arquivo - jornal gamboa digital - ed. 50 (nov-dez/2011)

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Ano 12 N o 50 Novembro/dezembro/2011 Publicação Educativo-Cultural Distribuição Gratuita Boa Nova-BA Esta edição traz uma matéria surpreendente para a história de Boa Nova. Um livro chamado “Viagem ao Brasil”, publi- cado por volta de 1820, apresenta relatos de via- gem do príncipe alemão Maximilian Alexander Phi- lipp zu Wied-Neuwied, nos quais ele narra sua pas- sagem também por terras boanovenses. Detalhe: isto aconteceu na segunda dé- cada do século 19, quan- do Boa Nova ainda não era sequer uma vila. Príncipe Maximiliano Wied (como é mais conhe- cido no Brasil) nasceu na ci- dade alemã de Neuwied em 23 de setembro de 1782, vindo a falecer também aí em 3 de fevereiro de 1867. Nos mais de dois anos que percorreu o Brasil (entre 1815 e 1817), ele estudou Um príncipe Um príncipe Um príncipe Um príncipe Um príncipe passou por aqui passou por aqui passou por aqui passou por aqui passou por aqui a flora, a fauna e as popula- ções indígenas. A sua importância como pesquisador é reco- nhecida mundialmente. Ele também explorou a Amé- rica do Norte entre 1832 e 1834. Na cidade de Omaha, nos Estados Uni- dos, existe um memorial em sua homenagem. O mesmo acontece bem per- Uma das ilustrações do livro escrito pelo príncipe alemão Maximiliano Wied mostra cenas de sua viagem ao Brasil no século 19 A primeira ilustração é o príncipe Wied ainda jovem; ele aparece na segunda ao lado de um nativo to de Boa Nova: em Vitó- ria da Conquista existe o Monumento ao Príncipe Maximiliano. Wied foi um verdadeiro naturalista e etnólogo. Entre as muitas aves que o prínci- pe coletou e empalhou, está o Rhopornis ardesiacus (nome científico do gravata- zeiro – hoje um dos símbo- los de Boa Nova). Quem conta detalhes dessa história às páginas 4 e 5 é Edson Ribeiro Luiz, biólogo da SAVE Brasil (ONG paulista que há mais de seis anos man- tém projetos em Boa Nova), com colaboração de pesquisa do geógrafo Osmar Barreto Borges – dirertor do Parque Naci- onal de Boa Nova.

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Esta edição traz, duas páginas a mais do que a impressa, sendo divulgada após a sua circulação em Boa Nova e em outras cidades. A ampliação facilita a inserção de outras matérias após o fechamento da edição.

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Page 1: ARQUIVO - Jornal GAMBOA digital - Ed. 50 (nov-dez/2011)

Ano 12 No 50 Novembro/dezembro/2011 Publicação Educativo-Cultural Distribuição Gratuita Boa Nova-BA

Esta edição traz umamatéria surpreendentepara a história de BoaNova. Um livro chamado“Viagem ao Brasil”, publi-cado por volta de 1820,apresenta relatos de via-gem do príncipe alemãoMaximilian Alexander Phi-lipp zu Wied-Neuwied,nos quais ele narra sua pas-sagem também por terrasboanovenses. Detalhe: istoaconteceu na segunda dé-cada do século 19, quan-do Boa Nova ainda nãoera sequer uma vila.

Príncipe MaximilianoWied (como é mais conhe-cido no Brasil) nasceu na ci-dade alemã de Neuwied em23 de setembro de 1782,vindo a falecer também aíem 3 de fevereiro de 1867.Nos mais de dois anos quepercorreu o Brasil (entre1815 e 1817), ele estudou

Um príncipeUm príncipeUm príncipeUm príncipeUm príncipepassou por aquipassou por aquipassou por aquipassou por aquipassou por aqui

a flora, a fauna e as popula-ções indígenas.

A sua importânciacomo pesquisador é reco-nhecida mundialmente. Eletambém explorou a Amé-rica do Norte entre 1832e 1834. Na cidade deOmaha, nos Estados Uni-dos, existe um memorialem sua homenagem. Omesmo acontece bem per-

Uma das ilustrações do livro escrito pelo príncipe alemão Maximiliano Wied mostra cenas de sua viagem ao Brasil no século 19

A primeira ilustração é o príncipe Wied ainda jovem; ele aparece na segunda ao lado de um nativo

to de Boa Nova: em Vitó-ria da Conquista existe oMonumento ao PríncipeMaximiliano.

Wied foi um verdadeironaturalista e etnólogo. Entreas muitas aves que o prínci-pe coletou e empalhou, estáo Rhopornis ardesiacus(nome científico do gravata-zeiro – hoje um dos símbo-los de Boa Nova).

Quem conta detalhesdessa história às páginas4 e 5 é Edson RibeiroLuiz, biólogo da SAVEBrasil (ONG paulista quehá mais de seis anos man-tém projetos em BoaNova), com colaboraçãode pesquisa do geógrafoOsmar Barreto Borges –dirertor do Parque Naci-onal de Boa Nova.

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2 Gamboa Novembro/dezembro/11

Colaboraram nesta edição:Cibele de Sá, Diomar Brito, Edson Ribeiro, Leonardo Cruz, Luiz Moraes,Mikaela Teixeiras, Mireli dos Santos, Osmar Borges, Paulo Coqueiro, RosanaOliveira e Sheyla Alencar.

Expediente Jornal GAMBOA

Impressão: Tribuna Editora GráficaViçosa-MG

Editor/Jornalista Responsável:Roberto D´arte

Editoração e edição de imagem:Anderson Miranda

Endereço:Rua Vaz de Melo 40 - CentroViçosa-MG - CEP 36570-000E-mail: [email protected]

O GAMBOA está vinculado ao IAM(Instituto Adroaldo Moraes)E-mail: [email protected]

Os artigos assinados do Gamboa são de inteira responsabilidade de seus autores

Logo que fui nomeadocomo coordenador pedagógicoda Creche Tia Licinha, tiveuma excelente impressão dotrabalho que ali era desenvol-vido pelo corpo docente e pe-los demais funcionários, no quetange ao cuidado e ao ensinodas crianças que lá são matri-culadas. Entretanto, percebique era tempo propício paraelencarmos um progresso ain-da maior no que diz respeito aoaspecto epistemológico do cur-rículo e dos procedimentos pe-dagógicos trabalhados. E foiisso que tentamos fazer.

O ano de 2011 foi de den-sas transformações conceitu-ais e procedimentais no que serefere ao aspecto pedagógicoda Creche Municipal Tia Li-cinha. Até então, tal institui-ção pautava sua concepção deensino e aprendizagem naabordagem tradicional do pro-cesso de introdução da alfa-betização, o que não favore-cia uma compreensão ampladas representações sociais daleitura e da escrita por partedos meninos e meninas aliatendidos. Sendo assim, foiimplantado o Projeto “MeuLetramento”, que tem comoobjetivo estimular o desenvol-vimento intelectual e social doeducando, favorecendo o con-tato do mesmo com os códi-gos linguísticos presentes nocotidiano da sociedade, inici-ando o processo da apropria-ção das representações lingu-ísticas; estabelecer na crian-

ErosãoHá erosão em todos os sentidos:No espaço, na terá, no mar,No coração e nos sentimentos,Até mesmo no nosso sonhar.

No riso, na crença,Na fé da existência do criador;No lar, na convivência,No mais sublime amor.

No conceito, no caráter e na personalidade,No modo de viver social;Erosão nos sonhos, na felicidade;Erosão no amor, isso é um grande mal.

RelatopedagógicoAntonio Leonardo Rezende Cruz

ça uma auto-identificaçãocomo sujeito social a partir deseu nome; favorecer o enten-dimento da relação entre fo-nema e grafema, principal-mente no que diz respeito àsletras; estimular a motricida-de fina; oferecer atividadesestruturantes a fim de levar acriança a entender a funcio-nalidade da língua.

Partindo do pressupostoque o Letramento é necessá-rio para que o indivíduo nosseus primeiros anos de vidaseja capaz de atuar em dife-rentes contextos sociais, deacordo com as suas possibili-dades, é que a Creche Muni-cipal Tia Licinha, conhecedo-ra de sua responsabilidadesocial enquanto instituição nãoapenas de convivência e so-cialização, mas também deensino e de aprendizagem, ofe-rece o Projeto “Meu Letra-mento” aos seus alunos, bemcomo às pessoas de boa von-tade interessadas na temática,pertencentes à comunidadeem geral que necessitam domesmo aprendizado.

Iniciamos tal Projeto apre-sentando às crianças os seuspróprios nomes, dando ênfaseespecial à sua letra inicial, poresta conter uma significaçãoespecial. Desse modo, nãomais ensinamos as vogais se-paradas, por entender que so-zinhas estas não agregariamvalor funcional nenhum naapropriação da escrita. À me-dida em que cada criança

aprendia a “sua letrinha”, tam-bém acabava aprendendo aletrinha dos coleguinhas queinteragia com ela no ambienteescolar, se apropriando de umasó vez do entendimento daexistência de todas as letras doalfabeto, que em relação umacom as outras acabam repre-sentando o mundo onde vive-mos. Para que essa apropria-ção se efetivasse com maiorsucesso, também utilizamos dediversas técnicas metodológi-cas e didáticas, tais como lei-tura e contação de histórias,músicas (sempre usando o su-porte textual), atividades ali-mentadoras com utilização deparlendas, adivinhas, contos,rimas, fábulas, entre outrosgêneros; além das atividadesestruturantes de análise de pa-lavras significantes, trazidasdos momentos lúdicos, utilizan-do em alguns momentos atémesmo de tarefas de pontilhar,o que para os mais radicais évisto como tradicional.

Para melhor percebermos

o progresso cognitivo de nos-sas crianças, no pressuposto daTeoria da Psicogênese da Es-crita, da educadora ArgentinaEmília Ferreiro, as professorasforam estimuladas a motivaras turmas para o exercício daescrita espontânea, como for-ma indireta de avaliação e di-agnóstico da aprendizagemestabelecida. Hoje podemosafirmar com propriedade queaplicamos como abordagempedagógica o método constru-tivista, em que a alfabetizaçãoe o letramento caminham jun-tos no intuito de oportunizaruma aprendizagem verdadeira-mente significativa e crítica dosconteúdos.

(Antonio Leonardo RezendeCruz é graduado em Pedagogiapela UESB - Universidade Esta-dual do Sudoeste da Bahia, pós-graduando em PsicopedagogiaClínica e Institucional pela Fa-culdade de Tecnologias e Ciênci-as e coordenador pedagógico daCreche Municipal Tia Licinha)

Este livro, intitulado“Amanhecer do meuSertão”, é de autoria dopoeta Diomar Silva Bri-to (no detalhe da foto).A obra, presenteada aoGAMBOA, traz deze-nas de poemas com te-máticas diversas de al-guém que guarda umarelação estreita comBoa Nova, onde jáatuou como professor“autodidata”. Naturalde Inema (distrito deIlhéus), Diomar resideno vizinho município deMirante, que é a terranatal da sua esposaLúcia Meira e ondetambém já atuou como diretor de Educação e Cultura. Aos73 anos, aposentado, ele se dedica a uma de suas paixões:escrever poemas. A seguir um deles, publicado em seu livro.

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Novembro/dezembro/11 Gamboa 3

Novembro foi bas-tante rico para as áreasde Cultura e Meio Am-biente em Boa Nova. Al-guns dos eventos reali-zados neste mês são re-gistrados nesta ediçãodo GAMBOA.

Um dos mais impor-tantes foi a 1a Conferên-cia Municipal de MeioAmbiente e a etapa localda 3a Conferência Esta-dual de Meio Ambiente,realizadas no dia 10.Com o tema “Integraçãodas Políticas de MeioAmbiente e RecursosHídricos”, a conferênciafoi ordenada em noveeixos temáticos, agrupa-dos em três blocos dis-tintos. Ela foi organiza-da pela Prefeitura Mu-nicipal, através da Dire-toria Municipal de MeioAmbiente, e pelo COM-MARH – Conselho Mu-nicipal de Meio Ambien-te e Recursos Hídricos,com o apoio da SAVEBrasil, ICMBio/ParqueNacional de Boa Nova eIAM – Instituto Adroal-do Moraes, além das de-mais Secretarias Munici-pais. As propostas deba-tidas, apresentadas eaprovadas na conferên-cia serão transformadasem Projetos pelo COM-MARH em 2012 e farãoparte da política de meioambiente do municípiopara os próximos anos.

Observadores de aves

No início da mesmasemana, entre os dias 2e 6, a visita dos mem-bros do Clube de Obser-

Boa Nova foi palco de vários eventos em novembro

A Conferência Municipal de Meio Ambiente contoucom um bom público

Osmar Borges (último à esquerda) levou os membrosdo COA-BA para vários lugares

vadores de Aves daBahia (COA-BA) abriuum novo horizonte parao ecoturismo em BoaNova. Na oportunidade,foi comemorado na ci-dade 26 anos de funda-ção do COA-BA. O

evento contou com umaprogramação variada, naqual ocorreram visitasaos riquíssimos ambien-tes naturais do municí-pio. Além de 14 mem-bros do COA-BA, parti-ciparam da visita 20 alu-nos do curso de Medi-cina Veterinária da

UFBA (Universidade Fe-deral da Bahia), que ti-veram uma aula de cam-po sobre aves. Um dosorganizadores do even-to – Osmar Barreto Bor-ges (diretor do ParqueNacional de Boa Nova emembro do COA-BA),disse ao GAMBOA queseus colegas adoraramnão apenas as aves deBoa Nova, mas tambéma hospitalidade do seupovo, a comida, a cul-tura local.

Visita ao Parque

Também na linha doecoturismo, no fim domês professores e estu-dantes de Ibirataia-BAestiveram no município

para conhecer um pou-co do Parque Nacionalde Boa Nova. Cicerone-ados por Cibele de Sá(diretora municipal deCultura) e por JosafáSampaio (ativista ambi-ental e praticamente umguia ecoturístico), osvisitantes foram ao La-

Cibele e Josafá (no centro, atrás) acompanharam os visitantes de Ibirataia

jedo dos Beija-flores e arecantos da Mata de Cipóe da Mata Atlântica.

Revelando talentos

Na área de Cultura,no dia 16 a equipe deprofessores e gestoresdo Colégio MunicipalVandick Reidner Co-queiro organizou ummomento diferenciadode aprendizagem, deno-minado “Qual é o SeuTalento?”. O evento,que contou com umbom público, teve comoobjetivo principal reve-lar os talentos artísticosdos estudantes. Ele fazparte do calendário deatividades pedagógicasdo colégio, que, segun-

do a direção, visualizanesses momentos aoportunidade de promo-ver os alunos, preparan-do-os para a prática deoralidade e para o con-vívio em sociedade.

Revivendo o Reisado

Na mesma área, nodia 20, no Salão da Edu-cação, a Diretoria Mu-

Jurados e público do “Qual é o Seu Talento?”

nicipal de Cultura pro-moveu um encontro en-tre artistas e represen-tantes locais dos Ternosde Reis e das Pastori-nhas com a equipe doprojeto “Revivendo oReisado”, de Jequié. Naoportunidade, foi minis-trado um curso sobre ahistória do Reisado e decomo fazer os instru-mentos para essa mani-festação cultural popu-lar. Os organizadores doprojeto doaram para aDiretoria de Cultura umboi do Bumba-meu-Boi,três tambores, baquetas,camisas e chapéus eapostilas com músicas ehistória do Reisado.

Jornal escolar

Também em no-vembro alunos da 7a

série do ensino funda-mental da Escola Muni-cipal Alcides FilintoMagnavita de Souza, noEntroncamento de BoaNova, produziram oJornal Criativo. Trata-se de um informativoescolar, que contoucom apoio da direção eda professora de Portu-guês Taiane Rodrigues,que veem nesta iniciati-va uma forma dos alu-nos aprimorarem a es-crita e de tratarem te-mas transversais na es-cola. No primeiro nú-mero o Jornal Criativotrouxe como destaqueuma matéria sobre SeuJorlando, artesão localque produz pássaros eutensílios domésticos,todos a partir de madei-ras secas encontradasna região.

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4 Gamboa Novembro/dezembro/11

No florescer do século 19 o Brasil ain-da era colônia de Portugal. Até esse perí-odo os colonizadores lusitanos evitavamque qualquer outro povo europeu adentras-se as terras brasileiras. As expulsões dosfranceses, fundadores de São Luís do Ma-ranhão, e dos holandeses, também no Nor-deste, mostram o quanto Portugal recea-va perder domínios territoriais.

Essa situação começou a mudar quando,em 1807, Napoleão Bonaparte invadiu Por-tugal e forçou a fuga do príncipe regente DomJoão VI para o Brasil. A Inglaterra na oca-sião ofereceu à família real portuguesa es-colta militar durante a viagem, exigindo comocontrapartida que Portugal abrisse os portosbrasileiros ao comércio, até então exclusivi-dade da “pátria-mãe”. Tal promessa foi, defato, cumprida apenas quatro dias após achegada de Dom João ao Brasil com a pro-mulgação da carta denominada “Aberturados portos às nações amigas”.

O interesse de vir ao Brasil, no entan-to, não estava restrito a comerciantes eu-ropeus. Além destes, os naturalistas, cien-tistas do ramo da Zoologia, Botânica, Ge-ologia e Etnologia tinham há muito tempocuriosidade em conhecer e catalogar a riquíssima vida naturaldas terras brasileiras. Após a abertura dos portos, várias expe-dições científicas foram empreendidas, marcando o início efe-tivo do estudo sistemático da nossa biodiversidade.

Ao partir de Conquista emdireção a Salvador em feve-reiro de 1817, o príncipe Ma-ximiliano Wied-Neuwied pas-sou pelas terras hoje do muni-cípio de Boa Nova. Esse tre-cho da viagem traz preciosasinformações com base noReise (Relatos de Viagem),publicado em 1820. A seguir,na íntegra (inclusive a grafia),as passagens mais significati-vas do trecho do diário em queBoa Nova é mencionada.

“Em breve achei-me nopequeno arraial de Possões,cujo vigário pareceu-megrande apreciador de bebi-das fortes, pelo menos a jul-gar pelo seu estado de com-pleta embriaguez. O lugarconta com uma dúzia de ca-sas e uma capela feita debarro. A pequena distânciadaí começam as terras do

Um ilustre desconhecidodos boanovenses

por Edson Ribeiro Luiz

Invariavelmente, essas viagens pelopaís duravam anos, eram feitas de manei-ra extremamente penosa, percorrendo car-reiros mal batidos em densas florestas. Aolombo de mulas, os tropeiros empreendi-am grande aventura, guiados por índios“semi-civilizados” e se alimentando basi-camente das caças que abatiam no per-curso, farinha e rapadura. Mesmo comtanta dificuldade, esses “biólogos” do pas-sado deixaram uma imensa contribuiçãoao conhecimento científico do Brasil.

Entre estes, o príncipe alemão Maxi-milian Alexander Philipp zu Wied-Neuwi-ed tem importante destaque. Wied desem-barcou em 1815 no Rio de Janeiro e du-rante dois anos ininterruptos fez sua via-gem até Salvador, na Bahia, coletandogrande quantidade de material botânico,zoológico e etnológico pelos ambientesonde passava.

Além de estudar os aspectos da vidanatural, Wied fez descrições detalhadassobre as vilas e moradores que encontra-va no caminho. Passando pelo Arraial deConquista (hoje Vitória da Conquista), Wiedrelata o início do povoamento daquela lo-

calidade e cita as sangrentas batalhas contra os índios Cama-cans (Mongoió) no início da colonização. São de Wied as infor-mações mais precisas sobre o nascimento deste hoje impor-tante polo urbano do Sudoeste baiano.

Pintura do príncipe Maximiliano e o índio Kuek

Boa Nova na rota do príncipe Wiedpor Edson Ribeiro Luiz

As araras vermelhas eram abundantes em Boa Nova no século 19

capitão-mor Antônio Diasde Miranda, que costumaresidir na Fazenda de Uru-ba, onde me tinha convida-do a visitá-lo. Seu pai, João

Gonçalves da Costa, assimcomo vários de seus filhos,possuem em comum umavasta extensão de terras,onde conservam grande

quantidade de gado em es-tado selvagem. O caminhopara Uruba levou-me emseguida por uma zona are-nosa, coberta de arbustossecos, onde fui encontrartrês espécies de Cactus... Asararas, tão notáveis pelasua plumagem de um verme-lho magnífico, eram extre-mamente comuns; pousa-vam muitas vezes pertinhode nós, na sombra, sobre osgalhos mais baixos dasgrandes árvores. Atravessa-mos muitos córregos, deáguas turvas e salgadas(água salobra). Dois, po-rém, límpidos e frescos, nosderam força e ânimo, espe-cialmente o Uruba, cujaságuas cristalinas serpentei-am à sombra das matas, en-tre margens cobertas de ve-getação virente. À noitinha,

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Novembro/dezembro/11 Gamboa 5

cheguei ao alto dummorro, onde acam-pamos ao pé dumcurral, a meia léguada fazenda de Uru-ba. A noite foi tran-quila e agradável, ea lua, com a suadoce claridade, des-tacava em diferentestons as colinas cir-cunvizinhas. Quan-do o dia surgiu,meus olhos foramagradavelmente sur-preendidos com aencantadora vistade um vale profun-do, onde se acha si-tuada a fazenda deUruba. Altas montanhas,cobertas de sombrias matas,formam profunda depres-são, no fundo da qual,acompanhando o córregoUruba, surgem os telhadosvermelhos das casas, em pi-toresco contraste com o ver-de da vegetação. Fui aco-lhido o mais amigavelmentepossível na casa do capitão-mor, embora este estivesseausente. Sua família que,tanto quanto ele, é muitoconsiderada nessas terras,cumulou-me de atenções.Levaram a amabilidade aponto de mandar uma por-ção de provisões para a mi-nha tropa, no morro ondeestava o nosso acampamen-to; vários escravos de doissexos foram incumbidos dis-so. Teria de bom grado pas-sado alguns dias nessa hos-pitaleira casa; mas como ochefe da família estava au-sente, e uma demora maiornão me traria vantagens,decidi-me a prosseguir via-gem nesse mesmo dia, e, aomeio-dia, reuni-me ao meupessoal, depois de ter rece-bido de presente alguns pa-

pagaios faladores. Chega-mos no mesmo dia à fazendada Ladeira, situada num valemuito profundo, no seioduma região extremamentemontanhosa; pertence tam-bém a família do capitão-mor.Chegados ao fundo do vale,tivemos ocasião de contem-plar novas cenas agrestes;velhas e altas árvores deonde pendiam emaranhadoscompridos de Tillandsia, queos portugueses denominam“barba de pau.”

O início de tudo

Devemos chamar a aten-ção pelo fato das anotaçõesde Wied fornecerem amplomaterial para o conhecimentoda história de Boa Nova. Porelas, podemos chegar à con-clusão que o Capitão AntônioDias de Miranda foi efetiva-mente o primeiro povoadorque fixou residência por aquiapós os sangrentos combatesque exterminaram os índiosCamacans (Mongoió), Imbo-rés e Pataxós.

André da Rocha Pinto eJoão Gonçalves da Costa, os

primeiros desbravado-res de todo o Sertão daRessaca (terras entreo rio Pardo e o rio deContas), tiveram du-rante a maior parte desua vida um perfil nô-made ao desbravaramplas distâncias. Ou-tro aspecto interessan-te é que Wied foi ex-tremamente bem rece-bido pelos moradoresem Uruba. Em pou-quíssimos trechos doseu livro de viagem, opríncipe demonstra ta-manho reconhecimen-to pela receptividadede brasileiros a sua

passagem. O perfil voluntario-so e altivo dos boanovensespara com os visitantes que che-gam vem de longa data!

Por este texto também ficaclaro que Fazenda de Urubafoi o primeiro nome do núcleode povoamento que deu ori-

gem ao município de BoaNova. Boca do Mato (que ori-ginou o sítio urbano) foi umafazenda fundada pelos herdei-ros do Capitão Antônio Diasde Miranda. Quanto aos as-pectos geográficos, Wied foidetalhista. Entre Poções eBoa Nova ele cita a existên-cia de dois rios de água doceem meio à maioria de águasalobra, referindo-se segura-mente ao Uruba, como diz, eao Rio Tarugo, ainda hoje comáguas palatáveis (não potá-veis). A depressão de monta-nhas que o naturalista se sur-preendeu ao acordar nadamais é do que a cadeia mon-tanhosa da Serra da Ourica-na, a qual ponto mais elevadodenominamos Morro do In-glês, com aproximadamente1.100 metros de altitude. OUruba na época de Wied cor-

ria mansamente protegido porgrandes florestas, porém adestruição e a mudança dapaisagem no decorrer de doisséculos ficam evidentes quan-do ele cita a presença de ara-ras vermelhas entre Poções eBoa Nova, hoje extintas.

Por fim, Wied descreve osvales e a descida para a regiãodo Pé da Ladeira, pouco a nor-te de Boa Nova. Mesmo queseguramente em menor quan-tidade, até hoje as grandesBraúnas com barbas-de-ma-caco ou barbas-de-velho (Ti-llandsia) chamam a atenção dequem percorre esse vale emdireção a Manoel Vitorino, aqual Wied atinge um dia depois.

Imagino que os amantesda história e de Boa Nova es-tejam se deleitando com o tex-to, mas isso não é tudo. Sur-preendemente, Wied em suapassagem por essa região co-letou e empalhou exemplaresdo gravatazeiro (Rhopornis

ardesiacus), ave desconheci-da pela ciência naquela épo-ca. As peles desses pássaroscontinuam até hoje deposita-dos no American Museum deNova York e fui surpreendi-do no mês de junho deste anoao solicitar por e-mail e re-ceber fotos enviadas pelo Dr.Matt Shanley, um dos cura-dores desse material. É inte-ressante notar que a históriade Boa Nova se inicia quaseque simultaneamente com ahistória do gravatazeiro. Ofato de essa espécie ter setornado um símbolo da cida-de torna tudo mais impressi-onante ainda.

(Edson Ribeiro Luiz é gradua-do e pós-graduado em Biologia e émembro da ONG SAVE Brasil, se-diada em São Paulo-SP e com pro-jetos em execução em Boa Nova)Monumento ao Príncipe Maximiliano, em Vitória da Conquista

Exemplar do gravatazeiro coletado e empalhado por Wied em 1817; eleainda se encontra guardado no American Museum, em Nova York

Moradores da região registrados no livro do príncipe

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Novembro/dezembro/11Gamboa6

As corridas de motocross são ricasem imagens. O esforço dos pilotos emultrapassar seus limites e de suas motos,em cada curva aumentando a velocida-de e em cada salto adquirindo mais altu-ra, faz desse esporte uma ímã para quemassiste e não deseja perder uma imagem.

Motocross exige muito fisicamente nosbraços, nos ombros e nos glúteos. O extre-mo entre controle, força, resistência, refle-xo raramente é observado em um piloto,que aparentemente é camuflado sob umaproteção corporal quase que igualada a dosantigos cavaleiros medievais: capacete,coletes, luvas, botas, joelheiras, calça comproteção, camisa, protetor de coluna e pes-coço, óculos, protetor de nariz, ou seja, alémdo grande esforço o mesmo não tem a li-berdade para transpirar, reação natural docorpo humano para resfriar a pele e, con-sequentemente, a corrente sanguínea. Semesta liberdade de transpirar a temperaturado corpo sobe e exige ainda mais do piloto.Aos olhos do leigo, o salto é oápice de uma corrida, porémpara o piloto o salto é o mo-mento de descanso e relaxa-mento. As curvas e ultrapas-sagens são os pontos determi-nantes para um boa corrida.

Percebi que a vida da gen-te é muito mais do que imagi-namos, e que podemos ir alémdas nossas perspectivas. Pro-va disso é um boanovense queentrevistei. Ele me falou umpouco da sua trajetória de vidae experiências.

Luciano José dos Santos(mais conhecido como Lu-ciano Mainha), 37 anos, écasado com Adelma; destaunião surgiu um filho de 8anos que tem o nome do seupai (Ponciano Neto), em ho-menagem ao mesmo. Seu pai (Poncia-no José dos Santos), policial militar, veiotrabalhar em Boa Nova ainda moço,quando conheceu a sua mãe (CarmemDolores Jesus Santos) e se apaixonou.Casaram-se aqui mesmo em Boa Novae tiveram Luciano, Fabiana, Priscila eLuciclei. Tem ainda seu irmão mais novo(por parte de pai), Luciano Lula.

Devido ao trabalho de seu pai, che-garam a morar em Jequié e depois deum tempo em Itaquara, ficando por lá 10anos. Sua família retornou para BoaNova tempos depois, quando ocorreu amorte do pai. A sua paixão pelo Moto-cross surgiu quando recebeu um convitede Tom (Antônio Augusto Oliveira) para

Sirleide Borges Leite

Boa Nova tem campeãode Motocross

Luciano Mainha exibe os troféus conquistados

conhecer de moto a Serra do Inglês. Eledescreveu como linda e impressionantea imagem que viu de Boa Nova no for-mato de um cavalo alado. A partir daí elecomeçou a fazer trilha e não parou mais.

É registrado na CBM (ConfederaçãoBrasileira de Motociclismo), e sempreque pode participa de eventos. A sua pri-meira participação em um evento foi noTrilaje Enduro Works, em 2006, num cam-peonato baiano realizado na cidade deLajes, no qual recebeu o seu primeiro tro-féu pelo 10o lugar. Luciano Mainha con-fessou que o sabor deste troféu foi muitobom, pois competiu com os melhores cor-redores de Motocross da Bahia e, aindapor cima, com uma moto inferior.

Segundo ele, quando percebeu que ti-nha jeito para a coisa começou a investirem uma moto própria para competir. Ex-plicou que o custo é altíssimo; para se teruma ideia, só uma parte do motor ficaem torno de cinco mil reais. “Este espor-

te é só para barão”, disse ele. Pergunteio que ele tinha de retorno financeiramen-te: “nada, só mesmo o valor às vezes deuma inscrição”. Perguntei em seguida porque, então, ele ainda corria. A respostafoi imediata: “por paixão, pois não tenhopatrocínio e o gasto é muito alto. Usa-mos gasolina de avião por ser considera-da 100% pura e a moto fica mais poten-te. As viagens acabam sendo caras, emtorno de 500 reais, dependendo aonde fora corrida. Existem muitas modalidades ehoje em dia é por categoria. Eu corro pelacategoria Over, ou seja, ela é definida poridade, acima de 35 anos”.

O troféu de primeiro lugar foi conquis-tado em Amargosa-BA em 29 de agosto

de 2009. Depois disso foram várias vitóri-as (tanto em 1o lugar quanto em 2o, 3o, 4o)em competições em muitas cidades daBahia, a exemplo de Itabuna (2007), Mi-lagres 2007, Laje (2009), Jequié (2009),Boa Nova (2009), Mutuípe (2009 e 2010),Camacan (2010), Amargosa (2010). Par-ticipou de competições também em Mi-nas Gerais na “Etapa Mata Verde”, em2008, na cidade de Taiobeiras.

Luciano mencionou ainda que existeuma categoria especial (Força Livre), naqual ele e Leo Bala (campeão de váriasmodalidades e conhecido no Brasil todo)participaram juntos, o que é motivo demuito orgulho. O boanovense foi campeão

da categoria Força Livre Es-pecial de 2008. No ano pas-sado ele disse que realmentesentiu o gosto de uma vitóriabem merecida, no campeo-nato Baiano Over-35 Endu-ro Cross Cauntry. É que de-pois das corridas do ano so-mam-se todas as etapas, oque o sagrou campeão de2010 nesta categoria.

Este ano já participou docampeonato baiano de CrossCountry, ficando em 4o lugar,enquanto seu irmão Lucicleificou em 7o. Também esteano, em uma corrida na ci-dade de Nova Canaã, sofreuum acidente, do qual ficoudesacordado por mais de 1hora, só recobrando os senti-dos no hospital. Confessou

que é muito difícil arranjar patrocínio e quedevido a este acidente ele não poderá cor-rer este ano para terminar as etapas ne-cessárias para somar pontos.

Luciano está pensando seriamenteem parar de correr o ano que vem senão conseguir um patrocínio, pois preci-sa de um colete e um protetor de pesco-ço, que, segundo ele, é muito caro, semcontar com as viagens, gasolina, peçaspara a moto, entre outros. A moto pró-pria para participar de destas corridas éestipulada em torno de 25 mil reais.

(Sirleide Borges Leite é graduanda de Edu-cação Física na UESB, em Jequié, e graduan-da de Pedagogia na FACE, em Boa Nova).

O boanovense (3o da esq. p/ dir.) em um dos vários pódios que já subiu

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Novembro/dezembro/11 Gamboa 7

O ensaio foto-gráfico “Guarda-dos”, do fotógrafoboanovense PauloCoqueiro, foi bas-tante elogiado du-rante os três dias emque foi visitado noTeatro Castro Alves(TCA), em Salvador.Entre 2 e 4 de dezem-bro, a mostra inte-grou a programaçãodo XI Mercado Cul-tural, que aconteceusimultaneamente nacapital e em algunsmunicípios, entreeles Boa Nova (es-pecificamente nodistrito de Valentim).

Em “Guardados”, quefoi apresentado em BoaNova no dia 6 de agostodeste ano, Paulo Coquei-ro retrata cerca de 50 per-sonagens com mais de 80anos que moram na sedee em Valentim. Compõemo cenário o ambiente dacasa dos fotografados ouseu local de trabalho.

A produção da mos-

“Guardados” foi atração em Salvador no TCA

tra no TCA construiu umcubo, onde os quatro la-dos externos foram pinta-dos com fachadas típicasde casa de interior, seme-lhantes às de Boa Nova,com duas portas fecha-das por uma cortinas detecido. Em seu interior,apenas seis bancos ne-gros para sentar (a lota-ção era controlada porvoluntários do próprio

município), almofa-dados e com teci-dos negro cobrin-do os lados inter-nos do cubo. Aofundo, uma TV deled, tela plana,onde as imagenseram exibidas inin-terruptamente.

Segundo os or-ganizadores doevento, na sexta (2)e sábado (3) passa-ram pelo TCA cercade três mil pessoas.No domingo (4), emtorno de 1.000. Noúltimo dia houve aprojeção do vídeo

com as imagens do ensaio,com a música da bandapernambucana ComadreFlorzinha na tela do palcoprincipal do TCA.

Os comentários deixa-dos no livro de visitasdemonstram a emoçãoque a força destas ima-gens provocam. Apesarde serem um registro re-gional, causam um forteimpacto e grande identifi-

cação. Para aqueles queresidem no interior, resga-tam os vínculos afetivoscom suas próprias memó-rias. Alguns comentáriostraduzem a visão dessacontradição do homem eda passagem do tempo:“Um absurdo de lin-do!!!”; “Perfeita combina-ção de técnica e sensibili-dade! Muito legal!!”;“Que seus Guardados se-jam sempre mostrados!”;“Parabéns! Quero que mefotografe quando chegar

aos 80!”; “Que privilégiofotografar a imagem dotempo a passar!!”; “Lin-dos retratos!! Comoven-tes!”; “Hours Con-cours!!! Muito lindo!!”; e“Muito bom, diferentecomo documentário”.

Quanto ao XI Merca-do Cultural no Valentim,o GAMBOA trará matériaem sua versão virtual, emuma das páginas extras. Aedição em PDF, colorida ecom mais páginas circu-lará em breve.

Um dos vários retratados no ensaio fotográfico “Guardados”

Paulo Coqueiro, no TCA, ladeado peloirmão Flávio e pela cunhada Linda

Projeto do SEBRAE realiza diagnósticos em Boa Nova

Uma das turmas beneficiadas peloprograma “Crescer”

O SEBRAE, em parceria com a SecretariaMunicipal de Agricultura e Expansão Econô-mica, vem atuando em Boa Nova com o pro-jeto “Negócio a Negócio”. Ele tem como ob-jetivo principal atender ao empreendedor in-dividual (candidatos e formalizados) e às mi-cro e pequenas empresas que possuem atéquatro funcionários com atendimento perso-nalizados porta a porta, realizando diagnósti-co empresarial gratuito e levando melhoressoluções para o desenvolvimento dos em-preendimentos locais.

Também é perspectiva do “Negócio aNegócio” aproximar o SEBRAE e a Prefeiturada realidade desses pequenos empreendi-mentos, além de fortalecer a aplicabilidade daLei Geral da Micro e Pequena Empresa, apro-

vada e sancionada peloMunicípio.

No dia 23 de novem-bro último a Secretariade Agricultura e Expan-são Econômica e o SE-BRAE promoveram umaoficina com o tema “Seicontrolar meu dinhei-ro”, ministrada pela psi-cóloga Márcia Nery. Elabuscou otimizar o de-sempenho dos empre-endedores, abordandoideias consideradas re-levantes de estímulo aoempreendedorismo.

Crescer

Ainda neste foco, oBanco do Nordeste, que faz parte do Crescer(programa nacional de microcrédito do Go-verno Federal) vem disponibilizando recur-sos aos empreendedores que necessitam dedinheiro para compra de mercadorias, máqui-nas, equipamentos, reformas e capital de giro.A Secretaria de Agricultura e Expansão Eco-nômica colocou à disposição dos empreen-dedores locais um agente de desenvolvimentoe um diretor de expansão econômica paramelhor interação dos empreendedores comesta linha de crédito.

Pequeno produtor

A mesma pasta municipal vem oferecen-do oportunidades ao pequeno produtor rural

para que ele também possa adquirir um novoperfil: o de empresário. Com apoio do Sindi-cato dos Trabalhadores Rurais de Boa Nova,Sindicato Patronal de Poções e SindicatoRural de Jequié, FAEB, SENAR, EBDA, CE-PLAC, CAR, ADAB, SEBRAE, UESB, BNB,Banco do Brasil, Coopasub, Coopersuba,Território Médio Rio das Contas e associa-ções locais, a Secretaria de Agricultura vemrealizando cursos de capacitação, qualifica-ção profissional e treinamentos visando àqualificação profissional do produtor rural.

Palestrante do SEBRAE explica detalhes do projeto “Negócio a Negócio”

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8 Gamboa Novembro/dezembro/11

Depois de gravarseu primeiro CD no dia5 de novembro últimono Clube Social de BoaNova, o cantor e com-positor boanovenseJânio Mendes continuainvestindo em sua divul-gação. O trabalho, inti-tulado “Pra se apaixo-nar”, traz canções de es-tilos musicais variados.O CD foi gravado aovivo e contou com a par-ticipação de um grande público. Na oportunidade, Jânio mencionou queespera em breve ouvir suas músicas tocarem nas rádios de toda a Bahia.

Estou aqui para contar o pouco que sei a respeito da histó-ria desse pequeno povoado que traz em suas raízes fatos inte-ressantes e instigantes, pois este foi obtido com depoimento demoradores (em memória) que contaram como surgiu este san-tuário natural que hoje é habitado por várias famílias vindas delugares diferentes.

O povoado do Valentim está situado no Sudoeste da Bahia,no Planalto da Conquista, a 700 metros de altitude em relaçãoao nível do mar. Pertence ao município de Boa Nova, que ficaa 450 km da capital, é cortado pela rodovia federal BR 030.

O povoado teve início assim: um homem por nome João Va-lentim Oliveira vinha do sul da Bahia à procura de trabalho; pas-sou por Dário Meira e, em meio à mata fechada, se fixou aproxi-madamente onde hoje é a praça. Aí construiu uma tapera e habi-tou por longo tempo, se alimentando da caça, da pesca e de frutas.

Após ser atacado por uma onça, morreu e só foram encon-trados seus restos mortais e um alforje (bolsa de couro) comseus pertences pessoais. Nessa bolsa foram encontrados do-cumentos com nome e sobrenome. Em homenagem a um ho-mem de coragem incontestável, colocaram o nome do lugarValentim, pois para morar em um lugar repleto de perigos temque ser mesmo valente.

Valentim começou a sofrer mudanças e, de onde só haviamata fechada, foram surgindo as primeiras casas. Depois ou-tras famílias também passaram a residir neste lugar até que seformou a primeira rua, que ficou conhecida como Rua dosVelhos, atual Rua Rui Barbosa. Os primeiros habitantes foramGermínia Batista Moitinho, Basílio Leite e sua esposa AnaCarlota de Sá Leite, Teotônio Tavares da Silva e Augusto Fer-reira Barbosa. Atualmente existem poucas casas daquela épo-ca no seu modelo original. Também vieram outras pessoas paraValentim que fixaram residência na Roseira, atual Rua 2 deJulho. Com a chegada do senhor Alcides Rocha e de sua espo-sa Maria Isabel dos Santos foram surgindo outras pessoas etomando formas as ruas. Outro grupo se fixou no Lagoão, for-mando, assim, um vilarejo.

Para buscar sal era preciso pegar um boi, amarrar dois cande-eiros no chifre para iluminar a trilha que fizeram para chegar aBoca do Mato (Boa Nova). Levavam vários dias para chegar lá.A claridade no chifre do boi ajudava também a espantar as onças.

Valentim atualmente possui aproximadamente 1.920 habitan-tes. A fonte de renda varia de pessoa para pessoa; algumas traba-lham por conta própria, outras são empregadas na Prefeitura deBoa Nova. Na Educação já funciona escola com ensino médio.Na Saúde falta um hospital para atender melhor a população. Nolazer os jovens têm encontrado dificuldade, pois o lugar não possuinada de interessante, a não ser o Museu do Processo, onde en-contramos espaço para estudar e exercitar a criatividade.

Apesar das mudanças que ocorreram no povoado desde asua formação até os dias de hoje, o processo transformadorainda é muito lento. Com dados atuais da população, podemosperceber que o número de habitantes é razoável para que pos-samos usufruir de direitos básicos como policiamento, vigilân-cia nas escolas, saneamento, esporte... Esse não é o Valentimque queremos, mas é o que temos, e se quisermos algo melhortemos que pensar nas nossas escolhas. Já dizia Augusto Cury:“os nossos maiores problemas não estão nos obstáculos docaminho, mas, sim, na escolha da direção errada”.

(Rosana Oliveira é aluna do 2o ano do EMITec – Ensino Médio comIntermediação Tecnológica, projeto da Secretaria de Estado da Educação)

Boa Nova é um lugarconhecido por ser decentenão é rica e nem pobremas abriga muita gente.

É preservada por ser cultural.Boa Nova terra amada,no Brasil não tem igual.

Professores esforçadosno colégio a ensinaro prefeito de Boa Novaé um homem popular.

Os moradores preocupados

Dia 18 de abrilMonteiro Lobato nasceuForam contos e lendasOs livros que ele escreveu.

Os livros são uma viagemA lugares distantesQue demonstram a coragemDe dragões e gigantes.

Um concurso culturalMe deu inspiraçãoPra criar vários poemasCom toda perfeição.

Escrevendo este poemaFalei de contos literáriosPermitindo aos leitoresBuscar o imaginário.

Estávamos falando de livrosPorém resolve mudarContar sobre Boa Nova

Valentim: a históriapor trás do nome

Rosana Oliveira

Boa Nova

Mireli Alves dos Santos

Terra boa de morar.

Boa Nova, terra amadaGrande história a contarTenho sonhos de criançaQue brotou neste lugar.

Terra de muita genteFamílias de pouco dinheiroTrazendo a humildadeE levando ao mundo inteiro.

Grande marco turísticoTemos o CruzeirãoDescoberto por moradoresPor um padre, em procissão

(Mireli Alves dos Santos é alu-na do 1o ano do Ensino Médio –turma A matutino – do ColégioEstadual Dr. Edvaldo MachadoBoaventura, sob coordenação daprofessora Fátima Gardene)

Boa NovaMikaela Teixeira

com a cultura da regiãotrouxeram um concursoque me deu inspiração.

Terminando meu poemaagradeço a atençãode ler estes versinhosque fiz de coração.

(Mikaela Teixeira é aluna do 1o

ano do Ensino Médio – turma Amatutino – do Colégio EstadualDr. Edvaldo Machado Boaventu-ra, sob coordenação da professoraFátima Gardene)

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O Mercado Cultural, em suas edições de 2009, 2010 e2011, inseriu atrações culturais oriundas de Boa Nova. Umprivilégio para a arte e os artistas locais. Neste ano, apre-sentaram-se no Valentim dois Ternos de Reis que mantêmvida em Boa Nova essa rica tradição brasileira.

Na divulgação oficial do XI Mercado Cultural, a CasaVia Magia apresentou o Terno dos Ferreira a partir dasinformações de um de seus componentes. A professoraAgnólia Néri Ferreira ressaltou que o Terno dos Ferrei-ra segue a tradição do seu avô e, após a morte de seuúltimo tio, foi resgatado e preservado por ela e seus fami-liares, completando em 2011 o seu décimo ano. Ainda se-gundo ela, a tradição é seguida apenas pela família, e to-dos que fazem parte da folia usam roupas brancas e ca-misas do Terno. “Os sambas, de criação própria e comcoreografias, nunca são cantados na zona rural e duranteo dia; cantam-se apenas onde são convidados, mudandode rua a cada ano, e à noite”.

Já o Terno de Reis do Lagoão foi apresentado comoum reisado que costuma chegar acompanhado de sambas degaita; entra nas casas e rodam ao redor do terreiro, samban-do. Em sua divulgação, O Mercado Cultural apresenta o se-guinte texto (também em inglês) sobre o grupo boanovense:“os foliões do Lagoão gostam de sambas cheios de ritmosacelerados e sambas trocados. Como só saem três dias, can-tam apenas no Lagoão e Cachoeira. Dona Luga canta porpromessa. Senhor Isaulino, completamente apaixonado peloTerno de Reis, diz que, mesmo estando doente, é muito difícilele não cair no samba ao ouvir o som do tambor”.

Mesmo a sede tendo ficadode fora este ano (após doisanos consecutivos de realiza-ção), o distrito de Valentim re-presentou bem a participação deBoa Nova na 11a do MercadoCultural. O evento, realizadopelo Instituto Casa Via Magia,já é uma referência não só naBahia, mas no Brasil e no exte-rior, de promoção e engajamen-to à diversidade cultural.

O XI Mercado Culturalaconteceu este ano de 26 de no-vembro a 7 de dezembro, envol-vendo sete atrações internacio-nais e 14 nacionais de música,teatro e cultura popular. Ele acon-teceu em duas etapas: a primei-ra, da qual fez parte o Valentim,foi a Caravana Cultural, que per-correu cinco municípios baianos;e a segunda, com apresentaçõesem Salvador no Teatro Castro Al-ves, Solar Boa Vista, Teatro dePano e Teatro Vila Velha. Valeressaltar que nesta última eta-pa Boa Nova também estevepresente através da mostra“Guardados”, do fotógrafo bo-anovense Paulo Coqueiro (ma-téria nesta edição, à página 7).

O Mercado no Valentim

A população de Valentim e vi-sitantes tiveram dois dias de in-tensa movi-mentação cul-tural. Nos dias28 e 29 de no-vembro a Pra-ça NorbertoPereira rece-beu duas atra-ções internaci-onais, uma es-tadual e duasmunicipais.

No pri-meiro dia, às

XI Mercado CulturalValentim ficou com o privilégio de sediar o evento em 2011

Os nossosTernos de Reis

O Terno dos Ferreira vem mantendo a tradição do reisado

Apresentação do grupo Viola de Arame, do Recôncavo Baiano

A banda Jeong Ga Ak Hoe, da Coréia do Sul, encantou o público

20 horas, apresentou-se o gru-po Jeong Ga Ak Hoe, da Coréiado Sul. Trata-se de uma bandaque mescla a música tradicio-nal coreana com performancesde teatro, dança e vídeo. No diaseguinte a programação foi maisintensa com visita ao Museu doProcesso (um projeto implanta-do em Valentim pela Casa ViaMagia), seguida das apresenta-ções musicais dos Ternos deReis do Lagoão e dos Ferreira(grupos tradicionais de BoaNova que valorizam o folcloreregional), do Exploration ofColours (projeto que reúne jo-vens músicos da Coréia do Sulque se dedicam a interpretar ecompor a música tradicional deseu país) e do Viola de Arame(grupo instrumental do Recôn-cavo Baiano que apresenta com-posições próprias e releituras detemas populares a partir de umrepertório que envolve sambasde viola, pagodes de viola, bai-ões, ponteios, choros, chacare-ras, e fusões inusitadas).

Mais informações so-bre o Mercado Cul tu ra lpodem ser obtidas no sitewww.mercadocultural.org.Quanto ao Museu do Processoe outros projetos da Casa ViaMagia, eles podem ser conheci-dos no site www.viamagia.org.

Momento de descontração durante o Mercado Cultural

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Mãe parideira!Saem filhos até das tuas ventas, mãe parideira.A dor do teu parto ecoa por esse mundo aforaNas esquinas dos estadosNos sofás das tardes de domingoNas calçadas marcadas pelas pedras que estouraram coquinhosNos jardins vistosos do interiorNo colo das falsas mãesMãe parideira!Recebes agora estes filhos que tu pariste sem perceber, pois a dornão foi tuaEles são teus, mas não saíram de tuas entranhasE ainda assim há quem goste de ti, Mãe parideiraAgora rogo a nosso Senhor que nos dê um Santo para essa causaSanto dos filhos roubados, rogai por nós!Santo dos filhos roubados, dai-nos o afeto de nossa mãe!Santo dos filhos roubados, dai-nos também um pai!Mãe, ouve as preces dos teus filhosSeja bondosa conoscoMainha, tem pena da genteMÃE! São teus filhos que estão pedindoNos abrace quando a noite chegarNos dê um leitinho antes de dormirConte uma estória pra nósFaz um cafuné na gente, mainha!Troca nossas fraldas – estamos todos cagadosMamãe, deixa a luz acesa, pois temos medo do escuroSanto dos filhos roubados, rogai por nós.

(Rafael Souza é boanovense e reside Vitória da Conquista, onde cursaHistória na UESB – Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia)

Muito se fala hoje de “desenvolvimento sustentável”, chavãoque está na boca de todos, inclusive dos que fazem exatamente ocontrário. Na verdade, o que realmente precisamos é de um “retroces-so sustentável”, pois não dá mais para pensar dentro da velha óticado capitalismo, que prevê um crescimento e um consumo cada vezmaiores. Precisamos reduzir, repensar, reciclar e mudar nossos pa-drões de consumo e de conduta.

Como sabemos, a crise que ora enfrentamos é planetária, umacrise de civilização e de modelos. Que, em última análise, requer umatransformação profunda nos valores e nas atitudes humanas. E estamudança já está ocorrendo, entre aqueles mais bem informados e quesabem interpretar os sinais dos novos tempos.

Afinal, o caos atual é muito grande. Nossa sorte é que, nos planosmais sutis, a Hierarquia espiritual que auxilia nosso planeta, em comu-nhão com sistemas ainda mais vastos, zela permanentemente pelonosso progresso e bem-estar. E é a nossa harmonização com o propó-sito dessas inteligências superiores que nos permitirá avançar emdireção a um novo futuro de brilhantes promessas e espantosas rea-lizações, concretizando o melhor de nossos potenciais.

A tarefa é vasta, os desafios imensos, a resistência à mudança abis-sal. Mas precisamos manter uma vontade firme e começar de onde esta-mos, dando os passos necessários que estão ao nosso alcance. Não dámais pra adiar. Vivemos momentos críticos. A civilização pede socorro.

Precisamos adotar novos valores e estilos de vida já, mais ecoló-gicos e menos consumistas, pois o velho modelo já se esgotou. Per-manecer na mesma e agir como se nada estivesse acontecendo é opior dos caminhos e levará ao desastre. Precisamos de modelos deprodução e de consumo mais eficientes, novas diretrizes industriais eum capitalismo menos predatório e verdadeiramente voltado para asustentabilidade, ao invés do lucro a qualquer custo.

A solução está dentro e fora de cada um. Cada um é responsável.E, como diria Lennon, você pode até achar que eu sou um sonhador.Mas não sou o único.

* Jornalista, professor e tradutor

Até o fechamento desta edi-ção virtual, o perfil do JornalGAMBOA no Facebook já ha-via ultrapassado os 800 amigos.Estes contatos foram obtidosúnica e exclusivamente a partirda indicação e/ou procura deboanovenses e amigos de BoaNova nesta rede social da inter-net que mais cresce no Brasil.

O Facebook do Jornal GAM-BOA vem sendo utilizado para

MÃETRÓPOLESRafael Souza

Retrocessosustentável já!!

Augusto Queiroz *

Facebook amplia alcance do GAMBOA

O Facebook do Jornal GAMBOA vem ampliando as informações

ampliar as nossas informaçõesentre uma edição e outra, alémde abrir espaço para publicaçãode álbum de fotos, vídeos e co-mentários diversos envolvendodireta e indiretamente Boa Nova.Vale ressaltar que durante o di-fícil dia em que Boa Nova foitomada por assaltantes forte-mente armados, foi através doFacebook que muitos boanoven-ses espalhados pelo Brasil e pelo

mundo puderam trocar informa-ções e mesmo se tranquilizarsobre o desenrolar das notíci-as, que eram postadas o tempointeiro por usuários que se en-contravam na cidade.

Bastante comentada e elo-giada, a seção “ARQUIVOGAMBOA” foi lançada recen-temente naquela rede, apre-sentando fotos antigas de BoaNova já publicadas no jornalao longo dos mais de 11 anos

de sua existência. Em cadauma delas podem ser lidos co-mentários e questionamentosdos internautas.

Além do Facebook, oGAMBOA, que também pos-sui comunidade no Orkut,numa tentativa de sempre am-pliar a interação com seus lei-tores também no espaço vir-tual. Esta edição, enviada pore-mail a centenas de pessoas,é uma prova disso.

Um dos álbuns da seção “Arquivo GAMBOA”, com fotos antigas