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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA A GESTÃO DA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL JOÃO VICTOR DE MELLO FONTAINHA ALVES 2018

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA A GESTÃO DA

PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

JOÃO VICTOR DE MELLO FONTAINHA ALVES

2018

APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA A GESTÃO DA

PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

JOÃO VICTOR DE MELLO FONTAINHA ALVES

Projeto de Graduação apresentado ao curso

de Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientador: Prof. Jorge dos Santos

RIO DE JANEIRO

Julho de 2018

APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA A GESTÃO DA

PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

João Victor de Mello Fontainha Alves

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A

OBTENÇÃO DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

________________________________________________

Prof. Jorge dos Santos, D.Sc., Orientador

______________________________________________

Profa. Carla de Araújo Mota, M.Sc.

________________________________________________

Profa. Isabeth Mello, M.Sc.

________________________________________________

Prof. Wilson Wanderley da Silva

RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL

SETEMBRO de 2018

Alves, João Victor de Mello Fontainha

Aplicação de ferramentas da qualidade para a gestão da

produtividade na construção civil/ João Victor de Mello

Fontainha Alves – Rio de Janeiro: UFRJ/Escola Politécnica,

2018.

xii, 73 p.:il.; 29,7 cm.

Orientador: Jorge dos Santos

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de

Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p.

1. Introdução 2. Produtividade : Contextualização 3. A

Construção Civil e a Produtividade 4. Metas e Indicaodres de

Produtividade da Construção Civil 5. Ferramentas da

Qualidade Aplicáveis na Gestão da Produtividade 6.

Considerações Finais

I. dos Santos, Jorge; II. Universidade Federal do Rio de

Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Civil. III.

Engenheiro Civil

AGRADECIMENTOS

A Deus, por estar comigo em toda e qualquer hora.

Aos meus pais, André Luiz Fontainha e Roberta Fontainha, pelo apoio

incodicional.

Ao meu orientador Jorge dos Santos, por toda a ajuda didática e de conhecimento

na construção desse trabalho.

A todos os meus amigos e professores da graduação que contribuíram de alguma

maneira com a minha formação acadêmica na UFRJ.

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte dos

requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

APLICAÇÃO DE FERRAMENTAS DA QUALIDADE PARA A GESTÃO DA

PRODUTIVDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

João Victor de Mello Fontainha Alves

Setembro de 2018

Orientador: Jorge dos Santos

A produtividade tem sido um assunto cada vez mais abordado no âmbito do

mercado econômico, devido à grande concorrência encontrada hoje por parte das

empresas. Na construção civil, a produtividade ainda está evoluindo em taxas de

crescimento muito lentas, se comparada a outros setores da economia como o

manufatureiro, devido a ser um setor arcaico e atrasado em relação à tecnologia e mão-

de-obra. Por outro lado, as normas da ABNT ISO 9000 e ISO 9001 propõem algumas

ferramentas da qualidade para o aumento não só da qualidade de um empreendimento,

como de sua produtividade. O objetivo deste trabalho é descobrir quais dessas ferramentas

são usadas na gestão da produtividade nas construções da engenharia civil, descrevendo

seu passo a passo de aplicação, vantagens e desvantagens. Logo, este trabalho busca

apresentar essas ferramentas relacionando-as com a produtividade envolvida para

executar as mesmas no setor da construção civil, através da verificação e análise de

documentos, relatos e registros oficiais, nos quais serão verificados casos de aplicação da

ferramenta em empresas ou organizações ligadas à construção civil e como sua

produtividade foi afetada pelo uso e aplicação de cada uma das ferramentas da qualidade

estudada.

Palavras-chave: gestão, qualidade, produtividade, NBR ISO 9000, NBR ISO 9001

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment

of the requirements for the degree of Engineer.

João Victor de Mello Fontainha Alves

September 2018

Adviser: Jorge dos Santos

Productivity has been a subject increasingly addressed in the scope of the economic

market, due to the great competition found today by the companies. In civil construction,

productivity is still growing at very slow growth rates, compared to other sectors of the

economy as the manufacturing one, because it is an archaic and backward sector in

relation to technology and labor. On the other hand, ABNT ISO 9000 and ISO 9001

standards propose some quality tools to increase not only the quality of an enterprise, but

also its productivity. The purpose of this paper is to find out which of these tools are used

in productivity management in civil engineering constructions, describing their

application step-by-step, advantages and disadvantages. Therefore, this work seeks to

present these tools relating to the productivity involved to execute them in the civil

construction sector, through the verification and analysis of documents, reports and

official records, in which cases will be verified the application of the tool in companies

or organizations related to construction and how their productivity was affected by the

use and application of each of the quality tools studied.

Keywords: management, quality, productivity, NBR ISO 9000, NBR ISO 9001

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

FIGURA 2.1 – EVOLUÇÃO DO PIB ANUAL BRASILEIRO ............................................................... 24

FIGURA 2.2 - VARIAÇÃO ACUMULADA DE PIB, DEMANDA E INVESTIMENTOS........................... 25

FIGURA 3.1 - COMPARATIVO DO NÚMERO DE TRABALHADORES FORMAIS/INFORMAIS NA

CONSTRUÇÃO CIVIL ............................................................................................................ 29

FIGURA 3.2 - TIPOS DE PRODUTIVIDADE E SETORES DA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................ 31

FIGURA 3.3 - DIFERENCIAL DA PRODUTIVIDADE TOTAL EM 2015 .............................................. 37

FIGURA 3.4 - LUCRATIVIDADE (EBITDA) X PRODUTIVIDADE ................................................... 38

FIGURA 3.5 - CUSTO DO PROJETO X ÍNDICE DE PREÇO DO CONSUMIDOR ................................... 40

FIGURA 3.6 - PESQUISA REFERENTE À QUALIFICAÇÃO DA MÃO-DE-OBRA .................................. 41

FIGURA 3.7 – PESQUISA REFERENTE AO INVESTIMENTO EM MÁQUINAS E EQUIPAMENTOS ........ 42

FIGURA 3.8 - PESQUISA DE SATISFAÇÃO DA PRODUTIVIDADE .................................................... 43

FIGURA 3.9 – MARGEM DE LUCRO DOS SETORES DA ECONOMIA ............................................... 44

FIGURA 3.10 – NÍVEIS DE CAPITALIZAÇÃO DE VÁRIAS INDÚSTRIAS ........................................... 46

FIGURA 3.11 – CRESCIMENTO DA PRODUTIVIDADE GLOBAL DOS SETORES ............................... 46

FIGURA 3.12 – PRODUTIVIDADE DO TRABALHO : CONSTRUÇÃO CIVIL X DIVERSOS SETORES .. 47

FIGURA 3.13 – PRODUTIVIDADE TTAL DOS SUBGRUPOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL ..................... 50

FIGURA 3.14 – PRODUTIVIDADE NA PRÁTICA ............................................................................. 54

FIGURA 3.15 – PESQUISA SOBRE DIFICULDADES DE INVESTIMENTOS ......................................... 57

FIGURA 3.16 – GASTOS COM MEGAPROJETOS NA CONSTRUÇÃO MUNDIAL ............................... 59

FIGURA 3.17 – ASSOCIAÇÃO DO TIPO DE CONSTRUÇÃO À PRODUTIVIDADE NOS EUA ............. 60

FIGURA 3.18 – REGULAMENTAÇÕES QUE AFETAM DIRETAMENTE A INDÚSTRIA NOS EUA ....... 62

FIGURA 3.19 – PRODUTIVIDADE DOS SUBGRUPOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL ............................... 65

FIGURA 3.20 – PRODUTIVIDADE DO TRABALHO POR TIPO DE CONSTRUÇÃO RESIDENCIAL ........ 67

FIGURA 3.21 – CRESCIMENTO DE PRODUTIVIDADE X ÍNDICE DE DIGITALIZAÇÃO ..................... 70

FIGURA 4.1 – CÁLCULO DA RUP ................................................................................................. 86

FIGURA 4.2 – GRÁFICO MODELO PARA ANÁLISE DE DADOS ........................................................ 88

FIGURA 4.3 - TAREFAS E SUBTAREFAS DO PROCESSO DE ARMAÇÃO .......................................... 89

FIGURA 4.4 - : RUP GLOBAL (PILAR + VIGA + LAJE) PARA CARPINTEIROS ................................. 90

FIGURA 4.5 - TAREFAS E SUBTAREFAS DO PROCESSO DE ARMAÇÃO .......................................... 92

FIGURA 4.6 - RUP GLOBAL (PILAR + VIGA + LAJE) PARA ARMADORES ...................................... 93

FIGURA 4.7 - RUP GERAL DE CONCRETAGEM PARA SERVENTE E PEDREIRO (PILAR + VIGA +

LAJE) ................................................................................................................................... 96

FIGURA 4.8 - RUP CONCRETAGEM DE PILAR PARA SERVENTE E PEDREIRO ............................... 97

FIGURA 4.9 - RUP CONCRETAGEM DE VIGA E LAJE PARA SERVENTE E PEDREIRO ..................... 97

FIGURA 4.10 – CÁLCULO DO CUM ........................................................................................... 100

FIGURA 4.11 – CUM TEÓRICO EM SERVIÇO DE FÔRMAS .......................................................... 100

FIGURA 4.12 - CÁLCULO DO CUM USANDO O CONCEITO DE CUM TEÓRICO E PERDAS ........... 101

FIGURA 4.13 - INFLUÊNCIA DO PLANO DE ATAQUE NA DEMANDA POR FÔRMAS ....................... 102

FIGURA 5.1 – FOLHA DE VERIFICAÇÃO DE PROCESSOS PRODUTIVOS ....................................... 107

FIGURA 5.2 – FLUXOGRAMA DA CENTRAL DE PROCESSAMENTO DE ARARAQUARA ............... 111

FIGURA 5.3 – HISTOGRAMA DE PRODUTIVIDADE DE BLOCOS DE CONCRETO .......................... 114

FIGURA 5.4 – HISTOGRAMA DE CAUSAS DE ATRASOS EM PRAZOS .......................................... 115

FIGURA 5.5 – DIAGRAMA DE PARETO PARA PROBLEMAS ENCONTRADOS ................................ 120

FIGURA 5.6 – DIAGRAMA DE DISPERSÃO PARA CUSTOS DE EMPRESA ...................................... 123

FIGURA 5.7 – DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO DA EMPRESA INOVA CASAS ............................. 127

FIGURA 5.8 – GRÁFICO DE CONTROLE PARA AMOSTRAS DE PROCESSO ................................... 131

LISTA DE TABELAS

TABELA 3.1 – TABELA DE RESULTADOS PARA PRODUTIVIDADE ................................................. 33

TABELA 3.2 - FAIXAS DE PRODUTIVIDADE (IMPACTOS NA PRÁTICA)......................................... 55

TABELA 4.1 - CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS SOBRE OS INDICADORES EM RELAÇÃO AOS

AMBIENTES DE PRODUÇÃO ................................................................................................. 80

TABELA 4.2 - EXEMPLO DE ESTRUTURA DOS INDICADORES ....................................................... 85

TABELA 4.3 - CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE FÔRMAS NAS OBRAS ESTUDADAS ............... 90

TABELA 4.4 - INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DE FÔRMA POR ELEMENTO ............................. 91

TABELA 4.5 - CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE ARMADURA DOS EMPREENDIMENTOS

ESTUDADOS ......................................................................................................................... 93

TABELA 4.6 - INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DE ARMADURA POR ELEMENTO ..................... 94

TABELA 4.7 - CARACTERÍSTICAS DO PROCESSO DE CONCRETAGEM NOS EMPREENDIMENTOS

ESTUDADOS ......................................................................................................................... 95

TABELA 4.8 - VALORES DE REFERÊNCIA DOS INDICADORES DE PRODUTIVIDADE ...................... 99

TABELA 4.9 - FATORES E COMPOSIÇÕES ADOTADOS ................................................................. 102

TABELA 4.10 - CUMS ADOTADOS POR PARCELA ...................................................................... 103

TABELA 5.1 – CAUSAS DO PROBLEMA PREJUIZOS FINANCEIROS .............................................. 119

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

CBIC - Câmara Brasileira da Indústria da Construção

CEP - Controle Estatístico de Processos

CII - Construction Industry Institute

EBITDA - Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation and Amortization

ENPC – École Nationale de Ponts et Chaussées

EUA – Estados Unidos da América

FGV - Fundação Getúlio Vargas

FUNCEX - Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior

IBRE - Instituto Brasileiro de Economia

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ISO - International Organization for Standardization

MGI – McKinsey Global Institute

NBR – Normas Brasileiras

Paic - Pesquisa Anual da Indústria de Construção

PIB – Produto Interno Bruto

PTF – Produtividade Total dos Fatores

S&P - Standard&Poor’s

SEBRAE - Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas

SGQ – Sistema de Gestão da Qualidade

SINAPI – Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil

SindusCon–SP - Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São

Paulo

TCPO – Tabela de Composições e Preços para Orçamentos

TGA - Teoria Geral da Administração

SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES ....................................................................................................... 8

LISTA DE TABELAS ............................................................................................................... 10

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .............................................................................. 11

SUMÁRIO ................................................................................................................................. 12

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 13

IMPORTÂNCIA DO TEMA ................................................................................................. 13

OBJETIVO ........................................................................................................................ 13

JUSTIFICATIVA ................................................................................................................ 14

METODOLOGIA ............................................................................................................... 15

ESTRUTURAÇÃO DA MONOGRAFIA ................................................................................ 15

2 PRODUTIVIDADE : CONTEXTUALIZAÇÃO........................................................... 17

CONCEITUAÇÃO ............................................................................................................. 17

ASPECTOS HISTÓRICOS DA PRODUTIVIDADE .................................................................. 18

FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE NO CONTEXTO ECONÔMICO BRASILEIRO ... 21

2.3.1 Variações econômicas ........................................................................................... 22

2.3.2 Evolução do produto interno bruto (PIB) brasileiro .............................................. 24

PRODUTIDADE E COMPETITIVIDADE .............................................................................. 26

FERRAMENTAS DA QUALIDADE APLICADAS À GESTÃO DA PRODUTIVIDADE NA

INDÚSTRIA EM GERAL ............................................................................................................. 28

3 A CONSTRUÇÃO CIVIL E A PRODUTIVIDADE ..................................................... 29

EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO SÉCULO XXI .................. 29

3.1.1 O pré-crise econômica 2008/2009 (2003-2009) .................................................... 29

3.1.2 O pós-crise econômica 2008/2009 (2009 - Atualidade) ........................................ 34

COMO A PRODUTIVIDADE É ENCARADA NA CONSTRUÇÃO CIVIL ................................... 36

COMPARATIVOS DE PRODUTIVIDADE ............................................................................. 44

3.3.1 Construção civil e outros setores da Indútria ......................................................... 44

3.3.2 Construção Civil e os subgrupos que a compõe .................................................... 48

FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL .............................. 51

ASPECTOS TÉCNICOS, METODOLÓGICOS E PRÁTICOS ..................................................... 52

DIFICULDADES DE IMPLEMENTAÇÃO ............................................................................. 56

CAUSAS E DESVANTAGENS DA BAIXA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL .......... 58

3.7.1 Causa Raíz número 1 : Aumento das complexidades do projeto e do canteiro ..... 58

3.7.2 Causa Raíz número 2 : A indústria da construção civil é extensivamente

regulamentada e altamente dependente da demanda do setor público ............................... 60

3.7.3 Causa Raíz número 3 : A informalidade e o potencial para corrupção distorcem o

mercado da construção civil ............................................................................................... 63

3.7.4 Causa Raíz número 4 : A construção civil é altamente fragmentada .................... 64

3.7.5 Causa Raíz número 5 : Os processos de design e investimentos são inadequados 66

3.7.6 Causa Raíz número 6: Gerenciamento de projetos e execução básica

insatisfatórias ...................................................................................................................... 68

3.7.7 Causa Raíz número 7 : mão-de-obra desqualificada ............................................. 68

3.7.8 Causa Raiz numero 8 : Pouco investimento em digitalização, inovação e capital 69

MUDANÇAS VISANDO O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL E AS

VANTAGENS ATRELADAS A ESSE AUMENTO ........................................................................... 71

3.8.1 Mudança número 1 : Reformulação das regulamentações e aumento de

transparência ....................................................................................................................... 71

3.8.2 Mudança número 2 : Ligação da estrutura contratual ........................................... 72

3.8.3 Mudança número 3 : Repensar o design e os projetos de engenharia ................... 72

3.8.4 Mudança número 4 : Melhorar a aquisição e gestão da cadeia de abastecimento

(supply-chain) ..................................................................................................................... 73

3.8.5 Mudança número 5 : Melhora dos serviços de campo, no canteiro de obras ........ 73

3.8.6 Mudança número 6 : Inserção de tecnologia digital, novos materiais e automação

avançada ............................................................................................................................. 74

3.8.7 Mudança número 7 : qualificação da mão-de-obra ............................................... 75

4 METAS E INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL ... 77

CONCEITUAÇÕES ............................................................................................................ 77

4.1.1 Metas ..................................................................................................................... 77

4.1.2 Indicadores de Produtividade ................................................................................ 79

ELABORAÇÃO ................................................................................................................. 82

4.2.1 Como elaborar metas nas empresas ....................................................................... 82

4.2.2 Indicadores de Produtividade ................................................................................ 83

INDICADORES DE PRODUTIVIDADE MAIS UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO CIVIL .............. 86

4.3.1 Razão Unitária de Produção (RUP) ....................................................................... 86

4.3.2 Consumo Unitária de Materiais (CUM) .............................................................. 100

5 FERRAMENTAS DA QUALIDADE APLICÁVEIS NA GESTÃO DA

PRODUTIVIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL ................................................................ 104

FOLHA DE VERIFICAÇÃO .............................................................................................. 104

5.1.1 Conceituação ....................................................................................................... 104

5.1.2 Objetivo da ferramenta ........................................................................................ 104

5.1.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 105

5.1.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 106

5.1.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 106

5.1.6 Aplicação prática ................................................................................................. 106

FLUXOGRAMA .............................................................................................................. 108

5.2.1 Conceituação ....................................................................................................... 108

5.2.2 Objetivo da ferramenta ........................................................................................ 108

5.2.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 108

5.2.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 109

5.2.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 109

5.2.6 Aplicação prática ................................................................................................. 110

HISTOGRAMA ............................................................................................................... 112

5.3.1 Conceituação ....................................................................................................... 112

5.3.2 Objetivo da ferramenta ........................................................................................ 112

5.3.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 112

5.3.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 113

5.3.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 113

5.3.6 Aplicação prática ................................................................................................. 114

DIAGRAMA DE PARETO ................................................................................................ 115

5.4.1 Conceituação ....................................................................................................... 115

5.4.2 Objetivo da ferramenta ........................................................................................ 116

5.4.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 117

5.4.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 118

5.4.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 118

5.4.6 Aplicação prática ................................................................................................. 119

DIAGRAMA DE DISPERSÃO ........................................................................................... 120

5.5.1 Conceituação ....................................................................................................... 120

5.5.2 Objetivo da ferramenta ........................................................................................ 121

5.5.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 121

5.5.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 122

5.5.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 122

5.5.6 Aplicação prática ................................................................................................. 123

DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO (DIAGRAMA DE ISHIKAWA) ...................................... 124

5.6.1 Conceituação ....................................................................................................... 124

5.6.2 Objetivo da ferramenta ........................................................................................ 124

5.6.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 125

5.6.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 126

5.6.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 126

5.6.6 Aplicação prática ................................................................................................. 126

GRÁFICO DE CONTROLE ............................................................................................... 127

5.7.1 Conceituação ....................................................................................................... 127

5.7.2 Objetivos da ferramenta ...................................................................................... 129

5.7.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta ........................................................ 129

5.7.4 Vantagens da aplicação ....................................................................................... 130

5.7.5 Desvantagens da aplicação .................................................................................. 130

5.7.6 Aplicação prática ................................................................................................. 130

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 132

7 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................................... 133

13

1 INTRODUÇÃO

IMPORTÂNCIA DO TEMA

A estrutura produtiva internacional tem sofrido cada vez mais mudanças promovidas

pela globalização, aumentando e acirrando assim sua competitividade. Cada vez se torna maior

a preocupação de empresas com a produtividade nas diversas cadeias produtivas. Para garantir

viabilidade e competitividade, estas empresas têm reavaliado suas metas e métodos para

alcançá-las. Por outro lado, os especialistas e formuladores de política econômica têm

dispensado considerável atenção ao estudo da produtividade. Na teoria, a importância relativa

de cada um dos vários componentes que compõe a produtividade é colocada em discussão. Do

ponto de vista da aplicação, a importância de seu estudo se dá devido ao fato da produtividade

ser o principal passo de um processo que pode levar à uma considerável economia de recursos,

sendo importantes para as empresas em ambientes competitivos, os ganhos em eficiência e

produtividade (FARREL, 1957).

Na indústria da construção civil, de acordo com a Sienge Plataform, a produtividade

está relacionada à utilização dos recursos disponíveis em um canteiro de obras. Logo, o aumento

da produtividade em uma obra passa pela elaboração de estratégias que permitam usufruir da

melhor maneira possível do espaço físico da construção e canteiro, das ferramentas de trabalho,

dos insumos necessários, dos processos e equipamentos de transporte, da mão de obra e, ainda,

das técnicas de gestão e gerenciamento de empreendimento.

OBJETIVO

Este trabalho tem como finalidade o estudo da resolução do problema de baixos índices

de crescimento da produtividade no setor da construção civil, através da aplicação das

ferramentas da qualidade mais utilizadas na gestão da produtividade em obras da indústria da

construção civil, descrevendo e analisando estas ferramentas.

14

JUSTIFICATIVA

A justificativa de escolha do tema abordado neste trabalho se dá devido à importância

que o próprio autor atribui ao assunto que será aqui abordado. A gestão da produtividade é um

assunto que muitas empresas dominam nos tempos atuais, principalmente nos países

considerados desenvolvidos tecnologicamente e economicamente. No Brasil, os conceitos

teóricos são disseminados pelas empresas, porém ainda falta muito em relação à aplicação

prática.

A construção civil, no Brasil, ainda se mostra um setor muito arcaico quanto à alguns

fatores que implicam diretamente na produtividade de um empreendimento, como o

treinamento e capacitação da mão de obra e o planejamento e controle de obras.

A motivação do autor surgiu na época em que fazia intercâmbio acadêmico de

graduação, na França, na ENPC, École Nationale de Ponts et Chaussées, escola de engenharia

que apresentou pesquisas e vivências práticas com empresas, sobretudo francesas. No caso do

autor, essas empresas eram relacionadas ao setor de transportes, porém via-se uma forte

preocupação nessas empresas com a gestão do tempo e dos recursos utilizados. Conversando

com amigos que estavam introduzidos em pesquisas em empresas na área de construção civil,

podia-se notar o mesmo zelo.

Foi então que se aflorou a curiosidade do autor em entender como se dá a gestão da

produtividade em empresas de diversos portes ligadas ao setor de construção civil, no Brasil, e

o porquê dessas empresas não alcançarem certos parâmetros mínimos de qualidade, chegando

assim à ideia principal do tema : como as ferramentas da qualidade influenciam na gestão da

produtividade.

A International Organization for Standardization (ISO) propõe uma gama de normas

chamadas normas ISO com o objetivo de padronizar e melhorar a qualidade de serviços e

produtos em geral. No Brasil, essas normas são criadas e gerenciadas pela Associação Brasileira

de Normas Técnicas (ABNT), registrando-as com a sigla de Normas Brasileiras (NBR).

Mais especificamente, as ABNT NBR ISO 9000 e ABNT NBR ISO 9001 são as normas

brasileiras que tratam do Sistema de Gestão da Qualidade (SGQ). Dentro das aplicações do

SGQ, temos as ferramentas da qualidade, técnicas que visam a melhoria de qualidade de

processos, produtos e serviços, ajudando na implementação e operação do SGQ. Porém, são

diversas ferramentas, e em muitos casos não se deve ou não há a necessidade de aplicação

conjunta no mesmo empreendimento. Logo, o autor motivou-se a estudar quais são as

ferramentas da qualidade que especificamente podem influenciar de alguma maneira o aumento

15

da produtividade total no setor da construção civil, justificando a escolha do tema deste

trabalho.

METODOLOGIA

A metodologia utilizada neste trabalho, para que os objetivos propostos sejam

alcançados, foi baseada na divisão do tema da produtividade em três segmentos : cenário geral,

contextualização na construção civil e ferramentas da qualidade utilizadas na gestão da

produtividade.

Foram estudados os conceitos, aspectos históricos, evolução de ambos ao longo do

tempo, desenvolvimento em geral no mercado e no setor da construção civil. Já para as

ferramentas da qualidade, ligadas ao SGQ, foram estabelecidas metas e indicadores através de

levantamento bibliográfico para descobrir quais são as ferramentas mais eficazes e eficientes

na medição e melhoria da produtividade.

Todo esse estudo foi possível através de revisão bibliográfica de livros, artigos,

monografias, dissertações, teses ou qualquer documento online ou físico que faça menção e seja

útil para avaliação do tema.

ESTRUTURAÇÃO DA MONOGRAFIA

Neste primeiro capítulo, buscou-se situar o leitor quanto às noções mais básicas e

primárias do estudo da gestão da produtividade e qualidade, passando pela motivação de

escolha do tema, objetivo do trabalho e metodologia para que este objetivo seja alcançado.

No segundo capítulo, foi estudada a contextualização da produtividade como um todo,

conceituando-a e analisando sua evolução durante a história do mundo moderno em seus

aspectos principais, fatores que influenciaram a produtividade e noções introdutórias das

ferramentas do SGQ que impactam na gestão da produtividade.

No capítulo 3, estudou-se a produtividade, na teoria e prática, no setor da construção

civil, comparando-o com outros setores da indústria em geral, pertencentes à economia global,

em diversos aspectos. Comparou-se também a produtividade dos subgrupos que compõem a

construção civil, explicitando-se as causas principais da baixa produtividade do setor e citando-

se mudanças que podem ser benéficas à produtividade da construção, caso aplicadas.

16

No capítulo 4, foram analisados os conceitos de metas e indicadores de desempenho, e

para os indicadores, estudou-se aqueles que são mais utilizados na gestão da produtividade da

construção civil, visando o aumento de produtividade no setor.

No capítulo 5, foram estudadas as ferramentas da qualidade, antes propostas no capítulo

1, porém agora analisadas a fundo, conceituando-as, mostrando seus objetivos e passo a passo

para aplicação, vantagens, desvantagens e exemplos de aplicação na gestão da produtividade

da construção civil.

Por fim, no último capítulo, o autor descreve as considerações finais acerca dos itens

analisados ao longo deste trabalho, expondo sua opinião sobre o tema abordado e propondo

temas para futuros estudos da relação entre produtividade e ferramentas da qualidade.

17

2 PRODUTIVIDADE : CONTEXTUALIZAÇÃO

CONCEITUAÇÃO

O conceito de produtividade pode ser definido, de maneira genérica, por uma relação

entre bens produzidos (produtos) e os recursos utilizados para sua produção (insumos). Esses

recursos podem ser o tempo, força de trabalho, matéria-prima, levando em consideração a

quantidade final produzida que é o resultado do processo produtivo. Esse resultado é que se

obtém por unidade econômica (empresa, região, país) e os recursos consumidos pela própria

produção (CAPUL e GARNIER, 1996).

Ainda nesta linha, para Drucker (1992), o conceito de produtividade está atrelado ao

rendimento dos recursos para obtenção de um produto. Para o autor, a definição de

produtividade como progresso técnico, econômico e social, no sentido que lhes é atribuído

atualmente, surge apenas na segunda metade do século XX. Já Deming (1990), sintetiza a

definição de produtividade em um estado de uma organização, onde seu aumento resulta em

maior saúde financeira daquela organização, melhor desempenho social e por fim, aumento de

sua competitividade.

É importante não confundir produtividade com produção. Segundo Loturco (2017),

produção é o resultado, produto da atividade, concebida através de melhores índices de

produtividade. O Japan Productivity Center, centro de produtividade do Japão, conceitua

produtividade como a minimização científica da utilização dos recursos para produção de um

produto, sejam eles o tempo, mão-de-obra, equipamentos, processos, entre outros necessários,

reduzindo assim os custos de produção, expandindo o mercado, contratando mais empregados

e gerando maior qualidade de vida para aqueles, aumentando seus salários por exemplo, sempre

visando o interesse comum do capital, do trabalho e dos consumidores.

Assim como diversos setores da economia, a engenharia civil no Brasil também define

o conceito de produtividade. Na linha dos autores previamente citados, segundo a Câmara

Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), produtividade é a eficiência em transformar

recursos em produtos. Sabemos, segundo o órgão, que aumenta-se a produtividade quando se

demanda menos esforço para a obtenção de um resultado.

Ao falar-se de produtividade, acabamos inevitavelmente adicionando ao tema as noções

de eficiência. Eficiência e produtividade são indicadores de sucesso e medidas de desempenho,

possibilitando a avaliação de empresas. Somente com a medição desses dois indicadores e

18

isolando o efeito de cada um daqueles relacionados ao ambiente de produção, pode-se estudar

hipóteses ligadas a fontes de diferenças entre eficiência e produtividade. Ainda, a identificação

destas fontes é imprescindível para a aplicação de políticas públicas e privadas (LOVELL,

1993).

De acordo com Fried; Lovell e Schmidt (1993), quando altas taxas de crescimento da

produtividade são colocadas como a finalidade de uma empresa, torna-se importante a definição

e medição da produtividade segundo à teoria econômica, gerando dados e informações úteis

para a implementação de políticas empresariais. Para esses autores, o desempenho de uma

empresa pode ser avaliado em função do nível de tecnologia desta empresa e o grau de

eficiência em seu uso. O primeiro é uma relação de fronteira entre os insumos e produtos,

enquanto que o segundo incorpora os desperdícios e má alocação de recursos relacionados à

esta fronteira.

Para Tupy e Yamaguchi (1998), a abertura dos mercados e estabilização da economia,

no Brasil, foram essenciais para que os termos eficiência e produtividade fossem introduzidos

de vez entre os assuntos mais importantes e discursos de tecnocratas, políticos e empresários.

Porém, a base deste trabalho se dá apenas no primeiro fator citado, a produtividade.

ASPECTOS HISTÓRICOS DA PRODUTIVIDADE

Atualmente, o conceito de produtividade é disseminado em vários segmentos e setores

da economia, ultrapassando os limites da antiga definição do ‘custo-benefício’. Classifica-se

hoje a produtividade global em duas grandes esferas : a produtividade do trabalho e a

produtividade total dos fatores (PTF), que podem ser medidas, mensuradas; ou seja, têm valor

numérico-quantitativo. Porém, muito antes desses conceitos e classificações, as noções de

produtividade já pairavam sobre pensadores na história humanidade.

As primeiras ideias de produtividade estavam ligadas à contabilização dos custos de

uma organização. Ou seja, a contabilidade, cujo pai é considerado o matemático italiano frei

Luca Paccioli, foi a primeira ciência a estudar os aspectos de produtividade (PADOVEZE,

2006).

No período histórico denominado feudalismo, a riqueza relacionada ao plano individual

advinha da propriedade de terras, que estava concentrada na posse da classe dominante da

nobreza. A nova dinâmica econômica, com a expansão de mercados e ressurgimento das

cidades, transferiu o poder dos nobres para os considerados detentores do dinheiro, antes

19

comerciantes e depois industriais (a chamada burguesia), criando a necessidade de se

quantificar o que era gerado, logo dando início à difusão do método de contabilizar

(HUBERMAN, 1981). A auto-suficiência feudal deu lugar à sociedade de mercado que visa a

produção de excedentes. É através das atividades comerciais pós-feudais que tinham como meta

a expansão da produção, que se pode confirmar uma evolução no conceito de produtividade

(MARCON, 2012).

A produtividade passa a ser ferramenta de estudo em A Riqueza das Nações, do escocês

Adam Smith, livro no qual foi introduzida ao mundo a ciência econômica. Neste livro, Smith

(1776) faz críticas ao antigo sistema mercantilista, que relacionava riqueza com acúmulo de

metais (metalismo). O autor defendeu que a riqueza está associada a capacidade produtiva de

uma nação, e a variação desta capacidade ligada ao uso de recursos para produzi-la seria

justamente a produtividade. Porém, a grande contribuição do autor no livro foi a introdução de

uma nova doutrina para a economia, filosofia e organização do trabalho globais : o liberalismo

econômico.

Alguns fisiocratas franceses, precursores à Smith, já haviam apresentado uma teoria

sobre produtividade, porém associada fortemente à produção agrícola e às noções de

propriedade de terra da era feudal. Smith foi inovador ao apresentar sua teoria da produtividade

atrelada a nova ordem de organização do trabalho, muito mais adequada ao período pelo qual

o mundo passava e se transformava, a Primeira Revolução Industrial (DIAS & RODRIGUES,

2004).

A revolução industrial foi de importância substancial na produtividade, pois modificou

a atividade industrial e organização do trabalho, quando o principal setor do trabalho, na época

ainda artesanal, transformou-se em manufatureiro. Segundo Hugon (1980), Smith mostra que

o princípio que propicia a expansão da produtividade é a organização social do trabalho,

contradizendo estudiosos precursores que acreditavam que a produtividade dependia

unicamente de aspectos tecnológicos, ou seja, do fator produtivo em forma de capital.

Nesta nova sociedade industrial, o acúmulo de riqueza se deu através da atividade

produtiva industrial, logo os interesses se modificaram. Com a disseminação do liberalismo, a

concepção de livre concorrência substitui a de intervenção econômica. A vantagem devia ser

buscada e obtida através da melhor oferta, o que implica a concorrência de preços, seja dos bens

finais ou dos intermediários, o que por seu lado impulsiona a redução de custo, o que implica

uma contínua busca de maior produtividade que na prática significa produzir cada vez mais por

unidade de salário gasto com trabalho humano, confirmando a teoria de Smith de que a

organização do trabalho é o princípio fundamental da expansão da produtividade. É o momento

20

onde a produtividade passa a integrar o processo econômico com um crescente papel

fundamental (MARCON, 2012).

A segunda grande mudança no conceito de produtividade ocorre na chamada Segunda

Revolução Industrial. Montella (2006) explica que o período histórico é caracterizado pela

formação de monopólios e oligopólios comerciais, dando uma nova forma para a economia

global.

Nesta época, a revolução dos meios de produção não se apoiava mais no setor têxtil,

antes pioneiro, e sim na disseminação de novas tecnologias e formas de organização, estimulada

pela industrialização do setor de bens de capital. Nesta fase histórica, o acirramento da

competitividade no mercado fez com que novos métodos fossem necessários. Nesse contexto,

Frederick Winslow Taylor propôs uma nova forma de administração empresarial que busca o

aumento de produtividade (FERREIRA; REIS; PEREIRA, 2002).

Segundo Chianevato (2001), na época decorrente, as empresas começaram a substituir

os métodos empiristas por abordagens técnico-científicas, com o objetivo de reduzir seus

recursos e utilizar de maneira mais eficaz seus recursos, tornando-se assim mais competitivas

no mercado.

Estudando as novas tendências e necessidades do mercado, Taylor, engenheiro norte

americano, criou a Teoria Geral da Administração (TGA) com o objetivo final de ampliar a

produtividade de empresas através da administração em eficiência industrial. Taylor foi

considerado por muitos pensadores da época como o “Pai da Organização Científica do

Trabalho”, contribuindo de forma eficaz para o desenvolvimento industrial do século XX

(GERENCER In TAYLOR, 1995).

Resumidamente, Taylor intensificou o processo de divisão do trabalho em busca do

aumento da produtividade. Sua importância no assunto abordado é tão grande que muitos

autores utilizam o termo taylorismo ao se referirem ao conjunto de ideias de Taylor. O termo

taylorismo pode ser definido como o método de racionalizar a produção, aumentando a

produtividade ao suprimir gestos desnecessários e comportamentos supérfluos no interior do

processo produtivo; aperfeiçoando por fim a divisão social do trabalho (RAGO & MOREIRA,

2003).

Atualmente, a o conceito de produtividade é extremamente disseminada nos universos

econômico e empresarial. A produtividade se tornou uma grandeza de análise mensurável. De

acordo com Messa (2014), a produtividade mede o grau de eficiência com que determinada

economia utiliza seus recursos para produzir bens e serviços de consumo. Diferentes

21

abordagens quanto ao tipo de recurso, e até mesmo a definição do mesmo, dão origem às

distintas medidas de produtividade, classificadas em dois grandes grupos.

A primeira classificação na forma de medida para a produtividade é a mais elementar e

antiga de todas, a produtividade do trabalho, que expressa o produto gerado por cada hora de

trabalho (ou por alguma outra medida do insumo trabalho) na economia ou ou setor econômico

em questão. Dessa forma, trata-se de um indicador apropriado tanto para identificar a evolução

do padrão de subsistência dos trabalhadores, quanto para comparar tais padrões ao longo de

diferentes economias. Todavia, por trás da formulação matemática simples, a produtividade

possui uma grande complexidade : a interpretação de sua dinâmica. Existem vários

determinantes do comportamento desse indicador, o que dificulta a devida identificação das

causas por trás de suas variações ao longo do tempo (MESSA, 2014).

A outra grande classificação é a produtividade total dos fatores (PTF), que tem o

objetivo de indicar a eficiência com que a economia combina a totalidade de seus recursos para

gerar o produto final. A partir dessa conceituação, a dinâmica do indicador seria resultado do

progresso tecnológico da economia. No entanto, de forma exatamente oposta à produtividade

do trabalho, a simplicidade da interpretação da dinâmica da PTF traz consigo a grande

dificuldade do indicador, seu cálculo. De fato, a identificação de todos os recursos da economia,

a mensuração de cada um deles e a determinação da forma com que tais recursos são

combinados com vistas à atividade produtiva estão longe de ser tarefas triviais. Essa construção

faz com que o cálculo da PTF seja bastante sensível a diferentes procedimentos visando à

execução de tais tarefas (MESSA, 2014).

FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE NO CONTEXTO ECONÔMICO

BRASILEIRO

O estudo da produtividade e seu dinamismo passa pela compreensão dos fatores que a

influenciam como um todo. Podemos separar dois grandes fatores (os quais englobam uma série

de outros fatores) que afetam diretamente a produtividade : as variações na economia e o

desenvolvimento do Produto Interno Bruto (PIB) de um país. As variações na economia

englobam déficit ou superávit comercial na balança econômica, momentos de crise financeira,

abertura de mercados, conjuntura internacional, etc. O PIB expressa em forma quantitativa o

valor da economia de um país, ou seja, sua riqueza. Ambos são fatores que impactam a

22

produtividade em sua totalidade e foram estudados no presente item 2.3 através de seus

subitens.

2.3.1 Variações econômicas

O crescimento econômico brasileiro desacelerou no pós-crise, porém fez ressurgir um

debate que estava esquecido, paralisado, ou, no mínimo, relativamente apagado das discussões

sobre a economia brasileira: a produtividade. Tanto seu desempenho quanto sua influência e

comportamento sobre esta desaceleração recente do crescimento econômico do país são temas

cada vez mais presentes (NEGRI e CAVALCANTE, 2014). Porém, para avaliarmos as

mudanças no cenário da produtividade, devemos fazer uma breve recapitulação histórica.

Atualmente, há um consenso de que os anos 90 marcaram uma ruptura na constante

queda da taxa de crescimento de produtividade. Todavia, não se havia chegado à uma resposta

para o seguinte dilema : a causa destas mudanças está relacionada com as alterações estruturais

da economia ou a ajustes cíclicos transitórios da economia ? (JÚNIOR e FERREIRA, 1999).

Os autores da primeira vertente de ideias, afirmam que as características econômicas

gerais da globalização foram os fatores determinantes para a quebra da evolução negativa da

produtividade. Essas características envolvem o processo de abertura comercial, a privatização

de empresas estatais, desregulamentação da economia, adoção do sistema da qualidade e novos

métodos de gestão de processos. Para Feijó e Carvalho (1994), este processo de abertura

comercial do Brasil causou grandes mudanças estruturais nas empresas, criando o “novo

paradigma tecnológico-gerencial”. Os autores afirmam ainda que houve um aumento

substancial de produtividade, mas generalizado, ou seja, os ganhos de produtividade foram

encontrados nos setores com maior participação em competitividade externa e também na

maioria dos setores industriais da economia doméstica. A aquisição de máquinas e

equipamentos importadas, chegando a taxas de 90% em 1995, seria um dos principais fatores

que evidencia a modernização da indústria brasileira.

Em contrapartida, há os autores da segunda vertente. Silva et alii (1993) acreditam que

a recessão do início da década foi a grande causa do aumento da produtividade, não havendo

alterações estruturais tecnológicas generalizadas na economia. Por acreditarem em ajustes

cíclicos e transitórios da economia, os autores afirmam que a volta do crescimento econômico

resultará em diminuição de produtividade. Isso ocorreria porque não houve mudanças

23

tecnológicas no período, pois estas só são possíveis através de investimentos, portanto não

alterando assim a estrutura econômica do país.

Considera (1995) não só concorda com a última visão como vai além. O autor afirma

que em recessões econômicas, empresas com menor produtividade tendem a falir ou fechar, o

que acarreta no aumento natural de produtividade do sistema como um todo. Portanto, para o

autor, na ausência de investimentos e mudanças organizacionais, como no caso de uma

recessão, esta última por si só é suficiente para explicar o crescimento de produtividade dos

setores da economia.

Como é possível se concluir, há grandes disparidades sobre o que realmente ocasionou

o crescimento de produtividade na economia na década de 1990. Esta divergência pode ser

explicada pelo fato desse debate ter se iniciado muito perto da liberalização econômica, portanto

não havia dados ou estatísticas realmente confiáveis, nem exemplos práticos de casos de

sucesso. Além disso, a produtividade não era o foco principal de muitas empresas, nem,

prioritariamente, do governo.

Segundo Negri e Cavalcante (2014), nos anos de 1970 e 1990, o foco do governo estava

no combate e controle da inflação, enquanto que na década de 2000, a prioridade do Estado era

a redução das desigualdades sociais através de políticas públicas. Nesta época, o crescimento

econômico do país baseava-se na expansão da demanda externa, através das commodities, e

interna, devido ao aumento da renda per capita e da incorporação de mais pessoas ao mercado

de trabalho e de consumo. Porém, após a crise de 2008, este processo baseado em políticas

públicas parece ter perdido força e capacidade de, isoladamente, impulsionar o crescimento da

economia. As variáveis demográficas e de mercado e trabalho durante este período foram

importantes ferramentas para a impulsão da economia, todavia mesmo aquelas parecem ter

chegado ao seu limite de potencial, ou próximo dele. Além disso, os níveis de investimento

também não cresceram acima de seu patamar histórico, patamar este que é considerado pela

maioria dos economistas, insuficiente para sustentar o crescimento da economia do Brasil a

longo prazo.

Aliás, em relação ao investimento do empresariado internacional, não só não houve seu

crescimento como também sua diminuição. De acordocom as duas principais agências

internacionais de risco, a Fitch e a Standard&Poor’s (S&P), o Brasil teve recentemente sua

nota de crédito soberano rebaixada pelas mesmas, deixando de ser um país de bom grau de

investimento, o que afasta os interesses empresariais em investir seu capital no território

brasileiro. Este rebaixamento se configura como consequência de um estado de recessão, com

quedas trimestrais seguidas do PIB e em meio a forte crise política e econômica.

24

2.3.2 Evolução do produto interno bruto (PIB) brasileiro

Logo após a recessão dos anos de 1990, o Brasil conseguiu retomar o crescimento de

seu PIB, numa combinação jamais vista antes no país, o crescimento econômico ligado à

redução da pobreza e desigualdade. A história tradicional do país mostra que esta dicotomia

sempre esteve presente, e dificilmente seria superada, até o começo da década de 2000, quando

exatamente esta combinação ocorreu. Nos anos 2000, PIB teve um crescimento significativo a

uma velocidade bastante superior à da década anterior, alcançando os índices de 3,2% em média

ao ano, ao passo que, entre 1990 e 1999, esse crescimento foi de 2,3%. Vale ressaltar o período

entre 2003 e 2008, quando a taxa de crescimento médio foi mais expressiva, chegando a 4,8%

ao ano (NEGRI e CAVALCANTE, 2014).

A figura 2.1 mostra a taxa de crescimento real do PIB, em porcentagem, em cada ano,

entre 2000 e 2018. Nota-se que entre 2003 e 2008, o crescimento médio anual tem valor

elevado. Pode-se aferir também que a queda do crescimento do PIB ocorre a partir de 2010, no

período chamado de pós-crise.

Neumann (2015), escreve para o jornal Valor Econômico, breves justificativas que

explicam a queda do crescimento econômico do país a partir de 2010, refletida nos baixos

Figure 2-1 - – Crescimento do PIB anual brasileiro de 2000 a 2018

Fonte : ADVFN (2018) Figura 2.1 – Evolução do PIB Anual Brasileiro

25

índices trimestrais anuais consecutivos do PIB. De acordo com a autora, essa baixa foi

influenciada pela menor demanda das famílias, devido a diminuição de sua renda e aumento do

desemprego, e pelo menor investimento em máquinas, equipamentos e novas tecnologias no

mercado interno, principalmente no setor de construção civil. Investimentos e demanda eram

antes, fatores que ajudaram o desenvolvimento e crescimento econômico, mesmo com a queda

na produção da indústria doméstica. O cenário para os próximos anos ainda parece bastante

nebuloso e pessimista, devido ao aumento do desemprego, queda da renda per capita, retração

de crédito e menor investimento das empresas por falta de confiança em tempos melhores.

A figura 2.2 configura exatamente as afirmações de Neumann (2015), nos evidenciando

como o avanço do PIB no Brasil está diretamente interligado ao desenvolvimento ou retração

da demanda e do investimento.

Fonte : Valor Econômico (2018)

É neste contexto que a produtividade volta a ganhar grande importância no debate

econômico brasileiro. Porém, não porque houve um comportamento de índices muito diferentes

de produtividade dos que haviam sido registrados anteriormente, mas sim porque o crescimento

da produtividade torna-se agora fator determinante e inclusive uma condição, para crescimento

Figure 2-2 - Variação acumulada de PIB, Demanda e Investimentos Figura 2.2 - Variação acumulada de PIB, Demanda e Investimentos

26

econômico, envolvendo o governo, e sobrevivência num mercado cada vez mais competitivo,

envolvendo as empresas (NEGRI e CAVALCANTE, 2014).

PRODUTIDADE E COMPETITIVIDADE

A noção mais simplória do conceito de competitividade nos ambientes empresariais,

associa competitividade ao desempenho das exportações industriais. Trata-se de um conceito

que avalia a competitividade através de seus efeitos sobre o comércio externo: as indústrias

competitivas são aquelas que expandem sua participação na oferta internacional de

determinados produtos. De acordo com Gonçalves (1987) este conceito é quase intuitivo e sua

vantagem está na facilidade de construção de indicadores para medir a competitividade no

mercado. É ainda o conceito mais amplo de competitividade, abrangendo não só as condições

de produção como todos os fatores que inibem ou ampliam as exportações de produtos em

países específicos, como as políticas cambial e comercial, a eficiência dos canais de

comercialização e dos sistemas de financiamento, acordos internacionais (entre países ou

empresas) e estratégias de firmas transnacionais.

Outros autores vêem a competitividade como uma característica estrutural,

conceituando-a como a capacidade de um país de produzir determinados bens igualando ou

superando os níveis de eficiência observáveis em outras economias. O crescimento das

exportações seria uma provável consequência da competitividade, e não exatamente sua

definição (KUPFER, 2002).

Uma forma de avaliar a competitividade é através de comparações entre diferenciais de

preços internacionais de determinados países. Um levantamento realizado pela Fundação

Centro de Estudos do Comércio Exterior (FUNCEX), intitulado “Pesquisa sobre

competitividade internacional”, faz comparações, para os mesmos produtos, do nível de preços

das exportações e do mercado doméstico. A hipótese para mensuração desta diferenciação é

que existe um preço internacional dado, ao qual as exportações se submetem, e que pode ser

diferente do preço praticado internamente (BRAGA et al., 1988).

Outra forma de mensuração do desempenho da competitividade em um país ou mercado,

é através do nível de salário médio dos trabalhadores. Cline (1986) associa a perda de

competitividade dos EUA, na siderurgia e setor automobilístico, aos aumentos salariais obtidos

através de sindicatos fortes. A expressão dumping social, explicando a penetração da indústria

têxtil de países em desenvolvimento no mercado dos desenvolvidos, pressupõe também a

27

associação de competitividade a baixos salários (OLIVEIRA, 1985). Alguns autores, e

frequentemente empresários, também utilizam na sua linha de raciocínio, a relação

câmbio/salários para a avaliação da evolução da competitividade.

O Banco Mundial não chega a propor redução de salários para aumento de

competitividade, mas no documento em que advoga a liberalização e ampliação do comércio

internacional, adverte que salários mínimos altos em países em desenvolvimento ocasionam

desemprego, aumentam a desigualdade em relação ao mercado informal, incentivam técnicas

intensivas em capital e reduzem o estímulo à educação, aproximando os salários de pessoas

qualificadas das não qualificadas (THE WORLD BANK, 1987).

Além dos salários, que como visto, são tomados como indicadores de competitividade,

ora em correlação positiva, ora em negativa, e como determinantes ou determinados pela

competitividade, a produtividade é outra variável específica frequentemente utilizada na

avaliação da competitividade. Porém, em contrapartida aos salários, há consenso de que o

aumento de produtividade em determinada indústria de um país em relação à mesma indústria

nos países concorrentes está positivamente correlacionado com aumento de competitividade. A

forma de mensuração mais usual da produtividade, se refere à produtividade do trabalho e sua

expressão mais simples, calculada geralmente para atividades industriais bastante agregadas, e

é dada pela relação valor adicionado/pessoal ocupado ou valor da transformação industrial

/pessoal ocupado. Essa medida, embora incorpore de maneira global as condições de eficiência

na produção, tem grandes limitações – não levando em conta variações na composição da

produção, o número de horas trabalhadas por cada empregado, problema relativos a preços

embutidos no valor adicionado, entre outros –, que se tornam mais graves na comparação

internacional (KUPFER, 2002).

Devido ao acirramento da concorrência, a produtividade tornou-se estratégia essencial

para sobrevivência de empresas numa competitividade cada vez mais agressiva, porém a

produtividade também está atualmente presente nas estratégias do setor público, através de

políticas públicas, a exemplo da atual política industrial, tecnológica e de comércio do Governo

Federal, denominada de Plano Brasil Maior (MACEDO, 2012).

Segundo o próprio Governo Federal, em relação ao Plano Brasil Maior (2011/2014),

a “dimensão sistêmica desse Plano, de natureza horizontal e transversal, destina-se a orientar

ações que visem, sobretudo, a redução de custos sistêmicos e o aumento da eficiência e

produtividade agregada da economia nacional, objetivando promover bases mínimas de

isonomia das empresas brasileiras em relação a seus principais concorrentes internacionais”.

28

FERRAMENTAS DA QUALIDADE APLICADAS À GESTÃO DA

PRODUTIVIDADE NA INDÚSTRIA EM GERAL

O conceito de qualidade está diretamente ligado ao conceito de produtividade. O

aumento na qualidade dos processos de uma empresa, eleva por si só a produtividade dos

mesmos, evitando, por exemplo, o retrabalho, fator que impacta diretamente a produtividade

do trabalho. Logo, é de se compreender o estudo simultâneo das duas áreas.

No SGQ utilizam-se as chamadas ferramentas da qualidade. Essas ferramentas são

utilizadas para definição, mensuração, análise e proposta de soluções aos problemas que

interferem no desempenho e no resultado das empresas. Elas ajudam a estabelecer métodos

mais elaborados de resolução baseados em fatos e dados, o que aumenta a taxa de sucesso dos

planos de ação (Ramos, 2018).

Segundo Rocha (2007), utiliza-se na gestão da qualidade, sete ferramentas básicas que

auxiliam a gestão da produtividade de uma empresa : o Fluxograma, Diagrama de Ishikawa

(Espinha de Peixe), Folha de Verificação, Diagrama de Pareto, Histograma, Diagrama de

Dispersão e Controle Estatístico de Processos (CEP).

Cada uma das ferramentas citadas contribui diretamente para o aumento da

produtividade geral numa empresa dentro de qualquer setor econômico, não sendo diferente

para a construção civil. No capítulo 4 deste presente estudo, foram analisadas minuciosamente

cada uma destas ferramentas.

29

3 A CONSTRUÇÃO CIVIL E A PRODUTIVIDADE

EVOLUÇÃO DA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL NO SÉCULO XXI

3.1.1 O pré-crise econômica 2008/2009 (2003-2009)

Para entender como a produtividade se relaciona com a construção civil no período

abordado, é preciso entender o contexto histórico no qual o setor da construção estava exposto.

A CBIC explica que no período estabelecido, um importante fator influenciou a produtividade

e crescimento da construção civil no Brasil, a formalização da mão-de-obra, ou seja, o avanço

no emprego de carteira assinada. O fato anterior explica a maior participação de empresas

formais no PIB setorial e é considerado um elemento essencial para a oferta de melhores

produtos, melhores condições de trabalho e maior arrecadação de impostos. A figura 3.1

evidencia como se deu estatisticamente este crescimento.

Figura 3.1 - Comparativo do número de trabalhadores formais/informais na construção civil

Fonte : CBIC (2017)

30

Em 2009, último ano para o qual as bases de dados consideradas nesta pesquisa estão

disponíveis, o produto das empresas formais de construção (valor adicionado) totalizou R$ 93,2

bilhões, o que representou 63,5% do produto do setor como um todo (informal e formal). Em

2003, primeiro ano do estudo, as empresas formais correspondiam a apenas 43,8%. Logo,

conclui-se que nesse quesito houve um grande avanço.

Ainda em 2003, somente 19,5% dos trabalhadores da construção civil possuíam vínculo

formal de emprego, com registro em carteira assinada de trabalho. Em 2009, esse índice se

elevou para 30,1%. Nesse período, o número total de trabalhadores formais dobrou, passando

da faixa de 1 milhão de trabalhadores para 2 milhões.

Em 2009, existiam cerca de 63 mil empresas formais ativas, das quais 42,8% possuíam

até 4 pessoas ocupadas, 40,6% possuíam de 5 a 29 pessoas ocupadas e 16,6% contavam com

30 ou mais ocupados. . Essa última faixa foi a preponderante e respondeu por 80% do valor

adicionado do segmento formal da construção. Quanto aos setores da construção civil, nesse

mesmo ano de 2009, pouco mais de 50% das empresas formais atuavam na construção de

edifícios e aproximadamente 36% eram prestadoras de serviços especializados para construção,

muitas vezes terceirizadas. As empresas do segmento de infraestrutura representaram 43,5% do

valor adicionado da construção, seguido pelas empresas de edificações, com 39,6%.

No período de estudo, a taxa média de crescimento das empresas formais de construção

(com 5 ou mais pessoas ocupadas), foi de 11,2% ao ano, o que é mais do que duas vezes a taxa

do setor (5,1% ao ano). Por sua vez, o número de trabalhadores ocupados nas empresas formais

cresceu ao ritmo de 8,6% ao ano no período analisado.

Tendo como base o aumento dos indicadores de pessoas com carteira assinada na

construção civil, a Fundação Getúlio Vargas (FGV), realizou um estudo sobre a produtividade

das empresas formais na construção civil. O período abordado se mantém entre os anos de 2003

e 2009, dividindo-se em dois subperíodos : 2003-2005, quando uma série de aprimoramentos

institucionais foram decisivos para setor; e 2006-2009, quando se deu a retomada das

atividades de construção. O estudo teve como referência duas bases de dados oficiais geradas

pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) : o Sistema de Contas Nacionais, que

abrange todo o conjunto das atividades da Construção Civil (formal e informal), assim como os

demais setores de atividade econômica; e a Pesquisa Anual da Indústria de Construção (Paic),

que considera apenas as empresas legalmente constituídas. Este estudo segmenta a

produtividade em três tipos de análise : a produtividade do trabalho, a produtividade do capital

31

e a produtividade total dos fatores. A figura 3.2 a seguir representa os três tipos citados que

foram estudados.

Figura 3.2 - Tipos de Produtividade e setores da Construção Civil

Fonte : CBIC (2017)

A CBIC explica a evolução de cada um dos fatores mostrados na figura 3.2. Porém, é

importante citar antes, a importância da PTF, pois ela expressa e torna possível a

comparação de diversas combinações de capital e trabalho, de forma a identificar a mais

eficiente. Segue abaixo a explicação da evolução dos elementos na figura, no período de

análise :

a) PTF : o fator cresceu 3,1% ao ano no segundo subperíodo de análise, ou seja,

entre os anos de 2006 e 2009, coincidindo assim com o crescimento da

produtividade do setor da construção. Considerando todo o período de estudo,

2003-2009, esse aumento foi de apenas 1,2%, porém nos últimos 3 anos da série,

o crescimento foi mais relevante, de 3,1% ao ano ou 9,7% no período como um

todo;

32

b) Produtividade do Trabalho : está relacionada à mão-de-obra. De 2003 a 2009,

a produtividade da mão-de-obra cresceu 5,8% ao ano. Neste período, as

empresas de construção investiram altos valores em maquinário, equipamentos

e terrenos, contribuindo para o aumento da produtividade do trabalho, todavia,

diminuindo a produtividade do capital. No período de 2006 a 2009, a

produtividade do trabalho se reduz para 4,4% ao ano, devido ao aumento das

contratações, da formalização dos trabalhadores e consequentemente, dos

salários desses empregados que foi aumentado;

c) Produtividade do Capital : A produtividade do capital (representada

matematicamente por valor adicionado/unidade de capital) foi negativa no

período, com queda de 3,5% ao ano. O efeito dos altos investimentos das

empresas, já explicados para a produtividade do trabalho, permanecem neste

item. Entre 2006-2009, a produtividade do capital torna-se positiva e registra

incremento de 1,6% ao ano, porém as quedas entre 2003-2009, de 8,3%,

contribuam para o resultado negativo;

d) Obras de Edificações : No período estudado (2003-2009) o valor adicionado

das empresas subgrupo edificações, dentro do setor da construção, cresceu à

impressionante taxa de 19,2% ao ano, sendo assim maior que o crescimento do

emprego (12,8% ao ano) e que o estoque de capital por trabalhador (7,6% ao

ano). Como consequência, , a PTF se elevou ao ritmo de 1,9% ao ano. Em 2006-

2009, junto ao crescimento da taxa da PTF a 5,0%, o produto cresceu a uma taxa

maior que a do emprego, sendo que este último teve a mesma taxa de

crescimento do estoque de capital físico;

e) Obras de Engenharia Civil : O subgrupo obras de engenharia civil, assim como

o subproduto edificações, expandiu o produto a uma taxa mais elevada que a do

emprego e capital por trabalhador, elevando, desta vez, a taxa da PTF ao ritmo

de 1,1% ao ano de 2003 a 2009. Porém, notaram-se diferenças entre este

subgrupo e o subgrupo de edificações em relação à expressividade dos

indicadores no período 2003 a 2006. Os indicadores do subgrupo de obras de

engenharia civil foram mais expressivos, o valor adicionado cresceu à taxa de

19,4% ao ano e foi acompanhado por incrementos na PTF de 1,8% ao ano.

33

A tabela 3.1 mostra os resultados da PTF para as empresas de construção com cinco ou

mais pessoas ocupadas para o período de 2003 a 2009, como um todo, e nos subperíodos de

2003-2006 e 2006-2009.

Tabela 3.1 – Tabela de resultados para produtividade

Fonte : FGV (2012)

Observa-se a partir da tabela 3.1 que a produtividade total dos fatores da empresas

registraram um crescimento médio positivo de 1,2% ao ano, dentro de todo o período de estudo.

Logo, podemos dizer que com a mesma combinação de capital e trabalho, as empresas da

construção em 2009, último ano do estudo, geraram um valor adicionado 7,2% maior em

relação a 2003, ano inicial do estudo.

Através do estudo, decompondo a produtividade, nota-se que, entre 2003 e 2009, a

produtividade da mão-de-obra (valor adicionado/trabalhador) cresceu a uma taxa média de

5,8% ao ano. Isso indica que o crescimento da renda gerada pelas empresas foi superior ao

aumento do emprego. Em contrapartida, a queda anual média de 3,5% da produtividade do

capital, pode ser explicada pelo crescimento expressivo do estoque de capital, de 9,6% ao ano,

sendo superior ao crescimento do valor adicionado. Os índices registrados revelam importantes

tendências, como o crescimento expressivo do investimento em máquinas e equipamentos e a

substituição de mão de obra de trabalho por capital. O investimento maior realizado pelas

empresas, em máquinas e equipamentos e terrenos, foi importante para o aumento da

produtividade do trabalho e diminuição da produtividade do capital. Ainda, no período integral

de análise, o investimento por trabalhador formal aumentou 61% em termos reais.

Apesar dos números totais positivos, a PTF passa a ser positiva, somente nos três

últimos anos do tempo de estudo (2006-2009), crescendo 3,1% ao ano ou 9,7% no período.

Devido ao processo de intensa contratação e formalização dos trabalhadores no setor, a

produtividade na mão-de-obras sofreu quedas, continuando com crescimento positivo mas não

expressivo como os três anos anteriores, refletindo em mudanças importantes na composição

34

dos resultados da análise. A competitividade e pressão no mercado de trabalho repercutiu nos

custos setoriais. Nesse período, os salários registram crescimento real de 4,7% ao ano,

superando o aumento da produtividade do trabalho (4,4%). Isso também representou uma

mudança de panorama, pois no período anterior (2003-2006), o crescimento da produtividade

do trabalho foi maior que o aumento real dos salários. Como pode ser observado, no último

período de três anos, a produtividade do capital passa a ser positiva, em índices de 1,6% ao ano.

Resumidamente, o crescimento da taxa da PTF de 1,2% ao ano de 2003 a 2009 se dá

devido ao seu bom desempenho nos três últimos anos daquele período (2006-2009), de 3,1%

ao ano. O estudo da FGV (2012) mostra também que o aumento da produtividade em geral deve

ser atribuído exclusivamente ao desempenho das maiores empresas (com 30 ou mais pessoas

ocupadas), nos três anos mais recentes. Isso significa que nesse período, houve uma expansão

de produto (valor adicionado) em um ritmo superior ao do aumento do estoque de capital e de

mão de obra, gerada entre os anos de 2006 e 2009, pelo grupo das maiores empresas.

3.1.2 O pós-crise econômica 2008/2009 (2009 - Atualidade)

O pós crise econômica de 2008/2009 vêm se mostrando nebuloso e de futuro incerto

para a economia de modo geral no Brasil. Não foi diferente para o setor de construção civil. A

deterioração progressiva da capacidade produtiva do setor, mais precisamente de 2013 a 2015,

deixou dúvidas sobre a capacidade de reação positiva do setor de construção e seu futuro, que

ainda é uma incógnita. Uma sondagem realizada pelo Sindicato da Indústria da Construção

Civil do Estado de São Paulo (SindusCon–SP) entre os anos de 1999 e 2015, observou que as

atividades realizadas pelo setor possuíam grandes sinais de enfraquecimento, além de aumentos

de custos e consequentemente, dificuldades financeiras, refletidas pelo cenário de altos juros e

condições mais restritivas de crédito pelo qual passava o país (DIAS e CASTELO, 2015).

Segundo o IBGE (2013), em pesquisa realizada entre 2012 e 2013, um aumento de 9%

foi registrado nos custos e despesas nas empresas do setor de construção civil, no último ano

da pesquisa, atingindo valores de aproximadamente 302 bilhões de reais. Desse valor, são mais

substanciais os itens referentes à mão-de-obra e pessoal, representando grande parte desse

montante, mais especificamente 33,9% de participação no último ano. Comparado ao ano

anterior, tais itens sofreram também um aumento (na ocasião, tiveram participação de 32,6%).

Isso demonstra uma clara tendência de gastos maiores em mão de obra, como já havia sido

abordado pelo estudo (FGV, 2012).

35

De acordo com Souza (1996), a mão-de-obra é, muitas vezes, o fator que determina o

ritmo de muitas atividades de construção. Sua elevada participação na composição de custos e

despesas da construção civil somada ao fato de ser o fator mais difícil de ser controlado, reforça

que, atualmente, há uma necessidade das empresas em investir em equipamentos que tornem o

trabalho da mão-de-obra mais eficiente. Devido ao cenário em que a economia do país e o setor

de construção civil está submetido, com um mercado cada vez mais competitivo, a retomada de

crescimento virá somente através um contínuo aumento de produtividade (GUERRA, 2016).

Para as empresas de construção, o estudo da produtividade da mão-de-obra é essencial

e implica em um diferencial para essas empresas, sendo essencial para a competitividade

daquelas no mercado (LIBRAIS, 2001). Passada mais de uma década desta visão, Macedo

(2012) reafirma a visão do autor anterior, relacionando diretamente o sucesso de uma empresa

e até mesmo sua sobrevivência no mercado com o aumento de produtividade e maior eficiência

do processo produtivo. O autor vai além, reiterando que para as empresas, a gestão da

produtividade atualmente está se tornando imprescindível no plano de estratégias de

competitividade das empresas, devido à alta concorrência nos setores da economia.

Um estudo do Instituto Brasileiro de Economia (IBRE) e da FGV (2015) indica que a

dificuldade na retomada de um crescimento elevado e sustentado, tanto para o setor da

construção como para economia brasileira, está ligada ao debate sobre a produtividade e

competitividade. Essa relação é importante pois ajuda a explicar, simultaneamente, o nível de

renda per capita em uma economia e seu papel principal como determinante do retorno do

investimento e, por consequência, da taxa de crescimento econômico do país (PINHEIRO e

BONELLI, 2011).

Devido a todos esses fatores citados no capítulo, foi de extrema importância o estudo da

produtividade no século XXI. Quando comparada a outros países, a produtividade da mão de

obra do trabalhador brasileiro é expressivamente e historicamente discrepante, abaixo da média.

Ao final do século passado, a produtividade da mão de obra do setor da construção do Brasil

equivalia a apenas 32% daquela atingida pela mesma indústria nos Estados Unidos

(MCKINSEY & CO, 1998). Esta discrepância se mantém até os dias de hoje, portanto, uma

análise desse comportamento, para diversos países com diferentes níveis de desenvolvimento,

pode iniciar a discussão de forma a alavancar a produtividade da construção brasileira e,

consequentemente, da economia em geral (MELLO e AMORIM, 2009; FGV/IBRE, 2015; THE

CONFERENCE BOARD, 2015).

36

COMO A PRODUTIVIDADE É ENCARADA NA CONSTRUÇÃO CIVIL

A produtividade na indústria da construção civil é importante para as economias em

geral, assim como para proprietários e empreiteiros envolvidos no setor. O fraco desempenho

de produtividade do setor de construção é uma oportunidade perdida para criar um valor

estimado entre US$ 1,6 trilhão e US$ 2,3 trilhões. Chegou-se ao valor de US $ 1,6 trilhão,

comparando a construção com a produtividade geral nas economias que foram examinadas. O

valor de US $ 2,3 trilhões é resultado do benchmarking da construção contra a fabricação

(comparando os setores manufatureiro e de construção civil). Enquanto as inovações na

produção dos bens manufaturados impulsionaram o setor à novas alturas de produtividade, a

construção não tem conseguido acompanhar (MCKINSEY & CO, 2017). A figura 3.3 mostra

o quanto custa à economia global, em valor adicionado bruto, os atrasos em inovações na

produtividade do trabalho da construção civil.

37

A Mckinsey Global Institute (MGI), explica que a quantidade de valor perdido e,

portanto, o tamanho da oportunidade disponível a partir da melhoria produtividade no setor da

construção, varia de região para região. O valor perdido é principalmente ativo em nações

desenvolvidas onde a maioria da produção de construção ocorre. A América do Norte responde

por quase um terço do valor perdido total potencial, ou US $ 690 bilhões; juntos, todos os países

desenvolvidos são responsáveis por 70% da diferença de produtividade entre o setor da

construção e o total da economia, valor equivalente a US$ 2,3 trilhões (MGI, 2017).

Salienta-se também que a produtividade na construção é importante para empresas,

trabalhadores e proprietários. O valor econômico criado a partir de um aumento de

produtividade de US $ 1,6 trilhão seria distribuído entre as partes interessadas, como salários

mais altos para os trabalhadores, maiores margens de lucros antes de juros, impostos,

depreciação e amortização - do termo original Earnings Before Interest, Taxes, Depreciation

Figure 3-1 – Diferencial da Produtividade Total em 2015

Fonte : MGI (2017) Figura 3.3 - Diferencial da Produtividade Total em 2015

38

and Amortization (EBITDA) - para as empresas, e preços mais baixos para os proprietários. A

divisão será determinada principalmente pela configuração competitiva e características do

mercado de trabalho. No nível da empresa, a análise de microdados sugere que uma

produtividade mais alta normalmente beneficia empresas em termos de margens EBITDA,

embora a correlação não seja forte, já que a otimização do custo de aquisição adquirido e a

maximização da receita podem desempenhar um papel ainda mais significativo em empresas

do que a produtividade no mercado atual, que é exatamente o que se exibe na figura 3.4.

O crescimento da produtividade varia amplamente entre as empresas; vê-se fraquezas,

mas também algumas forças. Na amostra de empresas estudadas, descobriu-se que o

crescimento da produtividade em cerca de 25% das empresas superou o crescimento da

produtividade total das economia da região em que estavam sediadas. Embora esta seja uma

Figure 3-2 Lucratividade (EBITDA) x Produtividade

Fonte : MGI (2017) Figura 3.4 - Lucratividade (EBITDA) x Produtividade

39

pequena parte da população corporativa, ela indica que alguns players do setor conseguem ter

performance superior à média (MGI, 2017).

Vale ainda ressaltar a forte ligação da produtividade com a lucratividade. O gráfico

informa que ao aumentar em 25% sua produtividade, uma empresa de construção civil pode

alcançar uma margem EBITDA 1% maior em média.

Essa descoberta no nível da empresa é corroborada pelos dados no nível do projeto.

Dados do Instituto da Indústria da Construção para espalhamento de concreto e despejo de

cabos mostra declínio de produtividade desde 1996, apesar de notarmos que mesmo dentro de

um pequeno tamanho, havia grandes spreads nos níveis de produtividade a cada ano entre

projetos individuais. Do ponto de vista dos proprietários, o custo e tempo são os mais

importantes; e, novamente, o desempenho da construção é relativamente baixo.

Também continua a se observar enormes custos e prazos de projetos de construção,

com a recente análise encontrando custo médio e tempo excedido em relação ao orçamento

original de 70% e 61%, respectivamente. Além disso, em todos os mercados analisados, o preço

médio dos projetos de construção subiu mais rápido do que o índice de preços ao consumidor

entre 2008 e 2016. Isso ilustra redução relativa do valor que é entregue pela indústria da

construção no que diz respeito ao resto da economia, como expresso na figura 3.5.

40

No caso do Brasil, um estudo feito pela FGV (2012), mostra a visão das construtoras

brasileiras quanto a alguns fatores que afetam a produtividade na construção, como a

especialização da mão-de-obra e investimento em equipamentos e máquinas. A seguir, alguns

resultados foram revelado em forma de gráficos :

Figure 3-3 – Custo do Projeto x Índice de Preço do Consumidor

Fonte : MGI (2017) Figura 3.5 - Custo do Projeto x Índice de Preço do Consumidor

41

Figura 3.6 - Pesquisa referente à qualificação da mão-de-obra

Fonte : FGV (2012)

O gráfico acima da figura 3.6, explica o porquê da PTF da construção ter se elevado um

pouco no período, as construtoras têm investido em qualificação de mão-de-obra. Porém, o

crescimento da PTF ainda é muito abaixo do esperado e do seu próprio potencial, o que pode

ser confirmado por quase 52% das empresas que afirmam que a qualificação no trabalho é

suficiente, mas poderia ser melhor. O próximo gráfico (Figura 3.7) se refere à evolução do

investimento em máquinas e equipamentos feitos pelas construtoras, comparando dois

períodos, o antes e o depois de 2007.

42

Figura 3.7 – Pesquisa referente ao investimento em máquinas e equipamentos

Fonte : FGV (2012)

Quase metade das construtoras disseram, na pesquisa, investir mais em equipamentos e

máquinas após 2007, do que em relação a antes do referido ano. Pode-se concluir então que

com melhores equipamentos e mão-de-obra mais qualificada, a produtividade do trabalho

aumentou, porém a produtividade do capital diminuiu, o que resulta numa pequena variação

final para a PTF.

O estudo da FGV (2012) mostrou que, nos últimos anos, o crescimento da produtividade

está sendo sobreposto pelo aumento dos salários. Dirigentes setoriais têm dado ênfase a

importância do treinamento da mão de obra. Os resultados mostram que essa demanda tem

fundamento. A pesquisa realizada junto às empresas mostrou que a oferta de mão de obra é

limitante até mesmo para a adoção de novos métodos construtivos e para o uso mais intensivo

de máquinas e equipamentos. Portanto, o treinamento é um fator que condiciona dois

43

componentes da produtividade: a própria mão de obra e também o capital. Quanto a esse último,

é sintomático que 64% das empresas tenham declarado dificuldade no investimento em

máquinas, equipamentos e novos processos produtivos. Assim, se torna um desafio para a

construção civil, o aumento da produtividade, passando pela superação dos obstáculos ainda

encontrados no setor.

Ainda, a seguir, as empresas construtoras responderam a pesquisa quanto à satisfação

da produtividade de seu próprio organismo (Figura 3.7). O resultado segue abaixo :

Figura 3.8 - Pesquisa de satisfação da Produtividade

Fonte : FGV (2012)

Como esperado, 60,8% dos questionados, mostraram satisfação com a produtividade em

sua empresa, mas pouca; e 35,5% estão insatisfeitos, o que só corrobora o resultado do estudo

como um todo, de que a PTF da construção civil no Brasil cresce, porém num ritmo ainda muito

lento.

44

COMPARATIVOS DE PRODUTIVIDADE

3.3.1 Construção civil e outros setores da Indútria

Um estudo da MGI (2017) compara o setor da construção civil com outros setores gerais

da indústria, em termos de desempenho, comparando receitas (monetárias), lucros e

produtividade. Para se entender melhor esta última, foi preciso o estudo do desempenho da

construção civil como um todo em diversas áreas. A figura 3.9 abaixo, compara as margens de

lucro dos principais setores que compõem as economias mais poderosas do mundo.

Figura 3.9 – Margem de Lucro dos setores da Economia

Fonte : MGI (2017)

45

O gráfico da figura 3.9 divide a economia global dos países estudados em cinco grandes

grupos da economia, como produtos advindos da tecnologia, infraestrutura e bens de capital. O

setor de construção civil se encaixa dentro do grupo de bens de capital, junto aos setores de

automóveis, maquinário e processados. Porém, a análise mais importante do gráfico se da por

cores. Todos esses setores foram separados em quatro grupos, de acordo com o seu nível de

desempenho quanto às margens de lucro.

A margem de lucro de uma empresa, organização ou setor pode ser calculada através da

razão entre o lucro total e a receita líquida da organização ou setor considerado. Em outras

palavras, quanto da receita gerado foi transformada em lucro real. Logo, é um fator que pode

ser visto como uma produtividade financeira.

A construção civil se encontra no grupo com as piores margens de lucro da economia,

junta aos setores de automóveis, varejo, planos de saúde e produtos de consumo discricionário.

Dentro do seu grupo de desempenho, que já é o pior avaliado, o setor de construção nem mesmo

é o que possui melhor índice, estando atrás de automóveis e produtos de consumo

discricionário.

A construção civil tem margens de lucro relativamente menores e mais voláteis, estando

no pior grupo de desempenho dentro da indústria. Essa é uma das razões que explicam o baixo

investimento em capital e inovação na construção, quando comparado ao investimento em

outros setores. Contudo, o retorno do capital investido na construção tende a ser significamente

melhor que o retorno em vendas, o que nivela a construção com os setores de faixa média na

indústria (MCKINSEY & CO, 2017).

De acordo com MGI (2017), é inegável que a capitalização e a produtividade estão

altamente correlacionadas, porém as causas para a evolução ao longo do tempo de ambas para

ter uma ligação fraca. Os gráficos abaixo da figura 3.10, mostram o nível de capitalização de

várias indústrias (nos países de estudo, no caso, Bélgica, EUA e Japão), comparadas à

construção civil, através do capital bruto fixo por hora trabalhada em 2007.

46

Os gráficos exibem o crescimento da taxa média anual de capitalização nos setores de

construção, manufaturas e na economia em geral para os países citados em um período de 1995

a 2007. Pode-se concluir para os três, que a taxa de capitalização do setor encontra-se muito

abaixo da economia em geral. Até mesmo se comparados com o setor de manufaturas, a

construção possui taxas bem menores, principalmente nos EUA e Japão.

Além dos fatores que compõem o capital (lucratividade, capitalização, entre outros),

outro importante fator que influencia na produtividade geral na construção é a produtividade

do trabalho. A figura 3.11 mostra a evolução da produtividade do trabalho nos países de estudo,

através de gráficos.

Figura 3.10 – Níveis de Capitalização de várias indústrias

Fonte : MGI (2017)

Figura 3.11 – Crescimento da Produtividade Global dos setores

Fonte : MGI (2017)

47

O gráfico acima à esquerda, exprime para os mesmos setores de construção,

manufatureiro e economia em geral, a variação do valor adicionado real bruto por horas

trabalhadas por trabalhador envolvido no seu respectivo setor, entre 1995 e 2014. Pode-se notar

que como a evolução do valor adicionado por trabalhador da construção é baixa e desvalorizada

comparada a trabalhadores da economia global.

À direita, em conjunto a baixa capitalização, o crescimento da produtividade do

trabalho da construção em 39 das maiores economias de construção do mundo, representando

todos os continentes e estágios de desenvolvimento, tem sido de insignificantes 1% desde 1995.

Isso é cerca de um terço do crescimento geral da produtividade nesses países (2,8%) no mesmo

período, e pouco mais de um quarto dos 3,6% alcançados pelo setor manufatureiro mundial

(MCKINSEY, 2017). Os dois gráficos juntos mostram a importância e ligação do valor

adicionado com a produtividade do trabalho.

Em alguns países, as diferenças são ainda maiores que a média. Nos Estados Unidos,

por exemplo, a produtividade do trabalho da construção diminuiu em média 1,7% ao ano

desde 1968, enquanto a produtividade da economia global cresceu 1,6 por cento ao longo do

mesmo período. A construção ficou ainda mais atrasada em relação a certos setores que estavam

melhorando sua produtividade, incluindo a agricultura, que aumentou sua produtividade a uma

taxa de 4,5% ao ano entre 1947 e 2010 e varejo, a uma taxa de 3,4% ao ano. Um diferencial de

poucos percentuais nas taxas de crescimento da produtividade entre os setores, pode parecer

insignificante, mas o impacto é substancial ao longo de muitas décadas. A seguir, esses dados

são expressos pela figura 3.12.

Figura 3.12 – Produtividade do Trabalho : Construção Civil x Diversos Setores

Fonte : MGI (2017)

48

O gráfico mostra a evolução da produtividade do trabalho nos setores de agricultura,

manufaturas, varejo e vendas, mineração, construção e da própria economia global, todos nos

EUA entre 1947 e 2010. A produtividade do trabalho da construção no país vem declinando

desde 1968, em contrapartida a produtividade do trabalho em outros setores mostraram

evolução mais positiva que a da construção.

Apesar de alguns projetos altamente técnicos e complexos sendo realizados, a

construção em grande parte continuou a depender de métodos tradicionais para muitos projetos,

enquanto outros sectores inovaram. Outros setores se transformaram, aumentando a

produtividade. Dentro do varejo, pense na diferença entre as lojas mom-and-pop de meio século

atrás comparadas às gigantes Walmart e Aldi com suas cadeias de suprimentos globais e

sofisticadas atuais, e cada vez mais digitalizadas, sistemas de distribuição e coleta de

inteligência de clientes. Ou considere a maneira os princípios leane a automação agressiva

mudaram completamente muitas partes da manufatura. Dentro desta comparação, a construção

parece congelada no tempo. Deve-se dizer que existem projetos complexos e altamente

tecnológicos sendo executados hoje, mas em geral, o setor ainda depende de métodos

tradicionais para muitos projetos, e a mudança é glacial (MCKINSEY & CO, 2017).

Algumas mudanças nos setores exibidos no gráfico devem ser destacadas. Na

agricultura, escala alavancada através de montagem em campo e automação; implantando

bioengenharia avançada para aumentar os rendimentos. No setor manufatureiro, implementado

inteiramente novos conceitos de fluxo, projetos padronizados, modularizados e agressivamente

automatizados para aumentar a produção. No varejo, foram utilizadas vantagens de escala e

logística de ponta para fornecer produtos acessíveis para as massas. Já na construção, as

melhorias foram limitadas nas áreas de capacidades tecnológicas, métodos de produção e

escala.

3.3.2 Construção Civil e os subgrupos que a compõe

De acordo com a MGI (2017), economistas classificam empresas de construção em

subsetores com base em suas especializações de serviços. No nível mais amplo, existem dois

grupos: empresas diversificadas que participam de vários tipos de projetos que exigem o

desempenho de diferentes atividades de construção e empresas comerciais ou especializadas

que estão envolvidas em um único serviço (por exemplo, encanamento ou pintura) que elas

executam em diversos projetos.

49

As empresas diversificadas são ainda classificadas pelo tipo tipo de construção que

executam : de edifícios, civis ou industriais, de acordo com as fontes da maioria de seus

negócios. Pode-se então classificar o setor da construção em quatro subgrupos distintos :

I. Construção de edifícios: construção de estruturas residenciais e não residenciais,

incluindo edifícios comerciais e sociais.

II. Construção civil: construção de todos os tipos de obras civis, incluindo

transporte, utilitários e telecomunicações.

III. Construção industrial: Construção de instalações industriais leves e pesadas,

incluindo armazéns, fábricas, instalações de petróleo e gás e instalações de

mineração.

IV. Construção especializada: construção especializada de comércio de elementos

comuns a todos os tipos de construção (por exemplo, enquadramento, cobertura,

vidro e vidro, alvenaria, drywall,e isolamento). São geralmente empresas

terceirizadas, contratadas por construtoras dos outros subgrupos.

A figura 3.13 mostra a produtividade dos quatro subgrupos distintos do setor de

construção, em seus variados serviços.

50

Figura 3.13 – Produtividade Ttal dos Subgrupos da Construção Civil

Fonte : MGI (2017)

Pode-se concluir, interpretando a figura 3.13, que construções industriais, como

refinarias de petróleo e tubos de transporte para petróleo e gás, ou construções do subsetor de

construção civil, residenciais como condomínios, ou de infraestrutura, como estradas e pontes,

têm elevada produtividade. Serviços muito especializados, como cobertura, pintura e até

mesmo obras de reforma, têm baixa produtividade. Isso mostra uma forte relação de que

construções mais pesadas geralmente possuem maior produtividade envolvida em suas

execuções. A figura 3.113 compara ainda os serviços de construção do gráfico com o setor

manufatureiro (de fabricação) de automóveis, uma indústria também considerada pesada, e de

51

produtividade extremamente elevada comparada aos serviços de construção civil, seguida de

obras do tipo de construção de condomínios. Os exemplos são da indústria dos EUA em 2012.

FATORES QUE AFETAM A PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

Devem ser considerados os fatores que mais impactam a produtividade na construção

civil. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae),

são seis fatores mais significativos, pontuados a seguir :

a) Capacitação e treinamento da mão de obra : os funcionários que tendem em

geral a apresentar maior produtividade, são aqueles que recebem maior

capacitação, são adequadamente remunerados e constroem vínculos com a

empresa;

b) retrabalho : quando o trabalho precisa ser refeito, os desperdícios aumentam e

os prazos não são atendidos;

c) matéria-prima : materiais de maior qualidade proporcionam menos retrabalho

e o controle adequado sobre estoque de materiais permite um melhor fluxo de

trabalho;

d) layout do canteiro de obras : o planejamento do espaço de trabalho e canteiro,

com fácil acesso aos materiais à frente do trabalho, agiliza a circulação de

trabalhadores e máquinas, facilitando a execução de serviços;

e) segurança do trabalho : quando um funcionário se machuca, além do custo

humano imensurável, há prejuízos financeiros e impacto na produção e nos

prazos, além do marketing negativo;

f) planejamento e controle de obras : Um bom plano de execução evitará que a

obra passe por desabastecimento e desperdício de materiais, além de atrasos ou

erros.

Segundo o Núcleo de Orientação de Inovação da Edificação (NORIE), numa obra de

construção civil, os seguintes fatores afetam a produtividade da construção :

a) Mau tempo : Em caso de chuvas ou algum fenômeno natural decorrente na

região onde a obra está situada, pode haver um atraso no prazo de entrega,

diminuindo os Hh e consequentemente a produtividade do trabalho;

52

b) complexidade e continuidade do projeto : a complexidade do projeto pode

exigir uma qualificação e treinamento da mão- de-obra, gerando maior custo

para a empresa e diminuindo a produtividade do capital. Caso haja algum

problema externo ou interno à empresa que impeça o fluxo temporário de

continuidade de trabalho no projeto (como embargos públicos, cortes de verba,

entre outros), o prazo de entrega pode ser afetado, afetando a produtividade da

construção;

c) horas extras : quanto maior a quantidade de horas extras trabalhadas e pagas

aos trabalhadores, se produtivas, a princípio, reduzem o tempo de conclusão da

construção e antecipam o prazo de entrega. Porém, deve-se considerar o aumento

da produtividade do capital, pois os custos com o trabalho aumentam. Ao final,

trata-se de pesar se vale a pena permitir que os empregados façam horas extras,

e se sim, chegar a número ideal máximo por mês;

d) rotatividade : para grandes construções, onde há necessidade de trocas de turno,

há inevitavelmente mudanças de produtividade do trabalho, pois esta última

também depende de valores intrínsecos a cada um dos trabalhadores. Além

disso, existem diversos serviços em uma obra que são terceirizados, e essas

empresas que são contratadas para cumprirem o serviço, podem trocar as equipes

durante a construção, afetando assim a produtividade global final da construção;

e) absenteísmo : este pode ser causado por uma sequência de faltas ou atraso

intoleráveis, prejudicando assim o tempo final de construção e até mesmo a

produtividade da equipe como um todo, equipe dentro da qual o trabalhador

ausente executa seu serviço;

f) motivação da mão-de-obra : trabalhadores motivados e engajados com as

metas e objetivos da empresa, tendem a ser mais produtivos em geral.

ASPECTOS TÉCNICOS, METODOLÓGICOS E PRÁTICOS

Nos anos de 1990, o operário começou a ser visto como agente para a busca da

produtividade e qualidade nas empresas e empreendimentos de construção civil. Investir em

mão de obra, no setor, tornou-se sinônimo de competitividade (ARAÚJO, 2000).

53

Para Lantelme et al (2001), a relevância do controle de produtividade na construção

civil se dá devido aos seus baixos índice de produtividade, quando comparados a outros setores

da indústria. Tal controle deve ser executado de acordo com um processo gerencial, sendo

tipicamente segmentado em três etapas :

I. Diagnóstico inicial : a empresa obtém uma visão geral da produtividade do

processo sob análise ou estudo, possibilitando assim a detecção das principais

falhas e a preparação dos planos de ação com a finalidade de aumentar a

produtividade deste processo;

II. Intervenção : implementação das melhorias estudadas em processos, conforme

planejado no diagnóstico inicial;

III. Diagnóstico pós-intervenção : análise do processo após intervenção,

verificando se as melhorias propostas atingiram as metas, ou se novas

intervenções serão necessárias para aumentar ainda mais o desempenho do

processo em estudo.

A figura 3.14 revela consequências práticas na produtividade da mão de obra operária

em uma obra de construção civil, após ser afetada por fatores que aumentam ou reduzem tal

produtividade.

54

Na figura 3.14, utiliza-se o exemplo de execução de alvenarias. Conclui-se então que

fatores humanos são extremamente importantes quando se fala em produtividade do trabalho.

Por exemplo, o uso de blocos muito pesados (logo de manuseio mais difícil), pois o trabalhador

não possui força suficiente, paredes muito altas, nas quais é preciso uma escada para finalizar

o serviço, pois o trabalhador não possui altura suficiente, são fatores humanos humanos que

diminuem a produtividade em uma obra, mas dependem do projeto. Logo, um projeto pode

impactar a produtividade do trabalho na prática.

Figura 3.14 – Produtividade na prática

Fonte : Revista PINI (2011)

55

Ainda para execução de alvenarias, de acordo com a revista Pini (2011), na prática, são

os fatores da tabela, que influenciam a produtividade da mão de obra, mais especificamente do

pedreiro, e por consequência a produtividade total da obra :

Do lado esquerdo da tabela 3.2 estão os fatores positivos para a execução da alvenaria,

ou seja, que aumentam a produtividade do pedreiro no serviço. À direita, estão os fatores

negativos, que dificultam o serviço e diminuem a produtividade. Se o empreendimento se

aproximar mais da situação positiva, pode-se adotar uma produtividade próxima ao limite

máximo (0,74 de acordo com a escala acima a tabela). Se a maior parte dos fatores for negativa,

adota-se um valor que se aproxime do limite mínimo de produtividade (0,51). Caso não haja

informações suficientes ou a situação estiver equilibrada, deve ser utilizado o valor

intermediário, mediana igual a 0,64 (PINI, 2011).

Tabela 3.2 - Faixas de Produtividade (Impactos na Prática)

Fonte : Revista PINI (2011)

56

DIFICULDADES DE IMPLEMENTAÇÃO

Para demonstrar as dificuldades de implementação e crescimento da produtividade na

construção civil, McKinsey (2017) utiliza como referência, o setor manufatureiro da economia,

que performa melhor que o setor da construção civil em termos gerais de produtividade, para

que se faça a comparação entre os dois setores. O setor manufatureiro é razoável para a

discussão da produtividade do trabalho da construção por muitos razões. Em seu estado mais

produtivo, a construção deve ser capaz de executar uma filosofia enxuta, padronizar suas ofertas

de produtos e modularizar seus projetos assim como empresas de manufatura fazem. As

mesmas fontes de desperdício que a fabricação superou - excesso de estoque, atrasos

no local, retrabalho e superprocessamento, por exemplo - geralmente ainda ocorrem no setor

de construção. No entanto, reconhece-se que existem grandes diferenças entre os setores de

construção e manufatura que dificultam a comparação direta. Por exemplo, a construção é

incapaz de capturar benefícios de escala de consolidação da mesma forma que a manufatura

porque o tamanho dos produtos produzidos pela construção mostram que esta última é, até certo

ponto, uma indústria local. Além disso, a indústria da construção tem um maior grau de

intensidade de trabalho que o setor manufatureiro. Entre as principais diferenças entre os dois

setores são:

I. A construção não é móvel: os trabalhadores devem vir no local e as empresas

não podem mover seus escritórios centrais para onde o trabalho está disponível.

II. Espaços de trabalho se sobrepõem: Diferentes tipos de serviços (por exemplo,

montagem de tubos e serviços de eletricista) devem ocorrer na mesma área,

fazendo o planejamento do fluxo de trabalho ser mais desafiador.

III. A localização do local de trabalho é dinâmica: canteiros de obras crescem à

medida que progridem - por exemplo, um canteiro pode se mover por muitos

quilômetros ao longo do curso de execução de uma rodovia.

IV. As preparações e configurações são contínuas: cada projeto de construção

requer inicialmente a criação de um espaço de trabalho inteiramente novo

(canteiro de obras, no caso).

V. Maior número de variáveis não controláveis: A construção ocorre em uma

variedade de climas, geografias e canteiros que estão expostos a condições

imprevisíveis, incluindo complexidades geológicas e topográficas e padrões

climáticos predominantes. Nem sempre é possível quantificar o impacto desses

fatores. No entanto, vale a pena notar que, em termos de dólares por hora, a

57

diferença entre o benchmark total da economia e o benchmark do setor

manufatureiro é de aproximadamente U$ 2 ou menos de 10%. Uma razão pela

qual não existe uma lacuna maior entre as manufaturas e a economia total é que

a heterogeneidade significativa na manufatura - um setor que inclui desde a

fabricação de automóveis avançada, até tecelões de cesta - se mantém na mesma

média relativa para a maioria de seus subgrupos.

VI. Requisitos específicos: Hoje, as estruturas são tipicamente construídas para

atender a requisitos altamente específicos, a pedido do proprietário, enquanto a

customização em massa é muitas vezes suficiente na fabricação de produtos, que

representa o setor manufatureiro. No entanto, a personalização em massa pode

ser viável na construção, também, uma vez que fornece benefícios similares de

custo e qualidade.

A nível nacional, no Brasil, 64% das empresas de construção têm encontrado

dificuldades de investir em máquinas e equipamentos devido a diversos fatores (FGV, 2012).

A figura 3.15 relata os resultados da pesquisa :

A figura 3.15 mostra que as duas maiores dificuldades encontradas pelo grupo de

construtoras questionado foram a falta de mão de obra especializada para contratar (que saiba

utilizar essas novas máquinas e equipamentos de maneira produtiva) e o custo para adquirir

novos equipamentos e implementar novos processos produtivos. A economia está

intrinsecamente ligada à construção civil, isso pode ser evidenciado por duas dificuldades

Figura 3.15 – Pesquisa sobre dificuldades de investimentos

Fonte : FGV (2012)

58

encontradas : o acesso às linhas de crédito para investimentos e a incidência tributária na adoção

de processos industrializados.

CAUSAS E DESVANTAGENS DA BAIXA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO

CIVIL

3.7.1 Causa Raíz número 1 : Aumento das complexidades do projeto e do canteiro

A crescente demanda por construção e a crescente densidade de desenvolvimento

existente combinaram-se para aumentar o tamanho e a complexidade dos projetos, os quais

afetam produtividade. A complexidade aumenta à medida que os projetos aumentam de

tamanho e isso diminui a produtividade. Os resultados do projeto também sofrem. Projetos

incluídos no banco de dados de benchmarking do Construction Industry Institute (CII) com

complexidade “baixa” têm, em média, índice de 4,2% negativos quanto ao desvio de custo;

projetos com complexidade “média” têm menos 0,2% de desvio; e aqueles com complexidade

“alta” têm desvio de 1,7%. Megaprojetos, definidos como aqueles com valor superior a U$ 1

bilhão, são particularmente suscetíveis a desafios de coordenação que podem baixar a

produtividade (MCKINSEY & CO, 2017).

Um estudo analisou o impacto de um número crescente de horas de trabalho em um

projeto e descobriu que projetos com um milhão de horas de trabalho eram de 15 a 20% menos

produtivos in situ (canteiro) do que aquelas com apenas 100.000 horas de trabalho. Isso é

pertinente, dado que o volume de construção de megaprojetos quadruplicou na última década,

como pode ser visto na figura 3.16.

59

A figura 3.16 mostra que em 2005, dos US$ 7,2 trilhões investidos na construção global,

apenas 4% eram relativos à megaconstruções. Na década seguinte, esse índice quadruplicou

chegando ao seu ápice no último ano de análise, 2017, quando chegou a ser 21% dos US$ 9,5

trilhões investidos. Essa conclusão pode ser explicada pelo aumento da força das economias

emergentes dentro do contexto global, pois são essas economias que mais investem em

megaprojetos.

O aumento da complexidade também é visto em projetos menores. De acordo com

a MGI Construction Productivity Survey, entrevistados trabalhando em projetos com um valor

médio de mais de US$ 100 milhões foram duas vezes mais propensos do que aqueles com

projetos avaliados em menos de US$ 5 milhões para nomear complexidades como uma das

principais causas de baixa produtividade.

O alavancamento no setor de construção nas economias emergentes é a principal razão

para o aumento dos megaprojetos, já que essas economias exigem investimentos em

infraestrutura mais avançados. Mas a indústria da construção nas economias desenvolvidas está

lutando com um tipo diferente de complexidade. Muitas economias desenvolvidas

empreenderam grandes investimentos em infraestrutura há décadas, e agora precisa se

concentrar em manter e atualizar esses sistemas (MGI, 2017). Dados de produtividade dos EUA

Figura 3.16 – Gastos com Megaprojetos na Construção Mundial

Fonte : MGI (2017)

60

mostram que, como a proporção de obras de reparo e manutenção aumentou, houve uma queda

correspondente na produtividade, como pode ser visto na figura 3.17.

Conclui-se então, pelo gráfico, que há uma forte relação entre o tipo de obra executado

e a produtividade da construção, mais especificamente, o aumento do número de obras de

reformas frente ao número de novas construções, resultou na queda da produtividade da

construção.

3.7.2 Causa Raíz número 2 : A indústria da construção civil é extensivamente

regulamentada e altamente dependente da demanda do setor público

A construção é um dos setores mais regulados do mundo. Nos Estados Unidos, por

exemplo, estima-se que o setor esteja sujeito a sete vezes mais o número de leis diretamente ou

indiretamente afetando suas atividades, se comparado à agricultura ou mineração. Alguns

desses regulamentos não mudaram por décadas ou mais, pois é politicamente muito difícil

Figura 3.17 – Associação do Tipo de Construção à Produtividade nos EUA

Fonte : MGI (2017)

61

alterá-los. A quantidade de regulamentação por si só não é necessariamente o problema - e é

claro que é importante que a construção tenha uma estrutura regulatória robusta para que

estruturas seguras sejam construídas. Porém, os processos burocráticos confusos e dificultosos

através do qual a regulamentação é administrada, causa atrasos e compromete a coordenação

entre proprietários, empresas de construção e reguladores. De acordo com com o banco de

dados de benchmarking da CII, projetos que experimentaram carga regulamentar maior que a

esperada, tiveram em média, 13,8% de desvio de custo. A incerteza introduzida

pela regulamentação não apenas aumenta o tempo de duração do projeto - semanas ou meses

podem ser gastas à espera de aprovações - mas também pode dificultar que as empresas

invistam adequadamente em equipamentos, que podem acabar não sendo usados como

planejado (MGI, 2017).

Existem vários tipos de regulações desafiadoras na construção. Entrevistados para

o MGI Construction Productivity Survey (2015), classificaram autorizações e aprovações

como as formas de regulação mais desafiadoras de se gerir. De acordo com o Banco Mundial,

a média global para o tempo de aquisição da permissão para começar uma obra é de 160 dias,

com empresas em seis países gastando mais de um ano e algumas em dois países que gastam

mais de dois anos para finalizar o processo.

A figura 3.18 compara exatamente o número de regulamentações citadas nos EUA que

impactam diretamente as indústrias de construção, de minas e agricultura, com 95% de

probabilidade de serem aplicadas nessas indústrias.

62

Analisando o gráfico acima, ao se comparar as três indústrias, pode-se ver que setor de

construção sempre foi o mais regulamentado desde 1975, e a diferença durante os anos foi

aumentando até o último ano de analise (2014). Analisa-se também os órgãos mais

regulamentadores da indústria da construção civil, sendo estes, respectivamente, agências de

proteção ao meio ambiente, departamentos de transporte, departamentos do interior e sindicatos

trabalhistas.

Em adição aos problemas de regulamentação e burocratização na construção civil, está

o fato do setor público ser um dos maiores clientes do setor. As empresas estão, portanto,

sujeitas à demanda do setor público e ao processo de aquisição de obras públicas, as licitações

públicas. Os contratos e concessões públicas são extremamente rigorosos sobre o que deve ser

construído e como deve ser construído. É extremamente desafiador para as empresas adotarem

melhorias inovadoras e de produtividade quando estão sujeitas à uma flexibilidade tão pequena.

Obras públicas de construção tendem também a ser cíclicas - geralmente pró-cíclicas, em

contraste com o que teoria macroeconômica sugere - somando-se aos ciclos de expansão e

recessão da indústria que dificultam o investimento do empresariado no setor e causam a

retenção de mão-de-obra qualificada.

Figura 3.18 – Regulamentações que afetam diretamente a Indústria nos EUA

Fonte : MGI (2017)

63

3.7.3 Causa Raíz número 3 : A informalidade e o potencial para corrupção distorcem o

mercado da construção civil

Um dos sintomas mais problemáticos da complexa regulamentação e burocracia que

tem-se discutido no setor da construção civil é a prevalência da informalidade e do potencial de

corrupção que é reforçado pelas numerosas aprovações, inspeções e autorizações exigidas,

muitas das quais vêm com taxas pesadas. A cada passo, há uma oportunidade para suborno ou

pagamento, e o grande número de portais processuais torna a ocultação destes crimes muito

mais fácil. Estes e outros fatores contribuem para que a construção seja a fonte do segundo

maior número de casos de suborno no mundo (somente as indústrias de extração têm mais).

De acordo com o índice de facilidade de fazer negócios do Banco Mundial (2017), em

muitos países com baixos níveis de corrupção e informalidade, incluindo, por exemplo,

Austrália, Dinamarca, Nova Zelândia e Cingapura, o número de autorizações necessárias é

baixo e o tempo de aprovação é curto - em alguns casos, menos de um mês. Nesses países, lidar

com as permissões necessárias em uma obra adiciona apenas 0,2 a 0,5% do custo da construção

de um depósito, por exemplo. Ao se comparar isso com economias como Brasil, Índia e Nigéria,

que têm grandes setores informais onde são permitidos atrasos, estes podem se esticar por mais

de um ano e os custos adicionais podem subir para cerca de 25% do valor do edifício. Nesses

países, a maneira mais fácil de acelerar o processo geralmente é o suborno.

Além disso, o acesso ao trabalho informal pode enfraquecer os incentivos para investir

nos trabalhadores e treinamentos para os próprios. Em muitos países, a mão-de-obra estrangeira

é parte significativa da mão-de-obra total da construção. Embora a maioria desses trabalhadores

seja legal, o trabalho informal também pode desempenhar um papel significativo. Nos últimos

dez anos, nos Estados Unidos, o trabalho informal chegou a ser de 10% a 15% da força de

trabalho, chegando a cerca de 16 por cento no auge do boom da habitação. Mais de 20% da

força de trabalho da construção em cinco estados dos EUA (California, Maryland,

Nevada, Nova Jersey e Texas) e o Distrito de Columbia é considerado informal. Nos Estados

Unidos, estes trabalhadores estão envolvidos principalmente na construção civil, na qual os

projetos são em menor escala e sujeitos a menos escrutínio do que projetos civis e industriais.

Sem as mesmas proteções legais ou contratos, esses trabalhadores são mais transitórios e é

improvável que as empresas forneçam programas de treinamento e outros recursos para

melhorar a produtividade destes trabalhadores (MCKINSEY, 2017).

64

3.7.4 Causa Raíz número 4 : A construção civil é altamente fragmentada

A fragmentação no setor da construção é generalizada e impede o desenvolvimento

crítico suficiente, entre os players do mercado, necessário para catalisar grandes mudanças. Na

Europa, empresas com mais de 250 funcionários respondem por menos de 1% de toda as

construtoras e contribuem com 21% para a produção do setor, enquanto 94% das empresas têm

menos de dez funcionários trabalhando em tempo integral e contribuem com 39% para a

produção total do setor. Em suma, a construção europeia é dominada por pequenas empresas

de comércio e subcontratantes que muitas vezes são relativamente pouco sofisticados. Esta

fragmentação significa que nenhuma empresa é grande o suficiente para ser pioneira e liderar

grandes inovações no setor, e há uma falta de competitividade e pressão. As pequenas empresas

geralmente se sentem confortáveis em fazer seus pequenos negócios em áreas locais, nem

interrompendo nem sendo interrompidas por outras. Um quadro semelhante surge nos Estados

Unidos. As quatro principais empresas do setor de construção dos EUA controlam apenas 6%

do mercado, comparado com 14% no varejo e 42% no refino petroquímico, para dar apenas

dois exemplos. Se as próximas 16 maiores empresas também forem levadas em conta, a

fragmentação é mais pronunciada. As 20 maiores empresas representam apenas 8% do

mercado, comparadas com 18% e 94% no varejo e petroquímicos, respectivamente

(MCKINSEY, 2017).

Uma indústria que é fragmentada, é geograficamente dispersa, oferece alta

customização e as soluções que atendem aos requisitos personalizados também acabam sendo

muito opacas. Em muitos países e setores, é quase impossível encontrar bons dados de

benchmarking sobre o custo de projetos ou desempenho dos contratantes. Clientes de pequeno

e médio porte, em particular, não podem contratar facilmente a melhor empresa e talvez tenha

que se conformar com uma empresa local cuja especialidade, preços e técnicas são difíceis de

comparar com os de seus concorrentes. Isso age como um desincentivo para os players na

indústria para melhorar sua produtividade como uma fonte de vantagem competitiva.

Mesmo dentro da construção, parece que o grau de fragmentação tem uma grande

significância e impacto na produtividade, fatos que são expressos no gráfico da figua 3.19.

65

Os segmentos menores de comércio especializado e os modeladores são os mais

altamente fragmentados e têm a menor produtividade, é o caso dos serviços de pintura e

isolamento por uso de drywall. Em contraste, a construção de oleodutos e gasodutos são

altamente consolidados e altamente produtivos. Mesmo muito fragmentados, os serviços de

construção de edificações comerciais e industriais performam bem no que diz respeito à

produtividade, quando comparados a outros subgrupos.

Figura 3.19 – Produtividade dos Subgrupos da Construção Civil

Fonte : MGI (2017)

66

3.7.5 Causa Raíz número 5 : Os processos de design e investimentos são inadequados

O projeto de construção tem várias ineficiências, incluindo a falta de padronização e

grandes lacunas entre projeto e construção devido a atrasos e continuidade limitada. A indústria

não tende a reutilizar projetos e, portanto, está inclinada a oferecer serviços sob medida soluções

particulares para cada cliente. Existem opções padronizadas insuficientes para os proprietários

e esses proprietários muitas vezes não têm portfólios suficientemente grandes para exigir ou

justificar investimentos em projetos padrão. Isso impede o setor de incorporar de maneira mais

eficaz alguns componentes em design. Desde 2000, a modularização de projetos aumentou em

menos de 5%, de 1,7% para 6,2% .33 Isso é importante porque a padronização e a

modularização têm efeitos significativos na produtividade (CII Performance Assessment

System, 2015).

De acordo com a McKinsey (2017), em habitações residenciais, os engenheiros que

constroem sob especificidades normalmente usam um punhado de designs que são altamente

repetíveis e geralmente construídos em larga escala em grandes subdivisões, como é no caso de

condomínios. No entanto, os construtores de casas unifamiliares tradicionais usam designs

personalizados e constroem uma casa de cada vez. Não é novidade que os engenheiros ao

construir condomínios são mais de três vezes mais produtivos que os construtores de casas

unifamiliares, como é expresso pelo gráfico abaixo :

O gráfico da figura 3.20 permite a interpretação de que a produtividade do trabalho em

construções de condomínios é muito maior que em construções de habitações multifamiliares

e quase três vezes maior que no caso de construções unifamiliares e de reforma,

respectivamente, numa escala de repetição e padronização, da maior para a menor

produtividade. Os valores sobre as colunas são referentes ao valor adicionado real anual por

trabalhador envolvido no projeto.

67

Na habitação, há uma percepção de que o design repetitivo é insípido e genérico,

reduzindo a demanda por habitação padrão em áreas residenciais mais ricas e até mesmo de

classe média. Os mesmos receios são evidentes em diversos outros subgrupos da construção

civil onde existem oportunidades amplas para comentários do público e aprovações de projeto

antes de iniciar obras de, por exemplo, infra-estrutura. Há um preconceito contra projetos

padronizados e uniformes em favor de atraentes opções sob medida. No entanto, construções

mais recentes com designs replicáveis demonstraram que os edifícios resultantes podem ser

esteticamente agradáveis. A Google, por exemplo, está avançando com uma nova sede em

Mountain View, na Califórnia, que empregam construção modular e espaço reconfigurável,

enquanto aparecem como referência arquitetônica para toda a área. Outros fatores que pesam

contra o desenvolvimento em larga escala na construção incluem a fragmentação de sede, para

montagens, códigos de construção altamente variados e fragmentação entre proprietários das

construtoras, empreiteiros e fornecedores de materiais (MGI, 2017).

Figura 3.20 – Produtividade do Trabalho por tipo de construção residencial

Fonte : MGI (2017)

68

3.7.6 Causa Raíz número 6: Gerenciamento de projetos e execução básica insatisfatórias

Os projetos sofrem grandes atrasos de tempo e custo não só devido à atenção insuficiente

dada, pelos engenheiros, em seu estágio inicial, mas também por uma incapacidade de executar

projetos de forma eficaz. No setor de construção civil, as empresas precisam prestar mais

atenção ao gerenciamento e execução de projetos, nos quais muitas vezes, a falta de

comunicação, a falta de front-end (coleta de dados de entrada de usuários) suficiente, e a baixa

adesão aos processos de planejamento colaborativo levam a altos níveis de alterações de

pedidos durante o ciclo de vida dos projetos. Isso diminui a produtividade, forçando

paralisações, necessitando de retrabalho e interrupção de fluxos de materiais e mão-de-obra

(MCKINSEY & CO, 2017).

Muitas vezes, é a transição do planejamento para a construção que vai mal e encaminha

toda a execução do projeto para aparecimento de falhas. De acordo com os dados de

benchmarking do CII (2015), projetos que incorporam ativamente o "planejamento para a

inicialização"(planejar antes de executar) em seu gerenciamento de projetos, em média,

reduzem o desvio de tempo do cronograma em 5,6 pontos percentuais e reduzem o desvio de

custo em 7,9 pontos percentuais, em comparação com projetos que não têm um plano de

inicialização executado.

3.7.7 Causa Raíz número 7 : mão-de-obra desqualificada

Há um descompasso entre as demandas do setor de construção e a capacidade da força

de trabalho disponível. Em todo o mundo, a mão-de-obra no setor de construção está

envelhecendo e possui baixa habilidade, o que torna a implementação das mudanças necessárias

para alcançar melhorias de produtividade mais desafiadoras, a menos que se mude para a

automação total. Existe uma grande fração de trabalhadores na construção civil de baixa ou

média qualificação.

Os entrevistados do MGI Construction Productivity Survey (2015) classificaram a mão-

de-obra pouco qualificada como a terceira causa raiz mais importante depois de projetos ruins

e estruturas de contratação ultrapassadas. Era uma questão particularmente importante para os

proprietários, que, em média, classificaram a questão do trabalho de 15 a 20 por cento mais

relevante do que os empreiteiros. Isso sugere que os contratados devem precisar prestar mais

69

atenção ao desenvolvimento de sua força de trabalho, a fim de atenuar as preocupações do

clientes que eles servem.

Compondo o problema de qualificação da mão-de-obra do setor é o fato de que a força

de trabalho na construção está envelhecendo, o que dificulta a adoção de produtos digitais mais

produtivos e outras técnicas de construção. A participação no setor de empregados com 45 anos

ou mais aumentou de 32% para 50% entre 1985 e 2010. Os trabalhadores mais velhos são

menos propensos a serem receptivos ao treinamento necessário para implementar uma

tecnologia mais recente (NG e FELDMAN, 2012). Segundo Ling, Leow e Lee (2016), um fator

que parece estar em jogo é que a indústria da construção tem uma imagem de ser maçante entre

a última geração de engenheiros de alto talento e gerentes interdisciplinares que podem executar

projetos de complexidade substancial, e eles parecem preferir usar seus talentos em outras áreas

de domínio.

3.7.8 Causa Raiz numero 8 : Pouco investimento em digitalização, inovação e capital

Mesmo que o setor tivesse uma força de trabalho qualificada de alto nível, as empresas

de construção hoje investem muito pouco na tecnologia e nas ferramentas digitais que lhes

permitiriam alcançar ganhos significativos de produtividade. A construção está entre os setores

menos digitalizados do mundo, segundo o índice de digitalização da MGI (2015), que combina

dezenas de indicadores para fornecer um quadro abrangente de onde e como as empresas estão

desenvolvendo ativos digitais, expansão do uso digital e criação de uma força de trabalho mais

digital. No índice de digitalização, nos Estados Unidos, a construção vem em penúltimo lugar,

à frente apenas da agricultura. Na Europa, a construção está na última posição. O índice

descobriu que existem deficiências específicas na capacidade do setor de usar ferramentas

digitais para facilitar as interações dos stakeholders e na taxa de crescimento das ferramentas

digitais disponível para a mão-de-obra da linha de frente.

O investimento do setor em tecnologia da informação e comunicação é fraco em

comparação com outros setores. Na Alemanha, por exemplo, o setor de construção investiu

apenas 0,7% do seu valor bruto adicionado anualmente entre 1991 e 2007 em ativos digitais.

Em comparação, setor de intermediação financeira investiu 4,3% e o manufatureiro

1,8%, e a média de todas as indústrias foi o triplo da participação de investimento na construção

em 2,3%. Observa-se a mesma situação no setor de construção dos EUA, onde

70

1,5% do valor acrescentado bruto foi investido em comparação com 5,7 por cento no

intermediação, 3,3% na manufatura e a média geral de 3,6% (MGI, 2015).

Existe uma correlação robusta entre o nível de digitalização em um setor e o crescimento

de sua produtividade nos últimos dez anos, como pode ser observado na figura 3.21.

Pode-se concluir pelo gráfico da figura 3.21 que a taxa de crescimento da produtividade

em um setor está fortemente ligada ao nível de digitalização no próprio. A construção civil,

neste índice, está atrás de mercados antes parelhos em concorrência, como o manufatureiro,

agricultura, minas e energia (petróleo e gás). Já o setor de tecnologia da informação (TI) e

comunicações, altamente digitalizado, é também altamente produtivo, sendo referência neste

estudo.

Há exemplos comprovados de empresas na construção e em outros setores usando

tecnologias digitais e alcançando grandes ganhos de produtividade. O setor de mineração usa

inovações digitais para melhorar a produtividade e encontrar novas maneiras de gerenciar a

variabilidade (MCKINSEY&CO, 2015).

Figura 3.21 – Crescimento de Produtividade x Índice de Digitalização

Fonte : MGI (2017)

71

Na década de 1970, as principais empresas aeroespaciais foram pioneiras na modelagem

3D auxiliada por computador que transformou a maneira como as aeronaves foram projetadas

e impulsionou a produtividade do setor em até dez vezes. No entanto, a indústria da construção

ainda não adotou uma plataforma integrada que abrange planejamento, projeto, construção,

operações e manutenção. Em vez disso, a indústria ainda depende de ferramentas de software

sob medida. Além disso, proprietários de projetos e contratados geralmente usam diferentes

plataformas que não são sincronizadas umas com as outras (MCKINSEY&CO, 2016).

MUDANÇAS VISANDO O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE NA CONSTRUÇÃO

CIVIL E AS VANTAGENS ATRELADAS A ESSE AUMENTO

3.8.1 Mudança número 1 : Reformulação das regulamentações e aumento de

transparência

Políticas governamentais que indicam o que - e como - construir, fornecem uma

estrutura de trabalho dentro da qual todos os players do setor devem operar. As políticas tendem

a se desenvolver ao longo de décadas ou mesmo séculos, de forma fragmentada e reativa, e não

de maneira organizada e inovadora. Isso tem um impacto na eficácia do setor e sua

produtividade.

As regulamentações que garantem que a construção seja segura, bem planejada e ofereça

qualidade são vitais, mas esses objetivos podem ser entregues simultaneamente em busca de

maior produtividade. A política pode promover poderosamente as melhores práticas em, por

exemplo, padronização, escala e investimento em inovação. Medidas coordenadas precisam ser

tomadas em todos os níveis - local, regional e federal - para se conseguir uma reforma eficaz.

O projeto da International Construction Measurement Standard, por exemplo, visa fornecer

consistência global na classificação e apresentação dos custos de construção do projeto

individual para o nível internacional, possibilitando análises comparativas entre países e

fornecendo benchmarks apropriados.

A regulamentação também pode ser usada para superar a crescente fragmentação de

propriedades de áreas edificáveis, o que também tem implicações negativas substanciais para a

produtividade. Em todo o mundo, a proporção de terras residenciais ocupadas por

“assentamentos atomísticos” (habitações unifamiliares) aumentou significativamente desde a

última década do século XX, de 22% para 31% de terras residenciais (MGI, 2017).

72

3.8.2 Mudança número 2 : Ligação da estrutura contratual

Projetos de construção civil vêm com um tipo de tensão interna entre proprietários do

empreendimento (clientes ou incorporadoras), que desejam o menor custo e menor prazo, e

contratados (empreiteiros ou terceirizados), que querem maximizar seu lucro. Tal conflito pode

inibir a comunicação e a cooperação, resultando em reivindicações e variações que extrapolam

orçamentos e prazos e comprometem a produtividade (MGI, 2017).

Segundo a MGI Construction Productivity Survey (2015), muitos entrevistados

identificaram os contratos no setor como sendo desalinhados e sua estrutura como uma das duas

principais causas de baixa produtividade na indústria da construção. Os maiores problemas

contratuais citados foram a suspeita e a desconfiança geradas pelo processo de licitação, a

incapacidade de incorporar adequadamente as incertezas do projeto nos contratos e o

compartilhamento ineficiente de riscos entre todas as partes interessadas, incluindo os

subcontratados. Uma falta de transparência e confiança entre as várias entidades no local de

trabalho também inibe as melhorias em produtividade, mas raramente os proprietários oferecem

incentivos para os contratados colaborarem.

Além disso, os proprietários tendem a escolher um contratado com base em sua forte

reputação no mercado ou o menor preço de oferta, sem qualquer diligência além das

informações financeiras da empresa. Pouca importância é dada às capacidades, desempenho e

qualidades diferenciadoras dos empreiteiros. Uma análise recente da McKinsey&Co sobre

grandes projetos de investimento encontrou um custo médio de 80% em excessos no setor

devido a mudanças nos pedidos. A análise constatou que todas as partes envolvidas nos projetos

contribuíram para a mudança de ordens, cuja implicação é necessária para que todos os

stakeholders promovam uma colaboração melhorada e profunda. Proprietários de projetos,

designers, contratados, subcontratantes e fornecedores de materiais, todos precisam

desempenhar seu papel na promoção de melhorias e colaboração que ajuda a aumentar a

estabilidade e previsibilidade do processo, aumentando assim a produtividade dos processos do

projeto (MCKINSEY & CO, 2016).

3.8.3 Mudança número 3 : Repensar o design e os projetos de engenharia

Devido ao grande número de variações nas especificações dos projetos, estes geralmente

se tornam muito especializados, o que torna difícil o trabalho em conjunto de contratantes e

73

fornecedores de forma eficiente e resulta em baixa produtividade. O processo de design precisa

ser simplificado e se tornar mais colaborativo, e a repetibilidade dos desenhos encorajada, para

impulsionar a escala na produção de elementos utilizados em projetos de construção. O ato de

se projetar cedo, tem o maior potencial para influenciar o eventual custo de um projeto. Reduzir

o overdesign, melhorar a coordenação, remover a ambigüidade e criar um design construtível e

econômico que maximize a quantidade de componentes que podem ser produzidos fora do local

têm um impacto significativo no resto do processo de construção (SCOTT e O’ROURKE,

2017).

O gasto de capital em materiais, tipicamente 50% do custo total de construção, seria

mais baixo; o número de erros cairia; e redução do número de elementos que estão instalados

iria acelerar a construção. A Implementação completa das melhores práticas de design e

processos de engenharia, pode oferecer grandes melhorias de produtividade e é a chave para

qualquer mudança para uma produção em massa como o sistema de produção manufatureiro

(MGI, 2017) .

3.8.4 Mudança número 4 : Melhorar a aquisição e gestão da cadeia de abastecimento

(supply-chain)

Compras efetivas e gestão da cadeia de suprimentos são comprometidas pela

fragmentação da indústria da construção. O fraco desempenho em ambos é responsável por um

parcela significativa de todos os prazos e custos excedentes no setor, comprometendo a

produtividade. Pesquisas conduzidas pela McKinsey Procurement Practice (2015) indicam que

a construção é um dos setores menos sofisticados nas práticas de aquisição e cadeia de

suprimentos. Empresas pode pagar mais de 15% por materiais e serviços, enquanto a fraca

gestão da cadeia de suprimentos é responsável de 10% a 30% do custo e do tempo excedido.

Assegurando que os materiais e serviços são entregues no prazo, reduz-se o desperdício, as

dificuldades de programação e alterações de pedidos de clientes; e maximiza a utilização de

recursos, o que gera maior produtividade.

3.8.5 Mudança número 5 : Melhora dos serviços de campo, no canteiro de obras

Apesar do desejo e compromisso da indústria da construção de melhorar a maneira como

os serviços são executados in situ, ou seja, no canteiro de obras, as curvas de melhoria de

74

produtividade do setor sugerem que a indústria até agora não conseguiu fazê-lo. A execução de

projetos de construção é uma dos principais desafios gerenciais. Os projetos podem ter vários

subcontratantes e centenas de trabalhadores no local que nunca trabalharam juntos antes.

Enquanto a engenharia e as empresas de construção tentam implantar programas sofisticados

de gerenciamento, a realidade é que apesar desses sistemas, a indústria se esforça para entregar

projetos dentro do orçamento e dentro do prazo. Os esforços atuais para melhorar a execução

de serviços de campo muitas vezes dependem de aspectos históricos e não modernos

(ZABELLE, 2017).

Esta situação persiste até hoje na indústria da construção. A gestão do trabalho no local

é um complexo e dinâmico desafio muitas vezes deixado para encarregados e mestres-de-obra

que podem não ter o conhecimento, treinamento e ferramentas necessárias para realizar seu

trabalho de maneira eficaz. Outro problema é a crença, entre muitos gerentes, de que os

trabalhadores não querem trabalhar eficientemente, levando à adoção de abordagens que muitas

vezes resultam em consequências não intencionais. Estas abordagens incluem a acumulação de

grandes estoques de materiais de entrada, a aplicação do Método do Caminho Crítico (CPM)

para gerenciar a execução do trabalho e o desejo de mover o trabalho às oficinas externas de

fabricação e montagem. Modelos de contratação que pretendem mitigar e / ou controlar os risco

de mudança também contribuem para incentivos conflitantes que resultam em custos e

programação excedente, que os superintendentes e encarregados devem resolver. Enquanto

algumas destas medidas têm tratado os sintomas do problema, as mesmas têm sido ineficazes

em encontrar as verdadeiras causas raiz (MGI, 2017).

3.8.6 Mudança número 6 : Inserção de tecnologia digital, novos materiais e automação

avançada

Existem quatro principais tendências digitais capazes de permitir que a indústria da

construção consiga suas mudança na produtividade, principalmente melhorando a coordenação

e a transparência (MGI, 2017) :

a) Próxima geração BIM-5D : ferramentas de design virtual como o BIM permitem

a “geminação virtual” de projetos. Isso envolve a criação de uma representação

digital do espaço físico e das dimensões espaciais de um projeto, o que ajuda os

envolvidos a tomar decisões mais efetivas e rápidas. Além disso, a tecnologia

75

5D adiciona camadas de prazo (cronograma) e custo à representação 3D (MGI,

2017).

b) Colaboração e mobilidade digital : empresas de construção estão se afastando de

processos pesados de papel, substituindo-os por fluxos de trabalho digitais que

abrangem etapas do conceito do projeto ao comissionamento. Eles assumem a

forma simples, intuitiva e de aplicativos amigáveis que permitem colaboração e

comunicação em tempo real entre equipes, muitas vezes carregadas em

dispositivos portáteis e móveis que ajudam a rastrear a produtividade da força

de trabalho.

c) Levantamento por Geolocalização : tradicionalmente, a indústria usava medição

de distância para topografia, que era altamente trabalhosa. Agora fotogrametria

e sistemas de posicionamento por satélite que produzem imagens de alta

resolução estão sendo introduzidos, como os programas baseados em Global

Position System (GPS) ou Sistema Global de Localização, mas o tempo de pós-

processamento necessário para converter as informações em dados utilizáveis o

torna mais útil para grandes áreas, não sendo muito viável em pequenas

construções.

d) Internet das coisas e análises avançadas : Através da Internet das Coisas,

sensores e comunicação; a chamada Near Field Communication (NFC) pode ser

usada para rastrear a utilização e desempenho de ativos e equipamentos de

construção. Eles capturam dados em tempo real de equipes, equipamentos e

fornecedores, para permitir que os contratados simplifiquem suas cadeias de

suprimentos, conciliando o estoque de material com disponibilidade física e

analisando a produtividade. Empresas também têm a oportunidade de

implementar análises avançadas baseadas em padrões e tendências (insights)

sobre a produtividade dos projetos e tomada de decisões no dia-a-dia.

3.8.7 Mudança número 7 : qualificação da mão-de-obra

De acordo com a MGI (2017), existem três meios eficazes de melhorar a qualificação

do trabalho, uma das causas raízes da baixa produtividade na construção civil.

76

O primeiro método é o desenvolvimento de modelos de aprendizagem fortes. A

aprendizagem é uma forma estabelecida e bem sucedida de garantir um fluxo de trabalhadores

para a indústria. No entanto, em vários países, as oportunidades de acesso à informação e

aprendizagem são insuficientes. No Reino Unido, estima-se que 42.000 aprendizes por ano são

necessários para atender a demanda, mas apenas 18.000 estavam matriculados em 2014. Nos

Estados Unidos, não houve aumento significativo de aprendiz, mesmo quando a indústria se

recuperou da recessão ( UK House of Commons Library, 2015).

Outro método se refere a qualificação dos profissionais mais especializados do setor da

construção. Para os intitulados trabalhadores de primeira linha de uma empresa de construção

(engenheiros, supervisores e gestores), a pesquisa da McKinsey’s Practice Organization (2015),

sobre aprendizagem de adultos e o desenvolvimento de suas capacidades, sugere que os adultos

tendem a aprender melhor quando as lições de “fórum” em sala de aula são fortemente

complementadas pelo trabalho de campo prático, que permite que o ciclo de aprendizagem seja

completado e internalizado em hábitos eficazes. Aplicado à construção, que recentemente

voltou seu foco para a aquisição de certificações de gerenciamento de projetos, lições de livros

didáticos tipicamente tendem a ter menos impacto do que o esperado, a menos que estejam

emparelhados com uma pronta aplicação de campo para que os trabalhadores possam incorporar

lições práticas aprendidas. Além disso, em organizações onde existe o treinamento dessa linha

de frente, a qualificação tem se concentrado em uma única habilidade, como a instalação de

isolamento em gesso drywall, que não prepara o trabalhador para um cargo de nível de

supervisão no futuro. Esta multiespecialização de treinamento está cada vez mais fora de

sintonia com uma indústria na qual a nova tecnologia necessita quebrar as barreiras dos

negócios tradicionais, com as disciplinas se tornando mais interligadas do que sequenciais

(BURLESON, 1998).

O último método se refere ao investimento na gestão do conhecimento. A tecnologia

prepara melhor os trabalhadores para se comunicar uns com os outros e aproveitar os canais

informais para compartilhar as melhores práticas. Empresas precisam criar uma cultura na qual

o compartilhamento de conhecimento no local de trabalho seja incentivado e recompensado.

Pequenas melhorias de eficiência individuais comunicadas a outros trabalhadores podem trazer

grandes melhorias para um projeto. Investimento em sistemas de gestão do conhecimento,

incluindo ferramentas de software, intranets de empresas e bibliotecas, permitem que melhores

sejam compartilhadas entre diferentes equipes nos projetos (MGI, 2017).

77

4 METAS E INDICADORES DE PRODUTIVIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL

CONCEITUAÇÕES

4.1.1 Metas

A meta pode ser definida como um indicador no qual seu cumprimento deve ser atingido

num determinado período de tempo, sendo este período de tempo definido com base em um

planejamento estratégico. O conceito de meta vem da quantificação de um objetivo, e pode ser

qualificada em dois segmentos, sendo eles instrumental ou de desempenho e estilista. As metas

instrumentais são expressas através de dados e informações quantificadas, como metas

financeiras de uma organização, pois podem reter algum valor extrínseco. Já as estilistas,

possuem valores intrínseco, sendo assim de caráter qualitativo. Um exemplo disso, seria uma

empresa ter como meta estilista o reconhecimento como referencial de excelência em gestão

em seu setor (ACKOFF, 1970).

Nesse contexto, torna-se importante diferenciar metas de objetivos. De acordo com De

Paula (2016), objetivos representam um desejo ou intenção de realizar uma determinada tarefa,

enquanto as metas representam o fim específico e quantificado para esta mesma tarefa. Pode-

se dizer que os objetivos fornecem uma direção para tal execução e metas são esses objetivo

quantificados.

Considerando os conceitos anteriormente citados sobre metas e a premissa que aquelas

são positivas para as instituições e organizações, diferentes autores estudaram-as. Locke e

Latham (1990, 2006) são dois dentre os principais. Os autores desenvolveram uma teoria sobre

metas seguindo a mesma ideia de que metas trazem efeitos positivos para as organizações. Esta

teoria consiste no aumento de desempenho de uma organização através de um conjunto de

metas previamente estabelecidas, o chamado plano de metas. Foram observados alguns

benefícios que as metas de desempenho trouxeram para os trabalhadores de uma organização,

como o estímulo à motivação, ganho de persistência e noção de direção no trabalho. Estas

metas de desempenho devem ser construídas segundo três vertentes : desafiadora, específica e

atingível. As metas desafiadoras devem ser priorizadas quanto às de fácil alcance, pois estas

últimas não são tão motivadoras nem elevam o patamar da empresa como as desafiadoras.

Porém, em relação a estas últimas, é preciso dosar o grau do desafio, para que estas metas sejam

atingidas, ou seja, os trabalhadores sabem que a meta não representa algo que permanece no

78

plano da idéias, e sim algo concreto e alcançável. As metas devem também ser específicas, para

se direcionar o que fazer e com clareza, sem que haja dúvidas. Estas três características que

embasam as metas de desempenho aumentam a produtividade e melhoram os resultados em

uma empresa (LOCKE; LATHAM, 1990, 2006; TOSI, 1991).

Yearta, Maitlis e Briner (1995) notaram que várias organizações que têm por objetivo a

melhora dos resultados em uma empresa, utilizam o plano de metas para motivar seus

empregados. Logo, os autores fizeram uma pesquisa para a verificação da relação entre metas

definidas por meio de um processo participativo e desempenho organizacional. Os resultados

da pesquisa mostram que a participação dos trabalhadores na definição do plano de metas

influencia positivamente o desempenho dos próprios, reforçando a hipótese inicial de que metas

motivam as pessoas.

É importante notar que os autores que defendem as metas como grande fator

motivacional em uma empresa, argumentam que na mente dos empregados, o sucesso em

alcançar uma meta traz um tipo de recompensa, nem sempre monetária ou até mesmo tangível,

mas uma recompensa interna, como um sentimento de orgulho ou auto-reconhecimento por ter

cumprido o que se dispôs a fazer. Por exemplo, se o presidente de uma empresa pede a um

analista que faça um relatório e este último o executa de maneira correta e bem feita, mesmo

sem benefícios financeiros por isto, o analista sente-se recompensado interiormente (FRIED;

SLOWIK, 2004).

Fried e Slowik (2004) acrescentam uma importante variável na análise de metas, além

daquelas já citadas, o fator tempo. Assim, além de desafiadora, específica e atingível, deve ser

dado ao empregado um tempo que seja suficiente para que aquele cupra a meta. Observa-se

também que para que as metas não sejam esquecidas e perdidas de vista, estas metas devem ser

descritas e formalizadas, e mensuráveis, para serem quantificadas e assim determinísticas,

assim é possível se alcançar um desempenho superior (GEORGE, 2006).

Medlin e Green Júnior (2009) verificaram se a utilização de metas aumenta o

engajamento das pessoas, seu otimismo e desempenho. O resultado mostra que a produtividade,

o engajamento e o otimismo das pessoas foram impactados positivamente. Apesar de reafirmar

os conceitos estabelecidos pela teoria das metas, é importante notar que este estudo possui

limites de interpretação, pois o mesmo foi realizado baseando-se apenas na percepção pessoal

dos entrevistados, e não em dados específicos gerados pela produtividade das pessoas.

Boyne e Chen (2007) também contribuíram para o estudo dos planos de metas ao

realizar uma pesquisa em organizações de ensino público na Inglaterra, com o objetivo de

verificar se o estabelecimento de um plano de metas aumentava o desempenho destas

79

organizações. O estudo foi feito entre 1998 e 2003 e as conclusões constataram que essa relação

era estatisticamente verdadeira, corroborando a teoria das metas nas instituições públicas

pesquisadas.

Chua e Lee (2007) realizaram um estudo prático explicitando a importância do

planejamento das metas de aprendizado para o desenvolvimento de uma organização. Os

autores mostraram que é possível ajudar a organização a aumentar o seu aprendizado, definindo

metas personalizadas e coletivas dentro de um modelo planejado, refletindo assim no aumento

do desempenho.

Constatou-se então que muitos estudos e pesquisas corroboram e complementam a

teoria das metas, porém sua aplicação pode garantir o sucesso de uma organização, pois os

resultados obtidos por diversas organizações são muito variáveis. Logo, é importante o estudo

dos autores que discordam da teoria citadas ou impõem-na limites (COUTO, 2011).

Ordóñez et al. (2009), indo em contrapartida ao uso indiscriminado da teoria das metas,

destacam que seu uso pode afetar negativamente a saúde de uma empresa, se a teoria for

utilizada sem conhecimento prévio.

Chu (2004) observou através de uma pesquisa que 83% das empresas americanas que

utilizavam o sistema de remuneração por alcance de metas para obter maior desempenho,

possuíam algum problemas em sua plano de metas, fazendo assim com que aquele sistema não

funcionasse por completo ou em parte. Este problema ficou evidenciado em organizações

americanas e provavelmente ocorreria nas demais.

Pflaeging (2009) notou que um número cada vez maior de líderes empresariais está

notando que as metas de desempenho não estão levando as empresas a um desempenho

superior, apesar dos mesmos reconhecerem a importância destas metas na prática. O autor

constatou que existe algum problema com o plano de metas utilizado pelas empresas e que a

economia e a sociedade estão em constante transformação e desenvolvimento, enquanto que os

princípios dos modelos de gestão continuam os mesmos de décadas atrás.

4.1.2 Indicadores de Produtividade

Paladine (2002) considera que existem três tipos básicos de indicadores, em relação os

ambientes de produção da qualidade, que são: indicadores de desempenho; indicadores de

suporte e os indicadores de qualidade.

80

A primeira definição sobre os indicadores de qualidade e produtividade refere-se à

definição dada por Paladini (2002).

Indicador da qualidade e da produtividade são mecanismos de avaliação formulados em

bases mensuráveis. Logo, a primeira condição para que exista um indicador é que exista uma

forma de quantificar o que se deseja avaliar (PALADINI, 2002).

A tabela 4.1 evidencia as características particulares de cada indicador.

Tabela 4.1 - Características principais sobre os indicadores em relação aos ambientes de produção

Fonte : Paladini (2002)

81

A partir da tabela 4.1 tem-se uma percepção maior da atuação dos três tipos de

indicadores nos ambientes de produção da qualidade. É importante reforçar o que cada

indicador avalia. Os indicadores de desempenho avaliam exatamente o desempenho dos

processos de produção; indicadores de suporte medem propriamente as ações de suporte ao

processo, quais e quantas ações são tomadas para auxiliar o processo, já o impacto dessas ações

é avaliado por indicadores de qualidade. Todos esses fatores afetam diretamente a

produtividade dos processos.

Para o NORIE (2007), considerando a situação específica a que for aplicado, o indicador

deve atender aos seguintes requisitos:

a) Seletividade: o indicador deve estar relacionado a fatores essenciais ou críticos

do processo a ser avaliado, identificados a partir de uma perspectiva estratégica.

b) Representatividade: o indicador deve ser escolhido ou formulado de forma que

possa representar satisfatoriamente o processo ou produto a que se refere.

c) Simplicidade: deve ser de fácil compreensão e aplicação principalmente para

aquelas pessoas diretamente envolvidas com a coleta, processamento e avaliação

dos dados.

d) Baixo custo: deve ser gerado a custo baixo. O custo para coleta, processamento

e avaliação não deve ser superior ao benefício trazido pela medida.

e) Acessibilidade (transparência): os dados para cálculo do indicador devem ser de

fácil acesso, transparentes (mostrando exatamente a situação em que os

processos se encontram) e estarem disponibilizados, preferencialmente, através

de mecanismos visuais.

f) Estabilidade: devem ser coletados com base em procedimentos rotinizados

incorporados às atividades da empresa e que permitam sua comparação ou a

análise de tendências ao longo do tempo.

g) Abordagem experimental: é recomendável desenvolver, inicialmente, os

indicadores considerados como necessários e testá-los na prática.

h) Comparação externa: alguns indicadores devem ser desenvolvidos para permitir

a comparação do desempenho da empresa com o de outras empresas do setor ou

empresas de outros setores, a fim de que possam ser utilizados como benchmarks

e na avaliação da competitividade da empresa dentro do seu setor de atuação.

i) Melhoria contínua: os indicadores devem ser periodicamente avaliados e,

quando necessário, devem ser modificados ou ajustados para atender as

mudanças no ambiente organizacional e não perderem seu propósito e validade,

82

sempre buscando a melhoria contínua, em métodos como o Plan, Do, Check, Act

(PDCA).

ELABORAÇÃO

4.2.1 Como elaborar metas nas empresas

Qualquer empresa precisa estabelecer metas, que relacionada à uma variável de tempo,

definem qual caminho seguir e quais processos a organização deve alterar ou manter para que

seu objetivos específicos e quantificados sejam atingidos. Marques (2018) cita cinco maneiras

de como uma empresa deve estabelecer metas em uma empresa.

A primeira maneira é através da análise de receita bruta. Muitas organizações desejam

aumentar seu faturamento, porém, esta é uma ideia vaga. De acordo com a teoria de metas, uma

meta deve ser objetiva, quantificada e possível de ser realizada (GEORGE, 2006). Logo, deve-

se buscar um aumento específico em porcentagem no número de vendas dentro de um prazo

viável, para aumento da receita bruta da empresa.

A segunda maneira diz respeito aos custos de produção. Os custos de produção são

considerados custos variáveis, ou seja, é possível negociar preços com fornecedores na compra

de mais matéria prima, diminuindo os custos de produção. Como o lucro de uma empresa é

basicamente, a subtração entre receita e custos, a análise, mesmo que simplória, dos dois fatores

juntos, indica uma análise geral de lucro financeiro para a empresa. Desta maneira, a metas

viriam através da redução dos custos, por quantia monetária ou porcentagem.

O terceiro método passa por criar metas que avaliem a satisfação dos clientes, em

porcentagem, para um determinado tipo de produto, durante um tempo específico pré

estabelecido. A conquista de novos clientes e fidelização destes e inclusive dos antigos, pode

criar um bom índice que meça a qualidade dos produtos e serviços oferecidos pela empresa.

A quarta maneira de se estabelecer metas é através da qualidade da mão-de-obra. Como

a meta deve ser quantificada, neste quesito pode-se estabelecer metas que relacionem a

quantidade de investimento da empresa (para treinamento de seus funcionários), com a

qualidade dos serviços executados dentro de um prazo específico. Um bom indicador para

se analisar se a meta foi alcançada, no caso, seria a diminuição de defeitos e falhas no produto

final, ou a redução de retrabalho.

83

A última forma passa pelo estudo de turnovers de uma empresa num espaço

determinado de tempo. O turnover indica a rotatividade da mão-de-obra em uma empresa.

Metas possíveis seriam através da análise do tempo que cada funcionário ou equipe permanece

na empresa, tendo em vista que um funcionário que seja mais antigo na empresa, conhece

melhor a cultura daquela e geralmente consegue atingir as metas com mais eficiência, quando

ainda motivado (MEDLIN; JÚNIOR, 2009).

4.2.2 Indicadores de Produtividade

Segundo Werner (2018), a elaboração de indicadores deve se dar junto à criação do

plano de negócios de uma empresa. Estes indicadores visam gerar uma melhora real e

significativa nos processos, tendo em vista atender as necessidades dos clientes, funcionários,

comunidade e meio ambiente. São chamados de indicadores inteligentes pelo fato de de sua

contribuição real nas metas previstas, pois muitas vezes, indicadores mesmo que bem

intencionados, não produzem efeito algum na melhora dos processos de uma atividade, pois

foram mal elaborados para atendimento das necessidades dos stakeholders, logo não foram

inteligentes. Para chegar-se a indicadores inteligentes, são precisos alguns passos descritos

abaixo :

Estudo dos stakeholders : entender os anseios e necessidades dos clientes,

funcionários, comunidade e meio ambiente devem ser o ponto de partida. Por

exemplo, no caso de clientes de um certo serviço, os problemas devem ser

resolvidos o mais rápido possível, logo num primeiro contato, de maneira

eficiente e definitiva. Para se chegar a esse objetivo, é preciso perguntar ao

cliente o que ele espera do serviço e estar pronto para ouvir as críticas e extrair

delas melhorias;

identificação das demandas por falha ou demandas de valor : são aquelas que

podem ser exemplificadas como reclamações de clientes, retrabalho dos

funcionários aumentando o tempo total de execução do trabalho, erros de

logística e problemas na qualidade. De maneira geral, são os desperdícios. Para

sua identificação, é fundamental sair do escritório e conhecer melhor os pontos

de interação da empresa . Demandas por falha chegam a consumir 50% do tempo

e recursos de uma equipe (WERNER, 2018);

84

definição de novos processos e indicadores : quando identificada a falha em

algum processo anterior, este processo deverá ser aprimorado, gerando um novo

processo, num processo de melhoria continua até que se elimine por completo

ou quase completamente as demandas por falhas. É imprescindível a

participação dos funcionários e de todos que atuam nesses processos, pois são

esses que conhecem os problemas na prática a fundo, oferecendo soluções

simples que serão de suma importância para o sucesso da empresa e o alcance

das metas.

É importante salientar que o simples foco em reduzir os custos pode não ser uma boa

estratégia, uma vez que o não atingimento da satisfação do cliente pode levar os funcionários a

refazerem os mesmos processos, acabando por fim aumentando os gastos e desperdícios de

recursos. O alvo deve ser sempre a agregação de valor no produto final para o cliente, o que

acaba o fidelizando e também diminuindo os custos a longo prazo. Werner (2018) ainda realça

dois pontos a serem considerados na realidade empresarial, descritos abaixo :

Autonomia na ponta : mesmo sendo uma verdade contraintuitiva, a autonomia

na ponta (autonomia para os trabalhadores em cargos inferiores) é muito

importante, assim como nem sempre é eficaz o aumento de processos de

controle;

metas bem definidas : as metas, por definição, são objetivos quantificados, logo

não são arbitrárias, e sim bem pensadas e planejadas. Metas arbitrárias a

princípio, geram resultados menos daqueles esperados como potencial máximo

do sistema.

De acordo com Paladini (2002), o estabelecimento de um indicador se deve à múltiplos

fatores, os quais são especificados na tabela 4.2.

85

Através da tabela 4.2, interpreta-se que a primeira coisa a ser estudada no processo é o

elemento envolvido no processo que pode estar afetando a produtividade do processo. Esse

elemento pode ser considerado o problema causa, como desperdício, motivação baixa da mão-

de-obra e rotatividade da própria. Após, é preciso se estabelecer o fator que causa esse

problema. Por exemplo, dentro do elemento motivação, o que precisa ser estudado são as

pessoas envolvidas no processo, pois por algum motivo essas pessoas não estão motivadas,

levando à última coluna da tabela, a medida. Continuando o exemplo, para motivação, a medida

é o número de pessoas que estão sendo afetadas pelo problema.

Tabela 4.2 - Exemplo de estrutura dos indicadores

Fonte : Paladini (2002)

86

INDICADORES DE PRODUTIVIDADE MAIS UTILIZADOS NA CONSTRUÇÃO

CIVIL

Uma importante ferramenta para estudo e medição da produtividade na construção civil,

de grande significância no setor, é o Manual Básico da Câmara Brasileira da Indústria da

Construção (CBIC). A entidade adota dois indicadores como os principais para mensuração e

controle da produtividade nas obras de construção civil, a Razão Unitária de Produção (RUP)

e o Consumo Unitário de Materiais (CUM). Foram estes os fatores escolhidos para serem

destrinchados e estudados mais a fundo no presente trabalho. Utilizou-se também como base,

os indicadores de composição de custo Tabela de Composições e Preços para Orçamentos

(TCPO) e o Sistema Nacional de Pesquisa de Custos e Índices da Construção Civil (SINAPI).

4.3.1 Razão Unitária de Produção (RUP)

A Razão Unitária de Produção (RUP) é o indicador que mensura a mão de obra na

construção civil. Souza (1996) introduziu o termo no país, que calcula a razão entre homem-

hora(Hh) despendidos sobre a quantidade de produtos obtidos (quantidade de serviço). A figura

mostra como calcular a RUP :

Figura 4.1 – Cálculo da RUP

Fonte : CBIC (2017)

Neste cálculo, considera-se a quantidade “líquida” de serviço executado (por exemplo,

para casos de revestimento, onde a quantidade de serviço é medida em área, são

desconsideradas as áreas de abertura; para sistemas prediais, onde aquela quantidade é medida

em metros de tubulação, são desprezadas as perdas embutidas no orçamento, ou seja, são

considerados os metros de tubulação efetivamente instalados na edificação) e o tempo em que

os operários estiveram disponíveis para realizar o trabalho, sendo assim, são considerados os

87

tempos produtivos e improdutivos. Da mesma maneira, nao sao consideradas, neste cômputo,

as horas-extra recebidas pelos operários (PALIARI e SOUZA, 2008).

O mesmo cálculo da RUP pode ser expresso de maneira similar, dividindo-se as entradas

pelas saídas. Em relação às entradas, o número de homens-hora demandados é calculado através

da multiplicação entre o número de homens envolvidos (trabalhadores) pelo período de tempo

(geralmente em horas) de dedicação ao serviço. As saídas podem ser consideradas de maneira

bruta ou líquida. No que se refere ao período de estudo, as horas computadas para detecção da

produtividade podem estar relacionadas tanto a um dia específico quanto a um estudo de longo

prazo (SOUZA, 2001).

Segundo Souza (2001), o RUP pode ser classificado em classificado de acordo com dois

quesitos : abrangência (tipo de mão-de-obra analisado) e o intervalo de tempo relacionado às

entradas e saídas.

Para o quesito de abrangência, a RUP como RUP Oficial (associada à mão-de-obra dos

oficiais envolvidos diretamente na produção), RUP Direta (além dos homens-hora computadas

da RUP Oficial, soma-se as horas correspondentes dos ajudantes envolvidos diretamente com

a produção) e, por fim, a RUP Global, na qual envolve-se toda a mão-de-obra de alguma

maneira relacionada ao serviço em análise.

Já quanto ao intervalo de tempo, classifica-se o indicador em RUP Diária

(produtividade de jornada diária dos envolvidos no processo), RUP Cumulativa

(produtividade acumulada em um certo período de tempo) ou RUP Cíclica, somente adotada

quando o serviço possui ciclos de produção bem definidos (por exemplo, a cada pavimento, a

cada semana, etc).

Além das citadas acima, também é importante se destacar a RUP Potencial, calculada

pela mediana dos valores de RUP Diária abaixo da RUP Cumulativa. Ainda de acordo com

Souza (2001), “a RUP Potencial constitui em um valor de RUP Diária associado à sensação de

bom desempenho e que, ao mesmo tempo, mostra-se factível em função dos valores de RUP

Diária detectados”.

A seguir, foram analisadas, a partir do estudo de Costa, Santana, Santos e Guimarães

(2013), para quatro obras distintas (de diferentes tipologias estruturais e porte de

empreendimento) na cidade de Salvador, a Razão Unitária de Produção por Pavimento

(RUPpav), que corresponde a quantidade de homem-hora da equipe direta trabalhadas em

relação a quantidade de serviço do ciclo de coleta, ou seja, o pavimento tipo e a Razão Unitária

de Produção Cumulativa (RUPcum), que leva em conta o somatório das quantidades de homem-

88

hora da equipe direta e o somatório da quantidade de serviço realizado durante o período de

estudo.

Em alguns processos, como fôrma e armação, que a coleta de elementos como pilar,

viga e laje foram desdobrados, analisou-se ainda Razão Unitária Global (RUPglobal), que

corresponde ao somatório das quantidades de homem-hora da equipe direta de todos os

elementos estudados (pilar + viga + laje) e o somatório da quantidade de serviço realizado

durante o período de estudo para estes três elementos. Quanto à análise dos resultados obtidos,

tem-se que quanto menor o valor da RUP encontrado, mais eficiente é o processo de produção.

Para apoiar esta análise, ao longo do texto serão apresentados os gráficos com os valores

encontrados nas obras conforme o exemplo da figura 4.2.

A figura 4.2 explica exatamente o que são os valores que foram encontrados e

explicitados ao longo dos gráficos das RUP aqui evidenciados.

Primeiramente, foi leva em consideração, a produtividade do processo de fôrmas. As

fôrmas são estruturas provisórias, podendo ser de madeira ou metálica construída para conter o

concreto fresco (de pilares, vigas e lajes), dando a ele a forma e as dimensões requeridas,

suportando-o até que o mesmo adquira a capacidade de auto suporte. Este trabalho foi

desenvolvido em obras que utilizam fôrmas de madeira e com sistema de escoramento e

reescoramento formado por torres metálica (COSTA; SANTANA; SANTOS; GUIMARÃES,

2013).

Figura 4.2 – Gráfico modelo para análise de dados

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

89

É importante conhecer o processo de construção de uma fôrma para se estudar sua

respectiva produtividade (ARAÚJO, 2000). A figura 4.3 mostra tal processo citado.

Conhecendo a divisão de tarefas e subtarefas do serviço de fôrmas, pode-se

compreender melhor a produtividade envolvida em tal serviço. Porém, antes, descreve-se as

características do serviço de fôrmas para cada uma das obras estudadas, representadas abaixo

na tabela 4.3.

Figura 4.3 - Tarefas e subtarefas do processo de armação

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013; adaptado de ARAÚJO, 2000)

90

Tabela 4.3 - Características do processo de fôrmas nas obras estudadas

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

A tabela 4.3 evidencia claramente as diferenças das obras quanto à sua tipologia

estrutural na parte de fôrmas e ao quantitativo da mão de obra. A seguir, na figura 4.4, estão

respectivamente a faixa dos valores de referência da TCPO 14 e as RUPs encontradas nos

empreendimentos estudados para o processo geral de execução de fôrmas (pilar + viga + laje),

considerando somente os carpinteiros.

Figura 4.4 - : RUP Global (pilar + viga + laje) para carpinteiros

Fonte : Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

91

Os valores (E.1 = 0,44Hh/m2 ; E.2 = 0,72Hh/m2 ; E.3 = 0,32Hh/m2 ; E.4 = 0,60Hh/m2)

encontram-se na faixa verde da TCPO (0,39Hh/m2 – 0,72Hh/m2), ou seja com maior eficiência.

Contudo, os valores adotados da TCPO como referência incluem o elemento “escadas”, que

influencia no aumento do valor da RUP, enquanto que nas obras estudadas, a escada não foi

contabilizada no cálculo, o que explica a tendência dos dados dos empreendimentos estudados

estarem situados na faixa de valores mínimos da TCPO (COSTA; SANTANA; SANTOS;

GUIMARÃES, 2013).

A tabela 4.4 abaixo revela os valores das RUPs do processo de fôrmas para as quatro

obras estudadas, separadas pelos elementos que compõem o serviço. Os resultados da mediana

das RUPs estão sendo comparados com os valores das composições de custos da TCPO 14

(Tabela de Composições de Preços para Orçamentos 14).

Tabela 4.4 - Indicadores de produtividade de fôrma por elemento

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

Na tabela 4.4 acima, pode ser observado que os valores da mediana para carpinteiro

estão próximos aos valores da TCPO, mas isto se deve ao fato da mediana da RUP encontrada

para uma das obras ser mais elevada em relação às demais obras, pois a mesma tem estrutura

plana com vigas de bordo. De acordo com a TCPO 14, uma predominância de vigas externas

tende a elevar a RUP, ou seja, o processo torna-se menos eficiente. Os demais valores de

mediana das RUPs encontrados tendem a mostrar valores mais baixos, e consequentemente,

mais produtivos (COSTA; SANTANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2013).

92

Estudou-se após as fôrmas, o serviço de armação. A armadura é o componente estrutural

de uma estrutura de concreto armado, formado pela associação de diversas peças de aço. O aço

nas estruturas de concreto armado tem como principal função aumentar a capacidade resistente

das peças comprimidas (COSTA; SANTANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2013). A figura 4.5

a seguir mostra o processo construtivo de armação em uma obra.

Para o serviço de armação, Araújo (2000) separa as tarefas e subtarefas do serviço

similarmente ao de fôrmas, em processamentos iniciais e finais para execução de vigas, pilares

e lajes.

A tabela 4.5 abaixo apresenta características específicas de três empreendimentos de

Salvador, sendo que os mesmos possuem a mesma tipologia estrutural e porte similar.

Figura 4.5 - Tarefas e subtarefas do processo de armação

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013; adaptado de ARAÚJO, 2000)

93

Apesar do quantitativo de mão-de-obra diferente nas três obras, observa-se que

realmente, o tamanho do porte da obra, é semelhantes nos três casos, podendo-se compará-los

em termos de produtividade.

A figura 4.6 apresenta as RUPs globais dos armadores nas construções estudadas.

De acordo com Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013), pode-se observar que a obra

E.1 possui uma melhor produtividade em relação às obras E.2 e E.3 (0,032 Hh/kg; 0,073 Hh/kg

e 0,047 Hh/kg respectivamente). Isto pode ser devido: à densidade da armadura da seção

Tabela 4.5 - Características do processo de armadura dos empreendimentos estudados

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

Figura 4.6 - RUP Global (pilar + viga + laje) para armadores

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

94

transversal dos pilares ir diminuindo ao se elevar a estrutura, facilitando a colocação da mesma;

a uma maior quantidade de trabalhadores, já que a mão de obra envolvida no serviço de armação

é um dos pontos de extrema relevância no estudo da produtividade, uma vez que o serviço de

armação é potencial causador da ociosidade de mão de obra dentro do canteiro (ARAÚJO,

2000) ou à existência de alguns ciclos da obra E.3 utilizar outros tipos de transporte das

ferragens para garantir o prazo da concretagem, por haver paralisação da grua por problemas

mecânicos que acarretou no atraso da subida da ferragem.

Observa-se também separadamente a execução das armaduras por elementos. A tabela

4.6 mostra os valores das RUPs do processo de armadura para as três obras estudadas,

separando-as entre pilar, viga e laje. Os resultados da mediana das RUPs estão sendo

comparados com os valores da TCPO (Tabela de Composições de Preços para Orçamentos 14).

Embora os valores das RUPs Pilar e Laje sejam relativamente próximos, apenas uma

das obras ficou com índice abaixo da TCPO, as demais tiveram valores próximos do dobro do

valor da TCPO, o que mostra uma grande ineficiência do processo. Os valores das RUPs dos

serventes para pilar foram baixos, pois as empresas utilizaram uma menor quantidade de

Tabela 4.6 - Indicadores de produtividade de armadura por elemento

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

95

trabalhadores para o serviço, devido à compra do aço cortado e dobrado. Todas as obras

possuíam um canteiro apertado, além disso, a falta de organização dos materiais no mesmo

também influenciou na produtividade comprimidas comprimidas (COSTA; SANTANA;

SANTOS; GUIMARÃES, 2013).

O último processo estudado nesta monografia foi o de concretagem. De acordo com

Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013), concretagem é o nome que se dá ao conjunto de

atividades relativas à execução do concreto em obra, incluindo recebimento ou produção,

transporte e aplicação do concreto. É a etapa final do ciclo de execução da estrutura, com a

menor duração, porém necessita de um bom planejamento visando minimizar os fatores que

interferem no processo e aumentando assim a produtividade do serviço.

A tabela 4.7 mostra as características de cada obra antes das tabelas de RUP

propriamente ditas.

Observa-se que os empreendimentos têm características semelhantes, variando a

distribuição da mão de obra no momento da concretagem, separadas em duas equipes : equipe

de concretagem de pilar e equipe de concretagem de viga e laje. Logo, a análise de

produtividade pela RUP foi dividida para cada uma dessas equipes.

A figura 4.7 abaixo apresenta uma comparação entre os valores de referência da

TCPO14 e a faixa das RUPs de concretagem encontradas nas obras abordadas. Ambas as faixas

consideram a quantidade de serviço total e as horas trabalhadas de pedreiros e serventes,

Tabela 4.7 - Características do processo de concretagem nos empreendimentos estudados

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

96

formando uma única equipe. Estes dados consideram as atividades de transporte, espalhamento

e vibração, e acabamento no processo de concretagem.

Figura 4.7 - RUP Geral de Concretagem para servente e pedreiro (pilar + viga + laje)

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

Observa-se que a RUP global das obras estudadas (E.1 = 1,70Hh/m3 ; E.2 = 2,40Hh/m3;

E.3 = 1,92Hh/m3 ) encontram-se na faixa vermelha da escala (1,74 Hh/m3 – 3,06 Hh/m3 ), ou

seja, entre o valor médio e o máximo de referência, indicando deficiência no processo ou a

influência de fatores inerentes ao processo ou ao tipo de estrutura, como dimensões dos pilares,

equipamentos utilizados na concretagem e altura do andar concretado (COSTA; SANTANA;

SANTOS; GUIMARÃES, 2013).

Segundo Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013), para a TCPO, a equipe é composta

por igual proporção de serventes e pedreiros, enquanto que nas obras analisadas o número de

ajudantes era muito maior que o de pedreiros, indicando mão de obra possivelmente

subutilizada ou ociosa, o que afeta o índices encontrados.

Analisando mais especificamente, a figura 4.8 abaixo retrata os valores das RUPs

cumulativas do processo de concretagem de pilar para as três obras estudadas, apresentando

também os valores mínimos e máximos encontrados, comparando com as faixas de valores da

TCPO para a concretagem de pilar.

97

Figura 4.8 - RUP Concretagem de Pilar para servente e pedreiro

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

Segundo Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013), pode-se observar que a RUP

cumulativa de duas obras (E.1 = 1,99Hh/m3 e E.3 = 1,83Hh/m3 ) estão próximos e um pouco

abaixo da média da TCPO (2,00Hh/m3 ), enquanto que a E.2 obteve-se uma produtividade

bastante inferior (4,29Hh/m3 ), próximo do limite superior da faixa vermelha da escala

(5,54Hh/m3 ). A faixa vermelha de valores da TCPO representam obras com as seguintes

interferências no processo de produção: excessos de pessoas na equipe; ocorrência frequente de

paralisações por problemas com equipamentos de transporte vertical; dificuldade no

espalhamento e vibração do concreto; serviços em condições desfavoráveis: fatores climáticos

desfavoráveis, alta rotatividade da mão de obra e operários insatisfeitos.

Já para a concretagem de viga e laje, os valores são expressos através da figura 4.9

Figura 4.9 - RUP Concretagem de Viga e Laje para servente e pedreiro

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

98

Os valores obtidos pelas obras estudadas para as RUPs de concretagem de viga e laje

foram bastante próximos entre elas (E.1 = 1,64 Hh/m3 ; E.2 = 1,86 Hh/m3 ; E.3 = 1,94 Hh/m3),

porém encontra-se na faixa vermelha de valores da TCPO 14 (1,54 Hh/m3 - 4,23 Hh/m3), o

que mostra a possibilidade de oportunidades de melhoria, conforme discutido na concretagem

dos pilares (COSTA; SANTANA; SANTOS; GUIMARÃES, 2013).

Alguns indicadores de certa relevância como tempo de concretagem e tempo de

descarga do concreto por caminhões não foram abordados no presente estudo, porém é

importante citá-los para que o leitor conheça tais existências.

Finalmente, Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013) comparam na tabela 4.8, todos

os índices de produtividade medidos em seus estudos, promovendo um olhar sob o panorama

geral dos indicadores de produtividade das obras.

99

Tabela 4.8 - Valores de referência dos indicadores de produtividade

Fonte : Costa, Santana, Santos e Guimarães (2013)

100

4.3.2 Consumo Unitária de Materiais (CUM)

De acordo com a CBIC (2017), para o estudo da produtividade do uso dos materiais,

utiliza-se o índice de Consumo Unitário de Materiais (CUM). A figura 4.10 mostra como se

calcular o CUM.

Figura 4.10 – Cálculo do CUM

Fonte : CBIC (2017)

Através da formulação matemática conclui-se que quanto menor a CUM, maior a

produtividade, pois mais serviços estão sendo executados com um quantitativo menor de

materiais.

O CUM, assim como a RUP, possui seus índices globais e específicos. No caso do

CUM, além do índice geral, existe o CUM teórico, como mostrado na figura 4.11.

Figura 4.11 – CUM Teórico em serviço de fôrmas

Fonte : CBIC (2017)

101

A figura 4.12 mostra como se calcular o CUM teórico no serviço de fôrmas, num

edifício de quatro andares, em função do número de repetições possíveis do jogo de formas.

Logo, o CUM teórico se encontra na razão entre o número de edifícios (1, no caso) e o número

de trechos (8), encontrando-se o valor de 0,125. Porém, há uma relação entre o CUM geral e o

CUM teórico, mostrada na figura 4.12.

Figura 4.12 - Cálculo do CUM usando o conceito de CUM teórico e perdas

Fonte : CBIC (2017)

Logo, pode-se concluir que as perdas e desperdícios de materiais influenciam no CUM.

Quanto maior o percentual de perdas, maior o CUM, e quanto maior este último, menor a

produtividade envolvida no processo. Logo, entende-se o porquê da grande preocupação do

desperdício de materiais da construção (além de ser ruim para o desenvolvimento sustentável

em geral da empresa, reduz a produtividade da construção, o que geralmente afeta os lucros) e

no uso de materiais de boa qualidade (evitam perdas e futuros retrabalhos).

A CBIC (2017) utiliza um estudo de caso, de um edifício de estrutura de concreto

armado, para estudar o CUM do serviço de fôrmas executado na construção. Uma visão de

como foi feito plano de ataque é mostrada na figura 4.13.

102

Figura 4.13 - Influência do plano de ataque na demanda por fôrmas

Fonte : CBIC (2017)

O edifício é composto de 2 subsolos, 1 pavimento térreo, 8 pavimentos tipo e 2

pavimentos de cobertura. Algumas importantes características podem ser vistas na tabela 4.9.

Tabela 4.9 - Fatores e composições adotados

Fonte : CBIC (2017)

103

Pode-se observar que foram utilizados 10 moldes plastificados de fôrmas, num pé direito

simples. É importante observar que a tabela de composição de custos escolhida foi o índice

SINAPI.

O CUM adotado em cada parcela pode ser observado na tabela 4.10.

O CUM é adotado para cada elemento de material utilizado no serviço de fôrmas (como

pregos e tábuas) em cada parcela estrutural do serviço (pilares, vigas e lajes). Considera-se

também a quantidade de serviço executada por parcela, medida em unidade de área. Observa-

se, então, que o maior CUM é no uso de barras de ancoragem nos pilares (0,79), logo, possui a

menor produtividade. O menor CUM é no uso de desmoldantes (0,0035) em todas as parcelas,

mostrando assim a alta produtividade do material.

Tabela 4.10 - CUMs adotados por parcela

Fonte : CBIC (2017)

104

5 FERRAMENTAS DA QUALIDADE APLICÁVEIS NA GESTÃO DA

PRODUTIVIDADE DA CONSTRUÇÃO CIVIL

FOLHA DE VERIFICAÇÃO

5.1.1 Conceituação

Uma Folha de Verificação é um formulário de papel no qual os itens a serem verificados

já estão impressos, de modo que os dados possam ser coletados de forma fácil e precisa (KUME,

1993).

Rossato (1996) cita que as Folhas de Verificação são formulários planejados com os

quais os dados coletados são preenchidos de forma fácil e concisa. Registram os dados dos itens

a serem verificados, permitindo rápida percepção da realidade e a imediata interpretação da

situação, ajudando a diminuir erros e confusões, aumentando assim a qualidade do produto.

Kume (1993) afirma que existem muitos tipos de folhas de verificação, devendo

considerar em primeiro lugar, o objetivo da coleta e, a seguir, executar adaptações criativas de

modo que os dados possam ser coletados e registrados de forma apropriada ao objetivo. Porém,

quatro tipos são os mais usuais : Folha de verificação para item defeituoso, Folha de Verificação

para distribuição do processo de produção, Folha de Verificação para localização de defeitos e

Folha de Verificação de causa de defeito.

5.1.2 Objetivo da ferramenta

Para Rossato (1996) as Folhas de Verificação devem ser utilizadas para :

a) Tornar os dados fáceis de serem obtidos e utilizados

b) Dispor os dados de uma forma mais organizada

c) Verificar a distribuição do processo de produção: coleta de dados de amostra da

produção.

d) Verificar itens defeituosos: saber o tipo de defeito e sua percentagem

e) Verificar a localização de defeito: mostrar o local e a forma de ocorrência dos

defeitos.

f) Verificar as causas dos defeitos.

105

g) Fazer uma comparação dos limites de especificação. Investigar aspectos do

defeito: trinca, mancha e outros.

h) Obter dados da amostra da produção. Determinar o turno, dia, hora, mês e ano,

período em que ocorre o problema.

i) Criar várias ferramentas, tais como: Gráfico de Pareto, Diagrama de Dispersão,

Diagrama de Controle, Histograma, etc.

5.1.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Rossato (1996) afirma que antes da construção de uma Folha de Verificação deve-se

estabelecer alguns parâmetros :

I. Identificar claramente o objetivo da coleta de dados: quais são e os mais

importantes defeitos; Decidir como serão coletados os dados, assim como quem

irá coletá-los e quando serão coletados;

II. Deve-se estipular o tamanho da amostra de dados que será coletada;

III. Deve-se avaliar qual o tipo de Folha de Verificação que melhor se enquadra no

problema estudado e se serão utilizados números, símbolos ou marcações para a

coleta e documentação dos dados.

Após estabelecidos tais parâmetros, Rossato (1996) elaborou um roteiro para a

construção de uma Folha de Verificação :

I. Elaborar um tipo de Folha de Verificação de forma estruturada adequada a ser

analisada, de fácil preenchimento;

II. Estipular a quantidade e o tamanho da amostra dos dados;

III. Determinar onde deverão ser feitas as coletas dos dados (local e fase de

execução);

IV. Determinar a freqüência com que serão coletados os dados (diário, semanal, ou

mensal);

V. Determinar quem deverá coletar os dados (geralmente, o responsável pelo setor

de qualidade e produtividade da empresa).

106

5.1.4 Vantagens da aplicação

De acordo com Roth (2004), as vantagens de aplicação da ferramenta são :

a) A obtenção do fato é registrado no momento que ocorre;

b) A ferramenta facilita a identificação da causa junto ao problema;

c) A ferramenta é muito simples de ser aplicada, bastando apenas pouca

concentração.

5.1.5 Desvantagens da aplicação

Segundo Roth (2004), as desvantagens de aplicação da ferramenta são :

a) Os equipamentos de medida podem não estar auferidos;

b) O processo de coleta pode ser vagaroso e demanda recursos de acordo com a

amplitude da amostra;

c) Os dados resultantes da contagem só podem aparecer em ponto “discretos”.

Numa página de fatura só é possível encontrar 0,1,2, etc., erros (ou seja, números

inteiros), não é possível encontrar 2,46 erros.

5.1.6 Aplicação prática

Para a avaliação da produtividade em um processo, a melhor opção de escolha de Folha

de Verificação é a para distribuição do processo produtivo, a qual analisa as não conformidades

do processo. Este tipo de Folha de Verificação é usado quando se deseja coletar dados de

amostras de produção (ROSSATO, 1996), como pode ser verificado na figura 5.1.

107

A figura 5.1 representa uma Folha de Verificação de distribuição do processo produtivo.

A coluna “Marcas” representa o número de erros encontrados por processo, indo de 0 a 20,

como indicados nas colunas. A coluna “Desvios” representa o número de processos que foram

consideradas imperfeitos, os quais quando quantificadas representam o desvio de uma

especificação pré estabelecida. A folha ainda possui uma coluna que indica a frequência de

erros por processo. Ao utilizar este tipo de Folha de Verificação, pode-se corrigir as não

conformidades no sistema produtivo como um todo. Ao se aumentar a qualidade dos processos,

aumenta-se consequentemente a produtividade dos mesmos processos.

Figura 5.1 – Folha de Verificação de processos produtivos

Fonte : Kume (1993)

108

FLUXOGRAMA

5.2.1 Conceituação

Fluxograma é uma representação gráfica que mostra todos as etapas de um processo.

Serve para descrever e analisar um processo (atual ou ideal) ou planejar as etapas de um novo

(MALIK e SCHIESARI, 1998).

Rossato (1996) descreve o Fluxograma como uma ferramenta fundamental da

qualidade e produtividade, tanto para o planejamento (elaboração do processo) como para o

aperfeiçoamento (análise, crítica e alterações) do processo.

Para Malik e Schiesari (1998) é importante que sejam indicados claramente o início e

o fim do processo, para o funcionamento perfeito da ferramenta.

5.2.2 Objetivo da ferramenta

Segundo Rossato (1996), um fluxograma tem o objetivo de cumprir as seguintes

funções:

a) Identificação do fluxo atual ou o fluxo ideal do acompanhamento de qualquer

produto ou serviço, no sentido de identificar desvios indesejáveis;

b) Verificação dos vários passos do processo e se estão relacionados entre si;

c) Na definição de projeto, identificação as oportunidades de mudanças, na

definição dos limites e no desenvolvimento de um melhor conhecimento de

todos os membros da equipe;

d) Avaliações das soluções, ou seja, para identificar as áreas que serão afetadas nas

mudanças propostas, etc.

5.2.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Para a elaboração de um Fluxograma é necessário:

I. Envolver as pessoas que participam do processo (ROSSATO, 1996) e (MALIK

e SCHIESARI, 1998) ;

II. Identificar as fronteiras do processo, mostrando o início e o fim, usando sua

simbologia adequada (ROSSATO, 1996);

109

III. Documentar cada etapa do processo, registrando as atividades, as decisões e os

documentos relativos ao mesmo (ROSSATO, 1996).

O fluxograma é basicamente composto por três módulos (ROSSATO, 1996):

I. Início (entrada) - assunto a ser considerada no planejamento.

II. Processo - consiste na determinação e interligação dos módulos que englobam o

assunto, envolvendo todas as operações que compõem o processo.

III. Fim (saída) - fim do processo, onde não existem mais ações a serem

consideradas.

5.2.4 Vantagens da aplicação

De acordo com Roth (2004), as vantagens de aplicação da ferramenta são :

a) Por dar suporte a análise de processo, os fluxogramas tornam-se um meio

eficaz para o planejamento e a solução de problemas;

b) O fluxo permite visão global do processo por onde passa o produto e, ao

mesmo tempo, ressalta operações críticas ou situações, em que haja

cruzamento de vários fluxos;

c) O próprio ato de elaborar o fluxograma melhora o conhecimento do processo e

desenvolve o trabalho em equipe necessário para descobrir o aprimoramento.

5.2.5 Desvantagens da aplicação

As desvantagens de aplicação da ferramenta são :

a) Sua aplicabilidade só será efetivada na medida em que mostrar,

verdadeiramente, como é o processo (OLIVEIRA, 1996);

b) Falta de padronização. A maioria das empresas não é padronizada. Quando se

encontra alguma padronização, ela é montada de forma inadequada e as pessoas

da empresa não conhecem (OAKLAND, 1994);

c) Uma pessoa sozinha é incapaz de completar o fluxograma, deve ter ajuda de

outros envolvidos no processo (OAKLAND, 1994).

110

5.2.6 Aplicação prática

No estudo da gestão da produtividade, o fluxograma é uma das ferramentas mais

utilizadas pelas organizações, pois define todas as etapas de um processo, e além disso, seu

fluxo, ou seja, a ordem de execução de cada etapa. O fluxograma é um sistema de produção

contínua, ou fluxo de linha, que demonstra uma ordem linear para fazer o produto ou serviço e

é caracterizado por alta eficiência e produtividade; e certa inflexibilidade do trabalho, com

tarefas repetitivas, que vão de um posto de trabalho a outro em uma sequência prevista

(MOREIRA,2011) . A figura 5.2 mostra a aplicação de um fluxograma no setor da construção

civil, na área de tratamento de resíduos.

111

Figura 5.2 – Fluxograma da Central de Processamento de Araraquara

Fonte : Lourenço (2012)

O fluxograma contido na figura 5.2 representa o fluxo linear de processos da Central de

Processamento de Araraquara (unidade de triagem, transbordo e reciclagem de resíduos da

construção civil, demolição e volumosos). Ao definir-se exatamente cada etapa a ser seguida

no processo, o aumento da produtividade do trabalho na empresa vem por consequência, pois

os trabalhadores estão sujeitos a ordens padronizadas, evitando desperdício de recursos e erros

de interpretação.

112

HISTOGRAMA

5.3.1 Conceituação

Histograma é uma forma de representação gráfica da distribuição de freqüência através

de colunas ou barras (ROCHA, 2007).

Pimentel (2007) diz que o Histograma tem a finalidade de mostrar e entender como um

conjunto de dados se distribui, ilustrando a variabilidade de um processo.

Segundo Rossato (1996), o Histograma foi desenvolvido por Guerry em 1833, com o

objetivo de descrever sua análise de dados sobre um crime. Desde então, os Histogramas têm

sido aplicados para descrever os dados nas mais diversas áreas.

5.3.2 Objetivo da ferramenta

Segundo Rossato (1996), são várias os objetivos dos histogramas, dentre os principais:

a) Verificação do número de produto não-conforme.

b) Determinação da dispersão dos valores de medidas em peças.

c) Uso em processos que necessitam ações corretivas.

d) Encontrar e mostrar através de gráfico o número de unidade por cada categoria.

5.3.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Kume (1993) cita o passo a passo para a construção de um histograma :

I. Em uma folha de papel quadriculado, marque o eixo horizontal com uma escala,

deixando um espaço aproximadamente igual ao intervalo de classe em cada

extremidade do eixo horizontal, antes da primeira a após a última classe.

II. Marque o eixo vertical do lado esquerdo com uma escala de freqüência e, se

necessário, trace o eixo vertical do lado direito e marque-o com uma escala 78

de freqüência relativa. A altura da classe com a freqüência máxima deveria ser

de 0,5 a 2,0 vezes a distância entre os valores máximo e mínimo do eixo

horizontal.

III. Marque os valores dos limites das classes no eixo horizontal.

113

IV. Usando o intervalo de classes como base, desenhe um retângulo cuja altura

corresponda à freqüência daquela classe.

V. Trace uma linha no Histograma para representar a média e, se for o caso, trace

também os limites da especificação.

VI. Numa área em branco do Histograma, anote o histórico dos dados (o período em

que os dados foram coletados), a quantidade de dados (n), a média, e o desvio

padrão.

5.3.4 Vantagens da aplicação

Segundo Roth (2004), as principais vantagens do uso do Histograma são :

a) Visão rápida de análise comparativa de uma seqüência de dados históricos.

b) Rápido de elaborar, tanto manual como com o uso de um software (Por exemplo,

o Excel, da Microsoft Office).

c) Facilita a solução de problemas, principalmente quando se identifica numa série

história a evolução e a tendência de um determinado processo.

5.3.5 Desvantagens da aplicação

Roth (2004), cita as principais desvantagens do uso do Histograma :

a) Fica ilegível quando se necessita a comparação de muitas seqüências ao mesmo

tempo.

b) Quanto maior o tamanho de (n) que representa a quantidade de dados de entrada,

maior o custo de amostragem e teste.

c) Para um grupo de informações é necessário a confecção de vários gráficos a fim

de que se consiga uma melhor compreensão dos dados contidos no histograma.

114

5.3.6 Aplicação prática

As aplicações dos Histogramas no estudo da produtividade são diversas, inclusive

dentro do setor da construção civil (RODRIGUES, 2016). A figura 5.3, por exemplo, mostra

um Histograma para produtividade de execução de blocos de concreto.

Conclui-se pelo histograma que, de 10 projetos medidos: 1 projeto teve a produtividade

entre 0 e 5; 2 projetos tiveram a produtividade entre 5 e 8,33; 4 projetos tiveram a produtividade

entre 8,34 e 11,66 e 3 projetos tiveram a produtividade superior a 11,66. Este é um exemplo

hipotético direto da aplicação da ferramenta na gestão da produtividade de um projeto.

De acordo com Rodrigues (2016), também é comum utilizar-se um Histograma para

gestão e controle de prazos, inclusive para se descobrir a frequência das causas de atrasos em

prazos, como demonstrado pela figura 5.4.

Figura 5.3 – Histograma de Produtividade de Blocos de Concreto

Fonte : Rodrigues (2016)

115

No histograma da figura 5.4, pode-se observar a frequência de certos problemas em

projetos que causam atrasos nos prazos, e a porcentagem acumulada destes problemas. Para o

caso, mudança de escopo, retrabalho e riscos ocorridos foram os problemas mais frequentes. A

vantagem nesse caso, no uso do histograma, é analisar quais os problemas que ocorrem mais

vezes no meios de produção e que estão afetando a produtividade dos processos determinados.

DIAGRAMA DE PARETO

5.4.1 Conceituação

As perdas constituem uma grande preocupação de quem procura gerir um processo

produtivo. Dessa maneira, para que seja possível melhorar qualquer sistema ou processo é

necessário antes dispor de uma ferramenta que permita entender o que está realmente

acontecendo (COSTA, 2006).

“Em 1897, o economista italiano Vilfredo Pareto apresentou uma fórmula mostrando

que a distribuição de renda é desigual. Uma teoria semelhante foi apresentada pelo economista

americano M.C. Lorenz, em 1907. O Dr. J.M. Juran aplicou o método gráfico de Lorenz como

Figura 5.4 – Histograma de Causas de Atrasos em Prazos

Fonte : Rodrigues (2016)

116

uma forma de classificar os problemas de qualidade nos poucos vitais, e denominou este método

de análise de Pareto. Ele demonstrou que, em muitos casos, a maior parte dos defeitos e de seus

custos decorre de um número relativamente pequeno de causas” (KUME, 1993).

A análise de Pareto é uma técnica ou ferramenta de apresentação de dados que permite

dividir um problema maior num grande número de problemas menores e que são mais fáceis

de serem resolvidos. Como o método é baseado sempre em fatos e dados, ele permite priorizar

os problemas de qualidade (ROCHA, 2007).

Rocha (2007) cita que normalmente, a grande maioria das perdas é ocasionada por

poucos problemas, denominados “de poucos vitais”, enquanto que a minoria das perdas é

ocasionada por diversos problemas. Esses problemas são denominados “de muitos triviais”. O

Diagrama de Pareto é uma ferramenta útil que permite separar os problemas mais importantes,

através de uma leitura rápida dos dados, assim permitindo a identificação e priorização dos

poucos vitais.

Pode-se dizer que o Diagrama de Pareto é uma descrição gráfica de dados em ordem

decrescente de freqüência, para que, com a presente informação, se possam concentrar os

esforços de melhoria nos pontos onde os maiores ganhos podem ser obtidos (CORTIVO, 2005).

5.4.2 Objetivo da ferramenta

Pimentel (2007) enumera os objetivos de um Diagrama de Pareto como :

a) Mostrar as contribuições relativas das falhas que produzem um problema.

b) Separar as poucas causas críticas das muitas triviais (tipicamente, 80% das

ocorrências de um problema deve-se a 20% das causas).

c) Identificar onde os esforços devem ser priorizados.

É representado por barras colocadas em ordem decrescente, com a causa principal do

lado esquerdo do diagrama decrescendo para as causas menores mostradas para o lado direito.

Cada barra representa uma causa, sendo que sua importância é exibida em relação à total.

Existem dois tipos de Diagrama de Pareto. Costa (2006) os define da seguinte maneira :

I. Diagrama de Pareto por efeitos: este é utilizado para descobrir qual é o maior

problema entre os resultados indesejáveis. Bastante utilizado para estratificar

problemas de qualidade (defeitos, reclamações), custo (gastos, montantes de

perdas), entrega (atrasos, falta de estoques) e segurança (acidentes).

117

II. Diagrama de Pareto por causas: este se refere às causas no processo. É utilizado

para descobrir qual é a maior causa do problema, como: operador (turno, grupo,

idade), máquina (equipamentos, ferramentas), matéria-prima (fabricante,

fábrica, lote) e método de operação (condições, ordens, preparativos).

5.4.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Para construir um Diagrama de Pareto, Kume (1993) enumera algumas etapas, que são:

I. Decidir quais os problemas que devem ser investigados e como coletar os dados.

Ao decidir qual o problema de qualidade deve ser investigado em primeiro lugar,

verificam-se quais dados são necessários e a maneira como coletá-los. Também

é importante decidir o período relevante para que os dados sejam recolhidos.

II. Elaborar uma folha de contagem de dados. Nesta devem ser listados os itens para

contagem, ter espaço para registrar as quantidades e os respectivos totais

III. Preencher a folha de contagem de dados e calcular os totais.

IV. Preparar uma planilha de dados para o Diagrama de Pareto. Para o melhor

entendimento dos dados obtidos, deve ser elaborada uma planilha com a

quantidade de defeitos, total acumulado e porcentagens total geral e acumulada.

V. Ordenar os itens em ordem decrescente de quantidade na planilha elaborada no

item anterior. Deve-se preencher a planilha de dados em ordem decrescente de

valores. Como normalmente não é possível identificar todos os problemas deve

existir um item chamado de outros e que englobe todos os problemas menores

que não serão verificados no diagrama. Esse item chamado de outros deve estar

sempre na última linha independente de seu valor.

VI. Traçar os eixos vertical e horizontal. No eixo vertical do lado esquerdo deve ser

marcado com uma escala de zero até o valor do total geral. No eixo vertical do

lado direito deve ser marcada uma escala de zero a cem em percentual. Já o eixo

horizontal deve ser dividido num número de intervalos igual ao número de itens

da classificação.

VII. Construir um diagrama de barras.

VIII. Desenhar a curva acumulada. Devem ser marcados os valores acumulados de

cada item na percentagem acumulada e em seguida ligar os pontos para obter a

curva de Pareto.

118

IX. Anotar outras informações necessárias no diagrama. É importante que algumas

informações extras sejam acrescentadas ao diagrama para que qualquer pessoa

seja capaz de entender do que se trata o mesmo. Essas informações são, por

exemplo, o título, unidades, quantidades significativas, período, 83 assunto,

quantidade total de dados, local do levantamento dos dados, assim como

qualquer outra informação que se fizer necessária para o esclarecimento do

mesmo.

5.4.4 Vantagens da aplicação

Segundo Campos (1992), as principais vantagens do uso do Diagrama de Pareto são :

a) A análise de Pareto permite a visualização dos diversos elementos de um

problema , ajudando a classificá-los e priorizá-los.

b) Permite a rápida visualização dos problemas 80% mais representativos.

c) Facilita o direcionamento de esforços.

d) Pode ser usado indefinidamente, possibilitando a introdução de um processo de

melhoria contínua na Organização

e) A consciência pelo “Princípio de Pareto” permite ao gerente conseguir ótimos

resultados com poucas ações.

5.4.5 Desvantagens da aplicação

Roth (2004), cita as principais desvantagens do uso do Diagrama de Pareto :

a) Existe uma tendência em se deixar os “20% triviais” em segundo plano. Isso

gera a possibilidade de Qualidade 80% e não 100%.

b) Não é uma ferramenta de fácil aplicação, apesar de fácil visualização.

c) Nem sempre a causa que provoca não-conformidade, mas cujo custo de reparo

seja pequeno, será aquela a ser priorizada. É o caso dos trinta rasgos nos assento

x uma trinca no avião. É preciso levar em conta o custo em um gráfico específico

e por isso, ele não é completo.

119

5.4.6 Aplicação prática

Para o caso do Diagrama de Pareto, Meire (2012) sugere o exemplo de um

empreendimento que contratou uma transportadora a qual precisa efetuar a entrega de um

produto. Tal empreendimento está sendo afetado por prejuízos financeiros no seu setor de

compras e materiais. Este caso pode ser muito bem aplicado em obras de construção civil , já

que os materiais são muitas vezes comprados em atacado, sendo entregues em caminhões

devido à sua grande quantidade. A tabela 5.1 mostra os principais problemas encontrados pelo

setor de compras e materiais do empreendimento.

A partir dos dados referentes aos problemas encontrados, pode-se traçar o Diagrama de

Pareto e desenhar a curva acumulada respeitando a elaboração citada anteriormente de passo a

passo da ferramenta. O diagrama propriamente dito encontra-se na figura 5.5.

Tabela 5.1 – Causas do problema prejuizos financeiros

Fonte : Meire (2012)

120

Nota-se que um grande problema que era o prejuízo financeiro, foi repartido em diversos

outros problemas. Logo, a empresa pode priorizar a solução dos dois problemas que possuem

mais ocorrências, atrasos na entrega e atrasos da transportadora. Os dois problemas problemas

juntos formam 60% do corpo do problema principal, logo a priorização daqueles

corresponde exatamente ao princípio de Pareto. Observa-se também, que estes dois problemas

são relativos ao fator tempo, gerando atrasos e assim reduzindo a produtividade total envolvida

no empreendimento, o que confirma o uso desta ferramenta da qualidade no gestão da

produtividade.

DIAGRAMA DE DISPERSÃO

5.5.1 Conceituação

Quando é necessário analisar a relação entre duas variáveis associadas, pode-se usar o

Diagrama de Dispersão (ROCHA, 2007).

Figura 5.5 – Diagrama de Pareto para problemas encontrados

Fonte : Meire (2012)

121

O Diagrama de Dispersão é um diagrama cartesiano bidimensional onde, sua simples

observação já oferece uma idéia bastante boa de como duas variáveis quantitativas se

correlacionam, isto é, qual a tendência de variação conjunta que apresentam (COSTA NETO,

2002).

Segundo Kume (1993) as três variáveis com as quais lida-se ao utilizar a ferramenta,

são :

a) Uma característica da qualidade e um fator que a afeta.

b) Duas características da qualidade que se relacionam.

c) Dois fatores que se relacionam com uma mesma característica da qualidade.

5.5.2 Objetivo da ferramenta

De acordo com Kume (1993), utiliza-se um Diagrama de Dispersão para :

a) Visualização de uma variável com outra e o que acontece se uma se alterar.

b) Verificação se as duas variáveis estão relacionadas, ou se há uma possível

relação de causa e efeito.

c) Para visualizar a intensidade do relacionamento entre as duas variáveis, e

comparar a relação entre os dois efeitos.

5.5.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Segundo Kume (1993), para se construir um Diagrama de Dispersão deve-se seguir as

seguintes etapas consecutivamente :

I. Coletar dados sob forma de par ordenado, em tempo determinado específico,

entre as variáveis que se deseja analisar as relações. Esses pares devem ter

quantidade suficiente para que se possa estudar a seu respeito e não ter um

número grande demais para não dificultar sua análise. Um número adequado

seria de 30 pares de dados (KUME, 1993).

II. Encontrar os valores máximo e mínimo, tanto para x como para y, construindo

os eixos cartesianos de tal forma que sejam aproximadamente do mesmo

tamanho.

122

III. Inserir os valores no diagrama. Kume (1993) sugere que quando valores iguais

de dados forem obtidos a partir de diferentes observações deve-se mostrá-los

desenhando círculos concêntricos.

IV. Adicionar informações complementares, tais como: título do diagrama, nome

das variáveis, período de coleta, tamanho da amostra e outros que possam ser

úteis para que qualquer pessoa entenda do que se trata.

5.5.4 Vantagens da aplicação

De acordo com Kume (1993), as principais vantagens do uso do Diagrama de Dispersão

são:

a) Permite a identificação do possível relacionamento entre variáveis consideradas

numa análise.

b) Ideal quando há interesse em visualizar a intensidade do relacionamento entre

duas variáveis.

c) Pode ser utilizado para comprovar a relação entre dois efeitos, permitindo

analisar uma teoria a respeito de causas comuns.

5.5.5 Desvantagens da aplicação

Kume (1993) cita ainda as desvantagens do uso do Diagrama de Dispersão :

a) É um método estatístico complexo, que necessita de um nível mínimo de

conhecimento sobre a ferramenta para que possa utilizá-la, ou seja, é preciso

contratar profissional qualificado ou investir em treinamento de pelo menos um

membro do efetivo profissional da empresa.

b) Exige um profundo conhecimento do processo cujo problema deseja-se

solucionar.

c) Não há garantia de causa-efeito. Há necessidade de reunir outras informações

para que seja possível tirar melhores conclusões.

123

5.5.6 Aplicação prática

A figura 5.6 representa o uso do Diagrama de Dispersão, em forma de gráfico, para

analisar os custos de uma empresa.

Pode-se observar que há uma relação linearmente proporcional entre o custo aparente

estimado e o custo aparente real. Esse coeficiente de correlação é de 0.94. O que significa que

o custo estimado anteriormente pela empresa representa 94% dos custos que aconteceram, de

fato. Isso pode ser encarado como uma medida de produtividade de capital, pois o que se

esperou gastar foi quase o que se realmente gastou. Este tipo de medida pode ser pode ser

utilizada por esta ferramenta da qualidade nas empresas de construção civil, visando aumentar

a produtividade do empreendimento.

Figura 5.6 – Diagrama de Dispersão para custos de empresa

Fonte : Cantidio (2009)

124

DIAGRAMA DE CAUSA E EFEITO (DIAGRAMA DE ISHIKAWA)

5.6.1 Conceituação

Todo processo produtivo é constituído de um grande número de fatores. Kume (1993)

descreve que um processo é composto dos 5M’s (men, machines, materials, method e

measurement, em português; homem, máquina, material, método e medição). Esses fatores

podem ser organizados segundo uma relação de causa e efeito. Para estabelecer uma

organização metodológica entre os fatores que desencadeiam um efeito principal e quais os que

desencadeiam as causas, usa-se o Diagrama de Causa e Efeito (ROCHA, 2007).

Esta ferramenta foi desenvolvida em 1943 pelo Dr. Kaoru Ishikawa na Universidade de

Tóquio, no Japão. Ele usou a ferramenta para explicar como vários fatores poderiam ser comuns

entre si e estar relacionados (ROSSATO, 1996).

Segundo Kume (1993) um Diagrama de Causa e Efeito é um diagrama que mostra a

relação entre uma característica da qualidade e seus fatores relevantes.

Pode ser definido também como: "Uma representação gráfica que permite a organização

das informações possibilitando a identificação das possíveis causas de um determinado

problema ou efeito” (OLIVEIRA 1995; apud Rossato, 1996).

O diagrama também é chamado de diagrama de espinha de peixe, devido ao seu formato,

ou diagrama de Ishikawa, em homenagem ao seu criador. Mostra-nos as causas principais de

uma ação, as quais dirigem para as sub-causas levando ao resultado final (ROCHA, 2007).

Para Kume (1993) o diagrama é usado atualmente não apenas para lidar com

características da qualidade de produtos, mas também em outros campos e tem encontrado

aplicações no mundo inteiro.

5.6.2 Objetivo da ferramenta

Para Rossato (1996), um Diagrama de Causa e Efeito deve ser construído com a seguinte

finalidade :

a) Identificar todas as causas possíveis de um problema.

b) Obter uma melhor visualização da relação entre a causa e efeito delas

decorrentes.

c) Classificar as causas fatorando em sub-causas, sobre um efeito ou resultado.

125

d) Conhecer quais as causas que estão provocando este problema.

e) Identificar com clareza a relação entre os efeitos, e suas prioridades.

f) Analisar os defeitos: perdas, falhas, desajuste do produto, etc. com o objetivo de

identificá-los e melhorá-los.

5.6.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Construir um Diagrama de Causa e Efeito não é uma tarefa simplória. Kume (1993)

afirma que as pessoas que têm sucesso na solução de problemas de controle de qualidade são

aquelas bem sucedidas na construção de diagramas de Causa e Efeito úteis. Para a construção

do Diagrama de Causa e Efeito Kume (1993) fornece um roteiro como descrito abaixo:

I. Determine as características da qualidade. Deve-se tentar encontrar todos os

fatores importantes através da discussão sobre o assunto com o maior número

de pessoas possível envolvidas com o sistema.

II. Escolha uma característica da qualidade e a escreva no lado direito de uma folha

de papel, a característica estudada deve ser expressa da forma mais concreta

possível para que não haja dúvidas baseadas em generalidades.

III. Devem ser elaborados diagramas distintos para cada característica de qualidade

que se deseja estudar, caso contrário o diagrama pode ficar grande e complicado

demais para se lidar.

IV. Após, desenhe a espinha dorsal apontada da esquerda para a direita, e enquadre

a característica da qualidade num retângulo. Escreva as causas primárias que

afetam a característica da qualidade, associando-as às espinhas grandes, também

dentro de retângulos. Escreva as causas (causas secundárias) que afetam as

espinhas grandes (causas primárias), associando-as às espinhas médias e escreva

as causas (causas terciárias) que afetam as espinhas médias, associando-as às

espinhas pequenas.

V. Estipule a importância de cada fator e destaque os fatores particularmente

importantes que pareçam ter um efeito significativo na característica da

qualidade.

VI. Registre quaisquer informações necessárias para que todos os envolvidos no

processo consigam entender do que se trata o diagrama. Essas informações

podem ser sobre o tipo de produto que a característica da qualidade trata, o

126

processo que está incluído, a relação de participantes na elaboração do diagrama,

a data, o título, dentre outras que forem convenientes.

5.6.4 Vantagens da aplicação

Kume (1993) cita as vantagens do Diagrama de Causa e Efeito :

a) É uma ferramenta estruturada, que direciona os itens a serem verificados para

que se chegue a identificação das causas.

b) Apesar de existir um esqueleto a ser preenchido, não há restrição às ações dos

participantes quanto às propostas a serem apresentadas.

c) Permite ter uma visão ampla de todas as variáveis que interferem no bom

andamento da atividade, ajudando a identificar a não-conformidade.

5.6.5 Desvantagens da aplicação

Para as desvantagens da ferramenta, Kume (1993) descreve as seguintes :

a) A solução de um problema é limitada por aplicação.

b) Não apresenta quadro evolutivo ou comparativo histórico, como é o caso do

histograma.

c) Para cada nova situação, é necessário percorrer todos os passos do processo,

utilizando o diagrama.

5.6.6 Aplicação prática

Um dos maiores problemas encontrados no setor da construção civil é conhecidamente

o desperdício, que acaba resultando na diminuição da produtividade total de uma obra de

construção, pois o desperdício pode ser interpretado como mau uso dos materiais por parte da

mão-de-obra, erros no setor de compras com gastos excessivos, entre outros motivos. Gomes

(2013), exemplifica o caso na figura 5.7 através do uso do Diagrama de Causa e Efeito :

127

O Diagrama de Ishikawa utilizado demonstra as causas e efeitos do desperdício de

recursos na empresa Inova Casas. Entre as causas encontradas, fatores como a má medição

(problemas com indicadores) e a mão-de-obra (falta de qualificação ou treinamento), que

como citados no presente trabalho, impactam em grande proporção a produtividade total dos

processos. O uso do Diagrama de Causa e Efeito, para este caso específico e todo o setor da

construção civil como um todo, traz o benefício do reconhecimento rápido das causas que

efetivam o problema que diminui a produtividade.

GRÁFICO DE CONTROLE

5.7.1 Conceituação

No processo de fabricação de um produto há diversos fatores que compõem suas

características, afetando diretamente a qualidade deste. Se esses fatores fossem exatamente

iguais, não existiriam variações no produto final, mas o que ocorre é que tanto as matérias

primas utilizadas, quanto as máquinas, equipamentos e a mão-de-obra sofrem alterações

durante o tempo, causando variações no produto (ROCHA, 2007).

Figura 5.7 – Diagrama de Causa e Efeito da empresa Inova Casas

Fonte : Gomes (2013)

128

Kume (1993) afirma que quando consideramos o processo de fabricação sob o ponto de

vista da variação de qualidade, podemos compreendê-lo como um agregado das causas de

variação, que causam variações nas características dos produtos. Se essas mudanças estiverem

dentro de uma determinada especificação os produtos não são considerados defeituosos.

O Gráfico de Controle foi proposto por Sherwhart com a intenção de eliminar variações

anormais pela diferença entre variações devidas a causas assinaláveis e aquelas devidas a causas

aleatórias (KUME, 1993). Os gráficos de controle podem também ser chamados de cartas de

controle.

Esses gráficos são, na verdade, esquemas visuais com o uso de uma bem elaborada

fundamentação estatística, transparentes ao usuário, que usam análises mensuráveis das

variações determinando limites dentro dos quais as medidas amostrais são plotadas 95

(PALADINI,2002). Desta forma, os gráficos de controle indicam se o processo está ou não sob

controle, demonstrando a necessidade de se investigar as causas de condições anormais.

Para Rossato (1996) os gráficos de controle são gráficos utilizados para examinar se o

processo está ou não sob controle. Sintetiza assim um amplo conjunto de dados, usando

métodos estatísticos para observar as mudanças dentro do processo, baseado em dados de

amostras. Esses gráficos podem nos informar, em determinado tempo, o comportamento do

processo, se ele está dentro dos limites preestabelecidos ou se está fora destes, sinalizando assim

a necessidade de procurar a causa da variação.

Um Gráfico de Controle consiste de uma linha central, um par de limites de controle,

um acima e outro abaixo da linha central, chamados limite superior e limite inferior

respectivamente e valores plotados representando o estado de um processo.

O Gráfico de Controle introduziu o desenho dos limites de controle inferior e superior,

LCI e LCS, respectivamente, determinados em relação a três desvios padrões abaixo e acima

da média. Quando o processo ultrapassa estes limites é considerado como estando fora do

controle estatístico (BASTOS FILHO, 1998).

Um processo é dito sob controle quando os valores marcados encontram-se todos dentro

dos limites especificados e quando não existe tendência especial nos valores. Nesse caso a

distribuição dos dados plotados no gráfico é aleatória, indicando que devem existir somente

causas comuns para essa variação.

Apesar dos gráficos de controle sinalizarem como o processo está se comportando eles

não informam como eliminar as causas destas variações (ROSSATO, 1996).

129

5.7.2 Objetivos da ferramenta

Para Rossato (1996), um Gráfico de Controle deve ser utilizado para:

a) Verificação se o processo está sob controle, ou seja, dentro dos limites

preestabelecidos.

b) Controle da variabilidade do processo, ou o grau de não-conformidade.

5.7.3 Passo a passo para aplicação da ferramenta

Para construir um Gráfico de Controle, é necessário estimar a variação devida às causas

aleatórias. Para isso, dividem-se os dados em subgrupos, onde a variação possa ser considerada

semelhante à variação devida às causas comuns, para isso os fatores principais como matérias-

primas, operadores e máquinas devem ser comuns (KUME, 1993).

Inicialmente devem ser coletadas amostras do objeto de monitoração do processo

analisado. As amostras podem ser unitárias ou de tamanho maior que 1. Essas amostras devem

ser coletadas periodicamente durante o processo de produção, sendo que a freqüência das

coletas de dados é determinada a partir de considerações técnicas e econômicas. Os dados

coletados são divididos em subgrupos (ROCHA, 2007).

Existem alguns tipos de Gráficos de Controle sendo que, em todos, a base para a

construção é a mesma. Os limites de controle são calculados pela equação: (valor médio) ± 3 x

(desvio-padrão), onde o desvio-padrão é o da variação devida às causas aleatórias, sendo

chamados de limite de controle superior, limite de controle inferior e uma linha central. Os

passos para a construção de um Gráfico de Controle, (DOTY, 1990 apud BASTOS FILHO,

1998), são enumerados abaixo.

I. Selecionar a característica da qualidade.

II. Desenvolver um plano de inspeção.

III. Selecionar um tipo de Gráfico de Controle.

IV. Escolher tamanho apropriado da amostra.

V. Coletar os dados.

VI. Determinar os limites de controle tentativos.

VII. Determinar os limites de controle revisados.

VIII. Construir e revisar o Gráfico de Controle.

IX. Continuar usando o gráfico.

130

5.7.4 Vantagens da aplicação

Kume (1993) cita as vantagens de aplicação dos Gráficos de Controle :

a) Mostram tendência, ao longo do tempo, de um determinado processo (se a

seqüência de valores for muito longa, é recomendável o gráfico de linhas).

b) Apresentam dados estratificados em diversas categorias.

c) É útil para comparar dados resultantes de processo de contagem (variáveis

discretas e atributos).

5.7.5 Desvantagens da aplicação

Kume (1993) cita as desvantagens de aplicação dos Gráficos de Controle :

a) Tem que ser atualizados, conforme o período mostrado no gráfico (diário,

semanal, mensal, anual, etc.).

b) É genérico. Não há detalhes sobre a informação (histórico/composição).

c) Tem que ter conhecimentos básicos de estatísticas para poder utilizar e escolher

o tipo mais adequado para cada situação.

5.7.6 Aplicação prática

A figura 5.8 mostra um exemplo de Gráfico de Controle para análise da qualidade e

produtividade de um processo.

131

Pode-se concluir que o controle do processo estatístico a partir do Gráfico de Controle,

controla as característica da qualidade do processo através de exemplos de amostras. Na

verdade, esta ferramenta da qualidade é muito usada no setor manufatureiro. Porém, quando

falamos da fabricação de alguns materiais necessários para utilização em obras de construção,

como aço, cimento e madeira de diversos tipos, o setor manufatureiro se interliga ao setor de

construção civil, agregando maior qualidade aos materiais, o que diminui as perdas e

desperdícios, o que, como anteriormente visto no presente trabalho, afeta a RUP e

consequentemente a produtividade da construção.

Figura 5.8 – Gráfico de Controle para amostras de processo

Fonte : Esteves (2009)

132

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se então, neste trabalho, dois pontos principais. O primeiro, é que o setor de

construção civil se encontra realmente muito atrasado em relação aos outros que compõem a

indústria como um todo, quando o assunto é a produtividade. As comparações mostradas no

trabalho e as tendências citadas dentro do setor de construção faz com que se conclua que o

setor precisa implementar soluções para o problema de baixa produtividade.

O segundo grande ponto é que apesar de pouco utilizadas no setor, as ferramentas da

qualidade são capazes de gerar um aumento substancial de produtividade na construção civil,

avaliando e priorizando problemas, agindo de maneira pontual. Outros setores, como o

manufatureiro, que utilizam tais ferramentas e a disseminaram como prática dentro das

empresas e órgãos do setor, mostram evolução da produtividade total em relação ao tempo e

são exemplos a serem seguidos pela construção civil.

O objetivo do trabalho foi alcançado no capítulo cinco, no qual foram estudadas as

ferramentas da qualidade que podem influenciar na gestão da produtividade do setor da

construção civil em geral. O autor conclui que as ferramentas mais disseminadas na construção

civil, devido a frequência encontrada nos materiais de pesquisa, são o Diagrama de Causa e

Efeito e o Fluxograma, apesar de todas as outras ferramentas estudadas também possuírem suas

aplicações na produtividade do setor.

Como sugestão para trabalhos futuros, indica-se a realização de um estudo de caso em

um empreendimento da construção civil onde ferramentas da qualidade possam ser utilizadas e

como essas ferramentas influenciaram nos resultados finais da RUP e da CUM, comparando os

resultados anteriores e posteriores dos indicadores, antes e após o uso das ferramentas da

qualidade.

133

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