araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

Upload: fabio-aguiar-lisboa

Post on 02-Mar-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    1/27

    A narrativa jornalstica e aconstruo do real

    Como as revistasVejaeIstotrataram a manifestao dos

    estudantes da Universidade de So Paulo em 2011

    Bruno Bernardo de Arajo

    ndice

    CONSIDERAES PRVIAS. . . . . . . . . . . . . . . . . . 31 NARRATIVA E JORNALISMO: as influncias do modo nar-

    rativo na concepo do discurso jornalstico . . . . . . . . . 42 TEORIAS DONEWSMAKING: um novo olhar sobre a pro-duo jornalstica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7

    3 DOS ESTUDOS NARRATIVOS AO JORNALISMO: o nar-rador-jornalista e a personagem jornalstica . . . . . . . . . 10

    4 A ANLISE CRTICA DO DISCURSO COMO METODO-LOGIA DE ANLISE DA PRODUO JORNALSTICA . 13

    5 A CONSTRUO DISCURSIVA DA MANIFESTAO DOSESTUDANTES DA USP NAS PGINAS DEVejaEIsto . 14

    5.1 Reportagem 1: A rebelio dos mimados (em anexo) . . . 145.2 Reportagem 2: Quem so os radicais da USP (em anexo) 16CONSIDERAES FINAIS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS . . . . . . . . . . . . . . 20ANEXOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 23

    Universidade de Coimbra Portugal, Licenciado em Jornalismo e mestrando emComunicao e Jornalismo. [email protected].

    http://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_4/[email protected]://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_4/[email protected]://localhost/var/www/apps/conversion/tmp/scratch_4/[email protected]
  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    2/27

    2 Bruno Bernardo de Arajo

    Resumo

    indiscutvel o poder social do jornalismo. Cresce, exponencial-mente, o nmero de informaes que recebemos, vindas das mais varia-das origens, sob inmeros suportes. Nessa medida, ser preciso desmi-tificar algumas questes, que rondam o universo meditico, entre asquais, a ideia de que o jornalismo representa ou espelha a realidade.Na verdade, como construtores de narrativas, os jornalistas operam umconjunto de cdigos de estruturao textual que, aliados quilo queeles conhecem do mundo, do sentido (s) aos acontecimentos. Diante

    disso, os pressupostos dos estudos narrativos aparecem aqui como indis-cutveis fontes de reflexo. Na tentativa de comprovar, empiricamente,tudo o que ficou dito, faz-se a anlise de duas reportagens das revistasVejaeIsto, que se debruaram sobre uma manifestao de estudantesda Universidade de So Paulo, construindo narrativas, que oscilam en-tre universos semnticos distintos. Como mtodo de anlise, recorre-ses tcnicas da Anlise Crtica do Discurso, com particular ateno aosensinamentos de Teun van Dijk.

    Palavras-chave: narrativa; jornalismo;newsmaking; construo darealidade;Veja;Isto; Universidade de So Paulo.

    Abstract

    It is indisputable the social power of journalism. Grows exponen-tially, the number of reports we received, coming from various sources,in many media. As such, it is necessary to demystify some issues thatplague the media sphere, including the idea that journalism representsor reflects reality. In fact, as builders of narratives, journalists operatea code set of textual structure, which combined what they know of theworld, make sense (s) to events. The assumptions of narrative studiesappear here as undeniable sources of reflection. In an attempt to prove,

    empirically, all the foregoing, we make an analysis of two news maga-zinesVejaandIsto, which have focused on a manifestation by studentsfrom theUniversity of Sao Paulo, constructing narratives, ranging fromdifferent semantic universes . The analysis method, we resort to thetechniques of Critical Discourse Analysis, with particular attention tothe teachings of Teun van Dijk.

    Keywords:narrative; journalism; newsmaking; construction of rea-lity; Veja; Isto, University of So Paulo.

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    3/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 3

    CONSIDERAES PRVIAS

    O universo dos meios de comunicao social foi se constituindo, aolongo dos tempos, como um espao privilegiado de discussoda atualidade, ao qual recorremos, sistematicamente, para obter infor-maes, acerca do que se passa nossa volta. Da mesma forma, ocampo jornalstico, propriamente dito, se estruturou em torno de umconjunto de ideias, por vezes, mticas, relacionadas com o poder socialdo jornalismo, visto como contra-poder, co-de-guarda ou, pomposa-mente, como guardio dos sistemas democrticos.

    Tendo por base essas e outras concepes que formam aquilo aque Traquina (2007) chama a cultura profissional o jornalismo e a suaproduo foram vistos, por muito tempo, como verdadeiros espelhosou representantes fiis dos acontecimentos. A partir dos anos 70 dosculo passado, com a chegada das teorias do newsmaking, passamosa entender aprxisjornalstica, contrariamente, como uma construtorasocial da realidade noo que levou diversos autores a falarem denotcias, reportagens e outros produtos informativos, como narrativas.

    Partido desse pressuposto, um dos objetivos do presente artigo evidenciar a existncia de formas distintas de narrar a realidade, que

    mudam, consoante a forma como o jornalista interpreta e estrutura,discursivamente, os acontecimentos. Nesse sentido, convocaremos al-guns conceitos dos estudos narrativos entre eles, o prprio conceito denarrativa para falar de narrativas jornalsticas, como produes espe-ciais, pois vincadas na realidade factual, mas, que mantm uma intensaconexo epistemolgica com outros tipos de narrativa.

    Assim, como forma de demonstrar, empiricamente, todo o sentidodeste backgroundterico, acerca da construo do real, por meio daprtica jornalstica, desenvolveremos a anlise de duas reportagens, pu-blicadas nas revistas brasileirasVejaeIsto, sobre uma manifestao de

    estudantes da Universidade de So Paulo, em outubro de 2011. Atravsdas tcnicas da Anlise Crtica do Discurso, demonstraremos comouma mesma realidade poder ter sentidos (to) diferentes, em funoda construo narrativa e da adoo de determinadas estratgias discur-sivas.

    O artigo estrutura-se, portanto, numa vertente terico-prtica, sob osseguintes pontos: Narrativa e jornalismo: as influncias do modo nar-

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    4/27

    4 Bruno Bernardo de Arajo

    rativo na concepo do discurso jornalstico; teorias do newsmaking:um novo olhar sobre a produo jornalstica; dos estudos narrativos aojornalismo: o narrador-jornalista e a personagem jornalstica; desen-volvimento da anlise.

    1 NARRATIVA E JORNALISMO: as influncias domodo narrativo na concepo do discurso

    jornalstico

    Durante muitos anos, a narratologia esteve circunscrita, unicamente,ao universo da literatura. Era natural que acadmicos dos mais diver-sos centros intelectuais do mundo dedicassem as suas investigaes aoestudo de um dos trs grandes modos literrios. O romance, notvelgnero da modernidade, foi encarado como exemplo emblemtico, da-quilo que se entendia por narrativa ou linguagem narrativa plena.

    No entanto, na segunda metade do sculo XX, os estudos de homenscomo Roland Barthes, Claude Bremond, Grard Genette, A. J. Greimase muitos outros que utilizaram as pginas da revista Communica-tions, como grande espao de debate - iniciaram uma mudana radical

    nos pressupostos conceptuais da narrativa, contribuindo para a transfor-mao da narratologia, numa rea de estudos interdisciplinar, transdis-ciplinar e, por vezes, contradisciplinar.

    Com isso, a narrativa deixa de estar associada apenas linguagemverbal escrita, para ser encarada como um fenmeno universal, ampla-mente vasto, susceptvel de apresentar-se sob diferentes suportes e emtempos diversos. Nesse sentido, o conceito foi de tal maneira alargado,que tem se tornado, cada vez mais, objeto de estudo de inmeras reas,dentro e fora das cincias sociais e humanas. Como forma de demons-trar a transversalidade e a complexidade da narrativa, diz-nos Barthes,

    num dos textos seminais, desta nova fase dos estudos narrativos:(. . . ) le rcit est prsent dans tous les temps, dans tousles lieux, dans toutes les socits; le rcit commence aveclhistoire mme de lhumanit; il ny a pas, il ny a jamaiseu nulle part aucun peuple sans rcit; toutes les classes,tous les groupes humains ont leurs rcits (. . . ) le rcit se

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    5/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 5

    moque de la bonne et de la mauvaise littrature: interna-tional, transhistorique, transculturel, le rcit est l, commela vie (BARTHES, 1977:8-9)

    Dessa forma, partindo dos ensinamentos de Barthes, faz todo o sen-tido analisar como a narratologia moderna poder auxiliar o estudo so-bre a produo jornalstica. Uma aproximao entre linguagem narra-tiva e discurso jornalstico s poder gerar bons resultados, uma vezque, podemos admitir , o trabalho dos jornalistas gira em torno daproduo de narrativas, tendo a realidade factual como grande referente.

    Para que possamos entender a notcia, a reportagem e outras pro-dues jornalsticas, como construes narrativas, precisamos recorrerao prprio conceito de narrativa, problematizado por alguns dos nomesmais contundentes dos estudos narrativos. Segundo Grard Genette anarrativa a representao de um acontecimento ou de uma srie deacontecimentos, reais ou fictcios, por meio da linguagem e, mais parti-cularmente, da linguagem escrita (GENETTEapudSILVA, 2007:50).Todorov, por sua vez, acredita que a narrativa um texto referencialcom temporalidade representada (TODOROVapudSILVA, 2007:50)

    Ambos os autores elucidam aspectos cruciais para a concepo de

    qualquer narrativa, incluindo as jornalsticas. Se os aplicarmos ao gne-ro reportagem, por exemplo, encontraremos evidentes semelhanas. Emprimeiro lugar, a prpria etimologia da palavra reportare, quer dizer:transportar indica um movimento de transporte de uma determinadarealidade para o pblico, o que faz da reportagem um texto referencial,nas palavras de Todorov. Da mesma forma, organiza um conjunto deaes sucessivas e as insere numa linha temporal especfica. Natural-mente, convm dizer, nem as aes, nem o fator tempo de uma pro-duo jornalstica, assumem a mesma complexidade que teriam em umromance ou em outra grande narrativa.

    Ainda nesta linha, Seymour Chartman oferece-nos um outro con-ceito de narrativa que, da mesma forma, pode ser aplicado s produesde ndole jornalstica. De acordo com ele, una narracin es un con-junto porque est constituido de elementos sucesos y existentes queson individuales y distintos, pero la narracin es un compuesto secuen-cial. Adems, los sucesos, en la narracin (al contrario de la compi-lacin fortuita), tienden a estar relacionados o ser causa unos de otros(CHARTMAN, 1990:21).

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    6/27

    6 Bruno Bernardo de Arajo

    Com efeito, o discurso jornalstico opera um conjunto de mecanis-mos, entre os quais est: a organizao sequencial das aes. Emboraesta organizao no siga uma lgica cronolgica estando, pois, nocaso da notcia, condicionada peloleade pela pirmide invertida, as-sume um papel proeminente na estruturao discursiva, uma vez que,visa dar sentido textual a um acontecimento. A sucessividade das aesnos textos jornalsticos, no sendo uma compilao fortuita, como dizChartman, faz parte de um universo muito maior de produo de sen-tido, no qual, o jornalista o protagonista.

    Tambm encarando as produes jornalsticas como narrativas, Fer-nando Resende chama a ateno para algumas particularidades da nar-rativa jornalstica em relao a outros tipos de narrativa:

    Nas narrativas jornalsticas, o ato de narrar uma pro-blemtica a ser enfrentada. Nelas, a forma autoritria denarrar as histrias mantm-se, e, de certa forma, com mui-tos agravantes por apresentar-se velada. Envolto no real ena verdade como referentes, alm de trazer a imparciali-dade e a objetividade como operadores, o discurso jornals-tico tradicional aquele que epistemologicamente reco-

    nhecido dispe de escassos recursos com os quais narraros factos do quotidiano (RESENDE, 2006:8).

    Por outro lado, como todas as narrativas, as produes jornalsticase, de um modo geral, as narrativas mediticas, podem ser vistas comoverdadeiros produtos culturais, pois retm ecos da realidade onde foramconstrudas. Relativamente s notcias, Michael Schudson destaca: asnotcias como uma forma de cultura incorporam suposies acerca doque importa, do que faz sentido, em que tempo e em que lugar vive-mos, qual a extenso de consideraes que devemos tomar seriamente

    em considerao (SCHUDSONapudTRAQUINA, 1999). Ora, o fa-tor crucial do pensamento de Schudson reside no facto de as notciase, de forma alargada, a reportagem e outras narrativas jornalsticas, car-regarem resqucios da estrutura do prprio tecido social. Contudo, maisimportante ainda, olhar para essas narrativas como formas de (re)construo desse mesmo tecido social.

    Por tudo isso, tornam-se evidentes as contribuies dos estudos nar-rativos para a compreenso das narrativas jornalsticas, enquanto nar-

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    7/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 7

    rativas especiais. Dizemos isso, porque, embora todas as narrativastenham efeitos sobre o pblico, as jornalsticas possuem uma respon-sabilidade com o real, que deve ser respeitada, sob pena de poderemcausar graves alteraes no espao pblico. Nessa medida, considera-se que as narrativas mediticas apresentam vises construdas dos acon-tecimentos, formatando imagens, que funcionam como culos, a partirdos quais, lemos os fenmenos sociais do nosso quotidiano.

    Mesmo assim, o discurso jornalstico, entendido aqui como narra-tiva, foi, ao longo de muitas dcadas visto, como um representante ou,

    metaforicamente, como um espelho da realidade. Somente a partir dosanos 70 do sculo passado, com a emergncia das teorias do news-making, tomamos conscincia do carter construtivista das produesjornalsticas, conscincia que os estudos narrativos, como ficou claro,podero ter ajudado a desenvolver.

    2 TEORIAS DONEWSMAKING: um novo olharsobre a produo jornalstica

    As investigaes sobre o jornalismo tm trazido ao espao pblico uma

    srie de reflexes importantes para a compreenso da prpria profis-so. Um dos pontos mais polmicos, sobretudo para os profissionais,prende-se com a ideia de que o jornalismo no um espelho, a partirdo qual, vemos, nitidamente, e sem distores, o que se passa nossavolta. Contrariamente, um construtor da realidade, limitado a um semnmero de condicionalismos, prprios das chamadas rotinas de pro-duo. Esta viso surge associada ao desenvolvimento das teorias donewsmakingque, por sua vez, fazem parte do paradigma construtivistado jornalismo, representando um ponto de viragem nos estudos sobre aprtica jornalstica.

    As ideias defendidas pelo newsmaking visam combater pressupostosda teoria do espelho, uma das primeiras teorias do jornalismo, segundoa qual, os jornalistas so agentes descomprometidos, cuja inteno prin-cipal a transmisso da realidade, sem interferncias no curso normaldos acontecimentos. O combate a esta viso causou, e ainda hoje causa,grandes discusses, nas alas mais conservadoras da profisso. Comoelucida a este propsito Traquina:

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    8/27

    8 Bruno Bernardo de Arajo

    O ethos dominante, os valores e as normas identificadascom um papel de rbitro, os procedimentos identificadoscom o profissionalismo, faz com que dificilmente os mem-bros da comunidade jornalstica aceitem qualquer ataque teoria do espelho, porque a legitimidade e a credibilidadedos jornalistas esto assentes na crena social de que asnotcias refletem a realidade (TRAQUINA, 2004:149).

    A legitimidade e a credibilidade, de que fala Traquina, so valores

    profissionais construdos ao longo do difcil processo de profissionaliza-o do jornalismo, com razes na fase de industrializao da imprensa,no sculo XIX. A criao e a propagao de uma viso aptica e des-comprometida do profissional fazia parte de uma estratgia econmica,que visava alargar os pblicos, atrair mais publicidade para os jornaise, assim, fazer da imprensa, um negcio lucrativo. Por isso, seria im-portante defender a teoria do espelho, como forma de abafar a imagemde imprensa panfletria, que transformava os peridicos em verdadeirasmquinas polticas.

    Como j percebemos, o paradigma construtivista veio, anos depois,opor-se aos pensamentos da teoria do espelho. Para tal, um dos ar-

    gumentos mais utilizados a impossibilidade de uma linguagem neu-tra. Ao dar vida textual a um acontecimento, o jornalista incorpora,mesmo involuntariamente, marcas da sua subjetividade, atravs de umprocesso de mediao, que pressupe a existncia de uma construodiscursiva. Do mesmo modo, o discurso jornalstico resulta da formacomo est organizada a estrutura profissional, que permite, como dizTraquina (2007), fazer face imprevisibilidade dos acontecimentos.

    At aqui, referirmos vrias vezes a ideia central de construo nar-rativa da realidade. Por outro lado, alguns autores falam, no mbitodas teorias donewsmaking, da criao de estrias pelos jornalistas. To-

    davia, preciso estar atento a possveis associaes errneas destes ter-mos a uma ficcionalizao do real. Encarar as notcias e as reportagenscomo construes no o mesmo que pens-las, por exemplo, na pers-pectiva da criao literria, na qual, o autor livre para percorrer osuniversos possveis e impossveis da imaginao. Por isso, o jornalistacontador de estrias metfora comum entre os autores do paradigmaconstrutivista no um ficcionista, mas, um indivduo, que assume

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    9/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 9

    uma postura distinta da do jornalista espelho, defendida por paradig-mas anteriores, como j tivemos a oportunidade de referir.

    Esta reflexo est bem presente no pensamento de Bird e Dardenne,segundo os quais, considerar as notcias [e no s] como narrativasno nega o valor de as considerar como correspondentes da realidadeexterior (BIRD E DARDENNE, 1999:163). A sociloga norteameri-cana Gaye Tuchman um dos cones donewsmaking, vai mais longee acrescenta: dizer que uma notcia uma estria no , de modo al-gum, rebaixar a notcia, nem acus-la de ser fictcia. Melhor, alerta-nos

    para o facto de a notcia, como todos os documentos pblicos, ser umarealidade construda possuidora da sua prpria validade interna (TUCH-MAN, 1999:262).

    Todas as questes que mencionamos, acerca do newsmaking, sosuficientes para fazermos uma inevitvel reflexo sobre o poder socialdosmedia, tendo em conta a sua enorme influncia no espao pblico.Para alm de definir os temas da agenda pblica, atravs do que se con-vencionou chamar de agenda meditica, eles interferem no status quo erecriam modos de vida, porque leem e provocam releituras de experin-cias subjetivas e objetivas e, vale dizer, de forma s vezes to imperativa,que se tornam o lugar de onde as pessoas retiram o que sabem e o quese dispem a compreender acerca do quotidiano e da vida (RESENDE,2006:2).

    Atravs das suas narrativas, osmediacriam significaes e tm umpeso inquestionvel nas transformaes sociais. Este ponto de vistapode ser, historicamente comprovado, todas as vezes que o jornalismose colocou como um verdadeirocontrapoder, como no caso emblem-tico doWatergate, nos Estados Unidos ou, mais recentemente, com asconstantes denncias de corrupo, pelosmediabrasileiros, que leva-ram demisso de seis ministros de Estado, no Brasil. No obstanteos interesses ideolgicos que, porventura, tenham existido por detrs

    de casos como esses, foroso admitir que houve, obviamente, alte-raes na estrutura sociopoltica, tanto da sociedade americana comobrasileira, influenciadas pelo poder social da imprensa.

    Nesse sentido, aceitando a ideia de que as produes jornalsticasso construes do real, Tuchman admite: os jornalistas trabalhampara apreender e atribuir significado quando identificam certos tpicos,e no outros, como notcias. Atravs deste trabalho (. . . ) os atores

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    10/27

    10 Bruno Bernardo de Arajo

    sociais criam significaes e, ao mesmo tempo, um sentido coletivopartilhado da ordem social (TUCHMAN, 2002: 95). Claramente, oconceito de ordem social, elucidado pela autora, est intimamente liga-do forma como organizamos a nossa vida quotidiana em sociedade.As significaes que atribumos aos fenmenos sociais dependem dossignificados facultados pelosmedia, aos quais temos acesso, por meiode narrativas ou, se quisermos, deestriasdiversas.

    Se, depois de toda a nossa reflexo, consideramos o discurso jor-nalstico como narrativas ouestrias, centradas na realidade, estamos

    em condies de admitir, ao lado de alguns autores, a existncia de cat-egorias especficas da narrativa no universo do jornalismo. Falamos,pois, da existncia de uma personagem jornalstica e de um narradorjornalista. A partir da problematizao dessas questes poderemos am-pliar, ainda mais, a nossa compreenso da prtica jornalstica, como re-sponsvel pela construo social da realidade. E, mais uma vez, reafir-mar os inexorveis contributos dos estudos narrativos, como rea inter-disciplinar, para o estudo dos diversos fenmenos mediticos.

    3 DOS ESTUDOS NARRATIVOS AO

    JORNALISMO: o narrador-jornalista e apersonagem jornalstica

    Desde que o jornalismo passou a ser visto como um produtor de narra-tivas ou deestrias, embora, na maioria das vezes, essas produesassumam um carter autoritrio e burocratizante, em funo das funda-mentaes epistemolgicas da profisso, como defende Resende (2006) algumas questes, bem interessantes, foram sendo colocadas, no sen-tido de complexificar a sua relao com teorias especficas. Para o nossotrabalho, importa fazer aluso aos estudos desenvolvidos em torno da

    concepo de uma personagem jornalstica, bem como, de um narradorjornalista.Primeiramente, a figura do narrador central para o estudo de qual-

    quer narrativa. No jornalismo, prtica marcada pelo rgido cumpri-mento de modelos textuais e regras de conduta, com vista preservaode uma postura imparcial, de quem narra em relao ao que narra ,falar da existncia de um narrador poder ser de enorme importncia

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    11/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 11

    para amenizar alguns pontos mais nebulosos da profisso, designada-mente, as questes que se prendem com a busca incessante da verdade.

    Parafraseando Fernando Resende (2006), num trabalho sobre jor-nalismo e enunciao, o mito da objetividade faz com que o trabalhojornalstico d proeminncia aos factos e caminhe, continuamente, paraum apagamento da figura do profissional. O jornalista , muitas vezes,visto como um mero mediador, que conta, sem, necessariamente, nar-rar. Isso significa que a crena na existncia de um narrador-jornalista essencial para olharmos aprxisjornalstica, como resultado do olhar

    de um indivduo sobre determinado acontecimento.Vale dizer, na sequncia do pensamento do autor, que o olhar dojornalista (autor emprico, sujeito da enunciao e responsvel pela cria-o do narrador) estar sempre condicionado por determinados mapasde sentido, formados tanto pelo seubackgroundcultural, como por umconjunto de outras questes socioprofissionais, que podero limitar essemesmo olhar ou, em outras palavras, a sua interpretao. Desse modo,a aplicao do conceito de narrador, enquanto sujeito do enunciado, isto , gestor textual das aes, tempos, espaos e personagens , aojornalismo, pode livrar-nos do perigo daestria nicae alertar-nos, aomesmo tempo, para a existncia de vrias verdades em uma mesmarealidade.

    ainda interessante notar que, o narrador-jornalista muda o seu focode narrao, de acordo com o gnero textual que produz. Diante daescrita quotidiana e fragmentria de notcias, na maioria das vezes, admite-se excees , o narrador opta pela focalizao externa e, geral-mente, conta as estrias em telling, assumindo uma postura de meroenunciador. Ao contrrio, no caso das reportagens textos, obrigato-riamente mais densos e trabalhados , o narrador-jornalista compartilhaimpresses e opta, vrias vezes, pela focalizao interna e pela narraoemshowing, como forma de dar voz s personagens, facto visvel, so-

    bretudo, quando recorre ao discurso direto.Alm das teorizaes sobre o narrador, os estudos de outras cate-

    gorias narrativas, como a personagem, tambm podero ser, benefica-mente, aplicados ao jornalismo. Recorrendo ao pensamento de PhillipeHamon que traa um estatuto semiolgico para a personagem, tratan-do-a, assim, como um signo , poderemos analisar a existncia e ocarter conceptual das ditas personagens jornalsticas. Para o autor,

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    12/27

    12 Bruno Bernardo de Arajo

    a personagem tem um cariz funcionalista e, por isso, participa, ativa-mente, no processo de comunicao inerente a todas as narrativas. (HA-MON, 1977: 177)

    Partindo desse princpio, podemos aferir que o processo de criaode personagens jornalsticas processo, atravs do qual, os vrios atoressociais ganham vida textual de inegvel pertinncia, na medida emque, os muitos eixos semnticos, associados sua construo, poderocriar imagens, favorveis ou disfricas, desses mesmos atores, limi-tando a percepo do pblico a pontos de vista truncados e nicos. Um

    exemplo notvel a forma como, frequentemente, a imprensa constria imagem do poltico recorrendo, sempre, aos escndalos e hiper-mediatizao da vida pessoal ou a imagem dos imigrantes, associan-do-os a indivduos marginalizados e socialmente desfavorecidos1.

    Um dos gneros jornalsticos, no qual, a ideia de personagem estmais vincada o perfil. Porm, como j percebemos, os atores sociais,representados nas notcias e reportagens, tambm fazem parte dessatipologia. Assim, ao falar de personagem jornalstica, Mesquita de-marca um ponto essencial, que se prende com o compromisso da profis-so com a realidade. Segundo o autor:

    Se a questo da exatido irrelevante do ponto de vistado criador literrio, se possvel postular, em nome dasvirtualidades da experincia esttica, uma espcie de irres-ponsabilidade criativa do escritor, o mesmo no se dir dojornalista, cuja atividade se organiza em funo daquilo aque poderamos chamar dever referencial (MESQUITA,2001:138).

    Esse dever referencial prprio das personagens a que Hamon(1977:122) chamareferenciaise , sem dvidas, o que confere, ao jor-

    nalismo, o seu to reivindicado estatuto de legitimidade. No entanto,este estatuto , por vezes, levado ao extremo e colocado ao servio deinteresses pessoais e ideolgicos de alguns meios de comunicao so-cial. Quando as produes jornalsticas recorrem a traos especficos

    1Para um aprofundamento das questes que envolvem a construo da imagem dosimigrantes na imprensa portuguesa, cf. Silverinha, M.J., Peixinho, A.T. (2004). Aconstruo discursiva dos imigrantes na imprensain Revista de Cincias Sociais, no.69.

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    13/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 13

    e demasiado limitados para caracterizar os atores sociais, podem estara contribuir para a criao de universos de percepo estanques, dosquais, o grande pblico se torna refm.

    Nesse sentido, a anlise que completa este trabalho far uma ava-liao da forma como foi construda a imagem dos estudantes da Uni-versidade de So Paulo, nas pginas das revistas Vejae Isto, durantea manifestao, que levou ocupao da sede da reitoria desta univer-sidade, em outubro de 2011. Alm disso, deter-nos-emos na demar-cao de traos que, atravs da construo narrativa, evidenciem fatores

    ideolgicos, tanto do produtor (encarado aqui como narrador-jornalista)como do meio de comunicao, para o qual, trabalha.

    4 A ANLISE CRTICA DO DISCURSO COMOMETODOLOGIA DE ANLISE DA PRODUOJORNALSTICA

    Ao longo desta produo, tem-se dado nfase aos contributos dos es-tudos narrativos para a anlise de produes jornalsticas, vistas, pelasteorias construtivistas, como inequvocas construes (textuais) da rea-

    lidade. Nesse sentido, o discurso jornalstico (e o meditico, em geral)assume um poder, dito hegemnico, privilegiado e legitimado pelos va-lores morais da cultura profissional, bem como, pela intensa fora comque as suas mensagens invadem o nosso dia-a-dia.

    Dito isso, tentaremos comprovar, empiricamente, boa parte dasquestes, anteriormente trabalhadas, no sentido de demonstrar a enormeinfluncia da prxis jornalstica sobre o modo como o pblico per-cepciona o mundo. Para tal, selecionamos 02 (duas) reportagens (emanexo): uma da revistaVeja A rebelio dos mimados (edio de 9de novembro de 2011) e uma da revistaIsto Quem so os radicais

    da USP (edio de 11 de novembro de 2011), peridicos que figuramentre os ttulos de maior circulao no mercado editorial brasileiro derevistas semanais. Ambos os trabalhos tm, como objetivo, retratar amanifestao de estudantes da Universidade de So Paulo. A nossa es-colha no foi completamente aleatria, dado que as publicaes datamda mesma semana.

    Sendo o jornalismo uma profisso que lida, diretamente, com factosda realidade, reconstruindo-os, atravs de narrativas, e adotando discur-

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    14/27

    14 Bruno Bernardo de Arajo

    sos, muito particulares, recorreremos a tcnicas da Anlise Crtica doDiscurso, como forma de demarcar estratgias textuais e escolhas le-xicais, que apontem para a criao de universos semnticos especficos,em torno da manifestao dos estudantes. Tais escolhas, feitas peloprodutor textual, so simultaneamente escolhas ideacionais e interpes-soais, que expressam opes ideolgicas particulares (PEDRO: 1997:306).

    Do mesmo modo, procuraremos perceber, por meio da construonarrativa (isto , da forma como o narrador-jornalista, em cada um

    dos textos, estrutura o seu discurso) como as reportagens construrama identidade dos estudantes e que efeitos as estruturas semnticas, deque fala van Dijk (2005: 84), podero ter contribudo para a compreen-so da natureza do prprio movimento estudantil, enquanto movimentopoltico, por parte do pblico. Por fim, convm lembrar que, em setratando de uma anlise crtica do discurso, tudo o que for observado,embora esteja fundamentado em leituras diversas, resultam sempre deuma viso crtica do investigador, fato que pressupe uma inelutveltomada de posio.

    5 A CONSTRUO DISCURSIVA DAMANIFESTAO DOS ESTUDANTES DA USPNAS PGINAS DE Veja EIsto2

    5.1 Reportagem 1: A rebelio dos mimados (emanexo)

    A reportagem em anlise, publicada a 9 de novembro de 2011, assi-nada por Marcelo Sperandio, assume um claro sentido ideolgico. Talfenmeno facilmente observvel, tanto pelas escolhas lexicais e lin-gusticas do narrador-jornalista, quanto pela forma como a narrativa construda. Tambm as fotografias aparecem aqui como elementos se-miolgicos cruciais, que auxiliam na formao de uma unidade semn-tica, globalmente coerente, com os objetivos do produtor textual.

    2A presente anlise ir referir apenas os pontos mais importantes de um processoanaltico que se revelou muito mais amplo e que, por falta de espao, no ser, inte-gralmente, includo no corpo do artigo.

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    15/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 15

    Inicialmente, o ttulo, o subttulo e o lead, cumprem o modelo desuperstrutura, aplicado por Teun van Dijk (2005:67), s notcias. Em-bora a tcnica jornalstica doleadno seja comummente utilizada emreportagens produes que primam por uma maior liberdade criativa o primeiro pargrafo responde s cinco perguntas (o qu, quem, quando,onde e porque), organizadas numa relao de causalidade, que confere produo um certo hibridismo classificatrio.

    A utilizao da palavra [rebelio], em posio topicalizada no t-tulo remete-nos para a ideia de que houve uma resistncia violenta,

    protagonizada por indivduos de atos excessivos [mimados]. O subttulopossui um sentido global, que poder ser dividido em trs proposiesmenores, com significados prprios, mas, interdependentes: [Com rou-pas de grife e donos de carros caros] remete-nos para o estatuto so-cioeconmico dos estudantes envolvidos; [estudantes depredam a USP]indica um ato de extrema violncia, confirmado pelo verbo, na terceirapessoa do plural, do presente do indicativo depredam de estu-dantes contra a instituio universitria inteira USP, que apareceem posio passiva; finalmente, em [porque querem fumar maconhasem ser incomodados], a conjuno de causalidade porque indicao motivo, pelo qual, os estudantes depredaram a instituio.

    Todas essas significaes limitam horizontes de expectativas e in-dicam protocolos de leitura, atravs dos quais, o pblico poder fazera sua interpretao. Logo no primeiro pargrafo, o narrador-jornalistaremete o leitor para uma das imagens, que mostra um estudante sorri-dente (facto que contrasta, desde j, com a situao enunciada), e es-pecifica determinados atributos dos envolvidos [moletom da grife ame-ricana GAP; culos de 500 reais da italiana Ray Ban], que, vale dizer,so representados pela figura individual do estudante [o rebelde deGAP], apresentado, genericamente, como o [retrato fiel] do grupo deestudantes.

    Sem nenhuma dvida, a estratgia de generalizao, supramencio-nada, contribui para a formatao de um perfil especfico dos mani-festantes, junto do pblico: indivduos irresponsveis, de classe m-dia/alta que querem, impunemente, fazer uso de drogas, no campusuniversitrio. A criao dessa imagem dos estudantes, ou, segundovan Leeuwen (1997), desses atores sociais feita, paulatinamente,ao longo de toda a narrativa, sempre com recurso a estruturas proposi-

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    16/27

    16 Bruno Bernardo de Arajo

    cionais assertivas, que revelam a posio socioeconmica dos estudan-tes, como: [circulam em carros cujo preo supera 50.000 reais]; [as-sumiu a direo de um Polo Sedan e outro embarcou em seu Kia Soul].

    Alm disso, o narrador-jornalista seleciona um conjunto de sinni-mos para o termo estudantes, atravs de um processo de categoriza-o, que possui uma carga semntica altamente disfrica. Os mani-festantes so tratados, vrias vezes, como: maconheiros; mimados;rebeldes; crianas; garoto mimado; birrentos; vndalos; fi-lhinhos de papai; invasores; rebeldes mimados; mauricinhos.

    Por outro lado, a manifestao, propriamente dita, referida como:baguna; pirraa; rastro de destruio; baderna; arruaa;turba. Ora, a utilizao desse vocabulrio resultado, no apenasde escolhas lexicais determinadas, mas, como lembra van Dijk (2005),so, claramente, decises ideolgicas, que revelam o posicionamentodo enunciador e, consequentemente, constroem mapas mentais de per-cepo, importantes para que tambm o pblico se posicione.

    Mesmo assim, o narrador-jornalista encontra outras formas, muitomais visveis de se posicionar. Ao longo da narrativa, as proposies,em posio subordinada: [mas, coitadinhos, a lei no deixa] e [re-voluo tem limite], bem como, a proposio que finaliza o texto, apsuma citao em discurso direto, [Esse menino precisa de castigo, pa-pai], representam, visivelmente, a voz do narrador, que no se exime deassumir um discurso avaliativo em relao situao narrada.

    Por fim, importante salientar a citao mimtica, em discurso di-reto, da me de um estudante da USP, assassinado, h meses, apsuma tentativa de assalto , que v a manifestao como um [caprichode uma minoria]. O pensamento da me, emocionalmente fragilizada, outra estratgia discursiva fundamental para a confirmao de todo oprocesso de significao, gradativamente, criado.

    5.2 Reportagem 2: Quem so os radicais da USP(em anexo)

    A reportagem da revistaIsto, publicada a 11 de novembro de 2011 eassinada por Alan Rodrigues, apresenta diversos pontos de contraste,com relao postura deVeja, analisada anteriormente. Ao longo danossa anlise, comprovamos um tom bem mais sbrio na abordagem

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    17/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 17

    das questes e uma tendncia para dar voz aos estudantes, enquantoatores sociais, diretamente envolvidos na situao.

    Primeiramente, o ttulo, o subttulo e o primeiro pargrafo (que,neste caso, por tratar-se de uma reportagem, no se assume como umleadconvencional) cumprem o esquema superstrutural, defendido porvan Dijk (2005:67), na medida em que funcionam como elementos defundamental importncia para a definio da macroestrutura semnticado texto. Todavia, o fato de no ser feita nenhuma referncia direta manifestao, propriamente dita, no ttulo, revela que o narrador-

    jornalista partiu do pressuposto de que o pblico estaria j, suficien-temente familiarizado com os acontecimentos.Nesse sentido, o objetivo maior do produtor textual a definio

    de um perfil dos manifestantes, que comea a ser feito logo no ttulo,atravs do recurso ao pronome de interrogao [quem], ligado peloverbo ser, na terceira pessoa, do presente do indicativo [so] ao nome[radicais], que, por sua vez, caracteriza indivduos insatisfeitos com de-terminadas normas ou padres estabelecidos.

    No subttulo, encontramos uma ntida diferena em relao pro-duo anterior: a construo proposicional [Eles tm pouco em comum]indica a existncia de diferenas entre os manifestantes, sobretudo aonvel socioeconmico, confirmadas pela proposio subsequente [Al-guns vieram da escola pblica e outros estudaram no Exterior]. Ob-viamente, por meio de um processo de pressuposio, os termos [es-cola pblica] e [Exterior] so utilizados, como elementos indicadoresde patamares sociais diferenciados. Mesmo sem diz-lo, o narradorsabe que a sua mensagem chegar ao leitor, porque entende que estestermos fazem parte de um conjunto de conhecimentos culturais tcitosque do significado ao discurso. (VAN DIJK, 2005:171).

    O primeiro pargrafo tambm bastante esclarecedor. Assim comona reportagem anterior, o narrador-jornalista inicia o texto, centrado na

    figura de um estudante, que, neste caso, tem nome e idade: [JooMachado, 20 anos]. As citaes mimticas, em discurso direto [Minhame quer me matar] e [Ela s sabe xingar] revelam que h uma dis-cordncia, dos pais, relativamente atitude dos filhos. No entanto, apostura dos estudantes inserida no universo do movimento estudan-til, enquanto fenmeno poltico, cujo objetivo a reivindicao de umconjunto de questes e a luta contra o poder repressor. Tal ideia confir-

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    18/27

    18 Bruno Bernardo de Arajo

    mada pela utilizao de termos como: [momento histrico], em discursodireto, ou [tomada do poder].

    Um fator interessante a destacar a referncia ao ato dos estudantescomo [ocupao] da reitoria, diferentemente de [invaso], utilizada umanica vez, no segundo pargrafo [invadiram]. Por sua vez, os agentessociais so categorizados como: estudantes; adolescentes; radi-cais sem rosto; jovens. Sem dvidas, os sentidos, em torno destasopes lexicais, contribuem para a criao de uma identidade social dosestudantes, completamente distinta da que vimos no texto anterior.

    Mais uma vez, as diferenas socioeconmicas entre os manifes-tantes so, continuamente, elucidadas ao longo da narrativa. Elenca-mos, ao menos, trs exemplos: no terceiro pargrafo, a enumerao deprofisses [auxiliar de escritrio, arteso, analista de laboratrio, pro-fessores, iluminador e at barman] comprova isso. Posteriormente, ofato de os estudantes no terem dinheiro para pagar a fiana polcia[Boa parte deles no tinha os R$ 545 da fiana]. E, ainda, no quintopargrafo, a condio humilde de Rafael Alves, apresentado como [umdos principais lderes dos radicais], confirmada pela estrutura proposi-cional [De origem humilde, egresso da escola pblica, foi o nico dos20 integrantes da sua famlia que conseguiu entrar na universidade].

    Evidentemente, so feitas referncias a estudantes de classe mdia como, no caso do primeiro estudante, apresentado como sendo [declasse mdia paulista]. No entanto, estas diferenas no existem no tra-balho deVeja, dado que os estudantes envolvidos so todos apresenta-dos como provenientes de classes sociais, economicamente, superiores.

    importante chamar a ateno para as fotografias do texto, quefazem parte, tambm, da construo narrativa. Enquanto as duas pri-meiras retratam o confronto entre estudantes e polcias, a terceira temuma ligao, ainda mais forte, com a ideia de movimento estudantil,visto como confronto intelectual de ideias e, simbolicamente represen-

    tado, pela elevao da obra do filsofo Michel Foucault. Se tivermosem conta o universo de significados, em torno da narrativa verbal es-crita, certo afirmar que tais imagens tm uma dimenso funcional es-pecfica, na medida em que, completam a estrutura semntica global dareportagem.

    Por fim, foroso referir um outro ponto, que mostra bem as dife-renas semnticas e ideolgicas de ambas as narrativas. Istono faz

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    19/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 19

    aluso aos estudantes como consumidores de drogas, questo, sobeja-mente abordada, porVeja. Pelo contrrio, d-se nfase manifestao,como parte integrante do movimento estudantil, que tem reivindicaesvariadas, em detrimento do fato pontual de os estudantes quererem fu-mar maconha sem ser incomodados, como vimos no texto anterior.

    CONSIDERAES FINAIS

    O presente artigo procurou aliar alguns dos pressupostos conceptuais

    mais importantes dos estudos narrativos e da investigao em jorna-lismo, no sentido de contribuir para a amplificao do debate, j exis-tente, em torno da prxis jornalstica. Num primeiro momento, bus-camos problematizar o conceito de narrativa para falar da existncia denarrativas jornalsticas, enquanto produes especiais, com uma ligaomoral realidade.

    A partir disso, desmitificamos com o recurso a autores, como GayeTuchman (2002) e Nelson Traquina (2007) , a ideia, em torno da qual,o jornalismo espelha ou representa a realidade. Atravs das teorias donewsmaking, vimos que os jornalistas, enquanto intrpretes dos acon-tecimentos, ao estruturarem as suas narrativas (ou estrias), ajudam aconstruir a prpria realidade que reportam. Posteriormente, abordamosas questes relacionadas com a concepo de um narrador-jornalista(sujeito do enunciado e, por isso, gerente da organizao discursiva darealidade) e de personagens jornalsticas (que resultam da forma comoos agentes sociais so, textualmente, construdos).

    Numa segunda parte, todo esse enquadramento terico foi aplicadoa uma realidade concreta. Diante da repercusso meditica da mani-festao de estudantes da Universidade de So Paulo, em outubro de2011, recorremos a duas reportagens, das revistas Veja e Isto, paraanalisar como ambos os veculos construram, discursivamente, esta

    realidade, dando particular ateno forma de construo identitriados estudantes. Para tal, convocamos tcnicas da Anlise Crtica doDiscurso, metodologia particularmente benfica para o nosso exerccio,pois permitiu-nos desconstruir o discurso em estruturas proposicionaismenores, semanticamente pontuadas, a partir das quais, encontramosevidentes marcas ideolgicas.

    Segundo a nossa anlise, a revistaVejapreza por uma abordagem

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    20/27

    20 Bruno Bernardo de Arajo

    extremamente acesa e partidria do acontecimento, assumindo uma po-sio inequivocamente contra manifestao dos estudantes, que, porsua vez, so vistos como adolescentes mimados, consumidores de dro-gas e provenientes de classes sociais, economicamente, abastardas.Contrariamente, a revistaIstoapresenta uma narrativa de tom muitomais sbrio, na qual, no feita nenhuma referncia ao consumo dedrogas pelos estudantes. Alm disso, evidencia diferenas ao nvel so-cioeconmico dos atores sociais que, juntos, integram o movimento es-tudantil.

    Em suma, no obstante termos um posicionamento crtico em re-lao s produes em causa, o nosso objetivo no foi apontar errosou acertos. Quisemos, porm, destacar a existncia de construes tex-tuais e, consequentemente, semnticas , distintas, de uma mesma re-alidade, no interior de narrativas jornalsticas concorrentes, que pairamsobre o mesmo espao pblico, assentes em indiscutveis fins ideolgi-cos.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

    BARTES, ROLAND (1977). Analyse Structurale du rcit in Po-tique du rcit, Paris : Seuils (Points).

    BIRD, ELIZABETH S.; DARDENNE, ROBERT W. (1993), Mito,registo e estrias: explorando as qualidades narrativas das not-cias,in Nelson Traquina (org.),Jornalismo: Questes, teorias eestrias. Lisboa: Vega, 263-277.

    CHATMAN, SEYMOUR (1990).Historia y discurso: la estrutura nar-rativa en la novela e en el cine, Madri: Taurus Humanidades.

    DIJK, TEUN VAN (2005). Discurso, notcia e ideologia. Estudos da

    Anlise Crtica do Discurso, Porto: Campo das Letras.

    HAMON, PHILIPPE (1977). Pour un statut smiologique du person-nage in Roland Bartheset aliii,Potique du rcit, Paris : Seuils(Points), pp. 115-167.

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    21/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 21

    MESQUITA, MRIO (2003). A personagem jornalstica da Narra-tologia Deontologia inO Quarto Equvoco O poder dos mediana sociedade contempornea, Coimbra: Minerva.

    PEDRO, EMLIA RIBEIRO (1997).Anlise Crtica do Discurso, Lis-boa: Caminho.

    PENA, FILIPE (2005).Teorias do Jornalismo, So Paulo: Contexto.

    REIS, CARLOS; LOPES, ANA CRISTINA M. (2007).Dicionrio de

    Narratologia, 7a

    ed., Coimbra: Almedina.RESENDE, FERNANDO (2006). Jornalismo e enunciao: perspec-

    tivas para um narrador jornalista in LEMOS, ANDR; BERGER,CHRISTA; BARBOSA, MARIALVA (org.)Narrativas miditicascontemporneas. Porto Alegre: Sulina.

    SILVA, MARCONI (2007). A notcia como narrativa e discurso inEstudos em Jornalismo e Mdia, v.4, no. 1. Universidade Federalde Santa Catarina: Florianpolis. (disponvel online em: http://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/

    showToc consultado em: 20/12/2011).TRAQUINA, NELSON (2007).Jornalismo, 2a ed., Lisboa: Quimera.

    TRAQUINA, NELSON (2004).Teorias do jornalismo, Florianpolis:Editora Insular.

    TRAQUINA, NELSON (2001).O estudo do jornalismo no sculo XX,So Leopoldo: Unisinos.

    TRAQUINA, NELSON (1999).Jornalismo: Questes, Teorias e es-trias, 2a ed, Lisboa: Vega.

    TUCHMAN, GAYE (2002). As notcias como uma realidade cons-truda in J. P. Esteves (ed.) Comunicao e Sociedade, Lisboa:Horizonte, pp. 91-104.

    TUCHMAN, GAYE (1993). Contando estrias in Nelson Traquina(org.) Jornalismo: Questes, Teorias e estrias, Lisboa: Vega,pp. 258-262.

    www.bocc.ubi.pt

    http://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/showTochttp://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/showTochttp://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/showTochttp://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/showTochttp://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/showTochttp://journal.ufsc.br/index.php/jornalismo/issue/view/335/showToc
  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    22/27

    22 Bruno Bernardo de Arajo

    VAN LEEUWEN, TEUN A. (1997), A representao dos actores so-ciais, in Emlia Ribeiro Pedro (org.), Anlise crtica do discurso.Lisboa: Caminho, 169-222.

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    23/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 23

    ANEXOS

    Anexo 1 Reportagem Revista Veja A revolta dosmimados

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    24/27

    24 Bruno Bernardo de Arajo

    Anexo 2 Reportagem RevistaIsto Quem so osradicais da USPCAPA

    COMPORTAMENTO| No Edio: 2192 | 11.Nov.11 21:00 | Atualizado em 11.Nov.11 -

    23:51Quem so os radicais da USPEles tm pouco em comum. Alguns vieram da escola pblica e ou-

    tros estudaram no Exterior. Presos, se revelaram adolescentes tomandobronca dos pais

    Alan Rodrigues

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    25/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 25

    NA POLCIA

    Os estudantes passaram o dia na delegacia at a fiana ser paga. Notopo, Joo Machado, que entrou no movimento estudantil na escola.Acima, Rafael Alves, um dos lderes dos radicais. Abaixo, Paulinho InFluxus levanta o livro do filsofo Foucault

    Passava das 20h da tera-feira 8 quando Joo Machado, 20 anos,estudante de cincias sociais, dava seu primeiro sorriso do dia. Os mo-

    mentos de descontrao contrastavam com os de tenso. Minha mequer me matar, disse ele, ao desligar o celular. O desabafo, feito aum companheiro de ocupao do prdio da reitoria da Universidade deSo Paulo, soava mais como uma confisso de adolescente do que comodiscurso de quem pensa em construir a tomada de poder. Ela s sabexingar, nem consegue ver o momento histrico, lamentava. De classemdia paulista, ele estreou no movimento estudantil h cinco anos nogrmio da Escola Comunitria de Campinas, uma instituio privadaque, nas suas palavras, o ensinou a questionar o sistema.

    Assim como Machado, ao deixarem fora a reitoria, os radicais

    sem rosto da semana anterior, que invadiram o prdio encapuzados, ga-nharam feies, nomes e histria. Um raio X do Termo Circunstanciado espcie de Boletim de Ocorrncia mais leve lavrado durante o diatodo na delegacia revela quem eram os manifestantes da USP. Segundoos policiais, entre os 72 detidos, 18 no tinham qualquer vnculo com auniversidade. Um deles era da Pontifcia Universidade Catlica (PUC)de So Paulo, outro da Universidade Federal da Paraba, e havia at umestudante vindo do Chile, pas onde ocorrem manifestaes estudantis

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    26/27

    26 Bruno Bernardo de Arajo

    h meses. Os dados colhidos nos depoimentos ajudam a traduzir tam-bm o perfil dos jovens. Havia auxiliar de escritrio, arteso, analista delaboratrio, professores, iluminador e at barman. Boa parte deles notinha os R$ 545 da fiana. Foi preciso que o Sindicato dos Servidores daUSP passasse o chapu entre os apoiadores do movimento para juntaros R$ 39 mil. Esse dinheiro foi arrecadado por mais de 500 entidadesque apoiam o movimento estudantil, disse a advogada Eliana LuciaFerreira, que entregou a soma na delegacia.

    Nas quase 24 horas em que permaneceram no nibus diante da DP,

    vrios estudantes foram visitados pelos pais, alguns dos quais ex-mili-tantes que lutaram pela democracia quando o Brasil ainda era uma di-tadura. Vacilona, em 15 anos de militncia nunca fui preso, em quatromeses de movimento estudantil voc j caiu em cana, dizia o pai auma das alunas detidas. Apesar do clima de exausto, ainda havia es-pao para palavras de ordem. Essa uma luta de armas contra livros.Querem impedir ideias com opresso, gritava o estudante de artes pls-ticas que se apresenta como Paulinho In Fluxus, 26 anos. Vestido comuma roupa rosa, ao estilo super-heri, ele levantava o livro: As Palavrase as Coisas, do filsofo francs Michel Foucault.

    Filho de um jornalista, Paulinho cursou o ensino mdio na Europa,beneficiado por uma bolsa de estudos de uma escola criada por Nel-son Mandela, patrocinada pela Cruz Vermelha. Nosso erro foi noter conseguido mostrar para a sociedade que ali no estava um bandode maconheiros lutando por uma causa pessoal, avalia. O pai, antigocomunista que foi preso no regime militar, foi ver o filho na 91a DP.L, no escondia a irritao com a forma pela qual o jovem escolheufazer poltica e dizia que, passado este momento difcil, iria deixar desustent-lo. Um dos principais lderes dos radicais, o arteso RafaelAlves, 29 anos, matriculado no curso de letras, no recebeu a visita deningum. De origem humilde, egresso da escola pblica, foi o nico

    dos 20 integrantes da sua famlia que conseguiu entrar na universidade.quela altura da noite, em nada lembrava o homem que resistira prisogritando frases como Abaixo a ditadura durante a ao da polcia.Parecia vencido pelo cansao.

    A novela, porm, est longe de acabar, pois alguns alunos da USPtentam decretar greve geral. Como pano de fundo de toda a movimen-tao, est a eleio para o Diretrio Central dos Estudantes (DCE),

    www.bocc.ubi.pt

  • 7/26/2019 araujo-bruno-a-narrativa-jornalistica-construcao-real.pdf

    27/27

    A narrativa jornalstica e a construo do real 27

    marcada para a prxima semana. Vrios grupos de esquerda disputaroo poder. A ao truculenta da PM acabou reunindo as diversas cor-rentes do movimento estudantil, diz o diretor do DCE, Joo VictorPavesi, que cursa geografia. Os alunos favorveis presena da PM seorganizam em torno da chapa batizada de Reao, composta, em suamaioria, por alunos das reas de administrao, economia e contabili-dade e cursos da engenharia. A luta pelo poder continua.ColaborouFlvio Costa.

    www.bocc.ubi.pt