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ARTE RUPESTRE: CONTEXTUALIZANDO, LENDO E FAZENDO ARTE COMO NA PRÉ-HISTÓRIA Camilo de Figueiredo Aranha Maria Assunção Silva Maria Elizibeti Pereira Maurício José de Medeiros Resumo: Desde a pré-história, a arte rupestre, como a precursora da comunicação e expressão visual humana, possibilitou o desenvolvimento da cultura de imagens, construídas a partir de inscrições e desenhos feitos dentro de cavernas. Proporcionou, assim, a socialização de símbolos que passaram a determinar e interagir com o processo cognitivo humano. No estado do Rio Grande do Norte encontram-se desenhos e pinturas rupestres, que datam em torno de 10.000 anos a.C, e são um irrefutável registro da cultura Potiguar. Porém, além da falta de informação dos alunos da Escola Municipal Professora Maria Dalva (Natal, RN) sobre esse tema, eles ainda confundiam essa época com o período jurássico. Realizamos, então, uma prática educativa, numa perspectiva interdisciplinar, procurando desmistificar equívocos acerca do conceito de tempo- histórico e os elementos que o define. Assim, desenvolvemos numa turma da Educação Infantil, com idade entre 6 e 8 anos, diversas atividades didático-pedagógicas, utilizando recursos visuais e corporais, produzindo uma re-leitura da arte rupestre, uma maior compreensão e relevância das manifestações culturais presentes no seu entorno, valorizando esse tema como componente curricular na contemporaneidade. Desse modo, priorizamos princípios éticos, políticos e estéticos como eixos norteadores da Educação infantil de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais. Palavras chave: Arte Rupestre: Projeto Didático; Educação Infantil Résumé: Depuis la Préhistoire, l'art rupestre, comme le précurseur de la communication et l'expression visuelle humaine, a rendu possible le développement de la culture d'images, construites à partir d'enregistrements et de dessins faits à l'intérieur de cavernes. Il a fourni, ainsi, la socialisation de symboles qui ont commencé à déterminer et se rapporter avec le processus cognitif humain. Dans l'État du Rio Grande do Norte se trouvent des dessins et des peintures rupestres, qui datent autour de 10.000 ans av. J-C, et sont un irréfutable registre de la culture Potiguar. Néanmoins, outre le manque d'informations des élèves de l'École Municipale Professora Maria Dalva (Natal, RN) sur ce sujet, ils encore confondaient l’époque Préhistoire avec la période jurassique. Nous réalisons, alors, une pratique éducative dans une perspective interdisciplinaire, en cherchant à démystifier des erreurs concernant le concept de temps historique et les éléments qui le caractérisent. Ainsi, nous développons dans un groupe de l'École élémentarie, avec âge entre 6 et 8 ans, diverses activités didactique-pédagogique, en utilisant ressources visuelles et corporelles, pour accomplir une relecture de l'art rupestre. Avec ces activités, nous attendons qu'ils aient une plus grande compréhension et une plus grande dimension des manifestations culturelles présentes chez ses alentours, en valorisant l’art rupestre comme composante curriculaire dans la contemporanéité. De cette manière, nous donnons la priorité à des principes éthiques, politiques et esthétiques comme des axes d'orientation pour l'éducation infantile, selon les Directives Curriculaires Nationales. Mots clé : Art Rupestre ; Projet Didactique ; Éducation Infantile.

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ARTE RUPESTRE: CONTEXTUALIZANDO, LENDO E FAZENDO ARTE

COMO NA PRÉ-HISTÓRIA

Camilo de Figueiredo Aranha Maria Assunção Silva Maria Elizibeti Pereira

Maurício José de Medeiros Resumo: Desde a pré-história, a arte rupestre, como a precursora da comunicação e expressão visual humana, possibilitou o desenvolvimento da cultura de imagens, construídas a partir de inscrições e desenhos feitos dentro de cavernas. Proporcionou, assim, a socialização de símbolos que passaram a determinar e interagir com o processo cognitivo humano. No estado do Rio Grande do Norte encontram-se desenhos e pinturas rupestres, que datam em torno de 10.000 anos a.C, e são um irrefutável registro da cultura Potiguar. Porém, além da falta de informação dos alunos da Escola Municipal Professora Maria Dalva (Natal, RN) sobre esse tema, eles ainda confundiam essa época com o período jurássico. Realizamos, então, uma prática educativa, numa perspectiva interdisciplinar, procurando desmistificar equívocos acerca do conceito de tempo- histórico e os elementos que o define. Assim, desenvolvemos numa turma da Educação Infantil, com idade entre 6 e 8 anos, diversas atividades didático-pedagógicas, utilizando recursos visuais e corporais, produzindo uma re-leitura da arte rupestre, uma maior compreensão e relevância das manifestações culturais presentes no seu entorno, valorizando esse tema como componente curricular na contemporaneidade. Desse modo, priorizamos princípios éticos, políticos e estéticos como eixos norteadores da Educação infantil de acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais. Palavras chave: Arte Rupestre: Projeto Didático; Educação Infantil Résumé: Depuis la Préhistoire, l'art rupestre, comme le précurseur de la communication et l'expression visuelle humaine, a rendu possible le développement de la culture d'images, construites à partir d'enregistrements et de dessins faits à l'intérieur de cavernes. Il a fourni, ainsi, la socialisation de symboles qui ont commencé à déterminer et se rapporter avec le processus cognitif humain. Dans l'État du Rio Grande do Norte se trouvent des dessins et des peintures rupestres, qui datent autour de 10.000 ans av. J-C, et sont un irréfutable registre de la culture Potiguar. Néanmoins, outre le manque d'informations des élèves de l'École Municipale Professora Maria Dalva (Natal, RN) sur ce sujet, ils encore confondaient l’époque Préhistoire avec la période jurassique. Nous réalisons, alors, une pratique éducative dans une perspective interdisciplinaire, en cherchant à démystifier des erreurs concernant le concept de temps historique et les éléments qui le caractérisent. Ainsi, nous développons dans un groupe de l'École élémentarie, avec âge entre 6 et 8 ans, diverses activités didactique-pédagogique, en utilisant ressources visuelles et corporelles, pour accomplir une relecture de l'art rupestre. Avec ces activités, nous attendons qu'ils aient une plus grande compréhension et une plus grande dimension des manifestations culturelles présentes chez ses alentours, en valorisant l’art rupestre comme composante curriculaire dans la contemporanéité. De cette manière, nous donnons la priorité à des principes éthiques, politiques et esthétiques comme des axes d'orientation pour l'éducation infantile, selon les Directives Curriculaires Nationales. Mots clé : Art Rupestre ; Projet Didactique ; Éducation Infantile.

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A Arte rupestre, como a precursora da comunicação e expressão visual humana,

possibilitou ao homem o desenvolvimento da cultura de imagens. Essa cultura,

construída a partir de inscrições e desenhos feitos em paredes das grutas e cavernas,

proporcionou o surgimento de uma infinidade de símbolos que passaram a determinar e

interagir com o processo cognitivo humano, desde a pré-história até a

contemporaneidade.

Em um breve histórico da Arte, Souza (2006, p.153), coloca que

O homem, independente do período histórico que tenha vivido sempre sentiu necessidade de se expressar por meio de desenhos, pinturas, fotografia, música, dança, escrita, ou seja, a comunicação e expressão fazem parte da natureza humana [...] O que faz com que haja tantos movimentos artísticos é a diferença entre os homens e os movimentos históricos, pois desde sempre o homem representou, por meio da arte, o período histórico que esteve vivendo.

Percebe-se nas colocações da autora, o diálogo entre as áreas do conhecimento de

História e Arte. Tal constatação evidencia ao professor a necessidade e a importância de uma

prática-pedagógica interdisciplinar. Para tanto, percebe-se a relevância de um projeto de

trabalho, que partindo da área de Arte, permita a inter-relação não só, entre os conteúdos de

Arte e demais áreas, como também, com os conteúdos da própria área. Segundo Pontes e

Capistrano, (2005, p.13)

A interdisciplinaridade é um princípio que pode ser exercido na escola, sem estar restrito a uma metodologia específica: é um critério presente em algumas metodologias pedagógicas que permite o diálogo entre as diferentes áreas do conhecimento, tendo em vista que nenhuma área sozinha consegue entender e explicar o real.

Nos estudos mais recentes sobre o Ensino de Arte na infância e séries iniciais vem sendo

colocada a todo o momento a necessidade da compreensão do professor acerca dessa

perspectiva. Segundo os referidos autores planejar de forma interdisciplinar é compreender

o processo ensino-aprendizagem como um diálogo constante. “Diálogo entre áreas de

conhecimentos diferentes e diálogos entre visões de mundo diversas [...] e ao professor cabe ter acesso às

produções das diversas áreas de conhecimento e tomar as decisões relacionadas á mediação entre educando e

cultura.” (2005, p.14).

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Apesar da preocupação das Instituições de Ensino em estudar as novas concepções para

o Ensino de Arte e Educação Física, esses estudos ainda não se tornaram uma prática

constante.

Pontes (2005. p.19) enfatiza que

Embora as concepções contemporâneas sobre a arte e seu ensino já estejam contempladas nos documentos curriculares oficiais sobre a área, a significação das mesmas ocorrerá na e pela ação docente em contextualizá-la.

Capistrano (2003. p. 19), por sua vez, vai além: “É ingenuidade pensarmos que a legalização

implica legitimação(...)”. Tais afirmações nos remetem às nossas Escolas. É comum ouvir das

crianças nos dias de aulas de Ensino de Arte e Educação Física as seguintes colocações

“Ah! Hoje é dia de brincadeira!”, “Professor, qual vai ser a brincadeira hoje?”, “Ei!

Professora, hoje não vai ter brincadeira não?”. Através desses questionamentos das crianças,

constatamos que a realidade das escolas vem de encontro ao pensamento das autoras,

quanto a relevância do papel do professor na

contextualização e legitimação das novas concepções acerca do Ensino das disciplinas em

questão. Esse fato evidenciou a necessidade de desmistificar essas idéias e possibilitar a

compreensão da importância dessas aulas para a sua formação como educando e como ser

dotado de expressão e afetividade pertencente a um meio social e cultural.

Há também na fala das crianças certa “confusão” quanto aos períodos históricos

marcados pela existência dos dinossauros (período jurássico) e os homens das cavernas (pré-

história). Dúvidas essas, bastante compreensíveis, pois, com o aperfeiçoamento da

comunicação, da linguagem escrita e da imagem, o homem passou a produzir, além do

registro do real, também o registro do imaginário, como também, difundir informações em

grande escala e em vários idiomas. A televisão (hoje presente em grande parte das

residências) e o cinema (popularizado pelo vídeo cassete e pelo DVD) por intermédio da

ficção científica transmitem aos seus expectadores uma diversidade de informações acerca da

existência humana ou eras pré-históricas anteriores, sem a preocupação com os dados

cientificamente comprovados. Podemos citar: desenho animado aonde dinossauro é

bicho de estimação do homem pré-histórico (Os Flinstones) ou filme, aonde dinossauro

ataca as cidades (Godzila). Esses equívocos são trazidos à sala de aula pelas crianças.

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Com base nesta análise, buscamos um conteúdo que pudesse explicar as duas

situações, partindo de um mesmo procedimento didático-metodológico. Elegemos a Arte

Rupestre, por ser um conteúdo comum às áreas da Arte e da Educação Física, e

delimitamos a prática no Rio Grande do Norte, por ser um berço riquíssimo desse

conteúdo, e também, próximo da realidade dos alunos, inclusive, já havia um trabalho sobre

esse tema na escola, onde alunos de outras turmas pintaram painéis na parte interna do

muro da instituição representando várias modalidades de arte, dentre as quais, a Arte Rupestre.

Foi por meio dessa arte que o homem começa a registrar o seu processo de

evolução desenhando o cotidiano o tipo de moradia, as formas de alimentação, os rituais,

suas produções manuais, onde, além da utilidade dos objetos já havia preocupação

com a estética - o acabamento, as formas; o que ao longo do tempo passou a ser entendido

como as primeiras manifestações artísticas (criações de arte) da humanidade.

Assim, nos propomos na disciplina Prática Pedagógica em Linguagem Corporal

conhecer um pouco da História da Arte Rupestre do RN para: compreender melhor os

períodos históricos da História da humanidade; comparar ações humanas na Pré-

História e as atitudes do homem hoje com relação ao meio ambiente através das leituras dos

desenhos rupestres; entender a necessidade de se preservar os documentos históricos;

trabalhar o senso de responsabilidade, cooperação, organização,

sociabilidade, autonomia e ludicidade; utilizar diferentes linguagens – plásticas, gráfica, verbal e

corporal para expressar e comunicar seu entendimento; elevar a auto-estima; manipular

diferentes materiais explorando suas possibilidades; apreciar as produções artísticas; respeitar

a produção do outro; despertar interesse pela observação e atenção.

CONVERSANDO SOBRE ARTE RUPESTRE DO RIO GRANDE DO NORTE

É preciso conhecer o que as crianças sabiam sobre o assunto, o que queriam saber mais,

quais expectativas estavam sendo criadas por elas. A introdução se deu através de um

questionário informal sobre o assunto. Ao responder as questões oralmente, as crianças

demonstraram um conhecimento sistematizado sobre o tema, contudo, comprovam-se

os equívocos a respeito do tempo-histórico, quando colocam elementos do nosso tempo na

alimentação do homem pré-histórico “leão, tigre” ou, quando, querendo corrigir o colega

“não, eles comiam dinossauro”. Todavia, percebe-se a

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estruturação do conceito de tempo-cronológico ao responder sobre os dinossauros e o lugar

onde vivem. Na compreensão deles: se eles vivem nessa localidade, o lugar é novo, então os

dinossauros não poderiam ter existido aqui porque “... é muito velho”.

CONHECENDO E FAZENDO ARTE COMO NA PRÉ-HISTÓRIA

Para aproximar os conteúdos conceituais da compreensão das crianças,

exploramos diversos recursos de forma dinâmica e lúdica

A educação lúdica na sua essência, além de contribuir e influenciar na formação da criança e do adolescente, possibilitando um crescimento sadio, um enriquecimento permanente, integra-se ao mais alto espírito de uma prática democrática enquanto investe em uma produção séria do conhecimento. (ALMEIDA, 1995, p.41)

A introdução do tema foi dada por D. “Maroca”, personagem do teatro de

fantoche, em forma de palestra e os desenhos rupestres do RN, apresentados na TV de

papelão (cinema antigo), as cadeiras foram arrumadas em forma de platéia, para compor o

ambiente imaginário. A concentração e atenção foram totais. As crianças por alguns instantes

pareciam hipnotizadas, só saiam do transe quando explodiam em trovões de gargalhadas. D.

Maroca, explorou bastante os temas e interagiu com a platéia, numa

troca de conhecimento e experiência prazerosa.

. Organização da sala em forma de platéia. Momento de descontração com D. Maroca

Atenção e interação. Até a platéia adulta se divertiu.

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D. Maroca interagindo com as crianças Desenhos Rupestre do RN na TV Na conversa, explorando as imagens da TV. - O que vocês acham que é isso (apontando o desenho rupestre na TV)? - Uma galinha.

(...)

- Como eles pintavam? - Tinta. - Sangue dos animais. - Pintava com sangue.

Nesse momento, ainda estamos vendo a interferência do hoje no passado. Ao

responder “tinta” a criança utiliza-se do seu conhecimento para justificar uma ação no

passado.

O momento vivencial também contou com uma excussão aos painéis de arte no muro

da escola. Demonstrando que já reconhecem essa modalidade entre outras, as crianças

correram na frente e se dirigiram direto para os painéis de Arte Rupestre do RN. Foi um

momento interessante, porque as crianças perceberam como existe diferença entre vê e

olhar (apreciar), pois mesmo convivendo diariamente com aqueles desenhos, nunca tinham

parado para observar o que estava desenhado. De acordo com Jalles, (2006, p.37) “A obra de

arte em processo de apreciação adquirirá um conteúdo expressivo para o educando,

despertando-lhe o interesse pela mesma (...)”.

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EXCUSSÃO AOS PAINÉIS DE ARTE NO MURO DA ESCOLA

Reconhecimento do painel de Arte Apreciação

De volta à sala de aula, partimos numa viagem imaginária ao interior de uma caverna

adaptada num recanto da sala. Todos desenharam com carvão e pintaram a própria mão

com areia e anilina vermelha, técnica da mão vazada.

Esse momento foi um dos mais significativos, pois, durante a apreciação e

avaliação, podemos perceber o quanto essa experiência gerou reflexão. No momento de

adentrarem a caverna, todos queriam ir ao mesmo tempo, percebendo que era

impossível, esperaram a sua vez observando os outros. Como eram três andares, todos

queriam ir para os mais altos, por isso o espaço para os desenhos ficou pequeno e a

atividade mais desafiadora.

Eles teriam que desenhar mesmo com pouco espaço, mas sem tomar o lugar do

outro. Vale ressaltar que apenas uma criança apagou o desenho da outra.

DESENHO E PINTURA NO INTERIOR DA CAVERNA

Criança desenhando dentro da caverna Pintura da mão, com areia e anilina vermelha Com carvão vegetal Dentro da caverna

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Crianças desenhando com carvão Pintando com areia e anilina vermelha

A vivência e o grau de dificuldade proporcionaram uma análise comparativa sobre a

forma como possivelmente os homens pré-históricos lidavam com o outro e o nosso modo

de agir a respeito. A conclusão que se tirou foi de que eles respeitavam o próximo e a sua

produção, pois se os desenhos existem até hoje, é porque “ninguém apagava o que o outro

fazia”. Aprendemos também que é preciso proteger o Patrimônio Histórico, porque “conta a

história da gente”.

[...] a intencionalidade do professor marca os sentidos que o conhecimento de arte assume na escola e determina a qualidade da sua mediação. No trabalho com crianças, o processo de mediação para o ensino dos objetos culturais da área de Arte deve considerar, além da estrutura da própria dessa área de conhecimento, as especificidades do desenvolvimento infantil que influem no modo como as crianças se aproximam da arte. (MELO et alii, 2005, p. 52).

DANÇANDO, CANTANDO E APRENDENDO COM HOMEM-PRÉ-HISTÓRICO

No último encontro trabalhamos os conteúdos específicos de Arte e Educação Física

em favor da compreensão dos conteúdos históricos em forma de oficinas

oportunizando aos alunos a vivência, a contextualização e a produção artística,

respeitando os limites das crianças. Começamos com avaliação, através de uma

tempestade de idéias sobre tudo que já havíamos estudado durante o projeto, para

podermos refletir sobre o que se aprendeu o que se queria aprender e não foi possível, tanto

pelo o aluno, quanto por nós. Notamos nas falas das crianças que já não havia a presença de

elementos de um tempo presentes em outro. Já nos apontando que o propósito inicial

havia sido atingido.

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Buscamos a re-significação dos saberes adquiridos, fazendo uso de práticas de

expressão corporal. A intenção era criar uma música a partir das vogais e coreografá- la.. As

crianças criaram sons e movimentos para cada letra, resultando numa dança, batizada de

Dança Pré-histórica, já iniciada espontaneamente na conversa com D. Maroca. Esse

momento constituiu-se numa re-leitura da arte rupestre do RN, pois a coreografia foi

idealizada nos desenhos rupestres do painel, aos quais, as crianças deram dimensões

tridimensionais com seus próprios corpos. MOMENTOS DA CRIAÇÃO DA DANÇA PRÉ-HISTÓRICA

Movimento criado para a vogal “U” Movimento criado para a vogal “A”

Movimento espontâneo criado Movimento criado para a vogal “E” durante a palestra com D. Maroca

Ainda na sala de aula, retomamos os conteúdos conceituais, apresentando um cartaz

com desenhos rupestres de outras localidades, já de um período histórico mais avançado,

aonde os desenhos já apresentavam movimentos. Após a explicação, fez-se a releitura através

do desenho no papel com grafite ou giz de cera preto. (Ver anexos 1 e

2)

Dando continuidade, as crianças experienciaram uma atividade de caráter

ecológico, catar pedras para fazer fogo e paus secos no pátio. Com esses materiais

exploraram os sons, a textura (ver anexo). Na rodinha foram postos em discussão as

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atitudes corretas em relação ao meio ambiente e comparadas com as constatações feitas sobre

o homem da pré-história e sua relação com esse meio, “ele não destruía”, porque “as pinturas

existem até hoje”. Houve muita interação e troca de conhecimentos e reflexão.

EXCUSSÃO AO PÁTIO PARA CATAR GRAVETOS E PEDRAS

Crianças procurando pedras e gravetos Na rodinha, explorando os

conhecimentos históricos adquiridos e os

específicos: os sons

Ao retornar da excussão, concluímos que os objetivos tinham sido alcançados e até

ampliados, o que pode ser constatado quando pedimos para que desenhassem com giz de

cera preto, nas pedras, elementos da nossa cultura, para que num futuro distante, os homens

pudessem aprender sobre nós. Eles desenharam uma televisão, uma mulher

cozinhando num fogão, o nome deles, uma casa de tijolos, entre outros.

Desenhando uma casa Desenho na pedra

Ao final apreciaram suas produções e a dos colegas, reuniram-se para registrar numa

fotografia a satisfação e o prazer que sentiram durante a realização do projeto que

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lhes possibilitou uma aprendizagem significativa, pois, os conteúdos sobre os quais

discutiram e fizeram reflexões não são conhecimentos estanques, mas fazem parte de uma

prática social que interferirá nas suas vidas.

Posando para o futuro

Um fato importante a ser registrado é que a aula estava sendo filmada, mesmo assim,

as crianças agiram com naturalidade, o que comprovou o interesse pelas

atividades desenvolvidas.

Um momento da oficina

RE-SIGNIFICANDO

Desenvolver um projeto didático-pedagógico, partindo da disciplina de Arte nos

possibilitou uma inter-relação com outras áreas para atingir nossos objetivos, além da

possibilidade de criar e re-criar situações de aprendizagem prazerosa, como também uma

avaliação constante do objeto de estudo e da aplicabilidade do planejamento. Foi possível

durante todo o processo, pensar e repensar junto com os alunos, o que queríamos

ensinar e o que estávamos ensinando. Como queríamos ensinar e como estávamos

ensinando. O que as crianças queriam aprender e o que estavam aprendendo. Como queriam

aprender e como estavam aprendendo.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Vivenciando os períodos históricos da humanidade através da leitura lúdica da

pré-história e dos desenhos rupestres percebeu-se um avanço na compreensão dos alunos

diante da evolução da Arte na história da sociedade, entendendo a Arte como registro

histórico das transformações sociais.

A história da arte, partindo do conhecimento prévio dos alunos e das

manifestações culturais presentes no seu entorno, possibilitou aos mesmos uma maior

compreensão e relevância do Ensino de Arte e Educação Física como componente

curricular e a apropriação dos conceitos de tempo-histórico e tempo-cronológico de forma

significativa.

Evidenciamos que os estudos da disciplina Prática Pedagógica em Linguagem

Corporal, contribuíram para o desenvolvimento do projeto Arte Rupestre do RN, bem

como, a refletir sobre a importância de o professor conhecer os conteúdos dessas

disciplinas e das novas concepções sobre elas, assim como, ter acesso a culturas

diversas para que seu papel de mediador tenha qualidade.

Porém, temos consciência que a continuidade de atividades práticas dessa natureza no

cotidiano escolar da rede municipal da cidade do Natal, ainda não é viável, devido à falta de

espaço apropriado para o professor de artes (laboratórios), já que nenhuma escola

municipal possuí um laboratório. Além disso, o elevado número de alunos inseridos na

sala de aula, inviabiliza este tipo de atividade.

Apesar de consideramos ter alcançado nossos objetivos, este trabalho contém

lacunas, e encontra-se aberto para reflexão e discussão.

REFERÊNCIAS BIBLIÓGRAFICAS ALMEIDA, P. N. Educação lúdica: Técnicas e jogos pedagógicos. São Paulo. Loyola, 1995. CAPISTRANO, N. J. A educação física na escola infantil: saberes e fazeres de professores. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade do Rio Grande do Norte, Natal, 2003. JALLES, A. F. Arte na escola infantil: Educando os modos de ver, olhar e observar. In: CAPISTRANO, N. J. (org).O Ensino de Arte e Educação Física na Infância. Natal [RN]; Paidéia, 2006, p. 37. MELO, J. P.; PONTES, G. M. D.; CAPISTRANO, N. J. (orgs.). O Ensino de Arte e Educação Física na Infância. Natal [RN]; Paidéia, 2005. p. 52.

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PONTES, G. M. D. Aspectos históricos das propostas pedagógicas de ensino de Arte. In: MELO, J. P.; PONTES, G. M. D.; CAPISTRANO, N. J. (orgs). O Ensino de Arte e Educação Física na Infância. Natal [RN]; Paidéia, 2005. p. 19. PONTES, G. M. D., CAPISTRANO, N. J. PERNAMBUCO, M. M. (orgs.). 3: Interdisciplinaridade no Ensino de Artes e Educação Física. Natal [RN]: Paidéia, 2005.105 p. (Caderno Didático 3). SOUZA, A. C. (coord). Música, Movimento e Artes Visuais. São Paulo: DCL, 2006. (Coleção Novos Caminhos: formação continuada na sala de aula).

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ARTE RUPESTRE: CONTEXTUALIZANDO, LENDO E FAZENDO ARTE COMO NA PRÉ-HISTÓRIA

ANEXO – 1 CARTAZ SOBRE ARTE RUPESTRE NO PALEÓLITICO

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ARTE RUPESTRE: CONTEXTUALIZANDO, LENDO E FAZENDO ARTE

COMO NA PRÉ-HISTÓRIA ANEXO –2 CARTAZ SOBRE ARTE RUPESTRE NO PALEÓLITICO