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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ARITANA KELLY LOIOLA COTIDIANO FAMILIAR E O GRUPO TERAPÊUTICO DE FAMÍLIAS DE CRIANÇAS E DE ADOLESCENTES ATENDIDOS NO CAPSi FORTALEZA CE 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

CURSO DE SERVIÇO SOCIAL

ARITANA KELLY LOIOLA

COTIDIANO FAMILIAR E O GRUPO TERAPÊUTICO DE FAMÍLIAS DE CRIANÇAS

E DE ADOLESCENTES ATENDIDOS NO CAPSi

FORTALEZA – CE

2014

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ARITANA KELLY LOIOLA

COTIDIANO FAMILIAR E O GRUPO TERAPÊUTICO DE FAMÍLIAS DE CRIANÇAS E DE ADOLESCENTES ATENDIDOS NO CAPSi

Monografia submetida á aprovação da Coordenação do Curso de Serviço Social do Centro Superior do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Graduação sob orientação da Ms. Suzane de Fátima do Vale Tavares.

FORTALEZA

2014

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Bibliotecário Marksuel Mariz de Lima CRB-3/1274

L834c Loiola, Aritana Kelly

Cotidiano familiar e o grupo terapêutico de famílias de

crianças e de adolescentes atendidos no CAPSi / Aritana Kelly

Loiola. Fortaleza – 2014.

73f.

Orientador: Profª. Ms. Suzane de Fátima do Vale Tavares.

Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) – Faculdade

Cearense, Curso de Serviço Social, 2014.

1. Relações familiares. 2. Sofrimento psíquico. 3. Família. I.

Tavares, Suzane de Fátima do Vale. II. Título

CDU 364

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A Deus, por ser meu guia e essencial em minha vida, por

ser autor de minha vitória e de meu destino. Sem Ele não

teria forças para essa jornada e não teria coragem para

questionar realidades e propor sempre um novo mundo

de possibilidades.

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AGRADECIMENTOS

Tenho a consciência de que esta monografia é resultado de uma jornada

que não iniciou na FaC, envolvendo vários atores que de alguma forma contribuíram

para a conclusão desta etapa em minha vida. Agradecer a todos, será uma tarefa

difícil, então para não cair na injustiça, agradeço de antemão todos aqueles que

conviveram e convivem comigo e que sabem de minha caminhada para chegar até

aqui e sabem o quanto foi batalhado cada período de faculdade. Vocês que

passaram pela minha vida, agradeço pela contribuição.

E agradeço, particularmente, a algumas pessoas pelo apoio direto na

construção deste trabalho:

A minha mãe Sandra Maria e a minha avó Loiola, pelo amor incondicional

e pela credibilidade depositada em mim. Por terem feito e continuarem fazendo tudo

e mais um pouco, por terem acreditado em meu potencial e me oferecem uma

educação de qualidade, por terem me oportunizado momentos enriquecedores e

geradores de caráter, honestidade e valor, por todo o cuidado, dedicação e apoio

para que eu chegasse até esta etapa da minha vida, serei imensamente grata por

tudo.

Ao meu único e inigualável irmão Alan Kardec, por todo o incentivo,

investimento, força e coragem, por todo o apoio tanto nos bons e maus momentos,

pelo pensamento sempre positivo depositado a mim e me levando a buscar novos

conhecimentos e caminhos a trilhar. Sua presença significa segurança e certeza de

que não estou sozinha nessa caminhada.

Aos meus tios Gorethe Loiola, Beto Inácio e Francisco Loiola pela total

confiança em meu sucesso, pelas palavras de determinação e confiança ditas

durante todo o processo, aos conselhos para que estivesse andando pelo caminho

correto sempre e pelo apoio para que eu nunca desista de meus objetivos e ir rumo

as minhas conquistas.

A Aparecida Arruda e Raquel Fontenele, Assistentes Sociais competentes

que participaram ativamente de todo o processo, assim como me supervisionaram

nos estágios obrigatórios de Serviço Social. Agradeço por toda paciência, incentivo e

pelos ensinamentos da profissão. Por fazerem de todo o aprendizado não um

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trabalho, mas um contentamento. Por todos os votos de confiança e palavras de

perseverança. Por me ajudar a descobrir o que fazer de melhor e, assim, fazê-lo

cada vez melhor. Vocês são exemplos de competência, agilidade, profissionalismo,

garra, respeito e acima de tudo amigas, que levarei para toda a minha vida,

A minha orientadora Suzane Tavares, por toda atenção dedicada e boa

vontade em me orientar ao longo do semestre. Por ter me oportunizado momentos

de alegria e descontração, por tudo que já vivemos juntas na época em que

trabalhávamos juntas. Por ser essa pessoa tranquila, a qual me passou confiança,

para que o trabalho fluísse de maneira serena e agradável. Além disso, por ser

competente, amiga, excelente enfermeira e por depositar em mim a confiança e

credibilidade.

A banca examinadora Verbena Paula Sandy e Emanuel Bruno Lopes, que

gentilmente aceitaram meu convite, estes participaram ativamente da minha jornada

como estudante, professores que somaram com meu crescimento.

As famílias que aceitaram participar do estudo e por sua disponibilidade,

assim como todas as que estão inseridas no serviço CAPSi.

Aos amigos de ontem, hoje e sempre Bruna Aguiar, Heloisa Guerreiro,

Verônica Carvalho, Danielle Moura, Érika Nobre, Edson Rodrigues, Danielle

Zaparoli, Fátima Bessa, Ana Soraya Studart, Ré Campos, Edith Ana Ripardo, Taiza

Matos, Cenilce Júnior, Aline Cruz e Suellen Garcia. Por terem me encorajado a

enfrentar esse processo de faculdade, por todas as palavras de força, conselhos

para que eu não desistisse, para que eu seguisse em frente. Vocês contribuíram

diretamente para essa vitória e é com vocês que compartilho tanta alegria, alegria de

tê-los conhecido, pessoas boas e de coração aberto e firme.

Aos amigos de Faculdade, Larissa França, Marcelo Michiles, Fátima

Evilene, Jaqueline de Freitas, Alady Silva e Aline Gomes. Por todo o

companheirismo nesse longo trajeto, por nossos encontros, lutas, alegrias e

decepções. Tenho a certeza que cada um de nós contribuiu e almejou o crescimento

do outro.

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O sucesso nasce do querer, da determinação e

persistência em se chegar a um objetivo. Mesmo não

atingindo o alvo, quem busca e vence obstáculos, no

mínimo fará coisas admiráveis.

José de Alencar

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RESUMO

A assistência em Saúde Mental após a Reforma Psiquiátrica foi caracterizada por

mudanças significativas, que notoriamente trouxeram uma melhor qualidade de vida

à pessoa em sofrimento psíquico e uma aproximação do vínculo entre os membros

familiares. O presente estudo tem como objetivo geral compreender o cotidiano das

participantes do grupo de família que cuidam de crianças e de adolescentes em

sofrimento psíquico atendidas no CAPSi. Trata-se de uma pesquisa qualitativa e

descritiva. Para a coleta dos dados utilizamos a entrevista semiestruturada. Foram

entrevistadas 10 cuidadoras, todas do sexo feminino e que participam regularmente

do grupo terapêutico de família. A análise dos dados foi realizada através da análise

dos discursos das entrevistas coletadas. Os resultados do estudo apontam o

preconceito, a sobrecarga e a abdicação como componentes determinantes no

interior do cotidiano familiar. Constata-se igualmente através das entrevistas que

após a inserção no CAPSi ocorreram transformações positivas na linha do cuidado e

no saber lidar diante do sofrimento psíquico. As análises mostram também que o

atendimento ao grupo de família é considerado como uma atividade de apoio

fundamental para uma melhor compreensão de explicação e contribuição para o

saber lidar cotidiano com as crianças e adolescentes em sofrimento psíquico. Esse

trabalho favorece a integração das famílias e uma avaliação positiva do serviço

CAPSi. Em suma, este estudo constitui-se em uma contribuição às famílias

envolvidas, reforça a necessidade da intervenção profissional do Assistente Social

por meio de uma melhor compreensão das relações familiares e contribui para

aprofundar a reflexão a cerca do sofrimento psíquico.

Palavras Chave: Relações familiares. Sofrimento Psíquico. Família.

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RÉSUMÉ

L’assistance à la santé mentale après la réforme psychiatrique au Brésil a été

caractérisée par des changements importants, qui, de toute évidence, ont apporté

une meilleure qualité de vie pour les personnes en détresse psychologique et une

liaison plus proche entre les membres de la famille. La présente étude a comme but

une meilleure compréhension du quotidien des participants des groupes de familles

qui prennent soin des enfants et des adolescents en détresse psychologique dans le

Capsi. Il s'agit d'une recherche qualitative et descriptive. Pour recueillir les données,

nous avons utilisé la technique de l’entrevue semi-structurée. Dix soignantes qui

participent régulièrement du groupe thérapeutique familial ont été interviewées.

L'interprétation des données a été réalisée à travers l'analyse des discours recueillis.

Les résultats de l'étude montrent que les préjugés, la charge de travail et l'abdication

comme déterminants dans les composantes dynamiques de la famille. Cependant,

selon les interviewées, des changements positifs en ce qui concerne les soins et

l'adaptation sur la détresse psychologique sont survenus après l’insertion de la

famille dans le Capsi. Les analyses montrent également que le soutien au groupe

familial par le Capsi est considéré comme une activité d’une importance

fondamentale pour une meilleure compréhension du travail de soutien auprès des

familles et du support à l’égard les enfants et adolescents en détresse ou souffrance

psychique ou psychologique. On souligne également que ce travail améliore

l'intégration des familles et suscite une évaluation positive du service Capsi. En

résumé, cette étude constitue une contribution aux familles concernées, renforce

l’approche professionnelle du travailleur social et permet une meilleure

compréhension du quotidien des familles en détresse et aide à approfondir la

discussion sur la souffrance psychologique.

Mots-clés: Les relations familiales. Détresse psychique. Famille.

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LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS

BPC Benefício de Prestação Continuada

CAPS Centro de Atenção Psicossocial

CAPSi Centro de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenil

CAPS –AD Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas

CEBES Centro Brasileiro de Estudos de Saúde

HSMM Hospital de Saúde Mental de Messejana

MTSM Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

NAPS Núcleo de Atenção Psicossocial

PTS Plano Terapêutico Singular

PTM Portador de Transtorno Mental

SR Secretaria Regional

SMS Secretaria Municipal de Saúde

SUS Sistema Único de Saúde

TCLE Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................... 11

2 BREVE HISTÓRICO ACERCA DA ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL .......................... 17

2.1 Reforma Psiquiátrica e o atendimento em saúde mental no Brasil ............................. 17

2.2 O Serviço Social e sua inserção na área de saúde mental ......................................... 21

2.3 A família e sua relação com a criança e o adolescente em sofrimento psíquico ......... 25

2.4 O apoio do grupo terapêutico para a família atendida no CAPSi ................................ 29

3 PERCUSSO METODOLÓGICO .................................................................................... 33

3.1 Tipo de estudo ............................................................................................................. 33

3.2 Participantes do estudo ............................................................................................... 33

3.3 Cenário do estudo ....................................................................................................... 34

3.4 Coleta das informações ............................................................................................... 36

3.5 Organização e Análise de dados ................................................................................. 37

3.6 Considerações éticas .................................................................................................. 37

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO. ..................................................................................... 38

4.1 Caracterização e perfil dos familiares ......................................................................... 38

4.2 A busca pelo tratamento da criança e do adolescente em sofrimento psíquico...........44

4.3 Dificuldades das famílias. ............................................................................................ 45

4.4 Tratamento no CAPSi. ................................................................................................. 49

4.4.1 As mudanças na vivência familiar após a entrada no CAPSi ................................... 49

4.4.2 Aceitação e negação da família ............................................................................... 51

4.4.3 Extensão do cuidado a comunidade. ....................................................................... 53

4.5 Apoio do grupo terapêutico de família ......................................................................... 56

4.6 Avaliação do atendimento do CAPSi ........................................................................... 58

CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 62

REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 65

APÊNDICE A ..................................................................................................................... 68

APÊNDICE B ..................................................................................................................... 70

ANEXO A........................................................................................................................... 72

ANEXO B .......................................................................................................................... 73

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1 INTRODUÇÃO

A Saúde Mental tem, progressivamente, adquirindo visibilidade na

sociedade e se destacando no sistema de saúde, devido aos avanços e as

transformações ocorridas no âmbito da assistência psiquiátrica.

Surgiu então o Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM)

que desejavam a superação do modo asilar, onde pessoas com sofrimento psíquico

eram isoladas do convívio social e de sua família, sendo acompanhado por uma

equipe de saúde dentro de um hospital psiquiátrico, local este precarizado.

Devido à preocupação dos trabalhadores de saúde foi criado um novo

modelo de atenção, recebendo o nome de Reforma Psiquiátrica e Movimento pela

Luta Antimanicomial, reivindicando a criação de serviços substitutivos ao hospital

psiquiátrico (MACIEL, 2012).

O sentido da Reforma Psiquiátrica é implantar o modo de atenção

psicossocial, sendo o individuo considerado uma pessoa em sofrimento psíquico,

tendo o apoio total de seus familiares no local de tratamento e do meio em que vive,

proporcionando assim um vínculo terapêutico mais humanizado (MACIEL, 2012).

Deste modo, contextualizando o inicio das modificações no cuidado em

saúde mental, a Reforma Psiquiátrica e o Movimento pela Luta Antimanicomial

constroem a crítica ao modelo asilar (MACIEL, 2012).

Corroborando como resultado do Movimento Antimanicomial, foi

elaborado pelo Deputado Federal Paulo Delgado (PT/MG) o Projeto de Lei nº.

3.657/89, que dispõe “sobre a extinção progressiva dos manicômios e sua

substituição por outros recursos assistenciais” propunha o fim de construções de

hospitais psiquiátricos, considerando-os como cronificadores do sofrimento psíquico

e inadequados à reabilitação humana (BRASIL, 2004).

Em 2001 o projeto deu origem a Lei nº 10.216, elaborada com o objetivo

de regulamentar a assistência psiquiátrica brasileira e reestruturar o modelo de

atendimento a pessoa em sofrimento psíquico (BRASIL, 2004).

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Tendo por base a Reforma Psiquiátrica, as pessoas em sofrimento

psíquico são assistidas pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),

representante de um novo cenário de política pública do Sistema Único de Saúde

(SUS) no tratamento com pessoas em sofrimento psíquico. A partir da portaria nº

336/02, os CAPS assumem uma assistência embasada por uma equipe

multiprofissional que trabalha de forma interdisciplinar visando a sua reabilitação

psicossocial e a sua reintegração (BRASIL, 2004a).

Portanto, a rede de atenção básica, hospitais dia, Núcleo de atenção

psicossocial (NAPS) e CAPS, constituíram novas formas de atenção em saúde

mental, contrapondo a exclusão e segregação de vínculo social e familiar do hospital

psiquiátrico (FRANCHINI & CAMPOS, 2008).

Os CAPS possuem características distintas em questão de população e

denominação. CAPS I – Serviço de atenção psicossocial com capacidade para

atendimento em municípios com população entre 20.000 e 70.000 habitantes, CAPS

II – Serviço de atenção psicossocial com capacidade para atendimento em

municípios com população entre 70.000 e 200.000 habitantes, CAPS III – Serviço de

atenção psicossocial com capacidade para atendimento em municípios com

população acima de 200.000 habitantes, CAPS i II – Serviço de atenção psicossocial

para atendimentos a crianças e adolescentes, constituindo-se na referência para

uma população de cerca de 200.000 habitantes, CAPS ad II – Serviço de atenção

psicossocial para atendimento de pacientes com transtornos decorrentes do uso e

dependência de substâncias psicoativas, com capacidade operacional para

atendimento em municípios com população superior a 70.000 (BRASIL, 2004a).

Estes serviços funcionam durante toda a semana, de segunda a sexta-

feira de 08h as 17h, obedecendo a sua área de abrangência, os CAPS III, funcionam

nos feriados e aos fins de semana, 24 horas. Desta forma, “o acolhimento noturno

deverá atender preferencialmente aos usuários que estão vinculados a um projeto

terapêutico nos CAPS”, quando necessário, e no máximo por sete dias corridos ou

dez dias intercalados durante o prazo de 30 dias (BRASIL, 2004a, p. 19).

Em dados, temos cadastrados uma série histórica da expansão dos

CAPS aqui no Brasil, visto que em 1998 o número de CAPS era de 148, em vários

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lugares do país e com o passar dos anos esse número cresceu de forma

considerável até 2011, atingindo 1.742 serviços tipo CAPS (BRASIL, 2012).

Em Fortaleza, contamos com o total de 14 CAPS distribuídos

estrategicamente, sendo que cada Secretaria Regional (SR) possui um CAPS -

Geral e um CAPS – AD, assim como 02 CAPSi. A Regional II é contemplada com

um CAPS - Geral e um CAPS-AD 24hs, assim como a Regional I possui também um

CAPS - AD 24 horas. Já os CAPSi são divididos da seguinte forma: CAPSi - SR IV –

atende crianças e adolescentes das regionais pares (II, IV e VI) e o CAPSi – SR III –

atende crianças e adolescentes das regionais ímpares (I, III e V).

Os serviços substitutivos convergem na proposta de viabilizar a

autonomia do sujeito de forma gradativa, envolvendo-o em um processo de

reconstrução dos laços familiares, comunitários e sociais, articulado também a uma

rede com outros serviços de saúde que se propõem em estender a continuidade de

cuidados ao indivíduo em sofrimento psíquico (BRASIL, 2004a).

É importante elucidar que os CAPS supramencionados diferenciam-se em

relação à organização física, de estrutura, formas diversificadas de atendimentos,

especificidade da demanda para transtornos psicóticos graves, usuários de álcool e

outras drogas e crianças e adolescentes.

O CAPSi, local da pesquisa, leva o nome de Maria Ileuda Verçosa devido

sua história, que permaneceu desde os 08 (oito) anos de idade internada no Hospital

de Saúde Mental de Messejana (HSMM), com sérios comprometimentos psíquicos.

Vivenciou o abandono familiar e por este motivo se tornou moradora do Hospital até

seus 29 (vinte e nove) de idade. Maria Ileuda faleceu com sérias complicações

clínicas, vitimada por um câncer abdominal, sendo velada no próprio Hospital, na

companhia dos trabalhadores, que se tornaram uma família para a mesma.

O CAPSi Maria Ileuda Verçosa, oferece tratamento especializado, visando

controlar os sintomas e a reintegração do paciente, abordando com recursos

medicamentosos, prevenindo novas recaídas, a partir do acompanhamento que

contempla avaliações psiquiátricas mensal e terapias grupais e/ou individuais.

A assistência em saúde mental desenvolvida nos CAPSi visualiza não só

o sintoma aparente do usuário, mas um outro aspecto de importância para o

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tratamento que é o fortalecimento de vínculos com os familiares e com a

comunidade, promovendo ações de prevenção e sua inserção na cidadania,

proporcionando suporte acerca do sofrimento psíquico.

Os profissionais que realizam a assistência biopsicossocial no CAPSi se

dedicam ao atendimento mesmo com poucos recursos, desempenha de forma

acolhedora a demanda apresentada a fim de recuperar e promover a reinserção

social dos usuários, assim como as de seus familiares, favorecendo assim uma

melhor qualidade de vida a crianças e os adolescentes que fazem parte do serviço

(TAVARES, 2012).

Um dos objetivos do CAPSi no tocante à família de crianças e

adolescentes é incentivá-las a participarem das atividades e grupos terapêuticos

oferecidos.

Os familiares são, muitas vezes, o elo mais próximo que os usuários têm com o mundo e por isso são pessoas muito importantes para o trabalho dos CAPS. Os familiares podem participar dos CAPS, não somente incentivando o usuário a se envolver no projeto terapêutico, mas também participando diretamente das atividades do serviço, tanto internas como nos projetos de trabalho e ações comunitárias de integração social. Os familiares são considerados pelos CAPS como parceiros no tratamento (BRASIL, 2004a, p. 29).

Silva (2009) corrobora que a família é realmente importante para o

cuidado da criança e adolescente em sofrimento psíquico, sendo ela vista como

intermediadora para o começo do tratamento no CAPSi e para o suporte

psicossocial do usuário dentro do lar.

Sendo assim, “a família é posta a aproximar-se do cuidado de sua criança

ou adolescente em sofrimento psíquico, como agente ativo, de um plano terapêutico

que se transcende a instituição, CAPSi” (TAVARES, 2012, p. 26).

Tavares (2012, p. 29) salienta ainda que:

[...] o cuidado em saúde mental infantil necessita envolver a criança e o adolescente numa relação terapêutica com profissionais e tudo que em sua vida se fizer parte, pois a criança estrutura seu mundo-vida a partir das experiências do cotidiano, em um mundo intersubjetivo, sob a influência e interpretação dos agentes envolvidos, no caso, sua família, seu ambiente escolar e em outro convívio social que faz parte de seu cotidiano.

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O CAPSi tem uma grande importância, a fim de auxiliar essas crianças e

adolescentes a lidarem com as dificuldades do dia a dia, respeitando as limitações e

suas resistências, assim como as famílias envolvidas durante todo o tratamento.

O trabalho desenvolvido nos CAPSi busca o compartilhamento da assistência junto às famílias de crianças e adolescentes atendidos e acompanhadas neste serviço. Porém, a família precisa ser percebida em suas múltiplas dimensões para que se possam descobrir as possibilidades de intervenção e ajuda (TAVARES, 2009, p. 12).

A família tem um papel fundamental no processo de tratamento

independente do tipo de sofrimento psíquico, ela se torna uma aliada para a equipe

de saúde, pois é com a sua inserção que os profissionais orientam de forma

adequada uma melhor convivência e estado de saúde de crianças e adolescentes.

Silva (2009, p. 38) evidencia ainda que:

O acompanhamento nos serviços substitutivos busca trazer a família para sentir-se também responsável pelo tratamento do portador, pois é ela que, na maioria dos casos, enfrenta as dificuldades de convívio dentro e fora de seu ambiente domiciliar. Ela divide com seu ente o sofrimento cotidiano, seja por manifestações dos agravos, como a violência verbal ou física, os hábitos/manias, sentimentos de tristeza, desespero, também, pelas várias formas de preconceitos que eles podem enfrentar em sociedade (SILVA, 2009, p. 38).

É justamente a família que fornece à equipe do CAPSi as informações

necessárias sobre a criança e o adolescente, a partir delas vão ser pactuadas as

intervenções, tornando assim mais fácil o convívio e a aceitação do quadro clínico,

deixando muitas vezes de lado os comportamentos críticos.

Entende-se que através dos atendimentos direcionados às famílias, pode-

se obter uma melhora no quadro, pois a partir do momento em que elas se

comprometem com o tratamento oferecido pelo serviço, encontram outra maneira de

lidar com seus problemas.

Deste modo, tendo por base o envolvimento com crianças e adolescentes

em sofrimento psíquico, em uma experiência de trabalho como Auxiliar

Administrativa, desenvolvida de 2008 até 2013, no CAPS Infantil Maria Ileuda

Verçosa, local da pesquisa, foi observado, através das atividades exercidas, a

influência da dinâmica familiar da criança e do adolescente em sofrimento psíquico,

bem como das formas de abordagem de atendimento, como o grupo de família e

seu papel para o tratamento.

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Assim surgiu o seguinte questionamento: Como se dá o cotidiano familiar

das crianças e dos adolescentes em sofrimento psíquico, quando o principal

cuidador participa do grupo de família? Dessa forma, pretendemos discutir como se

dá a relação e o cotidiano familiar da criança e do adolescente em sofrimento

psíquico; identificar as facilidades e dificuldades no cuidado prestado pela família;

Traçar o perfil socioeconômico dos familiares das crianças e adolescentes em

sofrimento psíquico do CAPSi; assim como a contribuição do grupo terapêutico, visto

que a família é um laço de grande contribuição para o tratamento, bem estar e

convívio social.

Para obter respostas a estes questionamentos, preparamos no primeiro

momento uma revisão de literatura embasada no surgimento da Reforma

Psiquiátrica no Brasil, a criação dos CAPS, a relação da família com a criança e a

pessoa em sofrimento psíquico e o apoio do grupo terapêutico de família realizado

no CAPSi Maria Ileuda Verçosa.

No segundo momento traçamos o percurso metodológico, contendo a

forma de abordagem da pesquisa, quais os participantes, o cenário da pesquisa

colocando todo o seu funcionamento, como se deu a coleta, organização e análise

dos dados obtidos, assim como as considerações éticas da pesquisa.

O terceiro e último momento resultou na discussão dos dados coletados

com familiares que participam de grupos distintos do serviço semanalmente,

descrevendo as significações, o perfil dos familiares, e as categorias de análise.

Mesmo com a equipe do CAPSi sendo multiprofissional, é indispensável a

atuação do Assistente social nos serviços de atenção de Saúde Mental, pois é

através de suas intervenções que se é possível trabalhar ativamente com as

famílias, propiciando a recuperação da autonomia nos usuários, que na maioria dos

casos, são da classes menos favorecidas e sem instrução para lidar com pessoas

em sofrimento psíquico.

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2 BREVE HISTÓRICO ACERCA DA ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL

Para dar início a discussão sobre a assistência a pessoa em sofrimento

psíquico, é indispensável abordar os elementos significativos da história em relação

ao atendimento em saúde mental.

Sendo assim, será discutido minuciosamente o resgate histórico que

envolve a saúde mental, para que possa ser compreendida em sua totalidade, no

tocante aos movimentos e atores sociais envolvidos na assistência em saúde

mental.

Nos tempos atuais é perceptível o aumento de pessoas em sofrimento

psíquico em nossa sociedade, assim como os avanços na área de saúde mental,

buscando melhorar a assistência e o cuidado neste campo. Tendo em vista que o

cuidado em saúde mental infanto-juvenil é recente em nossa sociedade (TAVARES,

2012).

É neste contexto de grandes mudanças que a família torna-se parte

integrante do atendimento a pessoa em sofrimento psíquico, sendo ela envolvida em

todo o processo e tornando-se um campo terapêutico para evolução da criança e do

adolescente em sofrimento psíquico.

2.1 Reforma psiquiátrica e o atendimento em saúde mental no Brasil

A história da assistência a pessoa em sofrimento psíquico deu-se a partir

da criação do primeiro hospital psiquiátrico brasileiro em 1852, chamado de Pedro II,

vinculado a Santa Casa de Misericórdia. Logo após, surgiram várias outras

instituições de modelo asilar, aumentando ainda mais os leitos e com isso

precarizando cada vez o atendimento (AMARANTE, 2008).

Com o aumento dessas instituições durante as décadas de 1940 e 1950,

surgiram diversas denúncias feitas pelos próprios médicos recém-formados de

violência, maus-tratos e de péssimas condições de estrutura dessas instituições.

Com estas denúncias, muitos profissionais foram demitidos e com isso ocasionando

manifestações deram inicio ao Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental

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(MTSM), exercendo um papel fundamental no processo de reforma psiquiátrica

(AMARANTE, 2008).

Deste modo, de acordo com Maciel (2012, p. 75) “a reforma é articulada a

um conjunto de iniciativas operadas nos campos legislativo, jurídico, administrativo e

cultural, que visam transformar a relação entre a sociedade e a loucura”.

Sendo a reforma psiquiátrica um movimento social, significa dizer que os

sujeitos que a compõe incluíram usuários, familiares e profissionais que pretendiam

o fim dos manicômios e exigiam a humanização na assistência. Com o fervor deste

movimento que se deu no final da década de 70, houve vários momentos marcantes

para a sociedade.

Com a luta do MTSM, ocorreram eventos importantes para a consolidação

da Reforma Psiquiátrica, como o V Congresso Brasileiro de Psiquiatria. Com isso, o

Movimento ganhou força e visibilidade, o que ocorreu logo após o I Simpósio

Brasileiro de Psicanálise de Grupos e Instituições com a participação de grandes

autores da reforma como Franco Basaglia, Robert Castel e Erving Goffman.

Seguindo essa linha, foram realizados outros eventos como o I Congresso Nacional

dos Trabalhadores em Saúde Mental e o I Simpósio de Políticas de Saúde da

Câmara dos Deputados (AMARANTE, 2008).

No ano de 1987, ocorreu no Rio de Janeiro a I Conferência Nacional de

Saúde Mental, que foi o momento de decisões importantes para repensar as

estratégias de cuidado. A partir de então o Movimento da Luta Antimanicomial passa

a existir no dia 18 de Maio do mesmo ano (AMARANTE, 2008).

Neste mesmo ano, foi realizado, em Bangu/RJ, o II Congresso Nacional

de Trabalhadores de Saúde Mental, com grande importância no setor cultural,

atraindo toda a sociedade a construir, discutir e reconstruir sua afinidade com a

loucura, contando com a participação dos usuários das unidades de saúde mental,

assim como seus familiares, em rodas de conversas, conferências e encontros. Foi

estabelecido o dia 18 de maio como Dia Nacional de Luta Antimanicomial, com a

proposta de sensibilizar e articular a sociedade sob a nova ótica relacionada à saúde

mental, que seria criar dispositivos alternativos de cuidado, abertos e sendo de

natureza comunitária (AMARANTE, 2008).

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Contudo, no ano anterior, houve realização da VIII Conferência Nacional

de Saúde, ocasião em que foi possível a aprovação da criação de um Sistema Único

de Saúde. A Reforma Psiquiátrica ganhou força com a constituição de 1988, que foi

criado o Sistema Único de Saúde em 1990, onde foi instituída a criação de novas

políticas de saúde, que entre elas a de saúde mental. Esse sistema visa o acesso

universal e gratuito para os serviços de saúde, assim como, a equidade no acesso a

garantia do cuidado de boa qualidade para os usuários que dele necessitar

(AMARANTE, 2008).

A Lei nº. 8.080, de 19 de setembro de 1990, dispõe sobre as condições

para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o

funcionamento dos serviços correspondentes, norma esta que regula em todo o

território nacional os serviços e ações voltadas para a saúde, executados isolada ou

conjuntamente, em caráter permanente ou eventual (BRASIL, 1990).

Ainda de acordo com a legislação supramencionada, as ações e serviços

públicos são desenvolvidos de acordo com as diretrizes do artigo 198 da

Constituição de 1988, tendo como princípios a universalidade de acesso aos

serviços de saúde, a equidade, a integralidade, a descentralização político-

administrativa com direção única em cada esfera de governo, a extrema importância

da participação da comunidade, e por fim a regionalização e hierarquização

(BRASIL, 1990).

Devido aos movimentos sociais da época, surgiu o Projeto de Lei nº.

3.657/89, de autoria do Deputado Paulo Delgado, dispondo da extinção progressiva

dos manicômios, e somente em 2001, foi criada a Lei nº 10.216 que dispõe sobre o

direito e a proteção a pessoa em sofrimento psíquico (BRASIL, 2004).

A referida lei é conhecida como a Lei da Reforma Psiquiátrica, sendo um

instrumento legal, definindo os direitos das pessoas portadoras de transtorno mental

em seu Art. 2:

I - ter acesso ao melhor tratamento do sistema de saúde, consentâneo às suas necessidades; II - ser tratada com humanidade e respeito e no interesse exclusivo de beneficiar sua saúde, visando alcançar sua recuperação pela inserção na família, no trabalho e na comunidade; III – ser protegida contra qualquer forma de abuso e exploração; IV - ter garantia de sigilo nas informações prestadas; V - ter direito à presença médica, em qualquer tempo, para esclarecer a necessidade ou não de sua

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hospitalização involuntária; VI - ter livre acesso aos meios de comunicação disponíveis; VII - receber o maior número de informações a respeito de sua doença e de seu tratamento; VIII - ser tratada em ambiente terapêutico pelos meios menos invasivos possíveis; IX - ser tratada, preferencialmente, em serviços comunitários de saúde mental (BRASIL, 2004, p. 17).

Depois desta Lei, diversas resoluções e portarias foram sendo aprovadas

e foram de vital importância para a transformação da assistência em saúde mental.

Uma delas foi a portaria de nº 336/02, com o propósito de regulamentar os Centro de

Atenção Psicossocial (CAPS) (BRASIL, 2004a).

A criação do primeiro Centro de Atenção Psicossocial no Brasil deu-se no

ano de 1986 em São Paulo, conhecido como CAPS da Rua Itapeva e somente em

2002 surgiram os CAPS também destinados a crianças e adolescentes, chamados

de Centros de Atenção Psicossocial Infanto-Juvenis (CAPSi) (BRASIL, 2004a).

O CAPSi atua em municípios com mais de 200.000 habitantes, com

horário de funcionamento de segunda a sexta-feira, sendo composto por uma equipe

mínima de 11 profissionais (BRASIL, 2004a).

Os CAPS têm a missão de oferecer um atendimento às pessoas

portadoras de sofrimentos psíquicos severos, visando à reabilitação e reinserção na

sociedade, tendo como principal objetivo a substituição do modelo hospitalocêntrico,

impedindo as internações e fortalecendo o exercício da cidadania dos usuários e

familiares (BRASIL, 2004a).

O trabalho de uma equipe de saúde mental de um Centro de Atenção Psicossocial – CAPS, contudo, direciona aos pressupostos da proposta psicossocial de assistência à pessoa em sofrimento psíquico, com a condução da construção de uma prática de atenção à saúde mental comunitária, subjetiva, descentralizada, integral, contínua, com a aproximação da sua família, tornando-a protagonista na efetivação do plano terapêutico (TAVARES, 2012, p. 19).

Os CAPS oferecem cuidados clínicos eficientes, se preocupando com a

inserção social dos usuários, através do trabalho, educação, cultura e lazer, se

responsabilizando por organizar a rede de serviços de saúde mental de seu

território. Devem possuir um espaço próprio e adequado para atender a demanda e

possuir também recursos físicos que dê suporte a clientela, como salas para grupos,

espaço de convivência, oficina, consultórios equipados, refeitório, banheiros

estruturados com manutenção e área externa para atividades (BRASIL, 2004a).

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Os profissionais realizam um trabalho com usuários que apresentam

sofrimento psíquico severo, em virtude disso, os impossibilitam de exercer suas

atividades básicas e projetos de vida. A permanência desses usuários dentro do

serviço depende de muitas questões que são ligadas ao grau de comprometimento

psíquico, ao apoio familiar e social que poderão ser traçadas (BRASIL, 2004a).

Assim, é válido destacar que tanto os profissionais, quanto às famílias dos sujeitos em sofrimento psíquico, são atores sociais que, no mundo da vida, constroem experiências, interesses, projetos, motivações e ações, advindas das relações intersubjetivas (TAVARES, 2012, p. 10).

Dessa forma, o trabalho que esses profissionais desenvolvem no interior

do CAPS aborda que o:

[...] cuidado não pode ser fragmentado, necessitando de continuidade e cumplicidade entre os envolvidos em todos os espaços sociais possíveis. Assim, as estratégias como o atendimento individual, o grupo de família, a busca ativa, a visita domiciliar, as oficinas são atividades realizadas no CAPS que tem como objetivos: orientar, esclarecer, facilitar, incentivar e apoiar a família nessa proposta de trabalho, objetivando, desse modo, a convivência e o respeito frente à experiência do sofrimento psíquico

(SCHRANK, OLSCHOWSKY, 2008, p. 133-134).

O CAPS visa promover a autonomia do sujeito de forma gradativa,

envolvendo-o em um processo de reconstrução dos laços familiares, comunitários e

sociais, sendo importante salientar que o CAPS deve estar inserido em uma rede

que seja articulada com outros serviços que se propõem com a continuidade de

cuidados (BRASIL, 2004a).

Deste modo, fica evidente a importância dos serviços de saúde mental e o

quadro de profissionais, sendo que o Serviço Social dentro destas unidades se

comprometem não somente no sentido de proporcionar a pessoa em sofrimento

psíquico uma melhor qualidade de vida e a garantia de seus direitos, é preciso focar

na construção da cidadania e principalmente na autonomia.

2.2 O Serviço Social e sua inserção na área de saúde mental

O Serviço Social brasileiro teve sua ampliação no final da Segunda

Guerra Mundial, configurando-se como uma profissão que está inserida nas diversas

crises causadas pelas exigências do capitalismo, mas sua ascensão deu-se durante

a ditadura militar, devido ao atendimento aos serviços previdenciários dos

institucionalizados em hospitais psiquiátricos:

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Por isso pode-se dizer que sua estrutura atual originou-se após 1964, com a mudança do atendimento previdenciário na Saúde Mental dos indigentes para os trabalhadores e seus dependentes em internações asilares, com a prestação de serviços sociais necessários ou benéficos para a lógica dos manicômios a fim de legitimá-los na situação de pobreza dos pacientes (BISNETO, 2011, p. 112-113).

Mas antes deste período, o Assistente Social já se fazia presente nos

espaços institucionalizados. Segundo afirma Machado (2009):

O Serviço Social iniciou seu trabalho nos hospitais psiquiátricos em 1941, sendo um dos primeiros profissionais a fazerem parte da equipe de saúde mental nos hospitais psiquiátricos (depois dos psiquiatras e enfermeiros). As outras profissões como Psicologia, Educação Física e Terapia Ocupacional, iriam compor as equipes somente nos anos 1970 (MACHADO, 2009, p. 40).

Desta forma, os referenciais teóricos que embasavam a prática do

Assistente Social na área da saúde mental à época eram “o funcionalismo, o

estrutural-funcionalismo, o higienismo e as psicologias, com destaque especial para

a psicanálise, e a elaboração de uma metodologia do Serviço Social que e baseava

na visão de Caso, Grupo e comunidade” (Bisneto, 2011, p. 20).

As décadas de 70 e 80 também são lembradas pelo Movimento da

Reforma Psiquiátrica, na qual seu avanço se deu com o MTSM e a criação do SUS.

Com isso, o Serviço Social conquistou um espaço bem maior na política de saúde,

atraindo vários profissionais para esta área. conforme afirma Bravo:

Bravo afirma que “a área da saúde é tomada como referência por ser um

dos setores significativos na atuação do Serviço Social, tendo concentrado

historicamente um grande quantitativo de profissionais [...]” (BRAVO, 2006, p. 25).

O campo de atuação do Assistente Social na saúde mental tomou mais

consistência através da Reforma Psiquiátrica. Bisneto (2011) frisa que a Reforma

demonstra que é totalmente possível que as pessoas consideradas loucas possam

ocupar papéis importantes e diversos na sociedade, não sendo visto somente como

seres portadores de sofrimento psíquico, mas que passem a ser reconhecidos como

um indivíduo de direitos e que suas diferenças sejam respeitadas.

Contudo, “em termos práticos, os assistentes sociais precisam dar apoio

ao movimento de Reforma Psiquiátrica e as suas propostas de políticas sociais”

(BISNETO, 2011, p. 194). Assim o Serviço Social é de total importância na área da

saúde mental, porém “a atuação do assistente social, frente ao sofrimento mental,

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não se resume a restituir uma ‘falta de cidadania’ ou suprir direitos previdenciários:

os problemas nessa área são muito mais complexos e paradoxais” (IDEM, 2011, p.

195).

Com o surgimento dos primeiros CAPS, o Assistente Social já fazia parte

da equipe mínima para o funcionamento regular do serviço, o que possibilitou a

obtenção de importantes elementos exigidos pela Reforma Psiquiátrica, como por

exemplo, o trabalho com as famílias e reconhecimento de território conhecido pelo

Serviço Social como “levantamento de recursos comunitários” (ROBAINA, 2010, p.

346).

Robaina (2010) explicita de forma clara que:

O Serviço Social tem acúmulo teórico operativo para realizar o mapeamento e a articulação com as tradições culturais locais, lideranças comunitárias, equipamentos comunitários, relações de vizinhança, intervenções no imaginário social sobre a loucura, entre outros (IDEM, p. 347).

A equipe que atua nos CAPS é constituída por diferentes categorias,

devendo salientar a participação dos Assistentes Sociais no tocante do

fortalecimento de vínculos e das relações sociais e familiares, elementos estes que

vão além do processo de saúde-doença, sendo este processo um dos objetivos

principais dos CAPS, que de acordo com Bisneto (2011):

Esses serviços necessitam da participação do Serviço Social em proporção maior do que na internação [...] o Movimento de Reforma Psiquiátrica vem trazer uma abertura muito grande para a atuação do Serviço Social em saúde mental devido à formação social e política dos assistentes sociais (BISNETO, 2011, p. 37).

No campo da Política de Saúde Mental, em relação a trabalho se

configura como sendo um espaço conflituoso envolvendo a relação de poder entre

os atores envolvidos. Neste sentido o Assistente Social deve nortear-se de seu

suporte teórico e metodológico e, principalmente, competência ético-político:

[...] ético porque se movimenta no campo dos valores, porque parte do conhecimento da condição humana dos sujeitos [...] e político porque aspira sempre à sua emancipação, abrangendo a relação saúde doença, cuidados, a população atendida, seus familiares e a própria comunidade (MARTINELLI, 2011, p. 501).

A área da saúde, sendo ela um espaço contraditório, mostra um desafio

cotidiano relacionado com a postura ética, pois é necessária uma construção de

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uma prática competente que envolve o valor do ser humano, sua dignidade e

qualidade de vida é importante que esses elementos sejam alicerces fundamentais

comuns, não somente ao Assistente Social, mas a equipe como um todo.

Há um desafio também no âmbito do controle social no nível de CAPS,

onde os Assistentes Sociais lutam para alcançar a participação na atividade de

assembleia, para que ela não se limite somente a uma função terapêutica e sim de

participação efetiva na gestão em geral, assim como nos conselhos e nas

conferências (ROBAINA, 2010).

Rosa (2009, p. 90) elucida que “o assistente social contribui no processo

de acesso a determinados direitos pela veiculação de informação, aproximação dos

canais garantidores de direitos e no fomento à criação de conselhos locais de

saúde”, atuando assim como agente político dentro da equipe de saúde mental,

sendo considerado aquele profissional que divulga e questiona informações entre os

diferentes membros da equipe, em prol aos usuários do serviço.

Deve-se ter a concepção que é preciso agir de forma consistente, apoiado

nos princípios que regem a profissão, sendo assim, é visível uma pratica de uma

ética militante, a fim de se efetivar os direitos de cidadania aos usuários, familiares e

também aos trabalhadores de saúde.

Ao longo da história, o Serviço Social foi se destacando na área da saúde

e legitimando suas ações de forma crítica e comprometida com a ampliação dos

direitos aos usuários.

Esse é o compromisso que nos cabe assumir e que somente pode ser alcançado por meio de práticas interdisciplinares, pautadas em um horizonte ético de humanização e de respeito à vida. Isso exige um contínuo processo de construção de conhecimentos, pela via da pesquisa e da intervenção profissional competente, vigorosa e crítica, alicerçada na Política Nacional de Saúde e no Projeto Ético-Político do Serviço Social (MARTINELLI, 2011, p. 500).

Com efeito, o Serviço Social pode ser considerado uma profissão que

colabora com a saúde mental dos usuários, viabilizando aliança entre outros atores

institucionais e sua importância interdisciplinar. Bisneto (2011) frisa que a articulação

entre o Movimento de Reforma Psiquiátrica e o Serviço Social destaca alguns

pontos em comum como a importância da transformação em torno da assistência

social e das instituições psiquiátricas, enfatizando seus aspectos políticos, na

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necessidade de democratizar as relações de poder entre usuários, técnicos,

instituição e a família.

Vasconcelos (2010) salienta que:

O contato privilegiado com a família e a realidade social do usuário passou a expressar um novo potencial de trabalho a ser realizado, em que o assistente social poderia mostrar para os outros profissionais e para a instituição dimensões da vida do usuário que antes não eram privilegiadas pela psiquiatria tradicional (VASCONCELOS, 2010, p. 252).

A identidade do profissional de Serviço Social se constrói a partir das

relações sociais e das demandas oriundas dos usuários, das instituições, da equipe

profissional e surgem também através da família, Rosa (2009, p. 92) deixa claro que

“o assistente social em saúde mental não se autoconstrói”.

Deste modo, fica evidente a importância do Assistente Social nos serviços

de saúde mental, não somente no sentido de proporcionar a pessoa em sofrimento

psíquico uma melhor qualidade de vida e a garantia de seus direitos, é preciso focar

na construção da cidadania e principalmente na autonomia, sendo esses elementos

contemplados nos usuários e em seus familiares.

2.3 A família e sua relação com a criança e o adolescente em sofrimento

psíquico

Vasconcelos (2010, p. 270) aborda que o sofrimento psíquico está

associado a incapacidade de pensar coerentemente dentro dos padrões normais

que regem a sociedade,:

Diferentemente das doenças de base anatomofisiológicas, identificáveis clinica e laboratorialmente, o transtorno mental tem origem multifatorial (biológica, social, psíquica e cultural) e é identificado sobre tudo pelos seus sintomas, com frequência o comportamento desviante, transgressor, que viola as normas socialmente aceitas.

Diante deste conceito, podemos considerar que os efeitos do sofrimento

psíquico são inteiramente sociais, relacionados aos fatores biopsicossociais e

psicológicos, onde pessoas com histórico na família podem ter uma predisposição

para algum tipo de sofrimento psíquico, interferindo no comportamento e nas

relações, que vai de encontro com a sociedade e a ordem moral vigente.

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Contudo, crianças e adolescentes também podem possuir sérios

comprometimentos psíquicos e neste caso específico, o CAPS infanto-juvenil é

responsável por realizar o atendimento.

Dessa forma, dialogar sobre o cuidado em saúde mental no âmbito

familiar é indispensável analisar que, “a relação da família com o Portador de

Transtorno Mental é historicamente construída” (ROSA 2003, p. 28). Com o avanço

da ciência como a psicanálise, a família é vista de maneira negativa, sendo

responsabilizada pela origem de um integrante em sofrimento psíquico (IDEM,

2003).

Ao penetrar no universo familiar, identifica na determinação da doença ou das disfunções a maneira como os pais conduzem a educação dos seus filhos. A ação psiquiátrica tendia a culpabilizar os pais pelas inadequações do comportamento da criança, orientando sua interpretação de conduta para a má educação ou para a doença (IBIDEM, p. 59).

Seguindo a linha de raciocínio da autora, através de uma observação

sistemática e pela intervenção direta na família, o papel da mãe passa a ter

destaque nas investigações. Alguns autores começam a abordar também essa

relação, onde a pessoa em sofrimento psíquico passa a ser identificado.

Cada vez mais, o portador de transtorno mental é visibilizado em seu papel positivo, como um agente catalizador que adoece para proteger o grupo familiar, mantendo sua homeostase, ou é invalidado, rotulado e alçado a ‘bode expiatório’ com a mesma finalidade, impedindo que se processem mudanças nos padrões de relacionamento do grupo (IBIDEM, p. 61).

De um lado, temos o filho em sofrimento psíquico. Na diretriz oposta

temos a mãe, vista pela sociedade como uma cuidadora por excelência. Rosa

(2003) deixa claro que a força que o sofrimento psíquico gera dentro de um

ambiente familiar está relacionada diretamente a posição que o sujeito portador de

sofrimento psíquico ocupa dentro deste ambiente.

Quando esse sujeito é o filho, é bem mais agravante do que quando o pai

ou a mãe adoecem, até pela dependência que esse filho tem com os pais, fator que

pode influenciar na aproximação ou afastamento do casal.

O adoecimento mental de um filho abala, frequentemente de forma intensa, a autoestima dos pais. O filho doente parece representar, para muitos genitores, uma denúncia das falhas do sistema familiar, que não conduziu com sucesso sua missão de formar os filhos (MELMAN, 2008, p. 35).

De acordo com Rosa (2003),

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Prestar cuidados às pessoas enfermas traduz uma das obrigações do código de direitos e deveres entre os integrantes da família consanguínea. Mesmo que redunde, em algum ganho ou prejuízo econômico, prover cuidados, figura como uma das atividades inerentes a tarefas familiares ou domésticas que, da perspectiva do grupo familiar, foram “naturalizadas” como próprias da família (ROSA, 2003, p. 277).

É notório ainda, segundo Vasconcelos (2010) que:

O transtorno mental também traz para a família a vivência com o estigma, já que é associada à imprevisibilidade de ações e à conduta perigosa. Em decorrência disso, seu portador padece de uma discriminação social que é extensível à sua família (VASCONCELOS, 2010, p. 271).

Podemos perceber que a família que possui um membro em sofrimento

psíquico, passa a adoecer mentalmente também, essa família com o tempo começa

a enfrentar o preconceito vindo da sociedade, fazendo assim com que o estigma

tome conta de sua própria realidade que os leva ao isolamento social.

A família nesse contexto carrega o peso e o conflito das relações, com o

intuito da culpa em torno da realidade vivida. Além disso, o contexto histórico das

relações entre a família e a sociedade é historicamente construído.

Toda essa sobrecarga que a família carrega é amenizada quando esta se

faz presente nos espaços terapêuticos do CAPSi. Melman (2008, p. 80) aponta que

“O conhecimento desse quadro de sobrecarga por parte dos profissionais de saúde

sugere que as intervenções terapêuticas levem em consideração essa realidade”.

Dessa forma é perceptível que a interação dos familiares com a pessoa

em sofrimento psíquico em sua vida cotidiana alivia o peso dos encargos, facilitando

assim o processo de uma cooperação, diminuindo consideravelmente os fatores

causados em situações de crise, melhorando a qualidade de vida nos membros

envolvidos.

É neste sentido que Melman (2008, p. 37) expõe que a família centraliza o

sofrimento do ente e “os sujeitos se preocupam tanto em resolver os problemas que

sobra pouco tempo e espaço para os outros relacionamentos, havendo uma

sobrecarga nas relações de cobrança e exigência dentro da família”.

É essencial que estas famílias saibam sobre o estado real da criança e do

adolescente em sofrimento psíquico para que possam sempre esclarecer as dúvidas

sobre a patologia, visando promover a aceitação da doença por parte delas, Melman

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(2008, p. 37) coloca que “para algumas pessoas, apresentar um irmão ou um filho

doente é um fato absolutamente intolerável, inaceitável”. Muitas destas famílias

manifestam reações adversas como a raiva, a culpa e negação da doença.

Para desmistificar esse quadro, a equipe do CAPSi busca compreender

esta família, sua religião, crenças, medos, inseguranças, afim de ajudá-la a se

adaptar com a nova situação em que o paciente se encontra, sendo orientados

sobre os sintomas, formas de tratamentos, as crises e a maneira de agir, para que

haja colaboração na adesão ao tratamento e assim reduzir os preconceitos, visando

uma melhor qualidade de vida desta família e sua inserção no serviço.

É neste sentido que Vasconcelos (2010) ressalta que:

A família passa a ser mais que um receptor de intervenções por parte dos profissionais, torna-se um agente ativo no próprio processo de apoio psicossocial, no desenvolvimento de projetos e no planejamento e avaliação dos próprios serviços, vindo a interferir, inclusive, na própria política de assistência psiquiátrica (VASCONCELOS, 2010, p. 259)

É notório que a família, em relação ao tratamento a pessoa em sofrimento

psíquico, historicamente ficou afastada, pelo fato deste se encontrar em hospital

psiquiátrico dificultando a interação com o mundo e com a família, que eram

privadas de visitas.

Com essa ausência, acaba sendo reforçada a culpa por parte da família,

por ter deixado um parente em um local desconhecido e quando esse membro é um

filho, se torna mais agravante, pois os pais tendem a viver somente para ele,

deixando suas atividades, tendo em vista a dependência familiar.

Segundo Melman (2008, p. 48) “No que diz respeito as relações entre a

família e o doente mental, a psiquiatria moralizante insistia na necessidade de

separar o paciente o mínimo contato possível com os integrantes de seu grupo

parental.” Ainda existiam justificativas para tal ação que se concentrava na proteção

e prevenção a família, no sentido de influências negativas, de indisciplina, pois a

pessoa em sofrimento psíquico poderia “[...] contaminar os demais membros,

principalmente os mais vulneráveis, como as crianças, os adolescentes e as

mulheres jovens” (IDEM, p. 48).

Quando algum um integrante da família adoece, em geral, ocorre um forte

abalo nos envolvidos, e os familiares passam a agir de forma diferenciada. Melman

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(2008, p. 20) diz que “Muitos familiares não estão preparados para enfrentar os

problemas, não sabem como agir”.

Há uma tendência dos familiares de se manterem isolados, afastados da

sociedade e deixando de lado algumas tarefas do cotidiano, como trabalho, festas

por conta do preconceito que hoje ainda existe por parte da sociedade contra a

pessoa em sofrimento psíquico e pouca informação acerca da saúde mental.

Conforme Vasconcelos (2010, p. 254) “Tal situação pode ser observada com mais

profundidade naquele familiar que fica responsável pelo cuidado do portador de

transtorno mental”.

No CAPSi, resultado da Reforma Psiquiátrica, a família concerne como

ativador de todo o processo de tratamento à criança e ao adolescente em sofrimento

psíquico, buscando a construção de novas formas entre a loucura e a sociedade

como um todo. É possível perceber que os CAPS “visam incluir a família em sua

abordagem, executando um trabalho educativo de esclarecimento, de capacitação,

dividindo com ela o ônus dos cuidados [...]” VASCONCELOS (2010, p. 281).

É reconhecida que a família é tida como um grupo histórico que cria

determinações e as remete à sociedade, sendo possível chegar à resolução de

problemas ligados ao transtorno mental valorizando o sujeito, resgatando sua

autonomia, a reinserção social e à dignidade no cuidado.

Com a inclusão da família nas atividades do serviço, é imprescindível a

participação das famílias atendidas em grupos de família, visto que esse espaço é

propício a transformações positivas que permeiam a rotina dessas famílias.

2.4 O apoio do grupo terapêutico para a família atendida no CAPSi

Uma das atividades do CAPSi é o grupo de família, visto que esta é uma

parte integrante do tratamento e necessita assim de acompanhamento

multiprofissional. Este espaço proporciona uma escuta qualificada, trocas de

experiências e orientações de como lidar com a criança e o adolescente em

sofrimento psíquico.

O tratamento deve ter sempre estratégias e objetivos múltiplos, preocupando-se com a atenção integral a essas crianças e adolescentes, o

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que envolve ações não somente no âmbito da clínica, mas também ações intersetoriais. É preciso envolver-se com as questões das relações familiares, afetivas, comunitárias, com a justiça, a educação, a saúde, a assistência, a moradia etc. A melhoria das condições gerais dos ambientes onde vivem as crianças e os adolescentes tem sido associada a uma melhor evolução clínica para alguns casos (BRASIL, 2004a, p. 23).

É nesse contexto que o CAPSi, sendo ele um espaço multidisciplinar,

possui profissionais empenhados para oferecer o suporte e orientações necessárias

tanto para a criança e o adolescente em sofrimento psíquico quanto a sua família,

garantindo assim uma melhor qualidade de vida e compreensão da patologia para

ambas as partes (SILVA, 2009).

Conforme Moreno (2009, p. 571), o CAPS representa para esses

familiares “um espaço de acolhida, proporciona uma nova maneira de conviver,

permite trocas afetivas, estende sua rede social e possibilita experenciar, de forma

compartilhada, o cuidado a ser prestado ao usuário”.

É neste ensejo que os profissionais depositam nas famílias atitudes de

uma geração de cuidados, classificando-as como uma “unidade cuidadora”,

mantendo assim uma responsabilidade participativa com o “bem-estar

biopsicossocial” das crianças e dos adolescentes em sofrimento psíquico

(TAVARES, 2012, p. 121).

Realmente é o CAPSi que propicia essa linha de cuidado, pois é neste

espaço que se tem todo o suporte para acompanhar de perto a família, a criança e o

adolescente, o serviço busca trazer a família para sentir-se responsável por todo o

tratamento.

Silva (2009, p. 38) deixa claro, ainda que:

[...] a família precisa de um olhar especial dos profissionais da saúde para que se torne multiplicadora, dentro de seu convívio diário, de um ambiente mais saudável para o paciente. Muitas vezes essa família tem problemas que ela sozinha, sem um acompanhamento adequado, não consegue modificar ou mesmo perceber uma situação de adoecimento mental dentro do núcleo familiar [...]

Corroborando com a autora, o CAPSi visa a interação e responsabilização

das famílias, sendo ele o ambiente adequado para essas transformações, podemos

perceber como o grupo terapêutico influencia nesta mudança, pois é através do

acompanhamento semanal que se são traçados os caminhos para a linha do

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cuidado. É no grupo terapêutico de família que se constitui uma interação, uma

noção de que é neste espaço que se podem ter diversas descobertas a cerca do

tratamento de um membro familiar, buscando assim, melhorar a convivência com a

criança e o adolescente em sofrimento psíquico.

Dessa forma “a família assume papel de grande relevância no cuidado

com a criança, pois sobre ela recai a responsabilidade com o bem-estar físico,

emocional e social de seus membros”. É na família onde a criança encontra um

referencial bastante peculiar e desenvolve durante a vida. Crianças e adolescentes

em sofrimento psíquico provem de cuidados por parte de seus responsáveis, por

não possuírem discernimento e nem autonomia para seguir seus próprios passos, a

equipe de saúde mental conta com os familiares para que haja uma aproximação e

acompanhamento do processo de tratamento do membro familiar dentro e fora da

instituição (SILVA, 2009, p. 59).

Em estudo, Tavares (2012) constatou que o espaço adequado para o

familiar se aproximar do processo de tratamento e do cotidiano do membro familiar

em sofrimento psíquico é o surgimento do “grupo de famílias [...] se constituindo um

momento de abertura entre famílias e o profissional” (TAVARES, 2012, p. 132).

Em grupo de família, o apoio, com a mitigação do sofrimento, e a mudança de formas de manejo de situações com o ente em sofrimento psíquico são trazidos como incentivos de estarem e permanecerem nessa articulação do cuidado a criança e o adolescente do CAPSi (IDEM, 2012, p. 144-145).

Nota-se que o grupo terapêutico de família é um laço de interação que

perpassa a criança, o adolescente, a família e os profissionais envolvidos no

processo de tratamento, haja vista que, os profissionais se empenham em um

objetivo concreto em relação à melhora da qualidade de vida dos usuários do

serviço.

O grupo terapêutico tem importância significativa nos acompanhamentos e nos cuidados às crianças e aos adolescentes. A ideia central é a interação, é a noção dada aos participantes do grupo que ali existem regras a serem cumpridas, a direitos a serem respeitados, há a descoberta do outro (SILVA, 2009, p. 53).

Essa forma de interação propicia uma melhor qualidade de vida para os

envolvidos, expressam uma nova maneira de lidar com o sofrimento psíquico e

contribui para o processo de vida das crianças e adolescentes, pois é com a ajuda

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do grupo terapêutico que elas terão uma noção clara de seus direitos e regras que

deverão ser cumpridas.

Sendo o grupo terapêutico um ambiente de convivência com familiares

que possuem dificuldades semelhantes, no caso da pesquisa, crianças e

adolescentes em sofrimento psíquico, o grupo visa “permitir as famílias um espaço

para verbalizar sentimentos, angústias, impressões, medos, verdades e dúvidas”

tornando-se um espaço de aproximação concreta da equipe do CAPSi com o dia-a-

dia dos usuários (TAVARES, 2012, p. 132).

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3. PERCURSO METODOLÓGICO

3.1 Tipo de estudo

O presente estudo foi elaborado através de pesquisa qualitativa, que

segundo Flick, (2009, p. 37) “[...] dirige-se à análise de casos concretos em suas

peculiaridades locais e temporais, partindo das expressões e atividades das pessoas

em seus contextos locais”. Partindo dessa afirmação foi estabelecido um

conhecimento da realidade local, a fim de vivenciar mais de perto as relações que a

compõem.

Sendo a pesquisa de natureza descritiva, onde esta modalidade o

pesquisador descreve e registra os fatos e características de um determinado

fenômeno sem interferir neles, com finalidade de analisar e ordenar dados utilizando

de técnicas específicas como entrevista, questionário, formulário e observação

(PRODANOV & FREITAS, 2013).

Realizamos um levantamento bibliográfico, que segundo Lakatos (2003,

p.183), “[...] abrange toda bibliografia já tornada pública em relação ao tema de

estudo”. Com isso buscamos as diferentes concepções sobre o sofrimento psíquico,

a família e utilizando documentos eletrônicos, livros, revistas, artigos científicos, para

um maior entendimento sobre o cuidado da família no tratamento junto à criança e

adolescente em sofrimento psíquico e a contribuição do grupo terapêutico de família.

3.2 Participantes do estudo

Foram incluídos como sujeitos do estudo os 15 familiares-cuidadores de

crianças e adolescentes em sofrimento psíquico que participam de atividade de

grupo de família.

Foram excluídas cinco (05) familiares-cuidadores de crianças e

adolescentes em sofrimento psíquico que há três (03) semanas consecutivas não

compareceram ao grupo de família, visto que essas ausências implicam na saída

dessa família do grupo.

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Participaram um total de nove (09) mães biológicas e uma (01) tia que

após o falecimento da irmã tornou-se cuidadora ativa da criança. Estas, frequentam

o grupo semanalmente.

3.3 Cenário do estudo

A pesquisa foi realizada no Centro de Atenção Psicossocial Infantil

(CAPSi) Maria Ileuda Verçosa situado na Secretaria Regional IV, Rua Jaime

Benévolo, nº 1644, funcionando de segunda à sexta-feira das 08h às 17h. no local é

realizado atendimentos de crianças e adolescentes em sofrimento psíquicos graves

e persistentes, com idade que variam entre quatro e dezoito anos.

Este CAPSi é contemplado por uma equipe multiprofissional de 04

Psicólogas, 01Psiquiatra, 05 Assistentes Sociais, 01 Musicista, 03 Terapeutas

Ocupacionais, 03 Farmacêuticos, 01 Nutricionista, 03Enfermeiras, 01 Fisioterapeuta

e 02 Coordenadoras. A equipe técnica é composta por 01 Digitadora, 02 Serviços

Gerais, 06 Recepcionistas, 02 Auxiliares Administrativos, 01 Manipuladora de

Alimentos, 02 auxiliares de farmácia, 02 Porteiros e 02 Vigias, realizando várias

ações que contemplam toda a semana como atendimentos mensais e semanais,

grupos terapêuticos, abordagem de rua, visitas domiciliares e institucionais.

Para dar entrada no serviço, primeiramente é realizada uma avaliação

inicial, em uma escala elaborada pelos próprios profissionais. A Assistente Social

participa ativamente deste processo, junto com usuário e familiar para identificar se

é perfil ou não do CAPSi.

Sendo perfil do serviço, ou seja, crianças e adolescentes de 04 a 18 anos

de idade, que residam nas SRs II, IV e VI em sofrimento psíquico de moderado a

grave, é realizada uma Anamnese, iniciando o Plano Terapêutico Singular (PTS)

através de atendimentos individuais e/ou grupais. Não sendo perfil, são feitos

encaminhamentos para outros serviços de saúde. A Anamnese é o primeiro contato

com o usuário, neste instrumento estão contidas a história da criança, desde antes a

sua concepção até o momento em que ele dá entrada ao CAPSi.

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São variados os grupos existentes no serviço, tais como, grupos de

crianças, tendo como perfil crianças com baixo nível de concentração, dificuldade de

socialização, agitadas, com episódios de agressividade, prejuízo social e escolar;

grupos de adolescentes para os que possuem conduta inadequada, como não

respeitarem regras e limites, dificuldade de socialização, conflitos familiares e

dificuldades em aceitar as mudanças relacionadas à idade; e grupo de redução de

danos, com adolescentes que fazem uso abusivo de álcool e outras drogas, que

aborda a prevenção e superação, realizando atividades reflexivas e criativas.

Com estes grupos destinados a crianças e adolescentes é imprescindível

presença do Grupo de Família, tendo o objetivo de orientar pais e familiares a

lidarem com o sofrimento psíquico de seus filhos, darem suporte emocional,

favorecer a socialização, incentivar a responsabilização no tratamento, resgate da

autoestima, oficinas corporais, rodas de conversa e trabalhos manuais.

Tanto para os grupos como para atendimentos individuais, existe uma

frequência regular. Quando as faltas tornam-se constantes, os profissionais de

referência realizam contato telefônico para identificar a causa, e quando existem

informações não esclarecidas sobre as faltas, o profissional solicita uma visita

domiciliar para investigar tal causa.

As Visitas Domiciliares e Institucionais ocorrem semanalmente com turnos

e profissionais de áreas diferentes, sendo que as Assistentes Sociais participam na

maioria dos dias ofertados. As ditas visitas ocorrem em ocasiões nas quais os

usuários, por algum motivo, estejam impossibilitados a ir ao serviço, bem como para

conhecer a dinâmica familiar e condições de moradia ou em situações de conflitos

familiares e crises, também para realização de busca ativa, ou em atendimento a

uma determinação judicial, além de buscar conhecer como se dão os atendimentos

e prestação de serviços institucionais que são ofertados, com o objetivo de fortalecer

o vínculo com a rede.

Estas formas de atendimento, tanto domiciliar quanto institucional, são

instrumentos de grande importância na práxis do Assistente Social, a fim de

trabalhar a escuta da família, reconhecendo suas particularidades, as condições em

que vivem o usuário e sua família, compreender a dinâmica familiar e através da

visita institucional fortalecer a rede de atenção a saúde integrada.

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3.4 Coleta das informações

A coleta de dados deu-se no mês de maio de 2014, através de visitas ao

CAPSi, durante este mês conseguimos realizar as entrevistas com familiares que

participam de grupos distintos no período da tarde, que acontecem de segunda a

sexta-feira totalizando 05 (cinco) grupos terapêuticos de família, mesmo com

algumas dificuldades como a frequência irregular de algumas famílias.

O acesso ao serviço foi tranquilo, por já conhecer o espaço e a equipe,

contamos com a colaboração dos profissionais que se fizeram presente durante

minhas visitas, tivemos esclarecimentos acerca da dinâmica do grupo de família e

uma aproximação positiva com as participantes.

O instrumento utilizado para a coleta de dados foi a entrevista no modo

semiestruturada, onde seguimos um conjunto de questões previamente definidas

coletando o máximo de informações possíveis, utilizamos o recurso de um gravador

para facilitar no ato das entrevistas, todas as participantes autorizaram esta

gravação. Foi utilizado também um formulário para uma interação maior com essas

famílias, conhecendo e apreendendo suas condições socioeconômicas, a fim de

participar ativamente de todo o processo que envolve o usuário dentro da instituição.

Para Lakatos (2003, p. 195):

A entrevista é um encontro entre duas pessoas, a fim de que uma delas obtenha informações a respeito de determinado assunto, mediante uma conversação de natureza profissional. É um procedimento utilizado na investigação social, para a coleta de dados ou para ajudar no diagnóstico ou no tratamento de um problema social (LAKATOS, 2003, p. 195).

A entrevista semiestruturada subsidiou a descrição do cotidiano e das

relações familiares de crianças e adolescentes em sofrimento psíquico, assim como

possibilitou um entendimento claro sobre as dificuldades e facilidades enfrentadas

por elas e a importância do grupo terapêutico de família. No formulário conteve

informações para a identificação socioeconômico dessas famílias.

As entrevistas ocorreram em salas distintas do serviço, assim como na

parte externa, iniciamos com a leitura do Termo de Consentimento Livre e

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Esclarecido (TCLE), esclarecendo sobre a pesquisa, todas as participantes

autorizaram a gravação em áudio e ficaram à vontade durante o processo.

3.5 Organização e Análise de Dados

Para organizar e análise os resultados foi utilizada a análise temática, a

qual permite que, a partir da leitura compreensiva dos discursos, surjam temas

conceitualmente significativos que podem desenvolver-se em categorias de dados

(POLIT; HUNGLER, 2004).

Deste modo, primeiramente, as entrevistas semiestruturadas foram

transcritas. Após, houve a leitura compreensiva dos discursos, identificando cada

sentido, com a percepção de temas significativos. Seguinte a esse momento,

juntamos os discursos, em grupos temáticos, as falas das participantes e suas

significações, originando as categorias.

De acordo com Gil (2002, p. 134), “A categorização consiste na

organização dos dados de forma que o pesquisador consiga tomar decisões e tirar

conclusões a partir deles”.

Para discussão e análise dos discursos contemplados nas categorias,

utilizamos a literatura revisada.

3.6. Considerações éticas

O presente estudo foi submetido à aprovação da Secretaria Municipal de

Saúde (SMS) com nº. 152985/2014, seguindo os preceitos éticos da pesquisa.

Seguiu as recomendações do Conselho de Ética em pesquisa com seres humanos,

estabelecidas pela RESOLUÇÃO N° 196 de outubro de 1996 (Conselho Nacional de

Ética em Pesquisa – CONEP, 2000).

O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) das propostas do

estudo foram assinados pelos participantes, em duas vias, sendo explanado o

objetivo do estudo anteriormente aos envolvidos. Além disso, garantimos a liberdade

para aceitarem ou não participar da pesquisa sem que quaisquer prejuízos sejam

acometidos, assegurando-lhes sobre o sigilo e que não haveria n, assim como a

desistência em qualquer momento durante a pesquisa.

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4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Caracterização e perfil dos familiares

Para descrever o perfil dos familiares foi necessária uma atenção maior

referente à singularidade de cada participante do estudo. Utilizamos o termo

cuidadoras pelo fato de que o “cuidado significa atenção, precaução, cautela,

dedicação, carinho, encargo e responsabilidade” (BRASIL, 2008, p. 09).

Deste modo, as integrantes das famílias que desempenham o papel de

principal cuidadora e que aceitaram participar do estudo são do sexo feminino, foram

entrevistadas 10 famílias, possuindo idade entre 32 e 48 anos, idade esta a qual o

cuidador familiar apresenta um amadurecimento no trato maternal, expressando

uma relação histórica desse cuidado deste os primórdios da sociedade moderna,

relacionando assim “a determinação da esfera doméstica ao gênero feminino,

associando o cuidado ao vínculo maternal” (TAVARES, 2009, p. 51).

Sabemos que a presença de gênero é historicamente construída e a

figura feminina tende a prover o cuidado e manter o bom relacionamento dentro do

lar. A mulher é identificada como peça fundamental ao vínculo doméstico e a ela são

destinadas funções de prestadora de cuidados e educadora dos filhos e dos demais

integrantes da família (VASCONCELOS, 2010).

Estas frequentam o grupo de família do CAPSi no período entre 05 (cinco)

meses e 04 (quatro) anos, 05 cinco delas trabalham e as outras 05 (cinco) são

donas de casa e confeccionam artesanatos.

Algumas recebem o benefício de prestação continuada (BPC) das

crianças e adolescentes em sofrimento psíquico, que consiste de um beneficio

assistencial, não contributivo para idosos a partir de 65 anos e pessoas com

deficiência (física, intelectual ou mental) (BRASIL, 2011).

As cuidadoras mantêm uma renda entre um (01) e três (03) salários

mínimos; apenas 02 (duas) delas são solteiras, 08 (oito) são casadas e sustentam a

casa também com o salário de seus companheiros; a maioria delas possui moradia

própria e apenas 04 (quatro) pagam aluguéis de suas residências.

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As famílias entrevistadas terão suas identidades preservadas, sendo

representada por nomes de flores. A escolha se deu porque é perceptível a

delicadeza do cuidado que as mães depositam em seus filhos, assim como o amor,

a pureza, suas cores, a leveza e cada diferenciação da espécie das flores expressa

o interior singular de cada cuidadora da pesquisa.

A primeira entrevista se deu em uma sala do serviço, primeiramente

conversei com Dona Violeta e a mesma se sentiu a vontade para participar da

pesquisa. D. Violeta tem 42 (quarenta e dois) anos de idade, concluiu o ensino

fundamental, é casada, cujo marido trabalha como pedreiro. É mãe de dois filhos,

um menino e uma menina. Apenas um faz tratamento no CAPSi, no caso, a criança

do sexo feminino, com idade de 09 (nove) anos. Depois que D. Violeta pediu

demissão do emprego para cuidar da filha, as condições financeiras ficaram

complicadas e ela optou por vender confecção de uma amiga, com a venda ela

amplia a renda da família, além de receber o BPC. O benefício foi concedido depois

de sua inserção no serviço. É usuária do CAPSi a cerca de dois anos, e a um ano e

cinco meses participa do grupo de família frequentemente. Mora de aluguel em uma

casa com cinco cômodos. Sua filha tem uma aproximação positiva com a tia, pois

em momentos que D. Violeta sai para fazer suas vendas, ela pede ajuda a irmã para

ficar com seus filhos.

A segunda entrevistada foi Dona Orquídea, 38 (trinta e oito) anos,

concluiu o ensino médio, mãe de duas filhas, hoje se encontra desempregada. Mora

com seu marido que sustenta a casa, que por sua vez, é alugada e com sete

cômodos. Mesmo o marido trabalhando para sustentar, D. Orquídea sente falta de

trabalhar, mas tem a pretensão de voltar após as filhas crescerem. Além do marido e

das filhas, D. Orquídea convive com sua mãe, que segundo ela tem uma velhice

saudável. Iniciou o tratamento da filha a mais de um ano após a primeira crise e com

isso ela teve que ir mais de uma vez durante a semana para o CAPSi e há cinco

meses, participa do grupo de família.

Dona Margarida tem 32 (trinta e anos) de idade, não concluiu o ensino

fundamental, tem apenas um filho, deixou de trabalhar para cuidar dele e hoje faz

artesanato para custear também a renda familiar. A decisão por ter deixado seu

emprego veio a partir do comportamento de seu filho e em diversas conversas com

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o marido, D. Margarida decidiu sair do emprego. Mesmo com as dificuldades que

enfrenta, ela não se arrepende e luta pela união de sua família. Mora em uma casa

própria, onde reside desde criança, sendo a casa de sua mãe que após seu

falecimento, ficou para D. Margarida. A casa possui oito cômodos. Segundo ela os

móveis são velhos, mas que ela irá conseguir arrumar com móveis novos. Seu

marido é caminhoneiro e eles passam algum tempo afastados, segundo D.

Margarida, ela se sente sozinha às vezes, mas entende o trabalho do marido. A

relação com a criança dentro do ambiente familiar após a entrada ao CAPSi é calma

e ela sente que o tratamento está tendo resultados positivos.

Dona Jasmim é mãe de 03 (três) filhos, dentre eles um filho do sexo

adotivo do sexo masculino. A filha que faz tratamento no CAPSi já é adolescente e

desde cedo é acompanhado no serviço, D. Jasmim está há quatro anos no serviço e

já participou de grupos diferentes de família, assim como muitas etapas dentro do

serviço, segundo ela, participou do processo de mudança da sede do serviço, na

troca de gestão e quando os profissionais foram demitidos e vivenciou a entradas

dos novos profissionais também. D. Jasmim tem 43 (quarenta e três anos), concluiu

o 2º grau (atual ensino médio), é dona de casa, mora em uma casa própria com seu

marido e filhos, diz ter uma vida boa, pois existe o respeito e a união dentro do lar.

Dona Lírio tem 48 (quarenta e oito) anos, é mãe de uma jovem de 19

(dezenove) anos e mãe de um filho de 08 (oito) anos. Teve complicações durante a

gravidez do segundo filho por conta da idade. Trabalha como faxineira e se diz

realizada no que faz. Mantém uma relação positiva com os patrões, sua patroa é

médica e ela mesma incentiva a prática do tratamento. D. Lírio não terminou o

ensino médio, é casada, mora de aluguel em uma casa, segundo ela, humilde. Faz

parte do grupo de família há sete meses e já sente os benefícios do atendimento,

tanto para ela quanto para seu filho.

Dona Girassol tem 38 (trinta e oito) anos. Sempre teve uma vida difícil,

não teve acesso aos estudos, é mãe de um adolescente que faz tratamento no

CAPSi há aproximadamente dois anos. Mora em uma casa própria com a irmã,

cunhado, sobrinho e o adolescente. O pai do adolescente não convive com o

mesmo. D. Girassol disse que não tem contato algum e que não recebe nenhuma

ajuda financeira por parte do ex-companheiro. A tia é a pessoa mais próxima do

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adolescente. D. Girassol não trabalha e após o ingresso no CAPSi, depois de

algumas tentativas, conseguiu o BPC para o filho. Ela relata que esse dinheiro é

muito importante para o adolescente, é com ele que ela consegue comprar as coisas

dele e ajudar na renda da casa.

Dona Lavanda é mãe de 01 (um) filho e há um um ano faz parte do grupo

de família, tem 32 (trinta e dois) anos, cursou o 2º grau completo (atual ensino

médio) e trabalha em uma clínica. D. Lavanda é casada, seu marido passa o dia fora

e ela trabalha meio período. Mostra-se muito religiosa, mora em um apartamento

próprio e sua renda mensal fica em torno de três salários mínimos. A irmã de D.

Lavanda fica com a criança até ela chegar do trabalho, que é na hora do almoço, e

partir dai D. Lavanda cuida de seu filho e da casa.

Dona Tulipa tem 47 (quarenta e sete) anos, um casal de filhos, o filho que

faz tratamento no CAPSi é do sexo masculino. A pessoa mais próxima da criança é

a irmã, visto que ela quem cuida do irmão quando a mãe está trabalhando. D. Tulipa

tem o ensino médio completo, é solteira, recebe pensão dos filhos de seu ex.

companheiro, trabalha em uma loja na função de vendedora perto de sua casa. Faz

parte do serviço acerca de três anos, segundo ela já teve que deixar o tratamento

por questões familiares, mas teve que retornar pelo fato do filho ter entrado em crise.

Dona Rosa, tem 40 (quarenta) anos, cursou o ensino médio completo.

Após o falecimento de sua irmã, que fazia uso abusivo de álcool e outras drogas,

levou seu sobrinho para morar com ela, diz não se arrepender por este ato, preza

pela união e compreensão de toda sua família, pois acompanhou de perto toda a

trajetória do sobrinho. D. Rosa é casada, mora em uma casa alugada com seus três

filhos e o adolescente que faz tratamento no CAPSi, trabalha em um negócio próprio

com o marido e é por este motivo que ela tem o tempo para ir a todas as consultas e

ao grupo de família, está a pouco tempo no serviço, mas depois de sua inserção no

grupo, ela nota mudanças positivas.

Dona Primavera é casada, tem 42 (quarenta e dois) anos seu marido é

aposentado, mora em uma casa própria com seus 03 (três) filhos. O pai é a pessoa

mais próxima do adolescente, pois passa o dia com ele em casa. Mesmo o marido

sendo aposentado, faz consertos em gerais e isso ajuda também na renda da

família. D. Primavera trabalha com a cunhada em um negócio, concluiu o ensino

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médio. Está há um ano e meio no serviço, refere que o atendimento do grupo é de

extrema importância e se sente triste pela rotatividade de profissionais.

As entrevistas foram realizadas respeitando os preceitos éticos da

pesquisa. Todas as participantes tiveram acesso ao termo de consentimento livre e

esclarecido e tiveram suas identidades preservadas.

Diante dos perfis expostos, percebe-se que em decorrência do sofrimento

psíquico algumas cuidadoras deixaram seus empregos para se dedicar ao filho e

assim promover a atenção necessária.

Depois que eu descobri que ela tinha problema, tive que ficar saindo muitas vezes do trabalho pra levar ela pro médico [...] então tive que fazer um acordo com minha patroa e eu sai de lá. (D. Violeta)

No começo foi muito difícil lá onde eu trabalhava o pessoal não entendia e quando ela teve que ser internada eu não sabia o que fazer e meu marido disse que era melhor eu sair do emprego [...] ela começou a fazer o tratamento aqui e tinha que vim três vezes na semana e só podia ser eu pra trazer [...] (D. Orquídea)

Eu tive que sair por causa do meu filho e hoje eu faço artesanato, não queria ter deixado mais preferi a cura dele. (D. Margarida)

É nesse contexto que o cuidado domiciliar e o desejo pela melhora da

qualidade de vida das crianças e adolescentes em sofrimento psíquico se destacam,

pois os membros responsáveis tomam decisões a fim de contribuir diretamente no

tratamento especializado. Em estudo, Tavares (2009, p. 52) coloca que “a

interdependência objetiva e subjetiva apresentada pelo portador de sofrimento

psíquico, faz com que a assistência domiciliar efetuada por familiares-cuidadores,

seja muitas vezes, necessariamente, contínua e integral”.

Essas famílias esboçam que o cuidado deve ser realmente integral,

regado de muito amor e paciência, pois só dessa forma pode-se conseguir uma

melhor qualidade de vida para a família e a pessoa em sofrimento psíquico, no caso,

as crianças e adolescentes.

Na maioria das vezes quando um membro familiar adoece, é necessário

que a família se adapte a uma nova rotina que perpassa a maneira de lidar com a

criança e o adolescente em sofrimento psíquico, assim como a parte financeira. As

participantes deixam claro que é preciso uma adaptação no cotidiano junto ao

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ambiente familiar, que envolvem os fatores sociais, emocionais e econômicos

(NAVARINI & HIRDES, 2008).

Como já foi explicitado que algumas cuidadoras tiveram que deixar seus

empregos devido ao sofrimento psíquico de seus filhos. É cabível mencionar através

dos relatos que a pessoa em sofrimento psíquico é tida como um integrante que

ajuda na composição da renda familiar quando este recebe o BPC, sendo que,

muitas vezes, é a única fonte de renda financeira para a família como relata duas

participantes do estudo.

[...] é como eu já falei. Minha vida é muito difícil, eu não tenho ajuda do pai dele porque não sei onde ele anda depois que eu trouxe ele pra cá, demorou um tempo, mas eu consegui pra ele o benefício com o laudo da médica e é com esse dinheiro que eu compro as nossas coisas, a minha irmã até me ajuda, ele se dá muito com ela, mas se não fosse o benefício (a mãe silencia por alguns segundos) eu nem sei como seria, pois não trabalho e nem sei ler, e às vezes faço uns bico [...] (D. Girassol)

Eu recebo o BPC dela que foi difícil de conseguir, mas eu não desisti e deu certo, sou muito insistente sabe?! Então como tive que sair da casa que eu trabalhava, tive que correr atrás do direito dela... Ah, também faço venda de roupa de uma amiga e ganho um dinheirinho também e meu marido é pedreiro, é desse jeito que vivemos. (D. Violeta)

Em estudo, Vasconcelos (2010, p. 254) trata que o desligamento das

atividades laborais dá-se pelo fato de um ou mais membros se responsabilizarem

pelos cuidados do ente em sofrimento psíquico, “o que os impossibilita de entrar no

mercado de trabalho e assim, de contribuir para a renda familiar, bem como impede

sua realização profissional”.

Eu trabalhava, mas tive que sair por causa dela, estava gostando muito, porque era meu primeiro emprego de carteira assinada e eu gostava, pensava até em fazer curso, eu era recepcionista, mas ai veio a doença e tudo mudou na minha vida [...] (D. Jasmim)

Com as manifestações do sofrimento psíquico da criança ou do

adolescente, a família tende a se responsabilizar por isto e resistir de alguma

maneira “à reinserção deste no ambiente familiar e a cobrar dos serviços

especializados o apoio necessário, ao perceber que o processo de desospitalização

ou desinstitucionalização é inevitável” (VASCONCELOS, 2010, p. 240).

Nesse momento, podemos perceber que a procura pelo tratamento

adequado e de qualidade permanece como uma tarefa positiva dessas famílias para

uma melhor compreensão, dedicação e o cuidado com a criança e o adolescente em

sofrimento psíquico.

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4.2. Busca pelo tratamento da criança e do adolescente em sofrimento

psíquico

A Família, por ser o elo central da relação, dispõe de uma atenção e

sensibilidade para perceber alterações de comportamento durante o

desenvolvimento dos filhos, que não são vistas como padrão pela sociedade.

Nos relatos coletados, percebemos o quão é difícil entender o que

realmente acontece e o porquê dessas mudanças de comportamento. As cuidadoras

encaram uma realidade atípica a partir das manifestações do sofrimento psíquico,

causando uma confusão mental, emocional e com isso surge o desejo de procurar

ajuda, seja ela com os próprios familiares ou com profissionais da área da saúde.

Quando ela era bebê sempre ria e falou muito cedo, bem sapeca, mas de uma hora pra outra ela se transformou [...] tinha uns sete anos [...] um dia a diretora me ligou e disse que ela não parava de chorar e eu fui buscar e depois disso ela não conseguia mais dormir, ficava direto comigo e depois de uns dias ela ficava dizendo que tava com medo de levarem ela, eu fiquei também com medo dessas histórias dela, ai o negócio piorou e eu levei no posto e lá mandaram vim aqui pro CAPSi. (D. Jasmim).

É notório que o impacto das manifestações de mudanças de

comportamentos repentinos ou sem razão abala o seio familiar, pois o aparecimento

de algum sofrimento psíquico causa ainda certa limitação em decorrência da não

compreensão dos aspectos que envolvem a patologia criança e o adolescente.

Rosa (2003, p. 254) elenca que “muitas vezes, pelas reações agressivas

do Portador de Transtorno Mental (PTM) a família é obrigada a conviver com o

medo”. É neste ensejo que as famílias procuram um serviço de saúde para que esta

sensação de medo possa ser esquecida e dar espaço a uma nova linha de cuidado.

A busca pelo tratamento se torna uma tarefa árdua para as cuidadoras,

pelo fato do desconhecimento do serviço de saúde especializado, a partir dos

sintomas das crianças e adolescentes que manifestam condutas agressivas e uma

agitação que acomete episódios de raiva, muitas vezes sem motivos aparentes.

Antes de chegar aqui eu passei por vários lugares, fui pro posto, hospital, até na igreja eu tinha levado e não sabia mais pra onde ir [...] foi ai que minha vizinha me disse que tinha um lugar que cuidava de pessoas agitadas, o sobrinho dela faz tratamento aqui também [...] ela me deu o endereço e eu trouxe ele aqui, depois disso não sai mais e tô sempre nas atividades daqui. (D. Primavera)

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Notamos que a procura de um serviço especializado, ocorre depois de

algumas tentativas, isso devido a falta de conhecimento, pois como relatou D.

Primavera, antes de chegar ao CAPSi passou por alguns locais, que por sua vez

deveriam fazer o papel de encaminhá-la para o serviço de saúde correto, mas a falta

de uma rede integrada dificulta essas ações que deveriam acontecer a partir da

atenção primária.

Esses deslocamentos geram cansaço tanto físico como mental, mas não

podemos esquecer que essa falha na articulação entre a rede dos serviços de saúde

é decorrente da falta de investimento para que se possa ser construída de fato uma

rede de atenção integrada em saúde e garantir um tratamento digno e de qualidade.

As ações que competem esses encaminhamentos nem sempre partem

dos serviços da atenção básica de saúde. D. Lavanda foi encaminhada para o

CAPSi através da professora de seu filho, que notou a agitação psicomotora.

Ele era bem agitado, não conseguia se concentrar na sala, batia nos colegas, era reclamação quase todo dia, ele não sentava [...] então a professora pediu pra eu procurar ajuda porque isso não era normal, dai ela me encaminhou pra cá [...] passei mais de seis meses pra vim, só vim mesmo quando ele começou a ficar agressivo comigo e me responder, dai vi que não tinha mais jeito, até pra vim com ele dentro do ônibus era um sofrimento. (D. Lavanda)

Algumas dificuldades surgem através do desconhecimento da mudança

de comportamento da criança ou do adolescente, e a família não consegue perceber

que essas alterações veem de algum sofrimento psíquico, dificultando as relações

interpessoais (ROSA, 2009).

Mesmo a escola sugerindo a mãe que a criança necessitava de uma

avaliação psicossocial, notamos uma resistência por parte da cuidadora. Muitas

delas esperam os sintomas aumentarem para enfim procurar uma ajuda profissional

especializada. A família por diversas circunstâncias se vê sozinha e sem um

acompanhamento adequado fica difícil e as dificuldades aumentam.

4.3. Dificuldades das famílias

Dentre as dificuldades cotidianas, os dados coletados mostram que os

problemas relacionados à questão financeira muitas vezes ocorrem por existir uma

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criança ou um adolescente em sofrimento psíquico no meio familiar. Há a dificuldade

de algumas cuidadoras gerarem renda por ficar o dia todo cuidando de seus filhos,

além dos gastos extras em decorrência do tratamento.

Os relatos evidenciam que as condições financeiras dessas famílias já

são afetadas e elas colocam que o ente em sofrimento psíquico sofre com a falta de

recursos e algumas abdicam seus empregos para poder dar uma melhor qualidade

de vida e tratamento para sua criança ou adolescente em sofrimento psíquico.

Nossa família é muito humilde... nunca passamos fome... mas sempre temos limitações sabe?! Eu trabalho de fazer faxina, mas quando tô lá meu pensamento é em casa, porque deixo ele com minha filha, quando to em casa não tiro o olho, porque ele mexe em tudo, tira tudo do lugar, mexe nas coisas da cozinha, se eu pudesse nem trabalhava mais, só ficava cuidando dele, mas não posso né?!. (D. Lírio)

Nas falas, também percebemos que o cotidiano dessas famílias se

transforma em virtude do sofrimento psíquico presente no integrante familiar, que

além da sobrecarga financeira, muitas delas relatam que hábitos simples se

tornaram uma regalia, como sentar-se na calçada, ir a uma pizzaria e até repousar.

Durante as entrevistas estes relatos transparecem de forma cansativa e triste, mas

ao mesmo tempo as cuidadoras esboçam um desejo de melhora, mesmo com as

renuncias que surgem em seu dia-a-dia.

Depois que deixei de trabalhar, minha rotina é só cuidar dela, não tiro o olho um minuto se quer, meu marido diz que eu aumento, mas ela precisa de mim [...] eu me canso muito, faço tudo dentro de casa, deixei de me sentar até na calçada porque ela não parava quieta, me envergonhava, gritando comigo, era uma loucura, mas hoje ela tá bem melhor (D. Orquídea).

Rosa (2003) expressa que essas transformações recaem sobre a figura

materna e paterna, por serem dadas a elas responsabilidades para com os filhos,

em especial àqueles que requerem de um cuidado intensificado.

É no contexto da linha do cuidado que a família se materializa como

provedora desta tarefa que recai em sua maioria na figura feminina. Segundo Rosa

(2003, p.17) “[...] as mulheres são chamadas a intensificar sua dedicação,

sacrificando muitas vezes suas carreiras profissionais fora de casa, sua vida e seus

projetos pessoais”.

Durante a análise dos discursos, surgiram outros sentimentos que foram

sendo colocados de forma gradativa pelas participantes, pois as experiências

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vivenciadas expressam sobrecargas emocionais e físicas, assim como dificuldades

no lidar com a criança e o adolescente em sofrimento psíquico.

Desde nova que minha vida é complicada, eu posso não saber ler, mas isso não tive culpa, porque tinha que cuidar dos meus irmão mais novo, né?! Quando tive ele, minha dificuldade maior era saber... Com o comportamento dele, não sabia como fazer ele parar de chorar, eu ficava chorando também. (D. Girassol)

Tem uma pessoa da minha família, da família que não gosta que ela brinque com os filhos dela, já briguei uma vez com ela porque ela chamou minha filha de doida, eu não aceito isso, acho que ninguém né?! (D. Orquídea).

Os entraves no saber lidar com a criança e o adolescente em sofrimento

psíquico foi um dos pontos principais que as cuidadoras relataram. Notamos que

elas passam por situações desconhecidas em seu meio e surgem as dificuldades

como conduzir essa situação, seja ela de agressividade, choro fácil e até mesmo

situações de preconceito dentro do próprio ambiente familiar.

Em nossa sociedade, o preconceito ainda se faz presente em relação à

pessoa em sofrimento psíquico decorrente da falta de conhecimento e manejo de

cuidado, com isso ocasiona o afastamento de familiares do ambiente social, de

festas e isso pode ser notado com mais frequência no familiar cuidador

(VASCONCELOS, 2010).

É muito difícil... Eu não sabia lidar e isso gerou muitas brigas entre eu e minha família, o pai não quis saber dele e hoje eu não sei onde ele tá, então tudo era eu... Quer dizer, tudo sou eu. (D. Girassol)

Observamos que toda essa assistência prestada à criança e o

adolescente em sofrimento psíquico, não é nada fácil. As cuidadoras se desdobram,

criam estratégias para um cuidado eficaz, renunciam muitas das vezes seus

empregos, atividades diárias e suas rotinas.

Deste modo, a convivência com a criança e adolescente em sofrimento

psíquico gera na família o anseio de sua própria melhora, pois algumas cuidadoras

esboçaram que precisam se cuidar também, para que haja uma melhora no

ambiente e nas relações intrafamiliares (VASCONCELOS, 2010).

[...] não sabia lidar... Eu ficava direto nervosa, hoje é tudo diferente, porque através daqui eu consegui me erguer, consegui ficar bem e isso ajudou tanto em mim quanto lá em casa. (D. Tulipa)

Eu venho pra cá porque minha patroa também é medica e sabe da importância do tratamento [...] a relação da gente é boa, mas de vez em

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quando ele me tira do sério [...] eu tento me cuidar também pra ajudar. (D. Lírio)

Em decorrência do sofrimento psíquico, o sistema familiar é abalado,

devido ao despreparo na linha do cuidado com a criança e o adolescente

(TAVARES, 2009). Notamos que a falta de compreensão acarreta na falta de

paciência da cuidadora, D. Lírio colocou que “de vez em quando ele me tira do

sério”, essa fala evidencia esse despreparo no trato do integrante familiar.

É perceptível que elas carregam um peso que muitas vezes são

revertidos em ações transformadoras. Algumas delas esboçam que o fato de ter

uma criança ou adolescente em sofrimento psíquico causa estranhamento dentro e

fora do âmbito familiar. No discurso de D. Lavanda ela se sente triste pelo fato das

pessoas não entenderem o comportamento de seu filho.

[...] a escola que me encaminhou pra cá, antes de disso, as mães dos coleguinhas, ficavam falando que eu não tinha pulso firme com ele, que eu deixava ele fazer tudo que queria, na reunião ele era o assunto, sabe?! Eu ficava triste, ainda fico, porque depois que ele começou o tratamento aqui, lá na escola até que melhorou, mas às vezes tem ainda as reclamações [...] o sentimento de tristeza que eu falo é quando eu to no centro, numa loja, no ônibus, as pessoas me olham e olham pra ele com olhar de reprovação, ele é hiperativo, ai já viu né?! (D. Lavanda)

Notamos também que os momentos em que ocorrem as crises em

crianças e adolescente em sofrimento psíquico geram uma sobrecarga para a

cuidadora. Vasconcelos (2010, p. 271) coloca que “é importante ressaltar que o

Transtorno Mental implica uma sobrecarga emocional e temporal por exigir da

família de seu portador maior dedicação, tendo em vista que, nas crises, ele precisa

ser cuidado e vigiado [...]”.

Faz tempo que ela não tem crise, tempo mesmo, mas quando teve eu tive que ter mais cuidado e atenção, não deixava nada no alcance das mãos dela, e quase nem dormia, era horrível [...] (D. Jasmim)

Percebemos que toda essa sobrecarga familiar e as dificuldades

enfrentadas recaem sobre a figura da cuidadora mais próxima. Então esse

sentimento de querer o bem-estar e prover a melhora para a criança e o adolescente

em sofrimento psíquico por parte da família é algo muito presente, não podemos

desconsiderar que por trás disso, permanecem as experiências vivenciadas por

estas mulheres, assim como a sobrecarga e as emoções de cada uma delas.

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As dificuldades relatadas como preconceito, abdicação, tristeza, medo,

culpa, deixam a família fragilizada e é nesse sentido que os profissionais do CAPSi

em especial as Assistentes Sociais devem intervir e dar o suporte ao tratamento de

forma efetiva nessas dificuldades e contribuir com atendimentos individualizados e

uma escuta qualificada, oportunizando o apoio para que essa família possa

participar das atividades do serviço e buscar a superação de seus problemas.

4.4 Tratamento no CAPSi

4.4.1 As mudanças na vivência familiar após a entrada no CAPSi

O CAPSi trouxe mudanças relevantes para as famílias pesquisadas, que

com a sua inserção no tratamento perceberam que podem contribuir e se tornar

atores ativos na melhora do quadro da criança e o adolescente em sofrimento

psíquico, dentro e fora do serviço. As famílias são incluídas pelo CAPSi como

produtoras de cuidado.

Percebemos que essa inserção interfere de forma ativa e precisa durante

o tratamento ajudando a superar as dificuldades do dia a dia, mantendo uma postura

coerente em relação ao trato com seus filhos.

Agora eu vejo resultado porque ele é mais carinhoso comigo e menos agressivo, mas é que é todo um trabalho com os profissionais do CAPSi, o trabalho meu com ele dentro de casa, como eu to agindo com ele, pra que essa melhora seja visível [...] a gente tem que trabalhar a criança dentro de casa também, não adianta fazer alguma coisa aqui e chegar em casa e não botar em prática. (D. Margarida)

No ato das entrevistas as cuidadoras colocaram como passo fundamental

uma relação amigável e construtiva, estratégia essa usada para manter um cuidado

e uma melhor qualidade vida para toda a família, buscando contribuir no processo

de tratamento dentro do CAPSi e consequentemente, em suas residências.

A família inserida na abordagem do serviço aprende a lidar com a

sintomatologia e gradualmente compreende melhor o comportamento do integrante

familiar em sofrimento psíquico (VASCONCELOS, 2010).

As Assistentes Sociais do CAPSi atuam na perspectiva de vincular as

famílias as atividades do serviço e assim fortalecer os laços familiares e promovem

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orientações sobre o sofrimento psíquico. Essas são algumas ações das Assistentes

Sociais junto a equipe interdisciplinar do CAPSi para um aproveitamento maior

durante o tratamento de crianças e adolescentes em sofrimento psíquico e suas

famílias.

É recorrente nas falas que a relação familiar e o cuidado que as famílias

depositam em seus filhos são relevantes para uma melhor interação no ambiente

familiar. Com a entrada no serviço, a família passou a transformar o ambiente e a si

mesma. Desta forma citam como elas lidam cotidianamente com o integrante familiar

em sofrimento psíquico após a entrada no CAPSi.

Eu levo ele pro terço, e ele fica sentadinho e rezando e tem outras crianças La, quando quer ir embora, ele me diz e eu deixo ele ir, porque é vizinho lá em casa. (D. Girassol)

Eu faço de tudo pra ela ficar bem, sempre invento alguma coisa pra ela se sentir melhor sabe?! Eu prezo por uma boa relação lá dentro de casa, não gosto de brigas, trago ela aqui pra poder também me ajudar a lidar com ela. (D. Jasmim)

Eu sempre falo aqui no CAPSi que nós como mães que somos, temos o dever de cuidar. O que eu faço é me dedicar a ele, mas sem esquecer dos meus outros filhos, tento explicar o que ele têm e que ele precisa de um cuidado a mais, eu tento com meu jeitinho...conversando, brincando, é desse forma que a relação lá dentro de casa funciona, com a conversa. (D. Rosa)

Notamos que a família é o laço primordial dentro de um lar e a figura da

cuidadora é carregar essa tarefa de propiciar o melhor para todos os envolvidos, D.

Rosa tem a consciência de que seu filho precisa de uma atenção especial, mas não

pode deixar de lado os outros filhos. É nesse sentido que a visão de totalidade

prevalece dentro do ambiente familiar.

Essas formas de lidar no ambiente familiar favorecem a família, pois é

com essas estratégias de cuidados que a relação dos integrantes familiar se

consolida e revela uma melhor compreensão no comportamento e no trato com a

criança e o adolescente em sofrimento psíquico.

Após a entrada das famílias no serviço CAPSi, ocorreram mudanças

significativas. Hoje elas esboçam essas transformações e revelam saber lidar com

as situações que antes eram tidas como impossíveis de se resolver, como os

momentos de crises.

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Na primeira crise, eu já fui encaminhada pra cá e já tive o suporte dos profissionais [...] faz tempo que sou atendida aqui [...] ele já passou por várias crises e hoje eu já sei amenizar os sintomas. (D. Tulipa)

Com os atendimentos aqui do CAPSi, o peso que eu carregava, diminuiu bastante, pois vejo que é super importante o tratamento e é com ajuda deles...dos profissionais que eu consigo cuidar e levar minha vida pra frente e a dele também né?! (D. Girassol)

Vasconcelos (2010) coloca que apesar de a família poder constituir o

melhor espaço de relações afetivas e pessoalizadas, esta se encontra em crise em

relação às condições para cuidar. Como foi constatado que essas famílias criam

suas estratégias de cuidados, podemos identificar em uma das falas que a depoente

explana de forma clara essa relação com a pessoa em sofrimento psíquico.

Antes de vim aqui pro CAPSi, eu não tinha paciência alguma, brigava muito com meu marido quando chegava do trabalho [...] minha irmã que fica com ele durante o dia, ele vai pra escola e na hora do almoço volto do trabalho e fico com ele. Eu não sabia agir, gritava bastante quando ele me desobedecia, ele queria tudo na hora dele [...] eu sabia que ele não fazia isso de propósito, sabia que tinha alguma de coisa de errado com ele, hoje nossa relação mudou, venho pra cá quase toda semana e me ajudou muito, me ajuda, né?! (D. Lavanda)

O suporte profissional especializado em saúde mental é fundamental e o

Assistente Social em sua prática intervencionista, tem como finalidade dar o suporte,

evitando disfuncionalidade do atendimento, propiciando uma melhora significante e

restabelecendo os vínculos familiares (BISNETO, 2011)

Ao ingressar no serviço CAPSi, o apoio das Assistentes Sociais,

juntamente com a equipe interdisciplinar a essas famílias, torna-se imprescindível

para uma melhora no quadro da criança e o adolescente em sofrimento psíquico, em

conformidade com os discursos suas angústias, tensões e despreparo, os quais são

amenizados pelos atendimentos psicossociais.

4.4.2 Aceitação e negação da família

Nos relatos, percebemos a negação da patologia antes da descoberta do

CAPSi e logo após a inserção no serviço as cuidadoras esboçam que o tratamento é

de fato essencial e que com a ajuda dos profissionais, elas passam a aceitar e

entendem que podem e devem se tornar atores ativos nesse processo.

A minha vizinha já tinha me dito: olhe seu filho tem autismo e eu não acreditei. A minha prima quando botou ele na frente de um computador

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também ela notou, disse olha ele tem autismo, também até ai eu não acreditava e só quando a doutora aqui do CAPSi falou é que eu acreditei realmente e passei pro meu marido, porque ele era um descrente total, ficava dizendo que eu tava procurando doença pro menino [...] que ele não tinha nada, o menino agressivo dentro de casa, me arranhando [...] (D. Margarida)

A família quando se encontra com uma enfermidade mental em seu meio,

passa a perceber que não é preparada para assumir tais responsabilidades de

cuidados, isso pela falta de conhecimento acerca da patologia (TAVARES, 2009).

Nesse sentido, entendemos que a família não está preparada para ter em

seu meio familiar uma pessoa em sofrimento psíquico. Isso abala a estrutura dos

integrantes, uma vez que a família não sabe como proceder em casos de

manifestações de sofrimento psíquico em crianças e adolescentes.

Aos poucos, essas famílias compreendem o momento vivenciado com a

pessoa em sofrimento psíquico e novas práticas de cuidados como as intervenções

feitas pelos profissionais do CAPSi perpassam a família em relação a aceitação da

sintomatologia tomando conta do ambiente e da rotina dessas famílias.

No começo eu não entendia nada, achava que era coisa de menino, birra sabe? Mais ai veio à primeira crise e levei pro Albert Sabin e assim que cheguei, eles me trouxeram pra cá e ele já foi logo atendido, eu tava muito nervosa e com medo, as meninas daqui conversaram e me acalmaram, a partir dai sabia que tinha alguma coisa nele que não era normal, hoje eu entendo e ajudo no tratamento dele sim [...] (D. Tulipa)

A Reforma Psiquiátrica surgiu então para enfatizar o grau de importância

da reabilitação da pessoa em sofrimento psíquico, promovendo assim a

aproximação conjunta da família, ressaltando a necessidade da construção da

cidadania desse usuário e ações que possam ser realizadas em espaços

substitutivos, visando a melhora do quadro do usuário (BISNETO, 2003).

Com o modelo da Reforma Psiquiátrica compreendemos que o familiar é

tido como um dos atores principais durante o tratamento. Uma das ações do CAPSi

é trazer essa família para que possa ser construída uma parceria e assim minimizar

os danos e dividir a responsabilidade referente ao cuidado.

A inserção dos Assistentes Sociais na área da Saúde Mental resultou em

grandes vitórias, pois foi com eles que as práticas da consolidação dos direitos as

pessoas em sofrimento psíquico passou a ser efetivadas, havendo uma mudança no

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modelo assistencial, visando a melhoria da qualidade de vida e o cuidado praticado

pelas famílias (BISNETO, 2011).

Durante a experiência de trabalho no CAPSi percebemos que as

Assistentes Sociais pautam por essa construção de vínculos com os familiares, a fim

de estimulá-los para uma melhor qualidade no cuidado e aceitação do sofrimento

psíquico, lutam contra essa discriminação em relação ao sofrimento e assim fazem o

papel de multiplicadoras de práticas de cuidados.

D. Rosa pauta a importância da família, visto que ela cuida do sobrinho

desde que a irmã faleceu pelo uso problemático de álcool e drogas e ela resgata que

a união e a compreensão são peças fundamentais para uma vida saudável, mesmo

com todas as dificuldades do dia a dia.

Até hoje, nem eu e nem meu marido, temos o sentimento de arrependimento de ter ficado com meu sobrinho, hoje percebo que minha família é mais colorida e mais unida por causa dele, sabe?! Mesmo ele tendo esse problema, mesmo sendo mais um pra dar de comer, pra vestir e educar [...] eu me sinto vitoriosa por isso e sei que minha irmã está feliz igual a mim. (D. Rosa)

Através dos discursos podemos identificar que o suporte profissional e a

inclusão da família no serviço CAPSi, contribui para uma melhor recuperação e

construção de vínculos familiares. Por isso é de fundamental importância que a

família mantenha a participação ativa nesse espaço, não somente no que se refere

ao tratamento, mas como também na recuperação da criança e adolescente em

sofrimento psíquico.

4.4.3 Extensão do cuidado à comunidade

A partir das práticas de inserção do Serviço Social na área da Saúde

Mental, sabemos o quão é importante à atuação do Assistente Social. O CAPSi

conta com 05 (cinco) Assistentes Sociais, todas com carga horária de 20 (vinte)

horas semanais, dessa maneira identificamos que a equipe do CAPSi promove

ações que visam estender o cuidado dentro do serviço a comunidade.

Uma das formas de aproximação das Assistentes Sociais com a

comunidade e a família são a realização das visitas domiciliares, propiciando a

inserção dos usuários no meio social, sem esquecer a participação em eventos,

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datas comemorativas, organizações de passeios culturais, essas ações perpassa os

muros do CAPSi e conseguem atingir o objetivo de vincular a família do serviço e

vice-versa.

Como já foi dito anteriormente, os CAPS oferecem diversas atividades

que contemplam as crianças e adolescentes em sofrimento psíquico, assim como

seus familiares. Pois está em tratamento não significa que o usuário tem que ficar

sempre dentro do serviço, recebendo os atendimentos e se dirigindo para casa,

podem ocorrer atividades fora do serviço, como uma estratégia terapêutica, sendo

realizada na comunidade, no trabalho ou na vida social dos usuários (BRASIL,

2004a).

Em um dos discursos surgiu o desejo pelos passeios que eram realizados

pelo CAPSi como forma de aproximação de vínculos terapêuticos entre profissionais

e usuários.

Eu venho pro grupo de família, mas eu sinto falta dos passeios que tinha, lembro que a gente foi pro zoológico e lá pro dragão do mar [...] (D. Jasmim)

Sabemos o grau de dificuldade que os profissionais enfrentam em relação

à rede de atenção no SUS é bem complicada, pois não se tem uma articulação

precisa e efetiva para que os serviços possam realizar suas ações. O CAPSi em

estudo realizava mesmo com a dificuldade de transporte, passeios terapêuticos para

seus usuários, e com passar do tempo, foi ficando cada vez mais difícil a

disponibilidade de ônibus para realizar o trajeto ao passeio.

Festas comemorativas são realizadas mesmo com a falta de recursos

financeiros, graças aos profissionais que na maioria das vezes são os provedores

dos recursos utilizados nessas comemorações. O serviço por ser infantil, preza pelas

datas comemorativas e essa é mais uma das formas de trabalhos terapêuticos

dentro do CAPSi. D. Primavera relata o esforço dos profissionais.

[...] é difícil, até a festa das mães que teve aqui esse mês [...] doado pelos profissionais [...] (D. Primavera).

A dificuldade de se chegar à comunidade e realizar o cuidado em saúde

mental é vista também pela vasta área de abrangência do CAPSi, que atende as

regionais II, IV e VI, com apenas três (03) turnos semanais disponíveis de um carro

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da Prefeitura de Fortaleza para realizar as visitas, sejam elas domiciliares ou

institucionais.

É necessário ter a disponibilidade para que os profissionais de saúde

mental, entre eles as Assistentes Sociais possam realizar esse cuidado mais

próximo do local que o usuário reside, orientando sobre as práticas de cuidado e

encaminhando os casos que precisem de uma atenção maior no CAPSi, mas é por

conta da dificuldade de locomoção desses profissionais que esse trabalho

permanece enfraquecido.

Outra forma para se estender esse cuidado para a comunidade é o

chamado apoio matricial, prática essa que deve ser feita pela equipe de saúde

mental às equipes de atenção básica, onde os profissionais supervisionam e

orientam em atendimentos conjuntos mais complexos, podem ocorrer dentro do

posto de saúde como em visitas domiciliares junto à equipe da atenção básica

(BRASIL, 2004a).

Em conversa informal com alguns profissionais do CAPSi, percebemos

que essa prática é falha, devido necessidade de se articular com a rede intersetorial

do município. Os profissionais passam a sentir no cotidiano de seus atendimentos a

falta dessa prática, através dos encaminhamentos incorretos que surgem para o

serviço, por não se ter uma interação com as equipes de saúde da atenção básica.

É um desafio para as Assistentes Sociais do serviço, atuar de forma

precisa na comunidade. Sabemos que o Assistente Social atua através de suas

pesquisas e suas análises da realidade local, buscando consolidar as políticas

sociais e a defesa dos direitos humanos. Porém, dica difícil com a forma de gerência

da gestão em facilitar o acesso e melhores condições de trabalho para que os

profissionais possam intervir de forma qualificada nas condições e melhorias de vida

dos usuários.

É por este víeis que o CAPSi inclui em suas atividades, trabalhos de

inserção social, visando a cidadania e autonomia de seus usuários. Os grupos

terapêuticos são ferramentas cruciais para um bom desenvolvimento do tratamento

e reinserção dos usuários e familiares do serviço.

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4.5. Apoio do Grupo Terapêutico de família

Através dos discursos relatados percebemos que o grupo de família que é

realizado pelo serviço é de grande importância para essas famílias participantes, de

modo que elas sentem contempladas com o apoio e orientações nesse tipo de

atendimento.

Entrei no grupo faz poucos meses, mas escuto muito de outras mães que é muito bom, e eu já vejo isso sabe?! (D. Orquídea)

Ah, o apoio do grupo é fundamental [...] (D. Lavanda)

[...] já passei por vários grupos aqui de família, porque eu já deixei de vim e voltei, mas eu sei da importância que ele tem, pro meu filho e pra mim também [...] (D. Lírio)

No grupo conversamos sobre nossas atitudes, como fazemos com as crianças em casa, recebemos orientações das meninas daqui, eu me sinto bem. (D. Margarida)

Depois que começamos o tratamento, porque eu também faço tratamento por conta do grupo de família né? Então nossa vida mudou, porque aqui eu sinto que as pessoas querem o nosso bem, nos ajuda sabe? (D. Tulipa)

O grupo terapêutico de família é uma das atividades do CAPSi, “que

podem ser definidas através do interesse dos usuários, das possibilidades dos

técnicos do serviço, das necessidades, tendo vista integração social e familiar”.

Nesses espaços são revelados os sentimentos, os problemas enfrentados durante o

cotidiano e essa prática requerem “o exercício coletivo da cidadania” (BRASIL,

2004a, p. 20).

As oficinas terapêuticas de um modo geral podem ser: oficina geradora de

renda através de um aprendizado de uma ação especifica seja ela de costura,

artesanato em geral, bijuterias e etc; oficinas expressivas como pintura, desenho,

dança, rodas de conversas, etc. (BRASIL, 2004a).

É relevante pensarmos em estratégias para viabilizar o acesso ao serviço

e aos atendimentos, nessa situação citamos a atividade do grupo de família, é nesse

espaço que são possíveis as trocas de vivências entre os familiares que participam

do grupo, momento de expor suas facilidades e dificuldades, assim como a forma de

lidar com as crianças e adolescentes em sofrimento psíquico (TAVARES, 2012).

As vezes que eu falto mais é quando não tem vale, eu não tenho como vim toda semana pagando a minha e a dele, é difícil viu! Hoje eu vim pagando, mas nem sempre isso acontece [...] (D. Lírio)

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Já passei por várias situações aqui, eu sei da importância do grupo, mas às vezes elas ligavam dizendo que não ia ter, teve uma época da mudança pra essa casa aqui, que ficamos sem o grupo um tempo também, a falta do vale muita das vezes, essas coisas prejudicam as crianças e a mim também né?! (D. Jasmim)

No entanto, evidenciamos também que as famílias sentem-se fragilizadas

com as dificuldades que permeiam o serviço, como a falta de vale-transporte para o

deslocamento, mas que a participação no grupo de família vem em primeiro lugar,

pois é com este atendimento que elas estreitam suas relações familiares e

apreendem um novo olhar sob a forma de lidar com as crianças e os adolescentes,

dentro e fora do serviço.

Constatamos que algumas famílias referem à dificuldade de locomoção

de casa ao serviço, pois sabemos que é de fundamental importância o vale-

transporte que é dado para as famílias irem ao atendimento de grupo e devido à

falta deste recurso, as famílias tendem a esvaziar o grupo e com isso compromete o

tratamento.

O grupo de família possibilita uma maior interação entre as famílias

participantes, criando laços entre elas e auxiliando em como proceder em situações

difíceis e recebendo orientações sobre o diagnóstico da criança e do adolescente

em sofrimento psíquico (BRASIL, 2004a).

O objetivo dos grupos de família do CAPSi em estudo é justamente

proporcionar um espaço de acolhimento, oferecendo um suporte a estas famílias,

onde os profissionais se colocam a disposição para tirar dúvidas sobre o tratamento,

fazendo assim com que esses familiares se sintam à vontade e parte integrante do

tratamento de seus filhos, perdendo o medo e a vergonha de falar sobre si mesmas

e sobre o seu cotidiano.

Sobre o apoio do grupo terapêutico de família fica claro que ele é

fundamental para uma melhora nas condições de vida, no âmbito do tratamento e da

relação familiar para as participantes. É cediço que os profissionais trabalham na

perspectiva de progresso e melhoria dos vínculos familiares.

É notório que as participantes da pesquisa reconhecem que o grupo de

família é um ambiente terapêutico, de troca de vivências e fortalecimento de

vínculos, além de ajudar e servir de apoio nos momentos difíceis.

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4.6. Avaliação do atendimento do CAPSi

Foi perceptível que as facilidades encontradas pelas famílias, se deram a

partir de sua inserção no serviço. A busca pelo tratamento propiciou um processo de

amadurecimento o que tornou algumas dificuldades em facilidades.

[...] encontrei facilidades depois que começamos o tratamento aqui. (D. Tulipa)

Depois que vim pra cá, essas facilidades começaram a aparecer [...] facilidade como saber lidar com ele, como dá o remédio certinho, como fazer quando ele entra em crise [...] (D. Lírio)

Com a entrada no CAPSi as famílias aprenderam a lidar com situações

que antes eram incapazes de solucionar, pelos relatos hoje a forma de lidar com

seus filhos retratam uma conduta positiva e menos dolorosa no tocante a prática do

cuidado.

As cuidadoras apontaram através de seus discursos quais as percepções

da assistência que é prestada a criança e o adolescente em sofrimento psíquico,

assim como a atenção voltada para elas, entre os relatos algumas esboçaram que o

acolhimento é de importância fundamental para o sucesso do tratamento.

Sempre fui muito bem acolhida aqui [...] (D. Lavanda);

Eu me sinto bem porque sei que as pessoas daqui entendem o que eu passo com ele, sabem o quanto é difícil [...] (D. Girassol);

O acolhimento daqui é muito bom, os profissionais sabe conversar [...] quando preciso de medicação ou de alguma orientação eu venho mesmo sem marcar né?! Muito bom. (D. Orquídea);

Eu gosto muito, às vezes eu ligo pra cá e consigo conversar com a psicóloga por telefone, pra tirar uma dúvida, ela me atende sempre com o sorriso no rosto e eu me sinto muito bem, porque ela cuida do meu filho, é uma profissional. (D. Girassol);

Nunca tive problemas com ninguém daqui, eu me sinto em casa quando venho aqui. Não gosto de faltar nenhuma consulta dele, dá pra notar que as meninas que trabalham aqui gostam dele e de mim, fico feliz com todo esse carinho [...] (D. Margarida).

Durante as entrevistas, elas também colocaram que a recepção por parte

dos profissionais, são o que diferenciam de outros serviços, elas se sentem

acolhidas e usuárias ativas de todo o processo que envolve o tratamento.

Amarante (2007, p. 69) deixa claro que os CAPS “devem ser entendidos

como dispositivos estratégicos, como lugares de acolhimento, de cuidado e de

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trocas sociais”, desta forma percebemos que através dos discursos, o CAPSi

trabalha nessa perspectiva, trabalha para uma melhor interação com o usuário,

seguindo o principio da humanização em saúde.

“Humanizar é, então, ofertar atendimento de qualidade articulando os

avanços tecnológicos com acolhimento, com melhoria dos ambientes de cuidado e

das condições de trabalho dos profissionais”, é nesta linha que os profissionais do

CAPSi incentivam as práticas de cuidado e de acolhimento de seus usuários

(BRASIL, 2004b, p. 06).

A prática do acolhimento no CAPSi através dos discursos, são pontos

positivos para um atendimento adequado, “não pressupõe hora ou profissionais

específico para fazê-lo”, requerendo de uma responsabilidade e de “resolutividade

sinalizada pelo caso em questão” (BRASIL, 2010, p. 19).

Esse tipo de atendimento dentro do serviço CAPSi, é realizado tanto por

profissionais de nível superior como de nível médio, cada profissional atende de

forma atuante na intenção de resolver as demandas apresentadas através de uma

escuta qualificada, estreitando os vínculos entre os usuários e suas famílias.

No entanto, mesmo com os discursos favoráveis ao serviço, a rotatividade

de profissionais é um ponto que as participantes elencam como sendo uma perca

para o processo de tratamento. D. Violeta expressa colocando que “a criança sente

quando alguém sai daqui, passou um tempo pra ele se acostumar”.

[...] o trabalho daqui me faz bem, faz bem a minha filha, aqui eu me sinto acolhida por eles [...] conheci muita gente por aqui, que trabalhava aqui e saíram, essas coisas me deixam mal sabe?! A Terapeuta dela saiu a que ficava na enfermagem saiu também, muita gente foi demitida e eu sei que isso não faz bem pra gente [...] (D. Violeta)

Desde a sua inauguração em 2006, o CAPSi contou com diversos

profissionais competentes e de diversas especialidades como psiquiatras,

assistentes sociais, enfermeiros etc. Dentre eles apenas uma (01) psiquiatra é

servidora pública que continua no serviço até os dias de hoje, os outros profissionais

eram terceirizados e com a nova gestão de 2013, alguns se submeteram a Seleção

Pública na área da saúde, havendo demissões e novas contratações, é neste

sentido que os usuários esboçam essa rotatividade de profissionais.

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[...] sou atendida aqui faz muito tempo, agradeço por todo o atendimento que é feito pela minha filha [...] o que eu percebo é que muitas pessoas saem, demora pra vim outra pra substituir, penso no atendimento dele e nas pessoas que saíram me sinto mal por isso. (D. Jasmim)

Sabemos que hoje em dia a precarização e a terceirização ganham

espaços nos serviços de saúde, os profissionais são submetidos a condições

precárias de trabalho e a baixos salários. Os vínculos de trabalhos também são

prejudicados, pois não se tem concurso público efetivo em Fortaleza, hoje o que se

encontra em diversas localidades e serviços é a transferência das responsabilidades

a empresas privadas, e essas empresas passam a controlar e assumir a prestação

de serviço de saúde que é de fato do poder público.

[...] aqui devia ter mais profissionais, pois vejo tantas crianças aqui [...] (D. Violeta)

Eu agradeço até hoje minha vizinha por ter me falado do CAPS, venho pra cá desde o começo do ano passado e o que eu vejo é que os profissionais daqui mudam muito, saiu um monte de gente [...] e eu tenho conhecimento de que isso não é bom pra gente nem pras crianças [...] (D. Primavera)

Notamos que a rotatividade e carência dos profissionais do serviço se dão

pelo fato de contratos temporários ou por tempo determinado, isso dificulta o

processo de tratamento e o bem-estar de todos os envolvidos na incansável luta

pelo direito a uma saúde pública de qualidade para todos.

O que ouvimos sobre esse descaso da área da saúde é que com

seleções públicas partindo da Prefeitura é uma solução para a melhoria do

atendimento na rede pública de saúde. Mas onde estão as melhorias para a

população?

[...] é um muda... Muda de profissionais agora, uns entraram pouco tempo e já vão sair, os governantes não pensam na gente mesmo e nem nos que trabalham aqui! (D. Primavera)

Percebemos que a falta de melhorias da população também acarreta uma

situação que atingem todos aqueles que trabalham e aos que recebem atendimento

em unidades de saúde aqui de Fortaleza, é o caso da contratação via seleção

pública e que não garantem nenhum direito trabalhista fragilizando assim, as

equipes de saúde, diminuindo as práticas de cuidados aos usuários.

Os trabalhadores sentem na pele todo o descaso com a saúde pública.

Os usuários relatam em seus discursos que também sentem esse descaso e que

mesmo com a noção de que a substituição aligeirada de profissionais no serviço

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pode ocasionar uma quebra no tratamento de seus filhos, as participantes se sentem

contempladas com os atendimentos, seja ele individual ou grupal.

Identificamos que essa precariedade nos serviços públicos é recorrente e

afeta, massacra e decepciona os envolvidos. Não se tem um reconhecimento do

profissional, os trabalhadores não se sentem reconhecidos, mas continuam atuando

em prol dos usuários. É necessário uma maturidade, postura ética e bom senso para

enfrentar essa situação que tende a aumentar em nossa sociedade.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A pesquisa intitulada foi “Cotidiano familiar e o grupo terapêutico de

famílias de criança e do adolescente atendidas no CAPSi”. A aproximação e o

interesse pelo tema surgiu de questionamentos durante uma jornada de trabalho no

CAPSi.

O objetivo geral da pesquisa foi compreender o cotidiano das

participantes do grupo de família que cuidam de crianças e de adolescente em

sofrimento psíquico atendidas no CAPSi. Deste modo, o estudo possibilitou uma

maior aproximação da realidade vivida pelos familiares usuários do CAPSi e sua

interlocução com atividade de grupo de família.

No perfil socioeconômico das cuidadoras, percebemos que a figura

feminina prevalece como produtora de cuidados no ambiente familiar, estando em

destaque o papel de mãe, estas possuindo idade entre 32 (trinta e dois) a 48

(quarenta e oito) anos. As cuidadoras entrevistadas possuem com maior frequência

baixa escolaridade, e a metade delas não exerce nenhuma atividade laboral,

justamente para cuidar integralmente da criança e do adolescente em sofrimento

psíquico. Em virtude disso, a renda mensal familiar é comprometida e com isso

fragiliza ainda mais o contexto social dessas famílias.

Diante dos discursos identificamos que devido ao desconhecimento do

sofrimento psíquico, fica ainda mais difícil o trato com o integrante familiar e suas

relações interpessoais. E a procura por um serviço de atenção em saúde acontece

quando o quadro do adoecimento psíquico tende a aumentar e sair do controle

familiar, gerando tensões e cansaço físico e mental.

Essas tensões são geradas pela sobrecarga diária vivenciadas pelas

cuidadoras, e só a partir do vinculo com o CAPSi é que essa sobrecarga é dividida

com os profissionais de saúde que por sua vez fazem um trabalho de um inclusão

familiar, é por este víeis que o CAPSi inclui em suas atividades, trabalhos de

inserção social, visando a cidadania e autonomia de seus usuários.

É neste contexto que a intervenção do Assistente Social é imprescindível

no trato com a família, contemplando a importância do cuidado intrafamiliar, visando

uma melhoria para as condições de vida do usuário e sua família.

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Através desse estudo percebemos o quão é importante o atendimento

psicossocial, pois contribui para uma superação de paradigmas em relação ao

sofrimento psíquico no meio familiar. Evidenciamos que as dificuldades como

sobrecarga, a negação do diagnóstico, o preconceito da sociedade e entre os

próprios familiares, o despreparo na linha de cuidados específicos de um integrante

familiar abalado psiquicamente, fragiliza o seio familiar e é nesse contexto que o

CAPSi contribui para que essas famílias possam aprender a lidar com as

dificuldades.

Para uma melhor compreensão da sintomatologia da criança e do

adolescente em sofrimento psíquico, o CAPSi promove o Grupo de Família de forma

que essas famílias possam se integrar de fato das atividades do serviço, propiciando

esse momento enriquecedor para essas famílias, pois é no grupo terapêutico que

elas conseguem expor suas angústias e aprendem a lidar com o ente em sofrimento

psíquico.

Além dos recursos utilizados pelo CAPSi em favorecer uma melhor

compreensão acerca da patologia manifestada pela criança e o adolescente e a

inclusão familiar durante o tratamento, constatamos algumas dificuldades em torno

desses atendimentos.

Seguindo pelos discursos, o estudo revelou que não se tem uma

articulação com a comunidade e isso foi percebido através da falha de ações

efetivas entre a rede de atenção do SUS. Com isso fragilizam ações que deveriam

contemplar a comunidade como um todo, mas que essa questão permanece

enfraquecida.

Os profissionais do CAPSi passam por situações de desgaste em relação

a execução de suas ações e ao acompanhamento de seus usuários, com essa

fragilidade constatamos uma falta de investimento no serviço e um olhar mais

humanizado por parte dos gestores.

Os usuários sentem-se contemplados com os atendimentos, mesmo

tendo a clareza e conscientização que os profissionais passam por diversas

dificuldades, estruturais e humanos, devido a sua rotatividade. Em virtude disso,

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podemos destacar que o processo de tratamento perpassa por dificuldades que

afetam esses profissionais e seus usuários muitas das vezes.

Evidenciamos também a forma de como são constituídas as relações de

vínculos trabalhistas, sendo que a terceirização nos serviços públicos hoje toma

conta desses trabalhadores que executam suas ações de forma precária, buscando

consolidar de forma qualificada uma atenção em saúde mental que hoje se encontra

precarizada.

Não restam dúvidas quanto à relevância deste estudo e a importância do

Assistente Social na assistência em saúde mental junto à família, pois através de

intervenções e o comprometimento ético é possível captar as necessidades dos

usuários, visando sua totalidade.

O Serviço Social, como profissão embasada pelo código de ética

profissional e o projeto ético-político, detém de uma compreensão necessária das

relações familiares e o olhar diferenciado, além do fortalecimento da autonomia dos

usuários, participação nos espaços sociais, promovendo uma articulação positiva

para o alcance da qualidade vida da criança e do adolescente em sofrimento

psíquico e do seu meio familiar como um todo.

Dessa forma, é possível direcionar o trabalho das Assistentes Sociais no

CAPSi, visto que o estudo possibilitou conhecer o cotidiano das famílias, a

importância do grupo de família e como esse atendimento transforma suas vidas. A

partir dos resultados obtidos do estudo é possível perceber a necessidade de se

refletir algumas situações que dificultam as famílias e sua criança e adolescente na

adesão ao tratamento e assim, promover uma melhoria na qualidade de vida dos

usuários.

Este estudo almeja contribuir para uma melhor compreensão acerca do

tema proposto, evidenciando seus resultados e oportunizando uma reflexão crítica

sobre os fenômenos estudados dentre o campo acadêmico e buscar assim de que a

realidade vivenciada pelo CAPSi hoje possa ser modificada, de forma a favorecer

aos usuários e seus familiares.

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APÊNDICE A

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE ESCLARECIDO

Eu, Aritana Kelly Loiola, aluna do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense, sob a

orientação da Enfermeira e Mestre Suzane de Fátima do Vale Tavares estou desenvolvendo um

estudo intitulado: “Cotidiano familiar e o grupo terapêutico de famílias de crianças e de adolescentes

atendidos no CAPSi”.

Os colaboradores desse estudo serão famílias de adolescentes em atendimento no Centro de

Atenção Psicossocial Maria Ileuda Verçosa da Secretaria Regional IV. Desde então, convido por meio

deste termo, que venha participar do estudo que tem como objetivos: identificar facilidades e/ou

dificuldades vivenciados por essas famílias em relacionar-se com seus filhos em sofrimento psíquico;

descrever a relação do cuidado da família à criança e ao adolescente em sofrimento psíquico; traçar

perfil sócio-econômico dos familiares das crianças e adolescentes em sofrimento psíquico; e

conhecer a contribuição do grupo terapêutico de família do CAPSi, para a relação familiar cotidiana

com as crianças e adolescentes em sofrimento psíquico do serviço que se dispuserem a participar da

pesquisa.

Para conseguir estes dados utilizaremos um formulário e uma entrevista semi–estruturada

que será gravada por meio de aparelho eletrônico. As informações serão colhidas pela pesquisadora.

Esclarecemos ainda, que:

Todos os participantes terão direito de não participar deste estudo, se assim o desejarem,

sem que quaisquer prejuízos sejam acometidos.

Garantimos-lhe o sigilo e anonimato quanto ao seu nome e às informações prestadas durante

a entrevista. Não divulgaremos nomes, nem qualquer informação que possam identificá-los.

Mesmo tendo aceitado participar, se por qualquer circunstância, durante o andamento da

pesquisa, resolver desistir, terá total liberdade para retirar seu consentimento.

Garantimos-lhe o acesso às informações sobre todos os procedimentos e benefícios

relacionados ao estudo, inclusive para resolver dúvidas que possam ocorrer.

Sendo o Serviço Social um curso comprometido com a ética profissional, possibilitando

assim, uma leitura mais crítica e detalhada sobre a realidade, reconhecendo suas particularidades e

compreendendo a dinâmica familiar de cada participante desta pesquisa, que visa compreender a

relação familiar da criança e do adolescente em sofrimento psíquico atendido no CAPS Infanto

Juvenil. Portanto, adoraria contar com sua grandiosa colaboração, a qual, desde já agradeço.

________________________________________

Pesquisadora

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TERMO DE CONSENTIMENTO PÓS-INFORMAÇÃO

Eu, ___________________________________________________________, declaro que tomei

conhecimento do estudo sobre “Cotidiano familiar e o grupo terapêutico de famílias de crianças e de

adolescentes atendidos no CAPSi”, e assim, aceito participar dessa pesquisa.

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APÊNDICE B

Formulário e Entrevista Semi-estruturada

FORMULÁRIO

Nome do (a) Adolescente ou criança_______________________________________________

Idade_______

Sexo 1 masc. 2 fem.

Já foi internado? ( ) Sim ( ) Não Se Sim, quantas vezes ( )

Há quanto tempo ele(a) é atendido no CAPSi? ____________________________

Escolaridade: 1 analfabeto 2 ensino fundamental incompleto 3 ensino fundamental completo 4 ensino médio incompleto 5 ensino médio completo

Nome do familiar ___________________________________________________

Idade___________

Sexo: 1 Masc. 2 Fem.

Parentesco com o Adolescente: 1 mãe 2 pai 3 avó 4 avó 5 tia 6 tio 7 irmão 8 irmã 9 primo 10 prima 11 outros_______

Escolaridade: 1 analfabeto 2 ensino fundamental incompleto 3 ensino fundamental completo 4 ensino médio incompleto 5 ensino médio completo 6 ensino superior incompleto 7 ensino superior completo 8 pós graduação.

Ocupação: Sim ( ) Não ( ), qual? _____________________________

Renda Mensal ___________

Estado civil: 1 casado(a) 2 solteiro(a) 3 viúvo(a) 4 união estável

Tipo de família: 1 biparental 2 monoparental

N° de integrantes da família: 1 dois 2 três 4 quatro 5 cinco 6 seis 7 sete 8 oito 9 nove 10 dez 11 acima de dez

Tipo de moradia: 1 casa 2 apartamento 3 alugada 4 própria

N° de Cômodos ________

Quem mais interage com a criança ou o adolescente? 1 Mãe 2 Pai 3 Avó 4 Avô 5 Tia 6 Tia 7 primo 8 prima 9 irmão 10 irmã 11 pessoa fora da família 12 outro__________

Como é o relacionamento da criança ou adolescente com essa pessoa? 1 Próximo 2 distante 3 amistosa 4 agressiva 5 não existe contato.

Há outro caso de sofrimento psíquico na família? 1 Mãe 2 Pai 3 Avó 4 Avô 5 Tia 6

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01. O que motivou a família a buscar o tratamento da criança ou do adolescente no CAPSi e o

que motiva a continuar?

02. Como se dá a relação familiar?

03. Quais as dificuldades e facilidades encontradas por você (família) em relação ao cuidado

da criança ou do adolescente?

04. Como é para você ter uma criança ou adolescente em sofrimento psíquico?

05. Como você percebe o tratamento oferecido pelo CAPSi?

06. O que mudou após de sua entrada no grupo terapêutico em relação ao cuidado com a

criança ou adolescente em sofrimento psíquico?

07. O grupo terapêutico em que você participa ajuda no decorrer do tratamento?

08. O que faz você continuar participando do grupo terapêutico de família?

Tia 7 primo 8 prima 9 irmão 10 irmã.

Quanto tempo participa do grupo terapêutico de família?

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ANEXO A

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ANEXO B