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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCO CURSO DE DIREITO 2º SEMESTRE A REDAÇÃO FORENSE PROFª DRª ARLINDA CANTERO DORSA FERNANDO FREITAS LOUREIRO MURILLO FERNADES JUSTINO “Argumentos da Promotoria” Campo Grande – MS Outubro de 2011 Consideraçõe s Iniciais

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8/3/2019 Argumentos Prontos

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UNIVERSIDADE CATÓLICA DOM BOSCOCURSO DE DIREITO

2º SEMESTRE AREDAÇÃO FORENSE

PROFª DRª ARLINDA CANTERO DORSA

FERNANDO FREITAS LOUREIRO

MURILLO FERNADES JUSTINO

“Argumentos da Promotoria”

Campo Grande – MSOutubro de 2011

Considerações Iniciais

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Excelentíssimo Senhor Juiz, caros jurados e colegas da defensoria, meucumprimento a todos. A sociedade brasileira vive uma época de conturbação em seusistema carcerário. Presídios lotados, sem condições necessárias à vida e o pior, semestrutura necessária para trazer de volta, o cidadão que por hora, “perdemos” para o

crime. Deparamos-nos então com a proposta, escandalosa, de reduzir a maioridade penal. O que dizer então do artigo 228, de nossa Carta Magna, que deixa bem claro oinício da maioridade penal sendo, portanto, aos 18 anos. Seria a atitude mais correta,colocar nossas crianças, nossos adolescentes em uma jaula, onde entrariam punidos por um crime e sairiam de lá formados em outros? As crianças meus senhores, são o futurode nossa nação. Não devemos, portanto, agir de maneira impulsiva, mas sim comconsciência. Resgatando o pensamento do sociólogo falecido em 1997, Herbert deSouza, o Betinho, do Instituto Ibase – “Se não vejo na criança, uma criança, é porquealguém a violentou antes; e o que vejo é o que sobrou de tudo o que lhe foi tirado”.Portanto, devemos adotar medidas de re-socialização para esses adolescentes e não

 puni-los de forma selvagem, onde se tornarão cada vez piores.

A educação meus senhores, é algo que deixa muito a desejar no país em quevivemos. O Brasil precisa de seriedade, ao lidar com esse processo. É extremamentenecessário, visarmos medidas que mude a realidade na qual vivemos. A então propostade redução da maioridade penal, só agravaria ainda mais a luta por esse processo demelhora na infraestrutura. Existem três pontos, de extrema redundância, onde deixa bemclaro o tamanho erro que se cometido, acarretara danos a todos os membros dessasociedade: por primeiro, é válido enfatizar que se essa medida for adotada, ondecomportaríamos esses adolescentes infratores? Seriam necessários gastos, para a criaçãode um complexo, para comportá-los. O segundo ponto, a mudança de leis, leis em seusentido amplo, pois nossa Constituição teria de ser alterada. E por último, serialastimável perdemos crianças, que poderiam ter um futuro brilhante, que em muitasvezes, sem opção entram para o mundo do crime, e nesse caso, seriam arremessadas,introduzidas em mundo criminoso. Vejo então meus senhores, que a mudança damaioridade penal é execrável, frente aos diversos problemas dos quais nos deparamos.Há então, uma enorme necessidade de mudarmos nosso sistema de educação,

 proporcionarmos mais seguranças a esses menores, para que eles, não se percam nessemundo.

O conceito de emoção: Abalo moral ou afetivo; perturbação, geralmente passageira, provocada por algum fato que afeta o nosso espírito (boa ou má notícia,

surpresa, perigo). É este sentimento, meus senhores, que está fazendo com que nossoscolegas da defensoria nos proponha essa mudança. A redução da maioridade penal podesim, ser uma boa idéia. Mas ao analisarmos um caso, não devemos analisar o efeitodeste e sim a causa. A violência é algo que acontece, desde os primórdios, na idademédia, onde se queimavam hereges aos aplausos e gritos histéricos da multidão. Equerem fazer isso, com nossos adolescentes, aqueles que se receberem uma boaeducação, com certeza irão tomar atitudes muito acertadas. O escopo da redução é tirar da sociedade, aquele que está apenas no início de um desvio de conduta, e inseri-lo emum contexto totalmente cheio de repúdios, onde tornarão estes, doutores em crimes emalandragens. Será que uma medida, onde visasse à educação desse cidadão, não seria amelhor opção? Deveríamos sim, discutir esse assunto, mas deveríamos visar medidas

socioeducativas, medidas onde tiraríamos de cena aqueles que contaminam as ovelhasem um rebanho, que são os grandes criminosos que envolvem menores em seus

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 projetos, para saírem ilesos. Essa redução então meus senhores, é algo que não se faznecessário pois é totalmente escusada. A educação pode, e com certeza mudaria a vidadessas crianças, que são incapazes, como diz o artigo 3º e 4º da lei 10406/92, o nossoCódigo Civil.

Argumentos para o Debate

 No contexto em que vivemos na atualidade, uma mudança na lei, nunca mudariaa realidade. Possuímos uma cultura, uma tradição, e isso faz parte de nós. A comoção, aindignação, com o escopo de dirimir a criminalidade, pode acarretar um Estado policial,que pode ser opressor. A criança, nessa fase, está passando por uma série de mudanças,e se repreendida, pode refletir diretamente na conduta que seguirá quando alcançar afase adulta. Portanto, a adolescência é momento importante na construção de um projetode vida adulta. Toda atuação da sociedade voltada para esta fase deve ser guiada pela

 perspectiva de orientação. Um projeto de vida não se constrói com segregação e, sim,

 pela orientação escolar e profissional ao longo da vida no sistema de educação etrabalho. O adolescente, que comete um crime, independentemente da gravidade, nãodeve ser punido com um adulto, que possui oportunidades de escolher um caminho aseguir. Essa criança, que cometeu o crime, deve ser inclusa o mais rápido possível emum processo onde trará benefícios para ele, onde ele possa ver a necessidade se re-socializar, para que possa ter um futuro promissor.

Outro ponto importante a ser ressaltado, meus senhores, é que não háimpunidade na legislação vigente. Pois se fala em uma penalidade a quem comete umcrime. Porém deve ser levado em consideração, quem receberá essa pena. Para a

 psicologia, uma das áreas de maior respeito dentro das profissões, e uma área queauxilia, caminha praticamente ao lado do direito, propõe uma correção à conduta doscidadãos, mas partindo de um projeto educacional, principalmente tratando-se deadolescentes. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê a responsabilizaçãodo adolescente que comete uma impunidade.

Todos nós sabemos caros jurados, que a repressão não é uma forma adequada deconduta para a constituição de sujeitos sadios. Reduzir a idade penal reduz a igualdadesocial e não a violência. Ameaça e não previne. O bem comum, se sobrepõe ao

  particular, tem primazia, e nossas escolhas devem ser voltadas para que haja uma

melhora para nós, cidadãos. Uma das causas da violência está na imensa desigualdadesocial e, conseqüentemente, nas péssimas condições de vida a que estão submetidosalguns cidadãos. Culpar o outro, não extingue a violência. Reduzir a maioridade penal éencarcerar mais cedo a população pobre jovem, apostando que ela não tem outro destinoou possibilidade, a não ser pagar, de forma bruta, o crime que cometeu. Há sim, umachance, de mudarmos nossos adolescentes, sem puni-los de forma arcaica, aqueles quetêm possibilidade de serem modificados e ingressados novamente na sociedade.

Em nosso Código Civil, nos artigos 3º e 4º, deixa bem claro que os menores de18 anos podem ser: relativamente ou absolutamente incapazes. A Constituição Federal,fala em seu texto, no artigo 228, que à partir dos 18 anos, o cidadão passa a ser 

 penalmente imputável. Fica claro então meus senhores, que um adolescente que cometeum crime, a essa altura do campeonato, ainda possui sim chances enormes de ter um

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ingresso com sucesso na sociedade, com perspectiva de vida e com um possível futuro brilhante. E para isso, puni-los, de forma brutal, só acabará com as chances de re-socialização de uma criança. O futuro depende deles, e se escandalizarmos este tema,dessa forma, perderemos cada vez mais crianças e adolescentes para o mundo do crime.

Será que um sistema carcerário é capaz de transformar ou re-socializar alguém?Se a situação desumana em que se encontram as masmorras chamadas de presídiosimpede qualquer adulto de manter a dignidade e empreender um processo dereabilitação, o que dizer de um adolescente, em pleno processo de formação esocialização? Precisamos de uma política sólida, onde haja investimento na educação. Enão alterar leis vigentes, onde o Estado passaria a abandonar muitos adolescentes quenão possuem condições necessárias para se estabelecer na sociedade. É hora deacordamos para a realidade meus senhores. Não podemos ficar de braços cruzados,temos que lutar pela educação de nosso país. O povo brasileiro clama por justiça, porémnada mais é do que direito de todos ter uma educação qualificada, onde tire meninos emeninos das ruas, do caminho do crime e coloque ele novamente no contexto real, onde

lute por uma sociedade cada vez mais justa.

Considerações Finais

Caros jurados, nós, Promotores da Justiça, clamamos contra mais essa tentativade criminalização e exclusão de jovens já vitimizados por uma sociedade violenta edesigual, que parece preferir a eliminação de “indesejáveis” à adoção de políticas deinclusão e estímulo à sociabilidade, única opção para a real transformação do

 permanente estado de exceção em que vivemos. Nós devemos sempre lutar pelo direito,e como dizia Ihering – “nunca devemos nos transformar em vermes e sermos pisados”.

 Nosso papel é lutar por uma sociedade onde se faça cumprir a lei, onde se leve emconsideração o direito e principalmente a justiça. Portanto, a sociedade não quer ser vítima de violência contra ela mesma, queremos educação. Pois esta sim, é a base paraqualquer mudança.

Os gastos com segurança em nosso país é escandaloso. O problema não está sóna lei, mas na capacidade para aplicá-la. Sei que se há possibilidade de sobrevivência etransformação destes adolescentes, e para isso é necessário uma correta aplicação doECA. Lá estão previstas seis medidas diferentes para a responsabilização de

adolescentes que violaram a lei. Agora não podemos esperar que adolescentes sejamcapturados pelo crime para, então, querer fazer mau uso da lei. Para fazer o bom uso doECA é necessário dinheiro, competência e vontade. Qualquer forma deimpunidade,deve sim haver uma punição. Mas reduzir a maoridade penal, além deineficiente para atacar o problema, desqualifica a discussão. Isso é muito comumquando acontecem crimes que chocam a opinião pública, o que não respeita a dor dasvítimas e não reflete o tema seriamente. Problemas complexos não serão superados por abordagens simplórias e imediatistas. Precisamos de inteligência, orçamento e,sobretudo, um projeto ético e político de sociedade que valorize a vida em todas as suasformas. Nossos jovens não precisam ir para a cadeia. Precisam sair do caminho que osleva lá. A decisão agora é nossa: se queremos construir um país com mais prisões ou

com mais parques e escolas.