apontamentos sobre o 1º encontro “novos rumos para a educação de bebés e crianças em creche e...

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Apontamentos sobre o 1º Encontro Novos rumos para a educação de bebés e crianças em creche e jardim de infânciapromovido pela Associação Gerações em V. N. Famalicão, no dia 09-05-2015 “Das neurociências à Educação – alguns contributos” Drª Ana João Rodrigues, neurocientista e investigadora na UM As “janelas de oportunidade” decorrem até aos 5/6 anos de idade; Cuidados deficitários durante essa fase da vida podem contribuir para que o potencial cognitivo das crianças não se desenvolva harmoniosamente, o que acontece normalmente sempre que os estímulos e as condições adequadas estão presentes; As sinapses – ligações entre os neurónios – estabelecem-se durante esse período (primeira infância), que é por excelência a época de maior plasticidade neuronal; A aquisição de competências (visão, audição (primeiros meses), fala/linguagem e controlo emocional) acontece dos 5 meses aos 6 anos; é aqui que se define a capacidade de regular emoções (e a impulsividade, por exemplo); Os primeiros anos de vida podem, de facto, moldar a forma como nos comportamos em adultos. A importância do ambiente em idades precoces: quando algo corre mal nesta fase (falta de estímulos, abuso) pode haver maior propensão para hiperatividade, problemas de sono, Problemas de memória / aprendizagem, depressão, ansiedade, défice de atenção, delinquência, baixo sucesso escolar, maior vulnerabilidade para patologias e tendência suicidas. Ver ACE Adverse Childhood Experiences”, quando as coisas correm menos bem nessa fase… Está comprovado por experiências com animais e humanos que, em casos de abuso, existe um gene que surge diminuído, que é o de resposta ao stress; Estratégias positivas para minorar os efeitos deletérios induzidos por experiências adversas: o Enriquecimento do meio: suporte familiar estável, amor, carinho, mimo, todo o tipo de estímulos é benéfico: inserir uma criança com um défice qualquer num contexto social favorecido é benéfico para melhorar a sua performance; o As crianças têm que ser crianças, têm que brincar; o “enriquecimento” em demasia pode ter efeitos nefastos; enriquecer o ambiente em que a criança se move sim, mas apenas q.b., respeitando idades e ritmos diferentes. “Está na hora de deixarmos de ser infectários: recomendações na área da saúde” Drª Cristina Ferreira, pediatra As crianças adoecem mais quando entram na instituição; se forem mais pequenas, vão ganhando imunidade, quando entram mais crescidas, custa mais um bocadinho, pois persiste a imaturidade do sistema imunológico. Um aspeto importante no controlo das doenças é o número de horas que a criança passa na instituição: quanto maior for, mais sujeita está a ficar doente. Promover atividades ao ar livre reforça o sistema imunitário e contribui para prevenir doenças;

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Notas da educadora Maria Jesus Sousa, sobre o evento referido

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  • Apontamentos sobre o 1 Encontro

    Novos rumos para a educao de bebs e crianas em creche e jardim de infncia

    promovido pela Associao Geraes em V. N. Famalico, no dia 09-05-2015

    Das neurocincias Educao alguns contributos

    Dr Ana Joo Rodrigues, neurocientista e investigadora na UM

    As janelas de oportunidade decorrem at aos 5/6 anos de idade;

    Cuidados deficitrios durante essa fase da vida podem contribuir para que o potencial cognitivo das

    crianas no se desenvolva harmoniosamente, o que acontece normalmente sempre que os estmulos e

    as condies adequadas esto presentes;

    As sinapses ligaes entre os neurnios estabelecem-se durante esse perodo (primeira infncia),

    que por excelncia a poca de maior plasticidade neuronal;

    A aquisio de competncias (viso, audio (primeiros meses), fala/linguagem e controlo emocional)

    acontece dos 5 meses aos 6 anos; aqui que se define a capacidade de regular emoes (e a

    impulsividade, por exemplo);

    Os primeiros anos de vida podem, de facto, moldar a forma como nos comportamos em adultos.

    A importncia do ambiente em idades precoces: quando algo corre mal nesta fase (falta de estmulos,

    abuso) pode haver maior propenso para hiperatividade, problemas de sono, Problemas de memria /

    aprendizagem, depresso, ansiedade, dfice de ateno, delinquncia, baixo sucesso escolar, maior

    vulnerabilidade para patologias e tendncia suicidas.

    Ver ACE Adverse Childhood Experiences, quando as coisas correm menos bem nessa fase

    Est comprovado por experincias com animais e humanos que, em casos de abuso, existe um gene que

    surge diminudo, que o de resposta ao stress;

    Estratgias positivas para minorar os efeitos deletrios induzidos por experincias adversas:

    o Enriquecimento do meio: suporte familiar estvel, amor, carinho, mimo, todo o tipo de

    estmulos benfico: inserir uma criana com um dfice qualquer num contexto social

    favorecido benfico para melhorar a sua performance;

    o As crianas tm que ser crianas, tm que brincar; o enriquecimento em demasia pode

    ter efeitos nefastos; enriquecer o ambiente em que a criana se move sim, mas apenas

    q.b., respeitando idades e ritmos diferentes.

    Est na hora de deixarmos de ser infectrios: recomendaes na rea da sade

    Dr Cristina Ferreira, pediatra

    As crianas adoecem mais quando entram na instituio; se forem mais pequenas, vo ganhando

    imunidade, quando entram mais crescidas, custa mais um bocadinho, pois persiste a imaturidade do

    sistema imunolgico.

    Um aspeto importante no controlo das doenas o nmero de horas que a criana passa na instituio:

    quanto maior for, mais sujeita est a ficar doente.

    Promover atividades ao ar livre refora o sistema imunitrio e contribui para prevenir doenas;

    http://www.acestudy.org/
  • Os micrbios no se propagam apenas de pessoa a pessoa, aderem aos objetos, provocando assim a

    transmisso.

    Os principais problemas de sade que se difundem nas instituies so: infees respiratrias (altas e

    baixas), infees gastrointestinais (rotavrus 70% de contgio), parasitoses, varicela e doena

    meningoccica (meningite). Neste ltimo caso a instituio deve ser encerrada para desinfeo e feita

    profilaxia a todos os envolvidos.

    Quando que a criana deve ir para casa, apresentando sintomas de doena:

    o Quando no apresenta capacidade de participar nas atividades

    o Quando exige muito do cuidador, retirando a ateno devida s outras crianas

    o Se tem sinais clnicos (febre, diarreia) - a criana pode ter 40 de temperatura e continuar a

    brincar ou no chegar aos 38 e estar prostrada, nesse caso no tanto de valorizar o

    nmero que est no termmetro, mas o estado que a criana apresenta

    o Se apresenta leses na pele

    Brincar e aprender fora de portas

    Prof. Dr Aida Figueiredo, docente e investigadora na UA

    Nesta abordagem aos espaos exteriores, os fundamentos tericos remetem para a Educao

    Experiencial de Gabriela Portugal (mais aqui e aqui) e a Teoria da perceo direta de Gibson (mais aqui e

    aqui) que define o termo affordances como sendo oportunidades de ao;

    Cada um de ns perceciona o ambiente de forma diferente; o tempo altera a perceo do

    espao/ambiente e o tamanho faz o mesmo (no caso da altura dos adultos e das crianas);

    Uma captao ativa da perceo que o espao nos d implica movimento e o movimento d mais

    informao. Perceo Ao Informao;

    Boas prticas: Promover a livre iniciativa e a autonomia, proporcionar atividade no dirigida, dar

    oportunidade criana de usar as affordances disponveis no espao;

    A intencionalidade do adulto deve estar espelhada no espao, cruzada com a da criana;

    Crianas que estabelecem interaes sociais mais complexas e prolongadas tm maior capacidade de

    manter a ateno e a concentrao;

    O espao deve conter diferentes tipos/nveis de desafio, para que a criana possa ir testando os seus

    limites e desenvolver oportunidades de ao

    Estudos revelam que as crianas preferem espaos amplos, livres, abertos e informais, com elementos

    da Natureza: paus, pedras, gua

    H determinadas qualidades que os ambientes devem ter:

    o Superfcies planas para andar de triciclo

    o Superfcies desniveladas, declives para andar de skate (?)

    o Superfcies escalveis como rvores

    o Abrigos para brincar, esconder, reservar

    o gua (inclusive para tomar banho!)

    o Espao no acabado, que permita criana construir

    http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?pid=S0870-82312011000100009&script=sci_arttextcadernosei.no.sapo.pt/edicoes/2008/entrevista_84.pdfhttp://psicopsi.com/pt/psicologia-da-percepcao-uma-abordagem-ecologica/http://www.marilia.unesp.br/Home/.../JulianaMoroni_MariaEunice(124-141).p...
  • Qualidade em Educao de infncia: que indicadores e critrios?

    Dr Carla Peixoto, docente e investigadora

    A participao das crianas em contextos de qualidade tem um forte impacto no seu

    desenvolvimento e efeitos no seu sucesso escolar posterior, quanto linguagem, criatividade,

    ao desenvolvimento socio-emocional, capacidade de resolver conflitos e de criar vinculaes

    seguras;

    Esse impacto positivo prolonga-se a longo prazo, pois o que acontece nos primeiros anos de vida

    fundamental;

    Como se define a qualidade em EI: o conceito relativo, no unnime e socialmente construdo;

    Indicadores de qualidade:

    o Quanto estrutura:

    Espao fsico: tamanho da sala, equipamentos e materiais;

    Tamanho do grupo: rcio adulto / criana

    Formao do educador

    o Quanto ao processo:

    Experincias diretas e regulares que as crianas vivenciam

    Interaes adulto/criana e criana/criana

    Como avaliar a qualidade: dois instrumentos:

    o Infant/toddler environment rating scale (ITERS R) traduzida, mas no

    publicada

    o Early childhood environment rating scale (ECERS R)

    Espao e mobilirio

    Rotinas e cuidados pessoais

    Linguagem e raciocnio

    Escuta e conversao (crche)

    Atividades

    Interao

    Estrutura do programa

    Pais e pessoal

    Dizem estudos que as atividades so, habitualmente, a pior rea e as interaes so a melhor.

    Para saber mais ver:

    o Earlychangue.theithe.gr ebook Good practices in ECE

    o CARE Anlise do currculo e reviso do impacto (aqui e aqui)

    Criando pontes com a cidade

    Dr Slvia Bereny e Dr Cristina Isabel Alves, educadoras de infncia na OSMOPE

    Metfora: a escola como um rizoma, estrutura sem centro, sistema de pensamento

    http://ers.fpg.unc.edu/infanttoddler-environment-rating-scale-iters-rhttp://ers.fpg.unc.edu/early-childhood-environment-rating-scale-ecers-rhttp://earlychange.teithe.gr/http://www.tcpress.com/pdfs/9780807752326_toc.pdfrevistas.rcaap.pt/interaccoes/article/download/6344/4921https://repositorio.iscte-iul.pt/handle/10071/8275
  • Orientaes pedaggicas para creche (OCC)

    Prof. Dr Gabriela Portugal, docente e investigadora na UA

    Cuidar estar atento s necessidades das crianas e estar atento a que sejam atendidas:

    necessidades de afeto, segurana, previsibilidade, afirmao, reconhecimento, respeito,

    sentir-se competente/capaz/bem sucedida, interiorizar regras e valores, sentir-se bem

    consigo e com os outros, mostrar empatia;

    Cuidar algo indissocivel de Educar;

    Quando educamos cuidamos de que a criana se desenvolva;

    Orientaes curriculares para creche Rosa dos ventos para alcanar as finalidades

    educativas, tornando o processo mais lcido e mais claro;

    A adequabilidade do currculo em oferta: segurana e autoestima; curiosidade e mpeto

    exploratrio, competncia social e comunicacional;

    Investir no todo que a criana viso holstica;

    OCC: divide-se didaticamente o que uno, para organizar, documentar e avaliar o processo

    pedaggico;

    Ver documento da CNIS Finalidades para creche

    O educador no deve ser intrusivo, no deve achar que as crianas no so capazes, deve

    apoiar mas no interferir, deixar as crianas conduzir, expandir verbalizaes (atividades no

    exterior)

    Todas as outras coisas podem ser aprendidas mais tarde!

    Dos 0 aos 3: experincia em creche

    Ana Garcia, educadora de infncia na A. Geraes

    funo do educador, mesmo em creche, estar atento, sem dirigir todos os

    acontecimentos

    Avaliao em creche e JI

    Prof. Dr Cristina Parente, docente e investigadora na UM

    A avaliao aqui encarada numa perspetiva formativa, alternativa e autntica;

    Avaliao um processo que envolve observar, escutar, registar, documentar e avaliar as

    aprendizagens das crianas;

    O grande objetivo da avaliao apoiar o desenvolvimento das crianas;

    Planear /documentar / avaliar os processos e as dificuldades: das crianas, dos educadores,

    dos pais;

    Decises interdependentes a avaliao deve estar em coerncia com as concees e

    prticas pedaggicas

    Escolhas: a viso da criana / a viso do educador / o papel educativo / a viso de como

    aprendem as crianas / a viso de sucesso so determinantes na forma como se faz

    pedagogia

    http://novo.cnis.pt/index.php?ToDo=read_news&id=325
  • A creche e o JI so tambm uma Escola de Pais

    Paulo Coelho, psiclogo

    O papel de preveno;

    A capacitao com estratgias para resolver problemas;

    Ver: livro Anos incrveis de Educao parental

    Documentao pedaggica em creche

    Dr Hlia Costa, educadora de infncia e investigadora

    Prof. Dr Sara Barros Arajo, investigadora UM

    Os materiais pedaggicos so os nossos livros de texto;

    A rotina deve ser respeitadora dos ritmos e do bem estar das crianas

    O momento intercultural: hora de o cesto dos instrumentos musicais

    Apreciar expresses multiculturais (atividade para um grupo de 6 crianas)

    O caso do Rodrigo e a sua aprendizagem de tocar harmnica;

    A necessidade da criana interagir com instrumentos que refletem a diversidade;

    A educadora no impositiva, acredita na competncia da criana e respeita o seu ritmo;

    Cada um de ns tem um tempo de apropriao, na interao com os outros e com os

    objetos;

    A avaliao centrada no quotidiano autntico rejeio de procedimentos artificiais;

    A avaliao deve revelar o respeito pelos diferentes ritmos;

    Construindo a Pedagogia da Infncia: a teoria, a prtica, a pesquisa

    Prof. Dr Jlia Oliveira-Formosinho, investigadora da UM

    possvel trabalhar com a infncia, no para a infncia (como o caso das editoras que

    editam livros de fichas);

    A pedagogia que tem sucesso a pedagogia da lentido

    As bases do sucesso escolar so os primeiros oito anos de vida;

    A lngua e matemtica no chegam!

    preciso harmonizar as intenes das crianas com as dos profissionais;

    As pedagogias participativas so plurais e as transmissivas so s uma

    As gramticas pedaggicas participativas tm maior impacto no sucesso escolar;

    Eu sempre fiz assim / vi fazer assim e qual o valor do assim?

    Nas profisses de desenvolvimento humano no h receitas, h modos generativos e

    degenerativos;

    Os modelos pedaggicos no so receitas, so possibilidades;

    http://www.psiquilibrios.pt/cat-EdPsiq-AI.html
  • A documentao pedaggica obriga-nos a recolher informao com rigor; avaliamos a

    interatividade entre o ensinar e o aprender;

    importante a suspenso, o retirar-se, o deixar acontecer, o dar espao

    A devoluo da documentao criana: falar da semana anterior, revisitar o que se fez e

    assim emergem planos para o futuro a planificao solidria.

    Requisitos centrais da qualidade:

    o Definio clara da intencionalidade respeitadora das crianas, dos educadores, das

    famlias;

    o Critrios para definio do ambiente educativo;

    o Definio clara das reas de aprendizagem;

    o Sistema de monitorizao do quotidiano;

    o Avaliao coerente com a pedagogia

    A criana em ao a documentao em processo;

    Pedagogia intercultural a pedagogia do respeito pelas diferenas, no a pedagogia do

    coitadinho, do pobrezinho de frica

    Projeto: Porque que as crianas do Rio Omo se pintam?

    Das imagens levadas por uma me curiosidade natural que fomentaram nas crianas,

    Passando pela pesquisa, pela criao, pela narrao das vivencias e aprendizagens.

    Vigotsky: ajudar a criana a ser um narrador

    Notas de Maria Jesus Sousa

    10-05-2015