arquitetura moderna das escolas "s" paulistas (1952-68)

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    Artemis Rodrigues Fontana Ferraz Artemis Rodrigues Fontana Ferraz Artemis Rodrigues Fontana Ferraz Artemis Rodrigues Fontana Ferraz

    ARQUITETURA MODERNA DAS ESCOLAS S PAULI ARQUITETURA MODERNA DAS ESCOLAS S PAULI ARQUITETURA MODERNA DAS ESCOLAS S PAULI ARQUITETURA MODERNA DAS ESCOLAS S PAULISSSSTAS, 1952TAS, 1952TAS, 1952TAS, 1952----1968:1968:1968:1968:PROJETAR PARA A FORMAO DO TRABALHPROJETAR PARA A FORMAO DO TRABALHPROJETAR PARA A FORMAO DO TRABALHPROJETAR PARA A FORMAO DO TRABALH

    Tese apresentada Faculdade de Arquitetura eUrbanismo da Universidade de So Paulo paraobteno do ttulo de Doutor em Arquitetura eUrbanismo

    rea de Concentrao: rea de Concentrao: rea de Concentrao: rea de Concentrao: Histria e Fundamentos da Arquitetura e Urbanismo

    Orientadora:Orientadora:Orientadora:Orientadora: Maria Lucia Caira Gitahy

    So PauloJaneiro de 2008

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    AUTORIZO A REPRODUO E DIVULGAO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALMEIO CONVENCIONAL OU ELETRNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITA A FONTE.

    e-mail: [email protected]

    Ferraz, Artemis Rodrigues Fontana F381a Arquitetura moderna das escolas S paulistas, 1952-1968:

    projetar para a formao do trabalhador / Artemis RodriguesFontana Ferraz. --So Paulo, 2008.

    520 p. : il.

    Tese (Doutorado - rea de Concentrao: Histriae Fundamentos da Arquitetura e do Urbanismo) - FAUUSP.

    Orientadora: Maria Lcia Caira Gitahy

    1.Escolas - Arquitetura - So Paulo (Estado) - 1952-19682.Arquitetura moderna 3.Trabalhadores Formao 4.SENAI5.SENAC 6.SESC I.Ttulo

    CDU 727.1(816.1)

    Projeto Grfico e preparao de imagens Artemis R. F. Ferraz e Aline R. Fontana

    Capa Artemis R. F. Ferraz e Aline R. Fontana

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    GR DE IMENTOS

    F

    ORIENT O

    SUPORTE

    MOR

    MIZ DE

    A todos que me acompanharam at aqui.

    Ao Deus que me guarda, orienta e abre os melhorescaminhos.

    orientadora Prof. Dra. Maria Lucia Gitahy, pelaamizade, confiana, estmulo, experincia, rigor e

    preciosa sabedoria insubstituvel em cada passo destapesquisa. Ao Prof. Dr. Kenneth Frampton da Graduate

    School of Architecture, Planning and Preservation,Columbia University, Nova York, pelo apoio durante operodo de pesquisa desenvolvida nesta Universidade.

    s professoras integrantes da Banca de Qualificao,Dra. Mnica Junqueira de Camargo e

    Dra. Maria Alice Rosa Ribeiro, pelas importantescontribuies apresentadas tese. Aos funcionrios

    responsveis pelos arquivos da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (FAUS), do SENAI

    e da Memria do SENAC, pela disponibilizao dematerial aqui documentado, parte fundamental para

    a leitura arquitetnica. equipe de trabalho dasbibliotecas da FAUUSP e da Columbia University..

    Aos meus pais, Jos Antonio e Gerlena, por todo oamor. Aos meus irmos, Aline e Alexandre, pela

    torcida constante, em especial minha irm pelaajuda na edio grfica da tese. Ao marido e amigo

    arquiteto Dionzio pela compreenso semfronteiras, o meu muito obrigada.

    Aos colegas do Grupo de Pesquisa do HSTTFSAU,meus agradecimentos pelas ricas contribuies

    produtivas. Em especial ao amigo Fernando Atiquepela dica e incentivo desde o processo seletivo dodoutorado em 2003. Ao grande amigo Jeff Buggini,

    meu querido Pio, pela ajuda e suporte com apesquisa em Nova York.

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    R SU O

    A tese documenta e analisa a arquitetura das escolas paulistas dostrs S, SENAI (Servio Nacional da Aprendizagem Industrial),SESC (Servio Social do Comrcio) e SENAC (Servio Nacional de

    Aprendizagem Comercial), concebidas de 1952 a 1968. Tem o

    propsito de ampliar a perspectiva de anlise da arquiteturamoderna brasileira, especialmente projetada para a formao dotrabalhador. Consciente da atuao de mbito nacional dos S,criados na dcada de 1940, a pesquisa abrange as escolasprojetadas em todo o estado de So Paulo, a regio maisindustrializada do Brasil. Para melhor compreender a histriasocial das obras analisadas, houve pesquisa documental ebibliogrfica, aprofundando a leitura projetual das escolasinvestigadas. Durante as dcadas de 1950 e 1960, h umprocesso de acelerao da industrializao brasileira, no poracaso, acompanhada por uma era de ouro da construo deescolas dos trs servios. Tanto na pedagogia quanto naarquitetura, buscava-se a modernizao. O trabalho evidencia aatualizao dos profissionais brasileiros quanto aos requisitosc o l o c a d o s p e l o p a r a d i g m a t c n i c o - e c o n m i c o(americanizao) que ento se difundia por todo o mundo,assim como, as possibilidades de democratizao que foramexploradas no campo pedaggico ( Progressive School ). Noentanto, o modo de fazer o edifcio-escola revela os conceitos deseus idealizadores brasileiros. O trabalho identificou ummomento de mudana na arquitetura das escolas para formaodo trabalhador tanto nos Estados Unidos, quanto no Brasil. Daescola tradicional para a moderna, a pesquisa explora asdiferentes premissas envolvidas em sua construo e revela oquanto se buscou, no caso da ltima, casar pedagogia earquitetura moderna na escola industrial e comercial brasileira.

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    STR CT

    The present thesis documents and analyses the architecture of thethree S schools in So Paulo State, Brazil, the National Service forthe Industrial Learning, the Commercial Social Service, and theNational Service for the Commercial Learning - SENAI, SESC and

    SENAC, conceived from 1952 to 1968. It aims to amplify theperspective of analyses of the Brazilian Modern Architecture,specially projected towards the education for labor. Beingconscious that the S Services reach the entire Brazilian laboreducation, created in the 1940's, the research focuses theprojected schools in the whole State of So Paulo, the mostindustrialized region in Brazil. For better comprehension about thesocial history of the analyzed works, a documental andbibliographical research was accomplished, going deep into theunderstanding of the investigated schools. During the 1950's andthe 60's, there was a speed up process in the Brazilianindustrialization, not at random, followed by a golden age whenthe three services schools were constructed. A wind ofmodernization swept pedagogy and architecture as well. The workevidences that Brazilian professionals were updating as far as therequirements of the technical economic paradigma(americanization) which were then spread all over the world, aswell as the possibilities of democratization then opened in thepedagogical range (Progressive School). However, the way ofconceiving the school-building reveals the minds of their Braziliancreators. This work identified a changing moment in thearchitecture of the schools for labor education, not only in theUnited States of America, but also and specially in Brazil. Fromtraditional to modern schools, the research explores the differentprinciples according to which their construction is related and itshows, in the latest, how very closely pedagogy and modernarchitecture can work together for the workers in the Brazilianindustrial and commercial schools.

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    SUMRIO

    As origens e referncias dos S: SENAI, SESC e SENAC

    1.1 Estado Novo e ps-Segunda Guerra: a criao dos "S

    1.2 Mudanas na orientao poltico-educacional brasileira1.2.1 A experincia da Primeira Repblica:da industrializao s reformas educacionais na dcada de 19201.2.2 Industrializao e organizao racional do trabalho:propondo "reforma social"1.2.3 A valorizao do ensino profissionalizante durante o Estado Novo1.2.4 A redemocratizao: a luta pela "educao para todos"1.2.5 O regime militar e o incentivo formao de cunho profissionalizante

    1.3 A experincia norte-americana: trabalho, educao e arquitetura1.3.1 American Progressivism: "Learn by Doing "1.3.2 A demanda pela educao vocacional: Adult Education in America 1.3.3 Educao em transio:a perceptvel mudana em meados do sculo XX 1.3.4 Inovaes arquitetnicas e solues tcnicas do edifcio-escola dosanos 1950: American Trade Schools e seus atributos fsicos, psicolgicos esociais

    Mudana arquitetnica a partir da dcada de 1950: aexperincia das escolas dos S no Estado de So Paulo

    2.1 As escolas dos anos 19402.1.1 SENAI2.1.2 SESC-SENAC

    2.2 Arquitetura Moderna para a Escola Integral nas dcadasde 1950 e 19602.2.1 SENAI 1952-1968: modernas escolas para o ensino da indstria2.2.2 SESC-SENAC 1955-1968: modernas escolas para o ensino docomrcio

    CAPTULO 2

    CAPTULO 1

    INTRODUO [15]

    [29]

    [31]

    [64][59]

    [51]

    [5 ]

    [71][79]

    [81][82][88]

    [100]

    [120]

    [141]

    [139]

    [141][149]

    [157][162]

    [325]

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    Princpios tcnicos, educativos e arquitetnicosda Escola Nova dos S

    3.1 Paradigma tcnico-econmico na formao dotrabalhador: taylorismo, fordismo e psicologia aplicada

    3.2 Educao: elo da modernizao do ensino brasileiro3.2.1 Os educadores John Dewey 1859-1952) e

    Ansio Teixeira 1900-1971): um levantamento inicial

    3.2.2 Aspectos educacionais aplicados ao edifcio-escola:os princpios das modernas escolas S3.2.3 Do Manifesto construo de uma Escola Nova e Progressiva

    3.3 Arquitetura Moderna: um gesto para a educao3.3.1 Arquitetos e engenheiros dos S paulistas:

    idealizadores e realizadores dos conceitos implcitos em um modo de fazer o edifcio-escola

    CAPTULO 3

    CONSIDERAESFINAIS

    REFERNCIASBIBLIOGRFICA

    [447]

    [450]

    [463]

    [464]

    [472][483]

    [488]

    [488]

    [513]

    [499]

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    NTRO UO

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    [15]

    [[[[introduointroduointroduointroduo]]]] Ao olhar mais atento para a historiografia da arquitetura

    moderna paulista possvel notar a necessidade de estudos sobre umconjunto de obras que marca presena no processo de afirmao damesma, a arquitetura escolar moderna realizada nas dcadas de1950 e 1960 como parte de um sistema de edifcios voltados formao do trabalhador. Trata-se da rede de escolas tcnicas dostrs S: SENAI (Servio Nacional da Aprendizagem Industrial), SESC(Servio Social do Comrcio) e SENAC (Servio Nacional de Aprendizagem Comercial), especialmente desconhecida no que dizrespeito localizao no interior do estado de So Paulo, apenas em

    raras excees reconhecida. Esta tese buscou pesquisar e documentarde forma sistemtica e lanar um olhar analtico sobre as escolasmodernas dos trs S, uma importante produo arquitetnica que sedestacou, no estado de So Paulo, como parte de um sistema deformao do trabalhador. interessante perceber como certosaspectos do edifcio-escola moderno tiveram o objetivo de seremestimuladores de uma forma de vida democrtica por meio decaractersticas fsicas, todas elas presentes em cada uma das escolasS. Analis-las, levando em conta a histria e os fundamentos sociaisda sua produo, lendo suas caractersticas arquitetnicas,interpretando a proposta de cada idealizador e, investigando suaatualizao quanto s experincias similares nos EUA, o objetivodesta pesquisa.

    Consciente da atuao de mbito nacional dos trs serviosS, esta tese limita suas atenes ao estado de So Paulo, a regio

    mais industrializada do Brasil, bero da burguesia responsvel pelaconcepo e criao destas trs grandes instituies e, alm disto,significativamente palco da atuao dos industriais e engenheirospaulistas que defenderam e implantaram a organizao racional eadministrao cientfica do trabalho, participando do debateinternacional a respeito desde o incio do sculo XX. acreditando naconstruo de uma historiografia capaz de produzir estudos cada vezmais focalizados e profundos, que esta tese se insere. J se podeobservar trabalhos acadmicos, referenciados ao longo da tese, naproduo recente da histria da arquitetura moderna brasileira que

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    abrem caminhos para esta investigao da arquitetura e dosprofissionais idealizadores dos S. Alis, desde os primeiros registrosda arquitetura moderna no Brasil, algumas destas obras foramnotadas. Dois livros famosos o fizeram: o livro organizado peloMOMA (Museu de Arte Moderna de Nova York),Brazil Builds:

    Architecture New and Old, 1652 -1942 , de Philip L. Goodwin,acompanhou a exposioBrazil Builds que tambm circulou no Brasilem 1943 e, o livro publicado em 1956,Modern Architecture in Brasil,de Henrique E. Mindlin. Este ltimo, publica a Escola de aprendizadoindustrial Anchieta, em So Paulo (MINDLIN,1999:164-165), jcontemplando a importncia daquela produo arquitetnica paulista

    do SENAI juntamente com sua produo carioca, a Escola deaprendizado industrial em Niteri, Rio de Janeiro(MINDLIN,1999:162-163). Segundo SEGAWA (1999:14) estes doislivros so trabalhos apologticos da arquitetura moderna, [...],formadores de mitografias da moderna arquitetura brasileira.

    Quanto s fontes documentais, as publicaes peridicas dapoca apresentam um grande nmero de obras focalizadas,incluindo as escolas dos trs sistemas S. Portanto, os peridicos

    especializados da poca constituem uma das principais fontes deinformao bibliogrfica sobre os exemplares modernos dos Sexplorados, sendo eles: Acrpole, Arquitetura e Engenharia,

    Arquitetura e Decorao Habitat, Bem Estar, alm do peridico AB,publicado em 1972, e de outros artigos publicados pela revista

    Arquitetura e Urbanismo .Tendo os S como tema central, oportuno destacar os

    trabalhos publicados pelos prprios Servios, ainda lacunares no quediz respeito arquitetura moderna, mas essenciais como registrosinstitucionais e/ou comemorativos que ajudam a divulgar as formasde trabalho do SENAI, SENAC e SESC. Diferentemente daspublicaes dos S, e de importncia metodolgica para estapesquisa, h o livro publicado por Barbara Weinstein,(Re)Formaoda classe trabalhadora no Brasil (1920-1964) , um trabalho de anliseda histria social brasileira voltado principalmente ao SENAI. Para

    compreender as relaes entre os requisitos da qualificaoprofissional, a filosofia pedaggica dos mtodos de ensino

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    [17]

    (principalmente industrial e comercial) e os estudos que recuperam oprocesso histrico internacional e brasileiro, vrios autores foramconsultados. Sobre o perodo histrico e o paradigma tcnico-econmico taylorista-fordista, buscou-se apoio em autores muito

    conhecidos como Eric Hobsbawn, David Noble, Harry Braverman,Maria Victria Benevides, Bris Fausto, entre outros. J, sobre aEscola Nova e a filosofia pedaggica, a pesquisa voltou-se a autorescomo John Dewey, Fernando de Azevedo, Ansio Teixeira e HlioDuarte. Foram investigadas tambm as dissertaes e tesesrelacionadas ao longo do trabalho.

    A consulta aos arquivos de projetos arquitetnicos e respectivomaterial iconogrfico foi fundamental para a tese, sobretudo para ainvestigao dos projetos originais dos S modernos. Assim, por meiodos arquivos do SENAI, SESC e SENAC, juntamente com o arquivo daFaculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos (FAUS), os projetosarquitetnicos foram investigados - levantados, fotografados,analisados e parcialmente redesenhados (quando necessrio).

    Contando j com um corpo de evidncias coletadas no Brasilsobre o objeto de estudo e com a hiptese de possveis relaes em

    propostas norte-americanas tanto no campo da gesto do trabalho,quanto nos campos da pedagogia e, especialmente, no daarquitetura, aponta-se a pertinncia da visita ao acervo bibliogrfico edocumental daColumbia University, Nova York, dado o vnculo de Ansio Teixeira com John Dewey. Sendo assim, o plano de atividadesno exterior, sob a orientao do Prof. Kenneth Frampton, traz novosdesafios tese. Coleta-se em Nova York documentao e bibliografiasobre o paradigma tcnico-econmico taylorista-fordista, sobre osmtodos pedaggicos de renovao do ensino (industrial e comercial)e sobre a Arquitetura Moderna das escolas americanas.

    Assim, ao pesquisar o perodo significativo da arquiteturamoderna paulista do incio da dcada de 1950 at aproximadamenteo final da dcada de 1960, despontam inmeras questesmerecedoras de investigao quanto s escolas S modernas. Quaiseram as demandas educacionais da sociedade brasileira? Quais eram

    as propostas para a educao do trabalhador? Qual o perfil dojovem que se inscrevia para os cursos do SENAI, SESC e SENAC?

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    [18] [introduo]________________________________________________________________________________________________________________________

    Como era a escola naquele momento? Qual grupo de educadores,arquitetos, engenheiros e administradores vinham atuando naconcepo de uma escola moderna paulista? Como e em quemomento a arquitetura atendeu s principais premissas pedaggicasimplantadas por estes Servios? Quais os agentes sociais envolvidos?Que indstria e que comrcio eram aqueles? Quais eram, ento, osprincpios aplicados arquitetura? Houve referncias internacionaisno processo de concepo destas escolas modernas S? Aocomplementar a pesquisa nos Estados Unidos, naColumbiaUniversity, novas questes apareceram na averiguao de umaatualizao dos profissionais brasileiros quanto experincia

    americana de construo de escolas similares. Quais premissas norte-americanas podem ser comparadas quelas caractersticas dos S?Qual o vnculo dos agentes envolvidos nos S modernos com oamericanismo? Com a modernizao pedaggica? Qual a relaoda pedagogia com a arquitetura norte-americana das escolas tcnicase vocacionais?

    Inegavelmente esta tese foi construda para investigar osexemplares dos S e acabamos optando pelo desafio de responder a

    estas questes. Dividida em trs captulos, procura abranger osdiversos aspectos pertinentes compreenso dos S, o momentohistrico, os agentes sociais envolvidos, as referncias norte-americanas e a prpria arquitetura produzida. Neste percurso,interessa pesquisa explorar a maneira como estes Serviosexpressaram na arquitetura moderna de suas escolas, as estratgiasenvolvidas em sua pedagogia. O fato que entre diferentes campos

    de indagao, a investigao dos vrios perodos dentro do sculo XXrevela interligaes e repercusses no ensino e na arquitetura daescola industrial e comercial brasileira.

    Desta forma, o captulo 1captulo 1captulo 1captulo 1, intitulado As origens e refernciasdos "S": SENAI, SESC e SENAC, trata primeiramente da criao dosS dentro da dcada de 1940, do Estado Novo ao perodo ps-Segunda Guerra Mundial, como uma resposta aos problemas daeconomia nacional que se voltava para uma acelerao da

    industrializao brasileira. Apresenta as estratgias dos personagenshistricos envolvidos na construo de cada S, fossem eles polticos,

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    [19]

    empresrios industriais, comerciais ou outros profissionais, todoscomprometidos em promover uma verdadeira reforma social atravsda qualificao do trabalhador brasileiro para atender aos requisitosda economia do perodo.

    Num segundo momento, o captulo 1 enfatiza as mudanasna orientao poltico-educacional brasileira, construindo umaabordagem histrica, e acompanhando suas influncias aos S, dadcada de 1920 at o final da dcada de 1960. Entre diferentescampos de indagaes, os S so investigados enquanto agnciasvoltadas para a formao do trabalhador da indstria e do comrciobrasileiro que tiveram seu desenvolvimento vinculado aos desafios dosculo XX. Assim, h o esforo em articular as complexas relaesentre os diferentes perodos do sculo XX, objetivando compreendercomo as premissas pedaggicas das escolas S, expressas pelaarquitetura moderna, foram concretizadas a partir da dcada de1950. A partir da dcada de 1920, as reformas educacionais buscammodernizar o ensino preparando um novo modo de vida associado aum mundo em que a presena de um mercado de massas e de umaproduo em massa encontra sua metfora emblemtica na linha de

    montagem do modelo americano automobilstico T, produzido pelaFord. Em seqncia, a dcada de 1930 sublinhada pelo impulsocentralizador da Segunda Repblica - a Revoluo de 1930, ocorporativismo, a racionalizao do trabalho, o avano da produoindustrial, o investimento na mo-de-obra especializada. Em outradireo, oManisfesto dos Pioneiros da Educao Nova (1932) apontaa educao como direito de todos (1934), e a criao deuniversidades. J o terceiro perodo, marca a tentativa de conter ademocracia e enfatiza a valorizao do ensino profissionalizantedurante o Estado Novo (1937-1945). Tambm, coloca osquestionamentos relacionados educao, existentes poca, comoa discusso dos slogans educao para todos e dualismo social e,enfatiza a Constituio de 1937 e sua poltica educacional voltada preparao do trabalhador para as oportunidades do mercado,apoiando o ensino pr-vocacional e profissional. Este terceiro perdo

    culmina no incio da dcada de 1940 com a criao do SENAI,apoiada por Getlio Vargas. J o quarto perodo, a

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    [20] [introduo]________________________________________________________________________________________________________________________

    redemocratizao ps Segunda Guerra Mundial, resgata a volta daeducao para todos dentro dos preceitos proclamados na dcadade 1930 pelos Pioneiros da Educao Nova. Tambm, trata darenascente democracia da Repblica Nova e a responsabilidade doEstado, quanto educao, e enfatiza os momentos de criao doSESC e do SENAC dentro das discusses sobre as diretrizes para aeducao nacional. Este o perodo frtil da educao, que deusuporte ao crescimento e consolidao dos S, dentro da idia deescola-classe e escola-parque. Assim, como referncia para aarquitetura das escolas S, o Convnio Escolar, um acordoestabelecido entre o Estado e o municpio de So Paulo, destacado

    por sua atuao no campo da arquitetura escolar e por ser, em simesmo, uma escola que preparou os arquitetos e outros profissionaisenvolvidos na concepo das escolas S. O fato que, o momentodas dcadas de 1950 e 1960, aqui chamado era de ouro daconstruo de escolas dos S - numa referncia ao trabalho dohistoriador Eric Hobsbawm1-, inspirou a construo das escolasdemocratizadas pela arquitetura moderna. Por fim, o quinto perodolimita a pesquisa no final da dcada de 1960, num momento em que

    um golpe dentro do golpe militar abortou as iniciativas de se renovara educao brasileira, ampliando os horizontes da formao dotrabalhador e, do contrrio, buscou estreitar a formao educacionalgeral, atribuindo a esta um cunho profissionalizante.

    A terceira e ltima parte do captulo 1 apia-se em pesquisarealizada na Columbia University e revela a importncia dasreferncias internacionais, em especial a norte-americana, no

    momento histrico ps - Segunda Guerra Mundial. Estas refernciasinformaram as opes quanto gesto do trabalho, pedagogia e arquitetura relevantes aos S. Ressalta o contexto histrico domovimento social que galvanizou as camadas mdias norte-americanas, denominado The Progressive Movement. Compreendea mudana pedaggica voltada educao vocacional norte-americana, amplamente disseminada pelo aumento da oferta e da

    1 Hobsbawm publicou estudos importantes como: A Era da Revolues (1789-1848), A Era do Capital (1848-1875) e A Era dos Imprios (1875-1914). Tambm,especificamente sobre o sculo XX, Hobsbawn responsvel pela A Era do Extremos,publicado em 1994, na Inglaterra.

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    [21]

    demanda por escolas tcnicas e pelo ensino adulto, que rebate nasnovas solues projetuais da arquitetura do edifcio-escola. Nestesentido, procura-se apontar este momento de mudana na arquiteturaescolar norte-americana, da escola tradicional para a moderna, como

    influncia na atitude, hbito, comportamento e criatividade doindivduo. Quanto renovao pedaggica, surpreendenteconstatar como a experincia norte-americana de modernizao destaarquitetura voltada para a formao do trabalhador deu-se no mesmoperodo de construo das escolas modernas dos S no Brasil. Osrequisitos americanos mostram como a pedagogia guiou a arquiteturado edifcio-escola, com pressupostos semelhantes era de ouro daarquitetura dos S. Isto , nota-se uma americanizao tanto noplano das idias, quanto nas prticas, neste caso especfico aquiestudado.

    J o captulo 2captulo 2captulo 2captulo 2, intituladoMudana arquitetnica a partir dadcada de 1950: a experincia das escolas dos S no Estado de So

    Paulo, apresenta os grandes produtos desta trama, as escolas S.Primeiramente, apresenta as escolas dos anos 1940, de linguagemtradicional, e mostra as distintas fases de sua evoluo. Reconhecida

    como uma dcada de transio, a dcada de 1940 obviamentemarca a implantao inicial de cada S, dos primeirosestabelecimentos com carter de emergncia, em prdios alugados,at o incio da construo das primeiras escolas, projetadas no finaldesta dcada, com caractersticas monumentais. As escolas at entoconstrudas passaram a no satisfazer s exigncias pedaggicas doensino industrial e comercial, e a idia de construir novas escolas foireconhecida. Sendo assim, como seria esta escola diferenciada,voltada para o aluno? Este captulo trata de responder a esta questo.

    Em seqncia, a segunda parte do captulo 2 enfatiza o objetode estudo desta tese, as modernas escolas S no Estado de SoPaulo. Com o propsito de ampliar a perspectiva de anlise daarquitetura moderna brasileira, so pesquisados, documentados,apresentados e analisados de forma individualizada os projetosarquitetnicos de 23 escolas do SENAI e 10 do SESC e do SENAC,

    em ordem cronolgica, concebidos de 1952 a 1968. Aocompreender estes dois momentos histricos, o primeiro da dcada de

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    [22] [introduo]________________________________________________________________________________________________________________________

    1940 e o segundo de 1952 at 1968, notvel como os projetosdeste segundo momento fizeram parte da nova pedagogia em sintoniacom a arquitetura moderna. Assim, pelo estudo destas 33 projetos possvel comparar os novos princpios pedaggicos aplicados arquitetura escolar dos S. Complementar leitura documental ebibliogrfica, a leitura projetual das obras investigadas confirma amudana pedaggica dos S, na dcada de 1950, e revela os dadosfsicos e conceituais de cada escola, juntamente com seusidealizadores. As escolas adotaram um novo programa construtivo:salas de aula, oficinas, administrao, recreio, auditrio, sala dereunio, biblioteca, teatro ao ar livre, sede da associao de ex-

    alunos, campo de esportes e piscina. E, atendendo a esta novaconcepo, a opo pela arquitetura moderna visando despertar oaluno para os seus atributos, e para sua prpria formao detrabalhador. Apresentadas pelo SENAI, as sete caractersticaspedaggicas -crescimento, flexibilidade, atratividade , interligao ,

    sociabilidade , rendimento e economia - foram utilizadas na arquiteturade suas escolas, assim como foram rebatidos nos demais S voltadosao ensino comercial. Afora o papel da arquitetura e de seus

    idealizadores, a relao das escolas tambm revela a localizao darede dos trs S. Para o SENAI, so projetados cerca de 60% dosedifcios na cidade de So Paulo e na grande regio metropolitana:Escola Anchieta Vila Mariana, So Paulo (1952); Internato, Campinas(1952); Txtil Central do Brs, So Paulo (1952); Escola Joo MartinsCoube, Bauru (1953); Escola de Piracicaba (1954); Pavilho Socialdo Brs, So Paulo (1956); Escola e Internato de Santos (1956);

    Escola de Tatuap (1957); Escola de So Caetano do Sul (1957);Escola de Jundia (1957); Escola de Sorocaba (1958); EscolaFundao Romi, Santa Brbara dOeste (1958); Oficina de caladosMooca, So Paulo (1959); Escola de Mogi das Cruzes (1959); Escolada Mooca, So Paulo (1960); Escola de Ribeiro Preto (1960); Escolade So Bernardo (1961); Escola de So Carlos (1961); Escola CondeJos Vicente de Azevedo, Alto do Ipiranga, So Paulo (1964); Escolade Osasco (1964); Escola de Guarulhos (1967); Escola do Bom

    Retiro, So Paulo (1968); Escola de Limeira (1968). J, ao observar arelao das escolas SESC e SENAC nota-se que 70% dos edifcios

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    [23]

    foram projetados no interior e no litoral paulista: Escola Sesc-Senacde Ribeiro Preto (1955); Escola Sesc-Senac de Marlia (1955); EscolaSesc-Senac de Bauru (1956); Escola Senac de Araraquara (1956, noconstruda); Escola Sesc-Senac de Santos ( 1956); Edifcio Sede em

    So Paulo (1957); Escola Senac de So Jos do Rio Preto (1958);Edifcio Avenida Tiradentes em So Paulo (1963); Escola Senac deBotucatu (1964); Escola Senac de Santo Andr (1964). Destamaneira, tanto para o ensino da indstria, como para o ensino docomrcio, em todo o estado de So Paulo notvel o papel doaperfeioamento tcnico dos trabalhadores no perodo em tela.

    Aps explorar a maneira como os S expressaram naarquitetura de suas escolas as estratgias dos agentes sociaisenvolvidos em sua construo, o captulo 3captulo 3captulo 3captulo 3 segue no sentido dereconhecer o papel destes agentes na construo dosPrincpiostcnicos, educativos e arquitetnicos animadores da Escola Nova

    dos S. Divido em trs partes, este captulo fundamental paracompreender como esta arquitetura moderna brasileira dialogou como paradigma tcnico-econmico predominante no planointernacional, as propostas pedaggicas e o ensejo de seus

    idealizadores no modo de fazer o edifcio-escola. Primeiramente, investigada a hiptese de que o contedo do ensino industrial ecomercial ministrado pelos S esteja ligado aos requisitos daformao profissional focalizados nos quadros do paradigma tcnico-econmico taylorista-fordista, incluindo os avanos da psicologiaaplicada. Qual seria o trabalhador urbano-industrial desejvel noestado de So Paulo? Quais seriam os requisitos do mercado detrabalho da poca? Pensando nestas questes importante notar queeste paradigma tcnico-econmico nasce nos Estados Unidos, no finaldo sculo XIX, no momento da reestruturao produtiva conhecidacomo Segunda Revoluo Industrial. Mas, ao perodo estudado,especialmente aps a Segunda Guerra Mundial, difunde-se pelomundo todo, em primeiro lugar, pela prpria Europa. A posio dosEUA aps o conflito um facilitador. Em So Paulo, o debate deidias introduzido desde os anos da Primeira Guerra, graas a

    lderes empresariais como Roberto Simonsen e Roberto Mange,atualizados no plano das idias, buscaram sempre colocar o Brasil em

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    [24] [introduo]________________________________________________________________________________________________________________________

    contato com a modernidade. No entanto, s nos anos aquiestudados, desde a dcada de 1940, que se chega ao terreno dasprticas. Assim, importante entender o trabalho do SENAI, SESC eSENAC na formao do trabalhador brasileiro dentro de premissaspautadas pelo paradigma tcnico-econmico predominante no planointernacional e de origem norte-americana. Os S pensavam aformao do trabalhador com nfase na prtica, buscando ensinarpor meio da experimentao associada teoria, dentro do princpiotcnico de saber como fazer. Outra vertente relacionada aofordismo a prpria contribuio de Ford arquitetura industrialnorte-americana, referenciada pela historiografia da arquitetura

    moderna, ao reconhecer o valor dos projetos do arquiteto de Ford, Albert Kahn.Na segunda parte deste captulo so evidenciados os mtodos

    pedaggicos de modernizao no ensino industrial e comercial,promovidas pelos educadores Ansio Teixeira (1900-1971) - e seuscompanheiros do movimento pela Escola Nova -, baseados nasidias de John Dewey (1859-1952). O vnculo entre as Amricas enfatizado. As caractersticas pedaggicas implantadas pelos S

    foram baseadas na pedagogia norte-americana? Quais seriam asrepercusses destes mtodos no ensino industrial e comercialbrasileiro? E, ainda mais claramente, como os aspectos educacionaispoderiam estar relacionados s sete caractersticas pedaggica-arquitetnicas das modernas escolas S? De fato, tais indagaesso tratadas de forma cautelosa no decorrer deste captulo,constatando o elo da modernizao no ensino brasileiro.

    A terceira parte do captulo 3 destaca os autores da modernaarquitetura paulista das escolas S, com nfase nos arquitetos eengenheiros de esprito pioneiro, que atuaram fortemente naconstruo da arquitetura moderna escolar na dcada de 1950. Valeaqui sobressair o papel desta gerao tanto na construo dos Scomo na arquitetura moderna brasileira enquanto resposta prpria,nacional aos problemas de seu tempo. Primeiramente, pela ordemcronolgica das escolas projetadas, estabelecida a primeira gerao

    dos autores S pelos projetos concebidos para o SENAI - Hlio deQueiroz Duarte, Ernest Robert de Carvalho Mange e Roberto Jos

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    [25]

    Goulart Tibau - e, para os SESC e SENAC - Oswaldo CorraGonalves, Eduardo Corona, Rubens Carneiro Viana e RicardoSiervers. Esta gerao, alm de ser a pioneira a projetar os Smodernos, tambm assim denominada por ser representada pelos

    arquitetos e engenheiros que j vinham atuando anos antes noConvnio Escolar. Alm desta primeira gerao, apoiada por RobertoMange e pela atuao do engenheiro Luiz Alfredo Falco Bauer, apartir de 1957 outros nomes foram surgindo e formando a segundagerao dos S. No SENAI destacam-se Lcio Grinover, AyakoNishikawa, Melanias M. Nagamini, Luiz Carlos Costa e Ariaki Kato e,no SESC e no SENAC, Osmar Tosi, Adolfo Rubio Morales, JorgeWilheim e Miguel Juliano e Silva. Como referncia brasileira, asmodernas escolas S paulistas revelam-se uma marca da consistenterelao entre estas duas geraes que, ao atender os diferentesrequisitos da indstria e do comrcio, caracterizam diferentemente ostraos de cada edifcio-escola.

    Atingindo o objetivo principal de ampliar a perspectiva deanlise da arquitetura moderna brasileira, dentro do processo deinvestigar, documentar e compreender o alcance da arquitetura

    moderna produzida pelas escolas S paulistas, que culmina oprojetar para a formao do trabalhador. Por fim, as consideraesfinais desta tese tratam do dilogo entre Brasil e Estados Unidos naarquitetura das escolas vocacionais - por meio de dados japresentados nos captulo 1, 2 e 3 e, do estado atual deconservao arquitetnica de alguns exemplares das escolasmodernas S, por meio de levantamento fotogrfico. Com asmudanas sociais e econmicas do final do sculo XX, qual ser odestino das modernas escolas dos S, marcos da arquiteturabrasileira?

    Como toda pesquisa, alm de algumas respostas, esta teseoferece muitas novas indagaes.

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    As origens e referncias dos S :SENAI, SESC e SENAC

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    As origens e referncias dos S: SENAI, SESC e SENAC_____________________________________________________________________________________________________________

    [29]

    [[[[captulo 1captulo 1captulo 1captulo 1]]]] As origens e referncias dos S: As origens e referncias dos S: As origens e referncias dos S: As origens e referncias dos S:

    SENAI, SESC e SENACSENAI, SESC e SENACSENAI, SESC e SENACSENAI, SESC e SENAC

    Com o intuito de ampliar a perspectiva de anlise daarquitetura moderna brasileira, preciso ressaltar, na rea escolar, aimportante produo que se destacou no estado de So Paulo comoparte de um sistema de formao do trabalhador, os trs S: SENAI(Servio Nacional da Aprendizagem Industrial), SESC (Servio Socialdo Comrcio) e SENAC (Servio Nacional de Aprendizagem

    Comercial). Para tal, necessrio, neste estudo, analisar os agentessociais envolvidos com a fundao e o funcionamento de cada S,durante o perodo em foco. Embora a compreenso dos S sejafundamental, este estudo no pretende dar conta de todos os aspectosda histria institucional desses rgos. Pelo contrrio, interessa pesquisa explorar a maneira como estes Servios expressaram naarquitetura de suas escolas, as estratgias dos agentes sociaisenvolvidos em sua construo, fossem eles empresrios industriais,comerciais ou outros profissionais, todos eles comprometidos empromover uma verdadeira reforma social atravs da introduo dotrabalhador brasileiro na vida urbana moderna.

    A criao dos S, do Estado Novo ao perodo ps-SegundaGuerra Mundial, entendida como uma resposta aos problemas daeconomia nacional, num momento histrico em que o Brasil vivia umperodo de desenvolvimento da industrializao. Ao mesmo tempo,

    este captulo procura construir uma abordagem histrica dasmudanas na orientao metodolgica e da poltica educacionalbrasileira, acompanhando suas influncias e sua evoluo da dcadade 1920 at o final da dcada de 1960.

    A pesquisa atenta tambm para a importncia das refernciasinternacionais que informavam as opes pedaggicas, industriais earquitetnicas adotadas pelos Servios estudados aqui. Neste sentido,no contexto do movimento social norte-americano denominado comoprogressivismo, foi importante compreender o aumento dademanda por escolas tcnicas e pelo ensino adulto. no mbito deste

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    [30] [captulo 1]________________________________________________________________________________________________________________________

    movimento que se d a mudana pedaggica naquele pas, as novassolues projetuais utilizadas e, a compreenso do edifcio-escolacomo influncia na atitude, hbito, comportamento e criatividade doindivduo. Esta experincia norte-americana tem sido menos estudadado que a fundamental referncia encontrada nos pressupostos da Arquitetura Moderna, em especial a influncia dos CIAMs1 e daBauhaus2, que permitem compreender de que maneira o propsito deuma nova vida social implicou em abranger vrios aspectos ao criaruma nova arquitetura.

    O interessante perceber como certos aspectos do edifciomoderno acabaram por ter como objetivo serem estimuladores de

    uma forma de vida democrtica. Muitas destas caractersticas fsicasesto presentes nas modernas escolas S. Analis-las, levando emconta sua histria e os fundamentos sociais da sua produo oobjetivo desta pesquisa.

    1 Alm da experincia norte-americana de uma arquitetura ps-guerra, a novaarquitetura dos S estava informada a respeito de outras vertentes internacionaisimportantes no iderio do Movimento Moderno. Embora muito conhecida precisolembrar a importncia dos CIAMs (Congressos Internacionais de ArquiteturaModerna) e, dentre eles, ressaltar o objetivo do I CIAM de estabelecer um programageral de ao que visava tirar a arquitetura do impasse acadmico e coloc-la emseu verdadeiro meio econmico e social (KOPP, 1990: 147) atravs de umahabitao para o mnimo nvel de vida. Assim, a arquitetura moderna dos S, aindaque de cunho tcnico, social e econmico, no habitacional, tambm refletiu a suamaneira este pensamento: mostrar o papel que a arquitetura deveria desempenhar nasoluo dos problemas do modo de vida do homem no novo contexto da sociedadeindustrial, romper com a tradio de uma arquitetura pautada por aspectos estticos eevidenciar as relaes entre arquitetura, economia e sociedade. Os S, cada qualcomo uma unidade, buscavam atender ao ensino renovado e arquitetura moderna. Assim, ao voltar ao contexto histrico internacional, esta sntese de aprimoramento ea noo de unidade vm de encontro a propostas j anunciadas no incio do sculo XX.2 Alm dos CIAMs, vale lembrar parte do que Gropius pretendia para a Bauhaus2:uma escola alem de arte e tecnologia idealizada como uma nova unidade, o objetoindustrial produzido visando a grande massa, um ensino pautado entre o paralelismoda prtica e da teoria, o contato com a realidade de trabalho, a experincia de cadaestudante de trabalhar nas oficinas, o produto standard e, a presena de professoresadequados para o xito da formao a obter (GROPIUS, 1997: 29-44). Estesprincpios remetem aos conceitos pedaggicos preconizados principalmente peloSENAI, na dcada de 1950, tais comointerligao, sociabilidade, rendimento eeconomia. Ainda dentro desta relao com a Bauhaus, paralelamente integraodo ensino arquitetura, no Sistema S ntida a evoluo da noo defuncionalidade como uma boa resoluo dos problemas de organizao de locais detrabalho, de reunio e de convvio em comum. Tambm, medida em que aarquitetura dos S propunha tornar o edifcio-escola uma das bases do progressobrasileiro, quer seja na indstria, no comrcio ou nos servios sociais, evidente abusca por solues nos aspectos tcnicos (ventilao e iluminao), sociais (trabalhoem grupo) e espaciais (circulao e integrao entre as partes) tambm assumidas naBauhaus.

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    As origens e referncias dos S: SENAI, SESC e SENAC_____________________________________________________________________________________________________________

    [31]

    1.1 Es1.1 Es1.1 Es1.1 Estado Novo e pstado Novo e pstado Novo e pstado Novo e ps----Segunda Guerra:Segunda Guerra:Segunda Guerra:Segunda Guerra:a criao dos Sa criao dos Sa criao dos Sa criao dos S

    A criao dos S, entre o Estado Novo e a Repblica Nova,tem um carter corporativista dentro de uma dcada marcada pelacrescente presena do Estado nas relaes industriais, cada vez maiordesde o comeo do sculo XX. A responsabilidade pela capacitaoprofissional e por servios sociais voltados aos trabalhadores da

    indstria e do comrcio, foi delegada s organizaes dos S3

    . Pordecreto do governo, adotou-se um modelo de financiamento tripartiteem que Estado, empresrios e trabalhadores de cada setorcontribuam para a manuteno destes Servios. Na prtica, osindustriais brasileiros assumiram o controle do SENAI (e do SESI) e osempresrios do comrcio o controle do SESC e SENAC,desempenhando papel fundamental no desenvolvimento das relaesindustriais e da disciplina de trabalho no Brasil. Assim, os Sbuscaram articular a colaborao entre as classes e diminuir a lutaentre elas, bem aos moldes do que era preconizado poca de suacriao.

    Tendo os S como tema central, oportuno rever a produohistoriogrfica a eles dedicada, lacunar no que diz respeito arquitetura moderna, mas essencial ao trabalho do historiador,abrangendo as contingncias que ajudam a explicar as formas

    assumidas pelo trabalho do SENAI, SENAC e SESC. Primeiramente,cabe destacar os trabalhos publicados pelos prprios Servios, aquiclassificados metodologicamente, como trabalhos institucionais e oucomemorativos.

    Especificamente sobre o SENAISENAISENAISENAI, cabe destacar os trabalhospublicados dentro desta classificao. Dividido em dois volumes, olivroDe homens e mquinas (1991) um inventrio colocado aopblico como instrumento de pesquisa para o conhecimento da

    3 Estes rgos foram financiados e administrados por associaes industriais ecomerciais, do que pelo prprio Estado que os criara.

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    [32] [captulo 1]________________________________________________________________________________________________________________________

    histria do SENAI e do ensino industrial. Apoiando-se nadocumentao deixada por Roberto Mange, apresenta parte doarquivo pessoal do eminente professor, doado ao Arquivo EdgardLeuenroth da Universidade de Campinas (UNICAMP), garantindo oacesso a pesquisadores e reafirmando o sentido histrico desteacervo. Outra referncia na historiografia do SENAI O Giz e a graxa- meio sculo de educao para o trabalho (1992), uma publicaocomemorativa do primeiro sculo do SENAI de So Paulo. Constituium estudo sobre alguns aspectos de industrializao brasileira, antes edepois do SENAI, evidenciando a importncia do mesmo no somentecomo uma instituio prestadora de servios sociedade, atravs do

    preparo do trabalhador industrial, mas como um representante daconcretizao de um projeto educacional brasileiro. Tambm, comopublicao recente,Histrias e Percursos; o Departamento Nacionaldo SENAI 1942-2002 (2002), comemora os 60 anos deste rgo noBrasil, focalizando os personagens que fizeram o SENAI, assim comoo processo de consolidao de seu papel histrico no quadro doensino profissional brasileiro. J dentro das publicaes do SESC,SESC,SESC,SESC,destaca-se oSESC So Paulo 50 anos - uma idia original (1997), um

    livro comemorativo dos primeiros 50 anos deste servio, queapresenta a sntese de sua histria, seus objetivos e algumas de suasescolas. Outro livro institucional, publicado pelo SENAC,SENAC,SENAC,SENAC,Rede deUnidades SENAC-SP: Novos paradigmas arquitetnicos em educao (1994), apesar do ttulo, no aborda as unidades escolares modernasem estudo, mas sim enfatizada os novos paradigmas arquitetnicos4 da dcada de 1980.

    De uma maneira geral, estes livros publicados pelos prpriosS, como um todo, divulgam o objetivo de cada Servio e enfatizamprincipalmente os aspectos positivos de suas atuaes, sem ressaltaruma viso crtica do Servio dentro da histria social brasileira.Tambm, entre os poucos livros que lidam com a arquitetura, nota-sea lacuna na anlise das escolas dos S no perodo delineado poresta pesquisa.

    4 Estes, responderam prtica de aes educacionais e oferta de diversificadosservios educacionais, tais como o exerccio de atividades prticas at odesenvolvimento de softwares.

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    [33]

    Diferentemente das publicaes de carter institucional oucomemorativo, de importncia metodolgica para esta pesquisa olivro publicado por Barbara Weinstein,(Re)Formao da classetrabalhadora no Brasil (1920-1964) como um trabalho de anlise da

    histria social brasileira que muito contribui na compreenso dahistria e premissas dos S, principalmente do SENAI. A autorahistoria a inveno e atuao deste rgo em So Paulo, entre1920 e 1964, e ressalta que seu surgimento significou a vitria deseus idealizadores na tarefa de convencer o Estado e os prpriosindustriais da necessidade de sua existncia. Mais que isso, analisasua contribuio para a implantao de uma organizao racional dotrabalho, treinando uma mo-de-obra especializada, como exemplode uma idia materializada em um projeto de reforma da sociedadebrasileira.

    Consciente do papel dos trs S como organizaesnacionais, esta pesquisa concentra suas atenes no estado de SoPaulo, por uma srie de razes. A primeira, que o estado de SoPaulo , sem dvida, a regio mais industrializada do Brasil econseqentemente sempre foi rea de conflitos entre capital e

    trabalho. A segunda, que a burguesia paulista foi a responsvel pelaconcepo e criao destas trs grandes instituies. Alm disto,embora o entusiasmo pela racionalizao esteja associado Europado ps-Segunda Guerra5, significativamente foram os industriais eengenheiros paulistas que defenderam e implantaram a organizaoracional e administrao cientfica, participando do debateinternacional a respeito desde o incio do sculo XX. Sendo assim, aliderana empresarial paulista teve importante papel poltico eideolgico na histria do Brasil do sculo XX, estendido alm dasfronteiras de seu Estado:

    5 Dentro do processo de difuso do taylorismo vale destacar que a difuso dastcnicas tayloristas ocorre no pas natal de Taylor no primeiro quartel deste sculo(XX). Neste momento, tanto dirigentes industriais quando operrios qualificadosprocuram reorganizar as relaes de trabalho dentro da fbrica: se os primeirosdesejavam quebrar a crescente autonomia dos segundos, obtida em funo doascenso do movimento sindical americano, estes almejavam ampliar sua esfera deinterferncia na definio das condies de trabalho, segundo RAGO & MOREIRA(2003:39). A difuso do taylorismo na Europa s expande-se mais completamente nosegundo ps-Guerra.

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    Contudo, os conceitos de organizao racional eadministrao cientfica no poderiam ser consideradoscomo idias estrangeiras, exceto no sentido maisconvencional de terem surgido fora das fronteiras fsicasdo Brasil. Seria mais apropriado dizer que essas idiasiriam se tornar to intimamente ligadas modernidadeque poderiam facilmente atravessar as fronteiras dequaisquer sociedades em processo de industrializao. Ao mesmo tempo, a organizao racional, no sentidolato, era passvel de modificaes em contextosnacionais especficos.

    (WEINSTEIN, 2000:26)

    Sobre as origens dos S e o papel que estes desempenharamno Brasil, no se pode ignorar as circunstncias histricas em que difundido um discurso sobre a organizao racional, aadministrao cientfica e a paz social, desde a dcada de 1920,entre os educadores, engenheiros e industriais paulistas. O interessepela racionalizao, crescente na dcada de 1920, longe de ser ummodismo, intensificou-se nas dcadas de 1930 e 1940 assumindoformas progressivamente institucionalizadas para sua disseminao

    (ver item 1.2 deste captulo). Como parte da implementao econcretizao do tecido social urbano, industrial e comercial,preconizado por este discurso, surgem os S na dcada de 1940. Apesar desta crescente valorizao da racionalizao durante os anosformativos, cada um dos S encontrou resistncia ideolgica epoltica, deparou-se com oposio s suas atividades e com crticasde empresrios que se opunham e subestimavam o trabalho proposto.Neste sentido, no que diz respeito ao SENAI, Brbara Weinsten (2000)enfatiza:

    As memrias das pessoas ligadas ao SENAI naquelesprimeiros anos sempre mencionam a indiferena ouhostilidade em relao organizao. Segundo umdirigente do SENAI ligado a rea da psicotcnica, osindustriais viam o SENAI como mais uma instituiogovernamental que estava l s para tirar o dinheirodeles Muitos desses depoimentos afirmam que,inicialmente, as indstrias enviavam seus aprendizes

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    menos promissores, os piores alunos ao SENAI, poiseles consideravam o programa como perda de tempo.[...]. Ao que parece, o SENAI, inovador em sua estruturaem seu carter ao mesmo tempo pblico e privado,deparava-se com grande ceticismo entre os industriais.

    (WEINSTEIN, 2000:191-192)

    Assumindo atitudes flexveis, o SENAI, SENAC e SESC foram seadaptando s mudanas polticas, econmicas e culturais brasileiras. Assim, importante relatar separadamente o percurso de cada umdestes trs rgos para melhor compreender suas caractersticasinstitucionais, ainda hoje duradouras. Os Decretos-leis que criaram ostrs S e a legislao posterior regulamentando esses novos serviostraaram apenas o esboo inicial de suas estruturas. Ou seja, amisso de cada S, descrita com preciso e, ao mesmo tempo, sclaras, permitiu aos empresrios da indstria e do comrcio aabertura para aliment-los com programas adequados ao seu tempo. A fundao e o percurso histrico dos S, na prtica, no foramidnticos mas, sem dvida, essas trs organizaes motivaramdiferentes tipos de objees da parte dos empresrios industriais e

    comerciais aos quais prestaram servios. A organizao dos S, intimamente vinculada formao do

    trabalhador incorpora, durante e aps a Segunda Guerra, as questescolocadas pela reestruturao produtiva mundial, conhecida como aSegunda Revoluo Industrial. A criao propriamente dita do SENAISENAISENAISENAI((((DecretoDecretoDecretoDecreto----leileileilei 4.048/4.048/4.048/4.048/1942)1942)1942)1942), em 22 de janeiro de 1942, surge assimdentro do governo de Getlio Vargas (1882-1954)6 num contextopoltico que j havia efetuado a implantao das escolas deaprendizes (Constituio de 1937) e a obrigatoriedade dos cursos deaperfeioamento profissional (Decreto-lei 1.238/1939). Sem dvida,a Confederao Nacional da Indstria(CNI), implantada desde 1938,propiciara o surgimento do primeiro S, SENAI. Ao trmino daSegunda Guerra e com a expanso das indstrias nacionais, aimportncia da formao e do treinamento profissional tornou-se

    6 Getlio Vargas, ditador do Brasil durante o Estado Novo (1937-1945), apoiou acriao do SENAI em 1942. Segundo FAUSTO (1994:335), entre 1930 e 1945 ogoverno Vargas passou por vrias fases, mas desde logo a poltica trabalhistaaparece como um dos aspectos mais coerentes de seu governo.

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    [36] [captulo 1]________________________________________________________________________________________________________________________

    cada vez mais evidente, culminando na criao daConfederaoNacional do Comrcio(CNC), em 1945. Em 1946, no governoprovisrio de Jos Linhares (1886-1957)7, criado o SENACSENACSENACSENAC(Decretos(Decretos(Decretos(Decretos----lei 8.621/1946)lei 8.621/1946)lei 8.621/1946)lei 8.621/1946)8888, em 10 de janeiro de 1946, no mesmodia em que a primeira diretoria do CNC toma posse9. Posteriormente,o governo Dutra (1883-1974)10 criou o SESC ((((DecretoDecretoDecretoDecreto----LeiLeiLeiLei9.853/1946)9.853/1946)9.853/1946)9.853/1946), em 13 de setembro de 1946, atribuindo CNC aincumbncia de criar a entidade desde logo denominada ServioSocial do Comrcio, com a finalidade de promover o bem-estarsocial.

    Lderes empresariais, entre eles Roberto Simonsen, tornaram

    ento a iniciativa de consolidar as Confederaes da Indstria e doComrcio, como rgos de cpula do setor sindical empresarial,instituindo, paralelamente o SENAI - SESI, em 1945, e o SESC -SENAC, em 1946. Assim, criado o modelar sistema deaprendizagem profissional e servio social dos industririos e doscomercirios brasileiros. Especificamente quanto ao SENAI,SENAI,SENAI,SENAI, valeressaltar que o Ministro da Educao Gustavo Capanema11, nombito da Reforma Capanema, em 1942, regulamentou asLeis

    Orgnicas do Ensino, compostas por Decretos-lei12 que estruturaram oensino industrial e comercial, sendo responsvel pela criao do

    7 Jos Linhares, advogado, foi presidente da Repblica durante trs meses e cincodias, de 29 de outubro de 1945 a 31 de janeiro de 1946. Exerceu a presidncia porconvocao das Foras Armadas, como presidente do Supremo Tribunal Federal,aps a derrubada de Vargas (FAUSTO, 1994).8 O presidente Jos Linhares baixou os Decretos-leis 8.621 e 8.622 em 10 de janeirode 1946, sendo o primeiro para atribuir CNC o encargo de organizar e administrarescolas de aprendizagem comercial, criando o Servio Nacional de AprendizagemComercial, e o segundo, para regulamentar a aprendizagem dos comercirios(Decretos-leis 8.621 e 8.622).9 A primeira diretoria da Confederao do Comrcio tomou posse em 10 de janeirode 1946, em sesso solene realizada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro (SENAI,1991).10 O general General Eurico Gaspar Dutra toma posse como Presidente da Repblicado Brasil em 31 de janeiro de 1946. Seu governo foi marcado pela promulgao danova Carta Constitucional, em 18 de setembro de 1946, que regeu a vida do pas,com carter liberal e democrtico, por mais duas dcadas (FAUSTO, 1994). Dutratambm foi o responsvel pela criao de outro S, o Servio Social da Indstria(SESI), em 25 de junho de 1946, conforme Decreto-lei 9.403/1946.11 Gustavo Capanema esteve frente do Ministrio da Educao durante o governoGetlio Vargas, de 1934 a 1945 (FAUSTO, 1994:337). O papel de Capanema foiimportantssimo no ensino brasileiro e pode ser explorado emTempos de Capanema (SCHWARTZMAN, BOMENY & COSTA, 1984).12 Foram estes os Decretos-lei: Decreto-lei 4.073, de 30 de janeiro de 1942, queorganizou o ensino industrial; Decreto-lei 4.048, de 22 de janeiro de 1942, queinstituiu o SENAI; Decreto-lei 4.244, de 9 de abril de 1942, que organizou o ensinosecundrio em dois ciclos: o ginasial, com quatro anos, e o colegial, com trs anos;Decreto-lei 6.141, de 28 de dezembro de 1943, que reformou o ensino comercial.

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    prprio SENAI. Assim, o Decreto-lei 4.048/1942 cria o SENAI com ointuito de propiciar a organizao e a administrao, em todo Pas, deescolas de aprendizagem para industririos e, ao mesmo tempo,fornece aos industriais um escudo tcnico para enfrentar uma nova

    era de mobilizao sindical e democratizao. Dentro do processo decriao e expanso do SENAI, o empresariado industrial brasileiroreconheceu a necessidade de instituir no apenas a aprendizagem demenores como tambm o treinamento, aperfeioamento e aespecializao dos empregados adultos (BOLONHA, 1969:3).

    Para entender a criao do SENAI, antes mesmo daLeiOrgnica do Ensino Industrial13, preciso evidenciar a atuao dedois personagens histricos: Roberto Cochrane Simonsen (1889-1948)14, engenheiro civil formado na Escola Politcnica de So Pauloem 1909 (GITAHY & PEREIRA, 2002:139) e, Roberto Mange (1885-1955)15, engenheiro formado pela Escola Politcnica de Zurique em1910 (SENAI, 1991:9).

    13 Esta lei foi assinada oito dias aps a criao do SENAI, conforme Decreto-lei4.073, de 30 de janeiro de 1942, que organizou o ensino industrial.14 A trajetria de Roberto Simonsen estritamente relacionada ao estudo proposto.Engenheiro civil adepto dotaylorismo, Simonsen comeou a discutir a racionalizaodo trabalho j durante o funcionamento de sua empresa, a Companhia Construtorade Santos (fundada em 1912). Nos anos seguintes, investiu em outros setores, comoa indstria de materiais de construo. Em 1916, fundou e passou a presidir o Centrodos Construtores e Industriais de Santos, que objetivava inovar nas relaes entrepatres e empregados no Brasil. Em 1928, atendendo aos industriais paulistas, foicriado o Centro das Indstrias do Estado de So Paulo (CIESP), de cuja primeiradiretoria Roberto Simonsen fez parte como vice-presidente. Foi responsvel pelacriao do IDORT, em 1932. Em 1935 assumiu a presidncia da ConfederaoIndustrial do Brasil (CIB), posteriormente rebatizada como Confederao Nacional daIndstria (CNI). Em 1937, assumiu a presidncia da Federao das Indstrias doEstado de So Paulo (FIESP). Em 1942, no ano da criao do SENAI, Simonsen foinomeado para o conselho consultivo da Coordenao de Mobilizao Econmica,rgo federal que desempenhou importante papel na conduo da economiabrasileira no contexto da Segunda Guerra Mundial (SENAI, 1992). Assim, sualiderana foi evidente na modernizao industrial brasileira do perodo. Ao falecer,Simonsen era, alm de senador, presidente da Companhia Construtora de So Paulo,presidente da Cermica So Caetano, presidente da Companhia Paulista deMinerao, presidente da Federao das Indstrias do Estado de So Paulo, vice-presidente da Confederao Nacional de Indstrias e vice-presidente do ConselhoSuperior da Escola Livre de Sociologia e Poltica.15 Roberto Mange foi um dos fundadores do IDORT junto com os engenheiros Armando de Salles Oliveira e Aldo Mrio de Azevedo (tambm diretor do CIESP entre1930 e 1931), e os empresrios Henrique Dumont Villares e Lus Tavares AlvesPereira, que desempenharam papis importantes na organizao da indstria no pas.O Instituto de Organizao Racional do Trabalho surgiu a partir do trabalho de umacomisso constituda em 1929 pela Associao Comercial de So Paulo, que gerou oInstituto Paulista de Eficincia, transformado em junho de 1931 em IDORT. O Institutointegraria um sistema de instituies cujo objetivo era organizar a elite industrialbrasileira e viabilizar projetos formulados pela categoria. Haveria de integrar estesistema o CIESP (transformada em 1931 em FIESP), o IDORT, o SENAI, o SESI e aEscola Livre de Sociologia e Poltica de So Paulo. O aumento da produtividade, viaracionalizao do trabalho e a promoo da cooperao entre operrio e patro,

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    Simonsen, frente da Federao das Indstrias doEstado de So Paulo, percebia com clareza aimportncia da mo-de-obra qualificada para acontinuidade do crescimento industrial, principalmentede So Paulo. Roberto Mange, professor da Politcnicade So Paulo, era o pioneiro, no Brasil, no emprego demtodos racionais na formao de trabalhadores eaplicava seus conhecimentos em diversas entidadespaulistas, alm de dar assessoria ao prprio Ministrioda Educao e Sade. Do encontro dos dois, ocorridoainda nos anos 30, resultou no s uma slidaamizade, mas tambm a concepo de muitosprojetos.

    (SENAI, 1992: 56)

    Com o SENAI, Roberto Simonsen e Roberto Mangeconsolidaram uma srie de realizaes que vinham desenvolvendodesde a dcada de 1920, cada um atuando em seu campo,entretanto com o objetivo comum de colocar o Brasil em contato coma modernidade da Segunda Revoluo Industrial.

    Durante o perodo que vai de meados da dcada de

    1920 a meados da dcada de 1930, o entusiasmo daslideranas dos industriais brasileiros e de seus aliadosintelectuais pela racionalizao e pela administraocientfica se manteve. Embora as idias expressas emprimeiro lugar por Roberto Simonsen e Roberto Mangena dcada anterior tenham sofrido algumasmodificaes, o interesse pelo taylorismo bsico e pelosprincpios fordistas aumentou e assumiu novas formasinstitucionais.

    (WEINSTEIN, 2000: 71)

    A aparente precocidade do movimento de racionalizao nocontexto brasileiro est vinculada s carreiras destes dois homens,

    solidria com este aumento, era o objetivo central do IDORT (CORREIA, 2002:1). trajetria de Mange, suas idias revelam sua fundamental atuao no SENAI. Mangeassumiu o Departamento Regional de So Paulo do SENAI em 28 de agosto de1942, at 1955, ano de sua morte. Salienta-se que primeiramente, a partir de 1942,Mange adotou a idia das escolas funcionarem em edifcios emprestados, aschamadas instalaes provisrias. Posteriormente, no incio da dcada de 1950, apsestudos feitos como diretor do Departamento, Mange ressaltou a necessidade deadaptar o SENAI s caractersticas intrnsecas do aluno, inclusive arquitetura desuas escolas, uma feio particular e inconfundvel. Assim, a idia de construir novasescolas foi por ele reconhecida (SENAI, 1992).

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    engenheiros que representaram de formas inter-relacionadas asaspiraes daqueles que defendiam a racionalizao como umasoluo para os problemas econmicos e sociais brasileiros. Osengenheiros Robertos, um que se tornou industrial e o outro que se

    tornou educador, assumiram de diferentes formas a disseminao eimplementao dos princpios da organizao racional do trabalho,principalmente em So Paulo. Neste sentido, os S so exemplaresdestas formas progressivamente institucionalizadas.

    Apesar da racionalizao estar diretamente ligada economiaindustrial e aos agentes sociais a ela associados, cabe destacar queestes no estavam sozinhos, mas sim em contato com um crescentegrupo16 (educadores, mdicos, engenheiros e outros profissionais) quetambm trabalhou pela racionalizao, porm como uma baseideolgica. Para eles, o mtodo cientfico era um meio de reorganizarno somente a indstria e o comrcio, mas tambm a sociedadebrasileira. Dentro deste pressuposto e, no que tange ao escopo destatese, Roberto Mange figura proeminente deste grupo de profissionaise intelectuais, nitidamente presente na criao e na histria do SENAI.

    O trabalho do SENAI, pioneiro no Brasil, teve suas origens

    ligadas ao IDORT - Instituto de Organizao Racional do Trabalho(1931) e ao CFESP - Centro Ferrovirio de Ensino e SeleoProfissional (1934), e, nas suas origens, esteve fortemente ligado ferrovia17 (SENAI, 1992:59). A histria destes rgos no objetoaqui, entretanto marcante no caso do SENAI a presena e ainfluncia dos que atuaram neste cenrio dos anos 1930 no Brasil.

    Embora fundamentais, operrios qualificados no so

    a nica necessidade da sociedade industrial em seuconjunto. Aos novos mtodos de aprendizagem eproduo devem ser associados ritmos de vida ecomportamentos, destinados a reforar essa pedagogiado industrialismo, e isso vai acontecer nas escolas, nasfbricas, nos escritrios, nas ruas e at nas casas. Para

    16 Este grupo, j originado no IDORT, era formado por proeminentes educadorescomo Loureno Filho e Fernando de Azevedo, mdicos como Geraldo de Paula Souzae Moacyr Alvaro e, engenheiros como Gaspar Ricardo Jnior e Roberto Mange(WEINSTEIN, 2000:46).17 At 1952 o ensino ferrovirio oferecido pelo SENAI achava-se centralizado noDepartamento Regional de So Paulo, onde funcionava o Servio de EscolasFerrovirias e de Iseno (SENAI, 2002:41).

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    dar conta desse conjunto de exigncias, no inverno de1931, foi inaugurado o Instituto de OrganizaoRacional do Trabalho IDORT. Desta vez, coube Associao Comercial de So Paulo patrocinar osestudos destinados implantao desse veculofundamental de estudo, promoo e aplicao dosprincpios da organizao racional do trabalho. [...].Loureno Filho, educador; Armando de Salles Oliveira,engenheiro e diretor do jornal O Estado de So Paulo; Aldo Mrio de Azevedo e Henrique Dumont Villares,industriais; Geraldo de Paula Souza e Antnio CarlosPacheco e Silva, mdicos; Roberto Mange, engenheiro,diretor da Escola Profissional de Mecnica do Liceu de Artes e Ofcios, coordenador do Instituto de Higiene de

    So Paulo... Essas as personagens principais da histriados primeiros anos do IDORT, com Roberto Mange,mais uma vez, ocupando papel de destaque.

    (SENAI, 1991: 98-99)

    A experincia de Roberto Mange funde-se com sua ntimarelao com o SENAI. A questo da qualificao tcnica da mo-de-obra j vinha sendo por ele encaminhada e experimentada18, pormainda com abrangncia limitada. Por fora da aproximao entregoverno e empresrios, esta questo, que tomou corpo na dcada de1930, tornou-se incontestvel na dcada de 1940. Mais uma vez, naconcretizao dos planos para a ampliao e aperfeioamento doensino profissional para a indstria, a atuao de Roberto Mange,fundamental para o SENAI, estendeu-se da criao em 1942, at suamorte, em 1955, sempre como diretor do Departamento Regional de

    So Paulo (6 Regio).Desde a Primeira Guerra Mundial, os trabalhadores brasileiros

    viveram a transio de uma economia agrria para a crescenteurbanizao e industrializao, aceleradas pelas dificuldades deimportao causadas pela mesma. Esta transio apontou a utilidadede um programa de treinamento para a adaptao dos trabalhadoresaos novos mtodos construtivos e de tcnicas industriais. O SENAI foium promissor programa de treinamento padronizado" (MINDLIN,

    18 Entre essas, alm das aes de Mange no IDORT (1931) e no CFESP (1934),destaca-se sua atuao no Liceu de Artes e Ofcios, na dcada de 1920, comodiretor do Curso Profissional de Mecnica (ver captulo 3).

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    1999:31) que colaborou por reduzir os problemas tcnicos dasconstrues, juntamente com o crescimento das indstrias locais. Almdisso, sua atuao no se restringiu somente a um padro cientficopara a formao profissional, mas tambm foi referencial para

    experincias em outras reas19

    .O alcance territorial do SENAI evidente, desde 1942,

    quando foi organizado nacionalmente em dez regies administrativas,de acordo com suas respectivas atividades industriais. Essaestruturao era composta por: 1 Regio - Maranho, Piau e Cear;2 Regio - Rio Grande do Norte, Paraba, Pernambuco e Alagoas, 3Regio - Sergipe e Bahia, 4 Regio - Rio de Janeiro e Esprito Santo;5 Regio - Minas Gerais; 6 Regio - So Paulo; 7 Regio - Parane Santa Catarina; 8 Regio - Rio Grande do Sul; 9 Regio - Par, Amazonas e os territrios do Amap, Rio Branco e Acre; 10 Regio -Mato Grosso, Gois e territrio de Guapor (atual Rondnia).

    No que diz respeito infra-estrutura e arquitetura dasprimeiras escolas SENAI, na dcada de sua formao, os edifciosseguiram padres tradicionais, com linguagens do ecletismo aoracionalismo, e refletiram as fases distintas de evoluo da indstria:

    de instalaes provisrias em prdios emprestados a projetos deprdios definitivos e prprios. Nesta fase, algumas destas escolasforam projetadas pela empresa Severo Villares20, projeto do escritrioTcnico Ramos de Azevedo21. J no final da dcada de 1940, o

    19 Como por exemplo, no que diz respeito racionalizao na moradia, o IDORTdesempenhou no pas um papel central na aplicao do taylorismo na organizaoda moradia, difundindo idias e prticas referentes construo, ao projeto e arranjointerno da casa e reorganizao das tarefas domsticas, de modo a aumentar aeficincia no mbito dos diferentes aspectos associados habitao. Ainda nasdcadas de trinta e quarenta, alguns arquitetos e engenheiros como Affonso Reidy,Carmen Portinho e Henrique Mindlin, contriburam atravs de escritos e de realizaespara difundir concepes de racionalizao da habitao postuladas nos primeirosCongressos Internacionais de Arquitetura Moderna (CIAM). Tambm, iniciativas nocampo da moradia foram realizadas pelos Institutos de Aposentadorias e Penses,especialmente pelo Instituto dos Industririos (CORREIA, 2004).20 Caracterizadas pela segunda fasegunda fasegunda fasegunda fasesesese da dcada de 1940, estas escolas foramconstrudas em terrenos prprios do SENAI, com o projeto de prdios definitivos, como estudo das necessidades industriais e com o incio de muitas construes. Por isso,nessas escolas, foi dada nfase especial ao que se refere s oficinas para aprendizes,indispensveis ao desenvolvimento do sistema SENAI. Numa fase preliminar de ao,estas novas escolas tinham uma arquitetura tradicional, com aspecto aproximado doneoclssico, padro utilizado em edifcios ainda hoje existentes, conformeapresentado no captulo 2.21 Vale lembrar que a carreira de Francisco de Paula Ramos de Azevedo (1851-1928)esteve diretamente relacionada com Roberto Mange, primeiramente, na dcada de1910, na Escola Politcnica de So Paulo e, na dcada de 1920, no Liceu de Artes eOfcios (GITAHY, 1986).

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    momento de avaliao do desempenho do SENAI desencadeou umamudana arquitetnica. Mange, aps estudos feitos como diretor doSENAI, evidenciou no incio da dcada de 1950 a necessidade de seadaptar toda a organizao do ensino s caractersticas intrnsecasdo aluno SENAI, inclusive arquitetura de seus estabelecimentos deensino, uma feio eminentemente particular e inconfundvel (BAUER,1953:6). Assim, a partir da dcada de 1950, a idia de construirnovas escolas foi reconhecida.

    Seguindo a mesma trajetria de criao do SENAI, o SENAC,SENAC,SENAC,SENAC,em 1946, j no fim do Estado Novo e durante o Governo Provisrio,foi regulamentado pelo Ministrio da Educao e Sade Pblica, que

    neste momento estava a cargo de Raul Leito da Cunha. ALeiOrgnica do Ensino Primrio, composta por Decretos-lei22 queregulamentaram o ensino primrio, normal e agrcola, tambm foiresponsvel pelo Decreto-lei 8.621/1946 que cria o SENAC. Com ointuito de propiciar a organizao e administrao, em todo o Pas23,de escolas de aprendizagem comercial para empregados do setorcomercial, o SENAC estava concretizando as mudanas exigidas pelasociedade aps a Revoluo de 1930.

    O Decreto-lei 8.621/1946, antes de dispor sobre a criaodo SENAC, no artigo 2, atribui CNC o encargo de organizar eadministrar, no territrio nacional, escolas de aprendizagemcomercial e, estas escolas, deveriam manter cursos de continuaoou prticos e de especializao para os empregados adultos docomrcio, no sujeitos aprendizagem. Precisamente, no artigo 3,os objetivos educacionais e sociais do SENAC so delineados:

    22 Foram estes os Decretos-lei: Decreto-lei 8.529, de 02 de janeiro de 1946, paraorganizar o ensino primrio a nvel nacional; Decreto-lei 8.530, de 02 de janeiro de1946, para organizar o ensino normal; Decretos-lei n 8.621 e 8.622, de 10 dejaneiro de 1946, que criaram o SENAC; Decreto-lei n. 9.613 de 20 de agosto de1946, para organizar o ensino agrcola.23 Segundo informaes obtidas naMemria Institucional do SENAC em So Paulo,sob os cuidados de Lgia Palhares Silva, o SENAC foi sediado na Capital Federal edescentralizado por meio de Conselhos Regionais e Departamentos Regionais, sendoque o Conselho Regional do Estado de So Paulo, eleito em 13 de julho de 1946, foio primeiro do Brasil a iniciar suas atividades e a planejar seu rgo executivo, oDepartamento Regional de So Paulo. O SENAC de So Paulo foi ento instalado doprdio da Associao Comercial de So Paulo, no dia 1o de setembro de 1946,iniciando sua contribuio no desenvolvimento da ao educacional em comrcio eservios. Ainda, em dezembro de 1946, a Administrao Regional passou a ocuparprdio prprio, na rua Florncio de Abreu, 305, em So Paulo. No ano de 1950, oSENAC foi transferido deste prdio para prdio alugado na Rua Vieira de Carvalho,172 e o prdio at ento ocupado foi adquirido pelo SESC-SP.

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    O SENAC dever tambm colaborar na obra dedifuso e aperfeioamento do ensino comercial deformao e do ensino imediato que com ele serelacionar diretamente, para o que promover osacordos necessrios, especialmente com

    estabelecimentos de ensino comercial reconhecidospelo Governo Federal, exigindo sempre, em troca doauxlio financeiro que der, melhoria do aparelhamentoescolar e determinado nmero de matrculas gratuitaspara comercirios, seus filhos, ou estudantes a queprovadamente faltarem os recursos necessrios.

    (Decreto-lei 8.621/1946, artigo 3)

    Sucessivamente foi criado o SESCSESCSESCSESC atravs do decreto-lei

    9.853, no dia 13 de setembro de 1946, publicado trs dias depois noDirio Oficial da Unio. Em seu artigo 1o, este decreto-lei tambmatribui Confederao do Comrcio o encargo de criar o ServioSocial do Comrcio, da mesma forma como foi estabelecido oSENAC, com os objetivos de "planejar e executar, direta ouindiretamente, medidas que contribuam para o bem-estar social e amelhoria do padro de vida dos comercirios e de suas famlias, ebem assim para o aperfeioamento moral e cvico da coletividade".J o artigo 3 instituiu uma contribuio compulsria (um pequenoporcentual sobre o montante da folha de pagamento dosempregados), em favor do SESC, "para custeio dos seus encargos" edefine como contribuintes os estabelecimentos comerciaisenquadrados nas entidades sindicais subordinadas ConfederaoNacional do Comrcio e os demais empregadores que possuamempregados segurados no IAPC (o antigo Instituto de Aposentadoria e

    Penses dos Comercirios). Desta forma, o decreto-lei de 1946, almde criar o bem estar social, conferiu estrutura ao sistema sindical,pois a obrigao de contribuir para o SESC estabeleceu a vinculaoda empresa (os estabelecimentos comerciais) CNC.

    Apenas cinco dias aps a criao do SESC vale lembrar quefoi promulgada a nova Carta Constitucional, em 18 de setembro de1946, a qual orientou a vida do pas por mais duas dcadas, comcarter liberal e democrtico. Esta nova Constituio, na rea daeducao, determinava a obrigatoriedade do ensino primrio ediretrizes para as bases da educao nacional. Alm disso, a nova

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    Constituio fez voltar o preceito de que a educao direito detodos, inspirada nos princpios proclamados pelo Manifesto dosPioneiros da Educao Nova, nos primeiros anos da dcada de 30. Assim, a criao do SESC, assim como o SESI, adotou modelosemelhante, cabendo a essas entidades privadas estudar, planejar eexecutar medidas para o bem-estar social e a melhoria do padro devida dos trabalhadores do comrcio e da indstria, respectivamente.Completava-se, desse modo, o modelo corporativista que acabou porenvolver a classe empresarial na organizao e manuteno deentidades destinadas execuo de atividades tanto nas reas deservios sociais como de formao profissional.

    Juntas, as unidades SESC e SENAC, instalaram na dcada de1940 as primeiras escolas em municpios como Ribeiro Preto,Santos, Campinas, Bauru, Taubat, So Jos do Rio Preto, Franca, Araatuba, Lins, Botucatu e Araraquara, alm da prpria Capital.Estes edifcios escolares, de linguagem tradicional, assim como asprimeiras escolas do SENAI, foram instaladas em prdios alugados,muitas vezes inadequados para o planejamento funcional epedaggico das atividades propostas de comrcio, servio, cultura e

    lazer. Assim, se neste primeiro momento as instalaes das escolasSESC e SENAC no atenderam aos aspectos da aprendizagem, j noincio da dcada de 1950 a concepo de seus espaos educacionaisfoi modificada.

    Ainda, a coexistncia se destaca na criao tanto do SESCcomo do SENAC. Alm de terem sido criados pela CNC, com osdecretos-lei baixados pelo Governo Federal, ambos foram resposta

    aos problemas da economia nacional, discutidos um ano antes, em1945, na chamadaConferncia das Classes Produtoras do Brasil. Vale lembrar que esta Conferncia ocorreu entre os dias 1 e 6 demaio de 1945, na cidade de Terespolis, no Rio de Janeiro, nummomento em que a Segunda Guerra Mundial estava chegando ao fime o Brasil vivia um perodo de industrializao e de comrcio emdesenvolvimento, no qual a produo nacional colaborou nasubstituio das importaes e no processo de urbanizao. Os

    empresrios brasileiros que se reuniram nesta Conferncia,representantes da agricultura, indstria e comrcio, divulgaram um

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    documento denominadoCarta Econmica de Terespolis, o qualrecomendava ao Governo Federal medidas para atender screscentes necessidades de trabalho na rea mercantil. Estes lderesempresariais propuseram o aperfeioamento do ensino mdio e

    superior do comrcio, economia e administrao, alm do estmulo criao de escolas pr-profissionais. Ainda, segundo SESC (1997:26),estes lderes empresariais fizeram uma srie de recomendaes paraa melhoria das condies gerais da vida da populao brasileira,com o objetivo de encontrar um caminho para a justia social,harmonizando capital e trabalho. Nessa reunio surgiu a carta da PazSocial, implantando a filosofia e o conceito de servios sociaiscusteados tambm pelas classes patronais.

    No h dvida de que os decretos-lei que deram origem aosSENAI, SENAC e SESC, instituram para sua receita a contribuiocompulsria das indstrias e das empresas comerciais, com aconvico de que sem receita financeira estas entidadesevidentemente no poderiam funcionar. Cada um destes decretosestabelecia os encargos de seus respectivos servios, como pode serobservado nos artigos 4 e 5 do decreto-lei 8.621/1946 do SENAC:

    Art. 4 Para o custeio dos encargos do "SENAC", osestabelecimentos comerciais cujas atividades, de acordocom o quadro a que se refere o artigo 577 daConsolidao das Leis do Trabalho, estiveremenquadradas nas Federaes e Sindicatos coordenadospela Confederao Nacional do Comrcio, ficamobrigados ao pagamento mensal de uma contribuioequivalente a um por cento sobre o montante daremunerao paga totalidade dos seus empregados. 1 O montante da remunerao de que trata esteartigo ser o mesmo que servir de base incidncia dacontribuio de previdncia social, devida respectivainstituio de aposentadoria e penses. 2 A arrecadao das contribuies ser feita, pelasinstituies de aposentadoria e penses e o seu produtoser posto disposio do "SENAC", para aplicaoproporcional nas diferentes unidades do pas, deacordo com a correspondente arrecadao, deduzida a

    cota necessria s despesas de carter geral. Quandoas instituies de aposentadoria e penses nopossurem servio prprio de cobrana, entrar o

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    "SENAC" em entendimento com tais rgos a fim de serfeita a arrecadao por intermdio do Banco do Brasil,ministrados os elementos necessrios inscrio dessescontribuintes. 3 Por empregado entende-se todo e qualquerservidor de um estabelecimento, seja qual for a funoou categoria. 4 O recolhimento da contribuio para o "SENAC"ser feito concomitantemente com a da que for devidas instituies de aposentadoria e penses de que osempregados so segurados. Art. 5 Sero tambm contribuintes do "SENAC" asempresas de atividades mistas e que explorem,acessria ou concorrentemente, qualquer ramo

    econmico peculiar aos estabelecimentos comerciais, ea sua contribuio ser calculada, apenas sobre omontante da remunerao paga aos empregados queservirem no setor relativo a esse ramo.

    (Decreto-lei 8.621/1946, artigos 4 e 5)

    No caso do SENAI, segundo WEINSTEIN (2000:120),o critrio para distribuio dos recursos financeiros beneficiou asreas mais industrializadas, porm isso no foi de forma gratuita paraos industriais, responsveis pela sobrevivncia financeira deste rgo.Criadas por um decreto federal, as contribuies eram compulsriasassim como a contratao do nmero de aprendizes na indstria, emfuno do tempo em que cada uma destas indstrias havia garantidoseus estudos.

    De acordo com o decreto-lei, toda empresa industrialdeveria dar uma contribuio mensal de dois cruzeirospor operrio, que depois passou a ser de um por centoda folha de pagamento, para proteger o SENAI dosefeitos da inflao. As empresas com mais de 500operrios eram obrigados a pagar uma sobretaxa de20% dos seus pagamentos mensais, mas essacontribuio adicional era destinada pesquisa e aestgios no exterior, que seriam de maior proveito paraas empresas maiores. [...]. Nesse sentido, o SENAI foraorganizado para combinar os melhores elementos dos

    dois campos: a capacidade de coero do Estado etendncia do setor privado a valorizar a autonomia.

    (WEINSTEIN, 2000:120)

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    As origens e referncias dos S: SENAI, SESC e SENAC_____________________________________________________________________________________________________________

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    A legislao sobre contribuies compulsrias, presente nacriao de cada S, aumentou o poder e o alcance dos mesmos, emtodo o Brasil. Esta base material, na origem dos trs S, refora ocarter corporativista e tripartite do sistema dos S (Estado, empresa

    e sindicato). Durante o Estado Novo, Vargas apelava para um modelocorporativo de Estado, um sistema poltico no qual o poder legislativofoi atribudo s corporaes. Estas corporaes uniam verticalmentesetores industriais, comerciais e outros, em um modelo inspirado noautoritarismo to em voga na poca. Este modelo visava estimular acolaborao entre as classes.

    O Estado, como poder central, buscava consolidar umaestrutura corporativista apresentada como soluo para a eficincia emodernizao, to requeridas naquele momento no Brasil. Emboraestivesse fechado participao poltica da sociedade civil, a eliteempresarial, pricipalmente industrial, conseguiu tornar-se o centro dasdecises atravs de diversos conselhos e comisses tcnicas, queatuavam junto aos ministrios, conforme previsto pela Constituio de1934 e mantido na Constituio de 1937. No caso do SENAI, valelembrar que Roberto Mange participou de vrias dessas comisses,

    tanto ligado ao Ministrio do Trabalho como ao Ministrio daEducao.

    O advento do estado Novo consolidou a participaoda classe empresarial nas instncias governamentais.Multiplicavam-se os rgos tcnicos, principalmenteaqueles ligados ao Ministrio do Trabalho, Indstria eComrcio e ao Ministrio da Educao e Sade.

    (SENAI, 1991:74)

    O SENAI, por exemplo, deve ser visto como fruto de umadestas comisses tcnicas, composta por empresrios industriais, juntoao Estado. Em 1941, um ano antes da criao do SENAI, Getlio Vargas nomeou uma comisso de industriais com o objetivo de queestes estudassem a criao de sistema destinado formaoprofissional. Esta comisso foi composta por Euvaldo Lodi, ValentimBouas e Roberto Simonsen. Estes, para desenvolver o trabalhotcnico, convocaram Roberto Mange, entre outros, para colaborar naelaborao de um projeto de lei para a questo da aprendizagem

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    [48] [captulo 1]________________________________________________________________________________________________________________________

    industrial. Como resultado, esta comisso props a GustavoCapanema, a criao do Servio Nacional de Seleo, Aperfeioamento e Formao de Industririos (SENAFI), a sersustentado a partir de uma taxa mensal, paga pelo empregador sobrecada operrio, cobrada pelo Instituto de Aposentadoria e Penso dosIndustririos (IAPI). Desta forma, os empresrios apresentaram aogoverno uma soluo para a organizao do sistema de ensinoindustrial no pas, benfica para si mesmos, principalmente no que dizrespeito verba obtida com a arrecadao feita pelo IAPI.

    Quase todas as concluses desse relatrio lograramser incorporadas proposta de decreto-lei apresentadapela comisso em dezembro de 1941. Capanema,mais uma vez, levantou inmeras objees s propostasda comisso. [...]. Capanema chegou a expressar suaaverso ao nome da organizao, com sua nfase maisno aperfeioamento que na educao, e recomendouque o programa fosse chamado Servio Nacional paraa Educao Profissional dos Industririos. De nadaadiantaram as crticas de Capanema, exceto peladenominao do programa, mas ainda aqui sal vitria

    foi apenas parcial: no texto final do decreto-lei, a novaorganizao recebeu o nome de Servio Nacional deFormao de Industririos. Era evidente que Vargas noparti