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AVALIAÇÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DOMICILIARES DE PELOTAS: PROPOSTA PARA A CRIAÇÃO DE UMA UNIDADE DE PROCESSAMENTO DE RECICLÁVEIS CLÁUDIO BITTENCOURT 1 HELOISA CORTEZ 2 RESUMO: Dentre as técnicas capazes de propiciar benefícios ambientais, sociais e econômicos destaca-se a reciclagem. Trata-se de um novo modelo de organização, que utiliza a reciclagem como uma forma de tratamento de seus resíduos sólidos urbanos. Este artigo analisa a viabilidade da implantação de uma unidade de processamento e reciclagem de resíduos sólidos domiciliares no município de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Inicialmente, abordaremos os conceitos e classificações relacionados aos resíduos sólidos. Em seguida discorreremos sobre a gestão dos resíduos sólidos, a coleta seletiva e a análise do custo-benefício aplicada à gestão das unidades de reciclagem. Encerrada a abordagem teórica, entraremos no estudo de caso, quando pesquisaremos e analisaremos a realidade atual de Pelotas, quanto ao processo de coleta seletiva e disposição final dos resíduos sólidos. Com base nos dados coletados estabeleceremos orçamentos e cálculos necessários para a implantação de uma unidade de triagem e compostagem. E, finalmente serão apresentados alguns dos cenários possíveis e, por conseguinte a conclusão de qual o cenário mais adequado para o aproveitamento em Pelotas, dos resíduos sólidos urbanos domiciliares por meio da reciclagem, levando-se em conta a viabilidade técnica, econômica e ambiental. Palavras-chave: Reciclagem; coleta seletiva; gestão ambiental; resíduos sólidos e viabilidade econômica. 1 Bacharel em Ciências Econômicas pela FURG, mestrando em gestão e desenvolvimento sustentável pela Unicesumar e Diretor Executivo da OSCIP CEADI Planeta Vivo. 2 Professora Pós Graduação da Unicesumar e orientadora do presente trabalho.

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O artigo analisa a viabilidade da implantação de uma unidade de processamento e reciclagem de resíduos sólidos domiciliares no município de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Inicialmente, abordaremos os conceitos e classificações relacionados aos resíduos sólidos. Em seguida discorreremos sobre a gestão dos resíduos sólidos, a coleta seletiva e a análise do custo-benefício aplicada à gestão das unidades de reciclagem. Encerrada a abordagem teórica, entraremos no estudo de caso, quando pesquisaremos e analisaremos a realidade atual de Pelotas, quanto ao processo de coleta seletiva e disposição final dos resíduos sólidos. Com base nos dados coletados estabeleceremos orçamentos e cálculos necessários para a implantação de uma unidade de triagem e compostagem. E, finalmente serão apresentados alguns dos cenários possíveis e, por conseguinte a conclusão de qual o cenário mais adequado para o aproveitamento em Pelotas, dos resíduos sólidos urbanos domiciliares por meio da reciclagem, levando-se em conta a viabilidade técnica, econômica e ambiental.

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  • AVALIAO DOS RESDUOS SLIDOS URBANOS DOMICILIARES DE

    PELOTAS: PROPOSTA PARA A CRIAO DE UMA UNIDADE DE

    PROCESSAMENTO DE RECICLVEIS

    CLUDIO BITTENCOURT1

    HELOISA CORTEZ2

    RESUMO:

    Dentre as tcnicas capazes de propiciar benefcios ambientais, sociais e econmicos destaca-se a reciclagem. Trata-se de um novo modelo de organizao, que utiliza a reciclagem como uma forma de tratamento de seus resduos slidos urbanos. Este artigo analisa a viabilidade da implantao de uma unidade de processamento e reciclagem de resduos slidos domiciliares no municpio de Pelotas, no Rio Grande do Sul. Inicialmente, abordaremos os conceitos e classificaes relacionados aos resduos slidos. Em seguida discorreremos sobre a gesto dos resduos slidos, a coleta seletiva e a anlise do custo-benefcio aplicada gesto das unidades de reciclagem. Encerrada a abordagem terica, entraremos no estudo de caso, quando pesquisaremos e analisaremos a realidade atual de Pelotas, quanto ao processo de coleta seletiva e disposio final dos resduos slidos. Com base nos dados coletados estabeleceremos oramentos e clculos necessrios para a implantao de uma unidade de triagem e compostagem. E, finalmente sero apresentados alguns dos cenrios possveis e, por conseguinte a concluso de qual o cenrio mais adequado para o aproveitamento em Pelotas, dos resduos slidos urbanos domiciliares por meio da reciclagem, levando-se em conta a viabilidade tcnica, econmica e ambiental.

    Palavras-chave: Reciclagem; coleta seletiva; gesto ambiental; resduos slidos e

    viabilidade econmica.

    1 Bacharel em Cincias Econmicas pela FURG, mestrando em gesto e desenvolvimento sustentvel pela

    Unicesumar e Diretor Executivo da OSCIP CEADI Planeta Vivo. 2 Professora Ps Graduao da Unicesumar e orientadora do presente trabalho.

  • 2

    1 INTRODUO

    A quantidade de resduos gerada por uma populao bastante varivel e

    depende de uma srie de fatores, como a renda, a poca do ano, o modo de vida, o

    movimento da populao nos perodos de frias e fins de semana e de novos

    mtodos de acondicionamento das mercadorias, com a tendncia de utilizao de

    embalagens no retornveis. (Cunha & Caixeta Filho, 2002).

    O municpio de Pelotas est localizado, no litoral sul do Rio Grande do Sul

    250 km da capital Porto Alegre e possui 341.180 habitantes. caracterizado por ser

    o centro comercial da regio sul do estado, sendo tangenciada pelas rodovias BR

    392 e BR 116, trajeto obrigatrio para o 2 maior porto do Brasil e para as principais

    cidades uruguaias (Chuy, Rio Branco, Montevidu e Punta Del Este, etc.).

    Segundo, Edson Pl, responsvel pelo departamento de lixo urbano do

    Servio Autnomo de Saneamento Pblico SANEP, a cidade de Pelotas gera uma

    mdia de aproximadamente 300 toneladas de lixo por dia em perodos normais e em

    festas populares este ndice aumenta consideravelmente. A disposio dos resduos

    slidos urbanos feita em aterro sanitrio, localizada na cidade de Candiota a 150

    km de Pelotas, pertencente empresa Meioeste LTDA.

    Cabe salientar que o Brasil um dos campees de reciclagem, por exemplo,

    em alumnio, segundo Calderoni, 2003. Porm, mesmo assim a cada ano so

    desperdiados 4,6 bilhes de reais por no reciclar o que poderia ser reciclado.

    Mesmo com 60% dos municpios do pas tendo alguma iniciativa de coleta seletiva,

    a quantidade de resduos slidos urbanos que de fato retorna cadeia produtiva no

    chega a 2%, segundo o Panorama dos Resduos Slidos no Brasil de 2012, da

    Associao Brasileira de Empresas de Limpeza Pblica e Resduos Especiais a

    ABRELPE.

    A reciclagem uma das alternativas para a destinao dos resduos slidos

    urbanos domsticos. Ela permite que haja o reaproveitamento dos resduos como

    uma matria-prima, reincorporando-os ao processo produtivo, reduzindo-se assim

    seu impacto ambiental.

    Ento, a reciclagem parte de qualquer poltica de gesto de resduos

    slidos, que segue as seguintes prioridades, nesta ordem (DEMAJOROVIC, 1995):

  • 3

    a) reduo da produo de resduos; b) reciclagem do material; c) incinerao com

    reaproveitamento de energia; d) disposio em aterros sanitrios controlados. A

    destinao prioritria para os resduos que no tiveram a gerao evitada so: a

    reciclagem, a incinerao e a disposio, nesta ordem. A problemtica pode ser

    vista nos quadros a seguir, onde de acordo com a ABRELPE (2013) somente 58%

    dos resduos gerados no Brasil so destinados corretamente, ou seja, vo para o

    aterro sanitrio.

    FIGURA 01 Destinao final dos RSU Coletados no Brasil

    Fonte: Adaptado, ABRELPE, 2012.

    Neste sentido o trabalho tem como principal questo identificar se a gesto

    do lixo urbano domiciliar est sendo feita de forma a gerar trabalho e renda para os

    catadores da cidade de Pelotas, analisando quantitativamente e qualitativamente os

    resduos slidos e ao final propor uma alternativa sustentvel e vivel para uma

    central de processamento de resduos slidos formada por catadores.

    Prope-se ainda diagnosticar a situao da coleta e tratamento dos resduos

    slidos urbanos domsticos de Pelotas, elaborar a gravimetria dos resduos urbanos

    domsticos do municpio, propor no final deste trabalho, uma alternativa vivel para

    os catadores, com um plano de viabilidade econmica de uma central para

    processamento do material da coleta seletiva.

  • 4

    2 REFERENCIAL TERICO

    2.1 RESDUOS SLIDOS

    Segundo a Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT, 2004),

    resduos slidos so:

    ...todos aqueles resduos nos estados slidos e semisslidos que resultam das atividades industriais, domsticas, hospitalares, comerciais, agrcolas e de servio de varrio. Incluem-se tambm os lodos das Estaes de Tratamento de gua ETAs e Estaes de Tratamento de Efluentes ETEs, os resduos gerados em equipamentos e instalaes de controle de poluio e determinados lquidos, cujas particularidades tornem invivel o seu lanamento na rede pblica de esgoto ou corpos dgua, ou exijam para isso solues tcnicas e economicamente inviveis em face de melhor tecnologia disponvel.

    A ABNT define ainda lixo como sendo o resto das atividades humanas,

    considerado intil, indesejvel ou descartvel pelos seus geradores. Pode

    apresentar-se no estado slido, semisslido (resduos com teor de umidade inferior

    a 85%) ou lquido, sendo esse ltimo vlido somente para resduos industriais

    perigosos.

    No mesmo contexto, Ribeiro & Lima (2000) definem lixo como: conjunto

    heterogneo de elementos desprezados durante um dado processo e pela forma

    como ele tratado, assume um carter depreciativo, sendo associado sujeira,

    repugnncia, pobreza, falta de educao e outras consideraes negativas.

    A origem do lixo o principal elemento para a caracterizao dos resduos

    slidos e baseado nisso, existem cinco classes:

    I) Lixo domstico ou residencial: resduos gerados nas atividades dirias

    em casas, apartamentos, condomnios e demais edificaes residenciais;

    II) Lixo comercial: resduos gerados em estabelecimentos comerciais, cujas

    caractersticas dependem da atividade ali desenvolvida;

    III) Lixo pblico: resduos presentes nos logradouros pblicos, em geral

    resultantes do ambiente tais como folhas, galhadas e poeira, alm de entulhos

    descartados irregularmente pela populao e restos de embalagens;

    IV) Lixo domiciliar especial: compreende os entulhos de obras de

    construo civil, pilhas e baterias, lmpadas fluorescentes e pneus;

  • 5

    V) Lixo de fontes especiais: lixo industrial, lixo radioativo, lixo de portos,

    aeroportos e terminais rodoferrovirios e lixo agrcola. As caractersticas dessa

    ltima classe merecem cuidados especiais em seu manuseio, acondicionamento,

    estocagem, transporte e disposio final (IBAM, 2001).

    J segundo a NBR 10.004 da ABNT (2004), os resduos slidos podem ser

    classificados em duas classes e trs categorias, segundo a sua natureza:

    a) Resduos de Classe I Perigosos: O resduo classificado como classe I

    quando apresenta risco sade pblica e ao meio ambiente. Nesta classificao

    encontram-se os resduos gerados nos servios de sade e alguns resduos

    industriais. Possuem como caractersticas a inflamabilidade, a corrosividade, a

    reatividade, a toxicidade e a patogenicidade;

    b) Resduos de Classe II No Perigosos (II A no inertes e II B

    inertes): Os Resduos classe II A No inertes, so resduos slidos ou misturas

    de resduos slidos que no se enquadram na classe I ou na classe II B, tem

    propriedades como a combustibilidade, a biodegradabilidade e/ou a solubilidade em

    gua. Os Resduos classe II B Inertes: so resduos slidos ou misturas de

    resduos slidos que, quando amostrados e submetidos a um contato dinmico e

    esttico com a gua destilada ou deionizada temperatura ambiente, no

    apresentam nenhum de seus constituintes solubilizados em concentraes

    superiores aos padres de potabilidade da gua, excetuando-se aspectos de cor,

    turbidez, dureza e sabor.

    2.2 GERENCIAMENTO DOS RESDUOS SLIDOS

    Com o considervel aumento da conscincia ecolgica das populaes

    urbanas, surgiram diversas alternativas para se aproveitar os produtos contidos no

    lixo urbano. No caso dos resduos slidos domsticos ou urbanos as principais

    alternativas restringem-se a implementao de programas de coleta seletiva em

    reas ou bairros selecionados das cidades, nos quais podem ser aproveitados

    vidros, plsticos, metais e papis (RIBEIRO & BESEN, 2007).

    Para Calderoni (2003), o adequado gerenciamento dos resduos constitui uma

    alternativa que contribui para alcanar o desenvolvimento sustentvel, uma vez que

    permite economizar recursos naturais (matria-prima, energia, gua) e ampliar os

  • 6

    ndices de saneamento ambiental, ou seja, reduz poluio do ar, gua, solo e

    subsolo.

    A problemtica ambiental torna-se mais evidente quando se trata dos

    resduos slidos, uma vez que seu grau de disperso bem menor do que os

    lquidos e gasosos. (DEMAJOROVIC, 1995).

    Os aterros sanitrios, para Valle (1995), permitem o confinamento seguro dos

    resduos em termos de contaminao ambiental e sade pblica. Segundo ele, os

    resduos so dispostos em camadas, compactados por tratores e cobertos com uma

    camada de terra, que ser a base para uma nova camada de resduos. O autor

    acrescenta que a instalao dos aterros deve ser feita em rea adequadamente

    escolhida, afastada de corpos dgua e a base dos mesmos devem conter camada

    impermeabilizada e dreno, permitindo o controle e o tratamento do chorume.

    Cerca de 40% dos municpios brasileiros, de acordo com a ABRELPE, ainda

    recorrem ao lixo como forma de disposio dos resduos slidos e esta

    irresponsabilidade causa inmeros problemas sociais e ambientais. Exposto ao ar o

    lixo atrai animais, bactrias e fungos. A decomposio libera um odor que

    transportado pelo vento, atraindo baratas, ratos, urubus e vrios insetos que, ao se

    nutrirem da matria orgnica presente no lixo encontram nele tambm condies

    propcias para viver, se abrigar e se proliferar. Estes animais so vetores de

    doenas como a clera, disenteria, diarreia, dentre outras.

    2.3 COLETA SELETIVA

    Os programas municipais de coleta seletiva no Brasil, integram o sistema de

    gerenciamento de resduos slidos domiciliares, que por sua vez fazem parte da

    politica nacional dos resduos slidos (PNRS, 2010). Esses programas podem ser

    operacionalizados unicamente pelas prefeituras (ou empresas contratadas para essa

    finalidade) ou por prefeituras em parcerias com catadores organizados em

    cooperativas, associaes, organizaes no governamentais (ONGs) e em

    Organizaes da Sociedade Civil de Interesse Pblico (OSCIP).

    A coleta seletiva, alm de contribuir significativamente para a sustentabilidade

    urbana, vem incorporando gradativamente um perfil de incluso social e gerao de

  • 7

    renda para os setores mais carentes e excludos do acesso aos mercados formais

    de trabalho (SINGER, 2002).

    Hoje de acordo com a ABRELPE (2013) ainda 40,2% dos municpios no

    Brasil, no dispe de nenhuma iniciativa de processo de coleta seletiva, como

    podemos verificar na figura a seguir.

    FIGURA 02 Iniciativas de Coleta Seletiva nos Municpios em 2012 Regies e

    Brasil

    Fonte: ABRELPE, 2013.

    Faz-se necessrio, entretanto a mobilizao da comunidade para a separao

    dos materiais, realizada atravs de campanhas de sensibilizao promovidas junto

    aos bairros, condomnios, escolas, comrcio e indstrias. Entre as vantagens

    ambientais da coleta seletiva, destacam-se a reduo do uso de matria prima

    virgem e a economia dos recursos naturais renovveis e no renovveis, alm da

    reduo da disposio de lixo nos aterros sanitrios e dos impactos ambientais

    decorrentes (VALLE, 1995).

    Atravs da coleta seletiva, o lixo gerado pelo consumo de produtos da

    populao coletado e separado. A coleta seletiva pode ser domiciliar (ou porta-a-

    porta), com os reciclveis separados previamente na residncia do gerador do

    resduo ou por entrega voluntria, na qual conjuntos de containers (postos de

    entrega voluntria ou local de entrega voluntria) so instalados em locais

  • 8

    estratgicos para depsito dos materiais reciclveis pela populao (RUBERG,

    AGUIAR E PHILIPPI JR., 1998).

    Os resduos domsticos possuem um potencial muito grande para a

    reciclagem, pois contm em sua composio muita matria orgnica

    (compostagem), alm de materiais que possuem mercado comprador, tais como o

    papel e o papelo, os metais ferrosos e no ferrosos, os plsticos e os vidros

    (RIBEIRO e LIMA, 2000).

    Desde 1990, as iniciativas mais bem sucedidas de coleta seletiva no Brasil

    so aquelas nas quais as administraes municipais estabeleceram parcerias com

    catadores organizados em associaes ou cooperativas (RIBEIRO & BESEN, 2007).

    No mercado de reciclagem os tipos de materiais que tem maior remunerao

    por sua coleta so os metais, pois so bastante utilizados na fabricao de

    equipamentos e embalagens. De acordo com o CEMPRE, (2008) o Brasil lder

    mundial na reciclagem de alumnio, superando pases como Estados Unidos e

    Japo e quanto ao plstico, o consumo per capita baixo, mas os atuais ndices

    apontam um potencial crescimento do consumo e, consequentemente, da aceitao

    para processos de reciclagem.

    2.4 O MUNICPIO DE PELOTAS/RS E A COLETA SELETIVA

    O municpio de Pelotas/RS, em 2013 tinha 341.180 habitantes segundo

    estimativa do IBGE e est localizado s margens do canal So Gonalo, que liga a

    Laguna dos Patos a lagoa Mirim, as maiores do Brasil, no extremo sul do Brasil,

    estado do Rio Grande do Sul, tem uma rea de 1.609 km e com cerca de 92% da

    populao total residindo na zona urbana do municpio. Pelotas est localizada a

    250 quilmetros de Porto Alegre, a capital do estado.

    Pelotas um grande centro comercial na regio sul do estado do RS, possui

    uma localizao geogrfica estratgica s margens das BR 392 e BR 116, trajeto

    obrigatrio para um dos maiores portos do pas, o superporto do Rio Grande.

    trajeto obrigatrio dos turistas que vem do MERCOSUL em direo as praias do

    litoral sul, atraindo assim compradores de toda a regio para as suas galerias e lojas

    localizadas no calado e bairros. Ainda tem uma economia fortemente influenciada

  • 9

    pela agricultura familiar cuja base da produo a caracterizada pela produo de

    pssego, arroz e pela pecuria de corte e leite.

    Por ser uma cidade muito prxima de Rio Grande (em torno de 59,6 Km), a

    cidade j percebe as influncias no setor imobilirio, que vem investindo em

    loteamentos e construo de grandes condomnios, com influncia no

    desenvolvimento econmico e forte demanda social, nas reas da sade, educao

    e transporte. Com o crescimento da cidade, os resduos gerados pela populao

    comearam a se tornar um dos principais problemas para o saneamento urbano,

    requerendo dos servios pblicos aes enrgicas no sentido do tratamento e

    disposio final.

    Segundo o Servio Autnomo de Saneamento Pblico SANEP, a cidade de

    Pelotas gera uma mdia 300 toneladas por dia de lixo em perodos normais e em

    festas populares este ndice aumenta consideravelmente. A disposio dos resduos

    slidos urbanos e feita em aterro sanitrio localizada na cidade de Candiota 150

    km de Pelotas, pertencente a empresa Meioeste LTDA.

    De acordo com o Panorama dos Resduos Slidos no Brasil em 2012,

    (ABRELPE, 2013) 60% dos municpios do pas tinha alguma iniciativa de coleta

    seletiva. Do material coletado 51,4% matria orgnica; 13,5% plstico; 13,1%

    papel, papelo e tetra pak; 2,9% so metais; 2,4% dos resduos so vidro; e 16,7%

    so outros materiais.

    Em Pelotas, o Servio Autnomo de Saneamento de Pelotas SANEP

    implantou um processo de coleta Conteinerizada em 2009 nos bairros: Pestano,

    Lindia, Guabiroba e Centro Norte. Esse novo sistema de coleta utiliza contineres

    de fabricao italiana, com tecnologia avanada, atendendo a critrios de higiene

    ambiental e eficincia. Ao todo foram instaladas 400 unidades do equipamento

    destinado a receber separadamente o lixo orgnico.

    A coleta efetuada por um caminho compactador automatizado e um

    caminho lava-contineres faz a higienizao peridica.

    Algumas das vantagens desse sistema so:

    O lixo no fica espalhado pelas ruas;

    Os resduos podem ser colocados a qualquer hora do dia ou da noite;

    Acaba com o mau cheiro, pois o continer possui um sistema de

    vedao hermtico;

  • 10

    Os contineres so periodicamente limpos no local onde esto

    instalados;

    O usurio no precisa ter contato com o continer, uma vez que a

    abertura feita atravs de um pedal;

    O SANEP implantou a Coleta Seletiva em dias e horrios diferentes da coleta

    do lixo orgnico para os Bairros Cohab Tablada, Cohab Fragata, Centro Norte,

    Obelisco e Areal Sul.

    Para participar basta acondicionar o lixo reciclvel - vidro, papis, metais,

    plsticos e caixas longa vida - limpos e secos, em sacolas plsticas e deposit-lo

    nos dias da coleta seletiva.

    Os resduos so encaminhados para as cooperativas de coletores do

    municpio para triagem e comercializao. Na cidade de Pelotas h uma diversidade

    de empreendimentos que trabalham com reciclagem, porm ligadas ao sistema de

    coleta seletiva, chegou a contar com sete cooperativas e hoje existem somente 5,

    estas recebem uma ajuda de custo do SANEP, autarquia responsvel pela coleta e

    destino dos resduos slidos do municpio. A ajuda de custo compreende uma bolsa

    para cada cooperado, ajuda na manuteno do prdio e equipamento e custeio

    como energia eltrica e gua.

    Segundo Edson Pl, responsvel pelo Departamento de Resduos Slidos do

    SANEP, o volume coletado de resduos slidos de 240 toneladas que so

    destinadas diariamente para aterro sanitrio, somente 10 toneladas so coletadas

    pelo programa de coleta seletiva municipal.

    2.5 ESTUDO DE VIABILIDADE DE UNIDADE DE PROCESSAMENTO DE

    RESDUOS SLIDOS URBANOS DOMICILIARES

    Foram realizados estudos preliminares que demonstram a plena viabilidade

    tcnica e econmica do projeto de formao de uma unidade de processamento de

    resduos reciclveis e compostagem formada por cooperativas de recicladores, com

    apoio de gesto de OSCIP de maneira a torn-la autossustentvel. Buscaram-se

    dados a respeito do investimento inicial necessrio para a criao de uma unidade

    de reciclagem e compostagem, alm de informaes sobre as despesas e os

    ganhos que sero gerados pela unidade depois do incio de seu funcionamento.

  • 11

    Os recursos do investimento podero ser fornecidos pela empresa pblica de

    saneamento responsvel pela coleta pblica, o Servio Autnomo de Saneamento

    de Pelotas SANEP, ou ainda esta poder avalizar um financiamento no BRDE ou

    BNDES e que posteriormente sero pagos pela cooperativa gestora da unidade de

    processamento de reciclveis, amortizando-se a quantia investida durante os 120

    meses iniciais de operao da unidade de reciclagem.

    A quantidade de reciclveis ser coletada pelo processo da coleta seletiva e

    encaminhada a unidade, assim como as podas verdes do municpio. As entidades

    gestoras ainda lanaram campanhas de conscientizao, porta-a-porta, para a

    separao do lixo domiciliar, em reciclveis e orgnicos, tendo como objetivo o

    aumento do volume de coleta dos reciclveis.

  • 12

    3 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS

    Este trabalho ser realizado por meio de pesquisa exploratria-descritiva, na

    medida em que se busca descrever e conhecer a coleta e o tratamento dos resduos

    slidos e sua gravimetria, no municpio de Pelotas. Busca ainda identificar e levantar

    a situao das cooperativas e associaes envolvidas no processo de coleta seletiva

    de Pelotas.

    Contudo, ser uma pesquisa descritiva na medida em que este trabalho se

    prope a analisar e avaliar a situao atual dos resduos slidos e dos catadores da

    coleta seletiva em Pelotas.

    Para cumprir com seu proposito este trabalho utilizar a pesquisa quantitativa,

    na medida em que se utilizaro questionrios estruturados para levantamentos das

    cooperativas e associaes, a gravimetria dos resduos. Segundo Silva e Menezes,

    2001, a pesquisa quantitativa considera que tudo pode ser quantificvel, sendo

    traduzidas em nmeros opinies e informaes para classific-las e analis-las.

    Requer uso de recursos e de tcnicas estatsticas, como percentagem, mdia,

    moda, mediana, desvio-padro, coeficiente de correlao, anlise de regresso, etc.

    Porm, h a necessidade do uso da pesquisa qualitativa para analisar como

    est o processo de gesto dos resduos slidos e a situao dos catadores das

    cooperativas e associaes. Para Silva e Menezes, 2001 a pesquisa qualitativa

    admite um vnculo indissocivel entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito

    que no pode ser traduzido em nmeros. A interpretao dos fenmenos e a

    atribuio de significados so bsicas no processo de pesquisa qualitativa. No

    requer o uso de mtodos e tcnicas estatsticas. O processo e seu significado so

    os focos principais da abordagem destes autores. O ambiente natural a fonte

    direta para coleta de dados e o pesquisador o instrumento-chave. Este mtodo de

    pesquisa se caracteriza por ser do tipo descritivo, os pesquisadores tendem a

    analisar seus dados de forma indutiva.

  • 13

    4 CONSIDERAES FINAIS

    Apesar do municpio de Pelotas ter um processo de coleta seletiva implantada

    desde 2010, isso no significou uma mudana na vida dos catadores e o volume

    triado e reciclado muito pequena em relao ao volume total de resduos urbanos

    domsticos e quando comparado com o potencial segundo as estimativas da

    quantidade de material reciclvel.

    De acordo com VALENTE, 2009, o sistema de coleta seletiva de lixo

    implantado no contempla o atendimento de todas as atuais demandas geradas no

    municpio. A proposta apresentada no folder, distribudo a populao, no

    coerente com a realidade observada. Seria possvel afirmar, que a profisso

    diretamente correlacionada com a coleta e venda de lixo seco na cidade, em muito

    foi prejudicada a partir da implantao deste novo sistema, j que o trabalho

    desempenhado por essas famlias se caracteriza de fundamental importncia dentro

    deste sistema.

    Como j salientava Ribeiro & Besen em 2007, acredita-se que com a

    organizao de uma unidade central gerida por uma ou mais cooperativas de

    reciclagem possa trazer maior organizao e facilidade na gesto do processo

    decisrio e operacional. Alm de propiciar com que os catadores possam aumentar

    sua renda, significativamente. Os estudos que aqui sero conduzidos permitiro

    concluir pela viabilidade ou no da formao de uma nica unidade de reciclagem e

    compostagem de resduos slidos urbanos domiciliares, por meio de parcerias entre

    OSCIP especialista em gesto e qualificao de cooperativas e catadores, SANEP

    empresa gestora da coleta pblica e a comunidade de catadores.

    Para tornar essa iniciativa vivel preciso conhecer mais profundamente o

    setor de reciclagem em Pelotas, analisando-se a estrutura de coleta seletiva, a

    coleta formal e a coleta informal, preciso conhecimento de elaborao de projeto

    tcnico e a estrutura de preos de todo o mercado de reciclveis.

    O advento da Lei n 12.305/10, que institui a Poltica Nacional de Resduos

    Slidos (PNRS) dever propiciar condies muito favorveis para que cooperativas

    de recicladores, como aqui proposto, possam ser estabelecidas.

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