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3401 ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIALÓGICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: A CONSTRUÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO COM A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL. PARTICIPATORY GOVERNANCE IN 1988 CONTITUTION: THE PUBLIC INTEREST BUILDING WITH THE CIVIL SOCIETY PARTICIPATION Gabriela Mansur Soares RESUMO Esse artigo objetiva (i) sustentar que a Constituição de 1988 institucionalizou uma nova forma de gestão do interesse público. Por esse novo modelo de gestão, que denominaremos Administração Pública Dialógica, a gestão do interesse público deve se realizar em parceria com a sociedade civil, a partir de seus interesses e visando a concretização do bem comum. Nesse novo sistema a participação da sociedade (por associações civis, por exemplo) é considerada meio para a efetividade de direitos constitucionalmente garantidos, pois reforça a legitimidade das ações estatais que o sistema representativo não é capaz de legitimar, ao mesmo tempo, em que vocaliza o interesse de grupos historicamente marginalizados, que passam a atuar como sujeitos de direitos e deveres no processo de formulação e implementação de políticas públicas. Para tanto, (ii) apresenta o plano de coleta de lixo seletiva realizado pela Prefeitura do Município de Belo Horizonte como um exemplo de gestão publica dialógica efetiva e eficiente. PALAVRAS-CHAVES: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIALÓGICA, ASSOCIATIVISMO, POLÍTICAS PÚBLICAS. ABSTRACT This essay analyses the existence of a concrete dialogic system in the Public Administration process. The society has a great role in this process, through social organizations, as form of inclusion of groups historically kept out of it on account of their implementation of public policies. This involvement happens due to the historical study of the State-Society communication as an effective way for rights and guarantees. Considering the selective garbage collection processed by the Municipal city hall of Belo Horizonte, we search for a temporarily answer to the following problem: Is this project likely to represent an efficient and effective Dialogic Public Administration model? Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIALÓGICA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988: A CONSTRUÇÃO DO INTERESSE PÚBLICO COM A PARTICIPAÇÃO DA

SOCIEDADE CIVIL.

PARTICIPATORY GOVERNANCE IN 1988 CONTITUTION: THE PUBLIC INTEREST BUILDING WITH THE CIVIL SOCIETY PARTICIPATION

Gabriela Mansur Soares

RESUMO

Esse artigo objetiva (i) sustentar que a Constituição de 1988 institucionalizou uma nova forma de gestão do interesse público. Por esse novo modelo de gestão, que denominaremos Administração Pública Dialógica, a gestão do interesse público deve se realizar em parceria com a sociedade civil, a partir de seus interesses e visando a concretização do bem comum. Nesse novo sistema a participação da sociedade (por associações civis, por exemplo) é considerada meio para a efetividade de direitos constitucionalmente garantidos, pois reforça a legitimidade das ações estatais que o sistema representativo não é capaz de legitimar, ao mesmo tempo, em que vocaliza o interesse de grupos historicamente marginalizados, que passam a atuar como sujeitos de direitos e deveres no processo de formulação e implementação de políticas públicas. Para tanto, (ii) apresenta o plano de coleta de lixo seletiva realizado pela Prefeitura do Município de Belo Horizonte como um exemplo de gestão publica dialógica efetiva e eficiente.

PALAVRAS-CHAVES: ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA DIALÓGICA, ASSOCIATIVISMO, POLÍTICAS PÚBLICAS.

ABSTRACT

This essay analyses the existence of a concrete dialogic system in the Public Administration process. The society has a great role in this process, through social organizations, as form of inclusion of groups historically kept out of it on account of their implementation of public policies. This involvement happens due to the historical study of the State-Society communication as an effective way for rights and guarantees. Considering the selective garbage collection processed by the Municipal city hall of Belo Horizonte, we search for a temporarily answer to the following problem: Is this project likely to represent an efficient and effective Dialogic Public Administration model?

Trabalho publicado nos Anais do XVII Congresso Nacional do CONPEDI, realizado em Brasília – DF nos dias 20, 21 e 22 de novembro de 2008.

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KEYWORDS: PARTICIPATORY GOVERNANCE, NON GOVERNMENTAL ASSOCIATION, PUBLIC POLICIES.

1. INTRODUÇÃO

O escopo do presente artigo é demonstrar a responsabilidade dos cidadãos nas melhorias para o bem comum. O estudo dessa participação é feito à luz da teoria do discurso de habermas e da teoria concretista de müller, sendo a primeira utilizada para constatar o canal de comunicação entre a iniciativa privada e o poder público e, a segunda, utilizada para concretizar as normas administrativas.

Por meio de uma análise dos modelos de administração pública, com suas características próprias contextualizadas tanto no cenário nacional quanto internacional busca-se a reflexão sobre as políticas utilizadas e os resultados na sociedade.

Será enfocada com maior profundidade a evolução da Administração Pública nacional, fazendo-se um paralelo com os modelos que influenciaram o paradigma do Brasil. Neste sentido, objetiva-se também examinar algumas teorias que tecem explanações sobre a importância da participação popular na concretização das normas.

Arrimado em uma abordagem ilustrativa o trabalho científico realizado, parte de uma análise indutiva, que nasce da parceria entre a prefeitura de Belo Horizonte - Minas Gerais e a associação civil dos catadores de lixo que criaram uma instituição destinada à coleta seletiva do lixo, denominada asmare.

O projeto intenta a conscientização e a valorização de ações populares que fortificam as leis e o sistema da Administração Pública.

2. O CONTEXTO HISTÓRICO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

2.1. SURGIMENTO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

Segundo José dos Santos Carvalho Filho (2008), o Direito Administrativo enquanto sistema jurídico compõe-se de normas e princípios no paradigma do Estado de Direito[1] .

O aludido autor afirma que esse fenômeno advém de movimentos de cunho constitucionalista que remontam ao século XVIII, com a criação de órgãos específicos do Estado para exercer a Administração Pública. Desenvolveu-se, a partir daí, um modelo normativo disciplinador que conferia ao Estado o controle das relações internas no âmbito do Poder Público, assim como da relação entre este e os administrados.

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Ressalta-se que antes do desencadeamento dessa fase, vigorava o período que tinha como marco o governo monárquico, cujos poderes concentravam-se em demasia nas mãos da realeza. Nessa época, prevaleciam vetustos brocardos como “the king can do no wrong” que enalteciam a figura do rei, e que disseminavam a idéia de ser tal indivíduo o chefe supremo do Estado. [2]

No século XIX, embasado no pensamento clássico de Montesquieu, o mundo conhece uma nova proposta de organização estatal pautada no princípio da separação dos Poderes. Com efeito, o Estado passa a atuar de maneira desconcentrada repartindo seu poder político que concentrava-se totalmente no monarca, o que acabou viabilizando a reunião do administrador e do administrado no controle público. Isso fez com que o Estado tivesse a possibilidade de instituir normas próprias cujo destino fosse à execução desse controle, que se originou pela mudança da organização estatal. [3]

2.2 . A EVOLUÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

O Direito Administrativo evoluiu como um todo depois de superar algumas experiências distintas vivenciadas por países como a França, a Alemanha, a Itália, os Estados Unidos e também a Inglaterra, teve seu surgimento na França, onde foi criada a jurisdição administrativa (contencioso administrativo) paralelamente à comum. Por meio da elaboração dos órgãos de jurisdição administrativa, especialmente o órgão supremo dentro desse segmento jurisdicional, o Conselho de Estado, que se desenvolveram os princípios informativos do Direito Administrativo, posteriormente incorporados aos ordenamentos jurídicos de outros países. [4]

O Conselho de Estado contribuiu para a construção de princípios que vigoram até a contemporaneidade, tais como: o da responsabilidade civil da Administração Pública; o da alteração unilateral dos contratos administrativos; aqueles que dizem respeito ao regime jurídico especial de bens do domínio público; o da teoria da nulidade dos atos administrativos; enfim. [5]

Em que pese a grande importância do Direito Administrativo francês para a formação desse ramo do Direito em outros países como o Brasil, do Direito Administrativo alemão foram absorvidos conceitos essenciais, a saber, o de serviço público, o da teoria dos atos administrativos, o da responsabilidade civil do Estado, o da submissão da Administração Pública ao princípio da legalidade, o da teoria dos contratos administrativos, o da forma de delegação da execução do serviço público pela iniciativa privada, o da concessão do serviço público e, também, a questão da Administração Pública se submeter ao regime jurídico derrogatório. [6]

No mesmo sentido, o Direito Administrativo italiano também contribuiu para a sofisticação da Administração Pública, que disseminou a idéia de mérito administrativo,

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de autarquia, de entidade paraestatal, de interesse público e outros fatos que fizeram com que a Itália tivesse o seu reconhecimento. [7]

É importante destacar que o Direito Administrativo norte-americano influenciou outros países, dentre os quais o Brasil, especialmente no que tange ao aperfeiçoamento do controle jurisdicional sob a Administração Pública, bem como nos mecanismos de tutela de direitos como: mandado de segurança e mandado de injunção. [8]

O Direito Administrativo brasileiro recebeu influência direta dos modelos implantados nesses países, e partir desses padrões de Administração Pública desenvolvidos, foram moldadas as características do modelo nacional com a aplicação de parte da estrutura administrativa francesa, alemã, italiana e americana. Outros países como a Espanha e Portugal forneceram, pelo menos do ponto de vista teórico, idéias para que a Administração Pública brasileira evoluísse.

A Administração Pública no Brasil passou por várias modificações antes de se consolidar no modelo atual. Desde o período colonial a estrutura administrativa brasileira submete-se a modificações, incorporando instrumentos destinados ao seu aperfeiçoamento, mesmo naquela época encontrando-se sob o domínio português. Em momento subseqüente, com o advento do período imperial inicia-se a influência francesa decorrente da instituição do Conselho de Estado. Após essa fase, instaura-se o período republicano que perdura até a promulgação da Constituição da República de 1988, concebendo-se o Direito Administrativo como segmento autônomo. De 1988 em diante, o Direito Administrativo foi alterado substancialmente em termos estruturais devido à sua adequação ao Estado Democrático de Direito, principalmente depois da reforma administrativa. [9]

Maria Sylvia Zanella di Pietro (2002) aponta que a adoção do Estado Democrático de Direito representa a idéia de: “[...] participação do cidadão na gestão e no controle da Administração Pública, no processo político, econômico, social e cultural.” (DI PIETRO, 2002, p. 20) E a autora prossegue ao aduzir que:

[...] essa idéia foi incorporada pela Constituição de 1988, com a previsão de vários instrumentos de participação, dos quais podem ser citados o direito à informação (art. 5º, XXXIII), (DI PIETRO, 2002, p. 20-21)

Maria Sylvia afirma que a reforma administrativa implementada com a emenda à Constituição nº. 19 no ano de 1998, propiciou a privatização de empresas estatais, o restabelecimento do instituto de concessão do serviço público e a ampliação da atividade de fomento a entidades particulares que desempenham atividades de interesse público. Além disso, a reforma favoreceu a desregulamentação para se ter um equilíbrio entre liberdade e autoridade, o enxugamento da máquina administrativa, bem como a redução do quadro de pessoal em diversos órgãos públicos. [10]

Assim, a autora supracitada sintetiza afirmando que:

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Paralelamente, colocando-se como meta a eficiência na prestação dos serviços públicos, busca-se substituir, em alguns setores da Administração Pública, a forma de organização burocrática pela chamada Administração Gerencial. Nesta, as idéias básicas são: a definição de metas a serem cumpridas pelos órgãos públicos e entidades da Administração Indireta; a outorga de maior autonomia administrativa, financeira e gerencial àqueles entes para permitir o (sic) cumprimento das metas; e a substituição dos controles formais, hoje existentes, considerados inadequados porque preocupados apenas com os meios, por um controle de resultados, em que a eficiência dos resultados é mais importante do que os fins. Com isso, surgem alguns institutos novos no direito administrativo, como os contratos de gestão, as organizações sociais, as agências reguladoras, as agências executivas. (DI PIETRO, 2002, p. 21)

3. A LIMPEZA URBANA

3.1. UMA FUNÇÃO DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA

A Administração Pública como determina o tópico anterior surge da concessão do poder do povo aos representantes que deverão dar prioridade aos direitos difusos em todas as suas decisões políticas. Esta concessão é feita principalmente pela Carta Magna que norteia claramente a vontade da Administração. Uma dessas funções é objeto de estudo da presente pesquisa e está disposta a seguir:

A Constituição da República no Título VII - DA ORDEM ECONÔMICA E FINANCEIRA dispõe no seguinte art. 182 do Capítulo II – Da política urbana:

A política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem – estar de seus habitantes. (grifo nosso)

Há também a seguinte previsão no art. 225 do Capítulo VI - DO MEIO AMBIENTE:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá- lo para as presentes e futuras gerações.

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§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

V - controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente;

VI - promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente;

§ 3º - As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados. (grifo nosso)

O texto constitucional incumbe a Administração Pública como a detentora do bem estar social, conseqüentemente a que possui competência no âmbito municipal de legislar sobre saneamento básico e meio ambiente. Destarte, a Lei Orgânica de Belo Horizonte prevê no art. 150 e 151 Capítulo III- Do Saneamento Básico:

Art.150 - Compete ao Poder Público formular e executar a política e os planos plurianuais de saneamento básico, assegurando:

II - a coleta e a disposição dos esgotos sanitários e dos resíduos sólidos e a drenagem das águas pluviais, de forma a preservar o equilíbrio ecológico e prevenir as ações danosas à saúde;(grifo nosso)

Art.151 - O Município manterá sistema de limpeza urbana, coleta, tratamento e destinação final do lixo, observado o seguinte:

I - a coleta de lixo será seletiva;

II - o Poder Público estimulará o acondicionamento seletivo dos resíduos;

III - os resíduos recicláveis serão acondicionados para reintrodução no ciclo do sistema ecológico;

IV - os resíduos não-recicláveis serão acondicionados e terão destino final que minimize o impacto ambiental;

V - o lixo séptico proveniente de hospitais, laboratórios e congêneres será acondicionado e apresentado à coleta em contenedores(sic) especiais, coletado em veículos próprios e específicos e transportado separadamente, tendo destino final em incinerador público;

VI - os terrenos resultantes de aterros sanitários serão destinados a parques ou áreas verdes;

VII - a coleta e a comercialização dos materiais recicláveis serão feitas preferencialmente por meio de cooperativas de trabalho. (grifo nosso)

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É sabido que em nosso país apesar de existir uma legislação que muitas vezes regula perfeitamente o fato social a aplicação nem sempre é feita, seja por falta de interesse do responsável, seja pela falta da estrutura necessária para o cumprimento da ordem.

Esta colocação confirma-se a partir do exposto acima; a Constituição da República e a Lei Orgânica determinam que são funções do Estado preservar o meio ambiente e buscar uma finalidade certa ao lixo produzido nas cidades; todavia, o que observamos, em Belo Horizonte especificamente, é uma enorme quantidade de resíduos descartados no espaço público.

Apesar do árduo esforço dos profissionais da limpeza a cidade ainda apresenta-se consideravelmente suja. Não obstante, a sociedade manifesta um forte estigma associada ao lixo; embora independente da classe social, do grau de instrução ou cultura do indivíduo todos sempre produzem resíduos em maiores ou menores quantidades. A cartilha intitulada Manual do Instrutor (2006), produzido pela CEMPRE, relata que :

O Brasil produz em torno de 140.000 toneladas de lixo domiciliar por dia.Todo lixo recolhido no Brasil dá 7.000 caminhões carregados com 20 toneladas cada um, ou seja, uma fila que ligaria 138 Km. (Manual do Instrutor,2006, p.12) [11]

Não há por parte do Estado uma conscientização eficiente da população como determina a lei. Grande parte do lixo recolhido é remetida a um aterro sem que haja a reciclagem, como expõe a legislação. A destinação do lixo é uma realidade muito problemática não só para Belo Horizonte como para todo o país, para se ter uma idéia da gravidade do problema, segundo o Manual do Instrutor do total de lixo coletado 55% é jogado em áreas alagadas e lixões a céu aberto; 35% são enterrados em aterros adequados e apenas 10% vai para usinas de reciclagem e compostagem. O manuseio inadequado desses resíduos e a destinação errônea podem acarretar diversos problemas como:

· riscos mecânicos; causando ferimentos àqueles que coletam o lixo;

· riscos químicos ligados à existência de substâncias tóxicas que podem ser inalados ou de alguma outra forma absorvidos, causando sérios problemas de saúde à população e diretamente a estes profissionais;

· riscos ambientais, uma vez que alguns materiais como plásticos, vidros e sucata de ferro não degradam e o peso pode causar graves efeitos sob o lençol freático como contaminações e desvios de cursos fatores que modificariam consideravelmente o ecossistema além da disseminação de gases que contribuem para a depleção da camada de ozônio.

· riscos à saúde pública, o acúmulo de lixo acarreta na proliferação de ratos e insetos vetores de várias doenças, deixando a saúde pública cada vez mais vulnerável.

Outro problema nítido a ser observado de descumprimento da norma que afeta o Brasil é a desigualdade social. O Estado não é capaz de fornecer moradia, estudo, saúde, enfim

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condições de uma vida digna a todos os cidadãos, apesar dessa incumbência também estar prevista na Constituição.

O coorporativismo surge[12] com a precípua função de amenizar a realidade presenciada por indivíduos que não possuem amparo estatal, e, portanto, são incapazes de viver dignamente. O surgimento desse movimento aconteceu na Inglaterra em Rochdale em 1844, para enfrentar o agravamento do estado de extrema miséria, 28 tecelões buscaram alternativas de trabalho e sobrevivência. Em 1885 a cooperativa já apresentava 1400 sócios. Em 81 já existiam 1000 cooperativas de consumo e 550 mil cooperados. A idéia se espalhou pelo mundo e a primeira cooperativa fundada no Brasil foi em 1847 no Paraná, denominada Colônia Tereza Cristina. Hoje em dia 60% da produção agropecuária vêm das cooperativas.

O mesmo ocorreu com os moradores de rua e catadores de lixo, em Belo Horizonte que fatigados pelo cenário de exclusão em que viviam, cujo único meio de sobrevivência era a coleta de lixo, resolveram se associar para serem reconhecidos como uma categoria. Esta seria a única de solucionar seus problemas. A ASMARE - Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável de Belo Horizonte é uma associação organizada por estes cidadãos marginalizados que até o presente momento tem bom êxito.

A cartilha elaborada por essa organização esclarece a história do nascimento dessa associação:

Até o final na década de 80 os catadores de BH trabalhavam para os donos de grandes depósitos que monopolizavam a comercialização com as indústrias. Com o apoio da Pastoral de Rua da Arquidiocese de Belo Horizonte e as Cáritas Brasileira foi criada a ASMARE.

A partir de 1989, a prefeitura de Belo Horizonte desenvolve as primeiras iniciativas de Coleta Seletiva, embora de maneira tímida e desconsiderando a realidade dos catadores. No final de 1992, após muitas lutas com o poder público, a ASMARE consegue inaugurar seu primeiro galpão de triagem de recicláveis, localizado na Av. do Contorno, 10.555, no Barro Preto.

Em dezembro do mesmo ano, é assinado um convênio de cooperação entre prefeitura, a ASMARE e a Mitra Arquidiocesana, que viabilizou a manutenção do referido galpão.

Em 1993, a Prefeitura de Belo Horizonte reconhece, oficialmente, a importância do trabalho do catador na manutenção da limpeza pública e na economia gerada pela coleta, transporte e destinação final do material recolhido por esse setor informal.

Com a implantação do Programa de Manejo Diferenciado dos Resíduos Sólidos de Belo Horizonte, criou-se, pela primeira vez, na história de Minas Gerais, o Projeto de Coleta Seletiva dos Recicláveis em parceria com os catadores.

A Coleta Seletiva em Belo Horizonte passou a ter como objetivos a redução, reutilização e separação do material para reciclagem, com geração de trabalho e renda para os catadores e uma mudança de comportamento da sociedade em relação ao desperdício. (Cartilha-ASMARE,2004, p. 04)[13]

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Estas redes solidárias são construídas em um contexto de muitos embates, principalmente com o poder público, mas o resultado desse processo de organização é sem dúvida altamente benéfica a vários ramos da sociedade.

Percebe-se que a criação desse grupo gerou emprego de qualidade a milhares de brasileiros ociosos e muitas vezes marginalizados. A reciclagem do lixo gera renda a partir de um produto que não possuía a menor valor de mercado. O que antes não era aproveitável hoje gera dinheiro que é investido na própria sociedade.

Felizmente os cidadãos parecem se conscientizar da importância da criação dessas associações e cooperativas na concretização do Estado Democrático de Direito. As associações nascem da organização de um grupo que possui um objetivo comum; para que sejam eficientes é necessária uma organização administrativa, como a criação e uma Assembléia, Grupos de Base, Comissão Central, Comissão Executiva e Conselho Fiscal.

A iniciativa de se juntarem torna esses cidadãos mais poderosos frente ao Estado. O agrupamento em busca de um objetivo comum implica em debates e, muitas vezes, essas trocas de idéias versam sobre o sistema de governo em que vivemos e as normas, pelas quais, a sociedade é regida. O debate e a contestação são fundamentais para a verificação da validade e concretização de uma norma. É sobre a importância dessas ações na legitimação da democracia que versam as pontuações seguintes.

4. TEORIAS QUE FUNDAMENTAM A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO POPULAR

4.1. O CIDADÃO E O PROCESSO POLÍTICO

Diversas são as teorias que dispõe sobre o valor da contribuição dos indivíduos para o Estado Democrático de Direito. Cristina Seixas Vilani (2002) é uma estudiosa que analisa esse interesse. A autora faz uma explanação cronológica dos sistemas políticos com o escopo de construir o conceito de cidadania moderna. A explicação se inicia com um conceito de cidadania nascido na Antiguidade que se resume àquele que pertence a uma comunidade cívica, perpassa por uma disposição Moderna que ressalta o processo de criação e ampliação de direitos e adquire, e estribada nesse pensamento, uma dimensão universal. Decorre por uma visão republicana - socialista que define o cidadão como um homem que pensa em liberdade como autodeterminação do povo; que

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possuem um ideal de bem-estar coletivo. Até o conceito de cidadão liberal que luta intensamente pela tutela dos direitos individuais.

Vilani tece que o cidadão moderno advém desse desenvolvimento histórico dos direitos civis aos políticos; dos direitos de primeira a terceira geração também chamado de metaindividuais. É quanto à classificação desses últimos direitos que a autora ressalta a evolução desse conceito, uma vez que o indivíduo passa a se preocupar com a humanidade - apesar de se agrupar em categorias específicas (idosos, estudantes, religiosos etc) – ele percebe a necessidade do engajamento global. A proteção de direitos difusos é fundamental na legitimação do Estado Democrático de Direito; o fortalecimento do sistema jurídico é derivado da execução do pluralismo, da valorização das diferenças, da igualdade de oportunidades e da prática cívica.

Tal conceito ilustra o cidadão analisado neste trabalho, um personagem fundamental na legitimação das normas que busca conciliar interesses privados concorrentes, como o caso da ASMARE e das grandes indústrias produtoras de resíduos, com ideais difusos, no caso, o meio ambiente, por meio da coleta de lixo seletiva; tema de repercussão mundial. As contradições quanto as divergências dos direitos são solucionadas por meio da dialógica das associações.

Fundamentado neste aspecto que o presente artigo questiona o surgimento das associações civis, logo que o nascimento desses grupos está subjugado aos interesses da comunidade. Será que a oportunidade parte do Estado? Se a atitude for governamental qual o método utilizado? Por meio de uma disposição normativa que oferece a liberdade da participação direta da sociedade ou por meio da educação que instiga na comunidade o pensamento coletivo?

Se a ação se origina da comunidade é necessário que esta passe pela pressão de uma realidade precária para se manifestar?

A solução parece repousar em uma via de mão dupla, logo que não haverá efetividade de um grupo organizado pela administração pública se não houver interesse social, como igualmente, não haverá espaço de ação para um grupo empenhado se a governo não assentir. Dessa forma, visualiza-se como um sistema ideal de legitimação do Estado Democrático de Direito o proposto por Habermas neste texto, nomeado de modelo discursivo.

4.2. UM SISTEMA DIALÓGICO

Habermas (2004) aponta um terceiro modelo diferente do republicano e liberal a partir da Teoria Discursiva. Os resultados do processo político advêm das condições do canal de comunicação, este processo democrático cria uma coesão interna entre negociações, discursos de auto - entendimento e discursos sobre justiça. As formas argumentativas extraem o teor normativo e orienta um estabelecimento mútuo, neste modelo é

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reservada uma posição central de formação de opinião e vontade sem estabelecer a constituição jurídica como algo secundário, além de institucionalizar a opinião nos canais que são verdadeiros escoadouros da racionalização. Essa teoria será trabalhada mais detalhadamente em um tópico específico.

Outro autor de grande fundamentação teórica da pesquisa é Alexandre Travessoni Gomes (2007). Travessoni demonstra a precipitação e desconhecimento dos críticos ao fazer essa análise. Segundo ele, ambas as teorias seguem uma linha platônica de que o conhecimento especulativo é criado com um ramo baseado na realidade e outro no espaço sensível, universal. As leis devem ser de tal forma que não se distancie da realidade empírica, mas que também não sejam elaboradas para cada caso em questão de existir um campo de referência, de limite a ser seguido.

Ele questiona se Kant não deveria ser classificado como pós-positivista e não positivista, uma vez que o filósofo propõe uma revolução na ciência do direito quanto o fundamento de validade do direito e a argumentação por princípios e senso de adequação. Esta observação impregna o Direito de flexibilidade e adaptação, contingências diversas do Direito Positivista rígido e sancionador. O pós-positivismo é o momento da ciência do direito que mais se identifica com a proposta do estudo em questão, visto que este movimento ressalta a importância da adaptação da norma ao concreto, sem, contudo relativizar. O pós - positivismo para a maioria dos autores traz a toda a discussão da necessidade da existência de princípios e valores no momento da aplicação e elaboração da norma; elevam os princípios à categoria de normas jurídicas, por essa percepção as normas não se resumem em regras, mas também princípios. O autor salienta que para Kant a validade do direito se firma na liberdade diferente do jusnaturalismo - no qual justo é aquilo que concorda com a ordem natural – e do juspositivismo – onde o fundamento da verdade se limita ao formal. A liberdade para Kant é baseada na autonomia da vontade, esta é fundamento para a ética, base do direito. A legitimidade do direito de adequação que faz de Kant um pós-positivista.

Um assunto diverso, mas tão interessante quanto os demais abordados pela pesquisa é a fortificação do poder municipal. Este tema é discutido pelos organizadores Wilhelm Hofmaeister e José Mário Brasiliense Carneiro (ANO)[14] Os autores fazem um apanhado das funções dos poderes da Federação tomando como exemplo a realidade do ABC paulista. O texto demonstra a importância do poder local da solução de problema regionais específicos e destaca a importância de um poder municipal forte. São analisados diferentes aspectos do ABC devido às intensas mudanças de urbanização, o processo de reestruturação produtiva, de transformações tecnológicas e principalmente o desleixo do Poder Público com essa região. A sociedade juntamente com lideranças políticas se organizou e formou um Modelo de Gestão Regional com a criação de um Consórcio Intermunicipal que estabeleceu fóruns de discussão, grupos de trabalho e agências de desenvolvimento econômico.

A obra salienta a importância da organização social na legitimidade normativa, mas releva a necessidade do apoio tanto da população como do governo no bom desenvolvimento da organização. O autor pontua os sérios problemas que a organização enfrenta por falta de auxílio estatal, como a falta de uma estrutura burocracia técnica consolidada; a dificuldade na captação de recursos, uma vez que trabalham com capital próprio e a complexidade para estabelecer um processo de tomada de decisões eficiente. Conflitos que com a ajuda da Administração Pública seriam facilitados.

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Por fim, percebe-se que a preocupação com envolvimento popular nas decisões políticas e a importância do debate na democratização do sistema é um assunto largamente discutido ao longo dos anos e por diversos autores. O que parece acontecer em nosso país é uma total falta de interesse da população no empenho desses programas, visto que uma vez aplicados têm demonstrado apenas resultados positivos.

A pesquisa enseja a conscientização, pretere-se que iniciado o trabalho de ensino no meio acadêmico o conhecimento possa se expandir ao longo de toda a comunidade.

5. O PÓS – POSITIVISMO COMO CONTRIBUINTE PARA A LEGITIMAÇÃO E CONCRETIZAÇÃO DAS NORMAS

5.1. A CONCEPÇÃO DA NORMA NO POSITIVISMO

O envolvimento da sociedade em discutir o conteúdo normativo das leis que regem o país é de extrema importância para o fortalecimento do Estado Democrático de Direito. Observar se a regra presente no ordenamento é compatível à realidade vivida pode levar a exclusão de um comando ou a necessidade da criação de uma nova regra. Esta renovação e fiscalização feita pela própria sociedade são essenciais para que o ordenamento jurídico seja fiel à direção dos fatos sociais e da tutela dos valores ressaltados por aquela comunidade.

Este aspecto teleológico da norma e de sua adeqüabilidade surge da evolução do positivismo para o pós - positivismo.

O Positivismo nasce sobre o fundamento de que o direito surge da ação e da vontade humana e não na imposição de Deus como atestava o Jusnaturalismo. São estudiosos do movimento Hans Kelsen, Noberto Bobbio e para alguns autores Kant.

Os defensores do positivismo tecem uma explanação de que o direito se resume a um sistema jurídico lógico e fechado controlado pelo aplicador, mas que, no entanto, não está sujeito a interpretação deste. O ordenamento jurídico deve ser separado de direitos subjetivos como a moral e a justiça, pois somente assim o aplicador poderá atuar com neutralidade; como dispõe Norbert Hoerster (2000)

Hans Kelsen (1974) determina o direito enquanto uma Ciência deve construir um conhecimento objetivo; o direito tem que ser sistematizado as normas criadas devem ser compatíveis com as precedentes, ilustrada por ele por meio da pirâmide normativa.

De acordo com ele não se pode enunciar juízos de avaliação sobre o ordenamento jurídico, isto importaria em adotar um critério subjetivo de aplicação da norma. Os

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juízos de avaliação devem observar os enunciados que descrevem o direito positivo, conseqüentemente controlando e dominando o Direito.

Seguindo essa linha de raciocínio Kant tece a teoria do rigorismo moral que ordenava que o homem deveria agir de acordo com uma máxima total podendo, ao mesmo tempo, querer que ela se torne uma máxima universal. Todavia, ressalta Alexandre Travessoni Gomes (2007) que erroneamente Kant é classificado como um positivista, que ele deve ser visto como um revolucionário que já propunha, mesmo que ideologicamente, a análise valorativa na aplicação da norma. Ele não descarta a possibilidade que o indivíduo é influenciado por elementos externos, mas estabelece que a sociedade deve possuir um parâmetro a ser seguido, uma referência, no caso representado pelo ordenamento jurídico. Kant enxerga a existência de princípios, todavia, por limitações da época vivida fixa que tais valores devem ser previstos no ordenamento.

Percebe-se aí o início do nascimento pós-positivista. Konrad Hesse (1991) dispõe de forma mais clara o que era previsto por Kant. Ao examinar e ponderar a tese de Ferdinad Lassalle, sobre o dever da Constituição representar questões políticas, ele destaca que pode haver a ingenuidade de acreditar que a simples formalidade, no caso da Constituição, garante a proteção dos direitos do homem, pois as relações de poder têm que ser aplicadas na realidade. Contudo o afastamento total da formalidade gera insegurança e incerteza, não se pode menosprezar o valor do texto na evolução do Direito.

5.2. O PÓS-POSITIVISMO E A TEORIA CONCRETISTA

Hesse concebe que o texto somente se transforma em realidade com a atuação do intérprete ele não é imutável, portanto não poderá ser estático. A norma é concebida em parte do dispositivo, em parte da realidade. Nesta mesma direção que surge a Teoria Concretista de Friedrich Muller.

Muller (2005) é em sua teoria mais específico que Hesse, logo que tenta fazer uma medição da norma, analisando a própria concepção da norma metódica estruturante e os métodos de interpretação. Muller discursa bastante sobre o combate do teor legal e nexo de sentido da determinação legal. Segundo ele os aspectos sistemáticos e teleológicos têm mais peso no complexo de uma decisão judicial. A prescrição normativa representa o limite das soluções, a interpretação, dessa forma, não poderá contrariar o teor literal ela deverá buscar a identificação de uma vontade, seja a subjetiva do outorgante, seja objetiva da norma.

O caso em questão que determinará o norte da interpretação; deve-se procurar no caso real o elemento normativo que não pode ser eliminado sem que a situação sofra substancial transformação. Por meio de um sistema de valores de ponderação de bens e interesses que será produzida a solução seja por um caminho mais objetivo, seja por um subjetivo. O interprete construirá o restante da norma no momento da aplicação. Assim

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não haverá norma fora do contexto de aplicação, em havendo diferença no plano fático, a interpretação será diferente assim como também a norma, mas tudo isso sem trabalhar com a perspectiva casuística, sem gerar insegurança nas relações jurídicas.

O autor expõe as seguintes passagens:

O conteúdo deverá ser imanente à prescrição: ele consiste - e nessa medida existe um dissenso na teoria tradicional da interpretação- na vontade subjetiva do doador na norma ou na vontade objetiva da norma.

[...] a concretização da norma é a interpretação do texto da norma, que por sua vez não é nada mais do que a reelaboração da vontade da norma ou do seu dador, que se manifesta no texto da norma, na sua história legislativa, no nexo sistemático com outros textos de normas, na história dos textos de correspondentes regulamentações anteriores e no sentido e na finalidade da prescrição a serem extraídos desses indícios. (MULLER,2005,p. 26) [15]

O autor observa ainda que o Tribunal Constitucional Federal muitas vezes faz uso de uma extensão interpretativa incompatíveis inclusive com aquelas propostas por SAVIGNY, ressalta:

a necessidade de um resultado adequado a coisa a possibilidade de uma mudança do significado de uma norma constitucional em virtude de transformações fáticas da esfera social.( MULLER,2005,p. 32 ex BVerfGE 1, p.208/351.)[16]

De acordo com Muller tais nexos expostos são negados pela teoria positivista que enxergam as normas e os institutos como um ato de vontade do Estado que deve ser obedecida independente dos dados históricos e da própria sociedade. No entanto, para a devida solução não se deve desassociar a interpretação do Direito e o desenvolvimento do Direito.

[...] a constituição orienta-se integralmente segundo normas: também a observância da norma, em virtude da qual deixa de ocorrer um conflito constitucional ou um litígio, é concretização da norma. Em cada caso as pertinentes prescrições de direito

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(constitucional) motivam de modo específico o comportamento de titulares de funções e outros destinatários. Também os atingidos [Betroffenen] que participam da vida política e da vida da constituição de uma abrangência praticamente não superestimável, ainda que apareçam menos e costumem ser ignorados metodologicamente: por meio da observância da norma, da obediência a ela, de soluções de meio-termo e arranjo no quadro do que ainda é admissível ou defensável no direito constitucional, e assim por diante. (MULLER,2005,p. 51).[17]

Nota-se assim que concretização normativa também se dá a partir da práxis do direito constitucional ocorre devido a atualização constante das normas jurídicas no Poder Legislativo, na administração e no governo.

[...] a concretização por uma série de razões não pode ser um procedimento meramente cognitivo. A normatividade comprova-se apenas na regulamentação de questões jurídicas concretas. Ela é exigida somente no processo de tais regulamentações e só com isso adquire eficácia.Normas jurídicas não são dependentes do caso, mas referidas a ele, sendo que não constitui problema prioritário se trata de um caso efetivamente pendente ou de um caso fictício.(MULLER,2005,p. 61)[18].

Segundo Muller a interpretação é um dos elementos de concretização da norma que pode ser estrito senso; gramatical; relevando elementos históricos, genéticos, sistemáticos, teleológicos; levando em conta os princípios regidos pela Constituição. Além da interpretação deve ser ressaltada as características no âmbito da norma, e no âmbito do caso, elementos dogmáticos (fontes), de técnica de solução, elementos da teoria (ordem de valores) e elementos de política constitucional. O autor busca em sua obra demonstrar a importância desses elementos e finaliza sua obra colocando uma ordem de hierarquia para todos eles.

Conclui-se, portanto, que a parte mais importante da norma para estes estudiosos é a sua interpretação no contexto em que está inserido. Percebe-se no caso estudado que a comunidade de Belo Horizonte possui canais diretos de comunicação com o Estado que se realizam por meio das associações civis. A legitimação é devida ao debate nessas instituições que privam por uma renovação e evolução contínua do ordenamento e ações da administração publica, quanto, por exemplo, a coleta de lixo seletiva. É um sistema que permanecerá até que as normas atendam a necessidade dos belorizontinos.

6. A TEORIA DO DISCURSO DE HABERMAS E A SUA CONTRIBUIÇÃO PARA A DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

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6.1. BREVES APONTAMENTOS SOBRE A TEORIA DO DISCURSO DE HABERMAS

Habermas (2004) em sua teoria discursiva entende que deve existir em um Estado Democrático de Direito o agir comunicativo, ou seja, o entendimento entre falantes e ouvintes decorrente de um consenso sobre algo em comum no universo que os envolve.

Ressalta Habermas (2004) que o corpo político se constitui de pessoas que se reconhecem mutuamente como portadoras de direito recíprocos, o reconhecimento de todos esses direitos pelos cidadãos fundam-se em leis, estas para serem legítimas têm de garantir o acesso de todos aos mesmos níveis de liberdade, inclusive os de participação e resolução dos problemas sociais por eles enfrentados.

O referido autor (2004) prossegue ao afirmar que a soberania do povo mesmo encontrando-se no anonimato, somente tem espaço no processo democrático, bem como atinge a consolidação jurídica de seus pressupostos comunicacionais, se esta soberania popular tiver por fim precípuo a validação do poder criado através da comunicação.

A teoria do discurso baseia-se em fatores intersubjetivos que aparecem em grau evoluído nos processos em que as pessoas se entendem de forma recíproca, seja no ambiente parlamentar ou na rede de comunicação da opinião pública. Esse cenário comunicacional forma “arenas” [19] em que os indivíduos envolvidos no discurso podem criar opiniões embasadas em critérios parcialmente racionais, além de estimulá-los para a discussão de outros assuntos relevantes para o interesse público, principalmente sobre questões sem regulamentação. As opiniões dos participantes dessa rede discursiva não se contextualizam num plano formal, mas estruturam as decisões institucionalizadas ou as resoluções editadas no âmbito do Poder Legislativo que se originam a partir do poder comunicativo dos envolvidos, fazendo com que as medidas elaboradas tornem-se aplicáveis do ponto de vista administrativo. Dessa forma, Habermas assevera que:

[...] a teoria do discurso conta com a intersubjetividade mais avançada presente em processos de entendimento mútuo que se cumprem, por um lado, na forma institucionalizada de aconselhamentos em corporações parlamentares, bem como, por outro lado, na rede de comunicação formada pela opinião pública de cunho político. Essas comunicações sem sujeito, internas e externas às corporações políticas e programadas para tomar decisões, formam arenas nas quais pode ocorrer a formação mais ou menos racional da opinião e da vontade acerca de temas relevantes para o todo social e sobre matérias carentes de regulamentação. A formação de opinião que se dá de maneira informal desemboca em decisões eletivas institucionalizadas e em resoluções legislativas pelas quais o poder criado por via comunicativa é transformado em poder administrativamente aplicável. (HABERMAS, 2004, p.289)[20]

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Uma comunidade de indivíduos capacitados para agir em um padrão de política pautada na deliberação, não faz com que esta política se concretize por intermédio da teoria do discurso. Isso somente pode ocorrer se houver a institucionalização do procedimento relativo a tal modo de política. Nesse sentido, o autor mencionado aduz que:

A teoria do discurso não torna a efetivação de uma política deliberativa dependente de um conjunto de cidadãos coletivamente capazes de agir, mas sim da institucionalização dos procedimentos que lhe digam respeito. Ela não opera por muito tempo com o conceito de um todo social centrado no Estado e que se imagina em linhas gerais como um sujeito acional orientado por seu objetivo. Tampouco situa o todo em um sistema de normas constitucionais que inconscientemente regram o equilíbrio do poder e de interesses diversos de acordo com o modelo de funcionamento do mercado. Ela se despede de todas as figuras de pensamento que sugiram atribuir a práxis de auto-determinação dos cidadãos a um sujeito social totalizante, ou que sugiram referir o domínio anônimo das leis a sujeitos individuais concorrentes entre si. (HABERMAS, 2004, p. 288)[21]

6.2. TEORIA DO DISCURSO X DEMOCRACIA PARTICIPATIVA

No paradigma do Estado Democrático de Direito, o agir comunicativo em que se inter-relacionam ouvintes e falantes, propicia a construção do consenso entre todos os envolvidos nessa rede comunicacional. E esse consenso emanado através de alguma discussão suscitada dentro do universo onde esses interlocutores estão inseridos, fundamenta-se em um processo de entendimento mútuo.

A democracia participativa, analisada sob o viés da teoria do discurso, assenta-se na garantia de acesso a qualquer indivíduo em pleno gozo de seus direitos políticos de exercer, em todos os graus, a sua liberdade de participar das discussões e resoluções dos problemas atinentes à sociedade em que está inserido. Com efeito, a democracia participativa demanda para a sua efetiva concretude, a ação da soberania popular pelo instrumento dialógico.

A manifestação de diversificadas idéias num ambiente público propício à discussão das questões sociais favorece, inicialmente, a canalização das opiniões para um ponto comum. O consenso entre os debatedores resulta, dessa forma, em soluções racionais plausíveis para os problemas sociais enfrentados.

Há que se destacar, por outro lado, que a democracia participativa também mantém relação com a capacidade de contestação dos cidadãos quanto à tomada de decisão pública. O cidadão precisa, no modelo de participação democrática, interferir nos

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assuntos concernentes à sua sociedade sempre que suas idéias e seus interesses forem contrariados, como também quando for intrínseca sua intervenção direta. Nesse sentido, Philip Petit (2003) pondera sobre a contestabilidade cívica afirmando que:

A idéia de contestabilidade oferece-nos uma chave para a resposta correta à nossa pergunta: o que poderia tornar um indivíduo dentre nós capaz de aprovar uma decisão pública? O que poderia fazer esta decisão não parecer um ato arbitrário de interferência? A resposta, implícita em si mesma, é a seguinte: podemos, mais ou menos efetivamente, contestar a decisão tomada, se a considerarmos contrária a nossos interesses e a nossas idéias relevantes. (PETIT, 2003, p. 371)[22]

Diferentemente de Habermas, Petit (2004) entende que a democracia adquire um caráter tipicamente contestatório, não que inexistisse o aspecto consensual, mas que a forma contestatória é mais adequada a uma democracia que a consensual. Para o autor aludido, em um governo embasado no sistema de governo democrático, o povo atua controlando as decisões governamentais ao exercer o direito de contestar. Assim, Petit afirma que:

[...] pode-se entender a democracia como parte de um modelo primariamente mais contestatório que consensual. Neste modelo, um governo será democrático, ou seja, representará uma forma de mando controlado pelo povo, na medida em que este povo, individual e coletivamente, possa usufruir permanentemente o direito de contestação perante as decisões do governo. (PETIT, 2003, p. 371)[23]

Independentemente do antagonismo teórico envolvendo Habermas e Petit, a democracia seja de forma consensual (fruto do agir comunicativo entre ouvintes e falantes) ou, seja de forma contestatória (resultante da capacidade de contestação dos cidadãos quanto à tomada de decisão pública), deve ser baseada na participação direta do povo.

A democracia participativa representa a salvação e a preservação da soberania popular, conferindo ao cidadão direito permanente de expor suas idéias e ouvir as idéias de outros cidadãos referentes às questões emergenciais que ele também se sujeita, embora assuma esse procedimento a construção de um consenso, conforme elucida a teoria do discurso de Habermas.

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6.3. A TEORIA DO DISCURSO E SUA APLICABILIDADE PRÁTICA

O entendimento recíproco entre as pessoas no espaço público democrático fomenta a deliberação e, possivelmente, a criação de soluções razoáveis em termos racionais que serão colocadas à disposição do interesse público. Na formação dessa solução comum (consenso), o povo exerce de fato sua soberania conforme preceituado no parágrafo único do artigo 1º da Constituição da República Federativa do Brasil: “Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição.” (grifo nosso)

A própria Constituição dá margem a uma interpretação no que tange ao efetivo exercício da soberania popular, precisamente, por meio da participação democrática. Está expresso no texto constitucional que todo o poder emana do povo por ser este o seu detentor legítimo, e isso se justifica no sentido de que a Constituição é oriunda do Poder Constituinte originário, poder esse através do qual o povo reunido numa Assembléia Nacional Constituinte promulgou a Constituição. Portanto, o poder que advém do povo pode ser exercido por representantes eleitos ou diretamente. Todavia, o sistema democrático representativo caótico e obsoleto no Estado Democrático contemporâneo precisa ser substituído pelo sistema democrático participativo para, além de outras coisas, se adequar esse paradigma de Estado à recente reforma administrativa realizada no País que priorizou, dentre outros fatores, uma participação acentuada do particular na discussão, gestão e execução do serviço público.

A consolidação da soberania popular depende da transição do sistema de governo democrático representativo para o participativo, de tal maneira que seja resguardado a liberdade e a legitimidade do povo. Segundo Paulo Bonavides (2004) :

O cidadão, nesse sistema, é, portanto, o povo, a soberania, a nação, o governo; instância que há de romper a seqüência histórica na evolução do regime representativo, promovendo a queda dos modelos anteriores e preparando a passagem a uma democracia direta, de natureza legitimamente soberana e popular. (BONAVIDES, 2004, p. 34-35)[24]

Paulo Bonavides (2004) assevera que na atualidade certifica-se a edificação de uma teoria constitucionalista que visa a desconstituir as bases da democracia engendrada na idéia de representatividade. E essa teoria moderna que estabelece mecanismos para o

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fortalecimento da soberania popular e do sistema democrático é a panacéia contra o vilipêndio dos direitos e garantias fundamentais.

É importante ressaltar que a desconcentração do serviço público ao transferi-lo para a iniciativa privada, bem como a participação da sociedade civil organizada sob a forma de instituições cujo objeto de atuação é de interesse público, legitima a soberania popular além de efetivar a teoria do discurso de Habermas. Concretiza-se essa teoria porque os cidadãos agindo de forma organizada participam diretamente do processo democrático como agentes deliberativos, discutindo e elaborando soluções para as dificuldades que afligem a sociedade.

A teoria do discurso, portanto, contribui para o fortalecimento dos pilares da democracia ao proporcionar o alargamento do canal de comunicação envolvendo Estado e sociedade, uma vez que o agir comunicativo entre falantes e ouvintes facilita a formação de um consenso validado pelo procedimento dialógico. Dessa forma, o ambiente público onde ocorre o surgimento da rede de comunicação garante ampla liberdade de participação e deliberação aos indivíduos acerca da solução das demandas sociais.

7. CONCLUSÃO

A partir da identificação do funcionamento local de um canal de comunicação entre Estado – sociedade, especificamente a ASMARE, a pesquisa demonstrou a possibilidade da criação de uma relação dialógica entre o Poder Público e a iniciativa privada realmente eficaz.

A problematização corroborou que com a participação popular direta nos programas públicos, estes adquirem mais eficácia, são mais fiscalizados e proporcionam mais legitimidade às normas da Administração Pública.

Com isso, foi possível identificar um grau satisfatório de concretização do princípio da eficiência da Administração Pública a partir da análise das políticas públicas de limpeza urbana implementadas pela prefeitura de Belo Horizonte e pela ASMARE, e concluir que as teorias concretista de Müller e do discurso de Habermas contribuem para a efetivação da democracia participativa.

Da mesma forma, constatou-se a importância da proposição de ações ou projetos que visem à difusão do desempenho da Administração Pública. A necessidade da descentralização gestora, repassando-se aos grupos sociais organizados a gestão dos programas sociais, enquanto que à Administração Pública cabe a fiscalização dessas atividades. Essa situação acarreta, certamente, a concretização das funções e das normas que regem o Poder Público.

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Em que pese a abertura para o canal de comunicação público-privado, é necessário que a iniciativa deva partir tanto do Estado quanto da sociedade, havendo uma reciprocidade de interesses entre as partes envolvidas na deliberação das questões sociais. O Estado precisa estimular os cidadãos a se agruparem ou associarem para facilitar a organização da entidade civil, ao passo que os cidadãos cientes do exercício pleno da cidadania, precisam participar das deliberações públicas.

Portanto, uma das soluções apontadas para a edificação de um novo paradigma de Administração Pública eficiente e eficaz, é sem dúvida instituir mecanismos capazes de fortalecer a democracia participativa em que o povo seja o verdadeiro detentor do poder. E isso pode acontecer quando a sociedade civil compartilhar com a Administração Pública o poder decisório por meio dessa rede de comunicação direta e imediata, efetivando a soberania popular.

REFERENCIAS

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[1] CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 19 ed., rev., amp., e atual., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2008, p. 6.

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[2] CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 19 ed., rev., amp., e atual., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2008, p. 6.

[3] CARVALHO FILHO, José dos Santos. Manual de Direito Administrativo. 19 ed., rev., amp., e atual., Rio de Janeiro: Editora Lumen Júris, 2008, p. 6.

[4] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

[5] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

[6] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

[7] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

[8] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

[9] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

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[10] DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. 500 Anos de direito administrativo brasileiro.Revista Diálogo Jurídico, Salvador, CAJ - Centro de Atualização Jurídica, nº. 10,janeiro, 2002. Disponível na Internet: <http://www.direitopublico.com.br>. Acesso em: 20/8/2008.

[11]Compromisso Empresarial Para Reciclagem - CEMPRE. Manual do Instrutor, Cooperar Reciclando Reciclar Cooperando. Belo Horizonte, Minas Gerais, 2006, p. 12.

[12] Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável.Cartilha.Belo Horizonte: Minas Gerais, 2004.

[13]Associação dos Catadores de Papel, Papelão e Material Reaproveitável.Cartilha.Belo Horizonte: Minas Gerais, 2004, p.04)

[14] HOFMAEIDTER, CARNEIRO. Wilhelm e José Mário. Federalismo na Alemanha e o Brasil.Cap 5. Editora Konrad Adenauer Stiftung.Série Debates nº 22.

[15] MÜLLER, Friedrich. Métodos de trabalho do direito constitucional. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.p.26

[16] MÜLLER, Friedrich. Métodos de trabalho do direito constitucional. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.p.32

[17] MÜLLER, Friedrich. Métodos de trabalho do direito constitucional. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.p.51.

[18] MÜLLER, Friedrich. Métodos de trabalho do direito constitucional. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Renovar, 2005.p.61.

[19] O autor supracitado utiliza o termo arena para designar o local onde as pessoas se reúnem para realizarem debates acerca de temas que dizem respeito às políticas sociais.

[20] HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Tradução: George Sperber; Paulo Astor Soethe; Milton Camargo Mota. In: HABERMAS, Jürgen. Três modelos normativos de democracia. São Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 289.

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[21] HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Tradução: George Sperber; Paulo Astor Soethe; Milton Camargo Mota. In: HABERMAS, Jürgen. Três modelos normativos de democracia. São Paulo: Edições Loyola, 2004, p. 288.

[22] PETIT, Philip. Democracia e contestabilidade. In: MERLE, Jean-Christophe; MOREIRA, Luiz (Org.). Direito e legitimidade. São Paulo: Landy editora, 2003, p. 371.

[23] PETIT, Philip. Democracia e contestabilidade. In: MERLE, Jean-Christophe; MOREIRA, Luiz (Org.). Direito e legitimidade. São Paulo: Landy editora, 2003, p. 371.

[24] BONAVIDES, Paulo. Teoria constitucional da democracia participativa: por um Direito Constitucional de luta e resistência, por uma Nova Hermenêutica, por uma repolitização da legitimidade. 2. ed., São Paulo: Malheiros Editores, 2004, p. 34-35.