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Universidade Federal do Rio de Janeiro Instituto de Química IQF 353 – Equilíbrio de Fases em Sistemas Multicompostos Apostila de Apoio Guilherme Cordeiro da Graça de Oliveira

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Equilíbrio de Fasesem Sistemas Multicompostos

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  • Universidade Federal do Rio de Janeiro

    Instituto de Qumica

    IQF 353 Equilbrio de Fases

    em Sistemas Multicompostos

    Apostila de Apoio

    Guilherme Cordeiro da Graa de Oliveira

  • ndice:

    Captulo 1 Regra das Fases de Gibbs Sistemas com Um Componente 4 1.1 Regra das Fases de Gibbs Definies Importantes 4 1.2 - Expresso da Regra das Fases e Aplicaes 4

    1.3 Tratamento Quantitativo do Equilbrio de Fases Equao de Clausius-Clapeyron

    8

    1.4 Exerccios 12

    Captulo 2 Sistemas Binrios 13 2.1 Equilbrio Lquido-Vapor: Comportamento Ideal 13

    2.1.1 Regra da Alavanca 16 2.1.2 Exerccios 18 2.1.3 Diagramas de Temperatura versus Composio: Destilao de

    Misturas Lquidas

    19

    2.2 Equilbrio Lquido-Vapor: Afastamento da Idealidade e Formao de Azetropos

    21

    2.2.1 Destilao de Azetropos 23 2.3 Lquidos Parcialmente Miscveis 24 2.4 Exerccios 28 2.5 Equilbrio Slido-Lquido 29

    2.5.1 Sistemas Formados por Componentes Imiscveis em Fases Slida

    29

    2.5.2 Sistemas Formados por Componentes Parcialmente Miscveis em Fases Slida

    30

    2.5.3 Cristalizao de Um Magma Sistemas Fora da Condio de Equilbrio

    32

    2.5.4 Sistemas com Formao de Intermedirios 32 2.5.5 - Exerccios 38

    2.5.6 Tcnica de Recristalizao 40 2.5.7 Pontos Invariantes Importantes 41 2.5.8 Exemplos de Diagramas de Fases Reais 42 2.5.9 Sistemas com Miscibilidade Parcial em Fase Lquida 47 2.5.10 Sistemas com Miscibilidade Total em Fase Slida 48

    Captulo 3 Sistemas Ternrios 50 3.1 Representaes Grficas e Propriedades dos Sistemas Ternrios 50

    3.1.1 Representao Atravs de Tringulo Retngulo 50 3.1.2 Representao Atravs de Tringulo Equiltero 51

    3.2 Sistemas Formados por Lquidos Parcialmente Miscveis 53 3.2.1 Exerccio 54

    3.3 Equilbrio Lquido Vapor 57 3.3.1 Comportamento Ideal 57 3.3.2 Exerccios 62 3.3.3 Afastamento do Comportamento Ideal 65

  • 3.3.4 Destilao Fracionada de Sistemas com Azetropo de Mnimo de Temperatura

    70

    3.3.5 Exerccio 72 3.4 Equilbrio Slido Lquido 73

    3.4.1 Sistemas com Formao de Euttico Ternrio 73 3.4.2 Diagramas Politrmicos 76 3.4.3 Formao de Composto Intermedirio 78 3.4.4 Sistemas Constitudos de gua e Dois Sais 87 3.4.5 Trajetria de Cristalizao de Um Euttico Ternrio Simples.

    Anlise Qualitativa e Utilizao da Regra da Alavanca

    93

    Bibliografia 96

  • - 4 -

    Captulo 1

    Regra das Fases de Gibbs - Sistemas com Um Componente.

    1.1 Regra das Fases de Gibbs Definies Importantes

    A expresso da regra das fases de Gibbs constitui uma ferramenta til para a

    anlise de sistemas termodinmicos em equilbrio. Antes de passarmos deduo da

    expresso da regra das fases, algumas definies so importantes. Definimos fase (P)

    como uma parte do sistema que qumica e fisicamente uniforme. O nmero de

    componentes (C) de um sistema o menor nmero de variveis qumicas

    independentes que descrevem a composio de cada fase do sistema e seu conjunto. A

    variana (V) ou nmero de graus de liberdade o nmero de coordenadas intensivas

    (independentes da massa do sistema) que precisamos conhecer a fim de definir o

    estado do sistema. A variana tambm pode ser definida como o nmero de

    coordenadas intensivas que se pode variar sem alterar o nmero de fases em equilbrio.

    1.2 - Expresso da Regra das Fases e Aplicaes

    Considere um sistema com C componentes distribudos em P fases conforme o

    esquema da Figura 1.1.

    Figura 1.1 Representao Esquemtica de um Sistema em Equilbrio com C Componentes Distribudos em P Fases.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 5 -

    - 5 -

    Inicialmente vamos supor que todos os componentes esto presentes em todas

    as fases. Em cada fase necessrio que se definam C-1 variveis de composio a fim

    de que se conhea a composio global do sistema. Se utilizarmos as fraes molares

    para definir as concentraes dos componentes, a concentrao do Csimo

    componente

    ser o complementar de 1. Como existem P fases ento so necessrias P(C-1)

    variveis de composio. A essas variveis de composio, acrescentam-se

    temperatura e presso, totalizando P(C-1)+2 variveis intensivas.

    O fato de se considerar o equilbrio termodinmico implica na igualdade dos

    potenciais qumicos para cada componente nas diferentes fases, a temperatura e

    presso constantes. O componente C1, por exemplo, est distribudo entre as fases

    vizinhas P1 e P2. Ao se estabelecer o equilbrio, pode-se escrever uma relao de

    distribuio entre as duas fases. Assim, se a concentrao 11P

    c do componente 1 na fase

    P1 for conhecida, a concentrao desse mesmo componente est automaticamente fixa

    para a fase P2. Desta forma, se estabelecem relaes de equilbrio similares para cada

    componente entre os diferentes pares de fases. Para cada componente existir P-1

    relaes de equilbrio e, para C componentes existiro C(P-1) relaes de equilbrio.

    Assim a variana do sistema, ou seja, o nmero de variveis intensivas que se pode

    fixar arbitrariamente sem alterar o nmero de fases em equilbrio ser:

    2 PCV (1.1)

    Esta a equao que define a expresso da regra das fases de Gibbs e foi obtida

    pela primeira vez por Williard Gibbs em 1878. Sua deduo e aplicao, publicada em

    Transactions of the Connectcut Academy, foi motivo de grandes discusses e permaneceu obscura por cerca de vinte anos.

    Se um componente est ausente ou est presente em concentrao

    negligencivel numa das fases, haver uma varivel intensiva a menos para esse

    componente, no entanto, o sistema perde tambm uma relao de equilbrio, ou seja, a

    regra das fases se aplica a todos os sistemas em equilbrio, mesmo se o nmero de

    componentes varia entre as fases.

    Da Equao 1.1, para sistemas com um componente (C=1), a variana mxima

    ser 2, quando somente uma fase estiver em equilbrio e a variana mnima ser 0,

    quando trs fases estiverem em equilbrio. Os exemplos a seguir ilustram o conceito de

    variana.

    Na Figura 1.2 est representado o diagrama de equilbrio, presso versus

    temperatura, para a gua, em presses moderadas. Em qualquer ponto do diagrama

    onde se tenha somente uma fase, V=2 (sistema bivariante), ou seja, necessitam-se

    )1(2)1( PCCPV

    Variveis Intensivas

    Relaes de Equilbrio

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 6 -

    - 6 -

    conhecer duas variveis intensivas, presso e temperatura para se conhecer o estado do

    sistema e o valor das outras propriedades do sistema.

    No caso de duas fases estarem em equilbrio, podemos analisar, por exemplo, o

    equilbrio lquido vapor representado pela curva TC da Figura 1.2. Ao longo de TC temos os valores de presso e temperatura onde coexistem em equilbrio gua lquida e

    vapor dgua. Exceto no ponto T, teremos, segundo a expresso da regra das fases,

    V=1 (sistema monovariante), ou seja, basta conhecermos uma varivel intensiva, no

    caso temperatura ou presso, para que conheamos o valor das outras variveis. Uma

    vez que se tenha lquido e vapor em equilbrio, basta conhecermos a presso que a

    temperatura poder ser determinada; ou vice-versa, basta conhecermos a temperatura

    que a presso est definida. Este mesmo raciocnio poder ser feito para o equilbrio

    slido lquido (curva TB) e para o equilbrio slido vapor (curva TA). No ponto triplo T o sistema invariante (V=0), coexistem em equilbrio, slido, lquido e vapor.

    Isto significa que, uma vez que se tenham as trs fases em equilbrio, os valores de

    presso e temperatura sero necessariamente 0,006 atm e 0,098 oC.

    Figura 1.2 Diagrama de Fases da gua em Presses Moderadas

    A Figura 1.3 representa o diagrama de equilbrio da gua em presses elevadas.

    Nesta figura a numerao I, II etc. refere-se a diferentes formas cristalinas do gelo. A

    existncia de diferentes formas cristalinas de um composto conhecida como

    polimorfismo. interessante observar que o gelo VII pode existir em temperaturas

    prximas a 100 oC.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 7 -

    - 7 -

    Figura 1.3 Diagrama de Fases da gua em Presses Elevadas

    Com relao ao equilbrio slido lquido, a gua apresenta uma caracterstica incomum. Para a maioria das substncias a inclinao da curva de equilbrio slido lquido positiva, tal como na Figura 1.4. Para a gua esta inclinao negativa, ou

    seja, dp/dT0 para o Equilbrio Slido-Lquido

    A Figura 1.5 representa o diagrama de equilbrio do SiO2. A anlise desse

    diagrama tem grande importncia em estudos de origem, composio e estrutura de

    rochas. Na presso ambiente, a transio quartzo quartzo ocorre a 573 oC e a transio quartzo trimidita ocorre a 870 oC. O ponto triplo lquido vapor - cristobalita a 1713 oC. O ponto triplo quartzo trimidita cristobalita ocorre

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 8 -

    - 8 -

    prximo a 1400 oC. Verifique que outras formas slidas podem existir em presses

    elevadas.

    Figura 1.5 Diagrama de Fases do SiO2

    1.3 Tratamento Quantitativo do Equilbrio de Fases de Substncias Puras: Equao de Clausius Clapeyron.

    Desenvolveremos aqui a expresso de Clausius Clapeyron para o equilbrio lquido vapor. Cabe ressaltar, no entanto, que o mesmo desenvolvimento poder ser feito para qualquer par de fases em equilbrio.

    A temperatura e presso constantes, a condio termodinmica para o equilbrio

    entre um lquido puro e seu vapor implica na igualdade dos potenciais qumicos do

    lquido ( l ) e do vapor ( v ). Particularmente podemos escrever para ld e vd :

    dpVdTSd lll

    dpVdTSd vvv

    Onde S e V so a entropia e o volume molares e os ndices l e v referem-se s fases

    lquida e vapor. Teremos ento:

    dpVdTSdpVdTS vvll

    dTSSdpVV lvvl )()(

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 9 -

    - 9 -

    dTSdpV vapvap

    Consequentemente, a forma diferencial da equao de Clausius Clapeyron para o equilbrio lquido - vapor ser:

    vap

    vap

    V

    S

    dT

    dp

    (1.2)

    onde vapS a entropia molar de vaporizao e vapV o volume molar de

    vaporizao. Na expresso 1.2, podemos escrever THS vapvap . J lvvap VVV

    e como lv VV ento vlv VVV . Considerando ainda a fase vapor com

    comportamento ideal, pRTV v . Com essas simplificaes e separando as variveis,

    a equao 1.2 fica:

    dTRT

    H

    p

    dp vap

    2

    (1.3)

    Para esta integrao consideramos vapH independente da temperatura. Esta

    uma aproximao vlida quando os limites de integrao no so muito grandes

    (aproximadamente at 20 oC). De 1.3 vem:

    cteRT

    HLnp

    vap

    (1.4)

    A equao 1.4 corresponde forma integrada da equao de Clausius Clapeyron para o equilbrio lquido vapor. Como pode ser observado, o grfico de

    Ln p versus 1/T uma reta cuja inclinao RH vap / . A Figura 1.6 apresenta os

    diagramas Log p versus 1/T para diversas substncias. Nesta Figura, os pontos

    experimentais esto bem alinhados mostrando que o modelo descreve de forma

    satisfatria o equilbrio lquido vapor. Pequenos desvios da linearidade podem ser atribudos s simplificaes utilizadas na deduo da equao 1.4.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 10 -

    - 10 -

    Figura 1.6 Grficos de Log p versus 1/T

    Para o equilbrio slido lquido a equao de Clausius Clapeyron, em sua forma diferencial, se escreve como:

    )( sl

    fus

    VVT

    H

    dT

    dp

    (1.5)

    Na equao acima, lV e sV so os volumes parciais molares do lquido e do

    slido, respectivamente. Uma vez que fusH > 0, o sinal de dp/dT ser determinado

    pela diferena )( sl VV . Dois casos so possveis:

    (i) Quando h expanso na fuso, sl VV e dp/dT > 0. Isto o que ocorre com a

    grande maioria das substncias, ou seja, ao se fundir o sistema tem seu volume

    aumentado.

    (ii) Quando h contrao na fuso, sl VV e dp/dT < 0. Isto o que ocorre com a

    gua, antimnio e bismuto. Neste caso, a massa especfica do lquido maior que a

    massa especfica do slido por isso o gelo bia.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 11 -

    - 11 -

    Exemplo 1.1

    Sistema Calcita Aragonita

    A partir dos dados termodinmicos fornecidos na Tabela 1.1 construir o

    diagrama p versus T para a fronteira de estabilidade entre as espcies polimficas do

    CaCO3 calcita e aragonita.

    Tabela 1.1 Dados Termodinmicos do CaCO3 a 25 oC e 1,0 bar.

    CaCO3 0

    fH (kJ/mol) 0

    fG (kJ/mol) 0

    fS (J/mol.K) 0

    V (cm3/mol)

    calcita (c) -1206,92 -1128,79 92,9 36,934

    aragonita (a) -1207,13 -1127,75 88,7 34,150

    Figura 1.7 Sistema Calcita - Aragonita

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 12 -

    - 12 -

    1.4 Exerccios:

    I) A presso de vapor do mercrio vale 245 mmHg a 300 oC. Sabendo que a

    temperatura normal de ebulio do mercrio 356,6 oC, determine o calor latente de

    vaporizao do mercrio.

    Resp. 60 kJ/mol.

    II) O grfico ao lado d a

    presso de vapor do

    metanol em mmHg em

    funo da temperatura.

    Determine o calor latente

    de vaporizao do

    metanol, sua presso de

    vapor a 25 oC e sua

    temperatura normal de

    ebulio.

    III) A presso de vapor do cido ntrico vale 47,7 mmHg a 20 oC e vale 133 mmHg a

    40 oC. Determine o calor latente de vaporizao e a temperatura normal de ebulio do

    cido ntrico.

    Resp. 39,0 kJ/mol; 81 oC.

    IV) O naftaleno, C10H8, funde a 80,2 oC. Se a presso de vapor do lquido 10 Torr a

    85,8 oC e 40 Torr a 119,3

    oC, calcule: (a) sua entalpia de vaporizao; (b) seu ponto de

    ebulio normal e (c) sua entropia de vaporizao.

  • - 13 -

    Captulo 2

    Sistemas Binrios

    2.1 Equilbrio Lquido Vapor: Comportamento Ideal

    Imagine um sistema em equilbrio com dois componentes A e B distribudos em

    duas fases, lquida e vapor, tal como ilustrado na Figura 2.1. Adotaremos como

    conveno x para as fraes molares na fase lquida, y para as fraes molares da fase vapor e z para fraes molares globais.

    Figura 2.1 Sistemas Binrios: Equilbrio Lquido - Vapor

    Se a fase lquida tem comportamento ideal ento a presso na fase vapor estar

    relacionada com a composio da fase lquida atravs da Lei de Raoult:

    Para um sistema multicomponente, a presso parcial de um componente i na fase vapor (pi) ser linearmente

    proporcional a sua frao molar em fase lquida, sendo a

    constante de proporcionalidade igual presso de vapor do

    componente puro ( 0ip ), na mesma temperatura da mistura.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 14 -

    - 14 -

    0

    iii pxp (2.1)

    A presso na fase vapor ser p=pA+pB. Aplicando a Lei de Raoult, Equao 2.1,

    teremos ento:

    ABAB xpppp )(000 (2.2)

    A Equao 2.2 relaciona a presso total na fase vapor com a composio da fase

    lquida, esta a Equao do Ponto de Bolha.

    Admitindo que a fase vapor se comporte idealmente, podemos aplicar a Lei de

    Dalton das Presses Parciais:

    ppy AA / (2.3)

    ppy BB / (2.4)

    onde yA e yB so as fraes molares de A e B na fase vapor. Fazendo 2.1 e 2.2 em 2.3

    obtemos:

    ABAB

    AAA

    xppp

    pxy

    )( 000

    0

    ou,

    000

    0

    )( ABAA

    BAA

    pppy

    pyx

    (2.5)

    Agora, fazendo 2.5 em 2.2, vem:

    000

    0000

    )()(

    ABAA

    BABAB

    pppy

    pypppp

    ou,

    o

    ABAA

    BABABABABA

    pppy

    pppppypppyp

    )(

    )()(00

    00000000

    AABA

    BA

    yppp

    ppp

    )( 000

    00

    (2.6)

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 15 -

    - 15 -

    A Equao 2.6 d a dependncia entre a presso total e a composio da fase

    vapor. Esta a equao do ponto de orvalho.

    A Figura 2.2 a representao grfica das equaes dos pontos de bolha e

    orvalho. Nas regies onde temos somente uma fase, o sistema bivariante (V=2), ou

    seja, a presso e a composio podem variar livremente sem que se altere o nmero de

    fases presentes. Na regio bifsica o sistema univariante (V=1), ou seja, somente a

    composio global pode ser alterada sem que se altere a composio das fases em

    equilbrio. Os pontos a e b definem a linha de amarrao e as composies das fases em equilbrio. Qualquer sistema cuja composio global estiver compreendida

    entre a e b ter a mesma composio das fases em equilbrio (xA e yA).

    Figura 2.2 Representao das Equaes dos Pontos de Bolha e Orvalho

    Na Figura 2.3, a seqncia de 1 at 5 representa uma compresso isotrmica de

    um sistema inicialmente totalmente na fase vapor (ponto 1). Ao se atingir o ponto 2

    forma-se a primeira gotcula de fase lquida. O ponto 2 o ponto de orvalho e

    representa o equilbrio entre uma grande massa gasosa com uma pequena massa de

    lquido. A compresso de 2 para 3 faz com que aumente a quantidade de lquido e

    diminua a quantidade de vapor. Em 3 o sistema tem as fases lquida e vapor em

    equilbrio com composies iguais a x3 e y3. Como veremos adiante os segmentos 3-3 e 3-3 determinam as quantidades relativas das fases em equilbrio. Em 4 o sistema representa o equilbrio entre uma grande massa lquida e uma pequena massa gasosa.

    O ponto 4 o ponto de bolha do sistema. Finalmente, em 5 o sistema encontra-se

    totalmente liquefeito.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 16 -

    - 16 -

    Figura 2.3 Compresso Isotrmica de 1 at 5.

    2.1.1 Regra da Alavanca

    A expresso da regra da alavanca permite calcular as quantidades relativas das

    fases em equilbrio. Admitindo componentes A e B distribudos nas fases lquida e

    vapor e escrevendo: n - nmero total de moles do sistema; nA - nmero total de moles

    de A; LAn - nmero de moles de A na fase lquida; V

    An - nmero de moles de A na fase

    vapor ento:

    V

    A

    L

    AA nnn (2.7)

    porm, AA nzn , ALL

    A xnn e AVV

    A ynn onde Ln e Vn so os nmeros de moles das

    fases lquida e vapor. Podemos escrever ainda que VL nnn . Fazendo as

    substituies em 2.7 vem:

    A

    V

    A

    L

    A ynxnnz

    A

    V

    A

    L

    A

    VL ynxnznn )(

    Na expresso acima, rearranjando os termos, obtemos a expresso da regra da

    alavanca:

    )()( AAV

    AA

    L zynxzn (2.8)

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 17 -

    - 17 -

    importante ter em mente que essa regra poder ser aplicada par qualquer par

    de fases em equilbrio e no somente para o equilbrio lquido vapor.

    Considere a Figura 2.3. Na presso correspondente ao ponto 3, o sistema

    bifsico com lquido e vapor em equilbrio. Aplicando a regra da alavanca no

    segmento 3-3-3 vem:

    )()( ''3'3 zynxznVL (2.9)

    Exemplo 2.1

    Uma soluo formada por 266,4 g de pentano e 432,0 g de isopentano mantida

    a 18,5 oC e 452,5 mmHg. O vapor em equilbrio com o lquido condensado e

    recolhido. Calcule o nmero de moles de vapor recolhido.

    Dados:

    Presses de vapor a 18,5 oC: Pentano (p) 400 mmHg; Isopentano (i) 488,1 mmHg;

    Massa molecular 72 g/mol

    Resoluo:

    7,372

    4,266

    M

    mn

    p

    p ; 0,6in ; ip nnn ; 7,9n

    38,07,9

    7,3

    n

    nz

    p

    p ; pi zz 1 ; 62,0iz (composio global)

    ipip xpppp )(000 (eq. 2.3) 596,0ix ; 404,0px (composio do vapor)

    ppip

    ip

    yppp

    ppp

    )( 000

    00

    (eq. 2.5) 357,0py ; 643,0iy (composio do lquido)

    A Figura 2.4 representa o diagrama de equilbrio pentano isopentano. O nmero de moles de vapor recolhido ser dado aplicando-se a regra da alavanca ao

    segmento a-c-b da Figura 2.4 juntamente com o balano total de moles do sistema.

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 18 -

    - 18 -

    Figura 2.4 Sistema Pentano - Isopentano

    2.1.2 - Exerccios:

    (I) A Figura 2.5 representa o diagrama de equilbrio lquido vapor de presso versus composio de misturas entre benzeno e tolueno a 100

    oC. Nesta temperatura, a

    presso de vapor do benzeno vale 1360 mmHg e a do tolueno vale 560 mmHg.

    Para um sistema que contenha 60 moles de tolueno e 40 moles de benzeno

    determine: (a) a presso do ponto de bolha; (b) a presso do ponto de orvalho; (c) a

    composio de cada fase a 800 mmHg; (d) o nmero de moles de cada fase em

    equilbrio a 800 mmHg. O item c dever ser lido diretamente no grfico.

    0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0400

    600

    800

    1000

    1200

    1400

    p (

    mm

    Hg)

    Frao Molar de Benzeno

    Figura 2.5 Diagrama de Equilbrio Benzeno Tolueno

    )()(

    7,9

    ii

    V

    ii

    L

    VL

    zynxzn

    nn

    De onde se obtm 95,4Vn moles

  • Apostila de Equilbrio de Fases Prof. Guilherme - 19 -

    - 19 -

    (II) As solues constitudas de clorobenzeno e bromobenzeno tm comportamento

    ideal. A 137 oC, as presses de vapor desses lquidos puros valem,

    respectivamente, 860 mmHg e 450 mmHg. Nesta temperatura e sob a presso de

    1,01 bar, adiciona-se clorobenzeno a dois moles de bromobenzeno. (a) Que

    quantidade se deve adicionar do primeiro ao segundo para se atingir o ponto de

    bolha do sistema? (b) Que quantidade se deve adicionar do primeiro ao segundo

    para se atingir o ponto de orvalho do sistema? (c) Qual o estado do sistema aps a

    adio de oito moles de clorobenzeno aos dois moles de bromobenzeno? (d) Com

    relao ao item c, quantos moles de cada componente estaro liquefeitos e quantos moles estaro vaporizados?

    2.1.3 Diagramas de Temperatura versus Composio Destilao de Misturas Lquidas

    A Figura 2.6 apresenta o diagrama temperatura versus composio para

    sistemas ideais. Analisemos o aquecimento isobrico de um lquido de composio em

    1. Ao se atingir a temperatura T2, surge a primeira bolha de vapor de composio 2. O ponto 2 o ponto de bolha do sistema e representa o equilbrio entre uma grande

    massa lquida e uma pequena massa de vapor. A partir de T2 o aquecimento acarreta

    no aumento da fase vapor e diminuio da fase lquida. Em T3 temos em equilbrio um

    lquido de composio 3 com um vapor de composio 3. Em T4 resta ainda no sistema a ltima gotcula de lquido, de composio 4. O ponto 4 o ponto de orvalho do sistema. A regra da alavanca pode ser aplicada no segmento 3-3-3 para determinar as quantidades relativas das fases em equilbrio.

    Figura 2.6 Diagrama Temperatura versus Composio para Sistemas Ideais.

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    - 20 -

    Na Figura 2.7 est esquematizado o processo de destilao fracionada a partir

    de um lquido em 1. Esse sistema ao ser aquecido at 2 apresenta um lquido de

    composio 4 em equilbrio com um vapor de composio 3. O vapor em 3 pode ser

    resfriado dando origem a um novo sistema bifsico de composio global em 5. Agora

    o vapor em equilbrio com o lquido tem sua composio em 7. Desta forma, atravs

    de sucessivos ciclos de resfriamento e separao de vapor chega-se a obter, no topo da

    coluna de destilao, o componente B (mais voltil) praticamente puro. Por outro lado,

    a composio do lquido residual vai aumentando no componente A (menos voltil).

    Figura 2.7 Destilao Fracionada

    Exemplo 2.2

    Numa coluna de destilao procura-se separar os componentes de uma soluo

    de benzeno e tolueno cuja frao mssica de benzeno 0,3. O topo da coluna fornece

    um produto com 98 % em peso de benzeno e o lquido residual tem 5 % de benzeno.

    Qual a massa de benzeno que se obtm no topo da coluna ao se destilarem 2,0 kg dessa

    soluo?

    Exemplo 2.3

    A Figura 2.8 mostra o diagrama de fases determinado experimentalmente para

    solues de heptano e hexano. (a) identifique as fases presentes nos diagramas; (b)

    para uma soluo contendo um mol de cada componente, determine a presso de vapor

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    - 21 -

    a 70 oC no incio da vaporizao; (c) qual a presso de vapor a 70

    oC quando resta

    somente uma gotcula de lquido no sistema?; (d) determine a composio do lquido e

    do vapor referentes ao item b; (e) determine a composio do lquido e do vapor

    referentes ao item c; (f) a 80 oC e 760 mmHg quais as quantidades das fases em

    equilibrio quando zhep = 0,4 e n = 10.

    Figura 2.8 Diagramas de Equilbrio Heptano - Hexano

    2.2 Equilbrio Lquido Vapor: Afastamento da Idealidade e Formao de Azetropos

    O afastamento do comportamento ideal de uma soluo est diretamente

    relacionado com o desvio da Lei de Raoult. A Figura 2.9 ilustra esse comportamento

    para duas situaes diferentes. Nesta figura, as presses de vapor dos componentes so

    traadas em curvas contnuas enquanto que as retas tracejadas representam o

    comportamento ideal. No primeiro caso, Figura 2.9a, as presses de vapor dos

    componentes so maiores que as presses previstas pela lei de Raoult neste caso o afastamento positivo com relao lei de Raoult. No segundo caso, Figura 2.9b, as

    presses de vapor dos componentes so menores que as presses previstas pela lei de

    Raoult neste caso o afastamento negativo.

    Quando o sistema apresenta um comportamento no ideal acentuado, mximos

    ou mnimos podem aparecer nos diagramas de equilbrio. As solues correspondentes

    a esses pontos extremos so denominadas solues azeotrpicas (do grego que ferve inalterado). A Figura 2.10 ilustra o comportamento do sistema gua dioxano. Neste caso temos um azetropo de mximo de presso de vapor (Figura 2.10a). A esse

    azetropo corresponde um azetropo de mnimo de temperatura de ebulio (Figura

    2.10b).

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    - 22 -

    De uma maneira geral, a formao de azetropos pode ser atribuda s pontes de

    hidrognio presentes em certos lquidos que podem se formar ou se romper durante o

    processo de solubilizao. Quando durante a formao da soluo, quebram-se pontes

    de hidrognio, a soluo resultante apresenta molculas mais fracamente ligadas o que

    desestabiliza a fase lquida, podendo o sistema apresentar um azetropo de mximo de

    presso de vapor. Trata-se de um desvio positivo da Lei de Raoult, ou seja, as presses

    parciais na fase vapor so maiores que aquelas previstas pela Lei de Raoult. Por outro

    lado, quando durante a solubilizao formam-se pontes de hidrognio, a soluo

    resultante apresenta molculas mais fortemente ligadas, diminuindo a presso na fase

    vapor. Trata-se de um desvio negativo da Lei de Raoult.

    Quando no h formao nem rompimento de pontes de hidrognio durante a

    solubilizao, os desvios relativos da Lei de Raoult so, em geral, positivos e os

    azetropos, quando se formam, so de mximo de presso de vapor. De fato, dos cerca

    de 3500 azetropos conhecidos, somente cerca de 250 so de mnimo de presso de

    vapor; os restantes so de mximo.

    Figura 2.9 Desvio da Idealidade

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    - 23 -

    Figura 2.10 Sistema gua Dioxano. Formao de Azetropo.

    2.2.1 Destilao de Azetropos

    Na Figura 2.11 est esquematizada a seqncia que descreve a destilao

    fracionada de um azetropo de mximo de temperatura de ebulio (Figura 2.11a) e de

    um azetropo de mnimo de temperatura de ebulio (Figura 2.11b). Consideremos

    inicialmente uma mistura lquida de composio dada pelo ponto 1 da Figura 2.11a.

    Esta mistura, quando aquecida at a temperatura do ponto 2, ter uma fase lquida de

    composio em 3 e uma fase vapor de composio em 4. Se o vapor retirado, o

    lquido residual pode ser novamente aquecido at a temperatura do ponto 5, onde

    novamente teremos um lquido, agora com a composio em 6, em equilbrio com um

    vapor. A cada vez que o vapor retirado, o lquido residual fica mais rico no

    componente B. Quando a composio global do sistema for dada pelo ponto 7, a

    composio do lquido ser dada pelo ponto 8. A destilao segue at que a

    composio do lquido atinja o ponto b (composio do azetropo). Neste ponto a

    mistura ferve como uma substncia pura. Desta forma, com a composio inicial dada

    pelo ponto 1 da Figura 2.11a, teremos como produto da destilao o componente A

    puro e como resduo lquido o azetropo de composio b. No caso de um azetropo

    de mnimo, Figura 2.11b, obtm-se como produto da destilao o azetropo de

    composio d e como resduo lquido o componente B puro.

    Exemplo 2.4

    Com auxlio da Figura 2.11b descrever detalhadamente a destilao

    representada pela seqncia numrica. Analise as composies do destilado e do

    resduo.

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    - 24 -

    Figura 2.11 Destilao de Azetropos

    2.3 Lquidos Parcialmente Miscveis:

    Quando o desvio com relao idealidade de uma soluo suficientemente

    elevado, energeticamente favorvel que se forme outra fase ao invs de ocorrer a

    solubilizao. Trs situaes podem ser verificadas e esto esquematizadas na Figura

    2.12. O sistema gua lcool isobutlico, Figura 2.12a, um exemplo de um sistema que apresenta uma temperatura mxima de homogeneizao. Nesta figura, um sistema

    de composio global em b apresenta duas fases lquidas em equilbrio de composies iguais a a e c. Neste caso, P=2 e V=1. Qualquer ponto acima da curva representa um sistema homogneo com P=1 e V=2. O sistema gua trietilamina apresenta uma temperatura mnima de homogeneizao (Figura 2.12b) e o

    sistema gua nicotina apresenta temperaturas mxima e mnima de homogeneizao (Figura 2.12c).

    A lacuna de solubilidade observada nos diagramas da Figura 2.12 pode ser

    analisada em termos de energia livre de mistura. A Figura 2.13 mostra a energia livre

    da mistura em funo da composio para vrias temperaturas diferentes. Como pode

    ser verificado, em temperaturas baixas, a energia minimizada se o sistema se divide

    em duas fases sendo os mnimos correspondentes s composies das solues em

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    - 25 -

    equilbrio. Com o aumento da temperatura, os mnimos de energia se aproximam at

    que na temperatura crtica os mnimos coincidem. Acima desta temperatura, um nico

    mnimo verificado e o sistema passa a ser homogneo.

    Figura 2.12 Lquidos Parcialmente Miscveis.

    Figura 2.13 Energia Livre de Mistura em Funo da Composio

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    - 26 -

    Exemplo 2.5

    Os lquidos A e B so parcialmente miscveis e apresentam uma temperatura

    consoluta superior TCS tal como ilustrado na Figura 2.14. Descreva a adio do

    lquido A ao lquido B na temperatura T ao longo da horizontal de 1 at 5.

    Figura 2.14 Lquidos Parcialmente Miscveis

    1 Soluo rica em B (P=1 e V=2).

    2 Saturao de A em B: incio da formao da fase (soluo rica em A).

    3 Duas fases lquidas em equilbrio (P=2 e V=1): soluo de composio x e soluo de composio x

    Regra da alavanca no segmento 2-3-4:

    4 Dissoluo de B em A: desaparecimento da fase .

    5 Soluo rica em A (P=1 e V=2).

    Exemplo 2.6

    Sistemas formados por dois componentes parcialmente miscveis em fase

    lquida que apresentam azetropo de mnimo de temperatura no equilbrio

    lquido/vapor:

    )()( zxnxzn

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    - 27 -

    Figura 2.15

    Figura 2.16

    1o

    Caso (Figura 2.15): Temperatura.

    consoluta superior menor que a

    temperatura azetrpica:

    Descrever seqncia a1a2b1b2 b3:

    2o

    Caso (Figura 2.16): Temperatura.

    consoluta superior maior que a

    temperatura azetrpica:

    Descrever seqncia a1a2b1b2b3;

    Descrever seqncia e1e2e3:

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    - 28 -

    2.4 - Exerccios:

    I) Acetona e clorofrmio formam um azetropo a 1,01 bar e 64,7 oC cuja frao

    molar de acetona 0,34. As presses de vapor de acetona e clorofrmio puros, a 64,7 oC, so respectivamente, 1012 e 848 mmHg. Determine as atividades e os coeficientes

    de atividade da acetona e do clorofrmio na soluo azeotrpica. Determine se o

    azetropo de mximo ou de mnimo.

    II) Para se obter lcool comercial destila-se 1000 L (medidos a 25oC) de uma

    soluo aquosa a 20 % molar em etanol. Sabendo que gua e etanol formam um

    azetropo com 89,4 % molar de etanol, que volume de lcool comercial se obter a

    25oC? Qual a composio em porcentagem ponderal do lcool comercial?

    Dados:

    Soluo )( 13 molcmV gua )(13

    tanmolcmV ole

    20,0 % 17,6 55,2

    89,4 % 16,9 56,8

    III) Os lquidos 1 e 2 so completamente miscveis um no outro. Na fase vapor em

    equilbrio com a soluo a 95oC, as presses de vapor dos componentes se expressam

    por: 211 871,0 xp e 2

    22 453,0 xp onde x1 e x2 so as fraes molares de 1 e 2 na fase

    lquida.

    a) Que tipo de desvio h com relao lei de Raoult?

    b) As misturas de 1 e 2 podem apresentar azetropo? Em caso afirmativo, o

    azetropo ser de mximo ou de mnimo?

    c) Qual a presso de vapor do azetropo?

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    - 29 -

    2.5 - Equilbrio Slido - Lquido:

    A anlise para esse tipo de equilbrio ser feita essencialmente com diagramas

    de temperatura versus composio por se tratar de equilbrio entre fases condensadas

    onde a presso no tem grande influncia.

    2.5.1 - Sistemas Formados por Componentes Imiscveis em Fase Slida.

    Exemplo 2.7

    Sistema Cdmio Bismuto:

    Na Figura 2.17 est representado o diagrama de equilbrio para o sistema

    cdmio bismuto. Considerando que esse sistema no possui solubilidade em fase slida, (a) descreva as fases em equilbrio nas regies enumeradas de I at IV; (b)

    descreva o resfriamento de um magma fundido de composio em 1 at 6.

    Figura 2.17 Sistema Cdmio - Bismuto

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    - 30 -

    Exemplo 2.8

    Considere o diagrama de equilbrio Cd/Bi apresentado na Figura 2.17. A 200oC

    a soluo em equilbrio com bismuto puro tem 83 % em peso de bismuto. Qual a

    massa de bismuto slido puro que se obtm pelo resfriamento de um magma com 950

    Kg de Bi e 50 Kg de Cd? Qual a quantidade de Bi que ainda est liquefeita?

    2.5.2 - Sistemas Formados por Componentes Parcialmente Solveis em Fase Slida.

    Exemplo 2.9

    Componentes Hipotticos A e B

    Regies e fases em equilbrio:

    Figura 2.18

    Regies e fases em equilbrio:

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    - 31 -

    Resfriamento ao longo de 1 at 7 (Figura 2.18):

    Em 1, temos os componentes A e B formando uma soluo lquida (magma

    fundido). Quando o resfriamento atinge o ponto 2 comea e se formar o primeiro gro

    de fase slida de composio em 2. A fase slida constitui uma soluo slida cujo campo de estabilidade a regio (IV). Em 3 temos uma soluo slida de composio em 4 em equilbrio com uma soluo lquida de composio em 5. No

    segmento 4-3-5 (linha de amarrao) poder ser aplicada a regra da alavanca:

    3543 Lnn . Em 6 aparece uma nova fase slida e o sistema passa a ser invariante, o que significa dizer que o resfriamento no far a temperatura diminuir enquanto pelo

    menos uma das fases desaparecer. Nesse caso desaparece a fase lquida e ento a

    temperatura volta a cair e o sistema entra na regio (V). No ponto 7 temos duas fases

    slidas e (duas solues slidas) em equilbrio de composies 7 e 7. Aqui tambm poder se aplicar a regra da alavanca.

    Exemplo 2.10

    Componentes Hipotticos A e B

    O diagrama da Figura 2.19 ilustra uma situao onde os componentes somente

    formam solues slidas ricas em B (solues ). Verifica-se ainda que o componente

    A pode apresentar duas formas alotrpicas e ` cuja temperatura de transio Ta.

    Descreva detalhadamente o resfriamento de um sistema de 1 at 7.

    Figura 2.19

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    - 32 -

    2.5.3 - A Cristalizao de um Magma Processos Fora da Condio de Equilbrio

    A Figura 2.20 representa uma parte de um diagrama slido lquido onde esquematizado o resfriamento de um magma. Na natureza, o resfriamento do magma

    ocorre fora das condies de equilbrio, consequentemente, a massa slida resultante

    no homognea. Quando o magma fundido atinge a temperatura do ponto 2, comea

    a se formar a fase slida de composio em 3. Ao longo do resfriamento, 2, 4 e 7, a

    composio do slido vai ficando mais pobre no componente A (pontos 3, 5 e 7).

    Quando todo o sistema estiver solidificado, teremos um slido com camadas de

    diferentes composies. A anlise da composio das rochas magmticas fornece

    informaes importantes acerca da dinmica de cristalizao do sistema.

    Figura 2.20 Cristalizao de um Magma

    2.5.4 Sistemas com Formao de Intermedirios.

    comum, no equilbrio slido lquido que os componentes principais do sistema formem, em condies estequiomtricas precisas, um ou mais composto(s)

    intermedirio(s). As caractersticas do intermedirio formado conferem propriedades

    importantes aos equilbrios a serem analisados. Analisaremos aqui cinco caractersticas

    diferentes dos compostos intermedirios: (a) com fuso congruente; (b) com fuso

    incongruente; (c) com dissociao e limite de temperatura inferior; (d) com

    dissociao e limite de temperatura superior e (e) com dissociao e limite de

    temperaturas inferior e superior.

    (a) intermedirio com fuso congruente A Figura 2.21 apresenta o equilbrio slido lquido de componentes hipotticos A e B com um composto intermedirio C. Para

    esse sistema admite-se que os slidos no so solveis. Este composto intermedirio

    poder ser, por exemplo, A2B. Neste caso, C forma um euttico E com B na

    temperatura TE e um euttico E com A na temperatura TE. O composto C funde-se na

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    - 33 -

    temperatura TC gerando um lquido de mesma composio do slido que lhe deu

    origem. A esta fuso denominamos fuso congruente.

    Exemplo 2.11

    Para o diagrama da Figura 2.21, descrever as espcies em equilbrio e a

    variana nas regies enumeradas de I at VII.

    Figura 2.21 Formao de Intermedirio com Fuso Congruente

    (b) intermedirio com fuso incongruente Na Figura 2.22 o intermedirio AB ao fundir-se na temperatura TAB, produz o slido A puro e um lquido de composio

    LAB. A composio do lquido proveniente da fuso de AB diferente do slido que

    lhe deu origem. A esse fenmeno denominamos fuso incongruente. O ponto P o

    perittico e, sob resfriamento, define-se a reao perittica:

    A + LAB AB (2.1)

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    - 34 -

    Na Figura 2.22 considere os resfriamentos representados pelos segmentos rs e

    tu. Embora as temperaturas inicial e final sejam iguais, o resfriamento de r at s resulta

    em dois slidos em equilbrio, A puro e o intermedirio AB enquanto que o

    resfriamento de t at u resulta no equilbrio entre o intermedirio AB slido com a

    soluo de composio em u.

    obs. Alguns autores definem o ponto perittico como sendo o ponto LAB da Figura

    2.22, no entanto, seguiremos a definio de Gokcen e Reddy segundo a qual uma

    reao perittica, tal como a reao 2.1, define o ponto perittico. Essa reao somente

    ocorre no ponto P da Figura 2.22; no sentido direto com o sistema sob resfriamento e

    no sentido inverso com o sistema sob aquecimento.

    Figura 2.22 Formao de Intermedirio com Fuso Incongruente

    Exemplo 2.12

    Sistema H2O H2SO4 e compostos intermedirios H2SO44H2O, H2SO42H2O e H2SO4H2O:

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    - 35 -

    Figura 2.23 - Sistema H2O H2SO4

    Tabela 2.1 - Descrio das espcies em equilbrio, o nmero de fases e a variana para

    as regies enumeradas de (I) at (VIII) do diagrama da Figura 2.23.

    Regio Espcies em Equilbrio Descrio Fases (P) Variana (V)

    (I)

    (II)

    (III)

    (IV)

    (V)

    (VI)

    (VII)

    (VIII)

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    - 36 -

    Exemplo 2.13

    Sistema Fenol - Anilina

    A anilina (A) e o fenol (B)

    formam a 760 mmHg o diagrama de

    equilbrio da Figura 2.24. (a) Quais os

    pontos invariantes desse diagrama? (b)

    Descreva o resfriamento isobrico ao

    longo da isopleta com 30 % de fenol.

    (c) Qual a maior quantidade possvel

    de se obter o slido AB puro e

    cristalino de um sistema com 4,9 moles

    de anilina e 2,1 moles de fenol? (d)

    Determine o estado de um sistema com

    9 moles de fenol e 6 moles de anilina

    nas temperaturas de 20oC e 5

    oC.

    Figura 2.24 Sistema Fenol - Anilina

    (c) intermedirio com dissociao e limite de temperatura inferior Na Figura 2.25, o intermedirio A7B3 somente estvel entre T1, onde ele sofre fuso congruente

    e T4. Abaixo de T4 ele se decompe nos componentes A e B slidos, no solubilizados.

    (d) intermedirio com dissociao e limite de temperatura superior Na Figura 2.26, o intermedirio A3B2 estvel somente at a temperatura T2. Acima dessa

    temperatura ele se decompe em A e B.

    (e) intermedirio com dissociao e limite de temperatura superior e inferior -

    Na Figura 2.27, o intermedirio A3B2 estvel somente entre as temperaturas T2 e T3.

    Acima de T2 e abaixo de T3 ele se decompe em A e B.

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    - 37 -

    Figura 2.25 Intermedirio com limite de temperatura inferior

    Figura 2.26 Intermedirio com limite de temperatura superior

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    - 38 -

    Figura 2.27 Intermedirio com Limites de temperaturas superior e inferior

    2.5.5 - Exerccios:

    (I) Descreva o resfriamento ao longo das isopletas yy das Figuras 2.26 e 2.27

    (II) Construa um diagrama de fases de temperatura versus composio de B (%p/p)

    para dois metais hipotticos A e B entre as temperaturas de 600oC e 1000

    oC que

    contenha as seguintes informaes:

    a) Temperatura de fuso de A: 940oC (ponto A).

    b) Temperatura de fuso de B: 830oC (ponto B).

    c) A solubilidade de B em A negligencivel em todas as temperaturas.

    d) A solubilidade mxima de A em B 12 %p/p de A em 700oC (ponto C).

    e) A 600oC, a solubilidade de A em B 8 %p/p de A (ponto D).

    f) Euttico a 700oC e 75 %p/p de B (ponto E1).

    g) Euttico a 730oC e 60 %p/p de B (ponto E2).

    h) Euttico a 755oC e 40 %p/p de B (ponto E3).

    i) Ponto de fuso congruente a 780oC com 51%p/p de B (ponto F).

    j) Ponto de fuso congruente a 755oC com 67%p/p de B (ponto G).

    l) Composto intermetlico AB com 51%p/p de B.

    m) Composto intermetlico AB2 com 67%p/p de B.

    Enumere e descreva as fases em equilbrio nas diferentes regies do diagrama.

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    2.5.6 Tcnica de Recristalizao - Purificao de Sal com Impurezas Insolveis em Fase Slida:

    Na Figura 2.28 est representado o diagrama de equilbrio do sistema KCl H2O a 1,0 atm. Esta figura permite descrever o processo de purificao de KCl por

    recristalizao. Inicialmente dissolve-se KCl impuro a 20oC at seu limite de

    solubilidade nessa temperatura, 34 g de KCl em 100g de gua (ponto M). A seguir o

    sistema aquecido at 54oC (ponto N) o que permitir a solubilizao de mais 10 g de

    KCl impuro para cada 100 g de gua (ponto O). Ao se resfriar esse ltimo sistema at

    20oC, em P teremos KCl slido puro juntamente com uma soluo de composio em

    M. Desta forma obtm-se ao final do ciclo aproximadamente 10 g de KCl puro para

    cada 100 g de gua.

    Figura 2.28 Diagrama de Equilbrio Slido Lquido do Sistema H2O KCl

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    - 41 -

    2.5.7 - Pontos Invariantes Importantes

    Nas Figuras 2.29 e 2.30 so apresentados exemplos de sistemas onde temos o

    equilbrio entre trs fases. Sob resfriamento, logo, fora das condies de equilbrio, o

    sistema apresenta uma reao particular dependendo do estado de agregao e do

    nmero de fases reagentes. A Tabela 2.2 resume os pontos invariantes importantes e as

    reaes sob resfriamento.

    Figura 2.29 Pontos Invariantes Importantes

    Figura 2.30 Pontos Invariantes Importantes

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    - 42 -

    Tabela 2.2 Pontos Invariantes Importantes

    Transies envolvendo

    fase(s) lquida(s)

    Reao sob Resfriamento

    euttico )()()( 1 slidoslidoLLiq

    monottico )()()( 23 slidoLLiqLLiq

    perittico )()()( 2 slidoLLiqslido

    sinttico )()()( 21 slidoLLiqLLiq

    catattico ou metattico )()()( LLiqslidoslido

    Transies envolvendo

    somente fases slidas

    Reao sob Resfriamento

    eutectide )()()( slidoslidoslido

    peritectide )()()( slidoslidoslido

    2.5.8 Exemplos de Diagramas de Fases

    (a) Sistema Cobre/Zinco As Figuras 2.31 e 2.32 apresentam o diagrama de equilbrio do sistema cobre zinco a 1,0 atm. Para esse sistema esto presentes seis solues slidas, duas terminais ( e ) e quatro intermedirias (, , , e ). O lato comercial uma liga cobre zinco com 30 % de zinco possuindo microestrutura correspondente da fase . As linhas tracejadas significam que as fronteiras no esto precisamente determinadas. Sobretudo em baixas temperaturas, as taxas de difuso em

    fases slidas so muito baixas o que acarreta num tempo muito grande para se atingir o

    equilbrio. A 560 oC, com 74 % de zinco tem-se um ponto eutectide E (Figura 2.32)

    onde ocorre o equilbrio:

    + (2.2)

    A 598 oC, com 78,6 % de zinco tem-se um ponto perittico P onde ocorre o

    seguinte equilbrio:

    + lquido (2.3)

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    - 43 -

    Figura 2.31 Diagrama de Equilbrio para o Sistema Cobre - Zinco

    Figura 2.32 Diagrama de Equilbrio para o Sistema Cobre Zinco (zoom)

    (b) Sistema Ferro/Carbono A Figura 2.33 apresenta o diagrama de equilbrio para o sistema Ferro Carbono. A representao deste diagrama est limitada a concentraes de carbono at 6,7 % m/m por ser esta a faixa de concentrao

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    - 44 -

    importante no estudo dos diferentes tipos de aos. A Figura mostra que o ferro puro,

    antes de fundir-se, apresenta duas alteraes de fases cristalinas. A temperatura

    ambiente temos o ferro de estrutura cbica de corpo centrado (CCC). A 912 oC temos a primeira transformao polimrfica para ferro (estrutura austentica); acima desta temperatura temos a estrutura cbica de face centrada (CFC). Esta persiste at

    1394oC quando o ferro volta a ter estrutura CCC conhecida como ferro a qual funde-

    se a 1538 oC.

    O carbono forma com o ferro solues intersticiais com as formas , e . Na forma somente pequenas quantidades de ferro so solveis sendo sua solubilidade mxima igual a 0,022 % m/m de carbono a 727

    oC. Mesmo presente em baixas

    concentraes, o carbono influencia significativamente, principalmente nas

    propriedades mecnicas da fase. A fase austentica s estvel acima de 727 oC e tem

    solubilidade mxima igual a 2,14 % m/m de carbono. A estrutura semelhante estrutura diferenciando somente na faixa de temperatura que ela existe.

    A cementita (Fe3C) forma-se quando o limite de solubilidade do carbono na

    fase ultrapassado a temperaturas inferiores a 727 oC. Mecanicamente a cementita muito dura e quebradia e sua presena afeta bastante as propriedades dos aos que a

    contm.

    Podemos notar ainda um euttico com 4,3 % m/m de carbono. A 1147 oC a

    transformao euttica :

    lquido + Fe3C (2.4)

    ou seja, o lquido solidifica-se para formar as fases e cementita. Com 0,76 % m/m de carbono temos um ponto eutectide. A transformao eutectide representada como:

    (0,76 % m/m de C) (0,022 % m/m de C) + Fe3C (2.5)

    ou seja, sob resfriamento, a fase transformada em fase e cementita. As transformaes eutectides so muito importantes no tratamento trmico empregado

    na fabricao de aos.

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    - 45 -

    Figura 2.33 Diagrama de Equilbrio Ferro - Carbono

    Liga Eutectide A Figura 2.34 permite descrever o resfriamento de uma liga de composio eutectide ao longo da isopleta xx. No ponto a o sistema encontra-se na regio de estabilidade da fase . Ao ser resfriado esse sistema atinge o ponto b, de temperatura inferior a 727

    oC, onde possvel se observar uma microestrutura

    constituda de camadas alternadas das fases e cementita. Esta microestrutura recebe a denominao de perlita.

    Liga Hipoeutectide Com auxlio da Figura 2.35 podemos descrever o resfriamento de uma liga hipoeutectide representado pela isopleta ao longo de yy. No ponto c temos a regio de estabilidade da fase ; em d duas fases slidas esto presentes, e . Observe que a fase cresce preferencialmente nos contornos de gro da fase . No ponto e, aumenta a quantidade da fase com relao ao ponto d. Abaixo de 727 oC, ponto f, a microestrutura constitui-se de uma matriz contnua de fase e algumas colnia isoladas de perlita. Desta forma, a ferrita (fase ) estar presente tanto na perlita, quanto na fase que se desenvolveu ao longo do resfriamento (pontos d e e).

    Liga Hipereutectide Ligas com composio de carbono entre 0,76 e 2,14 m/m so chamadas ligas hipereutectides. Na Figura 2.36 est representado o resfriamento de

    uma liga hipereutectide de composio C1 ao longo de zz. No ponto g temos a regio de estabilidade da fase . Em h temos as fases e cementita em equilbrio sendo que a cementita cresce ao longo dos contornos de gro da fase . Abaixo da

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    - 46 -

    temperatura eutectide, ponto i, toda a fase foi transformada em perlita. A microestrutura resultante consiste de perlita e cementita proeutectide (formada acima

    da temperatura eutectide)

    Figura 2.34 Resfriamento de uma liga eutectide

    Figura 2.35 Resfriamento de uma liga Hipoeutectide

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    - 47 -

    Figura 2.36 Resfriamento de uma liga Hipereutectide

    2.5.9 - Sistemas com Miscibilidade Parcial em Fase Lquida

    Na Figura 2.37 est representado um sistema com componentes hipotticos A e

    B que formam um intermedirio A2B3 e so parcialmente solveis um fase lquida. Na

    regio onde os lquidos so parcialmente miscveis, P=2 e V=1, ou seja, basta

    especificar a temperatura ou a composio global que as composies das fases em

    equilbrio estaro definidas.

    Exemplo 2.14

    (a) Na Figura 2.37 descreva detalhadamente o resfriamento de um lquido em 1 (47,5

    % de B) at o ponto 7; (b) Qual a solubilidade de B na temperatura TS? Quais os

    slidos que podem se formar nessa temperatura?

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    Figura 2.37 Sistema Parcialmente Miscvel em Fase Lquida.

    2.5.10 Sistemas com Miscibilidade Total em Fase Slida

    A Figura 2.38 apresenta um sistema de componentes hipotticos A e B que

    apresentam miscibilidade total em fase slida. Este sistema forma uma fase slida

    contnua para qualquer que seja a proporo entre os componentes.

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    - 49 -

    Figura 2.38 Sistema com Miscibilidade Total em Fase Slida

  • - 50 -

    Captulo 3

    Sistemas Ternrios

    3.1 Representaes Grficas e Propriedades dos Sistemas Ternrios:

    Para representarmos graficamente um sistema com trs componentes sobre um

    diagrama de equilbrio bidimensional, necessrio se fixar a presso e a temperatura.

    Desta forma, exceto quando no for explicitado, os diagramas ternrios aqui

    apresentados constituem representaes isotrmicas e isobricas.

    3.1.1 - Representao atravs de tringulo retngulo:

    Seja na representao atravs de tringulo eqiltero, seja atravs de tringulo

    retngulo, os vrtices representam os componentes puros, os lados representam os

    binrios e a regio interna do tringulo representa os ternrios.

    Exemplo 3.1

    Figura 3.1 Representao de um Ternrio Atravs de Tringulo Retngulo

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    Tabela 3.1 - Coordenadas de composio em fraes molares dos sistemas 1 at 7 da

    Figura 3.1

    Sistema Composio (frao molar)

    XA XB XC 1 2 3 4 5 6 7

    3.1.2 - Representao atravs de tringulo equiltero:

    Exemplo 3.2

    Figura 3.2 Representao de um Ternrio Atravs de Tringulo Equiltero

    obs. Considere a reta que passa por 3 e 5 no diagrama da Figura 3.2. Esta reta

    paralela ao lado AB. Para todos os pontos dessa reta a frao molar de C ser

    constante e igual a 0,2. Generalizando: Em qualquer reta paralela a um dos lados do

    tringulo, a composio do componente oposto a esse lado constante.

    % (C)

    %(B)

    %(A)

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    Tabela 3.2 - Coordenadas de composio em fraes molares dos sistemas 1 at 5 da

    Figura 3.2

    Sistema Composio (frao molar)

    XA XB XC 1 0,6 0,3 0,1 2 0,5 0,1 0,4 3 0,4 0,4 0,2 4 0,2 0 0,8 5 0,1 0,7 0,2

    Exemplo 3.3

    Para encontrar as coordenadas de composio do ponto P do diagrama da

    Figura 3.3 proceda da seguinte maneira: trace, a partir de P, 3 perpendiculares aos

    lados do tringulo. A soma dos comprimentos das 3 perpendiculares ser L. A frao

    molar de A ser a razo LPS / , a de B ser LPT / e a de C ser LPR / . Calcule XA, XB e XC. Resp. XA = 0,56; XB = 0,12 e XC = 0,32

    Figura 3.3 Coordenadas do Ponto P

    Na Figura 3.4 verificada outra propriedade importante na representao de

    sistemas ternrios. Considere inicialmente um sistema binrio de componentes C e B,

    de composio dada pelo ponto e, ao qual acrescentado pouco a pouco um terceiro componente A. A adio desse terceiro componente ao binrio inicial representada

    por uma reta que liga o binrio inicial ao vrtice do terceiro componente adicionado. A

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    - 53 -

    razo entre as fraes molares do binrio inicial mantida constante durante a adio

    de A.

    Ponto e: (XA=0; XB=0,8; XC=0,2)

    Ponto f: (XA=0,2; XB=0,64; XC=0,16)

    Ponto g: (XA=0,5; XB=0,4; XC=0,1)

    Ponto h: (XA=0,7; XB=0,24; XC=0,06)

    Ao longo da reta eA a razo XB/XC

    constante e igual a 4.

    Figura 3.4 Adio do componente A a um binrio B-C

    3.2 - Sistemas Formados por Lquidos Parcialmente Miscveis

    Um sistema bem conhecido que apresenta miscibilidade parcial em fase lquida

    o sistema formado por cido actico, gua, e tetracloreto de carbono. Como sabemos,

    a temperatura ambiente, gua e clorofrmio so parcialmente miscveis enquanto que

    os pares gua - cido actico e clorofmio cido actico so totalmente miscveis. A obteno experimental do diagrama de fases para esse ternrio relativamente

    simples. Partindo de sistemas binrios bifsicos gua clorofrmio acrescenta-se cido actico at solubilizao total. Na Figura 3.5 est a representao desse sistema.

    No diagrama de fases essa adio de cido actico ser representada por uma reta que

    liga a composio do binrio inicial gua clorofrmio (ponto a da Figura) ao vrtice correspondente ao cido actico. O ponto de homogeneizao b do sistema dever necessariamente pertencer a essa reta.

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    - 54 -

    3.2.1 - Exerccio

    O ternrio gua, clorofrmio e cido actico, a 25oC e 1 atm, constitui um

    sistema parcialmente miscvel. Numa experincia de laboratrio parte-se de 8 misturas

    heterogneas de diferentes composies de gua e clorofrmio segundo a Tabela 3.3

    Tabela 3.3 Volumes iniciais dos binrios

    Sistema Volume (mL)

    H2O CHCl3

    1 9 1

    2 8 2

    3 7 3

    4 6 4

    5 5 5

    6 4 6

    7 3 7

    8 2 8

    cido Actico

    gua Clorofrmio

    Figura 3.5 Lquidos Parcialmente Miscveis

    a

    b

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    - 55 -

    A cada sistema acrescentado, sob agitao, cido actico at solubilizao

    total. A Tabela 3.4 apresenta o volume de cido actico acrescentado:

    Tabela 3.4 Volumes de CH3COOH

    Sistema Volume de CH3COOH (mL)

    1 8,0

    2 10,2

    3 11,1

    4 10,8

    5 10,5

    6 9,2

    7 8,3

    8 6,6

    a) Para cada sistema determine as massas de cada componente e porcentagens

    mssicas dos binrios iniciais e dos ternrios.

    b) Construa, na Figura 3.6, o diagrama de equilbrio em termos de porcentagem

    mssica para o ternrio gua, clorofrmio e cido actico identificando as regies

    homognea e heterognea.

    c) Indique no diagrama os binrios iniciais.

    d) Para cada sistema, trace uma reta que liga o binrio inicial ao ponto ternrio

    extrapolando-a at o vrtice oposto. A que concluso se pode chegar?

    Dados:

    Massas especficas (g/mL):

    Clorofrmio 1,49 cido actico 1,05 gua 1,00

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    - 56 -

    Figura 3.6

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    - 57 -

    3.3 - Equilbrio Lquido - Vapor

    3.3.1 Comportamento Ideal:

    Considere um ternrio formado pelas substncias A, B e C que formam

    solues ideais em fase lquida e se comportam como gs ideal em fase vapor.

    Empregando a Lei de Raoult obtemos:

    AAA xpp0 ; BBB xpp

    0 e CCC xpp0 (3.1)

    CBA pppp

    (3.2)

    Substituindo 3.1 em 3.2 e explicitando XA vem:

    )(

    )(

    )(

    )(00

    00

    00

    0

    CA

    CBB

    CA

    C

    App

    ppX

    pp

    ppX

    (3.3)

    A Equao 3.3 a Equao do ponto de bolha. Por outro lado, considerando a

    Lei de Dalton:

    AA pyp ; BB pyp e CC pyp (3.4)

    Considerando somente os componentes A e B, das Equaes 3.1 e 3.4 vem:

    pyxp AAA 0 ; e pyxp BBB

    0 (3.5)

    Explicitando Ax e Bx nas Equaes 3.5 e substituindo-os na Equao do ponto

    de bolha (Equao 3.3) vem:

    )(

    )(

    )(

    )(000

    000

    00

    00

    CAB

    CBAB

    CA

    CA

    Appp

    pppY

    ppp

    pppY

    (3.6)

    A Equao 3.6 a Equao do ponto de orvalho.

    Exemplo 3.5

    Sistema etanol (A), propanol (B) e butanol(C)

    A Tabela 3.5 apresenta as presses de vapor de etanol (A), propanol (B) e

    butanol(C) a 80 oC, 90

    oC e 100

    oC

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    - 58 -

    Tabela 3.5 Presses de Vapor de Etanol, Propanol e Butanol

    T (oC) Presso de Vapor (mmHg)

    Etanol (A) Propanol (B) Butanol(C)

    80 825 367 249

    90 1228 557 378

    100 1789 827 562

    Construir os diagramas de equilbrio para esse ternrio nas temperaturas da

    Tabela 3.5 e a 760 mmHg. Localizar e descrever o estado do sistema S em cada

    diagrama. A composio de S 12 moles de etanol, 6 moles de propanol e 6 moles de

    butanol.

    Resoluo:

    As fraes molares do sistema S sero 0,5 de etanol, 0,25 de propanol e 0,25 de

    butanol.

    (a) diagrama a 80 oC e 760 mmHg:

    Nesta temperatura, temos 8250 Ap mmHg; 3670 Bp mmHg e 249

    0 Cp mmHg.

    Com p = 760 mmHg a equao do ponto de bolha ser:

    BA XX

    249825

    249367

    249825

    249760

    BA XX 205,0887,0

    (3.7)

    E a equao do ponto de orvalho ser:

    BA YY367

    825

    249825

    249367

    )249825(760

    )249760(825

    BA YY 461,0963,0 (3.8)

    As Equaes 3.7 e 3.8 fornecem as fronteiras entre as regies monofsica e

    bifsica. Da equao 3.7, quando XB=0, XA=0,887 e XC=0,113; quando XC=0,

    XB=1-XA ento XA=0,858 e XB=0,142

    .

    Assim os pontos a(0,887;0;0,113) e b(0,858;0,142;0) serviro para traarmos a

    curva dos pontos de bolha.

    Da equao 3.8, quando YB=0, YA=0,963 e YC=0,037; quando YC=0, YB=1-YA

    ento YA=0,931 e YB=0,069.

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    - 59 -

    Os pontos c(0,963;0;0,037) e d(0,931;0,069; 0) serviro para traarmos a curva

    dos pontos de orvalho.

    Na Figura 3.7 est traado o diagrama para o ternrio etanol propanol butanol a 80

    oC e 760 mmHg. Nestas condies de temperatura e presso, S encontra-

    se totalmente em fase lquida.

    Figura 3.7 Sistema Etanol Propanol Butanol a 80 oC e 760 mmHg

    (b) diagrama a 90 oC e 760 mmHg:

    Nesta temperatura, temos 12280 Ap mmHg; 5570 Bp mmHg e 378

    0 Cp mmHg.

    Com p = 760 mmHg a equao do ponto de bolha ser:

    BA XX 210,0450,0 (3.9)

    E a equao do ponto de orvalho ser:

    BA YY 460,0730,0 (3.10)

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    - 60 -

    Da equao 3.9, quando XB=0, XA=0,45 e XC=0,55; quando XC=0, XB=1-XA

    ento XA=0,304 e XB=0,696.

    Assim os pontos e(0,45;0;0,55) e f(0,304;0,696;0) serviro para traarmos a

    curva dos pontos de bolha.

    Da equao 3.10, quando YB=0, YA=0,73 e YC=0,27; quando YC=0, YB=1-YA

    ento YA=0,5 e YB=0,5.

    Os pontos g(0,73;0;0,27) e h(0,5;0,5;0) serviro para traarmos a curva dos

    pontos de orvalho.

    Na Figura 3.8 est traado o diagrama para o ternrio etanol propanol butanol a 90

    oC e 760 mmHg. Nestas condies de temperatura e presso, S encontra-

    se parcialmente vaporizado.

    Figura 3.8 Sistema Etanol Propanol Butanol a 90 oC e 760 mmHg.

    (c) diagrama a 100 oC e 760 mmHg:

    Nesta temperatura, temos 17890 Ap mmHg; 8270 Bp mmHg e 562

    0 Cp

    mmHg. Com p = 760 mmHg a equao do ponto de bolha ser:

    BA XX 22,016,0 (3.11)

    E a equao do ponto de orvalho ser:

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    - 61 -

    BA YY 47,038,0 (3.12)

    Da Equao 3.11, quando XB=0, XA=0,16 e XC=0,84; quando XC=0, XB=1-XA

    ento XA=-0,07. Neste caso, como o valor encontrado para a frao molar de A

    impossvel, fazemos XA=0 e obtemos XB=0,727 e XC=0,273.

    Assim os pontos i(0,16;0;0,84) e j(0,727;0,273) serviro para traarmos a curva

    dos pontos de bolha.

    Da Equao 3.12, quando YB=0, YA=0,38 e YC=0,62; quando YC=0, YB=1-YA

    ento YA=-0,17. Novamente, o valor encontrado para a frao molar de A

    impossvel. Fazemos ento YA=0 e obtemos YB=0,81 e YC=0,19.

    Os pontos k(0,38;0;0,62) e l(0;0,81;0,19) serviro para traarmos a curva dos

    pontos de orvalho.

    Na Figura 3.9 est traado o diagrama para o ternrio etanol propanol butanol a 100

    oC e 760 mmHg. Nestas condies de temperatura e presso, S encontra-

    se totalmente vaporizado.

    Figura 3.9 Sistema Etanol Propanol Butanol a 100 oC e 760 mmHg.

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    - 62 -

    3.3.2 - Exerccios:

    (I) A partir do diagrama obtido a 760 mmHg e 90oC (Figura 3.8) para o ternrio etanol,

    propanol e butanol, descreva como se d a adio de etanol a um binrio formado

    por 3 moles de butanol e 7 moles de propanol. Que quantidades de etanol devem

    ser adicionadas para se atingir os pontos de bolha e de orvalho?

    Figura 3.10 Adio de Etanol a um Binrio Butanol - Propanol

    Resoluo:

    Na Figura 3.10 a reta que liga o ponto m at o vrtice de A esquematiza a adio, isotrmica e isobrica, de etanol a um binrio formado por 3 moles de butanol

    e 7 moles de propanol. Inicialmente o sistema encontra-se totalmente em fase lquida

    at que se atinge o ponto n quando ento a primeira bolha de vapor se forma. Continuando a adio de etanol, entre os pontos n e o aumenta a quantidade de vapor e diminui a quantidade de lquido. Em o temos a ltima gota de lquido e a adio posterior de etanol faz o sistema vaporizar-se totalmente.

    As quantidades de etanol necessrias para se atingir os pontos de bolha e

    orvalho pode ser calculada de duas maneiras:

    (i) Resoluo utilizando o diagrama da Figura 3.10:

    Com as coordenadas do ponto n (XA=0,35; XB=0,45; XC=0,20) estimadas no grfico e considerando o nmero de moles de propanol presente no sistema montamos

    a seguinte proporo:

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    - 63 -

    para o propanol: 7 moles 0,45

    para o etanol: nA moles 0,35

    Logo, sero necessrios 5,44 moles de etanol para se atingir o ponto de bolha do

    sistema. O mesmo raciocnio poderia ser feito utilizando o nmero de moles do

    butanol e chegaramos a um resultado anlogo.

    Um procedimento idntico pode ser seguido para o clculo do nmero de moles

    de etanol que deve ser adicionado para se atingir o ponto de orvalho, ponto o de coordenadas (YA=0,61; YB=0,28; YC=0,11):

    para o propanol: 7 moles 0,28

    para o etanol: nA moles 0,61

    Neste caso, nA = 15,3 moles.

    (ii) Resoluo analtica:

    No exemplo 3.5 foram deduzidas as equaes dos pontos de bolha e de orvalho

    (equaes 3.5 e 3.6). Por outro lado, segundo as propriedades dos sistemas ternrios, a

    razo entre as fraes molares de butanol e de propanol se manter constante e, neste

    caso, igual a 7/3, durante a adio de etanol. Podemos escrever ento:

    )1(3

    7

    3

    7BACB XXXX

    AB XX10

    7

    10

    7

    (3.13)

    Reescrevendo e resolvendo o sistema formado pelas equaes 3.9 e 3.13:

    AB

    BA

    XX

    XX

    7,07,0

    21,045,0

    Encontramos XA=0,355 e XB=0,451. O valor de XC imediato, uma vez que

    XC=1- XA- XB. Teremos ento XC=0,194. Estas sero as coordenadas do ponto n. De posse das coordenadas do ponto de bolha, calculamos o nmero de moles de etanol a

    ser adicionado da mesma forma que anteriormente, onde encontraremos o valor de

    5,51.

    Para o clculo das coordenadas do ponto de orvalho resolvemos o sistema

    formado pelas equaes 3.10 e 3.13 escrevendo nesta ltima YA e YB para as fraes

    molares na fase vapor:

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    AB

    BA

    YY

    YY

    7,07,0

    46,073,0

    Onde encontramos YA=0,602 e YB=0,279. O valor de YC ser 0,119. O nmero

    de moles de etanol a ser adicionado ser 15,10.

    (II) Aplicao da regra da alavanca: Os lquidos A, B e C formam entre si solues

    ideais. A 70oC e 1,01 bar o binrio A-B est liquefeito enquanto que os binrios A-

    C e B-C podem estar parcialmente vaporizados. A partir das composies dos

    pontos de bolha e de orvalho construir, na Figura 3.11, o diagrama de equilbrio do

    ternrio A B C a 70oC e 1,01 bar. Definir o estado de um sistema S com 20 moles

    de A, 12 moles de B e 48 moles de C. Se a fase lquida em equilbrio deste sistema

    tiver a seguinte composio XA=0,30; XB=0,20 e XC=0,50, quantos moles do

    sistema esto liquefeitos e quantos esto vaporizados?

    Pontos de bolha: XA=0,60; XC=0,40 e XB=0,40; XC=0,6

    Pontos de orvalho: YA=0,5; YC=0,5 e YB=0,2; YC=0,8

    Figura 3.11

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    3.3.3 Afastamento do Comportamento Ideal

    Como exemplo de um sistema que se afasta do comportamento ideal,

    analisaremos aqui o ternrio acetato de etila, lcool isoproplico e ciclohexano. Cada

    par de binrio est representado na Figura 3.12 onde podemos identificar trs

    azetropos binrios de mnimo de temperatura com as seguintes caractersticas: (i)

    acetato lcool a 74,8 oC com 77 % de acetato; (ii) lcool ciclohexano a 68,6 oC com 33 % de lcool e (iii) acetato ciclohexano a 72,8 oC com 54 % de acetato. Este sistema apresenta ainda um azetropo ternrio de mnimo de temperatura a 65,3

    oC

    com 44 % de acetato, 20 % de lcool e 36 % de ciclohexanao.

    Figura 3.12 Sistema Acetato de Etila lcool Isoproplico Ciclohexano

    As Figuras 3.13 3.18 apresentam os ternrios, isotrmicos e isobricos, em diferentes temperaturas. Essas figuras referem-se a presso de 1,01 bar. Para a

    construo desses ternrios utilizaremos a Figura 3.12 para assinalar os pontos de

    bolha e de orvalho dos binrios. As regies internas das Figuras, bem como as linhas

    de amarrao, foram traadas de forma aleatria e s podem ser obtidas, de forma

    precisa, experimentalmente.

    O diagrama obtido a 81,5 oC est representado na Figura 3.13. Como pode ser

    visto na Figura 3.12, nesta temperatura o binrio acetato ciclohexano est totalmente vaporizado. A isoterma passa por dois pontos de bolha e dois pontos de orvalho

    correspondentes aos binrios lcool ciclohexano e lcool acetato. Esses pontos so descritos na Tabela 3.6.

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    Tabela 3.6 Pontos de Bolha e Orvalho a 81,5 oC

    Binrio % (lcool)

    Ponto de bolha Ponto de orvalho

    lcool - ciclohexano 96 94

    lcool acetato 95 91

    Figura 3.13 Sistema lcool Isoproplico Acetato de Etila Ciclohexano a 1,01 bar e 81,5

    oC.

    A Figura 3.14 apresenta o diagrama a 79,0 oC. Nessas condies, a isoterma

    passa abaixo das temperaturas de ebulio do lcool e do ciclohexano e acima da

    temperatura de ebulio do acetato. Esta isoterma passa ainda por dois pontos de bolha

    e dois pontos de orvalho referentes ao binrio lcool ciclohexano e por um ponto de bolha e um ponto de orvalho para cada binrio lcool acetato e acetato ciclohexno. Estes pontos esto apresentados na Tabela 3.7.

    Tabela 3.7 Pontos de Bolha e Orvalho a 79,0 oC

    Binrio % (ciclohexano)

    Ponto de bolha Ponto de orvalho

    lcool - ciclohexano 90 85

    9 22

    acetato - ciclohexano 95 85

    lcool - acetato

    % (lcool)

    Ponto de bolha Ponto de orvalho

    81 66

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    - 67 -

    Figura 3.14 Sistema lcool Isoproplico Acetato de Etila Ciclohexano a 1,01 bar e 79,0

    oC.

    A Figura 3.15 representa o sistema a 73,5 oC. Nesas condies, todo o binrio

    acetato lcool encontra-se em fase lquida e a isoterma passa por dois pontos de bolha e dois pontos de orvalho para cada binrio lcool ciclohexano e acetato ciclohexano. Esses pontos so listados na Tabela 3.8.

    Tabela 3.8 Pontos de Bolha e Orvalho a 73,5 oC

    Binrio % (ciclohexano)

    Ponto de bolha Ponto de orvalho

    lcool - ciclohexano

    15 34

    90 78

    acetato - ciclohexano

    70 60

    22 35

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    - 68 -

    Figura 3.15 Sistema lcool Isoproplico Acetato de Etila Ciclohexano a 1,01 bar e 73,5

    oC.

    A 70,0 oC o sistema encontra-se representado na Figura 3.16. Neste caso a

    isoterma passa por dois pontos de bolha e dois pontos de orvalho para o binrio lcool

    ciclohexano. Esses pontos so apresentados na Tabela 3.9.

    Tabela 3.9 Pontos de Bolha e Orvalho a 70,0 oC

    Binrio % (ciclohexano)

    Ponto de bolha Ponto de orvalho

    lcool - ciclohexano

    82 50

    34 75

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    Figura 3.16 Sistema lcool Isoproplico Acetato de Etila Ciclohexano a 1,01 bar e 70,0

    oC.

    Conforme diminui a temperatura, a regio onde predomina a fase vapor tambm

    diminui. A 68,6 oC, temperatura do azetropo binrio lcool ciclohexano, a regio

    bifsica toca em somente um ponto o lado correspondente a esse binrio. Este

    diagrama est representado na Figura 3.17. A 66 oC, Figura 3.18, todos os binrios

    encontram-se em fase lquida e o azetropo ternrio situa-se necessariamente em um

    ponto da fase vapor representada nesta ltima figura.

    Figura 3.17 Sistema lcool Isoproplico Acetato de Etila Ciclohexano a 1,01 bar e 68,6

    oC.

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    Figura 3.18 Sistema lcool Isoproplico Acetato de Etila Ciclohexano a 1,01 bar e 66,0

    oC.

    3.3.4 - Destilao Fracionada de Sistemas com Azetropo de Mnimo de Temperatura.

    Utilizaremos a anlise do sistema acetato de etila, lcool isoproplico e

    ciclohexano desenvolvida no item anterior para descrever o processo de destilao

    fracionada de um sistema que apresente um azetropo ternrio de mnimo de

    temperatura. Na Figura 3.19 est representado o sistema acetato de etila, lcool

    isoproplico e ciclohexano. Os pontos A1, A2, e A3 representam as composies dos

    azetropos binrios e o ponto A4 d a composio do azetropo ternrio. Entre

    parntesis so indicadas as temperaturas de ebulio. Na destilao, o primeiro sistema

    que ser destilado aquele que possui a menor temperatura de ebulio, no caso, o

    azetropo ternrio. Se partirmos de um lquido de composio em b, a destilao seguir o seguinte caminho: enquanto o azetropo ternrio destilado, a composio

    do lquido residual segue a extrapolao da reta que liga a composio do ternrio

    (ponto A4) ao ponto b em direo contrria a A4. Assim que a composio do lquido residual atinge o lado correspondente ao par acetato lcool, esgota-se o ciclohexano. Agora o lquido a ser destilado compe-se somente de acetato e lcool com uma

    composio aproximada de 20 % de acetato. O componente mais voltil agora o

    azetropo binrio acetato lcool o qual comear a destilar. A composio do lquido residual seguir ento em direo ao vrtice do lcool at que todo acetato se esgote.

    Ao final da destilao do azetropo binrio teremos como lquido residual o lcool

    puro.

    Dependendo da composio inicial do lquido a ser destilado, poderemos obter

    qualquer um dos lquidos como resduo puro. Se o lquido tem a composio do ponto

    a da Figura 3.19, obteremos o acetato puro com lquido residual enquanto que, se o lquido inicial tem a composio do ponto c, o lquido residual ser o ciclohexano.

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    - 71 -

    Figura 3.19 Trajetrias da Destilao Fracionada

    Na Figura 3.20 o tringulo de composies est dividido em trs regies. Se a

    composio do lquido a ser destilado est compreendida entre os pontos A1, A4, A2 e

    o vrtice do acetato puro, ento podemos obter o acetato como lquido puro residual.

    Caso a composio inicial esteja em qualquer ponto da regio delimitada pelos pontos

    A1, A4, A3 e o vrtice do lcool puro ento podemos obter o lcool como lquido puro

    residual. Finalmente, se a composio do lquido que se deseja destilar estiver na

    regio compreendida entre os pontos A3, A4, A2 e o vrtice do ciclohexano puro, neste

    caso podemos obter o ciclohexano como lquido residual puro.

    Figura 3.20 Destilao Fracionada Regies Diferenciadas

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    - 72 -

    3.3.5 - Exerccio:

    (I) Com base no diagrama da Figura 3.12, traar um esboo do diagrama de equilbrio

    do sistema acetato de etila, lcool isoproplico e cilohexano a 76 oC.

    (II) Considere 100 kg de um sistema ternrio de composio no ponto a da Figura 3.19

    Descreva quantitativamente como se d a destilao fracionada desse sistema.

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    - 73 -

    3.4 - Equilbrio Slido Lquido

    3.4.1 - Sistemas com Formao de Euttico Ternrio:

    As substncias hipotticas A, B e C formam, no equilbrio slido lquido, trs eutticos binrios e um euttico ternrio. No h solubilidade em fase slida. A Figura

    3.21 apresenta os binrios (Figura 3.21a) e alguns ternrios isotrmicos e isobricos

    Figuras 3.21b-g. A seqncia de diagramas ternrios representa o resfriamento do

    sistema. O diagrama ternrio correspondente a uma temperatura superior a TA, no

    representado na figura, mostraria o sistema totalmente liquefeito. Na temperatura T1,

    inferior temperatura de fuso de A, Figura 3.21b, o diagrama apresenta duas regies

    distintas, uma regio bifsica compreendida entre os pontos A-1-2 onde o slido A

    puro est em equilbrio com o lquido cuja composio se localiza sob a curva 1-2.

    Nesta regio o sistema univariante (V=1). A curva 1-2 d a solubilidade de A na

    soluo, na temperatura T1. Todo restante do diagrama homogneo formado por uma

    fase lquida. As linhas que ligam o vrtice de A curva 12 so linhas de amarrao

    onde a regra da alavanca pode ser aplicada para determinar as quantidades relativas

    das fases em equilbrio.

    Na temperatura T2, diagrama 3.21c, surge prximo ao vrtice de B uma nova

    regio bifsica. T2 uma temperatura inferior temperatura de fuso de B. Na regio

    compreendida entre os pontos B-4-5 temos B puro slido em equilbrio com a soluo.

    A curva 4-5 d a solubilidade de B na soluo, na temperatura T2. A regio bifsica

    prxima ao vrtice de A torna-se maior medida que a temperatura diminui de T1 para

    T2.

    A temperatura T3 corresponde a temperatura do euttico binrio A B, Figura 3.21d. As regies bifsicas originalmente prximas dos vrtices de A e B expandiram-

    se e encontraram-se no ponto EAB. Surge ainda outra regio bifsica prxima do

    vrtice de C. A curva 9-8 d a solubilidade de C na soluo, na temperatura T3. A

    regio compreendida entre os pontos 7-8-9-10-EAB homognea formada por uma

    soluo lquida.

    O diagrama da Figura 3.21e corresponde temperatura T4, temperatura do

    euttico binrio B C. Neste diagrama, a regio compreendida entre os pontos A-B-LAB uma regio trifsica onde temos em equilbrio duas fases slidas A e B e uma

    fase lquida de composio em LAB. No diagrama isotrmico e isobrico esta regio

    invariante (V=0) o que significa dizer que, para qualquer ponto desta regio, as

    composies das fases em equilbrio esto fixas. A regio bifsica prxima ao vrtice

    de C aumentou de tamanho com a diminuio da temperatura de T3 para T4.

    Em T5, temperatura inferior temperatura do euttico binrio A C, trs regies trifsicas esto presentes junto aos lados do diagrama, Figura 3.21f. Por

    exemplo, na regio compreendida entre os pontos A-C-LAC temos duas fases slidas

    formadas pelos slidos A e C puros no solubilizados e uma fase lquida formada pela

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    soluo de composio LAC. Toda regio interna desse diagrama, entre os pontos LAB-

    LBC-LAC, corresponde a um sistema homogneo lquido.

    Finalmente, na temperatura do euttico ternrio, TEABC, esto em equilbrio 4

    fases: os slidos puros A, B e C e a soluo EABC. Abaixo desta temperatura todo

    sistema se encontra em fase slida.

    Figura 3.21 Sistema Ternrio com Formao de Euttico Ternrio

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    Exemplo 3.6

    Sistema chumbo estanho bismuto

    A Figura 3.22 refere-se ao sistema ternrio chumbo estanho bismuto. So apresentados alguns diagramas ternrios isotrmicos e isobricos bem como o

    diagrama tridimensional isobrico. Como pode ser verificado, os diagramas

    isotrmicos e isobricos representam cortes horizontais no diagrama tridimensional. A

    300 oC, temperatura superior aos pontos de fuso do estanho e do bismuto e inferior ao

    ponto de fuso do chumbo, a nica fase slida possvel de se formar o chumbo puro.

    No diagrama tridimensional, as regies bifsicas iniciam-se nos pontos de fuso e

    estendem-se at os eutticos binrios. As regies trifsicas estendem-se dos eutticos

    binrios at o euttico ternrio, no interior do diagrama.

    Figura 3.22 Sistema Chumbo Estanho - Bismuto

    Exemplo 3.7

    Com base na Figura 3.22, como voc representaria o diagrama de equilbrio do

    ternrio chumbo estanho bismuto a 250 oC?

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    - 76 -

    3.4.2 - Diagramas Politrmicos:

    A Figura 3.23a representa a projeo politmica de um sistema ternrio. As

    diversas curvas T1, T2, etc... representam as curvas de solubilidades nas diferentes

    temperaturas indicadas. Nesta figura, T3 a temperatura do euttico binrio A B. Abaixo de T3, formar-se- junto ao lado A B um