apostila de direito constitucional transformando seus sonhos em nomeação apostila de direito...

109
1 Transformando seus sonhos em Nomeação APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL Profª Malu Aragão O Curso Prime disponibiliza para você esta Excelente Apostila desenvolvida pela nossa professora Malu Aragão, Aproveite!

Upload: hanga

Post on 07-Nov-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

1

Transformando seus sonhos em Nomeação

APOSTILA DE DIREITO CONSTITUCIONAL

Profª Malu Aragão

O Curso Prime disponibiliza para você esta Excelente Apostila

desenvolvida pela nossa professora Malu Aragão, Aproveite!

2

1. Constituição da República Federativa do Brasil. Emendas

Constitucionais e Emendas Constitucionais de Revisão. Princípios

Fundamentais.

Para entender melhor sobre as emendas constitucionais, é necessário estudar a cerca do Poder Constituinte.

Por ser um tema doutrinário, citaremos alguns artigos esparsos do texto constitucional para exemplificar os institutos.

1.0. CONCEITO DE PODER CONSTITUINTE E TITULARIDADE.

É o poder de elaborar ou atualizar uma Constituição, é a manifestação soberana da vontade política de um povo, social e juridicamente organizado.

Para a doutrina moderna a titularidade do poder constituinte pertence ao povo, embora seja exercido ou por uma assembleia nacional constituinte (convenção) ou outorgada por um movimento revolucionário. Vale lembrar que o abade Emmanuel Joseph Sieyès, que traçou as linhas mestras da Teoria do Poder Constituinte através da sua obra "¿Que é o terceiro Estado?” (“Quést-ce que le tiers État?”), apontava como titular do poder constituinte a nação.

A Constituição da República Federativa do Brasil é a Lei Maior, que está hierarquicamente acima de todas as outras normas do ordenamento jurídico brasileiro.

Por exemplo, o Código Penal, o Código Civil e a lei nº 8.666/93 são normas infraconstitucionais, estão abaixo da Constituição Federal.

2.0. ESPÉCIES DE PODER CONSTITUINTE.

2.1. Originário (inicial, inaugural, genuíno, instituidor, ou de 1º grau).

Instaura um novo Estado, organizando-o, rompendo por completo com a antiga ordem jurídica. Tanto haverá poder constituinte no surgimento de uma primeira constituição, quanto na elaboração de qualquer constituição posterior.

Pode ser subdividido em histórico (o primeiro) ou revolucionário (todos os posteriores ao histórico) e caracteriza-se por ser inicial, já que a sua obra, a constituição, é a base da ordem jurídica, por ser ilimitado juridicamente e autônomo porque não está de modo algum limitado pelo direito anterior, não tendo que respeitar os limites postos pelo direito positivo antecessor, por ser incondicionado, pois não está sujeito a qualquer forma prefixada para manifestar sua vontade e por ser permanente porque não desaparece com a realização de sua obra, continua latente, manifestando-se novamente mediante uma nova assembleia nacional constituinte ou um ato revolucionário.

Embora o Brasil tenha adotado a corrente positivista, onde nem mesmo o direito natural limitaria o poder constituinte originário contrapondo-se a corrente jusnaturalista, destaca-se entre a doutrina moderna a visão de Canotilho, o qual observa que o poder constituinte originário “... obedece a padrões e modelos de conduta espirituais, culturais, éticos e sociais, radicados na consciência jurídica geral da comunidade e, nesta medida, considerados como ‘vontade do povo’”.

2.2. Derivado (instituído, constituído, secundário, ou de 2º grau ou remanescente).

Está inserido na própria constituição, pois decorre de uma regra jurídica de autenticidade constitucional (poder constituinte originário), portanto conhece limitações constitucionais expressas e implícitas e é passível de controle de constitucionalidade. Caracteriza-se por ser derivado, uma vez que retira sua força do poder constituinte originário, por ser subordinado, pois se encontra limitado pelas normas

3

explícitas e implícitas do texto constitucional e por ser condicionado, porque seu exercício deve seguir regras previamente estabelecidas no texto da constituição federal.

Subdivide-se em: Poder constituinte derivado revisor (competência de revisão), Poder constituinte derivado reformador (competência reformadora) e Poder constituinte derivado decorrente.

2.2.1. Poder Constituinte Derivado Reformador. Emendas Constitucionais.

Consiste na possibilidade de se alterar o texto constitucional, respeitando-se a regulamentação especial prevista na própria constituição federal (norma originária) e será exercitado por determinados órgãos com caráter representativo.

A Carta de Outubro prevê em seu artigo 60, a única maneira de se modificar formalmente as normas constitucionais originárias, vejamos:

Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:

I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;

II - do Presidente da República;

III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

§ 1º – A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.

§ 2º – A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.

§ 3º – A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.

§ 4º – Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:

I – a forma federativa de Estado;

II – o voto direto, secreto, universal e periódico;

III – a separação dos Poderes;

IV – os direitos e garantias individuais.

§ 5º – A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.

O legislador constituinte de 1988, ao prever a possibilidade de alteração das normas constitucionais por meio de um processo legislativo especial e mais dificultoso que o ordinário, definiu nossa Constituição como rígida, fixando a ideia de supremacia da ordem constitucional.

A emenda à Constituição Federal, enquanto “proposta”, é considerada um ato infraconstitucional sem qualquer normatividade, só ingressando no ordenamento jurídico após sua aprovação, passando então a ser preceito constitucional, de mesma hierarquia das normas constitucionais originárias.

A Constituição Federal traz duas espécies de limitações ao Poder de reformá-la: as limitações expressas e implícitas. As limitações expressamente previstas no texto constitucional, por sua vez, subdividem-se em três subespécies: circunstanciais (art. 60, §1º), materiais (art. 60, §4º) e formais (Art. 60, §§ 2º, 3º e 5º); Enquanto os limites implícitos do poder de reforma, que derivam dos limites expressos, dividem-se em dois grupos: as normas sobre o titular do poder constituinte reformador e as disposições relativas à eventual supressão das limitações expressas.

Agora, vamos estudar as fases do processo de aprovação das emendas constitucionais, que são chamadas de LIMITAÇÕES FORMAIS.

4

A fase introdutória diz respeito a iniciativa dessa proposta e, nos termos do artigo 60 da Constituição Federal vigente, especifica os legitimados a apresentar uma PEC (proposta de emenda constitucional), que são: um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal, o Presidente da República e mais da metade das Assembleias legislativas das Unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.

É bom frisar que o rol dos legitimados para a iniciativa de uma proposta de emenda constitucional é taxativo.

Ressalte-se que o professor Pedro Lenza defende a possibilidade de proposição popular, por considerar que o titular do poder constituinte é o Povo (art. 1º, parágrafo único, da CF/88). Tese não acolhida pela jurisprudência pátria.

Em regra, a fase constitutiva possui a deliberação parlamentar e a deliberação executiva. Na deliberação parlamentar, a proposta é aprovada no Congresso Nacional. Já a deliberação executiva ocorre no Poder Executivo, podendo o chefe do Executivo sancionar ou vetar a proposição.

No caso das emendas constitucionais, é diferente, pois são aprovadas com quorum qualificado, em dois turnos, em cada casa do Congresso Nacional (vê parágrafo 2º, do artigo 60), evidenciando que a Constituição Federal atual adotou um modelo rígido de mudança de suas normas, diferente das normas infraconstitucionais, que são aprovadas com quorum menor e em único turno.

Importante dizer que no processo legislativo de emendas constitucionais não existe a deliberação executiva, pois não existe participação do Presidente da República na fase constitutiva, uma vez que não existe sanção ou vento à emenda constitucional.

Outra peculiaridade das emendas constitucionais é a impossibilidade de ser reapresentada na mesma sessão legislativa (vê artigo 57 da CF/88), como está prevista no parágrafo 5º do mesmo dispositivo.

Na fase complementar ocorre a promulgação e a publicação. Promulgar é atestar a existência de uma norma e dizer: cumpra-se! A autoridade que possui competência para promulgar e publicar as leis é o Presidente da República, nos termos do artigo 84, IV. No entanto, no caso de emendas constitucionais, a promulgação e publicação é atribuição do Poder Legislativo, conforme o parágrafo 3º, do supra mencionado artigo.

Existem também as LIMITAÇÕES CIRCUNSTANCIAIS, que impedem que a norma constitucional seja emendada durante uma crise institucional, ou seja, na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio (vê parágrafo 1º).

Por fim, destacam-se as LIMITAÇÕES MATERIAIS. Tais matérias formam o núcleo intangível da Constituição Federal, denominado tradicionalmente por “cláusulas pétreas”, que não podem ser abolidos por emenda constitucional.

No que tange aos direitos e garantias individuais, o rol não é taxativo, uma vez que os mesmos estão estabelecidos em toda a Constituição Federal, de forma explícita e implícita (art. 5º, §2º, da CF/88).

Tem-se, ainda, que tais direitos podem até ser restringidos, desde que não haja ofensa ao núcleo essencial do direito, segundo a exegese dogmática atual (Teoria do limite dos limites).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: (...) O princípio da proporcionalidade constitui um critério de aferição da constitucionalidade das restrições a direitos fundamentais. Trata- se de um parâmetro de identificação dos denominados limites dos limites (Schranken-Schranken) aos direitos fundamentais; um postulado de proteção de um núcleo essencial do direito, cujo conteúdo o legislador não pode atingir. Assegura-se uma margem de ação ao legislador, cujos limites, porém, não podem ser ultrapassados. O princípio da proporcionalidade permite aferir se tais limites foram transgredidos pelo legislador”. (...). (STF ADC 29/DF, de 2012).

2.2.2. Poder Constituinte Derivado Revisor. Emendas Constitucionais de Revisão.

Esse poder está vinculado ao Poder Constituinte Originário e foi estabelecido no artigo 3º. do ADCT, que reza:

5

“A revisão constitucional será realizada após cinco anos, contados da promulgação da Constituição, pelo voto da maioria absoluta dos membros do Congresso Nacional, em sessão unicameral”.

Desta competência, que adotou um procedimento simplificado, surgiram 6 (seis) Emendas Constitucionais de Revisão, valendo destacar que a resolução nº 1-RCF do Congresso Nacional fixou as mesmas limitações materiais (cláusulas pétreas) do artigo 60, §4º, da CF/88 (que trataremos no item 2.2.2)

Dito poder não poderá mais se manifestar em razão da eficácia exaurida e aplicabilidade esgotada da regra constitucional.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. RESOLUÇÃO N. 1 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, DE 18.11.1993, QUE DISPÕE SOBRE O FUNCIONAMENTO DOS TRABALHOS DE REVISÃO CONSTITUCIONAL E ESTABELECE NORMAS COMPLEMENTARES ESPECIFICAS. AÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE AJUIZADA PELO GOVERNADOR DO ESTADO DO PARANA. ALEGAÇÕES DE OFENSA AO PARÁGRAFO 4. DO ART. 60 DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL, EIS QUE O CONGRESSO NACIONAL, PELO ATO IMPUGNADO, "MANIFESTA O SOLENE DESIGNIO DE MODIFICAR O TEXTO CONSTITUCIONAL", MEDIANTE "'QUORUM' DE MERA MAIORIA ABSOLUTA", "EM TURNO ÚNICO" E "VOTAÇÃO UNICAMERAL". SUSTENTA-SE, NA INICIAL, ALÉM DISSO, QUE A REVISÃO DO ART. 3. DO ADCT DA CARTA POLÍTICA DE 1988 NÃO MAIS TEM CABIMENTO, POR QUE ESTARIA INTIMAMENTE VINCULADA AOS RESULTADOS DO PLEBISCITO PREVISTO NO ART. 2. DO MESMO INSTRUMENTO CONSTITUCIONAL TRANSITORIO. "EMENDA" E "REVISÃO", NA HISTORIA CONSTITUCIONAL BRASILEIRA. EMENDA OU REVISÃO, COMO PROCESSOS DE MUDANCA NA CONSTITUIÇÃO, SÃO MANIFESTAÇÕES DO PODER CONSTITUINTE INSTITUIDO E, POR SUA NATUREZA, LIMITADO. ESTA A "REVISÃO" PREVISTA NO ART. 3. DO ADCT DE 1988 SUJEITA AOS LIMITES ESTABELECIDOS NO PARÁGRAFO 4. E SEUS INCISOS, DO ART. 60, DA CONSTITUIÇÃO. O RESULTADO DO PLEBISCITO DE 21 DE ABRIL DE 1933 NÃO TORNOU SEM OBJETO A REVISÃO A QUE SE REFERE O ART. 3. DO ADCT. APÓS 5 DE OUTUBRO DE 1993, CABIA AO CONGRESSO NACIONAL DELIBERAR NO SENTIDO DA OPORTUNIDADE OU NECESSIDADE DE PROCEDER A ALUDIDA REVISÃO CONSTITUCIONAL, A SER FEITA "UMA SÓ VEZ". AS MUDANCAS NA CONSTITUIÇÃO, DECORRENTES DA "REVISÃO" DO ART. 3. DO ADCT, ESTAO SUJEITAS AO CONTROLE JUDICIAL, DIANTE DAS "CLAUSULAS PETREAS" CONSIGNADAS NO ART. 60, PAR. 4. E SEUS INCISOS, DA LEI MAGNA DE 1988. NÃO SE FAZEM, ASSIM, CONFIGURADOS OS PRESSUPOSTOS PARA A CONCESSÃO DE MEDIDA LIMINAR, SUSPENDENDO A EFICACIA DA RESOLUÇÃO N. 01, DE 1993 - RCF, DO CONGRESSO NACIONAL, ATÉ O JULGAMENTO FINAL DA AÇÃO. MEDIDA CAUTELAR INDEFERIDA. (STF - ADI-MC: 981 PR , Relator: NÉRI DA SILVEIRA, Data de Julgamento: 16/12/1993, TRIBUNAL PLENO, Data de Publicação: DJ 05-08-1994 PP-19299 EMENT VOL-01752-01 PP-00030).

Já que entendemos tudo sobre as Emendas Constitucionais, vamos passar a estudar os artigos da Constituição Federal.

Antes disso, é imprescindível estudar sobre a estrutura da constituição federal de 1988.

Estruturalmente a constituição atual contém um preâmbulo, nove títulos (corpo) e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que tendo natureza de norma constitucional, pode trazer exceções às regras gerais previstas no corpo da constituição.

Preâmbulo – apesar de não fazer parte do texto constitucional, uma vez que não possui valor normativo, seu conteúdo traça diretrizes políticas, filosóficas e ideológicas da Constituição, sendo assim um vetor de interpretação.

Parte dogmática – texto normativo constitucional que compreende do artigo 1º. ao art. 250.

Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) – estabelece as regras de transição entre a Constituição anterior e a nova Constituição. Possui natureza de norma constitucional, podendo inclusive ser objeto de emendas constitucionais. Alguns dispositivos são regras de exceção da parte dogmática da Constituição Federal.

6

Os Princípios Fundamentais são previstos no Título I da Constituição Federal Brasileira.

O termo princípio traduz-se na ideia de início, origem, começo, e ainda, numa outra acepção, em mandamento, norma nuclear de um sistema. Nesse contexto, os princípios fundamentais nada mais são que as diretrizes básicas que produzem decisões políticas imprescindíveis à estruturação do Estado. São alicerce, a base, as linhas mestras sociais e políticas que norteiam e inspiram os conteúdos positivados pelo legislador constituinte originário.

No artigo 1º estão estabelecidos os fundamentos da República Federativa do Brasil, como se vê a seguir:

Art. 1º – A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:

I – a soberania;

II – a cidadania;

III – a dignidade da pessoa humana;

IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;

V – o pluralismo político.

Parágrafo único: Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.

Nesse dispositivo tem-se a definição da República Federativa do Brasil sob o aspecto territorial, ou físico, a República é composta dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.

Há de se observar que República Federativa do Brasil é o nome do Estado Brasileiro, que adota o federalismo, por isso a designação Estado Federal. Este, por sua vez, compõe-se de coletividades regionais autônomas denominadas Estados-membros ou federados.

Para Celso Bastos, soberania é atributo que se confere ao poder do Estado em virtude de ser juridicamente ilimitado (todo o poder). Já autonomia é margem de discrição de que uma pessoa goza para decidir sobre seus negócios (parcela do poder).

A Constituição adotou como Forma de Estado o Federalismo, que no conceito de Dalmo Dallari é uma “aliança ou união de Estados”, baseada em uma constituição e onde “os Estados que ingressam na federação perdem sua soberania no momento mesmo do ingresso, preservando, contudo, uma autonomia político-administrativa”. Assim, não se admite secessão, separação ou segregação. Lembre-se, o legislador constituinte determinou a impossibilidade de qualquer deliberação sobre proposta de emenda constitucional tendente a abolir a Federação (Art. 60, §4º, I da CF).

A República foi a Forma de Governo assumida pelo país, tendo como características: a eletividade, temporariedade e responsabilidade do governante perante os governados.

Tais fundamentos, especificados no artigo em referência, devem ser conceituados. Vamos?

O Princípio da indissolubilidade do vínculo federativo, em nosso Estado Federal, foi consagrado em nossas constituições republicanas desde 1891 e tem duas finalidades básicas: a unidade nacional e a necessidade descentralizadora. Inadmissível, portanto, qualquer pretensão de separação de um Estado-membro, do Distrito Federal ou de qualquer Município da Federação, inexistindo em nosso ordenamento jurídico o denominado direito de secessão, pois a mera tentativa de secessão permitira a decretação de intervenção federal (Art. 34, I da CF).

O Estado Democrático de Direito é mais amplo que Estado de Direito. A expressão “Estado de Direito” na sua origem significa governo a partir de leis, porém quaisquer leis. Com a introdução da característica de ser democrático na Constituição Federal de 1988, impõe-se a todas as normas a observância a tal

7

princípio; não sendo suficientes apenas as leis, mas principalmente que nestas esteja inserido o conteúdo democrático, uma vez que o regime político adotado é a democracia.

A soberania significa poder ilimitado na ordem interna e independente na ordem internacional.

A cidadania está relacionado com a titularidade de direitos políticos, implicando, assim, na parcela detentora de capacidade eleitoral ativa.

A dignidade da pessoa humana compreende o direito de nascer com vida e permanecer vivo com uma vida digna. Deve ser interpretado com o máximo de amplitude possível na hora de conceituá-lo, aplicando o princípio da máxima efetividade ou eficiência.

Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa são características do sistema capitalista: valorização do trabalho, único responsável pela subsistência e desenvolvimento dos indivíduos e do país e a prevalência da livre iniciativa, a qual afasta os ideais socialistas de planificação da economia.

O pluralismo político não significa apenas pluripartidarismo, sendo este uma espécie do gênero daquele. Caracteriza-se pela aceitação de diversidade de opiniões, participação plural na sociedade do mais diversos modos, abrangendo associações, sindicatos, partidos políticos, igrejas, universidades, escolas etc.

O Regime Político adotado no Brasil, o democrático, ou seja, governo do povo, para o povo, pelo povo. O poder advém do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente (democracia semidireta ou participativa), nos termos do parágrafo único do artigo 1º.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) Ninguém é obrigado a cumprir ordem ilegal, ou a ela se submeter, ainda que emanada de autoridade judicial. Mais: é dever de cidadania opor-se à ordem ilegal; caso contrário, nega-se o Estado de Direito. (STF HC 73.454/RJ).

EMENTA. (...) O princípio da livre iniciativa não pode ser invocado para afastar regras de regulamentação do mercado e de defesa do consumidor. (STF RE 349.686, 14.06.2005).

No artigo 2º encontra-se o Princípio da Separação dos Poderes.

Art. 2º – São Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.

Defende a doutrina que a divisão é de Funções, e não de Poderes, considerando que o Poder é uno, além de ser indivisível e indelegável.

A Tripartição de Poderes foi esboçada por Aristóteles e firmada por Montesquieu e Locke.

Os poderes participam, por vezes, das atribuições uns dos outros, a fim de que se garanta a harmonia entre eles, a inocorrência de abusos e a consequente realização do bem da coletividade, através do sistema de freios e contrapesos – checks and balances. Assim as funções administrativa, legislativa e judiciária não são exercidas com exclusividade, mas apenas preponderantemente por cada “Poder”. Daí a denominação em funções típicas e atípicas (secundárias ou subsidiárias).

Os Poderes são harmônicos e independentes, ou seja, entre os órgãos há cortesia no trato recíproco e na atuação do exercício de suas atribuições não há ingerência dos demais, com liberdade para organizar serviços e tomar decisões, apesar da doutrina indicar na própria constituição exceções a separação dos poderes, como por exemplo, o artigo 50, parágrafo 1º.

Como exemplo, tem-se a competência de legislar do Poder Legislativo. O Congresso aprova os projetos de leis, que podem ser sancionados ou vetados pelo Presidente da República e no caso de haver sanção, poderá o Poder Judiciário declarar a inconstitucionalidade.

Ressalte-se que a Separação dos Poderes é cláusula pétrea (art. 60, 4º, III).

8

No próximo artigo estão estabelecidos os objetivos, as metas a serem atingidas, ou os fins do Estado Brasileiro.

Art. 3º – Constituem objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I – construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II – garantir o desenvolvimento nacional;

III – erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades sociais e regionais;

IV – promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.

Não se trata de um rol taxativo, mas exemplificativo.

Como medida concreta a EC nº 31, de 14.12.2000, criou o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza, acrescentando ao ADCT os artigos 79 a 83.

Já no artigo 4º o constituinte relacionou os princípios da República Federativa do Brasil no âmbito internacional.

Art. 4º – A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios:

I – independência nacional;

II – prevalência dos direitos humanos;

III – autodeterminação dos povos;

IV – não intervenção

V – igualdade entre os Estados;

VI – defesa da paz;

VII – solução pacífica dos conflitos;

VIII – repúdio ao terrorismo e ao racismo;

IX – cooperação entre os povos para o progresso da humanidade;

X – concessão de asilo político.

Parágrafo único. A República Federativa do Brasil buscará a integração econômica, política, social e cultural dos povos da América Latina, visando à formação de uma comunidade latino-americana de nações.

Os dez princípios de relações internacionais que devem ser hermeneuticamente analisados e concretizados com o intuito de lograr o objetivo constante no parágrafo único e consistem em verdadeiros desafios das relações internacionais rumo a efetiva implantação de uma comunidade latino-americana de nações.

O princípio da independência nacional retrata, segundo Cretela Júnior, a afirmativa da soberania como fundamento da República, previsto no artigo 1º da Lei Maior. O princípio da autodeterminação dos povos também está marcado pela Soberania, pois diz respeito aos limites a todo e qualquer poder colonizante. Ainda no campo da soberania, o princípio da não intervenção consiste na proibição de um Estado interferir sobre outro em assuntos de natureza interna.

Acerca do princípio da prevalência dos direitos humanos, tem-se a lição de Pedro Dallari: "a prevalência dos direitos humanos, enquanto princípio norteador das relações exteriores do Brasil e fundamento colimado pelo País para a regência da ordem internacional não implica tão-somente o engajamento no processo de edificação de sistemas de normas vinculados ao Direito Internacional Público. Impõe-se buscar a plena integração das regras de tais sistemas à ordem jurídica interna de cada Estado".

O princípio da igualdade prevê que todos os Estados são iguais perante a lei brasileira.

9

O princípio da solução pacífica dos conflitos determina como o Brasil se posiciona em relação aos conflitos. O desinteresse em envolver-se em um conflito e a falta de incentivo a prática da guerra estão relacionados ao princípio da defesa da paz, um objetivo supranacional.

O princípio do repúdio ao racismo e ao terrorismo é um compromisso ético-jurídico assumido pelo Estado Brasileiro, quer perante a sua própria Constituição, quer em face da comunidade internacional. Há adesão do Brasil a tratados e acordos multilaterais que repudiam quaisquer discriminações raciais, de cor, credo, descendência ou origem inspiradas na pretensa superioridade de um povo sobre outro.

Sobre o princípio da cooperação para o progresso da humanidade, o legislador pretende alcançar uma cooperação entre países para um desenvolvimento unilaterial ou bilateral ou multilateral. Nesse sentido, o Brasil já possui relações internacionais de cooperação, tais como: a Declaração de Princípios sobre a Cooperação entre o Governo da República Federativa do Brasil e o Governo do Canadá para a Manutenção da Paz e da Segurança Internacionais, realizado em Brasília, em 15 de janeiro de 1998, e o Tratado de Amizade, Cooperação e Consulta entre a República Portuguesa e a República Federativa do Brasil, aprovado pela Resolução da Assembléia da República n.º 83/2000, de 14 de dezembro de 2000.

Partindo do conceito, segundo o mestre Rezec, asilo político “... é o acolhimento, pelo Estado, de estrangeiro perseguido alhures – geralmente, mas não necessariamente, em seu próprio país patrial -, por causa de dissidência política, de delitos de opinião, ou por crimes que, relacionados com a segurança do Estado, não configuram quebra do direito penal comum”, verifica-se que não há incompatibilidade entre o instituto do asilo político e o da extradição passiva, na exata medida em que o Supremo Tribunal Federal não está vinculado ao juízo formulado pelo Poder Executivo na concessão administrativa daquele benefício. A condição jurídica de asilado político não suprime, só por si, a possibilidade de o Estado brasileiro conceder, presentes e satisfeitas às condições constitucionais e legais que a autorizam, a extradição que lhe haja sido requerida. O estrangeiro asilado no Brasil só não será passível de extradição quando o fato ensejador do pedido assumir a qualificação de crime político ou de opinião.

É importante, ainda, comentar sobre a relativização da soberania em prol dos direitos humanos. A teoria da soberania absoluta e plena foi sendo transformada até se alcançar o que se denomina de princípio da soberania. Os princípios da não-intervenção e da igualdade formal dos Estados não exercem papel imperativo no contexto internacional, tendo em vista as justificativas dadas pelas grandes forças mundiais, tais como o terrorismo, os Direitos Humanos e até mesmo a busca pela justiça e pela paz, na tomada de medidas que interferem fora do âmbito daquilo que poderíamos chamar de soberania interna dos Estados.

No Brasil, um novo conceito de soberania surgiu frente os avanços trazidos pela Constituição Federal de 1988 e as jurisprudências do Supremo Tribunal Federal, em que prevalece a dignidade humana nas relações internacionais. Exemplo disso é a submissão do Brasil ao Tribunal Penal Internacional (art. 5º, §4º, da CF/88).

Quando esse tema é cobrado em prova de concurso as organizadoras tentam ludibriar os candidatos trocando os fundamentos com os objetivos e com os princípios no âmbito internacional, por isso é necessário memorizá-los separadamente.

Apesar dessa distinção em sentido estrito, deve-se observar que tudo é Princípio Fundamental em sentido amplo, haja vista estarem contidos no título I da Constituição Federal.

Outra situação que pode ser enfrentada pelo candidato é a comparação dos fundamentos e objetivos com os princípios que regem a ordem econômica (art. 170 da CF/88).

2. Aplicabilidade das normas constitucionais: normas de eficácia

plena, contida e limitada; normas programáticas.

Partindo da premissa de que esse assunto é doutrinário, vamos mais uma vez usar o texto constitucional apenas para exemplificar.

Toda norma constitucional tem EFICÁCIA direta, imediata e vinculante, uma vez que produz efeitos

10

jurídicos, entre os quais, o de revogar a norma constitucional anterior e não recepcionar as normas infraconstitucionais promulgadas antes e que são materialmente incompatíveis com a nova ordem.

Seguindo o ilustre José Afonso da Silva, quanto à aplicabilidade, as normas constitucionais classificam– se em:

As Normas constitucionais de eficácia plena são aquelas que, desde a entrada em vigor da Constituição, produzem, ou tem possibilidade de produzir, todos os efeitos essenciais, legais e sociais. Não dependem de atuação do Poder Constituinte Derivado para sua regulamentação. São normas de aplicabilidade direta, imediata e integral.

Como exemplo, o mestre cita os seguintes incisos do artigo 5º:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); II - ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei; (...); LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder; LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público; LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por: a) partido político com representação no Congresso Nacional; b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados; LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania; LXXII - conceder-se-á habeas data: a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público; b) para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo; LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência; (...). Outros exemplos: arts. 2º; 14, §2º; 17, §4º; 19; 20; 21; 22; 24; 28, caput; 30; 37, III; 44, parágrafo único; 45, caput; 46, §1º; ; 51; 52; 60, §3º; 69; 70; 76; 145, §2º; 155; 156; 201, §§5º e 6º; 226, §1º; 230, § 2º, todos da CF/88.

As Normas constitucionais de eficácia contida (prospectiva) são aquelas que o legislador constituinte regulou suficientemente os interesses relativos à determinada matéria, mas deixou margem à atuação restritiva por parte da competência discricionária do poder público, nos termos que a lei estabelecer ou nos termos de conceitos gerais nelas enunciados, como bem conceituou a doutrina pátria. São normas de aplicabilidade direta, imediata, mas possivelmente não integral.

Os exemplos indicados pelo doutrinador são:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); XIII - é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações

11

profissionais que a lei estabelecer; (...); Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...); VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo; (...). No primeiro exemplo, a liberdade de exercício de profissão já tem total aplicabilidade, porém essa liberdade poderá ser restringida pela existência de uma lei infraconstitucional. No segundo exemplo, a norma originária garante a irredutibilidade do salário, que possivelmente poderá ter sua aplicabilidade reduzida pela existência de um acordo ou uma convenção coletiva de trabalho.

Outros exemplos: 5º, VII, VIII, XV, XVI, XXIV, XXV, XXVII, XXXIII e LVIII; 15, IV; 37, I; 170, parágrafo único, todos da CF/88.

As Normas constitucionais de eficácia limitada são aquelas que apresentam aplicabilidade indireta, mediata e reduzida (diferida), porque somente incidem totalmente sobre esses interesses, após uma regulamentação posterior. A norma constitucional só terá total aplicabilidade se existir a norma infraconstitucional.

O professor José Afonso da Silva ainda destaca que as normas de eficácia limitada se classificam em normas de eficácia limitada definidora de princípio institutivo ou organizativo, as quais traçam esquemas gerias de estruturação e atribuições e a norma de eficácia limitada definidora de princípio programático, que instituem programas destinados ao cumprimento das finalidades sociais do Estado.

Os dispositivos mencionados pelo referido doutrinar são:

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: (...); XXXII – o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; (...); Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: (...); XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei; (...). Art. 88. A lei disporá sobre a criação e extinção de Ministérios e órgãos da administração pública.

Nos dois primeiros artigos, a lei infraconstitucional, quando promulgada e publicada, regulará o direito declarado pela norma constitucional, com o intuito de cumprir as promessas de cunho social do Poder Público (norma de eficácia limitada definidora de princípio programático). No último artigo, a norma infraconstitucional teria como objetivo a instituição de órgãos e ministérios, em obediência ao comando constitucional (norma de eficácia limitada definidora de princípio institutivo).

Outros exemplos: 6º (direito à alimentação); 7º, XI e XXVII; 18, §2º; 22, parágrafo único; 25, §3º; 33; 37, VII e XI; 88; 90, §2º; 91, §2º; 102, §1º; 107, §1º, 109, VI e § 3º; 113; 121; 125, §3º; 128; §5º; 131; 146; 161, I; 173, §4º; 192, §3º; 196; 205; 215; 216, §3º; 218, caput e §4º; 224 7º; 227, XX e XXVII, 33, 88 e 113, todos da CF/88.

Em outra vertente, o Constitucionalista Jorge Miranda destaca a existência das chamadas normas programáticas, que são de aplicação diferida, e não de aplicação ou execução imediata; mais do que

12

comandos-regras, explicitam comandos-valores, conferem elasticidade ao ordenamento constitucional; tem como destinatário primacial – embora não único – o legislador, a cuja opção fica a ponderação do tempo e dos meios em que vem a ser revestidas de plena eficácia (e nisso consiste a discricionariedade); não consentem que os cidadãos ou quaisquer cidadãos as invoquem já (ou imediatamente após a entrada em vigor da Constituição), pedindo aos Tribunais o seu cumprimento só por si, pelo que pode haver quem afirme que os direitos que delas constam, máxime os direitos sociais, tem mais natureza de expectativas de que de verdadeiros direitos subjetivos; muitas vezes, acompanhadas de conceitos indeterminados ou parcialmente indeterminados”.

A doutrina em referência apresenta como exemplos de normas programáticas, entre outras, os artigos 4º, parágrafo único, 23,170, 205, 211, 215 e 218, todos da Constituição Federal de 1988.

Passaremos, agora, a estudar o Título II da Constituição Federal (Direitos e Garantias Fundamentais), que tem cinco capítulos: Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos (Cap. I – art. 5º), Dos Direitos Sociais (Cap. II – arts. 6º a 11), Da Nacionalidade (Cap. III – arts. 12 e 13), Dos Direitos Políticos (Cap. IV – arts. 14 a 16) e Dos Partidos Políticos (Cap. V – art. 17).

3. Direitos e garantias fundamentais: direitos e deveres individuais e

coletivos; direitos sociais; direitos de nacionalidade; direitos

políticos.

Muitos doutrinadores diferem “Direitos” de “Garantias” Fundamentais. Essa distinção, no direito brasileiro, foi feita por Rui Barbosa, ao separar as disposições declaratórias, e as garantias, disposições assecuratórias. Em outras palavras, o direito é o “bem” protegido pela norma e a garantia é o mecanismo criado pela norma para defender o direito. Em contrapartida, Sampaio Dória, defende a tese de que as Garantias também são Direitos.

Os direitos e garantias fundamentais, consagrados na constituição federal, não são ilimitados, absolutos, uma vez que encontram seus limites nos demais direitos igualmente consagrados pela Carta Magna (Princípio da relatividade ou convivência das liberdades públicas).

Na lição de Canotilho, os direitos fundamentais exercem a função de defesa do cidadão sob dupla perspectiva: a) no plano jurídico-político, funcionam como normas de competência negativa para os Poderes Públicos, proibindo-os de atentarem contra a esfera individual da pessoa; b) no plano jurídico-subjetivo, implicam o poder de exercer positivamente os direitos fundamentais (liberdade positiva), e de exigir omissões dos poderes públicos.

A doutrina, baseada na ordem histórica cronológica em que passam a ser institucionalmente reconhecidos, classifica os direitos fundamentais em dimensões (gerações). Em primeira análise, Paulo Bonavides, os classificou em:

Direitos de primeira dimensão: são os direitos civis e políticos, e compreendem as liberdades clássicas (liberdade, propriedade, vida, segurança). São direitos do indivíduo perante o Estado, são limites impostos à atuação do Estado, resguardando direitos considerados indispensáveis a cada pessoa humana. Significa uma prestação negativa, um não fazer do Estado, em prol do cidadão.

Direitos de segunda dimensão: correspondem aos direitos sociais, que são direitos de conteúdo econômico e cultural que visam melhorar as condições de vida e de trabalho da população. Significa uma prestação positiva, um fazer do Estado em prol dos menos favorecidos pela ordem social e econômica. Esses direitos nasceram em razão de lutas de uma nova classe social, os trabalhadores.

Direitos de terceira dimensão: corresponde aos direitos difusos e coletivos, são os direitos de solidariedade e fraternidade, considerados transindividuais, os direitos de pessoas coletivamente consideradas. São direitos coletivos, como a proteção ao meio ambiente, à qualidade de vida saudável, ao progresso, à paz, à autodeterminação dos povos e a defesa do consumidor, da infância e da juventude.

13

Note-se que há um comparativo desses direitos ao lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade e fraternidade.

Em outra oportunidade, o mencionado autor cita ainda os direitos de quarta dimensão: “São direitos da quarta geração o direito à democracia, o direito à informação e o direito ao pluralismo. Deles depende a concretização da sociedade aberta ao futuro, em sua dimensão de máxima universalidade, para a qual parece o mundo inclinar-se no plano de todas as relações de convivência”.

Embora alguns doutrinadores afirmem que o direito à paz esteja inserido entre os direitos de terceira dimensão, Paulo Bonavides o desloca para a quinta dimensão, em virtude de suas características próprias e independentes, pois estaria em um “patamar superior”, merecendo visibilidade superior aos demais direitos fundamentais. E para tanto, afirma expressamente que “A dignidade jurídica da paz deriva do reconhecimento universal que se lhe deve enquanto pressuposto qualitativo da convivência humana, elemento de conservação da espécie, reino de segurança dos direitos”.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) — que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais — realçam o princípio da liberdade e os direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) — que se identifica com as liberdades positivas, reais ou concretas — acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, nota de uma essencial inexauribilidade. (...) (STF MS 22.164, 17/11/95).

DIREITOS E DEVERES INDIVIDUAIS E COLETIVOS

Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no país a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

Os destinatários dos direitos e deveres ora mencionados são os brasileiros e estrangeiros residentes no país, devendo a expressão “residentes no país” ser interpretada no sentido de que tais direitos só serão assegurados dentro do território brasileiro, não excluindo o estrangeiro em trânsito pelo território nacional, segundo entendimento defendido pela doutrina e pela jurisprudência pátria.

Tais direitos são extensíveis às pessoas jurídicas, no que couber, bem como ao próprio Estado.

O princípio da Igualdade ou princípio da isonomia está previsto no caput desse artigo, prescrevendo que toda pessoa tem o direito de tratamento idêntico pela lei, em concordância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. Entretanto, deve-se buscar não somente a igualdade formal, direcionada ao legislador, mas a igualdade real ou material ou substancial, direcionada ao operador do direito, ao intérprete. Parte-se da premissa de que a verdadeira igualdade está em tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais.

O referido princípio não veda o tratamento diferenciado estabelecido pela lei, proíbe as diferenças arbitrárias, as discriminações absurdas, já que o tratamento desigual aos desiguais é uma questão de justiça, sendo justificável pelo objetivo que se pretende atingir pela lei, conforme a súmula 683 do STF que reza: “O limite de idade para a inscrição em concurso só se legitima em face do art. 7º, XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza do cargo a ser preenchido”. Entretanto somente serão possíveis tais distinções se estiverem previstas em lei.

Vale destacar as discriminações positivas (affirmative actions), proveniente do direito norte americano, que cuida em estabelecer medidas de compensação para reduzir as desigualdades sociais. É neste escólio que traz a lição do Ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim B. Barbosa Gomes, que ensina: As ações afirmativas 'consistem em políticas públicas (e também privadas) voltadas à

14

concretização do princípio constitucional da igualdade material e à neutralização dos efeitos da discriminação racial, de gênero, de idade, de origem nacional e de compleição física. Impostas ou sugeridas pelo Estado, por seus entes vinculados e até mesmo por entidades puramente privadas, elas visam a combater não somente as manifestações flagrantes de discriminação de fundo cultural, estrutural, enraizada na sociedade'.

A discriminação reversa deve-se revestir de uma índole compensatória e não meramente garantir uma repartição de bens, sem levar em conta o uso da liberdade das pessoas e o esforço e mérito de cada um. Avaliadas sob o teste do princípio da proporcionalidade, as medidas de discriminação reversa devem ser adequadas para superar os obstáculos que o preconceito gerou para o grupo. Para isso devem-se dirigir a propiciar condições de acesso a bens e serviços que a discriminação vedou. Devem ter em mira o restabelecimento de uma igualdade de oportunidades tão efetiva quanto possível.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) O súdito estrangeiro, mesmo o não domiciliado no Brasil, tem plena legitimidade para impetrar o remédio constitucional do "habeas corpus", em ordem a tornar efetivo, nas hipóteses de persecução penal, o direito subjetivo, de que também é titular, à observância e ao integral respeito, por parte do Estado, das prerrogativas que compõem e dão significado à cláusula do devido processo legal. - A condição jurídica de não-nacional do Brasil e a circunstância de o réu estrangeiro não possuir domicílio em nosso país não legitimam a adoção, contra tal acusado, de qualquer tratamento arbitrário ou discriminatório. (...). (STF HC 94.404/SP. Min. Rel. Celso de Mello. DJ 18.06.2010).

EMENTA (...) Inexistência de ofensas ao direito à vida e da dignidade da pessoa humana, pois a pesquisa com células-tronco embrionárias (inviáveis biologicamente ou para os fins a que se destinam) significa a celebração solidária da vida e alento aos que se acham à margem do exercício concreto e inalienável dos direitos à felicidade e do viver com dignidade (Ministro Celso de Mello). (...) A potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá-la, infra constitucionalmente, contra tentativas levianas ou frívolas de obstar sua natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Donde não existir pessoa humana embrionária, mas embrião de pessoa humana. O embrião referido na Lei de Biossegurança ("in vitro" apenas) não é uma vida a caminho de outra vida virginalmente nova, porquanto lhe faltam possibilidades de ganhar as primeiras terminações nervosas, sem as quais o ser humano não tem factibilidade como projeto de vida autônoma e irrepetível. (...) Ação direta de inconstitucionalidade julgada totalmente improcedente. (STF ADI 3510/DF, Rel. Min. AYRES BRITTO. 29/05/2008).

EMENTA. (...). Na espécie, aduziu inescapável o confronto entre, de um lado, os interesses legítimos da mulher em ver respeitada sua dignidade e, de outro, os de parte da sociedade que desejasse proteger todos os que a integrariam, independentemente da condição física ou viabilidade de sobrevivência. (...) Afirmou que, conforme a Resolução 1.480/1997 do Conselho Federal de Medicina (CFM), os exames complementares a serem observados para a constatação de morte encefálica deveriam demonstrar, de modo inequívoco, a ausência de atividade elétrica cerebral ou metabólica deste órgão ou, ainda, inexistência de perfusão sanguínea nele. Elucidou que, por essa razão, o CFM, mediante a Resolução 1.752/2004, consignara serem os anencéfalos natimortos cerebrais. Desse modo, eles jamais se tornariam pessoa. Nessa senda, sintetizou que não se cuidaria de vida em potencial, porém, seguramente, de morte. (...). Exprimiu, pois, que a anencefalia mostrar-se-ia incompatível com a vida extrauterina, ao passo que a deficiência, não. (...) Observou que seria improcedente a alegação de direito à vida dos anencéfalos, haja vista que estes seriam termos antitéticos. (...). Destarte, a interrupção de gestação de feto anencefálico não configuraria crime contra a vida, porquanto se revelaria conduta atípica. (...). Por derradeiro, versou que atuar com sapiência e justiça, calcados na Constituição e desprovidos de qualquer dogma ou paradigma moral e religioso, determinaria garantir o direito da mulher de manifestar-se livremente, sem o temor de tornar-se ré em possível ação por crime de aborto. (STF ADPF 54, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 12-4-2012, Plenário).

EMENTA. (...). Sabemos, tal como já decidiu o STF (RTJ 136/444, Rel. p/ o ac. Min. Celso de Mello), que o princípio da isonomia – cuja observância vincula todas as manifestações do Poder Público – deve ser considerado, em sua precípua função de obstar discriminações e de extinguir privilégios (RDA 55/114),

15

sob duplo aspecto: a) o da igualdade na lei e b) o da igualdade perante a lei. A igualdade na lei – que opera numa fase de generalidade puramente abstrata – constitui exigência destinada ao legislador, que, no processo de formação do ato legislativo, nele não poderá incluir fatores de discriminação responsáveis pela ruptura da ordem isonômica. (...) A igualdade perante a lei, de outro lado, pressupondo lei já elaborada, traduz imposição destinada aos demais poderes estatais, que, na aplicação da norma legal, não poderão subordiná-la a critérios que ensejem tratamento seletivo ou discriminatório. A eventual inobservância desse postulado pelo legislador, em qualquer das dimensões referidas, imporá, ao ato estatal por ele elaborado e produzido, a eiva de inconstitucionalidade. (STF AI 360.461 AgR, Rel. Min. Celso de Mello, 2ª T, DJ de 28-3-2008).

EMENTA. (...). No mérito, asseverou-se que a norma adversada erigira a educação à condição de direito social, dever do Estado e uma de suas políticas públicas prioritárias. (...) Rechaçaram-se, de igual modo, as alegações de afronta aos princípios da igualdade, da isonomia, da não discriminação e do devido processo legal ao argumento de que não se afiguraria legítimo, no ordenamento, que vagas no ensino superior fossem reservadas com base na condição socioeconômica do aluno ou em critério racial ou de suas condições especiais. Salientou-se que a igualdade seria valor que teria, no combate aos fatores de desigualdade, o seu modo próprio de realização. Além disso, a distinção em favor dos estudantes que tivessem cursado o ensino médio em escolas públicas e os egressos de escolas privadas contemplados com bolsa integral constituiria discrímen a compensar anterior e factual inferioridade. (...). (STF ADI 3.330, Rel. Min. Ayres Britto, julgamento em 3-5-2012, Plenário).

I – homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;

Somente poderá existir tratamento diferenciado entre os dois sexos quando a finalidade pretendida for atenuar os desníveis, constantes na constituição e nas leis infraconstitucionais. Exemplos: art. 7º, XVIII e XIX, 40, III, 143, §§ 1º e 2º, 202, I e II.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). No mérito, prevaleceu o voto proferido pelo Min. Ayres Britto, relator, que dava interpretação conforme a Constituição ao art. 1.723 do CC para dele excluir qualquer significado que impeça o reconhecimento da união contínua, pública e duradoura entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, entendida esta como sinônimo perfeito de família. Asseverou que esse reconhecimento deveria ser feito segundo as mesmas regras e com idênticas consequências da união estável heteroafetiva. (...). (STF ADI 4.277/DF, rel. Min. Ayres Britto, DJ 5.5.2011). (ADPF 132).

EMENTA. (...) No mérito, rememorou-se posicionamento da Corte que, ao julgar o HC 106.212/MS (DJE de 13-6-2011), declarara a constitucionalidade do art. 41 da Lei Maria da Penha (...). Reiterou-se a ideia de que a aludida lei viera à baila para conferir efetividade ao art. 226, § 8º, da CF. Consignou-se que o dispositivo legal em comento coadunar-se-ia com o princípio da igualdade e atenderia à ordem jurídico-constitucional, no que concerne ao necessário combate ao desprezo às famílias, considerada a mulher como sua célula básica. Aplicou-se o mesmo raciocínio ao afirmar-se a constitucionalidade do art. 1º da aludida lei (...). Asseverou-se que, ao criar mecanismos específicos para coibir e prevenir a violência doméstica contra a mulher e estabelecer medidas especiais de proteção, assistência e punição, tomando como base o gênero da vítima, o legislador teria utilizado meio adequado e necessário para fomentar o fim traçado pelo referido preceito constitucional. Aduziu-se não ser desproporcional ou ilegítimo o uso do sexo como critério de diferenciação, visto que a mulher seria eminentemente vulnerável no tocante a constrangimentos físicos, morais e psicológicos sofridos em âmbito privado. Frisou-se que, na seara internacional, a Lei Maria da Penha seria harmônica com o que disposto no art. 7º, item c, da Convenção de Belém do Pará (...) e com outros tratados ratificados pelo país. Sob o enfoque constitucional, consignou-se que a norma seria corolário da incidência do princípio da proibição de proteção insuficiente dos direitos fundamentais. Sublinhou-se que a lei em comento representaria movimento legislativo claro no sentido de assegurar às mulheres agredidas o acesso efetivo à reparação, à proteção e à justiça. (...). (STF ADC 19, Rel. Min. Marco Aurélio, julgamento em 9-2-2012, Plenário).

II – ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei;

Consagração do princípio da legalidade. Tal princípio visa combater o poder arbitrário do Estado, pois somente mediante espécies normativas elaboradas segundo as regras do processo legislativo pátrio podem-se criar obrigações para os indivíduos. O princípio da legalidade se difere do princípio da reserva

16

legal nesse ponto, pois este consiste em dizer que a regulamentação de determinada matéria há de fazer-se necessariamente pelo poder legislativo, aparecendo na constituição sob a forma: “nos termos da lei” ou “na forma da lei” e aquele é a submissão e o respeito à lei.

A Constituição Federal estabelece essa reserva de lei, de modo absoluto ou relativo. Assim, temos a reserva legal absoluta quando a norma constitucional exige para sua integral regulamentação a edição de lei formal, entendida como ato normativo emanado do Congresso Nacional elaborado de acordo com o devido processo legislativo constitucional. Por outro lado, temos a reserva legal relativa quando a Constituição Federal, apesar de exigir edição de lei formal, permite que este fixe tão somente parâmetros de atuação para o órgão administrativo, que poderá complementa-la por ato infralegal, sempre, porém, respeitados os limites ou requisitos estabelecidos pela legislação.

Existe ainda a reserva legal simples e a qualificada. A reserva legal simples ocorre no caso de a Constituição Federal estabelecer, em seus artigos, que determinado assunto seja objeto de lei ("na forma da lei", "nos termos da lei"). A lei não pode limitar o conteúdo da Constituição ou suprimi-lo, ou seja, há limites implícitos na lei que será elaborada. A reserva legal qualificada ocorre no caso de, além de estabelecer qual assunto será objeto de lei, o dispositivo da Constituição estabelece as condições ou fins que devem ser objeto da norma ("para fins de"). Como exemplos pode se indicar os incisos VII e XII, ambos do presente artigo.

Vale ressaltar que a Administração Pública é regida pela legalidade estrita, pois não pode atuar contra a lei, nem na ausência da lei.

Dispositivos correspondentes – artigo 5º, XXIX e artigo 37, “caput”, todos da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante nº 44 - Só por lei se pode sujeitar a exame psicotécnico a habilitação de candidato a cargo público.

EMENTA. (...). A reserva de lei em sentido formal qualifica-se como instrumento constitucional de preservação da integridade de direitos e garantias fundamentais. O princípio da reserva de lei atua como expressiva limitação constitucional ao poder do Estado, cuja competência regulamentar, por tal razão, não se reveste de suficiente idoneidade jurídica que lhe permita restringir direitos ou criar obrigações. Nenhum ato regulamentar pode criar obrigações ou restringir direitos, sob pena de incidir em domínio constitucionalmente reservado ao âmbito de atuação material da lei em sentido formal. (STF ACO 1.048-QO, 31/10/07).

A partir daqui, aprenderemos sobre as liberdades e inviolabilidades. Assunto muito comum nas provas de concurso.

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

IV – é livre a manifestação do pensamento, sendo vedado o anonimato;

V – é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

IX – é livre a expressão da atividade intelectual, artística, científica e de comunicação, independentemente de censura ou licença;

XIV – é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional;

Segundo o ilustre Alexandre de Morais, “a proteção constitucional abrange não só o direito de expressão oral ou por escrito, mas também o direito de ouvir, assistir e ler”.

A vedação do anonimato é ampla, inclui todos os meios de comunicação.

O direito de resposta aplica-se em relação às ofensas, configurem ou não infrações penais, tendo como requisito a proporcionalidade, devendo o desagravo ter o mesmo destaque, a mesma duração e o mesmo tamanho que a notícia geradora da lesão. A responsabilidade pela divulgação do direito de resposta é do órgão de comunicação. O dano pode ser material (danos sofridos e lucros cessantes), moral (à intimidade da pessoa) e à imagem (dano produzido contra a pessoa em suas relações externas).

17

Dispositivo correspondente – art. 220, “caput” e §2º, todos da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). Programas humorísticos, charges e modo caricatural de pôr em circulação ideias, opiniões, frases e quadros espirituosos compõem as atividades de ‘imprensa’, sinônimo perfeito de ‘informação jornalística’ (§ 1º do art. 220). Nessa medida, gozam da plenitude de liberdade que é assegurada pela Constituição à imprensa. Dando-se que o exercício concreto dessa liberdade em plenitude assegura ao jornalista o direito de expender críticas a qualquer pessoa, ainda que em tom áspero, contundente, sarcástico, irônico ou irreverente, especialmente contra as autoridades e aparelhos de Estado. Respondendo, penal e civilmente, pelos abusos que cometer, e sujeitando-se ao direito de resposta a que se refere a Constituição em seu art. 5º, V. A crítica jornalística em geral, pela sua relação de inerência com o interesse público, não é aprioristicamente suscetível de censura. Isso porque é da essência das atividades de imprensa operar como formadora de opinião pública, lócus do pensamento crítico e necessário contraponto à versão oficial das coisas, conforme decisão majoritária do STF na ADPF 130. Decisão a que se pode agregar a ideia de que a locução ‘humor jornalístico’ enlaça pensamento crítico, informação e criação artística. (...). (STF ADI 4.451-MC - REF, rel. min. Ayres Britto, Plenário, DJ de 24-8-2012).

EMENTA: (...). Por entender que o exercício dos direitos fundamentais de reunião e de livre manifestação do pensamento devem ser garantidos a todas as pessoas, o Plenário julgou procedente pedido formulado em ação de descumprimento de preceito fundamental para dar, ao art. 287 do CP, com efeito vinculante, interpretação conforme a Constituição, de forma a excluir qualquer exegese que possa ensejar a criminalização da defesa da legalização das drogas, ou de qualquer substância entorpecente específica, inclusive através de manifestações e eventos públicos. (...) Ressaltou-se existirem graves consequências resultantes da censura à liberdade de expressão e de reunião, realizada por agentes estatais em cumprimento de ordens emanadas do Judiciário. Frisou-se que, diante do quadro de incertezas hermenêuticas em torno da aludida norma, a revelar efetiva e relevante controvérsia constitucional, os cidadãos estariam preocupados em externar, de modo livre e responsável, as convicções que desejariam transmitir à coletividade por meio da pacífica utilização dos espaços públicos. (STF ADPF 187/DF, rel. Min. Celso de Mello, DJ 15.6.2011).

EMENTA. (...). Não é proibindo, recolhendo obras ou impedindo sua circulação, calando-se a palavra e amordaçando a história que se consegue cumprir a Constituição. (...). A norma infraconstitucional não pode amesquinhar preceitos constitucionais, impondo restrições ao exercício de liberdades”. (...). O que não me parece constitucionalmente admissível é o esquartejamento das liberdades de todos pela censura de uns, especialmente no caso de obras biográficas que dizem respeito não apenas ao biografado, mas que diz respeito a toda coletividade pela sua natureza de referenciabilidade do que precisa ser aproveitado. (...). (STF ADI 4815, Min. Rel. Cármem Lúcia, DJ 10/06/2015).

LIBERDADE DE CONSCIÊNCIA E DE CRENÇA

VI – é inviolável a liberdade de consciência e de crença, sendo assegurado o livre exercício dos cultos religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias;

A Constituição de 1824, em seu artigo 179, V, já assegurava os direitos religiosos, desde que respeitasse a do Estado, nos seguintes termos:

Art. 179. A inviolabilidade dos Direitos Civis, e Políticos dos Cidadãos Brasileiros, que tem por base a liberdade, a segurança individual, e a propriedade, é garantida pela Constituição do Império, pela maneira seguinte.

(...).

V. Ninguém pode ser perseguido por motivo de Religião, uma vez que respeite a do Estado, e não ofenda a Moral Publica.

(...)”.

A partir da Constituição Federal de 1891, estabeleceu-se o Estado Laico ou Leigo, que não adota qualquer religião como oficial. Como ensina José Afonso da Silva, “na liberdade de crença entra a

18

liberdade de escolha de religião, a liberdade de aderir à qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de religião, mas também compreende a liberdade de não aderir à religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de exprimir o agnosticismo”.

Bom lembrar que o livre exercício dos cultos é assegurado enquanto não forem contrários à ordem, tranquilidade e sossego públicos, bem como compatíveis aos bons costumes. E a liberdade religiosa não é absoluta, uma vez que não será permitido a qualquer religião ou culto atos atentatórios à lei, sob pena de responsabilidade civil e criminal.

Artigos correspondentes: art. 210, §1º e art. 215, §2º, ambos da CF/88.

PREÂMBULO

Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.

Segundo posicionamento jurisprudencial, o Preâmbulo não constitui norma central, não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição do Estado, já que não tem força normativa.

Entretanto, o Preâmbulo faz parte da estrutura da Constituição Federal, que se divide em Preâmbulo, texto permanente e texto temporário (Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: CONSTITUCIONAL. CONSTITUIÇÃO: PREÂMBULO. NORMAS CENTRAIS. Constituição do Acre. I. - Normas centrais da Constituição Federal: essas normas são de reprodução obrigatória na Constituição do Estado-membro, mesmo porque, reproduzidas, ou não, incidirão sobre a ordem local. Reclamações 370-MT e 383-SP (RTJ 147/404). II. Preâmbulo da Constituição: não constitui norma central. Invocação da proteção de Deus: não se trata de norma de reprodução obrigatória na Constituição estadual, não tendo força normativa. III. - Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (ADI 2.076/AC. Rel. Min. Carlos Velloso, DJ 08.08.2003).

VII – é assegurada, nos termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação coletiva;

Hospitais, asilos (públicos e privados), presídios e quartéis são locais de internação coletiva.

VIII – ninguém será privado de direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação alternativa, fixada em lei;

A escusa de consciência e de crença aplica-se às obrigações legais de forma genérica e não somente ao serviço militar obrigatório, embora esse seja o exemplo mais indicado pelos doutrinadores quando enfocam o assunto.

O artigo 143 da Constituição Federal, prescreve:

Art. 143. O serviço militar é obrigatório nos termos da lei.

§ 1º - às Forças Armadas compete, na forma da lei, atribuir serviço alternativo aos que, em tempo de paz, após alistados, alegarem imperativo de consciência, entendendo-se como tal o decorrente de crença religiosa e de convicção filosófica ou política, para se eximirem de atividades de caráter essencialmente militar.

O serviço alternativo no caso de descumprimento do serviço militar obrigatório por imperativo de consciência é estabelecido pela lei nº 8.239/91.

19

Caso não seja cumprida a prestação alternativa, ocorrerá a privação dos direitos políticos, nos termos do artigo 15, IV, da CF/88:

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

...

IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII;

(...).

INVIOLABILIDADES

X – são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;

Princípio da exclusividade. A intimidade, como exigência moral da personalidade para que em determinadas situações seja o indivíduo deixado em paz, constituindo um direito de controlar a indiscrição alheia nos assuntos privados que só a ele interessa, tem como um de seus fundamentos o princípio da exclusividade, formulado por Hannah Arendt com base em Kant.

Os conceitos de intimidade e vida privada são interligados, mas podem ser diferenciados. A intimidade da pessoa diz respeito às relações subjetivas e de trato íntimo, relações familiares e de amizade e a vida privada refere-se a todos os relacionamentos da pessoa, inclusive os objetivos, tais como os comerciais, de trabalho, de estudo, etc.

O Supremo Tribunal Federal pacificou o entendimento de que entidade de classe não tem legitimidade para promover interpelação judicial em defesa da honra de seus associados, por se tratar de um direito personalíssimo de quem, concretamente, se viu atingido pelas afirmações tidas por ofensivas (PET nº 1.249/DF-AgR, Pleno, Relator o Ministro Celso de Mello, DJ de 9/4/99).

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 227 do STJ – A pessoa jurídica pode sofrer dano moral.

XI – a casa é asilo inviolável do indivíduo, ninguém nela podendo penetrar sem consentimento do Morador, salvo em caso de flagrante delito ou desastre, ou para prestar socorro, ou durante o dia, por determinação judicial;

A expressão casa tem um alcance muito amplo, não sendo limitada pelos conceitos de direito privado, como já pacificou o STF, considerando casa todo local delimitado e separado que alguém utiliza com exclusividade, mesmo que para fins profissionais, não importando a relação jurídica de seus habitantes com aquele prédio ou terreno. O Código Penal Brasileiro conceitua “casa” em seu artigo 150.

Para José Afonso da Silva dia é o período das 6:00h às 18:00h e para Celso de Mello deve ser levado em conta o critério físico-astronômico, como o intervalo de tempo situado entre a aurora e o crepúsculo.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) Busca e apreensão em aposentos ocupados de habitação coletiva (como quartos de hotel) - subsunção desse espaço privado, desde que ocupado, ao conceito de "casa" - consequente necessidade, em tal hipótese, de mandado judicial, ressalvadas as exceções previstas no próprio texto constitucional. - para os fins da proteção jurídica a que se refere o art. 5º, XI, da constituição da república, o conceito normativo de "casa" revela-se abrangente e, por estender-se a qualquer aposento de habitação coletiva, desde que ocupado (CP, art. 150, § 4º, II), compreende, observada essa específica limitação espacial, os quartos de hotel. (...). (STF RHC 90.376/RJ, Rel. Min. Celso de Mello. DJ 18.05.2007).

EMENTA. (...). Cuidando-se de crime de natureza permanente, a prisão do traficante, em sua residência, durante o período noturno, não constitui prova ilícita. (STF HC 84.772, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 19-10-2004, Segunda Turma, DJ de 12-11-2004.) No mesmo sentido: HC 70.909, Rel. Min. Paulo Brossard, julgamento em 11-10-1994, Plenário, DJ de 25-11-1994.

20

EMENTAS: (…).7. PROVA. Criminal. Escuta ambiental. Captação e interceptação de sinais eletromagnéticos, óticos ou acústicos. Meio probatório legalmente admitido. Fatos que configurariam crimes praticados por quadrilha ou bando ou organização criminosa. Autorização judicial circunstanciada. Previsão normativa expressa do procedimento. Preliminar repelida. Inteligência dos arts. 1º e 2º, IV, da Lei nº 9.034/95, com a redação da Lei nº 10.217/95. Para fins de persecução criminal de ilícitos praticados por quadrilha, bando, organização ou associação criminosa de qualquer tipo, são permitidos a captação e a interceptação de sinais eletromagnéticos, óticos e acústicos, bem como seu registro e análise, mediante circunstanciada autorização judicial. 8. PROVA. Criminal. Escuta ambiental e exploração de local. Captação de sinais óticos e acústicos. Escritório de advocacia. Ingresso da autoridade policial, no período noturno, para instalação de equipamento. Medidas autorizadas por decisão judicial. Invasão de domicílio. Não caracterização. Suspeita grave da prática de crime por advogado, no escritório, sob pretexto de exercício da profissão. Situação não acobertada pela inviolabilidade constitucional. Inteligência do art. 5º, X e XI, da CF, art. 150, § 4º, III, do CP, e art. 7º, II, da Lei nº 8.906/94. Preliminar rejeitada. Votos vencidos. Não opera a inviolabilidade do escritório de advocacia, quando o próprio advogado seja suspeito da prática de crime, sobretudo concebido e consumado no âmbito desse local de trabalho, sob pretexto de exercício da profissão. (…). (STF - Inq: 2424 RJ, Relator: Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 26/11/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-055 DIVULG 25-03-2010 PUBLIC 26-03-2010).

EMENTA: (...) A entrada forçada em domicílio sem mandado judicial só é lícita, mesmo em período noturno, quando amparada em fundadas razões, devidamente justificadas a posteriori, que indiquem que dentro da casa ocorre situação de flagrante delito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade, e de nulidade dos atos praticados. (...) (STF RE 603616, Rel. Min. Gilmar Ferreira Mendes, J. 05.11.2015).

XII – é inviolável o sigilo da correspondência e das comunicações telegráficas, de dados e das comunicações telefônicas, salvo, no último caso, por ordem judicial, nas hipóteses e na forma que a lei estabelecer para fins de investigação criminal ou instrução processual penal;

Vê-se que não houve previsão de quebra do sigilo das correspondências e nem de dados (bancários, fiscais ou telefônicos) mediante lei, haja vista que a exceção constitucional expressa refere-se somente à interceptação telefônica, entretanto entende-se que nenhuma liberdade individual é absoluta, sendo possível, respeitados alguns parâmetros, a interceptação das correspondências e comunicações telegráficas e de dados sempre que as liberdades públicas estiverem sendo utilizadas como instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas.

O preceito que garante o sigilo de dados engloba o uso de informações decorrentes da informática e a quebra do sigilo dos dados telefônicos consiste na apreensão do histórico de conta telefônica (extrato telefônico), dentre outros. Além do Poder Judiciário, o Supremo Tribunal Federal admite que a Comissão Parlamentar de Inquérito, diretamente, determine a quebra do sigilo dos dados.

O Plenário do Supremo Tribunal Federal declarou a constitucionalidade do artigo 6º da lei complementar nº 105/2001, no Recurso Extraordinário nº 601314, para reconhecer o direito de a Receita Federal obter a transferência do sigilo dos dados bancários.

Há quebra do sigilo telefônico quando a captação for realizada por um terceiro de uma comunicação telefônica alheia, sem o conhecimento dos comunicadores, por decisão judicial (cláusula de reserva jurisdicional), na forma da lei nº 9.296/96 e para fins criminais. Referida interceptação difere da Escuta telefônica, que é a captação realizada por um terceiro de uma comunicação telefônica alheia, mas com o conhecimento de um dos comunicadores e da gravação telefônica, que ocorre entre dois interlocutores, onde um deles capta a conversa sem o conhecimento do outro e sem intervenção de terceiro. A gravação telefônica, em regra, é lícita, segundo jurisprudência da Corte Suprema.

Dispositivos correspondentes: arts. 136, I, “b” e “c” e 139, III, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) A administração penitenciária, com fundamento em razões de segurança pública, de disciplina prisional ou de preservação da ordem jurídica, pode, sempre excepcionalmente, proceder à interceptação da correspondência remetida pelos sentenciados, eis que a cláusula tutelar da inviolabilidade do sigilo epistolar não pode constituir instrumento de salvaguarda de práticas ilícitas (...).

21

(STF HC 70.814/SP).

EMENTA. (...) O Tribunal já firmou entendimento de que as Comissões Parlamentares de Inquérito são dotadas de poder investigatório, ficando assentado que devem elas, a partir de meros indícios, demonstrar a existência concreta de causa provável que legitime a quebra do sigilo. (...) Causa provável ensejadora da quebra dos sigilos fiscal, bancário e telefônico. Segurança denegada. (STF MS 24217/DF, rel Min Maurício Corrêa, 18/10/2002).

EMENTA. Mandado de Segurança. Tribunal de Contas da União. Banco Central do Brasil. Operações financeiras. Sigilo. 1. A Lei Complementar nº 105, de 10/1/01, não conferiu ao Tribunal de Contas da União poderes para determinar a quebra do sigilo bancário de dados constantes do Banco Central do Brasil. O legislador conferiu esses poderes ao Poder Judiciário (art. 3º), ao Poder Legislativo Federal (art. 4º), bem como às Comissões Parlamentares de Inquérito, após prévia aprovação do pedido pelo Plenário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do plenário de suas respectivas comissões parlamentares de inquérito (§§ 1º e 2º do art. 4º). (...). (STF MS 22.801/DF. Rel. Min Menezes Direito. DJ 13.03.2008).

EMENTA (...) SÉTIMA PRELIMINAR. DADOS DE EMPRÉSTIMO FORNECIDOS PELO BANCO CENTRAL. PEDIDO DIRETO DO MINISTÉRIO PÚBLICO. ILEGALIDADE. AUSÊNCIA. REQUISIÇÃO FEITA PELA CPMI DOS CORREIOS. POSTERIOR AUTORIZAÇÃO DE COMPARTILHAMENTO COM O MINISTÉRIO PÚBLICO PARA INSTRUÇÃO DO INQUÉRITO. LEGALIDADE. (...). (STF Inq. 2.245/MG. Rel. Min. Joaquim, Barbosa, DJ 09.11.2007).

EMENTA. Prova emprestada. Penal. Interceptação telefônica. Escuta ambiental. Autorização judicial e produção para fim de investigação criminal. Suspeita de delitos cometidos por autoridades e agentes públicos. Dados obtidos em inquérito policial. Uso em procedimento administrativo disciplinar, contra outros servidores, cujos eventuais ilícitos administrativos teriam despontado à colheita dessa prova. Admissibilidade. Resposta afirmativa a questão de ordem. Inteligência do art. 5º, XII, da CF e do art. 1º da Lei federal 9.296/1996. (...) Dados obtidos em interceptação de comunicações telefônicas e em escutas ambientais, judicialmente autorizadas para produção de prova em investigação criminal ou em instrução processual penal, podem ser usados em procedimento administrativo disciplinar, contra a mesma ou as mesmas pessoas em relação às quais foram colhidos, ou contra outros servidores cujos supostos ilícitos teriam despontado à colheita dessa prova. (STF Inq 2.424 QO. Rel. Min Cezar Peluso. DJ 24.08.2007).

EMENTA. (....) O presente caso versa sobre a gravação de conversa telefônica por um interlocutor sem o conhecimento de outro, isto é, a denominada “gravação telefônica” ou “gravação clandestina”. Entendimento do STF no sentido da licitude da prova, desde que não haja causa legal específica de sigilo nem reserva de conversação. Repercussão geral da matéria (RE 583.397/RJ). 3. Ordem denegada. (STF HC 91613, Relator Min. GILMAR MENDES, 2ª T, DJ 17-09-2012).

EMENTA: (...). O art. 6º da Lei Complementar 105/01 não ofende o direito ao sigilo bancário, pois realiza a igualdade em relação aos cidadãos, por meio do princípio da capacidade contributiva, bem como estabelece requisitos objetivos e o translado do dever de sigilo da esfera bancária para a fiscal. (...). (STF RE 601314, Rel. Min. EDSON FACHIN, Plenário, Julgamento em 24.02.2016).

LIBERDADE DE PROFISSÃO

XIII – é livre o exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão, atendidas as qualificações profissionais que a lei estabelecer;

Compete à União legislar sobre o exercício das profissões, nos termos do artigo 22, XVI, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) A reserva legal estabelecida pelo art. 5º, XIII, não confere ao legislador o poder de restringir o exercício da liberdade profissional a ponto de atingir o seu próprio núcleo essencial. (...) O jornalismo é uma profissão diferenciada por sua estreita vinculação ao pleno exercício das liberdades de expressão e de informação. (...) O jornalismo e a liberdade de expressão, portanto, são atividades que estão imbricadas por sua própria natureza e não podem ser pensadas e tratadas de forma separada. Isso implica, logicamente, que a interpretação do art. 5º, inciso XIII, da Constituição, na hipótese da profissão

22

de jornalista, se faça, impreterivelmente, em conjunto com os preceitos do art. 5º, incisos IV, IX, XIV, e do art. 220 da Constituição, que asseguram as liberdades de expressão, de informação e de comunicação em geral. (...)A exigência de diploma de curso superior para a prática do jornalismo - o qual, em sua essência, é o desenvolvimento profissional das liberdades de expressão e de informação - não está autorizada pela ordem constitucional, pois constitui uma restrição, um impedimento, uma verdadeira supressão do pleno, incondicionado e efetivo exercício da liberdade jornalística, expressamente proibido pelo art. 220, § 1º, da Constituição. (...). (STF RE 511.961/SP, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 13.11.2009).

EMENTA. (...). A atividade de músico não depende de registro ou licença de entidade de classe para o seu exercício. Essa é a conclusão do Plenário ao negar provimento a recurso extraordinário, afetado pela 2ª Turma, em que a Ordem dos Músicos do Brasil – Conselho Regional de Santa Catarina alegava que o livre exercício de qualquer profissão ou trabalho estaria constitucionalmente condicionado às qualificações específicas de cada profissão e que, no caso dos músicos, a Lei 3.857/60 estabeleceria essas restrições — v. Informativos 406 e 568. Aduziu-se que as restrições feitas ao exercício de qualquer profissão ou atividade profissional deveriam obedecer ao princípio da mínima intervenção – a qual se pautaria pela razoabilidade e pela proporcionalidade. Ressaltou-se que a liberdade de exercício profissional, contida no art. 5º, XIII, da CF, seria quase absoluta e que qualquer restrição a ela só se justificaria se houvesse necessidade de proteção a um interesse público, a exemplo de atividades para as quais fosse requerido conhecimento específico, técnico, ou ainda, habilidade já demonstrada. (STF RE 414426/SC, rel. Min. Ellen Gracie, 1º.8.2011).

LIBERDADE DE LOCOMOÇÃO

XV – é livre a locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens;

Dispositivo correspondente: art. 139, I, da CF/88.

LIBERDADE DE REUNIÃO

XVI – todos podem reunir-se pacificamente, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, desde que não frustrem outra reunião anteriormente convocada para o mesmo local, sendo apenas exigido prévio aviso à autoridade competente;

O direito a reunião é uma manifestação coletiva da liberdade de expressão, tendo como requisitos: pluralidade de participantes, temporariedade, finalidade pacífica, ausência de armas, lugares abertos ao público e comunicação prévia.

Haverá restrição ao direito de reunião na hipótese de decretação do estado de defesa e suspensão no caso de decretação do estado de sítio (art. 136, §1º, I, “a” e art. 139, IV, ambos da CF). São limitações circunstanciais.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). Por entender caracterizada a ofensa ao art. 5º, XVI, da CF, que assegura a todos o direito de reunião pacífica, sem armas, em locais abertos ao público, independentemente de autorização, o Tribunal julgou procedente pedido formulado em ação direta ajuizada pelo Partido dos Trabalhadores - PT e outros para declarar a inconstitucionalidade do Decreto distrital 20.098/99, que veda a realização de manifestação pública, com a utilização de carros, aparelhos e objetos sonoros na Praça dos Três Poderes, na Esplanada dos Ministérios e na Praça do Buriti e vias adjacentes. (STF ADI 1969/DF, 28.6.2007).

LIBERDADE DE ASSOCIAÇÃO

XVII – é plena a liberdade de associação para fins lícitos, vedada a de caráter paramilitar;

XVIII – a criação de associações e, na forma da lei, a de cooperativas independem de autorização,

23

sendo vedada a interferência estatal em seu funcionamento;

XIX – as associações só poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou ter suas atividades suspensas por decisão judicial, exigindo-se, no primeiro caso, o trânsito em julgado;

O direito de associação só alcança as associações criadas para fins lícitos, com ou sem personalidade jurídica. O caráter paramilitar é verificado quando a associação destina-se ao treinamento do uso de material bélico, com as seguintes características: organização hierárquica e respeito ao princípio da obediência.

As associações aqui referidas devem ser entendidas em sentido amplo, incluindo os partidos políticos e as associações sindicais (art. 8º, I), as quais devem ser criadas na forma da lei, sem necessidade de autorização do poder público, nem possibilidade de interferência deste em seu funcionamento, considerando que a interferência arbitrária do poder público no exercício desse direito pode acarretar responsabilidade penal, político-administrativa e civil.

Importante diferenciar os institutos, pois a associação não tem fins lucrativos, o patrimônio é constituído pela contribuição dos membros para alcançar fins educacionais, religiosos, culturais etc. Já a cooperativa, sociedade ou empresa constituída por membro de determinado grupo econômico ou social, objetiva desempenhar, em beneficio comum, determinada atividade econômica.

Fica subentendido que qualquer ato normativo editado pelo poder Executivo ou pelo poder Legislativo, no sentido de dissolução compulsória, será inconstitucional, uma vez que a Lei Maior limita a atuação ao Poder Judiciário (cláusula de reserva do Poder Judiciário), autorizando-o à dissolução somente quando a finalidade buscada pela associação for ilícita, valendo ressaltar que no caso da medida mais drástica, ou seja, no caso da dissolução, a decisão judicial exige o trânsito em julgado.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). Com efeito, a liberdade de associação não se confunde com o direito de reunião, possuindo, em relação a este, plena autonomia jurídica (...). Diria, até, que, sob a égide da vigente Carta Política, intensificou-se o grau de proteção jurídica em torno da liberdade de associação, na medida em que, ao contrário do que dispunha a Carta anterior, nem mesmo durante a vigência do estado de sítio se torna lícito suspender o exercício concreto dessa prerrogativa. (...) Revela-se importante assinalar, neste ponto, que a liberdade de associação tem uma dimensão positiva, pois assegura a qualquer pessoa (física ou jurídica) o direito de associar-se e de formar associações. Também possui uma dimensão negativa, pois garante, a qualquer pessoa, o direito de não se associar, nem de ser compelida a filiar-se ou a desfiliar-se de determinada entidade. Essa importante prerrogativa constitucional também possui função inibitória, projetando-se sobre o próprio Estado, na medida em que se veda, claramente, ao Poder Público, a possibilidade de interferir na intimidade das associações e, até mesmo, de dissolvê-las, compulsoriamente, a não ser mediante regular processo judicial. (STF ADI 3.045, de 1º./6/2007).

EMENTA (...). Cabe enfatizar, neste ponto, que as normas inscritas no art. 5º, incisos XVII a XXI da atual Constituição Federal protegem as associações, inclusive as sociedades, da atuação eventualmente arbitrária do legislador e do administrador, eis que somente o Poder Judiciário, por meio de processo regular, poderá decretar a suspensão ou a dissolução compulsória das associações. Mesmo a atuação judicial encontra uma limitação constitucional: apenas as associações que persigam fins ilícitos poderão ser compulsoriamente dissolvidas ou suspensas. “Atos emanados do Executivo ou do Legislativo, que provoquem a compulsória suspensão ou dissolução de associações, mesmo as que possuam fins ilícitos, serão inconstitucionais. (STF ADI 3.045, 1º./6/07).

XX – ninguém poderá ser compelido a associar-se ou a permanecer associado;

XXI – as entidades associativas, quando expressamente autorizadas, têm legitimidade para representar seus filiados judicial ou extrajudicialmente;

Aqui consta a grande diferença entre associações e sindicatos, pois a estes cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos e individuais da categoria (art. 8º, III), enquanto que aquelas possuem finalidades sociológicas.

O dispositivo diz respeito à representação processual, que por sua vez difere da substituição processual (legitimidade ativa extraordinária). Aquela ocorre numa situação onde o representante atua em nome do representado, caso em que se faz necessário à autorização. A substituição processual o legitimado

24

atua em seu nome próprio para defesa de direito alheio, não sendo necessária autorização.

Vale dizer que no caso de impetração de mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX), a associação prescinde de autorização, uma vez que atua como substituto processual.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). A representação prevista no inciso XXI do artigo 5º da Constituição Federal surge regular quando autorizada a entidade associativa a agir judicial ou extrajudicialmente mediante deliberação em assembleia. Descabe exigir instrumentos de mandatos subscritos pelos associados. (...). (STF RE 192.305, 21/5/01).

Súmula 629 do STF - A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

Pronto! Terminamos as liberdades. E agora começam os direitos.

DIREITO DE PROPRIEDADE

XXII – é garantido o direito de propriedade;

XXIII – a propriedade atenderá a função social;

XXIV – a lei estabelecerá o procedimento para desapropriação por necessidade ou utilidade pública, ou por interesse social, mediante justa e prévia indenização em dinheiro, ressalvada os casos previstos nesta Constituição;

O direito de propriedade é garantia individual e relativa, considerando que deve respeitar o conceito de função social que consta nos artigos 182, §2º (propriedade urbana) e 186 (propriedade rural), da CF/88, senão vejamos:

Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (...). § 2º A propriedade urbana cumpre sua função social quando atende às exigências fundamentais de ordenação da cidade expressas no plano diretor. (...). Art. 186. A função social é cumprida quando a propriedade rural atende, simultaneamente, segundo critérios e graus de exigência estabelecidos em lei, aos seguintes requisitos: I - aproveitamento racional e adequado; II - utilização adequada dos recursos naturais disponíveis e preservação do meio ambiente; III - observância das disposições que regulam as relações de trabalho; IV - exploração que favoreça o bem-estar dos proprietários e dos trabalhadores. Caso a propriedade não cumpra a função social, dará ensejo a desapropriação, que, nos casos previstos nos dispositivos que seguem, não será indenizada em dinheiro. Na última hipótese, não haverá indenização, pois trata-se de expropriação, desapropriação confiscatória. Art. 182. A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem- estar de seus habitantes. (...). § 4º É facultado ao Poder Público municipal, mediante lei específica para área incluída no plano diretor, exigir, nos termos da lei federal, do proprietário do solo urbano não edificado, subutilizado ou não utilizado, que promova seu adequado aproveitamento, sob pena, sucessivamente, de: I - parcelamento ou edificação compulsórios; II - imposto sobre a propriedade predial e territorial urbana progressivo no tempo;

25

III - desapropriação com pagamento mediante títulos da dívida pública de emissão previamente aprovada pelo Senado Federal, com prazo de resgate de até dez anos, em parcelas anuais, iguais e sucessivas, assegurados o valor real da indenização e os juros legais. Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida em lei. § 1º As benfeitorias úteis e necessárias serão indenizadas em dinheiro. (...). Art. 243. As propriedades rurais e urbanas de qualquer região do País onde forem localizadas culturas ilegais de plantas psicotrópicas ou a exploração de trabalho escravo na forma da lei serão expropriadas e destinadas à reforma agrária e a programas de habitação popular, sem qualquer indenização ao proprietário e sem prejuízo de outras sanções previstas em lei, observado, no que couber, o disposto no art. 5º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 81, de 2014)

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). A expropriação de glebas a que se refere o art. 243 da CF há de abranger toda a propriedade e não apenas a área efetivamente cultivada (...). (STF RE 543.974/MG, 26.3.2009).

XXV – no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular, assegurada ao proprietário indenização ulterior, se houver dano;

Trata-se de Requisição Administrativa, desapropriação por necessidade ou utilidade pública.

A indenização é posterior porque deverá ser paga somente se houver dano, o qual será devido até na hipótese do artigo 139, VII, da CF/88, ou seja, durante o Estado de Sítio.

XXVI – a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família, não será objeto de penhora para pagamento de débitos decorrentes de sua atividade produtiva, dispondo a lei sobre os meios de financiar o seu desenvolvimento;

Frise-se que o benefício da impenhorabilidade aqui concedida diz respeito exclusivamente aos débitos decorrentes da própria propriedade produtiva, devendo dita pequena propriedade rural ser trabalhada pela família, requisito este essencial para o reconhecimento do instituto.

A título de informação, o Estatuto da Terra, lei nº 4.504/64, tenta definir "propriedade familiar" e usa como referência de área, o módulo rural.

XXVII – aos autores pertence o direito exclusivo de utilização, publicação ou reprodução de suas obras, transmissível aos herdeiros pelo tempo que a lei fixar;

XXVIII – são assegurados, nos termos da lei:

a) a proteção às participações individuais em obras coletivas e à reprodução da imagem e voz humanas, inclusive nas atividades desportivas;

b) o direito de fiscalização do aproveitamento econômico das obras que criarem ou de que participarem aos criadores, aos intérpretes e às respectivas representações sindicais e associativas;

XXIX – a lei assegurará aos autores de inventos industriais privilégio temporário para sua utilização, bem como proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, aos nomes de empresas e a outros signos distintivos, tendo em vista o interesse social e o desenvolvimento tecnológico e econômico do País;

Propriedade intelectual, que compreende os direitos autorais, também conhecidos como direito de cópia (copyright) e os direitos à propriedade industrial, marcas e patentes, descritos no inciso XXIX, do presente artigo.

Registre-se que a lei dos direitos autorais é a lei no. 9.610/98.

26

O texto contém três garantias: a das participações individuais em obras coletivas, que são as produzidas em colaboração por diversos autores, a das reproduções da imagem e voz humanas e a de fiscalização do aproveitamento econômico das obras.

São asseguradas duas garantias: privilégio temporário de utilização aos autores de inventos e a proteção às criações industriais, à propriedade das marcas, nomes de empresas e outros signos distintivos.

O autor de inventos é aquele que fez uma descoberta ou criou coisa nova, industrializável, que produz resultado no mercado. A Lei 9.279/96 dispõe sobre essa matéria e prevê o direito de obter a patente. Essa mesma lei protege à marca registrada no Brasil, bem como a marca notoriamente conhecida, independentemente de estar ou não registrada no Brasil, conhecidas por marcas notórias.

DIREITO DE SUCESSÕES

XXX – é garantido o direito de herança;

XXXI – a sucessão de bens de estrangeiros situados no País será regulada pela lei brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus;

Para José Afonso da Silva “herança” significa a universalidade de bens transmitida pelo finado aos seus sucessores, segundo a ordem das vocações hereditárias.

A regra só se aplica aos bens de estrangeiros situados no Brasil porque a lei brasileira não tem eficácia extraterritorial.

Segundo Celso de Mello, o legislador constituinte utilizou o critério do jus domicilii, aplicando a lei brasileira, combinado com o critério do jus patriae, quando a lei estrangeira, pessoal do de cujus, for mais favorável ao cônjuge ou filhos brasileiros. E se o morto era domiciliado no exterior, aplicar-se-á a lei brasileira se for mais benéfica ao cônjuge ou filhos brasileiros, no que diz respeito aos bens situados no Brasil (critério forum rei sitae).

O presente dispositivo também abrange os netos brasileiros, desde que sejam herdeiros, pois a finalidade do legislador constitucional é a proteção dos descendentes brasileiros convocados à herança. O adjetivo “brasileiros”, ora empregado, qualifica cônjuges e filhos e a conjunção “ou” tem sentido tanto aditivo como alternativo.

DIREITO DE INFORMAÇÃO

XXXIII – todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado;

É garantia de natureza administrativa, que decorre do princípio da publicidade dos atos da Administração Pública. Porém essa garantia não é absoluta, já que o Poder Público pode recusar-se a fornecer a informação quando esta for imprescindível à segurança do Estado e da sociedade, nos termos da lei nº 12.527/2011. Ressalte-se, ainda a criação da comissão da verdade, instituída pela lei 12.528/2011.

Importante dizer que quando houver negativa administrativa sobre informações pessoais a ação constitucional cabível poderá ser o habeas data, mas quando o direito denegado for informações de interesse coletivo ou geral, a ação constitucional cabível a espécie será o mandado de segurança (art. 5º, LXIX e LXXII).

Dispositivo correspondente: art. 5º, XIV, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula vinculante 14 - É direito do defensor, no interesse do representado, ter acesso amplo aos elementos de prova que, já documentados em procedimento investigatório realizado por órgão com competência de polícia judiciária, digam respeito ao exercício do direito de defesa.

27

EMENTA. (...). Direito à informação de atos estatais, neles embutida a folha de pagamento de órgãos e entidades públicas. (...) Caso em que a situação específica dos servidores públicos é regida pela 1ª parte do inciso XXXIII do art. 5º da Constituição. Sua remuneração bruta, cargos e funções por eles titularizados, órgãos de sua formal lotação, tudo é constitutivo de informação de interesse coletivo ou geral. Expondo-se, portanto, a divulgação oficial. Sem que a intimidade deles, vida privada e segurança pessoal e familiar se encaixem nas exceções de que trata a parte derradeira do mesmo dispositivo constitucional (inciso XXXIII do art. 5º), pois o fato é que não estão em jogo nem a segurança do Estado nem do conjunto da sociedade. Não cabe, no caso, falar de intimidade ou de vida privada, pois os dados objeto da divulgação em causa dizem respeito a agentes públicos enquanto agentes públicos mesmos; ou, na linguagem da própria Constituição, agentes estatais agindo ‘nessa qualidade’ (§ 6º do art. 37). E quanto à segurança física ou corporal dos servidores, seja pessoal, seja familiarmente, claro que ela resultará um tanto ou quanto fragilizada com a divulgação nominalizada dos dados em debate, mas é um tipo de risco pessoal e familiar que se atenua com a proibição de se revelar o endereço residencial, o CPF e a CI de cada servidor. No mais, é o preço que se paga pela opção por uma carreira pública no seio de um Estado republicano. (...) A negativa de prevalência do princípio da publicidade administrativa implicaria, no caso, inadmissível situação de grave lesão à ordem pública. (...). (STF SS 3.902-AgR - segundo, Rel. Min. Ayres Britto, Plenário, DJ de 3-10-2011).

DIREITO DE PETIÇÃO E DE CERTIDÃO

XXXIV – são a todos assegurados, independentemente do pagamento de taxas:

a) o direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso de poder;

b) a obtenção de certidões em repartições públicas, para defesa de direitos e esclarecimento de situação de interesse pessoal;

O direito de petição tem sua origem na Carta Magna de 1215, no right of petition, na Inglaterra, firmando–se no Bill of Rights de 1689, mas se fortaleceu na Constituição Francesa de 1791.

Garantia de índole administrativa que não se confunde com o direito de ação, por isso não tem o peticionário de demonstrar lesão ou ameaça de lesão a interesse, pessoal ou particular. Visa defender direito, noticiar ilegalidade ou abuso de autoridade, constituindo uma prerrogativa democrática, de caráter essencialmente informal (apesar da forma escrita), independentemente do pagamento de taxas e está desvinculado da comprovação da existência de qualquer lesão a interesses próprios do solicitante.

O direito de certidão é consagrado como garantia constitucional de natureza individual, exercido na seara administrativa. Tem como objetivo o esclarecimento de situações pretéritas pessoais, onde o Estado se obriga a prestá-lo sob pena de responsabilidade política, civil e criminal, ressalvados as hipóteses constitucionais de sigilo.

Negado o direito, caberá mandado de segurança (art. 5º, LXIX).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). O direito de petição, presente em todas as Constituições brasileiras, qualifica-se como importante prerrogativa de caráter democrático. Trata-se de instrumento jurídico-constitucional posto a disposição de qualquer interessado— mesmo daqueles destituídos de personalidade jurídica —, com a explícita finalidade de viabilizar a defesa, perante as instituições estatais, de direitos ou valores revestidos tanto de natureza pessoal quanto de significação coletiva. (STF ADI 1.247-MC, 08/09/95)

EMENTA. (...). O direito à certidão traduz prerrogativa jurídica, de extração constitucional, destinada a viabilizar, em favor do indivíduo ou de uma determinada coletividade (como a dos segurados do sistema de previdência social), a defesa (individual ou coletiva) de direitos ou o esclarecimento de situações. A injusta recusa estatal em fornecer certidões, não obstante presentes os pressupostos legitimadores dessa pretensão, autorizará a utilização de instrumentos processuais adequados, como o mandado de segurança ou a própria ação civil pública. (...). (STF RE 472.489 – AgR, 29/8/08).

28

Iniciaremos no presente momento a análise de regras constitucionais que possuem uma carga valorativa, que são mais do que normas escritas, são princípios.

PRINCÍPIOS E REGRAS APLICÁVEIS AO DIREITO E AO PROCESSO

XXXV – a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito;

Princípio do livre acesso ao judiciário ou princípio da inafastabilidade de jurisdição, ou ainda princípio da ubiquidade da justiça. É o direito de obter a tutela judicial, é o direito de ação, desde que preenchidas às condições da ação e dos pressupostos processuais legalmente estabelecidos (legitimidade, interesse de agir e pedido possível).

Em razão do referido princípio não se admite no sistema constitucional pátrio a chamada jurisdição condicionada ou instância administrativa de curso forçado. Assim, inexiste a obrigatoriedade de esgotamento da instância administrativa para que a parte possa acessar o Judiciário, tendo como exceção as lides desportivas, constante no art. 217, parágrafo 1º, que reza:

Art. 217. (...).

§1º. O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e às competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da justiça desportiva, regulada em lei.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 667 do STF - Viola a garantia constitucional de acesso à jurisdição a taxa judiciária calculada sem limite sobre o valor da causa.

Súmula Vinculante 21 - É inconstitucional a exigência de depósito ou arrolamento prévios de dinheiro ou bens para admissibilidade de recurso administrativo.

Súmula Vinculante 28 - É inconstitucional a exigência de depósito prévio como requisito de admissibilidade de ação judicial na qual se pretenda discutir a exigibilidade de crédito tributário.

XXXVI – a lei não prejudicará o direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada;

Princípio da Segurança Jurídica ou irretroatividade da lei, que difere do princípio da retroatividade da lei penal, constante no inciso XL deste artigo.

O direito denomina-se adquirido quando consolidada sua integração ao patrimônio do respectivo titular, conforme a lei vigente. O ato jurídico perfeito é aquele que reuniu todos os seus elementos constitutivos exigidos pela lei. Coisa julgada é a decisão judicial irrecorrível.

Ressalte-se o posicionamento adotado pelo STF sobre a impossibilidade de alegar direito adquirido em face de norma constitucional originária, criação ou aumento de tributos e mudança de regime jurídico do servidor público.

É importante frisar que o STF chancela a teoria da Retroatividade Mínima (temperada ou mitigada), onde as novas normas constitucionais se aplicam de imediato, alcançando, sem limitações, os efeitos futuros de fatos passados, salvo disposição expressa em contrário (retroatividade média ou máxima), valendo salientar que a retroatividade mínima não se aplica as Constituições Estaduais nem as normas infraconstitucionais, pois estas se submetem à regra da irretroatividade, fundamentada no art. 5º, XXXVI da CF/88. A retroatividade máxima ou restitutória da norma aplica-se aos fatos consumados e a retroatividade média aplica-se as prestações vencidas, mas ainda não adimplidas.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). A supremacia jurídica das normas inscritas na Carta Federal não permite, ressalvadas as eventuais exceções proclamadas no próprio texto constitucional, que contra elas seja invocado o direito adquirido. (...). (STF ADI 248. Min. Rel. Celso de Mello, DJ 08.04.1994).

EMENTA. (...). 1. O Supremo Tribunal Federal pacificou a sua jurisprudência sobre a constitucionalidade do instituto da estabilidade financeira e sobre a ausência de direito adquirido a regime jurídico. (...). 3. Recurso extraordinário ao qual se nega provimento. (STF RE 563965/RN. Min. Rel. Cármem Lúcia, DJ

29

19.02.2009).

EMENTA. (...) No ordenamento jurídico vigente, não há norma, expressa nem sistemática, que atribua à condição jurídico-subjetiva da aposentadoria de servidor público o efeito de lhe gerar direito subjetivo como poder de subtrair ad aeternum a percepção dos respectivos proventos e pensões à incidência de lei tributária que, anterior ou ulterior, os submeta à incidência de contribuição previdencial. Noutras palavras, não há, em nosso ordenamento, nenhuma norma jurídica válida que, como efeito específico do fato jurídico da aposentadoria, lhe imunize os proventos e as pensões, de modo absoluto, à tributação de ordem constitucional, qualquer que seja a modalidade do tributo eleito, donde não haver, a respeito, direito adquirido com o aposentamento. (…). (STF ADI 3.105/DF, 18/02/2005).

EMENTA: Pensões especiais vinculadas a salario mínimo. Aplicação imediata a elas da vedação da parte final do inciso IV do artigo 7º. da Constituição de 1988. - Já se firmou a jurisprudência desta Corte no sentido de que os dispositivos constitucionais têm vigência imediata, alcançando os efeitos futuros de fatos passados (retroatividade mínima). Salvo disposição expressa em contrario - e a Constituição pode fazê-lo -, eles não alcançam os fatos consumados no passado nem as prestações anteriormente vencidas e não pagas (retroatividades máxima e média). Recurso extraordinário conhecido e provido. (STF RE 140.499/GO, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 09.09.1994).

XXXVII – não haverá juízo ou tribunal de exceção;

LIII – ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente;

Princípio do Juiz ou do Juízo Natural.

Nelson Nery Júnior assevera que “a garantia do juiz natural é tridimensional. Significa que: 1) não haverá juízo ou tribunal ad hoc, isto é, tribunal de exceção; 2) todos têm direito de submeter-se a julgamento (civil e penal) por juiz competente, pré-constituído na forma da lei; 3) o juiz competente tem de ser imparcial”.

Dispositivo correspondente: art. 5°, LIII, da CF/88.

O Tribunal Penal Internacional não é um tribunal de exceção, uma vez que o Brasil já se submeteu ao mesmo, que foi incluído pela Emenda Constitucional nº 45, nos termos do artigo 5º, parágrafo 4º, que segue adiante:

§4º O Brasil se submete à jurisdição de Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha manifestado

adesão. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Com o advento do Pacto de Roma de 1998, surge o Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, aprovado pelo Brasil em 2002 (DL 112). O TPI é um tribunal permanente com competência para investigar, processar e julgar indivíduos acusados das mais graves violações do direito internacional humanitário. Desde os chamados crimes de guerra, passando pelos crimes contra a humanidade e o genocídio.

A Jurisdição do TPI submete-se ao princípio da complementaridade, ou seja, haverá julgamento perante o TPI em situações excepcionais gravíssimas, em que o Estado soberano se mostre incapaz de processar os crimes indicados no Estatuto de Roma.

Os pontos mais polêmicos giram em torno dos artigos 77 e 89 do Estatuto. O artigo 77 prevê a pena de prisão perpétua quando justificada pela ‘‘extrema gravidade do crime e as circunstâncias pessoais do condenado’’ e o artigo 89, por sua vez, prescreve a entrega do acusado ao tribunal pelo estado em cujo território se encontre sem estabelecer qualquer exceção. O estado deverá, pois, entregar seus próprios nacionais se assim determinar o tribunal, porque o artigo 120 do Estatuto dispõe expressamente que ‘‘não se admitirão reservas ao presente Estatuto’’.

O Tribunal do Júri também não é um tribunal de exceção. Na verdade é uma expressão da Soberania Popular, reconhecido pela própria constituição pátria.

XXXVIII – é reconhecida a instituição do júri, com a organização que lhe der a lei, assegurados:

a) a plenitude de defesa;

b) o sigilo das votações;

30

c) a soberania dos veredictos;

d) a competência para o julgamento dos crimes dolosos contra a vida;

Garantias do Tribunal do Júri.

Comentando as garantias desse tribunal popular, vê-se que a plenitude da defesa, embora já assegurada no inciso LV, foi ratificada, que o sigilo das votações significa que a liberdade de convicção e opinião dos jurados deverá ser sempre resguardada, que os Veredictos, as decisões dos jurados não poderão ser substituídas por outras, mas tal garantia não exclui a possibilidade de serem revistas mediante recursos e que tem competência para os crimes dolosos contra a vida.

A Constituição Federal prevê regra mínima e inafastável de competência para o Tribunal do Júri, porém não impede que outros crimes sejam processados e julgados pelo Júri, podendo a norma infraconstitucional lhe atribuir outras competências, como os crimes conexos.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante nº 45 - A competência constitucional do Tribunal do Júri prevalece sobre o foro por prerrogativa de função estabelecido exclusivamente pela Constituição estadual. (antiga Súmula 721 do STF).

Súmula 603 do STF - A competência para o processo e julgamento de latrocínio é do juiz singular e não do tribunal do júri.

EMENTA. (...) A soberania dos veredictos do tribunal do júri não é absoluta, submetendo-se ao controle do juízo ad quem, tal como disciplina o art. 593, III, d, do Código de Processo Penal. (...). (HC 88.707, 17-10-08).

XXXIX – não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal;

Princípio da Reserva Legal e da Anterioridade.

Em face do princípio da reserva legal, lê-se: “não há crime sem lei que o defina e não há pena sem cominação legal”, entendendo ser indispensável uma descrição específica da conduta tida como lesiva ao bem juridicamente protegido. Em sentido formal, a reserva legal cuida-se de que a matéria deve resultar de lei aprovada pelo Congresso Nacional.

Quanto ao princípio da anterioridade, diz-se: não há crime sem lei “anterior” que o defina e não há pena sem “prévia” cominação legal (nullun crimem, nulla poena sine praevia lege).

XL – a lei penal não retroagirá, salvo para beneficiar o réu;

Princípio da retroatividade da lei penal mais favorável ao réu (lex mitior). A regra é a irretroatividade In Pejus, pois a lei nova desfavorável ao réu (lex gravior) não retroage para atingir delitos praticados antes do início da sua vigência. Quando se trata de lei mais benéfica para o réu, a retroatividade existe, inclusive com relação à eficácia da coisa julgada, aplicando-se também durante o processo de execução da pena.

LIV – ninguém será privado da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal;

Princípio do Devido Processo Legal (due process of law), que decorre do princípio da Presunção da Inocência e tem como corolários a ampla defesa e o contraditório, quer dizer que deve ser dado ao indivíduo paridade de condições em face do Estado, quando este restringir a liberdade ou o direito aos bens constitucionais tutelados, além do conceito material de proteção ao direito de liberdade do indivíduo.

O Supremo Tribunal Federal já declarou que o princípio da proporcionalidade e da razoabilidade tem nesse princípio sua sede material (devido processo legal em sentido substantivo).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) O princípio da proporcionalidade - que extrai a sua justificação dogmática de diversas cláusulas constitucionais, notadamente daquela que veicula a garantia do substantive due process of law - acha-se vocacionado a inibir e a neutralizar os abusos do Poder Público no exercício de suas funções, qualificando-se como parâmetro de aferição da própria constitucionalidade material dos atos estatais.

31

(...). (STF ADI 1.407 MC/DF, 24/11/2000).

LV – aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral, são assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes;

Princípio do Contraditório e da Ampla Defesa.

Por contraditório se entende a garantia que é dada ao réu de conhecer o direito alegado pela outra parte litigante, pois para todo ato produzido por uma parte caberá igual direito a outra parte para contraditar. A ampla defesa se divide em defesa técnica e autodefesa (direito de audiência e direito de presença/participação).

Segundo o ilustre doutrinador Leo Van Holthe, aplicam-se o contraditório e a ampla defesa tanto nos procedimentos civil, quanto militares, processos administrativos, disciplinares, além de quaisquer outros procedimentos que envolvam a aplicação de sanções administrativas. Entretanto, nos procedimentos administrativos meramente investigatórios, que não envolvem a aplicação de penalidades, mas apenas apuram fatos para um posterior processo administrativo ou judicial, não há que se falar em contraditório e ampla defesa.

O duplo grau de jurisdição, princípio que obriga a existência de revisão por Tribunal Superior da matéria já julgada por uma instância inferior. Entretanto, a obediência a este princípio afasta a possibilidade de julgamentos feitos por uma única instância. Após várias discussões sobre a matéria, pela doutrina e jurisprudência, o STF firmou entendimento de que o duplo grau de jurisdição não é garantia constitucional.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula vinculante 5 - A falta de defesa técnica por advogado no processo administrativo disciplinar não ofende a constituição.

EMENTA. (...) A ausência de Advogado no interrogatório judicial do acusado não infirma a validade jurídica desse ato processual. O interrogatório judicial - que constitui ato pessoal do magistrado processante - não esta sujeito ao princípio do contraditório. Precedente: HC 68.929-9, rel. Min. CELSO DE MELLO. - A investigação policial, em razão de sua própria natureza, não se efetiva sob o crivo do contraditório, eis que e somente em juízo que se torna plenamente exigível o dever estatal de observância do postulado da bilateralidade dos atos processuais e da instrução criminal. A inaplicabilidade da garantia do contraditório ao inquérito policial tem sido reconhecida pela jurisprudência do STF. A prerrogativa inafastável da ampla defesa traduz elemento essencial e exclusivo da persecução penal em juízo. (...). (STF HC 69372/SP - Rel. Min. CELSO DE MELLO, 07-05-1993).

EMENTA. (...) A estrita reverência aos princípios do contraditório e da ampla defesa só é exigida, como requisito essencial de validez, assim no processo administrativo disciplinar, como na sindicância especial que lhe faz as vezes como procedimento ordenado à aplicação daquelas duas penas mais brandas, que são a advertência e a suspensão por prazo não superior a trinta dias. Nunca, na sindicância que funcione apenas como investigação preliminar tendente a coligir, de maneira inquisitorial, elementos bastantes à imputação de falta ao servidor, em processo disciplinar subsequente. (STF MS 22.791. rel. Ministro Cezar Peluso, 13/11/2003).

EMENTA. (...) Ainda que não se empreste dignidade constitucional ao duplo grau de jurisdição, trata-se de garantia prevista na Convenção Interamericana de Direitos Humanos, cuja ratificação pelo Brasil deu-se em 1992, data posterior à promulgação Código de Processo Penal. VI - A incorporação posterior ao ordenamento brasileiro de regra prevista em tratado internacional tem o condão de modificar a legislação ordinária que lhe é anterior. VII - Ordem concedida. (STF HC 88.420/PR, 17.04.2007).

LVI – são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos;

Princípio da inadmissibilidade das provas obtidas por meios ilícitos.

As provas ilegais se dividem em provas ilícitas, as que infringem às normas do direito material e as ilegítimas que desrespeitam o direito processual.

LVII – ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória;

O princípio da presunção da inocência ou da não-culpabilidade tutela o direito do individuo de ser

32

considerado inocente até o trânsito em julgado da sentença, cabendo ao Estado o dever de provar o contrário. Desse princípio advém o princípio do in dubio pro reo, segundo o qual, havendo dúvida na interpretação da lei ou na indicação do fato, será adotada aquela que for mais favorável ao réu.

O Supremo Tribunal Federal, em julgamento recente e histórico, julgou o HC 126.292 e mudou a jurisprudência da Corte, afirmando que é possível a execução da pena depois de decisão condenatória confirmada em segunda instância.

Dispositivo correspondente – art. 5º, LXVI, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) Viola o princípio constitucional da presunção da inocência, previsto no art. 5º, LVII, da Constituição Federal, a exclusão de candidato de concurso público que responde a inquérito ou ação penal sem trânsito em julgado da sentença condenatória. (STF RE 559.135-AgR, 13-6-08).

LVIII – o civilmente identificado não será submetido à identificação criminal, salvo nas hipóteses previstas em lei;

A identificação exigida como excludente de identificação criminal é a oficial e regularmente emitida pelos órgãos estatais, ou, ainda, aquela cuja lei conceda equiparação com a cédula de identificação – RG, tais como, a carteira profissional válida, a carteira nacional de habilitação.

A Lei 12.037/2009 estabelece hipóteses em que é necessária a identificação criminal, independentemente da identificação civil.

LIX – será admitida ação privada nos crimes de ação pública, se esta não for intentada no prazo legal;

Ação penal pública é privativa do Ministério Público, nos termos do art. 129, I, da CF/88, no entanto havendo inércia do Ministério Público, seja pelo não oferecimento da denúncia, ou pelo não requerimento de arquivamento do inquérito policial, ou mesmo pela falta de requisição de novas diligências no prazo legal, será admitida ação privada subsidiária da pública, que será intentada pelo ofendido ou seu representante.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) A admissibilidade da ação penal privada subsidiária da pública pressupõe, nos termos do art. art. 5º, LIX, da CF (...), a inércia do Ministério Público em adotar, no prazo legal (CPP, art. 46), uma das seguintes providências: oferecer a denúncia, requerer o arquivamento do inquérito policial ou requisitar novas diligências. (STF HC 74.276, 3-9-96).

LX – a lei só poderá restringir a publicidade dos atos processuais quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem;

Princípio da Publicidade.

Dispositivo correspondente: art. 93, IX, da CF/88.

LXXVIII – a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração do processo

e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Princípio da razoável duração do processo e Princípio da Celeridade.

Como mecanismos de celeridade e desburocratização podem ser citados: a vedação de férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, à proporcionalidade do número de juízes à efetiva demanda judicial e à respectiva população, a distribuição imediata dos processos, em todos os graus de jurisdição, a possibilidade de delegação aos servidores do Judiciário, para a prática de atos de mero expediente sem caráter decisório, a necessidade de demonstração de repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso para fins de conhecimento do recurso extraordinário, a instalação da justiça itinerante, as súmulas vinculantes do Supremo Tribunal federal.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) O excesso de prazo, quando exclusivamente imputável ao aparelho judiciário — não

33

derivando, portanto, de qualquer fato procrastinatório causalmente atribuível ao réu — traduz situação anômala que compromete a efetividade do processo, pois, além de tornar evidente o desprezo estatal pela liberdade do cidadão, frustra um direito básico que assiste a qualquer pessoa: o direito à resolução do litígio, sem dilações indevidas (CF, art. 5º, LXXVIII) e com todas as garantias reconhecidas pelo ordenamento constitucional, inclusive a de não sofrer o arbítrio da coerção estatal representado pela privação cautelar da liberdade por tempo irrazoável ou superior àquele estabelecido em lei. (STF HC 85,237, 29-4-05).

CRIMES INAFIANCÁVEIS, IMPRESCRITÍVEIS E INSUSCETÍVEIS DE GRAÇA E ANISTIA

XLII – a prática do racismo constitui crime inafiançável e imprescritível, sujeito à pena de reclusão, nos termos da lei;

A lei 7.716/89 define os crimes resultantes de preconceito de raça ou de cor.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. Escrever, editar, divulgar e comerciar livros ‘fazendo apologia de ideias preconceituosas e discriminatórias’ contra a comunidade judaica (Lei 7.716/89, artigo 20, na redação dada pela Lei 8.081/90) constitui crime de racismo sujeito às cláusulas de inafiançabilidade e imprescritibilidade (CF, artigo 5º, XLII). Aplicação do princípio da prescritibilidade geral dos crimes: se os judeus não são uma raça, segue-se que contra eles não pode haver discriminação capaz de ensejar a exceção constitucional de imprescritibilidade. Inconsistência da premissa. (...). (STF HC 82.424, 19/03/04).

XLIII – a lei considerará crimes inafiançáveis e insuscetíveis de graça ou anistia a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, o terrorismo e os definidos como crimes hediondos, por ele respondendo os mandantes, os executores e os que, podendo evitá-los, se omitirem;

Conceituado graça, indulto e anistia, tem-se que é ato de clemência do poder executivo, extinguindo ou diminuindo a pena dada ao condenado (art. 84, XII). Chama-se graça se o perdão for individual e indulto se for coletivo. Já a anistia difere formalmente da graça e do indulto porque aquela é um perdão concedido por lei, portanto deve submeter-se ao congresso nacional (art. 48, VIII).

A prática da tortura está definida na lei 9.459/97. As normas que tratam do crime de tráfico ilícito de drogas constam na lei 11.343/2006 e sobre o terrorismo, aplica-se a lei 13.260/2016.

A definição de crimes hediondos consta no artigo 1º da lei 8.072/90.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (…). O art. 5º, XLIII, da Constituição, que proíbe a graça, gênero do qual o indulto é espécie, nos crimes hediondos definidos em lei, não conflita com o art. 84, XII, da Lei Maior. O decreto presidencial que concede o indulto configura ato de governo, caracterizado pela ampla discricionariedade. (…). (STF HC 90.364, 30-11-07).

EMENTA. (...). A chamada Lei da Anistia veicula uma decisão política assumida naquele momento – o momento da transição conciliada de 1979. A Lei 6.683 é uma lei-medida, não uma regra para o futuro, dotada de abstração e generalidade. Há de ser interpretada a partir da realidade no momento em que foi conquistada. A Lei 6.683/1979 precede a Convenção das Nações Unidas contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes – adotada pela Assembleia Geral em 10-12-1984, vigorando desde 26-6-1987 – e a Lei 9.455, de 7-4-1997, que define o crime de tortura; e o preceito veiculado pelo art. 5º, XLIII, da Constituição – que declara insuscetíveis de graça e anistia a prática da tortura, entre outros crimes – não alcança, por impossibilidade lógica, anistias anteriormente a sua vigência consumadas. A Constituição não afeta leis-medida que a tenham precedido. (...). (STF ADPF 153, Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJ de 6-8-2010).

XLIV – constitui crime inafiançável e imprescritível a ação de grupos armados, civis ou militares, contra a ordem constitucional e o Estado Democrático;

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ÀS PENAS

34

XLV – nenhuma pena passará da pessoa do condenado, podendo a obrigação de reparar o dano e a decretação do perdimento de bens ser, nos termos da lei, estendidas aos sucessores e contra eles executadas, até o limite do valor do patrimônio transferido;

Princípio da pessoalidade da pena ou intransmissibilidade da pena ou personificação da pena ou responsabilidade pessoal. A pena não passará da pessoa do condenado, considerando que a morte é uma das hipóteses legais de extinção da punibilidade ou da execução da pena. Entretanto, no que tange a obrigação de reparar o dano e o perdimento de bens, as sanções de natureza patrimonial podem alcançar o patrimônio dos sucessores, mas somente até o limite do valor recebido pela herança do de cujus.

XLVI – a lei regulará a individualização da pena e adotará, entre outras, as seguintes:

a) privação ou restrição da liberdade;

b) perda dos bens;

c) multa;

d) prestação social alternativa;

e) suspensão ou interdição de direitos;

Princípio da individualização da pena.

O rol das penas ora descritas é exemplificativo ou enumerativo (numerus apertus), ou seja, o legislador infraconstitucional pode adotar outras penas além das que estão previstas no presente inciso, desde que não sejam as vedadas por esta constituição, as quais estão exaustivamente indicadas no inciso seguinte.

XLVII – não haverá penas:

a) de morte, salvo em caso de guerra declarada, nos termos do art. 84, XIX;

b) de caráter perpétuo;

c) de trabalhos forçados;

d) de banimento;

e) cruéis;

Provas proibidas.

Essa previsão é taxativa (numerus clausus), exaustiva.

Ressalte-se que existe previsão infraconstitucional de aplicação de pena de morte para determinados crimes militares indicados no Código Militar (Decreto-lei n.1.001/69).

Sobre o banimento ou desterro, vale dizer que é a retirada de um nacional de seu país, em virtude da prática de determinado fato no território nacional, entendendo-se como nacional o brasileiro nato e o naturalizado.

XLVIII – a pena será cumprida em estabelecimentos distintos, de acordo com a natureza do delito, a idade e o sexo do apenado;

XLIX – é assegurado aos presos o respeito à integridade física e moral;

L – às presidiárias serão asseguradas às condições para que possam permanecer com seus filhos durante o período de amamentação;

O inciso XLIX é colorário da regra prevista no inciso III, do artigo 5º, que diz: "ninguém será submetido à tortura ou tratamento desumano ou degradante".

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula vinculante nº 11 - Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a

35

excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado.

REGRAS DE EXTRADIÇÃO

LI – nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei;

Extradição, segundo Hildebrando Accioly, “é o ato pelo o qual um Estado entrega um indivíduo, acusado de um delito ou já condenado como criminoso, à Justiça do outro, que o reclama, e que é competente para julgá-lo e puni-lo”. A extradição não se confunde com expulsão e deportação. A expulsão decorre de atentado à segurança nacional, ordem política ou social, ou nocividade aos interesses nacionais. A deportação tem relação com a legalidade, é a saída compulsória do estrangeiro que entrou ou permanece irregularmente no país por não cumprimento dos requisitos legais.

Só existe deportação ou expulsão de estrangeiro. Inclusive, com referência a expulsão, quando o brasileiro, nato ou naturalizado atenta contra à segurança nacional, ordem política ou social, ou nocividade aos interesses nacionais será processado e julgado pela justiça brasileira.

Há extradição ativa e passiva, mas o STF somente tem competência para julgar a extradição passiva (art. 102, I, "g"). A solicitação da extradição para ser aceita pelo Brasil deverá também preencher alguns requisitos infraconstitucionais, dentre eles, a existência de tratado internacional ou promessa de reciprocidade entre os países e a dupla tipicidade, ou seja, a conduta tem que ser crime no Brasil e no país solicitante.

LII – não será concedida extradição de estrangeiro por crime político ou de opinião;

O caráter político do crime deverá ser analisado pelo STF, pois inexiste prévia definição constitucional ou legal sobre a matéria.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 1 do STF - É vedada a expulsão de estrangeiro casado com brasileira, ou que tenha filho brasileiro, dependente de economia paterna.

Súmula 421 do STF - Não impede a extradição a circunstância de ser o extraditando casado com brasileira ou ter filho brasileiro.

EMENTA. Extradição e prisão perpétua: necessidade de prévia comutação, em pena temporária (máximo de 30 anos), da pena de prisão perpétua — Revisão da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, em obediência à Declaração Constitucional de Direitos (CF, art. 5º, XLVII, b). A extradição somente será deferida pelo Supremo Tribunal Federal, tratando-se de fatos delituosos puníveis com prisão perpétua, se o Estado requerente assumir, formalmente, quanto a ela, perante o Governo brasileiro, o compromisso de comutá-la em pena não superior à duração máxima admitida na lei penal do Brasil (CP, art. 75), eis que os pedidos extradicionais - considerado o que dispõe o art. 5º, XLVII, b da Constituição da República, que veda as sanções penais de caráter perpétuo - estão necessariamente sujeitos à autoridade hierárquico-normativa da Lei Fundamental brasileira. Doutrina. Novo entendimento derivado da revisão, pelo Supremo Tribunal Federal, de sua jurisprudência em tema de extradição passiva. (…). (STF Ext 855, 1º/7/05).

EMENTA. (...) Não configura crime político, para fim de obstar a acolhimento de pedido de extradição, homicídio praticado por membro de organização revolucionária clandestina, em plena normalidade institucional de Estado Democrático de direito, sem nenhum propósito político imediato ou conotação de reação legítima a regime opressivo. (...) Decretada a extradição pelo Supremo Tribunal Federal, deve o Presidente da República observar os termos do Tratado celebrado com o Estado requerente, quanto à entrega do extraditando. (STF Ext. 1.085. Rel. Min Cezar Peluso. DJ. 16.04.2010).

EMENTA. (...) Revela-se essencial, para a exata aferição do respeito ao postulado da dupla incriminação, que os fatos atribuídos ao extraditando - não obstante a incoincidência de sua designação formal -

36

revistam-se de tipicidade penal e sejam igualmente puníveis tanto pelo ordenamento jurídico domestico quanto pelo sistema de direito positivo do Estado requerente. (...). (STF Ext 669/EUA, 29/03/1996).

EMENTA. (...) A Constituição da República, presentes tais vetores interpretativos (CF, art. 4º, VIII, e art. 5º, XLIII), não autoriza que se outorgue, às práticas delituosas de caráter terrorista, o mesmo tratamento benigno dispensado ao autor de crimes políticos ou de opinião, impedindo, desse modo, que se venha a estabelecer, em torno do terrorista, um inadmissível círculo de proteção que o faça imune ao poder extradicional do Estado brasileiro, notadamente se se tiver em consideração a relevantíssima circunstância de que a Assembleia Nacional Constituinte formulou um claro e inequívoco juízo de desvalor em relação a quaisquer atos delituosos revestidos de índole terrorista, a estes não reconhecendo a dignidade de que muitas vezes se acha impregnada a prática da criminalidade política. (...) A cláusula de proteção constante do art. 5º, LII da Constituição da República - que veda a extradição de estrangeiros por crime político ou de opinião - não se estende, por tal razão, ao autor de atos delituosos de natureza terrorista, considerado o frontal repúdio que a ordem constitucional brasileira dispensa ao terrorismo e ao terrorista (...). (STF Ext. 855/Chile, 01/07/2005).

PRINCÍPIOS APLICÁVEIS ÀS PRISÕES

LXI – ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei;

Prisão em flagrante, nos termos do código de processo penal, poderá ser decretada por qualquer do povo e deverá ser decretada pelas autoridades competentes. Já a prisão decorrente de ordem judicial é cláusula de reserva do judiciário. Deve-se ainda distinguir a prisão processual (prisão temporária, preventiva, em flagrante delito), a qual se dá antes do trânsito em julgado da sentença penal condenatória e, a prisão penal, onde o condenado deverá cumprir a pena estabelecida na sentença.

Existem exceções a presente regra, tais como: prisões militares, expressas no próprio texto do artigo, a prisão durante o estado de defesa e o estado de sítio (arts. 136, § 1º e 139 da CF/88) e a prisão do Presidente da República, dos deputados federais e estaduais e dos senadores (arts. 86, § 3º e 53, § 2º, todos da CF/88).

LXII – a prisão de qualquer pessoa e o local onde se encontre serão comunicados imediatamente ao juiz competente e à família do preso ou à pessoa por ele indicada;

São obrigatórias as duas comunicações a partir da prisão. Uma, ao juiz competente, o qual vai justamente avaliar a legalidade da prisão, considerando o que consta nos incisos LXI e LXV desse dispositivo. Outra, ou à pessoa que o preso indicar ou a alguém da família, se for possível identificá-la.

Também será necessária a comunicação à Defensoria Pública da prisão do indivíduo que não indique advogado particular, em observância a parte final do inciso LXII, desse mesmo artigo, nos termos do código de processo penal.

LXIII – o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado;

Direito ao silêncio. O preso deverá ser obrigatoriamente informado sobre seu direito constitucional de permanecer em silêncio e que o exercício desse direito não enseja confissão do crime.

O direito a não autoincriminação, como citam os professores Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo, parte de umas das premissas do direito penal, de que ninguém é obrigado a produzir provas contra si mesmo, será exercido tanto na fase de inquérito policial como perante a justiça, inclusive diante das comissões parlamentares de inquérito.

LXIV – o preso tem direito à identificação dos responsáveis por sua prisão ou por interrogatório policial;

As autoridades policiais ficam obrigadas a apresentar ao preso todas as alternativas necessárias à identificação do policial ou da equipe que o prendeu ou interrogou.

LXV – a prisão ilegal será imediatamente relaxada pela autoridade judiciária;

37

Prisão ilegal é aquela que não obedece aos requisitos da lei, como, por exemplo, a da pessoa que foi presa, mas não foi pegue em flagrante, nem por ordem judicial escrita e fundamentada, ou a prisão de menor de idade. Essa prisão, por mais que se tenha certeza de que o preso é o culpado, deverá ser relaxada por ordem de autoridade judiciária.

LXVI – ninguém será levado à prisão ou nela mantido quando a lei admitir a liberdade provisória, com ou sem fiança;

A liberdade provisória é o direito de a pessoa responder ao processo em liberdade, que se dá até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, tendo como fundamento o princípio da presunção da inocência. Surge quando a lei permite que o réu fique solto durante o processo, pois na fase da execução da pena, após o trânsito em julgado da sentença que condena a privação da liberdade, a prisão não admite tal benefício.

LXVII – não haverá prisão civil por dívida, salvo a do responsável pelo inadimplemento voluntário e inescusável, de obrigação alimentícia e a do depositário infiel;

Em regra, não haverá prisão civil por dívida. Só há duas exceções à regra nos termos da Constituição Federal vigente. Na primeira, poderá ser presa a pessoa que for devedora de pensão alimentícia de forma voluntária e inescusável (sem desculpa, sem justificativa). A segunda exceção, que tem como protagonista o depositário infiel, surgiu do contrato de depósito, oriundo do direito privado, ocorrendo quando o depositante entrega um bem móvel ao depositário, o qual deverá devolver o objeto quando reclamado, tornando-se depositário fiel do bem. Se no momento em que o depositante for requisitar o bem, o mesmo não estiver na posse do depositário, este se torna depositário infiel, podendo sofrer prisão civil.

O Supremo Tribunal Federal passou a determinar que a prisão civil por dívida seja aplicável apenas ao responsável pelo não pagamento “voluntário e inescusável" de obrigação alimentícia. O Tribunal entendeu que a segunda parte do dispositivo constitucional, que versa sobre o assunto, ainda precisa de lei para a definição de rito processual e prazos, uma vez que a Lei nº 8.866/94 foi derrogada pela Convenção Americana de Direitos Humanos (norma Supralegal)

Dispositivo correspondente: art. 5º, §3º, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. PRISÃO CIVIL. Depósito. Depositário infiel. Alienação fiduciária. Decretação da medida coercitiva. Inadmissibilidade absoluta. Insubsistência da previsão constitucional e das normas subalternas. Interpretação do art. 5º, inc. LXVII e §§ 1º, 2º e 3º, da CF, à luz do art. 7º, § 7, da Convenção Americana de Direitos Humanos (Pacto de San José da Costa Rica). Recurso improvido. Julgamento conjunto do RE nº 349.703 e dos HCs nº 87.585 e nº 92.566. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito. (STF - RE: 466343 SP , Relator: Min. CEZAR PELUSO, Data de Julgamento: 03/12/2008, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-2009).

Súmula Vinculante 25 - É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade do depósito.

§3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros,

serão equivalentes às emendas constitucionais. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Os tratados internacionais são celebrados pelo Presidente da República (art. 84, VIII) e referendados pelo Congresso Nacional (art. 49, I, da CF/88). Aprovado por decreto legislativo, o tratado segue para o Presidente da República para que seja promulgado por decreto.

Depois da mudança trazida pela emenda constitucional nº 45, de 08/12/2004, tais tratados podem ser aprovados com quórum qualificado (três quintos dos membros de ambas as casas do congresso nacional, em dois turnos de discussão e votação), quando tratarem de direitos humanos, sendo equivalentes às emendas constitucionais ou podem ser aprovados por maioria dos votos, em um só

38

turno de discussão e votação, em cada casa do Congresso Nacional, quando não tratarem de direitos humanos, sendo equivalentes a um lei ordinária.

O STF no julgamento do RE 466.343/SP fez referência aos tratados internacionais sobre direitos humanos subscritos pelo Brasil, portanto já incorporados ao ordenamento jurídico antes de promulgação da emenda constitucional nº 45, que são materialmente compatíveis, mas não formalmente compatíveis com a mudança, chamando-os de normas supralegais.

Já aprovado pelo Congresso Nacional, nos moldes do presente parágrafo, tem-se o Decreto Legislativo 186/09.07.2009, que referendou a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de seu Protocolo Facultativo.

GARANTIAS CONSTITUCIONAIS

HABEAS CORPUS

LXVIII - conceder-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder;

É a primeira garantia de direitos fundamentais, concedida na Carta Magna de 1215, pelo monarca inglês João Sem Terra. Alcançou status constitucional na Constituição Federal de 1891 (Primeira Constituição Republicana) e está regulamentado no Código de Processo Penal.

É uma ação constitucional de natureza mandamental (writ) e de procedimento especial, isento de custas e que visa cessar violência (habeas corpus repressivo) ou ameaça na liberdade de locomoção (habeas corpus preventivo), por ilegalidade ou abuso de poder.

A legitimidade para ajuizamento de habeas corpus é um atributo de personalidade, não se exigindo a capacidade de estar em juízo, nem a capacidade postulatória, sendo uma verdadeira ação penal popular. E sendo assim, qualquer do povo, nacional ou estrangeiro, independentemente de capacidade civil, política, de idade, sexo, estado mental, pode fazer uso do habeas corpus em benefício próprio. Não há impedimento para que dele se utilize pessoa menor de idade, insana mental, mesmo sem estarem representados ou assistidos por outrem. O analfabeto, também, desde que alguém assine a petição a rogo, poderá ajuizar a ação de habeas corpus. O que não pode haver é a impetração apócrifa, ou seja, habeas corpus sem assinatura.

Deve-se esclarecer que essa garantia poderá ser usada em benefício alheio, mediante habeas corpus de terceiro. E aqui as pessoas jurídicas podem constar no polo ativo da ação mandamental, embora não possam ser pacientes, já que estes só podem ser pessoas físicas, segundo posicionamento da Corte Suprema. Na mesma situação, segundo o artigo 654, §2º do CPC, o magistrado pode conceder a liberdade de ofício, porém não pode ser impetrante num habeas corpus de terceiro.

Diferentemente do mandado de segurança, qualquer pessoa pode ser sujeito passivo na relação de habeas corpus, autoridade pública ou particular, sendo necessário que o constrangimento exercido decorra de função por ele ocupada. Assim, o diretor de hospital ou colégio que impeça a saída por débito.

O Habeas corpus é gratuito nos termos do inciso LXXVII, que reza: “São gratuitas as ações de Habeas Corpus e Habeas Data e, na forma da lei, os tatos necessários ao exercício da cidadania”.

Decreto Lei 3.689/41 (CPP):

Art. 647. Dar-se-á habeas corpus sempre que alguém sofrer ou se achar na iminência de sofrer violência ou coação ilegal na sua liberdade de ir e vir, salvo nos casos de punição disciplinar.

(…).

Art. 654. O habeas corpus poderá ser impetrado por qualquer pessoa, em seu favor ou de outrem, bem como pelo Ministério Público.

(…).

§ 2o Os juízes e os tribunais têm competência para expedir de ofício ordem de habeas corpus, quando no curso de processo verificarem que alguém sofre ou está na iminência de sofrer coação ilegal.

39

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 693 do STF - não cabe habeas corpus contra decisão condenatória a pena de multa, ou relativo a processo em curso por infração penal a que a pena pecuniária seja a única cominada.

EMENTA: I. Habeas corpus: cabimento. 1. Assente a jurisprudência do STF no sentido da idoneidade do habeas corpus para impugnar autorização judicial de quebra de sigilos, se destinada a fazer prova em procedimento penal. (...). (STF HC 84869/SP. Rel. Min. Sepúlveda Pertence. DJ 19.08.2005).

EMENTA (...) Impõe-se reconhecer, desde logo, a possibilidade de as entidades sindicais impetrarem ordem de habeas corpus em favor de terceiros, notadamente em benefício de seus dirigentes e filiados, quando em risco o exercício da liberdade de locomoção física. Assiste-lhes, na realidade, nesse tema, plena legitimidade ativa ad causam. (...). (STF HC 76606/CE, 05/02/1998).

EMENTA. (...) Versando o processo sobre a ação constitucional de habeas corpus, tem-se a possibilidade de acompanhamento pelo leigo, que pode interpor recurso, sem a exigência de a peça mostrar-se subscrita por profissional da advocacia. (STF HC 84716/MG, 26/11/2004).

EMENTA. "Habeas corpus". O sentido da restrição dele quanto às punições disciplinares militares (artigo 142, PAR. 2, da Constituição Federal). - Não tendo sido interposto o recurso ordinário cabível contra o indeferimento liminar do "habeas corpus" impetrado perante o Superior Tribunal de Justiça (artigo 102, II, "a", da Constituição Federal), conhece-se do presente "writ" como substitutivo desse recurso. - O entendimento relativo ao PAR. 2º do artigo 153 da Emenda Constitucional n. 1/69, segundo o qual o princípio, de que nas transgressões disciplinares não cabia "habeas corpus", não impedia que se examinasse, nele, a ocorrência dos quatro pressupostos de legalidade dessas transgressões (a hierarquia, o poder disciplinar, o ato ligado a função e a pena susceptível de ser aplicada disciplinarmente), continua valido para o disposto no PAR. 2º do ARTIGO 142 da atual Constituição que e apenas mais restritivo QUANTO AO âmbito dessas transgressões disciplinares, pois a LIMITA AS DE natureza militar. (...). (STF HC 70.648/RJ. Rel. Min. Moreira Alves, DJ 04.03.1994).

EMENTA. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - DEFINIÇÃO. A competência para o julgamento do habeas corpus é definida pelos envolvidos - paciente e impetrante. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - ATO DE TURMA RECURSAL. Estando os integrantes das turmas recursais dos juizados especiais submetidos, nos crimes comuns e nos de responsabilidade, à jurisdição do tribunal de justiça ou do tribunal regional federal, incumbe a cada qual, conforme o caso, julgar os habeas impetrados contra ato que tenham praticado. COMPETÊNCIA - HABEAS CORPUS - LIMINAR. Uma vez ocorrida a declinação da competência, cumpre preservar o quadro decisório decorrente do deferimento de medida acauteladora, ficando a manutenção, ou não, a critério do órgão competente. (STF HC 86.834/SP, Rel. Min. Marco Aurélio, DJ 09.03.2009).

Súmula 690 do STF – compete originariamente ao supremo tribunal federal o julgamento de "habeas corpus" contra decisão de turma recursal de juizados especiais criminais. Súmula Superada.

EMENTA. (...). É inquestionável o direito de súditos estrangeiros ajuizarem, em causa própria, a ação de 'habeas corpus', eis que esse remédio constitucional - por qualificar-se como verdadeira ação popular - pode ser utilizado por qualquer pessoa, independentemente da condição jurídica resultante de sua origem nacional.- A petição com que impetrado o 'habeas corpus' deve ser redigida em português, sob pena de não-conhecimento do 'writ' constitucional (CPC, art. 156, c/c o CPP, art. 3º), eis que o conteúdo dessa peça processual deve ser acessível a todos, sendo irrelevante, para esse efeito, que o juiz da causa conheça, eventualmente, o idioma estrangeiro utilizado pelo impetrante. (…). (STF - HC: 88646 SC , Relator: Min. CELSO DE MELLO, Data de Julgamento: 05/05/2006, Data de Publicação: DJ 11/05/2006).

HABEAS DATA

LXXII - conceder-se-á habeas data:

a) para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

b) para retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

40

Presente apenas na CF/88 e regulado pela lei 9.507/97.

Ação constitucional de caráter civil, gratuita, de conteúdo e rito sumário. Ação personalíssima, de forma a não admitir o pedido de terceiros. O extinto Tribunal Federal de Recursos, cujos membros formam atualmente a composição do STJ, em sessão plenária, admitiu a legitimação para o habeas data para os herdeiros do morto ou seu cônjuge supérstite, salientando, porém, tratar-se de decisão.

Possui como objeto a proteção ao direito de informação pessoal, com tripla finalidade: conhecimento, correção e justificação.

A legitimidade ativa poderá ser exercida por pessoa física e jurídica e não existe possibilidade de haver habeas data preventivo, uma vez que a jurisprudência do STF firmou-se no sentido da necessidade da negativa da via administrativa para justificar o ajuizamento do habeas data, entendimento corroborado pela Lei 9.507/97, que em seu artigo 8º, parágrafo único.

O presente writ poderá ser impetrado em desfavor de entidade governamental ou não governamental, mas de caráter público, que possuam informações referentes à pessoa do impetrante.

Quanto à alegada ressalva prevista no artigo 5º, XXXIII, da CF/88, o sigilo da defesa nacional, apesar da divergência doutrinária, o já mencionado Tribunal Federal de Recursos pacificou entendimento de que valerá a alegação do sigilo em nome da segurança do Estado.

O Supremo Tribunal Federal, por unanimidade, nos autos do Recurso Extraordinário nº 673.707/MG, julgado em 17.05.2015, assentando a tese de que o habeas data é a garantia constitucional adequada para a obtenção, pelo próprio contribuinte, dos dados concernentes ao pagamento de tributos constantes de sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.

O Habeas data é gratuito nos termos do inciso LXXVII, que reza: “São gratuitas as ações de Habeas Corpus e Habeas Data e, na forma da lei, os tatos necessários ao exercício da cidadania”.

Lei 9.507/97:

Art. 7° Conceder-se-á habeas data:

I - para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registro ou banco de dados de entidades governamentais ou de caráter público;

II - para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo;

III - para a anotação nos assentamentos do interessado, de contestação ou explicação sobre dado verdadeiro mas justificável e que esteja sob pendência judicial ou amigável.

Art. 8° A petição inicial, que deverá preencher os requisitos dos arts. 282 a 285 do Código de Processo Civil, será apresentada em duas vias, e os documentos que instruírem a primeira serão reproduzidos por cópia na segunda.

Parágrafo único. A petição inicial deverá ser instruída com prova:

I - da recusa ao acesso às informações ou do decurso de mais de dez dias sem decisão;

II - da recusa em fazer-se a retificação ou do decurso de mais de quinze dias, sem decisão; ou

III - da recusa em fazer-se a anotação a que se refere o § 2° do art. 4° ou do decurso de mais de quinze dias sem decisão.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) O habeas data tem finalidade específica: assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, ou para a retificação de dados, quando não se prefira fazê-lo por processo sigiloso, judicial ou administrativo (CF, art. 5º, LXXII, a e b). No caso, visa a segurança ao fornecimento ao impetrante da identidade dos autores de agressões e denúncias que lhe foram feitas. A segurança, em tal caso, é meio adequado. (STF RMS 24.617,10-6-05).

AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS DATA. ART. 5º, LXXII, DA CF. ART. 7º, III, DA LEI 9.507/97. PEDIDO DE VISTA DE PROCESSO ADMINISTRATIVO. INIDONEIDADE DO MEIO. RECURSO IMPROVIDO. 1. O habeas data, previsto no art. 5º, LXXII, da Constituição Federal, tem como finalidade assegurar o conhecimento de informações constantes de registros ou banco de dados e ensejar sua retificação, ou de possibilitar a anotação de explicações nos assentamentos do interessado (art. 7º, III, da Lei 9.507/97). 2. A ação de

41

habeas data visa à proteção da privacidade do indivíduo contra abuso no registro e/ou revelação de dados pessoais falsos ou equivocados. 3. O habeas data não se revela meio idôneo para se obter vista de processo administrativo. 4. Recurso improvido. (STF - HD: 90 DF , Relator: Min. ELLEN GRACIE, Data de Julgamento: 18/02/2010, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-050 DIVULG 18-03-2010 PUBLIC 19-03-2010).

HABEAS DATA. CONCURSO PÚBLICO. ACESSO A INFORMAÇÕESSOBRE OS CRITÉRIOS UTILIZADOS NA CORREÇÃO DE PROVA DISCURSIVA. IMPROPRIEDADE DA VIA ELEITA.1. A Lei n. 9.507/97 é suficientemente clara ao expor, no art. 7º, as hipóteses em que se justifica o manuseio do habeas data, não estando ali prevista, nem sequer implicitamente, a possibilidade de utilização da via com o propósito de revolver os critérios utilizados por instituição de ensino na correção de prova discursiva realizada com vista ao preenchimento de cargos na Administração Pública. 2. Agravo regimental não-provido. (STJ AgRg no HD .127/DF, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, PRIMEIRA SEÇÃO, julgado em 14/06/2006, DJ 14/08/2006).

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL. DIREITO TRIBUTÁRIO. HABEAS DATA. ARTIGO 5º, LXXII, CRFB/88. LEI Nº 9.507/97. ACESSO ÀS INFORMAÇÕES CONSTANTES DE SISTEMAS INFORMATIZADOS DE CONTROLE DE PAGAMENTOS DE TRIBUTOS. SISTEMA DE CONTA CORRENTE DA SECRETARIA DA RECEITA FEDERAL DO BRASIL-SINCOR. DIREITO SUBJETIVO DO CONTRIBUINTE. RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO. 1. O habeas data, posto instrumento de tutela de direitos fundamentais, encerra amplo espectro, rejeitando-se visão reducionista da garantia constitucional inaugurada pela carta pós-positivista de 1988. 2. A tese fixada na presente repercussão geral é a seguinte: “O Habeas Data é garantia constitucional adequada para a obtenção dos dados concernentes ao pagamento de tributos do próprio contribuinte constantes dos sistemas informatizados de apoio à arrecadação dos órgãos da administração fazendária dos entes estatais.” 3. O Sistema de Conta Corrente da Secretaria da Receita Federal do Brasil, conhecido também como SINCOR, registra os dados de apoio à arrecadação federal ao armazenar os débitos e créditos tributários existentes acerca dos contribuintes. 4. O caráter público de todo registro ou banco de dados contendo informações que sejam ou que possam ser transmitidas a terceiros ou que não sejam de uso privativo do órgão ou entidade produtora ou depositária das informações é inequívoco (art. 1º, Lei nº 9.507/97). 5. O registro de dados deve ser entendido em seu sentido mais amplo, abrangendo tudo que diga respeito ao interessado, seja de modo direto ou indireto. (…) Registro de dados deve ser entendido em seu sentido mais amplo, abrangendo tudo que diga respeito ao interessado, seja de modo direto ou indireto, causando-lhe dano ao seu direito de privacidade.(...) in José Joaquim Gomes Canotilho, Gilmar Ferreira Mendes, Ingo Wolfgang Sarlet e Lenio Luiz Streck. Comentários à Constituição. Editora Saraiva, 1ª Edição, 2013, p.487. 6. A legitimatio ad causam para interpretação de Habeas Data estende-se às pessoas físicas e jurídicas, nacionais e estrangeiras, porquanto garantia constitucional aos direitos individuais ou coletivas. 7. Aos contribuintes foi assegurado constitucionalmente o direito de conhecer as informações que lhes digam respeito em bancos de dados públicos ou de caráter público, em razão da necessidade de preservar o status de seu nome, planejamento empresarial, estratégia de investimento e, em especial, a recuperação de tributos pagos indevidamente, verbis: Art. 5º. LXXII. Conceder-se-á habeas data para assegurar o conhecimento de informações relativas à pessoa do impetrante, constantes de registros ou bancos de dados de entidades governamentais ou de caráter público, considerado como um writ, uma garantia, um remédio constitucional à disposição dos cidadãos para que possam implementar direitos subjetivos que estão sendo obstaculados. 8. As informações fiscais conexas ao próprio contribuinte, se forem sigilosas, não importa em que grau, devem ser protegidas da sociedade em geral, segundo os termos da lei ou da constituição, mas não de quem a elas se referem, por força da consagração do direito à informação do art. 5º, inciso XXXIII, da Carta Magna, que traz como única ressalva o sigilo imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, o que não se aplica no caso sub examine, verbis: Art. 5º. XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado. 9. In casu, o recorrente requereu à Secretaria da Receita Federal do Brasil os extratos atinentes às anotações constantes do Sistema de Conta-Corrente de Pessoa Jurídica-SINCOR, o Sistema Conta-Corrente de Pessoa Jurídica-CONTACORPJ, como de quaisquer dos sistemas informatizados de apoio à arrecadação federal, no que tange aos pagamentos de tributos federais, informações que não estão acobertadas pelo sigilo legal ou constitucional, posto que requerida pelo próprio contribuinte, sobre dados próprios. 10. Ex positis, DOU

42

PROVIMENTO ao recurso extraordinário. (STF HD RE N. 673.707-MG, RELATOR: MIN. LUIZ FUX, Plenário, DJ 17.05.2015).

MANDADO DE SEGURANÇA INDIVIDUAL

LXIX - conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data, quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público;

Possui status constitucional desde a Constituição Federal de 1934, mas foi retirado na Constituição de 1937 e retornou na Constituição de 1946 e é regulado pela lei 12.016/2009 que revogou a lei 1.533/51.

Ação constitucional de natureza civil, que protege o direito líquido e certo, qualquer que seja a natureza (civil ou penal). Direito líquido e certo é fato incontestável, que necessita de comprovação, é aquele capaz de ser provado por documentação inequívoca, onde a autoridade judicial possa julgar de plano, sem necessitar de instrução probatória.

O presente writ poderá ser impetrado quando houver lesão (mandado de segurança repressivo) ou ameaça de lesão (mandado de segurança preventivo), por ato ou omissão de autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público, salientando-se que os atos vinculados e os atos discricionários estão sujeitos à ação mandamental.

Possuem legitimidade para constar no polo ativo (legitimidade ordinária) as pessoas físicas e jurídicas, órgãos públicos despersonalizados (mesa da câmara dos deputados, mesa do senado federal) e as universalidades reconhecidas em lei (massa falida, condomínio). Quanto à legitimidade passiva, além do texto constitucional que diz: "... quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público.", deve-se observar a regra do artigo 1º, parágrafo 1º da legislação específica.

A Constituição da República não prevê a gratuidade do “mandamus”, mas a lei estabelece prazo decadencial para sua impetração, que tem prazo legal de 120 dias contados da ciência do ato impugnado, ressaltando que do mesmo cabe desistência.

Destaque-se o caráter subsidiário do mandado de segurança, considerando o próprio dispositivo constitucional quando diz “... para proteger direito líquido e certo, não amparado por habeas corpus ou habeas data...”. Caráter esse que a lei estendeu a outras situações, como se vê no artigo 5º da lei 12.016/2009.

Lei 12016/09:

Artigo 1º (...):

§1º. Equiparam-se às autoridades, para os efeitos desta Lei, os representantes ou órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os dirigentes de pessoas jurídicas ou as pessoas naturais no exercício de atribuições de poder público, somente no que disser respeito a essas atribuições.

§2º. Não cabe mandado de segurança contra os atos de gestão comercial praticados pelos administradores de empresas públicas, de sociedade de economia mista e de concessionárias de serviço público.

(…).

Art. 5º. Não se concederá mandado de segurança quando se tratar:

I – de ato do qual caiba recurso administrativo com efeito suspensivo, independentemente de caução;

II – de decisão judicial da qual caiba recurso com efeito suspensivo;

III – de decisão judicial transitada em julgado.

(…).

Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 333 do STJ - Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por

43

sociedade de economia mista ou empresa pública.

Súmula 101 do STF – O mandado de segurança não substitui ação popular.

Súmula 266 do STF – Não cabe Mandado de Segurança contra Lei em tese.

Súmula 267 do STF – Não cabe Mandado de Segurança contra ato passível de correção e de recurso.

Súmula 268 do STF – Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.

Súmula 269 do STF – O mandado de segurança não é substituto de ação de cobrança.

Súmula 429 do STF – A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso de Mandado de Segurança contra omissão da autoridade.

Súmula 625 do STF – Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de segurança.

Súmula 632 do STF – É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado de segurança.

MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO

LXX - o mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por:

a) partido político com representação no Congresso Nacional;

b) organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou associados;

Remédio constitucional que surgiu somente na CF/88 e atualmente regulado pela lei 12.016/2009.

Tem como objeto a proteção aos direitos coletivos lato sensu, compreendendo os direitos coletivos, transindividuais e individuais homogêneos.

Direito Coletivos são aqueles indivisíveis de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas determinadas (não individualizadas). Tem como exemplo a impetração de mandado de segurança pela Ordem dos Advogados do Brasil em defesa de direitos da classe.

Direitos Difusos são aqueles indivisíveis de titularidade indeterminada, pessoas ligadas por uma circunstância de fato, tais como direito ao meio ambiente saudável ou direito à publicidade não enganosa. O que os difere dos direitos coletivos é a determinabilidade e a relação existente do grupo, categoria ou classe anterior à lesão.

Interesses individuais homogêneos são aqueles de natureza divisível, cujos titulares são pessoas determinadas. Por exemplo, os consumidores que reinvidicam os direitos ao fabricante de veículos vendidos com peças defeituosas, apesar de cada um deles, individualmente, poder pleitear judicialmente a reparação dos danos.

Outra distinção entre o presente mandamus e o mandado de segurança individual diz respeito a legitimidade ativa, conhecida doutrinariamente por legitimidade extraordinária, uma vez que os legitimados expressos no dispositivo agem como substituto processual e não como representantes.

Do partido político com representação no Congresso Nacional exige-se, no mínimo, um parlamentar, em qualquer das Casas Legislativas, filiado a determinado partido político. Da organização sindical, entidade de classe ou associação, são exigidos três requisitos: legalmente constituídas, em funcionamento há pelo menos um ano e pertinência temática. Entretanto vale dizer que a jurisprudência da Corte Suprema dispensou aos sindicatos o requisito de funcionamento há pelo menos um ano.

Outra peculiaridade interessante é a possibilidade de impetração do mandado de segurança coletivo mesmo quando for impetrado o mandado de segurança individual, segundo o artigo 22, parágrafo 1º da lei 12.016/2009.

Lei 12.016/09:

Art. 21. O mandado de segurança coletivo pode ser impetrado por partido político com representação no Congresso Nacional, na defesa de seus interesses legítimos relativos a seus integrantes ou à finalidade partidária, ou por organização

44

sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há, pelo menos, 1 (um) ano, em defesa de direitos líquidos e certos da totalidade, ou de parte, dos seus membros ou associados, na forma dos seus estatutos e desde que pertinentes às suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial.

Parágrafo único. Os direitos protegidos pelo mandado de segurança coletivo podem ser:

I - coletivos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica;

II - individuais homogêneos, assim entendidos, para efeito desta Lei, os decorrentes de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados ou membros do impetrante.

Art. 22. No mandado de segurança coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente aos membros do grupo ou categoria substituídos pelo impetrante.

§ 1º O mandado de segurança coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da segurança coletiva.

§ 2º No mandado de segurança coletivo, a liminar só poderá ser concedida após a audiência do representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que deverá se pronunciar no prazo de 72 (setenta e duas) horas.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 629 do STF - A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor dos associados independe da autorização destes.

Súmula 630 do STF - A entidade de classe tem legitimidade para o mandado de segurança ainda quando a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.

EMENTA: LEGITIMIDADE DO SINDICATO PARA A IMPETRAÇÃO DE MANDADO DE SEGURANÇA COLETIVO INDEPENDENTEMENTE DA COMPROVAÇÃO DE UM ANO DE CONSTITUIÇÃO E FUNCIONAMENTO. Acórdão que, interpretando desse modo a norma do art. 5º, LXX, da CF, não merece censura. Recurso não conhecido. (STF RE 198.919/DF, Rel. Min. Ilmar Galvão, DJ 15.06.1999).

MANDADO DE INJUNÇÃO

LXXI - conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta da norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania;

Ação constitucional de natureza civil e procedimento especial, novidade da atual Constituição e regulada pela lei nº 13.300/2016.

A impossibilidade do exercício dos direitos e liberdades "constitucionais" e as prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania, por falta da norma regulamentadora, é o que legitima a impetração do mandado de injunção. Assim, tem como objeto uma norma de eficácia limitada, norma constitucional que prescinde de lei infraconstitucional para possuir plena aplicabilidade.

Há a possibilidade de impetração de mandado de injunção contra omissão absoluta do legislador, uma lacuna da lei, ou contra omissão parcial, quando a lei existe, mas não foi capaz de regular a completude do direito estabelecido.

No polo ativo pode constar pessoa física ou jurídica ou estrangeira e no polo passivo os órgãos ou autoridades públicas que possuem competência para legislar no caso concreto (arts. 102, I, “q” e 105, I, “h”, ambos da CF/88).

Quanto aos efeitos da decisão em sede de mandado de injunção, a teoria não-concretista predominou, por muito tempo, no âmbito do Supremo tribunal Federal. Entendia a Suprema Corte que ao Poder Judiciário caberia apenas o reconhecimento formal da inércia legislativa e a consequente comunicação ao órgão competente para a elaboração da norma regulamentadora necessária ao exercício do direito constitucional inviabilizado, sem que o legislativo se vinculasse a referida decisão, considerando que a adoção de posição diversa ofenderia a separação dos Poderes. Posteriormente, a teoria concretista geral foi adotada em algumas decisões prolatadas pelo Supremo Tribunal Federal (MI 670, 708 e 712), que estabelecia, diante da ausência de norma regulamentadora, ao Poder Judiciário o suprimento da lacuna.

45

Assim, o poder Judiciário, mediante decisão, regularia a omissão em caráter geral, com efeitos erga omnes, concedendo a viabilizar do exercício do direito constitucional ao impetrante e estendendo os efeitos a todos aqueles que estivessem na mesma situação. Atualmente, o Órgão de Superposição tem aplicado a teoria concretista individual, permitindo ao Poder Judiciário, diante da lacuna deixada pelo Poder Legislativo, editar norma para o caso específico, viabilizando o exercício do direito somente ao impetrante, uma vez que a decisão tem efeitos inter partes (MI795). Já a teoria concretista intermediária, ou mista traduz-se na fusão da teoria não-concretista com a teoria concretista individual, ou seja, o Poder Judiciário, primeiramente, limita-se a declarar a omissão ao órgão responsável pela elaboração da norma regulamentadora, fixando-lhe prazo para suprimento da lacuna e posteriormente, com a expiração do prazo, estaria autorizado a suprir a lacuna para o caso concreto, isto é, somente para o impetrante (MI 232).

Lei 13.300/2016.

Art. 2º Conceder-se-á mandado de injunção sempre que a falta total ou parcial de norma regulamentadora torne inviável o exercício dos direitos e liberdades constitucionais e das prerrogativas inerentes à nacionalidade, à soberania e à cidadania. Parágrafo único. Considera-se parcial a regulamentação quando forem insuficientes as normas editadas pelo órgão legislador competente. Art. 3º São legitimados para o mandado de injunção, como impetrantes, as pessoas naturais ou jurídicas que se afirmam titulares dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas referidos no art. 2º e, como impetrado, o Poder, o órgão ou a autoridade com atribuição para editar a norma regulamentadora. Art. 8º Reconhecido o estado de mora legislativa, será deferida a injunção para: I - determinar prazo razoável para que o impetrado promova a edição da norma regulamentadora; II - estabelecer as condições em que se dará o exercício dos direitos, das liberdades ou das prerrogativas reclamados ou, se for o caso, as condições em que poderá o interessado promover ação própria visando a exercê-los, caso não seja suprida a mora legislativa no prazo determinado. Parágrafo único. Será dispensada a determinação a que se refere o inciso I do caput quando comprovado que o impetrado deixou de atender, em mandado de injunção anterior, ao prazo estabelecido para a edição da norma. Art. 9º A decisão terá eficácia subjetiva limitada às partes e produzirá efeitos até o advento da norma regulamentadora. § 1º Poderá ser conferida eficácia ultra partes ou erga omnes à decisão, quando isso for inerente ou indispensável ao exercício do direito, da liberdade ou da prerrogativa objeto da impetração. § 2º Transitada em julgado a decisão, seus efeitos poderão ser estendidos aos casos análogos por decisão monocrática do relator. § 3º O indeferimento do pedido por insuficiência de prova não impede a renovação da impetração fundada em outros elementos probatórios. Art. 11. A norma regulamentadora superveniente produzirá efeitos ex nunc em relação aos beneficiados por decisão transitada em julgado, salvo se a aplicação da norma editada lhes for mais favorável. Parágrafo único. Estará prejudicada a impetração se a norma regulamentadora for editada antes da decisão, caso em que o processo será extinto sem resolução de mérito. Art. 12. O mandado de injunção coletivo pode ser promovido: I - pelo Ministério Público, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a defesa da ordem jurídica, do regime democrático ou dos interesses sociais ou individuais indisponíveis; II - por partido político com representação no Congresso Nacional, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas de seus integrantes ou relacionados com a finalidade partidária; III - por organização sindical, entidade de classe ou associação legalmente constituída e em funcionamento há pelo menos 1 (um) ano, para assegurar o exercício de direitos, liberdades e prerrogativas em favor da totalidade ou de parte de seus membros ou associados, na forma de seus estatutos e desde que pertinentes a suas finalidades, dispensada, para tanto, autorização especial; IV - pela Defensoria Pública, quando a tutela requerida for especialmente relevante para a promoção dos direitos humanos e a defesa dos direitos individuais e coletivos dos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º da Constituição Federal. Parágrafo único. Os direitos, as liberdades e as prerrogativas protegidos por mandado de injunção coletivo são os pertencentes, indistintamente, a uma coletividade indeterminada de pessoas ou determinada por grupo, classe ou categoria. Art. 13. No mandado de injunção coletivo, a sentença fará coisa julgada limitadamente às pessoas integrantes da coletividade, do grupo, da classe ou da categoria substituídos pelo impetrante, sem prejuízo do disposto nos §§ 1º e 2º do art. 9º. Parágrafo único. O mandado de injunção coletivo não induz litispendência em relação aos individuais, mas os efeitos da coisa julgada não beneficiarão o impetrante que não requerer a desistência da demanda individual no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração coletiva.

46

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) No julgamento do MI no 107/DF, Rel. Min. Moreira Alves, DJ 21.9.1990, o Plenário do STF consolidou entendimento que conferiu ao mandado de injunção os seguintes elementos operacionais: I) os direitos constitucionalmente garantidos por meio de mandado de injunção apresentam-se como direitos à expedição de um ato normativo, os quais, via de regra, não poderiam ser diretamente satisfeitos por meio de provimento jurisdicional do STF; II) a decisão judicial que declara a existência de uma omissão inconstitucional constata, igualmente, a mora do órgão ou poder legiferante, insta-o a editar a norma requerida; III) a omissão inconstitucional tanto pode referir-se a uma omissão total do legislador quanto a uma omissão parcial; IV) a decisão proferida em sede do controle abstrato de normas acerca da existência, ou não, de omissão é dotada de eficácia erga omnes, e não apresenta diferença significativa em relação a atos decisórios proferidos no contexto de mandado de injunção; IV) o STF possui competência constitucional para, na ação de mandado de injunção, determinar a suspensão de processos administrativos ou judiciais, com o intuito de assegurar ao interessado a possibilidade de ser contemplado por norma mais benéfica, ou que lhe assegure o direito constitucional invocado; V) por fim, esse plexo de poderes institucionais legitima que o STF determine a edição de outras medidas que garantam a posição do impetrante até a oportuna expedição de normas pelo legislador. (...). (STF MI 670/ES, 31.10.08).

EMENTA. (...) 2. A Constituição do Brasil reconhece expressamente possam os servidores públicos civis exercer o direito de greve --- artigo 37, inciso VII. A Lei n. 7.783/89 dispõe sobre o exercício do direito de greve dos trabalhadores em geral, afirmado pelo artigo 9º da Constituição do Brasil. Ato normativo de início inaplicável aos servidores públicos civis. 3. O preceito veiculado pelo artigo 37, inciso VII, da CB/88 exige a edição de ato normativo que integre sua eficácia. Reclama-se, para fins de plena incidência do preceito, atuação legislativa que dê concreção ao comando positivado no texto da Constituição. 4. Reconhecimento, por esta Corte, em diversas oportunidades, de omissão do Congresso Nacional no que respeita ao dever, que lhe incumbe, de dar concreção ao preceito constitucional. Precedentes. 5. Diante de mora legislativa, cumpre ao Supremo Tribunal Federal decidir no sentido de suprir omissão dessa ordem. Esta Corte não se presta, quando se trate da apreciação de mandados de injunção, a emitir decisões desnutridas de eficácia. 6. A greve, poder de fato, é a arma mais eficaz de que dispõem os trabalhadores visando à conquista de melhores condições de vida. Sua auto aplicabilidade é inquestionável; trata-se de direito fundamental de caráter instrumental. (...) 16. Mandado de injunção julgado procedente, para remover o obstáculo decorrente da omissão legislativa e, supletivamente, tornar viável o exercício do direito consagrado no artigo 37, VII, da Constituição do Brasil (...). (STF MI 712, Min. Eros Grau. 31/10/2008).

EMENTA (...) O Supremo Tribunal Federal, ao julgar o MI n. 712, afirmou entendimento no sentido de que a Lei n. 7.783/89, que dispõe sobre o exercício do direito de greve dos trabalhadores em geral, é ato normativo de início inaplicável aos servidores públicos civis, mas ao Poder Judiciário dar concreção ao artigo 37, inciso VII, da Constituição do Brasil, suprindo omissões do Poder Legislativo. (...) A força normativa da Constituição é desprendida da totalidade, totalidade normativa, que a Constituição é. Os servidores públicos são, seguramente, titulares do direito de greve. Essa é a regra. Ocorre, contudo, que entre os serviços públicos há alguns que a coesão social impõe sejam prestados plenamente, em sua totalidade. Atividades das quais dependam a manutenção da ordem pública e a segurança pública, a administração da Justiça --- onde as carreiras de Estado, cujos membros exercem atividades indelegáveis, inclusive as de exação tributária --- e a saúde pública não estão inseridos no elenco dos servidores alcançados por esse direito. (...). (STF Rcl. 6568/SP. Rel. Min. Eros Grau. 25.09.2009).

EMENTA. Mandado de injunção. - Legitimidade ativa da requerente para impetrar mandado de injunção por falta de regulamentação do disposto no par. 7. do artigo 195 da Constituição Federal. - Ocorrência, no caso, em face do disposto no artigo 59 do ADCT, de mora, por parte do Congresso, na regulamentação daquele preceito constitucional. Mandado de injunção conhecido, em parte, e, nessa parte, deferido para declarar-se o estado de mora em que se encontra o Congresso Nacional, a fim de que, no prazo de seis meses, adote ele as providencias legislativas que se impõem para o cumprimento da obrigação de legislar decorrente do artigo 195, par. 7., da Constituição, sob pena de, vencido esse prazo sem que essa obrigação se cumpra, passar o requerente a gozar da imunidade requerida. (STF MI 232-1/RJ, Rel. Min. Néri da Silveira, DJ 27.03.1992).

EMENTA: Mandado de injunção. Aposentadoria especial do servidor público. Artigo 40, § 4º, da

47

Constituição da República. Ausência de lei complementar a disciplinar a matéria. Necessidade de integração legislativa. 1. Servidor público. Investigador da polícia civil do Estado de São Paulo. Alegado exercício de atividade sob condições de periculosidade e insalubridade. 2. Reconhecida a omissão legislativa em razão da ausência de lei complementar a definir as condições para o implemento da aposentadoria especial. 3. Mandado de injunção conhecido e concedido para comunicar a mora à autoridade competente e determinar a aplicação, no que couber, do art. 57 da Lei n. 8.213/91." (MI 795, Relatora Ministra Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, julgamento em 15.4.2009, DJe de 22.5.2009)

Súmula Vinculante nº 33 - Aplicam-se ao servidor público, no que couber, as regras do regime geral da previdência social sobre aposentadoria especial de que trata o artigo 40, § 4º, inciso III da Constituição Federal, até a edição de lei complementar específica.

Ementa: AGRAVO REGIMENTAL EM MANDADO DE INJUNÇÃO. SUPERAÇÃO DA MORA LEGISLATIVA. PERDA DO OBJETO. 1. A jurisprudência desta Corte se firmou no sentido de que a edição do diploma reclamado pela Constituição leva à perda de objeto do mandado de injunção. 2. “Excede os limites da via eleita a pretensão de sanar a alegada lacuna normativa do período pretérito à edição da lei regulamentadora” (MI 634-AgR, Rel. Min. Sepúlveda Pertence). 3. Agravo regimental improvido. (MI 3709 AgR, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em 11/12/2014, PROCESSO ELETRÔNICO DJe-029 DIVULG 11-02-2015 PUBLIC 12-02-2015).

AÇÃO POPULAR

LXXIII - qualquer cidadão é parte legítima para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao patrimônio público ou de entidade de que o Estado participe, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural, ficando o autor, salvo comprovada má-fé, isento de custas judiciais e do ônus da sucumbência;

Ganhou status constitucional na CF de 1934, mas deixou de constar na CF de 1937, só voltando a partir da CF de 1946. Foi regulada pela lei 4.717/65.

A ação pode ser preventiva ou repressiva contra ato lesivo ao patrimônio público, à moralidade administrativa, ao meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

Quem tem legitimidade ativa para interpor uma ação popular é somente o cidadão, inclusive o menor de dezoito anos, conforme expresso no texto do inciso, o que impede o estrangeiro de ser impetrante. Entretanto, a de se levar em conta que o português equiparado terá os meus direitos do brasileiro naturalizado em decorrência do princípio da reciprocidade, portanto, mesmo sendo estrangeiro, poderá impetrar uma ação popular. Também não são legitimados as pessoas jurídicas e os apátridas (os que não exercem seus direitos políticos sejam porque perderam ou porque não os adquiriram).

O Ministério Público não possui legitimação para a ação popular, porém poderá prosseguir com a ação popular quando houver desistência do autor ou o mesmo der motivo à absolvição da instância, nos termos do artigo 9º da lei 4.717/1965 que diz: “Se o autor desistir da ação ou der motivo à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao Representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação”.

A legitimidade para responder a ação popular cabe às pessoas cujo patrimônio se pretende proteger: União, Distrito Federal, Estado, Município, autarquias, empresas públicas, fundações públicas, sociedade de economia mista, fundações de direito provado federais, estaduais, distritais, municipais, serviços sociais autônomos, quaisquer pessoas jurídicas subvencionadas pelos cofres públicos, aqueles que causaram, por ato ou por omissão, ou que ameaçaram causar lesão aos bens tutelados pela ação popular: autoridades públicas, funcionários e administradores, avaliadores e os beneficiários diretos do ato ou da omissão.

A presente ação é desconstitutiva condenatória, pois visa tanto à anulação do ato impugnado quanto à condenação dos responsáveis e beneficiários em perdas e danos.

Não se confunde com a Ação Civil Pública, prevista no artigo 129, II, da CF/88.

Lei 4.717/65:

48

Art. 9º Se o autor desistir da ação ou der motiva à absolvição da instância, serão publicados editais nos prazos e condições previstos no art. 7º, inciso II, ficando assegurado a qualquer cidadão, bem como ao representante do Ministério Público, dentro do prazo de 90 (noventa) dias da última publicação feita, promover o prosseguimento da ação.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 365 do STF - Pessoa Jurídica não tem legitimidade para propor ação popular.

EMENTA. (...) Ainda quando se trate de ação popular, não basta a legitimidade "ad causam" e "ad processum", mas há necessidade, também, da observância da capacidade de postular em juízo. (...). (STF RE 87.052/GO. Rel. Min. Moreira Alves. DJ 28.04.1978).

EMENTA. (...) A competência para julgar ação popular contra ato de qualquer autoridade, até mesmo do Presidente da República, é, via de regra, do juízo competente de primeiro grau. Precedentes. Julgado o feito na primeira instância, se ficar configurado o impedimento de mais da metade dos desembargadores para apreciar o recurso voluntário ou a remessa obrigatória, ocorrerá a competência do Supremo Tribunal Federal, com base na letra n do inciso I, segunda parte, do artigo 102 da Constituição Federal (...). (STF AO 859-QO, 1º-8-03).

REGRAS DE GRATUIDADE E DE INDENIZAÇÕES

LXXIV – o Estado prestará assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovem insuficiência de recursos;

Dispositivo correspondente: art. 134, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (…) Ao contrário do que ocorre relativamente às pessoas naturais, não basta a pessoa jurídica asseverar a insuficiência de recursos, devendo comprovar, isto sim, o fato de se encontrar em situação inviabilizadora da assunção dos ônus decorrentes do ingresso em juízo. (STF Rcl 1.905 ED-AgR, 20/09/02).

LXXV – o Estado indenizará o condenado por erro judiciário, assim como o que ficar preso além do tempo fixado na sentença;

LXXVI – são gratuitos para os reconhecidamente pobres, na forma da lei:

a) o registro civil de nascimento;

b) a certidão de óbito.

Embora a Constituição só reconheça a gratuidade aos reconhecidamente pobres na forma da lei, a lei infraconstitucional nº 9.534/97 previu a gratuidade dos serviços para todos.

REGRAS DE APLICAÇÃO DAS NORMAS CONSTITUCIONAIS

§1º As normas definidoras dos direitos e garantias fundamentais têm aplicação imediata;

Na verdade, segundo a dogmática doutrinária, todas as normas constitucionais tem eficácia jurídica, que é imediata, direta e vinculante, haja vista que passa a produzir efeitos desde a sua vigência. Entretanto, não se deve confundir eficácia jurídica das normas com aplicabilidade das normas, considerando que a norma poderá possuir aplicabilidade mediata e indireta, quando, por exemplo, necessitam de uma norma infraconstitucional para produzir todos os efeitos (norma de eficácia limitada). Ressalte-se que mesmo essas normas possuem o mínimo de aplicabilidade quando revogam as normas que lhes são contrárias, ou limitam o legislador e o aplicador do direito, impedindo-os de negar o direito, além de conceder legitimidade às pessoas de exigir o direito previsto, inclusive através do mandado de injunção.

§2º Os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados, ou de tratados internacionais em que a República Federativa do Brasil

49

seja parte.

Esse dispositivo garante que os direitos e garantias constam em toda a Constituição Federal, de forma expressa e implícita, através de regras e princípios, inclusive em tratados internacionais em que o Brasil seja parte. Os direitos fundamentais são uma categoria aberta, uma vez que outros direitos e garantias podem ser estabelecidos na constituição federal e nas leis infraconstitucionais.

Dispositivo correspondente: art. 60, §4º, IV, da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) O rol de direitos e garantias individuais, protegidos pela cláusula pétrea, art. 60, § 4º, IV, previstos no art. 5º da Constituição não é exaustivo, há outros dispositivos na Lei Maior, isto sem considerar a regra básica do § 2º do art. 5º, segundo o qual “os direitos e garantias expressos nesta Constituição não excluem outros decorrentes do regime e dos princípios por ela adotados...” Houve o agasalho, portanto, de direitos e garantias explícitos e de direitos e garantias implícitos (...). (STF ADI 939-07/DF).

DIREITOS SOCIAIS

Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 26, de 2000). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 64, de 2010). (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 90, de 15.09.2015).

Aqui se encontram os direitos sociais gerais.

No Brasil, os fundamentos constitucionais dos direitos sociais tiveram início com a pioneira Constituição mexicana de 1917, mas só na Constituição Brasileira de 1934 fora reservado o Título IV à Ordem Econômica e Social, sob a influência da Constituição Alemã de Weimar, de 1919.

Os direitos sociais são as liberdades positivas, que exigem “um fazer” do Estado Social de Direito, são direitos de segunda dimensão. Além disso, tratam de direitos imprescritíveis, irrenunciáveis e de ordem pública.

No âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário, em observância a separação dos poderes, não se encontra a de formular e implantar políticas públicas, cuja atribuição é dos Poderes Legislativo e Executivo, entretanto, a Corte Suprema tem admitido a interferência do Poder Judiciário nesse âmbito (sistema da judicialização das políticas públicas), para determinar a elaboração e implementação dos direitos sociais, que têm caráter programático e que possuem aplicabilidade diferida, apesar de se caracterizam pela gradualidade de seu processo de efetivação. Não podendo o Poder Público invocar irresponsavelmente a cláusula de “reserva do possível”, princípio implícito que só se justifica pela impossibilidade financeira do Estado concretizar os direitos constitucionais previstos, em cada caso, devendo o Ente Estatal cumprir o mínimo existencial.

Vale ainda mencionar sobre o princípio da melhoria da condição social ou da proibição de retrocesso social que obriga o legislador a legislar sem anular, ou revogar, ou aniquilar, o núcleo essencial dos direitos constitucionais previstos pelo constituinte.

Dispositivos correspondente: art. 198, §2º e 212, ambos da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (.........) É certo que não se inclui, ordinariamente, no âmbito das funções institucionais do Poder Judiciário - e nas desta Suprema Corte, em especial - a atribuição de formular e de implementar políticas públicas (JOSÉ CARLOS VIEIRA DE ANDRADE, "Os Direitos Fundamentais na Constituição Portuguesa de 1976", p. 207, item n. 05, 1987, Almedina, Coimbra), pois, nesse domínio, o encargo reside, primariamente, nos Poderes Legislativo e Executivo. Tal incumbência, no entanto, embora em bases excepcionais, poderá atribuir-se ao Poder Judiciário, se e quando os órgãos estatais competentes,

50

por descumprirem os encargos político-jurídicos que sobre eles incidem, vierem a comprometer, com tal comportamento, a eficácia e a integridade de direitos individuais e/ou coletivos impregnados de estatura constitucional, ainda que derivados de cláusulas revestidas de conteúdo programático. (...). Não deixo de conferir, no entanto, assentadas tais premissas, significativo relevo ao tema pertinente à "reserva do possível" (STEPHEN HOLMES/CASS R. SUNSTEIN, "The Cost of Rights", 1999, Norton, New York), notadamente em sede de efetivação e implementação (sempre onerosas) dos direitos de segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais), cujo adimplemento, pelo Poder Público, impõe e exige, deste, prestações estatais positivas concretizadoras de tais prerrogativas individuais e/ou coletivas. É que a realização dos direitos econômicos, sociais e culturais - além de caracterizar-se pela gradualidade de seu processo de concretização - depende, em grande medida, de um inescapável vínculo financeiro subordinado às possibilidades orçamentárias do Estado, de tal modo que, comprovada, objetivamente, a incapacidade econômico-financeira da pessoa estatal, desta não se poderá razoavelmente exigir, considerada a limitação material referida, a imediata efetivação do comando fundado no texto da Carta Política. Não se mostrará lícito, no entanto, ao Poder Público, em tal hipótese - mediante indevida manipulação de sua atividade financeira e/ou político-administrativa - criar obstáculo artificial que revele o ilegítimo, arbitrário e censurável propósito de fraudar, de frustrar e de inviabilizar o estabelecimento e a preservação, em favor da pessoa e dos cidadãos, de condições materiais mínimas de existência. Cumpre advertir, desse modo, que a cláusula da "reserva do possível" - ressalvada a ocorrência de justo motivo objetivamente aferível - não pode ser invocada, pelo Estado, com a finalidade de exonerar-se do cumprimento de suas obrigações constitucionais, notadamente quando, dessa conduta governamental negativa, puder resultar nulificação ou, até mesmo, aniquilação de direitos constitucionais impregnados de um sentido de essencial fundamentalidade. (...). (STF ADPF 45 MC/DF, 04/05/2004 - Rel. MIN. CELSO DE MELLO).

EMENTA. A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO EAO INADIMPLEMENTO, PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. - O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. - A cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em consequência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los, abstendo-se de frustrar - mediante supressão total ou parcial - os direitos sociais já concretizados. (...) (STF ARE 639337 AgR, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 23/08/2011, DJe-177 DIVULG 14-09-2011 PUBLIC 15-09-2011 EMENT VOL-02587-01 PP-00125).

Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social:

Trata-se de direitos sociais individuais, pois diz respeito aos direitos da pessoa trabalhadora.

Não é pacífico o entendimento doutrinário de que tais direitos seriam cláusulas pétreas e a questão ainda não foi diretamente analisada pelo plenário do Supremo Tribunal Federal.

Nem todos os direitos do trabalhador estão expressos neste art. 7º. A Constituição admite expressamente outros, pela locução “além de outros que visem à melhoria de sua condição social”, do caput.

Trabalhador, nos termos da CLT, tem a seguinte definição: “Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”. Nesse conceito também está inserido o trabalhador avulso, segundo o inciso XXXIV deste mesmo artigo.

A Constituição Federal concedeu igualdade de direitos entre o trabalhador com vículo empregatício e o trabalhados avulso, conforme o inciso que segue:

51

XXXIV - igualdade de direitos entre o trabalhador com vínculo empregatício permanente e o trabalhador avulso.

São trabalhadores avulsos os que oferecem a sua força de trabalho a diversos tomadores de serviço, sem se fixar a nenhum deles, por curto período de tempo e mediante a intermediação do OGMO (órgão de gestão de mão-de-obra). São exemplos desses trabalhadores os estivadores, trabalhadores em estiva de carvão e minério e trabalhadores em alvarenga, conferentes de carga e descarga, consertadores de carga e descarga, vigias portuários, trabalhadores avulsos de capatazia, trabalhadores no comércio armazenador (arrumadores), ensacadores de café, cacau, sal e similares, classificador de frutas, práticos de barra e portos, catadeiras e costureiras no comércio de café, dentre outros.

Quanto aos domésticos, nem todos os direitos foram assegurados, como atesta o parágrafo seguinte:

Parágrafo único. São assegurados à categoria dos trabalhadores domésticos os direitos previstos nos incisos IV, VI, VII, VIII, X, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XXI, XXII, XXIV, XXVI, XXX, XXXI e XXXIII e, atendidas as condições estabelecidas em lei e observada a simplificação do cumprimento das obrigações tributárias, principais e acessórias, decorrentes da relação de trabalho e suas peculiaridades, os previstos nos incisos I, II, III, IX, XII, XXV e XXVIII, bem como a sua integração à previdência social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 72, de 02 de abril de 2013).

O empregado doméstico não terá os direitos previstos nos incisos V, XI, XIV, XX, XXIII, XXVII, XXIX e XXXII, a saber: piso salarial, participação nos resultados e na gestão da empresa, jornada de seis horas para trabalho de revezamento, proteção do mercado de trabalho da mulher, adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, proteção em face da automação, direito de ação e prazo prescricional e proibição de distinção entre o trabalho técnico, manual e intelectual.

Note-se que os direitos previstos na segunda parte do presente parágrafo são dependentes de legislação infraconstitucional, que diz respeito a lei complementar nº 150/2015.

Os servidores públicos estão sujeitos a regime jurídico próprio (estatutário), não há contrato de trabalho, instituto previsto aos que são regidos pela CLT, celetistas, mas o art. 39, parágrafo 3º, indica os direitos sociais que se aplicam aqueles.

Art. 39. (...).

§ 3º Aplica-se aos servidores ocupantes de cargo público o disposto no art. 7º, IV, VII, VIII, IX, XII, XIII, XV, XVI, XVII, XVIII, XIX, XX, XXII e XXX, podendo a lei estabelecer requisitos diferenciados de admissão quando a natureza do cargo o exigir. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998);

(...).

Aos militares também foram aplicados alguns direitos aqui estabelecidos, nos termos do artigo 142, §3º, VIII, da CF/88.

Art. 142. (...).

§ 3º Os membros das Forças Armadas são denominados militares, aplicando-se-lhes, além das que vierem a ser fixadas em lei, as seguintes disposições: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 18, de 1998);

(...);

VIII - aplica-se aos militares o disposto no art. 7º, incisos VIII, XII, XVII, XVIII, XIX e XXV, e no art. 37, incisos XI, XIII, XIV e XV, bem como, na forma da lei e com prevalência da atividade militar, no art. 37, inciso XVI, alínea c; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 77, de 2014).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO EXTRAORDINÁRIO COM AGRAVO. DIREITOS SOCIAIS PREVISTOS NO ART. 7º DA CONSTITUIÇÃO FEDERAL. FÉRIAS E DÉCIMO TERCEIRO. EXTENSÃO AO SERVIDOR CONTRATADO TEMPORARIAMENTE. POSSIBILIDADE. PRECEDENTES. 1. Conforme a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os servidores contratados em caráter temporário têm direito à extensão de direitos sociais constantes do art. 7º do Magno Texto, nos moldes do inciso IX do art. 37 da Carta Magna. 2. Agravo regimental desprovido. (STF ARE 663.104-AgR, Rel. Min. Ayres Britto, Segunda Turma, Dje 19.3.2012).

52

REGRAS APLICÁVEIS AO SALÁRIO / REMUNERAÇÃO.

IV - salário mínimo, fixado em lei, nacionalmente unificado, capaz de atender às suas necessidades vitais básicas e às de sua família com moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene, transporte e previdência social, com reajustes periódicos que lhe preservem o poder aquisitivo, sendo vedada sua vinculação para qualquer fim;

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula vinculante 4 – Salvo nos casos previstos na constituição, o salário mínimo não pode ser usado como indexador de base de cálculo de vantagem de servidor público ou de empregado, nem ser substituído por decisão judicial.

Súmula vinculante 6 – Não viola a Constituição o estabelecimento de remuneração inferior ao salário mínimo para as praças prestadoras de serviço militar inicial.

EMENTA. (...) Por reputar observado o princípio da reserva de lei para a fixação do salário mínimo (...), o Plenário, em votação majoritária, julgou improcedente pedido formulado em ação direta de inconstitucionalidade, proposta pelo Partido Popular Socialista - PPS, pelo Partido da Social Democracia Brasileira - PSDB e pelo Democratas - DEM, contra o art. 3º da Lei 12.382/2011 (“Art. 3º Os reajustes e aumentos fixados na forma do art. 2º serão estabelecidos pelo Poder Executivo, por meio de decreto, nos termos desta Lei. Parágrafo único. O decreto do Poder Executivo a que se refere o caput divulgará a cada ano os valores mensal, diário e horário do salário mínimo decorrentes do disposto neste artigo, correspondendo o valor diário a um trinta avos e o valor horário a um duzentos e vinte avos do valor mensal. (STF ADI 4568/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, DJ: 03.11.2011).

V - piso salarial proporcional à extensão e à complexidade do trabalho;

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: (...). 4. Impossibilidade de fixação de piso salarial com base em múltiplos do salário mínimo. Precedentes: AI-AgR 357.477, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, Primeira Turma, DJ 14.10.2005; o AI-AgR 524.020, de minha relatoria, Segunda Turma, DJe 15.10.2010; e o AI-AgR 277.835, Rel. Min. Cezar Peluso, Segunda Turma, DJe 26.2.2010. 2. Ilegitimidade da norma. Nova base de cálculo. Impossibilidade de fixação pelo Poder Judiciário. Precedente: RE 565.714, Rel. Min. Cármen Lúcia, Tribunal Pleno, DJe 7.11.2008. (...) (STF - ADPF: 151 DF , Relator: Min. JOAQUIM BARBOSA, Data de Julgamento: 02/02/2011, Tribunal Pleno, Data de Publicação: DJe-084 DIVULG 05-05-2011 PUBLIC 06-05-2011).

VI - irredutibilidade do salário, salvo o disposto em convenção ou acordo coletivo;

O princípio da irredutibilidade do salário não é absoluto, pois admite a redução, desde que assim decidido por convenção ou acordo coletivo. Essa redução deverá obedecer a certos critérios, dentre as quais, não poderá levar o valor final para menos do que o salário mínimo.

VII - garantia de salário, nunca inferior ao mínimo, para os que percebem remuneração variável;

No caso de empregado que receba remuneração variável, nunca lhe poderá ser pago valor menor que o salário mínimo, mesmo que suas comissões, por exemplo, não levem a tanto. Nesse caso, a quantia deverá ser completada pelo empregador.

VIII - décimo terceiro salário com base na remuneração integral ou no valor da aposentadoria;

IX - remuneração do trabalho noturno superior à do diurno;

X - proteção do salário na forma da lei, constituindo crime sua retenção dolosa;

XI - participação nos lucros, ou resultados, desvinculada da remuneração, e, excepcionalmente, participação na gestão da empresa, conforme definido em lei;

53

A participação na gestão (na condução dos negócios da empresa, ao lado do empresário) será excepcional e a participação nos lucros ou resultados é uma faculdade do empregador.

A garantia de participação nos lucros ou resultados é desvinculada da remuneração, ou seja, o 13º salário não será calculado também sobre o valor das parcelas de lucros eventualmente distribuídas, e nem as verbas devidas pela demissão poderão considerá-las.

XII - salário-família pago em razão do dependente do trabalhador de baixa renda nos termos da lei; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).

REGRAS APLICÁVEIS À DURAÇÃO DO TRABALHO.

XIII - duração do trabalho normal não superior a oito horas diárias e quarenta e quatro semanais, facultada a compensação de horários e a redução da jornada, mediante acordo ou convenção coletiva de trabalho;

XIV - jornada de seis horas para o trabalho realizado em turnos ininterruptos de revezamento, salvo negociação coletiva;

XV - repouso semanal remunerado, preferencialmente aos domingos;

XVI - remuneração do serviço extraordinário superior, no mínimo, em cinquenta por cento à do normal;

XVII - gozo de férias anuais remuneradas com pelo menos, um terço a mais do que o salário normal;

XVIII - licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do salário, com duração de cento e vinte dias;

XIX - licença-paternidade, nos termos fixados em lei;

O período da licença paternidade está previsto no art. 10 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.

Art. 10. (...)

§ 1º - Até que a lei venha a disciplinar o disposto no art. 7º, XIX, da Constituição, o prazo da licença-paternidade a que se refere o inciso é de cinco dias.

A lei nº 13.257/2016, que alterou a redação do artigo 1º da Lei 11.770/2008 (programa empresa cidadã), prevê a possibilidade de prorrogação por 60 (sessenta) dias a duração da licença-maternidade e por 15 (quinze) dias a duração da licença-paternidade.

XXI - aviso prévio proporcional ao tempo de serviço, sendo no mínimo de trinta dias, nos termos da lei;

A lei nº 12.506/2011 regula a matéria.

OUTRAS GARANTIAS:

I - relação de emprego protegida contra despedida arbitrária ou sem justa causa, nos termos de lei complementar, que preverá indenização compensatória, dentre outros direitos;

Despedida arbitrária é aquela proveniente da vontade exclusiva do patrão, sem nenhuma razão. Despedida sem justa causa também decorre da vontade do empregador, mas com razões que justificam o ato.

Até a presente data, não foi promulga a lei complementar referida, aplicando-se a regra do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição, em seu art. 10.

54

Essa demissibilidade arbitrária ou sem justa causa está excepcionada no caso de empregado membro da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes - CIPA, da mulher gestante (ADCT, art. 10, II, a e b) e do empregado eleito para cargo sindical (art. 8º, VIII). os quais possuem estabilidade relativa.

Art. 10. Até que seja promulgada a lei complementar a que se refere o art. 7º, I, da Constituição:

I - fica limitada a proteção nele referida ao aumento, para quatro vezes, da porcentagem prevista no art. 6º, "caput" e § 1º, da Lei nº 5.107, de 13 de setembro de 1966;

II - fica vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa:

a) do empregado eleito para cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes, desde o registro de sua candidatura até um ano após o final de seu mandato;

b) da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto.

Art. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

(...);

VIII - e vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 676 do STF – A garantia da estabilidade provisória prevista no art. 10, II, a, do ADCT, também se aplica ao suplente do cargo de direção de comissões internas de prevenção de acidentes (CIPA).

II - seguro-desemprego, em caso de desemprego involuntário;

III - fundo de garantia do tempo de serviço;

XX - proteção do mercado de trabalho da mulher, mediante incentivos específicos, nos termos da lei;

XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;

XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei;

Atividade penosa é a que exige, para a sua realização, um esforço, sacrifício ou incômodo muito grande. Atividade insalubre é a que compromete a saúde do trabalhador. Atividade perigosa é a que ameaça a vida do trabalhador.

XXIV - aposentadoria;

XXV - assistência gratuita aos filhos e dependentes desde o nascimento até cinco anos de idade em creches e pré-escolas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

XXVI - reconhecimento das convenções e acordos coletivos de trabalho;

Convenções coletivas de trabalho são instrumentos destinados a regular as relações de trabalho de toda uma categoria profissional, é uma espécie de contrato coletivo. As convenções coletivas têm como característica a presença exclusiva de sindicatos de empregadores e de empregados.

Acordo coletivo são instrumentos que não obrigam toda uma categoria, mas se destinam a ter vigência exclusivamente entre as empresas ou grupos de empresas que participaram da negociação.

O artigo 8º, VI, da CF/88, reza que:

Art.. 8º. É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

(...);

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

55

(...).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (…). A celebração de convenções e acordos coletivos de trabalho constitui direito reservado exclusivamente aos trabalhadores da iniciativa privada. A negociação coletiva demanda a existência de partes detentoras de ampla autonomia negocial, o que não se realiza no plano da relação estatutária. A Administração Pública é vinculada pelo princípio da legalidade. A atribuição de vantagens aos servidores somente pode ser concedida a partir de projeto de lei de iniciativa do Chefe do Poder Executivo, consoante dispõe o artigo 61, § 1º, inciso II, alíneas a e c, da Constituição do Brasil, desde que supervenientemente aprovado pelo Poder Legislativo. (STF ADI 559, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 15-2-06, DJ de 5-5-06).

XXVII - proteção em face da automação, na forma da lei;

Automação é a substituição da mão de obra por máquinas.

XXVIII - seguro contra acidentes de trabalho, a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa;

O trabalhador tem direito a propor duas ações judiciais. Uma chamada de acidentária quando o INSS se nega a pagar o seguro contra acidentes de trabalho, que não exclui a outra, a de Reparação de Dano.

O presente dispositivo deve ser combinado com o artigo 109, I da Constituição Federal, que exclui da justiça federal a competência para julgar ações de acidentes de trabalho, devendo dita ação ser intentada perante a justiça comum estadual, mesmo que seja contra uma autarquia federal (INSS). A partir da Emenda Constitucional nº 45, a indenização decorrente do acidente de trabalho tramita na justiça trabalhista, nos termos do artigo 114, VI do mesmo diploma constitucional.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho;

(...).

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:

(...);

VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;

(...).

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante nº 22 - A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional no 45/04.

XXIX - ação, quanto aos créditos resultantes das relações de trabalho, com prazo prescricional de cinco anos para os trabalhadores urbanos e rurais, até o limite de dois anos após a extinção do contrato de trabalho; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 28, de 25/05/2000)

O prazo para o direito de ação é de dois anos, o direito de reclamar na justiça as verbas trabalhistas rescisórias não pagas pelo empregador. Já o prazo prescricional, que tem como termo inicial a data da reclamação feita no judiciário, em regra, é retroativo de cinco anos, ou seja, os direitos trabalhistas não adimplidos anteriores aos cinco anos não estão agasalhados pela legislação pátria.

PROIBIÇÕES:

XXX - proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil;

Jurisprudência relacionada ao tema:

56

Súmula 683 do STF: O limite de idade para a inscrição em concurso público só se legitima em face do art. 7º., XXX, da Constituição, quando possa ser justificado pela natureza das atribuições do cargo a ser preenchido.

EMENTA. Agravo regimental. - Administrativo. Concurso público para o cargo de policial militar do Distrito Federal. Altura mínima exigida. - Necessidade de previsão legal para definição dos requisitos para ingresso no serviço público. Constituição Federal, arts. 5º, caput, e 37, I e II. Ofensa reflexa. Agravo a que se nega provimento. (STF AI 460131 AgR, 25/06/2004).

XXXI - proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência;

Diferentemente do inciso anterior, a discriminação desse dispositivo diz respeito apenas a diferença de salário e critérios de admissão e não no tocante a diferença de exercício de funções.

XXXII - proibição de distinção entre trabalho manual, técnico e intelectual ou entre os profissionais respectivos;

O legislador não equiparou todas as profissões, quer manuais, quer técnicas, quer intelectuais, ele quis dizer que nenhuma dessas formas de trabalho poderá ser vista de maneira diferente para fins de reconhecimento e aplicação de direitos trabalhistas.

XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso, ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998).

O trabalho exercido por menor de quatorze anos é crime contra a organização do trabalho, que deverá ser julgado pela justiça federal, conforme art. 109, VI, da CF/88, que reza:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:

(...);

VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira;

(...).

Existem também os direitos sociais coletivos, que vamos estudar a seguir.

Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:

Associação profissional e associação sindical não são sinônimas, sendo a primeira um núcleo embrionário inicial da segunda. A associação profissional está regida, de um modo geral, pelas mesmas regras de organização das demais associações. Apenas a criação do sindicato, ou seja, a transformação da associação profissional em órgão de representação oficial de uma classe de trabalhadores é que depende dos requisitos previstos na lei.

I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro no órgão competente, vedadas ao poder público a interferência e a intervenção na organização sindical;

O inciso trata da única providência legal para a constituição de sindicato, que é o registro em órgão competente. Esse “órgão competente”, já decidiu o Supremo Tribunal Federal, é o Ministério do Trabalho, até que a lei crie outro.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 677 do STF – Até que a lei venha a dispor a respeito, incumbe ao Ministério do Trabalho proceder ao registro das entidades sindicais e zelar pela observância do princípio da unicidade.

II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;

Este dispositivo consagra o princípio da unicidade Sindical.

57

Base territorial é a região, o limite territorial onde atua a entidade sindical.

III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas.

O inciso XXI do art. 5º exige autorização expressa para que as entidades associativas possam representar seus associados judicial e extrajudicialmente. Dos sindicatos não se pode exigir essa autorização expressa, porque ela já se presume pelas suas próprias finalidades, sendo o sindicato "substituto processual".

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (…). O artigo 8º, III da Constituição Federal estabelece a legitimidade extraordinária dos sindicatos para defender em juízo os direitos e interesses coletivos ou individuais dos integrantes da categoria que representam. Essa legitimidade extraordinária é ampla, abrangendo a liquidação e a execução dos créditos reconhecidos aos trabalhadores. Por se tratar de típica hipótese de substituição processual, é desnecessária qualquer autorização dos substituídos. (RE 193.503/SP – 12/06/06).

IV - a assembleia-geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será descontada em folha para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva, independentemente da contribuição prevista em lei;

Trata-se aqui de duas contribuições. A primeira, a contribuição de custeio do sistema confederativo, será criada por assembleia-geral da organização sindical interessada, e paga por todos os trabalhadores sindicalizados. O Supremo Tribunal Federal já decidiu que essa contribuição não pode ser cobrada de trabalhador não vinculado à entidade sindical que a cria. A segunda, a contribuição sindical, é criada por lei e paga por todos os trabalhadores, sindicalizados ou não. O pagamento de uma não impede a cobrança da outra, já que são independentes. A contribuição sindical é devida pelo fato de se pertencer a uma determinada categoria econômica ou profissional ou a uma profissão liberal.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante nº 40 - A contribuição confederativa de que trata o art. 8º, IV, da constituição, só é exigível dos filiados ao sindicato respectivo.

V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;

VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;

VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais

VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.

Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.

Art. 9º. É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.

Consta aqui o direito de greve dos trabalhadores privados, incluídos os de sociedades de economia mista e de empresas públicas. O direito de greve do servidor público civil está previsto no art. 37, VII, da CF/88.

58

§1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.

A lei que regula a matéria é a lei nº 7.783/89 .

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante 23 - A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar ação possessória ajuizada em decorrência do exercício do direito de greve pelos trabalhadores da iniciativa privada.

§2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

Art. 10. É assegurada a participação dos trabalhadores e empregadores nos colegiados dos órgãos públicos em que seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto de discussão e deliberação.

Exemplo desses órgãos é o Conselho Curador da Previdência Social.

O artigo assegura o objetivo democrático da Seguridade Social (art. 194, §único, VII).

Art. 11. Nas empresas de mais de duzentos empregados, é assegurada a eleição de um representante destes com a finalidade exclusiva de promover-lhes o entendimento direto com os empregadores.

NACIONALIDADE

Há diferenças conceituais entre naturalidade (indicativa do lugar de nascimento de uma pessoa, em certa região ou localidade), cidadania (conjunto de prerrogativas de direito político conferidas à pessoa natural, constitucionalmente asseguradas e exercidas pelos nacionais, ou seja, por aqueles que têm a faculdade de intervir na direção dos negócios públicos e de participar no exercício da soberania), população, que diz respeito ao número de pessoas em determinado território, seja nacional ou estrangeira, nação, que se refere a pessoas ligadas por laços culturais, de raça, língua, fins sociais, e de nacionalidade e povo que, para Pontes de Miranda, é o laço jurídico político de direito público interno, que faz da pessoa um dos elementos componentes da dimensão pessoal do Estado.

Art. 12. São brasileiros:

São dois os critérios determinadores da nacionalidade: o jus sanguinis e o jus soli. O jus sanguinis informa a nacionalidade pela filiação, independentemente do lugar de nascimento, a nacionalidade é determinada pela nacionalidade dos pais. O jus soli atribui a nacionalidade pelo local de nascimento, ou, pelo critério territorial, e desconsidera a nacionalidade dos pais.

I - natos:

Tem-se aqui a nacionalidade primária ou de 1º. grau, originária, pelo fato do nascimento.

Todos os casos possíveis de reconhecimento de condição de brasileiro nato estão neste inciso da Constituição, uma vez que só a Constituição pode prevê hipóteses de aquisição primária.

a) os nascidos na República Federativa do Brasil, ainda que de pais estrangeiros, desde que estes não estejam a serviço de seu país;

Tratando de brasileiros natos, a regra geral é a do jus soli (alínea "a"), ou seja, de aquisição da nacionalidade pelo solo de nascimento. Assim, são brasileiros os nascidos na República Federativa do Brasil, em qualquer ponto de seu território.

A Constituição exige que ambos os pais sejam estrangeiros, e que pelo menos um deles esteja a serviço diplomático oficial de seu próprio país, e não de outro.

Assim, a única exceção a essa regra é o nascido na República Federativa do Brasil, filho de pais estrangeiros, desde que um deles esteja no Brasil em serviço oficial de seu país, como no caso dos

59

diplomatas, dos que estiverem em missão de serviço público a serviço de seus Estados de origem ou que aqui representem organizações internacionais, como a ONU. Neste caso, guardam a nacionalidade do país de origem dos pais, pelo critério do jus sanguinis (aquisição de nacionalidade pelo sangue dos pais), fazendo valer o princípio da extraterritorialidade diplomática.

b) Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da República Federativa do Brasil;

Regra do jus sanguinis.

São brasileiros natos os nascidos no exterior, quer de pai brasileiro, quer de mãe brasileira (por isso não é acolhido no Brasil o jus sanguinis puro, que exige que ambos os pais sejam natos), desde que qualquer dos dois esteja no estrangeiro a serviço oficial do Brasil.

c) os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira competente ou venham a residir na República Federativa do Brasil e optem, em qualquer tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade brasileira; (Alterada pela ECR nº 3, de 7.6.1994) (Alterada pela EC nº 54, de 20.9.2007).

O Legislador usou o critério do jus sanguinis.

Há duas possibilidades. A primeira será dos nascidos no estrangeiro, filhos de pai ou de mãe brasileira que poderão ser registrados em repartição competente (como um consulado brasileiro) e, nesse momento, adquirirem a condição de brasileiros natos. A segunda, será dos nascidos no estrangeiro, filhos de pai ou mãe brasileira que poderão ainda vir a residir no Brasil, em caráter definitivo, e aqui, a qualquer tempo, após os 18 anos, que é a maioridade civil, optar pela condição de brasileiro nato. Tal opção deverá ser necessariamente exercida pelo detentor de maioridade civil, perante um juiz federal, nos termos do art. 109, X, da CF/88. Essa opção trata-se de um direito subjetivo, por isso é chamada pela doutrina de nacionalidade potestativa.

Essa alínea já sofreu duas emendas constitucionais. A Emenda de Revisão nº 3, de 07.06.1994, retirou a possibilidade do nascido no estrangeiro, filho de pai ou mãe brasileira, ser registrado em repartição brasileira competente, restando apenas a de residir no Brasil e optar pela nacionalidade brasileira quando completasse a maioridade civil. Posteriormente, a Emenda Constitucional nº 54, de 20.9.2007, trouxe novamente a regra e, com o intuito de amparar os nascidos naquele período, acrescentou o artigo 95 ao Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT), que reza:

“Os nascidos no estrangeiro entre 7 de junho de 1994 e a data da promulgação desta Emenda Constitucional, filhos de pai brasileiro ou mãe brasileira, poderão ser registrados em repartição diplomática ou consular brasileira competente ou em ofício de registro, se vierem a residir na República Federativa do Brasil”.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: - CONSTITUCIONAL. NACIONALIDADE: OPÇÃO. C.F., ART. 12, I, c, COM A EMENDA CONSTITUCIONAL DE REVISÃO Nº 3, DE 1994. I. - São brasileiros natos os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, desde que venham a residir no Brasil e optem, em qualquer tempo, pela nacionalidade brasileira. II. - A opção pode ser feita a qualquer tempo, desde que venha o filho de pai brasileiro ou de mãe brasileira, nascido no estrangeiro, a residir no Brasil. Essa opção somente pode ser manifestada depois de alcançada a maioridade. É que a opção, por decorrer da vontade, tem caráter personalíssimo. Exige-se, então, que o optante tenha capacidade plena para manifestar a sua vontade, capacidade que se adquire com a maioridade. III. - Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser considerado brasileiro nato, sujeita essa nacionalidade a manifestação da vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a maioridade. Atingida a maioridade, enquanto não manifestada a opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da nacionalidade brasileira. IV. - Precedente do STF: AC 70-QO/RS, Ministro Sepúlveda Pertence, Plenário, 25.9.03, "DJ" de 12.3.04. V. (STF RE 418096/RS – 22/03/2005).

II - naturalizados:

Cuida-se da nacionalidade secundária ou de 2º. Grau, derivada

60

Em tese, a concessão da nacionalidade brasileira está submetida à discricionariedade do chefe do Poder Executivo.

A aquisição da nacionalidade pode ser tácita (quando não depende de requerimento do interessado) ou expressa (quando depende dessa manifestação de vontade). No Brasil, atualmente, não é possível a naturalização tácita ou automática.

A doutrina classifica a nacionalidade de 2º grau em espécies: ordinária (quando esse requerimento é regido pela lei), especial (quando requerida por originários de países de língua portuguesa) e extraordinária ou quinzenária (quando a hipótese de aquisição é oferecida pela própria Constituição).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: (...). Não se revela possível, em nosso sistema jurídico-constitucional, a aquisição da nacionalidade brasileira jure matrimonii, vale dizer, como efeito direto e imediato resultante do casamento civil. Magistério da doutrina.” (STF Ext 1.121, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 18-12-2009, Plenário, DJE de 25-6-2010).

a) os que, na forma da lei, adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de países de língua portuguesa apenas residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral;

Hipótese de naturalização expressa ordinária, já que submetida aos termos da lei.

Para a aquisição da condição de brasileiro, o estrangeiro deverá proceder de acordo com o Estatuto do Estrangeiro (Lei n. 6.815/80).

Há, no entanto, um grupo especial de estrangeiros, formado pelos que são de países de língua portuguesa (Portugal, Angola, Moçambique, Guiné Bissau, Açores, Cabo Verde, Ilhas Príncipe, Goa, Gamão, Dio, Macau e Timor) que tem a seu favor as condições de residência por um ano ininterrupto e idoneidade moral, chamada doutrinariamente de aquisição especial.

b) os estrangeiros de qualquer nacionalidade residentes na República Federativa do Brasil há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal, desde que requeiram a nacionalidade brasileira.

Hipótese de aquisição de nacionalidade brasileira expressa extraordinária.

O estrangeiro de qualquer nacionalidade poderá se beneficiar dessa forma excepcional de aquisição de nacionalidade.

Quanto aos requisitos dessa via de aquisição, verifica-se que não é impedimento a exigência de condenação civil ou trabalhista e que a condição de "prazo ininterrupto do prazo de residência" não é quebrada por breves viagens ao exterior já que a Constituição exige residência contínua e não permanência contínua.

Para alguns autores, como Alexandre de Moraes e Celso Bastos, a passagem “... desde que requeiram” significa que o requerimento, preenchidas as condições constitucionais, não poderá ser negado pelo Poder Executivo, constituindo-se em direito subjetivo do estrangeiro.

§ 1º Aos portugueses com residência permanente no País, se houver reciprocidade em favor de brasileiros, serão atribuídos os direitos inerentes ao brasileiro, salvo os casos previstos nesta Constituição.

Trata-se de equiparação de direitos e não hipótese de naturalização. O português, que não pretende a naturalização, e sim permanecer como como estrangeiro no Brasil, será equiparado em direitos ao brasileiro naturalizado sem sê-lo, condicionado à existência e observância da reciprocidade.

Segundo a jurisprudência de Supremo Tribunal Federal, a mera condição de egresso de Portugal não é suficiente para os benefícios da equiparação, devendo o português ter requerido o benefício na Justiça Brasileira e ter sido deferido.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. Expulsão. Português. Estrangeiro condenado a pena de quatro anos de reclusão, já cumprida, por incurso no art. 12 da Lei n. 6368/1976. 2. Alegações de amparo na Convenção sobre igualdade de Direitos e Deveres entre Brasileiros e Portugueses, aprovada pelo Decreto Legislativo n. 82, de

61

24.11.1971, e promulgada pelo Decreto n. 70.391, de 12.4.1972, bem assim de manter o expulsando união estável com brasileira, mãe de menor que não e, entretanto, filho do paciente. 3. Inaplicável ao paciente a Convenção em referencia, eis que nenhuma prova se fez de se lhe ter reconhecido, a teor do art. 5. do Decreto n. 70.391/1972, a igualdade de direitos e deveres. Pela só permanência no país, não gozam, automaticamente, o português no Brasil e o brasileiro em Portugal, da igualdade de direitos e deveres, a que se refere a Convenção aprovada, fazendo-se necessários prévios requerimento e decisão concessiva de autoridade competente. Decreto n. 70.391/1972, arts. 5., 6. e 14. De qualquer sorte, o Decreto de expulsão acarreta a consequência de fazer cessar a autorização de permanência do paciente no território nacional, o que, conforme o art. 6. do Decreto n. 70.391, de 1972, gera a extinção da igualdade de direitos e deveres. 4. Não se aplica a espécie, também, o art. 75, II, letras "a" e "b", do Estatuto do Estrangeiro, visto não ser o paciente casado com brasileira, nem possuir filho brasileiro. 5. Não serve ao paciente, por igual, no caso, a regra do art. 226, par. 3., da Constituição Federal. Natureza e extensão da norma maior em apreço. A união do paciente com brasileira não alcança sequer o lapso de tempo necessário, para que se lhe reconheça a condição de "união estável", "ut" Lei 8971/1994. 6. Habeas Corpus indeferido. (STF HC 72.593/RJ, 22/06/1995).

EMENTA: (...). A norma inscrita no art. 12, § 1º, da CR – que contempla, em seu texto, hipótese excepcional de quase-nacionalidade – não opera de modo imediato, seja quanto ao seu conteúdo eficacial, seja no que se refere a todas as consequências jurídicas que dela derivam, pois, para incidir, além de supor o pronunciamento aquiescente do Estado brasileiro, fundado em sua própria soberania, depende, ainda, de requerimento do súdito português interessado, a quem se impõe, para tal efeito, a obrigação de preencher os requisitos estipulados pela Convenção sobre Igualdade de Direitos e Deveres entre brasileiros e portugueses." (STF 890, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 5-8-2004, Primeira Turma, DJ de 28-10-2004.)

§ 2º A lei não poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

As distinções permitidas pelo texto constitucional, e só ela pode, são: casos de extradição (art. 5º, LI), exercício de determinados cargos públicos (art. 12, § 3º), perda da condição de nacional (art. 12, §4º), exercício da função de membro do Conselho da República (art. 89, VII) e administração e orientação intelectual de veículo de mídia no Brasil (art. 222).

Art. 5º. Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

(...). LI - nenhum brasileiro será extraditado, salvo o naturalizado, em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins, na forma da lei; (...). Art. 89. O Conselho da República é órgão superior de consulta do Presidente da República, e dele participam: I - o Vice-Presidente da República; II - o Presidente da Câmara dos Deputados; III - o Presidente do Senado Federal; IV - os líderes da maioria e da minoria na Câmara dos Deputados; V - os líderes da maioria e da minoria no Senado Federal; VI - o Ministro da Justiça; VII - seis cidadãos brasileiros natos, com mais de trinta e cinco anos de idade, sendo dois nomeados pelo Presidente da República, dois eleitos pelo Senado Federal e dois eleitos pela Câmara dos Deputados, todos com mandato de três anos, vedada a recondução. Art. 222. A propriedade de empresa jornalística e de radiodifusão sonora e de sons e imagens é privativa de brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

§ 3º são privativos de brasileiro nato os cargos: I - de Presidente e Vice-Presidente da República; II - de Presidente da Câmara dos Deputados; III - de Presidente do Senado Federal; IV - de Ministro do Supremo Tribunal Federal; V - da carreira diplomática; VI - de oficial das Forças Armadas; VII - de Ministro de estado da Defesa (Incluído pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999).

62

O rol dos cargos privativos de brasileiros natos é taxativo.

A título de informação, são da carreira diplomática o 3º Secretário, o 2º Secretário, o 1º Secretário, o Conselheiro, o Ministro de 2ª Classe e Ministro de 1ª Classe, que é o embaixador. Os oficiais das Forças Armadas são os do Exército, da Marinha e da Aeronáutica (mas não os suboficiais destas Forças, nem os oficiais da Polícia Militar).

§ 4º. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que: I - tiver cancelada sua naturalização, por sentença judicial, em virtude de atividade nociva ao interesse nacional;

Essa hipótese de perda da nacionalidade é só para brasileiro naturalizado que for considerado culpado por sentença judicial transitada em julgado de algum crime no Brasil. O condenado poderá, na sentença, receber uma pena acessória de cancelamento da naturalização, de acordo com a gravidade do crime. Nesse caso, a partir dessa sentença, por ato do Presidente da República, será declarada a perda de sua nacionalidade, para viabilizar a expulsão do Brasil.

O cancelamento da naturalização ensejará a perda dos direitos políticos, conforme previsto no artigo 15, I, da CF/88.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de: I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; (...).

II - adquirir outra nacionalidade, salvo nos casos (Redação dada pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994): a) de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei estrangeira; (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994) b) de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, ao brasileiro residente em Estado estrangeiro, como condição para permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis. (Incluído pela Emenda Constitucional de Revisão nº 3, de 1994)

A aquisição voluntária de outra nacionalidade por um brasileiro conduz como regra, à perda da sua nacionalidade brasileira, seja ele nato ou naturalizado, sendo aceitas as duas exceções expressas nas alíneas “a” (caso de acumulação de nacionalidade, ou dupla nacionalidade) e “b”.

O processo de perda da nacionalidade, nesse caso, ocorrerá administrativamente no Ministério da Justiça.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). A perda da nacionalidade brasileira, por sua vez, somente pode ocorrer nas hipóteses taxativamente definidas na CR, não se revelando lícito, ao Estado brasileiro, seja mediante simples regramento legislativo, seja mediante tratados ou convenções internacionais, inovar nesse tema, quer para ampliar, quer para restringir, quer, ainda, para modificar os casos autorizadores da privação – sempre excepcional – da condição político-jurídica de nacional do Brasil. (...). (STF HC 83.113-QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 26-3-2003, Plenário, DJ de 29-8-2003).

EMENTA. NATURALIZAÇÃO. REVISÃO DE ATO. COMPETÊNCIA. Conforme revela o inciso I do §4º do artigo 12 da Constituição Federal, o Ministro de Estado da Justiça não tem competência para rever ato de naturalização. (STF RMS 27.840, rel. p/ o ac. min. Marco Aurélio, julgamento em 7-2-2013, Plenário, DJE de 27-8-2013).

Art. 13. A língua portuguesa é o idioma oficial da República Federativa do Brasil. § 1º São símbolos da República Federativa do Brasil a bandeira, o hino, as armas e o selo nacionais. § 2º Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios poderão ter símbolos próprios.

A língua portuguesa é oficial no Brasil, o que não proíbe que outras aqui sejam faladas e reconhecidas, como no caso do art. 210, § 2º, da CF/88, que reconhece aos índios no Brasil o direito de usarem suas linguagens e dialetos no aprendizado.

63

DIREITOS POLÍTICOS

PRINCÍPIO DA SOBERANIA POPULAR.

Segundo Pimenta Bueno, os direitos políticos são um conjunto de prerrogativas, atributos, faculdades, ou poder de intervenção dos cidadãos ativos no governo de seu país, intervenção direta ou indireta, mais ou menos ampla. Seria, assim, a inserção da vontade do cidadão no universo da formação da vontade nacional.

As formas dessa participação são, basicamente: o direito de votar e de ser votado, o plebiscito, o referendo, a iniciativa popular de leis, a ação popular, a fiscalização popular de contas públicas, o direito de informação em órgãos públicos e a filiação a partidos políticos.

Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para todos, e, nos termos da lei, mediante:

Sufrágio configura um direito público subjetivo de eleger e ser eleito, e também o direito de participar da organização e da atividade do poder estatal. O sufrágio universal se apoia na coincidência entre a qualidade de eleitor e de nacional de um país, sujeito, contudo, a condicionamentos, como idade. O sufrágio restrito pode ser censitário (quando o votante precisa preencher requisitos de natureza econômica, como renda e bens) ou capacitária (quando o eleitor precisa apresentar algumas condições especiais de capacidade, como as de natureza intelectual). O voto, por seu turno, é o ato político que materializa, na prática, o direito subjetivo de sufrágio. O voto apresenta as características de personalidade (só pode ser exercido pessoalmente), obrigatoriedade formal de comparecimento (pela regra, o eleitor precisa comparecer, embora não precise efetivamente votar), liberdade (o eleitor escolhe livremente o nome de sua preferência), sigilosidade (o voto é secreto), periodicidade (o eleitor é chamado a votar de tempos em tempos), igualdade (cada voto tem o mesmo peso no processo político, embora a Constituição admita casos em que isso é negado, como no art. 45).

I - plebiscito;

Consulta prévia ao cidadão.

II - referendo;

Manifestação popular sobre questão concreta efetivada, geralmente legislativa.

III - iniciativa popular

É o poder que o povo possui de apresentar um projeto de lei ao poder legislativo.

Existe no âmbito federal (art. 61, § 2º), no estadual (27, § 4º) e no municipal (art. 29, XIII), sujeito a diferentes requisitos.

Os Direitos Políticos podem ser positivos e negativos. Os positivos são a alistabilidade (capacidade eleitoral ativa) e a elegibilidade (capacidade eleitoral passiva). Os negativos são a inalistabilidade (incapacidade eleitoral ativa) e a inelegibilidade (incapacidade eleitoral passiva).

§ 1º O alistamento eleitoral e o voto são:

I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; II - facultativos para: a) os analfabetos; b) os maiores de setenta anos; c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos.

Alistabilidade é o alistamento eleitoral, ou seja, é a inscrição como eleitor. Só é feito por iniciativa do interessado, uma vez que não é possível alistamento ex ofício.

64

§ 2º Não podem alistar-se como eleitores os estrangeiros e, durante o período do serviço militar obrigatório, os conscritos.

A inalistabilidade é a incapacidade de se alistar como eleitor.

Conscritos são os recrutados para servir às Forças Armadas, dentre eles, aquele que presta o serviço militar obrigatório, não podendo alistar-se como eleitor. Os demais integrantes das Forças Armadas têm o poder-dever de alistamento.

§ 3º São condições de elegibilidade, na forma da lei: I - a nacionalidade brasileira; II - o pleno exercício dos direitos políticos; III - o alistamento eleitoral; IV - o domicílio eleitoral na circunscrição; V - a filiação partidária; VI - a idade mínima de: a) trinta e cinco anos para Presidente e Vice-Presidente da República e Senador; b) trinta anos para Governador e Vice-Governador de estado e do Distrito Federal; c) vinte e um anos para Deputado Federal, Deputado Estadual ou Distrital, Prefeito, Vice-Prefeito e Juiz de Paz; d) dezoito anos para Vereador.

A elegibilidade refere-se à capacidade de ser eleito.

§ 4º São inelegíveis os inalistáveis e os analfabetos.

Inelegibilidade é impedimento à capacidade ao direito de ser votado. Não se confunde com a inalistabilidade, que é a impossibilidade de se alistar eleitor, nem com a incompatibilidade, impedimento ao exercício do mandato depois de eleito.

Este parágrafo enumera os casos de inelegibilidade absoluta, estabelecida para todos os cargos, os quais só podem ser previstos pela Constituição Cidadã.

Nos §§ 5º ao 8º estão casos de inelegibilidades relativas, porque dizem respeito a determinados cargos e determinadas situações, que podem ser estabelecidos inclusive por norma subconstitucional.

§ 5º O Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal, os Prefeitos e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser reeleitos para um único período subsequente.

Não é necessário que o Presidente da República, o Governador de Estado ou do Distrito Federal e o Prefeito afastem-se desses cargos ou renunciem para postular a reeleição.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. REPERCUSSÃO GERAL. REELEIÇÃO. PREFEITO. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. MUDANÇA DA JURISPRUDÊNCIA EM MATÉRIA ELEITORAL. SEGURANÇA JURÍDICA. I. REELEIÇÃO. MUNICÍPIOS. INTERPRETAÇÃO DO ART. 14, § 5º, DA CONSTITUIÇÃO. PREFEITO. PROIBIÇÃO DE TERCEIRA ELEIÇÃO EM CARGO DA MESMA NATUREZA, AINDA QUE EM MUNICÍPIO DIVERSO. O instituto da reeleição tem fundamento não somente no postulado da continuidade administrativa, mas também no princípio republicano, que impede a perpetuação de uma mesma pessoa ou grupo no poder. O princípio republicano condiciona a interpretação e a aplicação do próprio comando da norma constitucional, de modo que a reeleição é permitida por apenas uma única vez. Esse princípio impede a terceira eleição não apenas no mesmo município, mas em relação a qualquer outro município da federação. Entendimento contrário tornaria possível a figura do denominado “prefeito itinerante” ou do “prefeito profissional”, o que claramente é incompatível com esse princípio, que também traduz um postulado de temporariedade /alternância do exercício do poder.

65

Portanto, ambos os princípios – continuidade administrativa e republicanismo – condicionam a interpretação e a aplicação teleológicas do art. 14, § 5º, da Constituição. O cidadão que exerce dois mandatos consecutivos como prefeito de determinado município fica inelegível para o cargo da mesma natureza em qualquer outro município da federação. (...). (STF RE 637.485 RJ, Rel. MIN. GILMAR MENDES, Plenário, DJ 01.08.2012).

§ 6º Para concorrerem a outros cargos, o Presidente da República, os Governadores de Estado e do Distrito Federal e os Prefeitos devem renunciar aos respectivos mandatos até seis meses antes do pleito.

Para tentarem eleição para qualquer outro cargo, deverão renunciar. A renúncia, nesse caso, é irreversível.

§ 7º São inelegíveis, no território de jurisdição do titular, o cônjuge e os parentes consanguíneos ou afins, até o segundo grau ou por adoção, do Presidente da República, de Governador de estado ou Território, do Distrito Federal, de Prefeito ou de quem os haja substituído dentro dos seis meses anteriores ao pleito, salvo se já titular de mandato eletivo e candidato à reeleição.

Tem-se, aqui, a inelegibilidade reflexa. Para esses fins, o território de “jurisdição” (a doutrina prefere “circunscrição”) do titular é a área física em que esse exerce poder. Assim, o do Presidente da República é todo o País; o do Governador, o respectivo Estado; e o do Prefeito, o Município. Assim, cônjuge e parentes do Prefeito não poderão disputar os cargos e mandatos de Prefeito, Vice-Prefeito e Vereador naquele Município; do Governador, esses cargos citados, nos Municípios do Estado, mais os cargos de Governador e Vice-Governador e de Deputado Estadual, Federal e Senador, estes dois últimos para vagas do próprio Estado, do Presidente da República, por fim, são absolutamente inelegíveis, salvo a única hipótese do final da redação do dispositivo. Cabe aqui, referência à decisão do Tribunal Superior Eleitoral, onde foi decidido que em se tratando de eleição para Deputado Federal ou Senador, cada Estado e o Distrito Federal constituem uma circunscrição eleitoral, o que amplia a relação dos impedimentos.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante 18 - A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no § 7º do artigo 14 da Constituição Federal.

§ 8º O militar alistável é elegível, atendidas as seguintes condições: I - se contar menos de dez anos de serviço deverá afastar-se da atividade; II - se contar mais de dez anos de serviço, será agregado pela autoridade superior e, se eleito, passará automaticamente, no ato da diplomação, para a inatividade.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: (...). Diversamente do que sucede ao militar com mais de dez anos de serviço, deve afastar-se definitivamente da atividade o servidor militar que, contando menos de dez anos de serviço, pretenda candidatar-se a cargo eletivo. (...). (STF RE 279.469, Rel. p/ o ac. Min. Cezar Peluso, julgamento em 16-3-2011, Plenário, DJE de 20-6-2011).

EMENTA: (...). Militar da ativa (sargento) com mais de dez anos de serviço. Elegibilidade. Filiação partidária. (...) Se o militar da ativa é alistável, é ele elegível (CF, art. 14, § 8º). Porque não pode ele filiar-se a partido político (CF, art 42, § 6º), a filiação partidária não lhe é exigível como condição de elegibilidade, certo que somente a partir do registro da candidatura é que será agregado (CF, art. 14, § 8º, II; Cód. Eleitoral, art. 5º, parágrafo único; Lei 6.880, de 1980, art. 82, XIV, § 4º).” (STF AI 135.452, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 20-9-1990, Plenário, DJ de 14-6-1991).

§ 9º Lei complementar estabelecerá outros casos de inelegibilidade e os prazos de sua cessação, a fim de proteger a probidade administrativa, a moralidade para o exercício do mandato, considerada a vida pregressa do candidato, e a normalidade, legitimidade das eleições contra a influência do poder econômico ou o abuso do exercício de função, cargo ou emprego na administração direta ou indireta.

A lei complementar 64/90 prevê tais casos de inelegibilidade, bem como a Lei Complementar nº 135/2010 (lei da ficha limpa).

AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO.

66

§ 10 O mandato eletivo poderá ser impugnado ante a Justiça Eleitoral no prazo de quinze dias contados da diplomação, instruída a ação com provas de abuso do poder econômico, corrupção ou fraude.

A legitimação ativa para essa ação é do Ministério Público, dos partidos políticos, das coligações e dos candidatos, eleitos ou não.

§ 11 A ação de impugnação de mandato tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de manifesta má-fé.

Art. 15. É vedada a cassação de direitos políticos, cuja perda ou suspensão só se dará nos casos de:

A cassação aqui mencionada e proibida é ato unilateral, do Poder Executivo, configurando uma radical medida contra o regime democrático, que suprime direitos e garantias individuais. Perda é a privação definitiva; suspensão é uma perda temporária.

I - cancelamento da naturalização por sentença transitada em julgado; II - incapacidade civil absoluta; III - condenação criminal transitada em julgado, enquanto durarem seus efeitos; IV - recusa de cumprir obrigação a todos imposta ou prestação alternativa, nos termos do art. 5º, VIII; V - improbidade administrativa, nos termos do art. 37, § 4º.

PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL

Art. 16. A lei que alterar o processo eleitoral entrará em vigor na data de sua publicação, não se aplicando à eleição que ocorra até um ano da data de sua vigência.

Aqui se estabelece o princípio da anterioridade da lei eleitoral (princípio da anualidade eleitoral).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ART. 2º DA EC 52, DE 08.03.06. APLICAÇÃO IMEDIATA DA NOVA REGRA SOBRE COLIGAÇÕES PARTIDÁRIAS ELEITORAIS, INTRODUZIDA NO TEXTO DO ART. 17, § 1º, DA CF. ALEGAÇÃO DE VIOLAÇÃO AO PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE DA LEI ELEITORAL (CF, ART. 16) E ÀS GARANTIAS INDIVIDUAIS DA SEGURANÇA JURÍDICA E DO DEVIDO PROCESSO LEGAL (CF, ART. 5º, CAPUT, E LIV). LIMITES MATERIAIS À ATIVIDADE DO LEGISLADOR CONSTITUINTE REFORMADOR. ARTS. 60, § 4º, IV, E 5º, § 2º, DA CF. 1. Preliminar quanto à deficiência na fundamentação do pedido formulado afastada, tendo em vista a sucinta porém suficiente demonstração da tese de violação constitucional na inicial deduzida em juízo. 2. A inovação trazida pela EC 52/06 conferiu status constitucional à matéria até então integralmente regulamentada por legislação ordinária federal, provocando, assim, a perda da validade de qualquer restrição à plena autonomia das coligações partidárias no plano federal, estadual, distrital e municipal. 3. Todavia, a utilização da nova regra às eleições gerais que se realizarão a menos de sete meses colide com o princípio da anterioridade eleitoral, disposto no art. 16 da CF, que busca evitar a utilização abusiva ou casuística do processo legislativo como instrumento de manipulação e de deformação do processo eleitoral (ADI 354, rel. Min. Octavio Gallotti, DJ 12.02.93). 4. Enquanto o art. 150, III, b, da CF encerra garantia individual do contribuinte (ADI 939, rel. Min. Sydney Sanches, DJ 18.03.94), o art. 16 representa garantia individual do cidadão-eleitor, detentor originário do poder exercido pelos representantes eleitos e "a quem assiste o direito de receber, do Estado, o necessário grau de segurança e de certeza jurídicas contra alterações abruptas das regras inerentes à disputa eleitoral" (ADI 3.345, rel. Min. Celso de Mello). 5. Além de o referido princípio conter, em si mesmo, elementos que o caracterizam como uma garantia fundamental oponível até mesmo à atividade do legislador constituinte derivado, nos termos dos arts. 5º, § 2º, e 60, § 4º, IV, a burla ao que contido no art. 16 ainda afronta os direitos individuais da segurança jurídica (CF, art. 5º, caput) e do devido processo legal (CF, art. 5º, LIV). 6. A modificação no texto do art. 16 pela EC 4/93 em nada alterou seu conteúdo principiológico fundamental. Tratou-se de mero aperfeiçoamento técnico levado a efeito para facilitar a regulamentação do processo eleitoral. 7. Pedido que se julga procedente para dar interpretação conforme no sentido de que a inovação trazida no art. 1º da EC 52/06 somente seja aplicada após decorrido um ano da data de sua vigência. (STF ADI 3.685/DF. Rel. Min. Ellen Gracie. DJ 10.08.2006).

67

EMENTA. A Lei Complementar 135/2010 — que altera a Lei Complementar 64/90, que estabelece, de acordo com o § 9º do art. 14 da CF, casos de inelegibilidade, prazos de cessação e determina outras providências, para incluir hipóteses de inelegibilidade que visam a proteger a probidade administrativa e a moralidade no exercício do mandato — não se aplica às eleições gerais de 2010. Essa a conclusão do Plenário ao prover, por maioria, recurso extraordinário em que discutido o indeferimento do registro de candidatura do recorrente ao cargo de deputado estadual nas eleições de 2010, ante sua condenação por improbidade administrativa, nos termos do art. 1º, I, l, da LC 64/90, com redação dada pela LC 135/2010 *“Art. 1º São inelegíveis: I – para qualquer cargo: ... l) os que forem condenados à suspensão dos direitos políticos, em decisão transitada em julgado ou proferida por órgão judicial colegiado, por ato doloso de improbidade administrativa que importe lesão ao patrimônio público e enriquecimento ilícito, desde a condenação ou o trânsito em julgado até o transcurso do prazo de 8 (oito) anos após o cumprimento da pena”+. (...). (STF RE 633703/MG, rel. Min. Gilmar Mendes, 23.3.2011).

PARTIDOS POLÍTICOS

Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa humana e observados os seguintes preceitos: I - caráter nacional; II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiro ou de subordinação a estes; III - prestação de contas à Justiça Eleitoral; IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei. § 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária.

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 52, de 2006).

§ 2º. Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral. § 3º. Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à televisão, na forma da lei. § 4º. É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.

Segundo José Afonso da Silva partido político é “uma forma de agremiação de um grupo social que se propõe organizar, coordenar e instrumentar a vontade popular com o fim de assumir o poder para realizar seu programa de governo”.

A natureza jurídica do partido político é de pessoa jurídica de direito privado (art. 17 § 2º).

A Emenda Constitucional nº 91 altera a Constituição Federal para estabelecer a possibilidade, excepcional e em período determinado, de desfiliação partidária, sem prejuízo do mandato. As Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, nos termos do § 3º do art. 60 da Constituição Federal, promulgam a seguinte Emenda ao texto constitucional: “Art. 1º É facultado ao detentor de mandato eletivo desligar-se do partido pelo qual foi eleito nos trinta dias seguintes à promulgação desta Emenda Constitucional, sem prejuízo do mandato, não sendo essa desfiliação considerada para fins de distribuição dos recursos do Fundo Partidário e de acesso gratuito ao tempo de rádio e televisão.” Ufa!!! Terminamos o Título II. O Título III trata da organização do Estado, entretanto somente o assunto sobre competência foi cobrado no concurso anterior do MPU.

4. Organização político-administrativa: das competências da União,

Estados, Distrito Federal e Municípios.

68

José Afonso da Silva conceitua competência, dizendo: “... faculdade juridicamente atribuída a uma entidade, órgão ou agente do Poder Público para emitir decisões. Competências são as diversas modalidades de poder de que se servem os órgãos ou entidades estatais para realizar suas funções”.

Doutrinariamente, há uma classificação com base no princípio da predominância do interesse. Na União predomina o interesse geral, nos Estados predomina o interesse regional, nos Municípios predomina o interesse local e no Distrito Federal predomina o interesse regional e local.

Princípio Geral para distribuição de competências – predominância do interesse.

UNIÃO - Geral

ESTADO - Regional

MUNICÍPIO - Local

DISTRITO FEDERAL - Regional + Local

O legislador adotou quatro pontos básicos no regramento constitucional para dividir as competências administrativas e legislativas, quais sejam:

a) Reserva de campos específicos de competência administrativa e legislativa:

União - poderes enumerados (arts. 21 e 22).

Estados - poderes remanescentes (arts. 25, §1º).

Municípios - poderes enumerados (art. 30)

Distrito Federal – poderes enumerados e remanescentes (art. 32, §1º).

b) Possibilidade de delegação. (Art. 22, § único);

c) Áreas comuns de atuação administrativa paralela. (Art. 23);

d) Áreas de atuação legislativa concorrentes. (art. 24).

No artigo que se estuda adiante está a Competência administrativa exclusiva da União, também chamada de competência não legislativa.

Verifica-se, ainda, a dupla posição da União: como pessoa de direito internacional, representando a República Federativa do Brasil (exemplos: incisos I e II) e como pessoa de direito interno (exemplo: inciso VII).

Art. 21. Compete à União: I – manter relações com Estados estrangeiros e participar de organizações internacionais; II – declarar a guerra e celebrar a paz III – assegurar a defesa nacional; IV – permitir, nos casos previstos em lei complementar, que forças estrangeiras transitem pelo território nacional ou nele permaneçam temporariamente; V – decretar o estado de sítio, o estado de defesa e a intervenção federal; VI – autorizar e fiscalizar a produção e o comércio de material bélico; VII – emitir moeda; VIII – administrar as reservas cambiais do País e fiscalizar as operações de natureza financeira, especialmente as de crédito, câmbio e capitalização, bem como as de seguros e de previdência privada; IX – elaborar e executar planos nacionais e regionais de ordenação do território e de desenvolvimento econômico e social; X – manter o serviço postal e o correio aéreo nacional; XI – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão, os serviços de telecomunicações, nos termos da lei, que disporá sobre a organização dos serviços, a criação de um órgão regulador e outros aspectos institucionais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95).

69

XII – explorar, diretamente ou mediante autorização, concessão ou permissão: a) os serviços de radiodifusão sonora e de sons e imagens; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95). b) os serviços e instalações de energia elétrica e o aproveitamento energético dos cursos de água, em articulação com os Estados onde se situam os potenciais hidroenergéticos; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 8, de 15/08/95). c) a navegação aérea, aeroespacial e a infraestrutura aeroportuária; d) os serviços de transporte ferroviário e aquaviário entre portos brasileiros e fronteiras nacionais, ou que transponham os limites de Estado ou Território; e) os serviços de transporte rodoviário interestadual e internacional de passageiros; f) os portos marítimos, fluviais e lacustres. XIII – organizar e manter o Poder Judiciário, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e a Defensoria Pública dos Territórios; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012). XIV – organizar e manter a polícia civil, a polícia militar e o corpo de bombeiros militar do Distrito Federal, bem como prestar assistência financeira ao Distrito Federal para a execução de serviços públicos, por meio de fundo próprio; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). XV – organizar e manter os serviços oficiais de estatística, geografia, geologia e cartografia de âmbito nacional; XVI – exercer a classificação, para efeito indicativo, de diversões públicas e de programas de rádio e televisão; XVII - conceder anistia; XVIII – planejar e promover a defesa permanente contra as calamidades públicas, especialmente as secas e as inundações; XlX – instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso; XX – instituir diretrizes para o desenvolvimento urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos; XXI – estabelecer princípios e diretrizes para o sistema nacional de viação; XXII– executar os serviços de polícia marítima, aeroportuária e de fronteiras; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). XXIII – explorar os serviços e instalações nucleares de qualquer natureza e exercer monopólio estatal sobre a pesquisa, a lavra, o enriquecimento e reprocessamento, a industrialização e o comércio de minérios nucleares e seus derivados, atendidos os seguintes princípios e condições: a) toda atividade nuclear em território nacional somente será admitida para fins pacíficos e mediante aprovação do Congresso Nacional; b) sob regime de permissão, são autorizadas a comercialização e a utilização de radioisótopos para a pesquisa e usos médicos, agrícolas e industriais; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006). c) sob regime de permissão, são autorizadas a produção, comercialização e a utilização de radioisótopos de meia-vida igual ou inferior a duas horas; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006). d) a responsabilidade civil por danos nucleares independe da existência de culpa; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 49, de 2006). XXIV – organizar, manter e executar a inspeção do trabalho; XXV – estabelecer as áreas e as condições para o exercício da atividade de garimpagem, em forma associativa.

No próximo artigo consta a Competência legislativa privativa da União, ou seja, matérias sobre as quais somente poderá haver lei federal.

Entretanto, haverá possibilidade de delegação dessa competência nos termos do parágrafo único do mesmo dispositivo.

A competência delegatória possui requisitos explícitos, pois exige lei complementar (requisito formal), "questões específicas" das matérias relacionadas (requisito material) e requisito implícito, subentendido por conta do estabelecido no inciso III do art. 19, da CF/88, uma vez que é vedada preferências entre os entes federativos.

70

Delegação que também será dada ao Distrito Federal, embora o texto não explicite (art. 32, §1º).

Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: I – direito civil, comercial, penal, processual, eleitoral, agrário, marítimo, aeronáutico, espacial e do trabalho; II – desapropriação; III – requisições civis e militares, em caso de iminente perigo e em tempo de guerra; IV – água, energia, informática, telecomunicações e radiodifusão; V – serviço postal; VI – sistema monetário e de medidas, títulos e garantias dos metais; VII – política de crédito, câmbio, seguros e transferência de valores; VIII – comércio exterior e Interestadual; IX – diretrizes da política nacional de transportes; X – regime dos portos, navegação lacustre, fluvial, marítima, aérea e aeroespacial; XI – trânsito e transporte; XII – jazidas, minas, outros recursos minerais e metalurgia; XIII – nacionalidade, cidadania e naturalização; XIV – populações indígenas; XV – emigração e imigração, entrada, extradição e expulsão de estrangeiros; XVI – organização do sistema nacional de emprego e condições para o exercício de profissões; XVII – organização judiciária, do Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios e da Defensoria Pública dos Territórios, bem como organização administrativa destes; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 69, de 2012). XVIII – sistema estatístico, sistema cartográfico e de geologia nacionais; XIX – sistemas de poupança, captação e garantia da poupança popular; XX – sistemas de consórcios e sorteios; XXI – normas gerais de organização, efetivos, material bélico, garantias, convocação e militares e corpos de bombeiros militares; XXII - competência da policia federal e das polícias rodoviária e ferroviária federais; XXIII – seguridade social; XXIV – diretrizes e bases da educação nacional; XXV – registros públicos; XXVI – atividades nucleares de qualquer natureza; XXVII – normas gerais de licitação e contratação, em todas as modalidades, para as administrações públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedades de economia mista nos termos do art. 173, §1º, III. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998). XXVIII – defesa territorial, defesa aeroespacial, defesa marítima, defesa civil e mobilização nacional; XXIX – propaganda comercial. Parágrafo único. Lei complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre questões especificas das matérias relacionadas neste artigo.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula vinculante nº 2: É inconstitucional a lei ou ato normativo estadual ou distrital que disponha sobre sistemas de consórcios e sorteios, inclusive bingos e loterias.

Súmula Vinculante nº 39 - Compete privativamente à União legislar sobre vencimentos dos membros das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar do Distrito Federal.

Súmula Vinculante nº 46 - São da competência legislativa da União a definição dos crimes de responsabilidade e o estabelecimento das respectivas normas de processo e julgamento.

EMENTA. Ação Direta. Lei nº 2.749, de 23 de junho de 1997, do Estado do Rio de Janeiro, e Decreto Regulamentar nº 23.591, de 13 de outubro de 1997. Revista íntima em funcionários de estabelecimentos industriais, comerciais e de serviços com sede ou filiais no Estado. Proibição. Matéria concernente a relações de trabalho. Usurpação de competência privativa da União. Ofensa aos arts. 21, XXIV, e 22, I, da

71

CF. Vício formal caracterizado. Ação julgada procedente. Inconstitucionalidade por arrastamento, ou consequência lógico-jurídica, do decreto regulamentar. É inconstitucional norma do Estado ou do Distrito Federal que disponha sobre proibição de revista íntima em empregados de estabelecimentos situados no respectivo território. (STF ADI 2.947, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 5-5-2010, Plenário, DJE de 10-9-2010).

EMENTA. Ação direta de inconstitucionalidade. Lei n. 6.457/1993, do Estado da Bahia. 2. Obrigatoriedade de instalação de cinto de segurança em veículos de transporte coletivo. Matéria relacionada a trânsito e transporte. Competência exclusiva da União (CF, art. 22, XI). 3. Inexistência de lei complementar para autorizar os Estados a legislar sobre questão específica, nos termos do art. 22, parágrafo único, da Constituição Federal. 4. Ação direta julgada procedente.(STF ADI 874, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgamento em 3-2-2011, Plenário, DJE de 28-2-2011).

EMENTA. Ação direta. Lei nº 2.769/2001, do Distrito Federal. Competência Legislativa. Direito do trabalho. Profissão de motoboy. Regulamentação. Inadmissibilidade. Regras sobre direito do trabalho, condições do exercício de profissão e trânsito. Competências exclusivas da União. Ofensa aos arts. 22, incs. I e XVI, e 23, inc. XII, da CF. Ação julgada procedente. Precedentes. É inconstitucional a lei distrital ou estadual que disponha sobre condições do exercício ou criação de profissão, sobretudo quando esta diga à segurança de trânsito. (STF ADI 3610/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 1º.8.2011).

EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. ARTIGO 2º, §§ 1º E 2º, DA LEI Nº 4.711/92 DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. ESTACIONAMENTO DE VEÍCULOS EM ÁREAS PARTICULARES. LEI ESTADUAL QUE LIMITA O VALOR DAS QUANTIAS COBRADAS PELO SEU USO. DIREITO CIVIL. INVASÃO DE COMPETÊNCIA PRIVATIVA DA UNIÃO. 1. Hipótese de inconstitucionalidade formal por invasão de competência privativa da União para legislar sobre direito civil (CF, artigo 22, I). 2. Enquanto a União regula o direito de propriedade e estabelece as regras substantivas de intervenção no domínio econômico, os outros níveis de governo apenas exercem o policiamento administrativo do uso da propriedade e da atividade econômica dos particulares, tendo em vista, sempre, as normas substantivas editadas pela União. Ação julgada procedente. (STF ADI 1.918 ES, Rel. Maurício Corrêa, Julgamento 23/08/2001, Tribunal Pleno, DJ 01/08/2003).

EMENTA: (...). Competência normativa. Telefonia. Assinatura básica mensal. Surge conflitante com a Carta da República lei local a dispor sobre a impossibilidade de cobrança de assinatura básica mensal pelas concessionárias de serviços de telecomunicações. (ADI 4.369, rel. min. Marco Aurélio, j. 15-10-2014, P, DJE de 3-11-2014.)

EMENTA: (...). A definição de regras de competência, na medida em que estabelece limites e organiza a prestação da atividade jurisdicional pelo Estado, é um dos componentes básicos do ramo processual da ciência jurídica, cuja competência legislativa foi atribuída, pela CF de 1988, privativamente à União (Art. 22, I, CF/88). (...) A fixação da competência dos juizados especiais cíveis e criminais é matéria eminentemente processual, de competência privativa da União, não se confundindo com matéria procedimental em matéria processual, essa, sim, de competência concorrente dos estados-membros. (STF ADI 1.807, rel. min. Dias Toffoli, j. 30-10-2014, P, DJE de 9-2-2015.)

EMENTA: (...). É formalmente inconstitucional a lei estadual que cria restrições à comercialização, à estocagem e ao trânsito de produtos agrícolas importados no Estado, ainda que tenha por objetivo a proteção da saúde dos consumidores diante do possível uso indevido de agrotóxicos por outros países. A matéria é predominantemente de comércio exterior e interestadual, sendo, portanto, de competência privativa da União (CF, art. 22, inciso VIII).(STF ADI 3.813, rel. min. Dias Toffoli, j. 12-2-2015, P, DJE de 20-4-2015.)

EMENTA: (...). A Lei distrital 919/1995 tratou de operação de crédito de instituição financeira pública, matéria de competência privativa da União, nos termos dos arts. 21, VIII, e 22, VII, da Constituição. A relevância das atividades desempenhadas pelas instituições financeiras, sejam públicas ou privadas, demanda a existência de um coordenação centralizada das políticas de crédito e de regulação das operações de financiamento, impedindo os Estados de legislarem livremente acerca das modalidades de crédito praticadas pelos seus bancos públicos. (STF ADI 1.357, rel. min. Roberto Barroso, j. 25-11-2015, P, DJE de 1º-2-2016.)

EMENTA: AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LIMINAR CONCEDIDA AD REFERENDUM DO PLENÁRIO. PROXIMIDADE DO RECESSO. IMPOSSIBILIDADE DE SUBMISSÃO AO COLEGIADO. PRESENTES A

72

VEROSSIMILHANÇA DO DIREITO (FUMUS BONI IURIS) PELA POSSÍVEL OFENSA À COMPETÊNCIA DA UNIÃO E O PERIGO DE DANO PELA DEMORA (PERICULUM IN MORA) PELO IMINENTE PREJUÍZO AO ERÁRIO PÚBLICO. LEI ESTADUAL NÃO PODE AFASTAR A EXIGÊNCIA DE REVALIDAÇÃO DE DIPLOMA OBTIDO EM INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR DOS PAÍSES MEMBROS DO MERCOSUL PARA A CONCESSÃO DE BENEFÍCIOS E PROGRESSÕES A SERVIDORES PÚBLICOS. REFERENDO DA DECISÃO PELO PLENÁRIO. (STF ADI 5.341 MC, rel. min. Edson Fachin, j. 10/03/2016, Dj 29/03/2016.)I

EMENTA: (...). A competência legislativa do Estado do Rio de Janeiro para fixar piso salarial decorre da LC federal 103, de 2000, mediante a qual a União, valendo-se do disposto no art. 22, inciso I e parágrafo único, da Carta Maior, delegou aos Estados e ao Distrito Federal a competência para instituir piso salarial para os empregados que não tenham esse mínimo definido em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho. Trata-se de lei estadual que consubstancia um exemplo típico de exercício, pelo legislador federado, da figura da competência privativa delegada. A expressão "que o fixe a maior" contida no caput do art. 1º da Lei estadual 5.627/2009 tornou os valores fixados na lei estadual aplicáveis, inclusive, aos trabalhadores com pisos salariais estabelecidos em lei federal, convenção ou acordo coletivo de trabalho inferiores a esse. A inclusão da expressão extrapola os limites da delegação legislativa advinda da LC 103/2000, violando, assim, o art. 22, inciso I e parágrafo único, da CF, por invadir a competência da União para legislar sobre direito do trabalho. (STF ADI 4.391, rel. min. Dias Toffoli, j. 2-3-2011, P, DJE de 20-6-2011.)

O artigo que se segue especifica a Competência administrativa comum dos Entes Federativos, conhecida por paralela ou cumulativa.

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: I – zelar pela guarda da Constituição, das leis e das instituições democráticas e conservar o patrimônio público; II – cuidar da saúde e assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência; III – proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV – impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; V – proporcionar os meios de acesso à cultura, à educação, à ciência, à tecnologia, à pesquisa e à inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 26.02.2015); VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas VII – preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII – fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; IX – promover programas de construção de moradias e a melhoria das condições habitacionais e de saneamento básico; X – combater as causas da pobreza e os fatores de marginalização, promovendo a integração social dos setores desfavorecidos; Xl – registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; XII – estabelecer e implantar política de educação para a segurança do trânsito. Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006).

Por fim, tem-se a Competência legislativa concorrente da União, Estados-membros e Distrito Federal (vertical, não cumulativa).

A competência da União sobre as matérias deste artigo se limita ao estabelecimento de normas gerais, possuindo os Estados-membros e do Distrito Federal competência legislativa suplementar, em face da verticalidade.

Verifica-se que os Municípios não têm competência legislativa concorrente, mas podem suplementar (vê o artigo 30, II).

Os Estados-membros e o Distrito Federal, diante da inércia federal para fazer a lei sobre as normas

73

gerais, poderão exercer a competência plena sobre normas gerias e sobre seu detalhamento, para uso próprio.

Caso, posteriormente, o Ente Federal legisle sobre as normas gerias, para resolver o conflito temporal de normas gerais, é possível, contudo, a aplicação concomitante das normas gerais nacionais, das normas gerais estaduais ou distritais e das normas específicas estaduais e distritais, já que a Constituição, claramente, fala em suspensão das normas gerais estaduais ou distritais no que forem contrárias às nacionais, já que não é possível, juridicamente, a uma lei nacional ou federal revogar leis estaduais ou distritais.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar concorrentemente sobre: I – direito tributário, financeiro, penitenciário, econômico e urbanístico; II – orçamento; III – juntas comerciais; IV – custas dos serviços forenses; V – produção e consumo; VI – florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa, do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII- proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII- responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; IX – educação, cultura, ensino, desporto, ciência, tecnologia, pesquisa, desenvolvimento e inovação; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 85, de 26.02.2015). X – criação, funcionamento e processo do juizado de pequenas causas; XI – procedimentos em matéria processual; XII- previdência social, proteção e defesa da saúde; XII – assistência jurídica e defensoria pública; XIV – proteção e integração social das pessoas portadoras de deficiência; XV – proteção à infância e à juventude; XVI – organização, garantias, direitos e deveres das polícias civis. §1º. No âmbito da legislação concorrente, a competência da União limitar-se-á a estabelecer normas gerais. §2º. Competência da União para legislar sobre normas gerais não exclui a competência suplementar dos Estados. §3º. Inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades. §4º.A superveniência de lei federal sobre normas gerais suspende a eficácia da lei estadual, no que lhe for contrário.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI N. 7.844/92, DO ESTADO DE SÃO PAULO. MEIA ENTRADA ASSEGURADA AOS ESTUDANTES REGULARMENTE MATRICULADOS EM ESTABELECIMENTOS DE ENSINO. INGRESSO EM CASAS DE DIVERSÃO, ESPORTE, CULTURA E LAZER. COMPETÊNCIA CONCORRENTE ENTRE A UNIÃO, ESTADOS-MEMBROS E O DISTRITO FEDERAL PARA LEGISLAR SOBRE DIREITO ECONÔMICO. CONSTITUCIONALIDADE. LIVRE INICIATIVA E ORDEM ECONÔMICA. MERCADO. INTERVENÇÃO DO ESTADO NA ECONOMIA. ARTIGOS 1º, 3º, 170, 205, 208, 215 e 217, §3º, DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.(...) 4. Se de um lado a Constituição assegura a livre iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto [artigos 23, inciso V, 205, 208, 215 e 217 § 3º, da Constituição]. Na composição entre esses princípios e regras há de ser preservado o interesse da coletividade, interesse público primário. 5. O direito ao acesso à cultura, ao esporte e ao lazer, são meios de complementar a formação dos estudantes. 6. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF ADI 1950, Rel. Min. Eros Grau, Plenário, DJ de 2-6-2006).

EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. LEI DISTRITAL N. 3.694, DE 8 DE NOVEMBRO DE 2005, QUE REGULAMENTA O § 1º DO ART. 235 DA LEI ORGÂNICA DO DISTRITO FEDERAL QUANTO À OFERTA DE ENSINO DA LÍNGUA ESPANHOLA AOS ALUNOS DA REDE PÚBLICA DO DISTRITO FEDERAL. AUSÊNCIA DE AFRONTA À CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA. 1. Competência concorrente entre a União, que define as normas gerais e os entes estaduais e Distrito Federal, que fixam as especificidades, os

74

modos e meios de cumprir o quanto estabelecido no art. 24, inc. IX, da Constituição da República, ou seja, para legislar sobre educação. 2. O art. 22, inc. XXIV, da Constituição da República enfatiza a competência privativa do legislador nacional para definir as diretrizes e bases da educação nacional, deixando as singularidades no âmbito de competência dos Estados e do Distrito Federal. 3. Ação direta de inconstitucionalidade julgada improcedente. (STF ADI 3.669, Rel. Min. Cármen Lúcia, julgamento em 18-6-2007, Plenário, DJ de 29-6-2007).

EMENTA. (...). Nas hipóteses de competência concorrente (CF, art. 24), nas quais se estabelece verdadeira situação de condomínio legislativo entre a União Federal e os Estados-membros (Raul Machado Horta, Estudos de Direito Constitucional, p. 366, item 2, 1995, Del Rey), daí resultando clara repartição vertical de competências normativas, a jurisprudência do STF firmou-se no sentido de entender incabível a ação direta de inconstitucionalidade, se, para o específico efeito de examinar-se a ocorrência, ou não, de invasão de competência da União Federal, por parte de qualquer Estado-membro, tornar-se necessário o confronto prévio entre diplomas normativos de caráter infraconstitucional: a legislação nacional de princípios ou de normas gerais, de um lado (CF, art. 24, § 1º), e as leis estaduais de aplicação e execução das diretrizes fixadas pela União Federal, de outro (CF, art. 24, § 2º). Precedentes. É que, tratando-se de controle normativo abstrato, a inconstitucionalidade há de transparecer de modo imediato, derivando, o seu reconhecimento, do confronto direto que se faça entre o ato estatal impugnado e o texto da própria CR. (...). (STF ADI 2.344-QO, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 23-11-2000, Plenário, DJ de 2-8-2002).

EMENTA Ação direta de inconstitucionalidade. Lei nº 3.874, de 24 de junho de 2002, do Estado do Rio de Janeiro, a qual disciplina a comercialização de produtos por meio de vasilhames, recipientes ou embalagens reutilizáveis. Inconstitucionalidade formal. Inexistência. Competência concorrente dos estados-membros e do Distrito Federal para legislar sobre normas de defesa do consumidor. Improcedência do pedido. 1. A Corte teve oportunidade, na ADI nº 2.359/ES, de apreciar a constitucionalidade da Lei nº 5.652/98 do Estado do Espírito Santo, cuja redação é absolutamente idêntica à da lei ora questionada. Naquela ocasião, o Plenário julgou improcedente a ação direta de inconstitucionalidade, por entender que o ato normativo se insere no âmbito de proteção do consumidor, de competência legislativa concorrente da União e dos estados (art. 24, V e VIII, CF/88). 2. As normas em questão não disciplinam matéria atinente ao direito de marcas e patentes ou à propriedade intelectual – matéria disciplinada pela Lei federal nº 9.279 -,limitando-se a normatizar acerca da proteção dos consumidores no tocante ao uso de recipientes, vasilhames ou embalagens reutilizáveis, sem adentrar na normatização acerca da questão da propriedade de marcas e patentes. 3. Ao tempo em que dispõe sobre a competência legislativa concorrente da União e dos estados-membros, prevê o art. 24 da Carta de 1988, em seus parágrafos, duas situações em que compete ao estado-membro legislar: (a) quando a União não o faz e, assim, o ente federado, ao regulamentar uma das matérias do art. 24, não encontra limites na norma federal geral – que é o caso ora em análise; e (b) quando a União edita norma geral sobre o tema, a ser observada em todo território nacional, cabendo ao estado a respectiva suplementação, a fim de adequar as prescrições às suas particularidades locais. 4. Não havendo norma geral da União regulando a matéria, os estados-membros estão autorizados a legislar supletivamente no caso, como o fizeram os Estados do Espírito Santo e do Rio de Janeiro, até que sobrevenha disposição geral por parte da União. 5. Ação direta julgada improcedente. (STF ADI 2818, Relator(a): Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em 09/05/2013, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-148 DIVULG 31-07-2013 PUBLIC 01-08-2013).

EMENTA: (...) O Município é competente para legislar sobre meio ambiente com União e Estado, no limite de seu interesse local e desde que tal regramento seja e harmônico com a disciplina estabelecida pelos demais entes federados (art. 24, VI c/c 30, I e II da CRFB). (STF RE 586.224, rel. min. Luiz Fux, j. 5-3-2015, P, DJE de 8-5-2015, com repercussão geral.)

EMENTA: (...) A legislação que disciplina o inquérito policial não se inclui no âmbito estrito do processo penal, cuja competência é privativa da União (art. 22, I, CF), pois o inquérito é procedimento subsumido nos limites da competência legislativa concorrente, a teor do art. 24, XI, da CF de 1988, tal como já decidido reiteradamente pelo STF. O procedimento do inquérito policial, conforme previsto pelo CPP, torna desnecessária a intermediação judicial quando ausente a necessidade de adoção de medidas constritivas de direitos dos investigados, razão por que projetos de reforma do CPP propõem a remessa direta dos autos ao Ministério Público. No entanto, apesar de o disposto no inciso IV do art. 35 da LC 106/2003 se coadunar com a exigência de maior coerência no ordenamento jurídico, a sua

75

inconstitucionalidade formal não está afastada, pois insuscetível de superação com base em avaliações pertinentes à preferência do julgador sobre a correção da opção feita pelo legislador dentro do espaço que lhe é dado para livre conformação. Assim, o art. 35, IV, da Lei Complementar estadual 106/2003 é inconstitucional ante a existência de vício formal, pois extrapolada a competência suplementar delineada no art. 24, § 1º, da CF de 1988. (STF ADI 2.886, rel. p/ o ac. min. Joaquim Barbosa, j. 3-4-2014, P, DJE de 5-8-2014.)

COMPETÊNCIA DOS ESTADOS FEDERADOS

Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição.

Há, aqui, a previsão de exercício, pelos Estados, do poder constituinte decorrente, pelo qual eles elaborarão a sua própria Constituição, dentro dos limites fixados pela Constituição Federal (art. 11 do ADCT). Os Estados federados devem respeitar os princípios sensíveis (art. 36, VII), os princípios extensíveis e os estabelecidos de forma explícita ou implícita em todo texto constitucional.

A autonomia estatal caracteriza-se pela capacidade de auto organização e normatização própria, autogoverno e autoadministração. Os Estados-membros se auto organizam por meio do exercício de seu poder constituinte derivado decorrente (art. 25, caput). O autogoverno evidencia-se pelo fato do próprio povo do Estado escolher diretamente seu representante nos poderes locais (Arts. 27, 28 e 125). E se auto administram no exercício de suas competências administrativas, legislativas e tributárias definidas constitucionalmente (art. 25, §1º ao §3º).

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) Noutras palavras, não é lícito, senão contrário à concepção federativa, jungir os Estados-membros, sob o título vinculante da regra da simetria, a normas ou princípios da Constituição da República cuja inaplicabilidade ou inobservância local não implique contradições teóricas incompatíveis com a coerência sistemática do ordenamento jurídico, com severos inconvenientes políticos ou graves dificuldades práticas de qualquer ordem, nem com outra causa capaz de perturbar o equilíbrio dos poderes ou a unidade nacional. A invocação da regra da simetria não pode, em síntese, ser produto de uma decisão arbitrária ou imotivada do intérprete. (...). (ADI 4.298-MC, voto do Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em 7-10-2009, Plenário, DJE de 27-11-2009).

EMENTA. (...). A Constituição do Brasil, ao conferir aos Estados-membros a capacidade de auto-organização e de autogoverno – art. 25, caput –, impõe a obrigatória observância de vários princípios, entre os quais o pertinente ao processo legislativo. O legislador estadual não pode usurpar a iniciativa legislativa do chefe do Executivo, dispondo sobre as matérias reservadas a essa iniciativa privativa. Precedentes. (...). (ADI 1.594, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 4-6-2008, Plenário, DJE de 22-8-2008).

EMENTA (...). Norma que subordina convênios, acordos, contratos e atos de Secretários de Estado à aprovação da Assembleia Legislativa: inconstitucionalidade, porque ofensiva ao princípio da independência e harmonia dos Poderes. (...). (ADI 676, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 1º-7-1996, Plenário, DJ de 29-11-1996).

§1º. São reservadas aos Estados as competências que não lhes seja vedadas por está Constituição.

Técnica da competência residual, ou remanescente, para os Estados. Teoria dos poderes remanescentes.

Dispositivos correspondentes: arts. 22, §único, 23 e 24, todos da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE. § 2º DO ARTIGO 229 DA CONSTITUIÇÃO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. TRANSPORTE COLETIVO INTERMUNICIPAL. TRANSPORTE COLETIVO URBANO. ARTIGO 30, V DA CONSTITUIÇÃO DO BRASIL. TRANSPORTE GRATUITO. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA. POLICIAIS CIVIS. DIREITO ADQUIRIDO. INEXISTÊNCIA. 1. Os Estados-membros são competentes para explorar e regulamentar a prestação de serviços de transporte intermunicipal. 2. Servidores públicos não têm direito adquirido a regime jurídico. Precedentes. 3. A prestação de transporte urbano, consubstanciando serviço público de interesse local, é matéria albergada pela

76

competência legislativa dos Municípios, não cabendo aos Estados-membros dispor a seu respeito. 4. Pedido de declaração de inconstitucionalidade julgado parcialmente procedente. (STF ADI 2349 ES, Rel. Min. Eros Grau, Julgamento 31/08/2005, Tribunal Pleno, DJ 14/10/2005).

EMENTA. (...). Revestem-se de constitucionalidade as Leis 5.717/98 e 6.931/2001, do Estado do Espírito Santo, que autorizam a utilização, pela polícia militar ou pela polícia civil estadual, de veículos apreendidos e não identificados quanto à procedência e à propriedade, exclusivamente no trabalho de repressão penal. Avaliou-se não se tratar de matéria correlata a trânsito, mas concernente à administração. Recordou-se que norma do Código de Trânsito Brasileiro permitiria que veículos fossem levados a hasta pública, embora constituísse permissão que nem sempre ocorreria. Destacou-se que as normas disporiam sobre a regulação no plano estritamente administrativo, na esfera de autonomia do estado-membro. (...) (STF ADI 3327, Rel. Min. Dias Toffoli, Julgamento 08.08.2013, Tribunal Pleno).

§2º. Cabe aos Estados explorar diretamente, ou mediante concessão, os serviços locais de gás canalizado, na forma da lei, vedada a edição de medida provisória para a sua regulamentação.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 5, de 1995).

Aqui se encontra a competência exclusiva expressa dos Estados federados, além de outras como as previstas no art. 18, §4º, 25, §3º e 125). A nova redação imposta a este parágrafo extinguiu o monopólio estatal sobre os serviços de distribuição de gás canalizado, que agora podem ser realizados, também, por empresa privada.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. Ação direta de inconstitucionalidade. Art. 51 e parágrafos da Constituição do Estado de Santa Catarina. Adoção de medida provisória por Estado-membro. Possibilidade. Arts. 62 e 84, XXVI, da CF. EC 32, de 11-9-2001, que alterou substancialmente a redação do art. 62. Revogação parcial do preceito impugnado por incompatibilidade com o novo texto constitucional. Subsistência do núcleo essencial do comando examinado, presente em seu caput. Aplicabilidade, nos Estados-membros, do processo legislativo previsto na CF. Inexistência de vedação expressa quanto às medidas provisórias. Necessidade de previsão no texto da Carta estadual e da estrita observância dos princípios e limitações impostas pelo modelo federal. (...). Ação direta cujo pedido formulado se julga improcedente. (ADI 2.391, Rel. Min. Ellen Gracie, julgamento em 16-8-2006, Plenário, DJ de 16-3-2007).

§3º. Os Estados poderão, mediante lei complementar, instituir regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, para integrar a organização, o planejamento e a execução de funções públicas de interesse comum.

Segundo José Afonso da Silva, “região metropolitana é um conjunto de municípios cujas sedes se unem com certa continuidade urbana em torno de um município-polo. Microrregiões formam-se de grupos de municípios limítrofes com certa homogeneidade e problemas administrativos comuns, cujas sedes não sejam unidas por continuidade urbana. Aglomerados urbanos carecem de conceituação, mas, de logo, se percebe que se trata de áreas urbanas, sem um polo de atração urbana, quer tais áreas sejam das cidades sedes dos municípios, como na baixada santista (em São Paulo) ou não”.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). Regiões metropolitanas, aglomerações urbanas, microrregiões. CF, art. 25, § 3º. Constituição do Estado do Rio de Janeiro, art. 357, parágrafo único. A instituição de regiões metropolitanas, aglomerações urbanas e microrregiões, constituídas por agrupamentos de Municípios limítrofes, depende, apenas, de lei complementar estadual. (....). (ADI 1.841, Rel. Min. Carlos Velloso, julgamento em 1º-8-2002, Plenário, DJ de 20-9-2002).

COMPETÊNCIA DOS MUNICÍPIOS

Art. 30. Compete aos Municípios: I – legislar sobre assuntos de interesse local; II – suplementar a legislação federal e a estadual no que couber; III – instituir e arrecadar os tributos de sua competência, bem como aplicar suas rendas, sem prejuízo da obrigatoriedade de prestar contas e publicar balancetes nos prazos fixados em lei;

77

IV – criar, organizar e suprimir Distritos, observada a legislação estadual; V – organizar e prestar, diretamente ou sob regime de concessão ou permissão, os serviços públicos de interesse local, incluído o de transporte coletivo, que tem caráter essencial; VI - manter, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, programas de educação infantil e de ensino fundamental;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006) VII – prestar, com a cooperação técnica e financeira da União e do Estado, serviços de atendimento à saúde da população; VIII – promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano; IX – promover a proteção do patrimônio histórico cultural local, observada a legislação e a ação fiscalizadora federal e estadual.

Nos incisos I e II estão as competências legislativas dos Municípios e nos demais incisos, as competências administrativas.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula Vinculante 38 do STF - É Competente o Município para fixar o horário de funcionamento de estabelecimento comercial.

Súmula 19 do STJ - A fixação do horário bancário, para atendimento ao público, é da competência da União.

Súmula Vinculante nº 49 - Ofende o princípio da livre concorrência lei municipal que impede a instalação de estabelecimentos comerciais do mesmo ramo em determinada área.

EMENTA. (...). Atendimento ao público e tempo máximo de espera na fila. Matéria que não se confunde com a atinente às atividades fim das instituições bancárias. Matéria de interesse local e de proteção ao consumidor. Competência legislativa do Município. (...). (RE 432.789, Rel. Min. Eros Grau, julgamento em 14-6-2005, Primeira Turma DJ de 7-10-2005).

EMENTA: CONSTITUCIONAL. MUNICÍPIO. SERVIÇO FUNERÁRIO. C.F., art. 30, V. I. - Os serviços funerários constituem serviços municipais, dado que dizem respeito com necessidades imediatas do Município. C.F., art. 30, V. II - Ação direta de inconstitucionalidade julgada procedente. (ADI 1221, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno, julgado em 09/10/2003, DJ 31-10-2003).

EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. SERVIÇOS BANCÁRIOS. MUNICÍPIOS. COMPETÊNCIA LEGISLATIVA. Nos termos da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, os Municípios possuem competência para legislar sobre assuntos de interesse local, tais como medidas que propiciem segurança, conforto e rapidez aos usuários de serviços bancários. Precedentes. Agravo regimental a que se nega provimento. (STF AI 768666 AgR/SP, Rel. Min. ROBERTO BARROSO Julgamento: 26/11/2013 Órgão Julgador: Primeira Turma, DJ 03.02.2014).

EMENTA: (...). Competência do município para legislar em matéria de segurança em estabelecimentos financeiros. Terminais de autoatendimento.(STF ARE 784.981 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 17-3-2015, 1ª T, DJE de 7-4-2015.)

COMPETÊNCIA DO DISTRITO FEDERAL

Art. 32. O Distrito Federal, vedada sua divisão em Municípios, reger-se-ão por lei orgânica, votada em dois turnos com interstício mínimo de dez dias, a aprovada por dois terços da Câmara Legislativa, que a promulgará, atendidos os princípios estabelecidos nesta Constituição.

Entidade Federativa autônoma em virtude da presença de sua capacidade de auto legislação, auto organização, autogoverno e autoadministração (arts. 1º, 18, 32 e 34 da CF), ressaltando as restrições previstas nos arts. 21, XIII e XIV e 22, XVII, inclusive no que tange ao Poder Judiciário e Ministério Público, afetando parcialmente sua autonomia.

O Distrito Federal não pode ser dividido em municípios, o que implica dizer que as eventuais subdivisões existentes serão meramente administrativas.

78

§1º. Ao Distrito Federal são atribuídas as competências legislativas reservadas aos Estados e Municípios.

O Distrito Federal acumula as competências dos Estados e Municípios, mas nem todas as competências estaduais são exercitáveis pelo Distrito Federal, já que há restrições quanto à organização Judiciária, do Ministério Público, da Policia Militar, do Corpo de Bombeiros Militar e da Policia Civil (arts. 21, XIII e XIV, 22, XVII e 48, IX).

§2º. A eleição do Governador e do Vice-Governador, observadas as regras do art. 77, e dos Deputados Distritais coincidirá com a dos Governadores e Deputados Estaduais, para mandato de igual duração. §3º. Aos Deputados Distritais e à Câmara Legislativa aplica-se o disposto no art. 27. §4º. Lei federal disporá sobre a utilização, pelo Governo do Distrito Federal, das polícias civil e militar e do corpo de bombeiros militar.

Nas provas objetivas, a organizadora confunde as competências, especialmente as administrativas exclusivas com as comuns e as legislativas privativas com as concorrentes.

Percebe-se que, em regra, as competências administrativas exclusivas são bem específicas e o âmbito de atuação é nacional. Já as comuns são de cunho social (altruísta).

No que tange as competências legislativas, deve-se distinguir os direitos. Na competência legislativa concorrente (art. 24, I), os direitos são: Tributário, Urbanístico, Penitenciário, Econômico e Financeiro (TUdo Posso E Faço!). Os direitos que são privativos da União para legislar estão no artigo 22, I (os demais).

5. Administração Pública: disposições gerais; servidores públicos.

Esse item diz respeito à matéria de Direito Administrativo, portanto consta no material do(a) professor(a) competente.

6. Poder Judiciário: disposições gerais; Supremo Tribunal Federal;

Conselho Nacional de Justiça; Tribunais Regionais Federais e Juízes

Federais; Tribunais e Juízes do Trabalho; Tribunais e Juízes

Eleitorais; Tribunais e Juízes Militares; Tribunais e Juízes dos

Estados.

ORGANIZAÇÃO DO PODER JUDICIÁRIO E CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

Art. 92. São órgãos do Poder Judiciário: I – o Supremo Tribunal Federal; I-A – o Conselho Nacional de Justiça; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). II – o Superior Tribunal de Justiça; II-A O Tribunal Superior do Trabalho; (incluído pela Emenda Constitucional n

o 92, de 2016)

III – os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais; IV – os Tribunais e Juízes do Trabalho; V – os Tribunais e Juízes Eleitorais; VI – os Tribunais e Juízes Militares; VII – os Tribunais e Juízes dos Estados e do Distrito Federal e Territórios. § 1º O Supremo Tribunal Federal, o Conselho Nacional de Justiça e os Tribunais Superiores têm sede na Capital Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 2º O Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores têm jurisdição em todo o território nacional. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

79

São Órgãos do Poder Judiciário: O Supremo Tribunal Federal (art. 101), o Conselho Nacional de Justiça (art. 103-B), o Superior Tribunal de Justiça (art. 104), o Tribunal Superior do Trabalho (art. 111-A), os Tribunais Regionais Federais e Juízes Federais, justiça comum federal (art. 106), os Tribunais e Juízes do Trabalho, justiça especializada (art. 111), os Tribunais e Juízes Eleitorais (art. 118), os Tribunais e Juízes Militares (art. 122) e os Tribunais e Juízes dos Estados (art. 125).

O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça são Órgãos de Superposição. O primeiro é o Órgão máximo do Poder Judiciário e o segundo é o maior Órgão da Justiça Comum, não especializada, que juntamente com os Tribunais Superiores (TST, TSE, STM), formam os Órgãos de convergência, ou seja, apreciam as causas oriundas de todo o território nacional, nos termos do parágrafo 2º, do presente artigo.

Os juízes monocráticos ou de 1º grau e os Tribunais Inferiores ou Tribunais de 2º grau (TRF's, TJ's, TRT's, TRE's), formam a justiça de 1ª e 2ª instâncias, respectivamente.

Sobre o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é imprescindível estudar o artigo 103-B, da CF/88, que dispõe:

Art. 103-B. O Conselho Nacional de Justiça compõe-se de 15 (quinze) membros com mandato de 2 (dois) anos, admitida 1 (uma) recondução, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (Alterado pela Emenda Constitucional nº 61, de 11/11/2009). I - o Presidente do Supremo Tribunal Federal;(Alterado pela Emenda Constitucional nº 61, de 11/11/2009). II – um Ministro do Superior Tribunal de Justiça, indicado pelo respectivo tribunal; III – um Ministro do Tribunal Superior do Trabalho, indicado pelo respectivo tribunal; IV – um desembargador de Tribunal de Justiça, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; V – um juiz estadual, indicado pelo Supremo Tribunal Federal; VI – um juiz de Tribunal Regional Federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; VII – um juiz federal, indicado pelo Superior Tribunal de Justiça; VIII – um juiz de Tribunal Regional do Trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; IX – um juiz do trabalho, indicado pelo Tribunal Superior do Trabalho; X – um membro do Ministério Público da União, indicado pelo Procurador-Geral da República; XI – um membro do Ministério Público estadual, escolhido pelo Procurador-Geral da República dentre os nomes indicados pelo órgãos competente de cada instituição estadual; XII – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; XIII – dois cidadãos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal. §1º O Conselho será presidido pelo Presidente do Supremo Tribunal Federal e, nas suas ausências e impedimentos, pelo Vice-Presidente do Supremo Tribunal Federal. (Alterado pela Emenda Constitucional nº 61, de 11/11/2009). § 2º Os demais membros do Conselho serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. (Alterado pela Emenda Constitucional nº 61, de 11/11/2009). § 3º. Não efetuadas, no prazo legal, as indicações previstas neste artigo, caberá a escolha ao Supremo Tribunal Federal. § 4º. Compete ao Conselho o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes, cabendo-lhe, além de outras atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura; I – zelar pela autonomia do Poder Judiciário e pelo cumprimento do Estatuto da Magistratura, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência, ou recomendar providências; II – zelar pela observância do Art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Poder Judiciário, podendo desconstituídos, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência do Tribunal de Contas da União; III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, inclusive contra seus serviços auxiliares, serventias e órgãos prestadores de serviços notariais e de registro que atuem por delegação do poder público ou oficializados, sem prejuízo da competência disciplinar e correcional dos tribunais, podendo avocar processos disciplinares em curso e determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; IV – representar ao Ministério Público, no caso de crime contra a administração pública ou de abuso de autoridade; V – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de juízes e membros de tribunais julgados há menos de um ano; VI – elaborar semestralmente relatório estatístico sobre processos e sentenças prolatadas, por unidade da Federação, nos diferentes órgãos do Poder Judiciário; VII – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias, sobre a situação do Poder Judiciário no País e as atividades do Conselho, o qual de integrar mensagem do Presidente do Supremo Tribunal Federal a ser remetida ao Congresso Nacional, por ocasião da abertura da sessão legislativa. § 5º. O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor e ficará excluído da distribuição de processos no Tribunal, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pelo Estatuto da Magistratura, as seguintes: I – receber as reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos magistrados e aos serviços judiciários; II – exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e de correição geral;

80

III – requisitar e designar magistrados, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de juízos ou tribunais, inclusive nos Estados, Distrito Federal e Territórios. § 6º – Junto ao Conselho oficiarão o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil. § 7º A União, inclusive no Distrito Federal e nos Territórios, criará ouvidorias de justiça, competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Poder Judiciário, ou contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional de Justiça.

A Emenda Constitucional nº. 45 estabeleceu como órgão do Poder Judiciário, o Conselho Nacional de Justiça, com sede na Capital Federal, porém sem funções jurisdicionais, composto por quinze membros, cuja maioria (nove) é composta por membros do próprio Poder Judiciário, e pode ser dividido da seguinte forma: membros do Judiciário, membros das funções essenciais à Justiça (Advocacia e Ministério Público) e membros da sociedade escolhidos pelo Legislativo.

O Presidente do Conselho será o Presidente do Supremo Tribunal Federal e os demais membros do Conselho deverão ser nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal. O Mandato é de dois anos, permitido somente uma recondução sucessiva.

O Ministro do Superior Tribunal de Justiça exercerá a função de Ministro-Corregedor.

O texto constitucional prevê que o Procurador-Geral da República e o Presidente do Conselho da Ordem dos Advogados do Brasil oficiarão junto ao CNJ, consequentemente não poderão compor o Conselho como membros das funções essenciais à Justiça.

A atuação constitucional do Conselho Nacional de Justiça direciona-se para duas importantes missões: o controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário e o controle do cumprimento dos deveres funcionais dos juízes. Na função correcional e disciplinar dos membros, órgãos e serviços do Poder Judiciário, o Conselho atua como órgão administrativo hierarquicamente superior, podendo analisar tanto a legalidade quanto o mérito de eventuais faltas funcionais.

Diversamente, porém, na função de controle da atuação administrativa e financeira do Poder Judiciário, inclusive com a possibilidade de desconstituição ou revisão dos atos administrativos praticados pelos membros ou órgãos judiciários, o CNJ somente poderá analisar a legalidade do ato, e não o mérito.

O poder de determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço será objeto de deliberação nos termos do artigo 93, VIII, ex vi:

Art. 93. (...).

VIII – o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

As ações contra o CNJ serão processadas e julgadas perante o STF (art. 102, I, "r"):

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe:

I - processar e julgar, originariamente:

(...);

r) as ações contra o Conselho Nacional de Justiça e contra o Conselho Nacional do Ministério Público;(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A Constituição Federal não previu prerrogativa de foro, nos crimes comuns, para os conselheiros do Conselho Nacional de Justiça, entretanto, nos crimes de responsabilidade, serão julgados perante o Senado Federal, nos seguintes termos:

Art. 52. Compete privativamente ao Senado Federal:

(...);

II - processar e julgar os Ministros do Supremo Tribunal Federal, os membros do Conselho Nacional de Justiça e do Conselho Nacional do Ministério Público, o Procurador-Geral da República e o Advogado-Geral da União nos crimes de responsabilidade; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Jurisprudência relacionada ao tema:

81

EMENTA. (...). Poder Judiciário. Conselho Nacional de Justiça. Instituição e disciplina. Natureza meramente administrativa. Órgão interno de controle administrativo, financeiro e disciplinar da magistratura. Constitucionalidade reconhecida. Separação e independência dos Poderes. História, significado e alcance concreto do princípio. Ofensa a cláusula constitucional imutável (cláusula pétrea). Inexistência. Subsistência do núcleo político do princípio, mediante preservação da função jurisdicional, típica do Judiciário, e das condições materiais do seu exercício imparcial e independente. Precedentes e súmula 649. Inaplicabilidade ao caso. Interpretação dos arts. 2º e 60, § 4º, III, da CF. (...) 4. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. Órgão de natureza exclusivamente administrativa. Atribuições de controle da atividade administrativa, financeira e disciplinar da magistratura. Competência relativa apenas aos órgãos e juízes situados, hierarquicamente, abaixo do Supremo Tribunal Federal. (...) O Conselho Nacional de Justiça não tem nenhuma competência sobre o Supremo Tribunal Federal e seus ministros, sendo esse o órgão máximo do Poder Judiciário nacional, a que aquele está sujeito. (...) 6. PODER JUDICIÁRIO. Conselho Nacional de Justiça. Membro. Advogados e cidadãos. Exercício do mandato. Atividades incompatíveis com tal exercício. Proibição não constante das normas da Emenda Constitucional nº 45/2004. Pendência de projeto tendente a torná-la expressa, mediante acréscimo de § 8º ao art. 103-B da CF. Irrelevância. Ofensa ao princípio da isonomia. Não ocorrência. Impedimentos já previstos à conjugação dos arts. 95, § único, e 127, § 5º, II, da CF. Ação direta de inconstitucionalidade. Pedido aditado. Improcedência. Nenhum dos advogados ou cidadãos membros do Conselho Nacional de Justiça pode, durante o exercício do mandato, exercer atividades incompatíveis com essa condição, tais como exercer outro cargo ou função, salvo uma de magistério, dedicar-se a atividade político-partidária e exercer a advocacia no território nacional. (STF ADI 3.367, rel. Min. Cezar Peluso, 17/03/2006).

EMENTA. (...) As decisões dos magistrados no âmbito do processo não são passíveis de revisão pelo CNJ, cuja competência, como bem ressaltaram os requerentes, cinge-se à esfera administrativa, envolvendo também a fiscalização da atuação funcional do Juiz. Neste sentido foi a fundamentação da decisão do Juiz Auxiliar da Presidência, atuando com fundamento na Portaria 23, emitida pela Ministra Presidente do CNJ: 'Com efeito, a competência fixada para este Conselho é restrita ao âmbito administrativo do Poder Judiciário, pelo que não pode intervir em conteúdo de decisão judicial, seja para corrigir eventual vício de ilegalidade ou nulidade, seja para inibir o exercício regular dos órgãos investidos de jurisdição. Para reverter eventuais provimentos que considera incorretos, ilegais ou desfavoráveis aos seus interesses, deve a parte valer-se dos meios processuais adequados. (...). (STF MS 27.148 MC/DF, rel. Min. Celso de Mello, 26/05/2008).

EMENTA. (...) Reforçou que a EC 45/2004 nunca aventara a hipótese da subalternidade da ação disciplinar do CNJ em relação às corregedorias. A Min. Rosa Weber acrescentou que o CNJ deteria competência para expedir normas de caráter genérico e abstrato sobre as matérias do art. 103-B, I, II e § 4º, da CF, de sorte a não se falar em usurpação da competência dos tribunais ou do legislador complementar. Entreviu que, enquanto não vigente o novo Estatuto da Magistratura, caberia ao CNJ disciplinar, mediante resoluções, as matérias de sua competência. Assim, o referido órgão poderia regulamentar matérias até então sediadas na Loman e nos regimentos internos dos tribunais nos processos disciplinares que tramitassem no âmbito dessas Cortes, diante do redesenho institucional promovido pela EC 45/2004. (...) Considerou que a uniformização das regras pertinentes aos procedimentos administrativos disciplinares aplicáveis aos magistrados apresentar-se-ia como condição necessária à plena efetividade da missão institucional do CNJ. Consignou, nesse sentido, o caráter uno do Judiciário, a legitimar a existência de um regramento minimamente uniforme na matéria. Deduziu não haver ameaça ao Pacto Federativo, à luz do art. 125 da CF. Concluiu, com base no art. 103-B, § 4º, I, II, III e V, da CF, que a competência do CNJ na matéria seria originária e concorrente, e não meramente subsidiária. (...) Vencidos o relator e os Ministros Luiz Fux, Ricardo Lewandowski, Celso de Mello e Presidente, que referendavam a liminar, para exigir que o CNJ, ao evocar sua competência correcional, fizesse-o mediante motivação. (...). (STF ADI 4638 Referendo-MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 1 e 2.2.2012).

EMENTA. (...). No mérito, aduziu-se competir ao CNJ o controle do cumprimento dos deveres funcionais dos magistrados brasileiros, cabendo-lhe receber e conhecer de reclamações contra membros do Poder Judiciário (CF, art. 103-B, § 4 º, III e V). Consignou-se que, tendo em conta o princípio da hermenêutica constitucional dos “poderes implícitos”, se a esse órgão administrativo fora concedida a faculdade de avocar processos disciplinares em curso, de igual modo, poderia obstar o processamento de sindicância

82

em tramitação no tribunal de origem, mero procedimento preparatório. Ademais, realçou-se que, no caso, o CNJ concluíra pela existência de elementos suficientes para a instauração de processo administrativo disciplinar, com dispensa da sindicância. Rechaçou-se, ainda, a alegação de invalidade da primeira interceptação telefônica. Registrou-se que, na situação em apreço, a autoridade judiciária competente teria autorizado o aludido monitoramento dos telefones de outros envolvidos em supostas irregularidades em execuções de convênios firmados entre determinada prefeitura e órgãos do governo federal. Ocorre que a impetrante teria mantido contatos, principalmente, com o secretário municipal de governo, cujo número também seria objeto da interceptação. Assim, quando das degravações das conversas, teriam sido verificadas condutas da impetrante consideradas, em princípio, eticamente duvidosas — recebimento de vantagens provenientes da prefeitura —, o que ensejara a instauração do processo administrativo disciplinar. Acresceu-se que a descoberta fortuita ou casual do possível envolvimento da impetrante não teria o condão de qualificar essa prova como ilícita. Dessa forma, reputou-se não ser razoável que o CNJ deixasse de apurar esses fatos apenas porque o objeto da citada investigação criminal seria diferente das supostas irregularidades imputadas à impetrante. Discorreu-se, ademais, não poder o Judiciário, do qual o CNJ seria órgão, omitir-se no tocante à averiguação de eventuais fatos graves que dissessem respeito à conduta de seus magistrados, ainda que colhidos via interceptação de comunicações telefônicas judicialmente autorizada em inquérito instaurado com o fito de investigar outras pessoas e fatos diversos. (...). (STF MS 28003/DF, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Luiz Fux, 8.2.2012).

REGRAS DA MAGISTRATURA

Art. 93. Lei complementar, de iniciativa do Supremo Tribunal Federal, disporá sobre o Estatuto da Magistratura, observados os seguintes princípios:

A lei complementar em referência é o Estatuto da Magistratura (LC nº 35/1979 - LOMAN), de iniciativa exclusiva do Supremo Tribunal Federal, que deverá obedecer os princípios aqui estabelecidos.

As categorias da carreira da Magistratura são organizadas em entrâncias, cujo escalonamento é matéria das leis da organização judiciária dos Estados ou da Justiça Federal. Na carreira estão os cargos de juiz substituto, que é categoria inicial. O ingresso na carreira se dá por provimento do cargo de juiz substituto e a progressão ocorre de entrância para entrância, por promoção, e para o tribunal correspondente, por acesso.

INGRESSO NA CARREIRA

I – Ingresso na carreira, cujo cargo inicial será o de juiz substituto, mediante concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as fases, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e obedecendo-se, nas nomeações, à ordem de classificação;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Como atividade jurídica tem-se as indicadas na Resolução 75 do Conselho Nacional de Justiça, que deverá ser provada no momento da inscrição definitiva do concurso da Magistratura.

Resolução 75 do CNJ de 12.05.2009:

Art. 58. Requerer-se-á a inscrição definitiva ao presidente da Comissão de Concurso, mediante preenchimento de formulário próprio, entregue na secretaria do concurso. § 1º O pedido de inscrição, assinado pelo candidato, será instruído com: i) formulário fornecido pela Comissão de Concurso, em que o candidato especificará as atividades jurídicas desempenhadas, com exata indicação dos períodos e locais de sua prestação bem como as principais autoridades com quem haja atuado em cada um dos períodos de prática profissional, discriminados em ordem cronológica.

Art. 59. Considera-se atividade jurídica, para os efeitos do art. 58, § 1º, alínea "i": I - aquela exercida com exclusividade por bacharel em Direito; II - o efetivo exercício de advocacia, inclusive voluntária, mediante a participação anual mínima em 5 (cinco) atos privativos de advogado (Lei nº 8.906, 4 de julho de 1994, art. 1º) em causas ou questões distintas; III - o exercício de cargos, empregos ou funções, inclusive de magistério superior, que exija a utilização preponderante de conhecimento jurídico; IV - o exercício da função de conciliador junto a tribunais judiciais, juizados especiais, varas especiais, anexos de juizados especiais ou de varas judiciais, no mínimo por 16 (dezesseis) horas mensais e durante 1 (um) ano; V - o exercício da atividade de mediação ou de arbitragem na composição de litígios.

83

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA (...). A norma impugnada veio atender ao objetivo da Emenda Constitucional 45/2004 de recrutar, com mais rígidos critérios de seletividade técnico-profissional, os pretendentes às carreira ministerial pública. Os três anos de atividade jurídica contam-se da data da conclusão do curso de Direito e o fraseado "atividade jurídica" é significante de atividade para cujo desempenho se faz imprescindível a conclusão de curso de bacharelado em Direito. O momento da comprovação desses requisitos deve ocorrer na data da inscrição no concurso, de molde a promover maior segurança jurídica tanto da sociedade quanto dos candidatos. (...). (STF ADI 3.460/DF, rel. Min. Carlos Britto, 15/06/2007).

PROMOÇÃO DE ENTRÂNCIAS E ACESSO AO 2º GRAU.

II – promoção de entrância para entrância, alternadamente, por antiguidade e merecimento, atendidas as seguintes normas: a) é obrigatória a promoção do juiz que figure por três vezes consecutivas ou cinco alternadas em lista de merecimento; b) a promoção por merecimento pressupõe dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade desta, salvo se não houver com tais requisitos quem aceite o lugar vago; c) aferição do merecimento conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) d) na apuração de antiguidade, o tribunal somente poderá recusar o juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços de seus membros, conforme procedimento próprio, e assegurada ampla defesa, repetindo-se a votação até fixar-se a indicação;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) e) não será promovido o juiz que, injustificadamente, retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolvê-lo ao cartório sem o devido despacho ou decisão;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Entrância – categoria das circunstâncias jurisdicionais, estabelecida segundo a organização judiciária de cada Estado, correspondendo a cada uma delas um grau na carreira da magistratura, para o efeito de promoção.

Por merecimento a promoção tem como pressupostos: dois anos de exercício na respectiva entrância e integrar o juiz a primeira quinta parte da lista de antiguidade. Tal merecimento será aferido conforme o desempenho e pelos critérios objetivos de produtividade e presteza no exercício da jurisdição e pela frequência e aproveitamento em cursos oficiais ou reconhecidos de aperfeiçoamento. Ressaltando que o juiz que figurar por três vezes consecutivas ou cinco alternadas na lista de merecimento obrigatoriamente será promovido e que não retiver autos em seu poder além do prazo legal, não podendo devolver os autos sem o devido despacho ou decisão.

Quanto à promoção por antiguidade, verifica-se a possibilidade da recusa do juiz mais antigo pelo voto fundamentado de dois terços dos membros do tribunal, valendo aqui também a regra da retenção de autos além do prazo legal.

III – o acesso aos tribunais de segundo grau far-se-á por antiguidade e merecimento, alternadamente, apurados na última ou única entrância; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Esse dispositivo deve ser estudado com a regra contida no art. 94, da CF/88 (regra do quinto constitucional).

Art. 94 – Um quinto dos lugares dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais dos Estados, e do Distrito Federal e Territórios será composto de membros, do Ministério Público, com mais de dez anos de carreira, e de advogados de notório saber jurídico e de reputação ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional, indicados em lista sêxtupla pelos órgãos de representação das respectivas classes.

Parágrafo único. Recebidas as indicações, o Tribunal formará lista tríplice, enviando-a ao Poder Executivo, que, nos vinte dias subsequentes, escolherá um de seus integrantes para nomeação.

Dispositivos correspondentes: arts. 104 (regra de 1/3), 107, 111-A e 115, todos da CF/88.

84

SUBSÍDIO, APOSENTADORIA E PENSÃO POR MORTE DOS MAGISTRADOS.

V – o subsídio dos Ministros dos Tribunais Superiores corresponderá a noventa e cinco por cento do subsídio mensal fixado para os Ministros do Supremo Tribunal Federal e os subsídios dos demais magistrados serão fixados em lei e escalonados, em nível federal e estadual, conforme as respectivas categorias da estrutura judiciária nacional, não podendo a diferença entre uma e outra ser superior a dez por cento ou inferior a cinco por cento, nem exceder a noventa e cinco por cento do subsídio mensal dos Ministros dos Tribunais Superiores, obedecido, em qualquer caso, o disposto nos Arts. 37, XI, e 39, § 4º; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI – a aposentadoria dos magistrados e a pensão de seus dependentes observarão o disposto no Art. 40; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

O subsídio dos Ministros do STF será fixado por lei de iniciativa do próprio STF (art. 96, II, “b” e art. 48, XV).

Sobre as regras da aposentadoria e pensão por morte, tem -se o artigo 40, da CF/88 e o artigo 100 do ADCT.

PRINCÍPIO DA PUBLICIDADE E MOTIVAÇÃO NOS PROCESSOS JUDICIAIS E ADMINISTRATIVOS PERANTE OS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO.

IX – todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) X – as decisões administrativas dos tribunais serão motivadas e em sessão pública, sendo as disciplinares tomadas pelo voto da maioria absoluta de seus membros;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

ÓRGÃO ESPECIAL.

XI – nos tribunais com número superior a vinte e cinco julgadores, poderá ser constituído órgão especial, com o mínimo de onze e o máximo de vinte e cinco membros, para o exercício das atribuições administrativas e jurisdicionais delegadas da competência do tribunal pleno, provendo-se metade das vagas por antiguidade e a outra metade por eleição pelo tribunal pleno; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Não é obrigatória a instituição do órgão especial e as atribuições políticas não são delegadas.

Vale destacar que o órgão especial pode inclusive declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo, conforme artigo 97, da Cf/88, que reza:

Art. 97. Somente pelo voto da maioria absoluta de seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público.

O controle difuso de constitucionalidade possibilita a todos os órgãos do Poder Judiciário examinarem e decidirem a respeito da constitucionalidade das normas jurídicas. E para que tal exame se dê por parte dos Tribunais é dever seja o mesmo submetido a maioria absoluta ou ao órgão especial se existente (Reserva de Plenário), o que não se dá em relação ao juiz singular, que pode reconhecer e proclamar a inconstitucionalidade por si só quando verificada.

Para que não haja decisões contraditórias e para assegurar a segurança jurídica das relações, não é permitido ao colegiado de julgadores, Câmaras ou Turmas (órgãos fracionários), proceder ao afastamento da norma sob exame, devendo submetê-la ao plenário do Tribunal ou ao Órgão Especial.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula vinculante no. 10 - Viola a cláusula de reserva do plenário a decisão de órgão fracionário de Tribunal que, embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do poder público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

85

ATIVIDADE JURISDICIONAL.

XII – a atividade jurisdicional será ininterrupta, sendo vedado férias coletivas nos juízos e tribunais de segundo grau, funcionando, nos dias em que não houver expediente forense normal, juízes em plantão permanente; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) XIII – o número de juízes na unidade jurisdicional será proporcional à efetiva demanda judicial e à respectiva população; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) XIV – os servidores receberão delegação para a prática de atos de administração e atos de mero expediente sem caráter decisório; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) XV – a distribuição de processos será imediata, em todos os graus de jurisdição.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Os incisos supra referidos foram incluídos pela EC nº 45, de 8.12.2004.

Estão excluídos da regra de vedação de férias coletivas: o Supremo Tribunal Federal e os Tribunais Superiores.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...). 1. Ato Regimental n. 5, de 10 de novembro de 2006, do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios, sobre o regime de férias dos membros daquele Tribunal e dos juízes a ele vinculados, pelo qual os magistrados indicados "gozarão as férias do ano de 2007 nos períodos de 2 a 31 de janeiro e 2 a 31 de julho de 2007". 2. Resolução n. 24, de 24 de outubro de 2006, editada pelo Conselho Nacional de Justiça, que revogou o art. 2º da Resolução n. 3, de 16 de agosto de 2005, fundamento do Ato Regimental n. 5, de 10 de novembro de 2006. 3. Afronta aos arts. 93, inc. XIII, e 103-B da Constituição da República. 4. Princípio da ininterruptabilidade da jurisdição. 5. As regras legais que estabeleciam que os magistrados gozariam de férias coletivas perderam seu fundamento de validade pela promulgação da Emenda Constitucional n. 45/2004. A nova norma constitucional plasmou paradigma para a matéria, contra a qual nada pode prevalecer. Enquanto vigente a norma constitucional, pelo menos em exame cautelar, cumpre fazer prevalecer a vedação de férias coletivas de juízes e membros dos tribunais de segundo grau, suspendendo-se a eficácia de atos que ponham em risco a efetividade daquela proibição. (...). (STF ADI 3.823 MC/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 23/11/2007).

GARANTIAS DOS MEMBROS E DOS ÓRGÃOS DO PODER JUDICIÁRIO

Art. 95. Os juízes gozam das seguintes garantias: I – vitaliciedade, que, no primeiro grau, só será adquirida após dois anos de exercício, dependendo a perda do cargo, nesse período, de deliberação do Tribunal a que o juiz estiver vinculado, e, nos demais casos, de sentença judicial transitada em julgado; II – inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, na forma do Art. 93, VIII; III – irredutibilidade de subsídio, ressalvado o disposto nos Arts. 37, X e XI, 39, § 4º, 150, II, 153, III, e 153, § 2º, I.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Não se cumpre conceituar um verdadeiro Estado Democrático de Direito sem a existência de um Poder Judiciário autônomo e independente para que exerça sua função de guardião das leis. Daí as garantias de que goza, algumas das quais asseguradas pela própria Constituição Federal, sendo as principais a vitaliciedade, inamovibilidade e a irredutibilidade de vencimentos.

As garantias conferidas aos membros do Poder Judiciário têm assim como condão conferir à Instituição a necessária independência para o exercício da Jurisdição, resguardando-a das pressões do Legislativo e do Executivo, não se caracterizando, pois, os predicamentos da magistratura como privilégio dos magistrados, mas sim como meio de assegurar o seu livre desempenho, de molde a revelar a independência e autonomia do Judiciário.

O mestre José Afonso da Silva dividiu as garantias do Judiciário em garantias institucionais e garantias aos membros.

86

Garantias Institucionais – dizem respeito à Instituição como um todo, ou seja, garantem a independência do Poder Judiciário no relacionamento com os demais poderes. A autonomia funcional, administrativa e financeira do Poder Judiciário (art. 99 da CF) e o modo de escolha dos dirigentes dos tribunais (art. 96, I, a da CF) são exemplos dessa garantia.

Garantias aos membros – subdividem-se em Garantias de Liberdade e Garantias de Imparcialidade (art. 95, parágrafo único, I ao V). As garantias de liberdade dizem respeito às garantias que os magistrados possuem da vitaliciedade (art. 95, I), inamovibilidade (art. 93, VIII, 95, II e 103-B, § 4º, III) e irredutibilidade de subsídio (art. 95, III).

A partir da nomeação, se não o eram, os membros dos tribunais se tornam vitalícios, independentemente dos dois anos de exercício.

É requisito indispensável ao processo de vitaliciamento, o disposto no artigo 93, IV, da CF/88:

Art. 93. (...). IV – previsão de cursos oficiais de preparação, aperfeiçoamento e promoção de magistrados, constituindo etapa obrigatória do processo de vitaliciamento a participação em curso oficial ou reconhecido por escola nacional de formação e aperfeiçoamento de magistrados; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

No caso dos Ministros do Supremo Tribunal Federal, há também a possiblidade de perda do cargo nos termos do artigo 52, II c/c parágrafo único.

Quanto à inamovibilidade, a exceção está transcrita no art. 93, nos seguintes incisos:

Art. 93. (...). VII – o juiz titular residirá na respectiva comarca, salvo autorização do Tribunal;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VIII – o ato de remoção, disponibilidade e aposentadoria do magistrado, por interesse público, fundar-se-á em decisão por voto da maioria absoluta do respectivo tribunal ou do Conselho Nacional de Justiça, assegurada ampla defesa.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VIII-A – a remoção a pedido ou a permuta de magistrados de comarca de igual entrância atenderá, no que couber, ao disposto nas alíneas "a", "b", "c" e "e" do inciso II;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

Assim, verifica-se que nenhuma das garantias é absoluta.

GARANTIAS DE IMPARCIALIDADE. PROIBIÇÕES E INCOMPATIBILIDADES. PRINCÍPIO DO JUIZ NATURAL

Art. 95. (...). Parágrafo único. Aos juízes é vedado: I – exercer, ainda que em disponibilidade, outro cargo ou função, salvo uma de magistério; II – receber, a qualquer título ou pretexto, custas ou participação em processo; III – dedicar-se à atividade político-partidária. IV – receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou privadas, ressalvadas as exceções previstas em lei;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) V – exercer a advocacia no juízo ou tribunal do qual se afastou, antes de decorridos três anos do afastamento do cargo por aposentadoria ou exoneração. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA. (...) 4. Considerou-se, no caso, que o objetivo da restrição constitucional é o de impedir o exercício da atividade de magistério que se revele incompatível com os afazeres da magistratura. Necessidade de se avaliar, no caso concreto, se a atividade de magistério inviabiliza o ofício judicante. 5. Referendada a liminar, nos termos em que foi concedida pelo Ministro em exercício da presidência do Supremo Tribunal Federal, tão-somente para suspender a vigência da expressão "único (a)", constante da redação do art. 1o da Resolução no 336/2003, do Conselho de Justiça Federal. (...). (STF ADI 3.126 MC/DF, rel. Min. Gilmar Mendes, 06/05/2005).

EMENTA. (…). 1. A proibição jurídica é sempre uma ordem, que há de ser cumprida sem que qualquer outro provimento administrativo tenha de ser praticado. O efeito proibitivo da conduta - acumulação do cargo de integrante do Poder Judiciário com outro, mesmo sendo este o da Justiça Desportiva - dá-se a

87

partir da vigência da ordem e impede que o ato de acumulação seja tolerado. (...) 3. As vedações formais impostas constitucionalmente aos magistrados objetivam, de um lado, proteger o próprio Poder Judiciário, de modo que seus integrantes sejam dotados de condições de total independência e, de outra parte, garantir que os juízes dediquem-se, integralmente, às funções inerentes ao cargo, proibindo que a dispersão com outras atividades deixe em menor valia e cuidado o desempenho da atividade jurisdicional, que é função essencial do Estado e direito fundamental do jurisdicionado. 4. O art. 95, parágrafo único, inc. I, da Constituição da República vinculou-se a uma proibição geral de acumulação do cargo de juiz com qualquer outro, de qualquer natureza ou feição, salvo uma de magistério. (...). (STF MS 25.938/DF, rel. Min. Cármen Lúcia, 12/09/2008).

GARANTIAS DE ATUAÇÃO ADMINISTRATIVA.

Art. 96. Compete privativamente: I – aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; b) organizar suas secretarias e serviços auxiliares e os dos juízos que lhes forem vinculados, velando pelo exercício da atividade correcional respectiva; c) prover, na forma prevista nesta Constituição, os cargos de juiz de carreira da respectiva jurisdição; d) propor a criação de novas varas judiciárias; e) prover, por concurso público de provas, ou de provas e títulos, obedecido o disposto no Art. 169, parágrafo único, os cargos necessários à administração da Justiça, exceto os de confiança assim definidos em lei; f) conceder licença, férias e outros afastamentos a seus membros e aos juízes e servidores que lhes forem imediatamente vinculados; II – ao Supremo Tribunal Federal, aos Tribunais Superiores e aos Tribunais de Justiça propor ao Poder Legislativo respectivo, observado o disposto no Art. 169: a) a alteração do número de membros dos tribunais inferiores; b) a criação e a extinção de cargos e a remuneração dos seus serviços auxiliares e dos juízos que lhes forem vinculados, bem como a fixação do subsídio de seus membros e dos juízes, inclusive dos tribunais inferiores, onde houver;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 41, 19.12.2003) c) a criação ou extinção dos tribunais inferiores; d) a alteração da organização e da divisão judiciárias. III – aos Tribunais de Justiça julgar os juízes estaduais e do Distrito Federal e Territórios, bem como os membros do Ministério Público, nos crimes comuns e de responsabilidade, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral.

GARANTIAS DE ATUAÇÃO FINANCEIRA.

Art. 99. Ao Poder Judiciário é assegurada autonomia administrativa e financeira. § 1º – Os tribunais elaborarão suas propostas orçamentárias dentro dos limites estipulados conjuntamente com os demais Poderes na lei de diretrizes orçamentárias. § 2º – O encaminhamento da proposta, ouvidos os outros tribunais interessados, compete: I – no âmbito da União, aos Presidentes do Supremo Tribunal Federal e dos Tribunais Superiores, com a aprovação dos respectivos tribunais; II – no âmbito dos Estados e no do Distrito Federal e Territórios, aos Presidentes dos Tribunais de Justiça, com a aprovação dos respectivos tribunais. § 3º Se os órgãos referidos no § 2º não encaminharem as respectivas propostas orçamentárias dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 1º deste Artigo.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 4º as propostas orçamentárias de que trata este artigo forem encaminhadas em desacordo com os limites estipulados na forma do § 1º o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

88

§ 5º Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A Lei de Diretrizes Orçamentárias é de iniciativa do Presidente da República (art. 165). São inconstitucionais, pois, limites à proposta orçamentária dos tribunais que não tiverem participado da elaboração da Lei de Diretrizes Orçamentárias e concordado com aqueles limites.

EXECUÇÃO DE SENTENÇA. PAGAMENTO DE PRECATÓRIOS.

Antes de estudar o artigo 100, o concurseiro deve saber que o Plenário do STF declarou a inconstitucionalidade dos seguintes dispositivos: a) da expressão “na data de expedição do precatório”, contida no § 2º do art. 100 da CF; b) dos §§ 9º e 10 do art. 100 da CF; c) da expressão “índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança”, constante do § 12 do art. 100 da CF, do inciso II do § 1º e do § 16, ambos do art. 97 do ADCT; d) do fraseado “independentemente de sua natureza”, inserido no § 12 do art. 100 da CF, para que aos precatórios de natureza tributária se apliquem os mesmos juros de mora incidentes sobre o crédito tributário; e) por arrastamento (itens “c” e “d” acima), do art. 5º da Lei 11.960/2009; f) do § 15 do art. 100 da CF e de todo o art. 97 do ADCT (especificamente o caput e os §§ 1º, 2º, 4º, 6º, 8º, 9º, 14 e 15, sendo os demais por arrastamento ou reverberação normativa), conforme a ADI 4357/DF, Rel. Min. Ayres Britto, 6.10.2011 (ADI 4372/DF, ADI 4400/DF e ADI 4425/DF).

O Estado, como pessoa jurídica, vincula-se as relações jurídicas em que aparece como sujeito de direitos e obrigações. Quando se compromete em débitos ou adquire créditos, o faz como Fazenda Pública Federal, Estadual/Distrital ou Municipal, uma vez que o Brasil se reparte em várias entidades estatais. Nessa qualidade podem estar em Juízo ou como autoras ou como rés, e assim, serem condenadas por sentença judiciária. A execução dessa sentença judiciária far-se-á mediante a expedição de precatórios em que consta a importância que deve ser paga, a fim de que o orçamento consigne dotação correspondente.

Art. 100. Os pagamentos devidos pelas Fazendas Públicas Federal, Estaduais, Distrital e Municipais, em virtude de sentença judiciária, far-se-ão exclusivamente na ordem cronológica de apresentação dos precatórios e à conta dos créditos respectivos, proibida a designação de casos ou de pessoas nas dotações orçamentárias e nos créditos adicionais abertos para este fim.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 1º Os débitos de natureza alimentícia compreendem aqueles decorrentes de salários, vencimentos, proventos, pensões e suas complementações, benefícios previdenciários e indenizações por morte ou por invalidez, fundadas em responsabilidade civil, em virtude de sentença judicial transitada em julgado, e serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, exceto sobre aqueles referidos no § 2º deste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 2º Os débitos de natureza alimentícia cujos titulares tenham 60 (sessenta) anos de idade ou mais na data de expedição do precatório, ou sejam portadores de doença grave, definidos na forma da lei, serão pagos com preferência sobre todos os demais débitos, até o valor equivalente ao triplo do fixado em lei para os fins do disposto no § 3º deste artigo, admitido o fracionamento para essa finalidade, sendo que o restante será pago na ordem cronológica de apresentação do precatório. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 3º O disposto no caput deste artigo relativamente à expedição de precatórios não se aplica aos pagamentos de obrigações definidas em leis como de pequeno valor que as Fazendas referidas devam fazer em virtude de sentença judicial transitada em julgado. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 4º Para os fins do disposto no § 3º, poderão ser fixados, por leis próprias, valores distintos às entidades de direito público, segundo as diferentes capacidades econômicas, sendo o mínimo igual ao valor do maior benefício do regime geral de previdência social. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 5º É obrigatória a inclusão, no orçamento das entidades de direito público, de verba necessária ao pagamento de seus débitos, oriundos de sentenças transitadas em julgado, constantes de precatórios judiciários apresentados até 1º de julho, fazendo-se o pagamento até o final do exercício seguinte,

89

quando terão seus valores atualizados monetariamente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 6º As dotações orçamentárias e os créditos abertos serão consignados diretamente ao Poder Judiciário, cabendo ao Presidente do Tribunal que proferir a decisão exequenda determinar o pagamento integral e autorizar, a requerimento do credor e exclusivamente para os casos de preterimento de seu direito de precedência ou de não alocação orçamentária do valor necessário à satisfação do seu débito, o sequestro da quantia respectiva. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 7º O Presidente do Tribunal competente que, por ato comissivo ou omissivo, retardar ou tentar frustrar a liquidação regular de precatórios incorrerá em crime de responsabilidade e responderá, também, perante o Conselho Nacional de Justiça. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 8º É vedada a expedição de precatórios complementares ou suplementares de valor pago, bem como o fracionamento, repartição ou quebra do valor da execução para fins de enquadramento de parcela do total ao que dispõe o § 3º deste artigo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 9º No momento da expedição dos precatórios, independentemente de regulamentação, deles deverá ser abatido, a título de compensação, valor correspondente aos débitos líquidos e certos, inscritos ou não em dívida ativa e constituídos contra o credor original pela Fazenda Pública devedora, incluídas parcelas vincendas de parcelamentos, ressalvados aqueles cuja execução esteja suspensa em virtude de contestação administrativa ou judicial. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 10. Antes da expedição dos precatórios, o Tribunal solicitará à Fazenda Pública devedora, para resposta em até 30 (trinta) dias, sob pena de perda do direito de abatimento, informação sobre os débitos que preencham as condições estabelecidas no § 9º, para os fins nele previstos.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 11. É facultada ao credor, conforme estabelecido em lei da entidade federativa devedora, a entrega de créditos em precatórios para compra de imóveis públicos do respectivo ente federado. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 12. A partir da promulgação desta Emenda Constitucional, a atualização de valores de requisitórios, após sua expedição, até o efetivo pagamento, independentemente de sua natureza, será feita pelo índice oficial de remuneração básica da caderneta de poupança, e, para fins de compensação da mora, incidirão juros simples no mesmo percentual de juros incidentes sobre a caderneta de poupança, ficando excluída a incidência de juros compensatórios. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 13. O credor poderá ceder, total ou parcialmente, seus créditos em precatórios a terceiros, independentemente da concordância do devedor, não se aplicando ao cessionário o disposto nos §§ 2º e 3º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 14. A cessão de precatórios somente produzirá efeitos após comunicação, por meio de petição protocolizada, ao tribunal de origem e à entidade devedora. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 15. Sem prejuízo do disposto neste artigo, lei complementar a esta Constituição Federal poderá estabelecer regime especial para pagamento de crédito de precatórios de Estados, Distrito Federal e Municípios, dispondo sobre vinculações à receita corrente líquida e forma e prazo de liquidação. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009). § 16. A seu critério exclusivo e na forma de lei, a União poderá assumir débitos, oriundos de precatórios, de Estados, Distrito Federal e Municípios, refinanciando-os diretamente. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 62, de 09/12/2009).

O não pagamento de débitos oriundos de sentenças judiciárias transitadas em julgado, constantes de precatórios, poderá consistir em desobediência à ordem judicial, autorizando, nos termos dos artigos 34, VI e 35, II, a decretação da intervenção federal, excluindo-se dessa possibilidade a conduta do Estado-membro que não configure atuação dolosa e deliberada com finalidade de não pagamento, por estar “sujeito a quadro de múltiplas obrigações de idêntica hierarquia”, como ressaltado pelo STF.

A possibilidade de decretação de intervenção federal é a sanção constitucional prevista para eventual desobediência a ordem judicial, não se permitindo determinação de sequestro judicial de sequestro de

90

quantia necessária a satisfação do débito, só permitido na hipótese de desrespeito da ordem cronológica de pagamentos dos precatórios.

Dispositivos correspondentes: art. 33, 78 e 97 do ADCT.

Jurisprudência relacionada ao tema:

Súmula 655 - A exceção prevista no art. 100, caput, da Constituição, em face dos créditos de natureza alimentícia, não dispensa a expedição de precatório, limitando-se a isentá-los da observância da ordem cronológica dos precatórios decorrentes de condenações de outra natureza.

Súmula Vinculante 17 - Durante o período previsto no parágrafo 1º do artigo 100 da Constituição, não incidem juros de mora sobre os precatórios que nele sejam pagos. (referente atualmente ao parágrafo 5º).

SÚMULA VINCULANTE

Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)(Vide Lei nº 11.417, de 2006). § 1º. A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica. § 2º. Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de inconstitucionalidade. § 3º. Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e determinada que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o caso.

A distinção entre súmula ordinária e a súmula vinculante (decisis stare). A primeira, sem efeito vinculante formal, sempre foi compreendida na sistemática brasileira como a sedimentação de orientações adotadas pelos Tribunais. A segunda surgiu com a reforma do judiciário, através da emenda constitucional 45, de 08/12/2004, que tem a mesma essência da súmula ordinária, mas dotada de efeito vinculante.

Vale destacar que a lei 11.417/06, mais precisamente em seu art. 3º., indicou os legitimados para a propositura da súmula vinculante, tornando a eficácia do parágrafo 2º. do art. 103-A exaurida, apesar de ter simplesmente ampliado o rol dos legítimos, senão veja:

Art. 3o São legitimados a propor a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante: I - o Presidente da República; II - a Mesa do Senado Federal; III – a Mesa da Câmara dos Deputados; IV – o Procurador-Geral da República; V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VI - o Defensor Público-Geral da União; VII – partido político com representação no Congresso Nacional; VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional; IX – a Mesa de Assembleia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito Federal; X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal; XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares. § 1o O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo.

91

§ 2o No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal.

A reclamação referida no artigo diz respeito a ação que poderá ser interposta no intuito de garantir a autoridade das decisões do STF, conforme art. 102, I, “l”, da CF/88.

Por fim, tem-se o esgotamento da via administrativa quando se tratar de omissão ou ato da administração pública, conforme o art. 7º, §1º, da lei 11.417/2006, cujo teor segue adiante:

Art. 7o Da decisão judicial ou do ato administrativo que contrariar enunciado de súmula vinculante, negar-lhe vigência ou aplicá-lo indevidamente caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal, sem prejuízo dos recursos ou outros meios admissíveis de impugnação.

§ 1o Contra omissão ou ato da administração pública, o uso da reclamação só será admitido após esgotamento das vias administrativas.

COMPOSIÇÃO DOS TRIBUNAIS. JUSTIÇA ITINETANTE E CÂMARAS REGIONAIS.

A composição dos tribunais está prevista nos seguintes dispositivos: STF (art. 101) STJ (art. 104), TRF's (art. 107), TST (art. 111-A), TRT's (art. 115), TSE (art. 119), TRE's (art. 120) e STM (art. 123).

Supremo Tribunal Federal

Art. 101. O Supremo Tribunal Federal compõe-se de onze Ministros, escolhidos dentre cidadãos com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade, de notável saber jurídico e reputação ilibada. Parágrafo único. Os Ministros do Supremo Tribunal Federal serão nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal.

Superior Tribunal de Justiça

Art. 104. O Superior Tribunal de Justiça compõe-se de, no mínimo, trinta e três Ministros. Parágrafo único. Os Ministros do Superior Tribunal de Justiça serão nomeados pelo Presidente da República, dentre brasileiros com mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - um terço dentre juízes dos Tribunais Regionais Federais e um terço dentre desembargadores dos Tribunais de Justiça, indicados em lista tríplice elaborada pelo próprio Tribunal; II - um terço, em partes iguais, dentre advogados e membros do Ministério Público Federal, Estadual, do Distrito Federal e dos Territórios, alternadamente, indicados na forma do art. 94.

Tribunais Regionais Federais e dos Juízes Federais

Art. 106. São órgãos da Justiça Federal: I - os Tribunais Regionais Federais; II - os Juízes Federais.

Art. 107. Os Tribunais Regionais Federais compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo: I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público Federal com mais de dez anos de carreira; II - os demais, mediante promoção de juízes federais com mais de cinco anos de exercício, por antiguidade e merecimento, alternadamente.

92

(...). § 2º Os Tribunais Regionais Federais instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Justiça Itinerante. Providência obrigatória. Dispositivos correspondentes: arts. 115, §1º e 125, § 7º, ambos da CF/88.

§ 3º Os Tribunais Regionais Federais poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Câmaras Regionais. Providência facultativa. Dispositivos correspondentes: arts. 115, § 2º e 125, § 6º, ambos da CF/88.

Art. 110. Cada Estado, bem como o Distrito Federal, constituirá uma seção judiciária, que terá por sede a respectiva capital, e varas localizadas segundo o estabelecido em lei. Parágrafo único. Nos Territórios Federais, a jurisdição e as atribuições cometidas aos juízes federais caberão aos juízes da Justiça local, na forma da lei.

Tribunais e Juízes do Trabalho

Art. 111. São órgãos da Justiça do Trabalho: I - o Tribunal Superior do Trabalho; II - os Tribunais Regionais do Trabalho; III - Juízes do Trabalho.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de 1999) §§ 1º ao 3º (Revogados pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 111-A. O Tribunal Superior do Trabalho compor-se-á de vinte e sete Ministros, escolhidos dentre brasileiros com mais de trinta e cinco anos e menos de sessenta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada, nomeados pelo Presidente da República após aprovação pela maioria absoluta do Senado Federal, sendo: (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). (Incluído pela Emenda

Constitucional nº 92, de 2016). I um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) II os demais dentre juízes dos Tribunais Regionais do Trabalho, oriundos da magistratura da carreira, indicados pelo próprio Tribunal Superior. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Art. 112. A lei criará varas da Justiça do Trabalho, podendo, nas comarcas não abrangidas por sua jurisdição, atribuí-la aos juízes de direito, com recurso para o respectivo Tribunal Regional do Trabalho.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 115. Os Tribunais Regionais do Trabalho compõem-se de, no mínimo, sete juízes, recrutados, quando possível, na respectiva região, e nomeados pelo Presidente da República dentre brasileiros com mais de trinta e menos de sessenta e cinco anos, sendo:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - um quinto dentre advogados com mais de dez anos de efetiva atividade profissional e membros do Ministério Público do Trabalho com mais de dez anos de efetivo exercício, observado o disposto no art. 94; II - os demais, mediante promoção de juízes do trabalho por antiguidade e merecimento, alternadamente.

93

§ 1º Os Tribunais Regionais do Trabalho instalarão a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções de atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários. § 2º Os Tribunais Regionais do Trabalho poderão funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo.

Tribunais e Juízes Eleitorais

Art. 118. São órgãos da Justiça Eleitoral: I - o Tribunal Superior Eleitoral; II - os Tribunais Regionais Eleitorais; III - os Juízes Eleitorais; IV - as Juntas Eleitorais.

Art. 119. O Tribunal Superior Eleitoral compor-se-á, no mínimo, de sete membros, escolhidos: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) três juízes dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal; b) dois juízes dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça; II - por nomeação do Presidente da República, dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Supremo Tribunal Federal. Parágrafo único. O Tribunal Superior Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os Ministros do Supremo Tribunal Federal, e o corregedor eleitoral dentre os Ministros do Superior Tribunal de Justiça.

Art. 120. Haverá um Tribunal Regional Eleitoral na capital de cada Estado e no Distrito Federal. § 1º Os Tribunais Regionais Eleitorais compor-se-ão: I - mediante eleição, pelo voto secreto: a) de dois juízes dentre os desembargadores do Tribunal de Justiça; b) de dois juízes, dentre juízes de direito, escolhidos pelo Tribunal de Justiça; II - de um juiz do Tribunal Regional Federal com sede na capital do Estado ou no Distrito Federal, ou, não havendo, de juiz federal, escolhido, em qualquer caso, pelo Tribunal Regional Federal respectivo; III - por nomeação, pelo Presidente da República, de dois juízes dentre seis advogados de notável saber jurídico e idoneidade moral, indicados pelo Tribunal de Justiça. § 2º O Tribunal Regional Eleitoral elegerá seu Presidente e o Vice-Presidente dentre os desembargadores.

Tribunais e Juízes Militares

Art. 122. São órgãos da Justiça Militar: I - o Superior Tribunal Militar; II - os Tribunais e Juízes Militares instituídos por lei.

Art. 123. O Superior Tribunal Militar compor-se-á de quinze Ministros vitalícios, nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a indicação pelo Senado Federal, sendo três dentre oficiais-generais da Marinha, quatro dentre oficiais-generais do Exército, três dentre oficiais-generais da Aeronáutica, todos da ativa e do posto mais elevado da carreira, e cinco dentre civis. Parágrafo único. Os Ministros civis serão escolhidos pelo Presidente da República dentre brasileiros maiores de trinta e cinco anos, sendo: I - três dentre advogados de notório saber jurídico e conduta ilibada, com mais de dez anos de efetiva atividade profissional; II - dois, por escolha paritária, dentre juízes auditores e membros do Ministério Público da Justiça Militar.

94

Tribunais e Juízes dos Estados

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça.

§ 6º O Tribunal de Justiça poderá funcionar descentralizadamente, constituindo Câmaras regionais, a fim de assegurar o pleno acesso do jurisdicionado à justiça em todas as fases do processo. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da respectiva jurisdição, servindo-se de

equipamentos públicos e comunitários. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004).

JUIZADOS ESPECIAIS E JUSTIÇA DE PAZ

Art. 98. A União, no Distrito Federal e nos Territórios, e os Estados criarão: I – juizados especiais, providos por juízes togados, ou togados e leigos, competentes para a conciliação, o julgamento e a execução de causas cíveis de menor complexidade e infrações penais de menor potencial ofensivo, mediante os procedimentos oral e sumaríssimo, permitidos, nas hipóteses previstas em lei, a transação e o julgamento de recursos por turmas de juízes de primeiro grau; II – justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugnação apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional, além de outras previstas na legislação. § 1º Lei federal disporá sobre a criação de juizados especiais no âmbito da Justiça Federal. § 2º As custas e emolumentos serão destinados exclusivamente ao custeio dos serviços afetos às atividades específicas da Justiça.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

No caso dos juizados especiais, a lei usou o critério do valor da causa para definir “causas de menor complexidade” nas causas cíveis e na seara criminal, a competência dos juizados especiais é para processar e julgar as infrações penais em que a lei comine pena máxima até dois anos e as contravenções penais. Quanto à justiça de paz, cabe ao Estado-membro criar, devendo ser composta de cidadãos eleitos nos termos do inciso II, desde que preenchidas as condições de elegibilidade do artigo 14, §3º, da CF/88. COMPETÊNCIA DOS JUÍZES E DOS TRIBUNAIS.

Supremo Tribunal Federal

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: I - processar e julgar, originariamente:

Trata-se de competência originária, devendo a ação ser interposta diretamente no Supremo Tribunal Federal. O rol é taxativo (numerus clausus), não comportando a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados pela Constituição Federal. Jurisprudência relacionada ao tema:

95

EMENTA. (...). A competência do STF – cujos fundamentos repousam na Constituição da República – submete-se a regime de direito estrito. A competência originária do STF, por qualificar-se como um complexo de atribuições jurisdicionais de extração essencialmente constitucional – e ante o regime de direito estrito a que se acha submetida – não comporta a possibilidade de ser estendida a situações que extravasem os limites fixados, em numerus clausus, pelo rol exaustivo inscrito no ART. 102, I, da Constituição da República. Precedentes. O regime de direito estrito, a que se submete a definição dessa competência institucional, tem levado o STF, por efeito da taxatividade do rol constante da Carta Política, a afastar, do âmbito de suas atribuições jurisdicionais originárias, o processo e o julgamento de causas de natureza civil que não se acham inscritas no texto constitucional (ações populares, ações civis públicas, ações cautelares, ações ordinárias, ações declaratórias e medidas cautelares), mesmo que instauradas contra o Presidente da República ou contra qualquer das autoridades, que, em matéria penal (CF, art. 102, I, b e c), dispõem de prerrogativa de foro perante a Corte Suprema ou que, em sede de mandado de segurança, estão sujeitas à jurisdição imediata do Tribunal (CF, art.102, I, d). Precedentes. (STF PET 1.738-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 1º-9-1999, Plenário, DJ de 1º-10-1999.) Súmula Vinculante 37 - Não cabe ao Poder Judiciário, que não tem função legislativa, aumentar vencimentos de servidores públicos sob o fundamento de isonomia. AÇÕES DE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE. EFEITOS.

a) a ação direta de inconstitucionalidade de lei ou ato normativo federal ou estadual e a ação declaratória de constitucionalidade de lei ou ato normativo federal;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 3, de 1993) p) o pedido de medida cautelar das ações diretas de inconstitucionalidade; § 1º A arguição de descumprimento de preceito fundamental, decorrente desta Constituição, será apreciada pelo Supremo Tribunal Federal, na forma da lei. § 2º As decisões definitivas de mérito, proferidas pelo Supremo Tribunal Federal, nas ações diretas de inconstitucionalidade e nas ações declaratórias de constitucionalidade produzirão eficácia contra todos e efeito vinculante, relativamente aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A Arguição de Descumprimento de Preceito Constitucional (ADPF) foi regulada pela lei nº 9.882/99. CRIMES COMUNS E CRIMES DE RESPONSABILIDADE.

b) nas infrações penais comuns, o Presidente da República, o Vice-Presidente, os membros do Congresso Nacional, seus próprios Ministros e o Procurador-Geral da República; c) nas infrações penais comuns e nos crimes de responsabilidade, os Ministros de Estado e os Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica, ressalvado o disposto no art. 52, I, os membros dos Tribunais Superiores, os do Tribunal de Contas da União e os chefes de missão diplomática de caráter permanente;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999)

Por força de Medida Provisória, algumas autoridades passaram a possuir status de ministro de Estado. Foi o caso do Advogado Geral da União e do Ministro da Controladoria Geral da União (Medida Provisória n° 103, de 1° de janeiro de 2003, convertida na Lei n° 10.683, de 28 de maio de 2003). A competência do Superior Tribunal de Justiça para julgar determinadas autoridades está estabelecida no artigo 105, I, "a", da CF/88, ex vi:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais;

Jurisprudência relacionada ao tema:

96

EMENTA. (...). Ação civil pública. Ato de improbidade administrativa. Ministro do Supremo Tribunal Federal. Impossibilidade. Competência da Corte para processar e julgar seus membros apenas nas infrações penais comuns. 1. Compete ao Supremo Tribunal Federal julgar ação de improbidade contra seus membros. 2. Arquivamento da ação quanto ao Ministro da Suprema Corte e remessa dos autos ao Juízo de 1º grau de jurisdição no tocante aos demais. (...). (STF Pet. 3.211 QO/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 27/06/2008). EMENTA. (...). I. Supremo Tribunal Federal: competência penal originária: ação penal (ou interpelação preparatória dela) contra o Advogado-Geral da União, que passou a ser Ministro de Estado por força da última edição da MP 2049-20, de 29.06.2000. (...). (STF Inq QO 1.660/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 06/06/2003). EMENTA. (...). Ação Direita de Inconstitucionalidade contra a MP 207, de 13 de agosto de 2004 (convertida na Lei 11.036/2004), que alterou disposições das Leis 10.683/2003 e 9.650/1998, para equiparar o cargo de natureza especial de Presidente do Banco Central ao cargo de Ministro de Estado. Prerrogativa de foro para o Presidente do Banco Central. Ofensa aos arts. 2º; 52, III, d; 62, § 1º, I, b, § 9º; 69 e 192; todos da CF. Natureza política da função de Presidente do Banco Central que autoriza a transferência de competência. Sistemas republicanos comparados possuem regulamentação equivalente para preservar garantias de independência e imparcialidade. Inexistência, no texto constitucional de 1988, de argumento normativo contrário à regulamentação infraconstitucional impugnada. Não caracterização de modelo linear ou simétrico de competências por prerrogativa de foro e ausência de proibição de sua extensão a Presidente e ex-Presidentes de BC. Sistemas singulares criados com o objetivo de garantir independência para cargos importantes da República: Advogado-Geral da União, Comandantes das Forças Armadas, Chefes de Missões Diplomáticas. Não violação do princípio da separação de poderes, inclusive por causa da participação do Senado Federal na aprovação dos indicados ao cargo de Presidente e Diretores do Banco Central (art. 52, III, d, da CF/1988). Prerrogativa de foro como reforço à independência das funções de poder na República adotada por razões de política constitucional. Situação em que se justifica a diferenciação de tratamento entre agentes políticos em virtude do interesse público evidente. Garantia da prerrogativa de foro que se coaduna com a sociedade hipercomplexa e pluralista, a qual não admite um código unitarizante dos vários sistemas sociais. (...). (STF ADI 3.289 e ADI 3.290, Rel. Min.Gilmar Mendes, Plenário, DJ de 24-2-2006). GARANTIAS CONSTITUCIONAIS.

d) o habeas corpus, sendo paciente qualquer das pessoas referidas nas alíneas anteriores; o mandado de segurança e o habeas data contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e do próprio Supremo Tribunal Federal; i) o habeas corpus, quando o coator for Tribunal Superior ou quando o coator ou o paciente for autoridade ou funcionário cujos atos estejam sujeitos diretamente à jurisdição do Supremo Tribunal Federal, ou se trate de crime sujeito à mesma jurisdição em uma única instância;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 22, de 1999) q) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição do Presidente da República, do Congresso Nacional, da Câmara dos Deputados, do Senado Federal, da Mesa de uma dessas Casas Legislativas, do Tribunal de Contas da União, de um dos Tribunais Superiores, ou do próprio Supremo Tribunal Federal; Dispositivo correspondente: art. 105, I, "h", da CF/88. As garantias constitucionais do Superior Tribunal de Justiça estão previstas no artigos 105, I, "b", "c" e "h", todos da CF/88, ex vi:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999);

97

h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal;

CONFLITO INTERNACIONAL.

e) o litígio entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e a União, o Estado, o Distrito Federal ou o Território;

Quando o litígio exisitr entre Estado Estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada no Brasil, a competência originária é da Justiça Federal, conforme artigo 109, II, da CF/88:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;

Dispositivos correspondentes: arts. 105, II, "c" e 109, II, ambos da CF/88. CONFLITO FEDERATIVO.

f) as causas e os conflitos entre a União e os Estados, a União e o Distrito Federal, ou entre uns e outros, inclusive as respectivas entidades da administração indireta;

Dispositivo correspondente: art. 105, I, "g", da CF/88.

Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA: (...). O STF, em face da regra de direito estrito consubstanciada no art. 102, I, da CR (RTJ 171/101-102), não dispõe, por ausência de previsão normativa, de competência para processar e julgar, em sede originária, causas instauradas entre Municípios, de um lado, e a União, autarquias federais e/ou empresas públicas federais, de outro. Em tal hipótese, a competência para apreciar esse litígio pertence à Justiça Federal de primeira instância. Precedentes. (STF ACO 1.364-AgR, Rel. Min. Celso de Mello, julgamento em 16-9-2009, Plenário, DJE de 6-8-2010.). Quando o conflito ocorrer entres as atribuições das autoridade administrativas e judiciárias, a competência originária é o Superior Tribunal de Justiça, como se vê no artigo 105, I, g, da CF/88:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: (...); g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; (...).

CONFLITO DE COMPETÊNCIA ENTRE TRIBUNAIS E JUÍZES (POSITIVO OU NEGATIVO)

o) os conflitos de competência entre o Superior Tribunal de Justiça e quaisquer tribunais, entre Tribunais Superiores, ou entre estes e qualquer outro tribunal;

Tal competência também é conferida ao Superior Tribunal de Justiça, nos seguintes termos:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;

EXTRADIÇÃO.

g) a extradição solicitada por Estado estrangeiro;

OUTRAS COMPETÊNCIAS ORIGINÁRIAS.

98

j) a revisão criminal e a ação rescisória de seus julgados; l) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; m) a execução de sentença nas causas de sua competência originária, facultada a delegação de atribuições para a prática de atos processuais; n) a ação em que todos os membros da magistratura sejam direta ou indiretamente interessados, e aquela em que mais da metade dos membros do tribunal de origem estejam impedidos ou sejam direta ou indiretamente interessados;

COMPETÊNCIA RECURSAL ORDINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: II - julgar, em recurso ordinário: a) o habeas corpus, o mandado de segurança, o habeas data e o mandado de injunção decididos em única instância pelos Tribunais Superiores, se denegatória a decisão; b) o crime político;

Aqui se encontra a competência recursal ordinária do Supremo Tribunal Federal. A ação foi processada em instância inferior e chega ao Tribunal em grau de recurso para ser julgada. Dispositivos correspondentes: art. 105, II, "a" e "b" e art. 109, IV, ambos da CF/88. A competência recursal ordinária do Superior Tribunal de Justiça está estabelecida no artigo 105, II, da CF/88, ex vi:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País;

Dispositivo correspondente: art. 109, II, da CF/88. COMPETÊNCIA EXTRAORDINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL.

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 3º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Aqui se encontra a competência recursal Extraordinária do Supremo Tribunal Federal. A ação foi processada em instância inferior e chega ao Tribunal em grau de recurso para ser julgada. Dispositivo correspondente: art. 102, § 3º, 105, III, ambos da CF/88. A Lei nº 11.418/2006 regulou o instituto da Repercussão Geral.

99

A competência recursal especial do Superior Tribunal de Justiça está estabelecida no artigo 105, III, da CF/88, ex vi:

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: II - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Aqui se encontra a competência recursal Especial do Superior Tribunal de Justiça. A ação foi processada em instância inferior e chega ao Tribunal em grau de recurso para ser julgada.

Superior Tribunal de Justiça

COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: I - processar e julgar, originariamente: a) nos crimes comuns, os Governadores dos Estados e do Distrito Federal, e, nestes e nos de responsabilidade, os desembargadores dos Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, os membros dos Tribunais de Contas dos Estados e do Distrito Federal, os dos Tribunais Regionais Federais, dos Tribunais Regionais Eleitorais e do Trabalho, os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios e os do Ministério Público da União que oficiem perante tribunais; b) os mandados de segurança e os habeas data contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da Aeronáutica ou do próprio Tribunal; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999) c) os habeas corpus, quando o coator ou paciente for qualquer das pessoas mencionadas na alínea a, ou quando o coator for tribunal sujeito à sua jurisdição, Ministro de Estado ou Comandante da Marinha, do Exército ou da Aeronáutica, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 23, de 1999); d) os conflitos de competência entre quaisquer tribunais, ressalvado o disposto no art. 102, I, o, bem como entre tribunal e juízes a ele não vinculados e entre juízes vinculados a tribunais diversos;.i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias;(Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) e) as revisões criminais e as ações rescisórias de seus julgados; f) a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões; g) os conflitos de atribuições entre autoridades administrativas e judiciárias da União, ou entre autoridades judiciárias de um Estado e administrativas de outro ou do Distrito Federal, ou entre as deste e da União; h) o mandado de injunção, quando a elaboração da norma regulamentadora for atribuição de órgão, entidade ou autoridade federal, da administração direta ou indireta, excetuados os casos de competência do Supremo Tribunal Federal e dos órgãos da Justiça Militar, da Justiça Eleitoral, da Justiça do Trabalho e da Justiça Federal; i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias; (Incluída pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). A competência prevista na alínea “i” era do Supremo Tribunal Federal e, após a emenda constitucional nº 45, de 8.12.2004, passou a ser competência do Superior Tribunal de Justiça. Ressalte-se que a execução da sentença estrangeira e da carta rogatória será de competência do Juízo federal (vê o art. 109, X, da CF/88). COMPETÊNCIA RECURSAL ORDINÁRIA E ESPECIAL DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA.

Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça: (...).

100

II - julgar, em recurso ordinário: a) os habeas corpus decididos em única ou última instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão for denegatória; b) os mandados de segurança decididos em única instância pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando denegatória a decisão; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) c) as causas em que forem partes Estado estrangeiro ou organismo internacional, de um lado, e, do outro, Município ou pessoa residente ou domiciliada no País; II - julgar, em recurso especial, as causas decididas, em única ou última instância, pelos Tribunais Regionais Federais ou pelos tribunais dos Estados, do Distrito Federal e Territórios, quando a decisão recorrida: a) contrariar tratado ou lei federal, ou negar-lhes vigência; b) julgar válido ato de governo local contestado em face de lei federal; c) der a lei federal interpretação divergente da que lhe haja atribuído outro tribunal.

Tribunais Regionais Federais e dos Juízes Federais

COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS.

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: I - processar e julgar, originariamente: a) os juízes federais da área de sua jurisdição, incluídos os da Justiça Militar e da Justiça do Trabalho, nos crimes comuns e de responsabilidade, e os membros do Ministério Público da União, ressalvada a competência da Justiça Eleitoral; b) as revisões criminais e as ações rescisórias de julgados seus ou dos juízes federais da região; c) os mandados de segurança e os habeas data contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal;d) os habeas corpus, quando a autoridade coatora for juiz federal; e) os conflitos de competência entre juízes federais vinculados ao Tribunal;

COMPETÊNCIA RECURSAL DOS TRIBUNAIS REGIONAIS FEDERAIS.

Art. 108. Compete aos Tribunais Regionais Federais: II - julgar, em grau de recurso, as causas decididas pelos juízes federais e pelos juízes estaduais no exercício da competência federal da área de sua jurisdição.

Competência recursal dos Tribunais Regionais Federais. Quando não houver sede da justiça federal nas comarcas, a competência será da justiça estadual, conforme previsão do parágrafo 3º. do artigo 109, da CF/88.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: § 3º Serão processadas e julgadas na Justiça estadual, no foro do domicílio dos segurados ou beneficiários, as causas em que forem parte instituição de previdência social e segurado, sempre que a comarca não seja sede de vara do juízo federal, e, se verificada essa condição, a lei poderá permitir que outras causas sejam também processadas e julgadas pela Justiça estadual. § 4º Na hipótese do parágrafo anterior, o recurso cabível será sempre para o Tribunal Regional Federal na área de jurisdição do juiz de primeiro grau.

COMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DOS JUÍZES FEDERAIS.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: I - as causas em que a União, entidade autárquica ou empresa pública federal forem interessadas na condição de autoras, rés, assistentes ou oponentes, exceto as de falência, as de acidentes de trabalho e as sujeitas à Justiça Eleitoral e à Justiça do Trabalho; II - as causas entre Estado estrangeiro ou organismo internacional e Município ou pessoa domiciliada ou residente no País;

101

III - as causas fundadas em tratado ou contrato da União com Estado estrangeiro ou organismo internacional; IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; V-A - as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste artigo;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; VII - os habeas corpus, em matéria criminal de sua competência ou quando o constrangimento provier de autoridade cujos atos não estejam diretamente sujeitos a outra jurisdição; VIII - os mandados de segurança e os habeas data contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos tribunais federais; IX - os crimes cometidos a bordo de navios ou aeronaves, ressalvada a competência da Justiça Militar; X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o exequatur, e de sentença estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização; XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Jurisprudência relacionada ao tema: Súmula 501 do STF – Compete à Justiça ordinária estadual o processo e julgamento, em ambas as instâncias, das causas de acidente de trabalho, ainda que promovidas contra a União, suas autarquias, empresas públicas ou sociedades de economia mista. Súmula 556 do STF – É competente a justiça comum – estadual – para julgar as causas em que é parte sociedade de economia mista. Súmula Vinculante 22 - A Justiça do Trabalho é competente para processar e julgar as ações de indenização por danos morais e patrimoniais decorrentes de acidente de trabalho propostas por empregado contra empregador, inclusive aquelas que ainda não possuíam sentença de mérito em primeiro grau quando da promulgação da Emenda Constitucional no 45/04. Súmula Vinculante 27 - Compete à Justiça estadual julgar causas entre consumidor e concessionária de serviço público de telefonia, quando a ANATEL não seja litisconsorte passiva necessária, assistente, nem opoente. Súmula Vinculante 36 - Compete à Justiça Federal comum processar e julgar civil denunciado pelos crimes de falsificação e de uso de documento falso quando se tratar de falsificação da Caderneta de Inscrição e Registro (CIR) ou de Carteira de Habilitação de Amador (CHA), ainda que expedidas pela Marinha do Brasil.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:. § 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar, perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça Federal.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

A Justiça Federal é competente para processar e julgar prática de crime de publicação, na internet, de imagens com conteúdo pornográfico envolvendo criança ou adolescente. Esse foi o entendimento do Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) na sessão realizada nesta quarta-feira (28) que, por maioria de votos, negou provimento ao Recurso Extraordinário (RE) 628624. O tema teve repercussão geral reconhecida e atinge 16 casos sobrestados. O RE questiona o acórdão da 4ª Turma do Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1) que determinou a competência da Justiça Federal para processar e julgar a suposta prática do crime de publicação de imagens com conteúdo pornográfico envolvendo adolescentes (artigo 241-A da Lei 8.069/1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente), quando cometidos na internet. Em síntese, o autor do RE sustenta que a matéria seria de competência da Justiça estadual, uma vez que não existiria

102

qualquer evidência de que o acesso ao material pornográfico infantil, disponível na rede mundial de computadores, tenha ocorrido fora dos limites nacionais. As causas relativas a direitos humanos, em princípio, são de competência dos juízes estaduais, das quais serão excetuadas as de grave ameaça a direitos humanos, que pela suscitação do incidente de deslocamento de competência, caso deferido pelo Superior Tribunal de Justiça, será transferida para a Justiça Federal.

Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...) 1. Todo homicídio doloso, independentemente da condição pessoal da vítima e/ou da repercussão do fato no cenário nacional ou internacional, representa grave violação ao maior e mais importante de todos os direitos do ser humano, que é o direito à vida, previsto no art. 4º, nº 1, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, da qual o Brasil é signatário por força do Decreto nº 678, de 6/11/1992, razão por que não há falar em inépcia da peça inaugural. 2. Dada a amplitude e a magnitude da expressão “direitos humanos”, é verossímil que o constituinte derivado tenha optado por não definir o rol dos crimes que passariam para a competência da Justiça Federal, sob pena de restringir os casos de incidência do dispositivo (CF, art. 109, § 5º), afastando-o de sua finalidade precípua, que é assegurar o cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil sobre a matéria, examinando-se cada situação de fato, suas circunstâncias e peculiaridades detidamente, motivo pelo qual não há falar em norma de eficácia limitada. (...) 4. Na espécie, as autoridades estaduais encontram-se empenhadas na apuração dos fatos que resultaram na morte da missionária norte-americana Dorothy Stang, com o objetivo de punir os responsáveis, refletindo a intenção de o Estado do Pará dar resposta eficiente à violação do maior e mais importante dos direitos humanos, o que afasta a necessidade de deslocamento da competência originária para a Justiça Federal, de forma subsidiária, sob pena, inclusive, de dificultar o andamento do processo criminal e atrasar o seu desfecho, utilizando-se o instrumento criado pela aludida norma em desfavor de seu fim, que é combater a impunidade dos crimes praticados com grave violação de direitos humanos. 5. O deslocamento de competência – em que a existência de crime praticado com grave violação aos direitos humanos é pressuposto de admissibilidade do pedido – deve atender ao princípio da proporcionalidade (adequação, necessidade e proporcionalidade em sentido estrito), compreendido na demonstração concreta de risco de descumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais firmados pelo Brasil, resultante da inércia, negligência, falta de vontade política ou de condições reais do Estado-membro, por suas instituições, em proceder à devida persecução penal. No caso, não há a cumulatividade de tais requisitos, a justificar que se acolha o incidente. (...). (STJ IDC 01/PA do STJ, rel. Min. Arnaldo Esteves Lima, 10/10/2005). EMENTA. (...) 2. Fatos que motivaram o pedido de deslocamento deduzido pelo Procurador-Geral da República: o advogado e vereador pernambucano MANOEL BEZERRA DE MATTOS NETO foi assassinado em 24/01/2009, no Município de Pitimbu/PB, depois de sofrer diversas ameaças e vários atentados, em decorrência, ao que tudo leva a crer, de sua persistente e conhecida atuação contra grupos de extermínio que agem impunes há mais de uma década na divisa dos Estados da Paraíba e de Pernambuco, entre os Municípios de Pedras de Fogo e Itambé. (...). 5. É notória a incapacidade das instâncias e autoridades locais em oferecer respostas efetivas, reconhecida a limitação e precariedade dos meios por elas próprias. Há quase um pronunciamento uníssono em favor do deslocamento da competência para a Justiça Federal, dentre eles, com especial relevo: o Ministro da Justiça; o Governador do Estado da Paraíba; o Governador de Pernambuco; a Secretaria Executiva de Justiça de Direitos Humanos; a Ordem dos Advogados do Brasil; a Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Estado da Paraíba. 6. As circunstâncias apontam para a necessidade de ações estatais firmes e eficientes, as quais, por muito tempo, as autoridades locais não foram capazes de adotar, até porque a zona limítrofe potencializa as dificuldades de coordenação entre os órgãos dos dois Estados. Mostra-se, portanto, oportuno e conveniente a imediata entrega das investigações e do processamento da ação penal em tela aos órgãos federais. 7. Pedido ministerial parcialmente acolhido para deferir o deslocamento de competência para a Justiça Federal no Estado da Paraíba da ação penal n.º 022.2009.000.127-8, a ser distribuída para o Juízo Federal Criminal com jurisdição no local do fato principal; (...). (STJ IDC 2/ DF. STJ. Rel. Min. Leurita Vaz. DJ 22.11.2010).

Tribunais e Juízes do Trabalho

103

Art. 111-A. (...). § 1º A lei disporá sobre a competência do Tribunal Superior do Trabalho.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) (...). § 3º Compete ao Tribunal Superior do Trabalho processar e julgar, originariamente, a reclamação para a preservação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões. (incluído pela Emenda Constitucional n

o 92, de 2016).

Art. 113. A lei disporá sobre a constituição, investidura, jurisdição, competência, garantias e condições de exercício dos órgãos da Justiça do Trabalho. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 24, de 1999) Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar:(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I - as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) II - as ações que envolvam exercício do direito de greve;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) III - as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) IV - os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) V - os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI - as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VII - as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VIII - a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir;(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) IX - outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Jurisprudência relacionada ao tema: Súmula vinculante nº 53 do STF - A competência da Justiça do Trabalho prevista no art. 114, VIII, da Constituição Federal alcança a execução de ofício das contribuições previdenciárias relativas ao objeto da condenação constante das sentenças que proferir e acordos por ela homologados. EMENTA. (...) Causas entre o Poder Público e seus servidores estatutários. Ações que não se reputam oriundas de relação de trabalho. Conceito estrito desta relação. Feitos da competência da Justiça Comum. Interpretação do art. 114, inc. I, da CF, introduzido pela EC 45/2004. Precedentes. Liminar deferida para excluir outra interpretação. O disposto no art. 114, I, da Constituição da República, não abrange as causas instauradas entre o Poder Público e servidor que lhe seja vinculado por relação jurídico-estatutária. (...). (STF ADI 3.395/DF, rel. Min. Cezar Peluso, 10/11/2006).

Tribunais e Juízes Eleitorais

Art. 121. Lei complementar disporá sobre a organização e competência dos Tribunais, dos juízes de direito e das Juntas Eleitorais. § 3º São irrecorríveis as decisões do Tribunal Superior Eleitoral, salvo as que contrariarem esta Constituição e as denegatórias de habeas corpus ou mandado de segurança. § 4º Das decisões dos Tribunais Regionais Eleitorais somente caberá recurso quando: I - forem proferidas contra disposição expressa desta Constituição ou de lei; II - ocorrer divergência na interpretação de lei entre dois ou mais Tribunais Eleitorais; III - versarem sobre inelegibilidade ou expedição de diplomas nas eleições federais ou estaduais; IV - anularem diplomas ou decretarem a perda de mandatos eletivos federais ou estaduais; V - denegarem habeas corpus, mandado de segurança, habeas data ou mandado de injunção.

104

Tribunais e Juízes Militares

Art. 124. À Justiça Militar compete processar e julgar os crimes militares definidos em lei. Parágrafo único. A lei disporá sobre a organização, o funcionamento e a competência da Justiça Militar.

Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA: HABEAS CORPUS. CONSTITUCIONAL. PENAL MILITAR. PROCESSUAL PENAL MILITAR. CRIME DOLOSO PRATICADO POR CIVIL CONTRA A VIDA DE MILITAR DA AERONÁUTICA EM SERVIÇO: COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA MILITAR PARA PROCESSAMENTO E JULGAMENTO DA AÇÃO PENAL: ART. 9º, INC. III, ALÍNEA D, DO CÓDIGO PENAL MILITAR: CONSTITUCIONALIDADE. PRECEDENTES. HABEAS CORPUS DENEGADO. 1. A jurisprudência do Supremo Tribunal Federal é no sentido de ser constitucional o julgamento dos crimes dolosos contra a vida de militar em serviço pela justiça castrense, sem a submissão destes crimes ao Tribunal do Júri, nos termos do o art. 9º, inc. III, "d", do Código Penal Militar. (...). (STF HC 91.003/BA, rel. Min. Cármen Lúcia, 03/08/2007).

Tribunais e Juízes dos Estados

Art. 125. Os Estados organizarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. § 2º Cabe aos Estados a instituição de representação de inconstitucionalidade de leis ou atos normativos estaduais ou municipais em face da Constituição estadual, vedada a atribuição da legitimação para agir a um único órgão. § 3º A lei estadual poderá criar, mediante proposta do Tribunal de Justiça, a Justiça Militar estadual, constituída, em primeiro grau, pelos juízes de direito e pelos Conselhos de Justiça e, em segundo grau, pelo próprio Tribunal de Justiça, ou por Tribunal de Justiça Militar nos Estados em que o efetivo militar seja superior a vinte mil integrantes.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 4º Compete à Justiça Militar estadual processar e julgar os militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil, cabendo ao tribunal competente decidir sobre a perda do posto e da patente dos oficiais e da graduação das praças.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 5º Compete aos juízes de direito do juízo militar processar e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis e as ações judiciais contra atos disciplinares militares, cabendo ao Conselho de Justiça, sob a presidência de juiz de direito, processar e julgar os demais crimes militares.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 126. Para dirimir conflitos fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência exclusiva para questões agrárias.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á presente no local do litígio.

6. Funções essenciais à Justiça: do Ministério Público; Advocacia

Pública; Advocacia; Defensoria Pública.

Ministério Público

105

Art. 127. O Ministério Público é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis.

§ 1º – São princípios institucionais do Ministério Público a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional.

§ 2º – Ao Ministério Público é assegurada autonomia funcional e administrativa, podendo observado o disposto no Art. 169, propor ao Poder Legislativo a criação e extinção de seus cargos e serviços auxiliares, provendo-os por concurso público de provas ou de provas e títulos, a política remuneratória e os planos de carreira; a lei disporá sobre sua organização e funcionamento.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 3º – O Ministério Público elaborará sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias. § 4º – Se o Ministério Público não encaminhar a respectiva proposta orçamentária dentro do prazo estabelecido na lei de diretrizes orçamentárias, o Poder Executivo considerará, para fins de consolidação da proposta orçamentária anual, os valores aprovados na lei orçamentária vigente, ajustados de acordo com os limites estipulados na forma do § 3º.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 5º – Se a proposta orçamentária de que trata este artigo for encaminhada em desacordo com os limites estipulados na forma do § 3º, o Poder Executivo procederá aos ajustes necessários para fins de consolidação da proposta orçamentária anual.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) § 6º – Durante a execução orçamentária do exercício, não poderá haver a realização de despesas ou a assunção de obrigações que extrapolem os limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias, exceto se previamente autorizadas, mediante a abertura de créditos suplementares ou especiais.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) Art. 128. O Ministério Público abrange: I – o Ministério Público da União, que compreende: a) o Ministério Público Federal; b) o Ministério Público do Trabalho; c) o Ministério Público Militar; d) o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios. II – os Ministérios Públicos dos Estados. § 1º – O Ministério Público da União tem por chefe o Procurador-Geral da República, nomeado pelo Presidente da República dentre integrantes da carreira, maiores de trinta e cinco anos, após a aprovação de seu nome pela maioria absoluta dos membros do Senado Federal, para mandato de dois anos, permitida a recondução. § 2º – A destituição do Procurador-Geral da República, por iniciativa do Presidente da República, deverá ser precedida de autorização da maioria absoluta do Senado Federal. § 3º – Os Ministérios Públicos dos Estados e o do Distrito Federal e Territórios formarão lista tríplice dentre integrantes da carreira, na forma da lei respectiva, para escolha de seu Procurador-Geral, que será nomeado pelo Chefe do Poder Executivo, para mandato de dois anos, permitida uma recondução. § 4º – Os Procuradores-Gerais nos Estados e no Distrito Federal e Territórios poderão ser destituídos por deliberação da maioria absoluta do Poder Legislativo, na forma da lei complementar respectiva. § 5º – Leis complementares da União e dos estados, cuja iniciativa é facultada aos respectivos Procuradores-Gerais, estabelecerão a organização, as atribuições e o estatuto de cada Ministério Público, observadas, relativamente a seus membros: I – as seguintes garantias: a) vitaliciedade, após dois anos de exercício, não podendo perder o cargo senão por sentença judicial transitada em julgado; b) inamovibilidade, salvo por motivo de interesse público, mediante decisão do órgão colegiado competente do Ministério Público, pelo voto da maioria absoluta de seus membros, assegurada ampla defesa;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) c) irredutibilidade de subsídio, fixado na forma do Art. 39, § 4º, e ressalvado o disposto nos Arts. 37, X e XI, 150, II, 153, III, § 2º, I;(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

106

II – as seguintes vedações: a) receber, a qualquer título e sob qualquer pretexto, honorários, percentagens ou custas processuais; b) exercer a advocacia; c) participar de sociedade comercial, na forma da lei; d) exercer, ainda que em disponibilidade, qualquer outra função pública, salvo uma de magistério; e) exercer atividade político-partidária; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) f) receber, a qualquer título ou pretexto, auxílios ou contribuições de pessoas físicas, entidades públicas ou provadas, ressalvadas as exceções previstas em lei. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004). § 6º Aplica-se aos membros do Ministério Público o disposto no Art. 95, parágrafo único, V. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Art. 129. São funções institucionais do Ministério Público: I – promover, privativamente, a ação penal pública, na forma da lei; II – zelar pelo efetivo respeito dos Poderes Públicos e dos serviços de relevância pública aos direitos assegurados nesta Constituição, promovendo as medidas necessárias a sua garantia; III – promover o inquérito civil e a ação civil pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos;

Vê parágrafo 1º deste artigo.

Jurisprudência relacionada ao tema: Súmula 643 do STF - O Ministério Público tem legitimidade para promover ação civil pública cujo fundamento seja a ilegalidade de reajuste de mensalidade escolares.

IV – promover a ação de inconstitucionalidade ou representação para fins de intervenção da União e dos Estados, nos casos previstos nesta Constituição; V – defender judicialmente os direitos e interesses das populações indígenas; VI – expedir notificações nos procedimentos administrativos de sua competência, requisitando informações e documentos para instruí-los, na forma da lei complementar respectiva;

A lei Orgânica Nacional do Ministério Público é a lei 8.625/93.

VII – exercer o controle externo da atividade policial, na forma da lei complementar mencionada no Artigo anterior; VIII – requisitar diligências investigatórias e a instauração de inquérito policial, indicados os fundamentos jurídicos de suas manifestações processuais; IX – exercer outras funções que lhe forem conferidas, desde que compatíveis com sua finalidade, sendo-lhe vedada a representação judicial e a consultoria jurídica de entidades públicas. § 1º – A legitimação do Ministério Público para as ações civis previstas neste Artigo não impede a de terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei.

Lei nº 7.347/85.

§ 2º – As funções do Ministério Público só podem ser exercidas por integrantes da carreira, que deverão residir na comarca da respectiva lotação, salvo autorização do chefe da instituição.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 3º – O ingresso na carreira do Ministério Público far-se-á mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em sua realização, exigindo-se do bacharel em direito, no mínimo, três anos de atividade jurídica e observando-se, nas nomeações, a ordem de classificação.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 4º – Aplica-se ao Ministério Público, no que couber, o disposto no Art. 93.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) § 5º – A distribuição de processos no Ministério Público será imediata.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

107

Art. 130 – Aos membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas aplicam-se as disposições desta seção pertinentes a direitos, vedações e forma de investidura.

Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). I - Segundo precedente do STF (ADI 789/DF), os Procuradores das Cortes de Contas são ligados administrativamente a elas, sem qualquer vínculo com o Ministério Público comum. II - Além de violar os arts. 73, § 2º, I, e 130, da Constituição Federal, a conversão automática dos cargos de Procurador do Tribunal de Contas dos Municípios para os de Procurador de Justiça - cuja investidura depende de prévia aprovação em concurso público de provas e títulos - ofende também o art. 37, II, do texto magno. (...). (STF ADI 3.315/CE, rel. Min. Ricardo Lewandowski, 11/04/2008). CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO.

Art. 130-A O Conselho Nacional do Ministério Público compõe-se de quatorze membros nomeados pelo Presidente da República, depois de aprovada a escolha pela maioria absoluta do Senado Federal, para um mandato de dois anos, admitida uma recondução, sendo:(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) I – o Procurador-Geral da República, que o preside: II – quatro membros do Ministério Público da União, assegurada a representação de cada uma de suas carreiras; III – três membros do Ministério Público dos Estados; IV – dois juízes, indicados um pelo Supremo Tribunal Federal e outro pelo Superior Tribunal de Justiça; V – dois advogados, indicados pelo Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil; VI – dois cidadãos de notável saber jurídico e reputação ilibada, indicados um pela Câmara dos Deputados e outro pelo Senado Federal. § 1º – Os membros do Conselho oriundos do Ministério Público serão indicados pelos respectivos Ministérios Públicos, na forma da lei. § 2º – Compete ao Conselho Nacional do Ministério Público o controle da atuação administrativa e financeira do Ministério Público e do cumprimento dos deveres funcionais de seus membros, cabendo-lhe: I – zelar pela autonomia funcional e administrativa do Ministério Público, podendo expedir atos regulamentares, no âmbito de sua competência ou recomendar providências; II – zelar pela observância do Art. 37 e apreciar, de ofício ou mediante provocação, a legalidade dos atos administrativos praticados por membros ou órgãos do Ministério Público da União e dos Estados, podendo desconstituí-los, revê-los ou fixar prazo para que se adotem as providências necessárias ao exato cumprimento da lei, sem prejuízo da competência dos Tribunais de Contas; III – receber e conhecer das reclamações contra membros ou órgãos do Ministério Público da União ou dos Estados, inclusive contra seus serviços auxiliares, sem prejuízo da competência disciplinar e correicional da instituição, podendo avocar processos disciplinares em curso, determinar a remoção, a disponibilidade ou a aposentadoria com subsídios ou proventos proporcionais ao tempo de serviço e aplicar outras sanções administrativas, assegurada ampla defesa; IV – rever, de ofício ou mediante provocação, os processos disciplinares de membros do Ministério Público da União ou dos Estados julgados há menos de um ano; V – elaborar relatório anual, propondo as providências que julgar necessárias sobre a situação do Ministério Público no País e as atividades do Conselho, o qual deve integrar a mensagem prevista no Art. 84, XI. § 3º O Conselho escolherá, em votação secreta, um Corregedor nacional, dentre os membros do Ministério Público que o integram, vedada a recondução, competindo-lhe, além das atribuições que lhe forem conferidas pela lei, as seguintes: I – receber reclamações e denúncias, de qualquer interessado, relativas aos membros do Ministério Público e dos seus serviços auxiliares; II – exercer funções executivas do Conselho, de inspeção e correição geral; III – requisitar e designar membros do Ministério Público, delegando-lhes atribuições, e requisitar servidores de órgãos do Ministério Público. § 4 O Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil oficiará junto ao Conselho. § 5º Leis da União e dos Estados criarão ouvidorias do Ministério Público, competentes para receber reclamações e denúncias de qualquer interessado contra membros ou órgãos do Ministério Público,

108

inclusive contra seus serviços auxiliares, representando diretamente ao Conselho Nacional do Ministério Público.

Jurisprudência relacionada ao tema:

EMENTA: DIREITO CONSTITUCIONAL E ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. DECISÃO NEGATIVA DO CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO. INCOMPETÊNCIA ORIGINÁRIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. 1. A impugnação de decisão negativa do CNMP não enseja a competência originária desta Corte (art. 102, I, r, da CF). 2. Mandado de segurança não conhecido. (STF MS N. 33.163-DF RED. P/ O ACÓRDÃO: MIN. ROBERTO BARROSO - noticiado no Informativo 784).

Da Advocacia Pública (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Art. 131. A Advocacia-Geral da União é a instituição que, diretamente ou através de órgão vinculado, representa a União Judicial e extrajudicialmente, cabendo-lhe, nos termos da lei complementar que dispuser sobre sua organização e funcionamento, as atividades de consultoria e assessoramento jurídico do Poder Executivo. § 1º – A Advocacia-Geral da União tem por chefe o Advogado-Geral da União, de livre nomeação pelo Presidente da República dentre cidadãos maiores de trinta e cinco anos, de notável saber jurídico e reputação ilibada.

Jurisprudência relacionada ao tema: EMENTA. (...). I. Supremo Tribunal Federal: competência penal originária: ação penal (ou interpelação preparatória dela) contra o Advogado-Geral da União, que passou a ser Ministro de Estado por força da última edição da MP 2049-20, de 29.06.2000. (...). (STF Inq QO 1.660/DF, rel. Min. Sepúlveda Pertence, 06/06/2003).

§ 2º – O ingresso nas classes iniciais das carreiras da instituição de que trata este artigo far-se-á mediante concurso público de provas e títulos. § 3º – Na execução da dívida ativa de natureza tributária, a representação da União cabe à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, observado o disposto em lei.

A Lei Complementar 73/93 incluiu a Procuradoria Geral da Fazenda como um dos órgãos superiores da AGU.

Art. 132. Os Procuradores dos Estados e do Distrito Federal, organizados em carreira, na qual o ingresso dependerá de concurso público de provas e títulos, com a participação da Ordem dos Advogados do Brasil em todas as suas fases, exercerão a representação judicial e a consultoria jurídica das respectivas unidades federadas.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998) Parágrafo único. Aos procuradores referidos neste artigo é assegurada estabilidade após três anos de efetivo exercício, mediante avaliação de desempenho perante os órgãos próprios, após relatório circunstanciado das corregedorias.(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998)

Advocacia (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)

Art. 133. O advogado é indispensável à administração da justiça, sendo inviolável por seus atos e manifestações no exercício da profissão nos limites da lei.

Nos termos da lei 8.906/94 (Estatuto da ordem).

Defensoria Pública

(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)

Art. 134. A Defensoria Pública é instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe, como expressão e instrumento do regime democrático, fundamentalmente, a

109

orientação jurídica, a promoção dos direitos humanos e a defesa, em todos os graus, judicial e extrajudicial, dos direitos individuais e coletivos, de forma integral e gratuita, aos necessitados, na forma do inciso LXXIV do art. 5º desta Constituição Federal. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014) § 1º Lei complementar organizará a Defensoria Pública da União e do Distrito Federal e dos Territórios e prescreverá normas gerais para sua organização nos Estados, em cargos de carreira, providos, na classe inicial, mediante concurso público de provas e títulos, assegurada a seus integrantes a garantia da inamovibilidade e vedado o exercício da advocacia fora das atribuições institucionais. § 2º As Defensorias Públicas Estaduais são asseguradas autonomia funcional e administrativa e a iniciativa de sua proposta orçamentária dentro dos limites estabelecidos na lei de diretrizes orçamentárias e subordinação ao disposto no Art. 99, § 2º.(Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) §3º Aplica-se o disposto no § 2º às Defensorias Públicas da União e do Distrito Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 74, de 06 de agosto de 2013). § 4º São princípios institucionais da Defensoria Pública a unidade, a indivisibilidade e a independência funcional, aplicando-se também, no que couber, o disposto no art. 93 e no inciso II do art. 96 desta Constituição Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 80, de 2014)

Art. 135. Os servidores integrantes das carreiras disciplinadas nas Seções II e III deste Capítulo serão remunerados na forma do Art. 39, § 4º. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 19, de 1998).