apostila de ovinos

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CURSO DE ATUALIZAO EM OVINOCULTURAPalestrantes:

Carlos Eduardo C. Belluzo Carlos N. Kaneto Gustavo Martins Ferreira

Coordenao e Organizao:

Prof. Dr. Hamilton Caetano Prof. Dr. Luiz Eduardo Corra Fonseca

Promoo:UNESP CURSO DE MEDICINA VETERINRIA DEPARTAMENTO DE APOIO, PRODUO E SADE ANIMAL CAMPUS DE ARAATUBA SP Novembro - 2001

NDICEI. INTRODUO A OVINOCULTURA 1. Introduo 2. Origem e seleo natural 3. Classificao zoolgica 4. Domesticao 5. Clima 6. Informaes fisiolgicas sobre ovinos 7. Solo, topografia e qualidade das pastagens II. PRINCIPAIS RAAS OVINAS 1. Raas especializadas na produo de l fina 2. Raas mistas 3. Raas especializadas na produo de carne 4. Raas deslanadas III. SISTEMA DE PRODUO IV. INSTALAES PARA OVINOS 1. Pastagens 2. Cercas 3. Centro de manejo 4. Cabanha 5. Cochos 6. Bebedouros 7. Equipamentos V. PASTAGENS PARA OVINOS 1. Introduo 2. Princpios bsicos 3. Hbitos de pastejo do ovino 4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinos 5. Forrageiras mais indicadas 6. Consorciao de gramneas com leguminosas 7. Manejo e lotao do pasto 8. Importncia da fertilidade do solo 1 1 1 2 3 3 6 7 8 8 9 9 11 12 13 13 14 16 19 19 20 20 20 20 23 24 26 27 30 32 35

VI. CONSORCIAO VEGETAIS 1. Introduo

DE

OVINOS

COM CULTURAS

ANIMAIS

E

35 36 36 41 45 46 46 48 51 52 61 61 66 71 71 72 76 76 78 79 79 80 81 81 82 84

2. Algumas culturas vegetais viveis 3. Consorciao com culturas animais: pastoreio mltiplo VII. NUTRIO E ALIMENTAO DE OVINOS 1. Exigncias nutricionais 2. Suplementao e raes 3. confinamento de cordeiros 4. Creep-feeding 5. Alimentos para ovinos: suas caractersticas VIII. ASPECTOS BSICOS EM UMA CRIAO DE OVINOS 1. Reproduo 2. Pario e lactao IX. SELEO E DESCARTE DE OVINOS 1. Aspectos gerais 2. Principais causas de descarte X. SANIDADE: PRINCIPAIS ENFERMIDADES DOS OVINOS 1. Clostridioses 2. Pasteurelose 3. Diarria dos cordeiros 4. Podrido dos cascos (foot rot) 5. Queratoconjuntivite 6. Ectima contagioso 7. Mastite 8. Controle sanitrio: principais recomendaes 9. Vias de aplicao de medicamentos XI. SANIDADE: PRINCIPAIS OVINOCULTURA DOENAS PARASITRIAS NA

89 89 103 105 106

1. Consideraes gerais 2. Controle XII. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS APNDICE: RAAS DE OVINOS

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I. INTRODUO A OVINOCULTURAEste captulo foi extrado de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993).

1. IntroduoA ovinocultura foi uma das primeiras exploraes animais levadas a efeito pelo homem, no comeo da civilizao, proporcionando-lhe alimento, em forma de carne e leite, e proteo atravs da l e da pele. As fibras de origem vegetais tm suas produes limitadas em determinadas regies. A l, ao contrrio, um produto que, em maior ou menor escala, obtido em quase todas as latitudes. Com a reativao da ASPACO (Associao Paulista dos Criadores de Ovinos) em 1984 e a criao do departamento de Ovinocultura pela CAFENOEL (Cooperativa dos Cafeicultores da Zona de So Manuel) em 1985, a ovinocultura paulista passou a se destacar como mais uma opo agropecuria, lembrando-nos de que a ovelha foi a primeira espcie domesticada pelo homem, acompanhando-o pelo mundo inteiro, alm de ser considerada, em muitas regies, fonte de subsistncia para populaes desfavorecidas. As universidades, instituies e rgos de pesquisa ligados ovinocultura tm mostrado que o estado de So Paulo apresenta excelentes condies tecnolgicas e ambientais para produzir racionalmente carne, l, pele e at leite de ovinos. A idia de que ovino lanado s deve ser criado em regies frias errnea. A l isolante trmico, protegendo tanto do frio quanto do calor. Temos como exemplo a Austrlia, que com seus rebanhos da raa Merino Australiano, criados em condies semidesrticas, a maior produtora mundial de l fina. Esta atividade vivel economicamente desde que obedecidas certas normas, principalmente relacionadas aos manejos reprodutivo, nutricional e sanitrio.

2. Origem e Seleo NaturalO tronco original dos ovinos domsticos deve ser procurado no gnero Ovis e, dentro deste, nos grupos de ovinos selvagens representados pelo Argali (Ovis

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ammon), Urial (Ovis vignet) e Mouflon (Ovis musimon). Desses grupos, o Mouflon ainda encontrado em estado selvagem nas montanhas da Crsega e da Sardenha. O Urial ainda existe no Ir, Afeganisto, partes da ndia e do Tibet. conveniente reconhecer duas espcies de ovelhas selvagens: Ovis canadensis, a ovelha de corno grosso americana e Ovis ammon, a ovelha selvagem asitica e europia. A Ovis canadensis nunca foi domesticada e foi eliminada como antepassado das ovelhas domsticas por razes zoogeogrficas. S restou, como animal primitivo para a domesticao, a Ovis ammon com suas subespcies. Atualmente, existem no mundo mais de 800 raas de ovelhas domsticas. A grande variedade de fentipos sugeriu investigaes sobre quais seriam as subespcies selvagens da ovelha domstica, sendo provvel que algumas subespcies tenham mudado de lugar devido a alteraes climticas ao final da poca glacial. Tambm podem ter desaparecido algumas subespcies anteriores que intervieram na domesticao. Durante as migraes dos povos e entre as tribos vizinhas, trocavam-se animais de cria. Alguns rebanhos de ovelhas domsticas chegaram a regies nas quais viviam outras subespcies, e com elas podem ter se cruzado. Da ser impossvel definir, atualmente, a espcie de ovelha selvagem que deu origem s raas ovinas atuais. O menor tamanho dos animais uma caracterstica da domesticao, referente s ovelhas que, em algumas estaes do ano, sofriam restries alimentares, determinando perdas de peso e diminuio da produo de leite. No incio, o homem domesticou as ovelhas por sua carne e depois demonstrou interesse pelo leite, ordenhando as ovelhas, constituindo uma nova orientao a cria. Entretanto, a mudana mais importante para o homem, quanto domesticao, aconteceu quando o plo da ovelha selvagem foi substitudo por fibras de l. No se pode demonstrar se o aparecimento da ovelha de l fina foi devido mutao ou seleo, aproveitando-se crias obtidas atravs de cruzamentos consangneos.

3. Classificao ZoolgicaReino: Animal Sub-reino: Vertebrata Filo: Chordata

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Classe: Mammalia Ordem: Ungulata Sub-ordem: Artiodactyla Grupo: Ruminantia Famlia: Bovidae Sub-famlia: Ovinae Gnero: Ovis Espcie: Ovis aries (ovinos domsticos)

4. DomesticaoA ovelha foi domesticada pelo homem primitivo, no perodo neoltico, quatro ou cinco mil anos a.C. Quase todos os animais domsticos tm seus antecedentes selvagens na Europa e na sia. A ovelha e a cabra parecem ser os primeiros animais a serem domesticados. O homem domesticou a ovelha selvagem em seu habitat, facilitada pela reduo do estresse de adaptao.

5. Clima 5.1. TemperaturaO clima um dos principais fatores que determinam as possibilidades de xito em uma criao de ovinos. O comportamento e a adaptao dos ovinos ao clima varivel com o indivduo, a raa e o manejo que lhe dispensado. Embora a espcie ovina se encontre difundida em todas as regies do mundo, verifica-se que as maiores concentraes populacionais desta espcie esto nas zonas de clima temperado frio, isto , em latitudes de 25 a 40 em ambos os hemisfrios. Excees a esta regra so observadas quando a reduo da latitude compensada pela altitude, como no Peru, em zona equatorial (clima tropical), onde ovinos so criados nos altiplanos da cordilheira dos Andes a mais de 3000 metros de altura.

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A temperatura tem atuao preponderante sobre os ovinos, principalmente nas propriedades da l. Altas temperaturas contribuem para a congesto permanente das partes superficiais da derme, podendo as camadas profundas da derme ficar com m circulao, o que se contrape nutrio dos folculos pilosos, com fibras tendendo a se tornarem finas e curtas. Com frio permanente, os fenmenos so inversos, tornando as fibras mais grossas e longas. Na Amrica do Sul, h uma regio que se estende do trpico de Capricrnio ao paralelo de 38 de latitude Sul que apresenta clima subtropical mido (clima de transio). Abrange o Sul do Estado de So Paulo, grande parte do Estado do Paran, os Estados de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul, o Uruguai, vrias provncias da Argentina e pequena rea do Paraguai, caracterizando-se por vero quente e inverno fresco. A Austrlia, um dos pases de grande concentrao de ovinos no mundo, tem grande parte do seu rebanho na rea de clima subtropical mido, anlogo ao da Amrica do Sul. Por outro lado, as reas secas do Oeste dos Estados Unidos, as extensas regies semi-ridas da Austrlia e da Patagnia podem impedir a criao de bovinos, suportando uma certa populao ovina.

5.2. Umidade RelativaUmidade relativa alta diminui a produo de l, afetando suas propriedades, principalmente a suavidade ao tato. A umidade baixa torna a l menos elstica e resistente, pela diminuio da suarda. Os ovinos adaptam-se e produzem melhor sob temperaturas medianas, com umidade relativa mdia.

5.3. Precipitao PluviomtricaPrecipitao pluviomtrica elevada e alto grau de umidade do ar dificultam a evaporao da gua do solo, favorecendo, com isso, a proliferao de agentes patolgicos, prejudiciais a espcies ovina. A Tabela 1 mostra as condies climticas do Sul do Brasil, Austrlia e Nova Zelndia.

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Tabela 1. Situao geogrfica e condies climticas do Sul do Brasil, Austrlia e Nova Zelndia. Local Situao geogrfica (latitude sul) 19 34 11 39 34 47 Precipitao pluviomtrica (m) 800-2000 400-2000 1500-2000 Temperatura mdia (C) 18.0 18.0 16.5

Brasil (Sul) Austrlia Nova Zelndia

As seguintes condies so prprias para a criao de ovinos: - temperatura: mnima = 5 C mxima = 25 C - precipitao pluviomtrica = 75 mm a 115 mm por ms, ou seja, 900 mm a 1380 mm por ano. - umidade relativa entre 55 a 70% em altas temperaturas e entre 65 e 91% em baixas temperaturas.

5.4. FotoperodoAs ovelhas so, de modo geral, polistricas estacionais, apresentando cios em determinado perodo do ano, no havendo uniformidade quanto ao incio e durao da estao reprodutiva. Nas diferentes raas, a amplitude do perodo reprodutivo determinada pela origem geogrfica das mesmas. O fator que controla o incio e o trmino da estao de reproduo nos ovinos a variao entre as horas dirias de luz e de escurido (fotoperodo), atravs do estmulo exercido sobre a hipfise. O decrscimo da luminosidade, alm de aumentar a fertilidade das ovelhas, estimula o desejo sexual e ativa a produo espermtica dos carneiros. Na Figura 1, apresentada a curva terica de fertilidade das raas produtoras de l no Rio Grande do Sul. Observa-se que, no momento em que a curva de luminosidade est comeando sua ascenso, em julho (a), a curva de fertilidade decresce. Quando o incremento das horas dirias de luz muito acentuado, (agosto setembro), as ovelhas paralisam a atividade sexual (b). Ao contrrio, de maro a

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maio, quando intensa a diminuio da luminosidade, a fertilidade atinge seu ponto mximo (c).

Figura 1. Curva da fertilidade de ovelhas no Rio grande do Sul, Brasil, em funo da luminosidade.

6. Informaes fisiolgicas sobre ovinos 6.1. Zona de termoneutralidadeTemperatura crtica inferior: -15C a + 5C Temperatura crtica superior: 40C

6.2. Temperatura corporal (retal)Ovinos com mais de um ano de idade: 38,5 a 40C Ovinos at um ano de idade: 38,5 a 40,5C

6.3. Freqncia respiratriaNormal: 12 a 20 movimentos/minuto Sob altas temperaturas: 400 movimentos/ minuto O estresse trmico (cmara climtica) aumenta a freqncia respiratria e a radiao solar direta aumenta a taxa de sudorese.

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6.4. Valores fisiolgicos normais do sangue da espcie ovinaTabela 2. Valores fisiolgicos normais do sangue da espcie ovina. Valor de referncia Hemcias (106/mm3) Hemoglobina (g/100mL) Hematcrito (%) Leuccitos (103/mm3) Basfilos (%) Eosinfilos (%) Neutrfilos Bastonetes (%) Neutrfilos Segmentados (%) Linfcitos Moncitos 8 a 16 8 a 16 24 a 50 4 a 12 0a3 1 a 10 0a2 10 a 50 40 a 75 1a6

7. Solo, Topografia e Qualidade das PastagensO solo tem fundamental importncia tanto na quantidade como na qualidade das pastagens. A sua composio qumica deve reunir os elementos indispensveis ao desenvolvimento das plantas que sero ingeridas pelos ovinos. Os solos arenosos so geralmente secos, muito permeveis gua e, por isso, incapazes de fixarem os elementos minerais. Neles, a vegetao pouco variada e de baixo valor nutritivo. So chamados campos pobres, onde no possvel criar raas especializadas para carne ou de dupla aptido (carne e l), mas somente raas pouco exigentes e produtoras de l fina, como a Merino Australiano e a Ideal. Solos de topografia acidentada, com pequenas camadas de terra arvel, por serem pouco profundos, dificilmente permitem o estabelecimento de pastagens cultivadas, apesar da relativa fertilidade. Nesses campos, adaptam-se bem os ovinos de porte pequeno e mdio, especialmente os de raa Merino, que so pouco exigentes nutricionalmente, mas sensveis umidade. Os solos argilosos, de um modo geral, so profundos, pouco permeveis, porm com maior fertilidade. A vegetao predominante de maior valor nutritivo,

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bastante variada e densa, permitindo o cultivo de forrageiras e a criao de raas de dupla aptido e as especializadas na produo de carne. A topografia deve permitir o fcil escoamento das guas de chuva e um certo abrigo contra ventos frios. Os solos baixos, pouco permeveis no so indicados, favorecendo as afeces dos cascos e as infestaes parasitrias dos ovinos.

II. PRINCIPAIS RAAS OVINASEste captulo foi extrado de Carvalho (2001). As fotos de animais de cada raa se encontram, em anexo, no final da apostila.

1. Raas especializadas na produo de l fina 1.1. Merino AustralianoRaa que apresenta l de excelente qualidade e elevado valor econmico, destinada fabricao de tecidos finos. Adapta-se perfeitamente s condies de alta temperatura e vegetao pobre em vista de seu pequeno porte e velo muito fino e denso, que funciona como verdadeiro isolante trmico. No tolera, todavia, umidade excessiva. Em termos tericos, teria 70% de potencial para produzir l e 30% para carne. A l atinge, via de regra, as classes merina e amerinada.

1.2. Ideal ou PolwarthOriginria da Austrlia, a raa Ideal possui em sua formao de sangue Merino Australiano e de sangue Lincoln, raa inglesa de grande porte e de l grossa. O trabalho de seleo efetuado pelos Australianos deu como resultado uma raa com excelente capacidade para produzir l, aliada produo de carcaa com desenvolvimento satisfatrio. A l um pouco mais grossa que a da raa Merino Australiano, em decorrncia da infuso de sangue Lincoln, conservando, no entanto, excelente qualidade em termos de classificao, enquadrando-se, basicamente, nas classes prima A e prima B. A raa Ideal apresenta 60% de potencial para l e 40% para carne.

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2. Raas Mistas 2.1. CorriedaleRaa mista por excelncia (50% de potencial para l e 50% de potencial para carne). Foi formada na Nova Zelndia, tambm a partir das Raas Merino Australiano e Lincoln, possuindo, porm, sangue de cada. Em vista disto, sua l se apresenta mais grossa que a da raa ideal (classificada como cruzadas 1 ou 2). Um pouco mais exigente que as raas anteriormente referidas, adapta-se bem, todavia, ao regime extensivo de explorao. um fato natural que, medida que aumenta o tamanho do animal, estaro se elevando, paralelamente, seus requerimentos nutritivos.

2.2. Romney MarshOriginria da Inglaterra, caracteriza-se pela produo de l bastante grossa (predominantemente cruzas de 3 e 4) e boa aptido para a produo de carne. Um aspecto que cabe salientar, diz respeito a sua adaptabilidade a solos mais midos, tendo em vista que sua regio de origem baixa e tem bastante umidade. Exige, porm, melhor nvel nutricional que as raas j citadas. Apresenta 40% de potencial para produo de l e 60% para produo de carne.

3. Raas especializadas na produo de carneEste grupo sabidamente mais exigente em termos nutricionais e de ambiente em geral, adaptando-se melhor s criaes mais intensificadas, como no caso das pequenas propriedades. Nestas, em virtude da impossibilidade de se trabalhar com grandes rebanhos, o retorno econmico propiciado pela l no seria to significativo.

3.1. Ile de FranceOriginria da Frana, foi formada atravs de cruzamentos de raas inglesas com Merino Rambonillet. Foi introduzida no Brasil por volta de 1973 e teve uma boa

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aceitao em virtude de produzir l de melhor qualidade, em relao s demais raas de carne. So animais de grande porte, com bom desenvolvimento de massa muscular nas regies nobres (pernil, lombo e paleta). As fmeas apresentam altos ndices de fertilidade e prolificidade, com mdia de 1,40 a 1,70 cordeiros por parto. Os cordeiros so bastante precoces, apresentando timo ganho de peso, o que propicia a obteno de carcaas de boa qualidade.

3.2. Hampshire DownRaa originria do Sul da Inglaterra atravs de cruzamentos entre carneiros Wiltshire e Berkshire. Tambm pertence ao grupo dos Cara Negra e expandiu-se bastante em determinadas regies do Brasil, tendo se adaptado bem dentro das condies de meio ambiente j comentadas. Possui grande capacidade para produo de carne de excelente qualidade.

3.3. Poll DorsetRaa introduzida recentemente no Brasil por uma cabanha paulista, no ano de 1991. uma raa de carne, originria da Austrlia. Em sua formao, entraram principalmente as raas Ideal, Dorset Horn e Poll Merino. Embora de origem Australiana, os melhores rebanhos so Neozelandeses, os quais sofreram um grande melhoramento para produo de carne. Suas principais aptides so a produo de carne de excelente qualidade, velo sem fibras meduladas e pigmentadas e no estacionalidade de cio, sendo essa uma caracterstica ainda no testada em condies brasileiras.

3.4. TexelDe origem Holandesa, foi introduzida no Brasil por volta de 1972. So animais que, tambm, apresentam l branca e, por isso, so muito utilizados no cruzamento industrial com matrizes laneiras ou mistas. So animais bastante precoces, caracterizando-se pela produo de carcaas de boa qualidade, com baixo teor de gordura.

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3.5. SuffolkRaa originria da Inglaterra atravs de cruzamentos entre ovelhas Norfolk (animais nativos da regio sudeste da Inglaterra) com carneiros da raa Southdown. Foi aceita como raa a partir de 1859. Pertence ao grupo dos Cara Negra, apresentando cabea e membros totalmente desprovidos de l e cobertos por pelos negros. Adaptou-se bem ao Brasil, sendo criada nas mais diferentes regies. As fmeas tm boa habilidade materna, com grande produo leiteira, permitindo alimentar bem mais de um cordeiro. So animais bastante precoces, produzindo carcaas magras e de boa qualidade.

4. Raas deslanadasAs raas deslanadas se apresentam como alternativa para regies onde no conveniente a explorao da l, como, por exemplo, regies de vegetao inadequada ou com carncia de mo-de-obra para tosquia. Destacam como produtoras de pele de tima qualidade, sendo que em So Paulo esto representadas principalmente pelas raas Santa Ins e Morada Nova.

4.1. Morada NovaRaa nativa do Nordeste, resultante possivelmente de seleo natural e recombinao de fatores em ovinos Bordeleiros e Churros trazidos pelos colonizadores portugueses. A ao continuada do ambiente quente e seco do Nordeste promoveu a perda da l e a adaptao do animal. Apresenta pelagem vermelha ou branca. So animais bastante rsticos, que se adaptam s regies mais ridas, desempenhando importantes funes sociais. Produzem carne e, principalmente, peles de tima qualidade, so ovelhas muito prolferas.

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4.2. Santa InsExistem muitas hipteses em relao origem da raa Santa Ins, como a que diz que esta o resultado do cruzamento entre as raas Bergamcia (raa italiana) e Morada Nova; e a que cita a descendncia de ovelhas africanas, trazidas pelos escravos negros. O Santa Ins um ovino de grande porte, produzindo boas carcaas e peles fortes e resistentes. As fmeas so timas criadeiras, parindo cordeiros vigorosos, com freqentes partos duplos e apresentando excelente capacidade leiteira. A raa caracterizada por quatro pelagens: branca, chitada, vermelha ou marrom e preta.

III. SISTEMA DE PRODUOEste captulo foi extrado de.Carvalho et al. (2001). Sendo o ovino ruminante, o mesmo capaz de transformar as forragens inviveis para consumo humano em protena animal de elevado valor biolgico. O mais indicado para a sua criao explorar os recursos pastoris, principalmente se levarmos em considerao o clima extremamente propcio ao desenvolvimento das forrageiras em nosso Pas. Em So Paulo, o sistema de produo que apresenta maior eficincia em pasto aquele que visa a obteno dos principais produtos oriundos da ovelha: carne, l e pele. Esta eficincia obtida quando se realiza o cruzamento industrial, ou seja, ovelhas de raa de ls, mistas ou deslanadas so cobertas por carneiros de raa de carne. A l de boa qualidade seria produzida pelas ovelhas. Todos os cordeiros sangue, independentemente do sexo, seriam abatidos aps desmame e terminao, originando carcaas de boa qualidade. A prtica deste sistema de produo possibilitar a existncia de, no mnimo, trs tipos de criadores: Os cabanheiros de raas mistas, que se encarregariam de produzir reprodutores melhoradores para rebanhos comerciais; Os cabanheiros de raas de carne, encarregados de produzir reprodutores tipo carne para utilizao nos rebanhos comerciais;

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O criador comercial de rebanho base de raa mista, adquirindo reprodutores submetidos a constante processo de seleo e melhoramento. Mais uma opo em termos de sistema de produo seria o ovinocultor

especializado em engordar cordeiros e/ou borregos para abate, seja em pastagem ou mesmo em confinamento. A escolha de um ou outro tipo de criao depende da rea disponvel, das condies ambientais como um todo e da aptido do criador.

IV. INSTALAES PARA OVINOSEste captulo foi extrado de Carvalho et al. (2001) e Sobrinho (1993). O manejo dos ovinos pode ser considerado simples, quando se puder dispor de mo-de-obra habilitada e infra-estrutura adequada. As instalaes necessrias para o perfeito manejo dos animais no so complexas, devendo, no entanto, ser planejadas dentro de padres especficos. Os principais componentes da estrutura necessria implantao de uma ovinocultura sero descritos a seguir.

1. PastagensComo j dissemos, o ovino um ruminante. Portanto, a pastagem , sem dvida, o primeiro fator a ser analisado. Antes de tudo, deve-se ter conhecimento, atravs de uma anlise, das necessidades do solo, sabendo-se que so comuns a deficincia de fsforo, elevado teor de alumnio (txico para as plantas) e o baixo pH (acidez). A ovelha no tolera pastagens muito altas. Esta condio altamente estressante espcie, que tem por hbito o convvio comunitrio e a busca das partes mais baixas do capim. Por isso, depois de corrigir o solo, recomendvel formar pastagens com gramneas de crescimento rasteiro. O manejo das pastagens muito importante. Deve-se levar em conta o comportamento do capim, a poca do ano, o microclima da regio e tambm o comportamento animal. A subdiviso em piquetes vai depender muito do espao disponvel. Em reas pequenas no se recomendam muitas subdivises, em funo de alta concentrao de animais em espaos reduzidos, provocando elevado ndice de reinfestao parasitria.

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Para calculo de lotao trabalha-se com unidade animal (U.A), sabendo-se que uma vaca equivale a 1 U.A e um ovino adulto a 0,2 U.A Sendo assim se, por exemplo, uma pastagem suportar 2 U.A por hectare equivaleria a 2 vacas ou 1 vaca e 5 ovelhas. Outros aspectos importantes na pastagem esto relacionados drenagem e sombreamento. Os pastos devem ser isentos de alagadios e reas inundadas. A falta de sombra na pastagem fator limitante para a reproduo. O estresse trmico provoca em ovelhas no inicio de gestao a reabsoro do embrio, e nos reprodutores a m qualidade do smen. Isto coloca em risco toda reproduo de cordeiros em um ano. Da a importncia da arborizao dos pastos ou dos bosques naturais e artificiais para a proteo contra os ventos e, principalmente, radiao solar. A proporo dos bosques de 0,5 hectare para cada 500 ovelhas.

2. Cercas

Figura 2. Modelo de cerca para ovinos (medidas em centmetros) As cercas para ovinos devem ser construdas com 6 7 fios de arame liso, moures com espaamentos de 10 metros e 4 a 5 tramas nos meios. O 1 fio de arame deve ficar a 10 cm do solo. O 2 e o 3 fios devem distanciar 15 cm entre si e em relao ao 1. Entre o 3 e o 4 fios o espao deve ser de 25 cm e entre o 4, 5 e o 6 fios de 30 cm, dando uma altura total de 1,30 m que servir tambm para manter animais de grande porte. No entanto, se a propriedade j possuir cercas para bovinos, mesmo de arame farpado, basta acrescentar 2 ou 3 fios nos espaos inferiores.

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A cerca eltrica pode ser utilizada na subdiviso de pasto. Neste caso so 2 fios, um a 10 e outro a 20 cm do solo.

2.1. Cercas de arame farpadoEste material s utilizado para ovinos deslanados, explorados para produo exclusiva de carne. Deve ser construda com seis fios, com o seguinte espaamento a partir do solo: 1 fio 5 cm 2 fio 10 cm 3 fio 15 cm 4 fio 15 cm 5 fio 20 cm 6 fio 25 cm Total 90 cm de altura Em locais onde h consorciao com eqinos e bovinos, a altura da cerca ser dimensionada em funo destes, podendo-se constru-la de arame farpado, colocando-se arame liso galvanizado apenas nos vos inferiores.

2.2. Cercas de arame liso o mais utilizado. Geralmente usamos fio ovalado, galvanizado, n 15/17 (1000 m/ 15 Kg). Espaamento dos fios:

2.2.1.Cerca de 5 fios:1 fio 10 cm 2 fio 15 cm 3 fio 20 cm 4 fio 25 cm 5 fio 25 cm Total 95 cm de altura

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2.2.2. Cerca de 6 fios:1 fio 10 cm 2 fio 15 cm 3 fio 20 cm 4 fio 25 cm 5 fio 30 cm 6 fio 30 cm Total 1,30 m de altura (Atendendo no s aos ovinos, como tambm aos bovinos e eqinos).

3. Centro de ManejoComo o prprio nome diz, esta indispensvel instalao centraliza, funcionalmente, todas as prticas com o rebanho (Figura 3). composto de: Mangueiras: tm a finalidade de facilitar a repartio do rebanho nas vrias categorias desejadas, de modo de a caber um numero razovel de uma soa vez. Podem ser feitas de tbuas de madeira ou outro material que a substitua, numa altura de 1 metro. Considerar 1m2/ animal Tronco de contenso (Figura 4): preferencialmente de tbua, deve ter 90 cm de altura, e de 6 a 12 m de comprimento, abertura superior a 50cm inferior a 30 cm. Outro modelo o tronco no sistema australiano, em que a largura maior e no qual se enfileiram vrios animais sendo que o tratador caminha entre eles. Pedilvio: Para tal, pode ser aproveitado o piso do tronco ou ainda uma mangueira menor, com profundidade de 10 cm. Requer ateno para no deixar bordas que permitam que o animal deixe os cascos fora da soluo.

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Figura 3. Planta baixa do centro de manejo.

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Figura 4. Vista frontal do tronco de conteno Banheiro anti-srnico (Figura 5): para controlar as parasitoses externas do ovino (basicamente, sarna e piolho). Esta a parte mais cara do centro de manejo,mas indispensvel para aquelas criaes onde a l tem representatividade importante em termos econmicos. O tanque de imerso, em concreto, deve ter 60cm de largura, 1,20m de profundidade e no mnimo 8m de comprimento, com rampa de sada iniciando- se 4m aps a entrada. Estas medidas no devem ser superiores se no houver pretenso de expandir o rebanho, uma vez que o excesso do produto utilizado torna a prtica de alto custo. Ao final da rampa de sada dever haver dois currais cimentados denominados escorredouros, com a finalidade de retornar banheira parte da soluo absorvida pela l, aps a passagem por uma caixa de decantao.

Figura 5. Vista lateral da banheira e pedilvio

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Local de tosquia: pode ser usado um barraco j existente na propriedade, ou mesmo uma mangueira do centro de manejo, desde que tenha piso cimentado, cobertura e energia eltrica. Cobertura: dever cobrir essencialmente o tronco de conteno, a banheira antisrnica e escorredouros, alm do local para tosquia.

4. CabanhaTrata-se de uma instalao com piso ripado, elevada do solo, que tem por finalidade principal abrigar reprodutores, animais de exposio e de alto nvel. Portanto dispensvel nas criaes comerciais. conveniente que nas cabanhas destinadas a abrigar reprodutores de raas de carne no se use o piso ripado em funo dos problemas de aprumo que podem causar.

5. CochosOs cochos so usados basicamente para o fornecimento de sal mineral e raes . No campo, os cochos de sal podem seguir vrios modelos, assim como os de gado, mas em menores propores. Podem ser constitudos de qualquer material que no contamine o produto fornecido, como madeira, fibra e cimento. Os cochos de sal devem ser de fcil manipulao, podendo-se transporta-los de um piquete para outro, conforme o uso. A cobertura importante para evitar que o sal seja molhado em dias de chuva. Ao contrrio do sal, os cochos para raes devem ter medidas mnimas para atender a todos animais que, depois de acostumados, procuram a dieta avidamente. Estes so usados mais especificamente nas cabanhas ou nos confinamentos. Os cochos para confinamento devem oferecer de 10 a 15cm/cabea, no caso de cordeiros, e de 25 a 30 cm/cabea, para os animais adultos. As outras medidas podem variar em torno de 30 cm para a largura, 20 a 25 cm para a profundidade e 15 a 30 cm distantes do solo, conforme a categoria. Tambores serrados ao meio funcionam bem para oferecer alimentos no pasto, como silagens.

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As manjedouras para fornecimento de capins e fenos seguem as medidas de 10 cm entre ripas verticais de 5 cm, saindo de um ngulo de 45. As telas, como as de alambrado, tambm funcionam na substituio das ripas de madeira. Na cabanha, as manjedouras construdas sobre o cocho permitem um maior aproveitamento do volumoso.

6. BebedourosA gua pode ser fornecida em caixas de alvenaria providas de bia, ou recipientes de fcil manuteno e limpeza. Nas cabanhas, o sistema em que cada baia apresenta seu bebedouro, onde todos so alimentados por uma nica caixa provida de bia, o mais recomendvel pela eficincia de manuteno e limpeza.

7. EquipamentosSo poucos os equipamentos necessrios para a ovinocultura. De modo geral, eles no so muito diferentes dos utilizados para bovinos e eqinos. So eles: tesoura para corte de l (martelo), tesoura para aparo dos cascos, pistola de vermifugao e vacinao, tatuador ou alicate para brincos, ripado de madeira para tosquia, seringas, agulhas, e outros.

V. PASTAGENS PARA OVINOSEste captulo foi extrado de.Sobrinho (1993) e Cunha et al. (1999).

1. IntroduoA produo de ovinos de corte se apresenta como uma boa opo de atividade econmica aos pecuaristas, embora essa atividade agropecuria sempre teve a sua imagem ligada produo de l. Todavia essa associao vem sofrendo uma mudana acentuada, seja em funo dos baixos preos alcanados pela l, tanto no mercado interno como externo, seja pelo crescente aumento na demanda

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da carne ovina, mais especificamente pela carne de cordeiro. Em face disso os criadores tm procurado direcionar a criao neste sentido. Em So Paulo, nos ltimos anos tem-se verificado no s um aumento no efetivo dos rebanhos, mas tambm no nmero de propriedades envolvidas nessa atividade. Apesar de ainda no estar definitivamente estabelecido, nem adequadamente dimensionado, o mercado de carne ovina vem apresentando crescimento inconteste, o que se reflete nos preos relativamente altos observados em nvel de mercado consumidor. Essa maior demanda, todavia, especfica para carcaas de boa qualidade, ou seja, com peso mdio de 12 a 13 kg, provenientes de animais novos, com no mximo 120 dias de idade. At essa idade, os animais mostram alta velocidade de crescimento e maior eficincia no aproveitamento de alimentos menos fibrosos que animais mais velhos, apresentando uma proporo significativamente maior do corte traseiro em relao ao dianteiro e costilhar e, ainda um nvel adequado de gordura corporal, suficiente para propiciar uma leve cobertura da carcaa, protegendo-a contra a perda excessiva de umidade durante o processo de resfriamento e um mnimo de gordura intramuscular, a qual garante o paladar caracterstico da carne ovina, o que aliado a pouca maturidade dos feixes musculares do animal jovem, garante um bom nvel de maciez. Mesmo na regio Sul do pas, onde grande parte dos planteis possui na l o objetivo maior da criao, se tem verificado uma maior preocupao na explorao mais intensiva da produo de carne. Para isso, utiliza-se reprodutores de raas com maior potencial para ganho de peso sobre os planteis j existentes de ovelhas de raas langeras (Corriedale, Ideal e Merino). Assim, busca-se a obteno de cordeiros mais precoces e com melhor caracterizao de carcaa, mantendo-se, ainda a produo de l pelas matrizes. Na regio sudeste tem-se tornado usual a utilizao de matrizes comuns, sem raa definida, ou ainda de animais deslanados, notadamente da raa Santa Ins, mantidas em pastagens e cruzadas com reprodutores de raas de corte, Suffolk e Ile de France. As crias so amamentadas em pastagens exclusivas para matrizes com crias ao p, sendo confinados do desmame ao abate. Em algumas criaes adota-se o confinamento das mes e crias j a partir do nascimento, o que possibilita a adoo do desmame precoce aos 45 dias, o que resulta em nveis de ganho de peso bastante elevados, alm de menor mortalidade de crias. Atravs desse sistema de criao, consegue-se animais com peso vivo entre 28 e 30 kg, considerado ideal para abate, com idades inferiores aos 120 dias. Para

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tanto, o peso ao nascer deve estar em torno dos 3,5 kg com o desmame ocorrendo entre 45-60 dias, com os animais pesando entre 15 e 19 kg. Para tanto a expectativa de ganho dirio de peso vivo ir aproximar-se de 280 e 240 g, respectivamente nos perodos de pr e ps desmame. Esses ndices, todavia, no so obtidos unicamente pela utilizao de bons reprodutores de raas de corte. H ainda que se considerar vrios outros pontos igualmente importantes tais como o nvel alimentar e sanitrio, tanto das matrizes como das crias, o uso de instalaes adequadas e de tcnicas corretas de manejo. Do ponto de vista econmico, vale frisar que o ganho do produtor depende, de um lado da maior disponibilidade de produtos de comercializao, ou seja, devese buscar obter maior nmero possvel de cordeiros por ano e por hectare de rea utilizada para a produo de forragem (pastagem, campineira e para material para ensilagem), e de outro lado deve-se buscar o menor custo de produo possvel, todavia sem prejuzo da qualidade. Dessa maneira para se obter resultados positivos na ovinocultura preciso alm do bom desempenho e qualidade individual dos cordeiros, ter-se ainda uma elevada disponibilidade de animais para abate, o que quer dizer, elevado nmero de cordeiros nascidos (eficincia reprodutiva) e desmamados (baixa mortalidade e alta aptido materna) e, principalmente, um baixo custo de produo. A maior eficincia reprodutiva obtida pela seleo rigorosa das matrizes dando-se preferncia quelas oriundas de parto mltiplo e descartando-se aquelas que apresentem idade primeira cobertura e intervalo entre partos superiores h 12 meses. Deve-se buscar ainda peso ao nascer igual ou superior a 3,0 kg e peso ao desmame igual ou superior a 15,0 ou 19,0 kg, respectivamente aos 45 ou 60 dias de idade. Tambm um bom manejo reprodutivo e nutricional, como a realizao do flushing e o uso de adequado nvel nutricional no tero final da gesto, devem receber especial ateno, de forma a se trabalhar com ndices de fertilidade e prolificidade acima dos 85% e 150% respectivamente. A maior disponibilidade de cordeiros para abate obtida ainda com a diminuio da mortalidade das crias, resultado da utilizao de esquemas de manejo sanitrio e tcnicas criatrias adequadas, incluindo a vacinao preventiva, seleo de fmeas com maior habilidade materna e a adoo de prticas cuidadosas de manejo das crias, desde o parto at o abate. J a diminuio do custo de produo depende das medidas anteriores e, mais ainda da produo de alimentos em quantidade e qualidade adequadas, mas a

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baixo custo. Para isso, a base da alimentao deve ser constituda de volumosos de boa qualidade, ou seja, de alto valor nutritivo, o que quer dizer: alta concentrao em nutrientes, alta digestibilidade e alta aceitabilidade pelos animais.

2. Princpios bsicosConsiderando-se as condies de clima e solo e ainda as caractersticas da estrutura e diviso fundiria predominantes na regio Sudeste do Brasil, a utilizao de pastagem formadas por forrageiras de elevada produtividade e bom valor nutritivo, utilizadas em regime de pastejo intensivo, mostra-se como uma das alternativas de maior interesse para a ovinocultura intensiva. importante ressaltar que as ovelhas em fase final de gestao, principalmente aquelas com crias mltiplas no ventre, apresentam altos nveis de exigncia nutricional, o que quer dizer, necessidade do aporte de quantidades considerveis de protena, energia, minerais e vitaminas. Pastagem com elevada disponibilidade de forragens de alto valor nutritivo podem suprir a totalidade de nutrientes necessrios, tanto manuteno corporal das matrizes como s demandas da gestao. J em condies de pastagens mais fracas, seja em termos de disponibilidade de matria seca (MS) ou baixa qualidade da espcie forrageira predominante no pasto, h necessidade de suplementao alimentar de forma a se fornecer, em quantidade e qualidade, os nutrientes que a pastagem no consegue suprir. Nessas condies necessria a utilizao excessiva de concentrados na alimentao das matrizes, o que eleva significativamente o custo de produo e pode comprometer a viabilidade econmica da atividade. A obteno de boas pastagens para a utilizao com ovinos depende do atendimento de alguns pontos bsicos: Uso de forrageiras produtivas e de elevado valor nutritivo, ou seja, com alta aceitabilidade pelos ovinos, elevada concentrao em nutrientes (energia protena, minerais e vitaminas) e boa digestibilidade. A utilizao de gramneas de porte mdio a baixo, com altura inferior a 1,0 m, so mais adequadas ao comportamento dos ovinos em pastejo. Manuteno de nveis de fertilidade de solo adequados s exigncias da forrageira utilizada, com reposio dos nutrientes removidos pelo pastejo e lixiviao atravs de adubaes em pocas estratgicas.

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Adoo do sistema de pastejo rotacionado como forma de melhorar e uniformizar a utilizao da forragem e, principalmente, diminuir o nvel de infestao por lavas de helmintos (endoparasitos). Diversificao das forrageiras utilizadas, seja pelo uso da consorciao com leguminosas ou pela formao de reas com gramneas diversas, em pastos exclusivos, garantindo a diversificao dos nutrientes disponveis e aumentando o nvel de ingesto de matria seca pela variao da dieta. Isto resulta ainda em maior segurana em termos de problemas de ordem climtica (secas e geadas) e fitossanitrias (pragas e doenas), em funo da diferenciao das caractersticas e potencialidades das diversas forrageiras. Uso preferencial de espcies de hbito de crescimento cespitoso (porte ereto), que em funo da sua arquitetura, favorecem a inativao de larvas e ovos de helmintos (endoparasitos), em razo de permitirem uma maior insolao (dessecao das larvas pela diminuio da umidade e ao de radiao ultravioleta).

3. Hbitos de pastejo do ovinoO ovino, de maneira geral, pasteja preferencialmente gramneas, promovendo corte uniforme e baixo da vegetao, medida que percorre a pastagem. No entanto, o deslanado tende a apresentar um comportamento algo semelhante ao do caprino, ingerindo uma quantia considervel de ramas e folhas, promovendo um pastejo mais seletivo e menos uniforme. O consrcio de ovino com bovino levaria melhor utilizao da pastagem, visto que o ovino pasta mais baixo, consumindo a forragem que o bovino no conseguiria aproveitar. Outro aspecto importante do comportamento dos ovinos em pastagem o fato de no entrarem em pastagens altas (acima de sua altura). Nessa situao, o plantel tende a permanecer perifericamente, penetrando na pastagem somente aps o rebaixamento da mesma, atravs do pastejo ou pisoteio por bovinos ou roadeiras. A produo animal em pastagens caracteriza-se, hoje, pelo baixo nvel tecnolgico, trazendo como conseqncia uma produtividade insatisfatria, verificada em muitas reas ocupadas pela pecuria.

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Na nutrio animal, a quantidade ingerida de alimentos tem importncia fundamental, visto ser um dos fatores determinantes da maior ou menor disponibilidade de nutrientes para os processos fisiolgicos do animal, e conseqentemente, ao seu desempenho. O valor nutritivo, por sua vez, depende no apenas da composio qumica, como tambm da digestibilidade da gramnea, que diminui medida que a planta avana seu processo de maturao, cujo pice coincide com a seca invernal, poca em que h tambm, paralisao quase que total do crescimento. Esta estacionalidade da produo forrageira um dos principais problemas a se solucionar no sistema de explorao de ovinos a pasto. Quanto capacidade de consumo do animal, considera-se que regida pelos seguintes fatores: Palatabilidade da forrageira; Velocidade de passagem pelo tubo digestivo; Efeito do ambiente sobre o animal; Quantidade de forragem disponvel. Ovinos apresentam hbitos alimentares diferentes, em alguns aspectos, dos de bovinos. Alguns so decorrentes da prpria anatomia, como o caso da possibilidade de pastejo rente ao solo, em razo dos lbios superiores fendidos e bastante mveis, o que possibilita extrema habilidade na apreenso de partes selecionadas das forragens, dada a possibilidade de utilizao dos lbios, dentes e lngua. No caso dos bovinos, os lbios so rijos e de pouca mobilidade, sendo a lngua o principal instrumento de apreenso, trazendo os alimentos para dentro da boca, para serem cortados pela ao dos dentes contra a almofada dentria. Dessa maneira, os bovinos tm maior dificuldade na apreenso das partes menores das forragens, o que impossibilita seleo to eficiente dos alimentos, quanto a seleo feita por ovinos. Em termos prticos, devidos a esta seletividade exercida pelo ovino, no conveniente estabelecer pastagens com diferentes espcies de gramneas, pois a tendncia seria a degradao paulatina daquela que fosse mais palatvel. A maneira correta seria escolher uma gramnea sabidamente recomendada, levandose em considerao sua adaptabilidade s condies de solo e clima da regio, alm de um manejo adequado ao hbito alimentar do animal, levando-se em conta a altura e a densidade da gramnea, de maneira que o animal consiga suprir sua capacidade mxima de ingesto no menor espao de tempo possvel.

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4. Produtividade anual das pastagens e necessidades dos ovinosA produo forrageira sofre estacionalidade que, muitas vezes, pode coincidir com fases em que as exigncias nutricionais dos ovinos so altas. Uma maneira de amenizar este problema poder ser adotando-se tcnicas de conservao de forragens (silagem e/ou fenao), que permitem armazenar as sobras da poca de mxima produo das pastagens, para suprir as deficincias da fase de seca invernal. Outra maneira seria, conhecendo-se as necessidades nutricionais das diferentes categorias ovinas, ajustar as fases do ciclo produtivo disponibilidade de forragem, apesar de no se conseguir, assim, resolver completamente o problema. No perodo ps-desmama, a ovelha relativamente tolerante s restries alimentares moderadas, pois se encontra livre de lactao. Por isso, quando as boas pastagens so escassas, deve-se aproveit-las com os cordeiros desmamados, para que o estresse da desmama no seja to acentuado. Duas a trs semanas antes do incio e durao do encarneiramento, deve-se melhorar o nvel nutricional, para que a ovelha seja fecundada com ganho de peso positivo, prtica denominada flushing.

4.1. Sazonalidade da produo de pastagensNo estado de So Paulo, as condies climticas determinam a existncia, no ano, de duas estaes bem distintas: a das chuvas e calor (fim da primavera, vero e incio de outono), com chuvas concentradas e temperaturas elevadas; e a das seca (fim do outono, inverno e incio da primavera), com poucas chuvas e temperaturas baixas. Essas duas estaes determinam, nas espcies forrageiras, um ritmo de crescimento bastante intenso na estao das guas, em confronto com baixas taxas de crescimento no perodo seco. Dessa maneira, considerando-se que o plantel tende a permanecer estvel durante o ano, teremos a ocorrncia de excedentes de produo nas guas e dficit na seca. Esse problema poder ser contornado com a utilizao de processos de conservao de forragem (feno ou silagem) para emprego posterior. A escolha do mtodo deve considerar o tipo de forrageira e de maquinrio disponveis.

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Outra maneira seria a produo de forrageiras de inverno, como aveia, azevm ou centeio, embora apresentem maiores custos e riscos (secas e geadas).

5. Forrageiras mais indicadasOs ovinos tm por habito pastejar preferencialmente o topo das plantas, rebaixando a altura da pastagem pouco a pouco, como se estivesse retirando a forragem em camadas. Todavia em funo da anatomia bucal, caracterizada pela extrema mobilidade dos lbios e pela forma de apreenso do alimento com uso de lbios, dentes e lngua, conseguem ser bastante eficientes na separao e escolha do alimento a ser ingerido, conseguindo apreender, com facilidade, partes especficas da forragem mesmo as de menor tamanho. Isso possibilita ao animal, quando em pastejo, escolher as partes mais tenras e palatveis da planta, rejeitando as fibrosas e portanto de menor valor nutritivo. Dessa maneira os ovinos conseguem realizar o pastejo bastante seletivo e rente ao solo. Em funo disso as forrageiras mais indicais so aquelas que suportem o manejo baixo, apresentem intensa capacidade de rebrota atravs das gemas basais e que possuem sistema radicular bem desenvolvido garantindo boa fixao ao solo O ovino mostra acentuada preferncia por forrageiras de porte mdio a baixo. Em pastagens com plantas de porte mais elevado, com altura acima de1,0 metro, os animais tendem a explorar mais intensivamente as reas marginais, resultando em sub-aproveitamento da forragem das reas centrais. Outra caracterstica tpica o comportamento extremamente gregrio apresentado pela espcie, que dificilmente explora a pastagem isoladamente, movimentando-se sempre em grupos. Em face disto, quando em pastagens de porte mais alto, que dificultam a visualizao entre os animais do rebanho, os ovinos tendem apresentar intensa movimentao pela rea, mostrando maior preocupao em se manterem prximos aos demais, o que prejudica o nvel de ingesto de alimento e resulta em aumento de perdas por acamamento devido ao pisoteio excessivo. Tomando-se em conta somente esses aspectos, as forrageiras mais indicadas seriam aquelas de hbito estolonfero (prostrado), tais como Coast Cross, Tiftons e Estrelas (gnero Cynodon), Pangola (gnero Digitaria), Pensacola (gnero Paspalum). Estas gramneas atendem relativamente bem s exigncias da espcie e seus hbitos de pastejo peculiares, no entanto e apesar de serem as mais utilizadas atualmente com ovinos, apresentam dois pontos bastante negativos: a maioria

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apresenta propagao por mudas, o que dificulta e encarece a formao de reas maiores de pastagens e, mais importante, em funo do hbito de crescimento prostrado formam uma massa vegetal fechada que, mesmo quando rebaixada, impede a penetrao mais intensa da radiao solar e mantm um microclima favorvel a sobrevivncia das larvas dos helmintos. Isso dificulta o controle de verminose, principal problema sanitrio para os ovinos, sendo essa tanto maior quanto maior a lotao das pastagens, podendo chegar a inviabilizao da atividade. Em face disso e em determinadas circunstncias, essas forrageiras comeam a ser preteridas por alguns criadores. Outras forrageiras, normalmente utilizadas em pastagens para bovinos, tem sua utilizao dificultada para ovinos por apresentar porte excessivamente elevado ou por no tolerarem o pastejo rente ao solo e pisoteio intensivo promovido pelo ovino. Nesse grupo esto includas a maioria das gramneas dos gneros Panicum (colonio), Chloris (Rhodes) e Setaria, que ainda tem o agravante da baixa aceitabilidade. As gramneas do gnero Brachiaria, apesar da vantagem de propagao por semente e da acentuada persistncia e rusticidade, apresentam problemas de baixo valor nutritivo, limitando a sua utilizao quelas categorias de menor exigncia nutricional. Alem disso, em funo do habito de crescimento prostrado, dificultam o controle da verminose. Esses aspectos so ainda agravados pela maior possibilidade de ocorrncia de fotossensibilizao em ovelhas paridas e animais mantidos exclusivamente sobre essa forrageira. Uma das alternativas que tem mostrado melhores resultados o capim Aruana (Panicum maximum cv. Aruana) que apresenta as seguintes caractersticas: Cultivar do colonio, selecionado no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa; Elevado valor nutritivo e excelente aceitabilidade pelos animais; Alta produtividade de forragem, variando de 18 a 21 toneladas. de matria seca (MS)/ha/ano, com 35 a 40% dessa produo ocorrendo no inverno (perodo seco do ano); Porte mdio, atingindo aproximadamente 80 a100 cm de altura; Grande capacidade e rapidez de perfilhamento, com grande numero de gemas basais, rebrotando aps cada ciclo de pastejo. Boa capacidade de ocupao da rea de pasto, no deixando reas de solo descobertas, o que evita o praguejamento e auxilia no controle de eroso; Propagao por sementes (formao mais fcil, rpida e de menor custo);

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Boa produo de sementes, garantindo o restabelecimento rpido da pastagem em caso de necessidade de recuperao (aps eventuais acidentes, como queima e geadas, ou degradao por falha de manejo); Boa tolerncia ao pastejo baixo (rente ao solo) promovido pelo ovino, o que possibilita a adoo dessa tcnica de manejo como parte estratgica no controle de parasitas (helmintos), promovendo a exposio de larvas s intempries climticas (radiao solar e vento); Arquitetura foliar ereta e aberta, tpica das forragens cespitosas (em touceiras), que propicia uma maior incidncia de radiao solar e maior ventilao dentro do perfil da pastagem. Isso fora a migrao das larvas para a base do capim logo s primeiras horas da manh, aps a secagem do orvalho, favorecendo o controle da verminose: e Mostrou-se relativamente tolerante s geadas e ao ataque de cigarrinha. Outra alternativa de interesse o capim Tanznia, tambm cultivar de

Panicum maximum, que apresenta algumas caractersticas semelhantes ao Aruana, apresentando, todavia, porte um pouco mais elevado e capacidade de perfilhamento um pouco menor (menor quantidade de gemas basais). Essas forrageiras, em funo do habito de crescimento cespitoso, apresentam um manejo mais complexo que aquelas de habito prostrado. No entanto, o ganho em desempenho e, principalmente, o aspecto favorvel com relao ao controle da verminose, justificam a sua indicao como forrageiras ideais para os ovinos, prestando-se tanto para pastejo como para fenao (ou silagem).

5.1. O emprego do capim Aruana em Nova Odessa (IZ)Durante todo o perodo em que o Aruana est sendo utilizado na unidade de ovinos em Nova Odessa (SP), tem-se procurado avaliar anualmente a sua produtividade e comportamento sob pastejo, obtendo-se valores mdios da ordem de 18 a 21 toneladas. de MS/ha/ano. A boa qualidade da forragem vem sendo atestada pelo excelente desempenho obtido com fmeas ovinas das raas lle de France e Suffolk, em gestao ou em crescimento. A rea de pastagem utilizada subdividida em cinco piquetes, possibilitando um manejo rotacionado no qual cada pasto utilizado por um perodo de 9 a 15 dias (no mximo), tendo um perodo de repouso de 40 a 60 dias, dependendo da

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disponibilidade de forragem e da situao do stand da forrageira no piquete aps cada ciclo de pastejo. No vero (perodo das chuvas) cada piquete subdividido com auxilio de cerca eletrificada mvel, sendo movimentada em faixas, liberando-se 1/3 da pastagem a cada perodo de 3 a 5 dias. A elevada produtividade e alto valor nutritivo do Aruana dependente de uma adequada reposio de nutrientes no solo, que feita anualmente atravs da fertilizao qumica com N, P, K e Ca, com base em anlise de solo e, eventualmente, da forragem. A necessidade mdia de reposio tem sido de 50 kg/ha de fsforo e 30kg/ha de potssio. A correo da acidez do solo foi feita inicialmente na formao da pastagem, e, posteriormente, aps 3 anos da formao da pastagem, com a distribuio de 2000kg/ha de calcrio em rea onde foi introduzida leguminosa (soja perene). A reposio de P, K e Ca feita a lano, normalmente no inicio do perodo das guas. A adubao nitrogenada correspondeu a 150 kg/ha de N, tendo sido utilizado o nitroclcio ou sulfato de amnio como adubo nitrogenado. Dessa quantia, 100kg/ha foram distribudos a lano no final do perodo das guas e os outros 50kg/ha junto com restante da adubao (incio do perodo das guas subseqentes). Em razo desses aspectos, tem sido possvel a utilizao de lotaes altas na pastagem, da ordem de 35 cabeas/ha/ano contra uma mdia de 12 a 20 cabeas/ha/ano, obtida pelos criadores com outras forrageiras. Alm disso, foram realizadas somente de 5 a 6 aplicaes/ano de anti-helmnticos contra 10 a 12 usualmente utilizadas pelos pecuaristas. Dessa maneira, o capim aruana mostra-se como uma excelente alternativa, seno a ideal, para o pastejo pelos ovinos, desde que em condies adequadas de manejo, solo e clima, podendo a sua utilizao contribuir significativamente para que a ovinocultura se firme cada vez mais como alternativa de viabilizao scioeconmica para a pequena e media propriedade rural no Estado.

6. Consorciao de gramneas com leguminosasOutra alternativa a ser considerada na busca de pastagens mais produtivas a utilizao da consorciao de gramneas com leguminosas forrageiras. Essa prtica melhora o valor nutritivo da forragem disponvel na pastagem, alm de diminuir a quantidade de adubo necessrio para a reposio do nitrognio, em

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funo da fixao do N2 atmosfrico promovida pelas leguminosas. Todavia a consorciao exige a adoo de tcnicas de manejo especficas para a obteno de bons resultados, principalmente em razo da menor velocidade de crescimento da leguminosa em relao s gramneas. A primeira considerao quanto adequao entre as forrageiras a serem consociadas, sendo que neste aspecto as gramneas cespitosas so mais adequadas que as estolonferas por permitirem, em funo da arquitetura ereta, maior luminosidade e espao para vegetao das leguminosas, inclusive servindo-lhe de suporte. Outro ponto a ser considerado a reposio de nutrientes, que deve favorecer principalmente a leguminosa, em funo da sua maior taxa de vegetao. O manejo da pastagem, em termos de perodo de ocupao e de repouso, taxa de lotao e altura mnima de pastejo, deve ser adequado s duas forrageiras. Por variar para cada tipo de consorciao, considerando-se caso a caso, o manejo deve ser baseado na avaliao visual da quantidade de forragem disponvel e da proporo gramnea/ leguminosa, no havendo uma regra fixa de procedimento. Uma das prticas importantes para se garantir a persistncia da leguminosa na pastagem possibilitar, de tempos em tempos, o seu florescimento e sementeao, o que garante a ressemeadura natural e pereniza a forrageira na pastagem. Para tanto, necessrio fazer o diferimento do pastejo de um ou dois piquetes a cada ano no perodo de florescimento e sementeao da leguminosa. Alis, igual providncia deve ser considerada tambm com relao gramnea. Nesse sentido primordial, para que se obtenha sucesso na consorciao, a escolha de leguminosas precoces, ou seja, que apresentem florescimento entre maro e maio, poca do ano na qual ainda possvel vedar a rea ao pastejo sem prejuzo na alimentao dos animais. A consorciao com leguminosas tardias, com florescimento entre junho e agosto, impossibilita essa prtica, pois o florescimento ocorre na poca de menor disponibilidade de forragem em nossa regio. Dessa maneira, sem a possibilidade de ressemeadura natural, a tendncia o desaparecimento ou a diminuio acentuada da presena da leguminosa em dois ou trs anos. Essa , indubitavelmente, uma das principais causas da dificuldade verificada, pela maioria dos pecuaristas, na manuteno de pastagens consorciadas. Com relao a isso h uma certa parcela de culpa por parte dos tcnicos envolvidos nos processos de estudo e seleo dessas forrageiras, que muitas vezes, por levar em conta somente o potencial produtivo em termos quantidade de

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MS/ha/ano, elegiam como mais adequadas quelas espcies ou cultivares que sobressaiam nas parcelas dos campos de ensaios nesse aspecto. Como as leguminosas diminuem drasticamente o crescimento vegetativo ao florescerem, aquelas que florescem primeiro (precoces) tem menor perodo de crescimento vegetativo e, portanto, menor produo de MS em relao s tardias. Estas, por permanecerem em vegetao por maior perodo de tempo, acabam apresentando maior produo das MS por rea. Em face disso a grande maioria das leguminosas disponveis no mercado so de variedades tardias. Dessa maneira, para que haja sucesso na consorciao, os seguintes aspectos devem ser levados em conta: Adequao da leguminosa e gramnea s condio de clima de solo da regio; Bom potencial de produo de sementes de ambas forrageiras; Utilizao de cultivares precoces de leguminosas; Manuteno de nveis adequados de fertilidade, notadamente de micronutrientes; Adequao do manejo aos hbitos de crescimento das forrageiras, com nfase para a leguminosa; Determinao de pocas oportunas de diferimento do pastejo para possibilitar o florescimento e ressemeadura natural das forrageiras.

7. Manejo e lotao do pastoO manejo adequado das pastagens, a serem utilizadas por ovinos, deve obrigatoriamente levar em conta dois aspectos: a obteno de forragem em nveis elevados de qualidade e quantidade e a manuteno de um reduzido nvel de contaminao por ovos e larvas dos helmintos (endoparasitas). Estes dois pontos iro refletir na carga animal a ser utilizada, ou seja, no nmero de matrizes que as pastagens podero manter. Visando-se explorao intensiva das reas disponveis, determina-se o nmero total de matrizes da criao, que representar a carga animal mxima, com base na rea de pastagens efetivamente disponvel e no potencial de produo anual, em termo de produo de MS da forrageira predominante. Considera-se constante o nmero de matrizes durante todo o ano e admite-se j, de princpio, a necessidade de utilizao de forragem conservada (preferencialmente silagem) para suprir deficincia de alimento no perodo seco.

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Na definio da carga animal deve se considerar ainda uma perda mdia por acamamento e pisoteio de aproximadamente 20% do total da MS produzida e uma mdia de ingesto de MS de 3,0% do peso vivo (PV) cabea/dia. A ttulo de ilustrao e considerando-se as condies existentes no Instituto de Zootecnia em Nova Odessa (SP), estimou-se o potencial mdio de produo de forrageiras como o Aruana, Coast Cross, Tiffton e Transvala em 18 a 20 toneladas de MS/ha/ano, para condies de manejo rotacionado e nvel de reposio anual de N de 250 a 300kg/ha. Nessas condies a lotao mxima da pastagem seria de aproximadamente 30 cabeas/ha, considerando-se valores mdios de: Peso vivo de matriz = 60kg Intervalo entre partos = 8 meses Numero de paries = 1,5/matriz/ano Perodo de aleitamento =52 dias/ pario (45 a 60 dias) Perodo de confinamento em aleitamento de crias = 78 dias/ano Perodo de pastejo = 287 dias/ano Consumo dirio de MS = 1,8 kg (3% do PV) Consumo total de MS de forragem em pastejo =517kg MS/ matriz/ano (a) Produo de forragem =19.000kg de MS/ha de pasto/ano Perda de forragem por acamamento e pisoteio = 3.800 kg de MS Forragem disponvel = 15.200kg de MS/ ha de pasto/ano(b) Lotao mxima = 30 cabeas / ha ano (b/a) Deve ser lembrado ainda a necessidade do plantio, anualmente, de uma rea de 1,5 ha de milho ou de sorgo para a produo de silagem e de 1,0 ha de capineira, para um mdulo de criao de 100 matrizes, estando includo nessa estimativa, o consumo das matrizes, crias e reprodutores. As pastagens devem ser manejadas, obrigatoriamente, em esquema de rotao, visando principalmente manter-se o controle da infestao da forragem por larvas de helmintos em nveis mais baixo possveis. Deve-se evitar perodos de ocupao superiores a 5 a 7 dias, visando minimizar a exposio dos animais s larvas infestantes (L3) eclodidas naquele mesmo ciclo de pastejo (auto infestao). Dessa maneira, quando a populao de larvas infestantes torna-se significativa, os ovinos j tero sado daquela rea de pastagem, cuja forragem estar bastante rebaixada, ficando as larvas sem hospedeiros e expostas as intempries climticas

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(radiao solar e vento). O perodo de repouso ir variar em funo da poca e do ano, das condies climticas, da forrageira e das condies de fertilidade do solo. Em mdia, considera-se um perodo de 35 a 45 dias como suficiente para se ter uma boa recuperao da forrageira, alm de uma considervel diminuio na quantidade de larvas infestantes. Resultados bastante positivos podem ser obtidos dividindo-se a rea total de pastagem em 5 ou 6 piquetes, utilizados em rotao direta do inverno. No perodo de vero cada um desses piquetes subdividido em trs, com uso de cerca eltrica, liberando-se 1/3 da rea de cada vez para pastejo em faixas. Nos perodos de condies climticas intermedirias (primavera e outono), pode-se reduzir para duas o nmero de subdivises de cada piquete. Nesse esquema as novas faixas so acrescentadas aquelas j pastejadas, as quais, apesar de continuarem acessveis aos animais, no so mais pastejadas, seja por no possurem forragem, seja pelo acmulo de urina e fezes. Essas reas, todavia, so preferidas pelos animais para descanso e ruminao, diminuindo assim as perdas por acamamento e pisoteio na rea em pastejo efetivo. Outra prtica interessante, e que pode resultar em menor taxa infestao dos animais por larvas de helmintos, a restrio do pastejo nas primeiras horas do dia, quando a pastagem, em razo do orvalho, ainda apresenta elevado teor de umidade. Nessas condies as larvas apresentam-se distribudas em todo o perfil da pastagem. Quando o orvalho seca e a umidade do topo das plantas vai diminuindo em funo da radiao solar, as larvas tendem a migrar para as partes mais baixas da planta em busca de ambiente mais sombreado e com maior umidade, que oferea maior proteo contra a radiao solar e contra a dessecao. Nessas condies, apesar de poder haver um alto nvel de infestao na rea, como as larvas esto concentradas nas partes mais baixas das plantas, os ovinos, pelo fato de executarem um pastejo mais de topo, estaro ingerindo forragem com menor contaminao, reduzindo assim sua infestao por endoparasitas. Esse efeito notrio em forrageiras de habito cespitoso, no perodo de maior vegetao da forragem, correspondente ao vero chuvoso das regies Sudeste e Centro Oeste. No perodo de inverno essa prtica no apresenta resultados significativos. Com forrageiras de hbito prostrado (estolonfero), mesmo no vero no se observa resposta considervel a esse procedimento. Outra prtica a ser adotada no esquema de controle da verminose a utilizao concomitante da rea de pastejo por bovinos e/ou eqinos. Isso se deve a

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baixa possibilidade de infestao cruzada entre as diferentes espcies de helmintos que parasitam cada uma delas e ao papel de limpeza que cada espcie efetua para a outra quando ingere ou elimina nas pastagens larvas de vermes especficas da outra espcie. H ainda que se considerar o aspecto positivo que a consorciao de espcies com diferentes hbitos de pastejo exerce sobre a quantidade e qualidade de forragem, em funo da maior uniformidade e equilbrio no pastejo.

8. Importncia da fertilidade do soloElevada produtividade de alto valor nutritivo so caractersticas essenciais nas forrageiras a serem utilizadas com ovinos. Para tanto necessrio que o nvel de fertilidade do solo seja compatvel com as exigncias da forrageira. Capins como Coast Cross, Tiffton, Aruana e Tanznia, em funo do elevado valor nutritivo, notadamente em funo dos teores de protena e minerais bastante significativos, exigem solos com elevada capacidade de saturao de base (V%) e altos teores de nitrognio (N), fsforo (P), potssio (K), clcio (Ca), alm dos micronutrientes. A reduo da fertilidade, em funo da contnua remoo de nutrientes promovida pelo pastejo e ainda pela lixiviao, resulta em gradativa reduo na produtividade, bem como na qualidade da forragem. Isto exige a reposio constante dos nutrientes atravs da fertilizao. E, apesar de o N ser indubitavelmente o nutriente de maior efeito na produo de MS das gramneas, a resposta a esse nutriente limitada pela deficincia dos demais. Pesquisas conduzidas no instituto Zootcnica, em Nova Odessa, mostraram que o parcelamento da reposio de N, aplicando-se 2/3 da dose total no final do perodo das chuvas e o 1/3 restante no inicio do perodo das chuvas, resultou em maior produo de forragem por rea, bem como na melhoria na distribuio da produo durante o ano, com aumento proporcionalmente maior no perodo da estiagem.

VI.

CONSORCIAO

DE

OVINOS

COM

CULTURAS

VEGETAIS E ANIMAISEste captulo foi extrado de.Sobrinho (1993).

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1. IntroduoA criao de ovinos, no estado de So Paulo, deveria constituir numa das principais fontes de riqueza, dadas s condies de ordem econmica, climtica e agrostolgica que se verificam. Entretanto, estima-se que o estado de So Paulo possua apenas pouco mais de 250.000 cabeas de ovinos, cuja produo de l no deve ultrapassar 300 toneladas. Por outro lado, alm de termos condies ecolgicas adequadas produo de l e carne, possumos um vasto mercado interno para absorver, em crescente proporo, qualquer quantidade desses produtos; e com o advento da fibra sinttica, devemos manter a l na condio de produto insubstituvel, melhorando os mtodos de produo por meio de investigaes cientficas e experimentaes. Dentre estas, considera-se de carter emergente, pela inexistncia de trabalhos, estudos sobre consorciao de ovinos com outras culturas vegetais e animais. No primeiro caso, as observaes levariam a concluir se os ovinos poderiam ser utilizados no combate s ervas daninhas das culturas sem danos a estas (ataque casca do caule, ingesto de folhas, mudas novas e frutos), assim como se os animais apresentariam desenvolvimento ponderal e qualidade de l (matria vegetal aderida) satisfatria, sendo tambm permitido concluir sobre as pocas em que os animais poderiam ter acesso cultura em consorciao, levandose em considerao os tratos culturais. No segundo caso, ou seja, consorciao de ovinos (bovinos, eqinos e periferia de tanques de piscicultura), embora seja praticada por um pequeno nmero adeptos, tambm se apresenta ainda sem embasamentos cientficos, embora seja sabido que ambas as espcies se beneficiem em tal consorciao, principalmente no tocante s infestaes parasitrias, devido ao fato de no serem cruzadas, e como recurso para melhor aproveitamento das pastagens.

2. Algumas culturas vegetais viveisDesde algum tempo, tem-se preconizado a criao de ovinos em reas ocupadas por culturas perenes como cafezais, laranjais e macieiras, com o intuito da utilizao do espao disponvel entre as rvores, freqentemente invadido por outras plantas; notadamente algumas espcies de gramneas que se constituem em

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problemas para o manejo da cultura em questo, mas que se aplicam perfeitamente na alimentao dos ovinos. No comum se creditar aos ovinos o hbito de ingerir plantas lenhosas a no ser em condies ecolgicas especiais ou quando h falta de outros alimentos. So vrios os fatores que influenciam a seleo e composio da dieta dos ruminantes, configurando um quadro complexo. No caso da consorciao de ovinos com culturas, parece ser a complexidade devida ao grande nmero de seus componentes botnicos. Entretanto, caprinos e ovinos mantidos em caatinga, tiveram a composio florstica de suas dietas variando do mnimo de cinco ao mximo de doze espcies botnicas ao longo do ano. Esse fato demonstra que a apetibilidade de uma dada espcie botnica da pastagem varia em funo de sua abundncia, dos outros componentes a ela associados, do tipo animal, do ano e da poca do ano, e da familiaridade do animal com a pastagem. A preferncia alimentar sobre as forragens tambm varia de acordo com a espcie animal e com a intensidade do pastoreio. Em termos gerais, os bovinos e ovinos tendem a pastejar mais gramneas, enquanto que os caprinos parecem preferir o consumo de espcies lenhosas.

2.1. Caf e CtricosMuita nfase se tem dado ao barateamento dos pastos destinados s ovelhas, de forma a reduzir o custo de produo das mesmas, buscando-se pastagens alternativas que possam aliment-las convenientemente. Entre tantas, a colocao de ovelhas em lavouras permanentes, onde possam, alm de utilizar uma pastagem barata (e porque no dizer indesejvel), prestar servios na limpeza destas. No tocante consorciao de ovinos com culturas de caf e ctricos, embora as condies de limpeza dessas culturas hajam melhorado, vivel a introduo de mtodos simples e econmicos (controle biolgico) que permitam ao produtor manter suas lavouras livres de ervas daninhas que predominam nesta ou naquela regio. Desses vegetais, a maioria tem ciclo vegetativo de cerca de 60 dias, dentro dos quais devero ser eliminados a fim de evitar concorrncia com a cultura e produo de sementes. Assim, os ovinos tenderiam a manter limpo o solo sob a

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cultura, pois os vegetais sombra mantm-se mais tenros, havendo preferncia da espcie por estes. Em lavoura de caf j se tem alguma pequena experincia e observa-se, em algumas propriedades, que o efeito foi bastante satisfatrio, mesmo porque, nem sempre os pastos recebem cargas de corretivos ou adubaes to grandes, como o recebem as invasoras, presentes nas ruas da lavoura. No entanto, no existem ainda dados muito precisos acerca de tal prtica, visto que as condies so extremamente variveis, no se podendo prever as taxas de lotao e suporte por ano. O que se sabe, que as ovelhas e cordeiros so totalmente avessos s folhas do cafeeiro, no as consumindo sob nenhuma hiptese, mas apresentando indcios de consumirem os gros, to logo comecem a amadurecer. Nessa poca, porm, os prprios tratos culturais, como arruamento (abril maio), impedem que se coloque as ovelhas na mesma. Da, at a esparramao (agosto setembro), as ovelhas no devero ter acesso lavoura. Em trabalhos desenvolvidos com ovinos para controle de mato em cafezais, observou-se que os carneiros no ingerem folhas ou brotaes do cafeeiro, mesmo na falta de outras plantas, sendo, portanto, seletivos a cafeeiros. Dentre as ervas, preferiram as plantas de folha estreita como a grama-seda (Cynodon dactylon), capim-marmelada (Brachiaria plantaginea), capim-colcho (Digitaria sanguinalis sp), pico preto (Bidens pilosa), caruru (Amaranthus sp) e boto-de-ouro (Galinsoga parviflora), deixando de comer mentrasto (Ageratum conyzoides), Jo-bravo (Solanum sisymbriifolium) e guanxuma (Sidasp), sendo que o sap (Imperata brasiliensis) foi aceito somente quando novo. Sendo necessrio o desenvolvimento de estudo mais aprofundado sobre a relao entre a quantidade de mato ingerida e a quantidade de ervas produzidas por rea. As lavouras de citrus tambm tm sido vistas como capazes de fornecer pastagens de excelente qualidade aos ovinos. No entanto, pode-se observar em algumas propriedades que se utilizaram dessa prtica, que as ovelhas preferem as ervas daninhas das entrelinhas, no deixando de consumir as folhas das laranjeiras e limoeiros que estiverem ao alcance. Assim, a menos que haja alguma medida de contorno a esse entrave, no se recomenda a consorciao ovelha-ctricos. Em qualquer um desses casos, importante observar que a incidncia de carrapichos e pices em tais pastagens, pode comprometer sensivelmente a

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qualidade de l (l com semente ou carrapicho), devendo haver uma tosquia dos animais antes de sua entrada para a lavoura.

2.2. SeringueiraConsiderando que a cultura da seringueira ocupa grandes reas, por necessitar de grandes espaamentos, h grandes possibilidades de sucesso na consorciao, principalmente devido ao fato de a cultura no necessitar de pulverizaes.

2.3. MangaA cultura da manga tambm apresenta grandes espaamentos (9x9m a 11x11m, em solos pobres) e os ovinos entrariam como uma fonte de renda adicional, visto que a manga s produz uma colheita por ano, alm de deixarem o espao intercalar entre as plantas limpo, havendo ainda fertilizao do solo atribuda ao esterco. Os animais devero permanecer em pastejo durante o dia, sendo recolhidos noite em um aprisco ou cercado, de modo a evitar o ataque de predadores. No perodo da safra, os animais sero retirados para outra rea, devendo ser tambm movidos quando da aplicao de inseticidas ou fungicidas, levando-se em considerao o perodo de carncia de cada produto. Um aspecto que preocupa em tal consorciao, o fato de termos informaes de que alguns ovinos ingerem o fruto da cultura em questo, sendo constatado ovinos com um grande nmero de sementes no rmen.

2.4. MilhoEste consrcio vem sendo adotado na Cabanha Sinuelo, municpio de Lagoa Vermelha, RS, em experimento com terminao dos animais em lavoura de milho. O rebanho composto por 60 ovelhas da raa Hampshire Down, maioria SO (seleo ovina), manejados numa rea de 10 ha, sendo que para o experimento so utilizados apenas quatro hectares. O trabalho se baseia em colocar, a partir de dezembro, quando o milho plantado mais cedo est com um porte mais alto, os cordeiros nascidos em final de

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agosto e incio de setembro, recm-desmamados. Nessa fase, os cordeiros comem apenas as gramneas entre as plantas e as folhas mais baixas do milho, no prejudicando o desenvolvimento normal da cultura. Na segunda quinzena de maro, so semeados nessa mesma rea de milho, aveia para pastagem; quando esta comea a nascer, os animais so retirados e abatidos, obtendo-se carcaas pesando em mdia 15 Kg. Assim, importante o resultado econmico dessa sistemtica, por permitir uma produo praticamente sem custos e sem interferir nas demais atividades, sendo adequada para pequenas reas onde a necessidade de diversificao acentuada, comprovando a tese de que as pequenas propriedades podem absorver a criao de ovinos com boa lucratividade.

2.5. MaOs ovinos realizam um perfeito equilbrio agropecurio quando criados em culturas de mas. A macieira uma planta no atacada pelos ovinos, mesmo em se tratando de mudas novas. Tal consorciao foi levada a efeito na Estncia e Cabanha Vila Rica, no municpio de Itapetininga , SP, com resultados animadores, utilizando-se ovinos de raa Ideal (Polwath).

2.6. AmoreiraEm pases europeus, tal consorciao levada a efeito considerando que, naquelas condies, essa cultura se apresenta com o aspecto arbreo. No Brasil, considerando o maior nmero de cortes e a apresentao ramosa da planta, somados sua elevada palatabilidade, poder implicar em um pastejo muito intenso, aumentando a relao haste: folha. Dessa forma, em nossas condies, devemos evitar a consorciao, podendo-se fornecer as folhas de amoreira verdes ou conservadas, no cocho, considerando o elevado teor protico da mesma.

2.7. reas Reflorestadas

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O sistema silvopastoril, que consiste na consorciao de espcies florestais com pecuria, pretende acabar com o conceito de que as reas reflorestadas so imprprias a outras exploraes durante o ciclo das rvores. Vale ressaltar a utilizao desse sistema pela companhia Agrcola e Florestal Santa Brbara, no Vale do Rio Doce (MG), onde foram utilizados gado bovino e ovino visando reduzir o capim colonio predominante entre as mudas da espcie florestal. Anlises de dados relacionados com tal consorciao incorreram numa srie de vantagens, dentre as quais o controle das gramneas, na maioria das vezes, as principais invasoras nos povoados florestais. Em virtude das condies climticas favorveis, o capim colonio (Panicum maximum, Jacq) muito agressivo, apresentando crescimento rpido, o que obriga as empresas florestais a realizarem de quatro a seis capinas anuais, onerando os custos do empreendimento. Nas reas planas, vivel a capina mecanizada, entretanto, nos locais de topografia irregular, utilizado trabalho braal. Assim, alm de concorrer com as mudas de eucalipto na absoro de nutrientes, o capim colonio, na sua fase avanada de desenvolvimento, dificulta o combate s formigas, alm de facilitar a propagao de incndios florestais. A criao de ovinos , portanto, alternativa econmica para o empresrio florestal, sendo necessrio que haja, na composio dos lotes, a presena de bovinos, pois estes faro o rebaixamento da vegetao, facilitando a atuao dos ovinos com seu hbito de pastejo rasteiro. A consorciao de bezerros e ovelhas em reas de eucaliptos recm-plantadas, antes da primeira capina, levou a concluir que o local no sofreu qualquer dano at os dois anos de consorciao, sendo que a taxa de lotao adequada foi de 1 UA/ha/ano, havendo, inclusive, ganho de peso dos animais. Sabe-se de experincias de consorciao de ovinos, at ento bem sucedidas, em lavoura de pssegos e ameixas, no tendo havido, at o presente, trabalhos que pudessem quantificar os resultados.

3. Consorciao com cultura animais pastoreio mltiploO sistema de produo mista (bovinos de corte e ovinos) est bastante generalizado na zona pecuria do Rio Grande do Sul. Para dar uma idia de sua importncia, suficiente mencionar que os bovinos de corte contribuem com 16,4%

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do valor bruto da produo agropecuria do Rio Grande do Sul e os ovinos com 4,5%. A chamada pecuria extensiva (bovinos de corte, ovinos, eqinos e outros) ocupa, aproximadamente, 150.000 Km e se constitui em atividade bastante importante em mais de 60.000 unidades de produo agropecuria daquele Estado. Em geral, bovinos de corte e ovinos so explorados segundo um sistema tradicional, pouco tecnificado e que apresenta nveis baixos de produtividade, com altos ndices de mortalidade e baixos rendimentos de l por ovino e por hectare. Devido a essa situao, impossvel encontrar uma soluo para o desenvolvimento agropecurio do Rio Grande do Sul, sem contemplar o incremento da eficincia scio-econmica do sistema de produo mista: bovinos de corte e ovinos.

3.1. Pastoreio MltiploA maioria dos trabalhos em pastoreio combinado oriunda de autores norteamericanos e sul-africanos, sendo que os ltimos dedicam-se mais ao estudo do pastoreio combinado de ruminantes domsticos. O pastoreio contnuo por ovinos considerado mais prejudicial pastagem do que o de caprinos, em virtude da maior intensidade de pastejo daqueles sobre os componentes da vegetao do estrato herbceo, resultando em maior exposio do solo. Os efeitos do pastoreio mltiplo de caprinos e bovinos em pastagens de vegetao arbrea e arbustiva foram avaliados na frica do Sul. O trabalho desenvolveu-se em duas fases. A primeira, que perdurou por seis anos, incluiu reas de pastoreio por bovinos e reas por caprinos. Nesta primeira etapa, o desempenho dos bovinos superou ao dos caprinos e ao das duas espcies combinadas. Todavia, as parcelas submetidas ao uso por caprinos tiveram a sua produo de gramneas aumentada, sendo controlada sua cobertura arbustiva. Foi, ento, iniciada a segunda fase da pesquisa, em que os piquetes, anteriormente utilizados por bovinos, passaram a s-lo por caprinos e vice-versa. Ambas as espcies se beneficiaram, apresentando ganhos de peso superiores aos obtidos na primeira fase. Assim, o autor concluiu que, em longo prazo, a combinao das duas espcies seria a melhor opo. A proporo sugerida seria de um bovino para dois caprinos. Por sua vez, o pastoreio de cavalos, altamente seletivos por gramneas, favoreceu o crescimento do arbusto Purshia tridentata, principal componente da

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dieta de veados e alces. Assim, a combinao das trs espcies herbvoras resultou no uso mais uniforme da pastagem e melhorou o seu desempenho produtivo. Em trabalho desenvolvido na Austrlia, em uma pastagem com vegetao predominada pelo eucalipto (Eucaliptus populnea) com substrato de arbustos e uma camada herbcea de gramneas e ervas de folha larga, comparou as dietas de caprinos, ovinos e bovinos. A superposio das dietas variou com as espcies animais comparadas e com a poca do ano. Ovinos e bovinos mostraram maior competio, enquanto caprinos e ovinos tiveram menor superposio das dietas. O autor concluiu que o pastoreio por duas ou mais espcies herbvoras resultou em melhor distribuio da presso do pastejo, uso mais completo de um maior nmero de componentes da vegetao e benefcio mtuo para as espcies animais. Segundo os dados de diversos trabalhos, ovinos em pastagem nativa preferiram 62% de gramneas, 15% de ervas e 23% de ramas. Por sua vez, ovinos em condies de super-pastoreio consumiram 79% de gramneas, 8% de ervas e 14% de ramas, enquanto que em pastagens no pastejadas, preferiram 29% de gramneas, 42% de ervas e 30% de ramas. Em outra pesquisa, foi constatado que a dieta de ovinos era de 60% de gramneas, 18% de ervas e 22% de arbustos, enquanto que os caprinos apresentaram, em sua dieta, 48% de gramneas, 40% de arbustos e 12% de ervas.

3.2. Descontaminao de PastagensA descontaminao das pastagens realizada pela utilizao da espcie ovina em pastejo alternado com bovinos e eqinos. Trata-se de uma prtica baseada na especificidade parasitria dos vermes, ou seja, larvas infectantes dos parasitas de ovinos que forem ingeridas por eqinos sero destrudas, pois no encontraro ambiente adequado para seu desenvolvimento, em se tratando de um hospedeiro de outra espcie. Como exceo temos o T. axei, que infecta ruminantes e eqinos. Tal fato no preocupante, pois o principal parasita dos ovinos o Haemonchus e no Trichostrongylus, o que credencia os eqinos para descontaminar pastagens de ovinos e vice-versa. Quanto ao pastejo misto, envolvendo bovinos e ovinos, estudo comparativo da prevalncia de nematdios gastrintestinais em ovinos e bovinos criados na mesma pastagem, em condies do Rio Grande do Sul, revelou a no ocorrncia de

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infestaes cruzadas por espcies dos gneros Haemonchus, Oesophagostomum, Nematodirus e Bunostomum, sendo que apenas algumas espcies dos gneros Cooperia e Trichostrongylus axei apresentaram infestaes cruzadas. Tendo por base as caractersticas morfolgicas e biolgicas, Haemonchus contortus caracterizado como parasita de ovinos, enquanto H. Placei, como de bovinos, sendo completamente inexpressiva a infestao natural cruzada ovinobovino. Na Austrlia, relatado que Haemonchus placei um parasita preferencialmente de bovinos, enquanto H. contortus um parasita de ovinos, o que foi confirmado por estudos que verificaram reduo significativa na contaminao de pastagens de ovinos por H. contortus e T. colubriformes, quando estas foram submetidas a pastejo prvio com bovinos jovens. No Brasil, piquetes mantidos com bovinos adultos, por dois e quatro meses, apresentaram nveis de contaminao inferiores aos dos campos manejados com pastejo misto (bovinos e ovinos) ou somente com ovinos. Por outro lado, quando foi realizado pastoreio alternado com bezerros e ovinos, a contaminao da pastagem apresentou os maiores nveis, sugerindo a ocorrncia de infestaes cruzadas dos vermes entre bovinos e ovinos. Tal constatao deveu-se ao fato de que as espcies de Haemonchus estudadas (H. contortus e H. placei) podem parasitar ovinos e bovinos. A questo tambm pode ser explicada pelo fato dos bovinos adultos apresentaram uma resistncia bastante elevada verminose. Assim, devido resposta imunitria do hospedeiro, a maioria das larvas infectantes ingeridas por esses animais so destrudas no aparelho digestivo, o mesmo no acontecendo com os bovinos jovens. Em So Paulo, torna-se necessria realizao de experimentos visando verificar quais as espcies de Haemonchus que parasitam bovinos e ovinos criados juntos ou isoladamente, de forma a orientar os ovinocultores com segurana, podendo-se, desde j, recomendar a utilizao apenas de bovinos adultos ou de eqinos como descontaminadores das pastagens no estado. Esses animais iro ingerir o capim com as larvas infectantes para os ovinos, as quais, em sua maioria, sero destrudas no aparelho digestivo desses animais por encontrarem um hospedeiro inadequado para sua instalao ou um animal resistente ao parasita. Assim, os bovinos ou eqinos devero permanecer cerca de dois meses nos piquetes escolhidos para que sejam estes descontaminados. Aps este perodo, os

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piquetes devem permanecer sem animais at que haja recuperao da pastagem, o que ir variar com a poca do ano, tipo de forragem e uso de irrigao. Considerando que as categorias que apresentam maior susceptibilidade verminose so ovelhas em final de gestao e incio de lactao e cordeiros a partir do desmame, esses animais devero ser destinados s pastagens descontaminadas. Caso no seja possvel prepar-las, tanto para as ovelhas quanto para os cordeiros, deve-se dar preferncia aos ltimos, por serem estes mais suscetveis. importante lembrar que as medidas de descontaminao dos piquetes selecionados, devero iniciar com base na data prevista para o incio das paries. Para que seja retardada a recontaminao das pastagens, deve-se administrar aos ovinos um anti-helmntico de amplo espectro, antes da introduo desses animais nas pastagens.

3.3. Consorciao de ovinos com reas prximas a conjunto de tanques e viveiros de peixeTanques de piscicultura so recintos construdos de terra ou alvenaria, destinados reproduo, estocagem de alevinos e matrizes e manejo de peixes. Por outro lado, os viveiros so recintos de terra destinados exclusivamente ao crescimento e engorda dos peixes. No caso da consorciao com a espcie ovina, as construes sofisticadas, como as dos tanques de alvenaria ou concreto, devem ser evitadas, dando-se preferncia s de terra, formadas pela escavao do terreno e por diques, ou de barragem, por permitirem um melhor deslocamento dos animais em toda a rea, explorando at mesmo a vegetao lateral muito prxima lmina dgua. Quanto vegetao disponvel para os ovinos, deve consistir-se de gramneas de hbito de crescimento prostrado bastante rizomatosas, de modo a evitar a eroso da orla dos tanques, coincidindo com a preferncia dos ovinos.

VII. NUTRIO E ALIMENTAO DE OVINOSEste captulo foi extrado de Carvalho et al. (2001) e Valverde (2000). Sero abordados todos os aspectos relacionados com a nutrio e alimentao de ovinos, exceto aqueles referentes utilizao de pastagens, j abordados no captulo V.

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1. Exigncias nutricionaisAs exigncias nutricionais dos ovinos em protena, energia, minerais e vitaminas variam em funo de vrios fatores, tais como: Raa: as raas mais precoces e de grande porte, como as especializadas na produo de carne, tendem a apresentar maior exigncia nutricional que as raas produtoras de l ou mistas. J as raas deslanadas apresentam-se, ainda, menos exigentes; Idade: os animais mais jovens tendem a apresentar maiores exigncias, em razo do maior ritmo de crescimento; Categoria ou situao fisiolgica: o estado fisiolgico afeta significativamente as exigncias nutricionais. A gestao, principalmente em seu tero final, e a lactao levam a um aumento considervel dessas exigncias; Sistema de criao: em criaes extensivas, onde os animais tm de percorrer grandes distncias entre reas de pastejo, saleiros ou bebedouros, as exigncias nutricionais, principalmente em energia, tendem a ser maiores que a dos animais em pastagens menores e mais produtivas.

2. Suplementao e raesDe maneira geral, os ovinos podem ser mantidos exclusivamente em regime de pastagem, tendo sempre vontade gua e sal mineral. No entanto, em determinadas situaes relacionadas poca do ano, exigncia da categoria animal e manejo do rebanho, pode ser necessrio o fornecimento de um suplemento ou complemento alimentar. Forrageiras conservadas e raes balanceadas so, normalmente, ou suplementos utilizados. Quando as condies e os nveis nutricionais da pastagem forem bons, poderemos oferecer raes mais simples, apenas para manuteno, como, por exemplo, ao prender os animais a noite. Por outro lado, quando as pastagens estiverem degradadas, as suplementaes devero ser ricas em protena e energia. As suplementaes formadas por raes concentradas devem se fornecidas na quantidade de 30 a 40% do total de matria seca (MS) consumida.

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