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8

REQUALIFICAO DA ARQUITETURA INDUSTRIAL: UMA OPO URBANSTICA.

Jussara Camargo de Arajo *Sarah Bittencourt*

Resumo

O patrimnio industrial durante anos foi descartado no Brasil quanto ao seu valor arquitetnico e histrico, sua relevncia para a histria da arquitetura ganhou espao h poucos anos, embora reconhecido oficialmente haja trinta e seis anos. O valor destes edifcios e suas potencialidades so ignorados tanto pelo poder pblico, como pelos proprietrios dos mesmos, fato que proporciona desperdcios destas estruturas enormes e, geralmente, localizadas em reas centrais, onde a populao carece de espaos pblicos e residenciais.

Palavras-chave: Patrimnio industrial, requalificao, preservao.

Abstract

The industrial heritage for years was discarded in Brazil on its architectural and historical value, its relevance to the history of architecture gained ground a few years ago, although officially recognized for thirty-six years. The value of these buildings and their potential is ignored by the public authorities, as owners of the same, a fact that provides great waste of these huge structures and usually located in central areas, where the population lacks public and residential spaces.

Keywords: Industrial Heritage, redevelopment, preservation.

* Acadmica do curso de Arquitetura e Urbanismo do UNAR.* Professora Orientadora do Artigo. Introduo

O processo de preservao do patrimnio no Brasil, em si, constitui um problema tanto para os proprietrios como para os rgos responsveis, posto que, ambas as partes encontram dificuldades para estabelecer um consenso, um objetivo comum quase inatingvel nesses casos. Os rgos responsveis procuram normatizar e impor condies aos proprietrios de edifcios tombados, estes, por sua vez, sentem-se "engessados" diante de tantas regras e consideram um desperdcio investir na restaurao e na preservao.

O processo bem semelhante com edifcios ou reas industriais, porm, com uma experincia menor no mbito industrial, os rgos reguladores no tem uma prerrogativa especfica, ento adotam uma postura mais genrica, sendo, mais flexvel quanto s regras. Este fato deveria proporcionar maior interesse por parte dos proprietrios e governantes em preservar esses edifcios, mas, no entanto, no o que ocorre, pois, trata-se, quase sempre, de reas grandes, onde os custos podem ser estratosfricos.

As reas industriais abandonadas esto, na maioria das vezes, localizadas em reas centrais, bem servidas de urbanizao, como vias, iluminao pblica, saneamento e abastecimento de gua. Este fato torna os terrenos bastante cobiados pela especulao imobiliria, que visa obter lucros, mesmo que seja destruindo os vestgios do passado, atravs da edificao de novos conjuntos residenciais, segregados da cidade, enclausurados em muros e grades.

Os edifcios, devido sua vocao funcional, so de grande porte, o que favorece a sua requalificao como espaos voltados para a comunidade, destinados ao uso coletivo e pblico, dentro dos quais a memria do passado pode ser preservada e repassada s novas geraes. Constituem uma excelente sada para o poder pblico solucionar a carncia de espaos de lazer e cultura nas cidades. As diretrizes de interveno e o levantamento histrico

A noo de valorizao do patrimnio industrial bastante recente no Brasil, embora o reconhecimento oficial j conte alguns anos, como explica Dezen-Kempter (2007), foi reconhecido institucionalmente em 1978 com a criao do Comit Internacional para Conservao do Patrimnio Industrial, durante o 3 Congresso Internacional para a Conservao dos Monumentos Industriais em Estocolmo. O estudo do Patrimnio Industrial tem carter multidisciplinar, abordando outras reas de investigao no domnio da histria, adotando-se ideias e mtodos de uma arqueologia que compreende os aspectos da sociedade industrial, denominada de Arqueologia Industrial.

A regulamentao ainda incipiente no consegue apreender todos os casos que podem surgir de forma concisa e coesa, com expe Khl (1998), ainda falta "unificao de conceitos e de definies em relao ao patrimnio industrial para torn-lo um campo mais operacional". No entanto necessrio cuidado para no "impor limites rgidos a algo que novo e dinmico". Os debates que levantam sobre o termo arqueologia industrial, ainda sem uma definio propriamente acordada entre todos os especialista e os governos, comprovam a "juventude" do tema, que mesmo aps trs dcadas de prtica, uma disciplina em amadurecimento. O processo de industrializao, e sua compreenso, considerado de muita importncia, no somente para os profissionais ligados ao tema, mas para a sociedade em geral:A compreenso da operao interna e das ramificaes sociais desse processo (industrializao) deveria fazer parte da educao de qualquer cidado do mundo moderno e, ao estudar os vestgios fsicos do processo, a arqueologia industrial est dando uma contribuio potencialmente vlida para o nosso entendimento dele. BUCHANAM apud KIL (1998, p 231). Angus Buchanam, Industrial Archeology in Britain, apud Khl, Beatriz Mugayar, Arquitetura do Ferro e Arquitetura Ferroviria: reflexes sobre a sua preservao, p.231

A tarefa de levantamento histrico de um exemplar do patrimnio industrial no Brasil tem sido bastante rdua, devido ausncia de registros dos projetos arquitetnicos e de uma documentao histrica catalogada, em muitas situaes, apenas se recorre ao relato de pessoas ligadas ao edifcio por laos funcionais ou afetivos, bem como a anlise do espao in loco. ...analisar, selecionar, preservar e restaurar exemplares do patrimnio industrial assim identificados so aes que, indubitavelmente, pressupem o reconhecimento de diversas especificidades a serem valoradas, como a questo da escala, a relao direta com sistemas produtivos especficos e complexos, a associao inequvoca desses edifcios e espaos com o entorno imediato, com populaes tradicionais, com sistemas de transporte e energia, etc. RUFINONI (2009, p.65)Os edifcios industriais marcam a paisagem por sua imponncia, geralmente trata-se de grandes construes, que ocupam quarteires inteiros e influenciam na paisagem urbana, segundo Khl (1998), Trabalhar com edifcios e complexos industriais significa em geral atuar em reas grandes, na maioria das vezes obsoletas e decadentes, que s podero ser reinseridas numa nova realidade agindo em escala mais ampla - atravs de intervenes articuladas em bairros, cidades, ou mesmo, em situaes crticas de decadncia de vastas reas, numa regio - como nico meio de viabilizar a preservao. Esses edifcios geralmente adquirem um lugar na memria afetiva da populao, sua subtrao abrupta deixa um vazio fsico e emocional. Mas, no entanto, a demolio o caminho mais comum encontrado para solucionar o problema de um grande edifcio vazio, principalmente quando localizado em reas centrais degradadas. Segundo Dezen-Kempter (2007), devido a sua escala e localizao um patrimnio muito ameaado de destruio, assim, tornam-se prementes novas formas de tutela, gesto e manejo destes espaos, onde polticas de ordenao urbana enfatizem a recuperao de reas industriais obsoletas, criando condies favorveis para a recentralizao de funes urbanas modernas, aumentando consideravelmente o atrativo destes lugares.

Atuar em reas dessa natureza, portanto, ao que demanda um grande esforo interpretativo, e criteriosas escolhas projetuais. Cabe ressaltar, ainda, que a situao de obsolescncia e abandono a que muitos exemplares desse patrimnio esto submetidos agrega ao debate uma srie de questes a considerar. Em muitos contextos, a necessidade de intervir e recuperar reas industriais desativadas, para reintegr-las dinmica urbana contempornea, premente; situao que, equivocadamente, pode levar a transcurar a necessidade de um aprofundado estudo prvio dessas estruturas, a favor de medidas de reabilitao pautadas pela insero macia de novos usos, nem sempre compatveis com a apreenso das especificidades acima elencadas (RUFINONI, 2009, p.65)Todo o processo de restauro ou revitalizao necessita de regulamentao especfica, para o patrimnio existem as cartas patrimoniais, que estabelecem diretrizes para o processo. Quanto ao patrimnio industrial, segundo Dezen-Kempter (2007), no ano de 2003 na XII Conferncia Internacional do TICCHI The International Committee for the Conservation of the Industrial Heritage em Nizhny Tagil, na Rssia, os delegados do Comit aprovaram a Carta para o Patrimnio Industrial. Esta Carta segue os princpios das importantes Cartas anteriores, como a Carta de Veneza (1964) e a Carta de Burra (1994), assim como a Recomendao R20 (1990) do Conselho da Europa.

[...] v. adaptar e continuar a utilizar edifcios industriais evita o desperdcio de energia e contribui para o desenvolvimento econmico sustentado. O patrimnio industrial pode desempenhar um papel importante na regenerao econmica de regies deprimidas ou em declnio. A continuidade que esta reutilizao implica pode proporcionar um equilbrio psicolgico para as comunidades confrontadas com a perda sbita de empregos duradouros (Carta de Nizhny Tagil, 2003).

A busca pela proteo de um bem do patrimnio industrial precisa de determinada rapidez para evitar que interesses econmicos interfiram no processo. Segundo Dezen-Kempter (2010), tratando-se de medidas de proteo do patrimnio industrial, a exigncia de maior agilidade em todo o processo encontra dificuldades no que se refere implantao e implementao dos meios necessrios para tanto, pois o tempo real de elaborao de inventrios, de tramitao dos instrumentos de proteo e de sua promulgao supera muitas vezes a destreza das operaes especulativas do mercado imobilirio e da prpria dinmica urbana, criando contradies para todo o trajeto de conservao da identidade e do carter que a indstria imprimiu de maneira inconfundvel em determinadas reas, cidades e regies.

A obsolescncia dos edifcios industriais acontece quando os bens de consumo ali produzidos perdem espao no mercado, ou so mais valorizados em outros locais, tornando o transporte muito oneroso. Segundo Dezen-Kempter (2010) para podermos compreender melhor o lugar do patrimnio legado pela indstria na cidade atual precisamos recuar at o momento em que esses espaos perderam a sua importncia na dinmica urbana em funo das transformaes dos meios de produo e de distribuio de mercadorias, que conduziram ao deslocamento das funes produtivas para outras reas, promovendo o abandono de grandes setores do tecido urbano consolidado. Ao mesmo tempo, o esvaziamento funcional gerou reas disponveis, cheias de expectativas e de forte memria urbana.

O difcil processoOs edifcios industriais tem a funo como premissa em sua arquitetura, mas o perodo em que foi edificado e sua influncia sobre o mercado construtor na poca pode resultar em um belo exemplar arquitetnico. Segundo Dezen-Kempter (2010), a arquitetura constitui o espao fsico da cidade, e necessrio entend-la em seu desenvolvimento histrico, no qual interagem, no decorrer do tempo, diversos autores. preciso considerar ainda que ela adquire atributos sociais e culturais diversificados conforme os diferentes perodos.

O patrimnio industrial possui uma histria que vai alm da simples presena fsica do edifcio no terreno, foi um vetor da economia do lugar, empregou diversas pessoas, fez parte da vida de diversas famlias. Segundo Dezen-Kempter, (2010), aqui poderiam ser abertos parnteses para focalizar a preservao do patrimnio industrial, decorrente da prpria ampliao do conceito de patrimnio histrico para cultural. Tanto em So Paulo quanto no Rio de Janeiro, as fbricas e a ferrovia tiveram papel fundamental ao determinar vetores de expanso urbana, configurando bairros e setores da cidade. O reconhecimento de antigas estruturas relacionadas industrializao como bens a serem protegidos e preservados - edifcios e maquinaria; oficinas, fbricas, minas e locais de tratamento e de refinao; entrepostos e armazns; centros de produo, transmisso e utilizao de energia; meios de transporte e todas as suas estruturas e infraestruturas; assim como os locais onde se desenvolveram atividades sociais relacionadas com a indstria, tais como habitaes, locais de culto ou de educao - complementa a noo de patrimnio cultural. Tais bens se constituem como elementos indispensveis para a manuteno das caractersticas do espao e do lugar de memria na construo do tempo presente. com base nessa viso sobre o patrimnio industrial como testemunho de atividades que tiveram e ainda tm profundas consequncias histricas e das quais participaram inmeros segmentos sociais que se justificam as iniciativas de sua proteo.

O Brasil no est sozinho quando o assunto so os edifcios industriais obsoletos, todas as grandes cidades do mundo possuem o seu, embora alguns pases na Europa tenham mais experincia em solucionar este problema, ele ainda existe. Um exemplo a cidade de Barcelona, na qual muito do patrimnio preservado, mas a escolha do que preservar e onde, esbarra na explorao turstica e no fenmeno da gentrificao Do ingls gentrification, fenmeno de valorizao econmica de reas com potencial turstico..

A transformao de Barcelona de uma cidade industrial numa outra ps-industrial, segundo Balibrea (2010), em que o motor econmico passa a ser a indstria cultural, produziu-se principalmente ao nvel fsico do espao construdo. Para comear, os Governos locais fizeram grandes investimentos no restauro e limpeza de numerosos edifcios da cidade, privilegiando as zonas em que o patrimnio arquitetnico podia ser rentabilizado como atrao turstica. A estas obras de reabilitao juntou-se a proliferao de novas intervenes arquitetnicas assinadas por grandes arquitetos de renome internacional.

"A maior parte destes projetos foi financiada, total ou parcialmente, com dinheiro pblico, com a inteno de construir novos espaos pblicos como museus, pavilhes desportivos, pontes ou torres de comunicaes" BALIBREA (2010, p. 34).

Os espaos destinados preservao em uma cidade precisam considerar a populao residente, necessitam estar disponveis para essa populao e no somente visar o mercado do turismo. Segundo Balibrea (2010), o espao pblico aquele a que todos os cidados tm acesso, definio ampla que, nas nossas cidades capitalistas carregadas de desigualdades, no passa de um ideal democrtico, para o qual se deve tender. Outra definio mais restrita a de um lugar onde as pessoas se renem para, espontnea ou deliberadamente, constiturem um pblico e fazerem ouvir sua voz poltica.

A medida que a cidade foi adquirindo novos edifcios, com efeito, a proeminncia que foram alcanando, conforme esclarece Balibrea (2010), como novos significantes da cidade, desvalorizou o estatuto simblico que antes nela tinham outros espaos urbanos e arquitetnicos, e em especial os que aludiam ao seu passado industrial. A maioria dos terrenos convertidos para o uso de servios, de lazer ou residencial, desde os anos 80, o resultado da requalificao de terrenos industriais, anterior demolio das velhas fbricas que os ocupavam. Somente alguns so conservados na sua totalidade, ou em fragmentos sem o menor sentido. Estes fragmentos no perdem apenas a funo prtica, mas com reduz-se tambm o potencial simblico que possam ter. Esses fragmentos, hoje transformados em monumentos obsoletos, "so aluses ao passado e conservam com a sua presena o potencial para se converterem em smbolos de uma atividade e uma forma de vida hoje desaparecidas". Absolutamente fora do conceito espacial, "da nova sintaxe do espao, tende a desconect-los da histria local onde tinham sentido". Isolados e perdidos no meio de reas transformadas em centros comerciais, complexos residenciais para as classes mdias ou escritrios de luxo, difcil que possam transmitir um sentido complexo da sua prpria historicidade queles que nada sabem do passado local, ou que possam converter-se em lugares de memria para aqueles que o conhecem. "Ficam no espao como citaes planas e mudas". A histria apenas ser conhecida atravs da investigao histrica.A sua disposio no espao oculta a complexidade de um passado industrial caracterizado por lutas coletivas e relaes humanas vividas nesse mesmo lugar, quando era outro lugar, e substitui essa complexidade por uma nova configurao espacial que promete a ausncia de conflitos atravs da homogeneidade social e da igualdade pelo consumo e graas ao mercado. (BALIBREA, 2010, p. 37)

Os remanescentes da arquitetura industrial deixados como cones sem histria no conseguem representar o passado, tampouco a cultura e as relaes humanas que ali estiveram envolvidas. O mesmo acontece aos edifcios industriais que foram conservados e refuncionalizados como espaos culturais.

Nos lugares em que houve, alm disso, um forte processo de substituio de populao (gentrification), estas citaes arquitetnicas podem converter-se ainda em mais alienantes, na medida em que j no podem conectar-se com a memria de uma populao local que teve de partir, porque j no lhe era possvel viver nesse lugar. Aqueles que tinham enchido o espao de sentido social, no passado industrial, e os seus descendentes e familiares, j no esto ali para integrar esses vestgios em espaos quotidianos de uso e de memria coletiva. Nestas condies, a citao arquitetnica do passado, paradoxalmente, o que promove a amnsia e a ausncia de reflexo sobre a histria. Esta nova monumentalidade converte o objeto do passado numa carapaa vazia, num signo exclusivamente significante, carente de significado ou unido tenuemente a ele, liberto e facilmente aproveitvel, tanto para justificar o interesse das instituies locais em conservar a memria da cidade, como para servir de logotipo a um novo centro comercial. A sua resignificao , ao mesmo tempo, dessemantizao (BALIBREA, 2010, p. 37)

A escolha de qual edifcio deve ser preservado e qual no precisa ser uma questo de difcil resposta. Quando existem apenas alguns exemplares em determinada regio, essa escolha no se faz necessria, mas quando se trata de uma antiga rea industrial, a boa vontade com o patrimnio fica comprometida e o resultado que a maioria vem abaixo. Os critrios para a escolha do edifcio a ser mantido tambm so subjetivos, como questiona Dezen-Kempter (2010) arguindo sobre quais seriam os cdigos arquitetnicos, programticos e funcionais associados atividade industrial so representativos de conceitos como excepcionalidade (artstica e histrica) do bem industrial. Seria sua alvenaria de tijolos aparentes, suas estruturas em ferro fundido ou ao, suas coberturas em estruturas metlicas ou em madeira com os sheds, suas platibandas de tijolos trabalhados, seus caixilhos de ferro e vidros, a extenso dos vos internos dos galpes, o ritmo das envasaduras e das fachadas, a forma e altura de sua chamin. Questionando sobre o tipo representativo de configurao territorial da indstria contribui para a ideia de bem cultural e sobre a variao de escalas arquitetnicas e urbansticas na ocupao dos lotes, a forma de implantao em blocos independentes ou contnuos, a formao de ncleos urbanos conjuntamente com residncias operrias ou a conjugao de todos esses elementos, formando uma paisagem peculiar, representativa de valores sociais, tecnolgicos, ambientais e afetivos da coletividade.

A classificao de um edifcio como um exemplar raro e imprescindvel de ser tombado bastante difcil, posto que, so edifcios voltados para a funo e sua pureza arquitetnica praticamente inexistente, dificilmente seguem a um nico estilo arquitetnico, sendo quase sempre eclticos e alguns bastante similares entre si. Dezen-Kempter, (2010) explica que ainda que as singularidades morfolgicas da atividade industrial despertem essa srie de questionamentos, o que pode ser constatado na anlise de alguns processos de tombamento, que o reconhecimento desses objetos patrimoniais - so excees na perspectiva do universo salvaguardado pelo IPHAN - "evolui, partindo do conceito de excepcionalidade para a abordagem voltada sua representatividade como formadores da memria urbana coletiva, de um saber fazer especfico". Apesar de sua importncia como instrumento que imputa valor, as limitaes do tombamento no tocante ao cunho de proteo do patrimnio residem no fato de que tal instrumento passa a restringir a conservao a um acervo estritamente necessrio. A fragilidade desse instrumento pode ser percebida pela modesta cifra de tombamentos realizados pelo IPHAN se comparada de outros pases. "Esse olhar sobre o patrimnio industrial vai sendo incorporado s prticas patrimoniais juntamente com os temas tradicionais predominantes no acervo de bens tombados", fazem parte de uma abordagem proposta na transio do ltimo sculo," de uma leitura acerca da identificao, documentao, promoo e proteo do patrimnio cultural de forma mais ampla e plural". Dentro desse enfoque, "as fbricas, com seus modos de ocupao do territrio, seu saber fazer e as formas impostas de viver, saem da vacuidade de sentido histrico e conquistam seu lugar de memria".

Os proprietrios de edifcios em geral temem o tombamento, pois acreditam ser uma medida limitadora do direito de propriedade, quando se trata de edifcios industriais, a resalva maior ainda, pois so grandes construes, que demandam um alto custo de manuteno, porm o tombamento pode ser efetuado de diversas formas, apenas a fachada, alguns elementos construtivos relevantes, ou um elemento decorativo. Assim como, o tombamento pode acrescentar valor ao imvel e ser produtivo ao proprietrio, atravs de diagnsticos, sugestes e at propostas de interveno que podem surgir depois do processo de tombamento.

A importncia do instrumento do tombamento decorre no somente das suas implicaes no direito de propriedade, mas tambm porque, atravs da anlise do acervo de bens tombados pelos rgos oficiais de preservao do patrimnio cultural, seja ele federal, estadual ou municipal, possvel compreender os conceitos de arte e de arquitetura dominantes. Mais: a partir de uma anlise em ordem cronolgica dos tombamentos realizados por uma determinada instituio, podemos identificar as continuidades e rupturas na valorao de determinadas categorias patrimoniais, percebendo assim de forma clara os preconceitos a certos perodos da histria da arquitetura e a determinadas tipologias construtivas, bem como o processo de revalorizao de parte desta produo nas ltimas dcadas ANDRADE (2011, p.2)

Concluso

A arquitetura industrial possui seu valor na cultura, na memria afetiva da populao que conviveu com seus tempos ureos, sua arquitetura totalmente voltada para a funo foi delegada, e classificada como sem valor arquitetnico por um longo perodo, devido a essa classificao, diversos exemplares foram abandonados e ruram, enquanto outros se tornaram fonte de problemas urbanos.

Os edifcios industriais, pela funo para a qual foram edificados, so robustos e de grandes dimenses, geralmente esto em reas bem servidas de facilidades urbanas, como saneamento, abastecimento de gua e energia eltrica, assim como, vias e transporte urbano coletivo, sendo, portanto, boas opes para requalificao, pois podem atender a diversos usos, tanto institucionais quanto residenciais, ou at mistos, que pode ser uma opo adequada quando o objetivo estiver em revitalizar uma grande rea, pois o uso misto possibilita vida e movimento rea.

A readequao dos edifcios industriais uma soluo tambm economicamente vivel, pois as estruturas podem ser aproveitadas, e devido a suas dimenses e robustez, utilizada de formas variadas.

A valorizao do patrimnio industrial uma questo ainda pouco amadurecida no pas, ser preciso muita pesquisa e divulgao das vantagens em resgatar esses gigantes esquecidos pelas cidades, para que sua importncia seja reconhecida.

Referncias

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