arquivo - jornal gamboa digital - ed. 45 (ago/set/2010)

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Ano 11 N o 45 Agosto/Setembro/2010 Publicação Educativo-Cultural Distribuição Gratuita Boa Nova-BA Em 6 de agosto deste ano oficialmente se comemorou o aniversário de 89 anos de eman- cipação político-administrativa de Boa Nova. Neste caso, o ano de referência para tal come- moração é o de 1921. Há, no entanto, fortes indícios de que o município já seja centenário desde 2003. De acordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, o muni- cípio de Boa Nova foi criado em 17 de setembro de 1903 (portanto, hoje ele teria 107 anos), ano em que o município de Poções foi extinto, tendo sua sede transferida para Boa Nova até 1922, quando definitivamente foi restaurado e também emancipado politicamente. Esta data consta também no Livro de Tombo (espécie de livro de registro que faz parte do Arquivo da Paróquia Nossa Senhora da Boa Nova). Esse levantamento se encontra na revisão de literatura da monografia de conclusão de curso de Jobson Silva Meira – graduando de História pela Faculdade Santo Agostinho (Ipi- aú-BA) e integrante do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado da Bahia. Intitula- do “Jornal Sem Censura, seu papel ideológico, político e cultural na sociedade de Boa Nova (1987-1990)”, o seu trabalho acadêmico e o próprio objeto dele (o Sem Censura) estão sendo abordados à página 9. Mais uma vez a temática ambiental divulgará Boa Nova nacionalmente de forma positi- va. Desta vez é a história de um boanovense que será con- tada em um filme (documentá- rio) feito por uma boanovense. A história “Outro Olhar: de Caçador a Observador de Aves”, de Ângela Cibe- le de Sá Brito, foi uma das 40 selecionadas (entre 502 inscritas de todo o País) pela quarta edição do Revelando os Brasis – projeto realizado pelo Instituto Marlin Azul em par- ceria com a Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura, com patrocínio da Petrobras. Da Bahia foram escolhidas cinco histórias. O documentário de Cibele – que é graduada em Teatro pela UFBA (Universidade Fe- deral da Bahia), tem amplo currículo como atriz, professo- ra e diretora de Teatro e atual- mente atua em Boa Nova como professora-mediadora do Emc@mpo – Projeto de Ensi- no Médio no Campo, terá como foco a história de Josafá Sam- paio. Ela tem como base a transformação que ocorreu em sua vida a partir da conscienti- Boa Nova revelando os Brasis zação ambiental. Como o títu- lo sugere, Josafá deixou de ser caçador de aves para ser um de seus observadores e defen- sores no município. Revelando os Brasis Cibele e os outros 39 auto- res das histórias selecionadas participam das Oficinas de For- mação e Realização Audiovisu- al no Rio de Janeiro, entre os dias 04 e 17 de outubro, com todas as despesas pagas. O curso é composto por aulas de introdução à linguagem audio- visual, roteiro, direção, produ- ção, fotografia, direção de arte, som, edição/finalização, pesqui- sa, mobilização, direitos autorais e comunicação colaborativa. Após as oficinas, os seleci- onados retornam às suas cida- des para transformar as histó- rias em vídeos com até 15 mi- nutos de duração. Nesta fase, eles contarão com o apoio de uma produtora regional que irá providenciar os equipamentos de câmera e de som digitais. No histórico das três pri- meiras edições desse bem su- cedido projeto, entre 2004 e 2009, foram produzidas 120 obras, entre ficções, documen- tários e uma animação. Os ví- deos realizados pelo projeto são apresentados nas comunidades através do Circuito Nacional de Exibição do Revelando os Bra- sis, que leva uma tela de cine- ma para os municípios (o que ocorrerá em 2011). A divulgação nacional acon- tece a partir da exibição dos fil- mes em um programa de TV veiculado pelo Canal Futura. Na fase seguinte, eles são lançados em DVD com distribuição gra- tuita entre organizações sociais e culturais, bibliotecas, univer- sidades e cineclubes de todo o Brasil. Quem quiser conhecer o Revelando os Brasis em Boa Nova, a Sala de Leitura Pau- lo Andrade – vinculada ao IAM (Instituto Adroaldo Mo- raes) – recebeu do Instituto Marlin Azul todos os vídeos da segunda edição do projeto. Este pode ser melhor conhe- cido através do seu site (www.revelandoosbrasis.com.br ). Mais informações à pág. 9. Cibele de Sá contará a história de Josafá Sampaio num documentário Município centenário

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Esta edição traz duas páginas a mais do que a impressa, sendo divulgada após a sua circulação em Boa Nova e em outras cidades. A ampliação facilita a inserção de outras matérias após o fechamento da edição.

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Page 1: ARQUIVO - Jornal GAMBOA digital - Ed. 45 (ago/set/2010)

Ano 11 No 45 Agosto/Setembro/2010 Publicação Educativo-Cultural Distribuição Gratuita Boa Nova-BA

Em 6 de agosto deste ano oficialmente se comemorou o aniversário de 89 anos de eman-cipação político-administrativa de Boa Nova. Neste caso, o ano de referência para tal come-moração é o de 1921.

Há, no entanto, fortes indícios de que o município já seja centenário desde 2003. Deacordo com dados da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia, o muni-cípio de Boa Nova foi criado em 17 de setembro de 1903 (portanto, hoje ele teria 107anos), ano em que o município de Poções foi extinto, tendo sua sede transferida para BoaNova até 1922, quando definitivamente foi restaurado e também emancipado politicamente.Esta data consta também no Livro de Tombo (espécie de livro de registro que faz parte doArquivo da Paróquia Nossa Senhora da Boa Nova).

Esse levantamento se encontra na revisão de literatura da monografia de conclusão decurso de Jobson Silva Meira – graduando de História pela Faculdade Santo Agostinho (Ipi-aú-BA) e integrante do Corpo de Bombeiros da Polícia Militar do Estado da Bahia. Intitula-do “Jornal Sem Censura, seu papel ideológico, político e cultural na sociedade de Boa Nova(1987-1990)”, o seu trabalho acadêmico e o próprio objeto dele (o Sem Censura) estãosendo abordados à página 9.

Mais uma vez a temáticaambiental divulgará Boa Novanacionalmente de forma positi-va. Desta vez é a história deum boanovense que será con-tada em um filme (documentá-rio) feito por uma boanovense.

A história “Outro Olhar:de Caçador a Observadorde Aves”, de Ângela Cibe-le de Sá Brito, foi uma das40 selecionadas (entre 502inscritas de todo o País) pelaquarta edição do Revelando osBrasis – projeto realizado peloInstituto Marlin Azul em par-ceria com a Secretaria doAudiovisual do Ministério daCultura, com patrocínio daPetrobras. Da Bahia foramescolhidas cinco histórias.

O documentário de Cibele– que é graduada em Teatropela UFBA (Universidade Fe-deral da Bahia), tem amplocurrículo como atriz, professo-ra e diretora de Teatro e atual-mente atua em Boa Novacomo professora-mediadora doEmc@mpo – Projeto de Ensi-no Médio no Campo, terá comofoco a história de Josafá Sam-paio. Ela tem como base atransformação que ocorreu emsua vida a partir da conscienti-

Boa Nova revelando os Brasis

zação ambiental. Como o títu-lo sugere, Josafá deixou de sercaçador de aves para ser umde seus observadores e defen-sores no município.

Revelando os Brasis

Cibele e os outros 39 auto-res das histórias selecionadasparticipam das Oficinas de For-mação e Realização Audiovisu-al no Rio de Janeiro, entre osdias 04 e 17 de outubro, comtodas as despesas pagas. O

curso é composto por aulas deintrodução à linguagem audio-visual, roteiro, direção, produ-ção, fotografia, direção de arte,som, edição/finalização, pesqui-sa, mobilização, direitos autoraise comunicação colaborativa.

Após as oficinas, os seleci-onados retornam às suas cida-des para transformar as histó-rias em vídeos com até 15 mi-nutos de duração. Nesta fase,eles contarão com o apoio deuma produtora regional que iráprovidenciar os equipamentos

de câmera e de som digitais.No histórico das três pri-

meiras edições desse bem su-cedido projeto, entre 2004 e2009, foram produzidas 120obras, entre ficções, documen-tários e uma animação. Os ví-deos realizados pelo projeto sãoapresentados nas comunidadesatravés do Circuito Nacional deExibição do Revelando os Bra-sis, que leva uma tela de cine-ma para os municípios (o queocorrerá em 2011).

A divulgação nacional acon-tece a partir da exibição dos fil-mes em um programa de TVveiculado pelo Canal Futura. Nafase seguinte, eles são lançadosem DVD com distribuição gra-tuita entre organizações sociaise culturais, bibliotecas, univer-sidades e cineclubes de todo oBrasil. Quem quiser conhecero Revelando os Brasis em BoaNova, a Sala de Leitura Pau-lo Andrade – vinculada aoIAM (Instituto Adroaldo Mo-raes) – recebeu do InstitutoMarlin Azul todos os vídeos dasegunda edição do projeto.Este pode ser melhor conhe-cido através do seu site(www.revelandoosbrasis.com.br).Mais informações à pág. 9.

Cibele de Sá contará a história de Josafá Sampaio num documentário

Município centenário

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Colaboraram nesta edição:Aidê Oliveira, Emidio Neto, Flora Oliveira, Janis Novaes, Jobson Meira,Jônatas Meira, Luiz Moraes, Paulo Carneiro, Paulo Coqueiro, Renato PedrecalJr., Stella Santos, Tadeu Coqueiro, Vera Passos e William Santana.

Expediente Jornal GAMBOA

Impressão: Tribuna Editora GráficaViçosa-MG

Editor/Jornalista Responsável:Roberto D´arte

Editoração e edição de imagem:Anderson Miranda

Endereço:Rua Vaz de Melo 40 - CentroViçosa-MG - CEP 36570-000E-mail: [email protected]

O GAMBOA está vinculado ao IAM(Instituto Adroaldo Moraes)E-mail: [email protected]

Os artigos assinados do Gamboa são de inteira responsabilidade de seus autores

A Festa de Setembro para nós, boanovenses, ou para aquelas pessoasque tenham afinidade com a cidade sempre foi considerada a festa dosencontros, da confraternização, da religiosidade mais intensa. É um mo-mento esperado para rever parentes e amigos que moram fora, para partici-par dos festejos religiosos e/ou profanos; enfim, sempre foi associado aalgo bom, prazeroso e que faz parte da nossa identidade cultural.

De uns três anos para cá a festa vem tomando uma proporção cadavez maior com a contratação de atrações de apelo popular forte, que fazcom que nos dias destas atrações a cidade fique insuportavelmentecheia, e por grupos de pessoas a que não agregam valor algum à cida-de, deixando apenas um rastro de sujeira, bebidas e barulho, além decontribuírem para uma maior descaracterização da Festa de Setembro.

Mas o que marcou mais a festa deste ano, principalmente para osmoradores e comerciantes do Centro, não foram as atrações da festaprofana, tampouco os festejos religiosos à Nossa Senhora da BoaNova, RAZÃO PRINCIPAL DO EVENTO; nem o belíssimo desfilecívico, que teve por tema a Literatura. O que marcou este período foio barulho insuportável provocado por elementos infratores que, comsua estupidez e insanidade, impuseram a todos nós os potentes sonsde seus carros, não importando o horário e local, chegando ao absur-do de promoverem um encontro na Praça Sete de Setembro com 11veículos, cada um com música diferente e em volume mais alto.

Daí fico me perguntando: o que leva uma pessoa dita “normal” a ultra-passar todos os limites do bom senso, do respeito ao próximo e da Lei, emprol de um prazer momentâneo? Será que tenta compensar a falta de massacinzenta no cérebro por decibéis? Ou quem sabe esta seja uma maneira decompensar suas frustrações e necessidade de se fazer importante, podero-so? Sei lá... Fica difícil analisar o comportamento desse tipo de pessoa.

Uma indagação mais importante deve ser feita por cada um denós, cidadãos que respeitamos o próximo e as leis: até quando vamoster que aguentar este tipo de abuso? Até quando vamos permitir quemeia dúzia de pessoas invada nosso lar e nos imponha, de formaagressiva, um som que não queremos ouvir?

Diante deste caos, organismos da sociedade civil de Boa Novaencaminharão à Câmara, para apreciação dos vereadores, um projetoda Lei do Silêncio Municipal, tendo por base experiências bem suce-didas de outros municípios da Bahia e de outros Estados da Federa-ção. Esperamos com isto fornecer à sociedade um instrumento legalpara o combate deste tipo de abuso.

Voltando à Festa de Setembro, ficam algumas reflexões para seremdiscutidas pela comunidade:

· Que tipo de festa queremos?· Que tipo de festa podemos absorver sem comprometer a qualida-

de de vida dos moradores e convidados?· Será que o Governo Municipal, ao promover este tipo de evento, não

está indo na contramão de temas tão atuais como desenvolvimento sus-tentável, preservação da cultura local, valorização de talentos da terra?

(Luiz Henrique Moraes é graduado em Administração de Empresa,comerciante, diretor executivo do IAM - Instituto Adroaldo Moraes e

presidente da ASCOM - Associação Comercial de Boa Nova)

Estive em Boa Nova emsetembro, por ocasião daFesta de Nossa Senhora,após alguns anos de ausên-cia. Aproveitei para reveramigos queridos, parentes ecurtir a nossa “festa de se-tembro”, como costumamoschamar os festejos.Queroaqui emitir algumas opiniõessobre o mesmo. O cresci-mento desordenado da festadescaracterizou um pouco aessência cultural e religiosaque norteava e fazia com queos filhos de Boa Nova viajas-sem quilômetros para partici-par da festa. Senti a falta devários deles. Sei que é a opor-tunidade que o povo boano-vense tem de curtir as gran-des bandas do Brasil, e, valedestacar, as que estiveramtocando este ano foram ex-celentes e trouxe um grandepúblico para a festa.

A balbúrdia fica por con-ta das pessoas que, com car-ros emitindo altos decibéis desom, transformam a cidadeem uma barulheira só. Fa-

A antifesta de setembro:quando a estupidez e

insanidade tomam a cenaFesta e

BalbúrdiaPaulo Roberto Moraes Carneiro

zem um torneio em praça pú-blica de quem tem a apare-lhagem de som mais poten-te, normalmente com músi-cas de gosto duvidoso, eatrapalhando, assim, a pazde quem quer descansar ouaté mesmo bater um papo.Está na hora das entidadesde classe de Boa Nova pro-vocarem o Ministério Públi-co para que se faça cumprir alei, e as autoridades (Prefei-tura, Polícia, guarda munici-pal) fiscalizarem e proibiremesta prática em nossa cidade.Em Jequié, onde moro, a Se-cretaria do Meio-Ambiente,junto ao Ministério Público,está conseguindo melhorarmuito este problema comações enérgicas que vão des-de multa até a prisão do carroe da aparelhagem de som. Olema aqui é “Potência se mos-tra na cama”.

(Paulo Roberto Moraes Car-neiro é técnico agrimensor e co-merciante em Jequié - e-mail:[email protected])

Nós vos pedimos com insistência:Nunca digam - Isso é natural.

Diante dos acontecimentos de cada dia,Numa época em que corre o sangue,Em que o arbitrário tem força de lei,Em que a humanidade se desumaniza,

Não digam nunca: Isso é natural.A fim de que nada passe por imutável.

Texto de Bertolt Brecht (1898-1956) – teatrólogo e poeta alemão

Luiz Henrique Moraes

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Agosto/Setembro/10 Gamboa 3

O Brasil é um país rico em re-cursos naturais e patrimônio his-tórico. Baseado nisso, o Minis-tério do Turismo tem estimuladoa regionalização do turismo eapoiado a implementação doecoturismo como forma de inse-rir novos roteiros, seja para o tu-rista estrangeiro ou brasileiro. NaBahia, dentre os principais rotei-ros do ecoturismo, se destacamItararé e Chapada Diamantina.

É sabido que existem outras áre-as e regiões da Bahia onde a ativi-dade ecoturística acontece, porém,dada a falta de organização, plane-jamento, engajamento da popula-ção local, políticas públicas munici-pais no setor, estas localidades pas-sam despercebidas, e o que pode-ria ser melhorado, fica pior.

Em Boa Nova, um dos municí-pios que compõem a magníficapaisagem do Vale do Gongogi, oecoturismo enquanto “viagem aáreas naturais relativamente nãoperturbadas nem contaminadas,com o objetivo específico de es-tudar e admirar o cenário e seusanimais e plantas selvagens, as-sim como quaisquer manifesta-ções culturais (passadas e presen-tes) encontradas nessas áreas”(Ceballos-Lascuráin apud Bods-tein,1992), vem sendo realizado hámuito tempo, porém sem planeja-mento, organização e infra-estru-tura adequados.

Diagnósticos já foram reali-zados pelo SEBRAE e pelo Gru-po Ecológico Humanista PAPA-MEL, revelando a potencialida-de do município para o ecotu-rismo, mas também recomendan-do ações imediatas aos gesto-res e comunidade organizada

Assim como no restante do país, em Boa Nova há ainda muitos problemas ambientais que são entraves para qualquer projeto de ecoturismo

EcoturismoPara que não cometamos

os erros dos outrosEmídio Neto

O município possui inúmeros atrativos naturais que o tornam forte candidato ao ecoturismo

no sentido de garantir a prote-ção dos recursos existentes emelhorar as condições de infra-estrutura, associado a investi-mentos em educação ambientalpara toda a população.

No ano da biodiversidadeassistimos à criação de váriasUnidades de Conservação emmunicípios do Vale do Gongogi:APA de Iguaí, Parque Nacionalde Boa Nova. Estas UCs por sisó não garantirão nem a própriasustentabilidade nem a das co-munidades do seu entorno epromoverá a melhoria da quali-dade de vida da população emgeral se o poder público e a so-ciedade não tiverem a capacida-de de discutir de que maneiradeseja aproveitar os seus recur-sos naturais e implementar con-juntamente um plano de ecode-senvolvimento, incluindo aí, evi-dentemente, o ecoturismo.

“Ecoturismo é uma forma deecodesenvolvimento que repre-senta um meio prático e eficaz depromover o crescimento sócio-econômico em todos os “paí-ses”. (Ceballos - Lascuráin, 1991apud Brandon, 1993:227)

Diante disso vemos comooportuna a discussão sobre eco-turismo junto às autoridades,

pequenos produtores, proprietá-rios de hotéis, restaurantes e pou-sadas, artesãs e artesãos, estu-dantes e comunidade em geral,visando promover a cultura doecoturismo na região como estra-tégia de desenvolvimento sus-tentável e melhoria da qualidadede vida de todos, para que nãocometamos os erros dos outros

e permitamos a exploração do tu-rismo em suas várias vertentespor grandes empresas sem com-promisso com a localidade e queapenas explorarão os nossos re-cursos e a mão-de-obra local.

“Uma das principais vanta-gens do ecoturismo é a de pro-porcionar um impulso que favo-rece tanto a expansão da conser-vação quanto o desenvolvimen-to econômico (...). O ecoturismopode gerar oportunidades deemprego em regiões remotas (...)

e acredita-se que o ecoturismoexige menos investimentos dosetor público em infra-estrutura”.(Lindberg & Huber, 1993:145)

Posto assim, depende-se emgrande parte da capacidade deorganização da sociedade emassociações , cooperat ivas,ONGs independentes e repre-sentativas, capazes de dialogar

entre si e entreos diferentes,sempre em proldo bem comum.

Necessário eurgente que ve-lhos e novos pro-blemas sejam en-frentados e resol-vidos com maturi-dade e fidelidadeàs leis ambientaisdo país. Do con-trário, continuare-mos perdendo anossa biodiversi-dade e continua-rão se esvaindo

as nossas oportunidades.

(Emídio Souza Barreto Netoé membro da Coordenação Ge-ral do Grupo Ecológico Huma-nista PAPAMEL; diretor da Tri-lhas e Rios – Ecoturismo e Even-tos; elaborador do Projeto PóloEcoturístico do Vale do Gongo-gi; poeta; turismólogo autodida-ta; técnico em agropecuária pelaEMARC-UR; graduando emHistoria pela UNEB. E-mail:[email protected])

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4 Gamboa Agosto/Setembro/10

Essa vontade de viajare conhecer outros países,novas cultura e línguasvem de antes de receber-mos Lisa Keller em nossacasa, em 2005. Desde queeu estudava no IECEM, emPoções, a AFS já era par-ceira da escola e pude co-nhecer de perto o trabalhoda ONG. Além de participarpor duas vezes do progra-ma de recebimento (recebe-mos Lisa, da Alemanha, eLuís Baez Desangles, daRepública Dominicana),pude também fazer parte dovoluntariado.

Essa minha participaçãona AFS fez com que eu pas-sasse a me interessar maispor inglês e por geografia,passando a conhecer estu-dantes vindos da Europa,Ásia, África, Oceania e donosso próprio continente,podendo entender maissobre as culturas e, assim,respeitar as diferenças eentendê-las melhor. Masnada me fez absorver maistudo isso do que ter real-mente estado na mesmaposição que os jovens queestiveram aqui conoscodurante esses anos.

Os preparativos

Antes da par-tida para a Alema-nha, foram 3 mesesde planejamento.Já que eu iria porconta própria, semajuda de agênciasde viagem, e teriaLisa como pontode apoio, tudo te-ria que ser plane-jado aqui. E assimfoi feito. Mas nãofoi fácil. Assim, nodia 06/05 deixei oBrasil.

Diário de uma boanovense na AlemanhaAs impressões de Flora Oliveira, 22 anos, pioneira em BoaNova na promoção de intercâmbio com jovens estrangeiros

Fiquei ansiosa a maiorparte do tempo, mas nãocheguei a ter medo. Sabiaque iria para outro país, comuma língua que eu desco-nhecia quase que totalmen-te (exceto por saber falar“bom dia”, “boa noite” e“meu nome é Flora”) e comum inglês macarrônico e umespanhol mais para portu-nhol, mas que, no fim dascontas, descobri que nãome serviria muito. Fui com acara e a coragem e minhamochila nas costas!

A chegada

As boas vindas foramdadas por um frio de 4° daprimavera europeia. Apósmuitas pesquisas eu tinhaquase certeza de que che-garia lá e estaria fazendouns 18 a 20°, mas não, erafrio que ardia a pele do ros-to e, para a baiana que sou,sofri com o frio. Chegueipor Frankfurt e lá Lisa eseu namorado, Steven, fo-ram me buscar no aeropor-to e seguimos para simpá-tica Weingarten. Uma vilade 2 mil habitantes, mascom tudo o que se pode

encontrar em uma cidademaior, como, por exemplo,Corpo de Bombeiros, umestádio de futebol do timeda cidade, restaurantes,além das hortas que for-necem alface para oMcDonald’s e algumasvariedades de legumes everduras para os super-mercados da região.

Por ser um país peque-no, quase do tamanho daBahia, pode-se ir de umacidade para outra em ape-nas 5 minutos e atraves-sar o país em 8 horas, alémde sair de uma cidadecomo Frankfurt, que é osegundo maior centro fi-nanceiro da Europa, e apoucos quilômetros dedistância se deparar comcastelos construídos nospicos mais altos de cadamontanha, como no Valedo Reno, e com vilas acon-chegantes e cheias de his-tórias, como Weingarten.

As impressões

A Alemanha é um paísfantástico, com muitashistórias de reis loucos,que construíam castelos

maravilhosos, como oSchloss Neuschwansteinde Füssen, próximo aMunique, que serviu deinspiração para o Casteloda Cinderela da Disney, aloucos como Hitler, queconstruiu campos deconcentração, como o deDachau; tive a oportuni-dade de visitar os dois.Além da maravilhosa cu-linária alemã, que sintomuita falta, principalmen-te de um dos pratos maistípicos, a bratwurst (a fa-mosa salsicha) e a grandevariedade de cerveja.

Viajei sozinha durante25 dias, conheci quatro pa-íses – Alemanha, França,Holanda e Republica Che-ca – e mais de 30 cidades.Tive a oportunidade deconhecer muitas pessoasnessa viagem. Pessoas detodas as partes do mundo,como, por exemplo, ummédico iraquiano muitosimpático, uma aeromoçacanadense que estava deférias, um casal de brasilei-ros (Sr. Carlos e Dona Vitó-ria, que visitavam a filha) emuitos jovens com esse es-pírito aventureiro do Cana-

dá, Austrália,EUA, Colômbia,Chile, sem falar dosmuitos brasileiros,jovens, adultos eidosos também,que foram, de cer-ta forma, comoamigos, pais e ir-mãos. Tive a opor-tunidade tambémde ir com Lisa aoshow de LadyGaga, que é um fe-nômeno pop daatualidade. Foimuito legal.

Após esses 25dias de viagem

voltei para Weingarten,onde me sentia realmenteem casa, como se fosse aBoa Nova da Alemanhapara mim, onde fiz amigos,onde também tinha umafamília: Oma Gertrud (avóde Lisa), Papa (Erich Kel-ler, pai de Lisa, dono de umdos restaurantes da cida-de, com o qual aprendi afazer comida alemã e quese tornou meu pai alemão),os irmãos Max e Phillip e ,claro, Lisa e também ospais de Steven, Elvira eWaldemar, que me recebi-am sempre muito bem emsua casa, onde tive mui-tos momentos agradáveis(tenho que admitir que mesurpreendi com a recepçãoalemã! Eles têm calor hu-mano, sim, e muito! São umpovo maravilhoso, depoisde algumas conversas edepois que se tem umacerta intimidade).

Durante os 35 diasque passei na cidade deLisa pude ver ainda maisas diferenças quandocomparamos o Brasil e aAlemanha. O que é umpaís de primeiro mundo eum país emergente. Lánão se vê pobreza e é difí-cil distinguir classe médiade classe alta. Uma dasdiferenças é que a classealta tem empregada do-méstica e cartão de crédi-to, e mesmo em cidadespequenas, como a deLisa, não existe aquelanossa velha prática docrediário nem a da “noti-nha”. Tudo é comprado àvista, desde a feira do su-permercado aos eletrodo-mésticos, como TV. Asúnicas coisas que eu viserem divididas eram oscarros e casas, pois pos-suem valor mais elevado.

Flora, a partir da sua amizade com a alemã Lisa, teve a oportunidade de viajar para o país natal da amiga, onde conheceu lugares históricos

A boanovense vivenciou o cotidiano da Alemanha e a sua riqueza cultural

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Agosto/Setembro/10 Gamboa 5

Durante a Festa de Setembro refleti a respeito da necessidade deopções aos boanovenses em termos de cultura e lazer. Onde estão asboates, os clubes (de campo, esportivo), o cinema, teatro? A Festa nosdá um “pico” de efervescência, movimentação; passada ela, nada mais?O que temos a fazer à noite em Boa Nova durante o resto do ano?

Durante a adolescência é comum vermos os jovens andando em“bandos”, à procura da própria identidade. É o momento em quetendemos a deixar um pouco de lado os referenciais familiares e sair-mos para o mundo, para a vida. É uma fase crucial em que são neces-sários cuidado, carinho, atenção – dos familiares e também de toda asociedade civil. São adultos em formação.

Uma cidade sem opções de cultura e de lazer está fadada a margina-lizar seus adolescentes - imaginemos nesta idade o que fazer com tantaenergia, disposição, os hormônios a pleno vapor e totalmente sem op-ções. É nesta hora que o abuso no uso de drogas pode proporcionar umasedução fatal, um caminho sem volta; e isto é um problema não apenasde determinado adolescente ou de muitos deles, é um problema de todosnós, sobretudo daqueles que detêm o poder de decidir e executar. A arte(dança, música, teatro, literatura) é um dos canais possíveis para direcio-narmos toda essa energia adolescente. Mas é preciso que existam espa-ços para este tipo de expressão. Ressalto que este tipo de problema (faltade opções aos adolescentes) não é exclusividade de Boa Nova; tenhovisto isto em muitas cidades pequenas ou de porte médio.

Creio que seja necessária uma mobilização a respeito deste pontoespecífico: de que maneira é possível Boa Nova criar opções de diver-são, lazer e cultura para a população em geral e pensando especifica-mente, neste texto, nos adolescentes. Os cidadãos podem e devemcobrar das autoridades eleitas o apoio possível, mas não apenas espe-rando que aquelas resolvam tudo – infelizmente costumamos pensarque as autoridades podem fazer tudo, mas lembremos que elas tambémtêm suas limitações, inerentes ao cargo. Muitas vezes faltam condiçõespara se pôr em prática ideias e projetos; outras vezes falta apenas boavontade. Deixo a sugestão de que se crie um debate saudável entre asociedade civil para que mudemos este panorama altamente desfavorá-vel no cotidiano boanovense. Não é possível que tenhamos que espe-rar outra Festa para que possamos nos divertir ou que nossos jovenstenham que ir a cidades vizinhas para superar o insuportável paradeiro.

P.S.: Este texto é dedicado a Paulo Coqueiro, adolescente criati-vamente inquieto e que, quando nada tinha de opção, desenhava,pintava, compunha, cantava, escrevia, dialogava, questionava, pro-punha: criava ele próprio onde nada havia. Paulo, sua Luz foi guiapara muitos da nossa geração!

(Renato Pedrecal Jr. é servidor Público Federal em Belo Horizonte egraduando em Filosofia pela Unisul – Universidade do Sul de Santa Catarina)

Estacionei perto da escola jun-to ao chaveiro. Precisava fazerduas cópias de chave a R$5,00,mas eu só tinha R$ 4,00 na bolsa.Pedi que as fizesse na certeza deque o meu filho completaria o pa-gamento. Liza chegou sem o irmãoe não tinha o dinheiro. Resolveuque voltaria para casa com o meuvizinho. Eu fui até o carro dele elhe disse: “Está pensando quepode levar minha filha para casasem pagar nada? Assim, de gra-ça? Pode pagar um real pela honrade fazer o serviço!” Ele me deu asmoedas e partiu. Eu fiquei aguar-dando o serviço e quitei o meudébito. No dia seguinte, devolvi amoeda para Rebeca, sua filha.

Na reforma que fizemos na nos-sa cozinha, durante alguns diaspassamos a cozinhar na casa deÂngela, a vizinha do lado, e era emsua varanda que almoçávamos to-dos juntos. Seus filhos aprovaramo novo tempero do feijão. Na ne-cessidade, tomo emprestado umaxícara de açúcar de Luiza, o que éprovidencial quando se mora a umquilômetro do supermercado maispróximo. Ontem, foi a vez do mari-do dela, Roberto, nos devolver umagrande panela que lhe havíamosemprestado. Nas festas maiores,todos me cedem suas cadeiras emesas plásticas. Essas são algu-mas dentre as tantas histórias quetenho para contar sobre amizadeentre vizinhos. Em todos os lu-gares onde morei sempre deixeiamigos. Sinto falta de cada umdeles e alguns até hoje telefonamno meu aniversário.

Os moradores de Boa Nova sãoum exemplo de boa vizinhança. Sãoparceiros solidários na alegria e natristeza. Algumas vezes, eu recla-

O vizinho do ladomatou a minha solidão

Vera Passos

Atenção aosadolescentes

Renato Pedrecal Jr.mei com meus sogros, Flordilon eWanda, porque me pareciam maispresentes no sofrimento do que noprazer. Hesitavam em viajar parauma festa, mas jamais para uma vi-sita a um doente ou para um abra-ço amigo em um momento de luto.No seu apartamento, no bairro deNazaré, eles receberam inúmerosdos seus parentes e vizinhos: To-nhe de Dadi, Vanda de Tim, SeuZiu, Joana e Geli, Andréa e Nes-mar, Zaide e Enzo, Rita etc. Há vá-rias histórias de pessoas que lámoraram enquanto estudavam emuitos outros que continuam sen-do hospedados pela minha cunha-da, Lee, enquanto fazem tratamen-to de saúde ou resolvem proble-mas pessoais. Assim, esse aparta-mento tornou-se uma espécie deextensão da vizinhança boanoven-se, na capital.

De certo é nas grandes cida-des que esse tipo de relação é ain-da mais imprescindível. Nelas tudocusta caro, perde-se muito tempocom longas distâncias e um trânsi-to muitas vezes caótico e as pes-soas se sentem perdidas e muitosós na multidão. Para que nãoaconteça o que dizem Toquinho eVinícius na música “Alfredo”: “Omeu vizinho do lado se matou desolidão”, é que trago a boa novade que é possível cultivar o espíri-to de companheirismo entre vizi-nhos também no ambiente urba-no. Não só no interior. Faz um bem!

(Vera Passos é professora deInglês e Matemática do IFBA – Ins-tituto Federal da Bahia, é membroda Escola Lucinda de Poesia Viva,produz as peças artesanais dowww.umaum.com.br e escreve nowww.verapassos.blogspot.com)

A educação é totalmen-te diferente. Existem três ti-pos de escolas: a difícil, amédia e a fácil. Eles acredi-tam que alunos menos inte-ressados ou com dificulda-de de aprendizado atrapa-lhem os mais inteligentes;então, eles criaram os trêsníveis para escolas do ensi-no fundamental e médio. Láhá vagas nas universidadessuficientes para a popula-ção, mas nem todos alme-jam o ensino superior, e fa-zem cursos técnicos quesuprem e têm valor igual ousuperior quando se conse-gue fazer bem aquilo que seé proposto.

Em restaurantes ou lan-chonetes é muito comumver jovens trabalhando

como gar-ç one t es ;não há dis-criminaçãoneste tipode traba-lho. Nor-malmenteos jovensque ocu-pam essespostos sãoestudantesque que-rem fazeruma via-gem ou comprar um car-ro, ou algo assim. Porexemplo, Lisa, que estávindo nos visitar no fimdeste ano, precisou traba-lhar como garçonete ape-nas 13 dias e conseguiu

comprar as passagens deida e volta e cobrir todosos custos da viagem.

Sem falar que os impos-tos têm media de 20%. E aprópria população não acei-ta de braços cruzados qual-

quer tipo deinjustiça oucorrupç ãopor parte dogoverno.

Nova visão

A vonta-de que eu te-nho é de quetodos pu-dessem ver oque eu vi ep e r c e b e rcomo é pos-

sível viver de uma formamelhor, com uma boa edu-cação, segurança e saúde.E se tivesse a oportunida-de de ir ou até de receberum estudante estrangeiroem casa, já seria um bom

começo para se conheceruma nova cultura, poisposso dizer que é maravi-lhoso, e esse tipo de expe-riência abre portas e ampliaa visão. O mundo não é sóBoa Nova, nem a Bahia,muito menos o Brasil.

Eu gostei muito daAlemanha e da cultura,pude aprender o básico dalíngua alemã. Fui passarum mês e acabei ficandodois; uma pena eu ter tidoque voltar logo, poisquando voltei de lá esta-va começando a entendero que as pessoas diziam.Um dia eu volto para re-ver minha família alemã eos amigos que fiz por lá,além de voltar com maishistórias para contar.

Os familiares de Lisa são uma segunda família para Flora

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Quanto mais parecidosforem os significados das pa-lavras caminho, verdade evida na história de uma pes-soa, mais autêntico esse indi-víduo tende a ser. Isto, semque precisemos necessaria-mente concordar com o con-junto de argumentos que estapessoa professe, é claro. Paraexemplificar melhor, semmaiores delongas, tratemos depronto do biografado doGAMBOA desta edição:Wilson Duarte Coqueiro.Sim, Wilson, aquele que nun-ca almejou o caminho domeio. Aquele que nunca es-condeu ser um divisor deáguas. Ou, em linguagem maisapropriada, aquele que nun-ca tentou andar sobre elas.Quer pessoa mais autêntica?

De formação católica, comum forte conteúdo humanis-ta, Wilson é, e imagino quesempre foi, um formador deopinião. Todos aqueles queouvem o seu verbo são con-vencidos prontamente do seupoder redentor, ou, pelo con-trário, passam a discordar fe-ericamente, como fariseus.Isso é o que tem de melhor noprimogênito de Dona Nena,parido quando o sol estava apino, em dia de calor infernal,que fazia seu pai, Flávio Co-queiro, transpirar, ansiosopelo retorno das mulheres,que entravam e saíam doquarto. Parado ao lado de umjarro de lírios brancos e deuma folhinha, Flávio assina-lou um “W” no dia 10 de ou-tubro de 1935, na expectati-va de que, após Wanda, o bemaventurado fosse um filhohomem, a quem pudesse ba-tizar com o nome de Wilson.

Wilson nasceu e cresceucom sua determinação, con-sistência, minúcia e maniasque poucos compreendiam,ao lado dos irmãos (Wanda,Tim, Sula e Dio) na Rua Doisde Julho, numa época de boaescola pública, alimento sau-dável e de diversão garantidapelas ruas e quintais. TodoNatal era marcado com a ar-mação de um dos maiorespresépios da região, que to-mava um cômodo inteiro dacasa e era motivo de orgulhoe de visitação. No entanto, ainfância durava pouco naque-la época e, aos onze anos, eledecidiu aceitar o convite doTio Nelson (Lago Duarte)para trabalhar vendendo te-cidos, onde aprendeu toda alinguagem sedutora dos ven-dedores e a estrutura de umaorganização formal.

Como tantos outros ado-lescentes, gostava de baterum baba com irmãos e ami-gos. Seu diferencial era queera acometido pelo pecado

Wilson, a casa erguida sobre pedra e a criação do paraíso

O futebol, a religião e a Maçonaria são três fortes referências na vida de Wilson

Na 1a foto, Wilson ao lado da esposa Ciça e dos netos; na 2a, com os filhos (centro), sobrinhos, irmã e mãe (já falecida)

capital da vaidade quandoentrava em campo. Explicomelhor: depois de um lancemais arriscado, após cabece-ar ou se arriscar em uma boladividida, não deixava nuncaseus cabelos em desalinho;tirava do bolso do calção umpequeno espelho oval e umpente para ajeitar seu admi-rável corte maracanã. Apesarde ter pendurado as chutei-ras, seguiu com sua paixãoalvinegra pelo futebol. Maistarde, fez curso de arbitrageme passou a apitar os jogosoficiais em Boa Nova, perío-do que D. Nena reclamava deum queimor insuportável noslóbulos das orelhas.

Cansado de ouvir ser-mões domésticos, Wilsonconverteu os rumos de suaadolescência para o estudode Teologia, em conventos deVitória da Conquista e Je-quié. Por um período de trêsanos assimilou conteúdos im-portantes para sua formaçãomoral e religiosa. Deve-sesupor que, nesta época, tam-bém se debatesse com a ten-tação que seus hormôniospromoviam, quando moçassuspeitas atravessavam seupensamento, contrariando odogma celibatário. Desistiu,enfim, de ser padre e decidiuusar a sua eloquência comogalanteador.

Em busca do sal da ter-

ra, Wilson trabalhou na Re-ceita Estadual e, graças assuas habilidades com os nú-meros e com a escrita, saiude lá para ajudar na constru-ção da BR-030, pela empre-sa Servienge. Neste ínterim,enamorou-se por Ciça, moçaperigosamente vigiada pelocunhado Lonzinho, com cer-teza a mando do sogro incle-mente e desconfiado. Faziadeclarações, escrevia cartõesapaixonados, mas nem selembra de ter encostado suasmãos na mão da beldade porconta dessas investidas. Sópôde envolvê-la em seus bra-ços quando foi além das pro-messas e juras de amor eter-no, trocando, enfim, as alian-ças de mãos, com testemu-nha de um padre e dezenasde parentes na Igreja NossaSenhora da Boa Nova, no pri-meiro dia do mês das noivasde 1963. Atendendo ao im-pulso natural do casamento,multiplicou a si e a sua espo-sa. Não há dúvidas que cons-truiu sua casa sobre pedra,mesmo a tendo desconstruí-do dezenas de vezes, mudan-do as paredes, as portas e osquartos de lugar. Nas outrasocasiões em que as paredesficavam, resolvia mudar apintura, os revestimentos e aposição dos móveis.

Utilizando seu poder depersuasão, ele se estabeleceu

na política local, elegendo-severeador por duas legislatu-ras, em 1972 (período tam-pão de 2 anos) e em 1974,pela ARENA, partido políti-co hegemônico naqueles anosde ditadura militar. Neste pe-ríodo, exerceu também a fun-ção de Presidente da Câmarade Vereadores, deixando lásua característica obstinaçãopela organização. Contudo,afastou-se do embate políti-co porque, em inúmeras ve-zes, sentia-se pregando nodeserto. No ano de 1974, foiconvidado pela Maçonaria dePoções e, em outubro, ini-ciou-se como Aprendiz daLoja Maçônica daquele mu-nicípio. Até tornar-se Vene-rável Mestre por vários man-datos, exerceu diversas fun-ções. Ao lado do Irmão Ma-çom Adroaldo Moraes, fun-daram a Loja Maçônica JoséBonifácio em Boa Nova, casapraticamente planejada econstruída com o compassoe o esquadro desses dois ab-negados esotéricos, sendoconsiderada uma das maisbelas da Bahia.

Fundou a MACOL, como sócio Dozinho, o mesmoIrmão Maçom Adroaldo, quedurante anos, foi a principalreferência de materiais deconstrução na cidade. A orga-nização dos parafusos, por-cas, tintas, tudo impecável,

continuava como um capítu-lo a mais do seu capricho pes-soal de querer ver os objetoscatalogados em uma ordemque ele mesmo estabelecia.

O tempo passou e àsvezes ele se apercebe doquanto a casa ficou vazia econfessa para sua compa-nheira: - Cicinha, deixe quevenha a mim as criancinhas– referindo-se a Camila,Marina, João Pedro e Júlia,naturalmente. Mas quandoelas chegam, acredito que gerecerto arrependimento emWilson por ver sua casa depernas para o ar, as almofa-das pelo chão, as toalhas es-tendidas molhadas pelo ba-nheiro e quartos, ao invés dovaral do quintal, o descum-primento de horário de almo-ço e seu jardim pisoteado.Pode ser que eu esteja erra-do, que Wilson precise mui-to desses netos mais próxi-mos e que ele venha a recom-por a bagunça, para que elepossa colocar tudo de novono lugar, passando seus en-sinamentos sobre a necessi-dade permanente da ordem.

Recentemente, em via-gem ao sul do país, subiu aoscéus em um avião da GOLLinhas Aéreas, realizando osonho de voar e conhecer aBasílica de Aparecida.

Wilson fez do seu quintalum paraíso, com frutas tropi-cais e flores de diversas corese formas no qual passa longotempo molhando as plantas.Por muitas vezes se distrai evêm em seus pensamentos ospassos ligeiros e barulhentosde crianças subindo no pé depitanga e colocando tudo denovo em desordem. Dessa feitanão são mais seus netos. Aque-les passos que ora ouve sãode Carlos Tadeu e Karla Valé-ria. Para ele, ainda crianças,surgindo e se perdendo porentre as folhas e perfumes,prodigamente retornando aoparaíso que ele cultivou e reli-giosamente rega.

(Autoria: Paulo Co-queiro e Tadeu Coqueiro)

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Há mais de 30 anostrouxeram um circo, cujonome era Circo TouradaFlechas Humanas, paraBoa Nova. Por conta detrabalharem na área admi-nistrativa, social e secu-ritária da cidade, o Pre-feito, o Delegado, Escri-vão, Médico, Soldado,Padre, Comissário deMenor, Juiz de Paz, ven-dedores de pipocas eamendoim, e suas res-pectivas esposas, irmãos,filhos, netos, sobrinhos,cunhados e etc. entravamde graça no espetáculo.Ainda assim, no localonde se armava o espetá-culo havia um pé de ta-marindo e um pé de pi-nheiro, onde as criançassubiam para assistir ao es-petáculo de graça. Paracompletar, as criançasque anunciavam na rua achegada do circo entra-vam sem pagar, e assimo espetáculo lotava.

Ao ver o seu espetá-culo cheio, o dono docirco achou que, com olucro da noite, poderiacomprar a tão sonhadalona para cobrir o circo,já que ele não queria tra-balhar mais com toura-das. Porém, ao ir vercomo estava o caixa, foiconstatado que não ha-

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Os integrantes do Grupo Amigos para Sempre(ou Grupo da Terceira Idade), que participam doProjeto Qualidade de Vida na Melhor Idade, dãoshow de perseverança e compromisso nas aulas deeducação física. É o que garante o seu instrutor -Mirando Neves - graduando do 4o semestre de Edu-cação Física pela FAZAG - Faculdade ZacariasGóes, e proprietário da Olympia Academia.

Ele mencionou que, mesmo com o inverno de BoaNova, a presença nos encontros às terças-feiras, 5 ho-ras da manhã, e quintas-feiras, às 17 horas, realizadosno clube Social, é considerada alta, girando em tornode 40 participantes. Sob sua instrução, os alunos reali-zam exercícios físicos que promovem a melhoria dacoordenação motora, controle de peso e outros inúme-ros benefícios para a saúde, auto-estima e bem estar.

Apoiado pela Secretaria Municipal de Assistên-cia Social, o Projeto Qualidade de Vida na MelhorIdade vem trazendo melhorias significativas na vidados participantes. O projeto visa à plenitude nas ati-vidades do cotidiano dessas pessoas, considerandoaspectos biológicos, psicológicos e sociais, por meiodo exercício físico, encontros e outras atividadessociais. “A nossa expectativa é que o número dealunos dobre neste verão, o que demonstra que esseprojeto vem, de fato, trazendo resultados significa-tivos para seus participantes", completou Mirando.

Sob a coordenação daprofessora Aidê Oliveira,alunos do Ensino Médioda Escola Estadual Edval-do Boaventura vêm resga-tando a história, casos,causos e relatos antigosde Boa Nova por meio detrabalhos escolares, reali-zados com entrevistas aantigos moradores e a ou-tras pessoas por colabo-ração espontânea. As his-tórias, segundo Aidê, sãoarquivadas para posteriorapresentação com os alu-nos na própria escola ouem eventuais exposições.

“Esse resgate das his-tórias da nossa cidade foi

Alunos do Boaventura promovem resgate culturalidealizado a par-tir do exemplodo boanovenseNesmar Andra-de, que nos pre-senteou com umlivro com muitashistórias. Masainda existemmuito mais histó-rias a serem con-tadas, e é issoque os alunospretendem fazer:ouvir e transmitiro máximo de his-tórias possíveisaos colegas e ao povo”,mencionou a coordenado-ra do projeto.

Esses trabalhos de res-gate vêm acontecendodesde 2008, com outras

classes, que jáproduziram mui-tos textos, con-tando, por exem-plo, sobre a vidade todos os ex-prefeitos da ci-dade, o porquêdos nomes dasruas e quem fo-ram eles e tam-bém sobre avida sócio-cultu-ral de Boa Nova.

“O meu gran-de anseio, quetambém é o dos

alunos, é ter um grandeacervo que possa eterni-zar toda a história de Boa

Nova, englobando asmais diversas vias (des-de política, lazer, contos,enfim, todos os fatos ecostumes que aqui ocor-reram) num livro, produ-zido com todos estes tra-balhos e dedicado a todapopulação boanovense”,completou Aidê Oliveira.

Somente no trimestrepassado os alunos dascinco turmas do 2o ano(turnos matutino e ves-pertino) ouviram 30 ca-sos. Um deles, o de Ja-nis Novaes, é reprodu-zido nesta edição. Ou-tros serão mostradosnas próximas.

O circo e ohomem do jegue

Janis Novaes

via nada, pois todos queentraram não pagaram.E isso aconteceu peloresto dos espetáculos.

Cansado de ver todosentrarem sem pagar, ao fi-nal do seu quinto espetá-culo, o dono do circo pe-diu aos espectadores quenão voltassem na noiteseguinte se não fossempagar o ingresso. Paracortar também a entradados meninos que anunci-avam, no dia seguinte ohomem resolveu pegaremprestado um jegue esubiu de costas nele parachamar mais atenção, e foianunciar sozinho na rua oespetáculo de mais à noi-te. Além disso, mandou li-xar e passar óleo dieselnos troncos das árvorespor onde as crianças as-sistiam ao espetáculo.

Pronto! À noite nin-guém entraria sem pagar.Não chegou nem o Pre-feito nem o Delegado, oEscrivão, o Médico, o Sol-dado, o Padre, o Comis-sário de Menor, o Juiz dePaz, os vendedores depipocas e amendoim, esuas respectivas espo-sas, irmãos, filhos, ne-tos, sobrinhos, cunhadosetc.. Não havia sequerum menino nos pés detamarindo ou pinheiro, e

não viria nenhuma dascrianças que antes can-tavam o espetáculo.

Na hora do espetácu-lo, o primeiro a chegar foiSeu Ovídio, que disse: -“Eu sou o Homem do Je-gue”. E assim, entrou sempagar. Depois chegou suaesposa, que, dizendo sera “mulher do Homem doJegue”, também entrousem pagar. Logo mais che-garam os filhos, netos,sobrinhos e afilhados deSeu Ovídio, que tambémentraram sem pagar. De-pois, os cunhados e ir-mãos de Seu Ovídio che-garam e, dizendo ser fa-miliares do “Homem doJegue”, entraram, trazen-do junto seus filhos, ne-tos, sobrinhos e afilhados.

Assim, o espetáculolotou novamente, destavez, somente com os pa-rentes do “Homem doJegue”, mas, novamen-te, sem nenhum lucro,obrigando o dono do cir-co a levar seu espetácu-lo para outra cidade, ain-da com o sonho de com-prar a sua lona.

(Janis Novaes, alunado 2o ano B do ColégioBoaventura, escreveu estetexto a partir da históriarelatada por sua avó, Cos-mira Oliveira)

Exemplo paratodas as idades

A turma do 2o Ano B, uma das cinco participantes

Integrantes do grupo se exercitando e cuidando da saúde

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Banda de Casa também faz reg-gae, faz história e som de raiz, fazen-do jus ao estilo reggae “roots”. Abanda Guerreiros de Jah fez o pu-blico dançar no passo do saci,no passo do lui – amassando obarro, comungando da arte e, to-dos/todas curtiram em paz a fes-ta da nossa cidade, que ficoumuito organizada e com grandesatrações musicais, agradando a“gregos e troianos” (?).

Questionamentos à parte (emoutra matéria a ser escrita), o que valeressaltar com todos os elogios é anossa banda de reggae Guerreirosde Jah, um time de artistas da terrafazendo som ‘roots’no estilo tradicional ede qualidade – “reg-gae raiz” – regadopela “cultura rastafá-ri”, idealizada pelomestre rasta-man, o ar-tista/ativista político epoeta Bob Marley.

A banda é forma-da pelos artistas Libe-rato e Aleandro (gui-tarras), Mauro Chega-Chega (baixo), Edson (teclado), Glei-dson Nininho (bateria), Isaac Qi eAnderson – Dedé de Itagi (percus-são), Antônio Luiz – Lula, Alex Bo-cão e William Santana (vocais) e Ilkae Deisiane (backing vocais). No cli-ma das boas novas (“a devir”), osnossos artistas subiram ao palco namadrugada de segunda-feira (6/9),interagindo com o momento e a es-tação do ‘bom’ frio boanovense.

Os Guerreiros de Jah, em gran-de estilo e cumprindo a programa-ção da festa, mandaram ver o seureggae-som para um público sele-to, que dançou empolgado ao somda nova banda. Esta já tem estra-da, casos e causos para contar –orquestrada pelo reggae-man e umdos idealizadores da banda, Willi-am Santana, que inicia saudando aplatéia e homenageando o artista/

8 Gamboa Agosto/Setembro/10

Beijo a beijo ela percorre teu pequeno infinito,Ama sem nem saber como, nem quando... Nem onde.

Ama sem problemas, sem saber amar.

Em teu abraço ela abraça o que existe, boca, voz, pelo, riso,pele e sente.

Selam o silêncio.Talvez nem saiba que nunca se esqueceu dos teus afagos,

carícias , íntimo.

Seria você a flor que a menina sonha?Seria o sonho da pobre menina?

Sonhos ...

Venha comigo, bem amada, teremos os sons mais lindos.As cores mais ofuscantes, as texturas mais macias.

A surpresa, o inesperado,O amor

E a menina chora no claro jardimUm choro sem fim

Inesperadamente NuaInesperadamente Tua.

A boanovenseStella CristianeSantos Silva teráa oportunidade demostrar o seu tra-balho como fotó-grafa em Vitóriada Conquista. Asua exposição“Um Olhar” estáagendada para ofim de outubro noViela Sebo Café.

Formada emMagistério e estu-dante de Letraspela FTC (cursomomentaneamen-te trancado no 5o

semestre), Stellaé esportista e pro-fessora de Kara-tê no Dojo do Va-lentim. Nos últi-mos anos vem de-senvolvendo ativi-dades nas áreasde teatro, música,fotografia, poesia,pintura e produ-ção cultural.

Ao lado, trêsfotos que estarãona exposição.

“O tempo não para” – já dizia o poetaO tempo pulsa no dó/ré da politicagemJá dizia Betto G. – de porta aberta...Temperando a vida/sina de passagem

E há quem diga de “gato no saco”...“q” a praça da bandeira perdeu sua graçaSua pizza, sua rave, sua poesia, seu teatroE quem importa? A fria indiferença grassa

Pelas ruas... no riso dos hipócritas...De punho fechado batendo a sua portaCantem ainda em tempo o som da paz

Que descansa no canto de Betto em rotaNo bloco no beco na praça na pessoa amadaDe porta aberta... com o pé na estrada...

(esta poesia fará parte do livro “ensaios ao meu tempo... quarenta euma lyras” – que encontra-se no “forno” e será servido em dois mil eonze pelo poeta dariomeirense Jonatas Silva Meira, vulgo Mello . C)

Da Festa de Boa Nova

Soneto a Betto G. (in memorian)

micro-empresário e diretor de Cul-tura, Gilberto, o nosso Betto-de-Zelito (em memória) – “Lembrar deBetto nessa festa da nossa BoaNova é lembrar da sua importânciahistórica para o movimento cultu-ral da nossa cidade”, disse o artis-ta plástico e vocal.

A banda Guerreiros de Jah ini-cia cantando a canção “Viu”, do ar-tista/músico baiano Edson Gomes.Com estilo próprio (que é raro nasbandas que estão começando) e pe-gada regueira, com o profissiona-lismo das grandes bandas, essa tru-pe de artistas boanovenses acon-teceu, deixando de boca aberta os

“críticos leigos” deplantão. Na oportuni-dade, fazendo a vozdo povo, que questi-onou a programação:“por que a banda dosfilhos da terra nãoabriu o segundo diada festa de setem-bro?”. Quem sabe napróxima festa a Coor-denação Cultural doEvento sinalize, dan-

do destaque e valor à banda “Guer-reiros de Jah”, formada em nossomunicípio, que merece mais uma vezos nossos elogios, aplausos, para-béns, boas novas e apoio...

Grato pelo convite feito pelafamília Santana/Ferreira para con-tribuir com esta matéria, que con-cluo nos versos de Marley: “Àsvezes construímos sonhos em cimade grandes pessoas... O tempopassa... E descobrimos que gran-des mesmo eram os sonhos e aspessoas, pequenas demais paratorná-los reais”. “Inté” a próxima...

(texto de JSM/Mello – ativis-ta, agente ambiental do Sisna-ma e diretor da Casa 3o Setor –e-mails [email protected] [email protected] e celu-lar 77 9986-0272)

D e l aStella Cristiane Santos

Exposição em Conquistaterá fotos de boanovense

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Há duas décadas chegava aofim em Boa Nova um jornal alterna-tivo, feito por estudantes secun-daristas e universitários, que du-rante quase quatro anos serviucomo porta-voz de uma geração dejovens boanovenses. Montadoartesanalmente a partir de textosdatilografados em máquinas elétri-cas ou mesmo convencionais, eimpresso em papel-ofício em gráfi-cas de sindicatos de Salvador, oJornal Sem Censura circulou deagosto de 1987 a setembro de 1990.

Graduando em História pelaFaculdade Santo Agostinho (Ipi-aú-BA), Jobson Silva Meira (tam-bém integrante do Corpo de Bom-beiros da Polícia Militar do esta-do da Bahia) escolheu justamen-te o Sem Censura como objeto depesquisa em sua monografia deconclusão de curso. Intitulado“Jornal Sem Censura, seu papelideológico, político e cultural nasociedade de Boa Nova (1987-1990)”, o trabalho, segundo seuautor, tem como principal objeti-

A boano-vense ÂngelaCibele de Sá Bri-to já está de vol-ta a Boa Nova,após quase duassemanas no Riode Janeiro, ondeparticipou daprimeira etapado projeto Reve-lando os BrasisIV. Ela se juntoua outras 39 pes-soas de váriasregiões do Bra-sil, que também tiveram históriasselecionadas para virar filmes.

O grupo participou de diver-sas oficinas, ministradas na sededa Riofilme (distribuidora de fil-mes ligada à Prefeitura Munici-

Sem Censura é tema de pesquisa

As “capas” das três primeiras

vo “discutir o propósito do jornalna sociedade boanovense, quaisforam os motivos de sua criação,o seu conteúdo, ao qual publicoera direcionado e quais órgãos es-tavam ligados a ele”.

O Sem Censura, na monogra-fia de Jobinho (como Jobson émais conhecido em Boa Nova), éinserido nas perspectivas históri-cas do folhetim no Brasil, do podere ideologia da mídia impressa e dosintelectuais. “O documento im-presso é uma fonte inquestioná-vel para poder explicar os fatossociais e culturais de uma determi-nada sociedade. Ao analisarmostextos de jornais podemos perce-ber a importância dos mesmos parao estudo da história do cotidiano,resgatando uma narrativa dos acon-tecimentos históricos ocorridos.No meu trabalho também estouusando como fonte a monografiade fim de curso do boanovenseRobson Novaes, já graduado emHistória”, mencionou.

Ligado à hoje inativa ADCBN(Associação de DesenvolvimentoComunitário de Boa Nova), o SemCensura era uma atividade genui-namente voluntária numa épocaem que o voluntariado ainda esta-va engatinhando no Brasil. O jor-

nal era feito em Salvador, onde es-tudava e residia parte dos integran-tes do seu conselho editorial. Aoutra parte, que estudava e/ou tra-balhava em Boa Nova, tinha a in-cumbência de levantar pautas, es-crever artigos e distribuir as edi-ções (muitas vezes contrariando eenfrentando as suas próprias fa-mílias, que desaprovavam as críti-cas políticas inseridas no jornal).

Vale ressaltar que parte dos co-laboradores diretos e indiretos doJornal GAMBOA integrava a equi-pe que produzia o Sem Censura.Mesmo tendo outra linha editorial,o GAMBOA carrega há mais de umadécada um tanto do idealismo quemotivou aqueles jovens. Algunsdeles, que hoje atuam profissional-mente nas mais diversas áreas, ti-nham entre 15 e 18 anos.

Os interessados em conhecer oSem Censura terão, a partir de no-vembro, a oportunidade de ter to-das as edições disponíveis em for-mato PDF. No momento, elas estãosendo digitalizadas e montadas.

Sem qualquer montagem ou trucagem digital nos moldes doPhotoshop, esta foto do pôr-do-sol do Cruzeirão foi tirada às17h19min do dia 29 de setembro deste ano pelo boanovense An-dré Luiz de Sá Brito (Deco) – técnico agropecuário e serventuárioda Justiça do Estado da Bahia. Apaixonado por fotografia, ele temfeito elogiados registros de aves, flora e paisagens de Boa Nova.

Desafios de cineasta

pal do Rio de Janeiro) por pro-fessores e profissionais renoma-dos do cinema e da comunicação.Nestas oficinas foram cursadasas disciplinas Introdução à Lin-guagem Audiovisual, Roteiro,

Fred Pacífico

Direção, Produção, Fotografia,Som, Edição, Direção de Arte,Mobilização, Direitos Autorais eComunicação Colaborativa.

Segundo Cibele, a experiênciafoi inesquecível e bastante enri-quecedora. Ela mencionou que temagora pela frente o desafio de mon-tar uma equipe em Boa Nova paraajudá-la na etapa de realização dodocumentário, que terá o boano-vense Josafá Sampaio de Almeidacomo principal personagem.

Na condição de cineasta, Ci-bele agora terá a incumbência decaptar as imagens para a sua his-tória, que foi será transformadonum documentário de até 15 minu-tos. Ela já adiantou que pretende

inserir no enredo central do filmeelementos que também abordemum pouco da história de Boa Nova.

De acordo com o regulamen-to do Revelando os Brasis, que érealizado pelo Instituto MarlinAzul com patrocínio da Petrobrase parceria da Secretaria do Audi-ovisual do Ministério da Cultu-ra, a captação das imagens, edi-ção e finalização do vídeo (de até15 minutos) deverá acontecer atéjaneiro de 2011. Cada participan-te selecionado terá equipamentode edição digital (disponível emprodutoras regionais contratadaspor até seis dias corridos) parafinalizar o vídeo, orientado porum profissional da área.

A "capa" da primeira ediçãodo Sem Censura

Palestra sobre Direito Autoral e Direito de Imagem

Cibele (à frente, de blusa vermelha) com os demais selecionados

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10 Gamboa Agosto/Setembro/10

Boa Nova e seu distri-to Valentim receberão nosdias 30 de novembro e 1o

de dezembro, respectiva-

Atualmente no Brasil,quando o assunto é aves otopo da lista é o WikiAves(www.wikiaves.com.br) –

Nesta foto ob o a n o v e n s ePaulo CésarAndrade da Sil-va, acompa-nhando o poe-ma “Trem deFerro” (de Ma-nuel Bandeira),toca na flautat ransver sal o“ T r e n z i n h oCaipira” (com-posição de Hei-tor Vil la Lo-bos). A apre-sentação foi parte da programação do Festival da Palavra, realizado emmeados de setembro em Assis-SP, numa promoção da Casa das Rosas-SP, Governo de São Paulo/Secretaria de Estado da Cultura e UNESP(Universidade Estadual Paulista)-Campus de Assis. Paulo Andrade, queé graduado em Letras, com mestrado e doutorado em Literatura, éprofessor da UNESP-Assis e reside em Araraquara-SP.

Boa Nova e Valentim na rota do X Mercado Cultural

O músico austríaco Matthias Loibner e o grupo Geomungo Factory são atrações do evento

mente, parte da programa-ção da 10a edição do Mer-cado Cultural. O evento,realizado pelo Instituto

Cultural Casa Via Magia,retorna ao município de-pois do estrondoso suces-so de público em dezem-

bro de 2009.Este ano, além

de Boa Nova/Va-lentim, o X Merca-do Cultural acon-tecerá de 26/11 a08/12 em Ibirataia(26, 27 e 28/11), Vi-tória da Conquis-ta (de 29/11 a 01/12) e Salvador (de02/12 a 05/12).Fora da Bahia eleserá apresentadoem São Paulo, Riode Janeiro e Curi-tiba (de 04 a 08/12).

Para BoaNova e Valentim

foram programadas as se-guintes atrações (que se re-petirão na mesma sequên-cia nas duas localidades):

15 horas – abertura do even-to; 16 horas – vídeo dos Rei-sados de Boa Nova (40 mi-nutos de um DVD gravadono IX Mercado Cultural); 17horas – peça “Estórias deBichos” (Grupo Via Magiade Teatro); 18 horas – showcom o grupo GeomungoFactory (da Coréia do Sul);19 horas – show com Mat-thias Loibner (músico aus-tríaco); 20 horas – showcom a banda Sapopemba(de São Paulo); e 21 horas– apresentação do Ternode Reis do Entrocamentode Boa Nova.

Toda a programação doX Mercado Cultural e ohistórico do evento podemser conhecidos no sitewww.mercadocultural.org.

Boa Nova é destaque no WikiAves

Coruja-da-igreja (Tyto Alba), fotografada por André Deco LuizBeija-flor-vermelho (Chrysolampis mosquitus),

fotografado por Edson Ribeiro

Gibão-de-couro (Hirundinea ferruginea), fotografado porJosafá Almeida

uma espécie de enciclo-pédia virtual voltada ex-clusivamente para estetema. No ranking de esta-

tísticas do site, Boa Novaocupa o 19o lugar nacio-nal no número de espéci-es registradas por cidade

(são 231 aves registradasno município).

Se for observado oranking por região, BoaNova é a no 1 de todo oNordeste. Até o dia 17de outubro (data em quefoi concluída esta pági-na do GAMBOA Virtu-al) constavam no painelde Boa Nova do Wikia-

ves um total de 407 fo-tos, 26 sons de aves,231 espécies, 227 espé-cies com foto e 24 es-pécies com som. Entreos fotógrafos que maispostaram fotos por láestão Josafá Sampaiode Almeida, Edson Ri-beiro Luiz, André Luiz deSá Brito (Deco), Ciro Al-bano e Rafael Bessa.

O organizadores doWikiAves o definemcomo “um site de con-teúdo interativo, direci-onado à comunidadebrasileira de observado-res de aves, com o obje-tivo de apoiar, divulgare promover a atividadede observação de aves,fornecendo gratuitamen-te ferramentas avança-das para controle de fo-tos, sons, textos, identi-ficação de espécies, co-municação entre obser-vadores, entre outras.”