artigo cientÍfico coordenaÇÃo escolar

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1. Pedagogo, Especialista em Supervisão e Coordenação dos Espaços Educativos (FAP Faculdade Piauiense) e professor das redes municipais de ensino de Buriti dos Lopes e Parnaíba. E-mail: [email protected] A SUPERVISÃO ESCOLAR NA PERCEPÇÃO DOS COORDENADORES PEDAGÓGICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE BURITI DOS LOPES. Alexsandro Souza dos Santos¹ Resumo Este artigo é o resultado de uma revisão bibliográfica que foi organizada a partir de leituras de obras de vários autores e de uma pesquisa de campo com alguns coordenadores pedagógicos das redes municipal e estadual de ensino da cidade de Buriti dos Lopes-PI realizada entre os meses de maio e junho de 2012 em que se utilizou como coleta de dados a entrevista semiestruturada. Esse trabalho seguirá uma abordagem qualitativa e tem como problema central a seguinte indagação: que concepção os supervisores ou coordenadores pedagógicos têm sobre supervisão escolar? Nessa perspectiva o objetivo central deste estudo é analisar as concepções que os coordenadores pedagógicos têm sobre o tema supervisão escolar. Assim no início abordaremos a história e as mudanças ocorridas na supervisão escolar no Brasil nos últimos anos, bem como as novas concepções do trabalho do supervisor escolar na atualidade e as percepções que os coordenadores pedagógicos têm acerca da supervisão escolar e de sua prática na escola. Para embasar essa pesquisa recorreu-se a estudos de autores como: Alarcão (2001), Rangel (1988 e 1999), Lima (2011), Saviani (1999), dentre outros. Palavras-chave: Supervisão escolar. Coordenador pedagógico. Escola. Prática pedagógica. Percepções. SCHOOL SUPERVISION IN PERCEPTION OF ENGINEERS TEACHING OF PUBLIC SCHOOLS OF BURITI DOS LOPES. Abstract This article is the result of a literature review that was organized from works readings of various authors and a field survey with some coordinators of municipal and state schools of the city of Buriti dos Lopes-PI between the months of May and June 2012, in which data collection semistructured interview was used. This work will follow a qualitative approach and its central problem is the following question: what conception do supervisors or coordinators have on school supervision? In this perspective the main objective of this study is to analyze the conceptions coordinators have on school supervision. So, at the beginning, the history and changes in school supervision in Brazil in recent years will be presented, as well as new conceptions of the work of the school supervisor today and perceptions that the coordinators have about school supervision and practice in school. To support this research we used the studies of authors such as: Alarcão (2001), Rangel (1988 and 1999), Lima (2011), Saviani (1999), among others. Keywords: Supervision school. Pedagogical coordinator. School. Pedagogical practice. Perceptions

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Page 1: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

1. Pedagogo, Especialista em Supervisão e Coordenação dos Espaços Educativos (FAP – Faculdade

Piauiense) e professor das redes municipais de ensino de Buriti dos Lopes e Parnaíba. E-mail:

[email protected]

A SUPERVISÃO ESCOLAR NA PERCEPÇÃO DOS

COORDENADORES PEDAGÓGICOS DE ESCOLAS PÚBLICAS DE

BURITI DOS LOPES.

Alexsandro Souza dos Santos¹

Resumo

Este artigo é o resultado de uma revisão bibliográfica que foi organizada a partir de leituras de

obras de vários autores e de uma pesquisa de campo com alguns coordenadores pedagógicos

das redes municipal e estadual de ensino da cidade de Buriti dos Lopes-PI realizada entre os

meses de maio e junho de 2012 em que se utilizou como coleta de dados a entrevista

semiestruturada. Esse trabalho seguirá uma abordagem qualitativa e tem como problema

central a seguinte indagação: que concepção os supervisores ou coordenadores pedagógicos

têm sobre supervisão escolar? Nessa perspectiva o objetivo central deste estudo é analisar as

concepções que os coordenadores pedagógicos têm sobre o tema supervisão escolar. Assim no

início abordaremos a história e as mudanças ocorridas na supervisão escolar no Brasil nos

últimos anos, bem como as novas concepções do trabalho do supervisor escolar na atualidade

e as percepções que os coordenadores pedagógicos têm acerca da supervisão escolar e de sua

prática na escola. Para embasar essa pesquisa recorreu-se a estudos de autores como: Alarcão

(2001), Rangel (1988 e 1999), Lima (2011), Saviani (1999), dentre outros.

Palavras-chave: Supervisão escolar. Coordenador pedagógico. Escola. Prática pedagógica.

Percepções.

SCHOOL SUPERVISION IN PERCEPTION OF ENGINEERS TEACHING OF

PUBLIC SCHOOLS OF BURITI DOS LOPES.

Abstract

This article is the result of a literature review that was organized from works readings of

various authors and a field survey with some coordinators of municipal and state schools of

the city of Buriti dos Lopes-PI between the months of May and June 2012, in which data

collection semistructured interview was used. This work will follow a qualitative approach

and its central problem is the following question: what conception do supervisors or

coordinators have on school supervision? In this perspective the main objective of this study

is to analyze the conceptions coordinators have on school supervision. So, at the beginning,

the history and changes in school supervision in Brazil in recent years will be presented, as

well as new conceptions of the work of the school supervisor today and perceptions that the

coordinators have about school supervision and practice in school. To support this research

we used the studies of authors such as: Alarcão (2001), Rangel (1988 and 1999), Lima (2011),

Saviani (1999), among others.

Keywords: Supervision school. Pedagogical coordinator. School. Pedagogical practice.

Perceptions

Page 2: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

1. INTRODUÇÃO

O tema supervisão ou coordenação escolar tem ganhado grande relevância no campo

das pesquisas em educação nos últimos anos, pesquisadores como Alarcão (2001), Rangel

(1988 e 1999), Lima (2011), Saviani (1999), entre outros, têm produzido estudos com o

propósito de abordar a nova configuração da supervisão escolar, isso por conta da emergente

necessidade de mudanças nas práticas pedagógicas dentro da escola. Entendemos que essas

mudanças estão diretamente relacionadas com o novo conceito de supervisão escolar que se

apresenta na atualidade, pois este deve corresponder às novas exigências da sociedade atual, a

cada dia mais complexa devido, entre outras coisas, aos efeitos da globalização e as novas

tecnologias educacionais.

A atividade de supervisão escolar ou como também é conhecida coordenação

pedagógica assume na atualidade uma grande importância no contexto escolar, isso ocorre

devido a complexidade das funções que a escola vem assumindo, o que exige dessa instituição

ações de supervisão e coordenação que estejam voltadas para essa nova realidade.

Sendo assim é necessário que todos os educadores como, professores, coordenadores

pedagógicos e gestores escolares tenham mais conhecimento sobre essa temática para que

possam compreender melhor a importância da prática de coordenação no contexto escolar, e a

contribuição desta para a melhoria da prática pedagógica do professor em serviço.

Sobre a função da supervisão/coordenação escolar essa tem se modificado

consideravelmente nas últimas décadas, porém, entre os próprios supervisores e

coordenadores existem diferentes concepções acerca do que seja supervisão escolar, ou seja,

para alguns suas práticas ainda permanecem baseadas em concepções tradicionais de

educação, para outros, estão pautadas em concepções mais progressistas, voltadas para um

novo paradigma de educação e de formação humana. Mas, afinal como os coordenadores

pedagógicos veem a supervisão/coordenação escolar? Qual a concepção que eles têm acerca

de coordenação pedagógica? Como os coordenadores pedagógicos percebem suas próprias

práticas no contexto escolar? E qual será o papel do supervisor/coordenador escolar no

ambiente escolar?

A partir dessas questões é que norteamos as discussões dessa pesquisa, que tem como

problema a ser investigado: que concepção os supervisores ou coordenadores pedagógicos

têm sobre supervisão escolar?

Nesse sentido para direcionar a investigação tivemos como objetivo geral analisar as

concepções que os supervisores ou coordenadores pedagógicos têm sobre supervisão escolar,

Page 3: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

e como objetivos específicos: descrever os aspectos históricos da supervisão escolar no Brasil;

compreender a evolução da concepção de supervisão escolar; destacar as funções do

supervisor/ coordenador pedagógico na escola atual, descrever e analisar as percepções que os

coordenadores pedagógicos têm sobre a supervisão escolar.

Assim para fundamentar esse estudo nos baseamos em produções de diversos autores

do campo das pesquisas na área de educação como Alarcão (2004), Libâneo (2004), Lima

(2011), Lück (2011), Saviani (1999), Silva (1998), e Rangel (1988, 1997, 2011), Medina

(1995, 2002), dentre outros, que respaldarão esta investigação.

2. METODOLOGIA

A construção do presente artigo se caracteriza por uma abordagem qualitativa, pois

acreditamos que essa seja a melhor abordagem para o nosso estudo, devido às suas

características como ressalta Deslauriers (1991, p. 58):

Na pesquisa qualitativa, o cientista é ao mesmo tempo o sujeito e o objeto de

suas pesquisas. O desenvolvimento da pesquisa é imprevisível. O

conhecimento do pesquisador é parcial e limitado. O objetivo da amostra é

de produzir informações aprofundadas e ilustrativas: seja ela pequena ou

grande, o que importa é que ela seja capaz de produzir novas informações

A fim de produzir informações novas e aprofundadas sobre a prática do coordenador

pedagógico na escola nos baseamos no levantamento de dados tanto bibliográficos quanto de

pesquisa de campo. Esses percursos metodológicos nos proporcionou compreender melhor

qual a concepção que os coordenadores pedagógicos têm construído acerca de sua função.

Sobre as características da pesquisa bibliográfica Fonseca (2002, p.32) destaca:

A pesquisa bibliográfica é feita a partir do levantamento de referências

teóricas já analisadas, e publicadas por meios escritos e eletrônicos, como

livros, artigos científicos, páginas de web sites. Qualquer trabalho científico

inicia-se com uma pesquisa bibliográfica, que permite ao pesquisador

conhecer o que já se estudou sobre o assunto. Existem, porém pesquisas

científicas que se baseiam unicamente na pesquisa bibliográfica, procurando

referências teóricas publicadas com o objetivo de recolher informações ou

conhecimentos prévios sobre o problema a respeito do qual se procura a

resposta.

A pesquisa de campo segundo Fonseca (2002) caracteriza-se pelas investigações em

que, além da pesquisa bibliográfica e/ou documental, se realiza coleta de dados junto a

pessoas, com o recurso de diferentes tipos de pesquisa.

Page 4: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

De acordo com Gil (2002) o estudo de campo procura o aprofundamento de uma

realidade específica e, é basicamente realizado por meio da observação direta das atividades

do grupo estudado e de entrevistas com informantes para captar as explicações e

interpretações do que ocorre naquela realidade.

Nesse sentido Segundo José Filho (2006, p.64) “o ato de pesquisar traz em si a

necessidade do diálogo com a realidade a qual se pretende investigar e com o diferente, um

diálogo dotado de crítica, canalizador de momentos criativos”. A tentativa de conhecer

qualquer fenômeno constituinte dessa realidade busca uma aproximação, visto sua

complexidade e dinamicidade dialética. Com base nisso buscamos por meio deste estudo

utilizando a pesquisa de campo investigar uma realidade partindo de uma perspectiva crítica

através de um processo dialético.

Assim, utilizamos para a coleta de dados uma entrevista semiestruturada, pois segundo

Triviños (1987) a entrevista semiestruturada tem como característica questionamentos básicos

que são apoiados em teorias e hipóteses que se relacionam ao tema da pesquisa. Desta forma

com base em (TRIVIÑOS, 1987, p.152) a entrevista semiestruturada “[...] favorece não só a

descrição dos fenômenos sociais, mas também sua explicação e a compreensão de sua

totalidade [...]”. Vale ressaltar que a pesquisa de campo foi realizada com três coordenadores

pedagógicos atuantes nas redes municipal e estadual de ensino.

E quanto à organização este artigo está estruturado da seguinte forma: na primeira

parte apresentamos um breve histórico acerca da supervisão escolar no Brasil, na segunda

parte tratamos da nova concepção de supervisão escolar e a função desse profissional na

escola, destacando o papel do supervisor escolar ou coordenador pedagógico na escola da

atualidade. Na quarta parte apresentamos os resultados da pesquisa de campo, aqui

denominado de: a percepção que os coordenadores pedagógicos têm sobre supervisão escolar,

por fim, temos as considerações finais.

3. BREVE HISTÓRICO DA SUPERVISÃO ESCOLAR NO BRASIL

A história da supervisão escolar está intimamente ligada às diversas mudanças

ocorridas na sociedade decorrente dos avanços tecnológicos e da divisão de trabalho. Segundo

Lima (2001) a ideia de supervisão surgiu inicialmente com o processo de industrialização,

tendo em vista a melhoria quantitativa e qualitativa da produção, antes de ser assumida pelo

sistema educacional, em busca de um melhor desempenho da escola em sua tarefa educativa.

Page 5: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

Com o passar do tempo o ato de supervisão começou a não ser utilizado somente nas

indústrias, mas sim, adentrou o espaço das escolas, com o intuito de contribuir para o melhor

desempenho da escola e seu propósito de atender as exigências da sociedade vigente, que

estava vivendo um processo de transformação no qual a escola desempenharia um papel

importantíssimo na formação do indivíduo para atender as exigências sociais da sociedade

capitalista.

Para Soares (2002) no início da industrialização, a ideia de supervisão teve como

sentido a melhoria na quantidade e na qualidade da produção industrial, a partir dessa

perspectiva a supervisão foi revestida de um forte sentimento de repressão, vigilância,

controle e monitoramento das ações. Isso se manteve durante muito tempo nos séculos XVIII

e início do século XX, e que posteriormente também influenciou no surgimento da supervisão

no processo de ensino como nos situa Lima (2001, p. 69):

Durante o século XVIII e princípio do século XIX, a supervisão manteve-se

dentro de uma linha de inspecionar, reprimir, checar e monitorar. Somente

em 1841, em Cincinnatti, surgiu a ideia de supervisão relacionada ao

processo de ensino, sendo que até 1875 estava voltada primordialmente para

a verificação das atividades docentes.

Assim segundo Lima (2001) no final do século XIX e início do século XX, a

supervisão passou a se preocupar com o estabelecimento de padrões de comportamento bem

definidos e de critérios de aferição do rendimento escolar, visando à eficiência do ensino. No

começo do século XX começa a ter influência na supervisão e no processo de ensino os

conhecimentos científicos e as ciências comportamentais, acompanhado a isso se começa a

pensar no papel do supervisor como líder democrático.

A supervisão escolar no Brasil também acompanhou essas mudanças e teve durante

anos presa apenas a função de inspeção ou fiscalização, isso foi se modificando com as

reformas educacionais e as políticas públicas de programas de formação que deram mais

atribuições e significados para a supervisão.

Dentre as reformas podemos destacar a Francisco de Campos, Decreto Lei 19.890 de

18/4/1931, que instituiu o Estatuto das Universidades Brasileiras prevendo a implantação de

Faculdades de Educação, Ciências e Letras que teriam a incumbência de formar professores

das disciplinas específicas do Curso Normal bem como os “técnicos de educação”.

Nas políticas públicas de formação de supervisores destacamos também a aliança entre

Brasil e Estados Unidos na década de 1950, por meio do Programa Americano-Brasileiro de

Assistência ao Ensino Elementar (PABAEE), em que a formação dos supervisores seguiu um

Page 6: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

modelo americano de desenvolvimento focado nos meios, ou seja, nas técnicas e métodos de

ensino. A autora Lima (2001, p. 71) salienta muito bem sobre este assunto, do modelo

educacional implantado no Brasil vinculado com os Estados Unidos:

Essa supervisão se inicia no Brasil mediante cursos promovidos pelo

Programa americano Brasileiro de Assistência ao Ensino Elementar

(Pabaee), que formou a primeira leva de supervisores escolares para atuar no

ensino elementar (primário) brasileiro com vistas à modernização do ensino

e ao preparo do professor leigo. A formação de tais supervisores se deu

segundo o modelo de educação americano, que enfatizava os meios

(métodos e técnicas) do ensino. O Pabaee expandiu-se no Brasil durante o

período de 1957 a 1963 [...]

Após isso começou a se discutir no âmbito da formação superior o profissional capaz

de assumir a função de supervisor na escola. Nesse contexto surge a necessidade de

modificações no curso de Pedagogia, pois os mesmos formavam pedagogos que eram técnicos

em educação com uma formação geral e não específica, a partir disso foi criado o Conselho de

Educação em 1969 que teve como um dos seus principais objetivos reformular o curso de

Pedagogia, que foi organizado em habilitações específicas, como bem descreve Saviani

(1999, p. 29):

O curso de Pedagogia foi, então, organizado na forma de habilitações, que,

após um núcleo comum centrado nas disciplinas de fundamentos da

educação, ministrados de forma bastante sumária, deveriam, garantir uma

formação diversificada numa função específica da ação educativa. Foram

previstas quatro habilitações centradas nas áreas técnicas, individualizadas

por função, a saber: administração, inspeção, supervisão e orientação [...].

Assim a atividade de supervisão escolar exercida pelo supervisor escolar, como

profissão nas instituições escolares brasileiras surgiu a partir das reformas do ensino

universitário através de uma nova estruturação no curso de Pedagogia no final dos anos 60.

Com isso no início dos anos 70 a supervisão escolar no Brasil assumiu grande

relevância, tendo como embasamento os pressupostos da pedagogia tecnicista, tendência

baseada no autoritarismo, nas práticas mecanizadas e na repressão.

E baseado no tecnicismo foi criada a lei 5.692/71 que instituiu a supervisão nas

escolas de primeiro e segundo graus, com a função de controle e fiscalização em nome da

eficiência e da eficácia da execução das políticas oficiais. Inicialmente, além de agente

fiscalizador, o supervisor era o responsável principal pela escola, atuando nos setores

administrativo, cultural e de serviço.

Page 7: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

Ao longo dos anos a supervisão escolar sofreu diversas alterações, e no âmbito

educacional começou a ser vista como uma prática necessária, atribuindo funções mais

voltadas para o trabalho pedagógico desvinculando-se da concepção técnica e burocrática

atribuída na tendência tecnicista, que influenciou a educação brasileira durante anos.

Assim na década de 90 a supervisão escolar começou a assumir uma postura mais

contextualizada dentro das escolas fazendo uso de técnicas sem necessariamente está

associado aos princípios do tecnicismo, o papel da supervisão escolar nesse caso se aproxima

do contexto escolar, como salienta Lima (2001, p. 77):

E chega-se aos anos 90 reconhecendo-se que a supervisão pode fazer uso da

técnica, sem a conotação de “tecnicismo”. Trata-se, portanto, de uma função

que, contextualizada, insere-se nos fundamentos e nos processos

pedagógicos, auxiliando e promovendo a coordenação das atividades desse

processo e sua atualização, pelo estudo e pelas práticas coletivas de

professores.

Desta forma podemos afirmar que nas últimas décadas a supervisão escolar evoluiu de

uma concepção técnica, burocrática e fragmentada para uma concepção de prática

colaborativa pautada numa escola participativa, envolvendo o trabalho coletivo em regime de

parcerias entre coordenador pedagógico e os professores, a fim de promover na escola um

trabalho pedagógico eficiente e de qualidade.

4. CONCEPÇÃO DE SUPERVISÃO ESCOLAR E O PAPEL DO SUPERVISOR

ESCOLAR NA ATUALIDADE

A supervisão escolar com o passar do tempo modificou-se, deixou de ser uma prática

fragmentada, fiscalizadora, uma atividade apenas de controle e inspeção para tornar-se mais

complexa assumindo novos desafios, como o da formação continuada e o do

acompanhamento do trabalho pedagógico dos professores no cotidiano escolar.

Nesse sentido segundo Rangel (1988, p.14) a supervisão deixa de ser escolar para ser

pedagógica caracterizada por “um trabalho de assistência ao professor, em forma de

planejamento, acompanhamento, coordenação, controle, avaliação e atualização do

desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem”.

Assim atualmente o papel do supervisor além de ser político, é também social e

crítico, evidenciado nas afirmações de Rangel (1997, p.151):

Page 8: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

O supervisor não é um “técnico” encarregado da eficiência do trabalho e,

muito menos, um “controlador” de “produção”; sua função e seu papel

assumem uma posição social e politicamente maior, de líder, de coordenador

que estimula o grupo à compreensão – contextualizada e crítica – de suas

ações, também, de seus direitos.

Desta forma podemos afirmar que na função de supervisor escolar um dos principais

aspectos é o da liderança junto aos professores, estabelecendo uma relação horizontal sem

imposições através da interação, numa perspectiva dialógica. O supervisor como líder é o

responsável pela articulação entre os saberes dos professores e a sua relação com a proposta

da escola, viabilizando assim o projeto político pedagógico.

Alarcão (2004, p. 35) entende o supervisor escolar como líder, para ela o objeto da

supervisão é definido como “o desenvolvimento qualitativo da organização escolar e dos que

nela realizam seu trabalho de estudar, ensinar ou apoiar a função educativa por meio de

aprendizagens individuais e coletivas, incluindo a formação de novos agentes”.

O supervisor escolar numa visão qualitativa de organização escolar é, portanto, o

coordenador pedagógico, que segundo Libâneo (2004, p.183) é o profissional que “responde

pela viabilização, integração e articulação, do trabalho pedagógico-didático em ligação direta

com os professores, em função da qualidade de ensino”.

Então o papel do coordenador pedagógico é de dar assistência didático-pedagógica aos

professores em serviço através de processos contínuos de formação, auxiliando-os na

construção de situações de aprendizagem adequadas às necessidades educacionais dos alunos,

objetivando a qualidade no processo de ensino aprendizagem.

Segundo Libâneo (2004) de acordo com estudos recentes sobre formação continuada

de professores, o papel do coordenador pedagógico é de assistência e monitoramento da

prática pedagógica dos professores, através de procedimentos reflexivos e de investigação,

baseando-se nas situações práticas do cotidiano da sala de aula.

Assim o coordenador pedagógico deve no exercício da função levar o docente a

refletir sobre sua prática em sala de aula, proporcionando uma investigação crítica sobre a

ação, criando momentos de discussões coletivas na escola, nas reuniões e nos planejamentos,

e também fazer o acompanhamento individual com o professor nos horários reservados aos

estudos e organização pedagógica. Como defende Medina (1995, p. 46):

O supervisor abdica de exercer poder e controle sobre o trabalho do

professor e assume uma posição de problematizador do desempenho

docente, isto é, assume com o professor uma atitude de indagar, comparar,

responder, opinar, duvidar, questionar, apreciar e desnudar situações de

ensino, em geral, e, em especial, as da classe regida pelo professor.

Page 9: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

Sabemos que muitas vezes na escola o coordenador pedagógico, assume funções que

não suas atribuições, ficando ele impossibilitado de cumprir com o seu papel fundamental que

segundo Libâneo (2004) é responder por todas as atividades pedagógico-didáticas e

curriculares da escola e pelo acompanhamento das atividades de sala de aula, visando a níveis

satisfatórios de qualidade cognitiva e operativa do processo de ensino e aprendizagem.

Essa prática deve fazer parte do cotidiano do coordenador pedagógico, que não pode

ocupar boa parte do seu tempo na escola com tarefas burocráticas e administrativas, como

preenchimento de diários, fichas de rendimento, e nem resolvendo outros que acontecem na

escola como, por exemplo, problemas de indisciplina dos alunos, seu trabalho tem que ser

significativo quanto ao aspecto da organização didático-pedagógica da escola, efetivando a

concretização do projeto político pedagógico da escola.

5. ANÁLISE DOS DADOS: RESULTADOS E DISCUSSÕES DA PESQUISA DE

CAMPO

A fim de buscar subsídios e verificar qual a percepção dos coordenadores pedagógicos

e dos docentes sobre supervisão escolar, foram entrevistados 3 (três) profissionais da cidade

de Buriti dos Lopes no estado do Piauí, que atuam como coordenadores pedagógicos nas

redes municipal e estadual de ensino. Para coleta de dados foi utilizado como instrumento a

entrevista semiestruturada, composta de 5 (cinco) questões aplicadas aos coordenadores

pedagógicos. Os Coordenadores serão identificados como: C1, C2 e C3.

Sobre os coordenadores investigados: a primeira coordenadora (C1) é formada no

curso de licenciatura plena em História com especialização em História do Brasil e trabalha

há dois anos numa escola da rede municipal; a segunda coordenadora (C2) tem formação

superior em Agronomia e está cursando Licenciatura plena em Pedagogia é coordenadora há

quase 1 ano numa escola da rede estadual de ensino; a terceira coordenadora (C3) é graduada

em Pedagogia, tem experiência com gestão e coordenação escolar, especialista em

Psicopedagogia e Administração de Organizações Educacionais, no momento coordena o

programa Mais Educação, educação integral em uma escola pública da rede estadual de

ensino de Buriti dos Lopes.

Com a finalidade de investigar a percepção desses coordenadores pedagógicos acerca

da Supervisão Escolar e de sua atuação na escola, apresentaremos a seguir os resultados da

pesquisa de campo com análise e interpretação dos dados coletados, para isso, o estudo foi

distribuído nas seguintes categorias: a) visão da escola; b) concepções dos coordenadores

Page 10: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

pedagógicos sobre supervisão/coordenação escolar; c) a prática do coordenador pedagógico;

d) as mudanças na supervisão escolar na visão dos coordenadores pedagógicos; e) a

importância do supervisor escolar.

5.1 A visão da escola

A primeira questão teve como abordagem direcionada a visão que a escola tem sobre o

trabalho de supervisão escolar. Assim foi realizada a seguinte pergunta: como a sua escola vê

o trabalho de supervisão ou coordenação escolar? As coordenadoras responderam:

(C1) – O trabalho de supervisão ou coordenação pedagógica na minha concepção é uma

função que requer muito dinamismo, por realizar várias atividades em coletividade e está

em meio a um constante confronto de ideias e opiniões e, principalmente, por ser o

profissional que zela pela organização e cumprimento dos prazos e atividades, como

planejamento e diários, acho que por isso nem sempre é visto com bons olhos e

principalmente por aqueles profissionais desorganizados e tradicionalistas. Confesso que

tenho dificuldades em pensar pela escola para responder essa pergunta, porém, acredito

que a escola veja o trabalho de supervisão ou coordenação como necessário, pois são

inúmeras as cobranças que recebo dos professores, e se existe cobrança do profissional é

porque sentem a necessidade dele na escola.

(C2) – Na escola em que trabalho o coordenador pedagógico e de suma importância e

muito valorizado pelos professores, que têm uma relação boa comigo.

(C3) – Para a escola que trabalho o trabalho de supervisão escolar é de suma importância,

pois as escolas estão tendo muito mais trabalho, como o desenvolvimento de vários

programas ao mesmo tempo, e não há um profissional tanto ou mais importante que o

coordenador pedagógico para está orientando, mostrando os caminhos do trabalho

docente.

A primeira coordenadora entrevistada (C1), destacou o dinamismo e o trabalho

coletivo da supervisão escolar, bem como a diversidade e o confronto de ideias, resultante das

relações estabelecidas na escola, ela sentiu dificuldades em responder a pergunta partindo de

uma visão da escola que trabalha, porém deixou claro que o trabalho de coordenação escolar

não é bem visto por profissionais “desorganizados” e “tradicionalistas”, devido o coordenador

ser responsável pela organização das atividades da escola como planejamento e diários

escolares e que observa muitas cobranças dos professores quanto o seu trabalho na escola.

Na concepção da coordenadora (C2) verificamos a questão da valorização do

coordenador pedagógico pelos professores no ambiente escolar e das relações positivas entre

coordenador e professores devido ao entendimento de ambos sobre a importância da

supervisão escolar na escola em que trabalham.

Page 11: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

A coordenadora (C3) enfatizou a importância do trabalho de supervisão na

coordenação dos programas que a escola desenvolve, pois hoje nas escolas existem vários

programas que visam a melhoria da aprendizagem dos alunos, e o coordenador pedagógico é

o profissional que orienta bem os professores quanto à execução desses programas, a partir da

orientação do trabalho pedagógico, e esse apoio se constitui como uma das principais funções

do coordenador pedagógico.

Partindo da fala das três coordenadoras, Rangel (2011, p. 57) situa o trabalho do

supervisor pedagógico no ambiente escolar da seguinte forma:

O supervisor pedagógico faz parte do corpo de professores e tem a

especificidade do seu trabalho caracterizado pela coordenação – organização

em comum – das atividades didáticas e curriculares e a promoção e o

estímulo de oportunidades coletivas de estudo.

Neste sentido Rangel de forma propositiva percebe o supervisor pedagógico como membro do

corpo docente, mas que se define no trabalho de coordenação junto aos professores de modo que o

processo da qualidade de ensino seja fruto de um trabalho coletivo. Desta forma o coordenador

pedagógico também faz parte do processo pedagógico que os professores vivenciam na escola, pois

dessa maneira ele se coloca no lugar dos docentes estimulando-os à prática coletiva de estudo e de

reflexões acerca do processo de ensino-aprendizagem.

5.2 Concepções do coordenador pedagógico sobre supervisão escolar

Na segunda pergunta feita para os coordenadores pedagógicos foi a investigado que

concepções ou conceitos os coordenadores tinham sobre supervisão/coordenação escolar.

Essa questão possibilitou perceber as concepções ou conceitos que eles apresentam sobre

supervisão ou coordenação escolar. As respostas foram as seguintes:

(C1) – Vejo a supervisão ou coordenação escolar como um campo de atuação que serve

para aproximar a teoria da prática, promover articulações entre os demais profissionais do

setor, fazer intervenções quando necessário, criar alternativas facilitadoras para o trabalho

pedagógico e principalmente atuar na formação contínua dos professores da escola que

trabalho.

(C2) – Para mim supervisão ou coordenação escolar é dar apoio pedagógico (suporte) ao

professor, é elo entre professor e aluno, é uma maneira de acompanhar o trabalho

pedagógico dentro da escola, na realidade é o suporte que gerencia, coordena e

supervisiona todas as atividades relacionadas com o processo de ensino e aprendizagem,

visando sempre a permanência do aluno com sucesso.

Page 12: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

(C3) – Todo o coordenador pedagógico deve ser especialista em como ensinar, em como

o educando aprende, pois a essência da coordenação é garantir que a equipe docente

alcance os objetivos propostos, contribuindo com e para que os professores consigam

fazer uma boa educação, independente do curso ou nível escolar, pois o fator mais

importante é o conhecimento.

Nessa questão todos os coordenadores apresentaram a mesma concepção de

supervisão escolar, uma atividade que contribui para o trabalho pedagógico do professor, e

que se desenvolve com a parceria do supervisor escolar, cumprindo o papel de facilitador,

orientador, através da formação continuada e no acompanhamento do docente em sua prática

pedagógica na escola, contribuindo para a melhoria do processo de ensino aprendizagem.

Essas concepções fazem parte da função da supervisão escolar nas escolas atualmente. Assim

a partir dessas concepções Lück (2011, p.20) define o papel do supervisor escolar:

O papel do supervisor escolar se constitui, em última análise, na somatória

de esforços e ações desencadeadas com o sentido de promover a melhoria do

processo de ensino-aprendizagem. Esse esforço voltou-se constantemente ao

professor, num processo de assistência aos mesmos e coordenação de sua

ação.

Para Lück o trabalho do coordenador pedagógico está diretamente ligado a melhoria

do processo de ensino aprendizagem, para isso é necessário que o supervisor escolar seja um

colaborador da prática docente através de assistências permanentes ao professor coordenando

as ações docentes na escola.

5.3 A prática do coordenador pedagógico

Na terceira categoria investigamos de que modo os entendimentos que os

coordenadores pedagógicos têm sobre supervisão ou coordenação escolar influenciam em

suas práticas na escola. Os coordenadores apresentaram como respostas:

(C1) – Então, como falei anteriormente o supervisor/coordenador é aquele profissional que

busca aproximar a teoria à prática, porém não possuo uma formação específica para atuar

nesta área, mas os conhecimentos que adquiri sobre os aspectos educacionais de modo geral,

associado à experiência em outras funções escolares, bem como o acompanhamento e

observação do trabalho de outros profissionais e um constante estudo, pesquisas, são sem

dúvidas, fatores determinantes para a realização do meu trabalho.

(C2) – Eu procuro desenvolver a supervisão escolar da melhor maneira possível, procurando

dar apoio pedagógico ao professor.

Page 13: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

(C3) – De uma maneira importantíssima, pois tudo que aprendi e que venho aprendendo, eu

procuro aplicar no meu dia a dia, facilitando cada vez mais o meu trabalho.

Observamos que a preocupação de desenvolver uma boa prática de coordenação

escolar está sempre presente em todas as falas dos coordenadores pedagógicos entrevistados,

no que destacam os conhecimentos adquiridos e suas experiências profissionais, relacionando-

as com o seus trabalhos.

A partir desses relatos constatamos a preocupação dos coordenadores quanto à

importância e a dimensão que eles têm sobre seu trabalho, assumindo enquanto educador uma

postura crítica de sua função. Além disso também observamos a necessidade que os

coordenadores pedagógicos têm de relacionar teoria e prática no contexto escolar articulando

os conhecimentos com a realidade cotidiana que os professores se deparam em sala de aula,

assim o apoio didático-pedagógico ao docente é um ponto fundamental na prática de

coordenação escolar.

5.4 Mudanças na supervisão escolar na visão dos coordenadores pedagógicos

A quarta categoria está relacionada às mudanças ocorridas na supervisão nos últimos

anos, a pergunta para os coordenadores foi a seguinte: Para você quais foram as mudanças

que ocorreram nos últimos anos na supervisão ou coordenação escolar nas escolas brasileiras?

As respostas foram:

(C1) – O que mudou nos últimos anos em algumas escolas brasileiras foi o aumento da

qualificação de profissionais para trabalhar especificadamente nessa área, e isso

consequentemente ampliou a atuação do supervisor ou coordenador, como agentes criadores

de alternativas para enfrentar os novos desafios que a escola assume, diante de uma

sociedade cada vez mais exigente e inovadora.

(C2) – Antes o coordenador era visto como aquela pessoa que iria fiscalizar os diários, hoje o

coordenador é mais valorizado, a grande maioria dos professores já entenderam qual a

função de um coordenador e que seu trabalho é essencial na escola, para tanto, torna-se

necessário a presença de um coordenador pedagógico consciente de seu papel, da

importância de manter uma boa relação com o corpo docente.

(C3) – Os profissionais da educação estão vendo a coordenação com outro olhar, não

somente de um fiscalizador, mas de um colaborador, um “subsidiador”, ou seja, de um

parceiro no seu trabalho docente.

Quanto às respostas podemos analisar que a coordenadora (C1) em sua fala destaca

uma mudança significativa que ocorreu na supervisão escolar nos últimos anos que foi o

Page 14: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

aumento da qualificação específica do coordenador pedagógico, o que contribui para a

ampliação a atuação deste profissional na escola.

De acordo com Lei de Diretrizes Bases da educação Nacional nº 9394/96, art. 64 a

formação do profissional da educação que irá trabalhar com a supervisão escolar poderá ser

feita, em cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós-graduação, a critério da

instituição de ensino, desde que seja garantida nessa formação, a base comum nacional.

Continuando a análise das falas dos coordenadores, observamos que as coordenadoras

(C2) e (C3) apresentaram as mesmas ideias quanto às mudanças que ocorreram na supervisão

escolar nos últimos anos, para ambas a supervisão deixou o caráter fiscalizador para assumir

uma função mais valorizada e significativa dentro da escola.

Com base nisso Alonso (2003, p. 175), reforça o pensamento dos coordenadores

entrevistados, afirmando que a supervisão escolar:

(...) vai muito além de um trabalho meramente técnico-pedagógico, como é

entendido com frequência, uma vez que implica uma ação planejada e

organizada a partir de objetivos muito claros, assumidos por todo o pessoal

escolar, com vistas ao fortalecimento do grupo e ao seu posicionamento

responsável frente ao trabalho educativo.

Nesse sentido Luck (2011) reafirma o que já foi explicitado anteriormente na fala dos

coordenadores, que recentemente a supervisão escolar ganhou uma nova dimensão, mais

dinâmica e com maior potencial de eficácia em longo prazo: a melhoria do desempenho do

professor, isto é, o desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e atitudes dos mesmos em

relação ao processo de ensino aprendizagem. Os aspectos de materiais de instrução, métodos,

técnicas, etc., passam a ser meios ou aspectos desse desenvolvimento.

A organização e o planejamento do trabalho do coordenador pedagógico é outro ponto

importante, pois percebemos que ação do coordenador pedagógico não é uma ação que parte

apenas do senso comum, é uma prática intencional, fundamentada em objetivos claros a fim

de fortalecer o grupo de professores no trabalho educativo.

Nesse propósito cabe ao coordenador pedagógico assumir uma postura de liderança na

escola, unido todos em um único propósito que visa melhorar a prática de ensino, para isso ele

deve ter um plano de trabalho organizado com ações estruturadas numa perspectiva de que

contribua para a formação continuada dos professores em serviço.

Então o planejamento do coordenador pedagógico deve contemplar, entre outras tarefas,

as voltadas para a formação continuada docente, privilegiando assim momentos de discussões

e debates sobre práticas pedagógicas e soluções para os problemas enfrentados no cotidiano.

Page 15: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

5.5 A importância do supervisor ou coordenador pedagógico

A última pergunta da pesquisa complementa a anterior e indaga os coordenadores

quanto à função e a importância do supervisor escolar ou coordenador pedagógico nos dias

atuais, as percepções que eles tiveram foram as seguintes:

(C1) – A importância do supervisor ou coordenador escolar a cada dia torna-se uma função

indispensável no trabalho escolar, principalmente nos aspectos organizacionais e na

articulação dos demais profissionais para alcançar os objetivos e atingir as metas

estabelecidas.

(C2) – São muitas responsabilidades da direção que muitas vezes o trabalho escolar

pedagógico fica em segundo plano, então cabendo, assim ao coordenador pedagógico manter

essas ações que viabilizem a formação do grupo e que mantenha o bom funcionamento das

ações pedagógicas.

(C3) – Ser parceira do professor no processo de educar, ajudando a dar certo. Orientando-o e

subsidiando-o para que ele (o professor), possa ministrar uma boa aula, pois o coordenador

pedagógico se preocupa com a equipe de docentes, ele é o gestor específico dos processos

ligados ao ensino e a aprendizagem, gerindo professores na direção da excelência

profissional. Ele enfrenta desafios diários para a contribuição do sucesso da escola.

A parceria que o coordenador deve estabelecer em sua prática com o professor foi o

mais frisado pelos coordenadores, destacaram também a importância do coordenador como

um articulador na escola entre a formação continuada e os processos de ensino, sendo assim o

companheiro dos docentes para a concretização de uma prática pedagógica eficiente. Nesse

sentido ficou destacada a importância do diálogo entre coordenador e professores em um

processo constante de articulações de ideias e pensamentos. Partindo de uma relação dialética

entre coordenador pedagógico e professor, Medina (2002, p. 159) esclarece:

O supervisor que tiver como ponto de partida e de chegada o pensamento de

que a escola, como instituição social, precisa ser pensada dialeticamente cria

um espaço novo e diferente daquele que, historicamente, foi ocupado e que

se caracterizou pelo controle e também, como refúgio burocrático [...]

A coordenação escolar, então, vista como uma atividade dialética entre coordenador

pedagógico e professor contribui para a desvinculação do sentido burocrático que foi

atribuído a supervisão escolar anos atrás, e isso só é possível quando o coordenador

pedagógico dentro de sua prática assume uma postura inovadora no processo educativo,

quando o coordenador se reconhece como um agente parceiro dos docentes e não como um

fiscalizador que apenas tem a função de punir e controlar o trabalho docente.

Page 16: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

Esse processo de interação entre coordenador pedagógico e professores ocorre no dia a

dia do cotidiano escolar e nos momentos do planejamento, em que o coordenador pedagógico

assume a posição de líder e busca através do diálogo, da reflexão e pela formação a solução

dos problemas vividos pelos professores em sala de aula. Essa parceria entre coordenador

pedagógico e professores fortalece o ensino e proporciona ao docente mais segurança no seu

fazer pedagógico em sala de aula. Partindo desse entendimento percebemos o quanto é

importante o papel do coordenador pedagógico como mediador e facilitador da formação

continuada dentro do ambiente escolar.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nessa pesquisa reafirmamos os estudos de vários autores que tratam sobre as

mudanças significativas nas concepções e conceitos de supervisão ou coordenação escolar,

saindo de uma concepção burocrática e fiscalizadora para um trabalho inovador e dinâmico,

baseado num propósito de formação continuada a partir do contexto do dia a dia da prática

docente.

Partindo desse aspecto o nosso estudo de campo mostrou que os coordenadores

pedagógicos entrevistados percebem a prática de supervisão escolar como um importante

instrumento para o desenvolvimento do trabalho docente, sendo que o papel do supervisor

escolar nos dias atuais contribui para que o professor sinta-se seguro e preparado em sua

prática pedagógica.

Nessa perspectiva observamos que, em suma, o coordenador pedagógico sabe de seus

desafios e do seu verdadeiro papel, bem como de sua importância dentro da escola. Eles

compreendem que sua função está associada diretamente ao trabalho didático e pedagógico da

escola. Também percebemos que os mesmos se deparam com muitas tarefas burocráticas

advindas do núcleo gestor, e que isso dificulta o desenvolvimento de trabalho voltado para a

formação continuada dos docentes.

Essas concepções mostram que hoje os coordenadores pedagógicos entendem que sua

função na escola está vinculada a prática docente, pois o trabalho do supervisor ou

coordenador pedagógico está diretamente associado à formação continuada dos professores.

Ambos são, portanto, responsáveis pela qualidade de ensino fornecido pela escola, e devem

trabalhar num regime colaborativo, onde o supervisor escolar dá os meios necessários para o

aprimoramento profissional do docente em serviço.

Page 17: ARTIGO CIENTÍFICO COORDENAÇÃO ESCOLAR

Desta forma entendemos que além das relações entre professor e aluno em sala de aula

o processo de ensino aprendizagem também está diretamente ligado as troca de

conhecimentos entre supervisor escolar e docentes, isso através do acompanhamento didático-

pedagógico que ocorre na prática de supervisão ou coordenação escolar.

É nesse trabalho colaborativo que o coordenador pedagógico desenvolve a sua prática,

é uma ação intencional e planejada que busca fornecer subsídios aos docentes que necessitam

permanentemente de conhecimentos teóricos e práticos para desenvolverem suas atividades

pedagógicas com eficiência.

Nesse contexto entendemos que o supervisor escolar é aquele que na escola constrói

constantes situações de formação, contribuindo assim para o trabalho do professor em sala de

aula. O seu papel é importantíssimo para a melhoria da qualidade de ensino por sua função

está diretamente associada ao desenvolvimento e qualidade da prática docente.

7. REFERÊNCIAS

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pedagógica: princípios e práticas. 4. ed. Campinas: 2004, p. 11-55.

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