breve retrato biográfico da princasa isabel por hermes rodrigues nery

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  • 7/31/2019 Breve Retrato Biogrfico da Princasa Isabel por Hermes Rodrigues Nery

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    BREVE RETRATO BIOGRFICO DA PRINCESA ISABELpara a causa de sua beat ificao

    HERM ES RODRIGUES NERY

    2012

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    ...a orientao segura para o

    melhor desenvolvimento de sua

    personalidade, direcionando-a

    para a melhor realizao como

    pessoa, foi sem dvida, a

    influncia crist, cuja dout rina

    catlica ela assimilou to bem,

    e a viveu de um modo to

    intenso e coerente, em todas as

    fases de sua vida... (pg. 5)

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    PARTE I Do nascim ent o abo lio d os escravos

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    O pensam ento e a vida so inseparveis, do cont rrio n o se

    possve l compreender o que s ign i f ica ca t l ico . Com estaconvico, a prin cesa Isabel buscou sem pre af irm ar a coern cia devida. (p. 34) Nesta fo t o, a vemos com seu fi lho Pedro d e Alcnt ara:educao esmerada, a exemp lo d o que recebera do s seus pais, nainfncia...

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    Recebi tudo. A Santa Isabel muit o bonita . M uito obr igada por t udo1

    A Igreja celebra em 29 de ju lho a m em ria de Santa M arta, i rm de Lzaro, que

    Jesus ressuscito u em Betn ia. O Evangelhoa m encion a tr s vezes. dela a afirm aoque exprime a f sol idssima em Nosso Senhor, por ocasio da morte de Lzaro: Se

    houvesse estado aqui , meu i rmo no morrer ia! 2 Foi M arta qu em Jesus af i rm ou:

    Eu sou a Ressur reio e a V ida 3. E a Jesus ela afirm ou : Sei que t ud o o qu e pedires a

    Deus, Deus te conceder! 4 Um elo de pro fun da am izade e grat ido un iu a faml ia de

    Lzaro a Jesus. Mulher de temperamento for te, Marta toda dona de casa, at iva,

    sol cita, v igi lante, cuidadosa, ta l qual a mu lher for te com o a encont ram os retratada no

    capt ulo 31 d o Livro d os Provr bio s5

    Uma m ulher vir tuo sa, quem pode encontr - la?

    Superio r ao d as prolas o seu valor 6

    Ao f inal do dia da festa de Santa Marta, do ano de 1846, no Pao Imperial da

    Qu int a da Boa Vista, no Rio de Janeir o, ent o capit al do Pas, nasceu D. Isabel Crist ina

    Leop old ina Augusta M icaela Gabr iela Rafaela Gon zaga de Bragana e Bour bo n, qu edem onstrou nos trs perodo s em que assum iu a Regncia do Pas, o quant o am ou o

    Brasi l e d ireciono u sua ao em decises que expressaram a sua convico firm ssim a

    na f catl ica. E esta f a pr eparou e a orien to u p ara assum ir a coerncia de vid a, em

    fidel idade f que a sustent ou, e po r causa disso, perdeu o tr ono, vivendo a dor do

    m ais longo exl io imp ingido a um a autorid ade polt ica brasi leira. At m esm o no infort nio

    do ostracism o, distant e da ter ra natal , f icou evidente a devoo da pr incesa pelo Brasi l

    e seu desejo d e fazer o bem . 7

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    Seus inim igos e det ratores, especialmen te os repu blicano s de inspirao p ositivista

    e anticlerical foram implacveis em lanar sombras sobre a sua vida, patrulhando-a

    ideo logicam ent e, si lenciando sob re suas recon hecidas virtu des pessoais e cvicas, po is

    tem iam o seu reinado por justament e ela ter com provado ser um a governant e cr ist.

    Tem iam m ais ainda o seu reto rno, porq ue ela t inha a afeio do povo, que a cham ouem vida de A Redento ra. Quando lhe prop useram recorrer s arm as para reto rnar ao

    Brasi l , ela recusou, pois con siderava o uso da fora incom pat vel com o cristianismo 8,

    do m esm o m odo como agiu em re lao ao m oviment o abol icion ista , evi tando a v ia da

    violncia, para ob ter a l iber tao do s escravos. Quand o a polt ica deixar de em pregar

    m eios que d im inuem a grandeza m oral do s po vos e das pessoas? - Escreveu do exl io a

    Joo Alf redo Cor reia de Oliveira - assim qu e t ud o se perde e q ue n s no s perd em os. O

    senho r, porm , conhece m eus sent im ento s de cat l ica e b rasi le i ra . 9 Lembrando D.

    Pedro I I , que falecera num hotel em Par is, em 1891, destacou : Meu Pai , com seu

    prestg io, ter ia provavelm ente recusado a guerra civi l com o m eio de t orn ar a vol tar

    ptr ia... lam ento tu do q uanto possa arm ar i rm os contra i rm os... 10 , pois ela ant es de

    t ud o pen sava no s m ut i lados, nas vivas e nos rfo s 11 .

    Pod em os dizer d a m enin a carioca, nascida no Pao de So Cristo vo, que u m dia

    ascender ia ao t rono brasi le iro p ara reger com um corao cr isto, o m esm o q ue Anto nioVieira expressara de Santa Isabel d e Por t ugal, a qu em o n om e da n ossa prin cesa faz

    evocao: Isabel no s fo i f i lha de rei (. .. ) m as que f i lha! qu e m ulher! que m e! 12

    Infncia e edu cao p rivi legiada

    Com que zelo - para alguns at excessivo - D.

    Pedro II cuidou de suas filh as Isabel e Leop old ina,de modo ma is espec ia l que la que e le qu is dar

    estabil idade desde os primeiros anos, preparando-

    a com m uita sol ic itu de para a misso que o dest ino

    lhe reservava, de um dia suced- lo n o governo de

    um a Nao jovem e pu jante. O imp erador t udo fez

    para evitar as t ur bu lncias sofrid as du rant e a infncia

    tant o d o seu pai , D. Pedro I , quant o a sua prp r ia,amb os tendo q ue assum ir o t rono m ui to jovem, em

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    meio a tantas ameaas que quase comprometeram a unidade nacional de um pas

    cont inenta l .

    O nascim ento da pr incesa Isabel fo i recebido pelo Im perador com o corao em

    festa. 13 . Dezessete m eses antes, havia nascido o p rim ognit o, D. Afonso Pedro, m as

    faleceu em 11 de junho de 1847. Um m s depo is, em 13 de ju lho, out ra men ina veioalegrar o lar da fam lia imp erial, Leop old ina Teresa. E m ais ou t ro ir m ozinho , em 1 9 de

    ju lho de 1848, D. Ped ro Afonso, que t am bm m or reu p reco ce m en te, em 9 de jan eir o

    de 1 850. D. Teresa Crist ina e D. Pedro II f icaram ent o com du as m eninas, destacand o-

    se Isabel desde pequena, no apenas por estar invest ida na condio de herdeira

    presuntiva da coroa do Brasi l 14 , mas cham ando a ateno pela t ernura m esclada

    bo nd ade sem l im ites e capaz dos m ais assinalados sacrifcios. 15 . E tambm por um

    tem peram ento ardoro so e entu siasta 16 , com o o av: qu anto m ais acesa fosse a peleja,

    m aior era o nim o q ue sent ia para nela prosseguir , 17 com o revelou, m ais tarde, em

    tant os m om ento s de sua vida, especialm ente quand o abraou a causa abol icionista.

    Teve port anto o afeto dos pais, num am biente que lhe favoreceu a valor izao da

    fam l ia, do seu sentido uni t ivo e im prescindvel na form ao da p essoa hu m ana. E alm

    disso, inesquecveis as record aes do Rio de Janeiro do s seus pr im eiros ano s de vid a,

    conform e ela m esm a cont a em seus escr i tos Joi es et Tri stesse:

    Na m inha in fnc ia , o pa rque e ra no t ve l p r incipa lmen te pe las a lamedas som bra das

    mangueiras, dos tamarindeiros e de outras rvores; pelas alamedas de bambuzais, cujas copas se

    uniam l no a l to , form ando um a verdadeira abbada de catedra l . E, a inda m enina, eu corr ia por e las

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    com m inha i rm e m inhas amigu inhas .. . No vero , nos nos m udvam os de So Cr istvo para

    Petrpol is . No arsenal da M arinha, emba rcvamos na galeota a vapor de m eu pai e passavam os uma

    hora n avegand o, por entr e i lhas verdejant es e pitor escas, at M au, deixando at rs o Po de Acar

    e a for t a leza de Santa Cruz, no a l to do M orro, que guarda a ent rada do Rio. E d iante de ns, erguiam -

    se as belas mon ta nhas denom inada s Serra d os rgos, cujos cum es lem bram tu bos de rgos. Em

    M au, to m vam os o tr em e, duas hor as depois, estva m os em Petrp olis, a nossa residncia de

    vero, um a r esidncia deliciosa: jar dins f lorid os, canais que at ravessavam a cidade, bon itas casas,

    colina s coberta s de bosques, mon ta nhas ao longe, algum as de gran ito, cujos f lan cos o sol t in gia de

    rubr o ao enta rdecer... 18

    Hermes V ie i ra faz um re t ra to express ivo que ind ica aspectos marcan tes da

    personalidade da p rincesa Isabel:

    ... a sntese predom inant e em D. Pedro I se caract eriza pela lat inidad e dos Bourbon s, calorosos,

    decididos, arrebata dos, enquan to em D. Pedro II se acrisolou a au steridad e dos Habsburgos, refletidos,

    mansos, discretos, de um certo modo graves, amigos da quietude e dos estudos. Por seu turno, a

    pr incesa herdou d o av nt idos traos do seu tem peram ento, em que se condic ionam a m aneira for t e

    de querer, a l iberalid ade dos sentim ento s e o gnio volunt arioso. Sua im pet uosidade e a desenvoltu rados gesto s corajosos e enrgicos, so ain da at ribu to s que lhe vieram do av, com do av era a sua

    nat ureza com unicat iva, alegre, expansiva, donde o seu gosto pelas festa s, pelas reunies cheias de

    vozes e mo vim ento. Bem educada e instru da, coisas que falt aram ao av, era correta nos seus m odos

    convenientes, geridos por seu alto senso de m ora lidade. Destem ida, t in ha ela a coragem e mesmo o

    desassom bro d e colocar, sem subt erf gios, o que apr azia aos seus sent im ento s acim a dos preconceitos

    da poca. Da ter, certa f eita, religiosa que era, chegado a ajud ar suas criadas na lavagem de um a

    igreja, vassour a em pun ho, sem se lhe dar com a estr anheza que isto causara em m uita s pessoas,inclusive nos meios polt icos. Franca e leal consigo mesma, jamais faltara aos seus compromisso

    m ora is e sociais. Cara cterizava-a, distin ta m ente, a firm eza de convico e a indom abilid ade que sem pre

    pusera prova , quando se decidia por alg um a coisa e de que so exem plos fr isantes a preferncia

    dada ao m dico fran cs que a a ssistiu nos seus parto s e a sua sano lei qu e aboliu a escravido n o

    pas. (...) Cremos at que se no fosse a diferena de sexo, a neta seguiria, pela impulsividade

    hereditr ia, a mesma carreira herica do av. Not e-se bem: a carreira herica, de bat alhado r decidido

    e audaza. No a bomia, cheia de lances quixotescos, que renteava, de quando em quando, pelos

    abismo s donde a sort e tan ta s e ta nta s vezes o fo i buscar, pondo -lhe a salvo a existncia inq uieta e

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    brilhant e. E se m aior no a par ecena entre am bos porque o s cuidados educacionais e as influncias

    mesolgicas, hauridos no dealbar de suas existncias , lhes foram diametralmente opostas. O av

    t ivera um a m eninice descuidada , fizera-se hom em , por assim dizer, s prpria s custa s de sua inclinao,

    sem nenhum fre io pot ente que o d om inasse e or ientasse como convinha a um prncipe.19

    O freio potente e a or ientao segura para o melhor desenvolvimento de sua

    personalidade, direcion ando -a para a m elho r real izao com o pessoa, foi sem d vida,a inf luncia cr ist, cuja dou tr ina cat l ica ela assim i lou t o bem , e a viveu de u m m odo

    to intenso e coerent e, em to das as fases de sua vida, cuja m oral inst iga o gnio,

    aperfeioa o gosto , germ ina e desenvolve as paixes hon estas e vigor iza o p ensamen to .20 . Vrios fatores con correram para isso, e ela sou be cor respo nde r, de im ediato, a do ura

    com qu e Deus a acarinh ou , desde o b ero, com suas janelas art iculadas qu e do para

    f lorestas, pom ares e jardins perpet uam ente em f lor . 21 Foi bat izada em 15 de no vemb ro

    de 1846, pelo p rpr io bispo do Rio de Janeiro, com gua provenient e do Rio Jordo, naPalestina. 22

    Todo este cuidado foi para assegurar uma formao nada superf ic ia l , e que a

    pr incesa paut asse a sua condut a com o m ulher e governante, no s pr incpios e valores

    cristos. Conduta esta que no fosse apenas de fachada, mas que comprovasse em

    atit ud es as excelsas virt ud es de um a alma no bre, a frent e de um pas de raiz e ident idade

    pro fun dam ent e cat l ica. A rel igio lhe penet rara o espri to e lhe abr ira as po rt as am plas

    de um m undo de m edi taes ut i l ssimas, notadamente p ara a v ida de um a m ulher desua condio, do seu p ort e, do seu gnio im pulsivo, de sua volunt ar iosidade 23 . A sua

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    educao foi exitosa pois no visou apen as t or n-la um a m ulhe r culta e zelosa do s seus

    deveres, mas porque mot ivou-a a uma regra de v ida que a aproximou, em a lguns

    aspectos, a um de seus antepassados mais notveis, cujo sangue real lhe corria nas

    veias. So Lus tambm ser proclamado santo por causa de suas virtudes e de sua

    vida crist, em part icular sua vida conju gal. 24

    Prossegue Her m es Vieira a respeit o da p rincesa Isabel:

    De car te r f i rme e impo lu to , an imada que sempre fo ra de um sen t imento de d ign idade

    incorrup t vel, jam ais abandon aria ela os hbit os e os exem plos da infncia e da m ocidade, frudos no

    sadio e austero ambiente paterno, de tanta respeitab i l idade e to em harmonia com o seu fe i t io

    re l ig ioso, apr im orador de sua m oral . De ta l sorte lhe fo i a t uante e benf ica a educao recebida que,

    ao for m ar o seu lar, t im brara em prosseguir nos mesm os passos palmi lhados na in fncia, t ra t ando a

    todos que se lhe aproximavam com doura e afabi l idade. No t inha, com o a Imperat r iz tam bm n o

    tinha, nem protegidas nem validas. Diz Heitor Lyra: Se cult ivavam um crculo restrito de amigas,

    como as tem al is todo o mundo, de uma forma meramente pessoal e pr ivada, no lhes faz iam,

    m esm o a esta s, outr as concesses que no fossem a de um pur o sentim ento de am izade fra nca e

    desinter essada, de pa rt e a part e, que se reflet ia apena s no crculo caseiro do Palcio, sem nenh umalcance l f ora , na polt ica ou na a dm inistrao, m esm o nas dependncias do Pao. Foi virt uosa por

    ndole e convico. E com o o av, possua um a qualid ade adm irvel: no gu arda va rancor de pessoa

    a lgum a. Foram am bos, m edularmente nobres. 25

    Infncia e educao pr iv i legiada em m uito ajudaram a pr incesa Isabel a m oldar

    seu carter com a fortaleza necessria para firmar uma personalidade resoluta, com

    per cepo da realidade, capaz de p ru dn cia e ou sadia, confo rm e as exigncias e desafiosda vida pessoal e pb lica. D. Pedro II sabia que o lt im o p rncipe culto d a fam lia fora D.

    Jos, irm o de D. Joo, e por causa dele se for m ara provavelm ent e a suspeita de q ue

    um prncipe instr udo m ais depressa pod e sucum bir ao contgio das idias do t em po,

    irr eligio, fran cesia. 26 . O fato qu e educao sistem atizada, obedecendo a p lanos

    de antem o preparados, no ob je t ivo de fazer um re i, nem o av nem o pa i t iveram de

    m odo inteiram ente adequado, da o apreo de D. Pedro I I educao das f i lhas, tend o

    escolhido para precep to ra a Con dessa de Barral, decisiva para cultivar n o espri to dasm eninas, especialm ent e o de Isabel, Deus com o a causa universal 27 , pois um a balana

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    rel igiosa e polt ica sustenta o equil brio 28 das naes, vigorando-as no que tem de

    melhor , na medida em que leg is lao e v ida esto de acordo com pr incp ios que

    realm ente hum anizam a sociedade, desbarbarizando-a e d ot ando-a de um a sensibi l idade

    expressa em inst i tu ies e arte que promovam o bem. Pela fora do cr ist ianismo o

    m und o d eixou, po r exemp lo, de ter g ladiadores, m as o Brasi l do sculo XIX ainda t inh aescravos, e deixaria de t-los pelo influxo da f crist, favorecido pela formao da

    p r i n c e s a I s a b e l . m e d i d a e m q u e f o i t o m a n d o c o n t a t o c o m a r e a l i d a d e f o i ,

    pro gressivam ent e, abr indo o seu corao para m elho r agasalhar os desafor t un ados.29

    D. Luiza M argarida Por t ugal de Barro s, m arqu esa de M on ferrat e cond essa de Barral e

    Pedra Branca, chegou mesmo a exercer certa influncia em nossa polt ica devido a

    s e u s m r i t o s i n t e l e c t u a i s e s e u b r a s i l e i r i s m o s a d i o , m u i t o c o n t r i b u i u p a r a o

    desenvolvimento cultural da princesa Isabel.30 M ulher cul ta e elegante, de grandes

    atr ibut os pessoais, sou be im prim ir na prin cesa Isabel um a viso alegre da vida 31 gosto

    apurado e a defen der suas convices, com ho nestidade int electu al. Foi abolicionista,

    antes de quase todo mundo ( . . .) Era intel igncia e espr i to, a lm de extremamente

    feminina. 32

    A condessa de Barral desempenhou papel re levante na

    infncia e ado lescncia da pr incesa, escevendo sob re ela,destacou a sua inaltervel bon dade e anglica candura.33

    N e l a , D. Pe d r o I I e n c o n t r o u u m a d i r e t r i z e sp i r i t u a l

    perfeita 34 , para cond uzir a fi lha a um a estat ura m oral capaz

    de torn- la uma governante que entendesse a alma do

    po vo b rasi leiro e agisse em seu b enefcio. N o h exagero

    em asseverar que a condessa poliu, por assim dizer, os

    s e n t i m e n t o s d a p r i n c e s a . 3 5 O s c o n t e d o s d a f im pregnaram -se nela to fo r tem ente e com um a consistncia to slida que u l trapassou

    as expectativas do p ai, qu e acom panhava com satisfao o m od o com o ela correspo ndia

    ao que lhe era oferecido como valor de vida. D. Aml ia, sua av paterna, destacou

    aconselhand o: Um a das prim eiras coisas qu e se deve ensinar s crianas o catecism o;

    a memr ia se exerc i ta desde cedo sem inconvenientes e ex is tem Compndios de

    Dout r ina bastant e resum idos e adaptados pr im eira infncia.36 Tod o este esforo fo i

    recom pensado poster iorm ente, po is que ela alcanou xi to na vida pessoal e glr ia navida pbl ica, m esm o n a dor d a in just ia que sofreu da for m a com o fo i banida do Pas, e

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    do muito que sofreu no exl io. Apagada a sua estrela polt ica, depois de vencida a

    to rm ent a da abolio - escreveu Assis Chat eaubr iand - ela no t inh a a expresso du ra,

    um a palavra am arga para ju lgar um fato ou um hom em do Brasi l . No m ais secreto do

    seu corao, s lhe encont rvam os a indulgncia e a bon dade, e este espri to de cond ut a,

    esse desprendimento das pa ixes em que se v iu envolv ida, era a maior prova defidel id ade, no exl io, pt r ia distant e. M ais de t r int a anos de separao forada no

    m acularam a alvura dessa t radio d e t olerncia, de anistia aos agravos do passado,

    que ela herdara do tro nco paterno.37 A seiva catl ica, entr anhada n o ser d e D. Isabel,

    desde c r iana , encon t rou ne la te r reno to p rop c io , e desenvo lveu um amor to

    verdadeiro para com o iderio cristo. Hoje esto u s volt as com Saint Am bro ise e Saint

    Augustin 38 , escrevia ao s 14 ano s.

    O quan to l he ag radec i no meu i n te r i o r po r me te r ens inado , me te r dado

    mestres 39 , escreveu a pr incesa Isabel a seu pai, anos m ais tard e. Foi ele o m ais severo

    e o m ais atent o p rofessor das Princesas.40 E foi correspon dido pela f i lha, no af de no

    desgostar os pais do investimento privi legiado que recebeu. Papai se puder faa o

    favor de v i r um bocad inho an tes das 7 para eu repe t i r o meu g rego .41 Tudo era

    acom panhado de m uito pert o, d ia-a-dia, as at iv idades desenvolvidas. A astro nom ia

    ficava para as no it es est relad as.42

    Isabel, por ser a herdeira presuntiva da

    coro a, est ava sob m aior vigilncia. Estava

    a educao d as pr incesas m uit o acim a da

    md ia da min is t rada s moas do seu

    tempo .43 E o pr pr io pai decidiu d ar um a

    educao de homem sua f i l ha ma i s

    velha 44 , em um program a de mu i to r igor.A menina chegava a ter quase qu inze

    horas dirias de estudos divididos entre

    grego, la t im, a lemo, i ta l iano, f rancs,

    i ng l s , l i t e ra tu ra , f i l o so f i a , m i to l og ia ,

    histr ia un iversal, hist ria de Por t ugal, do Brasil, da Frana, da Inglaterra, histr ia ant igas,

    medieval , moderna, eclesist ica, retr ica, lgebra, geometr ia, cosmograf ia, f s ica,

    qumica, economia pol t ica, geograf ia, geologia, mineralogia, astronomia, botnica,zoo logia, desenho, pint ura, piano e catecismo . As disciplinas eram organizadas em fu no

    8

    Aula de Equitao

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    de uma escala prescr i ta pelo Imperador de acordo com o dia da semana. 45 O que

    im pressiona os ob servadores prxim os com o ela correspondeu, com zelo precoce

    no apenas as obr igaes estudant is , mas especia lmente como fo i ass imi lando o

    conted o, consciente de q ue era p reciso en tend er a real idade d o Pas em que vivia,

    cer ta de que um d ia ter ia de acer t ar em suas decises, com o governant e, da anecessidade de o cupar-se m ais do que os out ros, a um estu do concentrado d as m ais

    var iadas quest es do conh ecim ento hum ano. E reconhecia as di f iculdades e o q uanto

    era preciso se esforar para obt er no tas satisfat rias. At agora no t enh o t ido p on to

    na sagesse qu eixava-se ao pai. Sagesse A B porqu e fu i t eim osa. 46 Os deveres e exigncias

    do cot id iano visavam m ais do q ue o acm ulo de conh ecim ento, m as essencialm ent e a

    prt ica de vi r tud es. E no se pende qu e por ser D. Isabel f i lha do Im perador e h erdeira

    do t ron o lh e passassem os m estr es a m o n a cabea. Nada disso. (...) Os professores

    eram igualm ent e fiscal izados pela aia.47 E das im pr esses da Con dessa de Barral sob re

    a pr incesa Isabel, em carta Im perat r iz D. Tereza Cristina, destaca que a sua in altervel

    bon dade e angl ica candu ra cada vez m ais a met em dent ro do m eu corao.48

    Em suas l ies de cal igrafia e ditado s, em itia desde cedo op inies mu ito pr prias,

    do s tem as qu e os pro fessores lhe apresent avam : A eletricidade ainda serve ilum inao.

    Enfim , um dos m eios m ais t eis que Deus ps a nosso alcance para o em pregarm os

    conven ien temente .49 E ainda: o vapor presta-nos os maiores servios. Anima as

    m quinas e faz em pou cos m inut os o que a fora hum ana levar ia meses. A indstr ia

    deve-lhe relevantes servios. Pelos cam inho s de ferro e pelo s barcos a vapo r o s produ to sde um pas so muito mais brevemente exportados do que se nos servssemos dos

    D. Pedro I I : ze loso

    pe la educao das

    f i lhas

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    antigos meios de t ranspor te. E quant o n o devem os agradecer ao Ente Suprem o este

    m aravi lhoso dom .50

    Com o expl ica Daibert Jr. : O Im perador parecia querer t ransm it i r f i lha seu am or

    e respeito devotado s cincias, e ainda convenc-la da importncia das mesmas no

    m undo em que v iv iam .51 M as d iferent e do pai, D. Isabel encarava os invento s e astecn ologias com o ben os divinas ofecerid as aos ho m ens. Enq uant o o Im perado r, em

    cart a citada anter iorm ente , recom endava f i lha honrar o s que se apl icam s cincias

    nat urais, valorizando suas descober tas, a Princesa atr ibu a respo nsabil idade, ho nra e

    valo r a Deus, por t e r perm i t ido aos hom ens ta l conhec imento .52 As personagens

    histr icas de sua prefern cia expressavam a sua perspect iva cristocnt ica 53 de governo .

    As anotaes de seus cadernos esco lares ev idenciam de modo exp l c i to que no

    pensam ent o d e D. Isabel, a virt ude d a caridade ganhava lugar de destaqu e ent re aquelas

    que conferiam reput ao e im ort al idade aos personagens hist ricos que serve de m odelo

    aos Prncipes. (...) Valorizava um m od elo de govern ante qu e, em sua po ca, encont rava-

    se, em geral, bastant e of uscado p elos preceitos i lust rados. No conjun to de seus escrito s,

    encontram -se um a sr ie de re ferncias a personagens prx im os ao m odelo de re i

    crist ianssim o, cuja virt ud e pr incipal era o exerccio da caridade. A sabedo ria, quand o

    m encionada, era intep retada com o beno divina.54

    O seu professor de latim e l i teratura, Visconde de Sapuca percebeu logo cedo

    com o a pr incesa Isabel fo i im pr im indo u m pensam ento pessoal sobre o s com entr ios

    qu e fazia dos textos de redao que lh e era sol icitado int erp ret ar. Ao expor sua opin io

    sobre o papel do governante (a part i r de tema proposto por Sapuca) e la escreve:

    Alexandre passou, Csar passou e, f inalmente, Napoleo passou. E assim, todos

    passaram , os m aiores ho m ens com o os m ais peq uen os. Por isso, devem os ocupar-nos

    na vida de fazerm os boas aes, a fim de qu e se o no sso corp o p assa, a nossa m em r iano passa.55 Fica evidente n os com entr ios da pr incesa a im por tncia atr ibuda, pela

    herde i ra do t rono, aos va lores cr is tos na ao dos governantes e na sociedade

    governada po r eles 56 , m arca esta q ue ir caracter izar a ident idade, a vocao e a m isso

    da pr incesa, ao lon go de t oda a sua vida, e cuja coerncia com o p ensam ento cr isto i r

    lhe custar m uito s dissabores, m as tam bm a grat i f icao de um sentido de vida que a

    nor teo u em to das as suas aes com o p essoa. Sapucai certam ente percebia que sua

    aluna era port adora de valores que a dist inguia do pai . Percebia tam bm que o s ideaiscr i stos da m en ina no e ram expressos com o m era fo rm a lidade , nem conv iv iam

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    harm onicamen te com os ideais i lustrados, conform e o f igur ino herdado de Coim bra ou

    Olinda. Ao cont rrio, ganhavam suprem acia enqu anto fu ndam ento e m odo de percepo

    da sociedade e d a polt ica.57

    No di tado em por tu gus, do caderno da Pr incesa D. Isabel , n 12, ela exort a com o

    os hom ens devem estam par a sua vida na hist r ia: com o um a alm a pura, patr iot a ecaridosa 58 , e exclam a: Com o b elo passar-se posterid ade com a repu tao de So

    Luiz, de Fel ipe Camaro! V idas exemplares marcadas por pureza, patr io t ismo e

    caridade.59 Tais valores no foram m encionados com o um exerccio m eram ente ret rico,

    m as almejados por sua vida inteira, m esm o depo is de ter p erdido o t ron o, por justam ente

    ser f iel a t ais valores. Destaca tam bm sua adm irao po r Hen rique Dias u m dos grandes

    heris do Brasi l . Era preto e sua valent ia no era m enor do que a dos pr im eiros generais

    do seu te m po . Acho u-se m uit as vezes com Felipe Cam aro e defend eu o Brasi l cont ra a

    invaso h oland esa. Assist iu segund a bat alha do s Guararapes, f icando ferido . El-rei de

    Port ugal quis recom pens- lo e deu- lhe um hbi to de Cr isto .60

    De m odo m uito especial estava So Lus em suas devoes. Para ela, Lus um desses

    cr is tos para quem a Paixo de Jesus um

    acontecim ento sem pre contempo rneo e q ue

    deve fazer parte da ao no presente, e nosom ente n o qu al se busque um passado santo.61

    V ida de i n tensa esp i r i t ua l i dade , l e i go

    cristo, pai de famlia, rei cruzado e legislador,

    eis um m odelo que em polga a pr incesa Isabel ,

    desde cr iana. So Lus de Fran a, o Rei Lus IX

    (1214-1270), part ic ipou de duas cruzadas aoO r i e n t e , e r a r e s p o n s v e l p o r i n m e r a s

    fundaes re l ig iosas, conventos e hospi ta is .

    Destacou-se por sua devoo crist e prticas

    caridosas destinad as aos doe nt es, pob res, cegos

    e indigentes. Sua condu ta, segundo relato s da poca, era or ientada po r um a profu nda

    adm irao p ela Igreja e por seus m inist ros. Apesar da distncia crono lgica qu e separa

    o rei medieval do ndio setecentista (Felipe Camaro), ambos destacaram-se na lutacont ra os inf iis, favore cendo a expanso crist cat lica, associados a um pr ojet o p oltico.

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    Com o alm as pu ras, patr io tas e carido sas, m ereciam respeit o e adm irao da Princesa.

    D. Isabel parecia associar o patr iot ism o ao recon hecim ent o cristo .62

    Ainda no m esm o caderno d e ditado em por t ugus, escreveu a Princesa: A caridade

    um a grande vir tu de. Deus nos diz no pr im eiro m andam ento : Am ai a Deus sobre t udo

    e ao p rximo com o a t i m esm o. Quanto s exem plos de car idade n os deu Jesus Cr isto emsua vida. Deixai os m enin os vir a m im , disse ele um dia qu ando os discpu los desped iam

    umas cr ianas ( . . . ) como no considerar esta vi r tude uma das pr imeiras? Ela deve

    sobretudo existir nos soberanos para serem considerados como pais de seus sditos.

    So Lus, rei d e Frana, Sant a Isabel d e Por t ugal e Sant o Estevo d a Hun gria so excelent es

    exem plos desta vi r t ude.63

    Numa das cartas para a me, em 1859, a Pr incesa relata: Ontem, comecei o

    trabalho p ara o M onsenhor Narciso. um vu para um cl ice. Em out ra carta contava:

    O M onsenhor Narciso veio s 8 horas m enos algum a coisa. Alm oamo s e fom os m issa

    s 9 ho ras. s 10 h oras partim os. Fez-m e grande im presso os po bres cegos (do Insti t ut o

    do s cegos).64 Para a princesa Isabel, com o apr eend eu d e um a das l ies de Rod rigues

    Bast os, a caridade crist no se con fu nd e com fi lant rop ia. 65 A caridade vista sem pre

    como um ato muito pessoal , como referncia a parbola do bom samari tano. Cada

    pessoa cham ada a se do ar, a ter com paixo, a ser o blat ivo.Sob o p ulso fort e da Con dessa de Barral, foi p ossvel um a educao para que a

    for m ao espir i t ual d a pr incesa cor respo nd esse s suas respo nsabil idades sociais.66 E

    m uito cedo despert ou- lhe t am bm o apreo pela poesia, de s inf luncia. Nas pou cas

    ho ras de lazer, havia tem po para as m enin as recitarem versos com o estes, do Viscond e

    de Pedra Branca, pai da Cond essa de Barral:

    Poe na v ir t udeFilha querida,

    De tua v ida

    Todo o p rim or.

    No d s sorte,

    Que tanto i lude,

    Sem a v ir tu de

    Algum va lo r 67

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    M ais do q ue a educao qu e recebeu, eram at i tud es cot id ianas que im pactavam o

    corao da pr incesa, qu e aprend eu cedo a discernir os acon tecim ent os do dia-a-dia, os

    confl i tos hum anos, e o m uito que se t inha de fazer pelo bem do Brasi l . O car inho com

    que os seus pais tratavam os necessi tados que lhes bat iam por ta constantem ente, os

    repet idos exemp los que d eles teve infu ndiram -lhe um a imp resso to grande, aguaram -lhe a clem ncia com t am anha fora, qu e a levaram, ainda na ado lescncia, a sent ir-se

    atrada pelos que sofr iam a injunes da pobreza mais acentuada. 68 Nesse sent ido,

    conta Loureno Luiz Lacombe: Interessava-se tambm d. Isabel, junto ao pai, pelos

    pro blem as de seus pro fessores: O Valderato p rop s que, com o seu fi lhinh o est sem pre

    doent e, e que ele, assim no p odem vir a Petr pol is com espr i to sossegado, e que o s

    m dicos dizem que lhe far bem m udar de ares, e le pede que os 26 m i l r is que lhe do

    to das as sem anas para sua cond uo (m ult ip l icados por 4 fazem 104$) lhe paguem com

    isto, po r m s, um a casinha para ele com sua fam l ia durante o tem po de n ossa estada

    em Petr pol is .69

    Sentido de fam lia com o fo ra unit iva

    A m e d a p r i n c e sa I sa b e l , aimpe ra t r i z D. Tereza Cristina e n f r e n t o u

    sem queixas a dor e o p er igo 70 do pa r to .

    Ded i cou a se r uma esposa d i l i gen te e

    obed ien te .7 1 Viveu com o senso do dever

    o sen t ido t ranscendenta l do mat r imn io ,

    cuja entrega fei ta com sol ic i tude lhe dava

    pacincia nas exigncias cot id ianas, masleveza de conscincia e alegria int erior. A

    imperatr iz vivia para a faml ia e se sentia

    rea l i zada fazendo fe l i zes o mar ido e as

    f i lhas. 72 D. Ped ro I I dava tambm uma

    especia l a teno ao que e le considerava

    im p or t ant e: a co eso fam il ia r. No aniversrio de D. Isabel, em 1852, ele constru iu um

    jardim especial para as f i lhas no terreno de So Cristovo, com bancos de p ed ra decoradoscom po rcelanas e conchas.73 Havia ent re eles, cont nuas expresses de idlios:

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    M ame, eu m ando este am or-perfei to repenicado. A M ana e Eu m andamo s m uitas

    saudades, 28 de dezem bro de 1 854... Isabel Crist ina.74

    Tocante a sensibi l idade d a Princesa, desde m enin a a reconhecer a beleza com o a

    expresso visvel do bem .75 Da m e lhe veio o gosto d a m sica, as rias cantadas ao

    piano .76 Alm da extensa carga de estudos, havia l ies de bordados e flores (...)M ame no se esquea de m andar am anh as f lores da M m e. Dimer para eu ter t em po

    de as fazer para ficarem p ron tas do m ingo. (...) Acabam os um ram o de f lores para servir

    am anh na Igreja .77

    Relao d e inten so afeto com a m e, externada em cart as quase

    que d ir ias, expressando mimos inesquecve is : mame nunca se

    esquece de m im , no m eio das suas ocupaes.78 Ou ainda: Tenho n a

    m inha cabeceira o seu retrato, a quem bei jo continu adamen te (carta

    de 13-3-57).79 E m ais: Recebi a sua carta, que m uito prazer m e deu,

    de saber que m ame est boa de t odo da tosse; e vou d orm ir com e la

    deb aixo d o t ravesseiro.80

    Destas rem inicncias de infn cia, em 1857, destaca: Hoje, qu ando acordei, rezeium Padre-Nosso e u m a Ave-M aria pela inteno da M am e. O dia est l indo, parece

    que Deus tam bm quis festejar os anos da M am e.81 Gui lherme Auler conta que na

    quaresma de 1858, houve oportunidade para confidenciar: Hoje f iz uma verdadeira

    peni t ncia; com o no m e deram seno peixe de lata, que n o gosto nada, no com i

    seno arroz de m anteiga e batatas. Esta t arde o t em po n os deu um a est iada e fom os

    adorar o Sant ssim o. Agora est choven do m iudin ho (carta de 2-4-58).82 E prossegue:

    Da Sem ana Santa d esse ano, o seu ped ido : M eus caros Pais. M il perd es lhes peode lhes ter ofend ido t antas vezes. Hoje a m inha confisso duro u um a hora.83 E aind a:

    Depois do jantar, fom os levar un s ram os e um prato de d oces ao Sr. Bispo, po rque ele

    faz ho je 77 ano s.84 Em 29 de janeiro de 1860: De m anh, s 9 e m eia, fom os ver na

    Igreja, a sagrao d e um a No ssa Senh ora d as Dores, que a Tot on ha d eu para a Igreja, e

    ou vim os l missa.85

    Foi o sentido de faml ia que lhe deu uma infncia fe l iz, protegida, var iada dedescobert as, beleza e afeto. O dia de ho je fo i m uito bon i to ( . .. ) Eu lhe m ando estes

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    m arro ns-glacs para M am e, po sto qu e Papai no gosta de castan has.86 A 20 de abr i l

    de 1859 escreveu: M uito obr igada por t udo que m e m andou . A caixa e os doces, e as

    pulseiras, a caneta e a pena, e os brincos, tudo est muito bonito. 87 E m ais: Eu d ei

    para minh a pr im a aquela cruz com um corao de b ichinhos, e para ele um bei ja-f lor

    em palhado (...) Acabo de t om ar sor vete; desejava que papai est ivesse aqui para tom arconosco! 88

    Dos present es qu e a m e

    lhe env iou , aos 13 anos, a

    Pr incesa respondeu: gostei

    m u i t o d o s s a n t i n h o s e l h e

    a g r a d e o m u i t o a s o u t r a s

    c o isa s q u e m e m a n d o u . 8 9

    Dias depois, agradece outra

    remessa de p resen tes : os

    c o c o s , b i c h o s e d o c e s j

    c h e g a r a m . A i m a g e m d e

    N o s s a S e n h o r a c h e g o u

    perfeita.90

    E ainda, cerca de um m s depo is: Recebi tu do. A Santa Izabel m uit o b on ita.M u i to obr igada por t udo .91

    A f cat l ica imp regnou em sua a lm a jovem , com um ta l enraizament o com o a

    semente lanada em terreno muito receptivo. Os seus sentimentos, pensamentos e

    v iso de mundo so l id i f icaram-se de modo in te i ramente cr is to. O incent ivo v inha

    cer tamente da me 92 , de f madura, marcado por uma tradio napol i tana ( . . .) de

    apoio i r restr i to ao papa.93 A pr incesa Isabel, assim com o So Lus, sent iam -se m em bro s

    d e um corpo, a Cr istand ade, que t inh a duas cabeas, o papa e o im perador .94 O poderespir i tu al dando diret r iz ao po der t em poral , sustent ando-o com seus pr incpios e val

    ores, tend o em vista as r iqu ezas de salvao 95 , e no apen as prosper idade m ater ia l,

    pois seus escritos de infncia e adolescncia, comprovam a sua convico de que a

    hist r ia no p ode ser regulada longe de Deus por estr ut uras sim plesm ente m ater ia is 96 ,

    po is se o corao do hom em no for bo m , ento nada pode t ornar-se bom .97 Com

    isso, teve uma viso alegre da vida 98 , da alegr ia que vinha do espr i to das bem-

    avent uranas, exper im entand o desde cedo, de m odo pr iv i legiado, o quant o fo i qu er idae am ada pelos pais. Viveu assim a expresso concret a de um Deus exigente, com o for a

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    Santa Isabel da Hun gria: prot eto ra dos

    lares, foi inspirao d a Princesa Isabel

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    c o m A b r a o , Ja c e M o i s s. U m a a l e g r i a sa d i a , p u r i f i c a d o r a e sa n t i f i c ad o r a ,

    m a n i f e st a d a d e f o r m a a e n c a n t a r a t a n t o s a su a v o l t a , co m q u e m i r r a d i a u m a

    e sp e r a n a d e v i d a , m e sm o e m m e i o s d o r e s e so m b r a s in e v i t v e i s.

    D i a n t e d e u m a so c i e d ad e c a d a v ez m a i s se c u l ar, m a r ca d a p o r i n m e r o s

    p ro b lem as soc ia i s e d i spu t as po l t i co -pa r t i d r i as , D . I sabe l im ag inava qu e um asoc iedade me lho r se r i a a l canada po r

    m e i o d a r e - ad o o d e v a l o r e s c r i st o s

    c a t l i c o s . 9 9 Ta i s v a l o r e s l h e d e r a m

    s e g u r a n a e f e t i v a e m m e i o

    s e c u l a r i z a o c r e s c e n t e , c o m f o r a s

    a n t i c r i s t s q u e e m e r g i a m d o

    I lum in i sm o e ganhavam fo r a depo i s da

    R e v o l u o F r a n c e s a . T r o n o s e r a m

    d e r r u b a d o s p o r e s t a f o r a h o s t i l

    I gr e j a , p r i n c ip a l m e n t e n a Eu r o p a , m a s

    as esco lhas e apos tas da Pr incesa 1 0 0

    f i ze r am - n a ad o t a r u m a p o l t i c a d o

    co rao 1 0 1

    , a f i r m a d a n a c o n v i c o d eq u e s o m e n t e o s v a l o r e s c r i s t o s l h e

    d a r i a m o s s u p o r t e s q u e j u l g a v a

    su f i c i en temen te es tve i s .1 0 2

    O casam ent o com Gasto de Orl ans, o Con de d Eu

    Convico esta m ais acent uada que a d o pai, e que Dom Pedro II cont ribu iu tam bmde m od o de cisivo para o casam ent o da Princesa, j aos 18 ano s. O m arido d e D. Isabel

    obviam ente precisava ser u m prncipe catl ico.103

    Bem sucedido na misso de educar as fi lhas, especialmente a que poderia lhe

    suceder no t rono , o Im perador preocup ou-se cuidadosam ente e com pru dncia, para

    acer t a r na esco lha do genro , po is o p rob lem a do casam ento da p r incesa Isabe l

    apresentava-se sr io e del icado e no podia f icar condicionado aos azares de um

    encont ro event ual . 10 4

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    A pr im eira sond agem foi fe i ta qu ando a pr incesa t inh a 9 anos. Nada m ais di f ci l

    que casar um a jovem pr incesa, dizia-m e ou tr o d ia a rainha Vi t r ia - escreveu o prncipe

    Joinvi l le a Dom Pedro II - Que responsabil idade! Ainda mais quando essa Princesa

    herde ira de um t rono .105 Todas as propostas em anl ise reconheciam ao monarca

    bras i le i ro , a exce len t e ed ucao qu e d estes a vo ssas f i l has. Tud o i sso m erececonsiderao! 10 6 E a cada no va situ ao em est ud o, ouvia-se: para qu e Isabel ache um

    m arido digno dela e cheio d as capacidades necessrias para seu m arido, sendo ela t o

    educada e t o dist int a.10 7

    Nessa delicada qu esto, n o se dava pr im azia ao d esejo pessoal, m as aos int ereses

    da fam lia - e nesse caso aind a, aos do Pas. As fi lhas depo sitaram to da a con fiana na

    escolha fei ta pelo pai , que no deixou de levar em conta tambm a preferncia das

    pr incesas. Daibert Jr. sint et iza com o as coisas acont eceram :

    Ap s mu itas idas e vind as, envio d e fot ografias, indicaes de p erf is e recusas po r

    parte de alguns pretendent es, chegou-se a um a prop osta. Acordou-se a vinda p ara o

    Brasi l do s pr ncipes Lou is Phil l ipe M arie Ferdin and Gasto n d Orleans, o con de d Eu, e de

    Lud w ig August M aria Eud o vo n Sachsen-Cob urg-un d-Got ha, o Duq ue d e Saxe. Os rapazes

    eram pr imos e chegaram ao Rio de Janeiro em 2 de setembro de 1864. Segundo a

    narrat iva biogrfica da pr p ria Princesa D. Isabel, a int eno inicial era prom over suaunio com o Prncipe Augusto e a de sua irm com Gaston. A troca de casais s se

    efet uo u ap s a chegada dos pret end ent es, e a explicao para o fato fo i assim esbo ada

    pela Pr incesa: Deus e no ssos coraes decidiram di ferentem ente, e a 15 de o ut ubro de

    1864 t inha eu a fe l icidade de d esposar o cond e dEu .108

    Uma fel icidade que p erdurou p or t oda a vida,

    testem unh ada por t odo s os que conviveram com

    eles, de ta l mo do se am aram e se entend eram , ta la convergncia de ideais e d isposio d e enf rent ar

    jun t os os p rob lem as e desaf ios, t al a al egr ia de

    part i lhar um amo r que deu certo, e m uito se deveu

    bondade, intel igncia e f sol idssima da

    princesa Isabel. Am bo s se ajudaram m ut uam ente,

    se com pletaram , em t odo s os sentido s, no cam po

    afet ivo, pessoal, das idias, do s pr oj et os, da visopolt ica, na educao dos fi lhos, etc. Depois da

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    fr ieza dos contratos diplomticos,10 9 f lo r iu um breve romance 11 0 sustentado pela

    fidel idade e inten sidade de um a relao que causou adm irao a mu ito s. Eles realm ent e

    se am aram ! Sob as graas de um m atr im nio verdadeiram ente vent uroso, pois f izera

    a amb os perm anentem ente fe l i zes, desde o p r im e i ro encon t ro a t a inconso lada

    separao pela mo rt e, todo um m und o no vo foi revelado pr incesa Isabel para o plenoencantamento de sua vida.111 E mais uma vez Dom Pedro I I acertara, garant indo a

    estabi l idade matr imonial to necessr ia, o que aumentou ainda mais a afeio e a

    grat ido d a f i lha para com o pai . O zelo para com a educao e do m esm o m odo na

    escolha de seu marido, f icou uma marca indelvel em seu corao, e que assegurou

    poster iorm ente a qu e ela f izesse o m esm o com os f i lhos e os netos. M ais tarde, em sua

    pr im eira visita a Lon dres, em 1865, d ava no t cias ao pai: Com eava a gostar d a Inglater ra.

    Alis, afirm a, rom nt ica: Basta q ue Gasto n goste dela para eu t am bm gostar . E grata

    ao pai por pod er apreciar t udo aqui lo qu e via, escreve, num a exclam ao de louvo r:

    Oh! Quanto lhe agradeci no m eu in ter ior de m e ter ensinado e de m e ter d ado m estres

    de m odo que agora com preendo a m aior parte das coisas que vejo, a inda qu e ignore

    mu i to 11 2

    O jovem cond e dEu chegara ao Brasi l m arcado pela do loro sa exper incia do exl io.

    Dele, Daibert Jr. nos d o seguint e per fi l :Aos vint e e do is ano s, o prncipe francs, neto de Lus Felipe, sara de seu pas aos

    seis anos de idade e aind a no h avia ret or nado . Exi lado na Inglaterra d esde a revolu o

    de 1848, que destronou seu av, aprendera a amar a Frana por meio das poucas

    recordaes que guardara. ( . . . ) Refugiado na Inglaterra ( . . . ) v ivendo no Palcio de

    Claremo nt, acostu m ara-se a observar na sala de jantar um retrato pintado da fam l ia

    real bri tnica, sempre a vigi-lo, lembrando-lhe sua condio de estrangeiro, vivendo

    de favores em um palcio em prestado, em um pas que n o era seu. Em vivo contrastecom as esparsas visitas luxuo sa cort e da rainh a Vit ria, sua fam l ia enfren tava um a

    grande crise financeira, seguida de in m eros endividam ento s. As dif iculdades no contato

    com as d i ferenas em um pas estrangei ro eram mui tas. Em d iversos aspectos, a

    experincia vivida pelos Orlans na Inglaterra era tortuosa e difci l . ( ...) Impedido de

    pisar em solo francs, Gasto n d e Orlans havia sido educado n a Inglater ra, onde passou

    a infncia e a adolescncia. (...) A travessia do Atlntico trazia ao Brasi l um prncipe

    m arcado por exper incias de inm eros cont atos com m und os di ferent es do seu. O seuverdadeiro m und o, sua verdadeira ptr ia, era um a ausncia perm eada de lam ento s, de

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    esquecimentos e de lembranas de uma faml ia banida de sua terra e de seu trono.

    Despo jados de seus bens mate r ia i s e s imb l i cos , os Or lens t i ve ram que ten ta r

    reconquist-los, em um a Europ a ps 1848, sustent ados por p arentes na intr incada rede

    de relaes dinst icas e fam il iares nas quais estavam enred ados. Para Gasto n, d epo isde ser ban ido d a Frana, edu cado na Inglaterra, seguido carreira m il i tar na Espanh a e

    D. Isabel e Con de d Eu, D. Leop ol din a e Duq ue d e Saxe,

    com D. Pedro II e D. Thereza Crist ina

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    lutado no Marrocos, casar-se no Brasi l poderia ser uma proposta interessante a um

    rapaz de 22 anos que procurava af i rmar sua condio e sua identidade em mundos

    distantes do seu.113

    A pr incesa Isabel se recorda em suas cart as o dia seguint e a chegada de Gasto n ao

    Rio de Janeiro, do nosso p r im eiro jantar e da conversa na sala de m am e 114 E ressalt a: Foi nesse dia que com ecei a te am ar ternam ente e m uito .115 E depois: M eu quer ido,

    hoje faz um ano que eu chorei de alegria quando papai me cont ou qu e tu m e preferias.11 6

    E m ais: Hoje faz um ano q ue, nesta m esm a hora, eu t ive a fe licidade de receber o seu

    pedido de casamento .117 No d ia das npcias, e la no pensou un icamente em s i .

    Escreveu ao pai, sol ici tand o-lhe qu e, em h om enagem ao seu casam ent o, l ibert asse dez

    escravos palacianos, oito do s quais t inh am sido criados pessoais dela. Os out ros do is

    eram um a m e e um a esposa.118 Lacom be a inda conta qu e no d ia do m atr im nio, a

    pr incesa Isabel real izou o ut ro sonho, tam bm de am or, m as de am or pelos hum i ldes e

    cat ivos, com eava a, exatam ent e nesse dia. a pr pr ia D. Isabel, que em carta d ir igida

    ao Imperador confessa: papai. Para o dia do meu casamento peo a papai que faa

    Joaninha re t re ta . E la tem me serv ido mui to bem ( . . . ) Peo- lhe tambm a car ta de

    liberd ade a estes escravos: M art a (negrinh a do qu art o). Ana Sou za (m e); Francisco

    Cordeiro (preto do quart o), M aria dustr ia (m ulher) , M inervina ( lavadeira), Flor inda eM aria dAleluia (engom adeira); Jos Lus (preto que to cou t odo o t em po de n ossa dana

    e que to ca ainda no s dias de divert im ento ); Antonio Sant Ana (preto q ue serviu algum

    te m po ) - E nu m P.S. esclarecedo r: N o sei se papai q uer qu e a lavadeira e a engom adeira

    f iquem servindo at eu p art i r p ara a Euro pa, mas enf im se papai quiser, pode lhes dar a

    carta (de alforr ia) no d ia 15 para essa po ca. a prim eira referncia, nesse sentid o, qu e

    se encon t ra na correspon dn cia da Princesa.11 9

    Dois dias depois da celebrao, M achado de Assis destacou nu m a crnica no Diriodo Rio d e Jan eiro: Um a das coisas qu e fez m ais efeito nesta solenid ade foi a ext rem a

    s imp l i c idade com que t ra java a no iva imper ia l . 1 20 E acrescentou: impossve l

    desconhecer ao del icado pensam ento que a este fato p residiu, na idade e na cond io

    de Sua Alt eza: as suas graas nat ur ais, as virt ud es do corao e o am or deste p as, so o

    seu m elho r d iadem a e as suas jias m ais caras.121

    Sete dias ap s o casam ent o, o con de d Eu escrevia a sua irm : Jun to te envio,

    d isse e le , uma car ta de Isabel . Estou cer to de que tu a amars mui to quando a

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    conheceres e t ers grande prazer em sua com panhia. Porqu e ela realment e bo a e

    do ce, e eu sou fel iz com ela.122

    A fel icidade conjugal da pr incesa Isabel e o conde dEu fo i um exem plo daquele

    cont inuum que favorece um a relao de conf iana e crescente m atur idade, em to dos

    o s a sp e c t o s, e sp e c ia lm e n t e e sp i r i t u a l . Fo i u m m a t r i m n i o v e r d ad e i r am e n t eventuroso 12 3, por t er sido sustent ado at o f im , pela f cr ist.

    A rel igiosidade d a espo sa no fo i para

    e le mo t ivo de estranhament o. Ao contrr io

    (...) o catolicismo de D. Isabel trazia-lhe

    m em ria lem branas de sua m e, m ort a em

    1857, quand o ele era um adolescente. Dela,

    o Prncipe guardava sem pre a im agem de

    sua at i tude de prostrao, encostando a

    face no solo sempre que avistava a hstia

    elevada. Nesse sent ido , a f de D. Isabel n o

    lhe causava perturbao. Assim como sua

    me, ela sustentava uma devoo sria e

    reverente qu e, em certo sentido , trazia-lheconfort o quando com parada s expresses

    rel igiosas encont radas em ou t ros pases.12 4

    A f da princesa era reconhecidam ent e um a convico slid a, no apenas

    int elect ual, m as daquela f viva a m over os santo s. Isso a fez melho r ent ender a cul tu ra

    e a hist r ia de seu pas, a com preend er o quant o a f catl ica m oldara a identidade e a

    vocao do Brasil, e a perspect iva de um dia vir a govern ar a levava se dedicar com

    m ais afinco ao que ela sem pre considerou com o um sent ido de m isso, conjugar f epolt ica, legislao e vida, mesmo diante das foras ideolgicas anticrists que

    em ergiam e atacavam cada vez mais os pr incpios e valores cristos. Entend eu tamb m

    m uito cedo o qu e os estu diosos fut uram ente i r iam reconhecer com o um a das pr incipais

    caracterst icas da brasi l idade: o catol ic ismo foi o cimento da unidade nacional .12 5

    Dela pode-se d ize r que a sua esp i r i tua l idade pos ta em pr t i ca com um ze lo

    inf in i tam ente m ais sl ido que o entu siasm o rom ntico.12 6 Se t inha o gosto apurado e

    elegncia, era de uma ternura mesclada bondade sem l imi tes e capaz dos maisassinalados sacrifcios.12 7 Era prt ica e real ista, daq uele real ismo cristo, cuja rel igio

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    lhe penetrara o espr i to e lhe abr i ra as portas amplas de um mundo de meditaes

    ut i l ssim as, not adament e para a vida de um a m ulher d e sua condio, do seu port e, do

    seu gnio im pu lsivo, de sua volun tar iosidade.128 E t ais caracter st icas se apuraram no

    convv io com o conde d Eu, ambo s com um profund o am or Igre ja. M esm o depois de

    casada, e at a velhice, a pr incesa Isabel m anteve o carter f i rm e e im polut o, anim adaque semp re fora de um sent im ento d e dignidade incorrup tvel, jam ais abandon ar ia ela

    os hbito s e os exem plos da infncia e da m ocidade, fruido s no sadio e austero am bient e

    paterno , de tanta respei tab i l idade e to em harm onia com o seu fe i t io re l ig ioso,

    apr imorador de sua mora l .129 Amor este t ransmi t ido aos f i lhos e aos netos, como

    descreveu sua neta, a condessa de Paris: Quanto ao amor que unia meus avs, eu

    sempre me perguntei de que espcie era ele ( . . . ) Sempre vi meus avs juntos, mas

    nun ca os ouvi fa lar ou discut i r ent re si .13 0

    E tam bm as am izades que cul t ivou ao longo da vida, espelhou a com preenso

    deste cont inuum, i lum inado pelo m istr io cr isto, cuja f sustent a tu do, e que d sabor

    vida, sent ido com o direo a nos elevar m oralm ente, para que saibamo s viver com

    alegr ia as prom isses da f, pois o elem ento fun dam ental do cr ist ianism o a alegr ia

    (...) que coexiste com um a existn cia difci l e q ue t or na p ossvel que essa existn cia seja

    vivida13 1

    , pois q uem realm ente vive a f com pacincia e se deixa form ar por ela pur i f icado p or m uito s revezes e fraquezas, e t orn a-se bo m .132 A pr incesa Isabel b uscou

    confirm ar a confiana, a fidel idade, a franqu eza e to do s os atr ibu to s excelsos da am izade

    qu e ela tant o pr ezou , na relao com os pais, depo is com o esposo, os fi lhos e os net os,

    e t am bm nos relacionam ento s of icia is no exerccio de sua funo p bl ica, ainda m ais

    com os pob res e desfavorecido s da sociedade, e com to do s ao seu redor.

    Uma fo to da pr incesa Isabel numa das

    expo sies ho rt colas realizadas no Palciode Cristal, em Petr p olis, apresent a-a junto

    com duas queridas am igas da infncia e que

    foram por toda a v ida, as Baronesas de

    M ur i t iba e de Loreto . Lacom be conta que

    uma delas, Amanda Paranagu - a doce

    Am andinha, que ser ia m ais tarde Baronesa

    de Loret o 13 3, em 1862, enq uant o br incava no s jardins da casa, pro tagon izou o seguint eepisdio: ao menear pequenino alvio com que remexia a terra, sem ver que atrs

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    f icara Am andin ha, f i lh a do Con selheiro Joo Lustosa da Cun ha Paranagu, feriu-a Isabel

    num dos o lhos .13 4 Um acidente int eiram ente no int encional e que em vez de queixas

    e rancores, aproxim ou ainda m ais as duas m eninas, num a am izade que cresceu com o

    tempo, at o f inal de vida, de ambas. Lacombe conta que baldaram-se os esforos

    para lhe salvarem a vista. Amandinha (proibindo que lhe falassem disso) seria a maisafagada, ter na e con stant e de suas am igas.135

    No cum prim ento s dos deveres cotidianos, nos est udo s e viagens que fizeram junt os,

    parti lhando os desafios das decises polt icas, no desejado sonho de terem fi lhos (o

    pr im eiro nasceu som ente onze anos depois do casam ento ), no cuidado das cr ianas,

    acom panhando depo is os estu dos e at iv idades da vida adul ta, na sade e na d oena, na

    dor e na alegr ia, o casal d Eu foi modelo de esposos, no melhor sentido uni t ivo da

    fam l ia. M esm o no exl io, pouco an tes de m or rer, a fel icidade de recm -casada expressa

    em seus escr i tos era testem unh ada pelos net os. Em carta d e 8 de no vem bro de 1864

    ela escreveu ao pai : Acho-m e com efei to m uito fe l iz, Gasto n sem pre m uito bom e

    car inho so para com igo, eu tam bm tenh o fei to m uito para agradar- lhe e creio que no

    tenh o desem penh ado m uito m al m inha tarefa, acho-m e pois m uito fe l iz. .. 13 6

    A Guerra d o Paraguai

    Pou co depo is das alegrias do casam ent o de Isabel e Gasto (em 15 de o ut ub ro d e

    1864), o Brasi l se viu envolvido na guer ra do Paraguai (1864-1870), quand o Solano Lop ez

    violou a sob erania brasi leira. Reto rn ando da prim eira viagem ao exter ior, a princesa e o

    cond e dEu encon t raram o Pas m ob il izado com os volunt rios da Ptr ia, no pesarosoconfl i to. Os acontecimentos to inesperados, certamente angust iou a pr incesa, que

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    sofr eu pela apreenso de perd er o m arido no cam po de batalha, recm -casada e sem

    f i l hos , a i nda ma i s sendo a he rde i r a do t r ono e com os rumores de que Lopes

    am bicionasse tam bm desposar um a das f i lhas do Im perador brasi le iro No que lhe

    fal tasse patr iot ismo 13 7, afirma Roderick J. Barman, mas D. Pedro II sabia que suas

    decises, naquele complexo processo, no eram apenas de chefe de governo, mastam bm de pai. Talvez po r isso n o ten ha atend ido logo o s insisten tes pedido s do Conde

    dEu em ir para a frent e de batalha (pela sua condio s po der ia i r com o com andante-

    em-chefe, o que tambm poder ia cr iar sr ios embaraos com os l deres mi l i ta res

    brasi le i ros e provocar ainda uma cr ise pol t ica interna). Foi um perodo de grandes

    ten ses, pro vaes e t or m ent osas preo cupaes 13 8, em que o Imperador teve de agi r

    com p rud ncia e sabedor ia no com pl icado tabuleiro pol t ico e m i l i tar, em m eio um a

    guerra que era preciso vencer e por f im o qu anto ant es. O am or p ela ptr ia um a bela

    qualidade - escreveu Isabel a Gasto - e eu m e envergonharia de no o ter, especialm ente

    pela m inha ptr ia que sem pre nos t ratou bem .13 9 E qu ando a hora soo u inevit vel, com

    Caxias enferm o e im possibi l i tado d e cont inuar no com ando, e sendo n ecessr io i r em

    bu sca de Lopes nas selvas paraguaias, para det -lo d efinit ivam ent e, D. Pedro II fez a

    convocao de q ue t anto d esejava o conde dEu, com a m isso de po r ter m o guerra,

    que j havia vi t im ado a t antos. Chegada a ho ra, certo que a p r incesa sofreu m uito, eexpressou esta to t ocante d eclarao de am or : i rei at o f im do m undo com o m eu

    G a s t o n 1 4 0 e r e s i g n o u - s e , c o m o a f

    requ eria, at q ue chegou ao Brasi l a not cia

    da vi tr ia, e a glr ia confi rm ada do conde

    dEu frente da difci l misso de capturar

    Solan o Lopes. E m ais signif icativo aind a foi

    o gesto de Gasto de Orlans, com o fimdefinit ivo da guerra, em l ibert ar os escravos

    paraguaios, em 2 de out ubro de 1869.

    Barm an conta que D. Pedro I I tom ou as aes do Paraguai com o um a afronta

    nao e sua pr p ria, abuso que s a vit ria to t al seria capaz de com pen sar. Em 10 de

    ju lho de 1865 em bar co u para o Rio Gran de do Su l, levando co nsigo o ge nro Augu st .

    Deixou u m a carta em que instava o conde dEu a i r se encontrar com ele na frente de

    bat alha assim qu e chegasse. Essa ordem , pois no era m eno s qu e um a orde m , Gastoa cum priu celerem ente. 141 Isabel e Leopo ldina f icaram com a m e, na expectat iva de

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    notcias e em orao. Cada carta recebida, uma alegria inenarrvel: minha bem-

    am ada Isabel na ocasio da m inh a part ida para a provncia do Rio Grande d o Sul 14 2 -

    escreveu Gasto no en velope en derere ado esposa, em 1 de agosto de 1865 , com

    subl im es recom endaes: S genti l , tem deferncia pela tu a m e. Na minh a ausncia,

    a tu a pr im eira obr igao. a tu a obr igao com Deus, cont igo m esm a, com igo, com ahu m anid ade. Tod as as no ites e na m issa, reza

    pelo Brasi l , por m im e por t eu pai .14 3 Ao que

    ela lhe respon deu: Eu t enho rezado m uito

    a No sso Senh or, to do s esses dias, po r t i , po r

    papai e pelo Brasi l.144 E acrescentou, cheia

    de saudades: Tu s to bo m , to bom , me

    amas tanto, todo dia eu o reconheo com

    m ais e m ais gratido. 14 5

    Certamente ela temeu perder o marido

    que t anto am ava, e teve de recolher-se em

    orao, no silncio paciente, na ent rega do s

    seus afazeres dirio s, na obed incia. O fato

    que doeu a separao. (...) O instinto diziaqu e a cam panh a do Paraguai havia de exigir

    m aior sacrifcio seu. A pr incesa devia resignar-se. (...) A Im perat riz e as du as filh as sent iram -

    se m ais necessrias, m ais respo nsveis perant e o pas, pelo exem plo de estoicism o q ue

    lhe pediam as outras esposas, todas... 14 6 E este exemp lo a pr incesa sou be d ar, quan do

    veio a convocao de Gasto, especialm ent e no seu d esenlace final.

    D. Isabel se sujei tou s deter m inaes. Se m orar com a m e era o que lhe ord enavam

    o pai e o m arido, ela no o po ria resist ncia.. As saudades tu as so bem grandes, m euqu erido , escreveu a Gasto algum as ho ras dep ois de sua part ida. Li o t eu b i lhet e e vou

    tent ar fazer o qu e m e pedes. No dia seguinte, cont ou: Eu do rm i bem com o teu retrato

    e o teu bi lhete sob o t ravesseiro. As cartas seguintes m ostram com que det erm inao

    ela se em pen ho u em realizar os desejos do esposo, apesar de sua existn cia reclusa e

    abor recida. (...) Escreveu-lhe em 11 d e agosto , acrescentan do : Eu gosto t anto de f azer

    as coisas para t i , gosto tant o de te ser t i l de algum m odo .14 7 Registro u t am bm , neste

    per odo de dor , o no ivado de Mar tha, sua cr iada pessoal , que fora l iber tada daescravido em hom enagem ao casam ento da pr incesa.148 Ela lhe deu aind a 100$000

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    p a r a q u e M a r t h a l i b e r t a p u d e s s e c o m p r a r o e n x o v a l c o m o d i n h e i r o . 1 4 9

    Em 18 de setem bro de 1865, s 8 ho ras da no ite, a princesa escreveu ao m arido ausente:

    Hoje faz um ano qu e, nesta m esm a hora, eu t ive a fe l icidade de receber o t eu pedido

    de casam ent o n o salo d e on de acabo de sair para te escrever. No p osso d eixar p assar

    o abenoado d ia de h oje sem escrever algum a coisa nesta h ora, um a cart inha separada.J derram ei algum as lgr im as, olhando para o lugar em que estvamo s h um ano,

    exatam ente neste d ia e nesta ho ra. ( .. .) Oh, quer ido, eu n unca m e arrepend erei de te

    haver escolhido or ig inalmente no meu corao e, depois, de te haver acei tado com

    tod o o corao, de te haver acei tado como m ar ido. Eu t e amo m ui to , quer ido; am o- te

    mais a cada dia. Como eu gostar ia de te ver aqui , meu amor! 15 0 Barman destaca o

    qu ant o a prin cesa Isabel viveu de m od o int enso a alegria de ser espo sa.151 E salienta

    que D. Isabel t inha muita satisfao em executar a primeira de suas obrigaes de

    espo sa, devo tan do a Gasto ap oio in cond icional, afeto , f idel idade e pro te o. (...) Ao

    enviar ao sogro um a fo tograf ia de Gasto com farda de vo luntr io da ptr ia , e la

    observou: na m inha opinio ele f ica charmant [atr aente] com essa farda, e acrescento u

    num lampejo de cndida in t rospeco: a verdade que para mim, e le sempre

    charmant . O cond e d Eu n o p ou pava elogios espo sa.15 2 Para o sogro, ela afirm ou : a

    cada dia eu agradeo m ais a Deus por tu do quanto encontrei no casament o.15 3

    Encaravaos deveres cotidiano s com o m eio de aprim oram ent o pessoal, das m enores tarefas, havia

    em penh o de sua parte em fazer o m elhor. A pr incesa torn ou-se com peten te no p apel

    de dona de casa (...) E Gasto perdoava prontamente as eventuais imperfeies da

    esposa, j que e la se dedicava de bom grado a uma ampla var iedade de tarefas

    do m st icas. Na cozinha, prep arava coisas com o com po t a de p ssego e bo linho s. Servia-

    se da agulha e dos pincis para criar obras de arte, algumas das quais decoravam a

    casa.15 4 Longe do m arido, escrevia-lhe, d izendo : Eu qu ero t anto ser a m e do t eu f i lho,te r um f i lho de quem eu am o tan to , de quem eu amo acima de tudo , meu amor ! ! ! Que

    saudades eu t enho de t i .15 5

    Em casa, a pr incesa lhe escrevia: Bem am ado do m eu corao. Onde ests neste

    m om ento? O d ia fo i to longo sem t i . Quando te vere i de novo, m eu quer id inho? Depois

    da tu a part ida, eu f iquei com m am e e Leopo ldina, e ns fom os rezar na capela, ento,

    cada qu al fo i cuidar dos seus afazeres. M ais tarde, fom os para o m eu q uart o arru m ar as

    coisas.15 6

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    Fidel idade e resignao marcaram aquele tempo de provao, seguido depois

    quando o conde dEu enfim substituiu Caxias para a captura de Lopes. Isabel via a

    pessoa do m arido, o seu am or. (...) A pr incesa no relut ou m ais. Estran gulou n a sua do r

    cont ida o corao dem asiadam ent e fem inino . Chegara a vez de sacrif ic-lo razo de

    Est ado. O seu de ver era este ; adivinh ara-o antes de casar; e sup or to u-o u m qu art o desculo. Calou-se. (...) O corao de Isabel

    pressent ira os r iscos daquele fim de guerr a

    enfurecida.15 7 Ainda ant es de de ter Lopes,

    t ivera de enfrentar as duras batalhas de

    P e r i b e b u i e d e C a m p o G r a n d e ( e s t a

    imortal izada em tela de Pedro Amrico).

    Com o trm ino da guerra , em 1 de m aro

    de 1870, a pr incesa Isabel viveu um dos

    m ais belos dias de sua vida, porque o seu m arido foi arrebatado d e bor do - s 10 da

    manh do d ia 29 de maro - como um her i . Em sua companhia varou a mul t ido

    delirant e. D. Pedro II e a Im perat r iz l estavam . A crt e em peso. 15 8 Fo i um m om ento

    m em orvel, com o aquele que viver ia depois com as com em oraes da Abol io.

    Inegvel que o Brasil, com a vit ria dessa guerr a que nos ceifou vidas sem cont a e m uit o nos

    debil i t ou f in anceiram ente, fez-se respeita r de um a vez por t oda s diant e de seus vizinhos, alm de t er

    dado ao m undo m ais um a prova d o denodo dos seus f i lhos, do herosm o de suas foras m ar t im as e

    terrestres. A d ignidade com que nos portamos nesse conf l i to fo i tanto maior quanto nem de leve

    cogitamos de impor tr ibutos de v i tr ia a nenhuma povoao ou c idade tomada, nem recolhemos

    indenizao a lgum a do Paraguai, num a inequvoca demonstrao de que lu tam os contr a o a lgoz que

    nos afronto u e agrediu, e no contra o seu povo, digno de t odo o respeito e adm irao pelos sofrim entosque enfrentou.15 9

    A guerra t rou xe princesa dor es incont veis, e ainda viveria m ais ou t ras du as, a

    Guerra Franco-Pru ssiana (em 1871) e a Prim eira Guer ra M un dial (1914-19 18), em qu e

    combateram dois de seus f i lhos, ambos tendo perdido a vida, em consequncia da

    grande con flagrao.

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    Viagens e leituras

    Em 10 de janeiro de 186 5, a pr incesa Isabel e o cond e dEu seguiram viagem p ara

    a Inglaterra, o nd e os Orlans, deste rrado s desde 1848, curt iam a saudade d a ptr ia.16 0

    O net o d e Lus Felipe estava im pedid o d e ir a Frana, enqu ant o l estivesse Nap oleo III.Ant es de em barcar para a Euro pa, o casal f izera escala na Bahia e em Pern am bu co. Em

    Salvado r fo ram recebido s pelo Arcebispo-Prim az do Brasi l , que os casara, e visitaram as

    igrejas do Bonfim, da Conceio da Prata, de So Francisco e a da Ordem Terceira.

    Lacom be cont a que no agradou pr incesa a quant idade de do urados 16 1 da Igreja de

    So Francisco, sendo a m ais rica 16 2 Est iveram em Recife e Olinda, ond e tiveram efusiva

    acolhida po r part e do p ovo . No t eatro Sant a Isabel, foi saudada com os versos de Tob ias

    Barreto:

    Larga a espada, M aur icia,

    / Tom a douro o t eu laurel , /

    Rasga-te pt rea epopia /

    Aos ps da gra nde Isabel. /

    Gran de?... Sim - essa gra nd eza /

    No , no ser princesa /E sim do ns de m ais po ssuir...16 3

    Com o vem os, o po vo reconhecia em Isabel um a super ior idade que v inha no

    apenas pela sua condio de pr incesa herdeira do trono, mas especialmente pelas

    v i r t u d e s e d o n s q u e p o s s u a , e q u e e r a m o t i v o d e a d m i r a o .

    E comp letou o p oeta:

    ser de heris um renvo,

    / Ser a esper ana de um povo,

    / Que abre a est rada do porvir,

    / ser a f i lha de sb ios.16 4

    Na escolha q ue faziam do s lugares a serem visitado s prevalecia as refern cias da

    f e do pat r iot ism o. No cam inho d e Recife para Ol inda, foram ao M osteiro d e So Bentoe Igreja de Santa Teresa, e em Olinda est iveram no t m ulo d e Joo Fernand es Vieira,

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    um dos heris da restaurao p ernam bucana. Em Lisboa, est iveram com D. Aml ia,

    viva de D. Pedro I, ao qu e ela expressou : Acho a fisiono m ia da Isabel m uit o agradvel

    e sim ptica. Expr im e bo ndade e m uito juzo, ref lexo, capacidade intelectual , e u m a

    grande fel icidade possuir q ualidades to raras de se encont rar em no ssos dias.16 5 Aonde

    iam, causavam sempre a melhor impresso. D. Fernando, escrevendo a D. Pedro II,com ent a as im presses deixadas pela princesa, que foram as m ais agradveis e qu e

    form o d ela um grande conceito . V-se nela grande bo ndade, m uita int el igncia, assim

    com o interesse por t udo quant o interesse m erea .16 6 D. Francisca, irm de D. Pedr o II

    fala tambm da alegria de conhecer minha cara sobrinha (...) Ela bem agradvel e

    m uit ssim o am vel para to do s (...) Esto u con ten t ssim a de conh ec-la e passar alguns

    tempos com e la .167 E h mui tos

    out ros depo im ento s nesse sent ido.

    Ela no bo ni ta - anot a o Prncipe

    de Joinvi lle - (...) M as bo a, sim ples

    e lady l ike, com o d izem os ingleses.

    C o n v e r s a m u i t o b e m e n o f a z

    alarde d a educao q ue recebeu;

    enf im , ela agrada, no som ent e n o s s a f a m l i a m a s t a m b m a o

    pequeno grupo de pessoas que a

    viram .16 8 E aind a acrescent a D. Francisca (a tia Chica): Cada vez gosto m ais da t ua

    fi lha; ela bem amvel, alegre e to afetuosa e cheia de meios e de prendas. Ela

    m uit ssim o agradvel .16 9 Por causa da Questo Christie, ela no pde ser recebida

    ofic ialm ente pela Rainha Vi tr ia. M as a soberana inglesa a acolheu inform alment e, a

    21 de maro de 1865, no Palcio de Windsor, ta l fo i a cordial idade com que foramrecebidos, que pod e o conde d Eu vislum brar que h aviam part ido dela os bon s prop sito s

    para o fim do lam entvel incidente com o Brasi l . Foi durant e a prim eira viagem ao exterior

    que a pr incesa Isabel escreveu ao pai para agradecer no m eu int erior d e m e ter ensinado

    e de m e ter dado m estres de mo do qu e agora com preend o a m aior parte das coisas que

    ve jo , a inda qu e ignore m u i to .170 Em Londres, e la tambm surpreendeu pe la sua

    jovial id ad e e ale gr ia, o que encant ava a t odos. E co nt ou ao pai que fo ra a um baile

    oferecido pela rainha inglesa vest ida de p reta baiana e Gasto n em m ouro .17 1 Era dereceber as pessoas com sorr iso n os lbios 17 2, sem form al ism o nem dissim ulao, de

    Na Inglaterra, em Boshy House, onde f icarama Princesa Isabel e o conde d Eu

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    um a franqueza incom um , com pensamen to pr prio, idias claras a respeito das questes

    pol t icas e tam bm cul turais, sem pre af i rm ando a ident idade catl ica, m esm o diante

    de in te r locu to res c t i cos ou de pos ies d ive rgen tes . T inha o co rao aber to e

    interessava-se p elos m enor es problem as do m sticos, ouvindo os criados, aconselhando,

    com o t am bm os m ais com plexos desafios pol t icos, que discorr ia com desenvol tu racom a ra inha da Ing la te r ra . Acabara de le r Ivanho , de Wal te r Sco t t , bem como

    deb ruava-se no s l ivros de hist ria, econ om ia e po lt ica.

    Em sua pr im eira estada em Lon dres, o casal d Eu de teve-se na leitura de u m l ivro

    de Luis Filipe de Orlans, conde de Paris, sobre as associaes operrias inglesas, e

    fazend o u m a anlise sob re as cham adas t rades-unions. Isabel e Gasto com part i lharam

    ent re si o conte do d aquela obra, que chamo u a ateno para a or ient ao pol t ica e

    ideolgica do labor ism o ingls e a n atureza classista d o m ovim ento .17 3 Hoje, sabem os

    com o o m ovim ento sindical com eou a agir com o um grupo d e presso, e com o sucesso

    i n s t i t u c i o n a l d o m o v i m e n t o o p e r r i o 1 74 , a l c a n o u u m n o t v e l c r e s c i m e n t o

    organizacional 175 , de ten dn cia social ista. As associaes op errias fom ent avam a

    host i l idade entre trabalhadores e patres e faziam d a greve, um a verdadeira m quina

    de guerra 17 6 que prom ovem desord ens nas indstr ias e na sociedade, por m eio de

    aes violent as. Pelo n m ero d e seus volunt rios e por suas arm as j pod iam rival izarcom os grandes Estados da Europa.17 7 Daibert Jr . conta que o estudo havia sido

    elaborado pelo Conde d e Par is com base no s relatr ios pro duzidos por u m a Com isso

    Real , inst i tu da pe lo governo ing ls e composta por representantes dos d iversos

    segment os da sociedade, a f im de int errogar as partes em confl i to .17 8 E acrescent a: As

    solu es apresentadas ao leito r eram to das volt adas para a consolidao da harm on ia

    entre os trabalhadores e os patres. Caso as t rade-un ions no pudessem, ao ser

    redimidas de seus excessos, promover tal entendimento, era preciso substitu- las porassociaes m ais capazes de assegurar a co nciliao. 17 9

    Diant e do pr oblem a do t rabalho n o Brasi l , quand o desde 1810, a faml ia imp er ia l

    m anifesto u o pro p sito em abolir a escravido, era preciso p reparar as condies sociais

    para que o l ibert o fosse sujei to d e direi tos, com opo rt unidades de educao e t rabalho

    com justa rem unerao. Este desafio D. Isabel assum ir ia poster ior m ente com o u m a

    causa priori tria, mas que as solues no viessem como as que viram na Inglaterra,

    qu e favorecessem um a ideolo gia classista, de vis m arxista. M as viu a p rincesa Isabelna idia de associaes um m eio po ssvel de pro m over a gradual abolio, sem violncia

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    e pela via parlam ent ar. E nesse sentid o, para no seguir o s equ vocos que j ocor riam

    na Inglaterra, esperava est im ular a organizao d o p rocesso abo licion ista, pr im eiro para

    a com pra de al forr ias do m aior nm ero po ssvel de escravos, depois no pr pr io supor te

    para sua no va con dio de vida com o l iber to . E nada m ais expressivo para isso do qu e

    viabil izar t al pro cesso p or m eio d as j exist ent es irm andades rel igiosas leigas, para qu e,com os princpios e valores cristo s, pud essem chegar a um a m elho r soluo s no vas

    questes sociais decorrentes das

    pro fundas mudanas susc i tadas

    pela revoluo industrial. De fato,

    ela desejou a soluo catl ica, qu e

    a n o s d e p o i s o p a p a L e o X I I I

    exp l i c i t a r i a na enc c l i ca Rerum

    Novarum (1891).

    A p r i n c e s a I s a b e l p a r t i l h o u

    t o d a s e s t a s r e f l e x e s c o m s e u

    m ar ido, especia lment e durante a

    lei tura do t rabalho e d as prop ostas

    feitas pelo conde de Paris. Entreos exemplos apresentados, o autor destaca experincias consideradas positivas em

    espcies de sociedades cooperativas aplicadas ao trabalho agrcola tanto em pases

    europeus quanto nos Estados Unidos. Em todo o caso, os povos prec isavam ser

    conduzidos por espr i tos i lum inados, cond ut ores da liberdade. O autor era de fato u m

    Orlans! 18 0

    Em 14 de ju lho de 1869 escreveu a pr incesa Isabel ao m arido: Hoje eu t erm inei o

    l ivro de Paris e ten ho a certeza de qu e ficars m uito content e. O l ivro m uito interessante.Eu n o t inha idias sob re os sindicatos e agora esto u realm ent e infor m ada sob re eles.18 1

    Outro aspecto im por tant e ao concluir o estu do, fo i a de que a pr incesa encont rou um a

    grande apologia da l iberdade pol t ica com o m elhor for m a de enfrentar a questo.18 2 A

    pr pria Igreja ia reflet indo as grandes inqu ietaes e instabil idades 183 do sculo XIX, e

    prop unh a o reform ism o em vez das rupt uras revolucionr ias insuf ladas pelas foras do

    anarquism o e d o social ism o em ergentes. Tocquevi l le tam bm foi ou tra das le i turas do

    casal dEu, qu e d eu subsdio para pen sar a respeito de n ovas con figuraes sociais emcurso. ( . .. ) M esm o n o sendo p art idr ia declarada das idias do aut or, certam ente a

    A solu o catlica para a questo do t rabalhono Brasil foi um a causa priorit ria para a

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    pr incesa encontrava em suas pginas ingredientes que lhe perm it iam ent rar em contato

    com os en tend iment os d ive rsos que c ircu lavam em seu t em po e in te rp re tavam a

    dinmica da polt ica e das sociedades ps-revoluo francesa. Sob a orientao do

    m arido, colhia mais dados.18 4

    Em sua p r ime i ra v i s i ta a Europa , e les perceberam a ev idnc ia de que ta isconf iguraes se afastavam do s valores do cristianism o. O papa Pio IX (com po nt if icado

    de 1846 a 1878) apontava o tomismo como referncia segura s novas inf luncias

    f i l o s f i cas que v i savam faze r r u i r o

    p e n s am e n t o d a I g r e j a i n cl u si v e n o

    cam po social . O pr oblem a da produ o

    capit al ista, o f ato o perrio, as m ud anas

    q u e e l e s a c a r r e t a m , c o n s t i t u e m a

    questo social e so o pr incipal objet o

    da nova cincia crist-social 18 5, que a

    pr incesa Isabel vai se int eressar cada vez

    m ais por entend er e to m ar in iciat ivas de

    acordo com o que propunha a Igre ja ,

    nesse sentid o.Com Leo X I I I ( papa de 1878 a

    1903), a Igreja buscou i lum inar as no vas

    q u e s t e s s o c i a i s c o m p o s i e s q u e

    c u l m i n a r o c o m a e n c c l i c a Re r u m

    Novarum (1891). Ainda antes, o casal

    d Eu procurou segui r as d i re t r izes do

    pensam ento social cr isto, ond e no plano t er ico surgia a idia de q ue o interessesocial quali f icava os interesses individ uais e im pu nh a suas regras aut on om ia de cada

    um , indepen dent em ente dos vnculos das leis po sitivas. Revelava-se a idia fun dam ent al

    do pen sam ento social cr isto, que era justam ente a da insero do ho m em num to do

    social que t inha por f im a pleni tude d a vida individual.18 6 Leo XIII afirm ou com o direito

    natural no restr ingvel pelas leis positivas, o direito de associao 18 7, e diante das

    no vas qu est es era legt im o associar-se, em vista d o d esafio em concil iar l iberd ade e

    just ia.

    Papa Leo XIII: po nt ifi cado de 1878 a 19 03

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    O casal dEu esteve ainda na Blgica, na Alemanha (em Aix-la-Chapelle, Essen,

    Dusseldorf, Gotha), Praga (capital da antiga Bomia) e Viena. De l escreveu ao pai:

    Ainda no vi n ada de sem elhante ao Brasi l quant o nat ureza! 18 8 Passaram por M uniqu e

    e de volta a Got ha, reto rnaram a Lon dres. Em seguida, foram para a Espanh a (San Telm o,

    Sevilha, Crdova (de onde anotou: a Andaluzia a mais bonita parte da Espanha 18 9

    M adri tam bm a encanto u, seguindo d epois para Lisboa e Port o. Em Port ugal, ou viram

    m issa na igreja ond e est o corao de m eu Av de cujo m onu m ento faz a pr incesa

    um a reprod uo. E exclam a, num a expresso realmen te f i l ial : Lem brei qu e gosto de

    Papai havia de ter, vindo comigo rezar perto do corao de seu Pai . Em Coimbra os

    est ud antes brasi leiros com pareceram estao send o a pr incesa saudada po r um deles,

    net o do Baro de Taquari. Visitaram a velha Universidade - on de for am recebido s com

    solenidade - e a Igreja de Santa Clara, sendo aguardados pelas rel igiosas, que lhes

    m ostraram o corpo m um if icado da rainha Santa Isabel , cuja m o puderam bei jar .19 0

    Em M afra, o carr i lho do convento surpreendeu -os to cando o Hino Nacional Brasi le iro.

    Em Quelu z a lem brana de Pedro I em ocion ou -a, visitan do, na Cm ara de D. Quixot e, o

    quar to e a cam a onde e le morreu .191 De volt a ao Brasi l , depois de passar no vam ent e

    em Pern am bu co e Bahia, exclam ou qu ando chegou sua casa das Laranjeiras e ao no sso

    jar d im 19 2

    : Qu e gosto t ive de tornar-m e a ver no Rio.19 3

    Com as viagens e leituras

    que em preend eu, D. Isabel se

    empenhava em registrar o que

    via, adquir indo a bagagem que

    ju lgava necessr ia ao exe rcci o

    de seu f u t u ro o f c io 194, com o

    governante crist.

    A primeira Regncia

    Em 29 de ju lho de 1860 ,

    com apenas 14 anos, a prin cesa Isabel fez o juram ent o p erant e as Cm aras, assum indo

    solenem ente o com prom isso d e m anter a rel igio catl ica apost l ica rom ana, observar

    a Constituio polt ica da Nao brasi leira e ser obediente s leis e ao imperador. 19 5

    Estava ela to da graciosa no seu vest ido d e gaze branca bor dado, sobre ou t ro d e cetim

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    da m esm a cor, ten do pend ida ao colo fresco e r seo a gr-cruz do cruzeiro 19 6, tornando-

    se a herd eira presunt iva do t rono . Entr ou na adolescncia com um a vida social bastant e

    restr i ta, at o seu casamento, ao que um visi tante europeu relatou com assombro;

    Imagine que essas pob res pr incesas nun ca foram a um bai le nem a um teatro e ardem

    de von tade de i r .197 Na poca do juramento, os bo le t ins da pr incesa reg is t ravamperalt ices da idade, m as qu e, arrep end ida, escreveu aos pais: M il perd es lhes peo

    de lhes ter ofen dido tant as vezes. Hoje a m inha confisso dur ou um a hora.19 8

    Depo is do casam ent o, a pr incesa passava aos po ucos a ocup ar espaos e a t raar

    o caminho que julgava natural rumo ao Terceiro Reinado. Inteirava-se dos assuntos

    po lt icos. Dava curso a sua for m ao.19 9 Tinha idias pr prias, e as m anifestava de m od o

    m uito aberto . Cont a Daibert Jr. que em viagem pelas guas Vir tuo sas de Cam panha,

    D. Isabel observava, de u m a janela, o t um ulto das eleies que sucederam a queda do

    Gabinet e Zacarias em 1868. N aquela localidade, a polcia am eaava prender os eleitores

    da oposio, caso se atrevessem a votar. Os liberais se abstiveram. As eleies, como

    em tant as out ras local idades, garant i ram a vi tr ia conservadora no preenchim ento das

    vagas. Incom odada com o episdio, pergunt ava ao pai : quando o voto ser l ivre? 20 0 A

    ele tam bm f izera um a recom endao favorvel a um juiz que h avia passado sete ano s

    lotado nos distr i tos mais miserveis20 1

    e que fo i m ot ivada pelo contato pessoal . um a pessoa de um a car idade extrem a que, tendo

    encontrado um doente em Cam panha, levou-o para

    sua casa, deu-lhe sua cam a e do rm iu no cho. Deus

    q u e i r a q u e s e j a a t e n d i d o e m s e u p e d i d o d e

    transferncia para um lugar m elhor .20 2

    Aos poucos, ela foi posicionando sua polt ica do

    co rao 2 0 3 d i a n t e d o s t e m a s e f a t o s q u e i a mto m ando cont a do cenr io nacional . Em sua tese de

    do ut orado, Daibert Jr. con ta qu e sua viso catl ica,

    adqu i r ida ao longo dos anos de sua in fnc ia e

    a d o l e s c n c i a , e r a m a n t i d a e , d e c e r t a f o r m a ,

    reforada na matur idade.20 4 E destaca o quanto a

    i d e n t i d a d e c a t l i c a d a p r i n c e s a I s a b e l f o i s e

    acentu ando em suas aes part iculares e p blicas:

    Coroa d e No ssa Senh oraAparecida, doada p ela

    pr incesa Isabel

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    Aos vinte e um a nos de idade e j casada , D. Isabel com entava com a Im perat riz: aceito com

    m uit ssim o prazer t udo o que m e vem de M am e, se ja grande seja pequeno. O So Pedro que M am e

    m e m andou m e fez tam bm m uito p razer. Gostar ia de ter agor a um So Lus, re i de Frana, uma

    Sant a Isabel de Hung ria e um a Sant a Teresa. O apego a os sant os que, em vida, haviam sido govern ant es

    devota dos ao catolicismo, contin uava a fazer part e dos valores da Princesa. O episdio a cima apar ece

    como um pequeno sinal de que, em sua vida adulta,

    aps o casamento, ela mantinha-se fiel aos seus

    p rece i tos e v i so ca t l i ca de po l t i ca e de

    soc iedade . Nesse sen t ido , D . I sabe l no

    acompa nhava o movim ento, percebido por Gilberto

    Frey re em Sob rado s e M ucambo s, em q ue as

    b ras i le i ras do scu lo X IX to rn avam -se m enos

    devota s e ma is m und anas. Ela no se enquad rava

    naquele perfi l de mulher m ais atr ada pelo teatro

    do que pe lo con fess ionr io . Ao con t r r io , seu

    catolicism o t endia a solidificar-se e a servir-lhe cada

    vez m ais com o m odo d e signif icao de si m esm a e

    das quest es que se colocavam sua volt a.20 5

    Ela levou muito a sr io o juramento

    fei to ainda no va e ento p s-se a cam inho.

    Depois do que v i ra no ve lho cont inente, especia lmente na Ing la ter ra , a sua f fo i

    crescendo e lhe dand o cada vez m ais sustent ao. Afinal, o p ensam ent o e a vida so

    inseparveis 20 6, do contrrio no se possvel com preend er o que significa cat l ico.20 7

    Com esta convico, a pr incesa Isabel buscou sempre af i rmar a coerncia de vida.Prosseguia, em especial, sua devoo s suas santas e rainhas homnimas. Aquela