arteeducador crítico e pós critico e a mediação entre arte e leitor

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  • 7/24/2019 Arteeducador Crtico e Ps Critico e a Mediao Entre Arte e Leitor

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    O ARTE/EDUCADOR CRTICO (E PS-CRTICO) E A MEDIAO ENTRE A

    ARTE E O LEITOR

    AZEVEDO, F. A. G. de, Membro Equipe de Ensino, Secretaria de Educao

    de Pernambuco.

    SILVA, M. C. da, Graduanda, Universidade Federal de Pernambuco.

    VASCONCELOS, R. M., Graduanda, Universidade Federal de Pernambuco.

    RESUMO

    A presente pesquisa desenvolvida na perspectiva de grupo focal tem como objetivouma anlise crtica sobre o processo de mediao em Arte/Educao. O material em

    foco foi apresentado pelos participantes do 2 Seminrio Internacional de Mediaoem Arte, organizado por Ana Mae Barbosa (Rio de Janeiro/2008) e aponta claramentepara o importante papel crtico que possui o arte/educador nas relaes mediticasentre o universo da Arte e o pblico seja na escola, seja em museus. Esta pesquisa,portanto, busca difundir uma sntese dos debates no referido seminrio.

    Palavras-Chave:Arte/Educao Crtica e Ps-Critica; Arte/Educador; Arte/Educao

    como mediao social e cultural; Mediao entre Arte e Publico.

    Arte/Educao a mediao entre arte epblico e ensino da Arte compromisso coma continuidade e/ou com o currculo quer sejaformal ou informal (Ana Mae Barbosa).

    Aprofundar o campo da imaginao e dopapel que pode ter na criao de significadospessoais e na transmisso da cultura torna-seo ponto e o propsito para se ter artes naeducao (Arthur Efland).

    Este texto foi elaborado em dois momentos: o primeiro como esboo

    preparatrio para participar como coordenador de debates no Encontro

    Internacional Arte/Educao como Mediao na sesso sob o tema

    Pedagogia cultural e dialogal e o segundo como sntese interpretativa do

    conjunto de debates (mais amplos). Colaboram, mais de perto, para tal

    construo reflexiva os arte/educadores: Everson Melquades Arajo Silva

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    (vice-presidente da ANARTE/PE), Rebeca Matos Vasconcelos ( primeira

    secretria da ANARTE/PE) e Masa Cristina da Silva (segunda-tesoureira da

    ANARTE/PE) e de uma maneira geral foram considerados os textos

    apresentados por todos os participantes, ou seja, os componentes do grupo

    focal.

    Na busca de escrever sobre o papel do arte/educador crtico e ps

    crtico1, considerando as relaes mediticas entre a obra de arte (entendida

    como texto carregado de sentidos e possibilidades de interpretaes) e o leitor,

    retomei o documentrio Janela da Alma de Joo Jardim e Valter Carvalho.

    O filme se compe de dezenove depoimentos de pessoas que tm

    alguma espcie ou grau de cegueira, os depoimentos so apresentados a partir

    da idia de hipertexto, ou seja, de maneira no linear, exigindo do leitor para a

    criao de sua prpria interpretao a mobilizao da imaginao e da crtica

    contrria ao processo de narcotizao imposto pelo mercado globalizado que

    transforma tudo, inclusive a Arte, em mercadoria pasteurizada. Alm dos

    depoimentos o filme desafia o leitor apresentando imagens desfocadas do real,

    lembrando a todos ns que perdemos o foco de viso do mundo, de alguma

    maneira estamos cegos para determinados ngulos da realidade.

    Em Janela da Alma encontrei inmeros depoimentos fundamentais para

    o debate sobre Arte/Educao como mediao. Aqui destaco apenas dois: o

    primeiro de Wim Wenders, cineasta alemo, diretor do famoso filme Asas do

    Desejo; o segundo do escritor portugus Jos Saramago, autor do no

    menos famoso romance Ensaio sobre a Cegueira, que foi recentemente

    adaptado para o cinema pelo diretor brasileiro Fernando Meireles.

    Penso que a mediao entre a obra de arte e o leitor deve tambm partir

    de uma categoria freireana fundante para tal relao: a dialogicidade. Observa,neste sentido Jaime Jos Zitkoski [...] o dilogo fora que impulsiona o

    pensar crtico-problematizador em relao condio humana no mundo.

    1Justifico a concepo de Arte/Educao crtica e ps crtica a partir do pensamento

    de Tomaz Tadeu da Silva na obra Documentos de Identidade: uma introduo steorias crticas do currculo (2002). Nesta obra o autor enfatiza que o currculo critico ,de certa maneira, contra ideolgico opondo-se ao currculo tradicional que na visofreireana assume a idia de educao bancria. J a concepo de Arte/Educao

    ps crtica discute as questes mult/interculturais e prope o acesso dos estudantesaos cdigos estticos e artsticos eruditos e populares desfazendo as fronteiras entreambos e possibilitando o dilogo entre diferentes sujeitos culturais.

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    Atravs do dilogo podemos dizer o mundo segundo nosso modo de ver (2008,

    p. 130).

    Chama a ateno, Wim Wenders, ao relacionar as histrias que

    escutava quando criana com os filmes de hoje: O que mais me agradava nos

    livros era o fato de que aquilo que eles nos davam no se achava apenas

    dentro deles, mas o que ns, crianas, podamos realmente ler nas entrelinhas

    e acrescentar-lhes toda a nossa imaginao. Nossa imaginao complementa

    as palavras. Quando comecei a assistir aos filmes, era assim que os via.

    A crtica de Wim Wenders a inexistncia das brechas nos filmes de hoje

    traz para a discusso da mediao entre a Arte e o leitor um aspecto

    impactante: as possveis interpretaes da obra de arte no podem ser dadas,

    bvias, ao contrrio devem instigar o leitor a pensar, a refletir, a criar uma

    atitude crtica e inventiva pelo processo de estranhamento. Processo que se

    inicia pela reflexo critica e uma espcie de debater-se contra a anestesia a

    que somos cotidianamente submetidos por meio das ideologias alienantes. Tal

    processo nasce, enfim, na dialtica entre o medo e o desejo e possibilita o

    leitor compreender que as brechas, no discurso artstico, so espaos vivos

    para os quais ele convidado a elaborar sentidos instaurando-se, assim, o

    processo de recriao.

    H uma mudana histrica e social de atitude do leitor ao experimentar o

    processo de recriao da obra de arte: ele no mais o que contempla a Arte

    como sagrada, inacessvel e indecifrvel. Ela no mais a esfingeque impe o

    decifra-me. Ao contrrio, ela configura-se como um campo (vasto campo,

    quem sabe?) de sentidos. Exigindo no mais ser decifrada, mas ser

    interpretada na interao entre os fios da razo, da crtica e da imaginao.

    Aprofundando, Jos Saramago, por sua vez, enfatiza: vivemos hoje mais

    na caverna de Plato do que na poca de Plato. Ou seja, estamos mais

    condenados as correntes, a subservincia passiva, ao pensamento

    homogeneizante, a aceitar as obras de arte sem sequer buscar suas entre

    linhas, a no problematizar.

    Ao estabelecer uma relao entre o pensamento do cineasta (Wim

    Wenders) com o do escritor (Jos Saramago) e o do educador (Paulo Freire)

    questiono: Estamos, pois, acorrentados as cadeias ideolgicas de um pensar

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    homogeneizante? Estamos cegos e surdos? Perdemos a possibilidade do

    dilogo e do olhar inteligente? Perdemos, enfim, a imaginao?

    Penso que possvel interpretar o sentido de imaginao, preenchendo

    as entrelinhas das histrias, enfatizado por Wim Wenders com o sentido de

    imaginao proposto pelo arte/educador norte-americano Arthur Efland em seu

    texto Imaginao na cognio: o propsito da arte. Para Arthur:

    [...] a arte o lugar em que as construes da imaginao deveriam tornar-se o principal objeto de estudo. A imaginao necessria para entenderque a imagem visual ou a expresso verbal no so literais, mas simincorporaes de significados a serem percebidos de outra perspectiva. somente na arte que a imaginao encontrada e explorada em completaconscincia em que esta se torna o objeto do enquirimento (2005, p.

    342) (grifo do autor).

    Se por um lado estabeleo um dilogo possvel entre o cineasta (Wim

    Wenders) e o arte/educador (Arthur Efland) por outro lado trago para o debate

    Alfredo Bosi e Marilena Chaui, ambos filsofos brasileiros, ressaltando as

    contribuies de Marx e Freud.

    Em Alfredo Bosi Fenomenologia do Olharencontro a idia de olhar

    sob suspeita colocando o marxismo e a psicanlise, portanto, as descobertas

    de Marx (ideologia) e Freud (inconsciente) para a formao do pensamento.

    Tomo-as como desafios para a reflexo sobre as relaes mediticas entre a

    Arte e o leitor:

    Marxismo e psicanlise so escolas de suspeita. Nem confivel apercepo ideolgica com que o olho burgus v a sociedade ( a crticadialtica s iluses da conscincia reificada); nem tampouco o olhar doego, repuxado entre o id e o superego, est isento de projees,

    represses e desvios de toda a sorte (crtica freudiana iluso idealista dosujeito onisciente) (1988, p.78).

    Parto, portanto, das contribuies de Marx (final do sculo XIX) e Freud

    (incio do sculo XX) para refletir sobre a formao do pensamento moderno e

    ps-moderno.

    Penso que a partir deste ponto de vista amplia-se o debate sobre a

    formao do arte/educador crtico e ps crtico e seu principal desafio: a

    mediao entre a Arte e o leitor, pois enfatiza Ana Mae Barbosa: A ps-modernidade em arte/educao caracterizou-se pela entrada da imagem, sua

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    decodificao e interpretao na sala de aula junto j conquistada

    expressividade (2008, p. 13).

    As descobertas tanto de Marx quanto de Freud colocam sob suspeita a

    idia recorrente de que pensamos e agimos livremente. Isto, porque

    desconhecemos o poder social e psquico invisvel da ideologia e do

    inconsciente agindo sobre todos ns seres humanos.

    Assim, Marilena Chaui, refletindo sobre este tema afirma sobre a

    ideologia:

    [...] temos a iluso de estarmos pensando com nossa prpria cabea eagindo por nossa prpria vontade de maneira racional e livre, de acordocom nosso entendimento e nossa liberdade, porque desconhecemos ascondies econmicas e sociais nas quais a classe social que domina asociedade exerce seu poder sobre a mente de todos, fazendo com quesuas idias paream ser verdades universais, vlidas para os membros dasociedade e para todas as classes sociais (2005, p. 53)

    E sobre o inconsciente, por sua vez, a filsofa afirma que:

    [...] os seres humanos tm a iluso de que tudo quanto pensam, fazem,sentem e desejam, tudo quanto dizem ou calam estaria sob o plenocontrole de nossa conscincia porque desconhecemos a existncia deuma fora invisvel, de um poder que psquico e social que atuasobre nossa conscincia sem que ela o saiba (2005, p.53).

    Retomo a interpretao de Alfredo Bosi sobre o marxismo e a

    psicanlise para traz-la para o campo da Arte, como arremate de minha

    prpria reflexo a cerca do campo da Arte/Educao.

    Marxismo e psicanlise nos mostram, por vias diversas, um homem

    enredado nas malhas de sua classe, de sua cultura, de sua constelaofamiliar, da sua infncia, sua educao, do seu prprio corpo. O olhar, paraambos, no se parece nada com aquele foco de luz permanente eintangvel que o pensamento clssico idealizou para a segurana de suaprpria viso da natureza e da sociedade (1988, p. 79).

    Pensar, pois, a formao do arte/educador crtico e ps-crtico requer

    enfrentar tais questes; na tentativa de continuar problematizando a mediao

    entre a Arte e o pblico (de modo geral) trago um projeto elaborado por dois

    artistas que parecem compartilhar com este ngulo de viso: Jorge Macchi eEdgardo Rudnizky.

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    Eles expuseram na 6 Bienal do MERCOSUL (sala central do Edifcio

    Santander em 2007) um vdeo intitulado Fim de Film.O mesmose compe dos

    crditos de um filme, que passa para o pblico durante cinco minutos ao som

    de uma msica incidental. At aqui nada que provoque a nossa ateno mais

    demorada, pois at o publico, senso comum, de cinema sabe que ao final do

    filme passam na tela os crditos ao som de uma msica, embora o pblico, em

    sua grande maioria, no se d conta de que aquele final parte importante do

    complexo da obra e por desconhecimento levanta-se e vai embora, alheio aos

    sentidos dos crditos.

    O desafiador de Fim de Filmdeve-se ao fato de que o texto dos crditos,

    por mais que o pblico se esforce, nada pode ser lido, pois a imagem est

    completamente desfocada, provocando uma sensao incmoda e paradoxal

    na medida em que estamos diante de um texto que no legvel.

    Ao articular tais fragmentos busco chamar a ateno para o problema do

    foco (ou desfoco) nas relaes entre a Arte e o leitor. Penso que nessa

    lacuna que deve agir o arte/educador crtico, tentando construir possibilidades

    de mira, tentando construir junto com o outro os estudantes, os leitores em

    geralas possibilidades de leituras interpretativas.

    Neste sentido, destaco o que enfatiza Ana Mae para a superao do

    processo adivinhatrio nas relaes entre a Arte e o leitor afirmando que : No

    se trata mais de perguntar o que o artista quis dizer em sua obra, mas o que a

    obra nos diz, aqui e agora, em nosso contexto, e o que disse em outros

    contextos histricos, a outros leitores (2002 p.18/19).

    Penso que a questo do estabelecer o foco pulsa tanto no campo da

    Cincia quanto no campo da Filosofia e da Arte; para ns arte/educadores

    urgente diante dos desafios da ps-modernidade.Assim, o principal papel do arte/educador como mediador frente s

    brechas do texto artstico (no caso, o texto em Artes Visuais) problematizar

    ao articular o sistema triangular leitura, contextualizao e fazer artstico

    criando situaes em que o leitor seja desafiado a quebrar as correntes da

    obviedade, pensar de maneira divergente, se compreender como um recriador

    de sentidos na relao com a obra de arte.

    Desse modo o arte/educador no um crtico de arte no sentido estritoda palavra, mas reflete sobre Arte criticamente. Isso quer dizer que ele no

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    um crtico na acepo formal, nem possui no sistema das artes visuais tal

    status,no entanto a concepo de Arte/Educao ps-moderna exige dele uma

    postura crtica e inventiva na relao com a obra de arte.

    Ana Mae Barbosa e Arthur Efland ao elaborarem os contrastes entre as

    concepes de ensino de arte modernista e ps-modernista colocam

    enfaticamente quanto natureza da arte que ela produo cultural que exige

    ser estudada a partir do contexto histrico, social e cultural. Segundo Arthur as

    idias ps-modernas em ensino de arte:

    [...] favorecem uma pluralidade de estilos, bem como uma pluralidade deleituras interpretativas [...]. Rejeitam a universalidade da estticaformalista, afirmando que obras de arte no podem ser compreendidassomente por meio de seus elementos formais, mas que requerem tambmum bom conhecimento de seu contexto cultural (2005, p. 179).

    Complementando esta linha de pensamento Ana Mae Barbosa ressalta:

    Arte/Educao a mediao entre arte e pblico e ensino da Arte compromisso com a continuidade e/ou com o currculo quer seja formal ouinformal. Esses conceitos associados ao conceito de arte comoexperincia cognitiva vm se constituindo o ncleo das teorias ps-modernas em Arte/Educao [...]Hoje, a aspirao dos arte/educadores influir positivamente nodesenvolvimento cultural dos estudantes por meio do conhecimento dearte que inclui a potencializao da recepo crtica e a produo (2005, p.98).

    A concepo de Arte/Educao ps-moderna compreende, portanto, as

    obras de arte como construes histricas e sociais, re-configurando o papel

    do arte/educador no mais como um mago das tcnicas, um mero fazedor de

    arte, como nos anos de 1970, mas prope outros desafios. Entre estes,

    compete ao arte/educador se compreender como um propositor de situaes,

    um problematizador da e na mediao entre a Arte e o pblico, no caso de

    museus, e com os estudantes no caso da escola.

    Convm uma reflexo sobre a Histria da Arte/Educao para uma

    compreenso dos contrastes entre modernismo e ps-modernismo: nos anos

    em que predominava na escola a concepo de educao artstica, o educador

    artstico era tido como um fazedor de trabalhos elaborados a partir de tcnicas.

    Essas, por sua vez, se sustentavam em uma vaga idia de criatividade. Seu

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    principal papel, alm de fomentar a expresso pessoal dos estudantes, era o

    de organizar e decorar festas escolares que obedeciam ao calendrio

    folclrico, cvico e religioso, no necessitando, por isso, buscar ser um

    conhecedor de Arte.

    Hoje, passadas algumas dcadas, ainda existe na escola certa nfase

    no fazer, na expresso pessoal, ou seja, no talento interpretado como dom, na

    criatividade dos estudantes, e na tcnica pela tcnica. Todas essas posturas

    imbricadas com a concepo que se busca consolidar de Arte como

    conhecimento, cognio e como cultura. Arte/Educao compreendida como

    epistemologia, teoria do conhecimento dos modos como se ensina e se

    aprende a Arte.

    Entretanto h uma espcie de consenso velado oculto entre os

    profissionais que compem o sistema da Arte (historiadores da arte, crticos e

    curadores) que o arte/educador, hoje, pode ser eficiente na cena da mediao

    entre a Arte e pblico, mas sempre orientado, guiado, e acima de tudo

    subserviente queles que detm o poder de pensar, refletir e interpretar o

    universo artstico.

    Da as expresses monitor, tira dvidas, guias que transformam o

    arte/educador em reprodutor do discurso imposto por quem autoridade no

    assunto. Quase nunca dado ao mesmo a possibilidade de romper com o

    discurso dominante e elaborar sua prpria interpretao sobre as exposies:

    fato que, por sua vez, propiciaria uma relao mais rica e reinventiva na

    mediao entre a Arte e o leitor.

    Recentemente no Encontro Arte e Cincia(primeiro semestre de 2008)

    fui testemunha de uma discusso acalorada entre Ana Mae Barbosa e o diretor

    pedaggico do Espao Cincias (Museu de Cincias em Olinda /PE) sobre asdiferenas semnticas e ideolgicas entre as expresses: monitor e mediador.

    Tentando interpretar o que defende Ana Mae coloco: o monitor preparado

    para repetir o que o grupo que pensa a exposio estabelece como discurso,

    como verdade, enquanto que a postura de mediador exige estudo crtico,

    problematizao constante sobre o que est sendo exposto.

    Preparar o mediador, neste sentido, exige uma atitude de respeito ao

    Outro, ou seja, pensa o Outro como algum inteligente o suficiente para criar

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    suas prprias leituras interpretativas leituras que nascem de estudos e

    pesquisas.

    Assim, o mediador ao contrrio do monitor deve ser preparado para pensar as

    hipteses de interpretao, criando e recriando significados e sentidos para o

    discurso da exposio e suas entrelinhas. A lgica que pauta a formao do

    monitor em sentido freireano bancria e a lgica que fundamenta a formao

    do mediador problematizadora, ou seja, deve partir do princpio da

    dialogicidadeprincpio que parte da idia de democratizao do universo da

    arte por meio de um processo qualificado de Arte/Educao.

    Neste sentido, o mediador possibilita ao leitoruma espcie de exerccio

    crtico sobre o que olhaexerccio muito prximo da postura do que filosofar:

    desfazendo certezas e instaurando outros modos de pensar o universo da Arte.

    Questionando o que se apresenta, buscando as entrelinhas do texto

    compositivo da exposio o mediador se liberta do discurso que lhe foi dado e

    cria seus prprios sentidos com mais autonomia possibilitando, assim, ao

    leitor, por sua vez, criar e recriar significados e sentidos para a Arte.

    Ressalto um fragmento significativo do pensamento de Ana Mae que

    arremata o debate, sobre a formao do mediador na ps-modernidade,

    quando ela prope:

    Leitura da obra de arte questionamento, busca, descoberta, odespertar da capacidade crtica [...]. A educao cultural que se pretendecom a proposta triangular uma educao crtica do conhecimentoconstrudo pelo prprio aluno, com a mediao do prprio professor,acerca do mundo visual e no uma educao bancria (1998, p. 40).

    O arte/educador constri, assim, uma postura crtica que o prepara para

    lidar com o universo da Arte questionando, buscando, descobrindo diferentesconexes e acima de tudo compreendendo-se como sujeito crtico, ou seja, a

    postura de arte/educador crtico e ps crtico no acontece ao acaso, ela

    (enfim) construda pelo estudo, esforo de articulao entre teoria e prtica,

    pesquisa e muita, muita imaginao.

    Referncias Bibliogrficas

    BARBOSA, Ana Mae. Tpicos utpicos. Belo Horizonte: editora C/Arte, 1988.

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    EFLAND, Arthur. Imaginao na cognio: o propsito da arte. In:

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