aplicaÇÃo do instrumento da auditoria ambiental

11
 VI - 064 20 o  Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2778 20 o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL  APL ICAÇÃO DO INST RUMENT O DA AUDITORIA AMBIENT AL EM SISTEMAS DE ESGOT AMENTO SANITÁ RIO Débora Cynamon Kligerman (1) Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Especialização em Engenharia Sanitária pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ. Doutoranda em Planejamento Energético e Ambiental pela COPPE/UFRJ. Pesquisadora Adjunto III do Departamento de Saneamento da Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Osvaldo Cruz. Heliana Villela Engenheira Civil / UFMT Especialização em Engenharia Sanitária e Ambiental / UERJ. Mestre em Planejamento Ambiental e Energético PPE / COPPE. Pesquisadora LIMA / PPE / COPPE-UFRJ. Analista Ambiental da Fundação Estadual de Meio Ambiente-FEEMA, desde 1976. Atualmente Coordenadora Técnica dos Projetos Ambientais Complementares, no âmbito do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara. Martha Macedo de Lima Barata Economista e Matemática. Mestre em Planejamento Energético e Ambiental pelo PPE / COPPE / UFRJ. Doutoranda em Planejamento Energético e Ambiental pela COPPE / UFRJ. Pesquisadora do LIMA / COPPE / UFRJ. Endereço (1) : Praia de Botafogo, 96 - apto 2901- Flamengo - Rio de Janeiro - RJ - CEP: 22250 - 040 - Brasil - Tel: (021) 553-6277 - e-mail: [email protected] RESUMO Definida como sendo uma investigação documentada, independente e sistemática, de fatos, procedimentos, documentos e registros relacionados com o meio ambiente, a Auditoria Ambiental, pode ser um eficiente instrumento quando utilizado na gestão ambiental de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Sua aplicação nesta poderá  proporcionar benefícios como: avaliação, controle e redução do impacto ambiental da atividade; prevenção de acidentes ambientais; redução de problemas com órgãos ambientais; provisão de informações à alta administração evitando-lhe surpresas; minimização de resíduos gerados e recursos utilizados; assessoramento à alocação de recursos destinado ao controle ambiental, segundo disponibilidades e prioridades. Este trabalho adapta para uma ETE a metodologia de Auditoria Ambiental desenvolvida  pelo grupo de pesquisa em Auditoria Ambiental do Laboratório Interdisciplinar de Meio Ambiente - LIMA/COPPE/UFRJ. PALAVRAS-CHAVE: Auditoria Ambiental, Tratamento de Esgotos, Desempenho Ambiental, Impacto Ambiental, Análise de Risco.

Upload: gustavo-graciano

Post on 14-Jul-2015

74 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 1/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2778

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

APLICAÇÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL EMSISTEMAS DE ESGOTAMENTO SANITÁRIO

Débora Cynamon Kligerman(1)

Engenheira Civil pela Escola de Engenharia da Universidade do Estado

do Rio de Janeiro. Especialização em Engenharia Sanitária pelaUniversidade do Estado do Rio de Janeiro. Mestre em PlanejamentoUrbano e Regional pelo IPPUR/UFRJ. Doutoranda em PlanejamentoEnergético e Ambiental pela COPPE/UFRJ. Pesquisadora Adjunto IIIdo Departamento de Saneamento da Escola Nacional de Saúde Públicada Fundação Osvaldo Cruz.Heliana VillelaEngenheira Civil / UFMT Especialização em Engenharia Sanitária eAmbiental / UERJ. Mestre em Planejamento Ambiental e Energético PPE / COPPE.Pesquisadora LIMA / PPE / COPPE-UFRJ. Analista Ambiental da Fundação Estadual deMeio Ambiente-FEEMA, desde 1976. Atualmente Coordenadora Técnica dos Projetos

Ambientais Complementares, no âmbito do Programa de Despoluição da Baía deGuanabara.Martha Macedo de Lima BarataEconomista e Matemática. Mestre em Planejamento Energético e Ambiental pelo PPE / COPPE / UFRJ. Doutoranda em Planejamento Energético e Ambiental pela COPPE / UFRJ. Pesquisadora do LIMA / COPPE / UFRJ.

Endereço(1): Praia de Botafogo, 96 - apto 2901- Flamengo - Rio de Janeiro - RJ - CEP:22250 - 040 - Brasil - Tel: (021) 553-6277 - e-mail: [email protected]

RESUMODefinida como sendo uma investigação documentada, independente e sistemática, defatos, procedimentos, documentos e registros relacionados com o meio ambiente, aAuditoria Ambiental, pode ser um eficiente instrumento quando utilizado na gestãoambiental de uma Estação de Tratamento de Esgoto (ETE). Sua aplicação nesta poderáproporcionar benefícios como: avaliação, controle e redução do impacto ambiental daatividade; prevenção de acidentes ambientais; redução de problemas com órgãosambientais; provisão de informações à alta administração evitando-lhe surpresas;minimização de resíduos gerados e recursos utilizados; assessoramento à alocação derecursos destinado ao controle ambiental, segundo disponibilidades e prioridades.

Este trabalho adapta para uma ETE a metodologia de Auditoria Ambiental desenvolvidapelo grupo de pesquisa em Auditoria Ambiental do Laboratório Interdisciplinar de MeioAmbiente - LIMA/COPPE/UFRJ.

PALAVRAS-CHAVE: Auditoria Ambiental, Tratamento de Esgotos, DesempenhoAmbiental, Impacto Ambiental, Análise de Risco.

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 2/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2779

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

INTRODUÇÃO

A Auditoria Ambiental (AA) consolida-se como instrumento adequado à gestãoambiental dos empreendimentos enquanto em operação e no momento dodescomissionamento destes. A aplicação eficaz da auditoria ambiental, por equipemultidisciplinar de profissionais capacitados, envolve o uso de metodologia e conjunto detécnicas que possibilita obter um retrato momentâneo do desempenho ambiental da

empresa, possibilitando que, de acordo com o interesse/necessidade por parte da empresa,haja um planejamento eficiente das medidas a serem por ela adotadas.

A AA não é um mero instrumento de identificação de atendimento e não atendimento adeterminados padrões e de potenciais riscos de ocorrência de acidentes, cabe ao auditor,analisar e entender a concepção e o funcionamento da gestão ambiental na empresa,identificando sua capacidade de manter a empresa em condições operacionaisambientalmente seguras. Assim, independentemente do objetivo e do cliente da auditoriaé imprescindível que o auditor entenda como funciona a gestão ambiental da empresa,reuna evidências claras e objetivas das conformidades e não conformidades identificadas,analise-as, avalie-as e apresente por escrito os resultados e conclusões da auditoria ao seu

cliente.

−  Observa-se que as AA aplicadas nas empresas podem ter objetivos distintos, dentre asmais comuns destaca-se auditoria de conformidade legal, de desempenho ambiental,de sistema de gestão ambiental, de certificação, de sítio, de responsabilidade (duedilligence).

−  As Estações de Tratamento de Esgotos-ETEs reúnem e tratam grandes volumes deesgoto, lançando o efluente tratado em um único ponto de um dado corpo receptorpodendo causar impactos indesejados tanto no ponto de lançamento quanto na regiãoà montante, caso o sistema não apresente bom desempenho operacional. É por istoque a gestão de uma ETE deve, nos moldes do que vem ocorrendo no setor industrial,

também, considerar a variável ambiental reduzindo o seu potencial de degradação domeio ambiente. Neste contexto, a AA é um instrumento útil para a gestão ambientaleficaz de uma ETE.

GESTÃO AMBIENTAL NUMA ETE

Podemos pensar que além do ciclo hidrológico há um ciclo típico de uso da água onde asua qualidade é alterada em cada etapa. Inicialmente, água de determinada qualidade éretirada do rio, lago ou lençol subterrâneo. Esta água para ser utilizada para abastecimentodoméstico e industrial deve sofrer tratamento em uma Estação de Tratamento de Água

(ETA) a fim de que tenha os parâmetros necessários e/ou suficientes para estes usos.Após a ETA a água, é, então, distribuída através de redes. Em seguida ao consumo, aágua se transforma em esgoto bruto que deve ser coletado e levado para uma Estação deTratamento de Esgoto (ETE), a fim de remover seus principais poluentes e se tornar

esgoto tratado, podendo ser lançado em algum corpo receptor sem causar “nenhum” 1

impacto. O gerenciamento deste ciclo é muito importante para a manutenção da qualidadeda água desejada em função dos seus diversos usos.

 1É claro que o lançamento de um efluente, por mais tratado que esteja altera os parâmetros do corporeceptor. Isto significa que houve poluição e está degradando aquele meio ambiente.

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 3/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2780

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

As ETEs encaminham seus efluentes para os corpos receptores e é a capacidade receptoradas águas destes corpos associada a sua possível utilização que estabelecem o grau decondicionamento a que deverá ser submetido o esgoto doméstico, de modo que o corporeceptor não sofra as alterações nos parâmetros de qualidade fixados para a região àmontante do lançamento.

As ETEs convencionais, objeto de nosso estudo, reúnem e tratam grandes volumes de

esgoto em um só lugar, caracterizando-se por grandes estações, que lançam o esgototratado em um único ponto do corpo receptor, de modo que se a ETE não estiver combom desempenho ela pode causar impacto indesejado no ponto de lançamento e na regiãoà montante do lançamento.

Ao tratar o esgoto bruto a ETE traz benefícios ambientais, reduzindo um “incomodo” ecom isto pouco se questiona os impactos ambientais negativos decorrentes de seuprocesso produtivo ou de eventuais falhas decorrentes, em geral, de um inadequadosistema de gestão ambiental da mesma. Cada processo produtivo dentro de uma ETE geraimpactos ao meio ambiente de modo positivo e/ou negativo.

Cada ETE é constituída de um emaranhado de processos que ocorrem ao mesmo tempo eque dependem de um leque de variáveis que vão desde os microorganismos, passandopelos operadores, indo aos equipamentos e à administração da ETE.

Daí a importância da realização de uma AA, avaliando o desempenho ambiental da ETE,a partir da análise de seus impactos e potenciais riscos ambientais. Esta subsidiará agestão adequada da ETE mitigando possíveis impactos ambientais dela decorrente eauxiliando na otimização do seu processo produtivo (“transformação da matéria prima(esgoto bruto) em um produto final (esgoto tratado)”). VON SPERLING eCHERNICHARO (1996)

PLANEJANDO E CONDUZINDO A AUDITORIA AMBIENTAL NUMA ETE

As AA variam em função do seu objetivo, escopo e cliente, o que poderia levar ànecessidade do estabelecimento de uma metodologia específica para cada tipo deauditoria. No entanto, não há necessidade pois os procedimentos a serem seguidos em suaaplicação se assemelham, guardando características com as demais auditorias – contábil,operacional, qualidade do processo produtivo, dentre outras.

O quadro a seguir ilustra, em linhas gerais, o processo de uma AA. Este pode sofrerpequenas variações, com algumas etapas sendo mais ou menos detalhadas em decorrência

do seu objetivo, escopo e periodicidade de aplicação, mas a realização das auditorias deveobedecer à seguinte seqüência: planejamento, preparação, atividade no local, elaboração eapresentação do relatório da auditoria. Em alguns casos, estas etapas são complementadaspor um acompanhamento das ações empreendidas em decorrência das evidências de nãoconformidade apresentadas no relatório.

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 4/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2781

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

Quadro 1 — Etapas de uma Auditoria Ambiental

Pré-Auditoria

! Planejamento da Auditoria

⇒  Definição dos Critérios

! Preparação da Auditoria

⇒  Elaboração do plano de auditoria

⇒  identificação do (s) tópico (s) prioritário (s)

⇒  preparação dos protocolos, questionários, “check-lists”

⇒  alocação de recursos (humanos e materiais)

Aplicação da Auditoria no Local

! Apresentação da Auditoria

⇒  reunião de trabalho

⇒  visita de orientação (sempre acompanhada pelo auditado)

⇒  verificação dos controles internos

⇒  entrevistas com responsáveis pela unidade

⇒  visitas complementares (quando coletando evidências)

⇒  revisão do plano de auditoria

!

 Coleta de Evidências⇒  verificação de documentação

⇒  observação e avaliação das práticas

⇒  teste dos sistemas e procedimentos

! Avaliação das Evidências

⇒  sumário das evidências

⇒  registro das evidências de conformidade, de não conformidade e das observações

! Apresentação dos Resultados

Relatório de Auditoria Ambiental

! Preparação e distribuição de minuta do relatório

! Revisão da minuta do relatório

! Elaboração e distribuição do relatório final

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 5/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2782

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

Na fase de planejamento são acordados, entre o auditor líder e o cliente, o objetivo, oescopo e o período da auditoria. São definidos os recursos e a equipe de auditoresnecessários a sua execução. Ë realizada a coleta de informações necessárias aoplanejamento da auditoria, dentre as quais destacam-se: estrutura de gestão legal daatividade; relação da unidade a ser auditada com outras unidades e atividades da empresa;organograma; estrutura de gestão interna — política, sistema de comunicação, culturagerencial, etc.; área de influência ou de esgotamento em que a unidade opera; fluxograma

do processo; dados das emissões ambientais; relação dos produtos utilizados; inventáriodos resíduos; legislações, normas e regulamentos pertinentes; licenças ambientais;relatórios de auditorias ambientais anteriores ou de inspeções. De posse destasinformações a equipe de auditores prepara o material de referência a ser utilizado para aaplicação da AA conhecidos como Lista de Verificação (Check-List ) ou Protocolo.

Da mesma forma que outras auditorias, a aplicação eficaz da AA numa ETE segue asetapas apresentadas no quadro acima.

PROTOCOLO

Considerando-se que é necessário conhecer o Desempenho Ambiental da ETE paraimplementar uma adequada gestão desta, identificando sua conformidade com alegislação, os regulamentos aplicáveis e indicadores de Desempenho Ambiental setoriaisaplicáveis à unidade, escolheu-se no nosso trabalho, definir um Protocolo para aplicaçãode uma AA de Desempenho Ambiental numa ETE.

O protocolo é um guia para ser usado pelo auditor na condução da auditoria que contém acompleta orientação para a identificação das evidências de cumprimento ou nãocumprimento dos critérios (políticas, práticas, procedimentos ou regulamentos legais,organizacionais específicos, normas) estabelecidos para a auditoria.

São incluídas nele todas as exigências específicas (legislação, normas, requisitosaplicáveis) à unidade, que devem ser identificadas e revistas. A sua elaboração somada aespecialização da equipe de auditores determinarão a facilidade na execução da auditoriae a qualidade na obtenção de evidências que retratem o desempenho da empresa emrelação ao meio ambiente.

Para elaboração do Protocolo, instrumento auxiliar à aplicação da AA na ETE, pensou-seem quais são os riscos e os impactos ambientais mais encontrados em uma ETE.Consideramos que os riscos ambientais são devido a probabilidade de ocorrência deimpacto ambiental2 por falha de equipamento (risco tecnológico) ou por falha de

processo. Foram analisados os processos mais encontrados em ETEs convencionaisbrasileiras.

 2 Impacto Ambiental é decorrente das alterações das propriedades químicas, físicas ou biológicas do meioambiente causada por atividade humana que afeta o bem estar da população, as condições sociais eeconômicas, a biota e a qualidade dos recursos ambientais (CONAMA - Resolução 001/86).

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 6/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2783

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

IMPACTOS AMBIENTAIS DEVIDO A ETE

De um modo geral os impactos em uma ETE podem ser classificados em positivos enegativos. Os positivos são os de proteção ambiental resultantes do próprio objetivo dasETEs, qual seja o de remover ou reduzir as substâncias nocivas presentes nos esgotos,material em suspensão e o particulado que assoreiam rios e cursos d’água, aspectossanitários e os de depleção da flora e fauna aquática.

Há uma questão máxima entre os que lidam com esgotos; “água você pode parar ofornecimento, esgoto não dá para parar”. Há necessidade de que as partes ou mesmo otodo de uma ETE tenha que funcionar continuamente ou caso haja interrupção, hánecessidade de “by passar”. Quando em uso os “by pass” funcionam com esgoto bruto,com o agravante da condensação volumétrica (grandes vazões).

Por outro lado, toda ETE tem impactos negativos.

As ETEs tem problema de maus odores, decorrentes de concentração de volumes de águasuja e seu lançamento em pontos singulares, de ruídos, de disposição da areia, do lodo,

dentre outros.

Nos pontos de lançamento dos efluentes forma-se uma concentração de poluentes,embora com tratamento, ela seja reduzida em relação a do esgoto bruto.

Ocorre agressão ambiental decorrente das falhas de qualidade de tratamento ou mesmointerrupções ocasionais. Dentre elas destaca-se: maus odores, mau aspecto, produção demosquitos e parasitas da fauna, modificando pela produção seletiva a fauna local.Podendo também provocar desde riscos físicos de afogamentos a riscos sanitários para oshomens e os animais que alcançam lagoas, tanques de decantação, etc. Há também aquestão dos aerossóis de patogênicos produzidos por agitadores mecânicos e lançados a

distância.

Há também o risco de uso inapropriado do esgoto tratado em culturas.

Processos como lodo ativado quando não tem tratamento terciário, dão lugar a efluentesricos em nutrientes (fosfatos, nitratos) que podem provocar eutroficação nos corposreceptores com graves agressões ambientais a flora e a fauna aquáticas.

A produção das Psycodas em filtros biológicos é fato sério de incomodo e de efeitosambientais ainda não estudados.

A produção de gases combustíveis explosivos nos digestores anaeróbios e tanquessépticos gera riscos ambientais e de poluição atmosférica.

Operadores que lidam com material contaminante, população vizinha quando muitopróxima e visitantes das ETEs, quando na falta de maus odores, não se dão conta dosimpactos da poluição atmosférica próxima, nos processos de aeração principalmente nosmecanizados.

Finalmente, a agressão ambiental do material retido nas grades, caixas de gordura e areiaquando lançados a céu aberto.

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 7/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2784

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

A prevenção ou correção desses impactos decorre do bom gerenciamneto de uma ETE eportanto a fonte destes deve ser motivo de verificação numa AA.

Dividimos as instalações de tratamento de acordo com o grau de eficiência na redução deSólidos em Suspensão e na DBO, como também na redução de bactérias e coliformes em:Tratamento Preliminar, Tratamento Primário e Tratamento Secundário.

No Tratamento Preliminar (grade e caixa de areia) os riscos ambientais mais comuns sãodecorrentes: da falta de remoção dos sólidos grosseiros, da gordura e da areia, bem comodos odores desagradáveis, da proliferação de insetos, do barulho e do despejo do esgoto“in natura” no corpo receptor. Os impactos ambientais decorrentes riscos são: geração deodores desagradáveis, transmissão de doenças, barulho e degradação do corpo receptor,representada pela ausência de oxigênio, mudança de tonalidade3, odor desagradável, baixadiversidade de espécies.

No Tratamento Primário (Decantador Primário, Digestor Anaeróbio e Leito de Secagem)identificamos que os riscos ambientais mais freqüentes são: o lodo do Digestor Anaeróbioser despejado no Leito de Secagem sem estar completamente estabilizado e ainda conter

microorganismos patogênicos; também há a questão da liberação de gases tóxicos e dosodores desagradáveis e do risco de explosão do Biodigestor. Como impactos ambientaisgerados a partir destes riscos poderemos dizer que pode ocorrer a transmissão de doenças,odores desagradáveis, corrosão, chuvas ácidas e caso haja explosão pode vir a ter umsério acidente.

Para o Tratamento Secundário, avaliamos três processos: Lodos Ativados, FiltroBiológico e Lagoa de Estabilização.

Para o processo de Lodos Ativados identificamos como os possíveis riscos ambientais: osaerossóis espalhados e risco de doenças (quando a aeração for mecânica), odores

desagradáveis e barulho dos aeradores. Os impactos ambientais decorrentes destes riscossão: a transmissão de doenças pelos aerossóis, odores desagradáveis e o barulho. Caso aoxigenação seja feita por difusão não há a questão da liberação de aerossóis e nem dobarulho.

Quando for o processo de Filtro Biológico há risco de: geração de moscas (Psycodas) eodores desagradáveis. Os impactos ambientais gerados são: a transmissão de doenças eodores desagradáveis.

Para o processo de Lagoas de Estabilização há risco de: proliferação de insetos e odoresdesagradáveis. Os impactos ambientais gerados são: a transmissão de doenças e odores

desagradáveis.

É interessante notar que tanto os odores desagradáveis como também o barulho podemser considerados como risco ambiental e impacto ambiental. O risco de transmissão dedoenças ocorre caso a ETE esteja localizada em áreas endêmicas.

 3 Com a ausência de oxigênio o corpo receptor facilmente adquire a tonalidade preta e o aspecto e odorfétido.

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 8/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2785

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

Então, resumindo, podemos pensar em um quadro onde relacionamos os riscos e impactosambientais com os processos:

RISCO AMBIENTAL IMPACTO AMBIENTAL PROCESSOS POSSÍVEIS FALHASDespejo de Esgoto InNatura

Degradação do CorpoReceptor

TratamentoPreliminar

Má Operação, Falha deEquipamento (Grade eCx de Areia) e Falha deControle

Odores Desagradáveis Odores Desagradáveis Em Todos osProcessos

Má Operação, Falha noControle, Falha deEquipamento

Proliferação de Insetos Transmissão de Doenças TratamentoPreliminar,TratamentoSecundário(Lagoa deEstabilização,Filtro Biológico)

Má Operação, Falha noControle.

Aerossóis Espalhados Transmissão de Doenças TratamentoSecundário(Lodos Ativados,

Lagoa deEstabilização)

Inerente ao Processo deAeração com Aeradorese Má Operação e

Controle no Caso deLagoas de Estabilização.

Barulho Barulho TratamentoPreliminar,TratamentoSecundário(Lodos Ativadoscom Aeradores eBombas

Inerente aosEquipamentos Utilizados

Gases Tóxicos Corrosão, Chuva Ácida TratamentoPrimário(Biodigestor)

Falha de Equipamento,Operação e Controle

Explosão Acidente com Graves

Conseqüências

Tratamento

Primário(Biodigestor)

Falha de Equipamento,

Operação e Controle

PROTOCOLO PARA UMA ETE CONVENCIONAL

Entendendo que o desempenho ambiental de uma ETE decorre também de sua gestãooptou-se por estabelecer um protocolo que identifique aspectos gerenciais de desempenhodo processo da ETE. O escopo deste protocolo limita-se ao desempenho dos processos dotratamento do esgoto, não sendo auditadas a sub-estação de geração de energia, oslaboratórios de análises, e as áreas de entrada (recebimento de matéria-prima) e saída

(transporte e disposição dos resíduos e do produto) da ETE. As unidades escolhidaslimitam-se a processos/tecnologias existentes em ETEs no Estado do Rio de Janeiro e suaaplicação em qualquer uma dessas unidades requer, apenas, pequena adaptação apósexecutada a etapa de planejamento da auditoria.

I. GESTÃO AMBIENTAL DA ETE

Todas as questões contidas devem ser respondidas com comprovação de registros.1. Atribuição de Responsabilidades

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 9/

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2786

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

Identifique:

•  os responsáveis pela gestão ambiental da unidade, pelo controle de seus efluentes 4,pela segurança do processo produtivo e do produto da unidade;

verifique:•  se estas responsabilidade são compreendidas, aceitas e respeitadas por todos os

envolvidos;

2. Identifique e verifique: Conhecimento e Atendimento a Legislação, Padrões e Normasexigidos

3. Procedimentos Ambientais relativos a processo produtivo da ETEVerifique:•  a existência de registro de resultados de monitoração e análise destes e do produto final

da ETE (esgoto tratado),•  a suficiência destes para indicar atendimento a padrões legais e da empresa;

4. Programas de Treinamento e ComunicaçãoIdentifique e verifique se:•  o planejamento e a aplicação (local, abrangência, periodicidade) dos treinamentos

relativos aos impactos e riscos ambientais da ETE e especificamente de suasatividades;

•  o conhecimento por parte dos empregados, contratados e visistantes das unidades dopotencial de agressão ambiental das suas atividades;

5. Gerenciamento de RiscosIdentifique e verifique se:•  as avaliações dos riscos decorrentes do processo produtivo estão:•  dimensionadas através de estudos específicos;•

  gerenciados por ações neutralizadoras ou minimizadoras;•  plenamente entendidos pelo pessoal envolvido;

6. Planos de EmergênciaIdentifique e verifique se:•  existe plano de emergência para a ETE;•  há adequação destes para minimizar os danos ambientais;•  há adequado conhecimento deste por parte dos possíveis afetados;

7. Programas de Inspeção e ManutençãoIdentifique e verifique:

•  a existência de instruções claras a serem seguidas em caso de indisponibilidade deequipamentos que garantam o padrão de qualidade do produto e dos efluentes;•  o cumprimento dos programas de inspeção e manutenção da ETE.

 4 O termo efluente aqui referido abrange emissões atmosféricas, despejos líquidos, transporte earmazenamento de resíduos sólidos e perigosos.

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 10

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2787

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

II - DESEMPENHO DE PROCESSOS

1. Verifique:•  layout da instalação, incluindo diagramas/projetos das unidades de tratamento,

fluxogramas de processos, tubulações, etc.2. Com as informações obtidas, faça uma checagem mais detalhada das unidades da ETE.3. Tratamento Preliminar (grade e caixa de areia)

Verifique e identifique atendimento aos padrões:•  a rotina de operação das unidades;•  a rotina de remoção de sólidos grosseiros e da areia;•  os procedimentos adotados para limpeza e remoção, bem como sua periodicidade e se

há algum condicionamento/ tratamento do material removido;•  a estocagem dos resíduos gerados ocorre com a periodicidade adequada e qual o local;•  a destinação final dos resíduos;•  rotina de análises dos esgotos afluentes e como ela é realizada;•  caso haja interrupção das bombas, se há registros de qual é o procedimento adotado e

de quais conseqüências geraram. Se neste caso houve by-pass do esgoto afluente àETE, qual é o ponto de lançamento e se há monitoramento (análises) neste ponto;

 4. Tratamento Primário (Decantador Primário, Digestor Anaeróbio e Leito de Secagem)

Verifique e identifique atendimento aos padrões:•  a rotina de operação das unidades;•  a rotina de remoção e descarte dos sólidos flutuantes (decantador), sedimentáveis

(decantador), lodo úmido (digestor anaeróbio) e lodo seco (leito de secagem)•  registros das quantidades removidas, da periodicidade de remoção e das características

do material removido (sólidos flutuantes, sedimentáveis e do lodo)•  a rotina de remoção da gordura (decantador primário), bem como o seu

condicionamento e/ou tratamento e se há estocagem e como ela é realizada e o sua

destinação final;•  procedimentos para prevenir e/ou remediar vazamentos de lodo e de gases;•  procedimentos de emergência caso haja possibilidade de vazamentos de gases e

possibilidade de explosão (Biodigestor);•  rotina de análises para avaliar a digestão e condicionamento do lodo, bem como a

checagem quanto a organismos patogênicos;•  rotina de análises de avaliação da umidade retirada em função do tempo;

5. Tratamento Secundário (Lodos Ativados e Decantador Secundário)Verifique e identifique atendimento aos padrões:

•  a rotina de operação das unidades;

•  o sistema de transferência de oxigênio do tanque de aeração (aerador de superfície, ardifuso, oxigênio puro)

•  registros dos procedimentos adotados para a recirculação de lodo;•  procedimentos para prevenir e/ou remediar vazamentos no tanque e nas tubulações de

entrada e saída;•  caso a aeração seja por aeradores, o controle quanto aos aerossóis espalhados;•  rotina de análises para avaliação do afluente e do efluente do tanque de aeração e do

decantador secundário;•  registros dos procedimentos adotados para remoção do lodo;

5/13/2018 APLICA ÃO DO INSTRUMENTO DA AUDITORIA AMBIENTAL - slidepdf.com

http://slidepdf.com/reader/full/aplicacao-do-instrumento-da-auditoria-ambiental 11

VI - 064

20o Congresso Brasileiro de Engenharia Sanitária e Ambiental 2788

20o CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA SANITÁRIA E AMBIENTAL

6. Tratamento Secundário (Filtro Biológico e Decantador Secundário)Verifique e identififique atendimento aos padrões:

•  a rotina de operação das unidades;•  registros dos procedimentos de controle da mosca Psycoda;•  procedimentos para prevenir e/ou remediar vazamentos no filtro biológico, bem como

nas tubulações de entrada e saída;•  como são feitos os procedimentos de limpeza da unidade;•  rotina de análises para avaliação do afluente e do efluente ao filtro biologico e do

decantador secundário;•  registros dos procedimentos adotados para remoção do lodo;

7. Tratamento Secundário (Lagoa de Estabilização)Verifique e identifique atendimento aos padrões:

•  a rotina de operação da unidade;•  registros dos procedimentos de controle de mosquitos;•  rotina de análises para avaliação do afluente e do efluente da lagoa de estabilização;

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.  JORDÃO, E.P.; PESSOA, C.A,“Tratamento de Esgotos Domésticos”, ABES, Rio de Janeiro, 1995.2.  LAMBERT, H.E., “Systems Safety Analysis And Fault Tree Analysis”, maio de 1973.3.  LA ROVERE, E. L. et all, “Manual de Auditoria Ambiental”, dezembro de 1997.4.  LA ROVERE, E. L. et all, “Manual de Auditoria Ambiental para Estaçòes de Tratamento de Esgotos

Domésticos”, dezembro de 1997.5.  SPERLING,M.V.;”Introdução à Qualidade das Águas e ao Tratamento de Esgotos”, Princípios do

Tratamento Biológico de Águas Residuárias, vol.1,DESA-UFMG, ABES, Belo Horizonte, 1995.6.  SPERLING,M.V.;”Princípios Básicos do Tratamento de Esgotos”,Princípios do Tratamento

Biológico de Águas Residuárias, vol.2, DESA - UFMG, ABES, Belo Horizonte, 1995.