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JOYCE PAULA MARTÍN DELATORRE Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos construtivos em modelos BIM São Paulo 2016

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Page 1: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

JOYCE PAULA MARTÍN DELATORRE

Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos construtivos em

modelos BIM

São Paulo

2016

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JOYCE PAULA MARTÍN DELATORRE

Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos construtivos em

modelos BIM

Dissertação apresentada à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo

para obtenção do título de Mestre em

Ciências.

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Toledo

Santos

São Paulo

2016

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JOYCE PAULA MARTÍN DELATORRE

Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos construtivos em

modelos BIM

Dissertação apresentada à Escola

Politécnica da Universidade de São Paulo

para obtenção do título de Mestre em

Ciências.

Área de Concentração: Engenharia de

Construção Civil e Urbana

Orientador: Prof. Dr. Eduardo Toledo

Santos

São Paulo

2016

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DELATORRE, J.P.M. Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos

construtivos em modelos BIM. São Paulo. 2016. 122 p. (Mestrado) Escola

Politécnica, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016.

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AGRADECIMENTOS

Ao meu orientador, Professor Dr. Eduardo Toledo Santos, por seu apoio,

competência e especial atenção nas revisões e sugestões, fatores fundamentais

para a conclusão deste trabalho.

Ao professor Fabiano Correa, por toda a sua contribuição na discussão sobre o tema

e aplicação de testes para a evolução desta pesquisa.

As empresas envolvidas, por disponibilizarem o acesso às informações

apresentadas e que foram valiosas para o desenvolvimento deste trabalho.

Aos amigos Jéssica Franco, Ana Carolina Cayres, Murilo Amadeo e Renato Moretini

pelas valiosas contribuições e a todos que colaboraram direta ou indiretamente na

execução deste trabalho.

Ao Ivo Mainardi, amigo e colega de mestrado, por ter me dado força em momentos

cruciais e ter me mostrado que o que realmente importa é podermos deixar nossa

contribuição ao mundo.

Por fim, e com destaque, à minha família, por sempre me apoiar em todas as minhas

empreitadas e por compreender as ausências necessárias durante o tempo de

desenvolvimento deste trabalho.

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RESUMO

No mercado de construção civil, o BIM ou Modelagem da Informação da Construção,

deixou de ser um modismo com poucos pioneiros, para ser a peça central da

tecnologia do mercado de Arquitetura, Engenharia e Construção (AEC), abordando

aspectos de projeto, construção e operação de edifícios. Além das informações de

projeto, pode-se agregar ao modelo BIM dados externos oriundos da execução,

avaliação e manutenção da construção. Cresce, com isso, o número de informações

que podem ser armazenadas nos modelos e a oportunidade para identificação de

padrões não explícitos, relacionados à geometria e topologia de seus componentes.

Para análise destas informações, faz-se necessária a utilização de técnicas que

permitam o seu processamento. Dentre as técnicas existentes para a descoberta de

conhecimento em bases de dados está o KDD (Descoberta de Conhecimento em

Bases de Dados) e, especificamente, a mineração de dados. Focando

especificamente os dados oriundos do registro de defeitos da construção e

considerando que o modelo BIM não é um repositório de dados no qual técnicas

padrão podem ser aplicadas diretamente, esta pesquisa teve como objetivo o

desenvolvimento de um arcabouço teórico que define os pontos relevantes para a

utilização de técnicas de mineração de dados de defeitos construtivos em modelos

BIM, fornecendo uma base conceitual para a sua aplicação prática. Acredita-se que

a aplicação de mineração de dados em modelos BIM pode propiciar a identificação

de padrões que são influenciados de alguma forma pela geometria dos elementos

construtivos, padrões estes que podem ser úteis tanto para a análise de problemas

de qualidade de execução, quanto para produtividade, manutenção, pós-ocupação,

entre outros. Além da proposta de arcabouço teórico para mineração de dados em

modelo BIM, esta pesquisa propôs um conjunto de componentes BIM para registro

de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para

categorização das relações entre os defeitos e os componentes do modelo BIM, de

forma a tornar explícitas informações relevantes para mineração de seus dados.

Palavras-Chave: BIM. Modelagem da Informação da Construção. Mineração de

dados. KDD. Defeitos construtivos.

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ABSTRACT

In the construction market, BIM - Building Information Modeling is no longer a fad

adopted by few pioneers, but the centerpiece of technology in the Architecture,

Engineering and Construction market (AEC), addressing aspects of design,

construction and operation of buildings. In addition to engineering design information,

the BIM model allows for storage and management of information from the

construction process, facilities operations and building maintenance. Alongside with

this, the amount of information stored in models and the opportunity to identify

patterns related to geometry and topology of construction components also increase.

For the analysis of this information, the use of appropriate data processing

techniques is essential. Use of KDD (Knowledge Database Discovery) and Data

Mining are among the existing techniques used for knowledge extraction in large

databases. While focusing on data from construction defects and considering that a

BIM model is not a standard data repository, in which standard data mining

techniques could be applied directly, this research aimed to develop a theoretical

framework that defines the requirements and procedures for the use of Data Mining

Techniques for construction defects in BIM models, while providing a conceptual

basis for its practical application. It is based on the concept that the application of

data mining in BIM models is able to retrieve patterns that are influenced by the

geometry of building elements and that these patterns can be useful for analyzing

issues of construction quality, productivity, maintenance, and post–occupancy,

among others. In addition to the proposition of a theoretical framework, this research

developed a standard set of BIM components for the record of construction defects

data, and suggested a structure for the categorization of correlations between

defects and BIM components, with the purpose of clearly identifying relevant

information for the data mining process.

Keywords: BIM. Building Information Modeling. Data mining. KDD.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 - Usos BIM categorizados por etapa da construção .................................... 24

Figura 2 - Processo de descoberta de conhecimento em banco de dados (KDD). ... 31

Figura 3 - Metodologia para preparação de dados espaciais para mineração de

dados clássica. .......................................................................................................... 35

Figura 4 - Estrutura de alto nível do esquema GMSD e as operações em nível de

instância .................................................................................................................... 38

Figura 5 - Visão geral do framework do bimserver.org, do aplicativo BIMQL e das

camadas MDA envolvidas ......................................................................................... 39

Figura 6 - Relação entre a estrutura da linguagem (sintaxe abstrata) e a

representação da linguagem (sintaxe concreta) ........................................................ 41

Figura 7 - Aplicação do teorema SAT em relação a duas paredes. .......................... 43

Figura 8 - Representação de colunas no eixo e fora do eixo. ................................... 44

Figura 9 - Sistema de inspeção de defeito baseada em realidade aumentada ......... 49

Figura 10 - Fluxo de trabalho para controle de qualidade baseado no BIM .............. 50

Figura 11 - Exemplo relatório de verificação de qualidade ........................................ 51

Figura 12 – Método para dados de defeito proposto por Lee et al. 2016 .................. 52

Figura 13 - Principais termos ligados a patologias construtivas. ............................... 56

Figura 14 - Ilustração de umidade localizada na parede do edifício. ......................... 57

Figura 15 - Imagem de uma eflorescência. ............................................................... 57

Figura 16 - Imagens de destacamento de revestimento de fachada ......................... 58

Figura 17 - Fissura causada por deformação excessiva da viga............................... 58

Figura 18 - Ilustração de diferentes formatos de trincas e fissuras. .......................... 59

Figura 19 – Fissuras causadas por recalques das fundações................................... 62

Figura 20 – Fissuras causadas por corrosão de armadura em vigas. ....................... 62

Figura 21 – Fissuras causadas por esforço de tração ............................................... 63

Figura 22 – Fissuras causadas por esforço de compressão ..................................... 63

Figura 23 – Fissuras causadas por esforço de flexão ............................................... 63

Figura 24 – Fissuras causadas por força cortante .................................................... 64

Figura 25 – Diferentes posicionamentos dos vazios de concretagem. À esquerda,

localizado na parte intermediária do pilar e, à direita, a mesma patologia, mas em

fundo de viga. ............................................................................................................ 65

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- , causado pelo lançamento

indevido do concreto, provavelmente feito a uma altura superior a 3 m ................... 65

Figura 27 - Os sete passos da Pesquisa Construtiva agrupados em três fases

principais. .................................................................................................................. 68

Figura 28 - Cluster de componentes não conformes no modelo estrutural. .............. 75

Figura 29 - Linha de colunas não conformes sobre a fundação não conforme. ........ 75

Figura 30 – Modelo BIM desenvolvido para o teste com a inclusão de componentes

defeito. ...................................................................................................................... 77

Figura 31 - Ficha de verificação de serviço com registro de não conformidades. ..... 81

Figura 32 - Exemplo mapeamento problemas construtivos de obra 1. ..................... 82

Figura 33 - Exemplo mapeamento problemas construtivos de obra 2. ..................... 82

Figura 34 - Registro de ocorrências na área de assistência técnica. ........................ 84

Figura 35 - Gráfico com a quantidade de problemas associados a cada categoria. . 86

Figura 36 – Componentes defeito propostos: 1- trincas e fissuras, 2 -vazios de

concretagem e 3 - manchas. ..................................................................................... 93

Figura 37 - Configuração da cor do defeito em projeto. ............................................ 94

Figura 38 - Parâmetros compartilhados sobre informações de defeito a serem

inseridos nos componentes conforme necessidade. ................................................. 95

Figura 39 - Tabela com informações do defeito. ....................................................... 97

Figura 40 - Ficha para coleta de dados de defeitos construtivos. ............................. 98

Figura 41 – Resultado do poLCA do teste 1. .......................................................... 102

Figura 42 – Planilha de dados planificados para entrada no poLCA ....................... 105

Figura 43 – Resultado do poLCA do teste 2. .......................................................... 105

Figura 44 - Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos em modelos BIM

................................................................................................................................ 109

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 - Suporte das diferentes consultas (query) espaciais para BIM ................ 45

Quadro 2 - Cargo e principiais responsabilidades dos profissionais entrevistados. .. 72

Quadro 3 - Base de dados exportada pelo BIM 360 Field. ........................................ 79

Quadro 4 - Tabela parcial das descrições dos problemas e categorização. ............. 85

Quadro 5 - Relações relevantes para mineração de dados de defeitos em modelos

BIM ............................................................................................................................ 86

Quadro 6 – Configuração das trincas e fissuras de acordo com a causa ................. 89

Quadro 7 – Configuração dos vazios de concretagem de acordo com a causa ....... 90

Quadro 8 – Parâmetros propostos para cada tipo de defeito. ................................... 96

Quadro 9 – Representação no modelo para cada tipo de agrupamento. ................ 106

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LISTA DE TABELAS

Tabela 2.1 – Fontes de informação e nível de reuso (Parcial) .................................. 48

Tabela 2.2 - Classificação de fissuras. ...................................................................... 60

Tabela 4.1 - Tabela parcial com registros das fissuras representadas nas plantas. . 83

Tabela 4.2 - Representação dos elementos do modelo BIM utilizado nas técnicas de

mineração de dados. ............................................................................................... 100

Tabela 4.3 - Representação dos elementos do modelo BIM utilizado nas técnicas de

mineração de dados. ............................................................................................... 104

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AEC Arquitetura, Engenharia e Construção

APO Avaliação Pós Ocupação

AR Realidade Aumentada

BIM Building Information Modeling / Modelagem da Informação da

Construção

BIMQL

CAD

Building Information Model Query Language

Computer-Aided Design / Projeto Auxiliado por Computador

GML Geographic Markup Language

GMSD Generalised Model Subset Definition Schema

IFC Industry Foundation Classes

IoT Internet of Things / Internet das Coisas

KDD Knowledge Discovery in Databases

LCA Latent Structure Analysis /Análise de Classe Latente

MVD Model View Definition

PMQL Partial Model Query Language

QL4BIM Query Language for Building Information Models

RDF Resource Description Framework

SAT Separating Axis Theorem

SIG Sistema de Informação geográfica

SPARQL SPARQL Protocol and RDF Query Language

VBQL A visual BIM query language

XML eXtensible Markup Language

3DIR Three-Dimensional Information Retrieval

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 16

1.1 Justificativa.................................................................................................................... 19

1.2 Objetivo do estudo ........................................................................................................ 20

1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................................... 20

1.2.2 Objetivos específicos ........................................................................................................ 21

1.3 Estrutura da dissertação................................................................................................. 21

2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................................... 22

2.1 Modelagem da Informação da Construção (BIM) ............................................................ 22

2.1.1 A definição de Modelagem da Informação da Construção (BIM) .................................... 22

2.1.2 Os usos do BIM ................................................................................................................. 23

2.1.3 A característica dos objetos em modelos BIM ................................................................. 24

2.1.4 Avanços do BIM na indústria de construção civil ............................................................ 25

2.1.5 Considerações finais ......................................................................................................... 26

2.2 Aplicação de descoberta de conhecimento em base de dados (KDD) na construção civil .. 27

2.2.1 Uso de mineração de dados na construção civil .............................................................. 28

2.2.2 O processo KDD e a mineração de dados ........................................................................ 29

2.2.3 Metodologia para preparação de dados espaciais para mineração de dados clássica ... 32

2.2.4 Padrões encontrados em mineração de dados ............................................................... 33

2.2.5 Particularidades da mineração de dados espacial ........................................................... 33

2.2.6 Metodologia para preparação de dados espaciais para mineração de dados clássica ... 34

2.2.7 Considerações finais ......................................................................................................... 35

2.3 Conceitos relevantes para a mineração de dados BIM ..................................................... 36

2.3.1 Operadores espaciais ....................................................................................................... 36

2.3.2 Linguagens de consultas aplicáveis a modelos BIM ......................................................... 37

2.3.2.1 Partial Model Query Language (PMQL) ................................................................................... 37

2.3.2.2 Generalised Model Subset Definition Schema (GMSD) .......................................................... 37

2.3.2.3 Building Information Model Query Language (BIMQL) ........................................................... 38

2.3.2.4 Query Language for Building Information Models (QL4BIM) .................................................. 39

2.3.2.5 A visual BIM query language (VBQL) ....................................................................................... 40

2.3.3 Funções para consulta de relações topológicas em modelos BIM .................................. 41

2.3.4 Aplicativo para retornar relações topológicas em modelos BIM ..................................... 45

2.3.5 Considerações finais ......................................................................................................... 46

2.4 A construção civil e o uso da informação ........................................................................ 47

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2.4.1 Fontes de informação na construção civil ....................................................................... 47

2.4.2 Organização das informações em base de dados BIM .................................................... 48

2.4.3 Considerações finais ......................................................................................................... 52

2.5 Defeitos e patologias construtivas .................................................................................. 53

2.5.1 A gestão dos dados de defeitos em edifícios ................................................................... 53

2.5.2 Principais tipos de defeitos em edifícios .......................................................................... 55

2.5.3 Particularidades de trincas e fissuras ............................................................................... 59

2.5.4 Particularidades de vazios de concretagem ..................................................................... 64

2.5.5 Considerações finais ......................................................................................................... 66

3 MÉTODO ................................................................................................................... 68

3.1 Fase 1: descoberta de um problema de pesquisa relevante que tenha potencial para

pesquisa ................................................................................................................................. 69

3.2 Fase 2: Examine o potencial da pesquisa para cooperação a longo prazo ......................... 69

3.3 Fase 3: obter uma visão geral e compreensiva sobre o tema ........................................... 70

3.3.1 Revisão de literatura ........................................................................................................ 70

3.3.2 Entrevistas semiestruturadas........................................................................................... 71

3.3.3 Tabulação e análise dos dados ......................................................................................... 73

3.4 Fase 4: inovação – desenho de um novo constructo (solução) ......................................... 73

3.5 Fase 5: implementar e testar o novo constructo ............................................................. 74

3.5.1 Análise da viabilidade de minerar dados de modelos BIM .............................................. 74

3.5.2 Elaboração de componente paramétrico para representação de defeitos ..................... 76

3.5.1 Mineração dos dados do modelo com a inclusão do componente defeito .................... 76

3.6 Fase 6: demonstrar conexões teóricas e o conceito da contribuição de pesquisa da solução

77

4 RESULTADOS ............................................................................................................. 78

4.1 Processo de controle de qualidade e gestão de não conformidades da empresa A: .......... 79

4.2 Processo de controle de qualidade e gestão de não conformidades da empresa B: .......... 80

4.3 Relações relevantes para sistema de mineração de dados de defeitos em modelos BIM .. 84

4.4 Classificação das relações entre o componente defeito e o elemento construtivo ............ 88

4.5 Proposta do componente defeito ................................................................................... 91

4.5.1 Informações relevantes para o componente defeito ...................................................... 92

4.5.2 Componentes defeito propostos ..................................................................................... 92

4.6 Proposição de ficha para coleta de dados de defeitos ..................................................... 97

Page 16: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

4.7 Resultado dos testes ...................................................................................................... 99

4.7.1 Análise da viabilidade de aplicar técnicas de mineração de dados em modelos BIM ..... 99

4.7.2 Mineração dos dados do modelo com a inclusão do componente defeito .................. 103

5 ARCABOUÇO TEÓRICO PARA MINERAÇÃO DE DADOS DE DEFEITOS EM MODELOS BIM

109

6 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS ....................................................................... 112

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16

1 INTRODUÇÃO

Dado o avanço das tecnologias, torna-se cada vez mais frequente o surgimento de

sistemas para coleta e armazenamento de dados na construção civil, permitindo que

estes dados estejam mais disponíveis. Para Soibelman et al. (2008) os avanços na

ciência de coleta de dados, tais como sistemas de sensores, etiquetas de rádio

frequência, extranets da construção, códigos de barras e informatização têm

permitido a geração de inúmeros dados. Juntamente a isso, houve uma melhoria

nas tecnologias de armazenamento de dados. De acordo com Fayyad; Piatetsky-

Shapiro e Smyth (1996) o hardware e a tecnologia de banco de dados permitem o

armazenamento e acesso a dados de modo confiável, eficiente e barato.

Dentre as tecnologias que têm ganhado força na construção civil e que podem ser

consideradas como novas fontes de informações de construção, é possível destacar

o Building Information Modeling -

(

.

Para Khemlani (2014), com base no advento da Internet das Coisas (ou Internet of

Things - IoT), é natural imaginar-se que não só os edifícios, mas também as

informações utilizadas para projetá-los e executá-los irão mudar. Certamente

poderão existir nos modelos BIM parâmetros adicionais reservados para capturar as

propriedades adicionais "inteligentes" de um elemento de construção. É possível

prever também que as aplicações BIM poderão levar em conta a forma como os

elementos inteligentes irão interagir entre eles, simulando seu comportamento na

vida real. Cada elemento construtivo poderá possuir sensores inteligentes embutidos

que analisarão o seu desempenho e irão transportar não só dados de identificação e

localização, mas também poderão compreender as características de suas

propriedades, os potenciais sinais de danos e deterioração, os protocolos de

comunicação com outros elementos, entre outros. Como, por exemplo, o uso de

sensores em estruturas de concreto poderá determinar a qualidade e capacidade de

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17

carga de cada elemento estrutural, gerando uma ampla base de informações de

qualidade.

Para análise e processamento deste grande volume de dados, surgem técnicas

como a de descoberta de conhecimento em base de dados (KDD – Knowledge

Discovery in Databases), incluindo a aplicação de mineração de dados (ou data

mining). Segundo Silberschatz; Korth e Sudarshan (2006), as técnicas de KDD

visam descobrir automaticamente regras estatísticas e padrões a partir dos dados. A

mineração de dados combina técnicas de descoberta de conhecimento criadas pelos

pesquisadores de inteligência artificial e análise estatística, com técnicas para

implementação eficiente, permitindo o uso em banco de dados com grande volume

de informações.

Pesquisas estudaram a aplicação de técnicas de mineração de dados em

informações da construção civil. Parte delas desenvolveu sistemas e processos para

a aplicação das técnicas (SOIBELMAN; KIM, 2002; SOILBELMAN et al., 2008; KIM;

STUMPF; KIM, 2011; CHENG; YU; LI, 2015), outras aplicaram as técnicas para a

descoberta de padrões em bases de dados com informações da construção civil

(ZHOU et al., 2010; CHENG; LEU, 2011; CHI et al., 2012).

Há uma variedade de fontes de dados de construção que necessitam de estruturas

de armazenamento e análise de dados mais estruturadas que as para dados

simples, tais como: especificações, ordens de alteração, desenhos 2D e 3D,

imagens, arquivos de áudio e vídeo, entre outros. Pelo número de características e

dimensionalidades dos dados, é ineficiente o armazenamento e gerenciamento dos

dados em bases de dados transacionais. Além disso, a transferência dos dados para

tabelas de dados simples ou planilhas pode gerar a perda de informações

importantes contidas nos formatos de dados originais, como por exemplo, a

informação de textura presente em imagens ou características gráficas de uma

determinada planilha (SOIBELMAN et al., 2008).

Segundo Liu (2015), técnicas de mineração de dados não são frequentemente

utilizadas em conjunto com modelagem da informação da construção (BIM) apesar

de esta aplicação poder fornecer informações importantes nos padrões implícitos

nos modelos BIM.

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18

Uma característica interessante, implícita dos modelos BIM, é a geometria

relacionada aos elementos construtivos. De acordo com Gu e London (2010), BIM

envolve a aplicação e manutenção de um modelo digital integrado de todas as

informações da construção em diferentes fases do ciclo de vida do empreendimento

na forma de um repositório de dados, incluindo informações geométricas e não

geométricas.

Outra característica importante está relacionada à possibilidade de acesso para

inserção e exportação de informações dos atributos do modelo BIM. Segundo

Eastman et al. (2011), o conceito BIM trabalha com objetos paramétricos nos quais a

geometria é integrada de forma não redundante e que não permita inconsistências.

Por utilizar regras paramétricas, há um entendimento das relações entre elementos

como, por exemplo, os objetos modificam automaticamente suas geometrias

associadas quando são inseridos em um modelo de construção ou quando

modificações são realizadas em objetos associados a eles. Além disso, os objetos

BIM têm a capacidade de vincular, receber, divulgar ou exportar conjuntos de

atributos, tais como materiais, dados acústicos, dados de energia, entre outros, para

outras aplicações e ou modelos.

Para Wülfing; Windisch e Scherer (2014) é possível armazenar informações de

construção geradas ao longo de todo o ciclo de vida do edifício nos modelos BIM,

evitando o uso de diferentes formatos de registros, tais como documentos em papel,

tabelas, textos, relatórios, entre outros e proporcionando um recurso de informações

unificadas abrangente.

O armazenamento e uso destas informações em modelos BIM, entretanto, não é

considerado ainda uma tarefa trivial. Para Wülfing; Windisch e Scherer (2014), a

consulta ou recuperação das informações necessárias em modelos BIM é complexa,

uma vez que não necessariamente todas as informações estarão integradas em um

modelo único devido a diferenças de interesses dos envolvidos e podem estar

vinculadas a outros recursos de informação relacionados ao BIM, como por

exemplo, modelos de custo e tempo. Mazairac e Beetz (2013), acreditam que a

grande quantidade de informações geradas pela integração de modelos de

diferentes disciplinas em um modelo virtual comum também aumenta o tamanho e

complexidade dos repositórios de dados.

Page 20: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

19

Sendo assim, segundo Nepal et al. (2012), embora o rápido desenvolvimento do BIM

tenha aberto inúmeras oportunidades para o projeto e construção e haja um

crescente número de construtoras utilizando BIM como suporte ao gerenciamento da

construção, ainda há inúmeros desafios relacionados à extração de informações do

modelo BIM, o que limita a usabilidade dos modelos para construção e outros

processos subsequentes.

Para Mazairac e Beetz (2013) a capacidade de se obter as informações necessárias

em tempo é um fator chave de sucesso na indústria da construção. Cresce, com

isso, conforme Nepal et al. (2012), a necessidade de viabilizar a extração de

informações a partir do modelo BIM de forma a atender as diferentes expectativas

dos diversos profissionais envolvidos na construção.

A complexidade e a falta de estruturação no registro das informações geradas

durante a execução e pós-execução do empreendimento são algumas das

dificuldades para a análise e obtenção das informações no tempo necessário.

Lee et al. (2016) analisaram o caso dos registros de defeitos. Citam, por exemplo,

que a utilização de dados de defeitos, na prática, é muito baixa devido a: falta de

estrutura formal na representação de dados, entrada de dados insuficientes,

pesquisa só baseada em texto disponível e compartilhamento insuficiente de dados

de defeitos. Estes dados não estruturados não seguem um formato legível por

máquina, o que dificulta o acesso, a análise e a busca pela informação desejada.

Cheng e Leu (2011) destacam a importância de se organizar e classificar defeitos

comuns de forma a transformar em informação útil para que participantes do projeto

possam entender defeitos críticos e evitar sua recorrência.

O atendimento às necessidades específicas e ao ambiente de trabalho de cada tipo

de usuário requer a criação de filtros de consulta, métodos e ferramentas adequados

para acesso as informações BIM (WÜLFING; WINDISCH; SCHERER, 2014).

Com base nas questões apresentadas, destaca-se a relevância de se desenvolver

mecanismos para análise dos dados de defeitos em modelos BIM.

1.1 Justificativa

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20

Podendo o modelo BIM ser considerado uma fonte de dados de construção não-

tradicional que, dentre outras características contém informações sobre a geometria

dos elementos, e por permitir a inserção de informações em seus atributos,

pretende-se investigar a viabilidade de se aplicar técnicas de KDD e mineração de

dados em modelos BIM, como forma de lidar com o grande volume de informações

armazenados e de possibilitar o atendimento aos diferentes interesses dos

profissionais envolvidos.

Esta pesquisa parte da hipótese de que é possível agregar dados capturados

durante a execução e pós-execução do empreendimento, de forma estruturada, nos

próprios elementos do modelo BIM. Estas informações, originadas em processos de

controle de qualidade, produtividade, assistência técnica, entre outros, normalmente

são registradas de forma desestruturada e em diferentes formatos nas empresas. A

consolidação em modelos BIM teria o potencial de manter a relação de tais

informações com a geometria dos elementos construtivos.

Acredita-se que a aplicação de técnicas de KDD e mineração de dados em modelos

BIM pode identificar padrões que são influenciados de alguma forma pela geometria

dos elementos construtivos, padrões estes que podem ser uteis para a análise da

origem de problemas de qualidade de execução, razões para baixa produtividade de

determinados serviços, problemas de manutenção, pós-ocupação, entre outros.

1.2 Objetivo do estudo

Este trabalho analisou os principais aspectos relacionados à técnica de mineração

de dados, à estrutura de modelos BIM e à caracterização de patologias construtivas,

de forma a identificar o que é necessário para minerar dados de modelos de

informação da construção que representem defeitos construtivos de forma a

subsidiar pesquisas futuras que visem o desenvolvimento de aplicações e

plataformas específicas sobre esse conceito.

1.2.1 Objetivo geral

A presente dissertação teve como objetivo o desenvolvimento de um arcabouço

teórico que identifica os pontos relevantes para a utilização de técnicas de

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21

mineração de dados em modelos BIM que visem à análise de defeitos construtivos,

fornecendo uma base conceitual para a sua aplicação prática.

1.2.2 Objetivos específicos

Para atingir o objetivo geral desta dissertação, esta pesquisa teve os seguintes

objetivos específicos:

Identificação de mecanismos para que a geometria dos elementos e suas

relações topológicas possam ser consideradas na mineração de dados;

Identificação de mecanismos para representação dos problemas construtivos no

modelo;

Demonstração de conexões teóricas e a contribuição da solução.

1.3 Estrutura da dissertação

A presente dissertação de mestrado segue a seguinte estrutura: o primeiro capítulo

apresenta a introdução ao tema como forma de embasar o contexto no qual a

pesquisa é inserida, justificar os pontos motivadores do estudo e apresentar os

objetivos a serem atingidos. O segundo capítulo é dividido em cinco seções: a

primeira contém a revisão dos avanços do BIM na construção civil, incluindo as

principais particularidades do modelo BIM como fonte de dados de informação; a

segunda, apresenta os principais conceitos relacionados ao processo de descoberta

de conhecimento em base de dados - KDD, mineração de dados e particularidades

dos dados espaciais; a terceira aborda conceitos relevantes para a mineração de

dados em modelos BIM, incluindo a apresentação de relações topológicas e

linguagens de consulta específicas para dados espaciais ou modelos BIM; a quarta,

apresenta informações geradas em processos de gerenciamento e execução do

empreendimento, e como estas informações são gerenciadas; a quinta, contém os

principais aspectos de problemas construtivos da construção. O terceiro capítulo

apresenta a metodologia que foi utilizada para a realização da pesquisa. O quarto

capítulo apresenta os resultados. O quinto capítulo demonstra o arcabouço teórico

para mineração de dados de defeito em modelos BIM desenvolvido. O sexto capítulo

apresenta as conclusões, limitações do estudo e campos para pesquisas futuras.

Page 23: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

22

2 REVISÃO DA LITERATURA

Como forma de embasar os principais conceitos relacionados ao tema da pesquisa,

neste capítulo são apresentados conceitos relacionados à metodologia BIM, ao

processo de KDD e mineração de dados, e às principais relações existentes e

linguagens de consulta pesquisadas para BIM.

2.1 Modelagem da Informação da Construção (BIM)

2.1.1 A definição de Modelagem da Informação da Construção (BIM)

O processo de projeto tradicional normalmente era baseado no uso de ferramentas

CAD-Computer-Aided Design, porém com os avanços da tecnologia e demanda

cada vez maior por parte dos contratantes, nota-se uma migração do uso do CAD

em direção a aplicação do BIM em diversos países. Para AIA CC (2008), a mudança

do uso do CAD para o BIM abre novas oportunidades para o projeto e construção e

torna possível que a construção seja mais eficiente, pois cria uma interface que

permite a produção e gerenciamento de toda a informação de projeto através de um

modelo 3D do edifício incluindo todas as disciplinas de projeto, tais como

projeto de arquitetura, estrutura, sistemas prediais, entre outros de maneira

simples e fácil de compartilhar.

Há diversas definições para o termo BIM. Eastman et al. (2011) definem BIM como

uma maneira diferente de criação, utilização e compartilhamento da informação

do ciclo de vida do edifício v v “ tecnologia de modelagem e um

grupo associado de processos para produção, comunicação e análise de modelos

No processo BIM, todos os interessados podem acessar o modelo para identificação

de possíveis problemas de construção, suprimentos ou segurança (AIA

CALIFORNIA COUNCIL, 2008). A habilidade de compartilhar informação e

experiência, obter estimativas de custo reais desde o início, identificar problemas e

implantar soluções baseadas em informação confiável antes da construção traz

como benefício economia de tempo, dinheiro e a obtenção de um resultado de

qualidade superior.

Page 24: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

23

De acordo com Wilson e Heng (2011), BIM está mudando em um sentido mais

amplo as práticas tradicionais de construção, em termos de pessoas,

processos, trabalho, cultura, comunicação e modelos de negócio.

Para Eastman et al. (2011), os modelos BIM suportam melhores análises e controles

ao longo de suas fases do que processos manuais. As principais características do

BIM são:

Componentes de construção: são representados digitalmente (objetos) e carregam atributos gráficos e de dados que os identificam para aplicações de softwares, assim como regras paramétricas que permitem a sua manipulação de modo inteligente. Componentes que incluem dados que descrevem como eles se comportam, conforme são necessários para análises e processos de trabalho como, por exemplo, quantificação, especificação e análise energética. Dados consistentes e não redundantes de forma que as modificações nos dados dos componentes sejam representadas em todas as visualizações dos componentes. Dados coordenados de forma que todas as visualizações de um modelo sejam representadas de maneira coordenada (EASTMAN et al., 2011, pag. 16).

Para efeito desta pesquisa, portanto, BIM é um processo que envolve o uso de

modelos digitais da construção, incluindo informações geométricas em 3D e outras

não geométricas. Tais modelos atuam como repositório de dados, permitindo o

compartilhamento das informações entre todos os agentes envolvidos no

empreendimento, ao longo de todo o ciclo de vida do edifício. Seu uso requer a

integração de informações de diferentes fontes e, para tal, envolve mudanças e

adequações nos processos de projeto, construção, gestão e operação tradicionais.

A atuação do modelo como repositório de dados é também, para efeito desta

pesquisa, uma base de informações de projeto, construção e operação que pode ser

utilizada como fonte de informações para a aplicação de técnicas de mineração de

dados de forma a identificar padrões uteis nos dados que poderiam guiar ações de

empresas, tais como: a identificação de padrões em falhas de projeto e/ou

execução, razões para variações de produtividade em serviços de construção, entre

outras.

2.1.2 Os usos do BIM

Page 25: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

24

O BIM pode ser aplicado para vários usos em qualquer etapa do ciclo de vida do

edifício. Kreider e Messner (2013) definem os usos BIM como métodos de aplicação

da Modelagem da Informação da Construção durante o ciclo de vida da edificação

como forma de atingir um ou mais objetivos específicos. A partir de entrevistas com

profissionais da indústria de construção, identificaram primeiramente dentre 24 a 26

usos BIM, que foram classificados por etapa: planejamento, projeto, construção e

operação, conforme Figura 1.

Figura 1 - Usos BIM categorizados por etapa da construção

Fonte: adaptado de Kreider e Messner (2013)

Com base nos diversos usos possíveis do BIM ao longo do processo de construção,

é possível concluir que as informações geradas e armazenadas nos modelos BIM

podem estar relacionadas a qualquer fase da construção, incluindo: projeto,

planejamento, construção e operação.

2.1.3 A característica dos objetos em modelos BIM

As ferramentas BIM para a concepção ou autoria dos projetos permitem aos

usuários a produção de modelos de construção a partir de objetos paramétricos

(EASTMAN et al., 2011).

Page 26: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

25

Os objetos paramétricos possuem comportamentos específicos que garantem a sua

confiabilidade. De acordo com Eastman et al. (2011), dentre as características que

definem os objetos paramétricos estão:

serem constituídos de definições geométricas, com dados e regras

associados;

possuírem geometria não redundante e que não permite inconsistências,

como por exemplo dimensões falsas;

possuírem regras paramétricas, com as quais, em qualquer alteração, os

objetos modificam-se e adaptam-se automaticamente;

poderem vincular-se a, receber, divulgar ou exportar conjuntos de atributos

para outras aplicações ou modelos, como por exemplo, materiais, dados

acústicos ou de energia, entre outros.

Além disso, outra característica importante dos objetos BIM é a geometria que pode

ser computada. Segundo Eastman et al. (2011) os objetos BIM paramétricos

possuem geometria, relações topológicas e carregam uma variedade de

propriedades que podem ser interpretadas, analisadas e adquiridas por outras

aplicações.

Embora as ferramentas BIM atuais possuam como padrão um conjunto mínimo de

propriedades, é possível ao usuário o acréscimo de outras nos objetos (EASTMAN

et al., 2011).

2.1.4 Avanços do BIM na indústria de construção civil

Tecnologias têm sido utilizadas visando à redução do esforço do trabalho, aumento

da produtividade e melhoria na qualidade do produto (GONÇALVES; GOMES,

1993).

S â “ õ ó

um determinado problema a ser resolvido e/ou uma determinada necessidade a ser

superada, envolv v vê ”

É possível constatar o avanço do uso do BIM em empresas em diversas regiões do

mundo e no Brasil. Para Eastman et al. (2011) há um crescimento do uso do BIM no

Page 27: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

26

mercado de construção civil nos últimos anos, sendo adotado por grande parte das

empresas líderes mundiais de arquitetura, engenharia e construção.

Reconhecendo a importância estratégica do uso de BIM e seguindo a tendência

internacional, grandes contratantes brasileiros começam a exigir BIM em seus

editais de concorrência. Pode-se citar, entre outras: Petrobras - Petróleo Brasileiro

S/A; CDURP - Companhia de Desenvolvimento Urbano da Região do Porto do Rio

de Janeiro; INPI - Instituto Nacional de Propriedade Industrial (CONSTRUÇÃO

MERCADO, 2013); DNIT - Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes

(DINIZ, 2012), Metrô – Companhia do Metropolitano de São Paulo e CPTM –

Companhia Paulista de Trens Metropolitanos.

O uso do BIM tem crescido em diversos países. De acordo McGraw-Hill Construction

(2014) embora a implementação do BIM tenha iniciado há mais tempo em países

como Canadá, França, Alemanha, Reino Unido e os EUA, alguns mercados que

iniciaram a implantação mais recentemente como Austrália, Brasil, Japão, Coréia e

Nova Zelândia, estão mostrando dinamismo e superando algumas regiões mais

estabelecidas em relação ao compromisso com o investimento, oferta de novos

serviços inovadores e expansão do uso de BIM para projetos de mineração e

fabricação.

Grandes construtoras e incorporadoras brasileiras iniciaram uma série de projetos-

piloto para avaliar a aplicabilidade do BIM, visando o aumento de produtividade,

redução de perdas, diminuição de prazos, melhoria nos orçamentos e melhoria na

qualidade do produto imobiliário. Tais empresas começam a identificar os primeiros

desafios e avanços (NAKAMURA, 2013).

Neste contexto é possível considerar o BIM como uma metodologia que estará cada

vez mais presente nos processos de projetos e gestão dos empreendimentos, sendo

importante considerar sua influência em pesquisas que abordem o tratamento de

informações relacionadas a estes processos.

2.1.5 Considerações finais

Page 28: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

27

Sendo o uso da metodologia BIM algo crescente no mercado de construção civil é

relevante o desenvolvimento de mecanismos que possam fazer uso de suas

informações.

Com base na revisão bibliográfica, pode-se identificar algumas particularidades dos

modelos BIM importantes para que sejam utilizados como fontes de dados, dentre

elas é possível citar: geometria não redundante, ausência de inconsistências,

relações topológicas e capacidade de vincular-se a, receber, divulgar ou exportar

propriedades.

Por poder receber informações e propriedades, os modelos BIM podem tornar-se

repositórios de dados com informações de qualquer etapa do ciclo de vida do

edifício, incluindo dados de pós-projeto e execução, que são focos da presente

pesquisa.

2.2 Aplicação de descoberta de conhecimento em base de dados (KDD) na

construção civil

Os avanços da tecnologia têm permitido às empresas a geração e armazenamento

de um grande volume de dados. Segundo Silberschatz; Korth e Sudarshan (2006),

os dados utilizados pelas organizações para tomada de decisão podem ser

originados de diferentes fontes e podem estar armazenados sob diferentes

esquemas. Muitas vezes, por motivos de desempenho e controle da organização, as

origens dos dados não são acessíveis a qualquer parte da empresa por simples

demanda.

Para análise e processamento deste grande volume de dados, existem técnicas

como a de descoberta de conhecimento em base de dados (KDD), incluindo a

aplicação de mineração de dados (ou data mining).

Dado que o objetivo principal desta pesquisa é a identificação dos pontos relevantes

para a utilização de técnicas de mineração de dados em modelos BIM que visem à

análise de defeitos construtivos, foram levantadas as principais pesquisas que

abordaram aplicações desta técnica voltada a informações de construção civil e

foram levantados os principais conceitos do KDD de forma a embasar a análise de

sua aplicação voltada aos dados do BIM.

Page 29: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

28

2.2.1 Uso de mineração de dados na construção civil

Recentes pesquisas estudaram a aplicação de técnicas de mineração de dados

(data mining) na construção civil.

Soibelman e Kim (2002) desenvolveram e testaram um sistema para aplicação de

descoberta de conhecimento em banco de dados (KDD), incluindo as etapas de

identificação de problemas, preparação de dados, mineração de dados, análise de

dados e processos de refinamento em uma base de dados de gerenciamento da

construção. O processo foi desenvolvido visando a identificação de causas para os

atrasos de construção, porém com sugestão de aplicação em outros problemas tais

como a identificação de sobrecustos de construção e controle e garantia de

qualidade.

Soibelman et al. (2008) estudaram o crescente volume de dados de construção

disponíveis, desenvolvendo métodos, processos e ferramentas de mineração de

dados e KDD para descobrir novos conhecimentos em grandes bases de dados, e

organizando o montante disponível de dados de construção com o desenvolvimento

de métodos de recuperação de informação.

Zhou et al. (2010) exploraram a aplicabilidade de mineração de dados e KDD em

conjunto com sistemas de informação geográfica (SIG) para tomada de decisão no

gerenciamento de pavimentações, tais como: prioridades de reabilitação, estratégias

de manutenção e decisões de investimento.

Cheng e Leu (2011) integraram o uso de mineração de dados com o método de

diagrama de afinidade (KJ) para classificar defeitos de construção de pontes de

forma a prevenir sua ocorrência, melhorando a qualidade de construções de pontes.

Kim; Stumpf e Kim (2011) desenvolveram um processo utilizando mineração de

dados para auxiliar os projetistas a descobrirem padrões uteis para melhorar

projetos de eficiência energética.

Chi et al. (2012) investigaram estratégias de mineração de dados, aplicando

“ranking” para identificação de funções chave de projeto que são

altamente correlacionadas ao desempenho de custo do projeto e implementaram

algoritmos de classificação para suportar prognósticos de desempenho de projeto.

Page 30: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

29

Jiang; Zhang e Zhang (2013) propuseram uma metodologia para a integração de

informações de texto e modelos BIM. O uso de mineração de textos (text mining) foi

aplicado para transformar informações de texto desestruturadas em informações

estruturadas de forma a permitir o uso de técnicas de mineração de dados (data

mining). Após a identificação e recuperação dos documentos relevantes, uma

referência a estes documentos foi associada aos componentes do modelo pelo uso

de relações de associação de documentos.

Em Hu; Lu e Abourizk (2014) desenvolveram uma abordagem baseada em

mineração de dados a partir de dados históricos de desempenho armazenados e

extraídos de modelos BIM, e da utilização de regressão linear para estimar os

requisitos de mão de obra para a fabricação de estruturas metálicas para uso nas

etapas preliminares de planejamento dos serviços.

Cheng; Yu e Li (2015) propuseram um algoritmo Apriori multinível baseado em

algoritmos genéticos (AG) para extração de padrões escondidos em bases de dados

de defeitos de construção.

Hiyama (2015) sugere o uso de técnicas de mineração de dados em base de dados

de modelos BIM como forma de viabilizar ao arquiteto o uso de informações de

projetos de edifícios existentes como valores padrão de entrada em software para

simulação do desempenho do edifício em etapas iniciais de desenvolvimento de

projeto. O autor propõe para isso um método para minimizar a magnitude da

variação destes valores padrão nas etapas de projeto subsequentes.

Embora algumas das pesquisas identificadas abordem o modelo BIM como fonte de

dados de entrada para uso em processos de KDD, nenhuma delas, entretanto, faz

uso das particularidades das informações BIM, dentre elas, a relação entre a

geometria dos elementos.

2.2.2 O processo KDD e a mineração de dados

O processo KDD é “ v õ

em dados que sejam: válidos, novos, potencialmente uteis, e em última análise,

v ” YY D; T TSKY-SHAPIRO; SMYTH, 1996, pag. 30,

tradução nossa)

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30

Tan; Steinbach e Kumar (2009, pag. 4) “

integral da descoberta de conhecimento em banco de dados (KDD – Knowledge

Discovery in Data bases), que é o processo geral de conversão de dados brutos em

õ ” Segundo Silberschatz; Korth e Sudarshan (2006), a mineração

combina técnicas de descoberta de conhecimento em inteligência artificial (ou

aprendizado de máquina) e de análise estatística com técnicas de implementação

eficientes que possibilitem o uso em grandes bancos de dados.

Estas técnicas são organizadas para atuar em grandes bancos de dados, visando o

descobrimento de padrões uteis e recentes que de alguma forma poderiam

permanecer ignorados. Muitas vezes, ou as ferramentas e técnicas tradicionais de

análise de dados não podem ser aplicadas ou há questões que não são respondidas

pelas técnicas tradicionais, demandando novos métodos (TAN; STEINBACH ;

KUMAR, 2009).

O problema da extração de conhecimento a partir de grandes bases de dados está

relacionado a vários aspectos que vão desde a manipulação e recuperação de

dados até matemática fundamental, inferência estatística, pesquisa e raciocínio

(FAYYAD; PIATETSKY-SHAPIRO; SMYTH, 1996).

A extração de conhecimento em grandes bases de dados, de acordo com Fayyad;

Piatetsky-Shapiro e Smyth (1996), envolve diversas etapas. O KDD inclui todo o

processo de descoberta de conhecimento a partir de dados, incluindo a maneira

como os dados são armazenados e acessados, o modo como os algoritmos podem

ser aplicados em conjuntos grandes de dados e continuar funcionando

adequadamente, a forma como os resultados podem ser interpretados e

visualizados e como a interação do usuário com a máquina pode ser desenhada e

suportada.

As principais etapas do KDD envolvem: pré-processamento dos dados, mineração

dos dados e pós-processamento dos resultados, conforme Figura 2 (TAN;

STEINBACH; KUMAR, 2009).

Page 32: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

31

Figura 2 - Processo de descoberta de conhecimento em banco de dados (KDD).

Fonte: adaptado de Tan; Steinbach e Kumar (2009).

Dentro das etapas citadas, Fayyad; Piatetsky-Shapiro e Smyth (1996) detalham os

principais passos do processo:

1. Aprendizagem do domínio da aplicação: incluindo o conhecimento prévio relevante e os objetivos da aplicação.

2. Criação de um conjunto de dados alvos: a partir da seleção de um conjunto de variáveis e amostras de dados nos quais o processo será executado.

3. Pré-processamento e limpeza dos dados: remoção de ruídos ou de outliers, coleta da informação necessária para modelar ou levar em conta o ruído, decisão sobre estratégias para tratar campos de dados vazios, levar em conta informações sobre sequencias de tempo e mudanças conhecidas, assim como decisões sobre questões de Sistemas de Gerenciamento de Banco de Dados, tais como tipos de dados, esquemas, mapeamento de valores faltantes e desconhecidos.

4. Redução de dados e projeção: encontrar características úteis para representação dos dados, dependendo do objetivo da tarefa, e utilização de métodos de redução de dimensionalidade ou transformação para reduzir o número efetivo de variáveis que serão levadas em consideração ou para encontrar representações invariáveis para os dados.

5. Escolha da função de mineração de dados: inclui a decisão sobre o propósito do modelo derivado pelo algoritmo de mineração de dados, como por exemplo: sumarização, classificação, regressão e clustering.

6. Escolha do algoritmo de mineração de dados: inclui selecionar método (s) a ser(em) utilizado(s) na pesquisa por padrões nos dados, tais como decidir que modelos e parâmetros devem ser apropriados [...] e combinar um método de mineração de dados específico com os critérios gerais do processo de KDD.

7. Mineração de dados: busca de padrões de interesse em uma forma de representação particular ou em um conjunto de tais representações, incluindo regras ou árvores de classificação,

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32

agrupamento, regressão, modelagem de sequências, dependências e análises de linha.

8. Interpretação: interpretação dos padrões descobertos e a possibilidade de retornar a qualquer uma das etapas anteriores, bem como a possibilidade de visualização dos padrões extraídos, removendo padrões redundantes ou irrelevantes, e tradução dos padrões uteis em termos compreensíveis para os usuários.

9. Utilização do conhecimento descoberto: incorporação deste conhecimento no sistema, tomando de ações com base no conhecimento, ou simplesmente documentá-lo e reportá-lo às partes interessadas, bem como a verificação e resolução de potenciais conflitos com o conhecimento antes aceito ou (extraído) (FAYYAD; PIATETSKY-SHAPIRO; SMYTH, 1996)

2.2.3 Metodologia para preparação de dados espaciais para mineração de

dados clássica

Para uma melhor eficiência na análise do grande volume de dados gerados pelas

empresas, é importante organizar a informação. Segundo Silberschatz; Korth e

S “ ganizações possuem uma estrutura organizacional

interna bastante complexa e, por isso, diferentes dados podem estar presentes em

diferentes locais, ou em diferentes sistemas operacionais, ou sob diferentes

As consultas às fontes de dados individuais normalmente são complexas e

ineficazes. É importante resumir os dados armazenados nos bancos de dados em

algum padrão se for necessário derivar informações que os humanos possam usar

(SILBERSCHATZ; KORTH; SUDARSHAN, 2006).

Os depósitos de dados (ou data warehouse) podem ser uma solução para estas

questões. Segundo Silberschatz; Korth e Sudarshan (2006), empresas têm montado

depósitos de dados para realizar consultas de forma mais eficiente em dados tão

diversificados.

De acordo com Silberschatz; Kort S “U ó

um repositório (ou arquivamento) de informações colhidas de várias origens,

ú ”

de consultas de apoio à decisão, pois fornecem ao usuário o acesso a dados

históricos em uma interface única e consolidada de dados.

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33

2.2.4 Padrões encontrados em mineração de dados

De acordo com Kim et al. (2008) dois diferentes tipos de padrões podem ser

encontrados em processos de mineração de dados: preditivo (predictive) que

incluem previsão (prediction) e classificação (classification), e informativo, que

incluem agrupamento (clustering) e associação (association). Estes últimos

demandam maior poder computacional e até o início dos anos 2000 eram pouco

utilizados. De um lado, padrões preditivos são construídos para resolver um

problema específico de prever um ou mais atributos de um banco de dados,

enquanto padrões informativos são utilizados para apresentar padrões importantes

que um especialista no campo em questão ainda não conhece, ao invés de ser

utilizado para resolver um problema específico.

A previsão refere-se a descobrir padrões preditivos onde o atributo a ser previsto é de valor real. Padrões preditivos são importantes não só na forma como eles prever a quantidade desconhecida desejada, mas também, em sua capacidade de transmitir os padrões interessantes para o especialista de domínio.

A classificação é semelhante a um padrão de previsão, exceto por predizer o valor de um atributo nominal ou categórico em vez do atributo de valor real. O atributo previsto define uma classe de classificação.

O agrupamento é também chamado de modelo de segmentação. O objetivo do agrupamento é pegar um conjunto de entidades representadas como registros em um banco de dados e particioná-lo em um número de grupos ou clusters garantindo que as entidades dentro de um cluster sejam semelhantes.

A associação v X → Y X Y são declarações sobre os valores de atributos de um registro. Os algoritmos de regras de associação pesquisam o espaço de todas as v X → Y X Y (KIM et al., 2008, pag. 550-560).

2.2.5 Particularidades da mineração de dados espacial

Fayyad; Piatetsky-Shapiro e Smyth (1996) já apresentavam como um dos desafios

do processo KDD, o tratamento de dados fora de padrão, multimídia e orientado a

objetos. Segundo os autores, os bancos de dados tipicamente não contêm apenas

dados numéricos, mas podem conter também dados não textuais, geométricos,

gráficos, não estáticos, temporais, espaciais, relacionais, textos multilíngues, bem

como imagens digitalizadas, dados de áudio e vídeo.

Page 35: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

34

De acordo com Clementini e Di Felice (1996), na maioria das consultas a dados

espaciais, a relação espacial entre eles é importante. Isto impõe uma série de novas

exigências aos sistemas de banco de dados, se comparados aos tradicionais, pois

exigem a formalização das relações espaciais entre os objetos físicos que podem

estar relacionadas a uma dentre três categorias básicas:

I. Relações topológicas: descrevem se dois objetos se intersectam ou

não e como. Por exemplo: relações de adjacência, sobreposição, entre

outras.

II. Relações de orientação: descrevem localização do objeto em relação a

uma referência. Por exemplo: ao norte de, ao sul de, etc.

III. Relações de direção: descrevem a distância entre um objeto e sua

respectiva referência. Por exemplo: muito perto, perto, etc.

2.2.6 Metodologia para preparação de dados espaciais para mineração de

dados clássica

As ferramentas tradicionais de mineração de dados utilizadas com algoritmos

clássicos geralmente não possuem funções para a preparação de dados espaciais,

sendo necessário muitas vezes o tratamento manual dos dados. Para os autores,

embora seja possível que os algoritmos de mineração de dados sejam desenhados

para acessar os bancos de dados diretamente, é necessário um esforço em

transformar a base de dados em um formato compatível com os algoritmos. Por

conta disso, desenvolveram uma metodologia para a preparação de dados espaciais

para a aplicação tanto de algoritmos espaciais quanto clássicos na mineração de

dados, demonstrada na Figura 3 (BOGORNY; ENGEL; ALVARES, 2005).

Page 36: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

35

Figura 3 - Metodologia para preparação de dados espaciais para mineração de dados clássica.

Fonte: adaptado de Bogorny; Engel e Alvares (2005)

A metodologia proposta por Bogorny; Engel e Alvares (2005) é composta de três

etapas principais:

A etapa de seleção é composta pela seleção dos dados e filtro de dados não

espaciais que definem e retornam para a base de dados espacial todas as

informações que satisfaçam as condições especificadas para o processo de KDD,

eliminando ruídos e dados irrelevantes.

Na etapa de materialização todas as relações espaciais relevantes, definidas na

etapa de seleção, são computadas e convertidas em predicados espaciais. São

definidos alguns índices e funções de otimização com o objetivo de acelerar a

análise da vizinhança espacial. A sub-etapa de otimização pode ser utilizada em

bancos de dados espaciais reais para reduzir o tempo para computar estas relações

espaciais, mas não é parte obrigatória do processo.

A transformação é a etapa na qual todas as relações espaciais são transpostas em

um formato de tabela único de acordo com os requisitos das ferramentas de

mineração de dados. Como resultado, a tabela final possuirá os atributos não

espaciais e todas as relações espaciais relevantes materializadas.

Sobre estes dados, poderão ser aplicados algoritmos específicos para mineração de

dados espacial, tais como os definidos por Ester; Kriegel e Sander (1999): Spatial

Clustering, Spatial Characterization, Spatial Trend Detection.

2.2.7 Considerações finais

Page 37: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

36

A literatura preconiza que para a aplicação de técnicas de mineração em dados

espaciais é necessária a preparação destes dados para a aplicação tanto de

algoritmos espaciais quanto clássicos na mineração de dados. Esta preparação,

entretanto, pode esconder características importantes sobre a geometria e as

relações entre os elementos do modelo, sendo importante desenvolver maneiras de

representá-las.

2.3 Conceitos relevantes para a mineração de dados BIM

A principal dificuldade no uso de modelos BIM como entrada para técnicas de

mineração é a riqueza de dados dessa representação. Esses algoritmos geralmente

esperam os dados na forma de tabelas em um banco de dados, onde cada linha é

caracterizada por um número fixo de colunas, com um tipo definido em cada coluna.

Se fosse esse o caso, o uso de modelos BIM para mineração de dados seria trivial.

No entanto, os modelos BIM, como muitos outros tipos de dados reais, têm um

padrão complexo de relações entre os seus componentes e, em geral, devem ser

planificados de modo que os algoritmos tradicionais possam ser utilizados.

A preparação dos dados espaciais contidos nos modelos BIM requer a análise das

entidades espaciais e seus relacionamentos.

Desta forma, para criar uma base conceitual sobre o tema e subsidiar a identificação

de requisitos e processos para a mineração de dados BIM, foram levantados alguns

conceitos relacionados a objetos espaciais, a estrutura do modelo BIM e linguagens

de consultas pré-desenvolvidas que se adequam ao uso em informações do modelo

BIM.

2.3.1 Operadores espaciais

Consultas a banco de dados espaciais exigem a formalização das relações

espaciais entre os objetos físicos (CLEMENTINI; DI FELICE, 1996).

Borrmann; Treeck e Rank (2006) apresentaram uma definição formal para dados

espaciais 3D e os operadores que interagem com eles, provendo uma visão sobre a

implementação da funcionalidade de consulta espacial 3D no topo de um sistema de

gerenciamento de banco de dados relacionado ao objeto. Os operadores espaciais

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37

podem operar em tipos de dados espaciais e possuem semântica espacial, podendo

ser classificados em uma das quatro categorias a seguir:

Operadores direcionais: utilizados para consultar as relações direcionais

entre dois objetos espaciais como sua posição relativa, tais como: sobre

(above), abaixo (below), ao norte de (northOf), ao sul de (southOf), ao leste

de (eastOf) e ao oeste de (westOf).

Operadores topológicos: utilizados para consultar relações topológicas

entre dois objetos espaciais, tais como toca (touch), contém (contain), igual

(equal), dentro (inside).

Operadores métricos: distância (distance) é o único operador para dados

espaciais e é definida como a menor distância entre qualquer ponto

pertencente ao fechamento dos objetos.

Operadores booleanos: os operadores união (union) ou interseção

(intersection) e diferença (difference) possuem dois operandos do mesmo tipo

espacial.

Por serem apropriados para elementos 3D, pode-se inferir que estes operadores

podem ser utilizados para o desenvolvimento de linguagens de consulta específicas

para dados espaciais contidos nos modelos BIM.

2.3.2 Linguagens de consultas aplicáveis a modelos BIM

Alguns pesquisadores desenvolveram linguagens específicas para consultas em

modelos BIM, o propósito e operadores de cada uma delas foram investigados

visando a análise da aplicabilidade destas linguagens na mineração de dados em

modelos BIM.

2.3.2.1 Partial Model Query Language (PMQL)

De acordo com Adachi (2003) trata-se de uma linguagem baseada em XML que dá

flexibilidade a consulta de informações parciais do modelo, incluindo operações para

seleção (Select), atualização (Update) e exclusão (Delete). Também permite que

“ v ” descreve qual parte dos dados

do modelo é necessária visualizar em uma visão específica.

2.3.2.2 Generalised Model Subset Definition Schema (GMSD)

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38

Proposto por Weise; Katranuschkov e Scherer (2003), este esquema foi definido em

EXPRESS para que fosse compatível com o esquema IFC e é composto de duas

partes: constructos que suportam a seleção dinâmica de instâncias de objetos em

consultas em servidores de modelo (model server) e constructos que possibilitam o

desenvolvimento de definições de vista que podem ser usadas como parte

permanente de um ambiente de servidor de modelo, para apoiar a derivação

automática de subconjuntos de modelos de disciplinas específicas de projeto. Com o

esquema é possível a criação de vistas parciais de domínio específico (domain-

specific model views) de maneira declarativa, bem como proporcionar

funcionalidades de seleção no nível da instância como representado na Figura 4.

Operações como união (Union), diferença (Difference) e intersecção (Intersection)

podem ser executadas nos conjuntos sobre os conjuntos de resultados de

subconsultas.

Figura 4 - Estrutura de alto nível do esquema GMSD e as operações em nível de instância

Fonte: adaptado de Weise, Katranuschkov, Scherer (2003)

2.3.2.3 Building Information Model Query Language (BIMQL)

Proposto por Mazairac, Beetz (2013), trata-se de uma linguagem de consulta aberta

para modelos BIM que visa selecionar, atualizar e deletar dados armazenados em

modelos IFC. As consultas BIMQL formuladas espontaneamente ou compostas a

partir de bibliotecas podem ser utilizadas em combinação com definições de vista de

modelo (ou Model View Definition - MVD) para seleção de conteúdo em pedidos de

informação comunicados através de protocolos de rede. A linguagem foi desenhada

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39

e implementada na plataforma bimserver.org, porém, por ser genérica, pode ser

adaptada a outras implementações de modelagens baseadas em IFC e no

desenvolvimento de ferramentas. Uma visão geral da arquitetura do sistema do

framework do bimserver.org e o aplicativo BIMQL é apresentada na Figura 5.

Figura 5 - Visão geral do framework do bimserver.org, do aplicativo BIMQL e das camadas

MDA envolvidas

Fonte: adaptado de Mazairca e Beetz (2013)

2.3.2.4 Query Language for Building Information Models (QL4BIM)

Desenvolvida por Daum e Borrmann (2014), a QL4BIM visa cobrir o gargalo de

funcionalidade espacial em linguagens de consultas BIM. De acordo com os autores,

as linguagens propostas anteriormente não dão o devido tratamento a informação de

geometria dos modelos, uma vez que os objetos espaciais são inerentes aos

edifícios e as relações espaciais qualitativas desempenham um papel importante na

análise e verificação de modelos de construção. O QL4BIM proporciona operadores

métricos, direcionais e topológicos definindo expressões de filtro com semântica

espacial qualitativa. Com isso, torna-se possível selecionar elementos de construção

específicos a partir da aplicação de relações espaciais qualitativas nas respectivas

expressões de filtro. Estas relações formam um nível intermediário entre o ponto de

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40

vista técnico da geometria do edifício utilizando coordenadas numéricas e a forma

com a qual percebem os edifícios e as relações entre seus componentes.

A linguagem QL4BIM opera em modelos BIM de acordo com o IFC, incluindo

operadores espaciais como:

Operadores métricos: como distância (Distance), mais perto do que

(CloserThan) e mais longe do que (FartherThan),

Operadores direcionais: como acima (Above), abaixo (Below) e ao norte de

(NorthOf),

Operadores topológicos: como toca (Touch), dentro (Within) e contém

(Contains).

Daum e Borrmann (2014) declaram que a QL4BIM foi desenvolvida para lidar com

consultas sobre o modelo BIM com um grande volume de elementos e

representações geométricas detalhadas.

2.3.2.5 A visual BIM query language (VBQL)

Elaborada por Wülfing; Windisch e Scherer (2014), trata-se de uma linguagem visual

para consultas a modelos BIM que foi desenvolvida visando a fácil utilização por

usuários leigos em linguagens de programação baseadas em texto (text based

programming) ou linguagens de consulta (query languages). Os elementos da

linguagem VBQL permitem que as especificações dos filtros de consultas sejam

eficientes, intuitivas, de fácil aprendizagem e uso. A relação entre a estrutura da

linguagem (sintaxe abstrata) e a representação da linguagem (sintaxe concreta) é

demonstrada na Figura 6.

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41

Figura 6 - Relação entre a estrutura da linguagem (sintaxe abstrata) e a representação da

linguagem (sintaxe concreta)

Fonte: adaptado de Wülfing, Windisch, Scherer (2014)

2.3.3 Funções para consulta de relações topológicas em modelos BIM

Embora normalmente se dê mais foco ao uso do BIM pelos projetistas, os

construtores também podem fazer uso do BIM como suporte às atividades do

gerenciamento da construção. Há vários desafios, entretanto, para extração de

informações especificas de construção a partir do modelo BIM, o que limita o seu

uso durante a etapa de construção e os processos subsequentes (NEPAL et al.

2012).

De acordo com Borrmann; Schraufstetter e Rank (2009) as ferramentas BIM

disponíveis não dão suporte para análises espaciais em modelos BIM que busquem

encontrar informações implícitas em modelos BIM, mas que são necessárias para os

profissionais envolvidos na construção. É necessário para isso analisar a geometria

e a topologia dos componentes do modelo.

Nepal et al. (2012) desenvolveram um método que combina extração de

características do modelo BIM com o processamento de consultas aos dados para

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42

dar suporte a uma variedade de funções de gerenciamento da construção. A

proposta envolve modelagem de características baseada em ontologia, extração

automática de características e consultas espaciais dos dados do modelo BIM

combinando ifcXML1 e dados XML espaciais. Além disso, combinam o uso de

conhecimento específico de domínio (domain-specific knowledge) com Geographic

Markup Language (GML)2 e XQuery3 espacial para suportar consultas espaciais em

modelos BIM.

De acordo com Nepal et al. (2012) as relações espaciais têm um papel fundamental

no projeto e construção de um edifício. Vários pesquisadores reconheceram e

desenvolveram esquemas conceituais (conceptual schemas) para análise das várias

relações espaciais entre elementos construtivos, incluindo relações topológicas, tais

como adjacência, interseção e inclusão, relações de orientação ou direção, e

relações de distância entre componentes.

De acordo com Borrmann; Schraufstetter e Rank (2009), o IFC define múltiplas

relações espaciais, predominantemente topológicas, que podem ocorrer entre

elementos de um modelo BIM, porém o resultado do modelo do edifício em IFC não

possui relações explícitas de distância e de direção entre os objetos.

Nepal et al. (2012) acredita que esquemas padrão, como o IFC, podem ser utilizados

pelas ferramentas BIM e outros aplicativos para a realização de análises tanto sobre

informações espaciais, quanto não espaciais necessárias pelos profissionais de

projeto e construção.

A seguir estão relacionados os predicados de consulta (query predicates)

desenvolvidos por Nepal et al. (2012) para suportar consultas em modelos BIM.

1. Predicado de consulta interseção (intersects) e disjunto (disjoint).

O predicado proposto é baseado no uso do algoritmo padrão Separating Axis

Theorem (SAT) que diz que dois elementos não se intersectam, ou seja, são

1 ifcXML é uma implementação do padrão ISO-10303 Parte 28 Edição 2. Este padrão provê uma

especificação do esquema XML que é automaticamente convertido a partir da representação EXPRESS (ISO 10303 parte 11) do esquema IFC. (BUILDING SMART, 2007). 2 Geographic Markup Language (GML)

2 é uma gramática XML definida pela Open Geospatial

Consortium (OGC) para descrever relações geográficas. (NEPAL et al. 2012). 3 XQuery é uma linguagem de consulta padrão para XML que suporta consultas em atributos não

espaciais. (NEPAL et al. 2012).

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43

disjuntos, se existe uma linha que pode ser colocada entre dois objetos. Caso

contrário, eles se intersectam (Figura 7).

Figura 7 - Aplicação do teorema SAT em relação a duas paredes.

Fonte: Adaptado de Nepal et al. (2012)

2. Predicado de consulta para proximidade (proximate).

Os autores assumem para este predicado o uso de colunas quadradas, retangulares

e circulares em um grid. Uma coluna em análise está próxima de outra de referência

se satisfaz dois critérios:

a coluna está alinhada a mesma linha do grid que a coluna de referência;

a coluna em análise é a mais próxima da outra em uma determinada direção.

“ray tracing”

aplicado em computação gráfica para desenhar objetos 3D.

A XQuery proposta pelos autores determina se a linha do eixo na qual a coluna de

referência está alinhada, intersecta a coluna na direção d, onde d é ao norte, sul,

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44

leste ou oeste da coluna de referência. A consulta é booleana e reporta valores de

verdadeiro ou falso.

3. Predicado de consulta nos eixos (on-grid).

Segundo os autores, uma coluna está no eixo ou horizontalmente alinhada, se está

alinhada tanto ao eixo x quanto ao eixo y. Figura 8.

Figura 8 - Representação de colunas no eixo e fora do eixo.

Fonte: Adaptado de Nepal et al. (2012)

Os autores levantaram, a partir da opinião de especialistas, relações importantes

entre os elementos construtivos. Em seguida analisaram quais relações eram

suportadas pela abordagem proposta por eles e quais eram suportadas por demais

consultas (query) desenvolvidas para BIM (Quadro 1).

Page 46: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

45

Quadro 1 - Suporte das diferentes consultas (query) espaciais para BIM

Ferramentas do "Estado da arte" Abordagem Nepal et al. (2012)

Condições relevantes de projeto total

suporte

suporte

parcial

sem

suporte

total

suporte

suporte

parcial

sem

suporte

Espaçamento máximo e mínimo entre colunas x x

Espaçamento claro vs. centro-a-centro de colunas x x

Espaçamento de colunas de fachada x x

Alinhamento horizontal e vertical das colunas x x

Uniformidade entre tamanho e forma de colunas de

piso a piso

x x

Uniformidade de localização de coluna de piso a

piso

x x

Uniformidade de espaçamento de colunas no piso x x

Uniformidade de espaçamento de colunas de piso

a piso

x x

Colunas no grid e fora do grid x x

Uniformidade de colunas fora do grid de piso a piso x x

Distância entre colunas x x

Localização de colunas exteriores a partir do canto

da laje

x x

Intersecção ou conectividade de componentes do

edifício

x x

T -, L, final ao final, ou sobreposição de

intersecções de paredes

x x

Intersecção de paredes não perpendiculares x x

Localização da intersecção x x

Profundidade da intersecção x x

Tamanho da intersecção x x

Existência de penetrações em paredes/lajes x x

Localização horizontal e vertical de penetrações

em paredes

x x

Localização horizontal de penetrações de lajes x x

Uniformidade no tamanho e localização das

penetrações de parede e laje

x x

Dimensão/tamanho, área, perímetro da penetração

na parede/laje

x x

Espaçamento da penetração x x

Uniformidade no espaçamento das penetrações x x

Fonte: Nepal et al. (2012)

2.3.4 Aplicativo para retornar relações topológicas em modelos BIM

Recentemente Demian et al. (2016) desenvolveram o aplicativo 3DIR para o

software Autodesk Revit capaz de explorar relações topológicas do modelo BIM, a

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46

partir do uso de geometria computacional simples, utilizando três relacionamentos

principais:

A relação de hospedeiro (host) que é utilizada no Revit para informar que um

elemento, como por exemplo, uma janela está posicionada em uma

determinada parede.

A relação de intersecção (intersecting), quando dois elementos 3D se

intersectam no modelo.

A relação de tocar (touching), quando dois elementos se tocam, como por

exemplo duas paredes que se encontram.

A partir da seleção de um determinado elemento 3D e da especificação de uma

região esférica de entorno, é possível exportar como uma lista de vizinhos

(neighbors) incluindo informações de hospedeiros, elementos que tocam e

intersectam este elemento.

2.3.5 Considerações finais

As linguagens de consulta desenvolvidas especificamente ou aplicadas em modelos

BIM até o momento visam, em sua maioria, a criação de filtros de vista ou a

identificação de relações entre os elementos que possam ser utilizadas, por

exemplo, em processos de compatibilização de projetos.

A não ser pela QL4BIM, as demais linguagens não dão o devido tratamento à

informação de geometria dos modelos. Porém, verificou-se que a QL4BIM não está

disponível para o uso do público, o que dificulta a sua aplicação nesta pesquisa.

A pesquisa de Nepal et al. (2012) traz parte dos predicados que analisam as

relações entre elementos construtivos e podem ser utilizados na mineração de

dados de defeitos construtivos em modelos BIM, porém faz-se necessário definir

como caracterizar os dados de defeitos para que seja possível essa análise.

Além disso, estes predicados tratam apenas das relações entre elementos

construtivos diferentes, como por exemplo, se um pilar está acima ou abaixo de uma

viga. Faz-se necessário, portanto, identificar uma forma de interpretar as relações

entre o defeito e o elemento construtivo no qual está posicionado, como forma de

subsidiar as consultas.

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47

O aplicativo 3DIR desenvolvido por Demian et al. (2016) apresenta potencial para

tornar explícitas a topologia entre os elementos de um modelo BIM, porém ainda é

limitado a relações de hospedeiro, intersecção e tocar.

2.4 A construção civil e o uso da informação

Como forma de compreender potenciais fontes de informação pós projeto para

inserção no modelo BIM e suas limitações, foi feita uma revisão sobre informações

geradas em processos de gerenciamento e execução do empreendimento, e como

estas informações são coletadas, armazenadas e tratadas.

2.4.1 Fontes de informação na construção civil

Ao longo de todo o ciclo de vida do edifício, diversas informações do gerenciamento

e do resultado da construção são geradas e armazenadas, mas, muitas vezes, a

coleta destas informações não é feita de forma estruturada, o que dificulta a análise

e reuso da informação.

Segundo Ma; Lu e Wu (2011) o número de empresas de construção que utilizam

sistemas de informação como ferramentas de gestão tem aumentado e uma grande

quantidade de informação é acumulada nestes sistemas ao longo do tempo, tais

como dados de produtividade de mão de obra, equipamentos, materiais,

cronograma, custo e qualidade, entre outros.

Os mesmos autores analisaram as principais fontes de informação existentes no

processo de gerenciamento de uma construção e as categorizaram conforme o nível

potencial de reuso de cada uma destas fontes, onde o nível A é possui mais

reusabilidade que o nível B. Tabela 2.1.

Dado o grande volume e as diferentes fontes de informações, faz-se necessária a

criação de metodologias para organizar e processar estas informações. Ma; Lu e Wu

(2011) acreditam ser essencial que as informações úteis, dentre a grande

quantidade de informação acumulada nos sistemas de informação de empresas de

construção, sejam corretamente identificadas e representadas, a fim de melhorar a

eficácia e eficiência na aplicação de técnicas de processamento e melhorar o poder

de decisão e a competitividade nas empresas (MA; LU; WU, 2011).

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48

Tabela 2.1 – Fontes de informação e nível de reuso (Parcial)

Informação Nível de reusabilidade

Informações de certificação A

Detalhes do cronograma A

Documentos do plano de construção A

Registros de suprimentos de material A

Registros de custo direto A

Registros de custos indiretos A

Registros do contrato A

Registros dos custos do projeto A

Métodos construtivos A

Registros do fluxo de caixa A

Documentos de projeto B

Informações de estimativas de custo B

Informações de contrato B

Informações do planejamento da construção B

Detalhamento da logística de materiais B

Registros de inspeção de qualidade B

Informação sobre desempenho da equipe B

Registros de mão de obra B

Fonte: Adaptado de Ma; Lu e Wu (2011)

Além disso, Park et al. (2013) destacam a importância de se prover o conhecimento

correto para a pessoa certa e no prazo e local necessário. Os autores sugerem para

isso o uso de conceitos avançados, tais como: mapas de rede (network map),

agrupamento (clustering) e ontologia. Estas técnicas podem ser utilizadas para

melhorar a pesquisa do conhecimento e compartilhamento na indústria da

construção.

2.4.2 Organização das informações em base de dados BIM

O potencial do modelo BIM como uma forma de concentrar dados gerados no

processo de gerenciamento da construção em uma base de dados consolidada que

posteriormente poderá ser utilizada como base para o processamento destas

Page 50: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

49

informações começa a ser destacado em algumas pesquisas. De acordo com Curry

et al. (2013) a modelagem da informação da construção (BIM) vem a ser um novo

departamento na área de gerenciamento de informações dentro da arquitetura,

engenharia e indústria da construção (AEC), por permitir a captura e manutenção

precisa de informações da construção. BIM permite a definição de objetos com

relações definidas e meta-dados associados e pode ser uma maneira eficaz para a

captura dessas informações em um formato eletrônico utilizável, auxiliando a

interoperabilidade nas fases de concepção, construção e gestão.

Alguns pesquisadores começaram também a analisar formas de inserir e organizar

as informações de gerenciamento da construção em modelos BIM.

Figura 9 - Sistema de inspeção de defeito baseada em realidade aumentada

Fonte: Park et al. (2013)

Park et al. (2013) propuseram um arcabouço conceitual (framework) para o

gerenciamento de problemas de qualidade de construção, integrando ontologia e

realidade aumentada (AR) com modelagem da informação da construção (BIM), em

três etapas: uso de um formulário de coleta de defeitos padrão para garantir a

qualidade e acuracidade dos dados; ontologia para pesquisar e recuperar

informações específicas de defeito no projeto ou na execução; e um sistema de

inspeção de defeito baseada em realidade aumentada para dar suporte ao

gerenciamento de defeito do campo (Figura 9).

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50

Chen e Luo (2014) apresentaram um arcabouço para o armazenamento de

informações de qualidade no modelo BIM (Figura 10), pois acreditam que a

implementação do BIM no gerenciamento da qualidade tem o potencial de agregar

dados multidimensionais a análise de qualidade, tais como data do projeto e

sequência executiva.

Figura 10 - Fluxo de trabalho para controle de qualidade baseado no BIM

Fonte: Adaptado de Chen e Luo (2014)

Conforme Figura 10, o processo proposto por Chen e Luo (2014) começa com o

pedido de aceitação do serviço após a conclusão de um lote de controle e antes do

seguinte começar. Na sequência, os dados obtidos na obra são introduzidos em um

template para análise de integridade dos dados, análise de desvio e análise de

conformidade. Se o lote for aceito, passa-se para a próxima tarefa. Se o lote falha,

um relatório de não-conformidade Figura 11 é emitido com as ações corretivas

necessárias. Após as ações corretivas serem tomadas, o processo se inicia

novamente. O resultado é registrado visualmente no modelo BIM para facilitar o uso

dos gestores. Uma vez que a entrada de dados é a partir do modelo de qualidade

baseado no BIM proposto, reduz a necessidade de repetir a entrada de dados em

diferentes formas de análise, compartilhamento e comunicação de dados.

Recentemente, Lee et al. (2016) também propuseram um arcabouço utilizando BIM

e tecnologias de dados vinculados como um novo método de compartilhamento de

dados de defeito ou problemas construtivos entre fontes de dados heterogêneos.

Lee et al. (2016) acreditam que as informações extraídas do ambiente BIM deveriam

ser utilizadas como consulta de casos de defeitos semelhantes em análises de

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51

possíveis defeitos após o projeto e antes da construção.

Figura 11 - Exemplo relatório de verificação de qualidade

Fonte: Chen e Luo (2014)

Para isso, os autores desenvolveram uma ontologia para dados de defeito, a partir

da extração de informações de projeto do modelo BIM, conversão dos dados em

formato RDF (Resource Description Framework) e implementação de consultas

SPARQL (SPARQL Protocol and RDF Query Language) (Figura 12).

Page 53: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

52

Figura 12 – Método para dados de defeito proposto por Lee et al. 2016

Fonte: Lee et al. 2016

Conforme método proposto por Lee et al. (2016), o modelo BIM é criado para que as

informações de um determinado elemento construtivo selecionado sejam extraídas.

Esta informação é extraída e exportada em uma planilha utilizando funções

embutidas no modelo BIM (2). A informação na planilha é convertida para o formato

RDF através de um conversor RDF (3). As funções de pesquisa dos dados podem

ser testadas através de funcionalidades de consulta (query) na ferramenta de edição

da ontologia, utilizando casos de defeitos como instâncias (4).

Lee et al. (2016) acreditam que a abordagem proposta pode ajudar aplicações de

software BIM a levarem em conta as informações decorrentes do gerenciamento de

defeitos.

2.4.3 Considerações finais

O grande volume de informações gerado ao longo do ciclo de vida de um

empreendimento é, muitas vezes, tratado de forma desestruturada e o potencial

destas informações para gerar conhecimento é pouco aproveitado como forma de

melhorar os processos de gestão e ou evitar que os mesmos erros ocorram

novamente no futuro.

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53

O potencial do uso do modelo BIM para o armazenamento e consolidação destas

informações em uma base de dados integrada começa a ser destacado em algumas

pesquisas. Entretanto, dada a complexidade e desestruturação dos dados, são

necessárias novas estratégias para filtrar e organizar estas informações, criando

uma forma estruturada de inserí-las no modelo BIM.

Pesquisas recentes tratam especificamente da complexidade de se organizar e

inserir dados do controle da qualidade e de defeitos construtivos em modelos BIM.

Para efeito desta pesquisa, acredita-se que a proposta apresentada por Lee et al.

(2016) para organização e inserção de dados de defeitos em modelos BIM possa ser

utilizada como parte inicial do arcabouço para mineração de dados de defeitos em

modelos BIM.

Entretanto, embora a pesquisa de Lee et al. (2016) proponha consultas (query)

sobre os modelos BIM, não foi abordada formas de fazer uso das particularidades da

geometria dos elementos construtivos, tampouco sobre as relações entre os defeitos

e os elementos do modelo.

2.5 Defeitos e patologias construtivas

O registro de defeitos e problemas construtivos são uma das fontes de informações

que podem ser armazenadas em modelos BIM e podem se beneficiar da associação

com os parâmetros, geometria e relações entre os elementos do modelo BIM. Como

forma de investigar problemas construtivos comumente ocorridos em obra e suas

particularidades, foi feita uma revisão bibliográfica sobre patologias construtivas.

Esta seção apresenta alguns dos principais defeitos construtivos discutidos na

literatura. A análise das particularidades destes problemas é importante para se

identificar formas de representá-los em um sistema de mineração de dados que os

considere.

2.5.1 A gestão dos dados de defeitos em edifícios

Love e Li (2000) citam que os defeitos ou problemas construtivos são uma das

principais causas de baixa produtividade, resultando em atrasos de cronograma,

custos adicionais em material e em mão de obra para solução dos problemas.

Page 55: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

54

Além disso, estes defeitos podem ser identificados ao longo de várias fases do ciclo

de vida do edifício. De acordo com Bernardes et al. (1998), os defeitos ou não

conformidades da construção civil normalmente podem ser identificados durante a

execução da obra; após a obra concluída, porém antes da entrega ao cliente e após

a entrega ao cliente.

Embora de grande relevância, a gestão dos dados de defeitos geralmente não tem

como objetivo o uso futuro das informações, sendo tomadas apenas medidas

corretivas. Segundo Lee et al. (2016), normalmente o processo de gerenciamento de

defeitos é focado na identificação e solução dos problemas e não em retroalimentar

o processo com dados reais, que muitas vezes são dados complexos que vão desde

as etapas de concepção e construção, o que dificulta a utilização de informações

históricas para a prevenção de defeitos.

A complexidade e falta de estruturação dos dados também são levantadas como

fatores que dificultam a utilização do histórico de defeitos para retroalimentação dos

processos de gestão da qualidade. Para Lee et al. (2016) a utilização de dados de

defeitos, na prática, é limitada devido a: falta de estrutura formal na representação

de dados, entrada de dados insuficientes, pesquisa só baseada em texto disponível

e compartilhamento insuficiente de dados de defeitos. Estes dados não estruturados

não seguem um formato legível por máquina, o que dificulta o acesso, a análise e a

busca pela informação desejada.

Embora o tratamento dos dados de qualidade e de defeitos seja de alta

complexidade, três autores destacam a importância de se analisar estes dados

históricos como forma de estabelecer medidas preventivas e corretivas em projetos.

Cheng e Leu (2011) destacam a importância de se organizar e classificar defeitos

comuns de forma a transformar em informação útil para que participantes do projeto

possam entender defeitos críticos e evitar sua recorrência. Para Thomaz (1989)

também é imprescindível o conhecimento do comportamento dos materiais de

construção, de suas deficiências e de suas incompatibilidades para que as

patologias em geral diminuam a níveis aceitáveis. Já Murari e Fioriti (2013)

“ icar quais são as anomalias e com que frequência elas ocorrem permite

estabelecer medidas preventivas e corretivas em projetos, na execução, na

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55

especificação de materiais e/ou no manual do usuário, a fim de se evitar a

recorrência em outros empreendimentos ”

Destaca-se assim que embora a gestão de dados de defeitos seja de grande

importância para se identificar as causas para o tratamento dos problemas, este

processo ainda é baseado na tomada apenas de medidas corretivas pontuais a

partir da detecção do problema, sem a preocupação em se organizar e analisar os

dados de forma sistemática que permitam a retroalimentação do processo para

evitar a recorrência no futuro.

2.5.2 Principais tipos de defeitos em edifícios

Os defeitos construtivos podem ser originados por diferentes fatores e em várias

etapas do projeto. Para Eldridge (1982) os defeitos construtivos podem originar-se

de um projeto inadequado, de uma execução em desacordo com o projeto, da baixa

qualidade da mão de obra ou do edifício estar sujeito a forças ou solicitações de

desempenho não previstas.

De acordo com Eldridge (1982) a maior parte dos defeitos são causados:

Pela aplicação de forças, internas ou externas, superiores as suportadas pela

construção, seus componentes e seus materiais;

Pela interação dos materiais, sendo estes sólidos, líquidos ou gasosos e os

efeitos que estes manifestam, incluindo os originários de condições

climatológicas e ao próprio uso do edifício;

Por efeitos causados por agentes biológicos;

Por variações térmicas.

O conjunto destas ações podem causar:

mudanças na composição dos materiais utilizados na construção, podendo

interferir em seu desempenho;

mudanças na construção, que podem gerar desde uma pequena fissura que

não impacta na estabilidade da estrutura até uma que pode gerar a sua

destruição;

mudanças na forma, dimensão e peso;

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56

mudanças de aspecto, incluindo coloração.

Silva (2011) relacionou manifestações patológicas comuns da construção civil com

possíveis causas e origens (Figura 13).

Figura 13 - Principais termos ligados a patologias construtivas.

Fonte: Silva (2011)

Eldridge (1982) ilustra, em seu livro, configurações de defeitos de construção

comuns na construção civil, tais como:

umidade em edifícios: de acordo com Ramalho et al. (2014) as principais

patologias causadas pela umidade são manchas, formação de bolor ou mofo

e aparecimento de fissuras e trincas. A presença de umidade pode ser trazida

durante a construção, por capilaridade, pelas chuvas, por condensação e por

vazamentos de tubulações (Figura 14).

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57

Figura 14 - Ilustração de umidade localizada na parede do edifício.

Fonte: Eldridge, 1982

Eflorescências (Figura 15): depósitos salinos que se formam na superfície

de materiais cerâmicos, resultantes da migração e posterior evaporação de

soluções aquosas salinizadas e que normalmente são originados pelos sais

solúveis presentes na matéria prima, nos materiais de construção, na água

presente no solo, entre outros (MENEZES et. al. 2006).

Figura 15 - Imagem de uma eflorescência.

Fonte: Eldridge, 1982

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58

destacamento de acabamentos (Figura 16): normalmente caracterizados

pela perda de aderência entre o revestimento e o seu substrato, quando as

tensões surgidas no revestimento ultrapassam a capacidade de aderência

das ligações entre o revestimento e seu substrato, como por exemplo a

argamassa colante e/ou emboço. (COMUNIDADE DA CONSTRUÇÃO, 2004)

Figura 16 - Imagens de destacamento de revestimento de fachada

Fonte: Eldridge, 1982

fissuras e trincas (Figura 17 e Figura 18): normalmente são causadas por

movimentos ou deformações que não podem ser evitados, mas são

acomodados. (BERNARDES et al., 1998)

Figura 17 - Fissura causada por deformação excessiva da viga.

Fonte: Eldridge,1982

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59

Figura 18 - Ilustração de diferentes formatos de trincas e fissuras.

Fonte: Eldridge,1982

2.5.3 Particularidades de trincas e fissuras

De acordo com Thomaz (1989) dentre os inúmeros problemas patológicos que

afetam os diversos edifícios, as trincas são particularmente importantes por três

aspectos principais: alertar um eventual estado perigoso para a estrutura; o

comprometimento do desempenho da obra (estanqueidade à água, durabilidade,

isolação acústica etc.), e o constrangimento psicológico que a fissuração pode

exercer sobre os usuários.

Embora a manifestação de trincas possa parecer seguir processos totalmente

aleatórios, muitas vezes são causadas por fenômenos físicos, químicos ou

mecânicos que já são de perfeito domínio técnico. A aleatoriedade peculiar aos

estados de fissuração é muito mais relacionada à gama de variáveis envolvidas no

processo e com combinações complexas que muitas vezes são de difícil

entendimento (THOMAZ, 1989).

De acordo com Bernardes et al. (1998), fissuras e trincas normalmente são

causadas por movimentos ou deformações que normalmente não podem ser

evitados, mas podem ser acomodados. Para classificar as fissuras, é necessário

levar em consideração dos seguintes parâmetros:

Tipo de estrutura empregada;

Tipo de alvenaria utilizada;

Localização;

Tipologia;

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60

Dimensão da abertura;

Causa principal.

Além disso, segundo Bernardes et al. (1998), as fissuras podem estar localizadas

em locais variáveis: nos blocos, no revestimento de argamassa, nas juntas da

argamassa, ou continuamente através do bloco e argamassa, tanto de

assentamento como de revestimento. Para análise da relevância da fissura, deve-se

levar em conta a sua espessura que pode ser classificada de acordo com os dados

mostrados na Tabela 2.2

Tabela 2.2 - Classificação de fissuras.

CLASSIFICAÇÃO ESPESSURA DA FISSURA

DESPREZÍVEL Menor que 0,1mm

MUITO LEVE 0,4 a 0,8 mm

LEVE 0,8 a 3,2 mm

MODERADA 3,2 a 12,7mm

EXTENSIVA 12,7 a 25,4mm

SEVERA Maior que 25,4mm

Fonte: adaptado de Bernardez et al. (1998)

De acordo com Thomaz (1989) para a investigação de trincas, é necessário levar em

consideração uma série de fatores, tais como:

Incidência, configuração, comprimento, abertura e localização da trinca;

Idade aproximada da trinca, do edifício e a época em que foi construído;

Se a mesma se aprofunda por toda a espessura do componente trincado;

Se trinca semelhante aparece em componente paralelo ou perpendicular

àquele em exame;

Se trinca semelhante aparece em pavimentos contínuos;

Se trinca semelhante aparece em edifício vizinho;

Se o aparecimento da trinca é intermitente ou se sua abertura varia

sazonalmente;

Se a trinca já foi reparada anteriormente;

Se ocorreu alguma modificação profunda nas cercanias da obra;

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61

Se no entorno da trinca aparecem outras manifestações patológicas, como

umidade; descolamentos; manchas de ferrugem e de bolor, eflorescências

etc.

Se nas proximidades da trinca existem tubulações ou eletrodutos embutidos;

Se existem na obra caixilhos comprimidos;

Se as trincas se manifestam preferencialmente em alguma das fachadas da

obra;

Se existem deslocamentos relativos (para fora ou para dentro) na superfície

do componente trincado;

Se a abertura da trinca é constante ou se ocorre estreitamento numa dada

direção;

Se a trinca é acompanhada por escamações indicativas de cisalhamento;

Se está ocorrendo condensação ou penetração de água de chuva para o

interior do edifício;

Se o edifício está corretamente utilizado.

Bernardes et al. (1998), cita algumas das principais causas de ocorrências de

fissuras:

falta de amarração entre alvenaria e estrutura;

falta de vergas e contravergas;

deformações da estrutura;

dosagem da argamassa de assentamento;

dosagem da argamassa de revestimento;

falhas durante a produção e aplicação das argamassas;

falha no processo de encunhamento da alvenaria;

os efeitos térmicos e higroscópicos gerando expansão, contração e variação

no teor de umidade dos materiais;

posicionamento de tubulações muito próximas a superfície, enfraquecendo a

estrutura da parede relação entre a deformação da estrutura e a capacidade

de acomodação da parede de acordo com o tamanho dos blocos.

Carvalho (2014) apresenta as diferentes configurações das fissuras de acordo com a

causa relacionada.

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62

Fissuras causadas por recalques das fundações

De modo geral, os recalques dos pilares geram fissuras de abertura variável nas

vigas ligadas a eles, apresentando aberturas maiores na parte superior das vigas,

conforme Figura 19.

Figura 19 – Fissuras causadas por recalques das fundações

Fonte: Carvalho (2014)

Fissuras causadas por corrosão da armadura

Fissuras causadas pela corrosão da armadura normalmente aparecerem ao longo

das barras em processo de oxidação, conforme Figura 20.

Figura 20 – Fissuras causadas por corrosão de armadura em vigas.

Fonte: Carvalho (2014)

Fissuras devidas às cargas estruturais

o Tração

Fissuras causadas por esforços de tração são, de maneira geral, ortogonais à

direção do esforço e atravessam toda a seção, de acordo com Figura 21.

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Figura 21 – Fissuras causadas por esforço de tração

Fonte: Carvalho (2014)

o Compressão

Fissuras causadas por esforços de compressão são, em geral, paralelas a direção

do esforço, como representado na Figura 22.

Figura 22 – Fissuras causadas por esforço de compressão

Fonte: Carvalho (2014)

o Flexão

Fissuras causadas por esforços de flexão começam no bordo tracionado das peças

e avançam em direção à linha neutra. Possuem abertura variável: são mais abertas

no bordo tracionado da seção e vão diminuindo à medida que chegam perto da linha

neutra (Figura 23).

Figura 23 – Fissuras causadas por esforço de flexão

Fonte: Carvalho (2014)

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o Força cortante

Fissuras causadas por esforço cortante são, em geral, inclinadas (entre 30° e 45°,

aproximadamente), atravessam toda a peça, e são localizadas próximas aos apoios

dos elementos (regiões de força cortante grande). (Figura 24).

Figura 24 – Fissuras causadas por força cortante

Fonte: Carvalho (2014)

2.5.4 Particularidades de vazios de concretagem

De acordo com Figuerola (2006) as principais causas dos vazios de concretagem

estão relacionadas a:

Dosagem inadequada do concreto: concreto muito fluido, sem coesão, com

excesso de agregado graúdo;

Lançamento do concreto em alturas superiores a 3 m;

Erro no detalhamento da armadura: alta concentração de barras;

Vibração excessiva;

Erro na especificação do tamanho máximo do agregado;

Peças esbeltas, preenchidas com concreto de baixo slump;

Fôrmas mal-executadas, sem estanqueidade.

Segundo o autor, para se evitar os vazios de concretagem, é necessário respeitar

regras com relação ao tamanho õ

â v .

O posicionamento dos vazios de concretagem no elemento estrutural pode

representar a causa do problema (Figura 25 e Figura 26). Segundo o autor, vazios

de concretage v

v , a

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brita tende a chegar na base do elemento estrutural antes da argamassa, causando

bicheira na parte inferior da , como ilustrado na Figura 26.

Figura 25 – Diferentes posicionamentos dos vazios de concretagem. À esquerda, localizado na

parte intermediária do pilar e, à direita, a mesma patologia, mas em fundo de viga.

Fonte: Figuerola (2006)

Figura 26 - Vazios de concretagem em , causado pelo lançamento indevido do

concreto, provavelmente feito a uma altura superior a 3 m

Fonte: Figuerola (2006)

De acordo com o mesmo autor, se o vazio ocorre na parte superior do elemento

estrutural, pode representar que houve congestionamento de ferragens, retendo a

brita e deixando passar apenas a argamassa.

Os vazios de concretagem também podem ocorrer em outras regiões devido ao uso

de agregados graúdos em locais onde o espaçamento da armadura é insuficiente.

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66

2.5.5 Considerações finais

Há uma gama de problemas construtivos que poderiam ser representados em um

modelo BIM. Com base na literatura levantada, é possível destacar:

Trincas e fissuras

Manchas, incluindo as causadas por ferrugem, eflorescência e umidade

Vazios de concretagem

Destacamento e desplacamento de materiais

Deformação excessiva de elementos

A forma de se investigar as causas para formação de trincas e fissuras é

extensamente discutida na literatura. As trincas e fissuras podem aparecer tanto

como resultado de demais patologias, como, por exemplo, as originadas por

deformações excessivas ou comportamento de determinados materiais, quanto

podem ser a origem de determinados problemas, como quando permitem a entrada

de umidade gerando manchas.

As principais particularidades a serem consideradas na investigação de trincas e

fissuras podem ser agrupadas em:

Propriedades do elemento no qual a trinca está formada;

Localização;

Dimensão da abertura;

Configuração;

Comprimento;

Idade aproximada da trinca;

Espessura.

Além disso, na investigação das trincas, destaca-se também a importância de se

analisar os componentes vizinhos. Conforme é destacado por Thomaz (1989), que

relata, por exemplo, a importância de analisar se no entorno da trinca aparecem

outras manifestações patológicas ou se estas estão localizadas próximo a

tubulações e eletrodutos.

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67

Os vazios de concretagem também apresentam posicionamentos bem

característicos em relação ao elemento estrutural de acordo com a origem do

problema.

Com relação as manchas, incluindo aquelas causadas por ferrugem, eflorescência e

umidade, a causa pode estar relacionada aos elementos que se encontram ao seu

redor. A manifestação de uma ferrugem em um elemento estrutural pode representar

a presença de uma armação que foi exposta a umidade, já a presença de umidade

em uma parede, pode representar que há uma tubulação com vazamento em seu

interior ou que esta está em contato direto com o solo, por exemplo. Destaca-se

neste caso a importância de se identificar elementos próximos as manchas que

possam revelar sua origem.

Estas afirmações corroboram com a hipótese desta pesquisa que uma vez sendo

possível representar as patologias construtivas no modelo BIM, sistemas de

mineração de dados poderiam fazer uso de suas propriedades, geometria e relações

entre os demais elementos construtivos, na investigação das possíveis causas

destes problemas.

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3 MÉTODO

A presente pesquisa foi desenvolvida seguindo a metodologia de Pesquisa

Construtiva (do termo em inglês Constructive Research). De acordo com Oyegoke

(2011) a pesquisa construtiva visa à produção de novas soluções para problemas

práticos ou teóricos, a partir da utilização tanto de ferramentas de pesquisa, quanto

da epistemologia interpretativa, epistemologia positivista e empirismo.

Nesta metodologia, é feita a construção de um constructo, como forma de produzir

soluções para problemas específicos. Dentre os exemplos de aplicação desta

metodologia estão: a produção de uma nova realidade ou algo profundamente

diferente de qualquer coisa criada anteriormente. A validação da usabilidade da

solução pode ser feita através de sua implantação (KASANEN; LUKKA; SIITONEN,

1993).

Esta pesquisa foi conduzida a partir dos sete passos apresentados por Labro e

Tuomela (2003) para pesquisas construtivas, conforme Figura 27.

Figura 27 - Os sete passos da Pesquisa Construtiva agrupados em três fases principais.

Fonte: adaptado de Labro e Tuomela (2003)

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69

3.1 Fase 1: descoberta de um problema de pesquisa relevante que tenha potencial

para pesquisa

Através da metodologia de pesquisa construtiva é possível abordar problemas

relevantes existentes na indústria que surgem a partir de três abordagens principais:

evidência anedótica (ou informal), evidência baseada na experiência prática ou de

especialistas, evidências originadas pelo trabalho teórico de colegas ou pares

(OYEGOKE, 2011).

Esta pesquisa parte da hipótese de que é possível agregar informações originadas

durante a execução e pós-execução do empreendimento nos próprios elementos do

modelo BIM, mantendo a relação de tais informações com a geometria dos

elementos construtivos e que esta agregação poderá viabilizar a descoberta de

relacionamentos não evidentes.

Esta hipótese parte da experiência prática do pesquisador no uso do modelo BIM em

empresas construtoras e do conhecimento do grande volume de informações

relacionadas ao processo de gerenciamento da construção que são gerados

diariamente e que muitas vezes não são utilizadas de forma sistemática para

retroalimentar os processos a partir do conhecimento adquirido. O reuso limitado das

informações se deve aos dados serem muitas vezes coletados em formulários em

papel ou eletrônicos, mas de forma não integrada, situação que foi confirmada a

partir da revisão bibliográfica, mostrando-se ser comum no segmento da construção

civil.

Partindo disto, acredita-se que uma vez que dados pós projeto, ou seja, dados

gerados durante os processos de gerenciamento, controle da execução e pós

execução sejam de forma sistemática inseridos no modelo, seja possível fazer uso

de análises estatísticas através de mineração de dados, de forma a identificar

padrões que são influenciados de alguma maneira pela geometria (dimensão, forma

e/ou posição) dos elementos construtivos.

3.2 Fase 2: Examine o potencial da pesquisa para cooperação a longo prazo

Identificado o problema de pesquisa, as suas principais aplicações e

desdobramentos foram analisadas.

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70

Uma vez analisadas formas de se inserir informações pós projeto em modelos BIM e

fazer uso das informações implícitas relacionadas a geometria e posicionamento dos

elementos em análises estatísticas, será possível identificar padrões que podem ser

uteis para a análise da origem de problemas de qualidade de execução, razões para

baixa produtividade de determinados serviços, problemas de manutenção, pós-

ocupação, entre outros.

3.3 Fase 3: obter uma visão geral e compreensiva sobre o tema

Identificado o problema de pesquisa e seu potencial, foi feita a revisão da literatura

sobre os temas relacionados, como forma de obter o entendimento geral dos

assuntos relacionados à pesquisa; entrevistas semiestruturadas com empresas

construtoras como forma de compreender os processos de controle de qualidade e

as principais dificuldades encontradas neste processo e; coleta e análise da

documentação obtida pelas empresas para identificação de informações relevantes

para o tema desta pesquisa e utilização das informações em testes.

3.3.1 Revisão de literatura

Segundo Luna (1997), um dos objetivos da revisão de literatura é a determinação do

“ ” v

literatura publicada, o que se sabe e quais as lacunas existentes sobre o tema.

Para Luna (1997) a revisão de literatura está relacionada à fundamentação teórica

que será adotada para tratar o tema e o problema de pesquisa. Pode ser aplicada

quando um dos objetivos é fazer a revisão teórica para inserir um problema de

pesquisa em um quadro de referência teórica para explicá-lo, em casos nos quais o

estudo é gerado por uma teoria, ou quando não é gerado ou explicado por uma

teoria em particular, mas sim por várias.

Para esta pesquisa, foi feita a revisão bibliográfica dos seguintes temas:

O uso do BIM na construção civil

Técnicas de mineração de dados

O uso da informação na construção civil

Características de defeitos e problemas construtivos

Page 72: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

71

Nesta fase foram levantados artigos científicos de periódicos nacionais e

internacionais e de congressos nacionais e internacionais além de livros,

dissertações e teses que exploram os temas em questão. Em particular buscou-se

identificar os principais conceitos e estado da arte do processo BIM, do conceito e

técnicas de mineração de dados e os principais conceitos relacionados ao controle

de qualidade e manifestações patológicas na construção civil.

3.3.2 Entrevistas semiestruturadas

Em busca de identificar como é feito o processo de controle da qualidade da

execução dos elementos construtivos, e as dificuldades das empresas para controle,

incluindo o mapeamento e registro de não conformidades e manifestações

patológicas, foram feitas entrevistas semiestruturadas com profissionais de duas

empresas de São Paulo que atuam com construção civil:

A empresa A faz parte de um grupo com mais de 76 anos de operação em 20

estados brasileiros com mais de 58 mil funcionários, atuando em diversas

áreas incluindo: Engenharia e Construção, Concessões de Energia,

Concessões de Transporte, Indústria Naval e Incorporação.

A empresa B foi fundada em 1973 e possui mais de 7 milhões de m² de

empreendimentos entregues e atua em todo o Brasil. Possui mais de 700

funcionários e atua nas áreas de edifícios comerciais, residenciais, industriais,

hotéis, hospitais e óleo e gás.

A lista dos profissionais entrevistados, bem como suas principais responsabilidades

estão descritas no Quadro 2.

As entrevistas tiveram como enfoque as seguintes questões:

Como é feito o processo de controle de qualidade da empresa?

Quais são os procedimentos e formulários utilizados?

Como são coletadas e armazenadas as informações?

Quais são as principais dificuldades encontradas no processo?

Como é feita a análise dos problemas encontrados?

Como é feito o controle da assistência técnica?

Como é feita a retroalimentação do processo?

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72

Quais são os principais problemas construtivos detectados pós obra?

Quadro 2 - Cargo e principiais responsabilidades dos profissionais entrevistados.

Empresa Cargo do professional

entrevistado Responsabilidade do profissional

Empresa A Gerente BIM

Profissional responsável na empresa pela

implementação de um processo integrado

de coleta de informações de qualidade

através do uso de tablets e software

específico (Autodesk BIM 360 Field)

Empresa A Gerente de sistemas de

gestão

Profissional na empresa entrevistada

responsável pelo desenvolvimento do link

entre as fichas de verificação de serviço

concluídas e o pagamento dos fornecedores

Empresa A

Coordenadora de

Qualidade

Profissional que atua em campo com o

controle de qualidade e uso dos sistemas da

empresa

Empresa B Coordenador de Projetos

Profissional que coordena os projetos em

obra e as soluções junto aos consultores de

problemas construtivos identificados

Empresa B Gerente de Qualidade

Profissional que gerencia todos os

processos de controle de qualidade da

empresa

Empresa B

Coordenador do núcleo de

desenvolvimento

tecnológico

Profissional responsável pelo

desenvolvimento e controle dos

procedimentos para execução de

tecnologias construtivas

Empresa B Engenheiro de qualidade de

campo

Profissional que aplica os procedimentos de

qualidade e coleta os dados

Empresa B Gerente de Assistência

Técnica

Profissional responsável por todos os

chamados de assistência técnica pós obra

Fonte: elaborado pelo autor

Em ambas as empresas, foi possível coletar materiais relacionados aos processos

de controle de qualidade de execução, tais como:

Page 74: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

73

Fichas de Verificação de Serviço que são utilizadas para controle de

qualidade de execução.

Relatórios de registros de assistência técnica, com o registro dos chamados

de 26 obras, listando as principais patologias encontradas e possíveis causas.

Mapeamento de problemas construtivos em uma obra, relatório que é enviado

para os consultores de estrutura para que estes analisem as origens dos

problemas e as medidas a serem tomadas.

Modelos BIM de dois empreendimentos. Um edifício comercial da empresa A

e um edifício comercial da empresa B.

3.3.3 Tabulação e análise dos dados

Como forma de identificar as principais relações entre os problemas construtivos do

edifício com potencial de serem analisadas em um sistema de mineração de dados

que analise problemas de qualidade, as informações das fichas de verificação de

serviço, dos relatórios de registros de assistência técnica e dos relatórios de lições

aprendidas da construtora foram organizados e tabulados em uma planilha, de

acordo com:

Fonte

Sistema construtivo envolvido

Descrição do problema

Os registros obtidos pelo material disponibilizado pelas empresas totalizam 425

diferentes problemas construtivos de 26 obras no período entre 2013 a 2015.

A descrição de cada problema construtivo encontrado foi analisada e, com base em

suas origens, foram criadas categorias para agrupá-las.

3.4 Fase 4: inovação – desenho de um novo constructo (solução)

O constructo desenvolvido nesta pesquisa foi um arcabouço teórico para mineração

de dados de defeitos construtivos em modelos BIM, levantando os requisitos e

procedimentos básicos para sua aplicação.

Os aspectos principais contemplados no arcabouço incluem:

método para coleta dos defeitos construtivos e registro em modelos BIM;

Page 75: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

74

formas de representar as relações entre os elementos e os defeitos

construtivos permitindo que esta informação seja incluída como parte dos

dados a serem analisados pelo sistema de mineração de dados;

pontos relevantes a serem considerados no pré-processamento das

informações do modelo BIM de forma a viabilizar a mineração de dados.

3.5 Fase 5: implementar e testar o novo constructo

Após levantados os requisitos e procedimentos para a mineração de dados de

defeitos em modelos BIM, primeiramente foi realizado um teste para análise da

viabilidade de se minerar os dados de modelos BIM, em seguida foi feita a

elaboração de componentes paramétricos para representação de defeitos

construtivos em modelos BIM e, por fim, foi feita a aplicação dos componentes

defeito em um modelo BIM para análise de como representar suas informações na

mineração de dados.

3.5.1 Análise da viabilidade de minerar dados de modelos BIM

Primeiramente foi feito um teste sobre dados de não conformidade imputados em

um modelo, como forma de explorar o potencial das técnicas de mineração de dados

em modelos BIM. Estes testes resultaram em um artigo apresentado no ICCCBE

2016 (DELATORRE; CORREA; SANTOS, 2016).

O modelo BIM utilizado neste teste foi a estrutura de concreto armado de um edifício

de escritórios de 19 andares com auditório, restaurante e teatro, num total de 5766

elementos.

Quase todos os componentes do modelo tiveram um parâmetro de execução de

controle de qualidade, introduzido após a inspeção no local, com os seguintes

valores possíveis: não conforme, conforme ou aprovados após a inspeção.

Para testar a viabilidade de se minerar estes dados e identificar as relações entre os

componentes, dois grupos de elementos foram marcados como não-conformes: um

composto por várias colunas perto da fachada oeste e, o outro, um conjunto de

colunas e blocos de fundação alinhados verticalmente perto da fachada leste (Figura

28 e Figura 29). O objetivo do teste foi detectar o último conjunto de elementos, com

base na não-conformidade (parâmetro explícito) e sua posição (parâmetro

Page 76: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

75

geométrico, implícito), partindo da hipótese que a fundação não conforme poderia

ser a causa para as colunas defeituosos acima dela.

Figura 28 - Cluster de componentes não conformes no modelo estrutural.

Fonte: Autor

Figura 29 - Linha de colunas não conformes sobre a fundação não conforme.

Fonte: Autor

Para o propósito inicial de analisar a viabilidade de se explorar modelos BIM com

técnicas de mineração de dados, optou-se pela aplicação de clustering para este

teste, no qual o algoritmo identifica grupos de componentes semelhantes em um

determinado número de agrupamentos.

Para realização do teste, o modelo BIM foi preparado e exportado em formato

Industry Foundation Classes (IFC). Modelos IFC são largamente adotados como

padrão aberto usado em toda a indústria (buildingSMART, 2007).

Page 77: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

76

A partir dos dados exportados, foi preparado um arquivo de entrada para o pacote

de poLCA4 e uma análise de cluster baseada em análise de classes latentes5 (LCA)

foi realizada e os resultados examinados.

3.5.2 Elaboração de componente paramétrico para representação de defeitos

A partir da revisão da literatura sobre os principais defeitos e patologias na

construção e das principais informações utilizadas pelos especialistas para análise e

investigação da causa destes problemas, foi feita a proposição de componentes

paramétricos para representação de defeitos que poderão ser utilizados no registro

dos problemas construtivos do edifício que servirá de dado de entrada para análises

estatísticas em sistemas de mineração de dados que analisem defeitos construtivos

em modelos BIM.

O software BIM adotado para a criação do componente foi o Autodesk Revit, por ser

líder de mercado e amplamente utilizado pelas empresas no Brasil, e pelo domínio

do autor no uso da ferramenta. Acredita-se que para o propósito desta pesquisa, as

demais ferramentas BIM disponíveis no mercado atenderiam ao propósito da criação

do componente proposto, por permitirem a criação de objetos paramétricos.

3.5.1 Mineração dos dados do modelo com a inclusão do componente

defeito

“ ” e da forma de representá-

los na preparação dos dados para a mineração de dados, foi feito um segundo teste,

seguindo a mesma metodologia proposta no primeiro teste, com a particularidade de

se considerar as informações do objeto defeito.

Para isto, foi desenvolvido um modelo BIM com 5060 elementos e componentes

defeito representando trincas e manchas foram inseridos respectivamente em

paredes e lajes. Para cada componente defeito, foram atribuídas informações de

ângulo e posicionamento relativo (Figura 30).

4 poLCA -.pacote desenvolvido em linguagem R que para um dado número de classes, realiza a

análise de classe latente (Linzer & Lewis, 2011).

5 LCA. Teoria clássica da análise da classe latente fundada por Lazarsfeld em 1950, no contexto de

estudos de fenômenos sociológicos (Andersen, 1982).

Page 78: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

77

Em seguida foi feito o pré-processamento para planificação dos dados para entrada

para o pacote de poLCA e a mesma análise de cluster do primeiro teste foi aplicada

e os resultados foram examinados.

Figura 30 – Modelo BIM desenvolvido para o teste com a inclusão de componentes defeito.

Fonte: Autor

3.6 Fase 6: demonstrar conexões teóricas e o conceito da contribuição de

pesquisa da solução

Após a implementação e teste do constructo, foram identificados os principais

pontos a serem considerados em um sistema de mineração de dados que possibilite

a análise de defeitos construtivos em modelos BIM. Estes formaram o arcabouço

teórico proposto por esta pesquisa que contribuirá com pesquisas futuras que visem:

se aprofundar no desenvolvimento de algoritmos específicos para a mineração de

dados em modelos BIM, servir como base para pesquisadores que tenham como

objetivo o desenvolvimento de plataformas para esta finalidade, entre outras.

Fase 7: examinar o escopo da aplicabilidade da solução

O escopo da aplicabilidade da solução foi examinado com base nos resultados dos

testes e descrito juntamente com as conclusões, considerações finais e sugestões

para trabalhos futuros.

Page 79: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

78

4 RESULTADOS

Com base nas entrevistas realizadas, foi possível constatar como é feito o processo

de controle de qualidade e gestão de não conformidade em ambas as empresas

estudadas, incluindo procedimentos utilizados, método de coleta, armazenamento e

uso das informações obtidas, e os principais problemas construtivos encontrados em

obra.

A partir dos problemas coletados, foi possível identificar relações importantes a

serem verificadas em um sistema de mineração de dados em modelos BIM que

análise defeitos construtivos.

Foi constatado, com base na revisão da literatura, que os predicados propostos para

a identificação das relações entre elementos construtivos, normalmente aplicados a

softwares que analisam interferências construtivas, poderiam ser aplicados para

representar parte das importantes relações destacadas para a análise de defeitos

construtivos. Esse é o caso dos predicados propostos por Nepal et. al (2012)

descritos no capítulo 2.3.3.

Entretanto, as funções de consulta e predicados identificados na literatura abordam

normalmente maneiras de analisar apenas a relação entre elementos construtivos.

Há uma lacuna a ser desenvolvida na análise das relações entre o defeito

construtivo e o elemento ao qual se refere e no qual está posicionado.

Para tratar esta questão, foi proposta uma função para que seja possível interpretar

a localização do defeito perante o elemento construtivo no qual está posicionado.

Como forma de caracterizar os defeitos construtivos, foi desenvolvido um

“ ” v

poderá ser utilizado para inserir as informações do defeito nos modelos BIM.

Para subsidiar a obtenção completa das informações necessárias para caracterizar

o objeto defeito e inserí-lo no modelo BIM, foi desenvolvida uma ficha padrão para

registro das informações básicas necessárias.

Para validar a aplicabilidade da solução proposta foram realizados dois testes sobre

dados de não conformidade e do objeto defeito extraídos de modelos BIM.

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79

Os resultados apresentados estão descritos a seguir e fazem parte do arcabouço

teórico preliminar para mineração de dados de defeitos em modelos BIM proposto

nesta pesquisa.

4.1 Processo de controle de qualidade e gestão de não conformidades da empresa

A:

A empresa A possui um sistema integrado de gestão de não conformidades que faz

uso do modelo BIM, baseado no software Autodesk BIM 360 Field. Nesta empresa,

foram entrevistados o gerente da implementação da metodologia BIM, o gerente

responsável pelo desenvolvimento de sistemas que integram processos de gestão e

a coordenadora que faz o controle de qualidade em campo.

O processo de controle de qualidade é baseado neste sistema que possui

formulários com os itens de conformidade a serem verificados para cada sistema

construtivo e preenchíveis através de aplicativos móveis como tablet e celulares.

Durante as vistorias, são verificados todos os itens dos formulários e, caso seja

detectada alguma não conformidade, informações gerais do problema, bem como

uma foto, são registradas no sistema. Os registros de campo alimentam uma base

de dados geral que armazena as seguintes informações: descrição do problema;

andamento (status); número do formulário; elemento verificado; ação a ser tomada.

(Quadro 3).

Quadro 3 - Base de dados exportada pelo BIM 360 Field.

Fonte: Empresa A

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80

Como parte do processo de controle de qualidade da empresa, a partir do momento

que é aberta uma não conformidade, o acompanhamento é feito até a não

conformidade ser fechada e, só a partir deste momento, é liberado o pagamento do

fornecedor prestador daquele serviço.

O Autodesk BIM 360 Field permite o uso do modelo BIM para visualização e para a

abertura de não conformidades através da criação de um alfinete (pin) em uma vista

3D do edifício, porém este apontamento é apenas visual, não sendo criado nenhum

vínculo, em termos de dados, do registro de não conformidade com o elemento

construtivo verificado.

4.2 Processo de controle de qualidade e gestão de não conformidades da empresa

B:

O processo de controle de qualidade e gestão de não conformidade da empresa B é

feito através de planilhas chamadas Fichas de Verificação de Serviço ilustradas na

Figura 31. Estas fichas possuem os itens de qualidade que devem ser verificados

em cada etapa do processo de execução, incluindo os critérios de verificação, locais

que devem ser verificados e padrões de tolerância.

De acordo com o coordenador do núcleo de desenvolvimento tecnológico,

responsável pela criação das fichas e pelo acompanhamento de sua utilização em

obras, os profissionais muitas vezes preenchem as fichas, mas não fazem a

digitalização e o armazenando correto das informações, limitando a consulta aos

dados. Apenas nos casos em que é identificado algum problema grave em obra, as

fichas são consultadas para rastrear possíveis causas.

Isso se deve, de acordo com o engenheiro de qualidade de campo entrevistado, pela

dificuldade de se tabularem os dados de todas as fichas preenchidas, por estas

estarem em papel.

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81

Figura 31 - Ficha de verificação de serviço com registro de não conformidades.

Fonte: Empresa B.

De acordo com a coordenadora que cuida da gestão das disciplinas de projetos em

obra, quando é necessário encaminhar os problemas para análise de um consultor

especialista no assunto, foi relatado que eram feitos relatórios com o mapeamento

dos problemas e com informações gerais. A mesma ilustrou com a apresentação de

um exemplo de mapeamento de fissuras, trincas e vazios de concretagem das lajes

do embasamento do edifício que, na ocasião, havia sido feita pelo engenheiro de

qualidade e enviado para o consultor de estruturas. (Figura 32 e Figura 33).

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82

Figura 32 - Exemplo mapeamento problemas construtivos de obra 1.

Fonte: Empresa B.

Figura 33 - Exemplo mapeamento problemas construtivos de obra 2.

Fonte: Empresa B

No caso do mapeamento apresentado, as fissuras, infiltrações, vazios de

concretagem, entre outras patologias são mapeadas em planta através de uma

legenda de cores e com a identificação das espessuras das trincas e

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83

posicionamento de todos os problemas encontrados. Além disso, em uma tabela,

são registradas as informações gerais das trincas por elemento (Tabela 4.1).

Tabela 4.1 - Tabela parcial com registros das fissuras representadas nas plantas.

PEÇA ESPESSURA DA FISSURA OBSERVAÇÕES

V101 Fissuras de 0,5mm Fissuras horizontais na parte superior da viga / A

viga contém 2 emendas de concretagem.

V102 Fissuras de 0,4 a 0,5mm Fissuras horizontais na parte superior da viga / A

viga contém 2 emendas de concretagem.

V103 Fissuras de 0,5mm Fissuras horizontais na parte superior da viga / 2

Fissuras verticais na viga / A viga contém 1

emenda de concretagem.

V104 Fissuras de 0,2 a 0,5mm 3 Fissuras verticais na viga / A viga contém 2

emendas de concretagem.

V105 Não tem fissuras -

Fonte: Empresa B.

Após a finalização da obra, o processo passa para a área de assistência técnica que

fica responsável pela análise e tratamento de todas as solicitações dos clientes para

o tratamento de problemas identificados após a entrega.

Para cada solicitação são registrados: a data de entrada, obra, descrição da

solicitação, tecnologias e sistemas construtivos envolvidos, e parâmetros de controle

sobre o andamento da ocorrência (Figura 34).

Esta base de dados é utilizada tanto para a gestão do atendimento das solicitações

quanto para a análise da recorrência de determinados problemas e retroalimentação

do processo.

Com base nas entrevistas realizadas e no entendimento do processo de controle de

qualidade e gestão de não conformidades nas empresas, foi possível constatar a

complexidade de se coletar e analisar dados de defeitos construtivos em obra.

Assim como foi apontada na revisão da literatura, constatou-se que muitas vezes a

coleta desses dados é feita de forma desestruturada, o que dificulta a consolidação

das informações em uma base de dados única que possa ser consultada para que

seja possível analisar possíveis causas dos problemas para retroalimentação do

processo.

Page 85: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

84

Figura 34 - Registro de ocorrências na área de assistência técnica.

Fonte: Empresa B.

Embora a empresa A esteja mais avançada, por utilizar um sistema de coleta de

informações de defeitos a partir do uso de aplicativos móveis (por exemplo tablet e

celulares) e que gera uma base de dados consolidada acessível para análise, estes

dados não são vinculados ao elemento construtivo em que se encontram, o que

dificulta a identificação de causas que podem estar relacionadas à geometria ou às

relações entre elementos construtivos.

4.3 Relações relevantes para sistema de mineração de dados de defeitos em

modelos BIM

Para identificação de relações relevantes entre os defeitos e os elementos

construtivos que precisariam ser identificadas em um sistema de mineração de

dados em um modelo BIM, foi feita uma análise sobre os dados de problemas

construtivos disponibilizados pelas empresas e confronto com a revisão da literatura.

A tabulação das informações das fichas de verificação de serviço, dos relatórios de

registros de assistência técnica e dos relatórios de lições aprendidas fornecidos

pelas empresas entrevistadas, resultou em uma listagem de 425 diferentes

descrições de problemas construtivos de 26 obras entre o período de 2013 a 2015.

A descrição de cada problema construtivo encontrado foi analisada e, com base em

suas origens, foram agrupadas de acordo com as seguintes categorias:

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85

Propriedades do elemento: para problemas relacionados à especificação de

projeto e seus materiais;

Data de execução: para problemas relacionados à data de execução ou à

detecção de problemas com o lote do material aplicado;

Posicionamento: para problemas que podem ter sido influenciados pela

localização do elemento no edifício;

Relação entre os elementos: para problemas causados pela relação entre o

elemento afetado e outros elementos do edifício;

Geometria do elemento: para problemas que foram originados pela forma do

elemento construtivo;

N/A: para descrições que não demonstram claramente o problema ou

causada por acidente ou falha durante a execução.

Estas categorias foram criadas conforme a análise dos problemas. A cada novo

problema foi verificado se este se encaixava em uma nova categoria ou a uma

categoria anterior, até que todos os problemas listados fossem atribuídos a uma das

categorias acima (Quadro 4).

Quadro 4 - Tabela parcial das descrições dos problemas e categorização.

Fonte: Autor.

O resumo da quantidade de problemas associados a cada categoria definida é

apresentado na Figura 35.

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86

Figura 35 - Gráfico com a quantidade de problemas associados a cada categoria.

Fonte: Autor.

Com base nas categorias encontradas, foi feito o cruzamento com as relações

topológicas levantadas pela bibliografia. A partir disso, foi gerado o que compila

relações importantes ao se investigar possíveis causas dos problemas construtivos

incluindo: informações sobre as propriedades do elemento em que o Quadro 5

defeito foi encontrado, data de execução, posicionamento deste perante o edifício,

relações entre o posicionamento do defeito e elementos próximos que possam ter

influência em sua causa e a geometria dos elementos.

Para exemplificar, para cada relação proposta no Quadro 5, foi descrito um tipo de

problema construtivo real que poderia ser identificado a partir do uso destas

relações.

Quadro 5 - Relações relevantes para mineração de dados de defeitos em modelos BIM

Relação Exemplo de consulta

aos dados

Exemplo de problemas

relacionados

Propriedades do elemento (informações de projeto)

Pilares afetados x especificação do concreto utilizado

Constatação de que grupo de pilares que apresentaram defeito fizeram uso de concreto com fck inferior ao especificado no projeto

Data de execução (monitoramento da obra)

Elementos estruturais afetados x data de execução

Constatação de concreto utilizado em pilares em determinada data não atingiu a resistência necessária

Posicionamento (Localização X; Y; Z)

Elementos afetados x posicionamento no edifício

Constatação que todos elementos afetados estão localizados na fachada leste que recebe maior incidência de sol

0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Data da execução Geometria do elemento

N/A Posicionamento

Propriedade do elemento Relação entre elementos

Total

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87

Quadro 5 – Relações relevantes para mineração de dados de defeitos em modelos BIM

(continuação)

Relação Exemplo de consulta aos dados

Exemplo de problemas relacionados

Posicionamento (Localização X; Y; Z)

Elementos afetados x posicionamento no edifício

Constatação de que todos os elementos afetados estão localizados na fachada leste que recebe maior incidência de sol

Relação entre elementos (Direcional): Posição relativa entre dois elementos espaciais.

Sobre (above)

Pilares afetados x posição relativa com grupo de fundações afetadas

Constatação de que a presença de fissuras e trincas ao longo das vigas é devido ao recalque da estrutura devido a movimentação das fundações originada pela movimentação do solo

abaixo (below)

ao norte de (northOf)

ao sul de (southOf)

ao leste de (eastOf)

ao oeste de (westOf)

Relação entre elementos (Métrica)

(distance) menor distância entre qualquer ponto pertencente ao fechamento dos objetos

Pilares afetados x distância em relação ao núcleo de escadas

Pilares localizados a 3 m do núcleo das escadas apresentam problemas de fissuração

Relação entre elementos (Booleana):

união (union)

Lajes afetadas x interseção com o elemento ao qual estão apoiadas

Lajes apoiadas no Pilar 43 apresentam fissuras

interseção (intersection)

diferença (difference)

Relação entre elementos (Topológicas): relações topológicas entre dois objetos espaciais.

Toca (touch) Elementos defeito (ex: pedaços de concreto em falta) x relação topológica (inside) dos elementos estruturais envolvidos

A viga de encontro das lajes apresenta queda de pedaços de concreto. A viga apresenta vários pontos que estão com falta de pedaços que se soltaram e outros pontos com probabilidade

contém (contain)

igual (equal)

dentro (inside)

Fonte: Autor.

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Quadro 5 – Relações relevantes para mineração de dados de defeitos em modelos BIM

(continuação)

Relação Exemplo de consulta aos dados

Exemplo de problemas relacionados

Geometria do elemento

Pilares afetados x proporção da geometria do elemento. Esbeltes (Proporção largura x altura)

Problemas acarretados pela utilização de estruturas muito esbeltas que, pela sua grande deformidade, acabaram esmagando as paredes divisórias

Fonte: Autor.

Acredita-se que é relevante que um sistema de mineração de dados que se

proponha a analisar defeitos construtivos representados em modelos BIM seja capaz

de analisar as relações apresentadas, a partir do uso de algoritmos apropriados e

computação gráfica.

4.4 Classificação das relações entre o componente defeito e o elemento

construtivo

Para que seja possível considerar as relações entre os elementos em um sistema de

mineração de dados de defeito em um modelo BIM, é necessário desenvolver

mecanismos para representar estas relações no pré-processamento dos dados.

As linguagens de consultas (query) e os predicados levantados na literatura são, em

sua maioria, aplicáveis à análise da relação entre elementos construtivos. Porém,

para determinados tipos de patologias, foi constatado a relevância de se caracterizar

também as relações entre o defeito e o elemento construtivo no qual está

posicionado, uma vez que esta informação pode revelar diferentes causas.

Esta característica foi destacada em duas patologias principais: trincas ou fissuras e

vazios de concretagem. Para estas duas tipologias de defeito, foi proposta uma

categorização do posicionamento do componente defeito em relação ao elemento

construtivo a que se refere, como forma de permitir que estas relações sejam

consideradas na mineração de dados. A proposta é que esta categorização seja

inserida no componente defeito proposto na seção 4.5, como forma de categorizar o

posicionamento relativo do defeito em relação ao elemento em que está inserido.

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I. Trincas e fissuras

De acordo com a revisão da literatura, as trincas e fissuras assumem diversas

configurações de acordo com suas causas. Com base na análise visual da patologia,

foi proposta a categorização apresentada no (Quadro 6).

Quadro 6 – Configuração das trincas e fissuras de acordo com a causa

Causa da trinca

Ilustração Configuração da

trinca Classificação

proposta

Recalque dos pilares

Abertura variável, apresentando aberturas maiores na parte superior das vigas

Extremidade variável

Esforços de tração

Ortogonais à direção do esforço e atravessam toda a seção

Ortogonal

Esforços de compressão

Paralelas a direção do esforço

Paralela

Esforços de flexão

Possuem abertura variável: são mais abertas no bordo tracionado da seção e vão diminuindo à medida que chegam perto da linha neutra

Convergente

Corrosão das armaduras

Ao longo das barras em processo de oxidação

Vertical e distribuída

Fonte: Autor. Figuras Carvalho (2014).

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90

Quadro 6 - Configuração das trincas e fissuras de acordo com a causa (continuação)

Causa da trinca

Ilustração

Configuração da trinca

Classificação proposta

Força cortante

Inclinadas (entre 30° e 45°, aproximadamente), atravessam toda a peça, e são localizadas próximas aos apoios dos elementos

Extremidade inclinada

Fonte: Autor. Figuras Carvalho (2014).

II. Vazios de concretagem

De acordo com a revisão da literatura, as causas dos vazios de concretagem podem

variar de acordo com sua localização perante o elemento estrutural. (Quadro 7).

Quadro 7 – Configuração dos vazios de concretagem de acordo com a causa

Causa do vazio Ilustração Localização do vazio

de concretagem

Classificação

proposta

Lançamento indevido do

concreto (altura maior

que 3 m)

Abaixo do elemento

estrutural

Base

Congestionamento de

ferragens

Acima do elemento

estrutural

Topo

Outras causas, tais

como o uso de

agregados graúdos em

locais onde o

espaçamento da

armadura é insuficiente

Central quando está

localizado em outras

regiões do elemento

estrutural

Central

Fonte: Autor

A análise do posicionamento típico do defeito construtivo em relação ao elemento

em que está posicionado pode revelar informações importantes ao se analisar

possíveis origens do problema.

Page 92: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

91

4.5 Proposta do componente defeito

A partir da revisão da literatura sobre os principais defeitos e patologias na

construção e das principais informações utilizadas pelos especialistas para análise e

investigação da causa destes problemas, pode-se constatar a necessidade de se

desenvolver um mecanismo para que a geometria e posicionamento do defeito

pudessem ser representadas no modelo BIM.

Conforme demonstrado no capítulo 4.4, é relevante na análise de uma trinca, por

exemplo, o posicionamento relativo dela no elemento construtivo. Conforme foi

constatado pela revisão da literatura, as origens de uma trinca em uma viga

posicionada próximo ao pilar pode ser diferente de uma trinca posicionada na parte

central inferior da viga.

O mesmo ocorre, por exemplo, para a identificação das origens dos vazios de

concretagem, vazios que se apresentam na parte inferior dos elementos estruturais

podem estar relacionados ao lançamento indevido do concreto, e vazios localizados

na parte superior do elemento estrutural podem representar que houve

congestionamento de ferragens, retendo a brita e deixando passar apenas a

argamassa.

No caso de manchas, incluindo aquelas causadas por ferrugem, eflorescência e

umidade, a causa pode estar relacionada aos elementos que se encontram ao seu

redor, como é o caso de tubulações que possam apresentar vazamento localizado

próximo as manchas, ou estarem próximas de onde a parede está em contato direto

com o solo. Neste caso, a investigação das relações topológicas entre os elementos

ao seu redor se torna relevante.

O modelo BIM permite a inserção de parâmetros que contenham informações que

caracterizem uma determinada patologia, mas é necessária também a

caracterização da geometria e localização deste defeito nos elementos construtivos

para que padrões ocultos possam ser revelados com o uso de um sistema de

mineração de dados.

Para tratar esta questão, foi feita a proposição de componentes paramétricos para

representação de defeitos típicos que poderão ser utilizados no registro dos

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92

problemas construtivos do edifício. Estes elementos podem ser utilizados como

entrada para análises estatísticas em sistemas de mineração de dados que analisem

defeitos construtivos em modelos BIM.

A proposta foi realizada para três padrões de patologias: trincas ou fissuras, vazios

de concretagem e manchas, por suas causas possuírem relação clara com a

geometria e localização do defeito nos elementos construtivos.

4.5.1 Informações relevantes para o componente defeito

Com base nos principais problemas construtivos levantados na literatura e da

análise da documentação obtida nas entrevistas, constatou-se a necessidade de se

considerar em um objeto defeito as seguintes informações:

Nome e tipo de elemento no qual o defeito foi identificado, por exemplo,

parede de alvenaria, estrutura de concreto, piso cerâmico, entre outros.

Data da identificação do defeito;

Tipo de defeito: tais como manchas, trincas, vazios de concretagem, entre

outros;

Dimensões gerais do defeito: tais como largura, profundidade, comprimento

ou área;

Coloração;

Presença de umidade;

Localização.

4.5.2 Componentes defeito propostos

Visando garantir que os componentes defeitos propostos se adequassem ao

máximo possível de situações, foram estudadas algumas abordagens para a sua

criação.

Para a criação de componentes, o software utilizado (Autodesk Revit) possui uma

série de padrões (templates) que representam a forma como o elemento criado irá

se comportar quando aplicado em um projeto.

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93

Ao analisar a limitação de cada padrão existente, concluiu-se que para a criação do

componente defeito seria mais adequado o uso do template para componentes

genéricos baseado em face (generic model face based).

Este padrão permite que o componente seja posicionado na face de qualquer

elemento do modelo, por exemplo em paredes, pisos, portas, elementos estruturais,

entre outros. Os demais padrões existentes não possuem flexibilidade para permitir

a inserção do objeto em qualquer superfície, como é o caso dos padrões baseados

em paredes (wall based) que só permitem o posicionamento em paredes, ou o

padrão baseado em forro (ceiling based) que só permite a inclusão em forros, entre

outros.

Com base na análise realizada no capítulo 4.4, três componentes defeito foram

propostos nesta pesquisa por terem se destacado por apresentarem causas

investigáveis com base em seu posicionamento e relação entre elementos,

incluindo: trincas e fissuras, vazios de concretagem e manchas. (Figura 36).

Figura 36 – Componentes defeito propostos: 1- trincas e fissuras, 2 -vazios de concretagem e 3

- manchas.

Fonte: Autor

Como forma de destacar o defeito entre os demais elementos do edifício no qual

será inserido, a representação dele foi definida como vermelha (Figura 37).

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94

Figura 37 - Configuração da cor do defeito em projeto.

Fonte: Autor.

Conforme a análise das informações relevantes a serem inseridas no componente

defeito, foi criado um arquivo geral de parâmetros compartilhados que podem ser

atribuídos aos objetos, conforme informações que se mostraram necessárias para

categorizar cada tipo de defeito (Figura 38).

Data identificação: para que seja informada a data em que foi detectado o

problema;

Área, comprimento, largura, espessura e diâmetros: para inclusão das

dimensões principais do defeito de acordo com o seu tipo;

Ângulo: para especificação do ângulo do defeito em relação ao elemento

construtivo;

Cor: para que seja informada a coloração do defeito;

Homogeneidade: para a categorização se a cor se apresenta de forma

uniforme ou mais concentrada em determinado ponto;

Presença de umidade: para que seja informada a presença ou não de

umidade;

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95

Categoria posição relativa: para que seja inserida a posição relativa do

defeito em relação ao elemento construtivo no qual está posicionado, com

base nas categorias propostas no capítulo 4.4.

Figura 38 - Parâmetros compartilhados sobre informações de defeito a serem inseridos nos

componentes conforme necessidade.

Fonte: Autor

Para cada tipo de defeito proposto, foi definida a lista de parâmetros importantes a

serem considerados nos componentes. (Quadro 8)

Page 97: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

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Quadro 8 – Parâmetros propostos para cada tipo de defeito.

Tipo de defeito Representação componente Parâmetros do componente

defeito

Trincas e fissuras

Data da identificação

Espessura

Ângulo

Comprimento

Presença de umidade

Categoria posição relativa

Vazios de

concretagem

Data da identificação

Largura

Comprimento

Categoria posição relativa

Manchas

Data da identificação

Eixo maior e menor

Área

Cor

Presença de umidade

Homogeneidade

Fonte: Autor

Para a identificação do elemento construtivo no qual o defeito é inserido, parte-se do

princípio que é possível identificar esta informação a partir da análise das

coordenadas compartilhadas entre os elementos.

O método proposto para a criação do componente defeito garante flexibilidade na

sua aplicação em diferentes elementos construtivos e permite que sejam aplicados

parâmetros específicos de acordo com as informações necessárias para categorizar

cada tipo de defeito.

Os parâmetros criados para os componentes são acessíveis por tabelas e podem

ser exportados em forma de base de dados para serem trabalhados em aplicativos

externos Figura 39.

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97

Figura 39 - Tabela com informações do defeito.

Fonte: Autor.

Acredita-se que a metodologia proposta possa ser utilizada para criação de outros

componentes defeito que se apresentem relevantes.

4.6 Proposição de ficha para coleta de dados de defeitos

A partir da análise dos registros fornecidos pelas empresas construtoras, constatou-

se que poucas informações são coletadas sobre o defeito construtivo. Para que seja

v “ ”

caracterizá-lo de maneira completa.

Para isso, foi feita a proposição de uma ficha padrão para registro das informações

básicas necessárias para caracterizar o defeito construtivo, conforme Figura 40.

As informações desta ficha podem ser inseridas nos procedimentos padrão de

controle de qualidade e registro de não conformidades das empresas,

complementando-os, ou serem utilizadas diretamente para o registro do defeito.

As informações básicas necessárias foram identificadas com base na revisão da

literatura sobre os defeitos e problemas construtivos, e com base nas informações

necessárias para a criação do componente defeito, que incluem:

Informações básicas sobre o elemento no qual foi identificado o defeito;

Data da identificação do defeito, incluindo dia, mês e ano;

Caracterização do defeito, incluindo tipo de defeito, cor, presença de umidade

e uma descrição geral sobre o problema identificado;

Dimensões principais do defeito;

Identificação da posição relativa do defeito em relação ao elemento

construtivo no qual está inserido, com base nas categorias propostas na

seção 4.4;

Mapeamento do defeito em planta;

Page 99: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

98

Espaço para o desenho de um croqui e para inserção de uma foto do

problema.

O uso desta ficha proposta para coleta de informações do defeito dá subsídio à

“ ”

Figura 40 - Ficha para coleta de dados de defeitos construtivos.

Fonte: Autor

Page 100: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

99

4.7 Resultado dos testes

4.7.1 Análise da viabilidade de aplicar técnicas de mineração de dados em

modelos BIM

O primeiro teste realizado teve como objetivo a análise da viabilidade de se aplicar

técnicas de mineração de dados em modelos BIM e seguiu a seguinte sequência:

Um modelo BIM foi desenvolvido e todos os seus componentes receberam um

parâmetro de execução de controle de qualidade com os seguintes valores

possíveis: não conforme, conforme ou aprovados após a inspeção.

Em seguida, foi feita a preparação dos dados BIM para que pudessem ser

considerados na mineração de dados, uma vez que os algoritmos de mineração de

dados geralmente esperam os dados na forma de tabelas em um banco de dados,

onde cada linha é caracterizada por um número fixo de colunas, com um tipo

definido em cada coluna.

Para planificar as informações do modelo, foi considerado o modelo BIM no formato

Industry Foundation Classes (IFC), entretanto, a mesma planificação poderia ser

obtida com a extração das informações diretamente pelo software onde o modelo

BIM foi gerado.

Para o clustering, foi escolhida a análise de classe latente que trabalha

primordialmente com valores categóricos e, para o teste, todo o agrupamento foi

realizado usando poLCA em execução no software R.

Para preparar os dados para o algoritmo de Análise de Classe Latente foi necessário

pré-processar o modelo IFC. O pré-processamento foi feito com a ajuda de

IfcOpenShell (IfCOpenShell, 2016), kit de ferramentas para analisar o arquivo IFC.

Um código C ++, integrado com o kit de ferramentas, foi criado para transformar

modelos da IFC em um arquivo de entrada para o pacote de poLCA. (DELATORRE;

CORREA; SANTOS, 2016)

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100

No pré-tratamento, todas as classes de IfcBuildingElements, tais como IfcColumn e

IfcSlab foram extraídos e armazenados. Os atributos escolhidos para a

representação dos dados do modelo BIM para mineração de dados foram mapeados

em valores categóricos estabelecidos previamente.

Na preparação do modelo, a seguinte informação foi adicionada:

a classe IfcRelContainedInSpatialStructure, que dá a cada elemento uma

posição na coordenada z uma vez que este pertença a um pavimento

diferente;

os conjuntos de propriedades (PSets), ‘Identity Data’ e ‘Constraints’, que

registram respectivamente o estado de controle de qualidade e as

informações de posição no grid. Para posições de grid, decidiu-se agrupar os

componentes de acordo com a face mais próxima para classificá-los de

acordo com um pequeno número de valores categóricos.

Tabela 4.2 - Representação dos elementos do modelo BIM utilizado nas técnicas de mineração

de dados.

Variáveis manifestas Descrição Valores Categóricos

A) Posição X no Grid Agrupamento de componentes

baseado em sua coordenada

X do plano de referência

IfcPropertySingleValue

(relacionado ao parâmetro que

especifica a posição nas linhas

do Grid – … O

B) Posição Y no Grid Agrupamento de componentes

baseado em sua coordenada

Y do plano de referência

IfcPropertySingleValue

((relacionado ao parâmetro que

especifica a posição nas linhas

do Grid na direção Y – 0,...,9)

C) Elevação

Agrupamento de componentes

baseados em sua elevação

… 4 v

(5 embasamento)

D) Controle de

qualidade

Resultado do controle de

qualidade

IfcPropertySingleValue (related

to Comments added to the

model): não-conforme,

conforme e aprovado depois de

inspeção

Fonte: Delatorre; Correa e Santos (2016)

Page 102: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

101

A Tabela 4.2 apresenta todos os dados considerados na representação de cada

elemento do modelo. Cada componente do modelo foi representado por um vetor

com quatro posições: Posição do Grid X (10 valores possíveis); Posição do Grid Y

(10); Elevação (24 valores possíveis); Estágio do controle de qualidade (3 valores

possíveis).

O modelo IFC utilizado nos experimentos teve um tamanho de 50 MB, com 5766

entidades e foi analisado em cerca de 15 minutos em um PC i5 de núcleo com 8 GB

de RAM. O arquivo de entrada para o pacote de poLCA foi produzido em cerca de 3-

4 minutos uma vez que as propriedades dos elementos em modelos IFC estão

dispersos por todo o arquivo IFC e apenas propriedades específicas foram

utilizadas.

Após a planificação dos dados do modelo BIM, foi rodado o algoritmo de clustering a

partir do uso do poLCA.

A Figura 41 é a saída de forma gráfica do algoritmo de poLCA e mostra a

distribuição de indivíduos de cada grupo com base na variável manifestada. A

expectativa era de que o grupo de componentes não conforme e alinhados

verticalmente e que se concentram em uma fachada estaria presente em um mesmo

agrupamento. É, de fato, o que acontece no cluster 2. O Grid no plano é definido por

variáveis manifestas chamadas de B a E, e os valores observados (o intervalo para

cada variável é manifestada diferentemente) 1 a n. Os pontos vermelhos marcam

cada componente individual presente no conjunto de dados.

Especial atenção é dada ao agrupamento ou classe 2: eles contêm quase 30% dos

componentes do modelo (do total de 3041 considerados no processo de estimação),

localizado nos pavimentos inferiores do edifício, incluindo fundação, e,

principalmente, localizados ao redor dos componentes não conformes, alinhados

verticalmente (todos eles estão neste cluster). O segundo grupo de componentes

não conforme está integralmente dentro do cluster 4, com mais de 50 % dos

componentes do edifício.

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102

Figura 41 – Resultado do poLCA do teste 1.

Fonte: Delatorre; Correa e Santos (2016).

O resultado esperado dos testes que foram rodados sobre poLCA foi a existência de

um cluster agrupando os componentes não conforme alinhados verticalmente com

outros componentes com a mesma relação espacial, tal como na mesma fachada,

ou em cima e abaixo do pavimento, ou outra forma de correlação espacial entre a

linha do grid da variável manifestada / elevação com a marca de controle de

qualidade. Conseguiu-se esse resultado.

Entretanto, a arquitetura do modelo utilizado para explorar as técnicas de mineração

de dados não parece ser especialmente adequada para a tarefa de explorar a

geometria implícita e características topológicas presentes nos modelos BIM.

Outras características potenciais a serem exploradas na mesma arquitetura do LCA

seriam combinar variáveis contínuas e categóricas no modelo, mas isso só seria

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103

possível com uso de software comercial, tais como o Mplus de UCAL, que não

estavam disponíveis para esta pesquisa, neste momento.

4.7.2 Mineração dos dados do modelo com a inclusão do componente

defeito

O segundo teste realizado teve como objetivo materializar o arcabouço teórico

desenvolvido a partir da inclusão das do componente defeito na análise. Para tal,

seguiu-se a mesma metodologia proposta no primeiro teste, com a particularidade

de se considerar as informações do objeto defeito.

Para isto, um novo modelo BIM com 5060 elementos foi desenvolvido e defeitos do

tipo “trinca” foram inseridos nas paredes dos eixos 2, 3, 4 e 5, e entre os eixos K e A,

local onde apresentavam maior comprimento. Esta distribuição foi repetida para os

níveis 1, 5, 7, 8, 9, 10, 15, 16, 17 e 18.

Para cada trinca, foi inserida a informação de ângulo de 0º, 45º, 90º ou 180º e

também, o seu posicionamento relativo em relação ao elemento construtivo,

seguindo as categorias, N – Norte, L – Leste, NL – Nordeste, NO – Noroeste, SL –

Sudoeste, SO – Sudeste.

Os defeitos tipo “mancha” foram inseridos concentrados no pavimento 8 em

elementos do tipo piso (floor). A definição dos ângulos e posicionamento relativo foi

feita de forma aleatória, seguindo a mesma classificação adotada para as trincas.

Em seguida, foi feito o pré-processamento dos dados do modelo IFC com a definição

dos atributos que seriam considerados para a mineração de dados. Estes foram

classificados em valores categóricos conforme Tabela 4.3.

Page 105: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

104

Tabela 4.3 - Representação dos elementos do modelo BIM utilizado nas técnicas de mineração

de dados.

Variáveis manifestas Descrição Valores Categóricos

A) Classe IFC Cada componente pertence a uma classe

IFC

1-IfcColumn,2-

IfcWallStandardCase,3-

IfcSlab,4-IfcFooting

B) Posição X no

Grid

Agrupamento de componentes baseado em

sua coordenada X do plano de referência

IfcPropertySingleValue

(24 valores possíveis)

C) Posição Y no

Grid

Agrupamento de componentes baseado em

sua coordenada Y do plano de referência

IfcPropertySingleValue

(24 valores possíveis)

D) Elevação Agrupamento de componentes baseados

em sua elevação

… 8 pavimentos

E) Tipo de defeito Parâmetro inserido 1-normal, 2-Trinca, 3-

Mancha

F) Ângulo Parâmetro inserido 1-sem angulo, 2-45

graus, 3-90 graus, 4-

180 graus

G) Posição

Relativa

Parâmetro inserido 1-sem, 2-N, 3-L, 4-NL,

5-NO, 6-SL, 7-SO

Fonte: Autor

Como resultado desta categorização, gerou-se a planilha de entrada para rodar o

algoritmo de clustering a partir do uso do poLCA, seguindo o mesmo método do

teste 1. Os dados do componente defeito foram relacionados aos elementos em que

estavam posicionados a partir do parâmetro de referência de host ID disponível no

modelo e os seus dados foram inseridos como colunas extras para cada linha que

representa o elemento construtivo (Figura 42).

Page 106: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

105

Figura 42 – Planilha de dados planificados para entrada no poLCA

Fonte: Autor

Figura 43 – Resultado do poLCA do teste 2.

Fonte: Autor

A Figura 43 mostra a saída gráfica do algoritmo de poLCA e mostra a distribuição de

indivíduos de cada grupo com base na variável manifestada. O Grid no plano é

definido por variáveis manifestas chamadas de A a H, e os valores observados (o

intervalo para cada variável é manifestada diferentemente) 1 a n. Os pontos

vermelhos marcam cada componente individual presente no conjunto de dados.

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106

Como resultado foi possível identificar que dois dos seis clusters onde aparecem os

elementos com defeito, com 0,3% e 2% dos componentes presentes no teste,

representam aproximadamente o número de componentes defeituosos.

Para visualização do resultado dos agrupamentos do modelo, as classes atribuídas

para cada elemento construtivo foram inseridas no modelo BIM. Em seguida, os

elementos pertencentes a cada classe foram filtrados para identificação da

localização de cada grupo (Quadro 9).

Quadro 9 – Representação no modelo para cada tipo de agrupamento.

CLUSTER REPRESENTAÇÃO MODELO

Cluster 1 - CATEGORIA PILARES

Cluster 2: CATEGORIA PISOS + OBJETO DEFEITO

MANCHAS

Cluster 3: PISOS SEM DEFEITOS

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107

Quadro 9 - Representação no modelo para cada tipo de agrupamento (continuação).

CLUSTER REPRESENTAÇÃO MODELO

Cluster 4: FUNDAÇÕES

Cluster 5: PAREDES SEM DEFEITO

Cluster 6: PAREDES COM OBJETO DEFEITO

TRINCA

Fonte: Autor

Pode-se perceber pela análise que o algoritmo agrupou em classes diferentes,

“ ” “ ” Os demais agrupamentos

seguiram as classes IFC a qual os elementos estão associados.

Não foram identificados, entretanto, agrupamentos específicos para os diferentes

ângulos e posição relativa.

Page 109: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

108

Com base neste teste foi possível experimentar uma forma de representar as

informações do componente defeito na planificação dos dados para mineração de

dados. Esta representação incluiu a classificação das informações do defeito e de

seu posicionamento relativo em valores categóricos, além da associação dos

defeitos ao elemento construtivo a partir do uso do parâmetro host ID. Acredita-se

que, embora tenha sido utilizado este parâmetro para criação deste vinculo, esta

mesma associação poderia ser feita pelo cruzamento das coordenadas do

componente defeito e de seus hospedeiros.

Page 110: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

109

5 ARCABOUÇO TEÓRICO PARA MINERAÇÃO DE DADOS DE DEFEITOS EM

MODELOS BIM

A Figura 44 representa o arcabouço teórico para mineração de dados de defeito em

modelos BIM, ilustrando os principais pontos a serem considerados para

caracterização das informações de defeitos e de qualidade no modelo BIM e para o

seu processamento em sistemas de mineração de dados.

Figura 44 - Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos em modelos BIM

Fonte: Autor. Adaptação da mineração espacial proposta por Bogorny; Engel e Alvares (2005)

Na etapa de coleta de dados (1), através da ficha de registro de defeitos proposta,

é feita a coleta das informações das patologias detectadas que, juntamente com as

demais informações coletadas pelo processo de gestão da qualidade, formam a

base de informações a serem registradas no modelo BIM. Em seguida, os

componentes defeito (2) são criados com base nas informações contidas nas fichas

de registro e inseridos no modelo BIM (3), na etapa de registro no modelo BIM.

Na sequência, é feita a preparação dos dados BIM para que sejam considerados

na mineração de dados. A etapa de preparação dos dados é a etapa que irá

transformar os dados do modelo em uma tabela bidirecional, na qual cada coluna

representa uma variável categórica, para que seja possível aplicar algoritmos de

mineração de dados tradicionais. Primeiramente, é feita a validação (4) da

representação dos dados do modelo BIM. Esta fase é importante pois, uma vez que

os modelos BIM são exportados em IFC ou em outra forma de exportação, é

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110

necessário averiguar se os dados que serão utilizados para análise estão

condizendo com o que se espera dos dados exportados. É importante, por exemplo,

verificar se todos os elementos estruturais estão categorizados corretamente no

modelo BIM, uma vez que, dependendo do processo de modelagem, podem ser

atribuídos aos elementos categorias diferentes daquelas nativas ao software e,

desta forma, a mineração destes dados poderia ter um falso resultado.

Em seguida é feita a seleção, no qual os dados são pré-selecionados para

eliminação de ruídos e dados irrelevantes (5). Nesta fase é feita a escolha dos

elementos que serão minerados e quais parâmetros e informações destes

elementos serão utilizados na análise dos dados. Como exemplo, de acordo com a

análise que se quer fazer, é possível isolar apenas os elementos colunas para

verificar, dentre eles, quais apresentam não-conformidades e quais são saudáveis e,

dentre os não conformes, analisar possíveis causas de acordo com a geometria e

posicionamento dos defeitos. Neste caso, seriam selecionados apenas parâmetros

relevantes para esta análise.

Ainda na etapa de preparação dos dados, é necessário tornar explícitas informações

implícitas do modelo BIM que sejam relevantes para análise. Esta etapa foi chamada

de materialização onde todas as relações espaciais relevantes (6a), definidas na

etapa de seleção, podem ser traduzidas, por exemplo, com base nos predicados

para análise das relações entre elementos construtivos propostos por Nepal et al.

(2012) ou no uso de aplicativos como o 3DIR proposto por Demian et al. (2016) e

com base nas classificações ou funções propostas nesta pesquisa para

interpretação da localização de cada tipo de componente defeito em relação ao

elemento construtivo (6b). Para exemplificar, nesta etapa é importante, com base

nos elementos construtivos e tipos de defeito a serem investigados, tornar explícitas

relações topológicas que podem estar vinculadas às causas das patologias. Este é o

caso de caixilhos que estão localizados acima de manchas de umidade, ou o caso

da posição dos vazios de concretagem que podem representar diferentes causas

dependendo da região do pilar em que se apresentam.

Na fase final da preparação dos dados, na etapa de transformação, as relações

espaciais e parâmetros que serão utilizados na análise são transpostos em um

formato de tabela único de acordo com os requisitos das ferramentas de mineração

Page 112: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

111

de dados (7). Como resultado, a tabela final possuirá os atributos não espaciais e

todas as relações espaciais relevantes materializadas. A partir disso, poderão ser

aplicados os algoritmos específicos de mineração de dados (8) e poderá ser feita a

interpretação de padrões sobre os dados de defeitos analisados (9).

Page 113: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

112

6 CONCLUSÃO E TRABALHOS FUTUROS

Constatou-se através da revisão bibliográfica que o modelo BIM pode ser utilizado

como repositório de dados de informações de diferentes etapas da construção civil,

incluindo dados geométricos e não geométricos. Estes dados, quando aplicáveis,

podem ser armazenados diretamente nos elementos construtivos a que se referem

devido à capacidade dos elementos paramétricos do modelo BIM de vincular-se a,

receber, divulgar ou exportar propriedades.

Ao se armazenar informações resultantes dos processos de execução, avaliação

pós ocupação (APO) e manutenção, tais como dados de qualidade, atrelados aos

componentes construtivos do modelo BIM, dá-se origem a uma base de dados com

um grande volume de informações, que pode ser uma rica fonte para a identificação

de padrões, que podem indicar causas de vícios de execução, características

benéficas ou nocivas do projeto, consequências da (não) manutenção, entre outras.

Para análise destas informações, constatou-se a necessidade de utilização de

técnicas que permitam o seu processamento. Dentre as técnicas existentes para a

descoberta de conhecimento em bases de dados foram constatados o KDD e, mais

especificamente, a mineração de dados.

Dado que o modelo BIM não é um repositório de dados padrão, no qual as técnicas

poderiam ser aplicadas diretamente, o problema identificado para esta pesquisa foi a

investigação do que seria necessário para aplicar-se a mineração de dados em

dados de defeitos construtivos em modelos BIM.

A literatura preconiza que, para a aplicação de técnicas de mineração em dados

espaciais, é necessária a preparação destes dados para a aplicação tanto de

algoritmos espaciais quanto clássicos na mineração de dados. Esta preparação,

entretanto, poderia esconder características importantes sobre a geometria e as

relações entre os elementos do modelo, sendo importante desenvolver maneiras de

representá-las.

As linguagens de consulta desenvolvidas especificamente ou aplicadas em modelos

BIM, até o momento, visam, em sua maioria, a criação de filtros de vista ou a

Page 114: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

113

identificação de relações entre os elementos que possam ser utilizadas, por

exemplo, em processos de compatibilização de projetos.

A linguagem QL4BIM foi a primeira a tratar a informação de geometria dos modelos.

Ela pode ser aplicada em modelos BIM que estejam de acordo com as diretrizes IFC

e incluem operadores espaciais, tais como: métricos, direcionais e topológicos. Tal

linguagem, entretanto, não pode ser utilizada nesta pesquisa, pois seu código não

está disponível para uso do público.

Como mecanismo para que a geometria dos elementos e suas relações topológicas

possam ser tratadas para , esta pesquisa considerou o uso

dos predicados propostos por Nepal et al. (2012), a utilização do software 3DIR

desenvolvido por Demian et al. (2016) e propôs a aplicação de uma classificação

para as relações entre o componente defeito e o elemento construtivo.

Os predicados propostos por Nepal et al. (2012) analisam as relações entre

elementos construtivos. Para a análise e categorização das relações entre os

elementos, foi considerado, para esta pesquisa, a possibilidade de sua aplicação.

Estes predicados, entretanto, tratam apenas das relações entre elementos

construtivos diferentes como, por exemplo, se um pilar está acima ou abaixo de uma

viga. Fez-se necessário, portanto, definir maneiras de categorizar o posicionamento

dos defeitos construtivos em relação aos elementos em que estão inseridos, de

forma a viabilizar que esta informação pudesse ser considerada nas análises

processadas por um sistema de mineração de dados. Para tal foi feita uma

proposição de categorização de alguns tipos de defeitos construtivos que

apresentam relação clara entre o seu posicionamento e a causa da patologia.

Partiu-se de problemas construtivos típicos da construção civil e da análise de suas

particularidades, tais como configurações típicas para trincas ou fissuras e vazios de

concretagem. Porém, sabe-se que há um vasto campo de estudo para desenvolver

formas de categorizar outras configurações de patologias construtivas de acordo

com suas origens e que poderiam enriquecer aplicativos para mineração de dados

que sejam desenvolvidos para a análise de defeitos construtivos.

Page 115: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

114

Para subsidiar o desenvolvimento do arcabouço teórico proposto, foram feitas

entrevistas em construtoras para que houvesse o entendimento do processo de

controle de qualidade e gestão de não conformidades nas empresas.

Assim como foi apontada na revisão da literatura, constatou-se que muitas vezes a

coleta dos dados de não conformidades é feita de forma desestruturada, o que

dificulta a consolidação das informações em uma base de dados única que possa

ser consultada para que seja possível analisar possíveis causas dos problemas para

retroalimentação do processo.

Embora a empresa A tenha se apresentado mais avançada, por utilizar um sistema

de coleta de informações de defeitos a partir do uso de aplicativos móveis (por

exemplo tablet e celulares) e que gera uma base de dados consolidada acessível

para análise, estes dados não são vinculados ao elemento construtivo em que se

encontram, o que dificulta a identificação de causas que podem estar relacionadas a

geometria ou a relações entre elementos construtivos.

Para que fosse possível a mineração de dados de defeitos construtivos em modelos

BIM, foi necessária a identificação de mecanismos para representação dos

problemas construtivos no modelo. Para tratar esta questão foram propostos: uma

ficha padrão para registro das informações básicas necessárias para caracterizar o

defeito construtivo e a criação de um componente defeito que pudesse ser utilizado

para representar a patologia no modelo BIM.

As informações das fichas propostas podem ser inseridas nos procedimentos padrão

de controle de qualidade e registro de não conformidades das empresas, ou serem

utilizadas especificamente para o registro do defeito.

Os componentes defeito desenvolvidos basearam-se em tipologias de defeito que se

destacaram ou por possuir relação clara entre a origem do problema e a

configuração do defeito perante o elemento construtivo em que está posicionado ou

por sua causa poder estar relacionada com elementos próximos a ele. Com base

nisso, foram propostos objetos defeito para trincas (ou fissuras), vazios de

concretagem e manchas.

Para cada tipologia de defeito proposta, foi feita a inclusão de parâmetros relevantes

para sua análise. Acredita-se que a abordagem adotada para criação destes

componentes possa ser utilizada para outras tipologias de defeito.

Page 116: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

115

Os dados de problemas construtivos coletados nas duas empresas estudadas

permitiram a identificação de relações importantes a serem verificadas em um

sistema de mineração de dados em modelos BIM que analise defeitos construtivos.

Por serem em sua maioria referentes a informações, geometria ou relação entre

elementos construtivos, acredita-se que estas mesmas relações possam ser

utilizadas para sistemas de mineração de dados que investiguem outras

informações, tais como as geradas durante o controle de produtividade, gestão de

facilidades, entre outros, na busca de padrões que possam sofrer a influência da

geometria e relações entre os elementos.

A forma com que foram realizados os testes para análise da viabilidade de se

minerar dados em modelos BIM mostrou-se limitada. O uso de outras abordagens

que possam representar mais explicitamente relações topológicas entre elementos

no modelo BIM poderia ser um possível caminho a seguir na tentativa de lidar com a

riqueza de dados BIM.

Com relação a LCA, uma abordagem potencial a ser explorada seria combinar

variáveis contínuas e categóricas no modelo, mas isso só seria possível com o uso

de software comercial, por exemplo, o Mplus, que não estava disponível para esta

pesquisa.

Enfim, a análise do que é necessário para minerar dados de defeitos BIM se

mostrou um assunto vasto, com potencial para continuidade das pesquisas. O

arcabouço teórico proposto nesta dissertação indica os principais aspectos a serem

considerados para que seja viável esta mineração. Há um amplo campo de pesquisa

a ser explorado em cada etapa apresentada, desde a coleta de dados e registro no

modelo BIM, passando pelo pré-processamento dos dados e depois na mineração

em si.

Para a etapa de coleta de dados e registro dos defeitos, pesquisas futuras poderão

fazer uso dos componentes defeito propostos e das informações disponíveis nas

fichas para criação de aplicativos que permitam a inserção e categorização dos

defeitos construtivos diretamente em modelos BIM. Estes poderiam ser atrelados,

por exemplo, aos softwares de controle de qualidade de obra disponíveis para

tablets, como é o caso do Autodesk BIM 360 Field e outros. Desta forma, o registro

Page 117: Arcabouço teórico para mineração de dados de defeitos ... · de informações de defeitos de construção, bem como uma proposta para categorização das relações entre os defeitos

116

de não conformidades em campo alimentaria diretamente o modelo BIM de

informações relevantes para a mineração de dados.

Para subsidiar a etapa de preparação dos dados proposta no arcabouço, pesquisas

futuras poderão investigar formas de tornar explícitas as informações implícitas da

geometria dos componentes BIM e se aprofundar na análise da categorização de

relações para outros problemas construtivos que não tenham sido contemplados.

O software proposto por Demian et al. (2016) apresenta grande potencial para tornar

explícitas as relações topológicas entre os elementos construtivos necessárias na

fase de materialização na etapa de preparação dos dados, porém é limitado a

relações de hospedeiro, intersecção e tocar. Pesquisas futuras poderão investigar

maneiras de representar relações adicionais.

Para a mineração de dados em si, há um amplo campo para desenvolvimento de

algoritmos específicos para análise dos defeitos construtivos.

Para o desenvolvimento de aplicativos para mineração dos dados de defeitos,

poderão ser analisadas formas de se criar um sistema que permita o processamento

inicial de todos os dados do modelo BIM para identificação de clusters com uma

mesma característica e, em seguida, correlacioná-los com o agrupamento de

defeitos. Por exemplo, dado um agrupamento que demonstre uma concentração de

vigas de maior dimensão, identificar que o agrupamento de trincas está localizado

exatamente nestas vigas de maior dimensão ou apresentam um fck específico.

Embora esta pesquisa tenha sido direcionada à análise de requisitos para mineração

de dados de defeitos, acredita-se que boa parte dos aspectos abordados sejam

relevantes para análise de outros indicadores da construção civil que sofram a

influência tanto da geometria dos elementos, quanto das relações entre eles. É

possível citar, por exemplo, o impacto da geometria na produtividade da execução

de serviços específicos. Pode-se pressupor que serviços com geometrias simples

tendem a propiciar uma produtividade maior do que os de geometria complexa. A

aplicação da mineração de dados em dados de produtividade inseridos em modelos

BIM poderia contribuir, por exemplo, na identificação de tipologias de elementos ou

regiões que impactam na produtividade da execução do serviço.

Além disso, as novas tecnologias emergentes, tais como o uso de sensores em

edificações e Internet of Things (IoT), provavelmente se beneficiariam da associação

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117

aos modelos BIM, o que aumentaria os tipos de informações disponíveis a serem

analisadas por mineração de dados.

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