apostila julgamento de caprinos e ovinos _ introducao

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ZOOTECNIA DEPARTAMENTO DE REPRODUÇÃO E AVALIAÇÃO ANIMAL APOSTILA DISCIPLINA: JULGAMENTO ANIMAL IZ 320 JULGAMENTO DE CAPRINOS E OVINOS Prof. Luís Fernando Dias Medeiros

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Page 1: Apostila Julgamento de Caprinos e Ovinos _ Introducao

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIROINSTITUTO DE ZOOTECNIA

DEPARTAMENTO DE REPRODUÇÃO E AVALIAÇÃO ANIMAL

APOSTILA DISCIPLINA: JULGAMENTO ANIMAL IZ 320

JULGAMENTO DE CAPRINOS E OVINOS

Prof. Luís Fernando Dias Medeiros

Seropédica, RJ2009

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JULGAMENTO ANIMAL – CAPRINOS E OVINOS

INTRODUÇÃO

SELEÇÃO

Modificação genética para uma função produtiva (zootecnia) ou processo pelo qual um rebanho é alterado geneticamente pela utilização da Avaliação Visual (aparência) e através de Medições Objetivas (características métricas).

A base da seleção se encontra na presença de variação em todas as características avaliadas visualmente ou medidas.

A produção animal é uma função da genética mais o meio ambiente.

A adaptabilidade a um meio específico, é, portanto, tão importante quanto a seleção para a realização da medição. As leis físicas da natureza ditam os limites dentro dos quais as diversas dimensões do corpo (tamanho) ou função fisiológica (reprodução) podem variar.

PONTOS QUE DEVEM SER CONSIDERADOS EM JULGAMENTO ANIMAL:

a)Fichas de controle zootécnico

→controle ponderal→controle leiteiro→controle reprodutivo→controle sanitário→controle individual

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b)Manejo nutricional – Manejo reprodutivo – Manejo sanitário – Conforto térmico – Ambiente social (bem estar animal)

c) Fichas de controle genealógico

d)Teste de ½ irmãos → para animais de corte

e)Teste de progênie

f) Exame andrológico

g)Tipagem

h)Sexagem

i) Exame citogenético

j) Defeitos sérios e desclassificantes dentro do padrão da raça e mestiços → Eliminação

k)Defeitos reprodutivos quaisquer → Eliminação

Seleção para características de carcaça (corte) → utilização da ultra-sonografia

Mensuração da área do olho do lombo e espessura de gordura

1) Carcaça2) Fertilidade → precocidade →

monitoramento mensal do ganho de peso

l) Seleção assistida por marcadores moleculares → novos modelos estatísticos apropriados surgiram, as DEPs.

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Hoje é possível avaliar visualmente e buscar no DNA de um animal informações de interesse para seleção. A DEP pode ser expressa em porcentagem.

A alta herdabilidade obtida faz com que a seleção baseada no mérito genético (diferença esperada de progênie – DEPs) para probabilidade de prenhez em meses mais curtos tenha grande potencial para melhorar a precocidade sexual em ruminantes (bovinos e ovinos de corte).

Para uma melhor interpretação da DEP de PP14, toma-se o seguinte exemplo de dois touros extremos da análise realizada pelo Grupo de Melhoramento Animal (GMA), touros A e B, cada um acasalado com grupos diferentes de vacas do mesmo rebanho. Para simplificar, pode-se assumir que toda a progênie é formada de novilhas, todas são retidas para acasalar e têm oportunidade igual no acasalamento.

O touro A tem uma DEP de PP14 igual a +23 (A + 23) e o touro B, uma DEP igual a –23 (A - 23). Em média as novilhas filhas do touro A têm 46% a mais de probabilidade de conceber e permanecer prenhas quando comparadas com as filhas do touro B → [Diferença = +23 – (-23) = 46%].

A metodologia assume, no entanto, que a média de prenhez é de 50% na população. Assim, um touro com DEP = 0 (zero) produziria filhos com 50% de probabilidade de emprenhar aos 14 meses. Um touro com DEP = +23 produziria filhas com 73% de probabilidade de ficarem prenhes quando expostas aos 14 meses (50 + 23 = 73). Um touro com DEP = -23 produziria filhas com apenas 27% de probabilidade de ficar prenha aos 14 meses (50 – 23 = 27).

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1) MÉTODOS E CRITÉRIOS DE JULGAMENTO ANIMAL:

→ Método individual

→ Método comparativo

→ Método da eficiência funcional

2) DE ACORDO COM AS FINALIDADES O JULGAMENTO PODE SER:

a) Julgamento para registro genealógicob) Julgamento nas exposiçõesc) Julgamento para escolha de reprodutoresd) Julgamento para cabritos e ovinos gordos

3) ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE AVALIAÇÃO FENOTÍPICA NOS ANIMAIS DOMÉSTICOS:

a) Ação do meio ambienteb) Interação genéticac) Falta de correlação usual ou baixa entre o binômio

tipo-morfologia (exterior) e a produção

4) CARACTERÍSTICAS DE IMPORTÂNCIA ECONÔMICA A SER CONSIDERADAS NA APRECIAÇÃO EM CABRAS LEITEIRAS:

1. Produção de leite2. Duração da lactação3. Persistência da lactação4. Vida útil produtiva/longevidade5. Fertilidade (idade a 1ª parição e intervalo de

parto)6. Instinto maternal7. Tipo leiteiro e conformação

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8. Pernas desenvolvidas, não grosseiras9. Resistência orgânica/adaptação

5) APRECIAÇÃO PELA FUNCIONALIDADE EM CABRAS LEITEIRAS PODE OBEDECER A TRÊS NORMAS BÁSICAS:

1. Aumento da produção média de leite do rebanho, pelo descarte das mães menos produtivas;

2. Cabritinhos ou cabritos de substituição podem ser selecionados das mães (cabras) mais produtivas;

3. Bodinhos em potencial poderão ser selecionados das mães superiores.

Produção de leite → controle leiteiro

Benefício do controle leiteiro:

Quantidade de ração suplementar, em função da produção de leite;

Secagem de cabras no momento adequado;

Seleção de melhores cabritas para substituição no rebanho

Avaliação e seleção de bodes;

Promover o mercado de animais.

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Registros necessários – fichas de controle zootécnico:

a) Identificação da cabra, filiação, raça ou grau de sangue

b) Produção de leite, etc.

O leite de cabra deverá ser registrado para as ordenhas da manhã e da tarde, mensalmente durante a lactação.

Fatores que afetam a produção de leite → raça, grau de seleção, idade da cabra, duração do período de lactação e mês de parição (principais).

Fatores de correção para idade:

1ª lactação x 1,45 2ª lactação x 1,06 3ª lactação x 1,00 4ª lactação x 1,00 5ª lactação x 0,92 (0,91 – 0,94) 6ª lactação x 0,87 (0,84 – 0,89)

Erros médios, baseados nos controles leiteiros com intervalos diversos:

Intervalo (dias) Erro (%)

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7 2,5614 12,7821 13,9828 25,9080 27,00

Coeficiente de persistência de lactação para cabras leiteiras é em média de 0,90 variando de 0,79 a 0,96. Tal coeficiente é dado pela fórmula:

ANA (N – 1)

Na qual AN representa a produção leiteira média diária de um mês anterior, isto depois que a curva de lactação tenha ultrapassado o seu ponto mais alto.

O valor deste coeficiente permiti a determinação teórica aproximada da produção em um determinado mês de lactação, conhecendo-se as produções médias diárias de dois meses consecutivos, após o ápice da curva. A diferença entre a produção média real e a teórica é útil para indicar se a alimentação da cabra é ou não adequada.

Outros registros:

Controle alimentar

Controle sanitário

Controle reprodutivo

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Controle de desenvolvimento ponderal

Comportamento social (hierarquia e instinto maternal)

6) AVALIAÇÃO PELO TIPO LEITEIRO (EXTERIOR E CONFORMAÇÃO):

Os componentes usuais na classificação pela tipologia:

Aparência geral Característica leiteira Capacidade corporal Aparelho mamário Pernas e pés Garupa

Avaliação das quatro características de tipologia (exterior) conforme a Associação Brasileira de Criadores de Caprinos (ABCC):

1) Aparência geral:

1.1) Simetria: homogeneidade das partes do corpo1.2) Tamanho e desenvolvimento

2) Características leiteiras:

2.1) Forma do corpo: “triangular” (cunha)2.2) Angulosidade do corpo: pouca cobertura cárnea2.3) Úbere desenvolvido

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3) Capacidade corporal:

3.1) Amplitude do ventre: boa capacidade digestiva

3.2)Profundidade do tórax: boa capacidade respiratória

3.3) Amplitude do peito: boa capacidade respiratória e circulatória.

4) Aparelho mamário:

4.1) Úbere: úbere grande, volumoso, estendido para frente, com fortes ligamentos. Deve apresentar textura macia, flexível e elástica, com a pele sem pregas, apresentando-se murcho após a ordenha.

4.2)Tetas: uniformes, de tamanho e formas adequadas, cilíndricas sem obstruções, bem separadas, direcionadas para baixo e para frente e de fácil ordenha.

4.3)Veias mamárias: calibrosas, sinuosas, ramificadas, “fontes de leite” amplas.

Quadro 2: Correlações entre aptidão leiteira e características relacionadas com o exterior.

Características Valor (r)

Tipo 0,25 (0,20 – 0,30)

Desenvolvimento 0,30 (0,23 – 0,34)

Comprimento do corpo 0,55 (0,48 – 0,63)

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Peso vivo 0,30 (0,25 – 0,34)

Circunferência do tórax 0,32 (0,27 – 0,35)

Aparelho mamário 0,40 (0,36 – 0,46)

Tecido mamário 0,50 (0,43 – 0,52)

Massa muscular - (r)

Avaliação geral

(julgamento)

0,28 (0,23 – 0,30)

Avaliação geral (melhor juiz) 0,63 (0,50 – 0,65)

7) TIPO E PRODUÇÃO DE LEITE:

A associação entre o tipo e produção mediante pesquisas cuidadosamente planejadas, permite que dentro de certos limites se lance mão dos atributos indicadores do tipo leiteiro ou de corte para escolher os melhores animais com vista ao aperfeiçoamento dos rebanhos. Tais estudos têm demonstrado am alguns estudos que o bom tipo e a elevada produção, não sendo atributos antagônicos, podem coexistir num mesmo animal.

A associação de pontos é uma descrição das principais regiões do corpo segundo o “ideal” da raça e as quais se atribui um valor numérico para efeito de avaliação do animal.

Em uma escala de pontos, o valor é igual a 100 pontos, sendo 30% para o aparelho mamário, 20% para a característica leiteira, 20% para a capacidade corporal e 30% para a aparência geral.

Os animais deverão ser avaliados através desses componentes do tipo leiteiro, associados com as qualidades funcionais mais importantes:

a)alto nível de produção

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b) vida útil produtiva (longevidade)

c)aparência atraente e saudável

d) vida útil reprodutiva (intervalo de partos, idade a 1ª parição, etc.)

Os indivíduos devem ter sua classificação baseada nas partes do corpo avaliadas separadamente; isso permite a identificação de suas qualidades e defeitos mais detalhados.

Foi introduzido assim, o sistema de componentes do

tipo, que a priori, possibilita maior flexibilidade na avaliação correlacionando os resultados com a produção de leite e gordura do leite.

Estudos têm mostrado a influência de cada componente sobre a contagem final, estabelecendo correlações respectivas. As mais altas se devem a aparência geral (80 a 84%) e ao aparelho mamário (77 a 80%), indicando que esses dois componentes seriam os mais importantes para se determinar o tipo do animal. Comparativamente, a capacidade corporal (31 a 35%) e pernas e pés (42 a 46%). A característica leiteira se colocou em 48 a 52%, o que poderia ser explicado pela subjetividade de sua apreciação.

De acordo com os valores alcançados na contagem final, os animais recebem uma classificação, a seguir:

Excelente → 90 ou mais pontos;

Muito bom → 85 a 89;

Bom → 75 a 84;

Regular → 65 a 74;

Mau → abaixo de 65.

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Estudos sobre os fatores que influenciam a classificação segundo a contagem final, ou parcial, dentro de cada componente do tipo reportam que → se dois efeitos agem em direção oposta, eles tendem a se cancelar, mas se atuam no mesmo sentido, a classificação poderá desviar-se daquela que seria esperada. Esses principais fatores são:

a) Idade do animalb)Estação do anoc) Ano de classificação

d)Estágio de lactaçãoe) Classificador

a) Idade do animal → as cabras leiteiras se classificam melhor ao fim de sua vida produtiva do que quando se encontram ainda em sua 1ª ou 2ª crias. Essa tendência não é apenas quanto à classificação final, mas também dentro de vários componentes do tipo na escala de pontos. Muitas vezes os juízes em face de animais de igual mérito, favorecem sempre os mais velhos. Parece haver alguma alteração do tipo com o decorrer da idade, aumentando as contagens com tempo. Todo os componentes melhoram com a idade, especialmente a tendência leiteira (características leiteiras) e a capacidade corporal. Todavia, há defeitos que melhoram com a idade, e os que pioram com o tempo.

b)Estação do ano → parece que existe alguma alteração com relação aos componentes do tipo, especialmente para o aparelho mamário. Embora a razão para esta diferença não seja muito clara, a tendência tem sido observada em vacas e cabras leiteiras.

c) Ano de classificação → estudos têm citado decréscimo médio de 1/6 de ponto por ano na

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classificação de cabras e vacas leiteiras, variação essa que parece ser provocada pelos classificadores. Estes parecem ter se tornado mais exigentes, resultando daí que uma cabra classificada em 1980, por exemplo, alcançou um ponto menor, em média, do que um idêntico animal classificado 5 anos antes. Esta seria, ao que tudo indica, uma tendência desejável de ser mantida, a fim de se conseguir um melhoramento efetivo quanto ao tipo. Vários estudos reportam que há pouca vantagem com um sistema de comparação contemporâneo para o tipo, como se recomenda para a produção de leite.

d)Estágio de lactação → este é o fator de variação mais importante. As classificações mudam com o estágio de lactação. Em geral, as cabras e as vacas alcançam maiores contagens no início da lactação, depois caem um pouco nos meados do período, para de novo obterem classificações mais elevadas ao se aproximar o parto seguinte, embora sem haver uma recuperação completa. Com relação aos componentes do tipo, igual tendência de flutuação da classificação tem sido notada exceto para a característica leiteira cujas contagens tem sido decrescentes no transcorrer do período de lactação. Estas oscilações constituem um fato esperado, em vista das mudanças na condição física das cabras e vacas leiteiras, em particular as altas produtoras, no decorrer da lactação.

e) Classificador (inspetor) → os classificadores são escolhidos pelas associações. O importante, porém, é saber até que ponto as opiniões de diferentes juízes estão de acordo quando avaliam o mesmo animal. Os trabalhos visando esclarecer esta questão mostram que há uma concordância de julgamento se eles classificam o mesmo animal ao mesmo tempo. Isto geralmente não acontece

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quando a classificação é realizada em épocas diferentes (intervalo de 6, 12 ou 18 meses).

As diferenças entre os classificadores tendem a ser pequenas, exceto para pernas e pés, onde os estudos mostram variações de 10 a 13%, em média. Embora haja alguma diferença entre os juízes quanto ao tipo ideal, parece que partes das variações dos componentes pernas e pés se devem a diferentes atitudes assumidas em rebanhos diversos. Todavia, a repetibilidade da contagem final para os juízes em diferentes situações de avaliação tem variado de 50 a 80%, o que revela confiabilidade dos resultados de julgamento.

8) HERANÇA DO TIPO EM CAPRINOS:

O tipo leiteiro medido através de contagens final ou parcial, segundo seus componentes, é considerado herdável, aparentemente com a mesma intensidade da produção de leite.

Estimativas de h2 do tipo leiteiro, componentes do tipo e de algumas regiões corporais:

Conta

gem final ------------>

25% (23 a 27%)

Aparê

ncia geral ----------->

18% (17 a 20%)

Caract

erística leiteira ---->

23% (20 a 25%)

Capac

idade corporal ----->

21%

Perna 15%

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s e pés --------------->

Aparel

ho mamário -------->

16% (15 a 18%)

Garup

a --------------------->

13% (12 a 15%)

As correlações fenotípicas e genotípicas entre componentes do tipo leiteiro, são em sua grande maioria altas e positivas, especialmente com a contagem final (acima de 0,55).

Para a aparência geral e as características raciais, elas estão bastante próximas de 1,0, indicando que os classificadores ao avaliá-las levem em conta os mesmos elementos. Essas correlações, altas e positivas, revelam que a seleção baseada na contagem final poderá ser suficiente para efetuar o melhoramento simultâneo de uma ampla faixa de características incluídas nos componentes do tipo leiteiro.

9) CORRELAÇÕES ENTRE TIPO LEITEIRO E PRODUÇÃO:

Vários estudos têm mostrado que a repetibilidade (r) entre o tipo x produção de leite, podem estar mascaradas por uma forte influência do meio ambiente, os criadores que criam e alimentam melhor suas cabras leiteiras, “a princípio” possuem os melhores animais quanto ao tipo → revelando que o tipo não é um indicador seguro da produção, seja fenotípica ou geneticamente.

Em conclusão, quando as correlações entre a contagem final para o tipo e a produção de leite estão livres da influência de fatores do meio, elas se tornam

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pequenas e não significativas. Parece haver duas explicações:

a) Reprodutores e matrizes são avaliados para revelarem as suas diferenças quanto à capacidade de produção, mas especialmente para demonstrarem sua semelhança com o padrão ideal adotado para uma determinada raça;

b) A contagem de pontos aplicada às características corporais, mesmo quando feita por juízes experientes, é um processo de avaliação sujeito a erros, e portanto, nem sempre adequado.

10) CORRELAÇÕES ENTRE TIPO E LONGEVIDADE:

A longevidade é uma característica de natureza complexa, difícil de ser estimada na maioria dos casos, os indicadores não tem oportunidade de manifestá-la em toda a sua extensão, uma vez que são afastados do rebanho muito antes do término de sua vida.

Essa é uma das razões porque no julgamento de cabras leiteiras segundo o tipo, se deve dar grande ênfase aos atributos que revelam:

Boa constituição, vigor e saúde, indicativos de característica leiteira;

Uma constituição seca ou robusta, conforme a raça e o sexo, com espáduas, dorso e lombo fortes, um esqueleto sólido, sem desvios de coluna, com costelas bem arqueadas, tórax largo e profundo, garupa ampla e nivelada, os membros aprumados; são qualidades

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essenciais para que as cabras leiteiras “vivam” bastante.

Os trabalhos têm mostrado que as cabras de bom tipo apresentam vida mais longa no rebanho, provavelmente porque recebem um tratamento especial. Contudo, uma longa permanência no rebanho está positivamente correlacionada com a elevada produção Láctea. As cabras com produções mais altas em sua primeira lactação acusam uma tendência para permanecer por mais tempo no rebanho do que as de produções mais baixas no início de sua vida produtiva. Parece que o tipo contribui para a vida mais longa do rebanho.

11) SELEÇÃO DE BODES:

Existem três etapas envolvidas na escolha do reprodutor:

Escolha da cabra ou tipo Escolha da fonte ou criador de onde

adquirir bodes Escolha dos indivíduos dentro de

uma fonte.Em virtude de ser a inseminação artificial uma

prática pouco utilizada entre rebanhos de caprinos, estes tendem a se distribuir, conforme uma hierarquia, em rebanhos de elite, multiplicadores e comerciais.

Os rebanhos de elite, constituem-se de animais puros de origem e/ou por cruza, tendo a finalidade de produzir animais para reprodução, notadamente bodinhos para venda.

O grupo de rebanhos multiplicadores se coloca logo abaixo na classificação e tem o papel principal de

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multiplicador de descendentes de animais julgados de alta qualidade nos rebanhos de elite, vendendo reprodutores aos rebanhos comerciais que constituem o terceiro grupo nessa escala de “importância”.

Na ausência de critério ideal para seleção de bodes, ou seja, do teste de progênie dos mesmos, a consideração desta hierarquia se reveste de importância. Bodinhos escolhidos nos rebanhos de elite serão, provavelmente, melhoradores para os rebanhos multiplicadores e comerciais. Estes últimos poderão ser também melhorados por bodes provenientes de rebanhos multiplicadores. Portanto, a curto prazo, o reconhecimento dos rebanhos de uma região poderá ser uma maneira de se promover os intercâmbios de germoplasma.

O ideal seria que houvesse um conhecimento generalizado da necessidade de testes de progênie dos bodes e que os organismos ligados à inseminação artificial e as cooperativas se interessem pelos mesmos, investindo em programas de avaliação de bodes.

A avaliação dos bodes pode ser dividida em dois estágios:

Processo de acasalamento, que poderá abranger toda uma população ou somente um grupo de rebanhos cooperados;

Avaliação propriamente dita. Uma condição, para qualquer avaliação, é que grande número de animais em muitos rebanhos tenham as produções controladas.

Nos testes de progênie, o procedimento, comumente, é o seguinte:

Seleção de mães em potencial para produção de futuros bodinhos;

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Criação de bodinhos em estação de teste;

Produção e estocagem de sêmen;

Avaliação propriamente dita. Uma vez que as filhas de bodes completam a primeira lactação, procede-se a avaliação dos mesmos.

12) DEFEITOS DESCLASSIFICANTES:

Prognatismo ou agnatismo; Tetos cegos; Articulações inchadas ou defeituosas

em machos; Desvios acentuados de aprumos; Cegueira total; Manqueira ou dificuldade

permanente no andar; Tetos extranuméricos em fêmeas ou

machos; Úbere parcial ou totalmente perdido

(mastite); Anormalidades nos órgãos

reprodutivos externos; Hérnias; Desvio de chanfro em machos; Outros defeitos sérios acentuados.

13) CARACTERÍSTICAS DE IMPORTÂNCIA DISCUTÍVEL:

Padrão racial; Conformação; Aprumos.

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14) CONSIDERAÇÕES SOBRE A AVALIAÇÃO PELO BINÔMIO TIPO – MORFOLOGIA (EXTERIOR) COMO INSTRUMENTO DE SELEÇÃO EM CAPRINOS:

A escolha de reprodutores pelo tipo, embora seja método menos seguro, é o mais freqüentemente usado por dispensar escrituração zootécnica, em geral escassa ou inexistente em nossas criações. Todavia, a escolha pela aparência pode ser útil, quando apoiada em informações a respeito da produção.

Alguns autores citam que o estudo do exterior e o julgamento são baseados no fato de que há alguma correlação entre a forma e a função produtiva nos animais domésticos. Esse ponto de vista, serviu de base para a seleção fenotípica; assim, fixaram-se muitos atributos ornamentais e utilitários próprios das primeiras raças domésticas melhoradas.

O tipo ou conformação é, às vezes, o único elemento em que os criadores podem basear-se em relação a certos animais, como critério de seleção para os cruzamentos ou escolha de reprodutores e matrizes, visto que são poucos os criadores, que mantém registro de produção e reprodução.

Na apreciação do animal pelo estudo de sua conformação exterior, evidenciam-se algumas dificuldades, dado à complexidade de suas funções econômicas e ao fato das indicações fornecidas pelas suas formas externas poderem ser prejudicadas ou anuladas pela desarmonia, por certos defeitos, pela idade, raça, temperamento, estado de saúde, alimentação e fatores climáticos.

A escolha da cabra leiteira baseada unicamente no seu exterior não é um método eficiente de seleção. Isto porque, as correlações entre os componentes das partes exteriores do corpo e a produção leiteira, apresentam medianos e baixos valores.

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O bom tipo leiteiro pode ser observado no conjunto e nas diversas partes do corpo, de acordo com a seguinte descrição:

A cabra com boa formação deve apresentar cabeça leve e delicada;

O pescoço deve ser leve, bem implantado;

O peito amplo e profundo, o dorso longo e reto, costado e flancos amplos e profundos, e ventre volumoso;

A garupa deve ser larga e ampla, as pontas das ancas bem afastadas;

O corpo deve ser largo, comprido, profundo e volumoso;

Os membros anteriores devem ser bem aprumados e os posteriores, bem abertos, deixando espaço para o úbere;

O úbere deve ser:

Bem implantado, amplo e volumoso, com a inserção anterior longa e a posterior, bem alta;

Deve ser flexível, se verrugas ou rachaduras;

Deve ser moderadamente repartido pelo músculo suspensor mediano, apresentado-se simétrico quando visto por trás;

Os tetos devem ser grandes, bem implantados, macios e simétricos, voltado para baixo e para frente;

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Deve mostrar boa irrigação sanguínea, observada pelas veias de leite, dispostos logo à frente da inserção anterior do úbere, a cada lado do ventre.

15) ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE SELEÇÃO FENOTÍPICA:

O indivíduo é escolhido pelo seu fenótipo, isto é, pelas suas características exteriores. Pode ser morfológica, quando se trata de uma manifestação anatômica (pelagem, tipo de úbere, conformação, tipo de chifres, altura da cernelha, veias mamárias, tipo, etc.), ou fisiológicas, quando o fenótipo é uma atividade fisiológica (produção de leite, carne, ovos, fertilidade, etc.).

A seleção fenotípica é falha, na maioria das vezes, sendo a morfológica mais falha do que a fisiológica, pelas razões abaixo:

a) Ação do meio ambiente:

Não se conhecendo o meio ambiente que cada animal recebeu, fica imprecisa uma seleção entre eles, pois não sabemos se um animal é melhor porque teve melhor meio ou porque tem melhor genótipo.

Um cabrito mais desenvolvido pode ter atingido a melhor marca, por ser filho de cabra mais velha que as outras mães ou porque sua mãe era melhor produtora de leite ou porque foi desmamado mais tarde ou ainda porque recebeu melhores tratos.

Isto mostra a dificuldade pelo exame de fenótipo de indivíduos que se encontram em meio ambiente diferentes.

b)Ação dominante:

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Quando ocorre a dominância dentro de um par de alelos ou outras interações, a seleção fica prejudicada, pois homozigotos para tais gens se confundem com heterozigotos. O gen chamado dominante mascara o efeito do alelo recessivo. Assim, se fazer distinção fenotípica entre ambos. Portanto os fenótipos não representam os genótipos, sob o ponto de vista das potencialidades genéticas.

c) Epistasia:

Quando no genótipo existe interação entre gens de pares, alelomorfos diferentes ou melhor, dominância de um gen sobre outro de um par diferente, diz-se que está ocorrendo ação epistática. Assim, o gen B quando em presença de A, no seu alelo, produz efeito fenotípico diferente daquele que produzirá quando no genótipo estivesse ausente o gen A. As causas de falha acima apresentadas, se aplicam tanto à seleção morfológica quanto à fisiológica. A morfológica, porém apresenta outra causa e erro, que a falta de correlação usual entre caracteres morfológicos e a produção.

É de pouca importância para o melhoramento reprodutivo dos rebanhos o padrão racial, porém analisando-se sob o ponto de vista do mercado de reprodutores, observa-se que os criadores só se interessam por animais que se enquadram perfeitamente bem nos padrões estipulados para a raça.

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Desta forma se obtiverem animais altamente produtivos, mas que não atendam morfologicamente ao estabelecido pelas associações de registro encontrar-se-á dificuldade para a colocação dos produtos no mercado, e assim será bastante provável que este material superior não seja usado na reprodução.

Deve-se lutar para que os conceitos de tipo e exterior tenham menor influência na escolha de reprodutores, principalmente porque não se aproveitam pelagens, tipos de chifres, orelhas e conformação para a alimentação humana.

Como em alguns rebanhos as características de exterior e a produção estão positivamente associados, pode-se pensar que seriam limitadas, pois selecionando-se, por exemplo, cordeiros de corte pelos seus ganhos de peso e pela conformação, poderia surgir indivíduos altamente produtivos com conformação fora das marcas desejadas. Isto acarretaria a eliminação desses animais com a conseqüente redução de eficiência da seleção produtiva.

Estudos têm demonstrado que a seleção feita com base no binômio morfologia-produção, causa atrasos no progresso da capacidade produtiva. Portanto, atingem-se mais rapidamente melhores produções empregando-se diferentes métodos de seleção, que estimem apenas o valor genotípico produtivo.

16) ALGUMAS INFORMAÇÕES BÁSICAS SOBRE A GENEALOGIA:

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A genealogia tem por base o fenótipo dos antepassados próximos até 3 gerações do indivíduo considerado. Oferece maior segurança que a seleção fenotípica individual, porém ainda não apresenta fundamentos genéticos seguros.

Os ascendentes são analisados pelos seus respectivos fenótipos, essa produção nem sempre existe nos pedigrees, que se apresenta apenas como uma coleção de nomes, sem valor técnico algum. Para poder ser analisado, o pedigree deve conter informações de produção dos ascendentes neles representados. Só então podemos tentar extrair alguma estimativa dos dados.

Na ascendência direta do Rg (correlação/relação genealógica) de um indivíduo com um dos pais é 0,5, com um avô é 0,25 e com um dos bisavós é 0,125 e assim por diante, dividindo por 2 a correlação em cada geração para trás. Portanto, acima da 3ª geração, o valor de Rg é de pouco peso estimativo.

Aplicação da seleção genealógica:

a) Detecção de gens recessivos, de efeitos epistáticos e de sobredominância:

No caso de detecção de gens recessivos deletérios, a análise do pedigree pode ser valiosa, desde que as informações relativas aos ancestrais sejam seguras. Nesta condição a seleção genealógica é muito mais rápida e de custos mais baixos que a execução de teste de progênie ou de acasalamentos consangüíneos para evidenciar a presença de gens indesejáveis.

Este tipo de seleção pode apresentar os seguintes inconvenientes:

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1) Existindo informações erradas nos pedigrees, famílias inteiras podem ser condenadas sem razão real para isso;

2) Sendo a freqüência do gen deletério baixa em determinada família, o indivíduo em avaliação pode não ser portador desse gen. Apesar disto, mesmo sendo geneticamente superior, corre risco de ser eliminado;

3) Animais que possuem pedigree semelhantes ao da família condenada podem ser discriminados e por esta razão muitas vezes linhagens inteiras são eliminadas sem motivo real para isso;

4) Determinada linhagem, por meio de pedigree, pode tornar-se popular entre os criadores, independente do mérito genético de seus representantes. Por outro lado, corre o risco de cair em desagrado por simples questão de moda, mesmo possuindo animais com alto valor produtivo.

A avaliação do pedigree permite evidenciar os indivíduos fenotipicamente superiores em decorrência de combinações gênicas especiais, tais como a sobredominância. Em certos casos, poderá ocorrer um fenômeno epistático positivo ou negativo, prejudicando o fenótipo do indivíduo. O seu valor genético não poderia ser apreciado por essa epistasia, pois esta vai “quebrar” na descendência. Nestas condições os reprodutores superiores nem sempre transmitem as suas vantagens à descendência. Um exame do pedigree poderia revelar a probabilidade de estar ocorrendo um desses casos epistáticos.

b) Seleção de animais novos (jovens): que ainda não tem produção ou para auxiliar no julgamento de

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animais com produção duvidosa.

c) Seleção de caracteres de baixa herdabilidade:

Se a herdabilidade é alta, a estimação do genótipo pela análise do seu fenótipo é eficiente, e, não precisaríamos ir ao ascendente. Quando a herdabilidade da característica é alta, o fenótipo do indivíduo representa em elevado grau o seu genótipo, razão pela qual as informações do próprio indivíduo são mais precisas para a seleção que a utilização do valor fenotípico de seus ancestrais. Com a herdabilidade baixa, embora as produções do animal sejam importantes aquelas referentes aos parentes podem aumentar a acuidade da seleção. Influências ambientais podem prejudicar ou valorizar um determinado animal e, neste caso, seu próprio fenótipo seria duvidoso. O exame de vários ascendentes seus daria melhor informações do seu fenótipo provável do que o dele mesmo.

d) Seleção de caracteres especiais:

Muitos caracteres manifestaram-se tardiamente durante a vida do animal. Este é o caso da longevidade, e, nestas condições o pedigree é uma das maneiras de se tentar avaliar o indivíduo precocemente. Em algumas situações um dos sexos não apresenta (machos para produção de leite), nestas circunstâncias, até que se obtenham resultado de teste de progênie, o pedigree poderá ser um indicativo para a escolha do animal. Também é útil na análise de caracteres como resistência a doenças, numa vez que o estudo da família pode indicar a tendência do indivíduo com relação ao comportamento em face de certas doenças.

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Falhas pela avaliação pela genealogia:

Este tipo de seleção está sujeito às seguintes falhas:

a) Apenas se conhecem os valores fenotípicos do indivíduo e de seus parentes e não os méritos genotípicos. No caso das características cujas expressões dependem da herança gênica aditiva e de diferentes interações entre elas e os fatores ambientais, os fenótipos não representam totalmente os genótipos;

b) Na maioria das vezes o pedigree não fornece dados de produção sob a forma adequada para a estimativa do provável valor genético (PVG) do animal;

c) As informações contidas no pedigree podem ser falhas e por esta razão nem sempre se estabelecem com segurança todas as relações de parentesco entre os indivíduos do pedigree;

d) O grau de parentesco entre o indivíduo analisado e os seus ascendentes diminui a cada etapa genética, de sorte que na 3ª geração essa relação é da ordem de 0,125, portanto baixa, o que indica que a estimativa do valor genotípico obtido a partir de indivíduos com esse grau de parentesco é pouco segura.

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