artigo modos produção sodre(pronto)

Upload: alex-willian-leite

Post on 06-Jul-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    1/15

    Breves notas sobre o conceito de modos de produção na obra de Nelson Werneck Sodré e a

    questão agrária: um debate atual

    Alex Willian Leite

    “Mas não sê tão ingrata!

     Não esquece quem te amou

     E em tua densa mata

    Se perdeu e se encontrou.

     Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal:

     Ainda vai tornar-se um imenso ortugal!

    Chico Buarque/Ruy GuerraResumo

    O artigo proposto tem por objetivo traer a !iscuss"o sobre o conceito !e mo!os !e

     pro!u#"o no pensamento !e $elson Wernec% &o!r' e a quest"o atual !a re(orma agr)ria* +amb'm

    abor!aremos as pol,micas instaura!a entre &o!r' e Caio -ra!o .r* sobre o surgimento e enti(ica#"o!o capitalismo no Brasil e a que!a !o (eu!alismo europeu* A tem)tica !a quest"o agr)ria ganha

    atuali!a!e com a manuten#"o !a estrutura lati(un!i)ria e sua expans"o com as polticas atuais*

    0* 1ntro!u#"o

    A tem)tica !o conceito !e mo!os !e pro!u#"o sempre causou pol,mica entre os estu!iosos

    !o marxismo* O lega!o !eixa!o por 2arx e 3ngels em seus !iversos escritos sobre o tema n"o

    eximiu os literatos !e se !ebru#arem na perspectiva hist4rica sobre a repro!utibili!a!e !a vi!a

    social em outros processos !e !esenvolvimento* $o Brasil a pol,mica se instala em torno !o -arti!o

    Comunista Brasileiro 5-CB67 especi(icamente com os intelectuais $elson Wernec% &o!r' e Caio

    -ra!o .r* sobre a in!aga#"o !o processo !e enti(ica#"o !o capitalismo brasileiro que re(letia na tese

    !o programa nacional-democr"tico  !o -CB* 8ito isto7 vem a pergunta9 qual ' o car)ter !a

    revolu#"o brasileira:

    -ergunta que proporcionou !iversos !ebates e continua ganhan!o (;lego no momento atual

    sobre a peculiari!a!e !o processo !e enti(ica#"o !o capitalismo no Brasil* Antes !e a!entrar noconceito !e mo!os !e pro!u#"o no pensamento !e $elson Wernec% &o!r' ' necess)rio esclarecer os

     posicionamentos !as vertentes opostas* 8e um la!o7 est"o os que a(irmam que o processo !e

    colonia#"o brasileira vem com um capitalismo incipiente7 nascente !a entranha !o capital

    comercial7 !o outro7 est"o os que consi!eram um mo!o !e pro!u#"o espec(ico que (oi instala!o por 

    -ortugal < (eu!al ou escravista colonial* As !iverg,ncias s"o muitas e com resulta!os !i(erentes

     para a mesma problem)tica*

    Os pilares !a !isc4r!ia v"o sustentar pontos importantes7 entre eles9 a associa#"o !e

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    2/15

    capitalismo ser igual ou !i(erente !e capital comercial= a in!aga#"o se o capitalismo surge !a

     pro!u#"o ou tem sua g,nese na circula#"o= o com'rcio (oi o (ator !esagrega!or !as rela#>es (eu!ais

    ou elemento secun!)rio na !issolu#"o= se o Absolutismo (oi um elemento !e transi#"o ou uma

    rea#"o !a nobrea contra os camponeses e7 por ?ltimo7 se o !eterminante para a mu!an#a no mo!o

    !e pro!uir est) nos (atores en!4genos ou externos* Os pontos s"o complexos7 !evi!o a isso7 atem)tica !o artigo n"o se esgota aqui* A a proposta ' levantar o !ebate e analisar as !iverg,ncias !os

     pontos que trouxeram respostas ao senti!o !a colonia#"o brasileira e !a Am'rica Latina*

    @* O Brasil colonial capitalista

    A vertente que sustenta que a colonia#"o !o Brasil veio com a inser#"o e expans"o !o

    capitalismo comercial tem Caio -ra!o .r* como ponto alto !o !ebate em sua (ormula#"o te4rica com

    o livro A #evolu$ão %rasileira 506* Caio -ra!o .r* a!entra na !iscuss"o a(irman!o que o sistemainternacional !o capitalismo se !esenvolve na expans"o !o $ovo 2un!o como parte e pe#a !e um

    sistema mercantil internacional que (oi colonia!o e nessa mesma situa#"o se perpetua* &egun!o

    Caio -ra!o .r*7 no territ4rio brasileiro se constituiu uma nacionali!a!e cujas raes se situam no

     pr4prio complexo cultural que !aria origem7 mais tar!e7 ao imperialismo= e cuja organia#"o

    econ;mica7 social e poltica se plasmaria7 por conseguinte7 em (un#"o !e circunstncias e pa!r>es

    que s"o os !o mesmo sistema 5-RA8O .R*7 07 p*0@06*

    As !iverg,ncias entre as !uas vertentes come#am na abor!agem sobre a (orma#"o !e

    -ortugal p4s expuls"o !os mu#ulmanos 5mouros67 em que a Revolu#"o !e Avis < leva!o a cabo

     pela classe DplebeiaE ou burguesia mercantil < (oi (ruto !a crise !o sistema (eu!al em !etrimento ao

    com'rcio* $"o ' gratuito que -ortugal iniciar) sua (orma#"o com o con!a!o !e -ortucalense0 

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    3/15

    em (avor !e seus interesses comerciais* $esse pero!o !e transi#"o se (ormaram os 3sta!os

    nacionais e a centralia#"o !a poltica nas m"os !o rei* +amb'm nesse momento acontece o pero!o

    !e revers"o !o que ' central no (eu!alismo9 a subsun#"o !a ci!a!e ao campo* Ou seja7 a conquista

    !a autonomia !as ci!a!es representou esse !a!o qualitativamente !i(erencia!o7 pois ' nas ci!a!es

    que a burguesia ter) in(lu,ncia (ora !a nobrea* As leis !o merca!o come#a a ser !eterminante na3uropa* O mesmo n"o ocorreu no leste europeu7 em que a concentra#"o !e proprie!a!es e !a ren!a7

    ocasiona!a pela necessi!a!e !e amplia#"o !a pro!u#"o nascente7 proporcionou o surgimento !a

    Dsegun!a servi!"oE@ !os camponeses7 visan!o aten!er a !eman!a oci!ental* &egun!o Hran% 507

     p*P67 a MN maior parte !a 3uropa oriental converteuIse em (ornece!ora !e l" e outras mat'riasI

     primas b)sicas para o !esenvolvimento !as manu(aturas !a 3uropa oci!entalE*

    O processo !e expans"o capitalista mercantil resultou na ocupa#"o !as Am'ricas* O $ovo

    2un!o constituiuIse num elemento integrante !a expans"o capitalista que parte7 agora7 para arepro!u#"o amplia!a !o processo capitalista7 ou seja7 nesse processo constituiuIse a !inmica

    imanente !o D ser  e !o Dir-sendoE !o mo!o !e pro!u#"o7 inician!o o processo !e acumula#"o

     prim)ria7 subsun#"o (ormal !o trabalho ao capital < inicialmente mercantil* A Drepro!u#"o

    amplia!aE7 Drepro!u#"o simples !o capitalE e Dren!a !a terraE s"o categorias que aparecem7 e antes

    !e se tornarem mo!elos7 DMN expressam a concretu!e materialia!a na (orma#"o social capitalista

    mais !esenvolvi!a em seu tempo7 a 1nglaterraE 52AQQ3O7 @J0K7 p*@6* O (ato !e buscar o exemplo

    ingl,s como parmetro n"o quer !ier que ' um Dmo!eloE !e capitalismo ou uma (orma#"o social

    que insere Dmo!elosE !e pro!u#"o e repro!u#"oF mas7 sobretu!o7 como o momento em que as leis

    gerais encontramIse em sua plenitu!e7 no senti!o hist4rico !o !esenvolvimento !as (or#as

     pro!utivas e !as rela#>es !e pro!u#"o 52AQQ3O7 @J0K7 p*@6*

    Gra#as ao sistema colonial prosperaram o com'rcio7 a navega#"o e a pro!u#"o !e

    merca!orias* Os grupos mercantis (uncionaram como ver!a!eiras empresas que tornouIse alavancas

    !e concentra#"o capitalista7 em que as col;nias eram gran!es merca!os para as manu(aturas7 em

    (un#"o !o monop4lio comercial exerci!o pelas metr4poles* Como bem mostrou -ra!o .r* 5007

     p*@@I@F67

     $o seu conjunto7 e vista no plano mun!ial e internacional7 a colonia#"o !os tr4picos toma

    2 & termo foi cun(ado inicialmente por En$els em  A guerra dos camponeses na Aleman(a, desenvolvido por3aurice 4obb em A evolução do capitalismo /195 e recebe a atuali+a'ão com Perr Anderson no livro Linhagensdo Estado Absolutista, /199.

    5 8acob orender polemi+a em rela'ão os :modelos demonstrativos;, colocando #ue o  particular < a concretude veis, em re$ra, #uantific>veis, no #uadrode refer?ncia cate$orial  previamente elaborado  pela teoria $eral. 3odelos demonstrativos da pr)pria teoria emodelos pr>ticos como os #ue permitem formular uma política econmica. Assim, os modelos se validamteoricamente pela pr)pria teoria $eral, sem a #ual não teriam consist?ncia.; “O onceito de modo de produção e a

     pes!uisa hist"rica#, em 8os% @oberto do Amaral Lapa, no livro “$odos de produção e realidade brasileira#, ,p.B6, /1972.

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    4/15

    aspecto !e uma vasta empresa comercial !estina!a a explorar os recursos naturais !e umterrit4rio virgem em proveito !o com'rcio europeu* este o ver!a!eiro senti!o !acolonia#"o tropical !e que o Brasil ' uma !as resultantes*

    A pol,mica volta ao !ebate nesse momento7 em que a vertente Dcaiopra!ianaE associa

    capitalismo com capital comercial7 colocan!o que a g,nese !o capitalismo vem tamb'm !a

    circula#"o < com'rcio !e merca!orias < (orman!o o exce!ente necess)rio para a pro!u#"o* O

    capital comercial ' enten!i!o aqui como processuali!a!e gen'tica !o pr4prio capital em seu

    momento !e a(irma#"o7 que a partir !o s'culo ST17 ' visto por 2arx como o momento mesmo !o

    nascimento !a era capitalista

    -ara Caio -ra!o .r7 mo!os !e pro!u#"o ' um conceito universal com suas particulari!a!es*

    &egun!o Lu%)cs 5@J0@7 p*@PK67 DMN os universaisIconcretos7 que s"o !etermina!os pela

    Uengrenagem !a pro!u#"oU7 !evem7 ent"o7 ser enten!i!os como particulari!a!es que materialiam o

    universal 5a pro!u#"o em geral6* D3 a apreens"o !essa intera#"o !ial'tica9 universali!a!e < a pro!u#"o em geral < e o mo!o !e pro!u#"o7 a particulari!a!e < a materialia#"o !o universalI

    abstrato 5a (orma#"o social6E que nos possibilita captar a totali!a!e em sua !imens"o mais

    amplia!a*E 5LVCX&7 @J0@7 p*@PK6

    Contu!o7 o capital comercial ' uma particulari!a!e !e um to!o sist,mico !o capitalismo

    incipiente n"o est)tico7 cujo !esenvolvimento acumulaIse em exce!ente prim)rio por meio !o

    com'rcio7 que po!emos chamar !e processuali!a!e gen'tica !o capital*

    O (un!amental !a an)lise !e Caio -ra!o .r n"o ' apresentar a es(era !a circula#"o!esconecta!a !a es(era pro!utiva ou Dsuper!imensionarE o com'rcio* Ao contr)rio7 a ,n(ase est)

     justamente em real#ar a impossibili!a!e gen'ticoIhist4rica !a exist,ncia !e um capitalismo !e

    car)ter nacional e aut;nomo num pas como o Brasil7 em que a burguesia !emonstrou ser incapa

    !e realiar sua tare(a hist4rica (un!amental7 isto '7 sua revolu#"o burguesa* 8imensionan!o a

     particulari!a!e hist4rica brasileira7 Caio -ra!o .r* !emonstra que a rai colonial !o Brasil < a sua

    n"o supera#"o < !etermina uma inser#"o subor!ina!a no conjunto !o sistema mun!ial !o

    capitalismo* 52AQQ3O7 @J0K7 p*0@6Heito essas consi!era#>es iniciais !a complexi!a!e !o !ebate sobre os mo!os !e pro!u#"o7

    mesmo que alguns autores tenham (ica!o !e (ora !a an)lise K7 partiremos para o n?cleo central !a

    exposi#"o9 o mo!o !e pro!u#"o no pensamento !e $elson Wernec% &o!r'*

    Co livro ! do apital,  Darl 3ar" /2015, p.609 ressalta #ue, :Ainda #ue os primeiros indícios de produ'ãocapitalista se apresentem, mesmo #ue esporadicamente, em al$umas cidades do 3editerrneo, entre os s%culos F!e F, a era capitalista somente data, em realidade, no s%culo F!;.

    4%cio Gaes /19 no livro %ormação do Estado burgu&s no 'rasil, preocupado em não dar ?nfase a instncia doeconmico, acaba por elevar outra, a do *urídicoBpolítico como o elemento de ess?ncia de determinado modo de

    produ'ão. Cessa visão, s) ser> modo de produ'ão capitalista #uando o *urídico contemplar a rela'ão capitalBtrabal(o, ou se*a, #uando a mão de obra for livre para a venda e a compra.

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    5/15

    F* O Brasil colonial (eu!al

    O !ebate sobre o processo !e enti(ica#"o !o capitalismo no Brasil ain!a n"o ' um (en;meno

    que se esgota7 pelo contr)rio7 sua atuali!a!e ganha (;lego no momento em que os velhos entraves

    ressurgem com outras roupagens7 um !eles ' a estrutura agr)ria < o agroneg4cio* A proposta !o!ebate entre Caio -ra!o .r e $elson Wernec% &o!r' colocava o lati(?n!io como particulari!a!e

    hist4rica !a (orma#"o !o Brasil7 (en;meno que se expressa ain!a hoje como uma Dtare(aE n"o

    resolvi!a7 em que a resposta n"o vir) !a burguesia7 mas sim !a trans(orma#"o revolucion)ria*

    8evi!o ao tempo !e pesquisa7 essa parte !o artigo se limitar) na an)lise !o conceito mo!os

    !e pro!u#"o no pensamento !e &o!r'7 especi(icamente nos livros  &orma$ão da Sociedade

     %rasileira '()**+7  &orma$ão istrica do %rasil '()/+ e  0ntrodu$ão a #evolu$ão %rasileira,

     juntamente com seus comenta!ores* $elson Wernec% &o!r' (oi autor !e uma vasta obra com K livros e quase F mil artigos*

    8esenvolveu sua habili!a!e !e historia!or em paralelo Y !e militar7 na qual alcan#ou a patente !e

    generalI!eIbriga!a* Hoi para a reserva !o 3x'rcito por se opor ao golpe contra a posse !e .o"o

    Goulart7 retornan!o ap4s a normali!a!e institucional* Contu!o7 com o golpe !e 0 ' licencia!o

    !e ve !as Hor#as Arma!as* $os !iversos livros &o!r' tratou !e !esatar o n4 sobre o Dsenti!o !a

    revolu#"o brasileiraE proporcionan!o !iversos !ebates e causan!o in?meras pol,micas7 !entre elas7

    o conceito !e mo!os !e pro!u#"o ganhou maior proje#"o < a pol,mica sobre a revolu#"o brasileira

    ter tra#os (eu!ais*

    A rotula#"o sobre &o!r' como o te4rico !a Dvia !o (eu!alismo no BrasilE escon!e o

    intelectual que se preocupou em respon!er sobre as contra!i#>es internas !a revolu#"o brasileira*

    3m uma an)lise apressa!a7 o autor repro!u uma 3uropa bananeira com moinhos !e ventos7 vilas

    !e burgos7 castelos me!ievais e cavaleiros !a t)vola re!on!a= uma transposi#"o !e um mo!o !e

     pro!u#"o que prece!eu o capitalismo europeu7 o que n"o ' ver!a!e* &o!r' procurava respostas !as

    contra!i#>es en!4genas !a (orma#"o !o Brasil mo!erno7 em que a quest"o agr)ria e o capital

    imperialista barrava o !esenvolvimento aut;nomo brasileiro* O uso !o termo D(eu!alismoE

    constante na obra !e &o!r' ' !e car)ter semntico7 !enotan!o que as rela#>es !e pro!u#"o basea!as

    no lati(?n!io e na !epen!,ncia pessoal !o trabalha!or 5colonato7 parceria e !emais (ormas !e

     pro!u#"o n"o basea!as na troca !e trabalho vivo por sal)rio67 permitem ao lati(un!i)rio extrair 

    exce!entes !a terra* O termo D(eu!alE nos escritos !e &o!r' ' sin;nimo !e (ormas pr' capitalistas !e

    extors"o !a ren!a !a terra pela estrutura agr)ria 52ORA3&7 @JJ7 p*0J6*

    6 4uas semanas ap)s o $olpe militar de 196, Celson HernecI Godr% teve seus direitos políticos cassados por de+anos pela 8unta 3ilitar. om isso, ficou proibido de lecionar e de escrever arti$os para a imprensa.

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    6/15

    -ara n"o cair no re!ucionismo !as apar,ncias ' necess)rio retomar o !ebate sobre o conceito

    !e mo!o !e pro!u#"o com possveis Drestos (eu!aisE que o autor coloca como contra!i#>es internas

    e sobre o papel !o lati(?n!io inseri!o nesse tipo !e !esenvolvimento*

    O conceito !e mo!o !e pro!u#"o no pensamento !e $elson Wernec% &o!r' ganha mu!an#as

    ao longo !o tempo* Os livros &orma$ão da Sociedade %rasileira 506 e &orma$ão istrica do %rasil 50@6 mostram como a tem)tica vai toman!o mo!i(ica#>es ao longo !o tempo*

     $o primeiro livro ' not)vel a presen#a !e um conceito tra!icional !e (eu!alismo* &egun!o o

    autor7 DMN os (eu!os7 realmente7 constituam organia#>es aut)rquicas7 na peculiari!a!e

    econ;mica basilar !o tempo7 a !a pro!u#"o para o consumo ime!iatoE 5&O8R7 07 p*6* O

    (eu!alismo aqui ' consi!era!o uma uni!a!e pro!utiva !e ten!,ncias autossu1sistentes7 sem trocas

    necess)rias com outras uni!a!es externas a ela= sua pro!u#"o ' marca!amente agrcola7 mas com

    um artesanato ru!e* &o!r' concebia o (eu!o e o sistema social nele basea!o chaman!oIo Ys vees!e DmedialismoE* $essa obra7 o autor a(irma que a Revolu#"o !e Avis 50FPF6 (oi um movimento !a

    nobrea com car)ter burgu,s7 conjuntamente com as empresas !e navega#>es < sen!o express>es !o

    capital mercantil < -ortugal !esenvolve essa caracterstica !es!e sua (orma#"o7 em que a expuls"o

    !os mouros !essa regi"o marca o processo inicial 5GR3&-A$7 @JJ7 p* 0F6* $otaIse que a

    abor!agem sobre a Revolu#"o !e Avis ' similar Y an)lise Dcaiopra!ianaE7 em que o capital

    comercial estava presente*

     $o segun!o livro7 !e 0@7 ocorre uma ver!a!eira invers"o !os pontos !e vista que o autor 

    aponta em 0* 3mbora a!mitin!o a importncia !o grupo social !e!ica!o ao com'rcio em

    -ortugal !os s'culos S1T e ST7 &o!r' !eixa claro que !e nenhum mo!o po!eIse con(un!ir esse

    grupo com uma classe burguesa !ominante7 que teria in(luencia!o ca!a ve mais na poltica !o

    reino* Ao contr)rio7 esse grupo sempre teve !e en(rentar uma po!erosa aristocracia militar7 que

    !istribuiu entre si a terra reconquista!a aos mu#ulmanos e que con(eriuY socie!a!e portuguesa um

    tra#o (eu!al* 2esmo a uni(ica#"o poltica n"o seria resulta!o !e uma vit4ria !a monarquia contra os

     po!eres !os senhores7 mas !as necessi!a!es !e luta militar* 3 a Revolu#"o !e Avis tamb'm n"o

     po!e mais ser enten!i!a como um movimento Dburgu,sE7 apenas como uma etapa na centralia#"o

     poltica 5GR3&-A$7 @JJ7 p*0F6*

     $essa vira!a !a abor!agem7 a expans"o territorial7 para!oxalmente7 teria provoca!o um

    (ortalecimento !os la#os !e servi!"o e um paralelo en(raquecimento !o grupo liga!o ao capital

    mercantil* $as navega#>es !o s'culo ST1 o (inanciamento passa pelo capital holan!,s7 tornan!oIse

    vi)vel a empresa a#ucareira ultramarina e sua progressiva trans(er,ncia !o capital comercial

     portugu,s Y Zolan!a* $esse ponto7 &o!r' procura minimiar a importncia !os merca!ores

     portugueses nas navega#>es e na colonia#"o !o Brasil usan!o nota extra!a !e Celso Hurta!o para

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    7/15

    a(irmar sua posi#"o* &obre o processo !a colonia#"o o autor coloca no livro !e 0@ que o Brasil

    n"o po!eria ter car)ter mercantil ou capitalista7 pois ' o pr4prio colonia!or7 origin)rio !e uma )rea

    em que !omina o mo!o (eu!al !e pro!u#"o7 que a(irmara sua posi#"o na col;nia 5&O8R7 0@7 p*

    KIP6* Ao contr)rio !a posi#"o sustenta!a no livro !e 07 on!e !i claramente que Da colonia#"o

    '7 por sua amplitu!e7 (un!amentalmente capitalistaE 5&O8R7 07 p*6*Continuan!o na an)lise !a vira!a sobre o conceito !e mo!os !e pro!u#"o7 no livro

     0ntrodu$ão 2 #evolu$ão %rasileira 50KP6 o autor aponta coloca que as rela#>es (eu!ais j) estavam

     praticamente liqui!a!as com o incio !a 1!a!e 2o!erna e !e que elas jamais se revestiram < em

    -ortugal < !e estabili!a!e e continui!a!e7 e ain!a !e que a empresa !as gran!es navega#>es7 as

    !escobertas consequentes e o !esenvolvimento mercantil pertenceram7 pelas suas pr4prias

    caractersticas7 MN a uma etapa niti!amente capitalista7 veri(icaremos a inconsist,ncia !e qualquer 

    argumento que leve Y constata#"o !a vig,ncia !e rela#>es (eu!ais na estrutura econ;mica e social !acol;niaE 5&O8R7 0KP7 p* 0@6*

    Ap4s essa r)pi!a exposi#"o !e algumas obras que tratam !o tema mo!o !e pro!u#"o no

     pensamento !o autor (ica a pergunta !o porqu, e como acontece essa vira!a no pensamento !e

     $elson Wernec% &o!r'*

    &egun!o Grespan 5@JJ67 o pouco esclarecimento aparece no pre()cio !e  &orma$ão

     istrica do %rasil 'ano+7 livro que (oi resulta!o !o curso ministra!o no 1&3B em 0K* $ele7 o

    autor a(irma ter passa!o por MN re(ormula#>es !e conceitos e estu!os !e (un!amentos te4ricos7

    5N67 em consequ,ncia a uma crtica rigorosa7 sincera7 multilateral7 que lhe exigiu altera#>esE

    5GR3&-A$7 @JJ7 p* 6* complexo estabelecer um motivo !a mu!an#a7 por'm7 a resposta parece

    ter vin!o ap4s a D8eclara#"o sobre -olticaE !o -CB em mar#o !e 0KPP7 em que houve uma clara

    mu!an#a !e orienta#"o poltica no senti!o !e apoiar o !esenvolvimento capitalista no Brasil7

    removen!o os obst)culos representa!os por rela#>es !e pro!u#"o Dsemi(eu!aisE no campo* $esse

    momento7 a mu!an#a ' no conceito !e mo!o !e pro!u#"o7 em que &o!r' tra#a a !istin#"o entre

    capitalismo e capital comercial 5(ase mercantil6*

    &o!r' parte !a an)lise tamb'm marxista sobre a quest"o colonial e a (orma !e inser#"o

    7 A discussão encontraBse no livro  %ormação (ist"rica do 'rasil ) G&4@J, 196,  p*+8, em #ue cita o livro %ormação Econ-mica do 'rasil de Kurtado /196.

    Em mar'o de 19 o P- publica uma declara'ão #ue ficou con(ecida como 4eclara'ão de 3ar'o, fa+endoautocrítica e revisão dos erros de car>ter :do$m>tico; e :sect>rio; cometidos durante a fase stalinista, e fornecendouma an>lise mais comple"a e definida da situa'ão política e econmica da sociedade brasileira. ide a respeito(ttps=MMM.mar"ists.or$portu$uestematica1905pcb.(tm

    9 Godr% diferencia capital mercantil e capitalismo da se$uinte maneira= o primeiro se coloca #uando refereBse N %pocaem #ue o e"cedente econmico era obtido essencialmente na esfera da troca de mercadorias, antes da $enerali+a'ãodo trabal(o assalariado, no se$undo, o e"cedente % obtido *> na esfera da produ'ão e o com%rcio passa a ser

    determinado em ra+ão deste Oltimo. J s) nesse caso #ue pode falar de um modo de produ'ão, isto %, do capitalismo,e não simplesmente da e"ist?ncia do capital. er em %ormação (ist"rica do 'rasil, p. 21B6.

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    8/15

    !essas economias como parte !a expans"o econ;mica* Ao analisar a economia !a 'poca mo!erna

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    9/15

     < teve !e ama!urecer antes !o surgimento !a pro!u#"o capitalista7 tornouIse necess)rio um

    intervalo entre o come#o !o !eclnio !a servi!"o e a ascens"o !o capitalismo 58OBB7 0PF7 p*@KI

    J6*

    &o!r' a!entra nesse !ebate critican!o Zenri -irenne7 colocan!o que o !esenvolvimento !o

    com'rcio < portanto !o capital mercantil < (oi insu(iciente para !issolver as rela#>es (eu!ais e !ar surgimento ao capitalismo7 critican!o a tese !e -irenne em que o com'rcio !e longas (oi um !os

    (atores !eterminante para a que!a !o (eu!alismo* &egun!o nosso autor7

    A amplia#"o !o merca!o e o aumento !a pro!u#"o !e merca!orias (oram e(eitos !aexpans"o !o com'rcio7 mas esse !esenvolvimento ' insu(iciente para po!er realiar eexplicar a passagem !e uma or!em !e pro!u#"o a outra* 5&O8R7 0F7 p*@F6

    A preocupa#"o !e &o!r' ' !ar respostas Ys contra!i#>es internas como causa prim)ria !a

    !issolu#"o !o (eu!alismo* 3ssa a(irma#"o !as contra!i#>es en!4genas ' busca!a no captulo S1 !olivro 1 !o Capital !e 2arx7 em que ele mesmo tra!uiu !o (ranc,s Y 'poca* $ele7 2arx coloca que

    a amplia#"o !o merca!o mun!ial7 a multiplica#"o !as merca!orias em circula#"o7 a concorr,ncia

    entre as na#>es europeias para apo!erarIse !os pro!utos asi)ticos e americanos7 e o sistema colonial

    contriburam essencialmente para romper as barreiras (eu!ais !e pro!u#"o7 5N67 a or!em mo!erna

    !e pro!u#"o7 em seu primeiro pero!o7 o !a manu(atura7 somente se !esenvolveu on!e as con!i#>es

    se tinha cria!o !entro !a i!a!e m'!ia* 5&O8R7 0F7 p*@6

    2aurice 8obb (orneceu alguns argumentos relevantes que sustentam a interpreta#"o !a!issolu#"o interna !o sistema (eu!al !e pro!u#"o ao mostrar que em algumas regi>es !a 3uropa o

    impacto !o !esenvolvimento !o com'rcio re(or#ou ao inv's !e a(rouxar os la#os !e servi!"o7

    exemplo !isso7 (oi o caso !o leste europeu no s'culo ST1*

    O que se retira !as contra!i#>es internas  !o (eu!alismo < que segun!o &o!r' (oi o que

    !esarticularam sua !erroca!a < ' que o processo !e acumula#"o primitiva n"o (oi exclusivamente

    con!iciona!o ao sistema colonial mercantilista* O aspecto mais importante !a acumula#"o

     primitiva7 sem o qual o imp'rio colonial n"o surtia e(eitos !ura!ouros sobre a transi#"o7 ocorreuinternamente na 3uropa Oci!ental7 e constituiu7 !e um la!o7 na evolu#"o !o artesanato e !a

    manu(atura e7 !e outro7 na expropria#"o !os camponeses* -ara o autor7 a colonia#"o (ora obra !o

    capital mercantil7 logo n"o era !e naturea capitalista e7 por outro la!o7 a !etermina#"o !o car)ter 

    mercantil !a colonia#"o n"o era su(iciente para caracteriar a naturea !a socie!a!e aqui

    estabeleci!a7 as rela#>es !e pro!u#"o s"o resultante !o !esenvolvimento interno !as regi>es ou

     pases* 5&1LTA7 @JJ7 p*00F6

    capitalismo nasceu. Em A transição do 0eudalismo para o capitalismo < um debate, /Pa+ e erra, p.7

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    10/15

     $a outra ponta !o !ebate est) -aul &[eey 50KF6 com sua 4ma 3r5tica  contra os

    argumentos levanta!os por 8obb* $a 3r5tica, &[eey coloca que ' o gran!e com'rcio o causa!or 

    !a !issolu#"o !o sistema (eu!al* 3m &[eey < e in!iretamente em 3llen Woo! 0@ < est) expressa as

    !uas vias origin)rias para o capitalismo9 a via !o com'rcio e a via !o pequeno pro!utor 

    in!epen!ente*A via !o gran!e com'rcio < ou o com'rcio !e longas !istncias < !esempenha o papel

    !ecisivo nos objetivos ou m'to!os !e pro!u#"o* 3ssa a(irma#"o &[eey retira !o livro  Economic

    and Social istor6 o7 Medieval Europe 50F6 !e Zenri -irenne 50F6 7

    O movimento !a colonia#"o parece ter si!o um re(lexo !o crescimento !o com'rcio e !a pro!u#"o !e merca!orias7 e n"o a mani(esta#"o !o po!er !e expans"o interna !a socie!a!e(eu!al* 5-1R3$$37 0F7 apud 7 &W33Q\7 @JJ7 p*JF6

    -ara &[eey7 8obb !e(ine (eu!alismo como sen!o virtualmente i!,ntico com que se enten!e

     por servi!"o7 ou seja7 uma obriga#"o imposta ao pro!utor pela (or#a7 in!epen!entemente !e sua

    vonta!e* +al i!enti(ica#"o ' (alha por n"o i!enti(icar um sistema !e pro!u#"o7 pois a servi!"o

    aparece em !iversos momentos na hist4ria acompanhan!o !i(erentes (ormas !e organia#>es

    econ;micas* 37 segun!o &[eey7 a caracterstica b)sica !o (eu!alismo ' uma pro!u#"o

    exclusivamente para uso* 5&W33Q\7 @JJ7 p* 06

     $essa a(irma#"o &[eey tamb'm busca se sustentar no Capital !e 2arx* $o livro 1 !o O

    capital 2arx 5@J0F7 p* @J6 a(irma9

    MN ' claro 5***6 que em qualquer (orma#"o econ;mica !a socie!a!e on!e pre!omina n"o ovalor !e troca mas o valor !e uso !e pro!utos7 o trabalho exce!ente ser) limita!o por umconjunto !e necessi!a!es que po!er"o ser maiores ou menores7 e ent"o a naturea !a

     pro!u#"o em si n"o gerar) um apetite insaci)vel !e trabalho exce!ente*

     $esse caso7 n"o existir) press"o como se mani(esta no capitalismo para melhorias na

     pro!u#"o7 e sim7 t'cnicas e (ormas !e pro!uir acomo!amIse as rotinas estabeleci!as 5&W33Q\7

    @JJ7 p* @6*Outra !iscor!ncia entre &[eey e 8obb ' na resolu#"o sobre a que!a !o mo!o !e pro!u#"o

    (eu!al* 3m 8obb a causa principal (oi interna7 a superexplora#"o !a (or#a !e trabalho que levou a

    uma intensi(ica#"o !a servi!"o e geran!o press"o nos camponeses !os arren!at)rios7 on!e o

    com'rcio (ica em segun!o plano chegan!o somente para !estruir o que j) se encontrava (r)gil* 3m

    0@ 3m  A 8rigem Agr"ria do 3apitalismo 3llen Woo! a(irma que o sistema capitalista !e pro!u#"o tem sua baseoriginariamente agr)ria na 1nglaterra* &egun!o ela7 Da 1nglaterra !o s'culo ST1 teve o setor agr)rio mais pro!utivo!a hist4ria7 propriet)rios e arren!at)rios se tornaram igualmente preocupa!os com o que chamavam !e

    DmelhoramentoE 5improvement 67 o aumento !a pro!utivi!a!e !a terra visan!o o lucroE* Hoi com o DmelhoramentoEque se constituiu a acumula#"o primitiva que !eu origem aos cercamentos ingleses*

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    11/15

    &[eey a causa !a que!a (oi o com'rcio7 em consequ,ncia !a necessi!a!e !e receitas pela classe

     parasit)ria7 a expuls"o !os servos para as ci!a!es e a extravagncia !a nobrea esteve imbrica!a

    com o crescimento !o com'rcio* $os gran!es centros comerciantes < Hlan!res e Lon!res < o e(eito

    MN sobre a economia (eu!al ' (ortemente !esintegra!orE 5&W33Q\7 @JJ7 p* P6*

    O principal con(lito aqui n"o ' entre Deconomia monet)riaE e Deconomia naturalE7 mas entre pro!u#"o para uso e pro!u#"o para o merca!o ou trocas7 e (oi esse ?ltimo que engen!rou um

    sistema !e pro!u#"o para o merca!o* 3 como surge esse sistema !e pro!u#"o para troca:

    &egun!o &[eey7 os merca!os al!e>es locais e os bu(arinheiros !a i!a!e m'!ia 5ven!e!or 

    ambulante6 serviram !e esteio e n"o empecilho Y or!em (eu!al* $a expans"o !o com'rcio !e longas

    !istncias no s'c* S 5ou antes67 (oi na es(era !as trocas !e longas !istncias 5bens relativamente

    caros6 e n"o nas puramente locais7 que se pu!eram compensar os custos !o transporte* $o momento

    em que o com'rcio come#ou a implicar entrepostos e centros comerciais7 surgiu um (ator qualitativamente novo9 esses centros7 ain!a que basea!os no com'rcio a longa !istncia7 tornaramI

    se inevitavelmente gera!ores !e pro!u#"o !e merca!orias* 3ram abasteci!os a partir !as regi>es

    rurais circunviinhas7 e seu artesanato < que era a concretia#"o !e uma (orma !e especialia#"o e

    !e !ivis"o !e trabalho superior ao que a economia senhorial jamais conhecera < n"o apenas (ornecia

    os bens !e que necessitava a pr4pria popula#"o urbana7 como ain!a (ornecia os que a popula#"o

    rural po!ia comprar com o pro!uto !as ven!as no merca!o !a ci!a!e* ] me!i!a que se expan!ia

    esse processo7 as transa#>es !os comerciantes a longa !istncia < que tinham constitu!o a semente

    !e que originaram os centros comerciais < per!eram sua importncia singular e provavelmente na

    maioria !os casos passaram a ocupar um lugar secun!)rio nas economias urbanas 5&W33Q\7 @JJ7

     p* K06*

    Hoi a ine(ici,ncia !a organia#"o senhorial !a pro!u#"o que agora se chocava com um

    sistema mais racional !e especialia#"o e !e !ivis"o !o trabalho* Os bens manu(atura!os po!iam

    ser compra!os mais baratos !o que se (ossem (eitos em casa7 e essa press"o para comprar gerou

    uma press"o para ven!er7 que juntas7 exerceram po!erosa in(lu,ncia no senti!o !e traer as

     proprie!a!es (eu!ais para a 4rbita !a economia !e troca* -or'm7 argumenta &[eey7 o triun(o !a

    economia !e troca n"o implicou necessariamente o (im !a servi!"o ou !a agricultura !ominial* 3ssa

    economia ' reali)vel com a escravi!"o < Y exemplo !o Brasil colonial

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    12/15

    enten!er7 (oi necess)rio uma intera#"o !ial'tica entre o interno e externo para lograr ,xito o mo!o

    !e pro!u#"o nascente7 o capitalismo* O consenso no !ebate ' que o (eu!alismo seria uma (orma

    social !e limita!a capaci!a!e expansiva7 e o com'rcio e a pro!u#"o mercantil Dlibera!osE7 ce!o ou

    tar!e7 seriamIlhe (atais 583L RO1O7 @JJ7 p*0J6*

    3m rela#"o a pol,mica no Brasil7 sobre as (ormas que antece!eram o capitalismo7 n"o seresumiram somente em !ar contornos interpretativos7 se era ou n"o capitalismo !es!e as naus !e

    Cabral7 e sim7 na quest"o !e como se mostrava a estrutura pro!utiva7 sen!o ela !e base lati(un!i)ria

    e (orte !epen!,ncia !o capital imperialista* $isso7 uma !as premissas !o ponto !o !ebate entre

    &o!r' e -ra!o .r* ' na quest"o agr)ria7 na qual a estrutura lati(un!i)ria perpetuaIse !es!e o sistema

    !as Capitnias Zere!it)rias*

    K* A quest"o agr)riaA quest"o agr)ria ' o elo entre to!os os mo!elos interpretativos < pecebista7 isebianos7

    cepalinos e os !epen!entistas < que pensaram sobre o !esenvolvimento brasileiro* $"o ' possvel

    ter um !esenvolvimento !a in!?stria sem !ebater o lati(?n!io7 tanto na sua (ace D(eu!alE como na

    Dpr' capitalistaE* &obre este aspecto7 o ponto que unia &o!r' e -ra!o .r* era o rompimento com a

    heran#a col;nia9 a estrutura lati(un!i)ria*

    O monop4lio lati(un!i)rio !a terra com a sustenta#"o !a !omina#"o estrangeira era

    transparente no pero!o colonial7 em que a agricultura escravista (oi manti!a para o consumo

    europeu* &o!r' 50J6 em seu livro 3apitalismo e #evolu$ão %urguesa no %rasil explica como os

    3sta!os Vni!os conseguiram romper com o julgo colonial e escravista7 colocan!o que MN a

    aus,ncia !e um passa!o (eu!alE 5estrutura lati(un!i)ria6 permitiu o movimento !e uma revolu#"o

     burguesa7 e no Brasil MN o escravismo e (eu!alismo n"o tem tra#o algum !e revolu#"o burguesaE

    5&O8R7 0J7 -* P6*

     $os 3VA7 a gran!e planta#"o escravista n"o impe!iu o !esenvolvimento tanto no $orte7

    quanto no Oeste7 !e uma (orte classe !e agricultores in!epen!entes7 ao passo que no Brasil7 o

    monop4lio lati(un!i)rio !a terra7 ao bloquear a possibili!a!e !e !esenvolvimento semelhante7

    impe!in!o o pro!utor !ireto !e ter acesso Y proprie!a!e !a terra7 atro(iou a economia camponesa e7

     portanto7 gerou mis'rias !as massas7 e a estreitea !o merca!o interno (oi o re(lexo !ireto !essa

    estrutura* &em esquecer a guerra !e secess"o7 que resolveu a contra!i#"o entre o mo!o burgu,s e o

    mo!o escravista !e pro!u#"o 52ORA3&7 @JJ7 p* 0KK6*

    &egun!o &o!r' 5067 o MN instituto (eu!al !as sesmarias7 na (alta !e camponeses para

    explorar7 serviu !e base para o escravismoE7 que prevaleceu !es!e o come#o !a colonia#"o

     portuguesa* Com isso7 a exist,ncia !a escravi!"o impossibilitou a mercantilia#"o !a terra como se

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    13/15

    viu na 1nglaterra* Com o !eclnio e aboli#"o !a escravi!"o7 o acesso Y proprie!a!e !a terra (oi se

    tornan!o economicamente !ecisivo= o monop4lio lati(un!i)rio passou a constituir o meio principal

    !e explora#"o !o trabalho nas gran!es planta#>es7 exercen!o e(eito inibi!or !o surgimento !e uma

    economia camponesa in!epen!ente7 como a que (ormaram os c'lebres DperegrinosE na costa leste

    !os 3VA* $as onas !e pecu)ria !o $or!este e !o Rio Gran!e !o &ul7 entretanto7 bem como nas !e

    coleta (lorestal e7 em geral7 nas D(ronteiras agrcolasE7 on!e a terra est) relativamente !isponvel7 a

    explora#"o Dpr'IcapitalistaE !o trabalho provinha menos !o monop4lio !a terra !o que !os la#os !e

    !epen!,ncia pessoal7 basea!os na posse !o ga!o7 no controle !os meios !e subsist,ncia e !e

    transporte e no uso !a (or#a pura e simples 5&O8R7 07 p*FFIP6*

     $o Brasil7 a estrutura lati(un!i)ria implanta!a pela coroa portuguesa (oi o sistema !e

    sesmarias7 que (oi conce!i!a !e (orma gratuita e con!iciona!a Y pro!u#"o7 ten!o seu ?nico impostoo !imo pago Y Or!em !e Cristo* &egun!o 8el Roio 5@JJ7 p*0P67 MN os primeiros intentos !e

    colonia#"o !o Brasil (oram (eitos !e acor!o com a experi,ncia !o (eu!alismo portugu,sE que se

    expressou nas Capitanias Zere!it)rias * -ol,micas Y parte < se po!emos chamar !e (eu!al ou n"o es !a 1t)lia7

    Alemanha e 3spanha* -arte !eles (oram para o sul receben!o lotes !e @K a KJ hectares7 outra parte

    (oi para &"o -aulo e Rio !e .aneiro para trabalharem nas lavouras !e ca('* O pero!o posterior a

    !'ca!a !e 0FJ < pero!o conheci!o como substitui#"o !e importa#"o < a in!?stria !espontou como

    gera!ora !e exce!ente7 mas !epen!ente !a estrutura agr)ria para (ornecer !ivisas e m"o !e obra

     para as ci!a!es* O !esenvolvimento !a in!?stria !epen!er) !o !esenvolvimento !o campo

    5&+381L37 @JJK7 p* @6

    A estrutura her!a!a !as capitnias here!it)rias sobre a terra permanece inaltera!a7 a gran!e

    concentra#"o lati(un!i)ria tamb'm amarra o Brasil aos !esgnios !o merca!o !e commo!ities* A

    i!enti(ica#"o !e &o!r' sobre essa estrutura < chaman!oIa !e (eu!al < (oi possvel !evi!o ao seu

    interesse em !ar resposta a essa contra!i#"o* 8es!e o surgimento7 a economia brasileira permaneceu

    subor!ina!a a (ornecer como moe!a !e troca pro!utos com baixa capaci!a!e !e convertibili!a!e7 e

    essa subor!ina#"o (oi preserva!a pelo lati(?n!io7 em que na !ivis"o internacional !o trabalho7 a

     parte que lhe coube 7 (oi !e proporcionar pro!utos como9 a#?car7 (umo7 ouro7 !iamante7 algo!"o e

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    14/15

    !epois ca('= hoje ' min'rio !e (erro7 soja7 milho7 etc*7 pro!utos !esenvolvi!os historicamente pela

    estrutura lati(un!i)ria*

    A tem)tica !a !iscuss"o que &o!r' levanta < a concentra#"o !e terras rurais 5D(eu!aisE6 nas

    m"os !e poucas (amlias ou empresas < tem em sua ess,ncia a rai !a !esigual!a!e social e

     permanece atual sua an)lise* A ?nica ve em que se tentou alterar essa estrutura em (avor !oscamponeses7 o golpe militar !e 0 tratou !e (ixar esse mo!elo*

    &egun!o o 1nstituto Brasileiro !e Geogra(ia e 3statsticas 51BG36 0F7 h) 0FJ mil gran!es

    im4veis rurais que concentram 7@F_ !e to!a a )rea ca!astra!a no 1ncra* 3sse n?mero representa

    os F7K milh>es !e mini(?n!ios 5proprie!a!es mnimas !e terra6 e equivalem7 soma!os7 a quase um

    quinto !isso7 isto '7 0J7@_ !a )rea total registra!a* $o governo Lula7 !e @JJF a @J0J7 o aumento

    !as gran!es proprie!a!es7 p?blicas e priva!as (oi ain!a maior !o que na gest"o !e 8ilma* 3las

    saltaram !e @07P milh>es7 em @JJF7 para F0P milh>es !e hectares em @J0J7 um aumento !e 00milh>es !e hectares* 8a!os !o ain!a in'!ito Atlas da 9erra %rasil /(;07 (eito pelo C$-q/V&-7

    mostram que 0K7 milh>es !e hectares s"o impro!utivos no Brasil*

    -ol,micas (aem parte !o !ebate e s"o necess)rias para a an)lise !ial'tica !as situa#>es

    concretas* Gra#as a pol,mica entre o mo!o !e pro!u#"o ou D(eu!alE ou Dcapitalista comercialE

     po!emos reativar e questionar a problem)tica !a estrutura agr)ria no Brasil*

    O !ebate entre &o!r' e -ra!o .r* !esperta7 al'm !a an)lise meto!ol4gica interna ou externa

    !o !esenvolvimento !o capitalismo7 a !iscuss"o !a concentra#"o !e terras em poucas m"os* A

    abor!agem !a pol,mica se (icar somente nessa !uali!a!e < (eu!al ou capitalista comercial < po!e

    escon!er a ess,ncia !o tal !ebate7 que ' a quest"o agr)ria atual*

    O !esa(io ' compreen!er a (orma espec(ica !o !esenvolvimento !o capitalismo latino

    americano7 um capitalismo subor!ina!o e !epen!ente que se !esenvolve com v)rias contra!i#>es e

    sem rupturas para a manuten#"o !as oligarquias* Vm !esenvolvimento !esigual e combina!o que

     permitiu uma mo!ernia#"o sem mu!an#as estruturais7 ou seja7 a ?nica mu!an#a permiti!a ' aquela

    sugeri!a pelo prncipe !e Halconeri9 tudo deve mudar para que tudo 7ique como est".(;

    Bibliogra(ia

    15 As estatsticas sobre os lati(?n!ios est"o no !ocumento  Atlas do uso da terra  lan#a!o pelo 1BG3* Ter emhttp9//[[[*brasil*gov*br/economiaIeIemprego/@J0J/0@/ibgeIlancaIprimeiroImapaI!aIcoberturaIeIusoI!aIterra*

    1 O estu!o sobre Atlas !a +erra Brasil ain!a n"o est) !isponvel na vers"o completa* $a sua vers"o preliminar o!ocumento mostra que a concentra#"o !e terras na atuali!a!e ' maior !o que (oi no passa!o7 ultrapassan!o mais !etr,s vees o tamanho !o esta!o !e &ergipe* Ter em http9//oglobo*globo*com/brasil/concentracaoI!eIterraIcresceIlati(un!iosIequivalemIquaseItresIesta!osI!eIsergipeI0KJJJKF* 

    1 Krase do romance l gattoparto /& Leopardo do escritor italiano iuseppe omasi di Lampedusa. & livro narra adecad?ncia da aristocracia siciliana durante o Risorgimento.

    http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2010/12/ibge-lanca-primeiro-mapa-da-cobertura-e-uso-da-terrahttp://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053http://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053http://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053http://www.brasil.gov.br/economia-e-emprego/2010/12/ibge-lanca-primeiro-mapa-da-cobertura-e-uso-da-terrahttp://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053http://oglobo.globo.com/brasil/concentracao-de-terra-cresce-latifundios-equivalem-quase-tres-estados-de-sergipe-15004053

  • 8/18/2019 Artigo Modos Produção Sodre(Pronto)

    15/15

    A$83R&O$7 -* ?>, ^e!* Lisboa7 Caminho7 0P0*

    CV$ZA7 -* e CABRAL7 H* 5org67 Nelson @ernec SodrB: entre o sa1re e a pena7 @^e!* &"o -aulo9

    3!itora Vnesp7 @J00

    8OBB7 2*  A evolu$ão do capitalismo, e!* Abril Cultural7 &"o -aulo7 0PF*

    HRA$X7 A* G*7 A acumula$ão mundial: (*)/-(C?)7 e!* Qahar7 Rio !e .aneiro7 0*

    2AQQ3O7 A* C*7 Estado e %urguesia no %rasil D origens da autocracia 1urguesa7 F^e!*7 &"o -aulo9

    Boitempo7 @J0K*

    -RA8O .r*7 C* istria econmica do %rasil 7 e!* Brasiliense7 &"o -aulo7 00*

    &O8R7 $* Wernec%* &orma$ão da Sociedade %rasileira7 0F e!** Rio !e .aneiro9 Bertran! Brasil7

    0J*

     FFFFFF. &orma$ão istrica do %rasil, Civilia#"o Brasileira7 0

     FFFFFF. 0ntrodu$ão a #evolu$ão %rasileira, 3!* Civilia#"o Brasileira7 0F*

     ``````* 3apitalismo e #evolu$ão %urguesa no %rasil, e!* O(icina !e Livros7 &"o -aulo7 0J*

    &+381L37 .*-*7 A Guestão Agr"ria no %rasil 7 v*@* 0^e!7 &"o -aulo9 3xpress"o -opular7 @JJK*

    &W33Q\7 -* A transi$ão do 7eudalismo para o capitalismo D um de1ate, e!* -a e +erra7 &"o -aulo7

    @JJ*