apostila de redaÇÃo banco do brasil

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TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a , creia nela. Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas. TESE, ou proposição, é a idéia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião. A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU , cujo sentido primeiro é "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto". Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese , faz-se a pergunta por quê ? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Por que... (argumentos). As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE... - e aí vêm os argumentos). ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc. Os exemplos a seguir poderão dar melhor ideia acerca do que estamos falando. A CLAREZA do texto - para citar um primeiro exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro, o leitor/ouvinte poderá entender, e entendo, poderá concordar com o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o leitor/ouvinte, quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é, utilizar-se da ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento , mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos. O emprego da LINGUAGEM CULTA FORMAL deve ser visto como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto. Com tal emprego, afirmamos nossa autoridade (= "Eu sei escrever. Eu domino a língua! Eu sou culto!") e com isso reforçamos, damos maior credibilidade ao nosso texto. Imagine, está, um advogado escrevendo mal... ("Ele não sabe nem escrever! Seus conhecimentos jurídicos também devem ser precários!"). Em outros contextos, o emprego da LINGUAGEM FORMAL e até mesmo

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TEXTO ARGUMENTATIVO é o texto em que defendemos uma ideia, opinião ou ponto de vista, uma tese, procurando (por todos os meios) fazer com que nosso ouvinte/leitor aceite-a, creia nela.

     Num texto argumentativo, distinguem-se três componentes: a tese, os argumentos e as estratégias argumentativas.

     TESE, ou proposição, é a idéia que defendemos, necessariamente polêmica, pois a argumentação implica divergência de opinião.

     A palavra ARGUMENTO tem uma origem curiosa: vem do latim ARGUMENTUM, que tem o tema ARGU , cujo sentido primeiro é "fazer brilhar", "iluminar", a mesma raiz de "argênteo", "argúcia", "arguto".

     Os argumentos de um texto são facilmente localizados: identificada a tese, faz-se a pergunta por quê? (Ex.: o autor é contra a pena de morte (tese). Por que... (argumentos).

     As ESTRATÉGIAS não se confundem com os ARGUMENTOS. Esses, como se disse, respondem à pergunta por quê (o autor defende uma tese tal PORQUE... - e aí vêm os argumentos).

     ESTRATÉGIAS argumentativas são todos os recursos (verbais e não verbais) utilizados para envolver o leitor/ouvinte, para impressioná-lo, para convencê-lo melhor, para persuadi-lo mais facilmente, para gerar credibilidade, etc.

     Os exemplos a seguir poderão dar melhor ideia acerca do que estamos falando.

     A CLAREZA do texto - para citar um primeiro exemplo - é uma estratégia argumentativa na medida em que, em sendo claro, o leitor/ouvinte poderá entender, e entendo, poderá concordar com o que está sendo exposto. Portanto, para conquistar o leitor/ouvinte, quem fala ou escreve vai procurar por todos os meios ser claro, isto é, utilizar-se da ESTRATÉGIA da clareza. A CLAREZA não é, pois, um argumento, mas é um meio (estratégia) imprescindível, para obter adesão das mentes, dos espíritos.

     O emprego da LINGUAGEM CULTA FORMAL deve ser visto como algo muito es-tra-té-gi-co em muitos tipos de texto. Com tal emprego, afirmamos nossa autoridade (= "Eu sei escrever. Eu domino a língua! Eu sou culto!") e com isso reforçamos, damos maior credibilidade ao nosso texto. Imagine, está, um advogado escrevendo mal... ("Ele não sabe nem escrever! Seus conhecimentos jurídicos também devem ser precários!").

     Em outros contextos, o emprego da LINGUAGEM FORMAL e até mesmo POPULAR poderá ser estratégico, pois, com isso, consegue-se mais facilmente atingir o ouvinte/leitor de classes menos favorecidas.

     O TÍTULO ou o INÍCIO do texto (escrito/falado) devem ser utilizados como estratégias... como estratégia para captar a atenção do ouvinte/leitor imediatamente. De nada valem nossos argumentos se não são ouvidos/lidos.

     A utilização de vários argumentos, sua disposição ao longo do texto, o ataque às fontes. adversárias, as antecipações ou prolepses (quando o escritor/orador prevê a argumentação do adversário e responde-a), a qualificação das fontes, a utilização da ironia, da linguagem agressiva, da repetição, das perguntas retóricas, das exclamações, etc. são alguns outros exemplos de estratégias.

2. A estrutura de um texto argumentativo

2.1 A argumentação formal

     A nomenclatura é de Othon Garcia, em sua obra "Comunicação em Prosa Moderna".

     O autor, na mencionada obra, apresenta o seguinte plano-padrão para o que chama de argumentação formal:

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1. Proposição (tese): afirmativa suficientemente definida e limitada; não deve conter em si mesma nenhum argumento.

2. Análise da proposição ou tese: definição do sentido da proposição ou de alguns de seus termos, a fim de evitar mal-entendidos.

3. Formulação de argumentos: fatos, exemplos, dados estatísticos, testemunhos, etc.

4. Conclusão.

     Observe o texto a seguir, que contém os elementos referidos do plano-padrão da argumentação formal.

 Gramática e desempenho Linguístico

1. Pretende-se demonstrar no presente artigo que o estudo intencional da gramática não traz benefícios significativos para o desempenho linguístico dos utentes de uma língua.

2. Por "estudo intencional da gramática" entende-se o estudo de definições, classificações e nomenclatura; a realização de análises (fonológica, morfológica, sintática); a memorização de regras (de concordância, regência e colocação) - para citar algumas áreas. O "desempenho linguístico", por outro lado, é expressão técnica definida como sendo o processo de atualização da competência na produção e interpretação de enunciados; dito de maneira mais simples, é o que se fala, é o que se escreve em condições reais de comunicação.

3. A polêmica pró-gramática x contra gramática é bem antiga; na verdade, surgiu com os gregos, quando surgiram as primeiras gramáticas. Definida como "arte", "arte de escrever", percebe-se que subjaz à definição a ideia da sua importância para a prática da língua. São da mesma época também as primeiras críticas, como se pode ler em Apolônio de Rodes, poeta Alexandrino do séc.II a C.:

"Raça de gramáticos, roedores que ratais na musa de outrem, estúpidas lagartas que sujais as grandes obras, ó flagelo dos poetas que mergulhais o espírito das crianças na escuridão, ide para o diabo, percevejos que devorais os versos belos".

4. Na atualidade, é grande o número de educadores, filólogos e linguistas de reconhecido saber que negam a relação entre o estudo intencional da gramática e a melhora do desempenho linguístico do usuário. Entre esses especialistas, deve-se mencionar o nome do Prof. Celso Pedro Luft com sua obra "Língua e liberdade: por uma nova concepção de língua materna e seu ensino" (L&PM, 1995). Com efeito, o velho pesquisar apaixonado pelos problemas da língua, teórico de espírito lúcido e de larga formação linguística, reúne numa mesma obra convincente fundamentação para seu combate veemente contra o ensino da gramática em sala de aula. Por oportuno, uma citação apenas:

"Quem sabe, lendo este livro muitos professores talvez abandonem a superstição da teoria gramatical, desistindo de querer ensinar a língua por definições, classificações, análises inconsistentes e precárias hauridas em gramáticas. Já seria um grande benefício". (p. 99)

5. Deixando-se de lado a perspectiva teórica do Mestre, acima referida suponha-se que se deva recuperar linguisticamente um jovem estudante universitário cujo texto apresente preocupantes problemas de concordância, regência, colocação, ortografia, pontuação, adequação vocabular, coesão, coerência, informatividade, entre outros. E, estimando-lhe melhoras, lhe fosse dada uma gramática que ele passaria a estudar: que é fonética? Que é fonologia? Que são fonemas? Morfema? Qual é coletivo de borboleta? O feminino de cupim? Como se chama quem nasce na Província de Entre-Douro-e-Minho? Que é oração

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subordinada adverbial concessiva reduzida de gerúndio? E decorasse regras de ortografia, fizesse lista de homônimos, parônimos, de verbos irregulares... E estudasse o plural de compostos, todas as regras de concordância, regências... Os casos de próclise, mesóclise e ênclise. E que, ao cabo de todo esse processo, se voltasse a examinar o desempenho do jovem estudante na produção de um texto. A melhora seria, indubitavelmente, pouco significativa; uma pequena melhora, talvez, na gramática da frase, mas o problema de coesão, de coerência, de informatividade - quem sabe os mais graves - haveriam de continuar. Quanto mais não seja porque a gramática tradicional não dá conta dos mecanismos que presidem à construção do texto.

6. Poder-se-á objetar que a ilustração de há pouco é apenas hipotética e que, por isso, um argumento de pouco valor. Contra argumentar-se-ia dizendo que situação como essa ocorre de fato na prática. Na verdade, todo o ensino de 1° e 2° graus é gramaticalista, descritivista, definitório, classificatório, nomenclaturista, prescritivista, teórico. O resultado? Aí estão as estatísticas dos vestibulares. Valendo 40 pontos a prova de redação, os escores foram estes no vestibular 1996/1, na PUCRS: nota zero: 10% dos candidatos, nota 01: 30%; nota 02: 40%; nota 03: 15%; nota 04: 5%. Ou seja, apenas 20% dos candidatos escreveram um texto que pode ser considerado bom.

7. Finalmente pode-se invocar mais um argumento, lembrando que são os gramáticos, os linguistas - como especialistas das línguas - as pessoas que conhecem mais a fundo a estrutura e o funcionamento dos códigos linguísticos. Que se esperaria, de fato, se houvesse significativa influência do conhecimento teórico da língua sobre o desempenho? A resposta é óbvia: os gramáticos e os linguistas seriam sempre os melhores escritores. Como na prática isso realmente não acontece, fica provada uma vez mais a tese que se vem defendendo.

8. Vale também o raciocínio inverso: se a relação fosse significativa, deveria os melhores escritores conhecer - teoricamente - a língua em profundidade. Isso, no entanto, não se confirma na realidade: Monteiro Lobato, quando estudante, foi reprovado em língua portuguesa (muito provavelmente por desconhecer teoria gramatical); Machado de Assis, ao folhar uma gramática declarou que nada havia entendido; dificilmente um Luís Fernando Veríssimo saberia o que é um morfema; nem é de se crer que todos os nossos bons escritores seriam aprovados num teste de Português à maneira tradicional (e, no entanto eles são os senhores da língua!).

9. Portanto, não há como salvar o ensino da língua, como recuperar linguisticamente os alunos, como promover um melhor desempenho linguístico mediante o ensino-estudo da teoria gramatical. O caminho é seguramente outro.

Gilberto Scarton

 

     Eis o esquema do texto em seus quatro estágios:

Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se enuncia claramente a tese a ser defendida.

Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se definem as expressões "estudo intencional da gramática" e "desempenho linguístico", citadas na tese.

Terceiro estágio: terceiro, quarto, quinto, sexto, sétimo e oitavo parágrafos, em que se apresentam os argumentos.

Terceiro parágrafo: parágrafo introdutório à argumentação.Quarto parágrafo: argumento de autoridade.Quinto parágrafo: argumento com base em ilustração hipotética.

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Sexto parágrafo: argumento com base em dados estatísticos.Sétimo e oitavo parágrafo: argumento com base em fatos.

Quarto estágio: último parágrafo, em que se apresenta a conclusão.

2.2 A argumentação informal

     A nomenclatura também é de Othon Garcia, na obra já referida.

     A argumentação informal apresenta os seguintes estágios:1. Citação da tese adversária 2. Argumentos da tese adversária

3. Introdução da tese a ser defendida

4. Argumentos da tese a ser defendida

5. Conclusão

     Observe o texto exemplar de Luís Alberto Thompson Flores Lenz, Promotor de Justiça.

 Considerações sobre justiça e equidade

1. Hoje, floresce cada vez mais, no mundo jurídico a acadêmico nacional, a ideia de que o julgador, ao apreciar os caos concretos que são apresentados perante os tribunais, deve nortear o seu proceder mais por critérios de justiça e equidade e menos por razões de estrita legalidade, no intuito de alcançar, sempre, o escopo da real pacificação dos conflitos submetidos à sua apreciação.

2. Semelhante entendimento tem sido sistematicamente reiterado, na atualidade, ao ponto de inúmeros magistrados simplesmente desprezarem ou desconsiderarem determinados preceitos de lei, fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional.

3. Abstraída qualquer pretensão de crítica ou censura pessoal aos insignes juízes que se filiam a esta corrente, alguns dos quais reconhecidos como dos mais brilhantes do país, não nos furtamos, todavia, de tecer breves considerações sobre os perigos da generalização desse entendimento.

4. Primeiro, porque o mesmo, além de violar os preceitos dos arts. 126 e 127 do CPC, atenta de forma direta e frontal contra os princípios da legalidade e da separação de poderes, esteio no qual se assenta toda e qualquer ideia de democracia ou limitação de atribuições dos órgãos do Estado.

5. Isso é o que salientou, e com a costumeira maestria, o insuperável José Alberto dos Reis, o maior processualista português, ao afirmar que: "O magistrado não pode sobrepor os seus próprios juízos de valor aos que estão encarnados na lei. Não o pode fazer quando o caso se acha previsto legalmente, não o pode fazer mesmo quando o caso é omisso".

6. Aceitar tal aberração seria o mesmo que ferir de morte qualquer espécie de legalidade ou garantia de soberania popular proveniente dos parlamentos, até porque, na lúcida visão desse mesmo processualista, o juiz estaria, nessa situação, se arvorando, de forma absolutamente espúria, na condição de legislador.

7. A esta altura, adotando tal entendimento, estaria institucionalizada a insegurança social, sendo que não haveria mais qualquer garantia, na medida em que tudo estaria ao sabor dos humores e amores do juiz de plantão.

8. De nada adiantariam as eleições, eis que os representantes indicados pelo povo não poderiam se valer de

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sua maior atribuição, ou seja, a prerrogativa de editar as leis.

9. Desapareceriam também os juízes de conveniência e oportunidade política típicos dessas casas legislativas, na medida em que sempre poderiam ser afastados por uma esfera revisora excepcional.

10. A própria independência do parlamento sucumbiaria integralmente frente à possibilidade de inobservância e desconsideração de suas deliberações.

11. Ou seja, nada restaria, de cunho democrático, em nossa civilização.

12. Já o Poder Judiciário, a quem legitimamente compete fiscalizar a constitucionalidade e legalidade dos atos dos demais poderes do Estado, praticamente aniquilaria as atribuições destes, ditando a eles, a todo o momento, como proceder.

13. Nada mais é preciso dizer para demonstrar o desacerto dessa concepção.

14. Entretanto, a defesa desse entendimento demonstra, sem sombra de dúvidas, o desconhecimento do próprio conceito de justiça, incorrendo inclusive numa contradictio in adjecto.

15. Isto porque, e como magistralmente o salientou o insuperável Calamandrei, "a justiça que o juiz administra é, no sistema da legalidade, a justiça em sentido jurídico, isto é, no sentido mais apertado, mas menos incerto, da conformidade com o direito constituído, independentemente da correspondente com a justiça social".

16. Para encerrar, basta salientar que a eleição dos meios concretos de efetivação da Justiça social compete, fundamentalmente, ao Legislativo e ao Executivo, eis que seus membros são indicados diretamente pelo povo.

17. Ao Judiciário cabe administrar a justiça da legalidade, adequando o proceder daqueles aos ditames da Constituição e da Legislação.

Luís Alberto Thompson Flores Lenz

 

     Eis o esquema do texto em seus cinco estágios;

Primeiro estágio: primeiro parágrafo, em que se cita a tese adversária.

Segundo estágio: segundo parágrafo, em que se cita um argumento da tese adversária "... fulminando ditos dilemas legais sob a pecha de injustiça ou inadequação à realidade nacional".

Terceiro estágio: terceiro parágrafo, em que se introduz a tese a ser defendida.

Quarto estágio: do quarto ao décimo quinto, em que se apresentam os argumentos.

Quinto estágio: os últimos dois parágrafos, em que se conclui o texto mediante.

Introdução

A forma como se inicia um texto - e o próprio título - são importantes estratégias argumentativas na medida em que é decisiva no sentido de levar o leitor a ler o texto. De nada adiantam os argumentos, a relevância do conteúdo, ou a própria informatividade, se o leitor não for persuadido a ler o que foi escrito. O esforço do escritor deve se concentrar, pois, em captar o interesse do destinatário de sua comunicação mediante um título e

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uma introdução atraente. "Te pego pela palavra", dizemos quando queremos cobrar de alguém coerência ou a manutenção da palavra dada. "Te pego pela introdução" - podemos parodiar - para retratar o principal empenho de quem escreve que é de conquistar o leitor.

2. Fórmulas para iniciar textos

     A seguir, apresentam-se doze fórmulas - as que se julgaram mais comuns - para se iniciar textos.

2.1 Divisão

     Consiste em citar os aspectos que serão abordados ao longo do texto. É uma fórmula bastante empregada, que facilita a organização do que se vai expor.

     Cuidado especial merece a retomada dos pontos mencionados nesse tipo de introdução no desenvolvimento do texto. Expressões do tipo "Quanto ao primeiro item", "No que tange ao...", "Finalmente, no que diz respeito..." vão dar coesão ao texto.

Exemplos:

 A falta que faz a leitura

Quando assumi o cargo de Editor de Qualidade no JB, em 1º de outubro de 1995 (deixei-o em 15 de outubro de 1996, para tornar-me, com grande alegria para mim, um auxiliar do velho amigo Orivaldo Perin no trabalho de dar forma final à 1ª página), tinha três preocupações básicas: 1. o empobrecimento da linguagem de jornal; 2. a vulgarização da linguagem de jornal; 3. a correção dessa mesma linguagem.

     A característica básica do empobrecimento é a preguiça, a falta de imaginação ou de originalidade, e, finalmente, a falta de informação literária ou de intimidade com o idioma, pois (...)

     Vamos ao segundo item, a vulgarização da linguagem, que busquei combater sempre nos relatórios a que minha função de Editor de Qualidade me obrigava.

Marcos de CastroRevista de Comunicação, maio, 97

 

 Os meus medos

     Tenho vários medos.

     Escuro, cachorro, ficar sozinho.

     Tenho medo do escuro, porque acho que vai aparecer alguma coisa, tipo assombração, algum bicho poderá me morder e eu não saber que tipo de bicho foi.

     Tenho medo de cachorro porque já fui mordido e precisei tomar várias injeções. Não quero que isso aconteça novamente.

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     De ficar sozinho: tenho medo de aparecer ladrão, roubar a minha casa, me sequestrar ou me matar.

     Poucos medos, né? Mas muito ruins, fora o cachorro.·.

Willian S. Buchiviese5ª série

 

2.2 Citação Direta

     A citação direta é a reprodução literal do que alguém falou ou escreveu.

     Trata-se de uma fórmula que pode ser bastante importante e, ao mesmo tempo, uma importante estratégia argumentativa, uma vez que invoca, já no início do texto, a voz da autoridade.

Exemplos:

 A invenção da infância

"Você sabe mais do que pensa." Com essas seis palavras, Benjamin Spock iniciou Meu Filho, Meu Tesouro - e alterou radicalmente a criação dos filhos. Spock, porém, cedeu a primazia revolucionária ao bispo morávio Johann Amos Comenius, que viveu 300 anos antes. Quando aconselhou em A Escola da Infância que os bebês tivessem seus espíritos estimulados por "beijos e abraços" e escreveu que as crianças precisam brincar para aprender, Comenius se tornou um pioneiro.

Veja - Especial do Milênio

 

 Mais amigável

"Os computadores não são máquinas simpáticas", diz o canadense Sidney Fels, professor da Universidade da Colúmbia Britânica. "Poucos conseguem interagir com o micro com a mesma intimidade com que um pintor usa um pincel." Em busca de uma melhor interação, o cientista desenvolveu o Glove Talk, uma espécie de luva feita por realidade virtual que é capaz de transformar sons em linguagem de sinais, usada por surdos-mudos. Fels também é o inventor do Iamascope, um caleidoscópio que identifica o rosto do usuário e toca melodias conforme este se movimenta.

Época 29 de junho de 1998

 

 

"O cliente é rei!", afirma John Wanamaker, fundador da grande cadeia de lojas que leva seu nome, "o cliente é ditador", acrescenta Sir Richard Greennsbury, diretor-executivo da Mrak & Spencer, "o cliente é Deus"", finaliza Michael Dell, diretor-executivo da Dell Computer Corporation - e todas as empresas querem ter mais

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clientes. Muitas empresas, no mundo e no Brasil, criam mecanismos para satisfazer os clientes que já possuem.

Revista Amanhã - agosto de 1998

 

2.3 Citação Indireta

     É a reprodução não-literal do que alguém falou ou escreveu. A fórmula deve ser usada quando não sabemos textualmente a citação, pois assim não estaremos adulterando o que foi dito ou escrito, acrescentando, subtraindo ou substituindo palavras de seu autor.

Exemplo:

 Ser ou não

Disse Alexandre Dumas que Shakespeare, depois de Deus, foi o poeta que mais criou. Aos 37 anos, já escrevera 21 peças e inventara uma forma de soneto. Era um rico proprietário de terras e sócio do Globe Theatre, de Londres. Suas peças eram representadas regularmente para a rainha Elizabeth I. Na Tragédia de Hamlet, Príncipe da Dinamarca, publicada em 1603, Shakespeare superou a si mesmo, tomando uma antiga história escandinava de fratricídio e vingança e transformou-a numa tragédia sombria sobre a condição humana, traduzida quase 1000 vezes e encenada sem cessar. Sarah Bernhardt, John Gielgud, Laurence Olivier, John Barrymore e Kenneth Branagh, todos buscaram entender o melancólico dinamarquês.

Veja - especial do Milênio

 

2.4 Pergunta

     Iniciar o texto mediante pergunta(s) desperta a atenção, o interesse do leitor para o tema, levando-o a refletir sobre ele.

     A(s) pergunta(s) orienta(m) o desenvolvimento do texto, todo seu processo argumentativo.

Exemplos:

 

     Onde estão os melhores programas da TV a cabo? Que programas merecem que se reserve um bom tempo para a televisão? Quais as diferenças entre canais que oferecem programação do mesmo gênero? Onde encontrar bons documentários, filmes inéditos, notícias ao vivo, transmissões esportivas? A equipe da revista da TV sentou-se na frente da televisão, de controle remoto em punho, e apresenta este número especial, concebido como um guia da TV que os gaúchos assinam.

     Que ninguém se enrosque nos cabos, nas antenas ou na informação. Televisão por assinatura é toda modalidade que se paga pra acessar. (...)

Zero Hora, 27 de junho de 1999.

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 Adiós, Neruda

Poeta chileno não serve mais nem para arranjar namorada

     Sabe aquele Neruda que você me tomou - e nunca leu? Pode ficar com ele. O tempo mostrou que o chileno Pablo Neruda foi um poeta interessante, mas não um dos maiores da língua espanhola. Atingiu cedo o auge, com Residência na Terra (1925-1931), mas nas outras 7000 páginas que se gabava de ter escrito mais diluiu do que refinou esse êxito. Tratava-se também de uma personalidade notável, só que pelo narcisismo e pelo dogmatismo político. Escreveu que Stalin era "mais sábio que todos os homens juntos". Jamais aceitou que o assassinato de milhões pela ditadura soviética pudesse ter algo de criminoso.

Veja - 12 de setembro de 1998

 

 O armazenamento de ódios

     Como descrever a atual configuração do poder mundial? Desapareceu a terrível simplicidade do conflito bipolar Leste-Oeste, mas não voltamos ao mundo multipolar do balanço europeu no século passado, quando várias potências competiam pela liderança. Existe hoje uma única superpotência - Os Estados Unidos - com poderio global, político, militar, econômico e cultural. Mas seria exagero falar num mundo unipolar, como nos tempos do Império Romano, o qual podia impor sua vontade sem buscar ou temer coligações.

Veja - 28 de abril de 1999

 

2.5 Frase Nominal

     Uma fórmula bastante criativa de se iniciar textos é mediante o emprego de uma ou mais frases nominais, seguida(s), em geral, de uma explicação.

Exemplos:

 

     Decepção. Foi o que os moradores de Pelotas e distritos sentiram após o anúncio do plano rodoviário do governo do Estado para 1999. Nenhuma das estradas com a conclusão prevista para este ano passa pelo município. (...)

Zero Hora - 30 de maio de 1999

 

 

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     Garra. Determinação. Entusiasmo. Esse é o espírito que parece estar de volta ao Estádio Olímpico. Desde os tempos de Felipão como técnico do tricolor não se via um time com tanto afinco no gramado do Olímpico.

Zero Hora - 21 de junho de 1999

 

 

     Com respeito e dedicação. É dessa forma que você e seus investimentos serão tratados no Citigold.

Anúncio do CITYBANK - Exame, 30 de junho de 1999.

 

 

     ADÚLTERA, MÁ COMPANHEIRA, TRAIDORA... ZÁS!! Lá se ia um nariz. Entre os séculos V e VI as mulheres indianas (sempre as mulheres...) que eram julgadas por prevaricação tinham os narizes amputados. Essa atrocidade machista levou um cirurgião chamado Susruta a usar um retalho de pele retirado da testa para reconstruir o nariz. A técnica é utilizada até hoje para algumas cirurgias reconstrutoras e é chamada de retalho indiano.

     De lá para cá, muita coisa mudou. Mas, se a questão não é mais acabar com a má fama, muita gente sofre por causa de um nariz desproporcional ao rosto.

 

 

     Revolucionário, vencedor e grande companheiro. Palavras como estas foram ditas com orgulho, saudade e muita emoção pelos vários amigos que compareceram ontem à capela do Beira-Rio para o velório de Gilberto Tim, enterrado à tarde no Cemitério Jardim da Paz, na Lomba do Pinheiro.

Zero Hora, junho de 1999.

 

2.6 Alusão a um romance, filme, conto, etc.

     Escrever é aproveitar criativamente outros materiais interdiscursivos, isto é, outros textos. É muito comum, portanto, ao escrevermos sobre determinado assunto, nos reportamos a outros textos, como romances, filmes, contos, poemas, etc.

Exemplos:

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     Fui ao cinema ver Michelle Pfeifer em Nas Profundezas do Mar sem Fim, que conta a história de uma mãe que perde um de seus filhos, de três anos, num saguão de hotel e só volta a encontrá-lo nove anos mais tarde. O roteiro preguiçoso resultou num filme raso, mas uma frase dita pela personagem de Whoopi Goldberg me trouxe até aqui. Depois de todos os abalos familiares decorrentes do desaparecimento do filho do meio, a mãe vivida por Michelle Pfeiffer se refaz e constrói, aos poucos, o que a detetive vivido por Whoopi chama de "uma boa imitação de vida".

     Pessoas que passam por uma grande tragédia pessoal têm vontade de dormir para sempre. Nos dias posteriores ao fato, não encontram forças para erguer uma xícara de café ou pentear o cabelo. Sorrir passa a ser um ato transgressor, que gera uma culpa imensa, pois é como estivéssemos nos curando do sofrimento. Passada a fase de hibernação voluntária, porém, é isso que tem que acontecer: curar-se. Voltar a viver. Mas como, se já não existe a alegria original? Rastreando a alegria perdida para tentar imitá-la.

Zero Hora, 20 de julho de 1999Martha Medeiros.

 

 

     Na mitologia grega, Prometeu é o titã que rouba o fogo dos deuses e é por eles condenado a um suplício eterno. Preso a uma rocha, uma águia devora-lhe constantemente o fígado. Trata-se de uma lenda altamente simbólica e aplicável à época atual. O fogo aí alude ao conhecimento, à técnica. Por esse conhecimento, por essa técnica, paga o ser humano um preço às vezes muito alto. Isso é particularmente verdadeiro no campo da medicina, sustenta, em artigo publicado no New England Journal of Medicine, o geriatra James S. Goodwin (Universidade do Texas).

Zero Hora, 12 de julho de 1999Martha Medeiros.

 

2.7 Narração - descrição por flashes

     Introduzir um texto narrando - descrevendo um fato, uma cena de forma cinematográfica, mediante flashes, isto é, mediante frases curtas, nominais é uma forma bastante surpreendente de obter a atenção do leitor, fazendo com que ele se interesse pelo texto.

Exemplos:

 

     Chegam à casa ao entardecer. É um pequeno grupo de policiais. Todos uniformizados. Passeiam pela sala e olham a biblioteca. Riem com sarcasmo. Pegam o livro História da Diplomacia. "Assim que os kosovares descendentes de albaneses também querem ser diplomatas?" Mudam o tom da conversa. Gritam. "Nos dê chaves", exigem. "Pegue uma mala", ordenam. "Deixa o resto. Tens 10 minutos. Logo irás para a Albânia e nunca mais voltarás. Nem sequer poderás voltar a sonhar com Kosovo", profetizam.

Zero Hora, 16 de junho de 1999

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Martha Medeiros

 

 

     Favela. Clima tenso no ar. Polícia. Tiroteio, desespero. Angústia, apreensão. Uma vítima: menino, 13 anos de idade, sonhador.

Daniel lemos

 

2.8 Narração de um fato

     Pode-se desenvolver determinado tema iniciando-se o texto com a menção a um fato. Tal procedimento ajuda a despertar a atenção do leitor, ao mesmo tempo em que empresta ao tema exposto maior realismo.

Exemplos:

 

     A nave se prepara para pousar. Da escotilha enxerga-se o solo arenoso e acidentado da Lua. É dia. O Sol brilha, intenso e dourado, como você o vê aqui da Terra, só que cercado de estrelas, num céu completamente negro. É que na Lua não existe atmosfera e, sem atmosfera, não tem os gases que, espalhando a luz solar, nos dão a ilusão de que o céu é azul. Na Lua, o firmamento é sempre escuro. A nave se aproxima ainda mais. Dá para ver, lá em baixo, jipes e robôs que zanzam pelas colinas. Homens vestindo macacões super-refrigerados e capacetes com oxigênio caminham pela planície como que em câmera lenta. É que lá a gravidade é uma lei mais fraca, mal corresponde a um sexto da gravidade que nos prende à Terra. O foguete pousa suavemente. Os passageiros se preparam para desembarcar. Colocam suas roupas com proteção térmica. Fora da cúpula protetora da primeira colônia terráquea, a temperatura atinge esturricantes 123 gruas Celsius.

     A cena descrita acima não é real, claro. Mas poderá ser. Já há cientistas da Nasa sonhando com ela, estimulados pela descoberta de que os pólos lunares contêm água congelada. Os primeiros cálculos sobre as observações da sonda Lunar Prospector, em março passado, mostram que o fundo das gélidas crateras polares guarda entre 11 bilhões e 330 bilhões de litros de água congelada. Derretido e purificado, o gelo serviria para matar a sede de mais 200 mil habitantes de uma base lunar por dois séculos. E também serviria de fonte de oxigênio, elemento indispensável para criar uma atmosfera artificial.

Paulo Nilson

 

 O número de processos aumentou sete vezes em apenas uma década

     Na sala de cirurgia, o médico Pedro Paulo Monteleone prepara-se para retirar o útero de Rosa Gonçalves Dias. Ás 7 horas da manhã, a paciente teve o intestino lavado e os pêlos pubianos raspados. Anestesia peridural que corta qualquer sensibilidade da cintura para baixo, faz efeito. Como Rosa tivera seus três filhos por meio de cesariana, Monte Leone abre 12 centímetros de pele logo acima do púbis, no mesmo local dos cortes anteriores, para evitar uma nova cicatriz. É trabalhoso chegar até o útero. O médico corta uma primeira camada de gordura,

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abra à aponeurose, um tecido fino que envolve toda a cavidade abdominal, afasta os músculos peritoneais, e alcança o intestino. A cada etapa, grampos metálicos são colocados nas bordas das incisões para manter os órgãos afastados. O intestino é empurrado, com uma compressa, em direção ao umbigo. Em meia hora, o médico já enxerga bem o útero da paciente. A fase mais crítica da cirurgia começa agora. Com todo o cuidado, Monte Leone corta os ligamentos que unem as trompas ao útero. Quando a paciente está deitada, a bexiga fica apoiada sobre o útero. É preciso afastá-lo com uma gaze, lentamente, e ir cortando com uma pequena tesoura os pedaços de tecido que unem as finas paredes dos dois órgãos. É como abrir um envelope, descolando as bordas, sem rasgar o papel. Monte Leone sabe que qualquer corte 1 milímetro mais profundo pode perfurar a bexiga. Foi exatamente isso que aconteceu naquela manhã de agosto de 1994. O médico Monte Leone furou a bexiga de sua paciente Rosa.

     Monte Leone, 58 anos, obstetra e ginecologista há 33, é formado em uma das melhores universidades do país, a Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo, onde também foi professor durante três décadas. Naquela manhã, ao perceber que tinha cortado a bexiga de Rosa, parou o que estava fazendo. Pediu fio e agulha apropriados à instrumentadora, costurou o órgão afetado com cinco pontos e só depois prosseguiu na retirada do útero. Duas horas mais tarde, quando a paciente já estava no quarto, ainda levemente sedada, o médico explicou-lhe o que ocorrera durante a operação. Se não fosse pelo rompimento da bexiga, Rosa teria alta do hospital em menos de 24 horas. Em razão do acidente, ela ficou com uma sonda e a internação foi prolongada por uma semana, até a ferida interna cicatrizar. Hoje, acadêmico renomado e profissional de sucesso, Monte Leone preside o Conselho Regional de Medicina de São Paulo, Cremesp. Por sua mesa, na sede da entidade, passam quilos de papéis repletos de acusações graves contra seus colegas de profissão. São casos de erro médico. Em uma década, o número de processos por negligência ou imperícia encaminhados anualmente ao Conselho Federal de Medicina, CFM, a última instância por onde passam processos vindos de todo o Brasil, aumentou sete vezes. Ao todo, foram 356 processos. O número de condenados caiu porque o Conselho diz que não consegue julgar tantos casos. Há 200 na fila de espera.

Alexandre Mansur

 

2.9 Citação de Provérbio

     O provérbio é utilizado, muitas vezes, como estratégia argumentativa, para sustentar o ponto de vista que se pretende defender ao longo do texto.

Exemplos:

 

     "Querer é poder", diz o ditado. Mas, em ciência a voz do povo muitas vezes está errada. “Há 130 anos os cientistas querem encontrar um substituto para o sangue que, como ele, transporte o oxigênio para as células.” ·.

Lúcia Helena de Oliveira, revista Superinteressante, junho de 1998.

 

2.10 Alusão Histórica

     Para iniciar textos, pode-se lançar mão de fatos históricos, confrontando-os com o presente.

Exemplos:

 

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Imitação de Jânio

Itamar usa a oposição para espicaçar FHC

     Em 1961, o então presidente da república Jânio Quadros condecorou o guerrilheiro esquerdista Che Guevara com a Ordem do Cruzeiro do Sul. Como Jânio não rezava pela cartilha marxista, na época muitos acharam que, ao tomar a decisão, ele estivesse duas doses a mais do que o resto da humanidade. Não estava. Ao homenagear Che Guevara, Jânio queria alvejar os adversários da direitista UDN, o partido que o ajudara a ser eleito e com o qual havia rompido. O tiro janista saiu pela culatra, mas a medalha concedida ao guerrilheiro entrou para a História como um clássico da provocação política. Quase quarenta anos depois, o governador de Minas Gerais, Itamar Franco, resolveu imitar Jânio. No dia de Tiradentes, em Ouro Preto, o socialista de estilo montanhês distribuiu medalhas da Inconfidência, a mais alta honraria do governo mineiro, a personalidades da oposição. Só para espicaçar o presidente Fernando Henrique Cardoso, seu desafeto.

Veja, 28 de abril de 1999

 

 Diplomacia americana usa como parceiro o míssil que atinge um alvo em qualquer região do planeta

     No início do século, com os Estados Unidos recém-chegados ao time das potências internacionais, o presidente Teddy Roosevelt adotou a doutrina do porrete - "big stick", no inglês original - para impor a hegemonia americana aos vizinhos latino-americanos. Na essência, significava que Washington tinha disposição para desembarcar seus mariners onde quer que seus interesses fossem desafiados. Quase 100 anos depois, Bill Cinton escolheu como seu melhor argumento diplomático uma bomba voadora que pode atingir virtualmente qualquer alvo na superfície do planeta. O nome do porrete é Tomahawk. Na semana passada, com Saddam Hussein desafiando outra vez as Nações Unidas, o Tomahawk estava como nunca na ordem do dia.

Veja, 18 de novembro de 1998

 

2.11 Omissão de Dados Identificadores

     Trata-se de iniciar um texto omitindo o tema nas primeiras linhas ou em todo o primeiro parágrafo, esclarecendo-o em seguida. Cria-se, assim, certa expectativa em relação ao que será abordado.

Exemplos:

 Ilegal, Imoral ou Irracional?

     Tente responder às questões abaixo:

     a) O seu consumo é expressamente condenado no Antigo Testamento.

     b) Os consumidores desta substância foram ameaçados de excomunhão pelo papa Urbano VII.

     c) As pessoas que o usavam eram sumariamente condenadas à morte pelo sultanato turco no século 17.

     De que estamos falando? De cocaína, de heroína, de crack? Não. A resposta à terceira pergunta é: tabaco. A

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resposta à segunda: rapé. E a resposta à primeira é carne de porco.

     Nos três casos, a condenação resultou principalmente de razões morais. Podemos falar, mais apropriadamente, de tabu.

Moacyr Scliar

 

 

     "Elas já foram finíssimas, como as de Greta Garbo e da top model Twiggy. Ou médias, como as das divas Audrey Hepburn e Marilyn Monroe. Nos anos 90 já num tamanho intermediário e com desenho recurvado. As sobrancelhas afinam e engrossam conforme a moda..." ·.

Marília Cecília Prado, Elle, abril de 1998

 

 

     Está sempre rondando todos nós. Chega pelo ar e muitas vezes faz tantas vítimas que se constitui em uma epidemia. Estamos falando de uma moléstia comum, reincidente, chata: a gripe ou resfriado. Na linguagem médica, os termos se equivalem. Mas o uso consagrou o nome gripe para designar a doença mais intensa. Mas a pergunta que atinge a todos é: como podemos nos defender? O resfriado é uma infecção respiratória aguda causada por vírus específicos.

Super Interessante, setembro de 1990.

 

2.12 Declaração

     Uma declaração forte lançada no início do texto surpreende o leitor, desperta seu interesse e pode levá-lo facilmente à leitura.

Exemplos:

 Exagero na dose

     É meritório o esforço do Ministério da Saúde para prevenir a transmissão da AIDS entre usuários de drogas injetáveis. A mais recente campanha com tal fim, no entanto, exagera na dose ao apelar a imagens como a de papel higiênico, absorvente feminino e preservativo usados. A intensão é fazer uma associação direta com os perigos do compartilhamento de seringas descartáveis, fato responsável por um terço dos casos da doença registrados em Porto Alegre. Ao chocar o público-alvo pela crueza da temática, porém, os cartazes da campanha correm o risco de agredi-lo moralmente e afastá-lo dos programas de prevenção.

Zero Hora, 27 de junho de 1999.

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     A marca do século é a comunicação. O diretor-presidente da RBS, Nelson Pacheco Sirotsky, provou sua afirmação no último dia do 12º Festival Mundial de Publicidade de Gramado com imagens, gravações antológicas do rádio brasileiro, trilha sonora de cinema e história da evolução dos meios de comunicação em quase cem anos. Começou com o código Morse e desembarcou no ciberespaço da Internet. Tudo para indicar que o avanço dos meios intensificou as relações interpessoais. A grande produção, em estilo Road-movie e exibida por quase uma hora, atraiu a plateia recorde do principal evento do setor na América Latina, que começou na última quarta-feira.

Zero Hora, 12 de junho de 1999.

EXERCÍCIOS TÓPICOS-FRASAIS

 

1. Grife o tópico frasal de cada parágrafo apresentado. Não deixe de observar como o autor desenvolve.

      a) “O isolamento de uma população determina as características culturais próprias. Essas sociedades não têm conhecimento das ideias existentes fora de seu horizonte geográfico. É o que acontece na terra dos cegos do conto de H.G. Welles. Os cegos desconhecem a visão e vivem tranquilamente com sua realidade, naturalmente adaptados, pois todos são iguais. Esse conceito pode ser exemplificado também pelo caso das comunidades indígenas ou mesmo qualquer outra comunidade isolada.” (Redação de vestibular).

      b) “O desprestígio da classe política e o desinteresse do eleitorado pelas eleições proporcionais são muitos fortes. As eleições para os postos executivos é que constituem o grande momento de mobilização do eleitorado. É o momento em que o povão se vinga, aprovando alguns candidatos e rejeitando outros. Os deputados, na sua grande maioria, pertencem à classe A. É com os membros dessa classe que os parlamentares mantêm relações sociais, comerciais, familiares. É dessa classe com a qual mantêm maiores vínculos, que sofrem as maiores pressões. Desse modo, nas condições concretas das disputas eleitorais em nosso país, se o parlamentarismo não elimina inteiramente a influência das classes D e E no jogo político, certamente atua no sentido de reduzi-la.” (Leôncio M. Rodrigues).

      2. Apresentamos a seguir alguns tópicos frasais para serem desenvolvidos na maneira sugerida.

      a) Anacleto é um detetive trapalhão. (por enumeração de detalhes: forneça a descrição física e psicológica do personagem).

      b) As novelas transmitidas pela televisão brasileira são muito mais atraentes que nossos filmes. (por confronto)

      c) As cidades brasileiras estão se tornando ingovernáveis. (por razões)

      d) Há três tipos básicos de composição: a narração, a descrição e a dissertação. (por análise)

      e) Nunca diga que algum ser humano é uma ilha: tudo que acontece a semelhante nos atinge. (por exemplificação)

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    3. Desenvolva também estes tópicos frasais dissertativos:

      a) A prática do esporte deve ser incentivada e amparada pelos órgãos públicos.

      b) O trabalho dignifica o homem, mas o homem não deve viver só para o trabalho.

      c) A propaganda de cigarros e de bebidas deve ser proibida.

      d) O direito à cultura é fundamental a qualquer ser humano.

      2. Desenvolva os tópicos frasais seguintes, considerando os conectivos:

      a) O jornal pode ser um excelente meio de conscientização das pessoas, a não ser que

      b) As mulheres, atualmente, ocupam cada vez mais funções de destaque na vida social e política de muitos países; no entanto.

      c) Um curso universitário pode ser um bom caminho para a realização profissional de uma pessoa, mas...

      d) Se não souber preservar a natureza, o ser humano estará pondo em risco sua própria existência, porque...

      e) Muitas pessoas propõem a pena de morte como medida para conter a violência que existe hoje em várias cidades; outras, porém

      f) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, porque.

      g) Muitos alunos acham difícil fazer uma redação, no entanto

      h) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, pois

      i) Um meio de comunicação tão importante como a televisão não deve sofrer censura, entretanto

      j) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, porque

      l) O uso de drogas pelos jovens é, antes de tudo, um problema familiar, embora

 

 

 

 

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PROPOSTAS DE REDAÇÃO

Proposta 1 - (SEBRAE - 2010)

Dos cerca de 6,75 bilhões de habitantes do planeta, algo em torno de 3,5 bilhões assistem regularmente a partidas de futebol. Na Copa do Mundo de 2006, disputada na Alemanha, as 73 mil horas de transmissão foram dirigidas para 214 países. Estima-se que um único jogo, a final entre França e Itália, tenha sido visto por 715 milhões de espectadores. A tendência é a de que esses números se ampliem na Copa da África do Sul, agora em 2010. Trata-se de mercado muito rico, uma verdadeira indústria do esporte como entretenimento das massas, que envolve altas somas em patrocínio e em publicidade.

Considerando que o fragmento de texto acima tem caráter motivador, redija um texto dissertativo acerca do seguinte tema.

COPA DO MUNDO DE FUTEBOL: O ESPORTE EM TEMPOS DE GLOBALIZAÇÃO

PROPOSTA 2. Questão da Prova Discursiva - Redação, do concurso ALESP, agente legislativo de serviços técnicos e administrativos, organizado pela FCC:

- Leia atentamente o texto seguinte.

Numa sociedade marcada por desigualdades, como a brasileira, o ato de votar é o momento em que todos são realmente iguais, ao exercer seu direito de cidadania. Há que considerar, no entanto, a contrapartida dos deveres. Cidadão consciente é aquele que, capaz de exercer seus direitos, cumpre também com seus deveres.

- Redija um texto dissertativo, com argumentos, a respeito da afirmação em negrito.

- Sua dissertação deverá ter no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, considerando-se letra de tamanho regular.

PROPOSTA 3

TEXTO 1

INTOLERÂNCIA: O QUE PASSA PELA CABEÇA BRANCA E BEM PENTEADA

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DESSE APARENTEMENTE INOFENSIVO SENHOR?

Campos da Líbia, Faixa de Gaza, Ruanda, China... Não é preciso ir muito longe para encontrar sinais de profunda intolerância pelo mundo. Tente, por exemplo, a fila preferencial de uma agência bancária perto da sua casa. Aquela destinada a idosos, grávidas e pessoas com deficiências físicas, problemas de locomoção, etc... Têm ido frequentes, por mais exótico que possa parecer, ocorrências de verdadeiros combates de vale-tudo por ali. Segundo os registros, moças grávidas e senhoras idosas vêm chegando às vias de fato depois de discussões acaloradas em razão de um lugar melhor na tal fila. Mortes por assassinato já foram registradas depois de disputas por vagas em estacionamentos de shopping centers.

A imagem ao lado estará na edição de abril da “Trip”, que dedicamos ao tema intolerância. O tiozinho da foto, por exemplo, é o

pastor Fred Phelps, líder da Igreja Batista de Westboro. A entidade se apresenta como uma organização cristã, mas é considerada um dos mais ativos grupos de ódio nos EUA. Com uma suposta argumentação bíblica, atira para todos os lados: segundo seus integrantes, os judeus provocaram o Holocausto, Maomé foi possuído pelo demônio, Barack Obama é o próprio anticristo. Mas o alvo preferido dos fiéis da West boro são os homossexuais. Marcam presença frequente em funerais de gays, exibindo para os parentes em luto cartazes como o visto aqui: “Deus odeia veados”, ou “Agradecemos a Deus pela AIDS”, este último duplamente estúpido, por ainda sugerir que a AIDS seja algo exclusivamente ligado ao universo gay e pela discriminação pura e simples. O bando culpa a “agenda gay” pelo iminente fim do mundo, quando Jesus mandará ao inferno toda a humanidade. Exceto eles, é claro. [“...]”.

(LIMA, Paulo). Intolerância. In. Isto é. Ed. 2159, 25 de março de 2011. Disponível em:

<http://www.istoe.com.br/colunas-e-blogs/coluna/130252_INTOLERANCIA>. (Acesso em: cinco de nov. 2011.).

TEXTO 2

Segundo um dos grandes teólogos da libertação, o jesuíta Jon Sobrino – que escapou por sorte aos assassinos de Don Óscar Romero em El Salvador – o mundo em que vivemos hoje exige que sejamos reais. Ser real significa viver de tal maneira que não tenhamos de nos envergonhar por vivermos neste mundo. É uma exigência radical quando são tantos os motivos para nos envergonharmos e quando, para vencer a vergonha, seriam necessárias intervenções e mudanças de tal magnitude que a ação individual parece irrelevante, se não ridícula. Mas a exigência de sermos reais é ainda mais radical se tivermos em mente que muitos dos motivos de vergonha nos escapam, porque não sabemos deles, porque as vítimas deles são invisíveis, estão em silêncio ou silenciadas.

(SANTOS, Boaventura S. Ser real em Al Walajeh. Disponível em:

<http://www.ces.uc.pt/opiniao/bss/195pt. php>. Acesso em: 5 de nov. 2011.

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TEXTO 3

TEXTO 4

BAADER-MEINHOF* BLUES

LEGIÃO URBANA

A violência é tão fascinante

E nossas vidas são tão normais

E você passa de noite e sempre vê

Apartamentos acesos

Tudo parece ser tão real

Mas você viu esse filme também.

Andando nas ruas

Pensei que podia ouvir

Alguém me chamando

Dizendo meu nome.

Já estou cheio de me sentir vazio

Meu corpo é quente e estou sentindo frio

Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber

Afinal, amar o próximo é tão demodé.

Essa justiça desafinada

É tão humana e tão errada

Nós assistimos televisão também

Qual é a diferença?

Não estatize meus sentimentos

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Pra seu governo,

O meu estado é independente.

Já estou cheio de me sentir vazio

Meu corpo é quente e estou sentindo frio

Todo mundo sabe e ninguém quer mais saber

Afinal, amar o próximo é tão demodé.

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(Disponível em: < http://letras.terra.com.br/legiao-

urbana/22496/>. Acesso em: 5 de nov. 2011.)

ORIENTAÇÕES:

· Obedeça às normas da língua-padrão.

· Dê um título

PROPOSTA 4 - UnB –Cespe

Redija um texto dissertativo sobre o seguinte tema:ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA MODERNA : ÉTICA E PROFISSIONALISMO

Ao elaborar seu texto, aborde necessariamente os seguintes tópicos:*importância do comportamento ético na administração pública;

*importância do concurso público para a modernização do Estado;*papel dos órgãos de fiscalização e do Ministério Publico na modernização do Estado.

PROPOSTA 5 -

O impasse de Belo Monte

A construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, que será a terceira maior do mundo, traz polêmicas, discussões e protestos. Ao passo em que a usina gerará empregos, suprirá a demanda energética brasileira e será uma fonte “limpa” de energia, ela também alagará uma área gigantesca, destruirá inúmeras espécies de fauna e flora, desabrigará inúmeras famílias, prejudicará o modo de vida da população local, entre outras questões.

Desenvolva um projeto de texto que defenda um posicionamento definido acerca do impasse que envolve a Construção da Usina de Belo Monte. Você se posicionará contra ou a favor desta obra e deverá apresentar argumentos plausíveis e bem fundamentados que sustentem sua tese. Além disso, você poderá utilizar os textos da coletânea como apoio para embasar suas ideias, não serão admitidas cópias integrais dos trechos da coletânea a não ser que estejam a serviço de seu projeto de texto. Dissertação

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Neste gênero textual, você possui a oportunidade de defender um posicionamento e tentar persuadir seu interlocutor de sua posição. Para isso, mobilize fatos, dados, exemplos, analise e reflita em torno da problemática do tema.

Elabore sua redação considerando as ideias a seguir:

"A maior vantagem é óbvia: mais eletricidade. O consumo de energia sobe junto com o do PIB. Em 2010 foram 7,5% de crescimento no Produto Interno Bruto e 7,8% no do consumo de eletricidade. Sem energia, o país não cresce. E se o país não cresce você tende a perder o emprego - pior do que dormir no escuro... Belo Monte, por esse ponto de vista, é uma necessidade. Mas para alguns é uma atrocidade, já que seu reservatório vai alagar uma área na Amazônia equivalente a 1/3 da cidade de São Paulo, entre outros desequilíbrios ambientais. Por essas, Sting e o cacique Raoni já atacavam Belo Monte em 1989. Na época, a proposta de aproveitar as águas do rio Xingu para gerar energia já era antiga: começou em 1975, no governo Geisel. Em 2011, as obras começaram. E os protestos aumentaram. O Movimento Gota D`Água, em que atores defendem o fim das obras no YouTube, é só o mais recente. O apelo é substituir a usina por fontes de energia eólica e solar. Para quem defende Belo Monte, isso não faz sentido: seria mais caro e menos confiável. A maior certeza é que, até janeiro de 2015, a data marcada para a entrega da usina, muita água vai rolar nesse debate." [ Superinteressante - Leia na Íntegra] 

"O Brasil, queiramos nós ou não, está crescendo e continuará crescendo nos próximos anos. Isso não é chute meu, isso não é torcida minha. Talvez a economia não cresça a taxas tão elevadas quanto espera o governo, mas até o mais pessimista dos economistas sabe que vai crescer. Ao mesmo tempo, a população brasileira, hoje estimada em quase 200 milhões, deve se estabilizar lá pelo meio do século em algum número entre 230 e 250 milhões. Segundo as previsões oficiais isso significa que a demanda por energia elétrica daqui até 2020 (em oito anos!) deve aumentar em 60%. Repito, vamos precisar daqui a oito anos de 60% a mais de energia do que produzimos hoje. Pergunto: como manter o crescimento sustentado do país sem energia elétrica?"    [5 razões a favor de Belo Monte - Leia na íntegra]

"Além da destruição da floresta associada à construção da usina, ecologistas temem que a ocupação desordenada das áreas do entorno de Belo Monte, incentivada pela chegada de migrantes e pela construção de vilas, intensifique ainda mais o desmatamento." [Planeta Sustentável - Leia na Íntegra]

"As cidades de Altamira e Vitória do Xingu terão grandes áreas inundadas, o que pode prejudicar os agricultores locais e a população ribeirinha. Por outro lado, a construção da usina pode ajudar no desenvolvimento econômico da região, com a criação de empregos. As terras indígenas de Paquiçamba e Arara da Volta Grande do Xingu serão afetadas pela diminuição da vazão do rio, causando prejuízos para uma população que depende do rio para pesca, plantação e transporte. A questão das terras indígenas e o impacto ambiental são as principais polêmicas que envolvem a construção da usina." [Atualidades - Vestibular Brasil Escola - Leia na Íntegra]

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PROPOSTA 6

Voto Nulo: funciona?

Em meio às eleições, assuntos de cunho político sempre ganham mais força e nos levam a fazer inúmeros questionamentos. A situação política no Brasil é caótica, são inúmeros os escândalos de corrupção que envolvem aqueles que escolhemos como nossos representantes para lutarem por um país melhor. A descrença e desmotivação pairam sobre os cidadãos que, de mãos atadas, pouco podem fazer para mudar essa realidade. O voto, o maior símbolo da democracia, é a única arma da população para tentar modificar essa realidade. No entanto, e se a população optasse por anular seu voto? Esta seria uma forma válida de protesto para combater a corrupção e modificar o cenário político vigente? Ou seria apenas um ato de passividade mediante a problemática que atinge a situação política atual?

Desenvolva um texto que defenda um posicionamento claro e bem fundamento sobre a seguinte questão: O Voto Nulo pode modificar o cenáro político vigente ou é apenas mais um ato de passividade diante da situação política atual? Leve em consideração as ideias oferecidas pela coletânea, mobilize argumentos bem fundamentados que levem seu texto a ir além do senso comum e realizar uma crítica análise da problemática imposta.

Dissertação

Neste gênero textual, você possui a oportunidade de defender um posicionamento e tentar persuadir seu interlocutor de sua posição. Para isso, mobilize fatos, dados, exemplos, analise e reflita em torno da problemática do tema.

"Contudo, quando nos lembramos do quão grave é o problema da corrupção entre os nossos representantes, acabamos por enfrentar um dilema. Afinal, qual seria o sentido de ser perder tempo avaliando e escolhendo um candidato que, mais cedo ou mais tarde, seria denunciado (ou não!) pela participação em algum esquema de corrupção ou no desvio de verbas públicas? É mediante esse questionamento que vários eleitores acabam fazendo opção pelo voto nulo." [Leia na íntegra - Brasil escola - Votar nulo funciona?]

"É um saco. Você liga a TV e as mesmas palavras aparecem: desvio de dinheiro público, improbidade administrativa, caixa 2. Sem falar nos deslizes que os governos cometem mesmo quando são bem-intencionados. Diante de tanta desilusão com a política no Brasil, muita gente decide chutar o balde, recusar todos os candidatos de uma vez e votar nulo. Outros se perguntam se, afinal de contas, o ato de anular tem algum valor para melhorar o país. No orkut, o site de relacionamentos, há 55 comunidades que tratam explicitamente do voto nulo: 44 são a favor; 8, contra; 3 registram prós e contras, sem posição firmada. O assunto também está na TV. A MTV, em agosto, foi acusada de fazer propaganda do voto nulo em uma vinheta que sugeria ao público jogar ovos e tomates nos políticos. No ano de 2002, a última eleição

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presidencial, 7 milhões de brasileiros escolheram votar nulo. Será que esses votos são resultado de uma atitude digna? Ou significaram simplesmente tomar uma decisão alienada de jogar um direito no lixo?" [Leia na íntegra - Superinteressante - Adianta votar nulo?]