aplicaÇÃo do mÉtodo dos centros de custos...

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APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS CENTROS DE CUSTOS EM UMA INDÚSTRIA JORNALISTICA ANA CAROLINA LIMA PIMENTEL (ufc ) [email protected] Edna Maria Monteiro de Sousa (ufc ) [email protected] Herus Orsano Machado (ufc ) [email protected] Rogerio Teixeira Masih (ufc ) [email protected] Para que sejam competitivas as organizações precisam conhecer seus processos, como e onde os gastos ocorrem para a produção do serviço, para que se possam eliminar as perdas e se criar estratégicas para um fluxo contínuo de melhoria dos proocessos. Os sistemas de custos são a alternativa para mensuração e análise desses dados.Dentre as opções existentes de métodos de custeamento, um deles é o baseado nos centros de custos, que busca não somente a apuração do valor do produto, mas a demonstração dos custos das áreas de apoio e suporte à produção.Este trabalho, desenvolvido por meio de um estudo de caso, descreve a aplicação do método dos centros de custos na área industrial de uma empresa jornalística do Estado do Ceará, Brasil,bem como a demonstração dos resultados obtidos. O problema que se apresenta para análise é: Como aplicar foi aplicado o método dos centros de custos e quais os ganhos a partir da sua utilização na empresa estudada? Isto se deu, a partir da dificuldade da organização que trabalhava apenas com controles primários dos custos dos seus produtos. Demonstramos as etapas implementadas de acordo com o método escolhido, identificando os itens de custos relevantes para composição do custo unitário, sistematizando a coleta e o rateio dos itens de custos e calculando o custo unitário do produto. Constatou-se que o sistema de custos baseado no método RKW implementado no jornal trouxe melhoria e confiabilidade na apuração dos custos. O resultado trouxe ainda o conhecimento dos custos dos centros de apoio possibilitando o rateio para os de processos e ações gerenciais para otimização dessas atividades. Palavras-chaves: CENTRO DE CUSTOS, ABC, RATEIO, CUSTOS XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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Page 1: APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS CENTROS DE CUSTOS …abepro.org.br/biblioteca/enegep2013_TN_STP_179_021_23241.pdf · 1. Introdução O cenário atual em que as empresas estão envolvidas

APLICAÇÃO DO MÉTODO DOS

CENTROS DE CUSTOS EM UMA

INDÚSTRIA JORNALISTICA

ANA CAROLINA LIMA PIMENTEL (ufc )

[email protected]

Edna Maria Monteiro de Sousa (ufc )

[email protected]

Herus Orsano Machado (ufc )

[email protected]

Rogerio Teixeira Masih (ufc )

[email protected]

Para que sejam competitivas as organizações precisam conhecer seus

processos, como e onde os gastos ocorrem para a produção do serviço,

para que se possam eliminar as perdas e se criar estratégicas para um

fluxo contínuo de melhoria dos proocessos. Os sistemas de custos são a

alternativa para mensuração e análise desses dados.Dentre as opções

existentes de métodos de custeamento, um deles é o baseado nos

centros de custos, que busca não somente a apuração do valor do

produto, mas a demonstração dos custos das áreas de apoio e suporte

à produção.Este trabalho, desenvolvido por meio de um estudo de

caso, descreve a aplicação do método dos centros de custos na área

industrial de uma empresa jornalística do Estado do Ceará, Brasil,bem

como a demonstração dos resultados obtidos. O problema que se

apresenta para análise é: Como aplicar foi aplicado o método dos

centros de custos e quais os ganhos a partir da sua utilização na

empresa estudada? Isto se deu, a partir da dificuldade da organização

que trabalhava apenas com controles primários dos custos dos seus

produtos. Demonstramos as etapas implementadas de acordo com o

método escolhido, identificando os itens de custos relevantes para

composição do custo unitário, sistematizando a coleta e o rateio dos

itens de custos e calculando o custo unitário do produto. Constatou-se

que o sistema de custos baseado no método RKW implementado no

jornal trouxe melhoria e confiabilidade na apuração dos custos. O

resultado trouxe ainda o conhecimento dos custos dos centros de apoio

possibilitando o rateio para os de processos e ações gerenciais para

otimização dessas atividades.

Palavras-chaves: CENTRO DE CUSTOS, ABC, RATEIO, CUSTOS

XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

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1. Introdução

O cenário atual em que as empresas estão envolvidas exige um diferencial e uma

busca contínua de melhoria não só do produto final, mas de todos os processos

envolvidos. O objetivo é ter um consumidor fidelizado ao bem ou serviço por meio

da utilização de processos enxutos e controlados visando uma gestão voltada para

resultados.

Para tanto, é necessário o conhecimento absoluto dos processos organizacionais,

seus recursos e a forma com que estes são utilizados e distribuídos ao longo da

transformação das entradas (materiais e informações) em saídas (produto ou

serviço).

Em um mercado competitivo que dita os preços em função da lei da oferta e da

procura, a gestão de custos surge como ferramenta gerencial importante. Hoje, as

atividades relacionadas a elas se ampliaram e são essenciais para o sucesso

estratégico.

Dentre as opções existentes de métodos de custeamento, um deles é o baseado nos

centros de custos, que busca não somente a apuração do valor do produto, mas a

demonstração dos custos das áreas de apoio e suporte à produção.

Assim, o objetivo geral desse trabalho é a análise de uma modelo gerencial de um

sistema de custos baseado no método dos centros de custos para a indústria gráfica

de uma empresa jornalística.

2. Referencial teórico

Para que sejam mais flexíveis e competitivas as organizações precisam conhecer

seus processos, como e onde os gastos ocorrem para a produção do bem ou serviço,

para que se possam eliminar as perdas e se criar estratégicas para um fluxo

contínuo de melhoria dos processos. Os sistemas de custos são a alternativa para

mensuração e análise desses dados.

a) Gestão de custos e sua importância

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A preocupação com a área de gestão de custos não é nova e ao longo da história é

possível perceber isso principalmente com o advento da Revolução Industrial no

século XVIII que ergue um marco nas relações mercantilistas.

O escopo inicial do estudo dos custos industriais estava relacionado à determinação

do custo dos produtos para avaliação de estoques e precificação dos mesmos

(PADOVEZE, 2006).

Segundo Padoveze (2006) a contabilidade de custos é uma das partes da

contabilidade que mais evoluiu.

O cenário econômico competitivo criou a necessidade de sistemas e modelos de

custos e a contabilidade de custos transforma-se, então, em gestão de custos para

atender com informações um nicho específico de clientes internos das organizações.

Hansen e Mowen (2003, p.28) mencionam que “a gestão de custos identifica,

coleta, mensura, classifica e relatam informações que são úteis aos gestores para o

custeio (determinar quanto algo custa), planejamento, controle e tomadas de

decisão.”

Bornia (2002, p.52) explica que o sistema de custos faz parte de um sistema mais

amplo: o de gestão. No entendimento do autor, um sistema de custos deve levar em

conta as necessidades da empresa no tocante à qualidade de informação a serem

geradas para supri-la e como esses dados serão processados para atender à demanda

da organização.

Os custos devem ser classificados quanto a sua relevância na tomada de decisões.

Ou seja, quais os que são alteráveis dependendo da decisão tomada e há aqueles que

não se alteram, independem da natureza da decisão. Para Bornia (2003, p.44) “os

custos realmente importantes para o subsidio à tomada de decisão são os relevantes;

os outros não precisam ser considerados.”

Para isso, é necessário definir o que são custos. Segundo o dicionário Aurélio de

Língua Portuguesa (1975), custo é “a quantia pela qual se adquiriu algo; valor em

dinheiro.”

Para Padoveze (2006, p. 4) custos poderiam ser definidos de forma genérica c omo

“a mensuração econômica dos recursos (produtos, serviços e direitos) adquiridos

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para a obtenção e a venda dos produtos e serviços da empresa. [...] Custo é o valor

pago por alguma coisa.” De acordo com o autor, os gastos dependidos por uma

organização estão relacionados, de forma direta ou não, com o que será produzido e

comercializado.

A globalização elevou a competitividade entre as organizações a um nível altíssimo

tornando a gestão de custos uma ferramenta poderosa.

Nesse ambiente de grande concorrência, em que variações no custo afetam

diretamente a rentabilidade do negócio é imprescindível identificá -los e gerenciá-

los antes que se tornem um problema. Para isso é necessário estabelecer um sistema

de custos.

Há vários modelos de sistemas de custos que devem ser escolhidos de acordo com

as características e necessidades de cada organização. Pode-se citar os métodos de

custeio baseados no custo padrão, centro de custos, Unidade de Esforço de

Produção (UEP) e Custeio Baseado Atividade (ABC).

Apesar dos vários sistemas que podem ser utilizados, este artigo vai se basear no

custeio baseado no método do Centro de Custos e sua aplicação na área industrial

de uma empresa jornalística.

b) Centro de custos

Um dos grandes e primeiros modelos de sistema de custo é o de centro de custos

surgido no início do século XX na Alemanha. O método consiste em estratificar as

diversas áreas da organização em departamentos ou seções onde os custos diretos

possam lhe ser atribuído. Os custos indiretos da empresa são, posterio rmente,

distribuídos aos centros de forma proporcional, através de um critério de rateio.

Nesse modelo, se trabalha somente os custos de transformação.

Esse método também é conhecido com Reichskuratorium fur Wirttshaftlichkeit

(RKW) ou método das seções homogêneas é um dos mais utilizados no Brasil.

O método tem como base a divisão da empresa em centro de custos. Para Mattos o

método ppermite que cada centro de custa repasse, através do rateio, seu custo total

a todos os outros centros de custos que tenham prestado serviço e que o sucedam

em um plano hierarquizado.

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Para Martins (1996 apud PADOVEZE, 2006, p.149) “[...] RKW consiste no rateio

não só dos custos de produção, como também de todas as despesas da empresa,

inclusive financeiras, a todos os produ tos”.

Segundo Bornia os custos são alocados aos centros , através de suas bases de rateio

para depois, serem transferidos aos produtos por unidades de trabalho.

Conforme a função que desempenham, os centros de custos classificam-se em

produtivos, auxiliares, de vendas e comuns. Os produtivos são os que contribuem

diretamente com a produção; os auxiliares têm como função básica a execução de

serviços, não atuando diretamente sobre o produto; os de vendas referem -se aos

setores encarregados exclusivamente da realização das vendas dos produtos

terminados; e os comuns não estão diretamente relacionados à produção e sua

função é fornecer serviços para outros centros (KLIEMANN NETO, 1987).

O emprego do método do centro de custos requer num primeiro momento, que a

empresa seja dividida em centros de custos, e calculada o custo total para cada

centro. Após, os custos são alocados dos centros produtivos aos produtos. Para

chegar a este estágio, os custos dos centros auxiliares são antes distribuídos aos

centros produtivos através de bases de rateio e, em seguida, os custos acumulados

nos centros de custos produtivos são alocados aos produtos.

Conforme Martins e Barrella são os centros de custos que utilizam os recursos

produtivos e os produtos absorvem os recursos à medida que utilizam esses centros.

Backes et al. (2007, p. 25) “a primeira fase consiste em separar custos em itens [...]

não podendo ser tratados de uma maneira única (já que possuem naturezas

diferentes), através de rateio simples.” O segundo passo é dividir a empresa em

centro de custos. Pode se adotar vários critérios, um dos mais comuns é o

organograma da organização. A terceira etapa é “identificar os custos com os

respectivos centros, utilizando-se de bases ou critérios de distribuição para alocar

os custos aos centros.” A quarta etapa é denominada distribuição secundária. Nessa

fase ocorre a distribuição dos custos dos centros de apoio para os de produção.

Para Bornia (2002) a última etapa é a distribuição final, isto é, dos centros de

custos para os produtos.

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Há várias vantagens na aplicação desse método Vartanian (2000 apud BACKES et

al. 2007, p. 26) coloca que outro ponto forte do método RWK “está no fato de que a

informação de custos gera uma visão de longo prazo, pois os custos e despesas

fixas necessitam ser absorvidas a longo prazo.”

Para Martins e Barrella (2001) outra vantagem é que por ser usado para alocação

dos custos indiretos ao produto, gerando um custo padrão, e que acaba se tornando

uma ferramenta eficiente para o controle dos custos d iretos.

O método do centro de custos possibilita, ainda, uma melhor distribuição dos custos

indiretos para cada tipo de produto e um melhor controle.

No Ceará aplicamos o método dos centros de custos na indústria jornalística de um

jornal de grande circulação visando melhorias organizacionais e controle e

mensuração dos custos nos processos de pré-impressão e impressão de periódicos.

Devido à alta complexidade, e custo envolvido, no método ABC se optou pelo

método dos centros de custos que atendeu os objetivos, e por ser de mais fácil

assimilação auxiliou na consolidação de uma cultura de custos na organização. A

sua fácil aplicação favoreceu a análise dos resultados.

3. Metodologia da pesquisa

A metodologia utilizada para o desenvolvimento da presente pesquisa pode ser

classificada em relação a: natureza, forma de abordagem do problema, objetivos, e

procedimentos técnicos.

Em relação à natureza esta pesquisa pode ser classificada como aplicada, pois

objetiva gerar conhecimentos para aplicação prática e dirigid os à solução de

problemas específicos. Neste caso, a aplicação está voltada para a mensuração dos

custos de uma edição de jornal.

Quanto à forma de abordagem do problema existe a combinação de elementos

qualitativos e quantitativos. Esta combinação embasa-se no fato da maior parte das

informações utilizadas são numéricas, mas recebera tratamento qualitativo e não

simplesmente quantitativo durante o estudo de caso.

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Em termos de objetivos tem-se uma pesquisa descritiva, pois busca-se descrever as

principais características e a relação entre as variáveis utilizadas na gestão de

custos em uma empresas jornalística.

Por fim, quanto aos procedimentos técnicos, destaca-se que foi desenvolvida uma

pesquisa bibliográfica sobre gestão de custos, como foco no método dos centros de

custos, seguida de um estudo o de caso em uma empresa jornalística do Ceará.

Durante o estudo de caso foi realizada ainda uma pesquisa documental nos registros

contábeis e financeiros da empresa em estudo.

Este trabalho, desenvolvido por meio de um estudo de caso, descreve a aplicação do

método dos centros de custos na área industrial de uma empresa jornalística do

Estado do Ceará, bem como a demonstração dos resultados obtidos.

Com base no que foi exposto acima, o problema que se apresenta pa ra análise é:

Como foi aplicado o método dos centros de custos e quais os ganhos a partir da sua

implementação na empresa estudada? Isto se deu, observando a dificuldade da

organização que trabalha apenas com controles primários e empíricos de apuração

dos custos dos seus produtos e serviços.

Especificamente o estudo pretende demonstrar as etapas que foram implementadas

de acordo com o método escolhido, identificando os itens de custos relevantes para

composição do custo unitário do produto, sistematizando a coleta e o rateio dos

principais itens de custos, calculando o custo unitário do produto.

4. Estudo de caso

O estudo de caso se deu em uma empresa jornalística, no Estado do Ceará, fundada

na década de 80. A empresa faz parte de um sistema de comunicações pertencente a

um grande grupo econômico.

Na época da pesquisa, a organização não trabalhava com nenhum tipo de sistema de

custos, apenas com controles primários dos mesmos, e vinha sentindo a necessidade

de conhecer intensamente como e onde ocorrem seus gastos. O objetivo primordial

era a apuração dos custos de produção e dos diversos centros de custo e dos

produtos. O foco era que as informações e números encontrados fossem utilizados

na análise gerencial sem uma preocupação contábil.

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Existia uma grande deficiência nessa área da empresa a ser estudada, pois não havia

um plano de custos, e todo o controle era feito de forma empírica pela área de

produção. Quando havia um projeto especial, isto é, um caderno comercial fechado

para determinado cliente, existia uma grande dificuldade na formação do custo do

projeto que a área de produção tem que informar para o comercial. Somente eram

levados em conta os gastos com papel e tinta, ficando os demais insumos críticos e

mão de obra sendo mensurados por um percentual estimado sobre o valor

encontrado.

Para esse estudo são considerados como produto todos os cadernos impressos com

conteúdo editorial, que circularam no período de tempo estabelecido para esse

estudo que foi o mês de agosto de 2009. O produto jornal é formado por seus

cadernos diários e suplementos semanais que serão vistos separadamente.

O primeiro passo foi identificar e determinar os centros dos processos ligados

diretamente a confecção do jornal e os processos de apoio desses setores ligados à

produção.

O modelo aplicado foi dividido em etapas de acordo com as sugeridas por Bornia

(2002).

A principal dificuldade se deu na captação dos dados já que não existiam sistemas

de informações, principalmente para os centros produtivos, exceto impressão que

era a única área que havia alguma mensuração de valores.

Foram feitas adaptações dentro dos sistemas existentes para que se pudesse chegar

ao volume real de produção de cada centro baseado nos critérios definidos.

a) Etapas da aplicação

Segundo Bornia (2002), os procedimentos de implementação e operação podem ser

separados em cinco fases:

- Separação dos custos em itens: Nessa fase foram identificados todos os itens de custos

necessários e relevantes na composição do produto.

- Divisão da empresa em centro de custos: Foram criados os centros de custos dos processos

industriais, classificando-os em centros produtivos ou de apoio.

- Identificação dos custos com os centros: nesta etapa se construiu uma matriz de co-relação

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entre os centros de custos e os itens de custos determinados na primeira fase.

- Redistribuir os custos dos centros indiretos até os diretos (distribuição secundária): Os

custos dos centros auxiliares foram distribuídos para os produtivos através dos critérios de

rateios pré-definidos.

- Distribuição dos custos dos centros diretos aos produtos (distribuição final): os custos dos

centros produtivos foram então distribuídos aos produtos seguindo as bases de rateio

definidas pela gerência de produção e depois somados para se ter o custo final do produto.

3.1.1 Aplicação

a) Identificação dos itens de custos e suas bases de rateio:

Nesse momento se identificou os principais itens de custo e foram definido as bases

de rateio. Energia elétrica foi um item de custo, por exemplo, rateado de acordo

com a potência instalada, mão de obra direta da impressão ficou relacionado com o

número de páginas de cada caderno.

b) Criação e Classificação dos Centros de Custos:

Nessa etapa foram identificados os centros de custos da área industrial Após a

identificação dos itens de custos, se trabalhou no mapeamento dos processos,

definindo os centros de custos a qual cada um pertencia e os classificando em

centro produtivo, que são os ligados diretamente aos processos de pré -impressão e

impressão do jornal, e centros de apoio que correspondem aos setores que auxiliam

os demais centros.

Centros de custos industriais

Tratamento de Imagem Centro Produtivo

Arte Centro Produtivo

Gravação Centro Produtivo

Impressão Centro Produtivo

Diretoria Industrial Centro de Apoio

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Gerência de Produção Centro de Apoio

Almoxarifado Industrial Centro de Apoio

Manutenção Mecânica Centro de Apoio

Manutenção. Elétrica Centro de Apoio

CDI Centro de Apoio

Laboratório Centro de Apoio

Quadro 1 – Centros de custos industriais

Fonte: Elaborado pela autora

c) Identificar dos custos com os centros:

Foi criada uma tabela com a identificação de todos os itens de custos, selecionados pela

empresa como os mais impactantes, e seus respectivos centros de custo, conforme abaixo:

Tabela 1 – Matriz de co-relação dos itens de custos com os centros de custos

Fonte: Elaborado pela autora

Para todos os centros de apoio o custo foi calculado levando em conta os valores gastos com

mão de obra direta, energia e despesas administrativas como definido pela direção da

empresa.

Nos centros de custos de processos, houve um trabalho maior para captar e separar os dados

que entrariam na composição dos custos. A empresa utiliza um sistema próprio para controle

da movimentação financeira dos seus estoques. Foi solicitado à contabilidade o cadastro dos

centros de custos e, ao setor de desenvolvimento a geração de um relatório chamado

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“Requisições por Centro de Custo”. Baseados nele foram calculados os valores despendidos

com material direto e peças de reposição.

d) Redistribuição dos custos dos centros de apoio para os centros produtivos:

Os centros de apoio foram os primeiros a serem calculados para depois serem rateados aos

centros produtivos, seguindo a seguinte ordem: Centro de Documentação e Informação (CDI),

Diretoria Industrial, Gerência de Produção, Almoxarifado Industrial, Laboratório de Controle

de Qualidade (LCQ), Manutenção Mecânica e Manutenção Elétrica.

As bases de rateio para os centros de custos de apoio foram estabelecidas conforme o quadro

abaixo:

Centros de Custos de

Apoio Base de Rateio

Diretoria Industrial Nº de funcionários

Gerência de Produção Nº de funcionários

Almoxarifado Industrial Nº de Requisições

Manutenção Mecânica Nº de Chamados

Manutenção Elétrica Nº de Chamados

CDI Nº de Funcionários

Laboratório Laudos Técnicos

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Quadro 2 – Base de rateio dos centros de custos de apoio.

Fonte: a própria autora

O CDI foi o primeiro centro de apoio a ter seu custo rateado pelos demais por prestar serviços

a todos os outros de acordo com o critério definido (tabela 01). O setor é responsável por toda

documentação da qualidade e pelo controle das normas e procedimentos internos. Depois

rateamos a Diretoria Industrial.

Em seguida, foram distribuídos os custos da Gerência de Produção que fica responsável pela

execução do planejamento estratégico da organização, a criação e avaliação de indicadores de

desempenho e controle do processo, pelo planejamento dos estoques de insumos e peças e

coordenação do processo de produção.

Já o Almoxarifado Industrial que fornece todos os materiais relativos ao processo de produção

e áreas de apoio (exceto para o CDI, Diretoria e Gerência de Produção) através de requisições

de material teve seu critério estabelecido pelo número de requisições solicitadas por setor.

O Laboratório de Controle de Qualidade tem por objetivo garantir o atendimento aos

parâmetros do jornal dos principais insumos que afetam diretamente o processo e o produto

final tudo isso fica registrado na entrada do material através da abertura de um chamado pelo

almoxarifado e após a realização do teste esse chamado é concluído com a emissão de um

laudo técnico.

As manutenções, elétrica e mecânica, garantem o funcionamento dos equipamentos da

impressão e gravação e utiliza o Sistema de Gerenciamento de Requisição para controle das

intervenções realizadas. O sistema registra o número de chamados por cada área solicitante.

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Tabela 2 – Rateio dos centros de custo das áreas de apoio.

Fonte: Elaborado pela autora

e) Realizar o Rateio dos Centros Produtivos para o produto:

Assim como para os centros de custos de apoio para calcular os custos dos centros produtivos

foram estabelecidos critérios de acordo com a singularidade de cada um.

O tratamento de imagem, responsável pela parametrização de todas as imagens veiculadas no

jornal, o critério se firmou no volume de imagens tratadas. A arte, que cria e finaliza toda a

publicidade a ser veiculada ou prospectada, o rateio foi baseado na ocupação em cm por

caderno. A gravação na quantidade de chapas gravadas por caderno e a impressão no número

de páginas impressas.

O jornal é composto pelos cadernos de cada editoria, alguns diários (como os cadernos: A, B,

C, D,... Z) e outros que são suplementos semanais.

Com essa distribuição dos custos dos centros auxiliares para os produtivos e desses para o

produto (cadernos) se chegou ao preço médio da página diária e dos suplementos semanais.

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Posteriormente foi calculado o custo diário dos jornais, que circularam no mês de agosto,

através do número de páginas dos cadernos diários e semanais de cada edição, deixando claro

para direção o impacto de todos os centros de custos na composição do custo total do produto,

conforme quadro abaixo.

Quadro 3 – Mapa de Controle de Custo por Edição.

Fonte: a própria autora

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Constatou-se, com a análise do estudo de caso, que o sistema de custos baseado no método

RKW implementado na área industrial do jornal trouxe uma melhoria e uma maior

confiabilidade na apuração dos custos em relação a situação anterior.

Antes do modelo muitos dos itens de custos identificados, como de alto impacto na

composição dos custos do jornal, não eram levados em consideração. Distorcendo por

completo o custo real dos produtos.

A base de rateio estabelecida de acordo com a particularidade de cada centro de custo

proporcionou uma distribuição mais equitativa dos gastos envolvidos.

Foi criada uma sistemática para coleta, tabulação e controle dos dados que são específicos a

cada centro de custo estabelecido através do aperfeiçoamento dos sistemas informatizados de

produção existentes e do desenvolvimento de um sistema para consolidação dos custos por

caderno.

A aplicação do método do centro de custos na área industrial da empresa estudada possibilitou

o cálculo do custo unitário por caderno e edição do mês de agosto.

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XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos

Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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O resultado da pesquisa trouxe ainda para a organização o conhecimento dos custos dos

centros de apoio possibilitando o rateio para os centros de processos e ações gerenciais para

otimização dessas atividades. Por conta dos critérios adotados ficou explicito a forma como

cada produto consumia os recursos disponíveis em cada centro de custo de processo.

Devido a ser um método de aplicação mais simples facilitou permear o início de uma cultura

de custos na empresa. Mais que isso, unificou a linguagem e os parâmetros utilizados para

orçamentos dos produtos comerciais do jornal. Promoveu uma maior integração da área

industrial com a controladoria.

Foram desenvolvidos sistemas para dar apoio à captação dos dados que favorecem uma

análise gerencial mais aguçada e uma tomada de decisão mais eficiente sobre o uso dos

recursos disponíveis na organização.

Houve também um ganho no envolvimento das pessoas. Cada equipe procura assegurar a

excelência do seu processo ciente do custo dos retrabalhos e das perdas.

A maior vantagem da organização, entretanto, foi a oportunidade ímpar de crescer o domínio

sobre seus processos e produtos, recursos e perdas.

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Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.

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PADOVEZE, Clóvis Luís. Curso básico gerencial de custos . 2ª. ed. rev. e ampl.

São Paulo: Pioneira Thomson Learning, 2006.