apostila monitoramento econômico

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Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata SOMOS UM GRUPO BEM GRANDE DE COMPANHEIROS E CADA UM DÁ A MÃO AO OUTRO. O CTA - Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata é uma organização não governamental com sede em Viçosa, criada em 1987 por lideranças sindicais, técnicos, professores e pesquisadores comprometidos com a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável adequado para a Zona da Mata de Minas Gerais. O desenvolvimento sustentável que estamos construindo tem como base a estabilidade ecológica com manutenção da capacidade de produção para as futuras gerações, com igualdade na distribuição dos benefícios gerados por essa produção, com a participação e o fortalecimento das organizações dos agricultores e com a participação e com equidade nas relações de gênero. PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE AGRICULTORES/AS Este é um programa que abrange 10 municípios da zona da mata. O objetivo é criar as condições necessárias (técnicas e materiais) para que agricultores/as que já estão envolvidos/as com a produção em sistemas agroecológicos possam trocar suas experiências entre si e com técnicos/as sobre a produção, o beneficiamento e até a comercialização de café em sistemas orgânicos. Nossos parceiros são: Associação Regional dos Trabalhadores Rurais- ZM, Associações de Agricultores Familiares-ZM, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais- ZM, Epamig-Centro Tecnológico ZM e Universidade Federal de Viçosa. OUTROS PROGRAMAS DA ENTIDADE Conservação da Mata Atlântica na Serra do Brigadeiro Desenvolvimento Local Associativismo e Comercialização Desenvolvimento Institucional Promoção Pública da Agroecologia 1

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Page 1: Apostila Monitoramento Econômico

Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata

SOMOS UM GRUPO BEM GRANDE DE

COMPANHEIROS E CADA UM DÁ A MÃO AO OUTRO.

O CTA - Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da Mata é uma

organização não governamental com sede em Viçosa, criada em 1987 por lideranças sindicais, técnicos, professores e pesquisadores comprometidos com a construção de um modelo de desenvolvimento rural sustentável adequado para a Zona da Mata de Minas Gerais.

O desenvolvimento sustentável que estamos construindo tem como base a estabilidade ecológica com manutenção da capacidade de produção para as futuras gerações, com igualdade na distribuição dos benefícios gerados por essa produção, com a participação e o fortalecimento das organizações dos agricultores e com a participação e com equidade nas relações de gênero.

PROGRAMA DE FORMAÇÃO DE AGRICULTORES/AS Este é um programa que abrange 10 municípios da zona da mata. O

objetivo é criar as condições necessárias (técnicas e materiais) para que agricultores/as que já estão envolvidos/as com a produção em sistemas agroecológicos possam trocar suas experiências entre si e com técnicos/as sobre a produção, o beneficiamento e até a comercialização de café em sistemas orgânicos.

Nossos parceiros são: Associação Regional dos Trabalhadores Rurais-ZM, Associações de Agricultores Familiares-ZM, Sindicatos dos Trabalhadores Rurais- ZM, Epamig-Centro Tecnológico ZM e Universidade Federal de Viçosa.

OUTROS PROGRAMAS DA ENTIDADE Conservação da Mata Atlântica na Serra do Brigadeiro Desenvolvimento Local Associativismo e Comercialização Desenvolvimento Institucional Promoção Pública da Agroecologia

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Page 2: Apostila Monitoramento Econômico

Gestão Integrada da Propriedade e

Monitoramento Econômico

- acompanhando, medindo, comparando, observando –

buscando a

sustentabilidade

Viçosa, 2004

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Page 3: Apostila Monitoramento Econômico

Setembro de 2004, Centro de Tecnologias Alternativas da Zona da

Mata

8 – CEP 36570 000

00

Sítio Alfa, Violeira, Zona Rural CX. Postal 12Viçosa – MG TEL.: (31) [email protected]

Este texto foi produzido a partir do encontro “Gestão Integrada da Propriedade e Monitoramento Econômico” realizado em Paula Cândido – MG em agosto de 2004 a partir das vivências e das contribuições dos/as agricultores/as e técnicos/as envolvidos/as no Programa de Formação de

evam Batista, Rita Luzia Sena, Donizete Lopes (Vicente) e Paulo Sérgio Gomes.

Técnicos/as: Breno Mello, Eugênio Ferrari, Romualdo Macedo e Simone Ribeiro.

e Ana Beatriz

iro e Simone Ribeiro.

nda Monteiro, Eugênio Ferrari, aulo Sérgio Gomes e Simone Ribeiro.

Agricultores/as.

Agricultores/as: Sérgio Corrêa, Maria Elisa Assis Santos, Edinilson Valente Lima, Gerlúcia Cândida, Ana Terra Bianquini, Marcos Antônio Pacheco, Geraldo Aparecido da Silva, João Batista, Carina Eliziana da Silva, Cláudio Evásio Batista, Carina Vieira Batista, José Carlos Gomes, Nilsa Maria Oliveira, Donival Gonçalves Martins, João dos Santos, Wanda Moreira, Omar Campos, José Cláudio dos Santos, Gercino de Freitas, Vera Lúcia Ferreira, Paulo Est

Registro: Fernanda Monteiro, Juliana, Flávia da Silva

Diagramação: Fernanda MonteRevisão: Márcia Yoshie Kasai Texto Final: Breno de Mello Silva, FernaP

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Page 4: Apostila Monitoramento Econômico

Encontro sobre Gestão Integrada da Propriedade e Monitoramento Econômico

"Sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha unto é realidade ..." (Raul Seixas j )

No encontro de Paula Cândido começamos a conversa falando sobre os

nossos sonhos e para isso utilizamos mapas da propriedade. Primeiro fizemos um mapa da propriedade hoje e depois um mapa de como queremos que ela esteja daqui a 10 anos. Os mapas são bons para nos fazer pensar sobre nossos sonhos e projetos para a propriedade e para a família, por isso é uma boa coisa de se fazer junto com a família.

Quando pensamos nos nossos sonhos e planos para a propriedade e para a família, tem valores que nos levam a querer que a propriedade seja de um jeito ou de outro. São os valores que temos que nos fazem querer uma vida diferente e uma propriedade sustentável. Vamos lembrar um pouco o que cada grupo disse ser importante para ter uma propriedade e uma vida mais sustentáveis. Grupo Água: • Aproveitar tudo da terra. • Diversificação na propriedade. • Comercializar os produtos. • Ter crédito no momento de transição. • Crédito para alguma melhoria da propriedade. • Autonomia. • Respeito pela natureza. Grupo Fogo: • Tentar trazer o mínimo de coisas de fora, usar coisas da propriedade como,

por exemplo, plantar bananeira para fazer ração para criação. • Ter uma propriedade para ter autonomia e para isso é preciso ter a própria

terra e ter liberdade. É difícil trabalhar fazendo um futuro que pode não me pertencer. Isso não quer dizer que temos que parar de trabalhar, mas que temos que lutar para ter o que é nosso.

• Diversificar a produção pensando na qualidade da alimentação, primeiro pensando na família e depois na comercialização. É melhor produzir o alimento do que comprar com veneno.

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Page 5: Apostila Monitoramento Econômico

• Precisamos de dinheiro para manter a lavoura, não queremos ficar mais rico que os outros, queremos viver bem.

• Gerar mais renda. Há várias formas de comercializar porco, feijão, hortaliças, milho etc.

• Preocupação em manter o solo saudável, recuperando e preservando. Hoje temos que recuperar, mas daqui a dez anos vamos estar só preservando, pois já vai estar tudo recuperado.

• Ter árvores na propriedade, pois são importantes para o solo e nascentes. Ter mais matas também é importante.

• Preocupação com a qualidade de vida e não apenas com o retorno econômico. • Valorizar o trabalho em mutirão, a troca de dias seja com o pai, irmãos,

vizinhos etc. • Qualidade de vida. • Mais nascentes. • Diversificar a renda familiar. • Autonomia. • Diversificação de alimentos. • Qualidade do solo. Grupo Terra: ♦ Propriedade auto-sustentável. ♦ Recuperar a terra e a água. ♦ Aumentar a renda. ♦ Sair da monocultura. ♦ Melhoria na estrada. ♦ Ter conforto para a família. ♦ Autonomia. ♦ Recuperar as nascentes. ♦ Preservar o meio ambiente. ♦ Diversificação. Grupo Ar: ♦ Conforto para a família. ♦ Diversidade na lavoura e na propriedade. ♦ Renda a mais. ♦ Dar vida à terra morta. ♦ Melhorar a saúde. ♦ Não depender das coisas de fora. ♦ Ar mais puro. ♦ Mais água no solo.

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Page 6: Apostila Monitoramento Econômico

♦ Possibilitar que pais e filhos permaneçam no campo. ♦ Transformar a sociedade a partir da gente.

Apesar das propriedades de cada um/a serem diferentes há idéias parecidas, como por exemplo: melhorar a terra, cuidar da natureza, proporcionar uma melhor qualidade de vida para a família. O que se busca não é se tornar latifundiário, mas sim ter uma terra de qualidade, que tenha uma diversidade maior e possibilite uma melhoria da natureza e da qualidade de vida. - O que de mais forte foi percebido nos grupos?

• Uma consciência ecológica muito grande. • Os/as agricultores/as não querem muita terra e sim viver com dignidade

na terra que têm. • Ninguém quer ser latifundiário. Mas a autonomia de muitos esbarra na

conquista da terra. “É um sonho e uma necessidade”. • Ninguém sonhou com a cidade, mas sim com qualidade de vida no campo. • Muita gente quer aumentar a casa e a família também • Todos querem mais mata, mais água e mais ar puro.

- Falou-se de autonomia, mas autonomia de quem? A família meeira ou parceira busca sua autonomia. Mas quando se pensa

no jovem ou na mulher busca-se a autonomia do indivíduo, sem deixar de pensar na família. A autonomia dos jovens é sair da dependência dos pais e a dos meeiros é sair da dependência do patrão. Há muitos investimentos que só terão retorno a longo prazo, aí se a pessoa não é proprietária de sua terra torna-se um problema. - E a autonomia com relação aos filhos?

“Se hoje para nós não há a liberdade devemos, no futuro, proporcionar essa liberdade para os nossos filhos. A liberdade deve ser dada ao filho desde que as novas idéias estejam de acordo com o que já existe ali, na propriedade. Se o filho quiser colocar agrotóxico, vai prejudicar o meio ambiente”.

Mas e se o/a filho/a pensa diferente? Autonomia é dar liberdade para a pessoa fazer o que quiser no pedaço de terra que é dela. Se o/a filho/a trabalha na propriedade e quer algo diferente é um direito dele/a. É preciso aprender a dar liberdade aos/as filhos/as. Para isso deve-se começar a ouvi-los. De repente dar um pedaço dar terra para que ele/ela possa fazer seus experimentos e ter sua renda.

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Page 7: Apostila Monitoramento Econômico

Os/as filhos/as trabalham com a família e devem ser respeitados/as. Quando o/a filho/a cresce junto com os pais há mais chance das idéias

serem parecidas. O que deve acontecer cada vez mais é diálogo entre pais e filhos/as, irmãos, marido e mulher, ou seja, o sonho construído junto com a família proporciona uma maior sustentabilidade.

Tem também a autonomia com relação a não dependência de insumos externos, como sementes e adubos trazidos de fora da propriedade. E também ter acesso a informações e conhecimentos também é muito importante para se ter uma maior autonomia.

Por que a diversificação é importante para a sustentabilidade? Com a diversificação tem-se uma qualidade de vida melhor, há um aumento da

renda familiar. Com a monocultura tem-se que buscar produtos fora da propriedade.

É preciso ter qualidade de vida e para isso é preciso plantar os alimentos para serem consumidos. E é importante ter uma sobra para a comercialização e geração de renda para a família. O consumidor também quer produto de qualidade.

É bom que a produção seja diversificada e o mais natural possível. Com a diversificação há um equilíbrio maior do ambiente, é importante ter diferentes vidas em um mesmo ambiente. Raízes de diferentes tamanhos são muito importantes. “Devemos pensar na sustentabilidade nossa e do sistema”.

O medo da diversificação também existe já que há uma cultura que sempre busca o que é mais fácil. É preciso mudar essa idéia. Espaço para um galinheiro e uma horta tem em toda parte e isso também pode gerar renda para a família.

Comercializar em grande quantidade pode ser um problema. Mas em menor quantidade pode ser mais fácil, porém a produção deve estar organizada e para isso é preciso planejar primeiro.

A diversificação tem a ver com a autonomia porque a gente não fica dependendo só de uma cultura ou só de uma fonte de renda.

A agricultura familiar é diferente de uma empresa porque não pensa só em renda, mas em qualidade de vida e em sustentabilidade. A renda também é importante, mas não é tudo para a agricultura familiar, há valores diferentes.

Os mapas feitos no encontro mostraram que o que os/as agricultores/as buscam a sustentabilidade, sendo princípios ou pontos importantes para que isso ocorra:

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Page 8: Apostila Monitoramento Econômico

Meio Ambiente • Preservar o meio ambiente. • Ter respeito pela natureza. • Aumentar e recuperar as nascentes. • Ter mais matas. • Recuperar a terra e a água. • Ar mais puro. • Buscar qualidade do solo. • Melhorar a terra. • Dar vida e saúde à terra morta. Uma coisa importante a ser lembrada é o se faz com o lixo na propriedade. Vidros, latas e plástico quando são enterrados ou queimados fazem mal ao meio ambiente. Uma opção seria usá-los na propriedade ou levar para locais de coleta de lixo na cidade.

Qualidade de vida

• Buscar conforto e qualidade de vida para a família. • Tratar só com homeopatia. • Melhorar a saúde da família. • Produzir alimentos, leite e carne sadios.

Autonomia

• Ter recurso próprio e não depender das coisas de fora da propriedade.

• Comprar o mínimo de coisas para o consumo da família, produzindo o máximo de alimentos dentro da propriedade.

• Ter independência financeira. Renda Familiar

• Aumentar a renda da família buscando autonomia e qualidade de vida.

• Aumentar a renda para se manter na roça. A diversificação da produção é importante para isso.

Fazer mudanças na sociedade

• É importante mostrar para as pessoas que é possível mudar a propriedade e a terra.

• Transformar a sociedade a partir da gente.

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Page 9: Apostila Monitoramento Econômico

• Possibilitar que os/as filhos/as estudem. • Possibilitar que pais e filhos/as fiquem juntos na terra.

Diversificação

• Diversificar a propriedade. • Diversificar a renda familiar. • Sair da monocultura. • Ter uma renda a mais para a família. • Aproveitar a propriedade ao máximo. • Diversificar os alimentos garantindo qualidade de vida para a família. • Ter ervas medicinais em casa para não ter que ir à farmácia.

Recursos

• Conseguir recursos para realizar os sonhos. • Melhorar a estrutura da propriedade. • Comercialização dos produtos. • Crédito no momento da transição. • Crédito para alguma melhoria na propriedade, isso porém, só no

começo, se não fica dependente do banco. Esses são alguns valores que podemos pensar quando planejamos uma propriedade sustentável.

Quando se pensa nos sonhos devemos pensar em como fazer para eles se tornarem reais. Ou seja, o que deve ser feito para concretizar um sonho? Quais são os primeiros passos no caminho dos nossos sonhos?

Muitos dos sonhos necessitam de recursos para se tornarem reais, para isso devemos planejar bem o que vamos fazer e de onde virão os recursos. Algumas pessoas preferem usar os próprios recursos, já outras escolhem acessar um crédito no banco. De qualquer forma planejar bem é muito importante.

E quais são os tipos de crédito mais comuns? Em primeiro lugar devemos esclarecer algumas coisas com relação ao

PRONAF. De acordo com este crédito, as famílias que possuem renda anual de R$ 2.000,00 a 14.000,00 fazem parte da linha C do PRONAF. E as famílias que possuem renda anual de R$ 14.000,00 a 27.000,00 fazem parte da linha D do PRONAF. Vale lembrar que esta renda é a quantidade de dinheiro que a família

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Page 10: Apostila Monitoramento Econômico

tem a cada ano através da venda de produtos, ou seja, a renda em dinheiro que a família consegue no ano. - PRONAF Agroecologia: pode ser usado para investimentos na propriedade

ou custeio da produção Para investimento tem 3 anos de carência e juros de 4% ao ano, tendo o

prazo de 5 anos para quitar a dívida. Se a família faz parte da linha C e pagarem em dia tem R$ 700,00 de rebate (desconto na hora de pagar), já a linha D não tem desconto na hora de pagar mesmo pagando em dia. Há várias exigências quanto a investimento em carro, por exemplo, e é preciso ser proprietário/a para acessar o PRONAF Agroecologia Investimento. Porém essas exigências estão sendo discutidas porque trata-se de uma linha de crédito nova. Além disso, o projeto tem que ser executado. Se o/a agricultor/a se encaixa na linha C ou D do PRONAF ele/a pode pegar até 50% a mais de crédito no PRONAF Agroecologia

Já para acessar o PRONAF Agroecologia Custeio, não é preciso ser proprietário/a da terra, mas tem que pagá-lo no ano seguinte. - PPONAFINHO ou PRNAF custeio para famílias que se encaixam na linha C:

é um crédito somente para custeio da produção. O crédito é para pequeno/a agricultor/a e o juros é de 4% ao ano, mas quem paga o em dia tem rebate (desconto) de 200,00 na dívida.

O recurso é dado de acordo com o tamanho da propriedade e o crédito é conseguido através de uma carta de aptidão dada pela EMATER ou STR, podendo o/a agricultor/a ser proprietário/a ou parceiro/a da propriedade. Caso seja parceiro/a o avalista é o dono da terra ou outra pessoa, depende do local pois cada um tem suas exigências.

O valor máximo que pode ser acessado é de R$2.500,00 e o mínimo é de R$750,00 e não é preciso ter um projeto somente a carta de aptidão. - PRONAF Investimento para famílias que se encaixam na linha C: pode pegar

no máximo R$ 5.000,00 para projetos individuais e R$40.000,00 projetos de grupo. Tem rebate (desconto) na hora de pagar somente para projetos em grupo e as condições são piores que as do PRONAF Agroecologia.

- Fundo de Crédito Rotativo (FCR): é um crédito da Associação Regional dos

Trabalhadores/as Rurais da Zona da Mata. Para conseguir o crédito é necessário fazer um projeto que será avaliado quanto à viabilidade

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econômica. Uma vez que for aprovado o projeto a pessoa tem 6 meses de carência e 1 ano para pagar o empréstimo, podendo ser negociada a forma de pagamento (número de parcelas e de quanto em quanto tempo). O juro é de 5% ao ano.

Esse crédito hoje é dado para pequenos investimentos na propriedade e não para custeio da produção. E 30% do recurso do FCR é destinado para mulheres e os outros 70% para homens e mulheres. O recurso pode ser coletivo com limite máximo de R$ 5.000,00 para o grupo, ou individual com limite máximo de R$ 1.500,00.

Quando o crédito deixa de ser pago por alguma pessoa do município o recurso é vetado às outras pessoas deste município até o pagamento da dívida. Jovens também podem acessar o crédito e não é necessário comprovar renda familiar.

Um bom exercício para ser feito com a família é imaginar o que vai ser feito no próximo ano na propriedade, com crédito ou com recursos próprios, para começar a caminhar em direção aos sonhos.

Algumas questões que devem ser lembradas quando se faz planos para a propriedade, principalmente se os planos envolvem crédito: - Como o crédito e o projeto vão ajudar na sustentabiliadade da propriedade? - Como pagar esse empréstimo? E os outros gastos da propriedade e da

família? - Será que essa dívida poderá trazer alguma dificuldade para a família? - Como enfrentar as críticas da vizinhança, já que as mudanças podem

demorar a dar resultado? - Tem comércio para esses produtos? O projeto é só nosso ou é

compartilhado com a família? - Esse projeto está integrado na propriedade? - E a possibilidade de algum imprevisto ou de perdas, será que está sendo

considerada quando se faz o projeto? - Uma boa dica é economizar, reduzir os custos para pagar o empréstimo

feito. Para que isso aconteça é preciso priorizar certas coisas e nunca esquecer das despesas familiares.

Quando se faz um projeto ou planejamento da propriedade é preciso pensar em várias coisas. Mas que tipo de informação é necessárias para fazer o planejamento da propriedade? E onde estão essas informações, na cabeça ou

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Page 12: Apostila Monitoramento Econômico

no papel ? Se estão anotadas, o que eu registro da propriedade? Como eu registro?

Vamos lembrar um pouco do que os grupos no encontro falaram sobre as informações que são necessárias para planejar e como elas são conseguidas: O que eu preciso saber para planejar? ♦ Sentar com a família para planejar. Priorizar as atividades a serem feitas

de acordo com o recurso que a família vai ter. ♦ Disponibilidade de trabalho da família, saber com quantas pessoas eu posso

contar para tocar o projeto para frente. ♦ Recurso, como eu consigo e como eu honro com esse compromisso. ♦ Pesquisar preços e onde conseguir o que eu quero para o projeto. ♦ O que eu já tenho na propriedade para ajudar na realização do projeto. ♦ Quanto vai ser gasto no total. ♦ As formas de pagamento, ou seja, como pagar um empréstimo caso seja

feito. ♦ Gastos de todos os dias da família e ao longo do ano. ♦ Problemas eventuais, prever prejuízos que podem acontecer. ♦ Ver se é possível fazer compras coletivas para diminuir preços. ♦ Se tem mercado para o produto que quero comercializar. ♦ Viabilidade econômica do projeto. ♦ Planejar o trabalho familiar doméstico e contar com ele nas anotações da

família. ♦ Procurar um profissional capacitado caso seja necessário para fazer alguma

obra como o terreiro, por exemplo. ♦ Pensar na integração da propriedade, como por exemplo esterco e lavoura

de café. ♦ Controlar gastos da família. Não comprar “bobeiras” e nem a prestações

porque pode descontrolar e depois ter dificuldades para pagar. Como eu registro estas informações? ♦ “Não anoto, guardo tudo de cabeça, mas não lembro informações

importantes como quantos dias de serviço foram gastos na área”. ♦ “De 6 meses para cá tenho anotado tudo”. ♦ “Só anoto os manejos que foram feitos, mas os dias de serviço não”. ♦ “Anoto os manejos que foram feitos na lavoura e dias de serviço, mas

serviços pequenos não anoto”. ♦ “É importante também anotar aquelas informações que só nós sabemos”.

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Page 13: Apostila Monitoramento Econômico

♦ A maioria das pessoas não registra valores nem quantidades, mas todos/as acham que é preciso registrar as informações para saber se a venda dos produtos está cobrindo os gastos. Outras pessoas sempre anotam custo, produção, renda e despesas.

♦ Muitas pessoas utilizam caderno para anotar, já outras utilizam agenda.

Algumas coisas devem ser sempre lembradas na hora de anotar e planejar: O trabalho familiar doméstico é essencial dentro da agricultura familiar. O trabalho de quem vai para a roça sem ter que se preocupar com a comida, as roupas lavadas e muitas outras coisas é facilitado por quem fica em casa fazendo este trabalho. A família é muito importante por isso o seu trabalho tem que ser contado como gasto e ganho. Outro ponto importante é anotar os alimentos que são produzidos na propriedade, como plantas medicinais e horta, porque são deixados de comprar na rua e são uma renda da família. Assim é interessante saber quanto se gastou para produzi-los, quanto do alimento vai ficar para a família e quanto vai para o comércio. Além disso quando se sabe quanto custou produzir algo, pode-se pensar qual seria um bom preço de venda e isso vale para qualquer produto. E como saber se estamos caminhando em direção aos nossos sonhos? Para saber se isso está acontecendo temos que anotar o que estamos gastando e o que estamos ganhando, contando com os imprevistos para planejar. É preciso ter um caminho e um destino, e ter flexibilidade para lidar com o que pode acontecer. É aconselhável planejar e controlar as coisas da propriedade, não esquecendo os pontos importantes da sustentabilidade e nem onde se quer chegar. Mas a horta e as plantas medicinais, são ou não renda? São renda e gasto ao mesmo tempo porque gasta trabalho para fazer, mas trazem uma renda para família por não estar comprando essas coisas fora da propriedade. Aí aquele dinheiro que gastaria para comprar um produto sobra para fazer outra coisa. Além disso trazem qualidade de vida para a família. Tem dois tipos de renda: uma com dinheiro e outra sem dinheiro, mas as duas são renda para a família e por isso devem ser anotados o que gastou para produzir e depois o valor que o produto tem, mesmo que o produto não vá ser

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Page 14: Apostila Monitoramento Econômico

vendido. As empresas produzem e vendem, já a agricultura familiar produz, consome e vende. E na hora de pensar em como vai pagar o empréstimo tem que pensar na renda que se consegue através da venda de produtos, porque é com esse dinheiro que vai pagar o banco. Meio ambiente conservado (solo, água, variedade de sementes etc) também é renda. Não é dinheiro, mas é patrimônio fundamental para gerar riqueza para a família.

E como é que nos sabemos que estamos conservando o meio ambiente? Observando as plantas indicadoras, a umidade e cor do solo, o aumento da produção, o aumento dos bichos na propriedade, as plantas mais bonitas e sadias, a água aumentado nas nascentes. Estas são coisas que não precisamos ficar anotando, basta observar e ir vendo as mudanças. Como é que alcançamos autonomia? Chegar à autonomia total é difícil, mas pode-se pensar em coisas que tem na propriedade que podem ser feitas sem depender de insumos de fora. O café orgânico, por exemplo, ainda depende de coisas de fora, mas tem outras coisas que não, como a horta. Como fazer uma transformação na sociedade a partir de nós? É muito importante fazer para as outras pessoas verem. E o que devemos anotar para contar para as pessoas quando forem nos visitar, sobre o que mudou na propriedade? Como era a terra antes, o que mudou nela e a melhoria da qualidade de vida da família. Acompanhar as mudanças é bom não só para podermos mostrar para as outras pessoas o que conseguimos, mas para crescermos junto com nossas experiências.

Vamos pensar em alguns passos necessários para planejar a propriedade:

Primeiramente é preciso reunir a família para planejar junto. Em seguida é preciso reunir informações de dentro da propriedade e de fora dela.

Pensar em aproveitar recursos que a família tem na propriedade é muito importante também. Além disso, saber quanto de recurso financeiro a família tem e quanto falta para conseguir. É preciso priorizar algumas atividades com a família.

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Page 15: Apostila Monitoramento Econômico

Trocar idéias com pessoas mais experientes é muito bom, pode ajudar bastante. Informações de dentro da propriedade: - despesa da família ao longo do ano - disponibilidade de trabalho da família - pensar no trabalho familiar doméstico e seu valor - pensar de onde sai o dinheiro para manter a família - renda estimada que vai ter com a venda e consumo de produtos - produção esperada da lavoura e quintal Informações de fora da propriedade: - lista de materiais a serem utilizados - orçamento dos materiais a serem comprados - levantamento dos preços e custo do investimento - se tem mercado para o produto - mão-de-obra necessária, se vai ter que contratar alguém em algum momento e quanto custa - profissional capacitado para prestar o serviço, no caso de construir um terreiro de café, por exemplo - carreto, frete para trazer o que vem de fora da propriedade Informações de dentro e fora da propriedade: - insumos a serem utilizados na produção - investimentos que serão necessários para produzir - problemas eventuais e perdas que podem acontecer e perdas - como vai pagar o investimento - viabilidade econômica do projeto que diz respeito a tudo (meio ambiente, saúde e felicidade da família, renda etc) - prever prejuízo - pensar na integração da propriedade, como esterco e lavoura. Outras dicas: - registrar o que puder - se planejar e guardar tudo na cabeça, só na memória, corre o risco de esquecer depois de um tempo - usar caderno para anotar atividades, custos e ganhos - utilizar caderneta e agenda para registrar

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Page 16: Apostila Monitoramento Econômico

- utilizar pregos na parede, um de gastos outro de ganhos, pode ajudar no controle.

Monitorando a propriedade:

Para sabermos se a propriedade está caminhando para o sonho da família de uma forma sustentável, uma boa dica é monitorar a propriedade.

Mas o que é monitorar? Acompanhar, ficar de olho em tudo que está acontecendo, medir, comparar, observar.

Em 2000, o CTA começou a ser muito cobrado pelos agricultores/as e financiadores sobre a viabilidade econômica da agroecologia. Mesmo sabendo que a agricultura familiar não é como uma empresa, era preciso mostrar que a agroecologia é economicamente viável. Sendo assim, pensou-se em fazer o monitoramento econômico de algumas propriedades. Foi então proposto para as duas comunidades de Araponga: São Joaquim e Vargem Alegre analisar as famílias agroecológicas e convencionais, tentando analisar as duas realidades. E foram pensada as diferentes coisas que estão ligadas à economia da família como solo, planta, água, renda e não somente dinheiro.

Já era imaginado que não seria fácil encontrar uma família convencional que topasse, sendo assim foram escolhidas duas famílias em início de transição para a agroecologia. Foram então duas famílias agroecológicas (Vicente e Lúcia / João dos Santos e Santinha) e duas famílias em início de transição (Rita e Fernando / Mônica e Paulo). Agora vamos lembrar um pouco o que o Vicente falou sobre a experiência:

“Trabalho com o agroecologia desde 1989. E sempre fui perguntado se agroecologia era sustentável e se dava dinheiro. Tem coisas que são sustentáveis e não dão dinheiro, e tem coisas que dão dinheiro e não são sustentáveis. Diversificar funciona. Como provar que funciona? Queria clarear a agroecologia.

Aí surgiu o monitoramento econômico como uma forma de ver se isso tudo que a gente faz é sustentável. Começou em 2000, com 4 famílias em Araponga. João dos Santos tinha mais a coisa ecológica, Rita queria começar.

Na época pensei que íamos ter que fazer coisa s que a gente não gosta, ter que começar a anotar tudo. Fazer um planejamento, observar, anotar e depois comparar. Tivemos que acompanhar mais de perto, memória é complicado porque você influencia muito, pode puxar para o lado negativo, a gente empolga com umas coisas que não dão certo, pode perder informações.

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Page 17: Apostila Monitoramento Econômico

Na época eu já anotava algumas coisas, anotava os dias de trabalho para depois mostrar o caderno para o patrão pagar, mas de forma desordenada. Com o monitoramento percebi que tinha que organizar as anotações, não basta só anotar. As vezes o monitoramento é confuso, se não anotar bem e essas anotações devem ser feitas com a família.

Minha propriedade é variada e a renda também. Tem coisas que mudam ao longo dos anos e monitorar aponta caminhos. Fazer o mapa da propriedade também ajuda, porque ele te mostra as mudanças e se as mudanças te levam a sustentabilidade ou não. Quando perguntam o que é o forte na minha propriedade, respondo que varia de ano para ano, pode ser a cana, a banana, o milho, o mel, o cabrito ...

E a renda financeira? Pode ser pequena, mas a qualidade de vida vale muito. Na época eu tinha o olho muito voltado para o lucro e esquecia das coisas básicas para sobrevivência. Com o monitoramento percebemos que elas devem ser muito respeitadas, passei a valorizar o que a gente tem e o que a gente não compra, foi o mais importante. Se você comprasse tudo, qual seria o salário necessário para sobreviver? E os alimentos comprados têm qualidade? Então, nossos produtos valem muito.

No fechamento do monitoramento percebemos como tem monocultura que deve ser convertida. Isso foi apontado pelo monitoramento.

Quanto a questão do empréstimo: Como vou pagar? De onde vai sair o dinheiro para pagar? O monitoramento pode responder, pois ajuda a saber da onde vai tirar o recurso para pagar o empréstimo, já que com isso se sabe qual atividade dentro da propriedade naquele momento está dando um pouco mais de lucro.

E o planejamento, tem o planejamento do momento de fazer o projeto e da hora de executar porque às vezes as coisas mudam. Tem que pensar bem, para não desperdiçar. Não investir em algo que não vai usar. Tem que ter cuidado e pensar com a família o que é o mais sustentável.

O monitoramento levanta custos. A cabra, por exemplo, não dá lucro se for comparar com mel. Se fossemos pensar em lucro não teríamos cabra na propriedade, só abelha, mas temos que garantir diversidade para ter sustentabilidade. Além do que as cabras, os meninos podem mexer, o mel pode ser que eles não mexam. Outro exemplo é o boi que é degradador mas traz esterco. E os preços variam com o tempo, pode inverter. Tem coisa que não tem lucro de dinheiro, mas tem grande valor na propriedade como as cabras lá de casa que são muito importantes para a família.

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O monitoramento vem com a prática. E descobrimos as burrices que fazemos, o tanto de coisa desnecessária que compramos. E as pessoas querem ver coisas grandes como carros, mas não percebem a água, o solo .

Eu e minha esposa temos um caderno, dividimos uma página em três, são três dias por página. Escrevemos tudo que gastamos, que usamos, dinheiro que entrou e saiu. A esposa anota mais coisas, provando como ela trabalha mais. Pela anotação soube, por exemplo que o trigo foi o maior gasto da família. Pode anotar tudo ou só aquilo que você quer saber. Sobre a lavoura, anoto tudo sobre ela e o que influencia ela também. Mulher Temperatura Vicente Data -Rotina -Alimentação do dia (arroz,feijão,mandioca ..) -Saúde

25ºC se choveu de manhã.(Sabe como foi o ano)

- ........... (ainda vai ter espaço para os filhos)

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Também monitoro a água, tem a experiência na cartilha Semeando Águas

do César Medeiros. Anoto a quantidade de água e pelas anotações vejo se está aumentando ou diminuindo a água.

Acho melhor monitorar em um caderno, depois sistematizo separando cada coisa para analisar. Fica um só caderno, menos risco de perder as informações. É bom anotar, mas não deixo tudo para o caderno. Manter a memória viva também é bom.

Nós sempre planejamos, acordamos fazendo matemática, um mínimo de planejamento todos nós temos, planejamos o que vamos fazer no dia.

Talvez se meus pais e avós tivessem anotado, o êxodo rural teria sido menor porque passa a valorizar mais o campo. Mas não é tarde para começar. Se ninguém começar nunca vai ser feito. Se a gente anotasse desde de 10 anos atrás, teríamos informações importantes e os jovens dariam mais valor, saberiam que é o paraíso aqui, os dados são muito importantes.

O mais importante do monitoramento é o agricultor passar a ver que talvez aquilo que ele vê como principal renda da propriedade na verdade não é, como por exemplo o café comparado com outros produtos.

A conquista de terra também tem que anotar”.

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Agora vamos lembrar um pouco do que a Rita nos falou: “Recebi uma herança que era um verdadeiro terreiro, um rapadão só com

café. Não anotávamos nada e quando colocamos no lápis, na época do monitoramento, é que percebemos que não estávamos tendo retorno do café. Então cortamos uma parte do café e colocamos milho, feijão, cana e mandioca. Vimos também como estávamos gastando com muita mão-de-obra, comendo muita carne, trigo e comprando muita coisa fora.

Temos que valorizar o trabalho da gente, o prazer de trabalhar a terra e não estar prejudicando o meio ambiente. Foi bom também visitar as outras famílias, ver a experiência e o carinho que tinham com a terra teve grande influência, me contagiou. Passamos a diversificar em casa, mão-de-obra familiar e só roçar.

Não vivemos só pensando em lucro, mas no prazer em trabalhar a terra e ter qualidade de vida. Tinha lugares que não dava nada e hoje tem cana e feijão.

Hoje nossa renda é feijão, mandioca (polvilho, casca para criação), cana (trata da criação, faz rapadura), café, milho para as galinhas, gado (esterco para a lavoura). Vendo muito polvilho, a procura é maior que minha oferta. Tenho uma picadeira para ajudar no trabalho. O café não vale muito a pena perante outros produtos. No quintal tiramos o café e colocamos horta que gera uma boa renda para a família. Pensamos em diminuir mais o café e o que têm vai ser orgânico.

Antes anotava tudo e me perdia, hoje anoto custos e ganhos, não tudo. Fizemos caixas de retenção com bananeiras para manter a água só na

estrada, na lavoura o mato segura. Também achamos importante estar plantando árvores no meio da lavoura, lá fizemos o plantio de Fedegoso que nós usamos para plantar maracujá.

Aconteceu economias, trocas de valores, para que comprar farinha pro lanche se eu posso comer batata, se eu não tivesse verdura talvez eu não iria comprar e não ia comer, mas aí talvez eu poderia estar tomando remédio. Hoje só compro arroz e quase não vamos à farmácia. Temos saúde e qualidade de vida.

Também teve mudanças na família, a minha menina pequena tomava remédio, agora ela já sabe fazer os chazinhos dela. Meu menino já maior tem um carinho pela terra, acho que ele não vai querer sair de lá, ele já tem uns 1000 pés de café e está vendo que aquela terra é sustentável para nós e ele. Meu marido gostava de ser pedreiro, passou a valorizar a agricultura e não precisa mais sair para conseguir dinheiro. Ele cuida da lavoura também.

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Renda também é o dinheiro que nós não gastamos. Eu achava que o café era a única fonte de renda, com o monitoramento eu vi que tinha outras fontes de renda. Hoje nossa propriedade é o paraíso”. Algumas observações interessantes: - Ter outras fontes de renda que não só o café permite mais liberdade até

mesmo na hora de planejar . E podem até render mais que o café. E renda não é só dinheiro mas o que não se compra. Qualidade de vida também conta. O monitoramento pode mostrar isso. Como também que o café não é sua única renda, e nem a maior.

- É importante contar mão-de-obra mulher e filhos também . - “O que estou aprendendo aqui é que a propriedade agrícola é que nem o

nosso corpo, com vários órgãos, eles funcionam juntos, tem dias que um funciona melhor que o outro, mas é o conjunto que funciona bem”.

- “Para nós trouxe muita reflexão, algumas coisas que temos que observar mais. As informações estão sendo levadas para outros lugares, contribuindo para frisar a segurança alimentar, a importância da diversidade.”

Para o CTA, o monitoramento econômico também foi muito importante porque

se preocupava muito com a renda e não percebia outras coisas, valores da agricultura familiar. Também ajudou a discutir políticas públicas para a Agroecologia e sua viabilidade.

Agora vamos lembrar das visitas feitas durante o encontro:

Visita à propriedade do Cláudio e Carina: Cláudio sempre quis plantar café, mas nunca pensou em plantar café

convencional, aí se animou com o orgânico. Têm tido dificuldades e recebem muitas críticas dos vizinhos, mas estão satisfeitos.

Na comunidade tiveram uma experiência de horta comunitária que está parada. A horta começou com 7 famílias, mas a maioria desanimou por ter acontecido perda de produtos devido a dificuldades com a comercialização. Tinham feito pesquisa de produtos mais consumidos no município, mas não de compradores. A maioria dos compradores da cidade preferiam comprar do CEASA em Belo Horizonte. Para não perder produtos tentaram até doar para a escola e para o lar dos idosos, mas não foi possível. Estão pensando em tentar vender os alimentos em restaurantes e de casa em casa, direto para o consumidor.

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A renda familiar vem do milho e feijão, mas algumas vezes Cláudio trabalha de pedreiro para ajudar.

A lavoura de café está bem e já estão até aparecendo plantas indicadoras que antes não nasciam. Cláudio e Carina só usam composto e super-magro na lavoura e querem fazer uma estrada para facilitar o transporte de composto. Nessa estrada deve ser feita caixa de retenção para segurar as enxurradas, além de também fazer manejo das árvores em torno da lavoura para não competirem com o café. No inverno manejar as árvores que estão no meio da lavoura faz com que elas não retirem muita água do solo prejudicando o café que está mais próximo delas. É importante controlar a acidez também.

Além do café, Cláudio e Carina têm vacas que ficam em um terreno alugado. Na propriedade tem também porcos, plantas medicinais, horta e frutas próximas a casa. Agora querem ter galinhas para diversificar a renda da família. Visita à propriedade da Vera e do Pedro:

Pedro nasceu em Paula Cândido na mesma comunidade em que vivem. Casou-se com Vera e foram morar em Viçosa. Depois de seis anos voltaram para Paula Cândido, onde compraram a terra onde moram até hoje. No início a propriedade só tinha pasto ruim. Passaram a cultivar milho, feijão e arroz . Depois cultivaram tomate com grande uso de agrotóxicos. O tomate dava muito lucro, foi aumentando a produção até que começou a ter prejuízo e pararam. Chegaram a plantar inhame, mas tiveram dificuldades em comercializar. O comércio local trazia do Ceasa e o ganho era muito pouco. Vera pensa que a comercialização não é fácil, mas falta organização para vender.

Já estão em Paula Cândido há 20 anos e há 3 anos conseguiram mais um pedaço onde plantam milho. Vera recebeu uma herança onde também plantam milho. Hoje a família está voltando a criar vacas. E também estão montando um alambique para os filhos tocarem. A renda da família vem do milho, feijão, cana e leite. Sempre têm um porco para despesa. Tem uma mina na propriedade e parte da água da propriedade é utilizada pelos vizinhos. Havia outra mina, depois que plantaram eucalipto no alto e colocaram fogo no pasto sumiu. Estão recuperando com a capoeira e esperam que ela volte.

Pedro e Vera têm 2 filhos e 2 filhas. A filha mais velha casou-se e mora em São Paulo. Janaína estuda em Viçosa e está cursando pedagogia. Os filhos moram na propriedade e trabalham com a família. A família só utiliza mão–de–obra externa na quebra do milho.

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Há muita conversa e planejamento na família. E há uma distribuição do trabalho de acordo com o que gostam. Os filhos irão trabalhar com o alambique que gostam muito. Também têm abelhas na propriedade. A criação de vacas:

Pedro gosta muito das vacas que trata com fubá, cana e capim na época da seca e pasto nas águas. Usam o esterco para adubar a cana. A produção diária de leite é de 16 litros, sendo 3 vacas ordenhadas. O boi utilizado para emprenhá-las é emprestado do vizinho e as vacas são secas 40 dias antes de parir. Os bezerros mamam até 4 meses de idade.

Alguns medicamentos naturais utilizados para o cuidado dos animais: - Limão com bicarbonato, pé de bananeira picado para tratar diarréia - Tintura de fumo com álcool para controlar o carrapato. - Tanchagem e Terramicina queimadas no fogão a lenha e depois coadas

para misturar com o sal para controlar berne e carrapato. - Fumo com óleo queimado para controle de berne. O leite é vendido e uma parte é utilizada para fazer queijo.

A criação de galinhas: Vera sempre gostou muito de galinha. Antes criava galinhas soltas, mas

começou a perder algumas. Então diminuiu a quantidade e passou a deixá-las cercadas no terreiro. Eram galinhas caipiras.

Um dia um atravessador falou para Vera sobre a raça New Hamshire que tinha bom comércio no Rio de Janeiro. Foi então que Vera resolveu tentar criar essa raça e vender para o Rio de Janeiro. Ela trouxe 100 pintinhos de New Hamshire da UFV e começou a criação. Só depois Vera conheceu o Fundo de Crédito Rotativo, da Associação Regional e fez o projeto para construir o galinheiro e aumentar a criação . O crédito foi de R$10000,00 e deu certo! Ela dividiu o pagamento da dívida em 4 parcelas para serem pagas de 4 em 4 meses. O pagamento foi tranqüilo e Vera utilizou só a renda das galinhas para pagar. Hoje o que vem é lucro.

As galinhas são apenas para recria e engorda. Os pintinhos continuam sendo comprados na Universidade, em Viçosa, e as galinhas são vendidas com 4 meses de idade. Vera compra 100 pintinhos e só depois que as galinhas são vendidas é que ela compra novos. Os pintinhos custam R$ 0,75 cada.

Para tratar das galinhas a ração é feita com milho de casa e o concentrado é comprado. Veja as quantidades e o manejo que Vera faz: - Pinto ( até 30 dias) – tem uma ração na proporção de 2,5 Kg de fubá

misturados com 1,5 Kg de concentrado.

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- Frangos (de 30 a 60 dias) - 3,0 Kg de fubá misturados com 1 Kg de concentrado de frango.

- Frangos (de 60 a 90 dias) - 4,0 Kg de fubá misturados com 1 Kg de concentrado de frango.

- Frangos (de 90 a 120 dias) - 5,0 Kg de fubá misturados com 1 Kg de concentrado de frango.

Além da ração dá abóbora, resto de comida e mato. Durante os 4 meses de

engorda são necessários 8 sacos de fubá e 4 sacos de concentrado para engordar 100 pintos.

Coloca-se luz para os pintinhos e o transporte da Universidade para a casa deve ser cuidadoso porque tem risco de gripar portanto transportar com moto é pior, no frio podem até morrer. Os pintos são de 1 dia.

Vera sempre coloca folha de Terramicina, para as galinhas e não usa vacina.

Os pintinhos ficam em um cômodo fechado até 30 dias de vida com luz. Depois é aberto um outro espaço onde ficam até 60 dias. Após 60 dias abre outra parte do galinheiro para terem espaço e andarem a vontade até 120 dias, é um terreiro cercado. Quando tira os animais desinfeta com criolina e coloca pó de serra para que não tenha problemas de doenças de um lote para outro.

Na hora de vender a galinha tem que estar bonita, por isso tem que ter espaço para elas, caso contrário elas se bicam e ficam feias.

O preço de venda, em peso vivo, é de R$ 3,50 por quilo para as fêmeas e R$ 4,0 por quilo para os machos. Em geral, a fêmea chega a ter 1,0 kg e o macho 2,5 kg de peso vivo. Em janeiro e fevereiro a venda não é muito boa. Vera lembra que antes de pensar em criar tem que ter mercado para não ter prejuízo.

Hoje Vera se sente muito feliz com a criação de galinhas, que trouxe uma renda a mais para a família! Visita à casa do Sr. Geraldo e Dona Maria:

O Sr. Geraldo e a Dona Maria nasceram na região de Paula Cândido, na comunidade de São Mateus. A propriedade onde moram é herança do pai do Sr. Geraldo e tem 2 alqueires.

A lavoura de café tem 6 anos e está em transição para orgânica. Quando a lavoura era convencional tiveram uma colheita boa, mas depois de uma reunião em Paula Cândido com o CTA ele entrou no grupo de orgânicos. A lavoura ficou

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dois anos sem adubo, agora que colocou esterco curtido e pretende colocar mais. É necessário levar o esterco para a lavoura antes das chuvas porque uma parte do caminho vira brejo com a chuva. Ele tem vontade de fazer barreira de banana na cerca. Para o Sr. Geraldo o milho e o feijão não trazem renda para a família, mas o café sim pois o dinheiro vem de uma vez.

O trabalho é todo feito com a família . Tem lavoura na várzea e no alto. Já plantaram milho no meio da lavoura, mas esse ano não vai dar porque atrapalha a colher o café, pretendem plantar feijão. Não usam nenhuma adubação verde, mas pretendem plantar. Querem usar super-magro também.

Sr. Geraldo pensa que deveriam plantar 2 mil pés de café por ano, pois assim a cada ano colhe um pouco. Pensa que plantaram errado sendo tudo de uma vez porque tem ano que colhe e ano que não colhe. Se plantar aos poucos acha que vai colher em lavouras diferentes e ter boa colheita todo ano.

Na propriedade tem galinhas e querem ter porco. Querem fazer um paiol também. Encontraram água na lavoura que foi indicada devido a grande quantidade de pedras presentes. Furou em vários lugares e em todos achou água, aí escolheu o furo no meio da lavoura que pretendem manilhar para usar em casa. Por enquanto estão usando na lavoura. Tem também um moinho de água usado para moer o milho.

Além do café, produzem milho, feijão, mandioca, frutas e horta para consumo.

Relembrando as visitas nas propriedades de Carina e Cláudio, Vera e Pedro, Geraldo e Maria, quais os potenciais de sustentabilidade que foram observados nas três propriedades? - Duas coisas interessantes na casa do Cláudio e do Geraldo são as matas nos

topos dos morros, essas com certeza terão muita serventia quando se pensa na infiltração da água no solo.

- Na propriedade do Cláudio e da Carina tem grande potencial para trabalhar o esterco. Uma coisa que chamou a atenção foi o manejo da braquiária, que é necessário para não competir com as culturas pelo esterco que vai ser colocado no terreno. Uma sugestão para ele seria fazer curva de nível no pasto com erosão, mas teria que tirar o gado, pois só assim o capim gordura rebrotaria e começaria a segurar o solo.

- Todas têm um grande potencial que é ter nascente na propriedade. - A Vera e o Pedro também têm um grande potencial que é ter o esterco na

propriedade para utilizar na cana, por exemplo. - Na propriedade do Sr. Geraldo e da Dona Maria há um grande potencial

para o plantio milho crioulo e feijão ao invés de plantar mais café, pois

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diversifica a renda e já tem muito café para cuidar só com a esposa. Também tem potencial para criação de gado, onde aproveitaria o esterco. Outra sugestão seria o plantio de banana, leguminosas e árvores que sombreariam o café e melhorariam o solo. Uma coisa muito interessante é a quantidade de ervas medicinais espontâneas que existem no meio do cafezal, isso mostra como o solo está bem.

- Na propriedade da Vera e do Pedro, a história da família chamou a atenção. Foi interessante vermos o gado que produz o esterco, a cana-de-açúcar para a implantação do alambique e a iniciativa de começar um negócio novo a partir de um crédito que pagou com a própria atividade implantada, as galinhas. Além disso tem a horta e o pomar. Tudo isso na propriedade de uma liderança sindical, muito diferente de muitos que estão no movimento e dizem que não tem tempo para fazer essas pequenas coisas que colaboram muito com as despesas de casa. A família integrada no trabalho.

- Na propriedade do Cláudio e da Carina foi bom ver a preservação da água, a observação de parar de plantar arroz para preservar a nascente. Uma coisa muito importante foi a lavoura de café já ter começado como orgânica. Poderia ser feita uma estrada no alto da lavoura para controlar as raízes das árvores da mata.

- Nas três propriedades vimos a importância do trabalho familiar, não tendo que pagar gente de fora e podendo usar esse dinheiro para outras necessidades.

É isso aí, agora é colocar em prática com a família as novas idéias trazidas

do encontro de Monitoramento Econômico em Paula Cândido!

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