artigo: responsabilidade civil do estado

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1. INTRODUÇÃO O presente trabalho apresentado tem por finalidade tratar sobre a Responsabilidade Civil do Estado. Iremos expor aqui seus aspectos gerais e a fundamentação de sua existência, seu processo de evolução no âmbito jurídico brasileiro e os tipos de responsabilidade (objetiva e subjetiva). Abordaremos também os elementos essenciais para sua caracterização, os sujeitos que representam o Estado na conduta lesiva, tipos de condutas, espécies de danos que podem ser causados pela ação ou omissão do agente estatal, a indenização pelos prejuízos causados à terceiros, excludentes da responsabilidade civil do Estado e as situações onde se fazem necessária e as principais características de cada uma das situações aptas a excluir a responsabilidade. Apresentaremos ainda a análise dos meios de reparação de danos e da ação judicial, onde falaremos sobre algumas divergências doutrinarias e jurisprudenciais em relação à legitimidade passiva da ação judicial. Trataremos da ação regressiva em favor do Estado, da denunciação da lide - possível nas hipóteses previstas nos artigos 70 a 76 do Código de Processo Civil, e por fim os prazos prescricionais. Foi utilizado para a elaboração deste presente trabalho, fontes retiradas da internet, assim como também artigos científicos e consultas com profissionais da área jurídica. 2. ASPECTOS GERAIS O Estado brasileiro, de acordo com a Constituição Federal de 1988, atua sob o Direito e, por isso, é responsável por suas ações e omissões, quando infringir a ordem jurídica e lesar terceiros. A responsabilidade civil do Estado se traduz no dever estatal de ressarcir ou obrigar a reparação do prejuízo alheio motivado por seus comportamentos danosos. A responsabilidade está em contínua evolução e adaptação. O princípio da responsabilidade civil do Estado é próprio, e possui uma forma própria mais extensa que a responsabilidade que se aplica ao direito privado. As regras para o Estado são mais rigorosas e os administrados não têm como

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Direito Administrativo 2

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  • 1. INTRODUO

    O presente trabalho apresentado tem por finalidade tratar sobre a

    Responsabilidade Civil do Estado. Iremos expor aqui seus aspectos gerais e a

    fundamentao de sua existncia, seu processo de evoluo no mbito jurdico

    brasileiro e os tipos de responsabilidade (objetiva e subjetiva). Abordaremos tambm

    os elementos essenciais para sua caracterizao, os sujeitos que representam o

    Estado na conduta lesiva, tipos de condutas, espcies de danos que podem ser

    causados pela ao ou omisso do agente estatal, a indenizao pelos prejuzos

    causados terceiros, excludentes da responsabilidade civil do Estado e as situaes

    onde se fazem necessria e as principais caractersticas de cada uma das situaes

    aptas a excluir a responsabilidade. Apresentaremos ainda a anlise dos meios de

    reparao de danos e da ao judicial, onde falaremos sobre algumas divergncias

    doutrinarias e jurisprudenciais em relao legitimidade passiva da ao judicial.

    Trataremos da ao regressiva em favor do Estado, da denunciao da lide -

    possvel nas hipteses previstas nos artigos 70 a 76 do Cdigo de Processo Civil, e

    por fim os prazos prescricionais. Foi utilizado para a elaborao deste presente

    trabalho, fontes retiradas da internet, assim como tambm artigos cientficos e

    consultas com profissionais da rea jurdica.

    2. ASPECTOS GERAIS

    O Estado brasileiro, de acordo com a Constituio Federal de 1988, atua sob

    o Direito e, por isso, responsvel por suas aes e omisses, quando infringir a

    ordem jurdica e lesar terceiros. A responsabilidade civil do Estado se traduz no

    dever estatal de ressarcir ou obrigar a reparao do prejuzo alheio motivado por

    seus comportamentos danosos. A responsabilidade est em contnua evoluo e

    adaptao. O princpio da responsabilidade civil do Estado prprio, e possui uma

    forma prpria mais extensa que a responsabilidade que se aplica ao direito privado.

    As regras para o Estado so mais rigorosas e os administrados no tm como

  • escapar ou minimizar os perigos de dano provenientes da ao do Estado; ele

    quem dita os termos de sua presena na coletividade.

    Todos se sujeitam ordenao jurdica, portanto justo e certo que todos

    respondam pelos comportamentos violadores do direito alheio. O comportamento

    estatal que agrave de maneira totalmente desigual algum ao exercer atividades no

    interesse de todos injusto, portanto aquele que for lesado deve ser ressarcido,

    sendo restabelecida assim uma relao isonmica. Se o Estado um sujeito de

    direito, tambm sujeito responsvel.

    3. EVOLUO

    Por muito tempo, pelo Direito Brasileiro hesitava em duas teorias: a subjetiva

    e a objetiva, que eram as utilizadas para dar fundamento a responsabilizao civil da

    administrao pblica. Os juristas mais conceituados, persistiam pelo acolhimento

    da responsabilidade sem culpa com fundamento na teoria do risco, que teve origem

    da Frana, mas encontraram resistncia dos civilistas defensores da doutrina da

    culpa, que embora predominante no Direito Privado, no funcionava para o Direito

    Pblico.

    Tratando de Teoria da Irresponsabilidade, essa que no foi amparada pelo

    Direito Brasileiro, pois mesmo no havendo leis expressamente estabelecidas, as

    jurisprudncias e doutrinas nacionais nunca a consideravam como orientao. Em

    contrapartida, o princpio da responsabilidade em momento algum foi negado dentro

    do direito brasileiro, tendo sido previsto ao longo de vrias constituies.

    As constituies de 1824 e 1891 no traziam nenhum dispositivo que

    determinasse a ideia de responsabilidade estatal, prevendo apenas que o

    funcionrio seria responsabilizado por abuso ou omisso que cometessem

    desempenhando suas finalidades. Porm, nessa mesma linha, existiam leis

    ordinrias que estabeleciam a responsabilizao estatal solidria a dos funcionrios.

    O Cdigo Civil de 1916 adotou a teoria subjetivista que predominava poca,

    estabelecendo em seu artigo 15 que as pessoas jurdicas de Direito Pblico, seriam

    civilmente responsveis pelos atos de seus representantes, que nessa qualidade

    causassem dano a terceiros, procedendo de modo contrrio ao direito ou faltando a

    dever prescrito por lei, salvo direito regressivo contra os causadores do dano.

  • Nesse dispositivo ficou consagrado, embora de forma equivocada, a ideia de

    que a teoria da culpa embasava a responsabilidade civil. O erro, consta do fato de

    que o legislador foi displicente na elaborao desse enunciado, dando margem a

    interpretaes e aplicaes diferentes que fizeram divergir a opinio de juristas e a

    formao das jurisprudncias. Para uns, haveria a exigncia de comprovao da

    culpa civil da administrao, e para outros, era possvel haver responsabilizao civil

    sem culpa em alguns casos de ao prejudicial do Estado.

    No que se diz sobre a Constituio de 1934, seu art. 171 preceituava para a

    Fazenda Pblica, uma responsabilizao solidria a de seus funcionrios nos casos

    de ao negligente, omissa ou abusiva, tendo a mesma, direito de regresso caso

    fosse executada. Diferentemente a carta magna de 1946, determinou de forma

    expressa o princpio da responsabilidade objetiva do Estado por meio de seu art.

    194, segundo o qual as pessoas jurdicas de direito pblico interno eram civilmente

    responsveis pelos danos que seus funcionrios, nessa qualidade, trouxessem a

    terceiros, cabendo inclusive, ao regressiva contra os funcionrios causadores do

    dano, se culpados.

    Ainda nesse sentido, vemos que a Constituio de 1967 apenas veio

    reproduzir essa regra em seu artigo 105, com o adicional do pargrafo nico que

    previa a possibilidade de ao de regresso, tanto em caso de culpa, quanto de dolo.

    A Carta Magna de 88 acompanhou a linha estabelecida pelas Constituies

    antecedentes, guiando-se pela doutrina do Direito Pblico com a responsabilidade

    objetiva da Administrao na modalidade risco administrativo, promovendo assim, a

    superao da teoria subjetiva da culpa. Dispe o art.37, 6: As pessoas jurdicas

    de Direito Pblico e as de Direito Privado prestadoras de servios pblicos

    respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,

    assegurado o direito de regresso contra os responsveis no caso de dolo ou culpa.

    Nesse dispositivo esto previstas duas relaes de responsabilidade. A

    primeira a do agente que deu causa ao dano perante a Administrao, estando

    fundada no dolo ou culpa. A segunda diz respeito ao poder pblico e aqueles a quem

    delegou a prestao do servio perante a vtima, tendo carter objetivo. Ou seja,

    esse enunciado prev a Responsabilidade Objetiva e a Responsabilidade Subjetiva

    do funcionrio.

  • 4. TIPOS DE RESPONSABILIDADE

    So dois os tipos de responsabilidade civil do Estado: A responsabilidade

    objetiva e a responsabilidade subjetiva.

    A responsabilidade objetiva conquistou e consolidou expressivo espao no

    Direito brasileiro, mormente a parar do Cdigo de Defesa do Consumidor (CDC) e

    do Cdigo Civil de 2002; mas antes, entretanto, na responsabilidade civil do Estado,

    que objetiva, desde a Constituio de 1946. Mas mesmo assim o assunto continua

    bem complexo; muitos aspectos continuam controvertidos, entre os quais aquele

    que ns iremos abordar. A Constituio de 1988 disciplinou a responsabilidade civil

    do Estado no 6 do seu artigo 37, que tem a seguinte redao: As pessoas

    jurdicas de Direito Pblico e as de Direito Privado prestadoras de servios pblicos

    respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros,

    assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo e culpa.

    A Teoria do Risco Administrativo revela, primeiramente, que o Estado s responde

    objetivamente pelos danos que os seus agentes, nessa qualidade, causarem a

    terceiros. A expresso seus agentes, nessa qualidade, est a evidenciar que a

    Constituio adotou expressamente a teoria do risco administrativo como

    fundamento da responsabilidade da Administrao Pblica, e no a teoria do risco

    integral, porquanto condicionou a responsabilidade objetiva do Poder Pblico ao

    dano decorrente da sua atividade administrativa, isto , aos casos em que houver

    relao de causa e efeito entre a atuao do agente pblico e o dano. Sem haver

    relao de causalidade no h como e nem porque responsabiliz-lo objetivamente.

    A relao que deve existir entre o ato do agente ou da atividade administrativa e o

    dano, ter o ato que ser praticado durante o servio, ou bastar que seja em razo

    dele? De acordo com a essncia da opinio de vrios julgados, o mnimo necessrio

    para determinar a responsabilidade do Estado que o cargo, a funo ou atividade

    administrativa tenha sido a oportunidade para a prtica do ato ilcito. Sempre que a

    condio de agente do Estado ver contribudo de algum modo para a prtica do ato

    danoso, ainda que simplesmente lhe proporcionando a oportunidade para o

    comportamento ilcito, responde o Estado pela obrigao (4)ressarcitria. No se faz

    principal, que o exerccio da funo constitua a causa eficiente do evento danoso;

  • basta que ela ministre a ocasio para praticar-se o ato. A nota constante a

    existncia de uma relao entre a funo pblica exercida pelo agente e o fato

    gerador do evento danoso. Portanto, haver a responsabilidade do Estado sempre

    que se possa identificar um lao de implicao recproca entre a atuao

    administrativa (ato do seu agente), ainda que fora do estrito exerccio da funo, e o

    dano causado a terceiro.

    A responsabilidade civil do Estado sempre objetiva? Subsiste no Direito

    brasileiro alguma hiptese de responsabilidade subjetiva das pessoas jurdicas de

    direito pblico? No que se trata desse assunto temos hoje trs correntes distintas.

    Sustenta a primeira que, aps o advento do Cdigo Civil de 2002, no h mais

    espao para a responsabilidade subjetiva das pessoas jurdicas de direito pblico

    porque o artigo 43 do novo Cdigo Civil, que praticamente repete o teor do artigo 37,

    6 da Constituio, trouxe legislao civil infraconstitucional a teoria do risco

    administrativo para embasar a responsabilidade civil do Estado, revogando o artigo

    15 do Cdigo Civil de 1916 que servia de suporte legal para a responsabilidade

    subjetiva. Assim, quer pela ausncia de norma legal neste sentido, quer em razo de

    regras explcitas e especficas em sentido contrrio, que determinam a incidncia da

    responsabilidade civil objetiva, baseada na teoria do risco, no haveria mais espao

    para sustentar a responsabilidade subjetiva das pessoas jurdicas de direito pblico.

    Nesse sentido, por todos, a doutrina de Flvio Willeman Responsabilidade das

    Agncias Reguladoras, Lumen Juris, 2005, p. 2 e sg.

    A segunda corrente, capitaneada pelo festejado jurista Celso Antnio Bandeira de

    Mello (Curso de Direito Administrativo, 15 ed., Malheiros Editores, ps. 871-872),

    sustenta ser subjetiva a responsabilidade da Administrao sempre que o dano

    decorrer de uma omisso do Estado. Pondera que nos casos de omisso, o Estado

    no agiu, no sendo, portanto, o causador do dano, pelo que s estaria obrigado a

    indenizar os prejuzos resultantes de eventos que teria o dever de impedir. Aduz que

    a responsabilidade estatal por ato omissivo sempre responsabilidade por ato

    ilcito. E, sendo responsabilidade por ilcito, necessariamente responsabilidade

    subjetiva, pois no h conduta ilcita do Estado (embora do particular possa haver)

    que no seja proveniente de negligncia, imprudncia ou impercia (culpa) ou, ento,

    deliberado propsito de violar a norma que constitua em dada obrigao.

    Integramos a corrente intermediria, para a qual a responsabilidade subjetiva do

  • Estado, embora no tenha sido de todo banida da nossa ordem jurdica, s tem

    lugar nos casos de omisso genrica da Administrao, como haveremos de expor,

    e no em qualquer caso de omisso, conforme sustenta a segunda corrente.

    A responsabilidade subjetiva a regra bsica, que persiste independentemente de

    existir ou no norma legal a respeito. Todos respondem subjetivamente pelos danos

    causados a outrem, por um imperativo tico-jurdico universal de justia. Destarte,

    no havendo previso legal de responsabilidade objetiva, ou no estando est

    configurada, ser sempre aplicvel a clusula geral da responsabilidade subjetiva se

    configurada a culpa, nos termos do artigo 186 do Cdigo Civil.

    A regra, com relao ao Estado, a responsabilidade objetiva fundada no risco

    administrativo sempre que o dano for causado por agente pblico nessa qualidade,

    sempre que houver relao de causa e efeito entre a atuao administrativa e o

    dano. Resta, todavia, espao para a responsabilidade subjetiva nos casos em que o

    dano no causado pela atividade estatal, nem pelos seus agentes, mas por

    fenmenos da natureza chuvas torrenciais, tempestades, inundaes ou por fato

    da prpria vtima ou de terceiros, tais como assaltos, furtos acidentes na via pblica

    etc. No responde o Estado objetivamente por tais fatos, repita-se, porque no

    foram causados por sua atividade; poder, entretanto, responder subjetivamente

    com base na culpa annima ou falta do servio, se por omisso (genrica) concorreu

    para no evitar o resultado quando tinha o dever legal de impedi-lo.

    5. ELEMENTOS DEFINIDORES

    Consideram-se elementos da responsabilidade do Estado as condies

    indispensveis para o seu reconhecimento, quais sejam no caso dos sujeitos

    responsabilidade no regime pblico, as condutas comissivas ou omissivas. So

    eles:

    Sujeito - So o Estado ou quem exera suas vezes, o agente e a vtima, pode

    ser pessoa jurdica de direito pblico e pessoas jurdicas de direito privado

    prestadoras de servios pblicos, ambas respondem pelos atos atravs de seus

    agentes, nessa qualidade, causarem prejuzos a terceiros.

  • Hoje indiferente para caracterizao da responsabilidade civil se o lesado

    ou no usurio.

    Conduta estatal lesiva - A conduta pode ser decorrncia de comportamentos

    unilaterais, lcitos ou ilcitos, comissivos ou omissivos e materiais ou jurdicos.

    Condutas comissivas - No fazer, na ao do Estado, a responsabilidade est

    sujeita teoria objetiva, o que significa ser independente da demonstrao de culpa

    ou dolo. Tal teoria deve gerar dever de indenizar tanto nos comportamentos lcitos,

    quanto nos ilcitos.

    Condutas omissivas - No no fazer do Estado, hoje a doutrina e a

    jurisprudncia dominantes reconhecem a aplicao da teoria da responsabilidade

    subjetiva, estando assim o dever de indenizar condicionado comprovao do

    elemento subjetivo, a culpa e o dolo, admitindo a aplicao da culpa annima ou

    culpa do servio, que se contenta com a comprovao de que o servio no foi

    prestado ou foi prestado de forma ineficiente ou atrasada.

    Quanto s situaes de risco geradas pelo Estado, fato que, em algumas

    circunstncias, o Estado cria situaes que propiciam decisivamente a ocorrncia de

    um dano. So casos em que o Estado assume o grande risco de gerar dano. Trata-

    se de ao do Estado, um comportamento positivo, porque ele cria a situao de

    risco, portanto, nesse tipo de conduta, aplica-se a teoria objetiva. As situaes mais

    comuns decorrem da guarda de pessoas ou de coisas perigosas, expondo terceiros

    a risco, como o caso dos presos nos presdios, os internos nos manicmios, o

    armazenamento de material blico ou substncia nuclear.

    Em relao ao dano indenizvel, para reconhecer o dever de indenizar, em

    qualquer circunstncia, imprescindvel a presena de um dano. Pressupe-se que

    a indenizao a recomposio de um prejuzo, portanto, para admitir a

    responsabilidade civil do Estado, a vtima deve demonstrar de forma clara o dano

    sofrido, tanto de dano material quando do moral. Dano material o que gera efetiva

    leso ao patrimnio do indivduo, valorado economicamente. J o dano moral

    significa os prejuzos experimentados na esfera intima ou subjetiva do indivduo;

    atua no mbito de sua considerao pessoal, atingindo a intimidade, a honra, as

    afeies ou um segredo, mas tambm pode ter aspectos da vida em sociedade,

    como, por exemplo, a reputao. Os danos morais, por sua ver, classificam-se

    como:

  • a) Dano jurdico ilegtimo - deve representar leso a direito da vtima, trata-se

    de leso a um bem jurdico cuja integridade o sistema protege, um direito do

    indivduo e no basta mero dano econmico.

    b) Dano certo eventual, ocasional, determinado ou determinvel, possvel,

    constitui-se com danos emergentes e lucros cessantes,

    c) Dano especial aquele que pode ser particularizado, que no genrico, que

    atinge uma ou algumas pessoas.

    d) Dano anormal aquele que supera os meros agravos patrimoniais

    pequenos e inerentes s condies do convvio social.

    Em relao ao nexo de causalidade, o termo nexo significa vnculo, ligao,

    unio; enquanto causalidade a relao de causa e efeito. Entendendo-se, ento,

    por Nexo de Causalidade o vnculo, o elo entre a atividade estatal e o dano

    produzido ao terceiro. um dos pressupostos da responsabilidade civil a ser

    analisado para que se conclua pela responsabilidade jurdica, uma vez que somente

    poderemos decidir se o agente agiu ou no com culpa se atravs da sua conduta

    adveio um resultado. Vale dizer, no basta a prtica de um ato ilcito ou ainda a

    ocorrncia de um evento danoso, mas que entre estes exista a necessria relao

    de causa e efeito, um liame em que o ato ilcito seja a causa do dano e que o

    prejuzo sofrido pela vtima seja resultado daquele. necessrio que se torne

    absolutamente certo que, sem determinado fato, o prejuzo no poderia ter lugar. O

    conceito de nexo de causalidade, portanto no jurdico, mas natural. Determina se

    o resultado surge como consequncia natural da conduta perpetrada pelo agente.

    6. A INDENIZAO

    A indenizao do Estado reconhecida quando h descumprimento de

    contrato administrativo ou contrato de prestao de servios, todavia, nesses casos,

    a indenizao tem natureza contratual, no se admitindo a responsabilidade civil

    como fundamento. Nessas situaes, a indenizao decorre de leis prprias, tais

    como a Lei 8.666/93. importante alertar que a indenizao decorrente do art. 37,

    6 o , da Constituio Federal tambm no se confunde com as indenizaes

    decorrentes de sacrifcios de direito, como o caso da desapropriao. Na

    responsabilidade civil, o que o Estado busca prestar o servio ou construir a obra,

  • como, por exemplo, construir um presdio ou um cemitrio, mas de forma indireta

    pode causar danos a algum e ter que indenizar. Se observarmos, o objetivo do

    Poder Pblico no foi retirar ou prejudicar o direito do terceiro, mas isso

    indiretamente acabou acontecendo. Nesse caso o fundamento no a retirada do

    direito. Diferentemente ocorre em sacrifcio de direito, porque, nessas situaes, a

    norma autoriza o Estado a retirar o direito do terceiro, como na desapropriao em

    que o Poder Pblico retira o direito constitucionalmente reconhecido de propriedade.

    Para melhor entendimento, tem-se:

    Sacrifcio de direito: so situaes em que a ordem jurdica confere ao Poder

    Pblico o poder de investir diretamente contra o direito de terceiros, sacrificando

    interesse privado e convertendo-o em indenizao. Deve indenizar porque no pode

    menosprezar o direito do particular. Ex.: a desapropriao.

    A finalidade do sacrifcio de direito retirar, aniquilar um direito alheio e o

    dano faz parte dessa finalidade, da qual elemento principal.

    Responsabilidade civil: poderes conferidos ao Estado e legitimamente por ele

    exercidos, como construir obras, prestar servios pblicos ou exercer poder de

    polcia, que acarretam, indiretamente, como simples consequncia, a leso a um

    direito alheio e, por isso, o dever de indenizar. Dessa forma, a indenizao uma

    sequela de uma ao legtima. Ex.: construo de um presdio, prestao de servio

    de transporte coletivo etc.

    A finalidade da responsabilidade civil exercer a atividade administrativa,

    prestar o servio, construir a obra, no sacrificar direito alheio, portanto, o dano

    mero subproduto.

    7. HIPTESES DE EXCLUSO

    Para que ocorra a responsabilidade civil, se faz necessrio a presena de

    todos os seus pressupostos, ou seja, o dano, a culpa do agente e o nexo de

    causalidade. De modo que se faltar algum desses pressupostos no se configurar a

    responsabilidade.

  • A responsabilidade civil do Estado ser elidida quando presentes

    determinadas situaes, aptas a excluir o nexo causal entre a conduta do Estado e o

    dano causado ao particular, quais sejam, a fora maior, o caso fortuito o estado de

    necessidade e a culpa exclusiva da vtima ou de terceiro.

    A fora maior definida na lio que extramos de Toshio Mukai (1999, p. 499)

    como: um fenmeno da natureza, um acontecimento imprevisvel, inevitvel ou

    estranho ao comportamento humano, por exemplo, um raio, uma Tempestade, um

    terremoto.

    Neste caso o Estado torna-se impotente diante da imprevisibilidade e da falta

    de conhecimento das causas determinantes de tais fenmenos, o que, por

    conseguinte, justifica a excluso de sua obrigao de indenizar eventuais danos por

    eles causados. Fica claro, que se o evento danos foi provocado no em razo do

    funcionamento do servio pblico, mas por fato imprevisvel, no se poder falar em

    responsabilidade civil, por inexistir o necessrio pressuposto do nexo de causalidade

    entre a atividade da Administrao e o dano. No se configura a responsabilidade da

    Administrao, porque a causa do dano no foi um ato, comissivo ou omissivo,

    praticado por um agente seu, em decorrncia do funcionamento do servio pblico,

    mas por motivo de fora maior.

    Por outro lado, se durante a prestao do servio pblico o Estado deixar de

    realizar ato ou obra de carter indispensvel, sobrevindo evento natural que cause

    danos a particulares pela falta daquela obra, o Poder Pblico estar obrigado a

    compor os prejuzos. Desta forma, a causa do dano no o fato da fora maior, mas

    o desleixo do Estado em, sendo possvel prever tal fenmeno e suas

    consequncias, nada ter feito para evit-las.

    O caso fortuito, constitui-se de uma atividade eminentemente humana,

    proporcionadora de resultado danoso e alheia vontade do agente. Assim, pela

    dissociao dessa atividade humana da vontade do Poder Pblico que este no

    poder ser responsabilizado pelos danos daquela resultante. Ento ser afastada a

    responsabilidade estatal pela ausncia do nexo de causalidade entre o dano

    suportado pelo particular e o evento danoso, que no se deu por conduta do Estado.

    Por outro lado, no basta a simples alegao do Poder Pblico de ocorrncia de

    caso fortuito para se eximir da responsabilidade civil, sendo necessrio que arque

  • com o nus probandi de tal alegao e, se no desvencilhar deste, ser

    responsabilizado objetivamente, nos termos da Constituio Federal.

    Deve-se ressaltar que a fora maior e o caso fortuito esto previstos

    conjuntamente no artigo 393 do Cdigo Civil e, diante da impreciso do texto legal

    que no os distingue, estas expresses so objeto de divergncias doutrinrias

    quanto a sua definio, havendo doutrinadores renomados que entendem que a

    fora maior consiste em aes humanas e que o caso fortuito refere-se a eventos da

    natureza, exatamente o contrrio do que entende a corrente dominante, que

    seguimos.

    O estado de necessidade outra causa excludente de responsabilidade que

    se verifica diante de situaes de perigo iminente, no provocado pelo agente, tais

    como guerras, quando se faz necessrio um sacrifcio do interesse particular em

    favor do Poder Pblico, que poder intervir em razo de sua discricionariedade e

    supremacia. Nessas situaes, se os atos praticados pelos agentes estatais

    eventualmente causarem danos aos particulares, no ensejaro a obrigao do

    Estado de indenizar, por fora do status necessitatis, que tem como fundamento

    jurdico o princpio da supremacia do interesse pblico, caracterizado pela

    prevalncia da necessidade pblica sobre o interesse particular.

    A culpa exclusiva da vtima ou de terceiro tambm considerada causa

    excludente da responsabilidade estatal, pois haver quebra do nexo de causalidade,

    visto que o Poder Pblico no pode ser responsabilizado por um fato a que, de

    qualquer modo, no deu causa. certo que somente a culpa exclusiva da vtima

    inibe o dever de indenizar do Estado. Quando h culpa concorrente da vtima e do

    agente causador do dano, a responsabilidade e, consequentemente, a indenizao

    so divididas, podendo as fraes de responsabilidade ser desiguais, de acordo com

    a intensidade da culpa.

    8. VIAS PARA REPARAO DO DANO

    Cometer ofensa ao patrimnio do lesado, a reparao de danos a ser

    reivindicada pode ser acertada atravs de dois meios: o administrativo e o judicial.

    Na via administrativa, o lesado pode formular seu pedido indenizatrio ao rgo

    competente da pessoa jurdica civilmente responsvel, formando-se, ento,

    processo administrativo no qual podero manifestar-se os interessados, produzir-se

  • provas e chegar-se a um resultado final sobre o pedido. Se houver acordo quanto ao

    montante indenizatrio, vivel que o pagamento se faa de uma s vez ou

    parceladamente, tudo de acordo com a auto composio das partes interessadas.

    No havendo acordo, ao lesado caber propor a adequada ao judicial de

    indenizao, que seguir o procedimento comum, ordinrio ou sumrio, conforme a

    hiptese (arts. 272 e 275 do CPC). O foro da ao vai depender da natureza da

    pessoa jurdica: se for a Unio, empresa pblica ou entidade autrquica federal, a

    competncia da Justia Federal (art. 109, I, CF); se for de outra natureza,

    competente ser a Justia Estadual, caso em que dever ser examinado o que

    dispuser o Cdigo de Organizao Judiciria local.

    9. AO JUDICIAL LEGITIMIDADE PASSIVA

    Inicialmente a orientao que prevalecia na doutrina e na jurisprudncia

    nacionais era quanto a possibilidade de a vtima escolher em face de quem iria

    ajuizar a ao. Aconselhava-se, em razo da garantida capacidade financeira, que a

    escolha ficasse com a pessoa jurdica, mas no existia essa obrigatoriedade. Se a

    deciso fosse ajuizar a ao em face do Estado, isto , da pessoa jurdica, teria a

    vtima o privilgio da teoria da responsabilidade objetiva, dispensada assim a

    exigncia de se comprovar a culpa ou dolo.

    Entretanto, se a opo da vtima fosse ajuizar a ao em face do agente, da

    pessoa fsica, apesar de possvel, ela perderia o benefcio da teoria objetiva e

    estaria sujeita a responsabilidade subjetiva, em razo da parte final do art. 37, 6,

    da CF, que reconhece a responsabilidade do agente somente quando esse agir com

    culpa ou dolo.

    Acertadas so as palavras de Jos dos Santos Carvalho Filho que, apontando

    o art. 37, 6, da CF, completa: fato de ser atribuda responsabilidade objetiva a

    pessoa jurdica no significa a excluso do direito de agir contra aquele que causou

    o dano.

    Pactuando da ideia acolhida neste trabalho e permitindo a ao em face do

    agente, brilhantes so as palavras de Celso Antnio Bandeira de Mello ao esclarecer

    que o direito de regresso previsto no texto constitucional uma garantia para o

    Estado e no uma proteo para o agente. Entretanto essa no a posio que

  • vem prevalecendo hoje. Inicialmente, o STF proferiu deciso afastando a

    possibilidade de se ajuizar a ao quando o agente pblico estivesse na categoria

    de agente poltico. Nessa hiptese, em razo da especificidade de sua funo e das

    atribuies constitucionais exercidas com plena liberdade funcional, a vtima no

    teria a opo de ajuizar diretamente a ao, em face do agente, tendo como nica

    alternativa a cobrana a ser direcionada exclusivamente a pessoa jurdica.

    Observe a ementa:

    EMENTA: Recurso extraordinrio. Responsabilidade objetiva. Ao

    reparatria de dano por ato ilcito. Ilegitimidade de parte passiva. Responsabilidade

    exclusiva do Estado. A autoridade judiciria no tem responsabilidade civil pelos atos

    jurisdicionais praticados. Os magistrados enquadram-se na espcie agente politico,

    investidos para o exerccio de atribuies constitucionais; sendo dotados de plena

    liberdade funcional no desempenho de suas funes, com prerrogativas prprias e

    legislao especifica. Ao que deveria ter sido ajuizada contra a Fazenda Estadual

    - responsvel eventual pelos alegados danos causados pela autoridade judicial, ao

    exercer suas atribuies -, a qual, posteriormente, ter assegurado o direito de

    regresso contra o magistrado responsvel, nas hipteses de dolo ou culpa.

    Legitimidade passiva reservada ao Estado. Ausncia de responsabilidade

    concorrente em face dos eventuais prejuzos causados a terceiros pela autoridade

    julgadora no exerccio de suas funes, a teor do art. 37, 6-, da CF/88. Recurso

    extraordinrio conhecido e provido (RE 228.977/SP, STF Segunda Turma, Rel.3

    Min.- Neri da Silveira, julgamento: 05.03.2002, DJ: 12.04.2002).

    A matria continua mudando. O STF, apesar de reconhecer a impossibilidade

    de se ajuizar em face do agente em aes envolvendo agentes polticos, como por

    exemplo, ex-prefeito, membro do Ministrio Pblico, j no condiciona essa

    qualidade do agente. Observe parte importante do voto do Ministro Carlos Britto, no

    julgamento do RE 327.90430: De sada, leio o 6 do art. 37 da Magna Carta: As

    Pessoas Jurdicas de Direito pblico e as de direito privado prestadoras de servios

    pblicos respondero pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a

    terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsvel nos casos de dolo

    ou culpa. A luz do dispositivo transcrito, a concluso a que chego e nica: somente

    as pessoas jurdicas de direito pblico, ou as pessoas jurdicas de direito privado

    que prestem servios pblicos, e que podero responder, objetivamente, pela

  • reparao de danos a terceiros. Isto por ato ou omisso dos respectivos agentes,

    agindo este na qualidade de agentes pblicos, e no como pessoas comuns. Quanto

    questo da ao regressiva, uma coisa assegurar ao ente pblico (ou quem lhe

    faa as vezes) o direito de se ressarcir perante o servidor praticante de ato lesivo a

    outrem, nos casos de dolo ou de culpa; coisa bem diferente e querer imputar a

    pessoa fsica do prprio estatal, de forma direta e imediata, a responsabilidade civil

    pelo suposto dano terceiros. Com efeito, se o eventual prejuzo ocorreu por forca

    de um atuar tipicamente administrativo, como no caso presente, no vejo como

    extrair do 6 do art. 37 da lei das leis a responsabilidade per salturn" da pessoa

    natural do agente. Tal responsabilidade, se cabvel dar-se a apenas em carter de

    ressarcimento ao Errio (ao regressiva, portanto), depois de provada a culpa ou

    dolo do servidor pblico, ou de quem lhe faa s vezes. Vale dizer: ao regressiva e

    ao de "volta ou de "retomo contra aquele que praticou ato juridicamente

    imputvel ao Estado, mas causador de dano terceiros. Logo, trata-se de ao de

    ressarcimento, a pressupor, logico, a recuperao de um desembolso. Donde a clara

    ilao de que no pode fazer uso de uma ao de regresso aquele que no fez a

    "viagem financeira de ida; ou seja, em prol de quem no pagou a ningum, mas, ao

    contrrio, quer receber de algum e pela vez primeira. V-se, ento, que o 6 do

    art. 37 da Constituio Federal consagra uma dupla garantia: uma, em favor do

    particular, possibilitando-lhe ao indenizatria contra a pessoa jurdica de direito

    pblico, ou de direito privado que preste servio pblico, esta e a ementa da

    deciso:

    EMENTA: RECURSO EXTRAORDINARIO. ADMINISTRATIVO.

    RESPONSABILIDADE OBJETIVA DO ESTADO: 6 DO ART. 37 DA MAGNA

    CARTA. ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. AGENTE PUBLICO (EX-

    PREFEITO). PRATICA DE ATO PROPRIO DA FUNCAO. DECRETO DE

    INTERVENCAO. O 6 do art. 37 da Magna Carta autoriza a proposio de que

    somente as pessoas jurdicas de direito pblico, ou as pessoas jurdicas de direito

    privado que prestem servios pblicos, e que podero responder, objetivamente,

    pela reparao de danos a terceiros. Isto por ato ou omisso dos respectivos

    agentes, agindo estes na qualidade de agentes pblicos, e no como pessoas

    comuns. Esse mesmo dispositivo constitucional consagra, ainda, dupla garantia:

    uma, em favor do particular, possibilitando-lhe ao indenizatria contra a pessoa

    jurdica de direito pblico, ou de direito privado que preste servio pblico, dado que

  • bem maior, praticamente certa, a possibilidade de pagamento do dano objetivamente

    sofrido. Outra garantia, no entanto, em prol do servidor estatal, que somente

    responde administrativa e civilmente perante a pessoa jurdica a cujo quadro

    funcional se vincular. Recurso extraordinrio a que se nega provimento (RE

    327.904/SP, STF - Primeira Turma, Rel. Min. Carlos Britto, julgamento: 15.08.2006,

    DJ: 08.09.2006). No mesmo sentido o RE 470.996, julgando ao ajuizada contra

    membro do Ministrio Pblico. Dado que bem maior, praticamente certa, a

    possibilidade de pagamento de dano objetivamente sofrido. Outra garantia, no

    entanto, em prol do servidor estatal, que somente responde administrativa e

    civilmente, perante a pessoa jurdica a cujo quadro funcional se vincular.

    10. AO REGRESSIVAA ao regressiva quando o Poder Pblico, em vista do princpio da

    indisponibilidade da coisa pblica, mover-lhe ao regressiva para se ressarcir de

    tudo aquilo que pagou ao particular j indenizado.

    As pessoas jurdicas, e com isso o Estado, so incapazes de aes no plano

    naturalstico. Quem vai atuar em nome do Estado so os seus agentes, aos quais

    incumbe a realizao de atividades que se inserem nos limites da sua competncia

    ou para as quais foram contratados.

    Ao agir ou se omitir culposa ou dolosamente e causando dano terceiro, o

    agente pblico acaba vinculando o Estado, tornando este responsvel pela

    reparao do prejuzo causado ao particular.

    A ao regressiva em favor do Estado est previsto no art. 37, 6 da

    Constituio Federal de 1988 que positiva: As pessoas jurdicas de direito pblico e

    as de direito privado prestadoras de servios pblicos respondero pelos danos que

    seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de

    regresso contra o responsvel nos casos de dolo ou culpa.

    Com base na previso constitucional, em razo do dano ocorrido pela vtima,

    surgem duas responsabilidades patrimoniais: a do Estado em natureza objetiva e a

    do autor do dano, que fundamentado na culpa.

    Em funo da dupla responsabilidade que existe nesses casos, ainda h uma

    discusso a respeito da legitimidade passiva da ao de indenizao a ser movida

  • pelo lesado. Uma das teses rebate que a Constituio Federal onerou

    exclusivamente as pessoas jurdicas de direito pblico, obrigando-as pela

    indenizao dos prejuzos que seus agentes causarem a terceiros. De outro lado

    rebate-se que, muito embora a Constituio Federal tenha criado responsabilidade

    objetiva para as pessoas jurdicas de direito pblico, no haveria qualquer obstculo

    para que o lesado proponha ao indenizatria contra quem lhe parecer vivel, ou

    seja, apenas contra o Estado, apenas contra o agente que lhe provocou o prejuzo

    ou contra ambos, em litisconsrcio passivo facultativo.

    Apesar de tudo isso, hoje tem-se o entendimento de que para o agente, o

    direito estatal ao de regresso lhe garante a possibilidade de ser processado

    somente pelo prprio Estado. Muito embora no exista nenhuma norma

    constitucional vedando ao administrado a possibilidade de processar diretamente o

    agente estatal, as garantias patrimoniais do Estado no caso de sentena favorvel

    superam largamente as garantias da esmagadora maioria dos agentes estatais. Mas

    h um fato muito importante de ser ressaltado, que o fato de que raramente o

    Estado efetivamente exercita seu direito de regresso contra seus prprios agentes,

    como fala o doutrinador Celso Bandeira de Mello: O Poder Pblico dificilmente

    mover a ao regressiva, como, alis, os fatos o comprovam de sobejo. Tirante

    casos de regresso contra motoristas de veculos oficiais praticamente os nicos

    fustigados por esta via de retorno no se v o Estado regredir contra funcionrios.

    Diversas razes concorrem para isto. De fora parte o sentimento de classe ou de

    solidariedade com o subalterno (j de si conducente a uma conteno estatal da

    matria), assaz de vezes o funcionrio causador do dano age incorretamente com

    respaldo do superior, quando no em conluio com ele ou, pelo menos, sob sua

    complacncia.

    Tambm continua sua tese sabiamente: ao ser acionado, o Estado

    sistematicamente se defende - e esta mesma sua natural defesa alegando no

    ter existido a causalidade invocada e haver sido absolutamente regular a conduta

    increpada, por isenta de qualquer falha, imperfeio ou culpa. Diante disto,

    evidente que, ao depois, em eventual ao de regresso, enfrentar situao

    profundamente constrangedora e carente de qualquer credibilidade, pois ter de

    desdizer-se s completas, de renegar tudo o que dantes disse e proclamar

    exatamente o oposto do que afincadamente alegaram.

  • Desta forma, o importante e relevante instituto da ao de regresso, seja por

    desvios de conduta, seja por questes de lgica processual, acaba por cair em

    desuso, prejudicando no apenas o Estado como pessoa jurdica, mas a qualidade

    da prestao do servio pblico de forma geral. Ento criou-se uma j um costume

    que a vtima s poder ajuizar uma ao contra o Estado. Com essa inrcia do

    Estado para a ao de regresso e o crescente posicionamento de que a vtima no

    pode ajuizar a ao direto em face do agente, no h dvida de que os servidores

    pblicos ficaro cada vez mais impunes, havendo assim percas para o Estado e

    para a sociedade.

    11. DENUNCIAO DA LIDE o ato pelo qual o autor ou o ru traz a juzo (denuncia) um terceiro relao

    jurdica, buscando assegurar seu direito, caso este venha a sair vencido no

    processo. Consiste em uma forma de interveno de terceiro prevista no Direito

    Processual Civil. Entretanto, entende-se por denunciao da lide, modalidade de

    interveno forada de terceiro, provocada por uma das partes da demanda original,

    quando esta pretende exercer contra aquele direito de regresso. Alguns autores

    consideram o mesmo que chamamento de terceiro, ou denunciado, com o desgnio

    de interferir na ao, na qualidade de litisconsorte.

    A denunciao possvel nas hipteses previstas nos artigos 70 a 76 do

    Cdigo de Processo Civil, como descrito abaixo:

    Art. 70. A denunciao da lide obrigatria:

    I - ao alienante, na ao em que terceiro reivindica a coisa, cujo domnio foi

    transferido parte, a fim de que esta possa exercer o direito que d evico Ihe

    resulta;

    II - ao proprietrio ou ao possuidor indireto quando, por fora de obrigao ou direito,

    em casos como o do usufruturio, do credor pignoratcio, do locatrio, o ru, citado

    em nome prprio, exera a posse direta da coisa demandada;

    III - quele que estiver obrigado, pela lei ou pelo contrato, a indenizar, em ao

    regressiva, o prejuzo do que perder a demanda.

  • Art. 71. A citao do denunciado ser requerida, juntamente com a do ru, se o

    denunciante for o autor; e, no prazo para contestar, se o denunciante for o ru.

    Art. 72. Ordenada a citao, ficar suspenso o processo.

    1 - A citao do alienante, do proprietrio, do possuidor indireto ou do responsvel

    pela indenizao far-se-:

    a) quando residir na mesma comarca, dentro de 10 (dez) dias;

    b) quando residir em outra comarca, ou em lugar incerto, dentro de 30 (trinta) dias.

    2 No se procedendo citao no prazo marcado, a ao prosseguir

    unicamente em relao ao denunciante.

    Art. 73. Para os fins do disposto no art. 70, o denunciado, por sua vez, intimar do

    litgio o alienante, o proprietrio, o possuidor indireto ou o responsvel pela

    indenizao e, assim, sucessivamente, observando-se, quanto aos prazos, o

    disposto no artigo antecedente.

    Art. 74. Feita a denunciao pelo autor, o denunciado, comparecendo, assumir a

    posio de litisconsorte do denunciante e poder aditar a petio inicial,

    procedendo-se em seguida citao do ru.

    Art. 75. Feita a denunciao pelo ru:

    I - se o denunciado a aceitar e contestar o pedido, o processo prosseguir entre o

    autor, de um lado, e de outro, como litisconsortes, o denunciante e o denunciado;

    II - se o denunciado for revel, ou comparecer apenas para negar a qualidade que Ihe

    foi atribuda, cumprir ao denunciante prosseguir na defesa at final;

    III - se o denunciado confessar os fatos alegados pelo autor, poder o denunciante

    prosseguir na defesa.

    Art. 76. A sentena, que julgar procedente a ao, declarar, conforme o caso, o

    direito do evicto, ou a responsabilidade por perdas e danos, valendo como ttulo

    executivo.

  • De acordo com o teor expressado nos artigos entende-se a denunciao da

    lide como uma forma pelo qual uma das partes ocasiona o terceiro ao processo com

    vista a obter uma sentena que o responsabilize, por conseguinte, ocorre sempre

    que tiver um direito em conflito. Tal interveno de terceiros no decurso do conflito

    visa garantir o ressarcimento de seus prejuzos. Porm, h algumas especificidades

    sobre o procedimento, a legitimao, objetivos e casos cabveis ou no de

    denunciao da lide.

    Como bem ressalva a doutrinadora Fernanda Marinela tratando-se

    Responsabilidade Civil Do Estado, a admisso ou no de denunciao da lide uma

    temtica bastante polmica no ordenamento nacional. Considerando que para o

    Estado trazer o agente, tem por obrigao confirmar sua culpa, por conseguinte

    constitui assumir a sua responsabilidade, j que a pessoa jurdica responde pelas

    aes dos seus agentes.

    12. PRESCRIO

    QUAL O PRAZO PRESCRICIONAL APLICVEL S AES

    INDENIZATRIAS EM FACE DA FAZENDA PBLICA? (ESTADO)

    Inicialmente, insta esclarecer que o termo Fazenda Pblica utilizado em

    diversas acepes. No presente artigo ser utilizada como sinnimo de Estado em

    juzo, abrangendo a Unio, Estados, Distrito Federal e os Municpios, bem como as

    autarquias e fundaes pblicas, excluindo as empresas pblicas e as sociedades

    de economia mista. Esclarece Hely Lopes Meirelles, que

    a administrao Pblica, quando ingressa em juzo por qualquer de suas

    entidades estatais, por suas autarquias, por suas fundaes pblicas ou por

  • seus rgos que tenham capacidade processual, recebe a designao

    tradicional de Fazenda Pblica, porque seu errio que suporta os encargos

    patrimoniais da demanda.

    A prescrio, por sua vez, a perda da pretenso. Violado o direito surge a

    pretenso, tornando o direito exigvel, devendo ser exercitada no prazo fixado em lei.

    No exercida a pretenso no prazo fixado legalmente, consuma-se a prescrio.

    Somente haver pretenso quando houver leso, ou seja, s haver prescrio em

    demanda condenatria, excluda demandas de natureza constitutivas,

    mandamentais, executivas latu sensu e declaratrias, bem como as pretenses de

    reparao civil quando autora a Fazenda Pblica e aes regressivas, prevista no

    art. 37, 6, da Constituio da Repblica.

    Na atual sistemtica o juiz pode reconhecer de ofcio da prescrio, sendo

    recomendvel, antes de decret-la, que intime o autor para pronunciar-se sobre o

    assunto. A prescrio para a Fazenda Pblica vem disciplinada no Cdigo Civil,

    Decreto n 20.910/1932 e Decreto-lei n 4.597/1942.

    Dispe o art. 1 do Decreto n 20.910/1932 que todo e qualquer direito contra

    a Fazenda Pblica, seja Federal, Estadual ou Municipal, seja qual for a natureza,

    prescreve em 5 (cinco) anos, contadas da data do ato ou fato do que se originarem.

    Escoado esse prazo opera-se a prescrio. Nesse contexto, a reparao civil em

    face da Fazenda Pblica deveria se submeter ao prazo prescricional de 5 (cinco)

    anos previsto no Decreto 20.910/1932, diferentemente do previsto no art. 206, 3,

    V, do Cdigo Civil, que dispe que os prazos para pretenso da reparao civil

    prescrevem em 3 (trs) anos.

    Ocorre que o Cdigo Civil de 2002 surgiu muitos anos aps a edio do

    Decreto 20.910/32 e as indagaes que se faziam eram no sentido de qual diploma

    se utilizar: Cdigo Civil ou Decreto 20.910/32? O prprio Decreto 20.910/32 prev

    em seu art. 10 que os dispostos nos artigos anteriores no altera as prescries de

    menor prazo, constantes das leis e regulamentos, as quais ficam subordinadas s

    mesmas regras. Com isso, entende-se que, ressalvados os casos em que a lei

    estabelea prazo menor, a prescrio das pretenses formuladas contra a Fazenda

    Pblica continua sendo quinquenal, aplicando - se o prazo de 3 (trs) anos do

    Cdigo Civil nas reparaes civis contra a Fazenda Pblica, por ser prazo menor

    que o estabelecido no decreto.[4]

  • O Superior Tribunal de Justia entende que a regra do Cdigo Civil prevalece sobre

    o decreto, em razo do que estabelece o art. 10 do decreto 20.910/32 e, ainda, por

    se tratar o Cdigo Civil de norma posterior, conforme se depreende do REsp

    1.066.063/RS e REsp 1.137.354/RJ, respectivamente citados abaixo:

    RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRISO INJUSTA. INDENIZAO.

    DANO MORAL. PRAZO PRESCRICIONAL. CONTAGEM. NOVO CDIGO CIVIL.

    I - Trata-se de ao de indenizao por danos morais, ajuizada contra a Unio, pelo

    fato de a autora haver sofrido priso injusta decretada pela Justia Federal.

    II - A teor do artigo 2.028 do novo Codex, a lei anterior continuar a reger os prazos,

    quando se conjugarem os seguintes requisitos: houver reduo pela nova lei e, na

    data de vigncia do novo Cdigo, j se houver esgotado mais da metade fixado pela

    lei revogada (Decreto n 20.910/32, no caso).

    III - In casu, no foi observado o segundo requisito, porquanto entre a data do

    evento danoso (09.04.2002) e a vigncia do novo Cdigo Civil (janeiro/2003),

    transcorreu menos de 1 (um) ano, no chegando metade do prazo anterior, ou

    seja, pelo menos dois anos e meio. Dessa forma, a contagem do prazo prescricional

    a de 3 (trs) anos, fixada pelo artigo 206, 3, V, do Codex, e deve ser contada a

    partir da vigncia dele. Precedente citado: REsp n 982.811/RR, Rel. Min.

    FRANCISCO FALCO, julgado em 02.10.2008.

    IV - Recurso especial improvido.

    ADMINISTRATIVO. RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO. PRESCRIO.

    DECRETO N 20.910/32. ADVENTO DO CDIGO CIVIL DE 2002. REDUO DO

    PRAZO PRESCRICIONAL PARA TRS ANOS.

    1. O legislador estatuiu a prescrio de cinco anos em benefcio do Fisco e, com o

    manifesto objetivo de favorecer ainda mais os entes pblicos, estipulou que, no caso

    da eventual existncia de prazo prescricional menor a incidir em situaes

    especficas, o prazo quinquenal seria afastado nesse particular. Inteligncia do art.

    10 do Decreto n 20.910/32.

    2. O prazo prescricional de trs anos relativo pretenso de reparao civil art.

    206, 3, V, do Cdigo Civil de 2002 prevalece sobre o quinqunio previsto no art.

    1 do Decreto n 20.910/32.

    3. Recurso especial provido.

  • 13. CONCLUSO

    Com este trabalho, conclumos que o Estado sujeito de direito, logo sujeito

    responsvel. A atuao estatal impositiva e no h como recusar e pode causar

    danos mais intensos. Observamos que a responsabilidade civil do Estado mais

    rigorosa que a responsabilidade civil privada e tem princpios prprios e regras

    prprias, porm todos se sujeitam a mesma ordenao jurdica, obedecendo o

    princpio da legalidade e o princpio da isonomia. A fim de acompanhar e atender a

    constante evoluo da sociedade, fez-se necessrio ao instituto da responsabilidade

    civil, assumir aos poucos, diferentes roupagens, fato que pode ser percebido ao

    longo das diferentes constituies, de onde se partiu de uma concepo de total

    irresponsabilidade estatal at se chegar ao atual contexto, em que a nossa Carta

    Maior prev em seu artigo 37, 6, a responsabilidade objetiva do Estado. Foi

    entendido tambm a respeito dos tipos de responsabilidade que quando no se

    pode exigir do Estado uma atuao especfica, tendo este, entretanto, um dever

    genrico de agir, e o servio no funciona, funciona mal ou funciona tardiamente,

    haver omisso genrica, pela qual responde a Administrao subjetivamente com

    base na culpa annima; quando o Estado tem dever especfico de agir e a sua

    omisso cria a situao propcia para a ocorrncia do evento danoso, em situao

    que tinha o dever de agir para impedi-lo, haver omisso especfica e o Estado

    responde objetivamente.

    Vimos tambm que o Estado tem o dever de reparar o dano causado, que

    independe se o dano causado objetivo ou subjetivo, que no apenas os danos

    matrias so passiveis de indenizao, mas tambm danos morais. Seja qual a for a

    hiptese de excluso (estado de necessidade, caso fortuito, fora maior e culpa

    exclusiva da vtima ou de terceiros), s ser causa excludente da norma se estiver

    de acordo com a norma em vigor. A anlise de julgados permitiu observar ainda o

    tratamento da legislao, da doutrina e da jurisprudncia sobre as vias para a

    reparao do dano, de indiscutvel atualidade. Notou-se a evidncia das

    divergncias Doutrinria e Jurisprudencial em relao a ao judicial que pode ser

    ajuizada em face da pessoa jurdica (teoria objetiva) ou em face do agente (teoria

  • subjetiva) ou em face do agente, em razo da dupla garantia de consagrar, em favor

    do particular, possibilitando-lhe ao indenizatria contra a pessoa jurdica de direito

    pblico, ou de direito privado que preste servio pblico.

    Nos casos de responsabilidade civil do Estado a ao regressiva a melhor

    forma de acionar o agente pblico para ressarcir os danos causados aos cofres

    pblicos, em nome da garantia dos princpios da economia e celeridade processuais,

    alm da efetividade da tutela jurisdicional. A denunciao da lide, utilizvel tanto pelo

    autor como pelo ru, constitui uma forma de interveno de terceiros, prevista no

    CPC, segundo a qual algum, que no parte, trazido ao processo, a fim de

    eliminar a propositura de ao regressiva, em que, certamente, ocuparia o plo

    passivo. Por fim, em relao a prescrio, conclui-se que o prazo quinquenal no

    prevalece mais quando se tratar de reparao civil em face da Fazenda Pblica,

    devendo ser utilizado o prazo de trs anos previsto no art. 206, 3, V, do Cdigo

    Civil.

    13. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    MEIRELLES, Hely Lopes. Direito Administrativo. 23. ed, 2 tiragem, atualizada

    por Eurico de Andrade Azevedo, Dlcio Balestero Aleixo e Jos Emmanuel Burle

    Filho. So Paulo: Malheiros, 1998.

    CUNHA, Leonardo Jos Carneiro da Cunha. A Fazenda Pblica em Juzo. 8

    ed. So Paulo: Dialtica, 2010.

    MEDINA, Jos Miguel Garcia. Breves Comentrios a Nova sistemtica

    Processual Civil. Srie 2. So Paulo: RT, 2006.

    MARINELA, Fernanda. Direito Administrativo. 7 Edio. - Niteri: Impetus,

    2013.

    http://www.ambitojuridico.com.br

    http://www.jurisway.org.br

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    http://w ww.direitojus.com

    http://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/5929/Historico-da-responsabilidade-

    civil-do-Estado

  • http://meucadernodedireito.blogspot.com.br/2013/04/responsabilidade-civil-do-

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    http://profapatriciacarla.com.br/wp-content/uploads/2012/04/PATTYDICAS-

    CONCURSO-DA-PF.pdf

    http:// www.pge.sp.gov.br/CentroEstudo/.../power%20-%20respons%20 civil .pp http://www.jusbrasil.com.br/topicos/361606/acao-regressiva