalando-se definitivamente. Minha mãe Paulina foi a primeira filha de nove irmãos, um deles morto na grande epidemia de gripe espanhola, por volta de 1920. Ela era professora, formada na Escola Normal da Praça, como era conhecida a Escola Caetano de Campos da Praça da República, na cidade de São Paulo. Meu avô materno, Ugo, chegou ao Brasil com a família, em 1892. Além do pai e mãe, vieram um avô e cinco irmãos pequenos, todos nascidos próximo à cidade de Pisa na Itália, lá onde existe aquela torre “meio torta”. Ele começou a trabalhar muito cedo para ajudar a família e depois de muito esforço, persistência e dedicação ao trabalho tornou-se um próspero industrial. Casou-se com Angela, conhecida como Angelina, nascida na região de Verona (cidade da Julieta, do Romeu e Julieta) e que veio para cá com 2 anos de idade. Meus avós vieram, como diziam, para América, em busca de uma vida melhor com condições de trabalhar, educar os filhos de modo mais favorável do que na Europa, que atravessava momentos muito difíceis no começo do século XX. Aqui, tiveram oportunidade de melhorar de vida, apesar da luta diária, dos sofrimentos, das dificuldades para criarem famílias tão numerosas.

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Eu me chamo Anna Maria Amato Nardelli e nasci em Messina, cidade da Sicília, na Itália, no dia 24 de maio de 1933. Cheguei ao Brasil com minha família, em 1950, logo após a última grande guerra. Naqueles anos, São Paulo era uma cidade em evolução, tinha poucos prédios altos. O mais conhecido era o prédio Martinelli, no centro da cidade, construído por um italiano. Havia muitos imigrantes italianos, talvez os mais numerosos que, como nós, vieram para cá por volta da metade do século XX. Estes acharam a vida aqui em São Paulo, certamente, mais fácil do que aqueles que chegaram no começo de 1900. Depois de tantos anos aqui radicada, posso dizer que a fusão entre minha cultura e a cultura aqui encontrada, só acrescentou e enriqueceu a minha vida.

Anna Maria Amato Nardelli

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own image. Meu nome é Antonia de Souza Verdini, mas desde pequena sou chamada de Toninha. Nasci em São Paulo, em 10 de junho de 1943. Recebi o mesmo nome de minha avó italiana, nascida em Roma. Ela veio para o Brasil com seus pais e uma irmã, ambas pequenas, no período em que muitos imigrantes italianos vieram para cá, com o sonho de “fazer a América”, ou seja, o sonho de enriquecer, trabalhando na lavoura. Eles foram para uma fazenda de café, no interior de São Paulo, trabalhando em condições tão precárias que levaram meu bisavô ao suicídio, por não aguentar a tristeza de ver suas filhas terem que enfrentar uma rotina diária tão diferente da que tinham na Itália e da que idealizavam. Minha avó casou-se aos 12 anos com meu avô, José Bruno, também italiano, nascido na Calábria. Eles tiveram dez filhos, sendo minha mãe – Maria Bruno – a mais velha. Quando ela se casou com meu pai, já era viúva, com três filhos.

Antonia de Souza Verdini

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Meu pai, Napoleão de Souza, era natural de Palmeira dos Índios, cidade alagoana que naquele tempo pertencia a Pernambuco. Ele era descendente de portugueses e índios. Quase nada sei dos meus avós paternos, pois não morei com meu pai, que se casou novamente, pouco depois que minha mãe faleceu, quando eu tinha dois anos de idade. Desses avós, conheço apenas os nomes constantes de minha certidão de nascimento: João Rodrigues de Souza e Francisca Ramos de Oliveira. Na minha infância e adolescência, sempre ouvi as histórias que minha avó e tios contavam sobre as condições de vida dos primeiros imigrantes italianos que aqui chegaram após a abolição dos escravos.

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Assim como na música de Chico Buarque “Para todos”, minha família tem origem bem misturada. Meu nome é Berenice Moreira Prates Bizarro, nasci no interior de São Paulo, na cidade de Assis, na época, muito pequena e provinciana. Minha mãe era filha de imigrantes italianos e meu avô, Afonso Maniscalco, era da Sicília, nascido na cidade de Palermo. Minha avó, Leonarda, era também da Sicília, mas nascida num outro lugar, a cidade de Caltanissetta. Eles se conheceram no navio, durante a viagem de vinda para o Brasil, mas seus destinos se cruzaram, somente mais tarde, porque, primeiramente, ele foi para a Argentina. Quando voltou ao Brasil, reencontrou minha avó na cidade de Jaboticabal, casaram-se e tiveram sete filhos. Meu avô era comerciante e tinha uma loja de calçados.

Berenice M. P. Bizarro

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Minha mãe se chamava Ida Rosina, nasceu em Jaboticabal e estudou até terminar o curso primário. Lá, conheceu meu pai, Appio Moreira Prates, também de Jaboticabal, delegado de polícia. Meus avós paternos eram brasileiros. Meu avô, Raimundo, era baiano, descendente de negros e minha avó, Sebastiana, era pernambucana, de origem holandesa. Não os conheci pessoalmente porque morreram antes de meu nascimento e não sei muito de suas histórias de vida. Infelizmente! Sei que se casaram também em Jaboticabal e tiveram nove filhos. Meu sobrenome, Bizarro, vem do meu marido, Luiz, que também é descendente de italianos.

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Eu sou Bernadette Costa, nasci no dia 23 de novembro de 1933, na cidade de New Bedford, no estado de Massachusetts, nos Estados Unidos. Meu pai era brasileiro, nascido em São Paulo, no ano de 1900, na aldeia de Carapicuíba. Minha avó, mãe de meu pai, era filha de índios, mas formou-se professora e meu avô paterno, pai de meu pai, era francês, mas desconheço a região e também não sei qual a sua profissão. Minha mãe era filha de portugueses, da Ilha da Madeira. Meus avós maternos fizeram muitas viagens. Saíram de Portugal como imigrantes, atravessaram a América do Norte e foram até o Havaí, mas como não gostaram, voltaram para a América e em pouco tempo retornaram a Portugal.

Bernadette Costa

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Minha mãe, que nasceu em 1904, tinha 8 anos quando meus avós vieram para o Brasil. Aqui, viveram sempre na cidade de São Paulo, no bairro de Indianópolis. Meus pais casaram-se na igreja da Saúde em São Paulo e, depois de um ano, foram para os Estados Unidos, onde viveram por doze anos. Como meu pai falava muito bem o inglês e tinha conhecimentos especializados, a fábrica de pneus Firestone o contratou e ele foi responsável pela montagem do primeiro tear para produzir lona para fabricação de pneus, até então importada pela empresa.

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Meu pai era português da cidade de Viseu. Veio de Portugal com a mãe e um irmão, e seus dois outros irmãos ficaram. O pai, meu avô, veio antes para tentar uma vida melhor no Brasil, como muitos portugueses, sendo o Rio de Janeiro o porto de recebimento de quase todos dando origem a uma grande colônia portuguesa na cidade, razão do nosso modo de falar, desse chiado carioca nos esses. meu pai começou a trabalhar muito cedo, e, já mais adulto, ajudou a trazer os outros irmãos de Portugal. Este era o seu grande orgulho: ter ajudado a reunir de novo toda a família. Lembro que meus avós eram pessoas muito simples que moravam em uma casa pequena, onde hoje é o sambódromo; minha avó, depois que ficou viúva, só usava preto como era hábito em Portugal. Era uma roupa toda preta e por cima um avental também preto, com o cabelo preso em coque. Depois de alguns anos da morte do marido foi ser governanta de uma família que morava no bairro da Urca, e eu passava dias com ela pescando de uma pedra em frente à casa onde trabalhava.

Elizabeth Gloria Cabral de Oliveira

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Meus pais se conheceram e foram morar com minha avó materna. Mamãe era brasileira e totalmente voltada para ajudar o próximo. Se alguém precisasse dela ou de alguma coisa, a missão dela era resolver o problema. Meu pai nunca quis se naturalizar, mas quando jovem viveu como um malandro carioca, embora não se sentisse assim, mas um autêntico português de Viseu, com grande sotaque carioca. Beth

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own image. De migrantes e imigrantes Por parte de pai minhas origens estão em Santa Isabel, cidade do Vale do Paraíba formada por volta de 1770, na rota dos bandeirantes que avançavam para o interior em busca de ouro. É provável que nessa mesma época tenha se instalado ali meu tetravô paterno, vindo de Portugal; foi em 1894 que nasceu meu pai. Já minha mãe nasceu no mesmo estado de São Paulo, mas a quilômetros de distância em direção oeste, em Jardinópolis, cidade fundada em meados do século 19 pelo pai dela – meu querido avô Chanico –, que hoje é quase um bairro na periferia da grande Ribeirão Preto. No início da década de 1930 meu pai deixou Santa Isabel, com a mãe e os irmãos solteiros, indo para São Paulo– onde vivia a irmã mais velha, já casada, única mulher entre os nove filhos. No entanto, o espírito inquieto e batalhador de meu pai que, embora certificado como prático de Farmácia, estava momentaneamente sem trabalho, fez com que partisse para o interior, indo se deter na longínqua Jardinópolis.

Elzira Arantes

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Gostou do lugar e lá se instalou, empregado em uma farmácia. Sozinho e longe da família, era levado a visitar com grande frequência a agência de correios local, para recolher a correspondência e entregar suas dedicadas missivas à mãe e aos irmãos. Ali se entretinha em conversas com a agente postal – dona Marianinha do Correio, que viria a ser minha mãe. Para os padrões da época, tanto ele quanto ela eram a essa altura considerados “solteirões” – assim, causou surpresa o namoro e o noivado. Quando se casaram, em 1934, ele estava chegando aos 40 anos e ela contava 33.

Em dezembro de 1938, já com três filhos – e o quarto a caminho – seu Rodolfo e dona Mariana empreenderam mais uma grande aventura: a mudança para São Paulo. Ele instalou sua própria farmácia no longínquo e quase rural bairro de Tucuruvi, zona Norte da cidade. Ela, criada como filha de um dos mandatários da cidade, caçula de oito irmãos, e que ousara ir trabalhar no Correio em uma época em que raras mulheres se profissionalizavam, estava longe de ter preparo para ser dona de casa... Em Tucuruvi começou esse aprendizado, a bem duras penas – com três crianças, água de poço, fogão de carvão, ferro de brasa, assoalho de madeira... Cantando trovinhas e sorrindo docemente mesmo azafamada com as tarefas da casa, foi construindo o lar que acolheria mais duas filhas (eu e uma irmã), além de inúmeros sobrinhos que viriam do interior para a capital em busca de oportunidades de estudo e trabalho.

Nossa vizinhança em Tucuruvi era uma amostra perfeita da cidade de São Paulo: portugueses, italianos, judeus de origem alemã, polonesa e outras, japoneses, espanhóis, sírios, armênios e nem me lembro mais o quê. Assim, embora minha família brasileiríssima tivesse imigrado do interior paulista, cresci em meio a uma verdadeira mistura de culturas. A mãe de minha melhor amiga era de origem síria, mas o pai era português. A grande amiga de minha irmã mais velha era uma nissei de primeira geração – na casa dela os costumes tradicionais japoneses eram radicalmente preservados. A turma de sete amigos de infância que meu irmão preservou durante a vida inteira incluía garotos de origem judaica, portuguesa, italiana e japonesa. Assim é São Paulo...

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Nasci em São Paulo, filha de imigrantes. Minha mãe, Adela, nasceu em uma cidade pequenina da Croácia, chamada Vinkovci, que já pertenceu ao império austro-húngaro, a Iugoslávia e agora novamente Croácia. Meu pai, Max Erich, é oriundo da cidade de Hamburgo, Alemanha. Ele veio ao Brasil, Rio de Janeiro, competir em regatas. Ele era um bom velejador e também se dava bem no remo. Aqui ele se casou com minha mãe, a contragosto dos pais. Por isso ele foi ficando, mudou-se para São Paulo, onde começou a trabalhar. Em 1932, a SS, tropa de elite de Hitler, entrou na fábrica do meu avô e quando saíram disseram que ele tinha se suicidado. Logo após, os livros do meu tio foram queimados em praça pública. Ele conseguiu se refugiar na Suécia. Minha tia fugiu para Portugal, onde conheceu um inglês, se casou e foi morar na Inglaterra. Minha avó, meu pai conseguiu trazer para o Brasil, onde ela chegou no ano do meu nascimento (1933). Toda a família de minha mãe, com exceção de uma tia e duas primas, morreram em campos de concentração.

Esther Stiel

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Como filha de imigrantes judeus, de uma família tradicional, de costumes bem arraigados, o que mais me marcou foi a época entre 1939 a 1945, anos da II Guerra Mundial. Meu pai conseguiu comprar um rádio de Ondas Curtas, que conseguia transmitir o noticiário da BBC de Londres. Às 8:00 horas em ponto, ele e minha mãe escutavam esse noticiário. Eu era obrigada a me retirar da sala e me recolher ao meu quarto. Na maior parte das vezes, minha avó me acompanhava, pois ela preferia ler as notícias no jornal e me contava alguma coisa conforme fui ficando mais velha. Me recordo que foram anos muito tristes. Minha mãe chorava muito e nossa casa era muito triste.

Em 1945, quando as notícias se tornaram mais brandas, e eu já com 12 anos, fui ficando a par do ocorrido. A Cruz Vermelha Mundial e outras entidades similares tentavam encontrar familiares. Minha mãe recorria a todas e foi assim, depois de longa procura, que ela encontrou uma irmã mais velha e sua filha, que se salvaram por procurar os partisans nas montanhas. Estes eram liderados por Tito, que depois se tornou general e presidente da Iugoslavia. Minha tia cozinhava para Tito e minha prima fotografava as suas campanhas. Ela encontrou também uma outra sobrinha que se salvou por conseguir guarida em casas de famílias não nazistas. Depois da guerra, ela se casou e, com o marido, foi para a Grécia, onde navios como o Exodus (não sei se alguém leu o livro ou viu o filme) conseguiram chegar a Israel.

Em 1954, fui com minha mãe reencontrar esses parentes. Cheguei a ver um Museu com as fotos tiradas pela minha prima.

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Eu sou Giovanni Marino, nasci no dia 15 de fevereiro de 1929, na cidade de Caserta, perto de Nápoles, na Itália, como meus pais e avós. Meu pai, Ciro Marino, era gerente de tecelagem e minha mãe, Carolina Rossi Marino, dona de casa. Eu vim para o Brasil, em 1946, porque na Itália, após a 2ª guerra mundial, que terminou em 1945, não havia trabalho suficiente para jovens recém-formados. No Brasil, ao contrário, era possível arrumar emprego e ganhar a vida. Quando eu era pequeno, mais ou menos com 10 anos, na época do frio (e na Itália faz muito frio!) eu, minhas três irmãs e minha mãe, juntávamo-nos em volta da lareira e nós, as crianças, pedíamos à minha mãe que contasse uma história, da época em que ela era pequena.

Giovanni Marino

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“Olha”, ela dizia, “eu nasci nos Estados Unidos, em Nova York, e meu pai trabalhava, assentando trilhos de trem. Os

americanos não gostavam dos imigrantes italianos. Eles eram perseguidos e ofendidos, diariamente. Assim, para se defender, a

comunidade italiana formou a MAFIA. Começou, então, uma rivalidade perigosa, que resultou em muitas mortes. Em consequência

disso, dizia ela, a família voltou para a Itália porque “minha mãe morria de medo dessa situação”.

No dia em que eu embarquei, rumo ao Brasil, o céu estava lindo. O navio foi se afastando da costa e a cidade ficando cada vez

mais distante... As casas, os navios atracados iam diminuindo, diminuindo. Quanto mais o navio avançava em direção ao alto-mar, mais

eu chorava, sentindo a tristeza de deixar para trás minha família e amigos. Aos 17 anos, era difícil enfrentar um novo e desconhecido

país... Mas, era preciso buscar trabalho e ganhar a vida.

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Meu nome é Ivanise Marchesano. Tenho 82 anos. Sou bisneta de imigrantes italianos. Vou contar um pouco da historia de duas mulheres guerreiras, que foram minha bisa e minha avó paterna. Cristina Boff Falcone é o nome da minha bisa, que saiu da Itália mais ou menos em 1880 com o marido e 8 filhos. O filho mais velho José Falcone era construtor e fez uma pequena fortuna, que dividiu com os irmãos menos favorecidos, entre eles, minha avó Raphaela Falcone Marchesano. Moravam todos próximos e tinham uma boa casa. Nasci e cresci na casa dos meus avós paternos na Rua dos Ingleses n° 78. Meu pai era o filho mais velho de uma família de 6 irmãos. Meu avó paterno Bias Marchesano e meu pai eram funcionários públicos e trabalhavam na mesma repartição, como se dizia antigamente.

Ivanise Marchesine

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Tenho muitas saudades dessa casa onde moravam, além de meus avós, os meus pais, os meus tios e tias e meus irmãos. A mesa de jantar era enorme, sempre com 12 pratos para toda família. O domingo era identificado pelo cheiro de um molho de tomates acompanhado de várias porpetas que tomava toda a casa e pela grande cozinha da matriarca (a bisavó) que comandava esta grande família. Tenho na lembrança esta mulher, em pé, na mesa da copa, que ficava ao lado da cozinha, tendo nas mãos arames, muita família e massa que ela enrolava para fazer muitos fuzilis.

Que saudades! Tenho muita admiração e orgulho dessas duas mulheres que souberam com muito trabalho, dedicação e um grande amor administrar essa família.

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Eu sou Ivone Judith Mussolini de Oliveira, nasci no dia 18 de dezembro de 1939, na rua Ana Nery, nº 971, no bairro do Cambuci, na cidade de São Paulo. Minha mãe, Helena Maria, nasceu em Cedães, província de Mirandela, no norte de Portugal. Ela era uma criatura muito amável e bondosa, dedicada à família e aos amigos. Aprendeu com a sogra os segredos da cozinha italiana. Minha avó materna, dedicava-se ao estudo da medicina caseira. Com os conhecimentos passados de geração em geração em sua terra natal, Portugal, conhecia o valor de várias ervas medicinais e estava sempre pronta a preparar um chazinho providencial. Tricotava, com quatro agulhas, pares de meias de lã que não levavam costura alguma. Ela também preparava alheiras (espécie de linguiça que leva alho, frango, porco, miolo de pão e especiarias): Maravilhosas! Inesquecíveis! O meu avô materno, também nasceu em Portugal, em Vila de Lobos, e veio para o Brasil com toda família (seis filhos), em 1924.

Ivone Judith Mussolini de Oliveira

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Trabalhou na estação de trens, na zona norte de São Paulo, próximo de onde morava. Tenho a lembrança viva da horta que ele sempre cultivava. Preparava com maestria a compostagem, adubo natural proveniente da fermentação de restos orgânicos dos alimentos consumidos pela família. Grata recordação!

Meu pai nasceu em 1915, na região do Veneto, no norte da Itália, na província de Ospedaletto Eugeneo, em Padova, distante 35 quilômetros da bela cidade de Veneza. Chegou no Brasil, precisamente em São Paulo, em 1923, com os pais e irmãos. Formou-se perito contador e exerceu a profissão durante muitos anos. Anos mais tarde, fundou uma fábrica de embalagens (redinhas de algodão) para legumes e outros alimentos. Pode-se dizer que era o mais paulistano dos italianos. Adorava São Paulo!

Minha avó italiana –a nonna – nasceu em 1891. Era professora primária na Europa. Aqui era o braço forte da família, matriarca de muita personalidade e elegância.

O nonno, meu avô italiano, nasceu em 1886. Era um homem pacato, calmo e divertido. Era um exímio alfaiate, profissão que já exercia na Itália. Ainda me lembro dele às voltas com réguas, tesouras e giz marcando e cortando belas casemiras inglesas para confeccionar ternos e calças avulsas.

A família imigrou para cá para fugir do horror da guerra na Europa e suas consequências: fome, falta de trabalho, desolação. Apesar das oportunidades surgidas ao longo dos anos nenhum membro da família voltou para a terra natal. Nem a passeio, diga-se de passagem...

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Meu nome é Jaqueline e sou filha única de pais alemães que fugiram da guerra e vieram para o Brasil em 1938. Meu pai era muito rico na Alemanha e deixou tudo para trás para começar aqui do zero. Veio atrás de mim mãe que tinha saído antes dele e casaram-se aqui em São Paulo. Acabaram indo para o Uruguai onde os irmãos dos meus pais resolveram morar. Eram 5 irmãos contando com o meu pai, 3 homens e 2 mulheres. Eles montaram o mesmo negócio que tinham na Alemanha que era confecção de roupas. Minha mãe deixou o pai e a irmã quando saiu da Alemanha e a irmã foi para a Inglaterra e após o término da guerra, ela veio para o Brasil. Não sei o que houve com meu avô, sei que veio para o Brasil por chamada, casou-se com uma viúva que tinha 3 filhos e se estabeleceu aqui em São Paulo. Voltando aos meus pais, durante algum tempo eles ficaram em montevidéu, mas depois acabaram resolvendo vir para o Rio de Janeiro lugar onde nasci. Meu pai era caixeiro viajante e fazia as praças no norte e nordeste do Brasil, portanto ficava 3 meses fora de casa. Minha mãe era uma pessoa muito divertida, positiva, moderna, liberal. Quando ele ficou grávida, não existiam maiôs para gestantes,

Jaqueline Hen

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Então minha mãe pediu para a costureira fazer uns sutiãs de pano e ela ia a praia de shorts e sutiã. O maiô de 2 peças foi lançado por minha mãe no ano de 1942. Ela foi a Leila Diniz da época.

Tive uma infância muito feliz e pais maravilhosos, recebi muito amor, mas, apesar disso, éramos uma família muito pequena. Nas férias, íamos visitar os irmãos do meu pai em Montevidéu. Lá, éramos muitos na mesa, era muito gostoso. Minha segunda língua foi espanhol, tinha muitos primos e primas para brincar.

Não conheci meus avós paternos, acho que ambos já não eram vivos quando meu pai saiu da Alemanha. Meu avô materno vinha algumas vezes ao Rio. Ele era um avô muito legal, mas nosso contato foi curto, pois ele faleceu quando eu tinha 9 anos. Minha tia, irmã da minha mãe, era um ano mais nova, mas tão diferente da minha mãe que parecia mais velha. Talvez por ela ter passado a guerra na Inglaterra, ficou desconfiada, negativa, pode ser, mas eu gostava muito dela.

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Sou uma “jovem” senhora, nascida em 20-03-46 em Taquaritinga, terra do tomate, da (melhor) goiabada, de gente muito festeira, que torce ardentemente pelo seu time de futebol e adora política. Trago comigo um lado provinciano muito forte, emociono-me com tudo e com todos, choro e não tenho vergonha; confio plenamente nas pessoas, acho que todos são meus amigos. O sol, o mar, a lua e as estrelas me fazem sonhar; detesto despedidas. Um grande sonho era ter sido aeromoça, no que fui barrada de cara pela família. Quantos tabus e preconceitos!!! Hoje sou mãe de três filhos maravilhosos, cheios de expectativas e projetos de vida. Apesar de dominadora sou muito “mama” - até gosto do título de rainha do lar - e espero um dia ser uma “nonna” para paparicar bem os netos. Descobrir a estação memória foi uma das coisas boas (estou no grupo desde o ano 2000) onde descobri pessoas com uma enorme sabedoria de vida.

Lenita Verri

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Fui batizada Lilia Maria, nome herdado de minhas avós. Dona Lilia foi uma mulher de muito valor, trabalhou muito quando jovem e na terceira idade acomodou-se. Era extremamente vaidosa, briguenta, curiosa e muito sociável. Já a vovó Maria era uma mulher muito tranquila, sábia, dedicada à família, exímia cozinheira, simples e descomplicada. Quando alguém me pergunta qual a minha ascendência, respondo sem pestanejar: italiana, sou puramente italiana. E sou. Tanto meu pai quanto minha mãe são netos de italianos natos. São quatro famílias (Melani, Scuracchio, Castiglione e Faccio) que tiveram suas sagas na busca de melhores horizontes aqui no Brasil no final do século XIX. Mas que famílias são estas? De onde vieram, para onde foram e o que faziam? Durante toda a minha vida ouvi muitas histórias sobra a família. Nelas quase sempre estava presente a força de vontade destes italianos que para cá vieram e se propuseram a trabalhar muito para criarem bem os filhos e prosperarem.

Lilia Maria Faccio

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Minha mãe Lygia é filha de AntonioScuracchio e Maria Melani. Ambos nasceram são da região de São Carlos. Creio que a família da minha avó era a mais ligada com a lida da terra e a família do meu avô com o comércio cerealista. Vovó era a filha mais velha de 16 irmãos e sei que seu filho mais novo era mais velho que seu irmão mais novo. Era engraçado ver minha mãe e seus irmãos chamar de tio ou tia a pessoas que tinham praticamente a mesma idade que eles. Sempre ouvi dizer que a família dela era do norte da Itália.

A família Scuracchio era originalmente de albaneses. Eles se estabeleceram em Civita, na Itália, no século XV e de lá se espalharam pelo mundo. Vô Antonio também era de uma família grande, se não me engano ele era o filho mais novo de 8 irmãos. Pertencer a uma família tão grande assim era divertido, pois não dava para conhecer a todos, principalmente porque eu não morava na cidade. Quando eu passava as férias em São Carlos, era comum conversar com alguém desconhecido e no meio da conversa descobrir que éramos primos.

Os avós do meu pai eram de Vicenza, uma cidadezinha na região do Vêneto, perto de Verona. Pelo que conta meu pai, lá eles estavam bem e tinham uma indústria de calçados, mas tiveram que fugir da máfia. Quando procuramos a entrada deles no país, encontramos apenas a nossa bisavó e seus filhos italianos, por isso acreditamos que ele tenha aqui chegado de forma ilegal.

A princípio eles foram para Amparo, cidade do interior paulista. Lá nasceram outros filhos. O primeiro foi o tio Américo que recebeu este nome em homenagem à América que os acolheu. Depois veio a tia Brasília. Meu avô, Pedro Marcello nasceu ainda em Amparo. Não sei se os irmãos mais novos do meu avô também são de lá, pois a família acabou se mudando para Ribeirão Preto, onde meu bisavô Domingos (ou Domenico) retomou a antiga vocação. Ele era conhecido como o “Rei da Bota” e fazia este tipo de calçado para os barões do café.

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Vovô Pedro não seguiu os passos do pai e se tornou torneiro mecânico. Casou-se com a vovó Lilia em Ribeirão Preto e lá nasceu meu pai, Breno em 1924. Ela era filha de italianos também. Seus irmãos mais velhos nasceram na Itália. Segundo o que conta meu pai, seu avô Vicente era o barão (ou conde) de Castiglione. Aqui no Brasil ele tinha uma pequena fazenda, mas acabou perdendo tudo no jogo e com mulheres. Quando alguém falava para minha avó sobre a sua origem de “sangue azul” ela repetia em bom italiano o que dizia sua mãe, a bisa Rachel: de que me adianta chamar pão de ló e morrer de fome.

Meus pai já aos 8 anos de idade foi aprender o ofício de mecânico. Na busca de novas oportunidades, junto com seus pais e seu único irmão veio para São Paulo em 1942 e aqui montaram uma oficina mecânica especializada em adaptar veículos para serem movidos a gasogênio, um combustível alternativo utilizado na crise do petróleo durante a segunda guerra mundial. A guerra acabou, mas eles continuaram com as suas oficinas para atenderam uma seleta clientela.

Meu pai foi jogador de futebol, e com a origem que tinha, só poderia ter atuado no Palestra, hoje Palmeiras. Dizem que ele era muito bom, mas naquela época os tempos eram outros, os jogadores não eram profissionais.

Foi depois de um jogo em São Carlos que ele conheceu minha mãe e sete meses depois estavam casados. Já se passaram 63 anos e eles continuam vivos e juntos. Meu pai diz que o segredo deste longo casamento é ter se apaixonado pela minha mãe diversas vezes ao longo do tempo.

Desta minha origem italiana eu guardo boas recordações de festas, de todo mundo sentado em volta da mesa, com muita comida e um bom vinho, todo mundo falando alto e ao mesmo tempo,gesticulando e rindo muito. Tem povo mais falante e alegre que os italianos, que conseguem rir e fazer piadas de si mesmo? Não sei, mas a minha turma era do barulho.

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Sou Manoel Pereira do Vale Júnior, nasci na cidade de São Paulo/SP, no dia 14 de setembro de 1940. Sou neto de portugueses, por parte de pai, e de italianos, por parte de mãe. Segundo meu filho Marco Vale diz, brincando, por conta disso, eu sou europeu. Meu avô português era do norte de Portugal, próximo a Leiria. Chegou ao Brasil em 1892, após servir por três anos no serviço militar, como ajudante de ordens do general do batalhão. Neste período, conheceu as colônias portuguesas na África e Ásia, além de viajar pela Europa. Sendo de uma família numerosa - dezessete irmãos!-, resolveu se aventurar no Brasil. Foi mestre de obras na construção da estação da Luz, iniciada por uma empresa inglesa, em 1894. Trabalhou como gerente de uma fazenda, onde viu pela primeira vez os pés de café. Começou comprando vinte alqueires de terra, em 1904.

Manoel Pereira do Vale Júnior

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Quando faleceu, em 1943, tinha novecentos e oitenta alqueires e um milhão de pés de café! Minha avó, Maria, nasceu na Serra da Estrela e deixou Portugal com seu pai, Antonio do Vale, em 1908. Meus avós casaram-se em 1909 e tiveram dez filhos. Meu avô italiano nasceu em Montaltissimo, província de Luca, e chegou ao Brasil em 1890. Ele era cinco dias mais novo que minha avó, Lúcia, que nasceu na mesma localidade. A história do encontro deles é bem interessante: minha bisavó, Carlota, mãe do meu avô, morreu de parto e a criança (meu avô) foi amamentada por uma vizinha, que acabara de dar à luz uma menina, chamada Lúcia, com quem, coincidentemente, ele viria a se casar, anos mais tarde. Ou seja, meus avós italianos haviam sido "irmãos de leite". Adulto, resolveu conhecer o mundo, indo para os Estados Unidos e depois para o Brasil. Numa viagem à cidade de Descalvado, reencontrou-se com Lúcia, depois de muitos anos. Resultado: casaram-se, em 1893, e tiveram sete filhos. Esse meu avô, também ficou órfão de pai aos cinco anos de idade, e foi morar com seu irmão mais velho em Munique, na Alemanha, o que lhe valeu muito porque, depois de casado, além de um armazém de “secos e molhados”, como se chamavam os empórios da época, ele fundou a primeira cervejaria do interior de São Paulo, em Ribeirão Preto. Chamava-se cervejaria Itália, posteriormente transformada na Cervejaria Paulista.

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Eu me chamo Maria Ângela Furtado e nasci no dia 24 de agosto de 1950, na cidade de São Simão, no interior de São Paulo. Minha mãe, Geraldina, que nasceu num sítio da família, na cidade de Santa Rosa do Viterbo/SP, era descendente de portugueses e índios. Trabalhava na lavoura e também na criação de porcos e galinhas. Quando veio para São Simão, trabalhava como empregada doméstica. Meu pai, descendente de portugueses, também trabalhava na lavoura, catando algodão. Na 2ª. Guerra Mundial, estava cumprindo o serviço militar e foi convocado para lutar na Europa. Dizia ele, que fugiu e foi trabalhar nas fazendas nos arredores do Rio de Janeiro. Quando voltou à sua cidade, foi trabalhar como encarregado do viveiro do Horto florestal.

Maria Ângela Furtado

Page 37: Álbum Biográfico Imigrantes 2013

Meus avós maternos também trabalhavam na lavoura e muito pouco sabemos de minha avó, pois era muito calada, quase não

falava.

Minha avó paterna, filha de portugueses eu não a conheci, mas sei que era dona de casa. Meu avô paterno era português

legítimo, de Trás dos Montes. Veio para o Brasil com 6 anos de idade e morava na chácara da família, na cidade de São Simão. Ele tinha um

caminhão Ford Bigode, com roda aroeira e trabalhava na Estrada de Ferro São Paulo – Minas, puxando dormentes.

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Eu sou Maria Apparecida Lopes. Nasci em São Paulo, no bairro do Canindé, no dia 20 de junho de 1939. Meu pai - José Lopes Ruiz- nasceu na Espanha, em 1913, e veio para o Brasil com 3 anos de idade. Ele nunca quis se naturalizar brasileiro porque tinha muito amor ao país em que nasceu, principalmente por ouvir belas histórias das terras espanholas e, por meio delas, ter aprendido a gostar de um lugar que nem conhecia. Meus avós paternos tiveram mais seis filhos, um deles nascido na Argentina para onde foram, antes de chegarem ao Brasil. Aqui nasceram os outros cinco filhos: quatro homens e uma mulher, chamados: Raul, Inocencio, Valeriano, Delta e Vicente. Meus avós, Assuncion e José Lopes, enfrentaram muitas dificuldades, trabalhando na lavoura.

Maria Apparecida Lopes

Page 39: Álbum Biográfico Imigrantes 2013

Com muito sacrifício, mantinham o sustento da família, que também ajudava na plantação. Apenas um filho conseguiu estudar

com esforço próprio. Foi meu tio Raul que se formou advogado pela Faculdade de Direito, do largo São Francisco.

Meu pai era o filho mais velho e como tinha tino para negócios, sempre trabalhou no comércio. Pelo trabalho, obteve

estabilidade financeira e sempre ajudou os seus irmãos que buscaram outras profissões.

Minha mãe, Thereza Pacios Lopes, nasceu em São Paulo, no bairro do Brás, em 1915, mas era filha de imigrantes espanhóis.

Meu avô materno nasceu em Vigo. Foi chacareiro e, depois, condutor e motorneiro de bondes, quando se casou com minha avó Antonina.

Depois de pouco tempo, quando minha mãe tinha 5 anos, minha avó morreu e meu avô casou-se novamente. Nasceram outros dois filhos.

Nessa ocasião, meu avô tinha um empório de secos e molhados e uma papelaria, na Vila Mariana, em frente ao Grupo Escolar Marechal

Floriano.

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JULIO LAZZARIN e ANNA SERAFIN LAZZARIN Italianos de veneza, deram inicio a toda a história. No ano em que completaria 93 anos de idade, ana, ainda lúcida e comunicativa como sempre, sem o saber foi entrevistada por mim, narrando parcialmente a sua história. Ana convivera no inicio de sua vida com famílias abastadas e até célebres. Começando pelas irmãs de são Pio X (Papa) e tendo também como primo Tullio Serafin, que viria a se tornar maestro e compositor mundialmente famoso e acompanharia inclusive Maria Callas. Ana foi alfabetizada aos 5 anos de idade, pela avó. Esta era professora na escola onde Ana cursou o primário e onde viria a conhecer o seu esposo, Julio. A avó, nos últimos anos de magistério, recebeu dos alunos o apelido carinhoso “Maestra Vechia” (velha mestra). Quando Ana se casou com Julio, continuou trabalhando no comércio dos pais.

Maria de Lurdes Lazzarin Ferreira

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Tiveram a primeira filha, Antonieta e, em seguida, Carlos, que acabou morrendo. Quando engravidou novamente o casal quis ter outro tipo de vida e atraídos pela fama da América, viajaram rumo ao Brasil. Maria, a terceira filha, nasceu no Brasil.

Como mão de obra qualificada, na condição de carpinteiro, Julio foi logo descoberto por um fazendeiro de São João da Boa Vista. Foi trabalhar para ele, arduamente, na fazenda de café, onde conseguiu juntar algum dinheiro para montar uma marcenaria.

Instalou-se como carpinteiro na Vila Santana, bairro da Penha, estado de São Paulo. Aos poucos foi ampliando a oficina e contratando mais empregados.

Ana preparava o lanche da tarde para os empregados em dois grandes galpões da oficina. Eram também nesse mesmo local que as festas de primeira comunhão de todas as crianças da igreja Monte Virgem eram comemoradas.

Ana era muito trabalhadeira e preparava o pão, as massas em geral e o vinho, artesanalmente. Sempre que entrávamos em sua casa, havia uma longa mesa com uma grande toalha branca cobrindo as massas frescas que preparava.

Depois de Maria ela teve ainda : Ana, Julieta, Antonio, Pedro e Irene. Dois outros filhos, Marta e José, morreram ainda bem pequenos. Ao todo, sete filhos vivos.

Quando Antonieta, a filha mais velha , começou a trabalhar numa fábrica de tecelagem, Maria, com apenas 9 anos de idade, parou de estudar para também ajudar.Era tão pequena que tinha de subir num banquinho para poder alcançar as máquinas de fiação. E em casa, antes de sair para a fábrica, tinha de pegar lenha e tirar água do poço.

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Antonieta, foi solicitada para ajudar a cuidar de crianças num colégio interno e orfanato, em Lorena, uma cidade do interior paulista. Para esse mesmo colégio foi enviada Irene, com apenas 4 anos de idade, lá permanecendo até se tornar professora. Ela saía apenas nas férias de final de ano, nem nas férias de julho via a família, para economizar, segundo os pais. Julieta também foi internada no mesmo local, mas apenas para fazer o colegial. Tornou-se professora de matemática. Ambas, Irene e Julieta, não pagavam o curso e estadia porque Antonieta trabalhava lá. Depois de encaminhadas as irmãs, Antonieta decidiu se tornar freira. Ingressou então na Comunidade da Visitação das Contemplativas de Vila Mariana e, sob o nome de Irmã Petronilha, lá permanecendo, na clausura, até o seu falecimento, aos 80 anos de idade.

Julio e Ana, com seu trabalho e economias, construíram casas com as quais presenteavam os filhos quando se casavam. Irene foi a única, segundo ela, que conseguiu ter seu imóvel com o próprio trabalho e do marido. Isto porque ele era de família protestante e ela católica. Ou seja, foi punida. Mais tarde Pacheco, marido de Irene, tornou-se o mais querido genro de Ana. OBS: Essa dureza da nona, em algumas situações talvez explique porque a minha mãe, Maria, com 9 anos teve de parar de estudar para ajudar a mãe em casa e trabalhar numa fábrica.

Ao saber desses fatos todos aqui narrados, esse particularmente me deixou mais sensibilizada pois a minha mãe gostava muito de estudar. Naquela época ela aprendeu um pouco de francês nos dois primeiros e únicos anos que frequentou uma escola. E durante toda a vida eu a vi dizer algumas frases em francês. Via que ela gostara muito de estudar, mas fora impedida de continuar. Para compensar ela investiu muito nos estudos dos filhos. Não lembro de minha mãe pedindo para parar de estudar para ajudá-la nos serviços domésticos. Ela sentia um grande orgulho ao mostrar para as amigas que eu estava estudando no meu quarto.

Todos os filhos estudaram e quando a mais velha de nós, Anna Maria, a primeira a se formar, como professora, foi tratada como uma verdadeira rainha.

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Sou a Maria da Penha Cetira, professora com o maior orgulho do mundo. E por que orgulho? Sou filha de imigrantes, ou melhor, neta e acho que meu nono, Francisco Cetira, da Calábria, no sul da Itália, casado com Cecília Maceo, foi duas vezes imigrante. Primeiramente, porque viera da Albânia, região próxima da Itália. Já na primeira imigração, procurava uma vida melhor naquele país. Aí conheceram-se e se casaram e meu avô, Francisco, resolveu buscar novos mundos pela segunda vez, agora, vindo para o Brasil para trabalhar na lavoura, plantando café. Com meu nono, Francisco, convivi muito pouco, pois ele faleceu quando eu era criança. Já com a nona, a avó Cecília, convivi um pouco mais, a ponto de querer fazer o curso de italiano, ainda muito jovem. E eu ressaltei ser professora com muito orgulho, lembrando de meu pai, Ricero Cetira, que quase morreu de emoção junto comigo, quando passei no vestibular para o curso de Letras (português, francês e italiano).

Maria da Penha Cetira

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Meus avós maternos, Sebastião David Costa e Maria Emerenciana, vieram de Iguape, cidade à beira do rio Ribeira de Iguape, para São Paulo. Lá, meu avô tinha um armazém de secos e molhados e eram até considerados ricos em região tão pobre. Minha mãe era professora leiga. Sabem o que é isso? Uma pessoa com muitos conhecimentos, mas que não possuía diploma de professora.

Até hoje me pergunto por que teriam vindo para São Paulo? Vieram minha mãe, Clotilde Costa Cetira e mais três irmãos para trabalhar aqui. Será que, como meus avós italianos, também vieram atrás de melhores dias?

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Sou Maria José de Souza, nasci na cidade de São Paulo, no dia 08 de novembro de 1941. Meus pais eram brasileiros, nascidos em cidades do interior do estado de São Paulo. Meu avô, Caetano, nasceu em 1871, na cidade de Frascati, na Itália. Veio para o Brasil com a idade de 5 anos, com os pais e nove irmãos. Meu bisavô italiano, Artur, resolveu vir para o Brasil para livrar-se do controle de sua mãe, a nona Maria, a chefe da família. Minha avó italiana era uma pessoa autoritária e exercia muito poder e dominação sobre todos os seus filhos. Embora estivessem muito bem de vida na Itália, toda a família do vovô Caetano resolveu se desvincular de um “opressor vínculo maternal”, na busca de uma nova vida, mais tranquila e feliz, num novo país, o Brasil! Aqui, foram acolhidos por um amigo que também acabara de vir da Itália e acolheu a todos em suas terras, na cidade de Tietê. A família trabalhou na lavoura e, pelo que contavam, todos felizes da vida!

Maria José de Souza

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Eu me chamo Mariano Giffoni, nasci na cidade de São Joaquim da Barra, em São Paulo, no dia 17 de setembro de 1919. Sou filho de Felice Giffoni e Olinda Pincelli. Meus avós paternos, Pascoal e Antonia, eram do sul da Itália, da cidade de Rivello, na província de Potenza, perto de Nápoles. Meus avós maternos, Alexandre e Lucia, também eram da Itália, mas da cidade de Rovigo, que fica no norte do país, perto de Veneza. Em 1865, mais ou menos, meu pai escolheu o Brasil para exercer sua arte: alfaiate, que praticava como ninguém! Ele conheceu minha avó, costureira, já aqui no Brasil. Meu pai estudou e veio para o Brasil com seu diploma. Minha nonna (avó) tinha muito orgulho de ter lutado para dar escola para o filho “artista”.

Mariano Giffoni

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A família veio para o Brasil para fugir da Primeira Guerra (1914-1918) na Europa, e conseguiu sair da Itália, graças à ajuda do

Prefeito da cidadezinha onde morava. Ele providenciou o resgate da certidão de nascimento do primeiro filho dos meus avós, que havia

falecido ainda bebê, e que era brasileiro. Naquela época, era comum colocar o mesmo nome de um filho falecido em outra criança que

nascesse depois. Pois foi isso o que aconteceu com o meu pai. A história é comprida, mas muito interessante. Por causa dessa troca de

documentos, meu pai, que estava em idade de ser soldado, pode sair do país e viver no Brasil, são e salvo!

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Meus avós eram imigrantes. Os avôs paternos vieram de Portugal e o avô materno da Itália. Infelizmente, não tive muito contato com eles, pois o avô italiano morava no Rio de Janeiro e os avós portugueses, embora vivessem aqui, moravam longe de casa. Eu os via somente em festas de família e em alguns fins de semana. Meu avô era uma pessoa séria e calada, mas minha avó era mais dada e muito carinhosa. O que sei deles é que vieram de Portugal e meu avô trabalhava aqui como condutor de bondes que era o transporte mais usado na época. Enquanto isso, minha avó tocava um pequeno armazém na própria casa em que moravam. Segundo meu pai, sua infância foi pobre. Triste até. Nada de presentes para ele no Natal ou seu aniversário. E os sapatos só eram usados para ia à escola e à missa aos domingos.

Marilene Gonçalves Barbiellini

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Já meu avô italiano, que morava no Rio, era alegre. Cantava óperas e vivia contando histórias de sua vida. Chegou ao Brasil aos quinze anos, com dois irmãos mais velhos. Deixou os pais em Luca, na Itália, nunca mais voltou para lá e nunca mais viu a família. Casou-se com minha avó, que era paulista, e foi sapateiro, profissão que exerceu até bem velhinho. Eu me lembro, quando menina, de visitá-los numa casa simples, num bairro modesto do Rio. Também trabalhavam no próprio local em que moravam.

Até hoje me lembro, ao entrar em sua casa, daquele cheiro de couro, cola, poeira, o rádio tocando, meu avô martelando um

sapato. E não me esqueço do seu sorriso e da festa que fazia para nós quando chegávamos.

Page 50: Álbum Biográfico Imigrantes 2013

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Minha história inicia com meu pai e minha mãe. Eles saíram de seus lares e países devido a perseguição nazista de 1939. Apesar de muitos terem sido massacrados e mortos nos campos de extermínio, meus pais e avós conseguiram de alguma forma escapar desse algoz. Meu pai, por exemplo, chegou ao Brasil em 1936, à chamada de um de seus primos que já aqui estavam. Por sorte, foi um dos escolhidos para não sucumbir ao nazismo. Minha mãe teve que sair de seu lar com seus pais e irmão, deixando para trás casa, dinheiro, todos os seus bens; enfim, suas raízes. Saíram e chegaram aqui com uma mão na frente e outra atrás. O que poderia acontecer mais? Era tudo um sonho conseguir se salvar assassinos nazistas alemães. Minha mãe chegou aqui com 18 anos, teve que parar os estudos, não sabia a língua portuguesa. Bem, todos aqueles que aqui conseguiram chegar estavam felizes por serem tão bem aceitos pelos brasileiros. Assim, todos arranjaram trabalho de alguma forma para sobreviver.

Sylvia Lerner

Page 51: Álbum Biográfico Imigrantes 2013

Samuel, meu pai querido, trabalhou muito, gastou muita sola de sapato, pois não tinha dinheiro algum para sobreviver. Além do trabalho que exercia com o primo, no início de sua estadia aqui, ele também dava aula de salão para os ricos à noite. Trabalhou duro por muitos anos com papel e celulose, até que conseguiu, depois de alguns anos, trazer da Alemanha seus pais e irmãos. Eles viveram aqui até falecer.

Foi num salão de baile que ficava atrás do teatro municipal, que meus pais se conheceram e se encantaram um com o outro. Mas a vida era dura, minha mãe trabalhava como costureira ( e de costura ela não sabia muita coisa), tinha que sustentar os seus pais idosos também. Meu avô materno viveu todos os anos após conosco.

Quando minha mãe entrou em trabalho de parto. Então, tiveram que ir de bonde aberto, pois o dinheiro era curto tanto que eles não tiveram possibilidade financeira para comprar um perco para mim.