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  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010114

    g

    ResumoO artigo faz uma breve anlise sobre as novas demandas que passam a congurar o papel da escola, notadamente em

    comunidades violentas, discutindo a questo por meio de um estudo de caso e apontando que no se deve raticar

    um preconceito do senso comum que arma serem os jovens um problema. Os jovens das periferias violentas dasgrandes cidades brasileiras enfrentam muitos desaos que os impedem de exercer sua cidadania. Portanto, a funo

    das polticas pblicas, incluindo a escola pblica, auxili-los para que eles possam vencer os obstculos e usufruir

    plenamente seus direitos de cidados.

    Palavras-ChaveViolncia e criminalidade. Escola e violncia. Polticas pblicas de preveno criminalidade. Delinquncia juvenil.

    Robson Svio Reis SouzaRobson Svio Reis Souza lsofo (PUC-Minas), especialista em estudos de criminalidade e segurana pblica (UFMG),

    especialista em teoria e prtica da comunicao social (USF/SP), mestre em Administrao Pblica Gesto de Polticas

    Socais (EG/FJP), pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurana Pblica (UFMG), professor da PUC-Minas,

    coordenador do Ncleo de Estudos Sociopolticos (Nesp/PUC-Minas) e coordenador do Ncleo de Direitos Humanos (Proex/

    PUC-Minas).

    [email protected]

    ngela Maria Dias Nogueira Souzangela Maria Dias Nogueira Souza pedagoga (UFMG), especialista em polticas pblicas para a juventude (PUC-Minas) e

    supervisora metodolgica do Programa Fica Vivo da Superintendncia de Preveno Criminalidade, da Secretaria de Estado

    de Defesa Social de Minas Gerais.

    [email protected]

    Juventude e violncia: novasdemandas para a educao e a

    segurana pblicas

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010115

    J u v e n t u d e e v i o l n c i

    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    Aviolncia no Brasil, em especial a

    criminalidade violenta,1 cresceu mui-

    to nos ltimos anos. Vrios estudos tm com-

    provado, sistematicamente, que os jovens so

    as maiores vtimas deste tipo de violncia. A

    escassez de polticas pblicas destinadas a esse

    segmento populacional, um grande nmero de

    armas disponveis (e sem controle do Estado) e

    o adensamento do trco de drogas, principal-mente nas perierias das grandes cidades, so a-

    tores que contribuem para a vitimizao juvenil.

    Esses ingredientes articulados respondem por

    altas taxas de letalidade desta populao.2

    Fernandes (2004) corrobora o argumento

    de que os jovens esto entre as principais v-

    timas da violncia no Brasil e as taxas de vi-

    timizao desse grupo, nas grandes cidadesbrasileiras, esto entre as mais altas do mundo.

    O autor ainda acrescenta outro dado: a baixa

    escolaridade desses jovens.3

    A violncia atinge todas as camadas sociais.

    Foi o que demonstrou, por exemplo, uma pes-

    quisa de vitimizao eita pelo Centro de Es-

    tudos de Criminalidade e Segurana Pblica

    (Crisp/UFMG), em Belo Horizonte, em 2002.A pesquisa apontou que a cidade era a capital

    brasileira onde as pessoas se sentiam mais inse-

    guras. A populao de BH sore com a violn-

    cia objetiva, que chamamos de violncia real,

    e com a violncia subjetiva, que chamamos de

    violncia sentida.4

    Segundo Soares (2004, p. 131), para com-

    preender a questo da violncia, necessrio

    contextualiz-la, de acordo com o tempo, a his-

    tria, a poltica e a cultura local da sociedade.

    Vrias so as matizes da criminalidade e suas

    maniestaes variam conorme as regies do

    pas e dos estados. O Brasil to diverso que

    nenhuma generalizao se sustenta. Sua mul-

    tiplicidade tambm o torna reratrio a solu-es uniormes.

    Silva (2004, p. 292) aponta outro elemen-

    to para a discusso da violncia urbana, o que

    denomina de sociabilidade violenta. Ele

    acredita que a violncia urbana no simples

    sinnimo de crime comum e nem de violncia

    em geral.

    Trata-se, portanto, de uma construo simb-lica que destaca e recorta aspectos das relaes

    sociais que os agentes consideram relevantes,

    em uno dos quais constroem o sentido e

    orientam suas aes.

    Na compreenso deste autor, a sociabilida-

    de violenta aeta mais especicamente os mo-

    radores das avelas, em virtude da orma urba-

    na tpica desses locais,em geral muito densos e com traados virios

    precrios, dicultando, o acesso das pessoas

    que no esto amiliarizadas com eles e, por-

    tanto, avorecendo o controle pelos agentes

    que lograrem estabelecer-se neles (SILVA,

    2004, p. 24).

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    Juventudeeviolnci

    a:novasdemandasparaaeducaoeaseguranapblicas

    RobsonSvioReis

    Souzae

    ngelaMariaDiasNogueiraSouza

    Observa-se que Silva (2004) chama a aten-

    o para processos simblicos subjacentes

    s relaes intersubjetivas violentas. Porm,

    Misse (1999) apresenta alguns contrapontos

    acerca desse enoque. Especicamente sobre o

    tema da sociabilidade violenta, o autor ar-ma que a criminalidade urbana no seria o me-

    lhor lugar para denir essa sociabilidade:

    como melhor no se deixar enganar pela

    ponta do iceberg, seria melhor investir nas ra-

    turas da sociabilidade anteriormente alcanada

    (anos 30 70), principalmente na relao dos

    ricos com a sociedade abrangente. O crescen-

    te echamento da sociabilidade cotidiana entre

    ricos e classe mdia e entre estes e a massa depobres (indicada pela ausncia de reas comuns

    de encontros sociais interclasses ou pela segre-

    gao cada vez maior) parece mais promissora.

    Anal a sociabilidade violenta depende da ob-

    jetalizao do outro (MISSE, 1999, p. 12).

    Acrescentem-se a essas pontuaes dados

    de uma pesquisa divulgada em agosto de 2009

    pelo Laboratrio de Anlise da Violncia daUniversidade Estadual do Rio de Janeiro (em

    parceria com o Unice, a Secretaria Especial

    dos Direitos Humanos da Presidncia da Re-

    pblica e a organizao no-governamental

    Observatrio de Favelas).5 Este levantamento

    projeta que o nmero de mortos na aixa et-

    ria entre 14 e 19 anos chegar a 33.504 entre

    2006 e 2012, sendo que metade desses crimes

    acontecer nas capitais. A chance de um jovem

    morrer por arma de ogo trs vezes maior na

    comparao com outras armas.

    Ainda de acordo com a pesquisa, a mdia

    de adolescentes assassinados no Brasil antes

    de completarem 19 anos de 2,03 para cada

    grupo de mil. O nmero preocupante, dado

    que, numa sociedade pouco violenta, essa taxa

    deveria apresentar valores prximos de zero.

    O estudo eito em 267 municpios brasi-

    leiros com mais de 100 mil habitantes revela,tambm, a disparidade entre as condies de

    segurana nas dierentes regies do pas. Em

    34% dos municpios pesquisados, o IHA

    ndice de Homicdios na Adolescncia oi in-

    erior a um adolescente assassinado para cada

    grupo de mil. Cerca de 20% das cidades obti-

    veram valores superiores a trs jovens mortos

    por mil habitantes. Signica que, em tese, um

    em cada 500 adolescentes brasileiros ser assas-sinado antes de completar 19 anos.

    Tendo como reerncia o ano de 2006, o

    municpio com o pior resultado oi Foz do

    Iguau (PR), onde o IHA era de 9,7. Minas

    Gerais ocupava o segundo lugar no ranking,

    com Governador Valadares registrando um n-

    dice de 8,5 adolescentes mortos para cada gru-

    po de mil. Betim, Ibirit, Contagem e Ribeirodas Neves, cidades da Regio Metropolitana

    de Belo Horizonte, tambm guraram entre

    os 20 municpios com maiores indicadores de

    mortalidade de adolescentes.

    Entre as capitais, Macei e Recie lideravam

    o ranking de homicdios entre adolescentes,

    ambas com uma mdia de 6,0 jovens mortos

    por mil, mas as taxas de homicdios de ado-

    lescentes nas regies metropolitanas do Rio de

    Janeiro e Belo Horizonte oram consideradas,

    pelos pesquisadores, muito altas.

    Por m, o estudo mostra que a probabilida-

    de de ser vtima de homicdio quase 12 vezes

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    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    maior para homens, que a populao negra a

    que mais sore com a violncia e que o risco de

    um jovem negro morrer assassinado 2,6 vezes

    maior em relao a um branco.6

    Levando em conta outros indicadores queapresentam concentrao de mortes na ai-

    xa etria de 14 a 29 anos, como, por exem-

    plo, as mortes de jovens no trnsito, pode-se

    concluir que o Brasil tem uma dvida social

    enorme para com os adolescentes e jovens.

    Somente 26% das mortes dos adolescentes

    so por causas naturais, enquanto os outros

    74% derivam de mltiplos atores aciden-

    tes, brigas banais, ao policial inadequada,envolvimento com o trco de drogas, exclu-

    so social (SOUZA, 2009).

    Alguns pesquisadores, como Soares (2004),

    Fernandes (2004) e Beato Filho e Souza

    (2003), deendem que as polticas pblicas de

    enrentamento violncia devem ser dirigidas

    populao jovem dos bairros mais pobres.

    Apesar de argumentarem que no h relaodireta entre pobreza e criminalidade, estudio-

    sos armam que alguns atores existentes nes-

    tes locais contribuem para o aumento da vio-

    lncia, tais como desemprego, trco de armas

    e drogas e alta de polticas pblicas nas reas

    de educao, sade, lazer e servios de apoio

    s amlias.

    Os bairros pobres, por sua vez, cheios de re-

    cursos humanos e culturais, ativos no trabalho

    e no consumo, cada vez mais cientes de seus

    direitos, so, contudo, carentes de bens pbli-

    cos e de capital social. Tornam-se consequen-

    temente mais vulnerveis ao crescimento de

    domnios armados paralelos (FERNANDES,

    2004, p. 262).

    Porm, Arroyo (2004) az um alerta: antes

    de condenar os jovens necessrio compreen-

    der a sociedade na qual esses jovens vivem. As

    violncias praticadas por crianas, adolescentes

    e jovens assustam a sociedade porque incomo-

    dam o imaginrio pessoal e social.No o lcus onde se d a violncia que nos

    assusta, mas os sujeitos. Esses sujeitos inan-

    tis. Ver e conviver com adultos violentos

    normal. Pais violentos, companheiros vio-

    lentos, chees de governo e de Pentgonos

    usando a violncia preventiva, matando ino-

    centes ou pr-culpados sem julgamento...

    Tudo de acordo com a moral dos adultos.

    Porm, crianas violentas onde estiverem,em casa, na rua, nas escolas assustador e

    ameaador. No porque ameacem mais do

    que os adultos, mas porque ameaam os

    imaginrios sociais, coletivos, pedaggicos

    e docentes sobre a inncia-adolescncia

    (ARROYO, 2004, p. 4).

    Este autor considera importante vencer a

    concepo dualista de anjos e capetas que setem sobre as crianas, adolescentes e jovens,

    pois este paradoxo impede de enxerg-los

    como sujeitos reais, com complexas trajet-

    rias existenciais.

    Juventudes: breves consideraes

    Para compreender o conceito de juventude

    importante analis-lo em um contexto hist-

    rico e sociocultural, considerando os aspectos

    econmicos, as transormaes sociodemogr-

    cas, a classe social e as caractersticas daqueles

    que no so jovens no campo das interaes

    sociais, ou seja, os enmenos caractersticos

    da sociedade em geral (ARCE, 1999).

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    Juventudeeviolnci

    a:novasdemandasparaaeducaoeaseguranapblicas

    RobsonSvioReis

    Souzae

    ngelaMariaDiasNogueiraSouza

    Segundo Aris (apud PERALVA, 1997),

    a cristalizao social das idades oi propiciada

    pelas transormaes no mbito da amlia, da

    escola e do trabalho. Com a separao entre

    o espao amiliar e o mundo exterior, a crian-

    a torna-se objeto de um projeto educativo desocializao que requer tambm a excluso no

    mundo do trabalho. Apesar do termo inn-

    cia ter sido reconhecido em outros tempos e

    sociedades como objeto da ao educativa, o

    vnculo social entre as idades uma congura-

    o prpria da experincia moderna.

    Para Eisenstadt (apud ABRAMO, 1997), o

    conceito ternrio do ciclo de vida (inncia, ju-ventude e ase adulta) universal. Porm, cada

    sociedade tem um modo especco de denir

    essas etapas e lhes conerir signicados pr-

    prios, que nem sempre resultam na constitui-

    o de grupos etrios homogneos. Isto ocorre

    nas sociedades modernas que so regidas por

    valores universalistas, nas quais a socializao

    da amlia no suciente para a integrao

    do indivduo na sociedade. Nestas sociedades,a transio para a vida adulta dicultada por

    vrios atores: diviso do trabalho, especializa-

    o econmica, segregao da amlia e apro-

    undamento dos valores universalistas.

    A condio juvenil oi representada primei-

    ramente pelas classes altas. As expresses juvenis

    das classes populares no eram reconhecidas en-

    quanto movimentos juvenis. Jovens das classes

    populares eram denominados de delinquentes

    desocupados e trabalhadores. Foram as trans-

    ormaes do sculo XX, tais como crescimento

    populacional, urbanizao, crescimento econ-

    mico do ps-guerra, expanso e decadncia da

    classe mdia, desenvolvimento dos meios de

    comunicao e segregao socioespacial, que

    zeram emergir a juventude da classe mdia e,

    posteriormente, a juventude das classes popula-

    res dos bairros pobres e das avelas.

    A ideia de classe desviante, identicadacom os (jovens) pobres, ganhou um novo con-

    torno, passando a ser um problema de toda

    uma gerao (dos jovens pobres e ricos). Aos

    poucos, a sociedade passa a aceitar com cer-

    ta normalidade os dilemas de uma juventude

    crtica, portadora de transormaes, capaz de

    transormar idealismo em realismo e romper

    com as estruturas sociais vigentes.

    Para compreender a juventude do sculo

    XXI, necessrio desconstruir este modelo de

    juventude idealizado pelo mundo adulto bur-

    gus, orjado a partir do projeto iluminista,

    servindo-se do discurso evolucionista. Con-

    temporaneamente, as transormaes geradas

    pela experincia com o tempo e o espao con-

    triburam para que novas ormas da juventude

    se zessem visveis e presentes, principalmenteno campo da cultura.

    Herschmann (1997) aponta que a juven-

    tude contempornea ruto de uma socieda-

    de que convive com a ragmentao e a plura-

    lidade, refexo do processo de modernizao

    causado pelo capitalismo globalizado. O autor

    arma que no Brasil, nestes ltimos tempos,

    aconteceram vrias mudanas culturais, ru-

    to da insatisao da sociedade com a social-

    democracia que no conseguiu cumprir com

    dois de seus objetivos undamentais: a eeti-

    vao da cidadania e a melhoria das condies

    de vida da populao. A alta de projetos na-

    cionais com propostas capazes de responder

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    J u v e n t u d e e v i o l n c i

    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    aos anseios dos jovens das classes populares

    levou-os a se limitarem nos seus espaos de

    invisibilidade, tornando-os, do ponto de vista

    da sociedade, sujeitos de identicao este-

    reotipada e condenatria.

    Porm, esse contexto social possibilitou

    o surgimento de um tipo de estrutura que

    aproxima cidadania, comunicao de massa e

    consumo. Este processo de homogeneizao/

    ragmentao resultado da dinmica cultu-

    ral contempornea, desencadeada pelo capita-

    lismo transnacional e pela impossibilidade de

    realizao das utopias modernas. Isto no sig-

    nica o m do social e do poltico, mas a cons-truo de algo novo em um contexto no qual

    as dierenas e os processos de homogeneizao

    se encontram em negociao permanente.

    Ofunke o hip-hop so exemplos dessa rag-

    mentao/pluralidade. Os integrantes destes

    movimentos ocupam uma posio marginal

    e, ao mesmo tempo, central na cultura bra-

    sileira e, embora estigmatizados e excludos,esto em sintonia com a era da globalizao.

    Eles conseguem visibilidade e representao

    num terreno demarcado, paradoxalmente,

    pela excluso e integrao, sendo, portanto,

    espaos de ressignicao dos jovens das peri-

    erias e das avelas.

    Finalmente, h que se considerar a com-

    plexidade de se construir um conceito de

    juventude que seja capaz de abranger toda a

    sua heterogeneidade. Neste sentido, Sposito

    e Carrano (2003) e Dayrell (2005) preerem

    trabalhar com uma noo de juventude na

    tica da diversidade, utilizando o termo no

    plural, ou seja, juventudes terminologia

    tambm contestada por alguns estudiosos,

    pela impreciso do termo e simplicao da

    heterogeneidade juvenil.

    A juventude constitui um momento deter-

    minado, mas no se reduz a uma passagem,

    assumindo uma importncia em si mesmo.Todo esse processo infuenciado pelo meio

    social concreto no qual se desenvolve e pela

    qualidade das trocas que este proporciona

    (DAYRELL, 2005, p. 34).

    As questes da juventude entraram para

    a agenda social no Brasil enquanto poltica

    pblica nos ltimos anos (CAMARANO;

    MELLO, 2006), devido, principalmente, aotemor da exploso demogrca. Nota-se que

    quase 30% da populao brasileira encon-

    tra-se na aixa etria entre 14 e 20 anos. E

    neste contexto,

    novas questes oram sendo adicionadas ao

    debate sobre juventude, tais como: instabilida-

    de e precariedade na insero para o mercado

    de trabalho, instabilidade das relaes aetivas,

    violncia nas grandes cidades, taxas crescentes

    prevalentes sobre a mortalidade por doenas se-

    xualmente transmissveis, em especial a AIDS

    (CAMARANO; MELLO, 2006, p. 13).

    Para estes autores, a discusso em torno

    da juventude ainda caracterizada por temas

    negativos, o que levou a uma centralizao da

    crise social nos jovens. Esta concentrao de

    alguma orma se refetiu no nal da dcada de

    1990 e incio dos anos 2000, quando come-

    aram a surgir os programas voltados para a

    populao jovem, envolvendo vrias entidades

    da sociedade civil em parceria com o poder

    Executivo nos trs nveis de governo (ederal,

    estadual e municipal), numa tentativa de se

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    Juventudeeviolnci

    a:novasdemandasparaaeducaoeaseguranapblicas

    RobsonSvioReis

    Souzae

    ngelaMariaDiasNogueiraSouza

    criarem polticas pblicas para esta populao

    (SPOSITO; CARRANO, 2003).

    Programa Fica Vivo: um trabalho

    articulado em redeEm 2002, a partir de uma anlise detalhada

    da criminalidade em Belo Horizonte, iniciou-se,

    sob a coordenao do Crisp, uma discusso para

    a construo de uma metodologia de trabalho,

    visando reduzir os homicdios entre os jovens de

    14 a 24 anos de idade, das regies mais violen-

    tas de Belo Horizonte. Foi elaborado, ento, o

    projeto de Controle de Homicdios, denomi-

    nado posteriormente de Fica Vivo, com aesde preveno ocalizada e represso qualicada,

    por meio do mtodo de solues de problemas.

    Este projeto iniciou-se, como experincia-

    piloto, no Aglomerado do Morro das Pedras,

    na regio oeste de Belo Horizonte, e oi insti-

    tucionalizado pelo governo de Minas Gerais,

    em 2003, que o elevou condio de poltica

    pblica, pelo Decreto no 43.334/03.

    O programa atua com dois nveis de ao:

    interveno estratgica e proteo social. Esta

    ltima prioriza sua atuao na mobilizao co-

    munitria, na articulao dos servios locais e

    no atendimento aos jovens.7

    So priorizadas as aes de mobilizao e arti-

    culao dos grupos de diversas reas educao,

    sade, esportes, cultura, assistncia social, asso-

    ciaes e moradores da comunidade , para que

    eles contribuam com aes de preveno crimi-

    nalidade de orma mais organizada e sistemtica.

    A proposta que estas rentes de trabalho possam

    criar possibilidades para que os jovens construam

    uma alternativa de vida que no seja pelas vias da

    violncia. O trabalho de mobilizao comunitria

    tem como diretriz a busca de solues coletivas

    para os problemas da criminalidade local.A partir

    da interao entre agentes diversos, cria-se uma es-

    trutura de rede que possibilita a potencializao derecursos, equipamentos e iniciativas sociais.

    O principal objetivo do programa dialogarcom os jovens envolvidos com a criminalidade e,

    dessa orma, construir aes possveis de incluso

    nas instituies responsveis pela execuo de po-

    lticas pblicas que lhes so de direito: educao,

    sade, incluso produtiva, lazer, esporte, etc.

    O trabalho com os jovens realizado pelos

    ocineiros e tcnicos (do programa) por meio

    da execuo de ocinas, projetos locais, aten-

    dimentos psicossociais, encaminhamentos e

    acompanhamentos diversos.

    Alm do trabalho com os jovens, so propos-

    tas a articulao comunitria e a criao de redes

    locais de proteo social (com escolas, postos desade e demais projetos). Para alcanar os resul-

    tados, o programa realiza reunies e debates com

    a comunidade local para discutir sobre os pro-

    blemas enrentados pelos jovens na conquista de

    seus direitos e divulgar as aes positivas, princi-

    palmente ligadas produo cultural (geralmen-

    te vista pelas as comunidades locais e a sociedade

    em geral como algo sem valor uma cultura su-

    balterna que no merece reconhecimento).

    Breve estudo de caso: como a escola

    lida com a violncia?

    Durante a implantao do programa, os

    prossionais dos Ncleos de Preveno Cri-

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    J u v e n t u d e e v i o l n c i

    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    minalidade (do Fica Vivo) procuram conhecer

    e dialogar com os jovens, com a comunidade e

    com as instituies, construindo um diagnstico

    sobre a dinmica da violncia local. Vericam,

    tambm, como essas instituies lidam com a

    questo da violncia e com os jovens inratores.

    Aps este diagnstico inicial, as instituies

    e lderes comunitrios so convidados para

    participarem do curso de Gestores Locais de

    Segurana, que um importante instrumen-

    to de dilogo entre as instituies e a comu-

    nidade. Esta capacitao tem como objetivo a

    discusso sobre a nova concepo de segurana

    pblica, visando reconhecer a segurana comoum direito de todos, ou seja, como responsa-

    bilidade do Estado e de toda a sociedade e no

    somente caso de polcia. Objetiva-se, tam-

    bm, entender as questes de violncia na sua

    amplitude e complexidade, para que se possa

    problematizar a criminalidade local e, a partir

    dessas discusses, sensibilizar a comunidade e

    os representantes das instituies locais para

    participarem das aes do programa. No naldo curso construdo o Plano Local de Se-

    gurana, contendo as aes conjuntas cons-

    trudas coletivamente pela comunidade, insti-

    tuies parceiras e prossionais dos ncleos de

    preveno.

    Um dos objetivos do programa Fica Vivo

    incluir os jovens envolvidos com a crimina-

    lidade nas polticas pblicas locais. Especi-

    camente com as escolas, a proposta de sen-

    sibilizao para que estas instituies pblicas

    acolham os jovens que se encontram exclu-

    dos do sistema de ensino, na sua maioria por-

    que se envolveram com algum problema de

    indisciplina e/ou violncia.

    Apresenta-se, a seguir, uma anlise sinttica

    do trabalho de interveno em uma escola lo-

    calizada numa rea onde unciona o Ncleo de

    Preveno Criminalidade, da regio do bair-

    ro Ribeiro de Abreu, em Belo Horizonte.

    Para trabalhar em parceria com as escolas,

    os prossionais do programa lanam mo das

    teorias de Bernard Charlot sobre a violncia

    na escola, porque, alm de trabalhar concei-

    tos undamentais, o autor delineia como o

    problema pode ser enrentado.

    Charlot (2005) distingue as vrias ormas de

    maniestao da violncia no ambiente escolar.8Assim, o termo violncia na escola reere-se s

    violncias que acontecem dentro da instituio

    escolar, mas no esto ligadas s suas atividades,

    tais como roubos, invases e acertos de contas

    por grupos rivais. Neste caso, a escola apenas

    um local onde a violncia ocorre. J a violncia

    escola aquela ligada natureza e s atividades

    da instituio educacional. Ela acontece quando

    os alunos provocam incndios e agridem os pro-essores, por exemplo, ou seja, a violncia contra

    a instituio ou o que ela representa. Deve-se,

    ainda, considerar a violncia da escola, ou seja,

    a violncia institucional simblica: como a ins-

    tituio escolar dene, por exemplo, os modos

    de composio das classes, as ormas discricio-

    nrias de atribuio de notas, etc.

    Para este autor, a escola possui grande mar-

    gem de ao em relao s violncias da e es-

    cola. Porm, se a instituio tem poucos recur-

    sos para solucionar os problemas de violncia

    que no esto ligados s atividades da institui-

    o, ou seja, se a violncia vem de ora, ela deve

    buscar auxlio de outras agncias pblicas.

  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010122

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    Juventudeeviolnci

    a:novasdemandasparaaeducaoeaseguranapblicas

    RobsonSvioReis

    Souzae

    ngelaMariaDiasNogueiraSouza

    Tendo como ulcro essas distines, re-

    tomemos o caso em anlise. Apesar do con-

    vite a todas as instituies escolares para

    participarem do curso de gestores, repre-

    sentantes de uma escola da regio no par-

    ticiparam de nenhum dos encontros. Coin-cidentemente, esta instituio oi muito

    citada pela comunidade e pelos jovens por

    apresentar vrios relatos de violncia. Isto

    exigiu da equipe do Ncleo de Preveno

    Criminalidade local uma estratgia para

    incluir a escola nas discusses e aes de

    preveno (da violncia local).

    Foram eitas vrias reunies com os jovens,proessores, comunidade e direo da institui-

    o, com o objetivo de entender o problema

    da violncia na escola e elaborar estratgicas de

    aes conjuntas, que pudessem ser executadas

    pelos prossionais da educao, comunidade,

    parceiros e pelos tcnicos responsveis pelas

    aes do programa na regio.

    Os pais e alunos relataram que a escola eraum caos. Citaram alguns casos de desordem,

    tais como alta de luz, de merenda, de gua,

    de proessores, de material didtico, alm de

    constantes atos de desrespeito entre alunos e

    proessores, alunos portando armas e drogas,

    roubos, assaltos e at a exploso de uma bomba

    no interior da instituio.

    Os alunos comentaram que os proessores da-

    vam aulas somente no dia que eles deixavam.

    Os proessores no tm autoridade, porque

    quem manda na escola so alguns alunos que

    manipulam os colegas e os proessores. O pro-

    essor az de conta que est tudo bem e toca o

    barco. Os proessores sabem que eles so tra-

    cantes e preerem no criar nenhum tipo de

    atrito com eles (Depoimento de alunos).

    De posse das opinies dos pais e dos alu-

    nos, os tcnicos do programa Fica Vivo pro-

    moveram reunies com os prossionais da es-cola para ouvir a verso de todos os envolvidos

    e elaborar um plano de ao.

    Os prossionais de educao (da escola)

    relataram que a instituio era boa, mas de-

    pois de algumas invases9 que aconteceram na

    regio prxima escola, os proessores perde-

    ram o controle.

    Os proessores relataram muitos casos de

    violncia dentro e ora da escola, principal-

    mente nos perodos da manh e tarde, quan-

    do unciona o ensino undamental, tais como

    alunos que usam e tracam drogas e tambm

    usam armas de ogo (dentro da escola). Falaram

    de alunos que esto marcados para morrer,

    que roubam e matam e continuam indo para

    a escola sem sorer nenhuma punio. Essescomentrios so divulgados dentro da escola

    com certo receio e envoltos de mistrios, pois

    as inormaes precisas ningum as tm. Isso

    aumenta a sensao de insegurana, cada vez

    maior para os prossionais da educao, que

    se sentem impotentes diante dos problemas a

    serem enrentados.

    Ainda segundo o relato dos prossionais

    da educao, os alunos dos programas sociais10

    s vo escola porque so obrigados.

    Alguns so usurios de drogas e esto envolvi-

    dos com o trco; tambm alguns pais espan-

    cam seus lhos e os jogam dentro da escola,

    porque precisam da requncia dos lhos es-

  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010123

    J u v e n t u d e e v i o l n c i

    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    cola para continuar recebendo auxlio dos pro-

    gramas sociais (Depoimento de proessores).

    Em alguns casos a escola chama os pais, a

    polcia ou o Conselho Tutelar. Mas, segundo

    os educadores, essas agncias no sabem o queazer com os adolescentes violentos, principal-

    mente os usurios de drogas e os que so vio-

    lentados pela amlia.

    Para os proessores, as causas dos problemas

    na escola eram: carncia (material) das am-

    lias; desestruturao amiliar; e violncia lo-

    cal. No turno da manh, segundo o relato dos

    educadores, havia alguns alunos que usavamtinner e, na maioria das vezes, tornavam-se

    muito agressivos e sem condies de requen-

    tar as aulas.

    A escola no contava com o apoio e a parti-

    cipao das amlias. As providncias que a es-

    cola tomava, quando havia casos de violncia,

    era chamar a me que, muitas vezes, tambm

    estava alcoolizada ou drogada. A polcia eraacionada, mas tambm no resolvia o proble-

    ma e o Conselho Tutelar, quando comunica-

    do, no comparecia.

    Os educadores citaram a escola como pon-

    to de encontro dos jovens, que azem o que

    querem l dentro, mas a escola no pode azer

    nada porque os alunos tm direitos e no po-

    dem ser expulsos.

    Analisando a violncia escolar

    Considerando o resultado de pesquisas so-

    bre violncia nas escolas, como a realizada pelo

    Crisp entre 2003 e 2004, pode-se perceber,

    pelas caractersticas dos locais onde as mais

    dierentes escolas pblicas ou privadas se

    encontram, que sinais sicos ou sociais de de-

    sordem, bem como a presena de agentes que

    produzem desordem esto associados re-

    quncia de depredao e outros eventos de viti-mizao. Portanto, a violncia est muito mais

    relacionada desorganizao social do que s

    desvantagens econmicas.

    [a violncia nos estabelecimentos escolares]

    reere-se s caractersticas dos locais onde as es-

    colas se encontram. Observou-se que as regies

    que apresentam sinais de desordem, bem como

    a presena de agentes que a produzem esto as-

    sociadas percepo que os alunos constroemacerca dos nveis de segurana, do mesmo modo

    como ocorre na sociedade como um todo. Nes-

    te sentido, se a escola pouco pode azer no que

    se reere s caractersticas de sua vizinhana

    possvel sua aproximao com as comunidades,

    o que ir preserv-las de eventos violentos. Sa-

    be-se que o sentimento de pertencimento a ins-

    tituies, assim como o sentimento de que de-

    terminada instituio participa da composio

    de uma comunidade leva a um maior vnculo

    entre elas. Disponibilizar as escolas para que

    membros da comunidade externa possam se

    associar politicamente, ou usar seu espao para

    eventos de lazer pode trazer bons resultados,

    mesmo nas reas com presena mais intensa de

    sinais de desordem. Outro ponto positivo a

    participao eetiva de pais e alunos em ativi-

    dades extracurriculares, assunto exaustivamente

    levantado pelos diretores de instituies de ensi-

    no (CRISP, 2004).

    Outro ponto de destaque na reerida pesqui-

    sa sobre as consideraes acerca da pertinncia

    de relaes de parceria entre escolas e comuni-

  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010124

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    a:novasdemandasparaaeducaoeaseguranapblicas

    RobsonSvioReis

    Souzae

    ngelaMariaDiasNogueiraSouza

    dades, independente de se tratar de escolas p-

    blicas ou privadas. Neste contexto, disponibili-

    zar as escolas para que membros da comunidade

    (externa) possam se associar politicamente, ou

    usar seu espao para eventos de lazer, pode tra-

    zer bons resultados, mesmo nas reas com pre-sena mais intensa de sinais de desordem.

    No so exclusivamente os eventos violen-

    tos que aetam a percepo da violncia pelos

    alunos. As percepes da violncia prejudicam

    o comportamento de todas as pessoas. Nesse

    sentido, essa percepo pode ser aetada quan-

    do o cidado toma conhecimento de um even-

    to de criminalidade ou quando vtima dele;ou seja, no apenas o crime, mas tambm

    o medo que infuencia os comportamentos,

    atitudes e tomadas de decises. Desse modo,

    quando a pesquisa aponta que quase 90% dos

    alunos (de instituies pblicas e/ou privadas)

    viram ou ouviram alar de desentendimentos

    ou xingamentos nas escolas e quase 70% vi-

    ram ou ouviram alar de arruaas nos estabele-

    cimentos, no oram contabilizados os eventosem si, mas sim o percentual de indivduos que

    tomaram conhecimento desses eventos.

    No caso da escola em anlise, os proesso-

    res relataram que a deteriorizao do ensino

    comeou aps os atos de violncia dentro da

    instituio. Eles relacionam este enmeno

    entrada de alguns alunos de amlias que pas-

    saram a residir em uma rea invadida, prxima

    escola. Percebe-se, nestas colocaes, uma

    diculdade dos prossionais da instituio

    em considerar os novos alunos (que passaram

    a residir naquele espao) sujeitos de direitos;

    portanto, um pblico a ser atendido pelas po-

    lticas sociais locais, inclusive a educao.

    Uma anlise mais apurada leva-nos a crer

    que no oram os alunos pobres que passaram

    a morar na comunidade os responsveis pelo

    aumento da violncia escolar, como acredita-

    vam os proessores. Na poca, como indicam

    as pesquisas anteriormente citadas, havia umadensamento da criminalidade violenta em v-

    rias reas, incluindo o local onde se encontra

    essa escola. Reerindo-se a Schilling (2004),

    a violncia quebra os discursos que estavam

    prontos, arranjados, arrumados, ou seja, a

    violncia instaura um questionamento sobre

    as nossas certezas e introduz o caos onde tudo

    parecia regido pela normalidade, exigindo a

    criao de uma nova ordem capaz de lidar comestas novas linguagens.

    Quando se analisam as escolas com altos n-

    dices de violncia, verica-se uma situao de

    orte tenso. Os incidentes so produzidos neste

    undo de tenso social e escolar, em que um pe-

    queno confito pode provocar uma exploso. As

    ontes de tenso podem estar ligadas ao estado

    da sociedade e do bairro, mas dependem tam-bm da articulao da escola com este pblico e

    suas prticas de ensino (CHARLOT, 2005).

    Segundo Velho e Alvito (2000), as mudan-

    as ocorridas com a globalizao aetaram os

    cdigos de valores, principalmente as expec-

    tativas de reciprocidade com a diuso dos

    valores ligados ao individualismo e impesso-

    alidade. Esses novos valores convivem hoje

    com os velhos cdigos, baseados na hierarquia

    e clientelismo que a sociedade moderna no

    conseguiu extinguir. Mas com um agravante:

    em relao s crianas, adolescentes e jovens

    brasileiros pobres, no temos as garantias de

    vrios direitos sociais ator primordial numa

  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

    12/20

    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010125

    J u v e n t u d e e v i o l n c i

    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    sociedade democrtica. Em qualquer cultura

    e/ou sistema social, necessrio que haja uma

    noo compartilhada de justia, entendida

    como um conjunto de crenas e valores que di-

    zem respeito ao bem-estar individual e social.

    Sem o estabelecimento mnimo desses valores,corre-se o risco da anomizao da vida social.

    Chamou ateno o ato de o ensino unda-

    mental ser citado como o perodo que apresen-

    ta os maiores problemas de violncia. Segundo

    pesquisa do Observatrio de Favelas,11 a maioria

    dos adolescentes (57,4%) ingressou na atividade

    do trco entre os 13 e os 15 anos e, em alguns

    casos (7,8%), a entrada ocorre antes dos 12 anos,ou seja, em plena inncia. Portanto, justamen-

    te nesta aixa de idade que os alunos apresentam

    mais diculdades para se inclurem no ambiente

    escolar. poca de confito entre conciliar as ati-

    vidades do trco com as atividades da escola.

    bem provvel que aps este perodo muitos deles

    optam pelo trabalho no trco e deixam a escola.

    Observa-se, nos relatos dos prossionais daeducao, que no existe uma interlocuo da

    escola com outros rgos que trabalham com

    crianas e adolescentes. Os proessores alam

    tambm que no se qualicaram para trabalhar

    com esses adolescentes que do muito traba-

    lho na escola. Nesse sentido, Arroyo (2000)

    arma que o conhecimento para lidar com

    problemas de convivncia com os jovens no

    adquirido nas aculdades, mas sim aprendido

    no dia-a-dia, com a inncia e a adolescncia

    que trabalhamos. Os educadores das escolas

    tm muito a aprender com a pluralidade de

    aes pedaggicas dos projetos sociais:

    Esses prossionais aprenderam no convvio

    com a inncia negada e roubada... Foram

    reeducados pela inncia com que convivem.

    No por compaixo para a sua barbrie e mi-

    sria, mas porque vo descobrindo as outras

    imagens de resistncias mltiplas, de valores e

    de tentativas. Resistncias eitas de brotos de

    humanismo onde o olhar atento v processosormadores. Resistncias dos excludos que po-

    dem azer retomar brotos de humanismo nos

    seus educadores (ARROYO, 2000, p. 251).

    A orma como os proessores (da escola em

    anlise) apresentam as diculdades parece ser

    refexo de uma relao burocratizada e hierar-

    quizada, na qual os prossionais constroem

    um crculo vicioso autojusticado, colocando-se como vtimas desse sistema que no uncio-

    na, cando dicil a redenio de responsabi-

    lidades que um trabalho de ao coletiva,

    de esprito de equipe.

    Muitas vezes, uma relao cmoda que se

    maniesta nas queixas de vitimizao. Vale lem-

    brar Paulo Freire, para quem o ato de educar

    exige do educador, alm do comprometimen-to, a convico de que a mudana possvel e a

    compreenso de que a educao em si j uma

    orma de interveno no mundo.

    No se trata aqui de minimizar ou negar

    os problemas enrentados pelos proessores no

    cotidiano escolar. Eles so graves e precisam ser

    trabalhados. Porm, possvel encontrar alter-

    nativas para a soluo dos eventuais problemas

    quando os prossionais da educao se colo-

    cam como sujeitos responsveis pelos proces-

    sos educativos dos alunos.

    Trabalhando de orma isolada, a escola no

    encontrar solues possveis e ainda correr o ris-

  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010126

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    RobsonSvioReis

    Souzae

    ngelaMariaDiasNogueiraSouza

    co de entrar num crculo vicioso de perpetuao

    da lgica criminolgica instaurada, que poder

    transorm-la em vtima desta criminalidade vio-

    lenta. Os problemas da violncia so complexos e

    nenhuma instituio sozinha poder resolv-los,

    sendo necessrio um trabalho em rede, em quecada instituio dar a sua contribuio.

    Os prossionais da educao, ao entende-

    rem que a amlia e a escola so as instituies

    mais importantes, seno as nicas capazes de

    educar as crianas e os adolescentes, acreditam

    que, quando a amlia no cumpre sua un-

    o que de ormao de carter e normas

    disciplinares , a escola, possivelmente, noconseguir tambm exercer seu papel, porque

    a educao oerecida pela instituio de ensino

    e pela amlia so complementares.

    Sentindo-se impotentes adiante da violn-

    cia no mbito escolar, a nica instituio que

    os proessores reconhecem como capaz de aju-

    d-los nesta tarea a polcia, que chamada

    na escola cotidianamente para resolver des-de problemas de trco de drogas, at os mais

    banais, como desaparecimento de objetos ou

    brigas entre alunos. E mesmo reconhecendo

    que a interveno da polcia , rotineiramente,

    repressiva e pontual e que algumas vezes pode

    piorar a situao, criando constrangimentos

    (como os casos envolvendo crianas que so

    detidas, revelia da lei), a escola continua uti-

    lizando as mesmas estratgias, para soluo dos

    casos, culpando inclusive as leis que so eitas

    para protegerem esses jovens violentos.

    Percebe-se que o trabalho da escola em an-

    lise centrado, em boa medida, na represso,

    altando aos prossionais da educao uma

    viso ampliada dos problemas e a capacidade

    de entendimento da uno e dos limites de

    cada instituio e, principalmente, a compre-

    enso da socializao do sujeito na sociedade

    contempornea.

    No obstante, ressalte-se que as trans-

    ormaes recentes que implicam repensar

    a juventude tambm aetam o sistema es-

    colar e seus proissionais, que carecem de

    ormao adequada para tratar o enmeno

    da violncia.

    Segundo Setton (2005), as instituies

    que, de acordo com a sociologia clssica,seriam as responsveis primrias pela socia-

    lizao do sujeito (que era eita por meio

    da reproduo da ordem) no tm hoje os

    mecanismos de controle, pois o indivduo

    contemporneo possui grande capacidade de

    refexividade e maior possibilidade de trans-

    ormao das normas.

    O racasso escolar, na viso de muitos edu-cadores, est na origem social da amlia do

    aluno, na posio social que esta amlia ocu-

    pa na sociedade e da sua privao sociocultu-

    ral. Dessa orma, os prossionais da educao

    transerem para as amlias a responsabilidade

    pelo racasso dos alunos na escola.

    Os proessores tambm citam vrias de-

    cincias geradas pela prpria instituio esco-

    lar: alta de investimento (em inraestrutura),

    de material, de prossionais, de condies dig-

    nas de trabalho. A concluso sob esta tica

    que os alunos e os proessores so vtimas de

    um sistema que reproduz a desigualdade social

    e, sendo assim, no podem azer nada.

  • 8/3/2019 Artigo+Juventude+e+Violncia

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    Revista Brasileira de Segurana Pblica | Ano 4 Edio 6 Fev/Mar 2010127

    J u v e n t u d e e v i o l n c i

    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    Os proessores ponderam, ainda, com

    certa desiluso e descrena, em propostas de

    mudana. Eles se reerem, geralmente, insti-

    tuio escolar e ao sistema de ensino como se

    no zessem parte dos mesmos. No se veem

    na escola, que no democrtica, muito me-nos como pertencente ao Estado, que julgam

    como sendo autoritrio.

    Segundo Charlot (2000, p. 29),

    os docentes aderem a uma teoria da re-

    produo que pe em causa a instituio

    escolar, denunciada como no-igualitria e

    reprodutora. Para eles, o que questiona-

    do a m instituio, cujas vtimas so ascrianas, suas amlias e os prprios docen-

    tes; a instituio de uma m sociedade. Os

    docentes se dessolidarizam de semelhante

    instituio, em nome de uma imagem da

    boa instituio: a escola libertadora ou a

    escola do povo.

    Finalmente, Arroyo (2000) aponta que

    a escola no dar conta de reverter sozi-nha o processo de desumanizao dos jo-

    vens; porm, ela no poder continuar a

    ser um espao que legitima e reora esta

    desumanizao. necessrio um reordena-

    mento escolar que considere os tempos e

    as vivncias dos educandos. As ormas de

    organizao das escolas, com uma estrutura

    seriada e rigidez dos contedos, reoram

    mais a desumanizao a que so submeti-

    dos os adolescentes e jovens, principalmen-

    te das perierias. As condies de vida de

    muitos jovens, tais como a rua, a moradia,

    o trabalho orado, a violncia, a ome, so

    questes muito pesadas para sujeitos ainda

    em desenvolvimento.

    Buscando sadas: interaes possveis

    entre os prossionais da educao e da

    segurana pblica

    Diante dos desaios apresentados pela

    comunidade escolar nos vrios ncleos onde

    se articula o Fica Vivo, os tcnicos do pro-grama procuraram desenvolver um trabalho

    coletivo, centrado na responsabilidade da

    instituio (escolar) e da comunidade local.

    A ideia que o trabalho em rede possibilita

    a implicao dos sujeitos que residem nes-

    tes espaos.

    Num cenrio de corresponsabilidade,

    envolvendo a comunidade, os proissionaisdo Programa Fica Vivo e outros atores so-

    ciais, os educadores devem assumir a edu-

    cao como um direito de todos, acolhendo

    os alunos e suas amlias e incentivando-os

    a participarem ativamente dos trabalhos

    desenvolvidos pela escola. Devem tambm

    trabalhar com outras questes que extra-

    polam o ensinar e o aprender. Uma dessas

    questes com relao violncia, quenecessita com urgncia entrar na pauta de

    discusses dos educadores para a constru-

    o de um outro olhar sobre esse enme-

    no, que no seja simplesmente da crimina-

    lizao de seus agentes. Deve-se analisar a

    violncia como algo complexo e no apenas

    como um ato isolado, procurando descri-

    minalizar os conlitos e trabalh-los peda-

    gogicamente.

    Pode-se vericar (com o desenvolvimento

    deste trabalho nas escolas) que a instituio

    de ensino um ponto importante de encon-

    tro dos jovens, onde eles conversam, na-

    moram, disputam espaos, tracam e usam

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    drogas, porque este o nico espao pblico

    disponvel para os jovens de muitas comuni-

    dades. Portanto, aastar os jovens da escola

    agrava ainda mais o quadro de violncia.

    As atividades desenvolvidas pelos tcni-cos do Fica Vivo com as escolas, ainda que

    incipientes, tm possibilitado aos proissio-

    nais da educao vencerem o pessimismo e

    o imobilismo. possvel perceber que esses

    proissionais esto mais abertos para (re)co-

    nheceram melhor seus alunos e os trabalhos

    das outras instituies, o que permite uma

    conscientizao sobre os outros espaos im-

    portantes de socializao dos alunos e deapoio s suas amlias. H mais integrao

    das aes da escola com outros projetos e

    programas, tais como o Bolsa-Famlia, o

    programa Liberdade Assistida, o de Presta-

    o de Servios Comunidade12 e Conse-

    lho Tutelar.

    ConclusoO caso da escola analisada neste artigo mos-

    tra que existem muitas diculdades a serem

    enrentadas pelos educadores em relao ao au-

    mento da violncia urbana, especicamente no

    que se reere violncia juvenil. No obstante,

    solues possveis e actveis tm sido apresenta-

    das para o enrentamento do problema.

    Tanto a poltica educacional como as aes

    de segurana pblica, principalmente voltadas

    para a preveno criminalidade juvenil, no

    devem raticar o preconceito que rotula os jo-

    vens como sendo um problema, pois se eles so

    os principais autores da violncia, tambm so

    as principais vtimas.

    Os jovens das perierias violentas das

    grandes cidades brasileiras enrentam mui-

    tos desaios que os impedem de exercer sua

    cidadania; portanto, a uno das polticas

    pblicas, incluindo a escola pblica, auxi-

    li-los para que possam vencer os obstcu-los e usururem plenamente seus direitos

    de cidados.

    Os bons resultados de programas de pre-

    veno criminalidade, como o Fica Vivo,

    devem-se aposta na construo de proje-

    tos nos quais os jovens so sujeitos capazes

    de repensar sua trajetria de vida e reaz-la.

    Para tanto, preciso que os prossionais en-volvidos nas polticas pblicas (de educao,

    sade ou de segurana) acreditem no poten-

    cial de transormao dos jovens, tenham

    capacidade criativa para a reinveno e mui-

    ta coragem para ouvi-los, compreend-los e

    auxili-los na sua caminhada, para que eles

    construam seu prprio caminho.

    necessrio vencer os obstculos im-postos pelas dierenas de gerao, articular

    os programas e polticas pblicas ocados

    para os adolescentes e jovens, com o obje-

    tivo de ouvir esses sujeitos, entender suas

    angstias e transormar suas reivindicaes

    em demandas legtimas. Deve-se entender

    a juventude dentro de um contexto mun-

    dial globalizado, numa sociedade de mas-

    sa (ABAD, 2003), e dar conta de que esta

    nova ordenao de mundo supe novos

    contratos sociais mais lexveis e baseados

    na negociao e no mais na imposio de

    normas ditadas pelos adultos.

    Esse reconhecimento dos jovens deve em-

    purrar a resistncia de um autoritarismo

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    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    patriarcal, de geraes e de classe, que, me-

    diante o uso da violncia repressiva, preten-

    deu negar e eliminar os confitos produzidos

    pelas desigualdades e dierena, em lugar de

    seu reconhecimento e negociao racional

    (ABAD, 2003, p. 21).

    A refexo de que possvel construir ou-

    tro olhar sobre os jovens e o reconhecimento

    da importncia de dialogar com outras insti-

    tuies para dividir as angstias e as respon-

    sabilidades, tendo a conscincia das unes

    e dos limites das instituies, possibilitam a

    construo de um trabalho conjunto para ga-

    rantir maior proteo s crianas, aos adoles-centes e aos jovens.

    Por m, um estudo eito pelo Instituto

    de Pesquisa Econmica Aplicada Ipea, em

    2007, deixa claro que a educao ormal pa-

    rece ter um eeito redutor muito orte sobre

    a taxa de homicdio e que isto, possivelmen-

    te, se deva ao papel socializador da escola.

    [H] uma evidncia substantiva a avor de

    manter as crianas na escola, mesmo se a

    aprendizagem de contedos car abaixo

    das expectativas, j reduzidas, da sociedade.

    H um discurso recorrente contra polticas

    educacionais que visam permanncia, tais

    como ciclos educacionais, e at a sua ver-

    so mais radical: a progresso continuada.

    (...) h evidncias de que, mesmo que uma

    criana de baixo status socioeconmico re-

    quentando uma escola com proessores mal

    pagos e mal ormados no esteja aprenden-do portugus ou matemtica a contento,

    ela est aprendendo um modo de sociali-

    zao que eventualmente poder salvar-lhe

    a vida. E mais: possvel que, ao ensinar

    esta criana a como lidar com o confito

    de modo no letal, a escola esteja tambm

    salvando a vida de terceiros. A concluso

    inexorvel que a poltica educacional deve

    azer tudo ao seu alcance para manter acriana na escola, mesmo que a aprendiza-

    gem de contedos acadmicos seja aqum

    do desejado. Nesse sentido, polticas de

    progresso continuada devem ser incen-

    tivadas ao mximo, uma vez que h uma

    relao conhecida entre ser reprovado e

    evadir do processo educacional (SOARES,

    2007, p. 28-29).

    Nesse sentido, possvel e desejvel a arti-

    culao de polticas pblicas em prol da cida-

    dania e de uma cultura da paz e da no-violn-

    cia envolvendo, entre outros, prossionais da

    educao e da segurana pblica.

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    1. Estamos nos referindo aos crimes violentos, de acordo com a seguinte classicao: homicdio, homicdio tentado, estupro, roubo, roubo a

    mo armada, roubo de veculos, roubo de veculos a mo armada e sequestro. Especicamente, estamos preocupados com o impacto do

    aumento dos homicdios, principalmente na faixa etria entre 14 e 29 anos.

    2. H que se destacar, tambm, como apresenta Soares (2004), que o Brasil tem taxas signicativas de outras formas de violncias: a

    violncia domstica e de gnero; os crimes de racismo; e a homofobia. Estes tipos de violncia so pouco denunciados, portanto, menos

    registrados pelos rgos ociais e, por i sso, menos conhecidos.

    3. Nos ltimos anos, as taxas de escolaridade tm aumentado nessa faixa etria. Segundo o IBGE, a sit uao da educao no Brasil

    apresentou melhorias signicativas na ltima dcada do sculo XX : houve aumento regular da escolaridade mdia e da frequncia escolar

    (taxa de escolarizao). A taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos ou mais de idade caiu de 20,1% para 13,6 % (http://www.ibge.

    gov.br/ibgeteen/pesquisas/educacao.html).

    4. Pesquisa disponvel em . Acessado em: 07/08/2009.

    5. Os dados completos encontram-se em: . Acessado em 20/08/2009.

    6. Estudos mais recentes tm apontado uma diminuio dos indicadores de homicdios, a partir de 2005, nas principais cidades brasileiras.

    No obstante, as taxas de assassinatos ainda so muito elevadas. Em Belo Horizonte, por exemplo, em 2009, essa taxa estava em torno de

    30 homicdios por 100 mil habitantes.

    7. As atividades de proteo social so coordenadas por prossionais que trabalham nos Ncleos de Preveno Criminalidade

    equipamentos de base local das comunidades onde h interveno do programa.

    8. O autor considera importante distinguir violncia, transgresso e incivilidade no ambiente escolar. Assim, o termo violncia uti lizado para

    aes contra a lei, como o uso da fora ou ameaa sua utilizao. Por exemplo, trco de drogas, leses, vandalismo, extorso e insultos

    graves. A transgresso o comportamento contrrio ao regulamento interno da instituio escolar, como o absentesmo, a no realizao

    de trabalhos escolares, falta de respeito. As incivilidades so aes contrrias s regras de boa convivncia, desordens, grosserias,

    empurres, ofensas (CHARLOT, 2005).

    9. As invases a que se referem os professores aconteceram em uma rea bem prxima escola, por famlias pobres.

    10. Trata-se do programa Bolsa-famlia.

    11. Pesquisa Trajetria de Crianas, Adolescentes e Jovens na Rede do Trco de Drogas no Varejo do Rio de Janeiro, 2004-2006. Disponvel

    em: . Acesso em: 20/08/2009.

    12. So programas de medidas socioeducativas em meio aberto, que atendem adolescentes autores de atos infracionais leves. Segundo o

    Estatuto da Criana e do Adolescente, estas medidas so aplicadas pelo Juizado da Infncia e Juventude e devem ser executadas pelos

    governos municipais.

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    a : n o v a s d e m a n d a s p a r a a e d u c a o e a s e g u r a n a p b l i c a s

    Juventude e violncia: novas demandas para aeducao e a segurana pblicasRobson Svio Reis Souza e ngela Maria Dias Nogueira Souza

    Juventud y violencia: nuevas exigencias a la educacin

    y la seguridad pblicas

    El artculo hace un breve anlisis de las nuevas

    exigencias que conguran el papel de la escuela,

    particularmente en sectores sociales violentos,

    tratando esta cuestin por medio de un estudio de

    caso y apuntando que no debe raticarse un prejuicio

    del sentido comn que arma que los jvenes son

    un problema. Los jvenes de las periferias con altosndices de violencia de las grandes ciudades brasileas

    enfrentan multitud de desafos que les impiden ejercer

    su ciudadana. Por lo tanto, la funcin de las polticas

    pblicas, incluyendo la escuela pblica, es la de

    ayudarlos para que puedan vencer los obstculos y

    disfrutar plenamente de sus derechos de ciudadanos.

    Palabras clave: Violencia y criminalidad. Escuela

    y violencia. Polticas pblicas de prevencin de la

    criminalidad. Delincuencia juvenil.

    ResumenYouth and violence: new educational and public

    security demands

    This paper presents a brief analysis of the new role that

    is currently demanded of schools, especially in violent

    communities. To this end, a case study is discussed.

    This article also suggests that the commonsensical view

    that young people are a problem should not be taken

    for granted. The youth in the violent outskirts of large

    Brazilian cities are faced with many challenges thatprevent them from exercising full citizenship. As a result,

    public policies, including public schools, should have a

    role in helping these youngsters overcome these hurdles

    and fully enjoy their rights as citizens.

    Keywords: Violence and criminality. School and

    violence. Crime prevention public policies. Juvenile

    delinquency.

    Abstract

    Data de recebimento: 17/12/09

    Data de aprovao: 09/02/10