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17 Fotojornalismo na MagnuM in Motion: miradas em “theater oF War” pelo olhar da teoria ator-rede Nadja Carvalho, Lorena Travassos

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Fotojornalismo na Magnum in Motion:Miradas em “Theater of War” pelo Olhar daTeoria Ator-Rede

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion:miradas em theater oF War pelo olhar da

    teoria ator-rede

    Nadja Carvalho, Lorena Travassos

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion:miradas em theater oF War pelo olhar da teoria ator-rede

    Resumo: Estudamos, com amparo na Teoria Ator-Rede (TAR), o ensaio foto-jornalstico Theater of War (2011), que integra o projeto Magnum in Motion (2004). Realizamos, portanto, neste artigo, uma descrio da rede de cone-xes entre atores humanos e no-humanos (actantes), relacionados ao exame de preceitos como simetria, traduo e caixa-preta, propostos na TAR e identi-ficados nesse ensaio fotogrfico.Palavras chave: Fotojornalismo; Teoria Ator-Rede; Magnum in Motion

    Fotoperiodismo en MagnuM in Motion:miradas en el theater oF War a travs de la teora actor-red

    Resumen: Referenciados en la Teora Actor-Red (TAR), estudiamos el ensayo fotoperiodstico Theater of War (2011), que integra el proyecto Magnum in Motion (2004). En este artculo se presenta una descripcin de la red de cone-xiones entre actores humanos y no humanos (actantes), relacionados al exa-men de los preceptos como simetra, traduccin y caja-negra, propuesto en la TAR y identificados en este ensayo fotogrfico. Palabras clave: Fotoperiodismo; Teora Actor-Red; Magnum in Motion

    photojournalism in MagnuM in Motion:looking theather oF War through the actor-netWork theory

    Abstract: We have studied, with some of the tools of the Actor-Network The-ory (ANT), the photo-journalistic essay Theater of War (2011), which is part of the Magnum in Motion (2004). We have presented, thus, in this article, a description of this net of connections between human actors and not-humans (actants), related to the examination of principles such as symmetry, transla-tion and black-box, proposed in ANT and identified in this photo essay.Keywords: Photojournalism; Actor-Network Theory; Magnum in Motion

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    cadernos de comunicao (v.16, n.2, Jul-dez 2012)

    1 Introduo

    O surgimento da internet e sua posterior abertura para interesses comer-ciais na dcada de 80 deu incio a trocas de dados. A necessidade de adaptao do contedo jornalstico na Web foi aos poucos tomando forma at chegar ao que conhecemos hoje. De incio, as imagens que compunham os primeiros sites eram gifs animados ou ilustraes. Aos poucos as fotografias - com limitaes de tamanho e de espao devido baixa velocidade de conexo - conseguiram chegar aos sites de uma forma similar do jornalismo impresso.

    Com a criao da banda larga, as imagens fixas e imagens em movimento passaram a ser mais viveis, criando novas possibilidades para a utilizao mul-timdia da fotografia enquanto produto jornalstico.

    Os anos 1990 foram marcados por um grande desenvolvimento das novas tecnologias da comunicao e informao, modificando a produo e distri-buio da imagem. Alm disso, a internet se popularizou e os computadores ficaram bem mais acessveis, facilitando o comrcio e o consumo generalizado.

    Em 1991 a Kodak lanou a primeira cmera digital, ainda com 1.3 megapi-xels. A Apple, dois anos depois, lanou uma cmera com valor mais acessvel, marcando a popularizao da fotografia digital.

    Depois da criao de cmeras amadoras, foi a vez dos fotojornalistas passa-rem a ter uma cmera especialmente criada para sua profisso em 1994, graas Kodak. O produto nasceu em parceria com uma das agncias mais famosas de fotojornalismo, a Associated Press (AP), que cobriu, em 1996, o primeiro evento com cmera digital, o SuperBowl XXX.

    No incio do sculo XXI, as agncias de fotojornalismo realizaram a digitaliza-o dos negativos de todos os arquivos e criaram bancos de dados para consul-ta de seus acervos na internet. Esse evento possibilitou a insero de imagens em tempo real e a democratizao de informaes em todo o mundo. Ainda assim, vrias agncias importantes fecharam por no acompanhar os avanos tecnolgicos, como a Gamma, Sygma e a Sypa (MERGIER apud MUNHOZ, 2002).

    A Magnum Photos, cooperativa fotogrfica formada em 1945, inicialmen-te por fotojornalistas j famosos quela poca, como Cartier Bresson, Robert Capa e Chim, acompanhou esse desenvolvimento da fotografia, exibindo alm de bancos de dados com todos os negativos digitalizados, um acervo com as imagens e a apresentao de novos produtos, como a Magnum in Motion, que conta com ensaios compostos por fotografias em movimento acompanhadas

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion

    de recursos audiovisuais. visvel que est cada vez mais comum produzir imagens em aparelhos

    celulares e cmeras fotogrficas, bastando uma resoluo mnima para visua-lizao das imagens nos diversos sites. Com a febre das redes sociais, e sites exclusivos para imagens como o Flickr (2004), o Tumblr (2007), o Instagram (2010), e o novo Pinterest (2011), qualquer usurio passou a ser um potencial produtor de imagens, sejam artsticas ou noticiosas.

    Apesar dessa grande quantidade de imagens que circulam na rede, bancos de fotos jornalsticas so importantes na cobertura miditica por apresenta-rem imagens de qualidade e de procedncia profissional.

    No sentido de acompanhar essa evoluo imagtica do fotojornalismo na internet destacamos, neste artigo, o ensaio Theater of War da Magnum Pho-tos por se tratar de um modelo hipermiditico de apresentao de imagens fotojornalsticas, com grande preocupao narrativa e plstica.

    importante ressaltar que esta agncia fotogrfica, teve seus representan-tes cobrindo graves conflitos mundiais entre naes, desde a inveno da c-mera compacta de 35 mm e, ainda hoje, segue os seus princpios fotogrficos ao acompanhar a evoluo da fotografia e da internet, proporcionando, alm de qualidade esttica e tcnica, inovaes na prpria apresentao da fotogra-fia, seja ela analgica ou digital.

    Segundo Bresson, um dos ilustres fundadores, Magnum uma comunida-de de pensamento, uma qualidade humana compartilhada, a curiosidade sobre o que est acontecendo no mundo, um respeito pelo que est acontecendo e um desejo de transcrev-lo visualmente1.

    2 EnsaIo fotojornalstIco thEatEr of War

    Magnum in Motion um projeto multimdia criado pela agncia Magnum em 2004, que rene narrativas visuais para plataformas online e offline, in-cluindo projees em museus, festivais e workshops 2. A narrativa da foto-grafia fixa introduz - no ambiente da Magnum - recursos audiovisuais, efeitos grficos e de vdeos e conta com a interatividade que, atrelada ao aumento da

    1 Disponvel em: www.magnumphotos.com. Acesso em: 10 jul. 2012.

    2 Os trabalhos podem ser acessados no site: www.magnuminmotion.com. Alm de ensaios fotogrficos jornalsticos, o projeto disponibiliza podcasts.

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    velocidade da banda larga, dinamiza o cenrio do fotojornalismo na internet. Esses ensaios fotogrficos no so meras apresentaes sequenciais ou

    possuem um simples formato de cinema, eles contam com a presena de nar-rador (es), sons ambientes, msicas, vozes, relatos e efeitos de montagem (corte seco, imagem antiga, fade out etc.).

    O projeto integra fotgrafos de vrias partes do mundo, que passam por uma rgida seleo at serem aceitos como membros da agncia. Os temas apresentados so variados, abordam desde a Segunda Guerra Mundial e a Guer-ra do Vietn (as primeiras imagens realizadas com filme 35 mm), at eventos atuais como a crise financeira na Grcia e o tsunami no Japo (imagens digitais).

    Dentre os trabalhos que fazem parte da Magnum in Motion, observamos o ensaio Theater of War (Teatro da Guerra)3, com fotos de autoria de Moises Sa-man4, que retrata os ltimos dias da Lbia sob o domnio de Gaddafi em 2011. O pro-psito identificar a rede de conexo entre os actantes humanos e no-humanos neste ensaio fotojornalstico, sob o recorte metodolgico da Teoria Ator-Rede.

    Figura 1- Pgina de abertura do ensaio fotogrfico de Moises Saman Crdito: Reproduo

    Na formao da equipe responsvel pela confeco do ensaio Theater of War, de Moises Saman, temos um diretor criativo responsvel pela edio, duas pessoas responsveis pela produo multimdia e os sons do local foram captados pelo prprio fotgrafo, j as sonoridades adicionais foram utilizadas

    3 O ensaio Theater of War tem a durao 3 minutos e 27 segundos, ao final de sua exibi-o pode-se ler a biografia de Moises Saman e assistir a seus outros trabalhos fotogrficos, tambm disponibiliza espao para comentrios. O ensaio pode ser acessado no link: http://inmotion.magnumphotos.com/essay/theater-war.

    4 Moises Saman nasceu em Lima, Peru. Ele foi convidado a participar da Magnum Photos em 2010 por indicao. Atualmente vive entre Cairo e Nova York.

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion

    do banco Freesound5.Entre as imagens vistas no ensaio h fotos de rua em preto e branco e a

    captura de imagens da TV libanesa. Logo no incio da exibio surge uma narra-o em ingls, possivelmente do fotgrafo relatando a sua experincia no con-flito, escutamos sons de bombas e gritos e uma trilha sonora de estilo clssico promove certo estado emocional, alm da locuo de noticirios da TV, tudo isso em meio a projeo de imagens dramticas.

    Na exibio as fotos e as imagens televisivas expressam tenso, so inter-caladas de modo rpido, mostram cenas da cidade destruda, manifestantes em protesto, rebeldes fortemente armados, entrecortadas por persistentes aparies de Gaddafi. As imagens da TV libanesa em tom spia tm efeito de filme antigo e na exibio do noticirio local o ditador fala ao microfone vestin-do sua farda militar.

    3 comandos da tEorIa ator-rEdE

    A Teoria Ator-Rede (TAR) foi criada na dcada de 80, por um grupo de antro-plogos, socilogos e engenheiros, dentre os quais esto Bruno Latour, Michel Callon e John Law. Embora a TAR seja considerada uma metodologia de pesqui-sa, ela alcanou um estatuto de teoria pela ambio do mtodo e reconceitu-alizao sistemtica de prticas de pesquisa (WILKINSON apud FREIRE, 2004).

    De acordo com Latour (1996), a melhor forma de explicar um evento mostrar as conexes entre os elementos de uma rede. por meio de um con-junto de pequenas histrias que estes elementos estabelecem conexes e se renem momentaneamente por ambivalncias, formando um padro, um re-mendo intelectual (LAW, 1997).

    Dentre os principais preceitos da TAR destacam-se simetria, rede, ator, tra-duo e caixa-preta, apresentamos a seguir:

    * Simetria - Tanto a natureza quanto a sociedade devem ser explicadas a partir de uma nica interpretao (LATOUR, 1994). O social definido como uma rede hbrida, constituda por atores humanos e no-humanos (o social e o tcnico), de modo que as aes de ambos devem ser consideradas com a mesma importncia. Na construo de softwares, por exemplo, o programador

    5 Este ambiente possui grande acervo sonoro de acesso gratuito, muito popular entre os usurios que dependem desse recurso aplicado a suas produes audiovisuais. Disponvel em: http://www.freesound.org.

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    (humano) interage simultaneamente com o computador (no-humano) com a mesma importncia para gerar o produto final.

    * Rede Relaciona-se a fluxos e circulaes dos atores, que, uma vez en-volvidos, interferem e sofrem interferncias continuadas, portanto, as infor-maes que circulam entre os atores esto sempre se modificando. Nesses termos essa rede diferente da noo de rede ciberntica, a qual se refere ao transporte de informaes sem deformaes ao longo de qualquer distncia.

    * Ator - O termo utilizado para falar do humano e no-humano, ao contr-rio do uso na Sociologia, e por isso Latour (2001, p.346) emprega a expresso actante da semitica greimasiana: Uma vez que, em ingls, a palavra actor (ator) se limita a humanos, utilizamos muitas vezes actant (actante), termo tomado da semitica para incluir no-humanos na definio6.

    * Traduo - O conceito de traduo (ou translao) vai alm do significado de passar de uma lngua pra outra, pois tem tambm como tarefa a transposi-o de um lugar para outro. Portanto para Latour (2000, p.194): ... transladar interesses significa, ao mesmo tempo, oferecer novas interpretaes desses interesses e canalizar as pessoas para direes diferentes.

    * Caixa-preta - um fato ou artefato pronto, possuidor de estabilidade pro-visria, ou seja, sem controvrsias (dvidas) acerca da rede formada. Na medi-da em que algo no funciona ou deixa de fazer sentido, surgem controvrsias que impem a reabertura da caixa (LATOUR; WOOLGAR, 2000). Pesquisar uma tomada de deciso diante da abertura de caixas-pretas de acordo com o surgimento de novas controvrsias.

    4 uma aproxImao mEtodolgIca

    O site Magnum in Motion (2004) a nossa caixa-preta7. A controvrsia est na prpria teatralidade da guerra, capturada no ensaio fotogrfico Theater of War.

    O fluxo de atores envolvidos num ensaio fotogrfico como este gigan-

    6 Andr Lemos recorda que o termo actante foi criado por Lucien Tesnire e usado para designar o participante (pessoa, animal ou coisa) em narrativa literria. Para Greimas (1974), o actante quem ou o que realiza a ao. Cf. Voc est aqui! Mdias locativas e teorias Ma-terialidades da Comunicao e Ator-rede, 2010, p.7.

    7 O site Magnum in Motion acolhe renomados profissionais do fotojornalismo e exibe exce-lentes trabalhos fotogrficos com recursos audiovisuais, moldados pela evoluo para nos emocionar com suas sonoridades e sutis movimentos.

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion

    tesco, por exemplo, se observarmos o lado de quem fotografado, vai desde a devastao, a desolao de um sujeito at a fora da multido. As interfe-rncias geradas pelas imagens circulam entre quem visto e quem v, indis-tintamente. assim que o fotojornalismo vem sofrendo modificaes de toda ordem e esto mudando nossa relao com essas imagens.

    A expresso teatro da guerra atribuda Guerra Civil da Lbia8 impera-tiva pela fora que os gestos retratados registram, pode-se ver a coragem dos protestos populares contra a ditadura de Gaddafi9. A sequncia de fotos inter-cala imagens de Gaddafi que persiste no Governo: uma foto de manifestante versus localidade arrasada; outra foto de protesto versus Gaddafi aparecendo na TV. Para cada foto antiGaddafi surge sempre outra prGaddafi: pode ser sua foto emoldurada, ele flagrado na multido ou exibido na TV libanesa.

    Figura 2 Manifestantes flagrados na efervescncia da multido

    Crdito: Reproduo

    H tradues de imagens aleatrias e interpoladas por opositores e o ditador, trata-se de uma forma jornalstica de narrar o drama de uma guerra, onde atores hbridos (fotografias, sonoridades, fotgrafo, fotografados e usurios) dialogam com intenes especficas de interesse artstico, comunicacional e histrico.

    Existe uma guerra civil e outra guerra entre imagens no ensaio fotogrfico de Moises Saman. O teatro da guerra tem na figura de Gaddafi o seu prota-gonista resistente. A imagem do ditador traduzida para o ensaio de modo similar a sua encenao projetada na TV local sobre a Revoluo Lbia.

    8 A Guerra Civil na Lbia, ou ainda reconhecida como Revoluo Lbia, foi iniciada em 13 de fevereiro de 2011, movida por reivindicaes sociais e polticas que exigiram democracia, res-peito pelos direitos humanos, distribuio de riquezas e reduo da corrupo do Estado e suas instituies.

    9 Muammar al-Gaddafi liderou a Lbia por 42 anos, era o chefe de Estado rabe no cargo h mais tempo, tambm conhecido pelos nomes Gaddafi, Kadhafi e Qaddafi.

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    cadernos de comunicao (v.16, n.2, Jul-dez 2012)

    A imagem do poder miditico exercido pelo ditador refora a dramaturgia do combate, cenas de protestos rebeldes e dos danos causados pelos ataques so exibidas lado-a-lado. A intransigncia do governo Gaddafi promove inme-ras imagens da brutalidade repressora contra os manifestantes. O ensaio cap-tura apenas algumas, mas do modo como so ordenadas informam sobre a amplitude dos estragos igualmente provocados pelos rebeldes.

    Mas h momentos na exibio do ensaio que a TV libanesa sai do ar e a ima-gem do ditador sofre abalos com a perda do sinal at desaparecer por comple-to10 e desse modo os chuviscos da TV fecham a tela. O que no significa dizer que outras cenas de dor, perdas e lutas no estejam pousando para novas fotos.

    Figura 3 Fotografia (metafoto) do Gaddafi na televiso

    Crdito: Reproduo

    Diante de tais consideraes e segundo a Teoria Ator-Rede, passamos a identificar os atores envolvidos nessa rede sociotcnica:

    * Actantes humanos a) Entre as pessoas fotografadas (quem visto) esto: manifestantes, opo-

    sitores, soldados, corpos de civis, Gadaffi e metafotos de Gadaffi (fotografia de foto).

    b) Nas equipes de produo, edio, circulao e redistribuio (quem v) temos: fotgrafo, diretor criativo, produtor multimdia, designer de navegao e suporte de usabilidade da Magnum Photos, o sujeito usurio, pesquisador, arquivista.

    * Actantes no-humanos

    10 Em 20 de outubro de 2011 ocorreu a morte de Muammar al-Gaddafi na cidade de Sirte e O Conselho Nacional de Transio lbio anunciou o fim da guerra, em 23 de outubro de 2011.

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion

    a) Dispositivos tecnolgicos do site: fotografia digital, software, banco de dados, servidores, interatividade, compartilhamento, aplicativo para rede social.

    b) Artefatos e ambientes de rede que permitem o acesso do pblico: com-putador, dispositivo porttil 3G, internet fixa e mvel.

    A natureza simtrica entre o ensaio e a realidade imediata da guerra, decor-re de uma cobertura jornalstica orquestrada sob olhares artstico, dramtico, comunicacional, investigativo. Toda a captura do social incorpora invariavel-mente as marcas tcnicas advindas do ato fotogrfico em si, por sua vez, se-quenciadas pelo trabalho de seleo e ordenao exibido na edio final do material. Fica impossvel no considerar aspectos de interao simtrica entre o social (realidade da guerra) e o tcnico (Theater of War).

    compreensvel, sob o ponto de vista da traduo, por sua vez, ocorrida entre a realidade objetiva e a fotografia, que ultrapassamos a mera translao entre cdigos de linguagens, de uma imagem objeto extrada da realidade imediata para constituir uma imagem digital, impregnada pela contextualiza-o de ritmos, paradas, sequncias e sonoridades na edio. Na verdade, ocor-re algo mais na noo de traduo, trata-se da herana da realidade objetiva transposta para o espao ensastico com toda aquela carga de tenso flagrada no embate, na correlao entre foras e no comportamento heroico da resis-tncia, tais estados de sentidos esto presentes no ensaio fotojornalstico.

    Enquanto existir resistncia, a dvida sobre quem sair vitorioso persisti-r, dessas incertezas objetivas nos fala muito a caixa-preta atribuda ao ensaio Theater of War. Partindo do frenesi da sucesso de imagens para movimen-tos de aproximao e distanciamento, entrecortado por momentos mais len-tos para logo em seguida saltar numa sequencia de imagens mais rpidas, este ensaio promove um contraste rtmico na exibio de imagens teatrais da guer-ra, exibicionistas ao usar o poder militar, a fora das armas, o massacre brusco, e avassalador que almeja subjugar, derrotar o opositor.

    5 consIdEraEs fInaIs

    Propomos a descrio do ensaio Theater of War para encontrarmos a rede de atores, com o intuito de examinar a controvrsia sobre a teatralidade que en-volve a Guerra Civil na Lbia. Foram imagens de protestos, mortes, rebeldes arma-dos, a internet, software e o prprio site da Magnum in Motion que, em trabalho conjunto, nos fizeram presenciar atravs de nosso computador, o conflito libans.

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    cadernos de comunicao (v.16, n.2, Jul-dez 2012)

    Os atores em rede (humanos e no-humanos) promovem uma simetria interativa entre o social e o tcnico, permitindo uma traduo dialgica en-tre o espao imediato e a obra fotojornalstica. A partir da tentamos nos apropriar do artefato pronto ensastico, plstico e comunicacional, aqui tra-tado como caixa-preta, no sentido de identificar as controvrsias que se si-tuam no espao da guerra.

    A controvrsia de natureza teatral presente no ensaio Theater of War nos permite, principalmente na apario repetitiva de Gaddafi, presenciar a fora oficial libanesa tentando encucar no seu opositor o sentido de derrota. O espectador, pela primeira vez diante do ensaio, compartilha de igual tenso sob o efeito da ameaa do ditador.

    Como esse mapeamento dos actantes que compem o ensaio, nos foi per-mitido observar a rede formada pelos diversos atores hbridos que interagem nessa hipermdia. Tendo em vista que a fotografia mediada pela tecnologia desde o seu surgimento, consideramos esse aparato metodolgico, o da Teoria Ator-Rede, de grande valor para entendermos os processos digitais do fotojor-nalismo na contemporaneidade.

    rEfErncIas

    BENJAMIN, Walter. Pequena histria da fotografia. In: Magia e tcnica, arte e poltica. So Paulo: Brasiliense, 1985.

    FREIRE, Leticia de Luna. Seguindo Bruno Latour: notas para uma antropologia simtrica. Revista Comum, Rio de Janeiro, v. 11, n.26, p. 46-65, 2006.

    KOSSOY, Boris. Fotografia e histria. 2 ed. So Paulo: Ateli editorial, 2001.

    LATOUR, Bruno. Jamais fomos modernos: ensaio de antropologia simtrica. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994.

    ______. Reensemblar lo social: una introduccin a la teoria del actor-red. Buenos Aires: Manantial, 2008.

    LATOUR, B.; WOOLGAR, S. Cincia em ao: como seguir cientistas e engenheiros socieda-de afora. So Paulo: UNESP, 2000.

    ______. A esperana de Pandora: ensaios sobre a realidade dos estudos cientficos. Bauru: EDUSC, 2001.

    LAW, J. Notas sobre a Teoria Ator-Rede: ordenamento, estratgia, e heterogeneidade, 1997. Trad. Fernando Manso. Disponvel em: http://www.necso.ufrj.br/. Acesso em: 2 jul. 2012.

    LEMOS, Andr. Voc est aqui! Mdia Locativa e teorias Materialidades da Comunicao e Ator-Rede, In: Revista Comunicao e Sociedade, So Bernardo do Campo, v.32, n. 54, p. 5-29, 2010.

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    Fotojornalismo na MagnuM in Motion

    MUNHOZ, Paulo. Estgios do desenvolvimento do fotojornalismo na Internet. Revista Dilo-gos & Cincia, Salvador, v. 5, n. 11, p. 1-5, 2007.

    MUZI, Daniela. Tecnologias e materialidades da comunicao no documentrio: atores humanos e no humanos na obra de Eduardo Coutinho. Rio de Janeiro: Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Dissertao, Mestrado, 2011.

    recebido em: 09/11/12 aceito para publicao: 07/12/12

    Nadja Carvalho

    Professora do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFPB. Doutora em Comunicao e Semitica pela Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC/SP-2002). Experincia em Comunicao Visual e Mdia Digital, atuando nos campos da semitica, humor e potica; Movie-clip (charges animadas); HQ-trnica (histrias em quadrinhos eletrnicas) e, mais recente-mente, Minimdia celular (pequenas mdias mveis).

    Lorena Travassos

    Mestranda do Programa de Ps-Graduao em Comunicao da UFPB, fotgrafa, tem pesquisa com nfase nos novos proces-sos fotogrficos, filosofia e teoria da imagem.

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