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7/23/2019 Artigo profesora Cleonice http://slidepdf.com/reader/full/artigo-profesora-cleonice 1/24 Rural e Urbano na Complexidade do Território 1 Cleonice Alexandre Le Bourlegat  Mestrado em Desenvolvimento Local Universidade Católica Dom Bosco Resumo: O objetivo do presente trabalho foi aprofundar as reflexões sobre as novas configuraões territoriais na complexidade do mundo vivido e !ue envolvem atividades do meio rural e urbano" #or meio da abordagem da apropria$o procurou%se chegar & concep$o de territórios de meios complexos' para da( avanar na trajetória de constitui$o dos meios complexos na sociedade ocidental europ)ia' assim como seus efeitos na estrutura$o do território brasileiro' por processos de combina$o" #or fim' a discuss$o foi ilustrada com o relato e reflex$o dos resultados de um estudo emp(rico a respeito da emerg*ncia de novas configuraões territoriais da atividade agroindustrial' numa combina$o entre as unidades industriais e agricultores familiares e uma antiga +rea de coloni,a$o agr+ria no -udeste de Mato .rosso do -ul" 1. Introdução #or meio de relaões mantidas com os seres de sua esp)cie e com o meio' mediado por instrumentos' o ser humano se constrói como sujeito individual e coletivo' na inten$o cont(nua de se tornar cada ve, mais aut/nomo" 0ssa constitui$o do sujeito' segundo Morin 123334 se d+ ao mesmo tempo' por um princ(pio de exclus$o e inclus$o social" #elo princ(pio de exclus$o o sujeito constrói a si mesmo e nada e ningu)m pode estar no seu lugar" 0ntretanto' a diferencia$o e identifica$o do sujeito nesse processo construtivo se d+ por sua inser$o ao coletivo % ao 5nós6% seja na fam(lia' grupo' comunidade ou sociedade e' portanto pelo princ(pio da inclus$o" 7ssim' a exist*ncia humana se d+ no eterno paradoxo do ser sujeito e sujeitado ao meio envolvente"  7ssim' ao mesmo tempo em !ue se constrói' o ser humano constrói a unidade social e seu território e a ele se submete' impregnando%se mentalmente de seu modelo 1MO89:' 23334" #or seu turno' o espao' conforme aponta 8affestin 1;<<=4 como modelo mental abstra(do antecede o território" #or meio desse construto mental da realidade o ser humano fa, escolhas e cria estrat)gias para produ,ir e 1  Texto da palestra proferida no X Simpósio Nacional de Geografia Urbana “Trajetórias de Geografia Urbana no Brasil- tradiçes e perspecti!as"# $esa %edonda “&idade# 'nd(stria e No!as &onfig)raçes Territoriais"# em *lorianópolis# de +, de o)t)br a + de no!embro de +./  0  o)tora em Geografia pela UN2S3 de 3residente 3r)dente e coordenadora do $estrado em esen!ol!imento 4ocal na Uni!ersidade &atólica om Bosco/ 1

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http://slidepdf.com/reader/full/artigo-profesora-cleonice 1/24

Rural e Urbano na Complexidade do Território1

Cleonice Alexandre Le Bourlegat  

Mestrado em Desenvolvimento LocalUniversidade Católica Dom Bosco

Resumo:O objetivo do presente trabalho foi aprofundar as reflexões sobre as novas configuraõesterritoriais na complexidade do mundo vivido e !ue envolvem atividades do meio rural eurbano" #or meio da abordagem da apropria$o procurou%se chegar & concep$o deterritórios de meios complexos' para da( avanar na trajetória de constitui$o dos meioscomplexos na sociedade ocidental europ)ia' assim como seus efeitos na estrutura$o doterritório brasileiro' por processos de combina$o" #or fim' a discuss$o foi ilustrada com orelato e reflex$o dos resultados de um estudo emp(rico a respeito da emerg*ncia de novas

configuraões territoriais da atividade agroindustrial' numa combina$o entre as unidadesindustriais e agricultores familiares e uma antiga +rea de coloni,a$o agr+ria no -udeste deMato .rosso do -ul"

1. Introdução

#or meio de relaões mantidas com os seres de sua esp)cie e com o meio'

mediado por instrumentos' o ser humano se constrói como sujeito individual e

coletivo' na inten$o cont(nua de se tornar cada ve, mais aut/nomo" 0ssa

constitui$o do sujeito' segundo Morin 123334 se d+ ao mesmo tempo' por um

princ(pio de exclus$o e inclus$o social" #elo princ(pio de exclus$o o sujeito constrói

a si mesmo e nada e ningu)m pode estar no seu lugar" 0ntretanto' a diferencia$o e

identifica$o do sujeito nesse processo construtivo se d+ por sua inser$o ao

coletivo % ao 5nós6% seja na fam(lia' grupo' comunidade ou sociedade e' portanto pelo

princ(pio da inclus$o" 7ssim' a exist*ncia humana se d+ no eterno paradoxo do ser

sujeito e sujeitado ao meio envolvente"

 7ssim' ao mesmo tempo em !ue se constrói' o ser humano constrói a unidadesocial e seu território e a ele se submete' impregnando%se mentalmente de seu

modelo 1MO89:' 23334" #or seu turno' o espao' conforme aponta 8affestin 1;<<=4

como modelo mental abstra(do antecede o território" #or meio desse construto

mental da realidade o ser humano fa, escolhas e cria estrat)gias para produ,ir e

1 Texto da palestra proferida no X Simpósio Nacional de Geografia Urbana “Trajetórias de Geografia Urbana no

Brasil- tradiçes e perspecti!as"# $esa %edonda “&idade# 'nd(stria e No!as &onfig)raçes Territoriais"# em

*lorianópolis# de +, de o)t)br a + de no!embro de +./

 0 o)tora em Geografia pela UN2S3 de 3residente 3r)dente e coordenadora do $estrado em esen!ol!imento

4ocal na Uni!ersidade &atólica om Bosco/

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manter território" >+' portanto' uma causa$o circular entre espao e território' na

medida em !ue o efeito de um age sobre o outro"

 7 5apropria$o6' conceito originado da antropologia marxista e trabalhado por

Lefebvre 1;<<;4 como a forma criativa do grupo social para adaptar%se &s condiões

dadas pelo meio' na supera$o de dificuldades espec(ficas 1-08?7@A%.78O:'

233=4 tem como objetivo a busca de autonomia para as aões projetadas na vida

cotidiana" O aprofundamento do saber amplia a autonomia da totalidade social sobre

o meio constru(do' no seu local de vida" 7s capacidades' compet*ncias e

habilidades s$o potenciali,adas' no intuito do melhor desempenho no uso dos

recursos dispon(veis" 0 nesse processo' os saberes herdados como cultura'

ampliam as possibilidades de respostas ao meio 1MO89:' 23334" Da apropria$oemerge o campo de foras sociais de cada território' em termos de saberes

acumulados e capacidade organi,ativa' tanto na forma material como imaterial

manifestada como territorialidade" 7 territorialidade ) reveladora dessa forma de ser

de cada território' com sua lógica de ordena$o e funcionamento"

#ela apropria$o busca%se a combina$o ade!uada para originar um meio com

relativa estabilidade !ue possa se transformar em !uadro de vida a uma dada

unidade social" Uma ve, constitu(do ) a esse meio !ue a sociedade procura seadaptar de forma criativa' elaborando novas combinaões nos diversos dom(nios de

suas atividades 1C>OLL0A' ;<4"

#ara esse autor' !uanto maior o peso das aões humanas convergentes num

dado meio' maiores as condiões de combina$o e de aprofundamento das

interaões" 0sse processo amplia a complexidade' ou seja' adensa o intrincado de

conectividades e interdepend*ncias no tecido social" #ara LevE 12334' como os

sistemas complexos s$o interligados pela rede causal !ue atingem diferentesescalas de grande,a' atingem n(veis de interdepend*ncia infinitos e !ue n$o se

pode calcular"

:os meios complexos humani,ados' segundo CholleE 1;<4' s$o' sobretudo'

os atores sociais !ue decidem e desencadeiam a combina$o considerada mais

ade!uada & situa$o na obten$o de meios relativamente est+veis" 0m princ(pio'

aguarda%se por efeitos mais ou menos esperados como !uadro de vida" 0ntretanto'

como n$o se ) capa, de conhecer todas as condiões e efeitos causais !ue entram

em jogo numa combina$o complexa' uma ve, desencadeada' o poder de

interfer*ncia humana torna%se menor" 7s crises' segundo CholleE 1;<4 ) !ue

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acabam indicando se o modelo de combinaões est+ realmente adaptado &s

condiões reinantes' assim como suas insufici*ncias e poss(veis modificaões a

serem introdu,idas" @amb)m -chumpeter 1;<F24 nas suas reflexões a respeito das

crises na economia' afirmava !ue ) nela !ue se consegue melhor detectar as

incongru*ncias do sistema' sendo tamb)m o momento de amadurecimento para

novos processos de combina$o"

2. Complexidade social no curso da história

 O florescimento de combinaões mais ou menos complexas ocorreu tanto por

condiões dadas pelos diferentes lugares' como tamb)m' por situaões temporais

mais ou menos favor+veis' no curso da história de uma sociedade e mesmo da

civili,a$o"

2.1 De isolamento nmade ! complexidade da a"lomeração sedent#ria

 7 complexidade dos laos sociais no !ual o sujeito se constrói e constrói

sociedade e território se d+ por uma forma de combina$o !ue amplie o le!ue de

respostas diante das dificuldades na situa$o colocada"

 7 forma mais primitiva de constru$o e identifica$o do sujeito por um nome e

linhagem ancestral deu%se por meio de relaões com o grupo familiar 1ou cl$4 e a

nature,a' num v(nculo mantido com o cosmos' mediado por mitos e ritos 1L0GA'

23334" 7o se definir o ponto de liga$o umbilical entre o grupo e o cosmos emergiu a

concep$o de espao absoluto e imut+vel" :a tentativa de diversificar os ambientes

de coleta dos produtos naturais e' amparados pelo desenvolvimento da memória'

alguns grupos conseguiram desenvolver habilidades para combinar os diferentes

pontos de refer*ncia' constituindo trilhas na pr+tica do nomadismo" O modelo mentalda realidade vivida nesse per(odo histórico foi apenas unidimensional' evoluindo da

forma pontual 1monoc*ntrica4 para a linear"

 7 sedentari,a$o por meio da pr+tica agr(cola e pastoril durante o :eol(tico'

num v(nculo com a @erra' foi a forma de resposta criativa &s profundas

transformaões do meio natural' causadas pela glacia$o' !uando esta redu,iu as

possibilidades de oferta de produtos da nature,a" 7 entidade territorial emergiu

dessa vida de relaões estabelecidas no processo de fixa$o de grupos para adomestica$o da @erra 1L0GA' 23334" O território de cada unidade social tornou%se

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mediador do processo de identifica$o do sujeito % individual e coletivo% expresso

tanto por sentimentos afetivos 1sentimento de pertena territorial e de propriedade4

como por elementos materiais e simbólicos 1marcos territoriais' t(tulos' ins(gnias'

medalhas4"

:a 7ntigHidade' a passagem da fase do pastoreio para a de agricultura

condicionou um modelo organi,ativo baseado na integra$o dos diversos cl$s

familiares em estruturas mais amplas" O fortalecimento das unidades sociais' por

meio de articula$o religiosa' era definido por laos de parentesco" :a sociedade

romana' da uni$o dos gens 1cl$s familiares4 nascia a cIria' da articula$o das cIrias

nascia a tribo e das tribos nascia a urbe 1COUL7:.0-' 23334" 7ssim' a

organi,a$o pol(tica tomou uma forma confederativa' definida em !uatro escalas dehierar!ui,a$oJ 13;4 casa romana !ue abrigava o genK 1324 a cIria !ue abrigava a

chamada 5associa$o fraterna6K 13=4 a aldeia !ue abrigava a triboK 134 a cidade%

estado !ue abrigava a urbe" Cada unidade era fundada como um mundo coletivo

por meio de ritos de consagra$o religiosa' elegendo%se o ponto central de

articula$o dos grupos sociais para a pr+tica comum de rituais" :o caso da cidade' o

ato de funda$o se dava pela consagra$o da urbe' ou umbigo para os romanos'

pois simbolicamente significava o local de liga$o do do 5povo romano6 e desse como cosmos 10L97D0' sd4" 7 cidade%estado' portanto' era pensada como a forma mais

ampla de associa$o religiosa e pol(tica das fam(lias e das tribos 1COUL7:.0-'

23334"

uando a cidade%estado deixou de ser efica, na sustentabilidade da sociedade

correspondente' o território foi expandido por atos de con!uista e sujei$o do

trabalho escravo' no sentido de ampliar o esto!ue de +reas agr(colas dispon(veis"

0sse território de expans$o' constru(do por meio de latifIndios escravistas' foimantido atrav)s cidades conectadas & cidade do con!uistador" Com base em atos

religiosos' os romanos fundavam cidades ou refundavam as j+ existentes'

considerando%as um novo mundo" ?oi por meio dessa rede urbana !ue as vastas

+reas con!uistadas constitu(ram%se no grande imp)rio' permitindo a hegemonia

pol(tica da cidade de 8oma" :esse caso' o objetivo das cidades era reprodu,ir

internamente o poder da classe administrativa da metrópole e exercer o papel de

organi,a$o' coleta e expedi$o dos produtos locais' como tamb)m de coleta de

tributos a 8oma"

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O modelo de controle militari,ado das vias de transporte foi produ,ido e

reprodu,ido para manter os fluxos dos bens produ,idos em dire$o & metrópole"

0sse princ(pio de organi,a$o espacial de fluxo unidirecional' !ue gerou a

express$o 5todos os caminhos levam & 8oma6' ampliou a diversidade de territórios

produtivos na manuten$o do povo romano' mas pouco favoreceu a intera$o entre

o povo romano e as unidades sociais dos territórios con!uistados" 7 fragilidade

dessa unidade territorial a deixou vulner+vel diante da invas$o con!uistadora dos

vi,inhos b+rbaros' !uando as relaões escravistas n$o foram mais suficientes para

manter esse modelo 187:.0L' ;<F4 "

2.2 De micro escala ! complexidade do território nacional

  Diante da fragmenta$o do 9mp)rio 8omano' as soluões inovadoras pela

busca de um novo e!uil(brio dinNmico nas condiões de vida social' acabaram se

dando por meio de novas combinaões' ordenadas ao n(vel de micro escala 19dem'

;<F4" Diante da abundNncia de terras cultiv+veis' as unidades familiares aut+rcicas; 

rurali,adas da 7ntiguidade foram recriadas como forma de ade!ua$o entre o

contingente populacional e os recursos existentes2" Mas fa,iam parte das novas

unidades de auto%sufici*ncia n$o só fam(lias de romanos' como tamb)m de b+rbarose de povos anteriormente con!uistados" :o lugar do anterior lao de parentesco' o

território feudal emergiu da sociabilidade estabelecida entre fam(lias com pluralidade

de origem" Das interaões internamente estabelecidas por essa diversidade cultural

nasceram esses territórios regionais' regidos por novas regras de conviv*ncia e

cimentados pela religi$o crist$' com novos valores e costumes' sentimentos afetivos

de grupo e pela terra" 0sse novo modo de viver' impregnado na mente coletiva como

modelo espacial' reprodu,iu%se por longo tempo na constru$o e manuten$o deterritórios europeus"

Mas esse modelo feudal precisou sofrer novas ade!uaões frente aos conflitos

gerados pelo excessivo adensamento populacional e disputa por terras" 7 resposta

inovadora da sociedade feudal foi a produtividade agr(cola da terra" 7ssim a anterior

rotatividade e busca de novas terras passou a ser substitu(da por maior produ$o

obtida na mesma por$o de terra' ampliando as possibilidades produtivas no local"

0ssa nova condi$o foi poss(vel pela media$o de instrumentos t)cnicos e

procedimentos mais sistemati,ados ao processo produtivo' portanto exigiu novas

combinaões' cujos efeitos radicais caracteri,aram a 8evolu$o 7gr(cola"

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Como esses procedimentos ocupassem menos fora de trabalho humana' a

tend*ncia dos camponeses liberados foi ampliar esforos na produ$o do artesanato

para o atendimento dos burgos e do próprio campo" 7 aglomera$o condu,iu &

divis$o do trabalho artesanal e seu aperfeioamento" :esse processo de causa$o

circular distinguiram%se dois tipos de territórios produtivos especiali,ados e

complementares entre si% o campo agr(cola e a cidade artesanal pass(vel de ser

combinado por meio da pr+tica comercial"

P preciso lembrar !ue essa conex$o pela troca comercial cidade%campo no

continente europeu envolveu fluxos bidirecionais % produto agr(cola x produto

artesanal" 0ram' portanto mais adensados !ue a!ueles praticados no 9mp)rio

8omano" 0sse princ(pio de troca comercial foi propagado do Nmbito local 1cidade%campo4 para escalas mais amplas' entre feudos' realimentando%se da cultura

romana herdada de trocas efetuadas por meio da rede urbana" Das trocas

organi,adas nessa escala mais ampla emergiram as especialidades regionais' cada

ve, mais complementares' re!uerendo um centro articulador e regulador" :ascida

dessa diferencia$o em territórios relativamente fechados' a pr+tica comercial' por

seu turno' apresentava tend*ncia desterritoriali,ante' manifestando%se por meio de

um livre fluir' movimento esse capa, de instalar redes e organi,ar circuitos entrediferentes territórios 1L0GA' 23334"

 7ssim' a complementaridades e os corredores de transporte de mercadorias'

articulados por um conjunto de cidades conectadas entre si' constitu(ram%se nos

principais suportes da unifica$o e configura$o dos 0stados territoriais" :esse

contexto' as cidades' al)m de produtoras de artesanato e centros administrativos'

transformaram%se em locais privilegiados de expedi$o dos produtos do campo"

#aralelo & temporalidade espec(fica de cada território' a pr+tica mercantilpassou a expressar o tempo da simultaneidade' articulador dessas diferentes

temporalidades territoriais num tempo real" Dela emergiu a no$o de espaos

relativos e articulados' concebidos de forma orgNnica' cada um exercendo papel

distinto mas complementares ao outro" :essa abstra$o espacial' cada lugar foi

sendo dotado de um valor funcional no conjunto da unidade territorial' incluindo%se a(

a dicotomia campo e cidade" #or outro lado' as novas interaões obtidas atrav)s de

deslocamentos distantes e mais densos contribu(ram na amplia$o da consci*ncia

espacial e sentimento de pertena' fortalecendo a cria$o de uma identidade em

escala nacional"

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2.$ Realimentação de modelos espaciais herdados no %rasil colnia

Os territórios de al)m mar foram' mais tarde' identificados como fonte de

recursos potenciais para a pr+tica comercial europ)ia e tiveram nas rotas de acesso

seus principais configuradores" Como espao relativo' o território do Brasil col/nia foi

percebido como expans$o dos campos europeus' tendo na cultura herdada dos

latifIndios romanos escravistas a refer*ncia de modelo espacial para sua con!uista'

combinada ao modelo do capitalismo mercantil de #ortugal"

9nternamente' as rotas de com)rcio' apoiadas por uma rede de cidades ligadasexternamente & metrópole contribu(ram na sua constru$o e manuten$o" 7 rede

urbana desse território de con!uista portuguesa avanou do litoral para o interior e

exerceu o papel de organi,adora da coleta e expedi$o da produ$o' sob o controle

administrativo e fiscali,ador da Coroa portuguesa" O princ(pio fundamental da

hierar!ui,a$o dessa rede de cidades foi o papel administrativo e de coleta frente &

metrópole portuguesa" 0' a exemplo do modelo romano de con!uista' a organi,a$o

da rede urbana se antecedeu & organi,a$o do campo' mantida por fluxosunidirecionais' em favor da metrópole portuguesa"

0ntretanto' na !uase aus*ncia de territórios produtores de excedentes na

col/nia' foi preciso constru(%los' combinando%se movimentos migratórios europeus

incentivados com a migra$o forada vinda da Qfrica" O imigrante europeu tra,ia

consigo o conhecimento da produ$o de excedentes' submetendo a fora de

trabalho africana & escravid$o" #or efeito de necessidades de sobreviv*ncia

suscitadas por esses novos territórios econ/micos de exporta$o' surgiramterritórios de produ$o de excedentes alimentares' resultando em duas formas de

territorialidade produtivaJ de exporta$o e subsist*ncia" 0ssas foram' portanto' as

respostas estrat)gicas de ajuste & realidade do território colonial"

2.& Complexidade do sistema industrial europeu e di'ersi(icação do sistema

a"r)cola nacional

 7 8evolu$o 9ndustrial na 0uropa deu%se pela propaga$o do princ(pio da

ra,$o instrumental do setor agr(cola para o artesanato" 0ssa inova$o foi

revolucion+ria na medida em !ue o instrumento de trabalho p/de ser combinado a

.

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uma nova fonte de energia 1vapor e depois eletricidade4 e & fora de trabalho

excedente do campo" 0mergiu da( um sistema econ/mico mais complexo em

estrutura e dinamismo' aprofundado por adensamento de relaões e estratifica$o

social' organi,ados em diversas escalas" Desse modo' os condicionantes humanos

foram se tornando cada ve, mais preponderantes e ganhando maior peso nas

combinaões de complexo definidoras de territórios"

uando no Brasil a ordem colonial definida para explora$o de ri!ue,as

naturais% especialmente minerais% foi ameaada pelo sistema capitalista

manufatureiro liderado pela 9nglaterra' o 0stado absolutista portugu*s' numa pol(tica

de exclusivismo colonial' reforou o modelo romano militari,ado de manuten$o dos

territórios de con!uista" 7mpliou a cria$o de cidades 1vilas4 no interior docontinente' próximas das fontes de recurso" 7l)m disso' foram eleitos caminhos de

acesso' ambos com o suporte do fisco e fora militar da Coroa portuguesa" Baseado

principalmente em fluxos unidirecionais' esse modelo pombalino n$o conseguiu

fa,er frente por muito tempo & perturba$o do sistema capitalista industrial' embora

tenha contribu(do para configurar a unidade do território brasileiro" 0ntretanto' )

preciso lembrar !ue o abastecimento das +reas de minera$o proporcionado pelos

tropeiros vindos do -ul' ao adensarem os fluxos tornando%os bidirecionais'contribu(ram para fortalecer os laos territoriais com terras distantes como o sert$o

de Cuiab+"

?oi mais significativo para o Brasil' como pol(tica de exclusivismo colonial' o

efeito da segunda reforma iluminista do 0stado nacional portugu*s 1;RFR%;R<4' a

estabili,a$o de seu sistema por meio de aões de recupera$o e diversifica$o da

produ$o agr(cola 1:OG79-' ;<<S4' incluindo os territórios de agricultura de

subsist*ncia" 0sse procedimento contribuiu na redistribui$o da popula$o emdire$o &s novas +reas agr(colas' como tamb)m no maior adensamento e

diversidade dos fluxos comerciais" Desse meio com produ$o diversificada' fa,ia

parte os produtores agr(colas com pluralidade de origem' ampliando o le!ue de

experi*ncias produtivas no território brasileiro em constru$o" .erou diversidade

produtiva e atribuiu maior dinamismo & economia local"

2.* Complexidade do sistema rural brasileiro: produção artesanal inserida na

unidade a"r)cola di'ersi(icada

#or ocasi$o da primeira depress$o do capitalismo industrial ingl*s 1;F;S%;FF4'

9

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o impulso para novas ade!uaões ao sistema territorial brasileiro' j+ independente

do 0stado portugu*s' deu%se a partir da incorpora$o do modelo de artesanato

portugu*s na unidade agr(cola diversificada' tornando mais complexa as relaões de

conteIdo rural"

O ajustamento entre a popula$o existente e unidades produtivas locais num

pa(s !ue buscava se libertar da sujei$o colonial teve por princ(pio a auto%sufici*ncia

produtiva' realimentando%se do modelo herdado das antigas unidades aut+rcicas do

feudalismo europeu" :o Nmbito das unidades agr(colas diversificadas foram

incorporadas as atividades artesanais' tra,idas da experi*ncia portuguesa

1tecelagem' engenhos' constru$o rural e de instrumentos' transforma$o de

alimentos4' num primeiro processo de substitui$o de importaões 187:.0L' ;<FS4" 7s unidades produtivas agr(colas tornaram%se mais complexas e aut/nomas" 7

fa,enda Tacobina descrita por Galverde 1;<R24' no interior da regi$o cuiabana ilustra

esse momento="

:a organi,a$o do 9mp)rio' emergente nesse per(odo' procurou%se garantir a

nova ordem de um pa(s independente' numa forma de centralismo pol(tico apoiado

pelo poder econ/mico organi,ado na base produtiva do território" O objetivo era

promover' ao mesmo tempo' o melhor ajustamento dessas unidades produtivas e amanuten$o da unidade geral do território colonial 187:.0L' ;<F24"

2.+ Complexidade por di'isão de trabalho entre campo e cidade na construção

dos territórios a"r)colas especiali,ados

 0m resposta &s demandas externas do capitalismo industrial na sua segunda

fase expansiva 1;FF%;FR=4' novas combinaões emergiram no território colonial" 7

oligar!uia rural exportadora precisou reajustar as foras produtivas locais

 de modoa melhorar o desempenho da produ$o agr(cola de exporta$o e' ao mesmo tempo'

romper as relaões de vassalagem com a metrópole portuguesa" :essa nova

combina$o' constitu(ram%se os territórios de produ$o especiali,ada' configurando%

se como grandes ar!uip)lagos territoriais vinculados ao porto de exporta$o pela

pr+tica comercial"

 7 rede de cidades !ue deu suporte a cada um desses ar!uip)lagos tomou a

configura$o de bacia urbana comandada por metrópole comercial vinculada ao

porto de exporta$o" Os fluxos estabelecidos dentro da rede foram mais densos' de

nature,a bidirecional' captando alimentos e recursos naturais para o exterior e

,

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distribuindo produtos manufaturados de consumo interno" 0ssas cidades cresceram

em importNncia e acabaram ganhando ainda a fun$o residencial' ao se transformar

em local de moradia da fam(lia e criadagem da oligar!uia rural enri!uecida

187:.0L' ;<FS4"

:esse novo modelo de combina$o em !ue o interesse de exporta$o se

voltou para a 9nglaterra' um importante ajuste foi transformar as unidades de

produ$o agr(cola em propriedade privada' ad!uiridas no mercado de compra e

venda' situa$o formali,ada pela Lei de @erras de ;FS3" @erminava assim o regime

de concess$o de terras da Coroa portuguesa' rompendo as antigas relaões de

vassalagem com a!uela metrópole"

2.- ti'idade manu(atureira incorporada na complexidade no sistema urbano e

a dicotomia urbano/rural

 :a segunda fase recessiva do sistema capitalista industrial 1;FR= a ;F<4'

foram as cidades comerciais brasileiras conectadas com o exterior' onde residia a

classe social maior consumidora de produtos importados da 9nglaterra e a fora de

trabalho de sua criadagemS' !ue se mostraram mais preparadas para incorporar as

experi*ncias inglesas da atividade manufatureira' propiciando assim o segundoprocesso de substitui$o de importaões 187:.0L' ;<F;4"

Com funões mais complexas a cidade administrativa' de conteIdo

comercial e manufatureiro foi se diferenciando do campo' configurando%se um

modelo espacial de cidade%campo do tipo dicot/mico e complementar" 7 integridade

econ/mica de cada Munic(pio se dava com base na complementaridade das funões

rural e urbano' sob o controle administrativo da cidade" Os territórios rurais

especiali,ados em recursos prim+rios 1alimentos e mat)rias%primas industriais4foram atribuindo novo conteIdo ao mundo rural' en!uanto o com)rcio' servios e

atividades manufatureiras definiam o conteIdo do urbano"

2.0 Complexidade dos (luxos de comerciali,ação no sistema industrial e a

expansão dos territórios a"r)colas no %rasil com suporte das cidades

:os pa(ses industriais' os modelos de organi,a$o territorial da primeira e

segunda 8evolu$o 9ndustrial' apoiaram%se no tradicional modelo monoc*ntrico de

cidade' como tamb)m no sistema de trocas da rede urbana sob os comandos da

metrópole' dotando essa rede de conteIdo industrial"

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Os fluxos bidirecionais' voltados & coleta de recursos prim+rios e distribui$o

dos produtos industriali,ados' ficaram mais complexos em variedade e densidade'

contribuindo para aprofundar a hierar!ui,a$o das cidades comerciais' em fun$o

do porte do e!uipamento de com)rcio e servios e de sua +rea de influ*ncia e

organi,ar a divis$o territorial de trabalho em escala regional' nacional e

internacional"

 7 mesma complexidade em variedade e densidade se transformou na marca

das cidades industriais' dotadas de uma estrutura constru(da dotada de maior

volume' impregnando na mente coletiva os modelos espaciais de nature,a

tridimensional"

:o Brasil' as demandas ampliadas do mercado externo' por ocasi$o da novaascens$o do capitalismo deflagrado pela -egunda 8evolu$o 9ndustrial no centro do

sistema 1;F< a ;<2;4 impulsionaram novas combinaões" #assou a se interiori,ar

no pa(s o padr$o territorial de unidades agr(colas especiali,adas' combinado a

novas relaões e fora de trabalho e &s novas tecnologias de transporte

incorporadas do sistema capitalista industrial 1ferrovia e navio a vapor4" 7

abundNncia de terras virgens e f)rteis e ainda relativamente va,ias incentivou o uso

rotativo dos solos como estrat)gia de barateamento dos custos de produ$o' namedida em !ue se podia cultivar sem utili,a$o de insumos 187:.0L' ;<F24" #ara a

reprodu$o desse padr$o contou%se com a iniciativa incentivada do empreendimento

privado e a experi*ncia de imigrantes agricultores europeus e japoneses na

constitui$o da fora de trabalho' estes atra(dos por rela$o de trabalho diferenciada

1colonato4R" ?oi o momento em !ue se iniciou o movimento da chamada 5marcha

para o oeste6' caracteri,ada nessa etapa pelo avano das 5franjas pioneiras do caf)6

1MO:B09.' ;<F4' modelo espelhado' em grande parte' na experi*ncia norte%americana"

Cidades foram dinami,adas e outras rapidamente constru(das de forma

planejada ao longo de ferrovias e junto a portos fluviais" 7l)m de fa,endeiros' elas

passaram a concentrar uma pe!uena burguesia de comerciantes e profissionais

liberais 1advogados' m)dicos e engenheiros4' estes !uase sempre de filhos de

fa,endeiros e formados nas metrópoles brasileiras ou no exterior 1-OD8' ;<RF4"

0mergiu nesse meio urbano uma mentalidade do tipo 5pr)%modernista6 nascida dos

contatos mais estreitos desses novos intelectuais da 5classe m)dia6 emergente com

as id)ias positivistas e liberais veiculadas na 0uropa 19dem' ;<RF4" :ovos usos'

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costumes e comportamentos considerados próprios do modo de viver urbano

1urbanidade4 foram adotados e formali,ados 1código de postura urbana4' ao mesmo

tempo em !ue as cidades passaram a ser embele,adas' espelhando%se na realidade

das cidades europ)ias" 0sse novo modo de viver urbano das cidades brasileiras'

refletindo a Modernidade europ)ia 1urbano%industrial4 fortaleceu o contraste na

representa$o espacial coletiva atribu(da & cidade e campo' ao se en!uadrar o

modo de viver do campo no mundo arcaico' aprofundando a dicotomia entre o rural

e o urbano"

2. ti'idade industrial incorporada na complexidade da metrópole comercial

brasileira

:a terceira fase depressiva do sistema capitalista industrial 1;<2;%;<F4' a

metrópole comercial paulista' vinculada ao porto de -antos e dinami,ada pela

economia cafeeira e local de moradia dos barões de caf)' os maiores consumidores

de produtos industriali,ados' apresentava o meio urbano com maior n(vel de

complexidade para incorporar a experi*ncia industrial dos pa(ses europeus" :ela se

concreti,ou' portanto' o terceiro processo brasileiro de substitui$o de importaões"

 V metrópole industrial paulistana passaram a se vincular os diversosar!uip)lagos territoriais de produ$o de economias de exporta$o' estruturados e

em fase de estrutura$o' segundo o mesmo padr$o anterior de redirecionamento

programado pelo 0stado de infra%estrutura de circula$o' excedente de trabalho e

recursos financeiros para as novas terras inexploradas ou pouco exploradas" 0ssa

articula$o deu%se por meio de uma rede de cidades comerciais mais cada ve, mais

unificada e hierar!ui,ada"

 7 constru$o do edif(cio industrial brasileiroF

' apoiado na rede de cidadescomerciais hierar!ui,adas continuou na !uarta fase de ascens$o do capitalismo

industrial 1;<F%;<R=4' incorporando de forma adaptada o modelo produtivo fordista

e dessa ve, para dinami,ar a produ$o para o com)rcio exterior 18angel' ;<FS4" 7s

obras de infra%estrutura de transporte e comunica$o' tanto no interior da cidade

como da rede urbana' materiali,aram%se sob forma de verdadeiros sistemas de

engenharia' viabili,ando maior fluide, nos processos de produ$o e circula$o

assim como do fortalecimento de nodalidades urbanas"

 7 cidade industrial' transformada em palco por excel*ncia da modernidade e do

progresso se contrap/s de forma mais contundente ao !ue entendiam ser o

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5arca(smo6 do campo' atraindo deste a fora de trabalho das atividades rurais'

mesmo considerando%a 5des!ualificada6 para as atividades urbanas" #or outro lado'

onde as cidades nodais' pólos de com)rcio e presta$o servios' estenderam suas

influ*ncias sobre espaos mais amplos' houve arrefecimento da complementaridade

entre cidade e campo na escala municipal' ampliando as relaões das cidades de

porte m)dio sobre os campos e dessas cidades entre si" 19dem' 23334"

2.1 3ó"ica industrial incorporada na produção a"r)cola brasileira

:a fase depressiva do !uarto ciclo do sistema capitalista' deflagrada com a

crise do petróleo 1;<R=4' na interpreta$o de .olberE 1;<F;4' os anteriores

ar!uip)lagos econ/micos do território brasileiro haviam se transformado empen(nsulas conectadas a seu centro dinNmico industrial" Como o Centro%Oeste e'

sobretudo' a 7ma,/nia ainda permanecessem relativamente isolados' foi nesse

sentido !ue o 0stado programou novos avanos do eixo de penetra$o e constru$o

de novos territórios agr(colas especiali,ados" 0ntretanto' mesmo pouco povoadas'

nessas regiões !uase j+ n$o havia terras f)rteis dispon(veis e' praticamente todas j+

estavam apropriadas" #or outro lado' o par!ue industrial brasileiro havia sido

ampliado e tinha atingido significativo grau de diversifica$o' com um contingenteconsider+vel de popula$o escolari,ada de alto n(vel e' portanto' com condiões

mais amadurecidas para incorporar conhecimentos t)cnicos e cient(ficos externos

187:.0L' ;<F24"

:esse novo modelo programado de 0stado procurou%se combinar o esto!ue de

conhecimentos agron/micos e de biotecnologia j+ acumulados nos órg$os de

pes!uisa do 0stado<  para tornar agr(colas terras antes n$o agricult+veis" 0sse

modelo rural baseado em conhecimentos t)cnicos e cient(ficos deveria serincorporador de ampla materialidade tecnológica' transformando as propriedades

agr(colas em consumidoras de produtos do ocioso par!ue industrial brasileiro;3' ao

mesmo tempo em !ue as exportaões da agricultura deveriam ajudar a e!uilibrar as

contas externas contra(das pela indIstria" Desse modo' a ra,$o instrumental foi

desdobrada da indIstria para as atividades agr(colas" #or estar baseado em

estrutura produtiva mais tecnificada' esse modelo dificultou o tradicional

engajamento de fora de trabalho na condi$o de pleno emprego' tanto da!uela

liberada das +reas rurais menos dinNmicas' como da!uela das terras moderni,adas"

O grande contingente de pessoas' liberado dos trabalhos do campo ou a ele

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vinculado apenas parte do ano' buscou abrigo nas periferias da cidade"

 :essa nova lógica de processo produtivo' a modernidade foi deixando de ser

exclusividade da cidade' en!uanto o mundo rural se fraturou em moderno e

tradicional e o campo deixou de ter exclusividade na moradia da popula$o agr(cola"

2.11 %rasil urbano e %rasil rural

-antos 1;<<=4 notificou nos anos F3' a exist*ncia de um Brasil de conteIdo

urbano e um Brasil de conteIdo agr(cola"

O Brasil de conteIdo urbano era dotado de maior capacidade produtiva na

indIstria e setor terci+rio' atividades concentradas' sobretudo' na metrópole

industrial e cidades m)dias" 7 unidade desse espao brasileiro se davaprincipalmente pelas relaões estabelecidas entre as cidades da rede' com fluxos de

maior densidade' o !ue explicava uma malha urbana mais integrada"

:o Brasil agr(cola' mais interiori,ado' as atividades agr(colas ) !ue

comandavam a vida econ/mica e social' inclusive das cidades" O autor preferiu

chamar esse espao brasileiro de agr(cola e n$o rural' pelo fato de boa parte da

fora de trabalho ocupado na agricultura j+ residir na cidade" -ua unidade' nesse

caso' amparava%se principalmente nas relaões econ/micas entre campo e cidade"O autor observou ainda uma fratura do o Brasil agr(cola emJ 13;4 5+reas

pioneiras6 nas !uais a moderna materialidade havia sido instalada em terras

anteriormente relativamente va,ias de densidade instrumental e de popula$oK 1324

5regiões deprimidas6 caracteri,adas por a!uelas economias mais antigas' onde a

moderna materialidade praticamente n$o tinha sido instalada" >aviam perdido o

dinamismo ou estavam fragilmente integradas & economia industrial"

2.12 4undo em rede e complexidade nos lu"ares

:a !uarta depress$o do capitalismo industrial' deflagrada com a crise do

petróleo 1;<R=4 foi colocado em che!ue no centro dinNmico do sistema' o sistema

fordista de produ$o 1>78G0A' ;<<24" 7 situa$o de mundo conectado em rede

criou uma nova condi$o de exist*ncia de nature,a sist*mica' na medida em !ue

favoreceu maior interdepend*ncia dos lugares e desses com o conjunto do sistema

planet+rio"

Os nexos estabelecidos no n(vel planet+rio por meio de transportes e

comunicaões cada ve, mais inovados possibilitaram maior mobilidade de

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informaões' mercadorias e pessoas entre diferentes lugares do mundo' como

tamb)m o encontro simultNneo de diferentes culturas nos distintos lugares

1-7:@O-' ;<<4" 7s redes de relacionamento tornaram%se mais adensadas'

diversificadas e' portanto' volumosas" 0ssas redes intrincadas passaram a ser

mantidas pelos lugares 1territórios vividos4 e foram nesses lugares !ue a maior

complexidade passou a se revelar"

O mundo em rede' desprovido de centro organi,ador' tornou%se um turbilh$o

em movimento 1MO89:' 23334' sob constante ameaa de entropia' ficando cada ve,

mais dependente dos ajustes entre sociedade e recursos dispon(veis' estabelecidos

no n(vel de cada micro escala territorial"

Como cada lugar da rede' como território vivido' se tornou local deconverg*ncia e coexist*ncia de uma pluralidade de indiv(duos de diversas origens

culturais' integrando%se por aões comunicativas e segundo novas regras de

conviv*ncia' nele passou%se a buscar as soluões para maior e!uil(brio

homeost+tico do planeta" :o entanto' a propaga$o das inovaões locais para

outras localidades e escalas do território e mesmo em n(vel planet+rio pode deflagrar

fen/menos de causa$o circular dif(ceis de serem previstos' implicando sempre em

novas combinaões diferenciadas"

$. 5o'as territorialidades na complexidade da cidade e do campo

 7 cidade' como principal espao de converg*ncia' tornou%se por excel*ncia' o

lugar de coexist*ncia da pluralidade e' por conseguinte da potencialidade' em

diferentes compet*ncias" 7 intensidade e densidade de fluxos espaciais de diversas

origens constituem teias vis(veis e invis(veis de organi,a$o !ue se justapõem'carregadas de ci*ncia' t)cnica e informa$o" Dessa densa e volumosa conectividade

e formas de interdepend*ncia' originaram%se novos tipos de centralidades e

territórios' superpondo%se & antiga estrutura monoc*ntrica de cidade" 7 cidade

cresce menos por extens$o em largura e altura e mais por multiplica$o de

territórios' podendo emergir cidades dentro de uma mesma cidade 1>78G0A' ;<<24'

como os condom(nios residenciais o v*m demonstrando" 0sses territórios' como

-ou,a 1;<<S4 bem os demonstrou na cidade do 8io de Taneiro' podem estar

superpostos' manifestando%se ao mesmo tempo ou em horas e dias diferentes e

ainda revelar distintas temporalidades" 0les se integram' se complementam' se

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conflitam' ou apenas convivem de forma paralela"

:esse esforo interativo' novas territorialidades organi,adas em rede de

coopera$o 1interatividade4 e colabora$o 1complementaridade4 emergem tamb)m

em meios mais complexos do campo pela a$o intencional de diferentes grupos de

interesse e de acordo com suas regras espec(ficas de conviv*ncia" 7 multiplicidade

de territórios funcionais de diferentes conteIdos 1rural e urbano4 e intenões' as

heterotopias de Michel ?oucault' dilui a anterior fronteira de oposi$o entre cidade e

campo" O modelo mental abstra(do dessa nova ordem em estrutura e movimento

!ue emerge nos lugares ) a do 5espao relacional6' a!uele !ue cont)m dentro de si

mesmo a rela$o com outros espaos de relaões"

#róprio dos sistemas complexos' os novos territórios constituem fen/menosemergentes" 0les nascem espontaneamente' de diferentes formas de intera$o

social' por especificidades de interesse e capacidade organi,ativa" Como a

emerg*ncia de novas territorialidades n$o ) um fen/meno linear e ocorre de forma

paralela e descont(nua &s j+ existentes' algumas formas de territorialidade

remanescente do modelo anterior podem' inclusive' lhes criar resist*ncia' ou com

elas se integrar" Determinados indiv(duos ou segmentos sociais tamb)m podem

conviver nos interst(cios dessas redes territoriais 1mendigos' os 5fora de lei6' hippies'entre outros4' sem dela participar' exclu(dos das malhas sociais ou avesso &s regras

nelas estabelecidas" #ortanto' nesses ambientes complexos' conforme afirma Morin

1;<<F4 brotam continuamente foras de ordem' de organi,a$o e desordem"

 7s interaões e retroaões poss(veis s$o incontrol+veis' podendo ser indu,idas

por determinados indiv(duos ou grupos como novas combinaões' mas n$o podem

ser dedu,idas logicamente' pois s$o regidas pela lei do acaso" 0ntretanto nesse

processo de combina$o dialógica' inexiste tend*ncia de homogenei,a$o" 7sunidades se mant*m' revelando suas distintas estrat)gias de vida e podem ser mais

bem compreendidas' !uando inseridas no contexto de onde emergiu' de nature,a

rural como urbana"

:os meios rurais mais tradicionais e de menor complexidade e materialidade

instalada a possibilidade de emerg*ncia de novas territorialidades tende a ser

menor' o !ue n$o significa !ue esses territórios n$o possam interagir com os meios

mais complexos" 0ssa intera$o ocorre principalmente !uando o modo de vida' as

atividades econ/micas ou a paisagem desse meio rural s$o percebidos como

atributos potenciais de interesse de alguns grupos ou da sociedade" Um produto

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diferenciado' uma forma de produ,ir ou um meio apropriado pode despertar

interesses" 7ssim' a vida bucólica e o contato com a nature,a pode significar

!ualidade de vida' criando oportunidade para locais estruturados de consumo com

diversas finalidades % residencial' de la,er' saIde' ensino e outros usos" 0lementos

e cen+rios da memória cultural e da paisagem natural podem ser atribu(dos de valor

simbólico e patrimonial' afirmando identidades diante das tend*ncias

homogenei,antes da globali,a$o' ou maior segurana diante de ameaas de

destrui$o ambiental" 0ntretanto' as condiões de isolamento e baixa densidade

f(sica e relacional desses territórios podem limitar as respostas criativas de seus

grupos sociais locais a novas formas de ajustamento e ficarem submetidos a

comandos externos"

&. Territorialidades nascidas da interação a"roind6stria e a"ricultura

(amiliar em 4ato 7rosso do 8ul: um exemplo11

O Gale do 8io 9vinhema' situado no sudeste de Mato .rosso do -ul e limite

com #aran+' por estar na faixa fronteiria Brasil%#araguai' foi objeto da pol(tica de

coloni,a$o agr+ria' no governo Gargas' da !ual remanesceram pe!uenaspropriedades familiares policultoras !ue abastecem um conjunto de pe!uenas

cidades%sede ali existentes;2' cujas atividades b+sicas tamb)m gravitam em torno da

agricultura" 0sse território permaneceu por longo tempo' em uma situa$o perif)rica

e marginali,ada em rela$o ao centro industriali,ado do pa(s"

 7 crescente demanda nacional e internacional do amido como mat)ria%prima

industrial estrat)gica' a partir da metade dos anos <3' ao valori,ar a mandioca como

fonte de amido in natura  1f)cula4 incentivou o surgimento de fecularias comoiniciativa dos tradicionais produtores locais de farinha%de%mandioca" 7 estrutura$o

desse arranjo econ/mico acabou atraindo' no final da mesma d)cada' empresas

agroindustriais mais experientes do importante pólo feculeiro do vi,inho estado do

#aran+" Como a rai, n$o preserva as propriedades exigidas' !uando estocada fora

da terra por mais de F horas' a expans$o paranaense deu%se pela a!uisi$o de

unidades industriais existentes e pela implanta$o de unidades novas junto das

+reas produtoras"  0m 2332' havia no local F unidades industriais feculeiras apoiadas num

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potencial de fornecimento de rai, de mandioca de cerca de = mil produtores'

atingindo os 3< Munic(pios do Gale do 8io 9vinhema" 7s unidades agroindustriais

locali,aram%se nos pontos de maior acessibilidade &s +reas de cultivo' indiferente se

dentro ou fora do per(metro urbano" 9nspirada num modelo fordista de produ$o'

cada unidade agroindustrial altamente mecani,ada passou a atuar de forma isolada

e concorrente' adotando como estrat)gia de lucro a redu$o de custos dos

processos produtivos com a media$o de instrumentos tecnológicos"

O arranjo produtivo feculeiro do Gale do 8io 9vinhema tomou a forma de um

conjunto de territórios econ/micos isolados organi,ados por cada unidade

agroindustrial" 0ram configurados pela rede de relaões estabelecidas entre

fecularia e fornecedores de rai, de mandioca" 7 +rea de influ*ncia de cada territóriofoi estabelecida com base no nImero de propriedades agr(colas proporcional &

capacidade produtiva da unidade agroindustrial instalada"

 7s propriedades dos agricultores familiares encontravam%se estruturadas em

unidades maiores' as glebas rurais' modelo remanescente da antiga +rea de

coloni,a$o" P preciso lembrar !ue essas glebas tamb)m constitu(am o lugar de

viv*ncia dessas fam(lias" 7 aglomera$o das resid*ncias na gleba favoreceu a

sociabilidade dessas fam(lias de agricultores' possibilitando !ue emergisse o esp(ritoassociativo e o sentimento de pertena ao grupo social e ao lugar"

Como a maior propor$o de amido por rai, de mandioca' significasse

barateamento de custo da mat)ria%prima' as agroindIstrias feculeiras indu,iram os

agricultores a inovarem o processo produtivo baseado na ra,$o instrumental' pelo

processo de compra" :a negocia$o entre feculeiro e agricultor' no lugar da

!uantidade em pesorai, de mandioca' a remunera$o passou a ser feita em

pesof)cula obtido da rai,"Os agricultores interessados organi,aram%se para se beneficiar da pol(tica de

cr)dito do #8O:7?' junto aos Conselhos Municipais de Desenvolvimento 8ural ;= 

visando a a!uisi$o compartilhada de ma!uin+rios e e!uipamentos agr(colas" 7o

mesmo tempo' com apoio de instituiões locais de pes!uisa e extens$o ;' buscaram

aprender a fa,er seu uso racional dos mesmos"

Como a aglomera$o das moradias familiares por gleba favorecesse maior

densidade comunicacional' o di+logo das instituiões com os produtores foi se

dando num processo interativo de aprendi,agem" 7ssim' os novos conhecimentos

puderam ser melhor absorvidos e propagados por elos de vi,inhana dentro das

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glebas" #or outro lado' essas comunidades vinham vivenciando o aprendi,ado

coletivo desde o in(cio de sua constitui$o;S" @amb)m o esp(rito associativo dos

agricultores familiares teve importante peso nesse processo" #or meio da cria$o de

uma cooperativa e uso compartilhado dos e!uipamentos' foi poss(vel a a!uisi$o

desses instrumentos de media$o no processo produtivo' mesmo da!ueles mais

custosos' cujo porte n$o se justificava para uma pe!uena propriedade" 0m pouco

mais de cinco anos' esses agricultores substitu(ram a pr+tica agr(cola da enxada por

a!uela de uso mais intensivo de tecnologia instrumental' com procedimentos

sistemati,ados' alcanando os n(veis mais altos de produtividade de mandioca no

mundo" @amb)m no Nmbito do Brasil' os produtores do Gale do 8io 9vinhema

ganharam desta!ue na produtividade de rai, de mandioca por hectare e de f)culapor rai,"

 7 varia$o dos preos da rai, de mandioca no mercado de procura e oferta

local' ao afetar os custos produtivos de ambos transformou%se no principal objeto de

conflito entre fecularia e produtor agr(cola" :a dificuldade do pacto e busca de maior

autonomia no momento da negocia$o' tanto feculeiros como agricultores passaram

a se descolar do território de fornecimento pr)%estabelecido pela indIstria' para

negociar o produto" 0mbora ampliasse os custos de transporte' esse procedimentofoi era utili,ado como estrat)gia de barganha sobre os preos" 0ntretanto' esses

procedimentos n$o condu,iram &s respostas necess+rias" Os resultados mais

aceit+veis em termos de estrat)gias comuns de estabili,a$o de preos resultaram'

sobretudo' de constantes tentativas de di+logo"

 7 nature,a policultora das fam(lias fornecedoras de rai, de mandioca tamb)m

tem sido estrat)gica na resist*ncia &s contra%racionalidades das aões das

indIstrias feculeiras" 7 inser$o dessas propriedades em outras redes econ/micas'conformando arranjos produtivos de diferentes nature,as 1mandioca' leite' soja'

milho4' lhes abre possibilidade para mercados de outros produtos" Como a

produtividade de mandioca' incentivada por pol(ticas pIblicasW' tivesse sido

alcanada' resultando em produ$o superior & estabelecida para o atendimento das

agroindIstrias' o movimento vem se dando no sentido de pol(ticas pIblicas de

inser$o da mandioca no mercado"

*. Consideraç9es (inais

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 7 concep$o de rural e urbano' como se p/de depreender' nasceu e sofreu

mudanas ao longo do processo construtivo do ser humano como sujeito individual e

coletivo' por meio da apropria$o territorial" -oluões estrat)gicas foram sendo

adotadas na obten$o de meios relativamente est+veis e na maior autonomia em

rela$o a eles" :esse processo construtivo do sujeito individual e coletivo' realidade

estruturada e modelo mental correspondente impregnado na cultura' v*m

interagindo num circuito gerador regenerador' no !ual a produ$o produ, o produto

!ue a produ, e a reprodu,"

0m condiões dadas em diferentes tempos e lugares' o aprofundamento das

relaões dos homens e sociedades entre si e com seus territórios na proposi$o

criativa de novas combinaões' realimentadas de modelos de cultura herdada' foiaprofundando a complexidade dessas combinaões em amplitude e densidade'

atingindo a escala planet+ria"

O fluir e o adensamento das trocas e comunicaões' como se p/de apreciar'

foram fundamentais no processo de identifica$o e conex$o dos diferentes

territórios' dotando%os de maior complexidade" 7o mesmo tempo em !ue a

identifica$o levou & diferencia$o dos lugares' revelando a dicotomia entre rural e

urbano' tamb)m favoreceu o reconhecimento do valor e complementaridade entreeles" Desse modo' a busca de autonomia social deixou de se limitar ao saber

constru(do apenas em seu 5espao absoluto6 como território isolado' para a!uele

saber constru(do com ajuda de trocas interativas mais amplas' portanto' baseado na

5autonomia relativa6"

Constru(da pela conscienti,a$o do valor relativo dos espaos' em !ue o 5nós6

estabelece comunica$o com os 5outros6 e usufrui de seu saber' a busca da

5autonomia relativa6 ampliou as possibilidades de respostas ao ser humano no seulugar de vida" O Brasil foi um bom exemplo da apropria$o territorial com base na

5autonomia relativa6' ao incorporar modelos abstra(dos da memória de realidades

vivenciadas externamente' num momento em !ue ele era concebido como o 5mundo

rural6 da metrópole portuguesa" 0ssa pr+tica de aprender com o 5outro6 continuou

em rela$o & 9nglaterra e 0stados Unidos' especialmente pelo processo de

substitui$o de importaões" @amb)m fi,eram parte das estrat)gias inovadoras do

mundo rural brasileiro' modelos incorporados da complexidade do meio urbano"

0ntretanto' a complexidade dos lugares' condicionada pelo mundo em rede' foi

intensificada" :ela' o 5eu6' o 5nós6 e os 5outros6 puderam se encontrar e interagir no

+

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mesmo território' multiplicando territórios em menor escala" 7ssim' a converg*ncia

da heterogeneidade de temporalidades no território vivido transformou%se em

potencialidade para a autonomi,a$o" 7 constru$o do sujeito individual e coletivo

passou a depender cada ve, mais da rela$o dialógica com os 5outros6 no cotidiano

vivido' portanto da 5autonomia relacional6"

 7 intera$o dialógica na constru$o de meios relativamente est+veis envolve

tanto coopera$o como conflito' mas a maior ou menor autonomia vai depender

efetivamente' da capacidade de fa,er escolhas e construir estrat)gias de

apropria$o como fruto da a$o comunicativa" :esse processo' a combina$o entre

os diferentes e opostos se d+ no sentido da integra$o' portanto' na supera$o do

anterior processo de fragmenta$o por diferencia$o" 7ssim' a dicotomia urbana erural vai sendo substitu(da pela maior combina$o entre o rural e o urbano"

:o exemplo das territorialidades constru(das no Gale do 8io 9vinhema' ocorreu'

ao mesmo tempo' uma combina$o em rede' por complementaridade funcional entre

atores de territórios e mundos distintos 1rural e urbano4 e' por outro lado' uma

combina$o por coopera$o entre os agricultores familiares em seus territórios de

vida' sob regras diferenciadas de conviv*ncia"

 7mpliaram%se as relaões entre indIstria e agricultura' indu,idos pela demandade um mercado externo exigente" :o atendimento ao mercado industrial'

agroindIstria e agricultores familiares foram movidos pela mesma racionalidade e

interesses comunsJ a produ$o do amido" :esse processo de combina$o' as

propriedades agr(colas criaram novas estrat)gias produtivas' incorporando princ(pios

da lógica industrial de nature,a mais complexa" Mesmo !ue cada unidade produtiva

tenha sofrido perturba$o pelo processo de combina$o' nenhuma das duas perdeu

sua integridade anterior"

Re(erncias:

C7#87' ?" O ponto de mutação: a ciência, a sociedade e a cultura emergente " -$o #auloJ Cultrix';<F2"

C>OLL0A' 7ndr)" Observaões sobre alguns pontos de vista geogr+fico" 9n Boletim Geográfico 1;R<4'p" ;3%;S' ;<"

CO8807' 8oberto Lobato" Corpora$o e 0spaoJ uma nota" 9n 8evista Brasileira de .eografia S= 1;4'

 jan"mar" ;<<;"COUL7:.0-' ?ustel de" A cidade antiga. -$o #auloJ Martins ?ontes' 2333"

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D97-' Leila C" 8edesJ emerg*ncia e organi,a$o" 9n .eografiaK temas e conceitos"org" 9n+ 0lias deCastro e outros" -"#auloJ BertrandBrasil' ;<<S"

0L97D0' Mircea" O Sagrado e o Profano" LisboaJ 0d" Livros do Brasil' sd"?088XO' To$o" elaç!es entre mundo rural e mundo ur"ano: e#olução hist$rica, situação actual e

 pistas para o futuro. 9n 0U80 1-antiago4 v"2 n"RF -antiago set" 2333"

>78G0A' David" A %ondição P$s&'oderna" -"#auloJ 0d" LoEola' ;<<2"

YOLL80U@08' >ans T" (ntrodução a uma )st*tica elati#ista do (mpreciso e do Parado+al " -"#auloJ9nstituto de 0studos 7vanados da U-# 1apostila in)dita4' ;<FR"

L0 BOU8L0.7@' Cleonice 7" Princpios de organi-ação e desempenho de um modelo econmicoagroindustrial emergente no %entro&Oeste: o caso do arran/o produti#o local da f*cula de mandioca.9n 0strat)gias para o desenvolvimento" >elena M"M" Lastres e Tos) 0" Cassiolato 1orgs4" 8io deTaneiroJ 0%#apers' 233' p" 2<%F"

L0GA' #ierre" (nteligência coleti#a. -$o #auloJ LoEola' 2333"

L0GA' #ierre" Apreender em um mundo comple+o. 9n Tornal ?olha de -$o #aulo' de 2< de fevereirode 233"

MO:B09.' #ierre" Pioneiros e fa-endeiros de São Paulo. -$o #auloJ >ucitec%#olis' ;<F"

MO89:' 0dgar"%omple+idade e transdisciplinaridade. :atalJ 0DU?8:' 2333"

MO89:' 0dgar" Os setes sa"eres necessários 0 educação do futuro. -$o #auloJ Corte," Bras(liaJU:0-CO' 2333"

MO89:' 0dgar" Anthropologie de la 1i"ert*. 9n .87-C0 0ntre -Est)mi!ue et Complexit)" Chemin?aisant M)canges. #arisJ #resses Universitaires de ?rance' ;<<<' p" ;SR%;R3"

MO89:' 0dgar" %omple+idade e li"erdade. 9n @hot' 7ssocia$o #alas 7thena' -$o #aulo 1R4';<<F' p" ;2%;<"

:OG79-' ?ernando 7 " Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial 2344&35657.  -$o #auloJ>ucitec' ;<<S"

87??0-@9:' Claude" Por uma Geografia do poder " -$o #auloJ Qtica' ;<<="

87:.0L' 9gn+cio de M" O 8ondratie# e o 9uglar " 9n .eosul' S 1;34J p" ;;S%;;<' ;<<;"

87:.0L' 9gn+cio de M" )conomia: milagre e anti&milagre" 8io de TaneiroJ ahar' ;<FS"

87:.0L' 9gn+cio de M" %iclo, ecnologia e %rescimento. -"#auloJ Civili,a$o Brasileira' ;<F2"

87:.0L' 9gn+cio de M" Prefácio" 9nJ 7LD7:7' 8amón Losada" Dial)tica del -ubdesarrollo .  8io deTaneiroJ #a, e @erra' p";%;;' ;<F"

87:.0L' 9gn+cio de M" %aractersticas e Perspecti#as da (ntegração das )conomias egionais" 9n8evista do B:D0. S 124J p"=%R;"' jul%de,"';<F"

-7:@O-' Milton" 7 nature,a do espao % t)cnica e tempo' ra,$o e emo$o" -$o #auloJ >ucitec';<<"

-7:@O-' Milton" 7 Urbani,a$o Brasileira" -$o #auloJ >ucitec' ;<<="-C>UM#0@08' T" 7" 7 teoria do desenvolvimento econ/mico" -$o #auloJ 7bril Cultural 1Cole$o Oseconomistas4' ;<F2"

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-OU7' M" T" L" de" O territórioJ sobre espao e poder' autonomia e desenvolvimento" 9nJ Castro' 9" etal 1org"4".eografiaJ conceitos e temas" 8io de TaneiroJ Bertrand Brasil' ;<<S"G09.7' Tos) 0li" 7 atualidade da contradi$o urbano%rural"9n 9:J 7n+lise @erritorial da Bahia 8ural'-)rie 0studos e #es!uisas n" 1R;4' p" ;%2;"

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1 2sse termo !em de “a)tarcia" :)e significa s)fici;ncia econ<mica/

+ =il>rio *ranco ?r @1,,8A aponta entre os sintomas de !)lnerabilidade social# os s)rtos de epidemia# como da !arola e peste b)b<nica# :)e cond)Ciram D b)sca de no!as terras de menor adensamento pop)lacional/

5 2ssa faCenda# alEm do gado# c)lti!a!a cana-de-aç(car# mandioca# feijFo# cereais# cafE e algodFo# cegando a contar

com cerca de 8 escra!os/ Nesse perodo o contingente de gado a)mento) deC !eCes e a faCenda tambEm passo) a

 prod)Cir rapad)ra# aç(car br)to e ag)ardente# tecidos r(sticos em rocas e teares domEsticos/ HlEm disso# nelaemergiram seleiros# forjadores# alfaiates# carpinteiros/ Iina de fora da faCenda apenas o sal# ferramentas# bebidas etecidos finos/ Hbasteciam grat)itamente o forte &oimbra# com a fart)ra de excedentes @IH4I2%2# 1,.+A/

6  S)bstit)i) as antigas relaçes escra!istas por a:)elas de arrendamento e parceria @)tiliCadas no sistema fe)dal

e)rope)A/ B)sco)-se nesse modelo de prod)çFo familiar# )ma forma de reprod)çFo da força de trabalo# j> :)e no

escra!ismo# a famlia tina s)a estr)t)ra rompida para o processo reprod)ti!o @%HNG24# 1,9+ A/

7 *oi com a força de trabalo dessa criadagem dos oligarcas r)rais :)e foi poss!el organiCar o processo prod)ti!o das

man)fat)ras )rbanas @%HNG24# 1,97A/8 NFo se pode es:)ecer :)e grande parte das terras eram territórios indgenas# constr)dos sob )ma lógica diferenciada

do coloniCador branco/ Nesse contexto# essas pop)laçes nFo tinam !isibilidade# nem sendo contabiliCadas nos censos/

.

 Se a!ia ab)ndJncia de terras# por o)tro lado# a força de trabalo nFo se encontra!a facilmente dispon!el# no final dasrelaçes escra!istas/ 3elo colonato# alEm do sal>rio e casa para morar# era permitido ao imigrante o c)lti!o intercalar#

com a !enda de excedentes# fa!orecendo a ac)m)laçFo e ascensFo D condiçFo de pe:)eno propriet>rio/

9 H propagaçFo da ino!açFo pela prod)çFo ind)strial brasileiro# conforme %angel @1,9+A foi se desdobrando a diferentesramos da economia# de forma escalonada e cclica @ciclos decenais de ascensFo e depressFoA/,  Um dos órgFos de pes:)isa de desta:)e nesse sentido foi a 2mpresa Brasileira de 3es:)isa Hgropec)>ria@2$B%H3HA e a extinta 2mpresa de 3es:)isa# Hssist;ncia e 2xtensFo %)ral @2$3H2%A/

1 H agric)lt)ra passo) a absor!er a prod)çFo de ins)mos agrcolas modernos @ind(stria :)micaA# de m>:)inas e

e:)ipamentos agrcolas# de e:)ipamentos de armaCenagem e conser!açFo de bens agrcolas/11

 H sntese apresentada te!e como base os res)ltados de )m projeto de pes:)isa exec)tado pela a)tora entre

+5 e +7 nessa >rea# intit)lado “Hrranjo 3rod)ti!o 4ocal da $andioca no S)deste de $ato Grosso do S)l"# noJmbito da %ede de 3es:)isa sobre Sistemas 3rod)ti!os 'no!ati!os 4ocais# com sede no 'nstit)to de 2conomia da

Uni!ersidade *ederal do %io de ?aneiro/ $aiores detales sobre os res)ltados do projeto estFo na p)blicaçFo da a)tora

citada nas refer;ncias/

1+ SFo cidades-sede de , $)nicpiosK '!inema# Glória de o)rados# eod>polis# No!a Hndradina# BataiporF# No!o

=oriConte do S)l# ?ate# HngElica# Ta:)ar)ss)/152sses conselos m)nicipais s)rgiram em resposta D poltica nacional de desen!ol!imento do $inistErio do

esen!ol!imento Hgr>rio/ 3or meio deles e no Jmbito do 3rograma Nacional de *ortalecimento da Hgric)lt)ra*amiliar @3%LNH*A# o 2stado transfere rec)rsos aos $)nicpios# !isando o a)mento da prod)çFo agrcola# a geraçFo de

oc)paçes prod)ti!as# a meloria de renda e da :)alidade de !ida dos agric)ltores familiares/ Ls rec)rsos sFo pre!istos para assist;ncia tEcnica e extensFo r)ral# infra-estr)t)ra e ser!iços e projetos de pes:)isa agropec)>ria/

16  2sti!eram en!ol!idas !>rias instit)içes# mas com desta:)e D 2mpresa Brasileira de 3es:)isa Hgropec)>ria@2$B%H3HA# a instit)içFo estad)al remanescente da antiga 2mpaer/ Hs artic)laçes entre as instit)içes de pes:)isa eextensFo foram realiCadas partic)larmente pelo Ser!iço de Hpoio Ds $icro e 3e:)enas 2mpresas @SebraeA/

17 L processo de coloniCaçFo r)ral tina sido promo!ido pelo 2stado com apoio de empresas pri!adas/ H empresa

coloniCadora desses $)nicpios tina sido a (ltima a se inserir no processo# sendo dela exigidas m)danças em relaçFoao modelo anterior# diante de alg)ns de se)s ins)cessos/ HlEm de implantar obras de infra-estr)t)ra e acesso dos

agric)ltores ao mercado local e regional# a coloniCadora acompano) o empreendimento# respondendo pela capacitaçFoe monitoramento tEcnico dos assentados# em termos de procedimentos tecnológicos/