apostila - curso umbanda
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8/12/2019 Apostila - Curso Umbanda
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UMBANDAESTUDO BSICO
Jorge Botelho
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JORGEBOTELHO
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Blog Estudo da Umbanda
TEDES TENDA ESPRITA DIVINO ESPRITO SANTO
CNPJ: 10.421.237/0001-08 / Registro N 906, FL. 31 Livro A-2, de 19/11/1982
Rua Dom Pedro II, n 554 , Bairro: 249 / Volta Redonda
SEES PBLICAS TODAS AS TERAS S 19H
APOSTILA DE ESTUDO
UMBANDA -ESTUDO BSICO
SUMRIO
INTRODUO ------------------------------------------------------------------------------------- Pg. 03
CONSIDERAES SOBRE A UMBANDA ------------------------------------------------- Pg. 05
MENSAGEM - AOS MDIUNS DE UMBANDA -------------------------------------------------- Pg. 07
1 PARTE
CONCEITOS BSICOS
I
- PORQUE DEVEMOS ESTUDAR A UMBANDA? -------------------------------- Pg. 09
II - RELIGIO - O QUE E O PORQU DAS DIFERENTES PRTICAS E RITUAIS ---- Pg. 11
III - SINCRETISMO RELIGIOSO E SUAS ORIGENS NO BRASIL -------------- Pg. 15
IV - A ORIGEM DA UMBANDA ------------------------------------------------------------ Pg. 25
V - PRINCPIOS BSICOS ---------------------------------------------------------------- Pg. 31
VI - AS LINHAS VIBRACIONAIS DA UMBANDA ------------------------------------- Pg. 33
VII - AS FONTES ENERGTICAS DA UMBANDA ------------------------------------ Pg. 37
VIII - AS OFERENDAS NA UMBNADA ---------------------------------------------------- Pg. 39
2 PARTE
OS ORIXS
MENSAGEM - A TRISTEZA DOS ORIXS ------------------------------------------------------ Pg. 41
I
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- OS ORIXS - DIVINDADES DA UMBANDA -------------------------------------------- Pg. 45
II - OLORUM - DEUS, O CRIADOR --------------------------------------------------------- Pg. 49
III - OXAL - O EQUILBRIO E A F --------------------------------------------------------- Pg. 51
IV - OGUM - A LEI ----------------------------------------------------------------------------- Pg. 53
V - YEMANJ - A VIDA ---------------------------------------------------------------------- Pg. 55
VI - OXOSSI - O CONHECIMENTO ---------------------------------------------------------- Pg. 57VII - XANG - A JUSTIA --------------------------------------------------------------------- Pg. 59
VIII - YANS - A LEI EM AO ---------------------------------------------------------------- Pg. 61
IX - OXUM - O AMOR DIVINO ---------------------------------------------------------------- Pg. 63
X - OMUL - O PRINCPIO CURADOR ----------------------------------------------------- Pg. 65
3 PARTE
DIVERSOS
MENSAGEM MEDIUNIDADE NO SINNIMO DE MGICA ----------------------------- Pg. 67
I
- A UMBANDA E O ESPIRITISMO ---------------------------------------------------- Pg. 69
II - MEDIUNIDADE --------------------------------------------------------------------------- Pg. 71
III - DESENVOLVIMENTO MEDINICO ------------------------------------------------ Pg. 73
IV - UMBANDA - MITOS E REALIDADES --------------------------------------------------- Pg. 79
V - PEQUENO DICIONRIO DE UMBANDA ----------------------------------------- Pg. 85
FONTES DE PESQUISA ------------------------------------------------------------------------ Pg. 93
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INTRODUO
Caro companheiro de estudo, eu como todo bom filho de Ogum, curioso e muito teimoso,
venho pesquisando sobre a Umbanda, suas origens, suas razes e seus fundamentos, buscando
com isso tirar as muitas dvidas que pairam em minha cabea. Com isso resolvi algumas,
apareceram outras, o importante que cada dia que passa, venho aprendo ainda mais.
Aprendi que UMBANDA COISA SRIA PRA GENTE SRIA!
Aprendi tambm que a Umbanda o retorno simplicidade de cultuar Deus. Religio que
se baseia na Caridade, usando para isso todos os recursos das foras divinas da natureza em favor
ao prximo.
Estou aqui no para apresentar uma nova filosofia sobre a UMBANDA, mas sim um
modelo, uma tese, baseada em muita pesquisa e estudos em livros, sites, listas de e-mail, conversas
com dirigentes de terreiros, na prpria vivncia do dia-a-dia dos trabalhos e nas palavras dos Orixs
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e dos grandes mensageiros da nossa Umbanda.
Aproveito aqui para agradecer a todas as Entidades maravilhosas que me ensinam atravs
de suas palavras a Humildade, a Caridade Pura e o Amor ao Prximo.
Agradeo tambm aos meus amigos de todas as listas de e-mail e comunidades do Orkut
que participo, que muito me auxiliaram nessa empreitada, pois atravs dessa troca de experincia,
venho buscando fundamentar e agregar mais conhecimentos. Aos leitores do blog Estudo de
Umbanda, pois atravs de suas opinies, sugestes, suas criticas e do debate sadio venho
buscando um consenso pelo menos nos temas abordados. como uma amiga me disse: O
resultado desse estudo uma Sinfonia" de muitos compositores!
O nosso objetivo aqui ser, durante o decorrer desse estudo, buscar o que h de verdade
na Umbanda, discutindo pontos de vista, sempre buscando levantar o vu que h sobre alguns
conceitos, enfim, abrir nossas mentes para que cada um possa chegar a suas prprias concluses
sobre o que ou no verdade dentro da Umbanda.
Espero que todos consigam aprender aqui algo que lhes permita uma melhor compreenso
dos verdadeiros objetivos dessa religio to querida e ao mesmo tempo to pouco compreendida.
Esteja certo que para uma boa compreenso dos assuntos aqui abordados, preciso inicialmente
que voc, abra a sua mente, dispa-se de seus preconceitos, esteja aberto ao novo, aberto aos
conceitos que conclamaro seu raciocnio concluses, muita das vezes, diferentes daquelas que
voc assumiu at hoje como verdades ou simplesmente serviro para melhor fundament-las.
Espero ajudar certamente em uma mudana no seu modo de ver a vida, sua religio, os
seres sua volta, o mundo, enfim, a descobrir um novo ser que estar pronto para renascer de
dentro do atual.
Ento, abra sua mente, raciocine! Vamos buscar o fortalecimento da nossa querida
umbanda! Tenha orgulho de dizer: Eu sou umbandista!
Bom estudo!
Jorge Botelho
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CONSIDERAES SOBRE A UMBANDA
"O nome de Umbanda, que foi dado a um vigoroso movimento de luz, ordenado pelo Astral
Superior, atravs dos Caboclos e Pretos Velhos, termo litrgico, sagrado, vibrado, que significa num
sentido mais profundo, o conjunto das leis de Deus."
W. W. da Matta e Silva
"A doutrina da Umbanda um sistema religioso inspirado nas leis divinas. Sua interpretao
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feita pelos Guias Espirituais que a transmitem por via das comunicaes medinicas. A lgica, a
justia e a razo so as bases dos conceitos emitidos pelas Entidades em torno de tudo o que nos
rodeia na vida terrena. A doutrina umbandista uma via de reformao humana, de espiritualizao
autntica para transformar em realidade o almejado sonho de fraternidade entre os homens. No
falsa assero, pois notrio o resultado obtido com a doutrina ininterruptamente feita pelos espritos
missionrios que se apresentam como Pretos Velhos ou Caboclos".Joo de Freitas
"No cobrar, no matar, usar o branco, evangelizar e utilizar as foras da natureza - eis a
Umbanda".
Moab Caldas
"Os conceitos emitidos atravs da mediunidade de Zlio de Moraes determinaram uma l inha
de trabalho que ser, mais hoje, mais amanh, aquela que definir os rumos verdadeiros da
Umbanda".
Floriano Manoel da Fonseca
"Estamos vivendo uma religio para o futuro e no para o momento presente; o contedo
doutrinrio e a orientao filosfica devem ser estudados e apreciados de modo seguro e preciso,porque o proselitismo o meio visado para propagar as idias e estas devem estar desenvolvidas,
permitindo o raciocnio em funo da poca cientfica em que vivemos. Umbanda o ponto de
convergncia ritual na fuso de raas e crenas, como processo evolutivo num sentido de
espiritualizao. o resultado da evoluo do polissincretismo religioso existente no Brasil, no qual
influram motivaes diversas, inclusive de ordem social, originando um novo culto de feio
brasileira, num aspecto de sntese para o futuro. Estratificadas as bases reais e concretas,
caminhando para uma definio ritual e litrgica, ser, como qualquer religio, sublime em seus
postulados, edificante em seus princpios, respeitvel em seus propsitos, reconfortante para os
sofredores, compreensiva com os pecadores e justa em suas leis".
Cavalcanti Bandeira
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"A Umbanda, esteira de luz a iluminar os filhos de Deus nos caminhos das trevas, chama a si
todas as doutrinas evolucionistas que proclamam o Amor Universal, a imortalidade da alma e a vida
futura, consagrando-se como verdadeira religio de carter nacional".
J. Alves de Oliveira
"Se a nossa misso Umbanda, nosso dever primordial cultu-la com absoluta convico,
respeitando seus princpios, estudando seus fundamentos a fim de compreender os seus fins.
Respeitemos as outras crenas, as deixamos a cargo daqueles que a praticam. No certo misturar
crenas e rituais.
Estudemos a Umbanda, pura, simples e bela, para que possamos pratic-la conscientemente,
elevando-a ao nvel que merece. Umbanda religio e cincia admirvel, que apaixona quem a ela
se dedica.
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Atila Nunes
"Religio de razes antiqssimas, cujas origens remontam a eras anteriores ao Cristianismo,
sua liturgia encontra-se a cada passo do Velho e do Novo Testamento, nos templos do Egito e da ndia
e na prpria Igreja Catlica. Por mais remota que seja uma religio, nela encontraremos os vestgios
da Umbanda, ou seja, sob outro ponto de vista, de cada uma delas a Umbanda dos nossos dias colheu
uma contribuio para consolidar a sua prpria liturgia.Mas assim como a velha religio mosaica, qual pertenciam os homens que falavam face
face com o prprio Deus, teve de ser expurgada por Jesus de todo rito impuro, a Umbanda deixou
para trs a seita que os cientistas classificavam de animismo fetichista e, libertada dos rituais
complexos, pesados e, por vezes, contrrios s normas de bondade, caridade e perdo, passou a ser o
caminho mais simples e acessvel para o homem se aproximar do Criador".
Jos lvares Pessoa
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MENSAGEM - AOS MDIUNS DE UMBANDA
Autoria Espiritual: Maria Padilha das 7 Encruzilhadas
Transcritor: Me Luzia Nascimento
Local: Centro Espiritualista Luz de Aruanda
"Por ser atributo do ser espiritual a mediunidade faculdade que o acompanhar onde
quer que este se encontre. O mdium no s o nos dias e instantes que antecedem o fenmeno
durante as sesses de um terreiro essa condio se faz presente vida a fora, dia-a-dia.
Muitos filhos se esquecem dessa particularidade e quando saem do terreiro no se
lembram dos ensinamentos repassados pelas entidades.
Se um mdium dcil, gentil, educado, fraterno em suas atitudes no o deixar de ser
aps as sesses; da mesma forma que se a hostilidade lhe molda a personalidade em seu cotidiano,
essa caracterstica apresentar-se- na sua conduta como mdium, muito embora conte com toda
amorosidade, disciplina e seriedade de sua Banda.
comum vermos na lida diria a despreocupao dos mdiuns em cultivar a serenidade, a
paz interior e a gentileza natural.
E a o que acontece?
Acontece que muitas entidades que lhe seguiram os passos aps a sesso, precisando de
seus exemplos no bem, a fim de entenderem o significado da palavra caridade de forma
materializada, vero ruir por terra toda aquela aparncia de bom moo e ento na prxima sesso o
mdium chegar ao terreiro no se sentindo bem e normalmente alegar que est com algum
"encosto" a lhe perturbar e que precisa de ajuda da corrente, pois na ltima semana nada em sua
vida deu certo.
Tambm pudera! Esqueceu que seu compromisso no s no terreiro e se permitiu
envolver com energias densas em ambientes no to saudveis a sua manuteno de bem-estar. E
o que pior: ainda fala que a culpa foi de seu Exu ou de sua Pomba Gira que no o protegeu! Como
coisa que sejamos babs de planto e no tenhamos servios a executar.
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H ainda alguns que dizem: "mas eu fao tudo certinho tomo meus banhos, acendo minhas
velas, firmo minha Banda e s vivo atrapalhado!" Afirmamos que assim esse mdium continuar at
que perceba que a Umbanda faz caridade e no milagres! Que a Umbanda mostra o roteiro, porm
quem tem que trilhar so os filhos. Que nela no h facilitaes muito embora no existam
impossibilidades desde que se queira melhorar afinal de contas por que vocs mdiuns esto na
Terra em um corpo fsico? J pararam para pensar nisso?
No pensem vocs que estou querendo coloc-los numa postura de santidade. De forma
alguma! Pois lugar de Santo no Cu e l a lotao j est pra l de esgotada ou ento em
oratrio.
S estou querendo mostrar que nada passa despercebido lei do Todo Poderoso e que
no adianta colocar mscara de bonzinho porque com o tempo essas se desfazem.
No passem a culpa de seus mal-estares s entidades. No coloquem vossas
responsabilidades em nossos ombros e faam a vossa parte, porque a nossa j o fazemos.
Ou vocs duvidam disso?
E ento meu filho em qual Encruzilhada iremos nos encontrar? Em qual delas vou te
buscar?
Sarav aos filhos dessa Banda!
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I
POR QUE DEVEMOS ESTUDAR A UMBANDA?
Sabemos que cada terreiro de Umbanda tem seus fundamentos, sua direo, sua
liderana, seus princpios, sua histria e suas particularidades tanto quanto nos rituais de culto
quanto nas doutrinas professadas. Sabemos tambm que no existe uma doutrina nica da
Umbanda, mas podemos afirmar que ela tem suas razes fundamentadas nos cultos de nao,
indgena, esprita e cristo, abrindo assim um leque de diversidades onde se justificam todas essas
diferenas. Ento, devemos comear por respeitar essas diferenas, pois para entendermos essasparticularidades se faz necessrio um estudo detalhado das origens de cada casa.
Hoje com o avano da cincia e da tecnologia, o homem mudou muito seus conceitos em
relao ao mundo onde vive, sobre si mesmo e o sobrenatural. Podemos ao simples toque de uma
tecla, acessar vrios materiais divulgados nos diversos meios de mdias, onde vemos cada vez mais
exposto as particularidades de cada terreiro. A facilidade a esse contedo, muita das vezes, faz com
que um terreiro acabe, mesmo que subjetivamente, influenciando um ao outro, havendo assim uma
troca de experincias e de conhecimentos, o que de certo modo vem sendo muito importante para o
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crescimento da Umbanda.
Esse dilogo atravs da mdia vem se fundamentando cada vez mais, tornando-se raros os
grupos que se fecham no procurando estudar e aprender com essas diversidades. Acreditamos
que atravs desse dilogo e de um debate aberto, se possa chegar a um consenso quanto a
Doutrina da Umbanda e o respeito mtuo entre seus praticantes.
Os dirigentes de terreiros, que ainda no o fazem, deveriam comear a dar a devida
importncia tambm aos estudos doutrinrios, para que o novo adepto tenha uma base slida e bem
desenvolvida, assim ele prprio poder discernir quanto o que "certo" e o dito errado. Sem esse
estudo, o adepto ficar sem fundamentos, sem bases, o que alimentar ainda mais a ignorncia e
discrdia entre os umbandistas.
Em muitos terreiros ainda no existe um estudo terico e fundamentado da religio. O que
impera, infelizmente, que este estudo desnecessrio e que devemos apenas seguir as
orientaes recebidas dentro do terreiro, essas que em sua maioria so somente prticas, onde o
adepto aprende atravs da vivncia e da observao no dia-a-dia de seus trabalhos na casa, ou
conversando e tirando suas dvidas com os outros filhos do terreiro.
No se permite tambm, de forma alguma, que um mdium visite outro terreiro, justificado
muita das vezes, pelo dirigente, pelas demandas que enfrentaro. Assim vemos muitos terreiros
ainda fechados a preceitos antigos. Deixamos claro aqui que at concordamos em parte com essa
proibio, quando pela falta de preparo do mdium e/ou por ele ainda est em fase de
desenvolvimento.
Por isso se faz necessrio o estudo aprofundado da Doutrina Umbandista, no como
imposio, mas como um dilogo aberto. O adepto deve sim seguir as orientaes da casa, seus
fundamentos, mas nada impede que ele como forma de estudo pesquise todas as correntes, suas
literaturas e rituais. Essa pesquisa deve ser vista como forma de enriquecimento do saber, o que
certamente servir para agregar valores aos fundamentos do mdium e da prpria casa.
Vemos, na maioria das vezes, a Umbanda sendo abordada em debates por dois aspectos:
Razo e Emoo. Quando abordada pela Emoo utilizam-se a f e a afinidade de pensamentos,se fechando assim outras abordagens e explicaes tanto para os fenmenos quanto para os
rituais. Por outro lado quando ela abordada pela Razo se utilizam somente do conceito lgico e
cientfico para buscar essas explicaes. As duas formas so necessrias, mas se levadas ao
extremo podem acarretar grandes problemas. Por exemplo: quando nos deixamos levar somente
pela Emoo, agimos de forma cega e no admitimos ser contrariados, nos fechando a um
fundamento e isto suficiente. O grande perigo a proliferao do fanatismo religioso, onde pela
ignorncia podemos ser levados ao erro, e s fazemos isso ou aquilo quando o dirigente ou o
mentor da casa disser para fazer. Em prtica, isso nos leva ao ostracismo
1
, a obtusao
2
e a nos
1- Ostracismo:Do Latim Ostracismu. 1. Esquecimento. 2. Pena de Expatriaro ou Exlio por 10 anos, concedida aos atenienses
condenados por crimes polticos.
2- Obtusao / Obtuso:Do Latim Obtusu. Aquilo que no ntido, claro ou expressivo; Confuso; Rude; Estpido.
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tornar marionetes ou meros fantoches nas mos de pretensos sbios e donos da verdade.
Mas tambm pode ser muito perigoso agirmos somente com a Razo, levando em
considerao somente a lgica, o pensamento cientfico e a pesquisa aprofundada na busca de uma
explicao dos assuntos, pois levada ao extremo, nos tornar materialistas e pretensos donos da
verdade.
preciso ento, procurar um ponto de equilbrio entre ambas, Razo e Emoo, sempre
buscando, com bom senso, as explicaes e fundamentos com a cabea aberta ao dilogo e ao
novo. A Doutrina da Umbanda deve ser baseada nesse equilbrio, facilitando o conhecimento dos
temas abordados e solidificando a cada dia seus fundamentos.
No devemos estudar a Umbanda sem levar em considerao todas as suas razes, nos
limitando somente a prtica da incorporao medinica, muito menos perder tempo discutindo os
rituais utilizados por este ou aquele terreiro. Devemos deixar esta questo para outro estagio e nos
aprofundarmos nas suas origens para assim construirmos convices slidas baseadas na verdade,
no amor e na caridade, pois s assim veremos os rituais se modificando por si prprios.
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II
RELIGIO: O QUE E O PORQU DAS DIFERENTES PRTICAS E RITUAIS
Sabendo que as prticas e rituais das diversas seitas e religies existentes so
completamente diferentes, nos pegamos com as seguintes questes: Quem tem as prticas e rituais mais acertados? Os catlicos? Os protestantes? Os
evanglicos? Os espritas? Os umbandistas? Os candomblecistas?
Quem o Deus verdadeiro? Jeov? Al? Olorum? Zambi?
Quem de ns ainda no se fez uma dessas perguntas um dia?
Afinal, qual seguimento religioso o mais correto?
Podemos afirmar que, mesmo dentro dos templos de uma mesma religio, sempre h
diversidades em suas prticas e rituais. Para entendermos um pouco o porqu dessas diferenas
comearemos explicando o que RELIGIO
3
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Dentro do que se define como religio podemos encontrar muitas crenas e filosofias
diferentes entre si, porm ainda assim possvel estabelecer uma caracterstica em comum entre
todas elas, que o fato de todas possurem um sistema em crenas no sobrenatural, geralmente
envolvendo divindades ou deuses, e que tambm costumam possuir relatos sobre a origem do
universo, da terra, do homem e sobre o que acontece aps a morte.
A idia de religio, com muita freqncia, contempla que essas divindades ou seres
superiores, que geralmente pertencem a um sistema hierrquico, teriam influncia e o poder de
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determinao no destino do ser humano. Eles so conhecidos como anjos, demnios, elementais,
deuses e semideuses. Outras definies mais amplas dispensam a idia dessas divindades e
focalizam suas doutrinas nos papis de desenvolvimento de valores morais, de cdigos de conduta
e no senso cooperativo em uma comunidade.
Buscando mais a fundo, veremos que religio pode ser definida como um conjunto de
crenas naquilo que conhecemos como sobrenatural, divino, sagrado e transcendental, bem como o
conjunto de rituais e cdigos morais que derivam dessas mesmas crenas. Sendo assim, podemos
determinar que Religio a religao, pouco importando por que caminhos sejam, da criao, o ser,
com suas razes criadoras.
Ento, desde que um grupo qualquer, em qualquer lugar do mundo, esteja trabalhando
para alcanar novos nveis de conhecimentos com prticas que os levem na direo do Criador, no
importando a doutrina que seguir, ele estar praticando Religio. Por outro lado, se as prticas e
rituais do grupo visam muito mais a busca dos valores materiais que dos espirituais, a prtica deixa
de ser considerada Religio, pois no procura a religao da criao com seu Criador e sim da
criatura com a matria.
Visto por esse lado, podemos afirmar que todas as reunies e cultos, sejam elas Espritas,
de Umbanda, os Cultos de Nao Africana, os Cultos Evanglicos, ou as missas Catlicas, podem
ser consideradas Religio desde que cumpram o objetivo de tentar religar seus adeptos ao Poder
Criador, ou a Energia Criadora, ou simplesmente DEUS.
Nessa busca por Deus, so vrias as doutrinas ou cartilhas que podem ser adotadas, mas
sejam elas quais forem devero sempre conduzir seu seguidor atravs de praticas e rituais que o
elevem a nveis superiores de conscincia, pois somente atravs da elevao da conscincia ele
estar no caminho de encontrar-se com seu CRIADOR ou seu DEUS.
Podemos observar, por essa seqncia lgica, que no basta estarmos reunidos e falando
de Deus, qualquer que seja o nome que Lhe queira dar, que estaremos praticando religio. H algo
muito mais profundo no sentido dessa palavra, que infelizmente esquecido por muitos: s
estaremos realmente praticando religio quando nos predispusermos a "sair de dentro de nossacasca" e abrirmos nossos coraes para o mundo buscando, seja l por que caminhos escolhermos,
nossa elevao e se possvel a de outros seres com menos compreenso.
Isso explica porque a maioria das religies prega tanto a chamada CARIDADE, que na sua
essncia no deixa de ser uma prtica onde a pessoa se esquece de seu "mundinho", por alguns
3- Religio:Do latim: "religio", usada na antiga Vulgata, significa "prestar culto a uma divindade", ligar novamente", ou
simplesmente "religar".
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instantes que seja, no sentido de fazer um bem ao outro. E s pelo fato de se desprender de suas
atribulaes e agir com amor ao prximo por alguns instantes j faz com que naqueles breves
momentos esteja se religando.
importante que se diga, no entanto, que se a caridade no for feita de boa vontade, com
a verdadeira inteno de auxlio e com o conseqente desprendimento de si mesmo, ela no estar
funcionando como religao ou religio. o caso daqueles que acham que, por darem esmolas nas
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ruas compraro o afeto de DEUS, mas na verdade estaro acostumando o ser ali presente ao
dinheiro fcil. Caridade fizesse, se o levassem, lhe dessem bons tratos e orientao para que
encontrasse seu caminho na vida.
A verdadeira caridade aquela que d a vara de pescar e, com amor, ensina seu uso. Dar
o peixe saciaria a fome momentaneamente, mas o aprendizado do uso da vara dar ao aflito a
condio de conseguir, aps a aprendizagem de seu uso, muitos outros peixes com o que se
alimentar.
J em relao s prticas e rituais utilizados pelos diferentes grupos ditos religiosos,
podemos dizer que essas diversidades acontecem mais pela interpretao que os dirigentes de cada
templo do aos ensinamentos que lhe foram passados por quem lhes ensinou a doutrina que
professam, e ainda continuam sendo passados intuitivamente por seu acompanhamento espiritual.
isso mesmo! No porque o dirigente no esprita que no recebe parte de seu aprendizado de
entidades espirituais, a esses ensinamentos eles do s vezes o nome de "sopro divino" ou dizem
que foi por "inspirao do esprito santo". O que importa realmente sabermos que mesmo que
leiam e preguem pela mesma cartilha, voc sempre observar, devido a essa interpretao do
dirigente, variaes nos cultos e missas, mesmo nos templos da mesma religio.
Veja s como exemplo os Cultos Cristos, seja ele Catlico ou Protestante, se eles que
tm como livro de consulta padro apenas um, a Bblia, variam seus cultos, como que religiosos
de outras linhas, que no tm um livro padro por onde se guiarem, podem executar rituais
exatamente iguais? Agora em se tratando de grupos espritas ou espiritualistas, essa diferena
acaba sendo ainda maior, pois eles tm um contato mais efetivo com entidades astrais, que os
transmitem com muito mais freqncia esses ensinamentos e normalmente adaptados condio
de cada grupo de trabalho, ou pela interpretao do mediador ou pelo grau de evoluo da entidade
que o estiver passando.
Agora j d para respondermos as questes do incio deste tema. Sendo simples a
resposta a elas: TODOS ESTARO CORRETOS ENQUANTO SUAS PRTICAS E RITUAIS
ESTIVEREM DIRECIONANDO SEUS ADEPTOS A RELIGAO COM SEU CRIADOR. J osRituais, na verdade, so meramente protocolos e rotinas criados ou intudos pelos Dirigentes, que
visam colocar os adeptos em sintonia com o ambiente e conseqentemente com a agrgora
4
local.
Para se comear qualquer tipo de reunio religiosa, seja em que grupo for, sempre h,
primeiramente, um ritual de preparao que pode ser desde o mais simples at os mais complexos,
onde so inseridos diversos artifcios como: cnticos, defumaes, pregaes, oraes e palestras.
Se em qualquer um dos casos o Dirigente conseguir fazer com que representantes e assistentes
entrem em sintonia com as vibraes que se pretende buscar, ento o ritual cumpriu o seu papel e
poder ser considerado correto para aquele fim.
Ento se voc quiser classificar em nveis de correo um determinado ritual ser preciso
verificar o quanto esse ritual cumpriu seu objetivo, o que poder ser percebido pela fora da
agrgora que vai se formando, se voc for um mdium vidente, ou no nvel de participao de todos
os presentes, pois quando h respeito, ateno e participao ativa de todos certamente a egrgora
forte e o objetivo pde ser alcanado. Encarando por esse ngulo voc poder, at dentro de um
mesmo grupo, classificar o ritual utilizado ora como mais correto ora como menos correto.
Observemos agora, o que normalmente acontece em um Terreiro de Umbanda: Primeiro
abrem-se os trabalhos com os rituais prprios de cada casa: firmeza de velas para as entidades
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guias do terreiro, pontos de defumao, defumao, s vezes algumas oraes; comeam ento os
cnticos ou pontos de chamada para as entidades dirigentes, as saudaes aos Orixs; at a tudo
bem, todos participando e atentos.
4-Agrgora ou Egrgora: a fora gerada pelo somatrio de energias fsicas, emocionais e mentais de duas ou mais pessoas,
quando se renem com qualquer finalidade.
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Ento, passando essa abertura comeam os cnticos para a chegada das entidades de
trabalho e a partir da que a seo comea se tornar um "deus nos acuda", porque geralmente a
assistncia vira platia e quem antes estava atento, normalmente pela curiosidade, comea a
disputar melhor ngulo de viso; ou a conversar com o vizinho ressaltando esse ou aquele caso em
que esteve envolvido; ou julgando os melhores e piores mdiuns ali presentes, isso quando no
podem sair do ambiente e ir l para fora falar dos mais variados assuntos, nada relacionados aostrabalhos que esto sendo realizados.
Pois bem, qual a conseqncia disto no plano astral:
1. A egrgora, por mais bem feita que tenha sido no incio, antes mesmo de conseguir
atrair uma boa quantidade de energia de igual teor comea a desmontar. Se o corpo
medinico permanecer em estado de concentrao, a energia ou corrente de energia
se centralizar sobre eles e se nutrir das energias que eles gerarem, causando um
desgaste desnecessrio;
2. Havendo pessoas realmente necessitadas na assistncia, ao serem atendidas, serviro
como "ralos" por onde se escoar toda a energia do ambiente, que por sua vez, para
que se mantenha em um nvel aceitvel, dever ser constantemente revitalizada pelo
esforo desses mesmos mdiuns, causando mais desgaste;
3. No raramente, podemos observar tambm, no comportamento dos prprios mdiuns e
cambnos e apoiadores atitudes semelhantes s dos assistentes quando, estando ali
incorporada a entidade chefe ou algumas entidades, os que no esto atuando,
incorporados ou auxiliando, acham-se no direito de conversarem entre si ou com a
assistncia, quando no ficam "de orelha em p" para poderem escutar o que uma
entidade est falando para um consulente. Nesse caso, o foco de energia ambiental
diminui ainda mais em quantidade e qualidade sendo que o pouco que gerado, o
apenas por aqueles que esto ativos, incorporados ou auxiliando.
Agora preste ateno em seu grupo. Veja se durante todo o tempo de reunio todos esto
atentos e com suas mentes realmente voltadas para o sucesso dos trabalhos. E a o que constatou?
Se voc ou seu grupo se encaixa nas citaes acima, comece ento fazendo sua parte, mude sua
postura e seus atos, no porque voc no um mdium de incorporao, que no importante
para o desenvolvimento dos trabalhos, voc tambm um doador de energia.
Tambm no adianta ser hipcrita e "deixar a coisa rolar", achando que no sua
obrigao, ou que isso responsabilidade do Dirigente, ou que se o fulano faz, eu tambm posso
fazer, pois certamente mais cedo ou mais tarde os problemas comearo a acontecer em
decorrncia dessa sobrecarga.
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Mas que problemas? Os mais diversos, sendo que quase sempre comeam pelo abalo da
sade fsica e s vezes at mental de certos mdiuns, passando pelas dificuldades financeiras,
problemas familiares e outros mais, sem que para isso tenha necessariamente havido ao de
qualquer entidade malfeitora. Bastando que haja por algum tempo um desequilbrio entre dar e
receber energias positivas para que a absoro de energias de baixo teor se faa e atraia consigo os
mais diversos tipos de problemas.
Voc duvida disso? A lei mais importante para os que lidam com a manipulao desse tipo
de energia A LEI DAS AFINIDADES, que diz: "OS IGUAIS SE ATRAEM". E ao se imantarem com
energias negativas, seja pela sobrecarga gerada em uma seo ou pela sua conduta moral, os
mdiuns passam a ser, cada vez mais, focos de atrao tambm para Entidades do Baixo-Astral,
que sintonizam bem com essas energias e vo logo aproximando e aproveitando a oportunidade
para aumentarem seu sofrimento.
A logo nos perguntamos: Onde esto os Protetores? Onde esto os Guias? Eles no
deveriam fazer alguma coisa?
Mas quem disse que no fazem, ou pelo menos no tentam fazer. preciso que fique bem
claro que os processos de deteriorao na vida de um mdium, ou de qualquer pessoa, no
acontecem da noite para o dia e at que se estabelea essa deteriorao, tenha certeza de que
muitos avisos so dados, isso claro, quando h entidades verdadeiramente positivas atuando junto
ao grupo.
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Se um grupo no entanto no disciplinado e principalmente no sabe ou no quer passar
aos assistentes a necessidade dessa disciplina, fatalmente correr o risco de amanh estar
envolvido com os mesmos problemas daqueles que hoje os procuram para pedir ajuda. Ento, para
uma participao efetiva em qualquer ritual religioso preciso que o conceito de DISCIPLINA esteja
vivo na conscincia de todos. Devemos parar de cometer um mundo de insanidades e comear a
assumir as besteiras que fazemos antes de sair pondo a culpa por tudo que acontece em nossas
vidas na Religio ou na espiritualidade. E voc se for uma pessoa consciente e de bons princpios,
como umbandista ou praticante de qualquer outra corrente espiritualista, tem a obrigao de ser pelo
menos honesto aos seus princpios e procurar fazer sua parte.
No devemos tambm ficar combatendo e atacando, mesmo que por defesa, essa ou
aquela religio, pois no com combate a outros grupos religiosos que vamos fazer da nossa
Umbanda, ou qualquer outra religio, um exemplo a ser seguido. Muito pelo contrrio, se ns
umbandistas, ou os espritas, ou militantes dos Cultos de Nao, pretendemos ver nossos
"santurios e doutrinas" respeitados, devemos comear primeiramente respeitando ns mesmos
nossas prprias doutrinas, estudando-as e praticando-as honestamente.
No seria, de forma alguma, combatendo grupos e doutrinas que se faria vigorar a nossa
como a dona da verdade, j que nenhuma delas o na totalidade. preciso que se observe em
cada uma, o que h de realmente positivo e para melhor analisarmos necessrio que comecemos
antes por "arrumar a nossa prpria casa".
Sejamos conscientes de que essa grande diversidade de religies e seitas que existem no
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Brasil e no mundo, so frutos das diversas correntes filosficas espirituais existentes tambm no
Mundo Astral e se formam na Terra em virtude da maior ou menor aceitao dos seres encarnados
que elas vo se achegando, de acordo com o que julgam ser melhor para cada um, atravs da Lei
da Afinidade.
Continuemos sempre em busca do verdadeiro caminho, seja ele qual for, tendo a certeza
de que NINGUM DONO DA VERDADE e o principal objetivo de uma religio deva ser sempre a
evoluo de seus adeptos, independentemente de sua doutrina, suas prticas e seus rituais.
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III
SINCRETISMO RELIGIOSO E SUAS ORIGENS NO BRASIL
Sincretismo a fuso de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenasreligiosas quanto nas filosficas. Na histria das religies, o sincretismo uma fuso de concepes
religiosas diferentes ou a influncia exercida por uma religio nas prticas de uma outra.
No Brasil o sincretismo religioso uma prtica bastante comum. Mas tudo comeou a partir
do ano de 1500, quando o territrio brasileiro tornou-se palco para o encontro de trs grandes
tradies culturais: a amerndia, nativa da terra; a europia, trazida pelos colonizadores portugueses
e mais tarde a africana, trazida pelos escravos bantos e sudaneses. Um encontro que foi, desde o
incio, marcado pela imposio da cultura europia s populaes indgenas e africanas, refletida,
principalmente, na imposio da cultura crist da Igreja Catlica Apostlica Romana a esses dois
grupos.
Para se viver no Brasil, nesta poca, o ndio e o negro mesmo como escravo, e
principalmente depois, sendo livre, era indispensvel antes de mais nada, ser catlico. Por isso eles
que cultuavam seus deuses e tinham suas bases religiosas bem estruturadas, no Brasil se diziam
catlicos e se comportavam como tais, alm de praticarem os rituais de seus ancestrais,
frequentavam os ritos catlicos.
H antroplogos que insistem que a assimilao entre os Santos e os Orixs era aparente
e, inicialmente, serviu para encobrir a verdadeira devoo aos seus deuses, pelo fato dos cnticos
nesses rituais terem sido efetuados em lngua nativa e que ningum os entendia. Um fato histrico
que pode opor-se a este pensamento a criao das confrarias de negros, como exemplo temos a
Irmandade de Nossa Senhora do Rosrio dos Homens Pretos, na Bahia, que era totalmente
composta por negros que haviam realmente se convertido ao Cristianismo e no eram apenas uma
fachada.Essa tentativa forada de aculturao sempre encontrou resistncia, o que acabou
resultando em vrias tentativas feitas por
indgenas e africanos de conciliar os princpios de
suas culturas e, por conseqncia, de suas
tradies religiosas, a doutrina cultural e religiosa
que lhes eram impostas.
Na tentativa de preservao dos
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princpios e prticas religiosas indgenas e
africanas, por meio da conciliao com os
princpios e prticas catlicas, acabaram levando
ao nascimento de vrias manifestaes
sincrticas em solo brasileiro, nicas no mundo,
algumas delas existentes at os dias de hoje.
Mas infelizmente existem poucos estudos sobre a
grande maioria delas, o que veremos aqui, uma
pequena idia de como eram as bases dessas
duas culturas religiosas, o sincretismo entre elas
e os processos que as levaram a dar origem a
outras.
O incio de tudo se deu com a
religiosidade Tupi, embora vrias naes
indgenas habitassem o territrio brasileiro
durante os primeiros anos da colonizao
europia, nenhum grupo foi to influenciado pelos
portugueses quanto os tupis, que no sculo XVI
dominava quase todo o litoral brasileiro e era
formada pelas tribos: Potiguar, Trememb,
Tabajara, Caet, Tupinamb, Aimor, Tupiniquim,
Temimin, Tamoio, e Carij.
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~ 16 ~Blog Estudo da Umbanda
muito difcil tentar reconstruir com detalhes as tradies religiosas e crenas tupis na
poca do descobrimento do Brasil, pois o que sabemos sobre elas deve-se aos relatos feitos por
europeus que se estabeleceram aqui no incio do perodo colonial, os quais no se preocuparam em
estudar e deixar registros detalhados das mesmas. O que podemos apreender dos relatos dos
primeiros colonizadores sobre a religiosidade tupi foi que seu ponto central era o culto natureza
deificada ou divinizada. O paj e o feiticeiro, ou xam, eram os que tinham acesso ao mundo dos
mortos e dos espritos da floresta, e geralmente a eles competiam realizar rituais de cura de
doenas, expulsarem maus espritos que se alojavam nos corpos das pessoas e desfazer feitios
mandados pelos inimigos. A ingesto de alimentos e bebidas fermentadas em muitos grupos tinha
uma funo ritualstica. Mesmo a antropofagia
5
que caracterizou os tupinambs se revestia de um
tom sagrado, pois acreditavam que, comendo a carne dos seus inimigos, apoderavam-se de sua
valentia e coragem.
Os tupis possuam uma divindade suprema do bem que denominavamNhanderuvuu,
deus da criao e da luz e a quem competia o ato divino do sopro da vida.Nhanderuvuu teria sua
morada no Sol, manifestava-se nas tempestades atravs de sua voz, na forma de Tup Cinunga
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6
e
de seu reflexo, na forma de Tup Beraba
7
. Segundo Cmara Cascudo e Osvaldo Orico, grandes
historiadores e estudiosos da cultura brasileira, somente com o trabalho da catequese, e com a
confuso feita pelos jesutas, queNhanderuvuu passou a ser chamado de Tup
8
, em virtude das
formas como essa divindade se manifestava durante as tempestades.
Os tupis acreditavam tambm em outras divindades, como Guaraci (o deus do sol),Jaci
(deusa da lua), Caapora (deus da floresta), Uirapuru (deus dos pssaros),Iara (deusa das guas) e
em uma entidade civilizadora denominadaIurupari
9
, filho da virgem Chiuci, que teria sido mandado
terra por Guaraci para reformar os costumes dos seres humanos. Segundo Diamantino Trindade
essa crena que lembrava muito a histria de Jesus Cristo, teria deixado os jesutas apavorados.
Como forma de tornar a religio catlica mais fcil de ser assimilada pelos indgenas, os
jesutas associou ao seu deus e santos os nomes de algumas divindades tupis. Foi assim, por
exemplo, queNhanderuvuu passou a ser chamado de Tup e foi transformado em Deus/Pai.
Entretanto, na maioria dos casos, os jesutas associaram os deuses indgenas aos
demnios da doutrina catlica. Foi o caso, por exemplo, de Iurupari, que teve sua imagem
totalmente invertida e acabou sendo associado ao prprio diabo, embora sua histria lembrasse
muito a de Jesus.
Isso tudo acabou gerando a primeira religio sincrtica surgida no Brasil da juno da
Religiosidade Tupi e do Catolicismo, que ficou conhecida como SANTIDADE, nome criado por
Manoel da Nbrega, em 1549, quando viu um paj em transe pregando a outros indgenas. Os
adeptos da Santidade cultuavam um dolo de pedra, chamado de Tupanau, que acreditavam
possuir poderes sagrados, rezavam usando cruzes, teros e rosrios, construam igrejas e
colocavam tbuas com desenhos de smbolos sagradas nelas, cultuavam alguns santos catlicos e
entoavam cantos em honra aos mesmos, faziam um ritual semelhante ao batismo e realizavam
procisses.
Neste mesmo perodo, com o incio dos trabalhos de catequese na regio amaznica, a
partir da cidade de So Lus do Maranho, iniciou-se um processo de sincretismo entre a
religiosidade amerndia local e o catolicismo, semelhante ao que ocorrera no litoral, levando ao
surgimento da religio sincrtica conhecida pelo nome de PAJELANA.
Embora o termo pajelana acabe sendo usado tambm para designar todo e qualquer ritual
amerndio, ele aqui designa a religio sincrtica de carter mgico-curativa que ainda existe nos dias
de hoje na regio amaznica, sobretudo nos estados do Par e do Amazonas. A exemplo da
Santidade, nos rituais da Pajelana so encontrados o uso de trajes nativos (pena, arco, flecha,
colares, mscaras), cantos e danas, a fumaa derivada da queima do tabaco e o consumo de
bebidas fermentadas, que permitem ao paj entrar em transe mstico e ter vises e incorporar
5- Antropofagia:Aqueles que comem carne humana
6- Tup Cinunga: O trovo.
7- Tup Beraba: O relmpago.
8- Tup: Golpe estrondeante ou Baque estrondeante.
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9- Iurupari: O mrtir ou o sacrificado.
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espritos. Em algumas Pajelanas pode-se encontrar tambm a devoo aos santos catlicos.
Uma caracterstica marcante da Pajelana que alm de incorporarem os espritos dos
antepassados das tribos e de antigos chefes do culto, os pajs tambm incorporam espritos
animais, sejam eles reais como: jacars, botos, cavalos-marinhos, cobras ou imaginrios como: me
d'gua, cobra-grande, e por meio dos quais descobriam a causa das doenas de seus consulentes e
os remdios para eles.
A partir do sculo XV inicia-se uma das maiores migraes foradas da histria da
humanidade, na qual milhes de africanos que haviam sido capturados em seus territrios
ancestrais, na maioria das vezes por outros africanos de tribos rivais, foram levados para o litoral e
vendidos como escravos para os europeus e brasileiros em portos especficos na frica e trazidosnessas condies para o Brasil.
No final do sculo XVI ao final do sculo XVIII, a principal etnia trazida para o Brasil foi a
dos Bantos, povo que durante o perodo colonial brasileiro ocupava a maior parte do continente
africano situado ao sul do equador, na regio onde hoje est localizado o Congo, a Repblica
Democrtica do Congo, Angola e Moambique, entre outros. Parece que a grande maioria dos
Bantos que foram trazidos para o Brasil cultuava um deus supremo chamado de Nzambi, Nzambi
Mpungu ou Anganga Nzambi, ou simplesmente Zambi como conhecido hoje, e a natureza
deificada que era personificada nas divindades chamadas Nkises.
Assim que chegavam ao Brasil, os africanos escravizados eram logo submetidos
aculturao portuguesa, traduzida principalmente na catequese catlica: eram batizados e recebiam
um nome cristo, pelo qual seriam conhecidos a partir daquele momento.
Assim como os tupis, os bantos tambm tentando preservar suas tradies religiosas no
Brasil, adaptaram suas crenas s condies de escravido que estavam submetidos. A principal
forma encontrada por eles, como foi feito tambm pelos tupis dcadas antes, foi associar os santos
catlicos aos seus deuses, no caso aqui os Nkises, de acordo com as caractersticas ou arqutipos
que ambos possuam em comum. Foi a partir deste sincretismo, ocorrido no interior das senzalas a
partir do final do sculo XVI, que nasceu a primeira manifestao sincrtica da religiosidade
banto/catlica no Brasil: o CALUNDU. Seu nome foi originado da palavra banto Kilundu, que at o
sculo XVIII foi utilizada para designar genericamente a manifestao de prticas africanas
relacionadas a danas e cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percusso, nas quais
ocorria a invocao e incorporao de espritos e a adivinhao e curas por meio de rituais de
magia.
O que nos chama a ateno so os relatos da aparente tolerncia manifestada pelos
Rotas do Trfico Negreiro
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proprietrios de escravos ao Calundu. Muito provavelmente essa atitude devia-se a crena de que
com essa prtica os africanos manteriam vivas, pelo menos dentro da senzala, as rivalidades tribais
existentes na frica, o que dificultaria a formao de rebelies ou fugas. importante ressaltar que,
apesar dessa tolerncia, os aspectos ritualsticos do Calundu ligados a magia e a incorporao de
espritos eram freqentemente combatidos por serem considerados coisas malignas, surgindo da a
expresso magia negra para designar a magia voltada para o mal, que na mentalidade da poca era
coisa de negro.
Ao longo de todo o perodo de escravido negra no Brasil, inmeras foram as tentativas
bem sucedidas de fugas das senzalas empreendidas pelos africanos. Os relatos dos inmeros
quilombos
10
existentes no pas ao longo dos perodos colonial e imperial so a prova mais marcante
disso. Entretanto, no incio, antes do surgimento dos primeiros quilombos, os africanos que
conseguiam sucesso em suas fugas s conseguiam abrigo nas aldeias indgenas do interior. Mais
do que abrigar os primeiros africanos bantos fugidos das senzalas, as aldeias indgenas abrigariam
toda a cultura e religiosidade deles, que acabaria por influenciar sua prpria cultura e religiosidade.
Muito provavelmente no nordeste do sculo XVII, onde uma pequena parcela de religiosidade dos
bantos acabou se misturando ao sincretismo amerndio-catlico do interior, levando ao surgimento
da primeira religio sincrtica brasileira, o CATIMB, surgida da fuso religiosa dos trs povos
formadores do pas, tambm conhecido como CULTO JUREMA, resistente at os dias de hoje em
todo o nordeste brasileiro.
Apesar de existirem a incorporao de Caboclos no Catimb, seu culto baseia-se
principalmente nas entidades conhecidas como Mestres da Jurema ou apenas Mestres, e atravsdeles que se realiza o principal trabalho das entidades do Catimb, a cura de doenas e a receita de
remdios para os males fsicos, podendo tambm ocorrer trabalhos para solucionar alguns
problemas materiais e amorosos. Cabe tambm aos Mestres e aos Caboclos realizar a limpeza
espiritual dos adeptos e a expulsar maus espritos das pessoas.
Os Mestres so entidades que se especializam em determinada erva ou raiz e que
guardam muito do comportamento e personalidade de sua ltima encarnao, o que os torna muito
naturais e espontneos, alm de possurem uma forte ligao com a sua caracterizao fsica. Uma
caracterstica que chama a ateno que no existem Mestres do bem ou do mal: eles tanto podem
trabalhar para um quanto para o outro, dependendo da orientao do local de culto e do mdium.
Ao longo dos sculos XVII e XVIII cresce consideravelmente o nmero de cidades em todo
o pas, devido a esse fato, surge uma situao completamente nova em todo o territrio colonial: o
aumento do nmero de negros e mulatos alforriados, livres, e de escravos circulando com relativa
liberdade nessas reas urbanas. A partir das residncias desses negros e mulatos livres, localizadas
em sua grande maioria em casebres e cortios, que as manifestaes religiosas de origem africana
encontraram condies mnimas para se desenvolverem, onde poderiam realizar suas festas com
certa freqncia, construrem e preservarem seus altares com os recipientes consagrados aos seus
deuses.
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So nessas residncias que surgem, em fins do sculo XVIII e incio do sculo XIX,
uma nova manifestao sincrtica brasileira, que ficou conhecida na Bahia como CASAS DE
CANDOMBL. O Candombl surge ento com base no fortalecimento das tradies religiosas dos
bantos preservadas no sincretismo com o Calundu e a assimilao de algumas poucas prticas
indgenas que sobreviviam nos quilombos e nas aldeias indgenas dos arredores deles.
Pelo fato de servirem como moradia e tambm como locais de culto, as Casas de
Candombl se estruturavam com base em famlias-de-santo, que estabelecia entre seus adeptos
uma espcie de parentesco religioso, caracterstica que foi um importante legado a outras religies
sincrticas que se originaram a partir dele.
J a partir da dcada de 1840 intensifica-se o trfico de escravos da etnia sudanesa
atravs da Rota da Mina, que tinha como origem os portos africanos de Lagos, Calabar e,
principalmente So Jorge da Mina, superando no perodo todas as demais em termos de escravos
trazidos ao Brasil.
A etnia sudanesa era originada principalmente da frica Ocidental, na regio onde hoje
10- Quilombo: Um quilombo era um local de refgio dos escravos no Brasil, em sua maioria afrodescendentes (negros e mestios),
havendo minorias indgenas e brancas. O mais famoso na Histria do Brasil foi o de Palmares.
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est localizado a Nigria, Benin, Togo e Gana, e formada pelos povos Iorub, Ewe, Fon e Mahin,
entre outros. Apesar de inicialmente muitos terem ficado conhecidos apenas como mina, ao longo do
sculo XIX os escravos da etnia sudanesa passaram a ser conhecidos sobre outra nomenclatura,
devido a rivalidade e a diferena cultural existente entre os povos Iorub e Ewe/Fon, que foi
transportada da frica para o Brasil junto com eles. Dessa forma, o povo Yorub passou a ser
conhecido no Brasil como mina-nag ou nag, enquanto os povos Ewe, Fon e Mahin ficaram
conhecidos como mina-jeje ou jeje, termo que advm do iorub adjeje que significa estrangeiro ou
forasteiro, e era usada de forma pejorativa pelos yorubs para designar as pessoas que habitavam a
leste de seu territrio.
Os nags que foram trazidos para o Brasil cultuavam um deus supremo chamado de
Olorun ou Olodumar e a natureza tambm deificada e personificada nas divindades chamadas
Orixs. Apesar de na frica existirem cerca de 400 Orixs, a grande maioria deles era cultuada em
apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo poucos os que possuam um culto em vrias localidades.
Assim como ocorreu com os bantos, os escravos sudaneses trouxeram para o Brasil partede sua cultura e de suas crenas religiosas, que foram pouco a pouco levadas para dentro de
algumas manifestaes sincrticas aqui existentes, devido aos escravos fugidos que buscavam
refgio nos quilombos e depois aos negros j alforriados, levando ao aparecimento de diversas
religies sincrticas em solo brasileiro no sculo XIX, muitas delas com base nas Casas de
Candombl.
Com a intensificao da adio de elementos sudaneses s Casas de Candombls no sc.
XIX, estas acabaram por darem origem a uma nova religio sincrtica brasileira conhecida como
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CANDOMBL DE NAO, ao qual agrega dentro de si trs modelos de culto relacionados s
principais etnias e povos trazidos como escravos para o Brasil: os bantos, os sudaneses nags e os
sudaneses jeje. Vejamos ento como so esses modelos existentes:
1- Os Candombls de Nao Angola, Congo e Muxicongo cultuam um deus
supremo chamadoNzambi ou Zambi (tambm conhecido comoNzambi Mpungu ou Zambiapongo) e
a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Nkises. Apesar de na frica existiremcerca de 450 Voduns, e a exemplo do que ocorre com os Orixs, a grande maioria deles era
cultuada em apenas uma cidade, aldeia ou tribo, sendo tambm poucos os que possuam um culto
em vrias localidades. Vejamos no quadro abaixo os principais Nkises cultuados nesses
Candombls:
NKISES
ATRIBUTOS
OBSERVAES
Nzambi ou Zambi
Deus supremo
Mpungu (todo poderoso) e muambi (criador) so
qualidades deNzambi
Lemb
Nkise da paz, conectado criao do mundo
Kaitumb, Kokueto e
Mikai
Nkise dos mares e oceanos
Nkosi
Nkise da guerra, senhor dos caminhos, das
estradas e da metalurgia
Mukumbe, Biol e Bur so qualidades desse
Nkise
Teleku-Mpensu
Nkise da pesca
Gongobira
Nkise da caa e da pesca
Kabila
Nkise do pastoreio e da caa
Mutakalambo
Nkise da caa e da comida abundante
Katende
Nkise das folhas e dos segredos das ervas
medicinais
Nvunji
Nkise da justia, da felicidade da juventude e do
nascimento das crianas
Nzazi ou Zazi
Nkise dos raios e da entrega de justia aos
humanos
Luango
Nkise dos troves e auxiliar de Nvunji no
nascimento de crianas
Kaiangu
Nkise guerreira dos ventos, das tempestades e
que possui domnio sobre os espritos dos
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mortos
Matamba, Bamburussenda, Nunvurucemavula so
qualidades desse Nkise
Kitembo ou Tempo
Nkise do tempo e das estaes
Patrono da nao Angola, representado por um
mastro com uma bandeira branca
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Continuao da tabela dos Nkises - Candombls de Nao Angola, Congo e Muxicongo
Nzumbarand ou
Zumbarad
Nkise da terra molhada, da gua turva dos
pntanos, ligada morte e a mais velha dos
Inquices
Kisimbi, Samba Nkise
Nkise de lagos e rios, a grande me
Ndanda-Lunda
Nkise da gua potvel, das guas calmas, da lua
e da fertilidade
Hongolo ou Angor
Nkise do arco-ris, auxilia na comunicao entre
os humanos e os outros Inquices
Na sua manifestao feminina chamado de
Hongolo Meia ou Angoroma.
Representado por uma cobra
Kafung e Kaviungo ou
Kavungo
Nkise da varola, das doenas, da sade e da
morte
Nsumbu
Nkise da terra
Nao Angola
Ntoto
Nkise da terra
Nao Congo
Aluvai, Vangira,
Pambu Njila e Bombo
Njila
Nkise mensageiro, guardio das e ncruzilhadas e
da entrada das casas e templos
2- Os Candombls de Nao Ketu, Ef e Ijex cultuam um deus supremo chamado
de Olorun ou Olodumar e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Orixs. Um
fato que chama a ateno que algumas divindades que originalmente eram Voduns na frica
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foram adicionadas ao panteo nag e passaram a fazer parte do ritual, sendo inclusive consideradas
no Brasil como Orixs. Vejamos ento no quadro abaixo alguns Orixs cultuados nesses
Candombls:
ORIXS
ATRIBUTOS
OBSERVAES
Olorum ou Olodumar
Deus supremo
Oxagui
Orix da criao da cultura material e da
sobrevivncia
Considerado a manifestao jovem de Oxal (ou
Obatal). Originalmente, na frica, filho de
Oxaluf e neto de Obatal.
Oxaluf
Orix da criao da humanidade, do sopro da
vida
Considerado a manifestao idosa de Oxal (ou
Obatal). Originalmente, na frica, o filho de
Obatal.
Yemanj
Orix das grandes guas, do mar e do oceano,
da maternidade, da famlia e da sade mental
Ogum
Orix da metalurgia, da agricultura, da
tecnologia, das estradas e da guerra
Xang
Orix do trovo e da justia
Oxssi
Orix da fauna, da caa e da fartura de
alimentos tambm conhecido como Od.
Ossaim
Orix da vegetao e da flora, da eficcia dos
remdios e da medicina
Nan
Orix da lama do fundo das guas, dos
pntanos, da educao, da velhice e da morte
Originalmente, na frica, era um Vodum e no
um Orix.
Ew
Orix das fontes, nascentes e riachos e da
harmonia domstica
Originalmente, na frica, era um Vodum e no
um Orix.
Logun Ed
Orix dos rios que correm nas florestas
Ob
Orix dos rios, dos trabalhos domsticos e do
poder da mulher
Oy
-
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Orix do relmpago, da sensualidade e dona dos
espritos dos mortos
tambm chamada de Ians.
Oxum
Orix da gua doce, do amor, da fertilidade, da
gestao, dos metais preciosos e da vaidade
Oxumar
Orix do arco-ris e da riqueza que provm das
colheitas
Obaluai
Orix da varola, pragas, doenas e da cura de
doenas fsicas
tambm chamado de Omulu ou Xapan.
Originalmente, na frica, Obaluai e Omulu ,
respectivamente, a manifestao jovem e velha do
Vodum Xapan.
Orunmil-If
Orix do destino
Exu
Orix mensageiro, da transformao e da
potncia sexual, guardio das encruzilhadas e da
entrada das casas
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~ 21 ~
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3- Os Candombls de Nao Jeje-Fon e Jeje-Mahin cultuam uma deusa suprema
chamada deMawu e a natureza deificada, personificada nas divindades chamadas Voduns. Tais
divindades so agrupadas em famlias (Savaluno,Dambir,Davice,Hevioso, etc.), as quais se
subdividem em linhagens, interligadas entre si por comportamentos, costumes, gostos e atitudes.
Apesar de existir na frica cerca de 450 Voduns, a grande maioria no cultuada aqui no Brasil. Os
que aqui so cultuados, somente alguns chegam a ter culto a nvel nacional, ficando a maioria
restrita a nvel regional. Uma caracterstica dessa Nao que quando esto incorporados, os
Voduns mantm os olhos abertos e conversam com a assistncia, dando bnos, conselhos e
recados. Vejamos ento no quadro abaixo, alguns Voduns cultuados no Candombl de Nao Jeje-
Fon e Jeje-Mahin:
VODUNSATRIBUTOS
OBSERVAES
Nan Buluku
A grande me universal, senhora da lama
Me de Mawu e Liss
Mawu
Deusa suprema
Liss
-
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Vodum masculino co-responsvel pela criao
junto com Mawu
Loko
Primognito dos Voduns
Agassu
Vodum que representa a linhagem real do
Reino do Daom
Agb
Vodum dono dos mares
Gu
Vodum dos metais, da guerra, do fogo e da
tecnologia.
Agu
Vodum da caa e protetor das florestas
Agu
Vodum que representa a terra firme
Ayizan
Vodum dona da crosta terrestre e dos mercados
Aziri
Vodum das guas doces
Dan
Vodum da riqueza
Representado pela serpente e pelo arco-ris
Eku
Vodum da morte, da feitiaria e da clarividncia
Fa
Vodum da adivinhao e do destino
Hevioso
Vodum dos raios e relmpagos
Possun
Vodum do p e da terra seca
Representado pelo tigre
Sakpat
Vodum da varola
Legba
Vodum das entradas e das sadas e da
sexualidade
O filho caula de Mawu e Liss
Dentre todos os Candombls de Nao, sejam eles do modelo de culto banto, sudans
nag ou sudans jeje, o que apresenta maior projeo nacional o Candombl de Nao Ketu. Tal
projeo tem provocado, atualmente, um fenmeno de assimilao das prticas rituais dessa nao
pelas demais, como o idioma e as cantigas utilizadas, a forma como os atabaques so tocados e o
culto as divindades. Sobre este aspecto, interessante notar o sincretismo que tem surgido
atualmente dos Nkises e dos Voduns com as lendas, histrias, domnios, cores e smbolos dos
Orixs da nao Ketu, como se aqueles fossem estes com nomes diferentes. Nos Candombls de
Nao do modelo nag existe ainda o culto aos eguns, ou espritos dos ancestrais, que ocorre no
quarto de bal, um recinto separado do local onde se cultua os Orixs, e que possui um sacerdote
prprio, chamado de Baba Oj, preparado especialmente para este tipo de culto.
Atualmente um fenmeno interessante que parece ter surgido no Candombl de Nao
Ketu, e dele se espalhado para as demais naes, o movimento de recuperao das razes
-
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africanas, o qual vem rejeitando o sincretismo com o catolicismo e com as prticas indgenas
buscando o aprendizado da lngua nativa e a redescoberta dos ritos, histrias e lendas das
divindades que se perderam ao longo do tempo, contando, inclusive, com viagem de sacerdotes do
Brasil at a Nigria e o Benin a fim de realizarem pesquisas in loco
11
em aldeias e templos na
frica para aprenderem os rituais que foram perdidos nas brumas do tempo da escravido.
No final do sculo XIX e incio do sculo XX, tradies religiosas da etnia sudanesa foram
sendo aos poucos adicionadas ao sincretismo banto-catlico-amerndio existentes tambm no Rio
de Janeiro, levando ao surgimento dos sincretismos conhecidos como ZUNGU e MACUMBA.
Parece que os termos Zungu e Macumba foram usados indistintamente no Rio de Janeiro
11- In Loco: Termo do Latim que significa no local.
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para designar quaisquer manifestaes sincrticas de prticas africanas relacionadas a danas e
cantos coletivos, acompanhadas por instrumentos de percusso, nas quais ocorria a invocao e
incorporao de espritos e a adivinhao e curas por meio de rituais de magia, englobando uma
grande variedade de cerimnias que associavam elementos africanos (Nkises, Orixs, atabaques,
transe medinico, trajes rituais, banho de ervas, sacrifcios de animais), catlicos (cruzes, crucifixos,
anjos e santos) e, mais raramente, indgenas (banho de ervas, fumo). A diferena bsica entre eles
parece ser apenas o perodo em que estes termos foram utilizados: zungu, em meados do sculo
XIX e macumba, no final do sculo XIX e incio do sculo XX substituindo o termo zungu.
Na Macumba o chefe de culto e o seu ajudante eram chamados, respectivamente, de
embanda e cambone, embora este ltimo tambm pudesse ser chamado de cambono. Parece que
os iniciados na Macumba eram chamados de filhos(as)-de-santo ou mdiuns.
O que se sabe sobre os rituais da Macumba que as entidades como os orixs, Nkises,
caboclos e os santos catlicos eram agrupados por falanges ou linhas como a linha da Costa, de
Umbanda, de Quimbanda, de Mina, de Cabinda, do Congo, do Mar, de Caboclo, linha Cruzada, etc;
e que quanto maior o nmero de linhas cultuadas pelo embanda, mais poderoso ele era
considerado, uma vez que isso era tido como sinal de maior conhecimento sobre o mundo dos
espritos.
E assim como em outros sincretismos brasileiros, o Zungu e a Macumba eram organizadosbasicamente em torno de seu chefe de culto, fazendo de cada unidade de culto algo nico, diferindo
dos demais por um ou mais elementos ritualsticos. Devido a grande penetrao que a Macumba
tinha na populao mais pobre e marginalizada do Rio de Janeiro de fins do sculo XIX,
principalmente os afrodescendentes recm libertos pela Lei urea, seu nome acabou se
popularizando por todo o pas e at hoje ainda usado para designar pejorativamente qualquer
religio afro-brasileira ou ritual que envolva magia.
provvel que a Macumba tenha desaparecido do cenrio religioso carioca devido ao
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8/12/2019 Apostila - Curso Umbanda
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aparecimento mais tarde da Umbanda e a sua rpida expanso no estado do Rio de Janeiro,
principalmente na ento capital federal, que teria atrado para si um expressivo nmero de adeptos
da Macumba e a influenciado de tal forma que levaram muitas casas de Macumba a se
transformarem em tendas de Umbanda ou em casas de Omolok para fugirem da represso que se
tinha a esses cultos.
Mudanas na estrutura de algumas casas de Macumba do Rio de Janeiro, ento capital do
pas, neste mesmo perodo, acabam levando ao surgimento de duas religies sincrticas o
OMOLOK e ALMAS E ANGOLA, que guardam muitas semelhanas com algumas vertentes da
Umbanda, inclusive existindo muitas casas que se reconhecem como sendo de Umbanda Omolok
ou Umbanda em Almas e Angola.
No Omolok que praticado hoje em dia o ritual recebeu forte influncia das obras daquele
que considerado o seu organizador: Tat Ti Nkise Tancredo da Silva Pinto. Segundo ele, o
Omolok tem como origem as prticas religiosas dos bantos das tribos Quicos, das provncias de
Lunda Norte e Lunda Sul, situadas na regio oriental de Angola e que tambm pode ser encontrados
em parte da Repblica Democrtica do Congo e da Zmbia.
O Omolok cultua um deus supremo chamadoNzambi ou Zambi (tambm conhecido como
Nzambi Mpungu ou Zambiapongo), a natureza deificada personificada nos Orixs e nas entidades
conhecidas como Orixs Menores, Caboclos, Preto-Velhos, Crianas, Exus e Pomba-giras.
Originalmente o termo utilizado no Omolok para designar a natureza deificada era Bacuro.
Os Bacuros possuam um correspondente nas divindades dos Quicos, que parecem terem ficado
conhecidas aqui no Brasil como Lunda. Atualmente o termo Bacuro e o nome das divindades
Quicos foram substitudos, respectivamente, pelo termo Orix e pelo nome das divindades do
panteo nag que possuem os mesmos atributos ou arqutipos. importante ressaltar que, no
Omolok, o termo Orix utilizado tambm para designar alguns Nkises que foram incorporados ao
seu panteo, provavelmente por influncia dos Candombls de Nao do modelo de culto banto.
Vejamos ento no quadro abaixo como a correspondncia entre as divindades Lunda,
Bacuros e os Orixs no Omolok:
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Lunda
(divindades dos Quicos)
Bacuro
(nome original no Omolok)
Orix
(nome atual no Omolok)
Dundu Kianguim
Aluvai
Exu
Angor
Oxumar
-
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Dandu Kindel
Burungua
Omulu
Caculu ou Cabasa
Ibeiji
Cuiganga
Ew
Anili Kindel
Dandalunda
Yemanj
Kindele
Ferim
Oxal
Uisu Kukusuka
Inhapop
Ians
Kianguim Kindel
Jambangurim
Xang
Mulombe
Kamba Lassinda
Oxum
Kianguim Uisu
Kangira
Ogum
Karamoc
Ob
Katend
Ossaim
Uisi
Mad
Oxssi
Diambanganga
Pagau
Irko
Numba Kindel
Querequer
Nan
Teleku-Mpensu
Logun Ed
Kitembu
Tempo
Uma possvel influncia da Umbanda sobre o Omolok a existncia de uma separao
dos Orixs em duas classes: Orixs Maiores e Orixs Menores. Os Orixs Maiores, ou apenas
Orixs, so entendidos como sendo uma energia emanada de Zambi e portanto nunca passaram
pelo processo de encarnao. So os responsveis pelo movimento da natureza e pela formao e
manuteno da vida. So considerados onipresentes e nicos. Os Orixs Menores, por sua vez, so
entendidos como espritos que passaram pelo processo de reencarnao e que alcanaram uma
grande elevao espiritual e que por isso foram dotados de poderes sobrenaturais pelos Orixs
Maiores, sendo considerados os intermedirios entre estes ltimos e os demais espritos. Por este
motivo, eles utilizam o nome do Orix Maior ao qual esto subordinados seguidos de um
-
8/12/2019 Apostila - Curso Umbanda
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sobrenome, chamado de Dijina
12
, por exemplo: Ogum Beira Mar, Seria um Orix Menor subordinado
do Orix maior Ogum.
No Omolok no existe incorporao de Orixs Maiores, apenas dos Orixs Menores e dos
espritos chamados de eguns. Os eguns aqui espritos que j possuem certa compreenso espiritual,
porm ainda no alcanaram a elevao dos Orixs Menores. So considerados eguns: os
Caboclos, os Preto-Velhos, as Crianas, os Exus e as Pombas-gira. Existe ainda uma terceira classe
de espritos, chamados de quiumbas ou kiumbas, que so entendidos como espritos atrasados e
que ainda no alcanaram uma compreenso das coisas espirituais.
J a religio sincrtica conhecida como ALMAS E ANGOLA, que apesar de ser originria
da capital fluminense, atualmente no mais praticado nesse estado, hoje em dia podemos
encontr-la quase que exclusivamente na regio da grande Florianpolis, em Santa Catarina.
A religio Almas e Angola guarda muita semelhana com o Omolok e com algumas
vertentes da Umbanda, ela cultua um deus supremo chamado Zambi, mas em algumas casas
tambm chamado de Olorum, a natureza deificada personificada nos Orixs e as entidades
conhecidas como Orixs Menores, Caboclos, Preto-Velhos, Crianas, Exus e Pombas-gira. O Orix
Obaluai considerado a fora maior do ritual de Almas e Angola, tendo destaque nos altares
dessa religio.
Podemos aqui conhecer, de uma forma bem sintetizada, um pouco sobre a histria do
sincretismo religioso no Brasil Podemos tambm conhecer suas origens, observar a evoluo e a
influencia de uma religio sobre outra.
12- Dijina: Palavra de origem kimbundo Rijina, dialeto bantu que significa "nome" ou apelido.
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IV
A ORIGEM DA UMBANDA
A histria nos mostra que os negros foram tirados a fora de sua terra natal, na frica, e
trazidos para o Brasil com rancor e dio em seus coraes. Feridos em sua dignidade e distantes da
ptria que amavam, muitas das vezes, enganados, feitos prisioneiros e escravos, o que resultou em
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muitos anos de lutas e dores. Eles tentavam manter seus costumes na cultura e na religio, que se
baseava na evocao das foras da natureza, deificadas e personificadas em divindades, que eram
uma espcie de deuses, a que cultuavam com todo fervor de suas vidas.
Com o tempo aprenderam a se vingar de seus senhores e dspotas
13
atravs de pactos
com entidades trevosas atravs da magia negra, que no era outra coisa se no as energias
magnticas da natureza empregadas de forma equivocada. Dessa maneira o culto inicial as
divindades da natureza foi se transformando em mtodos de vingana e em pactos com essas
entidades que assumiam a forma dessas mesmas divindades.
Um mistrio envolvia de tal forma essas manifestaes religiosas, que se tornava difcil
para um leigo saber sua origem e seu significado. Seus rituais eram to misteriosos, que o povo com
seu misticismo natural era constantemente explorado por aqueles que nenhum escrpulos tinham
em relao f alheia. Esses cultos acabaram se tornando, na verdade, num disfarce para uma
srie de atividades menos dignas no campo da magia, o que com o tempo acabou gerando uma
atmosfera psquica indesejvel no campo ureo do Brasil.
A psicosfera no ambiente espiritual da nao estava sendo afetada de tal forma pelas
energias negativas, que entidades ligadas aos lugares de sofrimento encarnavam e desencarnavam
conservando assim o dio em seus coraes. Dessa forma a magia negra foi se espalhando em
forma de culto pelas terras brasileiras, de norte a sul do pas onde as oferendas eram entregues
pelos adeptos desses cultos, que se multiplicavam a cada dia, aumentando ainda mais a crosta
mental negativa que vinha se formando sobre os cus da nao.
No Mundo Espiritual reuniram-se ento, entidades de alta hierarquia com o objetivo de
encontrar uma soluo para desfazer essa agrgora negativa que vinha se formando na psicosfera
do pas. A magia negra teria de ser combatida e seus efeitos destrutivos haveriam de ser
desmanchados, de maneira a transformar os prprios cultos degradantes em lugares que
irradiassem o Amor e a Caridade, essa era a nica forma de modificar o panorama sombrio que
vinha sendo criado.
Havia ento a necessidade de que os prprios espritos, mais evoludos e esclarecidos, se
manifestassem para realizar tal cometimento, e assim foram se apresentando, uma a uma, aquelas
entidades iluminadas modificando suas formas perispirituais, assumindo assim, a conformao das
prprias divindades e de entidades como Preto-velhos e Caboclos, levando a mensagem da
Caridade, com o objetivo inicial de desfazer a carga negativa que se abatia sobre os coraes dos
homens.
Essas entidades seriam o elo de ligao com o Alto, penetraria aos poucos nos redutos da
magia negra, os quais ainda se mantinham enganados quanto as Leis do Amor e da Caridade, e iria
ento transformando, com as palavras e os ensinamentos das entidades, os sentimentos das
pessoas. Para isso foi necessrio que elevados companheiros da vida maior renunciassem certos
mtodos de trabalho, considerados por eles mais elevados, para se dedicarem s atividades que
aqueles cultos se propunham. A essas entidades, se juntaram a antigos espritos de escravos e
ndios, que em sua simplicidade e boa vontade, se propuseram a trabalhar para mostrar aos homens
suas lies sagradas, auxiliando assim na cura de doenas e na transmisso das mensagens de
Amor e Caridade.
Nas sesses espritas, da poca, essas entidades no foram aceitas, pois identificadas sob
essas conformidades, preto-velhos e caboclos, eram considerados espritos atrasados e suas
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mensagens no mereciam nem mesmo uma anlise. Mas com o campo ureo do pas mais
preparado, mesmo no conseguindo muitas alteraes nos cultos, vemos em uma seo esprita
surgir ento a UMBANDA, anunciada em 15 de novembro de 1908, em Neves, subrbio de Niteri,
13- Dspota: do Grego Desptes; Dono da Casa; Senhor; Pessoa que governa com autoridade absoluta e arbitrria; Tirano;
Opressor.
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no Rio de Janeiro, pelo esprito que se identificou como Caboclo das Sete Encruzilhadas, atravs
do mdium Zlio Fernandino de Moraes, ento com dezessete anos de idade, usando pela primeira
vez o vocbulo Umbanda como designao de culto e religio, definindo assim o novo movimento
religioso como: uma manifestao do esprito para Caridade.
Tudo comeou quando Zlio Fernandino de Moraes, nascido em 10 de abril de 1891, no
bairro de Neves, municpio de Niteri, no Rio de Janeiro, aos seus dezessete anos estava se
preparando para servir as Foras Armadas, atravs da Marinha, se acometeu um fato curioso:
comeou a falar em tom manso e com um sotaque diferente da sua regio, parecendo um senhor
com bastante idade. De princpio, a famlia achou que houvesse algum distrbio mental e o
encaminhou a seu tio, Dr. Epaminondas de Moraes, mdico psiquiatra e diretor do Hospcio da
Vargem Grande. Aps alguns dias de observao e no encontrando os seus sintomas em nenhuma
literatura mdica sugeriu famlia que o encaminhassem a um padre para que fosse feito um ritual
de exorcismo, pois desconfiava que seu sobrinho estivesse possudo pelo demnio. Procuraram
ento um padre, tambm da famlia, que aps fazer ritual de exorcismo no conseguiu nenhum
resultado
Tempos depois Zlio foi acometido por uma estranha paralisia, para o qual os mdicos no
conseguiram encontrar a cura. Passado algum tempo, num ato surpreendente Zlio ergueu-se do
seu leito e declarou: "Amanh estarei curado". No dia seguinte comeou a andar como se nada
tivesse acontecido. Nenhum mdico soube explicar como se deu a sua recuperao. Sua me, D.
Leonor de Moraes, levou Zlio a uma curandeira chamada D. Cndida, figura conhecida na regio
onde morava e que incorporava o esprito de um preto velho chamado Tio Antnio. Tio Antnio
recebeu o rapaz e fazendo as suas rezas lhe disse que possua o fenmeno da mediunidade e
deveria trabalhar com a caridade.
O Pai de Zlio de Moraes Sr. Joaquim Fernandino Costa, apesar de no freqentar
nenhum centro esprita, j era um adepto do espiritismo, praticante do hbito da leitura de literaturaesprita e no dia 15 de novembro de 1908, por sugesto de um amigo, levou Zlio a Federao
Esprita de Niteri. Chegando na Federao e convidados por Jos de Souza, dirigente daquela
Instituio, se sentaram mesa, onde logo em seguida, contrariando as normas do culto realizado,
Zlio se levantou e disse que ali faltava uma flor, foi at o jardim apanhou uma rosa branca e
colocou-a no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Iniciando uma estranha confuso no
local, pelo fato ocorrido, ele incorporou um esprito e simultaneamente diversos mdiuns presentes
apresentaram incorporaes de caboclos e pretos velhos, sendo advertidas pelo dirigente do
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trabalho. Ento a entidade incorporada no rapaz perguntou:
"- Porque repelem a presena dos citados espritos, se nem sequer se dignaram a ouvir
suas mensagens. Seria por causa de suas origens sociais e da cor?"
Aps um vidente ver a luz que o esprito irradiava perguntou:
"- Porque o irmo fala nestes termos, pretendendo que a direo aceite a manifestao de
espritos que, pelo grau de cultura que tiveram quando encarnados, so claramente atrasados? Por
que fala deste modo, se estou vendo que me dirijo neste momento a um jesuta e a sua veste branca
reflete uma aura de luz? E qual o seu nome meu irmo?"
Ele responde:
"- Se julgam atrasados os espritos de pretos e ndios, devo lhes dizer que amanh estarei
na casa deste aparelho, para dar incio a um culto em que estes pretos e ndios podero dar sua
mensagem e, assim, cumprir a misso que o plano espiritual lhes confiou. Ser uma religio que
falar aos humildes, simbolizando a igualdade que deve existir entre todos os irmos, encarnados e
desencarnados. E se querem saber meu nome que seja este: Caboclo das Sete Encruzilhadas,
porque no haver caminhos fechados para mim."
O vidente ainda pergunta:
"- Julga o irmo que algum ir assistir a seu culto?"
Novamente ele responde:
"- Colocarei uma condessa em cada colina que atuar como porta-voz, anunciando o culto
que amanh iniciarei."
No dia seguinte, 16 de novembro de 1908, na rua Floriano Peixoto, 30, em Neves, Niteri,
aproximando-se das 20:00 horas, estavam presentes os membros da Federao Esprita, parentes,
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amigos e vizinhos e do lado de fora uma multido de desconhecidos. Pontualmente s 20:00 horas o
Caboclo das Sete Encruzilhadas incorporou e iniciou o culto usando as seguintes palavras:
"- Aqui se inicia um novo culto em que os espritos de pretos velhos africanos, que haviam
sido escravos, que desencarnaram e no encontram campo de ao nos remanescentes das seitas
negras, j deturpadas e dirigidas quase que exclusivamente para os trabalhos de feitiaria e os
ndios nativos da nossa terra, podero trabalhar em benefcios dos seus irmos encarnados,
qualquer que seja a cor, raa, credo ou posio social. A prtica da caridade no sentido do amor
fraterno, ser a caracterstica principal deste culto, que ter base no Evangelho de Jesus e como
mestre supremo Cristo".
Nessa reunio, o CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS estabeleceu as normas do
culto, sendo que:
Sua prtica seria denominada "sesso" e se realizaria noite, das 20 s 22 horas, para
atendimento pblico, totalmente gratuito, passes e recuperao de obsedados.
O uniforme a ser usado pelos mdiuns seria todo branco e de tecido simples.
No se permitiria retribuio financeira pelo atendimento ou pelos trabalhos realizados.
-
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Os Cnticos no seriam acompanhados de atabaques nem de palmas ritmadas.
A esse novo culto, que se alicerava nessa noite, a entidade deu o nome de UMBANDA e
declarou fundado o primeiro templo para a sua prtica, com a denominao de Tenda Esprita Nossa
Senhora da Piedade, justificando o nome pelas seguintes palavras: "assim como Maria acolhe em
seus braos o Filho; a Tenda acolheria os que a ela recorressem, nas horas de aflio". Atravs de
Zlio manifestou-se nessa mesma noite, um Preto Velho, Pai Antnio, para completar as curas de
enfermos iniciadas pelo Caboclo.
A partir dessa data, a casa da famlia de Zlio tornou-se a meta de enfermos, crentes,
descrentes e curiosos. Os enfermos eram curados; os descrentes assistiam a provas irrefutveis; os
curiosos constatavam a presena de uma fora superior; e os crentes aumentavam, dia a dia. Cinco
anos mais tarde, manifestou-se o Orix Malet
14
exclusivamente para a cura de obsedados e o
combate aos trabalhos de magia negra.
Vejamos ento cronologicamente os principais acontecimentos da UMBANDA a partir de
sua anunciao:
1. 15 de novembro de 1908 - Advento da UMBANDA e fundao do primeiro Terreiro de
Umbanda, por Zlio de Moraes, em Neves, subrbio de Niteri;
2. Novembro de 1918 - O Caboclo das Sete Encruzilhadas d incio fundao de sete
Tendas de Umbanda no Rio de Janeiro;
3. 1920 - A Umbanda espalha-se pelos Estados de So Paulo, Par e Minas Gerais. Em
1926 chega ao Rio Grande do Sul e em 1932 em Porto Alegre;
4. 1924 - O advento do Caboclo Mirim - Manifestou-se no Rio de Janeiro, em um jovem
mdium, Benjamim Figueiredo, uma entidade, denominada Caboclo Mirim, que vinha
com a finalidade de criar um novo ncleo de crescimento para a Umbanda;
5. 1939 - Os Templos fundados pelo Caboclo das Sete encruzilhadas reuniram-se, criando
a Federao Esprita de Umbanda do Brasil, posteriormente denominada UnioEspiritualista de Umbanda do Brasil, incorporando dezenas de outros terreiros fundados
por inspirao