aplicação do método drsa para avaliar o nível de segurança...

8
Aplicação do método DRSA para avaliar o nível de segurança na cidade do Recife, Brasil Ciro José Jardim de Figueiredo Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Caroline Maria de Miranda Mota Universidade Federal de Pernambuco [email protected] Resumo O estudo sobre segurança pública envolve a relação de vários fatores que impactam diretamente na ocorrência de crimes em uma dada região. Portanto, é crucial definir como agrupar esses fatores de modo a realizar uma recomendação para as autoridades responsáveis para que possam usar estratégias de combate ao crime. Assim o objetivo desse trabalho foi aplicar a abordagem multicritério Dominance- based Rough Set Approach que usa ações de referência para agregar os diferentes critérios que estão relacionados com a violência e posteriormente propor uma classificação avaliando o nível de segurança. Para o estudo foi usado o caso da cidade do Recife, Brasil, que após a aplicação do método a cidade teve diferentes áreas mapeadas segundo o grau de violência usando os resultados mostrados pela a abordagem. A aplicação mostrou-se viável apresentando uma recomendação futura para o combate a violência. Palavras-chave: Segurança pública; Decisão Multicritério; Criminalidade. 1 Introdução A questão da segurança dentro de uma sociedade é crucial para o seu desenvolvimento, bem como a sensação que as pessoas têm quanto ao fato de estarem seguras. Segundo Kim et al., (2013) o sentimento de segurança está condicionado em função de diferentes variáveis que coexistem em uma dado ambiente. Para Apel (2013) uma sociedade é livre da sensação de violência quando há uma resposta de punição por parte das entidades do governo. Estudos sobre criminologia já vem sendo realizados há mais de 30 anos. Os primeiros teóricos eram socialistas, psicólogos, criminologistas, cientistas políticos e professores de direito. Eles acreditavam que os marginais realizavam tais ações por motivações atípicas, atribuindo conceitos como depravação, insanidade e atitudes abomináveis, embora na época não houvesse um embasamento empírico (Entorf e Spengler, 2000). Um dos trabalhos pioneiros sobre o tema foi divulgado por Gary Becker, em 1968. Nesse trabalho, o autor estabelece um modelo microeconômico que demonstra se o indivíduo vai cometer um crime ou não. A relação com a microeconomia está na escolha do indivíduo entre seguir uma ocupação no setor legal ou atuar de forma ilegal. De acordo com o autor, o criminoso avalia os benefícios e os custos de participar das atividades legal ou ilegal. Se a utilidade esperada por um crime exceder a utilidade de uma ação legal, ele irá escolher o crime (Becker, 1968). Portanto, sabendo desta questão sobre a utilidade, também é preciso estabelecer os fatores que motivam a criminalidade. Então muitos estudos que abordam a questão dos crimes apontam para diferentes fatores socioeconômicos que interferem no aumento ou na redução do crime em uma área (Araújo Júnior et al.,

Upload: ngodieu

Post on 01-Dec-2018

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Aplicação do método DRSA para avaliar o nível de segurança na

cidade do Recife, Brasil

Ciro José Jardim de Figueiredo

Universidade Federal de Pernambuco

[email protected]

Caroline Maria de Miranda Mota

Universidade Federal de Pernambuco

[email protected]

Resumo

O estudo sobre segurança pública envolve a relação de vários fatores que impactam diretamente na

ocorrência de crimes em uma dada região. Portanto, é crucial definir como agrupar esses fatores de modo

a realizar uma recomendação para as autoridades responsáveis para que possam usar estratégias de

combate ao crime. Assim o objetivo desse trabalho foi aplicar a abordagem multicritério Dominance-

based Rough Set Approach que usa ações de referência para agregar os diferentes critérios que estão

relacionados com a violência e posteriormente propor uma classificação avaliando o nível de segurança.

Para o estudo foi usado o caso da cidade do Recife, Brasil, que após a aplicação do método a cidade teve

diferentes áreas mapeadas segundo o grau de violência usando os resultados mostrados pela a abordagem.

A aplicação mostrou-se viável apresentando uma recomendação futura para o combate a violência.

Palavras-chave: Segurança pública; Decisão Multicritério; Criminalidade.

1 Introdução

A questão da segurança dentro de uma sociedade é crucial para o seu desenvolvimento, bem como a

sensação que as pessoas têm quanto ao fato de estarem seguras. Segundo Kim et al., (2013) o sentimento

de segurança está condicionado em função de diferentes variáveis que coexistem em uma dado ambiente.

Para Apel (2013) uma sociedade é livre da sensação de violência quando há uma resposta de punição por

parte das entidades do governo.

Estudos sobre criminologia já vem sendo realizados há mais de 30 anos. Os primeiros teóricos eram

socialistas, psicólogos, criminologistas, cientistas políticos e professores de direito. Eles acreditavam que

os marginais realizavam tais ações por motivações atípicas, atribuindo conceitos como depravação,

insanidade e atitudes abomináveis, embora na época não houvesse um embasamento empírico (Entorf e

Spengler, 2000).

Um dos trabalhos pioneiros sobre o tema foi divulgado por Gary Becker, em 1968. Nesse trabalho, o

autor estabelece um modelo microeconômico que demonstra se o indivíduo vai cometer um crime ou não.

A relação com a microeconomia está na escolha do indivíduo entre seguir uma ocupação no setor legal ou

atuar de forma ilegal. De acordo com o autor, o criminoso avalia os benefícios e os custos de participar

das atividades legal ou ilegal. Se a utilidade esperada por um crime exceder a utilidade de uma ação legal,

ele irá escolher o crime (Becker, 1968).

Portanto, sabendo desta questão sobre a utilidade, também é preciso estabelecer os fatores que motivam a

criminalidade. Então muitos estudos que abordam a questão dos crimes apontam para diferentes fatores

socioeconômicos que interferem no aumento ou na redução do crime em uma área (Araújo Júnior et al.,

roger
Typewritten Text
R. Z. Ríos-Mercado et al. (Eds.): Recent Advances in Theory, Methods, and Practice of Operations Research, pp. 319-326, UANL - Casa Universitaria del Libro, Monterrey, Mexico, October 2014.

2012; Craglia et al., 2001; Curtin et al., 2010; Figueiredo et al., 2013; Gurgel e Mota, 2013; Menezes et

al., 2013; Scorzafave e Soares, 2009).

Portanto, as entidades públicas (governo, prefeitura, força policial) necessitam de alternativas estratégicas

que possam ser usadas para apoiar as decisões no âmbito de combater a violência. Então, o uso de fatores

que afetam na violência para identificar determinados locais que precisem de uma atenção especial é o

objetivo deste trabalho.

O estudo usou uma ferramenta multicritério direcionada para problemas de classificação para identificar

determinadas áreas que podem apresentar condições mais favoráveis a violência na cidade do Recife, com

base em fatores que influenciam este tipo de crime e utilizar uma ferramenta de georreferenciamento para

mapear esses locais.

A abordagem usada foi o Dominance-based Rough Set Approach (DRSA), que permite usar ações de

referência envolvendo múltiplos atributos para classificar uma alternativa em uma dada classe pré-

ordenada e em seguida obter regras de decisão utilizando as relações de dominância e regras de decisão

do tipo “Se...Então...” (Greco et al., 2001; Greco et al., 2002).

Particularmente a lógica adotada usa os exemplos de referência como input obtendo as informações de

preferência do decisor de forma mais consistente, e a recomendação final permite um entendimento mais

natural, permitindo uma construção interativa com o decisor (Greco et al. 1999; Greco et al., 2001; Greco

et al., 2002). Ainda segundo os autores o método DRSA se diferencia das outras abordagens multicritério

(como ELECTRE TRI ou modelos aditivos), já que não de informações muito precisas, como limiares de

preferência, valores de constantes de escalas entre os critérios e pesos de importância entre as avaliações.

A base teórica usada na aplicação foi baseada no trabalho de Greco et al. (2002) e serviram para as

descrições seguintes. Inicialmente, as informações necessárias usadas na abordagem devem ser

organizadas em forma de tabelas. Cada linha contém uma ação de referência e cada coluna representa um

atributo. Formalmente têm-se S=<U, Q, V, f>, compostos em uma tabela. Onde U={x1,x2,...,xn} é um

conjunto finito de objetos (universo) contidos em uma tabela de decisão. Os atributos de decisão que

podem ser representados por um conjunto Q={q1,q2,...,qn} finito que influenciam na decisão final, Vq é o

domínio do atributo q, V=∪qQVq. E seja f: U QV a função total tal que f(x,q) Vq para cada q Q, x

U, chamado de função informação e que fornece a decisão final em uma tabela de decisão.

Como o trabalho foi direcionado para problemas que visam realizar uma recomendação final para o

decisor, as informações contidas na tabela de decisão em relação a Q são distinguidas em atributos de

condição C e nos atributos de decisão que representam as classificações dentro da tabela contendo as

ações de referência e são definidas em uma pré-ordem Cl. Em que dado Cls e Clr com r>s e cada ação

deve ser inserida em uma classe Cl.

O restante do trabalho segue dividido em Método da Pesquisa usado no estudo, na seção seguinte a

aplicação do método e os resultados e na última seção as considerações finais acerca do estudo realizado.

2 Método de Pesquisa O estudo foi realizado na cidade do Recife, Brasil, e teve como objetivo identificar determinados locais

que necessitam de uma atenção diferenciada por parte do setor de segurança pública, composto tanto pelo

governo, como pelas entidades de segurança (policia militar e guarda municipal) através da aplicação do

DRSA para problemas de classificação. Foram levadas em consideração as diferentes informações

referentes aos fatores motivacionais que conduzem ao crime e como eles podem ter um elo com um dado

delito.

A aplicação foi dividida em duas etapas. A primeira etapa consistiu na definição dos critérios que foram

determinados por meio de um levantamento bibliográfico em que se verificou que determinados fatores

contribuem para a ocorrência da violência. Após esse procedimento, foram definidas as avaliações verbais

para cada critério C e as classes Cl. Então, através de uma análise interativa foram determinadas

diferentes ações de referência que conduziam a uma classe Cl por meio das variações entre os critérios C.

A segunda fase foi à aplicação do método DRSA nas ações de referência para avaliar o comportamento

destes exemplos de acordo com os resultados obtidos. Através destes resultados foram usadas as regras de

decisão do tipo “Se...Então...” para classificar as áreas na cidade do Recife em cada classe Cl baseado nos

critérios levantados. A semântica das regras consiste em condições lógicas e ordenadas e que propõe a

consequência como a classificação final.

Neste estudo, também teve como parte da aplicação relacionar os critérios levantados com algum tipo de

crime. Então foi selecionado o crime do tipo CVLI (Crimes Violentos Letais Intencionais) que são os

chamados homicídios em que se agrupam os latrocínios (roubo seguido de morte), homicídios agidos em

legitima defesa ou qualquer outra ação que acometa a morte por um ato violento (Sauret, 2012).

Além disso, entre os atributos que conduzem a esse tipo de crime e levam a classificação de uma dada

área, também foram usadas informações passadas sobre esses crimes para poder complementar as

informações nas ações de referência para melhorar a qualidade das informações no momento da

recomendação final.

Finalmente, para a recomendação final, usando as regras de decisão obtidas pelo DRSA, foram

classificadas as Unidades de Desenvolvimento Humano (UDH) que é uma divisão da cidade do Recife

que a prefeitura adota para agrupar as informações referentes aos dados. Essa divisão permite um

agrupamento das informações tornando as áreas mais homogeneizadas em função destes dados (Sauret,

2012). Os dados para a recomendação final são referentes ao censo do ano 2000 fornecidos pelo Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) e os dados sobre homicídios coletados a partir da base de

dados da Secretaria de Defesa Social do Estado Pernambuco, Recife.

3 Construção do modelo e Resultados

A aplicação da proposta DRSA para a questão da segurança pública foi realizada com dados reais, porém

sem a presença de algum especialista sobre o assunto. Apesar desta ausência, as considerações realizadas

para a elaboração da aplicação foi idealizada com informações que são esperadas caso houvesse a

presença de algum decisor que atue no assunto abordado.

O levantamento realizado na primeira etapa da proposta de aplicação realizada apontou três critérios

socioeconômicos que interferem no aumento da violência e estão relacionados com crimes do tipo CVLI

e que segundo os autores pesquisados impactam de forma positiva ou negativa. Estes trabalhos apontaram

também que não há total relação com os crimes, entretanto afirmam que a relação é contribuinte para a

violência. Segundo os estudos relacionados essas informações foram úteis para a construção dos

exemplos de referências e serviram para a recomendação final.

Para cada critério foi identificada a relação com o crime, além do próprio critério sobre o número de

homicídios. Também foram definidas as avaliações verbais com o intuito de facilitar a construção dos

exemplos de referência. O Quadro 1 seguinte mostra os critérios usados e a relação com os crimes.

Critério Escala verbal Associação Autores

Desigualdade (Índice

de Gini)

Baixa

Moderada

Alta

Positiva (quanto maior a

desigualdade, maior a

propensão ao crime)

Batela e Diniz (2010); Becker (1968);

Entorf e Spengler (2000); Brush

(2007); Fajnzyber et al. (2002);

Menezes et al. (2013); Scorzafave e

Soares (2009).

Educação

Infantil

Ensino

Fundamental

Ensino Médio

Ensino Superior

Negativa (quanto menor o

tempo de estudo maiores as

chances de ingressar no crime)

Batella e Diniz (2010); Araújo Júnior

et al. (2012); Fajnzylber et al. (2002);

Ramão e Wadi (2010); Resende e

Andrade (2011)

Quadro 1: Critérios usados para a aplicação do método DRSA.

Critério Escala verbal Associação Autores

Densidade

demográfica

Baixa

Moderada

Alta

Positiva (quanto maior a

população, maior o número de

pessoas potencialmente

vítimas de criminosos)

Beato et al. (2008); Entorf e Spengler

(2000); Ramão eWadi (2010); Resende

e Andrade (2011)

Taxa de homicídios

(mortes para cada

100 mil habitantes)

0-2.99

3-4.99

5-9.99

10-19.99

≥20

Positiva (dados passados

expressam a ideia de como

está a situação atual a respeito

dos homicídios em um

determinado local)

UNODC (2011)

Quadro 1: Critérios usados para a aplicação do método DRSA.

Os exemplos de referência elaborados foram em um total de sete contento diferentes informações diante

dos critérios levantados. Para definir as classes foram avaliadas três situações diferentes que necessitam

de uma atenção diferenciada por parte dos esforços de segurança pública. Uma classe que apresenta bom

desempenho entre os critérios, conduzindo a uma classe mais segura, uma classe intermediária e uma

classe com baixo desempenho entre os critérios, tornando necessário o uso de estratégias especificas para

o combate ao crime. Foram usadas três distinções verbais para representa-las, na seguinte ordem:

ClSeguro>ClIntermediário>ClInseguro.

Estas classes são ordenadas e o baixo desempenho em um critério não necessariamente irá conduzir a uma

baixa classe, por exemplo. Demonstrando assim a flexibilidade nos julgamentos. O Quadro 2 seguinte

apresenta os exemplos de referência e as classes.

Ação

Índice de

Gini

Densidade

demográfica

Taxa de

homicídios Educação

Classe

1 Bom Baixa 1 Ens. Superior Seguro

2 Bom Alta 17 Ens. Superior Intermediário

3 Ruim Alta 30 Infantil Inseguro

4 Ruim Alta 29

Ens.

Fundamental

Inseguro

5 Razoável Alta 14

Ens.

Fundamental

Inseguro

6 Bom Alta 2 Ens. Médio Seguro

7 Razoável Baixa 10 Ens. superior Intermediário

Quadro 2: Ações de referência usados na aplicação DRSA.

A análise primária da aplicação do DRSA mostra as ações que são dominantes em relação às demais

ações, permitindo concluir quais delas apresentam os desempenhos esperados para definir a classe mais

segura. Esta avaliação é dividida entre os conjuntos P-dominante e P-dominado e mostram quais

exemplos se sobressaem entre os demais para conduzir a classe mais elevada na ordem definida

previamente.

Nesta aplicação, a Ação1 foi a que apresentou dominância em relação às demais ações para o conjunto de

P-dominante, enquanto que a Ação3 e a Ação4 foram dominados pela maioria das demais ações,

demonstrando o baixo desempenho nos critérios. No caso do conjunto de P-dominado, a Ação3 teve

também uma avaliação inferior em comparação com as demais ações. A Tabela 1 seguinte resume de

forma detalhadas esse resultado.

Tabela 1: Conjunto P-dominante e P-dominado.

Conjunto P-dominante Conjunto P-dominado

Ação dominada Ações dominantes Ação dominante Ações dominadas

1 1 1 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7

2 1, 2 2 2, 3, 4

3 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7 3 3

4 1, 2, 4, 5, 6, 7 4 3, 4

5 1, 5, 6, 7 5 3, 4, 5

6 1, 6 6 3, 4, 5, 6

7 1, 7 7 3, 4, 5, 7

Os outros resultados do método DRSA mostram que houve 100% de qualidade nas classificações

impostas pelos exemplos. Ou seja, cada ação determinou o limite que divide uma classe Cls de outra Clr.

Assim para a classe Insegura a Ação3 delimita essa classe com base nas características definidas para

cada critério. No caso da classe Segura foi a Ação2, significando dizer que ela é o limite para definir

como uma classe desse tipo. Por fim, as ações 4 e 5 impõe as limitações para a classe Intermediária. Essas

avaliações permitem explorar o conhecimento através das ações de referência, sendo a filosofia da

abordagem DRSA e mostrando quais exemplos separam as classes pré-ordenadas.

Os redutos foram:

REDcl = (Índice de Gini, Educação, Taxa de homicídios) ∩ REDcl = (Taxa de homicídios, Educação, Índice de Gini)

= COREcl = (Índice de Gini e Taxa de homicídios)

Neste caso, os critérios contidos no Reduto e no Núcleo (COREcl) são os mais relevantes para o

problema. Pelo núcleo conclui-se que a Taxa de homicídios e Índice de Gini são os critérios mais

importantes para a definição das classes e serviram para a recomendação final.

O critério Educação foi excluído por não caracterizar tão bem quanto o critério Índice de Gini e este

último ser mais representativo com a realidade ao demonstrar o quanto uma sociedade pode ser desigual e

por já ter sido relacionado diretamente com a questão dos homicídios, apresentando um resultado

condizente com a realidade (Menezes et al., 2013). Para o critério Densidade demográfica, sua exclusão

foi necessária em função do grande crescimento populacional na cidade do Recife, o que não

necessariamente tornaria esse fator condizente com a realidade atual pela qual a cidade passa. Assim,

foram mantidos os critérios Índice de Gini e Taxa de homicídios para as regras de decisão. As regras

estão estruturadas em uma semântica de condições matemáticas condicionais e que levam a uma classe

final. Algumas das regras usadas para a classificação para as UDH’s na cidade do Recife, Brasil seguem

descritas:

1. Se f(a, Índice de Gini) ≥ Bom e f(a, Taxa de homicídios) ≤ 6 então a ClSegura

2. Se f(a, Índice de Gini) = Ruim e f(a, Taxa de homicídios) ≥ 24.99 então a ClInsegura

3. Se f(a, Taxa de homicídios) ≥ 24.99 então a ClInsegura

4. Se f(a, Índice de Gini) ≥ Razoável e Se f(a, Taxa de homicídios) ≤ 10 então a ClIntermediária

Para classificação das áreas foi criado um script no software Matlab para classificação das UDH’s na

cidade do Recife. Para implementação gráfica foi usado o software de georreferenciamento ArcGis versão

10.1. A Figura 1 seguinte mostra o mapa com as áreas classificadas.

Das 62 UDH’s, 37 foram definidas como áreas Inseguras, 16 com áreas com segurança Intermediária e 9

como locais seguros. Apesar do elevado número de áreas definidas com sem segurança, a proposta da

aplicação realizada não leva a máxima afirmação de que esses locais apresentam grandes chances de

ocorrências de homicídios, mas são locais que apontam para características favoráveis para a ocorrência

deste tipo de crime devido à associação que foi verificada na literatura.

Outro ponto importante, é que através desta aplicação, com o uso do conhecimento imposto pelas ações

de referência é possível que os gestores de segurança pública possam usar tanto o mapa, como a

metodologia aplicada para apoiar decisões estratégicas no âmbito da segurança pública com o intuito de

mitigar a violência através da eliminação dos focos causadores.

Do ponto de vista da caracterização desses locais é possível observar que aqueles como classificados no

nível Seguro são os que apresentam melhores condições diante dos critérios usados nas regras de decisão.

Ou seja, possuem um Índice de Gini baixo, apresentando igualdade entre as pessoas do local e baixo

número para o critério Taxa de homicídios. É relevante salientar que o critério Taxa de homicídios é

originando por diferentes causas, porém não é o objetivo do estudo buscar estas causas. E sim usar essa

informação como algo extra na aplicação feita no trabalho.

Figura 1: Recomendação final para a aplicação na cidade do Recife.

4 Conclusões

O presente trabalho realizou uma aplicação multicritério usando a abordagem DRSA para problemas de

classificação para um problema de segurança pública na cidade do Recife, Brasil. O método utiliza de

informação que não são complexas e difíceis de serem definidas, como pesos de comparações entre

critérios, parâmetros para as constantes de escala e nem limiares de preferência e exige apenas exemplos

de referência em forma de condições “Se,...Então...”.

A proposta trabalhou com a exploração das informações contidas nas ações de referência, permitindo

criar dois redutos com os critérios mais relevantes e que culminaram com o critério Taxa de homicídios

sendo o núcleo da informação, ou seja, aquele essencial para absorção e entendimento do conhecimento.

Então foram definidas diferentes regras de decisão, possibilitando classificar as 62 UDHs da cidade do

Recife em três distintas categorias de segurança.

Essas classificações foram condizentes com as situações reais analisadas neste estudo. Ou seja, a

definição das áreas em Segura, Intermediária e Insegura podem ser definidas com base nos critérios

usados. Para estudos futuros, espera-se obter o uso dos dados referentes ao censo realizado pelo IBGE no

ano de 2010 para poder realizar comparações e verificar possíveis diferenças nas classificações. Além

disso, buscar alternativas usando outros métodos multicritério para desenvolver aplicações na área de

segurança pública.

Referências

1. R. Apel. Sanctions, perceptions, and crime: implications of criminal deterrence. Journal of Quantitative

Criminology, 29(116): 67-101, 2013.

2. A. F. Araujo Júnior, C. D. Shikida, R. P. Nogueira Junior and F. M. P. Ferreira. Socio-economic determinants

of juvenile crime among street and teenagers in a Brazilian state. Economics Bulletin, 32(3): 2076-2084, 2012.

3. W. B. Batella and A. M. A. Diniz. Análise espacial dos condicionantes da criminalidade violenta no estado de

Minas Gerais. Sociedade & Natureza, 22(1): 151-163, 2010.

4. C. C. Beato, B. F. A. Silva. and R. Tavares. Crimes e estratégias de policiamento em espaços urbanos. Revista

de Ciências Sociais, 51(3): 687-717, 2008.

5. G. S. Becker. Crime and Punishment: an Economic Approach. Journal of Political Economy, 76(2): 169-217,

1968.

6. J. Brush. Does income inequality lead to more crimes? A comparison of cross-sectional and time-series analysis

of United States counties. Economic Letters, 96(2): 264-268, 2007.

7. M. Craglia., R. Haining and P. Signoretta. Modelling high-intensity crime areas in English cities. Urban

Studies, 38(11): 1921-1941, 2001.

8. K. M. Curtin, K. Hayslett-Mccall, F. Qiu. Determining optimal police patrol areas with maximal covering and

backup covering location models. Networks and Spatial Economics, 10(1): 125-145, 2010.

9. H. Entorf and H. Spengler. Socioeconomic and demographic factors of crime in Germany: Evidence from panel

data the German states. International Review of Law and Economics, 20(1): 75-106, 2000.

10. P. Fajnzylber, D. Lederman and N. Loayza. What causes violent crime? European Economic Review, 46(7):

1323-1357, 2002.

11. C. J. J. Figueiredo, C. M. M. Mota and D. Pereira. Uso da abordagem DRSA para classificação de áreas

favoráveis a roubos na cidade do Recife. Anais do XLV Simpósio Brasileiro de Pesquisa Operacional, pp:1-10.

SOBRAPO, Natal, 2013.

12. Global Study on Homicide. United Nations Office on Drugs and Crime, 2011. Disponível em:

http://www.unodc.org/unodc/en/data-and-analysis/statistics/crime/global-study-on-homicide-2011.html. Acesso

em 30 Jul. 2013.

13. S. Greco, B. Matarazzo and R. Slowinski. Rough approximation of a preference relation by dominance

relations. European Journal of Operational Research, 117(1): 63–83, 1999.

14. S. Greco, B. Matarazzo and R. Slowinski. Rough sets theory for multicriteria decision analysis. European

Journal of Operational Research, 129(1): 1–47, 2001.

15. S. Greco, B. Matarazzo and R. Slowinski. Rough sets methodology for sorting problems in presence of multiple

attributes and criteria. European Journal of Operational Research, 138(2): 247–259, 2002.

16. A. M. Gurgel and C. M. M. Mota. A multicriteria priorization model to support public safety planning. Pesquisa

Operacional, 33(2): 251-267, 2013.

17. B. Kim, T. C. Pratt and D. Wallace. Adverse neighborhood conditions and sanction risk perceptions: using SEM

to examine direct and indirect effects. Journal of Quantitative Criminology, publicado online, 2013.

18. T. Menezes, R. Silveira-Neto, C. Monteiro and J. L. Ratton. Spatial correlation between homicide rates and

inequality: evidence from urban neighborhoods. Economic Letters, 120(1), 97-99, 2013.

19. F. P. Ramão and Y. M. Wadi. Espaço urbano e criminalidade violenta: análise da distribuição espacial dos

homicídios no município de Cascavel/PR. Revista de Sociologia e Política, 18(35): 207-230, 2010.

20. J. P. Resende and M. V. Andrade. Crime social, castigo social: desigualdade de renda e taxas de criminalidade

nos grandes municípios brasileiros. Estudos Econômicos, 41(1): 173-195, 2011.

21. G. V. Sauret. Estatísticas pela vida: a coleta e análise de informações criminais como instrumentos de

enfrentamento da violência letal. Bagaço Desing, Recife, 2012.

22. L. G. Scorzafave and M. K. Soares. Income inequality and pecuniary crimes. Economics Letters, 104(1): 40-42,

2009.