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Fernando Pessoa 1888 - 1935

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Fernando Pessoa

1888 - 1935

Cada grupo de estados de almamais aproximados insensivelmentese tornará uma personagem, comestilo próprio, com sentimentosporventura diferentes, até opostosaos típicos do poeta na sua pessoaviva.

Fernando Pessoa.

Modernismo Europeu

Início do séc. XX

Portugal

O que é um heterônimo?

• Ortônimo: eu empírico, o próprio poeta, sujeito real do mundo,ideológico, que vive as experiências, o criador

• Heterônimo é a criação, com nome, biografia, obra e estilo próprios, comose fosse um eu-empírico, mas, por ser criação, é eu lírico

• A heteronomia é um processo criativo pelo qual Pessoa cria seus outroseus, e assim percorre os caminhos do auto-conhecimento

Teoria do Fingimento:

teoria da criação desenvolvida pelo filósofo alemão Friedrich

Nietzsche.

“somente o poeta que é capaz de mentir

conscientemente, voluntariamente, pode dizer a

verdade.”

Despersonalização:

teoria criada pelo filósofo alemão Friedrich Hegel. O ser

em si (eu empírico, real, o criador) torna-se outro ser

(eu lírico, a criação) e retorna a estar em si. É um

estado de consciência das infinitas possibilidades que

podemos ser de nós mesmos. Em Fernando Pessoa, a

busca por essa consciência alimentou e elevou sua

esquizofrenia ao grau máximo.

eu

EU AUTOCONHECIMENTO

busca outros (eus líricos)

retorna a si (eu empírico)

eueu

eu

Ricardo Reis - o discípulo• 1887, Porto, apesar de não termos referências da morte do

heterônimo, José Saramago, em sua obra O ano da morte deRicardo Reis, trabalha o ano de 1936

• Formação clássica em colégio jesuíta: latinista e semi-helenista

• Médico e monarquista; moreno, alto e magro

• 1919: foi morar no Brasil

• Teórico do neopaganismo (novo bucolismo)

• O mais fiel discípulo de Alberto Caeiro: que ser como o mestre

• Estética:

odes clássicas: curtas, ricas em inversões sintáticas

ode é um canto de exaltação e glorificação

temas: transitoriedade e morte = obsessão = pavor

Ética da abdicação: quem não quer nada, não perde nada.Portanto, não sofre.

tempo: é estático; efêmero, mas sem mudanças

Na busca pelo equilíbrio, Ricardo Reis torna-se desequilibrado. (jamais será como o mestre)

Busca pela serenidade dos sábios

Nada vale a penaÉtica da apatia

Abdicação de tudo

Aceitação resignada do

destino

Afastamento de tudo que pode causar perturbação e dor: sujeito

moderado

Viver indiferente a

tudo

CARPE DIEM

Contemplação da natureza:

busca pela calma e equilíbrio

ESTOICISMO EPICURISMO

Zona de intersecção:Latinismo e Semi-helenismo

Quinto Horácio Flaco, 65a.C. — Roma, 8 a.C. Foi umpoeta lírico e satíricoromano, além de filósofo.É conhecido por ser umdos maiores poetas daRoma Antiga.

• Estoicismo: é forma de Ricardo Reis se defender do mundo, não se importar com ele

procura olhar o mundo sem envolvimento – frieza e desencanto

esse processo o levará ao Epicurismo (Carpe Diem)

• Epicurismo: deve-se aproveitar a vida e seus prazeres porque a morte é a únicacerteza, devemos temê-la – destino/fatalismo

• O olhar: o homem deve olhar as coisas do mundo como os Deuses – soberba dequem renega tudo (uma forma de ignorar o mundo)

• A busca por um ideal de equilíbrio impossível atormenta Ricardo Reis: desejo de umequilíbrio forjado que o leva ao sofrimento

• O tempo:

Transitório eefêmero, masESTÁTICO

Renova a decepçãoameaçado pelosentimento demorte

Pessimismo mortal

A poesia do heterônimo

Ricardo Reis

• Este é um poema dedicado ao mestre Alberto Caeiro

• A contemplação da natureza o salva do sofrimento,porém não do tormento da transitoriedade

• Perceba! O tempo passa rápido mas é estático, poisnada muda. Se nada muda, não se cria expectativa denada, logo se pode vencer melhor a dor

Mestre, são plácidas Todas as horas Que nós perdemos, Se no perdê-las, Qual numa jarra, Nós pomos flores.

Não há tristezas Nem alegrias Na nossa vida. Assim saibamos, Sábios incautos, Não a viver,

Mas decorrê-la, Tranquilos, plácidos, Lendo as crianças Por nossas mestras, E os olhos cheios De Natureza... (...)

A vida deve ser tratada com descompromisso, aproveitando cada

momento ao máximo e com tranquilidade, como uma criança

Neo-paganismo

• Reis o discípulo mais fiel do neo-paganismo de Alberto Caeiro

• Ele teorizou o que o mestre praticou

• Ob: Cristo é apenas mais um deus noaltar como os outros

O Deus Pã não Morreu,

Cada campo que mostra

Aos sorrisos de Apolo

Os peitos nus de Ceres —

Cedo ou tarde vereis

Por lá aparecer

O deus Pã, o imortal.

Não matou outros deuses

O triste deus cristão.

Cristo é um deus a mais,

Talvez um que faltava.

Pã continua a ciar

Os sons da sua flauta

Aos ouvidos de Ceres

Recumbente nos campos.

Os deuses são os mesmos,

Sempre claros e calmos,

Cheios de eternidade

E desprezo por nós,

Trazendo o dia e a noite

E as colheitas douradas

Sem ser para nos dar o dia e a noite e o trigo

Mas por outro e divino

Propósito casual.

Vale lembrar que a educaçãoque Ricardo Reis teve foi clássicanum colégio jesuíta. Não se tratade ateísmo, e sim apenas deuma outra crença.

• Ricardo Reis convida sua amadaa contemplar a natureza eaproveitarem o dia (Carpe Diem)

Vem sentar-te comigo, Lídia, à beira do rio. Sossegadamente fitemos o seu curso e aprendamos Que a vida passa, e não estamos de mãos enlaçadas.

(Enlacemos as mãos.)

Depois pensemos, crianças adultas, que a vida Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa, Vai para um mar muito longe, para ao pé do Fado,

Mais longe que os deuses.

Desenlacemos as mãos, porque não vale a pena cansarmo-nos. Quer gozemos, quer não gozemos, passamos como o rio. Mais vale saber passar silenciosamente

E sem desassossegos grandes.

Sem amores, nem ódios, nem paixões que levantam a voz, Nem invejas que dão movimento demais aos olhos, Nem cuidados, porque se os tivesse o rio sempre correria,

E sempre iria ter ao mar.

Amemo-nos tranquilamente, pensando que podíamos, Se quiséssemos, trocar beijos e abraços e carícias, Mas que mais vale estarmos sentados ao pé um do outro

Ouvindo correr o rio e vendo-o.

• Apesar do tom amoroso,Reis não alimenta paixões,muito pelo contrário. Estemomento com Lídia nadamais é que suanecessidade de passar otempo aproveitando-o,gozando de prazeres

Colhamos flores, pega tu nelas e deixa-as No colo, e que o seu perfume suavize o momento —Este momento em que sossegadamente não cremos em nada,

Pagãos inocentes da decadência.

Ao menos, se for sombra antes, lembrar-te-ás de mim depois Sem que a minha lembrança te arda ou te fira ou te mova, Porque nunca enlaçamos as mãos, nem nos beijamos

Nem fomos mais do que crianças.

E se antes do que eu levares o óbolo ao barqueiro sombrio, Eu nada terei que sofrer ao lembrar-me de ti. Ser-me-ás suave à memória lembrando-te assim — à beira-rio,

Pagã triste e com flores no regaço.

• O desejo de aproveitar ao máximo o dia comLídia advém do medo da morte, da únicacoisa que é certa na vida e que chega semavisar.

• Essa é uma típica ode de Ricardo Reis: curta e de exaltação

• Frente às incertezas da vida, que passa com ligeireza e semcompreensão, resta a certeza de que tudo morrerá

• Sentimento de incompletude

Tão cedo passa tudo quanto passa! Morre tão jovem ante os deuses quanto Morre! Tudo é tão pouco! Nada se sabe, tudo se imagina. Circunda-te de rosas, ama, bebe E cala. O mais é nada.

Sentimento de incompletude, de

metade, como se a vida não tivesse sido

plena

Temo, Lídia, o destino. Nada é certo.Em qualquer hora pode suceder-nos

O que nos tudo mude.Fora do conhecido é estranho o passoQue próprio damos. Graves numes guardam

As lindas do que é uso.Não somos deuses: cegos, receemos,E a parca dada vida anteponhamos

À novidade, abismo.

Só o que pode mudar tudo é a MORTE

Ob. Depois de tudo, podemos perceber queRicardo Reis não só teme a morte, mas éobcecado por ela – a morte é certa, mas seutempo é misterioso.

É tão suave a fuga deste dia, Lídia, que não parece, que vivemos. Sem dúvida que os deuses Nos são gratos esta hora,

Em paga nobre desta fé que temos Na exilada verdade dos seus corpos Nos dão o alto prêmio De nos deixarem ser

Convivas lúcidos da sua calma, Herdeiros um momento do seu jeito De viver toda a vida Dentro dum só momento,

Dum só momento, Lídia, em que afastados Das terrenas angústias recebemos Olímpicas delícias Dentro das nossas almas.

E um só momento nos sentimos deuses Imortais pela calma que vestimos E a altiva indiferença Às coisas passageiras

Como quem guarda a coroa da vitória Estes fanados louros de um só dia Guardemos para termos, No futuro enrrugado,

Perene à nossa vista a certa prova De que um momento os deuses nos amaram E nos deram uma hora Não nossa, mas do Olimpo.

O momento é tão passageiro que é preciso gozá-lo. Não é certo que se irá vivê-lo novamente.

Ser como um Deus é aprender a ignorar tudo: o mundo e os

sentimentos. Ser indiferente é essencial.