apostila de fundamentos das series iniciais 2013

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FACULDADES SÃO JOSÉ CURSO DE PEDAGOGIA FUNDAMENTOS E PRÁTICAS NAS SERIES INCIAIS LEILA MARA MELLO RIO DE JANEIRO 2013

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Page 1: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

FACULDADES SÃO JOSÉ

CURSO DE PEDAGOGIA

FUNDAMENTOS E PRÁTICAS NAS SERIES INCIAIS

LEILA MARA MELLO

RIO DE JANEIRO

2013

Page 2: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Olá, Discente!

Temos a certeza de que você se sente orgulhoso de perseverar nessa trajetória e de

começar em um novo conhecimento. Convidamos, então, você a caminhar, de forma

prazerosa, pela disciplina, Fundamentos e Práticas das Series Iniciais, ao longo deste

semestre.

Durante esse caminho faremos análises e reflexões, sem fragmentar a construção do

conhecimento, porque todos os assuntos aqui abordados estão conectados um aos outros.

Esclarecemos que o objeto desta disciplina é com a prática docente, em nível

fundamental, portanto todos os temas aqui abordados estão focados na contextualização e nas

relações dos conhecimentos pertinentes da área.

É imprescindível que persevere, diante dos obstáculos, mas lembre-se de que

estaremos juntos com você, portanto mantermos o diálogo é de suma importância.

A todo o momento, estaremos lhe instigando a refletir e a pesquisar, por considerarmos

a educação como construção do saber. Entretanto, sabemos, de antemão: se tiver determinado

a aprender, a trajetória se dará com prazer.

Aproveitemos para lhe informar que, seu sucesso depende de sua insistência e de

suas ações, portanto "o êxito na vida não se mede pelo que você conquistou, mas sim pelas

dificuldades que superou no caminho" (Abraham Lincoln).

Temos a certeza de que o conhecimento que ora lhe espera será companheiro de toda

a vida, porque auxiliará você se tornar cidadão crítico e autônomo no conjunto das relações.

Para ajudar você na construção do conhecimento, indicaremos sugestão de livros,

artigos e filmes que auxiliarão no processo da compreensão do conteúdo. Assim,

consideramos instigante e viável pesquisar sobre as diferentes concepções da educação

escolar.

Durante a caminhada se abarque de determinação, persistência e vontade de

aprender, para que esse estudo se torne uma fonte de experiências.

Curiosidade, participação, entusiasmo e investigação são necessários, logo, você

como personagem principal desse processo, não se esqueça de que é o construtor da sua

própria história.

Bom estudo! Conte sempre conosco!

Page 3: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

UNIDADE I - AS PRINCIPAIS CONTRIBUIÇÕES TEÓRICAS E METODOLÓGICAS PARA O ENSINO

FUNDAMENTAL.

O que deve caracterizar a juventude é a modéstia, o pudor, o amor, a moderação, a dedicação, a diligência, a justiça, a educação. São estas as virtudes que devem formar o seu caráter (Sócrates)

CONVIDO VOCÊ A ENTAR NO TÚNEL DO TEMPO.

Mãos a obra! Estarei de volta assim que você percorrer todo conhecimento aqui

encontrado. Trouxe alguém para ajudá-lo, quer saber que é? Vamos lá!

1. 1. COMENIUS: NASCIMENTO DA DIDÁTICA MODERNA

No Brasil, a discussão de vários teóricos acerca da importância de respeitar a criança

como ser humano, dotado de inteligência, aptidões, sentimentos e limites, se consagrou a partir

do século XX, porém em outros lugares do mundo tais ideias já eram defendidas, por diversos

teóricos, desde o século XVII.

Dentre vários teóricos, pode-se destacar Comenius (1592-1670), responsável em

elaborar uma proposta de ensino, denominada “Didática Magna”, conhecida também como “a

arte de ensinar tudo a todos”. Esta obra consiste em um tratado sobre o ensino, considerada

como um marco na consolidação da Didática enquanto área de conhecimento.

Comenius considera a escola como uma das principais bases da sociedade, porque

ela propõe uma formação humana. Logo, deve ser considerada como um espaço verdadeiro e

vivo, cabendo, assim, ao professor, pensar “o que” e “como” ensinar.

A proposta educacional de Comenius está alicerçada pela democratização do

ensino; pela reforma das escolas; pelo ensino não fragmentado; pela educação infantil (de zero

a seis anos) com conteúdos filosóficos; pelo princípio da heterogeneidade educacional; pela

democratização e inclusão do ensino para as mulheres e os menos favorecidos socialmente,

como: os deficientes, operários, agricultores, em geral os excluídos.

Corra, você está sendo convidado a entrar em uma nave.

Ela está chegando! Ah, não se esqueça de que ao desembarcar, em cada nova estação, pesquise ou pergunte, sobre alguma dúvida

que apareça durante essa caminhada.

Ao desembarcar na nova estação pesquise ou pergunte, sobre alguma dúvida que apareça durante

essa caminhada.

Page 4: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Comenius dá início á uma Didática preocupada com a questão das finalidades da

educação e do ensino, pela idéia de que os conteúdos precisam estar atrelados à cultural local,

onde a escola está inserida.

Isto significa que, o importante não é o conhecimento de todas as ciências, mas

conhecer os fundamentos, as razões e os objetivos das principais coisas que existem na

natureza e das quais os homens criam.

Você percebe que a filosofia de Comenius está atrelada, em levar o indivíduo, a

alcançar a percepção da relação entre a natureza e o Homem, cuja preocupação está com a

formação pela cidadania, por uma educação questionadora.

Assim, Comenius considera que o currículo da educação infantil, inicialmente, se dê

pela aquisição da linguagem, porque a partir da conversa entre as crianças, em seu cotidiano,

o docente é capaz de verificar habilidades básicas cognitivas, como: semelhança, diferença,

relações etc.

Para Comenius é no processo de ver e ouvir que as crianças percebem a existência

das coisas, além dela mesma, começar a entender termos de diferentes objetos de seu

cotidiano.

Dessa forma, aponta que qualquer ensinamento que se faça, nos primeiros seis anos

de idade, carece ser vivenciada pela criança. Comenius percebe que a aprendizagem

necessita estar ligada, de alguma forma, à percepção de mundo, pela curiosidade, pela busca

de significados e experiências formuladas pelas crianças.

Nesse entendimento, Comenius (1997) profere que

na realidade, até agora as escolas nada fizeram para que as mentes se habituassem a robustecer-se sobre suas próprias raízes, como fazem as árvores novas, mas ensinaram-lhes a cobrir-se apenas de raminhos arrancados de outros lugares e a vestir-se de pena alheias [...]. Ou seja, não mostrando as coisas como são por si e em si, mas apenas o que disto ou daquilo pensa ou escreve fulano, sicrano, beltrano etc. [...] Ocorre então que a maioria outra cosia não faz se não adejar de um autor para outro, respingando frases, máximas, opiniões, atulhando-se de uma ciência que não passa de uma manta de retalho (p. 190).

Acredita Comenius que, a partir da experiência, a criança vai organizando

formulações e significações, enfim vai tomando consciência de tudo que existe ao ser redor e,

assim, começa a se constituir pela razão, nas quais as coisas se fundamentam, defendendo a

iniciação do processo de conhecimento, a partir da experimentação do mundo.

Nesse processo, Comenius faz crítica à educação de sua época, porque a escola

utilizava métodos que não estimulava o interesse da criança, portanto aponta a necessidade do

professor tornar o processo ensino-aprendizagem um momento leve e alegre, pelo respeito às

idades dos alunos, para não extrapolar além do raciocínio, a capacidade e a compreensão do

aluno.

Outro ponto que Comenius (op.cit.) destaca é que

a escola, portanto, erra na educação das crianças quando elas são obrigadas a estudar a contragosto. [...] é imprescindível despertar nas crianças o amor pelo saber e pelo aprender [...]. Nas crianças, o amor pelo estudo deve ser suscitado e avivado pelos pais, pelos professores, pela escola, pelas próprias coisas, pelo método, pelas autoridades (Comenius, 1997)

Comenius ressalta, ainda, que não existe criança que não goste de estudar, mas sim

professores que não utilizam métodos adequados para estimular esse aluno a participar do

processo da aprendizagem.

Quase sempre, o professor toma o aluno tal qual o encontra, e começa logo a torneá-lo, a batê-lo, a tecê-lo, a modelá-lo a seu modo, pretendendo que ele

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se torne imediatamente uma beleza, uma jóia; e, se o não consegue logo (e como seria possível consegui-lo?), enche-se de ira, indigna-se, enfurece-se. E havemos de admirar-nos que haja quem critique e fuja de semelhante método de educação? Devemos antes admirar-nos que haja ainda quem se entregue a tais educadores (Comenius, 1997, p.173).

O método utilizado por Comenius é o de conduzir o ensino-aprendizagem de forma

mais fácil e eficaz, porém regido pela ordem, pela uniformidade dos métodos, pela

sincronização dos tempos e pela graduação das etapas escolares que possibilitarão os

objetivos serem alcançados.

Dessa forma, Comenius acredita no educador que faz da prática educativa um

momento de ensinar através da experiência de vida, com base nas diversas fases e graus do

conhecimento escolar, com simplicidade, espontaneidade e ensinando Tudo a Todos, pela

harmonia das coisas na relação com o todo.

PERGUNTO A VOCÊ: AS PRÁTICAS EDUCATIVAS ATUAIS TÊM ESSE

COMPROMISSO APONTADO POR COMENIUS?

Para lhe responder recorremos a Perrenoud, (2005) que aborda sobre a situação de

resistência até os dias atuais.

A maioria dos docentes foi formada por uma escola centrada nos conhecimentos e sente-se à vontade nesse modelo. Sua cultura e sua relação com o saber foram forjadas dessa maneira, e eles aproveitaram tal sistema, pois seguiram uma longa escolaridade e foram aprovadas com sucesso (p.82).

Outro ponto de destaque, a partir do pensamento comeniano, é a articulação entre a

educação familiar e a educação escolar, por considerar, entre essas duas instituições, a

possibilidade de uma união, de envolvimento pelas atribuições diferenciadas no que concerne

ao mundo infantil.

ATUALMENTE, OS PAIS TÊM ESSA CONSCIENTIZIÇÃO DE QUE FAMÍLIA E A

ESCOLA TÊM PAPEIS DISTINTOS NA EDUCAÇÃO DE SEUS FILHOS?

Comenius compreende, para fundamentar a concepção de Homem, a educação

precisa se dar pela trilogia: instrução, moral e religião, pela crença de que para conceber,

analisar e trabalhar toda realidade, na perspectiva do presente precisa-se referir ao mundo

sobrenatural, bem como tratar o mundo intelectual e o mundo prático (GASPARIN, 1994).

Não se pode deixar de destacar e de exaltar a grande contribuição que nos legou

Comenius em seu contexto de vida. A proposta do teólogo e pedagogo Comenius de ensinar

tudo a todos, busca a superação para as mesmices, as agressões a que a educação estava

exposta em sua época.

E mais, a sua perspectiva ética está atrelada a um conjunto de valores e costumes

morais necessários para a constituição do ser humano, segundo seus princípios divinos.

Vale à pena transcrever seus propósitos.

A proa e a popa da nossa Didáctica será investigar e descobrir o método segundo o qual os professores ensinem menos e os estudantes aprendem mais; nas escolas, haja menos barulho, menos enfado, menos trabalho inútil,

Page 6: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

e, ao contrário, haja mais recolhimento, mais atractivo e mais sólido progresso; na Cristandade, haja menos trevas, menos confusão, menos dissídios, e mais luz, mais ordem, mais paz e mais tranqüilidade. (COMENIUS, p.44)

Em suma, infelizmente as palavras iniciais de Comenius em “Didática Magna” confirmam

o quanto é atual, a toda prova, quando se tem a oportunidade de olhar para dentro da realidade

de muitas escolas ainda hoje em nosso país.

Atividades: 1. Ao fazer a leitura deste subcapítulo, tenta descobrir qual o pedagogo contemporâneo que aponta também o processo da humanização na educação. Não deixe de justificar o porquê dos estudiosos terem escolhido esse tipo de processo. 2) Vários estudiosos consideram a pedagogia de Comenius bastante atual. Explique o porquê desta afirmação. Atividade de autoavaliação: Observe a afirmação: “Importa agora demonstrar que, nas escolas, se devem ensinar tudo a todos” (COMENIUS, 1966, p. 146)

a) Explana sobre a afirmação de Comenius. b) No decorrer da leitura sobre Comenius verificamos que a sua pedagogia está presente

em nossa constituição. Esclareça porque de tal afirmação.

Atividade Complementar

Leitura do texto: COMENIUS, J. Didática magna. In ARRUDA, M. L. História da educação. São Paulo: moderna, 1988. p. 112-113.

Síntese Para Comenius

A escola deve ensinar tudo e a todos. A aprendizagem precisa ser eficaz e atraente. A aprendizagem se dá a partir do concreto, pela ação. O aluno precisa ser ator da aprendizagem e não expectador. Articulação entre família e escola.

Page 7: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Você será apresentado, nesta estação, a um filósofo e pedagogo que lhe trará grandes

conhecimentos. Aproveite esse momento!

1.2. ROUSSEAU: A IMPORTÂNCIA DE APRENDER A PENSAR

Jean Jacques Rousseau (1712 - 1778) é considerado um dos grandes pensadores da

humanidade, devido às suas obras valorizar a liberdade e a igualdade. Rousseau a procura de um Estado social legítimo, próximo da vontade geral e distante

da corrupção, no final do século XVII, clamara a população, para ter bastante cuidado ao transformar seus direitos naturais em direitos civis, pois afinal “o homem nasce bom e a sociedade o corrompe” (MESQUITA, 2007, p.2).

Para Rousseau a felicidade e o bem-estar são direitos naturais de todas as pessoas e não privilégios especiais de uma classe, como ocorreram na época do Absolutismo.

Rousseau participara do movimento chamado Iluminista, tanto que suas idéias

influenciaram a Revolução Francesa, porque sua postura era contrária ao pensamento

pedagógico da época, por ser favorável à liberdade intelectual, à independência do Homem e

apontando que as leis democráticas são resultado da vontade da maioria.

Rousseau contribuiu para as concepções da pedagogia moderna, apontando em suas

teorias que os interesses pedagógicos deveriam respeitar o desenvolvimento da criança, em

suas especificidades como também dos jovens e, ainda, percebia a existência de várias fases

de desenvolvimento, sobretudo cognitivo. Por essa razão, é considerado o precursor da

pedagogia de Maria Montessori e de John Dewey.

Rousseau esclarece que, essencialmente, o mestre deve educar o aluno para ser um

Homem, usando a estrutura provida pelo desenvolvimento natural do aluno, ao mesmo tempo,

enquanto mantém em mente o contexto social no qual o aluno eventualmente será um

membro. Isto somente pode ser conseguido em um ambiente muito bem controlado.

De acordo com Aranha (2006, p. 121):

Costuma se dizer que Rousseau provocou uma revolução copernicana na pedagogia: assim como Copérnico inverteu o modelo astronômico, retirando a Terra do centro, Rousseau centraliza os interesses pedagógicos no aluno, não mais no professor. Mais que isso, ressalta a especificidade da criança, que não deve ser encarda como um adulto em miniatura.

Para Rousseau, os objetivos da educação comportam dois aspectos: o desenvolvimento das potencialidades naturais da criança e seu afastamento dos males sociais. “O mestre deve educar o aluno baseado nas suas motivações naturais, não a esforçando para tal. Logo, é

VAMOS RETORNAR A NAVE ESPACIAL? ESTÁ CURIOSO DE CONHECER O PRÓXIMO

DESTINO?

Page 8: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

fundamental que ele se torne consciente de suas sensações, porque estamos inclinados a procurar ou evitar os objetos que as produzem", diz ele.

De acordo com Rousseau, a educação deve estar subordinada à vida, à evolução natural da criança. Por essa razão, seu método de educação foi concebido como Método Natural. Condenou, de forma veemente, a educação elitista de sua época, porque os métodos utilizados se baseavam na repetição e memorização. Apontava a experiência direta dos alunos, de acordo com seu próprio interesse, como essencial para fazer a criança pensar, como sendo o condutor de sua aprendizagem.

Para Lagoa (2011), Rousseau defendia mudanças fundamentais na educação para

libertar o indivíduo das grilhetas da civilização.

O seu ponto central é que a educação não deve ter como objectivo reprimir e disciplinar as tendências naturais da criança, mas, pelo contrário, incentivar a sua expressão e desenvolvimento. O principal veículo de instrução não deve ser a instrução verbal, muito menos a livresca, mas a prática e o exemplo. “O ambiente natural para que isso possa acontecer é no seio da família e não da escola; e os seus incentivos naturais são o amor e a simpatia, e não as regras ou os castigos.” É evidente que o Emile, onde se encontram estes princípios pedagógicos, se constituiu desde então como a Bíblia do pedagogismo delirante. “Ainda, segundo Magee, Rousseau constitui a gênese dos movimentos totalitaristas - tanto o fascismo como o comunismo”. Foi também crucial no desenvolvimento do pensamento anarquista do século XIX. E Magee termina considerando que “os perigos [desta maneira de pensar] são vários, mas temos de arranjar maneira de viver com eles” (p. 23).

Destaca-se, ainda, no pensamento de Rousseau, importância com que se tratava a educação e a família. Para ele esta questão é muito séria, sendo à base da sociedade. Sinalizava que as mães deveriam amamentar e fortificar o corpo de suas crianças por meio de testes severos de força física e resistência.

O seu método de educação era o de retardar o crescimento intelectual, tanto que ele implorava a criança demonstrar seu próprio interesse, em um assunto, e fazer suas próprias perguntas. Entretanto, no estágio da puberdade, a sensibilidade do jovem deveria ser educada. O adolescente aceitaria com confiança um contrato livre e recíproco de amizade com seu mestre, que poderia então ajudá-lo a descobrir as alegrias da religião e as dificuldades de lidar com a sociedade.

É importante apontar que as idéias de Rousseau são fundamentais para compreensão

do Estado moderno, tanto que a sua forte crítica ao Estado representativo permitiu interpretar

que ele era um crítico do liberalismo.

Rousseau jamais foi um liberal, porque ele não acreditava na possibilidade de qualquer

separação entre indivíduo e o Estado como queriam os teóricos liberais, porque considera

inconcebível o desenvolvimento da plena vida moral sem ativa participação do indivíduo no

corpo inteiro da sociedade. Defende que a unidade e permanência do Estado dependem da

integridade moral e da lealdade indivisível de cada cidadão.

Outro ponto importante da contribuição de Rousseau foi a sua influência na base do

movimento romântico, que caracterizou a metade do século XIX e permanece vigorando até os

dias atuais, como formas básicas de sentir e pensar o mundo. A valorização do mundo dos

sentimentos em contradição com a razão intelectual e da natureza mais profunda do homem,

em detrimento ao artificialismo da vida civilizada, encontra-se neste movimento.

Em suma, pode-se afirmar que poucos autores transformaram tão expressivamente a

realidade social pelas suas idéias. O pensamento de Rousseau exerceu decisiva influência na

história moderna, primeiro no Ocidente e depois em todo mundo, no que se refere à educação,

porque ele a relacionou com a política e com a reforma do Estado.

Page 9: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

1.3. PESTALOZZI/ FRÖEBEL: A DIDÁTICA DIFERENCIADA

A escola - jardim da infância... Nele prolonga-se o lar.

Que suavíssima fragrância, De flores mil, a exalar![...]

Em vez de livros - brinquedos Tesoura, papel de cor,

E a massa que treina os dedos Na arte excelsa do escultor.

De Froebel e Montessori Á luz da egrégia lição,

Que, ativa, a criança aprimore O tato, a vista, a intuição [...]

Virá a seguir a cartilha O "abc", o "dois mais dois"

Toda a solar maravilha Do estudo, virá depois.[...]

(TIGRE e ACQUARONE, 1940).

No final do século XVIII foi um momento de grande agitação no mundo europeu, devido

às idéias iluministas da boa parte da população letrada.

Nessa época, iniciaram os movimentos operários europeus que reivindicavam

melhores salários e, ao mesmo tempo, exigiam creches para seus filhos, enquanto eles

trabalhavam.

Nesse contexto viveram dois homens que revolucionaram a história da educação,

deixando marcas no campo da pedagogia, pelas suas criações e inovações. Esses pedagogos

são Pestalozzi (1746-1827) e Fröebel (1782-1852).

CONVIDO VOCÊ A CONHECER MELHOR PESTALOZZI.

ENTRE NESSA NAVE, É SÓ SENTAR, ESPERAR, ANALISAR E REFLETIR.

O pedagogo Pestalozzi exerceu grande influência no pensamento educacional

europeu, por defender a democratização do ensino.

Aliás, você sabe a significação de pedagogo? Vamos à explicação.

NÃO SE APRESSE. CALMA, NOVA ESTAÇÃO ESTÁ CHEGANDO.

AQUI VOCÊ TERÁ A OPORTUNIDADE DE CONHECER MAIS UM

ESTUDIOSO. VAMOS LÁ?

Page 10: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Pedagogo é uma palavra derivada de Pedagogia, de acordo com a etimologia,

significa o cultivo do ser humano, o desenvolvimento de suas potencialidades. Portanto

pedagogo é o responsável em cultivar e aperfeiçoar o potencial da criança.

Assim surgiu a Pedagogia como Ciência, em que os pedagogos foram pesquisando,

aplicando e aperfeiçoando a arte de educar. Entre eles, o suíço Johann Heinrich Pestalozzi

(1746–1827) que exercera grande influência no pensamento educacional da época.

CONTINUANDO

Como vários filósofos tinham a preocupação de cultivar a potencialidade da criança,

começaram assim a refletir sobre a atividade educacional, propondo soluções para diversos

problemas verificados.

Mas, somente a partir do século XVIII, sob forte influência do Romantismo, surgem

várias obras consagradas, resultado da própria experiência pedagógica de seus próprios

autores.

Dentre esses autores se destaca Pestalozzi, notável pedagogo, que deixou ao mundo

uma obra escrita de mais de 40 volumes. Defendeu a tese de que o homem é bom por

natureza, portanto o papel da escola é de incidir a realidade do mundo que a criança vive;

cabendo ao educador doar uma parcela do seu amor ao educando.

Como não aceitava a forma rígida de educar de sua época, substitui esse

procedimento pelo Advento da Escola Feliz, considerada bastante revolucionária naquele

tempo.

As suas idéias foram fortemente influenciadas pelas de Rousseau, que apontava a

bondade entre as potencialidades naturais de que o ser humano é dotado, porém precisa ser

"trabalhado", por uma boa educação.

Pestalozzi exerceu grande influência no pensamento educacional da época, defendendo

a democratização do ensino, clamando aos governantes que se interessassem pelas crianças

das classes menos favorecidas.

Com essa filosofia, Pestalozzi foi perseguido e incompreendido, por defender os pobres.

Resolve, então, dedicar sua vida à causa popular, porque acreditava na educação como

responsável de aperfeiçoar o indivíduo e a sociedade.

Após a revolução francesa, com ajuda do governo, Pestalozzi organiza um orfanato, a

fim de abrigar, em sua propriedade denominada Nuehof, centenas de crianças abandonadas,

Page 11: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

após ficarem órfãs. Entretanto essa instituição fechou, após cinco anos, devido aos

rendimentos recebidos serem insuficientes.

Após dezoito anos, Pestalozzi inaugura o asilo de Stanz, chegando a recolher cerca de

quatrocentos órfãos.

Pestalozzi funda um novo instituto de educação, Instituto de Burgdorf, onde conseguiu

magníficos resultados com as crianças. Nessa época, escreveu sobre “As instruções para

ensinar a ler” e “Como Gertudes ensinara seus filhos”, no qual sinalizava a importância da

melhor forma de educar, sinalizando os principais erros, e, aponta ao educador a necessidade

de que a sua postura fosse como a de um segundo pai. Vários colaboradores competentes

participaram deste instituto, permitindo a ampliação do ensino por várias áreas (Química,

Álgebra, Línguas, Geografia etc.).

As incessantes pesquisas testaram suas teorias educacionais, com a intenção de

melhorar a educação e a instrução do ensino das massas, muitas foram publicadas no livro

Leonardo e Gertrudes, considerada a primeira obra de Sociologia do mundo.

Para Pestalozzi, a escola deveria ser uma continuidade da tarefa educativa do lar, pois a

família é o ponto de partida para a educação. Estas ações atraíram as atenções de pensadores

europeus como Herbart.

ESTÁ DANDO PARA PERCEBER POR QUE PESTALOZZI FAZ PARTE DA HISTÓRIA

DA EDUCAÇÃO?

CONTINUANDO...

Pestalozzi implanta um método popular, com a proposta de unir educação e trabalho.

Assim, inicia uma jornada incansável na intenção de estabelecer uma nova pedagogia.

Seus métodos foram pioneiros em cultivar na criança sentimentos de igualdade,

inspirado a desenvolver os primeiros sentimentos de vida em comum.

O seu ideário foi de grande importância e repercussão na pedagogia moderna,

considerado como um dos pioneiros da escola nova (HUBERT, 1976).

Pestalozzi privilegiou os aspectos psicológicos da educação, baseando na

cooperação entre os professores e alunos. A tese da instrução era fundada na intuição, ou

seja, na experiência direta do aluno interagindo com o ambiente e observando a natureza da

qual faz parte, contrário aos sistemas de ensino centrado no método, no conteúdo, no

professor, no aluno, na escola ou no planejamento escolar.

Page 12: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

AGORA, ATENTE PARA OS PRINCÍPIOS EDUCACIONAIS DE PESTALOZZI.

Segundo Eby (1978, p. 401-02), os princípios educacionais de Pestalozzi estavam

pautados na

1- Fé indomável e contagiante - educação como o meio supremo para

o aperfeiçoamento individual e social. 2- Psicologização da educação. 3- Fundamentação do desenvolvimento orgânico mais do que na transmissão de idéias. 4- Pesquisa sobre as leis fundamentais do desenvolvimento. 5- Educação iniciada pela percepção de objetos concretos. 6- Poder, pela aquisição gradativa do conhecimento. 7- A religião, mais profunda que dogmas, credos ou a memorização do catecismo ou das Escrituras. 8- Emprego das letras do alfabeto presas a cartões e introdução da lousa e do lápis. 9- A disciplina baseada na boa vontade recíproca e na cooperação entre aluno e professor. 10- Estudo da educação como ciência.

Coube a Pestalozzi a reputação de ter sido o pioneiro da escola popular e o

percussor do primeiro Jardim de Infância, além de patrocinar cursos gratuitos para os mais

carentes.

A LUTA PELA ESCOLA PÚBLICA AINDA NÃO FOI RESOLVIDA NESSA

ESTAÇÃO. POR QUE SERÁ?

VAMOS PROSSSEGUIR PARA DESCOBRIR?

As idéias de Pestalozzi foram consideradas conservadoras, porque solicitava

respeito aos indivíduos diante de sua classe social. Analisava a ordem social pautada na

crença de concepção de Deus. Assim, considerava que o filho do aldeão deve ser aldeão, o

filho do comerciante deve ser comerciante etc.

Com esse modo de pensar, ele nunca pretendeu outra coisa a não ser educar os

pobres para que estes aceitassem de bom grado a sua pobreza.

Pestalozzi se revolta, após perceber que a bondade natural da criança não era

aceita, pela sociedade da época. Assim, considera condenável a crença dos conservadores da

época, em apontar que valorizar a criança significava apreciar as classes inferiores.

Pestalozzi fazia um trabalho de retirada das crianças, que se encontravam em

estado de abandono, as levando para sua instituição, a fim de lhes atribuírem uma ocupação

fácil, remunerada e, ao mesmo tempo, instruí-las nas suas horas de recreio. Perante tanta

miséria e tristeza, desempenhava o papel de pai e professor para todas aquelas crianças,

dando todo o seu amor, afeto e dedicação. As crianças mais velhas eram formadas na intenção

de serem mestres das mais novas.

Sua influência para as escolas dos nossos tempos se deu a partir do asilo Stainz,

dando início a educação elementar, com a educação intelectual – o ensino moral, o ensino do

coração e o ensino da mão. Os seus trabalhos pedagógicos giraram em torno destes

princípios, uma vez que Pestalozzi se preocupava com a necessidade de desenvolver as

faculdades físicas e psicológicas, nas quais são bases da educação primária moderna.

Em suma, Pestalozzi foi um dos pioneiros da pedagogia moderna, influenciou

profundamente todas as correntes educacionais e foi apontado como referência para

educação. E mais, fundou escolas, cativava a todos para a causa de uma educação capaz de

Page 13: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

atingir o povo, num tempo em que o ensino era privilégio exclusivo, porque acreditava que “a

vida educa. Mas a vida que educa não é uma questão de palavras, e sim de ação. É atividade"

(PESTALOZZI).

O alemão Friedrich Fröebel (1782-1852) foi um dos primeiros educadores a

considerar o início da infância como uma fase de importância decisiva na formação das

pessoas – idéia hoje consagrada pela psicologia, ciência da qual foi precursor.

A essência de sua pedagogia está nas idéias da atividade e da liberdade, aprendidas

com Pestalozzi, de quem foi discípulo. Considerou a linguagem como primeira forma de

expressão, tanto que a considerava de grande relevância. E mais, os jogos, os desenhos, o

ritmo de maturação durante as atividades, assim como os brinquedos permitiam as crianças se

expressarem livremente.

Fröbel foi considerado pioneiro e responsável pela formação da pedagogia infantil,

devido à sua concepção de criança ter sido considerado de excelência, a partir da exposição

de suas idéias, tanto que a concepção anterior em relação à infância nunca mais retornou.

Além de escrever sua pedagogia, também criou brinquedos que deveriam ser usados

como recursos no ensino às crianças, como também considerava de grande importância à

introdução de histórias, mitos, lendas, contos de fada e fábulas, por perceber que tais

atividades despertavam um interesse pelo passado, o que auxiliava a criança a adquirir noção

de tempo e história.

A doutrina de Fröbel analisa o homem como uma unidade, portanto, aponta a

necessidade da integração de seus órgãos sensoriais, dos músculos, dos nervos com a

vontade, raciocínio, percepção e memória, considerando cada unidade a cada objeto do

Universo, portanto parte de algo mais geral.

Fundou sua primeira escola em 1816, na cidade alemã de Griesheim. Dois anos

depois, a escola foi transferida para Keilhau, onde Fröebel colocou em prática suas teorias

pedagógicas. Em 1826, publicou seu livro mais importante, A Educação do Homem. Em

seguida, foi morar na Suíça, onde treinou professores e dirigiu um orfanato.

Todas essas experiências serviram de inspiração para que ele fundasse o primeiro

jardim de infância, na cidade alemã de Blankenburg. Paralelamente, administrou uma gráfica

que imprimiu instruções de brincadeiras e canções para serem aplicadas em escolas e em

casa.

VAMOS, ABRA A OUTRA PORTA,

PORQUE TEM ALGUÉM LHE ESPERANDO.

VÁ EM FRENTE!

Page 14: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

A pedagogia utilizada por Fröbel se pautava em atividades de liberdade, pela

linguagem como primeira forma de expressão, aponta também como de grande relevância, os

jogos, o brinquedo como autoexpressão, desenho, ritmo e atividades em maturação.

Suas contribuições permanentes, segundo Eby (1978, p. 458), são:

1- A educação deve se basear na evolução natural das atividades da

criança.

2- Todo desenvolvimento verdadeiro provém de atividades

espontâneas.

3- O brinquedo é um processo essencial da educação inicial.

4- A atividade construtiva é o principal meio para integrar o

crescimento de todos os poderes: físico, mental e moral.

5- Só a criança pode harmonizar a espontaneidade com o controle

social.

6- Os currículos das escolas devem estar baseados nas atividades de

interesses que são nascentes em cada fase da vida infantil.

7- A humanidade ainda está em processo de desenvolvimento e a

educação é o meio essencial para a evolução futura.

8- O futuro desenvolvimento da raça depende essencialmente da

educação das mulheres.

9- O saber não é um fim em si mesmo, mas funciona relacionando

com as atividades do organismo.

É CURIOSO COMO A PEDAGOGIA DE FRÖBEL PARECE TÃO RECENTE!

Fröbel considera que a melhor instituição para educar uma criança está atrelada à

família, portanto aponta a responsabilidade da instituição escolar em se aproximar dessa

educação, para que a formação humana abranja a moral, a política e a religião. Considera que

o desenvolvimento das capacidades humanas está no cultivo integral e harmonioso de três

atividades: “espírito, coração e mão”, ou seja, intelectual, moral e prática.

No seu método, mestres e alunos deveriam permanecer juntos o dia inteiro, das 8 às

17 horas, desenvolvendo as mais variadas atividades, de maneira flexível, com aulas,

refeições, banhos e brinquedos. E em duas tardes por semana os alunos deveriam fazer

excursões ou ficarem livres.

As turmas deveriam ser dividas por faixas etárias, em que crianças de até oito anos

frequentassem uma turma, uma de oito a doze anos e outra de onze aos dezoito anos.

Condenava qualquer tipo de punições, correções e recompensa.

Fröbel foi defensor do desenvolvimento genético, portanto considerava que o

desenvolvimento ocorre segundo as seguintes etapas: a infância, a meninice, a puberdade, a

mocidade e a maturidade.

Segundo Manacorda (1989), a filosofia de Fröbel foi de grande contribuição para o

progresso científico da prática pedagógica.

A difusão de suas ideias multiplicou os jardins de infância, principalmente na Itália,

“às quais o novo Estado liberal e o progresso geral permitiam finalmente aparecer em primeira

Page 15: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

pessoa no cenário, embora só no âmbito da educação da primeira infância” (MANACORDA,

op.cit., p. 53). Já na Alemanha o funcionamento dos jardins de infância foi proibido, com a

justificativa de que suas idéias eram socialistas e atéias. Luzuriaga (1984) aponta que essa

proibição se deu devido “a situação política, de caráter marcadamente reacionário após a

Revolução de 1848” (p. 200).

Em 1851, confundindo Fröbel com um sobrinho esquerdista, o governo da Prússia

proibiu também as atividades dos jardins de infância.

Uma das melhores contribuições de Fröbel para Pedagogia moderna foi considerar o

ser humano essencialmente dinâmico e produtivo, e não mais receptivo.

"A escola, para Froebel, é o lugar onde a criança deve aprender as coisas

importantes da vida, os elementos essências da verdade, da justiça, da personalidade livre, da

responsabilidade, da iniciativa, das relações causais e outras semelhantes, não as estudando,

mas vivendo-as" (MONROE, 2001, p. 306).

Fröebel considera de muita importância o brinquedo, o trabalho manual e o estudo

da natureza, enquanto processos espontâneos para a criança e, ao mesmo tempo, meios

educativos.

Enfim, podemos salientar que Fröebel desenvolveu técnicas para Educação Infantil

que até hoje são usadas. As brincadeiras apontadas por ele não seriam apenas diversão, mas

os primeiros recursos no caminho da aprendizagem e desenvolveu o conceito da

autoeducação que só foi difundida somente no início do século XX, graças ao movimento da

escola Nova de Montessori (1870-1952), de Celestin Freneit (1896-1966) entre outros.

Síntese Para Fröebel,

a. b. Considerava o início da infância como uma fase decisiva no desenvolvimento do ser

humano. c. A unidade social era sempre um princípio de unidade universal, inclusive cósmica. d. A criança é como uma planta em sua fase de formação, exigindo cuidados periódicos

para que cresça de maneira saudável. e. O propósito de naturalização de um sentimento de amor pelo universo criado por Deus

deveria ser compreendido e defendido pela educação. f. A identificação da educação com o desenvolvimento. g. A subordinação da ação educativa pela atividade interessada da criança. h. A utilização da brincadeira e do trabalho manual como instrumentos da aprendizagem. i. Precursor das teorias educacionais contemporâneas.

Page 16: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Atividades: 3.1 Atividades Obrigatórias 1. Aponte algumas convergências entre a pedagogia de Pestalozzi e Froebel. 2) De tudo que foi ressaltado e explanado nesse subcapítulo, verificamos que a educação sofreu modificações bastante satisfatórias em relação a Educação Infantil. Discorra sobre essas transformações. 3.2. Atividade de autoavaliação:

a) Observe a frase: “O brinquedo espontâneo da criança revela a vida interior futura do homem. Os brinquedos da infância são os germes de toda a vida posterior”

c) Identifique o autor da frase e analise sua afirmação. d) Aponte quais os elementos da pedagogia de Pestalozzi que se aproxima com a de

Rousseau.

4. Atividade Complementar

Leitura do texto: Breve Histórico da Educação. Disponível em http://www.miniweb.com.br/educadores/artigos. Acesso em 25 de abril de 2 010

Síntese Para Pestalozzi:

A escola deveria ser semelhante ao lar. Não concebia a escola como um espaço ou instituição a parte. Não deveria existir abismo entre o lar e a escola. Estabeleceu horários diversos ao separar as crianças por faixas etárias diferentes. Comparava o professor à imagem e semelhança de um jardineiro. Considerava o que o desenvolvimento se dá espontaneamente; Toda instrução educativa deve ser extraída das próprias crianças.

Page 17: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

1.4. DECROLY: APRENDENDO A APRENDER.

Ovide Decroly (1871-1932) foi ao mesmo tempo educador, psicólogo e médico,

portanto suas teorias têm um fundamento psicológico e sociológico com critérios de uma

metodologia no interesse e na autoavaliação. É a favor do trabalho em equipe, mas, mantendo

a individualidade do ensino com a finalidade de preparar o educando para a vida.

Decroly ressalta que a criança deve solucionar os problemas e viver os momentos de

existência infantil plenamente: esse é o destaque que colocou na educação infantil,

compreendendo as condições do desenvolvimento infantil e não a preparação para a vida

adulta, como era o pensamento educacional em vigor, na sua época.

Entre os pensadores da educação que, na virada do século 19 para o século 20,

contestaram o modelo de escola que existia na época, propõe uma nova concepção de ensino,

Decroly foi provavelmente o mais combativo.

Como Decroly, em sua infância, foi um estudante indisciplinado, que não se adaptava

ao autoritarismo da sala de aula e nem do próprio pai, dedicou-se apaixonadamente a

experimentar uma escola centrada no aluno, e não no professor, na qual preparasse as

crianças para viver em sociedade, em vez de simplesmente fornecer a elas conhecimentos

destinados a sua formação profissional.

Pode-se afirmar que Decroly foi um dos precursores dos métodos ativos,

fundamentados na possibilidade de o aluno conduzir o próprio aprendizado e, assim, aprender

a aprender. Alguns de seus pensamentos estão bem vivos nas salas de aula atuais e

coincidem com propostas pedagógicas difundidas ultimamente. É o caso da idéia de

globalização de conhecimentos - que inclui o chamado método global de alfabetização - e dos

centros de interesse.

O princípio de globalização de Decroly se baseia na idéia de que as crianças

apreendem o mundo com base em uma visão do todo, que posteriormente pode se organizar

em partes, ou seja, que vai do caos à ordem.

Assim, o modo mais adequado de aprender a ler, para Decroly, deve ter seu início

nas atividades de associação de significados, de discursos completos, e não do conhecimento

isolado de sílabas e letras. Decroly lança a idéia do caráter global da vida intelectual, o

princípio de que um conhecimento evoca outro e assim sucessivamente.

Para o autor, os centros de interesse de aprendizagem precisam ser organizados

segundo as faixas etárias dos alunos. Concebia que a base das etapas da evolução

neurológica infantil é fundamental.

APROVEITE TODO O CONHECIMENTO QUE ESTÁ LHE AGUARDANDO NESSA

ESTAÇÃO.

Page 18: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Tinha convicção de que as crianças ao entrarem na escola já estão dotadas de

condições biológicas suficientes para procurar e desenvolver os conhecimentos de seu

interesse. "A criança tem espírito de observação; basta não matá-lo", escreveu Decroly.

Para Decroly a escola é a instituição humana mais elevada, portanto devia modificar-

se de maneira profunda. Sua crítica sobre a escola era bastante severa, já que segundo ele,

não cumpria com seus propósitos, porque para ele o futuro de um povo dependia da

organização e influência da escola.

Decroly defendia que os centros de interesse da criança se modificavam com a idade.

Tanto que dos três aos seis anos de idade, no Jardim, através do contato com o meio, a

criança conseguiria associar a idéia de conhecimento, de defender-se de perigos e acidentes,

de lutar contra as dificuldades, de suas necessidades de se alimentar, de ter alegria e de

trabalhar e agir em grupo. Conhecendo o meio, a criança estaria satisfazendo suas

necessidades. Sendo assim, a sala de aula carece estar presente no dia a dia da criança: na

cozinha, no jardim, no museu, no campo, na oficina, nas viagens etc.

Para Decroly, a criança passava por três momentos nos seus centros de interesse: o da observação, o da associação e o da expressão. A duração dos centros de interesse pode variar muito, até meses, sendo, portanto, flexível, por motivo da riqueza dos conhecimentos a serem trabalhados.

Não se preocupou em escrever uma obra fundamental, porque pensava, ao expor suas técnicas, que elas poderiam se cristalizar: preocupou-se mais em apresentar princípios educacionais do que com fórmulas rígidas.

Para ele, a educação não se constitui em uma preparação para a vida adulta; a criança

deve aproveitar sua juventude e resolver as dificuldades compatíveis ao seu momento de vida.

Como pressuposto básico postulava que a necessidade gera o interesse, verdadeiro

móvel em direção ao conhecimento. O interesse está na base de toda atividade, incitando a

criança a observar, associar, expressar-se.

As necessidades básicas do homem em sua troca com o meio seriam: a alimentação, a

defesa contra intempéries, a luta contra perigos e inimigos e o trabalho em sociedade,

descanso e diversão.

Desse pressuposto deriva sua proposta de organização da escola. Seu método, mais

conhecido como centros de interesse, destinava-se especialmente às crianças das classes

primárias. Nesses centros, a criança passava por três momentos:

OBSERVAÇÃO: não acontece em uma lição, nem em um momento determinado da

técnica educativa, pois, deve ser considerada como uma atitude, chamando a atenção do aluno

constantemente. Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a

inteligência trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança,

levando em conta seus interesses.

ASSOCIAÇÃO: permite que o conhecimento adquirido pela observação seja entendido

em termos de tempo e espaço.

EXPRESSÃO: por esse meio, a criança poderia externar sua aprendizagem, através de

qualquer meio de linguagem, integrando os conhecimentos adquiridos, de maneira

globalizadora. A expressão seria a culminância do processo e nela pode-se destacar:

Expressão concreta (materialização das observações e criações pessoais; se

traduz em desenho livre, trabalhos manuais etc.).

Expressão abstrata (materialização do pensamento através de símbolos e códigos

convencionais; apresenta-se no texto livre, linguagem matemática, musical etc.).

Page 19: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Para Decroly a atividade globalizadora se exerce de maneira espontânea e permite

aquisições como a linguagem, o conhecimento sobre o meio material, vivo e social, assim

como a adaptação a uma série de formas de atividades.

Diferentemente de Montessori, que faz experimentar num material educativo "artificial" e

pré-organizado, Decroly incita a criança a utilizar objetos concretos do mundo real, recorrendo

à experiência direta e à intuição.

De acordo com Zabala (2002, p. 203) as justificativas de Decroly baseiam-se em

argumentos pragmáticos baseados em sua experiência:

“A criança é o ponto de partida do método". O fato de partir de uma

base biopsicológica e da observação sistemática facilita a percepção de que

as diferenças individuais tanto em relação às aptidões, quanto ao tempo de

maturação são muito grandes e a origem desse tipo de diversidade encontra-

se no próprio indivíduo e no ambiente. Deste modo, a criança é um ser

biológico que se adapta evolutivamente às mudanças de seu entorno.

O respeito à personalidade do aluno. "A educação deve estar para a

vida e mediante a vida. A resposta à imobilidade que condena a uma escola

passiva é o ensino ativo, que permite ao aluno ou à aluna atuar como o

inventor ou o artista, ou seja, fazendo tentativas - ensaios e erros". (Decroly).

O interesse é a chave de toda a aprendizagem eficaz, mas não

qualquer interesse e sim, aquele que advém das necessidades primárias e da

manifestação dos instintos.

A vida como educadora. A eficácia do meio é decisiva. Pelo fato de

considerar as aquisições que a criança adquiriu antes de ir para a escola leva

Decroly a pensar que a maioria das aprendizagens ocorre de maneira

espontânea, pelo contato com o meio imediato.=

As crianças são seres sociais. A escola precisa ser pensada de forma

a favorecer o desenvolvimento das tendências sociais latentes na pessoa.

A atividade mental é organizada em muitos aspectos pela função

globalizadora e pelas tendências que predominam nos sujeitos. Decorrem

disto as diversas significações que adquirem os objetos, os acontecimentos,

etc., para cada pessoa em cada momento de sua vida.

Concedia muita importância à natureza.

O principal valor que o preocupava era a liberdade e como conciliar as

liberdades individuais com as coletivas.

Decroly aponta como a escola deve ensinar à criança, transformando a maneira de

aprender e de ensinar, pela adequação da psicologia infantil.

Os exercícios de observação, fundamento das aprendizagens, fazem a inteligência

trabalhar com materiais recolhidos pelos sentidos e pela experiência da criança, levando em

conta seus interesses. Contrário a Montessori, Decroly estimula o uso, pela criança, de objetos

concretos, do mundo real, recorrendo à experiência direta e à intuição. Como Claparède,

concedeu amplo espaço ao jogo.

O método de Decroly, mais conhecido pelos centros de interesse, possuía um destino

especial, aos alunos das classes primárias (ensino fundamental); os conhecimentos e

interesses infantis apareciam associados.

Para Decroly, a criança deve ser criança e não um adulto em potencial.

Assim, ele transformou a maneira de aprender e ensinar, ajustando a psicologia da criança e

em nenhum momento deixou de lado nada que a escola deve ensinar à criança.

A METODOLOGIA APONTADA POR DECROLY FAZ PARTE DAS PRÁTICAS EDUCATIVAS ATUAIS?

Os centros de interesse eram aplicados nas diferentes idades: dos três aos seis anos, no

jardim de infância, em contato com o meio.

Page 20: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

O programa de Decroly apresentava idéias associadas: conhecimento pela criança, as

suas necessidades de alimentação, de defender-se contra perigos e diversos acidentes, de agir

e trabalhar com solidariedade, de ter alegria de espírito. O conhecimento do meio viria para

satisfazer as necessidades apontadas acima.

A série de elementos não era obrigatória. Era algo simples para a criança, como comer, daí

surgia o estudo da alimentação, a origem e a classificação dos alimentos, os preços, quem os

produz e onde, como são preparados. E, de acordo com a curiosidade das crianças e o

desenvolvimento, surgirão noções de geografia, ciências, história, higiene, cálculo, redação e

desenho. Diante dessa riqueza de possibilidades exploratórias, a duração do centro de

interesse é muito flexível, podendo estender-se durante meses.

No fim de um dia de trabalho com a pedagogia de Decroly, observamos grandes cadernos

dispostos em cada classe sobre pranchetas. Cada aluno coloca o seu trabalho pessoal,

documentado e organizado metodicamente as suas observações. Três atividades são

aprofundadas, envolvendo a observação, a associação e a expressão.

Em suma, para Decroly, a sala de aula está por toda parte, na cozinha, no jardim, no

museu, no campo, na oficina, na fazenda, na loja, na excursão, nas viagens etc.

A observação não ocorre em uma lição, em um momento particular da técnica educativa, mas

deve ser considerada como uma atitude, chamando a atenção do aluno todo o tempo. A

associação possibilita que o conhecimento adquirido por meio da observação seja

compreendido em termos de tempo e de espaço.

1.5. MONTESSORI: UM NOVO CONCEITO DE APRENDIZAGEM

Maria Montessori (1870- 1952) é considerada a primeira mulher, da Itália, a se formar em

Medicina. Entretanto, também, se formou em Pedagogia, Antropologia e Psicologia.

O seu interesse pela educação iniciou-se como médica, quando começou a conviver

com crianças especiais, portadores de Síndrome de Down e deficientes mentais. A partir daí,

Montessori se aprofundou nos estudos em relação à psicologia infantil.

Após os resultados de seus estudos, ela se tornou também pioneira no campo

pedagógico, ao dar ênfase a autoeducação do aluno em substituição à figura do professor

como a única fonte de conhecimento.

A concepção de educação para Montessori está na conquista da criança, tanto que

afirma, em seus estudos, que o Homem nasce com a capacidade de ensinar a si mesmo, se

lhe forem dadas condições necessárias.

ESTÁ CURIOSO? QUER SABER QUEM LHE

AGUARDA NESSA ESTAÇÃO?

VÁ LÁ!

Page 21: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Defende que a educação carece ultrapassar os limites de mero acúmulo de informações,

porque é dever da escola formar integralmente o aluno, preparando-o para a vida. Assim,

defende, ainda, que é dever da escola desenvolver, desde a primeira infância, o potencial

criativo unido ao desejo de aprender.

Montessori deu uma série de palestras sobre métodos especiais de educação, em um

instituto de treinamento em Roma, foi indicada diretora de um instituto médico pedagógico e

ministrou aulas na Escola Pedagógica da Universidade de Roma.

Após, 1907, criou a primeira Casa de Bambini (Casa das Crianças) – uma escola para

crianças “normais”, que ficavam soltas em casas de cômodos, em Roma, enquanto os pais

estavam trabalhando.

Em 1909, Montessori publica “O Método Montessori”, no qual expõe a teoria e prática da

Casa das Crianças. Esse livro foi amplamente traduzido e bem recebido, pelo mundo afora.

Assim, Montessori faz inúmeras viagens ao exterior, a fim de pronunciar palestras. Em 1923,

um artigo de jornal afirmou que as ideias educacionais de Montessori já lhe tinham garantido

um lugar na história, próximo ao de Rousseau, Pestalozzi e Fröbel.

A pedagogia de Montessori insere-se no movimento da Escola Nova, em uma oposição

aos métodos tradicionais que não respeitavam as necessidades e os mecanismos evolutivos

do desenvolvimento da criança. Ocupa um papel de destaque neste movimento pelas novas

técnicas que apresentou para os jardins de infância e para as primeiras séries do ensino

formal.

O material criado por Montessori tem papel preponderante no seu trabalho educativo,

pois pressupõe a compreensão das coisas a partir delas mesmas, tendo como função estimular

e desenvolver na criança um impulso interior que se manifesta no trabalho espontâneo do

intelecto.

Os materiais compreendem quebra cabeças, letras em madeira ou lixa, diferentes

alfabetos para compor palavras, formas variadas, barras de contagem, algarismos em lixa e

madeira, conjuntos de contas coloridas etc.

Montessori produz uma série de cinco grupos de materiais didáticos:

- exercícios para a vida cotidiana

- material sensorial

- material de linguagem

- material de matemática

- material de ciências

Esses materiais se constituem de peças sólidas de diversos tamanhos e formas: caixas

para abrir, fechar e encaixar; botões para abotoar; série de cores, de tamanhos, de formas e

espessuras diferentes. Coleções de superfícies de diferentes texturas e campainhas com

diferentes sons.

O Material Dourado é um dos materiais criado por Maria Montessori.

Este material pedagógico baseia-se nas regras do sistema de numeração, inclusive para

o trabalho com múltiplos, sendo confeccionado em madeira. O material é composto por cubos,

placas, barras e cubinhos. O cubo é formado por dez placas, a placa por dez barras e a barra

Page 22: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

por dez cubinhos. Este material é de grande importância na numeração, facilitando a

aprendizagem dos algoritmos da adição, da subtração, da multiplicação e da divisão.

O cubo é formado por 10 placas, a placa é formada por 10 cubinhos. Cubo: 1 milhar Placa: 1 centena Barra: 1 dezena Cubinho: 1 unidade

O Material Dourado desperta no aluno a concentração e o interesse, além de

desenvolver sua inteligência e a sua imaginação criadora, porque a criança está sempre

predisposta ao jogo.

Além disso, o Material Dourado permite o estabelecimento de relações de graduação e

de proporções, e finalmente, ajuda a contar e a calcular.

O aluno usa, individualmente, os materiais à medida de sua necessidade, e por ser

autocorretivo, faz sua autoavaliação. Os professores são auxiliares de aprendizagem, logo,

pode-se dizer que o sistema, muitas vezes, peca pelo individualismo, embora hoje sua

utilização seja feita em grupo.

No trabalho com esses materiais a concentração é um fator importante. As tarefas são

precedidas por uma intensa preparação, e, quando terminam, a criança se solta, feliz com sua

concentração, comunicando-se então com seus semelhantes, num processo de socialização.

A livre escolha das atividades pela criança é outro aspecto fundamental para que exista

a concentração e para que a atividade seja formadora e imaginativa. Essa escolha se realiza

com ordem, disciplina e com um relativo silêncio. O silêncio também desempenha papel

preponderante. A criança fala quando o trabalho assim o exige, a professora não precisa falar

alto. Pés e mãos têm grande destaque nos exercícios sensoriais (não se restringem apenas

aos sentidos), fornecendo oportunidade às crianças de manipular os objetos, sendo que a

coordenação se desenvolve com o movimento.

Em relação à leitura e a escrita, na escola montessoriana as crianças conhecem as

letras e são introduzidas na análise das palavras e letras; estando a mão treinada e

reconhecendo as letras, a criança pode escrever palavras e orações inteiras.

Em relação à matemática, os materiais permitem o reconhecimento das formas básicas,

o estabelecimento de graduações, proporções e comparações e induzem a contar e calcular.

Os doze pontos do Método Montessori:

- Baseia-se em anos de observação da natureza da criança por parte do maior

gênio da educação desde Fröebel.

Demonstrou ter uma aplicabilidade universal.

Revelou que a criança pequena pode ser um amante do trabalho intelectual,

escolhido de forma espontânea, e assim, realizado com muita alegria.

Baseia-se em uma necessidade vital para a criança que é a de aprender

fazendo. Em cada etapa do crescimento mental da criança são proporcionadas

atividades correspondentes com as quais se desenvolvem suas faculdades.

Ainda que ofereça à criança uma grande espontaneidade, consegue capacitá-la

para alcançar os mesmos níveis, ou até mesmo níveis superiores de sucesso

escolar, que os alcançados sobre os sistemas antigos.

Page 23: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Consegue uma excelente disciplina apesar de prescindir de coerções tais como

recompensas e castigos. Explica-se tal fato por tratar-se de uma disciplina que

tem origem dentro da própria criança e não imposta de fora.

Baseia-se em um grande respeito pela personalidade da criança, concedendo-

lhe espaço para crescer em uma independência biológica, permitindo-se à

criança uma grande margem de liberdade que se constitui no fundamento de

uma disciplina real.

Permite ao professor tratar cada criança individualmente em cada matéria, e

assim, fazê-lo de acordo com suas necessidades individuais.

Cada criança trabalha em seu próprio ritmo.

Enfim, o método Montessori parte do concreto rumo ao abstrato, baseando-se na

observação de que as crianças aprendem melhor pela experiência direta de procura e de

descoberta. E mais, incorpora valores imprescindíveis à vida, como a solidariedade e a

capacidade afetiva.

1.8. FRENEIT: TRABALHO, ÊXITO E BOM SENSO

A pedagogia Celestin Freneit (1896 – 1966) tem uma proposta mais próxima da teoria de

Piaget, por acreditar que o processo do conhecimento se dê no processo de sucessivas

construções. Entretanto, Freneit não mergulha em pressupostos científicos e nem busca

construir um método, o seu sonho é criar um movimento pedagógico de renovação da escola,

em que a criança seja o centro de tudo.

Nascido na França e com formação em magistério, não se limitou a ser um mero

professor, mais um estudioso e pesquisador, cujo centro de sua pedagogia está na forma como

a criança aprende. Freneit questiona as normas rígidas de ensinar e seus métodos

convencionais, apontando procedimentos e princípios de inovação e criação das práticas

pedagógicas.

Com as idéias da Escola Nova, Freneit constrói com seus alunos um corpo pedagógico

teórico aliado às práticas pedagógicas vivas em sua classe.

SOLTE OS CINTOS E VEJA QUEM LHE AGUARDA NESTA ESTAÇÃO.

PENÚLTIMA PARADA. DESÇA, LEIA TUDO COM ATENÇÃO PARA ENTENDER PORQUE VOCÊ

CHEGOU ATÉ AQUI.

Page 24: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Em 1927, as idéias e as práticas de Freneit extrapolam os limites de sua escola e de sua

aldeia, após a sua participação no Congresso Internacional de Educação. O autor publica além

do primeiro número da Biblioteca de Trabalho, composto por brochuras escritas por seus

alunos, conhecido como Fichário Escolar Cooperativo.

Em 1932, o movimento educacional iniciado por Freneit já se espalha pela Bélgica e

Espanha e suas idéias passam a incomodar os conservadores franceses, resultando o

afastamento de Freneit da escola Saint Paul.

A partir de 1934, com ajuda de doações, Freneit constrói a célebre Escola de Vence e

em 1935 começa a matricular alunos. Entretanto, o Ministério de Educação se recusa a

reconhecer a sua instituição, e, em conseqüência deste episódio, Freneit passa a trabalhar

arduamente para criar o Conselho Cooperativo (gestão participativa), os jornais murais, a

empresa escolar, as fichas autocorretivas, a correspondência escolar, os ateliês de arte, aulas

passeio e o Livro da Vida.

Durante a 2ª Guerra Mundial, Freneit é preso e fica seriamente doente. Porém, durante o

período de seu restabelecimento Freneit escreve a maior parte de sua obra.

Nos anos 50, sua Pedagogia já se espalhara pelo mundo com fortes raízes sociais e

políticas. O autor cria um movimento em prol da escola popular, distinguindo-o dos demais

pensadores do movimento da Escola Nova da Europa (S.M.E., 1996).

Na verdade, Freneit foi um professor que quebrou as regras do jogo educacional de sua

época. Ele teve um sonho que procurou realizar, ou seja, educar crianças de classes

populares, construindo uma escola socialista, em que o sentimento “coletivo” imperava o

individualismo.

Freneit critica o trabalho alienado e defende uma educação que permita às crianças e

adolescentes realizarem uma reflexão crítica das formas de exploração de trabalho. Ao mesmo

tempo, ele faz uma análise do trabalho pedagógico fragmentado e alienador. Para Freneit o

trabalho é uma necessidade para homens, não devendo fazer distinção entre trabalho

intelectual e manual.

No entanto, muitos julgam Freneit como um mero criador de recursos didáticos, um

inventor de pacotes de atividades, possíveis de serem aplicados a qualquer contexto. Outros

consideram Freneit como doutrinador comunista ou uma pessoa que apenas oferece um

receituário desprovido de conteúdo ideológico.

Contra a escola que transmite um saber alienado e artificial, sem dar sentido à realidade,

Freneit ressalta o processo de construção e reconstrução cotidiana dos saberes, dentro de

relações concretas e históricas.

Freneit sugere que se abra a possibilidade para as crianças das classes populares

trazerem suas experiências de vida e de classe social para a sala de aula. Para isso, considera

fundamental a confiança e o respeito ao ser humano, que a escola seja aberta para a vida e

para o futuro, para livre expressão, trabalho visto com agente formador do ser social,

cooperativismo e senso de coletividade.

Percebe-se o quanto a sua proposta continua a ser seguida por vários educadores que

acreditam na defesa da fraternidade, do respeito, da dignidade, da alegria e da esperança

otimista na vida. Segundo a revista Nova Escola de 1994, os princípios frenetianos estão

condensados no que ele chamou de invariantes pedagógicas, quase um auto de fé em 30

itens, em que o professor deve rever a cada ano para avaliar se está ou não evoluindo em sua

prática.

As invariantes são:

A criança e o adulto têm a mesma natureza;

Ser maior não significa necessariamente estar acima dos outros;

O comportamento escolar de uma criança depende de seu estado fisiológico e

orgânico, de toda a sua constituição;

A criança e o adulto não gostam de imposições autoritárias;

Page 25: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Ambos não gostam de disciplinas rígidas, ou seja, obedecer passivamente a uma

ordem externa;

Ninguém gosta de trabalhar por coerção; a coerção é paralisante;

Todos gostam de escolher seu próprio trabalho, mesmo que a escolha não acabe

sendo a mais vantajosa;

A motivação para o trabalho é fundamental;

É preciso abolir a escolástica, porque ela não prepara para vida;

A experiência tateante é uma conduta natural e universal;

A memória não é preciosa, a não ser quando integrada ao tateamento experimental;

Estudar regras e leis é colocar o carro à frente dos bois;

A inteligência não é uma faculdade isolada e fechada;

A escola cultiva apenas a forma abstrata de inteligência;

A criança não gosta de receber lições ex-cathedra (impostas);

A criança não se cansa do trabalho que seja funcional;

Ninguém gosta de ser controlado e castigado, sobretudo em público;

Notas e classificação são erros;

O professor deve falar cada vez menos;

A criança prefere trabalho em equipe cooperativa;

A ordem e a disciplina são necessárias na sala de aula;

Castigos é sempre um erro;

A vida escolar tem de ser cooperativa;

A sobrecarga das classes é um erro;

A democracia de amanhã se prepara na democracia da escola;

O respeito entre adultos e crianças é uma das primeiras condições de renovação da

escola;

É normal que qualquer mudança na escola provoque reações contrárias;

É preciso ter esperança otimista na vida.

Parafraseando a Multieducação, podemos sinalizar que: “a Pedagogia de Freneit nasceu

da prática mecânica, repetida e desprovida de sentido, mas da ousadia, da insatisfação, do

estudo, da reflexão, da experimentação e do compromisso com uma escola democrática e

popular. Uma escola que desse aos filhos do povo, os instrumentos necessários à sua

emancipação” (1996, p. 45).

Enfim, para Freneit, todo processo de educação significa também a constituição de um

sujeito. A criança seja em casa, na escola, em todo lugar; está se constituindo como ser

humano, através de suas experiências com o outro, naquele lugar, naquele momento. A

construção do real vai acontecendo, através de informações e desafios sobre as coisas do

mundo, mas o aspecto afetivo nesta construção continua, sempre, muito presente. Daí a

necessidade de se perceber a pessoa com um ser integral.

1.9: WALLON: AFETIVADE COMO APRENDIZADO

ENFIM, CHEGOU À ÚLTIMA ESTAÇÃO! APROVEITE A SABEDORIA DO MESTRE QUE

LHE ESPERA!

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Henri Wallon (1879- 1962), filósofo, pedagogo e médico, tornou-se conhecido por seu

trabalho científico sobre Psicologia do Desenvolvimento, devotado principalmente para

infância, assim como pela sua postura interacionista e por sua atuação política e

posicionamento marxista.

A obra de Henri Wallon é perpassada pela idéia de que o processo de aprendizagem é

dialético: não é adequado postular verdades absolutas, mas, sim, revitalizar direções e

possibilidades.

Para Wallon, inteligência e afetividade estão integradas, tanto que a evolução da

afetividade depende das construções realizadas no plano da inteligência, assim como a

evolução da inteligência depende das construções afetivas. No entanto, o autor admite que, ao

longo do desenvolvimento humano, existem fases em que predominam o afetivo e fases em

que predominam a inteligência.

Wallon reconstruiu o seu modelo de análise ao pensar no desenvolvimento humano,

estudando-o a partir do desenvolvimento psíquico da criança. Desta forma, o desenvolvimento

da criança aparece de forma descontínua, marcada por contradições e conflitos, resultado da

maturação e das condições ambientais, provocando alterações qualitativas no seu

comportamento em geral.

LEMBRE-SE:

Das idéias pedagógicas explicitadas por Wallon destaca-se a que se refere à

necessidade de superação da dicotomia entre indivíduo e sociedade subjacente à maior parte

dos sistemas de ensino. Segundo Wallon estes costumam oscilar contraditoriamente entre um

e outro polo da autonomia.

O movimento da Escola Nova, ao buscar romper com a opressão do indivíduo pela

sociedade, acabou por desprezar as dimensões sociais da educação, preconizando o

individualismo.

Wallon identifica na pedagogia de Rousseau uma das primeiras expressões desta

dicotomia entre indivíduo e sociedade, no campo educacional. Para perspectiva walloniana é

na interação e no contato com o outro que se forma o indivíduo.

Wallon considera, portanto, que a educação deve, obrigatoriamente, integrar, à sua

prática e aos seus objetivos, essas duas dimensões, a social e a individual. Contrapondo-se ao

autoritarismo do ensino tradicional, defende a condução do ensino pelo interesse da criança.

Para Wallon a educação tem sempre um papel político, portanto precisa ser organizado

em todos os âmbitos do sistema de ensino (administrativo, curricular, metodológico) em torno

do princípio de justiça social.

Wallon acredita que a aprendizagem é um processo de modelagem, em que vários

comportamentos são condicionados e posteriormente extintos, tanto que Wallon afirma que o

comportamento aprendido não é extinto, mas sim integrado ao posterior.

Por exemplo, durante a aprendizagem da escrita, a criança primeiro aprende a desenhar

algo semelhante a um círculo, para posteriormente "puxar a perninha" e escrever um "a". O

comportamentalista afirma que o comportamento de desenhar o círculo foi extinto, mas Wallon

vai mais além e afirma que foi integrado a outros comportamentos ou, para usar um termo mais

adequado à teoria walloniana, integrado a outras aprendizagens.

Wallon confere um papel de destaque para a função da escola, pois para ele, o meio

escolar é indispensável ao desenvolvimento da criança, pois ela não deve receber

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exclusivamente a ação do meio familiar, mas também apresenta a necessidade de frequentar

meios menos estruturados e menos carregados efetivamente.

Para Wallon “[…] a escola é um meio mais rico, mais diversificado e oferece à criança a

oportunidade de conviver com seus contemporâneos e com adultos que não possuem o

mesmo status que seus pais” (apud Werebe, 1986, p. 58). Ou seja, a educação é um fato

social e a escola possibilita à criança de viver novos relacionamentos (pais, professores,

colegas), que promove a aprendizagem social e a tomada de consciência da sua própria

personalidade.

A gênese da inteligência para Wallon é genética e organicamente social, ou seja, "o ser

humano é organicamente social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura para

se atualizar" (Dantas, 1992, p. 75). Nesse sentido, a teoria do desenvolvimento cognitivo de

Wallon é centrada na psicogênese da pessoa completa.

Wallon atribui à emoção que, como os sentimentos e desejos, são manifestações da

vida afetiva, um papel fundamental no processo de desenvolvimento humano. Entende-se por

emoção formas corporais de expressar o estado de espírito da pessoa, ou seja, são

manifestações físicas, alterações orgânicas, como: frio na barriga, secura na boca, choro,

dificuldades na digestão, mudança no ritmo da respiração, mudança no batimento cardíaco,

etc., enfim, reações intensas do organismo, resultantes de um estado afetivo penoso ou

agradável.

A palavra emoção significa, originariamente, "E" (do latim ex) = para fora, "moção" =

movimento. "A emoção é o movimento da vida em cada um de nós. Trata-se do movimento que

brota no interior e se expressa no exterior; é o movimento de minha vida que me diz - e que diz

às pessoas à minha volta - quem eu sou" (FILLIOZAT, 2000, p.61).

Quando nasce uma criança, todo contato estabelecido com pessoas que cuidam dela é

feito via emoção. A criança manifesta corporalmente o que está sentindo; por exemplo, quando

está com o desconforto da fome ou frio, ela chora.

Wallon destaca o caráter social da criança neste sentido, pois se não houvesse a

atenção do adulto, nessa fase inicial de sua vida, atendendo-a naquilo que ela precisa que é

manifestada em forma de emoção, a criança simplesmente morreria. Além disso:

chorar, gritar, estremecer são remédios para as inevitáveis tensões da vida. A existência de um bebê é repleta de frustrações, de questionamentos de medos, de manifestações de raiva... Por mais bem cuidados que sejam todos os bebês têm necessidade de chorar. A emoção permite que eles recuperem as energias, consigam reconstruir-se, depois de terem sofrido um desgosto (op.cit, p.15).

Segundo Wallon (1995), quando, em alguma situação da nossa vida, há o predomínio da

função cognitiva, estamos voltados para a construção do real, como quando classificamos

objetos, fazemos operações matemáticas, definimos conceitos etc. Bem como há o predomínio

da função afetiva. Neste momento estamos voltados para nós mesmos, fazendo uma

elaboração do EU.

Como exemplo: as experiências carregadas de emoção: o nascimento de um filho, a

perda de um ente querido, ou algo assim. No impacto da emoção, nossa preocupação é a

construção que fazemos de um novo eu, a mulher que se transforma mãe, o esposo que se

torna viúvo... São as "Alternâncias Funcionais" (Wallon, 1998) que persistem durante toda

nossa vida, não sendo possível um equilíbrio harmônico entre estas funções (cognitiva e

afetiva), mas um conflito constante, e o domínio de uma sobre a outra.

Daí a colocação de Dantas (1990): "a razão nasce da emoção e vive de sua morte"

(p.54).

Com o surgimento da linguagem, a criança amplia sua área de conhecimento dos

objetos do mundo real, e acaba por compreender mais de si, pois já pode, graças à linguagem,

se desprender do aqui e agora, indo ao seu passado ou a programar seu futuro. Nesse

momento, precisa diferenciar-se do Outro, daqueles a quem até então estava como que

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absorvida no seu meio social. Querendo ser diferente daqueles, não aceitando mais as

imposições que são feitas pelos adultos (fase do negativismo), imitando-os e assim

percebendo as diferenças entre si mesmas e o modelo imitado, a criança vai construindo sua

psique, aqui volta o predomínio da função afetiva.

Conforme a criança vai crescendo, as crises emotivas vão se reduzindo, os ataques de

choro, birras, surtos de alegria, cenas tão comuns na infância, vão sendo melhores controladas

pela razão, em um trabalho de desenvolvimento da pessoa, cujas emoções vão sendo

subordinadas ao controle das funções psíquicas superiores, da razão.

A criança volta-se naturalmente ao mundo real, em uma tentativa de organizar seus

conhecimentos adquiridos até então, é novamente o predomínio da função cognitiva.

Na adolescência, cai na malha da emoção novamente, cumprindo uma nova tarefa de

reconstrução de si, desde o eu corporal até o eu psíquico, percebendo-se em um mundo por

ele mesmo organizado, diferentemente. Assim, por toda a vida, razão e emoção vão se

alternando, em uma relação de filiação, e ao mesmo tempo de oposição.

Atividades: a) Procure assistir ao filme “Mentes Brilhantes“, após, exponha três propostas positivas e negativas utilizadas na prática pedagógica da professora da turma.

b) Leia o texto abaixo. Em seguida, procure identificar pressupostos dos diferentes teóricos estudado, a fim de auxiliar o professor em relação a este aluno. Bernardo está cursando a 5ª série do Ensino Fundamental, porém não consegue acompanhar a turma, pois o seu desempenho em matemática está muito aquém em relação à maioria da turma. c) Diferencie o desenvolvimento e a aprendizagem, em relação à teoria sobre o pensamento entre Piaget e Vygotsky. d) O que Vygotsky quis relatar sobre a “Zona de desenvolvimento próximal”? e) Como futuro educador, quais os conhecimentos que você considera fundamentais ao processo ensino-aprendizagem à luz da teoria de Wallon?

UNIDADE 2- EUCAÇÃO CONSTRUTIVISTA

2.1. PIAGET: A CONSTRUÇÃO DA APRENDIZAGEM

Jean Piaget (1896-1980), biólogo suíço, considerado um dos maiores pensadores do

século XX, tinha formação em Biologia e defendia que a construção da aprendizagem é

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eminentemente epistemológica científica, livre das influências filosóficas ou ideológicas. O

objetivo central de sua teoria é elucidar a atividade científica a partir de uma psicologia da

inteligência, embora a sua teoria propicie respostas para área pedagógica.

Piaget nunca se preocupou com o “como fazer”, portanto não se pode falar em métodos

ou técnicas piagetianas. Dos setenta livros e duzentos artigos publicados, apenas dois deles,

Piaget refere-s explicitamente à educação. Recebeu o título de psicólogo aos 80 anos pela

grande contribuição a esta ciência.

A perspectiva cognitivista interacionista é apontada por Piaget ancorada nos

mecanismos de modelo biológico, no que se refere à dinâmica do desenvolvimento e à

concepção sistemática do pensamento, em diferentes patamares estruturais, ao longo da

infância e da adolescência.

Para Piaget o sujeito constrói conhecimento interagindo com o meio, porque ele não é

inato, nem resulta do simples registro de percepções e informações, mas, paradoxalmente

(contrário ao senso comum) este “meio” não inclui cultura nem a história social dos homens,

apenas é assinalada pelas estruturas do organismo, que se acomodam a nova exigência do

ambiente, mostrando, assim, um comportamento adaptado a cada nova situação. Portanto,

Piaget acredita que é pelo interior mesmo do organismo que se dá a articulação entre as

estruturas do sujeito e as da realidade física, ou seja, o aprendizado é construído pelo próprio

aluno.

Piaget se livra de discutir as determinações sociais na construção de uma teoria

psicológica do indivíduo, pois o autor vai pela linearidade mecânica da evolução do

conhecimento. Para Piaget o ser humano constrói conhecimentos em interação com o meio

social e natural, ou seja, é pela interação sujeito/objeto do conhecimento, juntamente, pela

análise dos tipos de estruturas necessárias que o sujeito se apodera destes objetos.

Dessa forma, Piaget se dedica mais ao polo do Construtivismo, não se aprofundando

na relação sujeito/sujeito. Assim, busca compreender as estruturas do pensamento, a partir dos

mecanismos internos que as produzem.

Piaget prioriza o pensamento secundarizando o papel da linguagem no

desenvolvimento do pensamento. O autor aponta a superioridade das estruturas cognitivas em

relação à linguagem.

Piaget procurou abordar as mudanças qualitativas que passa a criança, desde o estágio

inicial de uma inteligência prática (sensório-motor) até o pensamento formal, lógico dedutivo,

que se dá a partir da adolescência.

Piaget comprova em seus estudos que o raciocínio da criança não se assemelha ao do

adulto, portanto, e, gradativamente, que ela se adapta às regras, aos valores e símbolos da

maturidade biológica.

Para Piaget, a criança em um primeiro momento desconhece as regras (anomia), só

depois que as recebe de “fora para dentro” (heteronomia) é que ela consegue caminhar para

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rejeitar, criticar, aceitar, refletir sobre valores e convenções sociais, culminando com a

construção da autonomia.

Piaget investiga a compreensão das estruturas do pensamento, a partir dos mecanismos

internos que as produzem. Para Piaget, todo indivíduo não consegue conceber o que se passa

à sua volta de forma imediata, apenas com um simples contato com os objetos. Para o autor

vão depender da maturação biológica, experiências, trocas interpessoais e transmissões

culturais.

DEU PARA VOCÊ ENTENDER? VAMOS CONTINUAR!

Segundo Piaget “o conhecimento resulta de uma interrelação entre o sujeito que

conhece e o objeto a ser conhecido” (S.M.E.,1996, p. 39).

Nesse sentido, cita-se a Multieducação (op.cit., p. 41) para clarear a afirmação:

Cabe a sociedade, através das instituições como a família e a escola, propiciar experiências, trocas interpessoais e conteúdos culturais que, interagindo com o processo de maturação biológica, permitem à criança e ao adolescente atingir a capacidade cada vez mais elaborada, de conhecer e atuar no mundo físico e social. [...] a lógica, a moral, a linguagem e a compreensão de regras sociais não são inatas, ou seja, pré-formadas na criança, nem são impostas de fora para dentro, por pressão do meio. São construídos por cada indivíduo ao longo do processo de desenvolvimento, processos este entendidos como sucessão de estágios que se diferenciam um dos outros, por mudanças qualitativas. Mudanças que permitem, não só assimilação de objeto de conhecimento compatível com as possibilidades já construídas, através da acomodação, mas também sirvam de ponto de partida para novas construções (adaptação).

Piaget vê o sujeito fundamentalmente epistêmico, portanto cognitivo, logo a teoria do

conhecimento proposta por ele tem sido pouco a pouco utilizada por vários professores e

pedagogos que acreditam na necessidade de estabelecer a mediação entre o sujeito

cognoscente e o objeto cognoscível, para que se encontre o êxito na aprendizagem.

LEMBRE-SE:

Quando se fala em sujeito ativo, não estamos falando de alguém que faz muitas coisas,

nem ao menos de alguém que tem uma atividade observável. O sujeito ativo de que falamos é aquele que compara, exclui, ordena, categoriza,

classifica, reformula, comprova, formula hipóteses, etc., em uma ação interiorizada (pensamento) ou em ação efetiva (segundo seu grau de desenvolvimento). Alguém que esteja realizando algo materialmente, porém seguindo um modelo dado por outro, para ser copiado, não é habitualmente um sujeito intelectualmente ativo.

Principais objetivos da educação: formação de homens criativos, inventivos e descobridores, de pessoas críticas e ativas, e na busca constante da construção da autonomia.

DEVEMOS LEMBRAR:

Piaget não propõe um método de ensino, mas, ao contrário, elabora uma teoria do

conhecimento e desenvolve muitas investigações, cujos resultados são utilizados por psicólogos e pedagogos.

Desse modo, suas pesquisas recebem diversas interpretações que se concretizam em propostas didáticas também diversas.

Implicações do pensamento piagetiano para a aprendizagem Os objetivos pedagógicos necessitam estar centrado no aluno, partir das

atividades do aluno.

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Os conteúdos não são concebidos como fins em si mesmos, mas como instrumentos que servem ao desenvolvimento evolutivo natural.

Há primazia de um método que leve ao descobrimento por parte do aluno ao invés de receber passivamente através do professor.

A aprendizagem é um processo construído internamente. A aprendizagem depende do nível de desenvolvimento do sujeito. A aprendizagem é um processo de reorganização cognitiva. Os conflitos cognitivos são importantes para o desenvolvimento da

aprendizagem. A interação social favorece a aprendizagem. As experiências de aprendizagem necessitam estruturar-se de modo a

privilegiarem a colaboração, a cooperação e intercâmbio de pontos de vista na busca conjunta do conhecimento.

Piaget não aponta respostas sobre o que e como ensinar, mas permite compreender

como a criança e o adolescente aprendem, fornecendo um referencial para a identificação das possibilidades e limitações de crianças e adolescentes.

Desta maneira, oferece ao professor uma atitude de respeito às condições intelectuais do aluno e um modo de interpretar suas condutas verbais e não verbais para poder trabalhar melhor com elas.

Em suma, considerar as atividades espontâneas da criança, como nos aponta Piaget, é permiti-la a desenvolver a criatividade e a autonomia, a fim de que ela possa resolver situações problemas e construir conceitos.

UNIDADE 3 – EUCAÇÃO SOCIOINTERACIONISTA

3.1. VYGOTSKY: INTERAÇÃO É FATOR DA APRENDIZAGEM

Leon Vygotsky (1896-1934) atuou como professor e pesquisador no campo das Artes,

Literatura e Psicologia e a partir de 1924 aprofundou sua investigação no campo da Psicologia,

dirigido também para a Educação de Deficientes.

Vygotsky, assim como Piaget, defende a idéia de que a criança não é a miniatura de um

adulto e sua mente funciona de forma bastante diferente. Esta compreensão tem grandes

implicações para os professores porque nos obriga a compreender o aluno da forma com que

ele é, e não da forma com que nós compreendemos o mundo.

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Assim, para a formação docente é de vital importância o estudo das diferentes teorias do

desenvolvimento de forma que nos permitam abordar o processo de ensino-aprendizagem do

modo que o mesmo venha a responder às necessidades particulares da natureza infantil.

Tanto Piaget como Vygotsky pensam que o desenvolvimento do indivíduo implica não

somente em mudanças quantitativas, mas sim, em transformações qualitativas do pensamento.

Ambos reconhecem o papel da relação ente o indivíduo e a sociedade e, em Vygotsky é esta

relação que determina o desenvolvimento do indivíduo.

NÃO ENTENDEU?

VAMOS EXPLICAR NOVAMENTE.

Vygotsky pesquisou processos de mudança na história do sujeito, buscando na

psicologia, de forma historicamente fundamentada, enraizada no materialismo histórico e

dialético. Desenvolveu estudos nas áreas de Psicologia e anormalidades físicas e mentais com

outros cientistas. Conclui a formação em Medicina, sendo convidado para dirigir o

Departamento de Psicologia do Instituto Soviético de Medicina Experimental. Suas obras foram

pouco traduzidas, embora sejam intensas.

Vygotsky é contra as etapas do desenvolvimento individual apontada por Piaget. Daí a

sua preocupação de apontar a compreensão dos aspectos da dinâmica da sociedade e da

cultura, em que o histórico social interfere no curso do desenvolvimento do sujeito. Isto porque,

acredita que o indivíduo transforma tanto a sua relação com a realidade como a sua

consciência sobre ela.

Para Vygotsky, a internalização de um sistema de signos produzidos culturalmente

provoca transformações na consciência do homem individual sobre a realidade, ou seja, o

homem assimila os valores culturais de seu ambiente, e, ao mesmo tempo, desenvolve uma

consciência crítica sobre os mesmos. Assim, o indivíduo se torna capaz de se transformar e

atender as novas exigências de seu contexto social.

Vygotsky considera que é na relação dialógica entre sujeitos que o indivíduo descobre

na palavra a possibilidade infinita de expandir a fala contextualizada para além de seus limites.

Portanto, o autor pondera que, as interações sociais são espaços privilegiados de construção

de sentidos, em que a linguagem é criação do sujeito. Nesse sentido, Vygotsky inclui a

afetividade, sendo ela que permeia toda produção artística e cultural, ficando de fora outras

formas de expressão do conhecimento humano que extrapolam os limites de uma

compreensão lógica de realidade.

Para Vygotsky tudo está em movimento, pela causa dos elementos contraditórios,

coexistindo em uma mesma totalidade rica e viva, mas, em constante mudança. Não há lugar

para dicotomia que isole o fenômeno, fragmentando-o ou imobilizando-o de maneira artificial.

Sendo assim, o autor afirma que não podemos separar a relação pensamento/linguagem.

Nessa concepção, o autor ressalta a linguagem constituidora da consciência, sendo

espaço privilegiado da construção de sentidos e marca essencialmente pela dimensão

humana.

Vygotsky não prioriza o pensamento em detrimento à linguagem, pois sua análise parte

da interrelação entre ambos. Para o autor, a fala contém sempre um pensamento oculto, um

subtexto, pois todo o pensamento encerra desejos, necessidades, emoções. Logo, a

compreensão do pensamento do outro depende da interação do ouvinte com base afetivo

volitiva. Sendo assim, não basta ouvir para compreender.

De acordo com Vygotsky, a linguagem egocêntrica direciona e transforma a atividade em

nível de pensamento intencional. É um estágio transitório na evolução da fala oral para fala

interior, portanto a linguagem interior é adquirida pela criança através dos conhecimentos

sociais e, ao mesmo tempo, é responsável pela construção de sua subjetividade. Assim sendo,

a dialética entre pensamento e linguagem no decurso da história social, é essencial.

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Os conteúdos da experiência histórica do homem não estão consolidados somente nas

coisas materiais, mas, sobretudo, se encontram generalizados e se refletem nas formas verbais

de comunicação produzidas entre os homens sobre estes conteúdos.

[...] quando as crianças se confrontam com um problema um pouco mais complicado para elas, apresentam uma variedade complexa de respostas que incluem: tentativas diretas de atingir o objetivo,o uso de instrumentos, fala dirigida à pessoa que conduz o experimento ou fala que simplesmente acompanha a ação e apelos verbais diretos ao objeto de atenção. Quando analisado dinamicamente, esse amálgama de fala e ação tem uma função muito específica na história do desenvolvimento da criança; demonstra também, a lógica da sua própria gênese. Desde os primeiros dias do desenvolvimento da criança suas atividades adquirem um significado próprio num sistema de comportamento social e, sendo dirigidas a objetivos definidos são refratadas através do prisma do ambiente da criança. O caminho do objeto até a criança e desta até o objeto passa através de outra pessoa. Essa estrutura humana complexa é o produto de um processo de desenvolvimento profundamente enraizado nas ligações entre história individual e história social (VYGOTSKY, 1993, p. 33).

Vygotsky acredita que o reflexo do mundo externo sobre o mundo interno é constante

variável e imprescindível ao desenvolvimento do indivíduo. Sendo assim, para o autor a

natureza social e cultural se torna indispensáveis à natureza psicológica das pessoas.

Vygotsky salienta que o aprendizado começa muito antes da entrada da criança na

escola, entretanto, o aprendizado escolar produz algo novo no desenvolvimento infantil.

Vygotsky propõe o conceito de zona de desenvolvimento proximal para explicar o

processo de aprendizagem. Considera o nível de desenvolvimento real (manifesto ação) e,

simultaneamente, o nível de desenvolvimento potencial (determinado através da solução de

problemas sob orientação de um adulto ou em colaboração com demais parceiros).

Para Vygotsky, enquanto o nível de desenvolvimento real caracteriza-se pelo

desenvolvimento mental, retrospectivamente, o nível potencial caracteriza-se pelo

desenvolvimento prospectivamente, em que a zona de desenvolvimento proximal é que define

as funções em processo de maturação (VYGOSTSKY, 1993).

Neste sentido, aquilo que é zona de desenvolvimento potencial hoje, será nível de

desenvolvimento real amanhã. Sendo assim, para Vygotsky (1993) “o bom aprendizado é

somente aquele que se adianta ao desenvolvimento” (p.15).

Para Vygotsky o desenvolvimento do pensamento é um processo essencialmente

dialético, em que o sujeito transforma e é transformado pela realidade física, social e cultural

em que se encontra.

LEMBRE-SE:

Vygotsky nos fornece uma pista, sobre o papel da ação docente: o professor é o

mediador da aprendizagem do aluno, facilitando-lhe o domínio e a apropriação dos diferentes

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instrumentos culturais. Mas, a ação docente somente terá sentido se for realizada no plano da

Zona de Desenvolvimento Proximal. Isto é, o professor constitui-se na pessoa mais

competente que precisa ajudar o aluno na resolução de problemas que estão fora do seu

alcance, desenvolvendo estratégias para que pouco a pouco possa resolvê-las de modo

independente.

É imperativo que a Escola e seus educadores atentem que não tem como função ensinar

aquilo que o aluno pode aprender por si mesmo e sim, potencializar o processo de

aprendizagem do estudante. A função da Escola é fazer com que os conceitos espontâneos,

informais, que as crianças adquirem na convivência social, evoluam para o nível dos conceitos

científicos, sistemáticos e formais, adquiridos pelo ensino. Eis aí o papel mediador do docente.

Atividades:

Argumente sobre o trecho abaixo:

Todo professor precisa ter um trabalho pedagógico que leve seus alunos a terem a idéia livre da opressão, pensando em si e no mundo que o rodeia. Sendo assim, segundo Paulo Freire (1996) todo educador carece ser substantivamente político e adjetivamente pedagógico. Isto nos faz pensar no verdadeiro papel do docente, é o de levar seu aluno a ser sujeito ativo, reflexivo e autônomo dentro da sociedade. Portanto, não podemos mais pensar que ensinamos aos nossos alunos, mas, sim levá-los a aprender para transformá-los em cidadãos ativos na sociedade.

Atividade de autoavaliação: 1) Um docente que pretende desenvolver uma prática educativa em sintonia com o contexto sociocultural deve organizar sua ação educativa e pragmática junto aos alunos com base

a) na discussão de problemas culturais, éticos, étnicos e de gênero. b) na mobilização política em favor da solução de problemas. c) na análise das contradições culturais entre os povos. d) na apresentação de narrativas sobre temas transversais e) nas aspirações sociais, interesses e motivação dos estudantes.

2) De acordo com a teoria sociointeracionista, no processo ensino-aprendizagem é importante se estabelecer a diferença entre o que o aluno é capaz de fazer e aprender sozinho e o que é capaz de fazer e aprender com a participação de outras pessoas, observando-as, imitando-as, seguindo suas instruções e colaborando com elas. A distância entre esses dois pontos delimita a margem da ação educativa e é denominada por Vygotsky de nível de

a) Desenvolvimento efetivo. b) Desenvolvimento proximal. c) Desenvolvimento potencial. d) Desenvolvimento operatório. e) Aprendizagem significativa.

3) Dentre os teóricos que norteiam, basicamente os fundamentos da educação, estão Piaget e Vygotsky. Ambos tiveram como objeto de estudo o desenvolvimento do conhecimento humano. Para Piaget, entretanto, o conhecimento resulta da:

a) formação do pensamento lógico dedutivo. b) elaboração de estágios sócio-cognitivos. c) relação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido. d) interrelação entre o sujeito que conhece e o objeto a ser conhecido.

e) construção dos aspectos mentais.

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UNIDADE 4- PERFIL DO EDUCADOR DO SÉCULO XXI: COMPETÊNCIAS, HABILIDADES E ATITUDES.

O Homem não é produzido, apenas, biologicamente, vivendo no mundo da

natureza, como os outros animais, mas porque sua existência é construída pelo

mundo da cultura.

A partir da relação com o meio social e cultural, o Homem em comunicação

com outros homens estabelece desafios, a fim de construir recursos que o auxiliem a

obter uma melhor qualidade de vida que, consequentemente, beneficiará toda a

sociedade.

No decorrer da história humana, podemos perceber as notáveis modificações

que a sociedade sofreu, marcadas, principalmente, pelos efeitos da Revolução

Agrícola e da Revolução Industrial.

A partir destas revoluções, surge a invenção de novas técnicas na

agricultura, na eletricidade, nas máquinas, decorrentes da necessidade de ampliação

dos negócios e enriquecimento da burguesia, o que levará as pessoas a mudarem sua

forma de pensar e agir (VALENTE 1999).

Nesse processo histórico, é alterado o desenvolvimento econômico, político,

social e cultural, e, consequentemente, o educacional, partindo do pressuposto de que

a educação só pode ser compreendida em um determinado contexto histórico, por ser

“fenômeno social amplo, complexo, através da qual a sociedade, ao mesmo tempo, se

renova e perpetua” (MARES GUIA, 1999, p. 7).

Podemos destacar devido ao grande desenvolvimento da ciência e da

tecnologia o surgimento de um novo momento histórico, a Revolução da Informação,

que Alvin Tofler elucidou como a Terceira Onda.

Este tempo é assinalado pelo surgimento dos mais variados recursos

tecnológicos e de comunicação, que fizeram - e fazem - o mundo sofrer grandes

transformações, em uma velocidade muito rápida. Isto implica que este grande número

de informações originará profundas mudanças nos costumes de todo globo terrestre.

Destacamos, dentre as criações das novas tecnologias e da comunicação, o

jornal, o rádio, o telefone, a televisão, o vídeo cassete, o fax, o computador, os

satélites e a Internet, que se mesclam no dia-a-dia das pessoas, na intenção de

impulsioná-las a conviverem sem fronteiras ou pré-requisitos.

Nessa perspectiva, podemos elucidar que as produções tecnológicas,

sempre, incluem significado e sentido cognitivo, porque a essência da conduta

humana reside em seu caráter mediatizado por ferramentas e signos, para vincular-se

e compreender o mundo que a rodeia (VYGOSTKY, 1996).

Page 36: Apostila de Fundamentos Das Series Iniciais 2013

Isto significa que os meios tecnológicos permitem ao indivíduo atuar sobre a

natureza e, de alguma forma pensar sobre ela.

As alterações refletidas pelas novas tecnologias desencadearam a

globalização da economia. Por conseguinte, isto implica que conceitos sobre

conhecimentos, ensino e aprendizagem sejam reformulados, pois do mundo

globalizado emerge uma grande quantidade de informações, que nos confunde com o

aqui e o agora, quase sem limitações de tempo e espaço.

O uso do quadro, do giz, do caderno, do lápis e a exposição oral não são as

únicas ferramentas para ensinar a ler, a escrever e a contar. O processo de

transmissão e a memorização de informações devem ser substituídos pela interação

dos vários recursos tecnológicos, a fim de levar o aluno à reflexão sobre as

informações transmitidas, em uma atitude mais dinâmica e menos passiva.

Como nos afirma Moran (1993, p.28):

Temos que desenvolver processos de comunicação ricos, interativos e cada vez mais profundos. Abrir as escolas ao mundo, à vida. Criar ambientes de ensino e aprendizagem mais atraentes, envolventes e multisensoriais. Apoiar a introdução das novas tecnologias de comunicação possíveis a cada etapa, dentro de um projeto pedagógico inovador, que facilitam o processo ensino-aprendizagem. Sensibilizam para novos assuntos, trazem informações novas, diminuem a rotina, nos ligam com o mundo, aumentam a interação, permitem a personalização (adaptação do trabalho ao ritmo de cada aluno) porque trazem para sala de aula as linguagens e os meios de comunicação do dia a dia.

A utilização dos novos recursos tecnológicos e de comunicação no processo ensino-aprendizagem auxilia o desenvolvimento de todos os sentidos do homem, pois o conhecimento interno necessita do externo, através de um agir simultâneo, isto porque aquilo, que inicialmente, é interpsíquico passa a ser intrapsíquico (VYGOSTKY, 1991).

Nesse processo, não há como deixar de reconhecer a importância dos meios

de comunicação social na educação, pois além de levar o indivíduo a utilizar todos os

sentidos, eles reforçam a organização de ideias, provocando a imaginação e ao

mesmo tempo, a sua autencidade.

Entretanto, não podemos deixar de destacar que as diversas tecnologias

precisam em incidir dentro do contexto social, econômico, político e cultural em que

atuamos, para que possamos dar condições aos alunos de construírem consciência

crítica, capaz de melhorar sua condição de vida como cidadão.

Para Fusari (1993) quando o sistema escolar utiliza os meios tecnológicos e

de comunicação, isto não significa que essas instâncias, por si, ajudarão na interação

e transformação do aluno. São necessários a interação dos valores, dos objetivos e o

propósito da escolarização.

E assim prossegue o autor:

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É preciso que o professor saiba comunicação humana (em geral e escolar) e saiba fazer mobilizar nos cursos e aulas uma comunicação de mundo, da melhor qualidade, de um modo inventivo na especificidade da educação escolar. E mais: saiba contribuir para que seus alunos também se apropriem dos aspectos essenciais desses conhecimentos a respeito da comunicação articulados aos demais. Tais conhecimentos vinculados a fins educacionais incluem aspectos fundamentais críticos, sobre as relações comunicacionais na elaboração de produtos de comunicação, em geral, escolar e na interatividade pessoal com os já produzidos por outras pessoas ou profissionais (p.25).

A necessidade do professor em se aprofundar nos conhecimentos comunicacionais é imperativo, pois, ao utilizar esses novos recursos, ele não deve encará-los, apenas, como instrumentos, mas como meios de reestruturar “as velhas” aulas, a fim de levar à reflexão e a consciência crítica dos alunos.

Nós, educadores, temos que nos aparelhar e refletir sobre a nossa prática educativa, estabelecendo relações entre as teorias de desenvolvimento e a aprendizagem, com vistas a nos atualizar e, simultaneamente, auxiliar nossos alunos a enfrentarem as novas exigências do mercado de trabalho.

Toda escola deve ser um espaço de prazer, de criação, de socialização, de recriação do mundo, o qual propicie a discussão dos valores e a auto-reflexão crítica. Educar, nos dias atuais, é incorporar os novos paradigmas, ou seja, as novas técnicas, mas não como instrumentos, mais do que isso, promover e estimular a capacidade de leitura crítica das imagens e informações transmitidas pelos meios tecnológicos e de comunicação.

É imprescindível, que a prática pedagógica procure descobrir, em caminhada conjunta, com o corpo docente e discente, enfim, com toda comunidade escolar, um reinventar pedagógico didático, com vistas a contribuir para a formação de indivíduos críticos, reflexivos, conscientes e preparados para a realidade contemporânea. A atualização e a informação são instâncias necessárias no mundo atual, desde que não sejam alheias às relações de saber e de poder.

Assim sendo, mais do que nunca, o educador deve compreender que o conhecimento não se dá de forma isolada, mas no intercâmbio com mundo, através das diferentes linguagens e fontes de informação, possibilitando uma reflexão crítica em prol da transformação do educando.

Nesta perspectiva, concluímos com uma citação de Jerome Bruner (In: Salto Para o Futuro, p. 96, 1998) que nos ratifica:

O primeiro objeto de qualquer ato de aprendizagem, acima e além do prazer que nos possa dar, é o que deverá servir-nos no presente e valer-se no futuro. Aprender não deve apenas levar-nos até algum lugar, mas também permitir-nos ir além.

Um dos grandes problemas nos sistemas educativos, nos dias atuais, é que

ainda, a maior parte das práticas educativas não está atrelada ao mundo.

Freire (1999) ressalta que o sucesso do processo ensino-aprendizagem

encontrar-se no papel do docente, em transformar as informações em conhecimento.

Nesse prisma, consideramos importante que os docentes fiquem atentos ao

fato de que as mudanças no mundo acontecem rapidamente e, por isso, torna-se

importante tentar diminuir a distância que separa a escola da vida cotidiana, para que

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a ação pedagógica não pareça algo obsoleto, fora do contexto e sem vínculos com o

cotidiano.

BIBLIOGRAFIAS CONSULTADAS

ARANHA, M. L. História da educação. 2ed. São Paulo: Moderna, 1998.

_______. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 1998.

PIAGET, J. Psicologia e pedagogia. Rio de Janeiro: Forense, 1969. São Paulo: Martins Fontes, 1986. ROSSEAU, Jean-Jacques. Do contrato social. Ensaio sobre a origem das línguas. São Paulo:

Nova Cultural, 1997.

SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO. Multieducação: Núcleo curricular básico. Rio de Janeiro, 1996. VYGOSTKY, L. S. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1993. WALLON, H: Uma concepção dialética do desenvolvimento infantil. Isabel Galvão. Ed. Vozes, 1995