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ApresentaçãoEsta edição do Manual de Calouros UNESP-Marília - dada conjuntura social e

política a qual vive a Universidade Pública brasileira (em especial a UNESP) - tem particular caráter de engajamento prático. Reafirmando a necessidade de respostas aos inúmeros ataques empreendidos contra Universidade Pública pelo Governo Federal e Governos Estaduais (que são na verdade representantes da burguesia brasileira), este [contra]Manual de 2009, coloca-se como um chamado a mobilização frente às atuais políticas de gestão da Universidade, explicitamente contrárias ao acesso e permanência dos estudantes filhos de trabalhadores/as nas Universidades.

@s estudantes autores/as dos textos a seguir, lutam para que a Universidade pública seja acessível à maioria da população do País, combatendo uma das principais características da Universidade que temos, que é servir ao grande capital (em amplitude nacional e internacional), servir a burguesia, ao patronato e aos ricos.

Os textos aqui organizados afluem de estudantes que querem transcender a perspectiva pequeno-burguesa restrita, expressa pelo individualismo e egoísmo, tão difundidos nos nossos dias. Busca-se, sobretudo, uma saída coletiva e dialogada para uma Universidade, que infelizmente reflete predominantemente os interesses da Classe Dominante de nosso país (os Ricos). As práticas interessadas desta Classe fazem da Universidade Pública um espaço Elitista, Racista, Repressivo, Burocratizado e Injusto (em continuidade como a forma de ser predominante da nossa sociedade). Não é demais dizer que está mesma Classe exerce dominação e controle a mais de 500 anos no Brasil.

Caracterizado por uma diversidade latente, o [contra]Manual abrange uma multiplicidade de visões e posicionamentos políticos, são Estudantes Militantes - independentes (não ligados a Partidos Políticos) e também de diversas organizações políticas. Mas, talvez o mais importe destacar é o esforço critico, a capacidade de “recusar as coisas como elas estão”, e a busca por um ser-de-outro-modo. Nesse sentido, os estudantes que aqui escrevem, buscam somar a um movimento histórico de longa duração, pela busca da emancipação e consolidação de liberdades humanas.

A publicação é dirigida principalmente aos universitários que não querem referendar as formas de "exclusão" e dominação exercida pela burguesia. Chamamos os que acreditam que é possível construirmos uma sociedade sem explorados nem exploradores, sem oprimidos nem opressores. Estamos abertos a novas propostas e formas de mobilização que possibilitem avançarmos nesses objetivos. Trata-se de aproveitarmos o potencial criativo d@s estudantes para uma frente ampla de luta. Queremos substituir a resignação contemplativa - presente na sociedade capitalista multinacional - pela ação transformadora efetiva que revolucione as bases sociais e materiais de nossa sociedade.

Alessandro de Moura (Galo Vermelho) –

Estudante de Ciências Sociais

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Calouras e CalourosSejam bem-vindas e bem-vindos!

Após estudos, dedicação, noites sem dormir, preocupações e por fim o tão famigerado vestibular, vocês estão aqui, conseguiram e agora são universitários/as. Estão dentro da universidade, mais especificamente da UNESP. Parabéns uma etapa foi vencida!

A aprovação no vestibular significa mais do que entrar na universidade, para muitos/as, isso significa romper com alguns laços, sair de casa, mudar de cidade, adaptações, festas, diversão, euforia, enfim vários acontecimentos e transformações que ocorrerão na vida de cada um/a de vocês. No entanto a vida universitária não deve se resumir a isso.

Não se esqueçam da responsabilidade de estar em uma universidade, pois, vocês agora fazem parte de uma pequena parcela da sociedade que tem a possibilidade de cursar o ensino superior, e mais em uma universidade pública. Diante disso é fundamental questionar qual o papel social da universidade, a quem ela serve e a quem ela deve servir, e qual é o papel que cada estudante deve desempenhar, aqui dentro e para além dos muros da universidade.

A Universidade vem sofrendo diversos ataques do governo, para que cada vez mais, o conhecimento produzido nela tenha como ideologia sustentar o sistema de dominação. Porém vocês acabam de entrar na Universidade em um momento, no qual manifestantes, no mundo todo, se levantam contra os que dominam, e os que oprimem. Desde trabalhadores/as que se levantam contra os ataques dos patrões até estudantes contra o governo, e seus ataques à educação.

Um bom exemplo a ser destacado, é o levante d@s estudantes italianos/as. O movimento estudantil italiano vem lutando desde outubro do ano passado, contra os ataques à educação do governo direitista de Berlusconi. Os/as estudantes italianos/as frente aos ataques (corte de 86.000 empregos, entre professores/as e pessoal não-docente, assim como a diminuição de 8 bilhões de euros em gastos com educação) ocuparam universidades, bloquearam ruas, fizeram greves e levantaram bandeiras anti-sistema como “Não pagaremos pela sua crise” e “O operário também quer que seu filho seja um doutor: Universidade para todos”. Os/as estudantes italianos/as avançam numa aliança com os/as trabalhadores/as, e a eles/as se unem estudantes do mundo todo.

A Aliança entre estudantes e trabalhadores/as é fundamental, pois somente na união com a única classe capaz de emancipar a si mesmo e a assim o resto da sociedade, é possível uma transformação profunda da Universidade, somente os trabalhadores/as podem derrubar o sistema opressor. Portanto, apesar da força do movimento estudantil, ele não é capaz, isoladamente, de conquistar transformações profundas na Universidade, porém, a história nos mostra que a força do movimento estudantil se potencializa quando se une aos trabalhadores/as.

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Além do mais não existe nenhuma classe, mais interessada em lutar pelo acesso público a universidade, do que a classe operária, porém, eles não irão defender uma universidade que forme gerentes desse sistema de opressão, mas estariam dispostos a defender o acesso de profissionais e intelectuais que sirvam a maioria do povo, e aos trabalhadores/as.

E vocês vão fazer o que? Se adaptar a uma universidade, na qual o conhecimento produzido sirva como meio de sustentar o sistema de dominação e opressão, ou lutar por uma UNIVERSIDADE PÚBLICA, LAICA E GRATUITA À SERVIÇO DOS TRABALHADORES/AS E DO POVO?

Ariane Mendonça – Estudante de Ciências Sociais

Militante do Movimento A Plenos Pulmões

Em poucos meses tudo parece mudar no mundo, a “imbatível” economia americana entra em crise, a teoria neoliberal mostrou sua inutilidade, incapaz de prever a crise esses que sempre propagaram que o estado não deveria intervir na economia agora imploram a ajuda do estado, a crise se espalhou pela Europa e Japão, e contrariando os “intelectuais otimistas” do capitalismo atingiu os “países emergentes” como China, Índia e... Brasil, para espanto daqueles que, assim como o presidente Lula, diziam que estávamos blindados à crise.

A crise mostrou que o capitalismo, longe de ser “o fim da historia”, é débil e incapaz de manter sua estabilidade, mostrou a falsidade de todas as teorias dominantes na universidade, chegando mesmo ao ponto de um dos principais especialistas da burguesia em economia afirmar no Fórum Econômico Mundial que “Todos sabemos que nada sabemos”1.

Mas será que nada sabemos ?

As teorias burguesas foram para o buraco, nem mesmo o mar de tinta derramada por seus intelectuais foi capaz de prever minimamente a crise que se avizinhava, em oposição a isso, a teoria marxista, por décadas, marginalizada e caluniada nas universidades do mundo, mostrou sua validade contemporânea, mostrou que é não só uma teoria atual, mas a única capaz de responder a realidade em que vivemos, é por isso que dizemos: é mentira que nada sabemos!

1 Martin Wolf, principal colunista do Financial Times

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O que é essa Crise Econômica Mundial ?

Segundo o marxismo, no capitalismo toda a produção é voltada ao lucro, assim o que motiva o capitalista a investir é a taxa de lucro, se a taxa de lucro sobe significa que é um bom negócio, conseqüentemente, outros capitalistas vão se apresar em também investir nele, nisso reside uma contradição estrutural, pois a grande quantidade de capitalistas investindo num mesmo negócio faz com que a taxa de lucro caia, até atingir limites insustentáveis, e a economia como um todo breca.

Calma, vamos explicar: O capital investido pelo capitalista se divide em duas partes, o capital constante, que diz respeito ao investimento direto no capital, como máquinas, tecnologia, matéria prima etc. E o capital variável, que diz respeito à manutenção da vida de quem produz a mercadoria, ou seja, o salário dos trabalhadores.

Pois bem, o capital variável é a fonte de todo o lucro, o capitalista paga ao trabalhador o valor necessário a reprodução da sua vida, garantindo assim que tenha sempre mão de obra à disposição, o excedente usurpado do trabalhador é chamado de mais-valia.

Já o capital constante é incapaz de produzir lucro, ele apenas maximiza o trabalho dos trabalhadores, assim uma mesma mercadoria pode ser produzida por menos trabalhadores em menor tempo, dessa forma o capitalista adquire uma vantagem momentânea sobre seus concorrentes, pois os salários dos trabalhadores pouco, ou nada, se altera, aumentando assim a taxa de mais-valia, no entanto esse aumento é limitado ao tempo que os demais capitalistas do mesmo ramo vão demorar para incorporar os novos métodos.

Para se igualar aos outros capitalistas, garantindo assim a “competitividade”, o capitalista é empurrado a investir mais em capital constate do que em capital variável, como a mais-valia é extraída do capital variável, essa relação em cadeia leva a queda da taxa de lucro, em resumo essa é a lei da queda tendencial da taxa de lucro.

Para manter sua taxa de lucro o capitalista ataca os trabalhadores, seja através de diminuição de salário, de aumento das horas de trabalho, ou retirada de benefícios, explorando o máximo possível.

Mas mesmo levando os trabalhadores a miséria, o capitalismo encontra limites, pois o mercado é limitado, e grande parte dele é composto por esses mesmos trabalhadores, que ao terem seus salários reduzidos ou serem demitidos, limitam ainda mais o mercado. Assim a mercadoria não é vendida, o processo não se completa e conseqüentemente a taxa de lucro cai, perdendo sua função capitalista, dai que fabricas com capacidade de produzir fecham as portas, e massas de trabalhadores se encontram sujeitas a fome, é por isso que afirmamos que no capitalismo a produção de mercadorias está a serviço da lucratividade e não da necessidade humana.

A crise atual, a grosso modo, pode ser resumida assim, ao não encontrarem uma taxa de lucro vantajosa na economia real, grande parte dos capitalistas encontraram no capital financeiro uma forma de lucratividade aparentemente ilimitada, dessa forma aumentaram a lucratividade das ações por meios artificiais, a especulação, extrapolando o limite do patrimônio real das empresas, só para se ter uma idéia o valor do mercado financeiro representa hoje quatro vezes o valor do PIB mundial, no entanto apesar das ações poderem se valorizar de forma virtual, elas são diretamente baseadas na economia real.

Essa valorização da economia virtual se transformou em credito com baixos juros para as classes médias, principalmente nos E.U.A., esse movimento garantiu a lucratividade do mercado financeiro até o ano passado, quando as bolhas estouraram e os capitalistas se viram em uma situação tal que para não falirem necessitariam muito mais do que existe disponível na economia mundial.

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O que é a Mais-Valia ???

Os governos e a Crise Econômica.

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Quanto mais a crise econômica se desenvolve, mais clara vai ficando a verdadeira função do Estado, se os intelectuais da burguesia, desde os clássicos aos atuais, de uma maneira ou de outra, sempre tentaram nos convencer de que o Estado era a mediação necessária para garantir o interesse de todos, o medo da falência vai “derrubando as mascaras” e a explicação marxista mais uma vez se reafirma, ou seja, a explicação de que o Estado é o braço armado que serve a opressão de uma classe sobre outra, assim no capitalismo o Estado nada mais é que uma associação para cuidar dos negócios da burguesia.

Em alguns meses de crise os governos do mundo inteiro investiram montanhas de dinheiro para tentar evitar a falência de diversos grandes capitalistas, dinheiro esse que os governos sempre alegaram não existir quando se tratava de investir em saúde, educação, ou mesmo combater a fome. Só para se ter uma idéia, no Brasil, o governo Lula já destinou de diversas maneiras mais de 300 bilhões para salvar os capitalistas, enquanto para os desastres das enchentes destinou apenas 1,6 bilhões, e para o combate a dengue em 2009 míseros 1,1 bilhões.

A crise é de quem ?Como vimos acima essa crise não é inesperada, ela é intrinsecamente ligada ao

modo de produção atual, o capitalismo!!! Sendo mais direto, essa crise é resultado da anarquia capitalista e da sede de lucro da burguesia, mas sendo a crise da burguesia quem vai pagar por ela?

No capitalismo a divisão é clara: Privatização dos lucros, mas sociabilização dos prejuízos, durante décadas a burguesia lucrou muito dinheiro, mas agora não se predispõem a arcar com os prejuízos da crise que ela mesma criou, passando às costas dos trabalhadores, do povo pobre e da juventude a conta da crise.

A burguesia tem diversos métodos para socializar os prejuízos, demissões, diminuição da jornada de trabalhos com diminuição dos salários, inflação, precarização da saúde e da educação etc. E todos esses métodos serão usados contra os trabalhadores, o povo pobre e a juventude, a não ser que os trabalhadores, o povo pobre e a juventude a empeçam através de lutas unificadas e abnegadas.

No Brasil já foram milhares de demissões, e já começaram a surgir resistências, ainda que poucas, porem importantes, como a dos trabalhadores da GM de São José dos Campos, que hoje levantam uma luta contra as demissões, mas para poderem ser vitoriosos os trabalhadores necessitam de um programa claro de luta, capaz de unificar todos os trabalhadores (empregados, desempregados e terceirizados), que levante as bandeiras do conjunto do povo oprimido, para isso é importante que os trabalhadores se preparem para construir um encontro regional e nacional, de todos aqueles que se disponham a enfrentar os ataques da patronal para fortalecer a organização dos setores combativos, frente à burocracia das centrais sindicais.

Qual a saída para a Crise Econômica Mundial ?Há algum tempo os setores mais “otimistas” (ou talvez devêssemos dizer

lunáticos!) da burguesia já assimilaram que não se trata de uma “crise passageira” e muito menos de uma crise como outra qualquer, diversos analistas da burguesia

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chegam a comparar essa crise com a de 1929, chegando inclusive a conclusão de que essa crise é mais profunda que a vivenciada no passado, mas nenhum deles explica as conseqüências dessa comparação!

Oras, a crise de 1929 gerou a Segunda Guerra Mundial, assim como gerou também o Nazismo pela direita e as Revoluções Espanhola e Francesa pela esquerda, quais as conseqüências dessa crise se considerarmos que ela tende a ser mais profunda que a crise de 1929 ?

Essa pergunta não encontra uma resposta acabada, pois vai depender de que classe vai dar uma saída à crise:

A burguesia só tem uma saída para a crise, à destruição das forças produtivas. Vamos explicar, a crise destrói as forças produtivas, seja através de fechamento massivo de fabricas ou mesmo sua destruição física, por meio de guerras de rapina (como as duas guerras mundiais), isso abre espaço para novos investimentos seja conquistando mercados emergentes ou reconstruindo antigos mercados devastados, dessa forma re-equilibra o capitalismo, até que ele gere outras crises.

Mas existe outra saída, as crises também aumentam o antagonismo entre Capital e Trabalho, em outras palavras acirram a luta de classes entre os burgueses capitalistas e os trabalhadores, principalmente nas colônias e semi-colônias, assim se os trabalhadores, arrastando atrás de si o povo pobre e a juventude, tomam as rédeas da situação, primeiro em seu próprio país e depois no mundo, então podemos vislumbrar um novo sistema que rompa esse ciclo vicioso, um sistema que coloca a produção a serviço das necessidades humanas e não mais do lucro, um sistema capaz de extinguir de uma vez por todas o antagonismo de classes, que acabe com a miséria da vida que nos impõem o capitalismo, e liberte toda a potencialidade humana, oras esse sistema tem um só nome, é Socialismo.

Os estudantes são um setor heterogêneo, que provem de todas as classes sociais, ao mesmo tempo que, em sua maioria, não é ligada a nenhuma, pois ocupa um espaço preparatório no mundo do trabalho, esse elemento leva os estudantes a terem que escolher entre as duas classes fundamentais: A Burguesia ou o Proletariado.

E você calouro de que lado vai estar ??? Du – Estudante de Ciências Sociais

Militante da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões

Um olhar sobre a universidade brasileira

INTRODUÇÃO

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Entrar na universidade pública no Brasil não é fácil. Segundo dados do governo, sequer 1% da população tem acesso a esse “privilégio”2! Desde a ditadura, a resposta dos governos a este elitismo tem sido a expansão do ensino privado; enquanto às públicas, combina-se uma política de sucateamento de áreas “menos lucrativas”, voltadas a formação de mão-obra especializada, e uma privatização da produção de conhecimento a serviço de grandes empresários.

A EXPANSÃO PRIVATISTA DO ENSINO SUPERIOR BRASILEIRO

A partir da Reforma Universitária da ditadura3 tem início um período de crescimento das instituições particulares, que durou até o ano passado; com seu auge na segunda metade da década de ’90, com a “reforma” de FHC, passa a financiar com verba pública (BNDES) a expansão do sistema privado. No entanto, sua expansão anárquica leva a uma sobra de vagas que dá origem a uma crise orçamentária dessas instituições, ainda no final do governo FHC. Acontece que num país semi-colonial como o Brasil, a maioria da população não pode pagar as caras mensalidades, o que leva ao alto grau de inadimplência e ao expressivo número de vagas ociosas. Para remendar esta crise, FHC passa a financiar as mensalidades através de um financiamento estudantil (FIES). Em vez de financiar a educação pública, financia as particulares cobrando o empréstimo do estudante ao final do curso.

Este “remendo” se mostrou insuficiente no governo Lula, que para prevenir a quebradeira do sistema particular cria o PROUNI, em que dá um número pequeno de bolsas a estudantes pobres (sendo que a maioria não são integrais, sendo na maioria bolsas de 25 a 50%), a maioria em faculdades de baixa qualidade nos cursos em que as vagas já estavam sobrando; isto, com abatimento fiscal, acaba significando o repasse de verbas públicas às universidades privadas! O governo, para fazer grandes ataques à educação, usa muita demagogia para dialogar com a população que anseia entrar na Universidade. Não fosse suficiente este “band-aid” no arranhão (em que tudo indica tornar-se-á uma gangrena, com o desenvolver da crise econômica), o governo ainda isentou as instituições particulares de pagar suas dívidas contraídas com o BNDES (elas sequer conseguem pagar os custos de sua expansão).

Para se ter uma noção do descalabro “Ensino superior teve 50% das vagas ociosas em 2007”4. Sobram vagas inclusive entre as contempladas com bolsas pelo PROUNI, principalmente entre as bolsas parciais. Mas se mesmo com os incentivos do governo sobram vagas, e milhares de estudantes ficam fora do ensino superior público graças ao funil do vestibular das públicas, por que não garantir acesso gratuito a essas vagas? Se os capitalistas da educação sequer podem arcar com os custos de sua expansão anárquica, por que não estatizá-las para garantir

2 Somente 12% dos jovens entre 18 e 24 anos tem acesso a esse nível de ensino; sendo somente 25% das vagas em instituições públicas. (Dados do site do MEC - REUNI)3 Reforma MEC-USAID: Nome dado ao acordo firmado entre o Ministério da Educação Brasileira e a Agência Internacional de Desenvolvimento dos Estados Unidos (USAID) para a reformulação do da educação brasileira. Esta reforma retira matérias do ensino fundamental e médio como filosofia, latim e educação política, reduz-se a carga horária de história e implementa-se como obrigatório o ensino da língua inglesa (uma das exigências do governo dos EUA). Nas universidades o acordo reformula a universidade formando a estrutura universitária que temos hoje, baseada em departamentos, dividida em graduação e pós-gradução e colocando a necessidade de se abrir a educação para a iniciativa privada.4 Dados do Censo de Educação Superior feito pelo INEP/MEC.

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educação pública para todos? O interesse privado de meia dúzia de capitalistas da educação deve prevalecer sobre os milhões que ficam de fora do funil do vestibular das públicas, sendo sustentados por estes milhões através de seus impostos? Qual a perspectiva que se coloca frente a atual crise econômica mundial que começa a atingir o Brasil? Será que os milhares de demitidos por todo o país e os trabalhadores que estão tendo seus salários reduzidos vão continuar a sustentar as 50% das vagas não-ociosas?

O ENSINO SUPERIOR PÚBLICO BRASILEIRO...No entanto, uma diferença entre os governos estaduais em relação ao federal,

é que este último efetivou uma tímida expansão de vagas. O Plano de “Reestruturação e Expansão das Universidades Federais” (REUNI) combinou ataques a qualidade de ensino (através da reestruturação) com uma concessão através de uma pequena expansão de vagas5. Este crescimento permite o governo dialogar com amplos setores da população que almejam entrar na Universidade, mascarando os outros ataques por trás da bandeira de democratização do acesso. Isto porque no projeto coloca-se a necessidade de uma reformulação das instituições federais no sentido de colocar a produção de conhecimento e formação técnica ainda mais a serviço do grande capital; esta é a combinação perfeita do REUNI: por um lado ataca a qualidade de ensino6, isolando os que se opõem a estas medidas, com um discurso supostamente anti-elitista.

Para aplicar seu projeto de Reforma Universitária, o governo Lula conta com o apoio da União Nacional dos Estudantes7 (UNE), que fez coro com o governo se colocando contra as ocupações de reitorias de 2007, taxando o movimento estudantil de elitista e chegando ao cúmulo de defender os Conselhos Universitários (órgãos decisórios da universidade na qual nem estudantes nem funcionários têm poder efetivo): “São pessoas que questionam a ampliação de vagas e tentam, de forma autoritária, impedir a deliberação dos conselhos universitários. É uma postura conservadora, de quem já tem uma vaga assegurada e não quer discutir a necessária ampliação da universidade pública no Brasil”8. Vale lembrar que a UNE defendeu as Reitorias e sua estrutura administrativa poucos meses depois dos escândalos de corrupção envolvendo os reitores das universidades federais, como a UnB e a Unifesp.

Em resumo, a política dos governos FHC à Lula tem sido investimento público na universidade privada e abertura para investimento privado na universidade pública. Esta aparente contradição se explica justamente pelo caráter burguês de

5 Deve-se considerar ainda que apesar da concessão do aumento de vagas do REUNI, a proporção entre cursos noturnos, que podem ser pouco mais acessível aos trabalhadores apesar do funil do vestibular, e diurnos é a pior de todas.6 Esta expansão tem se dado sem a correspondente no aumento das verbas para a educação. Para se ter uma noção, o governo Lula criou pouco mais de 500 mil vagas com praticamente metade do orçamento da UNESP que tem cerca de 46 mil alunos; uma expansão que acaba levando a um sucateamento do ensino.7 Entidade que há cerca de duas décadas é dirigida pela UJS (União da Juventude Socialista), juventude ligada ao PCdoB (Partido Comunista do Brasil) que compõe a base do governo Lula. A passagem da UNE da “oposição” ao governo com a eleição de Lula levou um setor de estudantes a romper com esta, buscando se organizar em instrumentos de caráter antigovernista como a Coordenação Nacional de Lutas Estudantis (CONLUTE) e a Frente de Luta Contra a Reforma Universitária (FLCRU).8 Discurso de Lúcia Stumpf, atual presidente da UNE.

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sua política: salva os capitalistas da educação privada e colocar a produção de conhecimento da universidade pública a serviço dos empresários.

… EM SÃO PAULO... E NA UNESP

A maioria dos governos estaduais não apresentou um projeto de expansão de vagas, tendo em alguns casos feito a redução destas. O estado de São Paulo foi o único lugar onde houve uma expansão, similar a do governo federal. Aqui também a expansão ocorreu sem o aumento do repasse de verbas: a UNESP abriu 8 novos campi entre 2000-2004 e muitos cursos nas unidades já existentes, sem nenhum aumento das verbas; não à toa, faltam professores e funcionários. Na FATEC a expansão foi ainda mais “sucateadora”. Na USP e UNICAMP, embora não com a mesma intensidade, também foram criados novos cursos.

De uma outra maneira, aqui também se aplica uma “reestruturação” das universidades estaduais. A primeira tentativa ocorreu através da publicação de uma série de decretos pelo governador José Serra no início de 2007, que atacavam a autonomia de gestão financeira da universidade, aumentavam o controle do governo sobre estas instituições, passavam a direcionar a pesquisa privilegiando as chamadas “pesquisas operacionais”9 e uma série de outras medidas. No entanto, o ressurgimento do movimento estudantil com a ocupação da reitoria da USP seguida de uma dezena de outras ocupações na UNESP e UNICAMP somada a uma forte greve, obrigou o governador José Serra a recuar em seus ataques reformulando seus decretos originais.

No entanto, no final de 2008 o governo retoma a tentativa de aplicar seus ataques com o apoio das reitorias e do movimento estudantil, já então desgastado. Um dos resultados disso é a criação da Universidade Virtual do Estado de São Paulo (UNIVESP), que apesar do nome, trata-se de um programa e não efetivamente de universidade. A criação de milhares de vagas virtuais através do Ensino a Distância (EaD)10 é um dos maiores ataques a educação pública brasileira. Somente na UNESP, a última reunião do Conselho Universitário de 2008 aprovou a proposta feita pela reitoria e pelo governador do estado de São Paulo sobre a criação de cinco mil vagas a distância do curso de Pedagogia, mesmo com a maioria dos representantes dos cursos de Pedagogia da UNESP se posicionando contra as medidas (de 6 cursos, 5 se opuseram), e sem permitir que os estudantes votassem. Enquanto isso, na maioria dos campi falta professores contratados (só em Marília, falta cerca de 1/3 do quadro de professores). Serão criadas ainda mais 700 vagas em Biologia e 900 em Ciências, a cargo da USP. A perspectiva é ainda de ampliar os cursos na modalidade a distância, englobando outras licenciaturas, como matemática, física, química, língua portuguesa, ciências sociais e filosofia (por acaso, três destes cursos são oferecidos nesta unidade, por enquanto ainda de forma presencial). E isto é só o começo.

No entanto, diferentemente dos decretos de Serra colocados “goela abaixo”, a UNIVESP segue o caminho de Lula “recheando” o ataque com demagogia, dizendo ser: primeiro, uma forma de combate a pobreza, pois maior qualificação

9 Pesquisas que fornecem tecnologia às grandes empresas podendo aumentar sua produção diminuindo seus custos com mão de obra, aumentando a exploração dos trabalhadores e levando a não necessidade de novas contratações ou diretamente a demissões.10 A UNE também tem se colocado nacionalmente a favor do Ensino a distância através da defesa da Universidade Aberta do Brasil e da inclusão "somente" do ensino profissionalizante, de requalificação profissional e formação continuada da modalidade à distância"

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educacional aumentaria o nível de renda familiar (o que frente às milhares de demissões devido à crise econômica fica parecendo uma declaração sarcástica); e segundo, uma forma de solucionar a falta de professores no ensino fundamental e médio.

A reitoria da UNESP pretende apoiar esta política em acordo com o governo do Estado com a aprovação do Projeto de Desenvolvimento Institucional (PDI); um documento que coloca a perspectiva de reestruturação de toda a universidade no curso dos próximos 10 anos. Este projeto, ainda não aprovado, conta com três eixos fundamentais: a abertura oficial da universidade ao mercado (financiamento privado); a flexibilização da estrutura acadêmica (diminuição do período de formação do aluno) e administrativa; e abertura ao Ensino a Distância (que já vem sendo aplicado antes mesmo de sua aprovação).

ALTERNATIVAS?

Este processo de reforma universitária tenta responder alguns problemas, como a demanda por vagas no ensino superior público, a função social da universidade, entre outros. Acontece que em uma sociedade divida em classes com interesses opostos, o governo e as reitorias respondem de acordo com os interesses de seu grupo social (a classe dos proprietários), por isso colocam a produção acadêmica a serviço dos grandes empresários (seja para formar-lhes a mão de obra qualificada necessária ou para suas necessidades de avanços tecnológicos), por isso se preocupam em salvar as instituições privadas de ensino.

Aos estudantes (que são um grupo heterogêneo, oriundo de diversas classes sociais) cabe escolher entre estas perspectivas, se irão apoiar grandes empresários e seus aliados (governo e reitorias) ou ao lado da grande massa da população que só tem a sua força de trabalho para garantir seu sustento. Os que preferem a segunda alternativa questionam o fato das universidades pesquisarem para atender aos lucros em vez de buscar resolver demandas fundamentais, como a solução para o problema da dengue. São investidos bilhões em projetos para a formulação de cosméticos, enquanto vemos anualmente epidemias de dengue em lugares como o Rio de Janeiro. Por isso, propomos que a atual universidade que atua para a manutenção da classe dominante (burguesa) se coloque a serviço dos trabalhadores. Os que escolhem(os) a segunda alternativa, questionam(os) o envio de verba pública aos empresários da educação, e propomos o contrário, que se estes capitalistas não conseguem sustentar suas empresas-faculdades, que estas sejam estatizadas para garantir educação pública gratuita e de qualidade a toda a população. Partindo disto, questionamos o vestibular, que exclui anualmente milhões de estudantes do acesso à educação.

E você, calouro? De que lado você samba?

Felipe Luiz (Guma) - Estudante de Filosofia.

Delegado da Unesp/Marília do DCE

Del – Estudante de Ciências Sociais

Militante da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões

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A Universidade a serviço da Maioria

Atualmente @s estudantes oriund@s das fileiras da classe trabalhadora são ínfima minoria nas Universidades Públicas brasileiras. Comparando entre as Estaduais Paulistas, sabe-se que atualmente a UNESP é onde mais adentram estudantes de escolas públicas, porém o número ainda é muito pequeno, hoje cerca de 14 %.

Isso nos leva a concluir que as Universidades Públicas brasileiras estão a serviço dos “ricos” e “poderosos”, e não dos trabalhadores/as. Ora, pensando nos objetivos e na clientela da Universidade Pública podemos entender o por quê do descaso do Estado e das Reitorias com as Políticas de Permanecia Estudantil. As Universidades Públicas estão comprometidas com os interesses da Classe Possuidoras, que objetivam investir o mínimo possível nas Políticas de Permanecia. Busca-se, sobretudo, aumentar os lucros dos ricos.

Não é de se espantar que a primeira verba a ser reduzida, e por vezes cortada, nas políticas de contenção de gastos da Universidade, é sempre as de Políticas de Permanência Estudantil. Também é possível uma compreensão do por quê as bolsas de critério sócio-econômico são em número insuficiente, e ainda o por quê estas são sempre as últimas a serem ajustadas (vide o caso da Bolsa BAAE que não alcança sequer a cifra de meio salário mínimo). Trata-se de expulsar os pobres da Universidade Pública, esta, ao invés de atender a maior parcela da população brasileira, deve ser um playground dos filhos da burguesia com pretensões de erudição e dominação social.

Nessa perspectiva, qualquer Política de Permanência Estudantil, por sua própria existência, acaba sendo sustentada a contragosto da burguesia nacional que é declaradamente anti-políticas sociais. Para a classe dominante brasileira, os pobres (despossuídos dos meios de produção) não deveriam nem estar como usuários destas instituições. Infelizmente, tal perspectiva não fica “do lado de fora dos muros da Universidade”, pois também dentro desta é perceptível o estigma em relação aos estudantes oriundos da classe trabalhadora, tanto por estudantes (que sustentam opiniões da classe dominante), como por determinad@s professores/as, que na maior parte das vezes são herdeiros e continuadores da forma de ser e pensar desta mesma burguesia.

Cabe destacar ainda, que é equivocada a perspectiva que encara as Políticas de Permanência Estudantil como dádivas do Estado ou das classes dominantes ou meramente com assistencialista, pois se a Universidade é financiada com impostos de toda população, é necessário pensar formas de assegurar que todos realmente possam ter acesso a ela, e ainda que possa manter-se na Universidade durante o tempo necessário para sua formação. Nesse sentido, as Políticas de Permanência Estudantil seriam, antes de tudo, elementos para garantir que a formação

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Universitária possa realmente estar ao alcance de todos os interessados (que compulsoriamente a financiam).

Conhecendo algumas das metas e objetivos da atual Universidade, evidencia-se que para consolidar realmente as Políticas de Permanência Estudantil, @s estudantes oriund@s da classe trabalhadora devem se manter sempre organizados e em alerta constante, para assim evitar retrocessos políticos e retirada de conquistas, que ocasionam a precarização das condições de estudo.

A Universidade Pública está de ponta-cabeça

É necessária a defesa intransigente das Políticas de Permanência Estudantil. No entanto, a luta não pára por ai. É necessária a organização constante e contínua d@s estudantes para que se coloque as Universidades a serviço da maioria da sociedade. A mobilização é por uma Revolução Permanente que abra os portões da universidade para os pobres e trabalhadores/as.

A Universidade Pública está de ponta-cabeça, a maioria da população é quem a financia, porém é uma minoria rica que usufrui destas instituições. Os pobres que querem cursar uma universidade, muitas vezes se vêem obrigados a ingressar em Universidades Privadas, e com isso pagam duas vezes. Os trabalhadores que ingressam na Universidade, mesmo sendo depossuidos de riquezas e de meios de produção, pagam os impostos para financiar as Universidades Públicas e ainda pagam mensalidades nas Universidades Particulares. Os ricos além de usufruírem uma série de facilidades sociais e políticas, por conta de sua posição de comando na sociedade capitalista multinacional, ainda adentram nas Universidades Públicas que são pagas com o dinheiro e o trabalho dos pobres! Considerando que estes compõem a maioria da sociedade.

Mas então o que queremos? Queremos que a maioria da população possa ter acesso à educação Pública,

Gratuita e de Qualidade. Queremos as universidades combatendo as injustiças sociais, posicionando-se contra a exploração. Apoiando as demandas dos trabalhadores rurais e urbanos, da população pobre, negra, indígena e quilombola. Queremos as Universidades compondo uma frente ampla revolucionária com o Movimento Feminista Revolucionário, com os elementos mais radicais do movimento GLBTT (Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais) numa frente radical-propositiva que combata as Opressões, a Violência a Homofonia, o Latifúndio, a Burguesia, o Patronato e os Ricos. Por não queremos sustentar tradições embalsamadas, não podemos nos permitir nenhum minuto de descontração, por isso reivindicamos a Revolução Permanente!

É um momento histórico novo em que se faz necessário unificar forças combativas da sociedade contra a ordem vigente. O sujeito coletivo da ação revolucionária não existe a priori, pelo contrário, ele deve ser construído. Necessitamos construir um núcleo de ação coletiva radical, um sujeito total, a partir dos despossuídos de meios de produção (o proletariado). Falta-nos ainda constituir

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um núcleo organizado com cadeias radicais a partir das diversas demandas dos trabalhadores pobres. Trabalhadores anticapitalistas, antiburguês, antipatronal, e que se opunha ferreamente aos ricos.

Alessandro de Moura (Galo Vermelho) –

Estudante de Ciências Sociais

70% - 15% - 15%Até quando deixaremos que decidam por nós?

A estrutura acima, infelizmente, é bastante conhecida dentro da universidade, não só na FFC, mas em um grande número das universidades públicas espalhadas pelo país. Ela diz respeito à estrutura de representação da instituição, e é também conhecida como estrutura de poder e, como veremos adiante, é um dos maiores exemplos dos limites democráticos que assolam o ensino superior brasileiro. A universidade é divida em três setores: professores/as, funcionári@s e estudantes. A proporção de 70%15%15% é referente ao peso que é dado aos diferentes setores nas eleições para a direção do campus e para a escolha do reitor, assim como estabelece a representação nos órgãos colegiados (Congregação, Conselho Universitário, etc). Os professores/as ficam com a parcela mais gorda da representação 70%, enquanto funcionári@s e estudantes possuem 15% cada. Está proporção diferenciada entre os setores foi estabelecida em 1996 com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), restringindo a democracia ao enfatizar que “em qualquer caso, os docentes ocuparão setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e comissão, inclusive nas que tratarem da elaboração e modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha de dirigentes” (artigo 56, parágrafo único). No caso da escolha do reitor, a abertura das urnas, sempre seguindo a proporção estabelecida pela LDB, nada mais é do que uma consulta á comunidade acadêmica. Na realidade quem dá a palavra final sobre quem será o novo reitor é o Governador do Estado, escolhendo o candidato de sua preferência numa lista tríplice formulada pelo colégio eleitoral. A tradição “democrática” é de que o governador nomeie reitor o candidato vencedor da consulta à comunidade acadêmica, mas nada o impede de fazer o contrário.

Para tentar explicitar melhor como funciona essa estrutura de representação talvez seja bastante didático nos retermos ao último processo eleitoral ocorrido aqui na FFC. No segundo semestre de 2008, foram realizadas eleições para escolha da nova direção de nossa unidade. Na ocasião, a Prof.ª Mariângela Fujita e o Prof.º Heraldo foram eleitos diretora e vice-diretor para um mandato válido nos próximos quatro anos. Entre @s professores/as a chapa vitoriosa teve 84 votos, já a chapa derrotada, formada pelo Profº José Carlos e Profº Paulo Cunha, obteve 53. Porém

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entre os funcionári@s, de um total de 153 servidores, 117, mais de 75%, optaram pelo Profº José Carlos para diretor. Entre os estudantes, de 1300 votantes, aproximadamente 750, mais da metade, votaram na chapa que saiu do pleito derrotada. Se as eleições tivessem sido regidas pelo sufrágio universal, mesmo modelo representativo que é usado na maioria dos países para a escolha dos cargos executivos e legislativos, o Profº José Carlos teria sido eleito com um total de 915 votos contra apenas 673 votos da atual diretora. Já no caso das eleições serem paritárias, ou seja, cada setor possuir 1/3 de peso nos votos, a Profª Mariângela também sairia derrotada por 57% contra 42%.

A partir desses números nos fica claro o caráter antidemocrático da estrutura de poder de nossa universidade. A vontade de funcionári@s e estudantes, de longe a grande maioria, simplesmente foi anulada diante dos 70% de representação aos quais têm direito @s professores/as. Após as eleições, como não poderia ser diferente, um grande sentimento de revolta contra o resultado esteve presente, argumentando a falta de legitimidade do processo. Mas logo surgiram aqueles que diziam que nada podia ser feito, pois as regras do jogo já estavam dadas. A pergunta que fica no ar é: Até quando?Os exemplos para mostrar a falta de democracia não faltam. Também em uma

das eleições para direção aqui em nosso campus, já ocorreu de uma das chapas divulgar, antes da abertura das urnas, uma lista com um determinado número de professores/as que declaravam voto na chapa. Esse número, considerando o peso de 70%, era suficiente para ganhar as eleições, não importando em quem o restante d@s professores/as, tod@s os funcionári@s e estudantes votassem.

Apesar do desgaste que esse modelo vem apresentando nos últimos anos, sendo contestado pelas lutas levadas á diante por trabalhadores/as e estudantes, e até mesmo por alguns professores/as, os argumentos para justificá-lo não faltam. Um dos principais argumentos tem suas bases na meritocracia. Segundo ele, @s professores/as e seus inúmeros títulos acadêmicos têm direito à maior parcela de representação já que possuem uma quantidade de conhecimento maior, em outras palavras, porque são mais sábios que funcionári@s e estudantes. Mas, se quando vamos escolher o Presidente da República nosso voto tem o mesmo peso que o de nosso professor doutor por que somos inaptos para escolher o diretor ou o reitor? Como se não bastasse, há os que afirmem que os docentes por permanecer mais tempo na universidade apresentam um maior comprometimento com a instituição, ao contrário d@s estudantes que por aqui ficam quatro ou cinco anos e, portanto, não estariam preocupados com o futuro da mesma. Argumentos como esse último mostram a fragilidade na qual estão baseados, pois, quando paramos para analisar, podemos claramente perceber que apesar d@s estudantes, enquanto indivíduos, permanecerem por um tempo relativamente curto por aqui, formam um corpo que é indissociável a universidade e que sempre estará presente; portanto não podem ficar de fora das decisões sobre o rumo da mesma. Agora quando comparamos a permanência de professores/as e funcionári@s, nos fica ainda mais evidente como esse argumento não possui nenhuma lógica, já que muit@s funcionári@s dedicam décadas de trabalho, em vários casos precarizado, a instituição de ensino e mesmo assim tem direito a apenas 15% de representação.

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Na verdade, por detrás desses argumentos falaciosos usados para legitimar uma estrutura de poder que já está ultrapassada há muito tempo, estão assentados os mecanismos que contribuem para manter a universidade nas mãos de uma minoria privilegiada, também conhecida como burocracia acadêmica. Estes contribuem e lutam para manter a universidade como está ou para realizar as mudanças que agradam aos interesses da classe exploradora, como podemos observar através do REUNI, DECRETOS SERRA, PDI, UNIVESP, etc.

È comum ouvir da boca de muit@s professores/as e dos próprios burocratas que concordam que essa estrutura é ultrapassada e que mudá-la é apenas uma questão de tempo. Ao ouvi-los a impressão que fica é de que o 70%15%15% permanece até hoje apenas por um mero acaso, uma questão de esquecimento ou falta de tempo para mudar a legislação. O que os hipócritas não dizem é que se essa estrutura arcaica sobreviveu até hoje é porque serviu e serve para eles controlarem a universidade dando ao processo uma maquiagem, bem ruim, democrática.

Por isso, se quisermos arrancar o conhecimento produzido na universidade das garras gananciosas dos exploradores e colocá-lo a serviço das demandas dos trabalhadores/as e do povo pobre, que hoje passam longe das portas da universidade pública, é essencial que mudemos essa forma de representação que privilegia uma ínfima parcela em detrimento da grande maioria.

As AlternativasQuando acompanhamos o histórico de lutas d@s trabalhadores/as das

instituições de ensino e do movimento estudantil percebemos que duas principais alternativas para substituir a forma de representação dos 70%15%15% figura entre as pautas de reivindicações. Essas duas alternativas são: a paridade e o sufrágio universal.

No caso de representação paritária, cada setor dentre os três constituintes do regime universitário (professores/as, funcionári@s e estudantes), independentemente do número de membros, possuiria 1/3 (um terço) de peso nos votos para diretor e reitor, e na representação dos órgãos colegiados. Das 43 universidades federais existentes no Brasil, 23 adotam a paridade como forma representativa nas eleições. Mas, como ainda não houve mudança na legislação, o processo ocorre através de um sistema de consulta eleitoral , onde é feita uma pesquisa informal com o conjunto da comunidade acadêmica; as chapas derrotadas após divulgação do resultado da pesquisa se retiram do pleito oficial, ou, em alguns casos, colégio eleitoral envia para o Ministro da Educação uma lista tríplice formada apenas por integrantes da chapa vencedora na consulta. Lembremos que durante as eleições para direção ocorridas aqui na FFC no último ano essa proposta chegou a ser feita por um estudante em um dos debates, mas a chapa da atual diretora não aceitou acatar o resultado da pesquisa alegando estar em desacordo com as “regras do jogo”; atitude que mostra a falta de comprometimento com a democracia do processo eleitoral. Talvez não seja um fato conhecido por todos, mas aqui mesmo na Unesp já tivemos eleições paritárias, elas existiram até 1997, ano em que a LDB entrou em vigor, e quando o então reitor Antônio Manuel se apressou em alterar a regra para “adequar a universidade à nova lei”.

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Apesar do enorme avanço que significaria uma estrutura universitária pautada pela paridade, não podemos esquecer que mesmo nesse caso a desigualdade entre os três setores ainda prevaleceria. Mesmo sendo em número reduzido em relação a funcionári@s e principalmente em relação aos estudantes, professores/as teriam direto a representação de igual peso. Mais uma vez estaríamos considerando que os docentes possuem algum tipo de privilégio, ou até mesmo alguma forma de superioridade, talvez concedida por força divina, em relação a funcionári@s e estudantes. É por essa razão que muitos defendem o sufrágio universal como forma de representação ideal. O sufrágio universal funciona na lógica de um voto por cabeça, ou seja, uma pessoa um voto; neste caso independeria o setor ao qual o voto pertencesse. Vale lembrar mais uma vez que na escolha de cargos públicos não existe qualquer tipo de diferenciação em relação á atividade que o eleitor exerce na sociedade.

Independente da forma adotada, um fato que é desconhecido de muitos, e que os burocratas procuram esconder, é que a mudança da estrutura representativa dos atuais 70%15%15% para a paridade ou o voto universal depende única e exclusivamente de mudanças no estatuto da universidade. O artigo 254 da Constituição Estadual estabelece que “a autonomia da universidade será exercida, respeitando, nos termos de seu estatuto, a necessária democratização do ensino e a responsabilidade pública da instituição”.

Daniel Bocalini – Estudante de Ciências Sociais

Militante da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões

Algumas reflexões sobre a história do movimento estudantil

A renovação do movimento faz-se pela juventude, livre de toda responsabilidade pelo passado. [...] Apenas o fresco entusiasmo e o espírito ofensivo da juventude podem assegurar os primeiros sucessos na luta; apenas esses sucessos podem fazer voltar ao caminho da revolução os melhores elementos da velha geração. Sempre foi assim. Continuará sendo assim. (TROTSKY, Leon. O Programa de Transição)

Assistimos nestes últimos anos um ressurgir do movimento estudantil em diversos países11. Embora sejam as maiores mobilizações dos últimos 40 anos,

11 Nos últimos meses tivemos a explosiva mobilização dos jovens gregos contra a repressão policial, os jovens italianos contra os ataques de Berlusconi, os espanhóis contra a reforma universitária chamada “Plano Bolonha”. As movimentações dos estudantes franceses em 2006 contra o CPE (Contrato do Primeiro Emprego – Projeto de retirada de direitos trabalhistas, especialmente dos jovens trabalhadores) com métodos radicalizados (greves, piquetes, ocupações, atos de rua) em aliança com os trabalhadores

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ainda estamos politicamente muito longe do “levante internacional da juventude” de 1968. A marca de '68 está no impressionante espírito revolucionário da juventude que não se limita às lutas por condições de ensino, mas se lança contra a ordem mundial firmada em Yalta e Potsdam no pós-guerra de “coexistência pacífica” firmado entre os imperialismos aliados e a burocracia stalinista da URSS12.

Desfazendo um lugar comum na “história” do Maio Francês... e de todo '68

O impacto das mobilizações de '68 leva as classes dominantes a uma política consciente de mistificar estes acontecimentos, numa tentativa de minimizar a importância política do maio francês no contexto do pós-guerra, tratando-o como uma mera “revolução dos costumes” num “devaneio de juventude”. Não faltam matérias de jornal ou filmes sobre os “libertinos”. O que nunca se fala é que o ponto alto do maio foi a irrupção da classe operária em aliança com o movimento estudantil na greve geral mais selvagem da história do ocidente13, colocando a perspectiva da revolução operária e socialista num país central e imperialista como a França!

De qualquer modo, a interpretação mais aceita é que 68 abriu as portas de uma espécie de revolução cultural no Ocidente, na qual se inscreveriam temas como o da sexualidade. Entretanto, dizem Rancière e Zizek que todo mundo esquece que 68 foi uma revolta política. Que ela tenha tido efeitos vagamente culturais nem precisa ser dito, pois toda revolução política tem efeitos culturais. Na França, essa foi marcadamente uma revolta anticapitalista. Os atores centrais não foram os estudantes, mas os operários. (Chico de Oliveira, Estado de SP, 11/05/08 – Grifos nossos)

As mobilizações de '68 são emblemáticas nos dois lados da “cortina de ferro”, desde janeiro com a Primavera de Praga (Tchecoslováquia) e a ofensiva dos Vietcongues que põe os EUA na defensiva; as ocupações de universidades na Espanha e na Itália e a de um consulado americano na Alemanha com grandes

(o movimento chegou a contar com 70% de apoio popular) e a auto-organização (um comando geral de greve com delegados eleitos em cada faculdade para organizar a greve nacionalmente). E o ressurgir do movimento estudantil brasileiro com a ocupação da reitoria da USP em 2007 seguida de uma onda de ocupações e greves por todo o país. Só para citar alguns exemplos.12 Referência aos acordos realizados em Yalta entre os governos da Inglaterra, EUA e URSS que organizam a nova ordem de domínio mundial do pós-guerra em que são decididas as "áreas de influência" de cada um. A partir destes encontros, o stalinismo que há tempos cumpria um papel contra-revolucionário, passa diretamente a defesa da ordem, do status quo mundial entregando processos revolucionários através dos Partidos Comunistas de cada país (como a traição aberta na Grécia, Itália a França desarmando os trabalhadores auxiliando na aplicação do Plano Marshall para a reconstrução capitalista da Europa). Com estes acordos o stalinismo (em coerência com a teoria de socialismo em um país só) se compromete com a manutenção do capitalismo fora de sua “zona de influência”.13 O movimento tem início com o irromper de uma série de greves estudantis em universidades e escolas de Paris. A tentativa do governo em reprimir os

estudantes fez com que os trabalhadores se levantassem em uma greve geral ocupando as fábricas por toda a França, cerca de dez milhões de trabalhadores

aderiram à greve. Infelizmente a traição da Confederação Geral do Trabalho (CGT) dirigida pelo Partido Comunista Francês (PCF) põe fim a greve operária,

permitindo ao governo se recompor e fortalecer nas semanas seguintes.

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manifestações contra a guerra do Vietnã em fevereiro; a morte de Edson Luís e as manifestações contra a ditadura no Brasil, as ações dos Panteras Negras e os protestos anti-guerra nos EUA em Março e Abril; os estudantes nas "noites das barricadas" e as ocupações de fábricas pela classe operária no "Maio Francês"; o massacre da Primavera de Praga pelo exército stalinista em Agosto; as mobilizações dos estudantes mexicanos que culminam no "Massacre de Tlateloco" com a morte de dezenas de manifestantes, a "Batalha da Maria Antônia" em São Paulo com o enfrentamento entre os lutadores da FFLCH/USP e os fascistas do CCC14 do Mackenzie que acaba com a ocupação da primeira pela ditadura militar, o fechamento do Congresso da UNE com a prisão de 700 estudantes em Outubro; o decreto do AI-5 em Dezembro que intensifica a violência da ditadura brasileira. Isso sem contar o levante do proletariado uruguaio, a guerrilha na Bolívia, as greves argentinas que vão levar ao "cordobazo" em maio de 1969, as lutas na Polônia, a marcha de 1200 km (!) de estudantes japoneses contra a guerra do Vietnã e seu próprio governo que levou ao fechamento da Universidade de Tóquio por um ano para frear a movimentação política e a "Comuna de Xangai" na China.

A idéia impressionista da inevitável guerra entre URSS e EUA não se realizou. Ao contrário as mobilizações se deram contra a ordem mundial estabelecida pelos acordos entre EUA e URSS (“ordem de Yalta”). O caráter político das reivindicações e dos posicionamentos (contra a guerra, abaixo a ditadura, anticapitalista, contra a burocracia stalinista) mostra que o movimento estudantil pode ser muito superior à “miséria do possível” 15 dos últimos anos. O alto nível dos debates está marcado pela discussão sobre qual a estratégia para a revolução social, por mais equívocos (e foram vários) que as distintas correntes desta geração possam ter cometido, estas têm o mérito incontestável de terem se colocado a tarefa de responder grandes questões.

Nem tudo é um mar de rosas... Desmistificando o movimento estudantilOu os estudantes se identificam com o destino do seu povo, com ele sofrendo a mesma luta, ou se dissociam de seu povo, e nesse caso, serão aliados daqueles que exploram o povo. (Fernandes, Florestan)

No entanto, a atuação política dos estudantes não é homogênea. Se em '68, estudantes ocupavam a FFLCH/USP desafiando reitoria e ditadura; atravessando a Rua Maria Antônia, no Mackenzie, se organizavam os fascistas do CCC. Isto é, nem sempre os estudantes se colocaram ao lado dos trabalhadores, na perspectiva de transformação da sociedade, muitas vezes estiveram ao lado da ordem e eventualmente até de bandos fascistas16.

14 CCC: Comando de Caça aos Comunistas. Organização de extrema-direita de estudantes brasileiros, responsável pela invasão do Teatro Ruth Escobar e o espancamento do elenco de Roda Viva, atentado à bomba no Teatro Opinião e assassinato de um padre em Recife. São responsáveis pelo famoso “Conflito da Rua Maria Antônia”, rua em que estava a FFLCH/USP de um lado e o MACKENZIE do outro. Do lado da USP encontravam-se os estudantes contrários a ditadura, no Mackenzie alguns estudantes se organizavam para combater os “rebeldes”. O conflito levou a alguns feridos e a morte de uma estudante.15 A idéia de que só é possível a Realpolitk, a política realista, prática, a diplomacia possível, adaptada e subordinada.16 Um exemplo bastante atual pode se colocar o movimento estudantil da Bolívia e da Venezuela que nos embates políticos muitas vezes têm se colocado ao lado do imperialismo ianque.

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Isso porque o papel político dos estudantes se mostra como um amplificador das contradições da sociedade, por não ser uma classe social, com uma composição de setores da burguesia, uma pequena e restrita parcela de trabalhadores e majoritariamente pequeno-burguesa17. No entanto, os jovens podem afastar-se de suas classes de origem, sendo que pela sua própria atividade (exercício intelectual de análise abstrata) acabam mais sensíveis as crises.

Nos estudantes, se reflete com toda potência exatamente como numa caixa de ressonância, os interesses e aspirações sociais gerais das classes de que provém. No curso de toda história – tanto em seus momentos heróicos, como nos períodos de apatia social – os estudantes europeus foram mais do que o barômetro sensível das classes burguesas. Fizeram-se ultra-revolucionários, fraternizaram-se sincera e honestamente com o povo, quando a sociedade burguesa não tinha outra saída senão a revolução. Substituíram de fato a democracia burguesa quando a mesquinharia política desta última não lhe permitiu colocar-se à frente da revolução, como sucedeu em Viena em 1848. Mas os estudantes metralharam os operários em junho do mesmo 1848, em Paris, quando a burguesia e o proletariado se encontravam em lados opostos da barricada. (…) Em todas as metamorfoses históricas, incluindo as mais desagradáveis, os estudantes revelaram sentido político, capacidade de sacrifício e idealismo combativo (…). O conteúdo político desse idealismo vem determinado integralmente pelo gênio da classe da qual procedem os estudantes e à qual retornam. (Trotsky, Leon)

Justamente devido a esta heterogeneidade de classe, o movimento estudantil não pode apresentar uma saída independente para a crise da sociedade, acabando por se aliar as duas classes fundamentais: ou aos trabalhadores ou a burguesia. Neste sentido, segue vigente a afirmação de Florestan, frente à crise econômica mundial: ou os estudantes se aliam aos trabalhadores ou a seus exploradores, qualquer pretensa neutralidade só pode ser útil aos detentores da ordem social.

A história do movimento estudantil brasileiro...Ou esclarecendo mitos sobre a história da UNE

Muitos falam do “glorioso passado da UNE”, não apenas os que estão nela, mas muitos dos que já romperam18. Lembra-se da luta contra a ditadura, do ‘’Petróleo é Nosso’’, das diretas. No entanto, não se lembram do apoio a ditadura de Vargas, da colaboração ao imperialismo estadunidense na II Guerra, do apoio a Jango, da anistia “geral e irrestrita” que salva os torturadores da ditadura.

17 Grosso modo, por burguesia compreende-se a classe proprietária dos meios de produção. Por trabalhadores compreende-se a classe dos que garantem seu sustento unicamente pela venda de sua força de trabalho. Por pequena-burguesia trata-se de uma classe heterogênea na qual incluem-se os pequenos proprietários de terra (camponeses), os pequenos comerciantes, os profissionais liberais; grupos que não precisam vender sua força de trabalho mas que não possuem o capital de um burguês.18 Como o PSTU que chega ao cúmulo de afirmar que a “UNE passou intacta, senão incólume, a uma prova histórica de vinte e cinco anos, (…) até a adesão ao governo Lula” (Arcary, Valério. Dirigente do PSTU). Tratam como se a traição da UNE fosse um passe de mágica e não um processo que veio se acumulando ao longo dos anos e ficou descarado a partir do governo Lula.

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Desde seus primeiros Congressos sua “gloriosa história” já pode ser bastante questionada. Financiados pelo governo Vargas (que é eleito seu presidente de honra), nasce com traços fascistas do Estado Novo: é vedada a participação de mulheres na UNE (sendo que até o Estado Novo já aceitava o voto feminino) e sua política anti-imigrantes afirma faltar eliminar os “quistos étnicos alemães, italianos e nipônicos”, propondo atacar as poucas liberdades democráticas dos imigrantes em nome da “pátria”.

Em plena II Guerra Mundial, a UNE assume a criminosa palavra de ordem de “GUERRA! GUERRA! GUERRA”. Sua principal resolução “a importância de colaboração completa dos estudantes ao esforço bélico da pátria”, fazendo sua primeira caravana para defender a Força Expedicionária Brasileira (FEB), recrutando estudantes e trabalhadores para servir de bucha de canhão do imperialismo ianque na guerra. Financia a compra de três aviões norte-americanos, organizando suas campanhas com o apoio da petrolífera Rockfeller da Standard Oil, o maior monopólio do mundo!

Somente no pós-guerra a UNE assumirá uma posição um pouco mais progressiva com a campanha do “O Petróleo é Nosso”. No entanto, o limite de sua política é o nacionalismo burguês, devido à estratégia política de suas direções (PSB e PCB). Não coloca a necessidade de manter o controle da produção petrolífera nas mãos dos trabalhadores e dos consumidores, deixando nas mãos da burguesia e do Estado. O resultado? A Petrobrás não produz para atender as necessidades do consumo da população, mas para o lucro.

Somente na década de ‘60 a UNE vai assumir uma posição combativa, contrária a ditadura. No país inteiro ocorreram manifestações importantes, a passeata dos cem mil no Rio de Janeiro, o conflito da Rua Maria Antônia, as lutas de Belo Horizonte e as ocupações “Território Livre” (em homenagem aos vietnamitas que declaravam territórios livres sobre cada espaço conquistado pelos vietcongues) em Brasília.

Depois da derrota de ’68, a UNE só será refundada em ’79 em Salvador, mas não será uma sombra da UNE do combate a ditadura. Esta “nova” UNE nem sequer mais defende a derrubada da ditadura, mas negocia uma transição com os gorilas da ditadura, assumindo a bandeira de anistia livre geral e irrestrita (inclusive para os torturadores). Se olhado atentamente nem o tão reivindicado “Fra Collor” passa incólume. A política da UNE limitou-se a chamar as caras pintadas com a política de “Impeachment! Que Itamar governe!”. Quem decide mesmo o impeachment? Sim, a luta é subordinada a decisão dos deputados do Congresso Nacional. E o pior: chamam a apoiar “criticamente” Itamar Franco!

Sobre a UNE no governo Lula outra matéria já aprofunda a questão. Basta ressaltar que o distanciamento dos estudantes e a adesão ao governo levam setores do movimento estudantil a romper com esta entidade e apostar na construção de alternativas. Não à toa, as principais mobilizações deste período (como a ocupação da USP e outras) votam: “A UNE NÃO FALA EM NOSSO NOME”.

As lutas das universidades estaduais paulistas nesta nova década...

Após o marasmo da década de ’90, retomou-se um processo de mobilização nas estaduais paulistas (USP, UNESP e UNICAMP) à partir da forte greve de

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professores, funcionários e estudantes em 2000. Desde então tivemos greves de maior ou menor intensidade por contratação de professores e funcionários, reajuste salarial, por verbas para a educação e contra ataques do governo.

No entanto, a mobilização de 2007 é, sem dúvidas, a mais importante. Esta se tratou em primeiro lugar de uma luta política contra os planos do governo do estado em atrelar a educação ainda mais aos interesses dos grandes empresários. A radicalidade dos atos mostrou-se uma alavanca capaz de se alastrar por todo o estado: a ocupação da USP surtiu como um rastilho de pólvora em todo o estado levando a mais de 11 ocupações na UNESP, a uma ocupação na UNICAMP (a segunda nesta universidade que já havia sido ocupada pouco tempo antes) e a mais forte greve da história do movimento estudantil nos últimos 40 anos. As assembléias na USP capital contavam com milhares de estudantes, no interior na UNESP, USP São Carlos e UNICAMP as assembléias oscilavam entre 500 e 1000 estudantes. Curso a curso, campi a campi foi se aprovando a greve.

A primeira traição da greve deixou claro com quem o movimento estudantil não podia contar: o DCE da USP, dirigido pela UNE. Soltam uma carta pública se colocando CONTRA a ocupação e ao lado da reitoria da USP!

Com o fortalecimento da greve, o governador José Serra é obrigado a recuar em seus ataques e reformula os decretos originais excluindo os ataques mais gritantes, mas mantendo outros. Esta medida do governo é o suficiente para que os professores da ADUSP abandonem estudantes e funcionários: vota o fim da greve em separado do conjunto. Em seguida, o movimento aos poucos vai se esfacelando até acabar com a entrada da tropa de choque na UNESP/Araraquara.

Esta greve traz duas importantes lições. Uma mostrou a necessidade de o movimento estudantil defender bandeiras além de seu próprio umbigo, pois ao defender a luta contra todos os decretos de Serra (que atacavam a Saúde, o funcionalismo público, a educação básica e outros) conquistou o apoio passivo de uma parcela da população. A defesa de bandeiras do conjunto da sociedade se mostrou um primeiro passo para poder avançar numa aliança com os trabalhadores e com outras camadas da sociedade. Em segundo lugar, se fez sentir a falta de um instrumento político de coordenação de todo o movimento, faltou um comando estadual com representantes eleitos em todos os cursos que pudesse coordenar a luta em todo o estado. A ausência deste instrumento impediu que as ações em todo o estado fossem coordenadas.

A crise capitalista impõe uma única alternativa: É hora de fazer História!

Estes exemplos mostram como os estudantes se colocaram como sujeito político em distintos momentos. Estas experiências devem servir de base para pautar a atuação no próximo período. Ainda mais em tempos como os que enfrentamos hoje, estas experiências não podem servir simplesmente para sentimentos saudosistas ou fazer referências a história. Acima de tudo, deve colocar a perspectiva de assumir as rédeas da história. A comodidade dos tempos de contemplação dos acontecimentos acabou. Abre-se uma época em que se torna imperiosa a responsabilidade de assumir conscientemente o curso dos acontecimentos, de ser parte do determinar do por vir.

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Os governantes insistem em dizer “esta crise é passageira”, mentem. Não se trata de “mais uma crise”, mas de uma crise estrutural do capitalismo que se desenvolve há anos. Os capitalistas não podem mais assegurar um ciclo de crescimento sustentado e próspero sem a destruição em massa. Em um primeiro momento, para assegurar seus lucros recorrem à redução de salários e a demissões em massas como estamos vendo. Este é só o começo. Todas as saídas que os capitalistas encontram para a crise significa aprofundá-la ainda mais!

Quando a burguesia renuncia consciente e obstinadamente a resolver os problemas que se derivam da crise da sociedade burguesa, quando o proletariado não está ainda pronto para assumir esta tarefa, são os estudantes os que ocupam o cenário. No desenvolvimento da primeira revolução russa, observamos este fenômeno mais de uma vez; e este fenômeno sempre tem para nós um significado enorme e sintomático. Esta atividade revolucionária ou semi-revolucionária significa que a sociedade burguesa atravessa uma crise profunda. A juventude pequeno-burguesa sentindo que uma força explosiva se acumula nas massas tende a encontrar, à sua maneira, a saída deste atoleiro, e a acelerar o desenvolvimento político. (Trotsky, Leon. A Revolução Espanhola)

Coloca-se uma situação contraditória. A crise da sociedade capitalista impõe a necessidade de sua superação, no entanto nunca o grau de consciência política dos que podem dar uma saída a este sistema de miséria, os trabalhadores, esteve tão baixo. Nossa geração, não possui o fardo das derrotas passadas sobre suas costas, não carregamos os escombros da queda do muro de Berlim, mas não possuimos a experiência das gerações passadas. Mas somente o fresco entusiasmo e o espírito ofensivo da juventude podem assegurar os primeiros sucessos na luta; apenas esses sucessos podem fazer voltar ao caminho da revolução os melhores elementos da velha geração. Sempre foi assim. Será assim, mais uma vez.

A grande tragédia de nossa época consiste no choque da personalidade individual com a comunidade. Para alcançar o nível de heroísmo e custear o terreno dos grandes sentimentos que dão vida, é necessário que a consciência se sinta ganha por grandes objetivos. Toda catástrofe individual ou coletiva é sempre uma pedra de toque, pois desnuda as verdadeiras relações pessoais e sociais. Hoje em dia é necessário provar este mundo. (...) É preciso derrubar a burguesia porque é ela quem fecha o caminho a cultura. A nova arte não só desnudará a vida, mas lhe arrancará a pele. Amar a vida com o afeto superficial do deleitante, não é muito mérito. Amar a vida com os olhos abertos, com um sentido crítico cabal, sem adornos, tal como nos aparece, com o que oferece, essa é a proeza. A proeza também é realizar um apaixonado esforço por sacudir aqueles que estão entorpecidos pela rotina, obrigar-lhes a abrir os olhos e fazer-lhes ver o que se aproxima. (Trotsky. O Grande Sonho)

O futuro nos pertence.

Del – Estudante de Ciências Sociais

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Militante da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões

A universidade que reprime Embora muitos assim quisessem, a Universidade não homogênea,

indiferenciada; mas, devemos acrescentar, de modo algum a Universidade comporta todas as idéias e pessoas, pesquisa todas as coisas, pensa tudo que seria possível pensar. Muito ao contrário, a Universidade é um espaço de tensão, de luta e confronto, cheia de fissuras, enfrentamentos e interesses, tal como a sociedade, que a espelha espelhando-se. Em cada menor ponto há o suficiente para iniciar uma luta magistral; em cada vírgula, em cada letra, em cada palavra proferida e em cada ato que se realiza, todas as razões e todos os motivos.

A Universidade traz em si as marcas das lutas que a engendraram, a mantêm tal como ela é, a modificam ou modificaram, que buscaram modificá-la ou radicalmente transformar. Luta-se por tudo: o que e como pesquisar e não pesquisar, como agir, como fazer, como proceder, como organizar. Tantas possibilidades existentes, tantas formas que a Universidade poderia ter tomado; se hoje ela é assim, é porque algum grupo venceu, e a enquadrou na forma desejada; não se trata de um jogo binário, que exclui absolutamente os adversários; uma vitória pode ser parcial, uma derrota pode conduzir posteriormente a uma vitória. Assim, a luta leva a progressão de alguns pontos, a regressão de outros, ao avanço que não cessa ou a derrota que permanece enquanto a resistência não se bem organiza. O melhor meio de conceber a Universidade é, portanto, como um campo de batalha na guerra social que externa e interna à Universidade.

Assim como @s vencedores/as de uma guerra sentem-se no direito de prender, abusar e seviciar os derrotados, na Universidade não poderia ser diferente. Aqueles que vencem o pequeno ou grande confronto, não podem querer poupar @ adversári@, para evitar que ele se recupere da derrota e reorganize suas forças. Após as greves, as ocupações, as paralisações, enfim, a todas as lutas que @s estudantes, funcionári@s e professores/as levam a cabo pela melhoria, aperfeiçoamento e democratização da Universidade, a burocracia universitária — velha vassala dos interesses do grande capital e dos políticos corruptos — empreende sempre uma onda de repressões, que busca criminalizar e torturar psiquicamente e fisicamente @s brav@s lutadores/as que se opõe às suas políticas.

Na UNESP, na USP e na UNICAMP a repressão é usada tanto para buscar dissuadir as novas lutas, quanto para punir os que já lutaram. Sobre todos aqueles que não se curvam aos mandos e desmandos da burocracia universitária, dos reitor@s, e daqueles professores/as autoritári@s, paira a eterna sombra da punição. Criam-se comissões de averiguação, comissões de sindicância, desenvolve-se um processo, termina-se por punir. É que perseguir e punir são meios de disciplinar uma população ou individuo; assim, como se bate em um cachorro para que ele não entre em casa, também pune-se lutadores/as para que eles não reajam, para que sejam, ao mesmo tempo, dóceis e produtivos nas posições que a burocracia

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universitária a eles determina. Por isso lutar contra a repressão aos estudantes, professores/as e funcionári@s engajad@s é tão importante quanto empreender a luta; pois, se após uma luta não se garante as condições mínimas para a organização das próximas, se aqueles que lutaram não podem desenvolver suas experiências nas lutas a devir, então há a derrota, ainda que não imediatamente visível, do movimento.

A história recente das Universidades não deixa dúvida de como essa tática espúria se mantém muitíssima viva. Em 2005 a UNESP chegou ao cúmulo de cogitar a expulsão de 24 estudantes, 7 do campus de Franca, 15 do campus de Marília e 2 do campus de Araraquara; os sete estudantes da UNESP-Franca tiveram a “oportunidade” de ser os primeiros expulsos da história da UNESP, em decorrência de um polêmico ato de terrorismo estético contra o reitor e a burocracia da Universidade; estes estudantes, descontentes com a situação da Universidade, e bem sabendo que a reitoria e a burocracia universitária de modo algum defendem os interesses d@s estudantes e funcionári@s, organizaram, no dia 02 de agosto de 2005, um ato estético contra o reitor: em uma reunião da Congregação da Universidade, interromperam-na, um estudante defecou em um jornal do dia e ofereceu ao reitor, como modo de indicar o que ele estava a fazer com a Universidade e o que ele mesmo, enquanto cargo burocrático, era e representava, ao passo que outro estudante entrou bruscamente na sala da Congregação, e passou a vomitar em um balde, devido ao asco advindo após olhar como a Universidade se organiza; outros cinco (ou serão seis?) estudantes entregaram, então, coquetéis molotovs (bombas caseiras) ao reitor, atribuindo-lhe a vontade de destruir a Universidade; enquanto disso, proferiam palavras contra a organização e estado da Universidade. Foi o suficiente para toda a população esconjurar os estudantes que protestaram, movida, sobretudo, por um moralismo decrépito e por um desconhecimento das condições da Universidade. Contando com escasso apoio político, os estudantes foram expulsos a poucos dias do ano findar, o que abre um precedente bastante sinistro para a Universidade.

Na UNESP-Marília a expulsão dos estudantes foi cogitada enquanto represália a uma Ocupação Estudantil da direção da Universidade; o motivo da ocupação foi a mudança no critério de oferecimento das bolsas de assistência estudantil (que deveria ter caráter sócio-economico), o que criou uma distorção tal que pessoas com renda per capita acima de R$ 2000 fosse agraciadas com bolsas de R$ 175,00. Então, após a luta findar vitoriosa, instaurou-se uma Comissão de Sindicância, que contava com o nome de todos os membros do Diretório Acadêmico que, não por acaso, contam-se entre os estudantes mais ativos do movimento estudantil da UNESP. Felizmente, após muita pressão política estudantil, a burocracia recuou e a expulsão não ocorreu. Isto ocorreu em 2005.

Já na UNESP-Araraquara o caso foi bastante grave. Duas militantes do PCO (Partido da Causa Operária) foram ameaçadas de expulsão por fazerem distribuição de materiais político-partidários no interior da Universidade, somado ao fato de complicações para eleições de entidades estudantis. A direção da unidade buscou intervir na organização do ME, o que gerou fortes protestos; o clima ficou pesado na FCL, tendo inclusive ocorrido o espancamento de professores, com a presença

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de skin heads araraquarenses. Uma vigorosa oposição por parte d@s estudantes não foi suficiente para impedir as punições ás militantes, ainda que abrandada (!) em uma suspensão de um semestre no ano de 2006.

São alguns casos que, no entanto, não são suficientes para ilustrar. Falamos da repressão contra estudantes, mas não são só eles que empreendem as lutas no interior da Universidade, pois as lutas mais fortes são aquelas nos quais os três setores (estudantes, funcionári@s e professores/as) unem-se. Falemos então da repressão que desaba sobre professores/as e funcionári@s.

Ainda que sejam também @s professores/as que giram a Universidade, não podemos esquecer que eles também não estão unidos em tudo, mas que possuem idéias, concepções e ações que se diferenciam como a areia da água. Assim, existem professores/as que pertencem a grupos políticos que dominam a Universidade que querem calar àqueles que se-lhes opõem. Demitir um/a professor/a concursad@ é um mais difícil que expulsar um estudante rebelde ou exonerar um/a funcionário@ insubmiss@ e combativ@. Mas há outras formas de retaliação: perseguições acadêmicas, não liberação de verbas, ou bolsas, perseguições a orientando, etc. Há casos ainda mais graves, como o do geógrafo franco-polonês Jan Leszek Dulemba, professor da UNESP-Franca, que se matou em dezembro de 1975, em decorrência do clima de perseguição, delação e boatos que os demais professores/as, contrários as suas posições políticas o precipitaram. Há casos mais recentes; ainda ano passado quatro professores do campus experimental da UNESP-Registro foram (e ainda estão sendo) ameaçados de morte, tanto pelo fato de sua militância sindical ativa, quanto em decorrência das investigações que estão a promover sobre as contas da Universidade; as ameaças de morte passam todas pela exigência do fim das investigações, como, por exemplo, na ameaça relatada pela Seção Sindical da ADUNESP de Registro, recebida por telefone: “se continuarem com essas denuncias vão MORRER, TODOS VOCES, SAFADOS (...) vocês não precisam saber sobre a PRESTACAO DE CONTAS DO CAMPUS REGISTRO”. A Reitoria não se posiciona, mantendo um mui prudente silêncio sobre os casos. Os professores ameaçados estão a exigir que se cumpra uma portaria da própria reitoria da UNESP que, entre outras coisas, estabelece que a contratação de professores/as concursad@s, a constituição de órgãos colegiados locais (pois o campus é administrado por uma comissão indicada pela reitoria) e a já dita elaboração de uma prestação de contas do campus experimental.

No caso d@s funcionári@s, a questão ainda é mais grave; demitir um professor/a doutor/a ou expulsar um@ estudante de classe média gera indignação e repercussão em toda sociedade; já @s funcionári@s são entendid@s como trabalhadores/as não qualificad@s, quer dizer, dispensáveis. Quando a mão pesada da burocracia busca ceifar-lhes o emprego, os motivos não variam: corte de verbas e repressão à atuação política. Nesse sentido, temos um exemplo ainda recente e muitíssimo vivo de repressão aos trabalhadores e à organização sindical: a demissão de um dos dirigentes do SINTUSP (Sindicato dos Trabalhadores da USP), Claudionor Brandão, em dezembro de 2008.

O SINTUSP é reconhecidamente o sindicato mais combativo do país, marcando presença e organizando todas as grandes lutas das Universidades Estaduais

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Paulistas, dos funcionários públicos e dos explorados em geral. Brandão é conhecido pela sua militância aguerrida e anticapitalista, o que desperta a fúria da burocracia universitária uspiana e dos políticos reacionários. Assim, a Ocupação da USP, na qual o SINTUSP e Brandão estavam na linha de frente do movimento, foi a gota d’água para a burocracia: inventaram um motivo e despediram-no por justa causa. A reação à demissão de Brandão não tardou, pois desde as entidades estudantis, sindicais e docentes, passando por meios de comunicação de massa (como a Caros Amigos), até deputados e ministros se colocaram contra a demissão de Brandão, denunciando-na como ataque à organização sindical e à democracia. Também nós, estudantes, não podemos ficar de braços cruzados diante do autoritarismo bismarckiano da Reitoria da USP; a luta contra a demissão de Brandão é, desde já, uma das pautas para a forte luta universitária que deve se desenvolver este ano, contra os efeitos da crise econômica criada pelos banqueiros, contra as medidas precarizadoras da educação (especialmente o PDI e o EaD) e contra a repressão aos funcionários, estudantes e professores que empreendem as lutas na Universidade.

Há mais, no entanto. A repressão, por vezes, desencadeia-se como forma de acabar com as lutas enquanto elas ainda estão a ocorrer. Assim, a UNESP-Araraquara foi invadida pela polícia quando de uma ocupação estudantil em 2007, no contexto da luta contra os famigerados Decretos Serra. A bicentenária Faculdade de Direito da USP, também foi invadida pela tropa de choque do Governador Serra, enquanto lá ocorria uma ocupação temporária, também em 2007, em defesa da Universidade Pública. Mas as Universidades privadas também conhecem a repressão: a ocupação da Fundação Santo André, Universidade municipal da cidade de mesmo nome, também foi atacada quando os estudantes exigiam menores mensalidades, a investigação do reitor da Universidade (sobre o qual pairava suspeita, posteriormente comprovada, de corrupção) e a reabertura de cursos arbitrariamente fechados pela reitoria, que, não por acaso, eram cursos de ciências humanas, em muitas ocasiões, mais combativos que os demais.

Polícia, sindicâncias, expulsões, suspensões e demissões de cunho político, são coisas que não combinam com a Universidade. Ao menos, é o que pensam @s estudantes, funcionári@s e a maioria dos professores/as; mas para defender seus interesses vis, sua posição de gestora da Universidade, seu controlo sobre as verbas públicas — não rara desviados tanto para caixa dois de partidos, enriquecimento ilícito ou ostentação de lixeiras folheadas à ouro — a burocracia universitária, os governos subservientes e os exploradores capitalistas não pestanejam em utilizar a força bruta dos policiais, da cavalaria, dos cães, dos cacetetes e das bombas de gás. Eis a sina e a história de nossos dias; eis o que cumpre combater e derrotar.

Felipe Luiz (Guma) – Estudante de Filosofia

Delegado da UNESP-Marília para o DCE

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Da Universidade que temosà universidade que queremos

Através dos textos deste manual, e dos diferentes temas tratados por eles, nos foi possível ter uma noção introdutória do estágio no qual se encontra nossa universidade. A partir desta noção tiramos a conclusão inevitável do caráter de classe do qual é constituído o espaço universitário. Caráter que pode ser claramente observado quando analisamos, por um lado, quem são os que conseguem transpor a barreira do vestibular e cursar o ensino superior público e, por outro, a quem serve o conhecimento produzido pelos que aqui estão.

Os interesses da classe dominante não são estáticos, estão sempre em mudança, a depender do momento histórico e, principalmente, da dinâmica que assumi a luta de classes na sociedade. Essas mudanças refletem, como em qualquer outra instituição burguesa, dentro da universidade. Não podemos entender, por exemplo, a política de sucateamento das universidades públicas, realizada em todo o mundo nas últimas décadas, como outra coisa a não ser uma adequação ao período neoliberal no qual esteve inserida a economia mundial e a formação de grandes empreendimentos no segmento da educação superior privada.

Acontece que, apesar do papel que cumpre a burocracia acadêmica e das facilidades permitidas graças à estrutura de poder antidemocrática, essas mudanças não são recebidas de braços abertos, geram reações por parte dos trabalhadores/as das instituições de ensino e do movimento estudantil. Estes se vêem obrigados a defender-se contra os ataques que acompanham as mudanças, e que podem ser expressos, para citar apenas alguns exemplos, na desregulamentação dos direitos trabalhistas, nítida na tendência á tercerização; nos quadros de funcionári@s sobrecarregad@s, como não nos deixam mentir nossos companheiros do Restaurante Universitário aqui da FFC; na falta de professores/as em quase todos os cursos, mais acentuada hoje nos cursos de Pedagogia e Arquivologia; na infra-estrutura antiga e insuficiente, aspecto que pode ser bem observado com a falta de espaços de convivência, de locais propícios á manifestações artísticas e não adequado aos portadores de deficiência física; na escassez das políticas de Permanência Estudantil (Bolsas, Moradia, Alimentação), o que dificulta ainda mais o acesso de estudantes de baixa renda; entre outros problemas de uma lista que parece não ter fim e que você logo conseguirá enumerar.

Os ataques que, como vimos anteriormente, servem para endireitar a universidade aos interesses daqueles que exercem o domínio em nossa sociedade, ao mesmo tempo, tentam responder estrategicamente as demandas reais da população. As principais justificativas, por exemplo, para a implementação do REUNI, por parte do Governo Federal, e do sistema de Ensino à Distância (Ead), um dos pilares da Secretaria de Educação de São Paulo que tende a se espalhar ao restante da educação brasileira, do próprio PDI, que pode ser aprovado aqui na Unesp logo no começo deste ano, é ampliar consideravelmente o número de vagas nas universidades, respondendo assim ao imenso anseio da população por acesso ao ensino superior. Agora tente imaginar o que pensam as pessoas que hoje se encontrão do lado de fora dos muros universitários, que no caso do Brasil são por volta de 98% da população, olhando as lutas dos que aqui estão. Quando nos colocamos na perspectiva de barrar essas reformas universitárias somos

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vistos muitas vezes, com uma especial ajuda da mídia burguesa, como um grupo de privilegiados tentando defender apenas o que é seu, sem se preocupar com as demandas do restante da população.

Para mudarmos essa impressão, devemos, além de continuar a defesa do que já temos, não podemos de forma nenhuma perder o histórico de lutas que possuímos, deixar claro quais são nossos planos para a universidade. Mas o que temos a propor? O que está em nosso horizonte de espera? Afinal, qual é a universidade que queremos?

Comecemos por afirmar que não compactuamos com a universidade elitista e racista que está diante de nós. Somos á favor do ensino superior público de qualidade para todos, e não apenas para uma pequena parcela de privilegiados. Por isso é nosso dever desmascarar sim a ampliação irresponsável de vagas que propõe as reformas universitárias dos governos burgueses. Lutamos pelo fim do vestibular, e, conseqüentemente, pela estatização das universidades privadas como forma de atingir o livre acesso. Educação não pode ser mercadoria, não pode ser fonte de lucro.

Queremos uma universidade democrática, somos pela queda da “ditadura docente”. A gestão precisa ser feita diretamente por professores/as, funcionári@s e estudantes através de um governo tripartite com maioria estudantil. Com isso alcançaremos uma outra lógica de administração e ensino. As mudanças começarão desde as salas de aula, onde passaremos a realmente interferir de forma crítica no conteúdo apreendido, tendo como objetivo adequá-lo á aquilo que entendermos ser necessário para nossa formação. Outro passo importante é a instituição de formas de democracia direta, como as assembléias de base, como instâncias máximas de deliberação, a fim de expulsar definitivamente os burocratas de suas poltronas aveludadas.

Acreditamos que o conhecimento produzido nos meios acadêmicos deve cumprir um outro papel social, o de servir aqueles que sofrem com a obrigação de vender sua força de trabalho, sem nunca se apropriar da riqueza que produzem, na tarefa diária de transformar as estruturas de opressão e dominação existentes. Conhecimento que questione a anarquia da ordem econômica vigente e suas crises, como a que estamos atravessando neste exato momento, que jogam bilhões de pessoas para o desemprego e para a miséria; questione também o desperdício e a destruição das fontes naturais das quais nos apropriamos para reproduzir nossa existência; que proporcione o avanço das forças produtivas e do desenvolvimento científico para além dos limites da propriedade privada dos meios de produção. Em outras palavras, um conhecimento que supere a irracionalidade a qual o sistema atual está mergulhado.

Para atingir esse estágio de coisas, temos que estar conscientes de que nossas lutas não podem se encerrar nos muros da universidade. Assim como fizeram @s estudantes franceses que protagonizaram um dos maiores ascensos estudantis em maio de 1968, temos que nos ligar á única classe capaz de romper com as amarras da sociedade exploradora e levar adiante o projeto que propomos: a classe trabalhadora. Somente uma aliança entre trabalhadores/as e estudantes pode proporcionar a superação da universidade burguesa de nossos dias.

Daniel Bocalini – Estudante de Ciências SociaisMilitante da LER-QI e do Movimento A Plenos Pulmões

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A ILHATodos nós quando entramos na universidade ficamos deslumbrados. Estamos entrando

naquilo que deveria ser o oráculo de Delfos da modernidade, o templo que concentra a sabedoria, onde os grandes líderes vêm pedir conselhos antes de tomarem suas decisões.

Não foi diferente com Fredão e Teeotonio. Amigos, tinham prestado vestibular juntos numa cidade do interior do estado onde moravam, um para ciências sociais outro para filosofia. Ao verem seus nomes na lista de aprovados do vestibular o êxtase foi grande. Pensaram no orgulho que seus familiares teriam deles, em como seus amigos os olhariam, já que estudando em escola pública, provavelmente seriam os únicos dentro da turma que conseguiriam a façanha. Não pensem, no entanto, que eram eles arrivistas, querendo através da universidade simplesmente ascender socialmente. Isso estava em suas cabeças (mas de quem não esta?), mas tinham também outros motivos para prestar o vestibular especificamente nos cursos que escolheram. Um sentimento difuso, ainda vago, de que algo estava errado com a sociedade e que era preciso transformá-la. Exatamente para não serem devorados pela questão que os afligia (Como fazê-lo?) esperavam decifrá-la entrando na universidade; pois não era para ela que se dirigiam aqueles que queriam respostas?

Ao chegarem a frente do campus onde se localizava a faculdade em que iam ingressar se sentiram os próprios Dante e Virgílio à frente dos portões do inferno. Respiraram fundo, estufaram o peito e deixando todo medo e esperança para trás adentraram. Tudo era novo, tudo os chocava, um arbusto em forma de galinha, logo à entrada, foi o que mais impressionou os dois amigos.

Continuaram descendo, não muito distante ficava a entrada do prédio de aulas, para onde tinham que se dirigir para confirmar sua matrícula. Ao entrarem viram uma escada e um personagem peculiar sentado nela. Tinha algo de caricato esta figura: cabelo desgrenhado, uma grande barba para um rapaz que não parecia ter ainda 25 anos, camisa vermelha, chinelo de couro. Era exatamente como eles imaginavam em suas cabeças um estudante de humanas ligado ao movimento estudantil. Como tinham interesse em participar do M.E., suspeitavam que talvez as respostas para suas perguntas estivessem ai, dirigiram-se àquela pessoa para se apresentar. O nome da figura era Sócrates e a partir daí iniciaram um diálogo:

SÓCRATES: Olá calouros, tudo bem? Sejam bem vindos à universidade.TEEOTÔNIO E FREDÃO: Olá Sócrates, obrigado. Que curso fazes? SÓCRATES: Faço C.S, estou cursando a licenciatura agora.TEEOTONIO: E é mesmo instigante fazer ciências sociais?SOCRATES: Ah, meu caro, depende de qual é sua perspectiva para a sociedade. A

universidade até dá alguns instrumentos teóricos para agir de maneira transformadora, se sua perspectiva de ação é esta, mas a universidade como instituição é, em última instância, conservadora.

TEEOTONIO: Mas eu pensava que a universidade era um lugar onde se construía um conhecimento crítico, principalmente em cursos como ciências sociais e filosofia.

FREDÃO: É Sócrates, será que você não esta sendo muito radical? A critica a ser feita de dentro da universidade é uma critica ponderada, que tem que dialogar com a sociedade. Talvez o problema que você veja nesta crítica seja sua demora em se estabelecer, mas não poderia ser de outra maneira, para mudar a cabeça das pessoas leva tempo e temos que saber dialogar com seus preconceitos. O melhor lugar para produzir este espaço crítico é a universidade.

SOCRATES: Talvez vocês estejam certos, meus caros colegas. Mas pensemos nisso com mais vagar e tentando dirimir todas as questões que talvez possam nos surgir. Só assim teremos uma resposta mais clara para o problema que por hora se nos apresenta. Concordam comigo?

TEEOTONIO E FREDÃO: Concordamos Sócrates, façamos como queres.

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SOCRATES: Muito bem. A primeira coisa a se fazer é nos perguntarmos se o conhecimento produzido na universidade é neutro, ou se ele serve a alguém. Pois se ele servir a alguém, temos que nos perguntar depois se esta pessoa, ou este grupo de pessoas, a quem ele serve, esta interessado ou não numa transformação da sociedade. Então, o que acham, o conhecimento produzido na universidade é neutro ou é um conhecimento interessado, serve efetivamente a alguém?

FREDÃO: Olhe Sócrates, não estou muito certo ainda de minha posição, mas como acho que para que o conhecimento seja efetivo ele tem que ser desinteressado, defenderei então que o conhecimento produzido na universidade é neutro, pois considero o saber produzido aqui efetivo.

SOCRATES: Mas se o conhecimento é neutro ele não tem serventia, não produz nada de útil, pois não servindo a ninguém não serve para nada, ou seja, é um conhecimento que não tem objeto, não se efetiva, não se apropria da realidade. Ora, para aqueles que buscam o conhecimento para transformar a realidade na qual estão inseridos, este conhecimento produz coisas úteis, ou seja, serve para algo e é um conhecimento interessado, ele é importante para aqueles que buscam transformar a realidade. Pra aqueles que lutam contra a transformação da sociedade se dá a mesma coisa. O conhecimento por eles produzido visa manter a sociedade como está, então é algo que é visto como necessário para este grupo e é para este grupo, serve para alguém.

FREDÃO: Muito bem Sócrates, neste sentido não tenho como discordar de você. Mas será que a sociedade está dividida entre aqueles que querem transformá-la e aqueles que querem sua manutenção, talvez não seja muito simplista dividir as coisas assim?

SOCRATES: Talvez? Vejamos. Bom, é fato que para existirmos temos que realizar alguns desejos, algumas vontades que são naturais. A fome é um exemplo destes desejos que ligam o homem que vive em sociedade à sua natureza e que é indispensável de ser realizado. Em nossa sociedade, por fruto de um dado desenvolvimento histórico, existem maneiras diferentes de realizar este desejo por comida que é expresso pela fome. Dependendo da classe, da etnia, do gênero, ao qual pertencemos, suprimimos este desejo de uma maneira diferente. Uma mulher, negra, que trabalha como operária não só come coisas diferentes, mas mesmo de maneira diferente e em locais diferentes que um grande burguês. Vemos assim que mesmo naquilo que é para nós útil de maneira mais imediata há uma contradição de interesses.

FREDÃO: Mas será que é sempre assim, caro Sócrates? Os intelectuais, os cientistas, em suma, aqueles que são produtores da cultura, não ocupam um lugar privilegiado na sociedade, não podendo assim superar esta divisão?

SOCRATES: Bom, do que você disse agora a única coisa que posso concordar é que este grupo particular do qual você fala ocupa um lugar privilegiado na sociedade, mas é exatamente por isso que este grupo não pode ser neutro. Ao ocupar uma posição determinada numa sociedade determinada este grupo passa a ter insuperavelmente uma posição determinada. Tem este grupo necessidade de reproduzir as condições nos quais se dão sua existência para que possa continuar a viver. A própria busca por uma visão neutra da sociedade, que se coloca acima e fora de suas disputas, é uma visão interessada. Cobre com uma cortina de fumaça as lutas efetivamente existentes, diluindo a luta, tratando-a como coisa secundária, não como a relação fundante.

FREDÃO:Mas isso não é por demais determinista Sócrates? Não fica como único fator determinante para seu pensamento a classe à qual você pertence?

SOCRATES: Não, no sentido em que como há várias classes atuando, com diferentes interesses e sempre há, até certo ponto, uma relativa independência na relação entre o interesse pessoal e o coletivo, toda escolha de posição de classe se coloca como escolha alternativa. Todo individuo singular pode, dentro de determinadas condições, romper com sua classe de origem. Os exemplos disso são muitos e em todas as classes das quais a sociedade é constituída. Intelectuais burgueses que rompem com sua classe de origem e passam a lutar ao lado dos trabalhadores/as, operários pelegos que se colocam ao lado dos patrões nas greves. Para o individuo sua escolha sempre é dentro de um leque de alternativas, determinadas pela posição que ele ocupa anteriormente, pois para escolhermos ir pra esquerda ou pra direita temos que estar em algum lugar.

TEEOTONIO: Bem Sócrates, tendo a concordar com você, realmente não pode haver conhecimento neutro, mas isso não faz da universidade conservadora. O conhecimento que ela

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produz pode ser efetivamente crítico, buscar a transformação da realidade já dada. Ela pode ser um meio da luta pra transformação da sociedade.

SÓCRATES: Analisemos suas afirmações mais de perto e vejamos se elas se sustentam. A universidade esta dentro de uma estrutura, ela faz parte de uma estrutura. Ela é parte do estado, é um órgão executivo deste, uma maneira de ele existir. Assim sendo, ela é sustentada por este estado, as suas necessidades financeiras, por exemplo, são supridas pelo estado. Concordas comigo?

TEEOTONIO: Não vejo como discordar Sócrates.SOCRATES: Desta maneira será o estado que vai dar as diretrizes ao que é ensinado aí.

Aqueles/as que trabalham dentro da universidade pública são, em última instância, funcionári@s do estado. A estrutura de poder que se constrói na universidade tem então características análogas às do estado como um todo. Uma das características centrais do estado é buscar na sua reprodução manter-se tal como é, ou seja, uma característica de buscar sua conservação. Para tanto busca, através daqueles que detém o poder de estado, aparecer como uma instituição que paira acima da sociedade e que de fora dela regula suas lutas. Assim as regras para as ações dentro da sociedade viriam de fora dela, desta instituição que aparenta estar fora e acima das lutas sociais e, com isso, poderia regular estas de forma neutra. A universidade carrega consigo esta característica, a de buscar sua permanente conservação, colocando-se como acima das relações que se dão na sociedade, fora de suas lutas. Desta maneira o conhecimento aí produzido parece neutro, pois não defende nenhum dos interesses em disputa, já que esta fora desta disputa.

Agora o que temos que nos perguntar é: este estado, do qual a universidade é uma das manifestações, é uma das formas de ser, é realmente neutro? Ele esta está efetivamente fora da sociedade, fora das disputas? O que você acha, caro camarada.

TEEOTONIO: Penso que não, que este estado não esta fora das disputas da sociedade, ele faz parte delas.

SOCRATES: Sim, e numa sociedade em que há uma disputa entre dominantes e dominados, entre exploradores e explorados, de que lado você acha em que o estado se encontra? A qual dos grupos você acha que ele defende?

TEEOTONIO: Não saberia ainda te responder tal questão Sócrates.SOCRATES: Pensemos. Em última instância o poder do estado é garantido pela força. A

execução efetiva das leis colocadas pelo estado à sociedade só pode ser garantida se há um aparelho coercitivo que as imponha. O simples enunciar a lei não garante sua execução, é necessário que exista algo como a polícia para garantir que as pessoas cumpram o enunciado.

Para que haja divisão entre exploradores e explorados é necessário que o trabalho dos explorados seja o suficiente pra alimentar a eles mesmos, para que eles possam continuar a serem explorados, e para satisfazer as necessidades dos exploradores, ou seja, é necessário que muita gente trabalhe para se reproduzir no mínimo como explorados e para satisfazer todas as necessidades de uns poucos exploradores. Havendo um embate entre estes dois grupos, que por sua maneira de vida e interesses comuns constituem-se como classe, os explorados, por conta de seu número muito maior, teriam uma significativa vantagem. Ora, a quem serviria então um órgão regulador das disputas, que tivesse o monopólio da força das armas?

TEEOTONIO: É parece que não se pode negar que tal órgão serviria aos exploradores Sócrates.

SOCRATES: Desta maneira, a universidade, como forma de ser deste estado, como uma de suas maneiras de existir não pode ser neutra, nem se colocar a serviço da classe que busca, por seu próprio interesse, destruir o órgão que lhe dá base. Como forma de existência do estado , a universidade tem uma peculiaridade, dada sua forma de ser particular. Ela é correia de transmissão da ideologia da classe que comanda o estado, é uma das maneiras desta classe transmitir às demais suas idéias como as corretas, como as dominantes.

TEEOTONIO: Muito bem Sócrates, entendi seu ponto de vista, mas vejo aí uma contradição. Você mesmo atua hoje na universidade, o movimento estudantil tem como um dos focos centrais a ação dentro das universidades. Como explicar isso, e por que atuar dentro da universidade se a ação dela é sempre opressora e conservadora?

SOCRATES: Tal fato se dá, camarada, por outra característica peculiar do estado, e por reflexo da universidade, em nosso momento histórico. O estado e a classe da qual ele é

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representante não dominam simplesmente através do uso da força, esta só é usada em última instância, sua dominação também se dá através da aceitação desta pelos dominados. Mas como fazer com que aqueles que são dominados simplesmente aceitem tal estado de coisas? A classe dominante possui uma serie de órgãos que agem para que esta aceitação se dê. A igreja, o próprio estado, as escolas, a imprensa, todas estas instituições trabalham diariamente transmitindo a idéia de que não existe esta relação de dominação, ou que ela é natural, é obra de alguma força sobre-humana. A universidade é um dos órgãos por excelência desta atividade, você verá que grande parte das teorias disseminadas aqui ou buscam negar que as classes na sociedade têm interesses contraditórios ou buscam naturalizar esta divergência de interesses.

Mas para cumprir seu papel social da melhor maneira possível a universidade tem que aparecer como espaço livre para a discussão de idéias. Todas as idéias poderiam ali se expressar e disputar seu lugar ao sol. É claro que quando surgem idéias que buscam efetivamente romper com as amarras do saber acadêmico elas são coibidas, às vezes através de uma nota baixa, às vezes através de sindicâncias. Bom, mas para aparecer como espaço de disputa livre de idéias a universidade tem que, até certo ponto e dentro de determinados limites, permitir esta disputa de idéias. É ai que se insere nossa atividade, nestes espaços que, por sua própria maneira de ser, nos concede a universidade. E aqui não falo apenas do movimento estudantil, há também trabalhadores/as e professores/as universitários que aproveitam estes interstícios para agir de maneira a transformar este dado estado de coisas. Mas esta ação transformadora de dentro da universidade só pode se dar quando se reconhece os limites da instituição acadêmica e se tem como objetivo da ação sua superação.

Após a fala de Sócrates, Fredão lembrou a Teotônio que já eram mais de 11:30 e que ambos tinham que se dirigir à graduação da universidade para confirmarem suas matrículas. Esta fechava as 12:00 para o almoço, portanto tinham que correr para não se atrasarem. Assim, se despediram os três com um abraço fraterno, prometendo-se continuar a discussão no decorrer do ano.

Santhiago - Estudante de Ciências Sociais

Militante do Movimento A Plenos Pulmões

Ano Novo, Velhos hábitos! Ano após ano assistimos, sem maiores questionamentos, a repetição de uma série de atividades

que muitas vezes constrangem e humilham os calouros, mas que pelo seu caráter tradicional são consideradas normais e até naturais ao processo de iniciação dos primeiro-anistas ao ensino superior. Sobretudo nesse inicio de ano letivo em que o trote torna-se parte da realidade, principalmente, dos alunos ingressantes, é importante refletirmos de forma mais ampla essa questão para evitarmos constrangimentos, distorções e abusos.

De forma mais geral o trote pode ser entendido como uma tradição acadêmica que consiste num conjunto de atividades organizadas pelos alunos veteranos para a recepção dos calouros, ocorrendo de forma mais efetiva, normalmente, nos dias de matricula e nos primeiros dias de aula, valendo ressaltar que as atividades podem continuar ocorrendo durante todo o semestre ou ano letivo, ou então até o aluno ser desconsiderado da condição de “bixo”. Sendo o trote uma tradição acadêmica sua principal pretensão é tornar-se natural aos indivíduos, pois tudo o que é natural apenas “é” e dispensa o pensamento, o questionamento e as possibilidades. O corte de cabelo e a pintura dos calouros na FFC de Marilia é um bom exemplo disso. Muitas vezes tratam-se tais atividades como se fossem etapas necessárias e naturais ao ingresso dos primeiro-anistas, quando na verdade de genuíno e natural só existe a imposição e a tentativa de ajustamento à essa ordem dos que chegam à universidade. Assim é bom ficar claro ninguém é obrigado a participar de nenhuma prática ou ritual que não queira, devendo ser respeitado, sem sofrer nenhum tipo de coação.

Na tentativa de legitimar-se e tornar-se a regra, a tradição também utiliza-se de outros mecanismos como a falsa idéia de que as coisas “sempre foram assim” para justificar suas ações. Assim é que quando entramos na universidade temos a impressão de que todas as pessoas que estão ali passaram por esses

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ritos de iniciação, logo tornando nossos questionamentos e até a nós mesmos muito pequenos diante da imensidão desse “sempre imemorável” e dessa tradição. Por isso devemos ter claro para nós que o “trote”, seja lá da forma como se apresentar, não é uma lei, apesar de se pretender assim. Logo observarmos que a tradição funciona como um eficientíssimo meio de controle e de obtenção de poder, uma vez que dispensa a reflexão e as dúvidas dos indivíduos, enquanto rege e impõe suas regras sobre eles. Assim nossa problemática aparece justamente quando esta tradição do trote passa a se impor sobre vários indivíduos e nessa tentativa de ajustá-los à sua ordem, utiliza-se das mais diversas violências, constrangimentos e outros mecanismos de coerção.

Outro ponto importante nessa discussão, principalmente aqui na FFC de Marilia, é a questão do “trote leve”, já que as atividades aqui realizadas são classificadas dessa forma por não termos um histórico de “violências” durante a realização do trote. Mas apesar do adjetivo “leve” é comum por aqui muitos calouros serem obrigados a cortar o cabelo, a pintar o rosto e corpo, a pagar taxas em dinheiro sob ameaças de ovos entre outras atividades que ocorrem dentro da própria universidade nos dias de matricula e na primeira semana de aula. Classificar o trote dessa forma, de acordo com uma suposta intensidade, significa reduzir um amplo conceito de violência apenas à violência física, desconsiderando as várias outras formas de violência simbólicas, que podem causar danos iguais e até piores às vitimas que as recebem. O terror causado pela intimidação, a submissão do calouro implícita no ar, as “brincadeiras” constrangedoras, a ridicularização, as ordens recebidas e as diversas formas coerção e ajustamento são formas de violência muito graves e que podem causar prejuízos irreparáveis, mas que, no entanto, nesse ambiente confuso do trote, muitas vezes são consideradas legitimas, por não serem agressões físicas. Quem pode dizer que a ridicularização e o constrangimento que pode causar um apelido, por exemplo, é menos prejudicial que um soco? Ambas as formas de violência são terríveis, mas o que vemos é uma preocupante naturalização dessas formas de violências simbólicas, que se tornam legitimas sob as máximas de trote “leve” e “médio” ou extremamente repugnadas sob a de “trote grave” ou “violento”. Torna-se muito difícil, dessa forma, classificar com estruturas exteriores aos indivíduos as atividades do trote de acordo com a sua intensidade, uma vez que as pessoas possuem estruturas psicológicas com limites diferentes, sendo que representa uma simples brincadeira para um determinado indivíduo, pode causar um surto psicótico em outro. Isso nos mostra que o trote não passa a ser legitimo nem aceitável de por ser convencionado como “leve”, “médio” ou “grave”, pois como vimos a intensidade e o grau de violência das atividades são medidos de forma muito particular.

Assim o trote que ocorre aqui na FFC de Marilia talvez seja muito pior que em outras universidades com históricos de casos considerados “graves”, pois aqui essas inúmeras formas de violências simbólicas estão naturalizadas e normalizadas, e não dificilmente, nem identificadas como violência são. Preferimos, e aqui se inclui a comunidade acadêmica como um todo, nos esconder diante da confortável idéia de “trote leve” e acreditar que o nosso problema está resolvido ou que nem problemas temos, enquanto casos de constrangimento, ridicularizações e outras formas de violência ocorrem dentro da nossa própria instituição sob os nossos olhos. Por fim fiquemos atentos e de alerta sobre toda imposição de regras, a todo poder justificado na tradição, para assim podermos ter uma integração entre os alunos e o ingresso dos primeiros-anistas à FFC sem ninguém precisar ser constrangido.

Diego Damaceno – Estudante de Ciências Sociais

A arte, sem dúvida alguma, é elemento preponderante na luta contra a opressão do povo e também não se dissocia das lutas por um projeto efetivo de nação.

Porém, nos nossos dias, observamos a arte sendo utilizada como bem de consumo, ou seja, como parte integrante do capitalismo na contemporaneidade.

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Nós, estudantes universitários, sendo muitos os que produzem arte, defendemos e devemos lutar pela apropriação otimizada do conhecimento acadêmico pela população através da erradicação do analfabetismo pela difusão do ensino PÚBLICO, LAICO E DE QUALIDADE.

Devemos também apoiar e estimular a produção, desenvolvimento e difusão das artes em todos os seus segmentos: artes plásticas, artes visuais, artesã-popular, teatro, dança, música, literatura e cinema.

Se por um lado a arte é utilizada pela classe dominante para difundir cotidianamente através dos meios de comunicação de massas, os quais são detentores, seu estilo de vida decadente e modo limitado e equivocado de ver o mundo, por outro lado, podemos e devemos nos servir de elementos culturais da produção artística popular para resistirmos, combatermos e lutarmos contra essa mentalidade tacanha (burguês-restrita) e buscar subverter as ações empreendidas pela classe dominante possuidora do poder político-econômico (contrarias as necessidades históricas das massas) em elementos que contribuam de forma significativa na busca pela emancipação humana.

O Movimento Estudantil, contando com a participação de tod@s estudantes interessad@s na construção de uma sociedade que atenda demandas históricas, deve contribuir não somente no sentido de organizar os jovens artistas, mas também em estimular o importante debate sobre o papel da arte na construção e consolidação de um novo projeto de sociedade, uma sociedade que seja livre de opressores.

Rafael Botaro – Estdante de Filosofia Militante do PCdB e da UJS

Você conhece Marília? Vão aqui algumas informações e dicas sobre a cidade...

PROGRAMAÇÃO ARTÍSTICO CULTURAL – Secretaria de Cultura

MunicipalTodo mês a Secretaria de Cultura

divulga a agenda das atividades artístico culturais, ela é distribuída no PIT (Posto de Informações Turísticas), localizado na Av. Rio Branco próximo ao Teatro Municipal, aberto durante de dia ou ainda no site: www.marilia.sp.gov.br – no link Agenda Cultural. Nela você irá encontrar dicas de espetáculos teatrais, exposições e shows musicais, como os que acontecem aos domingos a tarde no Bosque Municipal. O município e oferece, também, OFICINAS GRATUITAS em diversas áreas: teatro, música, pintura... As inscrições são abertas

no começo do ano e são feitas no endereço: Av. Sampaio Vidal, 245 – Centro

Clube do cinema Endereço: Av. Sampaio Vidal, 245 –

1° Andar. (ao lado do teatro Municipal)

fone: (14) 3422 3090

Que ônibus pegar: Cidade Universitária ou Jardim Cavalari

Aos sábados e domingos, às 20h15. Ingressos: R$2,00. A programação é distribuída

mensalmente no local.

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Empresas de ônibus da Rodoviária

Expresso de Prata3432-32123432-2060Nacional Expresso Motta3413-

5234Real Expresso3432-4505Fergo3454-0556Gontijo3422-6060Penha Itapemirim3413-1255Princesa do Norte Reunidas3433-8217Andorinha3433-4554Luwasa3422-5164Adamantina3433-4507Real Transporte e Turismo3432-2288Vert Esmeralda Satélite3454-9032Turismar3413-3331Brambilla3433-4707

Biblioteca municipalAv. Sampaio Vidal, 245 - fone: (14)

3454 7424Que ônibus pegar: Cidade Universitária

ou Jardim CavalariHorário de atendimento: das 8h às 18h

Museu paleontológicoAv. Sampaio Vidal, 245 – Centro -

fones: (14) 3432 2006Que ônibus pegar: Cidade Universitária

ou Jardim CavalariHorário de Funcionamento: Seg a Sex

das 8h às 17h30 – Entrada Franca.

SESIAv. João Ramalho, 1306 - Jardim

Conquista - (14) 3417 4500No SESI você poderá encontrar música,

teatro e cinema toda semana gratuitamente. A programação é disponibilizada mensalmente no local... Fique por dentro!

Que ônibus pegar: Pegue um ônibus até o terminal, no terminal pegue a linha Nova Marília grupo I, II e III, eles param na frente do local

Ingresso GRATUITO - pode ser pego na hora do evento (aconselha-se chegar com uma meia hora de antecedência) ou retirar no local na semana do evento.

TEATRO: Há diversas temporadas de teatro profissional, amador, de bonecos, infantil. A primeira temporada do ano é a “Viagem teatral” que conta com teatro profissional de alta qualidade. As apresentações acontecem aos sábados e domingos, às 16h em temporada infantil e às 20h para as demais temporadas. Há também aulas de teatro para os interessados, as turmas são formadas no início do ano!

CINEMA: Seções as segundas feiras às 14h e 20h

MÚSICA: Apresentações de música erudita e MPB, as sextas feiras às 20h.

*Horários e dias sujeitos a alteração

Dica para transporte...

Segundo a Artesp (Agência de Transporte do Estado de São Paulo) as empresas de transporte rodoviário intermunicipal devem dar ao estudante desconto de 50% em suas passagens, segundo a portaria os documentos necessários para fazer sua carteirinha de desconto são: comprovante de

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residência em seu nome, do cônjuge, dos pais ou do responsável; Atestado de matrícula; e 2 fotos. Mas algumas empresas exigem cópias autenticadas por isso entre em contato com a empresa responsável por seu trajeto e informe-se dos tramites necessários.

Quanto à empresa circular municipal para obter o desconto é necessário fazer o Cartão Circula Fácil. Para fazê-lo leve ao endereço abaixo apenas seu RG e comprovante de endereço (originais), pois a UNESP disponibiliza a listagem dos alunos.

HORÁRIOS DOS ÔNIBUS Mais informações no site http://www.circulafacil.com.br/

Avenida Brasil, 232 - Centro - Fone: (14) 3413-7373Horário de atendimento: segunda à sexta das 8:00h as 17:00

Jéssica Álana Zenorini – Estudante de Ciências Sociais

Glossário de siglasConheça, agora, um pouco do campus da Unesp de Marilia. Abaixo segue uma lista de locais

importantes, da vida acadêmica dos/as alunos/as da FFC, e um breve resumo da utilidade de cada um.

Além dos lugares, tem um breve resumo dos significados de algumas siglas, que serão ouvidas, freqüentemente, nos corredores da Unesp.

ASSEMBLÉIA GERAL: órgão máximo de deliberação estudantil.

M.E: Movimento Estudantil.

D.C.E: Diretório Central dos Estudantes, serve basicamente para coordenar e unificar o Movimento Estudantil de uma Universidade.

D.A: Diretório Acadêmico – é formado composto por estudantes do campus e representa todos os cursos da universidade, se organiza por Assembléias Geral dos Estudantes.

C.A: Centro acadêmico – cada Curso tem um, ex. C.A de Sociais (CACS)

CEUF: Congresso de Estudantes UNESP-FATEC

CEEUF: Conselho de Entidades Estudantis UNESP- FATEC

PDI: Plano de Desenvolvimento Institucional = Sucateamento da Universidade Pública

REUNI: Reestruturação Universitária = Precarização do Ensino.

R.U: Restaurante Universitário = comida boa e barata conquistada depois de 15 anos de luta

d@s estudantes. Oferece refeições, no sistema de bandejões com um custo de R$ 2,50 para alun@s. O cardápio é composto de arroz, feijão, carne, guarnição, salada, sobremesa e suco, o cardápio fica disponível on line no site da Unesp. O Horário de funcionamento é das 11h30 às 13hs.

CAPITALISMO: Organização da sociedade em que a terra, as fábricas, os instrumentos de produção, etc., pertencem a um pequeno número de latifundiários e capitalistas, enquanto a massa do povo nenhuma ou quase nenhuma propriedade e deve, por isso alugar sua força de trabalho. (LENIN).

BURGUESIA: Classe Social que dirige o sistema capitalista, ela emerge como classe após o fim do Feudalismo. Tornou-se proprietária das terras, fábricas e instrumentos de produção. Criou o Estado burguês (que trabalha para ela), Democracia Burguesa (para exercer dominação política parlamentar), Direito Burguês, etc.

NEOLIBERALISMO: Abandono das medidas keynesiana que marcaram o pós-

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guerra, somado ao aprofundamento do liberalismo, prioriza-se a os lucros da iniciativa privada, com minimização das barreiras para a mobilidade de capitais e de comércio. Além disso, principalmente a partir do Consenso de Washington, busca-se por meio dos programas de desestatização o “Estado mínimo”, tal modelo aplica-se também no que diz respeito aos gastos com serviços sociais e infra-estrutura.

CLASSE TRABALHADORA: é a soma de toda a multiplicidade dos trabalhadores, dos mais diversos ramos e atividades, caracterizada por diferentes formas de pensar e agir, são despossuidos de meios de produção e dependem da venda de sua própria força de trabalho para sobreviverem.

PROLETARIADO: é a “classe” em relação à divisão hierárquica do trabalho “[...] que tira o seu sustento única e somente da venda do seu trabalho e não do lucro de qualquer capital; [aquela classe] cujo bem e cujo sofrimento, cuja vida e cuja morte, cuja total existência dependem da procura do trabalho e, portanto, da alternância dos bons e dos maus tempos para o negócio, das flutuações de uma concorrência desenfreada”. (Engels, “Princípios básicos do comunismo” ).

LABI: Laboratório de Informática. O LABI possui computadores com acesso a internet, impressoras matriciais, e a laser, atende alunos/as de Graduação e Pós-graduação e é gerenciado pelo STI. O horário de funcionamento do LABI nos dias úteis é das 08h00 as 22h30 e nos sábados das 09h00 as 15h00, de acordo com a planilha de agendamento ou se houver equipamentos disponíveis no momento.

Biblioteca: Espaço para empréstimos de livros, leituras e estudos além dos confortáveis sofás

utilizados por muitos/as alunos/as para descansar. A Biblioteca possui um acervo diversificado, atende a todos os cursos. O empréstimo é efetuado mediante a apresentação da carteirinha da biblioteca.O Horário de funcionamento nos dias úteis é das 8h00 às 22h00 e aos Sábado das 8hs às 12hs

Seção de Comunicações: Lá é possível enviar cartas, passar fax, protocolar documentos e etc.

Seção de Finanças: Localiza-se no prédio da direção, lá são efetuados os pagamentos para evento, entre outras coisas de ordem financeira.

SAEPE -Seção de Apoio ao Ensino, Pesquisa e Extensão: Local onde se obtém informações sobre eventos (seminários, simpósios, etc), auxilia no manuseio de equipamentos, controla as reservas de salas e anfiteatros.

STI - Serviço Técnico de Informática: Local responsável pelos laboratórios do campus, pelo sistema de informática, pelo site da Unesp- Marília e etc.

STA- Seção Técnica Acadêmica: Responsável por fornecer informações sobre as bolsas de extensão.

Seção de Graduação: Lá é possível obter informações, sobre horários, turmas, matricula, renovação da matrícula, sobre carteirinha escolar de ônibus e é lá também onde são retirados os atestados, é talvez o local onde os/as alunos/as mais recorram.