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Psicologia de Migrações

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  • 67Migrantes, iMigrantes e refugiados: a ClniCa do trauMtiCo

    RESUMO

    Este trabalho visa a apresentar as atividades de extenso universitria realizadas pelo projeto Mi-grantes, imigrantes e refugiados: vulnerabilidade e lao social, desenvolvido no Instituto de Psicologia da Uni-versidade de So Paulo, assim como seus objetivos, resultados e desdobramentos. Inicialmente, apresentaremos o seu campo epistemolgico terico-clnico de articulao entre Psicanlise, sociedade e poltica, que pe em foco as relaes entre sujeito e os modos de construo de laos sociais. Traamos alguns elementos para caracterizar os problemas dos imigrantes e refugiados recm-chegados ao pas e apresentar algumas das sadas e dos impasses desses sujeitos no lao social. Observamos inmeras sadas e reorganizaes criativas, com articulaes entre poltica e desejo. Destacamos os impasses relativos angstia, culpa e superao das violncias, potncia enlouquecedora do trauma e desorganizaes subjetivas e errncia sem fim de alguns desses sujeitos. Por fim, apresentamos as coordenadas da clnica do traumtico e as estratgias e dispositivos clnicopolticos desenvolvidos na abordagem desses sujeitos e, particularmente, as questes da demanda e da posio do analista frente s desordens subjetivas geradas por situa-es polticas e sociais e as estratgias de elaborao coletiva do trauma.

    Palavras-chave: Psicanlise. Clnica do traumtico. Prticas clnico-polticas.

    ABSTRAcT

    This paper presents the activities carried out by the university outreach project Migrants, immigrants and refugees: social vulnerability and social bond, developed at the Institute of Psychology, University of So Paulo, as well as its objectives, results and consequences. Initially, we present its clinical-theo-retical-epistemological field of articulation with Psychoanalysis, society and politics, aimed at investigating the relations between the subject and ways of building social ties. We trace elements to characterize the problems of immigrants and newly arrived refugees to the country and pre-sent some of the issues and impasses of these subjects in the social bond. We observe numerous reorganizations and creative resolutions, with links between politics and desire. We highlight the impasses related to anxiety, guilt and the overcoming of violence, the maddening power of trauma and subjective disorganization, as well as the endless wandering of some of these subjects. Finally, we present the coordinates of the trauma clinic and the strategies and clinical-political devices de-veloped in dealing with these subjects, particularly the issues of demand and the analysts position vis--vis disorders generated by subjective political situations and the strategies for the collective elaboration of the trauma.

    Key words: Psychoanalysis. Trauma clinic. Clinical-political practices.

    * Psicanalista, professora dos programas de ps-graduao em Psicologia Social da Pontifcia Universidade Catlica de So Paulo (PUC-SP) e em Psicologia Clnica do Instituto de Psicologia da Universidade de So Paulo (IP-USP), coordenadora do Laboratrio Psicanlise e Sociedade e do projeto Migrao e Cultura do IP-USP R. Joaquim Eugnio de Lima, 1041, ap. 72 So Paulo SP 01403-000 e-mail: [email protected].

    MIgRANTES, IMIgRANTES E REfUgIADOS:

    A cLNIcA DO TRAUMTIcO

    MIgRANTS, IMMIgRANTS AND REfUgEES: ThE TRAUMA cLINIc

    *Miriam Debieux Rosa

  • 68 REVISTA CULTURA E EXTENSO USP VOLUME 7

    INTRODUO

    O projeto Migrao e cultura trabalha a partir da experincia de sujeitos afetados diretamente por fatos sociais e polticos que levam excluso, segregao e consequente emigrao ou exlio do pas de origem e busca de refgio em pas estrangeiro. Insere-se na proposta tico-poltica do Laboratrio Psicanlise e Sociedade, do Instituto de Psicologia da Universida-de de So Paulo (IP-USP), e do Ncleo de Estudos e Pesquisa Psicanlise e Poltica do Programa de Ps--Graduao de Psicologia Social, da Pontifcia Uni-versidade Catlica de So Paulo (PUC-SP). Nosso objetivo principal estabelecer espaos de interveno com essa populao, objetivando elaboraes singula-res e grupais e apontando as diferentes possibilidades de reconstituio de laos sociais, favorecendo os vn-culos afetivos e de trabalho, de modo a possibilitar, re-visar e elaborar formas de viver os novos contextos. Revisando e rememorando suas histrias e acidentes de vida, possvel a elaborao do luto do exlio, a partir do qual o imigrante, migrante, refugiados e retornados possam constituir vnculos com a cidade.

    O projeto teve seu incio em 2004, a partir do projeto de ps-doutorado Histria, clnica e a cultura em Psi-canlise, de Taeco Toma Carignato. Trabalhamos com vrias instituies voltadas ao acolhimento dessas pes-soas e, no decorrer dos anos, solidificamos uma par-ceria com a Casa do Migrante, albergue que acolhe migrantes do Brasil, imigrantes do Cone Sul e afri-canos que pleiteiam a condio de refugiados. uma instituio gerenciada por padres escalabrinianos, vol-tados para essa temtica, que atuam em parceria com a Pastoral do Migrante, na cidade de So Paulo.

    O projeto foi inscrito no Fundo de Cultura e Extenso Universitria da Universidade de So Paulo inicialmente como Migrao e cultura: experincias de aten-dimento a pessoas em situaes de vulnerabilidade psquica e social e tem se desdobrado em vrios aspectos da questo. Nomeado tambm como Migrao e cultura: intervenes psicanalticas clnico-polticas com migrantes, imigrantes e refugia-dos, atualmente (2011-2012) segue como Migrantes, imi-grantes e refugiados: vulnerabilidade e lao social. Neste ltimo, ampliamos consideravelmente seus objetivos e, alm da parceria com a Casa do Migrante, visa a fazer le-vantamentos de viabilidade e modos de implementar um servio ou atividades de atendimento e interven-o junto aos imigrantes, populao e implantar

    atividades de integrao com os estudantes estrangei-ros da Universidade.

    Constitumos uma equipe slida e comprome-tida com o trabalho que contou, alm da coordenao do projeto, com a superviso de mestrandos e dou-torandos, destacando as atuais doutoras Sandra Ber-ta, Taeco Carignato e Sandra Alencar, assim como o trabalho de Christian Haritalde, hoje mestrando do IP-USP. Contamos com a participao de estagirios da graduao e ps-graduao da PUC-SP e da USP e trabalhamos com supervises e reunies clnicas. Te-mos nos tornado referncia, atravs da prtica trans-formada em teses, dissertaes, artigos e trabalhos apresentados na rea de atendimento psicanaltico fora dos enquadramentos tradicionais, em situaes de precariedade e urgncia.

    PSIcANLISE, SOcIEDADE E

    POLTIcA: cONTExTO cLNIcO E

    EPISTEMOLgIcO

    O projeto de extenso tem sua base conceitual e clnica nos fundamentos, tica e clnica psicanalticos, mais particularmente na articulao entre Psicanlise, sociedade e poltica. Faz parte das atividades do Labo-ratrio Psicanlise e Sociedade do IP-USP e do N-cleo de Estudos e Pesquisa do curso de ps-graduao em Psicologia Social da PUC-SP. Nestes, Psicanlise, so-ciedade e poltica so termos que relanam e explicitam a articulao do sujeito com o desejo, o gozo e a dimen-so dos laos sociais como laos discursivos. A pers-pectiva do inconsciente como discurso do Outro, tal como cunhada por Jacques Lacan [9] ganha destaque em seus desdobramentos o inconsciente a histria, a histria da criana na famlia, da famlia no campo sociopoltico: o inconsciente a poltica [14].

    A problematizao da articulao sujeito e en-laamento social lana-nos na perspectiva da Psicanli-se implicada, ou seja, pela escuta dos sujeitos situados precariamente no campo social que construmos as teorizaes sobre os modos como so capturados e en-redados em seu desejo e gozo na mquina do poder, de modo a terem suspenso seu lugar discursivo. Essa arti-culao visa a evidenciar os efeitos, por vezes trgicos, do modo em que o discurso social e poltico, carregado de interesses e sede de poder, se traveste de discurso do Outro para capturar o sujeito em suas malhas seja

  • 69Migrantes, iMigrantes e refugiados: a ClniCa do trauMtiCo

    na constituio subjetiva, seja nas circunstncias de destituio subjetiva. Este aparece como um discurso hegemnico, referido lei do mercado, aparentado a um Outro consistente/no castrado, regido por uma voracidade por vezes de uma violncia obscena e inte-ressado na manuteno sociopoltica. Visa a confundir o impossvel (falta) com o proibido (lei), para governar o sujeito e sua trajetria na cena familiar, na cena social e poltica, incidir sobre seu luto, seu enlace em novos grupos e sua reorganizao subjetiva, seu embate com a lei. A direo de nossa escuta visa a que o sujeito no se equivoque nesse artifcio e tome esse discurso como simblico, nem que possa recobrir com tal discurso o real, sem espao para o enigma. fundamental escu-tar e separar o enredamento da alienao estrutural ao discurso do Outro das artimanhas ideolgicas do po-der. Esse enredamento nos processos de constituio e de destituio do sujeito pode ser elucidado pela via da historizao dos laos sociais em dados grupos sociais.

    O eixo das pesquisas que desenvolvemos est no mal-estar na transmisso (de valores e da histria) e no lao social (constituio e destituio) na contem-poraneidade. Temos pesquisado e produzido particu-larmente sobre: as expresses da violncia; os efeitos e as dimenses coletivas do trauma, do desamparo e da violao de direitos; as modalidades de resistncia e enfrentamento dos sujeitos em situaes de violncia/vulnerabilidade; a construo/ transformao do lao social na contemporaneidade; imigrao e migrao, e o desenvolvimento de prticas clnico-polticas de in-terveno. Os projetos de pesquisa so articulados aos dispositivos de pesquisa-interveno psicanaltica com populaes em situao de vulnerabilidade social. Para indicar nossa posio metodolgica, citamos Rosa e Domingues, que afirmam:

    [...] no caso da contribuio da psicanlise ao estudo do campo social e poltico, no lhe cabe a pretenso de esgotar, por si s, o fenme-no: cabe-lhe esclarecer uma parcela dos seus aspectos, ainda que uma parcela fundamental. Sem pretenso de substituir a anlise socio-lgica, cabe Psicanlise incidir sobre o que escapa a essa anlise, isto , sobre a dimenso inconsciente presente nas prticas sociais. [19]

    cASA DO MIgRANTE:

    OS REcM-chEgADOS E cENAS

    NESSE ESPAO INSTITUcIONAL

    O objetivo da Casa do Migrante acolher mi-grantes brasileiros recm-chegados, imigrantes e refu-giados e indivduos envolvidos no drama mundial da mobilidade humana, sem distino de sexo, etnia, cor, credo, nacionalidade ou qualquer outra forma passvel de discriminao. A nomeao casa est referenciada na filosofia de trabalho da Misso Escalabriniana junto aos migrantes, buscando propiciar um ambiente fa-miliar no qual as pessoas possam se relacionar e assu-mir suas responsabilidades perante o prximo. A Casa tem cem leitos, distribudos num edifcio que, antiga-mente, funcionava como convento, localizado ao lado da Pastoral do Migrante, onde uma equipe jurdica as-siste aos migrantes e imigrantes.

    Na Casa esto presentes pessoas de todos os luga-res do mundo; diferentes culturas e lnguas, diversas re-ligies e credos. Em um grupo to heterogneo difcil estabelecer qualquer tipo de unidade, a no ser o fato de estarem em condies precrias. So pessoas com vivn-cias turbulentas e violentas: imigrantes, particularmente os latino-americanos, que se perdem nos percalos do deslocamento; migrantes brasileiros que percorrem o pas em busca de trabalho ou simplesmente vagueiam, porque no conseguem ou no querem fixar-se em con-textos familiares ou comunitrios; refugiados, banidos de seus pases pela violncia e pela misria.

    Na situao crtica em que esto, nomeiam ne-cessidades muito claras, que podemos ordenar des-ta forma: a legalizao de sua permanncia no pas, trabalho, aprender a nova lngua, moradia ou, como dizem, casamento. Segundo dados do site da Casa do Migrante, os albergados foram se modificando em ter-mos de perfil: aos migrantes internos, que at o ano de 1997 representavam 93% dos que passavam pela instituio, atualmente agregam-se, numa tendncia crescente, os imigrantes, sobretudo dos pases andi-nos e do Cone Sul e, mais recentemente, africanos, estes ltimos pleiteando a condio de refugiados.

    A presena nessa casa de imigrantes e/ou refu-giados no dia a dia superior a 50%, o que se deve ao fato das maiores dificuldades enfrentadas pelos mes-mos, acarretando um tempo de permanncia maior na Casa do Migrante.

  • 70 REVISTA CULTURA E EXTENSO USP VOLUME 7

    SEM DOcUMENTO: EM BUScA DE REfgIO OU ASILO

    Muitos dos albergados da Casa chegam sem docu-mentos e buscam por refgio que, no entanto, tem re-gras muito especficas e que no abrangem muitos deles. Segundo o Alto Comissariado das Naes Unidas para Refugiados (ACNUR) e considerando a Conveno e o Protocolo relativo ao assunto, o refugiado aquele que:

    [...] temendo ser perseguido por motivos de raa, religio, nacionalidade, grupo social ou opinies polticas, se encontra fora do pas de sua nacionalidade e que no pode ou, em vir-tude desse temor, no quer valer-se da prote-o desse pas. [1]

    Tambm pode ser concedido o status de refu-giado ao cidado estrangeiro que, devido uma grave e generalizada violao de direitos humanos, obrigado a deixar o seu pas.

    A deciso pelo reconhecimento do status de refu-giado de competncia do governo brasileiro, por meio do Comit Nacional para Refugiados (CONARE). Aqueles que no forem considerados refugiados e, portanto, no necessitarem de nenhuma outra for-ma de proteo internacional, podero ser repatria-dos aos seus pases de origem. Durante deslocamentos em massa de refugiados geralmente como resultado de conflitos ou violncia generalizada, em contraste perseguio individual , no h capacidade para con-duzir entrevistas de asilo individuais para todos que cruzarem a fronteira. Tais grupos so frequentemente declarados refugiados prima facie.

    Por ser um processo longo, muitos refugiados passam a pedir asilo. Segundo o ACNUR, o reque-rente de asilo algum que afirma ser um refugiado, mas que ainda no teve seu pedido avaliado definiti-vamente. Os sistemas nacionais de asilo existem para determinar quais requerentes realmente se qualificam para proteo internacional.

    O refgio o caso de alguns dos albergados da Casa, principalmente os refugiados dos conflitos e das guerras tnicas nos pases africanos. Alm destes, so frequentes os fugitivos da guerra civil na Colmbia.

    Conveno sobre o Estatuto do Refugiado, de 1951, e Protocolo sobre o Estatuto do Refugiado, de 1967, ambos patrocinados pelo ACNUR.

    Os refugiados recebem um tratamento diferenciado na Casa, que se torna um status almejado por muitos de seus migrantes.

    ESTRANgEIROS NA PRPRIA PTRIA

    H um nmero sempre expressivo de migrantes na Casa, vindos de outros estados e de condies de muita pobreza. Chama ateno a situao cultural pre-cria e o fato de que tm a formao escolar e cultural distantes de sua realidade. Tambm no se ancoram nas suas tradies e histria. A depresso e o alcoo-lismo so recorrentes, junto com o relato de fracassos dos sonhos profissionais e amorosos.

    Sua precariedade os faz, nesse contexto, ansiar pelo status de imigrante, principalmente de refugiado, tal como se revela no incidente relatado por um estagi-rio: No domingo das eleies, Jlio desceu atrasado para o caf da manh. A cozinheira recusou a servi-lo, alegando estar de sada para votar. Jlio discutiu com a moa. Provocou-a dizendo que teria de pintar o rosto de preto para ser atendido. Em uma clara aluso aos africanos, o brasileiro diz sobre a sua condio de des-terrado em sua prpria ptria. Os brasileiros contras-tam com os abrigados vindos da frica, que costumam falar com empolgao sobre seu pas, sua cultura.

    cRIANAS ESTRANgEIRAS E SUAS MES

    A Casa tem recebido muitas mes sozinhas com seus bebs ou crianas pequenas, alm de algumas fam-lias. Temos desenvolvido intervenes com essas pessoas. A criana atravessa a fronteira da lngua e a estranheza dos diferentes traos fsicos e, atravs da dimenso ldica, fa-cilita a interao entre as pessoas da Casa. Por outro lado, conflitos culturais logo traduzidos por preconceitos ocorrem frente ao modo de conceber os cuidados com as crianas, o que qualificado como descuido ou indi-ferena frente s diversidades culturais. Esse ponto tem sido trabalhado por nossa equipe.

    LNgUAS E cULTURAS

    A convivncia com muitas culturas, religies, lnguas e valores no espao fsico da Casa nem sempre tranquila. Por vezes, essas diferenas desencadeam conflitos, brigas e desentendimentos, gerando expul-ses ou abandono do lugar, pois ferem aqueles que so criticados por seus modos de existncia.

    Alguns dos refugiados concluram o Ensino Supe-rior, conhecem a situao poltica do seu pas, falam com

  • 71Migrantes, iMigrantes e refugiados: a ClniCa do trauMtiCo

    orgulho de sua cultura e tm muito interesse em aprender a lngua do pas que os abriga. Outros tm dificuldades na adaptao s rotinas e sofrem choques religiosos e cultu-rais. Desenvolvemos estratgias para criar pontos comuns entre os abrigados, desfocando as diferenas, tais como: grupo de recm-chegados, oficinas de Portugus, a ofici-na Costurando caminhos para a cidade, entre outros.

    IMPASSES E DIREES DO SUjEITO E O

    cAMPO POLTIcO

    Fizemos uma breve e incompleta descrio da situao dos imigrantes, migrantes e refugiados que conhecemos na Casa do Migrante. Nossa experincia com eles permitiu-nos testemunhar, acompanhar e intervir nos diferentes modos de lidar com os impas-ses desses sujeitos em seu lao social.

    Muitos modos ou solues frente ao lao social so construdos e gestados pelos migrantes. Vemos mulheres que encontram na maternidade de um fi-lho brasileiro o modo de legalizao de si mesmas e da famlia; outras conseguem recusar posies de vtimas de violncia de seus maridos ancoradas na nova inser-o cultural. Outros desenvolvem novas trajetrias de trabalho, alguns dedicados aos cuidados e assistncia a outros imigrantes; alguns iniciam novas aptides, em-bora a maior parte das pessoas se dedique aos traba-lhos de comrcio ambulante. Alguns fazem parcerias para acomodaes conjuntas. O casamento com brasi-leira ou brasileiro visto como uma sada interessante para resgatar o vnculo e inserir-se na nova terra. En-fim, invenes ou recuos, caminhos possveis para ali-nhavar a nova existncia dimenso fantasmtica que situa o sujeito e seu lugar de fala.

    No entanto, pudemos distinguir alguns proces-sos que suspendem as elaboraes dos deslocamentos e sofrimentos e exigem prticas especficas. Ressaltamos a angstia, a culpa frente s violncias sofridas por al-guns dos abrigados que atendemos, vindos de situa-es de guerra, conflitos ou pobreza e abandono em seu pas de origem. Exemplificamos com Isac (nome fictcio) que, ao voltar ao lar onde vivia com a sua famlia, africanos do Congo com um de seus irmos, encontraram-no incendiado por rebeldes, juntamen-te com os pais e outros irmos. Em pnico, eles fo-gem para diferentes direes para garantir chances de sobrevivncia de, ao menos, um deles. Isac pega um

    navio e vem parar no Brasil. Tem insnia e crises de angstia com as imagens da casa incendiada. Consi-dera que seu maior sofrimento no saber o destino ou paradeiro do irmo e no ter como ou onde pro-cur-lo. Outro exemplo Nahib, que quer morrer e tenta se matar. Depois de ter os seus pais assassinados por questes polticas em Angola, foge, e ao chegar ao Brasil, tem a notcia de que as duas irms que ficaram no pas tambm foram mortas.

    Essas situaes remetem angstia intensa fren-te perda de laos afetivos fundamentais segurana subjetiva das pessoas, muitas vezes relacionada culpa, experincia descrita sobre os sobreviventes do Holo-causto. Alm das dores e humilhaes a que so expos-tos, sobrevm questes sobre sua prpria tica e a culpa sobre o desfecho dos seus familiares, com dvidas so-bre sua possibilidade de sobreviver enquanto os outros morreram. Crises de angstia, desejo de morte e ten-tativas de suicdio nos demandam intervenes urgen-tes para esses casos. Nossos manejos buscam relanar o sujeito em sua trajetria e histria. Como resultado, pudemos testemunhar como alguns passavam a dizer no posso morrer, seja para testemunhar o ocorrido, seja para dar andamento trajetria da famlia.

    Outros casos remetem-nos a abalos psquicos es-truturais e impossibilidades de reorganizao. A questo diagnstica nesses casos no pode ser fechada, supondo haver estrutura previamente psictica que explicasse as dificuldades destes sujeitos, sob pena de desconsidera-o dos efeitos disruptivos das situaes traumticas.

    Destacamos tambm outros casos que trans-formam o exlio forado pela violncia, abandono ou misria em uma errncia sem fim. Algumas pessoas chegam Casa do Migrante intensificando e eterni-zando a sua condio de estar de passagem, ou seja, sem inteno de se fixar em So Paulo ou outro lugar. Um estagirio relata a conversa com um imigrante sul americano que dizia estar de passagem, que viajaria para inmeros pases, pois trabalhava como vendedor itinerante de artefatos que ele mesmo produz. Um refugiado comentou que no sabia como o itinerante conseguia viajar tantos pases sem conhecer sua lngua e que o achava muito corajoso; achava-se incapaz de tal aventura. O vendedor respondeu que vivia de sua arte e que no precisava dominar a lngua do pas. O dilogo causou estranheza na medida em que o termo coragem surgiu de quem fugiu de um ambiente de guerra e da morte para vir para o Brasil.

  • 72 REVISTA CULTURA E EXTENSO USP VOLUME 7

    O corte e o abalo provocado pela ruptura dos laos so repetidos e passa a ser contado pelo sujeito como um modo de vida chegam e logo pensam no prximo destino, sempre transitrio, independendo da idade, de projetos de vida, de laos com os outros. Ao menor sinal de angstia provocam deslocamentos, sem ponto de bscula, a que foram inicialmente lan-ados de modo involuntrio [18].

    PRTIcA PSIcANALTIcA cLNIcO-

    -POLTIcA E cLNIcA DO TRAUMTIcO

    Vamos destacar brevemente as coordenadas da clnica do traumtico e as prticas clnico-polticas de-senvolvidas no trabalho com esses sujeitos. Nossa pr-tica psicanaltica tem elegido escutar as vidas secas [16] pessoas vivendo em situao de miserabilidade, ado-lescentes em conflito com a lei e pessoas que passam por experincias de desenraizamento (imigrantes, migran-tes no documentados, refugiados). Entendemos que o trabalho com sujeitos afetados diretamente pelas situa-es sociais crticas permite desvendar as artimanhas do poder e o enredamento do sujeito pela via da lei, desejo e gozo. Como decorrncia, permite construir prticas clnico-polticas, ou seja, dispositivos e estratgias de resistncia aos processos de alienao social.

    Formulamos as bases para a clnica do trau-mtico [4,16,17] a partir dos casos em que o sujei-to no construiu ainda uma resposta metafrica, um sintoma atravs do qual possa falar de seu sofri-mento e enderear uma demanda. Pudemos iden-tificar nos sujeitos que se confrontam com a face obscena do Outro uma perda do lao identifica-trio com o semelhante, um abalo narcsico que o lana angstia e ao desamparo discursivo que de-sarticulam sua fico fantasmtica e promovem um sem- -lugar no discurso, impossibilitando-os do contorno simblico do sintoma e de construir uma demanda.

    O excesso de consistncia do acontecimento ou dito de outro modo, o embate com a violncia obs-cena do Outro lana o sujeito na condio de no poder no recordar (modo como Giorgio Agamben [2] descreve a condio de pessoas nos campos de concentrao). Trata-se de um impedimento do es-quecimento, do recalque necessrio para separar-se do acontecimento. A angstia surge justamente quan-do no h distncia entre a demanda inconsciente e a

    resposta do Outro, quando se perde a distncia entre o enunciado e a enunciao. A angstia, nesses casos, apresenta-se no como manifestao sintomtica (caso da angstia neurtica em Freud), tampouco como fuga, mas como um tempo no qual o sujeito custa a se localizar e que, por esta razo, vinculado ao senti-mento de estranheza, o Unheimlich freudiano [6].

    Esse tempo no qual o sujeito custa a se localizar tem efeitos em sua posio subjetiva e no lao social. Tais condies se traduzem num silenciamento: silen-ciado sob o signo da morte, o sujeito fadado a vagar sem pouso, sendo-lhe vedada a experincia comparti-lhada, a posio de passador da cultura [8].

    Em situaes de violncia pode haver a suspen-so do luto e uma posio melanclica em que o sujei-to no nomeia a dor, que no passa. E, muitas vezes, no lugar do significante que possibilite apresentar a ausncia do Outro sob um vu, apresentam-se ima-gens ao modo da loucura individual ou coletiva [12].

    Esse silncio, a dor e a falta de uma demanda so as vicissitudes do psicanalista nessa clnica. Se no h demanda, se a dor presumida pelos fatos e pelo vazio do silencio, o que sustenta a posio do analista? Que direo dar a essa clnica?

    UMA DIREO POSSvEL DE TRATAMENTO:

    TIcA E POLTIcA

    Para trabalhar a relao trauma, luto, experin-cia e transmisso, formulamos uma direo possvel de tratamento que incide na direo da transformao do trauma em experincia compartilhada e na constru-o da posio de testemunha, transmissor da cultura. Alm disso, faz-se necessrio utilizar prticas que le-vem em considerao as precondies sociopolticas e subjetivas necessrias para a elaborao do luto e fazer valer a dimenso do desejo, a melhor defesa contra o gozo mortfero [3, 4].

    Essas estratgias visam a restituir um campo m-nimo de significantes, referidos ao campo do Outro, que possam circular. Isso possibilita ao sujeito loca-lizar-se e poder dar valor e sentido sua experincia de dor, articulando um apelo que o retire do silen-ciamento. Existe uma diferena fundamental entre o silncio mortfero e o silncio sintomtico. Sinto-matizar o silncio cavado na angstia, no instante perptuo, no estado melanclico a isso que apon-tamos nesse tipo de intervenes clnicas. fato: para tratar o trauma provocado pela interveno do Outro

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    totalitrio que pretende reduzir os homens a restos, em que se tenta apagar todas as marcas da subjetivida-de, necessria uma elaborao que finque suas bases na reconstituio do lao social que norteia o funcio-namento do campo social.

    Como abordar a questo da angstia e do luto, tanto considerando a produo sociopoltica da an-gstia, como o impedimento poltico do processa-mento subjetivo das situaes traumticas?

    Sob o efeito destrutivo de situaes traumticas os sujeitos podem:

    desarticular sua fico fantasmtica; perder o lao identificatrio dos semelhantes para

    com eles estes tendem a recuar diante do terror com o que perdem a sua solidariedade e so lan-ados fora da poltica.

    Tais condies promovem, como dissemos, um sem-lugar no discurso, impossibilitando os sujeitos de construir uma demanda o que se traduz num si-lenciamento, sob o signo da solido e da morte.

    O que est em jogo a potncia enlouquece-dora do traumtico, pois, segundo Puj, o encontro com o mesmo, em repetio sem maior deslocamento ou metaforizao, desnuda a incoercvel resistncia do trauma sua tramitao. As condies de degradao pem em destaque a necessidade vital de velamento do carter mortificante do impacto pulsional, ou seja, a necessidade de faltar ao Outro ali onde o sujeito experimenta-se gozado [15].

    Nas guerras, com ou sem nome, trava-se outra guerra entre a resistncia do sujeito e a resistncia do trauma e sua insistncia em enlouquecer o sujeito de sua completude. Abordaremos as intervenes que po-dem criar condies de alteraes do campo simblico subjetivo, social e poltico. Ressaltamos que a Psica-nlise pode comparecer com elementos para favorecer modos de resistncia instrumentalizao social do gozo, manipulao da vida e da morte no campo social um terrorismo do ponto de vista do poder soberano.

    DO TRAUMA ExPERINcIA cOMPARTILhADA

    Isac viu-se diante de um impasse que exigiu uma resposta em face do horror que a ele se apresen-tou: salvou sua vida com a fuga do pas. A escolha de Isac precipitou-o em um para aqum da fantasia ou da culpa. Paralisado na perenidade traumtica, fica sem

    lugar, de onde poder falar. Parte do pas, mas no se parte, no se divide, no se separa. No silncio mort-fero do exlio, fica reduzido a ser passa-dor, mensageiro da morte e do fracasso. Perde a vida na modalidade bios para ficar remetido vida nua, na modalidade zo. Mais ainda, perde o lao identificatrio dos semelhantes para com ele, sua solidariedade, pois tendem a recuar diante do horror, tal como veremos e que foi abordado por Agamben [2] atravs da figura do muulmano.

    De modos diversos, os autores convergem para demonstrar como esse efeito subjetivo parte da es-tratgia do poder que abala a potncia da experincia compartilhada que escreveria a histria do sujeito e da comunidade e, desta forma, lana o sujeito aparen-temente fora da poltica, remetido vida nua e sua modalidade puramente biolgica.

    Em seu livro Lo que queda de Auschwitz, Agamben [2] apresenta a figura do muulmano nome que designava os mortos-vivos nos campos de concen-trao, emblemtica do estado limite a que chegaram algumas pessoas e que pode expressar uma alegoria da condio de excluso [21]. A partir destas consi-deraes, pudemos pensar que a condio desse mu-ulmano de no poder no recordar faz pensar em um impedimento do esquecimento, do recalque ne-cessrio para separar-se do acontecimento. O excesso de consistncia do acontecimento lana o sujeito num montono e desesperador presente.

    Para recompor um lugar discursivo, para que se faa lao social, preciso re-construir a histria per-dida na memria, re-construo que j implica uma de-formao, permitindo o luto e uma resposta fico, uma reinterpretao do passado. Consideramos que concebidas assim, infncia e experincia constituem pressupostos ticos que transcendem o campo ideol-gico, dizendo respeito antes ao domnio da poltica (o lao com os outros) e da cultura (a relao ao Outro). Talvez,comSlavojiek,referindo-seticadaPsica-nlise, possamos considerar que:

    preciso arriscar e decidir [...]. No busque apoio em nenhuma forma de Outro mais-culo mesmo que esse Outro maisculo seja totalmente vazio. preciso arriscar o ato sem garantias. Nesse sentido, o fundamento su-premo da tica poltico. [23]

    Aqui se subverte a relao que empalidece a

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    poltica em face da tica ou que inverte onde a tica d fundamento poltica. Ele diz que:

    Em Lacan, a tica despolitizada uma traio tica, porque significa confiana em alguma imagem do grande Outro. Mas o ato lacaniano , precisamente, o ato em que se presume que no existe grande Outro. [23]

    Passar por acontecimentos em relao aos quais no se tem a menor possibilidade de reconhecimento - pois se passa ao largo do imaginvel ou imaginarizvel - leva a novo impasse tico e clnico. um impasse que implica no a responsabilizao do sujeito, mas o rompimento com esse campo simblico; no o assen-timento subjetivo de sua participao, mas a supresso de qualquer participao neste gozo. Este um ponto que distingue a direo do tratamento e exige outros dispositivos para alm da clnica do sintoma.

    A partir destas consideraes, pode-se conce-ber um trabalho clnico que possibilite a construo da posio de testemunha, transmissora da cultura, como diz Jacques Hassoun [8], que componha a tra-ma ficcional pela elaborao no-toda do luto impos-svel de significar, na transformao do trauma em experincia compartilhada. Tais prticas passam pela elaborao coletiva do trauma, criando condies de alteraes do campo simblico, includas as dimen-ses sociais e polticas.

    Restituir um campo mnimo de significantes que possam circular, referidos ao campo do Outro, permite ao sujeito localizar-se e poder dar valor e sentido sua experincia, articulando um apelo que o retire do silenciamento. Est em jogo no somente a reconstituio narcsica de sua imagem, mas tambm a recomposio do lugar a partir do qual se v amvel para o Outro (referimos ao Ideal do Eu), reafirmando uma posio que lhe permita localizar-se no mundo e estabelecer laos sociais, inclusive os analticos.

    Passar por acontecimentos em relao aos quais no se tem a menor possibilidade de reconhecimento - pois se passa ao largo do imaginvel ou imaginarizvel - leva a novo impasse tico. um impasse que implica no a responsabilizao do sujeito, mas o rompimento com esse campo dito simblico; no o assentimento subjetivo de sua participao, mas a supresso de qualquer partici-pao neste gozo aqui entra a dimenso coletiva.

    Tais prticas passam pela elaborao coletiva do

    trauma [20], criando condies de, atravs da recupe-rao da histria social e poltica, da explicitao das distores, omisses dos interesses e poderes em jogo, possa-se proceder a alteraes do campo imaginrio e simblico em que o sujeito possa se situar em uma histria, reconstituindo o campo ficcional.

    Lacan, discutindo sobre Hamlet, oferece a base terica para tratar da perda que, rejeitada no simbli-co, reaparece no real. Lacan destaca a dimenso ritual e coletiva como precondio elaborao individual do luto. Diz: Os ritos so a interveno macia de todo jogo simblico uma satisfao dada ao que se produz de desordem em razo da insuficincia dos significan-tes para fazer face ao buraco criado na existncia [12].

    Para tratar o trauma provocado pela interven-o do Outro totalitrio, que tenta apagar todas as marcas da subjetividade, necessria uma elaborao que finque suas bases na reconstituio das leis que norteiam o funcionamento do campo social. Por essa razo, sustentamos que todo fenmeno social trau-mtico deve ser inscrito e elaborado no nvel coletivo, sem desmerecer as respostas singulares.

    A clnica do traumtico lana desafios e exige intervenes no convencionais - que caracteriza-mos como prtica psicanaltica clnico-poltica - para abordar a questo da angstia e do luto em sua face poltica, ou seja, considerando a produo sociopo-ltica da angstia e os processos de impedimento dos processos subjetivos do luto.

    Essas precondies podem ser realizadas na clni-ca, strictu sensu ou atravs de prticas coletivas que permi-tam a produo de um ato que toca dimenses do real, simblico e imaginrio, contornando e significando aquilo que, por vezes, negado socialmente. S ento possvel desidentificar o acontecimento, para que trace um futuro para todos e se torne um emblema cultural.

    A POSIO DO ANALISTA

    A oferta de uma escuta que supe romper bar-reiras e resgatar a experincia compartilhada com o outro, deve ser uma escuta como testemunho e resga-te da memria [17]. Uma escuta em que se utiliza a presena e a palavra. Uma presena em que o analista convocado a suportar e servir de mola ao relanamen-to das significaes. Nesse sentido, em nossa clnica, a presena da palavra que se suporta pela presena do analista ocorre na diversidade das intervenes: em atividades grupais sobre vrias temticas, em oficinas

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    de Portugus, em escutas singulares, na publicizao dos acontecimentos e conflitos nas instituies e vida social.

    A clnica do traumtico convoca o analista a tencionar um espao entre enunciado e enunciao, abrindo espao para a fala, declarar diga mais e, a partir da, possibilitar as condies necessrias para a localizao subjetiva.

    A posio do analista assim destacada por Berta:

    A partir de Lacan, proponho ler esta "pres-so", a respeito daquilo que funda no discurso analtico sua tica: o Desejo do Analista. O analista, alm de oferecer sua presena como implicao de escuta, alm de decifrar o de-sejo como desejo do Outro, deve, mantendo seu desejo em x, ser suporte desse objeto, pro-movendo assim a resposta do analisado a esse enigma, "o que se pe em ato" que convoca a presentificao da pulso. "Se a transferncia aquilo que da pulso separa a demanda, o de-sejo do analista aquilo que a leva de volta pulso". [5]

    Esta uma posio pela qual se paga, alerta Lacan:

    [...] pagar com palavras, sem dvida, se a transmutao que elas sofrem pela operao analtica as eleva a efeito de interpretao;[...] pagar tambm com sua pessoa, na medi-da em que, haja o que houver, ele a empresta como suporte aos fenmenos singulares que a anlise descobriu na transferncia;[...] pagar com o essencial em seu juzo mais ntimo, para intervir numa ao que vai ao cerne de seu ser. [10]

    Apresentamos o trabalho e a elaborao de uma prtica psicanaltica que contribui para emergncia de um sujeito que se separa dessa ordenao, para compa-recer como quem questiona essa ordem e se movimen-ta, criando aes de transformao. Nessa dimenso, reconhecendo-se como falta-a-ser que a alteridade, a diferena no significada como ameaa, mas como encontro, com o qual se faz o novo.

    REfERNcIAS BIBLIOgRfIcAS

    [1] ACNUR. Deslocando-se atravs das fronteiras. Disponvel em . Acesso sem data.

    [2] AGAMBEN, G. Lo que queda de Auschwitz: el ar-chivo y el testigo: homo sacer: vol. III. Valencia: Pre--Textos, 2002. 188p.

    [3] ALENCAR, S. L. de S. A experincia do luto em situao de violncia: entre duas mortes. Tese (Doutorado em Psicologia Social) - Pontifcia Uni-versidade Catlica de So Paulo, So Paulo, 2011.

    [4] BERTA, S. L. O exlio: vicissitudes do luto: reflexes sobre o exlio poltico dos argentinos (1976-1983). 132 p. Dissertao (Mestrado em Psicologia Clnica) - Universidade de So Paulo, So Paulo, 2007.

    [5] ______. Um estudo psicanaltico sobre o trauma de Freud a Lacan. Tese (Doutorado em Psicologia Cl-nica) - Universidade de So Paulo, So Paulo, 2012.

    [6] BERTA, S. L.; ROSA, M. D. Angstia e luto no ex-lio poltico. Revista Textura, So Paulo, ano 5, n. 5, p. 52-56, 2005.

    [7] FREUD, S. Luto e melancolia. Rio de Janeiro: Imago, 1974. 396 p. (Edio standard brasileira das Obras Psicolgicas Completas de Sigmund Freud, v. XIV). Traduo sob a direo de Jayme Salomo.

    [8] HASSOUN, J. Los contrabandistas de la memoria. Buenos Aires: Ediciones de la Flor S. R. L., 1996. 192 p. (Coleccin Inconsciente y Cultura).

    [9] LACAN, J. A cincia e a verdade (1966). In: _______. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 18. Traduo de Vera Ribeiro.

    [10] ______. A direo do tratamento (1958). In: _______. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 593. Traduo de Vera Ribeiro.

    [11] ______. Funo e campo da fala e da linguagem em psicanlise (1953). In: _______. Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998. p. 238-323. Tra-duo de Vera Ribeiro.

    [12] ______. O desejo e sua interpretao: seminrio 1958-1959. Porto Alegre: Associao Psicanal-tica de Porto Alegre, 2002. Traduo da Asso-ciao Psicanaltica de Porto Alegre a partir do texto estabelecido pela Association Freudienne Internationale.

    [13] ______. O seminrio: Livro 11: Os quatro conceitos fundamentais da Psicanlise (1964). Rio de Janei-ro: Jorge Zahar, 1993. Traduo M. D. Magno.

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    [14] ______. Le seminaire: livre 14: La logique du fantasme, 1966-1967. Indito

    [15] PUJ, Mario Trauma y desamparo. Revista Psicoanlisis y el Hospital, Buenos Aires, vol. 17, p. 29, 2000.

    [16] ROSA, M. D. Escutando vidas secas. In: ASSO-CIAO PSICANALTICA DE PORTO ALE-GRE. (Org.). Adolescncia: um problema de fronteiras. Porto Alegre: APPOA, 2004, p.18.

    [17] ROSA, M. D.; BERTA, S. L.; ALENCAR, S. L. S. A elaborao coletiva do trauma: a clinica do trau-mtico. In: SCOTTI, S. et al. (Org.). Escrita e Psi-canlise II. Curitiba: CRV, 2010. v. 1, p. 15-25.

    [18] ROSA, M. D.; BERTA, S.; CARIGNATO, T.; Alencar, S. A condio errante do desejo e a pr-tica psicanaltica clnico-poltica. Revista Latino--Americana de Psicopatologia Fundamental, So Paulo, vol. 12, n. 3, p. 497-511, set. 2009.

    [19] ROSA, M. D.; DOMINGUES, E. O mtodo na pesquisa psicanaltica de fenmenos sociais e polticos: a utilizao da entrevista e da obser-vao. Psicologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 22, n. 1, p. 180-188, 2010.

    [20] ROSA, M. D.; GAGLIATO, M. Psicanalistas, heris e resistncias. In: PERDOMO, M. C. e CERRUTI, M. (Org.). Trauma, memria e transmisso: a incidncia da poltica na clnica psicanaltica. So Paulo: Primavera Editorial, 2011.

    [21] ROSA, M. D.; POLI, M. C. Experincia e lingua-gem: a psicanlise e as estratgias de resistncia. Psi-cologia & Sociedade, Belo Horizonte, v. 21, p. 5-12, 2009. Nmero especial.

    [22] SOLER, C. Trauma e fantasia. Stylus: Revista de Psi-canlise, Rio de Janeiro, n. 9, p. 4559, out. 2004.

    [23] IEK, S.; DALY,G. Arriscar o impossvel: con-versascomiek.SoPaulo:MartinsFontes,2006.

    211p. (Coleo Dialtica).