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APOSTILA Manual de implantação no Bioma Cerrado

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Manual de implantação no Bioma Cerrado

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Page 1: Apostila Agrofloresta

APOSTILA

Manual de implantação no Bioma Cerrado

Page 2: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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APOSTILA

PROJETO AGROFLORESTA

ASSENTAMENTO TRÊS CONQUISTAS

MANUAL DE IMPLANTAÇÃO NO BIOMA CERRADO

Page 3: Apostila Agrofloresta

Associação dos Trabalhadores Ru-rais de Três Conquistas ASTRAC (2011-2013)

Gilberto Ribeiro dos Santos Presidente

Edvar Ribeiro Ezequiel Vice-Presidente

José Abel do Nascimento Dias 1º Secretário

Vera Lúcia Alves dos Santos 2º Secretário

Jovino Rodrigues da Silva Correia 1º Tesoureiro

Daniel Antonio dos Passos 2º Tesoureiro

Nilson Rangel Marques Diretor de Patrimônio

Conselho Fiscal Nadir Diogo da Silva 1º Conselheiro

José Rodrigues da Silva 2º Conselheiro

Marinalva Alves Pereira 3º Conselheiro

Equipe Executora PROJETO AGRO-FLORESTA

Kelly Cristina Martins Coordenadora do Projeto

Karen Virgínia Ferreira Coordenadora Pedagógica (Voluntária)

Equipe de Assessoria Técnica do Projeto Maria da Conceição do Nascimento Oliveira Assessora Técnica em Agroecologia

Estagiários Edson da Silva Victor Hugo Nascimento França Iolanda Rodrigues Cadete

Organizadores

Kelly Cristina Martins Karen Virginia Ferreira Maria da Conceição do Nascimento Oliveira Apoio Vinícius de Borba Alves Ehlers Assessoria de Comunicação

Fotos Kelly Cristina Martins e Maria da Conceição do Nascimento Oliveira

Projeto Gráfico e Diagramação Karen Virginia Ferreira Ilustrações Maria da Conceição do Nascimento Oliveira Karen Virgínia Ferreira

Page 4: Apostila Agrofloresta

“Quando a terra está nua, desprotegida, Mofokari,

O ente solar queima os igarapés e os rios.

Ele os seca com sua língua de fogo e engole seus peixes.

E quando seus pés se aproximam do chão da floresta,

Ele endurece e fica ardendo.

Nada mais pode brotar nele.

Não tem mais raízes e sementes na umidade do solo.

As águas fogem para muito longe.

Então, o vento que as seguia e nos refrescava

Como um abano se esconde também.

Um calor escaldante paira em todos os lugares.

As folhas e flores que ainda estão no chão ressecam e encolhem.

Todas as minhocas da terra morrem.

O perfume da floresta queima e desaparece. Nada mais cresce.

A fertilidade da floresta vai para outras terras”

(Davi Kopenawa – índio Yanomami).

Page 5: Apostila Agrofloresta

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AGRADECIMENTOS A Associação dos Trabalhadores Rurais de Três Conquistas – ASTRAC agradece em pri-

meiro lugar aos seus associados e líderes que em todos esses anos de existência da associação tem trabalhado por sua criação e continuidade, se mantendo como instituição de confiança diante da sociedade. Sem este logo esforço o presente Projeto jamais sairia do papel.

Agradecemos também aos assentados e seus filhos que batalharam pelo Projeto, desde o início de sua escolarização, estudando e se capacitando para trazer benefícios para sua comuni-dade, e a toda equipe di Projeto que tem trabalhado dia e noite para que as ações ocorram como planejado.

Nosso agradecimento também à EMATER-DF e a Secretaria de Estado de Agricultura e Desenvolvimento Rural – SEAGRI-DF, as quais não pouparam esforços na disponibilização de recursos humanos e bens para que este projeto se concretizasse.

Por fim, agradecemos à PETROBRAS pela confiança, pelo patrocínio e por acreditar que este projeto tem fundamental importância para a comunidade e para o meio ambiente.

Page 6: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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APRESENTAÇÃO sta apostila busca auxiliar as famílias de agricultores rurais do Assentamento Três Con-quistas, localizado na DF 130, Km 22, Paranoá – DF na implantação de Sistema Agroflo-restal adequado ao Bioma Cerrado. Nesse sentido queremos contribuir para o melhor a-proveitamento dos espaços, dos recursos adquiridos e do potencial ecológico, econômico e

social do SAF.

As agroflorestas a serem implantadas foram planejadas e propostas pela Associação dos Trabalhadores Rurais de Três Conquistas – ASTRAC por meio do Projeto “AGROFLORESTA” aprovado pela PETROBRÁS – Edital Ambiental 2012, na linha de Fixação de Carbono e emissões evitadas com base na Reconversão produtiva de áreas (uso de áreas degradadas para o estabele-cimento de sistemas produtivos sustentáveis).

O projeto prevê prazo de 2 anos para implantar 152 módulos de agrofloresta, com 1.188m² cada, num total de 18,06 hectares, beneficiando diretamente em torno de 25 famílias com insumos (sementes, adubo, ferramentas, cercamento de área). No total serão plantadas cerca de 97 mil ár-vores nativas, frutíferas e de madeira de lei. A mão de obra para implantação e manutenção dos SAF’s (Comunitário e Individual) e viveiros é a contrapartida dos próprios agricultores por rece-ber gratuitamente os insumos, ferramentas, a capacitação e a assessoria técnica.

Além disso, o projeto possui como tema transversal ações de Educação Ambiental, tendo como foco o Consumo Consciente e a Conservação de Recursos Naturais, por meio de oficinas práticas, valorização da cultura popular por meio de contação de histórias e assessoramento téc-nico em agroecologia para as famílias beneficiárias.

As ações de educação ambiental se estendem a 1.100 alunos de escolas públicas rurais do DF entre outros públicos indiretamente, por meio das ações de comunicação/divulgação do pro-jeto que levam em conta a quantidade e qualidade de pessoas atingidas com a distribuição dos materiais de comunicação previstos.

Em suma, a implantação do Projeto com a participação ativa das famílias, visa trazer vários benefícios socioambientais tais como: recuperação de áreas degradadas do bioma cerrado; con-servação da água e do solo e absorção de dióxido de carbono, melhoria dos hábitos alimentares e a relação das famílias com a preservação de suas terras, águas e árvores, assim como geração de renda através da venda dos produtos de sua terra, promovendo a fixação do homem no campo e combatendo o inchaço populacional nas favelas das grandes cidades.

Importa destacar que essa apostila não pretende apresentar todo o conteúdo de como fazer AGROFLORESTA, ela quer somente apontar um direcionamento, pois entendemos que os SAF´s são sistemas que se aproximam do natural, e como tal é complexo, dinâmico, adaptado ao tempo, espaço, bioma, clima e interesses do próprio agricultor, e dessa forma não pode ser reduzido a palavras. O mais importante é a aprendizagem prática, com a mão na terra.

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Page 7: Apostila Agrofloresta

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SUMÁRIO

AGRADECIMENTOS ......................................................................................................................................................................... 6

APRESENTAÇÃO ............................................................................................................................................................................. 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................................. 9

CAPÍTULO 1 .................................................................................................................................................................................. 11

CONTEXTUALIZAÇÃO ............................................................................................................................................................... 11

O Projeto Agrofloresta no Assentamento Três Conquistas .................................................................................................... 11

IMPORTÂNCIA E BENEFÍCIOS DA AGROFLORESTA................................................................................................................. 14

ROTEIRO DE COMO IMPLANTAR AGROFLORESTA ................................................................................................................. 17

IMPLANTAÇÃO DOS SAF´s EM ETAPAS ................................................................................................................................. 17

Fases dos Sistemas Agroflorestais ........................................................................................................................................ 21

CAPÍTULO 2 .................................................................................................................................................................................. 23

AGROECOLOGIA E SISTEMAS DE PRODUÇÃO ............................................................................................................................ 23

AGROECOLOGIA .................................................................................................................................................................. 23

SISTEMAS DE PRODUÇÃO ............................................................................................................................................................24

TRANSIÇÃO AGROECOLOGICA ............................................................................................................................................. 24

CAPÍTULO 3 .................................................................................................................................................................................. 26

A SUSTENTABILIDADE DA AGROFLORESTA ............................................................................................................................... 26

MANEJO DO SAF ................................................................................................................................................................. 27

DICAS DE PLANTIO SUSTENTÁVEL ........................................................................................................................................ 27

BARREIRA NATURAL E ACEIROS ........................................................................................................................................... 27

PRÁTICAS ALTERNATIVAS PARA CONTROLE DE PRAGAS ....................................................................................................... 28

VAMOS APRENDER COMO MANEJAR FORMIGAS CORTADEIRAS?...............................................................................................29

VAMOS COMPOSTAR?......................................................................................................................................................... 30

BANCOS DE SEMENTES..................................................................................................................................................................31

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA ............................................................................................................................................. 31

ECONOMIA SOLIDÁRIA ........................................................................................................................................................ 31

COMÉRCIO JUSTO ............................................................................................................................................................... 31

GERAÇÃO DE RENDA A PARTIR DA COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DA AGROFLORESTA............................................................................................................................................................................32

OS SAF´s E O TURISMO ........................................................................................................................................................ 34

CAPÍTULO 4 .................................................................................................................................................................................. 35

DICAS BÁSICAS PARA IMPLANTAR VIVEIROS.....................................................................................................................................36

CAPÍTULO 5 .................................................................................................................................................................................. 38

CÓDIGO FLORESTAL E RESERVA LEGAL ..................................................................................................................................... 38

CAPÍTULO 6 .................................................................................................................................................................................. 40

RECEITAS COM FRUTOS DA AGROFLORESTA E DO CERRADO ..................................................................................................... 40

DESENHANDO SEU SISTEMA AGROFLORESTAL......................................................................................................................................45

ANOTAÇÕES...........................................................................................................................................................................................47

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..............................................................................................................................................................49

Page 8: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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INTRODUÇÃO

istema Agroflorestal (SAF) é uma forma de produzir alimentos e gerar renda em harmonia com a natureza, combinando espécies arbóreas (frutíferas e/ou madeireiras, nativas e exógenas) com cultivos agrícolas e/ou animais. No SAF procuramos imitar o funcionamento da natureza, utilizando de forma sustentável as relações entre os seres

vivos e os seres humanos, estimulando a biodiversidade. Este modelo de produção apresenta um dos maiores níveis de densidade e diversidade vegetal numa mesma área, além de servir como recuperação e preservação da Reserva Legal.

Agrofloresta se aprende com a natureza, ela é fruto da interação de todos os seres vivos que ali estão juntos, contribuindo para o aumento da biodiversidade, onde todos os micro-organismos, todas as plantas, todas as árvores, os animais, os insetos, o vento, a água, a terra têm papel fundamental para o desenvolvimento deste ecossistema trazendo equilíbrio e elementos benéficos, além de servir como recuperação e preservação da Reserva Legal.

No manejo da agrofloresta, a natureza é a grande parceira e mestre, devemos sempre procurar entender e usar os processos de sucessão natural, as relações entre as espécies e os ciclos naturais para a produção de alimentos. Nesse sistema agroecológico de produção, o saber das comunidades tradicionais e do agricultor está aliado ao saber técnico-científico.

Cada geração prepara a terra, o ar, a água, o clima e os alimentos para a geração seguinte. Dessa forma, é muito importante preservar a natureza, deixando condições iguais ou melhores para as próximas gerações, ou seja, para nossos filhos e netos. A isso damos o nome de sustentabilidade. Compreender este conceito básico nos faz entender que aqueles que querem preservar a natureza não o fazem em detrimento dos seres humanos, mas trabalham para a preservação da própria espécie humana, pois se esta for extinta, a natureza vai continuar seu ciclo de renovação, independente do ser humano.

Contudo, nos últimos 200 anos, após a Revolução Industrial, é voraz o nível de impacto ambiental e poluição que as ações humanas têm causado, muita urbanização, excesso de pavimentação (asfaltos e calçadas) responsável pela não infiltração da água no solo e enchentes, aumento das áreas de monocultura, desmatando florestas, poluindo rios, causando lixiviação e erosão do solo, aumento das favelas e violências, principalmente nas grandes cidades, para onde foram as populações do campo no período de êxodo rural causado pela Revolução Verde, quando houve a mecanização da agricultura, diminuição da qualidade da alimentação, com aumento do uso de agrotóxicos e produção de alimentos de baixo valor nutritivo (farinhas brancas, arroz branco, açúcar refinados), aumento do índice de doenças causadas pela má alimentação (obesidade, colesterol alto, pressão alta, diabetes...), concentração de renda e maior nível de miséria humana, principalmente nas regiões mais próximas dos grandes latifúndios e das metrópoles, e mais recentemente o uso massivo de produtos transgênicos.

Tendo em vista que o Projeto em questão irá contribuir para a recuperação de área degradada do Bioma Cerrado, devemos lembrar que este tem sido fortemente desmatado para se tornar-se um grande celeiro de alimentos. O sistema de produção monocultor a que foi submetido o Cerrado ocasionou a perda de áreas naturais para lavouras, comprometendo a qualidade do solo e dos recursos hídricos, assim como a extinção de espécies nativas.

Todos estes fatores têm sido uma forte ameaça à existência humana no planeta, uma vez que sem um ambiente equilibrado, com condições de produção de alimentos saudáveis, dificilmente a humanidade conseguirá sobreviver. A natureza, ao contrário irá se regenerar, mesmo que demore milhares de anos.

S

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Por isso tudo, a defesa de uma agricultura sustentável por meio da implantação de agrofloresta tem se apresentado como fundamental e a melhor solução para a maioria, se não todos, os problemas citados acima, ou seja, com a proliferação do SAF teremos valorização da agricultura familiar, geração e distribuição de renda, preservação ambiental, fixação do homem no campo, produção ecológica de alimentos mais saudáveis e nutritivos, dentre outros benefícios.

Sabemos que estamos no começo de uma Revolução Ecológica em plena Era do Conhecimento, para nós que colaboramos com o início desta mudança, as perspectivas parecem distantes de se concretizarem, mas precisamos de muita força e perseverança, a fim de que as gerações futuras, nossos filhos e netos recebam de herança um planeta com condições melhores de sobrevivência.

Seja você a mudança que quer para mundo! (M. Gandhi)

Figura 1 – Implantação do SAF Comunitário no Assentamento Três Conquistas

Page 10: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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O PROJETO AGROFLORESTA NO ASSENTAMENTO TRÊS CONQUISTAS objetivo geral do Projeto é a implantação de Sistemas Agroflorestais (SAF´s) para recuperação ambiental de área degradada do Cerrado em assentamento de reforma agrária, assim como a realização de assessoria técnica, educação ambiental prática e

implantação de viveiros.

Mais especificamente o projeto visa executar os seguintes objetivos específicos:

1. Implantação de 77 módulos de 1188m² cada de SAF; – 1ª etapa / ano 1.

2. Implantação de 75 módulos de 1188m² cada de SAF; – 2ª etapa / ano 2.

3. Implantação de 500m² de miniviveiros, divididos para cada família/ano 2;

4. Promover oficinas e assessoria técnica sobre conscientização ecológica e implantação das unidades de SAF´s;

5. Promover ações de educação ambiental em 04 escolas públicas rurais da região.

6. Realização de Diagnósticos Inicial e Final com aspectos social, ambiental e alimentar dos beneficiários.

O local onde o projeto irá atuar é o Assentamento Três Conquistas, que fica localizado na DF 130, Km 22, Paranoá – DF. A região é uma importante área de recarga hídrica, pois está próxima das nascentes do Rio Preto e Rio São Bartolomeu. O Assentamento fica em um local alto, que por sua formação geológica tem pouca água disponível, e por isso sua vegetação nativa – Cerrado – deve ser recuperada e manejada de maneira equilibrada para promover a infiltração das águas pluviais no solo.

Isso porque, durante muitos anos, a área foi acometida pela monocultura intensa do eucalipto que tomou o lugar das matas nativas. Para agravar a situação, antes da implantação definitiva do Assentamento foi realizada a retirada dos eucaliptos sem a devida substituição por outras árvores e recomposição de nutrientes no solo, o que deixou a terra ainda mais ácida e seca.

Na maioria das terras do Assentamento as águas das chuvas caem sem infiltração, careando nutrientes, potencializando processos erosivos e diminuindo a recarga hídrica e a água disponível para consumo humano, o que chega a causar, nos períodos de estiagem, falta de água nos poços das famílias assentadas.

Importa lembrar que a maior parte dos agricultores ainda não conta com boas práticas de conservação de solo aliada com produção agroecológica, bem como não tem conhecimentos e condições de comprar insumos para implantar SAF´s. Nessas condições a maioria do solo que constitui o Assentamento continua desertificada e infértil para cultivo de árvores, produção de

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CAPÍTULO 1

CONTEXTUALIZAÇÃO

Figura 2 – Entrada principal do As-sentamento.

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alimentos e geração de renda, e a maioria das famílias ainda se encontra com poucas condições de se manter de forma sustentável a partir de sua terra.

Apesar de já ter quase 16 anos de implan-tação, muitos dos agri-cultores precisam melho-rar seus hábitos ambien-tais, reaproveitando os resíduos orgânicos para adubação, separando o lixo urbano para ser le-vado para a reciclagem em locais apropriados. As famílias também ca-

recem de ações de sensibilização ambiental, a fim de que desenvolvam habilidades para cultivar, produzir, se alimentar e gerar renda a partir de sua propriedade, com reaproveitamento da bio-massa disponível, e principalmente para o consumo consciente.

Nessa ótica, vale lembrar que a agricultura familiar nos projetos de assentamentos do Distrito Federal e Entorno apresentam características semelhantes a do Três Conquistas: um contingente de agricultores excluídos socialmente, com quantidade de terra insuficiente ou com baixa fertilidade para garantir sustentabilidade, com recursos financeiros escassos para investir na propriedade, de forma que os jovens necessitem sair da área rural para procurar subempregos nas cidades, causando assim aumento do êxodo rural, fragmentando a unidade familiar e inchando mais as favelas e periferias das cidades.

É de suma importância destacar que o Assentamento Três Conquistas encontra-se em processo de regularização e uma das exigências que dificulta a legalização é a averbação da área

de Reserva Legal na qual cada proprietário deve comprovar sua implantação.

Nesse sentido, a implantação do SAF contribui para a regularização fundiária, pois, conforme o Código Florestal, estes são considerados como área de Reserva Legal, (art. 54, LEI nº 12.651, de 25 de maio de 2012.). Sendo que o não atendimento às determinações Código Florestal impede a muitos agricultores de estarem regularizados, dificultando assim o acesso a empréstimos ou financiamentos de baixo custo promovidos pelo Governo Federal, como o PRONAF/Banco do Brasil para compra de sementes e adubo.

Figura 3 - Centro Comunitário do Assentamento

Figura 4 - Assentamento Três Conquistas área devastada

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Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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Mapa do Assentamento

Figura 5 – Mapa do Assentamento

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Por tudo isso, nota-se claramente a importância do Projeto Agrofloresta, pois os SAF’s a serem implantados permitirão aos assentados colher alimentos em sua propriedade em maior quantidade e de forma mais diversificada, como por exemplo, verduras, mandioca, feijão, milho, etc. Mesmo que não seja facilmente mensurável, tais alimentos serão absorvidos na dieta diária dos agricultores, diminuindo-lhes os gastos com alimentação e medicamentos, pois, a maior disponibilidade e uso de alimentos agroecológicos contribuem para a segurança alimentar e nutricional dos agricultores. Com a venda do excedente, será possível ampliar a renda das famílias permitindo que as famílias

sobrevivam de sua terra de forma mais autônoma.

Dentro da perspectiva de sustentabilidade social e participativa, o Projeto em voga foi elaborado a partir de uma necessidade interna (endógena), feito pelos próprios assentados e seus filhos, os quais, após formação superior em diversas áreas (ciências humanas e ciências agrárias), decidiram fazer uso do conhecimento adquirido para benefício da comunidade do Assentamento, objetivando melhorar a vida de seus familiares, amigos e vizinhos, e contribuir para o sucesso da reforma agrária e de um mundo mais justo e sustentável.

A equipe de execução do projeto é formada principalmente por pessoas que vivem ou viveram no próprio Assentamento, sendo que a assessora técnica e os estagiários envolvidos têm formação em agroecologia e experiência na área de agrofloresta, e a coordenação do projeto tem formação e experiência em agricultura familiar, segurança alimentar e desenvolvimento sustentável.

IMPORTÂNCIA E BENEFÍCIOS DA AGROFLORESTA

Para o pequeno agricultor, principalmente os de baixa renda e que vivem em assentamentos de reforma agrária, a agrofloresta é de fundamental importância para a sustentabilidade em todas as suas dimensões, pois se trata de uma técnica apropriada para o processo de transição agroecológica e é viável do ponto de vista econômico, sua implantação objetiva fazer da Reserva Legal

uma fonte de possibilidades econômicas e alimentares contribuindo para a autonomia do agricultor familiar a partir de sua terra.

Dessa forma, verificam-se os benefícios socioambientais, abrangendo diretamente todos os membros das famílias atendidas, desde as crianças, adolescentes, jovens, adultos, mulheres grávidas e, idosos. Veja abaixo alguns

dos vários benefícios de implantar Agrofloresta.

Figura 6 - Agrofloresta implantada em uma gleba do Assentamento.

Figura 7 - Agrofloresta implantada em uma gleba do Assentamento.

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Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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BENEFÍCIOS - Preservação Ambiental

Recuperação de áreas degradadas do bioma cerrado;

Preservação da qualidade das águas, do solo e do ar;

Ajuda a manter a fauna;

Formação e sanidade do solo aumentando sua fertilidade, pois as árvores tem a capacidade de capturar nutrientes de camadas mais profundas do solo, trazendo melhoria das propriedades químicas e físicas do solo, promovendo o controle da erosão, aumentando as interações sistêmicas e impedindo a lixiviação causada pela chuva;

Regularização Ambiental da propriedade, pois, o SAF é considerado como área de Reserva Legal pelo Código Florestal (art. 54, LEI nº 12.651/2012);

Absorção de dióxido de carbono;

Reaproveitamento de resíduos orgânicos;

Maior disponibilidade de recursos hídricos nos lençóis freáticos da região; pois, contribui com uma maior infiltração de água das chuvas, e com maior eficiência no uso da água;

Redução e possível eliminação de pragas e doenças na produção agroflorestal, pois, nesse sistema elas encontram inimigos e barreiras naturais;

Garantia de terra produtiva para as gerações futuras;

Maior proteção aos fortes ventos que assolam o Assentamento;

Protege futuras gerações da contaminação química e da degradação ambiental;

Redução do efeito estuga;

BENEFÍCIOS - Soberania e Segurança alimentar.

Aumenta a disponibilidade de alimentos mais ricos em nutrientes e mais saudáveis; Melhora a saúde de quem come e de quem produz; Evita problemas de saúde causados pelo consumo de alimentos produzidos com agrotóxicos; Maior autossustentabilidade alimentar; Alimentos orgânicos são mais saborosos; Maior diversidade e quantidade de alimentos produzidos na mesma área. BENEFÍCIOS – Melhoria de vida do agricultor (a) familiar.

Geração de renda, por meio da produção de excedente, venda de crédito de carbono e até mesmo com a prestação de serviços e capacitações em Agrofloresta e agroecologia;

Figura 8 – Visita ao SAF do Sítio Semente

Figura 9 – alimentos orgânicos

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Ajuda a fixação do homem no campo, combatendo o inchaço populacional nas grandes cidades, principalmente nas favelas; Reduz custos com adubação, pois faz uso de maneira mais eficiente da matéria orgânica disponível na propriedade; Valoriza a cultura local e o conhecimento tradicional; Agricultor e sua família com mais sensibilização ambiental, valores, conhecimentos e habilidades para viver de maneira sustentável e em harmonia com a natureza; Reduz gastos com a aquisição de alimentos; Com a regularização da Reserva Legal, é facilitada a obtenção de empréstimo junto a financiamentos de baixo custo promovidos pelo Governo Federal, como o PRONAF/Banco do Brasil, para compra de sementes e adubo; Reduz custos com uso de agrotóxicos, melhorando desta maneira, a saúde do agricultor e sua família; A área é melhor aproveitada permitindo ao agricultor maior utilização do potencial produtivo da mesma área; Possibilita uso mais eficiente da mão de obra familiar, uma vez que o manejo dos SAFs permite a distribuição do trabalho entre a família ao longo do ano; O manejo do SAF pode ser adotado como atividade terapêutica por idosos e de aprendizagem para crianças e adolescentes; Com o cultivo de diversas espécies, reduz as chances de insucesso cultural, pois diminui os riscos de prejuízos provenientes de perdas por doenças que atinja uma cultura especifica; A combinação de produção diversificada voltada para a subsistência e para o mercado diminui os riscos assumidos pelos agricultores familiares, evitando inclusive desperdício de alimentos; A diversidade da vegetação promove um micro ambiente mais saudável, abranda o calor, atrai a fauna nativa, pássaros cantantes, criando um espaço de contemplação e deleite, que pode ser utilizado inclusive como atrativo para o Turismo Rural.

Segundo dados do Projeto Cooperafloresta, nas agroflorestas implantadas em Barra do Turvo/SP, chega-se a produzir mais de 40 toneladas de alimentos por hectare por ano, sendo que o estoque de carbono e a variedade de plantas foram estimadas conforme quadro abaixo:

Idade das SAF’s (em anos)

Estoque de carbono nas plantas (em

toneladas por ano)

Quantidade de espécies de

árvores/arbustos

Quantidade de plantas por hectare

1 a 3 8,8 16 4000 4 a 9 19,4 B45 7407 10 a 15 43 49 7504

Com idade de 4 a 9 anos, o estoque de carbono nas plantas, gira em torno de 19,5 toneladas por ano, e em agrofloresta com idade de 10 a 15 anos, gira em torno de 43 toneladas por ano.

Na agrofloresta se planta uma grande diversidade de espécies culturais como as frutíferas, forrageiras, plantas ornamentais e medicinais, hortaliças e as de madeira de corte. O consorcio das espécies é essencial para que o sistema funcione bem, pois como na floresta as plantas se auxiliam. Por exemplo, as espécies de culturas anuais protegem as culturas de segundo ano, pois estas ao estarem em contato direto com o sol podem morrer, assim, as culturas anuais protegem o solo para as outras culturas e vice-versa.

Figura 10 – Lançamento do Projeto Agrofloresta

Page 16: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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A partir dessa ótica, a agrofloresta é a melhor maneira de promover soluções que satisfaça o maior numero possível de carências a partir de uma mesma ação. Dessa forma, encontramos no sistema produtivo agroflorestal uma opção inteligente, economicamente viável, ecologicamente sustentável, tecnicamente possível e adequada para a agricultura familiar.

A fim de colaborar no início da implantação das agroflorestas em sua chácara, cada família irá receber insumos (sementes, adubos e ferramentas). Para aprender como cultivar SAF, um representante de cada família beneficiária participará do Curso Prático de Implantação de Agrofloresta, com duração de 56 horas, quando será implantado o SAF no Centro Comunitário da ASTRAC. Também haverá visitação de outros Sistemas Agroflorestais na região do DF, já em pleno funcionamento.

Para tirar dúvidas, nos dois anos de projeto, as famílias agricultoras poderão entrar em contato com a equipe de assessoria técnica para marcar visitas e tirar dúvidas sobre como implantar agroflorestas e realizar o manejo. Esta apostila também poderá ajudar em caso de dúvidas. Importa lembrar que a participação no Curso Prático de Implantação de Agrofloresta será fundamental para que as famílias participem das etapas posteriores do projeto.

Figura 111 - Repensar outro mundo

ROTEIRO DE COMO IMPLANTAR AGROFLORESTA

IMPLANTAÇÃO DOS SAF´S EM ETAPAS

Etapa 1 – Delimitação da Área e Preparo do Solo

No Curso Prático de Implantação de Agrofloresta os agricultores aprenderão as etapas iniciais do SAF, que deve começar com delimitação da área definida por módulos, sendo que o SAF comunitário é composto por 2 módulos produtivos de 1.188 m² cada, num total de de 2.376 m².

Delimitada a área do SAF, será realizada aração, aplicação de calcário, gradagem, adubação e execução de cerca. Inicialmente deve ser feita a limpeza do terreno, retirando tocos e outros fatores que prejudiquem ou impossibilitem o trabalho do trator durante a aração. Findada essa parte, deve-se dar inicio à calagem, com auxilio de trator e espalhadeira, onde será espalhado no terreno o calcário. Destaca-se que a quantidade de calcário e adubo deve ser

1 Disponível em: http://encontroregionaldeagroecologialogia.wordpress.com/agroecologia-e-luta/

É necessário mudarmos nosso jeito de agir e pensar quando se fala em sistema de produção agroecológico.

Page 17: Apostila Agrofloresta

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baseada após análise físico-química. Por fim, é preciso realizar nova aração do solo para reforçar a limpeza e para revolver o calcário espalhado na calagem. Caso o adubo orgânico não esteja curtido, deve esperar um tempo para a completa fermentação, evitando que as plantas e sementes queimem.

Etapa 2- Execução da cerca

Nessa etapa deve-se: marcar, abrir os buracos e alinhar o estaqueamento. Começaremos por fixar os mourões com destaque para os cantos, pois desse passo depende a firmeza da cerca. Depois devemos esticar o arame, prender com grampos exclusivos para arame farpado nos esticadores primeiramente, em seguida prende-se nas demais estacas.

Etapa 3- Plantio de árvores florestais e frutíferas

Em cada modulo reprodutivo devem ser abertos 132 berços de 40x40x40cm, estes serão adubados com material orgânico, num espaçamento de 3x3m entre eles para receber as mudas das espécies florestais e frutíferas, conforme FIGURA n° 11 abaixo. O plantio deverá ser feito após a adubação e deve-se fazer uma cobertura de matéria vegetal com capim seco ou outra matéria disponível na propriedade. O tamanho ideal das mudas para o plantio é em torno de 30cm ou mais, momento em que as

mudas estão mais resistentes ao processo de transporte.

Page 18: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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Módulo de SAF de 1188m²

Etapa 4- fruticultura de ciclo médio e café:

Neste momento devem ser abertos diversos outros berços para plantio de outras mudas, conforme FIGURA nº 12 abaixo. Estas mudas devem ser plantadas nas entrelinhas das florestais e frutíferas da Etapa 3 acima.

Figura 12 – Modelo de módulo de SAF 1180m²

Page 19: Apostila Agrofloresta

20

Módulo de SAF de 1188m²

As bananeiras devem

Figura 13 – Modelo de

módulo de SAF 1180m²

completo

Page 20: Apostila Agrofloresta

Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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ser plantadas no centro das entrelinhas das florestais já plantadas num espaçamento de 3m entre cada planta. Os berços para as bananeiras devem ser feitos manualmente de mesma medida das anteriores e após o plantio das florestais para que as mudas destas sirvam como balizamento das linhas de berços da Etapa 3.

As fileiras de café devem ser duplas e alternadas com as de bananeira nas entrelinhas das florestais. O espaçamento é de 1m entre cada planta e de 1m entre os pés de café e as florestais.

Para evitar a destruição do SAF por queimadas, as bananeiras também podem ser plantadas ao lado de infestação de fogo, assim como deve ser realizado aceiro ao redor de cada SAF. O Gergelim, Maracujá e chuchu devem ser plantados ao longo das cercas do modulo, e o abacaxi deve ser plantado ao longo das linhas de florestais alternadas em fileiras duplas.

Etapa 5- Plantas anuais, hortaliças e plantas de cobertura

Devem ser plantadas nessa etapa: milho, feijão, feijão guandu, mandioca, melancia, maxixe, rasteiro e tomate cereja da seguinte forma:

Feijão e feijão guandu, milho e feijão guandu – as fileiras de feijão guandu devem ser planta-das ao longo de todas as entrelinhas de florestais seguidas intercaladamente ora quatro fileiras de feijão, ora quatro fileiras de milho de acordo com FIGURA nº 12 acima.

Mandioca – ao longo das linhas de bananeiras, mamão e outras.

Melancia, tomate cereja, pepino rasteiro e maxixe – nos berços de florestais e frutíferas nas fi-leiras intercaladas com as fileiras de florestais nas quais foram plantadas fileiras duplas de abaca-xi.

Nos seis berços de mudas de Pajeú pertencentes ao SAF devem ser plantadas verduras como, cheiro-verde, alface, cebolinha e salsa.

FASES DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS

Figura 14 – SAF com 03 (três) meses

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Figura 15 - SAF com 18 (dezoito) meses

Figura 16 - SAF com mais de 05 (cinco) anos

Importa lembrar que na implantação de uma agrofloresta, as plantas indesejáveis que estavam ali antes são cortadas e colocadas sob o solo para decomposição e adubação, sem uso do fogo. Depois disso, faz se o plantio de forma densa e diversificada, planejando para que as plantas ocupem diferentes andares (estratos), sempre procurando imitar a natureza. Dessa forma, é preciso semear mais do que se esperar nascer, pois muitas sementes não germinam, e muitas plantas que nascem não crescem por falta de espaço (luz do Sol). Também são cultivadas plantas que no início serão utilizadas apenas para devolver a fertilidade para a terra, tais como guandu, mucuna, feijão de porco etc., conforme disponibilidade de sementes. 2

Conforme a agrofloresta vai crescendo, o espaço e a luz do Sol vão diminuindo, de forma que essas plantas consideradas invasoras vão saindo do sistema naturalmente. Ao longo do tempo, vão nascendo várias espécies sem plantar, ou seja, por regeneração natural. No SAF o manejo deve ser intenso e contínuo, realizando a poda e o corte de galhos para facilitar o processo de decomposição, garantir a cobertura e a adubação do solo e ir reduzindo as espécies indesejadas. Conforme as árvores vão crescendo e trazendo mais sombra para a área, o agricultor pode realizar a poda a fim de abrir clareira para novo plantio, ou então ir iniciando um novo SAF a cada ano, até cobrir toda sua chácara com agrofloresta, revezando o trabalho e deixando descansar cada pedaço de terra por período necessário.

Após esta atividade coletiva, os agricultores irão implantar o SAF individual em sua chácara, com auxílio da assessoria técnica agroecológica, sendo que os agricultores devem se comprometer (em declaração escrita e assinada) a implantar o SAF como contrapartida por receber os insumos, mudas, equipamentos e a assessoria técnica. As sementes coletadas serão utilizadas para produção de mudas nos viveiros e/ou plantio direto no solo. As sementes ajudarão na ampliação do SAF de cada família, assim como para comercialização e geração de renda, caso haja excedente de mudas.

Seguindo o cronograma previsto, no primeiro ano, no período das chuvas, cada família implantará a 1ª metade de agrofloresta em sua chácara, e no segundo ano a 2ª metade. O tamanho do SAF para cada família será definido após o curso de SAF no Centro Comunitário e, após a primeira ação de assessoria técnica com cada família. Através dessas atividades, será realizado o levantamento do potencial de cada família para implantar e manter o SAF, o tamanho do SAF será proporcional ao número de pessoas na família disponíveis para trabalho e de acordo com a necessidade de consumo de alimentos.

2 Disponível em: http://www.ufac.br/portal/unidades-administrativas/pro-reitoria-de-graduacao/modelo-de-plano-de-curso

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AGROECOLOGIA

groecologia é um novo conceito de agricultura familiar ela não existe isoladamente, ela conecta os aspectos agronômicos, ecológicos e socioeconômicos (é, portanto, socialmente justa, economicamente viável e ecologicamente sustentável), pois, reúne os conhecimentos científicos aos populares dos agricultores.

Em 1970, inicia-se a discussão do termo Agroecologia através da junção de várias ciências. Ambientalistas propuseram para a sociedade um novo jeito de se produzir alimentos saudáveis interferindo no meio ambiente com menos impacto. O principal objetivo era uma aplicação direta de princípios ecológicos de produção na agricultura que não trouxessem impactos negativos na organização social e na relação entre sociedade e natureza.

Atualmente, a agricultura convencional em larga escala de produção utiliza maquinários e equipamentos pesados, e visa apenas o lucro. Esse modelo de agricultura que prioriza a monocultura em detrimento da diversidade vem se tornando cada vez mais insustentável, pois é prejudicial ao homem e à natureza. Esse sistema prejudica o meio social, cultural, ético, e principalmente nossos recursos naturais como a água, solo e nossa fauna (animais), flora (plantas).

O principal objetivo da Agroecologia no meio rural é apoiar os processos de desenvolvimento sustentável. É através dos sistemas agroecológicos que se têm demonstrado que é possível produzir sem prejudicar o solo e os recursos naturais, facilitando a reciclagem de nutrientes (manutenção da fertilidade do solo) e utilizando de forma racional os recursos disponíveis na propriedade.

A

A agroecologia é um sistema de produção que procura imitar os processos como ocorrem na natureza, evitando romper o equilíbrio ecoló-gico que dá a estabilidade aos ecossistemas naturais. É uma tradição fundada em conhe-cimentos praticados pela maioria das culturas antigas em todo o mundo e pelas comunida-des que vivem em contato mais próximos com a natureza.

Agroecologia: Respeito à Terra. Anna Elisa Nico-lau dos Santos - Redação EcoTerra Brasil. Disponível em: http://www.ecoterrabrasil.com.br/home/index.php?pg=ecoentrevistas&tipo=temas&cd=829

CAPÍTULO 2 AGROECOLOGIA E SISTEMAS DE PRODUÇÃO

Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), a agricultura familiar é responsável por 70% da produção total brasileira de alimentos.

Fatores positivos de ser um produtor agroecológico: Renova o sistema produtivo (solo, água, plantas, ar). Maior conscientização na utilização dos recursos dentro de sua propriedade. Utilizam em seu sistema produtivo diversas culturas e não se utiliza agrotóxico. Maior rentabilidade econômica. Grande diversidade de alimentos em sua mesa, sendo assim trazendo saúde para sua família.

(MOLINA e FREITAS, 2012).

Ciências + Saber Popular = Agroecologia

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SISTEMAS DE PRODUÇÃO

É importante saber que cada vez mais nos especializamos nos conhecimentos, da mesma forma, que nos especializamos nos sistemas de produção. Dentro da agricultura, o processo é o mesmo, costuma-se analisar aspectos isolados em um processo, ou sob um ponto de vista restrito do problema. Isso nos faz perder o tato de visualizar o todo e parar de pensar globalmente.

A lógica de implantação de Agrofloresta vai além da lógica dialética de “produção X conservação”, utilizada pelo sistema agrícola monocultor, que no Brasil, maior consumidor atual de agrotóxicos do mundo, faz uso de 80% da água doce disponível para irrigação e mistura de agrotóxicos. Segundo informativo da Cooperafloresta, as agroflorestas, implantadas no Bioma da Mata Atlântica, além de produzirem dezenas de toneladas de alimentos, retiram cerca de 6,6 toneladas de carbono da atmosfera por hectare anualmente.

Na perspectiva da agricultura ecológica, pensamos as relações como um todo. Isto é, analisamos a propriedade como um todo e de forma mais dinâmica, analisando e relacionando os componentes físicos, químicos e biológicos. É necessário conhecer todo o ambiente local, e também analisar esse ambiente na perspectiva global.

Dessa forma, é necessário nos preocuparmos com a autossuficiência da propriedade, buscando produzir os insumos para a produção dentro da própria chácara, assim, busca-se de forma mínima o uso de insumos trazidos de fora, principalmente os insumos químicos. Devemos analisar as vantagens e desvantagens da produção pensando no sistema de produção como um todo, e não apenas em atividades isoladas, isto é, pensar na produção como um todo, onde há uma vasta diversidade de plantas.

Por fim, é importante analisar os problemas nos cultivares como um todo, isto é, um problema qualquer de parasitas em animais e/ou plantas não deve ser combatido isoladamente, e sim compreendido em sua relação com as demais condições em volta, no meio ambiente e no manejo. Compreendemos que é importante não combater apenas os sintomas e sim, resolver as causas que irão provocar estes.

TRANSIÇÃO AGROECOLOGICA Transição Agroecológica é a passagem do manejo convencional da agricultura (com uso de

produtos químicos) para a agricultura de base ecológica. Essa transição deve acontecer aos poucos, para que nós e a terra possamos nos acostumar com as mudanças, com menos uso de insumos químicos, e para que possamos perceber como se dão as práticas agroecológicas, e a aceitação no mercado de produtos naturais. Uma transição abrupta pode causar prejuízos e a desistência do a-gricultor caso dê problemas nessa transição.

Para o sucesso nessa transição é necessário planejamento, participação dos membros familia-res, análise do agro-ecossistema; avaliação constante das práticas e resultados, a corresponsabili-dade e solidariedade entre os agricultores e suas organizações. De acordo com a Cartilha Agroeco-lógica, do Instituto Giramundo, há 08 etapas para a transição agroecológica, são elas:

De acordo com Hirakuri (2012), “O sistema de produção é composto pelo conjunto de sistemas de cultivo e/ou de criação no âmbito de uma propriedade rural, definidos a partir dos fatores de produção (terra, capital e mão de obra) e interligados por um processo de gestão.”.

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1. Recuperar o manejo do solo de forma ecológica; 2. Diminuir o uso de agrotóxicos e substituir por defensivos natu-

rais; 3. Produzir pensando no autoconsumo familiar; 4. Controlar a produção das próprias sementes e mudas, de modo a

conservar, experimentar e melhorar variedades adaptadas ao local; 5. Garantir a disponibilidade de água em quantidade e qualidade

para a produção e para a família; 6. Conservar e recuperar matas e pomares, pois as árvores são fun-

damentais para o equilíbrio ecológico e o controle de pragas; 7. Dominar os conhecimentos básicos para produção de base ecoló-

gica, combinando os populares com os da pesquisa acadêmica; 8. Construir, de forma associativa ou cooperativa, a própria infraes-

trutura de produção.

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ara garantir a sustentabilidade do SAF vários fatores são necessários: manejo constante, com ações de combate ao fogo (aceiro), colaboração e confiança entre os associados, na associação e nos demais parceiros envolvidos, atendimento às orientações da assessoria

técnica, comparecimento às reuniões e eventos do projeto e da associação local, diversificação da produção e comercialização dos produtos diretamente com o consumidor.

O manejo constante é um dos principais fatores para obter renda a partir da agrofloresta. Ele deve ser realizado por meio de adubação orgânica, capina seletiva, podas, roçada e colheita. Os resíduos desse manejo (cascas, folhas, galhos, ramas) devem retornar imediatamente para o solo. Assim como acontece numa floresta natural, os resíduos depois de decompostos, liberam nutrientes para as plantas, assim como acontece numa floresta natural. Esta prática reduz os custos e facilita o trabalho do agricultor, uma vez que os resíduos impedem a entrada de luz direta no solo, protegendo-o e evitando a infestação de plantas indesejáveis.

O manejo é o segredo do sucesso em sistemas agroflorestais. Cada agricultor tem seu ritmo, e sua forma de trabalhar está ligada às características do seu conhecimento e hábitos de cultivo e alimentares; sua propriedade; seus recursos, ferramentas; características do bioma e do mercado local. Cada agricultor e sua propriedade são diferentes, e a implantação do SAF deve ocorrer gradativamente, tendo como apoio a experiência de outros agricultores.

No presente projeto, cada família participante deverá ter um membro responsável em participar das capacitações e visitas técnicas, para agregar os conhecimentos compartilhados com a equipe executora, repassando esses saberes adquiridos para seus familiares, amigos e vizinhos. Essa forma de ensino-aprendizagem, onde quem sabe ensina, faz parte da metodologia da alternância defendida por Paulo Freire, que visa uma educação integral, o desenvolvimento com o meio e a associação local. Isso contribui para além da difusão do conhecimento, onde a assimilação deste se dá através da ação-reflexão-ação, na qual o agricultor recebe e compartilha os saberes.

É uma maneira de aprofundamento e valorização do saber do próprio agricultor, uma vez que ao repetir o que sabe, acaba por assimilar ainda mais seu conhecimento. O agricultor que faz uso dessa metodologia recebe o nome de “agente multiplicador ambiental - AMA”, ou seja, a pessoa que é capacitada e orientada para ser difusora dos conhecimentos e benefícios adquiridos junto aos seus familiares, vizinhos e amigos.

Além disso, para contribuir no fortalecimento do espírito comunitário, as famílias participantes do projeto deverão se organizar em grupos de trabalho, e cada grupo deve eleger um “padrinho” ou “madrinha”, que deverá ser responsável pela comunicação junto ao seu grupo e organização dos mutirões de tarefas, pois experiências anteriores com agrofloresta têm demonstrado que os mutirões são mais eficazes no manejo do SAF e no fortalecimento da identidade cultural do agricultor familiar agroflorestal.

Por fim, tendo em vista que o agricultor não tem condições de produzir todos os bens e serviços de que necessita, tais como, sal, tratamentos dentários, livros, tecnologias, entre outros, faz-se necessário que haja uma troca de bens e serviços excedentes produzidos na sua propriedade, com uma forte qualificação para agregar valor ao alimento e outros produtos agroecológicos (abacate, mandioca, milho, abóbora, madeira, sementes...).

P

CAPÍTULO 3

SISTEMAS AGROFLORESTAIS

CAPÍTULO 3

A SUSTENTABILIDADE DA AGROFLORESTA

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Para isso, as famílias devem ser capacitadas e devem também se unir em prol do bem comum: garantir sustentabilidade (renda) para todos, principalmente por meio da venda de seus produtos coletivamente (através da cooperação) em feiras locais. Devemos nos unir também, para conseguir apoio junto a outros patrocinadores a fim de viabilizar a realização de uma feira específica do Assentamento, onde a figura do atravessador seja substituída pelos próprios agricultores, em sistema de revezamento de comercialização. (A cada semana ou mês, elege-se um novo grupo de agricultores que irá gerenciar a venda e distribuir de maneira proporcional os lucros obtidos).

MANEJO DO SAF

O manejo do SAF nos primeiros anos necessitará de muita mão de obra e boa vontade, mas com o passar do tempo o trabalho diminuí bastante. Devem ser feitas diversas podas como, poda de controle de plantas espontâneas, poda de condução, poda de raleamento ou desbaste, poda de rega entre outras. Você terá que dedicar atenção na prevenção de incêndios e controle de formi-gas e insetos ate o sistema se equilibrar. Certas ervas plantadas no SAF confundem o olfato dos insetos e diminuem-lhe o ataque. Outras eliminam ácido pelo sistema radicular o que diminui o aparecimento de ervas espontâneo.

DICAS DE PLANTIO SUSTENTÁVEL

Para o bom desenvolvimento do SAF buscamos caminhar segundo a toada da natureza, imitando ao máximo o sistema que observamos nas matas naturais, ocupando os diversos estra-tos, andares do nosso espaço, inserindo no sistema plantas rasteiras, plantas de porte mediano e plantas que vão crescer mais.

Outra boa dica é cultivar plantas que beneficiam o sistema. Veja-mos algumas combinações de plantas companheiras. GIRASSOL, plantar cercando o SAF, pois as que lagartas atacam o milho preferem o girassol. GERGELIM, as formigas gostam dessas folhas, porém a folha do gerge-lim tem substancias que acabam matando os fungos que as alimentam. CARURU ou Bredo de Espinhos deve se plantado ou permanecer no sistema, pois serve para manter as vaquinhas ocupadas, e daí deixar livres as nossas beterrabas. RABANETE, plantado perto de pepino ou vagem afugenta os insetos que iriam atacar esses. SALSÃO plantado junto com as couves afugenta os insetos. ALHO plantar junto com batatas para repelir as pragas da batata.

PIMENTA afasta os insetos. HORTELÃ plantada nas bordas dificulta o acesso das formigas.

CENOERA vai bem plantadas juntamente com alface, feijão, cebolinha, alho, tomate, alecrim.

FEIJÃO vai bem com milho, batata, tomate, pepino, couve-flor, alecrim e outras ervas aromáticas.

BARREIRA NATURAL E ACEIROS

Aceiros são faixas de terreno sem vegetação ou entulhos que impedem a propagação do fo-go.

Existem também muitas plantas que concentra tanta água que se torna difícil de queimar. Essas plantas são nossas aliadas no controle e combate as queimadas, muito comum na nossa re-

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gião. E muito bom construir barreiras vivas utilizando bananeiras, bromélias entre outras como Agave (Agave sisalana), Hibisco (Hibiscus rosa-sinensis), Aveloz (Euphorbia tirucall,), Cipó imbé (phi-lodendrum spp).

Devemos capinar em volta do SAF, transportar galhos e folhas para as entrelinhas do plan-tio.

Manter aceiros limpos ao derredor de casas, galpões, galinheiros e outras instalações. Manter fósforos e isqueiros longe do alcance das crianças

PRÁTICAS ALTERNATIVAS PARA CONTROLE DE PRAGAS

No século XX, uma forte onda estimulou o uso de produtos químicos como defensivos agrí-colas. Entretanto, o uso indiscriminado desses produtos acarretaram sérios problemas na saúde humana, animal e mesmo no meio ambiente. As consequências do uso abusivo de produtos quími-cos chamou a atenção de profissionais e da sociedade como um todo, para buscar alternativas que pudessem ser mais sadias para o homem e para o meio ambiente, como é a produção orgânica de alimentos3.

O que são defensivos alternativos? De acordo com a Emater/MG4, produtos preferencial-mente orgânicos e naturais, que são praticamente não tóxicos, de baixa ou nenhuma agressividade ao homem e à natureza, e que sejam eficientes no combate à insetos e micro-organismos nocivos, não ocasionando a resistências destes, tenham custos reduzidos e sejam de fácil aplicação e de alta disponibilidade para aplicação.

Abaixo algumas dicas e receitas de defensivos naturais e orgânicos5.

Moscas das frutas

Mosca da goiaba e laranja – Ingredientes: 80g de breu moído, 50g de óleo de rícino. Misturar os ingredientes e levar ao forno por 5 minutos sem deixar ferver, até derreter o breu. Passar a cola resultante em uma tira de lona amarela e pendurar nas árvores onde se deseja combater as moscas. Duração 8 dias.

Garrafa caça moscas – (usada para mosca da fruta) – fazer furos a 15 cm do fundo da garrafa, depois preencher a parte debaixo de suco de alguma fruta, com açúcar mascavo e vinagre. Pendu-rar a garrafa fechada na árvore frutífera.

Dicas: nunca pulverize veneno/agrotóxico nas árvores, para não espantar os insetos que combatem naturalmente as moscas da fruta. Não deixe as frutas caídas no pé da árvore, enterre-as para fazer compostagem e não deixar finalizar o ciclo das larvas.

Inseticidas Naturais

Cebola e alho – Ingredientes: 3 cebolas, 5 dentes de alho, 10 litros de água. Moer a cebola e o alho, misturar na metade da água, e depois coar. Após coar, misturar o restante da água. pulveri-

3 CAIDAS NATURAIS. Soluções alternativas para o manejo de pragas e doenças. Grupo Temático de Práticas Ambientais Sustentáveis – Projeto Doces Matas. Disponível em: http://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/caldas_naturais.pdf 4 Práticas alternativas para a produção agropecuária agroecologia. Disponível em: http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/%7B3845F3E8-65A2-4F5A-85B1-93D1832BC0FE%7D_Manual_de_Praticas_Agroecol%C3%B3gicas%20-%20Emater.pdf 5 Dados extraídos do manual CAIDAS NATURAIS. Soluções alternativas para o manejo de pragas e doenças. Grupo Te-mático de Práticas Ambientais Sustentáveis – Projeto Doces Matas. Disponível em: http://www.fca.unesp.br/Home/Extensao/GrupoTimbo/caldas_naturais.pdf

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zar uma vez por semana. Serve para: controlar pulgões em feijão, beterraba, cebola e alho. No to-mateiro serve como fungicida.

Cebola ou cebolinha verde - Ingredientes: 1 kg de cebola ou cebolinha verde. Cortar a cebola ou cebolinha, misturar nos 10 litros de água deixando o preparado curtir por 10 dias no caso da cebola, e 7 dias no caso da cebolinha. Utilizar 1 litro do preparo para 3 litros de água. Pulverizar nas plantas. Serve como repelente para pulgões, lagartas e vaquinhas.

Inseticida Neem (Nim) árvore que auxilia no combate às pragas.

Receita 1 - 50 gramas de sementes descarnadas, 1 litro de água. Ralar as sementes e misturar à água. Pulverizar as plantas em uma solução 10% - 1 litro de solução para 10 litros de água. Inseticida, repelente, fungicida e nematicida. Pode controlar até 200 tipos de pragas e insetos.

Receita 2 – Óleo de Neem a 2% (20ml/l) utilizado contra gorgulho.

Receita 3 – Óleo de Neem a 5% (50 ml/l) utilizado contra pulgão.

Receita 4 - Óleo de Neem a 4% (40ml/l) + 1% de sabão neutro utilizado contra mosca branca.

Manipueira – Ingredientes: Mandioca ralada. Espremer a mandioca ralada, e retirar o suco lei-toso (manipueira). Utilizar 2 litros desse suco leitoso no olheiro do formigueiro a cada 5 dias. Para fazer tratamento no canteiro contra pragas do solo, regar o canteiro utilizando 4 litros de manipu-eira por metro quadrado 15 dias antes do plantio. Para controle de ácaros, pulgões e lagartas, usar 1 parte de manipueira para uma parte de água, mais 1% de açúcar ou farinha de trigo. Pulverizar nas plantas a cada 14 dias.

VAMOS APRENDER COMO MANEJAR FORMIGAS CORTADEIRAS? Algumas dicas e fórmulas para o controle das formigas cortadeiras6:

“Fazer sempre boa adubação orgânica no solo com cobertura morta, leguminosas e com-postos orgânicos;

Fazer consorciamento de culturas. Ex: café com leguminosas, frutas com leguminosas, mi-lho com leguminosas, etc.;

Plantar gergelim próximo aos formigueiros e nas bordaduras da lavoura a ser protegidas; quando cortado e carregado pelas formigas é tóxico para o fungo que lhe serve de alimento;

Misturar cal virgem com água quente e jogar no formigueiro;

Macerado de pimenta vermelha: Colocar 100 g de pimenta em uma vasilha e amassar com um soquete; cobrir com água e dei-xar descansar por 24 horas; coar e adicionar uma colher (café) de sabão em pó biodegradável; diluir 1:5 em água e regar as plantas. É inseticida e repelente. Pode ser aplicado sobre os olheiros dos formi-gueiros. Cuidado no manuseio para não irritar a pele; ou queimar as folhas;

Ferver 1 litro de água com 20 gramas de fumo de corda pica-do, durante ½ hora; coar em um pano fino e juntar 4 litros de água. Pode-se também colocar 100 gramas de fumo em 4 litros de água e deixar de molho por uma noite,

6 Trecho retirado do Manual de Práticas Alternativas para a produção agropecuária agroecologia. Idem.

Figura 17 - Formigueiro

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usando na manhã seguinte. A adição de 10 ml de álcool comum aumenta a eficiência do produto. Pulverizar as plantas ou aplicar sobre os formigueiros. Observar período de carência de 48 horas após a pulverização;

Moer pimentas vermelhas, colhendo o seu suco e diluir 1:1 em água; embeber um pano e amarrar ao redor de troncos de frutíferas ou usar para pintar os troncos com a solução. É repelente de formigas;

Plantar na bordadura de canteiros hortelã, poejo, gengibre ou atanásia; é repelente de formigas;

Macerar 300 gramas de folhas de Mamona, deixar descansar por 24 horas em 10 litros de água; coar e irrigar com 1 litro da solução em cada olheiro.

Colocar pedaços pequenos de pão caseiro embebido em vinagre próximo às to-cas/ninhos/carreadores e em locais onde as formigas estão cortando. O produto introduzido na alimentação das formigas começa a criar mofo preto e fermenta. Isso é tóxico e mata as formigas.”

Obs: As formigas cortadeiras gostam de trabalhar mais na parte da tarde no horário das 17h30 en-tão essa seria a melhor hora para aplicar as formulas alternativas de controle.

VAMOS COMPOSTAR?

O que é compostagem? A compostagem é a reciclagem de resíduos orgânicos ( folhas, ramos, cascas de frutos, frutos que caíram no chão, sobras de alimentos em

geral, resíduos de podas, serragem, palhas, estercos, etc.) para transformá-los em adubo orgânico. A compostagem é então, a transformação da matéria orgânica num composto fertilizante

natural.

Através da compostagem é possível devolver os nutrientes que são reti-rados da terra e ao mesmo tempo, reduzir a quantidade de lixo que é produzido pela sociedade e depositado de forma incorreta em aterros, que acabam ocasionando a produção do gás metano que polui o ar e do chorume que polui os lençóis freáticos, (lembrando que não devem ser utilizados restos de madeiras tratadas).

A compostagem ajuda a melhorar a fertilidade do solo e enriquece o solo com nutrientes, a-juda a evitar doenças nas plantas, reduz o uso de insumos químicos para manejar pragas, melhora a textura do solo e a absorção de ar e água no solo.

Como se fazer um composto de qualidade

De acordo com Oliveira (2005), “o composto é feito sobrepondo os resíduos orgânicos, for-mando-se pilhas ou leiras”. Organiza-se a leira alternando os diferentes tipos de resíduos em ca-madas de 20 cm de espessura. Pode-se colocar uma camada de folhas, restos de árvores e palhadas, depois uma camada de restos de alimentos e esterco de curral, depois se pode adicio-nar um pouco de calcário, pó de rocha. A seguir, sobrepõe ou-tra camada de palhada, etc., repetindo até chegar a altura dese-jada. Para medir a temperatura introduzir uma barra de ferro no centro da pilha, deixa alguns minutos, ao retirar deve estar entre 40ºC e 60ºC, pode ser sentido na palma da mão. Se a mão não suportar o toque, é importante revirar a leira ou se a barra sair fria não está acontecendo a decomposição necessária ao

O processo de transição para iniciar o controle de pragas de forma agroecológi-ca é difícil, principalmente as formigas. Dessa forma, faz-se necessário o uso de defensivos químicos inicialmente, no momento de transição, para reduzir a população de insetos, com o passar do tempo em que o bioma for sendo restau-rado, basta apenas o uso de defensivos orgânicos e ecológicos.

Figura 18 – Compostagem realizada no IFB de Planaltina

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processo de compostagem.

É importante revirar a leira a cada 15 dias ou sempre que se fizer necessário. É necessário manter o composto úmido, lembrando que o excesso ou falta de água aumenta o tempo necessário para o processo de decomposição. O composto deverá ficar pronto dentro de 2 a 3 meses, caso o processo de decomposição aconteça corretamente.

BANCOS DE SEMENTES No contexto atual da agricultura as famílias são dependentes de diversos tipos de insumo

para sua produção, dessa forma, incentivamos e apoiamos a criação de bancos de sementes. Resgatando dessa forma, hábitos culturais deixados no esquecimento, onde os agricultores sempre mantinham suas sementes de um período de plantio para outro.

São necessárias ações imediatas para a criação de bancos de sementes crioulas (sementes guardadas e mantidas durantes as gerações sem tratamentos químicos ou melhoramentos genéticos). A criação de bancos de sementes gera autonomia para os agricultores e comunidades, e preserva as relações e saberes populares, podendo ainda fortalecer as feiras de trocas de sementes.

De acordo com o Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), “a Lei nº 10.711 instituiu o Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem), obrigatório para pessoas físicas e jurídicas que exerçam as atividades na produção, beneficiamento, embalagem, armazenamento, análise, comércio, importação e exportação de sementes e mudas. Devem ter número de registro os responsáveis técnicos, entidades de certificação, certificador de sementes ou mudas de produção própria, laboratório de análise e amostrador na área de sementes e mudas.” 7. Dessa maneira, é possível propiciar ao consumidor o acompanhamento e a qualidade das sementes e mudas adquiridas.

SUSTENTABILIDADE ECONÔMICA ECONOMIA SOLIDÁRIA

De acordo com o Ministério do Trabalho e Emprego, a Economia Solidária é uma nova forma de economia que trabalha a coletividade e a promoção da igualdade entre as pessoas. É uma forma, das pessoas serem autônomas financeiramente e socialmente, pensando sempre o bem coletivo e a sustentabilidade econômica, social e ambiental. O trabalho é feito e gerido por todos de forma compartilhada ou através da autogestão, onde todos têm direito a fala e a participação no trabalho e nos lucros, de forma justa e igualitária.

COMÉRCIO JUSTO

O comercio justo, é um movimento social e econômico iniciado entre a década de 60 e 70 para propiciar alternativas diferentes aos pequenos produtores que sofrem com o comercio convencional. Dessa forma, o comercio justo leva em conta valores éticos, sociais e ambientais para a promoção de um mundo melhor e mais justo. Pensar em um mundo justo é pensar e garantir a justiça social e o desenvolvimento sustentável de produtores e comunidades locais.

O comercio justo visa valorizar o pequeno produtor e a sua mão de obra. Dessa forma, através do comercio justo a interação entre produtor, intermediário (ONGs e instituições que auxiliam o produtor a comercializar o produto, e promovem formação, capacitações e

7 Disponível em: http://www.agricultura.gov.br/vegetal/mercado-interno/sementes-mudas

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disponibiliza apoio financeiro) e consumidor, se dá de forma consciente visando o desenvolvimento sustentável, igualdade de gênero, o não trabalho infantil, o preço justo, melhores condições de trabalho, capacitação dos produtores e preservação do meio ambiente.

O preço justo é aquele que cobre os custos do produto, da mão de obra do produtor e também garante condições melhores de vida, levando em conta os princípios de igualdade entre homens e mulheres. O preço justo conta ainda com a os custos até chegar ao consumidor final (fretes, impostos, etc.), vale lembrar ainda, que o preço justo, é justo também para o consumidor, assim o produto deve ser precificado sem abusos nem aumento dos custos para encarecer o preço final do produto. Devendo assim remunerar justamente o produtor e cobrar justamente do consumidor.

O preço do produto deve conter o custo da produção, mais o valor da mão de obra do produtor. O preço final do produto é o preço do produto mais o valor do comercio justo. Isso é, devemos calcular o quanto gastamos com a produção, calcular nosso trabalho (mão de obra), somando esse dois itens, temos o preço do produto. Então, devemos somar o lucro (varia entre 30% e 60% do valor do produto) e somar ao valor do produto, para dessa forma ter o preço final8.

GERAÇÃO DE RENDA A PARTIR DA COMERCIALIZAÇÃO DOS PRODUTOS DA AGROFLORESTA

A produção e consumo de alimentos agroecológicos vem crescendo a cada dia. Tanto produtores quanto consumidores vêm se conscientizando dos benefícios que os alimentos orgânicos trazem para o meio ambiente, para os agricultores e para os próprios consumidores. O mercado de produtos orgânicos apesar de novo, já conta com um público consumidor fiel e formado em grande parte por pessoas mais conscientes das questões ambientais, mais exigentes, com maior escolaridade e poder aquisitivo.

Todavia, a agroecologia ainda tem vários desafios para enfrentar, principalmente no que diz respeito à maior oferta de produtos em diferentes pontos, de forma contínua, a fim de garantir e ampliar sua clientela, principalmente a classe média que está aumentando a cada dia em número e em poder aquisitivo. Outro

desafio a ser enfrentado é a valorização do produto agroecológico por todos os sujeitos envolvidos, sejam agricultores, sejam consumidores.

Isso porque muitos consumidores, principalmente os de baixa renda, não tem tido acesso aos produtos orgânicos por causa de seus altos preços, os quais, por sua vez, são causados principalmente pela presença de atravessadores que ficam com a maior parte dos ganhos advindos da agricultura familiar e que muitas vezes se aproveitam dessa tendência ecológica para tirar mais lucro, colocando preços abusivos nos produtos orgânicos.

Para garantir sua sustentabilidade, além, de eliminar a figura do atravessador, procurando vender diretamente ao consumidor, em feiras, por exemplo, o agricultor precisa aprender a valorizar mais o alimento que produz, deve estar preparado a desconstruir os argumentos falaciosos que visam denegrir sua imagem enquanto homem do campo, lembrando sempre que sem o trabalho do agricultor não há cidade, não há alimento, não há saúde, não há vida.

88 Cartilha ArteSol. São Paulo, 2010. Disponível em: http://www.artesol.org.br/site/wp-content/uploads/Cartilha-Com%C3%A9rcio-Justo.pdf

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Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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É preciso estar consciente também de que os alimentos convencionais são muito baratos por causa de todos os prejuízos sociais e ambientais que causam, principalmente a exploração

dos trabalhadores rurais. Precisamos aprender a valorizar o alimento agroecológico como fonte de vida, pois os alimentos produzidos em

escala, com agrotóxico, apesar de baratos financeiramente, tem altos custos para todos, como desnutrição, doenças, degradação ambiental, concentração de renda, desvalorização do agricultor familiar, que fica desmotivado pela sua baixa remuneração e acaba por ter que mandar seus filhos para a cidade, inchando mais as metrópoles, causando ainda mais crise nos meios de transporte urbano, aumento do índice de miséria e violência urbana, aumento da demanda do Estado por políticas assistencialistas.

Precisamos reaprender a dar valor ao que realmente importa na vida. Grande parte da nova classe média que reclama do preço do alimento orgânico é a mesma que está ainda iludida com o consumo de bens e serviços supérfluos, como equipamentos eletrônicos, que muitas vezes ficam obsoletos rapidamente. Procuram prazer, beleza e satisfação na vida em coisas ilusórias, e esquecem-se de que somos seres vivos, biológicos, pertencentes à natureza, e que precisamos de alimentos saudáveis, orgânicos e os mais naturais possíveis.

A melhor forma de geração de renda para o agricultor de SAF tem sido a feira local ou a venda na própria chácara. É onde o agricultor pode vender alimentos mais frescos diretamente para o consumidor, a um preço mais justo, sem a figura do atravessador, onde o produto não precisa ser estocado por muito tempo ou transportado por longas distâncias, evitando com isso desperdício de alimentos e seu maior custo causado pelas despesas de transporte e estoque. Com a venda direta ao consumidor, o produtor não precisa estar tão padronizado quanto se fosse vender em mercados institucionais que exige um número restrito de alimentos.

Na feira local, o agricultor orgânico também não precisa se submeter à burocracia para ter seu produto atestado com orgânico. Para usar um rótulo ou cartaz com a seguinte frase: “PRODUTO ORGÂNICO PARA VENDA DIRETA POR AGRICULTORES FAMILIARES ORGANIZADOS, NÃO SUJEITO À CERTIFICAÇAO, de acordo com a Lei nº 10.831 de 23 de dezembro de 2003”, o agricultor só precisa estar vinculado a uma Organização de Controle Social – OCS (associação ou cooperativa capaz de zelar pelo cumprimento da produção orgânica).

Visando contribuir para a sustentabilidade da agrofloresta, vendendo os diversos alimentos produzidos no SAF, na mesma banca o agricultor pode vender vários tipos de alimentos ao consumidor, como por exemplo, rúcula, limão, mandioca, milho, abacate, manga, banana, taioba, tomate, de acordo com a produção disponível. Outros alimentos podem ser processados de forma artesanal e higiênica, para serem comercializados, como extrato de tomate orgânico e caseiro, doces e compotas caseiras, pão de mandioca ou abóbora, etc. De forma cooperada, o agricultor também pode formar parcerias com outros agricultores vizinhos para se revezar (semanalmente ou mensalmente) na venda dos produtos. Assim evita a exaustão causada pela intensa atividade de produção e comercialização.

Figura 19 – Feira de produtos orgânicos

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Para colocar em prática seu discurso (fazer o que fala), o agricultor, e sua família, também precisa consumir os alimentos que cultiva, deixando, por exemplo, de comer macarrão industrializado, o qual tem por fonte nutricional básica o amido (carboidrato), e passando a comer outras fontes de carboidrato de que dispõe de sua produção, tais como inhame, cará, mandioca, etc. Com esta atitude, além de economizar dinheiro, você estará contribuindo com uma menor quantidade de lixo produzido com as embalagens dos alimentos, e garantido menos riscos de doenças causadas pelos alimentos transgênicos produzidos com agrotóxicos, tais como colesterol alto, pressão alta, diabetes e até mesmo câncer.

Todos precisam compreender que um pequeno aumento no custo de alimentação por mês de cada um trará enormes benefícios para o Planeta e para as futuras gerações, é um investimento na nossa saúde, e inclusive na nossa beleza, uma vez que alimentos mais nutritivos melhoram a pele, mantém o peso regular, evita a queda de cabelos, melhora a saúde dos dentes e unhas, nossa disposição e alegria no dia a dia, e consequentemente reduz os gastos com remédios e tratamentos de saúde. E isso tudo não tem preço.

OS SAF´S E O TURISMO Com a implantação do SAF, é possível ainda, promover o turismo ecológico educativo, propiciando ao agricultor a possibilidade de receber visitantes para conhecer e aprender sobre esse modelo produtivo. É importante salientar, que além da renda, o agricultor estará contribuindo para a construção de saberes coletivos e a multiplicação desses saberes, contribuindo ainda para a transição do consumo e da produção agroecológica. Cabe lembrar, que no processo ensino-aprendizagem quem ensina aprende ao ensinar, ao mesmo tempo em que quem aprende também pode transmitir seus conhecimentos. Contribui-se

também para a formação da memória viva da

comunidade levando os

conhecimentos adquiridos para outros lugares e para a posteridade.

Figura 20 – Visita ao SAF do Sítio Vida Verde – Palestra do senhor Valdir agricultor e proprietário do sítio.

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iveiro ou berçário vegetal é o local onde se produz mudas, ele é de fundamental importância para a sustentabilidade da agrofloresta, uma vez que reduz o custo da manutenção e implantação do SAF. Dessa forma, o agricultor precisa produzir suas

próprias mudas para reposição de árvores que adoecem ou morrem, e para ampliação de seu SAF, até atingir o mínimo de 20% de sua propriedade com área de Reserva Legal, ou mesmo ainda, para ter em toda a sua terra o sistema agroflorestal.

O viveiro poderá também contribuir para geração de renda com a venda do excedente de mudas. O agricultor pode diversificar a produção no viveiro também para produzir mudas de ervas medicinais e temperos de grande procura comercial, tais como hortelã, capuchinha, capim-santo, erva-cidreira, cebolinha, babosa, etc.

Dentro da perspectiva da sustentabilidade, para reduzir os custos de compra de saquinhos de mudas do viveiro, o agricultor pode reutilizar embalagens plásticas, garrafas pet e/ou tetrapak, como as de leite, suco, refrigerantes, saquinhos de sal, feijão, etc. Dessa forma, além de gastar menos, o agricultor estará contribuindo diretamente para redução do lixo jogado nos aterros sanitários, evitando também que seja demandada a extração de mais petróleo e outras matérias primas para produção de plástico utilizado nas embalagens de mudas.

Outra forma de reduzir gastos para implantar o viveiro é novamente imitar o processo produtivo da natureza. Note que nas florestas, o sistema de sucessão de

árvores acontece naturalmente quando a semente cai, e em baixo das outras árvores, começa a brotar, e quando as árvores velhas morrerem, as novas já estarão prontas para a substituição. Dessa forma, ao invés de gastar madeira e tela de plástico (sombrite) para construir um viveiro, o agricultor pode produzir mudas em baixo das árvores grandes, colocando as pequenas mudas na posição onde peguem o Sol pela manhã, e não à tarde que é mais quente.

Contudo, haja vista que muitos agricultores criam galinhas e outros animais soltos, que podem atrapalhar o

desenvolvimento das pequenas mudas, o presente Projeto previu a construção de pequenos viveiros, a fim de ajudar o agricultor e sua família a iniciarem a própria produção, voltada principalmente para sua autossustentabilidade.

Para implantação do viveiro, além da assessoria técnica que irá orientar o agricultor, foram previstos os materiais, que serão divididos igualmente entre os beneficiários do projeto, de forma que cada viveiro tenha em torno de 20m².

Cumpre destacar que devido ao limite de recursos liberados para o início do projeto, os viveiros patrocinados pelo projeto só serão implantados no último quadrimestre. Todavia, o agricultor poderá ir produzindo autonomamente suas mudas, utilizando as embalagens de sua casa, as sementes coletadas e o adubo orgânico produzido em sua própria propriedade.

V

CAPÍTULO 4

VIVEIRO, MAIS UMA FERRAMENTA PARA A SUSTENTABILIDADE DO SAF

Figura 21 – Viveiro em baixo da árvore para proteger as mudas do sol da tarde.

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DICAS BÁSICAS PARA IMPLANTAR VIVEIRO

As dicas a seguir são um resumo da Cartilha “Produção de Mudas de Plantas Nativas do Cerrado” elaborada pela Rede Sementes do Cerrado:

a) Local: Escolha um local totalmente ensolarado e plano, ou com pouca declividade, a fim de evitar o acúmulo de água. O local deve ser cercado por árvores para formar um quebra-vento. O viveiro deve ser próximo de uma fonte de água com qualidade (sem cloro e/ou flúor) para irrigação constante e evitar maiores custos com encanações, e se possível deve ser localizado próximo a moradia a fim de facilitar a manutenção constante das mudas. As linhas de disposição das mudas (canteiros) devem ser dispostas no sentido Norte-Sul, a fim de permitir que todas as mudas recebam luz solar de forma igual, e paralelo ao declive do solo, a fim de evitar a enxurrada e erosão do solo.

b) Capacidade de produção: O viveiro planejado para o presente projeto é de 20m² (4mx5m). Considerando que a área de mudas ocupa cerca de 60% do viveiro, ou seja, é capaz de produzir cerca de 30 mudas por m², com uso de saquinhos de 20x30cm, o viveiro terá a capacidade de produzir cerca de 600 mudas. Contudo, esta capacidade pode ser alterada, de acordo com o tamanho das embalagens utilizadas pelos agricultores.

c) Sistema de Irrigação: Tendo em vista que se trata de um viveiro de pequeno porte, a irrigação será feira com mangueira e/ou sistema de aspersão. A irrigação em época de seca, deve ser feita de 2 em 2 dias, evitando que as plantas fiquem secas ou encharcadas. Cada espécie demanda quantidade diferente de água, como por exemplo, o buriti e o pequi, fique atento à saúde das mudas.

d) Escolha das Matrizes: Para ter uma boa produção de mudas (por sementes ou estacas) é necessária uma boa escolha das matrizes a serem reproduzidas, ou seja, aquelas mais saudáveis e vigorosas. No caso de árvores de madeira, escolha aquelas com boa forma de tronco, altura e distribuição de copa. No caso de árvores frutíferas, escolhas aquelas com maior qualidade e quantidade de frutos.

e) Coleta de Sementes: A coleta de sementes deve ser feita pelo próprio agricultor, pois o comércio de sementes, principalmente de plantas do Cerrado, é incipiente e o valor é alto para compra. No Cerrado, há produção de sementes o ano todo,

apesar de que nos meses de março a junho haver menor número de espécies frutificando. Para evitar que as sementes estejam carunchadas, a coleta deve ser feita diretamente de diferentes árvores, visando também garantir variabilidade genética.

f) Armazenamento: Deve-se evitar o armazenamento por longo período, dessa forma, sugere-se o plantio das sementes logo após a colheita, pois assim como ocorre na natureza, a semente cai e começa seu ciclo reprodutivo novamente. Em caso de necessidade de armazenar as

Figura 22 – Sementes coletadas pelos moradores do Assentamento

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Projeto Agrofloresta – Assentamento Três Conquistas

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sementes, limpe as sementes, retirando a polpa para evitar putrefação e mofo, seque e coloque em vidros bem fechados para evitar entrada de carunchos. Guarde em local seco, fresco e arejado.

g) Despertando a dormência: a dormência é o período em que a semente não inicia sua brotação, pois naturalmente desenvolveu por milhares de anos um sistema de informação genética que sabe se há condições favoráveis para germinar ou não. Há diversos métodos artificiais de despertar as sementes, como uso de lixa, de ácido sulfúrico, calor, luz, secagem, frio, etc. Além de consultar pesquisas na área, o agricultor deve estar atento às leis da natureza, percebendo que mesmo sem a intervenção humana, as plantas se reproduzem.

h) Preparação do Substrato: para preparação mais correta do substrato, deve ser feita análise de solo. Contudo, caso o agricultor não tenha condições de realizar análise de solo, pode usar a seguinte proporção: 1 parte de terra da região, 1 parte de adubo curtido e 1/10 parte de calcário. Para evitar a proliferação de outras sementes daninhas, deve-se peneirar a terra antes de colocar nos saquinhos.

i) Semeadura: sugere-se realizar a semeadura de mais de 1 semente diretamente no saquinho, com profundidade de 2 a 3 centímetros, no centro do saco plástico, não deixando as sementes expostas.

j) Raleio ou desbaste: Quando mais de uma semente germina, e as mudas tiverem de 4 a 6 folhas, deve-se realizar o raleio ou desbaste, deixando apenas a muda mais vigorosa.

k) Controle de pragas e doenças e Manutenção: fique sempre atendo a possíveis infestações, principalmente de formigas, cubra as áreas de circulação com matéria morta para evitar a infestação de ervas daninhas e acúmulo de água. Movimente os saquinhos de mudas de lugar para evitar que as raízes “mamem”, ou seja, penetrem no solo. Arranque as ervas daninhas que nascerem dentro dos saquinhos.

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AGROFLORESTA e o novo Código Florestal

Esta apostila e as ações previstas no projeto patrocinado pela PETROBRAS visam colaborar para que o agricultor inicie a implantação de agrofloresta em sua chácara, pois além de ajudar a produzir alimentos, contribuindo para a segurança alimentar de sua família e a geração de renda, o SAF contribui também para regularização ambiental da propriedade rural, uma vez que o Código Florestal - Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012- em seu art. 54 prevê que os Sistemas Agroflorestais – SAFs são considerados como Reserva Legal - RL.

Destaca-se que o não atendimento às determinações Código Florestal impede a regularização da propriedade de muitos agricultores, e consequentemente de conseguir empréstimos junto a financiamentos de baixo custo promovidos pelo Governo Federal, para compra de insumos. Portanto, o agricultor deve aproveitar esta previsão legal e o projeto em voga para ampliar anualmente os SAF’s de forma autônoma até alcançar os 20% de área de

reserva legal para sua chácara, conforme exigência do Código Florestal.

O Código Florestal define basicamente dois tipos de áreas em que as atividades produtivas devem ser limitadas para que haja

conservação ambiental, são elas: A Área de Preservação Permanente (APP) e Reserva Legal (RL). A APP depende do relevo e da hidrografia da propriedade. As matas ciliares perto de rios e nascentes, os topos de morros e terrenos muito íngremes são considerados Áreas de

Preservação Permanente, e em princípio não devem ser manuseadas, a não ser em caso de utilidade pública, de

interesse social ou de baixo impacto ambiental previsto em Lei. Diferente da APP, a Reserva Legal não depende do relevo e da hidrografia. Na maior

parte do Brasil, incluindo o Bioma Cerrado, deve-se manter 20% da propriedade como RL, além (ou dentro, em alguns casos) das APPs. Na RL é permitido unir produção com conservação ambiental, a partir de manejo florestal sustentável, ou seja, agrofloresta.

Ainda segundo o Código Florestal, se por um lado a atividade de interesse social inclui a exploração agroflorestal sustentável praticada na pequena propriedade ou posse rural familiar ou por povos e comunidades tradicionais, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área. Por outro lado, a atividade de baixo impacto ambiental inclui a exploração agroflorestal e manejo florestal sustentável, comunitário e familiar, incluindo a extração de produtos florestais não madeireiros, desde que não descaracterize a cobertura vegetal existente e não prejudique a função ambiental da área.

Dessa forma, a implantação de agrofloresta proposta pelo Projeto em voga é considerada atividade de interesse social e de baixo impacto ambiental, ou seja, pode ser implantada em Área de Preservação Permanente. Ainda seguindo o que determina o Código Florestal a exploração agroflorestal sustentável também pode ser implementada em área de Reserva Legal.

Importa destacar que o proprietário que mantiver a Reserva Legal conservada ou averbada, em área superior a 20% da área total, poderá utilizar a área excedente para fins de constituição de servidão ambiental e Cota de Reserva Ambiental (CRA) e outros instrumentos congêneses, conforme parágrafo 2º, art. 15 da Lei nº 12.651, de 25 de maio de 2012.

De acordo com o art. 14 do Código Florestal, a localização da Reserva Legal deve levar em consideração os seguintes critérios: I - o Plano de bacia hidrográfica, ou seja, preferencialmente perto de nascentes e córregos; II – o Zoneamento Ecológico-Econômico, III, a formação de

CAPÍTULO 5

CÓDIGO FLORESTAL E RESERVA LEGAL

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Manual de Implantação no Bioma Cerrado

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corredores ecológicos com outra Reserva Legal, APP, Unidade de Conservação ou com outra área legalmente protegida; IV – as áreas de maior importância para a conservação de biodiversidade; e V – as áreas de maior fragilidade ambiental.

Para que os agricultores familiares regulamentem a prática de SAF em Área de Preservação Permanente ou Reserva Legal, basta apresentar uma declaração ao órgão ambiental competente desde que a pequena propriedade rural esteja inscrita no Cadastro Ambiental Rural(CAR), mediante a apresentação de planta da propriedade e memorial descritivo, com indicações de coordenadas geográficas. No caso de propriedades localizadas no Distrito Federal, os agricultores devem fazer seu cadastro no IBRAM – Instituto Brasília Ambiental (fone 3214-5646), órgão que aprova a localização da Reserva Legal, após cadastro no CAR.

O CAR é um registro eletrônico de âmbito nacional obrigatório para todos os imóveis rurais. Ele tem por objetivo promover a regularização ambiental das propriedades e posses rurais. O poder público deve prestar apoio técnico e jurídico para a inscrição no CAR. Para se cadastrar é preciso apresentar documento de identificação do proprietário, comprovação da propriedade ou posse e identificação do imóvel por meio de memorial descritivo.

Como benefícios, são apresentados o apoio do Poder Público na recuperação de áreas degradadas, acesso a crédito, acesso à programas de regularização ambiental, funcional - como instrumento para planejamento do imóvel rural- , comprovação da regularidade ambiental, segurança jurídica para produtores rurais, dedução das áreas de preservação ou reserva legal da base de cálculo do imposto sobre Propriedade Territorial Rural (ITR). E ainda, a manutenção de APP ou RL pode gerar pagamentos e incentivos por serviços ambientais.

Por fim, o novo Código Florestal trouxe, em seu art. 41, previsão legal para que o Poder Executivo possa instituir programas de incentivo à conservação do meio ambiente, bem como a adoção de tecnologias e boas práticas que conciliem a produtividade agropecuária e florestal, com redução dos impactos ambientais, como forma de promoção do desenvolvimento ecologicamente sustentável, nas seguintes linhas de ação:

a) O sequestro, a conservação, a manutenção e o aumento de estoque e a diminuição do fluxo de carbono; b) A conservação da beleza cênica natural; c) A conservação da biodiversidade; d) A conservação das águas e dos serviços hídricos; e) A regulação do clima; f) A valorização cultural e do conhecimento tradicional; g) A conservação e o melhoramento do solo; h) A manutenção da APP, RL e de uso restrito.

Diante das linhas de ação definidas acima, verifica-se que a agrofloresta abrange todas elas, sendo então possível ao agricultor exigir do poder público os devidos incentivos financeiros e/ou fiscais pelos serviços prestados à sociedade e ao meio ambiente. Orientamos os agricultores a implantar seu SAF dentro das Áreas de Reserva Legal, pois isso facilita seu processo de regularização. Contudo, muitas vezes o modelo de SAF proposto neste Projeto não pode ser implantado na RL, como em casos de solo muito pedregoso, ou por escolha do agricultor, que prefere ter o SAF próximo a sua casa para facilitar a manutenção. De qualquer maneira, procuramos respeitar as características culturais e ambientais de cada SAF.

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A fim de que as famílias de agricultores diminuam os gastos com aquisição de alimentos, e gerem renda com a venda de seus produtos, faz-se necessário que elas usem e saibam disponibilizar os produtos gerados em sua agrofloresta. Dessa forma, o Projeto em voga, além de priorizar o uso da mão de obra e dos produtos já disponibilizados no Assentamento e região, irá orientar os beneficiários a fazerem uso cotidiano e a agregar valor aos alimentos e produtos gerados em sua propriedade, incluindo a agrofloresta, com ênfase aos produtos do Cerrado.

Seguem abaixo algumas receitas e dicas dos alimentos produzidos na agroflo-resta e outros alimentos do bioma Cerrado. Nas receitas sugeridas damos prefe-rências para ingredientes naturais e integrais (arroz integral, açúcar integral...), em detrimento dos alimentos processados (arroz branco, açúcar branco...), pois para manter nossa saúde precisamos de alimentos saudáveis, orgânicos e os mais naturais possíveis, os alimentos quanto mais frescos (menos processa-dos, industrializados, congelados ou cozidos) tem maios valor nutricional.

Além disso, os alimentos quanto menos processados e produzidos mais próximo de onde é consumido, mais ecológicos são, pois evitam diversos materiais e serviços (embalagens, combus-tível, mão de obra...).

Também sugerimos receitas sem uso de ingredientes de origem animal, principalmente os produzidos em escala, uma vez que a produção destes tipos de alimentos tem gerado graves da-nos ambientais dentre estes os desmatamentos, além de danos à saúde devido ao uso de antibióticos e alimentos transgênicos e com agrotóxicos para alimentação desses animais.

CAPÍTULO 6

RECEITAS COM FRUTOS DA AGROFLORESTA E DO CERRADO

Figura 23 – Alimentação saudável no curso do Projeto Agrofloresta

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Suco de Araticum Bata no liquidificador 1 copo de polpa do araticum com 3 copos de água gelada e açúcar mascavo à gosto. Coe e sirva em seguida, sem açúcar.

Biscoito caseiro de baru Ingredientes: 250g de farinha de trigo integral 200g de baru triturado 1000ml de água morna 100ml de óleo de castanha ou de manteiga 150g de sopa de açúcar mascavo 2 ovos caipira orgânicos 1 colher de chá de fermento em pó 1 colher de chá de sal 200g de chocolate meio amargo picado Modo de fazer: Misture o açúcar, o óleo e os ovos. Em seguida junte o resto dos ingredientes, até ficar homogêneo. Com uma colher de sopa vá colocando bolinhas da massa em forma untada. Deixe espaço entre os biscoitos, pois cresce bastante. Coloque em forno aquecido 200ºC. Asse por 30 minutos. Sirva frio.

Paçoca caseira de baru

Ingredientes: 150g de farinha de mandioca torrada 500g de baru torrado, descasca-do e triturado 250g de sopa de açúcar mascavo 1 colher de chá de sal Modo de fazer: Bata tudo no liquidificador e sir-va. Obs.: o baru pode ser substituído por castanha de caju, amendoim torrado ou outra castanha dispo-nível.

Risoto de Buriti Ingredientes: 200g de arroz integral 1/2 copo de vinho branco 2 folhas de louro 3 colheres de sopa de óleo de coco ou de castanha 600 ml de água quente 4 dentes de alho picado 1 cebola picada 125g de lasca de buriti 2 xícaras de salsinha e cebolinha picadas 2 tomates orgânicos maduros picados 1 xícara de castanha triturada

Modo de fazer: Refogue o alho e a cebola no óleo, acrescente o arroz, e depois a água quente e as folhas de louro. Deixe cozinhar, quando estiver quase pronto, misture o buriti, a castanha e os tomates. Termine o cozimento, e quanto estiver pronto misture a salsinha, a ceboli-nha e o vinho. Sirva em seguida.

Mousse de jatobá com chocolate Ingredientes: 2 xícaras de chá (500g) de farinha de jatobá (poupa do jatobá in natura sem caroço) 1 xícara de chá (250g) de cacau em pó sem a-çúcar 1 xícara de chá (250g) de açúcar mascavo ou 250g de banana passa

Água filtrada e gelada para dar o ponto

Modo de fazer: Bata tudo no liquidificador, vá colocando á-gua aos poucos, até dar o ponto de creme. Sir-va gelado.

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Pesto de baru

Ingredientes: 1 maço de manjericão (ou salsa e/ou cebolinha e/ou alho a gosto) 50g de baru torrado, descascado e triturado 50ml de azeite de oliva ou azeite de baru 1 colher de chá de sal 2 carás crus descascados Modo de fazer: Bata tudo no liquidificador, acrescentado um pouco de água, até dar a consistência de um creme. Sirva com pães ou torradas. Dica: o baru pode ser substituído por castanha de caju ou castanha do Pará. O pesto também pode ser usado para temperar saladas, massas, arroz e tubérculos cozidos.

Doce de Buriti Ingredientes: 500g de buriti fresco 500g de açúcar mascavo Modo de fazer: Leve os dois ingredientes ao fogo, preferência panela de ferro, mexa sem parar, até desgrudar da panela. Espalhe em uma pedra untada, deixe esfriar e corte em pedaços. Obs.: Não coloque água em momento algum.

Compota de Cagaita Ingredientes: 500g de cagaita 250g de açúcar mascavo 200 ml de água

Modo de fazer: Ferva a água com açúcar, acrescen-te a cagaita cortada ao meio sem ca-roço, deixe ferver por mais 5 minu-tos. Sirva gelado.

Frozen de Cagaita

Ingredientes: 200g de cagaita congelada 50g de açúcar mascavo 100 ml de gelo

Modo de fazer: Bata tudo no liquidificador até ficar cremoso. Sirva em seguida. Para fazer um coquetel, acrescente 50 ml de ca-chaça.

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Bolo de jatobá Ingredientes: 2 xícaras de chá (500g) de farinha de trigo integral 1 xícara de chá (250g) de farinha de jatobá 2 xícaras de chá (500ml) de água morna 3 colheres de sopa de óleo de castanha ou de mantei-ga 2 xícaras de chá (500g) de açúcar mascavo 3 ovos caipira orgânicos 1 colher de sopa de fermento em pó 1 pitada de sal

Modo de fazer: Misture bem as gemas, a manteiga e o açúcar. Mistu-re em outra vasilha as farinhas, o fermento e o sal. Junte aos poucos as duas misturas, e vá acrescentan-do devagar a água morna, até ficar homogêneo. A-crescente levemente as claras em neve. Coloque para assar em forma untada por 30 minutos.

Pãezinhos de jatobá Ingredientes: 700g de farinha de trigo integral 300g de farinha de jatobá 500ml de água morna 6 colheres de sopa de óleo de cas-tanha ou de manteiga 6 Colheres de sopa de açúcar mas-cavo 2 ovos caipira orgânicos 3 colheres de sopa de fermento bio-lógico

1 colher de chá de sal

Modo de fazer: Dissolva o fermento na água morna. Em outra vasilha misture os demais ingredientes. Depois junte devagar a água com o restante dos ingredien-tes. Sove a massa até ficar homogê-nea e deixe descansar por 15 minu-tos. Depois sove a massa, enrole em

formato de pãezinhos, pincele os pães com gema, e coloque para assar

em forma untada por 25 minutos. Dica: use recheio de doce de buriti

nos pãezinhos.

Nhoque de mandioca

Ingredientes: 500gr de mandioca orgânica cozida e amassada 1 ovo caipira e orgânico 1 xícara de farinha de trigo integral 1 colher de chá de sal

Modo de fazer: Numa bacia misture e amasse todos os ingredi-

entes até ficar uma massa homogênea; Faça rolinhos e corte os nhoques. Vá colocando os nhoques aos pou-cos numa panela com água fervendo 2 colheres de óleo. Quando o nhoque estiver boiando retire com a escumadeira. Repita o processo até acabar a massa.

Tempere com molho a seu gosto, preferencial-mente com produtos orgânicos. Obs.: A mandioca pode ser substituída por inhame ou

cará.

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DICAS: Araticum (annona crassiflora mart.): frutos maduros por volta de fevereiro a abril, ri-

co em lipídeos, ferro pró-vitamina A e beta-caroteno. Baru (Dipteryx Alata Vog.): frutos maduros entre julho a outubro. Rico em fibras, açú-

car, potássio, cobre e ferro. Buriti (Mauritia flexuosa Mart.): frutos maduros entre dezembro a junho. Polpa rica

em betacaroteno, pró-vitamina A, vitamina C, ferro e cálcio. O óleo tem propriedades ener-géticas e vermífugas.

Cagaita (Eugenia Dysenterica DC.): frutos maduros entre setembro a outubro. Rico em vitamina C, vitamina B2, cálcio, magnésio e ferro. Propriedade laxante.

Jatobá (Hymenaea Stigonocarpa Mart.): frutos maduros a partir de julho. Polpa com alto valor energético, rico em magnésio, cálcio e fósforo, pró-vitamina A, B1 e B2.

Pequi (Caryocar brasiliense Cambess.): frutos maduros entre outubro a fevereiro. Rico em vitaminas A, C e E, proteínas, fósforo, potássio e magnésio.

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DESENHANDO SEU SISTEMA AGROFLORESTAL

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ANOTAÇÕES ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________ ________________________________________________________________________________________________

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